Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-oficiais de decisões proferidas pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a sua
publicação no Diário da Justiça.
Índice de Assuntos
Aposentadoria Compulsória
Associação e Tráfico: Concurso Material
Auto de Infração e Notificação
Controle Externo: Inconstitucionalidade
Exercício Arbitrário da Próprias Razões
ICMS e Antecipação do Prazo de Vencimento
ICMS e Produtos Semi-Elaborados
Loteamento Irregular e Prefeito Municipal
Planos de Saúde e Competência Legislativa
Prequestionamento
Sentença de Pronúncia e Diligências
Separação e Independência dos Poderes
Sindicato e Substituição Processual
Soldo e Salário Mínimo
Plenário
Soldo e Salário Mínimo
Continuando o julgamento de recurso extraordinário em que se discute a validade de dispositivo da
Constituição do Estado do Rio Grande do Sul que assegura aos servidores militares locais soldo nunca inferior ao
salário-mínimo (v. Informativo 53), o Min. Maurício Corrêa, divergindo do Min. Ilmar Galvão, relator, proferiu voto-
vista no sentido de julgar válida a norma impugnada rejeitando o argumento de sua inconstitucionalidade formal por
ofensa à iniciativa do chefe do Poder Executivo (CF, art. 61, § 1º, II, a e c) e entendendo que o Estado-membro
exercera sua prerrogativa de auto-organização. Em seguida, o julgamento foi suspenso por pedido de vista do Min.
Nelson Jobim. RE 198.982-RS, rel. Min. Ilmar Galvão, 6.8.97.
Aposentadoria Compulsória
Declarada a inconstitucionalidade de normas da Constituição do Estado de Mato Grosso que determinavam a
aposentadoria compulsória de desembargadores, procuradores de Justiça e conselheiros do Tribunal de
Contas do Estado após 10 anos de exercício no respectivo cargo, por ofensa ao art. 93, VI, da CF, que prevê
como um dos princípios constantes do Estatuto da Magistratura ¾ de observância obrigatória pelos Estados
¾ que "a aposentadoria com proventos integrais é compulsória por invalidez ou aos setenta anos de idade,
e facultativa aos trinta anos de serviço, após cinco anos de exercício efetivo na judicatura". ADIn 98-MT,
rel. Min. Sepúlveda Pertence, 7.8.97.
Controle Externo: Inconstitucionalidade
No mesmo julgamento, por ofensa ao princípio da separação dos poderes (CF, art. 2º), o Tribunal declarou a
inconstitucionalidade dos artigos 121, 122 e 123 da Constituição do Estado de Mato Grosso que criavam o
Conselho Estadual de Justiça — composto pelo Presidente do Tribunal de Justiça, pelo Corregedor-Geral da
Justiça, por um representante da Assembléia Legislativa do Estado, pelo Presidente da OAB/MT, pelo
Procurador-Geral de Justiça, pelo Procurador-Geral do Estado, pelo Procurador-Geral da Defensoria Pública
e pelo Secretário de Justiça —, e davam-lhe atribuições de consulta e de fiscalização nos assuntos
relacionados com o desenvolvimento da estrutura do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria
Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. Precedentes citados: ADIn 135-PB (v. Informativo 54); ADInMC
137-PA (DJU de 21.3.97). ADIn 98-MT, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 7.8.97.
Primeira Turma
Loteamento Irregular e Prefeito Municipal
À falta de justa causa para a condenação, a Turma, por unanimidade, deferiu habeas corpus impetrado em
favor de ex-prefeito municipal condenado por ofensa ao art. 50, I ("dar início, de qualquer modo, ou efetuar
loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, sem autorização do órgão público competente, ou em
desacordo com os dispositivos desta lei ou das normas permanentes do Distrito Federal, Estados e Municípios.") e II
("com inexistência de título legítimo de propriedade do imóvel loteado.") da Lei 6.766/79, que dispõe sobre o
parcelamento do solo urbano. Adotou-se o entendimento de que se trata de norma penal em branco cujo núcleo é o
desrespeito a uma legislação inaplicável ao loteamento promovido pelo Município imitido ¾ em processo de
expropriação ¾ , com esse fim, na posse da área. (v. inteiro teor do voto condutor da matéria em Transcrições). HC
74.725-RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 24.6.97 .
Segunda Turma
Sentença de Pronúncia e Diligências
A circunstância de já ter sido prolatada sentença de pronúncia contra o réu não impede que o juiz presidente
do tribunal do júri determine a realização de diligências para produção de provas periciais e testemunhais, conforme o
disposto no art. 425, do CPP ("O presidente do Tribunal do Júri, depois de ordenar, de ofício, ou a requerimento das
partes, as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse à decisão da causa,
marcará dia para julgamento, determinando sejam intimadas as partes e as testemunhas."). Com base nesse
entendimento e afastando a alegada ofensa aos princípios do devido processo legal e da ampla defesa (CF, art. 5º, LIV e
LV), a Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia ver anulada a sentença de pronúncia do paciente em face do
deferimento de diligências solicitadas pelo Ministério Público. HC 75.315-RJ, rel. Min. Marco Aurélio, 5.8.97.
Prequestionamento
Iniciado o julgamento de recurso extraordinário interposto pelo Estado de Santa Catarina contra acórdão do
STJ que, ao dar provimento ao recurso especial interposto pelo contribuinte entendendo que o fato gerador
do ICMS na importação de mercadorias do exterior ocorre no momento de sua entrada no estabelecimento do
importador, recusara-se a enfrentar o fundamento constitucional da lide sustentado pelo Estado nas contra-
razões e nos embargos de declaração. O Min. Marco Aurélio, relator, entendendo que cabia ao recorrente —
ao invés de discutir a matéria de fundo dando-a por prequestionada pela simples oposição dos embargos
declaratórios como decorreria, a contrario sensu, da Súmula 356 do STF ("O ponto omisso da decisão, sobre
o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar
o requisito do prequestionamento.") — alegar negativa de prestação jurisdicional contra a persistente omissão
do tribunal a quo em manifestar-se sobre as questões constitucionais suscitadas nas contra-razões ao recurso
especial, proferiu voto não conhecendo do recurso extraordinário por falta de prequestionamento da matéria
constitucional. Após, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista do Min. Nelson Jobim. RE
208.639- DF, rel. Min. Marco Aurélio, 5.8.97.
Clipping do DJ
1º de agosto de 1997
HC N. 75.090-7
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: STF: competência originária inexistente: habeas corpus fundado em nulidade do processo e do julgamento
pelo júri estadual, quando o Tribunal de Justiça, que desproveu a apelação da defesa, estava adstrito à questão de ser o
veredicto contrário à prova dos autos, fundamento exclusivo da apelação.
1. É de vetusta jurisprudência do STF - digna de reafirmação contra esporádicas decisões em contrário - que lhe
compete conhecer originariamente do habeas corpus, se o Tribunal inferior, em recurso da defesa, manteve a
condenação do paciente, ainda que sem decidir explicitamente dos fundamentos da subseqüente impetração da ordem;
na apelação do réu, salvo limitação explícita quando da interposição, toda a causa se devolve ao conhecimento do
Tribunal competente, que não está adstrito às razões aventadas pelo recorrente.
2. Mas, também se consolidou o entendimento de que, quando o Tribunal só tenha julgado recurso da acusação ou
recurso parcial da defesa, a simples eventualidade, não cogitada, de conceder habeas corpus de ofício por motivo de
coação alheia ao âmbito de devolução do apelo julgado não lhe faz imputável o constrangimento alegado em posterior
petição de habeas corpus (v.g. HC 70.497, Plen., 25.8.93, Pertence; HC 69.374, 2ª T., 13.10.92, Brossard, RTJ
148/732; HC 70.510, 5.10.93, 1ª T., Moreira, RTJ 150/830; HC 70.566, 9.11.93, Pertence, RTJ 133/96; HC 71.805,
8.11.94, Moreira); símile da questão com a da competência reconhecida ao Tribunal que haja indeferido revisão ou
habeas corpus para conhecer originariamente da impetração subseqüente com fundamentação diversa.
3. Para esse efeito, entre os casos de apelação parcial da defesa, é de incluir o da interposta contra a decisão do Tribunal
do Júri, de devolução adstrita, segundo a jurisprudência, ao fundamento legal invocado na interposição ou resultante
das razões: sendo-lhe estranha a causa de pedir de habeas corpus posterior, a coação não pode ser imputada ao
Tribunal que julgou a apelação limitada, cabendo-lhe, portanto, conhecer originariamente da impetração.
HC N. 75.107-5
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: I. Habeas-corpus: cabimento: erro de direito na aplicação da pena.
O erro de direito na aplicação da pena, em prejuízo do réu, implica falta parcial de justa causa para a condenação, sendo
o habeas-corpus a via adequada para corrigi-lo.
II. Crime continuado: crimes contra vítimas diferentes mediante violência ou grave ameaça (C.Pen., art. 71, parág.
único): causa especial de aumento de pena inaplicável se as mesmas pessoas foram vítimas de todos e cada um dos
crimes cometidos em continuação: o suposto normativo da exacerbação penal determinada no preceito é que haja
diversidade de vítima em pelo menos um dos delitos.
* noticiado no Informativo 74
MS N. 21.118-1
REL. P/ ACORDÃO: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA: C.F., art.
102, I, n: CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA E O GOVERNADOR. MANDADO
DE SEGURANÇA: LIMINAR: DECLARAÇÃO DE SUA INEFICÁCIA EM RAZÃO DO TRANSCURSO DO
PRAZO: COMPETÊNCIA DO JUIZ OU DO TRIBUNAL QUE A CONCEDEU. TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
DESEMBARGADOR: MAGISTRATURA DE CARREIRA: ATO DO TRIBUNAL. C.F., art. 96, I, c.
I. - Competência originária do S.T.F.: C.F., art. 102, I, n: conflito de atribuições entre o Tribunal de Justiça e o
Governador, já que ambos entendem que é sua a atribuição de nomear desembargador: caso em que se configura a
competência originária do Supremo Tribunal Federal.
II. - Mandado de segurança: medida liminar: a declaração de sua ineficácia, pelo transcurso do prazo, é do Juiz ou
Tribunal que a concedeu.
III. - O provimento dos cargos de desembargador, nos Tribunais de Justiça, em vagas reservadas à magistratura de
carreira, é do próprio Tribunal, atribuição conferida pela C.F., art. 96, I, c. Precedentes do STF: ADIn 314-PE, Velloso;
ADIn 189-RJ, Celso de Mello; ADIn 70-SC, Pertence; ADIn 202-BA, Gallotti.
IV. - M.S. indeferido
MS N. 22.461-4
RELATOR : MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Reajuste de vencimentos, no percentual de 10,38%, postulado com fundamento no disposto no art. 17
da Lei nº 8.880-94, combinado com o art. 37, X, da Constituição, e no art. 1º da Lei nº 7.706-88.
Pedido conhecido na extensão da competência da autoridade apontada como coatora, restrita ao âmbito dos
servidores da Secretaria do Supremo Tribunal, e, nessa parte, indeferido, de acordo com a orientação firmada pelo
Supremo Tribunal, ao julgar o Mandado de Segurança nº 22.439 (sessão de 15-5-96).
AG N. 186.842-2 (AgRg)
RELATOR : MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Agravo regimental.
- É manifesta a improcedência da alegação de que o limite de 40 anos para o ingresso nas funções de Procurador do
Estado decorre da natureza e do conteúdo ocupacional do cargo que exigem vigor físico e psíquico porque o servidor,
nessa função, é lotado, nas classes inicial e intermediária, em regionais do interior por vários anos, com dificuldade de
moradia e de condução, até por ter que percorrer longas distâncias em estradas de chão batido. Essas circunstâncias
nada têm de anormal, nem exigem especial vigor físico e psíquico, pois dificuldades de moradia e de deslocamento
existem, e às vezes em condições mais desfavoráveis, em grandes cidades.
Agravo a que se nega provimento.
RE N. 145.773-2
RELATOR : MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Recurso Extraordinário. Contribuição Social. Folha de salários. Constituição, art. 195, I. Lei nº
7787/1989, art. 3º, I. Retribuição paga a administradores. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
RE 166.772-9-RS, a 12.5.1994, declarou a inconstitucionalidade das expressões "autônomos e administradores"
constantes do inciso I, do art. 3º, da Lei nº 7787/1989. 3. Pelos mesmos fundamentos, não cabe incidir a contribuição
social prevista no dispositivo aludido, quanto à retribuição paga a "avulsos". 4. Não se compreendem no art. 195, I, da
Constituição, quando se refere a "folha de salários", as retribuições pagas aos que não se encontram em situação de
"empregados", "stricto sensu", relativamente aos "empregadores", previstos na norma constitucional. Distinção entre as
fontes de custeio da seguridade social dos incisos I e II do art. 195, da Constituição. Recurso extraordinário conhecido e
provido.
RE N. 164.161-4
RELATOR : MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMPORTAÇÃO DE BENS DESTINADOS À PRODUÇÃO DE MÁQUINAS,
REALIZADA AO ABRIGO DO PROGRAMA BEFIEX. ISENÇÃO DE TRIBUTOS FEDERAIS E,
CONSEQÜENTEMENTE, DE TRIBUTOS ESTADUAIS. DECRETO-LEI Nº 1.219/72. ART. 1º, § 4º, DO
DECRETO-LEI Nº 406/68. INCIDÊNCIA DO ART. 41, §§ 1º E 2º, DO ADCT/88. DIREITO ADQUIRIDO DO
IMPORTADOR. ALEGADA AFRONTA AOS ARTS. 151, III, DA PARTE PERMANENTE E 34 E 41 DAS
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS, DA CONSTITUIÇÃO ATUAL.
Regime isentivo concedido pela União Federal na vigência da Constituição pretérita, em face do Programa de
Exportação BEFIEX, que teve sua vigência assegurada no art. 41, § 1º, do ADCT, até outubro de 1990.
Direito adquirido reconhecido pelo acórdão, com base no art. 41, § 2º, da disposição transitória e na Súmula 544 - STF,
tendo em vista tratar-se de incentivo concedido por prazo certo e mediante condições.
Recurso Extraordinário de que não se conhece.
RE N. 183.180-4
RELATOR : MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - 1. Questão de ordem processual diretamente apresentada pela Recorrente ao Supremo Tribunal e rejeitada
pela Turma, em face da preclusão que sobre ela se operara.
2. Recurso extraordinário tempestivamente interposto.
3. Violação do art. 167, II, da Constituição de 1967 (Emenda nº 1-69) argüida pela Recorrente no pressuposto da
condição de simples permissionária da empresa de navegação aérea da Recorrida, ao passo que se qualifica esta como
concessionária de serviço público, a teor de contrato celebrado pelo Governo Federal, em conformidade ao disposto no
Decreto nº 95.910-88, no art. 180 da Lei nº 7.565-86 e no art. 8º, XV, c, da referida Carta de 1967.
4. Prejuízo julgado comprovado pelas instâncias ordinárias e decorrente de atos omissivos e comissivos do Poder
concedente, causadores da ruptura do equilíbrio financeiro da concessão, não abstratamente atribuível a política
econômica, normativamente editada para toda a população ("Plano Cruzado").
5. Recurso extraordinário de que, em conseqüência, não se conhece, por não se reputar contrariado o citado art. 167, II,
da Constituição de 1967 (Emenda nº 1-69), sem se achar prequestionado tema pertinente ao disposto no art. 107
daquela mesma Carta.
* noticiado no Informativo 76
RE N. 201.134-7
RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. LUCRO LÍQUIDO. SÓCIO QUOTISTA.
TITULAR DE EMPRESA INDIVIDUAL. ACIONISTA DE SOCIEDADE ANÔNIMA. Lei nº 7.713, de 1988, artigo
35.
I. - No tocante ao acionista de sociedade anônima, é inconstitucional o art. 35 da Lei 7.713, de 1988, dado que, em tais
sociedades, a distribuição dos lucros depende principalmente, da manifestação da assembléia geral. Não há falar,
portanto, em aquisição de disponibilidade jurídica do acionista mediante a simples apuração do lucro líquido. Todavia,
no concernente ao sócio-quotista e ao titular de empresa individual, o citado art. 35 da Lei 7.713, de 1988, não é, em
abstrato, inconstitucional (constitucionalidade formal). Poderá sê-lo, em concreto, dependendo do que estiver disposto
no contrato (inconstitucionalidade material).
II. - Precedente do STF: RE 172.058-SC, Plenário, 30.06.1995.
III. - R.E. não conhecido.
RE N. 208.388-7
RELATOR : MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: IMPOSTO DE RENDA. ATUALIZAÇÃO PELA UFIR. LEI Nº 8.383/91. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA
AOS PRINCÍPIOS DA IRRETROATIVIDADE E DO DIREITO ADQUIRIDO.
Não há inconstitucionalidade na utilização da UFIR, prevista na Lei nº 8.383/91, para atualização monetária do imposto
de renda, por não representar majoração de tributo ou modificação da base de cálculo e do fato gerador. A alteração
operada foi somente quanto ao índice de conversão, pois persistia a indexação dos tributos conforme estabelecida em
norma legal.
Recurso extraordinário não conhecido.
RMS N. 22.718-8
RELATOR : MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Ex-empregados do Banco Nacional de Crédito Cooperativo - BNCC.
Anistia concedida pela Lei nº 8.878-94.
Falta de comprovação, a cargo dos impetrantes, da existência de cargos correlatos, em que se pudesse dar o
almejado aproveitamento.
Não caracteriza motivação política, pressuposto da concessão do benefício, a extinção da entidade empregadora,
por conveniência da Administração (Precedente do STF: RMS 22.717, 1ª Turma, 6-5-97).
RHC N. 74.547-4
RELATOR : MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Ação penal por crime de lesão culposa, capitulado no art. 210 do Código Penal Militar.
Aplicação, à espécie, do art. 88 da Lei nº 9.099-95.
Recurso provido, a fim de que se proceda à intimação da vítima, para manifestar-se, representando ou não, sob pena
de decadência, nos termos do art. 91 (2ª parte) da citada Lei nº 9.099-95.
* noticiado no Informativo 72
RHC N. 75.236-5
RELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: qualificação jurídica de fato.
Não é questão de prova saber-se da tipicidade de determinado fato, cuja veracidade não se discute, mas se admite como
afirmado na sentença: cuida-se de simples qualificação jurídica de fato, operação à qual sempre se prestou o habeas
corpus.
II. Associação para o tráfico de entorpecentes: subsistência do art. 14 da L. 6.368/76, do qual - segundo a jurisprudência
do STF, à qual se rende com reservas o relator, o art. 8º da L. 8.072/90, sem alterar-lhe a descrição típica, apenas
modificou a pena cominada (HC 68.793, 1ª T., 6.6.97, Moreira; 72.862, 2ª T., Néri, DJ 25.10.96; HC 73.119, 2ª T.,
Velloso, DJ 19.4.96; HC 73.350, 1ª T., 27.5.97, Moreira).
III. A associação para o tráfico de entorpecentes, como tipificada no art. 14 da Lei de Entorpecentes, dispensa o
elemento mais característico das figuras penais de associação para delinqüir, qual seja, a predisposição da societas
sceleris à prática de um número indeterminado de crimes: para não confundir-se com o mero concurso de agentes, a
melhor interpretação reclama à sua incidência o ajuste prévio e um mínimo de organização, seja embora na preparação
e no cometimento de um só delito de tráfico ilícito de drogas, hipótese que a sentença julgou provada.
RHC N. 75.335-3
RELATOR : MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: RECURSO DE HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR. EMBARGOS DE NULIDADE
E INFRINGENTES DO JULGADO. COMPROVAÇÃO DA APRESENTAÇÃO DO RECURSO NO PRAZO LEGAL.
1. O art. 181 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais, reproduzindo o art. 540
do CPPM, dispõe que os embargos serão oferecidos por petição dirigida ao Presidente, dentro do prazo de cinco dias,
contados da data da intimação do acórdão.
2. Tendo sido o réu intimado pessoalmente em 10.09.96, não se pode considerar intempestivos os embargos que, não
obstante remetidos pela via postal à Auditoria Militar Estadual, chegaram ao destino no mesmo dia 10.09.96, conforme
comprovação fornecida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
3. Incidentes cartorários, retardando o registro protocolar do recebimento do recurso, cujo ato burocrático discrepa da
realidade, não podem comprometer o conceito constitucional de ampla defesa.
4. Recurso provido.
T r a n s c r i ç õ e s
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do Informativo STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
"A partir de 17 de abril de 1991, pela edição do Decreto de Desapropriação nº 1415/91 (f. 47 do Inquérito
Civil) e até 31 de dezembro de 1992, data do término do seu mandato no Município de São Marcos, o
denunciado EDEJAIME CIOATTO, no exercício do cargo de Prefeito Municipal, em desacordo com as
disposições legais, deu início e efetuou parcelamento do solo para fins de loteamento urbano, denominado
"Colina Sorriso", sobre a área de terras com 52.653,46m2 (49.698,25m2, pertencente a herdeiros de Luiz
Rizzon), imóvel que faz parte do lote nº 30 da Linha Humaitá, conforme matrícula nº Av.1-89 do Cartório de
Registro Público daquele município.
Para tanto, o denunciado editou o decreto de desapropriação e, com inexistência de título legítimo de
propriedade e com pedido de registro do loteamento indeferido pelo Registro de Imóvel (ainda hoje objeto de
lide judicial), efetuou obras de terraplanagem, aterros, desmatamento, demarcação de quadras, abertura de
ruas e firmou 131 contratos de promessa de venda de lotes, constante fls. 43 do Inquérito Policial e 89/480 do
Inquérito Civil".
Sustenta o impetrante a falta de justa causa para a condenação dada a atipicidade do fato, invocando a opinião do
Ministro Ruy Rosado de Aguiar Jr. (Normas penais sobre o parcelamento do solo urbano em Álvaro Pessoa
(coord.), Direito do Urbanismo, IBAM/SP, 1981, p. 212, apud Rui Stocco, Leis Especiais e sua Interpretação
Jurisprudencial, Alberto Silva Franco et alii, RT, 1995, p. 1340), para quem "a lei não previu a hipótese de loteador
público, pois não descreveu a conduta de quem, no exercício da função estatal (...), pratique o crime funcional de
determinar a execução do parcelamento irregular", de tal modo, conclui, que "o funcionário, enquanto tal, não
pode ser considerado sujeito ativo do delito".
Instruem a petição acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná (Inq. Policial 30.462 - f. 48 e EDcl., f. 53), que
acolheram o entendimento de Ruy Rosado, e, em sentido similar, do Tribunal de Justiça de Roraima (Acr 1.204/90).
O em. Ministro Celso de Mello, relator originário, indeferiu a liminar, por lhe parecer que o reconhecimento da
falta de justa causa demandaria reexame de provas (f. 33).
Prestadas as informações (f. 121), o impetrante, em dramática petição, fartamente instruída, reiterou o pedido de
liminar (f. 138/242). Juntou-se, com ela, acórdão do mesmo Tribunal gaúcho que, em sentido oposto ao da decisão
questionada, adotou a tese da impetração (f. 156).
Indeferiu-o novamente o Ministro Celso de Mello, citando Diógenes Gasparini (O Município e o Parcelamento do
Solo, Caderno CEPAM 2, São Paulo, 1982, p. 122), para quem o crime de loteamento irregular pode ser praticado por
funcionário público, como tal - aduziu S. Exa. - considerando-se o Prefeito Municipal, para efeitos penais (f. 244).
A Procuradoria-Geral, em parecer do il. Subprocurador-Geral Edson de Almeida, opinou pelo deferimento da
ordem.
(...)
É o relatório.
Voto: Depois de refutar com razão a inconstitucionalidade superveniente da L. 6.766/79, à vista do art. 30, VIII, da
Constituição, tese aliás em que já não insiste o impetrante, aduz o parecer da Procuradoria-Geral para concluir pela
concessão do habeas-corpus (f. 248, 250):
"... tem razão o impetrante quando sustenta que o Prefeito Municipal não pode ser sujeito ativo do delito do
art. 50 da Lei 6.766/79. No caso, trata-se de loteamento de área expropriada para implantação de uma vila
popular. Como ensina José Afonso da Silva, o poder público, ao executar trabalhos de arruamento e
loteamento, não age como loteador particular, com o fim de transacionar lotes para obtenção de lucro, mas na
sua função própria de urbanizar com o objetivo de criar melhores condições de habitabilidade como agora
estatui o art. 23, IX da CF/88 (Direito Urbanístico Brasileiro. 2ª ed. São Paulo, Malheiros, 1995, p. 296, nota
13).
Ou seja, loteamento efetivado pelo Poder Público, a partir de uma desapropriação, não se confunde
com o parcelamento do solo urbano previsto na Lei 6.766/79, "precisamente porque se trata de uma
atividade que se desenvolve mediante atuação do Poder Público, ao contrário do parcelamento do
solo para fins urbanos, previstos naquela lei, que tradicionalmente é exercida por particulares" (op.
cit. p. 343).
Dentro dessa perspectiva cabe lembrar a lição de Ruy Rosado de Aguiar, coligida por Alberto da
Silva Franco et alii: "A lei não previu a hipótese de punição do loteador público, pois não
descreveu a conduta de quem, no exercício da função estatal, seja federal, estadual ou mesmo
municipal, da administração direta ou indireta, pratique o crime funcional de determinar a execução
de parcelamento irregular. Portanto, o funcionário, enquanto tal, por atos realizados na função, não
pode ser considerado sujeito ativo do delito" (Leis Penais Especiais e sua Interpretação
Jurisprudencial. 5ª ed. São Paulo, RT, 1995, p. 1.340, nota 1.01).
Aliás, a matéria não é pacífica no próprio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,
como exemplifica o acórdão do Processo-Crime 693 035 081, trazido pelo impetrante e que, data
venia, adotou a melhor orientação (fls. 158):
'Esta lei visa resguardar a Administração Pública e proteger os adquirentes de imóveis loteados contra a
ganância dos responsáveis por empreendimentos desta natureza, lançados no mercado imobiliário sem as
mínimas condições e irregularidades, verdadeiras arapucas causadoras de prejuízos materiais às
populações pobres, que levadas pela esperança de adquirir um pequeno espaço de terra para construir a
sua moradia, são enganadas e compram imóveis que jamais poderão regularizar.
Assim, entendo que a Administração Pública, através do seu representante, no caso o Prefeito Municipal,
não pode ser sujeito ativo desta espécie de delito, anda mais quando não visa lucro, mas tão-somente
resolver o grave problema habitacional da população carente e desprotegida, tanto que inicialmente
conferiu o direito de uso da gleba.'
É certo que o Prefeito Municipal, pelos eventuais desvios apurados na desapropriação ou na execução do
loteamento, poderá, em tese, responder penalmente nos termos do Decreto 201/67 ou mesmo do Código
Penal, quanto às condutas não tipificadas na lei especial. Contudo, enquanto Prefeito, não pode ter sua
conduta enquadrada penalmente na Lei 6.766/79."