Anda di halaman 1dari 9

4

CUIDADOS TÉCNICOS NO INÍCIO DO
PSICODIAGNÓSTICO
Bruna Gomes Mônego

O
psicodiagnóstico  é  um  processo  que  deve  ser  planejado  passo  a  passo,  mas,  quando  estamos
iniciando a vida profissional, não sabemos exatamente como é o primeiro passo. Existem diferentes
opiniões e posturas, e você tem liberdade para fazer suas escolhas e construir o profissional que  ‐
deseja ser. Neste capítulo, procuro trazer um  pouco da minha visão, da minha prática e alguns assuntos ou
dicas a que gostaria de ter tido  acesso quando iniciei meu trabalho. Espero que ele possa servir como um
guia para acompanhá­lo nessa incrível jornada do psicodiagnóstico. Não pretendo fornecer um manual de
regras rígidas, mas entendo que a flexibilidade necessária para o trabalho do psicólogo é adquirida com o
amadurecimento profissional e pessoal.
Apresento este capítulo em duas seções. A primeira corresponde ao contato telefônico, à marcação da
primeira  entrevista  e  ao  contrato.  A  segunda  abordará  a  empatia  e  a  relação  terapêutica,  considerando
características do profissional e do paciente.

COMO TUDO COMEÇA
O contato telefônico
Se você vai começar seu estágio ou trabalhar em uma clínica, é preciso saber que geralmente é o paciente
quem  vai  procurar  o  serviço.  Ele  terá  um  acolhimento  ou  uma  triagem  e,  em  seguida,  você  pegará  seus
dados para entrar em  contato e marcar a primeira entrevista. Ou seja, um pouco do trabalho foi adiantado e
você já tem informações para se preparar melhor. Caso vá atender em seu próprio consultório, você mesmo
coletará os primeiros dados e, se não tiver uma secretária, o paciente fará o contato diretamente com você.
Ele  irá  contatá­lo  porque,  provavelmente,  recebeu  seu  nome  como  indicação.  Você  receberá  uma
ligação de um número desconhecido e, ansiosamente, pensará: “Será que é um paciente?”. Se essa ansiedade
for muito grande, você não ouvirá nada do que a pessoa do outro lado da linha falará. Portanto, mantenha
sempre um papel e uma caneta à mão. Pergunte e  anote o nome da pessoa que será avaliada e sua idade,
solicite uma descrição genérica do problema e marque o horário. Caso não tenha uma agenda em mãos, diga
que  ligará  depois  para  confirmar  a  data.  Não  há  problema  algum  nisso.  Inclusive,  se  não  puder  falar  no
momento,  diga  que  retornará  a  ligação,  mas  nunca  deixe  de  anotar  o  nome  da  pessoa  e  o  número  do
telefone.  Mais  tarde,  você  poderá  esquecer  essas  informações,  vindo  a  se  perder  na  lista  de  registros.  É
importante manter a calma durante esse primeiro contato telefônico, pois o indivíduo já está formando uma
opinião sobre a sua competência ou capacidade de estabelecer confiança.
Promova uma conversa em que você  possa demonstrar ser atencioso e acolhedor. Pode per guntar sobre
a  demanda  da  avaliação:  “Você  poderia  me  adiantar  alguma  informação  sobre  o  motivo  da  avaliação?”  e
“Quem a está solicitando?”. Caso obtenha esses dados por telefone, você terá como se preparar um pouco
melhor, não sendo, assim, pego de surpresa na consulta. Além disso, se for uma demanda com a qual não
trabalha,  informe  isso  imediatamente  ao  indivíduo  e,  se  possível,  indique  outro  profissional  ou  instituição
que possa ajudá­lo.
Ao  marcar  a  primeira  sessão,  solicite  que  o  indivíduo  leve  documentos  e  materiais  que  você  julgue
necessários, como o encaminhamento do solicitante, resultados de exames, e laudos médicos e psicológicos.
Quando  a  ligação  é  feita  pelo  responsável  da  criança  para  a  qual  se  solicitou  uma  avaliação,  você  pode
sugerir que ambos os responsáveis legais (p. ex., pai e mãe) compareçam e orientá­los a ir para a  sessão sem
a  criança.  Essa  solicitação  é  feita  por  ser  comum  as  famílias  terem  segredos  ou   opiniões  que  não  são
expressas  na  frente  da  criança,  ou,   ainda,  assuntos  de  conteúdo  mais  íntimo  do  casal.  En tretanto,  muitas
vezes o responsável a leva por não ter com quem deixá­la. Nessas situações, você poderá avaliar se ela tem
idade  suficiente  para  ficar  na  sala  de  espera  com  a  secretária  (caso  disponha  de  uma),  ou  se  entrará  no
consultório junto com o responsá vel. Se ela ficar de fora, divida o tempo entre os responsá veis e a criança,
de modo a não deixá­la com a impressão de estar sendo excluída, afinal, ela é o cerne da avaliação. Caso a
criança  tenha  de  acompanhar  toda  a  sessão,  introduza­a  na  conversa.  Quando  fizer  o  contrato  com  o
responsável, explique tudo a ela também. Em qualquer idade, a criança sabe quando está sendo  incluída e
valorizada.  Olhe  para  ela,  pergunte  diretamente  a  ela,  mostre­se  interessado  no  que  tem  a  dizer.
Provavelmente  você  será  capaz  de  observar  aspectos  da  relação  entre  o  responsável  e  a  criança,  como  o
estímulo e a valorização dada às opiniões infantis.
No caso de adolescentes, você levará em conta a idade e a demanda, mas, em geral, é interessante que
o  primeiro  atendimento  seja  conduzido  com  o  próprio  adolescente,  pois  se  trata  de  uma  etapa  do
desenvolvimento  humano  que  busca  identidade  e  autonomia.  Esse  posicionamento  do  psicólogo  favorece
uma relação de confiança, na medida em que o jovem percebe que o profissional o vê como alguém capaz
de falar de si mesmo e de suas necessidades.

Ele chegou ao consultório...


Bom, seu paciente chegou e você vai buscá­lo na sala de espera. Cumprimente­o e apresente­se. O contato
físico  (abraço,  aperto  de  mão,  beijo  na  face)  nesse  momento,  assim  como  na  despedida,  vai  depender  de
como você se sente mais à vonta de, mas não se esqueça de observar a reação do paciente. Tente deixá­lo à
vontade  também.  Pacientes  com  traços  paranoides,  por  exemplo,  não  costumam  gostar  de  ser  tocados.
Depois disso, você vai guiá­lo até o consultório. Se esse trajeto for um pouco longo, pergunte se foi fácil
achar o local, se conseguiu estacionar, como está o clima na rua ou outras questões impessoais, mas  nunca
indague  sobre  a  queixa.  Os  assuntos  referentes  à  problemática  do  indivíduo  devem  ser  sempre  abordados
dentro do consultório, que é o local apropriado para isso, e porque você quer que toda a sua atenção esteja
voltada às respostas, procurando preservar a confidencialidade das informações.
Ouça­o!  Esteja  presente  de  corpo  e  mente.  Prepare­se  bem  para  esse  momento  e  tenha  em  mente  as
perguntas  que  precisa  fazer,  mas  não  esqueça  de  ouvir  as  respostas.  Psicólogos  iniciantes  tendem  a  se
preocupar demasiadamente com obrigações e regras. Isso prejudica a relação terapêutica, assunto que será
abordado  mais  adiante  (Meyer  &  Vermes,  2001).  Nem  todo  psicólogo  iniciante  experimenta  um  nível  de
ansiedade capaz de interferir em sua atenção – o que é ótimo. Conseguir lidar tranquilamente com situações
novas  é  muito  bom.  Contudo,  tanto  o  excesso  de  ansiedade  quanto  o  de  autoconfiança  são  capazes  de
“ensurdecer” o profissional.
Ao receber um indivíduo que fez muitas avaliações, consultou diversos profissionais e queixa­se que
ninguém  soube  avaliá­lo  ou  ajudá­lo,  não  é  raro  que  o  psicólogo  experimente  uma  sensa ção  de  desafio  e
pensamentos do tipo “Eu vou conseguir!”, “Nenhum  profissional se dedicou a ele como eu farei” ou, ainda,
sofra uma intensa ansiedade e tenha pensamentos como “Se eu não conseguir, serei um  fracasso”, “Eu não
sou bom o suficiente para isso”, “Se eu falhar, ele ficará ainda mais desapontado”. Embora os pensamentos
sejam sobre o desempenho do próprio psicólogo, a questão a ser refletida se refere ao indivíduo. Ou seja,
será que ninguém soube avaliá­lo de fato ou é ele que não aceita o que lhe foi dito ou a ajuda que lhe foi
oferecida? Se, de acordo com ele, há tantos profissionais incompetentes, será que algum lhe parecerá capaz?
O que ele realmente está buscando? Esses questionamentos feitos por  parte do psicólogo trarão uma visão
mais clara do caso.
Um  exemplo  desse  tipo  de  situação  é  quando  os  pais  não  aceitam  determinado  diagnóstico  dado  ao
filho, ou não concordam que a dinâmica familiar ou que as práticas parentais utilizadas estão influenciando
negativamente  a  criança.  Quando  você  se  deparar  com  situações  semelhantes,  reflita  sobre  a  real
necessidade  de  nova  avaliação  e  se  ela  trará  informações  que  ainda  não  foram  investigadas  (considere,
também, a reaplicação de instrumentos psicológicos). Talvez o mais indicado seja uma orienta ção aos pais
em vez de submeter novamente a criança a uma fatigante avaliação, fortalecendo, assim, o pensamento de
que ela tem um problema tão grave que ninguém será capaz de ajudá­la.
Marcar e receber o indivíduo na  primeira sessão após o contato telefônico não  significa que a avaliação
será realizada. Você considera rá pelo menos três pontos: o esclarecimento da demanda; a real necessidade
da avaliação; e sua competência para realizá­la. Para o primei ro ponto, tenha em mente que “. . . o  avaliador
pode  se  encontrar  com  o  avaliando  ou  com  ou tras  pessoas  antes  da  avaliação  formal  a  fim  de  esclarecer
aspectos  da  razão  para  o  encaminha mento”  (Cohen,  Swerdlik,  &  Sturman,  2014,  p.  4).  Para  o  segundo
ponto,  entenda  que  existem  demandas  que  podem  ser  encaminhadas  diretamen te  para  a  psicoterapia,  por
exemplo.  Sobre  o  terceiro,  é  fundamental  lembrarmos  do  Código  de  Ética  Profissional  do  Psicólogo
(Conselho  Federal  de  Psicologia  [CFP],  2005),  que  aponta  que  o  psicólogo  deve  “.  .  .  assumir
responsabilidades  profissionais  somente  por  atividades  para  as  quais  esteja  capacitado  pessoal,  teórica  e
tecnicamente”. Claro que o psicólogo iniciante tem uma competência ainda limitada, mas ele estudará e fará
supervisão. Outro  aspecto que pode ser abordado aqui é quando determinada demanda não faz parte do seu
campo de atuação. Restringir seu repertório de trabalho é uma escolha.
Certa vez, um pai me ligou porque  buscava um psicodiagnóstico para a filha de 4 anos. Por telefone,
não  entendi  exatamente  o  que  ele  queria  e  marquei  uma  consulta  de  esclarecimento.  A  pergunta  que  ele
queria responder era: “Ela terá esquizofrenia no futuro?”. Havia história fa miliar positiva para o transtorno,
e  ele   estava  muito  preocupado.  Eu  o  ouvi  atentamente,  en tendi  o  que  queria,  mas  informei  que  não
conseguiria dar essa resposta. Informei saber que esse tipo de avaliação existia em outros países, mas que eu
não  tinha  formação  adequada  para  essa  prática  e  não  conhecia  nenhum  profissional  geograficamente
próximo que a fizesse. Esclareci que minha avaliação apresentaria o estado emocional e/ou cognitivo atual
da  menina,  mas  que,  por  seu  relato,  eu  não  percebia  necessidade  para  isso  (ela  também  estava  em
psicoterapia). De qualquer forma, orientei­o a respeito dos fatores de proteção, do ambiente saudável e do
manejo  parental.  Não  seria  apropriado  realizar  uma  avaliação  sobre  como  ela  estava  naquele  momento,
sabendo que a expectativa do pai era outra.

O contrato
Passado  o  momento  da  recepção  do  indivíduo  e  do  entendimento  da  demanda,  é  de  extrema  importância
esclarecer o que é um psicodiagnóstico, visto que a imensa maioria das pessoas que procuram esse serviço
não  sabe  bem  como  funciona  esse  processo  e  quais  são  seus  direitos.  Mantê­las  sem  esse  conhecimento
reforça  ideias  irreais,  idealizadas  ou  preconceituosas  sobre  o  processo.  Essa  explicação  já  introduz  o
contrato.
Para versar sobre o contrato, vamos retomar o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005)
como  princípio  fundamental:  “.  .  .  o  psicólogo  contribuirá  para  promover  a  universalização  do  acesso  da
população  às  informações,  ao  conhecimento  da  ciência  psicológica,  aos  serviços  e  aos  padrões  éticos  da
profissão” e tem como responsabilidade “. . . Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psico ló ‐
gicos, informações concernentes ao  trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional”. Tendo isso em
mente, começo explicitando que o psicodiagnóstico é um processo avaliativo e informo ao avaliando, ou aos
seus responsáveis, que:

Trata­se de um processo de investigação, cujo objetivo é responder à pergunta do encaminhamento
Não inclui o tratamento
Há benefícios para o caso em questão (reconhecer as dificuldades para adequar o mane jo parental
e/ou escolar; reconhecer as potencialidades para planejar reabilitações e fortalecê­las; identificar o
diagnóstico  para escolher o melhor tratamento; entre  tantos outros)
As indicações terapêuticas serão dadas ao final do processo
O processo possui uma estimativa de duração (devendo­se explicitar o número de sessões e o tempo
de cada uma)
Com o conhecimento do paciente, entrarei em contato com quem eu julgar necessário, como, por
exemplo, familiares, instituições, médicos e outros profissionais que o atendam – tal contato pode ser
telefônico ou presencial
De acordo com o tipo de resposta fornecida pela avaliação e com suas limitações, pode­se estabelecer
alguns prognósticos ou causas explicativas de alguns problemas
Durante o processo, o paciente tem direito a documentos (declaração) que justifiquem faltas ao
trabalho, caso seja necessário
Farei uma ou mais entrevistas devolutivas ao final do processo, juntamente com duas cópias do laudo,
sendo uma para ele e outra para o profissional da saúde que o encaminhou
No caso de encaminhamento de escolas ou instituições que não são da área da saúde, providenciarei
um atestado. Explicarei, resumidamente, a diferença entre esses documentos (os documentos serão
abordados no Cap. 14).

Esclareça sobre o sigilo. Quanto mais o paciente parecer desconfortável com a  situação de avaliação,
mais  interessante  será   conversar  sobre  quais  informações  serão  repassadas  e  quem  terá  acesso  a  elas.
Adolescentes, por exemplo, tendem a ser mais desconfiados, pois costu mam classificar o psicólogo como
um agente dos pais. A questão prioritária desse aspecto é esclarecer que, como se trata de uma avaliação,
você  escreverá  sobre  o  paciente  e  provavelmente  falará  com  o  profissional  que  o  encaminhou  (e/ou
responsáveis), mas sempre com o cuidado de comunicar apenas o necessário para ajudá­lo. Nunca garanta
guardar  todos  os  segredos  do  paciente.  O  trabalho  do  avaliador  é  responder  a  alguma  pergunta  feita  e
permitir que o paciente receba ajuda profissional sempre que necessário.
O Código de Ética Profissional (CFP, 2005) aponta que, no contato com profissionais não psicólogos,
deverão  ser  compartilhadas  “so mente  informações  relevantes  para  qualifi car  o   serviço  prestado,
resguardando o  caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabili da de, de quem as receber,
de preservar o sigilo”. Entre outras orientações, o International Test Comission (ITC, 2003)  sugere que se
explique  aos  in teressados  os  níveis  de  confidencialidade  antes  de  iniciar  a  avaliação  e  que  se  solicite  as
autorizações antes da  divulgação dos resultados. É sempre difícil dar orientações genéricas sobre o sigilo,
pois dependerá da demanda de cada caso. Assim, recomenda­se a discussão em supervisão ou com algum  ‐
colega  mais  experiente.  Além  do  conteúdo  relatado  pelo  paciente,  também  há  o  material  decorrente  da
avaliação,  como  testes  e  protocolos  de  registro  que  deverão  ser  armazenados  conforme  a  Resolução  nº
001/2009 do CFP (2009).
Informe  ao  paciente  que  vias  de  contato  ele  pode  usar  com  você  para,  por  exemplo,  desmarcar  o
atendimento. Pode ser telefone, e­mail,  aplicativos como o  WhatsApp,  redes  sociais,  entre  outros.  A  cada
dia, há mais alternativas de contato. No entanto, o que é comum e  prático para algumas pessoas, pode não
ser  confortável para outras. Lembre­se que você deve estar atento aos canais de comunicação que disponi bi ‐
lizar  e  tenha  grande  cuidado  com  falhas  na  comunicação,  comuns  em  meios  eletrônicos.  O  mais  seguro
continua sendo a ligação telefônica. Destaco que não me refiro ao atendimento on­line (informações sobre
essa prática devem ser consultadas e adquiridas com o CFP).
Explique,  também,  que  você  anotará  informações  durante  a  avaliação.  Nunca  tive  pacientes  que  se
opuseram  a  essa  prática,  mas  é  importante  deixar  o  paciente  à  vontade.  Eu  costumo  dizer  que  não  posso
confiar na minha  memória, que as anotações facilitam a redação posterior do laudo e que ele poderá olhá­las
caso sinta­se desconfortável. Cuidados extras devem ser tomados com anotações oriundas de aplicações de
instrumentos projetivos.
Estabeleça  algumas  normas  sobre  faltas  e  atra sos  e  comunique­as  ao  paciente.  Serviços­escola  e
clínicas costumam ter regras, como o desligamento do paciente após 2 ou 3 faltas sem aviso prévio; tanto o
atraso  quanto  a   falta  podem  implicar  custo  extra  para  o  paciente,  além  de  estender  por  mais  tempo  o
processo de avaliação.
Tenha um cadastro de seus pacientes, com in formações como nome completo, endereço, es colaridade,
profissão, contatos telefônicos e e­mail. Você mesmo pode preencher esse cadastro ou entregá­lo para que o
paciente o faça enquanto espera a sessão. Pode­se, ainda, acrescentar dados de saúde geral e de tratamentos
ou avaliações anteriores, assim como o controle dos honorários. Existem softwares de gestão que podem ser
utilizados,  ou  pode­se,  ainda,  manter  um  arquivo  físico;  acima  de  tudo,  é  importante  que  as  informações
sejam mantidas em local seguro e que sejam feitas cópias de segurança (backup) a fim de não perdê­las.
Psicólogos, assim como muitos outros profissionais da saúde, são carentes de conhecimen tos de gestão,
em especial gestão financeira. Para que as finanças também sejam saudáveis, é preciso tratar o consultório
como  uma   empresa.  Os  temas  “dinheiro”,  “valor”  e  “preço”  são  pouco  discutidos  durante  a  formação  do
psicólogo, gerando falta de preparo para essa atividade. Muitos alunos e colegas queixam­se de não saber
cobrar  e  de  ficar  constrangidos  ao  fazê­lo,  mas  essa  é  uma  prática  necessária  e  será  abordada  com  mais
detalhes neste capítulo.
Um dos motivos que vejo para termos tantas dificuldades para cobrar, além da falta de treinamento na
graduação, é que não sabemos bem qual é o nosso produto. O que nós vende mos? Você já pensou nisso? Eu
acredito que vendemos nosso conhecimento em saúde. Mas como estabelecer um valor para isso?
Há  muitos  itens  a  serem  considerados  no  preço  a  ser  cobrado  que  são  mais  concretos  do  que  o
conhecimento. Segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2015?),

Calcular  corretamente  os  preços  é  essencial  para  a  saúde  financeira  dos  negócios.  O  preço  é
quanto  o  seu  produto  ou  serviço  vale  para  o  consumidor.  Para  o  seu  negócio,  o  preço  ideal  de
venda é aquele que cobre os custos do produto ou serviço e ainda proporciona o lucro desejado
pela empresa.

No preço, você precisa considerar os custos com: aluguel da sala, luz, condomínio, limpeza, telefone,
internet,  anuidade  do  Conselho  Regional  de  Psicologia,  anuidade  do  Sindicato  dos  Psicólogos  (opcional),
assessoria  contábil  e  impostos  (imposto  predial  territorial  urbano,  imposto  sobre  serviços  de  qualquer
natureza,  imposto  de  renda).  Além  disso,  há  os  custos  de  materiais  como  testes  e  brinquedos,  que  serão
usados com diversos pacientes, e os que irão variar de acordo com o caso avaliado:  contato com instituições
ou  profissionais  (telefone,  gasolina,  tempo);  horas  de  supervisão;  aquisição  de  protocolos  de  registro  de
respostas;  horas  trabalhadas  no  levantamento,  correção  e  interpretação  dos  testes;  horas  trabalhadas  na
redação dos documentos e entrevistas devolutivas. Além de tudo isso, há o nosso conhecimento técnico a ser
empregado durante o processo.
A inadimplência é um problema muito co mum em nossa profissão e de difícil solução. A possibilidade
de  não  receber  pelo  trabalho  feito  também  deve  ser  considerada  tanto  no  valor  quanto  na  forma  de
pagamento/recebimento.  Defina  os  prazos  de  pagamento  de  forma  que  ele  seja  feito  antes  do  fim  do
psicodiagnóstico. Alguns psicólogos trabalham com contratos por escrito. É uma prática interessante, que
pode ser adotada com o suporte de um advogado.
O profissional escolhe a forma como cobrará pelo serviço. Assim, você pode dar o valor da avaliação
completa, com uma estimativa de tempo do processo, ou cobrar por sessão. Na segunda opção, é importante
que se tenha maior precisão sobre quantas sessões serão necessárias para que o paciente possa se organizar
financeiramente. Deve­se ter clareza de que, em qualquer das alternativas, o tempo da sessão propriamente
dita é somente uma parte de tudo o que deve compor o preço.
É comum as pessoas perguntarem o preço do psicodiagnóstico ao telefone, na primeira ligação. Pode
ser difícil dar um valor preciso sem conhecer bem a demanda, mas você poderá informar um preço médio,
dizer que precisará de mais informações sobre a demanda e/ou marcar uma sessão para esclarecimento da
demanda e estipulação do valor.
Para finalizar, considero de extrema im  por tância apontar alguns aspectos éticos en volvidos na cobrança
dos honorários.  Nossa profissão tem algumas diferenças em relação ao restante do mercado. Não podemos
fazer promoções, nem reproduções não autorizadas dos testes. Tampouco podemos  desqualificar o processo
a fim de reduzir o valor financeiro do psicodiagnóstico. O trabalho deve ser sempre competente, coerente e
confiável, assim como assegura nosso Código de Ética Profissional (CFP, 2005):

Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo: a) Levará em conta a justa retribuição aos
serviços prestados e as condições do usuário ou beneficiário; b) Estipulará o valor de acordo com
as  características  da  atividade  e  o  comunicará  ao  usuário  ou  beneficiário  antes  do  início  do
trabalho a ser realizado; c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos independentemente do
valor acordado.

RELAÇÃO PSICÓLOGO­PACIENTE NO PSICODIAGNÓSTICO
A relação terapêutica auxilia na cooperação do paciente durante o processo avaliativo e na sua disposição
em buscar tratamento (quando for o caso) após a avaliação. A demonstração de empatia e a construção de
uma relação de confiança também facilitarão a devolução dos resultados. Embora este capítulo não aborde a
etapa  de  devolução,  sabemos  que,  com  certa  frequência,  o  esforço  conjunto  entre  psicólogo  e  paciente
culmina  em  resultados  que  podem  ser  inesperados  ou  bastante  ansiogênicos  para  o  avaliado.  Para  o
momento da comunicação desses resultados, a empatia é ainda mais crucial.

Empatia e relação terapêutica


A empatia é uma habilidade que inclui aspectos cognitivos, afetivos (Davis, 1980; Schreiter, Pij nen  borg, &
Rot, 2013) e comportamentais (Falcone et al., 2008; Irving & Dickson, 2004; Larson & Yao, 2005). Existem
diversos  processos  so ciocognitivos  relacionados  a  ela,  entre  eles,  o  contágio  emocional,  que  é  um  estado
emocional autodirigido que pode constituir uma primeira etapa do processo empático, mas não é suficiente
para tal. Empatia é sentir o que o outro está sentindo, sem uma conscientização do outro. Trata­se de uma
sincronia  da  emoção  do  observador  com  a  emoção  do  observado.  Além  da  emoção,  é  possível  que  o
observador  sincronize  as  expressões  faciais,  a  voz,  a  postura  e  os  movimentos  (Gouveia,  Guerra,  Santos,
Rivera, & Singelis, 2007). Imagine, por exemplo, que um amigo seu está relatando algo trágico ou algum
sofrimento e você percebe­se fazendo a mesma cara de assolamento que ele.  Entretanto, é a empatia que é
dirigida ao outro. Ela supõe compaixão, vontade de ajudar (Schreiter et al., 2013), capacidade para inferir
estados  mentais  (Jiménez­Cortés  et  al.,  2012)  e  se  colocar  intelectualmente  no  lugar  do  outro,  a  fim  de
entender a sua visão e de utilizar essa compreensão para resolver possíveis problemas interpessoais, além de
conhecer os sentimentos do outro por meio de sua expressão comportamental (Schreiter et al., 2013).
Todos nós, seres humanos, experienciamos os processos citados anteriormente em diversos momentos
da vida, exceto, claro, na presença de determinadas patologias que apresentam alterações na empatia e em
habilidades relacionadas. Entretanto, no contexto profissional, a angústia pessoal não auxilia, e o contágio
emocional  só  é  interessante  se  desencadear  o  processo  empático  como  um  todo.  Caso  contrário,  estarei
sendo sensível aos sentimentos do paciente, mas sem garantir a empatia necessária para que ele confie no
meu trabalho. Lembre­se que o paciente deve confiar no profissional que você é e não no amigo que você
poderia ser.
Espera­se, então, que o psicólogo seja capaz de escutar atentamente o relato do  paciente e “escutar” seu
comportamento não verbal, compreender a situação pelo ponto de vista do paciente, compreender seu estado
emocional, co nectar­se emocionalmente com ele, legitimar suas emoções e sentimentos e promover apoio.
Thwaites  e  Bennett­Levy  (2007)  sugeriram  que  a  empatia  do  psicólogo  pode  ser  compreendida  em
quatro  aspectos  diferentes:  um  se  refere  à  sintonia  empática;  o  outro  diz  respeito  à  postura  empática  e
terapêutica;  um  terceiro  indica  a  habilidade  comunicativa  para  com  o  paciente;  e  o  último  trata  do
conhecimento declarativo que o psicólogo tem sobre a empatia. Acredito que especialmente os dois últimos
aspectos poderiam ser abordados nos cursos de gradua ção de Psicologia. Todos os psicólogos  ouviram, em
algum  momento  do  curso,  que  devem  ser  empáticos,  mas  poucos  receberam  ensinamentos  sobre  as
definições de empatia e como de monstrá­la, apesar da existência de treinamentos efetivos de empatia (van
Berkhout & Malouff, 2015, no prelo).
Contudo, a experiência profissional não garante que o psicólogo seja empático (Schwartz & Flowers,
2009). Palhoco e Afonso (2011) investigaram a empatia de estudantes de Psicologia em diferentes etapas da
formação  e  de  terapeutas,  tendo  como  hipótese  a  presença  de  uma  diferença  significativa  entre  os  grupos
que pudesse sugerir um aumento da capacidade empática em consonância com o aumento da experiência.
Os resultados refutaram a hipótese. Foram verificados diferentes escores de empatia nos grupos, mas sem
uma perspectiva de desenvolvimento gradual. Com isso, é possível adotar tanto uma perspectiva de que (a)
experiências pessoais sejam mais importantes para o desenvolvimento dessa habilidade do que a formação
em  Psicologia;  quanto  uma  visão  de  que  (b)  as  grades  curriculares  das  graduações  em  Psicologia  não
contemplam  o  treino  de  tais  habilidades,  e  os  alunos  geralmente  vão  para  estágios  de  clínica  sem  um
preparo específico.
Quanto  à  perspectiva  dos  pacientes,  o  profissional  (médico)  é  visto  como  empático  quando  eles  se
sentem aceitos e compreendidos. Para isso, pressupõem­se duas vias: a cognitiva, que envolve a apreensão
precisa do ponto de vista do paciente e a habilidade de comunicar isso; e a afetiva, que abarca a capacidade
do profissional de proporcionar uma melhora emocional ao paciente (Kim, Kaplowitz, & Johnston, 2004).
Nesse sentido, sua aceitação e sua compreensão não serão suficientes caso o paciente não as reconheça.
Uma queixa frequente dos pacientes em psicoterapia é que seus terapeutas não se preocupam com eles.
A  questão  que  emerge   disso  é:  será  que  os  psicólogos  expressam  empatia  da  forma  que  acreditam  estar
expressando? Ou ainda: será que os psicólogos conseguem perce ber como o paciente percebe essa expressão
de  empatia?  (Schwartz  &  Flowers,  2009).  Para  melhorar  essa  conexão  entre  a  dupla  psicólogo­paciente,
Schwartz  e  Flowers  (2009)  sugerem  uma  saudação  calorosa,  com  contato  olho  no  olho;  o  respeito  a  cada
paciente; a observação dos próprios sentimentos em relação ao paciente; e questionamentos sobre a  empatia
sentida por ele e por seus problemas. Nesse sentido, a reflexão é sobre o que você sente, e não sobre como
se  expressa.  Talvez  você  precise  ouvir  mais  sobre  os  sentimentos  do  paciente  e  fazer  o  exercício  de
imaginar­se no lugar dele para, então, conseguir conectar­se (Schwartz &  Flowers, 2009).
Outra dificuldade comum que Schwartz e Flowers apontam é a crença de que, para sentir empatia, é
necessário  gostar  do  indivíduo.  Eles  citam  um  trecho  de  Carl  Rogers  (1955  apud  Schwartz  &  Flowers,
2009)  que   considero  tão  relevante  e  imprescindível  que  vou  citá­lo  aqui:  “O  olhar  positivo  incondicional
envolve  a  aceita ção  em  relação  à  expressão  do  paciente  de  senti mentos  negativos,  ‘ruins’,  dolorosos,   ‐
temores, defensivos, anormais, da mesma forma que envolve a aceitação da expressão de seus sentimentos
‘bons’,  positivos,  maduros,  confiantes,  sociais”.  Assim,  indivíduos  com  problemas  de  comportamento
agressivo, por exemplo, costumam gerar desconforto, repulsa e uma postura de julgamento no psicólogo e,
portanto, maior dificuldade em sentir empatia. A ideia é que você não precisa aceitar seus comportamentos
“errados” para ser capaz de olhá­lo com o interesse e a preocupação necessários para ouvi­lo.
Embora os autores se refiram ao processo psicoterápico, a empatia e a aceitação não são diferentes no
psicodiagnóstico, mesmo que ele tenha duração menor ou não seja interventivo. A conexão com o paciente
tem de existir para que se possa entender o que acontece com ele. O estudo de Larson e Yao (2005) permite
uma  reflexão  muito  interessante  sobre  a  empatia  na  prática  médica.  Entre  outros  aspectos,  os  autores
apontam que o construto em questão facilita a coleta de informações, auxiliando em um diagnóstico mais
preciso, e tem um importante papel na eficácia dos tratamentos.
A empatia é necessária para a relação terapêutica, mas não é o fim em si. Enquanto a empatia permeia
qualquer relação humana, a relação é

. . . uma interação de mútua influência entre terapeuta e cliente. Nela, a pessoa que buscou ajuda é
privilegiada  pelo  trabalho  de  um  profissional  capacitado  a  utilizar  técnicas  e  procedimentos
específicos,  ao  mesmo  tempo  em  que  lança  mão  de  habilidades  sociais  importantes,  como  a
empatia. (Meyer & Vermes, 2001, p. 101).

Comumente,  os  pacientes  sentem­se  envergonhados  ou  desconfortáveis  ao  ter  de  falar  sobre
sentimentos,  pensamentos  e/ou  comportamentos  entendidos  como  inadequados  por  seu  meio  social.  É
possível  que  já  tenham  sido  criticados  ou  ridicularizados  pela  família,  por  amigos  e  por  colegas.  A
capacidade do psicólogo para demonstrar sua empatia, para valorizar a expressão desses temores (Thwaites
& Bennett­Levy, 2007) e para apresentar respeito, interesse e compreensão é essencial para que o paciente
se  sinta  acolhido  e  atendido  (Araújo  &  Shinohara,  2002),  fortalecendo,  assim,  o  vínculo.  Uma  relação
terapêutica satisfatória é importante tanto para o paciente quanto para a saúde do profissional, pois melhora
sua satisfação com o trabalho (Larson & Yao, 2005).

Características do psicólogo e do paciente


Quanto às características do psicólogo, um estudo demonstrou que as habilidades para transmitir segurança,
cuidado,  compaixão  e  empatia  foram  positivamente  associadas  à  relação  terapêutica,  assim  como  a
percepção de profissionalismo e qualificação. Além disso, pacientes que perceberam seus psicólogos como
tendo  aceitação,  compreensão,  compromisso,  compaixão,  habilidades  empáticas  e  interpessoais,  além  de
motivos  para  agir  em  prol  do  melhor  interesse  dos  pacientes,  estiveram  mais  comprometidos  com  seus
tratamentos (Holdsworth, Bowen, Brown, & Howat, 2014). Outra revisão da literatura indicou os atributos
pessoais do psicólogo que contribuíram positivamente para a relação. São eles: flexibilidade, experiência,
honestidade, respeito, ser confiável, confiante, interessado, atento, amigável, caloroso e aberto (Ackerman
& Hilsenroth, 2003). A lista pode ser ainda maior se incluirmos as habilidades de aceitação, a ausência de
julgamentos, a genuinidade e a autoconfiança (Meyer & Vermes, 2001).
Entretanto, não podemos esquecer que, antes de sermos psicólogos, somos humanos e precisamos de
acompanhamento  profissional,  estudo  e  treinamento  para  perceber  nossos  próprios  sentimentos  e
pensamentos  a  respeito  dos  pacientes.  Parafraseando  Thwaites  e  Bennett­Levy  (2007),  diferentemente  do
aprendizado de técnicas avaliativas ou terapêuticas, o desenvolvimento de habilidades empáticas não pode
separar­se da “pessoa do psicólogo”. Trata­se de um amadurecimento pessoal, além de  profissional.
A  atenção  aos  próprios  sentimentos  é  essencial  para  o  trabalho  do  psicólogo.  Perceber  a  reação
emocional que o paciente causa em nós é necessário, mas ela só pode ser  entendida como “causada” pelo
paciente  se  o  profissional  for  muito  bem  treinado  para  reconhecer  seus  próprios  medos,  dificuldades  e
crenças pes soais. Inevitavelmente, os relatos dos pacientes tocam em nossas feridas, despertam  lembranças,
ativam  sofrimentos  e  tornam­se  gatilhos  para  certos  pensamentos.  Isso  ocorre  em  maior  ou  menor  grau
porque somos humanos. Entretanto, o que deve ser evitado é a não diferenciação entre a história pessoal do
psicólogo e as necessidades do paciente.
Um  estudo  demonstrou  diferenças  nos  estilos  de  psicólogos  que  realizaram  psicoterapia  pessoal  em
comparação  àqueles  que  não  tiveram  essa  experiência.  Apoiados  também  em  outras  pesquisas,  Couto,
Farate, Torres, Ramos e Fleming (2013) sugeriram que profissionais sem essa vivência apresentavam maior
retenção do paciente em tratamento. Desse modo, o psicólogo deve “. . . ter a habilidade para  reconhe cer,
rotular,  compreender  e  expressar  suas  emoções.  Em  vez  de  não  ter  sentimentos,  ou  de  ser  um  perito  na
repressão”  (Beck,  Freeman,  &  Davis,  2005,  p.  105).  Tendo  essa  percepção,  o  psicólogo  deve  manter­se
atento  para  que  aspectos  pessoais  não  interfiram  negativamente  no  trabalho  com  o  paciente.  O
autoconhecimento  do  psicólogo  não  é  importante  apenas  para  aqueles  que  trabalham  com  psicoterapia,  é
fundamental também no contexto do psicodiagnóstico.
Como a relação terapêutica é estabelecida entre duas pessoas, ela não depende apenas dos aspectos do
psicólogo. Características pessoais do paciente, assim como sua patologia (quando houver), a influenciarão.
Além  disso,  a  relação  que  se  coloca  entre  a  dupla  psicólogo­paciente  também  é  uma  fonte  de  ricas
informações para o psicodiagnóstico. Por meio dela, é possível observar os padrões comportamentais que o
paciente  manifesta  e  que,  provavelmente,  desencadeiam  grandes  prejuízos  inter­relacionais  fora  do   ‐
consultório (Ventura, 2001). Quanto maior for a relação entre as dificuldades  interpessoais do paciente e a
demanda da avaliação, maior será a exploração disso por parte do psicólogo.
Pacientes com transtorno da  personalidade (que pode ou não ser o motivo do encaminhamento) terão
maiores problemas no estabelecimento da relação, visto que a dificuldade central desse grupo é justamente a
relação   interpessoal.  Indivíduos  com  traços  de  transtorno  da  personalidade  borderline,  por  exemplo,  têm
grande  dificuldade  para  estabelecer  relações  de   confiança  devido  ao  medo  de  serem  abandonados.  Esses
obstáculos serão observados pelo psicólogo em uma relação conturbada (para mais informações, consultar
as  publicações  de   Marsha  Linehan).  O  cuidado  especial  aqui  é  que,  embora  você  quei ra  investir  no
estabelecimento da  confiança, o tempo limitado e curto do psicodiagnóstico poderá servir ao paciente como
mais uma experiên cia de abandono. Pacientes hostis, arrogantes, raivosos, que gritam com o psicólogo com
frequência  geram  raiva  no  profissional.  Nessas  situações,  o  ideal  é  manter  uma  postura  empática,  não
agressiva e não defensiva, demonstrar firmeza e estabelecer limites (Ventura, 2001).
Situações  corriqueiras  são  as  de  pacientes  com  preconceitos  relacionados  a  precisar/consultar  um
psicólogo.  Nesses  casos,  é  imprescindível  permitir  a  expressão  desse  desconforto,  esclarecer  dúvidas  e
manter uma postura profissional, sem investir em uma disputa a favor da profissão. Outros indivíduos têm
preconcei to em relação à idade. Como a maioria dos psicólogos  iniciantes é mais jovem do que os pacientes
esperam, é inevitável deparar­se com essa situação.  Acredito que problemas desse tipo dependem mais da
tranquilidade do próprio profissional em aceitar o fato e desenvolver autoconfiança.
Quando o psicólogo encontra um  paciente com mais dificuldade para cooperar com o psicodiagnóstico,
o primeiro deve pensar nos motivos que o segundo pode ter para isso. Uma revisão da literatura encontrou
que  ansiedade,  evitação,  desesperança,  hostilidade,  assunção  de  riscos  e  comorbidades  médicas  são
características relacionadas a baixo  comprometimento do paciente para com a psicoterapia. Ou seja, muitos
dos sintomas que os  pacientes trazem para o atendimento ou para a avaliação são, justamente, fatores que
dificultam  o  seu  compromisso  com  a  mudança  (Holdsworth  et  al.,  2014).  Tratando­se  do  contexto  do   ‐
psicodiagnóstico, a questão é que, mesmo que não se esperem mudanças durante o proces so avaliativo, o re ‐
sultado do estudo nos  sinaliza que tais características afetam a cooperação do paciente e perturbam o seu
papel  (que  deve  ser  ativo)  na  busca  de  ajuda  e  no  engajamento  ao  tratamento.  Esses  aspectos  também
precisam ser considerados nos encaminhamentos dados ao final do processo.
Existem,  ainda,  outros  fatores  relacionados  ao  paciente  que  dificultarão  a  relação,  como  a  falta  de
motivação, a falta de perspectiva ou de relevância do processo avaliativo, as expectativas inadequadas do
processo  (mesmo  após  as  explicações  do  psicólogo)  e  as  experiências  negativas  vividas  com  outros
psicólogos  e/ou  psiquiatras.  Beck  e  colaboradores  (2005,  p.  92)  apontam  alguns  motivos  para  a  não
colabora ção  dos  pacientes  com  a  terapia  que  podem  ser  considerados  também  no  contexto  do
psicodiagnóstico:  “.  .  .  desconfiança  do  terapeuta,  expectativas  irrealistas,  vergonha  pessoal,   culpa
externalizada  e  queixas  contra  outras  pessoas  (ou  instituições),  desvalorização  de  si  mesmo  ou  de  outros,
medo de rejeição e fracasso”.

A relação terapêutica no psicodiagnóstico


A  relação  terapêutica  é  alvo  de  muitos  estudos  em  psicoterapia.  Os  resultados  a  indicam  como  um  dos
principais preditores de melhora no tratamento em qualquer etapa do ciclo vital (Shirk, Karver, & Brown,
2011).  Já  no  processo  de  psicodiagnóstico,  ela  é  tão  pouco  explorada  que  gera  dúvidas  e  conflitos.  Não
encontrei  literatura  ou  diretrizes  sobre  as  especificidades  desse  contexto.  Percebo  que  alguns  psicólogos
tendem a ser mais distantes, por entenderem que é um processo muito curto para se estabelecer um vínculo.
Outros  não  percebem  os  limites  do  contexto  e  estimulam  uma  proximidade  maior  do  que  a  necessária.
Considerando­se essa carência e tudo o que foi exposto neste capítulo, proponho algumas orientações sobre
a relação terapêutica no psicodiagnóstico.
Acredito que existam dois aspectos principais a serem abordados aqui. Um diz  respeito ao objetivo da
relação no psicodiagnóstico e o outro, ao seu limite. O objetivo é estabelecer um senso  de  colaboração  e
confiança.  Esse  trabalho  em  conjunto  é  essencial  para  a  coleta  de  informações  fidedignas  e  sinceras,  de
modo que o paciente possa se expor e confiar na devolução e nos encaminhamentos do psicólogo. Quando
atender seu paciente em um processo psicodiagnóstico, tenha em mente que a relação a ser estabelecida não
é apenas entre o paciente e você, mas sim entre o paciente e os psicólogos. Você fará muito bem a ele caso
consiga demonstrar sua confiabilidade, mas será melhor ainda se ele aceitar que pode procurar um psicólogo
em  qualquer  momento  da  vida  para  auxiliá­lo  a  enfrentar  suas  dificuldades.  Não  raro,  somos  o  primeiro
psicólogo  na  vida  do  paciente,  e  também  não  é  raro  que  o  encaminhamento  inclua  a  psicoterapia.  Desse
modo,  acredito  que  o  psicólogo  avaliador  pode  ter  um  importante  papel  na  aderência  do  paciente  aos
tratamentos  futuros.  Outro  objetivo  possível  é  observar  as  características  da  vinculação  do  paciente  como
um dado para a análise da demanda, assunto já explorado neste capítulo.
Por  sua  vez,  o  limite  está  entre  o  empenho  e  a  observação  do  psicólogo  para  com  a  relação  e  as
intervenções  realizadas,  sendo  estas  últimas  o  campo  de  atuação  da  psicoterapia  (ver  Cap.  15,  sobre
psicodiagnóstico  interventivo).  Durante  o  psicodiagnóstico,  coletamos  diversas  informações  sobre  o
paciente, mas nos mantemos focados na demanda/objetivo. Claro que queremos vê­lo melhorar e sentir­se
bem, mas há um campo de atuação para cada etapa. Psicólogos que trabalham na clínica e depois iniciam
atividades com avaliação psicológica podem ter mais dificuldade em não intervir.
A questão do tempo também é  importante. Em psicoterapia, a dupla constrói a  confiança gradualmente;
porém, no psicodiagnóstico, tu do ocorre de forma mais rápida, e precisamos ser capazes de estabelecer esse
vínculo  de  forma  mais  imediata.  Contudo,  não  é  interessante  que  a  ânsia  do  psicólogo  em  estabelecer
confiança deixe o paciente desconfortável. A relação deve estar de acordo com o estilo do profissional, para
que possa ser genuína e autêntica, caso contrário, o paciente perceberá um ambiente dúbio.
Quando  me  refiro  à  presteza  do  profissional  em  demonstrar  confiança,  também   considero  as
características do paciente. É preciso estar atento às diversas nuanças do comportamento verbal e não verbal
dele e às suas próprias emoções. Tais observações, em conjunto com sua experiência (que será adquirida de
forma gradual) e seu conhecimento técnico­científico, darão a você a habilidade de perceber o paciente. O
“feeling  clínico”  não  diz  respeito  à  habilidade  de  intuir  ou  pressentir  como  o  paciente  é.  Você  deve
conseguir percebê­lo porque estuda para isso e desenvolve essa habilidade. Não é uma mágica em que não é
necessário qualquer esforço. O estabelecimento da confiança não depende apenas de disposição emocional,
mas principalmente da competência do profissional e da capacidade do paciente em confiar.
AGRADECIMENTO
Agradeço ao discente de Psicologia Álvaro Za ne  ti e à psicóloga Beatriz Cattani pela leitura do manuscrito e
sugestões.

REFERÊNCIAS
Ackerman, S. J., & Hilsenroth, M. J. (2003). A review of therapist characteristics and techniques positively impacting the therapeutic al
liance. Clinical Psychology Review, 23, 1­33.
Araújo, C. F., & Shinohara, H. (2002). Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo­comportamental. Interação em Psicologia, 6(1), 37­
43.
Beck, A. T., Freeman, A., & Davis, D. D. (2005). Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade. Porto Alegre: Artmed.
Cohen, R. J., Swerdlik, M. E., & Sturman, E. D. (2014). Testagem e avaliação psicológica: Introdução a testes e medidas. Porto Alegre:
Artmed.
Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2005). Resolução CFP nº 010/05. Aprova o Código de Ética Profissional do Psicólogo. Recuper
ado de http://site.cfp.org.br/wp­content/uploads/2005/07/resolucao2005_10.pdf
Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2009). Resolução CFP nº 001/2009. Dispõe sobre a obrigatoriedade do registro documental deco
rrente da prestação de serviços psicológicos. Recuperado de http://site.cfp.org.br/wp­content/uploads/2009/04/resolucao2009_01.pdf
Couto, M., Farate, C., Torres, N., Ramos, S., & Fleming, M. (2013). Estilo terapêutico e orientação teórica: Estudo comparativo com o
Therapeutic Identity Questionnaire. Avaliação Psicológica, 12(1), 61­70.
Davis, M. (1980). A multidimensional approach to individual differences in empathy. JSAS Catalog of Selected Documents in Psycholog
y, 10, 85.
Falcone, E., Ferreira, M., Luz, R., Fernandes, C., Faria, C., D’Augustin, J. ... Pinho, V. (2008). Inventário de empatia (I.E.): Desenvolvim
ento e validação de uma medida brasileira. Avaliação Psicológica, 7(3), 321­334.
Gouveia, V. V., Guerra, V. M., Santos, W. S., Rivera, G. A., & Singelis, T. M. (2007). Escala de contágio emocional: Adaptação ao conte
xto brasileiro. Psico, 38(1), 45­54.
Holdsworth, E., Bowen, E., Brown, S., & Howat, D. (2014). Client engagement in psychotherapeutic treatment and associations with cli
ent characteristics, therapist characteristics, and treatment factors. Clinical Psychology Review 34(5), 428­450.
International Test Commission (ITC). (2003). Diretrizes para o uso de testes. Recuperado de https://www.intestcom.org/files/guideline
_test_use_portuguese_brazil.pdf
Irving, P., & Dickson, D. (2004). Empathy: Towards a conceptual framework for health professionals. International Journal of Health Ca
re Quality Assurance, 17(4­5), 212­220.
Jiménez­Cortés, M. P., Pelegrín­Valero, C., Tirapu­Ustárroz, J., Guallart­Balet, M., Benabarreciria, S., & Olivera­Pueyo, J. (2012). Trast
ornos de la empatía en el daño cerebral traumático. Revista de Neurología, 55(1), 1­10.
Kim, S. S., Kaplowitz, S., & Johnston, M. V. (2004). The effects of physician empathy on patient satisfaction and compliance. Evaluatio
n & The Health Professions, 27(3), 237­251.
Larson, E. B., & Yao, X. (2005). Clinical empathy as emotional labor in the patient­physician relationship. JAMA, 293(9), 1100­1106.
Meyer, S., & Vermes, J. S. (2001). Relação terapêutica. In B. Rangé (Org.), Psicoterapias cognitivo­comportamentais: Um diálogo com
a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed.
Palhoco, A. R., & Afonso, M. J. (2011). A empatia e a percepção de emoções em estudantes de psicologia e psicoterapeutas. Estudos Int
erdisciplinares em Psicologia, 2(2), 133­153.
Schreiter, S., Pijnenborg, G. H. M., & Rot, M. (2013). Empathy in adults with clinical or subclinical depressive symptoms. Journal of Af
fective Disorders, 150(1), 1­16.
Schwartz, B., & Flowers, J. V. (2009). Como falhar na relação? Os 50 erros que os terapeutas mais cometem. São Paulo: Casa do Psicól
ogo
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). (2015?). Como estabelecer uma política de preços. Recuperado
de http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/Como­estabelecer­uma­pol%C3%ADtica­de­pre%C3%A7os
Shirk, S. R., Karver, M. S., & Brown, R. (2011). The alliance in child and adolescent psychotherapy. Psychotherapy, 48(1), 17­24.
Thwaites, R., & Bennett­Levy, J. (2007). Conceptualizing empathy in cognitive behavior therapy: Making the implicit explicit. Behavio
ural and Cognitive Psychotherapy, 35(5), 591­612.
van Berkhout, E. T., & Malouff, J. M. (2015, no prelo). The efficacy of empathy training: A meta­analysis of randomized controlled trial
s. Journal of Counseling Psychology. Epub ahead of print.
Ventura, P. (2001). Relação terapêutica. In B. Rangé (Org.), Psicoterapias cognitivo­comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. P
orto Alegre: Artmed.

LEITURAS RECOMENDADAS
Alves, N. N. F., & Isidro­Marinho, G. (2010). Relação terapêutica sob a perspectiva analítico comportamental. In A. K. C. R. de Farias,
Análise comportamental clínica: Aspectos teóricos e estudos de caso. Porto Alegre: Artmed.
Kaplan, J. E., Keeley, R. D., Engel, M., Emsermann, C., & Brody, D. (2013). Aspects of patient and clinician language predict adherence
to antidepressant medication. The Journal of the American Board of Family Medicine, 26(4), 409­420.

Anda mungkin juga menyukai