Introdução
/
! zação, os problemas sociais relacionados ã alfabetização e as condi
9ões culturais ligadas a seu uso a sua relevância. Embora voltando-o
.$~ também paxa generalizações de caráter mais aroplo, o estudo visa
piincipalmep..te uma i;l.nálise da situação brasileira - nosso sistema
~e escr~ta, nossos problemas de ortografia, nossos sucessos ~ fra ~
I
tassos na alfabetização e nossas condições sociais e culturais .
Tratando em primeiro lugar a questão psicológica,por
ser es·:'a talvez mais simples e a mais pesquisada, t~ntaremos anali -
sar as capacidades humanas engajadas no exercício da leitura, sem
prenderj no entanto, que elas independam de influincias sociais e
culturais. O estudó procura partir do mais simplss ?ara o mais com-
}?lexo, e:mp'liando a compreensão das questões ' relativas ã alfabetiza·-
, ção de crianç~s pobres Fel~ inserção dos problemas psicológicos num
mcrg.
g:u.adro--mais anplo. Fin2_1mence i O estud0 prc~::ura -re.sum i r O q ue s abe--
mos hoje sobre a alfabetiza..ção--de --crianças pobres e apr.esen-tar espe-
culações sobre modos de influenciar os rumos que esta ?ode tomar no
futuro. Durante todo o estudo i serão apresentadas criticas ã prática
_.-ft~da-.alfahetizaÇc=i_o--r - S-erl'. _uf:.c-e ss ariamen::e nos reportarmos a todos
os métodos de ensino e a todos os tipos de escola -simultaneamente. É
a partir desta critica que eS!=leramos poder._.cc~truir---suge.st.ões-.para
uma prática mais produtiva.
~.
'Os PROCESSOS PS ;'CCLÓGICOS Dl\ :'~ E ITU RA E ESCHI~A
_ _
T""')~'~ _tj''''-~Tr ~-.c.: ~ :.::u ~'~=''-'''. ~ :ca:::c::><K"%~_' -
E~ Porquê ?
Cr~~Porqueele e maior~ u{Re.tirado .de--Carraber_.e Rego,
1981,p. 5).
E; Dê uma palavra parecida com bola.
Cr. (FC, 5 anos);Círculo, cilindro.
-E ~ .Por ·· que. . -a.s-- -palavra.s--cir.cul.o-...e--~_pare
cidas com õ8 palavras bola;
Crg Porque é,
I
) Cr; Bico.
E~ Por que a b'alavra bico e parecjda c.om. a palavra
pato t'
Cr; . Porque é:
E~ As--palavr:a.s_~-S.ão-pa rec; da s 2.
Cr~ são.
E~ Porque?
Cr ~ Porqu2 o s a po pula e o meninQ_pula_lsubentenden---_.-- ..
do=s2 provavelmente que, se o menino pula, seu '
sapato pule com ~le)o (Retirado de Carraher e Re
go, 1981 1 p . 6).
I
\
\ Esta tendência da criança de atribuir características
~o referente a palavra já ro i t ilY.'JJém documentada por outros autores ,
bomo Piaget (1929) e MaI'krr:Ctn (l9 73), os quais, no entanto, não rela
~jonaram o fenômeno à aprendizê,rJem da leitura.
/
/ . Em um nível int ermediário do desenvolvimento desta
concepção, as crianças ora atri. buí~m à palavra características de seus
/'
-'
referentes ora mostravam ~· se capazes de atender às características a-
I
cústicas das palavras.
Eg Diga ~~as palavras grandes.
Cr o (LF,7 anos) ~ Telhado, coqueiro,cabeça, vassoura.
E~ Diga umas palavras pequenas.
Cr ~ Pinto,sal, iarro, luz.
-
, - _. _ ~
.
--
.-.- .- .. - -- ~ • y. - s
laba~ nem se faz corresponder UDa criança a uo fonema p apontando pa-
ra três crianças ao se pronunciar iluni I I . duas ao se pronunciar ': tê n ~
etc. A sílaba é nao somente uma unidade natural da pronuncia mas ta~
bém uma unidaJe que encontra uma representaç~o consciente mais prec~
cemente na criança (ver Liberman~Shankweiler~ Fisher e Carter 1974 ;
Ehri~ 1980; Carraher e Rego~ 1981).
Ferreiro e Teberosky (1979) e 9 posteriormente~tambêlil
Carraher e Rego (1984) observaraEi que 9 quando pediuos a uma cr~ ança
n~o alfabetizada que escreva alguma palavra,ela fre q uen te Iílen te se
disp~e a faz~-lo e apresenta-nos? deste cada. sua - .
proprl.a concepçao
escrita. Carrher (1983) observou que as pr~me~ras tenta tivas feitas
pela criança ao tentar escrever refleteB sua dificuldade em conceber
a palavra como una realiJade inuei)endente de seu significado.Inicia..!..
nente, ao ;" escr 2ver"~ a crL:.mça faz rabiscos Elaiores parél represen-
tar graficamen te objetos grnndes e rabiscos menores para representar
objetos pequenos. A forma dos rabiscos pede tamb~rn incluir uma repr~
embora a criança afiroe que est; escre
vendo a Valavra. NUITln ::::2G\2 pusterior~ !\~screvern passa a si gni ficar
;lfazer letras (eu riscos s2Elelh~mtes a letras ( no papel".
Carraher e Rego (19B3 g 1933) identificaram quatro ti-
pos pr inci pais de deseE~enhu entre crianças aind~ n~o éllfabetizadas
ao iniciarem seu priociro ano de a?rendizagen de escrita e l-aitura.
No nível mais elementar. o deseopenho da criança n~o revela o estabe
lecimento de relaç~es sistem~ticas entre a palavra escrita e a pala-
vra falada. f ~
enom~no
· - 'naV1a
que Ja · · s~o
d o b servado
- anteriormente tam-
b~m por Rozin~ BrcssDélo e Taft (1974) e Ferreiro e Teberosky (1979).
Neste nível de a criança tende a usar o mesmo numero - de
sinais para representar qualquer palavra que lhe pediDOS que escre-
va. independentemente de seu comprimentu. SiDultaneamente~ ao ler a
criança parece fazer apenas UEa correspond~ncia global entre a pala-
vra escrita e a falada~ seu desemvenho nie indicando qualquer tenta-
tiva de an~liie da palavra pela criança.
'1';
.'1 u- "1
... ,-, ,'" c;'"
i:) ' -
p'ln .I.. -10
U ....... 'on 1
fi:;" v\,.;..
r1 .<.>
-....~_ desempenho. a leitura começa a
mostrar sinais de ac;lise ela pa lavra falada e de uma busca de corres
pond;ncia entre os elementus obtidus e as letras usadas, apesar da
escrita nia ter inicinlnente refletido tais tend~ncias, una cria.nça~
e Yule (1975) e Rutter (1978) argumentam que esses dois tipos de dis-
lexia pod~m ser diferenciados porque~ (1) as dificuldades especificas
de leitura aparecem mais freqüentemente em meninos, enquanto que os a
trasos gerais da leitura aflicgem igualmente meninos e meninas; (2) de-
sordens neurológicas são mais freqUentes em crianças com atraso geral
na leitura do que dificuldades específicas de leitura; (3) ascrianças
com atraso geral na leitura manifestam vários outros tipos de atraso
no desenvolvimento, enquanto que as dificuldades especificas de leitu
ra estão mais relacionadas a problemas de linguagem (Vellutino, 1978;
Bryant e Bradley, 1985); (4) uma percentagem maior de crianças com a-
traso geral na leitura do que com dificuldadesespecificas.dG leitura
procede de camadas de baixa renda. O atraso geral na leitura, portanto
parece constituir principalmente um atraso acadêmico geral,enquanto
que as crianças com dlficuldades especificas de leitura mostram apren-r
dizagem normal da matemática. Bryant e Bradley (1985), após cuidadosa
revisão da literatura, suger~ram que é pouco provável que as criancas
com dificuldades especificas de leitura constituam um grupo especial,
diferenciado da população geral por traços peculiares ou clínicos.Sua
análise sugere que o mais provável é que as dificuldades de aprendiz~
?em da leitura nessas crianças sejam relacionadas a um desenvolvimen-
to mais lento de alguma habilidade relacionada à aprendizagem da lei-
~ura, provavelmente de natureza lingUística r pois as diferenças em ha
filidades perceptua~s entre bons leitores e l~itores com atraso desa-
~arecem quando a tarefa não envolve a intervenção de desempenho verbal
(ver Vellutino, 1978). Se, de fato, estas crianças não constituírem
Acasos clínicos", argumentam Bryant e Bradley, as mesmas práticas ~ue
~á demonstraram ser eficientes na aceleração da aprendizagem da leit~
~a em crianças normais, como a identificação e produção de rimas
i
(Bradley e Bryant, 1983), deverão também produzir efeitos positivos '
pom crianças que exibem dificuldades específicas de leitura.Esta é F
certamente uma perspetiva animadora diante da questão "alfabetização
e pobreza", pois a escola não precisaria identificar que crianças s~
frém desta dificuldade, uma vez que os mesmos exercícios beneficiariam
a todos.
A incidências das dislexias varia entre países com lí~
guas diferentes, sendo mais comum em países em que a escrita mostra
maior irregularidade, como no caso do inglês, e menos comum entre países
em que a correspondência entre grafemas e fonemas é mais regular,como
no caso do italiano (Rutter, 1978). Estimativas da incidência das disl~
xias variam entre 4% e 15% em países de língua inglesa (ver Vellutino,
1978)! sendo, pois, de sê esperar que sua incidência seja menor no Bra~
sil, uma vez 1ue o ~ortuguês mostra muit~ maior regularidade nas corres
. .-
"'-~_es
- - ._- - --
~ _ ~ ..... '-" _ C--
- - ..-
~ :.c~:.:_::.-=.
lexias entre n6s, seris razoável e~plicarmos tão altos níveis de re?~
tªncia na primeira s~rie em função de problemas clinicos i Não caberia ,
uma crítica sim?les l baseada no próprio senso comum, de que tais iDd!
ces de incidência não podem evidenciar patologias'; Quais seriam os ar
g-"mencos ::;:..:e -'~r;-.";r:l _ essa exp ] j ração?
Um dos argumentos-qu~do-~tjJjzarl e-pa ra manter
a explicação do fracasso escolar em termos de atrasos no desenvolvi-
, mento é o baixo ni veJ, de desempenho de :"desempenho--de crianças po-
bres em testes de- prontidãO-para a leitura~ como o ABC, de Lourenço
Filho, e o Teste Metropolitano de Prontidão. No entanto 1' __ á __necessâ-
rio que consideremos -q ue o estabelecimento de padroes __ - em testes
t
s ~ '} . , psicométricos ,~ , no:rmativo, baseia"se em estatísticas desenvolvidas , :: I ,; ,
~5
para determinadas 90pulações em certas condiCÕes. ' Tais_padrões~ corno !
"
sal:i:enta Cunha, _(1977), têm raízes culturais por demais acentuadas - pa
ra que se possa atribuir processos patológicos àqueles que não 'se-
guem as normas determinadas em um contexto~cio-cultural particu-
lar. Além disso"nada existe na natureza da escrita-alfabetica, como
vimos pela análise a~terior, que exija da , criança a ser alfabetizada
uma idade mental de 6 anos, -por exemplo, ou um determinado nível de
desempenho em qualquer um dos testes 1ue têm sido usados para avali-
ar a prontidão para a alfabetização. Quando examinamos criticamente
tais testes, vemos que poucos itens refletem o exame de alguma habi-
lidade envolvida no processo de execução ou aquisição da leitura. D~
finir palavras I montar quebra ~·cabeças, encontrar a figu/r a que pode
ser formada quando arranjamos as partes desconectadas de um desenho
ou copiar figuras geométircas, exemplos de itens dos vários testes
usados na avaliação da prontidão para a alfabetizâção , não são te re~
fas que exigem do sujeito aquilo que e~tá envolvid~ na compreensão'
do código alfabét,ico. Finalmente, como puderam demonstrat Gatti, Pa~
fo ', 'Costa, Kopit e Almeida (1981), num estudo deta l hado sobre alunos
~:.
vamente I iguais 4;> __e_ 26. Similarmente, esses autores apontam que
o mesmo padrão se re?ete com relação aos resultados da Escala de
Weschler (WISC), pois foram encontradas "não s6 crianças retidas co-
.-
mo também a?rovadas nas categorias de classificação 'médio inferior ',
'limltrofe,' e "deficiente"! (p... _ l ~ __tanto na _Bscola- c.ar;e-nte- como na
não-carente. 'Assim, embora constatada a suposta causa -' baixo desem~e
nho nos testes Metropolitano de pr0n~idão e no WISC - não foi observa
do o efeito esperado. Resultados claros como esse sao raros em psico-
logia I porém pe rmi tem'o nos afastar a hipótese de uma relação causal
entre desempenho baixo nesses teste s e frac a ss o a lfabetização . De --
e==:::.= - -: -=
na literatura resultam de uma terceira variável, que tende a estar
associada as anteriores.
O segundo tipo de ex?licação mencionado acima, es ?~.
cificamente desenvolvido para o caso das crianças pobres, trata o
\
~
\ olaboradores " o Programq.Alfa tem inúmeras qualidades. Em pri-
eiro lugar, baseia o ' processo de aprendizagem na análise da pala-
.ra a nível silábico, que, como vimos anteriormente, é mais compati
, I
aqueles que têm apresentado avaliações do Alfa não podem ser aC 2i.·
casso na alfabetização, uma vez que uma das (boas) características
do programa consiste em insistir em que a criança não deve ser re-
provada. Supõe-se, as sim? que se o mét odo está sendo bem utilizado,
avaliações dos efeito s do Alfa que se baseiam em estatísticas refe~
rentes à redução do fracasso escolar não podem ser usadas como ava-
liações cientificamente aceitáveis de sua eficácia.
Em vis ta das ' diversas características positivas do
Programa Alfa citadas acima, torna-se necessário analisar o progra-
ma e levantar possíveis hipóteses para a explicação de sua incapac!
dade de sanar o problema.
Em primeiro lugar, salienta-se o fato de que Poppovic
e s eus colaboradores não demonst.raram em seus traba lhos uma relação
causal entre as habilidades a serem desenvolvidas durante o período
preparatório de seu prog:rruua e a.prendizagem da leitura . Ainda que a
tese da privaCão cultural possa ser correta, os exerclc ios propostos
para vencer essa privação e ,preparar as crianças pobres para a apreg
dizagem da leitura talvez nuo sejam os adequados.Esta ê, de fato,Qma
conclusão razoável, quando se considera, por um lado, a análise do I
c ód igo alfabético a p~e3Gntada anteriormente e os requisitos que sua
aprendizagem impõe sobre o alfabetizando e, por outro, o tipo de exer
... . d
ClClO " ' do prepaj: a tor
o perlO - .lo neste programa. Em segun d o 1 ugar, e..
possível que o programa, embora bom em si, não possa produzir resul-
tados quando aplicado de modo impróprio. A. ma qualificação do corpo
docente seria um i Xtlpecilho à sua imp lantação. Em terceiro lugar,
observa-se que o Programa Alfa está primariamente centrado na ques-
tão da descoberta do c:Sd:Lrjo . Embora mEt~odos desta natureza tenham-
se mostrado mais efeUvo s na alfabet ização de outra s clientelas (ver,
a este respeito, revisão apresentada por Cha ll, 1967), ê possível
qUE, para o grupo de crianças em questão, uma certa ~nfa se no signif!
cado seja elemento essencial ~ara se obter níveis de motivação ade1u~
dcs para e s sa com?lexa aprendizagem. Seliar e Pelandré (1984) ·também
já apontaram, num comentário geral sobre as razões do insucesso na
alfabetização a possibilidade de que a ênfase exagerada sobre exercí-
cio s perceptuais e sobr e o decifrado do código possa ter efeitos ne-
gat i vos para esta client e~. a.. Para constatarmos o papel secundário que
tem o significado da le itura neste programa, basta comparar os textos
nele propostos para ' leitura com outros ~ue sejam comparáveis em nível
de dificuldade quanto ao decifrado do código e que dêem, porém, maior
atenção ao s igpifieado e aos interes ses de cr ianças na faixa etária
em que se dá a alfabet.ização inicialmente. Um exemp lo de uma .. das lei-
tura s proposta no Progran~Gi. .Alfa e stá contido no Quadro 1.
A ênfase do decifrado do código é tão extrema neste
texto que podemos mesmo identificar a 'lfamília de silabas" que estava
sendo praticada quando o texto foi introduzido. O texto nao tem pro-
priamente uma 'estrutura de estória~ não há um personagem que se encon
tre em uma situação problema, a qual finalmente encontraria uma solu ~
çao, ainda que mágica, ao final. Não há algo que possa motivar a cri ~
ança a leitura no texto em si pois este foi elaborado exclusivamente
para a realização de uma tarefa escolar. A atividade de leitura não é
instrumento para diversão, ' comunicação ou aprendizagens novas. É uma
atividade com um fim em si mesmo.
Ao contrário do observado no texto do Quadro 1, o
texto apresentado no Qua,dro 2 ~, escrito por uma mãe envolvida com a
alfabetização de seu filho - apresenta uma história. Embora curta e
utilizando apenas elementos conhecidos pela criança 'na mesma fase do
programa em que o texto do Quadro 1 pode ser utilizado, a história do
Quadro 2 tem princípio, meio e fim, desenvolve uma situação-problema e
utiliza um tema de interesse nessa faixa _>'tária g a bruxa. Apenas uma
palavra com elementos desconhecidos foi introduzida, a própria pala.~
vra bruxa, cuja leitura não çausou problema para a criança pois arar~
ceu tantas vezes no texto que acabou sendo reconhecida após a primei-
ra leitura pela mãe, logo no título. As frases da história são cur=
tas e não exigem esfor~o exagerado na síntese de seu significado. No
entanto, o significado é ordenado o suficiente para que a criança pa~
ticipe desde cedo uma das importantes habilidades que deve desenvol ·-
ver ao ler~ extrair o significado G auxiliar a si mesma na decodifica
çao a partir do significado do material que já foi lido. Tal habilid~
de dificilmente.poderia ser praticada em textos cujo significado e
truncado pela necessidade de praticar int~nsivamente a ~ltima "famí-
lia de sílabas" estudada pela criança.
Apesar da importância das duas primeiras considera-
ções feitas quanto às dificuldades do Programa Alfa, julgamos que a
última talvez seja a mais grave, com base em estudos sobre a relevân~
cia da leitura para o alfabetizando, os quais discutimos a seguir.
- ------0 o __ _ _ _ _ _ _
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'..' .... ""s a tJ..' V1C._ "=-de s. que t-me lu
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c omun idade e eS
d'et., Bric e· He'lt h obsc ':'.'Gi1 UTii , dcsc o r:. t .. In.1.:.:J. c:>..d.C entre
preta ç5o. As di
cola c om re~ . ~ç~o ~o c c ~c2it~ ~ ~ ~i~ t~~i~ a sua intcr
·-f-eren'ças-entre-cormm j df'de -e-esca1.a--res ultavam em dificul.d.a.d..e-pa~ .
te das crianças na interpretação -do. que delas seJ:.ia __~spérado na esco-
la ao realizarem narrativa e análise do significado de hist6rias.
A fim de -identificar--a -exist-ência .. .de--tais --motivaçÕes
pressupostas pela escola· e oferecidas pelas famílias diferentemente ,
de acordo com sua posição sócio~eqonômica' , Carraher (1984) ,entrevis- '
:tou os responsáveis por crianças de duas escolas que .exibiam elevados
indices de reprovação .na primeira série nos últimos cinco anos em
dois bairros contíguos na periferia de Recife. As entrevistas levant§:
vam, além de informações sobre variáveis sócio~· econômicas e demográfi
cas, informações relativas ao uso de valorização da leitura e da es-'
crita na vida cotidiana dos entrevistados. Além disso, foram observa-
das as nove professoras das escolas freqüentadas por es s as mesmas cri
anças, analisando·"se os usos da leitura é escrita em sala de aula, a
fim de constratá- los com o que fosse observado na comunidade. Os re-'
sultados deste estudo revelaram as seguintes tendências ~ (1) não se
observou associação entre renda fami1iar l e sucesso escolar ; nesta fai-
xa da população; (2) não se observou correlação ~ignifi~ativa entre o
nível de instrução paterno ou materno e aprovação escolar, embora os
coeficientes, nesse caso, tenham ~pD®X:i.màdo :) o' ·i:rirfvél de significância-
de 0,05; (3) não se observou associação entre o número de filhos, ou
~
notar coisas de que gostar iam de poder J_ernbrar-se mais tarde u 39% me!!.
cionaram ler livros; jornais, revistas, ou a SIbliaJ 12,5% mencionaram
usar a leitura o u escrita em SU2S ocupaç5es remunerada s e 17,5% menci2
naram qualquer outro uso de lei t ura ou escrita não incluído entre os
acima. Um resu J.-::ac.o (:"X~:': ~: Z-l'.::tE~.,:: ' 1 -t.8 inteT':; ssante deste estudo foi a obser
vação de uma associação signific at iva. entre o hábito da mãe de ler na "' . o.
senvolvida em cas a fica ai.nda rT:l.is cli::D:o pois, em nenhuma das ocasiões
de observação em sala de aula, as professoras levaram as crianças a
utilizar a leitura 2 c~c~~~~ ~~~ic~~lD2nt 3 . As professoras liam para
as crianças apenas as instruções das tarefas a serem realizadas em elas
se, quando estas eram esc r H:as p e as crianças em nenhuma ocasião prec~
tando mesmo vendo. A gente vê aqueles ônibus todos e não sabe qual e_
Urna vez eu tive tanta vergonha que pra pedir pro homem ler pra mim eu
disse que nao tava enxergando porque tava sem óculos ."
Contrariamente a Carvalho (1982) i e de acordo com ob-
servaçoe s anteriores de Carraher e Carraher (1982), Carraher (19 84)
concluiu que o significado atribuído à alfabetização entre os entre ~
vistados é principalmente a questão de uma boa apresentação socié.:.1
(face~ saving , na terminologia de Goffman, 1963) ~ ou, melhor ainda ,
de uma apresentação social menos vergonhosa y não estigmatizada . Nossa
sociedade tende a estigmatizar o analfabeto e ninguém deseja ser asso
ciado a este estigma em p úbl ico, como salientou Freire (1970) q o anal
fabetismo é tratado como um traço que de svalori za o indivíduo. Tal e
a necessidade de evitar este estigma que observam-se tentativas de
"passar por um no rmal" , no sentido de Goffrnan (1963) f corno foi o caso
.: =:.=~=::= --~ - -- - ---
.------
. f;cul.dades de ","'1 fabet-i zacão-da-eriança p.obre~ . É
cia deste tipo de expli~açãof ou, mais pro?riamente! diante da neces
à luz da insuficiên-,
vel nos úl t~.P."os a_1C.S" have~-:.c.o urna rr.udança ní tidê'. da ênfase em habili
dades derceptuais 9a~~ uma ênfase maiúr em habilidades lingüísticas.
~lém disso, parece provável que; ~€ qualquer forma p não sejam neces -
sários "exam::s de pro::1tidh.o" para seleção dos IImaduros!! nessas novas
habilidades, pois to~~s a~ crianças: rn~is 0 1 menos privilegiadas, b!
neficiam-- se do ' mesm:,) L.lno tl'! experi ê:~c:'a por ocasião de sua alfabeti
zação. Lspeciiicamen~e, 3abemos hoje que a prática em atividades que
desenvolvem o conh 0C lm~nto ~etalin~1ístico está casualmente relacio-
nada a um mai~r ~~ogrcsso na apre~1izagem da leitura.
Explic:1Gocs do fré,Ci'lSSO da criança pobre na alfabeti-
zaçao baseadc.f' na !II-,sicologia da c:r.L:mça carente" também são insufi-
cientes poi~ . como vimos acima, crianlas COffi idênticos nIveis de
H
"prontidão para a leitura são e daixam de s er alfabetizadas. No en-
tanto, se exist~~, de f~to~ um d~s~rvolvimento mais lento de habili-
dades metal i-:-- ~üí['. tic2.,:J ~r. ~r..3 as cl'!...:::nças de camadas p opulares f como
observado por Carraher R ?ego (i98J~ e Ferreiro e Teberosky (1979) I
uma análise mais detalf"ladas do dese:'l.rolar do processo de alfabetiza·,·
çao torna" 'f,e j.!n1')e~ati va .'l\ ~scola desconhece hoje as fases
o desse
processJ " ~lão :?:::'0cura ,,=,eccI'Lhecer; por exemylo p que a criança que já
desenvolveu UDa conc2pçã0 ~lfabétic~ da esc~ita e aprendeu as corres
.
pond~nciu~ l~tra · Z~n 006e ~~r co~~i ; :erada basicamente alfabetizada.
Ela pr:.(:isa ç: f>ena~ .:-rc .~: )r3.r sua a'-)'Ct::ndizagem, desenvolvendo ~ {a} um
conhecirnentC"J3ie , '}~~d_ :'~;':" (lÇ.s d:,Y ';:Lsa:;; opçocs para representar o
mesmo som (por exemplo, o uso de s, x ou z para re?resentar o mesmo
som como em casa, exército e zebra), (b) um conhecimento detalhado
da mudança de valor das letras em. função de 'seu contexto na palavra
(por exemplo, cabelo e cebola) I e (c) uma compreensão da distinção
entre a lIngua falad~ e escrita, tanto no que diz respeito as varia-
ções dialetais marcadas na pronúncia como no que diz respeito às di-
ferenças entre o estilo oral e o escrito. A escola, no entanto, col~
ca todas essas fases no mesmo plano de alfabetização. Privilegiado
no Brasil, como em qualquer outro lugar (ver, por , exemplo.,Bernstein,
1973; 1975), o código lingtlist.;i..co da classe dominante, a escola pen~
liza a criança pobre mais rigorosamente por seus 'e rros de ortografia
do que a criança rica, pois aquela, com a mesma compreensão ~ do siste
ma de escrita e o mesmo conhecimento de correspondências letra-som,
comete mui tos mais erros·, ortográf icos do que esta. A correção orto-
gráfica exagerada nesta época pode apenas desencorajar a criança,
transmitindo-lhe a noção de que ela não compreend~u aquilo que, de
fato, compreendeu, e interfe~indo, assim, em seu progresso.
A análise antropológica, por seu turno, sugere-nos
que os, nIveis motivacionais da criança pobre são, provavelmente,mais
baixos do que os das crianças mais ricas o Enquanto estas últimas co~
vivem com a leitura, conhecendo-lhe o significado funcional e a imen
sidão de possibilidades que ela lhe oferece; as crianças pobresfre-
qüentemente vivem entre ·adultos para quem aprender a ler é apenas
uma forma de evitar um estigma social. A antropologia ensina~nos,
-- -- - ---
--'~-------------- .....