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ARTIGO REVISÃO
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Acta Med Port 2006; 19: 165-180

ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA
DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

DIOGO TELLES-CORREIA, ANTÓNIO BARBOSA, EDUARDO BARROSO, ESTELA MONTEIRO


Unidade de Apoio Psiquiátrico ao Transplante. Centro Hepato-Bilio-Pancreático e de Transplantação. Hospital Curry Cabral.
Faculdade de Medicina de Lisboa. Lisboa.

RESUMO
Com base na literatura existente abordam-se os principais aspectos psiquiátricos
envolvidos no processo de selecção e acompanhamento dos doentes submetidos a
transplantes hepáticos.
As perturbações psiquiátricas são muito frequentes no período pré transplante, sendo
a prevalência de depressão cerca de 33%, de ansiedade clinicamente significativa de
34%, de abuso/dependência de álcool (no transplante hepático) de 59%, de delirium de
24%, de alexitímia de 39%. A prevalência de perturbações de personalidade pré
transplante hepático ronda os 28%.
As perturbações psiquiátricas no período pós transplante também são muito frequentes,
sendo a prevalência da depressão pós transplante cerca de 30%, de ansiedade pós
transplante 26%, de delirium 30%, de PTSD 6,4% e de psicose 7,5%. A taxa de recaída
do alcoolismo pós transplante hepático é de cerca de 29%,
Os doentes hepáticos apresentam alterações metabólicas importantes, facto que
determina alterações nos mecanismos farmacocinéticos dos fármacos a eles
administrados. São listadas no artigo um conjunto de medicações psiquiátricas mais
indicadas nestes doentes.
Alguns factores são determinantes para a qualidade de vida do doente transplantado
nomeadamente o estado neuropsiquiátrico e o acompanhamento psiquiátrico do doente
transplantado, o suporte social, a planificação, a dieta e exercício e a adesão à terapêutica.
Entre os principais factores que são desfavoráveis à aceitação de dadores vivos
destacam-se a coação ou incentivos financeiros no processo de doação do tecido
vivo e a incapacidade de compreensão dos riscos inerentes a todos os procedimentos
médicos a que vão ser submetidos.

Palavras chave: Transplante hepático, comorbilidade psiquiátrica, evolução clínica,


evolução psiquiátrica, adesão

SUMMARY
PSYCHIATRIC APPROACH OF LIVER TRANSPLANT
There is enough evidence about the importance psychiatric disorders (in the pré or
post-operative period) have on the transplanted patient’s clinical evolution and quality
of life.
In this review we describe, the main psychiatric items involved in the selection of
candidates and accompaniment of transplanted patients.
We concluded that psychiatric disorders are common in candidates in the pré -operative
period. In this period the prevalence of depression is 33%, anxiety 34%, alcohol

Recebido para publicação: 2 de Fevereiro de 2006 165


DIOGO TELLES-CORREIA et al

dependence/abuse (in hepatic transplant candidates) 59%, delirium 24% and alexythimia
28%.
Psychiatric disorders are also common in candidates in the post -operative period. In
this period the prevalence of depression is 30%, anxiety 26%, delirium 30%, PTSD
6,4% and psychosis 7,5%. The alcohol relapse after liver transplant occurs in about
29% of the transplanted patients.
Patients with liver disease present metabolic specificities. In this article we list the
psychiatric medications that are indicated in these kind of patients.
Quality of life of he transplanted patient is determined by many factors such as
neuropsychiatric status, psychiatric accompaniment, social support, planification, diet
and compliance.
Living donors must not be accepted when factors such as coercion and financial
incentives or no understanding of he risks inherent in hepatic lobectomy are present.

Keywords: Liver Transplantation, Psychiatric disease, Psychiatric comorbility, Clinic outcome,


Psychiatric outcome, Compliance, Treatment

INTRODUÇÃO nesta área, adquirindo uma função determinante no se-


O transplante hepático é hoje considerado como o guimento dos doentes transplantados e das suas famíli-
tratamento de eleição para a insuficiência hepática termi- as na fase pré-transplante e pós-transplante.
nal1,2. Num potencial receptor de transplante o psiquiatra
Foi Thomas Starzl quem, em 1963 em Denver (EUA), avalia se existe alguma contraindicação psiquiátrica para
fez o primeiro transplante hepático numa criança, mas o transplante, porém tão ou mais importante que a saúde
sem sucesso3. mental, para o êxito de um transplante parece ser o funcio-
Na Europa o primeiro transplante hepático foi realiza- namento psicossocial e a rede de suporte social, que
do em 1965 por Sir Roy Calne, em Cambridge. João Rodri- também devem ser avaliados criteriosamente4,5.
gues Pena fazia então parte da sua equipa e foi, quem em Na fase pós operatória do transplante o apoio psiqui-
Setembro de 1992, iniciou o primeiro programa de trans- átrico é indispensável devido à elevada prevalência de
plantação hepática em Portugal no Hospital de Curry perturbações psiquiátricas e comportamentais6,7, supe-
Cabral em Lisboa. Em Outubro de 1992 iniciou-se o pro- rior à dos outros tipos de transplantes8.
grama de transplantação hepática em Coimbra com Ale- Neste artigo pretende-se descrever, com base na lite-
xandre Linhares Furtado3. ratura existente, os principais aspectos psiquiátricos en-
Apenas duas décadas após a primeira transplanta- volvidos no processo de selecção e acompanhamento
ção hepática realizada por Thomas Starzl, foi possível dos doentes submetidos a transplantes hepáticos.
conseguir que esta intervenção tivesse sucesso terapêu-
tico (vários factores foram determinantes entre eles a des- MATERIAL E MÉTODOS
coberta dos imunossupressores)2,3. Foi efectuada uma pesquisa sistemática da literatura
Desde então, este procedimento terapêutico foi sen- em Inglês e Francês, de 1975 até 2005 através da
do cada vez mais utilizado devido aos seus benefícios MEDLINE utilizando como palavras chave: Liver
inigualáveis sobre o aumento da sobrevivência dos do- Transplantation, Psychiatric disease, Psychiatric
entes e da respectiva qualidade de vida. comorbility, Clinic outcome, Psychiatric outcome,
Os psiquiatras, desde que fazem parte das equipas Compliance, Treatment. Também foram pesquisados
de transplantação, têm contribuído para uma criteriosa sites na Internet com os mesmos critérios e consultados
selecção dos doentes candidatos, num contexto social livros de texto que contemplavam o tema. Os estudos
de indisponibilidade de orgãos e de custos elevadissimos revistos incluem casos clínicos, revisões, estudos analí-
inerentes a todo o processo2,3. O seu papel alargou-se ticos e estudos observacionais e outras publicações.

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ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

RESULTADOS Quadro I - Psychosocial Assessment of Candidates for


AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA PRÉ- Transplantation (PACT) - Traduzida e adaptada
-TRANSPLANTE SUPORTE SOCIAL
A avaliação psiquiátrica dos candidatos ao transplan- 1) Estabilidade familiar ou dos sistemas de suporte social
(0,1,2,3,4,5)
te pode aumentar substancialmente a sobrevivência dos 2) Disponibilidade familiar ou dos sistemas de suporte social
(0,1,2,3,4,5)
doentes, reduzir a taxa de complicações e melhorar a quali- SAÚDE MENTAL
dade de vida9. A presença de algumas perturbações psi- 1) Psicopatologia activa
quiátricas na fase pré-transplante associa-se a um risco (0,1,2,3,4,5)
2) Factores de risco psiquiátrico
aumentado de complicações clínicas pós-transplante10-17. (0,1,2,3,4,5)
Assim, deve ser ponderada, segundo alguns autores, FACTORES RELACIONADOS COM ESTILO DE VIDA
1) Estilo de vida e capacidade de mudar de estilo de vida
a selecção de doentes com características que predizem (0,1,2,3,4,5)
uma fraca adesão ao tratamento ou que apresentem um 2) Uso de álcool e droga
(0,1,2,3,4,5)
elevado risco de complicações psiquiátricas pós-trans- 3) Adesão ao tratamento e conselhos médicos
plante que podem comprometer não só a qualidade de (0,1,2,3,4,5)
COMPREENSÃO DOS PROCESSOS INERENTES AO TRANSPLANTE
vida, mas também o sucesso do transplante9. 1) Informação sobre o transplante e sua integração
Porém, segundo outros autores, uma vez que existem (0,1,2,3,4,5)
SCORE FINAL (com base nos vários items)
muitos doentes psiquiátricos que evoluem favoravelmen-
O - Cirurgia contraindicada do ponto de vista psicossocial
te, não deve o principal objectivo da avaliação psiquiátri- 1- Cirurgia aceitável do ponto de vista psicossocial, em certas condições
2- Cirurgia aceitável do ponto de vista psicossocial, em certas condições
ca pré-transplante constituir obstáculo para os doentes 3- Bom candidato do ponto de vista psicossocial
com alterações psiquiátricas ou risco psiquiátrico, mas 4/5- Muito bom candidato do ponto de vista psicossocial

sim diagnosticar atempadamente as situações de forma a


planear correctamente o seu tratamento e evitar futuras não compreender aspectos relacionados com a natureza
complicações9,18,19. da intervenção e da importância do cumprimento da medi-
cação prescrita e de outras normas importantes do perío-
1) Avaliação geral do pós-transplante. Isto não significa que doentes com
A forma como esta avaliação é feita varia muito entre dificuldades cognitivas permanentes devam ser excluídos,
os diferentes centros. Deverá inicialmente incluir uma his- mas sim que a informação nestes casos deve ser fornecida
tória psiquiátrica completa, com um ênfase especial nos de forma adequada e o acompanhamento feito de uma for-
antecedentes psiquiátricos ou nos problemas relaciona- ma especial9.
dos com o uso de substâncias, ou noutros factores que
possam influenciar o coping do doente9. 3) Avaliação da adesão
De forma a reduzir a subjectividade da avaliação psi- A não adesão é hoje reconhecida como um factor de-
quiátrica poderão ser aplicados testes psicométricos para terminante para o aumento da morbilidade e mortalidade,
a avaliação do estado psiquiátrico global (MINI -llllll ), redução da qualidade de vida, aumento dos custos médi-
para o estado de humor e ansiedade (HADS – Hospital cos e excesso da utilização dos serviços de saúde para os
Anxiety and Depression Scale; HAMD e HAMA- Hamil- doentes transplantados24. A não adesão pode, de acordo
ton Depression Scale e Hamilton Anxiety Scale), para o com um estudo de Cooper, ser uma causa directa de 21%
estado cognitivo (MMSE-Mini Mental State Exam), entre de todos os insucessos da transplantação e 26% de todas
outros9,20,21. as mortes pós transplante25.
É essencial que se faça uma caracterização psicossocial Segundo alguns autores, a não adesão pré-transplan-
do candidato podendo para isso utilizar-se a escala te pode ser um bom indicador para a não adesão pós-
PACT9,22. (Quadro I) -transplante9. Esta não adesão pré-transplante pode ser
avaliada através de questões que verifiquem a adesão à
2) Avaliação cognitiva medicação, a comparência às consultas, a falta de comuni-
Vários autores chamam a atenção para a importância cação ao médico de novos sintomas ou efeitos secundári-
da avaliação cognitiva, não só porque 20% dos doentes os da medicação, ou redução não justificada dos níveis
com doença hepática terminal candidatos ao transplante sanguíneos de medicação1,9.
apresentam sintomas cognitivos associados à encefalo- Por outro lado, existem evidências de que alguns facto-
patia hepática23, mas também porque os doentes que apre- res psicossociais pré-transplante como falta de suporte fa-
sentam defeitos cognitivos moderados a graves podem miliar e social, estado civil solteiro ou divorciado e idade

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DIOGO TELLES-CORREIA et al

inferior a 40 anos, possam contribuir para uma pior adesão9. esta altura, antes do transplante, deverá ser traçado um
A presença de perturbações psiquiátricas, como per- plano de prevenção de recaídas nos doentes de risco (es-
turbações depressivas ou perturbações de ansiedade no pecialmente nos alcoólicos ou consumidores de droga)1,31.
pós-transplante, podem reduzir dramaticamente a adesão
2,26-28. De facto, a forma mais grave de não adesão pode PERTURBAÇÕES PSIQUIÁTRICAS NO PERÍODO
corresponder a uma tentativa de suicídio nos doentes PRÉ-TRANSPLANTE
gravemente deprimidos. A única forma de prevenir estas Muitos doentes com doença crónica, incluindo falên-
situações é através da prevenção, do diagnóstico preco- cia de órgão, experimentam uma redução importante na
ce e do tratamento das perturbações depressivas pós- sua qualidade de vida que muitas vezes contribui para o
-transplante2. desenvolvimento de perturbações psiquiátricas9,31. Por
Dew, demonstrou que o risco de não adesão era pro- outro lado, o estado psiquiátrico pré-transplante pode,
porcional ao número de factores de risco psicossociais influenciar o prognóstico dos doentes transplantados,
presentes (alterações cognitivas, dificuldade em comuni- quer na evolução clínica propriamente dita (sucesso da
car, rebeldia, arrogância, negação da doença, suporte so- cirurgia, morbilidade e mortalidade pós-transplan-
cial inadequado)29. te)9,15,16,29,30,32,33, quer na qualidade de vida e no estado
Dobbles concluiu que a prevalência da não adesão psiquiátrico posterior ao transplante20,21,33-36. De referir
pré-transplante em doentes submetidos a transplantes de que num número reduzido de estudos se verificou que o
pulmão, fígado e coração era de 16,7% (sem diferenças estado psiquiátrico pré transplante não se correlacionava
significativas entre os diferentes tipos de órgãos trans- com a evolução clínica (mortalidade e morbilidade médica)
plantados). Os factores psicossociais que, neste estudo, pós transplante36,37. No entanto, não foi encontrado qual-
se correlacionavam com a não adesão eram: quer estudo que verificasse que a morbilidade psiquiátri-
1) elevado nível educacional; ca pré-transplante não se correlacionava com baixa quali-
2) deficiente suporte social; dade de vida e morbilidade psiquiátrica pós-transplante.
3) alguns traços de personalidade; O tratamento das perturbações psiquiátricas pré-trans-
4) depressão30. plante tem sido referido como uma mais valia para a evolu-
ção do doente no período pós-transplante, sobretudo no
4) Contra-indicações psiquiátricas que diz respeito à adesão ao tratamento1.
Segundo a Nettwork for Organ Sharing (UNOS), não
existem contra-indicações psiquiátricas absolutas para o 1) Depressão
transplante hepático, mas sim relativas31 (Quadro II). Se- A maioria dos doentes que aguardam transplantação
gundo as indicações desta entidade, o acesso ao trans- apresenta alguns sintomas depressivos. Estes podem cons-
plante deverá ser ponderado após uma entrevista estrutu- tituir uma perturbação depressiva major ou distímia, po-
rada por um técnico de saúde mental, em que seja pedido ao dem ser secundários à medicação ou fazer parte de uma
doente que assine um contracto para seguir as indicações perturbação de adaptação9.
prescritas (nomeadamente manter a abstinência alcoólica) e Por outro lado, o diagnóstico das perturbações de-
colaborar com os técnicos de saúde. Por outro lado, por pressivas nesta fase pode apresentar alguns problemas
uma vez que sintomas característicos da depressão como
Quadro II - Contra-indicações Psiquiátricas Relativas Para o a baixa energia vital, a anorexia, a insónia, entre outros,
Transplante Hepático podem estar presentes nas situações de doença médica
- Não adesão ao tratamento actual avançada32,38. No entanto, existem escalas psicopatoló-
- Suporte social inadequado gicas (HAM-D – Hamilton Depression Score; HADS –D
- Consumo actual de álcool ou outras substâncias - Hospital Anxiety and Depression Score – Depression;
- Ideação suicida ou comportamentos autodestrutivos e BDI –Beck Inventory Score), que podem ser utilizadas
actuais para eliminar esses viéses. Da análise dos estudos que
- Perturbações psicóticas primárias utilizam estas para o diagnóstico de depressão no perío-
- Perturbação factícia * do pré transplante hepático, os resultados variam desde
- Alterações cognitivas irreversíveis (especialmente se
4,5% até 64%, sendo a média de 33%20,21,37,39,40 (QUA-
suporte social inadequado)
- Incapacidade de colaborar com a equipa de DRO III). A justificação para esta variação de valores,
transplantação pode prender-se com o facto de terem sido avaliadas
populações diferentes do ponto de vista epidemiológico

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ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

e de comorbilidade psiquiátrica. Isto porque se sabe que de ansiedade41.


a depressão pré-transplante hepático é mais prevalente O’Carrol, demonstrou que elevados níveis de ansie-
nos doentes do sexo feminino, nos alcoólicos, naqueles dade no período pré-transplante se associavam a uma
com hepatite C, nos doentes com carcinoma pior qualidade de vida no período pós-transplante20.
hepatocelular e nos paramiloidóticos 37,40,41 . Rodin
verificou que os doentes com doença hepática com com- 3) Alcoolismo
ponente colestática apresentam uma maior prevalência O alcoolismo é uma das causas mais importantes
de depressão38. de doença hepática grave nos países ocidentais 1,46 .
Embora em praticamente todos os países a doença he-
Alguns estudos demonstraram que a depressão se pática alcoólica constitua uma indicação para a trans-
associa a uma evolução clínica pós-transplante desfa- plantação hepática 47, persiste a controvérsia relacio-
vorável34-36. Segundo certos autores, a depressão que nada com questões éticas que se põem perante a trans-
está presente no período pré-transplante mantém-se por plantação neste grupo de doentes.
tratar em 50% dos casos, podendo em algumas situações Muitos dos estudos que avaliam a prevalência do
vir a agravar-se no período pós-transplante42,43. abuso/dependência de álcool são em doentes trans-
Em vários estudos recentes tem sido avaliado o im- plantados por doença alcoólica sendo os valores mui-
pacto que a depressão tem sobre a qualidade de vida to elevados nestes casos podendo ir até aos 100% de
pós-transplante, concluindo-se que o controlo psiquiá- abuso ou dependência 48.
trico desta situação pode tornar mais favorável o funcio- Os estudos revistos que incluem vários tipos de
namento psicossocial no período pós-transplante44,45. doentes hepáticos, além daqueles com doença hepáti-
ca alcoólica, apresentam uma prevalência de abuso ou
2) Ansiedade dependência de álcool que varia entre 39,5 e 79% com
Os sintomas ansiosos são frequentemente encontra- uma média de 59,3%49,50 (Quadro III)
dos nos doentes que aguardam transplante. Estes po-
dem preencher critérios de perturbação de adaptação, Alguns estudos verificaram haver uma pior evolu-
ou então serem suficientes para constituir uma perturba- ção pós-transplante nos doentes alcoólicos 5,9, embo-
ção de ansiedade (perturbação de ansiedade generaliza- ra noutros trabalhos recentes, se tenha observado que
da, ou outra)9,32. Sintomas de ansiedade como dispneia, a sobrevivência dos doentes alcoólicos transplanta-
toracalgia, náuseas e vómitos podem também dever-se à dos é semelhante à dos doentes com outros tipos de
doença somática, pelo que o diagnóstico diferencial é insuficiência hepática 51-53.
por vezes difícil9. Em vários centros de transplantação, a selec-
Dos vários estudos que relatam elevada frequência ção dos doentes alcoólicos para transplante faz-se so-
de sintomas de ansiedade nos doentes que aguardam bretudo com base nos meses de abstinência 48 . Porém,
transplante hepático32,37,40, a alusão a ansiedade clini- noutros centros este screening é bem mais completo.
camente significativa (segundo a escala HAM-A–Ha- Por exemplo, no Serviço de Transplantação da Univer-
milton Anxiety Scale) apenas foi encontrada pelos au- sidade de Iowa, o screening psiquiátrico dos doentes
tores em dois dos artigos revistos20,39, sendo a sua alcoólicos inclui:
prevalência num estudo 37% e no outro 31,1% com uma
média de 34% (Quadro III). Alguns autores referem que 1) Prognóstico favorável do alcoolismo;
os doentes com carcinoma hepatocelular e os parami- 2) Persistência no consumo após sensibilização
loidóticos apresentam com maior frequência sintomas de que alcoolismo produziu lesões hepáticas

Quadro III – Perturbações Psiquiátricas Pré-Transplante


Trzepac Trzepac Trzepac Rodriguez Beresford Singh Norris Fukunishi O’Carro Rothen. Média
1987 1989 1992 1993 1994 1997 2002 2002 ll 2003 2003
Depressão 4,5% 28% 64% 43% 25,8% 33 %
Ansiedade 37% 31,1% 34 %
Alcoolismo 79% 39,5% 59,3 %
Delirum 30% 18% 25% 24,3 %
Alexitímia 38,7% 38,7 %
Legenda: Alcoolismo- Dependência/abuso de álcool

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graves; 4) Delirium
3) Assinatura de um compromisso de abstinência; O delirium surge com frequência nos doentes he-
4) Suporte social páticos que aguardam o transplante 9,32,37. Porém, nem
5) Contra-indicações psiquiáticas54. (Quadro IV). sempre esta situação é fácil de diagnosticar, podendo
passar despercebido em até 65% dos casos 55 . O
Quadro IV - Transplant Guidelines for Patients with Alcoholic delirium apresenta-se como uma combinação de sin-
Liver Disease – Traduzidas e adaptadas tomas que incluem incoerência, alteração da activida-
Categoria de Risco
Critérios Baixo Alto
de psicomotora, desorientação, alterações da percep-
Prognóstico favorável do alcoolismo (HRAR) SIM NÃO ção, défices de atenção e da memória, alterações do
Persistência no consumo após sensibilização de que alcoolismo
produziu lesões hepáticas graves
NÃO SIM
ciclo sono-vigília, entre outros 56. Para o diagnóstico
Assinatura de um compromisso de não persistência do consumo SIM NÃO
Suporte social BOM MAU desta situação podem ser úteis instrumentos como a
Contraindicações psiquiáticas NÃO SIM
escala MMSE (Mini Mental State Evaluation) ou tes-
tes mais específicos como a escala «Delirium Rating
O item Prognóstico favorável do alcoolismo tem por Scale 57 .
base o HRAR score (Quadro V), sendo positivo se HRAR Entre as principais causas de delirium pré-
score é superior a 12 ou o intervalo de abstinência for -operatório destacam-se a insuficiência hepática, a
superior a 12 meses. acumulação de drogas metabolizadas no fígado, o aci-
O item Suporte social tem por base a escala Psycosso- dente vascular cerebral, a insuficiência renal, a hiper-
cial Asessment of Candidates for Transplantation (Qua- glicémia secundária a corticosteróides, a infecção, a
dro I). neoplasia do SNC, a síndroma de abstinência alcoóli-
O item Contraindicações psiquiáticas tem por base a ca, entre outros 32,37,57 .
presença de: Foram revistos vários artigos em que se avaliava a
1) perturbação grave de personalidade; prevalência de delirium no período pré transplante
2) atraso mental grave; hepático, situando-se entre os 18% e os 30% com uma
3) demência; média de 24%58-60 (Quadro III).
4) psicose crónica. Segundo Trzepac a presença de delirium pré trans-
Neste centro, à semelhança de praticamente todos os plante não influencia a evolução clínica pós transplan-
outros, o consumo activo de drogas constitui uma contra- te 58.
-indicação absoluta e os candidatos elegíveis deverão apre-
sentar um baixo risco para todas as cinco variáveis. Po- 5) Alexitímia
dem ser aceites, ocasionalmente, doentes com uma predo- A alexitímia, sendo considerada como um traço de
minância de variáveis com a classificação de baixo risco. personalidade que interage com eventos potenciadores
de stress, aumentando a susceptibilidade para deter-
Quadro V - High-Risk Alcoholism Relapse Scale (HRAR) minadas doenças, pode ser medida através da escala
Traduzida e adaptada
TAS (Toronto Alexithymia Scale) 61, que avalia várias
VARIABLE POINT dimensões:
VALUE 1) Dificuldade em identificar e descrever sentimen-
Anos de alcoolismo tos;
<11 0
2) Dificuldade em distinguir sentimentos de sensa-
11-25 1
>25 2 ções corporais somáticas;
Número diário de bebidas 3) Pobreza do pensamento imaginativo ou
<9 0 fantasioso;
9.17 1 4) Orientação cognitiva para o exterior 61,62 .
>17 2
Número de internamentos por alcoolismo
0 0 Verificou-se num único artigo que os doentes que
1 1 no período pré transplante cumpriam os critérios para
>1 2 o diagnóstico de alexitímia tinham uma maior probabi-
TOTAL lidade de apresentar perturbações psiquiátricas no pe-
Legenda: Baixo Risco: TOTAL- 0,1,2; Risco Moderado:
ríodo pós-transplante 21 . Neste estudo a prevalência
TOTAL- 3,4; Alto Risco: TOTAL- 5,6
de alexitíma pré transplante era de 38,7% (Quadro III).

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ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

6) Perturbações de personalidade 2) Ansiedade


A prevalência de perturbações de personalidade pré Os sintomas de ansiedade são muito frequentes no
transplante hepático ronda os 27%63. Noutro tipo de período pós transplante. Entre os factores que mais con-
transplantes estas situações têm uma menor prevalên- tribuem para a ansiedade destacam-se o receio da rejei-
cia (10-15%)63-66. ção e das complicações pós-cirúrgicas9.
Alguns traços de personalidade, como o neuroticis- A prevalência da ansiedade foi avaliada, com a utili-
mo podem contribuir de forma negativa para a evolução zação das escalas HAM-A e HADS, variando entre 10%
clínica (aumento das taxas de reinternamento e de rejei- e 65%, com uma média de 25,8%4,20,46 (Quadro VI).
ção) e para a qualidade dos doentes no período pós Nickel, verificou que a presença de ansiedade clini-
transplante41,67. camente significativa (segundo a HADS) no período
Por outro lado, foi demonstrado que certos tipos de pós transplante associa-se a uma qualidade de vida sig-
perturbação de personalidade como a perturbação de nificativamente reduzida33.
personalidade antisocial podem contribuir para o au-
mento da taxa de recaída dos doentes alcoólicos trans- 3) Delirium
plantados 41,67. O delirium é considerado uma das perturbações psi-
quiátricas mais frequentes no período pós transplante,
PERTURBAÇÕES PSIQUIÁTRICAS NO sobretudo ao longo da primeira semana. Geralmente esta
PERÍODO PÓS-TRANSPLANTE situação surge como efeito secundário dos fármacos
utilizados e também como consequência de alterações
1) Depressão hidro-electroliticas, infecção, entre outros. O delirium
Imediatamente após o transplante os doentes com geralmente é auto limitado e deve ser pesquisada uma
frequência experienciam um período de grande bem es- causa orgânica. Pode, entretanto, fazer-se tratamento
tar que se pode relacionar com o sucesso da cirurgia, a sintomático com doses reduzidas de haloperidol9 .
melhoria do estado clínico e os efeitos secundários de A prevalência de delirium encontrada nos estu-
medicações como os corticosteróides45,68. Todavia, este dos revistos varia entre 19,3% e 40%, com uma média
bem estar pode ser de curta duração devido ao apareci- de 29,6%4,8 (Quadro VI).
mento de efeitos secundários dos medicamentos ou de
complicações cirúrgicas.
Quadro VI - Perturbações Psiquiátricas Pós-Transplante
Os sintomas depressivos são comuns após a pri-
House Gledhil Nickel Fukunis. O’Carroll Média
meira semana de internamento, podendo estes remitir 1988 1998 2002 2002 2003
Depressão 85% 8,7% 16,1% 2,9% 28,2%
sem tratamento específico9. Ansiedade 65% 2,4% 10% 25,8%
Ansied/Depres 23,6%
Alguns factores que se podem relacionarem com o Delirum 40% 19,3% 29,6%
aparecimento da depressão clinicamente significativa, PTSD
Psicose 15% 4,3%
6,4%
3,2%
6,4%
7,5%
nomeadamente o chamado sentimento de culpa do so-
brevivente, a dificuldade em aceitar determinadas mu-
danças corporais (nomeadamente resultantes dos efei- 4) Alcoolismo
tos secundários da medicação), o regresso à actividade As taxas de recaída pós-transplante são controver-
laboral, entre outros9,33. sas. De facto, esta taxa varia entre os 6%, num estudo
Entre os estudos revistos pelos autores, a preva- de 198869, e os 80% noutro de 199470, sendo a média de
lência da depressão clinicamente significativa nos do- prevalência nos estudos revistos de 28,9%49,69,70-73
entes após o transplante (através de escalas como a (Quadro VII), traduzindo uma provável variabilidade en-
HAM-D, a HADS –D e a BDI), variava entre 2,9% e 85% tre os indivíduos alcoólicos, sendo a sua evolução de-
com uma média de 29,6%4,46,20 (Quadro VI). pendente de outros factores além do consumo de álco-
Segundo Singh, existe uma maior prevalência da de- ol. Por isso, em muitos centros a avaliação pré trans-
pressão em determinados grupos de doentes, particu- plante dos doentes alcoólicos inclui inúmeras variáveis
larmente nos doentes com hepatite C37. além do padrão de consumo de álcool sendo o funcio-
Segundo Nickel, 2002, a presença de depressão cli- namento psicossocial relevante18. Nesta mesma linha
nicamente significativa (segundo a HADS) no período comprovou-se que apenas alguns factores psicosso-
pós transplante associa-se a uma qualidade de vida sig- ciais como o desemprego (e não outras variáveis como
nificativamente reduzida33. o tempo de abstinência) se associavam a um aumento

171
DIOGO TELLES-CORREIA et al

taxa de recaída do alcoolismo (com as complicações ine- Muitos dos sintomas psiquiátricos são secundári-
rentes) 48. os à medicação administrada neste período. São revis-
São apontados outros factores de risco de recaída tos alguns dos principais efeitos dos medicamentos mais
como a história familiar de alcoolismo ou a comorbilida- utilizados nesta fase9,79,80.
de psiquiátrica (nomeadamente perturbações de perso- Entre os imunossupressores, principais fármacos
nalidade e história de consumo de outras substânci- usados na fase pós transplante, os corticosteróides são
as) 1,74 . Os estudos provenientes de países europeus aqueles que mais efeitos secundários neuropsiquiátri-
também parecem referir taxas de recaída superiores aos cos apresentam, embora o uso de ciclosporina, OKT3 e
estudos realizados noutros países 75. tacrolimus também se possa complicar com sintomas
Por outro lado, as diferenças entre as taxas de reca- deste tipo (Quadro VIII).
ída nos vários estudos também se devem aos critérios Entre outros tipos de fármacos frequentemente uti-
de recaída (que dependem dos centros) e a altura em lizados neste período, aqueles que mais se associam a
que a recaída é avaliada (quanto mais tempo tiver pas- efeitos neuropsiquiátricos são o interferão, o
sado do transplante maior é a probabilidade de recaí- trimetoprim/sulfametoxazol (TMP/SMT), o propanolol
da)75. e a morfina (Quadro VIII).
A recaída alcoólica pós transplante é uma situação
muito grave, podendo associar-se a lesões histológicas
Quadro VIII
hepáticas que se desenvolvem rapidamente conduzin-
Imunossupressores
do à fibrose 75. Corticosteróides Depressão, irritabilidade, euforia, delirium,
Um aspecto que deve sempre ser lembrado é que o psicose aguda
Ciclosporina Confusão, ansiedade, depressão,
alcoolismo corresponde a uma doença crónica e, como irritabilidade, delirium, tremor
tal, deve ser realizado um seguimento rigoroso para pre- Azatioprina Raros efeitos psiquiátricos
OKT3 Delirium, convulsões
venir as recaídas1,76. Tacrolimus Cefaleias
Assim, quando um doente alcoólico é submetido a
um transplante, mesmo que já esteja abstinente há vári- Outros
Interferão Depressão, ideação suicida, labilidade
os meses ou anos, deverá ser seguido regularmente por emocional, irritabilidade, delirium
técnicos de saúde mental, sendo pesquisado o consu- TMP/SMT Anorexia, depressão
Propanolol Depressão, labilidade emocional,
mo de álcool (que deverá ser nulo, sem permissão de desorientação
beber socialmente), quer através de entrevistas estru- Morfina Agitação, euforia, défice de atenção e
concentração
turadas, quer através de análises sanguíneas77,78.

Quadro VII – Recaída do alcoolismo do pós-transplante TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DAS


Starlz Kumar Howard Beresford Berlakovitch Reek Miguet Média
PERTURBAÇÕES PSIQUIÁTRICAS NOS
1988 1990 1994 1994 1994 1995 2004 DOENTES HEPÁTICOS GRAVES
Recaída do
6% 11,5% 80% 31% 32% 11,5% 30% 29%
Alcoolismo Os doentes com insuficiência hepática podem apre-
sentar:
- Capacidade reduzida para metabolizar determina-
5) Outros das substâncias que circulam no organismo, nomeada-
No período pós transplante podem surgir perturba- mente os fármacos que, acumulando-se no sangue atin-
ções psicóticas, muitas vezes associadas à medicação gem elevadas concentrações.
utilizada. Foram revistos vários estudos em que era ava- - Capacidade reduzida para sintetizar proteínas plas-
liada a prevalência destas situações no período pós máticas e factores de coagulação. Ocorrendo hipoalbu-
transplante hepático, variando esta entre 3,2% e 15% minémia e hipocoagulabilidade com as consequências
com uma média de 7,5%4,8,46 (Quadro VI). clínicas que daí advêm e um aumento da toxicidade dos
A perturbação de stress pós traumático pode surgir fármacos que se ligam a proteínas.
numa percentagem de doentes que ronda os 6% 8 (Qua- Neste contexto são sugeridos pelas guidelines do
dro VI). South London and Maudsley NHS Trust alguns princí-
pios gerais para a administração de fármacos em doen-
6) Efeitos Secundários Neuropsiquiátricos das Me- tes hepáticos 81:
dicações Utilizadas na Transplantação - Prescrever o menor número de fármacos possível.

172
ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

- Iniciar o tratamento com dosagens muito baixas, ser evitados na doença hepática grave80,81.
sobretudo para os fármacos que se ligam muito a proteí-
nas ou que apresentam no seu metabolismo um efeito 2) Estabilizadores de Humor
de primeira passagem importante. O lítio não é metabolizado pelo fígado e desta forma
- Ter um cuidado especial (doses reduzidas) com a pode ser administrado se a função renal estiver
administração de fármacos extensamente metabolizados mantida9,54,81,82.
no fígado (praticamente todos os psicofármacos, com O valproato é contra-indicado na doença hepática,
excepção do sulpiride, amisulpride, lítio e gabapentina, uma vez que é hepatotóxico e a carbamazepina também
que são minimamente metabolizados naquele orgão). não deverá ser utilizada nestes casos porque é um
- Ter em atenção que a semivida dos fármacos está fármaco extensamente metabolizado pelo fígado e
aumentada nos doentes com insuficiência hepática e, indutor dos citocromos P45081,82.
desta forma que os aumentos das dosagens deverão
ser feitos de forma mais gradual. 3) Ansiolíticos e Hipnóticos
- Monitorizar com cuidado os efeitos secundários, As benzodiazepinas devem ser utilizadas com cau-
que poderão surgir mais tardiamente nestes doentes. tela na doença hepática grave, uma vez que o seu meca-
- Evitar fármacos demasiado sedativos, para impedir nismo de acção interfere com o sistema neurotransmissor
a precipitação de episódios de encefalopatia hepática. gabaérgico e a encefalopatia hepática parece também
- Evitar fármacos que provoquem obstipação, para estar relacionada com o GABA54. A sedação nos doen-
prevenir a precipitação de episódios de encefalopatia tes hepáticos pode ser conseguida em alternativa atra-
hepática. vés de baixas doses de antipsicóticos54. Se for neces-
- Evitar fármacos que sejam hepatotóxicos (clorpro- sária a administração de benzodiazepinas, os fármacos
mazina, antidepressivos IMAO). de eleição são o oxazepam, o lorazepam ou o temazepam
- Escolher fármacos de baixo risco e monitorizar a (hipnótico), cujo metabolismo se mantém praticamente
função hepática regularmente. inalterado na insuficiência hepática9,81,82.

1) Antidepressivos 4) Antipsicóticos
Tricíclicos – São todos metabolizados hepaticamen- O haloperidol é descrito por vários autores como
te, ligam-se extensamente a proteínas e apresentam um sendo o antipsicótico de escolha nestas situações,
grande efeito de primeira passagem, devendo ser evita- embora seja necessário monitorizar as doses9,54,81,82.
dos no contexto de doença hepática81,82. Deve se ter um especial cuidado com as fenotiazinas,
SSRI – São todos metabolizados hepaticamente. A particularmente com a clorpromazina que é hepatotóxi-
fluoxetina apresenta uma semivida muito longa, o que a ca9,54,81,82,84. Igual cautela exige o uso de risperidona
torna um fármaco especialmente difícil de manejar na nestes casos, uma vez que este fármaco apresenta uma
insuficiência hepática59,60. Por outro lado, em trabalhos ligação importante às proteínas séricas59. A quetiapina
recentes, verificou-se que a fluoxetina podia aumentar é metabolizada pelo fígado, mas apresenta uma curta
os níveis sanguíneos dos imunossupressores até valo- semivida, podendo também ser utilizada em contexto de
res tóxicos porque inibe o citocrómo P450 3-A41 . De doença hepática.
acordo com vários estudos, a paroxetina parece ser a O amisulpride e o sulpiride são minimamente meta-
escolha mais segura81-83 , sendo utilizada por várias bolizados pelo fígado, podendo, nos casos de doença
unidades de hepatologia com bons resultados81. O es- hepática, ser utilizados com segurança81,82.
citalopram e o citalopram são extensamente metaboliza-
dos pelo fígado devendo ser utilizados com precaução 5) Medicações para Prevenir a Recaída do Alcoo-
e em doses reduzidas81. lismo
Outros - Embora exista pouca experiência relatada A prevenção das recaídas do alcoolismo pode fa-
com venlafaxina nos doentes hepáticos, este fármaco zer-se mediante a prescrição de vários fármacos.
não é recomendado nos casos de doença hepática gra- A naltrexona não é recomendada nos doentes com
ve, acontecendo o mesmo com a reboxetina81,82. A mir- hepatite alcoólica activa ou insuficiência hepática, uma
tazapina, é metabolizada a nível hepático e apresenta vez que pode ser hepatotóxica.
efeitos sedativos importantes, pelo que o seu uso deve O acamprosato não é metabolizado pelo fígado, po-
ser cauteloso81. Os IMAO são hepatotóxicos, devendo dendo ser administrado com segurança nos casos de

173
DIOGO TELLES-CORREIA et al

insuficiência hepática, desde que a função renal esteja - Estado neuropsiquiátrico do doente transplan-
mantida1,81,82. tado
O dissulfiram não é recomendado nos doentes trans- Como referido antes neste artigo, as perturbações
plantados ou nos candidatos a transplante uma vez que psiquiátricas são frequentes no doente com transplan-
este fármaco bloqueia a oxidação do álcool e pode, além te hepático (quer no período pré, quer no período pós
de náuseas, vómitos e mal estar, provocar instabilidade transplante). Embora o estado neuropsiquátrico melho-
hemodinâmica. Além disso um dos metabolitos do re bastante após o transplante, perturbações psiquiá-
dissulfiram é um inibidor do citocrómio P450 3A4, po- tricas como a depressão, a ansiedade e o delirium são
dendo aumentar os níveis sanguíneos dos imunossu- frequentes no período pós-transplante e podem preju-
pressores 81,82. dicar gravemente a qualidade de vida do doente.
O estado psiquiátrico pós-transplante relaciona-se
QUALIDADE DE VIDA NO PÓS TRANSPLANTE segundo vários estudos com o estado psiquiátrico pré-
-transplante, havendo características psiquiátricas/psi-
Aquando dos primeiros transplantes, e no que toca cológicas no período pré-transplante, como a
ao período pós-transplante os investigadores alexitímia21, a ansiedade20,28, e determinados traços de
preocupavam-se sobretudo com questões relacionadas personalidade (neuroticismo)36,44 que se associam a um
com a sobrevivência do doente. À medida que as técni- maior número de perturbações psiquiátricas pós-
cas cirúrgicas se foram aperfeiçoando, e a sobrevivên- -transplante. Noutros estudos comprovou-se que o
cia aumentando, foi atribuída uma maior importância à apoio psicofarmacológico e psicoterapêutico pós-
qualidade de vida do doente transplantado. Por defini- -transplante se associava a um melhor prognóstico psi-
ção, em questões de saúde, a qualidade de vida de um quiátrico e a uma melhor qualidade de vida28,36.
doente relaciona-se com o impacto que o estado de saú- O estado psiquiátrico do doente também pode influ-
de tem sobre o seu bem estar objectivo e subjectivo9. enciar negativamente a sua adesão e, consequentemen-
Numerosos sistemas de avaliação da qualidade de vida te, a sua evolução clínica1,9,28 e a sua qualidade de
têm sido propostos ao longo dos anos. Entre as diver- vida1,28.
sas escalas de qualidade de vida destacam-se a World
Health Organization WHOQOL-10020 e a EORTC Quality - Suporte social
of Life Questionaire 36. O suporte social é fundamental nos doentes trans-
A maioria dos estudos existentes são unânimes em plantados, sobretudo nos doentes com perturbações
afirmar que o transplante hepático trás ao doente uma psiquiátricas ou com alterações cognitivas. Nestes ca-
grande melhoria na sua qualidade de vida20,24,37,85, so- sos é fundamental existir um cuidador que acompanhe
bretudo nos primeiros anos do pós-transplante28, mas o doente nas suas novas tarefas diárias desde a medi-
também se tem tornado evidente que nem todos os do- cação até à reinserção social 1,28,86,87.
entes apresentam uma igual melhoria da qualidade de
vida, havendo factores que condicionam estas diferen- - Planificação
ças. Este factor, muitas vezes esquecido, é determinante
Vários estudos apontam que a qualidade de vida é para uma boa evolução do doente transplantado. Sim-
pior nos doentes transplantados infectados pelo vírus ples tarefas, como as idas frequentes à consulta, a pla-
da hepatite C37,86, enquanto que noutros aquela é me- nificação criteriosa dos recursos a despender com a me-
nor para os doentes com doença hepática alcoólica 5,9. dicação, a reorganização sócio-ocupacional e do estilo
Vários estudos concluíram que a história psiquiátrica de vida, a planificação dos seguros, entre outros, po-
prévia podia também influenciar negativamente a quali- dem ser muito importantes para uma boa evolução do
dade de vida pós-transplante, quer através de uma pior doente e para a sua qualidade de vida 28.
evolução clínica9,15,16,29,30,32,33, quer através de um
aumento da morbilidade psiquiátrica pós- - Dieta e Exercício
-transplante 20,21,33,36. Foi já demonstrado que a malnutrição constitui um
Estes factores de risco não são modificáveis, mas factor de risco importante para morbilidade e mortalida-
muitos estudos têm comprovado que existem outros fac- de pós-transplante 88. O exercício pode ajudar a preve-
tores, modificáveis, que podem ser determinantes para nir as complicações cardiovasculares que os doentes
a qualidade de vida dos doentes, destacando-se: muitas vezes apresentam no período pós-

174
ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

-transplante28,88. A educação do doente em relação a mente por familiares, uma vez que estes apresentam um
aspectos nutricionais e à prática de exercício físico, maior risco de serem manipulados por membros da fa-
podem contribuir para melhorar a sua evolução clínica mília ou amigos1. Na mesma linha, é importante per-
e a sua qualidade de vida28,88. ceber se o dador possui expectativas de que a doação
do tecido vivo possa alterar, de alguma forma, a relação
- Adesão com o receptor ou com o resto da família1. É de salientar
Este factor tem, ultimamente, sido muito referido nos que alguns centros apenas aceitam como dadores de
projectos de investigação desta área. tecido vivo pessoas que não tenham relação familiar ou
A não adesão pode, conforme já referido, ser uma afectiva com o receptor1.
das principais causas de mortalidade pós-transplante41.
Alguns estudos verificaram também que a não adesão Por outro lado, os dadores devem ser informados
se associava a uma pior evolução clínica, ao aumento dos riscos inerentes a todos os procedimentos médi-
do risco de rejeição e de aparecimento de complicações cos a que vão ser submetidos. Desta forma, a incapaci-
como a diabetes89. Outros estudos recentes demons- dade de compreensão destes processos e de assinar
traram também que a não adesão influenciava negativa- um consentimento informado tornará inconcebível a
mente a qualidade de vida no período pós- realização do transplante1.
-transplante 1,9,28.
A adesão é determinada por vários factores, entre A presença de perturbações psiquiátricas no perío-
os quais se destacam factores relacionados com a saú- do pré-transplante pode, à semelhança do que aconte-
de mental do doente2,12. ce com os receptores, influenciar a recuperação da in-
No screening pré-transplante deve ser avaliado o tervenção cirúrgica 8. Também poderão estar presentes
nível de adesão pré-transplante, como já referido. Tem- nos dadores, com alguma frequência, perturbações psi-
-se debatido se os doentes com risco de não adesão quiátricas no período pós-transplante, nomeadamente
pós-transplante devem ou não ser transplantados28,90. depressão e ansiedade 21 . Segundo um trabalho de
Os trabalhos mais recentes, porém, referem que a avali- Fukunishi, a alexitímia presente no período pré-
ação pré-transplante é o momento ideal para identificar -transplante pode associar-se com o aparecimento de
os doentes com risco de não adesão e formular estraté- perturbações psiquiátricas no período pós-transplante,
gias para reduzir esse risco, tais como, uma intervenção quer nos receptores, quer nos dadores21.
psicofarmacológica e psicoterapêutica nos doentes com Estudos recentes mostraram que os receptores e
perturbações psiquiátricas como a depressão e a ansie- dadores envolvidos num transplante podem apresentar
dade ou uma intervenção psicoterapêutica directamen- perturbações psiquiátricas no período pós-transplante,
te orientada para melhorar a adesão12. que são paradoxais, uma vez que ocorrem na ausência
de qualquer complicação médica. Esta situação, que
TRANSPLANTES DE DADOR VIVO surge maioritariamente nos receptores de transplante
hepático de dador vivo, foi denominada por Fukunishi
Nos EUA e na Europa, o número de transplantes de Síndroma Psiquiátrico Paradoxal (SPP) 8,21
hepáticos de dador vivo tem aumentado bastante nos relacionando-se a sua, segundo um estudo de Fukunishi,
últimos anos8. Isto prende-se fundamentalmente com o com a presença de alexitímia no período pré-
número crescente de doentes candidatos ao transplan- -transplante21 .
te e a indisponibilidade de dadores em morte cerebral8. O seu diagnóstico é feito na presença de quatro cri-
É consensual, que os dadores devem ser submeti- térios21:
dos a uma selecção rigorosa, que passa por uma exten- • Conflitos proeminentes associados com o trans-
sa avaliação psicossocial, à semelhança do que aconte- plante (por exemplo sensação de culpabilidade em
ce com os receptores1. relação ao dador);
Na avaliação psicossocial é prioritário compreender • Sintomas de depressão, ansiedade, conversão,
se existe algum tipo de coação ou incentivos financei- somatização, psicose ou de uma perturbação de
ros no processo de doação de tecido vivo, que devem adaptação;
constituir critérios de exclusão. Relativamente a estas • Ocorrência tardia, cerca de um ano após o trans-
situações, é necessário ter um particular cuidado com plante;
dadores que já tenham sido abusados física ou sexual- • Ausência de complicações médicas.

175
DIOGO TELLES-CORREIA et al

CONCLUSÃO recaída dos doentes alcoólicos transplantados.


3) As perturbações psiquiátricas no período pós
1) A avaliação psiquiátrica dos candidatos ao trans- transplante também são muito frequentes, sendo a pre-
plante pode aumentar substancialmente a sobrevivên- valência da depressão pós transplante cerca de 30%,
cia dos doentes, reduzir a taxa de complicações e me- de ansiedade pós transplante 26%, de delirium 30%, de
lhorar a sua qualidade de vida, sendo desta forma in- PTSD 6,4% e de psicose 7,5%. A presença de depres-
dispensável. O principal objectivo da avaliação psiqui- são ou ansiedade pós transplante pode associar-se a
átrica pré-transplante deverá ser diagnosticar atempa- uma qualidade de vida significativamente reduzida. A
damente as situações de forma a planear correctamente taxa de recaída do alcoolismo pós transplante é de cer-
o seu tratamento e evitar futuras complicações. Esta ca de 29%, embora varie muito entre os diferentes estu-
avaliação deverá incluir a avaliação psicopatológica dos devido ao tipo de doentes incluídos (com diferente
geral, a avaliação cognitiva e a avaliação da adesão. comorbilidade psiquiátrica e médica e suporte social),
Este último item é muito importante, uma vez que a não aos diferentes critérios de recaída e ao momento em
adesão é hoje reconhecida como um factor determinan- que a recaída é acedida. A recaída alcoólica pós trans-
te para o aumento da morbilidade e mortalidade, redu- plante é uma situação muito grave, podendo associar-
ção da qualidade de vida, aumento dos custos médicos -se a complicações médicas irreversíveis.
e excesso da utilização dos serviços de saúde pelos Muitos dos sintomas psiquiátricos no período pós
doentes transplantados, podendo ser uma causa direc- transplante podem ser secundários à medicação admi-
ta de 21% de todos os insucessos da transplantação e nistrada neste período (sobretudo os imunossupresso-
26% de todas as mortes pós-transplante. Entre os prin- res), devendo por isso fazer-se um diagnóstico diferen-
cipais determinantes da adesão pós-transplante cial cuidado.
destacam-se a história de não adesão pré transplante, o 4) Os doentes hepáticos apresentam alterações me-
suporte social e a presença de perturbações psiquiátri- tabólicas importantes, facto que determina alterações
cas, quer no período pré, quer no período pós- nos mecanismos farmacocinéticos dos fármacos a eles
-transplante e o suporte social. administrados. Assim, dever-se-á ter cuidado com a me-
2) As perturbações psiquiátricas no período pré dicação psiquiátrica administrada nestes doentes, pri-
transplante são muito frequentes, sendo a prevalência vilegiando psicofármacos que não sejam metabolizados
de depressão cerca de 33%, de ansiedade clinicamente pelo fígado, que tenham uma menor semivida e que apre-
significativa de 34%, de abuso/dependência de álcool sentem uma menor ligação a proteínas plasmáticas. En-
de 59%, de delirium de 24% e de alexitímia de 39%. A tre os antidepressivos, é preferível o uso da paroxetina,
depressão e a ansiedade pré transplante está associada entre os estabilizadores de humor o uso do lítio, entre
a uma evolução clínica e a uma qualidade de vida pós os ansiolíticos e hipnóticos o uso de oxazepam, de
transplante desfavoráveis; o alcoolismo pode estar as- lorazepam ou de temazepam, entre os antipsicóticos o
sociado a uma evolução clínica desfavorável; algumas uso do haloperiodol, do amisulpride ou do sulpiride e
formas de delirium podem correlacionar-se com a evo- entre as medicações para prevenir a recaída do alcoo-
lução clínica; a alexitímia pré transplante associa-se a lismo o uso de acamprosato.
uma maior prevalência de perturbações psiquiátricas 5) À medida que as técnicas se foram aperfeiçoan-
pós-transplante. do, e a sobrevivência aumentando, foi atribuída uma
A prevalência de perturbações de personalidade pré maior importância à qualidade de vida do doente trans-
transplante hepático ronda os 28%. Noutro tipo de plantado. A maioria dos estudos existentes são unâni-
transplantes estas situações têm uma menor prevalên- mes em afirmar que o transplante hepático traz ao doen-
cia (10-15%). te uma grande melhoria na sua qualidade de vida. Po-
Traços de personalidade, como o neuroticismo po- rém, também se tem tornado evidente que nem todos os
dem contribuir de forma negativa para a evolução clíni- doentes apresentam uma igual melhoria desse parâme-
ca (aumento das taxas de reinternamento e de rejeição) tro, havendo factores que condicionam estas diferen-
e para a qualidade dos doentes no período pós trans- ças, nomeadamente o estado neuropsiquiátrico e o acom-
plante . panhamento psiquiátrico do doente transplantado, o
Por outro lado, certos tipos de perturbação de per- suporte social, a planificação, a dieta e exercício e a
sonalidade como a perturbação de personalidade adesão à terapêutica.
antisocial podem contribuir para o aumento da taxa de

176
ABORDAGEM PSIQUIÁTRICA DO TRANSPLANTE HEPÁTICO

6) O número de transplantes hepáticos de dador vivo DM, CLAVIEN PA: Effect of orthopic liver transplantation
tem aumentado bastante nos últimos anos. on employment and health status. Liver Transpl Surg
É consensual que os dadores devem ser submeti- 1996;2:148-153
11. HETZER R, ALBERT W, HUMMEL M et al: Status of
dos a uma selecção rigorosa, que passa por uma exten-
patients presently living 9 to 13 years after orthotopic heart
sa avaliação psicossocial, à semelhança do que aconte- transplantation. Ann Thorac Surg 1997;64:1661-8
ce com os receptores1. Entre os principais factores que 12. LIMBOS MM, JOYCE DP, CHAN CK, KESTEN S: Psy-
são desfavoráveis à aceitação de dadores vivos chological functioning and quality of life in lung transplant
destacam-se a coação ou incentivos financeiros no pro- candidates and recipients. Chest 2000;118:408-406
cesso de doação do tecido vivo e a incapacidade de 13. FORSBERG A, LORENZON U, NILSSON F, BACKMANA
compreensão dos riscos inerentes a todos os procedi- L: Pain and health related quality of life after heart, kidney
and liver transplantation. Clin Transplant 1999;13:453-460
mentos médicos a que vão ser submetidos.
14. STILLEY C, DEW M, STUKAS AA et al: Psychological
Devido à importância que as perturbações psiquiá-
symptom levels and their correlates in lung and heart lung.
tricas pré e pós transplante poderão ter sobre a evolu- Psychossomatics 1999;40:503-509
ção clínica e a qualidade de vida do doente transplanta- 15. KUHN WF, MYERS B, BRENNAN AF et al: Psychopa-
do, ao tipo de patologia psiquiátrica que estes doentes thology in heart transplant candidates. Heart Transplanta-
apresentam, aos sintomas médicos ou secundários à tion 1988;7:223-226
medicação usada (que podem simular sintomas psiqui- 16. FREEMAM, FOLKS DG, SOKOL RS, FAHS JJ: Cardiac
átricos) e ao seu estado metabólico frágil, é essencial transplantation: clinical correlates of psychiatric outcome.
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que os doentes transplantados, assim como os dadores
17. HUFFMAN JC, POPKIN MK, STERN TA: Psychiatric
de tecido vivo, tenham um seguimento psiquiátrico es-
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