1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
Prefácio 5
2. Recursos em Espécies 45
Introdução 46
Recursos em espécie 47
Recurso de apelação 47
Agravo de instrumento 60
Recurso de agravo interno 68
Recurso de embargos de declaração 70
Recurso ordinário 74
3. Recursos em Espécie 79
Introdução 80
Recursos em espécie 81
Recurso especial 81
Recurso extraordinário 89
Recursos repetitivos 97
Embargos de divergência 101
Incidentes 109
Introdução 109
Incidente de assunção de competência 110
Incidente de arguição de inconstitucionalidade 116
Incidente de resolução de demandas repetitivas 122
Reclamação 131
Prezados(as) alunos(as),
Este manual de Direito Processual Civil III – produzido com base na Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015, e em alterações normativas posteriores – tem por
objetivo auxiliar os acadêmicos do curso de Direito da Universidade Estácio de Sá
no estudo da disciplina Direito Processual Civil.
Trata-se de um guia cuidadosamente elaborado em sintonia com os Planos
de Ensino e de Aula da matéria, tendo por ênfase a abordagem dos seguin-
tes temas: Os Processos nos Tribunais; Teoria Geral dos Recursos; Recursos
em Espécies; Incidente de Assunção de Competência; Incidente de Arguição
de Inconstitucionalidade; Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas;
Precedentes Judiciais; e Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e
Voluntária.
Destinado a oferecer embasamento teórico utilizando-se a regra contida na
legislação de rito vigente, na doutrina e jurisprudência nacional, este material foi
inteiramente formulado para uma leitura clara, objetiva e acessível, sem, contudo,
abrir mão da linguagem jurídica adequada.
Que esta obra o auxilie em sua vida acadêmica e profissional!
Bons estudos!
5
6
1
Da ordem dos
processos nos
tribunais e teoria
geral dos recursos
Da ordem dos processos nos tribunais e
teoria geral dos recursos
Introdução
OBJETIVOS
• Compreender a dinâmica dos processos nos tribunais;
• Compreender a Teoria Geral dos Recursos;
• Analisar o conceito de Recurso e os princípios inerentes ao sistema recursal;
• Conhecer a classificação dos recursos;
• Estudar o Recurso Adesivo e as suas hipóteses de cabimento;
• Entender os requisitos de admissibilidade dos recursos;
• Analisar os efeitos recursais.
capítulo 1 •8
Estrutura do Poder Judiciário
capítulo 1 •9
ATENÇÃO
“A República Federativa do Brasil, em sua organização político-administrativa, é for-
mada pelos seguintes entes federativos: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O
Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores (STJ,
TSE, TST, STM) têm sede na Capital Federal, Brasília – DF. O Supremo Tribunal Federal e
os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. Os Tribunais Regionais
(TRFs, TREs, TRTs) têm jurisdição em sua respectiva região (formada por um conjunto de
Estados), e os Tribunais de Justiça têm sua jurisdição delimitada pelo território de cada
Estado”. (Fonte: http://migre.me/wE4xd.)
CRFB, art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos
dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal.
ATENÇÃO
O Plenário, as Turmas e o Presidente são os órgãos do Tribunal, conforme preceitua o art. 3º do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. O Presidente e o Vice-Presidente são eleitos pelo
Plenário do Tribunal, dentre os Ministros, e têm mandato de dois anos. Cada uma das duas Turmas
capítulo 1 • 10
é constituída por cinco Ministros e presidida pelo mais antigo dentre seus membros, pelo período
de um ano, vedada a recondução, até que todos os seus integrantes hajam exercido a Presidência,
observada a ordem decrescente de antiguidade, art. 4º, § 1º, do Regimento Interno do STF.
capítulo 1 • 11
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas
Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores ou
do próprio Supremo Tribunal Federal.
Também caberá, originariamente, ao STF julgar as infrações penais
comuns e nos crimes de responsabilidade dos Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente.
Haverá ainda perante o Supremo a competência recursal de julgar:
capítulo 1 • 12
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o
Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal,
ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
h) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004);
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o
paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à
jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição
em uma única instância;
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a
delegação de atribuições para a prática de atos processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais,
entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas,
do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio
Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do
Ministério Público;
capítulo 1 • 13
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
CURIOSIDADE
Com o implemento da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, in-
troduziu-se a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal aprovar, após reiteradas decisões
sobre matéria constitucional, súmula com efeito vinculante em relação aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
municipal (art. 103-A da CRFB).
CURIOSIDADE
O Presidente do Supremo Tribunal Federal também é o Presidente do Conselho Nacio-
nal de Justiça (art. 103-B, I, da CRFB).
capítulo 1 • 14
Regionais Federais, um terço entre desembargadores dos Tribunais de Justiça
dos Estados e, ainda, um terço, em partes iguais, entre advogados e membros do
Ministério Público.
CRFB, art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e
três Ministros.
Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo
Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada
a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre
desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo
próprio Tribunal;
II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal,
Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94.
capítulo 1 • 15
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho; os membros
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público
da União que oficiem perante tribunais; os conflitos de competência entre quais-
quer tribunais (ressalvado o disposto no art. 102, I, "o"), bem como entre tribunal
e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; as revi-
sões criminais e as ações rescisórias de seus julgados; a reclamação para a preser-
vação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; os conflitos
de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre
autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito
Federal, ou entre as deste e da União; e a homologação de sentenças estrangeiras e
a concessão de exequatur às cartas rogatórias.
capítulo 1 • 16
Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; os mandados de segurança
decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; as
causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
b) em recurso especial: as causas decididas, em única ou última instância,
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: contrariar tratado ou lei federal,
ou negar-lhes vigência; julgar válido ato de governo local contestado em face de
lei federal; der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.
capítulo 1 • 17
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição
de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados
os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da
Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:
Justiça Federal
capítulo 1 • 18
CRFB, art. 106. São órgãos da Justiça Federal:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira;
II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício,
por antiguidade e merecimento, alternadamente.
capítulo 1 • 19
Quanto aos remédios constitucionais, ao TRF incumbe originariamente julgar:
Aos juízes federais, de acordo com o texto contido na redação do art. 109 da
CRFB, compete processar e julgar: as causas em que a União, entidade autárquica
ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assis-
tentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas
à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; as causas entre Estado estrangeiro ou
organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no país;
as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
capítulo 1 • 20
organismo internacional; os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárqui-
cas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência
da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; crimes previstos em tratado ou convenção
internacional, quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha ou devesse
ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; as causas relativas a direitos hu-
manos; os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por
lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; os crimes come-
tidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização e
a disputa sobre direitos indígenas.
capítulo 1 • 21
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
capítulo 1 • 22
Ainda integram a Justiça Federal, conforme disciplinado na Constituição
Federal, as justiças especializadas do trabalho (arts. 111 a 117 da CRFB), eleitoral
(arts. 118 a 121 da CRFB) e militar (arts. 122 a 124 da CRFB).
Justiça Estadual
A Justiça Estadual, consagrada nos arts. 125 e 126 da CRFB, têm por finalida-
de processar e julgar qualquer causa que não esteja sujeita à competência de outro
órgão jurisdicional (Justiça Federal comum, do Trabalho, Eleitoral e Militar), sen-
do, por isso, considerada residual. É composta por juízes de Direito, que atuam
na primeira instância, e por desembargadores, que exercem função junto aos
Tribunais de Justiça, segunda instância.
É organizada pelos 26 estados-membros da Federação (art. 125 da CRFB),
os quais devem observar em sua constituição os princípios estabelecidos na
Carta Magna.
CURIOSIDADE
A Justiça Federal se organiza em duas instâncias: a primeira é composta por uma Se-
ção Judiciária em cada estado da Federação, e a segunda, por cinco TRFs, que atuam nas
regiões jurisdicionais e têm sede em Brasília: TRF 1ª Região (Distrito Federal e os estados
do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiá, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí,
Rondônia, Roraima e Tocantins); Rio de Janeiro (TRF 2ª Região); São Paulo (TRF 3ª Região);
Porto Alegre (TRF 4ª Região); e Recife (TRF 5ª Região).
capítulo 1 • 23
TRF 1ª Região - Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás,
Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins.
TRF 2ª Região - Espírito Santo e Rio de Janeiro.
TRF 3ª Região - Mato Grosso do Sul e São Paulo.
TRF 4ª Região - Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
TRF 5ª Região - Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Sergipe.
Localizadas nas capitais dos estados, as Seções Judiciárias são formadas por um con-
junto de varas federais, onde atuam os juízes federais. Cabe a eles o julgamento originário
da quase totalidade das questões submetidas à Justiça Federal. Há varas federais também
nas principais cidades do interior desses estados (nessas funcionam as Varas Únicas ou
Subseções Judiciárias). Cada Seção Judiciária está sob a jurisdição de um dos TRFs.
CURIOSIDADE
A Justiça Estadual é dividida em Comarcas e Varas. Uma Comarca pode ter uma Vara
Única ou ser dividida em: Varas Criminais, Varas Cíveis, Varas de Família, entre outras. A Co-
marca possui divisão territorial, que pode representar a área de um ou vários Municípios. As
Varas são as divisões especializadas das Comarcas.
capítulo 1 • 24
Dos processos nos tribunais
ATENÇÃO
Sobre a ordem dos processos nos tribunais, devem-se acrescentar às regras previs-
tas no CPC aquelas decorrentes dos regimentos internos dos tribunais, que, nos termos
do art.96, I, “a”, da CRFB, dispõem sobre a competência e o funcionamento dos respec-
tivos órgãos jurisdicionais e administrativos.
Didier (2016) destaca ainda que a CRFB), “em seu art. 96, I, ‘a’, atribui aos tribunais
o poder de elaborar seus regimentos internos, com observância das normas processuais
constitucionais e legais, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respec-
tivos órgãos jurisdicionais e administrativos”. Isso significa dizer que “os tribunais,
mediante seus regimentos internos, disciplinam o funcionamento de seus ór-
gãos, com a distribuição de competência a cada um deles”. Isso também é o que
determina a regra contida no art. 930 do CPC, que será vista a seguir.
capítulo 1 • 25
CRFB, art. 96. Compete privativamente:
I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância
das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos.
Art. 929. Os autos serão registrados no protocolo do tribunal no dia de sua entrada,
cabendo à secretaria ordená-los, com imediata distribuição.
Parágrafo único. A critério do tribunal, os serviços de protocolo poderão ser
descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.
CRFB, art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre
o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
[...]
XV. a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.
capítulo 1 • 26
Art. 285. A distribuição, que poderá ser eletrônica, será alternada e aleatória, obedecendo-
se rigorosa igualdade.
Parágrafo único. A lista de distribuição deverá ser publicada no Diário de Justiça.
Art. 285. A distribuição, que poderá ser eletrônica, será alternada e aleatória, obedecendo-
se rigorosa igualdade.
Parágrafo único. A lista de distribuição deverá ser publicada no Diário de Justiça.
ATENÇÃO
O art. 932 do CPC enumera em seus incisos as atribuições do relator. Dispõe a norma:
capítulo 1 • 27
V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a:
ATENÇÃO
Antes de considerar inadmissível o recurso (art. 932, III), o relator concederá o
prazo de 05 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado o vício ou complementada
a documentação exigível.
Após seu devido trâmite, os autos serão apresentados ao presidente, que de-
signará dia para julgamento (art. 934 do CPC). Em regra, os julgamentos, nos
tribunais, ocorrem de forma colegiada. No dia e na hora designados para a sessão
de julgamento, cada julgador do órgão colegiado proferirá o seu voto.
Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento (art.
941 do CPC). O somatório dos votos será a decisão do tribunal. A materialização
desse julgamento denomina acórdão (art. 204 do CPC).
Importante destacar que o voto vencido será necessariamente declarado e
considerado parte integrante do acórdão para todos os fins legais, inclusive de
pré-questionamento.
capítulo 1 • 28
Art. 934. Em seguida, os autos serão apresentados ao presidente, que designará dia
para julgamento, ordenando, em todas as hipóteses previstas neste Livro, a publicação
da pauta no órgão oficial.
Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento.
[...]
§ 3o O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do
acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento.
Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais.
CURIOSIDADE
“Formalmente, o julgamento difere do acórdão. O julgamento antecede o acórdão. Co-
lhidos os votos dos integrantes do órgão julgador, haverá o julgamento, que será, posterior-
mente, reduzido a escrito, recebendo, então, a denominação de acórdão. Em outras palavras,
acórdão é a materialização do julgamento, consistindo na redução a escrito da solução dada
pelos integrantes do colegiado.” (DIDIER, 2016.)
Art. 943. Os votos, os acórdãos e os demais atos processuais podem ser registrados em
documento eletrônico inviolável e assinados eletronicamente, na forma da lei, devendo ser
impressos para juntada aos autos do processo quando este não for eletrônico.
§ 1o Todo acórdão conterá ementa.
capítulo 1 • 29
CONCEITO
Ementa: consiste em um resumo escrito de forma clara e objetiva sobre as questões de
fato e de direito debatidas no julgamento que originou o acórdão.
capítulo 1 • 30
CONCEITO
Ação autônoma de impugnação: é o meio de impugnação de uma decisão judicial
onde se origina um novo processo, cujo objetivo é combater a decisão judicial existente.
Exemplo: ação rescisória.
CONCEITO
Sucedâneo recursal: é o meio de impugnação de decisão judicial que não é recurso
nem uma ação autônoma de impugnação. Na verdade, esclarece Didier (2016) que é
“uma categoria residual: o que não for recurso, nem ação autônoma, será um sucedâneo
recursal. A categoria dos sucedâneos recursais engloba, enfim, todas as outras formas
de impugnação da decisão”.
ATENÇÃO
Cabe apenas recurso de decisão interlocutória, sentença e acórdão. Dos despachos não
cabe recurso.
Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso.
Princípios recursais
Princípio da Taxatividade:
capítulo 1 • 31
ordinário; recurso especial; recurso extraordinário; agravo em recurso especial ou
extraordinário; e embargos de divergência.
É vedada pela lei processual a criação de outros recursos diferentes desses, seja
por leis estaduais, seja por Regimentos Internos de Tribunais que comumente
legislam em matéria processual.
Princípio da Voluntariedade
Está ligado ao controle da atividade estatal por meio dos recursos e relaciona-
do ao princípio do devido processo legal. A possibilidade de reexame da decisão
da causa constitui o elemento básico desse princípio.
Pela estrutura do Poder Judiciário brasileiro contida na Constituição Federal,
como visto anteriormente, há um sistema hierarquizado de poderes, sendo o
Supremo Tribunal Federal o órgão máximo da estrutura judiciária do nosso país;
existem ainda os Tribunais Superiores, os Tribunais Federais e Estaduais.
capítulo 1 • 32
“Os tribunais, na grande maioria dos casos, exercem a função de reexaminar as decisões
proferidas pelos juízes inferiores. Em outras palavras, a maior parte da atividade dos
tribunais é de segundo grau de jurisdição, daí resultando a evidência de que a Constituição
Federal se refere, quando disciplina a estrutura do Poder Judiciário, ao princípio do duplo
grau de jurisdição.” (DIDIER, 2016)
Princípio da Singularidade
Princípio da Dialeticidade
Em uma redação simples, esse princípio consiste em não poder piorar a situa-
ção daquele que recorre. O órgão jurisdicional somente age quando for provocado
e nos exatos termos do pedido. Esse princípio se orienta pela vedação à reforma da
decisão recorrida em prejuízo do recorrente e em benefício do recorrido.
Nesse sentido, “na pior das hipóteses para o recorrente, a decisão recorrida
é mantida, não podendo ser alterada para piorar sua situação” (NEVES, 2015).
Assim, para o recorrente, o que de pior pode ocorrer é tudo ficar como antes da
interposição do recurso.
Se a decisão for favorável em parte a um dos legitimados e em outra parte
ao outro legitimado, poderão ambos interpor o recurso; nesse caso, não haverá o
capítulo 1 • 33
Princípio da Proibição da Reformatio in Pejus, porque o Tribunal poderá dar pro-
vimento ao recurso de uma das partes ou até mesmo negar provimento a ambos,
nos limites dos recursos interpostos.
Princípio da Fungibilidade
CURIOSIDADE
No que tange à má-fé, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já se posicionou que se aplica
a Teoria do Menor Prazo Recursal, isto é, “considera-se recorrente de má-fé aquele que, na
dúvida entre dois recursos ou mais, escolhe o que tem o maior prazo e recorre neste prazo,
o que demonstraria, na visão do Tribunal, sua malícia em aproveitar de mais tempo para a
interposição de recurso” (NEVES, 2013).
Princípio da Complementariedade
Princípio da Consumação
capítulo 1 • 34
Classificação dos Recursos
capítulo 1 • 35
O recurso adesivo não é considerado pela doutrina e jurisprudência pátria
uma modalidade recursal, mas, sim, uma forma de interposição tardia de impug-
nação para aquele que inicialmente não tinha a intenção de recorrer, mas, apro-
veitando-se do recurso interposto pela parte contrária, apresenta, conjuntamente
com a sua peça de resposta ao recurso principal (contrarrazões), o seu recurso
adesivo, recorrendo, assim, da parte da decisão que restou inconformado.
Trata-se na verdade de um recurso interposto de forma diferenciada e com
pressuposto de admissibilidade particular – somente será conhecido se houver o
conhecimento do recurso principal (art. 997, § 2°, do CPC).
Podem ser objetos de recurso adesivo os seguintes recursos: apelação, recurso
especial e recurso extraordinário (art. 997, §§ 1º e 2°, I, II e III, do CPC).
Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância
das exigências legais.
§ 1o Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá
aderir o outro.
§ 2o O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as
mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal,
salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte:
I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo
de que a parte dispõe para responder;
II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial;
III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível.
capítulo 1 • 36
São considerados requisitos intrínsecos: o cabimento; o interesse recursal, a
legitimidade recursal; e a inexistência de ato impeditivo ou extintivo do direito de
recorrer. São considerados requisitos extrínsecos: a tempestividade; o preparo; e a
regularidade formal.
Há também doutrinadores que diferenciam os pressupostos de admissibilida-
de em objetivos e subjetivos. Os pressupostos objetivos “dizem respeito ao próprio
recurso em si mesmo considerado” (NEVES, 2016), enquanto os pressupostos
subjetivos são inerentes à pessoa do recorrente.
1. Pressupostos extrínsecos:
99 Tempestividade;
99 Preparo;
99 Regularidade formal;
2. Pressupostos intrínsecos:
99 Cabimento;
99 Legitimidade para recorrer;
99 Interesse em recorrer;
99 Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer.
Pressupostos extrínsecos
capítulo 1 • 37
Todo e qualquer recurso possui um prazo para ser interposto, sob pena
de preclusão. A regra perante o CPC encontra-se descrita no art. 1.003, § 5°,
do CPC.
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
[...]
§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
ATENÇÃO
Estão dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos
interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos
Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.
ATENÇÃO
No processo em autos eletrônicos, é dispensado o recolhimento do porte de re-
messa e de retorno.
capítulo 1 • 38
Sobre o preparo, dispõe a lei processual:
Pressupostos intrínsecos
Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e
pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
Súmula 99 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em
que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte.
capítulo 1 • 39
c. Interesse em recorrer ou interesse recursal: Somente pode recorrer a parte
que está inconformada com a decisão, isto é, a parte vencedora não pode recorrer,
pois a sua pretensão foi alcançada.
d. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo: Aqui se impõe a exigência
legal de que não tenha ocorrido, após a propositura da ação, pela parte, nenhum
fato superveniente que leve à extinção do direito de recorrer ou, ainda, que impeça
o tribunal de conhecer o recurso manejado.
Os fatos impeditivos consistem na própria desistência do recurso ou da ação;
também há o reconhecimento do pedido por parte do réu, há a renúncia ao di-
reito em que se funda a ação, ou ainda a prática de algum ato da parte que leve à
preclusão lógica.
Assim, na inexistência de fato impeditivo ou extintivo, encaixam-se as au-
sências de desistência, renúncia, deserção, transação acerca do objeto litigioso
do processo.
CURIOSIDADE
Conceito de Transação: Transigir. Acordo. As partes fazem concessões com o intuito de
conciliar, de chegar a um entendimento comum.
Desistência: Sobre a desistência ao direito de recorrer, o art. 998 do CPC deixa claro que
aquele que interpõe o recurso poderá, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes,
desistir do recurso.
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Renúncia: É ato unilateral de uma das partes (isto é, manifestada livremente por ela);
por isso, a redação do art. 999 do CPC dispõe que a renúncia ao direito de recorrer
independe da aceitação da outra parte
capítulo 1 • 40
ATENÇÃO
Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato
incompatível com a vontade de recorrer.
ATENÇÃO
Os efeitos devolutivo e suspensivo estão previstos diretamente na Lei Processual Civil;
os demais efeitos são entendimentos doutrinários.
a. Efeito devolutivo
Considerado o efeito mais importante, está presente em todos os recursos.
Segundo Neves (2015), por esse efeito “entende-se a transferência ao órgão ad
quem do conhecimento de matérias que já tenham sido objeto de decisão no
juízo a quo.
capítulo 1 • 41
b. Efeito suspensivo
O efeito suspensivo impede que a decisão recorrida produza seus efeitos até o
reexame da matéria.
c. Efeito substitutivo
Por esse efeito, o julgamento do recurso substituirá a decisão recorrida nos
limites da impugnação (art. 1.008 do CPC).
Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que
tiver sido objeto de recurso.
d. Efeito expansivo
Caberá sempre que o julgamento do recurso gerar decisão mais abrangente
do que a materia impugnada. É a capacidade de alguns recursos em ultrapassar os
limites objetivos ou subjetivos previamente estabelecidos pelo recorrente.
Está presente nas hipóteses de litisconsorte necessário; sendo assim, mesmo
que um dos litisconsortes não apresente recurso, ele será beneficiado de uma even-
tual modificação na sentença.
capítulo 1 • 42
e. Efeito translativo
É a vocação dos recursos em permitir que o órgão ad quem examine de ofício
matérias de ordem pública, conhecendo-as ainda que elas não integrem o objeto
do recurso.
f. Efeito interruptivo
Suspende o prazo para a interposição de outros recursos. O recurso de
Embargos de Declaração, como veremos diante, possui efeito interruptivo.
g. Efeito obstativo
Esse efeito está ligado à preclusão temporal. A doutrina majoritária entende
que, interposto qualquer recurso, este impede a geração da preclusão temporal,
não havendo então que se falar em trânsito em julgado da decisão.
Como ensina Neves (2015), para uma parte da doutrina, “na realidade a in-
terposição do recurso não impede a preclusão, mas simplesmente suspende a sua
ocorrência até o momento em que o recurso for julgado. Há ainda uma terceira
corrente, que toma por base o resultado do julgamento do recurso interposto:
não sendo o recurso admitido (juízo de admissibilidade negativo), terá ocorrido
somente o impedimento temporário à preclusão, enquanto, sendo o recurso jul-
gado no mérito, com a substituição da decisão recorrida, o recurso terá realmente
obstado a preclusão”.
O importante aqui é que qualquer que seja o recurso, quando ele é interposto
e está em trâmite, não é possível “falar em preclusão da decisão impugnada, afas-
tando-se no caso concreto durante esse lapso temporal o trânsito em julgado e
eventualmente a coisa julgada material (decisão de mérito)”.
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capítulo 1 • 43
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DIDIER JR., F; CUNHA, L.C. da. Curso de Processo Civil. Meios de Impugnação às Decisões
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PINHO. H. D. B. de. Direito Processual Civil Contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2016.
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Superiores por norma infraconstitucional. Disponível em: http://bit.ly/28Jv4QT. Acesso em:
19 mar. 2017.
SILVA, D. P e. Vocabulário Jurídico. 12. ed. v. IV. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
capítulo 1 • 44
2
Recursos em
espécies
Recursos em espécies
Introdução
OBJETIVOS
• Estudar a apelação e o seu campo de abrangência como recurso contra decisões interlo-
cutórias e sentença;
• Compreender os requisitos de admissibilidade e os efeitos específicos da apelação;
• Entender o procedimento recursal para julgamento do recurso de apelação;
• Estudar o recurso de agravo de instrumento e a sua importância no controle das deci-
sões interlocutórias;
• Analisar as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento;
• Analisar os efeitos do recurso de agravo;
• Compreender a função integradora dos embargos de declaração;
• Estudar as hipóteses de cabimento dos embargos de declaração;
• Entender o procedimento dos embargos de declaração;
• Analisar as hipóteses de cabimento do recurso ordinário constitucional.
capítulo 2 • 46
Recursos em espécie
Recurso de apelação
O Código de Processo Civil disciplina (em seu Livro III, Título II, Capítulo
I, Das Disposições Gerias, art. 994) os recursos cabíveis dentro da lei de ritos
nacional. São eles:
capítulo 2 • 47
na redação do art. 485 do CPC) e as sentenças definitivas (que extinguem o pro-
cesso com resolução do mérito – art. 487 do CPC).
Segundo o art. 485 do CPC, serão casos de extinção do processo sem reso-
lução do mérito (sentenças terminativas) as seguintes hipóteses: quando houver
o indeferimento da petição inicial; quando o processo ficar parado por mais de
1 (um) ano em razão de negligência das partes; quando, por não promover os
atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30
(trinta) dias; quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo; quando reconhecer a existência de
perempção, de litispendência ou de coisa julgada; quando se verificar ausência de
legitimidade ou de interesse processual; quando acolher a alegação de existência
de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competên-
cia; quando homologar a desistência da ação; em caso de morte da parte, a ação
for considerada intransmissível por disposição legal; e também nos demais casos
prescritos no CPC.
capítulo 2 • 48
sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; quando homologar o reconheci-
mento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; quando
homologar a transação; quando homologar a renúncia à pretensão formulada na
ação ou na reconvenção.
ATENÇÃO
Merece destaque a regra consagrada no § 7o do art. 485 do CPC, segundo o qual, inter-
posto o recurso de apelação, por qualquer dos casos de que tratam os incisos do art. 485 do
CPC, o juiz terá 05 (cinco) dias para retratar-se.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
[...]
§ 7o Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste art., o
juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.
capítulo 2 • 49
Lei nº 9.099/95 - Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou
laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado.
Outra exceção está contida na Lei de Execuções Fiscais (LEF), Lei nº 6.830,
de 22 de setembro de 1980, em seu art. 34, que dispõe que, das sentenças de pri-
meira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinquenta)
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), só serão admitidos os
recursos de embargos infringentes e o de embargos de declaração.
Como esclarece Neves (2013), “a diferença entre os embargos infringentes
do art. 34 da LEF e a apelação é indiscutível, sendo considerado erro grosseiro
a interposição de um recurso pelo outro, o que afasta a aplicação do Princípio
da Fungibilidade”.
capítulo 2 • 50
Lei nº 6.830 - Art. 34. Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de
valor igual ou inferior a 50 (cinquenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional -
ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração.
ATENÇÃO
Legitimado ativo, isto é, aquele que irá interpor o recurso de apelação, é chamado ape-
lante; legitimado passivo, aquele que irá oferecer a peça de resposta do recurso de apelação,
é o apelado.
ATENÇÃO
O apelado, conforme previsto na redação do art. 5°, LV, da Constituição da República
Federativa do Brasil (CRFB), tem o direito de exercer o contraditório e a ampla defesa ao
recurso interposto pela parte adversa. A peça em que o recorrido exerce o seu direito cons-
titucional se denomina contrarrazão. Assim, por exemplo, têm-se contrarrazões de apelação,
contrarrazões de agravo de instrumento, contrarrazões de recurso especial, contrarrazões de
recurso extraordinário etc.
capítulo 2 • 51
CRFB - Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LV. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
[...]
§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
capítulo 2 • 52
instrumento, visto que não se encontra nas hipóteses da redação do art. 1.015 do
CPC. Nesse caso, a parte inconformada com a decisão do juiz não poderá interpor
recurso de agravo de instrumento, mas poderá, por não haver preclusão temporal
do recurso de agravo de instrumento, quando for interpor recurso de apelação ou
quando for responder a esse recurso interposto apenas pela parte contrária, em
preliminar, suscitar o cerceamento do seu direito à ampla defesa, fruto da negativa
da prova pericial.
capítulo 2 • 53
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DECISÃO AGRAVADA QUE
DETERMINOU AO AUTOR QUE EMENDASSE A INICIAL. COM A ENTRADA EM
VIGOR DO NOVO CPC, O RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO PASSOU
A SER CABÍVEL SOMENTE NAS HIPÓTESES TAXATIVAS DO ARTIGO 1015, NÃO
FIGURANDO ENTRE ELAS A DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE DETERMINA A
EMENDA DA INICIAL. INCONFORMISMO PODERÁ SER SUSCITADO EM SEDE DE
PRELIMINAR DE APELAÇÃO OU CONTRARRAZÕES. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO
1009, § 1.º DO CPC/15. INADMISSIBILIDADE DO RECURSO. PRECEDENTES.
RECURSO QUE NÃO SE CONHECE.
capítulo 2 • 54
Cabe esclarecer que, quando narrada a questão preliminar em contrarrazões
de apelação, o apelante será intimado a, no prazo de 15 dias, manifestar-se sobre
tal questão (art. 1.009, § 2° do CPC).
Quanto à sua forma, para a elaboração da peça prático-profissional do recurso
de apelação, deve-se ficar atento à regra contida no art. 1.010 do Novo CPC,
que disciplina que o recurso será dirigido ao próprio juízo que proferiu a decisão
em primeiro grau de jurisdição contendo: os nomes e a qualificação das partes; a
exposição do fato e do direito; as razões do pedido de reforma ou de decretação
de nulidade; e o pedido de nova decisão. Após o magistrado intimar o apelado a
oferecer em 15 dias as contrarrazões (art. 1.010, § 1°, do CPC), o processo seguirá
para o tribunal onde será julgado.
Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá:
I - os nomes e a qualificação das partes;
II - a exposição do fato e do direito;
III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;
IV - o pedido de nova decisão.
§ 1o O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias.
Efeitos
No que tange aos efeitos, a regra do recurso de apelação é que ele será recebido
no duplo efeito, isto é, devolutivo (art. 1013, caput, do CPC) e suspensivo (art.
1.012, caput, do CPC) – efeito suspensivo automático. Quando o recurso de ape-
lação for recebido no duplo efeito, a sentença à qual foi interposto o recurso (aqui
apelada) poderá desde já produzir efeito, permitindo desse modo o seu cumpri-
mento provisório (art. 1.012, § 2°, do CPC), como veremos a seguir.
Contudo, o art. 1.012, § 1o, do CPC enumera as hipóteses em que o recurso
será recebido apenas no efeito devolutivo. A redação desse parágrafo afirma que,
“além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediata-
mente após a sua publicação a sentença que”: homologar a divisão ou demarca-
ção de terras; condenar a pagar alimentos; extinguir sem resolução do mérito ou
julgar improcedentes os embargos do executado; julgar procedente o pedido de
capítulo 2 • 55
instituição de arbitragem; confirmar, conceder ou revogar tutela provisória; ou
decretar a interdição.
CURIOSIDADE
No CPC de 1973, o recurso de apelação também tinha como regra ser recebido no duplo
efeito, isto é, devolutivo e suspensivo (art. 520, caput, primeira parte). Porém, o próprio artigo
enumerava as hipóteses (rol exemplificativo) em que o recurso de apelação só seria recebido
no efeito devolutivo, a saber: homologar a divisão ou a demarcação; condenar à prestação
de alimentos; decidir o processo cautelar; rejeitar liminarmente embargos à execução ou
julgá-los improcedentes; julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; confirmar
a antecipação dos efeitos da tutela.
CPC/1973 - Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo.
Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:
I - homologar a divisão ou a demarcação;
II - condenar à prestação de alimentos;
III – revogado;
IV - decidir o processo cautelar;
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes;
VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem.
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela;
capítulo 2 • 56
Nas hipóteses em que o recurso será recebido apenas no efeito devolutivo, o
apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publi-
cada a sentença.
Art. 1.012
[...]
§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser
formulado por requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição,
ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II - relator, se já distribuída a apelação.
§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o
apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a
fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
capítulo 2 • 57
Teoria da Causa Madura
CURIOSIDADE
Os incisos do art. 1.013, § 3°, do CPC ampliaram o rol de cabimento da Teoria da Causa Madura
prevista no CPC de 1973, em seu art. 515, que previa o cabimento dela apenas quando a causa ver-
sasse sobre questão exclusivamente de direito e estivesse em condições de imediato julgamento.
CPC 1973 - Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal
pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e
estiver em condições de imediato julgamento.
capítulo 2 • 58
Quando a redação do art. 1.013, § 3°, do CPC afirma que autoriza o tribunal
a decidir, desde logo, o mérito do recurso de apelação, este “consagra a ideia de
que, estando a causa ‘madura’, nos casos ali mencionados, não deve o tribunal de-
terminar a devolução dos autos, para que o juiz profira nova sentença: o tribunal
deve, ele mesmo, prosseguir e julgar o mérito da causa”; por isso, o nome Teoria
da Causa Madura (DIDIER JR., 2016).
Continua o autor a destacar que, quando o art. 1.013, § 3°, escreve que deve
estar a causa em condições de imediato julgamento, significa dizer que “o processo
tem de estar pronto: réu citado e provas produzidas. Somente falta a decisão sobre
o mérito” (DIDIER JR., 2016).
ATENÇÃO
Para a aplicação da Teoria da Causa Madura, explica Didier Jr. (2016) que existem três
pressupostos, quais sejam:
a) requerimento do apelante;
b) provimento da apelação;
c) processo em condições de imediato julgamento.
Neves (2016) deixa cristalino que o objetivo da lei processual civil, ao ad-
mitir a Teoria da Causa Madura, “é a otimização do julgamento de processos,
em nítido ganho de celeridade e economia processual”. Continua o doutrina-
dor dizendo: “É inegável que o propósito da norma é o oferecimento de uma
tutela jurisdicional em menor tempo, com o que se presume prestar-se tutela
jurisdicional de melhor qualidade”, tratando-se, dessa forma, de matéria de
ordem pública.
ATENÇÃO
A redação da Teoria da Causa Madura trazida pelo CPC coaduna com o Princípio
Constitucional da Duração Razoável do Processo (art. 5°, LXXVIII, CRFB) também previsto
no art. 40 do CPC.
capítulo 2 • 59
Segundo Neves (2016):
Para que seja aplicada a Teoria da Causa Madura nos termos do art.
1.013, § 3°, I, do Novo CPC, o processo deve estar em condições
de imediato julgamento. Neste caso, sendo anulada a sentença
terminativa, poderá o tribunal passar ao julgamento originário do mérito
da ação. Neste caso a sentença é anulada e não reformada como
previsto no dispositivo legal ora comentado, cabendo ao tribunal, após
julgar o mérito recursal, passar a julgar, de forma originária, o mérito da
ação. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a regra
não afronta o princípio da ampla defesa, nem mesmo impede a parte
do obter o pré-questionamento, o que poderá ser conseguido com a
interposição de embargos de declaração.
Nas outras hipóteses do art. 1.013, § 3°, isto é, no caso dos incisos II, III e IV,
não há uma sentença terminativa, como ocorre no inciso I, mas, sim, há sentença
de mérito “viciada anulada pelo julgamento da apelação com a permissão ao tri-
bunal de, ao invés de encaminhar o processo novamente ao primeiro grau para a
prolação de uma nova sentença de mérito, julgar imediatamente o mérito da ação”
(NEVES, 2016). Essas três hipóteses são novidades trazidas pelo CPC de 2015,
sem correspondente no CPC de 1973.
Agravo de instrumento
capítulo 2 • 60
ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; redistribuição do
ônus da prova nos termos do art. 373, § 1o; e nos outros casos expressamente
referidos em lei.
Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença,
no processo de execução e no processo de inventário (parágrafo único do art.
1.015 do CPC).
capítulo 2 • 61
Buscando maior celeridade no procedimento e certa simplificação
quanto à sistemática dos recursos, passou a autorizar a
interposição de agravo de instrumento somente em situações de
maior urgência, nas quais seria inviável aguardar a decisão final
para se permitir a impugnação, por meio de apelação, de decisão
relativa à questão incidental.
CURIOSIDADE
Pelo CPC de 1973 contra as decisões interlocutórias, caberia ao agravante interpor, além
do recurso de agravo de instrumento – que só era admitido em três hipóteses –, o recurso de
agravo retido (art. 522 do pretérito CPC de 1973), o qual foi suprimido pelo atual CPC.
capítulo 2 • 62
CPC 1973 - Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez)
dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte
lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e
nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua
interposição por instrumento.
CURIOSIDADE
O recurso de agravo de instrumento somente era cabível quando (art. 522 do CPC/73):
se tratasse de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem
como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação
tivesse sido recebida.
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
[...]
§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
CURIOSIDADE
Pelo CPC de 2015, todos os recursos, salvo os embargos de declaração (art. 1.003, §
5°), terão prazo de 15 dias, inclusive o recurso de agravo de instrumento. Antes, pelo CPC de
1973, esse recurso tinha prazo de interposição de 10 dias (art. 522, caput).
capítulo 2 • 63
Além da tempestividade (prazo de 15 dias para interpor o recurso de agravo
de instrumento), outro requisito de admissibilidade importante desse recurso é a
sua instrumentalidade, que dá nome a esse meio de impugnação. Nesse caso, ao
interpor o recurso, deverá o agravante, obrigatoriamente, instruí-lo (sob pena de
inadmissão), com cópias dos seguintes documentos (art. 1.017, I, do CPC): peti-
ção inicial; contestação; petição que ensejou a decisão agravada; a própria decisão
agravada; certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que com-
prove a tempestividade e as procurações outorgadas aos advogados do agravante
e do agravado.
Caso o agravante não disponha de qualquer desses documentos, o advogado
deverá declarar a inexistência deles, conforme determinado no inciso II do art.
1.017 do CPC. Poderá o agravante ainda anexar, facultativamente, outras peças
que entender úteis.
capítulo 2 • 64
reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido; o nome e o endereço
completo dos advogados constantes do processo.
Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, por
meio de petição com os seguintes requisitos:
I - os nomes das partes;
II - a exposição do fato e do direito;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;
IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.
capítulo 2 • 65
§ 2o No prazo do recurso, o agravo será interposto por:
I - protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo;
II - protocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias;
III - postagem, sob registro, com aviso de recebimento;
IV - transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei;
V - outra forma prevista em lei.
§ 3o Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa
a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932,
parágrafo único.
§ 4o Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-símile ou
similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição original.
§ 5o Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos incisos
I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis
para a compreensão da controvérsia.
Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da
petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos
documentos que instruíram o recurso.
§ 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará
prejudicado o agravo de instrumento.
§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput,
no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado
pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.
capítulo 2 • 66
Efeitos
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo
órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno
do tribunal.
§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.
CURIOSIDADE
O CPC de 1973 (em seus arts. 527, III, e 558) já previa a possibilidade de o desembar-
gador relator atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total
ou parcialmente, a pretensão recursal.
capítulo 2 • 67
CPC 1973 - Art 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído
incontinenti, o relator: III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir,
em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao
juiz sua decisão.
ATENÇÃO
As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não com-
portar agravo de instrumento, não são irrecorríveis, pois isso significaria ofensa ao princípio
do devido processo legal. Então, dessa maneira, as decisões interlocutórias que não puderam
ser recorridas via recurso de agravo de instrumento não ficam cobertas pela preclusão tem-
poral desse recurso e poderão ser impugnadas em preliminar de apelação, eventualmente
interposta contra a decisão final, ou ainda nas contrarrazões de apelação. Caso essas ques-
tões sejam suscitadas em contrarrazões, o agravante será intimado para, em 15 (quinze) dias,
manifestar-se a respeito delas (art. 1.009, §§ 1o e 2o, do CPC).
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão
colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.
capítulo 2 • 68
§ 2o O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o
recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-
lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta.
Estabelece a regra contida na redação do art. 1.021, §3°, que, em sua decisão,
o relator não poderá se limitar à reprodução dos fundamentos da decisão agravada
para julgar improcedente o agravo interno.
Art. 1.021.
[...]
§ 3o É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para
julgar improcedente o agravo interno.
Art. 1.021.
[...]
§ 4o Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente
em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante
a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa.
§ 5o A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor
da multa prevista no § 4o, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da
justiça, que farão o pagamento ao final.
capítulo 2 • 69
Recurso de embargos de declaração
capítulo 2 • 70
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício
ou a requerimento;
III - corrigir erro material.
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento.
Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida
ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam
a preparo.
§ 1o Aplica-se aos embargos de declaração o art. 229.
ATENÇÃO
Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial, seja ela decisão inter-
locutória, sentença ou acórdão.
capítulo 2 • 71
Diante dos princípios previstos no art. 2° da Lei 9.099/95 (Princípio da
Oralidade, Princípio da Simplicidade, Princípio da Informalidade, Princípio da
Economia Processual e Princípio da Celeridade), a norma admite que o recurso de
embargos de declaração seja interposto de forma escrita ou oral.
No Juizado Especial Cível (JEC), o prazo para interposição desse recurso tam-
bém será de cinco dias, contados da ciência da decisão.
Lei nº 9.099/95 - Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão
nos casos previstos no Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Lei nº 9.099/95 - Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou
oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
Efeitos
ATENÇÃO
Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de qualquer
outro recurso (art. 1.026, caput, do CPC), inclusive no âmbito dos Juizados Especiais,
Lei nº 9.099/95.
capítulo 2 • 72
“O prazo é interrompido na data da interposição dos embargos e perdura até a data de
publicação do acórdão que os julgue” ou ainda da sentença ou da decisão interlocutória
(PINHO, 2016).
ATENÇÃO
Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores forem
considerados protelatórios (art. 1.026, § 4°, do CPC).
capítulo 2 • 73
Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o
prazo para a interposição de recurso.
[...]
§ 2o Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal,
em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não
excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa.
§ 3o Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa
será elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de
qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final.
§ 4o Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores
houverem sido considerados protelatórios.
Recurso ordinário
capítulo 2 • 74
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
capítulo 2 • 75
Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário:
I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os
mandados de injunção decididos em única instância pelos tribunais superiores, quando
denegatória a decisão;
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais
federais ou pelos tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,
quando denegatória a decisão;
b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
Art. 1.028. Ao recurso mencionado no art. 1.027, inciso II, alínea “b”, aplicam-se, quanto
aos requisitos de admissibilidade e ao procedimento, as disposições relativas à apelação
e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.
capítulo 2 • 76
ao seu presidente ou vice-presidente determinar, desde logo, a intimação do re-
corrido para, em 15 (quinze) dias, apresentar as contrarrazões. Findo esse prazo,
os autos serão remetidos ao respectivo tribunal superior, independentemente de
juízo de admissibilidade.
Art. 1.028.
[...]
§ 2o O recurso previsto no art. 1.027, incisos I e II, alínea “a”, deve ser interposto perante o
tribunal de origem, cabendo ao seu presidente ou vice-presidente determinar a intimação
do recorrido para, em 15 (quinze) dias, apresentar as contrarrazões.
§ 3o Findo o prazo referido no § 2o, os autos serão remetidos ao respectivo tribunal
superior, independentemente de juízo de admissibilidade.
ATENÇÃO
O CPC permite o recurso de agravo de instrumento dirigido diretamente ao Superior
Tribunal de Justiça quando se tratar de decisão interlocutória proferida nos processos em
que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro,
Município ou pessoa residente ou domiciliada no País (art. 1.027, II, “b”). Nesse caso, deverá
ser observado o rol taxativo para cabimento desse recurso, previsto na redação do art. 1.015
e seus incisos.
Art. 1.027.
[...]
§ 1o Nos processos referidos no inciso II, alínea “b”, contra as decisões interlocutórias caberá
agravo de instrumento dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, nas hipóteses do art. 1.015.
capítulo 2 • 77
Art. 1.028.
[...]
§ 1o Na hipótese do art. 1.027, § 1o, aplicam-se as disposições relativas ao agravo de
instrumento e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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17 abr. 2015.
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mar. 2017.
_______. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: https://goo.gl/
zQ91UG. Acesso em: 17 maio 2015.
______. Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996. Disponível em: https://goo.gl/IBJuUU. Acesso em:
10 mar. 2017.
______. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em: https://goo.gl/ZihGqD. Acesso em:
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______. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980. Disponível em: https://goo.gl/f4fbXo. Acesso em:
18 mar. 2017.
BUENO, C.S. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2007.
DIDIER JR. F.; CUNHA, L. C. da. Curso de Processo Civil. Meios de Impugnação às Decisões
Judiciais e Processo nos Tribunais. 13. ed. v. 3. Bahia: Jus Podium, 2016.
GARCIA, G.F.B. Novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/2-15. Principais Modificações. Rio de
Janeiro: Gen/Forense, 2015.
HARTMANN, R.K. Novo CPC altera diversas regras dos recursos e extingue procedimentos.
Disponível em: https://goo.gl/984o6P. Acesso em: 18 mar. 2017.
NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil. 5. ed. São Paulo: Gen, 2013.
_______. Novo CPC – Código de Processo Civil. Inovações. Alterações. Supressões. São Paulo: Gen/
Método, 2015.
______. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Bahia: Jus Podium, 2016.
PINHO, H.D.B. de. Direito Processual Civil Contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2016.
SARAIVA, W. Inconstitucionalidade da Alteração da Competência dos Tribunais Superiores por
Norma Infraconstitucional. Disponível em: https://goo.gl/m03LQd. Acesso em: 19 mar. 2017.
capítulo 2 • 78
3
Recursos em
espécie
Recursos em espécie
Introdução
OBJETIVOS
• Analisar o recurso especial e o recurso extraordinário;
• Entender os requisitos de admissibilidade específicos desses dois recursos constitucionais;
• Analisar o conceito de pré-questionamento;
• Estudar a repercussão geral e o pré-questionamento como forma de objetivação dos re-
cursos excepcionais;
• Compreender a importância desses recursos como método de formação dos prece-
dentes judiciais;
• Analisar o procedimento para julgamento dos recursos repetitivos;
• Compreender a metodologia do julgamento por amostragem;
• Estudar as hipóteses de cabimento dos embargos de divergência.
capítulo 3 • 80
Recursos em espécie
Recurso especial
capítulo 3 • 81
cabimento do recurso interposto e as razões do pedido de reforma ou de invalida-
ção da decisão recorrida.
Art. 1.029.
[...]
§ 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova
da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência,
oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o
acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial
de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso,
mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
capítulo 3 • 82
Art. 1.029.
[...]
§ 3o O Supremo Tribunal Federal ou o STJ poderá desconsiderar vício formal de recurso
tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.
Nesse sentido, como vimos no capítulo anterior, o prazo para interpor e res-
ponder todo e qualquer recurso previsto na redação do art. 994 do CPC é de 15
dias (art. 1.005, § 5°, do CPC), salvo o recurso de embargos de declaração, cujo
prazo será de 05 dias. Assim, o recurso especial terá prazo de 15 dias, da mesma
forma que as suas contrarrazões recursais (art. 1.030 do CPC).
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados,
a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
[...]
§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido [...].
ATENÇÃO
A divergência apontada ocorre entre diferentes tribunais, consoante entendimento dis-
posto na Súmula 13 do STJ, não se prestando o recurso especial à alegação de ter sido a
decisão recorrida justa ou injusta, considerando-se que essa questão deva ser resolvida nas
instâncias ordinárias, onde se pode examinar a matéria de fato. Portanto, na devolução do
conhecimento da matéria impugnada ao STJ para a reapreciação, serão discutidas questões
exclusivamente de direito, sem qualquer revisão de questões fáticas e reexame de provas,
conforme Súmula 7 do STJ.
STJ – Súmula 7: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.
STJ – Súmula 13: A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial.
capítulo 3 • 83
ATENÇÃO
Conforme disciplina a Súmula 203 do STJ, não se admite recurso especial contra deci-
são proferida por juízo de primeiro grau ou por Conselhos Recursais dos Juizados Especiais
Cíveis Estaduais.
STJ – Súmula 203: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos Juizados Especiais.
capítulo 3 • 84
recurso especial matéria que não tenha sido objeto de decisão prévia, vedando-se
nesse recurso a análise de matéria de forma originária pelo STJ”. (N. R.: palavra
na grafia original.)
Sobre o tema, também escreve Didier Jr. (2016): “Para que haja pré-ques-
tionamento, não basta a simples indicação ou menção a dispositivo ou a preceito
normativo; é preciso haver manifestação sobre o tema, debate ou discussão. A
discussão, a manifestação ou o debate sobre o tema configura o pré-questio-
namento, ainda que não tenha sido mencionado ou indicado o dispositivo ou
preceito normativo”. Acrescenta o autor que “a matéria pré-questionada é a que
constitui fundamento determinante; seja o fundamento determinante vencedor,
seja o fundamento determinante do voto vencido”.
ATENÇÃO
Sendo a decisão impugnada recorrível mediante recurso especial e recurso extraordiná-
rio, estes devem ser elaborados em petições distintas, uma vez que “é inadmissível recurso
especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconsti-
tucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta
recurso extraordinário”, sendo essa a orientação da Súmula 126 do STJ.
STJ – Súmula 126: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta
em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só,
para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.
capítulo 3 • 85
Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo
Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver prejudicado.
§ 2o Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário,
em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo
Tribunal Federal.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível,
rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o
julgamento do recurso especial.
Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial
versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para
que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a
questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso
ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao
Superior Tribunal de Justiça.
Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à
Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação
de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento
como recurso especial.
capítulo 3 • 86
Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial por um fundamento,
devolve-se ao tribunal superior o conhecimento dos demais fundamentos para a
solução do capítulo impugnado.
Efeitos
O recurso especial, como regra, será recebido no efeito devolutivo, não haven-
do nesse recurso efeito suspensivo automático, conforme preceitua a redação do
art. 995 do CPC.
Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou
decisão judicial em sentido diverso.
Segundo Didier Jr. (2016), “há, porém, um caso em que [os recursos] pos-
suem efeito suspensivo automático: quando interpostos contra decisão que julga o
incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 987, § 1°, do CPC)”.
Continua o autor a destacar que “a regra deve ser aplicável, por analogia,
ao recurso extraordinário eventualmente interposto contra decisão do STJ em
capítulo 3 • 87
julgamento de recursos especiais repetitivos, em razão da existência de um micros-
sistema de julgamento de casos repetitivos (art. 928 do CPC)”.
A redação do art. 1029, § 5°, do CPC admite a concessão de efeito suspensivo
tanto ao recurso extraordinário como, no caso em análise, ao recurso especial, que
deverá ser requerido diretamente ao tribunal superior, no período compreendido
entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição. Fica o
relator designado a seu exame prevento para julgá-lo, cabendo também ao próprio
relator do recurso, na hipótese de já ter sido distribuído o recurso, e ainda ao
presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido
entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso,
assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado.
Art. 1.029.
[...]
§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I - ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão
de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III - ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido
entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim
como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037.
capítulo 3 • 88
Recurso extraordinário
capítulo 3 • 89
CURIOSIDADE
O recurso extraordinário surgiu inspirado no writ of error de origem norte-americana,
instituído nos Estados Unidos da América do Norte com a edição do Judiciary act, em 24 de
setembro de 1789, e ainda na “apelación”, encontrada no ordenamento jurídico argentino.
capítulo 3 • 90
Embora a Constituição Federal de 1988 não tenha trazido de forma expressa o
requisito de admissibilidade pré-questionamento para o recurso extraordinário, é
unânime em nosso tribunal que a parte, no momento em que interpõe o recurso,
deve demonstrar presentes os requisitos de admissibilidade pré-questionamento.
Isso significa que a matéria de direito já foi discutida (questionada) previamente,
no juízo a quo, e focalizada pelo acórdão recorrido, considerando que a função
precípua dos recursos excepcionais é resguardar a autoridade e a uniformidade de
interpretação da Lei Maior.
Sobre esse tema, o STF já se posicionou editando as Súmulas 282 e 356,
que rezam:
capítulo 3 • 91
CRFB, art. 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
[...]
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão
geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim
de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-
lo pela manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004.)
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral,
nos termos deste artigo.
§ 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.
§ 2o O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação
exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.
capítulo 3 • 92
ATENÇÃO
Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que: contrariar súmu-
la ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal; tiver reconhecido a inconstitu-
cionalidade de tratado ou de lei federal.
Art. 1.035.
[...]
§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
II – (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do
art. 97 da Constituição Federal.
ATENÇÃO
Quando for reconhecida a repercussão geral, o ministro relator do STF determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
versem sobre a questão e tramitem no território nacional.
O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de 1
(um) ano e terá preferência sobre os demais, ressalvados os processos que envolvam réu
preso e os pedidos de habeas corpus.
A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será publicada no
diário oficial e valerá como acórdão.
Art. 1.035.
[...]
§ 5o Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará
a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos,
que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.
capítulo 3 • 93
[...]
§ 9o O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de
1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu
preso e os pedidos de habeas corpus.
[...]
§ 11. A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será publicada
no diário oficial e valerá como acórdão.
ATENÇÃO
Quando for negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de
origem negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem
sobre a mesma matéria.
Art. 1.035.
[...]
§ 8o Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem
negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem
sobre matéria idêntica.
capítulo 3 • 94
b) negar seguimento a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto con-
tra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do STF ou do STJ,
respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos;
c) encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação,
se o acórdão recorrido divergir do entendimento do STF ou do STJ exarado, con-
forme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
d) sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda
não decidida pelo STF ou pelo STJ, conforme se trate de matéria constitucional
ou infraconstitucional;
e) selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou in-
fraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
f ) realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao STF ou ao
STJ, desde que: o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercus-
são geral ou de julgamento de recursos repetitivos; o recurso tenha sido seleciona-
do como representativo da controvérsia; ou o tribunal recorrido tenha refutado o
juízo de retratação.
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos
serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá: I –
negar seguimento: a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual
o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral
ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal
de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação,
se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão
geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme
se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;
capítulo 3 • 95
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá
agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021.
Efeitos
Em relação aos efeitos –, de acordo com o art. 1.029, § 5º, c/c art. 995, caput
e parágrafo único do CPC –, a regra do recurso extraordinário é que ele terá efeito
devolutivo. Dessa forma, enquanto perdurarem os recursos excepcionais, a senten-
ça anterior já pode ser executada provisoriamente. Contudo, a própria redação do
art. 1.029, § 5º, determina que nos casos de urgência será possível ao interessado
requerer o efeito suspensivo.
Art. 1.029.
[...]
§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I - ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão
de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III - ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido
entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim
como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037.
capítulo 3 • 96
Recursos repetitivos
Pinho (2016) destaca que “a massificação das relações sociais é uma das maio-
res responsáveis pelo verdadeiro congestionamento experimentado pela justiça
brasileira, também se podendo listar fatores como burocracia notória e custos ele-
vados enquanto lutas a serem travadas”.
O CPC – imbuído nos princípios constitucionais elencados no art. 5°,
LXXVIII (celeridade processual e razoável duração do processo, este último tam-
bém consagrado no art. 4° da nova lei de ritos) – estabeleceu, em seus arts. 1.036
e seguintes, um mecanismo com o objetivo central de dar resposta à repetição de
demandas que congestionam o Poder Judiciário e que, por muitas vezes, ainda
possuem decisões antagônicas, apesar de serem fruto da mesma situação jurídica.
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa.
capítulo 3 • 97
observado o disposto no Regimento Interno do STF e no do STJ (art. 1.036,
caput, do CPC). Por esse procedimento, há a escolha de um ou mais recursos que
seriam modelos a serem analisados e julgados, com o sobrestamento processual
dos demais recursos semelhantes àqueles.
Segundo Bueno (2016):
Em outras palavras, Pinho (2016) registra que, “por intermédio deste me-
canismo, caberá ao STF ou ao STJ, conforme o caso, ao decidir o mérito dos
recursos selecionados, julgar a tese jurídica central que dá ensejo à propositura de
inúmeros recursos idênticos”.
capítulo 3 • 98
A escolha dos recursos representativos da controvérsia feita pelo presidente ou
vice-presidente do Tribunal de Justiça Estadual ou do Tribunal Regional Federal
não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá selecionar outros recursos.
O ministro relator do tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou
mais recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão de direi-
to, independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tri-
bunal de origem. Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que con-
tenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.
Art. 1.036
[...]
§ 1o O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional
federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão
encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins
de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§ 2o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da
decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias
para manifestar-se sobre esse requerimento.
[...]
§ 5o O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais recursos
representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito independentemente
da iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem.
§ 6o Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente
argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.
capítulo 3 • 99
Os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de 1 (um) ano e terão
preferência sobre os demais processos (art. 1.037, § 4°, do CPC). Com o objetivo
de evitar decisões controvertidas no âmbito dos tribunais superiores, o art. 1.039,
caput, determina que, “decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados decla-
rarão prejudicados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os
decidirão aplicando a tese firmada”.
Ao final, será publicado o acórdão paradigma (art. 1.040, caput e incisos I, II
e III, do CPC), e todos os demais processos que estavam suspensos nos Tribunais
de Justiça dos Estados ou nos Tribunais Regionais Federais terão segmento negado
caso o acórdão recorrido coincida com a orientação do Tribunal, ou serão nova-
mente apreciados pelo Tribunal de origem quando o acórdão recorrido divergir da
orientação do Tribunal Superior.
Os processos suspensos em 1° e 2° graus de jurisdição retomarão o curso para
julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior.
capítulo 3 • 100
II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo de
competência originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o
acórdão recorrido contrariar a orientação do tribunal superior;
III - os processos suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição retomarão o
curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior;
CURIOSIDADE
Pela nova lei processual civil há a ampliação dos efeitos da decisão do STJ (art. 1.037, II),
que submete um recurso ao crivo dos recursos repetitivos. Agora, quando houver a afetação
de um recurso repetitivo, o ministro relator “determinará a suspensão do processamento de
todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e trami-
tem no território nacional”.
De acordo com o pretérito CPC de 1973, em seu art. 543-C, a afetação do recurso
repetitivo provoca somente o sobrestamento dos recursos especiais interpostos perante os
tribunais de segunda instância.
Embargos de divergência
capítulo 3 • 101
Segundo Bueno (2016), “é correto entender que para bem desempenharem
o seu papel institucional, a eles reservado pelo modelo constitucional do direito
processual civil, é fundamental que o STF o STJ tenham, eles próprios, sua juris-
prudência uniformizada em seus diferentes órgãos judicantes”.
Esse recurso mantém o mesmo objetivo do CPC de 1973: possibilitar a re-
visão de um acórdão de turma do STF ou do STJ que divirja de outra turma do
mesmo tribunal. Contudo, a nova lei processual trouxe alteração com o fim de
ampliar a previsão legislativa do CPC anterior.
Pela redação do art. 1.043, I e III, caberá embargo de divergência quando o
acórdão de órgão fracionário em recurso extraordinário ou em recurso especial
divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os
acórdãos, embargado e paradigma, de mérito, e, quando em recurso extraordi-
nário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do
mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido
do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia.
ATENÇÃO
O inciso II do art. 1.043 foi revogado pela Lei nº 13.256 de 2016.
CURIOSIDADE
Os embargos de divergência foram implementados pela Lei nº 623 de 1949, acrescen-
tando o parágrafo único ao art. 833 do CPC de 1939.
capítulo 3 • 102
Art. 833/39. Além de outros casos admitidos em lei, são embargáveis, no Supremo
Tribunal Federal, as decisões das Turmas, quando divirjam entre si, ou de decisão tomada
pelo Tribunal Pleno.
Art. 1.043.
[...]
§ 1o Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em julgamentos de recursos e de
ações de competência originária.
§ 2o A divergência que autoriza a interposição de embargos de divergência pode verificar-
se na aplicação do direito material ou do direito processual.
§ 3o Cabem embargos de divergência quando o acórdão paradigma for da mesma turma
que proferiu a decisão embargada, desde que sua composição tenha sofrido alteração
em mais da metade de seus membros.
De acordo com a redação do art. 1.043, § 4° (do CPC), da Súmula 168 (do
STJ) e das Súmulas 247 e 598 (do STF), são condições sine qua non para esse
recurso: a comprovação dessa divergência (seja por certidão, seja por cópia ou ci-
tação de repositório oficial ou credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia
eletrônica) e que ela seja atual.
capítulo 3 • 103
O procedimento desse recurso deve obedecer ao que determina o regimento
interno do Tribunal Superior em que foi interposto. Quando no STJ, os embargos
de divergência irão interromper o prazo para interposição de recurso extraordiná-
rio por qualquer das partes.
Se os embargos de divergência não forem acolhidos ou não alterarem a con-
clusão do julgamento anterior, o recurso extraordinário interposto pela outra parte
antes da publicação do julgamento dos embargos será processado e julgado inde-
pendentemente de ratificação, tudo de acordo com a norma estabelecida no art.
1.044 e parágrafos do CPC.
Art. 1.043.
[...]
§ 4o O recorrente provará a divergência com certidão, cópia ou citação de repositório
oficial ou credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia eletrônica, onde foi publicado
o acórdão divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na rede mundial
de computadores, indicando a respectiva fonte, e mencionará as circunstâncias que
identificam ou assemelham os casos confrontados.
capítulo 3 • 104
§ 2o Se os embargos de divergência forem desprovidos ou não alterarem a conclusão
do julgamento anterior, o recurso extraordinário interposto pela outra parte antes da
publicação do julgamento dos embargos de divergência será processado e julgado
independentemente de ratificação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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17 abr. 2015.
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Acesso em: 17 maio 2015.
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______. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em: https://goo.gl/mxjLpM. Acesso em:
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______. STJ. Súmulas. Disponível em: https://goo.gl/1JtjCY. Acesso em: 31 maio 2015.
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DIDIER JR., F; CUNHA, L.C. da. Curso de Processo Civil. Meios de Impugnação às Decisões
Judiciais e Processo nos Tribunais. 13 ed. v. 3. Bahia: Jus Podium, 2016.
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Janeiro: Gen/Forense, 2015.
HARTMANN, R.K. Novo CPC altera diversas regras dos recursos e extingue procedimentos. Disponível
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NEVES, D.A.A. Manual de Direito Processual Civil. 5. ed. São Paulo: Gen, 2013.
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Gen/Método, 2015.
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PACHECO, N.M.D. Material didático da disciplina Prática Simulada V. Rio de Janeiro: Universidade
Estácio de Sá, 2015.
PINHO, H.D.B. de. Direito Processual Civil Contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2016.
capítulo 3 • 105
SARAIVA, W. Inconstitucionalidade da Alteração da Competência dos Tribunais Superiores por norma
infraconstitucional. Disponível em: https://goo.gl/9SF1LM. Acesso em: 19 mar. 2017.
SANTOS, M.A. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 24 ed. v. 2. Rio de Janeiro: [s.n.], 2008.
capítulo 3 • 106
4
Incidentes e
precedentes
judiciais
Incidentes e precedentes judiciais
Introdução
OBJETIVOS
• Analisar o incidente de assunção de competência;
• Compreender o incidente de arguição de inconstitucionalidade e sua a importância como
forma de controle difuso da constitucionalidade;
• Entender o incidente de resolução de demandas repetitivas e a sua importância para a
solução de demandas de massa;
• Compreender a força normativa dos precedentes judiciais no CPC;
• Entender o sistema de aplicação do sistema de precedentes;
• Estudar a reclamação como forma específica de impugnação.
capítulo 4 • 108
Incidentes
Introdução
capítulo 4 • 109
o Superior Tribunal de Justiça (STJ). O objetivo deste é dar maior celeridade,
isonomia e segurança jurídica ao julgamento de recursos especiais que tratem da
mesma controvérsia jurídica. Esses casos podem ser selecionados por amostragem,
cabendo ao presidente ou vice-presidente do tribunal de origem admitir um ou
mais recursos que melhor representem a questão repetitiva e encaminhá-lo(s) ao
STJ para julgamento.
Ainda sobre a égide do CPC de 1973, foi criado o incidente de uniformização
de jurisprudência (pretéritos arts. 476 a 479), o qual era instaurado no curso de
um recurso ou ainda de ação de competência originária dos tribunais. Como es-
creve Didier Jr., (2016) era um procedimento burocrático e moroso.
Com a edição da Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2001, o art. 555 da
antiga lei de ritos passou a conter o § 1°, que dispunha: “Ocorrendo relevante
questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor divergência entre
câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso julgado pelo
órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse público na as-
sunção de competência, esse órgão colegiado julgará o recurso”. A norma “passou
a prever, a bem da verdade, mais um incidente de uniformização de jurisprudên-
cia. A regra ampliou as hipóteses de uniformização de jurisprudência no âmbito
interno dos tribunais, evitando a adoção do procedimento previsto nos arts. 476 a
479 do CPC de 1973, que era meramente repressivo e implicava uma bipartição
da competência funcional para julgamento da causa” (DIDIER JR., 2016).
O incidente de assunção de competência, que estudaremos a seguir, é uma
nova concepção do incidente previsto no § 1° do art. 555 do CPC de 1973, pois,
“além de ser aplicável quando ocorrer relevante questão de direito a respeito da
qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras
ou turmas do tribunal (CPC, art. 947, § 4°), é admissível quando o julgamento do
recurso, da remessa necessária ou de processo de competência originária envolver
relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em
múltiplos processos” (DIDIER JR., 2016).
capítulo 4 • 110
competência originária envolve relevante questão de direito, com grande repercus-
são social, sem repetição em múltiplos processos.
1. Que a matéria seja de relevante questão de direito, com grande repercussão social; e
2. Sem repetição em múltiplos processos.
O §4° do próprio artigo 947 também apresenta mais uma hipótese de cabi-
mento para a assunção de competência: quando ocorrer relevante questão de direi-
to a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência
entre câmaras ou turmas do tribunal.
Art. 947.
[...]
§ 4o Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a
respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre
câmaras ou turmas do tribunal.
capítulo 4 • 111
Quanto ao procedimento desse incidente, ocorrendo a hipótese de assun-
ção de competência, o relator proporá, de ofício ou a requerimento da parte, do
Ministério Público ou da Defensoria Pública, que o recurso ou a remessa necessá-
ria (ou ainda, se for o caso, o processo de competência originária) seja julgado pelo
órgão colegiado que o regimento interno do tribunal indicar.
Caso esse incidente, em determinada hipótese, vise à consolidação de juris-
prudência interna do próprio tribunal, deverá ser aplicada a regra contida na re-
dação do art. 978 do CPC (é uma regra do incidente de resolução de demandas
repetitivas que se aplica adequadamente aqui). Assim, “o julgamento caberá ao
órgão indicado pelo regimento interno dentre aqueles responsáveis pela uniformi-
zação da jurisprudência do tribunal” (NEVES, 2016).
Art. 978. O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno
dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal.
Parágrafo único. O órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a
tese jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de
competência originária de onde se originou o incidente.
Art. 947.
[...]
§ 1o Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício
ou a requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que seja
o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária julgado pelo
órgão colegiado que o regimento indicar.
§ 2o O órgão colegiado julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de
competência originária se reconhecer interesse público na assunção de competência.
§ 3o O acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos os juízes e órgãos
fracionários, exceto se houver revisão de tese.
capítulo 4 • 112
Resumidamente, esse incidente “consiste no deslocamento da competência
funcional de órgão fracionário que seria originariamente competente para apreciar
o recurso, processo de competência originário ou remessa necessária, para um ór-
gão colegiado de maior composição, devendo a lide ser isolada e envolver situação
de relevante questão de direito com repercussão social. O acórdão proferido pelo
órgão colegiado consubstanciará em um precedente que vinculará todos os órgãos
daquele tribunal, que diante de outro caso igual não poderão decidir de maneira
diversa” (SOARES, 2016). Continua o autor exemplificando com perfeição:
ATENÇÃO
Enunciado nº 334 do Fórum Permanente de Processualistas: (art. 947). Por força
da expressão “sem repetição em múltiplos processos”, não cabe o incidente de assunção de
competência quando couber julgamento de casos repetitivos. (Grupo: Precedentes.)
capítulo 4 • 113
ATENÇÃO
Enunciado nº 335 do Fórum Permanente de Processualistas: (arts. 947 e 15).
O incidente de assunção de competência aplica-se ao processo do trabalho. (Grupo:
Impacto do CPC no processo do trabalho.)
CURIOSIDADE
Assunção de competência ganha maior relevância no STJ após reforma regimental.
capítulo 4 • 114
Interesse público: De acordo com a redação da Emenda nº 24, a Corte
Especial ou a Seção, conforme o caso, deve admitir o recurso, a remessa necessária
ou o processo de competência originária se reconhecer interesse público na assun-
ção de competência (§ 1º do art. 271-B).
A votação quanto à possibilidade de o processo ser julgado sob o rito especial
se dará em meio eletrônico. Todos os ministros componentes do respectivo órgão
julgador devem votar de forma objetiva.
Mesmo em caso de desistência ou de abandono, ainda caberá o exame do mé-
rito. Nessa hipótese, desde que não seja requerente, o Ministério Público intervirá
obrigatoriamente e assumirá a titularidade do processo (§§ 2º e 3º do art. 271-B).
Diligências: A nova emenda regimental também permite que o relator ou o
presidente façam diligências necessárias ao deslinde da controvérsia. Após identifi-
car, com precisão, a questão a ser submetida a julgamento, o relator deve ouvir as
partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse
na controvérsia – que poderão requerer a juntada de documentos, bem como
outros procedimentos que considerarem necessários. Depois deve abrir vista ao
Ministério Público (art. 271-D).
Nos termos dos arts. 185 e 186 do Regimento Interno, o relator ou o presi-
dente podem fixar data para ouvir pessoas ou entidades com experiência e conhe-
cimento na matéria, em audiência pública, a fim de instruir o procedimento (§ 1º
do art. 271-D).
Quórum: Uma importante mudança diz respeito ao efeito do julgamento
em assunção de competência. O acórdão proferido pela Corte Especial vinculará
todos os órgãos do tribunal, e por Seção vinculará as turmas e os ministros que a
compõem, exceto se houver revisão de tese (art. 271-G).
Uma vez que a matéria a ser decidida no julgamento do IAC envolve relevante
questão de direito, com grande repercussão social, o quórum mínimo de presença
para iniciar o julgamento é de dois terços dos membros do colegiado; já o quórum
de votação exige apenas maioria simples.
Além disso, o RISTJ prevê, em seu art. 271-F, que a redação do acórdão pro-
ferido em IAC deve seguir o modelo do art. 104-A (nos termos do § 3º do art.
1.038, c/c o art. 984, § 2º, do CPC).
Segundo esse dispositivo, o acórdão deverá conter os fundamentos relevan-
tes da questão jurídica discutida, favoráveis ou contrários, capazes de, em tese,
confirmar ou infirmar: a conclusão adotada pelo órgão julgador; a definição dos
capítulo 4 • 115
fundamentos determinantes do julgado; a tese jurídica firmada pelo órgão julga-
dor, em destaque; e ainda a solução dada ao caso concreto pelo órgão julgador.
Transparência: Para dar mais transparência à tramitação desses precedentes, o
parágrafo único do art. 271-G determina que a relação dos incidentes de assunção
de competência pendentes de julgamento e julgados, delimitados e numerados,
deve ser divulgada, em destaque, no site do STJ na internet.
(Disponível em: https://goo.gl/eJwzlW. Acesso em: 02 abr. 2017.)
CURIOSIDADE
Em 13 de fevereiro de 2017, o Superior Tribunal de Justiça admitiu o primeiro incidente
de assunção de competência (IAC) desde que este foi instituído perante o CPC de 2015.
Trata-se do Processo n. IAC no recurso especial nº 1.604.412 - SC (2016/0125154-1).
Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze.
EMENTA: PROPOSTA DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA. RECURSO ESPECIAL.
INCIDENTE INSTAURADO DE OFÍCIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO IN-
TERCORRENTE. INTIMAÇÃO PRÉVIA DO CREDOR. ANDAMENTO DO PROCESSO. RE-
LEVANTE QUESTÃO DE DIREITO. DIVERGÊNCIA ENTRE AS TURMAS DA SEGUNDA SE-
ÇÃO. 1. Delimitação da controvérsia: 1.1. Cabimento, ou não, da prescrição intercorrente nos
processos anteriores ao atual CPC; 1.2. Imprescindibilidade de intimação e de oportunidade
prévia para o credor dar andamento ao processo. 2. Recurso especial afetado ao rito do art.
947 do CPC/2015.
Link para acesso: https://goo.gl/2n4OfJ.
capítulo 4 • 116
CRFB - Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a
ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.
ATENÇÃO
Formas de controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público:
a) Controle concentrado, exercido exclusivamente pelo STF por meio da ação direta de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e da ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (art. 102, I, “a”, da CRFB);
b) Controle difuso (arts. 948 a 950 do CPC), exercido por órgão do Poder Judiciário e
realizado de forma incidente, perante qualquer processo no qual a inconstitucionalidade se
apresente como prejudicial ao julgamento do mérito.
ATENÇÃO
“Em processos de competência do juízo de primeiro grau não há qualquer especialidade
procedimental para a declaração incidental de inconstitucionalidade, resolvendo-se em sen-
tença como questão prejudicial. Essa decisão tem efeito apenas endoprocessual, e mesmo
sendo solução de questão prejudicial não produz coisa julgada material em razão do previsto
no art. 503, §1°, III, do Novo CPC.” (NEVES, 2016.)
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites
da questão principal expressamente decidida.
capítulo 4 • 117
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa
e incidentemente no processo, se:
[...]
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como
questão principal.
Pinho (2016) destaca que “não há qualquer restrição ao incidente ser relativo
à lei ou ato emanado de órgão da União, do Estado-membro ou do Município,
também não se distinguindo se a inconstitucionalidade é formal ou material e se
baseada na Constituição Federal ou dos Estados”. O autor acrescenta ainda que “o
termo ‘lei’ abrange todas as espécies de art. 59, I a VII da Constituição, e a expres-
são ‘ato normativo’ abrange decretos e regimentos de toda natureza”.
O reconhecimento incidental de inconstitucionalidade nos tribunais, seja
em sede recursal, seja por meio de ações de competência originária, deve res-
peitar o disposto nos arts. 948 a 950 do CPC e ainda no art. 97 da Constituição
Federal, a qual determina que “somente pelo voto da maioria absoluta de seus
membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”.
CRFB - Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
capítulo 4 • 118
difuso), no qual o relator deverá ouvir o Ministério Público e as partes, para so-
mente depois remeter a questão, conforme o caso, à turma ou câmara responsável.
O texto legal não disciplina prazo para a(s) parte(s) que não arguiu (arguí-
ram) o incidente ou o Ministério Público se pronunciar(em). Nesse sentido, Neves
(2016) esclarece que ficaria a cargo do relator fixá-lo no caso concreto e, ainda,
diante da sua omissão, seria utilizado o prazo de 05 (cinco) dias, previsto no art.
218, §3°, do CPC.
Recebida a arguição de inconstitucionalidade pela turma ou câmara do tri-
bunal, a questão poderá ser rejeitada, caso em que prosseguirá o julgamento (art.
949, I, do CPC). Aqui, a previsão de rejeição “diz respeito tanto à decisão pela
inadmissibilidade (não cabimento) quanto à decisão de improcedência (declara-
ção de constitucionalidade)” (NEVES, 2016).
Quando à arguição de inconstitucionalidade for acolhida pelo órgão fracioná-
rio (turma ou câmara do tribunal), esta será remetida ao plenário do tribunal ou
ao seu órgão especial, respeitando a reserva de plenário do art. 97 da Constituição
Federal, isto é, apenas pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitu-
cionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
O órgão fracionário não poderá decidir sobre o mérito do incidente, pois dessa
forma estará violando a reserva de plenário estabelecida no art. 97 da Constituição
Federal, conforme súmula vinculante nº 10 do STF.
capítulo 4 • 119
CRFB - Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros
do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo do Poder Público.
Súmula Vinculante 10 do Supremo Tribunal Federal: Viola a cláusula de reserva
de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público,
afasta sua incidência, no todo ou em parte.
ATENÇÃO
CPC - Art. 949. Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao
plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronun-
ciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.
Art. 950. Remetida cópia do acórdão a todos os juízes, o presidente do tribunal designará
a sessão de julgamento.
O art. 950, § 1o, do CPC permite que as pessoas jurídicas de direito público
responsáveis pela edição do ato questionado se manifestem no incidente de in-
constitucionalidade se assim o requererem, observados os prazos e as condições
previstos no regimento interno do tribunal. O § 2o admite que a parte legitima-
da à propositura das ações previstas no art. 103 da Constituição Federal (isto é:
capítulo 4 • 120
o Presidente da República; a Mesa do Senado Federal; a Mesa da Câmara dos
Deputados; a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal; o Governador de Estado ou do Distrito Federal; o Procurador-Geral da
República; o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; partido polí-
tico com representação no Congresso Nacional; confederação sindical ou entidade
de classe de âmbito nacional) poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão
constitucional objeto de apreciação, no prazo previsto pelo regimento interno,
sendo-lhe assegurado o direito de apresentar memoriais ou de requerer a juntada
de documentos. E, ainda, conforme determina o § 3o do art. 950, considerando
a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, o relator poderá
admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.
Bueno (2016) destaca que o objetivo do art. 950, §§ 1°, 2° e 3°, é “pluralizar o
debate, levando ao Poder Judiciário contexto democrático de ideias, contrastantes
entre si, inerente ao processo legislativo”.
Art. 950. Remetida cópia do acórdão a todos os juízes, o presidente do tribunal designará
a sessão de julgamento.
§ 1o As pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado
poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade se assim o requererem,
observados os prazos e as condições previstos no regimento interno do tribunal.
§ 2o A parte legitimada à propositura das ações previstas no art. 103 da Constituição
Federal poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de
apreciação, no prazo previsto pelo regimento interno, sendo-lhe assegurado o direito de
apresentar memoriais ou de requerer a juntada de documentos.
§ 3o Considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, o relator
poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.
CRFB - Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória
de constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
capítulo 4 • 121
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
capítulo 4 • 122
o processo no qual deve ser instaurado o incidente. A defesa do autor se baseia na
redação do art. 978, parágrafo único, do CPC, in verbis:
Art. 978. O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno
dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal.
Parágrafo único. O órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese
jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência
originária de onde se originou o incidente.
Sobre o cabimento do IRDR, a norma processual deixa cristalino que esse in-
cidente é cabível quando houver, simultaneamente, efetiva repetição de processos
que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito, risco
de ofensa à isonomia e à segurança jurídica (art. 976, I e II, do CPC).
O CPC, em seu art. 977 e incisos, prevê como legitimados ativos a instaurar o
incidente de resolução de demandas repetitivas, os seguintes sujeitos:
capítulo 4 • 123
que resolve o incidente (art. 987, caput, do Novo CPC) e pela previsão de que a
suspensão dos processos pendentes se dará nos limites de estado ou na região (art.
982, I, do Novo CPC).
Art. 976.
§ 2o Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente
e deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.
Art. 982. Admitido o incidente, o relator:
[...]
III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de 15 (quinze) dias.
ATENÇÃO
Art. 976, § 4o: É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um
dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso
para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.
capítulo 4 • 124
Quanto ao procedimento do incidente, esclarece a lei que o mesmo não exi-
girá o pagamento de custas processuais e ainda que haja desistência ou abandono
pela parte que o arguiu, não impede o exame de mérito do incidente (art. 976, §§
1° e 5°, do CPC).
Art. 976.
§ 1o A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente.
§ 5o Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas.
Art. 981. Após a distribuição, o órgão colegiado competente para julgar o incidente procederá
ao seu juízo de admissibilidade, considerando a presença dos pressupostos do art. 976.
capítulo 4 • 125
Art. 976.
[...]
§ 3o A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de
qualquer de seus pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o
requisito, seja o incidente novamente suscitado.
Art. 983. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos
e entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de 15 (quinze) dias,
poderão requerer a juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a
elucidação da questão de direito controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério
Público, no mesmo prazo.
§ 1o Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública,
ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria.
§ 2o Concluídas as diligências, o relator solicitará dia para o julgamento do incidente.
capítulo 4 • 126
Art. 979. A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla
e específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho
Nacional de Justiça.
Art. 980. O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os
demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos processos
prevista no art. 982, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário.
capítulo 4 • 127
CURIOSIDADE
A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) aprovou, em
agosto de 2015, os seguintes enunciados sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas:
Enunciado nº 19: A decisão que aplica a tese jurídica firmada em julgamento de ca-
sos repetitivos não precisa enfrentar os fundamentos já analisados na decisão paradigma,
sendo suficiente, para fins de atendimento das exigências constantes no art. 489, § 1º, do
CPC/2015, a correlação fática e jurídica entre o caso concreto e aquele apreciado no inci-
dente de solução concentrada.
Enunciado nº 20: O pedido fundado em tese aprovada em IRDR deverá ser julgado pro-
cedente, respeitados o contraditório e a ampla defesa, salvo se for o caso de distinção ou se
houver superação do entendimento pelo tribunal competente.
Enunciado nº 21: O IRDR pode ser suscitado com base em demandas repetitivas em
curso nos juizados especiais.
Precedentes judiciais
Entre as inovações trazidas pela Lei nº 13.105/15 (atual CPC) para coadunar
com os princípios constitucionais da celeridade processual e da razoável duração do
processo (art. 5°, LXXVIII, da CRFB), está a criação dos precedentes judiciais, que
têm por fim uniformizar as jurisprudências dos tribunais superiores e, desse modo,
reduzir a insegurança jurídica causada por decisões conflitantes em casos análogos,
gerando ao jurisdicionado uma maior previsibilidade das decisões judiciais.
O Poder Judiciário nacional necessita de uma solução eficaz aos conflitos leva-
dos a ele; nesse sentido, os precedentes permitem um caminhar mais célere, pois
proporciona uma solução pronta para situações que se assemelhem, sem que haja
o risco de tratamento diferenciado e sem que se retire a característica de juridici-
dade da decisão.
Nogueira (2014) explica que “os precedentes são as decisões de uma corte
que servem de subsídio para processos posteriores similares. O próprio nome
já diz: é algo que precede o anteriormente ocorrido. São decisões de uma corte
que são consideradas para um caso subsequente e podem, portanto, projetar
efeitos jurídicos ao futuro condicionando os indivíduos, o que demonstra a
sua força normativa”.
capítulo 4 • 128
Neves (2016) destaca que “precedente é qualquer julgamento que venha a
ser utilizado como fundamento de um outro julgamento que venha a ser poste-
riormente proferido. Desta forma, sempre que um órgão jurisdicional se valer
de uma decisão previamente proferida para fundamentar sua decisão, empre-
gando-a como base de tal julgamento, a decisão anteriormente prolatada será
considerada um precedente”.
Continua Nogueira (2014) a aduzir que “o grande desafio do magistrado é adequar-
-se a uma nova metodologia processual em que o produto da atividade jurisdicional, a
sentença, poderá deixar de ser apenas norma individual aplicável ao caso decidido para
converter-se, pelo menos uma parte dela (ratio decidendi), em regra geral a alcançar todas
as situações que por uma relação de semelhança mereçam idêntico tratamento”.
Nem todas as decisões judiciais constituem um precedente judicial – uma vez
que existem decisões sem qualquer relevância para situações subsequentes, não
havendo assim por que se formar em um precedente. A fim de ser considerada
um precedente judicial, é necessária a potencialidade para se tornar paradigma de
orientação no mundo jurídico.
Bueno (2016) acrescenta que o art. 926 (caput) do CPC, ao dispor que “os tribunais
devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”, também
incluiu o precedente judicial, uma vez que “jurisprudência parece, aí, ter sido empregada
como palavra genérica para albergar as súmulas e também os ‘precedentes’.
Com o objetivo de garantir a segurança jurídica e a isonomia, “a ‘jurispru-
dência’ tem que ser fundamentada a partir de elementos concretos e submetida a
procedimento próprio [...]”.
ATENÇÃO
Os precedentes judiciais visam à previsibilidade, à igualdade de tratamento e à seguran-
ça jurídica a todos aqueles que procuram o Estado-Juiz.
CURIOSIDADE
Os precedentes originaram-se da Teoria do Stare Decisis, utilizada pelos países da
Common Law. Nesses países, os precedentes judiciais possuem observância obrigatória
(blinding precedents).
capítulo 4 • 129
ATENÇÃO
O precedente judicial possui conceito diverso do de jurisprudência. A jurisprudência é
formada por um conjunto de decisões judiciais reiteradas sobre a mesma matéria proferida
pelos tribunais; para o precedente judicial, no entanto, basta que exista uma única decisão.
Como destaca Neves (2016), ele é objetivo, pois “trata de uma decisão específica que venha
a ser utilizada como fundamento do decidir em outros processos”
[...].
“Apenas um precedente já é suficiente para fundamentar a decisão do processo julgado
posteriormente, enquanto a utilização de jurisprudência como razão de decidir exige dos
julgados a indicação de vários julgados no mesmo sentido.”
ATENÇÃO
Precedente Judicial também possui conceito diferente de súmula. A súmula nada mais
é do que a consolidação da jurisprudência, ou seja, nas palavras de Neves (2016), a súmula
é a “manifestação objetiva da jurisprudência”. O tribunal, verificando que possui tem majori-
tário sobre determinado tema jurídico, deve formalizar esse entendimento por meio de um
enunciado de súmula, “dando notícia de forma objetiva de qual é a jurisprudência presente
naquele tribunal a respeito da matéria”.
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra
e coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os
tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas
dos precedentes que motivaram sua criação.
capítulo 4 • 130
dos julgamentos de casos concretos, inclusive pelas técnicas do art. 928, ou do
incidente de assunção de competência, querem ser aplicadas também em casos fu-
turos quando seu substrato fático e jurídico autorizar. São precedentes não porque
vieram de países de common Law, e sim porque foram julgados com antecedência
a outros casos – quiçá antes de haver dispersão de entendimento sobre uma dada
questão jurídica pelos diversos tribunais que compõem a organização judiciária
brasileira – e, de acordo com o caput do art. 927, é desejável que aquilo que ex-
pressam seja observado em casos que serão julgados posteriormente”.
Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a
decisão proferida em:
I - incidente de resolução de demandas repetitivas;
II - recursos especial e extraordinário repetitivos.
Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito
material ou processual.
Reclamação
capítulo 4 • 131
CRFB - Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
[...]
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões.
ATENÇÃO
O art. 103-A, § 3°, CRFB, atribui ao STF competência originária para processar e julgar
reclamação contra decisão judicial ou ato administrativo que contrarie enunciado da súmula
vinculante aplicável ao caso, ou que o aplique indevidamente.
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará
que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
capítulo 4 • 132
A doutrina nacional deixa cristalino o entendimento de que a reclama-
ção tem sua origem na Teoria dos Poderes Implícitos, em que a Constituição
Federal, ao conceder uma função a determinado órgão ou instituição, tam-
bém lhe confere, implicitamente, os meios necessários à consecução dessa
atividade. Esclarece Didier Jr. (2016) que, “sendo assim, todos os tribunais
teriam a reclamação à disposição para o resguardo de suas competências e a
preservação da autoridade de suas decisões”. Continua o autor a destacar que
“a reclamação não precisa necessariamente de previsão em texto normativo,
sendo manifestação dos poderes implícitos dos tribunais, que servem para
dar efetividade às próprias decisões e para a defesa de suas competências”.
A reclamação, prevista no CPC (arts. 988 a 993), não deve se confundir com
a correição parcial – uma medida administrativa de caráter disciplinar. “A cor-
reição parcial constitui medida administrativa tendente a apurar uma atividade
tumultuária do juiz, não passível de recurso” (DIDIER JR., 2016). A reclamação
não possui natureza administrativa, mas, sim, jurisdicional, uma vez que provoca
a cassação da decisão reclamada.
Trata-se de uma forma de impugnação excepcional com natureza jurídica de
ação originária, prevista na Constituição Federal, ajuizada perante o tribunal e distri-
buída ao relator que proferiu a decisão ou acórdão cuja tese jurídica não é aplicada
nem respeitada em outra ação ou mesmo em outro recurso ainda pendente de
julgamento. Dessa forma, não é considera nem um recurso nem um sucedâneo
recursal, e tem por fim “preservar a competência e garantir a autoridade das deci-
sões dos tribunais, bem como garantir a observância de decisão do STF em con-
trole concentrado de constitucionalidade, a observância de enunciado de súmula
vinculante e de precedente proferido em julgamento de casos repetitivos ou em
incidente de assunção de competência” (DIDIER JR., 2016).
Esclarece Didier Jr. que o art. 988, § 2°, do CPC fixou uma regra de preven-
ção ao determinar que “a reclamação será distribuída ao relator da causa principal,
sempre que possível. Assim, se a reclamação for, por exemplo, ajuizada para garan-
tir a autoridade de uma decisão do tribunal, o relator da causa originária em que
se proferiu a decisão descumprida deverá ser o relator da reclamação.
capítulo 4 • 133
§ 3o Assim que recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao relator do processo
principal, sempre que possível.
ATENÇÃO
Hipóteses de prevenção que não estão previstas no CPC, mas devem estar pre-
vistas nos regimentos internos dos tribunais: “A previsão do § 2° do art. 988 do CPC
não abrange, em muitos casos, a hipótese de reclamação para preservação da competência
ao tribunal. É o que ocorre, por exemplo, no caso em que o juiz inadmite a apelação. Não lhe
sendo mais possível exercer o juízo de admissibilidade da apelação (art. 1.010, § 3°, CPC), se
o fizer haverá usurpação de competência do tribunal. Em tal hipótese, cabe a reclamação (art.
988, I, CPC). Ajuizada a reclamação, haverá um relator. É bem razoável que ele fique prevento
para a apelação, mas é preciso que o regimento assim estabeleça.
Também é possível que, pelo regimento interno, o julgamento da reclamação seja atri-
buído a órgão diverso do julgamento da causa principal, o que pode, até mesmo, inviabilizar a
prevenção. Daí o § 20 do art. 988 do CPC dispor que o relator ficará prevento, ‘sempre que
possível’. Pela composição do tribunal e diante de regras regimentais, pode, em algum caso,
não ser possível a prevenção. É preciso que o regimento estabeleça as regras adequadas,
a fim de definir a competência do órgão, a atribuição da relatoria e as regras de prevenção.”
(DIDIER JR., 2016.)
capítulo 4 • 134
Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo
Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução
de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência.
Quando o Ministério Público não for o autor da reclamação, este será ouvido,
no prazo de 05 (cinco) dias, após o decurso do prazo para informações e para o
oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado.
Art. 991. Na reclamação que não houver formulado, o Ministério Público terá vista
do processo por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para informações e para o
oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado.
ATENÇÃO
“É possível haver, na reclamação, litisconsórcio ativo facultativo, desde que presente al-
guma das hipóteses previstas no art. 113 do CPC.” (DIDIER JR., 2016.)
ATENÇÃO
As hipóteses de reclamação devem ser previstas pelo legislador, como consta no art.
988 e incisos do CPC e arts. 102, I, “l” e 105, I, “f” da CRFB.
“A reclamação somente cabe, enfim, se houver sido afirmada uma das hipóteses típicas
previstas em lei. Os casos de reclamação não são exemplificativos; o rol do art. 988 do CPC
é exaustivo.” (DIDIER JR., 2016.)
capítulo 4 • 135
Por ser a reclamação uma ação autônoma, sua peça processual deve atender
aos requisitos formais do art. 319 do CPC, obedecendo às especialidades desse
instituto processual. Assim, não há nele a possibilidade de audiência de conci-
liação ou de mediação, prevista no inciso VII, do art. 319. “O procedimento da
reclamação é especial, afastando-se do procedimento comum previsto no CPC,
que está estruturado de modo a ter, em sua fase postulatória, uma audiência de
mediação ou de conciliação”. (DIDIER JR., 2016)
Fortalecendo o entendimento de que a natureza jurídica da reclamação é de
ação, preceitua o art. 989, III, do CPC que caberá à outra parte apresentar con-
testação à reclamação.
Como ação, esta possui custas judicias que devem ser recolhidas pelo recla-
mante quando do seu ajuizamento, assim como, ao final, haverá a condenação do
vencido, reclamado, aos honorários de sucumbência.
Como observa o art. 320 do CPC, a petição inicial será instruída com os
documentos indispensáveis à propositura da ação. A reclamação possui prova
documental pré-constituída, não havendo que se falar em dilação probatória;
capítulo 4 • 136
nesse sentido, basta ao reclamante indicar os documentos que acompanham a
sua petição inicial.
ATENÇÃO
É inadmissível a reclamação quando proposta após o trânsito em julgado da decisão recla-
mada ou ainda quando proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordi-
nário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos
extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias.
Art. 988.
[...]
§ 5º É inadmissível a reclamação:
I – proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;
II – proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com
repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos
extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias.
capítulo 4 • 137
ATENÇÃO
A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida
pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação.
Art. 988.
[...]
§ 6o A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida
pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação.
capítulo 4 • 138
Sendo julgado procedente o pedido da reclamação, o tribunal cassará a decisão exor-
bitante de seu julgado ou determinará medida adequada à solução da controvérsia.
O presidente do tribunal determinará o imediato cumprimento da decisão
fruto da reclamação e lavrará os seus acórdãos, tudo conforme arts. 992 e 993. A
decisão proferida na reclamação produz coisa julgada.
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capítulo 4 • 140
5
Procedimentos
especiais
Procedimentos especiais
Introdução
OBJETIVOS
• Diferenciar os procedimentos especiais contenciosos dos procedimentos especiais voluntários;
• Compreender a estrutura dos procedimentos especiais no CPC;
• Entender as hipóteses de utilização do procedimento da ação de consignação em pagamento;
• Analisar a especificidade da ação de exigir contas;
• Relembrar a diferença de esbulho, turbação e interdito proibitório;
• Compreender a importância das ações possessórias e sua natureza dúplice;
• Analisar as ações possessórias como procedimento especial e diferenciar do processo
de conhecimento;
• Compreender a finalidade dos embargos de terceiros;
• Estudar o procedimento da ação monitória;
• Estudar os principais institutos processuais da jurisdição voluntária;
• Compreender o procedimento de jurisdição voluntária, separação consensual, divórcio con-
sensual, inventário e partilha.
capítulo 5 • 142
Procedimentos especiais
Introdução
1. Jurisdição contenciosa;
2. Jurisdição voluntária.
ATENÇÃO
Conforme estabelece a regra do parágrafo único do art. 318 do CPC, o procedimento comum
aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.
capítulo 5 • 143
Neste capítulo, estudaremos apenas alguns dos procedimentos especiais pre-
vistos no CPC de 2015 (os de jurisdição contenciosa e os de jurisdição voluntária).
Como escreve Theodoro Júnior (2016):
capítulo 5 • 144
CURIOSIDADE
O antigo CPC (1973) trazia também como procedimentos especiais as ações de depósito,
de anulação e substituição de títulos ao portador, de nunciação de obra nova, de usucapião e
de oferecimento de contas. O CPC de 2015 não prevê nenhuma dessas ações, mas nem por
isso elas deixaram de existir; por isso, serão processadas segundo o procedimento comum.
CURIOSIDADE
Sobre a jurisdição voluntária, escreve Pinho (2015):
A doutrina nacional majoritária afirma que a jurisdição voluntária não constituiria típica função
jurisdicional, nem ao menos seria voluntária, eis que sua verificação decorreria de exigência legal,
com o intuito de conferir validade a determinados negócios jurídicos escolhidos pelo legislador.
Nesse sentido, ela é definida como “administração pública de interesses privados”.
A inexistência de voluntariedade na jurisdição voluntária é aceita tanto pela teoria admi-
nistrativista quanto pela revisionista, em razão de se tratar de atividade necessária. A contro-
vérsia entre tais teorias reside em ser a jurisdição voluntária autêntica atividade jurisdicional
ou atividade meramente administrativa.
1 MACEDO, Elaine Harzheim ; BRAUN, Paola Roos Braun. Jurisdição segundo Giuseppe Chiovenda versus Jurisdição
no paradigma do processo democrático de direito: algumas reflexões. 2014. Disponível em: https://goo.gl/728qNE.
Acesso em: 01 maio 2017.
capítulo 5 • 145
[...]
Por outro lado, vem avançando na doutrina a teoria revisionista. Tal teoria tem recebido a
adesão de consagrados processualistas, que entendem ser a jurisdição voluntária verdadeiro
exercício da função jurisdicional. (PINHO, 2015.)
capítulo 5 • 146
Procedimentos especiais de jurisdição contenciosa
Consignação em pagamento
CURIOSIDADE
O Código Civil (CC) de 2002, em seu art. 335, admite cinco possibilidades de pagamento
em consignação: se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento,
ou dar quitação na devida forma; se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar,
tempo e condição devidos; se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; se ocorrer dúvida sobre
quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; se pender litígio sobre o objeto
do pagamento.
A lei civil ainda elucida que o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa
devida é considerado o pagamento e a extinção da obrigação (art. 334 do CC/02).
capítulo 5 • 147
Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em
estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.
Art. 335. A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de
pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
CURIOSIDADE
O CPC, além da ação de consignação em pagamento, também prevê a consignação
extrajudicial nos §§ 1o a 4o do art. 539.
O procedimento extrajudicial da consignação determina que, nos casos de obrigação a
ser cumprida ou pagamento de quantia em dinheiro ou entrega de coisa, poderá o valor ser
depositado em estabelecimento bancário, situado no lugar do pagamento. Após o depósito,
cabe ao devedor cientificar o credor por carta com aviso de recebimento.
capítulo 5 • 148
Caso o credor aceite o valor consignado, deve levantá-lo. Se houver recusa, tem ele o
prazo de 10 (dez) dias para se manifestar.
Transcorrido o prazo de 10 dias para a recusa do credor, contado do retorno do aviso
de recebimento, se este se mantiver inerte (i. e., não apresentar a recusa), o devedor será
liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada.
Se a recusa for manifestada por escrito pelo credor ao estabelecimento bancário, poderá
ser proposta pelo devedor, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a
inicial com a prova do depósito e da recusa.
Caso o devedor não proponha a ação nesse prazo, ficará sem efeito o depósito, podendo
levantá-lo o depositante.
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de
pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
§ 1o Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em
estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento,
cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10
(dez) dias para a manifestação de recusa.
§ 2o Decorrido o prazo do § 1o, contado do retorno do aviso de recebimento, sem a
manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à
disposição do credor a quantia depositada.
§ 3o Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá
ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a
prova do depósito e da recusa.
§ 4o Não proposta a ação no prazo do § 3o, ficará sem efeito o depósito, podendo
levantá-lo o depositante.
capítulo 5 • 149
Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor,
à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.
ATENÇÃO
Ainda quanto ao critério de competência na ação de consignação em pagamento, o
Enunciado nº 59 do IV Encontro do Fórum Permanente de Processualistas Civis (dez/2014)
destaca: “Em ação de consignação e pagamento, quando a coisa devida for corpo que deva
ser entregue no lugar em que está, poderá o devedor requerer a consignação no foro em que
ela se encontra. A supressão do parágrafo único do art. 891 do CPC de 1973 é inócua, tendo
em vista o art. 341 do Código Civil”.
O antigo CPC de 1973 fazia previsão expressa em seu art. 891, parágrafo único, que
quando a coisa a ser consignada (devida) for corpo que deva ser entregue no lugar em que
está, poderá o devedor requerer a consignação no foro em que ela se encontra.
capítulo 5 • 150
Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor
continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem
vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo vencimento.
capítulo 5 • 151
Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o
réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios.
Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e der quitação.
Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias,
salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.
[...]
§ 2o A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que
possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-
lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária.
ATENÇÃO
Via de regra, o legitimado passivo da ação de consignação em pagamento é o credor da
relação contratual. Contudo, pode ocorrer hipótese em que o autor, devedor, tenha dúvida a
quem deva pagar a quantia em dinheiro ou entregar a coisa; nesse caso, o art. 547 do CPC
estabelece que, havendo dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o
autor deverá na sua petição, como litisconsórcio passivo necessário, requerer a citação de
todos os possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.
Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor
requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.
capítulo 5 • 152
Ação de exigir contas
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do
réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias.
capítulo 5 • 153
Art. 550.
§ 1o Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige
as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem.
§ 2o Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, prosseguindo-
se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro.
§ 3o A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e
específica, com referência expressa ao lançamento questionado.
Caso o réu não venha a contestar o pedido do autor, caberá, conforme art.
355 do CPC, o julgamento antecipado do mérito. “É que não há como atrelar
a revelia do réu ao necessário acolhimento do pedido, desprezando, inclusive, as
normas cogentes que, se ocorrentes, deverão conduzir o processo à sua extinção
nos moldes do art. 354”. (BUENO, 2016)
Art. 550.
[...]
§ 4o Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355.
A sentença que julgar procedente o pedido do autor irá condenar o réu a prestar as
contas, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o
autor apresentar. Caso o réu apresente as contas, dentro do prazo de 15 (quinze) dias,
serão observadas as regras do julgamento conforme o estado do processo (art. 354 e se-
guintes do CPC); caso o réu não as apresente, caberá ao autor apresentá-las, no prazo de
15 (quinze) dias, podendo o juiz, se necessário, determinar a realização de exame pericial.
Art. 550.
[...]
§ 5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.
§ 6o Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o procedimento
do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o
juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário.
capítulo 5 • 154
As contas apresentadas pelo réu devem especificar as receitas, a aplicação das
despesas e os investimentos.
Existindo por parte do autor impugnação específica e fundamentada das con-
tas apresentadas pelo réu, o juiz estabelecerá prazo razoável para que ele apresente
os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados.
Cabendo ao autor apresentar as contas (art. 550, § 5°, do CPC), estas serão
apresentadas na mesma forma como previsto para o réu, isto é, de maneira ade-
quada, instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a
aplicação das despesas, os investimentos e o saldo (art. 551, §§ 1°e 2°, do CPC).
ATENÇÃO
Art. 553 do CPC: As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer
outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não
o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o
prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias
à recomposição do prejuízo.
capítulo 5 • 155
Ações possessórias
CC/02 - Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
CC/02 - Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem
aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
A lei material civil também faz a distinção entre a turbação e o esbulho no art.
1.210, ao escrever que “o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo
receio de ser molestado”.
Perante a lei de ritos, uma vez verificada a turbação ou o esbulho, caberá a
respectiva ação possessória, sendo ela a ação de manutenção de posse, no caso de
turbação, ou de reintegração de posse, no caso de esbulho possessório, art. 560.
A Turbação é o incomodo à posse de alguém, segundo Plácito e Silva (1996),
vem do latim turbatio, do verbo turbare, no sentido gramatical é todo o ato de
perturbar, tumultuar; no âmbito jurídico, significa “todo o fato injusto, ou todo
ato abusivo, que venha ferir direitos alheios, impedindo, ou procurando impedir o
seu livre exercício”. Já o esbulho vem do latim spolium, do verbo spoliare (espoliar,
despojar); na terminologia jurídica é o ato violento ao qual uma pessoa é “desa-
possada, contra a sua vontade, daquilo que lhe pertence ou está em sua posse, sem
que assista ao violentador qualquer direito ou autoridade, com que possa justificar
o seu ato”. (SILVA, 1996)
capítulo 5 • 156
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado em caso de esbulho.
Interdito proibitório: Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de
ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho
iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena
pecuniária caso transgrida o preceito.
ATENÇÃO
Há a possibilidade de fungibilidade das ações possessórias (art. 554 do CPC).
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que
o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
capítulo 5 • 157
ATENÇÃO
As regras contidas nos procedimentos especiais para a ação de manutenção e a ação de
reintegração de posse se aplicam à ação de interdito proibitório (art. 568 do CPC).
Pelo procedimento especial, na ação possessória, deve o autor (na petição ini-
cial, que terá de preencher os requisitos do art. 319 do CPC) provar (art. 561 e
incisos do CPC):
1. a sua posse;
2. que ela foi turbada ou esbulhada pelo réu;
3. a data em que ocorreu a turbação ou o esbulho; e
4. a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da
posse, na ação de reintegração.
capítulo 5 • 158
ATENÇÃO
Sobre o mandado liminar de manutenção ou de reintegração de posse, é bom lembrar,
neste momento, o que o CPC dispõe sobre as tutelas provisórias de urgências, disciplinadas
na Parte Geral, Livro V, Título II, do CPC. Sã elas: tutela provisória de urgência cautelar e
tutela provisória de urgência antecipada.
A redação do art. 294, parágrafo único do CPC, afirma que há duas tutelas de urgência:
uma cautelar e outra antecipada.
Art. 294.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser
concedida em caráter antecedente ou incidental.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem
a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
capítulo 5 • 159
CURIOSIDADE
Pelo antigo CPC de 1973, Lei nº 5.869, os requisitos para a concessão da tutela an-
tecipada e da tutela cautelar eram distintos. A tutela antecipada tinha previsão específica
no art. 273 do pretérito CPC. Determinava a norma que eram requisitos para o deferi-
mento dessa tutela de urgência: a prova inequívoca; a verossimilhança das alegações;
pela regra do inciso I, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; e, pelo
inciso II, que fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu.
Lei nº 5.869/73 - Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova
inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado
o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.
Lei nº 5.869/73 - Art. 801. O requerente pleiteará a medida cautelar em petição escrita,
que indicará:
[...]
IV - a exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão.
capítulo 5 • 160
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu,
a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário,
determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida
a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais.
Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de
manutenção ou de reintegração.
Poderá o réu, na contestação, alegar que foi ele o ofendido em sua posse, e não
o autor; nesse caso, poderá demandar na sua peça de resposta a proteção possessória
cabível (manutenção ou reintegração) e ainda, requerer indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor (art. 556 do CPC).
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,
demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação
ou do esbulho cometido pelo autor.
capítulo 5 • 161
Já ao autor é lícito cumular na ação possessória (art. 555 do CPC), além do
pedido de reintegração (quando houver esbulho) ou manutenção (quando houver
turbação): indenização por eventuais perdas e danos que o réu tenha causado e
ainda indenização dos frutos (caso ocorra); a imposição de alguma medida com o
objetivo de evitar nova turbação ou esbulho por parte do réu; e o cumprimento da
tutela provisória de urgência, em caráter liminar ou definitivo.
ATENÇÃO
Ao que não estiver disciplinado no Título III do CPC, Capítulo III, sobre as ações posses-
sórias, será aplicado o procedimento comum (art. 566 do CPC).
Embargos de terceiro
capítulo 5 • 162
processual que está em trâmite, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre
bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo.
Como escreve Neves (2016):
ATENÇÃO
Terceiro é aquele que não é parte na relação processual.
ATENÇÃO
Embargos de terceiro têm natureza jurídica de ação. Quando o pedido é acolhido, possui
eficácia constitutiva negativa.
O § 1o do art. 674 do CPC esclarece que os embargos podem ser opostos por
terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor.
De acordo com o § 2o do art. 674 do CPC, serão considerados terceiros, para
ajuizamento dos embargos: o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de
bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843; o adquirente de
bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada
em fraude à execução; quem sofre constrição judicial de seus bens por força de descon-
sideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; e o credor com
garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia,
caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos.
Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição
sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo,
poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.
capítulo 5 • 163
§ 1o Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor.
§ 2o Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua
meação, ressalvado o disposto no art. 843;
II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da
alienação realizada em fraude à execução;
III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte;
IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de
direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos
expropriatórios respectivos.
capítulo 5 • 164
Art. 675. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento
enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no
processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa
particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.
Como escreve Greco Filho, esse prazo do art. 675 do CPC “é de natureza de
decadência da via processual especial. Não se exclui a via ordinária posterior de
anulação do ato judicial, sem, porém, a força dos embargos de terceiro2.”
CURIOSIDADE
O prazo para se oporem os embargos de terceiro no CPC de 2015 é o mesmo que exis-
tia no CPC de 1973, no pretérito art. 1.048.
CPC/73 - Art. 1.048. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo
de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença, e, no processo de
execução, até 5 (cinco) dias depois da arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre
antes da assinatura da respectiva carta.
capítulo 5 • 165
Art. 676. Os embargos serão distribuídos por dependência ao juízo que ordenou a
constrição e autuados em apartado.
Parágrafo único. Nos casos de ato de constrição realizado por carta, os embargos serão
oferecidos no juízo deprecado, salvo se indicado pelo juízo deprecante o bem constrito ou
se já devolvida a carta.
Art. 677. Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu
domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas.
Uma vez que os embargos de terceiro têm natureza de ação, a peça a ser elabo-
rada, petição inicial, seguirá os moldes do art. 319 do CPC, observadas as regras
inerentes aos embargos, determinado nos arts. 674 a 681 do CPC.
CURIOSIDADE
Nos embargos de terceiro, o legitimado ativo será denominado embargante, e o legitimi-
dade passivo, embargado.
Art. 677. Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu
domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas.
[...]
§ 4o Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, assim como
o será seu adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a
constrição judicial.
capítulo 5 • 166
Art. 679. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual
se seguirá o procedimento comum.
ATENÇÃO
Contra os embargos do credor com garantia real, o embargado possui um rol taxativo de
defesa (art. 680 do CPC), o qual somente poderá alegar que:
1. o devedor comum é insolvente;
2. o título é nulo ou não obriga a terceiro;
3. outra é a coisa dada em garantia.
Art. 680. Contra os embargos do credor com garantia real, o embargado somente poderá
alegar que:
I - o devedor comum é insolvente;
II - o título é nulo ou não obriga a terceiro;
III - outra é a coisa dada em garantia.
ATENÇÃO
Outra súmula do STJ que merece destaque quando se trata de embargos de terceiro é
a de nº 195, que estabelece: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude
contra credores”.
capítulo 5 • 167
Art. 678. A decisão que reconhecer suficientemente provado o domínio ou a posse
determinará a suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos objeto
dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração provisória da posse, se o
embargante a houver requerido.
Parágrafo único. O juiz poderá condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração
provisória de posse à prestação de caução pelo requerente, ressalvada a impossibilidade
da parte economicamente hipossuficiente.
Uma vez acolhido o pedido inicial, o ato de constrição judicial indevida será
cancelado, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da
reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante (art. 681 do CPC).
Garcia (2015) deixa claro que “a sentença nos embargos de terceiro é impug-
nável por meio de apelação” (art. 1009 do CPC).
Oposição
A oposição – pela antiga lei processual civil, de 1973 – era uma modalidade
de intervenção voluntária de terceiro (arts. 56 a 61 do antigo CPC). Para alguns
doutrinadores, no entanto, muito adequadamente o legislador transferiu a oposi-
ção para os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa (arts. 682 a 686).
A oposição é cabível quando o terceiro pretender, total ou parcialmente, a
coisa ou o direito, que está sub judice e sobre que controvertem autor e réu (art.
682 do CPC).
Esse terceiro, destaca Pinho (2016), “trará ao juízo pretensão incompatível em
relação às pretensões das partes originárias do processo, caso contrário não ocorre-
rá a oposição, e sim uma assistência qualificada”.
A oposição é proposta tanto em face do autor, quanto em face do réu da ação
originária, existindo assim verdadeiro litisconsórcio passivo necessário.
A norma deixa cristalino que a oposição tem prazo para ser apresentada: “até
ser proferida a sentença”. Assim, somente é “cabível na fase de conhecimento e até
a prolação da sentença” (PINHO, 2016).
Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem
autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.
capítulo 5 • 168
ATENÇÃO
Aquele que ajuizará a oposição (legitimado ativo) será denominado opoente, e os sujeitos
passivos serão denominados opostos, que são as partes do processo originário.
Art. 683. O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos exigidos para
propositura da ação.
Art. 685. Admitido o processamento, a oposição será apensada aos autos e tramitará
simultaneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença.
ATENÇÃO
Se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o juiz suspende-
rá o curso do processo principal ao fim da produção das provas, salvo se concluir que
a unidade da instrução atende melhor ao Princípio da Duração Razoável do processo
(art. 685, parágrafo único).
Os opostos (autor e réu da ação principal) serão citados para oferecerem con-
testação, no prazo comum de 15 dias.
Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro pros-
seguirá o opoente.
Art. 683.
Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa
de seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias.
capítulo 5 • 169
Art. 684. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro
prosseguirá o opoente.
Art. 686. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, desta
conhecerá em primeiro lugar.
Ação monitória
Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
§ 1o A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida
antecipadamente nos termos do art. 381.
capítulo 5 • 170
Como analisa Garcia (2015), “trata-se de processo sincrético, isto é, que en-
globa fases de conhecimento e de execução”. E ainda esclarece o autor:
Para caber ação monitória, deve o autor juntar a sua petição inicial, que ob-
servará, no que couber, a regra contida no art. 319 do CPC, a prova escrita sem
eficácia de título executivo.
Pela norma do art. 700, parágrafo único, essa prova escrita pode consistir-se
em prova oral documentada, produzida antecipadamente (art. 381).
Sobre a produção antecipada de provas, o art. 381 do CPC dispõe que ela
somente será admitida nos casos em que: houver fundado receio de que venha a
tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da
ação; a prova a ser produzida for suscetível de viabilizar a autocomposição ou ou-
tro meio adequado de solução de conflito; o prévio conhecimento dos fatos possa
justificar ou evitar o ajuizamento de ação.
Art. 381 do CPC. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:
I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação
de certos fatos na pendência da ação;
II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio
adequado de solução de conflito;
III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação.
CURIOSIDADE
Cabe ação monitória fundada em cheque prescrito. É o que dispõe a Súmula nº 299 do
STJ, in verbis: “É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito”.
capítulo 5 • 171
ATENÇÃO
Para o cabimento da ação monitória, o réu (devedor) deve ser capaz (art. 700 do CPC).
CURIOSIDADE
A capacidade de ser parte está estabelecida na lei civil, arts. 3° e 4° do CC/02. É impor-
tante destacar a alteração trazida pela Lei nº 13.146, de 2015, a esses arts., que passaram
a ter a seguinte redação:
CC/02 - Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida
civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
CC/02 - Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para
estar em juízo.
Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador,
na forma da lei.
capítulo 5 • 172
coisa reclamada; o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico
perseguido (art. 700, § 2º, do CPC).
Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
[...]
§ 2o Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:
I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;
II - o valor atual da coisa reclamada;
III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.
Na ação monitória, o réu poderá ser citado por qualquer um dos meios ca-
bíveis no procedimento comum (art. 700, § 7º, da lei). Dessa forma, segundo
dispõe a Súmula nº 282 do STJ, caberá na ação monitória a citação por edital.
Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
[...]
§ 7o Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o
procedimento comum.
Súmula nº 282 STJ: Cabe a citação por edital em ação monitória.
No que tange ao pedido do autor (art. 701 do CPC), sendo evidente o direito
dele, o juiz deferirá de plano a expedição de mandado de pagamento (se for dívi-
da em dinheiro) ou de entrega de coisa (se tratar-se de bem móvel, imóvel, coisa
fungível ou infungível) ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer.
Expedido o mandado e sendo citado o réu do mesmo, este terá prazo de 15
(quinze) dias para cumpri-lo. Caso seja cumprido no prazo estabelecido pela lei,
a norma estipula um benefício ao réu; este só pagará 5 (cinco) por cento do valor
atribuído à causa a título de honorários de sucumbência e ficará isento do paga-
mento de custas processuais (art. 701, caput e § 1°).
capítulo 5 • 173
Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de
pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer,
concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de
honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.
§ 1o O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no prazo.
ATENÇÃO
Na petição inicial, o valor a ser atribuído à causa deverá corresponder à importância: do
pagamento de quantia em dinheiro; ou da entrega de coisa fungível ou infungível ou do bem
móvel ou imóvel; ou ainda do adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer (art. 700,
§ 3º, do CPC).
Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz
[...]
§ 3o O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2o, incisos I a III.
Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de
pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer,
concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de
honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.
capítulo 5 • 174
[...]
§ 2o Constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, independentemente de
qualquer formalidade, se não realizado o pagamento e não apresentados os embargos
previstos no art. 702, observando-se, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial.
ATENÇÃO
Sendo ré a Fazenda Pública e se esta não apresentar os embargos à ação monitória,
será aplicado o duplo grau de jurisdição (art. 496 do CPC), observando-se, a seguir, no que
couber, o cumprimento de sentença (Título II do Livro I da Parte Especial).
Art. 701
[...]
§ 4o Sendo a ré Fazenda Pública, não apresentados os embargos previstos no art. 702,
aplicar-se-á o disposto no art. 496, observando-se, a seguir, no que couber, o Título II do
Livro I da Parte Especial.
ATENÇÃO
A Súmula nº 339 do STJ já disciplinava o cabimento da Fazenda Pública como ré na
ação monitória.
Súmula 339 do STJ: É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública.
Como escrito, o réu poderá opor a inicial proposta pelo autor, por meio dos
embargos à ação monitória. Este possui prazo de 15 dias, que começa a contar
após a sua citação e caberá não importando prévia segurança do juízo, isto é,
independentemente de depósito ou de qualquer outra garantia oferecida pelo réu
(art. 702 do CPC).
Nos embargos, o réu pode valer-se de qualquer defesa como se fosse pro-
cesso de conhecimento (art. 702, § 1º, do CPC). Caso ele alegue que o autor
pleiteia quantia superior à devida, deve declarar de imediato o valor que entende
capítulo 5 • 175
correto (apresentando inclusive demonstrativo discriminado e atualizado da dívi-
da), sob pena de rejeição liminar dos embargos, se esse for o seu único fundamen-
to. Contudo, se houver outro fundamento, os embargos serão processados, mas o
juiz deixará de examinar a alegação de excesso apresentada pelo réu (art. 702, §§
2º e 3º, do CPC).
Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos
próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória.
§ 1o Os embargos podem se fundar em matéria passível de alegação como defesa no
procedimento comum.
§ 2o Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, cumprir-
lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado da dívida.
§ 3o Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos
serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro
fundamento, os embargos serão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação
de excesso.
Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos
próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória.
[...]
§ 4o A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art.
701 até o julgamento em primeiro grau.
capítulo 5 • 176
§ 5o O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 6o Na ação monitória admite-se a reconvenção, sendo vedado o oferecimento de
reconvenção à reconvenção.
Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos
próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória.
[...]
§ 7o A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-
se de pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa.
§ 8o Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial,
prosseguindo-se o processo em observância ao disposto no Título II do Livro I da Parte
Especial, no que for cabível.
Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos
próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória.
[...]
§ 9o Cabe apelação contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos.
capítulo 5 • 177
Procedimentos especiais de jurisdição voluntária
Inventário e partilha
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.
capítulo 5 • 178
Quando o patrimônio do autor da herança constitui uma universalidade de
bens, faz-se necessário apurar quais são os bens que o integram, os herdeiros dele
para, ao final, ser decretada e partilhada entre eles, ocorrendo a individualização
do quinhão que cabe a cada sucessor. Justamente essa é a função do procedi-
mento de inventário e partilha: verificar os bens do falecido e dividi-los entre os
seus sucessores.
O inventário, como bem define Theodoro Júnior (2016), constitui “o (estágio
inicial), que consiste na atividade processual endereçada à descrição detalhada de
toda a herança, de modo a individualizar todos os bens móveis e imóveis que
formam o acervo patrimonial do morto, incluindo até mesmo as dívidas ativas
e passivas e quaisquer outros direitos de natureza patrimonial deixados pelo de
cujus”. Já a partilha, continua o doutrinador, “é o segundo estágio do procedi-
mento e vem a ser a atividade desenvolvida para ultimar a divisão do acervo entre
os diversos sucessores, estabelecendo e adjudicando a cada um deles um quinhão
certo e definido sobre os bens deixados pelo morto”.
A edição da Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007, permitiu que o inven-
tário (que até então era exclusivamente uma ação judicial) também pudesse ser
efetivado extrajudicialmente; para tanto, é indispensável que: haja concordância
entre todos os interessados; não exista testamento nem interessado incapaz, pois
existindo qualquer litígio, testamento ou interessado incapaz, o inventário neces-
sariamente deve ser judicial (art. 610 do CPC).
Nesse sentido, sendo todos os herdeiros capazes e concordes (pois com qual-
quer divergência entre os interessados o procedimento a ser adotado deverá ser
o judicial contencioso), o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura
pública, isto é, extrajudicialmente, desde que todas as partes interessadas estejam
assistidas por advogado ou por defensor público (art. 610, §§1° e 2° do CPC).
Trata-se de um negócio jurídico solene, que possui forma própria, ou seja,
escritura pública lavrada por tabelião.
capítulo 5 • 179
§ 2o O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas
estiverem assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e
assinatura constarão do ato notarial.
CURIOSIDADE
O Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução nº 35, de 24 de abril de 2007, com o
fim de disciplinar a aplicação da Lei nº 11.441/07 (procedimento administrativo de inventário
e partilha) pelos serviços notariais e de registro.
Disponível em: https://goo.gl/Wl7uyP.
ATENÇÃO
A via extrajudicial para o inventário e a partilha é uma opção dada aos sucessores, e não
uma imposição da lei, de sorte que, se os herdeiros preferirem, poderão se valer do procedi-
mento judicial estabelecido no CPC (CNJ, Resolução nº 35, art. 2°).
CNJ - Resolução nº 35, art. 2°. É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou
extrajudicial; podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de
30 dias, ou a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial.
ATENÇÃO
Como destaca Theodoro Júnior (2016), “não há lugar para a figura do inventariante no
inventário administrativo. Tudo se resolve de plano, no contato direto e imediato entre os in-
teressados, seus advogados e o tabelião. Não há processo, nem mesmo procedimento, mas
simplesmente um único ato notarial”.
capítulo 5 • 180
este sujeito à regra de competência territorial do CPC (art. 48), onde existe a vin-
culação ao último domicílio do falecido, ou se este não possuía domicílio certo,
será competente o foro de situação dos bens imóveis ou havendo bens imóveis em
foros diferentes, qualquer destes ou ainda, não havendo bens imóveis, o foro do
local de qualquer dos bens do espólio.
CNJ - Resolução nº 35, art. 1º Para a lavratura dos atos notariais de que trata a Lei
nº 11.441/07, é livre a escolha do tabelião de notas, não se aplicando as regras de
competência do Processo Civil.
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o
inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade,
a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o
espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Esclarece Theodoro Júnior (2016) que “há de respeitar-se, porém, a sede fun-
cional do tabelião, que somente tem atribuição para lavrar atos de seu ofício den-
tro de sua circunscrição territorial. Os interessados podem deslocar-se à procura de
tabelião de sua confiança fora de seu foro, mas o tabelião não pode transportar-se
para lavrar escritura em local não compreendido pela sua circunscrição territorial”.
O processo de inventário e de partilha extrajudicial tem prazo para ser ini-
ciado, devendo ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da
sucessão. A lei processual civil também estipula prazo para o seu término, de 12
(doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a
requerimento de parte.
Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois)
meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes,
podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte.
capítulo 5 • 181
Separação e divórcio consensual
É possível tanto a separação quanto o divórcio pela via judicial quanto pela via
extrajudicial, por meio de escritura pública.
Para a homologação do divórcio ou da separação pela via judicial de forma
consensual, a petição inicial (que poderá ser assinada por ambos os cônjuges) de-
verá conter (art. 731 do CPC):
capítulo 5 • 182
3. o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas (se houver);
4. o valor da contribuição para criar e educar os filhos (se houver).
Art. 731.
Parágrafo único. Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta
depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658.
ATENÇÃO
As mesmas regras contidas para a separação ou divórcio judicial consensual serão apli-
cadas, no que couber, para o processo de homologação da extinção consensual de união
estável (art. 732 do CPC).
capítulo 5 • 183
Caso não haja nascituro ou filhos incapazes, o divórcio consensual, a separa-
ção consensual e a extinção consensual de união estável poderão ser realizados por
escritura pública (extrajudicial); para tanto, é indispensável que as partes estejam
representadas por advogado ou por defensor público.
A escritura, lavrada por tabelião, não depende de homologação judicial e
constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento
de importância depositada em instituições financeiras, tudo conforme art. 733
e parágrafos.
Usucapião
capítulo 5 • 184
ATENÇÃO
O Código Civil de 2002, do art. 1.238 ao 1.244, prevê a usucapião em diversas formas,
conforme disciplinado a seguir:
CC/02 - Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, pos-
suir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé;
podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possui-
dor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços
de caráter produtivo.
CC/02 - Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não supe-
rior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
CC/02 - Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cin-
quenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural.
CC/02 - Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro
que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio
integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
CC/02 - Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou rea-
lizado investimentos de interesse social e econômico.
capítulo 5 • 185
A norma de plano, em seu caput, dispõe que esse procedimento extrajudicial
(via administrativa) será processado perante cartório do registro de imóveis, sendo
indispensável a representação por advogado.
Esse cartório deve ser necessariamente o do local (município) onde estiver
situado o imóvel a qual se deseja usucapir.
A petição com pedido de declaração de usucapião, a ser protocolada no car-
tório de registro de imóveis, deve estar instruída com os seguintes documentos:
Lei nº 6.015/73 - Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o
cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo,
a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus
antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com
prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização
profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou
averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do
domicílio do requerente;
capítulo 5 • 186
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a
continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e
das taxas que incidirem sobre o imóvel.
capítulo 5 • 187
Lei nº 6.015/73 - Art. 206-A,
[...]
§ 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até
o acolhimento ou a rejeição do pedido.
Lei nº 6.015/73 - Art. 206-A,
[...]
§ 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de
outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula
dos imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador competente, pessoalmente
ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em
15 (quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância.
ATENÇÃO
Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresen-
tada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados
na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes
públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao
juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição
inicial para adequá-la ao procedimento comum (art. 206-A, § 10, da Lei nº 6.015/73).
capítulo 5 • 188
Contudo, se ao final das diligências a documentação não estiver em ordem, o
oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido.
ATENÇÃO
A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião (art.
206-A, § 9º, da Lei nº 6.015/73).
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capítulo 5 • 190
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 191
ANOTAÇÕES
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