em
12 lições
A Europa em 12 lições
Comissão Europeia
Direção-Geral da Comunicação
Informação dos Cidadãos
1049 Bruxelas
BÉLGICA
Índice
1 A União Europeia: porquê? .................................................................................................................2
2 Doze etapas históricas .........................................................................................................................10
3 Alargamento da UE e boas relações de vizinhança ..............................................................16
4 Como funciona a UE? ...........................................................................................................................24
5 O que faz a União Europeia? ............................................................................................................34
6 O mercado único .....................................................................................................................................46
7 O euro ...........................................................................................................................................................54
8 A criação de investimento e crescimento na economia digital .......................................62
9 O que é ser cidadão europeu? ..........................................................................................................68
10 Uma Europa de liberdade, de segurança e de justiça .........................................................76
11 A UE na cena mundial ..........................................................................................................................84
12 Que futuro para a Europa? .................................................................................................................92
Cronologia da integração europeia ................................................................................................98
1
1
A União
C APÍTULO
Europeia:
porquê?
Solidariedade
Cooperação
Segurança Liberdade
Paz Valores Cidadãos
JustiçaDemocracia
Identidade Partilhada Juntos
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
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A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
I. PAZ
A ideia de uma Europa unida começou por ser apenas um sonho de filósofos e visionários antes de
se tornar um verdadeiro projeto político. Victor Hugo, por exemplo, imaginou uns «Estados Unidos
da Europa» pacíficos e inspirados num ideal humanitário. O sonho foi desfeito pelos trágicos confli-
tos que assolaram o continente na primeira metade do século XX.
No entanto, foi das cinzas da Segunda Guerra Mundial que nasceu uma nova esperança. Os que
haviam resistido ao totalitarismo durante a guerra estavam determinados a pôr fim aos antago-
nismos nacionais e a criar condições para uma paz duradoura. Entre 1945 e 1950, um punhado
de estadistas corajosos, como Robert Schuman, Konrad Adenauer, Alcide De Gasperi e Winston
Churchill, empenhou-se em persuadir os seus povos a avançarem para uma nova era. Novas
estruturas, baseadas em interesses comuns e assentes em tratados que garantissem o primado
da lei e a igualdade das nações, iriam ser criadas na Europa Ocidental.
Robert Schuman, então ministro dos Negócios Estrangeiros francês, retomou uma ideia original-
mente lançada por Jean Monnet e, em 9 de maio de 1950, propôs a fundação de uma Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço. Colocar sob uma autoridade comum — a Alta Autoridade — a produ-
ção de carvão e de aço de países outrora inimigos era um ato pragmático mas simultaneamente
de elevado valor simbólico. Com ele, as matérias-primas da guerra transformavam-se agora em
instrumentos de reconciliação e de paz.
Hoje em dia, existe paz nos países da União Europeia, onde as pessoas vivem em democracia, no
respeito do Estado de direito e dos direitos fundamentais. Além disso, os países da antiga Jugos-
lávia, que ainda na década de 1990 estavam em guerra entre si, são atualmente membros da UE
ou estão a preparar-se para aderir à UE.
No entanto, a paz nunca se pode dar por garantida. Durante a recente crise económica e social,
a Europa assistiu ao aumento de tendências populistas, nacionalistas e extremistas, que consti-
tuem uma ameaça para a democracia e para o processo de integração europeia. Muitos movi-
mentos são céticos em relação às instituições existentes, tanto a nível nacional como a nível
europeu. Resta saber se um novo crescimento económico assente em soluções comuns pode
reduzir as tensões.
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A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
O processo de alargamento da UE ainda está em curso. Sete países encontram-se em fases dife-
rentes de preparação para uma eventual adesão. No entanto, com a difícil situação económica na
Europa, é pouco provável que novos países adiram à União Europeia num futuro próximo.
Ao mesmo tempo, o Reino Unido realizou em junho de 2016 um referendo, em que a maioria dos
eleitores exprimiu vontade de abandonar a União Europeia.
Em 29 de março de 2017, o Reino Unido notificou o Conselho Europeu da sua intenção de aban-
donar a União Europeia, em conformidade com o artigo 50.º do Tratado da União Europeia. As
negociações do artigo 50.º entre a UE e o Reino Unido tiveram início em 19 de junho de 2017.
III. SEGURANÇA
A Europa do século XXI continua a confrontar-se com riscos consideráveis em matéria de segurança.
A leste, sob a liderança de Vladimir Putin, a Rússia está a desenvolver uma estratégia para aumen-
tar o seu poder. A anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e as guerras na Ucrânia oriental são
dramas que se desenrolam às portas da UE. Em particular, os países da UE que conhecem bem
a repressão vivida na União Soviética esperam que a UE seja solidária com a Ucrânia.
Os cidadãos esperam que a União Europeia trabalhe ativamente para preservar a segurança dos
seus Estados-Membros. A UE deve trabalhar de forma construtiva com as regiões com as quais
tem fronteiras: os Balcãs, o Norte de África, o Cáucaso e o Médio Oriente. Deve também proteger
os seus interesses militares e estratégicos, colaborando com os seus aliados — em especial no
âmbito da NATO — e desenvolvendo uma autêntica Política Europeia de Segurança e de Defesa
(PESD) comum.
A segurança interna e a segurança externa são as duas faces da mesma moeda. A luta contra
o terrorismo e a criminalidade organizada exige um trabalho conjunto das forças da ordem de
todos os Estados-Membros. A procura de soluções europeias comuns nos domínios do asilo e da
imigração passou a constituir uma prioridade na agenda da UE desde 2015, numa altura em que
a Europa enfrenta vagas sem precedentes de refugiados que fogem da guerra, das ditaduras
e da fome.
Tornar a União Europeia um espaço de liberdade, de segurança e de justiça, em que todos sejam
igualmente protegidos pela lei e tenham igual acesso à justiça é um novo desafio que requer
estreita cooperação entre governos. Organismos como a Europol (a Agência da União Europeia
para a Cooperação Policial) e a Eurojust (que promove a coordenação entre procuradores, magis-
trados e responsáveis da polícia em diversos Estados-Membros) podem desempenhar também
um papel ativo.
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A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
A União Europeia foi criada para cumprir objetivos políticos, que ambiciona atingir através da
cooperação económica.
A população da União Europeia constitui uma percentagem cada vez menor da população
mundial. Por isso, é necessário que os países que a compõem continuem a trabalhar em conjunto,
para assegurarem o seu crescimento económico e serem capazes de concorrer a nível mundial
com outras grandes economias. Isoladamente, nenhum país da UE tem dimensão suficiente para
influenciar decisões políticas na economia mundial. Para conseguirem uma economia de escala
e angariarem novos clientes, as empresas europeias carecem de uma base mais alargada do que
o seu mercado nacional e o mercado interno europeu proporciona-lhes essa plataforma. Para que
este mercado de dimensão europeia com mais de 510 milhões de consumidores beneficie o maior
número possível de pessoas, a UE envida esforços para eliminar os obstáculos ao comércio e para
libertar as empresas de burocracias desnecessárias.
No entanto, este grande espaço de livre concorrência tem de ter como corolário uma política de
solidariedade de dimensão europeia, que vem beneficiar de forma clara e concreta os cidadãos
europeus: por exemplo, quando são vítimas de inundações ou de outras catástrofes naturais,
podem contar com o apoio do orçamento da União. Os fundos estruturais, geridos pela Comis-
são Europeia, incentivam e complementam os esforços das autoridades nacionais e regionais da
União para reduzirem as desigualdades existentes entre as diferentes partes da Europa. Com
dinheiro do orçamento da UE e empréstimos do Banco Europeu de Investimento, a União contribui
para a melhoria das infraestruturas europeias de transportes (ampliando a rede de autoestradas
e comboios de alta velocidade, por exemplo), proporcionando melhores acessos às regiões perifé-
ricas e estimulando o comércio transeuropeu.
A crise financeira mundial de 2008 provocou a recessão económica mais grave de toda a história
da União Europeia. Os governos e instituições da UE acorreram a ajudar os bancos e a UE ofereceu
ajuda financeira aos países mais afetados. Os programas de assistência à Irlanda, Portugal, Espa-
nha e Chipre funcionaram bem e, graças a reformas nacionais muitas vezes difíceis, estes países
conseguiram concluir os seus programas, na maioria em 2014. A Grécia registou mais dificulda-
des na implementação das necessárias reformas estruturais do seu setor público. Negociações
complexas sobre a dívida pública grega conduziram, no verão de 2015, a novos acordos sobre
reformas na Grécia.
Apesar da situação única na Grécia, a partilha de uma moeda única ajudou a proteger a área do
euro da especulação e da desvalorização durante a crise. A UE e os Estados-Membros assumiram
um esforço concertado para reduzir as respetivas dívidas públicas. O grande desafio dos países
europeus nos próximos anos é saírem da recessão de uma forma que crie novos empregos susten-
táveis, particularmente nos domínios das tecnologias digitais e ecológicas.
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A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
© European Union
As sociedades pós-industriais europeias são cada vez mais complexas. Os níveis de vida têm
registado uma constante melhoria, mas ainda existem desigualdades significativas entre ricos
e pobres. Estas desigualdades podem acentuar-se por fatores como a recessão económica,
a deslocalização das indústrias, o envelhecimento populacional e problemas relacionados com
as finanças públicas. É, pois, importante que os Estados-Membros da UE trabalhem em conjunto
para enfrentar estes desafios.
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© highwaystarz/Adobe Stock
A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
Sessenta e cinco anos de integração europeia demonstraram que a União como um todo é maior
do que a soma das suas partes: tem um peso económico, social, tecnológico, comercial e político
muito maior do que se os Estados-Membros tivessem de agir individualmente. Agir em conjunto
e falar a uma só voz constitui uma mais-valia.
Outras potências mundiais, como a China e os Estados Unidos, procuram influenciar as regras
económicas mundiais. Por este motivo, é mais importante do que nunca que os Estados-Membros
da UE unam forças e constituam uma «massa crítica» para preservarem a sua influência na cena
mundial. Um exemplo da forma como isso está a acontecer na prática é o papel da UE nas nego-
ciações internacionais sobre regras comerciais. Os países da UE concordaram em muitos princípios
e regras técnicas relacionados com a vida quotidiana e que servem de modelo para muitas outras
partes do mundo. Alguns exemplos são as normas de saúde e segurança, a promoção das fontes
de energia renováveis, o «princípio da precaução» na segurança dos alimentos, os aspetos éticos
das novas tecnologias e muitos mais. A UE também continua na linha da frente dos esforços
mundiais contra o aquecimento global.
Os valores europeus são igualmente visíveis em todo o mundo sob a forma da cooperação para
o desenvolvimento e da ajuda humanitária gerida pela UE.
O velho adágio «a união faz a força» mantém, pois, toda a sua atualidade para os europeus
de hoje.
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A UNIÃO EUROPEIA : PORQUÊ?
VI. VALORES
A União Europeia promove valores humanitários e progressistas e garante que a espécie humana
seja beneficiária e não vítima das grandes mudanças globais que estão em curso. As necessidades
das pessoas não podem ser satisfeitas meramente através das forças do mercado ou por uma
ação unilateral de determinados países.
A UE defende, portanto, uma visão da humanidade e um modelo de sociedade apoiados pela
grande maioria dos seus cidadãos. Os direitos humanos, a solidariedade social, a livre iniciativa,
a justa distribuição da riqueza, o direito a um ambiente protegido, o respeito pela diversidade
cultural, linguística e religiosa e uma síntese harmoniosa entre a tradição e o progresso constituem
para os europeus um precioso património de valores.
A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia foi proclamada em Nice, em dezembro
de 2000, e é vinculativa. Enuncia todos os direitos atualmente reconhecidos por todos os Estados-
-Membros da UE e respetivos cidadãos. São esses direitos e valores partilhados que podem criar
um sentimento de parentesco entre europeus. Para citar apenas um exemplo, todos os países da
UE aboliram a pena de morte.
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Objetivos
2
C APÍTULO
Doze etapas
históricas
Desafios Expansão
HistóriaIntegração
Estabilidade
Progresso
Desenvolvimento
União Realizações
Mais próxima Comunidade
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2. Os Seis decidiram depois, em 25 de março de 1957, com os Tratados de Roma, criar uma
Comunidade da Energia Atómica Europeia e uma Comunidade Económica Europeia. Esta
última envolveria a construção de um mercado comum mais alargado e que abrangesse
toda uma série de bens e serviços. Os direitos aduaneiros entre os seis países foram abolidos
em 1 de julho de 1968 e, ao longo da mesma década, foram definidas políticas comuns,
nomeadamente nos domínios do comércio e da agricultura.
3. O sucesso obtido pelos Seis levou a Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido a decidirem aderir.
Este primeiro alargamento, de seis para nove membros, teve lugar em 1973 e foi acompa-
nhado pela introdução de novas políticas sociais e ambientais, bem como pela criação do
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional em 1975.
© European Union
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4. Em junho de 1979, foi dado um importante passo em frente, com as primeiras eleições para
o Parlamento Europeu por sufrágio universal direto. Estas eleições realizam-se de cinco em
cinco anos.
5. Em 1981, a Grécia aderiu às Comunidades, sendo seguida, em 1986, por Espanha e Portu-
gal, após a queda das ditaduras em todos estes países. Este alargamento das Comunidades
à Europa do Sul tornou mais urgente a execução de programas de auxílio regional.
6. A recessão económica mundial do início da década de 80 trouxe consigo uma onda de «euro-
pessimismo». No entanto, a esperança renasceu em 1985, quando a Comissão Europeia, sob
a presidência de Jacques Delors, publicou um livro branco que estabelecia um calendário
para concluir a realização do mercado interno europeu até 1 de janeiro de 1993. Este ambi-
cioso objetivo ficou consagrado no Ato Único Europeu, que foi assinado em fevereiro de 1986
e entrou em vigor em 1 de julho de 1987.
7. A morfologia política da Europa foi profundamente alterada pela queda do muro de Berlim,
em 1989, que conduziu à reunificação da Alemanha, em outubro de 1990, e à democratiza-
ção dos países da Europa Central e Oriental, libertados da tutela soviética. A própria União
Soviética deixou de existir em dezembro de 1991.
8. Em 1995, três outros países — a Áustria, a Finlândia e a Suécia — aderiram à UE, que
passou a contar com 15 membros. Na altura, a Europa já enfrentava os desafios crescen-
tes da globalização. As novas tecnologias e a utilização cada vez maior da Internet contri-
buíam para a modernização das economias, embora comportassem também tensões sociais
e culturais.
Entretanto, a UE concentrava-se no seu projeto mais ambicioso de sempre: a criação de uma
moeda única para facilitar a vida das empresas, dos consumidores e dos viajantes. Em 1 de
janeiro de 2002, o euro substituiu as moedas antigas de 12 países da UE, que constituíram
agora conjuntamente a «área do euro». O euro assumiu, desde então, o estatuto de grande
moeda mundial.
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D O Z E E TA PA S H I S T Ó R I C A S
10. Para enfrentar os complexos desafios do século XXI, a UE alargada necessitava de um método
de decisão mais simples e eficiente. Tinham sido propostas novas regras num projeto de
Constituição da UE, assinado em outubro de 2004, que substituiria todos os tratados exis-
tentes. No entanto, o texto foi rejeitado por dois referendos nacionais, em França e nos Países
Baixos, em 2005.
A Constituição foi, portanto, substituída pelo Tratado de Lisboa, que foi assinado em 13
de dezembro de 2007 e entrou em vigor em 1 de dezembro de 2009. Este tratado altera
mas não substitui os tratados anteriores e introduz a maioria das alterações previstas na
Constituição. A título de exemplo, atribui ao Conselho Europeu um presidente permanente
e cria o lugar de alto-representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança.
© Robert Maass/Corbis
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11. As eleições europeias de maio de 2014 marcaram uma mudança nas práticas institucionais
da UE, na medida em que os partidos políticos propuseram candidatos para o cargo de presi-
dente da Comissão Europeia. O Conselho Europeu nomeou então o candidato do partido que
obteve o maior número de lugares, tal como previsto no Tratado de Lisboa. Tratava-se do
luxemburguês Jean-Claude Juncker do Partido Popular Europeu, aprovado por uma ampla
coligação pró-europeia no Parlamento Europeu, que incluía os grupos socialista e liberal.
As eleições de 2014 também mostraram ganhos para os partidos eurocéticos, que conquis-
taram cerca de 100 dos 751 lugares. Estes partidos votam frequentemente em clara oposi-
ção à linha política maioritária predominante nas instituições da UE e são geralmente céticos
quanto à integração europeia, além de veementes em matéria de imigração.
12. Em 2008, teve início uma crise financeira e económica mundial, que levou à criação de
novos mecanismos da UE destinados a assegurar a estabilidade dos bancos, reduzir a dívida
pública e coordenar as políticas económicas dos Estados-Membros, em especial dos que
utilizam o euro. Anos mais tarde, os esforços envidados para realizar reformas estruturais
e melhoramentos nas contas públicas começam a dar frutos, sob a forma de um novo cres-
cimento económico.
As políticas económicas da área do euro estão a ser reforçadas sob a liderança da Comissão
e do Conselho, que dispõem agora de novos instrumentos jurídicos para aplicar os acordos
celebrados pelos Estados-Membros com vista a garantir a solidez das finanças públicas.
O Banco Central Europeu está a aumentar a liquidez e a manter taxas de juro muito baixas.
A UE também está a promover novos investimentos através do seu Fundo para Investimen-
tos Estratégicos, em particular em parcerias entre os setores público e privado.
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Alargamento
3
C APÍTULO
da UE e boas
relações
de vizinhança
Cooperação
Família Seis
Crescimento
Membros Integração
Apoio
Unir Vizinhos
Democracia
Adesão
Obrigações
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A L A RG A MENTO DA UE E BOA S REL AÇÕES DE VIZINH A NÇ A
I. CONDIÇÕES DE ADESÃO
a) Critérios jurídicos
A construção europeia foi, desde sempre, um processo político e económico aberto a todos os
países europeus dispostos a assinar os tratados e a integrar plenamente o acervo da União. Nos
termos do artigo 49.º do Tratado de Lisboa, qualquer país europeu pode pedir para se tornar
membro da UE, desde que respeite os princípios da liberdade, democracia, respeito pelos direitos
humanos e liberdades fundamentais, bem como o Estado de direito.
b) «Critérios de Copenhaga»
Em 1993, face aos pedidos formulados pelos antigos países comunistas no sentido de integrarem
a União, o Conselho Europeu estabeleceu três critérios que cada país tem de preencher para poder
aderir. No momento da adesão, os novos membros devem possuir:
• instituições estáveis que garantam a democracia, o Estado de direito e os direitos humanos, bem
como o respeito pelas minorias e a sua proteção;
• uma economia de mercado que funcione, bem como condições para fazer face às forças de
mercado e à concorrência no interior da União;
A Comissão Europeia, que representa a União Europeia, discute com o país candidato o processo
de adesão («negociações de adesão»). Uma vez concluídas essas negociações, a decisão de acei-
tar a entrada desse país na UE deve ser tomada por unanimidade pelos Estados-Membros reuni-
dos no Conselho. O Parlamento Europeu também deve aprovar a adesão com votação por maioria
absoluta. O tratado de adesão deve depois ser ratificado pelos Estados-Membros e pelo país
candidato em conformidade com os respetivos procedimentos constitucionais.
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Ao reunir-se em Copenhaga em dezembro de 2002, o Conselho Europeu tomou uma das decisões
mais importantes de toda a história da integração europeia. Convidando mais 12 países a aderir
à UE, os 15 membros de então não se limitaram a fazer crescer a área geográfica e a popula-
ção da UE. Puseram também termo à divisão do continente europeu em dois, existente desde
1945. Finalmente, países europeus que, durante décadas, não gozaram de liberdade democrática,
puderam juntar-se novamente à família das nações democráticas europeias. E assim, a República
Checa, a Estónia, a Hungria, a Letónia, a Lituânia, a Polónia, a Eslováquia e a Eslovénia tornaram-
-se membros da UE em 2004, juntamente com as ilhas mediterrânicas de Chipre e Malta. Segui-
ram-se a Bulgária e a Roménia, em 2007. A Croácia, que apresentou o seu pedido de adesão em
2003, acabaria por tornar-se membro em 2013.
© Craig — Campbell/Moodboard/Corbis
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b) Negociações em curso
A Turquia, um país que é membro da NATO e tem um acordo de associação com a UE de longa
data, candidatou-se à adesão em 1987. Devido à sua situação geográfica e à sua história polí-
tica, a UE hesitou durante muito tempo antes de dar uma resposta favorável a esta candida-
tura. No entanto, em outubro de 2005, começaram finalmente as negociações de adesão. Alguns
países da UE têm dúvidas quanto ao facto de a Turquia se vir a tornar membro da União Europeia
e propõem um acordo alternativo — uma «parceria privilegiada». As negociações foram reanima-
das em 2015, quando a Turquia acedeu a reduzir e controlar o número de requerentes de asilo que
entram na UE através daquele país. A UE tenciona continuar a ser um ponto de referência para
a Turquia em matéria de reformas políticas e direitos fundamentais. A UE insiste no facto de que
o respeito destes valores permanece uma condição não negociável de adesão.
Os países dos Balcãs Ocidentais, que, na sua maioria, fizeram parte da antiga Jugoslávia, estão
também a voltar-se para a UE para acelerarem a sua reconstrução económica, melhorarem as
suas relações mútuas (abaladas por guerras étnicas e religiosas) e consolidarem as suas institui-
ções democráticas. A UE concedeu o estatuto de «país candidato» à Albânia, à antiga República
jugoslava da Macedónia, ao Montenegro e à Sérvia. A Bósnia-Herzegovina solicitou a sua adesão
em 2016. O Kosovo (esta designação não prejudica as posições sobre o estatuto e está em confor-
midade com a Resolução 1244 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o parecer do ICJ
sobre a Declaração de Independência do Kosovo) declarou a sua independência em 2008 e poderá
também tornar-se país candidato após a conclusão das negociações em curso sobre o seu futuro.
Também tiveram início negociações formais de adesão à UE com o Montenegro e a Sérvia.
A Islândia, que foi duramente afetada pela crise financeira de 2008, candidatou-se à UE em 2009,
mas as negociações de adesão foram suspensas em 2013 a pedido do próprio país. A opinião
pública na Islândia mostrou-se menos interessada na adesão à UE após o relançamento da
economia do país.
a) Fronteiras geográficas
O debate público sobre o futuro da UE revela que muitos europeus estão preocupados com os
limites das fronteiras da União. Também se colocam questões sobre o que constitui a identidade
europeia. As respostas não são simples, especialmente porque os Estados-Membros não têm
todos a mesma perceção dos seus interesses geopolíticos e económicos. Os países bálticos e a
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Polónia têm sido favoráveis à adesão da Ucrânia à UE, mas o conflito entre a Ucrânia e a Rússia,
que culminou com a anexação da Crimeia pela Rússia, criou tensões geopolíticas, o que torna esta
opção irrealista. Além disso, a posição estratégica da Moldávia põe em evidência tensões entre os
países ocidentais e a Rússia, que promove fortemente as suas ambições regionais.
Apesar de preencherem as condições de adesão, o Listenstaine, a Noruega e a Suíça não são
membros da UE, seguindo a opinião pública destes países.
A abordagem mais sensata será afirmar que qualquer país europeu poderá candidatar-se à UE,
desde que possa integrar plenamente o acervo da União e esteja preparado para adotar o euro.
A integração europeia é um processo contínuo iniciado em 1950 e qualquer tentativa de congelar
para sempre as fronteiras da UE seria contrária a este processo.
b) Política de vizinhança
Os alargamentos que tiveram lugar em 2004 e 2007 empurraram as fronteiras da UE mais para
leste e para sul, suscitando assim a questão das relações da UE com os seus novos vizinhos.
A estabilidade e a segurança são problemas que afetam as regiões fora das suas fronteiras e a
UE desejava evitar que se voltassem a erguer novas linhas divisórias entre ela e estas regiões vizi-
nhas. As ameaças emergentes à segurança, como a imigração ilegal, os cortes nos fornecimentos
energéticos, a degradação ambiental, a criminalidade organizada transfronteiriça e o terrorismo
eram problemas com que a UE tinha agora de lidar mais intensamente. Por essa razão, a UE
criou uma nova Política Europeia de Vizinhança, que rege as relações com os vizinhos do leste
e sudeste (Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia) e do sul (Argélia, Egito,
Israel, Jordânia, Líbano, Líbia, Marrocos, Territórios Palestinianos Ocupados, Síria e Tunísia).
Desde 2004, quase todos estes países assinaram «acordos de parceria e cooperação» bilate-
rais ou acordos de associação com a UE que os obrigam a respeitarem valores comuns (como
a democracia, os direitos humanos e o Estado de direito) e a evoluírem no sentido da economia de
mercado, do desenvolvimento sustentável e da redução da pobreza. A UE, por seu turno, oferece
ajuda financeira, técnica e macroeconómica, acesso facilitado a vistos e um conjunto de medidas
que ajudarão estes países a desenvolver-se.
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o reforço dos laços com a UE. Entre 2014 e 2015, a UE concedeu à Ucrânia mais de 7 mil milhões
de euros em assistência financeira relacionada com as reformas políticas e democráticas.
Alguns países da UE fazem parte da coligação militar que luta contra o chamado «Estado Islâmico»
ou «Daech», enquanto a União Europeia se depara com um grande afluxo de migrantes provenien-
tes da Síria, do Corno de África e da África Subsariana, que fogem da guerra, das perseguições reli-
giosas ou da miséria. Em 2015, cerca de um milhão de pessoas tentou atravessar o Mediterrâneo,
a partir da costa da Líbia ou da Turquia, em embarcações fornecidas por criminosos traficantes
de seres humanos. Face a esta catástrofe humanitária, a UE está a rever a sua política comum de
asilo e de imigração (ver capítulo 10).
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4
Como
C APÍTULO
funciona
a UE?
Conselho
Comissão
Cidadãos
Tratados
Eleições
Legislação Eleições
Representantes Parlamento
Decisões Acordo Partidos
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COMO FUNCION A A UE ?
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COMO FUNCION A A UE ?
A União Europeia é mais do que uma confederação de Estados, mas não é um Estado federal. Na reali-
dade, a sua estrutura não se insere em nenhuma categoria jurídica clássica. É historicamente única e o
seu sistema de tomada de decisões tem vindo a evoluir constantemente há cerca de 60 anos.
Os Tratados (o chamado «direito primário») estão na origem de um vasto corpo de «direito deri-
vado», que tem incidência direta na vida quotidiana dos cidadãos da UE. O direito derivado consiste,
principalmente, em regulamentos, diretivas e recomendações adotados pelas instituições da UE.
Esta legislação, tal como as políticas da União em geral, é o resultado de decisões tomadas pelo
Parlamento Europeu (que representa os cidadãos), pelo Conselho (que representa os governos
nacionais) e pela Comissão Europeia (órgão executivo independente dos governos dos Estados-
-Membros que representa o interesse coletivo dos europeus). Outras instituições e órgãos têm
também um papel a desempenhar, como a seguir se descreve.
A. O Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu é o órgão eleito que representa os cidadãos da UE. Controla as ativida-
des da UE e participa no processo legislativo, juntamente com o Conselho. Desde 1979, os seus
membros são eleitos por sufrágio universal direto, de cinco em cinco anos.
Em 2017, o italiano Antonio Tajani (Partido Popular Europeu — Democratas-Cristãos) foi eleito
presidente do Parlamento por um período de dois anos e meio.
© European Union
O Parlamento Europeu:
é aqui que a sua voz poderá ser ouvida.
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COMO FUNCION A A UE ?
Áustria 18
Bélgica 21
Bulgária 17
Croácia 11
Chipre 6
República Checa 21
Dinamarca 13
Estónia 6
Finlândia 13
França 74
Alemanha 96
Grécia 21
Hungria 21
Irlanda 11
Itália 73
Letónia 8
Lituânia 11
Luxemburgo 6
Malta 6
Países Baixos 26
Polónia 51
Portugal 21
Roménia 32
Eslováquia 13
Eslovénia 8
Espanha 54
Suécia 20
Reino Unido 73
Total 751
Os principais debates parlamentares têm lugar nas sessões mensais (conhecidas por «sessões
plenárias»), onde estão presentes normalmente todos os membros do Parlamento Europeu. Em
geral, as sessões plenárias têm lugar em Estrasburgo (França) e todas as sessões extraordiná-
rias são realizadas em Bruxelas. Todo o trabalho preparatório é igualmente feito em Bruxelas:
a «Conferência dos Presidentes» — ou seja, os presidentes dos grupos políticos juntamente com
o presidente do Parlamento — define a ordem de trabalhos das sessões plenárias e as 20 comis-
sões parlamentares redigem as alterações legislativas que vão ser debatidas. O trabalho adminis-
trativo diário do Parlamento é realizado pelo Secretariado-Geral, no Luxemburgo e em Bruxelas.
Cada grupo político possui ainda um secretariado próprio.
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COMO FUNCION A A UE ?
o Tratado de Lisboa, estes domínios abrangem cerca de 95% da legislação da UE. O Conselho
e o Parlamento podem chegar a um acordo em primeira leitura. Se não se chegar a acordo após
duas leituras, a proposta é submetida a um Comité de Conciliação.
Por último embora não menos importante, o Parlamento Europeu é o órgão de controlo democrá-
tico da União, em especial da Comissão Europeia.
O Parlamento Europeu é eleito de cinco em cinco anos. As oitavas eleições por sufrágio direto
decorreram entre 22 e 25 de maio de 2014 e tiveram a participação de 42,5% dos 380 milhões
de eleitores. Esta taxa de participação foi praticamente a mesma que nas eleições anteriores,
em 2009.
Na sequência do Tratado de Lisboa, e pela primeira vez em 2014, cada um dos partidos a nível
europeu escolheu o seu cabeça de lista, que era igualmente candidato ao cargo de presidente
da Comissão Europeia. O Partido Popular Europeu obteve o maior número de votos e o Conselho
Europeu decidiu por maioria qualificada nomear o candidato desse partido para o cargo. A escolha
recaiu sobre Jean-Claude Juncker, antigo primeiro-ministro do Luxemburgo, que foi eleito pela
grande maioria do Parlamento (com 422 votos a favor, 250 contra e 47 abstenções).
Seguidamente, o Parlamento realizou «audições» dos 27 candidatos propostos por cada Estado-
-Membro para avaliar a sua adequação aos cargos de membros da Comissão, antes de aprovar
a Comissão no seu conjunto.
Tem igualmente o poder de demitir toda a Comissão, a qualquer momento, aprovando uma moção
de censura por maioria de dois terços dos seus membros. O Parlamento controla ainda a gestão
corrente das políticas comuns, formulando perguntas orais e escritas à Comissão e ao Conselho.
Os deputados do Parlamento Europeu e os deputados dos parlamentos nacionais dos Estados-
-Membros trabalham frequentemente em estreita colaboração, no seio dos partidos políticos e em
órgãos especializados que existem para esse efeito. Desde 2009, o papel dos parlamentos nacio-
nais na UE é definido no Tratado da União Europeia. Os parlamentos nacionais podem exprimir
as suas opiniões sobre qualquer nova legislação proposta pela Comissão, assegurando assim
o respeito pelo princípio da subsidiariedade. Este princípio determina que a UE só deve lidar com
um assunto quando a ação a nível europeu for mais eficaz do que a nível nacional ou regional.
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COMO FUNCION A A UE ?
B. O Conselho Europeu
O Conselho Europeu é a principal instituição política da UE. É composto pelos chefes de Estado
e de Governo — os presidentes e/ou primeiros-ministros — de todos os países membros da UE
e pelo presidente da Comissão Europeia. Reúne-se, regra geral, quatro vezes por ano em Bruxe-
las. Tem um presidente permanente, a quem cabe coordenar os trabalhos do Conselho Europeu
e assegurar a sua continuidade. O presidente permanente é eleito (por maioria qualificada dos
votos dos membros) por um mandato de dois anos e meio e pode ser reeleito uma vez. O antigo
primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, ocupa este lugar desde 1 de dezembro de 2014.
C. O Conselho
O Conselho (também conhecido por Conselho de Ministros) é composto por ministros dos governos
nacionais da UE. Os Estados-Membros exercem rotativamente a Presidência do Conselho por um
período de seis meses. Nas reuniões do Conselho participa um ministro de cada Estado-Membro.
Os ministros participantes variam em função da matéria inscrita na ordem de trabalhos: negócios
estrangeiros, agricultura, indústria, transportes, ambiente, etc.
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COMO FUNCION A A UE ?
As reuniões do Conselho dos Ministros dos Negócios Estrangeiros são presididas pelo alto-repre-
sentante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, que é também vice-
-presidente da Comissão. A antiga ministra dos Negócios Estrangeiros de Itália, Federica Mogherini,
exerce estas funções desde novembro de 2014.
A principal função do Conselho consiste em aprovar legislação da União Europeia. Esta responsa-
bilidade é normalmente partilhada com o Parlamento Europeu. O Parlamento Europeu e o Conse-
lho partilham igualmente idêntica responsabilidade na adoção do orçamento da UE. É também
o Conselho que assina os acordos internacionais negociados pela Comissão.
O Conselho delibera por maioria simples, por «maioria qualificada» ou por unanimidade, consoante
a matéria em questão.
Nas questões mais importantes, como a fiscalidade, qualquer alteração dos Tratados, o lança-
mento de uma nova política comum ou a adesão à UE de um novo Estado, o Conselho tem de
deliberar por unanimidade.
Na maior parte dos outros casos, é utilizada a maioria qualificada, o que significa que uma decisão
do Conselho só pode ser adotada com a chamada «dupla maioria». Qualquer decisão é aprovada
se 55% dos Estados-Membros (16 dos 28 Estados) votarem a favor e se representarem pelo
menos 65% da população da UE (cerca de 332 milhões dos 510 milhões de cidadãos).
Aquando do lançamento do euro, foi criado no âmbito do Conselho um novo órgão — o «Euro-
grupo» — cujas reuniões contam com a presença de todos os ministros da Economia e das Finan-
ças dos 19 países da área do euro.
D. A Comissão Europeia
A Comissão é uma instituição-chave da UE. É a única que pode elaborar novas propostas de legis-
lação, que depois transmite ao Conselho e ao Parlamento para discussão e aprovação.
Os seus membros são nomeados por cinco anos de comum acordo pelos Estados-Membros, após
aprovação do Parlamento Europeu (como acima descrito). A Comissão é responsável perante
o Parlamento e é obrigada a demitir-se em bloco se for objeto de uma moção de censura apro-
vada por esta instituição.
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COMO FUNCION A A UE ?
© European Union
Como órgão executivo da UE, a Comissão põe em prática as decisões tomadas pelo Conselho,
em domínios como a política agrícola comum, por exemplo. Dispõe de amplos poderes na condu-
ção das políticas comuns da UE, como sejam a investigação e a tecnologia, o auxílio externo e o
desenvolvimento regional, cujos orçamentos lhe estão confiados.
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COMO FUNCION A A UE ?
Os comissários são assistidos por uma administração sediada principalmente em Bruxelas e no
Luxemburgo. Existem ainda várias agências constituídas para executarem determinadas tarefas
em nome da Comissão, sediadas, na sua maioria, noutras cidades europeias.
E. O Tribunal de Justiça
O Tribunal de Justiça da União Europeia, sediado no Luxemburgo, é composto por um juiz por cada
Estado-Membro e assistido por 11 advogados-gerais, designados por comum acordo entre os
governos dos Estados-Membros para um mandato renovável de seis anos. A sua independência
está assegurada. A missão do Tribunal de Justiça é garantir o cumprimento do direito da UE e a
interpretação e aplicação corretas dos Tratados.
O Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt, é responsável pela gestão do euro e da polí-
tica monetária da União Europeia (ver o capítulo 7: «O euro»). O seu Conselho de Administração
é composto por seis administradores e pelos governadores dos bancos centrais nacionais dos 19
países da área do euro. As principais responsabilidades do Banco Central consistem em garantir
a estabilidade dos preços e supervisionar os bancos na área do euro. O antigo governador do
Banco de Itália, Mario Draghi, é o presidente do Banco Central desde 2011.
G. O Tribunal de Contas
Quando tomam decisões num determinado número de domínios políticos, o Conselho e a Comissão
Europeia consultam o Comité Económico e Social Europeu. Os membros deste comité representam
os vários grupos de interesses económicos e sociais que formam a «sociedade civil organizada»
e são designados pelo Conselho por um período de cinco anos.
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COMO FUNCION A A UE ?
O Comité das Regiões é composto por representantes das autoridades regionais e locais, nomea-
dos por cinco anos pelo Conselho, sob proposta dos Estados-Membros. O Conselho e a Comissão
devem consultar o Comité sobre matérias relevantes para as regiões, podendo este também emitir
pareceres por sua própria iniciativa.
O Provedor de Justiça é eleito pelo Parlamento Europeu por um período renovável de cinco anos.
A sua função é examinar queixas relativas a má administração nas instituições da UE. Os cida-
dãos, as empresas e os residentes da UE podem apresentar queixas. A antiga Provedora de Justiça
da Irlanda, Emily O’Reilly, é a Provedora de Justiça Europeia desde 2013.
© belahoche/Adobe Stock
33
Direitos Digital
Migração Emprego Energia
Comércio
Investimento
Crescimento Justiça
Mercado interno
Economia
Clima
5
O que faz
C APÍTULO
a União
Europeia?
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O Q U E FA Z A U N I Ã O E U R O P E I A ?
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I. POLÍTICAS DE INOVAÇÃO
As atividades da União Europeia têm impacto no quotidiano dos seus cidadãos, procurando
responder a muitos dos desafios concretos da sociedade: proteção do ambiente, saúde, inovação
tecnológica, energia, etc.
Desde a década de 1960 que os cientistas têm vindo a avisar que a temperatura da terra está
a aumentar. Os líderes políticos foram lentos a dar resposta ao problema, mas em 1988 as
Nações Unidas criaram o seu «Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas». Este
painel de peritos conseguiu chamar a atenção do mundo para as consequências desastrosas
do aquecimento global provocado pelas emissões de gases nocivos, em especial da queima de
combustíveis fósseis que contêm hidrocarbonetos.
© Westend61/gettyimages
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Em 2008, a União Europeia deu um importante contributo para a luta contra as alterações climáticas.
O Conselho Europeu decidiu que, até 2020, a União Europeia reduziria as suas emissões em pelo
menos 20% (comparativamente com os níveis de 1990), aumentaria a quota do mercado de energias
renováveis para 20% e diminuiria o consumo energético global em 20%. Em 2014, os dirigentes da
UE aprovaram um objetivo mais ambicioso: uma redução de, pelo menos, 40% até 2030, em compa-
ração com os valores de 1990. Os países da UE também agiram de forma decisiva em conjunto para
assegurar que a conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas, realizada em Paris em
dezembro de 2015, conduzia a um acordo vinculativo de 195 países para um limite de 2 °C no aqueci-
mento global. Os países mais pobres do mundo necessitam de assistência financeira para reduzirem
as suas emissões e para se adaptarem às alterações climáticas. Nesse sentido, entre 2014 e 2020,
a UE contribuirá com pelo menos 14 mil milhões de euros do Fundo Europeu de Desenvolvimento.
O processo político de ratificação do Acordo de Paris pela UE foi concluído em 4 de outubro de 2016,
quando o Parlamento Europeu aprovou a ratificação que permitirá a sua entrada em vigor.
Os países da UE aprovaram legislação vinculativa destinada a obter uma redução das emissões
nocivas na UE. Grande parte do esforço prende-se com o investimento em novas tecnologias, que
também cria postos de trabalho e gera crescimento económico. O «regime de comércio de licenças
de emissão» a nível da UE visa assegurar que as reduções necessárias das emissões de gases
nocivos são realizadas de forma eficiente.
A UE está igualmente a tomar medidas para enfrentar vários outros problemas ambientais como
o ruído, os resíduos, a proteção dos habitats naturais, os gases de escape, os produtos químicos, os
acidentes industriais e a limpeza das águas balneares. Trabalha igualmente para prevenir catás-
trofes naturais ou provocadas pelo homem, como derrames de petróleo ou incêndios florestais.
A legislação da UE está constantemente a ser aperfeiçoada com o intuito de oferecer melhor prote-
ção da saúde pública. A legislação da UE sobre produtos químicos, por exemplo, tem vindo a ser
reformulada a fim de substituir normas anteriores, elaboradas caso a caso, por um sistema único
de registo, avaliação e autorização dos produtos químicos designado REACH (Registration, Evalua-
tion and Authorisation of Chemicals). Este sistema utiliza uma base de dados central, gerida pela
Agência Europeia dos Produtos Químicos, sediada em Helsínquia. O objetivo é evitar a contamina-
ção do ar, da água, do solo e dos edifícios, preservar a biodiversidade e melhorar a saúde e a segu-
rança dos cidadãos da UE, mantendo simultaneamente a competitividade da indústria europeia.
B. Inovação tecnológica
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Atualmente, pretende-se que a investigação conjunta a nível da UE seja complementar dos progra-
mas nacionais de investigação. Esta investigação centra-se em projetos que envolvem diversos
laboratórios de vários Estados-Membros. Apoia também a investigação fundamental em domínios
como a fusão termonuclear controlada (uma fonte de energia potencialmente inesgotável para
o século XXI). Além disso, incentiva a investigação e o desenvolvimento tecnológico em indústrias
estratégicas como a eletrónica e a informática, confrontadas com forte concorrência externa.
C. Energia
Mais de metade de todas as fontes de energia na UE são atualmente importadas, o que faz da
União o maior importador mundial de energia. Os europeus são vulneráveis a ruturas de aprovisiona-
mento ou subidas de preços provocadas por crises internacionais. Neste contexto, a UE está a traba-
lhar para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e inverter o processo de aquecimento global.
Vários passos estão a ser dados, por exemplo, poupar energia utilizando-a de forma mais inteli-
gente, desenvolver fontes de energia alternativas (em especial, as energias renováveis) e reforçar
a cooperação internacional. O melhor isolamento dos edifícios é uma área fundamental, uma vez
que é aqui que a UE utiliza 40% da sua energia e gera 36% das emissões de substâncias nocivas,
como os gases com efeito de estufa. A investigação e o desenvolvimento no domínio da energia,
na Europa, incidem sobre a energia solar, eólica, de biomassa e nuclear.
Uma prioridade importante da política energética é assegurar uma melhor conectividade entre as
redes de energia e de transportes em toda a Europa. Esta situação pode conduzir a uma utilização
mais eficiente da energia, tanto por razões técnicas como pelos mercados comuns. A maioria dos
projetos que beneficiam do Plano de Investimento para a Europa, lançado pelo presidente Juncker
em 2014, promove energias eficientes, limpas e renováveis, que incluem a interligação das redes
energéticas de Espanha e de Portugal com a de França, bem como a ligação das redes na região
do mar Báltico.
A Europa atua também na esfera internacional, nomeadamente com a Rússia e o Médio Oriente,
a fim de garantir a continuidade do abastecimento de energia.
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© sergbob/fotolia
Para garantir o bom funcionamento do mercado único (ver capítulo 6), os desequilíbrios que ocor-
rem nesse mercado devem ser corrigidos. É esse o objetivo das «políticas de solidariedade», conce-
bidas para ajudar as regiões menos desenvolvidas e os setores industriais com dificuldades. A UE
também contribui para a reconversão das indústrias que foram duramente atingidas pelo rápido
crescimento da concorrência internacional.
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Estes objetivos são financiados por fundos específicos, que vêm completar ou incentivar os inves-
timentos do setor privado e das administrações centrais e regionais:
A política agrícola comum, tal como foi instituída no Tratado de Roma original de 1957, pretendia
assegurar à população agrícola um nível de vida condigno, estabilizar os mercados, garantir que
os produtos chegam aos consumidores a preços razoáveis e modernizar as infraestruturas agríco-
las. Estes objetivos foram amplamente alcançados. Além disso, hoje os consumidores gozam de
segurança de abastecimento e os preços dos produtos agrícolas mantêm-se estáveis, ao abrigo
das flutuações do mercado mundial. A política agrícola comum é financiada pelo Fundo Europeu
Agrícola de Garantia e pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural.
© União Europeia
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Não obstante, a política agrícola comum da União tornou-se vítima do seu próprio êxito. A produ-
ção ultrapassou o consumo, gerando pesados encargos para o orçamento da UE. Para resolver
este problema, a política agrícola teve de ser redefinida. Estas reformas produziram resultados:
a produção passou a estar controlada.
O novo papel da comunidade agrícola é o de assegurar uma certa atividade económica em cada
território e proteger a diversidade e a sustentabilidade dos meios rurais europeus. Esta diversidade
e o reconhecimento de uma «cultura rural» — a relação harmoniosa entre o homem e a terra —
constituem um importante elemento da identidade europeia. Por outro lado, a agricultura europeia
tem também um papel importante a desempenhar no combate às alterações climáticas, na prote-
ção da vida selvagem e na alimentação da população mundial.
Além disso, estão em vigor regimes de promoção e proteção das denominações de origem local
e regional dos produtos agrícolas e géneros alimentícios de qualidade na UE.
A União Europeia tem uma política comum das pescas, mediante a qual são estabelecidas a nível
europeu regras para a gestão das frotas de pesca e a conservação das unidades populacionais
de peixes.
C. A dimensão social
A ajuda financeira não é o único instrumento com que a UE procura melhorar as condições sociais
na Europa. Por si só, esta ajuda nunca poderia resolver todos os problemas gerados pela recessão
económica ou pelo subdesenvolvimento de algumas regiões. Os efeitos dinâmicos do crescimento
devem, acima de tudo, favorecer o progresso social. Paralelamente, deve existir legislação que
garanta uma base sólida de direitos mínimos. Alguns destes direitos estão consagrados nos Trata-
dos — por exemplo, o direito de homens e mulheres a salário igual por trabalho igual. Outros estão
consignados em diretivas relativas à proteção dos trabalhadores (saúde e segurança no trabalho)
e em normas essenciais de segurança.
A Carta dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores na União, que em 1997 se tornou
parte integrante do Tratado UE, enuncia os direitos de que devem beneficiar todos os trabalha-
dores na UE: livre circulação, justa remuneração, melhores condições de trabalho, proteção social,
direito de associação e de negociação coletiva, direito a formação profissional, igualdade de trata-
mento entre homens e mulheres, informação, consulta e participação, saúde e segurança no local
de trabalho e proteção das crianças, dos idosos e dos deficientes.
Estão em curso debates sobre a forma como a proteção social na Europa pode ser organi-
zada num futuro mercado de trabalho cada vez mais influenciado pelas novas tecnologias
e pela globalização.
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III. O ORÇAMENTO DA UE
Para financiar as suas políticas, a União Europeia dispõe de um orçamento anual que, em 2017,
ascendeu a mais de 157 mil milhões de euros, o que corresponde aproximadamente a 1% do
rendimento nacional bruto do conjunto dos Estados-Membros.
• direitos aduaneiros cobrados sobre os produtos importados para a UE, incluindo direitos nivela-
dores agrícolas;
• uma percentagem do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) cobrado sobre bens e serviços
no conjunto da UE;
• segurança e cidadania: 4 mil milhões de euros, por exemplo, para a proteção das fronteiras
e o rograma «Erasmus+»;
• «A Europa no mundo»: 10 mil milhões de euros, para a política externa e a ajuda
ao desenvolvimento;
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Cada orçamento anual inscreve-se num ciclo orçamental de sete anos: o chamado «quadro finan-
ceiro plurianual». Este quadro financeiro é elaborado pela Comissão e requer aprovação unânime
por parte dos Estados-Membros e negociação e acordo com o Parlamento Europeu. O quadro
financeiro plurianual para o período de 2014 a 2020 foi aprovado em 2013. A despesa global
foi reduzida em cerca de 3% em termos reais, em comparação com o período anterior de 2007
a 2013.
Este plano de despesas visa aumentar o crescimento e o emprego na Europa, promovendo uma
agricultura sustentável, e tornar a Europa mais respeitadora do ambiente. Há um aumento das
dotações destinadas à investigação e inovação, à educação e formação e às relações externas.
Serão usados fundos específicos para lutar contra a criminalidade e o terrorismo, bem como para
as políticas de migração e de asilo. As despesas relativas às ações climáticas deverão representar
pelo menos 20% das despesas da UE no período de 2014-2020.
Desde novembro de 2014, a Comissão Europeia, presidida por Jean-Claude Juncker, definiu, no
topo da sua lista, as seguintes dez prioridades:
7. Um espaço de justiça
2. Um mercado único e de direitos fundamentais
digital conectado baseado na confiança
mútua
3. Uma União da Energia
resiliente dotada de uma
8. Uma nova política em
política em matéria de
matéria de migração
alterações climáticas virada
para o futuro
4. Um mercado interno
aprofundado e mais 9. Uma Europa mais forte
equitativo, dotado de uma na cena mundial
base industrial reforçada
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Áreas pelas quais os Estados-Membros continuam responsáveis e em que a UE pode
desempenhar um papel de apoio ou coordenação:
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C APÍTULO
6 O mercado
único
Transportes
Investimento Proteção
Mobilidade Banca
Concorrência
Saúde
Acesso
Direitos
Liberdade de circulação
Justo
Oportunidades
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O MERC ADO ÚNICO
qq Ao longo dos anos, a UE tem introduzido uma série de políticas (de
transporte, concorrência, etc.) que ajudam a garantir que a abertura
do mercado interno beneficia o maior número possível de empresas
e consumidores.
qq A crise financeira que teve início em 2008 levou a UE a criar uma
«união bancária» com regras mais rigorosas sobre a proteção das
poupanças e uma supervisão comum europeia para os bancos.
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O MERC ADO ÚNICO
O Tratado que institui a Comunidade Económica Europeia, de 1957, tornou possível abolir as barrei-
ras aduaneiras entre Estados-Membros e aplicar uma pauta aduaneira comum às importações
provenientes de países terceiros. Este objetivo foi conseguido em 1 de julho de 1968.
B. O objetivo de 1993
Em junho de 1985, a Comissão, presidida na altura por Jacques Delors, publicou um livro branco
que estabelecia os planos de supressão, num prazo de sete anos, de todos os entraves físicos,
técnicos e fiscais à livre circulação no espaço da CEE. O objetivo era promover o crescimento da
atividade comercial e industrial dentro do «mercado interno» — um amplo espaço económico
unificado, à semelhança do mercado dos Estados Unidos da América.
Das negociações entre os governos dos Estados-Membros resultou um novo tratado — o Ato
Único Europeu, que entrou em vigor em Julho de 1987 e que previa:
A. Entraves físicos
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O MERC ADO ÚNICO
Em junho de 1985, cinco dos dez Estados-Membros assinaram o Acordo de Schengen, ao abrigo do
qual as forças policiais nacionais se comprometeram a trabalhar em conjunto, e foi constituída uma
política comum de asilo e de vistos. Isto tornou possível a abolição total dos controlos de pessoas
nas fronteiras entre os países de Schengen (ver capítulo 10: «Uma Europa de liberdade, de segu-
rança e de justiça»). Atualmente, o Espaço Schengen é composto por 26 países europeus, incluindo
quatro países (Islândia, Listenstaine, Noruega e Suíça) que não são membros da União Europeia.
B. Entraves técnicos
Em relação aos serviços, os países da UE reconhecem as normas nacionais dos outros Estados-
-Membros ou coordenam as suas regulamentações nacionais para permitir o exercício de profis-
sões como a advocacia, a medicina, o turismo, a banca ou os seguros. No entanto, a livre circulação
de pessoas está longe de ser completa. Não obstante a diretiva de 2005 que reconhece as quali-
ficações profissionais, certas categorias de trabalhadores que pretendem exercer a sua atividade
noutros Estados-Membros ainda se deparam com obstáculos. Todavia, os profissionais qualifica-
dos (sejam eles advogados ou médicos, construtores ou canalizadores) são cada vez mais livres
de exercerem a sua profissão em qualquer parte da União Europeia.
A Comissão Europeia tomou medidas para favorecer a mobilidade dos trabalhadores, especial-
mente para assegurar que os diplomas e qualificações profissionais obtidos num país da União
Europeia sejam reconhecidos em todos os outros.
Algumas pessoas trabalham temporariamente noutro país da UE, por exemplo, no caso de uma
empresa de construção que tenha um projeto num país diferente daquele em que está sediada. As
regras da UE estipulam que as condições de trabalho dos chamados «trabalhadores destacados»
devem estar no mesmo nível que é aplicável aos outros trabalhadores no país em que o trabalho
é realizado.
C. Entraves fiscais
Os entraves fiscais reduziram-se graças à harmonização parcial das taxas nacionais de IVA. Os
Estados-Membros acordaram regras comuns e taxas mínimas para evitar distorções da concorrên-
cia entre os diferentes países no seio da UE.
D. Contratos públicos
Os contratos de trabalho no setor público são uma parte essencial da economia que representa
19% do PIB. Os contratos públicos em qualquer país da UE passaram a estar abertos à concorrência
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O MERC ADO ÚNICO
em todo o território da União, por força de diretivas que abrangem os serviços, os fornecimentos
e as obras em muitos setores, incluindo a água, a energia e as telecomunicações.
O mercado interno traz benefícios a todos os consumidores. A abertura dos mercados nacionais de
serviços, por exemplo, fez baixar o preço das chamadas telefónicas para uma fração do seu preço
de há 10-15 anos. As tarifas das passagens aéreas também baixaram de forma significativa na
Europa sob a pressão da concorrência.
A. Serviços financeiros
Os líderes europeus estão a trabalhar para reforçar ainda mais o mercado único de capitais.
O objetivo é tornar mais fácil para as pequenas empresas o financiamento das suas atividades
e tornar mais atraente o investimento na Europa.
Estão igualmente a ser debatidas reformas da fiscalidade das empresas. O objetivo é que os Esta-
dos-Membros da UE cheguem a acordo quanto a normas comuns de cálculo da matéria coletável
para a tributação das empresas. Cada país continuaria a ter taxas de imposto diferentes, mas
a existência de regras comuns tornaria menos dispendiosa a operação transfronteiriça das empre-
sas e reduziria a elisão fiscal. Também tornaria impossível que determinados países ofereçam
acordos fiscais favoráveis às empresas, de modo a atrair investimentos estrangeiros.
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A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
O MERC ADO ÚNICO
© Rolf Bruderer/Corbis
B. Pirataria e contrafação
Há que proteger os produtos da UE contra a pirataria e a contrafação. Segundo a Comissão Euro-
peia, estas práticas custam cada ano milhares de postos de trabalho à União, razão pela qual
a Comissão e os governos nacionais estão a trabalhar em conjunto a fim de ampliar a proteção
dos direitos de autor e das patentes.
A. Transportes
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A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
O MERC ADO ÚNICO
O transporte aéreo na Europa era controlado pelas companhias aéreas nacionais e aeroportos
públicos. O mercado interno mudou tudo. Atualmente, todas as companhias aéreas da União são
livres de prestar serviços aéreos em qualquer rota da UE e de praticar as tarifas que pretenderem.
Como resultado, abriram-se muitas rotas novas e os preços caíram a pique. Todos beneficiaram:
passageiros, companhias aéreas, aeroportos e trabalhadores.
Os passageiros estão igualmente a lucrar com a maior concorrência entre companhias ferroviárias.
Os transportes marítimos estão sujeitos a regras de concorrência que se aplicam tanto aos arma-
dores europeus como aos navios que arvorem pavilhão de países terceiros. Estas regras destinam-
-se a controlar as práticas tarifárias desleais (pavilhões de conveniência), bem como a fazer face
às dificuldades com que se defronta a indústria dos estaleiros navais na Europa.
A União Europeia tem vindo a financiar projetos tecnológicos ambiciosos, como o sistema de nave-
gação por satélite Galileo, o sistema europeu de gestão do tráfego ferroviário e o SESAR — um
programa de modernização dos sistemas de navegação aérea. As regras de segurança rodoviária
(em domínios como a manutenção dos veículos, o transporte de mercadorias perigosas e a segu-
rança nas estradas, entre outras) tornaram-se muito mais rigorosas. Os direitos dos passageiros
estão mais protegidos graças à aplicação de um vasto conjunto de direitos que abrange todos
os meios de transporte: terrestre, aéreo, ferroviário e marítimo ou fluvial. Os passageiros da UE,
incluindo os passageiros portadores de deficiência e as pessoas com mobilidade reduzida, gozam
do direito a uma informação exata, atempada e facilmente acessível, bem como à prestação de
assistência e, em determinadas circunstâncias, a uma indemnização, em caso de anulação ou de
atraso considerável. O investimento em infraestruturas de transporte é uma das principais priori-
dades do Plano de Investimento para a Europa, lançado pela UE em 2014.
© Image Broker/Belga
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A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
O MERC ADO ÚNICO
B. Concorrência
O objetivo desta política é assegurar que todas as empresas possam concorrer de forma leal e em
pé de igualdade no mercado único para benefício dos consumidores, das empresas e da economia
europeia no seu conjunto.
Todos os acordos abrangidos pelas regras do Tratado devem ser comunicados à Comissão Europeia
pelas empresas ou organizações neles envolvidas. Qualquer fusão ou concentração de empresas
que possa criar uma situação de posição dominante num mercado específico deve igualmente
ser comunicada à Comissão. A Comissão pode multar diretamente quaisquer empresas que não
respeitem as regras da concorrência ou se abstenham de lhe comunicar acordos previstos —
como aconteceu com a Microsoft, que, em 2008, foi multada em 900 milhões de euros. Em 2017,
a Comissão aplicou uma coima de 2,42 mil milhões de euros à Google por abuso da sua posição
dominante no mercado enquanto motor de busca, promovendo o seu próprio serviço de compara-
ção de preços nos resultados da pesquisa, em detrimento dos concorrentes.
Na eventualidade de um auxílio estatal ilegal ou não notificado, a Comissão pode exigir a sua
devolução. Os benefícios fiscais concedidos pelos governos a empresas específicas podem igual-
mente ser considerados como auxílios estatais ilegais. Por exemplo, em agosto de 2016, a Comis-
são Europeia concluiu que a Irlanda tinha concedido à empresa Apple benefícios fiscais indevidos
no valor de 13 mil milhões de euros.
A legislação da UE nesta matéria visa oferecer a todos os consumidores o mesmo nível de proteção
financeira e sanitária, independentemente do país da União em que vivem, para onde viajam ou
onde fazem compras. Crises de segurança alimentar, como a «doença das vacas loucas» (BSE), em
finais da década de 90, trouxeram a necessidade de uma proteção ao nível da UE para a ordem do
dia. Em 2002, foi constituída a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, responsável
por constituir uma base científica sólida para a legislação relativa à segurança dos alimentos.
A União Europeia também toma medidas para proteger os consumidores de publicidade falsa
e enganosa, de produtos defeituosos e de abusos em áreas como o crédito ao consumidor e as
compras por correspondência ou em linha.
53
C APÍTULO
7 O euro
Bancos
Dinheiro Estabilidade
Barreira de
segurança
Moeda Finanças
Comum Resistência
Coordenação Economia
Euro Comércio
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
O EURO
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O EURO
I. CRIAÇÃO DO EURO
Quando, em 1971, os Estados Unidos decidiram abolir a relação fixa entre o dólar e o preço oficial
do ouro, que assegurava a estabilidade monetária mundial desde a Segunda Guerra Mundial,
pôs-se termo ao sistema de taxas de câmbio fixas. Os governadores dos bancos centrais da
Comunidade Económica Europeia decidiram limitar a 2,25% as margens de flutuação entre as
moedas europeias, o que levou à criação do Sistema Monetário Europeu, que começou a funcionar
em março de 1979.
• aumento dos fundos estruturais de modo a intensificar os esforços de eliminação dos desequi-
líbrios entre regiões europeias;
• a criação do Instituto Monetário Europeu em Frankfurt, composto pelos governadores dos bancos
centrais dos países da UE;
• tornar (ou manter) os bancos centrais nacionais independentes do controlo dos governos;
A terceira etapa foi o processo de nascimento do euro. Entre 1 de janeiro de 1999 e 1 de janeiro
de 2002, o euro foi progressivamente introduzido como a moeda comum dos países da UE parti-
cipantes (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxem-
burgo, Países Baixos e Portugal). O Banco Central Europeu substituiu o Instituto Monetário Europeu
e passou a ser responsável pela política monetária, que é definida e executada na nova divisa.
Houve três países (a Dinamarca, a Suécia e o Reino Unido) que, por motivos políticos e técnicos,
não aderiram ao euro quando este foi lançado. A Eslovénia aderiu à área do euro em 2007, seguida
de Chipre e de Malta em 2008, da Eslováquia em 2009, da Estónia em 2011, da Letónia em 2014
e da Lituânia em 2015.
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A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
O EURO
A área do euro é, portanto, constituída por 19 países da UE, esperando-se que os outros Estados-
-Membros venham a aderir logo que satisfaçam as condições necessárias, à exceção dos países
que obtiveram uma exceção durante as negociações do Tratado.
C. Os critérios de convergência
Para poder entrar na área do euro, cada Estado-Membro deve cumprir os cinco critérios de conver-
gência seguintes:
• estabilidade dos preços: a taxa de inflação não pode ultrapassar em mais de 1,5 pontos
percentuais a média dos três Estados-Membros que tenham a inflação mais baixa;
• taxas de juro: as taxas de juro a longo prazo não podem variar mais de 2 pontos percentuais
em relação à média das taxas dos três Estados-Membros com taxas mais baixas;
© mastermilmar/Shutterstock
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O EURO
• estabilidade das taxas de câmbio: as taxas de câmbio deverão ter-se mantido dentro da
margem de flutuação autorizada durante os dois anos anteriores.
Após anos de crise económica mundial, alguns países da área do euro ainda estão muito longe
de cumprir os critérios fixados nesse acordo. A Comissão e o Eurogrupo continuam a exortá-los
a fazê-lo, em especial a redução da dívida pública.
E. O Eurogrupo
O Eurogrupo é composto pelos ministros das finanças dos países da área do euro, que se reúnem
para coordenar as políticas económicas e supervisionar as políticas orçamentais e financeiras
dos Estados-Membros. O Eurogrupo também representa os interesses do euro em fóruns inter-
nacionais. Em janeiro de 2013, o ministro das Finanças neerlandês, Jeroen Dijsselbloem, foi eleito
presidente do Eurogrupo, tendo sido reeleito para um segundo mandato em julho de 2015.
A crise financeira de 2008 fez crescer consideravelmente a dívida pública na maioria dos países
da UE. O euro protegeu as economias mais vulneráveis do risco de desvalorização durante a crise
e enfrentou os ataques de especuladores nos mercados financeiros mundiais.
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O EURO
No início da crise, muitos bancos debateram-se com dificuldades que levaram os governos nacio-
nais a intervir em seu socorro, o que contribuiu para o aumento da dívida pública. As atenções
voltaram-se então para a dívida pública, dado que alguns países altamente endividados, cujos
défices públicos se agravaram, foram particularmente atacados durante o inverno de 2009-2010.
Foi por isso que os dirigentes da UE criaram o «Mecanismo Europeu de Estabilidade». Esta «barreira
de segurança» tem uma capacidade de concessão de empréstimos de 500 mil milhões de euros
de fundos garantidos pelos países da área do euro e é utilizada para salvaguardar a estabilidade
financeira na área do euro. Entre 2010 e 2013, cinco países (Chipre, Espanha, Grécia, Irlanda e
Portugal) assumiram compromissos com os vários organismos da UE e o Fundo Monetário Interna-
cional com vista à prestação de assistência financeira. Os acordos foram adaptados à situação de
cada país, mas, em geral, incluíam reformas destinadas a melhorar a eficácia do setor público nos
respetivos países. No final de 2013, a Irlanda foi o primeiro país a concluir com êxito o programa
de ajustamento económico acordado e a começar novamente a pedir dinheiro emprestado direta-
mente nos mercados de capitais. A Espanha e Portugal também melhoraram a sua situação e a
assistência da UE terminou em 2014. Seguiu-se Chipre em 2016.
A Grécia, por outro lado, tem tido mais dificuldade em aplicar as reformas estruturais da sua
economia — como sejam a racionalização do setor público, as privatizações e a criação de siste-
mas de pensões sustentáveis. Estas reformas foram acordadas no âmbito de dois programas de
assistência, em 2010 e 2014, e foram financiadas pela UE, pelo Banco Central Europeu e pelo
Fundo Monetário Internacional, num valor total de 226 mil milhões de euros. Foram necessárias
longas e complexas negociações até que se conseguisse alcançar um terceiro acordo em julho de
2015, com base num compromisso firme do Governo grego para implementar políticas destinadas
a melhorar as suas finanças públicas e reformar a economia.
B. O reforço do euro
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O EURO
O Banco Central Europeu considera agora que o apoio ao relançamento da economia faz parte
do seu mandato. Em 2015, o Banco lançou a chamada «flexibilização quantitativa», através da
qual o Banco compra dívida, principalmente do setor público, a fim de estimular a economia.
Reduz assim a taxa de juro, o que promove os investimentos e facilita a dívida pública. Além
disso, baixa a taxa de câmbio do euro em relação a outras divisas, o que é benéfico para as
exportações europeias.
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O EURO
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61
A criação
8
de investimento
C APÍTULO
e crescimento
na economia
digital
Investimento
Inteligente
Internet Emprego Investigação
Verde
Conectado
Produtividade Concorrência
Crescimento
Digital Inovação
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qq Garantir:
— crescimento inteligente: promover o conhecimento, a inovação,
a educação e a sociedade digital;
— crescimento sustentável: promover uma economia mais
eficiente em termos de utilização dos recursos, mais ecológica
e mais competitiva.
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No início da década de 1990, a globalização começou a revolucionar a economia e a vida quoti-
diana em todo o mundo. As economias do mundo inteiro tornaram-se cada vez mais interdepen-
dentes. A produção na Europa teve de enfrentar a forte concorrência das economias emergentes,
em especial a China e outros países asiáticos, cujos níveis de salários mais baixos as tornaram
mais competitivas. Esta situação abalou profundamente o modelo europeu de sociedade, que
assenta nos serviços sociais públicos e em padrões de vida elevados.
Mas, ao mesmo tempo, a revolução tecnológica, com a utilização da Internet e das novas tecno-
logias da informação e da comunicação, abriu novas oportunidades de crescimento e de emprego.
Mais recentemente, o mundo foi abalado por grandes crises financeiras e económicas. A crise
começou no setor financeiro americano com o crédito hipotecário de alto risco (o chamado
«subprime»), tendo a situação sido agravada pelo elevado nível de dívida na Europa. Tudo isto
conduziu a uma recessão económica grave e aumentou o desemprego na Europa, criando a pior
crise desde a de 1929, que acabou por levar à Segunda Guerra Mundial. As consequências sociais
da recessão — que atingiu o seu ponto culminante em 2010 e começou a diminuir na sequência
de um crescimento moderado desde 2014 — tornaram-se evidentes com um aumento drástico
do desemprego, particularmente no Sul da Europa e entre os jovens.
Os esforços para relançar a economia foram necessários principalmente a nível nacional. A prin-
cipal prioridade para os países da UE consistia em reduzir a dívida pública, que evoluiu devido ao
aumento de despesas com os serviços sociais, na sequência da crise. Alguns países prosseguiram
este objetivo rigorosamente, enquanto outros tiveram de pedir mais tempo para alcançarem o seu
objetivo para a dívida, previamente acordado num máximo de 3%. É óbvio que as opções políti-
cas de cada Governo para fazer face à crise afetaram diretamente os seus cidadãos: aceitariam
o aumento da idade da reforma, uma redução dos reembolsos dos cuidados de saúde e da quali-
dade dos serviços sociais ou uma modernização da administração pública? Ou de que forma as
despesas militares afetam a sua segurança; deveriam ser reduzidas, mantidas num certo nível ou
aumentadas num momento de instabilidade internacional?
A UE e as suas instituições também desempenharam um papel ativo durante este período para
relançar a economia. Em simultâneo com a adoção de um certo número de medidas para conso-
lidar a União Económica e Monetária (ver capítulo 7, «O euro»), a Comissão lançou uma série de
iniciativas para aumentar a produtividade e a coesão social.
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© shock/Adobe Stock
novas empresas, se puderem
obter investimento através
de um mercado de capitais
eficiente na Europa.
• dar à Comissão Europeia um papel mais ativo enquanto promotora deste processo, especial-
mente através da divulgação de «boas práticas» em matéria de política económica nacional;
avançar mais rapidamente com a reforma dos seus mercados financeiros e sistemas de segu-
rança social e abrir os setores das telecomunicações e da energia à concorrência;
• melhorar os seus sistemas de educação, trabalhar mais para melhorar a empregabilidade dos
jovens, criar laços mais estreitos entre as universidades e as empresas, avançar mais rapida-
mente (por exemplo, através da harmonização dos regimes fiscais e de segurança social) para
a criação de um «mercado interno» da investigação — permitindo a livre circulação dos cientis-
tas, do conhecimento e da tecnologia por toda a Europa;
• aumentar a despesa com a investigação e a inovação para 3% do PIB (objetivo igualmente
fixado pelos Estados Unidos).
Jean-Claude Juncker tomou posse como presidente da Comissão em 2014, com um programa
ambicioso para estimular o crescimento, o emprego e o investimento. Lançou o seu «Plano de
investimento para a Europa», que se destina a aumentar o investimento em 315 mil milhões de
euros entre 2015 e 2017. Isso foi possível graças ao novo Fundo Europeu para Investimentos
Estratégicos, em cooperação com o Banco Europeu de Investimento. Perante o êxito do primeiro
ano de existência do Fundo, o presidente Juncker propôs, no seu discurso sobre o estado da União,
em setembro de 2016, duplicar a duração do Fundo e fornecer 500 mil milhões de euros de inves-
timentos até 2020 e até 630 mil milhões de euros até 2022. O Fundo garante os empréstimos
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A C R I A Ç Ã O D E I N V E S T I M E N T O E C R E S C I M E N T O N A E C O N O M I A D I G I TA L
concedidos para investimentos públicos ou privados, que, de outra forma, não poderiam ter sido
realizados. O Fundo tem acesso a um montante de fundos públicos, como ponto de partida, o que
significa que tem um efeito multiplicador na atração de investimento privado para os mesmos
projetos. O Fundo concentra-se no investimento em infraestruturas, em especial em redes de
transmissão de dados a alta velocidade e redes de energia, transportes, educação, investigação
e inovação, energias renováveis e pequenas empresas. Em 2016, a Comissão Europeia propôs
utilizar o mesmo sistema para promover o investimento em África e nos países europeus vizinhos.
A Internet e as tecnologias digitais têm um papel importante na criação dos empregos do futuro.
Embora os europeus estejam na vanguarda em certos domínios, nem todas as oportunidades
digitais para as pessoas e as empresas estão a ser aproveitadas. Apenas 15% dos cidadãos da UE
fazem compras em linha noutros países da UE. As empresas presentes na Internet e as empresas
em fase de arranque (start-ups) não tiram todo o partido das oportunidades de crescimento em
linha — apenas 7% das pequenas empresas vendem além-fronteiras.
© lmgorthand/iStock
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Por conseguinte, em 2015, a Comissão lançou um plano de ação para garantir um mercado único
plenamente digital. Este plano de ação inclui a coordenação das normas em matéria de contra-
tos de compra em linha, a fim de assegurar uma melhor proteção dos consumidores, entrega de
encomendas transfronteiras mais barata, o fim do «bloqueio geográfico» que impede a venda de
alguns serviços em linha em todos os países, a modernização dos direitos de autor e a revisão
das regras para as empresas de telecomunicações. Segundo a Comissão, estas medidas poderão
conduzir a um crescimento suplementar na economia da UE de 415 mil milhões de euros por ano
e criar 3,8 milhões de postos de trabalho.
67
9
O que é ser
C APÍTULO
cidadão
europeu?
Pertença
Participação
Dignidade
Cidadania Igualdade
Saúde Educação Liberdade de circulação
Votar
Cultura Diversidade
Viajar
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O Q U E É S E R C I D A D Ã O E U R O P E U ?
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O Q U E É S E R C I D A D Ã O E U R O P E U ?
A cidadania da União Europeia está consagrada no Tratado da UE: «É cidadão da União qualquer
pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado-Membro. A cidadania da União acresce à cida-
dania nacional e não a substitui» (artigo 20.º, n.º 1, do Tratado sobre o Funcionamento da União
Europeia). Mas o que significa na prática ser cidadão da UE?
Se é cidadão da UE, tem o direito de circular, residir e trabalhar em qualquer ponto da União Europeia.
Se concluiu uma formação universitária com a duração mínima de três anos, o grau atribuído
é reconhecido em qualquer país da UE, pois os Estados-Membros têm confiança na qualidade dos
sistemas nacionais de educação e de formação profissional dos outros Estados-Membros.
© gemanacom/fotolia
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O Q U E É S E R C I D A D Ã O E U R O P E U ?
Pode trabalhar em qualquer país da União Europeia nos setores da saúde, da educação ou de
outros serviços públicos (à exceção da polícia, forças armadas, etc.). Na verdade, nada é mais
natural que contratar um professor alemão para ensinar alemão em Roma ou incentivar um jovem
licenciado belga a candidatar-se a um lugar na função pública em França.
Antes de viajar dentro da UE, pode obter um cartão europeu de seguro de doença, emitido
pelas suas autoridades nacionais, que lhe facilita a cobertura das despesas médicas se adoecer
noutro país.
Enquanto cidadão da União Europeia não é apenas trabalhador ou consumidor: tem também direi-
tos políticos específicos. Desde a entrada em vigor do Tratado de Maastricht que, independente-
mente da sua nacionalidade, tem o direito de eleger e de ser eleito nas eleições autárquicas e nas
eleições para o Parlamento Europeu no Estado-Membro em que reside.
Desde 2012 também goza do direito de pedir à Comissão que apresente uma proposta de legis-
lação, desde que a sua petição tenha sido assinada por um milhão de pessoas de, pelo menos,
sete países da UE.
O compromisso da União Europeia para com os direitos dos cidadãos foi solenemente reafirmado
com a proclamação pelo Conselho Europeu, em Nice, em dezembro de 2000, da Carta dos Direi-
tos Fundamentais da União Europeia. Esta Carta foi redigida por uma Convenção constituída
por deputados dos parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu, representantes dos gover-
nos nacionais e um membro da Comissão Europeia. Em seis capítulos — Dignidade, Liberdades,
Igualdade, Solidariedade, Cidadania e Justiça —, a Carta reúne 54 artigos que definem os valores
fundamentais da União Europeia e os direitos cívicos, políticos, económicos e sociais dos cidadãos
da UE.
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Os primeiros artigos são consagrados à dignidade humana, ao direito à vida, ao direito à integri-
dade do ser humano e ao direito de liberdade de expressão e de consciência. O capítulo relativo
à solidariedade reúne, de forma inovadora, direitos sociais e económicos como:
• o direito à greve;
• o direito de acesso às prestações de segurança social, aos serviços sociais e à proteção da saúde
em toda a União Europeia.
A Carta promove também a igualdade entre homens e mulheres e introduz direitos como a prote-
ção dos dados pessoais, a proibição das práticas eugénicas e da clonagem reprodutiva de seres
humanos, o direito a um elevado nível de proteção do ambiente, os direitos das crianças e das
pessoas idosas e o direito a uma boa administração.
O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em 1 de dezembro de 2009, atribui à Carta a mesma
força jurídica de que gozam os Tratados. Por conseguinte, pode sustentar uma queixa apresentada
ao Tribunal de Justiça da UE. No entanto, há um protocolo que estabelece a aplicação da Carta na
Polónia e no Reino Unido.
O artigo 6.º do Tratado de Lisboa constitui uma base jurídica para a assinatura pela UE da Conven-
ção Europeia dos Direitos do Homem. Esta Convenção deixaria de ser apenas referida nos tratados
da UE para passar também a gozar de força jurídica nos Estados-Membros, garantindo assim
maior proteção dos direitos humanos na União Europeia.
O sentimento de pertencer a uma mesma comunidade e de partilhar um destino comum não pode
ser criado artificialmente. Só poderá nascer de uma consciência cultural comum, e é por isso que
a Europa tem de se centrar não apenas na dimensão económica, mas também na educação, na
cidadania e na cultura.
A UE não dita como devem organizar-se as escolas e a educação, nem qual o teor dos programas
curriculares: estas são decisões que são tomadas ao nível nacional ou local. No entanto, a UE
tem programas, no âmbito do «Erasmus+», que promovem intercâmbios educativos, permitindo
aos jovens receber educação ou formação no estrangeiro, aprender novas línguas e ainda parti-
cipar em atividades conjuntas com escolas e colégios noutros países. Mais de quatro milhões de
pessoas deverão receber esse apoio no período de 2014-2020. O orçamento foi aumentado em
40% em comparação com o período anterior, sendo agora de 16 mil milhões de euros, no total.
Os países europeus uniram esforços — através do «processo de Bolonha» — para criar um espaço
europeu do ensino superior. Isto significa, por exemplo, que os cursos universitários de todos os
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países participantes têm equivalência e os graus conferidos são reconhecidos mutuamente (licen-
ciatura, mestrado e doutoramento).
Uma das principais características da Europa é a diversidade de línguas e a preservação dessa
característica é um objetivo importante da UE. O multilinguismo é, efetivamente, essencial à forma
de funcionamento da União Europeia. A legislação da União é disponibilizada obrigatoriamente
nas 24 línguas oficiais e todos os deputados do Parlamento Europeu têm o direito de se exprimir
em qualquer uma destas línguas durante os debates parlamentares.
Para aproximar mais a União Europeia dos seus cidadãos, o Tratado da União Europeia instituiu
a figura do Provedor de Justiça. O Parlamento Europeu elege o Provedor de Justiça pelo período
da sua legislatura. A função do Provedor de Justiça é examinar queixas contra as instituições e os
órgãos da UE. As queixas podem ser apresentadas por qualquer cidadão da UE ou por qualquer
pessoa ou organização residente ou sediada num país da UE.
Qualquer residente num país da UE tem o direito de apresentar petições ao Parlamento Europeu,
o que constitui outra forma importante de ligação entre as instituições da UE e os cidadãos.
A ideia de uma «Europa dos cidadãos» é muito recente. Já existem alguns símbolos de uma iden-
tidade europeia comum, como o passaporte europeu, em uso desde 1985. Além disso, a UE tem
uma divisa, «Unida na diversidade», e o dia 9 de maio é o «Dia da Europa».
O hino da Europa (a «Ode à Alegria», da Nona Sinfonia de Beethoven) e a bandeira da Europa (um
círculo de doze estrelas douradas sobre fundo azul) foram adotados em 1985 como símbolos
mais importantes da UE. Podem ser utilizados pelos Estados-Membros, pelas autoridades locais
e pelos cidadãos individuais se assim o desejarem.
No entanto, as pessoas não se sentem «parte» da União Europeia se não conhecerem as ações
da UE e os motivos subjacentes. As instituições da UE e os Estados-Membros podem ter de fazer
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muito mais para ir ao encontro dos cidadãos, os quais sentem muitas vezes que a União Europeia
é uma entidade distante e de difícil acesso.
As pessoas precisam ainda de testemunhar as diferenças palpáveis que a UE causa nas suas
vidas. A este respeito, a entrada em circulação das notas e moedas de euros, em 2002, teve um
grande impacto. A fixação dos preços dos bens e dos serviços em euros permite que os consumi-
dores os comparem diretamente de país para país.
Os controlos nas fronteiras internas da maior parte dos países da UE foram abolidos,
graças ao Acordo de Schengen, o que dá ao cidadão o sentimento de pertencer a um espaço
geográfico unificado.
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A União Europeia foi criada para servir o povo da Europa e o seu futuro terá de ser construído com
a participação ativa de pessoas das mais variadas proveniências. Os fundadores da UE esta-
vam bem cientes disto. «Não coligamos Estados, unimos pessoas», disse Jean Monnet em 1952.
A sensibilização da opinião pública para a UE e o envolvimento dos cidadãos nas suas atividades
continuam a constituir um dos maiores desafios com que se defrontam não só as instituições da
UE, mas também as autoridades nacionais e a sociedade civil.
75
Uma Europa
10
C APÍTULO
de liberdade,
de segurança
e de justiça
Vistos
Schengen Asilo
Fronteiras Imigração
Polícia Segurança Refugiados
Criminalidade
Informações
Humanitária Terrorismo
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U M A E U R O PA D E L I B E R D A D E , D E S E G U R A N Ç A E D E J U S T I Ç A
I. A LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO NA UE
E A PROTEÇÃO DAS SUAS FRONTEIRAS EXTERNAS
Os cidadãos europeus têm o direito de viver em liberdade, sem receio de perseguições ou violência,
em qualquer parte da União Europeia. No entanto, hoje, a criminalidade internacional e o terro-
rismo contam-se entre as maiores preocupações dos europeus.
Através de sucessivas alterações aos Tratados, a União Europeia desenvolveu, ao longo do tempo,
mais atividades neste domínio, com o objetivo de criar um «espaço único de liberdade, segurança
e justiça».
O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em 2009, reviu a tomada de decisões nestas áreas.
Anteriormente, os Estados-Membros detinham a responsabilidade exclusiva pela criação e gestão
da área de liberdade, de segurança e de justiça. Era uma área essencialmente da competência
do Conselho (ou seja, com base em discussões e acordos entre os ministros dos governos nacio-
nais), relegando a Comissão e o Parlamento para segundo plano. O Tratado de Lisboa veio alterar
a situação. Atualmente, o Conselho decide a maior parte destas matérias por maioria qualificada,
o Parlamento está em pé de igualdade no processo de tomada de decisão e a Comissão dispõe
de um certo direito de iniciativa.
Desde que foram abolidos os controlos nas fronteiras internas da União, a livre circulação das
pessoas no interior do território da UE coloca aos Estados-Membros problemas de segurança. Foi
necessário tomar medidas de segurança compensatórias nas fronteiras externas da União. Além
disso, uma vez que a liberdade de circulação também pode ser aproveitada por criminosos, as
forças policiais e as autoridades judiciais dos Estados-Membros têm de trabalhar em conjunto
para combater a criminalidade internacional.
Uma das iniciativas mais importantes para facilitar as deslocações na União Europeia foi tomada
em 1985, quando os governos da Bélgica, da França, da República Federal da Alemanha, do Luxem-
burgo e dos Países Baixos assinaram um acordo na pequena cidade fronteiriça luxemburguesa de
Schengen. Decidiram suprimir os controlos de pessoas, independentemente da sua nacionalidade,
nas suas fronteiras internas, harmonizar os controlos nas fronteiras externas e introduzir uma polí-
tica comum em matéria de vistos. Assim se criou um espaço sem fronteiras internas — o Espaço
Schengen. Os cidadãos de países terceiros nem sempre são obrigados a possuir um visto para
entrar no espaço Schengen. A União Europeia celebrou acordos com uma série de países no sentido
de isentar os seus nacionais da obrigação de visto. Em situações de emergência, um Estado-Mem-
bro pode reintroduzir controlos nas fronteiras durante um período de tempo limitado. Foi o que
sucedeu em alguns países na sequência do súbito afluxo de requerentes de asilo em 2015 e 2016.
O acervo de Schengen foi totalmente integrado nos Tratados e o Espaço Schengen foi-se alar-
gando a pouco e pouco. Desde 2017, todos os Estados-Membros, à exceção da Bulgária, Croá-
cia, Chipre, Irlanda, Roménia e Reino Unido, aplicam integralmente as disposições de Schengen.
Quatro países fora da UE — a Islândia, o Listenstaine, a Noruega e a Suíça — também fazem
parte do Espaço Schengen.
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© Associated Press
O reforço dos controlos nas fronteiras externas da UE tornou-se uma prioridade. A agência da
UE designada Frontex, criada em 2014 e sediada em Varsóvia, é responsável por gerir a coope-
ração da União em matéria de segurança das fronteiras externas. Os Estados-Membros podem
ceder-lhe embarcações, helicópteros e aviões para as patrulhas conjuntas, por exemplo em zonas
sensíveis do Mediterrâneo. Em situações de emergência, a Agência pode também enviar «equipas
de intervenção rápida nas fronteiras», constituídas por membros das guardas de fronteira nacio-
nais dos países da UE. Em 2016, os líderes da UE decidiram aumentar os recursos da Agência para
realizar intervenções rápidas nas fronteiras. A designação da Agência foi alterada para «Agência
Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira», oficialmente inaugurada em outubro de 2016.
A Europa orgulha-se da sua tradição humanitária de acolhimento de estrangeiros e de asilo conce-
dido aos refugiados ameaçados e perseguidos. Atualmente, todavia, os governos da União Euro-
peia estão confrontados com a premente questão de saber como reagir ao crescente número de
imigrantes, legais e ilegais, presentes num espaço desprovido de fronteiras internas.
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Os governos da UE decidiram harmonizar as suas regras para que os pedidos de asilo pudessem
ser analisados em conformidade com um conjunto de princípios básicos uniformemente reconhe-
cidos em toda a União Europeia. Foram adotadas normas mínimas comuns para a admissão dos
requerentes de asilo e para a concessão do estatuto de refugiado.
Nos últimos anos, têm chegado às costas europeias grandes números de imigrantes em situação
irregular e uma das prioridades da UE é resolver este problema. Os governos dos Estados-Membros
têm procurado combater em conjunto o tráfico de seres humanos e concertar medidas comuns de
repatriação de imigrantes ilegais. Simultaneamente, a coordenação da imigração legal tem vindo
a ser melhorada através da criação de normas UE sobre o reagrupamento familiar, o estatuto
de residente de longa duração e a autorização de entrada de nacionais de países terceiros que
pretendam estudar ou realizar investigação na Europa.
No entanto, o enorme aumento do número de requerentes de asilo que chegam à Europa prove-
nientes do Médio Oriente e de África, em 2015 e 2016, além da tragédia dos vários milhares que
perderam a vida durante a travessia do Mediterrâneo, criou grandes desafios. Também deu uma
nova dimensão à questão do asilo, na medida em que é mais difícil estabelecer a diferença entre
refugiados políticos e económicos. Os países da UE mais expostos ao grande número de requeren-
tes de asilo que chegam às suas costas e águas territoriais, como a Grécia e a Itália, esperavam
maior solidariedade por parte dos outros países da UE, para os ajudarem a fazer face a este
problema. Em 2015, a Alemanha foi o país mais recetivo a conceder asilo aos refugiados políticos.
Os dirigentes da UE chegaram a acordo sobre um conjunto de diferentes medidas para lidar com
esta nova situação. Entre estas medidas incluíam-se as decisões de recolocar os requerentes de
asilo chegados de Itália e da Grécia noutros países da UE e também de acelerar o repatriamento das
pessoas a quem não fosse possível conceder asilo. A UE fez um acordo especial com a Turquia sobre
estas questões, uma vez que muitos requerentes de asilo entravam na Europa através daquele país.
A UE enviou peritos de outros países para fazerem face a estes fluxos onde eles ocorrem, aumentou
a capacidade da Guarda Europeia de Fronteiras e Costeira para realizar operações de busca e salva-
mento e combater as redes criminosas e lançou uma missão militar no Mediterrâneo.
Em 2015, 2016 e 2017, mais de 10 mil milhões de euros do orçamento da UE foram afetados
à ajuda humanitária aos refugiados dentro e fora da UE.
A criminalidade organizada é cada vez mais sofisticada e utiliza regularmente redes europeias ou
internacionais para as suas atividades. O terrorismo já mostrou claramente que pode atingir com
extrema brutalidade qualquer parte do mundo.
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Foi neste contexto que foi criado o Sistema de Informação Schengen (SIS). Trata-se de uma
complexa base de dados que permite às forças policiais e às autoridades judiciais trocarem infor-
mações sobre pessoas que sejam objeto de um mandado de detenção ou de extradição e sobre
bens roubados como, por exemplo, veículos ou obras de arte.
Uma das maneiras mais eficazes de perseguir criminosos é seguir a pista dos seus ganhos ilícitos.
Para isso, e no intuito de cortar o financiamento às organizações criminosas e terroristas, a UE
adotou legislação contra o branqueamento de capitais.
O progresso mais significativo realizado nos últimos anos no domínio da cooperação entre as
forças policiais foi a criação da Europol, um organismo da UE sediado na Haia e constituído por
funcionários das polícias e das alfândegas, cuja ação cobre uma grande variedade de crimes de
caráter internacional: tráfico de droga e de veículos roubados, tráfico de seres humanos, redes de
imigração clandestina, exploração sexual de mulheres e crianças, pornografia, contrafação, tráfico
de materiais radioativos e nucleares, terrorismo, lavagem de dinheiro e falsificação de euros.
A Europa tem sido alvo do terrorismo islâmico de grupos associados à Al Qaida e ao chamado
«Estado Islâmico» ou «Daech». Estes grupos têm abalado o mundo, atacando os símbolos de
valores fundamentais europeus, como a liberdade religiosa e a liberdade de expressão. Exem-
plos desses atos terroristas são o atentado contra o pessoal da redação de um jornal satírico em
janeiro de 2015, em Paris, e o assassinato de centenas de pessoas em vários ataques perpetrados
na Europa. A Europa vê-se confrontada com um inimigo imprevisível — muitas vezes com bases
financeiras e militares no Médio Oriente e em África — e considera, por isso, o reforço da coopera-
ção entre os serviços de informações europeus e ações políticas e militares fora da Europa.
Entre as medidas propostas pela Comissão para combater esta ameaça contam-se a criação
de um centro europeu de excelência para combater a radicalização, a supressão do acesso dos
terroristas ao financiamento, através da cooperação entre serviços de informação financeira, e a
intensificação da luta contra a cibercriminalidade e a difusão em linha de propaganda extremista.
Também foram tomadas medidas para combater o terrorismo na Europa, através de um melhor
controlo das pessoas que entram e saem da UE por parte das companhias aéreas. As companhias
aéreas são agora obrigadas a registar os seus dados nos registos de identificação dos passageiros,
que, mediante certas regras, podem ser utilizados pela polícia em toda a Europa para combater
o terrorismo.
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U M A E U R O PA D E L I B E R D A D E , D E S E G U R A N Ç A E D E J U S T I Ç A
uma política penal comum na UE para garantir que a cooperação entre tribunais de diferentes
países não é dificultada pelas suas diversas definições de certos crimes.
O principal exemplo de cooperação operacional neste domínio é o trabalho desenvolvido pela Euro-
just, uma estrutura central de coordenação criada na Haia em 2003. A sua finalidade é permitir
às autoridades nacionais de investigação e de ação penal trabalharem em conjunto em inquéritos
criminais que envolvam diversos Estados-Membros. Com base na experiência da Eurojust neste
domínio, o Conselho decidiu nomear um procurador europeu, cuja missão seria agir judicialmente
contra a violação dos interesses financeiros da UE.
Em matéria de direito civil, a União adotou legislação que facilita o cumprimento das sentenças
judiciais em processos transfronteiriços que envolvam divórcios, separações, tutela de crianças
e pensões de alimentos, de modo a assegurar que os acórdãos proferidos num Estado-Mem-
bro sejam aplicáveis nos outros. Estabeleceu também procedimentos comuns para simplificar
e acelerar a resolução de litígios transnacionais em ações cíveis menores relativas a créditos não
contestados em casos, por exemplo, de cobrança de dívidas ou falências.
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© European Union
Os líderes da UE atribuíram mais recursos à Guarda Europeia de Fronteiras
e Costeira para proteger as fronteiras externas da UE.
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11
A UE
C APÍTULO
na cena
mundial
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A UE NA CENA MUNDIAL
Seja como for, a verdade é que a UE e os seus membros têm ainda um longo caminho a percorrer,
em termos diplomáticos e políticos, antes de poderem falar a uma só voz em questões mundiais
importantes. A defesa militar (a pedra angular da soberania nacional) mantém-se nas mãos dos
governos nacionais, associados entre si no quadro de alianças como a NATO.
A Política Externa e de Segurança Comum e a Política Comum de Segurança e Defesa definem as
principais missões da União Europeia em matéria de política externa. Estas políticas foram intro-
duzidas nos Tratados de Maastricht (1992), de Amesterdão (1997) e de Nice (2001) e constituem
o «segundo pilar» da União Europeia, o domínio político no qual a ação é decidida por concerta-
ção intergovernamental e em que a Comissão e o Parlamento desempenham tão-só um papel
marginal. As decisões nesta área são tomadas por consenso, podendo contudo haver abstenções.
Embora o Tratado de Lisboa tenha retirado os «pilares» da estrutura da União, a forma de decidir
sobre questões de segurança e de defesa não foi alterada. Ao criar o lugar de alto-represen-
tante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, foi igualmente reforçado
o perfil da PESC.
Este cargo é ocupado desde 2014 por Federica Mogherini, que é também vice-presidente da
Comissão Europeia. É responsável por representar a posição coletiva da UE e agir em nome da
UE em organizações e conferências internacionais. Conta com o apoio dos funcionários nacionais
e da UE que constituem o Serviço Europeu para a Ação Externa, por outras palavras o serviço
diplomático da UE.
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A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
A UE NA CENA MUNDIAL
civil, assim como a abrirem os seus mercados ao comércio internacional. A Comissão e o Parla-
mento Europeu asseguram que a ajuda é prestada de forma responsável e gerida e utilizada de
forma apropriada.
Será a UE capaz de ir mais além desta diplomacia de «poder discreto»? E estará ela disposta
a fazê-lo? Esse é o principal desafio para os anos vindouros. Uma importante realização concreta
na frente diplomática foi o papel determinante desempenhado pela UE na garantia do acordo
entre o Irão e as principais potências mundiais em 2015, relativamente ao programa nuclear
iraniano e ao levantamento das sanções económicas de longa data contra este país.
A UE também tem sido um interveniente muito ativo nas negociações internacionais relativas
à guerra civil na Síria.
Porém, para muitos, as declarações e posições comuns do Conselho sobre as principais questões
internacionais muitas vezes são apenas o menor denominador comum. Enquanto isso, os gran-
des Estados-Membros continuam a desempenhar individualmente os seus papéis diplomáticos.
Todavia, só quando a União Europeia falar a uma só voz é que será vista como um verdadeiro ator
mundial. A credibilidade e a influência da Europa saem reforçadas quando a UE associa a sua
potência económica e a sua força comercial à execução gradual de uma política comum de segu-
rança e defesa.
A responsabilidade pela execução destas operações está nas mãos de um grupo de organismos
político-militares: o Comité Político e de Segurança, o Comité Militar da União Europeia, Comité
para os Aspetos Civis da Gestão de Crises e o Estado-Maior permanente da União Europeia. Estes
organismos são responsáveis perante o Conselho e estão sediados em Bruxelas.
É através destes instrumentos que a política comum de segurança e defesa é posta em prática.
Permitem à UE executar as missões que se propõe levar a cabo — missões humanitárias e de
manutenção de paz. Estas missões têm de evitar duplicar as ações da NATO, o que é assegu-
rado pelos acordos de «Berlim Mais» celebrados entre a NATO e a UE. Estes acordos facultam
à União Europeia o acesso aos recursos logísticos da NATO (de deteção, comunicação, comando
e transporte).
Desde 2003, a União Europeia já executou mais de 30 operações militares e missões civis, a primeira
das quais foi a da Bósnia-Herzegovina, em que as tropas da UE substituíram as forças da NATO.
Estas missões e operações foram ou estão a ser realizadas em três continentes sob a bandeira
da Europa. Inscrevem-se neste contexto a operação «Atalanta» de combate à pirataria somali no
golfo de Aden, a missão para ajudar o Kosovo a estabelecer um Estado de direito, a missão de
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A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
A UE NA CENA MUNDIAL
formação militar no Mali, a missão de proteção civil na Ucrânia e a ação naval «Sophia» contra os
traficantes de seres humanos no Mediterrâneo.
O custo e a sofisticação crescentes das tecnologias militares tornam cada vez mais necessá-
ria a cooperação entre os Estados-Membros em matéria de armamento, particularmente numa
altura em que os países se esforçam por reduzir a despesa pública a fim de ultrapassarem a crise
financeira. Além disso, para que as suas forças armadas efetuem missões conjuntas fora da
Europa, é necessário que os seus sistemas e equipamentos sejam interoperáveis e suficiente-
mente normalizados. Por esta razão, em 2003, o Conselho Europeu decidiu instituir uma Agência
Europeia de Defesa para ajudar a UE a desenvolver as suas capacidades militares.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, referiu a necessidade de, a longo prazo,
criar uma verdadeira política europeia de defesa. Esta perspetiva poderá gradualmente ganhar
terreno, à medida que mais europeus tomarem consciência de que os seus interesses comuns
em matéria de segurança devem estar ligados à defesa dos seus valores e interesses estratégi-
cos. Atualmente, nenhuma potência, grande ou pequena, pode, por si só, assegurar o poder mili-
tar necessário para garantir a segurança da sua população num contexto mundial caracterizado
pela instabilidade.
A UE tem competência para tratar de questões comerciais em nome dos seus Estados-Membros.
Graças à sua importância enquanto potência comercial, a Europa exerce uma influência interna-
cional considerável. A UE apoia o sistema baseado em regras da OMC, que reúne 164 países. Este
sistema garante uma relativa segurança jurídica e transparência na condução do comércio inter-
nacional. A OMC estabelece condições ao abrigo das quais os seus membros se podem defender
contra práticas desleais, tais como o dumping (vendas a preços inferiores ao custo de produção),
utilizadas pelos exportadores para competir com os seus rivais. Além disso, prevê um procedi-
mento de resolução de litígios que possam surgir entre dois ou mais parceiros comerciais.
Em contrapartida, a UE não concluiu acordos comerciais específicos com nenhum dos países
desenvolvidos que se contam entre os seus principais parceiros comerciais, nomeadamente os
Estados Unidos e o Japão. Com estes países as relações comerciais são geridas através dos meca-
nismos da OMC, mas estão a ser negociados acordos bilaterais. Em 2014, foi celebrado um acordo
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A UE NA CENA MUNDIAL
económico e de comércio entre a União Europeia e o Canadá que viria a ser assinado entre as duas
partes em outubro de 2016.
Em 2013, tiveram início negociações entre a UE e os Estados Unidos sobre um importante acordo
de comércio livre denominado «TTIP». Este acordo abrange áreas como os obstáculos aduanei-
ros, a harmonização das normas, o acesso aos mercados públicos, o reconhecimento das deno-
minações de origem e a resolução de litígios. Em conjunto, os dois parceiros representam 40%
do comércio mundial, com 800 milhões de consumidores. Outra particularidade do acordo seria
garantir que as normas utilizadas em todo o mundo no futuro não fossem decididas por outros
concorrentes, como a China. A UE insiste no respeito de normas rigorosas em matéria de segu-
rança alimentar, proteção social, segurança dos dados e diversidade cultural. Se o acordo entrar
em vigor, prevê-se um aumento do crescimento económico nos países da UE.
A União está a aumentar as suas trocas comerciais com as novas potências emergentes noutras
partes do mundo, da China e da Índia até à América Central e do Sul. Os acordos comerciais com
estes países implicam também uma cooperação técnica e cultural. A China tornou-se o segundo
maior parceiro comercial da UE (a seguir aos Estados Unidos) e o seu maior fornecedor de produtos
importados. A União Europeia é o maior parceiro comercial da Rússia e a sua principal fonte de
investimento estrangeiro. No entanto, a União Europeia impôs sanções comerciais contra a Rússia
em protesto contra a anexação da Crimeia em 2014, as quais resultaram em graves perturbações
dos fluxos comerciais e de investimento.
A UE promove
a abertura
dos mercados
e o desenvolvimento
do comércio em todo
o mundo.
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A UE NA CENA MUNDIAL
As relações entre a Europa e a África subsariana são antigas. Ao abrigo do Tratado de Roma, em
1957, as colónias e os territórios ultramarinos de que então dispunham alguns Estados-Membros
tornaram-se associados da Comunidade. O processo de descolonização iniciado no princípio da
década de 60 transformou esta relação numa associação de tipo diferente entre países soberanos.
O Acordo de Cotonu, assinado em 2000 em Cotonu, capital do Benim, marcou uma nova etapa
na política de desenvolvimento da União Europeia. Este acordo entre a União Europeia e os países
de África, das Caraíbas e do Pacífico (ACP) é o mais ambicioso e mais vasto acordo de comércio
e cooperação alguma vez concluído entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento.
Sucedeu à Convenção de Lomé, assinada em 1975 em Lomé, capital do Togo, e posteriormente
atualizada a intervalos regulares.
Este acordo vai consideravelmente mais longe que os anteriores, visto passar de relações de
comércio baseadas no acesso ao mercado a relações comerciais em sentido mais lato. Definiu,
além disso, novos procedimentos para fazer face a problemas de violação dos direitos humanos.
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A UE NA CENA MUNDIAL
A União Europeia fez concessões comerciais especiais aos países menos desenvolvidos, 39 dos
quais são signatários do Acordo de Cotonu. Desde 2005, estes países podem exportar pratica-
mente todo o tipo de produtos para a União, com isenção de direitos.
Embora esta política tradicional da UE tenha tido efeitos positivos em África, ela não satisfaz
as necessidades da situação atual. Grandes regiões da África a Sul do Sara registaram algum
crescimento económico e conseguiram utilizar os seus vastos recursos naturais para melhorar as
infraestruturas e a qualidade de vida. Mas outras regiões têm sido dramaticamente afetadas pela
guerra, por tumultos e ditaduras. Toda a região do Sael a sul do Sara foi desestabilizada: fanáticos
religiosos, como o grupo Boko Haram, continuam a espalhar o terror e o Corno de África tem sido
dominado pela guerra civil e por ditaduras.
Esta situação cria refugiados políticos. A seca provocada pelas alterações climáticas e o aumento
da população levam igualmente as pessoas a tentar emigrar para a Europa. Assim, além de
prestar ajuda humanitária, a UE tem razões que justificam o exercício de uma importante estra-
tégia destinada a gerar crescimento económico no continente africano e a estabilizar as desloca-
ções das populações. Além disso, uma política europeia comum de imigração poderia fazer face
à necessidade a longo prazo, de criar uma nova força de trabalho na Europa, cuja população está
a envelhecer.
91
12
C APÍTULO
Debate
Perguntas
Que futuro
para a Europa?
Participação
Desafios EsforçosDiálogo
Comunicação Perspetivas
Motivação
Sinergias Valores
Cooperação
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
Q U E F U T U R O PA R A A E U R O PA ?
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Q U E F U T U R O PA R A A E U R O PA ?
«A Europa não se fará de um golpe, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de
realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto». Robert Schuman
proferiu estas palavras na sua conhecida declaração no lançamento do projeto de integração
europeia, em 9 de maio de 1950. Passados quase 70 anos, estas palavras guardam a mesma
verdade. A solidariedade entre povos e nações da Europa tem de ser constantemente ajustada aos
novos desafios colocados por um mundo em mudança.
Aliás, tem sido assim ao longo de toda a história da União Europeia. Nos primeiros anos após
a Segunda Guerra Mundial, a tónica foi colocada no aumento da produção e em garantir a existên-
cia de alimentos suficientes para todos. A realização do mercado interno em princípios da década de
90 foi uma grande vitória. Posteriormente, foram criados o euro e o Banco Central Europeu para que
o mercado tivesse um funcionamento mais eficaz. Ao mesmo tempo, fez-se um esforço substancial
para sarar as divisões criadas pelos regimes comunistas durante a guerra fria. A crise económica
que teve início em 2008 revelou a vulnerabilidade do euro aos ataques de especuladores em todo
o mundo. Para fazer face a essa situação, os Estados-Membros da UE decidiram adotar uma coor-
denação mais estreita das políticas económicas nacionais e criar uma União Bancária. Mais recente-
mente, os desafios relacionados com a segurança e a imigração têm dominado a agenda europeia.
Jean Monnet, o grande arquiteto da integração europeia, concluiu as suas memórias em 1976
com as seguintes palavras: «As nações soberanas do passado deixaram de ser o quadro onde se
podem resolver os problemas do presente: não conseguem assegurar o próprio progresso nem
controlar o próprio futuro. E a própria Comunidade é apenas uma etapa rumo a formas de orga-
nização do mundo de amanhã». Face à globalização, devemos resignar-nos, em 2017, a encarar
a União Europeia como tendo deixado de ser relevante do ponto de vista político? Ou será que
devíamos antes perguntar como libertar todo o potencial de mais de 500 milhões de europeus que
partilham os mesmos valores e interesses?
A União Europeia conta com quase 30 Estados-Membros, com histórias, línguas e culturas bem
distintas e diferenças consideráveis de níveis de vida. Poderá uma família de nações tão diversifi-
cada constituir uma «esfera pública» política comum? Conseguirão os seus cidadãos partilhar um
sentido de «identidade europeia» mantendo-se profundamente ligados aos seus países, regiões
e comunidades locais? Talvez consigam, se os atuais Estados-Membros seguirem os passos da
primeira Comunidade Europeia, que nasceu das ruínas da Segunda Guerra Mundial. Esta Comu-
nidade fundou a sua legitimidade moral na reconciliação e na consolidação da paz entre antigos
inimigos. Assentava no princípio de que todos os Estados-Membros, grandes ou pequenos, tinham
direitos iguais e que as minorias eram respeitadas.
Será possível continuar a avançar com a integração europeia, defendendo que os Estados-Mem-
bros da UE e o seu povo desejam todos o mesmo? Ou será que os dirigentes da União recorrerão
cada vez mais a acordos de «cooperação reforçada», em que determinados grupos de Estados-
-Membros avançam sem os restantes nesta ou naquela direção? A multiplicação de acordos do
género poderia conduzir a uma situação em que cada Estado-Membro é livre de escolher parti-
cipar numa ou outra política ou pertencer a uma ou outra instituição. Esta solução pode parecer
atrativa pela sua simplicidade, mas a UE sempre assentou no conceito de solidariedade — o que
significa partilhar tanto os custos como as vantagens. Significa ter regras e políticas comuns.
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Q U E F U T U R O PA R A A E U R O PA ?
Ao mesmo tempo, a recente crise económica revelou que os países que utilizam o euro como
moeda nacional se encontram numa situação particular de dependência, o que os levou a funcio-
nar como um núcleo de países no seio da UE. A Comissão Europeia propôs uma maior integração
da área do euro, com o reforço das políticas para as áreas financeira, orçamental e económica,
mas também um aumento da legitimidade e da responsabilidade democrática dessas políticas.
A ideia é que um salto qualitativo, destinado a transformar a área do euro numa zona de gover-
nação económica unida, venha a imprimir uma nova dinâmica à União no seu conjunto e, conse-
quentemente, beneficie todo o continente.
A globalização obriga a Europa a competir não só com os seus rivais tradicionais (o Japão e os
Estados Unidos), como também com as potências económicas em crescimento rápido como
o Brasil, a China e a Índia. Poderá a Europa continuar a proteger os seus padrões sociais e ambien-
tais, limitando o acesso aos mercados europeus? Ainda que tentasse fazê-lo, não conseguiria fugir
à dura realidade da concorrência internacional. Por isso, é provável que muitas forças continuem
a orientar a Europa para que se torne um verdadeiro ator mundial, agindo em uníssono no palco
mundial e afirmando os seus interesses com eficácia a uma só voz.
Ao mesmo tempo, muitos europeus alegam que a UE tem de se aproximar mais dos cidadãos.
O Parlamento Europeu — que com cada novo tratado tem conquistado mais poder — é eleito dire-
tamente por sufrágio universal de cinco em cinco anos. No entanto, a percentagem da população
que vota para estas eleições varia conforme o país e a abstenção é geralmente elevada. O desafio
que as instituições da União e os governos nacionais enfrentam consiste em encontrar melhores
formas de informar e comunicar com o público (através da educação, das redes de ONG, etc.), de
modo a promover a criação de uma esfera pública europeia comum na qual os cidadãos da UE
tenham a oportunidade de dar forma à agenda política. Este é um dos principais desafios que os
Estados-Membros e as instituições da UE têm de enfrentar, a fim de combater o euroceticismo,
que incentiva o aumento do populismo e enfraquece a democracia.
Uma das maiores forças da UE é a sua capacidade de expandir os valores da Europa para além
das suas fronteiras: valores como o respeito pelos direitos humanos, o Estado de direito, a prote-
ção ambiental e uma economia livre num quadro estável e organizado, mantendo os padrões
sociais. A medida em que a Europa conseguir afirmar os seus valores determinará a forma como
outras regiões do mundo a veem como exemplo positivo.
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Q U E F U T U R O PA R A A E U R O PA ?
Só poderemos avaliar se a UE alcançou o que está programado e produziu resultados concretos se
conseguirmos responder a perguntas como as seguintes:
• Como encontrar uma solução justa e duradoura para o problema da imigração e dos refugiados?
• Como financiar o bem-estar social de forma eficaz? Como lidar com o envelhecimento da popu-
lação sem penalizar as gerações seguintes?
• Como é possível encontrar soluções éticas para os desafios enormes, mas sensíveis, colocados
pelos avanços científicos e tecnológicos — especialmente na área da biotecnologia?
• Como podemos garantir a segurança dos cidadãos da UE sem prejudicar a sua liberdade?
• Como podemos assegurar a sustentabilidade e a defesa comum dos cidadãos da UE num
mundo de ameaças globais imprevisíveis?
Se conseguir tudo isto, a Europa continuará a ser respeitada e a ser uma fonte de inspiração para
o resto do mundo.
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Os europeus têm de trabalhar em conjunto hoje
pelo seu futuro de amanhã.
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Cronologia
da integração
europeia
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
25 DE MARÇO 1957
1965 8 DE ABRIL
99
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
1966 29 DE JANEIRO
«Compromisso do Luxemburgo»: na
sequência de uma crise política, a França
aceita retomar o seu lugar nas reuniões
do Conselho, a troco da manutenção da
regra da unanimidade quando estejam
1 DE JULHO 1968
em jogo «interesses nacionais de
Eliminação completa, com 18 meses importância vital».
de avanço sobre o previsto, dos direitos
aduaneiros entre os Estados-Membros
sobre os produtos industriais. Entra em
vigor uma pauta aduaneira comum. 1969 1 E 2 DE DEZEMBRO
22 DE ABRIL 1970
22 DE JULHO
7 A 10 DE JUNHO 1979
É assinado um tratado que reforça os
Primeiras eleições diretas dos 410
poderes orçamentais do Parlamento
deputados do Parlamento Europeu.
Europeu e cria o Tribunal de Contas
Europeu. Este tratado entra em vigor
em 1 de junho de 1977.
100
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
1981 1 DE JANEIRO
1985 7 DE JANEIRO
14 DE JUNHO
1 DE JANEIRO 1986 É assinado o Acordo de Schengen,
cuja finalidade é suprimir os controlos
A Espanha e Portugal aderem às
nas fronteiras entre os Estados-Membros
Comunidades Europeias, que passam
das Comunidades Europeias.
a contar 12 Estados-Membros.
9 DE NOVEMBRO
1990 3 DE OUTUBRO
Queda do muro de Berlim.
Reunificação da Alemanha.
1992 7 DE FEVEREIRO
1 DE JANEIRO 1993
1 DE JANEIRO 1995
2 DE OUTUBRO 1997
1998 30 DE MARÇO
102
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
1999 15 DE SETEMBRO
10 DE JULHO 2003
A Convenção sobre o futuro da Europa
adota um projeto de Constituição
Europeia e conclui os seus trabalhos.
103
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
29 DE OUTUBRO
2004 22 DE NOVEMBRO
A Constituição Europeia é assinada
em Roma pelos 25 Chefes de Estado Entra em funções uma nova Comissão
e de Governo. Europeia presidida por José Manuel
Barroso (2004-2014).
Abertura das negociações de adesão com A Bulgária e a Roménia aderem à União
a Turquia e a Croácia. Europeia. A Eslovénia torna-se o 13.º país
a adotar o euro.
€ 13 DE DEZEMBRO
1 DE JANEIRO 2008
Chipre e Malta tornam-se os 14.º e 15.º Assinatura do Tratado de Lisboa.
países a adotar o euro.
€
2009 1 DE JANEIRO
4 A 7 DE JUNHO
2 DE OUTUBRO 2009
Sétimas eleições diretas para
O referendo realizado na Irlanda aprova o Parlamento Europeu.
o Tratado de Lisboa.
104
A E U R O PA E M 1 2 L I Ç Õ E S
CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
2009 1 DE DEZEMBRO
2 DE MARÇO 2012
O Tratado sobre Estabilidade,
Coordenação e Governação na União
Económica e Monetária («pacto
orçamental») é assinado por 25 países
da UE. Este tratado entra em vigor 2012 6 DE DEZEMBRO
em 1 de janeiro de 2013.
A União Europeia recebe o Prémio Nobel
da Paz. O prémio reconhece o contributo
da UE para a promoção da paz e da
reconciliação, da democracia e dos
1 DE JULHO 2013 direitos humanos durante os últimos
sessenta anos.
A Croácia adere à União Europeia.
15 DE OUTUBRO
€
É criada a União Bancária, com um 2014 1 DE JANEIRO
sistema comum de supervisão
dos bancos. A Letónia torna-se o 18.º país a adotar
o euro.
22-25 DE MAIO
1 DE NOVEMBRO 2014
Oitavas eleições diretas para
Jean-Claude Juncker torna-se presidente o Parlamento Europeu.
da Comissão Europeia.
Federica Mogherini é nomeada
alta-representante da União
para os Negócios Estrangeiros e a Política 2014 1 DE DEZEMBRO
de Segurança.
Donald Tusk torna-se o presidente
do Conselho Europeu.
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CRONOLOGIA DA INTEGR AÇ ÃO EUROPEIA
€
2015 1 DE JANEIRO
24 DE JUNHO
2016 23 DE JUNHO
106
ENTRE EM CONTACTO COM A UNIÃO EUROPEIA
EM LINHA
O sítio web Europa contém informações em todas as línguas oficiais da União Europeia:
https://europa.eu/european-union/index_pt
PESSOALMENTE
Há centenas de centros de informação sobre a União Europeia espalhados por toda a Europa.
Pode encontrar o endereço do centro mais próximo neste endereço:
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As publicações da UE, quer gratuitas quer pagas, podem ser descarregadas ou encomendadas no seguinte
endereço: https://publications.europa.eu/pt/publications. Pode obter exemplares múltiplos de publicações
gratuitas contactando o serviço Europe Direct ou um centro de informação local (ver https://europa.eu/
european-union/contact_pt).
Dados abertos da UE
O Portal de Dados Abertos da União Europeia (http://data.europa.eu/euodp/pt) disponibiliza o acesso
a conjuntos de dados da UE. Os dados podem ser utilizados e reutilizados gratuitamente para fins comerciais
e não comerciais.
A EUROPA EM 12 LIÇÕES
por Pascal Fontaine
Para que serve a União Europeia? Por que foi criada e como?
Como funciona? O que já obteve para os seus cidadãos e quais
os novos desafios com que se defronta?