Anda di halaman 1dari 7

ÁFRICA E BRASIL: ENSINO E MUDANÇA

Maytê R. Vieira(FAFIUV)
maytevieira@gmail.com
Orientador: Prof. Ddo. Ilton César Martins (FAFIUV)

A maior parte do povo brasileiro é afrodescendente, todos somos em maior ou menor grau. O grande
problema no Brasil é que o ensino de História é voltado ao eurocentrismo, aprendemos somente a
história ditada pelos dominadores europeus, sendo assim, os povos dominados e colonizados não
aparecem. O ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira tem como objetivo resgatar a
autoestima da maior parcela da população brasileira que não tem acesso à história das suas origens,
que só existe a partir da escravidão negra no Brasil, o que reforça a dominação e a exclusão dos
afrodescendentes. Somente através do ensino poderemos reverter este quadro, mas para isto serão
necessários o combate a alguns estereótipos arraigados na cultura brasileira e a preparação de
docentes e materiais adequados. Além disto, a história do Brasil está intimamente ligada à história da
África, precisamos compreendê-la para compreender a dimensão de nossa própria história, afinal a
escravidão africana foi a instituição mais longa da história do Brasil e um intercâmbio de cerca de três
séculos deixou suas marcas na cultura, na religião, na língua, no modo de vestir, enfim, em todos os
níveis culturais do Brasil.

Palavras-chave: Ensino – História da África – Ensino de História.

INTRODUÇÃO:

O ensino de História tem sido hoje e sempre, um ensino eurocêntrico, toda


história que é ensinada é a história dos povos europeus, os países e povos
dominados e colonizados pelo europeu sempre foram marginalizados e tratados
como coadjuvantes na sua marcha de domínio mundial. No Brasil isto fica visível
pelo inconsciente brasileiro que procura sempre uma identificação com o europeu
colonizador, buscamos no passado nossas origens europeias, muitas advindas dos
imigrantes do século XIX.
Neste processo esquecemos e muitas vezes ignoramos o povo africano, um
dos primeiros povos a imigrar, mesmo involuntariamente, visto que foram trazidos ao
Brasil como escravos, num primeiro momento para as lavouras de cana de açúcar.
Estes trouxeram sua cultura que está totalmente interligada à cultura brasileira, esta
não existiria sem a imensa colaboração dos povos africanos, que vai além da língua
e dos costumes.
O maior problema deste esquema histórico é que a escravidão negra no
Brasil gerou uma visão dos africanos, independente de sua origem e etnia, como
inferiores e fadados a dominação pelo branco europeu, as repercussões disto
2

existem até hoje fazendo com que o negro no Brasil enfrente a discriminação e a
exclusão diariamente.
As novas leis de ensino no Brasil, nomeadamente a Lei 10639/03, tornaram
obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em todos os
estabelecimentos de ensino da educação básica, sejam públicos ou privados. Em
vigor desde 09 de janeiro de 2003, esta lei visa modificar esta visão, incluindo no
currículo escolar uma história que privilegie também os povos dominados e
colonizados, além da inclusão social e a devolução da identidade aos negros
brasileiros.

A ESCRAVIDÃO E A INFERIORIDADE NEGRA.

Conforme Coquery-Vitrovitch (2004) o tráfico de escravos foi inventado pelos


romanos e mais tarde os ocidentais ligaram a escravidão à cor da pele.

A escravidão foi efetivamente um instrumento essencial da inferiorização de


uma parte da humanidade. [...] A especificidade dos europeus é a de ter
estatuído que somente os negros podiam ser sujeitados. Por conseguinte, o
negro tornava-se um inferior para aqueles que o escravizavam. Isso durou
pelo menos até o fim do século XIX. (COQUERY-VIDROVITCH, 2004,
p.749)

Para os portugueses, no século XV a justificativa para a dominação era a


evangelização: levar a doutrina cristã aos povos infiéis. Agindo com a concordância
do papa através de uma bula que legitimava “a morte dos inimigos de Cristo” e
“concedia o direito de escravizá-los e espoliá-los de seus bens e terras.”. (KOK,
2001, s.p.). O refinamento do açúcar na colônia portuguesa era comparado com o
martírio de Cristo em uma obra literária, sendo a perfeita purgação dos pecados
para os povos infiéis. (SOUZA, 1986).
Segundo Coquery-Vitrovitch (2004) a forma como os negros africanos eram
vistos se agravou no século XIX com as teorias do darwinismo social que pregavam
a dominação de povos e nações julgados inferiores, sua eliminação seria um
benefício para a humanidade. Suas ideias foram influenciadas pelas concepções
clássicas de perfeição estética, onde o homem perfeito teria os traços e medidas do
corpo em perfeita harmonia e simetria, obviamente somente os brancos europeus
encaixavam neste perfil.
3

No Brasil, os reflexos destas ideias e a forma de libertação dos escravos com


a lei Áurea, criaram um grave problema social. Com texto curto, esta dizia apenas
que a partir daquela data estava abolida a escravidão no Brasil. A lei Áurea proibiu a
escravidão, porém esqueceu de dar condições de vida dignas ao escravo liberto,
não houve apoio para educação, saúde, moradia. Sem nenhum suporte para sua
sobrevivência, visto que os empregos eram dados aos brancos e aos imigrantes
europeus, ao negro sobravam os sub-empregos. Além disto, a maior parte da
sociedade não os via como iguais. Isto gerou os males sociais que vem se
arrastando até nossos dias. Não somente discriminação de raça e cor, mas a
discriminação social, na maior parte dos casos é feita a associação: Pobre + negro =
bandido ou vagabundo.

[...] quase animais no tempo da escravidão, crianças grandes, na melhor


das hipóteses, à época colonial, homens incapazes hoje, os africanos
jamais pararam de sofrer um preconceito desfavorável, mais em relação ao
seu intelecto do que à sua natureza, considerada menos “matreira” que a
dos árabes, ou menos “tortuosa” que a dos asiáticos.
Tais preconceitos eurocentrados, que apresentam dos negros ou dos
amarelos uma imagem depreciativa, permanecem implícitos em toda parte.
(COQUERY-VIDROVITCH, 2004, p.785)

Estas construções, feitas para justificar a escravidão do período colonial e, no


século XX as invasões do neocolonialismo, colocam o negro como inferior física e
intelectualmente, impregnam de preconceitos a própria África, vista como um local
exótico de selvas e animais selvagens. Somados estes fatores o resultado é um país
como o Brasil onde a maior parte de sua população é negra ou descendente de
negros, mas que carregado com o mito da democracia racial, faz vista grossa à
discriminação e retira de seu povo o orgulho de sua descendência: escondida,
escamoteada e vista como motivo de aversão.

ÁFRICA E BRASIL EM SALA DE AULA.

A escravidão foi o processo mais longo da História do Brasil, foram mais de


três séculos de trocas que deixaram muitas marcas. Ambos foram influenciados, o
Brasil pelos costumes e cultura trazidos da África e os africanos que voltaram para a
África levaram os costumes e cultura brasileiros, isto por si só, torna necessário o
resgate em sala de aula dos elementos africanos. Além disto, a importância do
4

ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira está na recuperação da


identidade, a inclusão social e o sentimento de pertencimento às crianças negras
nas escolas.
Para Neves (2002, p.15), o currículo eurocentrado das escolas faz com que o
aluno negro não encontre nenhum tipo de referência à sua identidade étnica e sua
cultura é negligenciada. O currículo escolar é fundamental para as transformações
que permitirão a “eliminação das práticas sociais racistas.” (Ribeiro e Cardoso, 2002,
p.48). Isto é necessário para que a criança negra possa retomar sua autoestima.
O principal empecilho para a valorização da história da África é o estereótipo
que se mantém este continente como um lugar de animais selvagens, homens nus e
escravos, é necessária a desconstrução destes mitos. Geralmente ao conhecer a
história dos grandes reinos africanos a reação é de perplexidade, pois “reis e rainhas
são do universo do imaginário sobre a Europa e não abrange a África.” (CUNHA JR.,
2002, p.60). Outro ponto discutido pelo autor é a questão da falta de diferenciação
entre os povos africanos, o europeu é reconhecido por sua nacionalidade e
diversidade, a África é um continente, porém seus povos são tratados como se
fossem todos iguais, porém, existe “uma África, com diversas populações e diversas
culturas”. (CUNHA JR. 2002, p.61). Nascimento (2008, p.205) defende que os
estereótipos sobre a África reforçam a supremacia branca e a dominação racial.
Nos currículos escolares estuda-se somente o Egito, ainda assim, de forma
tão deslocada do restante da África que a impressão que se tem é que ele fica na
Europa, outra questão é o fato da preferência africana pela oralidade, o que faz
parte de sua cultura, mas não significa que os africanos não tinham escrita, os
egípcios tinham uma escrita própria e a expansão comercial árabe fez com que 2/3
do continente africano falasse e escrevesse árabe por conta do islamismo.
Com a lei 10639/03 tornando obrigatório, mesmo que, na maior parte dos
casos não esteja sendo cumprida, o ensino de História da África e da Cultura Afro-
brasileira poderemos reverter este quadro. Já existem alguns trabalhos e pesquisas
que indicam formas de trabalhar os novos conteúdos, estes devem ser estendidos
aos professores de todos os níveis, mas ainda existem dificuldades. De acordo com
Nascimento (2008, p.216) uma das dificuldades diz respeito ao material a ser
utilizado para o ensino. O primeiro Fórum estadual sobre o ensino da história das
civilizações africanas na escola pública identificou e propôs soluções para alguns
dos problemas comuns ao ensino da História da África.
5

Primeiramente, uma sugestão é a modificação do vocábulo escravo para


africano escravizado, que para Nascimento (2008, p.228) faz toda a diferença na
percepção do sujeito histórico que será visto como alguém privado de sua liberdade.
Outro ponto seria a modificação da forma como são tratados os assuntos referentes
à África buscando criar “uma conscientização e valorização da existência, da beleza
e da riqueza dos diferentes componentes da população brasileira e mundial com
suas formas específicas de ser.” (NASCIMENTO, 2008, p.231).
Além disto, ações efetivas direcionadas para cada nível do ensino, como
imagens, orientação linguística e projetos específicos, aliados a integração com
outras disciplinas, material de apoio e preparação dos professores. Outra medida
seria a revisão dos materiais didáticos utilizados atualmente e a exclusão daqueles
que tratam de forma depreciativa o escravo ou o negro, buscando outros que o
integrem aos conteúdos como agentes históricos.
Colegas negros ou afrodescendentes fazem parte do cotidiano escolar das
crianças, geralmente estas crianças negras não encontram nada que as legitime
enquanto brasileiras na sociedade, os conteúdos escolares sempre tratam do negro
somente a partir da escravidão no Brasil. Isto por si só, já constrói uma imagem
negativa e depreciativa, o ensino de história da África, ajudaria a resgatar a
autoestima e a imagem de um povo que integra cerca de 80% da população
brasileira, em maior ou menor grau a maior parte de nós é afrodescendente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Visto que fazemos parte de um projeto que visa a interação entre escola e
acadêmicos para ensinar a História da África e da Cultura Afro-brasileira, nossa
obrigação é compreender a História da África e ensina-la de forma a resgatar a
beleza da diversidade cultural no Brasil. Nosso alvo são as crianças do ensino
fundamental, a base da escola onde procuraremos demonstrar, como educadores,
outra maneira de ver a África e seus descendentes.
São pertinentes as sugestões de Nascimento (2008) ao discutir as ações
planejadas pelo 1º Fórum Estadual sobre o ensino da História das Civilizações
Africanas na Escola Pública para a implantação da Lei 10639/03, buscando utilizar
materiais de apoio como livros infantis onde crianças negras são os agentes e os
personagens principais.
6

Com isto esperamos pôr em prática mais que a lei, mas uma forma de fazer
com que as crianças afrodescendentes se vejam como sujeitos da história, incluídos
na sociedade para poderem reivindicar seu direito à cidadania.

REFERÊNCIAS:
7

COQUERY-VIDROVITCH, C. O postulado da superioridade branca e da inferioridade


negra In: FERRO, M. (org.). O livro negro do colonialismo. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2004. p.748-792.

CUNHA JR. H. A história africana e os elementos básicos para o seu ensino. In:
LIMA, I. C. e ROMÃO, J. (org.). Negros e currículo. Florianópolis: Atilènde (Núcleo
de Estudos Negros), 2002.

KOK, G. Disputa pelo espaço simbólico: batismo e resistência. In:_____. Os vivos e


os mortos na América Portuguesa: da antropofagia à água do batismo.
Campinas: Editora da Unicamp, 2001. s.p.

NASCIMENTO, E. L. Introdução. In: _____. (org.). Cultura em movimento:


matrizes africanas e ativismo negro no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2008.
p.203-209.

_____. Reflexões baseadas no Fórum memória viva e ação cultural. In: _____.
(org.). Cultura em movimento: matrizes africanas e ativismo negro no Brasil.
São Paulo: Selo Negro, 2008. p.209-222.

_____. Relatório do 1º fórum estadual sobre o ensino da história das civilizações


africanas na escola pública. In: _____. (org.). Cultura em movimento: matrizes
africanas e ativismo negro no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2008. p.223-260.

NEVES, Y. P. Algumas considerações sobre o negro e o currículo. In: LIMA, I. C. e


ROMÃO, J. (org.). Negros e currículo. Florianópolis: Atilènde (Núcleo de Estudos
Negros), 2002.

RIBEIRO, N. G. e CARDOSO, P. J. F. Racismo, multiculturalismo e currículo escolar.


In: LIMA, I. C. e ROMÃO, J. (org.). Negros e currículo. Florianópolis: Atilènde
(Núcleo de Estudos Negros), 2002.

SOUZA, L. M. Religiosidade popular na colônia. In: _____. O diabo e a terra de


Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. p.86-150.

Anda mungkin juga menyukai