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PC-DF

SUMÁRIO

Legislação Penal Extravagante


Lei nº 10.826/2003 e alterações (Estatuto do Desarmamento) ............................................................................................3

Lei nº 8.072/1990 e alterações (Crimes Hediondos)............................................................................................................28

Lei nº 7.716/1989 e alterações (Crimes Resultantes de Preconceitos de Raça ou de Cor) .................................................41

Lei nº 5.553/1968 (Dispõe sobre a Apresentação e uso de Documentos de Iden ficação Pessoal) .................................48

Lei nº 4.898/1965 (Direito de Representação e o Processo de Responsabilidade Administra va, Civil e Penal,
nos casos de Abuso de Autoridade) ....................................................................................................................................49

Lei nº 9.455/1997 (Definição dos Crimes de Tortura) .........................................................................................................61

Lei nº 8.069/1990 e alterações (Estatuto da Criança e do Adolescente) ............................................................................70

Lei nº 10.741/2003 e alterações (Estatuto do Idoso).........................................................................................................106

Lei nº 9.034/1995 e alterações (Crime Organizado) .........................................................................................................122

Lei nº 9.296/1996 (Escuta Telefônica) ...............................................................................................................................131

Lei nº 7.492/1986 (Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) ...................................................................................142

Lei nº 2.252/1954 (Corrupção de Menores) ......................................................................................................................155

Lei nº 4.737/1965 e alterações (Código Eleitoral) .............................................................................................................158

Lei nº 9.503/1997 e alterações (Código de Trânsito Brasileiro) ........................................................................................405

Lei nº 7.210/1984 e alterações (Lei de Execução Penal) ...................................................................................................503

Lei nº 9.099/1995 e alterações (Juizados Especiais Cíveis e Criminais) ............................................................................204

Lei nº 10.259/2001 e alterações (Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Jus ça Federal) ..........................282

Lei nº 8.137/1990 e alterações (Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e outras Relações de Consumo) .........233

Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha – Violência domés ca e familiar contra a mulher) ..........................................245

Lei nº 11.343/2006 (Sistema Nacional de Polí cas Públicas sobre Drogas) .....................................................................258

Título II da Lei nº 8.078/1990 e alterações (Crimes contra as Relações de Consumo) ...................................................284

Decreto-Lei nº 3.688/1941 (Lei das Contravenções Penais) .............................................................................................329

Lei nº 9.605/1998 e alterações (Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente) ......................................................................350

Lei nº 8.429/1992 e alterações (Enriquecimento Ilícito no Exercício de Mandato, Cargo, Emprego ou Função
na Administração Pública Direta, Indireta ou Fundacional) .............................................................................................539

Declaração Universal dos Direitos Humanos, Proclamada pela Resolução nº 217-A (III) da Assembleia Geral
das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948...............................................................................................................545
LEGISLAÇÃO PENAL
EXTRAVAGANTE Sérgio Bautzer / André Portela / Isabela Lisboa / Weslei Machado Alves /
Juliane Alcântara / Edgard Antônio Lemos Alves / Rafaela Brito

Sérgio Bautzer / André Portela a) comprovação de idoneidade, com a apresentação de


cer dões nega vas de antecedentes criminais fornecidas
pela Jus ça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não es-
ESTATUTO DO DESARMAMENTO tar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal,
que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;
Crimes do Estatuto do Desarmamento b) apresentação de documento comprobatório de
ocupação lícita e de residência certa;
O art. 12 do Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003) c) comprovação de capacidade técnica e de ap dão
trata da posse ilegal de arma de fogo, acessórios e munições de psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas
uso permi do. Se for arma de uso restrito, estará configurado na forma disposta no regulamento da Lei nº 10.826/2003.
o crime do art. 16. O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de
fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabeleci-
Posse irregular de arma de fogo de uso permi do dos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo
intransferível esta autorização.
Dispõe o art. 12 da lei em estudo: A aquisição de munição somente poderá ser feita no
calibre correspondente à arma registrada e na quan dade
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, estabelecida em regulamento.
acessório ou munição, de uso permi do, em desacordo A empresa que comercializar arma de fogo em território
com determinação legal ou regulamentar, no interior nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade compe-
de sua residência ou dependência desta, ou, ainda tente, como também a manter banco de dados com todas as
no seu local de trabalho, desde que seja o tular ou caracterís cas da arma e cópia dos documentos dispostos na lei.
o responsável legal do estabelecimento ou empresa: A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. e munições responde legalmente por essas mercadorias,
ficando registradas como de sua propriedade enquanto não
Diante da pena imposta no preceito secundário, é pos- forem vendidas.
sível a concessão de fiança, pela Autoridade Policial, após Será aplicada multa à empresa de produção ou comér-
a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, na hipótese de cio de armamentos que realizar publicidade para venda,
crime de Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso Permi do1. es mulando o uso indiscriminado de armas de fogo, exceto
O objeto jurídico, que é o bem protegido pela norma, nas publicações especializadas2.
é a incolumidade pública (segurança da cole vidade). Incó- A comercialização de armas de fogo, acessórios e muni-
lume significa livre de perigo. ções entre pessoas sicas somente será efe vada mediante
Objeto material, que é a coisa sobre a qual recai a con- autorização do Sinarm.
duta do criminoso, no caso, é arma de fogo, acessório ou Elemento espacial (modal) do tipo: a pessoa pode
munição de uso permi do. apenas ter a arma em casa. No local de trabalho, o único
Sujeito a vo: quando se tratar de posse de arma de que tem a posse é o proprietário ou responsável legal pelo
fogo, acessório ou munição no interior de residência ou estabelecimento da pessoa jurídica.
dependência desta, o crime poderá ser pra cado por qual-
quer pessoa. De outra parte, o crime será próprio quando Acerca do tema, vale a pena conferir julgado da 6ª
se tratar de pessoa na posse de arma de fogo, acessório ou Turma do STJ:
munição em seu local de trabalho, pois apenas tular ou o
responsável legal pelo estabelecimento podem pra cá-lo. Apreensão de arma em caminhão. Tipificação.
Sujeito passivo (ví ma) do crime é a cole vidade.
Elementos do po: possuir e manter sob sua guarda; a O veículo u lizado profissionalmente não pode ser
doutrina diferencia as condutas dizendo que possuir é estar considerado “local de trabalho” para pificar a con-
na posse e manter sob a guarda é manter sob sua vigilância. duta como posse de arma de fogo de uso permi do
Arma de fogo de uso permi do é aquela cuja u lização é (art. 12 da Lei nº 10.826/2003). No caso, um moto-
autorizada a pessoas sicas, bem como a pessoas jurídicas, rista de caminhão profissional foi parado durante
de acordo com as normas do Comando do Exército e nas fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, quando
condições previstas na Lei nº 10.826, de 2003. Cuida-se de foram encontrados dentro do veículo um revólver e
norma penal em branco. O Decreto nº 3.665/2000 define munições intactas. Denunciado por porte ilegal de
quais são as armas de fogo permi das. arma de fogo de uso permi do (art. 14 do Estatuto do
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A arma de fogo, acessório e munição devem estar em Desarmamento), a conduta foi desclassificada para
perfeitas condições de uso. Há necessidade de perícia para posse irregular de arma de fogo de uso permi do
a comprovação da prá ca do crime. Ex.: exame de eficiência (art. 12 do mesmo diploma), reconhecendo-se, ain-
realizado na arma de fogo. da, a aboli o criminis temporária. O entendimento
Elemento norma vo do po: “em desacordo com de- foi reiterado pelo tribunal de origem no julgamento
terminação legal ou regulamentar”, ou seja, em desacordo da apelação. O Min. Relator registrou que a expres-
com o Estatuto do Desarmamento e com seus regulamentos. são “local de trabalho” con da no art. 12 indica um
Basicamente, para ter arma em casa (posse de arma), lugar determinado, não móvel, conhecido, sem alte-
precisa-se de autorização da Polícia Federal, com o aval ração de endereço. Dessa forma, a referida expressão
do Sinarm. não pode abranger todo e qualquer espaço por onde
Para adquirir arma de fogo de uso permi do, o interessa- o caminhão transitar, pois tal circunstância está sim
do deverá, além de declarar a efe va necessidade, atender no âmbito da conduta prevista como porte de arma
aos seguintes requisitos:
2
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs-
1
Tema cobrado na seguinte prova: DRS/Acadepol/SSP-MG/PC/Delegado/2007. tuto/2009.

3
de fogo. Precedente citado: HC nº 16.052-MG, DJe com fundamento na superve niência de norma
9/12/2008. REsp 1.219.901-MG, Rel. Min. Sebas ão penal descriminalizante. No caso, o paciente fora
Reis Júnior, julgado em 24/4/2012. condenado pela prá ca do crime de posse ilegal de
arma de fogo de uso restrito (Lei nº 9.437/1997,
A autorização é para o proprietário possuir arma no art. 10, § 2º), em decorrência do fato de a polícia,
interior do estabelecimento, e não para ele portar. Se seu em cumprimento a mandado de busca e apreensão,
funcionário possuir arma no local, responderá pelo crime haver encontrado uma pistola em sua residência. A
previsto no art. 14 ou no art. 16 do Estatuto, dependendo impetração sustentava que durante a vaca o legis
se a arma é permi da ou proibida. do Estatuto do Desarmamento, que revogou a citada
Elemento subje vo do po: é crime doloso. Lei nº 9.437/1997, fora criada situação peculiar rela-
Consumação e Tenta va: a consumação se dá quando o vamente à aplicação da norma penal, haja vista que
agente entra ilegalmente na posse da arma. concedido prazo (Lei nº 10.826/2003, arts. 30 e 32)
Para a maioria da doutrina, é crime de mera conduta (não aos proprietários e possuidores de armas de fogo, de
tem resultado naturalís co) e permanente. uso permi do ou restrito, para que regularizassem
Não cabe tenta va. a situação dessas ou efe vassem a sua entrega à
autoridade competente, de modo a caracterizar
Entrega das Armas o ins tuto da aboli o criminis. Entendeu-se que a
Houve um período, que se estendeu de 23/12/2003 a vaca o legis especial prevista nos arts. 30 e 32 da
25/10/2005, para entrega das armas de fogo. Várias medidas Lei nº 10.826/2003 (“Art. 30. Os possuidores e pro-
provisórias prorrogaram o prazo de entrega da armas de fogo prietários de armas de fogo não registradas deverão,
para a Polícia Federal. sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180
Durante o prazo de que a população dispunha para dias (cento e oitenta) dias após a publicação desta
entregá-las à Polícia Federal, o delito de posse de arma lei, solicitar o seu registro apresentando nota fiscal de
de fogo não foi claramente abolido pela referida norma3. compra ou a comprovação da origem lícita da posse,
Diante das prorrogações, surgiram ques onamentos se pelos meios de prova em direito admi dos. Art. 32.
havia ocorrido a aboli o criminis ou a anis a. A jurispru- Os possuidores e proprietários de armas de fogo
dência, tanto do STJ como do STF, diz que houve a chamada não registradas poderão, no prazo de 180 (cento e
aboli o criminis temporária, também chamada de descrimi- oitenta) dias após a publicação desta lei, entregá-las
nalização temporária ou vaca o legis indireta. à Polícia Federal, mediante recibo e, presumindo-se
Houve retroatividade para descriminalizar a posse a boa-fé, poderão ser indenizados, nos termos do
ilegal de arma de fogo na vigência da lei anterior (Lei nº regulamento desta lei.”), não obstante tenha torna-
9.437/1997)? do a pica a posse ilegal de arma de fogo havida no
No STJ prevalece o entendimento de que a abolitio curso do prazo que assinalou, não subtraiu a ilicitude
criminis temporária é retroa va. Senão vejamos o que foi penal da conduta que já era prevista no art. 10, § 2º,
decidido no HC nº 100.561/MT Rel. Ministra Maria Thereza da Lei nº 9.437/1997 e con nuou incriminada, com
de Assis Moura, 6ª Turma: mais rigor, no art. 16 da Lei nº 10.826/2003. Ausente,
assim, estaria o pressuposto fundamental para que
Penal. Processual penal. Habeas corpus. 1. Crime de se vesse como caracterizada a aboli o criminis.
posse de armas. Crime come do na vigência da Lei Ademais, ressaltou-se que o prazo estabelecido
nº 9.437/1997. Vaca o Legis. Aplicação retroa va. nos mencionados disposi vos expressaria o caráter
Possibilidade. Ex nção da punibilidade. 2. Crime transitório da atipicidade por ele indiretamente
de receptação. Trancamento da ação penal. Falta criada. No ponto, enfa zou-se que se trataria de
de prova da origem ilícita dos bens. Alegações que norma temporária que não teria força retroa va,
dependem de aprofundada incursão no conjunto não podendo configurar, pois, aboli o criminis em
probatório. Matéria de mérito. Habeas corpus. Meio relação aos ilícitos come dos em data anterior. HC
incompa vel. 3. Ordem concedida em parte. nº 90.995/SP, Rel. Min. Menezes Direito, 1ª Turma,
1. Esta Corte já firmou entendimento no sen do de 12/2/2008. (HC nº 90.995)
que a vaca o legis estabelecida pelos arts. 30 e 32 da
Lei nº 10.826/2003, para a regularização das armas Com a edição da Lei nº 11.706 foi dado um novo prazo
dos seus proprietários e possuidores, é reconhecida para regularização de armas. A lei presume a boa-fé e admite
hipótese de aboli o criminis temporalis e aplica-se o pagamento de indenização, porém o agente deve agir de
retroa vamente aos delitos de posse de arma pra - maneira espontânea. Se não houver entrega de maneira
cados sob a vigência da Lei nº 9.437/1997. espontânea, por vontade livre do agente, a conduta pica
2. O habeas corpus não se presta a uma aprofun- estará configurada. Dispõe o art. 30 da lei em estudo:
dada incursão no conjunto probatório, de molde a
constatar a inocorrência do crime antecedente ao
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Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de


de receptação. Matéria probatória e a ser analisada
fogo de uso permi do ainda não registrada deverão
em sede de apelação, já interposta.
solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de
3. Ordem concedida, em parte, apenas para declarar
2008, mediante apresentação de documento de
ex nta a punibilidade do paciente rela vamente ao
iden ficação pessoal e comprovante de residência
crime previsto no art. 10, § 2º da Lei nº 9.437/1997,
mantendo, todavia, a imputação pelo crime de fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou
receptação. comprovação da origem lícita da posse, pelos meios
de prova admi dos em direito, ou declaração firmada
Porém no STF, segundo o Informa vo nº 494, foi decidido: na qual constem as caracterís cas da arma e a sua
condição de proprietário, ficando este dispensado do
A Turma indeferiu habeas corpus em que se preten- pagamento de taxas e do cumprimento das demais
dia o reconhecimento da ex nção da punibilidade exigências constantes dos incisos I a III do caput do
art. 4º desta Lei. Para fins do cumprimento do dis-
3
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs- posto no caput deste ar go, o proprietário de arma
tuto/2009. de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia

4
Federal, cer ficado de registro provisório, expedido Diante da pena aplicada no preceito secundário, é pos-
na forma do § 4o do art. 5o desta Lei. (NR) sível a não lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, na hi-
pótese de crime de Omissão de Cautela, previsto no art. 13
Tal norma se estende às munições e acessórios, apesar de da Lei nº 10.826/20034, mas sim de termo circunstanciado.
não haver menção. Os arts. 31 e 32 da lei em comento regem:
Análise do Caput
Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de No caput, trata-se de crime de dupla obje vidade jurídica
fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer porque protege dois bens jurídicos:
tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo A – Incolumidade pública (segurança cole va).
e indenização, nos termos do regulamento desta Lei. É o objeto jurídico imediato protegido por todos os pos
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo penais do Estatuto do Desarmamento.
poderão entregá-la, espontaneamente, mediante reci- B – Menor de 18 anos ou doente mental.
bo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na O objeto mediato é a vida ou a integridade sica do
forma do regulamento, ficando ex nta a punibilidade menor de 18 anos ou do doente mental. É sujeito passivo
de eventual posse irregular da referida arma. o deficiente MENTAL, e não o sico. Não é necessária ne-
nhuma relação, por exemplo, de parentesco, entre sujeito
Por fim, a Lei nº 11.922/2009 prorrogou o prazo de a vo e sujeito passivo.
entrega das armas de fogo de uso permi do até 31 de de- Sujeito a vo: é o possuidor ou proprietário da arma
zembro de 2009. Dispõe o art. 20 da lei mencionada: “Ficam de fogo.
prorrogados para 31 de dezembro de 2009 os prazos de que Objeto material do crime: é a arma de fogo permi da
tratam o § 3º do art. 5º e o art. 30, ambos da Lei nº 10.826, ou restrita.
de 22 de dezembro de 2003.” O crime previsto no caput do art. 13 não tem como
Em texto extraído da internet, “POSSE DE ARMA DE objetos materiais os acessórios e munições, apenas armas
FOGO: é, ou não, crime?” de Noeval de Quadros, o autor de fogo.
nos fornece as seguintes conclusões: Elemento subje vo: é crime culposo (deixar de observar
as cautelas necessárias).
I – O STJ firmou entendimento de que é a pica a E se o responsável dolosamente deixar menor ou doente
conduta de possuir arma de fogo irregularmente mental se apoderar da arma?
tanto de uso permi do [...] quanto de uso restrito ou Dependerá.
proibido [...] até 23 de outubro de 2005 [...] Se for menor de 18 anos, responderá pelo crime pre-
II – A Lei nº 11.706/2008 alterou a redação do art. 30 visto no art. 16, parágrafo único, inciso V, do Estatuto do
do Estatuto do Desarmamento descriminalizando Desarmamento.
novamente posse de arma de fogo de uso permi do Consumação e tenta va: a consumação se dá com o
até 31 de dezembro de 2008 [...] mero apoderamento da arma pelo menor ou doente mental.
III – A Lei nº 11.706 não descriminalizou a conduta de A tenta va é possível? NÃO, pois se trata de crime
possuir arma de fogo de uso proibido ou restrito – culposo.
desde que não passível de registro – e de numeração
raspada ou suprimida. Análise do Parágrafo Único
IV – A nova lei alterou também o art. 32 do Estatuto O parágrafo único do art. 13 do Estatuto do Desarma-
do Desarmamento, criando uma nova causa de ex- mento prevê po penal autônomo, totalmente dis nto do
nção de punibilidade, que é a entrega de qualquer caput e assim disposto:
po de arma de fogo à autoridade policial. Para essa
entrega a lei não previu prazo. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o
V – A pessoa flagrada na posse de arma de fogo de uso proprietário ou diretor responsável de empresa de
permi do, não registrada após 31 de dezembro de segurança e transporte de valores que deixarem
2008, ou na posse de arma de fogo de uso proibido ou de registrar ocorrência policial e de comunicar à
restrito de numeração raspada ou suprimida, desde Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas
24 de outubro de 2005, incidirá em crime. de extravio de arma de fogo, acessório ou munição
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
Vale frisar que o autor Noeval de Quadros elaborou o quatro) horas depois de ocorrido o fato.
texto mencionado antes da edição da Lei nº 11.922/2009.
Cuida-se de crime próprio, pois apenas poderá ser pra -
Omissão de cautela cado pelo diretor ou proprietário de empresa de segurança
ou de transporte de valores.
O crime próprio é aquele que exige uma especial qualida-
Rege o art. 13 da lei em estudo:
de do agente, no caso, ser diretor ou proprietário de empresa
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de segurança ou de transporte de valores.


Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias
O crime consiste em deixar de registrar o bole m de
para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou
ocorrência e em deixar de comunicar à Polícia Federal. O po
pessoa portadora de deficiência mental se apodere
penal exige do sujeito a vo duas comunicações. Após lavrado
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que o B.O., deve ser levado à Polícia Federal.
seja de sua propriedade: E se fizer só uma comunicação?
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. A maioria da doutrina diz que responderá pelo delito,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o já que o Estatuto (Lei nº 10.826/2003) exige as duas comu-
proprietário ou diretor responsável de empresa de nicações.
segurança e transporte de valores que deixarem
Para a minoria, uma só comunicação não configura crime.
de registrar ocorrência policial e de comunicar à
Entende ser o Estado responsável pela comunicação entre
Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas
de extravio de arma de fogo, acessório ou munição seus órgãos. É a corrente da qual nos filiamos.
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
quatro) horas depois de ocorrido o fato. 4
Tema cobrado na seguinte prova: DRS/Acadepol/SSP-MG/PC/Delegado/2007.

5
Os objetos materiais do crime são as armas de fogo de referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Cons tuição
uso permi do ou de uso restrito, bem como munições ou Federal, 7) os integrantes do quadro efe vo dos agentes e
acessórios. guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e
O elemento subje vo do crime em estudo é o dolo. as guardas portuárias, 8) empresas de segurança privada e
A consumação se dá após as primeiras 24 horas depois de transporte de valores cons tuídas, nos termos da lei em
do fato. Cuida-se de crime a prazo. Na verdade, é depois de comento, 9) para os integrantes das en dades de desporto
conhecido o fato, e não simplesmente “ocorrido” o fato. Só é legalmente cons tuídas, cujas a vidades espor vas deman-
possível fazer a comunicação após tomar ciência do extravio, dem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta
perda, roubo ou furto. Salutar dizer que o prazo é de 24 horas, Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.
a par r do momento em que é possível fazer a comunicação. 10) integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Fe-
Não é possível tenta va, já que se trata de um crime deral do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de
omissivo puro e de mera conduta. Auditor-Fiscal e Analista Tributário.
Assim, é permi do o porte de arma de fogo para os
Porte ilegal de arma de fogo de uso permi do integrantes do quadro efe vo dos agentes e guardas prisio-
nais e para as guardas portuárias, desde que comprovada
Arma de fogo é o instrumento mecânico capaz de lançar a capacidade técnica e ap dão psicológica9.
projéteis a distância a par r da explosão de pólvora. A par r Mesmo que o policiamento ostensivo seja de com-
da palavra munição podemos chegar aos projéteis, pólvoras petência das polícias militares estaduais, é permi do aos
e demais artefatos explosivos com que se carregam as armas integrantes das guardas municipais o porte de arma10.
de fogo. Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e
Acessório é o artefato que é acoplado ou serve de apoio cinco) anos que comprovem depender do emprego de arma
para a arma de fogo. de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será
Até 1997, o porte de arma era contravenção penal (art. 19 concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na
da LCP). Em 1997, entrou em vigor a Lei das Armas de Fogo categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso
(Lei nº 9.437/1997), que transformou o porte de arma de permi do, de ro simples, com 1 (um) ou 2 (dois) canos,
fogo em crime, cominando a mesma sanção à posse. de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis),
Em 2003, entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento desde que o interessado comprove a efe va necessidade em
(Lei nº 10.826/2003), mantendo a posse e o porte como crimes. requerimento ao qual deverão ser anexados o documento
A autorização para o porte de arma de fogo de uso per- de iden ficação pessoal, comprovante de residência em área
mi do, em todo o território nacional, é de competência da rural, atestado de bons antecedentes.
Polícia Federal e somente será concedida após autorização O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma
do Sinarm. de fogo, independentemente de outras pificações penais,
É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão com- responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo
petente, sendo que as armas de fogo de uso restrito serão de arma de fogo de uso permi do.
registradas no Comando do Exército5. As armas de fogo u lizadas pelos empregados das empre-
O cer ficado de Registro de Arma de Fogo, com validade sas de segurança privada e de transporte de valores, cons tuí-
em todo o território nacional, não autoriza o seu proprie- das na forma da lei, serão de propriedade, responsabilidade
tário ao porte e transporte da arma registrada6. e guarda das respec vas empresas, somente podendo ser
A autorização de porte de arma de fogo perderá auto- u lizadas quando em serviço, devendo essas observar as
ma camente sua eficácia caso o portador dela seja de do condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão
ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de competente, sendo o cer ficado de registro e a autorização
substâncias químicas ou alucinógenas. de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da empresa.
O porte de arma, segundo o Estatuto do Desarmamen-
to, pode ser concedido àqueles a quem a ins tuição ou a Análise do art. 14
corporação autorize a u lização em razão do exercício de Dispõe o art. 14 do Estatuto do Desarmamento:
sua a vidade. Assim, um delegado de polícia que esteja
aposentado não tem direito ao porte de armas; o preten- Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber,
dido direito deve ser pleiteado nos moldes previstos pela ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gra-
legislação para os par culares em geral7. tuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter
É proibido o porte de arma de fogo em todo o território sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e munição, de uso permi do, sem autorização e em
para: 1) os integrantes das Forças Armadas, 2) os integrantes desacordo com determinação legal ou regulamentar:
de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Cons- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
tuição Federal, 3) os integrantes das guardas municipais das
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capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 Sujeito a vo: é crime comum, ou seja, pode ser pra cado
(quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no por qualquer pessoa.
regulamento da lei em estudo, 4) os integrantes das guardas A pena será aumentada da metade se o crime for pra-
municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinquen- cado por integrante dos órgãos e empresas referidas nos
ta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, arts. 6º, 7º e 8º do Estatuto do Desarmamento.
quando em serviço8, 5) os agentes operacionais da Agência Houve importante alteração no Estatuto do Desarma-
Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de mento em relação à Lei nº 9.437/1997. Atualmente, possuir
Segurança do Gabinete de Segurança Ins tucional da Presi- o agente condenação anterior por crime contra a pessoa ou
dência da República, 6) os integrantes dos órgãos policiais por tráfico ilícito de entorpecentes não qualifica o crime de
porte ilegal de arma de fogo de uso permi do11.
5
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 02-2006.
6
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 02-2006.
7 9
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 02-2006.
10
Escrivão de Polícia/2009. Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2004.
8 11
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs- Tema cobrado na seguinte prova: NCE/MPE-RJ/Técnico Superior Proces-
tuto/2009. sual/2007.

6
Sujeito passivo: é a cole vidade. Trancamento da ação penal. A picidade. Inexistência.
Cuida-se de po misto alterna vo (prevê várias condu- Desnecessidade de a arma estar municiada
tas). É também conhecido como po de conduta múl pla, para caracterizar crime de porte ilegal. Precedentes
de conduta variada ou plurinuclear. Se forem come das desta Corte Superior. 1. Para a configuração do delito
no mesmo contexto fá co, será crime único. Por exemplo, previsto no art. 14 da Lei nº 10.826/2003, basta que
o indivíduo que está portando em via pública duas armas o agente porte a arma de fogo sem autorização ou
de fogo de uso permi do responderá apenas por um crime. em desacordo com a determinação legal, o que torna
Elemento norma vo: sem autorização ou em desacordo irrelevante o fato de a arma encontrar-se desmu-
com determinação legal. O sujeito a vo não porta a arma de niciada.
fogo de acordo com o Estatuto do Desarmamento. Precedentes do Superior Tribunal de Jus ça. 2.
Recurso desprovido. (STJ – RHC nº 200601953462 –
Diferença do crime de porte para o crime de posse (20136-SC) – 5ª Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU de
13/11/2006, p. 275)
Ambos têm como objetos materiais armas de fogo, mu-
nição e acessórios de uso permi do. Em 2012, a 6ª Turma do STJ decidiu:
Não se pode confundir posse irregular de arma de fogo
com o porte ilegal de arma de fogo, pois tais condutas res- Arma de fogo desmuniciada. Tipicidade.
taram bem delineadas. A Turma, acompanhando recente assentada, quando
A posse consiste em manter a arma de fogo no interior de do julgamento, por maioria, do REsp 1.193.805-SP,
residência (ou dependência desta) ou no local de trabalho. manteve o entendimento de que o porte ilegal de
O porte, por sua vez, pressupõe que a arma de fogo esteja
arma de fogo é crime de perigo abstrato, cuja con-
fora da residência ou local de trabalho.
sumação se caracteriza pelo simples ato de alguém
levar consigo arma de fogo sem autorização ou em
• Portar arma de fogo desmuniciada configura crime?
Atualmente, a circunstância de estar a arma municiada desacordo com determinação legal – sendo irrelevan-
ou não, é relevante para a configuração do delito de porte te a demonstração de efe vo caráter ofensivo. Isso
ilegal de arma de fogo12. porque, nos termos do disposto no art. 16, parágrafo
Há duas correntes: único, IV, da Lei nº 10.826/2003, o legislador teve
Primeira corrente: arma desmuniciada configura crime, como objetivo proteger a incolumidade pública,
pouco importando se é possível o rápido municiamento. É a transcendendo a mera proteção à incolumidade
posição do STJ na maioria dos julgados. pessoal, bastando, assim, para a configuração do
delito em discussão a probabilidade de dano, e não
Habeas corpus. Penal. Estatuto do Desarmamento. sua ocorrência. Segundo se observou, a lei antecipa
Porte ilegal (art. 14 da Lei nº 10.826/2003). Aboli o a punição para o ato de portar arma de fogo; é, por-
criminis temporária. Inocorrência. Ex nção da puni- tanto, um po penal preven vo, que busca minimizar
bilidade. Impossibilidade. Desnecessidade de a arma o risco de comportamentos que vêm produzindo
estar municiada para caracterizar crime de porte ilegal. efeitos danosos à sociedade, na tenta va de garan r
Precedentes do STJ. 1. Consoante o entendimento aos cidadãos o exercício do direito à segurança e à
desta corte, diante da literalidade dos ar gos rela vos própria vida. Conclui-se, assim, ser irrelevante aferir
ao prazo legal para regularização do registro da arma a eficácia da arma para a configuração do po penal,
(arts. 30, 31 e 32 da Lei nº 10.826/2003), a descrimina- que é misto-alterna vo, em que se consubstanciam,
lização temporária ocorre exclusivamente em relação justamente, as condutas que o legislador entendeu
às condutas delituosas rela vas à posse de arma de por bem prevenir, seja ela o simples porte de mu-
fogo. 2. Não se pode confundir a posse de arma de fogo nição ou mesmo o porte de arma desmuniciada.
com o porte de arma de fogo. Segundo o estatuto do Rela vamente ao regime inicial de cumprimento da
desarmamento, a posse consiste em manter no inte- pena, reputou-se mais adequada ao caso a fixação
rior de residência (ou dependência desta) ou no local do semiaberto; pois, apesar da reincidência do
de trabalho a arma de fogo, enquanto que o porte, paciente, a pena-base foi fixada no mínimo legal –
por sua vez, pressupõe que a arma de fogo esteja fora três anos – aplicação direta da Súm. nº 269/STJ. HC
da residência ou do local de trabalho. 3. Na espécie, nº 211.823-SP, Rel. Min. Sebas ão Reis Júnior, julgado
o paciente restou denunciado pelo porte ilegal de em 22/3/2012.
arma (art. 14, da Lei nº 10.826/2003). Nesse contexto,
a hipótese de aboli o criminis temporária não alcança E ainda:
a conduta pra cada, tornando-se, pois, inviável o aco-
lhimento da pretensão ora deduzida. 4. Não prospera Porte. Arma de Fogo desmuniciada. Munição in-
a alegação de que a arma, estando desmuniciada, compa vel.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

não a ngiria nenhum bem juridicamente tutelado, In casu, o paciente foi flagrado em via pública com
inexis ndo, assim, o delito de porte ilegal de arma. uma pistola calibre 380 com numeração raspada
É que, a teor da jurisprudência consolidada desta e um cartucho com nove munições, calibre 9 mm,
corte, configura-se o referido crime ainda que a arma de uso restrito. Em primeiro grau, foi absolvido do
esteja desmuniciada. 5. Ordem denegada. (STJ – HC porte de arma, tendo em vista a falta de potenciali-
nº 200501561630 – (48117-GO) – 5ª Turma, Rel. Min. dade lesiva do instrumento, constatada por meio de
Laurita Vaz, DJU de 16/10/2006, p. 390) (Grifo nosso). perícia. Entendeu, ainda, o magistrado que não se
jus ficaria a condenação pelo porte de munição, já
Recurso ordinário em habeas corpus. que os projéteis não poderiam ser u lizados. O tri-
Penal. Porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. bunal a quo deu provimento ao apelo ministerial ao
Art. 14 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desar- entender que se consubstanciavam delitos de perigo
mamento). abstrato e condenou o paciente, por ambos os deli-
12
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB-TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-
tos, a quatro anos e seis meses de reclusão no regime
MA-ES-DF-CE-BA-AM-AP-AL-AC/1º Exame da Ordem/2007. fechado e vinte dias-multa. A Turma, ao prosseguir o

7
julgamento, após o voto-vista do Min. Sebas ão Reis Turma. Precedentes citados do STF: RHC 81.057-SP,
Júnior, denegando a ordem de habeas corpus, no que DJ 29/4/2005; HC 99.449-MG, DJe 11/2/2010; do STJ:
foi acompanhado pelo Min. Vasco Della Gius na, e o HC 76.998-MS, DJe 22/2/2010, e HC 70.544-RJ, DJe
voto da Min. Maria Thereza de Assis Moura, acompa- 3/8/2009. HC 124.907-MG, Rel.
nhando o voto do Min. Relator, verificou-se o empate Min. Og Fernandes, julgado em 6/9/2011.
na votação. Prevalecendo a situação mais favorável
ao acusado, concedeu-se a ordem de habeas corpus Em 9 de Junho de 2009, conforme no cia veiculada no
nos termos do voto Min. Relator, condutor da tese site <www.s .gov.br>, a 2ª Turma do STF arquivou denúncia
vencedora, cujo entendimento firmado no âmbito da contra acusado de porte ilegal de arma:
Sexta Turma, a par r do julgamento do AgRg no REsp
998.993-RS, é que, “tratando-se de crime de porte Por 3 votos a 2, a Segunda Turma do Supremo Tri-
de arma de fogo, faz-se necessária a comprovação bunal Federal (STF) determinou o arquivamento de
da potencialidade do instrumento, já que o princípio ação penal aberta com base em acusação de porte
da ofensividade em direito penal exige um mínimo ilegal de arma porque o denunciado não dispunha
de perigo concreto ao bem jurídico tutelado pela de munição para efetuar disparos.
norma, não bastando a simples indicação de perigo A decisão foi tomada nesta terça-feira (9), no julga-
abstrato.” Quanto ao porte de munição de uso restri- mento de Habeas Corpus (HC nº 97.811) impetrado
to, apesar de tais munições terem sido aprovadas no
em defesa de C.N.A., denunciado após ter sido preso
teste de eficiência, não ofereceram perigo concreto
na cidade de Suzano (SP) com uma espingarda. Ele foi
de lesão, já que a arma de fogo apreendida, além
de ineficiente, era de calibre dis nto. O Min. Relator de do porque carregava a espingarda no banco de
ressaltou que, se a Sexta Turma tem proclamado trás do seu carro e não nha porte de arma.
que é a pica a conduta de quem porta arma de fogo Segundo a defesa, apesar de a arma estar sem muni-
desmuniciada, quanto mais a de quem leva consigo ção e envolvida em um plás co, os policiais militares
munição sem arma adequada ao alcance. Aliás, não prenderam C.N.A. em flagrante pelo crime de porte
se mostraria sequer razoável absolver o paciente do ilegal de arma de fogo. A prisão foi confirmada pelo
crime de porte ilegal de arma de fogo ao fundamento delegado, mas, posteriormente, o juiz concedeu a
de que o instrumento é ineficiente para disparos e liberdade provisória. No entanto, C.N.A. passou a
condená-lo, de outro lado, pelo porte da munição. responder a uma ação penal pelo crime.
Precedente citado: AgRg no REsp 998.993-RS, DJe Para os ministros Eros Grau, Cezar Peluso e Celso
8/6/2009. HC nº 118.773-RS, Rel. Min. Og Fernandes, de Mello, a conduta de C.N.A. não está prevista no
julgado em 16/2/2012. Estatuto do Desarmamento (10.826/2003). “Arma
desmuniciada e sem munição próxima não configura
Segunda corrente: não configura crime previsto no o po [penal]”, ressaltou Peluso.
Estatuto se arma de fogo es ver desmuniciada e sem pos- O ministro acrescentou que no relatório do caso
sibilidade de pronto municiamento. No RHC nº 81.057, 1ª consta que a denúncia descreve que a espingarda
Turma, DJ de 29/4/2005, o STF decidiu que estava sem munição. “É que espingarda, [para se
estar] com munição próxima, só se ele [o acusado]
No porte de arma de fogo desmuniciada, é preciso se comportasse que nem ar sta de cinema, com
dis nguir duas situações, à luz do princípio de dis- cinturão etc.”, disse Peluso.
ponibilidade: (1) se o agente traz consigo a arma Para a ministra Ellen Gracie, relatora do habeas cor-
desmuniciada, mas tem a munição adequada à mão, pus, e o ministro Joaquim Barbosa, o arquivamento
de modo a viabilizar sem demora significa va o mu- da ação penal nesses casos é prematuro quando
niciamento e, em consequência, o eventual disparo,
existe laudo pericial que ateste a eficácia da arma
tem-se arma disponível e o fato realiza o po; (2) ao
para a realização de disparos.
contrário, se a munição não existe ou está em lugar
inacessível de imediato, não há a imprescindível “No caso, a arma foi periciada e encontrava-se [em
disponibilidade da arma de fogo, como tal – isto é, plenas condições de uso]”, disse a ministra. Segundo
como artefato idôneo a produzir disparo – e, por isso, ela, o laudo pericial registra que a arma “se mostrou
não se realiza a figura pica. eficaz para produzir disparos, bem como apresentou
ves gios de resíduos de ros”.
Adotando o posicionamento do STF, o STJ no HC
nº 113.050-SP, 6ª Turma, contrariando posição anteriormen- Conforme veiculado no Informa vo nº 550, o STF, a 1ª
te adotada, decidiu pela a picidade material da conduta de Turma, decidiu:
porte de arma de fogo sem munição, e em consequência
Porte ilegal de arma e ausência de munição.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

determinou o arquivamento da ação penal.


Para a configuração do delito de porte ilegal de arma
Recentemente, a 6ª Turma do STJ ra ficou seu po- de fogo é irrelevante o fato de a arma encontrar-se
sicionamento: desmuniciada e de o agente não ter a pronta disponi-
Conforme o juízo de primeiro grau, a paciente foi bilidade de munição. Com base nesse entendimento,
presa em flagrante quando trazia consigo uma arma a Turma desproveu recurso ordinário em habeas
de fogo calibre 22 desmuniciada que, periciada, corpus interposto por condenado pela prá ca do crime
demonstrou estar apta a realizar disparos. Assim, de porte ilegal de arma de fogo (Lei nº 9.437/1997,
a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, art. 10), no qual se alegava a a picidade do porte de
concedeu a ordem com base no art. 386, III, do CPP revólver desmuniciado ante a ausência de lesão ao
e absolveu a paciente em relação à acusação que bem jurídico penalmente protegido. Assentou-se que
lhe é dirigida por porte ilegal de arma de fogo de a obje vidade jurídica da norma penal transcende a
uso permi do, por entender que o fato de a arma mera proteção da incolumidade pessoal para alcan-
de fogo estar desmuniciada afasta a picidade da çar a tutela da liberdade individual e do corpo social
conduta, conforme reiterada jurisprudência da Sexta como um todo, asseguradas ambas pelo incremento

8
dos níveis de segurança cole va que a lei propicia. Há quem defenda que, pelo simples fato de portar
Enfa zou-se, destarte, que se mostraria irrelevante, acessório ou munição, já há configuração de crime, com
no caso, cogitar-se da eficácia da arma para confi- mais razão se punirá quem es ver com uma arma de fogo
guração do po penal em comento – isto é, se ela sem munição. Para nós, é crime portar munições de arma
estaria, ou não, municiada ou se a munição estaria, de fogo14.
ou não, ao alcance das mãos – , porque a hipótese Sobre o porte ilegal de munição, decidiu o STJ:
seria de crime de perigo abstrato para cuja caracte-
rização desimporta o resultado concreto da ação. Trata-se da necessidade ou não de comprovação da
(RHC nº 90.197/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, potencialidade lesiva para configuração do delito de
9/6/2009) porte ilegal de munição. Nas instâncias ordinárias,
o juiz condenou o ora recorrido, como incurso no
Mais recentemente, a 2ª Turma do STF decidiu:
art. 14 (caput) da Lei nº 10.826/2003, a dois anos
de reclusão em regime aberto e 10 dias-multa,
Porte Ilegal de Arma e Ausência de Munição
subs tuída a sanção por duas medidas restri vas
O fato de a arma de fogo encontrar-se desmuniciada
torna a pica a conduta prevista no art. 14 da Lei de direitos, mas o Tribunal a quo proveu sua apela-
nº 10.826/2003 [“Portar, deter, adquirir, fornecer, ção, absolvendo-o. Daí que o MP estadual interpôs
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda o REsp, afirmando que o porte de munição sem
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, autorização e em desacordo com a determinação
manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório legal ou regulamentar não depende da comprovação
ou munição, de uso permi do, sem autorização e em da potencialidade lesiva da munição, tal como é,
desacordo com determinação legal ou regulamentar: também, no caso da presença de arma de fogo. O
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul- Min. Relator, invocando precedente do STF. Consta
ta.”]. Com base nesse entendimento, a Turma, por HC nº 93.876-RJ, 1ª Turma, julgado em 28/4/2009,
maioria, deferiu habeas corpus impetrado em favor ainda não publicado, entendeu que se está diante
de condenado pela prá ca do crime de porte ilegal de de crime de perigo abstrato, de forma que tão só o
arma de fogo de uso permi do (Lei nº 10.826/2003, comportamento do agente de portar munição sem
art. 14), haja vista que a arma encontrava-se desmu- autorização ou em desacordo com determinação le-
niciada. Vencida a Min. Ellen Gracie, relatora, que, por gal ou regulamentar é suficiente para a configuração
reputar pica a conduta em tela, indeferia o writ. HC do delito em debate. Observou, ainda, que não via
nº 99.449/MG, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o previsão pica em que o legislador tenha desejado
acórdão Min. Cezar Peluso, 25/8/2009. a análise caso a caso da comprovação de que a con-
duta do agente produziu concretamente situação
Em 2009, a Sexta Turma do STJ decidiu: de perigo. Porém, essa posição ficou vencida após
a divergência inaugurada pelo Min. Nilson Naves,
A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, que concluiu pela a picidade da conduta, conforme
deu provimento ao agravo regimental a fim de con- posição similar ao porte de arma sem munição, que,
ceder a ordem de habeas corpus para restabelecer por não possuir eficácia, não pode ser considerada
a sentença. Para o Min. Nilson Naves, o condutor da arma. Precedente citado: HC nº 70.544-RJ, 6ª Turma,
tese vencedora, conforme precedente, a arma de DJe 3/8/2009. REsp nº 1.113.247-RS, Rel. originário
fogo sem munição não possui eficácia, por isso não Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado
pode ser considerada arma. Consequentemente, do TJ-CE), Rel. para acórdão Min. Nilson Naves, 6ª
não comete o crime de porte ilegal de arma de fogo Turma, julgado em 15/9/2009.
previsto na Lei nº 10.826/2003 aquele que tem con-
sigo arma de fogo desmuniciada. Precedente citado: Em 2012, a 5ª Turma do STJ decidiu que:
HC nº 70.544-RJ, 6ª Turma, DJe 3/8/2009. AgRg no
HC nº 76.998-MS, Rel. originário Min. Haroldo Ro- Porte ilegal de munição. Ausência de arma de fogo.
drigues (Desembargador convocado do TJ-CE), Rel. A Turma, por maioria, absolveu o paciente do crime
para acórdão Min. Nilson Naves, 6ª Turma, julgado de porte ilegal de munição; ele fora preso com um
em 15/9/2009. único projé l, sem ter havido apreensão da arma de
fogo. O Min. Relator entendeu que se trata de crime
Assim, de acordo com o posicionamento do STJ, a tulo de perigo abstrato, em que não importa se a munição
de exemplo, imaginemos que Alfredo, imputável, transpor- foi apreendida com a arma ou isoladamente para
tava em seu veículo um revólver de calibre 38, quando foi caracterizar o delito. Contudo, no caso, verificou que
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

abordado em uma operação policial de trânsito. A diligência


não houve lesão ao bem jurídico tutelado na norma
policial resultou na localização da arma, desmuniciada,
penal, que visa resguardar a segurança pública,
embaixo do banco do motorista. Em um dos bolsos da
mochila de Alfredo foram localizados 5 projéteis do mesmo pois a munição foi u lizada para suposta ameaça,
calibre. Indagado a respeito, Alfredo declarou não possuir e não é esse po de perigo, restrito a uma única
autorização legal para o porte da arma nem o respec vo pessoa, que o po penal visa evitar. E, por se tratar
cer ficado de registro. O fato foi apresentado à autoridade de apenas um projé l, entendeu pela ofensividade
policial competente. Nessa situação, caberá à autoridade mínima da conduta, portanto por sua a picidade.
somente a apreensão da arma e das munições e a imedia- A Min. Maria Thereza de Assis Moura e o Min. Og
ta liberação de Alfredo, visto que, estando o armamento Fernandes também reconheceram a a picidade da
desmuniciado, não se caracteriza o crime de porte ilegal conduta, mas absolveram o paciente sob outro fun-
de arma de fogo13. damento: o crime de porte de munição é de perigo
concreto, ou seja, a munição sem arma não apresenta
13
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil
14
1ª Classe/2008. Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004.

9
potencialidade lesiva. Precedente citado do STF: HC de perícia – atestando-se a potencialidade lesiva das
nº 96.532-RS, DJe 26/11/2009. HC nº 194.468- munições – para a configuração do delito. Asseverou-
MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em -se que, no caso, a questão envolveria a problemá ca
17/4/2012. da aplicação da lei no tempo, perquirindo-se qual
norma estaria em vigor na data da prá ca criminosa.
Porte de arma desmontada configura crime previsto Salientou-se que, na época do crime, o art. 25 da Lei
no art. 14? Depende do caso concreto; se possível montá-la nº 10.826/2003 determinava a realização de perícia
rapidamente e municiá-la, pode configurar o delito. Já o em armas de fogo, acessórios ou munições apre-
porte de arma inapta para efetuar disparos configura crime endidos (“Armas de fogo, acessórios ou munições
impossível. apreendidos serão, após elaboração do laudo pericial
Sobre a necessidade de realização de exame pericial na e sua juntada aos autos, encaminhados pelo juiz com-
arma de fogo, com a finalidade de se determinar sua capa- petente, quando não mais interessarem à persecução
cidade de efetuar disparos, a 1ª Turma do STF decidiu que: penal, ao Comando do Exército, para destruição, no
prazo máximo de 48 horas.”), sendo tal disposi vo
Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial alterado pela Lei nº 11.706/2008, a qual estabele-
ceu que a perícia ficaria restrita às armas de fogo.
A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus im- Aduziu-se não ter cabimento tomar preceitos legais
petrado pela Defensoria Pública da União em favor como inócuos, mormente quando disserem respeito
de condenado pela prá ca do crime de porte ilegal a certo po. No ponto, consignou-se haver, no ar go
de arma de fogo (Lei nº 9.437/1997, art. 10) no qual aludido, a exigência de elaboração do laudo pericial e
se sustentava a necessidade de exame pericial para a juntada do processo, sendo única a sua razão de ser:
a configuração do delito. Alegava que, embora a comprovar a potencialidade quer do revólver, quer
perícia vesse sido feita na arma de fogo apreendi- do acessório ou da munição apreendidos. Frisou-se,
da, esta fora realizada por policiais que atuaram no assim, que, ante o fato de a formalidade estar ligada
inquérito e sem qualificação necessária. Reputou-se ao próprio po penal, não caberia a inversão do ônus
que eventual nulidade do exame pericial na arma não da prova para se atribuir ao acusado a comprovação
descaracterizaria o delito atualmente disposto no art. da falta de potencialidade quer da arma, do acessório
14, caput, da Lei nº 10.826/2003, quando exis r um ou da munição. Ordem concedida para restabelecer
conjunto probatório que permita ao julgador formar o entendimento sufragado pelo Tribunal de Jus ça
convicção no sen do da existência do crime imputado do Estado de Santa Catarina que implicara a absol-
ao réu, bem como da autoria do fato. Salientou-se, vição do paciente. HC nº 97.209/SC, rel. Min. Marco
ainda, que os policiais militares, conquanto não Aurélio, 16/3/2010. (HC nº 97.209)
haja nos autos a comprovação de possuírem curso
superior, teriam condições de avaliar a potenciali- A 2ª Turma do STF decidiu recentemente acerca do tema
dade lesiva da arma. Registrou-se, contudo, que a em comento:
sentença condenatória sequer se baseara na perícia
feita por esses policiais, mas sim na declaração do Porte Ilegal de Munição - 3
próprio paciente que, quando interrogado, dissera A Turma retomou julgamento de habeas corpus em
que usava aquela arma para a sua defesa pessoal, que se pretende, por ausência de potencialidade
demonstrando saber de sua potencialidade. Vencido lesiva ao bem juridicamente protegido, o tranca-
o Min. Marco Aurélio, que deferia o writ por consi- mento de ação penal instaurada contra denunciado
derar que o laudo pericial, ante o teor do art. 25 da pela suposta prá ca do crime de porte de munição
Lei nº 10.826/2003 [As armas de fogo apreendidas, sem autorização legal (Lei nº 10.826/2003, art. 14),
após a elaboração do laudo pericial e sua juntada aos sob o argumento de que o princípio da intervenção
autos, quando não mais interessarem à persecução mínima no Direito Penal limita a atuação estatal nesta
penal serão encaminhadas pelo juiz competente ao matéria – v. Informa vos nos 457 e 470. O Min. Cezar
Comando do Exército, no prazo máximo de 48 (qua- Peluso, em voto-vista, por reputar a pica a conduta
renta e oito) horas, para destruição ou doação aos
imputada ao paciente, deferiu o writ para determinar
órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas,
o trancamento da ação penal. Observou, de início,
na forma do regulamento desta Lei.], seria formalida-
que a matriz definidora e legi madora do Direito
de essencial, que deveria ser realizada por técnicos
Penal residiria, sobretudo, na noção de bem jurídico,
habilitados e não por policiais militares. Precedente
citado: HC nº 98.306/RS (DJE de 19/11/2009, 2ª sendo ela que permi ria compreender os valores aos
Turma). HC nº 100.008/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 1ª quais o ordenamento concederia a relevância penal,
de acordo com a ordem axiológica da Cons tuição, e,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Turma, 18/5/2010. (HC-10.008).


por isso, legi maria a atuação do instrumento penal.
Porte de munição configura crime? Ressaltou que, na chamada sociedade do risco, com
Sim, pois é crime de perigo abstrato (aquele cuja existên- a pretensão de se atenuar a insegurança decorrente
cia dispensa a demonstração efe va de que a ví ma ficou da complexidade, globalidade e dinamismo social,
exposta a uma situação concreta de risco – STJ – Recurso demandar-se-ia a regulação penal das a vidades
Especial nº 803.824, 6ª Turma). capazes de produzir perigo, na expecta va de que o
Acerca do tema, a 1ª Turma do STF decidiu Direito Penal fosse capaz de evitar condutas gerado-
ras de risco e de garan r um estado de segurança.
Considerou que, para jus ficar a antecipação da
Porte Ilegal de Munição e Ausência de Laudo Pericial tutela penal para momento anterior à efe va lesão
ao interesse protegido, falar-se-ia em prevenção e
A Turma deferiu habeas corpus em que se dis- controle das fontes de perigo a que estão expostos
cu a se o crime de porte ilegal de munição (Lei os bens jurídicos, para tratar situações antes não
nº 10.826/2003, art. 14) imporia, ou não, a realização conhecidas pelo Direito Penal tradicional. Frisou

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que, para previsão de determinada conduta como columidade pública em virtude do transporte de 10
reprovável, construir-se-ia uma relação meramente projéteis, de forma isolada, sem a presença de arma
hipoté ca entre a ação incriminada e a produção de de fogo. Sustentou que daí não se poderia admi r a
perigo ou dano ao bem jurídico. Destacou que o ilícito comparação com eventual tráfico ou transporte de
penal consis ria na infração do dever de observar grande quan dade de material de munição. Nesse
determinada norma, concentrando o injusto muito diapasão, compreendeu que a conduta de portar
mais no desvalor da ação do que no desvalor do re- munição, uma das várias previstas pelo art. 14 da Lei
sultado, que se faria cada vez mais di cil iden ficar nº 10.826/2003, não seria aprioris camente deten-
ou mensurar. tora de dignidade penal, porquanto se haveria de se
[...] verificar, em cada caso, se a conduta seria capaz de,
Assim, enfa zou que, em vez do tradicional elemento por si, representar ameaça real ou potencial a algum
de lesão ao bem jurídico, apareceria como pressu- bem jurídico. Consignou que, se não se vislumbrar
posto legi mador da imputação a desaprovação do ofensividade da conduta, a criminalização do porte de
comportamento que vulnera dever definido na esfera munição fulmina a referência material, que, segundo
extra-penal. Asseverou, no ponto, que essa tendência os padrões clássicos, deveria não só jus ficar a inter-
poderia entrar em choque com os pressupostos do venção do Direito Penal, mas presidir a interpretação
Direito Penal clássico, fundado na estrita legalidade, dos pos com vistas a determinar a sua realização.
na proporcionalidade, na causalidade, na subsidiarie- [...]
dade, na intervenção mínima, na fragmentariedade Assinalou que, se a conduta em questão não de-
e lesividade, para citar alguns dos seus princípios tém dignidade penal, a aplicação do art. 14 da Lei
norteadores. Evidenciou, destarte, que grave dilema nº 10.826/2003, na espécie, representaria unica-
se poria no fato de que, de um lado se professaria que mente o uso do Direito Penal para a manutenção
o Direito Penal deveria dedicar-se apenas à proteção do sistema de controle do comércio de armas e
subsidiária repressiva dos bens jurídicos essenciais, munições. Ou seja, tal modelo imporia a aceitação
por meio de instrumentos tradicionais de imputação de um discurso eminentemente funcional, mediante
de responsabilidade, segundo princípios e regras prevenção em geral nega va, procurando in midar
clássicos de garan a, e, de outro, postular-se-ia a toda a sociedade quanto à prá ca criminosa. Assen-
flexibilização e ajuste dos instrumentos dogmá cos tou que isso jus ficaria, do ponto de vista da polí ca
e das regras de atribuição de responsabilidade, para criminal, certa antecipação da tutela, derrogando-se
que o Direito Penal reunisse condições de atuar na o princípio da lesividade, em função de necessidades
proteção dos bens jurídicos supra individuais, e no da administração, o que, defini vamente, não seria e
controle dos novos fenômenos do risco. Esclareceu nem poderia ser o seu papel, nem sequer no contexto
que as normas de perigo abstrato punem a realização de uma sociedade de risco. Acrescentou, ademais,
de conduta imaginada ou hipote camente perigosa que o conceito material do delito e a ideia de subsi-
sem a necessidade de configuração de efe vo perigo diariedade do Direito Penal, como diretriz polí co-
ao bem jurídico, na medida em que a periculosidade -criminal, pressuporiam que, antes de lançar mão do
da conduta pica seria determinada antes, por meio Direito Penal, o Estado adotasse outras medidas de
de uma generalização, de um juízo hipoté co do polí ca social que visassem proteger o bem jurídico,
legislador, fundado na idéia de mera probabilidade. podendo fazê-lo de maneira igual e até mais eficiente.
Avaliou que, nos pos de perigo concreto, se exigiria Afirmou que a condenação do paciente pelo porte
o desvalor do resultado, impondo o risco do bem de 10 projéteis apenas como incurso em po penal
protegido, enquanto, nos pos de perigo abstrato, tendente a proteger a incolumidade pública contra
ocorreria claro adiantamento da proteção do bem a efeitos deletérios da circulação de arma de fogo no
fases anteriores à efe va lesão. Asseverou, todavia, país seria um exemplo do exercício irracional do ius
que deveria restar caracterizado um mínimo de ofen- puniendi ou do crescente distanciamento entre bem
sividade como fator de delimitação e conformação de jurídico e situação incriminada, o que, fatalmente,
condutas que merecessem reprovação penal. Nesse conduzirá à progressiva indefinição ou diluição do
sen do, registrou que a aplicação dos instrumentos bem jurídico protegido que é a razão de ser do Direito
penais de atribuição de responsabilidade às novas Penal. Após, pediu vista dos autos a Min. Ellen Gra-
realidades haveria de se restringir aos casos em que cie. HC nº 90.075/SC, rel. Min. Eros Grau, 2ª Turma,
fosse possível compa bilizar a nova pificação com 20/4/2010. (HC nº 90.075)
os princípios clássicos do Direito Penal.
[...] Entendendo como crime o simples porte ilegal de mu-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Salientou ser certo que a lesividade nem sempre nição, vale a pena trazer a colação o seguinte julgado da 2ª
significaria dano efe vo ao bem jurídico protegido, Turma do STF:
mas, para se entender e jus ficar como tal, exigiria,
pelo menos, que de algum modo se pusesse em Porte ilegal de arma de fogo e ausência de muni-
causa uma situação de perigo. Reportou que, ainda ção – 3
nos delitos de perigo abstrato, seria preciso acre- Em conclusão, a 2ª Turma, por maioria, denegou habeas
ditar na perigosidade da ação, no desvalor real da corpus no qual denunciado pela suposta prá ca do
ação e na possibilidade de resultado perigoso, não crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permi do
sendo punível, por isso, a conduta que não pusesse pleiteava o trancamento de ação penal – v. Informa-
em perigo, nem sequer em tese ou por hipótese, o vos 601 e 612. Entendeu-se que, após a entrada
bem jurídico protegido. Entendeu que a conduta em vigor da Lei nº 10.826/2003, a hipótese seria de
considerada perigosa de um ponto de vista geral e crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não
abstrato poderia não o ser em verdade e, no caso importaria o resultado concreto da ação. Aduziu-se
dos autos, não haveria possibilidade de lesão à in- que a referida lei, além de pificar o simples porte

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de munição, não exigiria para a configuração do à luz dos princípios da lesividade e da ofensividade,
crime sob análise que a arma es vesse municiada, porquanto incapaz a conduta de gerar lesão efe va
de acordo com que se extrairia da redação do art. ou potencial à incolumidade pública. Assim, decidiu-se
14 daquele diploma legal. Avaliou-se, ainda, que o que: (a) se o agente traz consigo a arma desmunicia-
trancamento de ação penal seria medida reservada da, mas tem a munição adequada à mão, de modo a
a situações excepcionais, como a manifesta a pici- viabilizar sem demora significa va o municiamento e,
dade da conduta, a presença de causa de ex nção em consequência, o eventual disparo, tem-se arma
da punibilidade do paciente ou a ausência de indícios disponível e o fato realiza o po; (b) ao contrário, se
mínimos de autoria e materialidade deli vas, inocor- a munição não existe ou está em lugar inacessível
rentes na espécie. Para evitar supressão de instância, de imediato, não há a imprescindível disponibilidade
não se conheceu da alegação, não apreciada pelo da arma de fogo, como tal – isto é, como artefato
STJ nem pelo tribunal estadual, de que o paciente idôneo a produzir disparo – e, por isso, não se realiza
fora autorizado, por presidente da Corte estadual, a figura pica.
a portar arma, a qual só não estaria registrada em
seu nome porque, à época dos fatos, ainda vigoraria O porte de arma ineficaz
o prazo legal para o devido registro. Não obstante,
explicitou-se que esse prazo, espécie de vacatio Da mesma forma que a arma desmuniciada, sobredita
legis indireta, teria sido des nado aos proprietários Turma, no RHC nº 81.057/SP, vinha se manifestando
e possuidores de arma de fogo (Lei nº 10.826/2003, no sen do da não configuração do po penal do por-
art. 12), e não àqueles acusados de porte ilegal (art. te de arma de fogo inapta para disparo ou de arma
14) . Vencido o Min. Celso de Mello, que concedia a de brinquedo, pois “Para a teoria moderna – que dá
ordem por entender des tuída de picidade penal realce primacial aos princípios da necessidade da
a conduta imputada ao paciente. HC nº 96.759/CE, incriminação e da lesividade do fato criminoso – o
rel. Min. Joaquim Barbosa, 28/2/2012.(HC nº 96.759) cuidar-se de crime de mera conduta – no sen do
de não se exigir à sua configuração um resultado
Após a exposição acerca do tema do porte de arma des- material exterior à ação – não implica admi r sua
municiada, é válido trazer ao conhecimento dos operadores existência independentemente de lesão efe va ou
do direito, o texto da lavra do Professor Fernando Capez, potencial ao bem jurídico tutelado pela incriminação
cujo tulo é “Para crime, o estado do artefato não importa”, da hipótese de fato”.
disponível em <h p://www.delegados.com.br/juridico/para- Com efeito, “na figura criminal cogitada, os princípios
-crime-o-estado-do-artefato-nao-importa.html>, acesso no bastam, de logo, para elidir a incriminação do porte
domingo, 31/10/2010, às 22:28: da arma de fogo inidônea para a produção de dispa-
ros: aqui, falta à incriminação da conduta o objeto
Recentemente a 1ª Turma do Supremo Tribunal Fe- material do po. Não importa que a arma verdadeira,
deral, reformulando an go posicionamento, passou a mas incapaz de disparar, ou a arma de brinquedo
se pronunciar no sen do de que, para o perfazimento possam servir de instrumento de in midação para a
do crime de porte de arma de fogo – arts. 14 e 16 do prá ca de outros crimes, par cularmente, os comis-
Estatuto do Desarmamento – , não importa se o ar- síveis mediante ameaça – pois é certo que, como tal,
tefato está ou não municiado ou, ainda, se apresenta também se podem u lizar outros objetos – da faca à
regular funcionamento. pedra e ao caco de vidro –, cujo porte não cons tui
Com base nessa nova linha diretriz albergada pela crime autônomo e cuja u lização não se erigiu em
aludida Turma, nos diversos arestos referidos, serão causa especial de aumento de pena”.
reputadas criminosas as condutas de: (a) portar arma
sem munição; (b) portar arma ineficaz para o disparo; Porte de munição isoladamente
(c) portar arma de brinquedo; e (d) portar munição
isoladamente. Havia julgados no sen do de que, embora a conduta
O venerável entendimento, no entanto, é passível es vesse formalmente prevista na Lei nº 10.826/2003,
de ques onamento, pois considera que o perigo a ausência de potencialidade lesiva conduziria à a -
pode ser presumido de modo absoluto, de maneira picidade, porque, do contrário, haveria violação ao
a considerar delituosos comportamentos totalmente princípio da ofensividade. Nesse sen do: “Artefato
ineficazes de ofender o interesse penalmente tutela- que não oferece ofensividade à incolumidade pú-
do, menoscabando o chamado crime impossível, em blica, uma vez que a munição, por si só, não gera
que a ação jamais poderá levar à lesão ou à ameaça perigo algum, pelo fato de que não pode ser u lizada
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de lesão do bem jurídico, em face da impropriedade sozinha” (TJ-RS, Apelação Crime nº 70.013.631.122,
absoluta do objeto material, ou à ineficácia absoluta Sexta Câmara Criminal, Rel. Min. Paulo Moacir Aguiar
do meio empregado. Vieira, Julgado em 23/3/2006). Na mesma linha:
Por essa razão, analisaremos aqui cada uma das TJ-RS, Apelação Crime nº 70.012.863.270, Sé ma
referidas situações, primeiramente, à luz da an ga Câmara Criminal, Rel. Min. Nereu José Giacomolli,
jurisprudência da Egrégia Corte e de outros tribunais, Julgado em 13/10/2005; TJ-RS, Apelação Crime
e, posteriormente, sob a perspec va da doutrina. nº 70.012.651.477, Sexta Câmara Criminal, Rel. Des.
João Ba sta Marques Tovo, Julgado em 6/10/2005.
O porte de arma sem munição Do mesmo modo, já havia se pronunciado a 1ª Turma
do STF”, I – Paciente que guardava no interior de sua
Segundo anterior interpretação sedimentada pela residência 7 (sete) cartuchos munição de uso restrito,
1ª Turma do STF, haveria a a picidade do porte de como recordação do período em que foi sargento do
arma desmuniciada e sem que o agente vesse nas Exército. II – Conduta formalmente pica, nos termos
circunstâncias a pronta disponibilidade de munição, do art. 16 da Lei nº 10.826/2003. III – Inexistência de

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potencialidade lesiva da munição apreendida, desa- elemento necessário à configuração pica, a prova
companhada de arma de fogo. A picidade material da efe va exposição de outrem a risco. Basta a rea-
dos fatos. IV – Ordem concedida” (STF, 1ª Turma, lização da conduta, sendo desnecessária a avaliação
HC nº 96.532/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. subsequente sobre a ocorrência, in casu, de efe vo
6/10/2009, DJE 27/11/2009) perigo à cole vidade. Assim, por exemplo, um sujeito
que sai à noite perambulando pelas ruas com uma
A nova jurisprudência do STF arma de fogo na cinta, sem autorização para portá-la,
cometerá a infração prevista nos arts. 14 (arma de
Consoante o novo escólio sedimentado pela 1ª Tur- uso permi do) ou 16 (arma de uso proibido), inde-
ma do STF, nos acórdãos já mencionados, haverá a pendentemente de se comprovar que uma pessoa
configuração de crime em todas as situações acima determinada ficou exposta a situação de perigo. Não
aludidas, na medida em que o Estatuto do Desar- fosse assim e o autor de tão grave infração restaria
mamento, em seu art. 14, pificou criminalmente impune, bastando alegar que não havia ninguém por
a simples conduta de portar munição, a qual, isola- perto, para ver-se livre da imputação.
damente, ou seja, sem a arma, não possui qualquer Por outro lado, isso não significa que a lei possa pre-
potencial ofensivo. sumir o perigo em qualquer conduta. Senão, vejamos.
Além do que, segundo a Egrégia Corte, a obje vidade Na hipótese de arma absolutamente inapta a efetuar
jurídica dos delitos previstos na Lei transcende a mera disparos, o fato será a pico, não porque não se logrou
proteção da incolumidade pessoal, para alcançar comprovar a efe va exposição de alguém a uma situ-
também a tutela da liberdade individual e de todo ação concreta de risco, mas porque a conduta jamais
o corpo social, asseguradas ambas pelo incremento poderá levar a integridade corporal de alguém a um
dos níveis de segurança cole va que ele propicia. risco de lesão. A lei não pode presumir a existência
Por derradeiro, em conformidade com essa inovadora de perigo para a vida, na ação de golpear o peito de
diretriz, passou a ser dispensável a confecção de lau- um adulto com um palito de fósforo; não pode pre-
do pericial para aferição da materialidade do delito. sumir que a ingestão de substância abor va é capaz
de colocar em risco a vida intrauterina de mulher que
Crí cas ao posicionamento do STF não esteja grávida; não pode presumir que a vida
já inexistente de um cadáver foi ameaçada por um
Tal entendimento é passível de ques onamento, pois a rador mal informado; não pode, enfim, presumir
o perigo não pode ser presumido de modo absoluto, que o porte de arma totalmente ineficaz para pro-
de maneira a considerar criminosas condutas total- duzir disparos seja capaz de ameaçar a cole vidade,
mente ineficazes de ofender o interesse penalmente de reduzir o seu nível de segurança. Evidentemente,
tutelado. nesta última hipótese, estaremos diante de um
O bem jurídico precipuamente tutelado pela Lei crime impossível pela ineficácia absoluta do objeto
nº 10.826/2003 é a incolumidade pública. Em úl ma material (CP, art. 17). A lei só pode presumir o perigo
análise, o que o Diploma Legal pretende proteger é onde houver, em tese, possibilidade de ele ocorrer.
o direito à vida, à integridade corporal, e, com isso, Quando, de antemão, já se verifica que a conduta
garan r a segurança do cidadão em todos os aspec- jamais poderá colocar o interesse tutelado em risco,
tos. Para a ngir esse obje vo, o legislador procurou não há como presumir o perigo. Em suma, não existe
coibir o ataque a tão relevantes interesses de modo crime de perigo quando tal perigo for impossível.
bastante amplo, punindo a conduta perigosa ainda Coisa bem diferente é sustentar que uma conduta em
em seu estágio embrionário. Com efeito, pifica-se a tese apta a colocar em risco outras pessoas não seja
posse ilegal de arma de fogo, o porte e o transporte considerada pica apenas porque não se comprovou
dessa arma em via pública, o disparo, o comércio e o a exposição de pessoas determinadas a situação de
tráfico de tais artefatos, com vistas a impedir que tais perigo concreto.
comportamentos, restando impunes, evoluam até se É certo que o princípio da ofensividade não deve ser
transformar em efe vos ataques. Em outras palavras, empregado para tornar obrigatória a comprovação do
pune-se o perigo, antes que se convole em dano. perigo, mas para tornar a picos os comportamentos
Perigo abstrato ou presumido é aquele cuja existência absolutamente incapazes de lesar o bem jurídico. É a
dispensa a demonstração efe va de que a ví ma ficou aplicação pura e simples do art. 17 do CP, que trata
exposta a uma situação concreta de risco. Contrapõe- do chamado crime impossível (também conhecido
-se ao perigo concreto, que exige a comprovação de por tenta va inidônea, que é aquela que jamais
que pessoa determinada ou pessoas determinadas pode dar certo). Assim, se, por exemplo, um casal de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ficaram sujeitas a um risco real de lesão. Trata-se namorados pra ca atos libidinosos em local ermo e
de situação de real modificação no mundo exterior, em horário de nenhuma circulação de pessoas, não
perceptível naturalisticamente e consistente na se pode falar em ato obsceno, uma vez que o bem
alteração das condições de intangibilidade do bem jurídico “pudor da cole vidade” não foi sequer expos-
existente antes da prática da conduta. O perigo to a uma situação real de perigo. Quando o art. 233
concreto deflui de dada situação obje va em que o do CP pifica o delito em questão, pressupõe que a
comportamento humano gerou uma possibilidade conduta tenha idoneidade para, ao menos, submeter
concreta de destruição do bem jurídico tutelado, o interesse social tutelado a algum risco palpável. Se é
até então não existente (antes da conduta não havia impossível o risco de lesão ao bem jurídico, não existe
risco de lesão, e depois se constatou o surgimento crime. Do mesmo modo, se o sujeito mantém arma
dessa possibilidade). de fogo dentro de casa, sem ter o registro legal do
Não é o que ocorre com os delitos previstos nos artefato, está realizando uma conduta descrita como
arts. 12 a 18 da Lei nº 10.826/2003, cujos tipos delito pelo art. 12 do Estatuto do Desarmamento. No
penais não mencionam, em momento algum, como entanto, se essa arma man da ilegalmente dentro

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de casa es ver descarregada, em um baú trancado a ofensividade deverá ser u lizada para rechaçar as
no sótão da edícula, no fundo do quintal, não se hipóteses de crime impossível, em que o comporta-
poderá falar na ocorrência de ilícito penal, uma vez mento humano jamais poderá levar o bem jurídico
que, nessa hipótese, a conduta jamais redundará a lesão ou a exposição a risco de lesão. Quando, de
em redução do nível de segurança da cole vidade. antemão, já se verifica que a conduta jamais poderá
Presumir perigo não significa inventar perigo onde colocar o interesse tutelado em risco, não há como
este jamais pode ocorrer. Perigo presumido não é presumir o perigo.
sinônimo de perigo impossível.
Em suma, entendemos que a ofensividade ou lesi- A consumação do art. 14 se dá com a prá ca de uma
vidade é um princípio que deve ser aceito, por se das duas condutas.
tratar de princípio cons tucional do direito penal, A conduta ter em depósito torna o crime permanente.
diretamente derivado do princípio da dignidade É possível tenta va no art. 14? Em determinadas condu-
humana (CF, art. 1º, III). Sua aplicação, no entanto, tas é possível a tenta va, como, por exemplo, tentar adquirir.
não pode ter o condão de abolir totalmente os cha- Objeto material: arma de fogo em perfeita condiçãode
mados crimes de perigo abstrato, mas tão somente uso. Logo, para nós, indispensável a perícia. O STJ disse que
temperar o rigor de uma presunção absoluta e o exame pericial é dispensável.(AgRg no Resp. nº 917.040-
inflexível. A ofensividade deve ser empregada para SC, 6ª Turma, Rel. Min. Paulo Gallo , julg. em 29/4/2008).
afastar as hipóteses de crime impossível, em que o No mesmo sen do, a Primeira Turma do STF decidiu que:
comportamento humano jamais poderá levar o bem
jurídico a lesão ou a exposição a risco de lesão. No Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial
mais, deve-se respeitar a legí ma opção polí ca do Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria,
legislador de resguardar, de modo mais abrangente indeferiu habeas corpus – impetrado em favor de con-
e eficaz, a vida, a integridade corporal e a dignidade denado pela prá ca do delito de porte ilegal de arma
das pessoas, ameaçadas com a mera conduta, por de fogo de uso permi do (Lei nº 10.826/2003, art.
exemplo, de alguém possuir irregularmente arma 14) – no qual se sustentava a indispensabilidade de
de fogo no interior de sua residência ou domicílio. exame pericial válido na arma apreendida. Salientou-
Finalmente, no tocante à equiparação legal da posse -se a peculiaridade do caso, pois o próprio paciente
ou do porte de acessórios ou munição à arma de fogo, confirmara, em juízo, que havia comprado a pistola.
vale mencionar que o sujeito que for de do transpor- Asseverou-se, inclusive, que o paciente fora preso
tando somente a munição de um armamento de uso por ter feito uso da arma – em suposto crime contra
restrito incidirá nas mesmas penas que aquele que a vida –, e que ela se mostrara eficaz. Vencido o Min.
transportar a própria arma municiada. Não parece Marco Aurélio, relator, que concedia a ordem por
ser a medida mais justa, pois o projé l, sozinho, isto entender indispensável a feitura de perícia quando
é, desacompanhado da arma de fogo, pode não ter da apreensão de armas de fogo. Acrescentava que o
idoneidade vulnerante. Além do que, a pena para CPP revelaria impedimentos rela vamente à atuação
quem mantém consigo, porta ou transporta, dentre dos peritos e que, assim, a um só tempo, o policial
outras condutas, apenas a munição ou o acessório é não poderia exercer a vidade que lhe fosse inerente
elevadíssima, ou seja, reclusão, de 3 a 6 anos, mais e atuar como perito.
multa, nos termos do ar go 16 da nova Lei, e, portan- HC nº 96.921/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
to, mais grave até mesmo que as sanções cominadas a acórdão Min. Dias Toffoli, 14/9/2010. (HC nº 96.921)
alguns crimes contra a vida, tais como o induzimento,
ins gação ou auxílio ao suicídio (CP, art. 122: Pena, Dispunha o parágrafo único do art. 14: “[...] Parágrafo úni-
reclusão, de 2 a 6 anos, se o suicídio se consuma); co. O crime previsto neste ar go é inafiançável, salvo quando
o infan cídio (CP, art. 123: Pena, detenção, de 2 a 6 a arma de fogo es ver registrada em nome do agente”.
anos); o aborto provocado pela gestante ou com seu Esse ar go foi declarado incons tucional pelo STF na
consen mento (CP, art. 124: Pena, detenção, de 1 a ADI nº 3.112 (2/5/2007, Tribunal Pleno). O fundamento
3 anos); o aborto provocado por terceiro com o con- dado a essa incons tucionalidade do art. 14 do Estatuto
sen mento da gestante (CP, art. 126: Pena, reclusão, do Desarmamento é que, por ser crime de mera conduta,
de 1 a 4 anos); e a lesão corporal de natureza grave é desproporcional e desarrazoado compará-lo com os crimes
(CP, art. 129, § 1º: Pena, reclusão, de 1 a 5 anos). hediondos.
Verifique-se que a interrupção criminosa da vida Vejamos a ementa da decisão proferida pelo pleno do
intrauterina, a contribuição para que alguém ponha STF:
fim à própria vida, a ofensa à integridade corporal
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de outrem com sequelas defini vas, por exemplo, EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDA-
são comportamentos que agridem diretamente o DE. LEI Nº 10.826/2003. ESTATUTO DO DESARMA-
bem jurídico, provocando-lhe efe va lesão. Desse MENTO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL AFAS-
modo, não tem sen do punir o perigo potencial re- TADA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA RESIDUAL DOS
presentado pela mera posse de munição ou acessório ESTADOS. INOCORRÊNCIA. DIREITO DE PROPRIEDA-
com maior rigor do que se pune o dano concreto, DE. INTROMISSÃO DO ESTADO NA ESFERA PRIVADA
muitas vezes provocado pelo uso efe vo da arma e DESCARACTERIZADA. PREDOMINÂNCIA DO INTERES-
sua munição. SE PÚBLICO RECONHECIDA. OBRIGAÇÃO DE RENOVA-
Por todas as razões acima expendidas, cremos que ÇÃO PERIÓDICA DO REGISTRO DAS ARMAS DE FOGO.
as situações tratadas pela 1ª Turma do STF merecem DIREITO DE PROPRIEDADE, ATO JURÍDICO PERFEITO
ser analisadas à luz do princípio da ofensividade, E DIREITO ADQUIRIDO ALEGADAMENTE VIOLADOS.
como forma de temperar o rigor de uma presunção ASSERTIVA IMPROCEDENTE. LESÃO AOS PRINCÍPIOS
absoluta e inflexível dos crimes de perigo abstrato, CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
sob pena do come mento de graves injus ças. Assim, E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AFRONTA TAMBÉM

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AO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. ARGUMENTOS Consunção. Porte ilegal. Arma de fogo.
NÃO ACOLHIDOS. FIXAÇÃO DE IDADE MÍNIMA PARA Em habeas corpus, o impetrante defende a absor-
A AQUISIÇÃO DE ARMA DE FOGO. POSSIBILIDADE. ção do crime de porte ilegal de arma de fogo pelo
REALIZAÇÃO DE REFERENDO. INCOMPETÊNCIA DO crime de homicídio visto que, segundo o princípio
CONGRESSO NACIONAL. PREJUDICIALIDADE. AÇÃO da consunção, a primeira infração penal serviu como
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE QUANTO meio para a prá ca do úl mo crime. Explica o Min.
À PROIBIÇÃO DO ESTABELECIMENTO DE FIANÇA E Relator que o princípio da consunção ocorre quando
LIBERDADE PROVISÓRIA. I – Disposi vos impugna- uma infração penal serve inicialmente como meio ou
dos que cons tuem mera reprodução de normas fase necessária para a execução de outro crime. Logo,
constantes da Lei nº 9.437/1997, de inicia va do a aplicação do princípio da consunção pressupõe,
Execu vo, revogada pela Lei nº10.826/2003, ou são necessariamente, a análise de existência de um nexo
consentâneos com o que nela se dispunha, ou, ainda, de dependência das condutas ilícitas para verificar
consubstanciam preceitos que guardam afinidade a possibilidade de absorção daquela infração penal
lógica, em uma relação de per nência, com a Lei nº menos grave pela mais danosa. Assim, para o Min.
9.437/1997 ou com o PL nº 1.073/1999, ambos en- Relator, impõe-se que cada caso deva ser analisado
caminhados ao Congresso Nacional pela Presidência com cautela, deve-se atentar à viabilidade da apli-
da República, razão pela qual não se caracteriza a cação do princípio da consunção, principalmente
alegada incons tucionalidade formal. II – Invasão de em habeas corpus, em que nem sempre é possível
competência residual dos Estados para legislar sobre um profundo exame dos fatos e provas. No entanto,
segurança pública inocorrente, pois cabe à União na hipótese, pela descrição dos fatos na instrução
legislar sobre matérias de predominante interesse criminal, na pronúncia e na condenação, não há dú-
geral. III – O direito do proprietário à percepção vida de que o porte ilegal de arma de fogo serviu de
de justa e adequada indenização, reconhecida no meio para a prá ca do homicídio. Diante do exposto,
diploma legal impugnado, afasta a alegada violação a Turma concedeu a ordem para, com fundamento
ao art. 5º, XXII, da Cons tuição Federal, bem como no princípio da consunção, excluir o crime de porte
de arma de fogo da condenação do paciente. Prece-
ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido. IV
dentes citados: REsp. nº 570.887-RS, DJ 14/2/2005;
– A proibição de estabelecimento de fiança para
HC nº 34.747-RJ, DJ 21/11/2005, e REsp. nº 232.507-
os delitos de “porte ilegal de arma de fogo de uso
DF, DJ 29/10/2001. HC nº 104.455-ES, Rel. Min. Og
permi do” e de “disparo de arma de fogo”, mostra-
Fernandes, julgado em 21/10/2010.
-se desarrazoada, porquanto são crimes de mera
conduta, que não se equiparam aos crimes que
Disparo de arma de fogo
acarretam lesão ou ameaça de lesão à vida ou à
propriedade. V – Insuscep bilidade de liberdade Rege o art. 15 da lei em estudo:
provisória quanto aos delitos elencados nos arts.
16, 17 e 18. Incons tucionalidade reconhecida, visto Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição
que o texto magno não autoriza a prisão ex lege, em em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
face dos princípios da presunção de inocência e da pública ou em direção a ela, desde que essa conduta
obrigatoriedade de fundamentação dos mandados não tenha como finalidade a prá ca de outro crime:
de prisão pela autoridade judiciária competente. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
VI – Iden ficação das armas e munições, de modo a (Grifo nosso)
permi r o rastreamento dos respec vos fabricantes
e adquirentes, medida que não se mostra irrazoável. Sujeito a vo: é crime comum (pode ser pra cado por
VII – A idade mínima para aquisição de arma de fogo qualquer pessoa). A pena será aumentada da metade se o
pode ser estabelecida por meio de lei ordinária, como crime for pra cado por integrante dos órgãos e empresas
se tem admi do em outras hipóteses. VIII – Preju- referidas nos arts. 6º, 7º e 8º do Estatuto do Desarmamento.
dicado o exame da incons tucionalidade formal e Elemento espacial: lugar habitado ou em suas adjacên-
material do art. 35, tendo em conta a realização de cias, em via pública ou em direção a ela.
referendo. IX – Ação julgada procedente, em parte, A quan dade de disparos é irrelevante, configurará um
para declarar a incons tucionalidade dos parágrafos só crime. Será importante para a fixação da pena-base no
únicos dos arts. 14 e 15 e do art. 21 da Lei nº 10.826, momento da dosimetria da pena.
de 22 de dezembro de 2003. Elemento subje vo: é crime doloso.
Consumação: com mero disparo ou acionamento da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

O homicídio absorve o crime do art. 14 do Estatuto do munição.


Desarmamento? Tenta va é possível, embora de di cil configuração
Primeira corrente: responde sempre pelos dois crimes, prá ca.
porque os pos penais protegem bens jurídicos dis ntos. E se o agente teve a finalidade de pra car homicídio
O crime de homicídio protege o bem jurídico vida, enquanto com o disparo?
o crime de disparo protege a cole vidade. Primeira corrente: há concurso de crimes, por haver bens
Segunda corrente: se o crime de porte de arma foi jurídicos dis ntos em jogo.
pra cado apenas para a execução do homicídio, ou seja, Segunda corrente: responde pelo homicídio, por ser cri-
se foi fase normal e necessária para a execução do delito, me mais grave. É a corrente da qual par lhamos, até porque
ficará absorvido, tendo em vista o princípio da consunção. a leitura da parte final do disposi vo permite que se chegue
No caso, o porte de arma seria crime-meio para a prá ca do a tal conclusão.
delito de homicídio. O parágrafo único do art. 15 também foi declarado in-
É o posicionamento da Sexta Turma do STJ, senão veja- cons tucional pelo STF na ADI nº 3.112 (2/5/2007, Tribunal
mos: Sexta Turma Pleno). O fundamento dado a essa incons tucionalidade é

15
que, por ser crime de mera conduta, é desproporcional e I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer
desarrazoado compará-lo com os crimes hediondos. sinal de iden ficação de arma de fogo ou artefato;

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Objeto material: arma de fogo ou artefato.
Sujeito a vo: qualquer pessoa.
Dispõe o art. 16 do Estatuto do Desarmamento: Sujeito passivo: cole vidade.
Elemento subje vo: dolo.
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda II – modificar as caracterís cas de arma de fogo, de for-
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
acessório ou munição de uso proibido ou restrito, induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar: Objeto material: arma de fogo.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Sujeito a vo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: cole vidade, secundariamente a auto-
Nota-se que o legislador puniu da mesma forma a posse ridade policial, perito ou o juiz.
e o porte de arma de fogo, acessório ou munição de uso Elemento subje vo: dolo.
restrito ou proibido. O criminoso tem a intenção de modificar a arma, com
Sobre o porte de arma de fogo de uso restrito desmuni- o fim de:
ciada, o STJ decidiu: A – transformar de permi da em restrita ou proibida.
B – para induzir a erro o juiz, o perito e autoridade poli-
Penal. Porte ilegal de arma de fogo. Art. 16, parágrafo cial. Não se aplica o disposi vo penal de fraude processual,
único, IV, da Lei nº 10.826/2003. Arma desmuniciada. mas sim este inciso II do parágrafo único do art. 16. Por ser
Irrelevância para a caracterização do delito. Ordem crime formal, o crime se consuma com a simples modifi-
denegada. 1. A obje vidade jurídica dos crimes de cação apta a iludir, ainda que não induza a erro a ví ma.
porte e posse de arma de fogo pificados na Lei A tenta va é possível; por exemplo, a pessoa é surpre-
nº 10.826/2003 não se restringe à incolumidade endida tentando fazer a adulteração.
pessoal, alcançando, por certo, também, a liberda-
de pessoal, protegidas mediatamente pela tutela III – possuir, de ver, fabricar ou empregar artefato explo-
primária dos níveis da segurança cole va, do que se sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
conclui ser irrelevante a eficácia da arma para a confi- determinação legal ou regulamentar;
guração do po penal. 2. Ordem denegada. (STJ – HC
nº 200601535053 – (62.742 DF) – 5ª Turma, Rel. Min. Objeto material: qualquer objeto produzido industrial-
Arnaldo Esteves Lima, DJU de 6/11/2006, p. 355)
mente explosivo ou incendiário.
Sujeito a vo: qualquer pessoa.
O objeto material é a arma de fogo de uso restrito, que é
Sujeito passivo: cole vidade.
aquela de uso exclusivo das Forças Armadas, de ins tuições
Elemento subje vo: dolo.
de segurança pública e de pessoas sicas e jurídicas habili-
É possível a tenta va nas modalidades fabricar e em-
tadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército,
pregar.
de acordo com legislação específica.
Trata-se de norma penal em branco heterogênea, pois, Esse disposi vo derrogou (revogação parcial) o crime
para se ter eficácia, depende da complementação de um do art. 253 do CP, na parte que trata de artefato explosivo
ato administra vo. ou incendiário.
Imagine que um trabalhador rural foi processado por
infração do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma
Desarmamento), sob acusação de manter sob sua guarda de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
arma de fogo de uso proibido sem autorização legal ou re- iden ficação raspado, suprimido ou adulterado;
gulamentar, e, ao final, absolvido por falta de provas. Com
o trânsito em julgado da sentença, o acusado requereu a O Estatuto do Desarmamento não dis nguiu a conduta
res tuição da arma apreendida, alegando que já não mais de portar ou possuir arma de fogo “raspada”.
interessava ao processo. A decisão judicial deve ser pelo Objeto material: arma de fogo.
indeferimento da pretendida res tuição da arma, por se Sujeito a vo: qualquer pessoa. No caso, a arma já está
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tratar de instrumento de uso proibido aos par culares15. adulterada. O inciso I pune quem adultera. E se o agente
Como se trata de um crime permanente, verificando que raspou é o mesmo que porta? Responderá somente pelo
que, no interior de uma residência, encontra-se um indiví- inciso I. Conclusão: o inciso IV admite como sujeito a vo
duo portando armas de uso restrito do Exército, a autori- qualquer pessoa, com exceção daquela que a adulterou.
dade policial poderá adentrar na residência sem mandado, Sujeito passivo: a cole vidade
autuando o agente e apreendendo as armas.16 Elemento subje vo: dolo.

Análise do Parágrafo Único Sobre os reflexos da aboli o criminis temporária, a 5ª


O parágrafo único do art. 16 da lei em estudo tem como Turma do STJ tem o seguinte posicionamento:
objeto material tanto armas de uso restrito como as permi-
das. São pos penais autônomos em relação ao do caput: POSSE. ARMA. USO PERMITIDO. NUMERAÇÃO
RASPADA.
15
Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/TJ-SP/Juiz/2005. A impetração busca reconhecer a a picidade da
16
Tema cobrado na seguinte prova: PC-BA/Delegado/2001. conduta de posse de arma de fogo, visto entender

16
incidir o período de abolitio criminis temporalis A 1ª Turma do STF decidiu recentemente:
advindo da prorrogação da entrega espontânea de
armas até 31/12/2008 (Vide arts. 30, 31 e 32 da Lei Porte Ilegal de Arma de Fogo com Sinal de Iden fi-
n. 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento). Nesse cação Raspado
contexto, vê-se que a doutrina e a jurisprudência Para a caracterização do crime previsto no art.
do STJ, debruçadas sobre o Estatuto e as Leis nos 16, parágrafo único, IV, da Lei nº 10.826/2003, é
10.884/2004, 11.118/2005 e 11.191/2005, fixaram o irrelevante se a arma de fogo é de uso permi do
entendimento de que se considera a pica a conduta ou restrito, bastando que o identificador esteja
de posse irregular de arma de fogo, seja ela de uso suprimido. Com base nesse entendimento, a Turma
permi do ou restrito, perpetrada entre 23/12/2003 e indeferiu habeas corpus em que condenado pela
23/10/2005, em razão da aboli o criminis temporalis prá ca do crime de porte ilegal de arma de fogo
ou vaca o legis indireta que exsurge da redação do com numeração raspada (Lei nº 10.826/2003, art.
referido art. 30 do Estatuto. É certo, também, que 16, parágrafo único, IV) pleiteava a desclassificação
a prorrogação do prazo de entrega do armamento da conduta que lhe fora imputada para a figura do
até 31/12/2008 preconizada pela MP nº 417/2008 porte ilegal de arma de fogo de uso permi do (Lei
nº 10.826/2003, art. 14). Sustentava a impetração
(convertida na Lei nº 11.706/2008), que, assim,
que, se a arma de fogo com numeração raspada é de
alterou o período da vaca o legis indireta, só incide
uso permi do, configurar-se-ia o delito previsto no
em casos de arma de fogo de uso permi do, dada
art. 14 e não o do art. 16, parágrafo único, IV, ambos
a necessária apresentação do respec vo registro
do Estatuto do Desarmamento. Observou-se que, no
exigida também pela nova redação do citado art. 30 julgamento do RHC nº 89.889/DF (DJE 5/12/2008), o
do Estatuto. No caso, cuida-se de conduta apurada Plenário do STF entendera que o delito de que trata
em 20/11/2006 de porte de arma de fogo de uso per- o mencionado inciso IV do parágrafo único do art. 16
mi do (revólver calibre .32) mas com a numeração do Estatuto do Desarmamento tutela o poder-dever
suprimida, a qual a jurisprudência do STJ equipara à do Estado de controlar as armas que circulam no
arma de fogo de uso restrito. Portanto, na hipótese, país, isso porque a supressão do número, da marca
não há falar em a picidade da conduta porque esta ou de qualquer outro sinal iden ficador do artefato
não se encontra abarcada pela referida vaca o legis potencialmente lesivo impediria o cadastro, o con-
indireta. Esse entendimento foi acolhido pela maioria trole, enfim, o rastreamento da arma. Asseverou-se
dos Ministros da Turma, visto que o Min. Gilson Dipp que a função social do referido po penal alcançaria
(vencido), ao ressaltar conhecer a orientação traçada qualquer po de arma de fogo e não apenas de uso
pelos precedentes do STJ, dela divergiu, pois, a seu restrito ou proibido. Enfa zou-se, ademais, ser o
ver, ela, ao cabo, entende que a equiparação das delito de porte de arma com numeração raspada
condutas previstas no parágrafo único do art. 16 do delito autônomo – considerado o caput do art. 16
Estatuto pela pena prevista em seu caput as iguala da Lei nº 10.826/2003 – e não mera qualificadora ou
às condutas lá descritas, ou seja, às armas de uso causa especial de aumento de pena do po de porte
proibido ou restrito. Contudo, aduziu que essa equi- ilegal de arma de uso restrito, figura pica esta que,
paração (quoad poenam) não transmuta a natureza no caso, teria como circunstância elementar o fato
das condutas, pois se cuida de recurso do legislador de a arma (seja ela de uso restrito, ou não) estar com
des nado a aplicar a mesma pena para crimes que a numeração ou qualquer outro sinal iden ficador
vislumbra semelhantes ou de mesma espécie. As- adulterado, raspado ou suprimido. HC nº 99.582/RS,
sim, firmou que o porte da arma com a numeração rel. Min. Carlos Bri o, 8/9/2009.
raspada somente sujeita o agente à pena do art. 16
do Estatuto, mas não a transforma em arma de uso O Plenário do STF entendeu que:
restrito, que possui caracterís cas legais próprias.
Anotou, por úl mo, que essa equiparação vem agra- o po do inciso IV do parágrafo único do art. 16 [...]
var a situação do paciente, o que não se jus fica no é um po novo [...]. Assim, a nova figura teria intro-
sistema cons tucional e legal penal. Daí conceder a duzido cuidado penal inédito do tema, pificando o
ordem para trancar a ação penal por falta de justa portar, possuir ou transportar a arma com a supres-
são ou alteração de número de série ou de outro
causa (a picidade da conduta) decorrente da referida
sinal de sua iden ficação, independentemente, de
aboli o criminis temporalis, no que foi acompanhado
arma de fogo ser uso restrito, proibido ou permi do,
pelo Min. Napoleão Nunes Maia Filho. Precedentes
tendo por objeto jurídico, além da incolumidade, a
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citados: HC 64.032-SP, DJe 12/8/2008; RHC 21.271-


segurança pública, ênfase especial dada ao controle
DF, DJ 10/9/2007; HC 137.838-SP, DJe 2/8/2010, e HC pelo Estado das armas de fogo existentes no país, pelo
124.454-PR, DJe 3/8/2009. HC 189.571-SP, Rel. Min. que o relevo ao municiamento ou não da munição
Jorge Mussi, julgado em 31/5/2011. da arma que se põe nos pos previstos no caput
do arts. 14 e 16 (RHC nº 89.889/DF, Pleno, Rel. Min.
Segundo o STJ, Cármem Lúcia, 14/2/2008 – Info. nº 494)
aquele que está na posse de arma de fogo com nume- A tulo de exemplo, em 17/2/2005, Vitor foi surpreendi-
ração raspada tem sua conduta pificada no art. 16, do, em a tude suspeita, dentro de um veículo estacionado
parágrafo único, IV, e não no art. 12, caput, da Lei na via pública, por policiais militares, que lograram êxito em
nº 10.826/2003, mesmo que o calibre do armamento encontrar em poder dele duas armas de fogo, sem autoriza-
corresponda a uma arma de fogo de uso permi do. ção e em desacordo com determinação legal, as quais eram
(Resp nº 1.036.597-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julg. de sua propriedade, sendo um revólver Taurus, calibre 38,
em 21/8/2008, 5ª Turma – Info. nº 364), com numeração de série raspada, e uma garrucha, marca

17
Rossi, calibre 22. De acordo com o Estatuto do Desarma- cons tui crime. Além disso, observou o magistrado, a
mento e com a jurisprudência do STF, Vitor pra cou a con- arma não foi entregue, mas encontrada na residência
duta de portar arma de fogo com numeração suprimida17. do réu. A maioria da Quinta Turma acompanhou o
ministro Mussi.
Sobre o tema ainda, vale a pena trazer à colação no cia
em que a 5ª Turma do STJ, no HC nº 189.571, decidiu que: V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamen-
te, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança
Armas com numeração raspada são equiparadas a ou adolescente;
armas de uso restrito, após outubro de 2005
Armas com numeração raspada são equiparadas a Objeto material: arma de fogo, acessório, munição ou
armas de uso restrito, após 23 de outubro de 2005, explosivo.
prazo estabelecido para que os proprietários as Sujeito a vo: qualquer pessoa. O criminoso deve ter
entregassem sem as penalidades. A data foi fixada ciência de que está vendendo uma arma de fogo para um
pela Lei nº 11.191/2005, que alterou o Estatuto do menor.
Desarmamento (Lei nº 10.826/2003). A decisão é Sujeito passivo: coletividade e secundariamente os
da maioria da Quinta Turma do Superior Tribunal de menores.
Jus ça (STJ), que acompanhou o voto do relator do Elemento subje vo: dolo.
habeas corpus, ministro Jorge Mussi. É admissível a modalidade tentada.

Em 20 de novembro de 2006, foi apreendida na re- VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização
sidência do réu uma arma calibre 32, municiada, de legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
uso permi do para civis. Entretanto, a arma estava
com a numeração de série raspada e ele foi acusado Rege o § 4º do art. 23 do Estatuto do Desarmamento
pelo delito do art. 16 do Estatuto do Desarmamento, as ins tuições de ensino policial e as guardas municipais
ou seja, possuir ou portar arma ou munição de uso referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6º desta Lei e
no seu § 7º poderão adquirir insumos e máquinas de recar-
restrito. A defesa do réu impetrou habeas corpus,
ga de munição para o fim exclusivo de suprimento de suas
mas este foi negado pelo Tribunal de Jus ça de São
a vidades, mediante autorização concedida nos termos
Paulo (TJSP).
definidos em regulamento.
No habeas corpus do STJ, a defesa alegou que a posse
Objeto material: munição ou explosivo.
da arma se deu no período abarcado pelo aboli o Sujeito a vo: qualquer pessoa.
criminis (abolição da pena de conduta até então Sujeito passivo: cole vidade.
proibida por lei) do Estatuto. Afirmou que o fato de a Elemento subje vo: dolo.
numeração estar raspada não interfere na a picidade É possível a tenta va em todas as condutas.
temporária garan da pela Lei nº 11.706/2008, que
havia prorrogado o prazo para registro das armas de Comércio ilegal de arma de fogo
fogo de uso permi do até 31 de dezembro de 2008.
Pediu, por isso, o trancamento do processo. Dispõe o art. 17 da lei em tela:
A questão seria determinar se a conduta do réu é ou Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, con-
não abarcada pela aboli o criminis especial da Lei duzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
nº 10.826/2003, observou o ministro Jorge Mussi. remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de
O ministro relator destacou que os arts. 32 e 30 do qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
Estatuto de Desarmamento determinaram um prazo alheio, no exercício de a vidade comercial ou in-
de 180 dias para entregá-las à Polícia Federal, com dustrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
a presunção de boa-fé e independente de registro. autorização ou em desacordo com determinação
Após sucessivas prorrogações, o prazo de 23 de outu- legal ou regulamentar:
bro de 2005 foi fixado para a entrega ou regularização Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
de armas permi das ou de uso restrito. Parágrafo único. Equipara-se à a vidade comercial ou
industrial, para efeito deste ar go, qualquer forma de
O prazo ainda foi alterado mais uma vez, para 31 prestação de serviços, fabricação ou comércio irregu-
de dezembro de 2008, pela Lei nº 11.706/2008. O lar ou clandes no, inclusive o exercido em residência.
ministro Mussi salientou, entretanto, que desta vez
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só armas permi das podiam ser entregues, já que o Objeto material: arma de fogo de uso restrito, permi do
registro passou a ser exigido. “Percebe-se, portanto, ou proibido. A pena será aumentada da metade se a arma de
que é a pica a conduta relacionada ao crime de posse fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.
de arma de fogo, seja de uso permi do ou restrito, Sujeito a vo: é crime próprio. O agente deve ser co-
incidindo a vaca o legis nas duas hipóteses, se pra- merciante de armas ou industrial que as produz. Se a venda
cada no período compreendido entre 23 de dezem- for feita por par cular, responderá pelo crime previsto no
bro de 2003 a 23 de outubro de 2005”, esclareceu. art. 14, se arma, acessório ou munição forem permi das,
ou pelo art. 16, se de uso restrito. Se vender para o exterior
Como a busca e apreensão da arma foi realizada em (tráfico), responderá pelo crime previsto no art. 18, também
novembro de 2006, ou seja fora do prazo de aboli o não importando se a arma de fogo, acessório ou munição é
criminis, o ministro Mussi entendeu que a conduta de uso permi do ou restrito.
A pena será aumentada da metade se o crime for pra-
17
cado por integrante dos órgãos e empresas referidas nos
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil
Subs tuto/2009. arts. 6º, 7º e 8º do Estatuto do Desarmamento.

18
Não é crime habitual, a habitualidade é do comércio, estrangeira, mas não a todo o material apreendido.
e não da venda ilegal de arma. HC nº 97.777/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Sujeito passivo: a cole vidade. 26/10/2010. (HC nº 97.777).
Elemento subje vo: trata-se de crime doloso.
É possível a figura tentada em tese, porém de di cil Da Incons tucionalidade do art. 21 do Estatuto do
ocorrência na prá ca. Desarmamento

Tráfico internacional de arma de fogo “Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são
insusce veis de liberdade provisória.”
Dispõe o art. 18 do Estatuto do Desarmamento: Todos os disposi vos do Estatuto do Desarmamento
que proibiam a concessão de liberdade provisória com ou
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou sem fiança foram declarados incons tucionais pelo STF (ADI
saída do território nacional, a qualquer tulo, de nº 3.112, Tribunal Pleno).
arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização O fundamento para declarar a incons tucionalidade-
da autoridade competente: do art. 21 foi de que a Cons tuição nãopermite a prisão
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. automá ca, ou seja, por força de lei,uma vez que deve ser
respeitado o princípio da presunçãode inocência e do prin-
Objeto material: arma de fogo, acessório ou munição.
cípio da obrigatoriedadede fundamentação das ordens de
A pena será aumentada da metade se a arma de fogo, aces-
prisão pelo juiz.
sório ou munição forem de uso proibido ou restrito.
O fato de o STF ter declarado incons tucionais os dispo-
Sujeito a vo: crime comum, podendo ser pra cado por
qualquer pessoa. A pena será aumentada da metade se o si vos que proibiam a liberdade provisória não significa que
crime for pra cado por integrante dos órgãos e empresas não caiba prisão preven va. Para decretação da restrição de
referidas nos arts. 6º, 7º e 8º do Estatuto do Desarmamento. liberdade, devem estar presentes os requisitos dos arts. 312
Sujeito passivo: é a cole vidade. e 313 do Código de Processo Penal.
Elemento subje vo: é o dolo. Conclui-se que, segundo o entendimento do STF, não
A competência para julgamento do crime de tráfico são insusce veis de liberdade provisória os crimes de posse
internacional de arma de fogo, acessório ou munição é da ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, comércio
Jus ça Federal. ilegal de arma de fogo e tráfico internacional de arma de
Não compete à justiça federal processar e julgar o fogo19.
crime de porte ilegal de arma de fogo de procedência
estrangeira18. Competência para Julgamento dos Crimes
Nas condutas importar ou exportar, o crime é material. Previstos no Estatuto do Desarmamento
Na conduta de favorecer a entrada ou saída do território
nacional, o crime é formal, pois basta que ocorra o favore- Sistema Nacional de Armas – Sinarm – é órgão que
cimento, ainda que não haja a efe va entrada ou saída das pertence à União. A par r dessa premissa, cogitou-se que
armas, acessórios ou munições. os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento eram da
É admissível a tenta va, se for possível o fracionamento competência da Jus ça Federal, porém a tese não vingou.
do iter criminis. Tanto o STJ quanto o STF não adotaram tal tese, senão
Vale lembrar que 1ª Turma do STF entendeu que não vejamos:
é cabível o princípio da insignificância no crime de tráfico
internacional de munição, conforme se depreende da leitura
Conflito de Competência nº 45.483, 3ª Seção – STJ:
do informa vo nº 606:
Porte ilegal de arma de fogo de uso permi do. Sis-
tema Nacional de Armas. Lei nº 10.826, de 2003.
A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus
Competência (federal/estadual).
em que se pretendia a aplicação do princípio da
insignificância para trancar ação penal instaurada 1. O Sistema ins tuído pela Lei nº 10.826 haveria
contra o paciente, pela suposta prá ca do crime de mesmo de ser de cunho nacional (“circunscrição em
tráfico internacional de munição (Lei nº10.826/2003, todo o território nacional”).
art. 18). A defesa sustentava que seria objeto da 2. Certamente que esse ato legisla vo não remeteu à
denúncia apenas a apreensão de 3 cápsulas de mu- Jus ça Federal toda a competência para as questões
nição de origem estrangeira, daí a aplicabilidade do penais daí oriundas.
referido postulado. Aduziu-se que o denunciado faria 3. Quando não há ofensa direta aos bens, servi-
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do tráfico internacional de armas seu meio de vida e ços e interesses a que se refere o art. 109, IV, da
que teriam sido encontrados em seu poder diversos Cons tuição, não há como atribuir competência à
armamentos e munições que, em situação regular, Jus ça Federal.
não teriam sido objeto da peça acusatória. Nesse 4. Caso de competência estadual.
sen do, não se poderia cogitar da mínima ofensivi- 5. Conflito conhecido e declarado competente o
dade da conduta ou da ausência de periculosidade suscitado.
social da ação, porquanto a hipótese seria de crime
de perigo abstrato, para o qual não importaria o re- O STJ disse que é o bem jurídico lesado que fixa a com-
sultado concreto. Vencido o Min. Marco Aurélio, que petência. No caso, o bem jurídico lesado é a SEGURANÇA
deferia a ordem por reputar configurado no caso o PÚBLICA, que não é bem da União, mas da cole vidade.
crime de bagatela, tendo em vista que a imputação Assim, com o advento do Estatuto do Desarmamento – Lei
diria respeito tão somente às 3 cápsulas de origem nº 10.826/2003 –, a competência para processar e julgar os

18 19
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Polícia Federal/Delegado/2002. Tema cobrado na seguinte prova: TJDFT/Juiz de Direito Subs tuto/2007.

19
crimes de porte ilegal de arma de fogo, conforme orientação mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas
do STJ, não é da jus ça federal20. condições estabelecidas no regulamento desta Lei.
Salvo o delito de tráfico internacional, os crimes previs- § 4o A listagem dos servidores das ins tuições de
tos no Estatuto do Desarmamento são de competência da que trata este ar go deverá ser atualizada semes-
Jus ça Estadual. tralmente no Sinarm.
§ 5o As ins tuições de que trata este ar go são obri-
Doação e Destruição das Armas de Fogo gadas a registrar ocorrência policial e a comunicar à
Polícia Federal eventual perda, furto, roubo ou outras
As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do formas de extravio de armas de fogo, acessórios e
laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras
interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato.
juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máximo
de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação Com a alteração em questão, os servidores no exercício
aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na de funções de segurança do Poder Judiciário e dos Ministé-
forma do regulamento da Lei nº 10.826/2003. rios Públicos da União e dos Estados passam a ter autorização
As armas de fogo encaminhadas ao Comando do Exérci- para portar arma de fogo, quando em serviço.
to que receberem parecer favorável à doação, obedecidos Os servidores em questão passaram a poder em serviço
o padrão e a dotação de cada Força Armada ou órgão de portar armas de fogo por conta dos recentes ataques feitos
segurança pública, atendidos os critérios de prioridade esta- por organizações criminosas às ins tuições públicas.
belecidos pelo Ministério da Jus ça e ouvido o Comando do Não haverá responsabilidade penal dos dirigentes dos
Exército, serão arroladas em relatório reservado trimestral a Tribunais, do Ministério Público da União e dos Estados,
ser encaminhado àquelas ins tuições, abrindo-se-lhes prazo no caso de perda, extravio, furto ou roubo da arma de fogo,
para manifestação de interesse. acessório ou munição, por conta de não se registrar em 24
horas ocorrência policial e de não se comunicar à Polícia
Recentes alterações no Estatuto do Federal os fatos em comento, uma vez que o parágrafo único
do art. 13 do Estatuto do Desarmamento, que trata de tais
Desarmamento omissões, não foi alterado.
A Lei n° 12.696/2012 alterou os ar gos 6º e 7º do Estatuto
do Desarmamento, senão vejamos: LEI Nº 10.826/2003

Art. 6o [...] Dispõe sobre registro, posse e


XI – os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. comercialização de armas de fogo
92 da Cons tuição Federal e os Ministérios Públicos e munição, sobre o Sistema Na-
da União e dos Estados, para uso exclusivo de ser- cional de Armas – Sinarm, define
vidores de seus quadros pessoais que efe vamente crimes e dá outras providências.
estejam no exercício de funções de segurança, na
forma de regulamento a ser emi do pelo Conselho O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso
Nacional de Jus ça - CNJ e pelo Conselho Nacional Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
do Ministério Público - CNMP. (NR)
[...] CAPÍTULO I
Art. 7o-A. As armas de fogo u lizadas pelos servidores Do Sistema Nacional de Armas
das ins tuições descritas no inciso XI do art. 6o serão
de propriedade, responsabilidade e guarda das res- Art. 1º O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, ins tuído
pec vas ins tuições, somente podendo ser u lizadas no Ministério da Jus ça, no âmbito da Polícia Federal, tem
quando em serviço, devendo estas observar as con- circunscrição em todo o território nacional.
dições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo Art. 2º Ao Sinarm compete:
órgão competente, sendo o cer ficado de registro e I – iden ficar as caracterís cas e a propriedade de armas
a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal de fogo, mediante cadastro;
em nome da ins tuição. II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas
§ 1o A autorização para o porte de arma de fogo e vendidas no País;
de que trata este ar go independe do pagamento III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo
de taxa. e as renovações expedidas pela Polícia Federal;
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§ 2o O presidente do tribunal ou o chefe do Ministé- IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio,


rio Público designará os servidores de seus quadros furto, roubo e outras ocorrências susce veis de alterar os
pessoais no exercício de funções de segurança que dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de
poderão portar arma de fogo, respeitado o limite empresas de segurança privada e de transporte de valores;
máximo de 50% (cinquenta por cento) do número V – iden ficar as modificações que alterem as caracte-
de servidores que exerçam funções de segurança. rís cas ou o funcionamento de arma de fogo;
§ 3o O porte de arma pelos servidores das ins tuições VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
de que trata este ar go fica condicionado à apresen- VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive
tação de documentação comprobatória do preenchi- as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
mento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei, VIII – cadastrar os armeiros em a vidade no País, bem
bem como à formação funcional em estabelecimen- como conceder licença para exercer a a vidade;
tos de ensino de a vidade policial e à existência de IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadis-
tas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de
20
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-CE/Juiz Subs tuto/2004-2005. armas de fogo, acessórios e munições;

20
X – cadastrar a iden ficação do cano da arma, as caracte- Art. 5º O cer ficado de Registro de Arma de Fogo, com
rís cas das impressões de raiamento e de microestriamento validade em todo o território nacional, autoriza o seu pro-
de projé l disparado, conforme marcação e testes obrigato- prietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior
riamente realizados pelo fabricante; de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou,
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o tular
Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.
porte de armas de fogo nos respec vos territórios, bem como (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004)
manter o cadastro atualizado para consulta. § 1º O cer ficado de registro de arma de fogo será expedido
Parágrafo único. As disposições deste ar go não alcan- pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.
çam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem § 2º Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III
como as demais que constem dos seus registros próprios. do art. 4º deverão ser comprovados periodicamente, em
período não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do
CAPÍTULO II estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação
Do Registro do Cer ficado de Registro de Arma de Fogo.
§ 3º O proprietário de arma de fogo com cer ficados de
Art. 3º É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do
competente. Distrito Federal até a data da publicação desta Lei que não
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei
registradas no Comando do Exército, na forma do regula- deverá renová-lo mediante o per nente registro federal,
mento desta Lei. até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de
Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permi do o documento de iden ficação pessoal e comprovante de resi-
interessado deverá, além de declarar a efe va necessidade, dência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do
atender aos seguintes requisitos: cumprimento das demais exigências constantes dos incisos
I – comprovação de idoneidade, com a apresentação de I a III do caput do art. 4º desta Lei. (Redação dada pela Lei
cer dões nega vas de antecedentes criminais fornecidas nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)
pela Jus ça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não § 4º Para fins do cumprimento do disposto no § 3º deste
estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, ar go, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no De-
que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação partamento de Polícia Federal, cer ficado de registro provi-
dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
sório, expedido na rede mundial de computadores – internet,
II – apresentação de documento comprobatório de ocu-
na forma do regulamento e obedecidos os procedimentos a
pação lícita e de residência certa;
seguir: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
III – comprovação de capacidade técnica e de ap dão
I – emissão de cer ficado de registro provisório pela in-
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na
ternet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e (Incluído
forma disposta no regulamento desta Lei.
pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1º O Sinarm expedirá autorização de compra de arma
de fogo após atendidos os requisitos anteriormente esta- II – revalidação pela unidade do Departamento de Polí-
belecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, cia Federal do cer ficado de registro provisório pelo prazo
sendo intransferível esta autorização. que es mar como necessário para a emissão defini va do
§ 2º A aquisição de munição somente poderá ser feita no cer ficado de registro de propriedade. (Incluído pela Lei
calibre correspondente à arma registrada e na quan dade nº 11.706, de 2008)
estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela
Lei nº 11.706, de 2008) CAPÍTULO III
§ 3º A empresa que comercializar arma de fogo em terri- Do Porte
tório nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade
competente, como também a manter banco de dados com Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo o
todas as caracterís cas da arma e cópia dos documentos território nacional, salvo para os casos previstos em legisla-
previstos neste ar go. ção própria e para:
§ 4º A empresa que comercializa armas de fogo, acessó- I – os integrantes das Forças Armadas;
rios e munições responde legalmente por essas mercadorias, II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput
ficando registradas como de sua propriedade enquanto não do art. 144 da Cons tuição Federal;
forem vendidas. III – os integrantes das guardas municipais das capitais
§ 5º A comercialização de armas de fogo, acessórios dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (qui-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

e munições entre pessoas sicas somente será efe vada nhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no
mediante autorização do Sinarm. regulamento desta Lei;
§ 6º A expedição da autorização a que se refere o § 1º IV – os integrantes das guardas municipais dos Municípios
será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000
no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do reque- (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação
rimento do interessado. dada pela Lei nº 10.867, de 2004)
§ 7º O registro precário a que se refere o § 4º prescinde do V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inte-
cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste ar go. ligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabi-
§ 8º Estará dispensado das exigências constantes do nete de Segurança Ins tucional da Presidência da República;
inciso III do caput deste ar go, na forma do regulamento, VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no
o interessado em adquirir arma de fogo de uso permi do que art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Cons tuição Federal;
comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas VII – os integrantes do quadro efe vo dos agentes e
caracterís cas daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e
nº 11.706, de 2008) as guardas portuárias;

21
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte § 7º Aos integrantes das guardas municipais dos Muni-
de valores cons tuídas, nos termos desta Lei; cípios que integram regiões metropolitanas será autorizado
IX – para os integrantes das en dades de desporto legal- porte de arma de fogo, quando em serviço. (Incluído pela
mente cons tuídas, cujas a vidades espor vas demandem Lei nº 11.706, de 2008)
o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Art. 7º As armas de fogo u lizadas pelos empregados das
Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental. empresas de segurança privada e de transporte de valores,
X – integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita cons tuídas na forma da lei, serão de propriedade, respon-
Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos sabilidade e guarda das respec vas empresas, somente
de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela podendo ser u lizadas quando em serviço, devendo essas
Lei nº 11.501, de 2007) observar as condições de uso e de armazenagem estabeleci-
XI – os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 das pelo órgão competente, sendo o cer ficado de registro
da Cons tuição Federal e os Ministérios Públicos da União e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em
e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de seus nome da empresa.
quadros pessoais que efe vamente estejam no exercício de § 1º O proprietário ou diretor responsável de empresa de
funções de segurança, na forma de regulamento a ser emi- segurança privada e de transporte de valores responderá pelo
do pelo Conselho Nacional de Jus ça - CNJ e pelo Conselho crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta Lei, sem
Nacional do Ministério Público - CNMP. (Incluído pela Lei nº prejuízo das demais sanções administra vas e civis, se deixar
12.694, de 2012) de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal
§ 1º As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de
caput deste ar go terão direito de portar arma de fogo de fogo, acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas
propriedade par cular ou fornecida pela respec va corpo- primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato.
ração ou ins tuição, mesmo fora de serviço, nos termos do § 2º A empresa de segurança e de transporte de valores
regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional deverá apresentar documentação comprobatória do pre-
para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação enchimento dos requisitos constantes do art. 4º desta Lei
dada pela Lei nº 11.706, de 2008) quanto aos empregados que portarão arma de fogo.
§ 2º A autorização para o porte de arma de fogo aos § 3º A listagem dos empregados das empresas referidas
integrantes das ins tuições descritas nos incisos V, VI, VII e neste ar go deverá ser atualizada semestralmente junto
X do caput deste ar go está condicionada à comprovação ao Sinarm.
do requisito a que se refere o inciso III do caput do art. 4º Art. 7°-A. As armas de fogo u lizadas pelos servidores
desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta das ins tuições descritas no inciso XI do art. 6º serão de
Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) propriedade, responsabilidade e guarda das respec vas
§ 3º A autorização para o porte de arma de fogo das guar- ins tuições, somente podendo ser u lizadas quando em
das municipais está condicionada à formação funcional de serviço, devendo estas observar as condições de uso e de
seus integrantes em estabelecimentos de ensino de a vidade armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo
policial, à existência de mecanismos de fiscalização e de con- o cer ficado de registro e a autorização de porte expedidos
trole interno, nas condições estabelecidas no regulamento pela Polícia Federal em nome da ins tuição. (Incluído pela
desta Lei, observada a supervisão do Ministério da Jus ça. Lei nº 12.694, de 2012)
(Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004) § 1º A autorização para o porte de arma de fogo de que
§ 4º Os integrantes das Forças Armadas, das polícias fede- trata este ar go independe do pagamento de taxa. (Incluído
rais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares pela Lei nº 12.694, de 2012)
dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito § 2º O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério
descrito no art. 4º, ficam dispensados do cumprimento do Público designará os servidores de seus quadros pessoais no
disposto nos incisos I, II e III do mesmo ar go, na forma do exercício de funções de segurança que poderão portar arma
regulamento desta Lei. de fogo, respeitado o limite máximo de 50% (cinquenta por
§ 5º Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte cento) do número de servidores que exerçam funções de
e cinco) anos que comprovem depender do emprego de arma segurança. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será § 3º O porte de arma pelos servidores das ins tuições de
concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na que trata este ar go fica condicionado à apresentação de do-
categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso cumentação comprobatória do preenchimento dos requisitos
permi do, de ro simples, com 1 (um) ou 2 (dois) canos, constantes do art. 4º desta Lei, bem como à formação fun-
de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis), cional em estabelecimentos de ensino de a vidade policial
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

desde que o interessado comprove a efe va necessidade em e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle
requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta
documentos: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Lei. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
I – documento de iden ficação pessoal; (Incluído pela § 4º A listagem dos servidores das ins tuições de que
Lei nº 11.706, de 2008) trata este ar go deverá ser atualizada semestralmente no
II – comprovante de residência em área rural; e (Incluído Sinarm. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
pela Lei nº 11.706, de 2008) § 5º As ins tuições de que trata este ar go são obrigadas
III – atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei a registrar ocorrência policial e a comunicar à Polícia Federal
nº 11.706, de 2008) eventual perda, furto, roubo ou outras formas de extravio
§ 6º O caçador para subsistência que der outro uso à sua de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob
arma de fogo, independentemente de outras pificações sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois
penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por de ocorrido o fato. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
disparo de arma de fogo de uso permi do. (Redação dada Art. 8º As armas de fogo u lizadas em en dades despor-
pela Lei nº 11.706, de 2008) vas legalmente cons tuídas devem obedecer às condições

22
de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão compe- CAPÍTULO IV
tente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a Dos Crimes e das Penas
arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei.
Art. 9º Compete ao Ministério da Jus ça a autorização Posse irregular de arma de fogo de uso permi do
do porte de arma para os responsáveis pela segurança de Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo,
cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, acessório ou munição, de uso permi do, em desacordo com
ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta determinação legal ou regulamentar, no interior de sua
Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de
de fogo para colecionadores, a radores e caçadores e de trabalho, desde que seja o tular ou o responsável legal do
representantes estrangeiros em compe ção internacional estabelecimento ou empresa:
oficial de ro realizada no território nacional. Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de
uso permi do, em todo o território nacional, é de compe- Omissão de cautela
tência da Polícia Federal e somente será concedida após Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para
autorização do Sinarm. impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora
§ 1º A autorização prevista neste ar go poderá ser con- de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja
cedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos ter- sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
mos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
I – demonstrar a sua efe va necessidade por exercício Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o pro-
de a vidade profissional de risco ou de ameaça à sua inte- prietário ou diretor responsável de empresa de segurança e
gridade sica; transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência
II – atender às exigências previstas no art. 4º desta Lei; policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo
III – apresentar documentação de propriedade de arma ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou
de fogo, bem como o seu devido registro no órgão compe- munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
tente. quatro) horas depois de ocorrido o fato.
§ 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista
neste ar go, perderá automa camente sua eficácia caso o Porte ilegal de arma de fogo de uso permi do
portador dela seja de do ou abordado em estado de embria- Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter
guez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas. em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
Art. 11. Fica ins tuída a cobrança de taxas, nos valores emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocul-
constantes do Anexo desta Lei, pela prestação de serviços tar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permi do,
rela vos: sem autorização e em desacordo com determinação legal
I – ao registro de arma de fogo;
ou regulamentar:
II – à renovação de registro de arma de fogo;
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
III – à expedição de segunda via de registro de arma de
Parágrafo único. O crime previsto neste ar go é inafian-
fogo;
çável, salvo quando a arma de fogo es ver registrada em
IV – à expedição de porte federal de arma de fogo;
nome do agente. (Vide Adin nº 3.112-1)
V – à renovação de porte de arma de fogo;
VI – à expedição de segunda via de porte federal de
arma de fogo. Disparo de arma de fogo
§ 1º Os valores arrecadados des nam-se ao custeio e Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em
à manutenção das a vidades do Sinarm, da Polícia Federal lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou
e do Comando do Exército, no âmbito de suas respec vas em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como
responsabilidades. finalidade a prá ca de outro crime:
§ 2º São isentas do pagamento das taxas previstas neste Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
ar go as pessoas e as ins tuições a que se referem os incisos Parágrafo único. O crime previsto neste ar go é inafian-
I a VII e X e o § 5º do art. 6º desta Lei. (Redação dada pela çável. (Vide Adin nº 3.112-1)
Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 11-A. O Ministério da Jus ça disciplinará a forma Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito
e as condições do credenciamento de profissionais pela Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber,
Polícia Federal para comprovação da ap dão psicológica e ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
da capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo. emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

(Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido
§ 1º Na comprovação da ap dão psicológica, o valor ou restrito, sem autorização e em desacordo com determi-
cobrado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor médio nação legal ou regulamentar:
dos honorários profissionais para realização de avaliação Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
Federal de Psicologia. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer
§ 2º Na comprovação da capacidade técnica, o valor sinal de iden ficação de arma de fogo ou artefato;
cobrado pelo instrutor de armamento e ro não poderá exce- II – modificar as caracterís cas de arma de fogo, de for-
der R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da munição. ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido
(Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
§ 3º A cobrança de valores superiores aos previstos nos induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
§§ 1º e 2º deste ar go implicará o descredenciamento do III – possuir, de ver, fabricar ou empregar artefato explo-
profissional pela Polícia Federal. (Incluído pela Lei nº 11.706, sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
de 2008) determinação legal ou regulamentar;

23
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer § 4º As ins tuições de ensino policial e as guardas muni-
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal cipais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6º desta
de iden ficação raspado, suprimido ou adulterado; Lei e no seu § 7º poderão adquirir insumos e máquinas de
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamen- recarga de munição para o fim exclusivo de suprimento de
te, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança suas a vidades, mediante autorização concedida nos termos
ou adolescente; e definidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.706, de
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização 2008)
legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º
desta Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e fis-
Comércio ilegal de arma de fogo calizar a produção, exportação, importação, desembaraço
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais pro-
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adul- dutos controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito
terar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma u lizar, de arma de fogo de colecionadores, a radores e caçadores.
em proveito próprio ou alheio, no exercício de a vidade Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elaboração
comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais
sem autorização ou em desacordo com determinação legal interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo
ou regulamentar: juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máximo
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na
ou industrial, para efeito deste ar go, qualquer forma de forma do regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou nº 11.706, de 2008)
clandes no, inclusive o exercido em residência. § 1º As armas de fogo encaminhadas ao Comando do
Exército que receberem parecer favorável à doação, obede-
Tráfico internacional de arma de fogo cidos o padrão e a dotação de cada Força Armada ou órgão
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou de segurança pública, atendidos os critérios de prioridade
saída do território nacional, a qualquer tulo, de arma de estabelecidos pelo Ministério da Jus ça e ouvido o Comando
fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade do Exército, serão arroladas em relatório reservado trimestral
competente: a ser encaminhado àquelas ins tuições, abrindo-se-lhes
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. prazo para manifestação de interesse. (Incluído pela Lei
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena nº 11.706, de 2008)
é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou § 2º O Comando do Exército encaminhará a relação das
munição forem de uso proibido ou restrito. armas a serem doadas ao juiz competente, que determinará
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e o seu perdimento em favor da ins tuição beneficiada. (In-
18, a pena é aumentada da metade se forem pra cados por cluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º § 3º O transporte das armas de fogo doadas será de
e 8º desta Lei. responsabilidade da ins tuição beneficiada, que procederá
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são ao seu cadastramento no Sinarm ou no Sigma. (Incluído pela
insusce veis de liberdade provisória. (Vide Adin nº 3.112-1) Lei nº 11.706, de 2008)
§ 4º (Vetado) (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
CAPÍTULO V § 5º O Poder Judiciário ins tuirá instrumentos para o
Disposições Gerais encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, conforme se trate
de arma de uso permi do ou de uso restrito, semestralmen-
Art. 22. O Ministério da Jus ça poderá celebrar convênios te, da relação de armas acauteladas em juízo, mencionando
com os Estados e o Distrito Federal para o cumprimento do suas caracterís cas e o local onde se encontram. (Incluído
disposto nesta Lei. pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como a Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercia-
definição das armas de fogo e demais produtos controlados, lização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros
de usos proibidos, restritos, permi dos ou obsoletos e de de armas de fogo, que com estas se possam confundir.
valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e
Execu vo Federal, mediante proposta do Comando do Exér- os simulacros des nados à instrução, ao adestramento, ou
cito. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 1º Todas as munições comercializadas no País deverão Comando do Exército.


estar acondicionadas em embalagens com sistema de código Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excep-
de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a iden fica- cionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito.
ção do fabricante e do adquirente, entre outras informações Parágrafo único. O disposto neste ar go não se aplica às
definidas pelo regulamento desta Lei. aquisições dos Comandos Militares.
§ 2º Para os órgãos referidos no art. 6º, somente serão Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos
expedidas autorizações de compra de munição com iden - adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das en -
ficação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na dades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do
forma do regulamento desta Lei. art. 6º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3º As armas de fogo fabricadas a par r de 1 (um) ano da Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já
data de publicação desta Lei conterão disposi vo intrínseco concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação
de segurança e de iden ficação, gravado no corpo da arma, desta Lei. (Vide Lei nº 10.884, de 2004)
definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo
previstos no art. 6º. de validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la,

24
perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4º, 6º e 10 Art. 36. É revogada a Lei nº 9.437, de 20 de fevereiro
desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publicação, de 1997.
sem ônus para o requerente. Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo
de uso permi do ainda não registrada deverão solicitar Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182º da Independência
seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante e 115º da República.
apresentação de documento de identificação pessoal e
comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos Márcio Thomaz Bastos
meios de prova admi dos em direito, ou declaração firmada José Viegas Filho
na qual constem as caracterís cas da arma e a sua condição Marina Silva
de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de
taxas e do cumprimento das demais exigências constantes QUESTÕES DE CONCURSOS
dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei. (Redação dada
pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo) Julgue os itens.
Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto 1. (NCE/MPE-RJ/Técnico Superior Processual/2007) Em
no caput deste ar go, o proprietário de arma de fogo poderá relação ao cognominado “Estatuto do Desarmamen-
obter, no Departamento de Polícia Federal, cer ficado de to” – Lei nº 10.826/2003 –, é correto afirmar que o
registro provisório, expedido na forma do § 4º do art. 5º delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permi do
desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
poderá ser, em algumas circunstâncias, afiançável.
Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de
2. (NCE/MPE-RJ/Técnico Superior Processual/2007) Em
fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo,
relação ao cognominado “Estatuto do Desarmamen-
entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização,
to” – Lei nº 10.826/2003 –, é correto afirmar que o
nos termos do regulamento desta Lei.
delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo
restrito é insusce vel de liberdade provisória.
poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo,
3. (NCE/MPE-RJ/Técnico Superior Processual/2007) Em
e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma
relação ao cognominado “Estatuto do Desarmamen-
do regulamento, ficando ex nta a punibilidade de eventual
to” – Lei nº 10.826/2003 –, é correto afirmar que possuir
posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei
o agente condenação anterior por crime contra a pessoa
nº 11.706, de 2008)
ou por tráfico ilícito de entorpecentes qualifica o crime
Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil
de porte ilegal de arma de fogo de uso permi do.
reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme espe-
4. (Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia Fede-
cificar o regulamento desta Lei:
ral/2004) Por ser o policiamento ostensivo competência
I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviá-
rio, marí mo, fluvial ou lacustre que deliberadamente, por das polícias militares estaduais, é vedado aos integran-
qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o trans- tes das guardas municipais o porte de arma durante o
porte de arma ou munição sem a devida autorização ou com serviço.
inobservância das normas de segurança; 5. (Cespe/1º Exame de Ordem/TO-SE-RN-RJ-PI-PE- PB-M
II – à empresa de produção ou comércio de armamen- T-MS-MA-ES-DF-CE-BA-AM-AP-AL-AC/2007) A circuns-
tos que realize publicidade para venda, es mulando o uso tância de estar a arma municiada ou não é relevante
indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações para a configuração do delito de porte ilegal de arma
especializadas. de fogo.
Art. 34. Os promotores de eventos em locais fecha- 6. (Cespe/3º Exame de Ordem/AL-AM-BA-CE-ES-
dos, com aglomeração superior a 1000 (um mil) pessoas, MT-MS-PB-PE-SE-RN/2006) O princípio da insignifi-
adotarão, sob pena de responsabilidade, as providências cância pode ser aplicado ao delito de contrabando de
necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas, munição de arma de fogo.
ressalvados os eventos garan dos pelo inciso VI do art. 5º 7. (Delegado da Polícia Civil da Bahia/2001) Verificando
da Cons tuição Federal. que, no interior de uma residência, encontra-se um
Parágrafo único. As empresas responsáveis pela presta- indivíduo portando armas de uso restrito do Exército,
ção dos serviços de transporte internacional e interestadual a autoridade policial poderá adentrar na residência
de passageiros adotarão as providências necessárias para sem mandado, autuando o agente e apreendendo as
armas.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

evitar o embarque de passageiros armados.


8. (Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil/2008) Consi-
CAPÍTULO VI dere a seguinte situação hipoté ca. Alfredo, imputável,
Disposições Finais transportava em seu veículo um revólver de calibre
38, quando foi abordado em uma operação policial de
Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e trânsito. A diligência policial resultou na localização da
munição em todo o território nacional, salvo para as en da- arma, desmuniciada, embaixo do banco do motorista.
des previstas no art. 6º desta Lei. Em um dos bolsos da mochila de Alfredo foram localiza-
§ 1º Este disposi vo, para entrar em vigor, dependerá dos 5 projéteis do mesmo calibre. Indagado a respeito,
de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado Alfredo declarou não possuir autorização legal para o
em outubro de 2005. porte da arma nem o respec vo cer ficado de registro.
§ 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o dis- O fato foi apresentado à autoridade policial compe-
posto neste ar go entrará em vigor na data de publicação tente. Nessa situação, caberá à autoridade somente
de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. a apreensão da arma e das munições e a imediata

25
liberação de Alfredo, visto que, estando o armamento de fogo de uso restrito serão registradas no Comando
desmuniciado, não se caracteriza o crime de porte ilegal do Exército.
de arma de fogo. 18. (OAB-PR/2º Exame de Ordem/2006) Sobre a Lei
9. (TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007) Consoante nº 10.826/2003 (Lei de registro, posse e comercialização
entendimento do STF, são insusce veis de liberdade de armas de fogo e munição): o cer ficado de Registro
provisória os crimes de posse ou porte ilegal de arma de Arma de Fogo, com validade em todo o território
de fogo de uso restrito, comércio ilegal de arma de fogo nacional, autoriza o seu proprietário à guarda, porte e
e tráfico internacional de arma de fogo. transporte da arma registrada.
10. (Cespe/TJ-CE/Juiz Substituto/2004-2005) Com 19. (OAB-PR/2º Exame de Ordem/2006) Sobre a Lei
o advento do estatuto do desarmamento – Lei nº 10.826/2003 (Lei de registro, posse e comercialização
nº 10.826/2003 –, a competência para processar e jul- de armas de fogo e munição): é permi do o porte de
gar os crimes de porte ilegal de arma de fogo, conforme arma de fogo para os integrantes do quadro efe vo dos
orientação do STJ, passou a ser da jus ça federal. agentes e guardas prisionais e para as guardas portu-
árias, desde que comprovada a capacidade técnica e
11 . (Vunesp/TJ-SP/Juiz/2005) Processado por infração do ap dão psicológica.
art. 16 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarma- 20. (OAB-PR/2º Exame de Ordem/2006) Sobre a Lei
mento), sob acusação de manter sob sua guarda arma nº 10.826/2003 (Lei de registro, posse e comercialização
de fogo de uso proibido sem autorização legal ou regu- de armas de fogo e munição): é permi do o porte de
lamentar, certo trabalhador rural foi, ao final, absolvido arma de fogo para os integrantes da carreira de Auditor
por falta de provas e, com o trânsito em julgado da da Receita Federal e Técnicos da Receita Federal.
sentença, requereu a res tuição da arma apreendida, 21. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
alegando que já não mais interessava ao processo. Qual Será aplicada multa à empresa de produção ou comér-
deve ser, nessa hipótese, a decisão judicial? cio de armamentos que realizar publicidade para venda,
a) Deferimento do pedido de res tuição por haver sido es mulando o uso indiscriminado de armas de fogo,
decretada a absolvição. exceto nas publicações especializadas.
b) Indeferimento da pretendida res tuição da arma, 22. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
por se tratar de instrumento de uso proibido aos Durante o prazo de que a população dispõe para
par culares. entregá-la à Polícia Federal, o delito de posse de arma
c) Deferimento do pedido, mas condicionada a res tui- de fogo foi claramente abolido pela referida norma.
ção à regularização do registro da arma apreendida, 23. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
perante a autoridade competente. É amplamente admissível a consideração da arma
d) Indeferimento da pretendida res tuição da arma desmuniciada como majorante no delito de roubo,
porque a absolvição foi decretada por falta de provas. porquanto, ainda que desprovida de potencialidade
lesiva, sua u lização é capaz de produzir temor maior
12. (Cespe/Polícia Federal/Delegado/2002) Compete à à ví ma.
jus ça federal processar e julgar o crime de porte ilegal 24. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
de arma de fogo de procedência estrangeira. A u lização de arma de brinquedo durante um assalto
13. (NCE/PC-DF/Delegado/2004) Em 20 de dezembro de acarreta a majoração, de um terço até metade, da pena
2003, Berola é de do na posse de uma arma de fogo eventualmente aplicada ao criminoso.
de uso permi do. Lavrado o termo circunstanciado, 25. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
uma semana após, os autos são reme dos ao Juizado É permi do o porte de arma de fogo aos integrantes
Especial Criminal de Cantagalo, onde o defensor de das guardas municipais dos municípios com mais de
Berola postula a realização de exame de insanidade cinquenta mil e menos de quinhentos mil habitantes,
mental, com sua nomeação como curador. Na perícia, mesmo fora de serviço.
constata-se a inteira incapacidade mental de Berola 26. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
à época do fato. Na hipótese: será feito o pedido de Em 17/2/2005, Vitor foi surpreendido, em a tude sus-
declínio de competência para o Juízo comum, pois o peita, dentro de um veículo estacionado na via pública,
fato-crime é regulado pela Lei nº 10.826/2003, não por policiais militares, que lograram êxito em encontrar
alcançado pelo procedimento dos crimes de menor em poder do mesmo duas armas de fogo, sem autoriza-
potencial ofensivo. ção e em desacordo com determinação legal, as quais
14. (DRS/Acadepol/PC-MG/Delegado/2007) É possível a eram de sua propriedade, sendo um revólver Taurus,
não lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, na hipó- calibre 38, com numeração de série raspada, e uma gar-
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tese de crime de Omissão de Cautela, previsto no ar go rucha, marca Rossi, calibre 22. De acordo com a situação
13 da Lei nº 10.826/2003, conhecida como “Estatuto hipoté ca acima, com o Estatuto do Desarmamento e
do Desarmamento”. com a jurisprudência do STF, Vitor pra cou a conduta
15. (DRS/Acadepol/PC-MG/Delegado/2007) É possível a de portar arma de fogo com numeração suprimida.
concessão de fiança, pela Autoridade Policial, após a 27. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, na hipótese Em 17/2/2005, Vitor foi surpreendido, em atitude
de crime de Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso suspeita, dentro de um veículo estacionado na via
Permi do. pública, por policiais militares, que lograram êxito em
16. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004) Não é crime portar encontrar em poder do mesmo duas armas de fogo, sem
munições de arma de fogo. autorização e em desacordo com determinação legal,
17. (OAB-PR/2º Exame de Ordem/2006) Sobre a Lei as quais eram de sua propriedade, sendo um revólver
nº 10.826/2003 (Lei de registro, posse e comercialização Taurus, calibre 38, com numeração de série raspada,
de armas de fogo e munição): é obrigatório o registro de e uma garrucha, marca Rossi, calibre 22. De acordo
arma de fogo no órgão competente, sendo que as armas com a situação hipoté ca acima, com o Estatuto do De-

26
sarmamento e com a jurisprudência do STF, a conduta 33. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de
de ser proprietário de arma de fogo não foi abolida, Polícia/2009) A Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do De-
temporariamente, pelo Estatuto do Desarmamento. sarmamento – determinou que os possuidores e os pro-
28. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009) prietários de armas de fogo não registradas deveriam,
Em 17/2/2005, Vitor foi surpreendido, em a tude suspei- sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180
ta, dentro de um veículo estacionado na via pública, por dias após a publicação da lei, solicitar o seu registro,
policiais militares, que lograram êxito em encontrar em apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação
poder do mesmo duas armas de fogo, sem autorização da origem lícita da posse ou entregá-las à Polícia Fede-
e em desacordo com determinação legal, as quais eram ral. Houve a prorrogação do prazo por duas vezes – Lei
de sua propriedade, sendo um revólver Taurus, calibre nº 10.884/2004 e Lei nº 11.118/2005 – até a edição da
38, com numeração de série raspada, e uma garrucha, Lei nº 11.191/2005, que es pulou o termo final para o
marca Rossi, calibre 22. De acordo com a situação hipo- dia 23/10/2005. As condutas delituosas relacionadas
té ca acima, com o Estatuto do Desarmamento e com ao porte e à posse de arma de fogo foram abarcadas
a jurisprudência do STF, a posse pressupõe que a arma pela denominada aboli o criminis temporária, prevista
de fogo esteja fora da residência ou local de trabalho. na Lei nº 10.826/2003.
29. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009) 34. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de
Em 17/2/2005, Vitor foi surpreendido, em atitude Polícia/2009) A Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do
suspeita, dentro de um veículo estacionado na via Desarmamento – determinou que os possuidores e
pública, por policiais militares, que lograram êxito em os proprietários de armas de fogo não registradas
encontrar em poder do mesmo duas armas de fogo, deveriam, sob pena de responsabilidade penal, no
sem autorização e em desacordo com determinação prazo de 180 dias após a publicação da lei, solicitar o
legal, as quais eram de sua propriedade, sendo um seu registro, apresentando nota fiscal de compra ou a
revólver Taurus, calibre 38, com numeração de série comprovação da origem lícita da posse ou entregá-las à
raspada, e uma garrucha, marca Rossi, calibre 22. De Polícia Federal. Houve a prorrogação do prazo por duas
acordo com a situação hipoté ca acima, com o Estatuto vezes – Lei nº 10.884/2004 e Lei nº 11.118/2005 – até
do Desarmamento e com a jurisprudência do STF, Vitor
a edição da Lei nº 11.191/2005, que es pulou o termo
pra cou a conduta de possuir arma de fogo.
final para o dia 23/10/2005. O porte de arma, segun-
30. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
do o Estatuto do Desarmamento, pode ser concedido
Em 17/2/2005, Vitor foi surpreendido, em atitude
àqueles a quem a ins tuição ou a corporação autorize
suspeita, dentro de um veículo estacionado na via
pública, por policiais militares, que lograram êxito em a u lização em razão do exercício de sua a vidade.
encontrar em poder do mesmo duas armas de fogo, sem Assim, um delegado de polícia que esteja aposentado
autorização e em desacordo com determinação legal, não tem direito ao porte de armas; o pretendido direito
as quais eram de sua propriedade, sendo um revólver deve ser pleiteado nos moldes previstos pela legislação
Taurus, calibre 38, com numeração de série raspada, para os par culares em geral.
e uma garrucha, marca Rossi, calibre 22. De acordo com 35. (Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Escrivão de
a situação hipoté ca acima, com o Estatuto do Desar- Polícia/2009) A Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do De-
mamento e com a jurisprudência do STF, a conduta de sarmamento – determinou que os possuidores e os
portar arma de fogo foi abolida, temporariamente, pelo proprietários de armas de fogo não registradas deveriam,
Estatuto do Desarmamento. sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180
31. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polí- dias após a publicação da lei, solicitar o seu registro,
cia/2009) A Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do Desarma- apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação
mento – determinou que os possuidores e os proprietários da origem lícita da posse ou entregá-las à Polícia Fede-
de armas de fogo não registradas deveriam, sob pena ral. Houve a prorrogação do prazo por duas vezes – Lei
de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias após a nº 10.884/2004 e Lei nº 11.118/2005 – até a edição da
publicação da lei, solicitar o seu registro, apresentando Lei nº 11.191/2005, que es pulou o termo final para o dia
nota fiscal de compra ou a comprovação da origem lícita 23/10/2005. A obje vidade jurídica dos crimes de porte e
da posse ou entregá-las à Polícia Federal. Houve a pror- posse de arma de fogo, pificados na Lei nº 10.826/2003,
rogação do prazo por duas vezes – Lei nº 10.884/2004 e restringe-se à incolumidade pessoal.
Lei nº 11.118/2005 – até a edição da Lei nº 11.191/2005,
que es pulou o termo final para o dia 23/10/2005. O porte GABARITO
consiste em manter no interior de residência, ou depen-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

dência desta, ou no local de trabalho a arma de fogo.


1. C 14. C 27. E
32. (Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Escrivão de
2. E 15. C 28. E
Polícia/2009) A Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do De-
3. E 16. E 29. E
sarmamento – determinou que os possuidores e os
4. E 17. C 30. E
proprietários de armas de fogo não registradas deveriam,
5. E 18. E 31. E
sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180
6. E 19. C 32. E
dias após a publicação da lei, solicitar o seu registro,
7. C 20. C 33. E
apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação
8. E 21. C 34. C
da origem lícita da posse ou entregá-las à Polícia Fede-
9. E 22. E 35. E
ral. Houve a prorrogação do prazo por duas vezes – Lei 10. E 23. E
nº 10.884/2004 e Lei nº 11.118/2005 – até a edição da 11. b 24. E
Lei nº 11.191/2005, que es pulou o termo final para o 12. E 25. E
dia 23/10/2005. A posse pressupõe que a arma de fogo 13. C 26. C
esteja fora da residência ou do local de trabalho.

27
CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS Rol dos Crimes Hediondos

Conceito de Crime Hediondo É primordial que o candidato memorize o rol dos crimes
hediondos. São eles:
O delito hediondo é aquele considerado repugnante,
bárbaro ou asqueroso. 1) Homicídio, quando pra cado em a vidade pica de
grupo de extermínio, ainda que come do por um só agente
O homicídio simples somente é considerado delito he-
Previsão Cons tucional diondo quando pra cado em a vidade pica de grupo de
extermínio, ainda que come do por um só autor. Da leitura
Dispõe o art. 5º, inciso XLIII, da Carta Magna: que se faz do art. 121 do Código Penal, percebe-se que não
existe a qualificadora “a vidade pica de grupo de exter-
a lei considerará crimes inafiançáveis e insusce veis mínio”, no entanto, na prá ca, o homicídio assim pra cado
de graça ou anis a a prá ca da tortura, o tráfico nada mais é do que um qualificado.
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo Interessante é o julgado da Terceira Seção do STJ, que
e os definidos como crimes hediondos, por eles trata do homicídio pra cado por grupos de extermínio e o
respondendo os mandantes, os executores e os que, julgamento pela Jus ça Federal:
podendo evitá-los, se omi rem;
COMPETÊNCIA. DESLOCAMENTO. JUSTIÇA FEDERAL.
Ao dispor sobre os crimes hediondos e equiparados, HOMICÍDIO. GRUPOS DE EXTERMÍNIO.
o legislador originário determinou que tais delitos vessem Trata-se de incidente de deslocamento de compe-
um tratamento mais rigoroso que os demais. tência suscitado pelo Procurador-Geral da República
Além do comando a ser seguido, a Lei Fundamental tam- para transferir à Justiça Federal a investigação, o
bém determinou que os crimes de tráfico de drogas, terroris- processamento e o julgamento do homicídio de ad-
mo e tortura recebessem o mesmo tratamento rigoroso dado vogado e vereador conhecido defensor dos direitos
aos crimes hediondos. Assim, tais delitos foram considerados humanos que, durante toda a sua trajetória pública,
como equiparados ou assemelhados aos hediondos. vinha denunciando grupos de extermínio que agem
Em diversos concursos, o examinador já ques onou ao impunes há mais de uma década em região nordes -
candidato, em questões de múl pla escolha, quais eram os na. O vereador foi assassinado em 24/1/2009, depois
crimes hediondos e quais eram os assemelhados. de sofrer diversas ameaças e atentados por mo vo
torpe (vingança), supostamente em decorrência de
Crimes Equiparados sua atuação de enfrentamento e denúncias contra
Crimes Hediondos os grupos de extermínio. As ações desses grupos
aos Hediondos
denunciados pelo vereador resultaram em cerca de
Os previstos no art. 1º da 1) Tráfico de drogas
duzentos homicídios com caracterís cas de execução
Lei nº 8.072/1990, tanto na 2) Terrorismo sumária e com suposta par cipação de par culares e
forma tentada quanto na 3) Tortura autoridades estaduais, tendo, inclusive, assassinado
forma consumada. testemunhas envolvidas. Segundo a Min. Relatora, tais
fatos decorrem de grave violação de direitos humanos,
Sistemas o que acabou por atrair a atenção de organizações
da sociedade civil, das autoridades municipais locais,
Para a concepção de crime hediondo, há três sistemas das Secretarias de Segurança dos dois estados do
básicos. São eles: Nordeste envolvidos, dos respectivos Ministérios
1. Sistema Legal. Cabe à lei definir quais são os crimes Públicos e Tribunais de Jus ça, do Senado Federal e
considerados hediondos. da Câmara dos Deputados, do Ministério da Jus ça
2. Sistema Judicial. Cabe ao juiz, de acordo com o caso e da Polícia Federal, da Comissão Interamericana de
concreto, estabelecer os delitos que serão considerados Direitos Humanos (OEA), da Ordem dos Advogados,
hediondos. passando pelo Ministério Público Federal, até a ma-
3. Sistema Misto. Como o próprio nome sugere, neste nifestação do então Procurador-Geral da República.
sistema, a lei define os crimes hediondos, facultando ao Ressalta que a instauração de comissão parlamentar
juiz, diante do caso em concreto, estabelecer outros delitos. de inquérito na Câmara dos Deputados (CPI) para
De forma bem clara, no nosso ordenamento jurídico, inves gar a atuação desses grupos de extermínio deu-
o caráter hediondo de um crime depende de previsão legal, -se, em 2005. Entretanto observa que desde 2002 já
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sendo assim editada a Lei nº 8.072/1990, ou seja, é vedado haviam sido feitas, na jurisdição internacional na OEA,
ao magistrado ampliar o rol previsto, não podendo conferir recomendações para que fossem adotadas medidas
hediondez a crime não constante do elenco. cautelares des nadas à proteção integral de diversas
pessoas envolvidas, entre elas o vereador, medidas
Tenta va e Consumação as quais ou deixaram de ser cumpridas ou não foram
efe vas. Para a Min. Relatora, os fatos que mo varam
Como rege a cabeça do art. 1º da Lei nº 8.072/1990, o pedido de deslocamento da competência nos mol-
consideram-se hediondos todos os crimes arrolados neste des do § 5º do art. 109 da CF/1988 fundamentaram-se
ar go, consumados ou tentados. nos pressupostos exigidos para sua concessão: na
existência de grave violação de direitos humanos, no
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes risco de responsabilização internacional decorrente do
crimes, todos pificados no Decreto-Lei nº 2.848, de descumprimento de obrigações jurídicas assumidas
7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados em tratados internacionais e na incapacidade das
ou tentados [...] (Grifo nosso). instâncias e autoridades locais de oferecer respostas

28
efe vas como levantar provas, combater, reprimir ou patrimônio, pois a finalidade do agente é a apropriação de
punir as ações desses grupos de extermínio que dei- bem alheio móvel, embora seja a ví ma a ngida diretamen-
xaram de ser feitas, muitas vezes, pela impossibilidade te, ou seja, o roubo é o crime-fim, enquanto o homicídio
de condições. Por outro lado, destaca que não foram caracteriza-se como crime-meio.
trazidos elementos concretos em que se evidenciaria A doutrina considera o latrocínio um crime complexo,
o envolvimento de membros do Judiciário ou do MP pois contém dois pos penais na sua descrição, o que faz
local ou ainda inércia em apurar os fatos. Também gerar as seguintes hipóteses:
explica que não poderia acolher pedidos genéricos 1. roubo consumado e homicídio tentado: tenta va de
quanto ao desarquivamento de feitos ou outras latrocínio;
inves gações de fatos não especificados ou mesmo 2. roubo consumado e homicídio consumado: latrocínio
sem novas provas. Diante do exposto, a Seção, ao consumado;
prosseguir o julgamento, acolheu em parte o inciden- 3. roubo tentado e homicídio tentado: tentativa de
te, deslocando a ação penal para a Jus ça Federal da latrocínio;
Paraíba, que designará a circunscrição competente 4. roubo tentado e homicídio consumado: latrocínio
sobre o local do crime e dos fatos a ele conexos, bem consumado.
como determinando a comunicação deste julgamento Conforme lição de Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 713),
ao ministro da Jus ça e às Corregedorias dos Tribunais
de Jus ça dos estados nordes nos envolvidos. Prece- neste úl mo caso, dever-se-ia falar em latrocínio
dente citado: IDC 1-PA, DJ 10/10/2005. IDC 2-DF, Rel. tentado, pois o crime patrimonial não a ngiu a con-
Min. Laurita Vaz, julgado em 27/10/2010. cre zação, embora da violência tenha resultado a
morte. Entretanto, como a vida humana está acima
dos interesses patrimoniais, soa mais justa a punição
2) Homicídio qualificado
do agente por latrocínio consumado, até mesmo
Cumpre aqui ressaltar a seguinte indagação: “O homicí- porque o po penal menciona “se da violência resulta
dio privilegiado-qualificado é hediondo?” Para a maioria da morte”, seja ela exercida numa tenta va ou num de-
doutrina não é crime hediondo, sendo válida a citação de lito consumado anterior. É a posição esposada pela
jurisprudência no mesmo sen do: Súmula nº 610 do Supremo Tribunal Federal (“Há
crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma,
Penal. Habeas corpus. Art. 121, §§ 1º e 2º, incisos III ainda que não realize o agente a subtração de bens
e IV, do Código Penal. Progressão de regime. Crime da ví ma”) e da maioria da jurisprudência.
hediondo. Por incompa bilidade axiológica e por
falta de previsão legal, o homicídio qualificado-pri- Na preocupação de possibilitar ao aluno o conhecimento
vilegiado não integra o rol dos denominados crimes da jurisprudência atual do STF, é indispensável a leitura do
hediondos (Precedentes). Writ concedido. (STJ – HC Informa vo nº 5201, em que restou firmada posição diversa
nº 36.317/RJ, 5ª Turma) da anteriormente explanada.
1
Habeas corpus. Homicídio qualificado-privilegiado. Adequação Típica: Roubo Consumado e Homicídio Tentado – 1
A Turma deferiu, parcialmente, habeas corpus para cassar sentença de 1º grau que
Tentativa. Crime não elencado como hediondo. condenara o paciente por latrocínio tentado (CP, art. 157, § 3º, in fine, c/c art. 14,
Regime prisional. Adequação. Possibilidade de II). Na espécie, embora consumado o roubo, da violência pra cada não resultara
progressão. morte, mas lesão corporal de natureza grave numa das ví mas. A defesa reiterava
a alegação de que a capitulação dada ao fato seria inadequada e pleiteava, por
1. O homicídio qualificado-privilegiado não figura esse mo vo, o ajuste da imputação para roubo qualificado pelo resultado de lesão
no rol dos crimes hediondos. Precedentes do STJ. corporal grave (CP, art. 157, § 3º, 1ª parte). Inicialmente, adotou-se como premissa
o come mento do crime de roubo (CP, art. 157) e aduziu-se que a matéria discu-
2. Afastada a incidência da Lei nº 8.072/1990, o regi- da nos autos envolveria a adequação pica da conduta atribuída ao paciente.
me prisional deve ser fixado nos termos do disposto Asseverou-se que o latrocínio cons tui delito complexo, em que o crime-fim é o
no art. 33, § 3º, c/c o art. 59, ambos do Código Penal. roubo, não passando o homicídio de crime-meio. Desse modo, salientou-se que
a doutrina divide-se quanto à correta pificação dos fatos na hipótese de consu-
3. In casu, a pena aplicada ao réu foi de seis anos, mação do crime-fim (roubo) e de tenta va do crime-meio (homicídio), a saber: a)
dois meses e vinte dias de reclusão, e as instâncias classificação como roubo qualificado pelo resultado, quando ocorra lesão corporal
grave; b) classificação como latrocínio tentado; c) classificação como homicídio
ordinárias consideraram as circunstâncias judiciais qualificado, na forma tentada, em concurso material com o roubo qualificado.
favoráveis ao réu. Logo, deve ser estabelecido o Enfa zou-se, contudo, que tais situações seriam dis ntas daquela prevista no
regime prisional intermediário, consoante dispõe a Enunciado 610 da Súmula do STF ("Há crime de latrocínio, quando o homicídio
se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da ví ma.") e
alínea b do § 2º do art. 33 do Código Penal. que as decisões impugnadas aderiram à tese de que as circunstâncias dos fatos
4. Ordem concedida para, afastada a hediondez do evidenciaram o animus necandi dos agentes, caracterizando, por isso, tenta va de
latrocínio. Esclareceu-se, ainda, que esta Corte possui entendimento no sen do
crime em tela, fixar o regime inicial semiaberto para o de não ser possível punição por tenta va de latrocínio, quando o homicídio não
cumprimento da pena infligida ao ora paciente, garan- se realiza, e que é necessário o exame sobre a existência de dolo homicida do
ndo-se-lhe a progressão, nas condições estabelecidas agente, para, presente esse ânimo, dar-se por caracterizado concurso material
entre homicídio tentado e roubo consumado.
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em lei, a serem oportunamente aferidas pelo Juízo das HC nº 91.585/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, 2ª Turma, 16/9/2008.
Execuções Penais. (STJ – HC nº 41.579/SP, 5ª Turma)
Adequação Típica: Roubo Consumado e Homicídio Tentado – 2
Tendo em conta essas balizas, observou-se que para a classificação da conduta
Habeas corpus. Direito Penal. Homicídio qualifica- imputada ao paciente seria preciso iden ficar-se a finalidade dos agentes: a)
do-privilegiado. Progressão de regime. Possibilidade. se considerado ausente o animus necandi na violência pra cada, incidiria o
1. O homicídio qualificado-privilegiado não é crime art. 157, § 3º, 1ª parte, do CP; b) se definido que a intenção era de matar as
ví mas, o po correspondente seria o do art. 121, § 2º, V, do CP, na forma
hediondo, não se lhe aplicando norma que estabelece o tentada, em concurso material com o crime de roubo. Afirmou-se, entretanto,
regime fechado para o integral cumprimento da pena pri- que em sede de habeas corpus não se pode discu r o alcance da prova sobre a
intenção do agente. Assim, reputou-se incontroverso que, consoante admi do
va va de liberdade (Lei nº 8.072/1990, arts. 1º e 2º, § 1º). pelo STJ, as indicações seriam no sen do de que o dolo era de matar e não
2. Ordem concedida. (STJ – HC nº 43.043/MG, 6ª Turma) o de provocar lesão corporal. Esse o quadro, assentou-se que não restaria
alterna va senão a da teórica pificação do fato como homicídio, na forma
tentada, em concurso material com o delito de roubo. Por conseguinte, ante
3) Latrocínio o reconhecimento da competência do tribunal do júri, determinou-se que
O Código Penal brasileiro não elenca, de forma expressa, a ele sejam reme dos os autos, a fim de que proceda a novo julgamento,
limitando eventual condenação à pena aplicada na sentença ora anulada.
o crime de latrocínio, estando este pificado no art. 157, Por fim, estendeu-se, de o cio, essa mesma ordem aos corréus.
§ 3º, do citado diploma legal. O latrocínio é crime contra o HC nº 91.585/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, 16/9/2008.

29
4) Extorsão qualificada pela morte natureza grave ou morte, que traduzem, nesse con-
A extorsão também cons tui crime contra o patrimônio, texto, resultados qualificadores do po penal, não
pois tutela, sobretudo, a inviolabilidade patrimonial e, de cons tuindo, por isso mesmo, elementos essenciais e
forma secundária, a vida, tratando-se de crime complexo. necessários ao reconhecimento do caráter hediondo
A violação à vida da pessoa é meio executório para o aufe- de tais infrações delituosas. Precedentes. Doutrina.
rimento da vantagem patrimonial. (HC nº 89.554/DF, 2ª Turma).
O crime de “sequestro relâmpago” não é crime hedion-
do, pois não está inserido no rol taxa vo do art. 1º da Lei Ementa: Habeas corpus. Processual penal. Atentado
nº 8.072/1990. Tal delito está previsto no art. 158, § 3º, que violento ao pudor. Forma simples. Crime hediondo.
dispõe: Livramento condicional. Requisito objetivo não
sa sfeito. Exigência. Cumprimento de 2/3 da pena.
§ 3º Se o crime é come do mediante a restrição da Ausência de plausibilidade jurídica incontestável.
liberdade da ví ma, e essa condição é necessária Habeas corpus denegado. 1. A decisão do Superior
para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de Tribunal de Jus ça, ques onada neste habeas corpus,
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; está em perfeita consonância com o entendimento
se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se deste Supremo sobre a hediondez dos crimes de
as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respec - estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que
vamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 17/4/2009) pra cados na sua forma simples. Precedentes. 2. Não
há sustentação jurídica nos argumentos apresenta-
5) Extorsão mediante sequestro na forma simples e na dos pelo Impetrante para assegurar a concessão do
bene cio de livramento condicional ao Paciente, pois
forma qualificada
não sa sfeito o requisito obje vo de cumprimento
A forma simples do crime em comento está no caput do
de 2/3 da pena imposta. 3. Habeas corpus denegado.
art. 159 do Código Penal que dispõe: “Sequestrar pessoa com
(HC nº 90.706/BA, 1ª Turma)
o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate”. Vale destacar que, com a nova redação dada ao crime
Já as formas qualificadas estão previstas nos parágrafos de estupro, restou revogado o crime de atentado violento
do disposi vo ora em estudo: 1) se o sequestro dura mais ao pudor, pois o po penal do art. 213, caput, abarca tanto
de 24 (vinte e quatro) horas, 2) se o sequestrado é menor de uma quanto outra conduta. Senão vejamos:
18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, 3) se o crime é Quando a lei fala em conjunção carnal está se referindo
come do por bando ou quadrilha, 4) se do fato resulta lesão ao sexo convencional e quando se fala em ato libidinoso di-
corporal de natureza grave ou 5) se resulta a morte da ví ma. verso de conjunção carnal, está se referindo aos atos sexuais
não convencionais tais como os sexos anal, oral, toque etc.
6) Estupro Assim, não há mais que se falar da existência do crime
O crime de estupro está descrito no art. 213 do Código de atentado violento ao pudor no ordenamento jurídico
Penal, que dispõe: nacional.
Antes da alteração promovida pela Lei nº 12.015, con-
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou forme expresso no Informa vo nº 457, o STF, no tocante à
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a pra car ou con nuidade deli va entre estupro e atentado violento ao
permi r que com ele se pra que outro ato libidinoso: pudor, decidiu que:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza Em face de empate na votação, a Turma deferiu ha-
grave ou se a ví ma é menor de 18 (dezoito) ou maior beas corpus impetrado em favor de condenado pela
de 14 (catorze) anos: prá ca dos crimes de estupro e de atentado violento
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. ao pudor para determinar a unificação das penas pelo
§ 2o Se da conduta resulta morte: reconhecimento de crime con nuado. Entendeu-se
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. que a circunstância de esses delitos não possuírem
pificação idên ca não seria suficiente a afastar a
São considerados hediondos tanto o estupro na forma con nuidade deli va, uma vez que ambos são crimes
simples (quando resulta lesão leve na ví ma ou há o emprego contra a liberdade sexual e, no caso, foram pra cados
de grave ameaça) como na qualificada (quando resulta lesão no mesmo contexto fá co e contra a mesma ví ma.
grave ou morte da ví ma). Vencidos, no ponto, os Ministros Carlos Bri o, relator,
e Cármen Lúcia que aplicavam a orientação da Corte,
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Havia quem entendesse não ser hediondo o estupro co-


me do na forma simples, no entanto, não era a posição que no sen do de que o estupro e o atentado violento ao
prevalecia no Supremo Tribunal Federal, senão vejamos: pudor, ainda que pra cados contra a mesma ví ma,
caracterizam hipótese de concurso material. Por
unanimidade, deferiu-se o writ para afastar o óbice
Ementa: Habeas corpus. Estupro. Atentado violento
legal do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990, declarado
ao pudor. Tipo penal básico ou forma simples. Inocor-
incons tucional, de modo que o juiz das execuções
rência de lesões corporais graves ou do evento morte. analise os demais requisitos da progressão do regime
Caracterização, ainda assim, da natureza hedionda de execução. Rejeitou-se, ainda, a alegação de intem-
de tais ilícitos penais (Lei nº 8.072/1990). Pedido pes vidade do recurso especial do Ministério Público,
indeferido. Os delitos de estupro e de atentado ao fundamento de que, consoante assentado pela
violento ao pudor, ainda que em sua forma simples, jurisprudência do STF, as férias forenses suspendem
configuram modalidades de crime hediondo, sendo a contagem dos prazos recursais, a teor do art. 66 da
irrelevante que a prá ca de qualquer desses ilícítos Loman. (HC nº 89.827/SP, Rel. Min. Carlos Bri o, 1ª
penais tenha causado, ou não, lesões corporais de Turma, 27/2/2007)

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Porém, anteriormente, no Informa vo nº 527 do STF, foi em con nuidade deli va. A outra corrente defendia
veiculada a seguinte decisão: ser possível o reconhecimento do crime con nuado
quando o ato libidinoso cons tuísse preparação à
[...] a Turma indeferiu habeas corpus impetrado con- prá ca do delito de estupro, por caracterizar o cha-
tra acórdão do STJ que não reconhecera a con nuida- mado prelúdio do coito.
de deli va entre o estupro e o atentado violento ao “A questão, tenho eu, foi sensivelmente abalada com
pudor pra cados pelo paciente, e contra ele aplicara, a nova redação dada à Lei Penal no tulo referente
ainda, a causa de aumento de pena prevista para o aos hoje denominados ‘Crimes contra a Dignidade
crime de roubo, em razão do emprego de arma (CP, Sexual’. Tenho que o embate antes existente perdeu
art. 157, § 2º, I). A impetração pretendia a incidência sen do. Digo isso porque agora não há mais crimes
da orientação firmada pelo Supremo no julgamento de espécies diferentes. Mais que isso. Agora o crime
do HC nº 89.827/SP (DJU de 27/4/2007), em que ad- é único”, afirmou o ministro.
mi da a con nuidade entre os mencionados crimes, Ele destacou que, com a nova lei, houve a revogação
assim como arguia a necessidade de realização de do art. 214 do Código Penal, passando as condutas
perícia demonstrando a idoneidade do mecanismo ali pificadas a fazer parte do art. 213 – que trata
lesivo do revólver – v. Informa vo nº 525. Rejeitou-se, do crime de estupro. Em razão disso, quando forem
de igual modo, o pretendido reconhecimento da pra cados, num mesmo contexto, contra a mesma
con nuidade deli va entre os crimes de estupro e ví ma, atos que caracterizariam estupro e atentado
de atentado violento ao pudor. Asseverou-se que tais violento ao pudor, não mais se falaria em concurso
delitos, ainda que perpetrados contra a mesma ví - material ou crime con nuado, mas, sim, em crime
ma, caracterizam concurso material. No ponto, não único.
se adotou o paradigma apontado ante a diversidade O relator ainda destacou que caberia ao magistrado,
das situações, uma vez que os atos cons tu vos do ao aplicar a pena, estabelecer, com base nas diretrizes
atentado violento ao pudor não consis riam, no do art. 59 do Código Penal, reprimendas diferentes
presente caso, “prelúdio ao coito”, porquanto efe- a agentes que pra quem mais de um ato libidinoso.
vados em momento posterior à conjunção carnal. Para o relator, no caso, aplicando-se retroa vamen-
[...] (HC nº 94.714/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª te a lei mais favorável, o apenamento referente ao
Turma, 4/11/2008). atentado violento ao pudor não há de subsis r. Isso
porque o réu foi condenado pela prá ca de estupro
Recentemente, tendo em vista as alterações promovi- e atentado violento ao pudor por ter pra cado, res-
das pela Lei nº 12.015/2009, o Superior Tribunal de Jus ça pec vamente, conjunção carnal e coito anal dentro
reconheceu a con nuidade deli va dos crimes de estupro do mesmo contexto, com a mesma ví ma.
e atentado violento ao pudor pra cados ante da edição da Quanto à dosimetria da pena, o ministro Og Fernan-
mencionada norma. Vejamos a no cia veiculada no site des entendeu que o processo deve ser devolvido ao
www.stj.gov.br: juiz das execuções. “A meu juízo, haveria um incon-
veniente na definição da sanção por esta Corte. É
Após mudança no CP, estupro e atentado violento ao que, em caso de eventual irresignação por parte do
pudor contra mesma ví ma em um mesmo contexto acusado, outro caminho não lhe sobraria a não ser
são crime único. dirigir-se ao Supremo Tribunal. Ser-lhe-ia tolhido
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ) o acesso à rediscussão nas instâncias ordinárias.
reconheceu como crime único as condutas de estupro Estar-se-ia, assim, a suprimir graus de jurisdição”,
e atentado violento ao pudor realizadas contra uma afirmou o ministro.
mesma ví ma, na mesma circunstância. Dessa forma,
a Turma anulou a sentença condenatória no que se Por fim, cumpre observar que apesar de o crime de es-
refere à dosimetria da pena, determinando que nova tupro estar previsto no Código Penal Militar, tal delito não é
reprimenda seja fixada pelo juiz das execuções. considerado hediondo.
No caso, o agressor foi denunciado porque, em E ainda:
31/8/1999, teria constrangido, mediante grave amea-
ça, certa pessoa às prá cas de conjunção carnal e coi- Lei nº 12.015/2009: Estupro e Atentado Violento
to anal. Condenado à pena de oito anos e oito meses ao Pudor
de reclusão, a ser cumprida, inicialmente, no regime A Turma deferiu habeas corpus em que condenado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

fechado, a pena foi fixada, para cada um dos delitos, pelos delitos previstos nos arts. 213 e 214, na forma
em seis anos e seis meses de reclusão, diminuída do art. 69, todos do CP, pleiteava o reconhecimento
em um terço em razão da sua semi-imputabilidade. da con nuidade deli va entre os crimes de estupro
No STJ, a defesa pediu o reconhecimento do crime e atentado violento ao pudor. Observou-se, inicial-
con nuado entre as condutas de estupro e atentado mente, que, com o advento da Lei nº 12.015/2009,
violento ao pudor, com o consequente redimensio- que promovera alterações no Título VI do CP, o debate
namento das penas. adquirira nova relevância, na medida em que ocorre-
Ao votar, o relator ministro Og Fernandes, desta- ra a unificação dos an gos arts. 213 e 214 em um po
cou que, antes das inovações trazidas pela Lei nº único [CP, Art. 213: “Constranger alguém, mediante
12.015/2009, havia fér l discussão acerca da possibi- violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
lidade, ou não, de se reconhecer a existência de crime a pra car ou permi r que com ele se pra que outro
con nuado entre os delitos de estupro e atentado ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015,
violento ao pudor. Segundo o ministro, para uns, por de 2009).”]. Nesse diapasão, por reputar cons tuir
serem crimes de espécies diferentes, descaberia falar a Lei nº 12.015/2009 norma penal mais benéfica,

31
assentou-se que se deveria aplicá-la retroa vamente Ementa: Habeas corpus. Crimes descritos nos
ao caso, nos termos do art. 5º, XL, da CF, e do art. arts. 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adoles-
2º, parágrafo único, do CP. HC nº 86.110/SP, rel. Min. cente e no art. 214, c/c o art. 224 do Código Penal.
Cezar Peluso, 2ª Turma, 2/3/2010. (HC nº 86.110). Con nuidade deli va. Inocorrência: espaço de tempo
igual a seis meses entre as séries deli vas. Atentado
Porém a 5ª Turma do STJ tem entendimento diverso do violento ao pudor com violência presumida: crime
adotado pelo STF: hediondo. Progressão de regime. Ordem concedida
de o cio. 1. A con nuidade deli va deve ser reco-
CONTINUIDADE DELITIVA. ESTUPRO. ATENTADO nhecida “quando o agente, mediante mais de uma
VIOLENTO. PUDOR.Trata-se, entre outras questões, ação ou omissão, pra ca dois ou mais crimes da
de saber se, com o advento da Lei nº 12.015/2009, mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar,
há con nuidade deli va entre os atos previstos antes maneira de execução e outras semelhantes, devem
separadamente nos pos de estupro (art. 213 do CP) os subsequentes ser havidos como con nuação do
e atentado violento ao pudor (art. 214 do mesmo co- primeiro” (CP, art. 71). Evidenciado que as séries
dex), agora reunidos em uma única figura pica (arts. delituosas estão separadas por espaço temporal
213 e 217-A daquele código). Assim, entendeu o Min. igual a seis meses, não se há de falar em crime con-
Relator que primeiramente se deveria dis nguir a nuado, mas em reiteração criminosa, incidindo a
natureza do novo po legal, se ele seria um po misto regra do concurso material. 2. O atentado violento
alterna vo ou um po misto cumula vo. Asseverou ao pudor é considerado hediondo em quaisquer de
que, na espécie, estaria caracterizado um po misto suas formas (precedente do Pleno). 3. O Pleno do
cumula vo quanto aos atos de penetração, ou seja, Supremo Tribunal Federal, em Sessão realizada em
dois pos legais estão con dos em uma única des- 23/2/2006, declarou incons tucional o § 1º do art. 2º
crição pica. Logo, constranger alguém à conjunção da Lei nº 8.072/1990 (HC nº 82.959, Pleno). Ordem
carnal não será o mesmo que constranger à prá ca de concedida, de o cio, para possibilitar a progressão
outro ato libidinoso de penetração (sexo oral ou anal, do regime de cumprimento da pena do paciente,
por exemplo). Seria inadmissível reconhecer a fungi- quanto ao crime de atentado violento ao pudor.” (HC
bilidade (caracterís ca dos pos mistos alterna vos) nº 87.495/SP, 1ª Turma)
entre diversas formas de penetração. A fungibilidade
Ementa: Penal. Processual Penal. Habeas corpus.
poderá ocorrer entre os demais atos libidinosos que
Crime hediondo. Estupro simples com violência pre-
não a penetração, a depender do caso concreto.
sumida. Falta de fundamentação: constrangimento
Afirmou ainda que, conforme a nova redação do
ilegal. Inocorrência. Progressão de regime prisional.
po, o agente poderá pra car a conjunção carnal
Possibilidade. I – Não há falar em falta de fundamen-
ou outros atos libidinosos. Dessa forma, se pra car,
tação do acórdão impugnado quanto ao regime de
por mais de uma vez, cópula vaginal, a depender do
cumprimento da pena, se há referência expressa à
preenchimento dos requisitos do art. 71 ou do art.
Lei nº 8.072/1990. II – A jurisprudência do Supremo
71, parágrafo único, do CP, poderá, eventualmente, Tribunal Federal é no sen do de que “os crimes de
configurar-se con nuidade. Ou então, se constranger estupro e de atentado violento ao pudor, tanto nas
ví ma a mais de uma penetração (por exemplo, sexo suas formas simples, Código Penal, arts. 213 e 214,
anal duas vezes), de igual modo, poderá ser benefi- como nas qualificadas (Código Penal, art. 223, ca-
ciado com a pena do crime con nuado. Contudo, se put e parágrafo único), são crimes hediondos. Leis
pra ca uma penetração vaginal e outra anal, nesse nº 8.072/1990, redação da Lei nº 8.930/1994, art. 1º,
caso, jamais será possível a caracterização de con- V e VI.” HC nº 81.288/SC, Plenário, Rel. p/ acórdão
nuidade, assim como sucedia com o regramento Min. Carlos Velloso, DJU 25/4/2003. III – Após o jul-
anterior. É que a execução de uma forma nunca será gamento do HC nº 82.929/SP pelo Plenário do STF,
similar à de outra, são condutas dis ntas. Com esse não mais é vedada a progressão de regime prisional
entendimento, a Turma, ao prosseguir o julgamento, aos condenados pela prá ca de crimes hediondos.
por maioria, afastou a possibilidade de con nuida- IV – Ordem parcialmente concedida. (HC nº 87.281/
de deli va entre o delito de estupro em relação ao MG, 1ª Turma).
atentado violento ao pudor. HC nº 104.724-MS, Rel.
originário Min. Jorge Mussi, Rel. para acórdão Min. Cumpre ressaltar que a Lei nº 12.015/2009 revogou o
Felix Fischer, 5ª Turma, julgado em 22/6/2010.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

art. 224 do Código Penal, não havendo que se falar mais em


violência presumida. Senão vejamos recente julgado do STF:
7) Estupro de Vulnerável
Tanto o crime de estupro de vulnerável na forma simples O eventual consen mento da ofendida – menor de
como na forma qualificada são considerados hediondos. 14 anos – e mesmo sua experiência anterior não
Por vulnerável entende-se o menor de 14 (catorze) anos, elidem a presunção de violência para a caracteriza-
aquele que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem ção do delito de atentado violento ao pudor. Com
o necessário discernimento para a prá ca do ato, ou que, base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. corpus em que condenado pela prá ca do crime de
São as an gas hipóteses da violência presumida previstas atentado violento ao pudor alegava que o fato de a
no art. 224 do Código Penal. ofendida já ter man do relações anteriores e haver
Além disso, cumpre ressaltar que a Suprema Corte tam- consen do com a prá ca dos atos imputados ao
bém considerava hediondo o crime de estupro come do paciente impediria a configuração do mencionado
com violência presumida, cabendo citar algumas decisões: crime, dado que a presunção de violência prevista na

32
alínea a do art. 224 do CP seria rela va. Inicialmente, Cármen Lúcia acompanhando o relator, pediu vista
enfa zou-se que a Lei nº 12.015/2009, dentre outras o Min. Ayres Bri o. HC nº 98.712/SP, rel. Min. Marco
alterações, criou o delito de estupro de vulnerável, Aurélio, 27/4/2010. (HC nº 98.712)
que se caracteriza pela prá ca de qualquer ato libi-
dinoso com menor de 14 anos ou com pessoa que, A 5ª Turma do STJ, no HC 160982, conforme no cia vei-
por enfermidade ou deficiência mental, não tenha o culada no site do STJ2, entendeu que a transmissão dolosa do
necessário discernimento ou não possa oferecer re- vírus HIV caracteriza lesão corporal grave. Vejamos:
sistência. Frisou-se que o novel diploma também re-
vogara o art. 224 do CP, que cuidava das hipóteses de Transmissão proposital de HIV é classificada como
violência presumida, as quais passaram a cons tuir lesão corporal grave
elementos do estupro de vulnerável, com pena mais A transmissão consciente do vírus HIV, causador da
severa, abandonando-se, desse modo, o sistema da Aids, configura lesão corporal grave, delito previsto
presunção, sendo inserido po penal específico para no ar go 129, parágrafo 2º, do Código Penal (CP). O
tais situações. Em seguida, esclareceu-se, contudo, entendimento é da Quinta Turma do Superior Tribu-
nal de Jus ça (STJ) e foi adotado no julgamento de
que a situação do paciente não fora alcançada pelas
habeas corpus contra decisão do Tribunal de Jus ça
mudanças promovidas pelo novo diploma, já que a
do Distrito Federal (TJDF). A Turma acompanhou
conduta passara a ser tratada com mais rigor, sendo
integralmente o voto da relatora, ministra Laurita Vaz.
incabível a retroa vidade da lei penal mais gravosa. Entre abril de 2005 e outubro de 2006, um portador
Considerou-se, por fim, que o acórdão impugnado de HIV manteve relacionamento amoroso com a ví-
estaria em consonância com a jurisprudência desta ma. Inicialmente, nas relações sexuais, havia o uso
Corte. HC nº 99.993/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, de preserva vo. Depois, essas relações passaram a
2ª Turma, 24/11/2009. (HC nº 99.993) ser consumadas sem proteção. Constatou-se mais
tarde que a ví ma adquiriu o vírus. O homem alegou
8) Epidemia com resultado morte que havia informado à parceira sobre sua condição
Entende-se por epidemia a propagação de germes pa- de portador do HIV, mas ela negou.
togênicos. O TJDF entendeu que, ao pra car sexo sem seguran-
Ressalta-se que basta a morte de uma só pessoa para a ça, o réu assumiu o risco de contaminar sua parceria.
configuração do crime. O tribunal também considerou que, mesmo que a
A transmissão dolosa do vírus HIV não configura o crime ví ma es vesse ciente da condição do seu parceiro,
ora em comento. a ilicitude da conduta não poderia ser excluída, pois
Vejamos decisão recente da 1ª Turma do STF: o bem jurídico protegido (a integridade física) é
indisponível.
O réu foi condenado a dois anos de reclusão com
Portador do Vírus HIV e Tenta va de Homicídio
base no ar go 129 do CP. A defesa entrou com pedido
A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em
de habeas corpus no STJ, alegando que não houve
que se discute se o portador do vírus HIV que, tendo consumação do crime, pois a ví ma seria portadora
ciência da doença e deliberadamente a ocultando assintomá ca do vírus HIV e, portanto, não estaria
de seus parceiros, pra ca tenta va de homicídio ao demonstrado o efe vo dano à incolumidade sica.
manter relações sexuais sem preserva vo. Trata-se Pediu sursis (suspensão condicional de penas meno-
de writ impetrado contra o indeferimento, pelo STJ, res de dois anos) humanitário e o enquadramento
de liminar em idên ca medida na qual se reitera o da conduta do réu nos delitos previstos no Título I,
pleito de revogação do decreto de prisão preven va e Capítulo III (contágio venéreo ou de molés a grave
de desclassificação do delito para o de perigo de con- e perigo para a vida ou saúde de outrem).
tágio de molés a grave (CP: “Art. 131 Pra car, com o
fim de transmi r a outrem molés a grave de que está Enfermidade incurável
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: ...”). No seu voto, a ministra Laurita Vaz salientou que a
Preliminarmente, o Min. Marco Aurélio, relator, instrução do processo indica não ter sido provado
salientando a existência de sentença de pronúncia e que a ví ma vesse conhecimento prévio da situação
aduzindo que, em prol de uma boa polí ca judiciária, do réu, alegação que surgiu apenas em momento
a situação em tela estaria a ensejar a manifestação do processual posterior. A relatora lembrou que o STJ
STF, conheceu do writ. No mérito, concedeu, em par- não pode reavaliar matéria probatória no exame de
habeas corpus.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

te, a ordem para imprimir a desclassificação do crime


e determinar o envio do processo para distribuição a A Aids, na visão da ministra Vaz, é perfeitamente
uma das varas criminais comuns do Estado-membro. enquadrada como enfermidade incurável na previsão
do ar go 129 do CP, não sendo cabível a desclassifi-
Em interpretação sistemá ca, reputou descabido
cação da conduta para as sanções mais brandas no
cogitar-se de tentativa de homicídio, porquanto
Capítulo III do mesmo código. “Em tal capítulo, não há
haveria crime específico, considerada a imputação. menção a doenças incuráveis. E, na espécie, frise-se:
Registrou, rela vamente ao po subje vo, que se há previsão clara no ar go 129 do mesmo estatuto de
teria no art. 131 do CP a presença do dolo de dano, que, tratando-se de transmissão de doença incurável,
enquanto que no art. 121 do CP verificar-se-ia a a pena será de reclusão, de dois a oito anos, mais
vontade consciente de matar ou a assunção do risco rigorosa”, destacou.
de provocar a morte. Afirmou não ser possível poten- Laurita Vaz ressaltou o Supremo Tribunal Federal
cializar este úl mo po a ponto de afastar, tendo em (STF), no julgamento do Habeas Corpus 98.712,
conta certas doenças, o que disposto no aludido art.
131 do CP. Após os votos dos Ministros Dias Toffoli e 2
www.stj.jus.br, acesso em 29/5/2012, às 8h04.

33
entendeu que a transmissão da Aids não era delito Inteligência do art. 1º da Lei nº 2.889/1956, e do
doloso contra a vida e excluiu a atribuição do tribunal art. 2º da Convenção contra o Genocídio, ra ficada
do júri para julgar a controvérsia. Contudo, manteve pelo Decreto nº 30.822/1952. O po penal do delito
a competência do juízo singular para determinar a de genocídio protege, em todas as suas modalidades,
classificação do delito. bem jurídico cole vo ou transindividual, figurado na
A relatora apontou que, no voto do ministro Ayres existência do grupo racial, étnico ou religioso, a qual
Bri o, naquele julgamento do STF, há diversas ci- é posta em risco por ações que podem também ser
tações doutrinárias que enquadram o delito como ofensivas a bens jurídicos individuais, como o direito
lesão corporal grave. “Assim, após as instâncias à vida, a integridade sica ou mental, a liberdade de
ordinárias concluírem que o agente nha a intenção locomoção etc. 2. CONCURSO DE CRIMES. Genocídio.
de transmi r doença incurável na hipótese, tenho Crime unitário. Delito pra cado mediante execução
que a capitulação do delito por elas determinadas de doze homicídios como crime con nuado. Concur-
(ar go 29, parágrafo 2º, inciso II, do CP) é correta”, so aparente de normas. Não caracterização. Caso de
completou a ministra. concurso formal. Penas cumula vas. Ações crimino-
Sobre o fato de a ví ma não apresentar os sintomas, sas resultantes de desígnios autônomos. Submissão
Laurita Vaz ponderou que isso não tem influência teórica ao art. 70, caput, segunda parte, do Código
no resultado do processo. Asseverou que, mesmo Penal. Condenação dos réus apenas pelo delito de
genocídio. Recurso exclusivo da defesa. Impossibi-
permanecendo assintomá ca, a pessoa contaminada
lidade de reforma o in peius. Não podem os réus,
pelo HIV necessita de acompanhamento médico e de
que cometeram, em concurso formal, na execução do
remédios que aumentem sua expecta va de vida,
delito de genocídio, doze homicídios, receber a pena
pois ainda não há cura para a enfermidade. destes além da pena daquele, no âmbito de recurso
Quanto ao sursis humanitário, a relatora esclareceu exclusivo da defesa. 3. COMPETÊNCIA CRIMINAL.
que não poderia ser concedido, pois o pedido não Ação penal. Conexão. Concurso formal entre geno-
foi feito nas instâncias anteriores e, além disso, não cídio e homicídios dolosos agravados. Feito da com-
há informação sobre o estado de saúde do réu para petência da Jus ça Federal. Julgamento come do,
ampará-lo. em tese, ao tribunal do júri. Inteligência do art. 5º,
XXXVIII, da CF, e art. 78, I, c/c art. 74, § 1º, do Código
9) Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de de Processo Penal. Condenação exclusiva pelo delito
produto des nado a fins terapêu cos ou medicinais de genocídio, no juízo federal monocrá co. Recurso
O presente inciso foi inserido em 1998, após o escân- exclusivo da defesa. Improvimento. Compete ao
dalo nacional dos contracep vos de “farinha”, que foram tribunal do júri da Jus ça Federal julgar os delitos
colocados no mercado consumidor. Cumpre ressaltar que de genocídio e de homicídio ou homicídios dolosos
todas os pos descritos no art. 273 do Código Penal são que cons tuíram modalidade de sua execução.
crimes hediondos.
Por exemplo, a falsificação, adulteração, alteração ou Cumpre ressaltar, que o crime de envenenamento de
corrupção de cosmé cos, de saneantes ou de produtos água potável ou substância alimen cia ou medicinal era
usados em diagnós co são considerados crimes hediondos, crime hediondo. Porém, tal delito con nua no elenco dos
por incrível que pareça. crimes susce veis de decretação de prisão temporária, sendo
que o prazo da detenção cautelar será de 5 dias, prorrogáveis
10) Crime de genocídio, tentado ou consumado em caso de extrema e comprovada necessidade.
Há quem diga que o genocídio é um crime “equiparado
ao hediondo”, o que ousamos discordar. Primeiro, o crime em Efeitos Jurídicos
estudo não foi apontado pelo Cons tuinte Originário como
equiparado ao hediondo. Segundo, a própria lei dos crimes Como rege o art. 2º desta lei, os crimes hediondos e os
hediondos considera o genocídio como tal. equiparados são insusce veis de anis a, graça, indulto e
O STF, no RE nº 351.487/RR (Pleno), cujo acórdão vale a de fiança:
pena ser lido na íntegra, ressalta que a lesão à vida, integri-
dade sica ou à liberdade de locomoção são apenas meios de Art. 2º Os crimes hediondos, a prá ca da tortura,
ataque nos diversos meios de ação do criminoso. Afirmou-se o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
que o crime de genocídio não visa proteger a vida ou a inte- terrorismo são insusce veis de:
gridade sica, mas sim a diversidade humana. Foi asseverado I – anis a, graça e indulto;
que um eventual homicídio seria mero instrumento para a II – fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

execução do crime de genocídio, enfim, este NÃO é um crime


doloso contra a vida, mas contra a existência de grupo racial, Anis a
nacional, étnico e religioso.
Segue a ementa: Entende-se por anis a o “esquecimento” jurídico de uma
ou mais infrações. É atribuição do Congresso Nacional, por
1. CRIME. Genocídio. Definição legal. Bem jurídico meio de lei federal, a concessão da anis a. Todos os efeitos
protegido. Tutela penal da existência do grupo ra- de natureza penal deixam de exis r.
cial, étnico, nacional ou religioso, a que pertence É causa ex n va da punibilidade do agente.
a pessoa ou pessoas imediatamente lesionadas.
Delito de caráter cole vo ou transindividual. Crime Graça
contra a diversidade humana como tal. Consumação
mediante ações que, lesivas à vida, integridade sica, É a concessão de “perdão” pelo Presidente da República
liberdade de locomoção e a outros bens jurídicos por meio de decreto. Trata-se de uma espécie de perdão
individuais, constituem modalidade executórias. estatal.

34
É causa ex n va da punibilidade. processos por crimes hediondos não veda o relaxamento
É correto afirmar que a graça é o indulto individual. da prisão processual por excesso de prazo.”
Cumpre ressaltar que a Lei nº 11.464/2007 possibilitou
Indulto a concessão de liberdade provisória sem arbitramento de
fiança, no caso de come mento de crimes hediondos ou
Também é concedido pelo Presidente da República por equiparados.
meio de decreto. É cole vo, pois possui um caráter de ge- Há quem diga que, mesmo com a alteração na lei dos
neralidade, ou seja, abrange várias pessoas. crimes hediondos, a proibição de liberdade provisória de-
A inclusão do indulto no art. 2º da Lei dos Crimes Hedion- correria da inafiançabilidade prevista no art. 5º, XLIII, da CF,
dos gerou discussões acerca da sua cons tucionalidade, já ou seja, entende-se que se a liberdade provisória com fiança
que no art. 5º, XLIII, da CF, proíbe, tão somente, a concessão não é permi da, com mais razão não seria a liberdade pro-
de graça, a anis a e fiança. visória sem fiança. Neste sen do, vale citar o HC nº 93.229/
Todavia, o Supremo Tribunal Federal, na ADI nº 2.795 MC/ SP, 1ª Turma, do STF e o HC nº 93.591/MS, 6ª Turma, do STJ.
DF (Pleno), firmou entendimento pela cons tucionalidade do Em 2012, o Plenário do STF declarou incons tucional a
art. 2º, I, da Lei nº 8.072/1990. Entendeu-se que a concessão proibição de concessão de liberdade provisória para os que
de indulto aos condenados a penas priva vas de liberdade cometerem os chamados crimes de tráfico, prevista no ar go
insere-se no exercício do poder discricionário do Presidente 44 da Lei de Drogas 3.
da República, limitado à vedação prevista no inciso XLIII do Vejamos o que o site do STF no ciou acerca do tema,
art. 5º da CF, de onde o ar go supracitado re ra a sua valida- em 10 de maio de 2012:
de. Foi arguido que o termo “graça”, previsto no disposi vo
cons tucional, abrange “indulto” e “comutação de penas”. Regra que proíbe liberdade provisória a presos por
Por delegação do Presidente da República, podem tráfico de drogas é incons tucional
conceder indulto ou comutar penas no caso de crimes não Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tri-
hediondos o Ministro de Estado, o Procurador-Geral da bunal Federal (STF) concedeu parcialmente habeas
República e o Advogado-Geral da União. corpus para que um homem preso em flagrante por
Por fim, vale lembrar que a comutação de pena significa tráfico de drogas possa ter o seu processo analisado
indulo parcial, o que também é vedada a concessão quando novamente pelo juiz responsável pelo caso e, nessa
se tratar de crimes hediondos e equiparados. Recentemente, nova análise, tenha a possibilidade de responder
a 6ª Turma do STF decidiu: ao processo em liberdade. Nesse sen do, a maioria
dos ministros da Corte declarou, incidentalmente*, a
COMUTAÇÃO. CRIME HEDIONDO. Não há como tachar incons tucionalidade de parte do ar go 44** da Lei
de ilegal a decisão que indefere a comutação de pena nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), que proibia a con-
(arts. 1º, III, e 2º do Dec. nº 6.294/2007) diante da cessão de liberdade provisória nos casos de tráfico
hediondez do crime de latrocínio, visto que o STF re- de entorpecentes.
conheceu incons tucionalidade apenas no tocante ao A decisão foi tomada no Habeas Corpus (HC 104339)
§ 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 (progressão de apresentado pela defesa do acusado, que está preso
regime), deixando incólume a vedação do indulto e desde agosto de 2009. Ele foi abordado com cerca
da comutação. A nega va da comutação, conforme de cinco quilos de cocaína, além de outros entorpe-
a jurisprudência, é discricionariedade conferida ao centes em menor quan dade.
presidente da República. Precedentes citados: HC
nº 147.982-MS, DJe 21/6/2010; HC nº 137.223-RS, Argumentos
DJe 29/3/2010; HC nº 142.779-RS, DJe 1º/2/2010, e O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, afirmou
HC nº 141.211-RS, DJe 23/11/2009. HC nº 126.077- em seu voto que a regra prevista na lei “é incompa-
SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado vel com o princípio cons tucional da presunção de
em 5/10/2010. inocência e do devido processo legal, dentre outros
princípios”.
O ministro afirmou ainda que, ao afastar a concessão
Liberdade Provisória e Fiança de liberdade provisória de forma genérica, a norma
re ra do juiz competente a oportunidade de, no caso
Liberdade Provisória concreto, “analisar os pressupostos da necessidade
do cárcere cautelar em inequívoca antecipação
A liberdade provisória é concedida ao indiciado ou ao réu de pena, indo de encontro a diversos disposi vos
preso cautelarmente. É uma garan a cons tucional prevista
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cons tucionais”.
no art. 5º, LXVI, da CF, assim redigido: “ninguém será levado Segundo ele, a lei estabelece um po de regime de
à prisão ou nela man do, quando a lei admi r a liberdade prisão preven va obrigatório, na medida em que
provisória, com ou sem fiança;”. torna a prisão uma regra e a liberdade uma exceção.
A Cons tuição e a Lei nº 8.072/1990 dizem que os crimes O ministro lembrou que a Cons tuição Federal de
hediondos e equiparados são inafiançáveis, ou seja, que é 1988 ins tuiu um novo regime no qual a liberdade é
vedada a concessão de liberdade provisória com arbitramen- a regra e a prisão exige comprovação devidamente
to de fiança para tais delitos. fundamentada.
A vedação à liberdade provisória, antes expressamente Nesse sen do, o ministro Gilmar Mendes indicou
prevista na Lei nº 8.072/1990, não impedia o relaxamento que o caput do ar go 44 da Lei de Drogas deveria
do flagrante quando: a) ocorresse excesso de prazo da prisão ser considerado incons tucional, por ter sido editado
processual; b) não confirmada a situação de flagrância e se
c) reconhecida a nulidade na lavratura do auto de prisão. 3
BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Plenário, HC 104339/SP, Rel. Min. Gilmar
Quanto ao tema, devemos nos lembrar da Súmula Mendes, julgado em 10 de mai. 2012. Disponível: h p://migre.me/92vK4.
nº 697/STF, que diz: “A proibição da liberdade provisória nos Acesso em: 11 de mai. 2012.

35
em sen do contrário à Cons tuição. Por fim, desta- O ministro Joaquim Barbosa também votou pela
cou que o pedido de liberdade do acusado deve ser concessão do habeas corpus, mas sob o argumento
analisado novamente pelo juiz, mas, dessa vez, com de falta de fundamentação da prisão. Ele também
base nos requisitos previstos no ar go 312 do Código votou pela cons tucionalidade da norma.
de Processo Penal.
O mesmo entendimento foi acompanhado pelos Decisões monocrá cas
ministros Dias Toffoli, Rosa Weber, Ricardo Lewando- Por sugestão do relator, o Plenário definiu que cada
wski, Cezar Peluso, Celso de Mello e pelo presidente, ministro poderá decidir individualmente os casos se-
ministro Ayres Bri o. melhantes que chegarem aos gabinetes. Dessa forma,
cada ministro poderá aplicar esse entendimento por
Fiança e liberdade provisória meio de decisão monocrá ca.
De acordo com o ministro Dias Toffoli, a impossibilida-
de de pagar fiança em determinado caso não impede O mestre Alberto Silva Franco (2002, p. 1.298), antes da
a concessão de liberdade provisória, pois são coisas alteração promovida pela Lei nº 11.464/2007, professava:
diferentes. Segundo ele, a Cons tuição não vedou a
liberdade provisória e sim a fiança. [...] sob a ó ca do princípio fundamental da dignidade
O ministro Toffoli destacou regra da própria Cons - da pessoa humana e dos direitos fundamentais cor-
tuição segundo a qual “ninguém será levado à prisão relacionados do devido processo legal, da presunção
ou nela man da quando a lei admi r a liberdade da inocência e da liberdade provisória. Na medida
provisória, com ou sem fiança”. em que o texto da lei ordinária obsta, sem prévia
autorização cons tucional, a concessão do direito
Liberdade como regra fundamental à liberdade provisória, nos crimes he-
“A regra é a liberdade e a privação da liberdade é a diondos e a eles equiparados, e na medida em que o
exceção à regra”, destacou o ministro Ayres Bri o. Ele mesmo texto transforma o caráter instrumental das
lembra que chegou a pensar de forma diferente em medidas cautelares em formas afli vas de privação
relação ao caso: “eu dizia que a prisão em flagrante da liberdade para a ngir obje vos de prevenção
em crime hediondo perdura até a eventual senten- penal, a dignidade da pessoa humana, que serve de
ça condenatória”, afirmou, ao destacar que após base a todos os direitos fundamentais, fica em xeque:
meditar sobre o tema alcançou uma compreensão a prisão cautelar transforma-se numa penalização
diferente. desnecessária, sem observância do due process of
O presidente também ressaltou que, para determinar law, passível de censura cons tucional e, numa ro-
a prisão, é preciso que o juiz se pronuncie e também tulagem inapropriada, o indiciado ou acusado ficam
que a con nuidade dessa prisão cautelar passe pelo equiparados à condição de culpado, ofendendo-se
Poder Judiciário. “Há uma necessidade de permanen- claramente o princípio da presunção de inocência.
te controle da prisão por órgão do Poder Judiciário
que nem a lei pode excluir”, destacou. Fiança
O ministro Celso de Mello também afirmou que
cabe ao magistrado e, não ao legislador, verificar se É a garan a prestada pelo indiciado ou réu preso para que
se configuram ou não, em cada caso, hipóteses que responda ao inquérito ou ao processo-crime em liberdade.
jus fiquem a prisão cautelar. Pode-se falar que a fiança tem duas finalidades, que são:
1) a de subs tuir a prisão, isto é, o preso obtém sua li-
Divergência berdade mediante o recolhimento de determinada garan a,
O ministro Luiz Fux foi o primeiro a divergir da posição que pode ser em bens ou dinheiro;
do relator. Ele entende que a vedação à concessão 2) no caso de o acusado ser condenado, a fiança pro-
de liberdade provisória prevista no ar go 44 da Lei porcionará a reparação do dano, a sa sfação da multa, da
de Drogas é cons tucional e, dessa forma, negou o prestação pecuniária e das custas processuais.
habeas corpus. O ministro afirmou que “a criminali-
dade que paira no país está umbilicalmente ligada à Cumpre ressaltar que segundo o inciso II do art. 323
questão das drogas”. do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.403/2011, não
“Entendo que foi uma opção do legislador cons tuin- será concedida fiança nos crimes de tortura, tráfico ilícito
te dar um basta no tráfico de drogas através dessa de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos
estratégia de impedir, inclusive, a fiança e a liberdade
como crimes hediondos.
provisória”, afirmou.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Excesso de prazo Progressão de Regime


O ministro Marco Aurélio foi o segundo a se posicio-
nar pela cons tucionalidade do ar go e afirmou que A an ga redação do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 afirmava
“os representantes do povo brasileiro e os represen- que a pena priva va de liberdade por crime previsto na lei
tantes dos estados, deputados federais e senadores, deveria ser cumprida em regime integralmente fechado.
percebendo a realidade prá ca e o mal maior que Em 1997, a Lei de Tortura inovou no ordenamento jurídi-
é revelado pelo tráfico de entorpecentes, editaram co dispondo que era possível que o condenado por tal delito
regras mais rígidas no combate ao tráfico de drogas”. pudesse progredir de regime. Muitos sustentaram que tal
No entanto, ao verificar que o acusado está preso há possibilidade deveria ser dada aos demais crimes hediondos
quase três anos sem condenação defini va, votou e equiparados. Porém o STF, por meio da Súmula nº 698,
pela concessão do HC para que ele fosse colocado disse que não se estenderia aos demais crimes hediondos e
em liberdade, apenas porque há excesso de prazo equiparados a admissibilidade de progressão no regime de
na prisão cautelar. execução da pena aplicada ao crime de tortura.

36
A súmula perdeu a razão de ser com a declaração de contrário, se pronunciaram os ministros Luiz Fux,
incons tucionalidade da vedação à progressão de regime Marco Aurélio e Joaquim Barbosa, que votaram pelo
prevista na Lei dos Crimes Hediondos e a consequente alte- indeferimento da ordem.
ração realizada pela Lei nº 11.464, de 2007. Na sessão de hoje (27), em que foi concluído o julga-
Vale indicar que a an ga redação do art. 2º não encon- mento, os ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello e
trava perfeita sintonia com o princípio cons tucional da Ayres Bri o acompanharam o voto do relator, ministro
individualização da pena. Assim, quase 16 anos depois da Dias Toffoli, pela concessão do HC e para declarar a
edição da Lei dos Crimes Hediondos, o Supremo Tribunal incons tucionalidade do parágrafo 1º do ar go 2º da
Federal entendeu, no julgamento do HC nº 82.959, que a Lei nº 8.072/1990. De acordo com o entendimento do
vedação de progressão de regime ofendia, em sua essência, relator, o disposi vo contraria a Cons tuição Federal,
a regra cons tucional em estudo. especificamente no ponto que trata do princípio da
individualização da pena (ar go 5º, inciso XLVI).
Pena. Regime de cumprimento. Progressão. Razão de
ser. A progressão no regime de cumprimento da pena, Prisão Temporária nos Crimes Hediondos
nas espécies fechado, semiaberto e aberto, tem como
razão maior a ressocialização do preso que, mais dia O prazo da prisão temporária nos crimes hediondos
ou menos dia, voltará ao convívio social. Pena. Crimes será de 30 dias, prorrogável por igual período, em caso de
hediondos. Regime de cumprimento. Progressão. extrema e comprovada necessidade. Para os outros crimes,
Óbice. Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990. Incons- o prazo da prisão temporária é de cinco dias, também pror-
tucionalidade. Evolução Jurisprudencial. Conflita rogável por igual período, em caso de extrema e comprovada
com a garan a da individualização da pena – ar go necessidade.
5º, inciso XLVI, da Cons tuição Federal – a imposi- É cabível prisão temporária em todos os crimes hedion-
ção, mediante norma, do cumprimento da pena em dos e equiparados, mas nem todos os crimes previstos na
regime integralmente fechado. Nova inteligência do Lei nº 7.960/1989 são hediondos.
princípio da individualização da pena, em evolução
jurisprudencial, assentada a incons tucionalidade Possibilidade de Subs tuição da Pena Priva va
do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990. (STF – HC de Liberdade por Restri va de Direito
nº 82.959/SP, Pleno)
No STF predominava o entendimento de que não era
Com o advento da Lei nº 11.464/2007, o art. 2º, § 1º, possível a subs tuição, uma vez que o regime de cumpri-
a progressão do regime passou a ser expressamente ad- mento de pena no caso de condenação por crime hediondo
mi da. era integralmente fechado, conforme redação anterior do
Assim, se o apenado for primário, a progressão ocorrerá § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990.
após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se rein- De outra parte, desde que preenchidos os requisitos para
cidente, após o cumprimento de 3/5 (três quintos). a subs tuição, alguns Ministros citavam a incons tucionali-
Em 2012, o Plenário do STF declarou incons tucional a dade do já mencionado ar go.
obrigatoriedade do início do cumprimento da pena em regi- Com a alteração introduzida pela Lei nº 11.464/2007,
me fechado, no caso de condenação por crimes hediondos admi ndo a progressão de regime, pode-se arguir pela
ou equiparados. Vejamos no cias extraída do site do STF4. possibilidade de subs tuição da pena, já que o óbice legal
anteriormente usado pelos que defendiam a sua inadmissi-
Condenado por tráfico pode iniciar pena em regime bilidade foi extraído da lei. Tal entendimento poderá ainda
semiaberto, decide STF ser atribuído ao ins tuto do sursis.
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Uma importante observação a ser feita é com relação ao
Federal (STF) concedeu, durante sessão extraordi- art. 44 da Lei nº 11.343/2006, que vedava expressamente
nária realizada na manhã desta quarta-feira (27), o a conversão da pena priva va de liberdade em restri va de
Habeas Corpus (HC 111840) e declarou incidental- direito nos crimes de tráfico.
mente* a incons tucionalidade do parágrafo 1º do O Plenário do STF declarou incons tucional a proibição
ar go 2º da Lei n° 8.072/1990, com redação dada de conversão da pena priva va de liberdade em restri va
pela Lei n° 11.464/2007, o qual prevê que a pena de direitos, prevista no § 4º do art. 33 e no art. 44 ambos
por crime de tráfico será cumprida, inicialmente, em da Lei nº 11.343/2006.
regime fechado.
No HC, a Defensoria Pública do Estado do Espírito Possibilidade de se Recorrer em Liberdade
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Santo pedia a concessão do habeas para que um


condenado por tráfico de drogas pudesse iniciar o Rege a Lei dos Crimes Hediondos: “§ 3º Em caso de sen-
cumprimento da pena de seis anos em regime semia- tença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se
berto, alegando, para tanto, a incons tucionalidade o réu poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela Lei
da norma que determina que os condenados por nº 11.464, de 2007)”
tráfico devem cumprir a pena em regime inicialmente O Superior Tribunal de Jus ça (RHC nº 23.987/SP e HC
fechado. nº 92.886/SP, 5ª Turma) e o Supremo Tribunal Federal estão
O julgamento teve início em 14 de junho de 2012 e, se manifestando no sen do de que somente será negado ao
naquela ocasião, cinco ministros se pronunciaram condenado o direito de apelar em liberdade se es verem
pela incons tucionalidade do disposi vo: Dias Toffoli presentes os requisitos da prisão preven va.
(relator), Rosa Weber, Cármen Lúcia Antunes Rocha, Se es verem ausentes os requisitos da prisão preven -
Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso. Em sen do va, o condenado que permaneceu em liberdade durante a
instrução criminal poderá apelar da sentença condenatória
4
www.s .jus.br, acesso em 12/7/2012, às 22h28. sem se recolher ao cárcere.

37
Crimes Hedion- Crimes de Tráfico – ar go Tortura Racismo (crime de Ação de Grupo Crime Organizado
dos e Terrorismo 33, caput e § 1º, ar gos preconceito – Lei Armado Civil ou (Lei nº 9.034/1995)
34 a 37, todos da Lei nº 7.716/1989) Militar contra Es-
nº 11.343/2006 tado Democrá co
de Direito e a Or-
dem Social
Inafiançáveis Inafiançáveis Inafiançável Inafiançável Inafiançável Não será concedida li-
berdade provisória (ina-
fiançável) àqueles que
tenham do intensa e
efe va par cipação em
organização criminosa.
------------- ------------------ -------------- Imprescri vel Imprescri vel ----------------
Insusce veis de Insusce veis de Insuscetível Punido com pena ------------------- Não será concedida li-
1) anis a, 1) anis a, de: de reclusão. berdade provisória sem
2) graça, 2) graça, 1) anis a, fiança àqueles que te-
3) indulto. 3) indulto, 2) graça. nham tido intensa e
4) sursis (suspensão con- efe va par cipação em
dicional da pena). organização criminosa
Liberdade provisória.

Livramento Condicional Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes,


todos pificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
É a concessão de liberdade antecipada, por meio de de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Redação
decisão judicial, ao condenado, mediante a existência de dada pela Lei nº 8.930, de 6/9/1994)
determinados requisitos e observadas algumas condições I – homicídio (art. 121), quando pra cado em a vidade
durante o restante da pena que deveria cumprir preso. pica de grupo de extermínio, ainda que come do por um
O art. 83, V, do Código Penal tem a seguinte redação: só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV
e V); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6/9/1994)
V – cumprido mais de dois terços da pena, nos II – latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); (Inciso incluído pela
casos de condenação por crime hediondo, prá ca Lei nº 8.930, de 6/9/1994)
da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º);
afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6/9/1994)
específico em crimes dessa natureza. IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada
(art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º); (Inciso incluído pela Lei
nº 8.930, de 6/9/1994)
Além dos requisitos já estabelecidos no CP, o condenado
V – estupro (art. 213, caput, e §§ 1o e 2o); (Redação dada
deve cumprir mais de 2/3 da reprimenda imposta, desde
pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009)
que não seja reincidente específico em crimes hediondos
VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput, e §§ 1o,
ou equiparados.
2o, 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009)
VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º).
Reincidência Específica: o que é?
(Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6/9/1994)
VII-A – (Vetado) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de
A primeira corrente, denominada restri va, diz que é con-
20/8/1998)
siderado reincidente específico o criminoso já condenado por
VII-B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração
um crime hediondo ou equiparado em sentença transitada de produto des nado a fins terapêu cos ou medicinais
em julgado, que comete novamente o mesmo delito. Ex.: o (art. 273, caput, e §§ 1º, 1º-A e 1º-B, com a redação dada
condenado comete crime de estupro no interior do presídio pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela
onde cumpre a pena, após ser condenado de maneira defi- Lei nº 9.695, de 20/8/1998)
ni va também por um crime de estupro come do outrora. Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime
A segunda corrente, denominada amplia va, diz que é
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de


considerado reincidente específico o criminoso que, após ser 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo
condenado por um crime hediondo ou equiparado, comete incluído pela Lei nº 8.930, de 6/9/1994)
novamente qualquer um destes. Ex.: o condenado comete Art. 2º Os crimes hediondos, a prá ca da tortura, o tráfico
crime de estupro no interior do presídio onde cumpre a pena, ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
após ser condenado de maneira defini va pela prá ca de insusce veis de:
tráfico de drogas come do no passado. I – anis a, graça e indulto;
II – fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
Lei nº 8.072, de 25 de Julho de 1990 § 1º A pena por crime previsto neste ar go será cumprida
inicialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei
Dispõe sobre os crimes hedion- nº 11.464, de 2007)
dos, nos termos do art. 5º, inciso § 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos
XLIII, da Cons tuição Federal, e crimes previstos neste ar go, dar-se-á após o cumprimento
determina outras providências. de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário,

38
e de 3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela Art. 159. [...]
Lei nº 11.464, de 2007) § 4º Se o crime é come do por quadrilha ou bando,
§ 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá o coautor que denunciá-lo à autoridade, facilitando
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
(Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007) de um a dois terços.
§ 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei
nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena previs-
neste ar go, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por ta no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes
igual período em caso de extrema e comprovada necessida- hediondos, prá ca da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes
de. (Incluído pela Lei nº 11.464, de 2007) e drogas afins ou terrorismo.
Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de Parágrafo único. O par cipante e o associado que denun-
segurança máxima, des nados ao cumprimento de penas ciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu
impostas a condenados de alta periculosidade, cuja perma- desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
nência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitu-
incolumidade pública. lados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput, e seus §§ 1º,
Art. 4º (Vetado) 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e
Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput
inciso: e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de
metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclu-
Art. 83 [...] são, estando a ví ma em qualquer das hipóteses referidas
V – cumprido mais de dois terços da pena, nos no art. 224 também do Código Penal.
casos de condenação por crime hediondo, prá ca
Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de
da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a
afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente
seguinte redação:
específico em crimes dessa natureza.
Art. 35. [...]
Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste
3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput
capítulo serão contados em dobro quando se tratar
e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com
a seguinte redação: dos crimes previstos nos arts. 12, 13 e 14.

Art. 157. [...] Art. 11. (Vetado)


§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
a pena é de reclusão, de cinco a quinze anos, além Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a
trinta anos, sem prejuízo da multa. Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e
....................................................................... 102º da República.
Art. 159. [...]
Pena – reclusão, de oito a quinze anos. FERNANDO COLLOR
§ 1º [...] Bernardo Cabral
Pena – reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º [...] REFERÊNCIAS
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º [...] FRANCO, Alberto Silva. Leis penais especiais e sua interpre-
Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. tação jurisprudencial. 7. ed. rev., atual. e ampl. 2ª ragem.
....................................................................... São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. v. 1.
Art. 213. [...]
Pena – reclusão, de seis a dez anos. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte
Art. 214. [...] geral: parte especial. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Pena – reclusão, de seis a dez anos. Revista dos Tribunais, 2009.
........................................................................
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Art. 223.
Pena – reclusão, de oito a doze anos. EXERCÍCIOS
Parágrafo único. [...]
Pena – reclusão, de doze a vinte e cinco anos. Julgue os itens.
........................................................................ 1. (Delegado de Polícia Subs tuto-SC/2001) Os crimes
Art. 267. [...] hediondos – Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, são
Pena – reclusão, de dez a quinze anos. insusce veis de anis a, graça, indulto, fiança e liberdade
........................................................................ provisória.
Art. 270. [...] 2. (Cespe/MPE-TO/Analista Ministerial/2006) Os crimes
Pena – reclusão, de dez a quinze anos. hediondos, conforme a previsão legal, somente podem
ser considerados como tal se ocorrerem em sua forma
Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o consumada, não sendo conferido caráter hediondo às
seguinte parágrafo: figuras delituosas tentadas.

39
3. (Cespe/AGU/Advogado/2002) Indivíduo falsificou Com referência a essa situação hipoté ca e de acordo
milhares de comprimidos de um determinado medica- com a Lei de Execução Penal (LEP) e a Lei dos Crimes
mento, u lizando farinha de trigo para sua confecção Hediondos, em caso de come mento de falta grave pelo
e colocando-os clandes namente no mercado para condenado, será interrompido o cômputo do inters cio
consumo. Nessa situação, o indivíduo pra cou o crime exigido para a concessão do bene cio da progressão de
de falsificação de produto des nado a fins terapêu cos regime prisional, qual seja, o cumprimento de um sexto
ou medicinais, que é hediondo. da pena no regime anterior.
4. (Cespe/TJ-RR/Analista Processual/2006) Na legislação 13. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
brasileira, o caráter hediondo de determinada conduta Os crimes hediondos e a prá ca de terrorismo são im-
independe de previsão legal, podendo ser conferido pelo prescri veis e insusce veis de anis a, graça, indulto ou
juiz da causa a certos ilícitos penais, devido à gravidade fiança.
do crime. 14. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009) A
5. (Cespe/OAB-ES/2004) Não é considerado crime hedion- pena pela prá ca de crime hediondo deve ser cumprida
do a lesão corporal de natureza grave. em regime integralmente fechado.
6. (Cespe/IPAJM/2006) A vedação de progressão de regime 15. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
prisional ins tuída pela lei dos crimes hediondos não O par cipante que denunciar à autoridade a quadrilha
ofende ao princípio cons tucional da individualização formada para prá ca de crime hediondo, possibilitando
da pena. seu desmantelamento, ficará isento de pena.
7. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-RN-PE-SE/3º 16. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Os crimes he-
Exame de Ordem/2006) De acordo com jurisprudência diondos ou a eles assemelhados não incluem o atentado
firmada no âmbito do STJ e no do Supremo Tribunal violento ao pudor.
Federal, o delito de associação para o tráfico de entor- 17. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Os crimes he-
pecentes é considerado hediondo. diondos ou a eles assemelhados não incluem a extorsão
8. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de mediante sequestro.
Polícia/2009) Marcos foi condenado a 14 anos de reclu- 18. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Os crimes
são pelo crime de homicídio qualificado, pra cado em hediondos ou a eles assemelhados não incluem a falsi-
8/8/2006, e está cumprindo pena no regime fechado. ficação de produto des nado a fins terapêu cos.
Com referência a essa situação hipoté ca e de acordo 19. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Os crimes
com a Lei de Execução Penal (LEP) e a Lei dos Crimes hediondos ou a eles assemelhados não incluem a asso-
Hediondos, para receber o bene cio da progressão ciação permanente para o tráfico ilícito de substância
de regime, o acusado deve preencher os requisitos de entorpecente.
natureza obje va (lapso temporal) e subje va (bom 20. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Os crimes he-
comportamento carcerário), sendo obrigatória a reali- diondos ou a eles assemelhados não incluem a tenta va
zação do exame criminológico antes do deferimento da de genocídio.
progressão de regime. 21. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Os crimes hedion-
9. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de dos são insusce veis de anis a, graça e indulto.
Polícia/2009) Marcos foi condenado a 14 anos de reclu- 22. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) A progressão de
são pelo crime de homicídio qualificado, pra cado em regime, no caso dos condenados por crimes hediondos,
8/8/2006, e está cumprindo pena no regime fechado. dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
Com referência a essa situação hipoté ca e de acordo pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos),
com a Lei de Execução Penal (LEP) e a Lei dos Crimes se reincidente.
Hediondos, a novel legislação dos crimes hediondos 23. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) São crimes
estabeleceu prazos mais rigorosos para a progressão hediondos, dentre outros, o latrocínio (art. 157, § 3º,
prisional, porém pode ser aplicada aos casos ocorridos in fine), a extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º)
anteriormente à sua vigência, por ser tratar de legislação e crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da
especial em relação à LEP. Lei nº 2.889/1956.
10. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de 24. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) A pena por crime
Polícia/2009) Marcos foi condenado a 14 anos de reclu- hediondo será cumprida inicialmente em regime fechado.
são pelo crime de homicídio qualificado, pra cado em 25. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Os crimes hedion-
8/8/2006, e está cumprindo pena no regime fechado. dos são insusce veis de fiança e liberdade provisória.
Com referência a essa situação hipoté ca e de acordo
com a Lei de Execução Penal (LEP) e a Lei dos Crimes GABARITO
Hediondos, Marcos deve cumprir a pena integralmente
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

em regime fechado, por se tratar de crime hediondo.


11. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de 1. E 14. E
Polícia/2009) Marcos foi condenado a 14 anos de reclu- 2. E 15. E
são pelo crime de homicídio qualificado, pra cado em 3. C 16. E
8/8/2006, e está cumprindo pena no regime fechado. 4. E 17. E
Com referência a essa situação hipoté ca e de acordo 5. C 18. E
com a Lei de Execução Penal (LEP) e a Lei dos Crimes 6. E 19. C
Hediondos, se Marcos for punido por falta grave, não 7. E 20. E
pode perder o direito ao tempo remido, sob pena de 8. E 21. C
ofensa ao direito adquirido. 9. E 22. C
12. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de 10. E 23. C
Polícia/2009) Marcos foi condenado a 14 anos de reclu- 11. E 24. C
são pelo crime de homicídio qualificado, pra cado em 12. C 25. E
8/8/2006, e está cumprindo pena no regime fechado. 13. E

40
Sérgio Bautzer religião ou origem, com o intuito de ofender a honra
subje va da ví ma.
LEI Nº 7.716/1989 DEFINE OS CRIMES
RESULTANTES DE PRECONCEITOS DE RAÇA Sobre a injúria preconceituosa preleciona Rogério Greco
OU DE COR (2008, p. 466-467):

Introdução O § 3º do art. 140 do Código Penal, com nova redação


determinada pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de
Para se punir a prá ca da discriminação ou o preconceito 2003, comina uma pena de reclusão de 1 (um) a 3
por raça, etnia, cor, religião ou procedência nacional, exis- (três) anos e multa, se a injúria consiste na u lização
tem delitos pificados na Lei nº 7.716/1989, com redação de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
determinada pela Lei nº 9.459/1997. origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora
Tais leis foram editadas de acordo com o disposto no de deficiência.
art. 5º, inciso XLII, da Cons tuição Federal, norma cons tu- Não se deve confundir a injúria preconceituosa com
cional de eficácia limitada, que estabelece em sede cons tu- os crimes resultantes de preconceitos de raça ou
cional que a prá ca do racismo cons tui crime inafiançável de cor, pificados na Lei nº 7.716, de 5 de janeiro
e imprescri vel, sujeito à pena de reclusão. de 1989.
A Lei nº 8.081/1990 renumerou os arts. 20 e 21 da Lei O crime de injúria preconceituosa pune o agente que,
nº 7.716/1989. na prá ca do delito, usa elementos ligados a raça, cor,
A Lei nº 9.459/1997 alterou o disposto nos arts. 1º e 20 etnia etc. A finalidade do agente, com a u lização
da Lei nº 7.716/1989, e passou a punir com penas de até desses meios, é a ngir a honra subje va da ví ma,
cinco anos de reclusão, além de multa, os crimes resultantes bem juridicamente protegido pelo delito em questão.
de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião Ao contrário, por intermédio da legislação que definiu
ou procedência nacional. os crimes resultantes de discriminação ou preconcei-
to de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacio-
Diferença entre Injúria Racial e Discriminação nal, são proibidos comportamentos discriminatórios,
Racial em regra mais graves do que a simples agressão à
honra subje va da ví ma, mas que, por outro lado,
É imperioso registrar que a Lei nº 10.741/2003 acrescen- também não deixem de humilhá-la, a exemplo do que
tou o § 3º ao art. 140 do Código Penal, pificando a injúria acontece quando alguém recusa, nega ou impede a
com u lização de elementos relacionados a raça, cor, etnia, inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento
religião ou origem, com penas de reclusão de um a três
anos e multa. de ensino público ou privado de qualquer grau, ten-
Recentemente, a Lei nº 12.033/2009 alterou o parágrafo do o legislador cominado para essa infração penal,
único do art. 145 do Código Penal, tornando pública condi- pificada no art. 6º, da Lei nº 7.716/1989, uma pena
cionada à representação a ação penal nos crimes de injúria de reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos.
qualificada. Cumpre ressaltar que os crimes previstos na lei de
Discriminação Racial são de ação penal pública incondicionada. Já decidiu o STJ:
Faz-se necessário diferenciar a injúria racial, crime pre-
visto no art. 140, § 3º do Código Penal, do delito previsto no 1. A imputação de termos pejora vos referentes à
art. 20 da Lei nº 7.716/1989. raça do ofendido, com o ní do intuito de lesão à
Assim dispõe o art. 140, § 3º do Código Penal: honra deste, importa no crime de injúria qualificada
pelo uso de elemento racial, e não de racismo.
Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o 2. Não tendo sido oferecida a queixa-crime no prazo
decoro: de seis meses, é de se reconhecer a decadência do
[...] direito de queixa pelo ofendido, ex nguindo-se a
Se a injúria consiste na u lização de elementos re- punibilidade do recorrente.
ferentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a con- 3. Recurso provido para desclassificar a conduta
dição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. narrada na denúncia para o po penal previsto no
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 3º do art. 140 do Código Penal, e, em consequên-


Já o art. 20 da Lei nº 7.716/1989 tem a seguinte redação: cia, ex nguir a punibilidade do recorrente, em razão
“Pra car, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito da decadência, por força do art. 107, IV, do Código
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” Penal (RHC nº 18.620/PR, Rel. Min. Maria Thereza de
No crime previsto no art. 20 da Lei nº 7.716/1989 a ofen- Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 14/10/2008, DJe
sa é dirigida a um grupo de pessoas, sendo que a intenção 28/10/2008). (grifo nosso)
do agente é discriminar a ví ma de modo a segregá-la de
alguma forma do convívio em sociedade. De outra parte, na O STF também já se manifestou sobre o assunto:
injúria qualificada a ofensa é direcionada à honra subje va
do indivíduo, ofensa esta que é agregada à raça, cor, etnia, QUEIXA-CRIME – INJÚRIA QUALIFICADA VERSUS
religião ou origem. CRIME DE RACISMO – ARTS. 140, § 3º, DO CÓDIGO
No mesmo sen do, assevera Celso Delmanto (2002, p. PENAL E 20 DA LEI Nº 7.716/1989. Se a um só tempo
305), in verbis: o fato consubstancia, de início, a injúria qualificada
e o crime de racismo, há a ocorrência de progressão
[...] comete o crime do art. 140, § 3º, do CP, e não o do que assacado contra a ví ma, ganhando relevo o
delito do art. 20 da Lei nº 7.716/1989, o agente que crime de maior gravidade, observado o ins tuto da
u liza palavras deprecia vas referentes a raça, cor, absorção. Cumpre receber a queixa-crime quando, no

41
inquérito referente ao delito de racismo, haja mani- A palavra raça pode ser empregada nas mais dife-
festação irrecusável do tular da ação penal pública rentes maneiras. Pode ter um sen do de fenó po,
pela ausência de configuração do crime. Solução que a revelar um conjunto de caracterís cas sicas, como
atende ao necessário afastamento da impunidade cor da pele, cor e textura do cabelo, cor e formato dos
(Inq. nº 1.458, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal olhos, formato do nariz e espessura dos lábios. Pode,
Pleno, julgado em 15/10/2003, DJ 19/12/2003, PP- ainda, significar uma região específica do planeta,
00050, EMENT VOL-02137-01, PP-00077). como por exemplo, quando se fala em raça africana,
raça oriental, raça ocidental. Ou, além, pode ter um
Uma vez conhecidas as dis nções entre injúria racial e sen do biológico, como a reunião de pessoas em
os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor (Lei grupos de indivíduos que possuam caracterís cas
nº 7.716/1989), é fundamental mencionar que em julgamento específicas e dis ntas dos outros grupos. Até o final
proferido no caso Ellwanger1, foi reconhecido pelo Pretório do século XIX, os cien stas promoveram diversas
Excelso que não há divisões entre raças nesse sen do: tenta vas de classificar biologicamente as pessoas
em raças dis ntas. Mas como afirma o gene cista
[...] 3. Raça humana. Subdivisão. Inexistência. Com a Cavalli-Sforza: ‘Os resultados, muitas vezes contra-
definição e o mapeamento do genoma humano, cien- ditórios, cons tuem um bom indício da dificuldade
ficamente não existem dis nções entre os homens, do empreendimento. Darwin compreendeu que a
seja pela segmentação da pele, formato dos olhos, con nuidade geográfica frustraria toda tenta va
altura, pêlos ou por quaisquer outras caracterís cas de classificar as raças humanas. Ele observou um
sicas, visto que todos se qualificam como espécie fenômeno recorrente ao longo da história: diferen-
humana. Não há diferenças biológicas entre os se- tes antropólogos chegaram a contagens totalmente
res humanos. Na essência são todos iguais. 4. Raça discrepantes do número de raças – de três a mais
e racismo. A divisão dos seres humanos em raças de cem’ (CAVALLI-SFORZA, Luigi Luca. 2003: p. 37).
resulta de um processo de conteúdo meramente O interesse cien fico em classificar os homens em
polí co-social. Desse pressuposto origina-se o racismo raças biologicamente dis ntas chocava-se com a mo-
que, por sua vez, gera a discriminação e o preconceito bilidade com que as caracterís cas raciais mudavam.
segregacionista [...] (HC nº 82.424, Rel. Min. Moreira Nesse sen do, o gene cista Sérgio Pena explicou que
Alves, Rel. p/ Acórdão Min. Maurício Corrêa, Tribunal a espécie humana é ‘demasiadamente jovem e mó-
Pleno, julgado em 17/9/2003, DJ 19/3/2004, PP-00017, vel para ter se diferenciado em grupos tão dis ntos’
EMENT VOL-02144-03, PP-00524). (Grifo nosso) (PENA, Sérgio et. al. 2000: p. 17-25). E, ainda que se
quisesse fazer uma aproximação da quan dade de ra-
Art. 1º da Lei nº 7.716/1989 ças existentes no mundo, os números poderiam ultra-
passar um milhão de raças dis ntas (CAVALLI-SFORZA,
Luigi Luca. 2003: p. 52). Nessa óp ca, o mapeamento
Rege a norma em comento: do genoma humano confirmou a impossibilidade de
divisão dos homens em raças. [...]
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes Na verdade, o conceito de raça subsiste, atualmente,
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, porque, a despeito de não poder ser analisado sob
cor, etnia, religião ou procedência nacional (Redação o espectro biológico, permanece o interesse pela
dada pela Lei nº 9.459, de 15/5/1997). construção cultural do tema (Ver em FERREIRA,
Nayara. 2007: p. 245). O fato de, biologicamente,
É importante conceituar raça cor, etnia, religião ou pro- não ser possível classificar as pessoas segundo as
cedência nacional antes de analisarmos os crimes previstos raças, não quer dizer que o conceito cultural de raça
na lei em estudo. inexista. A importância da classificação advém do
aspecto social, para estudarmos o modo como cada
Raça comunidade classifica seus indivíduos e analisarmos
as razões que jus ficaram a opção pelos critérios
Sobre o emprego da palavra “raça”, assinala Roberta eleitos em cada sociedade.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Fragoso Menezes Kaufmann (2007, p. 117-144):


Assim, tem-se que biologicamente não há dis nções
entre raças, porém o conceito cultural de raça existe.
1
Caso que trata sobre o conflito entre a liberdade de manifestação do
No que tange ao racismo, entende-se que esta palavra
pensamento e as expressões de ódio racial, que transgridem os valo- limita a área de incidência da discriminação, ao passo que as
res tutelados pela própria ordem constitucional. “Ellwanger Siegfried manifestações preconceituosas são genéricas, podendo ser
é um editor e autor de Porto Alegre, de inequívoca orientação nazista.
variadas envolvendo a raça, cor, idade, sexo, grupo social etc.
Dedica-se, de forma sistemática, a reeditar os livros de estridente an-
tissemitismo em voga nos anos 30, como a conhecida falsificação Os
Protocolos dos Sábios de Sião. É ele mesmo autor de obra intitulada Racismo, Discriminação Racial e Preconceito Racial
Holocausto judeu ou alemão? Nos bastidores da mentira do século,
que denega o fato histórico do crime de genocídio, conduzido pelo
regime nazista. Por sua conduta, voltada para deliberadamente incitar Oportuna é a transcrição dos ensinamentos do Professor
a discriminação e o preconceito, Ellwanger foi condenado pelo Tribunal Ricardo Antonio Andreucci (2009, p. 433) acerca dos temas
de Justiça do Rio Grande do Sul por crime da prática do racismo, crime
que a Constituição declara inafiançável e imprescritível. Habeas corpus em estudo:
em seu benefício foi impetrado e denegado pelo Superior Tribunal de
Justiça. Daí novo pedido de habeas corpus ao STF”. (LAFER, Celso.
RACISMO – o STF e o caso Ellwanger. Disponível na internet: <http://
O termo ‘racismo’ geralmente expressa o con-
afrobras.org.br/index.php?option=content&task=view&id=305>) junto de teorias e crenças que estabelecem uma

42
hierarquia entre raças, entre etnias, ou ainda uma Conduta: vem representada pelos verbos ‘impedir’
a tude de hos lidade em relação a determinadas (impossibilitar, interromper) e ‘obstar’ (obstruir,
categorias de pessoas. Pode ser classificado como obstaculizar).
o fenômeno cultural, pra camente inseparável da Objeto material: o acesso a qualquer cargo da
história humana. A ‘discriminação racial’, por seu administração direta ou indireta, bem como das
turno, expressa a quebra do princípio da igualdade, concessionárias de serviços públicos.
como dis nção, exclusão, restrição ou preferência, Elemento subje vo: dolo.
mo vado por raça, cor, sexo, idade trabalho, credo Consumação: com o efe vo impedimento ou obstru-
religioso ou convicções polí cas. Já o ‘preconceito ção do acesso ao cargo, independentemente do pos-
racial’ indica opinião ou sen mento, quer favorável, terior acesso do sujeito passivo ao cargo pretendido.
quer desfavorável, concebido sem exame crí co, ou Tenta va: admite-se, quando fracionável o iter cri-
minis (ANDREUCCI, 2009, p. 74).
ainda a tude, sen mento ou parecer insensato, as-
sumido em consequência da generalização apressada
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa pri-
de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio,
vada.
conduzindo geralmente à intolerância.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional A nega va ou o impedimento por preconceito a emprego
em empresa privada configura tal delito. Nesse sen do:
Segundo Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 304),
valendo-se dos ensinamentos de Chris ano Jorge Santos:
RACISMO – Caracterização – Réu que manda publi-
car anúncio de emprego em periódico, expressando
cor é termo melhor u lizado para definição cromá ca
preferência a candidatos de cor branca – Agente que,
de qualquer matéria, do que propriamente para dis-
mesmo alertado sobre a ilicitude do ato persis u em
nção de pessoas, embora seja empregado para defi- cometê-lo – Menção, ademais, à existência de outros
nição da pigmentação epidérmica dos seres humanos. empregados e filho ado vo de raça negra evidencian-
do preconceito contra pessoas dessa etnia – Recurso
Nucci diz que a etnia “é o grupo de pessoas que apresenta não provido (TJ-SP – 3ª Câm. Crim. – Ap. Criminal
homogeneidade cultural ou linguís ca” (2009, p. 304). Em nº 141.820-3 – Araçatuba – Rel. Franco de Godoy –
Ruanda, por exemplo, existem duas etnias: tutsis e os hutus. v.u. – 10/2/1995).
Ainda usando as lições do festejado autor, a religião
Obje vidade jurídica: a tutela do direito à igualdade,
é a crença em uma existência sobrenatural ou em do respeito à personalidade e à dignidade da pessoa.
uma força divina, que rege o Universo e as relações Sujeito a vo: qualquer pessoa.
humanas em geral, embora de um ponto de vista Sujeito passivo: o Estado. Secundariamente, a pessoa
meta sico, com manifestações através de rituais ou pretendente do emprego.
cultos. Ex.: religião católica (2009, p. 305). Conduta: vem expressa pelos verbos ‘negar’ (recusar,
vedar) e ‘obstar’ (obstruir, obstaculizar), tendo por
Por fim, Guilherme Nucci conceitua procedência na- objeto emprego em empresa privada.
cional: Elemento subje vo: dolo.
Consumação: com a efe va negação ou obstacu-
é a origem de nascimento de algum lugar do Brasil. lização do emprego, independentemente de sua
Exemplos: paulista (nascido em São Paulo), carioca posterior obtenção pelo sujeito passivo.
(nascido no Rio de Janeiro), gaúcho (originário do Rio Tenta va: na conduta ‘negar’, inadmissível a ten-
Grande do Sul) (2009, p. 305). ta va; na conduta ‘obstar’, admite-se, desde que
fracionável o iter criminis (ANDREUCCI, 2009, p. 75).
Crimes Previstos na Lei nº 7.716/1989
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devida- comercial, negando-se a servir, atender ou receber
mente habilitado, a qualquer cargo da Administração cliente ou comprador.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de Pena: reclusão de um a três anos.
serviços públicos.
Pena: reclusão de dois a cinco anos. No ar go mencionado, a conduta está representada
pela expressão “recusar” ou “impedir”. Tal ato deve ser
O ar go obje va proteger o tratamento igualitário aos movido por preconceito ou discriminação. Ressalte-se que
postulantes a cargos no serviço público. o sujeito a vo será o preposto, o dono ou o empregado do
A conduta vem representada pelos verbos “impedir” ou estabelecimento comercial. O disposi vo obje va proteger
“obstar”. Impedir significa não permi r, ao passo que obstar o tratamento igualitário nos estabelecimentos comerciais.
significa opor-se. A conduta será consumada com o efe vo Ressalta-se que se trata de crime omissivo. Portanto, não
impedimento ao acesso a cargos pretendidos. se admite a tenta va.

Obje vidade jurídica: a tutela do direito à igualdade, Obje vidade jurídica: a tutela do direito à igualdade,
o respeito à personalidade e à dignidade da pessoa. do respeito à personalidade e a dignidade da pessoa.
Sujeito a vo: qualquer pessoa. Sujeito a vo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: o Estado. Secundariamente, a pessoa Sujeito passivo: o Estado. Secundariamente, o cliente
devidamente habilitada ao cargo. ou comprador discriminado.

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Conduta: vem representada pelos verbos ‘recusar’ Conduta: vem representada pelo verbo “impedir”,
(não aceitar, repelir, negar), ‘impedir’ (obstar, proibir) que significa interromper.
e ‘negar’ (recusar, repudiar). A recusa ou impedi- Elemento subje vo: dolo.
mento de acesso ao estabelecimento comercial deve Consumação: trata-se de crime formal, pois indepen-
dar-se pela nega va em servir, atender ou receber o de da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo para a
cliente ou comprador, condutas estas resultantes do pessoa discriminada.
preconceito racial. Tenta va: é admissível na forma plurissubsistente.
Elemento subje vo: dolo.
Consumação: com a efe va recusa ou impedimen- Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em
to de acesso, pela nega va em servir, atender ou restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhan-
receber. Trata-se de crime omissivo impróprio ou tes abertos ao público.
comissivo por omissão. Pena: reclusão de um a três anos.
Tenta va: tratando-se de crime omissivo, inadmissí-
vel a tenta va (ANDREUCCI, 2009, p. 75-76). A par r dos estudos feitos pelo Professor Guilherme
Nucci (2009, p. 313), produzimos o seguinte roteiro:
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou
ingresso de aluno em estabelecimento de ensino Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade
público ou privado de qualquer grau: dos seres humanos perante a lei.
Pena: reclusão de três a cinco anos. Sujeito a vo: é somente o proprietário ou respon-
Parágrafo único. Se o crime for pra cado contra menor sável pelo atendimento nos restaurantes, bares,
de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). confeitarias e locais similares.
Sujeito passivo: é a pessoa discriminada.
“Recusar” significa não aceitar, “negar” significa repu- Conduta: vem representada pelos verbos “impedir”,
diar. Já “impedir” se traduz por obstar. Basta tão somente a que significa interromper, e “recusar”, que significa
recusa de inscrição ou o impedimento do ingresso de aluno não aceitar.
em estabelecimento de ensino, não importando se público Elemento subje vo: dolo.
ou privado, nem o grau em questão. O disposi vo obje va Consumação: trata-se de crime formal, pois inde-
a proteção ao tratamento igualitário no acesso aos estabe- pende da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo
lecimentos de ensino. para pessoa discriminada, embora seja possível que
Cons tui causa de aumento de pena a prá ca do crime aconteça.
contra menor de dezoito anos. Tenta va: admi da na forma plurissubsistente.

Obje vidade jurídica: a tutela do direito à igualdade, Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em
do respeito à personalidade e a dignidade da pessoa. estabelecimentos espor vos, casas de diversões, ou
Sujeito a vo: qualquer pessoa que tenha poderes clubes sociais abertos ao público.
para a realização do ato. Pode ser o diretor, proprie- Pena: reclusão de um a três anos.
tário, administrador, funcionário etc.
Sujeito passivo: o Estado. Secundariamente, o aluno Ainda nos valendo dos estudos feitos pelo Professor
discriminado. Nucci (2009, p. 314), elaboramos o presente roteiro:
Conduta: vem expressa pelos verbos ‘recusar’ (não
aceitar, repelir), ‘negar’ (recusar, repudiar) e ‘impedir’ Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade
(obstar, proibir), referindo-se à inscrição ou ingresso dos seres humanos perante a lei.
em estabelecimento de ensino público ou privado. Sujeito ativo: é o proprietário ou preposto seu,
Elemento subje vo: dolo. desde que seja a pessoa responsável pelo controle
Consumação: com efe va recusa, negação ou im- do ingresso e atendimento nos estabelecimentos
pedimento. espor vos, casas de diversão e clubes sociais.
Tenta va: admite-se apenas na modalidade de con- Sujeito passivo: é a pessoa discriminada.
duta ‘impedir’, desde que fracionável o iter criminis. Conduta: vem representada pelos verbos “impedir”,
Causa de aumento de pena: o parágrafo único que significa interromper, e “recusar”, que significa
estabelece causa de aumento de pena de um terço não aceitar.
se o crime for pra cado contra menor de 18 anos Elemento subje vo: dolo.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

(ANDREUCCI, 2009, p. 76). Consumação: trata-se de crime formal, pois independe


da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo para pessoa
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem discriminada, embora seja possível que aconteça.
em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabe- Tenta va: admi da na forma plurissubsistente.
lecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos. Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em
salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas
A par r dos estudos feitos pelo Professor Guilherme de massagem ou estabelecimento com as mesmas
Nucci (2009, p. 312), analisaremos o disposi vo em comento, finalidades.
com o roteiro por nós elaborado: Pena: reclusão de um a três anos.

Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade A par r dos estudos do Professor Nucci (2009, p. 315),
dos seres humanos perante a lei. elaboramos o seguinte roteiro:
Sujeito a vo: é o proprietário ou responsável pelo
hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento similar. Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade
Sujeito passivo: é a pessoa discriminada. dos seres humanos perante a lei.

44
Sujeito a vo: é o proprietário ou encarregado da Sempre nos valendo da obra do Professor Guilherme
recepção e atendimento nos cabeleireiros, barbe- Nucci (2009, p. 317-318), produzimos o seguinte roteiro:
arias, termas, casas de massagens e outros lugares
semelhantes. Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade
Sujeito passivo: é a pessoa discriminada. dos seres humanos perante a lei.
Conduta: vem representada pelos verbos “impedir”, Sujeito a vo: é a pessoa que tem a incumbência de
que significa interromper, e “recusar”, que significa admi r o ingresso de alguém no serviço militar. Pode
não aceitar. ser tanto um funcionário subalterno, encarregado
Elemento subje vo: dolo. da seleção, como um alto dirigente do Exército,
Consumação: trata-se de crime formal, pois independe Marinha, Aeronáu ca, que tenha dado a ordem – ou
da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo para pessoa ambos, se es verem de acordo com a proposta de
discriminada, embora seja possível que aconteça. discriminação.
Tenta va: admi da na forma plurissubsistente. Sujeito passivo: é a pessoa discriminada.
Conduta: vem representada pelos verbos “impedir”,
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em que significa interromper, e “obstar”, que significa
edi cios públicos ou residenciais e elevadores ou causar embaraço.
escada de acesso aos mesmos: Elemento subje vo: dolo.
Pena: reclusão de um a três anos. Consumação: trata-se de crime formal, pois inde-
pende da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo
Obje vidade jurídica: o tratamento igualitário no para pessoa discriminada, embora seja possível que
acesso às entradas sociais em edi cios públicos e aconteça.
privados. Tenta va: admissível na forma plurissubsistente.
Sujeito ativo: é o proprietário ou preposto seu,
desde que seja a pessoa responsável pelo controle Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou
do ingresso e atendimento nos estabelecimentos forma, o casamento ou convivência familiar e social.
espor vos, casas de diversão e clubes sociais. Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Sujeito passivo: é a pessoa discriminada.
Conduta: vem representada pelo verbo “impedir”, Ainda nos valendo dos estudos feitos pelo Professor
que significa obstar. Nucci (2009, p. 318):
Elemento subje vo: dolo.
Consumação: trata-se de crime formal, e se consuma Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade
ao se impedir qualquer pessoa a ter acesso aos locais dos seres humanos perante a lei.
mencionados. Sujeito a vo: pode ser qualquer pessoa.
Tenta va: é admissível, se for possível o fraciona- Sujeito passivo: é a pessoa discriminada.
mento do iter criminis. Conduta: vem representada pelos verbos “impedir”,
que significa interromper, e “obstar”, que significa
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes pú- causar embaraço.
blicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, Elemento subje vo: dolo.
trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte Consumação: trata-se de crime formal, pois inde-
concedido. pende da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo
Pena: reclusão de um a três anos. para pessoa discriminada, embora seja possível que
aconteça.
A par r da obra do Professor Guilherme Nucci (2009, Tenta va: admissível na forma plurissubsistente.
p. 317), elaboramos o seguinte roteiro:
Sobre o crime em comento, já decidiu o Egrégio Tribunal
Obje vidade jurídica: a preservação da igualdade de Jus ça de São Paulo:
dos seres humanos perante a lei.
Sujeito a vo: é a pessoa encarregada de controlar o AÇÃO PENAL – Justa causa – Racismo – Indiciada que
acesso aos transportes públicos (ex: um funcionário impede namoro do filho com a ví ma, em razão da
do balcão de check in de uma companhia aérea ou diferença de raças – Denúncia baseada no art. 14
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o cobrador do ônibus). Pode ser, logicamente, o di- da Lei Federal nº 7.716, de 1989 – Admissibilida-
rigente da empresa de transporte que dê ordem no de – Respaldo, ademais, na prova oral colhida no
sen do de controlar o acesso. inquérito policial – Recebimento da referida inicial
Sujeito passivo: é a pessoa discriminada. determinado – Recurso provido (TJSP – JTJ, 183/264).
Conduta: vem representada pelo verbo “impedir”,
que significa interromper. Sobre os arts. 7º a 14, o Mestre Ricardo Antonio Andreuc-
Elemento subje vo: dolo. ci (2009, p. 77) nos ensina:
Consumação: trata-se de crime formal, pois inde-
pende da ocorrência de qualquer efe vo prejuízo Obje vidade jurídica: a tutela do direito à igualdade,
para pessoa discriminada, embora seja possível que do respeito à personalidade e à dignidade da pessoa.
aconteça. Sujeito a vo: qualquer pessoa.
Tenta va: admissível na forma plurissubsistente. Sujeito passivo: o Estado. Secundariamente, a pessoa
discriminada.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao Conduta: vem representada, nos pos penais em co-
serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. mento, pelos verbos “impedir” (obstar, obstaculizar,
Pena: reclusão de dois a quatro anos. proibir) e “recusar” (não aceitar, repelir).

45
Objeto material: o objeto material varia de acordo § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá
com cada po penal. Pode ser hospedagem em hotel, determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido
pensão ou estalagem; atendimento em restaurantes, deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de
bares, confeitarias; atendimento em estabelecimen- desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
tos espor vos, casa de diversões ou clubes sociais 15/5/1997)
abertos ao público; atendimento em salões de ca- I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão
beleireiros, barbearias, termas, casa de massagem dos exemplares do material respec vo;
etc.; acesso às entradas sociais em edi cios públicos II – a cessação das respec vas transmissões radiofô-
ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos nicas ou televisivas.
mesmos; acesso ou de transportes públicos, como § 4º Na hipótese do § 2º, cons tui efeito da conde-
aviões, navios, barcos, ônibus, trens, metrô ou qual- nação, após o trânsito em julgado da decisão, a des-
quer outro meio de transporte concedido; acesso truição do material apreendido (Parágrafo incluído
ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas; e pela Lei nº 9.459, de 15/5/1997).
casamento ou convivência familiar e social.
[...] O crime previsto no art. 20 da lei em estudo visa a prote-
Elemento subje vo: dolo. ger o tratamento igualitário que todos os cidadãos possuem
Consumação: com a efe va prá ca das condutas ca- como direito subje vo independente de raça, cor, etnia ou
racterizadoras dos pos penais, independentemente procedência nacional.
de outro resultado.
Tenta va: admite-se nas condutas “impedir” e “obs- Obje vidade jurídica: a tutela do direito à igualdade,
tar”, desde que fracionável o iter criminis. do respeito à personalidade e à dignidade da pessoa.
Sujeito a vo: qualquer pessoa.
Art. 16. Cons tui efeito da condenação a perda do Sujeito passivo: o Estado.
cargo ou função pública, para o servidor público, e a Conduta: vem representada pelos verbos “pra car”
suspensão do funcionamento do estabelecimento (realizar, executar), “induzir” (influenciar, persuadir)
par cular por prazo não superior a três meses. e “incitar” (es mular, aguçar).
(... )
Conforme nos ensina o Professor Nucci (2009, p. 319): Objeto material: discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
[...] Efeito não automá co da condenação: sempre Elemento subje vo: dolo.
que houver condenação, com base em crime previsto [...]
nesta lei, deveria o juiz impor, quando o sujeito a vo Consumação: com a prá ca de uma ou mais moda-
for funcionário público, a perda do cargo ou função lidades de conduta pica. Trata-se de crime formal,
pública [...] bem como deveria impor a suspensão do que independe de qualquer outro resultado.
funcionamento do estabelecimento par cular por Tenta va: admite-se na conduta “pra car”, se fracio-
período de até 3 meses [...]. nável o iter criminis (2009) .

Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Por oportuno, faz necessário mencionar alguns julgados
Lei não são automá cos, devendo ser mo vadamen- referentes ao tema em comento:
te declarados na sentença.
HABEAS CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTIS-
O Mestre Nucci (2009, p. 319) professa que: SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL.
CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL.
[...] Mo vação do efeito da condenação: quando LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM DE-
houver condenação, por crime previsto nesta Lei, NEGADA. 1. Escrever, editar, divulgar e comerciar
impondo o juiz a perda do cargo ou função, bem livros ‘fazendo apologia de ideias preconceituosas
como a suspensão do funcionamento de estabeleci- e discriminatórias’ contra a comunidade judaica (Lei
mento par cular, deve mo var a decisão, o que não nº 7.716/1989, art. 20, na redação dada pela Lei
destoa do previsto, em geral, para todas as decisões nº 8.081/1990) cons tui crime de racismo sujeito às
do Poder Judiciário[...]. cláusulas de inafiançabilidade e imprescri bilidade
(CF, art. 5º, XLII). 2. Aplicação do princípio da pres-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Art. 20. Pra car, induzir ou incitar a discriminação cri bilidade geral dos crimes: se os judeus não são
ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou pro- uma raça, segue-se que contra eles não pode haver
cedência nacional (Redação dada pela Lei nº 9.459, discriminação capaz de ensejar a exceção cons -
de 15/5/1997). tucional de imprescri bilidade. Inconsistência da
Pena: reclusão de um a três anos e multa. premissa. 3. Raça humana. Subdivisão. Inexistência.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular Com a definição e o mapeamento do genoma huma-
símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou no, cien ficamente não existem dis nções entre os
propaganda que u lizem a cruz suás ca ou gamada, homens, seja pela segmentação da pele, formato dos
para fins de divulgação do nazismo (Redação dada olhos, altura, pêlos ou por quaisquer outras carac-
pela Lei nº 9.459, de 15/5/1997). terís cas sicas, visto que todos se qualificam como
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. espécie humana. Não há diferenças biológicas entre
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é os seres humanos. Na essência são todos iguais. 4.
come do por intermédio dos meios de comunicação Raça e racismo. A divisão dos seres humanos em
social ou publicação de qualquer natureza: (Redação raças resulta de um processo de conteúdo mera-
dada pela Lei nº 9.459, de 15/5/1997) mente polí co-social. Desse pressuposto origina-se
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. o racismo que, por sua vez, gera a discriminação e

46
o preconceito segregacionista. 5. Fundamento do acompanham. 13. Liberdade de expressão. Garan a
núcleo do pensamento do nacional-socialismo de cons tucional que não se tem como absoluta. Limites
que os judeus e os arianos formam raças dis ntas. morais e jurídicos. O direito à livre expressão não
Os primeiros seriam raça inferior, nefasta e infecta, pode abrigar, em sua abrangência, manifestações
caracterís cas suficientes para jus ficar a segregação de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal. 14.
e o extermínio: inconciliabilidade com os padrões As liberdades públicas não são incondicionais, por
é cos e morais definidos na Carta Polí ca do Brasil isso devem ser exercidas de maneira harmônica, ob-
e do mundo contemporâneo, sob os quais se ergue servados os limites definidos na própria Cons tuição
e se harmoniza o estado democrá co. Es gmas que Federal (CF, art. 5º, § 2º, primeira parte). O preceito
por si só evidenciam crime de racismo. Concepção fundamental de liberdade de expressão não consagra
atentatória dos princípios nos quais se erige e se o ‘direito à incitação ao racismo’, dado que um direito
organiza a sociedade humana, baseada na respeita- individual não pode cons tuir-se em salvaguarda de
bilidade e dignidade do ser humano e de sua pacífica condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra
convivência no meio social. Condutas e evocações a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da
aé cas e imorais que implicam repulsiva ação esta- pessoa humana e da igualdade jurídica. 15. ‘Existe
tal por se reves rem de densa intolerabilidade, de um nexo estreito entre a imprescri bilidade, este
sorte a afrontar o ordenamento infracons tucional e tempo jurídico que se escoa sem encontrar termo,
cons tucional do País. 6. Adesão do Brasil a tratados e a memória, apelo do passado à disposição dos
e acordos mul laterais, que energicamente repudiam vivos, triunfo da lembrança sobre o esquecimento’.
quaisquer discriminações raciais, aí compreendidas No estado de direito democrá co devem ser intransi-
as dis nções entre os homens por restrições ou pre- gentemente respeitados os princípios que garantem
ferências oriundas de raça, cor, credo, descendência a prevalência dos direitos humanos. Jamais podem
ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa se apagar da memória dos povos que se pretendam
superioridade de um povo sobre outro, de que são justos os atos repulsivos do passado que permi ram
exemplos a xenofobia, ‘negrofobia’, ‘islamafobia’ e e incen varam o ódio entre iguais por mo vos raciais
o an ssemi smo. 7. A Cons tuição Federal de 1988
de torpeza inominável. 16. A ausência de prescrição
impôs aos agentes de delitos dessa natureza, pela
nos crimes de racismo jus fica-se como alerta grave
gravidade e repulsividade da ofensa, a cláusula de
para as gerações de hoje e de amanhã, para que se
imprescri bilidade, para que fique, ad perpetuam rei
impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados
memoriam, verberado o repúdio e a abjeção da socie-
conceitos que a consciência jurídica e histórica não
dade nacional à sua prá ca. 8. Racismo. Abrangência.
mais admitem. Ordem denegada (HC nº 82.424, Rel.
Compa bilização dos conceitos e mológicos, etnoló-
gicos, sociológicos, antropológicos ou biológicos, de Min. Moreira Alves, Rel. p/ Acórdão: Min. Maurício
modo a construir a definição jurídico-cons tucional Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 17/9/2003, DJ
do termo. Interpretação teleológica e sistêmica da 19/3/2004, PP-00017, EMENT VOL-02144-03, PP-
Cons tuição Federal, conjugando fatores e circuns- 00524). (Grifo nosso)
tâncias históricas, polí cas e sociais que regeram sua
formação e aplicação, a fim de obter-se o real sen do CRIMINAL. HABEAS CORPUS. PRÁTICA DE RACISMO.
e alcance da norma. 9. Direito comparado. A exemplo EDIÇÃO E VENDA DE LIVROS FAZENDO APOLOGIA
do Brasil as legislações de países organizados sob a DE IDEIAS PRECONCEITUOSAS E DISCRIMINATÓRIAS.
égide do estado moderno de direito democrá co PEDIDO DE AFASTAMENTO DA IMPRESCRITIBILIDADE
igualmente adotam em seu ordenamento legal DO DELITO. CONSIDERAÇÕES ACERCA DE SE TRATAR
punições para delitos que es mulem e propaguem DE PRÁTICA DE RACISMO, OU NÃO. ARGUMENTO DE
segregação racial. Manifestações da Suprema Corte QUE OS JUDEUS NÃO SERIAM RAÇA. SENTIDO DO
Norte-Americana, da Câmara dos Lordes da Inglaterra TERMO E DAS AFIRMAÇÕES FEITAS NO ACÓRDÃO. IM-
e da Corte de Apelação da Califórnia nos Estados PROPRIEDADE DO WRIT. LEGALIDADE DA CONDENA-
Unidos que consagraram entendimento que aplicam ÇÃO POR CRIME CONTRA A COMUNIDADE JUDAICA.
sanções àqueles que transgridem as regras de boa RACISMO QUE NÃO PODE SER ABSTRAÍDO. PRÁTICA,
convivência social com grupos humanos que simbo- INCITAÇÃO E INDUZIMENTO QUE NÃO DEVEM SER
lizem a prá ca de racismo. 10. A edição e publicação DIFERENCIADOS PARA FINS DE CARACTERIZAÇÃO DO
de obras escritas veiculando ideias an ssemitas, que DELITO DE RACISMO.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

buscam resgatar e dar credibilidade à concepção CRIME FORMAL. IMPRESCRITIBILIDADE QUE NÃO
racial definida pelo regime nazista, negadoras e PODE SER AFASTADA. ORDEM DENEGADA.
subversoras de fatos históricos incontroversos como I. O habeas corpus é meio impróprio para o reexame
o holocausto, consubstanciadas na pretensa inferio- dos termos da condenação do paciente, através da
ridade e desqualificação do povo judeu, equivalem análise do delito – se o mesmo configuraria prá ca
à incitação ao discrímen com acentuado conteúdo de racismo ou caracterizaria outro po de prá ca
racista, reforçadas pelas consequências históricas discriminatória, com base em argumentos levantados
dos atos em que se baseiam. 11. Explícita conduta a respeito dos judeus – se os mesmos seriam raça, ou
do agente responsável pelo agravo revelador de não – tudo visando a alterar a pecha de imprescri -
manifesto dolo, baseada na equivocada premissa bilidade ressaltada pelo acórdão condenatório, pois
de que os judeus não só são uma raça, mas, mais do seria necessária controver da e imprópria análise
que isso, um segmento racial atávica e gene camente dos significados do vocábulo, além de amplas consi-
menor e pernicioso. 12. Discriminação que, no caso, derações acerca da eventual intenção do legislador e
se evidencia como deliberada e dirigida especifica- inconcebível avaliação do que o Julgador da instância
mente aos judeus, que configura ato ilícito de prá ca ordinária efe vamente ‘quis dizer’ nesta ou naquela
de racismo, com as consequências gravosas que o afirmação feita no decisum.

47
II. Não há ilegalidade na decisão que ressalta a con- REFERÊNCIAS
denação do paciente por delito contra a comunidade
judaica, não se podendo abstrair o racismo de tal ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação penal especial. 5.
comportamento, pois não há que se fazer diferen- ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.
ciação entre as figuras da prá ca, da incitação ou do
induzimento, para fins de configuração do racismo, DELMANTO, Celso et al. Código Penal comentado. 6. ed.,
eis que todo aquele que pra ca uma destas con- Renovar, 2002.
dutas discriminatórias ou preconceituosas, é autor
do delito de racismo, inserindo-se, em princípio, no GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. Vo-
âmbito da picidade direta. lume II. Introdução à teoria geral da parte especial: crimes
III. Tais condutas caracterizam crime formal, de mera contra a pessoa. 5. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.
conduta, não se exigindo a realização do resultado
material para a sua configuração. JESUS, Damásio E. de. Código Penal Anotado. 16. ed. atual.
IV. Inexistindo ilegalidade na individualização da São Paulo: Saraiva, 2004.
conduta imputada ao paciente, não há porque ser
afastada a imprescri bilidade do crime pelo qual foi
LAFER, Celso. Racismo – o STF e o caso Ellwanger. Disponível
condenado.
na Internet <h p://afrobras.org.br/index.php?op on=cont
V. Ordem denegada.
(HC nº 15.155/RS, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, ent&task=view&id=305>.
julgado em 18/12/2001, DJ 18/3/2002, p. 277).
(Grifo nosso) KAUFMANN, Roberta Fragoso Menezes. Ações afirma vas à
brasileira: necessidade ou mito? R. Jur. UNIJUS. Uberaba-MG,
RESP. INCITAÇÃO AO PRECONCEITO RACIAL. CONSI- V.10, n. 13, p.117-144, Novembro, 2007.
DERAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DOLO COM BASE EM
PROVAS. DESCONSTITUIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. – In-
citar, consoante a melhor doutrina é ins gar, provocar APRESENTAÇÃO E USO DE DOCUMENTO
ou es mular a discriminação ou preconceito racial. DE IDENTIFICAÇÃO PESSOAL LEI
Para a configuração do delito, sob esse prisma, basta
que o agente saiba que pode vir a causá-lo ou assumir Nº 5.553/1968
o risco de produzi-lo (dolo direto ou eventual). Ao se
considerar a inexistência de dolo com base em provas O art. 2º da revogada Lei nº 10.054/2000 dizia que a
e fatos, torna-se impossibilitada o reexame das mes- prova de iden ficação civil seria feita mediante apresentação
mas provas e fatos para chegar a conclusão diversa da de documento de iden dade reconhecido pela legislação.
adotada (Súmula nº 7/STJ). Recurso não conhecido Atualmente, a Lei nº 12.037/2009 diz que a iden ficação
(STJ – 5ª Turma – Resp nº 157.805/DF – Rel. Min. Jorge civil é atestada por qualquer dos seguintes documentos:
Scartezzini – j. 17/8/1999 – DJ de 13/9/1999, p. 87). 1) carteira de iden dade;
2) carteira de trabalho;
Lei nº 12.288/2010 3) carteira profissional;
4) passaporte;
A Lei nº 12.288/2010 criou o Estatuto da Igualdade Racial 5) carteira de iden ficação funcional;
e alterou a norma em estudo, sendo que os ar gos 3º e 4º, 6) outro documento público que permita a identifi-
passaram a vigorar com a seguinte redação: cação do indiciado. A Lei mencionada ainda equipara os
documentos de iden ficação militares aos documentos de
Art. 3º ...................................................................... iden ficação civis.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem,
por mo vo de discriminação de raça, cor, etnia, re- Já a Lei nº 5.553/1968 diz, em seu art. 1º, que a nenhu-
ligião ou procedência nacional, obstar a promoção ma pessoa sica, bem como a nenhuma pessoa jurídica, de
funcional. direito público ou de direito privado, é lícito reter qualquer
Art. 4º ....................................................................... documento de iden ficação pessoal, ainda que apresentado
§ 1º Incorre na mesma pena quem, por mo vo de por fotocópia auten cada ou pública-forma, inclusive com-
discriminação de raça ou de cor ou prá cas resul- provante de quitação com o serviço militar, tulo de eleitor,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tantes do preconceito de descendência ou origem carteira profissional, cer dão de registro de nascimento,
nacional ou étnica: cer dão de casamento, comprovante de naturalização e
I – deixar de conceder os equipamentos necessários carteira de iden dade de estrangeiro.
ao empregado em igualdade de condições com os Cons tui contravenção penal, punível com pena de prisão
demais trabalhadores; simples de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa, a retenção ilegal
II – impedir a ascensão funcional do empregado ou de qualquer dos documentos mencionados.
obstar outra forma de bene cio profissional; Quando, para a realização de determinado ato, for exigida
III – proporcionar ao empregado tratamento dife- a apresentação de documento de iden ficação, a pessoa que
renciado no ambiente de trabalho, especialmente fizer a exigência fará extrair, no prazo de até 5 dias, os dados
quanto ao salário. que interessarem devolvendo em seguida o documento ao
§ 2º Ficará sujeito às penas de multa e de prestação seu exibidor.
de serviços à comunidade, incluindo a vidades de Após 5 dias, somente por ordem judicial poderá ser
promoção da igualdade racial, quem, em anúncios re do qualquer documento de iden ficação pessoal.
ou qualquer outra forma de recrutamento de tra- Quando o documento de iden dade for indispensável
balhadores, exigir aspectos de aparência próprios para a entrada de pessoa em órgãos públicos ou par culares,
de raça ou etnia para emprego cujas a vidades não serão seus dados anotados no ato e devolvido o documento
jus fiquem essas exigências. (NR) imediatamente ao interessado.

48
Sérgio Bautzer / André Portela Conforme a Lei nº 5.249/1967,

a falta de representação do ofendido, nos casos de


ABUSO DE AUTORIDADE
abuso previsto na Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de
LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965 1965, não obsta a inicia va ou o curso de ação pública.
Objeto e Finalidade da Lei Eventual falha na representação NÃO obsta a instaura-
ção da ação penal.2 Se a representação apresentar qualquer
A lei em estudo regula o direito de representação e o falha, a autoridade que a recebeu poderá providenciar, por
processo de responsabilidade administra va, civil e penal, outros meios, a apuração do fato3.
nos casos de abuso de autoridade. Assim, os crimes de abuso de autoridade são de ação
Conforme lição de Fernando Capez (2008, p. 7), penal pública incondicionada4.
Então a representação não é condição de procedibilida-
a Lei de Abuso de Autoridade foi criada em um pe- de da ação penal5 nos crimes previstos na Lei nº 4.898/1965.
ríodo autoritário com intuito meramente simbólico,
promocional e demagógico, a Lei de Abuso de Auto-
ridade na verdade cominou em penas insignificantes, Elemento Subje vo
passíveis de substituição por multa e facilmente
alcançáveis pela prescrição. De qualquer modo, sua Os crimes previstos na lei ora em comento só admitem
finalidade é de prevenir os abusos pra cados pelas a modalidade dolosa, ou seja, a vontade de pra car o ato,
autoridades, no exercício de suas funções, por meio com o conhecimento de que abusa do poder. Não há a forma
de sanções de natureza administra va, civil e penal, culposa dos crimes previstos nos arts. 3º e 4º.
estabelecendo a necessária reprimenda.
Tenta va
Qualquer pessoa pode representar perante as autorida-
des competentes, requerendo a apuração do crime de abuso. No art. 3º, não é cabível a modalidade tentada6 por se
A representação a que alude a lei está inserida no direito de tratar de delito de atentado; nas palavras de Capez, na obra
pe ção, assegurado na Cons tuição Federal, em seu art. 5º, já mencionada: “já que qualquer atentado é punido como
inciso XXXIV, alínea a, a seguir transcrito: crime consumado.”
No art. 4º, em algumas das condutas descritas, é pos-
XXXIV – são a todos assegurados, independentemen- sível a tenta va quando for possível o fracionamento do
te do pagamento de taxas: iter criminis.
a) o direito de pe ção aos Poderes Públicos em de-
fesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder; (Grifo nosso) Sujeito A vo

A Lei nº 4.898/1965 ainda define os crimes de abuso de É a autoridade, cujo conceito encontra-se no art. 5º da lei,
autoridade, estabelecendo o procedimento para a apuração que assim prevê: “Quem exerce cargo, emprego ou função
das responsabilidades administra va, civil e penal. pública, de natureza civil ou militar, ainda que transitoria-
mente e sem remuneração7.”
Da Representação (Art. 2º) Trata-se de crime próprio8, que é aquele que exige espe-
cial qualidade do agente, no caso, ser autoridade.
O art. 2º da lei em comento disciplina o exercício do É possível que seja sujeito a vo do crime de abuso o fun-
direito de representação, estabelecendo que este será exer- cionário público que, embora não esteja no exercício de sua
cido por meio de pe ção dirigida à autoridade superior que função, invoque, ao realizar o ato, a autoridade de que é inves-
ver competência legal para aplicação de eventual sanção, do. É o caso, por exemplo, de policial que, de folga, detenha
ou ao órgão do Ministério Público competente. Nota-se que ilegalmente pessoa, invocando para tal o cargo que ocupa.
a representação não deve ser necessariamente dirigida ao Os pos da lei admitem a par cipação de terceiro9, não
Ministério Público1, podendo ser dirigida à Corregedoria de incluído no conceito de autoridade, em face da regra do
Polícia, por exemplo. art. 30 do CP, pois a qualidade de autoridade é elementar
Fernando Capez (2008, p. 5) enfa za que dos crimes de abuso. O professor Ricardo Antônio Andreucci
(2009, p. 218) cita o seguinte julgado:
qualquer pessoa que se sen r ví ma de abuso de
poder poderá, direta, pessoalmente e sem a neces-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Nada impede que uma pessoa não funcionária


sidade de advogado, encaminhar sua delação à au- pública pra que o crime de abuso de autoridade,
toridade civil ou militar competente para a apuração
e a responsabilização do agente. 2
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e
Escrivão de Polícia/2009.
A representação dirigida ao membro do Ministério Público 3
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e
é uma verdadeira peça de informação, cujos requisitos estão 4
Escrivão de Polícia/2009.
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e
elencados no parágrafo único do art. 2º da Lei nº 4.898/1965: Escrivão de Polícia/2009.
a) a exposição do fato cons tu vo do abuso de autoridade, 5
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e
com todas as suas circunstâncias, b) a qualificação do acusado 6
Escrivão de Polícia/2009.
Tema cobrado na seguinte prova: NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002.
c) o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver e 7
Tema cobrado nas seguintes provas: FCC/PC-MA/Agente de Polícia 3ª
d) será feita de maneira escrita em duas vias. Classe/2006; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil Subs tuto/2009; Acade-
pol-SP/Delegado de Polícia/2003.
8
Tema cobrado na seguinte prova: Esaf/AGU/Advogado de 2ª Categoria/1998.
1 9
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judi-
Escrivão de Polícia/2009. ciária – A vidade Processual/2003.

49
desde que o faça em concurso com uma das pessoas das hipóteses legais, e o conduzem à repar ção policial es-
mencionadas no art. 5º da Lei nº 4.898/1965 (Tacrim. pecializada. Restará configurado o crime do art. 230 do ECA.
JTACrim, 66/440). b) Sujeito passivo mediato, indireto ou permanente: é o
Estado, tular da Administração Pública.
Sobre a competência para se julgar o policial militar que
comete crime de abuso, o STJ editou a Súmula nº 172, que Acerca da palavra da ví ma, a Sexta Turma do Superior
dispõe: “Compete à jus ça comum processar e julgar militar Tribunal de Jus ça, no RHC nº 22.716, conforme no cia
por crime de abuso de autoridade, ainda que pra cado em veiculada no site www.stj.gov.br, decidiu:
serviço10.”
O policial militar que pra car crime de abuso de autori- Denúncia por abuso de autoridade pode se embasar
dade será julgado pela Jus ça Comum Estadual e não pela apenas em depoimento da ví ma.
Um delegado de polícia de Itacaré (BA) seguirá
Jus ça Militar.
respondendo a acusação de abuso de autoridade.
Já o integrante das Forças Armadas que cometer crime
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ)
de abuso de autoridade será julgado pela Jus ça Federal. entendeu cabível a denúncia embasada apenas no
O fundamento é que o delito de abuso de autoridade depoimento da ví ma.O delegado, um policial e um
não encontra previsão no Código Penal Militar. Assim, a in- terceiro teriam realizado buscas na casa da ví ma e
fração em tela não será julgada pela Jus ça Militar, pois não a deixado presa por uma noite, tudo sem inquérito,
é delito militar. mandado ou flagrante formal. A ví ma era emprega-
Segundo o STJ, a competência para se processar Delegado da domés ca do terceiro, e estaria sendo inves gada
da Polícia Federal por crime de abuso de autoridade é da por furto na residência dele.Conforme a ministra Ma-
Jus ça Estadual, senão vejamos: ria Thereza Moura, a denúncia do Ministério Público
(MP), recebida pelo juiz, descreve apropriadamente
COMPETÊNCIA. CRIME. ABUSO. AUTORIDADE. as ações delituosas atribuídas aos réus, que teriam
Trata-se de habeas corpus em que o paciente afirma come do abuso de autoridade ao atentar contra a
ser incompetente a Jus ça Federal para processar liberdade de locomoção e a inviolabilidade de do-
o feito em que é acusado pelo crime de abuso de mícilio da ví ma. A relatora também afirmou que a
autoridade. Na espécie, após se iden ficar como inexistência de inquérito policial anterior à denúncia
delegado de Polícia Federal, ele teria exigido os não leva à falta de justa causa para a ação. Para a
prontuários de atendimento médico, os quais foram ministra, o inquérito sempre foi dispensável, princi-
negados pela chefe plantonista do hospital, vindo, palmente no caso de denúncia contra o delegado de
então, a agredi-la. A Turma, por maioria, entendeu polícia da cidade e um de seus agentes.Em relação
que, no caso, não compete à Jus ça Federal o pro- ao abuso de autoridade, a própria lei dispensa clara-
mente a peça, determinando que a ação penal será
cesso e julgamento do referido crime, pois inter-
iniciada independentemente de inquérito policial,
pretou restri vamente o art. 109, IV, da CF/1988.
por denúncia do MP instruída com a representação
A simples condição funcional de agente não implica da ví ma. A denúncia deve ser apresentada em 48
que o crime por ele pra cado tenha índole federal, horas do depoimento, desde que os fatos cons tuam
se não comprome dos bens, serviços ou interesses em tese caso de abuso de autoridade. A ministra
da União e de suas autarquias públicas. Precedente conclui afirmando que, conforme manifestou-se o MP
citado: CC 1.823-GO, 3ª Seção, DJ 27/5/1991. HC Federal, não seria conveniente esperar que a autori-
nº 102.049-ES, Rel. Min. Nilson Naves, 6ª Turma, dade policial produzisse prova contra si, mesmo que
julgado em 13/4/2010. se designasse para o inquérito outros agentes, não
diretamente envolvidos na situação. A Sexta Turma
De outra parte a Quinta Turma do STJ decidiu de maneira também rejeitou o argumento de que o julgamento
contrária, senão vejamos: do habeas corpus, no tribunal de origem, teria sido
nulo por erro induzido pela secretaria do órgão jul-
COMPETÊNCIA. CRIME. POLICIAL FEDERAL. gador. A defesa alegava que, apesar de oficialmente
A Turma, entre outras questões, assentou, por maio- pautado, na data e hora prevista um funcionário do
ria, que compete à Jus ça Federal o julgamento dos tribunal informou que a relatora estaria em férias
delitos come dos por policiais federais que estejam no período, e que o processo não seria julgado. Pos-
fora do exercício de suas funções, mas u lizem farda, teriormente, o funcionário informou, por telefone,
dis n vo, iden dade, arma e viatura da corporação. que ela voltou antecipada e inesperadamente das
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

REsp. nº 1.102.270-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes férias, levando o caso a julgamento. Mas a ministra
Maia Filho, julgado em 23/11/2010. entendeu que no confronto entre a in mação oficial
e alegação não comprovada de forma inequívoca de
que o advogado fora levado a erro pela secretaria,
Sujeito Passivo deve prevalecer a informação oficial.
a) Sujeito passivo imediato, direto e eventual: é a pessoa Objeto Material e Jurídico
sica ou jurídica, nacional ou estrangeira. Se o sujeito passivo
for criança ou adolescente, a depender da conduta, estará Guilherme de Souza Nucci (2009) ensina que “o objeto
configurado um dos crimes previstos na Lei nº 8.069/1990. material é a pessoa lesada pelo abuso”.
Exemplo, policiais militares apreendem adolescente, fora Na mesma obra, Nucci preleciona que
10
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-Nordeste/1º Exame de Ordem/2004; o objeto jurídico principal [...] é a dignidade da função
OAB-DF/3º Exame de Ordem/2003; Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/1997;
Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2004. pública e a lisura do exercício da autoridade pelo Estado.

50
[...] Secundariamente o objeto jurídico é variável, Condução coerci va de pessoa à delegacia – 1
conforme o bem especificamente tutelado, podendo A 1ª Turma denegou, por maioria, habeas corpus
ser a liberdade de locomoção, a inviolabilidade de impetrado em favor de paciente que fora conduzido
domicílio [...]. à presença de autoridade policial, para ser inquirido
sobre fato criminoso, sem ordem judicial escrita ou
Dos Crimes de Abuso de Autoridade situação de flagrância, e man do custodiado em
dependência policial até a decretação de sua prisão
O art. 3º da lei em estudo fere o princípio cons tucional temporária por autoridade competente. A impe-
da legalidade, no tocante ao subprincípio da taxa vidade, tração argumentava que houvera constrangimento
que dispõe que a lei deve descrever, pormenorizadamente, ilegal na fase inquisi va, bem como nulidades no
o fato do como criminoso, de maneira que a pessoa saiba curso da ação penal. Em consequência, requeria o
a par r da norma o que é permi do e o que é proibido. trancamento desta. Verificou-se, da leitura dos autos,
O termo “qualquer” é muito amplo, e o princípio mencio- que esposa de ví ma de latrocínio marcara encontro
nado não admite tal amplitude, impondo que a descrição da com o paciente, o qual estaria na posse de cheque
conduta criminosa deve ser detalhada e específica. que desaparecera do escritório da ví ma no dia do
Fernando Capez (2008, p. 9) alerta que “de nada adian- crime. A viúva, então, solicitara a presença de policial
taria exigir a prévia definição da lei se fosse permi da a para acompanhar a conversa e, dessa forma, even-
u lização de termos muito amplos”.
tualmente, chegar-se à autoria do crime inves gado.
No ordenamento brasileiro, existem outras infrações que
Ante as divergências entre as versões apresentadas
ferem o princípio da legalidade, tais como a contravenção
de vias de fato e o crime de terrorismo. por aquela e pelo paciente, durante o diálogo, todos
Ainda que vago e impreciso, a doutrina e a jurisprudência foram conduzidos à delegacia para prestar esclareci-
não reconheceram o art. 3º como não recepcionado pela mentos. Neste momento, fora confessado o delito.
Cons tuição da República de 1988. Assentou-se que a própria Cons tuição asseguraria,
em seu art. 144, § 4º, às polícias civis, dirigidas por
Crimes previstos no art. 3º delegados de carreira, as funções de polícia judiciária
e a apuração de infrações penais. O art. 6º, II a VI,
É de se frisar que as condutas previstas no art. 3º atentam do CPP, por sua vez, estabeleceria as providências a
contra os direitos e garan as previstos na Lei Fundamental. serem tomadas pelas autoridades referidas quando
vessem conhecimento da ocorrência de um delito.
a) Atentado à liberdade de locomoção; Assim, asseverou-se ser possível à polícia, autonoma-
mente, buscar a elucidação de crime, sobretudo nas
O art. 5º, inciso LXI, da Cons tuição Federal estabelece circunstâncias descritas. Enfa zou-se, ainda, que os
que agentes policiais, sob o comando de autoridade com-
petente (CPP, art. 4º), possuiriam legi midade para
ninguém será preso senão em flagrante delito ou por tomar todas as providências necessárias, incluindo-se
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciá- aí a condução de pessoas para prestar esclarecimen-
ria competente, salvo nos casos de transgressão mi- tos, resguardadas as garan as legais e cons tucionais
litar ou crime propriamente militar, definidos em lei. dos conduzidos. Observou-se que seria desnecessária
a invocação da teoria dos poderes implícitos.
Nesse contexto, haverá privação de liberdade nos seguin-
[...]
tes casos: a) prisão em flagrante delito efetuada por qualquer
Passou-se, em seguida, à análise das demais alega-
do povo ou por autoridade pública, conforme art. 301 do
Código de Processo Penal, b) ordem escrita assinada por ções do impetrante. No tocante ao uso de algemas,
juiz de Direito competente (mandados de prisão preven va entendeu-se que fora devidamente justificado.
ou temporária, por exemplo) e c) prisão administra va do Afastou-se a asser va de confissão mediante tortura,
militar. porquanto, após decretada a prisão temporária, o
Qualquer conduta realizada por autoridade, no exercício paciente fora subme do a exame no Ins tuto Mé-
de função pública, que ofende a liberdade do indivíduo de ir, dico Legal, em que não se constatara nenhum po
vir e permanecer, não se enquadrando nas hipóteses acima, de lesão sica. Assinalou-se não haver evidência de
configura crime de abuso de autoridade. cerceamento de defesa decorrente do indeferimento
Considere que um delegado de polícia tenha efetuado da oi va das testemunhas arroladas pelo paciente
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a prisão de um suspeito com a finalidade de verificar o e do pedido de diligências, requeridos a destempo,


possível envolvimento deste na prá ca delituosa. A prisão haja vista a inércia da defesa e a consequente pre-
não ocorreu em virtude de flagrante delito, inexis ndo, clusão dos pleitos. Além disso, consignou-se que a
também, ordem escrita da autoridade judiciária compe- jurisprudência desta Corte firmara-se no sen do de
tente. Nesse caso, o delegado de polícia deverá responder não haver cerceamento ao direito de defesa quando
por crime de abuso de autoridade, pois efetuou prisão que magistrado, de forma fundamentada, lastreada em
não se inclui nos casos permi dos pela lei11. elementos de convicção existentes nos autos, indefe-
Vale lembrar importante decisão da 1ª Turma do STF, re pedido de diligência probatória que repute imper-
no HC nº 10.7644/SP, no tocante à condução coerci va de nente, desnecessária ou protelatória. Explicitou-se
pessoas às unidades policiais Civis: que a defesa do paciente não se desincumbira de
indicar, oportunamente, quais elementos de provas
11
pretendia produzir para absolvê-lo. Desproveu-se,
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de
Escolta e Vigilância Penitenciário/2007. também, o argumento de que houvera inversão na

51
ordem de apresentação das alegações finais, porque c) Atentado ao sigilo da correspondência;
a magistrada, em razão de outros documentos jun-
tados pela defesa nessa fase, determinara nova vista Conforme o art. 5º, inciso XII, da Cons tuição Federal
dos autos ao Ministério Público, o que não implicaria
irregularidade processual. Considerou-se que, ao é inviolável o sigilo da correspondência e das comu-
contrário, dera-se a estrita observância aos princípios nicações telegráficas, de dados e das comunicações
do devido processo legal e do contraditório. Ade- telefônicas, salvo, no úl mo caso, por ordem judicial,
mais, reputou-se suficientemente mo vada a prisão nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
cautelar. O Min. Dias Toffoli acompanhou o relator, fins de inves gação criminal ou instrução processual
ante a peculiaridade da espécie. Acrescentou que a penal.
condução coerci va do paciente visara a apuração
Caso haja abusiva violação do sigilo da correspondência
de infração penal gravíssima, em vista de posse de
pra cada por autoridade, no exercício de suas funções,
objeto de subtração que es vera em poder da ví - o crime é do art. 3º, alínea c, da Lei nº 4.898/1965, tendo
ma antes de sua morte. Mencionou que se poderia preferência sobre a previsão do art. 151 do CP, em face do
aplicar, à situação dos autos, a teoria dos poderes já citado princípio da especialidade.
implícitos. Apontou que alguns teóricos classificariam Como não existe direito cons tucional absoluto, em
esse proceder, que não teria significado de prisão, determinadas situações, a autoridade poderá apreender
como custódia ou retenção. Por fim, destacou que correspondências. É o caso, por exemplo, da apreensão, rea-
o STJ desprovera o úl mo recurso do réu, mediante lizada pela administração de presídio, de cartas enviadas por
decisão transitada em julgado. Vencido o Min. Marco presos, membros de organizações criminosas, cujo conteúdo
Aurélio, que concedia a ordem. HC nº 107.644/SP, rel. dá instruções acerca do come mento de infrações penais.
Min. Ricardo Lewandowski, 6/9/2011. (HC-107644)
d) Atentado à liberdade de consciência e crença (alínea
b) Atentado à inviolabilidade do domicílio; d) e ao livre exercício do culto religioso (alínea e);

A garan a da inviolabilidade do domicílio é exposta Os direitos supracitados estão expressos no art. 5º, inciso
pelo art. 5º, inciso XI, da Cons tuição Federal, nos termos VI, da CF, que dispõe ser
a seguir expressos:
inviolável a liberdade de consciência e de crença, sen-
do assegurado o livre exercício dos cultos religiosos
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
e garan da, na forma da lei, a proteção aos locais de
nela podendo penetrar sem consen mento do mo-
culto e às liturgias.
rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por de- Não obstante, mesmo se tratando de direito fundamen-
terminação judicial; tal, tal liberdade não é ilimitada, podendo haver interferência
da autoridade para impedir a realização de cultos que violem
O conceito de casa está previsto no Código Penal, em a moral e a ordem pública. Exemplo: a autoridade pode inter-
seu art. 150, § 4º. romper culto religioso por conta do alto volume emanado das
Importa considerar que, em face do princípio da espe- caixas de som que guarnecem o templo durante a pregação.
cialidade, quando a autoridade viola um domicílio, responde Note que o exercício do direito em tela atrapalha o sossego
pelo crime pificado no art. 3º, alínea b, da Lei nº 4.898/1965 da vizinhança que reside ao redor do templo.
e não pelo Estatuto Penal. O que configura o crime de abuso é a violação desmo -
Quando a violação do domicílio caracterizar meio para vada e ilegal da autoridade.
prá ca de outro delito mais grave, aplicar-se-á o princípio da É importante ressaltar que não cons tui constrangimento
consunção, já que o delito-fim absorve a violação. Assim, se ilegal a atuação do Poder Público na repressão da prá ca de
a autoridade invade o domicílio da ví ma, com o intuito de curandeirismo, pois, como já dito, a garan a cons tucional
da liberdade de crença não jus fica o come mento do refe-
matá-la, responderá tão somente pelo homicídio.
rido delito, que atenta contra a saúde pública.
Cumpre ressaltar que, se a autoridade violar um domicílio
com o intuito de se colher provas, estas serão consideradas e) Atentado à liberdade de associação (alínea f) e ao
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ilícitas e deverão ser desentranhadas dos autos que vierem direito de reunião (alínea h);
instruir.
Por fim, há quem sustente que quando o inciso XI do Vale aqui destacar a diferença entre associação e reu-
art. 5º da Cons tuição Federal se refere ao flagrante delito, nião, o que é bem delineado por Capez (2008, p. 16), senão
por interpretação restri va, está se referindo apenas ao vejamos:
flagrante próprio (quando a pessoa é de da cometendo ou
acabando de cometer a infração). Associação é a reunião estável e permanente de
Assim, se o indivíduo vier a matar alguém em via pública várias pessoas, para a consecução de um fim deter-
e, ao ser perseguido, vier a se refugiar em uma residência, minado ou para o desempenho de certa a vidade.
a autoridade não poderá determinar a incursão na residência, Reunião é o agrupamento voluntário de pessoas,
pois o disposi vo cons tucional apenas autoriza a entrada sem caráter de permanência ou estabilidade, em um
quando a infração for come da no interior do domicílio e determinado lugar, no qual se discute um assunto
não quando há o flagrante impróprio ou presumido. qualquer e após o qual o grupo se dissolve.

52
A CF, em seu art. 5º, incisos XVI e XVII, assegura que coronhada em um indivíduo e acaba matando-o, responde-
rá pelo crime de homicídio qualificado em concurso com o
XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem abuso de autoridade.
armas, em locais abertos ao público, independente-
mente de autorização, desde que não frustrem outra i) Atentado aos direitos e garan as legais assegurados
reunião anteriormente convocada para o mesmo ao exercício profissional;
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente Não estão enumerados na lei em comento os direitos
XVII – é plena a liberdade de associação para fins e garan as para o exercício da profissão. Assim, o po em
lícitos, vedada a de caráter paramilitar. estudo trata-se de uma norma penal em branco, que neces-
sita de outra norma para sua complementação. Exemplo: o
Assim, diante das premissas assinaladas pela Lei Funda- advogado cons tuído tem livre acesso aos autos de inquérito
mental, é fácil aferir que a autoridade só estará autorizada policial, segundo o Estatuto da OAB. Caso a autoridade inde-
a impedir o exercício do direito em tela nas seguintes hipó- fira sem fundamentação a vista dos autos para extração de
teses: a) quando não houver aviso prévio da reunião, até fotocópias, além de se socorrer da medida de reclamação,
por questões de segurança, b) quando houver a existência o advogado poderá representar pelo crime de abuso.
de membros armados (deve ser analisado caso a caso, pois,
por exemplo, a autoridade poderá interromper a reunião Crimes previstos no art. 4º
de neonazistas, mas não poderá interromper a reunião de
delegados de polícia), c) quando houver proibição de uso do O art. 4º descreve os pos de forma mais específica, em
local para reunião de pessoas. Ex: protesto no meio de uma conformidade com o princípio da legalidade, sobrepondo-se,
rodovia de grande movimento. assim, ao art. 3º, em caso de conflito aparente de normas.
Quanto às associações, resta claro que a proibição do Passemos ao estudo das alíneas:
seu exercício só será permi da quando verem fins ilícitos
a) ordenar ou executar medida priva va da liber-
ou caráter paramilitar. Exemplo: antes, sustentávamos que a
dade individual, sem as formalidades legais ou com
Autoridade poderia coibir a “marcha da maconha”. Porém, o
abuso de poder;
Plenário do STF, à unanimidade, reconheceu a legi midade
de tal movimento, que está amparado nos direitos cons -
Como já dito anteriormente, as hipóteses de prisão legal
tucionais de reunião e de livre expressão do pensamento.
encontram-se descritas no inciso LXI do art. 5º da CF.
A decisão foi dada no julgamento da ADPF nº 187 que deu
A prisão por averiguação, que é aquela em que o indi-
interpretação conforme à Cons tuição ao art. 287 do Código víduo é de do sem autorização judicial, apenas por mera
Penal. Assim, se a Autoridade proibir a reunião de simpa- conveniência e a critério da autoridade, configura crime de
zantes de legalização do porte da substância vulgarmente abuso de autoridade, uma vez que se trata de privação da
conhecida como “maconha”, estará incorrendo em crime liberdade não autorizada pela Cons tuição ou pela lei.
de abuso. Assim, considere que uma equipe de policiais em ronda
tenha abordado um cidadão em via pública e, devido a
g) Atentado aos direitos e garan as legais assegurados sua semelhança com um conhecido homicida, o tenham
ao exercício do voto; conduzido à repar ção policial, onde permaneceu de do
para averiguações por dois dias. Considere ainda que, ao
A lei se refere a qualquer po de atentado ao direito de final, o cidadão tenha sido liberado, após a verificação de
voto, seja sico ou moral. que não se tratava do homicida procurado. Nessa situação,
Devemos nos atentar ao que já falamos acerca da impre- é correto afirmar que o procedimento policial foi ilegal, e
cisão que permeia a redação do ar go em estudo. Assim, que a detenção cons tuiu crime de abuso de autoridade13.
dependendo do caso concreto, por conta do princípio da É um crime que admite tenta va uma vez que o iter
legalidade, deve ser aplicado o Código Eleitoral, que dispõe criminis pode ser fracionado.
acerca dos chamados crimes eleitorais.
b) submeter a pessoa sob sua guarda ou custódia
h) Atentado à incolumidade sica do indivíduo; a vexame ou a constrangimento não autorizado
em lei;
Qualquer ofensa sica ao indivíduo é abrangida por esse
crime, no entanto, cumpre enfa zar que, quando a conduta É um crime que admite tenta va uma vez que o iter
es ver dentre as figuras picas previstas na Lei de Tortura, criminis pode ser fracionado.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

prevalecerá os disposi vos especiais e mais graves desta. A prisão devidamente fundamentada é autorizada e le-
Conclui-se que se o policial civil que, após infligir forte gal, no entanto, é dever da autoridade assegurar o respeito
sofrimento mental, mediante graves e reiteradas ameaças, à integridade sica e moral do preso, sob pena de eventual
exigindo que a ví ma de um roubo reconheça determinado constrangimento caracterizar o po ora estudado.
homem que tem certeza ser o autor do crime, não comete o Vale ressaltar que, se o sujeito passivo for menor infrator,
delito de abuso de autoridade12, mas sim crime de tortura. restará configurado o delito previsto no art. 232 do Estatuto
Além disso, caso o atentado resulte em lesões corporais da Criança e do Adolescente.
ou morte da ví ma, o agente responderá por tais crimes em Para se evitar a submissão da pessoa presa aos espetácu-
concurso, uma vez que não haverá absorção pelo crime de los promovidos pela mídia, por conta de operações policiais,
abuso nem a aplicação do princípio da especialidade, tendo o STF recentemente editou a Súmula Vinculante nº 11:
em vista a diversidade dos objetos jurídicos protegidos.
Exemplo: policial que com sua arma de fogo desfere uma
13
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Município de Vitória/Agente Comu-
12
Tema cobrado na seguinte prova: NCE/Faepol/PC-RJ/2001. nitário de Segurança/2007.

53
só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e segurança dos policiais.Para o procurador-geral, o uso
de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade de algemas, ainda que indevido, não pode implicar
sica própria ou alheia, por parte do preso ou de na nulidade dos processos. Segundo ele, já há regras
terceiros, jus ficada a excepcionalidade por escrito, para o uso de algemas. O procurador afirma ainda
sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal que o STF ultrapassou os limites cons tucionais de
do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão sua competência, pois não pode criar leis. “A súmula
ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo criou uma condição para o uso de algemas que não
da responsabilidade civil do estado. estava prevista na legislação ordinária”, diz Gurgel.
Na ocasião da edição da súmula, o STF anulou a
O STJ recentemente decidiu: condenação de um réu porque o juiz autorizou o uso
de algemas durante o julgamento. O STF estendeu a
Uso. Algemas. Jus ficação.O paciente foi preso em restrição a prisões cautelares e a atos processuais,
flagrante em uma localidade, mas foi transportado como audiências. O parecer de Gurgel será analisado
à delegacia de plantão situada em outra cidade pela ministra Ellen Gracie, relatora do pedido.NOVA
(distante 190 km), local em que lavrado o flagran- DECISÃO. Falta de segurança em sala de audiência
te. Ele foi man do algemado por todo o trajeto; de Fórum jus fica a u lização de algemas pelo réu.
porém, só quando de seu transporte da delegacia Com esse entendimento, o ministro Joaquim Bar-
para o presídio da mesma cidade, agentes de polícia bosa, do STF, julgou improcedente a reclamação de
assinaram uma comunicação de serviço dirigida um réu contra o juiz de Direito da 1ª Vara Criminal
ao delegado, jus ficando o uso das algemas nesse da Comarca de Votoran m (SP). O juiz o manteve
percurso. Alega, na impetração, a nulidade de sua algemado durante audiência no fórum da cidade. A
prisão em flagrante, porque a jus ficação do uso de defesa alegou que o uso de algemas teria violado a
algemas só diz respeito a esse pequeno trajeto feito Súmula nº 11 do STF. Em sua decisão, Barbosa afirma
dentro da cidade, daí sua condução sob algemas no que o uso de algemas no caso em questão foi sa s-
trajeto anterior ser indevida frente à Súm. vinculante fatoriamente jus ficado pelo juiz. “No caso, não há
nº 11-STF, quanto mais se essa jus ficação deveria que se falar em violação da Súmula Vinculante nº 11,
ser feita pelo condutor no bole m de ocorrência.
tendo em vista a existência de fundamentação escrita
Consequentemente, a impetração busca descons-
a jus ficar a necessidade excepcional das algemas.
tuir a imposição do TJ quando revogou a prisão
Com efeito, pelo que se extrai da ata de audiência,
cautelar (convolada em preven va pelo juiz) de que
o juízo reclamado baseou-se na falta de segurança
o paciente comparecesse a todos os atos do processo
do Fórum e, em especial, da sala de audiência, para
como condição à sua liberdade. Contudo, nesse con-
manter o reclamante algemado por ocasião dos fatos
texto, é lícito concluir que, se houve necessidade de
sob exame”, afirmou. O réu foi condenado a mais de
algemar o paciente para o deslocamento dentro da
própria cidade para a garan a da integridade sica dois anos de reclusão e mais 204 dias-multa pelos
dos policiais e dele próprio, certamente o risco era crimes de receptação e tráfico de drogas.
bem maior no trajeto de uma cidade a outra, pois é
inconcebível que o risco em sua condução só tenha Do descumprimento da súmula vinculante, segundo a
surgido na delegacia. Não há constrangimento ilegal Cons tuição da República, caberá reclamação ao STF.
na circunstância de não constar a jus fica va da Senão vejamos:
lavratura do flagrante, mesmo porque o paciente
encontra-se, como já dito, em liberdade. Por úl mo, Autorização do Uso de Algemas e Súmula Vinculante
a imposição de condições para que ele responda ao nº 11
processo em liberdade é medida comum acolhida O Tribunal julgou improcedente reclamação ajuizada
pela jurisprudência do STJ. Precedentes citados: contra ato de autoridade judiciária que, em decreto
HC nº 126.308-SP, 6ª Turma, DJe 28/9/2009; HC de prisão preven va do reclamante, teria autorizado
nº 128.572-PA, 6ª Turma, DJe 1º/6/2009, e HC nº o uso de algemas. Entendeu-se que o juiz de primeiro
95.157-AP, 5ª Turma, DJe 22/6/2009. HC nº 138.349- grau não teria determinado, mas apenas autorizado
MG, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convo- o uso de algemas para o caso da autoridade policial
cado do TJ-SP, 6ª Turma), julgado em 27/10/2009. deparar-se com alguma das hipóteses previstas na
Súmula Vinculante nº 11 (“Só é lícito o uso de algemas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Em 17 de novembro de 2009, o Jornal do Commercio – em casos de resistência e de fundado receio de fuga


Direito & Jus ça, veiculou a seguinte no cia: “Procurador ou de perigo à integridade sica própria ou alheia, por
defende uso de algemas” em que se informou o que se segue: parte do preso ou de terceiros, jus ficada a excepcio-
nalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e
encaminhou parecer ao Supremo Tribunal Federal de nulidade da prisão ou do ato processual a que se
(STF) em que defende o cancelamento da Súmula refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Esta-
Vinculante nº 11, editada pela corte em agosto de do”.). Ademais, considerou-se o fato de o reclamante
2008 para evitar o uso abusivo de algemas. A orien- não ter demonstrado que, durante o cumprimento do
tação do Supremo foi ques onada pela Confederação mandado de prisão, a autoridade policial efe vamen-
Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol). te fizera uso das algemas, não havendo, ainda, provas
A en dade sustenta que ela viola o princípio da iso- nos autos nesse sen do, o que descaracterizaria a
nomia, “ao priorizar o resguardo do direito à imagem violação ao citado verbete. Rcl nº 7.814/RJ, rel. Min.
frente à liberdade de informação”, e negligencia a Cármen Lúcia, Plenário, 27/5/2010. (Rcl nº 7.814)

54
Recentemente, a Primeira Turma do STF se manifestou d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão
acerca do tema em comento: ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;

HC: Uso de Algemas e Demora no Julgamento Trata-se de crime próprio, podendo ser come do apenas
pelo juiz. É um crime omissivo e, sendo assim, não admite
A Turma não conheceu de habeas corpus em que o tenta va. Se o juiz deixar de relaxar a prisão ilegal por negli-
paciente, em sessão de julgamento realizado pelo Tri- gência, cometerá apenas infração funcional, pois os delitos
bunal do Júri, permanecera algemado e fora condena- da Lei de Abuso de Autoridade são dolosos.
Por fim, cumpre ressaltar que o juiz que, fundamentada-
do pela prá ca dos crimes de homicídio consumado
mente, considerar legal a prisão aparentemente ilegal, não
e tentado. Alegava-se que o uso das algemas o teria
responderá pelo crime em estudo, pois além de não haver o
exposto a situação vexatória e, portanto, acarretaria dolo, o magistrado está no exercício da judicatura.
a nulidade do julgamento. Salientou-se que a ques-
tão não teria sido suscitada no STJ, razão pela qual e) levar à prisão e nela deter quem quer que se
analisá-la nesse momento implicaria supressão de proponha a prestar fiança, permi da em lei;
instância. Entretanto, concedeu-se a ordem de o cio
para determinar que o pedido de medida liminar É um crime próprio, que apenas pode ser come do
impetrado perante o STJ seja apreciado, uma vez pelo delegado de polícia ou pelo juiz de direito, quando tais
que o writ fora lá apresentado em 6/11/2009, o que autoridades negam o arbitramento de fiança.
configuraria demora excessiva na prestação jurisdi- A fiança é uma garan a prestada pelo indiciado ou réu
cional. Vencido o Min. Marco Aurélio, que concedia preso para que responda ao inquérito ou ao processo-crime
a ordem em maior extensão, por entender que, no em liberdade.
caso, o emprego das algemas não se jus ficaria, pois Pode-se falar que a fiança tem duas finalidades, que são:
baseado tão somente no fato de o réu ostentar maus a) a de subs tuir a prisão, isto é, o preso obtém sua liberda-
de mediante o recolhimento de determinada garan a, que
antecedentes, mo vo pelo qual teria sido presumida
pode ser em bens ou dinheiro, b) no caso de o acusado ser
a sua periculosidade. Ademais, aduzia que o uso de
condenado, a fiança proporcionará a reparação do dano,
tal equipamento poderia ter induzido os jurados à a sa sfação da multa e as custas processuais.
presunção de culpa do acusado. HC nº 103.175/SP,
rel. Min. Dias Toffoli, 21/9/2010. (HC-103.175) f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade po-
licial custas não previstas em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz com-
petente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; Fernando Capez, em obra já citada, diz: “não há qualquer
previsão legal sobre a taxa ou emolumento, de maneira que
É um crime omissivo que não admite tenta va. sua cobrança configurará essa modalidade de abuso”.
Trata-se de um crime próprio, que apenas pode ser co- Assim, se a autoridade cobrar custas, não previstas em
me do pelo delegado de polícia civil ou federal. lei, da pessoa presa, incidirá na prá ca do crime em estudo.
Se um delegado de polícia der voz de prisão a um in-
divíduo que o desacatou durante uma inquirição de teste- g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade
munhas e após a lavratura do auto de prisão, por vindita, policial recibo do pagamento de custas;
deixar de comunicar a prisão ao juiz competente, nessa
Como não existe previsão legal de custas a serem pagas
situação, a Autoridade Policial pra cou, em tese, crime de
pela pessoa presa para o carcereiro ou agente penitenciário,
abuso de autoridade14. não há como, na prá ca, ocorrer tal crime.
A imediata comunicação configura um meio para via-
bilizar o controle jurisdicional, já que a prisão é medida h) pra car ato lesivo à honra ou patrimônio de pes-
excepcional, por restringir a liberdade de locomoção. Assim, soa natural ou jurídica, quando pra cado com abuso
em havendo omissão dolosa da autoridade quanto a esta ou desvio de poder ou sem competência legal15;
providência, restará configurado o delito em questão.
Vale notar que o po ora discu do incrimina apenas a A honra e o patrimônio são direitos expressamente
conduta do delegado de polícia que não faz a comunicação da protegidos pela Cons tuição Federal, conforme previsão
prisão ao juiz. Restará configurado um ilícito administra vo, do art. 5º, caput e inciso X; dessa forma, caso haja lesão
se a autoridade policial não fizer a comunicação à família do a tais direitos, em hipóteses de abuso ou desvio de poder,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

preso ou a pessoa por ele indicada. Lembrando que a Cons- bem como de ausência de competência para a interferência,
tuição Federal em seu art. 5º, inciso LXII, dispõe: restará configurado o delito analisado.
Exemplo de tal delito ocorre quando a polícia militar,
que tem a atribuição de evitar a prá ca de infrações penais,
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
passa a inves gar delitos, cuja inves gação é atribuição das
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
polícias civil e federal.
competente e à família do preso ou à pessoa por
ele indicada; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena
ou de medida de segurança, deixando de expedir
Cumpre ressaltar que a falta de comunicação não gera em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente
a nulidade do auto de prisão em flagrante e o relaxamento ordem de liberdade.
desta, pois a detenção é legal.

15
Tema cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-MG/Analista Judiciário/Área
14
Tema cobrado da seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado/2002. Judiciária/2005.

55
A lei que ins tuiu a prisão temporária acrescentou à lei Está pacificado que não se aplica no julgamento dos
especial sobre abuso de autoridade mais uma figura pica, crimes de abuso de autoridade o procedimento previsto nos
consistente em prolongar a execução de prisão temporá- arts. 513 a 518 do Código de Processo Penal, que regulamen-
ria16. O crime é omissivo próprio e somente se aperfeiçoa ta o processo e julgamento dos crimes de responsabilidade
se houver dolo. A omissão por negligência é fato a pico. dos funcionários públicos.
Assim se o Ministério Público oferecer denúncia contra
Procedimento Administra vo um delegado de polícia pela prá ca do crime de abuso
de autoridade, por ter prolongado a execução da prisão
Recebida a representação em que for solicitada a apli- temporária de um indiciado, deixando de cumprir ordem
cação de sanção administra va, a autoridade civil ou militar de liberdade, a autoridade judiciária não deverá, antes de
competente determinará a instauração do procedimento receber a denúncia, no ficar o acusado, para responder
per nente para apurar o fato. por escrito, dentro do prazo de quinze dias18.
O inquérito administra vo obedecerá às normas esta- Para os que entendem que o procedimento previsto na
belecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou Lei de Abuso de Autoridade não foi revogado pela Reforma
militares, que estabeleçam o respec vo processo. do Código de Processo Penal, a citação do réu deverá ser
Não exis ndo no município, no Estado ou na legislação feita por mandado sucinto, que necessitará ser acompa-
militar normas reguladoras do inquérito administra vo, serão nhado da segunda via da representação e da denúncia19.
aplicadas suple vamente as disposições estaduais ou distri- É de se ressaltar que o an go procedimento previsto na
tais per nentes aos servidores públicos e subsidiariamente Lei nº 4.898/1965 autorizava a comprovação pelo acusado
à Lei nº 8.112/1990. ou pelo ofendido da existência de ves gios decorrentes da
O processo administra vo não poderá ser suspenso ação criminosa, por meio de duas testemunhas qualificadas20.
para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil17. A Quinta turma do STJ recentemente decidiu que é pos-
Simultaneamente com a representação dirigida à auto- sível usar as regras do procedimento ordinário para se julgar
ridade administra va ou independentemente dela, poderá o crime de abuso de autoridade. Vejamos:
ser promovida pela ví ma do abuso a responsabilidade civil
ou penal, ou ambas, da autoridade culpada. RITO ESPECIAL. INOBSERVÂNCIA. PREJUÍZO.
A Turma, entre outras questões, entendeu que a
Procedimento Cível eventual inversão de algum ato processual ou a
adoção do procedimento ordinário em detrimento do
rito especial apenas conduz à nulidade do processo
À ação civil serão aplicáveis as normas do Código de
se houver prejuízo à parte. In casu, o paciente foi
Processo Civil.
condenado pela prá ca do crime de abuso de auto-
Capez, em obra já mencionada, citando decisão do STF,
ridade nos autos da ação penal processada e julgada
diz que:
pelo juízo comum, tendo em vista o fato de não haver
juizado especial criminal instalado na respectiva
a ação será promovida em face da pessoa jurídica de
comarca. Na impetração, sustentou-se, entre outras
Direito Público ou da pessoa jurídica de Direito Priva-
alegações, que o rito sumaríssimo previsto na Lei nº
do prestadora de serviço público, sem necessidade
9.099/1995 não foi integralmente obedecido, razão
de comprovação de dolo ou culpa (responsabilidade
pela qual as decisões até então proferidas deveriam
obje va da Administração), ficando a en dade com
ser anuladas. Nesse contexto, consignou o Min. Re-
o direito de promover a ação regressiva em face do
lator que, na espécie, a não realização da audiência
causador do dano, devendo, nesse caso, demonstrar
preliminar, nos termos dos arts. 71 e 72 dessa lei, não
o seu dolo ou a culpa. Em tese, a Administração não
acarretou prejuízos, já que, em se tratando de crime
poderia promover a denunciação da lide ao servidor,
de ação penal pública incondicionada, a eventual
no caso de ação promovida pelo ofendido em razão
homologação da composição civil dos danos entre
de ato daquele, uma vez que não se discute dolo
autor e ví ma – finalidade da mencionada audiên-
nem culpa nesse processo, mas apenas o nexo de
cia – não obstaria o prosseguimento do processo
causalidade. Contudo, a jurisprudência tem admi do
criminal. Ressaltou, ainda, não ter ocorrido nulidade
essa possibilidade, sob o fundamento de que “é de
pelo não oferecimento de defesa preliminar antes
todo recomendável que o agente público, responsá-
de ter sido recebida a denúncia e pela realização do
vel pelos danos causados a terceiros, integre, desde
interrogatório antes da oi va das testemunhas. Para
logo, a lide, apresente sua resposta, produza prova
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o Min. Relator, a adoção do rito comum ordinário,


e acompanhe toda a tramitação do processo” (STF,
no caso, trouxe bene cios ao paciente, porquanto
RT nºs 667/172 e 611/128).
permi u a u lização de maior amplitude probatória.
HC nº 127.904-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
Procedimento Criminal 3/5/2011.

Com o advento da Lei nº 11.313/2006, que alterou a Lei Sanções Legais


nº 9.099/1995, o crime de abuso de autoridade passou a
ser de competência do Juizado Especial Criminal, não sendo O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
mais aplicável na prá ca o procedimento específico previsto administra va, civil e penal, em conformidade com o art. 6º
na Lei nº 4.898/1965. da lei ora estudada.
16
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2000. 18
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado/2002.
17
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil 19
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003.
Subs tuto/2009. 20
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003.

56
A sanção administra va, que será anotada na ficha RECURSO ESPECIAL. LEI Nº 4.898/1965. ABUSO DE
funcional da autoridade civil ou militar, será aplicada de AUTORIDADE. PRESCRIÇÃO.
acordo com a gravidade do abuso come do e, após o devido
processo legal, consis rá em: 1. A pena de detenção, porque priva va de liberdade,
a) advertência; é a sanção de natureza penal mais grave cominada
b) repreensão; aos crimes de abuso de autoridade.
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 a 2. A prescrição da pretensão puni va, para os crimes
180 dias, com perda de vencimentos e vantagens; previstos na Lei nº 4.898/1965, ocorre, in abstrato,
d) des tuição; em 2 anos, à luz do que determina o art. 109, inciso
e) demissão; VI, da lei material penal.
f) demissão, a bem do serviço público. 3. A pena de perda do cargo e inabilitação para
Vale lembrar o que dispõe a Súmula nº 20 do STF: “É o exercício de função pública, prevista no art. 6º,
necessário processo administra vo com ampla defesa, para parágrafo 3º, alínea c, da Lei nº 4.898/1965, é de
demissão de funcionário admi do por concurso”. natureza principal, assim como as penas de multa e
Apurada a falta funcional pelos meios adequados, o ser- detenção, previstas, respec vamente, nas alíneas a
vidor fica sujeito, desde logo, à penalidade administra va e b do mesmo disposi vo, em nada se confundindo
correspondente. Isso porque o ilícito administra vo inde- com a perda do cargo ou função pública, prevista
pende do penal. no art. 92, inciso I, do Código Penal, como efeito da
A sanção civil consis rá no pagamento de uma indeniza- condenação.
ção a ser fixada no âmbito cível, após o devido processo legal. 4. Recursos especiais prejudicados, em face da decla-
Não se deve esquecer que um dos efeitos da condena- ração da ex nção da punibilidade do crime.
ção defini va é tornar certa a obrigação de reparar o dano,
conforme preceitua o art. 91, inciso I, do Código Penal, e que Cumpre ressaltar que a decisão supra foi proferida antes
a sentença condenatória transitada em julgado é tulo exe- da edição da Lei nº 12.234/2010, que alterou o art. 109 do CP.
cu vo judicial no juízo cível. Os crimes de abuso de autoridade têm pena máxima
Atualmente, com a reforma do Código de Processo Penal, de 6 meses prescrevendo em três anos.
na sentença condenatória o juiz já fixa um valor mínimo a Como existe na Lei de Abuso previsão acerca da aplicação
tulo de indenização da ví ma. de multa, no âmbito penal deverá ser levada em conside-
A sanção penal será aplicada de acordo com as regras ração a Súmula nº 171 do STJ, que dispõe que: “cominadas
dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consis rá em: cumula vamente, em lei especial, penas priva va de liberda-
a) multa, que será fixada de acordo com o que dispõe os de e pecuniária, é defeso a subs tuição da prisão por multa”.
arts. 49 e seguintes do Código Penal. O § 5º do art. 6º prevê que
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de quando o abuso for come do por agente de autori-
qualquer outra função pública por prazo até três anos21. dade policial, civil ou militar, de qualquer categoria,
A tulo de exemplo, Beta, delegado de polícia, ordenou poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória,
a seu subordinado o encarceramento de Épsilon, alegando de não poder o acusado exercer funções de natureza
ser este autor de um crime de latrocínio que acabara de ser policial ou militar no município da culpa, por prazo
perpetrado. Posteriormente, por tratar-se de prisão para de um a cinco anos.24
averiguações, desconhecida pelo subordinado, a autoridade
policial, no afã de legalizar a detenção, representou acerca Nesse caso, a lei foi clara e expressa, trata-se de pena
da decretação da prisão temporária. Decretada a prisão acessória e, como tal, ex nta pela nova Parte Geral do
temporária pelo juiz de direito, e expirado o prazo de trinta Código Penal, não mais podendo ser aplicada. É a posição
dias, sem pedido de prorrogação, a autoridade policial pro- que par lhamos, porém o STJ, no REsp nº 2.794-429, j. em
longou conscientemente a custódia de Épsilon, deixando de 21/10/2003, 6ª Turma, DJ de 15/12/2003, p. 411), entende
liberá-lo. Tomando ciência do ocorrido por meio de peças que a referida pena é principal.
informa vas, o Ministério Público ofertou denúncia contra
Beta, imputando-lhe a prática de abuso de autoridade. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública
Julgada procedente a pretensão puni va do Estado, o juiz
sentenciante poderá aplicar a Beta a perda do cargo ou a A representação poderá ser dirigida ao órgão do MP
inabilitação para o exercício de qualquer outra função públi- que ver competência para iniciar processo-crime contra
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ca, por não ter a nova Parte Geral do Código Penal abolido a autoridade culpada, devendo o réu ser denunciado no
as penas acessórias22. prazo de 48 horas25.
Não é automá ca a perda do cargo, função pública ou Se o Ministério Público não oferecer a denúncia no
mandato ele vo, nos crimes pra cados com abuso de poder prazo legal por desídia ou inércia do Promotor de Jus ça,
ou violação de dever para com a administração pública, é cabível o ajuizamento de ação penal privada subsidiária
mesmo se houver condenação à pena priva va de liberdade da pública, podendo o Parquet futuramente intervir no feito
por tempo igual ou superior a um ano.23. ou retomar a ação como parte principal26.
Sobre o tema em apreço decidiu a Sexta Turma do STJ, no
REsp. nº 279.429/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO
24
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil
Subs tuto/2009.
21
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Prefeitura Municipal de Vitória/ 25
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil
Procurador Municipal/2007. Subs tuto/2009; MPE-PR/Assessor Jurídico/2002.
22
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2000. 26
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil
23
Tema cobrado na seguinte prova: PGE-SC/ Procurador do Estado/2003. Subs tuto/2009.

57
Lei nº 4.868/1965 a) advertência;
b) repreensão;
Art. 1º O direito de representação e o processo de c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
responsabilidade administrativa civil e penal, contra as cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e
autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem vantagens;
abusos, são regulados pela presente lei. d) des tuição de função;
Art. 2º O direito de representação será exercido por e) demissão;
meio de pe ção: f) demissão, a bem do serviço público.
a) dirigida à autoridade superior que ver competência § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor
legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, do dano, consis rá no pagamento de uma indenização de
a respec va sanção; quinhentos a dez mil cruzeiros.
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que ver com- § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
petência para iniciar processo-crime contra a autoridade dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consis rá em:
culpada. a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
Parágrafo único. A representação será feita em duas b) detenção por dez dias a seis meses;
vias e conterá a exposição do fato cons tu vo do abuso de c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação qualquer outra função pública por prazo até três anos.
do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão
as houver. ser aplicadas autônoma ou cumula vamente.
Art. 3º Cons tui abuso de autoridade qualquer atentado: § 5º Quando o abuso for come do por agente de autori-
a) à liberdade de locomoção; dade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá
b) à inviolabilidade do domicílio; ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder
c) ao sigilo da correspondência; o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no
d) à liberdade de consciência e de crença; município da culpa, por prazo de um a cinco anos.
e) ao livre exercício do culto religioso; Art. 7º Recebida a representação em que for solicitada
f) à liberdade de associação; a aplicação de sanção administra va, a autoridade civil ou
g) aos direitos e garan as legais assegurados ao exercício militar competente determinará a instauração de inquérito
do voto; para apurar o fato.
h) ao direito de reunião; § 1º O inquérito administra vo obedecerá às normas
i) à incolumidade sica do indivíduo; estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais,
j) aos direitos e garan as legais assegurados ao exercício civis ou militares, que estabeleçam o respec vo processo.
profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de 5/6/1979) § 2º Não exis ndo no município no Estado ou na legisla-
Art. 4º Cons tui também abuso de autoridade: ção militar normas reguladoras do inquérito administra vo
a) ordenar ou executar medida priva va da liberdade in-
serão aplicadas suple vamente, as disposições dos arts. 219
dividual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;
a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame
dos Funcionários Públicos Civis da União).
ou a constrangimento não autorizado em lei;
§ 3º O processo administra vo não poderá ser sobresta-
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz compe-
do para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil.
tente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou
da autoridade civil ou militar.
detenção ilegal que lhe seja comunicada;
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha
a prestar fiança, permi da em lei; autoridade administra va ou independentemente dela, po-
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial derá ser promovida pela ví ma do abuso, a responsabilidade
carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra des- civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada.
pesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer Art. 10. (Vetado).
quanto à espécie quer quanto ao seu valor; Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Código
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial de Processo Civil.
recibo de importância recebida a tulo de carceragem, cus- Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de
tas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; inquérito policial ou jus ficação por denúncia do Ministério
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa Público, instruída com a representação da ví ma do abuso.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

natural ou jurídica, quando pra cado com abuso ou desvio Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a represen-
de poder ou sem competência legal; tação da ví ma, aquele, no prazo de quarenta e oito horas,
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena denunciará o réu, desde que o fato narrado cons tua abuso
ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem
oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberda- assim, a designação de audiência de instrução e julgamento.
de. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/1989) § 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta em duas vias.
lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de Art. 14. Se a ato ou fato cons tu vo do abuso de autorida-
natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem de houver deixado ves gios o ofendido ou o acusado poderá:
remuneração. a) promover a comprovação da existência de tais ves -
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à gios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
sanção administra va civil e penal. b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da
§ 1º A sanção administra va será aplicada de acordo audiência de instrução e julgamento, a designação de um
com a gravidade do abuso come do e consis rá em: perito para fazer as verificações necessárias.

58
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no
e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o apresen- livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resu-
tarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e mo, os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa,
julgamento. os requerimentos e, por extenso, os despachos e a sentença.
§ 2º No caso previsto na letra a deste ar go a represen- Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante
tação poderá conter a indicação de mais duas testemunhas. do Ministério Público ou o advogado que houver subscrito
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de a queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão.
apresentar a denúncia requerer o arquivamento da re- Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem
presentação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes di ceis e não permi rem a observância dos prazos fixados
as razões invocadas, fará remessa da representação ao nesta lei, o juiz poderá aumentá-las, sempre mo vadamente,
Procurador-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará até o dobro.
outro órgão do Ministério Público para oferecê-la ou insis rá Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas
no arquivamento, ao qual só então deverá o Juiz atender. do Código de Processo Penal, sempre que compa veis com
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a o sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei.
denúncia no prazo fixado nesta lei, será admi da ação pri- Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças,
vada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a caberão os recursos e apelações previstas no Código de
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia subs tu va e intervir Processo Penal.
em todos os termos do processo, interpor recursos e, a todo Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação
como parte principal. Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de e 77º da República.
quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou
rejeitando a denúncia. REFERÊNCIAS
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz de-
signará, desde logo, dia e hora para a audiência de instrução ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação penal especial.
e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente 5. ed. São Paulo, 2009.
dentro de cinco dias.
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julga- CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal
mento final e para comparecer à audiência de instrução e especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 4.
julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acom-
panhado da segunda via da representação e da denúncia. NUCCI, Guilherme. Leis penais e processuais penais comen-
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão tadas. 4. ed. RT, 2009.
ser apresentada em juízo, independentemente de in mação.
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de preca- EXERCÍCIOS
tória para a audiência ou a in mação de testemunhas ou,
salvo o caso previsto no ar go 14, letra b, requerimentos Julgue os itens.
para a realização de diligências, perícias ou exames, a não ser 1. (Cespe/AGU/Advogado/2002) Um delegado de polícia deu
que o Juiz, em despacho mo vado, considere indispensáveis voz de prisão a um indivíduo que o desacatou durante uma
tais providências. inquirição de testemunhas. Após a lavratura do auto de pri-
Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro são, a autoridade policial, por vindita, deixou de comunicar
dos auditórios ou o oficial de jus ça declare aberta a audiên- a prisão ao juiz competente. Nessa situação, o delegado
cia, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito, pra cou, em tese, crime de abuso de autoridade.
o representante do Ministério Público ou o advogado que 2. (Esaf/AGU/Advogado/1998) A Lei nº 4.898/1965 – Abu-
tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu. so de Autoridade – descreve vários crimes e define “au-
Parágrafo único. A audiência somente deixará de reali- toridade”. O crime por ela pra cado, nessa qualidade,
zar-se se ausente o Juiz. quanto ao agente, é próprio.
Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o Juiz 3. (Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003)
não houver comparecido, os presentes poderão re rar-se, No delito de abuso de autoridade, admite-se a par ci-
devendo o ocorrido constar do livro de termos de audiência. pação de terceiro, ainda que esse não detenha parcela
Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pú- de poder.
blica, se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á 4. (FCC/TRE-MG/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

em dia ú l, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do É correto afirmar que cons tui crime de abuso de au-
Juízo ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar. toridade, entre outros, a conduta de autoridade que,
Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o no exercício de suas funções, pra que ato lesivo do
interrogatório do réu, se es ver presente. patrimônio de pessoa jurídica, sem competência legal.
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu 5. (NCE/PC-RJ/Delegado/2002) Em relação ao crime de
advogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para abuso de autoridade, pra cado por policial militar,
funcionar na audiência e nos ulteriores termos do processo. é correto afirmar que é crime militar.
Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, 6. (NCE/PC-RJ/Delegado/2002) Em relação ao crime de abu-
o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público so de autoridade, pra cado por policial militar, é correto
ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado afirmar que será crime militar se ele es ver em serviço.
ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos para cada 7. (NCE/PC-RJ/Delegado/2002) Em relação ao crime de
um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz. abuso de autoridade, pra cado por policial militar,
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediata- é correto afirmar que será crime militar se ele fizer uso
mente a sentença. de arma da corporação.

59
8. (NCE/PC-RJ/Delegado/2002) Em relação ao crime de 18. (Acadepol-SP/Delegado/2003) A Lei nº 4.898/1965 –
abuso de autoridade, pra cado por policial militar, Abuso de Autoridade – prevê ao infrator apenas sanção
é correto afirmar que será crime militar se ele es ver administra va civil.
em local sujeito a administração militar. 19. (NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001) Policial civil que,
9. (NCE/PC-RJ/Delegado/2002) É possível a punição na após infligir forte sofrimento mental, mediante graves e
modalidade tentada dos delitos previstos no ar go 3º, reiteradas ameaças, exigindo que a ví ma de um roubo
da Lei nº 4.898, cujo caput enuncia “Art. 3º – Cons tui reconheça determinado homem que tem certeza ser o
abuso de autoridade qualquer atentado...”. autor do crime, comete o delito de abuso de autoridade.
10. (Cespe/PC-RR/Delegado/2003) Um agente de polícia,
com o intuito de obter informações acerca da autoria de 20. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de
um roubo de joias, algemou um receptador conhecido Polícia/2009) Considerando que um cidadão, ví ma de
na região e passou a agredi-lo com socos e pontapés, prisão abusiva, tenha apresentado sua representação,
bem como com choques elétricos, causando-lhe lesões na Corregedoria da Polícia Civil, contra o delegado que
corporais. Nessa situação, o agente deveria ser acusado a realizou, assinale a opção correta quanto ao direito
pelos crimes de abuso de autoridade e lesão corporal. de representação e ao processo de responsabilidade
11. (Cespe/Prefeitura Municipal de Vitória/Procura- administra va, civil e penal no caso de crime de abuso
dor/2007) O abuso de autoridade sujeita seu autor de autoridade.
a sanção administra va, civil e penal, cons tuindo a) Eventual falha na representação obsta a instauração
a perda do cargo e a inabilitação para o exercício de da ação penal.
qualquer outra função pública por prazo de até 3 anos b) A ação penal é pública incondicionada.
sanção de natureza penal a ser aplicada de acordo com c) A representação é condição de procedibilidade para
as regras do Código Penal. a ação penal.
12. (Acadepol-SP/Delegado/2003) A Lei nº 4.898/1965 – d) A referida representação deveria ter sido necessa-
Abuso de Autoridade – autoriza a comprovação pelo riamente dirigida ao Ministério Público (MP).
acusado ou pelo ofendido da existência de ves gios e) Se a representação apresentar qualquer falha, a
decorrentes da ação criminosa, por meio de duas tes- autoridade que a recebeu não poderá providenciar,
temunhas qualificadas. por outros meios, a apuração do fato.
13. (FCC/PC-MA/Agente/2006) Considera-se autoridade,
para os fins da Lei nº 4.898/1965, que regula o direito 21. (Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil Subs tuto/2009)
de representação e o processo de responsabilidade Acerca do direito de representação e do processo de
administra va, civil e penal nos crimes de abuso de responsabilidade administra va, civil e penal, nos casos
autoridade, somente quem exerce cargo, emprego ou de abuso de autoridade, e das demais disposições da
função pública, de natureza civil ou militar, ainda que Lei nº 4.898/1965, assinale a opção correta.
transitoriamente e sem remuneração. a) Só se considera autoridade, para os efeitos dessa lei,
14. (Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de Escolta e quem exerce cargo, emprego ou função pública em
Vigilância Penitenciário/2007) Considere que um dele- caráter permanente na administração pública direta
gado de polícia tenha efetuado a prisão de um suspeito da União, dos estados, do DF e dos municípios.
com a finalidade de verificar o possível envolvimento b) A representação será dirigida exclusivamente ao
deste na prá ca delituosa. A prisão não ocorreu em órgão do MP que ver competência para iniciar
virtude de flagrante delito, inexis ndo, também, ordem processo-crime contra a autoridade culpada, deven-
escrita da autoridade judiciária competente. Nesse do o réu ser denunciado no prazo de cinco dias.
caso, o delegado de polícia deverá responder por crime c) O processo administra vo instaurado concomitan-
de abuso de autoridade, pois efetuou prisão que não temente ao criminal deverá ser sobrestado para o
se inclui nos casos permi dos pela lei. fim de aguardar a decisão da ação penal, a fim de
15. (Acadepol-SP/Delegado/2003) A Lei nº 4.898/1965 – que se evitem decisões conflitantes.
Abuso de Autoridade – explicita que a citação do réu d) Quando o abuso for come do por agente de auto-
deverá ser feita por mandado sucinto, que não necessi- ridade policial, poderá ser cominada a pena de não
tará ser acompanhado da segunda via da representação poder o acusado exercer funções de natureza policial
ou da denúncia. no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.
16. (Acadepol-SP/Delegado/2003) A Lei nº 4.898/1965 – e) Se o órgão do MP não oferecer a denúncia no prazo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Abuso de Autoridade – não considera autoridade quem fixado na lei em questão, será admi da ação privada,
exercer o cargo, emprego ou função pública transito- não podendo o Parquet futuramente intervir no feito
riamente e sem remuneração. ou retomar a ação como parte principal.
17. (Cespe/Município de Vitória/Agente comunitário de
Segurança/2007) Considere que uma equipe de policiais
em ronda tenha abordado um cidadão em via pública
GABARITO
e, devido a sua semelhança com um conhecido homi-
cida, o tenham conduzido à repar ção policial, onde 1. C 8. E 15. E
permaneceu de do para averiguações por dois dias. 2. C 9. E 16. E
Considere ainda que, ao final, o cidadão tenha sido 3. C 10. E 17. C
liberado, após a verificação de que não se tratava do 4. C 11. C 18. E
homicida procurado. Nessa situação, é correto afirmar 5. E 12. C 19. E
que o procedimento policial foi ilegal, e que a detenção 6. E 13. C 20. b
7. E 14. C 21. d
cons tuiu crime de abuso de autoridade.

60
TORTURA – LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE Obje vidade Jurídica
1997 Nos crimes previstos na Lei de Tortura, são protegidos
pelo Direito Penal os seguintes bens jurídicos: a vida, a in-
Conceito de Tortura Conforme Convenção da tegridade sica e psicológica, a saúde e a liberdade pessoal
ONU da ví ma.

O art. 1º da Convenção da Organização das Nações Uni- Elemento Subje vo


das, de Nova York (adotada pela Resolução nº 39/1946 da
Assembleia-Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro Todos os crimes previstos na Lei de Tortura são dolosos.
de 1984), diz que a tortura
Verbo-Núcleo
designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos Constranger significa forçar, obrigar ou coagir.
agudos, sicos ou mentais, são infligidos intencio-
nalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou Análise do Inciso I e Alíneas
de terceira pessoa, informações ou confissões; de
MEIOS EXECUTÓRIOS
cas gá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha São meios executórios do crime de tortura a violência
come do ou seja suspeita de ter come do; de in - e a grave ameaça.
midar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou A grave ameaça, por si só, já configura a figura pica do cri-
por qualquer mo vo baseado em discriminação de me de tortura, não necessitando que haja a violência sica.4
qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos Dessa forma, imaginemos que policiais prenderam um
são infligidos por um funcionário público ou outra ladrão de automóveis em flagrante delito e, para conseguir
pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua informações sobre a quadrilha de que ele participava,
ins gação, ou com o seu consen mento ou aquies- disseram-lhe que ele sofreria graves consequências caso
cência. Não se considerará como tortura as dores ou não entregasse imediatamente seus cúmplices. In midado,
sofrimentos que sejam consequência unicamente o preso entregou o nome de seus comparsas. Nessa situação,
de sanções legí mas, ou que sejam inerentes a tais os policiais cometeram crime de tortura, mesmo não ha-
sanções ou delas decorram. vendo a violência sica, bastando para a sua caracterização
a existência de grave ameaça.5
Delito Equiparado ao Hediondo
Consumação
A Lei Fundamental, em seu art. 5º, inciso XLIII, define
Por se tratar de delito material, para consumação do
os crimes considerados equiparados aos hediondos1, assim crime deve haver o sofrimento sico ou mental da ví ma.
dispondo: A tenta va é admissível.
a lei considerará crimes inafiançáveis e insusce veis Tortura-persecutória ou tortura prova6
de graça ou anis a a prá ca da tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo a) com o fim de obter informação, declaração ou
e os definidos como crimes hediondos, por eles confissão da ví ma ou de terceira pessoa;7
respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omi rem; (Grifo nosso) Não se trata de um crime próprio, uma vez que qualquer
pessoa maior pode pra car o delito previsto na alínea a do
A tortura, o tráfico ilícito de substâncias entorpecentes e inciso I do art. 1º da lei em estudo. Não é necessário que o
o terrorismo são figuras equiparadas aos hediondos2. autor seja integrante de uma das carreiras policiais.
Tais delitos não são considerados hediondos,3 mas Imagine que a ví ma de um determinado crime de furto,
sim equiparados, devendo assim ter o mesmo tratamento descrente com as Autoridades Públicas, resolve inves gá-lo.
rigoroso dado àqueles. Quando elucida a autoria da infração penal, para recuperar
A tortura ainda é tratada no corpo da Cons tuição Fe- o bem subtraído, o ofendido decide empregar a tortura para
deral, mais precisamente no inciso III do art. 5º, que rege: lograr seu intento.
“ninguém será subme do a tortura nem a tratamento de- Importante afirmar ainda que a confissão ob da median-
te tortura será considerada como prova inválida.8 Assim,
sumano ou degradante;”.
as provas ob das a par r desta serão consideradas ilícitas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

por derivação.
Crimes de Tortura
Tortura-Crime9
Dispõe o inciso I do art. 1º da Lei nº 9.455/1997:
b) para provocar ação ou omissão de natureza cri-
Art. 1º Cons tui crime de tortura: minosa;
I – constranger alguém com emprego de violência
4
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento sico Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Vitória-ES/Agente Comunitário de
Segurança/2007.
ou mental. 5
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da
Polícia Federal/2004.
6
CAPEZ, 2008, p. 673.
1 7
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005; Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Delegado/2009; FGV/
OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005. PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008.
2 8
OAB-PR/2006. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2004;
3
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Secad-TO/Agente de Polícia Ci- Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia Federal/2002.
9
vil/2008. CAPEZ, 2008, p. 673.

61
É o caso de a ví ma, mediante violência ou grave ameaça, Elemento Subje vo
com sofrimento sico ou mental, ser forçada a pra car um Todos os crimes previstos na Lei de Tortura são dolosos.
crime. Não há necessidade de que a ví ma venha a pra cá-lo Submeter significa sujeitar ou subjugar.
para que haja a consumação do delito em apreço. Consuma-se o delito quando o agente submete a ví ma
O agente responderá por tortura em concurso com o a intenso sofrimento sico ou mental16, como forma de
crime pra cado pela ví ma. Imaginemos que criminosos aplicar cas go pessoal ou medida de caráter preven vo.
sequestraram uma criança e passaram a torturá-la, assim
como a seu pai, forçando que ele mate uma terceira pessoa. Sujeito A vo
Os delinquentes responderão por tortura em concurso com É um crime próprio, pois é aquele que exige uma espe-
o crime de homicídio qualificado se o torturado vier a com- cial qualidade do sujeito a vo. Apenas podem cometer o
pletar sua tarefa. Vale ressaltar que a ví ma não responderá
crime em comento quem tem guarda, poder ou autoridade.
por crime algum, por estar presente uma excludente de
Exemplos: professor, médico, diretor de colégio interno, tutor
culpabilidade, a coação moral irresis vel.
Se o agente empregar violência sica ou grave ameaça, enfermeiro, babá, mãe.
causando sofrimento sico ou mental na ví ma, para que ela A doutrina majoritária não cita o membro de ins tuição
venha a pra car uma contravenção, responderá pelo crime policial como autor do crime em tela, posicionamento que
de constrangimento ilegal em concurso com a contravenção não acompanhamos.
pra cada, mas não pelo delito em estudo. Dessa forma, se o agente penitenciário que detém a
guarda de um sentenciado, como forma de aplicar-lhe um
Tortura-Discriminatória ou Tortura-Racismo10 cas go, o ameaça de morte e o submete a intenso sofrimen-
to sico com o emprego de choques elétricos e submersão
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; em água para asfixia parcial, causando-lhe lesões corporais
simples, responde pelo crime de tortura, que absorve os
Cons tui tortura constranger alguém com emprego de de ameaça e de lesões corporais.17
violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento sico Ou, ainda, se um agente penitenciário submete a intenso
ou mental em razão de discriminação racial ou religiosa.11 sofrimento sico um preso que está sob sua autoridade, com
A Lei de Tortura não fala em discriminação por opção o obje vo de cas gá-lo por ter incitado os outros detentos
sexual, origem ou ascendência (nordes na, por exemplo). a se mobilizarem para reclamar da qualidade da comida
Par lhamos o entendimento do professor Fernando servida na penitenciária, ele comete crime inafiançável18.
Capez (2009, p. 704) quanto à péssima redação que ostenta
a alínea c:
Diferença entre os Crimes de Maus Tratos e
Assim não é necessário que o coator vise uma con- Tortura
duta específica relacionada em lei, como sucede nas
demais alíneas. Basta que a tortura seja empregada Como já exposto, a tortura, segundo a Constituição
com o fim de obter qualquer ação ou omissão da Federal, é um delito equiparado ao hediondo, previsto em
ví ma, desde que seja mo vada por discriminação lei especial, enquanto o maus tratos é um crime previsto no
racial ou religiosa. Código Penal.
Para diferenciar os delitos de maus tratos e tortura,
Nomenclatura colacionamos a seguir julgado do STJ:
Capez (2008, p. 673) diz que Victor Gonçalves “optou pela
terminologia: tortura-prova, tortura-para-a-prá ca-de-crime Criminal. Resp. Tortura qualificada por morte. Des-
e tortura-discriminatória”. classificação para crime de maus-tratos qualificado
pela morte promovida pelo tribunal a quo. Revisão
Análise do Inciso II
da decisão. Impossibilidade. Incidência da Súmula
nº 7/STJ. Recurso não conhecido.
Tortura-Cas go12
I – A figura do inc. II do art. 1º da Lei nº 9.455/1997
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou implica na existência de vontade livre e consciente
autoridade, com emprego de violência ou grave do detentor da guarda, do poder ou da autoridade
ameaça, a intenso sofrimento sico13 ou mental14, sobre a ví ma de causar sofrimento de ordem sica
como forma de aplicar cas go pessoal15 ou medida ou moral, como forma de cas go ou prevenção.
de caráter preven vo. II – O po do art. 136, do Código Penal, por sua vez,
Pena – reclusão, de dois a oito anos. se aperfeiçoa com a simples exposição a perigo a vida
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou


Obje vidade Jurídica vigilância, em razão de excesso nos meios de correção
Nos crimes previstos na Lei de Tortura, são protegidos ou disciplina.
pelo Direito Penal os seguintes bens jurídicos: a vida, a in- III – Enquanto na hipótese de maus-tratos, a finali-
tegridade sica e psicológica, a saúde e a liberdade pessoal dade da conduta é a repreensão de uma indisciplina,
da ví ma. na tortura, o propósito é causar o padecimento da
10
ví ma.
CAPEZ, 2008, p. 678.
11
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-RJ/Delegado/2002; FGV/Inspetor IV – Para a configuração da segunda figura do crime
de Polícia/2008. de tortura é indispensável a prova cabal da intenção
12
CAPEZ, 2008, p. 673. deliberada de causar o sofrimento sico ou moral
13
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PM-DF/Curso de formação de
Soldado (CFSDPM)/2009; Cespe/Seplag-Seds/Agente de Segurança Socioe- desvinculada do obje vo de educação.
duca va/2008.
14 16
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007.
17
Escrivão de Polícia/2009; FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008. Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia Federal/2000.
15 18
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008. Cespe/Delegado da Polícia Federal/2004.

62
V – Evidenciado ter o Tribunal a quo desclassificado Consumação e Tenta va
a conduta de tortura para a de maus tratos por en- É crime material20, doloso, que admite a tenta va, na
tender pela inexistência provas capazes a conduzir a modalidade comissiva. Para sua configuração, não há neces-
certeza do propósito de causar sofrimento sico ou sidade do emprego de violência ou grave ameaça. Também,
moral à ví ma, inviável a descons tuição da decisão para que haja a consumação, não é necessária a morte da
pela via do recurso especial. pessoa subme da ao intenso sofrimento sico.21
VI – Incidência da Súmula nº 7/STJ, ante a inarredável A tulo de exemplo, imaginemos a conduta do carcereiro
necessidade de reexame, profundo e amplo, de todo que deixa o preso passando sede por muito tempo, sendo
conjunto probatório dos autos. que, em determinado dia, o primeiro passa a ingerir e até
VII – Recurso não conhecido, nos termos do voto desperdiçar água na frente do segundo.
do relator.
Resp nº 610.395/SC Análise do § 2º
Recurso Especial nº 2003/0175343-3 Rel. Min. Gilson
Dipp, Órgão Julgador 5ª Turma, julg. em: 25/5/2004,
publicado em: 2/8/2004, p. 544. Omissão Perante a Tortura
Dispõe o § 2º do art. 1º da Lei nº 9.455 de 1997:
Victor Eduardo Rios Gonçalves, em sua obra Legislação
Penal Especial (6. ed., Saraiva, 2008, Coleção Sinopses Jurí- § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
dicas), diz que as mulheres não estão sob a guarda, poder quando nha o dever de evitá-las ou apurá-las,
ou autoridade de seus maridos e, por isso, não podem ser incorre na pena de detenção de um a quatro anos.22
sujeito passivo no caso de crime de tortura.
Obje vidade Jurídica
Análise do § 1º Nos crimes previstos na Lei de Tortura, são protegidos
pelo Direito Penal os seguintes bens jurídicos: a vida, a in-
Tortura de pessoa presa ou subme da a medida de tegridade sica e psicológica, a saúde e a liberdade pessoal
segurança da ví ma.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa Elemento Subje vo


presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento Todos os crimes previstos na Lei de Tortura são dolosos.
sico ou mental, por intermédio da prá ca de ato não
previsto em lei ou não resultante de medida legal.19 Verbo-Núcleo
Omi r para a Lei nº 9.455/1997 significa não fazer algo
O delito em estudo tem fundamento no inciso XLIX do que deveria ter sido feito.
art. 5º da Cons tuição Federal que dispõe: “é assegurado aos
presos o respeito à integridade sica e moral;”. Incons tucionalidade do Disposi vo
De todos os delitos previstos na Lei nº 9.455 de 1997, é o
Obje vidade Jurídica
único que não é equiparado ao hediondo. Assim, sustenta-
Nos crimes previstos na Lei de Tortura, são protegidos
mos a incons tucionalidade do disposi vo em estudo, uma
pelo Direito Penal os seguintes bens jurídicos: a vida, a in-
tegridade sica e psicológica, a saúde e a liberdade pessoal vez que o inciso XLIII do art. 5º da Cons tuição Federal diz que
da ví ma.
a lei considerará crimes inafiançáveis e insusce veis
Elemento Subje vo de graça ou anis a a prá ca da tortura, o tráfico
Todos os crimes previstos na Lei de Tortura são dolosos. ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo
e os definidos como crimes hediondos, por eles res-
Verbo-Núcleo pondendo os mandantes, os executores e os que,
Submeter significa sujeitar ou subjugar. podendo evitá-los, se omi rem.
Segundo Capez (2008, p. 684) “trata-se de crime comu-
mente pra cado por carcereiros e autoridade policial etc.” Assim, os que se omitem perante a tortura, crime equi-
Porém o festejado autor não diz em sua obra se o crime é parado ao hediondo, deveriam receber o mesmo tratamento
próprio ou não. rigoroso dados aos hediondos. Porém não é o que ocorre.
Nós par lhamos do posicionamento do professor Gui-
lherme de Souza Nucci (2009, p. 1128) que diz que “[...] o Medidas Despenalizadoras
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sujeito a vo pode ser qualquer pessoa [...] Nada impede, É cabível o bene cio da suspensão condicional do pro-
entretanto, que o autor seja pessoa estranha aos quadros cesso, pois a pena mínima é igual a um ano. Mas não é um
administra vos.” crime de competência do Juizado Especial Criminal, pois a
Podem ser ví mas do delito em estudo tanto a pessoa pena máxima é de 4 anos, não sendo possível o oferecimento
presa como a subme da a medida de segurança. A prisão da transação penal.
pode ser cautelar ou defini va, bem como decretada em
processo cível. A medida de segurança pode consis r na Elemento Subje vo
internação em estabelecimento hospitalar ou tratamento É um crime doloso, que não admite a forma tentada por
ambulatorial.
se tratar de delito omissivo.
Uma interpretação restri va do disposi vo em tela não
permi ria que o adolescente infrator subme do a medida 20
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007.
21
socioeduca va fosse ví ma de tal delito. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007;
Cespe/PC-PB/Delegado/2009.
22
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e
19
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Seplag-Seds/Agente de Segurança Escrivão de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/Delegado/2009; Cespe/Seplag-Seds/
Socioeduca va/2008. Agente de Segurança Socioeduca va; FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008.

63
Regime de Cumprimento de Pena No caso do inciso I do § 4º da Lei nº 9.455/1997, o aumen-
O condenado por tal crime iniciará o cumprimento de to somente será aplicável quando houver nexo entre a função
pena em regime semiaberto ou aberto, a depender do caso desempenhada pelo agente e a prá ca do crime de tortura.
concreto, uma vez que o delito é apenado com pena de Exemplo: um Policial Civil que, após infligir forte so-
detenção.23 frimento mental, mediante graves e reiteradas ameaças,
O crime de omissão perante a tortura é uma exceção exigindo que a ví ma de um roubo reconheça determinado
pluralís ca à Teoria Monista. homem que tem certeza ser o autor do crime, comete o
Veja o seguinte exemplo: um Delegado de Polícia res- delito de tortura com causa de aumento de pena.28
ponsável por uma delegacia surpreende outros policiais,
seus subordinados, pra cando crime de tortura contra um II – se o crime é come do contra criança, gestante,
preso. A respeito da situação narrada, é correto afirmar que portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
se a Autoridade Policial se omi r, estará sujeita à pena de (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741,
detenção por período inferior à pena dos autores do fato.24 de 2003)
Nessa situação, o Delegado de Polícia responderá por
omissão perante a tortura enquanto seus subordinados Já no inciso II, nas ações pificadas pela Lei nº 9.455/1997
responderão por crime de tortura. (Tortura), a pena será aumentada de um sexto até um terço,
O dever de evitar significa impedir que aconteça o crime dentre outros casos, se o crime for come do contra criança,
de tortura. O dever de apurar o crime de tortura é inves gá-lo gestante, idoso, deficiente e adolescente.29
após o recebimento da no cia de que houve a prá ca do A expressão “idoso” foi inserida na Lei de Tortura quando
delito em estudo. do advento do Estatuto do Idoso.
Se um policial militar presenciar a prá ca do crime de Assim, suponha a seguinte situação: o Delegado de
tortura por colegas com a mesma patente ou por seus supe- Polícia responsável por uma delegacia surpreende outros
riores, responderá pelo delito previsto no § 2º do art. 1º da policiais, seus subordinados, pra cando crime de tortura
Lei nº 9.455 de 1997, pois ele possui o dever de impedi-los, contra um preso. A respeito da situação narrada, é correto
salvo se ele aderir à conduta dos torturadores. afirmar que se o preso torturado for maior de 60 sessenta
Se um par cular presenciar a prá ca de um crime de anos, deficiente sico, criança, adolescente, ou mulher
tortura e nada fizer, responderá pelo crime de omissão de gestante, será caso de aumento de pena.30
socorro, previsto no art. 135 do Código Penal.
III – se o crime é come do mediante sequestro.
Análise do § 3º
O sequestro é meio para se pra car o crime de tortura,
Tortura qualificada ficando por ele absorvido. Para se configurar a qualificadora
Dispõe o § 3º do art. 1º da Lei nº 9.455 de 1997: é necessário que a ví ma fique por tempo considerável em
poder do torturador.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a A Tortura e o Estatuto da Criança e do
dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a Adolescente
dezesseis anos.
O art. 233 da Lei nº 8.069/1990, que dispunha sobre a
Logo, afirma-se que a lei que define os crimes de tortura tortura pra cada contra criança e adolescente, foi revogado
comina pena maior na hipótese de a conduta resultar lesão com a edição da Lei nº 9.455/1997.
de natureza grave, gravíssima ou morte da ví ma.
Se o agente nha a intenção de matar e para conseguir
seu intento o criminoso empregou a tortura, responderá por
Efeitos Específicos da Condenação
homicídio qualificado pela tortura.
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo,
Assim, se, durante a tortura, o agente resolver matar a
função ou emprego público e a interdição para
ví ma, por exemplo, a ros de revólver, deverá ser aplicada
seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
a Lei Especial (Lei nº 9.455, de 1997) e o Código Penal (art.
121, § 2º, III).25
Caracterizado o crime de tortura, a condenação acarre-
Por fim, se o agente tortura com a finalidade de obter
tará a perda da função, do cargo ou do emprego público,
uma informação, por exemplo, e, em seguida, de maneira
qualquer que seja a pena priva va de liberdade.31
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

dolosa, acaba matando a ví ma, então responderá pelos


A tulo de exemplo, um agente da polícia civil foi con-
crimes de tortura em concurso com o de homicídio.
denado a 6 anos de reclusão pela prá ca de tortura contra
preso que estava sob sua autoridade. Nessa situação,
Causas de Aumento de Pena26 o policial condenado deve perder seu cargo público e,
durante 12 anos, ser-lhe-á vedado exercer cargos, funções
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: ou empregos públicos.32
I – se o crime é comeƟdo por agente público27;
28
NCE e Faepol/PC-RJ/Delegado/2001 .
29
Tema cobrado nas seguintes provas: Acadepol-SP/Delegado/2003; Cespe/
23
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-PB/Delegado/2009. Seplag-Seds/Agente de Segurança Socioeduca va/2008; FGV/PC-RJ/Inspetor
24
Tema cobrado na seguinte prova: Cesgranrio/PC-RJ/Inves gador Policial/2006. de Polícia/2008.
25 30
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de Cesgranrio/PC-RJ/Inves gador Policial/2006.
31
Escolta e Vigilância Penitenciário/2007. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-GO/1º Exame de Ordem/2007;
26
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008. Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polícia/2009; Cespe/
27
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e PC-PB/Delegado/2009.
32
Escrivão de Polícia/2009; FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008. Cespe/Ministério da Jus ça/Escrivão da Polícia Federal/2004.

64
Ou ainda: o Delegado de Polícia responsável por uma A perda do cargo, função ou emprego público, nos
delegacia surpreende outros policiais, seus subordinados, termos do § 5º do art. 1º da Lei nº 9.455/1997, não
pra cando crime de tortura contra um preso. Os autores é automá ca, dependendo de mo vação específica.
do po penal estão sujeitos à perda do cargo e interdição Ordem concedida para anular o acórdão guerreado,
para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. 33 no que concerne à perda do cargo público, em face
Sobre o crime de tortura o efeito automá co da con- da ausência de fundamentação, mantendo-se, nesse
denação é a perda do cargo, função ou emprego público par cular, a sentença primeva. (Grifo nosso)
e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da
pena aplicada.34 Da Liberdade Provisória com ou sem Fiança, da
Suponha, como exemplo, que Bento, após fazer uso de Graça e da Anis a
substância entorpecente, consumindo um cigarro de maco-
nha, foi preso em flagrante por agentes de polícia. Na de- Dispõe o § 6º do art. 1º da Lei de Tortura:
legacia, os agentes, com o intuito de obterem informações
a respeito do nome do traficante que fornecia a substância § 6º O crime de tortura é inafiançável e insusce vel
entorpecente, colocaram Bento em um “pau-de-arara” e de graça ou anis a.
deram-lhe choques elétricos, causando-lhe intenso sofri-
mento sico. Em face dos constrangimentos, Bento assinou Com o advento da Lei nº 11.464/2007, que alterou a
um termo de declarações indicando o nome do traficante, Lei dos Crimes Hediondos, foi suprimido do texto legal a
Ivo, e o local onde era realizada a difusão ilícita do tóxi- vedação à concessão de liberdade provisória sem fiança aos
co, tendo os agentes, em decorrência das informações, indiciados ou acusados da prá ca de delitos hediondos ou
apreendido 10 kg de maconha e prendido em flagrante o equiparados. Assim, se es verem presentes os requisitos
traficante. Foi lavrado o auto de prisão em flagrante de Ivo autorizadores da decretação da prisão preven va, não será
pela prá ca de tráfico ilícito de entorpecente. O advogado possível a concessão do bene cio legal.36
de Ivo impetrou uma ordem de habeas corpus obje vando O STJ assim decidiu:
a nulidade do flagrante, alegando constrangimento ilegal.
Com relação a essa situação hipoté ca, os agentes de polícia STJ – HC nº 86.571/BA – BAHIA (5ª Turma)
que par ciparam da oi va de Bento pra caram crime de Ementa: Ação Penal. Prisão preven va. Delito de
tortura, sendo que a condenação, caso advenha, acarretará tortura contra detentos. Crime atribuído a policial
a perda do cargo público.35 civil. Prisão em flagrante. Liberdade provisória dene-
No STJ, a questão é controversa: gada. Inexistência de constrangimento ilegal. Decisão
fundamentada. Ameaças às ví mas que estariam sob
STJ – HC nº 92.247/DF (5ª Turma) custódia do paciente. Caso de conveniência da ins-
Ementa: Habeas corpus. Lei nº 9.455/1997. Conde- trução criminal. HC denegado. Aplicação do art. 312
nação por crime de tortura. Perda do cargo público. do CPP. É legal a prisão preven va de policial acusado
Imposição prevista no § 5º do art. 1º da referida lei. do crime de tortura contra ví mas que estavam sob
Efeito automá co e obrigatório da condenação. sua custódia e foram por ele ameaçadas.
Desnecessidade de fundamentação. Precedente
desta corte. Salvo o delito de omissão, o crime de tortura é crime
1. Ao contrário do disposto no art. 92, I, do Código inafiançável, insusce vel de graça, anis a.37
Penal, que exige sejam externados os mo vos para O Delegado de Polícia responsável por uma delegacia
a decretação da perda do cargo, função ou emprego surpreende outros policiais, seus subordinados, pra cando
público, a Lei nº 9.455/1997, em seu § 5º do art. 1º, crime de tortura contra um preso. A respeito da situação nar-
prevê como efeito extrapenal automá co e obriga- rada, é correto afirmar que o crime de tortura é inafiançável
tório da sentença condenatória, a referida penalida- e insusce vel de graça ou anis a.38
de de perda do cargo, função ou emprego público. Sustentamos que não é possível a concessão de indulto
Precedente do STJ. aos condenados por crime de tortura, pois, se não é possível
2. Ordem denegada. (Grifo nosso) que o Presidente da República conceda a graça, que é indivi-
dual, com mais razão não seria cabível o primeiro bene cio,
De outra parte: por ser conferido de maneira cole va.
Nesse sen do:
STJ – HC nº 41.248/DF (6ª Turma)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Ementa: Penal e Processo Penal. Habeas corpus. No julgamento da ADI nº 2.795 MC / DF - DISTRITO FE-
Citação. Requisição. Nulidade. Inexistência. Ausên- DERAL, Relator Min. MAURÍCIO CORRÊA, Julgamento
cia de prejuízo. Tortura. Perda da função pública. em 8/5/2003, Órgão Julgador: Tribunal Plenodecidu-
Fundamentação insuficiente. Constrangimento ilegal -se que: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIO-
caracterizado. NALIDADE. DECRETO FEDERAL. INDULTO. LIMITES.
A requisição do acusado para a audiência de inter- CONDENADOS PELOS CRIMES PREVISTOS NO IN-
rogatório supre possível vício da citação, quando CISO XLIII DO ART. 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
inexistente a demonstração de prejuízo para a defesa. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO CONFORME.
No processo penal, não se declara nulidade de ato, se REFERENDO DE MEDIDA LIMINAR DEFERIDA. 1. A
dele não resultar prejuízo comprovado para as partes.
36
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Seplag-Seds/Agente de Segurança
Socioeduca va/2008.
33 37
Cesgranrio/PC-RJ/Inves gador Policial/2006. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007;
34
OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007. Delegado de Polícia Subs tuto de Santa Catarina/2001.
35 38
Cespe/Ministério da Jus ça/Escrivão da Polícia Federal/2002. Cesgranrio/PC-RJ/Inves gador Policial/2006.

65
concessão de indulto aos condenados a penas pri- estarão incorrendo no delito de tortura, cujo cumprimento
va vas de liberdade insere-se no exercício do poder se iniciará em regime fechado.40
discricionário do Presidente da República, limitado Muitos sustentaram que tal possibilidade deveria ser
à vedação prevista no inciso XLIII do art. 5º da Carta estendida aos demais crimes hediondos e equiparados.
da República. A outorga do bene cio, precedido das Porém o STF, por meio da Súmula nº 698, disse que não se
cautelas devidas, não pode ser obstado por hipoté- estenderia aos demais crimes hediondos e equiparados a
ca alegação de ameaça à segurança social, que tem admissibilidade de progressão no regime de execução da
como parâmetro simplesmente o montante da pena pena aplicada ao crime de tortura.
aplicada. 2. Revela-se incons tucional a possibilidade A súmula perdeu a razão de ser com a declaração de
de que o indulto seja concedido aos condenados por incons tucionalidade da vedação à progressão de regime
crimes hediondos, de tortura, terrorismo ou tráfico prevista na Lei dos Crimes Hediondos e a consequente alte-
ilícito de entorpecentes e drogas afins, independen- ração realizada pela Lei nº 11.464, de 2007.
temente do lapso temporal da condenação. Interpre-
tação conforme a Cons tuição dada ao § 2º do art. 7º Extraterritorialidade
do Decreto nº 4.495/2002 para fixar os limites de sua
aplicação, assegurando-se legi midade à indulgencia Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando
principis. Referendada a cautelar deferida pelo Mi- o crime não tenha sido come do em território na-
nistro Vice-Presidente no período de férias forenses. cional, sendo a ví ma brasileira ou encontrando-se
o agente em local sob jurisdição brasileira.
No mesmo sen do
O disposto na Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997, apli-
Indulto e Crime Hediondo ca-se ainda que o crime não tenha ocorrido em território
Não ofende o art. 5º, XLIII, da CF (“a lei considerará nacional, sendo a ví ma brasileira ou encontrando-se o
crimes inafiançáveis e insusce veis de graça ou anis- agente em local sob jurisdição brasileira.41
a a prá ca da tortura, o tráfico ilícito de entorpecen- Capez (2008, p. 695) nos ensina:
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos”) decreto presidencial que exclui Assim, temos duas hipóteses em que a lei nacional
do bene cio do indulto os condenados por crimes aplicar-se-á ao cidadão que comete crime de tortura
definidos como hediondos, na conformidade da Lei no estrangeiro: (a) quando a ví ma for brasileira
nº 8.072/1990, uma vez que o indulto é modalidade trata-se aqui de extraterritorialidade incondicionada,
do poder de graça do Presidente da República. Com pois não se exige qualquer condição para que a lei
esse entendimento, o Tribunal, por maioria, indeferiu a nja um crime come do fora do território nacional,
habeas corpus e confirmou a cons tucionalidade da
ainda que o agente se encontre no estrangeiro; (b)
expressão “e indulto” constante do art. 2º, I, da Lei
quando o agente encontra-se em território brasilei-
nº 8.072/1990, e, em consequência, reconheceu a
ro: extraterritorialidade condicionada, pois, nesse
legalidade do art. 8º, II, do Decreto nº 2.365/1997.
caso, a lei nacional só se aplica ao crime de tortura
Vencido o Min. Marco Aurélio que – ao entendimento
come do no estrangeiro se o torturador adentrar no
de que o art. 5º, XLIII, da CF não faz referência ao
território nacional.
indulto, não podendo, assim, lei ordinária inserir res-
trição nele não con da –, deferia o writ, em parte, e
declarava, incidenter tantum, a incons tucionalidade Competência para Julgamento do Crime de
da expressão mencionada da Lei nº 8.072/1990, e Tortura
reconhecia a ilegalidade do referido Decreto. Prece-
dentes citados: HC n° 71.262-SP (DJU de 20/6/1997, Os crimes previstos na Lei nº 9.455/1997 serão julgados
Tribunal Pleno); HC nº 73.118-RN (DJU de 10/5/1996, em regra pela Jus ça Estadual.
Tribunal Pleno) e HC nº 74.132-SP (DJU de 27/9/1996, Caso o sujeito a vo do crime de tortura seja servidor
Tribunal Pleno). HC nº 77.528-AP, rel. Min. Sydney público federal, o delito será julgado pela Jus ça Federal.
Sanches, Plenário, 18/2/1999. Importante salientar que, independentemente dos
sujeitos a vo e passivo, os crimes de tortura nunca serão
Progressão de Regime considerados crimes militares, uma vez que não encontram
previsão no Código Penal Militar, senão vejamos:
Dispõe o § 7º do art. 1º da Lei de Tortura:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

STF – Recurso Extraordinário nº 407.721-3/DF (2ª


§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo Turma)
a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena Ementa: Recurso extraordinário criminal. 2. Arquiva-
em regime fechado. mento de Inquérito Policial Militar, por inexistência
de crime militar. 3. Correição parcial requerida pelo
A Lei de Tortura inovou no ordenamento jurídico dispon- Juiz-Auditor Corregedor da Jus ça Militar da União.
do que era possível que o condenado por tal delito pudesse 4. Alegação de ocorrência de crime de tortura.
progredir de regime39. Desta forma, se um Delegado de Crime comum. Incompetência da Jus ça Militar.
Polícia responsável por uma delegacia surpreender outros Inteligência do art. 124 da Cons tuição Federal. 5.
policiais, seus subordinados, pra cando crime de tortura Recurso extraordinário conhecido e parcialmente
contra um preso e omi r, todos os envolvidos, inclusive ele, provido, determinando-se a remessa dos autos à
Seção Judiciária do Estado de São Paulo. (Grifo nosso)
39
Tema cobrado nas seguintes provas: Esmesc/TJ-SC/Juiz/2004; Cespe/
40
Vitória-ES/Agente Comunitário de Segurança/2007; Cespe/Ministério da Tema cobrado na seguinte prova: Cesgranrio/PC-RJ/Inves gador Policial/2006.
41
Jus ça/Agente da Polícia Federal/2002; OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007. Delegado de Polícia Subs tuto de Santa Catarina/2001.

66
Recentemente, o STJ decidiu que: Interessante a decisão do STJ, que declarou competente
a Jus ça Federal para julgar o crime de tortura pra cado por
HC. TORTURA. PERDA. FUNÇÃO PÚBLICA. COMPE- policiais militares no interior de Delegacia da Polícia Federal:
TÊNCIA.
COMPETÊNCIA. TORTURA. PM. PF. In casu, o indiciado
O paciente, policial militar, juntamente com outras foi preso em flagrante pela suposta prá ca de crime
pessoas, foi denunciado pela suposta prá ca do crime de roubo e, em depoimento, alegou ter sido tortu-
previsto no art. 1º, II e § 3º, da Lei nº 9.455/1997 rado para que confessasse os fatos a ele imputados.
(Lei de Tortura). Sobreveio a sentença e ele foi Feito o exame de corpo de delito, comprovaram-se
condenado, pelo crime previsto no art. 1º, § 1º, da as lesões corporais supostamente pra cadas por
mencionada lei, à pena de seis anos de reclusão policiais militares na dependência de delegacia da
a ser cumprida inicialmente no regime fechado. Polícia Federal. Esses fatos denotariam indícios de
Também foi decretada a perda da função pública e crime de tortura. No ciam os autos que, no momen-
se apontou o impedimento de exercer outra função to do recebimento da no cia do suposto delito de
pública pelo período de doze anos. A defesa e o roubo, os policiais militares estavam em diligência
MP apelaram, sendo que o recurso defensivo não de apoio a policiais federais. Daí o juizado especial
foi provido e o ministerial foi parcialmente provido criminal, ao acolher parecer do MP estadual, remeteu
com a consequente condenação, pela prá ca dos os autos à Jus ça Federal de Subseção Judiciária. Por
crimes narrados na inicial acusatória, à pena de dez sua vez, o juízo federal de vara única, ao receber os
anos de reclusão, além da perda da função pública autos, suscitou o conflito de competência ao consi-
e impedimento de exercer outra função pública pelo derar que os policiais federais não par ciparam do
período de vinte anos. Os impetrantes pleitearam a suposto ato de tortura. Para o Min. Relator, com base
absolvição do paciente, a reintegração à carreira da na doutrina, o crime de tortura é comum, porém se
PM e, subsidiariamente, a redução da reprimenda. firma a competência conforme o lugar em que for
Segundo o Min. Og Fernandes, relator, em conformi- come do. Assim, se o suspeito é, em tese, torturado
dade com a itera va jurisprudência deste Superior em uma delegacia da Polícia Federal, deve a Jus ça
Tribunal, quanto à pretensão absolutória, o pedido Federal apurar o débito. Destaca, ainda, que a Lei
esbarra na necessidade de revolvimento do conjunto nº 9.455/1997 pifica também a conduta omissiva
fá co-probatório, providência incompa vel com a daqueles que possuem o dever de evitar a conduta
via estreita do habeas corpus. Destacou o relator criminosa (art. 1º, I, a, § 2º, da citada lei). Quanto à
que o Tribunal de origem apontou, com base nas materialidade e autoria do suposto crime de tortura,
provas constantes dos autos, as razões pelas quais embora não haja, nos autos, informações de que os
acolhia a acusação tal qual posta na denúncia, uma policiais federais teriam par cipado a vamente do
vez que a prova produzida revela a ocorrência de crime de tortura, os fatos, em tese, foram pra cados
agressões, que levaram a ví ma à morte. Quanto ao no interior de delegacia da Polícia Federal, o que,
pedido da redução da pena, o Min. Relator entende segundo o Min. Relator, atrai a competência da Jus-
não vislumbrar a propalada coação ilegal, pois, de ça Federal nos termos do art. 109, IV, da CF/1988.
acordo com o § 3º do art. 1º da Lei nº 9.455/1997, Nesse contexto, a Seção conheceu do conflito para
nos casos em que da tortura resulte morte, a pena declarar competente o juízo federal suscitante. CC
será fixada entre o mínimo de 8 e o máximo de 16 nº 102.714-GO, Rel. Min. Jorge Mussi, 3ª Seção,
anos. Na hipótese, o relator da apelação estabeleceu julgado em 26/5/2010.
a pena-base em dez anos de reclusão, apontando a
existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis. Natureza Jurídica da Ação Penal
Quanto à alegação dos impetrantes, de que seria da
competência da Jus ça Militar a decretação da perda Os crimes previstos na Lei nº 9.455 de 1997 são de ação
da função pública, o Min. Og Fernandes entendeu que penal pública incondicionada, pois não dependem de qual-
o paciente não foi acusado de prá ca de qualquer quer condição.
crime militar, mas sim de crime de tortura, conforme
definido na referida lei. Portanto, a competência não Prisão Temporária no Crime de Tortura
é da Jus ça castrense, e sim da Jus ça comum. Diante
disso, a Turma denegou a ordem. Precedentes do O prazo da prisão temporária nos crimes hediondos e
STF: HC nº 92.181-MG, 2ª Turma, DJe 1º/8/2008; HC equiparados (tortura, por exemplo) será de trinta dias, pror-
nº 70.389-SP, Tribunal Pleno, DJ 10/8/2001; do STJ: RHC rogável por igual período em caso de extrema e compro-
nº 11.532-RN, 5ª Turma, DJ 24/9/2001, e CC 14.893-SP, vada necessidade. Para os outros crimes, o prazo da prisão
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

3ª Seção, DJ 3/3/1997. HC nº 49.128-MG, Rel. Min. Og temporária é de cinco dias, prorrogável por mais cinco.43
Fernandes, 6ª Turma, julgado em 3/12/2009.
REFERÊNCIAS
Caso o crime de tortura seja come do por policial mi-
litar, a competência para julgamento do delito é da Jus ça CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Legislação penal
Estadual. Se o crime for pra cado por militar da Marinha, especial. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 4.
Exército ou Aeronáu ca, o delito será de competência da
Jus ça Federal. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais
Em regra, os delitos previstos na Lei nº 9.455/1997, são comentadas. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
crimes comuns, ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito dos Tribunais, 2009.
a vo ou passivo42, não necessitando da qualidade de fun-
43
cionário público para a caracterização do delito. Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-RR/Analista Processual/2006;
FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária; NCE/PC-DF/Agente/2004;
NCE/PC-DF/Delegado/2004; Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil/2008;
42
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2007. Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polícia/2009.

67
EXERCÍCIOS uma arma que havia sido furtada pela ví ma. De acordo
com a lei que define os crimes de tortura, se César for
Julgue os itens. condenado, a sentença deve declarar expressamente
1. (Cespe/PMDF/Curso de Formação de Soldado (CFSDPM) a perda do cargo e a interdição para seu exercício pelo
do Quadro de Praças Policiais Militares Combatentes dobro do prazo da pena aplicada, pois esses efeitos não
da PMDF/2009) Considere que um policial militar, no são automá cos.
exercício de suas funções e com emprego de violência, 8. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de
tenha subme do um cidadão civil, o qual se encontrava Polícia/2009) César, oficial da Polícia Militar, está sendo
sob a sua guarda em destacamento militar, a intenso processado pela prá ca do crime de tortura, na con-
sofrimento sico, como forma de aplicar-lhe cas go dição de mandante, contra a ví ma Ronaldo, policial
pessoal, provocando-lhe lesões corporais graves que militar. César visava obter informações a respeito de
evoluíram para o óbito. Nessa situação, considerando uma arma que havia sido furtada pela ví ma. De acor-
que o policial se encontrava em serviço, que o fato ocor- do com a lei que define os crimes de tortura, a jus ça
reu em área de administração militar e que a custódia competente para julgar o caso é a militar, pois trata-se
do cidadão era de responsabilidade militar, o policial de crime come do por militar contra militar.
responde por crime militar, ficando excluída a aplicação 9. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de
da Lei de Tortura. Polícia/2009) César, oficial da Polícia Militar, está sendo
2. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009) processado pela prá ca do crime de tortura, na con-
Um delegado da polícia civil que perceba que um dos dição de mandante, contra a ví ma Ronaldo, policial
custodiados do distrito onde é chefe está sendo fisica- militar. César visava obter informações a respeito de
mente torturado pelos colegas de cela, permanecendo uma arma que havia sido furtada pela ví ma. De acordo
indiferente ao fato, não será responsabilizado criminal- com a lei que define os crimes de tortura, o delito de
mente, pois os delitos previstos na Lei nº 9.455/1997 tortura não admite a forma omissiva.
não podem ser pra cados por omissão. 10. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) A condenação
3. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009) por crime de tortura acarreta a perda do cargo, função
A pena para a prá ca do delito de tortura deve ser ma- ou emprego público, mas não a interdição para seu
jorada caso o delito seja come do por agente público, exercício.
ou mediante sequestro, ou ainda contra ví ma maior 11. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Não se aplica a
de 60 anos de idade, criança, adolescente, gestante ou lei de tortura se do fato definido como crime de tortura
portadora de deficiência. resultar a morte da ví ma.
4. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009) 12. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) O condenado
Se um membro da Defensoria Pública Estado do Rio por crime previsto na lei de tortura inicia o cumprimen-
Grande do Norte, integrante da Comissão Nacional de to da pena em regime semiaberto ou fechado, vedado
Direitos Humanos, for passar uma temporada de traba- o cumprimento da pena no regime inicial aberto.
lho no Hai – país que não pune o crime de tortura – e 13. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Aquele que
lá for ví ma de tortura, não haverá como aplicar a Lei se omite em face de conduta pificada como crime de
nº 9.455/1997.
tortura, tendo o dever de evitá-la ou apurá-la, é punido
5. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de com as mesmas penas do autor do crime de tortura.
Polícia/2009) César, oficial da Polícia Militar, está sendo
14. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009) Pra ca crime
processado pela prá ca do crime de tortura, na con-
de tortura a autoridade policial que constrange alguém,
dição de mandante, contra a ví ma Ronaldo, policial
mediante emprego de grave ameaça e causando-lhe
militar. César visava obter informações a respeito de
sofrimento mental, com o fim de obter informação,
uma arma que havia sido furtada pela ví ma. De acor-
declaração ou confissão da ví ma ou de terceira pessoa.
do com a lei que define os crimes de tortura, o po de
tortura a que se refere a situação mencionada é a sica, 15. (Cespe/Seplag-SEDS/Agente de segurança Socioedu-
pois a tortura psicológica e os sofrimentos mentais não ca va/2008) Na madrugada de 10/11/2007, 38 presos
estão incluídos na disciplina da lei que define os crimes teriam sido torturados e submetidos a constrangi-
de tortura. mentos por três agentes penitenciários depois de uma
6. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de frustrada tenta va de fuga de uma unidade prisional.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Polícia/2009) César, oficial da Polícia Militar, está sendo Três presos nham mais de 60 anos de idade e dois
processado pela prá ca do crime de tortura, na con- eram portadores de deficiência. Durante a rebelião,
dição de mandante, contra a ví ma Ronaldo, policial cinco presos foram queimados vivos e dois agentes pe-
militar. César visava obter informações a respeito de nitenciários foram baleados. O diretor do presídio sabia
uma arma que havia sido furtada pela ví ma. De acordo das torturas e não tomou nenhuma providência. Caso
com a lei que define os crimes de tortura, se César for seja comprovada a prá ca de tortura pelos agentes, a
condenado, deve incidir uma causa de aumento pelo pena será reduzida por estarem estes no cumprimento
fato de ele ser agente público. do dever durante a rebelião.
7. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de 16. (Cespe/Seplag-SEDS/Agente de segurança Socioedu-
Polícia/2009) César, oficial da Polícia Militar, está sendo ca va/2008) Na madrugada de 10/11/2007, 38 presos
processado pela prá ca do crime de tortura, na con- teriam sido torturados e submetidos a constrangi-
dição de mandante, contra a ví ma Ronaldo, policial mentos por três agentes penitenciários depois de uma
militar. César visava obter informações a respeito de frustrada tenta va de fuga de uma unidade prisional.

68
Três presos nham mais de 60 anos de idade e dois 25. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Rela vamente ao
eram portadores de deficiência. Durante a rebelião, crime de tortura (Lei nº 9.455/1997), é correto afirmar
cinco presos foram queimados vivos e dois agentes que a pena do crime é aumentada quando o crime é
penitenciários foram baleados. O diretor do presídio come do por pessoa maior de sessenta anos.
sabia das torturas e não tomou nenhuma providência. O 26. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Rela vamente ao
diretor da unidade prisional não responderá pelo crime crime de tortura (Lei nº 9.455/1997), é correto afirmar
de tortura por ter-se omi do em face das condutas dos que a pena do crime é aumentada quando o crime é
agentes, pois cabe exclusivamente ao Poder Judiciário come do por agente público.
o dever de apurá-las. 27. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Rela vamente ao
17. (Cespe/Seplag-SEDS/Agente de segurança Socioedu- crime de tortura (Lei nº 9.455/1997), é correto afirmar
ca va/2008) Na madrugada de 10/11/2007, 38 presos que a pena do crime é aumentada quando o crime é
teriam sido torturados e subme dos a constrangimen- come do durante o repouso noturno. (FGV/PC-RJ/
tos por três agentes penitenciários depois de uma frus- Inspetor de Polícia/2008).
trada tenta va de fuga de uma unidade prisional. Três 28. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Rela vamente ao
presos nham mais de 60 anos de idade e dois eram crime de tortura (Lei nº 9.455/1997), é correto afirmar
portadores de deficiência. Durante a rebelião, cinco que a pena do crime é aumentada quando a pessoa que
presos foram queimados vivos e dois agentes peniten- nha o dever de evitá-las ou apurá-las se omite em face
ciários foram baleados. O diretor do presídio sabia das dessas condutas. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008).
torturas e não tomou nenhuma providência. Caso seja
comprovada a prá ca de tortura pelos agentes, a pena Proteção à Testemunha
será aumentada em razão de o crime ter sido pra cado
contra portadores de deficiência e maiores de 60 anos
29. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
de idade.
A Lei nº 9.807/1999 não prevê a concessão de perdão
18. (Cespe/Seplag-SEDS/Agente de segurança Socioedu- judicial para o acusado que tenha colaborado efe va
ca va/2008) Na madrugada de 10/11/2007, 38 presos e voluntariamente com a inves gação e o processo
teriam sido torturados e submetidos a constrangi- criminal, mas apenas a redução de um a dois terços na
mentos por três agentes penitenciários depois de uma pena do réu que tenha contribuído para a localização
frustrada tenta va de fuga de uma unidade prisional. da ví ma com vida e na recuperação total ou parcial
Três presos nham mais de 60 anos de idade e dois do produto da a vidade criminosa.
eram portadores de deficiência. Durante a rebelião, 30. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Subs tuto/2009)
cinco presos foram queimados vivos e dois agentes O programa de proteção de que trata a Lei nº
penitenciários foram baleados. O diretor do presídio 9.807/1999 é exclusivo para ví mas ou testemunhas
sabia das torturas e não tomou nenhuma providência. ameaçadas, não podendo ser estendido aos parentes
Se o agente penitenciário for preso por determinação destas, sob pena de grave comprometimento dos
do diretor da unidade prisional, poderá pagar fiança ao recursos financeiros des nados a custear as despesas
juiz e responder em liberdade por possível prá ca do específicas de proteção.
crime de tortura.
19. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Constranger al-
guém com emprego de violência ou ameaça, causando-
GABARITO
-lhe sofrimento sico com o fim de obter informação,
cons tui crime de tortura. 1. E 24. E
20. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Constranger al- 2. E 25. E
guém com emprego de violência ou ameaça, causando- 3. C 26. C
4. E 27. E
-lhe sofrimento sico para provocar ação ou omissão
5. E 28. E
de natureza criminosa cons tui crime de tortura. 6. C 29. E
21. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Constranger al- 7. E 30. E
guém com emprego de violência ou ameaça, causando- 8. E
-lhe sofrimento sico em razão de discriminação racial 9. E
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou religiosa cons tui crime de tortura. 10. E


22. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Submeter 11. E
alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com 12. E
13. E
emprego de violência ou ameaça, a intenso sofrimento
14. C
mental, como forma de aplicar cas go pessoal cons tui 15. E
crime de tortura. 16. E
23. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008).Constranger al- 17. C
guém sem emprego de violência nem ameaça, para que 18. E
faça algo que a lei não obriga, cons tui crime de tortura. 19. C
24. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) Rela vamente ao 20. C
crime de tortura (Lei nº 9.455/1997), é correto afirmar 21. C
que a pena do crime é aumentada quando o crime é 22. C
23. E
come do contra agente público.

69
Sérgio Bautzer de descumprimento injus ficado dos deveres e obrigações a
que alude o art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Da Família Natural

Conceitos Entende-se por família natural a comunidade formada


pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
1. Criança: é a pessoa que tem até 12 anos de idade Entende-se por família extensa ou ampliada aquela
incompletos. que se estende para além da unidade pais e filhos ou da
2. Adolescente: é a pessoa que tem entre 12 anos de unidade do casal, formada por parentes próximos com os
idade completos e 18 anos de idade incompletos. quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos
3. Jovem Adulto: é a pessoa que tem entre 18 anos de afinidade e afe vidade.
completos de idade e 21 anos de idade incompletos. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reco-
Excepcionalmente o ECA se aplica ao jovem adulto. nhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio
termo de nascimento, por testamento, mediante escritura
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária ou outro documento público, qualquer que seja a origem da
filiação. O reconhecimento pode preceder o nascimento do
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes.
e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, O reconhecimento do estado de filiação é direito per-
em família subs tuta, assegurada a convivência familiar sonalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
dependentes de substâncias entorpecentes. restrição, observado o segredo de Jus ça.
De acordo com a Lei nº 12.010/2009, toda criança ou
adolescente que es ver inserido em programa de acolhi- Da Família Subs tuta
mento familiar ou ins tucional terá sua situação reavaliada,
no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade A colocação em família subs tuta far-se-á mediante
judiciária competente, com base em relatório elaborado guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação
por equipe interprofissional ou mul disciplinar, decidir de jurídica da criança ou adolescente.
forma fundamentada pela possibilidade de reintegração Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
familiar ou colocação em família subs tuta, em quaisquer previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado
das modalidades existentes. seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão
A permanência da criança e do adolescente em programa sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devida-
de acolhimento ins tucional não se prolongará por mais de mente considerada.
2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será
ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela necessário seu consen mento, colhido em audiência.
autoridade judiciária. Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau
A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente de parentesco e a relação de afinidade ou de afe vidade,
à sua família terá preferência em relação a qualquer outra a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes
providência, caso em que será esta incluída em programas da medida.
de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela
art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I ou guarda da mesma família subs tuta, ressalvada a com-
a IV do caput do art. 129 , todos da lei em estudo. provada existência de risco de abuso ou outra situação que
Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por jus fique plenamente a excepcionalidade de solução diver-
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas sa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento
quaisquer designações discriminatórias rela vas à filiação. defini vo dos vínculos fraternais.
O poder familiar será exercido, em igualdade de con- A colocação da criança ou adolescente em família
dições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a subs tuta será precedida de sua preparação grada va e
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter-
em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária profissional a serviço da Jus ça da Infância e da Juventude,
competente para a solução da divergência. preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação pela execução da polí ca municipal de garan a do direito à
dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, convivência familiar.
a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações Não se deferirá colocação em família subs tuta a pes-
judiciais. soa que revele, por qualquer modo, incompa bilidade com
A falta ou a carência de recursos materiais não cons tui a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar
mo vo suficiente para a perda ou a suspensão do poder adequado. Não será admi da a transferência da criança ou
familiar. Não exis ndo outro mo vo que por si só autorize a adolescente a terceiros ou a en dades governamentais ou
decretação da medida, a criança ou o adolescente será man - não-governamentais, sem autorização judicial.
do em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou
ser incluída em programas oficiais de auxílio. proveniente de comunidade remanescente de quilombo,
A perda e a suspensão do poder familiar serão decre- é ainda obrigatório:
tadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos 1) que sejam consideradas e respeitadas sua iden dade
casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como

70
suas ins tuições, desde que não sejam incompa veis com os O tutor nomeado por testamento ou qualquer documen-
direitos fundamentais reconhecidos pelo Estatuto da Criança to autêntico, conforme previsto no parágrafo único do
e do Adolescente e pela Cons tuição Federal; art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código
2) que a colocação familiar ocorra prioritariamente no Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura
seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; da sucessão, ingressar com pedido des nado ao controle
3) a intervenção e oi va de representantes do órgão judicial do ato, observando o procedimento previsto nos
federal responsável pela polí ca indigenista, no caso de arts. 165 a 170 do ECA.
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe- Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos
rante a equipe interprofissional ou mul disciplinar que irá previstos nos arts. 28 e 29 da Lei em estudo, somente sendo
acompanhar o caso. deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de úl ma
vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa
A colocação em família subs tuta estrangeira cons tui ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores
medida excepcional, somente admissível na modalidade condições de assumi-la.
de adoção.
Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará Da Adoção
compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo,
mediante termo nos autos. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á pelo,
não se aplicando mais o Código Civil de 2002. É medida
Da Guarda excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas
quando esgotados os recursos de manutenção da criança
A guarda obriga a prestação de assistência material, mo- ou adolescente na família natural ou extensa. Deve ser res-
ral e educacional a criança ou adolescente, conferindo a seu saltada que é vedada a adoção por procuração.
detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos
Tal modalidade de colocação em família subs tuta se à data do pedido, salvo se já es ver sob a guarda ou tutela
des na a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, dos adotantes.
liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com
adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, des-
Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos ligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo
de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou os impedimentos matrimoniais. Se um dos cônjuges ou
suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos
deferido o direito de representação para a prá ca de atos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do
determinados. adotante e os respec vos parentes.
A guarda confere à criança ou adolescente a condição de É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus
dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes
previdenciários. e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação
Salvo expressa e fundamentada determinação em contrá- hereditária.
rio, da autoridade judiciária competente, ou quando a medi- Algumas regras no tocante à adoção devem ser obser-
da for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da vadas:
guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o 1) podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, inde-
exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever pendentemente do estado civil;
de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação 2) não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público. adotando;
O poder público es mulará, por meio de assistência 3) para adoção conjunta, é indispensável que os adotan-
jurídica, incen vos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob tes sejam casados civilmente ou mantenham união estável,
a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do comprovada a estabilidade da família;
convívio familiar. 4) o adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
A inclusão da criança ou adolescente em programas de velho do que o adotando;
acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento 5) a morte dos adotantes não restabelece o poder familiar
ins tucional, observado, em qualquer caso, o caráter tem- dos pais naturais.
porário e excepcional da medida. Nesta hipótese, a pessoa
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-com-


poderá receber a criança ou adolescente mediante guarda, panheiros podem adotar conjuntamente, contanto que
observado o disposto nos arts. 28 a 33 do ECA. acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que
A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, median- o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância
te ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público. do período de convivência e que seja comprovada a existên-
cia de vínculos de afinidade e afe vidade com aquele não
Da Tutela detentor da guarda, que jus fiquem a excepcionalidade da
concessão. Neste caso, desde que demonstrado efe vo bene-
A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa cio ao adotando, será assegurada a guarda compar lhada,
de até 18 (dezoito) anos incompletos. conforme previsto no art. 1.584 do Código Civil.
O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após
da perda ou suspensão do poder familiar e implica necessa- inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no cur-
riamente o dever de guarda. so do procedimento, antes de prolatada a sentença. Neste

71
caso, a adoção, que produz seus efeitos a par r do trânsito Não será deferida a inscrição se o interessado não sa sfa-
em julgado da sentença cons tu va, terá força retroa va à zer os requisitos legais, ou se a pessoa revelar, por qualquer
data do óbito. modo, incompa bilidade com a natureza da medida ou não
A adoção será deferida quando apresentar reais van- ofereça ambiente familiar adequado.
tagens para o adotando e fundar-se em mo vos legí mos. A inscrição de postulantes à adoção será precedida de
Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado
alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou pela equipe técnica da Jus ça da Infância e da Juventude,
o curatelado. preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
A adoção depende do consen mento dos pais ou do pela execução da polí ca municipal de garan a do direito à
representante legal do adotando, que será dispensado em convivência familiar.
relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desco- Sempre que possível e recomendável, a preparação re-
nhecidos ou tenham sido des tuídos do poder familiar. Em ferida acima incluirá o contato com crianças e adolescentes
se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será em acolhimento familiar ou ins tucional em condições de
também necessário o seu consen mento. serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão
A adoção será precedida de estágio de convivência com e avaliação da equipe técnica da Jus ça da Infância e da Ju-
a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judici- ventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa
ária fixar, observadas as peculiaridades do caso, que poderá de acolhimento e pela execução da polí ca municipal de
ser dispensado se o adotando já es ver sob a tutela ou guar- garan a do direito à convivência familiar.
da legal do adotante durante tempo suficiente para que seja Serão criados e implementados cadastros estaduais e
possível avaliar a conveniência da cons tuição do vínculo. nacional de crianças e adolescentes em condições de serem
Vale lembrar que simples guarda de fato não autoriza, por adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. Haverá
si só, a dispensa da realização do estágio de convivência. cadastros dis ntos para pessoas ou casais residentes fora do
Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou País, que somente serão consultados na inexistência de pos-
domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido tulantes nacionais habilitados nos cadastros já mencionados.
no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias. As autoridades estaduais e federais em matéria de ado-
O estágio de convivência será acompanhado pela equipe ção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a
interprofissional a serviço da Jus ça da Infância e da Juventu- troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria
de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis do sistema. A alimentação do cadastro e a convocação
pela execução da polí ca de garan a do direito à convivência criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da Ministério Público.
conveniência do deferimento da medida. O Juiz da Vara da Infância e Juventude providenciará, no
O vínculo da adoção cons tui-se por sentença judicial, prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças
que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual e adolescentes em condições de serem adotados que não
não se fornecerá cer dão, sendo que a inscrição consignará veram colocação familiar na comarca de origem, e das
o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de pessoas ou casais que veram deferida sua habilitação à
seus ascendentes. O mandado judicial, que será arquivado, adoção nos cadastros estadual e nacional já referidos, sob
cancelará o registro original do adotado. Nenhuma obser- pena de responsabilidade.
vação sobre a origem do ato poderá constar nas cer dões Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manu-
do registro. A pedido do adotante, o novo registro poderá tenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior
ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.
sua residência. A adoção internacional somente será deferida se, após
A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à
a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modifica- adoção, man do pela Jus ça da Infância e da Juventude na
ção do prenome. Se requerida pelo adotante, é obrigatória comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional já
a oi va do adotando, observado o disposto nos §§ 1o e 2o referidos, não for encontrado interessado com residência
do art. 28 do ECA. permanente no Brasil.
O processo rela vo à adoção assim como outros a ele Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em
relacionados serão man dos em arquivo, admi ndo-se seu sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível
armazenamento em microfilme ou por outros meios, ga- e recomendável, será colocado sob guarda de família cadas-
ran da a sua conservação para consulta a qualquer tempo. trada em programa de acolhimento familiar.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

O adotado tem direito de conhecer sua origem bioló- Somente poderá ser deferida adoção em favor de candi-
gica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no dato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos
qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, termos do ECA quando:
após completar 18 (dezoito) anos. O acesso ao processo de • se tratar de pedido de adoção unilateral;
adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de • for formulada por parente com o qual a criança ou
18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e adolescente mantenha vínculos de afinidade e afe -
assistência jurídica e psicológica. vidade;
A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou • oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
foro regional, um registro de crianças e adolescentes em legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente,
condições de serem adotados e outro de pessoas interes- desde que o lapso de tempo de convivência comprove
sadas na adoção. O deferimento da inscrição dar-se-á após a fixação de laços de afinidade e afe vidade, e não seja
prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer um dos
Ministério Público. crimes previstos nos arts. 237 ou 238 do ECA.

72
Nas hipóteses previstas anteriormente, o candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os
requisitos necessários à adoção, conforme previsto na lei em estudo.

Medidas Previstas no ECA

Segundo a CF, os menores são considerados penalmente inimputáveis, e assim a criança e o adolescente cometem ato
infracional análogo ao crime e ou à contravenção.
Em razão de sua conduta, a criança e o adolescente recebem medidas previstas no ECA.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, é correto afirmar que são idênticas as medidas legais
previstas para os atos infracionais praticados por crianças e adolescentes.

Aplicada à criança
autora de ato
infracional
Medidas
Específicas de Adolescente autor de
Proteção (3) ato infracional

Criança ou Adolescente
em situação de risco
Medidas ou irregular (menor
Previstas no abandonado)
ECA
Ao adolescente infrator
(1).
Medidas Socio-
educativas –
Aplicadas (2): Excepcionalmente,
ao jovem adulto.

(1) A criança não recebe medida socioeducativa Dos Direitos Individuais do Adolescente Infrator
apenas específica de proteção.
(2) Súmula nº 108 do STJ: a aplicação de medidas Nenhum adolescente será privado de sua liberdade se-
socioeducativas ao adolescente, pela prática de não em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
ato infracional, é da competência exclusiva do
juiz. fundamentada da autoridade judiciária competente.
(3) O Conselho Tutelar pode aplicar as medidas espe- Caso haja a privação da liberdade do adolescente fora
cíficas de proteção, exceto a colocação em família das hipóteses legais, restará configurado o crime previsto no
substituta, pois exige procedimento judicial. São art. 230 ECA, que assim está disposto:
modalidades de colocação em família substituta
os procedimentos de: Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade,
a) Guarda; procedendo a sua apreensão sem estar em flagrante
b) Adoção;
de ato infracional ou inexis ndo ordem escrita da
c) Tutela.
autoridade judiciária competente:
Cumpre ressaltar que o Conselho Tutelar é órgão Pena – detenção de seis meses a dois anos.
permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos Seguindo o que rege o art. 5º, LXIV, da Cons tuição Fe-
da criança e do adolescente, definidos no ECA. deral dispõe o parágrafo único do art.106 do ECA que o ado-
Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho lescente tem direito à iden ficação dos responsáveis pela sua
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Tutelar composto de cinco membros, escolhidos pela


apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
comunidade local para mandato de três anos, permitida
uma recondução. Ainda, a apreensão de qualquer adolescente e o local
As medidas de proteção à criança e ao adolescente onde se encontra recolhido serão imediatamente comu-
são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos no nicados à autoridade judiciária competente e à família do
ECA forem ameaçados ou violados 1) por ação ou omissão apreendido ou à pessoa por ele indicada.
da sociedade ou do Estado ou 2) por falta, omissão ou Se o Delegado de Polícia deixar de comunicar a apreensão
abuso dos pais ou responsável. do adolescente ao Juiz competente e à família do apreendido
Assim não é preciso que a criança e o adolescente ou ao responsável, haverá a configuração do crime previsto
pratiquem necessariamente um ato infracional para re-
no art. 231 do ECA:
ceber a medida específica de proteção, basta estar em
uma situação de risco ou irregular.
Lembrando que se considera ato infracional a conduta Deixar a autoridade policial responsável pela apre-
descrita como crime ou contravenção penal. ensão de criança ou adolescente de fazer imediata

73
comunicação à autoridade judiciária competente e à O Ministério Público do estado do Rio Grande do
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: Sul ofereceu representação contra o menor, pela
Pena – detenção de seis meses a dois anos. prá ca de atos infracionais equivalentes ao disposto
no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 (tráfico de
Internação Provisória entorpecentes) e no art. 16, parágrafo único, inciso
A internação que ocorre antes da sentença, chamada IV, da Lei do Desarmamento – Lei nº 10.826/2003 –
de internação provisória, pode ser determinada pelo prazo (portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
máximo de quarenta e cinco dias. arma de fogo com numeração, marca ou qualquer
A decisão que determinar a internação provisória deverá outro sinal de iden ficação raspado, suprimido ou
ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de adulterado).
autoria e materialidade, demonstrada a necessidade impe-
riosa da medida. Indeferimento
Como já foi dito, existem duas hipóteses em que é pos-
sível a privação da liberdade de um menor infrator: O relator considerou que a decisão do STJ de não co-
1ª) Por flagrante de ato infracional. nhecimento do recurso “não veicula nenhuma ilegali-
2ª) Por ordem judicial, em cumprimento a mandado de dade flagrante, nem abuso de poder ou qualquer te-
busca e apreensão. ratologia”. Segundo ele, uma vez proferida a sentença
Assim o menor ficará provisoriamente internado até a de mérito determinando a medida socioeduca va de
aplicação da medida socioeduca va de internação. internação fica prejudicada a alegação do excesso de
O prazo é contado da apreensão do menor até a prolação prazo da medida imposta provisoriamente.
da sentença de internação: O ministro Ricardo Lewandowski lembrou que, no
caso, já foi proferida a sentença pelo juízo de primeiro
Prazo máximo: grau e, conforme parecer da Procuradoria Geral da
45 dias República (PGR), o recurso de apelação interposto
Flagrante de ato pela defesa foi julgado, sendo man da a decisão que
Sentença de determinou o cumprimento da internação.
infracional ou or- ..................................
Internação
dem judicial
Ademais, verifica-se que a digna magistrada do
Recentemente o Guardião da CF foi provocado a se ma- Juizado da Infância e da Juventude da Comarca de
nifestar sobre o excesso de prazo na internação provisória: Gravataí no Rio Grande do Sul, ao proferir a sentença
bem fundamentou a necessidade do paciente, disse
[...] A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal o relator. Conforme esta decisão, os atos infracionais
(STF) negou Habeas Corpus (HC nº 102.057) impe- de tráfico de drogas e posse de arma de fogo de uso
trado pela Defensoria Pública da União (DPU), sob restrito são de natureza grave. Além disso, segundo
alegação de que o acusado, menor de idade à época o Juizado da Infância e da Juventude o adolescente
dos fatos, encontra-se internado por período superior não demonstra crí ca frente à gravidade das con-
aos 45 dias permi dos pelo Estatuto da Criança e do dutas, tanto que procura atribuir a autoria a uma
Adolescente (ECA). A decisão foi unânime. terceira pessoa, bem como não aceita limites, como
menciona sua mãe.
O art. 183, do ECA, prevê que o prazo máximo e
improrrogável para a conclusão do procedimento, es- O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do
tando o adolescente internado provisoriamente, será procedimento de aplicação de medida socioeducativa,
de 45 dias. Os ministros entenderam que tal prazo diz estando o adolescente internado provisoriamente, será de
respeito à conclusão do procedimento de apuração quarenta e cinco dias.
do ato infracional e à sentença de mérito, quando
o adolescente está internado provisoriamente. En- Iden ficação Criminal do Menor Infrator
tretanto, a Turma concluiu que, uma vez proferida a Segundo o art. 109 do Estatuto da Criança e do Ado-
sentença de mérito, fica prejudicada a alegação de lescente, salvo se houver dúvida fundada, o adolescente
excesso de prazo da internação provisória. civilmente iden ficado não será subme do à iden ficação
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

obrigatória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais,


O Caso salvo para efeito de comparação.
Assim o adolescente infrator não pode ser subme do à
Conforme o relator, ministro Ricardo Lewandowski, iden ficação criminal, salvo se houver dúvida fundada em
o adolescente não trabalha e não estuda. Passou a relação a sua iden dade.
vender drogas no próprio local onde explorava um
bar. Man nha no depósito 19 pedras de crack, dois Medidas de Proteção
revólveres calibre 38, ambos municiados, em con- As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplica-
dições de funcionamento e sem autorização legal. das isolada ou cumula vamente, bem como subs tuídas a
Houve uma série de recursos contra a internação pro- qualquer tempo.
visória do menor, mas em nenhum deles a defesa teve Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as ne-
sucesso. No presente Habeas Corpus, a DPU ques- cessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem
ona decisão do Superior Tribunal de Jus ça (STJ). ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

74
Princípios que Regem a Aplicação das Medidas Especí- 3) matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimen-
ficas de Proteção to oficial de ensino fundamental;
São eles: 4) inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio
1) condição da criança e do adolescente como sujeitos de à família, à criança e ao adolescente;
direitos: crianças e adolescentes são os tulares dos direitos 5) requisição de tratamento médico, psicológico ou psi-
previstos nesta e em outras leis, bem como na Cons tuição quiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
Federal. 6) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
2) proteção integral e prioritária: a interpretação e apli- orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
cação de toda e qualquer norma con da nesta lei deve ser 7) acolhimento ins tucional;
voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que 8) inclusão em programa de acolhimento familiar;
crianças e adolescentes são tulares. 9) colocação em família subs tuta.
3) responsabilidade primária e solidária do poder público:
a plena efe vação dos direitos assegurados a crianças e a O acolhimento ins tucional e o acolhimento familiar são
adolescentes pelo ECA e pela Cons tuição Federal, salvo nos medidas provisórias e excepcionais, u lizáveis como forma
casos expressamente ressalvados, é de responsabilidade pri- de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
mária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo possível, para colocação em família subs tuta, não implican-
da municipalização do atendimento e da possibilidade da do privação de liberdade.
execução de programas por en dades não governamentais. Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para
4) interesse superior da criança e do adolescente: a proteção de ví mas de violência ou abuso sexual e de outras
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e providências, o afastamento da criança ou adolescente do
direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da conside- convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade
ração que for devida a outros interesses legí mos no âmbito judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério
da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto. Público ou de quem tenha legí mo interesse, de procedimento
5) privacidade: a promoção dos direitos e proteção da judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao res-
ponsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
Cumpre ressaltar que crianças e adolescentes somente
in midade, direito à imagem e reserva da sua vida privada.
poderão ser encaminhados às ins tuições que executam
6) intervenção precoce: a intervenção das autoridades
programas de acolhimento ins tucional, governamentais ou
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela
seja conhecida.
autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará,
7) intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida
dentre outros:
exclusivamente pelas autoridades e ins tuições cuja ação
1) sua iden ficação e a qualificação completa de seus
seja indispensável à efe va promoção dos direitos e à pro- pais ou de seu responsável, se conhecidos;
teção da criança e do adolescente. 2) o endereço de residência dos pais ou do responsável,
8) proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve com pontos de referência;
ser a necessária e adequada à situação de perigo em que 3) os nomes de parentes ou de terceiros interessados
a criança ou o adolescente se encontram no momento em em tê-los sob sua guarda;
que a decisão é tomada. 4) os mo vos da re rada ou da não reintegração ao
9) responsabilidade parental: a intervenção deve ser convívio familiar.
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres Imediatamente após o acolhimento da criança ou do
para com a criança e o adolescente. adolescente, a entidade responsável pelo programa de
10) prevalência da família: na promoção de direitos e na acolhimento ins tucional ou familiar elaborará um plano
proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva- individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada
família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que em contrário de autoridade judiciária competente, caso em
promovam a sua integração em família subs tuta. que também deverá contemplar sua colocação em família
11) obrigatoriedade da informação: a criança e o ado- subs tuta, observadas as regras e princípios do ECA.
lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e ca- O plano individual será elaborado sob a responsabilidade
pacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem da equipe técnica do respec vo programa de atendimento
ser informados dos seus direitos, dos mo vos que deter- e levará em consideração a opinião da criança ou do adoles-
minaram a intervenção e da forma como esta se processa. cente e a oi va dos pais ou do responsável.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

12) oi va obrigatória e par cipação: a criança e o adoles- Constarão do plano individual, dentre outros:
cente, em separado ou na companhia dos pais, de respon- 1) os resultados da avaliação interdisciplinar;
sável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais 2) os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a par cipar nos sável; e
atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de 3) a previsão das a vidades a serem desenvolvidas com
proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou res-
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos ponsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta
§§ 1º e 2º do art. 28 do ECA. vedada por expressa e fundamentada determinação judicial,
as providências a serem tomadas para sua colocação em famí-
Medidas de Proteção em Espécie lia subs tuta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.
São elas:
1) encaminhamento aos pais ou responsável, mediante O acolhimento familiar ou ins tucional ocorrerá no local
termo de responsabilidade; mais próximo à residência dos pais ou do responsável e,
2) orientação, apoio e acompanhamento temporários; como parte do processo de reintegração familiar, sempre

75
que iden ficada a necessidade, a família de origem será [...] Processo contra menor sem advogado deve ser
incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de anulado desde a apresentação.
promoção social, sendo facilitado e es mulado o contato Ausência de advogado em audiência de menor viola
com a criança ou com o adolescente acolhido. os princípios do contraditório e da ampla defesa,
Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o res- devendo a nulidade do processo ser decretada desde
ponsável pelo programa de acolhimento familiar ou ins tu- a audiência de apresentação. A observação foi feita
cional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus ça,
que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) ao conceder Habeas Corpus para decretar a nuli-
dias, decidindo em igual prazo. dade em processo contra menor acusado de crime
Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração equiparado ao de porte de substância entorpecente
da criança ou do adolescente à família de origem, após seu para consumo.
encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de Após a decisão que inseriu o menor em medida so-
orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório cioeduca va de prestação de serviços à comunidade,
fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a des- pelo período de 30 dias, a defesa apelou, alegando
crição pormenorizada das providências tomadas e a expressa nulidade da audiência de apresentação, por ausência
recomendação, subscrita pelos técnicos da en dade ou de defensor, violando os princípios do contraditório
responsáveis pela execução da polí ca municipal de garan a e da ampla defesa. O Tribunal de Jus ça de Minas
do direito à convivência familiar, para a des tuição do poder Gerais (TJ-MG), no entanto, negou provimento à
familiar, ou des tuição de tutela ou guarda. apelação.
Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo No Habeas Corpus com pedido de liminar dirigido ao
de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de des tuição STJ, a defesa requereu que fosse decretada a nulidade
do poder familiar, salvo se entender necessária a realização do processo desde a audiência de apresentação e de
de estudos complementares ou outras providências que todos os atos subsequentes. Em parecer enviado ao
entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. STJ, o Ministério Público Federal manifestou-se em
O juiz manterá, em cada comarca ou foro regional, favor da concessão da ordem.
um cadastro contendo informações atualizadas sobre as
crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar A Quinta Turma concedeu o Habeas Corpus para
e ins tucional sob sua responsabilidade, com informações anular a audiência de apresentação e todos os atos
pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem subsequentes, para que sejam renovados com a
como as providências tomadas para sua reintegração familiar presença de defesa técnica. “O direito de defesa e do
ou colocação em família subs tuta. contraditório, consagrados na legislação [...] é irre-
Terão acesso ao cadastro mencionado o Ministério Públi- nunciável”, observou o relator, ao conceder a ordem.
O ministro destacou que é vedado ao Poder Judiciário
co, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e
negar ao acusado o direito de ser assis do por de-
os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Ado-
fensor, porquanto as garan as cons tucionais e pro-
lescente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
cessuais visam ao interesse público na condução do
sobre a implementação de polí cas públicas que permitam
processo segundo as regras do devido processo legal.
reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
“Violados os princípios constitucionais relativos
convívio familiar e abreviar o período de permanência em
ao devido processo legal e à ampla defesa, não há
programa de acolhimento.
como negar o constrangimento ilegal imposto ao
As medidas de proteção em comento serão acompanha-
adolescente, decorrente da aplicação da medida so-
das da regularização do registro civil. cioeduca va de prestação de serviços à comunidade,
Verificada a inexistência de registro anterior, o assento deixando-se de observar o disposto nos arts. 111,
de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista III e IV, e 184, parágrafo 1º, da Lei nº 8.069/1990”,
dos elementos disponíveis, mediante requisição da autori- concluiu Arnaldo Esteves”.
dade judiciária.
Os registros e cer dões necessários à regularização de A 6ª Turma do STJ decidiu:
que trata este ar go são isentos de multas, custas e emolu-
mentos, gozando de absoluta prioridade. ECA. IMPRESCINDIBILIDADE. ADVOGADO.
Caso ainda não definida a questão da paternidade, A paciente, em tese, teria pra cado ato infracional
será deflagrado procedimento específico des nado a sua análogo ao delito de injúria ao desferir ofensas contra
averiguação, conforme previsto pela Lei nº 8.560, de 29 de sua sogra e a questão em debate no writ trata da ne-
dezembro de 1992. É dispensável o ajuizamento de ação cessidade de assistência de advogado na audiência de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de inves gação de paternidade pelo Ministério Público se, apresentação (art. 126 e seguintes do ECA). No caso
após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em dos autos, tanto a adolescente quanto sua genitora
assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encami- concordaram, na audiência de apresentação, com a
nhada para adoção. imediata aplicação da medida socioeduca va sem
processo. Para a Min. Relatora, acompanhada por
Do Acesso à Jus ça unanimidade, a preliminar audiência de remissão,
É garan do o acesso de toda criança ou adolescente à nos moldes do art. 179 do ECA, implica possível
Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judici- constrição de direitos, assim se deve submeter aos
ário, por qualquer de seus órgãos. preceitos do devido processo legal, a fim de assegurar
A assistência judiciária gratuita será prestada aos que a ampla defesa ao adolescente, o que pressupõe,
dela necessitarem, por meio de defensor público ou advo- também, a defesa técnica. Daí ser imperioso que a
gado nomeado. adolescente faça-se acompanhar por advogado. Ob-
Sobre o tema em comento, decidiu o STJ, conforme no - serva não serem poucos os argumentos contrários à
cia veiculada no site www.stj.gov.br em 17/6/2009: imprescindibilidade do advogado na apresentação do

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adolescente, entretanto, o próprio ECA no art. 111, III, autoras ou rés, nas demandas ajuizadas perante a
e no art. 141, § 1º, fornece esses subsídios. Ademais, Jus ça da Infância e Juventude, não é extensível aos
aponta que pode, na audiência, exis r consequên- demais sujeitos processuais, que, eventualmente fi-
cia, como na espécie, em que houve aplicação de gurem no feito, ra ficou o ministro Luiz Fux, ao votar.
sanção análoga à pena de prestação de serviços à Ao negar o pedido, a Turma concordou que a Lei visa
comunidade. Diante do exposto, a Turma concedeu proteger as crianças e adolescentes em seus inte-
a ordem para anular o processo e, por consequência, resses na Jus ça, impossibilitando a extensão desse
reconheceu a prescrição do ato infracional imputado bene cio legal à pessoa jurídica de direito privado.
à paciente. HC nº 67.826-SP, Rel. Min. Maria Thereza
de Assis Moura, julgado em 9/6/2009. Os menores de dezesseis anos serão representados e os
maiores de dezesseis e menores de 18 anos assis dos por
As ações judiciais da competência da Jus ça da Infância seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil
e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, res-
ou processual.
salvada a hipótese de li gância de má-fé.
A autoridade judiciária dará curador especial à criança
Sobre o conforme veiculado no site www.stj.gov.br de-
ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem
cidiu o STJ: “[...] Isenção de custas prevista no ECA não se
estende às outras partes do processo”. com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de
representação ou assistência legal ainda que eventual.
A isenção de custas e emolumentos prevista no Esta- É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e admi-
tuto da Criança e do Adolescente visa garan r as con- nistra vos que digam respeito a crianças e adolescentes a
dições necessárias para o acesso à Jus ça de crianças que se atribua autoria de ato infracional.
e adolescentes como autores ou réus em ações Qualquer no cia a respeito do fato não poderá iden ficar
movidas perante Varas da Infância e da Juventude, a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência
não alcançando outras partes que eventualmente a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive,
par cipem das demandas. A conclusão é da Primeira iniciais do nome e sobrenome.
Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ), ao negar O descumprimento do disposto acima configura a prá-
provimento ao recurso especial da Companhia 9 de ca de infração administra va prevista no art. 247 do ECA,
Entretenimentos Ltda., do Rio de Janeiro. senão vejamos:
O processo teve início com a lavratura de autos de
infração contra a Cia. 9 pelo comissário do juizado Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devi-
de menores no Juízo da Vara de Família, da Infância, da, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou
da Juventude e do Idoso da comarca de Cabo Frio- documento de procedimento policial, administra vo
-RJ. Segundo o comissário, a empresa infringiu o ou judicial rela vo a criança ou adolescente a que se
disposto no art. 258 da Lei nº 8.069/1990, pois foram atribua ato infracional:
encontrados no evento Cabofolia, promovido por ela, Pena – multa de três a vinte salários de referência,
menores de 16 anos desacompanhados de seus pais aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
ou responsáveis e menores de 14 anos acompanha- § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou
dos de seus pais, em desobediência às normas legais. parcialmente, fotografia de criança ou adolescente
Após examinar o caso, o juiz aplicou multa de 20 envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração
salários. Posteriormente, não acolheu o recurso de que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam
apelação devido à falta de pagamento das custas ine-
atribuídos, de forma a permi r sua iden ficação,
rentes ao preparo. Inconformada, a empresa interpôs
direta ou indiretamente.
agravo de instrumento, mas o Tribunal de Jus ça do
Rio de Janeiro (TJ-RJ) negou o pedido, reconhecendo
não ter havido o pagamento das custas. Medidas Socioeduca vas
Segundo a jurisprudência do STJ, a aplicação de medida
Agravo interposto contra decisão que não co- socioeduca va ao adolescente pela prá ca de ato infracional
nheceu do recurso, tendo em vista a ausência de é de competência do exclusiva do juiz.
recolhimento das custas inerentes ao seu preparo. Verificada a prá ca de ato infracional, a autoridade com-
Hipótese de deserção, petente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
1) advertência;
diz um trecho da decisão. Embargos de declaração 2) obrigação de reparar o dano;
foram interpostos, mas rejeitados. 3) prestação de serviços à comunidade;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

No recurso especial dirigido ao STJ, a empresa alegou 4) liberdade assis da;


que o entendimento do tribunal carioca ofende o 5) inserção em regime de semiliberdade;
disposto nos arts. 198 da Lei nº 8.069/1990 e art. 519 6) internação em estabelecimento educacional;
do Código de Processo Civil. Afirmou, ainda, que foi 7) qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI do ECA.
orientada pelo setor encarregado do TJ-RJ a não
efetuar o recolhimento de custas. A medida socioeduca va aplicada ao adolescente levará
A Primeira Turma negou provimento ao recurso em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e
especial, destacando que a Corte, no julgamento de a gravidade da infração.
hipóteses parecidas, já firmou entendimento sobre As medidas que podem ser aplicadas pela autoridade
o assunto. competente ao adolescente que pra que ato infracional não
incluem a prestação de trabalhos forçados.
A isenção de custas e emolumentos prevista na Lei Os adolescentes portadores de doença ou deficiência
nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) mental receberão tratamento individual e especializado, em
deferida às crianças e adolescentes, na qualidade de local adequado as suas condições.

77
A imposição das medidas socioeduca vas previstas nos Conforme no cia veiculada no site www.stj.gov.br, o Su-
incisos II a VI do art. 112 do ECA pressupõe a existência de perior Tribunal de Jus ça decidiu que:
provas suficientes da autoria e da materialidade da infração,
ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127 Medida aplicada a infrator com problema mental
do mesmo diploma. deve ser compa vel com a limitação do menor
As medidas socioeduca vas poderão ser aplicadas isola- Adolescente infrator com problema mental deve
da ou cumula vamente, bem como subs tuídas a qualquer cumprir medida socioeduca va compa vel com sua
tempo. Por exemplo: limitação. Com esse entendimento, a Sexta Turma do
Superior Tribunal de Jus ça (STJ) concedeu habeas
Advertência Isoladamente corpus ao menor D.H., que estava internado num
estabelecimento educacional do interior paulista,
Advertência + Prestação de por cometer ato infracional equiparado a homicídio.
Cumula vamente.
Serviços à Comunidade.
Internação subs tuída pela Subs tuídas a A decisão do STJ, tomada por unanimidade pelos
semiliberdade. qualquer tempo. ministros que integram o colegiado, determina a
inserção do adolescente na medida socioeduca va
Da Advertência de liberdade assis da, além de recomendar o acom-
A advertência consis rá em admoestação verbal, que panhamento ambulatorial psiquiátrico, psicopeda-
será reduzida a termo e assinada. Cumpre ressaltar que a gógico e familiar do menor. Antes de ser concedida
advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova pelo STJ, a ordem de habeas corpus havia sido negada
da materialidade e indícios suficientes da autoria. pela primeira e pela segunda instância da Jus ça de
São Paulo.
Da Obrigação de Reparar o Dano
Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimo- Na ação impetrada no STJ, a defesa de D.H. alegou
niais, o magistrado poderá determinar, se for o caso, que o que ele corria risco de morte e que sua internação
adolescente res tua a coisa, promova o ressarcimento do em local fechado era ilegal, pois feria o art. 112
dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da ví ma. do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá A norma estabelece que a medida a ser aplicada ao
ser subs tuída por outra adequada. menor infrator deve levar em conta sua capacidade
de cumpri-la, o que, segundo a defesa, não ocorria
Da Prestação de Serviços à Comunidade com D.H., em razão de sua incapacidade mental e
A prestação de serviços comunitários consiste na rea- impossibilidade de assimilar o regime de internação.
lização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período
não excedente a seis meses, junto a en dades assistenciais, No voto proferido na sessão que julgou a causa
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, no STJ, o relator da ação, ministro Og Fernandes,
bem como em programas comunitários ou governamentais. asseverou que, por apresentar problemas mentais,
As tarefas serão atribuídas conforme as ap dões do ado- o adolescente não poderia ficar subme do a uma
lescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima medida ressocializadora da qual não raria proveito.
de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados O ministro ressaltou que a internação imposta ao
ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à adolescente possui caráter meramente retribu vo
escola ou à jornada normal de trabalho. (reprovação pelo mal cometido), destoando dos
Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admi da obje vos previstos no ECA, entre os quais está o de
a prestação de trabalho forçado. garan r a proteção jurídica a crianças e adolescentes
envolvidas em atos infracionais.
Da Liberdade Assis da A liberdade assis da é uma das medidas previstas
A liberdade assis da será adotada sempre que se afigurar no ECA que podem ser aplicadas pelo juiz da infân-
cia e juventude nos casos de infração come da por
a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar
adolescente. Ela permite que o menor cumpra a
e orientar o adolescente.
determinação judicial em liberdade junto à família,
A autoridade designará pessoa capacitada para acompa-
porém sob o controle do juizado e da comunidade.
nhar o caso, a qual poderá ser recomendada por en dade
ou programa de atendimento.
Do Regime de Semiliberdade
A liberdade assis da será fixada pelo prazo mínimo de
O regime de semiliberdade pode ser determinado desde
seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revo-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o início, ou como forma de transição para o meio aberto,


gada ou subs tuída por outra medida, ouvido o orientador,
possibilitada a realização de a vidades externas, indepen-
o Ministério Público e o defensor.
dentemente de autorização judicial.
Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da
São obrigatórias a escolarização e a profissionalização,
autoridade competente, a realização dos seguintes encargos,
devendo, sempre que possível, ser u lizados os recursos
dentre outros:
existentes na comunidade.
1) promover socialmente o adolescente e sua família,
A medida não comporta prazo determinado aplicando-se,
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário,
no que couber, as disposições rela vas à internação. Assim,
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência
a semiliberdade não comporta prazo determinado devendo
social;
ser reavaliada a cada 6 meses, não podendo exceder a 3 anos.
2) supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar
do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
6m 6m 6m 6m 6m
3) diligenciar no sen do da profissionalização do adoles-
cente e de sua inserção no mercado de trabalho;
4) apresentar relatório do caso. Semiliberdade 3 anos

78
Da Internação A medida não comporta prazo determinado, devendo
A internação cons tui medida priva va da liberdade, sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão funda-
sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e res- mentada, no máximo a cada seis meses.
peito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Em nenhuma hipótese o período máximo de internação
excederá a três anos.
Princípios que regem as Medidas Socioeduca va Pri-
va va de Liberdade
1. Princípio da Excepcionalidade – Em nenhuma hipótese 6m 6m 6m 6m 6m
será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
2. Princípio da Brevidade – as medidas socioeduca vas Internação 3 anos
priva vas de liberdade terão a duração necessária para que
o adolescente infrator volte a viver em sociedade.
Será permitida a realização de atividades externas, A ngido o limite de três anos o adolescente deverá
a critério da equipe técnica da en dade, salvo expressa ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de
determinação judicial em contrário. liberdade assis da.

1ª Hipótese:
Semiliberdade

Pode ocorrer a re-


gressão, nesse caso, Internação (no prazo 2ª Hipótese:
o menor deve ser máximo de três anos) Liberdade Assistida
ouvido

Aplica a Súmula 3ª Hipótese:


nº 265 do STJ Liberdade

Súmula nº 265, STJ: É necessária a oitiva do menor legislação comum (Código Civil). Por essas razões,
infrator antes de decretar-se a regressão da medida socio- o relator negou o pedido de Habeas Corpus, sendo
educa va. seguido pela maioria dos votos. Vencido o ministro
A liberação será compulsória aos vinte e um anos de Marco Aurélio, ao entender que o limite para aplica-
idade. O Código Civil de 2002, ao dispor sobre a capacidade ção atual do ECA são os 18 anos de idade.
civil, não revogou implicitamente o § 5º do art. 121 do ECA.
Senão vejamos a jurisprudência sobre o tema, extraída Medida Socioeduca va e Advento da Maioridade
do site www.s .gov.br: A Turma reafirmou jurisprudência da Corte no sen do
de que o a ngimento da maioridade não impede o
Maioridade civil e penal não ex ngue medida so- cumprimento de medida socioeduca va de semiliber-
cioeduca va dade e indeferiu Habeas Corpus em que se pleiteava
Por maioria dos votos, a Primeira Turma do Supremo a ex nção dessa medida aplicada ao paciente que,
Tribunal Federal (STF) negou Habeas Corpus (HC
durante o seu curso, a ngira a maioridade penal.
nº 97539) impetrado pela Defensoria Pública do
Sustentava a impetração constrangimento ilegal,
estado do Rio de Janeiro que pretendia ex nguir a
dado que, como o paciente completara a maiorida-
medida socioeduca va de semiliberdade imposta a
um menor, à época da infração. Atualmente, ao ter de civil – 18 anos – , e, portanto, alcançara a plena
completado 18 anos, ele a ngiu a maioridade civil imputabilidade penal, não teria mais legi mação
e penal. para sofrer a imposição dessa medida socioeduca-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

De acordo com a decisão do Superior Tribunal de va. Asseverou-se, todavia, que, se eventualmente
Jus ça (STJ), ques onada no HC, o ministro Carlos a medida socioeduca va superar o limite etário dos
Ayres Bri o (relator) afirmou que para a aplicação 18 anos, ela poderá ser executada até os 21 anos de
das medidas socioeduca vas, previstas no Estatuto idade, quando a liberação tornar-se-á compulsória.
da Criança e do Adolescente (ECA), “leva-se em Alguns precedentes citados: HC nº 91.441/RJ (DJU
consideração apenas a idade do menor ao tempo de 29/6/2007, 2ª Turma); HC nº 91490/RJ (DJU de
do fato, sendo irrelevante a circunstância de a ngir, 15/6/2007, 2ª Turma) e HC nº 94.938/RJ (DJE de
o adolescente, a maioridade civil ou penal durante 3/10/2008). HC nº 96.355/RJ, rel. Min. Celso de
o seu cumprimento”. Mello, 2ª Turma, 19/5/2009. (HC nº 96.355).
Ele completou ressaltando que a execução da medi-
da pode ocorrer até que o autor do ato infracional Medida Socioeduca va: Advento da Maioridade e
complete 21 anos. Convívio Familiar
Ao final, salientou que o fundamento da decisão é Por reputar indevida a imposição de bom comporta-
a prevalência da legislação especial (ECA) sobre a mento como condição para as a vidades externas e

79
para as visitas à família, a Turma deferiu, em parte, 2) pe cionar diretamente a qualquer autoridade;
Habeas Corpus para permi r a paciente inserido 3) avistar-se reservadamente com seu defensor;
no regime de semiliberdade a realização daquelas 4) ser informado de sua situação processual, sempre
benesses, sem a imposição de qualquer condiciona- que solicitada;
mento pelo Juízo da Vara da Infância e Juventude. 5) ser tratado com respeito e dignidade;
Salientou-se que o Estado deve assegurar à criança 6) permanecer internado na mesma localidade ou naque-
e ao adolescente o direito à convivência familiar (CF, la mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
art. 227, caput) e que o Estatuto da Criança e do Ado- 7) receber visitas, ao menos, semanalmente;
lescente – ECA tem por obje vo a proteção integral 8) corresponder-se com seus familiares e amigos;
do menor, garan ndo sua par cipação na vida fami- 9) ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio
liar e comunitária. Consignou-se, ainda, que o art. 120 pessoal;
do ECA permite a realização de a vidades externas, 10) habitar alojamento em condições adequadas de
independentemente de autorização judicial, bem higiene e salubridade;
como que as restrições a direitos de adolescentes só 11) receber escolarização e profissionalização;
devem ser aplicadas em casos extremos em decisões 12) realizar a vidades culturais, espor vas e de lazer:
fundamentadas. De outro lado, rejeitou-se o pedido 13) ter acesso aos meios de comunicação social;
de ex nção da medida socioeduca va aplicada ao 14) receber assistência religiosa, segundo a sua crença,
paciente que, durante seu cumprimento, a ngira a e desde que assim o deseje;
maioridade penal. Asseverou-se que a projeção da 15) manter a posse de seus objetos pessoais e dispor
medida socioeduca va de semiliberdade para além de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante
dos 18 anos decorreria da remissão às disposições daqueles porventura depositados em poder da en dade;
legais a nentes à internação. Ademais, aduziu-se que 16) receber, quando de sua desinternação, os documen-
o ECA não determina, em nenhum dos seus precei- tos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
tos, o fim da referida medida quando o adolescente
completar 18 anos de idade. HC nº 98518/RJ, rel. Em nenhum caso haverá de o interno permanecer in-
Min. Eros Grau, 2ª Turma, 25/5/2010. (HC nº 98518) comunicável.
A autoridade judiciária poderá suspender temporaria-
Hipóteses de aplicação da medida socioeduca va de mente a visita, inclusive de pais ou responsável, se exis rem
internação mo vos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos inte-
resses do adolescente.
É dever do Estado zelar pela integridade sica e mental
dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de
contenção e segurança.

Prescrição das medidas socioeduca vas


De acordo com a Súmula nº 338 do STJ, a prescrição penal
é aplicável nas medidas socioeduca vas.

Princípio da Insignificância: Ato Infracional e Pres-


crição

[...] Por considerar ausente o interesse de agir, a Tur-


ma, em votação majoritária, não conheceu de habeas
corpus em que se pleiteava a incidência do princípio
da insignificância a menor acusado pela suposta prá-
ca de ato infracional equivalente ao delito pificado
A medida socioeduca va de internação deve ser aplica-
no art. 155, § 4º, IV, do CP, c/c o art. 14, II, ambos
da quando presente uma das circunstâncias do rol taxa vo
do CP, em decorrência da tenta va de subtração de
previsto no ECA.
três calças jeans. Na espécie, o Ministro relator no
De acordo com a jurisprudência do STJ, o adolescente
STJ declarara, em recurso especial, a prescrição da
deve pra car três infrações graves para que configure a 2ª pretensão estatal no tocante à aplicação da medida
hipótese. socioeduca va. Sustentava a impetração, todavia,
O prazo de internação na 3ª hipótese não poderá ser que o relator do especial não cogitara da possibili-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

superior a três meses. dade de aplicar o princípio da insignificância ao caso


A internação deverá ser cumprida em en dade exclusiva em tela, apesar de ter sido este ven lado nas razões
para adolescentes, em local dis nto daquele des nado ao recursais. Pleiteava, nesse sen do, o reconhecimen-
abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, to da falta de picidade da conduta, com base no
compleição sica e gravidade da infração. É o princípio da mencionado princípio, por reputar mais benéfico ao
individualização da medida socioeduca va. paciente, registrando que a medida socioeduca va
Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de só não ocorrera em virtude da prescrição.
autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
Durante o período de internação, inclusive provisória, [...] Aduziu-se, inicialmente, não se vislumbrar como
serão obrigatórias a vidades pedagógicas. outra decisão – que aplicasse o aludido princípio –
São direitos do adolescente privado de liberdade, entre pudesse ser mais benéfica ao paciente, dado que
outros, os seguintes: o reconhecimento da prescrição apagaria todos os
1) entrevistar-se pessoalmente com o representante do efeitos do pretenso ato infracional por ele come do.
Ministério Público; Assentou-se, assim, que o writ careceria de uma das

80
condições da ação, qual seja, o interesse de agir, em de combate à dependência química (ECA, art. 101,
face da inu lidade da medida requerida. Salientou- VI). HC nº 98.381/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
-se, ademais, que a questão acerca da aplicação do 2ª Turma, 20/10/2009. (HC nº 98.381)
princípio da insignificância sequer fora apreciada pelo
relator no tribunal a quo, em razão da ausência de pre- O STJ tem entendimento no mesmo sen do, conforme se
ques onamento. Ressaltou-se, destarte, não caber vê em no cia veiculada no site www.stj.gov.br , em 2/9/2009:
ao STF o reexame dos requisitos de admissibilidade
de recurso interposto nas instâncias inferiores. Ven- [...] Quinta Turma aplica princípio da insignificância
cido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que conhecia no ECA para ex nguir processo.
do Habeas Corpus por entender que a configuração É possível o reconhecimento do princípio da insignifi-
do crime de bagatela – que levaria à absolvição pela cância nas condutas regidas pelo Estatuto da Criança
a picidade – mostrar-se-ia, nas circunstâncias, mais e do Adolescente (ECA). Com esse entendimento,
favorável do que a conclusão quanto à prescrição da a Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ)
pretensão puni va. Quanto ao não enfretamento da não conheceu do recurso especial em favor do menor
matéria pelo STJ, asseverava que este poderia, ante o M.C., mas concedeu de o cio (reconheceu o direito)
contexto, conceder a ordem de o cio, desde que se o Habeas Corpus para aplicar a tese e ex nguir o pro-
convencesse estar diante de uma ilegalidade passível cesso por crime de furto contra o jovem acusado de
de repercu r na liberdade de ir e vir do paciente. levar três barras de chocolate de um supermercado,
HC nº 96.631/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, avaliadas em R$ 12,00.
1ª Turma, 20/10/2009. (HC nº 96.631) A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul recorreu
ao STJ contra a decisão do Tribunal de Jus ça daquele
Além da prescrição penal, o princípio da insignificância estado que manteve o andamento do processo contra
também é aplicado às medidas socioeduca vas. Sobre o o menor por crime de furto. Os defensores alegaram
tema decidiu o STF, conforme no cia veiculada no site www. violação de vários ar gos do ECA (arts. 103, 114, 121,
s .gov.br: 122 e 152) e também do Código Penal, sustentando
a possibilidade de aplicação do princípio da insigni-
Princípio da Insignificância e Aplicação em Ato ficância aos procedimentos de inves gação de atos
Infracional infracionais envolvendo menores.
[...] Em face da peculiaridade do caso, a Turma inde- Ao analisar o pedido, o relator do recurso, ministro
feriu Habeas Corpus no qual se pleiteava a aplicação Arnaldo Esteves Lima, entendeu que nele faltaram
do princípio da insignificância a menor acusado os requisitos legais necessários para o conhecimento
pela prá ca de ato infracional equiparado ao delito do recurso especial (ausência de preques onamento
pificado no art. 155, § 4º, IV do CP, consistente dos disposi vos de lei dos por violados). Porém,
na subtração de uma ovelha no valor de R$ 90,00 ressaltou que já existe um precedente, de sua própria
(noventa reais). Na espécie, magistrada de primeira relatoria, que reconhece a possibilidade de aplicar
instância rejeitara a inicial da representação com base o princípio da insignificância nas condutas regidas
pelo ECA.
no citado princípio, tendo tal decisão, entretanto,
A subtração de três barras de chocolate avaliadas em
sido cassada pelo tribunal local e man da pelo STJ.
R$12,30 por dois adolescentes, embora se amolde
Sustentava a impetração que a lesão econômica
à definição jurídica do crime de furto, não ultrapas-
sofrida pela ví ma seria insignificante, tomando-se
sa o exame da picidade material, mostrando-se
por base o patrimônio desta, além de ressaltar que
desproporcional a sanção penal, uma vez que a
não houvera ameaça ou violência contra a pessoa.
ofensividade das condutas se mostrou mínima; não
houve nenhuma periculosidade social da ação; a
[...]Preliminarmente, observou-se que esta Turma já
reprovabilidade dos comportamentos foi de grau
reconhecera a possibilidade de incidência do princí-
reduzidíssimo e a lesão ao bem jurídico se revelou
pio da insignificância em se tratando de ato pra ca-
inexpressiva, concluiu, sendo acompanhado pelos
do por menor (HC nº 96.520/RS, 1ª Turma, DJE de
demais ministros da Turma.
24/4/2009). Na presente situação, assinalou-se que
não se encontraria maior dificuldade em considerar Art. 109, CP:
sa sfeitos os requisitos necessários à configuração do
delito de bagatela, quais sejam, conduta minimamen-
Pena: Prescreve em: Internação:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

te ofensiva, ausência de periculosidade do agente,


reduzido grau de reprovabilidade do comportamento Até 1 ano 3 anos Não pode exceder três
e lesão jurídica inexpressiva. Mencionou-se, por ou- De 1 a 2 anos 4 anos anos.
De 2 a 4 anos 8 anos Adolescente/Jovem
tro lado, que o adolescente registraria antecedentes
De 4 a 8 anos 12 anos Adulto
pela prá ca de outros atos infracionais, tendo sofri-
De 8 a 12 anos 16 anos Art. 115, CP: aplica-se a
do medida socioeduca va, além de ser usuário de
> 12 anos 20 anos metade do prazo pres-
substâncias entorpecentes. Tendo em conta o caráter cricional previsto no
educa vo, protetor das medidas previstas no Estatuto Código Penal.
da Criança e do Adolescente – ECA, asseverou-se
que não pareceria desarrazoado o que fora decidido Remissão
pela Corte de origem, ou seja, a aplicação de medida Não se pode confundir a remição da Lei de Execução
consistente na liberdade assis da, pelo prazo de seis Penal com a remissão prevista no ECA.
meses – mínimo previsto pelo art. 188 do ECA – , além A remissão pode ser concedida tanto pelo juiz como pelo
de sua inclusão em programa oficial ou comunitário promotor de Jus ça.

81
A remissão, como forma de ex nção ou suspensão do ausência implicaria nulidade do ato, conforme pre-
processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do proce- ceituam os arts. 186, § 1º, e 204, do ECA (“Art. 186.
dimento, antes da sentença. Comparecendo o adolescente, seus pais ou respon-
Recentemente, a 2ª Turma do STF, entendeu que é im- sável, a autoridade judiciária procederá à oi va dos
prescindível a manifestação do Órgão do Ministério Público mesmos, podendo solicitar opinião de profissional
antes da concessão da remissão pelo juiz, senão vejamos: qualificado. § 1º Se a autoridade judiciária entender
adequada a remissão, ouvirá o representante do
Ministério Público, proferindo decisão.
Remissão e Necessidade de Oitiva do Ministério
[...] Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Pú-
Público blico acarreta a nulidade do feito, que será declarada
de o cio pelo juiz ou a requerimento de qualquer
É imprescindível a manifestação do Ministério Públi- interessado”). HC nº 96.659/MG, rel. Min. Gilmar
co para a concessão, pelo magistrado, de remissão Mendes, 28/9/2010. (HC nº 96.659)
ex n va em procedimento judicial de apuração de
ato infracional. Com base nessa orientação, a Turma Nos termos da Lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança
indeferiu habeas corpus no qual se sustentava a e do Adolescente – o Ministério Público poderá conceder a
possibilidade de outorga desse bene cio ao paciente remissão, antes de iniciado o procedimento judicial, como
sem a prévia oi va do parquet. Asseverou-se que tal forma de exclusão do processo.

A aplicação de medida socioeduca va cumulada com Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente
remissão não enseja necessariamente o reconhecimento da O adolescente apreendido por força de ordem judicial
autoria e da materialidade do ato infracional. será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. Já o
A remissão não implica necessariamente o reconheci- adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será,
mento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece desde logo, encaminhado à autoridade policial competente.
Havendo repar ção policial especializada para atendi-
para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente
mento de adolescente e em se tratando de ato infracional
a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto pra cado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição
a colocação em regime de semiliberdade e a internação. da repar ção especializada, que, após as providências neces-
Assim, é possível cumular remissão com medida socioedu- sárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repar ção
ca va. policial própria.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Assim, são possíveis as seguintes hipóteses: Em caso de flagrante de ato infracional come do median-
te violência ou grave ameaça contra a pessoa, a autoridade
Remissão + advertência policial, sem prejuízo do disposto deverá:
Remissão + prestação de serviços comunitários 1) lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
o adolescente;
Remissão + reparação do dano
2) apreender o produto e os instrumentos da infração;
Remissão + liberdade assis da 3) requisitar os exames ou perícias necessários à com-
provação da materialidade e autoria da infração.
Exceção: não é possível cumular a remissão com inter- Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto
nação ou semiliberdade. poderá ser subs tuída por bole m de ocorrência circuns-
tanciada.
(1) O recurso cabível contra o ato judicial que concede Comparecendo qualquer dos pais ou responsável,
remissão é a apelação quando houver ex nção do o adolescente será prontamente liberado pela autoridade
processo, no prazo de dez dias. policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de

82
sua apresentação ao representante do Ministério Público, Segundo a jurisprudência do STJ, deverá o menor estar
no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia ú l acompanhado de seus pais ou responsável, ao ser ouvido
imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional informalmente pelo membro do Ministério Público. É as-
e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer segurado ao adolescente infrator o direito de solicitar a
sob internação para garan a de sua segurança pessoal ou presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do
manutenção da ordem pública. procedimento.
Em caso de não liberação, a autoridade policial encami- Em caso de não apresentação, o representante do
nhará, desde logo, o adolescente ao representante do Minis- Ministério Público no ficará os pais ou responsável para
tério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso
ou bole m de ocorrência. das polícias civil e militar.
Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade O representante do Ministério Público poderá:
policial encaminhará o adolescente à en dade de atendimen- I – promover o arquivamento dos autos;
to, que fará a apresentação ao representante do Ministério II – conceder a remissão;
Público no prazo de vinte e quatro horas. III – representar à autoridade judiciária para aplicação
Nas localidades onde não houver en dade de atendimen- de medida socioeduca va.
to, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta
de repar ção policial especializada, o adolescente aguardará Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a
a apresentação em dependência separada da des nada a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante
maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os au-
prazo referido no parágrafo anterior. tos serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.
Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial enca- Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
minhará imediatamente ao representante do Ministério Pú- judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da
blico cópia do auto de apreensão ou bole m de ocorrência. medida.
Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos
par cipação de adolescente na prá ca de ato infracional, a au- autos ao Procurador-Geral de Jus ça, mediante despacho
toridade policial encaminhará ao representante do Ministério fundamentado, e este oferecerá representação, designará
Público relatório das inves gações e demais documentos. outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou
O adolescente a quem se atribua autoria de ato in- ra ficará o arquivamento ou a remissão, que só então estará
fracional não poderá ser conduzido ou transportado em a autoridade judiciária obrigada a homologar.
compar mento fechado de veículo policial, em condições Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Pú-
atentatórias a sua dignidade, ou que impliquem risco a sua blico não promover o arquivamento ou conceder a remissão,
integridade sica ou mental, sob pena de responsabilidade. oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo
Apresentado o adolescente, o representante do Minis- a instauração de procedimento para aplicação da medida
tério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, socioeduca va que se afigurar a mais adequada.
bole m de ocorrência ou relatório policial, devidamente A representação será oferecida por pe ção, que conterá
autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional
antecedentes do adolescente, procederá imediata e infor- e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser
malmente a sua oi va e, em sendo possível, de seus pais ou deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela auto-
responsável, ví ma e testemunhas. ridade judiciária.

Encaminha os
autos ao PGJ
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

A representação, que equivale à denúncia no processo Se os pais ou responsável não forem localizados, a auto-
penal, independe de prova pré-cons tuída da autoria e ridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
materialidade. Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judici-
Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará ária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando
audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde
o sobrestamento do feito, até a efe va apresentação.
logo, sobre a decretação ou manutenção da internação provisória.
O adolescente e seus pais ou responsável serão cien fi- Estando o adolescente internado, será requisitada a
cados do teor da representação, e no ficados a comparecer sua apresentação, sem prejuízo da no ficação dos pais ou
à audiência, acompanhados de advogado. responsável.

83
A internação, decretada ou man da pela autoridade judi- va a ser imposta pelo juízo fosse iniciada após o
ciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional. trânsito em julgado da sentença. Quanto a isso,
Inexistindo na comarca entidade para que o menor a jurisprudência que se formou em torno da in-
cumpra a medida socioeduca va, o adolescente deverá ser terpretação do art. 198, VI, do ECA (revogado pela
imediatamente transferido para a localidade mais próxima. Lei nº 12.012/2009) firmou-se no sen do de que
Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente a sentença que insere o adolescente na medida
aguardará sua remoção em repar ção policial, desde que socioeduca va possui apenas o efeito devolu vo,
em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, o que não obsta o imediato cumprimento da medi-
não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob da aplicada, salvo quando há possibilidade de dano
pena de responsabilidade. irreparável ou de di cil reparação, caso em que o
Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, apelo também é recebido no efeito suspensivo. No
a autoridade judiciária procederá à oi va dos mesmos, po- caso dos autos, não há como aferir a legalidade dessa
dendo solicitar opinião de profissional qualificado.
eventual medida. Daí que não há coação ou ameaça
Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão,
concreta de lesão à liberdade de locomoção do pa-
ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo
ciente a afastar seu interesse de agir, imprescindível
decisão.
ao conhecimento da impetração ora em grau de
Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida
de internação ou colocação em regime de semiliberdade, recurso. Precedentes citados: RHC nº 21.380-RS, 5ª
a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não Turma, DJe 2/2/2009; HC nº82.813-MG, 5ª Turma,
possui advogado cons tuído, nomeará defensor, designando, DJ 1º/10/2007, e HC nº 54.633-SP, 5ª Turma, DJe
desde logo, audiência em con nuação, podendo determinar 26/5/2008. RHC nº 26.386-PI, Rel. Min. Laurita Vaz,
a realização de diligências e estudo do caso. 5ª Turma, julgado em 18/5/2010.
O advogado cons tuído ou o defensor nomeado, no
prazo de três dias contado da audiência de apresentação, Processo Penal x ECA
oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
Na audiência em con nuação, ouvidas as testemunhas A 2ª Turma do STF decidiu que o princípio da iden dade
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as sica do juiz não se aplica ao procedimento de aplicação de
diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, medida socioeduca va previsto no ECA:
será dada a palavra ao representante do Ministério Público e
ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos ECA: rito e princípio da iden dade sica do juiz
para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da auto- A 2ª Turma negou provimento a recurso ordinário em
ridade judiciária, que em seguida proferirá decisão. habeas corpus no qual se pugnava pelo reconheci-
Se o adolescente, devidamente no ficado, não com- mento de nulidade da decisão que impusera a menor
parecer, injus ficadamente à audiência de apresentação, o cumprimento de medida socioeduca va de semili-
a autoridade judiciária designará nova data, determinando berdade, pela prá ca de ato infracional equiparado
sua condução coerci va. Não há no procedimento citação ao crime de roubo circunstanciado em concurso de
por edital e também não haverá suspensão da prescrição. agentes. A defesa alegava que, no rito em questão,
A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, não teria sido observado o disposto no art. 399, §
desde que reconheça na sentença: 2º, do CPP (“Recebida a denúncia ou queixa, o juiz
1) estar provada a inexistência do fato; designará dia e hora para a audiência, ordenando a
2) não haver prova da existência do fato; in mação do acusado, de seu defensor, do Ministério
3) não cons tuir o fato ato infracional; Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.
4) não exis r prova de ter o adolescente concorrido para [...] § 2º O juiz que presidiu a instrução deverá pro-
o ato infracional. ferir a sentença.”). Sustentava, também, não haver
fundamentação idônea para a aplicação da referida
Caso ocorra uma das hipóteses mencionadas, estando medida. Aduziu-se, inicialmente, que o princípio da
o adolescente internado, será imediatamente colocado em iden dade sica do juiz não se aplicaria ao procedi-
liberdade. mento previsto no ECA, uma vez que esse diploma
A in mação da sentença que aplicar medida de internação possuiria rito processual próprio e fracionado, diverso
ou regime de semiliberdade será feita ao adolescente e ao seu do procedimento comum determinado pelo CPP. A
defensor. Quando não for encontrado o adolescente, seus pais seguir, reputou-se que o recorrente teria come do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou responsável serão in mados, sem prejuízo do defensor. ato infracional caracterizado pela violência e grave
Sendo outra a medida aplicada, a in mação far-se-á ameaça à pessoa, de modo que estaria devidamente
unicamente na pessoa do defensor. Recaindo a in mação na jus ficada a aplicação da medida socioeduca va im-
pessoa do adolescente, deverá este manifestar se deseja ou posta. RHC nº 105.198/DF, rel. Min. Gilmar Mendes,
não recorrer da sentença. 23/11/2010. (RHC nº 105.198)
Não há necessidade de se aguardar o trânsito em julgado
da sentença que aplicou a medida socioeduca va para que o
Processo penal ECA
menor comece a cumpri-la, senão vejamos o que STJ decidiu:
Denúncia ou queixa crime Representação
MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. CUMPRIMENTO. TRÂN- Ação penal pública ou privada Ação socioeduca va
SITO EM JULGADO
Pena ou medida de segurança Medida socioeduca va
No Habeas Corpus preventivo, pretendia-se que Maior Menor infrator
o cumprimento de eventual medida socioeduca- ou jovem adulto

84
Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Cole vos e Indi- Interesses cole vos
viduais Indisponíveis ou Homogêneos
[...] são cole vos somente os interesses que com-
Antes de entrarmos no assunto da defesa dos direitos da preendem uma categoria determinada, ou pelo
criança e do adolescente em juízo, vale a pena citar as defi- menos determinável de pessoas, dizendo respeito a
nições do Ilustre Professor Fernando Capez acerca do tema: um grupo, classe ou categoria de indivíduos, ligados
pela mesma relação jurídica básica (art. 81, parágrafo
Interesse privado único, II, do CDC. Do mesmo modo que os difusos,
os interesses cole vos têm natureza indivisível, na
O interesse qualifica-se como privado quando ver medida em que não podem ser par lhados individu-
como tular o cidadão individualmente considerado.1 almente entre os seus tulares.8
Exemplos: o interesse do indivíduo em defender sua Interesses individuais homogêneos
propriedade privada contra turbações; o interesse na
cobrança de uma dívida; o interesse na redução do São os direitos individuais cujo tular é perfeitamente
valor loca cio de um imóvel etc. iden ficável e cujo objeto é divisível. Diferenciam-se,
pois, dos interesses cole vos, em virtude da divisi-
Interesse público
bilidade do direito tularizado pelos vários sujeitos.
O que caracteriza um direito individual como ho-
[...] a expressão ‘interesse público’ tem sido u liza-
da para alcançar também os chamados interesses mogêneo é a natureza comum, similar, semelhante
sociais, os interesses indisponíveis do indivíduo e entre os interesses de cada um dos vários tulares.9
da cole vidade, os interesses difusos, cole vos e
individuais homogêneos, que podem não coincidir Análise do Ar go 208 do ECA
com os interesses estatais.2 Regem-se pelas disposições da Lei nº 8.069/1990 as
ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegu-
Interesse público primário rados à criança e ao adolescente, referentes ao não ofere-
cimento ou oferta irregular:
[...] o interesse público primário é o interesse do 1) do ensino obrigatório;
bem geral, ou seja, o interesse da sociedade ou da 2) de atendimento educacional especializado aos porta-
cole vidade como um todo.3 dores de deficiência;
3) de atendimento em creche e pré-escola às crianças
Interesse público secundário de zero a seis anos de idade;
4) de ensino noturno regular, adequado às condições
É o interesse público visto pelos órgãos da Admi- do educando;
nistração, ou melhor, o modo pelo qual os órgãos 5) de programas suplementares de oferta de material
administra vos veem o interesse público.4 didá co-escolar, transporte e assistência à saúde do edu-
cando do ensino fundamental;
Interesses metaindividuais ou transindividuais 6) de serviço de assistência social visando à proteção à fa-
mília, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como
Ao lado do interesse meramente privado e do in- ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
teresse público secundário, existe uma categoria 7) de acesso às ações e serviços de saúde;
intermediária, na qual se encontram os interesses 8) de escolarização e profissionalização dos adolescentes
cole vos, ou seja, aqueles referentes a toda uma privados de liberdade;
categoria de pessoas (condôminos de um edi cio, 9) de ações, serviços e programas de orientação, apoio e
sócios de uma empresa, atletas de uma equipe es- promoção social de famílias e des nados ao pleno exercício
por va, empregados do mesmo patrão).5 do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes;
10) de programas de atendimento para a execução
Um interesse é metaindividual quando, além de das medidas socioeduca vas e aplicação de medidas de
ultrapassar o círculo individual, corresponde aos proteção.
anseios de todo um segmento ou categoria social.6
As hipóteses previstas no art. 208 do ECA não excluem
Interesses difusos da proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
cole vos, próprios da infância e da adolescência, protegidos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

São aqueles em que os tulares não são previamen- pela Cons tuição e pela Lei.
te determinados ou determináveis e encontram-se
ligados por circunstâncias de fato. São interesses Análise do art. 209 do ECA
indivisíveis e, embora comuns a uma categoria mais Dispõe a norma em destaque:
ou menos abrangentes de pessoas, não se pode afir-
mar com precisão a quem pertencem, nem em que As ações previstas neste Capítulo serão propostas no
medida quan ta va são por elas compar lhados.7 foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação
ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta
1
para processar a causa, ressalvadas a competência
CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, p. 185.
2
Ibid., p.186. da Jus ça Federal e a competência originária dos
3
Ibid., p.186. tribunais superiores.
4
Ibid., p.186.
5
Ibid., p.187.
6 8
Ibid., p.187. Ibid., p.190.
7 9
Ibid., p.187. Ibid., p.190.

85
Com a maestria de sempre, o Professor Fernando Capez A legi mação ordinária na visão do Professor Fernan-
nos ensina: do Capez

Na tutela de interesses difusos, cole vos e individuais Todo o nosso sistema jurídico foi concebido para a
homogêneos, a competência é a do lugar do dano. defesa clássica de interesses por meio da legi mação
Essa regra tem por obje vo facilitar o ajuizamento ordinária, de modo que cada lesado somente pode
da ação civil pública ou cole va e a coleta da prova. defender seu próprio interesse.10
Trata-se de competência absoluta, inderrogável ou
improrrogável por vontade das partes. Quando o [...] É o que depreende do disposto no art. 6º do CPC:
dano ocorrer em mais de uma comarca, com mais “Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito
de um juízo igualmente competente, o critério de alheio, salvo quando autorizado por lei”.11
determinação da competência será o do da preven-
ção, contanto que o dano não tenha repercussão A legi mação extraordinária na visão do Professor Fer-
estadual ou nacional [...]. Se o dano ou a ameaça de nando Capez
dano ver o caráter estadual ou nacional, nesse caso
se deve aplicar, analogicamente, a regra do art. 93, É a possibilidade de alguém, em nome próprio,
II, do CDC.C defender interesse alheio. Nesse caso, configura-se
verdadeira subs tuição processual, inconfundível
Nos casos de competência concorrente, aplicam-se com a representação, em que alguém, em nome
as regras do CPC.C alheio, defende o interesse alheio.12

Análise do caput do art. 210 do ECA A defesa judicial dos interesses difusos e cole vos
Rege o disposi vo em comento:
Capez diz que:
Para as ações cíveis fundadas em interesses cole vos
ou difusos, consideram-se legi mados concorren- Conforme salienta HUGO NIGRO MAZZILLI, “antes
temente: do advento da Lei nº 7.347, de 24/7/1985, poucas
I – o Ministério Público; fórmulas havia para a defesa global, em juízo, de
II – a União, os estados, os municípios, o Distrito interesses difusos e cole vos. Além da ação popular
Federal e os territórios; ajuizada pelo cidadão e da ação civil conferida ao MP,
III – as associações legalmente cons tuídas há pelo en dades de classe ou associações também estavam
menos um ano e que incluam entre seus fins ins tu- autorizadas a postular interesses cole vos, em juízo”,
cionais a defesa dos interesses e direitos protegidos desde que houvesse lei expressa permi ndo essa
por esta Lei, dispensada a autorização da assembleia, inicia va... Então, para disciplinar a ação civil pública
de responsabilidade por danos causados a interesses
se houver prévia autorização estatutária.
difusos, surgiu a Lei nº 7.347/1985, que passou a ser
conhecida como Lei da Ação Civil Pública ou Lei de
O Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa
Proteção aos Interesses Difusos.13
do Consumidor, o Estatuto do Idoso e a Lei de Ação Civil
Pública formam um microssistema, o que permite dizer que A Cons tuição de 1988 e a legislação sobre interesses
a Defensoria Pública também pode defender os interesses difusos, cole vos e individuais homogêneos
das crianças e adolescentes em juízo, senão vejamos o que
dispõe o art. 5º da Lei nº 7.347/1985: Capez professa:
Têm legi midade para propor a ação principal e a Com a Cons tuição de 1988, ampliou-se o rol dos
ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, legitimados ativos para a defesa dos interesses
de 2007) transindividuais. Entre os direitos e deveres indivi-
I – o Ministério Público; (Redação dada pela Lei duais e cole vos, a Lei Maior conferiu às en dades
nº 11.448, de 2007) associa vas, quando expressamente autorizadas,
II – a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei a legi midade para representar seus filiados judi-
nº 11.448, de 2007) cial ou extrajudicialmente. Cuidou do mandado de
III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- segurança cole vo, que pode ser impetrado por
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nicípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007) par do polí co, organização sindical, en dade de
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou classe ou associação legalmente cons tuída e em
sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei funcionamento há pelo menos um ano, em defesa
nº 11.448, de 2007) dos seus membros ou associados. Cometeu ao sindi-
V – a associação que, concomitantemente: (Incluído cato a defesa dos direitos e dos interesses cole vos
pela Lei nº 11.448, de 2007) ou individuais da categoria não só em questões
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano judiciais como administra vas. Conferiu ampla le-
nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, gi mação ao MP para a propositura de ações civis
de 2007) públicas e para a defesa de interesses cole vos e
b) inclua, entre suas finalidades ins tucionais, a pro- difusos. Permi u aos índios, às suas comunidades e
teção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
10
econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio Ibid., p.193
11
Ibid., p.193
ar s co, esté co, histórico, turís co e paisagís co. 12
Ibid., p.193
(Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007) 13
Ibid., p.195

86
às suas organizações a legi mação a va para ações As associações civis, sociedades de economia mista,
em defesa de seus interesses. Ampliou, também, fundações ou empresas públicas ficam, portanto,
as hipóteses de propositura da ação popular pelo excluídas da possibilidade de celebrar a transação.17
cidadão e o rol dos legi mados a vos para a ação
de incons tucionalidade.14 Análise do caput do art. 212 do ECA
Rege a norma em tes lha:
Obje vando viabilizar a defesa em juízo de interes-
ses difusos, cole vos e individuais homogêneos, Para defesa dos direitos e interesses protegidos por
sobrevieram: esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações
a) a Lei nº 7.853, de 24/10/1989, para a defesa das per nentes.
pessoas portadoras de deficiências;
b) a Lei nº 7.913, de 7/12/1989, sobre a responsa- No disposi vo em estudo está preconizado o Princípio
bilidade por danos causados aos inves dores no da máxima amplitude ou da a picidade ou não taxa vida-
mercado de valores mobiliários; de do processo cole vo, e assim para a tutela dos direitos
c) a Lei nº 8.069, de 13/7/1990, que dispõe sobre metaindividuais são admissíveis todas as espécies de ação.
o ECA; e
d) a Lei nº 8.884, de 11/6/1994, para a ação de Análise do art. 213 do ECA
responsabilidade por danos morais e patrimoniais Rege o art. 213:
causados por infração de ordem econômica.15
Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá
Podemos incluir no rol mencionado por Capez, mais
a tutela específica da obrigação ou determinará
três leis: o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto do
providências que assegurem o resultado prático
Idoso e a Lei Maria da Penha. É a expressão do Princípio da equivalente ao do adimplemento.
Integra vidade do Microssistema Processual Cole vo. § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e
Admi r-se-á li sconsórcio faculta vo entre os Ministé- havendo jus ficado receio de ineficácia do provimen-
rios Públicos da União e dos estados na defesa dos interesses to final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente
e direitos de que cuida o Estatuto da Criança e o Adolescente. ou após jus ficação prévia, citando o réu.
Em caso de desistência ou abandono da ação por asso- § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
ciação legi mada, o Ministério Público ou outro legi mado ou na sentença, impor multa diária ao réu, indepen-
poderá assumir a tularidade a va. dentemente de pedido do autor, se for suficiente ou
Comentando a Lei de Ação Civil Pública, Capez nos compa vel com a obrigação, fixando prazo razoável
ensina que: para o cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito
Em consequência da legi mação concorrente, a Lei em julgado da sentença favorável ao autor, mas será
nº 7.347/1985 permite o li sconsórcio a vo entre os devida desde o dia em que se houver configurado o
legi mados para a ação civil pública. Assim, qualquer descumprimento.
dos legi mados do art. 5º da Lei pode ingressar em
juízo, isoladamente ou em li sconsórcio com algum Sobre o tema o Professor Fernando Capez nos ensina:
outro colegi mado.’ É possível qualquer hipótese
de li sconsórcio a vo nas ações civis públicas ou Quando o objeto da ação civil pública ou cole va
cole vas entre os respec vos legi mados a vos.16 for a execução de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz poderá impor o cumprimento de prestação da
Análise do art. 211 do ECA a vidade devida ou a cessação da a vidade nociva,
Dispõe o ar go em comento: sob pena de execução específica ou de cominação de
multa diária, se esta for suficiente ou compa vel.18
Os órgãos públicos legi mados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua Coisa diversa da multa diária é a multa liminar,
conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de fixada ini o li s (negritamos), a tulo de medida
tulo execu vo extrajudicial. de cautela. A multa liminar é aquela imposta em
juízo de cognição parcial da lide, com o intuito de
Sobre o compromisso de ajustamento o Professor Fer- obter de imediato a cessação da a vidade nociva.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nando Capez nos ensina: Embora exigível somente após o trânsito em julgado
da decisão favorável ao autor, será devida desde o
descumprimento da cominação liminar.19
A norma do art. 5º, § 6º, da Lei da Ação Civil Pública,
introduzida pelo art. 113 do CDC, passou a admi r
Cumpre ressaltar que os valores das multas reverterão
o compromisso de ajustamento, em matéria de de-
ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do
fesa de interesses difusos e cole vos. Desse modo,
Adolescente do respec vo município.
os órgãos públicos legi mados podem tomar dos
As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito
interessados o compromisso de ajustamento de sua
em julgado da decisão serão exigidas através de execução
conduta às exigências legais. Ocorre que, dentre os
promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, fa-
legi mados a vos, nem todos são órgãos públicos. cultada igual inicia va aos demais legi mados.
14 17
Ibid., p.195 Ibid., p.212
15 18
Ibid., p.196 Ibid., p.212
16 19
Ibid., p.209 Ibid., p.213

87
Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro informações sobre fatos que cons tuam objeto de ação civil,
ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em e indicando-lhe os elementos de convicção.
conta com correção monetária. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais
verem conhecimento de fatos que possam ensejar a pro-
Análise do art. 217 do ECA positura de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público
Dispõe o art. 217 do ECA: para as providências cabíveis.
Para instruir a pe ção inicial, o interessado poderá re-
Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da
sentença condenatória sem que a associação autora querer às autoridades competentes as cer dões e informa-
lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério ções que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo
Público, facultada igual inicia va aos demais legi - de quinze dias.
mados. Sobre a atuação do Ministério Público, o Professor Fer-
nando Capez entende que:
O mestre Fernando Capez nos ensina:
[...] a Lei nº 7.347/1985 estabeleceu, no seu art. 5º,
Na ação civil pública ou coletiva, sobrevindo a § 1º, que: ‘O Ministério Público, se não intervier no
condenação, qualquer dos colegitimados ativos processo como parte, atuará obrigatoriamente como
pode promover a execução. A sentença que julgar fiscal da lei’. Com esse disposi vo, busca-se garan r
procedente o pedido condenatório, formulado na a presença do Ministério Público nas ações que ver-
ação, cria um tulo execu vo não só para o autor sem sobre interesses difusos e cole vos, seja como
do processo de conhecimento, como também para autor, seja como órgão interveniente que, por não as
os demais colegi mados.20
ter ajuizado, obrigatoriamente nelas deve oficiar.23
A atual redação do art. 15 da Lei nº 7.347/1985 de-
termina que, decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito Ajuizada a ação civil pública, dela não pode desis r o
em julgado da sentença condenatória, sem que a MP por ser indisponível o seu objeto, mas, ao final,
associação autora promova a execução, esta deverá diante das provas produzidas, poderá manifestar-se
ser promovida pelo MP, facultada igual inicia va pela sua procedência ou improcedência.24
aos demais legi mados. No caso, diante do direito
declarado em concreto, o MP, como encarregado O MP, no entanto, não está obrigado a propor a ação
da defesa da ordem jurídica, é obrigado a assumir a civil pública quando não iden ficar a hipótese de
promoção da execução na ação civil pública ou cole- atuação, devendo, nesse acaso, determinar o arqui-
va abandonada, ao contrário do que acontece com vamento do inquérito civil ou procedimento apura-
a hipótese de abandono da ação de conhecimento tório, remetendo os autos ao Conselho Superior.25
pelo colegi mado.21
Análise do art. 223 do ECA
No que se refere à recons tuição dos bens lesados, Narra o ar go em comento:
a Lei da Ação Civil Pública criou, a tulo de indeni-
zação pelo dano causado, um fundo para o qual as
O Ministério Público poderá instaurar, sob sua pre-
condenações em dinheiro devem reverter. Gerido
por um conselho federal ou por conselhos estaduais, sidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
conforme a origem do produto auferido (condenação pessoa, organismo público ou par cular, cer dões,
da Jus ça Federal ou condenação da Jus ça estadu- informações, exames ou perícias, no prazo que assi-
al), um dos obje vos desse fundo é des nar recursos nalar, o qual não poderá ser inferior a dez dias úteis.
para a recons tuição dos danos provenientes de le- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas
são ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio todas as diligências, se convencer da inexistência
cultural ou a outros interesses difusos e cole vos.22 de fundamento para a propositura da ação cível,
promoverá o arquivamento dos autos do inquérito
O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os civil ou das peças informa vas, fazendo-o funda-
honorários advoca cios arbitrados na conformidade do § 4º mentadamente.
do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de in-
de Processo Civil), quando reconhecer que a pretensão é formação arquivados serão reme dos, sob pena
manifestamente infundada. de se incorrer em falta grave, no prazo de três dias,
Em caso de li gância de má-fé, a associação autora e os
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ao Conselho Superior do Ministério Público.


diretores responsáveis pela propositura da ação serão soli-
dariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a pro-
de responsabilidade por perdas e danos. moção de arquivamento, em sessão do Conselho
Lembrando que nas ações cole vas previstas no ECA, não Superior do Ministério público, poderão as associa-
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários ções legi madas apresentar razões escritas ou docu-
periciais e quaisquer outras despesas. mentos, que serão juntados aos autos do inquérito
ou anexados às peças de informação.
A Atuação do Ministério Público § 4º A promoção de arquivamento será subme da
Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá a exame e deliberação do Conselho Superior do Mi-
provocar a inicia va do Ministério Público, prestando-lhe nistério Público, conforme dispuser o seu regimento.

20 23
Ibid., p.216 Ibid., p.210
21 24
Ibid., p.216 Ibid., p.210
22 25
Ibid., p.216 Ibid., p.210

88
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a ouvi-lo e, para isso, marcará dia, hora e local para
promoção de arquivamento, designará, desde logo, comparecimento. No caso de nega va em atender
outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento ao chamado, existe a possibilidade de haver a con-
da ação. dução coerci va.32

Inquérito civil Análise dos parágrafos do art. 223 do ECA


Sobre a matéria, o Professor Capez diz que: Sobre o arquivamento do inquérito civil, o Professor
Fernando Capez nos ensina:
O inquérito civil é um procedimento administra -
vo-inves gatório, de caráter pré-processual, que O órgão do MP, não se convencendo da existên-
se realiza extrajudicialmente, a cargo do MP, e se cia de fundamento para a propositura da ação
des na a colher elementos para eventual propositura civil pública, promoverá, mo vada e diretamente,
da ação civil pública ou cole va. Não existe inqué- o arquivamento do inquérito civil ou das peças de
rito civil a cargo de associações civis ou dos demais informação [...]. Entretanto, esse arquivamento,
colegi mados.26 ao contrário do que ocorre com o inquérito poli-
cial, será apreciado pelo Conselho Superior do MP.
Como se des na apenas a colher elementos de con- O membro do MP que promoveu o arquivamento
vicção para a promoção de ação civil pública, o inqué- do inquérito civil deverá, no prazo de 3 (três) dias,
rito civil consiste numa inves gação administra va encaminhá-lo ao Conselho Superior da ins tuição,
prévia de inicia va exclusiva do MP. Trata-se de um sob pena de falta funcional.33
instrumento ú l, mas não obrigatoriamente neces-
sário, pois o Promotor de Jus ça poderá dispensá-lo As peças de informação, além do próprio inquérito
quando já ver em mãos os elementos para propor civil, também estão sujeitas ao controle de arqui-
a ação principal ou cautelar.27 vamento pelo Conselho Superior do MP.
No inquérito civil, podem-se dis nguir três fases: O Conselho Superior do Ministério Público poderá
instauração, instrução e conclusão. A fase de instau-
homologar o arquivamento (fato que não impedirá
ração inicia-se com portaria ou despacho ministerial,
seu desarquivamento a qualquer tempo, com novas
acolhendo requerimento ou representação. Na fase
provas), determinar novas diligências ou determinar
de instrução, procede-se à colheita de provas pela
que outro representante do MP promova a ação
oitiva de testemunhas, juntada de documentos,
civil pública.34
realização de vistorias, exames e perícias. Por fim,
a conclusão do inquérito, com a elaboração de rela-
tório final sobre a propositura da ação ou a promoção A Tutela Penal dos Interesses Difusos
do arquivamento.28
Sobre o tema o Professor Fernando Capez nos ensina:
Acerca da instauração do procedimento, o nobre dou-
trinador nos ensina que: [...] na ação penal, busca-se a sa sfação do direito
de punir, que pertence exclusivamente ao Estado.
A instauração do inquérito civil faz-se de o cio, por Com efeito, enquanto ente dotado de soberania,
portaria do membro do MP, ou em despacho que é somente o Estado tulariza o jus puniendi (negrita-
por este lançado no requerimento ou representação mos) e, portanto, torna-se sujeito passivo de toda
a ele dirigido por cidadãos, autoridades, associações e qualquer infração penal.35
ou quaisquer outros interessados.29
Além disso, enquanto na ação civil pública busca-se
Na tramitação do inquérito civil, as normas do CPP uma pretensão reparatória, na ação penal, preten-
a nentes ao inquérito policial, no que diz respeito, de-se a imposição de pena. Por isso, é na pessoa
por exemplo, ao modo de instauração, a diligências do tular e na natureza do direito defendido e do
para coleta de provas, a redução de peças a escrito provimento jurisdicional que se diferencia a tutela
e a perícias, aplicam-se subsidiariamente.30 penal da civil. Exemplo: um governante provoca
grande dano ao erário, desviando, em proveito
Sobre a produção de prova no inquérito civil, Capez próprio, imensa quan dade de verbas públicas.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

preleciona: A ação civil pública visa à recomposição do dano


em defesa de todos aqueles que, direta ou indi-
Para a elaboração do inquérito civil, o MP poderá retamente, foram a ngidos com a improbidade.
proceder a no ficações e requisições, a fim de melhor O MP estará, em nome próprio, defendendo um
inves gar os fatos.31 número indeterminado de pessoas. No entanto,
paralelamente, o Estado, por meio do mesmo MP,
A no ficação é uma verdadeira in mação, por meio seu órgão, promoverá a ação penal para sa sfação
da qual o órgão do MP faz saber a alguém que deseja do seu direito de punir.36

26
Ibid., p.219
27 32
Ibid., p.219 Ibid., p.220
28 33
Ibid., p.220 Ibid., p.221
29 34
Ibid., p.220 Ibid., p.222
30 35
Ibid., p.220 Ibid., p.225
31 36
Ibid., p.220 Ibid., p.225

89
CRIMES PREVISTOS NO ECA Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite
a transação penal e a suspensão condicional do processo.
Ação Penal
Análise do art. 230
Os crimes previstos no Estatuto da Criança e do Ado- Rege o art. 230 da Lei nº 8.069/1990:
lescente – ECA são de ação penal pública incondicionada.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua
Análise do art. 228 liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar
Dispõe o art. 228 do ECA: em flagrante de ato infracional ou inexis ndo ordem
escrita da autoridade judiciária competente:
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o di- Pena – detenção de seis meses a dois anos.
rigente de estabelecimento de atenção à saúde de
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
gestante de manter registro das a vidades desen-
volvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta procede à apreensão sem observância das formali-
Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu dades legais.
responsável, por ocasião da alta médica, declaração
de nascimento, onde constem as intercorrências do Sujeito a vo: qualquer pessoa, independentemente da
parto e do desenvolvimento do neonato: qualidade de autoridade.49
Pena – detenção de seis meses a dois anos. Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.50 Caso o
Parágrafo único. Se o crime é culposo: sujeito passivo seja maior, que tenha sido preso sem ordem
Pena – detenção de dois a seis meses, ou multa. judicial ou sem estar em flagrante delito, haverá crime de
abuso de autoridade.
Sujeito a vo: trata-se de crime próprio – somente pode Conduta: privar a criança ou o adolescente de sua liber-
pra car esse crime o “encarregado de serviço” ou o “dirigen- dade, mediante apreensão: a) sem estar em flagrante de
te” de “estabelecimento de atenção à saúde da gestante”.37 ato infracional; b) inexis ndo ordem escrita da autoridade
Sujeito passivo: a gestante ou parturiente.38
judiciária competente; c) sem observância das formalidades
Conduta: trata-se de crime omissivo. A conduta vem
complementada pelo disposto no art. 10.39 legais. A respeito: art. 106.51
Elemento subje vo: dolo e culpa.40 Elemento subje vo: dolo.52
Consumação: com a mera omissão.41 Consumação: com a privação de liberdade da criança
Tenta va: não se admite, por tratar-se de crime omissivo.42 ou do adolescente.53
Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite Tenta va: admite-se.54
a transação penal e a suspensão condicional do processo. Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite
a transação penal e a suspensão condicional do processo.
Análise do art. 229
Rege o art. 229 da Lei nº 8.069/1990: Análise do art. 231
Dispõe o art. 231 do ECA:
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
iden ficar corretamente o neonato e a parturiente,
apreensão de criança ou adolescente de fazer imedia-
por ocasião do parto, bem como deixar de proceder
aos exames referidos no art. 10 desta Lei: ta comunicação à autoridade judiciária competente e
Pena – detenção de seis meses a dois anos. à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena – detenção de seis meses a dois anos.
Pena – detenção de dois a seis meses, ou multa.
Sujeito a vo: trata-se de crime próprio. Somente pode
Sujeito a vo: trata-se de crime próprio. Na primeira mo- ser sujeito a vo a autoridade policial.55
dalidade de conduta, podem ser agentes do crime o médico, Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.56 Caso a
o enfermeiro ou o dirigente de estabelecimento de atenção Autoridade Policial deixe de comunicar a prisão do maior
à saúde da gestante. Na segunda modalidade de conduta, ao juiz competente ou de observar as formalidades legais
somente pode ser agente do crime o médico que deixa de inerentes ao flagrante, haverá crime de abuso de autoridade,
providenciar os exames referidos no art. 10.43 previsto na Lei nº 4.898/1965.
Sujeito passivo: o neonato e a parturiente.44 Conduta: trata-se de crime omissivo. A respeito: art. 107.57
Conduta: trata-se de crime omissivo. A conduta vem
Elemento subje vo: dolo.58
complementada pelo art. 10.45
Consumação: com a mera omissão.59
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Elemento subje vo: dolo e culpa.46


Consumação: com a mera omissão.47 Tenta va: não se admite, por tratar-se de crime omissivo.60
Tenta va: não se admite, por tratar-se de crime omis- Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite
sivo.48 a transação penal e a suspensão condicional do processo.

37
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8. ed. São Paulo:
49
Saraiva, 2009, p. 44. Ibidem, p. 45.
38 50
Ibidem, p.44. Ibidem, p. 45.
39 51
Ibidem, p.44. Ibidem, p. 45.
40 52
Ibidem, p.44. Ibidem, p. 45.
41 53
Ibidem, p.44. Ibidem, p. 45.
42 54
Ibidem, p.44. Ibidem, p. 45.
43 55
Ibidem, p.44. Ibidem, p. 45.
44 56
Ibidem, p 44. Ibidem, p. 45.
45 57
Ibidem, p. 45. Ibidem, p. 45.
46 58
Ibidem, p. 45. Ibidem, p. 45.
47 59
Ibidem, p. 45. Ibidem, p. 45.
48 60
Ibidem, p. 45. Ibidem, p. 45.

90
Análise do art. 232 Sujeito passivo: o adolescente.74
Rege o art. 232 da lei em estudo: Conduta: vem representada pelo verbo “descumprir”.
O não cumprimento dos prazos estabelecidos pelo ECA deno-
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua ta omissão. Deve o prazo ter sido estabelecido em bene cio
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a do adolescente privado de liberdade.75
constrangimento: Elemento subje vo: dolo – vontade deliberada de des-
Pena – detenção de seis meses a dois anos. cumprir o prazo.76
Consumação: com o efe vo descumprimento do prazo.77
Sujeito a vo: qualquer pessoa que exercer, a qualquer Tenta va: por se tratar de crime omissivo, não se admite
tulo, autoridade, guarda ou vigilância sobre a criança ou o ado- a tenta va.78
lescente (pai, mãe, tutor, curador, guardiões, empregadas etc.).61 Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.62 a transação penal e a suspensão condicional do processo.
Conduta: submeter (sujeitar, subordinar) a vexame ou
a constrangimento.63 Análise do art. 236
Elemento subje vo: o dolo.64 Rege o art. 236 da lei em estudo:
Consumação: com a efe va submissão da criança ou do
adolescente a vexame ou a constrangimento.65 Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
Tenta va: admite-se.66 judiciária, membro do Conselho Tutelar ou represen-
Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite tante do Ministério Público no exercício de função
a transação penal e a suspensão condicional do processo. prevista nesta Lei:
Análise do art. 234 Pena – detenção de seis meses a dois anos.
Dispõe o art. 234 do ECA:
Sujeito a vo: qualquer pessoa.79
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa Sujeito passivo: autoridade judiciária, membro do Con-
causa, de ordenar a imediata liberação de criança selho Tutelar e representante do Ministério Público, desde
ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da que no exercício de função prevista no ECA.80
ilegalidade da apreensão: Conduta: representada pelos verbos “impedir” (obsta-
Pena – detenção de seis meses a dois anos. culizar) ou “embaraçar” (dificultar, atrapalhar) a ação das
autoridades nominadas.81
Sujeito a vo: trata-se de crime próprio. Somente pode Elemento subje vo: dolo.82
ser agente desse crime o delegado de polícia ou o juiz de Consumação: com o efe vo impedimento ou embaraço
direito. Alguns autores admitem também como sujeito a vo à ação das autoridades.
o promotor de jus ça.67 Tenta va: admite-se.83
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.68 Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite
Conduta: trata-se de crime omissivo. A autoridade a transação penal e a suspensão condicional do processo.
competente abstém-se, sem justa causa, de liberar imedia-
tamente a criança ou o adolescente ilegalmente apreendido. Análise do art. 237
Arts. 107, parágrafo único (para o juiz de direito), e 174, (para Rege o art. 237 do ECA:
o delegado de polícia). 69
Elemento subje vo: dolo.70 Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de
Consumação: com a mera omissão na liberação, sem quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
justa causa.71 judicial, com o fim de colocação em lar subs tuto:
Tenta va: tratando-se de crime omissivo, não se admite Pena – reclusão de dois a seis anos, e multa.
a tenta va.72
Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite Sujeito a vo: qualquer pessoa, inclusive o pai ou a mãe,
se des tuídos do pátrio poder.84
a transação penal e a suspensão condicional do processo.
Sujeito passivo: a pessoa que tem a criança ou o adoles-
cente sob sua guarda, em virtude de lei ou ordem judicial.85
Análise do art. 235
Conduta: vem representada pelo verbo “subtrair”, indi-
Rege o art. 235 do ECA:
cando que a criança ou o adolescente devem ser re rados
Art. 235. Descumprir, injus ficadamente, prazo fixado da esfera de vigilância daquele que detenha sua guarda, em
nesta Lei em bene cio de adolescente privado de virtude de lei ou ordem judicial. Deve haver a finalidade de
liberdade: colocação em lar subs tuto. Se inexis r esta úl ma, poderá
Pena – detenção de seis meses a dois anos. configurar-se o crime do art. 249 do Código Penal.86
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Elemento subje vo: dolo.87


Sujeito a vo: trata-se de crime próprio. Agente do crime Consumação: trata-se de crime formal, que se consuma
será sempre o juiz de direito, o promotor de jus ça ou o com a mera subtração da criança ou do adolescente com
delegado de polícia.73
74
Ibidem, p. 46.
75
61
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
76
62
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
77
63
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
78
64
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
79
65
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
80
66
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
81
67
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
82
68
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
83
69
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
84
70
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
85
71
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
86
72
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.
87
73
Ibidem, p. 46. Ibidem, p. 47.

91
o fim de colocação em lar subs tuto, sendo irrelevante, Elemento subje vo: dolo.99
portanto, à consumação do delito a efe va ocorrência desta Consumação: com a promoção ou auxílio à prá ca do
úl ma providência.88 ato, independentemente do efe vo envio da criança ou do
Tenta va: admite-se.89 adolescente para o exterior ou da obtenção de lucro. Trata-
-se de crime formal.100
Análise do art. 238 Tenta va: admite-se, já que o iter criminis é fracionável.101
Dispõe o art. 238 da lei em estudo: Figura qualificada: se houver emprego de violência, grave
ameaça ou fraude, a pena é de reclusão, de 6 a 8 anos, sem
Art. 238. Prometer ou efe var a entrega de filho ou prejuízo da pena correspondente à violência (parágrafo único
pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: introduzido pela Lei nº 10.764, de 12/11/2003).102
Pena – reclusão de um a quatro anos, e multa. Competência: da Jus ça Federal. “Compete à Jus ça
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem Federal processar e julgar delito de tráfico internacional
oferece ou efe va a paga ou recompensa. de crianças (Decreto Legislativo nº 28/1990, Decreto
nº 99.710/1990 c.c art. 109, V, da CF)” (RSTJ, 77/280).103
Sujeito a vo: no caput, trata-se de crime próprio. Podem
ser agentes do delito os pais, tutores e também os guardiões Análise do art. 240
judicialmente nomeados (arts. 28 a 35 do ECA). No parágrafo Rege o art. 240 da Lei em tes lha:
único, sujeito a vo pode ser qualquer pessoa que oferece
ou efe va a paga ou recompensa.90 Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Sujeito passivo: filhos, pupilos ou mentores postos sob ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito
guarda.91 ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Conduta: vem representada pelos verbos “prometer” e (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
“efe var”, referindo-se à entrega do filho ou pupilo a tercei- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
ro. Deve, necessariamente, haver a contrapar da: paga ou (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
recompensa. No parágrafo único, pune-se a conduta daquele § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
que “oferece” ou “efe va” a paga ou recompensa.92 recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
Elemento subje vo: dolo.93 par cipação de criança ou adolescente nas cenas refe-
Consumação: com a promessa ou efe va entrega. Na ridas no caput deste ar go, ou ainda quem com esses
contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
modalidade do parágrafo único, com a promessa ou efe va
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
paga da promessa ou recompensa.94
comete o crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829,
Tenta va: admite-se, nas modalidades de conduta, “efe -
de 2008)
var” a entrega (caput) e “efe var” a paga (parágrafo único).95
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
Medidas despenalizadoras: É um delito que admite texto de exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829,
apenas a suspensão condicional do processo. de 2008)
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de
Análise do art. 239 coabitação ou de hospitalidade; ou (Redação dada
Rege o art. 239 do ECA: pela Lei nº 11.829, de 2008)
III – prevalecendo-se de relações de parentesco con-
Art. 239. Promover ou auxiliar a efe vação de ato sanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção,
des nado ao envio de criança ou adolescente para de tutor, curador, preceptor, empregador da ví ma ou
o exterior com inobservância das formalidades legais de quem, a qualquer outro tulo, tenha autoridade
ou com o fito de obter lucro: sobre ela, ou com seu consen mento. (Incluído pela
Pena – reclusão de quatro a seis anos, e multa. Lei nº 11.829, de 2008)
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de Segundo os ensinamentos do Mestre Ricardo Andreucci:
12/11/2003) Sujeito a vo: qualquer pessoa. De acordo com a parte final
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da do § 1º, pode ser sujeito a vo também qualquer pessoa que
pena correspondente à violência. contracene com criança ou adolescente em cena de sexo explí-
cito ou pornográfica. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se
Sujeito a vo: qualquer pessoa.96 o sujeito a vo es ver nas condições estabelecidas pelo § 2 º.104
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.97 Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.105
Conduta: vem representada pelos verbos “promover” e Conduta: vem representada pelos verbos “produzir”,
“auxiliar”. Promover indica atuação direta do sujeito a vo, “reproduzir”, “dirigir”, “fotografar”, “filmar”, “registrar”,
enquanto auxiliar indica a par cipação de terceira pessoa. “agenciar”, “facilitar”, “recrutar”, “coagir”, “intermediar” e
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

O ato deve ser “des nado ao envio de criança ou adolescente “contracenar”. O produtor, em regra, é aquele que financia
para o exterior, com inobservância das formalidades legais a representação ou película, a a vidade fotográfica ou outro
ou com o fito de obter lucro. A doutrina entende que houve meio visual. Diretor é o responsável pelo desenvolvimento
revogação do art. 245, § 2º, do Código Penal.98 dos trabalhos. Pretendeu o legislador que não houvesse
qualquer tipo de registro, por qualquer meio, de cena
88
pornográfica ou de sexo explícito envolvendo criança ou
Ibidem, p. 47. adolescente.106
89
Ibidem, p. 47.
90
Ibidem, p. 48.
91 99
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 48.
92 100
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 48.
93 101
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 48.
94 102
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 48.
95 103
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 49.
96 104
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 49.
97 105
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 49.
98 106
Ibidem, p. 48. Ibidem, p. 49.

92
Cenas de sexo explícito ou pornográfico: estabelece o telemá co, fotografia, vídeo ou outro registro que
art. 241-E que, para efeito dos crimes previstos nesta Lei, contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compre- envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela
ende qualquer situação que envolva criança ou adolescente Lei nº 11.829, de 2008)
em a vidades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e mul-
exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente ta. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
para fins primordialmente sexuais.107 § 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela
Elemento subje vo: dolo.108 Lei nº 11.829, de 2008)
Consumação: ocorre no momento em que a criança I – assegura os meios ou serviços para o armazena-
ou o adolescente é u lizado como par cipante da cena de mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata
sexo explícito ou pornográfica. Na conduta de “contracenar”, o caput deste ar go; (Incluído pela Lei nº 11.829,
a consumação ocorre com a atuação do ator com a criança de 2008)
ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica. II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede
de computadores às fotografias, cenas ou imagens
Trata-se de crime formal, uma vez que a consumação se ope-
de que trata o caput deste ar go. (Incluído pela Lei
ra independentemente de qualquer resultado naturalís co, nº 11.829, de 2008)
ou seja, sem necessidade de que a cena de sexo explícito ou § 2º As condutas pificadas nos incisos I e II do § 1º
pornográfica envolvendo criança ou adolescente seja u liza- deste ar go são puníveis quando o responsável legal
da, de qualquer modo, ou divulgada, por qualquer meio.109 pela prestação do serviço, oficialmente no ficado,
Tenta va: admite-se.110 deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito
Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de 1/3 de que trata o caput deste ar go. (Incluído pela Lei
(um terço), se o agente cometer o crime nas hipóteses do nº 11.829, de 2008)
§ 2º do ar go.111
O Mestre Ricardo Andreucci nos ensina:
Análise do art. 241 Sujeito a vo: qualquer pessoa.118
Rege a art. 241 da Lei nº 8.069/1990: Sujeito passivo: a criança e o adolescente.119
Conduta: vem representada pelos verbos “oferecer”,
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo “trocar”, “disponibilizar”, “transmi r”, “distribuir”, “publicar”,
ou outro registro que contenha cena de sexo explícito “divulgar” e “assegurar”, prevista como figura equiparada no
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: § 1º, refere-se aos meios ou serviços para o armazenamen-
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) to das fotografias, cenas ou imagens proibidas, ou ainda,
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. ao acesso por rede de computadores.120
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) Condição obje va de punibilidade: estabelece o § 2º
como condição obje va de punibilidade das figuras pre-
Vale a pena trazer à colação os ensinamentos do Profes- vistas pelo § 1º, I e II, a nega va do responsável legal pela
sor Ricardo Andreucci: prestação do serviço (de armazenamento ou de acesso),
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.112 após oficialmente no ficado, em desabilitar o acesso ao
Conduta: vem representada pelos verbos “vender” e conteúdo ilícito.121
“expor” à venda fotografia, vídeo ou registro que contenha Objeto material: é composto pelas fotografias, vídeos ou
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança outros registros que contenham cenas de sexo explícito ou
pornográficas envolvendo criança ou adolescente.122
ou adolescente.113
Cenas de sexo explícito ou pornográficas: estabelece o
Cenas de sexo explícito ou pornográficas: estabelece o
art. 241-E que, para efeito dos crimes previstos nesta Lei,
art. 241-E que, para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compre-
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compre- ende qualquer situação que envolva criança ou adolescente
ende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em a vidades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou
em a vidades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente
exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.123
para fins primordialmente sexuais.114 Elemento subje vo: é o dolo.124
Elemento subje vo: dolo.115 Consumação: ocorre com a efe va prá ca das condutas
Consumação: com os atos “vender” e “expor” à venda incriminadas, independentemente de qualquer resultado
“fotografia, vídeo ou outro registro contendo as cenas naturalís co. Trata-se de crime formal.125
proibidas.116 Tenta va: admite-se.126
Tenta va: admite-se.117
Análise do art. 241-B
Análise do art. 241-A Rege o art. 241-A da Lei nº 8.069/1990:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Rege o art. 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente:


Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi r, qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, de registro que contenha cena de sexo explícito ou
inclusive por meio de sistema de informá ca ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
107
Ibidem, p. 49.
108
Ibidem, p. 49.
109 118
Ibidem, p. 49. Ibidem, p. 50.
110 119
Ibidem, p. 49. Ibidem, p. 50.
111 120
Ibidem, p. 49. Ibidem, p. 50.
112 121
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 51.
113 122
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 51.
114 123
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 51.
115 124
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 51.
116 125
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 51.
117 126
Ibidem, p. 50. Ibidem, p. 51.

93
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Sigilo: na hipótese do item acima, segundo dispõe o § 3º,
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) as pessoas inseridas nas categorias elencadas nos incisos I, II
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) e III do § 2º deverão manter sob sigilo o material proibido.137
se de pequena quan dade o material a que se refere
o caput deste ar go. (Incluído pela Lei nº 11.829, Análise do art. 241-C
de 2008) Rege a norma em comento:
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamen-
to tem a finalidade de comunicar às autoridades Art. 241-C. Simular a par cipação de criança ou ado-
competentes a ocorrência das condutas descritas lescente em cena de sexo explícito ou pornográfica
nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quan- por meio de adulteração, montagem ou modificação
do a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de repre-
nº 11.829, de 2008) sentação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
I – agente público no exercício de suas funções; (In- Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e mul-
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) ta. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
II – membro de en dade, legalmente cons tuída, que Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem
inclua, entre suas finalidades ins tucionais, o rece- vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica
bimento, o processamento e o encaminhamento de ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou
no cia dos crimes referidos neste parágrafo; (Incluído
armazena o material produzido na forma do caput
pela Lei nº 11.829, de 2008)
deste ar go. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
III – representante legal e funcionários responsáveis
de provedor de acesso ou serviço prestado por meio
de rede de computadores, até o recebimento do Segundo os ensinamentos de Andreucci:
material rela vo à no cia feita à autoridade policial, Sujeito a vo: qualquer pessoa.138
ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.139
pela Lei nº 11.829, de 2008) Conduta: vem representada pelo verbo “simular”. No
§ 3º As pessoas referidas no § 2º deste ar go deverão parágrafo único, também estão previstas as condutas “ven-
manter sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído der”, “expor à venda”, “disponibilizar”, “distribuir”, “publicar”,
pela Lei nº 11.829, de 2008) “divulgar”, “adquirir”, “possuir” ou “armazenar”.140
Objeto material: é composto pelas fotografias, vídeos
Para Andreucci: ou outros registros, adulterados, montados ou modificados,
Sujeito a vo: qualquer pessoa.127 que contenham cenas de sexo explícito ou pornográficas
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.128 envolvendo criança ou adolescente.141
Conduta: vem representada pelos verbos “adquirir”, Cenas de sexo explícito ou pornográficas: estabelece o
“possuir” ou “armazenar”. Com relação a posse ou armaze- art. 241-E que, para efeito dos crimes previstos nesta Lei,
namento, não há crime quando a conduta se dá nas hipóteses a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compre-
elencadas no § 2º.129 ende qualquer situação que envolva criança ou adolescente
Objeto material: é composto pelas fotografias, vídeos ou em a vidades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou
outros registros que contenham cenas de sexo explícito ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente
pornográficas envolvendo criança ou adolescente.130 para fins primordialmente sexuais.142
Cenas de sexo explícito ou pornográficas: estabelece o Elemento subje vo: é o dolo.143
art. 241-E que, para efeito dos crimes previstos nesta Lei, Consumação: ocorre com a efe va prá ca das condutas
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compre- incriminadas, independentemente de qualquer resultado
ende qualquer situação que envolva criança ou adolescente naturalís co. Trata-se de crime formal.144
em a vidades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou Tenta va: admite-se.145
exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente
para fins primordialmente sexuais.131 Análise do art. 241-D
Elemento subje vo: é o dolo.132 Dispõe o art. 241-D do ECA:
Consumação: ocorre com a efe va prá ca das condutas
incriminadas, independentemente de qualquer resultado Art. 241-D. Aliciar, assediar, ins gar ou constranger,
naturalís co. Trata-se de crime formal.133 por qualquer meio de comunicação, criança, com o
Tenta va: admite-se.134 fim de com ela pra car ato libidinoso: (Incluído pela
Causa de diminuição de pena: a pena é diminuída de 1 Lei nº 11.829, de 2008)
(um) a 2/3 (dois terços), de acordo com o disposto no § 1º, Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
se de pequena quan dade o material adquirido, possuído (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
ou armazenado.135 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Finalidade de comunicar às autoridades competentes: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)


se o armazenamento ou posse do material proibido ver I – facilita ou induz o acesso à criança de material
como finalidade a comunicação às autoridades competentes contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com
acerca das condutas proibidas, não haverá crime. Nesse caso, o fim de com ela pra car ato libidinoso; (Incluído pela
entretanto, o agente terá de se inserir em uma das categorias Lei nº 11.829, de 2008)
elencadas nos incisos I, II e III do § 2º.136 II – pra ca as condutas descritas no caput deste ar -
go com o fim de induzir criança a se exibir de forma
127
Ibidem, p. 51.
128 137
Ibidem, p. 51. Ibidem, p. 52.
129 138
Ibidem, p. 51. Ibidem, p. 52.
130 139
Ibidem, p. 51. Ibidem, p. 52.
131 140
Ibidem, p. 52. Ibidem, p. 52.
132 141
Ibidem, p. 52. Ibidem, p. 52.
133 142
Ibidem, p. 52. Ibidem, p. 52.
134 143
Ibidem, p. 52. Ibidem, p. 52.
135 144
Ibidem, p. 52. Ibidem, p. 52.
136 145
Ibidem, p. 52. Ibidem, p. 52.

94
pornográfica ou sexualmente explícita. (Incluído pela delito em estudo foi parcialmente revogado pelo inciso V
Lei nº 11.829, de 2008) do art. 16 do Estatuto do Desarmamento, subsis ndo ainda
apenas em relação às chamadas “armas brancas” (canivetes,
Ricardo Andreucci tece os seguintes comentários sobre facas, adagas, punhais etc.).
o crime em comento: Elemento subje vo: dolo.156
Sujeito a vo: qualquer pessoa.146 Consumação: ocorre com a efe va venda, fornecimento
Sujeito passivo: a criança. Nesse disposi vo, o legislador não ou entrega, de qualquer forma, a tulo oneroso ou gratuito.157
se referiu a “adolescente” como fez nos ar gos anteriores.147 Tenta va: admite-se.158
Conduta: vem representada pelos verbos “aliciar”, “as- Pena: conforme alteração introduzida pela Lei
sediar”, “ins gar” e “constranger”. No parágrafo único, ainda nº 10.764/2003, a pena passou a ser de reclusão de 3 a 6 anos.159
estão previstas as condutas “facilitar” e “induzir”. Nas condutas
do caput do ar go, deve haver a finalidade específica do agen- Análise do art. 243
te de pra car ato libidinoso com a criança, o mesmo ocorrendo Rege o art. 243 da Lei em estudo:
com as figuras do parágrafo único, I. Já na figura do parágrafo
único, II, a finalidade do agente deve ser de induzir a criança Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente,
a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.148 ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança
Elemento subje vo: é o dolo. Tanto no caput quanto no ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos
parágrafo único deve haver elemento subje vo específico, componentes possam causar dependência sica ou
consistente na finalidade de pra car com a criança ato libi- psíquica, ainda que por u lização indevida:
dinoso ou de induzi-la a se exibir de forma pornográfica ou Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul-
sexualmente explícita. 149 ta, se o fato não cons tui crime mais grave. (Redação
Consumação: ocorre com a efe va prá ca das condutas dada pela Lei nº 10.764, de 12/11/2003)
incriminadas, independentemente de qualquer resultado
naturalís co. Trata-se de crime formal.150 Sujeito a vo: qualquer pessoa.160
Tenta va: admite-se.151 Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.161
Conduta: vem caracterizada pelos verbos “vender”, “for-
Análise do art. 241-E necer”, “ministrar” e “entregar”. Não haverá crime se ocorrer
Rege o art. 241-E da Lei nº 8.069/1990: justa causa para a prá ca da conduta. O objeto material
do crime é representado por produtos cujos componentes
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, podem causar dependência sica ou psíquica, ainda que
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” por u lização indevida (“cola de sapateiro”, acetona, éter,
compreende qualquer situação que envolva criança esmalte de unha, bebida alcoólica etc.). Se for entorpecente,
ou adolescente em a vidades sexuais explícitas, reais haverá o crime do art. 33 da Lei nº 11.343/2006.162
ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma Elemento subje vo: dolo.163
criança ou adolescente para fins primordialmente Consumação: ocorre com a efe va prá ca de uma das
sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) modalidades de conduta.164
Tenta va: admite-se.165
Ricardo Andreucci nos ensina que: Pena: conforme alteração introduzida pela Lei nº 10.764/2003,
a pena passou a ser de detenção de 2 a 4 anos, se o fato não
Nesse disposi vo, o legislador definiu o que se deve cons tuir crime mais grave.166
entender como cena de sexo explícito ou pornográ-
fica, expressão que compreende qualquer situação JURISPRUDÊNCIA
que envolva criança ou adolescente em a vidades A Sexta Turma decidiu que a venda de bebida alcoólica
sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição de para menores de 18 anos configura a contravenção penal
órgãos genitais para fins primordialmente sexuais.152 prevista no inciso I do art. 63 da Lei das Contravenções
Penais. Vejamos:
Análise do art. 242
Rege o art. 242 do ECA: VENDA. ÁLCOOL. ADOLESCENTES.
A venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente é pica e encontra correspondência no art. 63, I, da
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adoles- Lei de Contravenções Penais. No caso, a errônea ca-
cente arma, munição ou explosivo: pitulação dos fatos no art. 243 do ECA não jus fica o
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação trancamento da ação penal; como consabido, o agen-
dada pela Lei nº 10.764, de 12/11/2003) te defende-se dos fatos, e não de sua capitulação
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

jurídica. Com esse entendimento, a Turma acolheu


Sujeito a vo: qualquer pessoa.153 o parecer do MPF e concedeu a ordem de o cio para
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.154 alterar a capitulação dos fatos. Precedentes citados:
Conduta: vem representada pelos verbos “vender”, “for- RHC nº 20.618-MG, DJe 6/9/2010; HC nº 89.696-SP,
necer” e “entregar”, a tulo oneroso ou gratuito. O objeto DJe 23/8/2010; HC nº 113.896-PR, DJe 16/11/2010,
material é arma, munição ou explosivo.155 Sustento que o
156
Ibidem, p. 54.
146 157
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
147 158
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
148 159
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
149 160
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
150 161
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
151 162
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
152 163
Ibidem, p. 53. Ibidem, p. 54.
153 164
Ibidem, p. 54. Ibidem, p. 54.
154 165
Ibidem, p. 54. Ibidem, p. 54.
155 166
Ibidem, p. 54. Ibidem, p. 54.

95
e Ag nº 1.275.948-PR, DJe 6/4/2010. RHC nº 28.689- Tenta va: admite-se.178
RJ, Relator Ministro Celso Limongi (Desembargador Figura equiparada: estabelece o § 1º que incorrem nas
convocado do TJ-SP), julgado em 5/5/2011. mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável
pelo local em que se verifique a submissão de criança ou
Análise do art. 244 adolescente à pros tuição ou à exploração sexual.179
Dispõe o art. 244 do ECA:
Efeito da condenação: cons tui efeito obrigatório da
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente condenação, segundo dispõe o § 2º, a cassação da licença
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou ado- de localização ou de funcionamento do estabelecimento.180
lescente fogos de estampido ou de ar cio, exceto
aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam A Questão da Revogação do art. 244-A
incapazes de provocar qualquer dano sico em caso
de u lização indevida: A norma em comento foi revogada com o advento da Lei
Pena – detenção de seis meses a dois anos, e multa. nº 12.015/2009, que dispõe sobre os crimes contra a digni-
dade sexual. Foi incluído, então, no Código Penal, o crime de
Sujeito a vo: qualquer pessoa.167 favorecimento da pros tuição ou outra forma de exploração
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.168 sexual de vulnerável, vejamos:
Conduta: vem representada pelos verbos “vender”,
“fornecer” e “entregar”. O fornecimento pode dar-se a tulo Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à pros tuição
oneroso ou gratuito. A entrega pode ser de qualquer forma. ou outra forma de exploração sexual alguém menor
O objeto material é cons tuído por fogos de estampido ou de de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou de-
ar cios. A lei excetua os fogos de estampido ou de ar cio ficiência mental, não tem o necessário discernimento
que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provo- para a prá ca do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
car qualquer dano sico em caso de u lização indevida.169 que a abandone.
Elemento subje vo: dolo.170 Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
Consumação: com a efe va venda, fornecimento ou
entrega. Trata-se de crime de perigo abstrato, pois a lei não Como o art. 218-B trata do mesmo assunto disposto no
condiciona a ocorrência do ilícito à demonstração o perigo a art. 244-A do ECA, é possível se afirmar que este foi total-
que deve ser exposta a criança ou o adolescente.171 mente revogado, não mais subsis ndo.
Tenta va: admite-se.172
Medidas despenalizadoras: o delito em comento admite Análise do art. 244-B
a transação penal e a suspensão condicional do processo. A Lei nº 2.252 dispunha sobre o crime de corrupção de
menores em seu art. 1º:
Análise do art. 244-A
Rege o art. 244-A do ECA: Cons tui crime, punido com a pena de reclusão de
1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de Cr$ 1.000,00
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como (mil cruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros),
tais definidos no caput do art. 2º desta Lei, à pros- corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor
tuição ou à exploração sexual: (Incluído pela Lei de 18 (dezoito) anos, com ela pra cando, infração
nº 9.975, de 23/6/2000) penal ou induzindo-a a pra cá-la.
Pena – reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, O po penal da lei ora em questão cuidava tão exclu-
o gerente ou o responsável pelo local em que se sivamente da inclusão do adolescente no campo da crimi-
verifique a submissão de criança ou adolescente às nalidade.
prá cas referidas no caput deste ar go. (Incluído pela A Lei nº 2.252/1954 – Corrupção de Menores – para
Lei nº 9.975, de 23/6/2000) fins de aplicação de pena, equiparava a conduta de quem
§ 2º Cons tui efeito obrigatório da condenação a cas- facilita a corrupção, com a de quem corrompe pessoa me-
sação da licença de localização e de funcionamento nor de dezoito anos, com ela pra cando infração penal ou
do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975, de induzindo-a a pra cá-la.
23/6/2000) A Lei nº 12.015/2009 revogou a Lei nº 2.252/1954, sendo
que o crime de corrupção de menores foi inserido no Estatuto
Sujeito a vo: qualquer pessoa.173 da Criança e do Adolescente, que passou a vigorar acrescido
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente.174 do seguinte ar go:
Conduta: vem representada pelo verbo “submeter”
(sujeitar, subjugar). A criança e o adolescente devem ser Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de
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subme dos à pros tuição (relações sexuais por dinheiro) ou menor de 18 (dezoito) anos, com ele pra cando
à exploração sexual (de qualquer natureza).175 infração penal ou induzindo-o a pra cá-la:
Elemento subje vo: dolo.176 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Consumação: com a efe va submissão da criança ou § 1º Incorre nas penas previstas no caput deste ar go
adolescente à pros tuição ou à exploração sexual.177 quem pra ca as condutas ali pificadas u lizando-se
de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de
167
168
Ibidem, p. 55. bate-papo da Internet.
Ibidem, p. 55.
169
Ibidem, p. 55.
§ 2º As penas previstas no caput deste ar go são
170
Ibidem, p. 55. aumentadas de um terço no caso de a infração co-
171
172
Ibidem, p. 55. me da ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da
Ibidem, p. 55.
173
Ibidem, p. 55. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990.
174
Ibidem, p. 55.
175 178
Ibidem, p. 55. Ibidem, p. 55.
176 179
Ibidem, p. 55. Ibidem, p. 55.
177 180
Ibidem, p. 55. Ibidem, p. 55.

96
Nota-se que se o crime pra cado em coautoria com o (5) Sujeito passivo – o menor de 18 anos e a cole vidade.
menor for hediondo ou equiparado, a pena será aumentada (6) De forma livre, podendo ser come do de qualquer
de um terço. forma.
Todavia, é sabido que também existe o crime de cor- (7) Comissivo.
rupção de menores no Código Penal. Qual a diferença entre (8) Instantâneo.
o crime de corrupção de menores que era previsto na Lei (9) Unissubje vo, podendo ser come do por uma pessoa.
nº 2.252/1954, atualmente previsto no art. 244-B do ECA e (10) Plurissubsistente.
o do art. 218 do CP? (11) Admite tenta va, embora de di cil configuração.
Com a Lei nº 12.015/2009, o po penal previsto no
art. 218 do Código Penal passou a ter a seguinte redação: O problema surge ao se indagar se o delito se consumaria
mesmo se o menor, ao tempo do crime, já era corrompido.
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos Seria um crime material, de perigo ou formal?
a sa sfazer a lascívia de outrem: Para os professores Guilherme de Souza Nucci (2008,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. p. 215) e José Geraldo da Silva (2008, p. 564), trata-se de
Parágrafo único. um Delito Material, pois depende da ocorrência de efe vo
prejuízo para o menor de 18 anos.
Sa sfação de lascívia mediante presença de criança Nucci (2008, p. 215) diz que:
ou adolescente
[...] não comete o crime previsto neste ar go o
Art. 218-A. Pra car, na presença de alguém menor de maior de 18 anos que pra ca crime ou contraven-
14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjun- ção na companhia do menor já corrompido, isto é,
ção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de sa sfazer acostumado à prá ca de atos infracionais. O obje vo
lascívia própria ou de outrem: do po penal é evitar que ocorra a deturpação na
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. formação da personalidade do menor de 18 anos. Se
este já é corrompido, considera-se crime impossível
Favorecimento da pros tuição ou outra forma de
qualquer atuação do maior, nos termos do art. 17 do
exploração sexual de vulnerável
CPB. (Grifo nosso)
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à pros tuição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor Waldir Abreu (1995, p. 41) afirma que
de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou de-
ficiência mental, não tem o necessário discernimento o texto legal incrimina tanto corromper quanto
para a prá ca do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar facilitar a corrupção; só esta facilitação é suficiente
que a abandone: e se verifica não só quando o maior realiza conduta
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. criminosa com o menor, ainda não corrompido,
§ 1º Se o crime é pra cado com o fim de obter van- como também quando apenas empresta colabora-
tagem econômica, aplica-se também multa. ção à ação infratora da inicia va do mesmo inim-
§ 2º Incorre nas mesmas penas: putável, pois assim estará a facilitar sua corrupção,
I – quem pra ca conjunção carnal ou outro ato libi- aumentando-lhe a eficácia e experiência na vida tão
dinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior diversificada do crime.
de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput
deste ar go; Assim,
II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
local em que se verifiquem as prá cas referidas no o reconhecimento deste crime não depende de pro-
caput deste ar go. va de efe va corrupção, pois esta é presumida pela
§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, cons tui efeito potencialidade do ato, hábil a pelo menos facilitá-la,
obrigatório da condenação a cassação da licença de embora só posteriormente se exteriorize em fatos
localização e de funcionamento do estabelecimento. concretos, por es mulo ou inspiração daqueles que
o menor foi induzido a pra car ou assis r.181
O caput do disposi vo supra tem como obje vidade
jurídica a proteção da dignidade sexual do menor, evitando Na hipótese, há resultado, qual seja a probabilidade
a corrupção sexual do menor. Já o crime de corrupção de da corrupção. Lógico, a extensão do evento pode
menores previsto no ECA tem como objeto jurídico evitar ser maior, compreendendo também a atração, o es-
que o menor seja corrompido moralmente. mulo e o fornecimento de meios para a execução
A diferença essencial entre o crime de corrupção moral mostrar-se eficaz. O delinquente não ganha carta de
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de menores e o art. 218 do Código Penal está no objeto jurí- crédito aberta para atrair menores porque, antes,
dico tutelado, uma vez que este pune aquele que corrompe o o adolescente incursionara no caminho do crime.182
menor na seara sexual, patrocinando a depravação precoce
do jovem, ao passo que, no primeiro, o objeto jurídico tute- De fato,
lado pelo delito de corrupção de menores é a proteção da
moralidade do menor e visa a coibir a prá ca de delitos em exigências adicionais para a pificação são extralegais
que existe sua exploração. e até esbarram no velho brocardo commodissimum
Desta forma, muito embora os delitos tenham a mesma est, id accipi, quo res de qua agitur, magis valeat
nomenclatura, eles não se confundem. quam pereat (Prefira-se a inteligência dos textos que
torne viável o seu obje vo, ao invés da que os reduz
Classificação do Crime Previsto no art. 244-B do Eca à inu lidade) .183
181
(4) Trata-se de um crime comum, ou seja, qualquer ABREU, Waldir. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil. Forense: São Paulo, 1995.
182
Recurso Especial nº 182471. Uf: Pr. Julgado em 20/4/1999. Sexta Turma.
pessoa pode pra car tal crime. 183
Resp. nº 197.762/Pr.

97
Nosso entendimento caminha é no sen do de que se trata No mesmo sen do:
de um Delito Formal, uma vez que o delito de corrupção de
menores prescinde da efe va corrupção do menor, bastando, Corrupção de Menores e Crime Formal
para a sua configuração, a prova de par cipação do inimpu-
tável em crime juntamente com agente maior de 18 anos. Para a configuração do crime de corrupção de menor
A Suprema Corte no HC nº 92.014/SP, rel. orig. Ministro (Lei nº 2.252/1954, art. 1º) é desnecessária a com-
Ricardo Lewandowski, rel. p/ o acórdão Ministro Menezes provação da efe va corrupção da ví ma, por se tratar
Direito, 1ª Turma, 2/9/2008 se posicionou no sen do de se de crime formal, que tem como objeto jurídico a ser
tratar de delito formal, vejamos: protegido a moralidade dos menores. Ao aplicar esta
orientação, a Turma indeferiu Habeas Corpus em que
INFORMATIVO STF nº 518 acusado pela prá ca dos crimes descritos no art. 213
c/c o art. 226, I, ambos do CP e no art. 1º da Lei
A Turma, por maioria, indeferiu Habeas Corpus no nº 2.252/1954 pleiteava a absolvição quanto ao crime
qual condenado pela prá ca dos delitos de roubo de corrupção de menores, sob o argumento de que
qualificado em concurso material com o de cor- não fora demonstrada a chamada idoneidade moral
rupção de menores (CP, art. 157, § 2º, I e II, c/c Lei anterior da ví ma menor, prova esta imprescindível
nº 2.252/1954, art. 1º) pretendia anular sua conde- para a caracterização da picidade do delito. Aduziu-
nação rela vamente ao aludido crime de corrupção -se, conforme ressaltado pelo Ministério Público, que
de menores. A impetração sustentava a ausência o fato de ter o menor, em concurso com um agente
de comprovação da materialidade deli va quanto maior, pra cado fato criminoso, demonstraria, se-
a tal crime, ao argumento de que não teria sido não o ingresso em universo prejudicial ao seu sadio
evidenciada, documentalmente, a menoridade da desenvolvimento, ao menos sua manutenção nele,
ví ma, constando apenas mera informação da mãe o que, de igual modo, seria passível de recrimina-
do menor nesse sen do. Considerou-se que, tanto no ção. Nesse sen do, acrescentou-se que, es vesse
acórdão proferido pelo STJ quanto no prolatado pelo já maculado ou não o caráter do menor, o crime de
tribunal de origem, ficara assentada a par cipação corrupção de menores se perfaria, porquanto, ainda
de um menor e, em se tratando de crime formal, assim, estaria a conduta do agente maior a reforçar,
estaria correto o entendimento fixado no acórdão no menor, sua tendência infracional anteriormente
impugnado de que o objeto jurídico tutelado pelo adquirida. Precedente citado: HC nº 92.014/SP (DJE
po em questão é a proteção da moralidade do de 21/11/2008). HC nº 97.197/PR, Relator Minis-
menor e que esse po penal visa coibir a prá ca de tro Joaquim Barbosa, 2ª Turma, 27/10/2009. (HC
delitos em que existe a exploração daquele. Assim, nº 97.197)
prescindível a prova da efe va corrupção do menor.
Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, relator, que, Já o Superior Tribunal de Jus ça, conforme nos mostra
por reputar incabível, no caso, o debate sobre a o Informa vo nº 393, se posicionou de forma divergente,
natureza do delito, cingindo-se a questão à prova da afirmando se tratar de crime de perigo, vejamos:
menoridade, para ele não demonstrada, concedia a
ordem para anular a decisão no tocante ao crime de A Turma denegou a ordem por considerar, no caso,
corrupção de menores e restabelecia a pena fixada de rigor a condenação do paciente pela prá ca do
nas instâncias ordinárias. crime de corrupção de menores previsto no art. 1º
HC nº 92.014/SP, rel. orig. Ministro Ricardo Lewan- da Lei nº 2.252/1954, que é de perigo, sendo des-
dowski, rel. p/ o acórdão Ministro Menezes Direito, cipienda, portanto, a demonstração de efe va e
1ª Turma, 2/9/2008. (HC nº 92.014) posterior corrupção penal do menor. No caso dos
autos, não ficou demonstrado conforme consigna-
O Supremo Tribunal Federal, no Informa vo nº 529: do no acórdão recorrido, que o menor par cipante
da conduta delituosa vesse passagens pelo juízo
HC nº 92.014-SP da infância e da juventude pela prática de atos
RELATOR P/ O ACÓRDÃO: MINISTRO MENEZES infracionais ou, ainda, que tenha sido o mentor do
DIREITO crime de roubo. Observa o Ministro Relator, quanto
EMENTA à anterior inocência moral do menor, que essa se
Habeas Corpus. Penal. Paciente condenado pelos cri- presume iuris tantum (não iuris et de iure) como
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mes de roubo (art. 157 do Código Penal) e corrupção pressuposto fá co do po. Explica que quem já foi
de menor (art. 1º da Lei nº 2.252/1954). Menoridade corrompido logicamente não pode ser ví ma de
assentada nas instâncias ordinárias. Crime formal. corrupção, todavia não é possível que o réu adulto
Simples par cipação do menor. Configuração. 1. As tenha a seu favor a presunção de inocência e o
instâncias ordinárias assentaram a par cipação de menor envolvido tenha contra si uma presunção
um menor no roubo pra cado pelo paciente. Por- oposta. Precedentes citados: REsp. nº 852.716-PR, DJ
tanto, não cabe a esta Suprema Corte discu r sobre 19/3/2007; REsp. nº 853.350-PR, DJ nº 18/12/2006, e
a menoridade já afirmada. 2. Para a configuração do REsp. nº 822.977-RJ, DJ 30/10/2006. HC nº 128.267-
crime de corrupção de menor, previsto no art. 1º da DF, Relator Ministro Felix Fischer, 5ª Turma, julgado
Lei nº 2.252/1954, é desnecessária a comprovação em 5/5/2009.
da efe va corrupção da ví ma por se tratar de
crime formal que tem como objeto jurídico a ser Elemento Subje vo
protegido a moralidade dos menores. 3. Habeas Dolo. Não há previsão da modalidade culposa no po
Corpus denegado. penal do art. 244-B do ECA.

98
Obje vidade Jurídica do Crime Previsto no art. 244-B § 1º Incorre nas penas previstas no caput deste ar go
do ECA quem pra ca as condutas ali pificadas u lizando-se
de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de
Evitar que o menor seja exposto ao “es mulo de ingresso bate-papo da Internet.
ou permanência na criminalidade”.184 § 2º As penas previstas no caput deste ar go são
aumentadas de um terço no caso de a infração co-
Ação Penal me da ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da
O crime de corrupção moral de menores previsto no ECA Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990.
é de ação penal pública incondicionada.
Crime Impossível Nota-se que se o crime pra cado em coautoria com o
Se o menor à época do crime já era corrompido moral- menor for hediondo ou equiparado, a pena será aumentada
mente, há que se falar em crime impossível, não respondendo de um terço.
o adulto pela prá ca do crime previsto no art. 244-B do ECA. Todavia, é sabido que também existe o crime de cor-
Nós defendemos a não consumação do delito quando já rupção de menores no Código Penal. Qual a diferença entre
havia prova da perversão do menor185, mas há quem susten- o crime de corrupção de menores que era previsto na Lei
te que há o crime, pois “acentuar, concre zar, consolidar a nº 2.252/1954, atualmente previsto no art. 244-B do ECA e
corrupção, corrupção é”.186 o do art. 218 do CP?
Ora, Com a Lei nº 12.015/2009, o po penal previsto no
art. 218 do Código Penal passou a ter a seguinte redação:
a corrupção vai se consolidando na medida em que
alguém busca a colaboração do menor para a prá ca Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos
do ilícito penal. Não há limites estanques. Enseja gra- a sa sfazer a lascívia de outrem:
duação. A repe ção da conduta delituosa vai, pouco a Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
pouco, corroendo a personalidade. O po penal se faz Parágrafo único.
presente, assim, também quando o jovem é atraído,
mais uma vez, para o campo da delinquência. Não Sa sfação de lascívia mediante presença de criança
há perfeita igualdade com o crime do mencionado ou adolescente
art. 218 do Código Penal, onde há vozes que excluem
a criminalidade se a ví ma es ver integrada na prá ca Art. 218-A. Pra car, na presença de alguém menor de
da vida sexual. Importante: o objeto jurídico é outro. 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjun-
Na Lei nº 2.252/1954, busca-se impedir o es mulo de ção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de sa sfazer
ingresso, ou permanência na criminalidade.187 lascívia própria ou de outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Análise do art. 244-B
A Lei nº 2.252 dispunha sobre o crime de corrupção de Favorecimento da pros tuição ou outra forma de
menores em seu art. 1º: exploração sexual de vulnerável

Cons tui crime, punido com a pena de reclusão de Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à pros tuição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor
1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de Cr$1.000,00
de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou de-
(mil cruzeiros) a Cr$10.000,00 (dez mil cruzeiros),
ficiência mental, não tem o necessário discernimento
corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor
para a prá ca do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
de 18 (dezoito) anos, com ela pra cando, infração
que a abandone:
penal ou induzindo-a a pra cá-la.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se o crime é pra cado com o fim de obter van-
O po penal da lei ora em questão cuidava tão exclusiva-
tagem econômica, aplica-se também multa.
mente da inclusão do adolescente no campo da criminalidade.
§ 2º Incorre nas mesmas penas:
A Lei nº 2.252/1954 – Corrupção de Menores – , para
I – quem pra ca conjunção carnal ou outro ato libi-
fins de aplicação de pena, equiparava a conduta de quem
dinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior
facilita a corrupção, com a de quem corrompe pessoa me-
de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput
nor de dezoito anos, com ela pra cando infração penal ou
deste ar go;
induzindo-a a pra cá-la.
II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
A Lei nº 12.015/2009 revogou a Lei nº 2.252/1954, sendo
local em que se verifiquem as prá cas referidas no
que o crime de corrupção de menores foi inserido no Estatuto
caput deste ar go.
da Criança e do Adolescente, que passou a vigorar acrescido
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, cons tui efeito


do seguinte ar go:
obrigatório da condenação a cassação da licença de
localização e de funcionamento do estabelecimento.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de
menor de 18 (dezoito) anos, com ele pra cando O caput do disposi vo supra tem como obje vidade
infração penal ou induzindo-o a pra cá-la: jurídica a proteção da dignidade sexual do menor, evitando
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. a corrupção sexual do mesmo. Já o crime de corrupção de
184
menores previsto no ECA tem objeto jurídico evitar que o
Recurso Especial nº 182.471. UF: PR. Julgado em 20/4/1999. Sexta Turma.
185
Neste sen do: Apelação Criminal nº 27.289, de Imbituba – Relator: Des. Márcio menor seja corrompido moralmente.
Ba sta; Apelação Criminal nº 99.001783-4, de Mafra. Relator: Des. Genésio Nolli; JC A diferença essencial entre o crime de corrupção moral
nº 58/418; RT nº 533/321; TJSP – RJTJSP nº 73/324; TRF 4ª R. – ACR nº 98.04.04693- de menores e o art. 218 do Código Penal está no objeto jurí-
8 – RS – 1ª T. – Relator Juiz Fábio Bi encourt da Rosa – DJU 20/5/1998; TJRJ – EI
nº 4/97 – Reg. nº 130.498 – Cód. 97.054.00004 – Cabo Frio – S.Crim. – Relatora Juíza dico tutelado, uma vez que este pune aquele que corrompe o
Telma Musse Diuana – J. 26/11/1997; E TJRJ – ACR nº 2.565/98 – (Reg. 040699) – 1ª menor na seara sexual, patrocinando a depravação precoce
C.Crim. – Relator Des. Oscar Silvares – J. 3/3/1999. do jovem, ao passo que no primeiro o objeto jurídico tute-
186
Recurso Especial nº 182.471. Uf: Pr. Julgado em 20/4/1999. Sexta Turma.
187
Idem. lado pelo delito de corrupção de menores é a proteção da

99
moralidade do menor e visa a coibir a prá ca de delitos em De fato,
que existe sua exploração.
Desta forma, muito embora os delitos tenham a mesma exigências adicionais para a pificação são extralegais
nomenclatura, os mesmos não se confundem. e até esbarram no velho brocardo commodissimum
est, id accipi, quo res de qua agitur, magis valeat
Classificação do Crime Previsto no Art. 244-B do ECA quam pereat (Prefira-se a inteligência dos textos que
torne viável o seu obje vo, ao invés da que os reduz
(4) Trata-se de um crime comum, ou seja, qualquer à inu lidade)190.
pessoa pode pra car tal crime.
(5) Sujeito passivo – o menor de 18 anos e a cole vi- Nosso entendimento caminha é que se trata de Delito
dade. Formal, uma vez que o delito de corrupção de menores
(6) De forma livre, podendo ser come do de qualquer prescinde da efe va corrupção do menor, bastando, para
forma. a sua configuração, a prova de par cipação do inimputável
(7) Comissivo. em crime juntamente com agente maior de 18 anos.
(8) Instantâneo. A Suprema Corte no HC nº 92.014/SP, rel. orig. Min. Ri-
(9) Unissubje vo, podendo ser come do por uma cardo Lewandowski, rel. p/ o acórdão Min. Menezes Direito,
pessoa. 1ª Turma, 2/9/2008 se posicionou no sen do de se tratar de
(10) Plurissubsistente. delito FORMAL, vejamos:
(11) Admite tenta va, embora de di cil configuração.
INFORMATIVO STF Nº 518
O problema surge ao se indagar se o delito se consumaria A Turma, por maioria, indeferiu Habeas Corpus no
mesmo se o menor, ao tempo do crime, já era corrompido. qual condenado pela prá ca dos delitos de roubo
Seria um crime material, de perigo ou formal? qualificado em concurso material com o de corrup-
Para os professores Guilherme de Souza Nucci (2008, ção de menores (CP, art. 157, § 2º, I e II, c/c Lei nº
p. 215) e José Geraldo da Silva (2008, p. 564), trata-se de 2.252/1954, art. 1º) pretendia anular sua condena-
um Delito Material, pois depende da ocorrência de efe vo ção rela vamente ao aludido crime de corrupção
prejuízo para o menor de 18 anos. de menores. A impetração sustentava a ausência
Nucci diz que: de comprovação da materialidade deli va quanto
a tal crime, ao argumento de que não teria sido
[...] não comete o crime previsto neste ar go o evidenciada, documentalmente, a menoridade da
maior de 18 anos que pra ca crime ou contraven- ví ma, constando apenas mera informação da mãe
ção na companhia do menor já corrompido, isto é, do menor nesse sen do. Considerou-se que, tanto no
acostumado à prá ca de atos infracionais. O obje vo acórdão proferido pelo STJ quanto no prolatado pelo
do po penal é evitar que ocorra a deturpação na tribunal de origem, ficara assentada a par cipação
formação da personalidade do menor de 18 anos. Se de um menor e, em se tratando de crime formal,
este já é corrompido, considera-se crime impossível estaria correto o entendimento fixado no acórdão
qualquer atuação do maior, nos termos do art. 17 do impugnado de que o objeto jurídico tutelado pelo
CPB. (Grifo nosso) po em questão é a proteção da moralidade do
Waldir Abreu (1995, p. 41) afirma que menor e que esse po penal visa coibir a prá ca de
delitos em que existe a exploração daquele. Assim,
o texto legal incrimina tanto corromper quanto prescindível a prova da efe va corrupção do menor.
facilitar a corrupção; só esta facilitação é suficiente Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, relator, que,
e se verifica não só quando o maior realiza conduta por reputar incabível, no caso, o debate sobre a
criminosa com o menor, ainda não corrompido, natureza do delito, cingindo-se a questão à prova da
como também quando apenas empresta colabora- menoridade, para ele não demonstrada, concedia a
ção à ação infratora da inicia va do mesmo inim- ordem para anular a decisão no tocante ao crime de
putável, pois assim estará a facilitar sua corrupção, corrupção de menores e restabelecia a pena fixada
aumentando-lhe a eficácia e experiência na vida tão nas instâncias ordinárias.
diversificada do crime. HC nº 92.014/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski,
rel. p/ o acórdão Min. Menezes Direito, 1ª Turma,
Assim, 2/9/2008. (HC nº 92.014)

o reconhecimento deste crime não depende de pro- O Supremo Tribunal Federal no Informa vo nº 529:
va de efe va corrupção, pois esta é presumida pela
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

potencialidade do ato, hábil a pelo menos facilitá-la, HC nº 92.014-SP


embora só posteriormente se exteriorize em fatos RELATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MENEZES DIREITO
concretos, por es mulo ou inspiração daqueles que EMENTA
o menor foi induzido a pra car ou assis r188. Habeas Corpus. Penal. Paciente condenado pelos cri-
Na hipótese, há resultado, qual seja, a probabilidade mes de roubo (art. 157 do Código Penal) e corrupção
da corrupção. Lógico, a extensão do evento pode de menor (art. 1º da Lei nº 2.252/1954). Menoridade
ser maior, compreendendo também a atração, o es- assentada nas instâncias ordinárias. Crime formal.
mulo e o fornecimento de meios para a execução Simples par cipação do menor. Configuração. 1. As
mostrar-se eficaz. O delinquente não ganha carta de instâncias ordinárias assentaram a par cipação de
crédito aberta para atrair menores porque, antes, um menor no roubo pra cado pelo paciente. Por-
o adolescente incursionara no caminho do crime189. tanto, não cabe a esta Suprema Corte discu r sobre
188
a menoridade já afirmada. 2. Para a configuração do
TJ-RJ – Apelação Criminal 1.710/1996 – Reg. Em 11/12/1997 – São Gonçalo –
Primeira Câmara Criminal – Por Maioria – Des. Paulo Gomes da Silva Filho – Julg: crime de corrupção de menor, previsto no art. 1º da
23/9/1997.
189
Recurso Especial nº 182471. Uf: Pr. Julgado em 20/4/1999. Sexta Turma. 190
Resp. nº 197.762/Pr.

100
Lei nº 2.252/1954, é desnecessária a comprovação Elemento Subje vo
da efe va corrupção da ví ma por se tratar de Dolo. Não há previsão da modalidade culposa no po
crime formal que tem como objeto jurídico a ser penal do art. 244-B do ECA.
protegido a moralidade dos menores. 3. Habeas
Corpus denegado. Obje vidade Jurídica do Crime Previsto no art. 244-B
do ECA
No mesmo sen do:
Evitar que o menor seja exposto ao “es mulo de ingresso
Corrupção de Menores e Crime Formal ou permanência na criminalidade” 191.
Para a configuração do crime de corrupção de menor Ação Penal
(Lei nº 2.252/1954, art. 1º) é desnecessária a com-
O crime de corrupção moral de menores previsto no ECA
provação da efe va corrupção da ví ma, por se tratar
é de ação penal pública incondicionada.
de crime formal, que tem como objeto jurídico a ser
protegido a moralidade dos menores. Ao aplicar esta
orientação, a Turma indeferiu Habeas Corpus em que Crime Impossível
acusado pela prá ca dos crimes descritos no art. 213 Se o menor à época do crime já era corrompido moral-
c/c o art. 226, I, ambos do CP e no art. 1º da Lei mente há que se falar em crime impossível, não respondendo
nº 2.252/1954 pleiteava a absolvição quanto ao crime o adulto pela prá ca do crime previsto no art. 244-B do ECA.
de corrupção de menores, sob o argumento de que Nós defendemos a não consumação do delito quando já
não fora demonstrada a chamada idoneidade moral havia prova da perversão do menor192, mas há quem susten-
anterior da ví ma menor, prova esta imprescindível te que há o crime, pois “acentuar, concre zar, consolidar a
para a caracterização da picidade do delito. Aduziu- corrupção, corrupção é” 193.
-se, conforme ressaltado pelo Ministério Público, que Ora,
o fato de ter o menor, em concurso com um agente
maior, pra cado fato criminoso, demonstraria, se- a corrupção vai se consolidando na medida em que
não o ingresso em universo prejudicial ao seu sadio alguém busca a colaboração do menor para a prá ca
desenvolvimento, ao menos sua manutenção nele, do ilícito penal. Não há limites estanques. Enseja
o que, de igual modo, seria passível de recrimina- graduação. A repe ção da conduta delituosa vai,
ção. Nesse sen do, acrescentou-se que, es vesse pouco a pouco, corroendo a personalidade. O po
já maculado ou não o caráter do menor, o crime de penal se faz presente, assim, também quando o
corrupção de menores se perfaria, porquanto, ainda jovem é atraído, mais uma vez, para o campo da
assim, estaria a conduta do agente maior a reforçar, delinquência. Não há perfeita igualdade com o crime
no menor, sua tendência infracional anteriormente do mencionado art. 218 do Código Penal, onde há
adquirida. Precedente citado: HC nº 92.014/SP (DJE vozes que excluem a criminalidade se a ví ma es ver
de 21/11/2008). HC nº 97.197/PR, rel. Min. Joaquim
integrada na prá ca da vida sexual. Importante: o
Barbosa, 2ª Turma, 27/10/2009. (HC nº 97.197)
objeto jurídico é outro. Na Lei nº 2.252/1954 busca-
-se impedir o es mulo de ingresso, ou permanência
Já o Superior Tribunal de Jus ça, conforme nos mostra
na criminalidade 194.
o Informa vo nº 393, se posicionou de forma divergente,
afirmando se tratar de crime de perigo vejamos:
REFERÊNCIAS
A Turma denegou a ordem por considerar, no caso, de
rigor a condenação do paciente pela prá ca do crime ABREU, Waldir. A Corrupção Penal Infanto-Juvenil. Forense:
de corrupção de menores previsto no art. 1º da Lei São Paulo, 1995.
nº 2.252/1954, que é de perigo, sendo descipienda,
portanto, a demonstração de efe va e posterior ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 8.
corrupção penal do menor. No caso dos autos, não ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
ficou demonstrado conforme consignado no acórdão
recorrido, que o menor par cipante da conduta de- NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais
lituosa vesse passagens pelo juízo da infância e da Comentadas. 3. ed. Rev. Atual. e ampl . São Paulo. Revista
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

juventude pela prá ca de atos infracionais ou, ainda,


dos Tribunais, 2008.
que tenha sido o mentor do crime de roubo. Observa
o Min. Relator, quanto à anterior inocência moral do
SILVA, José Geraldo da. Leis Especiais Anotadas. 10. ed.
menor, que essa se presume iuris tantum (não iuris et
Campinas: Millennium , 2008.
de iure) como pressuposto fá co do po. Explica que
quem já foi corrompido logicamente não pode ser ví-
ma de corrupção, todavia não é possível que o réu
191
adulto tenha a seu favor a presunção de inocência e Recurso Especial nº 182.471. UF: PR. Julgado em 20/4/1999. Sexta Turma.
192
Neste sen do: Apelação Criminal nº 27.289, de Imbituba – Relator: Des. Márcio
o menor envolvido tenha contra si uma presunção Ba sta; Apelação Criminal nº 99.001783-4, de Mafra. Relator: Des. Genésio
oposta. Precedentes citados: REsp. nº 852.716-PR, DJ Nolli; JC nº 58/418; RT nº 533/321; TJSP – RJTJSP nº 73/324; TRF 4ª R. – ACR
nº 98.04.04693-8 – RS – 1ª T. – Rel. Juiz Fábio Bi encourt da Rosa – DJU
19/3/2007; REsp. nº 853.350-PR, DJ nº 18/12/2006, e 20/5/1998; TJRJ – EI nº 4/97 – Reg. nº 130.498 – Cód. 97.054.00004 – Cabo
REsp. nº 822.977-RJ, DJ 30/10/2006. HC nº 128.267- Frio – S.Crim. – Relª Juíza Telma Musse Diuana – J. 26/11/1997; E TJRJ – ACR
nº 2.565/98 – (Reg. 040699) – 1ª C.Crim. – Rel. Des. Oscar Silvares – J. 3/3/1999.
DF, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, julgado em 193
Recurso Especial nº 182.471. Uf: Pr. Julgado em 20/4/1999. Sexta Turma.
5/5/2009. 194
Idem.

101
EXERCÍCIOS quiseram pra car o fato e possuíam plena capaci-
dade de entender o caráter ilícito dele.
Cespe/OAB – Nacional/2008.1 d) Lúcio poderá, excepcionalmente, ficar subme do à
medida socioeduca va de internação até completar
1. Acerca do procedimento de apuração do ato infracio- 21 anos, idade em que a liberação será compulsória.
nal e de execução das medidas previstas no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), assinale a opção 4. Acerca dos direitos individuais previstos no ECA, assi-
correta. nale a opção correta.
a) Será competente o juiz da infância e juventude do a) Nenhum adolescente será privado de sua liberdade,
lugar da ação ou omissão, observadas as regras de senão em flagrante de ato infracional, por determi-
conexão e con nência, inclusive nos casos de con- nação judicial, ou para averiguação, por ordem de
curso com a jurisdição comum. autoridade policial.
b) A execução da medida de proteção poderá ser b) A internação antes da sentença, ocorrida durante o
delegada à autoridade competente do lugar onde procedimento de apuração do ato infracional, não
residem os pais da criança, desde que situado no tem prazo máximo preestabelecido, contudo o juiz
mesmo estado da Federação do juízo processante. deve jus ficar a demora excessiva, sob pena de
c) A remissão, como forma de ex nção ou suspensão constrangimento ilegal.
do processo, pode ser aplicada em qualquer fase do c) Excetuando-se as hipóteses de dúvida fundamen-
procedimento ou depois de proferida a sentença. tada, o adolescente civilmente identificado não
d) A representação do Ministério Público no que se será subme do à iden ficação compulsória pelos
refere à proposta de instauração de procedimento órgãos oficiais.
para aplicação de medida socioeduca va independe d) A internação antes da sentença, ao contrário do que
de prova pré-cons tuída de autoria e materialidade. ocorre com a prisão cautelar prevista no processo
penal, dispensa fundamentação em face das pe-
2. Com relação às infrações administra vas e aos crimes culiaridades do procedimento de apuração do ato
pra cados contra crianças e adolescentes, assinale a infracional e das condições especiais de desenvol-
opção correta de acordo com o ECA. vimento do adolescente.
a) O agente que submete criança ou adolescente sob
sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a 5. Com relação ao procedimento de apuração do ato
constrangimento comete infração administra va. infracional, assinale a opção correta de acordo com o
b) O professor ou responsável por estabelecimento de que dispõe o ECA.
ensino que deixa de comunicar à autoridade com- a) Cabe recurso em sen do estrito da decisão que
petente os casos de que tenha conhecimento e que aplica medida socioeduca va, sendo possível o juízo
envolvam suspeita de maus-tratos contra criança ou de retratação.
adolescente pra ca crime. b) No recurso de apelação, antes de determinar a re-
c) O agente que produz ou dirige representação tele- messa dos autos à instância superior, o juiz poderá
visiva ou cinematográfica u lizando-se de criança reformar a decisão proferida.
ou adolescente em cena pornográfica ou de sexo c) Na ausência de advogado cons tuído, para resguar-
explícito pra ca crime, que deve ser objeto de ação dar o sigilo quanto à conduta do infrator, não se
penal pública incondicionada. admite a nomeação de defensor ad hoc.
d) O médico ou enfermeiro que deixa de iden ficar d) A outorga de mandato é indispensável caso o
corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião defensor seja cons tuído ou nomeado, sendo a
do parto, pra ca crime, que só admite a modalidade formalidade necessária em face das peculiaridades
dolosa e deve ser processado mediante ação penal do procedimento.
pública condicionada à representação.
Cespe/OAB – Nacional/2008.3
Cespe/OAB – Nacional/2008.2
6. À luz do ECA, assinale a opção correta.
3. Os irmãos Léo, com 18 anos de idade, Lúcio, com 17 a) A internação cons tui medida priva va de liberdade
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

anos de idade, e Lino, com 11 anos de idade, roubaram e, dada essa condição, não é permi da ao adoles-
dinheiro do caixa de uma padaria. Com base nessa cente interno a realização de a vidades externas,
situação hipoté ca, é correto afirmar que como trabalho e estudo.
a) Lúcio e Lino pra caram ato infracional e responderão b) A medida de internação poderá ser aplicada, ainda que
a procedimento junto à Vara da Infância e Juventude, haja outra medida adequada, se o MP assim requerer.
podendo ser aplicada, para ambos, medida socioe- c) Poderá ser decretada a incomunicabilidade do
duca va de internação. adolescente, a critério da autoridade competente,
b) Léo não será processado criminalmente por sua quando ele pra car atos reiterados de indisciplina.
conduta, visto que os demais autores do fato são d) Em caso de internação, a autoridade judiciária po-
menores de idade e, nesse caso, as condições de derá suspender temporariamente a visita, inclusive
caráter pessoal se comunicam. de pais ou responsável, se exis rem mo vos sérios
c) Léo, Lino e Lúcio serão processados criminalmente e fundados de prejudicialidade aos interesses do
pelos seus atos, caso fique demonstrado que todos adolescente.

102
7. Acerca do ECA, assinale a opção correta. c) Na interpretação do ECA, devem ser considerados os
a) Nos casos de ato infracional, a competência jurisdi- fins sociais a que o estatuto se dirige, as exigências
cional, em regra, será determinada pelo domicílio do bem comum, os direitos e deveres individuais e
dos pais ou responsável pelo adolescente. cole vos, bem como a condição peculiar da criança e
b) O adolescente a quem se atribua autoria de ato in- do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
fracional não poderá ser conduzido ou transportado d) O adolescente civilmente iden ficado não pode ser
em compar mento fechado de veículo policial, sob subme do à iden ficação compulsória pelos órgãos
pena de responsabilidade. policiais, de proteção e judiciais, nem mesmo para
c) A representação feita pelo MP em face de adolescen- efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.
te dependerá de prova pré-cons tuída da autoria e
materialidade do ato infracional. 11. No que se refere ao direito à convivência familiar e
d) O adolescente apreendido por força de ordem judicial comunitária, assinale a opção correta com base no ECA.
será, desde logo, encaminhado à autoridade policial a) O pátrio poder não poderá ser exercido, simultanea-
competente, para oi va e qualificação. mente, pelo pai e pela mãe. Em caso de discordância
quanto a quem caberá tularizá-lo, a ambos será
Cespe/OAB-Nacional/2009-1 facultado o direito de recorrer à autoridade judiciária
competente para a solução da divergência.
8. Com relação às disposições do ECA acerca da coloca- b) Na ausência dos pais, o pátrio poder poderá ser
ção da criança e do adolescente em família subs tuta, delegado, nessa ordem: ao irmão mais velho, desde
que já tenha alcançado a maioridade, ao o paterno
assinale a opção correta.
ou ao avô paterno. Na ausência de qualquer um
a) A colocação da criança em família subs tuta, na mo-
desses, o pátrio poder poderá, excepcionalmente,
dalidade de adoção, cons tui medida excepcional,
ser delegado à avó materna.
preferindo-se que ela seja criada e educada no seio
c) Toda criança ou adolescente tem direito à educação
saudável de sua família natural.
no seio da sua família e, excepcionalmente, em
b) A guarda des na-se a regularizar a posse de fato e,
família subs tuta, assegurada a par cipação efe va
uma vez deferida pelo juiz, não pode ser posterior- da mãe biológica no convívio diário com o edu-
mente revogada. cando, em ambiente livre da presença de pessoas
c) Somente a adoção cons tui forma de colocação da discriminadas.
criança em família subs tuta. d) Os filhos, havidos, ou não, da relação do casamento,
d) O guardião não pode incluir a criança que esteja sob ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualifica-
sua guarda como beneficiária de seu sistema previ- ções, proibidas quaisquer designações discriminató-
denciário visto que a guarda não confere à criança rias rela vas à filiação.
condição de dependente do guardião.
Cespe/OAB-Nacional/2009-3
9. Acerca da medida socioeduca va de internação, pre-
vista no ECA, assinale a opção correta. 12. Em relação às medidas socioeduca vas previstas no
a) Comprovada a autoria e materialidade de ato infra- ECA, assinale a opção correta.
cional considerado hediondo, tal como o tráfico de a) A advertência somente pode ser aplicada se houver
entorpecentes, ao adolescente infrator deve, ne- provas suficientes da autoria e da materialidade da
cessariamente, ser aplicada medida socioeduca va infração.
de internação. b) As medidas socioeduca vas de semiliberdade e de
b) O adolescente que a nge os 18 anos de idade deve internação por prazo indeterminado não podem ser
ser compulsoriamente liberado da medida socio- incluídas na remissão, sendo admissível sua aplica-
educa va de internação em razão do alcance da ção somente após a instrução processual em sede
maioridade penal. de sentença de mérito.
c) No processo para apuração de ato infracional de ado- c) A obrigação de reparar o dano à ví ma não cons tui
lescente, não se exige defesa técnica por advogado. medida socioeduca va.
d) A medida socioeduca va de internação não com- d) A medida socioeduca va de prestação de serviços
porta prazo determinado, devendo sua manutenção à comunidade pode ser aplicada pelo prazo de até
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no um ano.


máximo a cada 6 meses.
13. Assinale a opção correta conforme as disposições do
Cespe/OAB-Nacional/2009-2 ECA.
a) Inclui-se, entre as medidas aplicáveis aos pais ou
10. Considerando o ECA, assinale a opção correta. responsável do menor, o encaminhamento a trata-
a) Entre as medidas socioeduca vas que podem ser mento psicológico ou psiquiátrico.
aplicadas ao adolescente, estão a prestação de ser- b) O prazo máximo previsto para a medida de inter-
viços à comunidade e a subs tuição de internação nação é de três anos, devendo ser prefixado pelo
em estabelecimento educacional por multa. magistrado na sentença.
b) A medida aplicada por força de remissão não pode c) Não havendo arquivamento dos autos ou concessão
ser revista judicialmente, sob pena de ofensa à de remissão, o membro do MP procederá à apresen-
coisa julgada. tação de denúncia contra o adolescente.

103
d) As eleições para o conselho tutelar, órgão com Adoção, introduziu no texto do Estatuto da Criança
poderes jurisdicionais, são organizadas em âmbito e do Adolescente o conceito de família extensa ou
municipal. ampliada.
24. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
Julgue os itens. Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
14. (Cespe/Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região/2010) Questão 73) A idade mínima para adotar é a de 25 anos,
De acordo com a doutrina jurídica da proteção integral dependendo do estado civil do adotante.
adotada pelo ECA, as crianças e os adolescentes são 25. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
tulares de direitos e não, objetos passivos. Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
15. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Pau- Questão 73) Somente poderá haver a adoção desde que
lo/2010) É dever da família, da comunidade, da socie- haja diferença de 18 anos entre adotante e adotado.
dade em geral e do Poder Público assegurar a efe vação 26. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, Questão 73) Poderá haver adoção por procuração.
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- 27. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
vência familiar e comunitária. Essa afirma va encontra Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/–2010/
fundamento nos princípios da prioridade absoluta e Questão 73) Poderão adotar os ascendentes e os irmãos
proteção integral. do adotando.
16. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ 28. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
Questão 74) As en dades que desenvolvam programas Questão 73) Não há vedação que colaterais adotem,
de acolhimento familiar ou ins tucional deverão adotar de forma que o pode adotar o sobrinho.
ao princípio da par cipação na vida da comunidade 29. (Cespe/Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região/Juiz
local. do Trabalho Subs tuto II/2010/Questão 78) O trabalho
educa vo descrito no ECA é a vidade laboral em que as
17. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
exigências pedagógicas referentes ao desenvolvimento
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
pessoal e social das crianças e adolescentes prevalecem
Questão 80) Cons tui um requisito para a concessão
sobre o aspecto produ vo.
de pedido de colocação em família subs tuta, a apre-
30. (Cespe/Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região/
sentação da declaração sobre a existência de bens e
Juiz do Trabalho Subs tuto II/2010/Questão 80) De
rendimentos do requerente.
acordo com o que dispõe o Estatuto da Criança e do
18. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ Adolescente, na formação técnico-profissional do
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ aprendiz, devem ser observadas a garan a de acesso
Questão 80) Nas hipóteses em que a des tuição da tu- e frequência obrigatória ao ensino regular, a a vidade
tela, a perda ou a suspensão do poder familiar cons tuir compa vel com o desenvolvimento do adolescente e
pressuposto lógico da medida principal de colocação em o horário especial para o exercício das a vidades.
família subs tuta, não será necessário o procedimento 31. (Cespe/Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região/
contraditório. Juiz do Trabalho Subs tuto I/2010/Questão 28) Para
19. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ que um adolescente se torne aprendiz é obrigatória
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ sua inscrição em programa de aprendizagem, que pode
Questão 80) O consen mento dos tulares do poder ser ministrado por escolas técnicas de educação ou por
familiar prestado por escrito terá validade, mesmo que en dades sem fins lucra vos, que tenham por obje vo
não ra ficado em audiência. a assistência ao adolescente e a educação profissional,
20. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ desde que estejam registradas no conselho municipal
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ dos direitos da criança e do adolescente.
Questão 80) O consen mento é retratável e somente 32. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Paulo/Defen-
terá valor se for dado após o nascimento da criança. sor Público/2010/Questão 57) Dentre as diretrizes da
21. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ polí ca de atendimento expressamente indicadas no
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 88) temos a
Questão 80) A colocação de criança ou adolescente sob manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimen- vinculados aos respec vos conselhos dos direitos da
to familiar será comunicada pela autoridade judiciária criança e do adolescente.
à en dade por este responsável no prazo máximo de 33. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Paulo/
10 (dez) dias. Defensor Público/2010/Questão 61) Segundo prevê
22. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ o Estatuto da Criança e do Adolescente, quando uma
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ criança pra ca ato infracional fica sujeita à aplicação
Questão 78) No processo de perda do poder familiar, de medidas específicas de proteção de direitos pelo
a citação deverá ser feita pessoalmente; a contestação Conselho Tutelar ou Poder Judiciário, conforme o caso.
ocorrerá no prazo de dez dias e a sentença que decretar 34. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada. Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
23. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Pau- Questão 75) As medidas de proteção deverão ser
lo/ Defensor Público/2010/Questão 64) A Lei aplicadas cumula vamente e subs tuídas a qualquer
nº 12.010/2009, conhecida como Lei Nacional de tempo.

104
35. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ 46. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
Questão 75) Na aplicação das medidas de proteção, Questão 79) De acordo com o que dispõe o Estatuto
levar-se-ão em conta as necessidades sicas e psicoló- da Criança e do Adolescente, compete ao Ministério
gicas da criança e do adolescente. Público requisitar informações e documentos a par -
36. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ culares e ins tuições privadas.
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ 47. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Paulo/Defen-
Questão 75) O acolhimento ins tucional e o acolhi- sor Público/2010/Questão 59) Adolescente de 16 anos
mento familiar são medidas de proteção provisórias e é apreendido em flagrante pela prá ca de homicídio.
excepcionais, não implicando privação de liberdade. Segundo dispõe a lei vigente, se ficar demonstrado que
37. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ o adolescente é portador de doença ou deficiência men-
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ tal, ele receberá tratamento individual e especializado,
Questão 75) As medidas de proteção serão acompanha- em local adequado às suas condições.
das da regularização do registro civil, isento de custas, 48. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Paulo/De-
multas e emolumentos. fensor Público/2010/Questão 60) Adolescentes são
38. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ flagrados, às 23h30m, consumindo bebida alcoólica
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ num bar. Situações desse po segundo jurisprudência
Questão 76) No procedimento de apuração de ato dominante do STJ, não sujeitam os donos e/ou fun-
infracional, se o adolescente, devidamente no ficado, cionários do estabelecimento ao crime do art. 243 do
não comparecer, injus ficadamente, à audiência de Estatuto da Criança e do Adolescente (vender, fornecer
apresentação, a autoridade judiciária deverá designar ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de
nova data, determinando sua condução coerci va. qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa
39. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Paulo/ causa, produtos cujos componentes possam causar
Defensor Público/2010/Questão 62) As medidas socio- dependência sica ou psíquica, ainda que por u lização
educa vas de prestação de serviços à comunidade e indevida os quais podem ser processados, contudo, pela
liberdade assis da, dentro da atual Polí ca Nacional de prá ca da contravenção penal de servir bebida alcoólica
Assistência Social (PNAS), estão alocadas ou ar culadas a menores de 18 anos (art. 63 da Lei das Contravenções
com o Centro de Referência Especializado de Assistência Penais).
Social (CREAS) como serviço de proteção social especial 49. (Fundep/Corpo de Bombeiros Militar do Estado de
de média complexidade. Minas Gerais/Cadete-BM/2010/Questão 28) Segundo
40. (FCC/Defensoria Pública do Estado de São Paulo/De- o que dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente,
fensor Público/2010/Questão 58) Prevê o Estatuto da entre os produtos e serviços de venda proibida à criança
Criança e do Adolescente medida de perda da guarda ou ao adolescente, não se incluem jogos eletrônicos
dentre aquelas per nentes aos pais ou responsável. violentos.
41. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/
Questão 76) Em cada Município haverá, no mínimo,
GABARITO
um Conselho Tutelar composto de sete membros, es-
colhidos pela comunidade local para mandato de dois 1. d 27. E
anos. 2. c 28. C
42. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ 3. d 29. C
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ 4. c 30. C
Questão 76) O Conselho Tutelar é o órgão autônomo, 5. b 31. C
6. d 32. C
jurisdicional, encarregado pelo Estado de zelar pelos
7. b 33. C
direitos da criança e do adolescente.
8. a 34. E
43. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ 9. d 35. E
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ 10. c 36. C
Questão 76) O exercício efe vo da função de conse- 11. d 37. C
lheiro não se cons tui em serviço público, não havendo 12. b 38. C
impedimento de servir no mesmo Conselho marido e 13. a 39. C
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

mulher. 14. C 40. C


44. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ 15. C 41. E
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ 16. C 42. E
Questão 76) O processo para a escolha dos membros 17. E 43. E
do Conselho Tutelar será estabelecido em lei federal e 18. E 44. E
realizado sob a responsabilidade e anuência do Minis- 19. E 45. C
tério Público. 20. C 46. C
45. (Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/ 21. E 47. C
Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/ 22. C 48. C
23. C 49. C
Questão 76) O Conselho Tutelar tem a atribuição de
24. E
encaminhar ao Ministério Público no cia de fato que 25. E
cons tua infração administra va ou penal contra os 26. E
direitos da criança ou do adolescente.

105
ESTATUTO DO IDOSO providências a serem cumpridas, anotando-se essa circuns-
tância em local visível nos autos do processo. Tal prioridade
A Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, traz regras não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em
de proteção à dignidade das pessoas com idade mais avan- favor do cônjuge supérs te, companheiro ou companheira,
çada – maiores de 60 anos. O Estatuto do Idoso passou a com união estável, maior de 60 (sessenta) anos.
vigorar a par r de 1º de janeiro de 2004. Consoante a dicção Cumpre ressaltar que a prioridade se estende aos pro-
do art. 1º, da Lei nº 10.741/2003, idoso é toda pessoa “com cessos e procedimentos na Administração Pública, empresas
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”. prestadoras de serviços públicos e ins tuições financeiras,
O nobre doutrinador Paulo Frange mostra as razões para ao atendimento preferencial junto à Defensoria Pública da
a escolha da idade de 60 anos. Vejamos: União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos
Serviços de Assistência Judiciária.
Há dificuldade para estabelecer parâmetros que Para o atendimento prioritário será garan do ao idoso
definam o início da chamada “Terceira Idade”, tendo o fácil acesso aos assentos e caixas, iden ficados com a
em vista os diversos fatores que atuam no processo des nação a idosos em local visível e caracteres legíveis.
de envelhecimento e variam de caso a caso. Entre-
tanto, para efeitos jurídicos, é necessário definir um O Ministério Público e o Estatuto do Idoso
limite de idade que caracterize esse segmento da
população. Nos países desenvolvidos a tendência As funções do Ministério Público, previstas no Estatuto do
é u lizar a idade de 65 anos, enquanto que nos pa- Idoso, serão exercidas nos termos da respec va Lei Orgânica.
íses emergentes, como o Brasil, a idade geralmente Assim, compete ao Ministério Público:
u lizada é de 60 anos, uma vez que a expecta va 1. Instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para
de vida nestes países é menor. Desta forma, o Es- a proteção dos direitos e interesses difusos ou cole vos,
tatuto do Idoso adotou a idade igual ou superior a individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso.
60 anos, para regular os direitos das pessoas que se Capez assim definiu o inquérito civil:
encontram nesta faixa etária, que são portadoras de
necessidades específicas e, por esta razão, merecem
O inquérito civil é um procedimento administra vo-
maior atenção da sociedade.1
-inves gatório, de caráter pré-processual, que se
realiza extrajudicialmente, a cargo do MP, e se des na
Além da definição da figura do “idoso”, a lei em apreço
a colher elementos para eventual propositura da
traz preceitos fundamentais inerentes às pessoas idosas,
ação civil pública ou cole va. Não existe inquérito
bem como o tratamento adequado que deve ser dispen-
civil a cargo de associações civis ou dos demais co-
sado pelos seus familiares para com elas. Dispõe o art. 8º,
-legi mados.2
do referido diploma legal: “O envelhecimento é um direito
personalíssimo e a sua proteção um direito social [...]”. E o
art. 9º: “É obrigação do Estado, garan r à pessoa idosa a Como se des na apenas a colher elementos de con-
proteção à vida e à saúde, mediante efe vação de polí cas vicção para a promoção de ação civil pública, o inqué-
sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável rito civil consiste numa inves gação administra va
e em condições de dignidade”. A preocupação do legislador prévia de inicia va exclusiva do MP. Trata-se de um
foi a de garan r aos idosos o direito à dignidade, preceito instrumento ú l, mas não obrigatoriamente neces-
máximo da Lei Fundamental e princípio internacional acolhi- sário, pois o Promotor de Jus ça poderá dispensá-lo
do pela maioria dos países do mundo. A Lei nº 11.765/2008 quando já ver em mãos os elementos para propor
alterou o Estatuto do Idoso, incluindo o inciso IX no art. 3º, a ação principal ou cautelar.3
que passou a estabelecer a prioridade do idoso em receber
sua res tuição do imposto de renda. No inquérito civil, podem-se dis nguir três fases:
A maior parte dos disposi vos da lei em comento se instauração, instrução e conclusão. A fase de instau-
refere às questões sociais rela vas aos idosos. No entanto, ração inicia-se com portaria ou despacho ministerial,
para os juristas, o mais importante e polêmico assunto acolhendo requerimento ou representação. Na fase
disciplinado pela lei em tela diz respeito ao procedimento de instrução, procede-se à colheita de provas pela
a ser aplicado aos crimes come dos dos contra os idosos. oitiva de testemunhas, juntada de documentos,
realização de vistorias, exames e perícias. Por fim,
O Idoso e o Acesso à Jus ça a conclusão do inquérito, com a elaboração de rela-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tório final sobre a propositura da ação ou a promoção


De acordo com o art. 70 da lei em estudo, o Poder Público do arquivamento.4
poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.
É assegurada prioridade na tramitação dos processos e Acerca da ação civil pública, Fernando Capez nos apre-
procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais senta o seguinte conceito:
em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância. [...] toda aquela ação proposta pelo MP e demais
O interessado na obtenção da prioridade mencionada, fazen- legi mados a vos, com o fim de pleitear tutela juris-
do prova de sua idade, requererá o bene cio à autoridade ju- dicional a interesses difusos, cole vos ou individuais
diciária competente para decidir o feito, que determinará as homogêneos.5

1 2
FRANGE, Paulo. O Estatuto do Idoso comentado por Paulo Frange. Paulo Ibid., p.219
3
Frange, 2004, p. 10. Disponível em: <h p://www.humbertohenrique.com.br/ Ibid., p.219
4
download/doc_details/8-estatuto-do-idoso-comentado.html>. Acesso: 19 set. Ibid., p.220
5
2011. Ibid., p.198

106
Em síntese, há duas posições: 2. Promover e acompanhar as ações de alimentos, de
a) para a primeira, a par r da Lei nº 7.347/1985, toda interdição total ou parcial, de designação de curador espe-
ação visando à tutela de direito difuso (cole vo ou in- cial, em circunstâncias que jus fiquem a medida e oficiar em
dividual homogêneo) é chamada de ação civil pública; todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em
b) para a segunda, ação civil pública é somente aque- condições de risco.
la proposta pelo MP, ao passo que a ação proposta 3. Atuar como subs tuto processual do idoso em situ-
pelos demais legi mados a vos denomina-se ação ação de risco.
cole va.6 4. Promover a revogação de instrumento procuratório do
idoso em situação de risco, quando necessário ou o interesse
Sobre o objeto da ação civil pública, tutela principal e público jus ficar.
cautelar, respec vamente, Capez nos ensina:
Assim, como no Estatuto da Criança e do Adolescente,
Atualmente, a Lei nº 7.347/1985 inclui sem eu campo podemos dizer que as situações de risco em que o idoso
de proteção a defesa: pode se encontrar, são aquelas dispostas no art. 43, da Lei
a) do meio ambiente; nº 10.741/2003:
b) do consumidor;
c) da ordem urbanís ca (Medida Provisória nº 2.180- As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis
35/2001); sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
d) dos bens e direitos de valor ar s co, esté co, ameaçados ou violados:
histórico, turís co e paisagís co, que são chamados I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
de patrimônio cultural; II – por falta, omissão ou abuso da família, curador
e) da ordem econômica e da economia popular (Me- ou en dade de atendimento;
dida Provisória nº 2.180-35/2001); III – em razão de sua condição pessoal.
f) ainda, e, principalmente, de qualquer outro interes-
se difuso ou cole vo. Essa tutela refere-se aos danos 5. Instaurar procedimento administra vo e, para instruí-
morais e patrimoniais.7 -lo:
a) expedir no ficações, colher depoimentos ou es-
[...] clarecimentos e, em caso de não comparecimento
Por ação civil pública da Lei nº 7.347/1985, compre- injus ficado da pessoa no ficada, requisitar condu-
endem-se: ção coerci va, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
a) as ações principais condenatórias, de reparação b) requisitar informações, exames, perícias e docu-
do dano ou de indenização; mentos de autoridades municipais, estaduais e fe-
b) as ações cautelares preparatórias ou incidentes; derais, da administração direta e indireta, bem como
c) as ações cautelares sa sfa vas, que não dependem promover inspeções e diligências inves gatórias;
da propositura de uma ação principal;
d) as ações de liquidação de sentença e de execu- Sobre o assunto Capez professa:
ção; e
e) quaisquer outras ações para a proteção de in- Para a elaboração do inquérito civil, o MP poderá
teresses difusos e cole vos, sejam declaratórias, proceder a no ficações e requisições, a fim de melhor
cons tu vas ou de preceito cominatório.8 inves gar os fatos.11
A no ficação é uma verdadeira in mação, por meio
E ainda: da qual o órgão do MP faz saber a alguém que deseja
ouvi-lo e, para isso, marcará dia, hora e local para
Ajuizada a ação civil pública, dela não pode desis r o comparecimento. No caso de nega va em atender ao
MP por ser indisponível o seu objeto, mas, ao final, chamado, existe a possibilidade de haver a condução
diante das provas produzidas, poderá manifestar-se coerci va.12
pela sua procedência ou improcedência.9
Cumpre mencionar que é crime previsto no inciso V do
Por fim: art. 100 da Lei em estudo:
O MP, no entanto, não está obrigado a propor a ação recusar, retardar ou omi r dados técnicos indispen-
civil pública quando não iden ficar a hipótese de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei,


atuação, devendo, nesse acaso, determinar o arquiva- quando requisitados pelo Ministério Público.
mento do inquérito civil ou procedimento apuratório,
remetendo os autos ao Conselho Superior.10 c) requisitar informações e documentos par culares de
ins tuições privadas.
Lembrando que segundo o art. 89, da Lei nº 10.741/2003,
qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá provocar a 6. Instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves ga-
iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informa- tórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração
ções sobre os fatos que cons tuam objeto de ação civil e de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso.
indicando-lhe os elementos de convicção. Cumpre ressaltar que o art. 90 da lei em estudo, diz que
6
Ibid., p.198
os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercí-
7
Ibid., p.199. cio de suas funções, quando verem conhecimento de fatos
8
Ibid., p.204.
9 11
Ibid., p.210. Ibid., p. 220.
10 12
Ibid., p.210. Ibid., p. 220.

107
que possam configurar crime de ação pública contra idoso sem sobre interesses difusos e cole vos, seja como
ou ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem autor, seja como órgão interveniente que, por não as
encaminhar as peças per nentes ao Ministério Público, para ter ajuizado, obrigatoriamente nelas deve oficiar”.14
as providências cabíveis.
7. Zelar pelo efe vo respeito aos direitos e garan as le- A in mação do Ministério Público, em qualquer caso,
gais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais será feita pessoalmente, sendo que a falta de intervenção
e extrajudiciais cabíveis. do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será
8. Inspecionar as en dades públicas e par culares de declarada de o cio pelo juiz ou a requerimento de qualquer
atendimento e os programas de que trata o Estatuto do interessado.
Idoso, adotando de pronto as medidas administra vas ou
judiciais necessárias à remoção de irregularidades porven- Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Cole vos
tura verificadas. Individuais Indisponíveis ou Homogêneos
9. Requisitar força policial, bem como a colaboração
dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, Em primeiro lugar, é preciso ser dito que nas ações co-
públicos, para o desempenho de suas atribuições. le vas não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
10. Referendar transações envolvendo interesses e direi- honorários periciais e quaisquer outras despesas, bem como
tos dos idosos previstos na Lei nº 10.741/2003. não se imporá sucumbência ao Ministério Público.
Tais ações serão propostas no foro do domicílio do idoso,
Sobre a transação, o Professor Fernando Capez ensina: cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas as competências da Jus ça Federal e a compe-
No curso do inquérito civil, pode surgir a possibilidade tência originária dos Tribunais Superiores.
de se obter um compromisso de ajustamento, que Nas ações mencionadas neste tópico, o juiz poderá
poderá ser invocado como fundamento para arqui- conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
var a inves gação instaurada. Havendo transação irreparável à parte.
que atenda integralmente à defesa dos interesses Também, antes de entrarmos no assunto da defesa do
difusos, obje vados no inquérito civil, permite-se o idoso em juízo, vale citar as definições do Ilustre Professor
arquivamento do mesmo.13 Fernando Capez acerca do tema:

A legi mação do Ministério Público para as ações cíveis Interesse Privado


mencionadas não impede a de terceiros, nas mesmas hipó-
teses, segundo dispuser o Estatuto do Idoso. O interesse qualifica-se como privado quando ver
As atribuições estudadas não excluem outras, desde que como tular o cidadão individualmente considera-
compa veis com a finalidade e atribuições do Ministério do.15
Público. Exemplos: o interesse do indivíduo em defender sua
O Promotor de Jus ça, no exercício de suas funções, propriedade privada contra turbações; o interesse na
terá livre acesso a toda en dade de atendimento ao idoso. cobrança de uma dívida; o interesse na redução do
Lembrando que cons tui crime previsto no art. 109 do valor loca cio de um imóvel etc.16
Estatuto do Idoso, impedir ou embaraçar ato do represen-
tante do Ministério Público ou de qualquer outro agente Interesse Público
fiscalizador dos direitos e garan as da pessoa idosa esculpi-
dos na lei em estudo. [...] a expressão ‘interesse público’ tem sido u liza-
Por fim, as manifestações processuais do Órgão Minis- da para alcançar também os chamados interesses
terial deverão ser fundamentadas sociais, os interesses indisponíveis do indivíduo e
da cole vidade, os interesses difusos, cole vos e
Análise do art. 75 individuais homogêneos, que podem não coincidir
Dispõe o art. 75 da lei em estudo: com os interesses estatais.17
Nos processos e procedimentos em que não for Interesse Público Primário
parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público
na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta [...] o interesse público primário é o interesse do
Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois bem geral, ou seja, o interesse da sociedade ou da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

das partes, podendo juntar documentos, requerer cole vidade como um todo.18
diligências e produção de outras provas, usando os
recursos cabíveis. Interesse Público Secundário
Analisando disposi vo semelhante na Lei de Ação Civil É o interesse público visto pelos órgãos da Admi-
Pública, o Professor Fernando Capez nos ensina: nistração, ou melhor, o modo pelo qual os órgãos
administra vos veem o interesse público.19
[...] a Lei nº 7.347/1985 estabeleceu, no seu art. 5º,
§ 1º, que: “O Ministério Público, se não intervier no
processo como parte, atuará obrigatoriamente como
14
Ibid., p.210
fiscal da lei’. Com esse disposi vo, busca-se garan r 15
CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, p. 185
a presença do Ministério Público nas ações que ver- 16
Ibid., p.185
17
Ibid., p.186
18
Ibid., p.186.
13 19
Ibid., p. 221. Ibid., p.186.

108
Interesses Metaindividuais ou Transindividuais APELAÇÃO CÍVEL – OBRIGAÇÃO DE FAZER – FOR-
NECIMENTO DE TRANSPORTE PARA PACIENTE QUE
Ao lado do interesse meramente privado e do in- REALIZA TRATAMENTO DE SAÚDE EM HOSPITAL FORA
teresse público secundário, existe uma categoria DO LOCAL DE SEU DOMICÍLIO – CABIMENTO. Em
intermediária, na qual se encontram os interesses atendimento a preceito cons tucional (arts. 5º e 196
cole vos, ou seja, aqueles referentes a toda uma da CF) é direito do paciente que realiza tratamento de
categoria de pessoas (condôminos de um edi cio, saúde em nosocômio fora de seu local de domicílio o
sócios de uma empresa, atletas de uma equipe es- acesso a transporte gratuito se desprovido de recur-
por va, empregados do mesmo patrão).20 sos financeiros para tanto. Paciente que conta com
80 anos de idade. Observância do Estatuto do Idoso
Um interesse é metaindividual quando, além de (arts. 9º e 15, § 2º). Obrigação dos órgãos públicos
ultrapassar o círculo individual, corresponde aos de garan a de atendimento salutar aos cidadãos.
anseios de todo um segmento ou categoria social.21 Decisão man da. Recursos desprovidos.
Interesses Difusos
b) A 3ª Turma do Superior Tribunal de Jus ça, no agra-
vo regimental no Recurso Especial nº 2004/0169313-
São aqueles em que os tulares não são previamen-
7, cujo relator foi o Min. Sidnei Bene , decidiu:
te determinados ou determináveis e encontram-se
ligados por circunstâncias de fato. São interesses
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ESTATUTO DO
indivisíveis e, embora comuns a uma categoria mais
ou menos abrangentes de pessoas, não se pode afir- IDOSO. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE DE MENSALI-
mar com precisão a quem pertencem, nem em que DADES EM RAZÃO DE MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA.
medida quan ta va são por elas compar lhados.22 VEDAÇÃO. DECISÃO AGRAVADA. MANUTENÇÃO. –
O plano de assistência à saúde é contrato de trato
Interesses Cole vos sucessivo, por prazo indeterminado, a envolver
transferência onerosa de riscos, que possam afetar
[...] são cole vos somente os interesses que com- futuramente a saúde do consumidor e seus depen-
preendem uma categoria determinada, ou pelo dentes, mediante a prestação de serviços de assis-
menos determinável de pessoas, dizendo respeito a tência médico-ambulatorial e hospitalar, diretamente
um grupo, classe ou categoria de indivíduos, ligados ou por meio de rede credenciada, ou ainda pelo
pela mesma relação jurídica básica (art. 81, parágrafo simples reembolso das despesas. – Como caracterís-
único, II, do CDC). Do mesmo modo que os difusos, ca principal, sobressai o fato de envolver execução
os interesses cole vos têm natureza indivisível, na periódica ou con nuada, por se tratar de contrato de
medida em que não podem ser par lhados indivi- fazer de longa duração, que se prolonga no tempo; os
dualmente entre os seus tulares.23 direitos e obrigações dele decorrentes são exercidos
por tempo indeterminado e sucessivamente. – Ao
Interesses Individuais Homogêneos firmar contrato de plano de saúde, o consumidor
tem como obje vo primordial a garan a de que, no
São os direitos individuais cujo tular é perfeitamente futuro, quando ele e sua família necessitarem, obterá
iden ficável e cujo objeto é divisível. Diferenciam-se, a cobertura nos termos em contratada. – O interesse
pois, dos interesses cole vos, em virtude da divisi- social que subjaz do Estatuto do Idoso, exige sua
bilidade do direito tularizado pelos vários sujeitos. incidência aos contratos de trato sucessivo, assim
O que caracteriza um direito individual como ho-
considerados os planos de saúde, ainda que firmados
mogêneo é a natureza comum, similar, semelhante
anteriormente à vigência do Estatuto Prote vo. –
entre os interesses de cada um dos vários tulares.24
Deve ser declarada a abusividade e consequente
nulidade de cláusula contratual que prevê reajuste
Ações de Responsabilidade por ofensa aos Direitos
Assegurados ao Idoso de mensalidade de plano de saúde calcada exclu-
Regem-se pelas disposições da Lei nº 10.741/2003, sivamente na mudança de faixa etária. – Veda-se
as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos asse- a discriminação do idoso em razão da idade, nos
gurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento termos do art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso, o que
impede especificamente o reajuste das mensalida-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

insa sfatório de:


des dos planos de saúde que se derem por mudança
1) Acesso às ações e serviços de saúde. de faixa etária; tal vedação não envolve, portanto,
Jurisprudência os demais reajustes permi dos em lei, os quais ficam
a) A 1ª Câmara do Tribunal de Jus ça do Estado de garan dos às empresas prestadoras de planos de
São Paulo, na apelação cível com Revisão nº 891.48 saúde, sempre ressalvada a abusividade. – Agravo
9-5/2-00, cujo relator foi o Desembargador Danilo Regimental improvido. (Grifo nosso)
Panizza, decidiu:
2) Atendimento especializado ao idoso portador de
deficiência ou com limitação incapacitante.
20
Ibid., p.187. 3) Atendimento especializado ao idoso portador de do-
21
Ibid., p.187. ença infecto-contagiosa.
22
Ibid., p.187.
23
Ibid., p.190.
4) Serviço de assistência social visando ao amparo do
24
Ibid., p.190. idoso.

109
Análise do caput do art. 81 A legi mação extraordinária na visão do Professor
Dispõe o art. 81 do Estatuto do Idoso: Fernando Capez

Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, É a possibilidade de alguém, em nome próprio,
cole vos, individuais indisponíveis ou homogêneos, defender interesse alheio. Nesse caso, configura-se
consideram-se legi mados, concorrentemente: verdadeira subs tuição processual, inconfundível
I – o Ministério Público; com a representação, em que alguém, em nome
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- alheio, defende o interesse alheio.27
nicípios;
III – a Ordem dos Advogados do Brasil; Defesa judicial dos interesses difusos e cole vos
IV – as associações legalmente cons tuídas há pelo
menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins ins - Capez diz que:
tucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa
idosa, dispensada a autorização da assembléia, se Conforme salienta Hugo Nigro Mazzilli, “antes do
houver prévia autorização estatutária. advento da Lei nº 7.347, de 24/7/1985, poucas
§ 1º Admi r-se-á li sconsórcio faculta vo entre os fórmulas havia para a defesa global, em juízo, de
Ministérios Públicos da União e dos Estados na defesa interesses difusos e cole vos. Além da ação popular
dos interesses e direitos de que cuida esta Lei. ajuizada pelo cidadão e da ação civil conferida ao MP,
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação en dades de classe ou associações também estavam
por associação legi mada, o Ministério Público ou autorizadas a postular interesses cole vos, em juízo”,
outro legi mado deverá assumir a tularidade a va. desde que houvesse lei expressa permi ndo essa
inicia va... Então, para disciplinar a ação civil pública
Apesar de mencionar a OAB, o Estatuto da Criança e do de responsabilidade por danos causados a interesses
Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto difusos, surgiu a Lei nº 7.347/1985, que passou a ser
do Idoso e a Lei de Ação Civil Pública formam um microssis- conhecida como Lei da Ação Civil Pública ou Lei de
tema, o que permite dizer que a Defensoria Pública também Proteção aos Interesses Difusos.28
pode defender os interesses dos idosos em juízo, senão
A Cons tuição de 1988 e a legislação sobre interesses
vejamos o que dispõe o art. 5º da Lei nº 7.347/1985:
difusos, cole vos e individuais homogêneos
Têm legi midade para propor a ação principal e a Capez professa:
ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448,
de 2007) Com a Cons tuição de 1988, ampliou-se o rol dos
I – o Ministério Público; (Redação dada pela Lei legi mados a vos para a defesa dos interesses tran-
nº 11.448, de 2007) sindividuais. Entre os direitos e deveres individuais
II – a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei e cole vos, a Lei Maior conferiu às en dades asso-
nº 11.448, de 2007) cia vas, quando expressamente autorizadas, a legi -
III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- midade para representar seus filiados judicial ou ex-
cípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007) trajudicialmente. Cuidou do mandado de segurança
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou cole vo, que pode ser impetrado por par do polí co,
sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei organização sindical, en dade de classe ou associa-
nº 11.448, de 2007) ção legalmente cons tuída e em funcionamento há
V – a associação que, concomitantemente: (Incluído pelo menos um ano, em defesa dos seus membros
pela Lei nº 11.448, de 2007) ou associados. Cometeu ao sindicato a defesa dos
a) esteja cons tuída há pelo menos 1 (um) ano nos direitos e dos interesses cole vos ou individuais da
termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de categoria não só em questões judiciais como admi-
2007) nistra vas. Conferiu ampla legi mação ao MP para
b) inclua, entre suas finalidades ins tucionais, a pro- a propositura de ações civis públicas e para a defesa
teção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem de interesses cole vos e difusos. Permi u aos índios,
econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio às suas comunidades e às suas organizações a legi -
ar s co, esté co, histórico, turís co e paisagís co. mação a va para ações em defesa de seus interesses.
(Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007) Ampliou, também, as hipóteses de propositura da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ação popular pelo cidadão e o rol dos legi mados


A legi mação ordinária na visão do Professor a vos para a ação de incons tucionalidade.29
Fernando Capez
Obje vando viabilizar a defesa em juízo de interesses
Todo o nosso sistema jurídico foi concebido para a difusos, cole vos e individuais homogêneos, sobrevieram:
defesa clássica de interesses por meio da legi mação
ordinária, de modo que cada lesado somente pode a) a Lei nº 7.853, de 24/10/1989, para a defesa das
defender seu próprio interesse.25 pessoas portadoras de deficiências;
b) a Lei nº 7.913, de 7/12/1989, sobre a responsa-
[...] É o que depreende do disposto no art. 6º do CPC: bilidade por danos causados aos inves dores no
“Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito mercado de valores mobiliários;
alheio, salvo quando autorizado por lei”.26
27
Ibid., p.193.
28
Ibid., p.195.
29
25 Ibid., p.195.
Ibid., p.193.
26
Ibid., p.193.

110
c) a Lei nº 8.069, de 13/7/1990, que dispõe sobre Jurisprudência
o ECA; e A 7ª Câmara do Tribunal de Jus ça do Estado de São
d) a Lei nº 8.884, de 11/6/1994, para a ação de Paulo, na apelação nº 100428020098260362 – SP – 0010042-
responsabilidade por danos morais e patrimoniais 80.2009.8.26.0362, cujo relator foi o Desembargador Edu-
causados por infração de ordem econômica.30 ardo Gouvêa, decidiu:

Podemos incluir no rol mencionado pelo ilustre Profes- APELAÇÃO CÍVEL. Mandado de segurança – Sentença
sor Fernando Capez, mais três leis: o Código de Defesa do que condenou o Município a fornecer medicamentos à
Consumidor, o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha. É a impetrante idosa, sob pena de multa diária no valor de
expressão do Princípio da Integra vidade do Microssistema R$500,00 Reexame necessário e recurso do Município – No
Processual Cole vo. caso em tela, deve-se levar em conta a proteção integral
do idoso, de acordo com a inteligência dos ar gos 2º, 3º, III
Li sconsórcio
e VIII e 15, § 2º da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso)
Sobre o assunto disposto nos parágrafos do art. 81 do
Obrigação solidária – Aplicação da Súmula nº 37 do TJ-SP –
Estatuto do Idoso, Capez nos ensina que:
Inadmissibilidade de argumentos que vejam na atuação
Em consequência da legi mação concorrente, a Lei do Judiciário, ao pres giar direitos prioritários dos idosos,
nº 7.347/1985 permite o li sconsórcio a vo entre os indevida intromissão na esfera de atuação do Execu vo
legi mados para a ação civil pública. Assim, qualquer Inteligência dos arts. 5º, 6º, 196, 197 e 230, todos da Cons-
dos legi mados do art. 5º da Lei pode ingressar em tuição Federal – Sentença man da – Recursos desprovidos.
juízo, isoladamente ou em li sconsórcio com algum
outro colegi mado. É possível qualquer hipótese Análise do art. 84
de li sconsórcio a vo nas ações civis públicas ou Diz o art. 84 do Estatuto do Idoso:
cole vas entre os respec vos legi mados a vos.31
Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão
Análise do art. 83 ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta deste,
Rege o art.83: ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando
vinculados ao atendimento ao idoso.
Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obri-
gação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela Para entendermos o disposi vo em estudo, podemos
específica da obrigação ou determinará providências citar o Professor Fernando Capez, quando o festejado doutri-
que assegurem o resultado prá co equivalente ao nador analisa a lei de Ação Civil Pública, no tocante ao tema:
adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- No que se refere à recons tuição dos bens lesados,
vendo jus ficado receio de ineficácia do provimento a Lei da Ação Civil Pública criou, a tulo de indeni-
final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente
zação pelo dano causado, um fundo para o qual as
ou após jus ficação prévia, na forma do art. 273 do
condenações em dinheiro devem reverter. Gerido
Código de Processo Civil.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na senten- por um conselho federal ou por conselhos estaduais,
ça, impor multa diária ao réu, independentemente conforme a origem do produto auferido (condenação
do pedido do autor, se for suficiente ou compa vel da Jus ça Federal ou condenação da Jus ça estadual),
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cum- um dos obje vos desse fundo é des nar recursos
primento do preceito. para a recons tuição dos danos provenientes de le-
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito são ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio
em julgado da sentença favorável ao autor, mas será cultural ou a outros interesses difusos e cole vos.34
devida desde o dia em que se houver configurado.
Lembrando que as multas não recolhidas até 30 (trinta)
Sobre os temas multa diária e liminar, o Nobre e Culto dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas
Professor Capez ensina: por meio de execução promovida pelo Ministério Público,
nos mesmos autos, facultada igual inicia va aos demais
Quando o objeto da ação civil pública ou cole va legi mados em caso de inércia daquele.
for a execução de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz poderá impor o cumprimento de prestação da Análise do art. 87
a vidade devida ou a cessação da a vidade nociva, Narra a norma em estudo:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sob pena de execução específica ou de cominação de


multa diária, se esta for suficiente ou compa vel.32 Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado
Coisa diversa da multa diária é a multa liminar, da sentença condenatória favorável ao idoso sem
fixada ini o li s (negritamos), a tulo de medida que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo
de cautela. A multa liminar é aquela imposta em o Ministério Público, facultada, igual inicia va aos
juízo de cognição parcial da lide, com o intuito de demais legi mados, como assistentes ou assumindo
obter de imediato a cessação da a vidade nociva. o pólo a vo, em caso de inércia desse órgão.
Embora exigível somente após o trânsito em julgado
da decisão favorável ao autor, será devida desde o Na lição de Capez:
descumprimento da cominação liminar.33
Na ação civil pública ou cole va, sobrevindo a con-
30
Ibid., p.196.
31
Ibid., p.209
denação, qualquer dos colegi mados a vos pode
32
Ibid., p.212
33 34
Ibid., p.213 Ibid., p.216

111
promover a execução. A sentença que julgar proce- por exemplo, ao modo de instauração, a diligências
dente o pedido condenatório, formulado na ação, cria para coleta de provas, a redução de peças a escrito
um tulo execu vo não só para o autor do processo e a perícias, aplicam-se subsidiariamente.38
de conhecimento, como também para os demais
colegi mados.35 Sobre o arquivamento do inquérito civil nos ensina o
Professor Fernando Capez:
A atual redação do art. 15 da Lei nº 7.347/1985 de-
termina que, decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito O órgão do MP, não se convencendo da existência de
em julgado da sentença condenatória, sem que a fundamento para a propositura da ação civil pública,
associação autora promova a execução, esta deverá promoverá, mo vada e diretamente, o arquivamento
ser promovida pelo MP, facultada igual inicia va do inquérito civil ou das peças de informação [...].
aos demais legi mados. No caso, diante do direito Entretanto, esse arquivamento, ao contrário do que
declarado em concreto, o MP, como encarregado ocorre com o inquérito policial, será apreciado pelo
da defesa da ordem jurídica, é obrigado a assumir a Conselho Superior do MP. O membro do MP que
promoção da execução na ação civil pública ou cole- promoveu o arquivamento do inquérito civil deverá,
va abandonada, ao contrário do que acontece com no prazo de 3 (três) dias, encaminhá-lo ao Conselho
a hipótese de abandono da ação de conhecimento Superior da ins tuição, sob pena de falta funcional.39
pelo co-legi mado.36
As peças de informação, além do próprio inquérito
Análise do art. 92 civil, também estão sujeitas ao controle de arquiva-
Rege o art. 92 da lei em estudo: mento pelo Conselho Superior do MP.40

O Ministério Público poderá instaurar sob sua pre- O Conselho Superior do Ministério Público poderá
sidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer homologar o arquivamento (fato que não impedirá
pessoa, organismo público ou par cular, cer dões, seu desarquivamento a qualquer tempo, com novas
provas), determinar novas diligências ou determinar
informações, exames ou perícias, no prazo que assi-
que outro representante do MP promova a ação civil
nalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
pública.41
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas
todas as diligências, se convencer da inexistência de
Tutela Penal dos Interesses Difusos
fundamento para a propositura da ação civil ou de
peças informa vas, determinará o seu arquivamento, Sobre o assunto nos ensina Fernando Capez:
fazendo-o fundamentadamente.
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de in- [...] na ação penal, busca-se a sa sfação do direito de
formação arquivados serão remetidos, sob pena punir, que pertence exclusivamente ao Estado. Com
de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) efeito, enquanto ente dotado de soberania, somente
dias, ao Conselho Superior do Ministério Público ou o Estado tulariza o jus puniendi (negritamos) e,
à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério portanto, torna-se sujeito passivo de toda e qualquer
Público. infração penal.42
§ 3º Até que seja homologado ou rejeitado o ar-
quivamento, pelo Conselho Superior do Ministério Além disso, enquanto na ação civil pública busca-se
Público ou por Câmara de Coordenação e Revisão do uma pretensão reparatória, na ação penal, pretende-
Ministério Público, as associações legi madas pode- -se a imposição de pena. Por isso, é na pessoa do
rão apresentar razões escritas ou documentos, que tular e na natureza do direito defendido e do pro-
serão juntados ou anexados às peças de informação. vimento jurisdicional que se diferencia a tutela penal
§ 4º Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de da civil. Exemplo: um governante provoca grande
Coordenação e Revisão do Ministério Público de dano ao erário, desviando, em proveito próprio,
homologar a promoção de arquivamento, será de- imensa quan dade de verbas públicas. A ação civil
signado outro membro do Ministério Público para o pública visa à recomposição do dano em defesa de
ajuizamento da ação”. todos aqueles que, direta ou indiretamente, foram
a ngidos com a improbidade. O MP estará, em nome
Sobre o inquérito civil, Capez professa: próprio, defendendo um número indeterminado de
pessoas. No entanto, paralelamente, o Estado, por
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

A instauração do inquérito civil faz-se de o cio, por meio do mesmo MP, seu órgão, promoverá a ação
portaria do membro do MP, ou em despacho que é penal para sa sfação do seu direito de punir.43
por este lançado no requerimento ou representação
a ele dirigido por cidadãos, autoridades, associações Estatuto do Idoso e os Juizados Especiais
ou quaisquer outros interessados.37
De acordo com art. 94:
O nobre doutrinador ainda explica o modo de tramitação
do procedimento administra vo: Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima
priva va de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos,
Na tramitação do inquérito civil, as normas do CPP
38
a nentes ao inquérito policial, no que diz respeito, Ibid., p. 220.
39
Ibid., p. 221.
40
Ibid., p. 222.
35 41
Ibid., p.216 Ibid., p. 222.
36 42
Ibid., p.216 Ibid., p. 225.
37 43
Ibid., p. 220. Ibid., p. 225.

112
aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de A questão [...] é saber se o disposi vo beneficia as
26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que ví mas idosas que sofrem os crimes, que pelo pro-
couber, as disposições do Código Penal e do Código cedimento sumário da Lei nº 9.099/1995 conseguem
de Processo Penal. ter a resolução mais breve de seus li gios, ou se o
ar go ques onado atende mais aos infratores que
Sabe-se que a Lei nº 9.099/1995 é aplicada às infrações cometem crimes contra os idosos, que acabam sendo
de menor potencial ofensivo, cuja definição foi alterada com beneficiados com o que dispõe a Lei dos Juizados
o advento da Lei nº 11.313/2006. Segundo o ar go 61, da Especiais.
Lei dos Juizados, consideram-se infrações penais de menor Para a relatora do processo, ministra Cármen Lúcia
potencial ofensivo: as contravenções penais e os crimes a Antunes Rocha, o art. 94 deveria ser interpretado de
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, acordo com a Cons tuição Federal, no sen do de que
cumulada ou não com multa. Assim, os Juizados Especiais sejam aplicados aos crimes previstos no estatuto do
Criminais são competentes, apenas, para processar e julgar idoso apenas os “procedimentos” previstos na Lei
infrações penais, cuja pena não exceda a dois anos. Teria, nº 9.099/1995 – para dar celeridade aos processos – ,
então, à época, o Estatuto do Idoso ampliado, mais uma vez, e não os bene cios, como possibilidade de concilia-
o conceito de infração de menor potencial ofensivo? ção, transação penal ou a conversão da pena. Com
Depreende-se da leitura do art. 94, do Estatuto, a se- isso, frisou a ministra, os idosos teriam a possibili-
guinte expressão: “aplica-se o procedimento previsto na Lei dade de ver os autores dos crimes processados de
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995”. Portanto, pode-se forma ágil, sem, contudo, vê-los beneficiados pela
concluir que a nova lei refere-se, apenas, ao procedimento Lei nº 9.099/1995.
peculiar dos Juizados Especiais, ou seja, o rito sumaríssimo. O debate incluiu a par cipação de todos os ministros
Assim, não se sustenta o argumento da inovação do concei- presentes à sessão. O ministro Marco Aurélio mani-
to de infração de menor potencial ofensivo, verificando-se festou sua dificuldade em acompanhar a relatora.
que o Estatuto só se u lizou da parte processual da Lei Para ele, seria inócuo aplicar interpretação conforme
ao disposi vo, uma vez que a Lei dos Juizados Espe-
nº 9.099/1995. Nesse sen do, acrescentam os ilustres ju-
ciais já abrange crimes com pena inferior a dois anos.
ristas Luiz Flávio Gomes e Tales Tácito Pontes Luz de Pádua
O estatuto só teria feito ampliar a aplicação dessa lei
Cerqueira, in “O Estatuto do Idoso ampliou o conceito de me-
para crimes com penas até quatro anos.
nor potencial ofensivo?” (h p://www.iusnet.com.br/webs/
Já a ministra Ellen Gracie revelou seu entendimento
IELFNova/ar gos/ar go_lido.cfm?ar_id=226), ipsis li eris:
no sen do de que o legislador teria embasado a re-
dação deste disposi vo em esta s cas que demons-
1º que o conceito de “procedimento” do ar go 94, do
tram que grande parte dos crimes contra idosos são
Estatuto do Idoso, está vinculado com o procedimen-
pra cados no seio familiar. Assim, para Ellen Gracie
to strito sensu (arts. 77 a 83) da Lei nº 9.099/1995 e pode ser importante que se tenha um mecanismo
não o procedimento lato sensu (Audiência Preliminar legal possibilitando uma solução pacificadora. Celso
dos arts. 70/73 da Lei nº 9.099/1995, transação pe- de Mello, decano da Corte, disse que, em princípio,
nal, composição civil dos danos e representação nas o art. 94 permite que o idoso que sofre algum crime
lesões para pena máxima de 4 anos, como sugeriu veja a solução de seu caso, de forma ágil.
de início); O ministro Cezar Peluso disse entender que o dispo-
2º [...] Não tendo sido ampliado o conceito de infra- si vo pode acabar beneficiando, também, os autores
ção de menor potencial ofensivo, todos os delitos dos crimes pra cados contra idosos. Muitos crimes
(mesmo os previstos no Estatuto do Idoso) cuja pena não são come dos por familiares, e seus autores
máxima supere a dois anos, devem ser objeto de também se beneficiariam do disposi vo. Para ele,
inquérito policial (não TC) e são da competência da deve se analisar, no caso, o respeito ao princípio
Jus ça Comum (não juizados). da isonomia. Ele citou como exemplo uma situação
fic cia, em que duas pessoas cometem crime com
Cumpre ressaltar que está suspenso o julgamento sobre penas inferiores a quatro anos, um contra um idoso
aplicação da Lei dos Juizados Especiais em crimes contra e outro não. O primeiro será processado pela Lei
idosos. Par lhamos do entendimento esmagador de que o nº 9.099/1995 e o outro pela jus ça comum. Segundo
art. 94 do Estatuto do Idoso não revogou o conceito de infra- Peluso, isso pode levar à perigosa conclusão de que
ção penal de menor potencial ofensivo. Na verdade, o que se
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

é mais conveniente cometer crime contra idoso. Não


quis dizer é que nos crimes previstos na Lei nº 10.741/2003, se pode criar esse po de discriminação, concluiu
cuja pena máxima é de até 4 (quatro) anos, os infratores se- Cezar Peluso.
rão julgados de acordo com a regra de procedimento prevista O ministro Eros Grau, que completa 69 anos nesta
na Lei nº 9.099/1995. Vejamos o que foi no cia no site do STF: quarta-feira (19), disse entender que não compete à
Corte analisar a razoabilidade da lei. Assim, o ministro
Após um intenso debate no Plenário do Supremo votou pela improcedência da ADI.
Tribunal Federal (STF) sobre o alcance do ar go 94
da Lei nº 10.741/2003, que determina a aplicação O informa vo nº 556 do STF no ciou:
dos procedimentos e bene cios previstos na Lei dos
Juizados Especiais (JE) para os crimes come dos Lei nº 10.741/2003: Crimes contra Idosos e Aplicação
contra idosos, cuja pena máxima seja menor que da Lei nº 9.099/1995
quatro anos, o ministro Carlos Ayres Bri o pediu vista O Tribunal iniciou julgamento de ação direta de in-
da Ação Direta de Incons tucionalidade (ADI) 3.096. cons tucionalidade, ajuizada pelo Procurador-Geral

113
da República contra a expressão “exceto nos serviços legal deve ser interpretado em favor do seu específico
sele vos e especiais, quando prestados paralelamen- des natário – o próprio idoso – e não de quem lhe
te aos serviços regulares”, constante do caput do viole os direitos. Com isso, os infratores não poderão
art. 39, da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), ter acesso a bene cios despenalizadores de direito
que assegura aos maiores de 65 anos a gratuidade material, como conciliação, transação penal, compo-
dos transportes cole vos públicos e urbanos e se- sição civil de danos ou conversão da pena. Somente
miurbanos, e do art. 94, do mesmo diploma legal, se aplicam as normas estritamente processuais para
que determina a aplicação, aos crimes pificados que o processo termine mais rapidamente, em be-
nessa lei, cuja pena máxima priva va de liberdade ne cio do idoso.
não ultrapasse 4 anos, do procedimento previsto Ao acompanhar a ministra Cármen Lúcia Antunes
na Lei nº 9.099/1995, e, subsidiariamente, no que Rocha, o ministro Ayres Britto procurou resumir
couber, as disposições do Código Penal e do Código numa frase o entendimento da ministra relatora em
de Processo Penal. Preliminarmente, o Tribunal não
relação ao equívoco come do pelos legisladores na
conheceu da ação rela vamente ao art. 39 da lei im-
confecção do Estatuto do Idoso.
pugnada, por já ter se pronunciado pela cons tucio-
Autores de crimes do mesmo potencial ofensivo
nalidade desse disposi vo quando do julgamento da
serão subme dos a tratamentos diversos, sendo que
ADI nº 3.768/DF (DJE de 26/10/2007, Tribunal Pleno).
o tratamento mais benéfico está sendo paradoxal-
Em seguida, a Ministra Cármen Lúcia, relatora, julgou
mente conferido ao agente que desrespeitou o bem
parcialmente procedente o pedido formulado para
dar interpretação conforme a Cons tuição ao art. 94 jurídico mais valioso: a incolumidade e a inviolabili-
da Lei nº 10.741/2003, no sen do de que, aos crimes dade do próprio idoso, afirmou.
previstos nessa lei, cuja pena máxima priva va de
liberdade não ultrapasse 4 anos, aplica-se o proce- Por maioria de votos, vencidos os ministros Eros Grau
dimento sumaríssimo previsto na Lei nº 9.099/1995, e Marco Aurélio, o Plenário decidiu que os bene cios
não se admi ndo interpretação que permita aplica- despenalizadores previstos na Lei nº 9.099/1995 e
ção benéfica ao autor do crime cuja ví ma seja idoso. também no Código Penal não podem beneficiar os
Asseverou que, se interpretada a norma no sen do autores de crimes cujas ví mas sejam pessoas idosas.
de que seriam aplicáveis aos crimes come dos contra A lei que criou os Juizados Especiais permite a aplica-
os idosos os bene cios da Lei nº 9.099/1995, a lei ção de procedimentos e bene cios como a transação
impugnada seria incons tucional, haja vista a pos- penal e a composição dos danos civis nas infrações
sibilidade de, em face de um único diferencial, qual penais de menor potencial ofensivo. O Estatuto do
seja, a idade da ví ma do delito, ter-se, por exemplo, Idoso previu a aplicação dos atos processuais da Lei
um agente respondendo perante o Sistema Judiciário dos Juizados Especiais para os crimes come dos
Comum e outro com todos os bene cios da Lei dos contra idosos, cuja pena máxima não ultrapasse
Juizados Especiais, não obstante a prá ca de crimes quatro anos. Para a relatora do processo, a interpre-
da mesma gravidade (pena máxima não superior a tação conforme a Cons tuição do art. 94 do Estatuto
4 anos). Assim, estabelecendo que seria aplicável implica apenas na celeridade do processo e não nos
apenas o procedimento sumaríssimo previsto na Lei bene cios. Na sessão de hoje, o único a divergir foi
nº 9.099/1995 aos crimes mencionados, o idoso se- o ministro Marco Aurélio. O ministro Eros Grau havia
ria, então, beneficiado com a celeridade processual, divergido na sessão inicial por entender que não
mas o autor do crime não seria beneficiado com even- compete à Corte analisar a razoabilidade da lei, por
tual conciliação ou transação penal. Em divergência,
isso votou pela improcedência da ADI.
o Ministro Eros Grau julgou improcedente o pleito,
O ministro Marco Aurélio manifestou sua tese con-
por reputar, tendo em conta não ter sido apontada,
trária à relatora.
na inicial, a violação a nenhum preceito cons tucio-
Creio que quanto ao procedimento da lei, par u-se
nal, não caber ao Supremo o exercício do controle
para uma opção polí co-norma va. Não podemos
da razoabilidade e da proporcionalidade das leis.
Após, pediu vista dos autos o Ministro Carlos Bri o. atuar como legisladores posi vos e fazer surgir no
ADI nº 3.096/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, cenário uma norma zação que seja diversa daquela
19/8/2009. (ADI-3.096) aprovada pelas duas Casas do Congresso Nacional.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Por isso, o ministro Marco Aurélio considerou o


Em junho de 2010, o STF decidiu a questão em tela, disposi vo integralmente incons tucional, tendo
conforme no cia veiculada em seu site: em vista que o Estatuto ampliou para pena não su-
perior a quatro anos a aplicação de bene cio que a
[...] concluído hoje (16), com o retorno do voto-vista Lei dos Juizados Especiais limita a pena não superior
do ministro Ayres Bri o, o julgamento da Ação Direta a dois anos.
de Incons tucionalidade (ADI nº 3.096) ajuizada pelo Eu me pergunto: se não houvesse o Estatuto do Ido-
procurador-geral da República contra o art. 94 do Es- so, o que se teria? A aplicação pura e simples da Lei
tatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que determina nº 9.099 e aí só seriam realmente beneficiados pela
a aplicação dos procedimentos e bene cios rela vos lei agentes que a lei beneficia, ou seja, aqueles cujas
aos Juizados Especiais aos crimes come dos contra penas máximas não ultrapassem dois anos. A meu
idosos, cuja pena máxima não ultrapasse quatro ver, na contramão dos interesses sociais, se estabe-
anos. O entendimento do STF é de que o disposi vo leceu a aplicação da Lei nº 9.099, concluiu o ministro.

114
No Informa vo nº 591 do STF, há o resumo da decisão - aos meios de transporte;
em tela: - ao direito de contratar;
- ao exercício da cidadania.47
Lei nº 10.741/2003: Crimes contra Idosos e Aplicação
da Lei nº 9.099/1995 Elemento norma vo: a discriminação deve dar-se “por
mo vo de idade”, ou seja, em razão de possuir a ví ma idade
Em conclusão, o Tribunal julgou parcialmente procedente igual ou superior a 60 anos.48
pedido formulado em ação direta de incons tucionalidade Elemento subje vo: dolo.49
ajuizada pelo Procurador-Geral da República para dar inter- Consumação: com a efe va discriminação, pela prá ca
pretação conforme ao art. 94 da Lei nº 10.741/2003: “Aos das condutas picas.50
crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima priva va de Tenta va: admite-se.51
liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedi- Figuras equiparadas: o § 1º do art. 96 determina a aplica-
mento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, ção da mesma pena ao agente que “desdenhar” (desprezar,
e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código tratar com desdém), “humilhar” (vexar, rebaixar), “menos-
Penal e do Código de Processo Penal”, no sen do de que aos prezar” (menoscabar, diminuir) ou “discriminar” (segregar,
crimes previstos nessa lei, cuja pena máxima priva va de li- separar) pessoa idosa, por qualquer mo vo. Nesse ponto,
berdade não ultrapasse 4 anos, aplica-se a Lei nº 9.099/1995 conferiu a lei amplo espectro de abrangência às condutas,
apenas nos aspectos estritamente processuais, não se admi- punindo qualquer ação ou omissão contra a pessoa idosa, ca-
ndo, em favor do autor do crime, a incidência de qualquer racterizadora dos verbos descritos, “por qualquer mo vo”.52
medida despenalizadora – v. Informa vo nº 556. Concluiu-se Causas especiais de aumento de pena: o § 2º determina
que, dessa forma, o idoso seria beneficiado com a celeridade aumento de pena de um terço se a ví ma se encontrar sob
processual, mas o autor do crime não seria beneficiado com os cuidados ou responsabilidade do agente.53
eventual composição civil de danos, transação penal ou sus-
pensão condicional do processo. Vencidos o Min. Eros Grau, Analise do art. 97
que julgava improcedente o pleito, e o Min. Marco Aurélio, Dispõe o art. 97 do Estatuto do Idoso:
que o julgava totalmente procedente. ADI nº 3.096/DF, rel.
Min. Cármen Lúcia, Plenário, 16/6/2010. (ADI-3.096) Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando
possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de
Todos os crimes previstos no Estatuto do Idoso são de
iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua
ação penal pública incondicionada.
assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir,
nesses casos, o socorro de autoridade pública:
Análise do art. 96
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
Rege o art. 96 do Estatuto do Idoso:
multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou
dificultando seu acesso a operações bancárias, da omissão resulta lesão corporal de natureza grave,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou e triplicada, se resulta a morte.
por qualquer outro meio ou instrumento necessário
ao exercício da cidadania, por mo vo de idade: Obje vidade jurídica: a proteção à vida ou saúde da
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e pessoa idosa (60 anos ou mais).54
multa. Sujeito a vo: qualquer pessoa.55
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humi- Sujeito passivo: a pessoa idosa.56
lhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por Conduta: vem expressa pelos verbos “deixar” (largar,
qualquer mo vo. abandonar), “recusar” (negar, não prestar, opor), “retar-
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a dar” (procras nar, demorar), “dificultar” (obstaculizar, criar
ví ma se encontrar sob os cuidados ou responsabi- empecilho) e pela expressão “não pedir” (não solicitar, não
lidade do agente. requerer). Trata-se de crime omissivo puro. Cons tuem cir-
cunstâncias elementares do po a possibilidade de prestar
Obje vidade jurídica: a tutela dos direitos da pessoa assistência e também a ausência de risco pessoal ao agente.
idosa, no par cular aspecto da proteção à sua liberdade in- Entretanto, nesses casos, existe a obrigação de pedir o so-
dividual (art. 10, § 1º), necessária ao exercício da cidadania.44 corro da autoridade pública.57
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Sujeito a vo: qualquer pessoa.45 Elemento subje vo: dolo.58


Sujeito passivo: pessoa idosa (idade igual ou superior a Consumação: com a mera omissão do agente.59
60 anos – art. 1º do Estatuto).46
Conduta: vem representada pelos verbos “discriminar” 47
Ibidem, p. 312.
(diferenciar, dis nguir), “impedir” (obstar, obstaculizar) e 48
Ibidem, p. 312.
49
“dificultar” (tornar di cil, colocar impedimento). A discri- Ibidem, p. 312.
50
Ibidem, p. 312.
minação deve necessariamente ser pra cada impedindo, 51
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
dificultando ou por qualquer outro instrumento obstaculi- 52
Saraiva, 2009, pg. 312.
Ibidem, p. 312.
zando o acesso da pessoa idosa: 53
Ibidem, p. 313.
- a operações bancárias; 54
Ibidem, p. 313.
55
Ibidem, p. 313.
56
Ibidem, p. 313.
44 57
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, pg. 312. Saraiva, 2009, p. 313.
45 58
Ibidem, p. 312. Ibidem, p. 313.
46 59
Ibidem, p. 312. Ibidem, p. 313.

115
Tenta va: não se admite, por tratar-se de crime omissivo Obje vidade jurídica: a proteção à vida ou saúde da
puro.60 pessoa idosa.70
Causa de aumento de pena: a pena da omissão de so- Sujeito a vo: qualquer pessoa.71
corro, segundo o disposto no parágrafo único do ar go em Sujeito passivo: a pessoa idosa.72
comento, é aumentada de metade quando dela resultar lesão Conduta: vem representada pela expressão “expor a
corporal de natureza grave, e é triplicada quando resultar perigo”, que significa periclitar, colocar em risco. A conduta
morte. A lesão corporal de natureza leve que eventualmente pode desenvolver-se pela submissão do idoso a condições
resulte da omissão é por ela absorvida, respondendo o agen- desumanas ou degradantes, mediante a privação de alimen-
te apenas pelo delito do caput deste ar go sob comentário.61 tos e cuidados indispensáveis e a sua sujeição a trabalho
excessivo ou inadequado.73
Análise do art. 98 Elemento subje vo: dolo.74
Dispõe o art. 98 da norma em comento: Consumação: com a exposição do sujeito passivo ao
perigo de dano, em consequência das condutas descritas
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de no po penal.75
saúde, en dades de longa permanência, ou con- Tentativa: admite-se a tentativa apenas nas formas
gêneres, ou não prover suas necessidades básicas, comissivas.76
quando obrigado por lei ou mandado: Figuras qualificadas pelo resultado: a pena será de
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e detenção de 2 meses a um ano e multa se dos maus tratos
multa. resultar ao idoso lesão corporal de natureza grave (§1º), e de
reclusão de 4 a 12 anos se resultar morte (§2º). As lesões cor-
Obje vidade jurídica: a proteção à vida ou saúde da porais de natureza leve são absorvidas pelos maus tratos.77
pessoa idosa.62
Sujeito a vo: qualquer pessoa, inclusive aquela obriga- Análise do art. 100
da, por lei ou mandado, a prover as necessidades básicas Rege o art. 100 do Estatuto do Idoso:
do idoso.63
Sujeito passivo: a pessoa idosa.64 Art. 100. Cons tui crime punível com reclusão de 6
Conduta: vem representada pelo verbo “abandonar” (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
(desamparar, largar) e pela expressão “não prover” (não
fornecer, não abastecer, não providenciar). Nessa úl ma Estabelece o art. 100 várias outras figuras picas ofen-
modalidade de conduta, deve o agente estar obrigado por lei sivas aos direitos garan dos à pessoa idosa pelo Estatuto
ou mandado a prover ao idoso suas necessidades básicas.65 em análise, punidas com reclusão de seis meses a um ano
Objeto material: na modalidade de conduta “não pro- e multa, a saber:
ver”, trata-se das “necessidades básicas” do idoso, ou seja,
alimentação, saúde, vestuário etc.66 Análise do inciso I
Elemento subje vo: dolo.67 Rege o inciso I do art. 100 da norma em estudo:
Consumação: tratando-se de crime omissivo, consuma-
-se com o efe vo abandono ou com o não provimento das I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo pú-
necessidades básicas do idoso.68 blico por mo vo de idade;
Tenta va: não se admite.69
Sujeito a vo: qualquer pessoa, inclusive o responsável
Análise do art. 99 pelo acesso ao cargo público.78
Rege o art. 99 do Estatuto do Idoso: Sujeito passivo: qualquer pessoa.79
Conduta: vem representada pelo verbo “obstar” (impe-
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, sica dir, obstaculizar).80
ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições de- Objeto material: acesso a cargo público. Não há limite
sumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos de idade na Cons tuição Federal (art. 37) para o acesso aos
e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, cargos, empregos ou funções públicas.81
ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado: Elemento norma vo: “por mo vo de idade”. Significa
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e que a obstaculização do acesso deve dar-se única e exclusi-
multa. vamente por mo vo de idade, que não precisa ser, neces-
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza sariamente, igual ou superior a 60 anos.82
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

grave: Consumação: com a efe va obstaculização ou impedi-


Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. mento de acesso ao cargo público.83
§ 2º Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 70
Ibidem, p. 314.
71
Ibidem, p. 314.
72
Ibidem, p. 314.
73
Ibidem, p. 314.
60 74
Ibidem, p. 313. Ibidem, p. 314.
61 75
Ibidem, p. 313. Ibidem, p. 314.
62 76
Ibidem, p. 313. ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
63
Ibidem, p. 313. Saraiva, 2009, p. 314.
64 77
Ibidem, p. 313. Ibidem, p. 314.
65 78
Ibidem, p. 313. Ibidem, p. 315.
66 79
Ibidem, p. 314. Ibidem, p. 315.
67 80
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: Ibidem, p. 315.
81
Saraiva, 2009, p. 314. Ibidem, p. 315.
68 82
Ibidem, p. 314. Ibidem, p. 315.
69 83
Ibidem, p. 314. Ibidem, p. 315.

116
Tenta va: admite-se, desde que fracionável o iter cri- Sujeito passivo: a Administração Pública. Secundaria-
minis.84 mente, o idoso prejudicado.101
Conduta: vem representada pelos verbos “deixar” (largar,
Análise do inciso II abandonar), “retardar” (demorar, procras nar) e “frustrar”
Rege o inciso II do art. 100 do Estatuto do Idoso: (malograr).102
Objeto material: a execução de ordem judicial expedida
II – negar a alguém, por mo vo de idade, emprego não somente nas ações civis públicas fundadas em interesses
ou trabalho; difusos, cole vos, individuais indisponíveis ou homogêneos
(art.81), como nas demais ações intentadas para a defesa dos
Sujeito a vo: qualquer pessoa.85 interesses e direitos protegidos por este Estatuto.103
Sujeito passivo: qualquer pessoa.86 Elemento norma vo: “sem justo mo vo”.104
Conduta: vem representada pelo verbo “negar” (recusar, Elemento subje vo: dolo.105
vedar).87 Consumação: com a prá ca de uma das modalidades de
Objeto material: emprego ou trabalho.88 condutas incriminadas.106
Elemento norma vo: “por mo vo de idade”. Significa Tenta va: admite-se, salvo nas condutas omissivas.107
que a obstaculização do acesso deve dar-se única e exclusi-
vamente por mo vo de idade, que não precisa ser, neces- Análise do inciso V
sariamente, igual ou superior a 60 anos.89 Dispõe o inciso V do art. 100 do Estatuto do Idoso:
Consumação: com a efe va nega va de emprego.90
Tenta va: não se admite.91 V – recusar, retardar ou omi r dados técnicos indis-
pensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei,
Análise do Inciso III quando requisitados pelo Ministério Público.
Diz o inciso III do art. 100 do Estatuto do Idoso:
Sujeito a vo: a pessoa responsável pelo fornecimento
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou dos dados técnicos, des natária da requisição do Ministério
deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, Público.108
a pessoa idosa; Sujeito passivo: a Administração Pública.109
Conduta: vem representada pelos verbos “recusar” (ne-
Sujeito a vo: qualquer pessoa.92 gar, repelir, não aceitar), “retardar” (demorar, procras nar)
Sujeito passivo: a pessoa idosa.93 e “omi r” (deixar de fazer, deixar de atuar).110
Conduta: vem representada pelos verbos “recusar” (não Objeto material: dados técnicos indispensáveis à propo-
aceitar, repelir, negar), “retardar” (demorar, procras nar), situra de ação civil objeto deste Estatuto, requisitada pelo
“dificultar” (obstaculizar, tornar di cil) e pela expressão Ministério Público. A teor do art. 81, I, o Ministério Público
“deixar de prestar (largar, abandonar)”.94 tem legi midade para a propositura de ações civis públicas
Obje vo material: atendimento ou assistência à saúde fundadas em interesses difusos, cole vos, individuais indis-
de pessoa idosa (arts. 15 a 19 do Estatuto).95 poníveis ou homogêneos. Para tanto, fixou a lei ao Ministério
Elemento norma vo: “sem justa causa”.96 Público, além das atribuições previstas na respec va Lei Orgâ-
Elemento subje vo: dolo.97 nica, outras estampadas no art. 74, incluindo a prerroga va
Consumação: com a prá ca de uma das condutas elen- de requisitar, nos termos do art. 92, dados (documentos,
cadas, independentemente de outro resultado.98 objetos, perícias, informações etc.) de qualquer autoridade
Tenta va: admite-se, salvo nas condutas omissivas.99 municipal, estadual ou federal, de Administração direta
ou indireta, de qualquer ins tuição privada e de qualquer
Análise do inciso IV pessoa.111
Rege o inciso IV do art. 100 da lei em estudo: Elemento subje vo: dolo.112
Consumação: com a recusa, retardamento ou omissão
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo do fornecedor dos dados técnicos.113
mo vo, a execução de ordem judicial expedida na Tenta va: admite-se, salvo na modalidade de conduta
ação civil a que alude esta Lei; omissiva.114

Sujeito a vo: qualquer pessoa, inclusive o des natário, Análise do art. 101
o responsável pelo cumprimento ou execução da ordem Dispõe o art. 101 do Estatuto do Idoso:
judicial.100
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

84
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: justo mo vo, a execução de ordem judicial expedida
Saraiva, 2009, p. 315.
85
Ibidem, p. 315. nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
86
Ibidem, p. 315.
87 101
Ibidem, p. 315. Ibidem, p. 316.
88 102
Ibidem, p. 315. Ibidem, p. 316.
89 103
Ibidem, p. 315. Ibidem, p. 316.
90 104
Ibidem, p. 315. Ibidem, p. 316.
91 105
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 316.
92 106
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 316.
93 107
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 316.
94 108
Ibidem, p. 316. ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
95
Ibidem, p. 316. Saraiva, 2009, p. 316.
96 109
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: Ibidem, p. 316.
110
Saraiva, 2009, p. 316. Ibidem, p. 316.
97 111
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 317.
98 112
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 317.
99 113
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 317.
100 114
Ibidem, p. 316. Ibidem, p. 317.

117
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e Consumação: com a efetiva apropriação ou desvio,
multa. devendo haver a inversão do animus da posse da coisa por
parte do agente.129
Obje vidade jurídica: a tutela da Administração Pública, Tenta va: admite-se.130
no que concerne ao cumprimento da determinação expedida
pelo juiz.115 Análise do art. 103
Sujeito a vo: qualquer pessoa, inclusive o des natário Dispõe o art. 103 da lei em comento:
ou o responsável pelo cumprimento ou execução da ordem
judicial.116 Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do
Sujeito passivo: a Administração Pública. Secundaria- idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar
mente, o idoso prejudicado.117 procuração à en dade de atendimento:
Conduta: vem representada pelos verbos “deixar” (largar, Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
abandonar), “retardar” (demorar, procras nar) e “frustrar” multa.
(malograr).118
Objeto material: o cumprimento ou execução de ordem Obje vidade jurídica: proteção à liberdade individual
judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente do idoso, representada pelo direito de outorgar procuração
quando e a quem desejar. Secundariamente, a proteção de
o idoso (arts. 78 a 92).119
sua vida e integridade corporal, representada pelo direito
Elemento norma vo: “sem justo mo vo”.120
ao abrigo, quando necessitar.131
Elemento subje vo: dolo.121
Sujeito a vo: o responsável pela en dade de atendimen-
Consumação: com o efe vo descumprimento da ordem
to a quem o idoso solicite abrigo.132
judicial, retardamento ou frustração de sua execução.122
Sujeito passivo: a pessoa idosa.133
Tenta va: admite-se, salvo na modalidade de conduta
Conduta: vem representada pelo verbo “negar” (recusar,
omissiva.123 não prestar, não dar). A nega va de acolhimento ou perma-
nência do idoso, como abrigado, deve dar-se por uma razão
Análise do art. 102 específica: a recusa dele em outorgar procuração à en dade
Rege o art. 102 do Estatuto do Idoso: de atendimento. Infelizmente, há en dades de atendimento
ao idoso que exigem dele a outorga de procuração, geral-
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, mente para a gerência de patrimônio, mais especificamente
pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, no que concerne ao recebimento de proventos, pensão ou
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade: outro rendimento. De posse da procuração, é comum ver-se
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. o responsável pela en dade locupletar-se dos valores rece-
bidos pelo idoso, dispensado-lhe inadequado atendimento,
Obje vidade jurídica: proteção do patrimônio do idoso, ou ainda sujeitando-o a maus tratos, em graves violações dos
representado por seus bens, proventos, pensão ou qualquer direitos garan dos pelo Estatuto. Visou o legislador, com a
outro rendimento.124 incriminação que ora se comenta, reprimir essa prá ca ab-
Sujeito a vo: qualquer pessoa que tenha posse ou de- surda, punindo o responsável pela nega va de abrigo com
tenção do patrimônio do idoso.125 detenção de seis meses a um ano e multa. Deve-se atentar
Sujeito passivo: a pessoa idosa.126 para as figuras picas dos arts. 106 e 107 do Estatuto.134
Conduta: vem representada pelos verbos “apropriar-se” Elemento subje vo: dolo.135
(assenhorear-se, torna-se dono, fazer sua a coisa) e “desviar” Consumação: com a efe va nega va de abrigo.136
(desencaminhar, alterar o des no). Embora o disposi vo em Tenta va: não se admite.137
comento não faça menção expressa, é necessário que o sujei-
to a vo tenha a posse ou detenção do bem, provento, pensão Análise do art. 104
ou qualquer outra renda do idoso. Trata-se de modalidade Rege o art. 104 do Estatuto do Idoso:
especial de apropriação indébita inserida no Estatuto para
a tutela específica do patrimônio do idoso Caso o agente se Art. 104. Reter o cartão magné co de conta bancária
aproprie ou desvie e não tenha a posse ou detenção da re- rela va a bene cios, proventos ou pensão do idoso,
muneração ou renda do idoso, estará configurado outro ilícito bem como qualquer outro documento com obje vo
penal contra o patrimônio (furto, estelionato, roubo etc.).127 de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Elemento subje vo: dolo.128 Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos
e multa.
115
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 317.
Objetividade jurídica: embora tenha pretendido o
116
Ibidem, p. 317. legislador proteger o patrimônio do idoso, representado
117
Ibidem, p. 317. pelos bene cios, proventos ou pensão por ele recebidos,
118
Ibidem, p. 317.
119
Ibidem, p. 317.
120 129
Ibidem, p. 317. Ibidem, p. 318.
121 130
Ibidem, p. 317. Ibidem, p. 318.
122 131
Ibidem, p. 317. Ibidem, p. 318.
123 132
Ibidem, p. 317. Ibidem, p. 318.
124 133
Ibidem, p. 318. Ibidem, p. 318.
125 134
Ibidem, p. 318. ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
126
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 318.
135
Saraiva, 2009, p. 318. Ibidem, p. 318.
127 136
Ibidem, p. 318. Ibidem, p. 318.
128 137
Ibidem, p. 318. Ibidem, p. 318.

118
trata o disposi vo de um po peculiar de exercício arbitrário Análise do art. 106
das próprias razões, em que o agente, “com o obje vo de Dispõe o art. 106 do Estatuto do Idoso:
assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida”, retém
o cartão magné co ou qualquer outro documento do ido- Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de
so. Portanto, indiretamente, tutela o disposi vo também a seus atos a outorgar procuração para fins de adminis-
Administração da Jus ça.138 tração de bens ou deles dispor livremente:
Sujeito ativo: qualquer pessoa que seja credora do Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
idoso.139
Sujeito passivo: a pessoa idosa.140 Obje vidade jurídica: a tutela do patrimônio do idoso.154
Conduta: vem representada pelo verbo “reter”, que Sujeito a vo: qualquer pessoa.155
significa conservar, manter, não devolver.141 Sujeito passivo: a pessoa idosa sem discernimento de
Objeto material: é o cartão magné co de conta bancá- seus atos.156
ria rela va a bene cios, proventos ou pensão do idoso ou Conduta: vem representada pelo verbo “induzir”, que
qualquer outro documento. 142 significa, incitar, incu r a idéia ou propósito. A conduta deve
Elemento subje vo: dolo. Exige-se, ainda, a finalidade voltar-se à outorga de procuração (instrumento de mandato),
específica de assegurar o recebimento ou ressarcimento que pode ser pública ou par cular, para o fim específico de
administração de bens ou de livre disposição destes. No
de dívida.143
caso, o procurador, que pode ser o sujeito a vo ou terceiro,
Consumação: com a efe va retenção do objeto material,
obtém, por meio de procuração, o poder de administrar os
ainda que não ocorra o recebimento ou ressarcimento da
bens do idoso sem discernimento de seus atos, ou o poder
dívida.144
de dispor livremente desses bens.157
Tenta va: admite-se, em tese, embora di cil sua confi-
Elemento subje vo: dolo.158
guração prá ca.145 Consumação: com a mera indução do idoso sem dis-
cernimento de seus atos e efe va outorga de procuração.
Análise do art. 105 Pela redação incompleta do ar go, não se exige, para a
Rege o art. 105 do Estatuto do Idoso: consumação do delito, que haja qualquer po de prejuízo ao
patrimônio do idoso, o que, a nosso ver, é absurdo. Embora
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de se possa argumentar que o sen do do verbo “induzir” já
comunicação, informações ou imagens deprecia vas denota a prá ca de ato contrário à livre vontade do idoso,
ou injuriosas à pessoa do idoso: é bem verdade que o vício de consen mento já se encontra
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. implícito no crime, que exige, como sujeito passivo, o idoso
sem discernimento de seus atos, ou seja, incapaz absoluta
Obje vidade jurídica: a tutela da honra, da imagem e ou rela vamente. Assim, mesmo que o agente, mediante a
da in midade da pessoa idosa.146 outorga de procuração, mul plicasse o patrimônio do idoso
Sujeito a vo: qualquer pessoa.147 ou dispusesse dos bens em transação vantajosa a ele, deveria
Sujeito passivo: a pessoa idosa.148 ser penalizado, o que, à evidência, contraria o espírito do
Conduta: vem representada pelos verbos “exibir” Estatuto do Idoso, que é, nesse caso, justamente proteger o
(mostrar, expor) e “veicular” (transmi r, propagar). A exi- patrimônio da pessoa com idade igual ou superior a 60 anos,
bição ou veiculação deve ocorrer “por qualquer meio de sem discernimento de seus atos.159
comunicação”, tais como televisão, rádio, revistas, jornais, Tenta va: admite-se, na hipótese em que, induzindo o
internet etc.149 idoso, não chega ele, por circunstância alheia à vontade do
Objeto material: as informações ou imagens deprecia - agente, a outorgar procuração.160
vas ou injuriosas à pessoa do idoso. Portanto, o crime apenas
se configura quando as informações ou imagens acarretam Análise do art. 107
prejuízo à pessoa idosa, à sua in midade ou à sua honra Rege o art. 107 do Estatuto do Idoso:
subje va (autoes ma).150
Elemento subje vo: dolo.151 Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar,
Consumação: com a efe va exibição ou veiculação das contratar, testar ou outorgar procuração:
informações ou imagens.152 Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Tenta va: admite-se.153
Obje vidade jurídica: protege-se com a incriminação à
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

liberdade individual e ao patrimônio do idoso.161


138
Ibidem, p. 319. Sujeito a vo: qualquer pessoa.162
139
140
Ibidem, p. 319. Sujeito passivo: a pessoa idosa.163
Ibidem, p. 319.
141
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: Conduta: vem representada pelo verbo “coagir”, que
Saraiva, 2009, p. 319.. significa constranger, forçar. A coação deve des nar-se a
142
Ibidem, p. 319.
143
Ibidem, p. 319.
144 154
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.
145 155
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.
146 156
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.
147 157
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.
148 158
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.
149 159
Ibidem, p. 319. ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
150
Ibidem, p. 319. Saraiva, 2009, p. 320.
151 160
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo: Ibidem, p. 320.
161
Saraiva, 2009, p. 319. Ibidem, p. 320.
152 162
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.
153 163
Ibidem, p. 319. Ibidem, p. 320.

119
fazer com que o idoso disponha de seu patrimônio, doando, Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
contratando, testando ou outorgando procuração ao agente multa.
ou a terceiro.164
Elemento subje vo: dolo.165 Obje vidade jurídica: a Administração da Jus ça, repre-
Consumação: consuma-se o delito com a doação, ce- sentada pelo livre exercício das funções do representante do
lebração de contrato, testamento ou outorga de procura- Ministério Público ou de qualquer outro agente fiscalizador
ção pelo idoso, que age contra sua vontade, coagido pelo dos direitos e garan as da pessoa idosa estampados no
agente.166 Estatuto.177
Tenta va: admite-se, na hipótese em que haja a coação, Sujeito a vo: qualquer pessoa.178
mas, por circunstâncias alheia à vontade do agente, não se Sujeito passivo: a Administração Pública, na pessoa do
efetue a doação, contrato, testamento ou outorga de pro- representante do Ministério Público ou de outro agente fis-
curação pelo idoso.167 calizador. Secundariamente, a pessoa idosa eventualmente
prejudicada pelo impedimento ou embaraço a fiscalização.179
Análise do art. 108
Conduta: vem representada pelo verbo “impedir” (im-
Rege o art. 108 da lei em estudo:
possibilitar, obstruir) e “embaraçar” (estorvar, atrapalhar,
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa criar embaraço).180
idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida Objeto material: ato do representante do Ministério
representação legal: Público ou outro agente fiscalizador. A fiscalização das en -
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. dades de atendimento ao idoso vem disciplinada nos arts. 52
a 55 do Estatuto do Idoso. As funções do Ministério Público,
Obje vidade jurídica: não exigindo a lei a ocorrência inclusive fiscalizatórias, vêm previstas nos arts. 72 a 77 do
de qualquer prejuízo ao idoso, o bem jurídico protegido é mesmo diploma.181
a Administração Pública na medida em que o ato notarial Elemento subje vo: dolo.182
lavrado não se reveste dos requisitos legais.168 Consumação: com o efe vo impedimento à ação fisca-
Sujeito a vo: trata-se de crime próprio, que somente lizatória do Ministério Público ou outro agente, que não se
pode ser pra cado pelo tabelião de notas, oficial ou escre- realiza por conduta do sujeito a vo. No embaraço, a consu-
vente autorizado ou responsável, que, no caso, pode ser mação ocorre com a criação de obstáculo ou estorvo à ação
equiparado a funcionário público por força do disposto do do Ministério Público ou outro agente, ainda que a ato se
art. 327 do Código Penal.169 realize.183
Sujeito passivo: a Administração Pública. Secundaria- Tentativa: admite-se, na modalidade de conduta
mente, a pessoa idosa eventualmente lesada.170 “impedir”.184
Conduta: vem representada pelo verbo “lavrar”, que
significa exarar por escrito, escrever, redigir.171 Estatuto do Idoso e as Alterações Promovidas no
Objeto material: é o ato notarial, ou seja, aquele ato
instrumentalizado pelo notário em seus livros de notas, Código Penal e nas Leis Penais Especiais
que são dos como documentos públicos (escrituras) ou
instrumentos públicos.172 – Escusas Absolutórias:
Elemento subje vo: dolo. 173 Para a maioria doutrinária, o art. 181, do Código Penal,
Elemento norma vo: vem representado pela expressão traz causas excludentes da punibilidade, ou seja, escusas
“sem a devida representação legal”. No caso, o idoso sem absolutórias. Reza o referido ar go:
discernimento de seus atos é do como incapaz (absoluta
ou rela vamente), devendo ser representado em todos os É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
atos da vida civil (arts. 3º e 4º da Lei nº 10.406/2002-CC e previstos neste título (crimes patrimoniais), em
8º do CPC).174 prejuízo:
Consumação: com a efe va lavratura do ato notarial, que I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem II – de ascendente ou descendente, seja o parentes-
a devida representação legal.175 co legí mo ou ilegí mo, seja civil ou natural. (Grifo
Tenta va: admite-se.176 nosso)

Análise do art. 109 An gamente, se um neto furtasse sua avó, não seria res-
Rege o art. 109 da norma em estudo: ponsabilizado tendo em vista o art. 181, do CP. No entanto,
o Estatuto do Idoso alterou essa situação, como se pode
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante verificar em seu art. 95:
do Ministério Público ou de qualquer outro agente
fiscalizador: Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal públi-
ca incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181
164
Ibidem, p. 320.
165
Ibidem, p. 321.
e 182 do Código Penal.
166
Ibidem, p. 321.
167
Ibidem, p. 321.
168
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
177
Saraiva, 2009, p. 321. ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 8 ed. São Paulo:
169
Ibidem, p. 321. Saraiva, 2009, p. 321.
170 178
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 321.
171 179
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 322.
172 180
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 322.
173 181
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 322.
174 182
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 322.
175 183
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 322.
176 184
Ibidem, p. 321. Ibidem, p. 322.

120
Conclui-se, desse modo, que os crimes patrimoniais – Sequestro, cárcere privado e extorsão mediante
come dos contra idosos, sejam por estranhos ou seus fami- sequestro:
liares, são de ação penal pública incondicionada e não serão O Estatuto do Idoso também protegeu os mais velhos nos
acobertados pelo manto das escusas. crimes de sequestro, cárcere privado e extorsão mediante
sequestro, aumentando-se a pena dos referidos crimes e
– Agravante Genérica: alterando o Código Penal, em seus arts. 148 e 159:
O art. 110, da Lei nº 10.741/2003, considera como agra-
vante genérica da pena o crime pra cado contra idosos. Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante
Assim, o art. 61, do Código Penal, que trata do assunto, sequestro ou cárcere privado: [...]
passou a ter a seguinte redação: § 1º A pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos:
I – se a ví ma é ascendente, descendente, cônjuge
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a do agente ou maior de 60 (sessenta) anos.
pena, quando não cons tuem ou qualificam o crime: Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter,
[...] para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate: [...]
h) contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
[...].
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é come-
– Homicídio Culposo: do por bando ou quadrilha.
Os idosos também foram protegidos com a nova redação
dada pelo Estatuto do Idoso ao art. 121, § 4º, do Código – Abandono Material:
Penal: A par r de 1º de janeiro de 2004, o art. 244, do CP, passou
a ter a seguinte redação:
No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3
(um terço), se o crime resulta de inobservância de Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do
regra técnica de profissão, arte ou o cio, ou se o cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou
agente deixa de prestar imediato socorro à ví ma, inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou
não procura diminuir as consequências do seu ato, maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionan-
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso do os recursos necessários ou faltando ao pagamento
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) de pensão alimen cia judicialmente acordada, fixada
se o crime é pra cado contra pessoa menor de 14 ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer des-
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. cendente ou ascendente, gravemente enfermo: [...].

– Abandono de Incapaz: Estatuto do Idoso e as Leis Penais Especiais


O Estatuto do Idoso acrescentou o inciso III ao art. 133,
do Código Penal: O Estatuto alterou alguns disposi vos de leis especiais.
A seguir estão relacionadas a lei e a redação que passarão a
Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, ter após a vaca o legis da Lei nº 10.741:
vigilância ou autoridade, e, por qualquer mo vo,
incapaz de defender-se dos riscos resultantes do – Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei
abandono: [...] nº 3.688/1941):
§ 3º As penas cominadas neste ar go aumentam-se
de um terço: [...] Art. 21. Pra car vias de fato contra alguém: Pena –
III – se a ví ma é maior de 60 (sessenta) anos. (Grifo prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa,
de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não
nosso)
cons tui crime.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um
– Injúria:
terço) até a metade se a ví ma é maior de 60 (ses-
Com o Estatuto, se a injúria se dirigir contra idoso, haverá
senta) anos. (Grifo nosso)
aumento de pena, ficando o art. 140, do Código Penal com
seguinte redação: – Lei de Tortura (Lei nº 9.455/1997):
Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Art. 1º Cons tui crime de tortura: [...]


decoro: [...] § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
§ 3º Se a injúria consiste na u lização de elementos I – se o crime é come do por agente público;
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a con- II – se o crime é come do contra criança, gestante,
dição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: portador de deficiência, adolescente ou maior de
Pena – reclusão de um a três anos e multa. 60 (sessenta) anos.

Ainda, será aumentada a pena, nos termos do art. 141, – Lei nº 10.048/2000:
do CP (alterado pela Lei nº 10.741/2003):
Art. 1º As pessoas portadoras de deficiência, os ido-
As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de sos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos,
um terço, se qualquer dos crimes é come do: [...] as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou por crianças de colo terão atendimento prioritário,
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. nos termos desta Lei.

121
Sérgio Bautzer / André Portela Conceito de Associações Criminosas
LEI Nº 9.034, DE 3 DE MAIO DE 1995 – Não há um conceito taxa vo de associações criminosas.
CRIME ORGANIZADO De acordo com a redação do art. 1º da Lei de Combate
ao Crime Organizado, aparentemente, as disposições pre-
Finalidade da Norma vistas na norma podem ser aplicadas na inves gação e no
processo de meras infrações penais pra cadas em concurso
A lei tem por finalidade definir e regular meios de prova de agentes, o que não corresponde à realidade.
e procedimentos inves gatórios que versarem sobre crime Na verdade, o intuito do legislador é que as disposições
resultante de ações pra cadas por quadrilha, bando, asso- sejam aplicadas nas inves gações e nos processos que ver-
ciações e organizações criminosas. sem sobre os crimes pra cados por associações criminosas
altamente organizadas, tais como as voltadas para o tráfico
de drogas, para o financiamento ou custeio do tráfico e para
Conceito de Quadrilha o genocídio.
É a reunião em caráter estável e permanente de mais de
três pessoas, para o fim de cometer crimes na zona urbana.1 Conceito de Organizações Criminosas
É um delito autônomo, previsto no art. 288 do Código Penal.
Se a quadrilha for armada, os criminosos responderão como A Lei nº 12.694/2012 trouxe o conceito de organizações
incursos no parágrafo único de tal disposi vo. criminosas para o ordenamento jurídico pátrio
A Lei nº 12.720/2012 acrescentou um disposi vo ao
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se orga-
ar go em comento, definindo o que é milícia:
nização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais
Cons tuição de milícia privada pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada
Art. 288-A.Cons tuir, organizar, integrar, manter ou pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com obje vo de obter, direta ou indiretamente, van-
custear organização paramilitar, milícia par cular,
tagem de qualquer natureza, mediante a prá ca de
grupo ou esquadrão com a finalidade de pra car
crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4
qualquer dos crimes previstos neste Código:
(quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
Crime de formação de Organização Criminosa
Conceito de Bando
Não há no Direito Penal a pificação de formação de
É a reunião em caráter estável e permanente de mais de organização criminosa, mesmo com o conceito trazido pela
três pessoas, para o fim de cometer crimes na zona rural.2 É Lei nº 12.694/2012.
um delito autônomo, também previsto no art. 288 do Código Sobre o assunto, vejamos o que decidiu a Sexta Turma
Penal. Se o bando for armado, os criminosos responderão do STJ
como incursos no parágrafo único de tal disposi vo.
Informa vo nº 343 – Sexta Turma – Organização Cri-
Quadrilha ou Bando para a prá ca de Crimes minosa. A picidade. Denúncia. Inépcia. Prosseguindo
Hediondos ou Equiparados no julgamento, a Turma, por maioria, decidiu que a
referência ao ins tuto da organização criminosa não
Quando a quadrilha ou o bando forem formados para afeta a picidade. Desse modo, como não há, no
prá ca de crimes hediondos ou equiparados, os criminosos ordenamento jurídico nacional (Lei nº 9.034/1995),
responderão como incursos no art. 8º da Lei dos Crimes definição desse ins tuto, descabe a sua imputação,
Hediondos. pificação, anterioridade e taxa vidade. Outrossim,
a verificação de todas as caracterís cas de organização
Quadrilha de Bagatela criminosa remete ao exame fá co-probatório, vedado
na via do habeas corpus. HC nº 69.694-SP, Rel. Min.
A expressão “quadrilhas de bagatela” procura dis nguir, Maria Thereza de Assis Moura, julg. em 18/12/2007.
ao menos no plano doutrinário, organização criminosa do
crime de quadrilha ou bando, uma vez que a complexidade No mesmo sen do, já decidiu a 1ª Turma do STF:
e abrangência da primeira não permite sua equiparação
ao segundo.3 Organização criminosa e enquadramento legal – 3
Conforme os professores Abel Fernandes, Geraldo Prado Em conclusão, a 1ª Turma deferiu habeas corpus para
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

e Willian Douglas, na obra Crime organizado e suas conexões trancar ação penal instaurada em desfavor dos pa-
com o poder público – comentários à Lei nº 9.034/1995: cientes. Tratava-se, no caso, de writ impetrado contra
acórdão do STJ que denegara idên ca medida, por
Não se concebe, por exemplo, que “ladrões de considerar que a denúncia apresentada contra eles
galinha associados” sejam vistos do ponto de vista descreveria a existência de organização criminosa
processual, para fim de limitação de direitos com que se valeria de estrutura de en dade religiosa e
ampliação de poderes probatórios e também cassa- de empresas vinculadas para arrecadar vultosos va-
ção de liberdade, de forma idên ca que aos grupos lores, ludibriando fiéis mediante fraudes, desviando
de fraudadores da Previdência ou aos responsáveis numerários oferecidos para finalidades ligadas à
pela circulação ilícita internacional de entorpecente. Igreja, da qual aqueles seriam dirigentes, em proveito
próprio e de terceiros. A impetração sustentava a
1
Tema cobrado na prova do Cespe/PM-DF/Curso de Formação de Soldado a picidade da conduta imputada aos pacientes –
(CFSDPM)/2009. lavagem de dinheiro e ocultação de bens, por meio
2
Tema cobrado na prova do Cespe/PM-DF/CFSDPM/2009.
3
Tema cobrado na prova do NCE/PC-RJ/Delegado/2002. de organização criminosa (Lei nº 9.613/1998, art.

122
1º, VII) – ao argumento de que a legislação brasileira redação dada pela Lei nº 10.217/2001, c/c o Decreto
não contemplaria o po “organização criminosa” – v. Legisla vo nº 231, de 29 de maio de 2003, que ra fi-
Informa vo 567. Inicialmente, ressaltou-se que, sob o cou a Convenção das Nações Unidas contra o Crime
ângulo da organização criminosa, a inicial acusatória Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto
remeteria ao fato de o Brasil, mediante o Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004. Precedente.
nº 5.015/2004, haver ra ficado a Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transna- Medidas ou Procedimentos Inves gatórios
cional – Convenção de Palermo [“Ar go 2 Para efeitos
da presente Convenção, entende-se por: a) ‘Grupo Os meios de inves gação e formação de provas previstos
criminoso organizado’ – grupo estruturado de três ou na Lei dos Crimes Organizados podem ser aplicados tanto
mais pessoas, existente há algum tempo e atuando na fase extrajudicial (inquérito policial) como na judicial
concertadamente com o propósito de cometer uma (processo-crime).
ou mais infrações graves ou enunciadas na presen- O rol do art. 2º da Lei nº 9.034/1995 não é taxa vo,
te Convenção, com a intenção de obter, direta ou podendo outras medidas inves gatórias serem adotadas no
indiretamente, um bene cio econômico ou outro combate ao crime organizado, como, por exemplo, a inter-
bene cio material”]. ceptação telefônica, prevista na Lei nº 9.296/1996.
[...] Dispõe o art. 2º da Lei nº 9.034/1995:
Em seguida, aduziu-se que o crime previsto na Lei nº
9.613/1998 dependeria do enquadramento das con- Art. 2º Em qualquer fase de persecução criminal
dutas especificadas no art. 1º em um dos seus incisos são permi dos, sem prejuízo dos já previstos em lei,
e que, nos autos, a denúncia aludiria a delito come- os seguintes procedimentos de inves gação e for-
do por organização criminosa (VII). Mencionou-se mação de provas: (Redação dada pela Lei nº 10.217,
que o parquet, a par r da perspec va de haver a de 11/4/2001)
definição desse crime mediante o acatamento à I – (Vetado)
citada Convenção das Nações Unidas, afirmara estar II – a ação controlada, que consiste em retardar a
compreendida a espécie na autorização norma va. interdição policial do que se supõe ação pra cada
Tendo isso em conta, entendeu-se que a asser va por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde
mostrar-se-ia discrepante da premissa de não exis r que man da sob observação e acompanhamento
crime sem lei anterior que o definisse, nem pena sem para que a medida legal se concre ze no momento
prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX). Asseverou- mais eficaz do ponto de vista da formação de provas
-se que, ademais, a melhor doutrina defenderia que e fornecimento de informações;
a ordem jurídica brasileira ainda não contemplaria III – o acesso a dados, documentos e informações
previsão norma va suficiente a concluir-se pela exis- fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais.
tência do crime de organização criminosa. Realçou-se IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais
que, no rol taxa vo do art. 1º da Lei nº 9.613/1998, eletromagné cos, ó cos ou acús cos, e o seu registro
não constaria sequer menção ao delito de quadrilha, e análise, mediante circunstanciada autorização judi-
muito menos ao de estelionato – também narrados cial; (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11/4/2001)
na exordial. Assim, arrematou-se que se estaria V – infiltração por agentes de polícia ou de inte-
potencializando a referida Convenção para se pre- ligência, em tarefas de investigação, constituída
tender a persecução penal no tocante à lavagem ou pelos órgãos especializados per nentes, mediante
ocultação de bens sem se ter o delito antecedente circunstanciada autorização judicial. (Inciso incluído
passível de vir a ser empolgado para tanto, o qual pela Lei nº 10.217, de 11/4/2001)
necessitaria da edição de lei em sen do formal e Parágrafo único. A autorização judicial será estri-
material. Estendeu-se, por fim, a ordem aos corréus. tamente sigilosa e permanecerá nesta condição
HC 96007/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 12/6/2012. enquanto perdurar a infiltração. (Parágrafo incluído
(HC-96007) pela Lei nº 10.217, de 11/4/2001)

Convenção de Palermo Flagrante Prorrogado, Ação Controlada, Interdição


Policial, Flagrante Retardado, Diferido, Postergado
A Convenção de Palermo conceitua organização crimi-
nosa como todo O flagrante prorrogado, que está previsto no inciso II do
art. 2º da lei em estudo, também é conhecido como diferido,
grupo estruturado de três ou mais pessoas, existentes retardado, postergado, ação controlada ou interdição policial.
há algum tempo e atuando concertadamente com o A lei que dispõe acerca da prevenção e repressão de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

fim de cometer infrações graves, com a intenção de ações pra cadas por organizações criminosas estabeleceu a
obter bene cio econômico ou moral. figura da ação controlada, o que significa que, em determi-
nados casos, a autoridade policial poderá retardar a prisão
em flagrante dos inves gados, desde que os mantenha sob
A 5ª Turma do STJ, no julgamento do HC nº 77.771/SP que
estrita e ininterrupta vigilância.4
versava sobre o crime de lavagem de dinheiro, fez referência
O flagrante retardado tem previsão na Lei do Crime
sobre a definição de crime organizado para mencionada Organizado, devendo ser concre zado no momento mais
Convenção: eficaz para a formação de provas e o fornecimento de
informações.5
Capitulação da conduta no inciso VII do art. 1º da
Lei nº 9.613/1998, que não requer nenhum crime 4
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil/
antecedente específico para efeito da configuração 2008; TRF-3ª Região/10º Concurso/Juiz Federal Subs tuto; OAB-GO/3º Exame
do crime de lavagem de dinheiro, bastando que seja de Ordem/2004; OAB-MG/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/PC-PB/ Agente
pra cado por organização criminosa, sendo esta de Inves gação e Escrivão/2009.
5
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública-AL/Defensor
disciplinada no art. 1º da Lei nº 9.034/1995, com a Público/2003; TJ-PI/Juiz Subs tuto/2001; OAB-MG/1º Exame de Ordem/2005.

123
Por meio da imposição legal, os agentes policiais poderão pra cado pela polícia, que “acompanhou” o veículo
retardar a prisão em flagrante quando es verem diante de u lizado para o transporte de quase meia tonelada
estado flagrancial de crimes pra cados por organizações de cocaína, retardando a abordagem. Quanto ao
criminosas.6 primeiro tema, vê-se que não há disposi vo legal
Outro ponto a ser ressaltado é que não há necessidade de a determinar obrigatoriamente que aquela medida
se saber o local da sede do grupo da organização criminosa seja precedida da anuência do membro do Parquet.
para haver o flagrante retardado.7 Ademais, a preterição de vista ao MP deu-se em razão
Ainda aqui, importante lembrar que a ação controlada da urgência da medida, bem como da ausência, na-
afasta a obrigatoriedade da prisão em flagrante realizada quele momento, do representante do MP designado
pelas autoridades e seus agentes, prevista no art. 301 do CPP, para atuar na vara em questão. Já quanto à segunda
quando encontrarem alguém em flagrante delito. questão, a ação policial controlada (art. 2º, II, da Lei
Não há necessidade de autorização judicial. Contudo, na nº 9.034/1995) não se condiciona à prévia permissão
Lei de Drogas, será exigida decisão judicial para se u lizar da da autoridade judiciária, o que legi ma o policial a
chamada entrega vigiada, que é um meio de inves gação retardar sua atuação com o fim de buscar o momento
que consiste basicamente no monitoramento das ações de mais eficaz para a formação de provas e fornecimento
traficantes de substâncias entorpecentes. de informações”. (HC nº 119.205-MS, Rel. Min. Jorge
O flagrante prorrogado não poderá ser confundido com Mussi, 5ª Turma, julg. em 29/9/2009).
outras modalidades de flagrante, tais como: 1) provocado,
2) esperado e 3) forjado. Interceptação Ambiental
Diferença entre Entrega Vigiada e Ação A interceptação ambiental, que não pode ser confundida
Controlada com a telefônica, está prevista no inciso IV do art. 2º da Lei
nº 9.034/1995.
A entrega vigiada pode ser definida como uma técnica É a captação da conversa entre dois ou mais interlocu-
de inves gação pela qual a autoridade judicial permite que tores por um terceiro desconhecido deles, que esteja nas
um carregamento de drogas enviado ocultamente em qual- proximidades ou no mesmo ambiente em que se desenvolve
quer po de transporte possa chegar ao seu des no sem a conversa.
ser interceptado, a fim de se poder iden ficar o remetente, Já a escuta ambiental é a mesma captação, realizada com
o des natário e os demais par cipantes dessa manobra o consen mento de um dos interlocutores.
criminosa (JESUS, 2002). Nas duas hipóteses há necessidade de autorização judicial.
Tal modalidade de inves gação está prevista no art. 53, Sobre o assunto, o que há de mais moderno é a possi-
II, da Lei de Drogas, in verbis: bilidade de se realizar a escuta ambiental em escritório de
advocacia, desde que o local seja u lizado para acobertar a
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal prá ca de infrações penais. Senão vejamos o que dispõe o
rela va aos crimes previstos nesta Lei, são permi - Informa vo nº 529 do STF:
dos, além dos previstos em lei, mediante autorização
judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes Escuta Ambiental e Exploração de Local: Escritório
procedimentos inves gatórios: de Advogado e Período Noturno – 5
[...] Afastou-se, de igual modo, a preliminar de ilicitude
II – a não atuação policial sobre os portadores de das provas ob das mediante instalação de equipa-
drogas, seus precursores químicos ou outros produ- mento de captação acús ca e acesso a documentos
tos u lizados em sua produção, que se encontrem no ambiente de trabalho do úl mo acusado, porque,
no território brasileiro, com a finalidade de iden - para tanto, a autoridade, adentrara o local três vezes
ficar e responsabilizar maior número de integrantes durante o recesso e de madrugada. Esclareceu-se
de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo que o relator, de fato, teria autorizado, com base no
da ação penal cabível. art. 2º, IV, da Lei nº 9.034/1995, o ingresso sigiloso
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste ar - da autoridade policial no escritório do acusado, para
go, a autorização será concedida desde que sejam instalação dos referidos equipamentos de captação
conhecidos o i nerário provável e a iden ficação dos de sinais acús cos, e, posteriormente, determinara
agentes do delito ou de colaboradores. a realização de exploração do local, para registro e
análise de sinais óp cos. Observou-se, de início, que
Nota-se que a entrega vigiada tem por obje vo iden- tais medidas não poderiam jamais ser realizadas com
ficar e responsabilizar maior número de integrantes de publicidade alguma, sob pena de intui va frustração,
operações de tráfico e distribuição de drogas, enquanto na o que ocorreria caso fossem pra cadas durante o
ação controlada a finalidade é de reunir maior número de dia, mediante apresentação de mandado judicial.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

provas contra membros de organizações criminosas. Afirmou-se que a Cons tuição, no seu art. 5º, X e XI,
A entrega vigiada não está prevista na Lei do Crime garante a inviolabilidade da in midade e do domicílio
Organizado.8 dos cidadãos, sendo equiparados a domicílio, para
A entrega vigiada necessita de autorização judicial, o que fins dessa inviolabilidade, os escritórios de advocacia,
não ocorre no flagrante prorrogado. locais não abertos ao público, e onde se exerce pro-
Assim decidiu o STJ: fissão (CP, art. 150, § 4º, III), e que o art. 7º, II, da Lei
nº 8.906/1994 expressamente assegura ao advogado a
Pretende-se afastar, por falta de prévia manifestação inviolabilidade do seu escritório, ou local de trabalho,
do MP, a decisão que deferiu a busca e apreensão de seus arquivos e dados, de sua correspondência, e
em sede de inves gação requerida pela autoridade de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins,
policial, bem como reconhecer a ilegalidade do ato salvo caso de busca ou apreensão determinada por
magistrado e acompanhada de representante da OAB.
6
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Delegado/2004 e OAB-DF/3º Considerou-se, entretanto, que tal inviolabilidade
Exame de Ordem/2003.
7
Tema cobrado na prova da OAB-DF/3º Exame de Ordem/2003.
cederia lugar à tutela cons tucional de raiz, instância
8
Tema cobrado na prova da Vunesp/OAB-SP/133º Exame de Ordem. e alcance superiores quando o próprio advogado seja

124
suspeito da prá ca de crime concebido e consumado, A tulo de exemplo, suponha que, por determinação
sobretudo no âmbito do seu escritório, sob pretexto judicial, tenha sido instalada escuta ambiental no escritório
de exercício da profissão. Aduziu-se que o sigilo do de advocacia de Pedro, para apurar a sua par cipação em
advogado não existe para protegê-lo quando cometa fatos criminosos apontados em ação penal. Nessa situação
crime, mas proteger seu cliente, que tem direito à am- hipoté ca, se essa escuta foi instalada no turno da noite,
pla defesa, não sendo admissível que a inviolabilidade quando vazio estava o escritório em tela, eventual prova
transforme o escritório no único reduto inexpugnável de ob da nessa diligência não será ilícita, pois não haverá
criminalidade. Enfa zou-se que os interesses e valores violação ao domicílio, pois preenchidos os requisitos legais9.
jurídicos, que não têm caráter absoluto, representados
pela inviolabilidade do domicílio e pelo poder-dever de Infiltração de Agentes de Polícia ou de
punir do Estado, devem ser ponderados e conciliados
à luz da proporcionalidade quando em conflito prá co Inteligência em Organizações Criminosas
segundo os princípios da concordância. Não obstante a
equiparação legal da oficina de trabalho com o domicí- A infiltração de agentes está prevista no inciso V do art. 2º
lio, julgou-se ser preciso recompor a ra o cons tucional da Lei nº 9.034/1995.
e indagar, para efeito de colisão e aplicação do princípio Infiltração quer dizer, segundo Cobra (1997)
da concordância prá ca, qual o direito, interesse ou
valor jurídico tutelado por essa previsão. Tendo em [...] o trabalho de agente de polícia consistente na sua
vista ser tal previsão tendente à tutela da in midade, introdução em determinado meio, sem que sua real
da priva vidade e da dignidade da pessoa humana, a vidade seja conhecida, para nele trabalhar ou viver,
considerou-se ser, no mínimo, duvidosa, a equiparação temporariamente, como parte integrante do ambiente,
entre escritório vazio com domicílio stricto sensu, que com a finalidade de descobrir ou apurar alguma coisa.
pressupõe a presença de pessoas que o habitem. De
toda forma, concluiu-se que as medidas determinadas Não é possível a infiltração de par culares em organiza-
foram de todo lícitas por encontrarem suporte norma- ções criminosas.
vo explícito e guardarem precisa jus ficação lógico- Não há disposição legal que regule a atuação do agente
-jurídico cons tucional, já que a restrição consequente infiltrado quando no seio de uma organização criminosa.
não aniquilou o núcleo do direito fundamental e está, A Lei nº 9.034/1995 não prevê quais condutas delituosas ele
segundo os enunciados em que desdobra o princípio poderia pra car para preservar sua verdadeira iden dade.10
da proporcionalidade, amparada na necessidade da Permite a lei que, mediante autorização judicial,
promoção de fins legí mos de ordem pública. Vencidos venham a atuar como agentes infiltrados os agentes de
os Ministros Marco Aurélio, Celso de Mello e Eros Grau, inteligência e agentes de polícia.11
que acolhiam a preliminar, ao fundamento de que a Assim, a lei não permite que venham a atuar como
invasão do escritório profissional, que é equiparado à agentes infiltrados os membros do Ministério Público12,
casa, no período noturno estaria em confronto com o agentes da Polícia Rodoviária Federal13, ou, ainda, os pre-
previsto no art. 5º, XI, da CF. (Inq nº 2.424/RJ, Plenário, sos que venham a colaborar para o desmantelamento da
Rel. Min. Cezar Peluso, 19 e 20/11/2008). organização criminosa14.
91011121314

Quadro Compara vo15


16

Portugal Espanha Alemanha Argen na Chile França Estados Unidos16


Ministério Público.
Para autorizar certas
Autoriza- Ministério Público Jus ça e Minis-
Ministério Público Jus ça diligências, exige-se Jus ça Jus ça
ção Fiscal tério Público
permissão do juiz de
garan as
6 meses, com possí- 6 meses, com possí- Legislação não pre-
Prazo Não iden ficado Não iden ficado Não iden ficado Não iden ficado
vel prorrogação vel prorrogação vê prazo
Apresen- “Mais rápido possí- Legislação não pre-
Ao final da investi-
tação de vel” (não há perio- Não iden ficado Não iden ficado vê periodicidade de Não iden ficado Não iden ficado
gação
relatórios dicidade) relatórios
Permite crimes,
Permite a prá ca de Permite a prá ca de exceto os que co- Permite a prática
Crimes
crimes, se não houver crimes, se não hou- loquem em risco a de crimes, se não
a serem Não iden ficado Não iden ficado Não iden ficado
alterna va por parte ver alternativa por vida de outros ou houver alterna va
pra cados
policial parte policial ofendam a integri- por parte policial
dade sica
Homicídio, crime se- Sequestro, pros tui- Desde que come-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Desde que co-


xual, tráfico, terroris- ção, crimes contra o tidos por organi-
metidos por
mo, crime com bom- patrimônio, crimes zações criminosa:
o r ga n i z a ç õ e s Infiltração está Infiltração está
Crimes bas, roubo em ins - ambientais, uso ir- homicídio, tráfico
cri minosa: trá- prevista apenas Infiltração é tratada prevista no có-
a serem tuições financeiras, regular de material de drogas ou de ar-
fico de armas e na lei de entorpe- apenas na lei de digo federal que
inves ga- grupos criminosos, nuclear, crimes con- mas, sequestro, fal-
entorpecentes, centes e no Código drogas trata do tráfico de
dos lavagem de dinheiro, tra a saúde pública, sificação de moeda,
falsificação de Aduaneiro drogas
corrupção, peculato, falsificação de moe- lavagem de dinheiro,
dinheiro e va-
tráfico de influência, da e tráfico de drogas roubo e estelionato
lores
entre outros e de armas e extorsão

9
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TRF-5ª Região/Juiz/2009.
10
Nos Estados Unidos, a prá ca é regulada a par r dos julgamentos dos tribunais. Não há uma regra específica para todo o país.
11
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão/2009; FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008.
12
Vunesp/OAB-SP/133º Exame de Ordem.
13
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB-SP/133º Exame de Ordem e OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004.
14
Vunesp/OAB-SP/133º Exame de Ordem.
15
Quadro compara vo de Mariângela Lopes, pesquisadora da Universidade de São Paulo.
16
Vunesp/OAB-SP/133º Exame de Ordem.

125
Juiz Inquisidor Busca e apreensão de documentos relacionados ao
pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente
A Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei nº 9.034/1995), pelo magistrado. Comprome mento do princípio da
mais especificamente em seu art. 3º, previa a hipótese de imparcialidade e consequente violação ao devido
diligências realizadas pessoalmente pelo juiz ainda na fase processo legal. 3. Funções de inves gador e inqui-
do inquérito. sidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e
Dispõe o art. 3º da Lei nº 9.034/1995: às Polícias Federal e Civil (CF, art. 129, I e VIII e § 2º;
e 144, § 1º, I e IV, e § 4º). A realização de inquérito
Art. 3º Nas hipóteses do inciso III do art. 2º desta é função que a Cons tuição reserva à polícia. Prece-
lei, ocorrendo possibilidade de violação de sigilo dentes. Ação julgada procedente, em parte.
preservado pela Cons tuição ou por lei, a diligência
será realizada pessoalmente pelo juiz, adotado o mais Segundo o Professor Guilherme Nucci: “ Em conclusão,
rigoroso segredo de jus ça. (Vide Adin nº 1.570-2, no entanto, com equívoco ou sem ele, pode-se deduzir não
Pleno, de 11/11/2004, que declara a incons tuciona- mais estar em vigor art. 3º da Lei nº 9.034/1995”17.
lidade do art. 3º no que se refere aos dados “Fiscais”
e “Eleitorais”) Iden ficação Criminal dos Envolvidos com
§ 1º Para realizar a diligência, o juiz poderá requisitar Organizações Criminosas
o auxílio de pessoas que, pela natureza da função ou
profissão, tenham ou possam ter acesso aos objetos Art. 5º A iden ficação criminal de pessoas envolvidas
do sigilo. com a ação pra cada por organizações criminosas será
§ 2º O juiz, pessoalmente, fará lavrar auto cir- realizada independentemente da iden ficação civil.
cunstanciado da diligência, relatando as informações
colhidas oralmente e anexando cópias autên cas A iden ficação criminal é composta pela iden ficação
dos documentos que verem relevância probatória, da loscópica (coleta de impressões digitais) e pela iden -
podendo para esse efeito, designar uma das pessoas ficação fotográfica.
referidas no parágrafo anterior como escrivão ad hoc. Um dos atos que compõem o indiciamento formal de
§ 3º O auto de diligência será conservado fora dos um suspeito é a iden ficação criminal, conhecida nos meios
autos do processo, em lugar seguro, sem intervenção policiais como “tocar piano”.
de cartório ou servidor, somente podendo a ele ter A iden ficação tem sua razão de ser no fato de que
acesso, na presença do juiz, as partes legí mas na cada ser humano possui saliências papilares únicas, o que o
causa, que não poderão dele servir-se para fins estra- diferencia dos demais.
nhos à mesma, e estão sujeitas às sanções previstas Antes da promulgação da CF de 1988, o STF sumulou
pelo Código Penal em caso de divulgação. o seguinte entendimento: “A identificação criminal não
§ 4º Os argumentos de acusação e defesa que ver- constitui constrangimento ilegal, ainda que o indiciado
sarem sobre a diligência serão apresentados em já tenha sido iden ficado civilmente” (Súmula nº 568, STF).
separado para serem anexados ao auto da diligência, Em 1988, a CF passou a dispor em seu art. 5º, LVIII: “O
que poderá servir como elemento na formação da civilmente iden ficado não será subme do a iden ficação
convicção final do juiz. criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.”
§ 5º Em caso de recurso, o auto da diligência será Tendo em vista se tratar de uma norma cons tucional
fechado, lacrado e endereçado em separado ao juízo de eficácia con da, para regulamentá-la foi editada a Lei
competente para revisão, que dele tomará conheci- nº 10.054/2000, posteriormente revogada pela Lei nº
mento sem intervenção das secretarias e gabinetes, 12.037/2009.
devendo o relator dar vistas ao Ministério Público Rege a atual Lei de Iden ficação Criminal que o civilmente
e ao Defensor em recinto isolado, para o efeito de iden ficado por documento original não será subme do à
que a discussão e o julgamento sejam man dos em iden ficação criminal, exceto quando:
absoluto segredo de jus ça. 1) o documento apresentar rasura ou ver indício de
falsificação;
O disposi vo em comento foi subme do ao crivo do 2) o documento apresentado for insuficiente para iden-
Supremo Tribunal Federal. No julgamento da ADI nº 1570/ ficar cabalmente o indiciado;
DF, Rel. Min. Maurício Corrêa, julg. em 12/2/2004, Tribunal 3) o indiciado portar documentos de iden dade dis n-
Pleno, foi declarada a incons tucionalidade do disposi vo tos, com informações conflitantes entre si;
no que se refere a dados fiscais e eleitorais. O guardião da 4) iden ficação criminal for essencial às inves gações
CF decidiu que: policiais, segundo despacho da autoridade judiciária com-
petente, que decidirá de o cio ou mediante representação
Ementa: Ação Direta de Incons tucionalidade. Lei da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nº 9.034/1995. Lei Complementar nº 105/2001. 5) constar de registros policiais o uso de outros nomes
Superveniente. Hierarquia superior. Revogação implí- ou diferentes qualificações;
cita. Ação prejudicada, em parte. “Juiz de Instrução”. 6) o estado de conservação ou a distância temporal ou
Realização de diligências pessoalmente. Competência da localidade da expedição do documento apresentado im-
para inves gar. Inobservância do devido processo possibilite a completa iden ficação dos caracteres essenciais.
legal. Imparcialidade do Magistrado. Ofensa. Funções
de inves gar e inquirir. Mi gação das atribuições do Importante salientar que será submeƟdo à idenƟficação
Ministério Público e das Polícias Federal e Civil. 1. Lei criminal, de acordo com a Lei, o indiciado ou acusado pela
nº 9.034/1995. Superveniência da Lei Complementar práƟca de crimes que envolvam ação praƟcada por orga-
nº 105/2001. Revogação da disciplina con da na le- nizações criminosas.18
gislação antecedente em relação aos sigilos bancário
e financeiro na apuração das ações pra cadas por or- 17
SOUZA Nucci, de Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas.
ganizações criminosas. Ação prejudicada, quanto aos Editora Revista dos Tribunais. 5ª edição, 2010, página 289.
18
procedimentos que incidem sobre o acesso a dados, Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Delegado/2004; Cespe/TRE-AL/
Analista Judiciário/Área Judiciária/2004; Cespe/OAB/2007; Cespe/PC-PB/Agen-
documentos e informações bancárias e financeiras. 2. te de Inves gação e Escrivão de Polícia/2009 e Cespe/PC-PB/Delegado/2009.

126
Porém, segundo a jurisprudência do Superior Tribunal nosas, o art. 5º da Lei nº 9.034/1995 con nuava em vigor,
de Jus ça não serão subme dos à iden ficação criminal os mesmo com a edição da Lei nº 10.054/2000.
indiciados que se envolvam em ações pra cadas por orga-
nizações criminosas. Delação Premiada ou Delação Eficaz
Apesar de o art. 5º da Lei nº 9.034/1995 es pular a
obrigatoriedade de iden ficação criminal, tal disposi vo foi Trata-se de redução de pena como consequência da de-
revogado tacitamente pela Lei nº 10.054/2000, como pode lação de envolvidos com o crime organizado e a elucidação
ser percebido pelo RHC 12.968-DF, (5ª Turma) do Superior das infrações penais por eles pra cadas.
Tribunal de Jus ça: Os requisitos para concessão do bene cio:
1) a delação deve estar relacionada a uma infração penal
Penal. Recurso Ordinário em Habeas corpus, art. 4º da
pra cada pela organização criminosa;
Lei nº 7.492/1986 e arts. 288 e 312 do Código Penal.
2) a delação deve ser espontânea, sem que tenha exis do
Iden ficação Criminal dos Civilmente Iden ficados.
Art. 3º, caput e incisos, da Lei nº 10.054/2000. Re- anterior sugestão de terceiro. O delator é quem deve procurar as
vogação do art. 5º da Lei nº 9.034/1995. O art. 3º, Autoridades Públicas para que haja a formalização da delação19;
caput e incisos, da Lei nº 10.054/2000 enumerou, 3) eficácia da delação, possibilitando a elucidação da
de forma incisiva, os casos nos quais o civilmente infração.
iden ficado deve, necessariamente, sujeitar-se à
iden ficação criminal, não constando, entre eles, Nos crimes praticados em organização criminosa,
a hipótese em que o acusado se envolve com a ação a pena será reduzida de um a dois terços, quando a cola-
pra cada por organizações criminosas. Com efeito, boração espontânea do agente levar ao esclarecimento de
restou revogado o preceito con do no art. 5º da Lei infrações penais e sua autoria.20
nº 9.034/1995, o qual exige que a iden ficação cri- Leis que fazem menção à delação premiada:
minal de pessoas envolvidas com o crime organizado • Art. 159 do Código Penal, sobre crimes de extorsão
seja realizada independentemente da existência de mediante sequestro (redação dada pela Lei nº 9.269,
iden ficação civil. Recurso provido. (Grifo Nosso) de 2 abr. 1996, ao § 4º do art. 159 do CP);
• Lei nº 8.072, de 25 jul. 1990, sobre crimes hediondos
A tese sustentada da revogação perdeu força, como se (art. 8º, parágrafo único);
vê diante da leitura da Lei nº 12.037/2009, que não traz • Lei nº 8.137, de 27 dez. 1990, sobre crimes contra a
mais em seu bojo o rol taxa vo de crimes em que o indicia- ordem tributária, econômica e contra as relações de
do ou acusado obrigatoriamente deveria ser subme do à consumo (art. 16, parágrafo único);
iden ficação criminal. Assim, dependerá da análise do caso • Lei nº 9.034, de 3 maio 1995, sobre crime organizado
concreto para que a Autoridade determine a submissão do (art. 6º);
indiciado ou acusado da prá ca de infração penal ao processo • Lei nº 9.613, de 3 mar. 1998, sobre lavagem de dinheiro
da loscópico ou fotográfico. (art. 1º, § 5º);
Sempre sustentamos que, por se tratar de norma especial • Lei nº 9.807, de 13 jul. 1999, sobre programa de pro-
editada para se reprimir a atuação de organizações crimi- teção a ví mas e testemunhas (art. 14).
1920

Quadro Compara vo 21

Código 7.492/1986 8.072/1990


8.137/1990 8.884/1994 9.034/1995 9.613/1998 Lava- 9.807/1999 Pro- 11.343/2006
Penal Sistema Hediondos
Ordem Ordem Econô- Crime Orga- gem de Dinheiro teção às Ví mas Drogas e Afins
Lei Financeiro Tributária mica/CADE nizado e Testemunhas
Econô-
mica
159, § 4º 25, § 2º 8º, Parágra- 16, Parágrafo 35, b e c 6º 1º, § 5º 13 e 14 41
Ar go
fo único único
Denún- Confissão Denúncia do Confissão Colaboração Colaboração Colaboração Colaboração Colaboração
cia espontânea bando ou espontânea com as in- espontânea espontânea efe va e volun- voluntária
Conduta quadrilha ves gações tária com a in-
do Agente e processo ves gação
administra vo e processo
crime
Facilitar Revelação Possibili- Revelação de Iden ficação Esclarecer Esclarecimento Iden ficação de Iden ficação
a libera- de toda dade de toda a trama dos demais infrações que conduza à coautores ou de coautores
ção do a trama desmante- delituosa coautores e penais e sua apuração das par cipes; loca- ou par cipes
seques- delituosa lamento da informações e autoria infrações penais lização da ví ma e recupera-
Resultado
trado quadrilha ou docs. e sua autoria ou com integridade ção total ou
Esperado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

bando à localização de sica preserva- parcial do


bens, direitos ou da; recuperação produto do
valores objeto do do produto crime
crime
Redução Redução da Redução da Redução da Impede ofe- Redução da Redução da pena Redução da Redução da
da pena pena pena pena recimento pena e início em regime pena; perdão pena
da denúncia semiaberto; subs- judicial
– ex nção da tuição da pena
Bene cio
ação puni va priva va de liber-
Previsto
da adminis- dade por restri va
tração pública de direitos;
– ex nção da perdão judicial
punibilidade
Quantum 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3

19
Tema cobrado na prova do Cespe/PC-PB/Delegado/2009.
20
Cespe/OAB/2007.
21
Quadro Compara vo de José Canosa Ne o, re rado da Internet em setembro de 2006.

127
Liberdade Provisória provisória indeferido. Superveniência de sentença
condenatória que mantém, nos termos do decreto
Reza o art. 7º da Lei do Crime Organizado: “Não será con- constri vo anterior, o cárcere cautelar. Inexistência de
cedida liberdade provisória, com ou sem fiança, aos agentes mo vação válida. Necessidade da custódia provisória
que tenham do intensa e efe va par cipação na organiza- não demonstrada. Precedentes.
ção criminosa.” 1. A custódia cautelar do Paciente está sendo man -
A liberdade provisória é concedida ao réu preso caute- da, na hipótese, pelos fundamentos da decisão que
larmente. É uma garan a cons tucional prevista no art. 5º, lhe negou o bene cio da liberdade provisória, apenas
LXVI, da CF, que diz que “ninguém será levado à prisão ou em face da vedação trazida pela Lei dos Crimes He-
nela man do, quando a lei admi r a liberdade provisória, diondos e em argumentos abstratos, desprovidos de
com ou sem fiança”. qualquer suporte fá co, que não podem respaldar a
A fiança é a garan a real prestada pelo preso para ga- prisão provisória.
ran r sua liberdade, apresentando dupla finalidade: 1) é a 2. Mesmo para os crimes em que há vedação expressa
de subs tuir a prisão, isto é, o indiciado ou acusado obtém à liberdade provisória, como é o caso do Estatuto
sua liberdade mediante o recolhimento de determinado do Desarmamento, da Lei dos Crimes Hediondos e
valor, que pode ser em bens ou dinheiro; 2) no caso de o a das Organizações Criminosas, pres gia-se a regra
indiciado ou acusado ser condenado, a fiança proporcionará
cons tucional da liberdade em contraposição ao
a reparação do dano, a sa sfação da pena de multa, da pena
cárcere cautelar, quando não houver demonstrada
pecuniária e custas processuais.
a necessidade da segregação.
Pela leitura do art. 7º da Lei do Crime Organizado veri-
fica-se que os indivíduos que tenham do intensa e efe va 3. Exige-se concreta fundamentação judicial para
par cipação na organização criminosa não poderão ter o se decretar ou manter a prisão cautelar, com
direito da liberdade provisória com ou sem fixação de fiança. demonstração dos pressupostos do art. 312 do
Dessa forma, apesar de haver vedação expressa à liber- Código de Processo Penal, sob pena de desrespeito
dade provisória no diploma legal22, tal disposi vo deve ser ao art. 93, inciso IX, da Cons tuição Federal.
interpretado de acordo com o art. 312 do Código de Processo 4. Ordem concedida para revogar a prisão provisória
Penal. Se es verem ausentes os requisitos da prisão preven- do ora Paciente, se por outro mo vo não es ver
va, o membro de organização criminosa poderá responder preso, sem prejuízo de eventual decretação de prisão
ao processo em liberdade. preven va devidamente fundamentada.
Superada essa questão, temos como referência o
HC nº 61.631 (5ª Turma) do Superior Tribunal de Jus ça, que Cumpre ressaltar que a Lei nº 12.403/2011, que alterou
trata da concessão da liberdade provisória aos membros de o Código de Processo Penal, reproduziu o disposto na CF, ao
organização criminosa: dizer que não será concedida fiança nos crimes come dos
por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem cons-
Habeas corpus. Tráfico ilícito de entorpecente e tucional e o Estado Democrá co, o que se inclui as ações
posse irregular de arma de fogo. Pedido de liberdade pra cadas pelas organizações criminosas.

Quadro Compara vo
Crimes He- Crimes de Tráfico – art. Tortura
Racismo (cri- Ação de Grupo Ar- Crime Organizado
diondos e 33, caput e § 1º, arts. me de precon- mado Civil ou Mi- (Lei nº 9.034/1995)
terrorismo 34 a 37, todos da Lei nº ceito – Lei nº litar contra Estado
11.343/2006. 7.716/1989) Democrá co de
Direito e a Ordem
Social
Inafiançáveis Inafiançáveis Inafiançável Inafiançável Inafiançável Não será concedida
liberdade provisória
(inafiançável) àqueles
que tenham tido in-
tensa e efe va par ci-
pação em organização
criminosa.
------------- -------------------- --------------- Imprescri vel Imprescri vel -----------------
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Insusce veis Insusce veis de: Insusce vel de: Punido com ----------------- Não será concedida
de: • anis a; • anis a; pena de reclu- liberdade provisória
• anis a; • graça; • graça. são. sem fiança àqueles
• graça; • indulto; que tenham tido in-
• indulto. • sursis (suspensão con- tensa e efe va par -
dicional da pena). cipação em organiza-
ção criminosa (único
exemplo de liberdade
provisória vedada).

22

22
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/2007; Cespe/TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-MA-ES-DF-CE-BA-AM-AP-AL-AC/1º Exame de Ordem/2007.

128
Prazo para Encerramento da Instrução Criminal 2. Mesmo com os percalços decorrentes dos conflitos
de competência suscitados – todos já devidamente
A instrução criminal é a fase do processo em que são solucionados – , nenhuma desídia teve lugar na con-
produzidas as provas em juízo. dução da fase instrutória. O feito, outrossim, denota
Dispõe o art. 8º da Lei nº 9.034/1995: evidente complexidade, tendo em vista o grande
número de pessoas em tese envolvidas nas ações
Art. 8º O prazo para encerramento da instrução cri- delituosas imputadas à organização criminosa que,
minal, nos processos por crime de que trata esta Lei, dentre outras a vidades, dedica-se ao tráfico inter-
será de 81 (oitenta e um) dias, quando o réu es ver nacional de drogas, com atuação em vários Estados
preso, e de 120 (cento e vinte) dias, quando solto. da Federação.
3. Os prazos indicados para a consecução da instrução
Nos processos por crimes pra cados por organizações criminal servem apenas como parâmetro geral, por-
criminosas, de que trata a Lei nº 9.034/1995, o prazo para quanto variam conforme as peculiaridades de cada
encerramento da instrução criminal será de oitenta e um processo, razão pela qual a jurisprudência uníssona
dias, quando o réu es ver preso, e cento e vinte dias, os tem mi gado.
quando solto.23 4. Nesse contexto, consoante o princípio da razoa-
O prazo de encerramento da instrução criminal não pode bilidade, resta devidamente jus ficada a necessária
ser confundido com o prazo de encerramento do inquérito dilação do prazo para conclusão da fase instrutória,
policial. mormente quando se tem em conta a complexidade
Com a reforma do Código de Processo Penal, há novos do feito.
prazos para conclusão das audiências de instrução e julga-
5. Habeas corpus julgado parcialmente prejudicado
mento.
e, no mais, denegada a ordem.
Sustentamos que, diante dos novos prazos dispostos no
Código de Processo Penal, houve a revogação do art. 8º do
Crime Organizado. A Lei nº 12.694/2012 diz que em processos ou proce-
Segundo o art. 400 do Estatuto Processual Penal, no pro- dimentos que tenham por objeto crimes pra cados por
cedimento ordinário a audiência de instrução e julgamento organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela forma-
será realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias. ção de colegiado para a prá ca de qualquer ato processual,
Já o art. 412 do CPP diz que, no procedimento do júri, especialmente:
a primeira fase (o chamado sumário da culpa) será concluída • decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;
no prazo máximo de 90 (noventa) dias. • concessão de liberdade provisória ou revogação de
No procedimento sumário previsto no art. 531 do CPP, prisão;
a audiência de instrução e julgamento será realizada no prazo • sentença;
máximo de 30 (trinta) dias. • progressão ou regressão de regime de cumprimento
O excesso de prazo durante a instrução criminal pode de pena;
ensejar a revogação da prisão cautelar do acusado, mas tal • concessão de liberdade condicional;
premissa será flexibilizada de acordo com o caso concreto. • transferência de preso para estabelecimento prisional
Vejamos o que já decidiu o STJ: de segurança máxima; e
• inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.
HC nº 58.462-MS (5ª Turma) – STJ
Habeas corpus. Tráfico Internacional de Drogas, Lava- O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os mo vos
gem de Dinheiro, Sonegação Fiscal etc. Conexidade e as circunstâncias que acarretam risco à sua integridade
entre os crimes. Competência da Jus ça Federal. sica em decisão fundamentada, da qual será dado conhe-
Criação de vara especializada. Redistribuição dos cimento ao órgão correicional.
feitos. Competência em razão da matéria, portanto, O colegiado, cuja competência se limita ao ato para o qual
absoluta. Questões já resolvidas nos conflitos de
foi convocado, será formado pelo juiz do processo e por 2
competência anteriormente suscitados. Alegação
(dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre
de excesso de prazo na custódia cautelar. Feito
complexo. Necessidade de dilação dos prazos para aqueles de competência criminal em exercício no primeiro
grau de jurisdição.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

encerramento da instrução criminal. Incidência do


princípio da razoabilidade. As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver
1. Alegações de li spendência entre ações, nulida- risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da
de da instrução criminal e incompetência do juízo decisão judicial, sendo que a reunião do colegiado composto
processante. Questões que restaram prejudicadas por juízes domiciliados em cidades diversas poderá ser feita
em decorrência do superveniente julgamento pela pela via eletrônica.
Eg. Terceira Seção do CC nº 57.838-MS e do CC As decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e
nº 51.139-MS, por mim relatados, ocasião em que firmadas, sem exceção, por todos os seus integrantes, serão
fora determinada a reunião dos processos e decla-
publicadas sem qualquer referência a voto divergente de
rada a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de
qualquer membro.
Campo Grande – SJ/MS.
Os tribunais, no âmbito de suas competências, expedirão
normas regulamentando a composição do colegiado e os
23
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-RJ/Delegado/2001; Acadepol-SP/
Delegado/2003; OAB-GO/3º Exame de Ordem/2004. procedimentos a serem adotados para o seu funcionamento.

129
Do Direito de Apelar em Liberdade Regime de Cumprimento de Pena

Rege o art. 9º desta lei: “O réu não poderá apelar em A progressão de regime consiste na passagem do regime
liberdade, nos crimes previstos nesta lei”. mais rigoroso para outro mais brando de cumprimento de
O Superior Tribunal de Jus ça (STJ) vem se manifestando pena priva va de liberdade.
no sen do de que somente será imposto ao réu o recolhi- Há três regimes de cumprimento de pena, o fechado o
mento provisório quando presentes as hipóteses do art. 312, semiaberto e o aberto. O Brasil adota o sistema progressivo.
do CPP, havendo, assim, uma releitura da sua Súmula nº 09: A Lei do Crime Organizado determina que o condenado
“a exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a por crime decorrente de organização criminosa inicie o cum-
garan a cons tucional da presunção de inocência”. primento da pena no regime fechado, podendo progredir
O STJ já decidiu: para o semiaberto e em seguida para o aberto.25
Assim, imaginemos que Antenor foi condenado à pena
HC nº 65.174-MG (5ª Turma) – STJ de reclusão por crime decorrente de organização criminosa.
Habeas corpus. Tráfico ilícito de entorpecentes. Prisão Nessa situação, ele deverá começar a cumprir sua pena em
em flagrante. Crime hediondo. Liberdade provisó- regime inicialmente fechado.26
ria. Denegação. Ausência de mo vação concreta. Note que a Lei de Execução Penal prevê, no § 2º do
Constrangimento ilegal. Superveniência de sentença art. 52, que estará sujeito ao regime disciplinar diferencia-
condenatória. Indeferimento do direito de apelar em do o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam
liberdade. Falta de fundamentação da prisão cautelar. fundadas suspeitas de envolvimento ou participação,
Ilegalidade. a qualquer tulo, em organizações criminosas, quadrilha ou
1. A prisão provisória é uma medida extrema e excep- bando.
cional, que implica sacri cio à liberdade individual, O regime disciplinar diferenciado tem as seguintes carac-
sendo imprescindível, em face do princípio cons - terís cas : 1) duração máxima de trezentos e sessenta dias,
tucional da inocência presumida, a demonstração não levando em conta a hipótese da aplicação quando do
dos elementos obje vos, indica vos dos mo vos come mento de nova falta grave; 2) o recolhimento em cela
concretos autorizadores da medida constri va. individual; 3) visitas semanais de duas pessoas, sem contar
2. O advento de sentença condenatória não legaliza, as crianças, com duração de duas horas; 4) direito à saída
de per si, custódia cautelar carente de fundamenta- da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
ção legal, mo vada apenas na hediondez do crime A Lei nº 12.694/2012 diz que em processos ou proce-
de tráfico. A nega va do apelo em liberdade, no dimentos que tenham por objeto crimes pra cados por
caso, deve apresentar fundamentos concretos da organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela forma-
imprescindibilidade da medida. ção de colegiado para a prá ca de qualquer ato processual,
3. Mesmo para os crimes em que há vedação ex- especialmente, a progressão ou regressão de regime de
pressa à liberdade provisória, como é o caso da cumprimento de pena, a concessão de liberdade condicional,
Lei dos Crimes Hediondos e a das Organizações transferência de preso para estabelecimento prisional de
Criminosas, a teor da jurisprudência deste Superior segurança máxima e inclusão do preso no regime disciplinar
Tribunal de Jus ça, remanesce a necessidade de diferenciado.
fundamentação concreta para o indeferimento do
pedido, pres giando-se, assim, a regra cons tucional
da liberdade em contraposição ao cárcere cautelar, REFERÊNCIAS
quando não houver demonstrada a necessidade da
segregação. Precedentes. COBRA, Coriolano Nogueira. Manual de inves gação policial.
4. Ordem concedida em relação aos Pacientes e habe- 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
as corpus concedido de o cio ao corréu Sólon Queiroz
Gonçalves, para determinar que sejam colocados GOMES, Abel Fernandes. Crime Organizado e suas conexões
em liberdade provisória, durante processamento da com o Poder Público: Comentários a Lei nº 9.034/1995: Con-
apelação interposta, sem prejuízo de eventual siderações crí cas/ Abel Fernandes Gomes, Geraldo Prado e
decretação de custódia cautelar, devidamente fun- Willian Douglas. Rio de Janeiro: Impetus, 2000.
damentada.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

JESUS, Damásio de. Entrega vigiada. São Paulo: Complexo


Assim como no art. 7º da lei em comento, o jurista deve Jurídico Damásio de Jesus. 2002. Disponível em: <www.
interpretar o art. 9º de acordo com o art. 312 do Código damasio.com.br>.
de Processo Penal. Se es verem ausentes os requisitos da
prisão preven va, o membro de organização criminosa SOUZA Nucci, de Guilherme. Leis Penais e Processuais Pe-
poderá apelar em liberdade.24 nais Comentadas. Editora Revista dos Tribunais. 5ª edição,
Cumpre ressaltar que o art. 595 do CPP foi revogado pela 2010.
Lei nº 12.403/2011, sendo que se o réu condenado fugir
depois de haver apelado, atualmente, não será declarada
deserta a apelação.
25
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/2007; Cespe/PC-PB/Delega-
do/2009.
24 26
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia
Escrivão de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/Delegado/2009. Federal/2004.

130
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Também não foi intenção dos inves gadores chegar
LEI Nº 9.296/1996 ao advogado a par r de seu cliente. Não se aplica,
portanto, a proteção do ar go 7º, inciso II, da Lei
nº 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia). Concluiu
Fundamento Cons tucional destacando que não cabe aos agentes policiais “se-
lecionar” ou “escolher” os trechos da interceptação
A Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, regulamenta a
parte final do art. 5º, XII, da CF, que, por sua vez, dispõe: que devem ser gravados.
O TRF2, porém, determinou que os diálogos entre o
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das advogado e o seu cliente e entre este e o outro inves-
comunicações telegráficas, de dados e das comuni- gado que citassem o profissional de direito fossem
cações telefônicas, salvo, no úl mo caso, por ordem re rados dos autos. Também determinou que todas
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabe- as referências a esses diálogos fossem riscadas das
lecer para fins de inves gação criminal ou instrução peças processuais e que esses trechos das gravações
processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996) fossem apagados, preservando o sigilo.
Insis ndo na tese da nulidade da denúncia, por ter se
O sigilo da comunicação telefônica baseado em interceptações telefônicas supostamen-
te ilícitas, a defesa recorreu ao STJ, afirmando que
[...] não é um direito absoluto, devendo ceder diante houve violação do sigilo cliente/advogado. Pediu que
do interesse público, do interesse social e do interesse toda a prova apontada como ilícita, ou seja, a totali-
da Jus ça, sempre com observância do procedimento dade das interceptações telefônicas, fosse desentra-
estabelecido em lei. (TRF 4, HC nº 200004010024669, nhada (removida) dos autos e, consequentemente,
Ellen Gracie, 1ª Turma, un., 15/3/2000) que a denúncia e o decreto de prisão preven va do
cliente fossem considerados nulos.
A inviolabilidade do sigilo da correspondência também
não é um direito absoluto, podendo ser flexibilizado de Decisão adequada
acordo com o caso concreto. O relator do recurso, ministro Marco Aurélio
Bellizze, entendeu que a interceptação dos diálogos
Interceptação Telefônica e Acesso aos Dados envolvendo o advogado não é causa de nulidade
Telefônicos do processo. Ele disse que o TRF2 agiu de forma
adequada ao determinar a exclusão dos trechos de
Tanto a interceptação telefônica como a “quebra de sigilo gravações e documentos que citam o advogado e
telefônico” são medidas cautelares. Não se pode confundir também concordou com o tribunal regional quanto
interceptação telefônica com quebra de sigilo telefônico, que à questão dos limites da a vidade policial.
é o acesso aos dados telefônicos. “Não compete à autoridade policial filtrar os diálogos
A captação da conversa entre cliente e advogado durante a serem gravados, mas sim executar ordem judicial”,
o curso da interceptação telefônica não é mo vo para tornar afirmou, acrescentando que a colheita de provas não
ilícita a prova produzida na diligência. Podemos corroborar deve ficar ao arbítrio da polícia.
tal asser va de acordo com o que decidiu a Quinta Turma Segundo o relator, não há razão para o desentranha-
do STJ, no RHC 26704, conforme no cia extraída do site mento de todas as conversas captadas e degravadas,
HYPERLINK “h p://www.stj.jus.br” www.stj.jus.br, acesso como sustenta a defesa, “pois as provas não passa-
em 01/03/2012 , às 08h07: ram a ser ilícitas, já que autorizadas por autoridade
judicial competente e em observância às exigências
Escuta telefônica não é invalidada por eventual legais”. Ao menos, destacou o ministro, não houve
captação de diálogo entre cliente e seu advogado contestação da defesa quanto à legalidade da quebra
do sigilo telefônico.
O sigilo profissional da relação entre advogado e Além disso, Marco Aurélio Bellizze observou que os
cliente não invalida a integralidade das intercepta- trechos suprimidos, rela vos aos diálogos envol-
ções telefônicas autorizadas judicialmente contra vendo o advogado, são ínfimos em relação a todo o
o cliente se, eventualmente, são gravados alguns conteúdo da denúncia – que tem 120 folhas e está
diálogos entre eles. A decisão, unânime, é da Quin-
amparada em inúmeros outros diálogos, captados
ta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ), que
em nove meses de interceptações telefônicas e tele-
julgou um recurso em habeas corpus contra decisão
má cas, bem como em outros elementos de prova.
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). O
O ministro informou que, após a interposição do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

recurso obje vava re rar do processo todas as escu-


tas determinadas pelo juiz e executadas pela polícia. recurso em habeas corpus no STJ, sobreveio sentença
Dois acusados de tráfico de drogas nham suas liga- que condenou o réu a 26 anos e 20 dias de reclusão,
ções telefônicas monitoradas por ordem judicial. Um em regime inicial fechado. A decisão negou ao conde-
deles teve conversa com um terceiro gravada; poste- nado a possibilidade de recorrer em liberdade, com
riormente, este foi iden ficado como seu advogado. base em fundamentos que não fazem referência aos
O réu recorreu à Jus ça, afirmando que a denúncia trechos gravados irregularmente.
seria nula pela violação do sigilo da comunicação en-
tre advogado e cliente. Entretanto, o TRF2 entendeu Sustentamos que não são necessários os requisitos da
que o fato de a polícia ter gravado a conversa com o interceptação telefônica para se deferir o acesso aos dados
advogado não invalidava as interceptações. telefônicos. Quando se acessa os dados telefônicos, a au-
O TRF2 afirmou que em nenhum momento o alvo da toridade verifica para quem o inves gado ligou, quem ligou
quebra de sigilo telefônico foi o advogado – menos para ele, qual foi a duração das chamadas etc.
ainda um advogado no exercício legí mo de sua Há quem sustente que não haveria necessidade também
profissão –, sendo a captação fortuita e incidental. de autorização judicial para a quebra do sigilo telefônico.

131
Na jurisprudência, porém, predomina o entendimento no o direito ao sigilo das comunicações telefônicas (inc.
sen do da existência de sigilo sobre tais dados – o chamado XII), configura, inequivocamente prova “ilícita” e,
sigilo telefônico – e da necessidade de prévia manifestação por isso mesmo inadmissível (inc. LVI). E prova ilícita
judicial, sob pena de ilicitude da prova produzida sem tal não resulta legi mada por lei posterior. (GOMES;
providência (STJ, REsp. nº 204.080/CE, Fernando Gonçalves, CERVINI, 2001)
6ª Turma, DJ de 1º/10/2001). De acordo com a orientação
jurisprudencial dominante, é cabível o acesso a tais infor- Assim também decidiu o STJ:
mações quando, existentes indícios concretos de prá ca
criminosa, a medida seja necessária (STJ, HC nº 20.087/SP, Cons tucional e processual civil. Mandado de segu-
Gilson Dipp, 5ª Turma, un., DJ de 29/9/2003) e eficaz para a rança. Escuta telefônica. Gravação feita por marido
inves gação ou, em outras palavras, quando existente causa traído. Desentranhamento da prova requerido pela
provável (STF, MS nº 23.452/RJ, Celso de Mello, Pl., un., DJ esposa: viabilidade, uma vez que se trata de prova
de 12/5/2000). ilegalmente ob da, com violação da in midade indi-
vidual. Recurso ordinário provido. I – A impetrante/
Ilicitude da Prova recorrente nha marido, duas filhas menores e um
amante médico. Quando o esposo viajava, para
O STF considerava ilícita a prova ob da por intercepta- facilitar seu relacionamento espúrio, ela ministrava
ção telefônica, mesmo autorizada pelo juiz, antes da edição “Lexotan” às meninas. O marido, já suspeitoso,
da Lei nº 9.296/1996.1 Para o Guardião da Cons tuição, gravou a conversa telefônica entre sua mulher e o
a interceptação somente veio a ser possível com a publi- amante. A esposa foi penalmente denunciada (tóxi-
cação da Lei nº 9.296/1996, que regulamentou o inciso XII co). Ajuizou, então, ação de mandado de segurança,
do art. 5º da Cons tuição de 1988, não sendo possível tal instando no desentranhamento da decodificação da
diligência com base em legislação anterior (Código Brasileiro fita magné ca. II – Embora esta Turma já se tenha ma-
de Telecomunicações). nifestado pela rela vidade do inciso XII (úl ma parte)
Imaginemos a seguinte situação, re rada de provas de do art. 5º da CF/1988 (HC nº 3.982/RJ, Rel. Min. Adhe-
concurso: tendo chegado ao conhecimento da autoridade mar Maciel, DJU de 26/2/1996), no caso concreto o
policial, por meio de gravação telefônica de origem ilícita, marido não poderia ter gravado a conversa a arrepio
que Caio mantém em casa joias por ele roubadas dez dias de seu cônjuge. Ainda que impulsionado por mo vo
antes, de uma empresa que comercializa peças preciosas, relevante, acabou por violar a in midade individual
o Delegado de Polícia requer e obtém da autoridade judi- de sua esposa, direito garan do cons tucionalmente
ciária competente, exclusivamente com esse fundamento, (art. 5º, X). Ademais, o STF tem considerado ilegal a
ordem de busca e apreensão a ser executada na casa do sus- gravação telefônica, mesmo com autorização judi-
peito. Ao cumprir a ordem, a autoridade policial realmente cial (o que não foi o caso), por falta de lei ordinária
apreende parte das joias subtraídas, além de fotografias de regulamentadora (RE nº 85.439/RJ, 2ª Turma, Min.
Tício e Mévio, que são iden ficados e reconhecidos pelas Xavier de Albuquerque e HC nº 69.912/RS, Pleno,
ví mas como coautores do roubo. Considerando-se a tese Min. Pertence). (STJ, ROMS nº 199500032465/GO,
da prova ilícita por derivação, pode-se afirmar que as joias Luiz Vicente Cernicchiaro, 6ª Turma, m., 27/5/1996)
subtraídas e o reconhecimento não serão válidos como
prova, porque ambos foram derivados de prova ilícita.2 A interceptação de comunicações telefônicas é admi da
Luiz Flávio Gomes, em obra de coautoria de Raúl Cervini, para prova em instrução processual penal e inquérito policial.
assevera que: Dados ob dos em interceptação de comunicações tele-
fônicas e em escutas ambientais judicialmente autorizadas
De modo algum, no entanto, a lei nova possui for- para produção de prova em inquérito policial podem ser
ça para convalidar (ou legitimar) interceptações usados, em procedimento administra vo disciplinar, contra
telefônicas “autorizadas” antes da lei. Ainda que a servidores cujos supostos ilícitos tenham despontado à
interceptação tenha sido realizada depois dela. Se colheita dessa prova.3
“autorizada” antes, não vale nada. Tudo por causa do O STF entendeu que:
princípio tempus regit actum, é dizer, o ato deve ser
regido pela lei do seu tempo. Autorização dada de A cláusula final do inciso XII do art. 5º da Cons tuição
25/7/1996 é válida, se observada a Lei nº 9.296/1996. Federal – “[...] na forma que a lei estabelecer para
Autorização concedida “antes” da edição desse diplo- fins de inves gação criminal ou instrução processual
ma legal não está regida por lei alguma (seja porque penal” – não é óbice à consideração de fato surgido
mediante a escuta telefônica para efeito diverso,
o Código Brasileiro de Telecomunicações não fora
como é exemplo o processo administra vo-discipli-
recepcionado, seja porque ainda não havia sido regu-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nar. (RMS nº 24.956/DF, Marco Aurélio, 9/8/2005,


lamentado o inc. XII). Logo, é irreversivelmente nula
1ª Turma, un.).
(a rigor, inadmissível), por não atender ao princípio da
legalidade. Não pode, portanto produzir efeitos. Para
No mesmo sen do, o Inq-QO-QO nº 2.424/RJ, Plenário:
nós, toda prova colhida por força de interceptação
telefônica autorizada antes da lei é ilícita, consoante
Ementa: Prova emprestada. Penal. Interceptação
o correto e reiterado entendimento do Colendo Su-
telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e
premo Tribunal Federal, e de nada vale, para efeito de produção para fim de inves gação criminal. Suspeita
sua admissibilidade, a lei nova. [...] Em suma, prova de delitos come dos por autoridades e agentes públi-
colhida com violação às normas cons tucionais que cos. Dados ob dos em inquérito policial. Uso em pro-
tutelam o direito à in midade (inc. X), assim como cedimento administra vo disciplinar, contra outros
servidores, cujos eventuais ilícitos administra vos
1
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública da União/ teriam despontado à colheita dessa prova. Admis-
Defensor de 2ª Categoria/2001 e Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
Categoria/2002.
2 3
Tema cobrado na prova do NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001. Tema cobrado na prova do Cespe/Analista Judiciário/2008.

132
sibilidade. Resposta afirma va a questão de ordem. O nobre Juiz Federal Paulo Baltazar preleciona:
Inteligência do art. 5º, inc. XII, da CF, e do art. 1º da
Lei federal nº 9.296/1996. Precedente. Voto vencido. Em nossa posição, a proteção abrange as comunica-
Dados ob dos em interceptação de comunicações ções telefônicas ou telemá cas, assim, entendidas
telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente aquelas feitas por outro meio tecnológico que não
autorizadas para produção de prova em inves gação a telefonia em sen do estrito, por exemplo, aquela
criminal ou em instrução processual penal, podem ser transmi da por fibra ó ca ou por meios de informá-
usados em procedimento administra vo disciplinar, ca, que vem, a cada dia, ganhando espaço sobre a
contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação telefonia tradicional. O STJ, igualmente, decidiu que
às quais foram colhidos, ou contra outros servidores o parágrafo único do ar go 1º da Lei nº 9.296/1996
cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita autoriza, em sede de persecução criminal e median-
dessa prova. te autorização judicial a interceptação do fluxo de
comunicações em sistema de informá ca e telemá-
O STJ também rela vizou a limitação do uso do referido ca (HC nº 15.026, 6ª T., un., 4/11/2002). (BALTAZAR
meio de prova ao decidir que: JÚNIOR, 2007).
Sendo a interceptação telefônica requerida nos Conceito de Interceptação Telefônica
exatos termos da Lei nº 9.296/1996, uma vez que o
impetrante também responde a processo criminal, É a captação da conversa entre dois interlocutores por
não há que se falar em nulidade do processo admi- um terceiro desconhecido deles. É necessária autorização
nistra vo disciplinar. (MS nº 9.212, Gilson Dipp, 3ª
judicial do juiz competente.
Sessão, un., 11/5/2005)
Interceptação telefônica, segundo Guilherme de Souza
Também no RMS nº 16.429/SC, 6ª Turma Nucci (2009, p. 758):

Recurso ordinário. Mandado de segurança. Admi- Interceptação: em sen do estrito, interceptar algo
nistra vo. Servidor público. Interceptação telefônica significa interromper, cortar ou impedir. Logo, in-
autorizada por juiz criminal. Prova emprestada. terceptação de comunicações telefônicas fornece a
Sindicância e processo administra vo disciplinar. impressão equívoca de cons tuir a interrupção da
Necessidade de autorização do juízo criminal. Não conversa man da entre duas ou mais pessoas. Na
ocorrência no caso. Nulidade. realidade, o que se quer dizer com o referido termo,
1. É cabível o uso excepcional de interceptação telefô- em sen do amplo, é imiscuir-se ou intrometer em
nica em processo disciplinar, desde que seja também comunicação alheia. Portanto, a interceptação tem o
observado no âmbito administra vo o devido proces- significado de interferência, com o fito de colheita de
so legal, respeitados os princípios cons tucionais do informes. A interceptação pode dar-se das seguintes
contraditório e ampla defesa, bem como haja expres- formas: a) interceptação telefônica: alguém invade,
sa autorização do Juízo Criminal, responsável pela por aparelhos próprios, a conversação man da, via
preservação do sigilo de tal prova, de sua remessa e telefone, entre duas ou mais pessoas, captando
u lização pela Administração. dados que podem ser gravados ou simplesmente
2. São nulos o desenvolvimento de sindicância e a ins- ouvidos; b) interceptação ambiental: alguém capta
tauração de processo administra vo disciplinar com a conversa man da entre duas ou mais pessoas,
base exclusivamente em fita cassete e degravação fora do telefone, em qualquer recinto, privado ou
oriundas de interceptação telefônica, se o envio e a público. A primeira delas é regulada por esta Lei e
u lização das referidas provas não forem autorizados pode configurar crime, se não observada a forma
pelo Juízo Criminal. legal para ser realizada. A segunda não encontra
3. Recurso ordinário provido. Segurança concedida. previsão legal, portanto, delito não é.
Contudo, não é possível interceptação telefônica para Consoante o entendimento de Ada Pellegrini Grinover,
produção de prova em processo civil, pois assim dispõe o Antônio Magalhães Gomes Filho e Antônio Scarance Fer-
art.1º: nandes:
A interceptação de comunicações telefônicas, de Entende-se por “interceptação” a captação da con-
qualquer natureza, para prova em investigação
versa por um “terceiro” sem o conhecimento dos
criminal e em instrução processual penal, obser-
interlocutores ou com o conhecimento de um só
vará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem
deles. Se o meio u lizado for o “grampeamento”
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

do juiz competente da ação principal, sob segredo


de jus ça. do telefone, tem-se a “interceptação telefônica”; se
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à in- se tratar de captação de conversa por um gravador,
terceptação do fluxo de comunicações em sistemas colocado por terceiro, tem-se a “interceptação entre
de informá ca e telemá ca.4 presentes”, também chamada de “interceptação
ambiental”. Mas se um dos interlocutores grava
Comunicações Telemá cas a sua própria conversa, telefônica ou não, com o
outro, sem o conhecimento deste, fala-se apenas
A interceptação telefônica é equiparada à intercepta- em “gravação clandes na”. Vê-se daí que existem
ção do fluxo de comunicação em sistemas de informá ca várias modalidades de captação eletrônica da
e telemá ca.5 prova: a) a “interceptação” da conversa telefônica,
sem o conhecimento dos dois interlocutores; b) a
4
BRASIL. Lei nº 9.296, de 25 de julho de 1996. Regulamenta o inciso XII, parte “interceptação” da conversa telefônica por terceiro,
final, do art. 5º da Cons tuição Federal. com o conhecimento de um dos interlocutores; c)
5
Tema cobrado nas seguintes provas: PC-BA/Delegado/2001; Acadepol-SP/
Delegado/2003; NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª classe/2002. a “interceptação” da conversa entre presentes, por

133
um terceiro, sem o conhecimento de nenhum dos Fonte lícita de prova. Inexistência de interceptação,
interlocutores; d) a “interceptação” da conversa objeto de vedação cons tucional. Ausência de causa
entre presentes por terceiro, com o conhecimento legal de sigilo ou de reserva da conversação. Meio,
de um ou alguns dos interlocutores; e) a “gravação ademais, de prova da alegada inocência de quem a
clandes na” da conversa telefônica por um dos gravou. Improvimento ao recurso. Inexistência de
sujeitos, sem o conhecimento do outro; f) a “gra- ofensa ao art. 5º, incs. X, XII e LVI, da CF. Precedentes.
vação clandes na” da conversa pessoal e direta, Como gravação meramente clandes na, que se não
entre presentes, por um dos interlocutores, sem o confunde com interceptação, objeto de vedação
conhecimento do(s) outro(s). O que importa salien- cons tucional, é lícita a prova consistente no teor
tar, dado o diverso tratamento jurídico conferido às de gravação de conversa telefônica realizada por um
“interceptações” (telefônicas ou ambientais), é que dos interlocutores, sem conhecimento do outro, se
a configuração destas exige sempre a intervenção não há causa legal específica de sigilo nem de reserva
de um terceiro (a terzeità dos italianos), ocorrendo da conversação, sobretudo quando se predes ne a
a escuta e/ou a gravação enquanto a conversa se fazer prova, em juízo ou inquérito, a favor de quem
desenvolve: até porque, e mologicamente (de in- a gravou.
ter capio), interceptar quer dizer colher durante a
passagem a conversa de outros. [...] Aplica-se a lei, É lícita a prova ob da mediante escuta telefônica que
a teor de seu art. 1º, a “interceptação de comuni- incrimina outra pessoa e não o inves gando em cujo nome
cações telefônicas de qualquer natureza”. Por mais constava telefone objeto da autorização judicial prevista na
amplitude que se pretenda atribuir ao conceito, Lei nº 9.296/1996.7
permanece ele limitado à escuta e eventual grava-
ção de conversa telefônica, quando pra cada por Legi mados para o Pedido de Interceptação Telefônica
terceira pessoa, diversa dos interlocutores (com ou De acordo com a Lei nº 9.296/1996, que regulamentou o
sem conhecimento de um deles). Ficam excluídas inciso XII, parte final, do art. 5º da Cons tuição Federal, a au-
do regime legisla vo as gravações clandes nas de toridade policial e o Ministério Público têm legi midade para
telefonemas próprios, assim como as gravações en- requerer a interceptação das comunicações ao juiz, o qual,
tre presentes. (GRINOVER; SCARANCE FERNANDES, por sua vez, também poderá determinar tal medida de o cio8.
GOMES FILHO, 2001). Reza o art. 3º da Lei da Escuta Telefônica:
A gravação de conversa feita por um dos interlocutores A interceptação das comunicações telefônicas
ou com a sua anuência faz excluir a ilicitude do meio de poderá ser determinada pelo juiz, de o cio ou a
obtenção da prova.6 requerimento:
I – da autoridade policial, na inves gação criminal;
Conceito de Escuta Telefônica II – do representante do Ministério Público, na in-
ves gação criminal e na instrução processual penal.9
É a captação da conversa entre dois interlocutores com
o consen mento de um deles por um terceiro. É necessária Na ADI nº 3.450-DF, proposta pelo Procurador Geral
autorização judicial do juiz competente. Não confundir com da República, foi ques onada a incons tucionalidade da
escuta ambiental. possibilidade de o Juiz decretar de o cio a interceptação te-
lefônica. Consignamos que ainda não houve seu julgamento.
Conceito de Gravação Telefônica A Adin em referência foi proposta pelo Procurador-Geral
da República, Dr. Cláudio Lemos Fonteles, art. 103, VI, da CF.
É a captação da conversa por um dos interlocutores sem Alegando, em síntese, que o art. 3º da Lei nº 9.296/1996
o conhecimento do outro. A prova oriunda da gravação tele- possui entendimento conflitante com os arts. 5º, inciso LIV,
fônica é válida, mesmo sem autorização judicial, desde que 129, incisos I e VIII, e § 2º, e 144, § 1º, incisos I e IV, e § 4º, da
o interlocutor esteja em legí ma defesa. Decidiu o STF que
Carta Polí ca. Dentre as razões apresentadas, o Requerente
assevera que a inicia va da interceptação pelo juiz, na fase
[...] é lícita a gravação de conversa telefônica feita
que antecede a instrução processual penal, ofende de forma
por um dos interlocutores ou com sua autorização,
inconteste o devido processo legal, pois compromete a im-
sem ciência do outro, quando há inves da criminosa
parcialidade do magistrado, o que, segundo o Requerente,
deste úl mo. É inconsistente e fere o senso comum
vai de encontro ao sistema acusatório, porque usurpa a atri-
falar-se em violação do direito à privacidade quando
buição inves gatória do Ministério Público e das Polícias Civis
interlocutor grava diálogo com sequestradores, este-
e Federal, permi ndo ao julgador a assunção desse mister.
lionatários ou qualquer po de chantagista. (STF, HC
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Por conseguinte, o Requerente colacionou lições dou-


nº 75.338-8/RJ, 2ª T., Nelson Jobim, DJ de 25/9/1998).
trinárias dos autores: Paulo Rangel, Marcellus Polastri Lima
e Luiz Flávio Gomes, bem como afirmações realizadas em
No julgamento do RE nº 402.717/PR, Rel. Min. Cezar
pronunciamento na ADI nº 1.570, (Pleno), pelo Ministro
Peluso, julg. em 2/12/2008, 2ª Turma, o STF decidiu que:
Sepúlveda Pertence, com a finalidade de corroborar seu
entendimento.
Ementa: Prova. Criminal. Conversa telefônica. Gra-
vação clandes na, feita por um dos interlocutores, 7
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública da União/
sem conhecimento do outro. Juntada da transcrição Defensor de 2ª categoria/2001; Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciá-
em inquérito policial, onde o interlocutor requerente 8
ria/2007.
Tema cobrado nas seguintes provas: Delegado Federal/1997; NCE/Faepol/
era inves gado ou do por suspeito. Admissibilidade. PC-RJ/Delegado/2001; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defen-
sor de 1ª Classe/2003; PC-BA/Delegado/2001; Promotor-RN/2004; Delegado
6
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Tribunal Superior Eleitoral/Analista Federal/1997; Cespe/AGU/Advogado/2006; Acadepol-SP/Delegado/2003;
Judiciário/Área Judiciária/2007; Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Vunesp/OAB-SP/131º Exame de Ordem/OAB-MS/80º Exame de Ordem/2004.
9
de 2ª categoria/2001; Promotor-DF/2002; 19º Concurso Público para Procu- BRASIL. Lei nº 9.296, de 25 de julho de 1996. Regulamenta o inciso XII, parte
rador da República/2002. final, do art. 5º da Cons tuição Federal.

134
Por fim, requereu que Pretório Excelso julgasse proce- cado em subs tuição a anterior quebra de sigilo que
dente o pedido, para declarar a incons tucionalidade par- havia sido decretada sem qualquer fundamentação.
cial, sem redução de texto, do art. 3º da Lei nº 9.296/1996, Possibilidade. Existência simultânea de procedimen-
como meio para conferir-lhe interpretação conforme a tos penais em curso, instaurados contra o impetran-
Cons tuição. te. Circunstância que não impede a instauração da
pertinente investigação parlamentar sobre fatos
Comissão Parlamentar de Inquérito conexos aos eventos delituosos. Referência à suposta
atuação de organizações criminosas no estado do
As CPIs não podem determinar a interceptação telefônica
acre, que seriam responsáveis pela prá ca de atos
de seus inves gados, uma vez que a medida cautelar apenas
poderá ser decretada por juiz de direito. Assim professa caracterizadores de uma temível macrodelinquência
Remilson Soares Candeia (2009, p. 133): (tráfico de entorpecentes, lavagem de dinheiro, frau-
de, corrupção, eliminação sica de pessoas, roubo
Em que pese a natureza polí co-administra va da de automóveis, caminhões e cargas). Alegação do
apuração levada a termo por CPI, não há perquirir impetrante de que inexis ria conexão entre os ilícitos
a possibilidade de que desse procedimento possa penais e o objeto principal da inves gação parlamen-
decorrer ação criminal ou civil promovida pelo Mi- tar. Afirmação desprovida de liquidez. Mandado de
nistério Público, como se extrai do art. 58, § 3º, da segurança indeferido. A quebra fundamentada do si-
Cons tuição Federal. Poder-se-ia, então, ques onar gilo inclui-se na esfera de competência inves gatória
se a quebra do sigilo das comunicações telefônicas das comissões parlamentares de inquérito. A quebra
por um procedimento polí co-administra vo de- do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer
senvolvido por comissão parlamentar de inquérito pessoa sujeita a inves gação legisla va pode ser
violaria ou não o art. 5º, XII, da Cons tuição Federal. legi mamente decretada pela Comissão Parlamentar
Esse disposi vo cons tucional consagra o princípio
de Inquérito, desde que esse órgão estatal o faça me-
da reserva de jurisdição, em que compete exclusi-
diante deliberação adequadamente fundamentada e
vamente ao Juiz deliberar sobre esse assunto, da
mesma forma como ocorre o direito a inviolabilidade na qual indique, com apoio em base empírica idônea,
da casa, que somente poderá decorrer de flagrante a necessidade obje va da adoção dessa medida ex-
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, du- traordinária. Precedente: MS nº 23.452-RJ, Rel. Min.
rante o dia, por determinação judicial; o direito ao Celso de Mello (pleno). Princípio cons tucional da
sigilo das comunicações telefônicas, que somente reserva de jurisdição e quebra de sigilo por determi-
poderá ser violado por ordem judicial e para fins de nação da CPI. O princípio cons tucional da reserva de
inves gação criminal ou instrução processual penal; jurisdição – que incide sobre as hipóteses de busca
o direito a não ser preso em flagrante delito ou por domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica
ordem por escrito e fundamentada de autoridade (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão, ressalvada
judiciária competente. É nesse sen do que comissão a situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) – não
parlamentar de inquérito não detém competência se estende ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal
para, por moto próprio, determinar a interceptação matéria, e por efeito de expressa autorização dada
telefônica de pessoas envolvidas nas apurações por pela própria Cons tuição da República (CF, art. 58,
ela desenvolvidas. Não se está a falar na impossibili-
§ 3º), assiste competência à Comissão Parlamentar de
dade de se determinar a interceptação telefônica de
Inquérito, para decretar, sempre em ato necessaria-
envolvidos em comissão parlamentar de inquérito.
O que se assevera é a incompetência da comissão mente mo vado, a excepcional ruptura dessa esfera
parlamentar de inquérito para assim deliberar. de privacidade das pessoas. Autonomia da Inves ga-
(Grifo nosso) ção Parlamentar. O inquérito parlamentar, realizado
por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento
Porém a Comissão Parlamentar de Inquérito pode de- jurídico-cons tucional reves do de autonomia e
cretar a quebra de sigilo das comunicações telefônicas por dotado de finalidade própria, circunstância esta que
força da Cons tuição Federal, mais precisamente por conta permite à Comissão legisla va – sempre respeitados
do art. 58, § 3º: os limites inerentes à competência material do Poder
Legisla vo e observados os fatos determinados que
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que ditaram a sua cons tuição – promover a per nen-
terão poderes de inves gação próprios das autorida- te inves gação, ainda que os atos inves gatórios
des judiciais, além de outros previstos nos regimentos possam incidir, eventualmente, sobre aspectos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

das respec vas Casas, serão criadas pela Câmara referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos
dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto
policiais ou a processos judiciais que guardem co-
ou separadamente, mediante requerimento de um
nexão com o evento principal objeto da apuração
terço de seus membros, para a apuração de fato de-
terminado e por prazo certo, sendo suas conclusões, congressual. Doutrina. Precedente: MS nº 23.639-
se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, DF, Rel. Min. Celso de Mello (Pleno). O processo
para que promova a responsabilidade civil ou criminal mandamental não comporta dilação probatória.
dos infratores. O processo de mandado de segurança qualifica-se
como processo documental, em cujo âmbito não se
Por meio do MS nº 23.652/DF (Pleno), o Supremo Tribu- admite dilação probatória, pois a liquidez dos fatos,
nal Federal reiterou o entendimento: para evidenciar-se de maneira incontestável, exige
prova pré-cons tuída, circunstância essa que afasta
Ementa: Comissão Parlamentar de Inquérito. Quebra a discussão de matéria fá ca fundada em simples
de sigilo adequadamente fundamentada. Ato pra - conjecturas ou em meras suposições ou inferências.

135
Sujeito Passivo da Interceptação internacionalidade do tráfico de substâncias entorpe-
centes (precedentes). II – Não se verifica, in casu, a
O sujeito passivo da interceptação é o interlocutor, e não deficiência da fundamentação da decisão que decre-
o tular da linha telefônica. Assim, pode o magistrado com- tou as interceptações telefônicas, pois esta atendeu
petente determinar a interceptação de telefone público ou à fundamentação da representação da autoridade
par cular. Outro não é o posicionamento do STF: policial, que expôs de forma suficiente a necessidade
da medida cautelar. III – “A jurisprudência do Su-
A garan a que a Cons tuição dá, até que a lei o de- premo Tribunal Federal consolidou o entendimento
fina, não dis ngue o telefone público do par cular, segundo o qual as interceptações telefônicas podem
ainda que instalado em interior de presídio, pois o ser prorrogadas desde que devidamente fundamen-
bem jurídico protegido é a privacidade das pessoas, tadas pelo juízo competente quanto à necessidade
prerroga va dogmá ca de todos os cidadãos. (STF, para o prosseguimento das inves gações” (STF, RHC
HC nº 72.588/PB, Maurício Corrêa, Pl., m., 4/8/2000). nº 88371/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJU
de 2/2/2007). IV – Encontra-se preclusa a questão
Necessidade de Instauração de Inquérito Policial referente à ausência de fiscalização pelo Ministério
Público Federal das interceptações telefônicas, tendo
O STJ decidiu que não há necessidade da instauração em vista que a tese não foi suscitada em momento
prévia e formal de inquérito policial, bastando inves gação oportuno. Writ parcialmente conhecido e, nesta
criminal em curso para que haja a interceptação telefônica: parte, denegado. (HC nº 129064/RJ, Relator Felix
Fischer, 5ª Turma, julg. em 21/5/2009)
Não se pode condicionar a quebra do sigilo bancário,
fiscal, telefônico e telemá co à instauração prévia O N. Juiz Federal Paulo Baltazar (2007, p. 5) diz que:
do procedimento inves gatório, devendo-se exigir,
apenas, que a necessidade de sua realização para a A verificação posterior de incompetência não vicia a
apuração da infração penal seja demonstrada, em prova determinada pelo juiz que, conforme os dados
consonância com os indícios de autoria ou par ci- conhecidos no momento da decisão, seria compe-
pação no ilícito e desde que a prova não possa ser tente, conforme decidido pelo STF, nos seguintes
feita por outros meios disponíveis. A legislação fala termos: “IV. Interceptação telefônica: exigência de
em “inves gação criminal”, não prevendo, para a autorização do ‘juiz competente da ação principal’
interceptação telefônica, a instalação prévia de in- (L. nº 9.296/1996, art. 1º): inteligência. 1. Se se
quérito policial. (STJ, HC nº 20.087/SP, Gilson Dipp, cuida de obter a autorização para a interceptação
5ª. T., un., 19/8/2003). telefônica no curso de processo penal, não suscita
dúvidas a regra de competência do art. 1º da L.
Requisitos para Interceptação Telefônica nº 9.296/1996: só ao juiz da ação penal condenató-
ria – e que dirige toda a instrução – , caberá deferir
A interceptação de comunicações telefônicas é admi- a medida cautelar incidente. 2. Quando, no entanto,
da para prova em instrução processual penal e inquérito a interceptação telefônica cons tuir medida cau-
policial. 10 telar preven va, ainda no curso das inves gações
Conforme dispõe o art. 1º da Lei nº 9.296/1996, a inter- criminais, a mesma norma de competência há de
ceptação dependerá de decisão do juiz competente para ação ser entendida e aplicada com temperamentos, para
principal. Decidiu o STF que “Juiz competente é o da ação não resultar em absurdos patentes: aí, o ponto
penal, que ficará prevento, nos termos do parágrafo único de par da à determinação da competência para
do ar go 75 do CPP” (STF, HC nº 82.009/RJ, Nelson Jobim, a ordem judicial de interceptação – não podendo
2ª T., un., 12/11/2002). ser o fato imputado, que só a denúncia, eventual e
Já o STJ decidiu que: futura, precisará – , haverá de ser o fato suspeitado,
objeto dos procedimentos inves gatórios em curso.
O juiz competente para a ação principal é quem deve 3. Não induz à ilicitude da prova resultante da inter-
autorizar ou não a interceptação das comunicações ceptação telefônica que a autorização provenha de
telefônicas. Considera-se nula a autorização judicial Juiz Federal – aparentemente competente, à vista
para interceptação telefônica concedida por juiz do objeto das investigações policiais em curso,
ao tempo da decisão – que, posteriormente, se
incompetente. (STJ, HC nº 10.243, Edson Vidigal, 5ª
haja declarado incompetente, à vista do andamento
T., un., 18/12/2000)
delas. (STF, HC nº 81.260/ES, Sepúlveda Pertence,
Pl., un., 19/4/2002)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Recentemente, o STJ decidiu que:


Assim, a interceptação telefônica será deferida pelo juiz
Processual penal. Habeas corpus. Tráfico de subs-
quando houver indícios razoáveis da autoria ou par cipação
tâncias entorpecentes. Interceptações telefônicas.
em crime punido com reclusão, cuja prova não possa ser feita
Excesso de prazo. Decretação por juiz incompetente.
por outros meios disponíveis que não a medida em estudo.
Ausência de fundamentação. Nulidades não verifi-
Quando a prova não puder ser feita por outro meio dando
cadas. Ausência de atuação do Ministério Público
cumprimento ao requisito da necessidade na aplicação do
Federal como fiscal das interceptações telefônicas.
preceito da proporcionalidade, a lei determina, no inciso II do
Preclusão. I – Não se verifica a nulidade de intercep-
art. 2º, a vedação da interceptação quando: “a prova puder
tações telefônicas decretadas por Juízo Estadual, que
ser feita por outros meios disponíveis”. Com efeito, sendo
posteriormente declinou a competência para o Juízo
técnica de inves gação violadora do direito fundamental ao
Federal, se, no início das inves gações não havia
sigilo das comunicações, não deve ser banalizada, mas sim
elementos suficientes que permi ssem concluir pela
resguardada aos casos em que a prova não seja possível
10
Tema cobrado na seguinte prova: Esaf/AGU/Advogado de 2ª Categoria/1998. por outra via.

136
É possível interceptação em crimes punidos com pena A interceptação das comunicações telefônicas somente
de detenção? pode ser autorizada se outros meios de prova mostrarem-se
insuficientes para a elucidação do fato criminoso e se exis -
Não é possível a interceptação telefônica em crime rem indícios razoáveis de autoria ou par cipação em crime
punido com pena priva va de liberdade de detenção, salvo punido com reclusão. Entende o STF, todavia, que, uma vez
se tal delito for conexo com outro punido com reclusão. realizada a interceptação telefônica de forma fundamenta-
Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 6) nos ensina: da, legal e legí ma, as informações e provas coletadas dessa
diligência podem subsidiar denúncia com base em crimes
Não se permite a interceptação telefônica quando puníveis com pena de detenção, desde que conexos aos
o crime for apenado com detenção. A doutrina bra- primeiros pos penais que jus ficaram a interceptação.11
sileira, em várias situações, cri ca tal cerceamento, O STJ decidiu:
inclusive apontando um dos delitos em que a u liza-
ção do telefone é bastante comum, sendo apenado XII. Se, no curso da escuta telefônica – deferida para
com detenção, que é ameaça. A jurisprudência, no a apuração de delitos punidos exclusivamente com
entanto, tem procurado amenizar tal postura legal, reclusão – são descobertos outros crimes conexos
afirmando que as infrações penais apenadas com com aqueles, punidos com detenção, não há porque
detenção comportam interceptação, desde que se- excluí-los da denúncia, diante da possibilidade de
jam conexas aos crimes cuja pena seja de reclusão. exis rem outras provas hábeis a embasar eventual
condenação. XIII. Não se pode aceitar a precipitada
No julgamento do HC nº 83.515/RS, Rel. Min. Nelson exclusão desses crimes, pois cabe ao Juiz da causa,
Jobim, julg. em 16/9/2004, Tribunal Pleno, decidiu o STF: ao prolatar a sentença, avaliar a existência dessas
provas e decidir sobre condenação, se for o caso,
Habeas corpus. Interceptação telefônica. Prazo sob pena de configurar-se uma absolvição sumária
de validade. Alegação de existência de outro meio do acusado, sem mo vação para tanto. (STJ, RHC
de inves gação. Falta de transcrição de conversas nº 13.274/RS, Gilson Dipp, 5ª T., un., 19/8/2003)
interceptadas nos relatórios apresentados ao juiz.
Ausência de ciência do Ministério Público acerca dos A tulo de exemplo, se durante a inves gação de tráfico
pedidos de prorrogação. Apuração de crime punido de drogas (crime punido com reclusão), ocorrer a captação
com pena de detenção. 1. É possível a prorrogação da conversa telefônica entre um traficante e um usuário, e o
do prazo de autorização para a interceptação telefô- primeiro, por conta de “dívidas” contraídas pelo segundo,
nica, mesmo que sucessivas, especialmente quando acabar ameaçando-o de morte (ameaça – crime punido
o fato é complexo a exigir inves gação diferenciada com detenção), a prova produzida a par r da interceptação
e contínua. Não configuração de desrespeito ao telefônica poderá ser u lizada no processo penal, uma vez
art. 5º, caput, da L. nº 9.296/1996. 2. A intercepta- que os delitos são conexos.
ção telefônica foi decretada após longa e minuciosa Deve ser descrita com clareza a situação objeto de inves-
apuração dos fatos por CPI estadual, na qual houve gação, inclusive com a qualificação dos inves gados, salvo
coleta de documentos, oitiva de testemunhas e impossibilidade manifesta, jus ficada.
audiências, além do procedimento inves gatório
normal da polícia. Ademais, a interceptação telefô- Requisitos
nica é perfeitamente viável sempre que somente por
meio dela se puder inves gar determinados fatos ou No que tange aos requisitos para a concessão da intercep-
circunstâncias que envolverem os denunciados. 3. tação, assim dispõe o Juiz Federal Paulo Baltazar (2007, p. 5):
Para fundamentar o pedido de interceptação, a lei
apenas exige relatório circunstanciado da polícia Além da limitação, a investigação criminal ou
com a explicação das conversas e da necessidade instrução processual penal que limita o objeto da
da con nuação das inves gações. Não é exigida a interceptação, com alguma rela vização, como se
transcrição total dessas conversas o que, em alguns
verá abaixo, estão descritos no art. 2º os requisitos
casos, poderia prejudicar a celeridade da inves gação
da interceptação, de modo que o requerimento
e a obtenção das provas necessárias (art. 6º, § 2º, da
deverá conter:
L. nº 9.296/1996). 4. Na linha do art. 6º, caput, da L.
a) descrição da situação objeto da investigação
nº 9.296/1996, a obrigação de cien ficar o Ministério
(art. 2º, parágrafo único);
Público das diligências efetuadas é prioritariamente
b) a qualificação do inves gado, salvo impossibili-
da polícia. O argumento da falta de ciência do MP é
dade jus ficada (art. 2º, parágrafo único);
superado pelo fato de que a denúncia não sugere sur-
c) a demonstração de que a interceptação é neces-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

presa, novidade ou desconhecimento do procurador,


sária à apuração da infração penal e de que não há
mas sim envolvimento próximo com as inves gações
e conhecimento pleno das providências tomadas. 5. outros meios disponíveis (art. 4º, caput, primeira
Uma vez realizada a interceptação telefônica de for- parte, c/c art. 2º, II);
ma fundamentada, legal e legí ma, as informações d) indicação dos meios a serem empregados na
e provas coletas dessa diligência podem subsidiar interceptação (art. 4º, caput, segunda parte), da
denúncia com base em crimes puníveis com pena forma de execução (art. 5º) e, se for o caso, serão
de detenção, desde que conexos aos primeiros requisitados serviços públicos (art. 7º) e serão feitas
pos penais que jus ficaram a interceptação. Do a gravação e a transcrição da comunicação telefônica
contrário, a interpretação do art. 2º, III, da Lei (art. 6º, § 1º).
nº 9.296/1996 levaria ao absurdo de concluir pela 11
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
impossibilidade de interceptação para inves gar categoria/2007; PC-BA/Delegado/2001; Cespe/Defensoria Pública do Estado
crimes apenados com reclusão quando forem estes de Alagoas/Defensor de 1ª Classe/2003; NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001;
PC-BA/Delegado/2001; Delegado Federal/1997; OAB-MS/80º Exame de
conexos com crimes punidos com detenção. Habeas Ordem/2004; Promotor-MG/2006; Acadepol-SP/Delegado/2003; Esaf/AGU/
corpus indeferido. (Grifo nosso) Advogado de 2ª Categoria/1998.

137
Para fundamentar o pedido de prorrogação exige-se Para o ministro Jorge Mussi, relator do habeas corpus,
relatório circunstanciado da polícia com a explicação das esse disposi vo da lei não pode ser interpretado de
conversas e da necessidade da inves gação. Não é exigida forma muito restri va, sob pena de se inviabilizarem
transcrição total das conversas, pois poderia prejudicar a inves gações criminais que dependam de intercep-
celeridade da inves gação. tações telefônicas. “O legislador não teria como
A lei exige, como requisito para a concessão da medida, antever, diante das diferentes realidades encontradas
a existência de “indícios razoáveis da autoria ou par cipação nas unidades da federação, quais órgãos ou unida-
em infração penal” (art. 2º, I), o que cons tui a causa provável des administra vas teriam a estrutura necessária,
de modo que não pode ser deferida em função de meras con- ou mesmo as maiores e melhores condições para
jecturas, na falta de indícios obje vos ou com mera função proceder à medida”, disse o relator.
prospec va, da verificação da existência de infrações penais. O ministro lembrou que o art. 7º da lei permite à
O pedido de interceptação de comunicação telefônica autoridade policial requisitar serviços e técnicos
conterá a demonstração de que sua realização é necessária especializados das concessionárias de telefonia para
à apuração de infração penal, conforme se observa pela lei- realizar a interceptação, portanto não haveria razão
tura da Lei nº 9.296/1996, que exige que, já no pedido de para que esse auxílio não pudesse ser prestado por
interceptação de comunicação telefônica, sejam indicados órgãos da própria administração pública. Ele comen-
os meios a serem empregados para sua consecução12 e, tou ainda que, no caso, embora a Cispen tenha cen-
excepcionalmente, poderá ser formulado verbalmente ao tralizado as operações de escuta, houve par cipação
juiz, desde que presentes os pressupostos autorizadores de delegado de polícia nas diligências.
de sua concessão.13 Com o habeas corpus, o contador pretendia re rar
Em relação à interceptação das comunicações telefôni- do processo as informações ob das a par r das es-
cas, o juiz decidirá sobre o requerimento de interceptação cutas telefônicas e também de operações de busca
das comunicações telefônicas no prazo máximo de vinte e e apreensão realizadas por policiais militares, pois
quatro horas.14 seriam provas ilícitas. O resultado seria a cassação do
Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os despacho judicial que recebeu a denúncia criminal
procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério contra ele. No entanto, a Quinta Turma, seguindo por
Público, que poderá acompanhar a sua realização. maioria o voto do relator, negou o habeas corpus.
A Quinta Turma do STJ recentemente no julgamento do Quanto às apreensões feitas na residência do con-
HC nº 131.836 decidiu que a interceptação telefônica pode tador, a defesa alegou que a polícia militar não teria
ficar a cargo de órgão que não seja da polícia, senão vejamos competência para isso. O relator, porém, lembrou que
no cia extraída do site www.stj.gov.br: a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF)
considera legais as buscas e apreensões efe vadas
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ) por policiais militares.
considerou legais escutas telefônicas realizadas, com
ordem judicial, pela Coordenadoria de Inteligência do No HC nº 96.986/MG, a 2ª Turma do STF, decidiu que
Sistema Penitenciário (Cispen), órgão da Secretaria a polícia militar pode conduzir os procedimentos de inter-
de Administração Penitenciária do Estado do Rio de ceptação telefônica, em situações excepcionais, como no
Janeiro. Em consequência, a Turma negou habeas
caso concreto, em que policiais civis estavam envolvidos
corpus em favor de um contador réu da Operação
em ilícitos penais:
Propina S/A, a qual inves gou um grande esquema
de crimes tributários naquele estado.
Polícia militar e execução de interceptação telefô-
O contador e mais 45 pessoas foram denunciadas
nica – 1
pelo Ministério Público por crimes contra a ordem
tributária, advocacia administra va e lavagem de
dinheiro. O escândalo veio à tona em 2007, ao final A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se ale-
de inves gações baseadas em escutas telefônicas. gava nulidade de interceptação telefônica realizada
Segundo a acusação, uma quadrilha de fiscais, em- pela polícia militar em suposta ofensa ao art. 6º da
presários, contadores e outras pessoas teria lesado Lei nº 9.296/1996 (“Deferido o pedido, a autoridade
a fazenda pública do Rio em cerca de R$ 1 bilhão. Os policial conduzirá os procedimentos de interceptação,
fiscais receberiam propina para acobertar irregulari- dando ciência ao Ministério Público, que poderá
dades fiscais come das por várias empresas. acompanhar a sua realização”). Na espécie, diante de
No STJ, o pedido de habeas corpus sustentou que o cio da polícia militar, dando conta de suposta prá-
a Cispen não teria atribuição para fazer as escutas ca dos crimes de rufianismo, manutenção de casa
telefônicas. Segundo a defesa do contador, a lei que de pros tuição e submissão de menor à exploração
sexual, a promotoria de jus ça requerera autorização
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

regulamenta essas interceptações exige que o pro-


cedimento seja conduzido pela polícia judiciária, o para interceptação telefônica e filmagens da área
que tornaria ilegal a escuta feita por qualquer outro externa do estabelecimento da paciente, o que fora
órgão da administração pública. deferida pelo juízo.
Em seu art. 6º, a Lei nº 9.296/1996 diz que, após a (...)
concessão da ordem judicial para a escuta, Asseverou-se que o texto cons tucional autorizaria
interceptação telefônica para fins de inves gação
a autoridade policial conduzirá os procedimentos criminal ou de instrução processual penal, por or-
de interceptação, dando ciência ao Ministério dem judicial, nas hipóteses e na forma da lei (CF, art.
Público, que poderá acompanhar a sua realização. 5º, XII). Sublinhou-se que seria pica reserva legal
qualificada, na qual a autorização para intervenção
12
Acadepol-SP/Delegado/2003. legal estaria subme da à condição de des nar-se
13
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de à inves gação criminal ou à instrução processual
Alagoas/Defensor de 1ª Classe/2003; NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001;
PC-BA/Delegado/2001.
penal. Reconheceu-se a possibilidade excepcional
14
NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001. de a polícia militar, mediante autorização judicial,

138
sob supervisão do parquet, efetuar a mera execução o direito líquido e certo de amplo conhecimento do
das interceptações, na circunstância de haver sin- inteiro teor da interceptação telefônica. Com esse
gularidades que jus ficassem esse deslocamento, entendimento, a Turma concedeu a ordem para
especialmente quando, como no caso, houvesse assegurar à defesa da paciente o acesso à escuta/que-
suspeita de envolvimento de autoridades policias bra do sigilo telefônico, anulando o processo e, por
da delegacia local. Consignou-se não haver ilicitude, outro lado, garan u a liberdade provisória mediante
já que a execução da medida não seria exclusiva de termo de comparecimento aos atos do processo.
autoridade policial, pois a própria lei autorizaria o Precedentes citados: HC nº 92.397-SP, 6ª Turma, DJ
uso de serviços e técnicos das concessionárias (Lei 18/12/2007; APn 464-RS, C. Esp., DJ 15/10/2007.
nº 9.296/1996, art. 7º) e que, além de sujeitar-se a HC nº 150.892-RS, Rel. Min. Nilson Naves, 6ª Turma,
ao controle judicial durante a execução, tratar-se-ia julgado em 2/3/2010.
apenas de meio de obtenção da prova (instrumento),
com ela não se confundindo. HC nº 96986/MG, rel. Em relação à interceptação das comunicações telefôni-
Min. Gilmar Mendes, 15/5/2012. (HC-96986) cas: na fase de inves gação criminal, a interceptação das
comunicações telefônicas, de qualquer natureza, ocorrerá
Ousamos discordar do entendimento exposto, uma vez em autos apartados, apensados aos autos do inquérito
que não é atribuição da Polícia Militar a inves gação de cri- policial, preservando-se o sigilo das diligências, gravações
mes de competência das Jus ças Estadual ou Federal, mesmo e transcrições respec vas.16
quando exis rem indícios de par cipação de policiais civis A juntada das transcrições somente poderá ser realizada
ou federais em infrações penais. Caberá à Corregedoria de imediatamente antes do relatório da autoridade, quando
Polícia de cada ins tuição a inves gação de ilícitos come dos se tratar de inquérito policial ou na conclusão do processo
por seus membros. ao juiz.
Para os procedimentos de interceptação telefônica, O STF no AI nº 685.878 AgR/RJ Rel.Min. Ricardo
a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos Lewandowski, Julg. em 5/5/2009, 1ª Turma, decidiu:
especializados às concessionárias de serviço público.
Ementa: Processual penal. Agravo de instrumento.
A Lei de Interceptação Telefônica, em seu art. 6º, § 1º, diz
Cerceamento de defesa. Indeferimento de diligência
que no caso de a diligência possibilitar a gravação da comu-
probatória. Ofensa reflexa. Interceptações telefôni-
nicação interceptada, será determinada a sua transcrição.
cas judicialmente autorizadas. Degravação integral.
Não é necessária a transcrição das conversas a cada
Desnecessidade. Agravo improvido. I – Este Tribunal
pedido de renovação da escuta telefônica.15 tem decidido no sen do de que o indeferimento de
Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará diligência probatória, da por desnecessária pelo
o resultado da interceptação ao juiz, acompanhado de auto juízo a quo, não viola os princípios do contraditório
circunstanciado, que deverá conter o resumo das operações e da ampla defesa. Precedentes. II – No julgamento
realizadas. do HC nº 91.207-MC/RJ, Rel. para o acórdão Min.
Recentemente, o STJ se manifestou acerca da possibili- Cármen Lúcia, esta Corte assentou ser desnecessária
dade do acesso da defesa aos arquivos de áudio, vejamos: a juntada do conteúdo integral das degravações das
escutas telefônicas, sendo bastante que se tenham
ESCUTA TELEFÔNICA. ACESSO. degravados os excertos necessários ao embasa-
mento da denúncia oferecida. III – Impossibilidade
Trata-se de habeas corpus impetrado pela defesa da de reexame do conjunto fá co probatório. Súmula
paciente para ter acesso aos arquivos de áudio, com nº 279 do STF. IV – Agravo regimental improvido.
fornecimento de senhas, a fim de que possa fazer o
cotejo analí co do que fora transcrito nos autos e Prazo de duração da interceptação telefônica
o conteúdo das escutas telefônicas realizadas pela A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade,
autoridade policial. No caso dos autos, a paciente e indicando também a forma de execução da diligência, que
mais sete pessoas foram denunciadas pelo MP como não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por
incursas nas sanções do arts. 33, caput, e 35, ambos igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do
da Lei nº 11.343/2006, na forma do art. 69, caput, meio de prova.17
do CP. Para o Min. Relator, apresenta-se ilegal o ato Segundo a 6ª Turma do STJ o prazo deve ser contado
que, por fim, indeferiu o requerimento da defesa de a par r da efe vação da medida e não da decisão judicial:
ter acesso ao inteiro teor das escritas telefônicas,
até porque, segundo o art. 9º da Lei nº 9.296/1996, O prazo de 15 dias previsto no art. 5º da Lei
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a gravação que não interessa à prova será inu lizada nº 9.296/1996 não se inicia da decisão judicial que
por decisão judicial. Observa, ainda, que, assim como autoriza a interceptação telefônica, mas do dia em
se impõe a juntada de parte da degravação (§ 2º do que a medida é efe vada. Ademais, as escutas po-
art. 6º da citada lei), deveria impor-se a degravação dem extrapolar o prazo veiculado na lei sempre que
de todo o conteúdo. Expõe que, na espécie, a defesa houver comprovada necessidade. O prazo de oito
viu-se tolhida diante do indeferimento do acesso às meses mostrou-se indispensável para que a autori-
escutas telefônicas, o que se equipara à violação do dade policial chegasse aos envolvidos no sofis cado
princípio da ampla defesa, pois não se pode esquecer esquema de tráfico de drogas, principalmente pela
a inviolabilidade do sigilo das comunicações telefô- complexidade do feito, pelo número de acusados,
pela quantidade de drogas e pela variedade de
nicas é a regra (inciso XII do art. 5º da CF/1988) e a
violabilidade, a exceção. Assim, ao interessado assiste 16
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001;
PC-BA/Delegado/2001.
17
Tema cobrado nas seguintes provas: ACP/PC-SP/Delegado/2002; NCE/Faepol/
15
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judici- PC-RJ/Delegado/2001; Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007;
ária/2007. Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005.

139
entorpecentes. Precedentes citados do STF: Inq O STJ decidiu que é ilícita a prova ob da em intercepta-
2.424-RJ, DJe 26/3/2010; do STJ: HC nº 50.193-ES, ção telefônica que durar 2 anos, conforme foi no ciado no
DJ 21/8/2006, e HC nº 125.197-PR, DJe 24/6/2011. Informa vo nº 367 do STJ:
HC nº 135.771-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 4/8/2011. Trata-se de habeas corpus em que se pugna pela
nulidade ab ini o do processo penal, visto que sua
Segundo o STF, conforme o julgamento do RHC nº 88.371/ instauração deu-se com base em provas ilícitas, ou
SP, 2ª Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, são admi das prorro- seja, decorrentes de interceptação telefônica cuja
gações con nuas da interceptação telefônica quando o fato autorização foi sucessivamente renovada e os inves-
for complexo, senão vejamos: gados, ora pacientes, foram assim monitorados por
um prazo superior a dois anos. A Turma entendeu
Ementa: Recurso Ordinário em Habeas Corpus. 1. que, no caso, houve sim violação do princípio da ra-
Crimes previstos nos arts. 12, caput, c/c o 18, II, da zoabilidade, uma vez que a Lei nº 9.296/1996, no seu
Lei nº 6.368/1976. 2. Alegações: a) ilegalidade no art. 5º, prevê o prazo de 15 dias para a interceptação
deferimento da autorização da interceptação por 30 telefônica, renovável por mais 15, caso seja com-
dias consecu vos; e b) nulidade das provas, conta- provada a indispensabilidade desse meio de prova.
minadas pela escuta deferida por 30 dias consecu - Assim, mesmo que fosse o caso de não haver explícita
vos. 3. No caso concreto, a interceptação telefônica ou implícita violação desse disposi vo legal, não é
foi autorizada pela autoridade judiciária, com obser- razoável que a referida interceptação seja prorrogada
vância das exigências de fundamentação previstas por tanto tempo, isto é, por mais de dois anos. Ressal-
no art. 5º da Lei nº 9.296/1996. Ocorre, porém, que tou-se que, no caso da referida lei, embora não esteja
o prazo determinado pela autoridade judicial foi clara a hipótese de ilimitadas prorrogações, cabe ao
superior ao estabelecido nesse disposi vo, a saber: juiz interpretar tal possibilidade. Contudo, dada a
15 (quinze) dias. 4. A jurisprudência do Supremo Tri- natureza da norma que alude à restrição da liberdade,
bunal Federal consolidou o entendimento segundo o que está ali previsto é uma exceção à regra. Se o
o qual as interceptações telefônicas podem ser pror- texto legal parece estar indeterminado ou dúbio, cabe
rogadas desde que devidamente fundamentadas a esta Corte dar à norma interpretação estrita, face
pelo juízo competente quanto à necessidade para o a sua natureza limitadora do direito à in midade, de
prosseguimento das inves gações. Precedentes: HC modo a atender ao verdadeiro espírito da lei. Com
nº 83.515/RS, Rel. Min. Nelson Jobim, Pleno, maio- isso, concedeu-se a ordem de habeas corpus a fim
ria, DJ de 4/3/2005; e HC nº 84.301/SP, Rel. Min. de reputar ilícita a prova resultante de tantos dias
Joaquim Barbosa, 2ª Turma, unanimidade, DJ de de interceptações telefônicas e, consequentemente,
24/3/2006. 5. Ainda que fosse reconhecida a ilicitu- declarar nulos os atos processuais per nentes e re-
de das provas, os elementos colhidos nas primeiras tornar os autos ao juiz originário para determinações
interceptações telefônicas realizadas foram válidos de direito. HC nº 76.686-PR, Rel Min. Nilson Naves,
e, em conjunto com os demais dados colhidos dos 6ª Turma, julg. em 9/9/2008.
autos, foram suficientes para lastrear a persecução
penal. Na origem, apontaram-se outros elementos De outra parte, no HC nº 50.193/ES, 6ª Turma, o STJ
que não somente a interceptação telefônica havida havia decidido:
no período indicado que respaldaram a denúncia,
a saber: a materialidade deli va foi associada ao [...] 1. O prazo de 15 (quinze) dias estabelecido pelo
fato da apreensão da substância entorpecente; e a art. 5º da Lei nº 9.296/1996 é rela vo, podendo
apreensão das substâncias e a prisão em flagrante a interceptação telefônica ser prorrogada tantas
dos acusados foram devidamente acompanhadas vezes quantas forem necessárias, mediante deci-
por testemunhas. 6. Recurso desprovido. são devidamente fundamentada que demonstre a
inequívoca indispensabilidade da prova.
E também no julgamento do RHC nº 85.575/SP, Rel. Min. 2. No caso, é lícita a prova ob da por meio de inter-
Joaquim Barbosa, julg. em 28/3/2006, 2ª Turma, ceptação telefônica, realizada durante 6 (seis) meses,
pois era providência necessária e foi devidamente
Ementa: recurso em habeas corpus. Interceptação autorizada.
telefônica. Prazo de validade. Prorrogação. Possibi- 3. Habeas corpus conhecido em parte, mas dene-
lidade. Persis ndo os pressupostos que conduziram gado. (Grifo nosso)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

à decretação da interceptação telefônica, não há


obstáculos para sucessivas prorrogações, desde que Recentemente o STJ decidiu:
devidamente fundamentadas, nem ficam maculadas
como ilícitas as provas derivadas da interceptação. Interceptação Telefônica. Fundamentação. O habeas
Precedente. Recurso a que se nega provimento. corpus buscava desentranhar dos autos de inquérito
gravações interceptadas do telefone pertencente ao
O nobre Professor Paulo Baltazar (2007, p. 5) leciona: paciente. Nesse contexto, apesar de ainda não haver
ação penal instaurada em seu desfavor, o que afasta-
No mesmo sen do o STJ, afirmando que: “A in- ria a suposta ameaça à sua liberdade de locomoção,
terceptação telefônica deve perdurar pelo tempo a Turma, por maioria, entendeu conhecer do writ e,
necessário à completa inves gação dos fatos deli- por unanimidade, conceder a ordem, determinando
tuosos. O prazo de duração da interceptação deve o desentranhamento requerido. Isso porque o STJ en-
ser avaliado pelo Juiz da causa, considerando os tende que a eventual declinação de competência não
relatórios apresentados pela Polícia.” (STJ, RHC nº
13.274/RS, Gilson Dipp, 5ª T., un., 19/8/2003).

140
tem o condão de invalidar a prova até então colhida. Vale a pena mencionar recente decisão da 6ª Turma
Assim, o fato de os autos serem encaminhados ao do STJ:
STF em razão da prerroga va de foro de alguns dos
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. TERMO INICIAL.
denunciados não re ra a competência do juiz de
decretar a quebra do sigilo telefônico do paciente, A Lei nº 9.296/1996, que regula a quebra de sigilo
que não de nha tal prerroga va. É certo que a com- das comunicações telefônicas, estabelece em 15 dias
petência jurisdicional, em regra, deve ser firmada no o prazo para duração da interceptação, porém não
local dos fatos dos por delituosos (art. 69, I, do CPP), es pula termo inicial para cumprimento da ordem
contudo essa regra cai por terra diante da fixação da judicial. No caso, a captação das comunicações via
competência mediante prevenção, tal como na hipó- telefone iniciou-se pouco mais de três meses após
tese (art. 83 do mesmo código). Já quanto à garan a o deferimento, pois houve greve da Polícia Federal
no período, o que interrompeu as inves gações.
de sigilo prevista no art. 5º, XII, da CF/1988, seu afas- A Turma entendeu que não pode haver delonga
tamento deve pressupor o cumprimento cumula vo injus ficada para o começo da efe va interceptação
das seguintes exigências: exis rem indícios razoáveis e deve-se atentar sempre para o princípio da propor-
da autoria ou par cipação na infração penal (art. 2º, cionalidade, mas, na hipótese, sendo a greve evento
I, da Lei nº 9.296/1996), haver decisão judicial fun- que foge ao controle direto dos órgãos estatais, não
damentada (art. 5º da mesma legislação), renovável houve violação do mencionado princípio. Assim, a
pelo prazo de quinze dias, e infração não punida com alegação de ilegalidade das provas produzidas, por
detenção, além de não ser possível realizar a prova terem sido ob das após o prazo de 15 dias, não tem
por outros meios. O fato de a inves gação ser sigilosa fundamento, uma vez que o prazo é contado a par r
do dia em que se iniciou a escuta, e não da data da
em nada interfere na necessidade de a autoridade
decisão judicial que a autorizou. Precedente citado:
policial ter que demonstrar ao juiz a existência dos HC nº 135.771-PE, DJe 24/8/2011. HC nº 113.477-DF,
referidos indícios. Assim, por violar os princípios da Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pes- 20/3/2012.
soa humana, é inadmissível, no caso, manter a prova
colhida na interceptação, porque oriunda de injus - Incidente de Inu lização da Prova
ficada quebra do sigilo telefônico, que sequer qua- A gravação que não interessar à prova será inu lizada por
decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual
lificou o agente ou mesmo trouxe indícios razoáveis
ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério
de que seria o autor ou teria par cipado da infração Público ou da parte interessada.18
penal (art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 9.296/1996), O incidente de inu lização será assis do pelo Ministério
afora o constatado período excessivo durante o qual Público, sendo facultada a presença do acusado ou de seu
perdurou a quebra (660 dias). Precedentes citados do representante legal.
STF: HC nº 81.260-ES, Pleno, DJ 19/4/2002; do STJ: A interceptação de conversa telefônica do suspeito com
HC nº 56.222-SP, 5ª Turma, DJ 7/2/2008, e RHC nº o seu advogado é proibida e se vier a acontecer em razão
19.789-RS, 5ª Turma, DJ 5/2/2007. HC nº 88.825-GO, de chamada de um ao outro, o caminho será a inu lização
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª Turma, julgado da prova, aplicando-se por analogia o art. 9º da Lei nº
9.296/1996.” (TRF 4, HC nº 200204010077786/RS, Vladimir
em 15/10/2009.
Freitas, 7ª. T., un., 4/6/2002).
Porém o exercício da advocacia não cons tui um impedi-
No mesmo sen do: mento para u lização da prova produzida em interceptação
telefônica, quando o advogado concorrer para a prá ca da
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. DURAÇÃO. infração penal.

Nos autos, devido à complexidade da organiza- REFERÊNCIAS


ção criminosa, com muitos agentes envolvidos,
BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Dez anos da lei da inter-
demonstra-se, em princípio, a necessidade dos di-
ceptação telefônica (Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996).
versos pedidos para prorrogação das interceptações Interpretação jurisprudencial e anteprojeto de mudança.
telefônicas. Tal fato, segundo o Min. Relator, não Revista AJUFERGS, Porto Alegre, n. 3, 2007.
caracteriza nulidade, uma vez que não consta da Lei
nº 9.296/1996 que a autorização para interceptação CANDEIA, Remilson Soares. Controle Jurisdicional dos atos
telefônica possa ser prorrogada uma única vez; o que pra cados por comissão parlamentar de inquérito – CPI.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

exige a lei é a demonstração da sua necessidade. De Brasília-DF: Ins tuto Brasiliense de Direito Público – IDP, 2009.
igual modo, assevera que a duração da intercepta- GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raúl. Interceptação telefôni-
ção telefônica deve ser proporcional à inves gação ca – Lei nº 9.296, de 24/7/1996. 2. ed. São Paulo: RT, 2001.
efetuada. No caso dos autos, o prolongamento das
escutas ficou inteiramente justificado porquanto GRINOVER, Ada Pellegrini; SCARANCE FERNANDES, Antônio;
necessário à inves gação. Com esse entendimento, a GOMES FILHO, Antônio Magalhães. As nulidades no processo
Turma ao prosseguir o julgamento, denegou a ordem, penal. 7. ed. São Paulo: RT, 2001.
pois não há o alegado constrangimento ilegal descrito NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais
na inicial. Precedentes citados: HC nº13. 274-RJ, 5ª Comentadas. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
Turma, DJ 4/9/2000, e HC nº 110.644-RJ, 5ª Turma, dos Tribunais, 2009.
DJe 18/5/2009. HC nº 133.037-GO, Rel. Min. Celso
Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), 6ª 18
Tema cobrado nas seguintes provas: Promotor-RN/2004; Acadepol-SP/Dele-
Turma, julgado em 2/3/2010. gado/2003.

141
Sérgio Bautzer / Isabela Lisboa do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório
e da dignidade da pessoa humana.
CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO Neste sen do, é a orientação do Supremo Tribunal Federal:

EMENTA: 1. Habeas Corpus. Crimes contra o Sistema


Breves Comentários à Lei nº 7.492/1986
Financeiro Nacional (Lei nº 7.492, de 1986). Crime
A teleologia do art. 192 da CF prevê como obje vos do societário.
Sistema Financeiro Nacional: 2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de
indicação da conduta individualizada dos acusados.
Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado 3. Mudança de orientação jurisprudencial, que,
de forma a promover o desenvolvimento equilibra- no caso de crimes societários, entendia ser apta
do do País e a servir aos interesses da cole vidade, a denúncia que não individualizasse as condutas
em todas as partes que o compõem, abrangendo de cada indiciado, bastando a indicação de que os
as coopera vas de crédito, será regulado por leis acusados fossem de algum modo responsáveis pela
complementares que disporão, inclusive, sobre a condução da sociedade comercial sob a qual foram
par cipação do capital estrangeiro nas ins tuições supostamente pra cados os delitos. Precedentes: HC
que o integram. (Grifo nosso) nº 86.294-SP, 2ª Turma, por maioria, de minha rela-
toria, DJ de 3/2/2006; HC nº 85.579-MA, 2ª Turma,
Com efeito, o bom funcionamento do Sistema Financeiro unânime, de minha relatoria, DJ de 24/5/2005; HC
Nacional é de suma importância para o desenvolvimento das nº 80.812-PA, 2ª Turma, por maioria, de minha rela-
finanças públicas e da economia nacional. toria p/ o acórdão, DJ de 5/3/2004; HC nº 73.903-CE,
Compreende-se por Sistema Financeiro Nacional o 2ª Turma, unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de
conjunto de ins tuições, sejam monetárias, bancárias e 25/4/1997; e HC nº 74.791-RJ, 1ª Turma, unânime,
sociedades por ações, e o mercado financeiro de capitais e Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 9/5/1997.
valores mobiliários. 4. Necessidade de individualização das respec vas
Neste passo, dada a necessidade de proteção do bem ju-
condutas dos indiciados.
rídico tutelado, visto a seguir, editou-se a Lei nº 7.492/1986,
também denominada “Lei do Colarinho Branco”. 5. Observância dos princípios do devido processo
Segundo Luiz Flávio Gomes e Alice Bianchini citados por legal (CF, art. 5º, LIV), da ampla defesa, contraditório
Fernando Capez: (CF, art. 5º, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF,
art. 1º, III). Precedentes: HC nº 73.590-SP, 1ª Turma,
a principal finalidade da Lei é proibir os entes da unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 13/12/1996;
Federação de gastarem mais do que arrecadam, e HC nº 70.763-DF, 1ª Turma, unânime, Rel. Min.
estabelecendo, para tanto, limites e condições para Celso de Mello, DJ de 23/9/1994.
o endividamento público. Ela surge no bojo de uma 6. No caso concreto, a denúncia é inepta porque
unanimidade na opinião pública, reclamando que as não pormenorizou, de modo adequado e suficiente,
finanças públicas deveriam ser disciplinadas por regras a conduta do paciente.
inflexíveis, para por termo aos gastos exacerbados1. 7. Habeas corpus deferido.
STF. HC nº 86.879/SP. Relator originário Ministro
A Lei nº 7.492/1986 em seu art. 1º conceitua ins tuição Joaquim Barbosa. Relator p/ Acórdão Ministro Gilmar
financeira, in verbis: Mendes. 2ª Turma. Julgamento: 21/2/2006. Publica-
ção: 16/6/2006.
Art. 1º Considera-se como ins tuição financeira, para
efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito público ou Bem Jurídico Tutelado pela Lei nº 7.492/1986
privado, que tenha como a vidade principal ou aces-
sória, cumula vamente ou não, a captação, interme- É mister a exata delimitação do bem jurídico tutelado
diação ou aplicação de recursos financeiros (vetado)
na Lei em comento. No entanto, a questão não é pacífica.
de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou
Há controvérsias sobre qual seria o objeto jurídico nos
a custódia, emissão, distribuição, negociação, inter-
mediação ou administração de valores mobiliários. pos penais incriminadores dos delitos contra o sistema
Parágrafo único. Equipara-se a ins tuição financeira: financeiro nacional.
I – a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, Na doutrina, há quem entenda que o bem jurídico pro-
cambio, consórcio, capitalização ou qualquer po de tegido seria a tutela da polí ca econômica do estado, mas
poupança, ou recursos de terceiros; vislumbram em um segundo plano outros bens, tais quais a
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

II – a pessoa natural que exerça quaisquer das a vidades fé pública e o patrimônio2.


referidas neste ar go, ainda que de forma eventual. Em outro sen do, há quem defenda que o bem jurídico
tutelado por alguns disposi vos da Lei é a fé pública dos do-
Nos crimes societários em geral, e, em especial os cumentos comprobatórios de inves mento e o patrimônio dos
pra cados em detrimento do Sistema Financeiro Nacional, inves dores, o que caracterizaria a pluriofensividade deli va3.
apresentam dificuldades iniciais no sen do de individualizar Outros defendem que o bem jurídico salvaguardado pela
a responsabilidade individual de cada diretor ou controlador. lei penal é a ordem econômica atrelada ao financiamento do
Porém, não há como imputar um crime sem descrever a estado e ao desenvolvimento do país, sendo notadamente
conduta individualmente pra cada. supraindividual. Isso porque podem repercu r de forma
Segundo o art. 41 do Código de Processual Penal e o HC sistêmica na estabilidade econômica do país. Por essa razão,
nº 86.879/STF, a individualização da indicação da conduta condutas que aparentemente a ngem apenas indivíduos,
dos acusados é necessária para a observância dos princípios
2
COSTA JR, Paulo José da; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco.
1
CAPEZ, Fernando. Legislação penal especial. Volumes 1 e 2. São Paulo: Editora: 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 99.
3
Damásio de Jesus, 2004. PRADO, Luiz Regis. Direito Penal Econômico. 2ª Ed. São Paulo: RT, 2007, p. 205.

142
mas que de modo mais amplo, afetam as bases sobre as ANÁLISE DO ART. 4º
quais se estrutura o Sistema Financeiro Nacional, e, por
conseguinte, recebem o amparo legal da Lei nº 7.492/1986. Art. 4º Gerir fraudulentamente ins tuição financeira:
Pena – Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.
Dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional
A conduta do presente ar go é denominada gestão
Inicialmente, ressalte-se que nos crimes previstos nos fraudulenta.
arts. 8º, 9º, 10, 11, 12, 16, 18, 21 e 23, é possível a concessão Tal ar go tem ensejado discussões na doutrina acerca da
da suspensão condicional do processo, desde que preenchi- sua cons tucionalidade duvidosa, visto a expressão “fraudu-
dos os requisitos previstos no art. 89 da Lei nº 9.099/1995, lentamente” é genérica e imprecisa. Desta forma, haveria
pois a pena mínima cominada nesses crimes é de 1 (um) ano. violação aos princípios da legalidade e da reserva legal, ins-
culpidos no art. 5º, incisos II e XXIX, da Cons tuição Federal.
O art. 4º, caput, da lei em comento tem como ví mas
ANÁLISE DO ART. 2º
o Estado, a empresa e eventuais par culares envolvidos no
processo. É crime doloso, além de ser formal ou de consu-
Art. 2º Imprimir, reproduzir ou, de qualquer modo, mação antecipada.
fabricar ou pôr em circulação, sem autorização es- O fato pico consiste em gerir fraudulentamente ins-
crita da sociedade emissora, cer ficado, cautela ou tuição financeira. Gerir significa exercer as a vidades de
outro documento representa vo de tulo ou valor administração, direção. Por sua vez, é necessário que essa
mobiliário: gestão seja fraudulenta – aquela exercida através de ar -
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. cios ou manobras que visam ludibriar terceiros.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem
imprime, fabrica, divulga, distribui ou faz distribuir Comentário ao Parágrafo Único
prospecto ou material de propaganda rela vo aos
papéis referidos neste ar go. Parágrafo único. Se a gestão é temerária:
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
São verbos-núcleo imprimir, reproduzir, fabricar ou por
em circulação. Nos dois úl mos verbos do caput, o legislador As maiores crí cas que envolvem estes disposi vos gi-
recorreu à interpretação analógica, fornecendo a fórmula ram em torno da violação do princípio da taxa vidade, pela
genérica que seguirá outra fórmula casuís ca, a depender do vulnerabilidade do elemento norma vo do po: temerário,
caso prá co. O exegeta, no entanto, deverá observar a má- que significa arriscado, perigoso e imprudente. O princípio da
xima hermenêu ca que sustenta que normas materiais que taxa vidade, que é um subprincípio da legalidade, preconiza
restringem direitos devem ser interpretadas restri vamente. que a conduta criminosa deve ser minuciosamente descrita
O parágrafo único traz em seu bojo os verbos em que as no po penal, de modo que o cidadão saiba o que é proibido
penas são equiparadas às do caput. Destaque-se a autoria e o que é permi do. O termo temerário extremamente vago
mediata premente na expressão “faz distribuir”, que asse- e aberto, o que violaria o princípio da taxa vidade uma vez
gurará somente ao autor da ordem. que o gestor não saberia o exato conteúdo da expressão.
Entretanto, havendo liame subje vo entre agentes para A gestão temerária é aquela que desobedece as normas
a conduta da distribuição, o verbo analisado será “distribuir”, e dire vas internas, aumentando o risco de que as a vidades
acarretando o raciocínio do aplicador à luz da doutrina do empresariais terminem por causar prejuízos a terceiros, ou
concurso de pessoas. por malversar o dinheiro empregado na sociedade infratora.
Em quaisquer das condutas previstas no ar go não é É crime próprio, pois é sujeito a vo somente aquele
exigida qualidade especial do agente. É, portanto, crime legi mado a exercer a gestão da ins tuição.
comum. O sujeito passivo formal sempre será o Estado, em
quaisquer dos crimes capitulados nos diplomas penais. Além Jurisprudência
disso, figuram também como ví mas as pessoas eventual-
mente afetadas, sicas ou jurídicas, podendo eventualmente Vejamos o que decidiu a 6ª Turma do STJ no REsp.
cogitar em entes despersonalizados como, por exemplo, nº 897.864:
o espólio ou a massa falida.
O descumprimento de normas internas da agência
bancária, rela vas a emprés mos e financiamentos,
ANÁLISE DO ART. 3º
não legi ma a acusação de gerente pelo delito de
gestão fraudulenta se os atos não chegaram a com-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente preender o núcleo con do no verbo “gerir”, pelo qual
incompleta sobre ins tuição financeira: se tem real comprome mento da administração da
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. ins tuição.
O verbo-núcleo é divulgar, sem obrigatoriedade de que E também:
haja, para tanto, a u lização de meios oficiais, bastando
que haja potencialidade para a ngir o conhecimento de um GESTÃO TEMERÁRIA. EMPRÉSTIMOS. GERENTE.
número indeterminado de pessoas. O gerente de agência bancária realizou emprés mos
Informação falsa é aquela que, dolosamente, infere e financiamentos sem a observância de normas e
situação não condizente com a realidade da ins tuição, pareceres internos. Assim, não há como pificar
ao passo que a informação prejudicialmente incompleta é sua atuação como gestão fraudulenta (art. 4º da
a que omite dados. Entretanto, a divulgação de informação Lei nº 7.492/1986), visto que sequer houve gestão
incompleta não configura, por si só, um crime omissivo, propriamente dita, o que pressupõe uma pluralidade
sendo, tão somente, seu objeto material. de atos na condução dos negócios da ins tuição fi-

143
nanceira (habitualidade), um real comprome mento Ressalte-se, outrossim, que o delito é comum, podendo
de sua administração. Destarte, não houve qualquer ser come do por qualquer pessoa.
repercussão da atuação do gerente no que se poderia
nominar de gestão da ins tuição financeira que possa ANÁLISE DO ART. 7º
a ngir o bem jurídico tutelado. REsp. nº 897.864-PR,
6ª Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Art. 7º Emi r, oferecer ou negociar, de qualquer
julgado em 4/11/2010. modo, tulos ou valores mobiliários:
I – falsos ou falsificados;
GESTÃO TEMERÁRIA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. II – sem registro prévio de emissão junto à autoridade
TRANCAMENTO. AÇÃO PENAL. competente, em condições divergentes das constan-
Na espécie, a ora paciente, integrante de diretoria tes do registro ou irregularmente registrados;
colegiada de ins tuição financeira, foi denunciada III – sem lastro ou garan a suficientes nos termos
por gestão temerária em razão da falta de prudência da legislação;
no processamento de operação de mútuo concedido IV – sem autorização prévia da autoridade compe-
à empresa construtora. A Turma, ao prosseguir o tente, quando legalmente exigida:
julgamento, concedeu a ordem para trancar a ação Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
penal, por entender que, para a consumação do
crime descrito no art. 4º, parágrafo único, da Lei
Nunca é demais trazer à baila os ensinamentos do Pro-
nº 7.492/1986 (gestão temerária), exige-se uma
fessor Nucci acerca do disposi vo em estudo:
sequência de atos na direção da empresa, não
bastando um fato isolado no tempo. É necessária a
habitualidade para que se legi me a denúncia pelo Análise do núcleo do po: emi r significa colocar
crime mencionado. Ademais, no caso, a conduta não em circulação; oferecer quer dizer apresentar algo
revela temeridade, mas os riscos próprios da a vi- para que seja aceito; negociar significa transacionar,
dade financeira, o que afasta o elemento subje vo comerciar. Os objetos das condutas são os tulos
(dolo eventual). HC nº 97.357-GO, 6ª Turma. Rel. Min. (documentos que cer ficam um direito) ou valores
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/9/2010 mobiliários (são os tulos emi dos por sociedades
(ver Informa vo nº 448). anônimas, que podem ser negociados em bolsa), pre-
enchidas as hipóteses descritas nos incisos. Cuida-se
ANÁLISE DO ART. 5º de po misto alterna vo, ou seja, há três condutas
possíveis e mesmo que o agente pra que todas, será
Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencio- punido por um só delito.4
nadas no art. 25 desta lei, de dinheiro, tulo, valor Sujeitos a vo e passivo: o sujeito a vo pode ser
ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, qualquer pessoa. Porém, algumas formas podem
ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: exigir sujeito qualificado, como o gestor da ins tuição
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. financeira, que teria condições de emi r um valor
Parágrafo único. Incorre na mesma pena qualquer mobiliário, sem o registro prévio junto à autoridade
das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, que competente. Outra pessoa não poderia fazê-lo em
negociar direito, tulo ou qualquer outro bem móvel seu lugar, salvo se cometesse, concomitantemente,
ou imóvel de que tem a posse, sem autorização de o crime de falsidade documental. O sujeito passivo é
quem de direito. o Estado. Secundariamente, as pessoas prejudicadas
pelas condutas picas.5
É um delito análogo às condutas de peculato, sendo seu Elemento subje vo: é o dolo. Não se exige elemento
viés, no entanto, voltado à Administração Financeira. subje vo específico, nem se pune a forma culposa.6
Há remissão expressa dos sujeitos do delito, com defini- Norma penal em branco: a expressão ‘de qualquer
ção dos sujeitos a vos dos crimes contra o sistema financeiro modo’ dá a entender, em um primeiro momento,
como sendo os controladores e administradores das ins tui- que o crime possui forma livre e pode ser come do
ções. Entretanto, jamais poderão ser punidos o controlador, de acordo com a inesgotável imaginação do agente.
o administrador, o diretor e o gerente de ins tuição finan- Entretanto, o sen do nos parece diverso. Títulos e
ceira, pela simples condição que ostentam, a não ser que valores mobiliários, para serem emi dos, oferecidos e
tenham pra cado as condutas descritas. Portanto, trata-se negociados, possuem leis específicas regentes, razão
de crime próprio pela atuação dolosa, não pela qualidade pela qual há dependência do conhecimento dessas
que os sujeitos ostentam consigo. regras para se captar quais os modos pelos quais as
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

condutas picas têm condições de realização.7


ANÁLISE DO ART. 6º Títulos: são os documentos representa vos de um
direito.8
Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, inves dor Valores mobiliários: são os tulos emi dos por so-
ou repar ção pública competente, rela vamente ciedades anônimas, que podem ser negociados em
a operação ou situação financeira, sonegando-lhe bolsa (ex.: ações).9
informação ou prestando-a falsamente:
Objetos material e jurídico: os objetos materiais
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
são os tulos e os valores mobiliários; os objetos
Delito que pifica a conduta do autor mediato, que atua
4
por ação ou omissão própria. Destaque-se que se o autor do NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5ª
Ed. São Paulo: RT, 2010, p. 1151.
delito ocupar a posição de garan dor da não ocorrência do 5
Idem, ibidem.
resultado, a responsabilidade sobre ele recairá de maneira 6
Idem, ibidem.
7
Idem, ibidem.
imprópria, o que importará na autoria do delito principal, 8
Idem, ibidem.
e não do delito in tela. 9
Idem, ibidem.

144
jurídicos são a credibilidade do mercado financeiro ANÁLISE DO ART. 8º
e a proteção ao inves dor.10
Classificação: é crime comum (pode ser pra cado Art. 8º Exigir, em desacordo com a legislação (Veta-
por qualquer pessoa). Eventualmente, pode assumir do), juro, comissão ou qualquer po de remuneração
a feição de delito próprio (exige sujeito qualificado, sobre operação de crédito ou de seguro, adminis-
isto é, aquele que detém competência para emi r o tração de fundo mútuo ou fiscal ou de consórcio,
tulo ou valor mobiliário); formal (não depende da serviço de corretagem ou distribuição de tulos ou
ocorrência de efeito prejuízo para a ins tuição ou valores mobiliários:
para o mercado financeiro); de forma vinculada (só Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
pode ser come do dentro das regras para a emissão,
oferecimento ou negociação de tulos e valores Não persiste a pificação como delito contra o Sistema
mobiliários); comissivo (os verbos indicam ações); Financeiro Nacional, de acordo com a Lei nº 7.492/1986,
instantâneo (a consumação ocorre em momento quando o seu sujeito a vo não é ins tuição financeira ou
definido); unissubje vo (pode ser come do por uma pessoa, sica ou jurídica, a ela equiparada, segundo prece-
só pessoa); unissubsistente (come do em um único dente do STJ. Ou seja, o sujeito passivo é próprio, estando
ato, nas formas emi r e oferecer) ou plurissubsistente adstrito a uma classe de pessoas.
(come do por mais de um ato na modalidade nego-
ciar; admite tenta va na forma plurissubsistente.11 ANÁLISE DO ART. 9º
Falso e falsificado: a diversidade de termos nos pa-
rece despicienda. Bastaria mencionar falso. O que Art. 9º Fraudar a fiscalização ou o inves dor, inserin-
é falsificado é igualmente falso (não verdadeiro, do ou fazendo inserir, em documento comprobatório
não autên co), pouco interessando se a falsidade de inves mento em tulos ou valores mobiliários, de-
é material (comento integralmente construído ou claração falsa ou diversa da que dele deveria constar:
parcialmente modificado) ou ideológica (documento Pena – Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
verdadeiro, mas preenchido de modo irregular, por
completo ou parcialmente). Pretender dizer que fal- O traço que marca a diferenciação entre o presente
sificado é o tulo ou valor mobiliário parcialmente delito e os pos de Falsidade Ideológica (art.299 do Código
falso representa, apenas, uma tenta va de jus ficar o Penal) e ainda, dos pos da Lei de Economia Popular (Lei
excesso de linguagem u lizado na redação do inciso I nº 1.521/1951) é o critério da especialidade, mormente pelo
deste ar go. Lembremos, ainda, que a falsidade gros- fato de que, para o presente ar go desta Lei, a fraude con-
seira (facilmente percep vel) não é suficiente para siste na inserção dos dados falsos ou em fazer sua inserção,
cons tuir o crime (consultar a nota 24-A ao art. 297 dando-se em documento comprobatório de inves mento em
do nosso Código Penal comentado).12 tulos ou valores mobiliários afetos a pessoas determinadas
Autoridade competente: pode ser o Banco Central e em uma ins tuição financeira conceituada no art. 1º, da
do Brasil (para tulos em geral) ou a Comissão de Lei nº 7.492/1986.
Valores Mobiliários (para valores mobiliários). Aliás, Especialidade da Lei nº 8.078/1990:
por tal razão, mencionamos anteriormente, possuir
o po uma forma vinculada e ser norma penal em fazer afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza,
branco. É preciso conhecer o modo pelo qual um caracterís ca de serviços ou produtos e cuidar-se
tulo ou valor mobiliário se forma e pode circular.13 de relação de consumo envolvendo serviços de cir-
Norma complementar: checar as Leis nº 6.385/1976 culação de documento comprobatório de tulos ou
(Mercado de valores mobiliários) e nº 4.728/1965 valores mobiliários.
(Mercado de capitais).14
Lastro e garan a: lastro é base ou sustento de algo; Neste caso, a aparente an nomia resolve-se pelo claro
garan a é seguro ou certo de ocorrer. Títulos e valo- critério da especialidade. A relação de consumo minimizaria
res mobiliários precisam, evidentemente, ter lastro a questão como se o problema fosse estritamente a nente
e garan a suficientes para poder circular como se ao consumidor e a veracidade da declaração.
fosse a ‘moeda’ do sistema financeiro. É fundamental
consultar a legislação própria para ter noção desses ANÁLISE DO ART. 10
valores. Checar a Lei nº 6.404/1976 (Sociedade por
ações).15 Art. 10. Fazer inserir elemento falso ou omi r ele-
Autorização prévia da autoridade competente: mento exigido pela legislação, em demonstra vos
como já mencionado, além de os tulos e valores contábeis de ins tuição financeira, seguradora ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

mobiliários necessitarem de registro regular junto às ins tuição integrante do sistema de distribuição de
ins tuições competentes (Banco Central ou Comissão tulos de valores mobiliários:
de Valores Mobiliários), há também a par cipação Pena – Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
do Conselho Monetário Nacional, que define as
bases do mercado de valores mobiliários (art. 3º, Lei Paulo José da Costa Júnior diz que o bem jurídico é: “a
nº 6.385/1976). Cuida-se, por certo, de norma penal execução sa sfatória da polí ca econômica do governo” 17.
em branco, havendo exigência de conhecimento das Na modalidade de fazer inserir, o delito é comum, mas,
regras impostas em outras leis extrapenais.16 na conduta de omi r deve se buscar na lei ou em algum ato
administra vo da ins tuição donde se subsume a obrigação
10
11
Idem, ibidem. de evitar o resultado ou ter criado o risco da ocorrência do
Idem, ibidem.
12
Ibid., p. 1152. mesmo.
13
Idem, ibidem.
14
Idem, ibidem.
15 17
Idem, ibidem. COSTA JR, Paulo José da; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco.
16
Idem, ibidem. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

145
O concurso de agentes é possível, porém, com a ressalva Análise do núcleo do po: desviar significa dar des-
de que na conduta omissiva apenas na modalidade de par- no diverso do anterior ou afastar de algum lugar.
cipação e não coautoria do delito. Envolve o bem considerado indisponível em razão de
O delito em tela é lei penal em branco no que diz respeito intervenção do órgão competente, liquidação extra-
ao elemento “elemento exigido pela legislação em demons- judicial ou falência da ins tuição financeira. Quanto
tra vos contábeis”. à possibilidade de ocorrência de falência, (...)”.18
A tenta va só é admissível na modalidade fazer inserir Sujeitos a vo e passivo: o sujeito a vo é qualquer
restando ela vedada na forma omissiva por se tratar de delito pessoa, muito embora comumente seja o administra-
omissivo próprio. dor que tem o bem sob sua guarda e responsabilida-
de. O sujeito passivo é o Estado. Secundariamente,
ANÁLISE DO ART. 11 a pessoa prejudicada pelo desvio, em especial o
inves dor. 19
Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor Elemento subjetivo: é o dolo. Não há elemento
paralelamente à contabilidade exigida pela legislação: subje vo específico, nem se pune a forma culposa. 20
Pena – Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Indisponibilidade legal: cuida o ar go apenas da
indisponibilidade gerada pela intervenção, não en-
O delito do art. 11, Lei nº 7.492/1986 traz consigo a figura volvendo bens impenhoráveis ou inalienáveis, como
do vulgarmente chamado de “caixa dois”. os bens de família (Lei nº 8.009/1990). Trata-se de
O bem juridicamente tutelado seria o mesmo dos delitos norma penal em branco, dependendo de consulta
já estudados, a fé pública, sua veracidade para a circulação às normas que permitem a colocação dos bens da
da economia e o patrimônio dos inves dores. ins tuição financeira em indisponibilidade (checar
A interpretação do art. 25, Lei nº 7.492/1986, traz no arts. 36 a 38 da Lei nº 6.024/1974). 21
bojo que o delito do art. 11 do mesmo diploma penal conduz Intervenção: significa que o Banco Central do Brasil,
a necessária conclusão que está diante de delito especial encarregado de fiscalizar a atuação das ins tuições
próprio podendo ser come do apenas pelo controlador, ad- financeiras, pode ingressar na administração de
ministradores de ins tuição financeira, interventor, síndico, alguma delas que esteja apresentando problemas e
o liquidante judicial. irregularidades no seu funcionamento. Para tanto,
A conduta de manter é um delito habitual, portanto, nomeia um interventor, que assume a direção. Den-
exige a atuação reiterada e uniforme. tre as hipóteses autorizadoras da intervenção, para
A tenta va é inadmissível em ambas as formas uma vez exemplificar, temos: a) a en dade sofre prejuízo, de-
que os delitos são, respec vamente, de mera a vidade e corrente de má administração, sujeitando a riscos os
habituais, embora haja opiniões em sen do contrário. seus credores; b) são verificadas reiteradas infrações
A consecução do delito em tela pode ser além de delito a disposi vos da legislação bancária, não regulariza-
antecessor da lavagem de capitais, uma forma autônoma do das após as determinações do Banco Central do Brasil
crime em concurso formal com o branqueamento de a vos (art. 2º, I e II, Lei nº 6.024/1974). A intervenção é
ou com o delito de manipulação do mercado de capitais. decretada ex officio pelo Banco Central do Brasil, ou
por solicitação dos administradores da ins tuição,
ANÁLISE DO ART. 12 caso possuam esta competência, com indicação das
causas do pedido (art. 3º, Lei nº 6.024/1974). O pe-
Art. 12. Deixar, o ex-administrador de ins tuição ríodo da intervenção não excederá a 6 meses, o qual,
financeira, de apresentar, ao interventor, liquidante, por decisão do Banco Central do Brasil, poderá ser
ou síndico, nos prazos e condições estabelecidas em prorrogado, uma única vez, até o máximo de outros
lei as informações, declarações ou documentos de 6 meses (art. 4º). A intervenção produz, desde sua
sua responsabilidade: decretação, os seguintes efeitos: a) suspensão da
Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. exigibilidade das obrigações vencidas; b) suspensão
da fluência do prazo das obrigações vincendas ante-
O sujeito a vo exige a condição de ser ex-administrador riormente contraídas; c) inexigibilidade dos depósitos
de ins tuição financeira. É um crime próprio. já existentes à data de sua decretação (art. 6º, Lei
A conduta incriminada importa na abstenção de algum
nº 6.024/1974). Cessará a intervenção: ‘a) se os in-
ato, o qual deveria fazer por comando legal, onde se cuida
teressados, apresentando as necessárias condições
de um delito omissivo próprio.
de garan a, julgados a critério do Banco Central do
Trata-se de lei penal em branco que deverá ser comple-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Brasil, tomarem a si o prosseguimento das a vidades


mentada por outra norma, para assim ter eficácia.
econômicas da empresa; b) quando, a critério do
Por ser delito omissivo próprio, a tenta va é, portanto,
Banco Central do Brasil, a situação da en dade se
inadmissível.
houver normalizado; c) se decretada a liquidação
extrajudicial, ou a falência da en dade’ (art. 7º). 22
ANÁLISE DO ART. 13
Liquidação extrajudicial: decreta-se a liquidação
extrajudicial da instituição financeira, de ofício,
Art.13. Desviar (vetado) bem alcançado pela indispo-
pelo Banco Central: a) em razão de ocorrências que
nibilidade legal resultante de intervenção, liquidação
extrajudicial ou falência de ins tuição financeira: comprometam sua situação econômica ou financeira
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. especialmente quando deixar de satisfazer, com
Parágrafo único. Na mesma pena incorre o interven- 18
Ibid., p. 1158.
tor, o liquidante ou o síndico que se apropriar de bem 19
20
Idem, ibidem.
Idem, ibidem.
abrangido pelo caput deste ar go, ou desviá-lo em 21
Idem, ibidem.
proveito próprio ou alheio. 22
Idem, ibidem.

146
pontualidade, seus compromissos ou quando se (Comentários à lei de recuperação de empresas e
caracterizar qualquer dos mo vos que autorizem a falência, p. 104-105). 24
declaração de falência; b) quando a administração Objetos material e jurídico: o objeto material é o bem
violar gravemente as normas legais e estatutárias considerado indisponível; os objetos jurídicos são a
que disciplinam a atividade de instituição, bem credibilidade do mercado financeiro e a proteção
como as determinações do Conselho Monetário ao inves dor. Se a ins tuição financeira, apesar de
Nacional ou do Banco Central do Brasil, no uso de ter os bens alcançados pela indisponibilidade, não
suas atribuições legais; c) quando a ins tuição sofrer tem como mantê-los para futuros ressarcimentos,
prejuízo que sujeite a risco anormal seus credores é lógico que o mercado financeiro é afetado pela
quirografários; d) quando, cassada a autorização para desconfiança dos inves dores em geral. 25
funcionar, a ins tuição não iniciar, nos 90 (noventa) Classificação: é crime comum (pode ser pra cado por
dias seguintes, sua liquidação ordinária, ou quando, qualquer pessoa); formal (não depende da ocorrência
iniciada esta, verificar o Banco Central do Brasil que a de efe vo prejuízo para a ins tuição ou para o merca-
morosidade de sua administração pode acarretar pre- do financeiro); de forma livre (pode ser come do por
juízo para os credores’. Pode haver requerimento dos qualquer método); comissivo (o verbo indica ação);
administradores ou proposta do interventor (art. 15, instantâneo (a consumação ocorre em momento
Lei nº 6.024/1974). Se o Banco Central optar pela definido); unissubje vo (pode ser come do por uma
liquidação, em lugar de mera intervenção,’ ‘indicará só pessoa); plurissubsistente (come do por mais de
a data em que se tenha caracterizado o estão que a um ato); admite tenta va. 26
determinou, fixando o termo legal da liquidação que Tipo especial: exis ria um conflito aparente de nor-
não poderá ser superior a 60 (sessenta) dias contados mas entre este delito e a apropriação descrita no
do primeiro protesto por falta de pagamento ou, na art. 5º. Porém, resolve-se pela regra da especialidade.
falta deste, do ato que haja decretado a intervenção Quando o bem desviado ou sujeito à apropriação for
ou a liquidação’ (art. 15, § 2º, Lei nº 6.024/1974). A ‘li- alcançado pela indisponibilidade, aplica-se o art. 13.
quidação extrajudicial será executada por liquidante Do contrário, pode-se u lizar o art. 5º. Além disso,
nomeado pelo Banco Central do Brasil, com amplos é preciso atenção para o sujeito a vo, que, no caso
poderes de administração e liquidação, especial- do art. 13, pode ser igualmente qualificado, como no
mente os de verificação e classificação dos créditos, parágrafo único (interventor, liquidante ou adminis-
podendo nomear e demi r funcionário; fixando-lhes trador judicial). 27
os vencimentos, outorgar e cassar mandatos, propor Análise do núcleo do po: apropriar-se significa
ações e representar a massa em juízo ou fora dele’ apossar-se ou tomar como sua coisa alheia. O objeto
(art. 16, caput, Lei nº 6.024/1974). 23 da apropriação é o bem tornado indisponível. Outro
Falência: conforme previsão feita no art. 21 da Lei aspecto diz respeito a desviar (dar des no diverso do
nº 6.024/1974, ‘à vista do relatório ou da proposta que seria devido) em proveito (ganho, lucro) próprio
previstos no art. 11, apresentados pelo liquidante na ou de terceiro o bem indisponível. Diversamente
conformidade do ar go anterior, o Banco Central do do disposto no art. 5º desta Lei, não se exige que o
Brasil poderá autorizá-lo a: (...) b) requerer a falência agente tenha a posse do objeto da apropriação ou
da en dade, quando o seu a vo não for suficiente do desvio. Cuida-se, entretanto, no art. 13, parágrafo
para cobrir pelo menos a metade do valor dos cré- único, apenas dos bens pertencentes à ins tuição
ditos quirografários, ou quando houver fundados financeira, o que é mais lógico do que o disposto no
indícios de crimes falimentares’. A despeito disso, referido art. 5º. Está-se diante de po misto alter-
o art. 2º da Lei nº 11.101/2005 (Lei de Recuperação na vo (possui duas condutas puníveis alterna vas,
de Empresa e Falência) es pula que ‘esta lei não se isto é, se o agente pra car ambas, será punido por
aplica a: (...) II – ins tuição financeira pública ou pri- um só delito). 28
vada, coopera va de crédito, consórcio, en dade de Sujeitos a vo e passivo: o sujeito a vo é somente o
previdência complementar, sociedade operadora de interventor, o liquidante ou o administrador judicial
plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, (an go síndico). O sujeito passivo é o Estado. Secun-
sociedade de capitalização e outras en dades legal- dariamente, a pessoa lesada pela apropriação ou pelo
mente equiparadas às anteriores’. Sobre a possibilida- desvio, como, por exemplo, o inves dor. 29
Elemento subje vo: é o dolo. No caso da primeira
de de decretação da falência de ins tuição financeira,
figura (apropriação), não há elemento subje vo es-
entretanto, ensina Mauro Rodrigues Penteado que
pecífico, pois a vontade de se apossar de coisa indis-
as ins tuições financeiras ‘apenas não ingressam,
ponível, pertencente à ins tuição financeira, já está
de imediato, no processo judicial de execução cole-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ínsita no verbo ‘apropriar-se’. Quanto à modalidade


va empresarial, passando antes, por intervenção e
‘desviar’, exige-se o elemento específico, consistente
liquidação extrajudicial. Porém, tal seja o desfecho da
na vontade de obter proveito para si ou para outrem.
liquidação, ou a constatação de fatos que cons tuam
Não há a forma culposa. 30
crimes falimentares, no curso do processo adminis-
Objetos material e jurídico: o objeto material é o
tra vo, a falência poderá ser decretada, quando,
bem indisponível da ins tuição financeira; os objetos
então, a nova lei passará ser a elas aplicável, ao re-
jurídicos são a credibilidade do mercado financeiro e
verso do que reza a cabeça do ar go, redigida sem
a proteção do inves dor. 31
qualquer ressalva quanto a esse aspecto. É o caso, por
exemplo, das ins tuições financeiras, das en dades 24
Idem, ibidem.
25
abertas, e mesmo algumas fechadas, de previdên- Ibid., p. 1160.
26
Idem, ibidem.
cia privada, das sociedades operadoras de planos 27
Idem, ibidem.
de saúde privada e das sociedades seguradoras’ 28
Idem, ibidem.
29
Idem, ibidem.
30
Idem, ibidem.
23 31
Idem, ibidem. Ibid., p. 1161.

147
Classificação: é crime próprio (somente pode ser Elemento subje vo: dolo.
pra cado por sujeito qualificado); material (depende Consumação: ocorre com a apresentação ou juntada
da perda do bem). Em igual sen do, Pimentel (Cri- do documento falso ou simulado, na modalidade do
mes contra o sistema financeiro, p. 103); de forma caput, e com o reconhecimento, no parágrafo único
livre (pode ser come do com qualquer método); como verdadeiro, de crédito que não o seja.
comissivo (os verbos indicam ações e não se exige
a posse prévia do bem); instantâneo (a consumação ANÁLISE DO ART. 15
ocorre em momento definido); unissubje vo (pode
ser come do por uma só pessoa); plurissubsistente Art. 15. Manifestar-se falsamente o interventor, o li-
(come do por vários atos); admite tenta va. Há quidante ou o síndico, (Vetado) a respeito de assunto
quem sustente ser inadmissível a tenta va por ser rela vo a intervenção, liquidação extrajudicial ou
di cil apurar qual o momento em que o agente, que falência de ins tuição financeira:
detém a posse da coisa, dela pretende apossar-se. Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
Pensamos de maneira diversa. Em primeiro lugar,
a apropriação (como sustentamos em nosso Código Trata-se de crime próprio, podendo ser autor, somente
Penal comentado, art. 168) pode ser pra cada num o interventor, o liquidante ou o síndico. Além, a ontologia
do ar go indica que a única forma de falsidade neste ato é
único ato (se o agente de ver a posse) ou em vários
a ideológica, ou seja, a do conteúdo, a ideal.
(se buscar a posse e, depois, tornar sua coisa alheia).
Mas, no caso presente, o po penal não exige a posse
ANÁLISE DO ART. 16
prévia, não podendo o intérprete chegar à conclusão
de que toda apropriação (tomar como seu o que per- Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou
tence a outrem) exige ter, sempre, o uso e gozo do com autorização ob da mediante declaração (veta-
bem. Fosse assim, não haveria necessidade alguma do) falsa, ins tuição financeira, inclusive de distribui-
de constar nos pos do art. 168 do Código Penal, bem ção de valores mobiliários ou de câmbio:
como no art. 5º desta Lei a expressão ‘de que tem a Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
posse’ (no caso do art. 168, consta também ‘ou a de-
tenção’), afinal, seria algo ‘implícito’. Assim, pode-se Tomamos a liberdade de colacionar ao estudo os ensina-
perfeitamente admi r a possibilidade de o agente to- mentos do Professor Guilherme de Souza Nucci:
mar para si coisa pertencente à ins tuição financeira,
não possuindo posse prévia. Torna-se conduta, como Análise do núcleo do po: fazer operar significa
regra, plurissubsistente, sendo natural admi r-se a entrar em funcionamento. O objeto da conduta é a
tenta va, embora de di cil comprovação. 32 ins tuição financeira. Sabe-se que é indispensável
autorização do Banco Central para que qualquer
ANÁLISE DO ART. 14 ins tuição financeira possa operar (art. 10, X, Lei
nº 4.595/1964), de modo que o po penal visa coibir
Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou a a vidade não autorizada ou cuja permissão adveio
em falência de ins tuição financeira, declaração de do fornecimento à autoridade competente de do-
crédito ou reclamação falsa, ou juntar a elas tulo cumentação não autên ca para a finalidade. Em face
falso ou simulado: do disposto no art. 16 desta Lei, não mais se aplica o
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. crime previsto no art. 44, § 7º, da Lei nº 4.595/1964.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre o ex-admi- Porém, a edição da Lei nº 10.303/2001 não influiu na
nistrador ou falido que reconhecer, como verdadeiro, vigência do art. 16, ora em comento. Nesse sen do:
crédito que não o seja. STF: ‘A Turma indeferiu habeas corpus em que se
pretendia a nulidade de acórdão do TRF da 3ª Região,
O legislador optou por fracionar as condutas do falso. porque este não teria reconhecido a revogação do
No presente ar go, embora haja celeuma sobre a autoria, art. 16 da Lei nº 7.492/1986 pelo art. 27-E da Lei
se própria ou imprópria, é pacífico o entendimento de que a nº 10.303/2001 [Lei nº 7.492/1986: ‘Art. 16. Fazer
falsidade presente pode ser tanto a material quanto a ideal. operar, sem a devida autorização, ou com autorização
Ricardo Andreucci nos ensina33: ob da mediante declaração (vetado) falsa, ins tui-
ção financeira, inclusive de distribuição de valores
Sujeito a vo: na figura do caput, poderá ser agente mobiliários ou de câmbio: Pena – Reclusão, de 1
(um) a 4 (quatro) anos, e multa.’; Lei nº 10.303/2001:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

do crime qualquer pessoa que ostente a qualidade


‘Art. 27-E. Atuar, ainda que a título gratuito, no
de credor da ins tuição financeira . Já na hipótese do
mercado de valores mobiliários, como ins tuição
parágrafo único, trata-se de crime próprio, em que a
integrante do sistema de distribuição, administrador
lei exige a qualidade de ex-administrador do falido.
de carteira cole va ou individual, agente autônomo
Sujeito passivo: o Estado (Sistema Financeiro Na- de inves mento, auditor independente, analista de
cional). Secundariamente, o terceiro eventualmente valores mobiliários, agente fiduciário ou exercer
prejudicado. qualquer cargo, profissão, a vidade ou função, sem
Conduta: vem representada pelos verbos “apre- estar, para esse fim, autorizado ou registrado junto
sentar” e “juntar”, no caput, e “reconhecer” no à autoridade administra va competente, quando
parágrafo único. exigido por lei ou regulamento: Pena – detenção de
(...) 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.’]. Entendeu-se
não ter havido a alegada revogação, uma vez que a
32
Idem, ibidem. obje vidade jurídica dos pos penais seria dis nta
33
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 6ª Edição. São Paulo.
Ed. Saraiva, 2009, página 660. e haveria elementos da estrutura dos dois pos que

148
também não se confundiriam. Esclareceu-se que o Objetos material e jurídico: o objeto material é
bem jurídico tutelado pela Lei nº 7.492/1986 é a higi- a ins tuição financeira; os objetos jurídicos são a
dez do Sistema Financeiro Nacional, considerando-se credibilidade do mercado financeiro e a proteção
ins tuição financeira aquela que tenha por a vidade ao inves dor. 40
principal a captação, intermediação ou aplicação de Classificação: é crime comum (pode ser pra cado por
recursos financeiros de terceiros. A seu turno, a Lei qualquer pessoa); formal (não depende da ocorrência
nº 10.303/2001 protege a integridade do mercado de de efe vo prejuízo para o mercado financeiro ou
valores mobiliários que, no caso relacionado ao pa- para qualquer inves dor); de forma livre (pode ser
ciente, sequer foi ameaçado pelas prá cas apuradas come do com variado método); comissivo (o verbo
e provadas nos autos. Concluiu-se inexis r, por con- indica ação); instantâneo (a consumação ocorre em
seguinte, constrangimento ilegal’ (HC nº 94.955-SP, momento definido). Eventualmente, o crime pode
2ª T., rel. Ellen Gracie, 21/10/2008, v.u., Informa vo adquirir um caráter permanente, desde que a ins-
nº 525). 34 tuição mantenha-se em funcionamento irregular;
Sujeitos a vo e passivo: o sujeito a vo pode ser unissubje vo (pode ser come do por uma só pessoa);
qualquer pessoa. Se a ins tuição funciona sem au- plurissubsistente (come do por mais de um ato);
torização, portanto, sem o reconhecimento oficial admite tenta va. 41
do Banco Central do Brasil, qualquer um pode dirigi-
-la, tomando medidas para que opere no mercado ANÁLISE DO ART. 17
financeiro. Logo, não se exige qualidade especial do
agente. Mesmo no caso de concessão de autorização, Art. 17. Tomar ou receber, qualquer das pessoas
mas mediante o oferecimento de declaração falsa, mencionadas no art. 25 desta lei, direta ou indireta-
o dirigente da ins tuição pode ser qualquer pessoa, mente, emprés mo ou adiantamento, ou deferi-lo a
não se tratando, pois, de um autên co dirigente. controlador, a administrador, a membro de conselho
É um simulacro de ins tuição, conduzida por um estatutário, aos respec vos cônjuges, aos ascenden-
arremedo de administrador. O sujeito passivo é o tes ou descendentes, a parentes na linha colateral até
Estado. Secundariamente, a pessoa lesada pelas o 2º grau, consanguíneos ou afins, ou a sociedade
operações realizadas. Checar: STJ: ‘A ideia de incri- cujo controle seja por ela exercido, direta ou indire-
minação ins tuída pela Lei nº 7.492/1986 levou em tamente, ou por qualquer dessas pessoas:
conta, de um lado, crimes pra cados por agentes Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
financeiros regulares e, de outro, por ins tuições Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
que, sem a autorização de funcionamento, invadem I – em nome próprio, como controlador ou na con-
o mercado com a finalidade de realizar negócios dição de administrador da sociedade, conceder ou
escusos e contrários à higidez do sistema. Nesse pé, receber adiantamento de honorários, remuneração,
o po do crime de ‘gestão fraudulenta de ins tuição salário ou qualquer outro pagamento, nas condições
financeira’, representando o ato pelo qual o gestor, referidas neste ar go;
o diretor, o administrador da empresa atua contra os II – de forma disfarçada, promover a distribuição ou
interesses do patrimônio dos inves dores e clientes, receber lucros de ins tuição financeira.
bem assim, contra o próprio sistema financeiro, pres-
supõe a existência de empresa ou pessoa habilitada Arnaldo Malheiros Filho, referindo-se ao art. 17, aduz que
a atuar de forma legal, não se aplicando, por certo,
aos agentes clandes nos, pois estes estão compreen- o emprés mo a diretor é em princípio negócio de
didos no po do art. 16 da Lei nº 7.492/1986’ (REsp. risco, mas não há sen do em proibir uma ins tuição
897.656-PR, 6ª T., rel. Maria Thereza de Assis Moura, de grande porte de oferecer a um diretor empregado
11/12/2008, v.u.).35 um financiamento para aquisição de casa própria ou
Elemento subje vo: é o dolo. Não se exige elemento de automóvel que, além da boa garan a, é de mon-
subje vo específico, nem se pune a forma culposa. 36 tante insignificante frente à financiadora.
Norma penal em branco: a inserção da expressão
sem a devida autorização (elemento norma vo do Tal ar go faz remissão às figuras elencadas no art. 25:
po) implica na necessidade de consulta à legislação
própria para saber qual é a autorização indispensável, o controlador, os administradores de ins tuição fi-
qual o órgão emissor e quais os requisitos para tanto. nanceira, assim considerados os diretores e gerentes.
O mesmo se diga quanto à expressão com autorização Portanto, o rol é exaus vo, por tratar-se de Lei penal
ob do mediante declaração falsa. 37 material. Ainda, elenca-se o rol de possíveis autores,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Consórcio: equipara-se, como ins tuição financeira, já que o delito é próprio.


para os fins de aplicação desta Lei, o consórcio. Portan-
to, se este operar sem autorização do Banco Central do Conforme mostrado no Informa vo nº 607, na parte
Brasil é possível a configuração do delito previsto no transcrição, o STF, no HC nº 105.953 MC/SP, decidiu que:
art. 16 desta Lei. Nessa ó ca: STF: RHC nº 84.182-1-RS,
1ª T., rel. marco Aurélio, 24/8/2004, v.u.38 DELITOS CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIO-
Valores mobiliários ou de câmbio: não havia neces- NAL – PEÇA ACUSATÓRIA QUE NÃO DESCREVE,
sidade de inclusão desses termos no po penal, pois QUANTO AOS DIRETORES DE INSTITUIÇÃO FINAN-
cuida-se de a vidade pica da ins tuição financeira.39 CEIRA, QUALQUER CONDUTA ESPECÍFICA QUE OS
34
VINCULE, CONCRETAMENTE, AOS EVENTOS DELITUO-
Ibid., p. 1163.
35
Ibid., p. 1164. SOS – INÉPCIA DA DENÚNCIA.
36
Idem, ibidem.
37
Ibid., p. 1165.
38 40
Idem, ibidem. Idem, ibidem.
39 41
Idem, ibidem. Idem, ibidem.

149
A circunstância objetiva de alguém meramente Elemento subje vo: o dolo.
exercer cargo de direção ou de administração em Consumação: com a efe va obtenção do financia-
ins tuição financeira não se revela suficiente, só por mento. Sebas ão Oliveira Lima e Carlos Augusto
si, para autorizar qualquer presunção de culpa (ine- Tosta de Lima (Crimes contra o Sistema Financeiro
xistente em nosso sistema jurídico-penal) e, menos Nacional, São Paulo: Atlas, 2003, p.106) entendem
ainda, para jus ficar, como efeito derivado dessa que a consumação ocorre “no momento em que o
particular qualificação formal, a correspondente mutuário saca do estabelecimento financeiro o valor
persecução criminal. Não existe, no ordenamento do financiamento”.
posi vo brasileiro, ainda que se trate de prá cas Tenta va: podendo ser fracionado o iter criminis,
configuradoras de macrodelinquência ou caracteri- admite-se a tenta va.
zadoras de delinquência econômica, a possibilidade Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de
cons tucional de incidência da responsabilidade um terço se o crime é come do em de ins tuição fi-
penal obje va. Prevalece, sempre, em sede criminal, nanceira oficial ou por ela credenciada para o repasse
como princípio dominante do sistema norma vo, de financiamento (parágrafo único).
o dogma da responsabilidade com culpa (‘nullum
crimen sine culpa’), absolutamente incompa vel com Jurisprudência
a velha concepção medieval do ‘versari in re illicita’–
INFORMATIVO Nº 607 STF. Vejamos o que decidiu a Terceira Seção do STJ no con-
flito de competência no CC nº 111.477/SP, Relator Arnaldo
ANÁLISE DO ART. 18 Esteves Lima, relator p/ acórdão Ministro Celso Limongi,
(Desembargador Celso Limongi, Terceira Seção, data de
Art. 18. Violar sigilo de operação ou de serviço presta- julgamento 8/9/2010, data de publicação 11/4/2011:
do por ins tuição financeira ou integrante do sistema
de distribuição de tulos mobiliários de que tenha CONFLITO DE COMPETÊNCIA. LEASING. CRIME
conhecimento, em razão de o cio: CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. FRAUDE EM CON-
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
TRATO DE LEASING. ART. 19 DA LEI Nº 7.492/1986.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
O Professor Nucci nos ensina que:
1. O contrato de arrendamento mercan l (leasing) é
espécie do gênero financiamento e a fraude, nesse
Ar go revogado: em nosso entendimento, este ar go
contrato, caracteriza o delito previsto no art. 19 da
não tem mais aplicação, pois foi revogado, tacitamen-
Lei nº 7.492/1986.
te, pelo art. 10 da Lei Complementar nº 105/2001.
Embora a pena seja idên ca, aplica-se à violação de 2. Assim, a competência para processar e julgar a
sigilo nas operações e serviços prestados por ins - respec va ação penal é da Jus ça Federal, por a ngir
tuição financeira, bem como para a integrante do o Sistema Financeiro Nacional.
sistema de distribuição de tulos mobiliários (con- 3. Conflito procedente, competente a Jus ça Federal.
siderada ins tuição financeira pelo art. 1º, II, da Lei
Complementar nº 105/2001) o po penal do art. 10 ANÁLISE DO ART. 20
supra mencionado. No mesmo prisma, foi revogado o
art. 38 da Lei nº 4.595/1964, que cuidava do mesmo Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em
tema (este, por expressa disposição do art. 13 da Lei lei ou contrato, recursos provenientes de financia-
Complementar nº 105/2001). 42 mento concedido por ins tuição financeira oficial ou
por ins tuição credenciada para repassá-lo:
ANÁLISE DO ART. 19 Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em Trata-se de uma conduta de desvio de conduta. O delito,
ins tuição financeira: por ser crime formal, caracteriza-se pelo simples fato de não
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. se comprovar a aplicação de recursos públicos.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um O Professor Ricardo Andreucci chama o crime em apreço
terço) se o crime é cometido em detrimento de de aplicação irregular de financiamento.
ins tuição financeira oficial ou por ela credenciada Ainda nos valendo das lições do emérito docente, cumpre
para o repasse de financiamento. trazer a colocação seus ensinamentos44:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Nos dizeres do Professor Ricardo Antônio Andreucci43: Sujeito a vo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: o Estado (Sistema Financeiro Na-
Sujeito a vo: qualquer pessoa. cional). Secundariamente, a pessoa sica ou jurídica
Sujeito passivo: o Estado (Sistema Financeiro Na- lesada com a aplicação irregular do financiamento
cional). Secundariamente, a pessoa sica ou jurídica ob do.
lesada. Objeto material: recursos provenientes de financia-
Conduta: vem representada pelo verbo “obter” mento concedido por ins tuição financeira oficial
(conseguir, lograr). O financiamento em ins tuição (financiamento público direto) ou por ins tuição
financeira deve ser ob do mediante fraude, isto é credenciada para repassá-lo (financiamento público
por meio de ar cio, ardil ou qualquer outro meio indireto).
fraudulento. Elemento subje vo: dolo.
42
Ibid., p. 1169.
43 44
ANDREUCCI, Ricardo Antôno. Legislação Penal Especial. 6ª Edição. São Paulo: ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 6ª Edição. São Paulo.
Ed. Saraiva, 2009, p. 563. Ed. Saraiva, 2009, página 564.

150
Consumação: no momento da efe va aplicação dos O delito configura uma evasão imprópria, haja vista que
recursos em finalidade diversa da prevista em lei ou não se trata de saída do país ou remessa de divisas para
contrato. o exterior, mas somente a conservação de depósitos, que
Tenta va: podendo ser fracionado o iter criminis, inclusive podem ter origem no próprio exterior.
admite-se a tenta va.
ANÁLISE DO ART. 23
ANÁLISE DO ART. 21
Art. 23. Omi r, retardar ou pra car, o funcionário
Art. 21. Atribuir-se, ou atribuir a terceiro, falsa iden - público, contra disposição expressa de lei, ato de o -
dade, para realização de operação de câmbio: cio necessário ao regular funcionamento do sistema
Pena – Detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. financeiro nacional, bem como a preservação dos
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, para interesses e valores da ordem econômico-financeira:
o mesmo fim, sonega informação que devia prestar Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
ou presta informação falsa.
Trata-se de uma modalidade de prevaricação pra cada
O crime ocorrerá tanto quando o indivíduo u lize iden- por funcionário público. Assim, é um crime próprio, pois exige
dade falsa, fazendo-se passar por outrem, quanto quando uma especial qualidade do agente, qual seja ser funcionário
atribua a terceiro iden dade que não é a sua. público. O elemento subje vo é o dolo, não havendo previ-
Há, ainda, o elemento obje vo-norma vo operação de são da modalidade culposa. A tenta va não é admissível na
câmbio, que consiste, em úl ma análise, na operação de conduta omi r. Se puder ser fracionada a conduta na moda-
compra e venda de moeda estrangeira. Aqui, além do dolo, lidade retardar, será possível a tenta va. Por fim, é pacífico
exige-se a especial finalidade de agir, o intuito de se falsear que o verbo-núcleo “pra car” admita a modalidade tentada.
a iden dade que deve constar de operação de câmbio.
O parágrafo único do art. 21 incrimina, por equiparação, Art. 24. (Vetado).
a conduta daquele que, com o mesmo especial fim de agir, so-
nega informação que devia prestar ou a presta de maneira falsa. ANÁLISE DO ART. 25

ANÁLISE DO ART. 22 Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos


desta lei, o controlador e os administradores de ins-
Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, tuição financeira, assim considerados os diretores,
com o fim de promover evasão de divisas do País: gerentes (Vetado).
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Equiparam-se aos administradores de ins tuição
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, financeira (Vetado) o interventor, o liquidante ou o
a qualquer tulo, promove, sem autorização legal, síndico.
a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele
mantiver depósitos não declarados à repartição Analisando a redação do art. 25 da Lei nº 7.492/1986,
federal competente. e demais ar gos que remetem ao úl mo, fica claro que a
intenção do legislador era de definir os sujeitos a vos dos
Exige-se a finalidade especial de agir, qual seja, o fim crimes contra o sistema financeiro como os controladores e
de promover evasão de divisas. A evasão não pressupõe, administradores das ins tuições. Entretanto, jamais poderão
necessariamente, a saída sica do numerário, consis ndo, ser punidos, o controlador, o administrador, o diretor e o
de fato, no prejuízo às reservas cambiais brasileiras, inde- gerente de ins tuição financeira, pela simples condição que
pendentemente de estar entrando ou saindo o dinheiro do ostentam. Em outras palavras, o crime deve ser imputado a
País. Trata-se de crime comum, podendo qualquer pessoa quem pra ca a conduta ilícita, e não a quem simplesmente
figurar como sujeito a vo. Neste sen do, já decidiu o Supe- ocupa determinado cargo. Em várias situações, as duas
rior Tribunal de Jus ça: coisas coincidem.
Assim, inteligência do STF, no Informa vo nº 607:
EMENTA: Criminal. RHC. Crime contra o sistema finan-
ceiro nacional. Lei nº 7.492/1986. Art. 6º e 22. Efetuar A mera invocação da condição de diretor ou de
operação de câmbio não autorizada e induzir em erro administrador de ins tuição financeira, sem a cor-
repar ção pública por sonegar informação da opera- respondente e obje va descrição de determinado
ção. Trancamento da ação. Inépcia da denúncia. (...) comportamento pico que o vincule, concretamente,
III – As pessoas jurídicas que realizam operações à prá ca criminosa, não cons tui fator suficiente apto
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de câmbio equiparam-se, pelo art. 1º, inc. I, da Lei a legi mar a formulação de acusação estatal ou a
nº 7.492/1986, e para os efeitos da lei, às ins tuições autorizar a prolação de decreto judicial condenatório.
financeiras. § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, come dos em
IV – O delito do art. 22 da Lei nº 7.492/1986 configura quadrilha ou coautoria, o coautor ou par cipe que
crime comum e sujeita todo agente que faça operação através de confissão espontânea revelar à autoridade
de câmbio não autorizada, visando à evasão de divisas. policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua
(...)STJ. RHC nº 9.281/PR. Relator Ministro Gilson pena reduzida de um a dois terços. (Incluído pela Lei
Dipp. Quinta Turma. Julgamento 13/9/2000. Publi- nº 9.080, de 19/7/1995)
cação 30/10/2000.
Delação Premiada ou Delação Eficaz
Não é proibida a saída de divisas do Brasil, ou mesmo a
poupança de brasileiros no exterior, muito pelo contrário, Tomamos a liberdade de trazer à baila o quadro elaborado
em economias abertas convém que a entrada e a saída do pelo ilustre Professor José Canosa, que retrata fielmente o
capital seja livre. ins tuto da delação premiada no ordenamento jurídico pátrio:

151
LEI C Ó D I G O 7.492/1986 8.072/1990 8 . 1 3 7 / 1 9 9 0 8.884/1994 OR- 9.034/1995 9 . 6 1 3 / 1 9 9 8 9.807/1999 11.343/2006
PENAL SISTEMA FI- HEDIONDOS ORDEM TRI- DEM ECONÔMI- CRIME OR- LAVAGEM DE P ROT EÇ ÃO D R O G A S E
NANCEIRO BUTÁRIA ECO- CA/CADE GANIZADO DINHEIRO ÀS VÍTIMAS AFINS
NÔMICA E TESTEMU-
NHAS
ARTIGO 159, § 4º 25, § 2º 8 º , PA R Á - 16, PARÁGRA- 35, B e C 6º 1º, § 5º 13 e 14 41
GRAFO ÚNI- FO ÚNICO
CO
C O N D U TA D E N Ú N - CONFISSÃO D E N Ú N C I A CONFISSÃO ES- COLABORAÇÃO COLABORA- C O L A B O R A - COLABORA- COLABORAÇÃO
DO AGENTE CIA E S P O N TÂ - DO BANDO PONTÂNEA C O M A S I N - ÇÃO ESPON- ÇÃO ESPON- ÇÃO EFETIVA VOLUNTÁRIA
NEA OU QUADRI- V EST I G AÇÕ ES TÂNEA TÂNEA E VOLUNTÁ- COM A INVETI-
LHA E PROC. ADMI- RIA GAÇÃO E PRO-
NISTRATIVO CESSO CRIME
RESULTADO FACILITAR REVELAÇÃO POSSIBILI- REVELAÇÃO IDENTIFICAÇÃO ESCLARECER ESCLARECI- IDENTIFI- IDENTIFICA-
ESPERADO A LIBERA- DE TODA A DADE DE D E TO D A A DOS DEMAIS INFRAÇÕES MENTO QUE CAÇÃO DE Ç ÃO D E CO -
Ç Ã O D O TRAMA DE- DESMANTE- TRAMA DELI- COAUTORES E PENAIS E SUA CONDUZA À COAUTORES -AUTORES OU
S E Q U E S - LITUOSA LAMENTO DA TUOSA INFORMAÇÕES AUTORIA APURAÇÃO OU PARTÍCI- PARTÍCIPES E
TRADO QUADRILHA E DOCS. DA S I N F R A - PES; LOCA- RECUPERA-
OU BANDO ÇÕES PENAIS LIZAÇÃO DA ÇÃO TOTAL OU
E SUA AUTO- VÍTIMA COM PA R C I A L D O
RIA OU À LO- INTEGRIDA- PRODUTO DO
CALIZAÇÃO DE DE FÍSICA CRIME
BENS, DIREI- P R ES E RVA-
TOS OU VALO- DA; RECUPE-
RES OBJETO RAÇÃO DO
DO CRIME PRODUTO
BENEFÍCIO REDUÇÃO R E D U Ç Ã O REDUÇÃO DA REDUÇÃO DA I M P E D E O F E- REDUÇÃO DA REDUÇÃO DA REDUÇÃO DA
PREVISTO DA PENA DA PENA PENA PENA RECIMENTO DA PENA PENA E INÍ- - PERDÃO JU- PENA
DENÚNCIA – CIO EM REGI- DICIAL;
EXTINÇÃO DA ME ABERTO;
AÇÃO PUNITIVA SUBSTITUIÇÃO - REDUÇÃO
DA A D M I N I S - DA PENA PRIV. DA PENA
TRAÇÃO PÚBLI- LIBERD. POR
CA – EXTINÇÃO RESTRITIVA DE
DA P U N I B I L I - DIREITOS; PER-
DADE DÃO JUDICIAL
QUANTUM 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3

ANÁLISE DO ART. 26 ANÁLISE DO ART. 27

Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta Art. 27. Quando a denúncia não for intentada no
lei, será promovida pelo Ministério Público Federal, prazo legal, o ofendido poderá representar ao
perante a Jus ça Federal. Procurador-Geral da República, para que este a ofe-
Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no art. 268 reça, designe outro órgão do Ministério Público para
do Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto- oferecê-la ou determine o arquivamento das peças
-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, será admi da de informação recebidas.
a assistência da Comissão de Valores Mobiliários –
CVM, quando o crime ver sido pra cado no âmbito É um disposi vo que guarda semelhança com o disposto
de a vidade sujeita à disciplina e à fiscalização dessa no art. 28 do Código de Processo Penal. Ocorre que na norma
Autarquia, e do Banco Central do Brasil quando, fora em estudo, o próprio ofendido é quem provocará atuação do
daquela hipótese, houver sido come do na órbita de Ministério Público Federal, na pessoa do Procurador Geral da
a vidade sujeita a sua disciplina e fiscalização. República, que por sua vez, diante do caso concreto, poderá
oferecer denúncia, designar outro Procurador da República
O art. 26 da Lei nº 7.492/1986 diz que a ação penal, nos para oferecê-la ou promover o arquivamento das peças de
crimes contra o sistema financeiro nacional, será promovida informação. Vale lembrar que segundo o art. 28 do Estatuto
pelo Ministério Público Federal, perante a Jus ça Federal. Processual Penal, quem provoca a atuação do Chefe do
Cumpre ressaltar que todos os delitos previstos na Lei Ministério Público é o Juiz de Direito.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nº 7.492/1986 são de ação pública incondicionada.


No entanto, independentemente da atuação como ANÁLISE DO ART. 28
assistente do Ministério Público (afetos ao ofendido ou seu
representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas men- Art. 28. Quando, no exercício de suas atribuições
cionadas no art. 31 do Código de Processo Penal), é possível, legais, o Banco Central do Brasil ou a Comissão de
que a assistência ocorra nos casos de: Valores Mobiliários – CVM, verificar a ocorrência de
crime previsto nesta lei, disso deverá informar ao Mi-
1 – Delitos come dos no âmbito de a vidade sujeita nistério Público Federal, enviando-lhe os documentos
à disciplina e à fiscalização da Comissão de Valores necessários à comprovação do fato.
Mobiliários; Parágrafo único. A conduta de que trata este ar go
2 – Delitos come dos no âmbito do Banco Central será observada pelo interventor, liquidante ou síndico
do Brasil quando, fora da hipótese acima, houver o que, no curso de intervenção, liquidação extrajudicial
crime sido come do na órbita de a vidade sujeita a ou falência, verificar a ocorrência de crime de que
sua disciplina e fiscalização. trata esta lei.

152
Sobre o assunto, decidiu a 5ª Turma do STJ, no HABEAS va do acusado da prá ca de crime previsto nesta
CORPUS nº 117.733: lei poderá ser decretada em razão da magnitude da
lesão causada (Vetado).
Com efeito, verifica-se da legislação acima transcrita
que é dever do Banco Central informar a existência Cogita-se da possibilidade de o art. 30 ter estabelecido
de indício da prá ca de ilícito penal definido em lei. uma nova hipótese para a decretação da prisão preven va. No
Portanto, o ato ora comba do, não se configura que- entanto, a maioria doutrinária entende não haver fundamento
bra de sigilo bancário ou fiscal, como querem fazer autônomo para a decretação da custódia cautelar. Ou seja: a
crer os impetrantes. E sim, dever legal da autarquia magnitude da lesão causada pelo ilícito não pode ser parâme-
tro único para a decretação da medida cautelar, devendo ser
do envio de informações aos demais órgãos públicos,
considerada amplamente com os demais requisitos autorizados
para as providências que se façam necessárias, dentro da medida, conforme prevê o art. 312 do CPP, que não foi excep-
dos limites de suas competências. Nesse sen do, cionado pela norma em tela. Os Tribunais têm assim decidido:
o Conselho Monetário Nacional editou a Resolução
nº 1.065, que prevê: HABEAS CORPUS – DIREITO PENAL – CRIME CONTRA O
1 – As disposições deste capítulo regem a ação fisca- SISTEMA FINANCEIRO – PRISÃO CAUTELAR – GARANTIA
lizadora do Banco Central, exercida no âmbito de sua DA ORDEM PÚBLICA E ECONÔMICA – APLICAÇÃO DA
competência legal e regulamentar, determinam seu LEI PENAL – DEPÓSITO DE PASSAPORTE EM JUÍZO –
alcance, obje vo e atuação, prescrevem penalidades APLICAÇÃO DA LEI PENAL – 1. Não obstante o art. 30 da
e medidas aplicáveis a pessoas sicas e jurídicas Lei nº 7.492/1986 determine que a prisão preven va do
infratoras, bem como disciplinam os procedimentos acusado da prá ca de crime contra o Sistema Financeiro
e processos administra vos. Nacional poderá ser decretada em razão da magnitude
2 – A ação fiscalizadora e controladora do Banco da lesão causada, sua legi mação depende da sa sfa-
Central tem por obje vos principais a estabilidade e a ção dos pressupostos insculpidos no art. 312 do CPP.
solidez do Sistema sob sua égide, o aperfeiçoamento 2. Não havendo provas concretas nos autos de que os
dos instrumentos financeiros e das ins tuições e o pacientes con nuam operando no sistema financeiro
resguardo dos interesses dos inves dores e credores. paralelo, inexiste jus fica va para a manutenção da
(...) custódia prisional. 3. O depósito dos passaportes dos
5 – O Banco Central, ao tomar conhecimento de ilícito acusados em Juízo cons tui medida acautelatória ten-
que ocorra em área sujeita à fiscalização de outro dente a assegurar a aplicação da Lei Penal. (TRF 4ª R. – HC
órgão da administração pública, ou que, por qualquer nº 2004.04.01.017015-1 – PR – 7ª T. – Rel. Des. Fed. José
forma, ocasione lesão ao patrimônio, bens ou direitos Luiz B. Germano da Silva – DOU 9/6/2004 – p. 634)
de en dade diversa, fará as devidas comunicações,
para as providências que, eventualmente, se façam HABEAS CORPUS – CRIMES CONTRA O SISTEMA
necessárias. FINANCEIRO NACIONAL – EVASÃO DE DIVISAS –
6 – Verificada a existência de indício da prá ca de ilícito ART. 30 DA LEI Nº 7.492/1986 – PRISÃO PREVENTI-
penal definido em lei como de ação pública, o Banco VA – REQUISITOS – PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
Central, independentemente da ação administra va INOCÊNCIA – INTERPRETAÇÃO DE ACORDO COM A
cabível, oficiará ao Ministério Público para os fins de MAGNA CARTA – ORDEM PÚBLICA – CONVENIÊN-
direito, anexando comprovação da ação delituosa. CIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL E APLICAÇÃO DA LEI
PENAL – FUNDAMENTAÇÃO – ELEMENTOS CONCRE-
ANÁLISE DO ART. 29 TOS – 1 – Tendo em conta o princípio cons tucional
da presunção de inocência, insculpido no art. 5º,
Art. 29. O órgão do Ministério Público Federal, sempre inc. LVII, da Cons tuição Federal de 1988, no sen do
que julgar necessário, poderá requisitar, a qualquer de que “ninguém será considerado culpado até o
autoridade, informação, documento ou diligência, trânsito de sentença penal condenatória”, a prisão
rela va à prova dos crimes previstos nesta lei. provisória somente é admi da como ul ma ra o,
Parágrafo único. O sigilo dos serviços e operações nas hipóteses onde fique plenamente demonstrada
financeiras não pode ser invocado como óbice ao aten- a sua necessidade. 2 – Nesse contexto, os dispo-
dimento da requisição prevista no caput deste ar go. sitivos constantes em diversos diplomas legais
impedindo a concessão do bene cio da liberdade
A leitura do disposi vo num primeiro momento nos leva provisória (art. 7º da Lei nº 9.034/1995, art. 30 da
Lei nº 7.492/1986 e art. 3º da Lei nº 9.613/1998)
a crer que o Procurador da República pode acessar os dados
devem ser interpretados à luz da CF/1988, somente
financeiros do inves gado sem autorização judicial.
restringindo-se o status liberta s do acusado nos
Porém, com o advento da Lei Complementar nº 105/2001, termos do disposto no art. 312 do CPP, vale dizer,
o Órgão do Ministério Público Federal deverá requerer ao apenas quando presente um dos fundamentos para
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Juiz Competente o acesso aos dados financeiros do suspeito. a prisão preven va, não consubstanciando as refe-
Outra não é a lição de Ricardo Antônio Andreucci45: ridas normas legais, por si só, base suficiente para a
custódia. Entendimento recentemente manifestado
A conclusão que se chega, portanto, é a de que a pelo STF (RCL nº 2.391 MC/PR, Rel. Orig. Min. Marco
quebra de sigilo bancário somente poderá ocorrer Aurélio, Rel. p/o acórdão Min. Joaquim Barbosa,
mediante requisição judicial. 18/12/2003; RHC nº 83.810/RJ, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, 18/12/2003; HC nº 83.584, QO/SP, Rel. Min.
ANÁLISE DO ART. 30 Sepúlveda Pertence, 16/12/2003). 3. Em face do cará-
ter de excepcionalidade, a análise dos fundamentos
Art. 30. Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Có- legais para a decretação da prisão preven va deve ser
digo de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei feita cum grano salis, limitando-se àquelas hipóteses
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, a prisão preven- em que haja elementos concretos indicando que o
status liberta s do condenado representa ameaça
45
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 6ª Edição. São Paulo: efe va à ordem pública, à instrução criminal ou à
Ed. Saraiva, 2009, página 570. aplicação da Lei Penal, com exclusão, portanto, de

153
presunções e/ou conjecturas. 4. Ordem concedida, partes no processo. Além disso, a exigência foi revo-
principalmente em face das circunstâncias inerentes gada expressamente pela Lei nº 11.719/2008. O HC
ao caso concreto (tempo decorrido dos fatos, afas- concedido pela Segunda Turma do STF havia sido
tamento das funções que levaram à prá ca dos ilíci- negado pelo TRF da 3ª Região e o STJ.
tos, comparecimento a todos os atos do processo e
ausência de dados obje vos no que per ne à fuga e Enfa zo que o juízo, ao invocar o fato de o paciente
eventual retorno à conduta delituosa). (TRF 4ª R. – HC não ter sido localizado como fundamento idôneo a
nº 2004.04.01.005748-6 – PR – 8ª T. – Rel. Des. Fed. ensejar a manutenção da prisão cautelar, afastou-se
Élcio Pinheiro de Castro – DJU 17/3/2004 – p. 450) da melhor jurisprudência que vem sendo sufragada
por esta Corte. Por oportuno, atesto que, em julgados
Já a 5ª Turma do STJ assim decidiu: recentes, tenho me filiado à jurisprudência que as-
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. senta ser equivocada a tese de que o réu tem o dever
CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIO- de colaborar com a instrução e que a fuga do distrito
NAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRISÃO da culpa, por si só, autoriza o decreto constri vo. Por
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. MAGNITUDE DA isso, estou concedendo a ordem, confirmando a limi-
LESÃO. ART. 30 DA LEI Nº 7.492/1986. I – Tratando-se nar antes concedida, para que seja devolvido o prazo
de crimes come dos em detrimento de en dades recursal, bem como seja expedido contramandado
federais, a competência é da Jus ça Federal (art. 26 de prisão em favor do paciente, concluiu o ministro.
da Lei nº 7.492/1986; Súm. nº 22/STJ). II – O decre-
to prisional suficientemente fundamentado, com ANÁLISE DO ART. 33
o reconhecimento da materialidade do delito e de
indícios de autoria, bem como com expressa menção Art. 33. Na fixação da pena de multa rela va aos crimes
à situação concreta que caracteriza a necessidade de previstos nesta lei, o limite a que se refere o § 1º do
garan a da ordem pública e a conveniência da instru- art. 49 do Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei
ção criminal, não caracteriza constrangimento ilegal. nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, pode ser estendi-
Precedentes. III – Conforme dicção do art. 30 da Lei do até o décuplo, se verificada a situação nele cogitada.
nº 7.492/1986, sem prejuízo do con do no art. 312
do CPP, a prisão preven va do acusado da prá ca de Nunca é demais citar os ensinamentos do Professor
quaisquer dos crimes previstos nessa Lei poderá ser Ricardo Andreucci46:
decretada em razão da magnitude da lesão causada.
Precedentes do colendo Supremo Tribunal Federal De certo pretendeu o legislador referir-se à situação
e desta Corte. Writ denegado. (STJ – HC – HABEAS cogitada pelo art. 60, § 1º do Código Penal, em que o
CORPUS – 24.798 – Processo: 200201289718 – UF: juiz pode aumentar o valor da pena de multa, embora
MS – Órgão Julgador: QUINTA TURMA – Data da de- aplicada no máximo, até o triplo, se considerar se ela
cisão: 17/12/2002 – Relator: Felix Fischer) ineficaz em virtude da situação econômica do réu.
Assim o mais correto é entender que, nos crimes
ANÁLISE DO ART. 31 contra o Sistema Financeiro Nacional, o juiz poderá
aumentar o valor da pena de multa, embora aplica-
Art. 31. Nos crimes previstos nesta lei e punidos com da no máximo, até o décuplo, se considerar ser ela
pena de reclusão, o réu não poderá prestar fiança, ineficaz em virtude da situação econômica do réu.
nem apelar antes de ser recolhido à prisão, ainda
que primário e de bons antecedentes, se es ver con- REFERÊNCIAS
figurada situação que autoriza a prisão preven va.
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 6ª
Conforme no cia extraída do site www.s .br, a 2º Turma Edição. São Paulo: ed. Saraiva, 2009.
do STF entendeu pela incons tucionalidade da exigência
prevista no art. 31 da Lei do Colarinho Branco: BETTI, Francisco de Assis. Aspectos dos crimes contra o siste-
ma financeiro no Brasil. 1ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF)
concedeu Habeas Corpus (HC nº 103.986) em favor de BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. vol. I.
Vasco Bruno Lemas, condenado pela Jus ça Federal à 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
pena de 14 anos e oito meses de reclusão em regime
inicial fechado por gestão fraudulenta de consórcios DA ROSA, Fábio Bi encourt. Legi mação do Ato de Crimi-
(arts. 4º, 5º, 6º e 11 da Lei nº 7.492/1986 ou Lei do nalizar. 1ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.
Colarinho Branco). Com base em disposi vo da mes- DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DEL-
ma lei (art. 31), cujo conteúdo é análogo ao disposto MANTO, Fábio Machado de Almeida. Leis Penais Especiais.
no art. 594 do Código de Processo Penal (CPC), o juiz
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.


da 5ª Vara Federal de Santos (SP) decretou a prisão
preven va do réu e sentenciou que ele não poderia MALHEIROS FILHO, Arnaldo. Crimes contra o sistema finan-
apelar da sentença antes de ser recolhido à prisão, ceiro na virada do milênio. Bole m IBCCRIM, São Paulo,
já que se encontrava foragido. n. 83 (esp.), out. 1999, p. 5-6.
De acordo com o ministro Gilmar Mendes, relator MIRABETE, Júlio Fabbrini, FABBRINI, Renato N. Manual de
do HC, em recente julgamento (no RHC nº 83.810) Direito Penal – parte geral. 24ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
o Plenário do STF julgou que a exigência de recolhi-
mento compulsório do condenado para recorrer – NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Es-
con da no art. 594 do CPC e no art. 31 da Lei do peciais. 1ª ed. São Paulo: RT, 2006.
Colarinho Branco –, sem que estejam presentes os
PRADO, Luiz Regis. Direito Penal Econômico. 2ª ed. São
pressupostos que jus ficam a prisão preven va, não
foi recepcionada pela Cons tuição Federal de 1988. Paulo: RT.
O entendimento da Corte é o de que a exigência viola 46
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 6ª Edição. São Paulo:
os direitos de ampla defesa e de igualdade entre as Ed. Saraiva, 2009, página 570.

154
Sérgio Bautzer / André Portela Favorecimento da pros tuição ou outra forma de
exploração sexual de vulnerável
CORRUPÇÃO DE MENORES Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à pros tuição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor
Lei nº 2.252/1954 de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou de-
ficiência mental, não tem o necessário discernimento
A Lei nº 2.252 dispunha sobre o crime de corrupção de para a prá ca do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
menores em seu art. 1º: que a abandone:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
Cons tui crime, punido com a pena de reclusão de § 1º Se o crime é pra cado com o fim de obter van-
1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de Cr$1.000,00 tagem econômica, aplica-se também multa.
(mil cruzeiros) a Cr$10.000,00 (dez mil cruzeiros), § 2º Incorre nas mesmas penas:
corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor I – quem pra ca conjunção carnal ou outro ato libi-
de 18 (dezoito) anos, com ela pra cando infração
dinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior
penal ou induzindo-a a pra cá-la.
de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput
O po penal da lei em questão cuidava tão exclusiva- deste ar go;
mente da inclusão do adolescente no campo da crimina- II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
lidade1. local em que se verifiquem as prá cas referidas no
A Lei nº 2.252/1954 – Corrupção de Menores –, para caput deste ar go.
fins de aplicação de pena, equiparava a conduta de quem § 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, cons tui efeito
facilita a corrupção com a de quem corrompe pessoa me- obrigatório da condenação a cassação da licença de
nor de dezoito anos, com ela pra cando infração penal ou localização e de funcionamento do estabelecimento.
induzindo-a a pra cá-la.2
A Lei nº 12.015/2009 revogou a Lei nº 2.252/1954, sendo O caput do disposi vo supra tem como obje vidade
que o crime de corrupção de menores foi inserido no Estatuto jurídica a proteção da dignidade sexual do menor, evitando
da Criança e do Adolescente, que passou a vigorar acrescido sua corrupção sexual. Já o crime de corrupção de menores
do seguinte ar go: previsto no ECA tem como objeto jurídico evitar que o menor
seja corrompido moralmente.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de A diferença essencial entre o crime de corrupção moral
menor de 18 (dezoito) anos, com ele pra cando de menores e o art. 218 do Código Penal está no objeto
infração penal ou induzindo-o a pra cá-la: jurídico tutelado, uma vez que este pune quem corrompe o
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
menor na seara sexual, patrocinando a depravação precoce
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste ar go
do jovem, e aquele protege a moralidade do menor e visa
quem pra ca as condutas ali pificadas u lizando-se
de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de coibir a prá ca de delitos em que existe sua exploração.3
bate-papo da internet. Desta forma, muito embora os delitos tenham a mesma
§ 2ºAs penas previstas no caput deste ar go são nomenclatura, eles não se confundem.
aumentadas de um terço no caso de a infração come-
da ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei Classificação do Crime Previsto no
no 8.072, de 25 de julho de 1990. Art. 244-B do ECA
Nota-se que se o crime pra cado em coautoria com o • Trata-se de um crime comum, ou seja, qualquer pessoa
menor for hediondo ou equiparado, a pena será aumentada pode pra car tal crime.
de um terço. • Sujeito passivo – o menor de 18 anos e a cole vidade.
Todavia, é sabido que também existe o crime de cor- • De forma livre, podendo ser come do de qualquer
rupção de menores no Código Penal. Qual a diferença entre
forma.
o crime de corrupção de menores que era previsto na Lei
• Comissivo.
nº 2.252/1954, atualmente previsto no art. 244-B do ECA, e
o no art. 218 do CP? • Instantâneo.
Com a Lei nº 12.015/2009, o po penal previsto no art. • Unissubje vo, podendo ser come do por uma pessoa.
218 do Código Penal passou a ter a seguinte redação: • Plurissubsistente.
• Admite tenta va, embora de di cil configuração.
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a sa sfazer a lascívia de outrem: O problema4 surge ao se indagar se o delito se consu-


Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. maria mesmo se o menor, ao tempo do crime, já era cor-
Parágrafo único. rompido. Seria um crime material, de perigo5 ou formal6?
Para os professores Guilherme de Souza Nucci (2008,
Sa sfação de lascívia mediante presença de criança p. 215) e José Geraldo da Silva (2008, p. 564), trata-se de
ou adolescente
Art. 218-A. Pra car, na presença de alguém menor de 3
Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN-SE-ES/1º Exame de Ordem/2006.
14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjun- 4
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001.
ção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de sa sfazer 5
Julgados tratando-o como crime de perigo: REsp nº 140.899-PR, 5ª Turma, DJ de
27/4/1998; REsp nº 852.716-PR, 5ª Turma, DJ de 19/3/2007, e REsp nº 853.350-
lascívia própria ou de outrem: PR, 5ª Turma, DJ de 18/12/2006. REsp nº 1.043.849-PR, Rel. Min. Felix Fischer,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. julg. em 26/6/2008; REsp nº 197.762/PR, 5ª Turma,
6
Julgados tratando-o como crime formal: TJ-RJ/ACR nº 2.086/1998; Reg. nº
221.098 – Cód. 98.050.02086/RJ; 8ª C.Crim.; Rel. Des. João A. da Silva, julg. em
1
Tema cobrado na seguinte prova: NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001. 24/9/1998; e TJ-RJ – Apelação Criminal nº 1.232/1998; Reg. em 15/10/1998,
2
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003. Nova Iguaçu, 8ª C.Crim Unânime; Des. Liborni Siqueira, julg. em 17/9/1998.

155
um delito material7, pois depende da ocorrência de efe vo da efeƟva corrupção do menor, bastando, para a sua confi-
prejuízo para o menor de 18 anos. guração, a prova de parƟcipação do inimputável em crime
Nucci diz que: juntamente com agente maior de 18 anos. 8
A Suprema Corte se posicionou no sen do de se tratar
[...] não comete o crime previsto neste ar go o de delito formal, vejamos:
maior de 18 anos que pra ca crime ou contraven-
ção na companhia do menor já corrompido, isto é, Informa vo STF nº 518
acostumado à prá ca de atos infracionais. O obje vo A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus no
do po penal é evitar que ocorra a deturpação na qual condenado pela prá ca dos delitos de roubo
formação da personalidade do menor de 18 anos. Se qualificado em concurso material com o de corrup-
este já é corrompido, considera-se crime impossível ção de menores (CP, art. 157, § 2º, I e II, c/c Lei nº
qualquer atuação do maior, nos termos do art. 17 do 2.252/1954, art. 1º) pretendia anular sua condena-
CPB. (Grifo Nosso) ção rela vamente ao aludido crime de corrupção
de menores. A impetração sustentava a ausência
Waldir Abreu (1995, p. 41) afirma que: de comprovação da materialidade deli va quanto
a tal crime, ao argumento de que não teria sido
o texto legal incrimina tanto corromper quanto evidenciada, documentalmente, a menoridade da
facilitar a corrupção; só esta facilitação é suficiente ví ma, constando apenas mera informação da mãe
e se verifica não só quando o maior realiza conduta do menor nesse sen do. Considerou-se que, tanto no
criminosa com o menor, ainda não corrompido, acórdão proferido pelo STJ quanto no prolatado pelo
como também quando apenas empresta colabora- tribunal de origem, ficara assentada a par cipação
ção à ação infratora da inicia va do mesmo inim- de um menor e, em se tratando de crime formal,
putável, pois assim estará a facilitar sua corrupção, estaria correto o entendimento fixado no acórdão
aumentando-lhe a eficácia e experiência na vida tão impugnado de que o objeto jurídico tutelado pelo
diversificada do crime. po em questão é a proteção da moralidade do
menor e que esse po penal visa coibir a prá ca de
Assim, delitos em que existe a exploração daquele. Assim,
prescindível a prova da efe va corrupção do menor.
o reconhecimento deste crime não depende de pro- Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, relator, que,
va de efe va corrupção, pois esta é presumida pela por reputar incabível, no caso, o debate sobre a
potencialidade do ato, hábil a pelo menos facilitá-la, natureza do delito, cingindo-se a questão à prova da
embora só posteriormente se exteriorize em fatos menoridade, para ele não demonstrada, concedia a
concretos, por es mulo ou inspiração daqueles que o ordem para anular a decisão no tocante ao crime de
menor foi induzido a pra car ou assis r (TJ-RJ, Apela- corrupção de menores e restabelecia a pena fixada
ção criminal nº 1710/1996, Reg. em 11/12/1997, São nas instâncias ordinárias.
Gonçalo, 1ª CCrim., Por Maioria. Des. Paulo Gomes
da Silva Filho, julg. em 23/9/1997). HC nº 92.014/SP, Rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski,
Rel. p/ o acórdão Min. Menezes Direito, 1ª Turma,
Na hipótese, há resultado, qual seja, a probabilidade 2/9/2008.
da corrupção. Lógico, a extensão do evento pode
ser maior, compreendendo também a atração, o Recentemente o Supremo Tribunal Federal no Informa-
es mulo e o fornecimento de meios para a execução vo nº 529:
mostrar-se eficaz. O delinquente não ganha carta de
crédito aberta para atrair menores porque, antes, o HC nº 92.014-SP
adolescente incursionara no caminho do crime (Re- Relator p/ o acórdão: Min. Menezes Direito
curso Especial nº 182.471/ PR. Julg. em 20/4/1999 Ementa
pela 6ª Turma). Habeas corpus. Penal. Paciente condenado pelos cri-
mes de roubo (art. 157 do Código Penal) e corrupção
De fato, de menor (art. 1º da Lei nº 2.252/1954). Menoridade
assentada nas instâncias ordinárias. Crime formal.
exigências adicionais para a pificação são extralegais Simples participação do menor. Configuração. 1.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

e até esbarram no velho brocardo commodissimum As instâncias ordinárias assentaram a par cipação
est, id accipi, quo res de qua agitur, magis valeat de um menor no roubo pra cado pelo paciente.
quam pereat (Prefira-se a inteligência dos textos que Portanto, não cabe a esta Suprema Corte discu r
torne viável o seu obje vo, ao invés da que os reduz sobre a menoridade já afirmada. 2. Para a configu-
à inu lidade) (REsp nº 197.762/PR, 1ª Turma). ração do crime de corrupção de menor, previsto
no art. 1º da Lei nº 2.252/1954, é desnecessária a
Nosso entendimento é que se trata de delito formal, comprovação da efe va corrupção da ví ma por
uma vez que o delito de corrupção de menores prescinde se tratar de crime formal que tem como objeto
jurídico a ser protegido a moralidade dos menores.
7
Cobrado em prova da seguinte forma: Ciente de que João conta apenas 17 3. Habeas corpus denegado.
anos de idade e de que nunca passou pelo juizado da infância e juventude,
Pedro convence o adolescente a segurar seu desafeto, Joaquim, a fim de lhe
infligir lesões corporais, desferindo-lhe três golpes de facão em órgãos vitais,
8
que acarretam a morte de Joaquim. Pedro responde por homicídio qualificado Cespe/OAB-TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-MA-ES-DF-CE-BA-AM-AP-AL-AC/1º
e corrupção de menores – Lei nº 2.252/1954; (NCE/Faepol/PC-RJ/2001). Exame de Ordem/2007.

156
O Guardião da Cons tuição reiterou o posicionamento Elemento Subje vo
acima, conforme se depreende da leitura do Informa vo
nº 565: Dolo. Não há previsão da modalidade culposa no po
penal do art. 244-B do ECA.
Corrupção de Menores e Crime Formal
Para a configuração do crime de corrupção de menor Obje vidade Jurídica do Crime Previsto no art.
(Lei nº 2.252/1954, art. 1º) é desnecessária a com- 244-B do ECA
provação da efe va corrupção da ví ma, por se tratar
de crime formal, que tem como objeto jurídico a ser Evitar que o menor seja exposto ao “es mulo de ingresso
protegido a moralidade dos menores. Ao aplicar esta ou permanência na criminalidade”9.
orientação, a Turma indeferiu habeas corpus em que
acusado pela prá ca dos crimes descritos no art. 213 Ação Penal
c/c o art. 226, I, ambos do CP e no art. 1º da Lei nº
2.252/1954 pleiteava a absolvição quanto ao crime O crime de corrupção moral de menores previsto no ECA
de corrupção de menores, sob o argumento de que é de ação penal pública incondicionada.
não fora demonstrada a chamada idoneidade moral
anterior da ví ma menor, prova esta imprescindível Crime Impossível
para a caracterização da picidade do delito. Aduziu-
-se, conforme ressaltado pelo Ministério Público, que Se o menor à época do crime já era corrompido moral-
o fato de ter o menor, em concurso com um agente mente há que se falar em crime impossível, não respondendo
maior, pra cado fato criminoso, demonstraria, se- o adulto pela prá ca do crime previsto no art. 244-B do ECA.
não o ingresso em universo prejudicial ao seu sadio Nós defendemos que não há delito quando já havia prova
desenvolvimento, ao menos sua manutenção nele, da perversão10, mas há quem sustente que há o crime, pois
o que, de igual modo, seria passível de recrimina- “acentuar, concre zar, consolidar a corrupção, corrupção
ção. Nesse sen do, acrescentou-se que, es vesse é” 11.
já maculado ou não o caráter do menor, o crime de Ora,
corrupção de menores se perfaria, porquanto, ainda
assim, estaria a conduta do agente maior a reforçar, a corrupção vai se consolidando na medida em
no menor, sua tendência infracional anteriormente que alguém busca a colaboração do menor para a
adquirida. Precedente citado: HC nº 92.014/SP (DJE prá ca do ilícito penal. Não há limites estanques.
de 21/11/2008). HC nº 97.197/PR, Rel. Min. Joaquim Enseja graduação. A repe ção da conduta delituosa
Barbosa, 2ª Turma, 27/10/2009. vai, a pouco e pouco, corroendo a personalidade. O
po penal se faz presente, assim, também quando
o jovem é atraído, mais uma vez, para o campo da
Já o Superior Tribunal de Jus ça, conforme nos mostra
delinquência. Não há perfeita igualdade com o crime
o Informa vo nº 393, se posicionou de forma divergente,
do mencionado art. 218 do Código Penal, onde há
afirmando se tratar de crime de perigo vejamos: vozes que excluem a criminalidade se a ví ma es ver
integrada na prá ca da vida sexual. Importante: o
A Turma denegou a ordem por considerar, no caso, de objeto jurídico é outro. Na Lei nº 2.252/1954 busca-
rigor a condenação do paciente pela prá ca do crime -se impedir o es mulo de ingresso, ou permanência
de corrupção de menores previsto no art. 1º da Lei na criminalidade. (Recurso Especial nº 182.471/PR.
nº 2.252/1954, que é de perigo, sendo descipienda, Julg. em: 20/4/1999, 6ª Turma)
portanto, a demonstração de efe va e posterior
corrupção penal do menor. No caso dos autos, não REFERÊNCIAS
ficou demonstrado conforme consignado no acórdão
recorrido, que o menor par cipante da conduta de- ABREU, Waldir. A corrupção penal infanto-juvenil. Forense:
lituosa vesse passagens pelo juízo da infância e da São Paulo, 1995.
juventude pela prá ca de atos infracionais ou, ainda,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

que tenha sido o mentor do crime de roubo. Observa NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais
o Min. Relator, quanto à anterior inocência moral do comentadas. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo. Revista dos
menor, que essa se presume iuris tantum (não iuris Tribunais, 2008.
et de iure) como pressuposto fá co do po. Explica
que quem já foi corrompido logicamente não pode SILVA, José Geraldo da. Leis especiais anotadas. 10. ed.
ser ví ma de corrupção, todavia não é possível Campinas-SP: Millennium, 2008.
que o réu adulto tenha a seu favor a presunção 9
Recurso Especial nº 182.471/PR. Julg. em: 20/4/1999, 6ª Turma.
de inocência e o menor envolvido tenha contra si 10
Neste sen do: Apelação Criminal nº 27.289, de Imbituba; Rel. Des. Márcio
Ba sta; Apelação Criminal nº 99.001783-4, de Mafra. Rel. Des. Genésio Nolli;
uma presunção oposta. Precedentes citados: REsp JC nº 58/418; RT nº 533/321; TJ-SP, RJTJSP nº 73/324; TRF-4ª Região, ACR
nº 852.716-PR, DJ de 19/3/2007; REsp nº 853.350- nº 98.04.04693-8/RS; 1ª Turma. Rel. Juiz Fábio Bi encourt da Rosa, DJU de
20/5/1998; TJ-RJ/EI 4/1997, Reg. nº 130.498, Cód. nº 97.054.00004/ Cabo
PR, DJ de 18/12/2006, e REsp nº 822.977-RJ, DJ de Frio; S.Crim., Rel. Juíza Telma Musse Diuana, julg..26/11/1997; e TJ-RJ ACR
30/10/2006. HC nº 128.267-DF, Rel. Min. Felix Fischer, nº 2.565/1998; (Reg. 040699), 1ª C.Crim., Rel. Des. Oscar Silvares, julg. em
3/3/1999.
5ª Turma, julg. em 5/5/2009. 11
Recurso Especial nº 182.471/PR. julg. em 20/4/1999, 6ª Turma.

157
Weslei Machado Alves III – par cipar de concorrência pública ou administra va
da União, dos Estados, dos Territórios, do Distrito Federal ou
dos Municípios, ou das respec vas autarquias;
LEI Nº 4.737, DE 15 DE JULHO DE 1965 IV – obter emprés mos nas autarquias, sociedades de
economia mista, caixas econômicas federais ou estaduais,
Ins tui o Código Eleitoral.
nos ins tutos e caixas de previdência social, bem como em
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que sanciono a qualquer estabelecimento de crédito man do pelo governo,
seguinte Lei, aprovada pelo Congresso Nacional, nos termos ou de cuja administração este par cipe, e com essas en da-
do art. 4º, caput, do Ato Ins tucional, de 9 de abril de 1964. des celebrar contratos;
V – obter passaporte ou carteira de iden dade;
PARTE PRIMEIRA VI – renovar matrícula em estabelecimento de ensino
INTRODUÇÃO oficial ou fiscalizado pelo governo;
VII – pra car qualquer ato para o qual se exija quitação
Art. 1º Este Código contém normas des nadas a asse- do serviço militar ou imposto de renda.
gurar a organização e o exercício de direitos polí cos preci- § 2º Os brasileiros natos ou naturalizados, maiores de 18
puamente os de votar e ser votado. anos, salvo os excetuados nos arts. 5º e 6º, nº 1, sem prova de
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral expedirá estarem alistados não poderão pra car os atos relacionados
Instruções para sua fiel execução. no parágrafo anterior.
Art. 2º Todo poder emana do povo e será exercido em § 3º Realizado o alistamento eleitoral pelo processo
seu nome, por mandatários escolhidos, direta e secreta- eletrônico de dados, será cancelada a inscrição do eleitor
mente, dentre candidatos indicados por par dos polí cos que não votar em 3 (três) eleições consecu vas, não pagar a
nacionais, ressalvada a eleição indireta nos casos previstos multa ou não se jus ficar no prazo de 6 (seis) meses, a contar
na Cons tuição e leis específicas. da data da úl ma eleição a que deveria ter comparecido.
Art. 3º Qualquer cidadão pode pretender inves dura (Incluído pela Lei nº 7.663, de 1988)
em cargo ele vo, respeitadas as condições cons tucionais Art. 8º O brasileiro nato que não se alistar até os 19 anos
e legais de elegibilidade e incompa bilidade. ou o naturalizado que não se alistar até um ano depois de
Art. 4º São eleitores os brasileiros maiores de 18 anos adquirida a nacionalidade brasileira, incorrerá na multa de
que se alistarem na forma da lei.(Vide art 14 da Cons tuição 3 (três) a 10 (dez) por cento sobre o valor do salário-mínimo
Federal) da região, imposta pelo juiz e cobrada no ato da inscrição
Art. 5º Não podem alistar-se eleitores: eleitoral através de selo federal inutilizado no próprio
I – os analfabetos; (Vide art. 14, § 1º, II, “a”, da Cons - requerimento. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966)
tuição/1988) (Vide Lei nº 5.337,1967) (Vide Lei nº 5.780, de 1972) (Vide
II – os que não saibam exprimir-se na língua nacional; Lei nº 6.018, de 1974)
III – os que estejam privados, temporária ou defini va- Parágrafo único. Não se aplicará a pena ao não alistado
mente dos direitos polí cos. que requerer sua inscrição eleitoral até o centésimo primeiro
Parágrafo único. Os militares são alistáveis, desde que dia anterior à eleição subsequente à data em que completar
oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes dezenove anos. (Incluído pela Lei nº 9.041, de 1995)
ou suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de Art. 9º Os responsáveis pela inobservância do disposto
ensino superior para formação de oficiais. nos arts. 7º e 8º incorrerão na multa de 1 (um) a 3 (três)
Art. 6º O alistamento e o voto são obrigatórios para os salários-mínimos vigentes na zona eleitoral ou de suspensão
brasileiros de um e outro sexo, salvo: disciplinar até 30 (trinta) dias.
I – quanto ao alistamento: Art. 10. O juiz eleitoral fornecerá aos que não votarem
a) os inválidos; por mo vo jus ficado e aos não alistados nos termos dos
b) os maiores de setenta anos; ar gos 5º e 6º, nº 1, documento que os isente das sanções
c) os que se encontrem fora do país. legais.
II – quanto ao voto: Art. 11. O eleitor que não votar e não pagar a multa, se
a) os enfermos; se encontrar fora de sua zona e necessitar documento de
b) os que se encontrem fora do seu domicílio; quitação com a Jus ça Eleitoral, poderá efetuar o pagamento
c) os funcionários civis e os militares, em serviço que os perante o Juízo da zona em que es ver.
impossibilite de votar. § 1º A multa será cobrada no máximo previsto, salvo
Art. 7º O eleitor que deixar de votar e não se jus ficar se o eleitor quiser aguardar que o juiz da zona em que se
perante o juiz eleitoral até 30 (trinta) dias após a realização encontrar solicite informações sobre o arbitramento ao Juízo
da eleição, incorrerá na multa de 3 (três) a 10 (dez) por cento da inscrição.
sobre o salário-mínimo da região, imposta pelo juiz eleitoral § 2º Em qualquer das hipóteses, efetuado o pagamento
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

e cobrada na forma prevista no art. 367. (Redação dada pela través de selos federais inu lizados no próprio requerimento,
Lei nº 4.961, de 1966) o juiz que recolheu a multa comunicará o fato ao da zona
§ 1º Sem a prova de que votou na úl ma eleição, pagou de inscrição e fornecerá ao requerente comprovante do
a respec va multa ou de que se jus ficou devidamente, não pagamento.
poderá o eleitor:
I – inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou PARTE SEGUNDA
função pública, inves r-se ou empossar-se neles; DOS ÓRGÃOS DA JUSTIÇA ELEITORAL
II – receber vencimentos, remuneração, salário ou pro-
ventos de função ou emprego público, autárquico ou para Art. 12. São órgãos da Jus ça Eleitoral:
estatal, bem como fundações governamentais, empresas, I – O Tribunal Superior Eleitoral, com sede na Capital da
ins tutos e sociedades de qualquer natureza, man das ou República e jurisdição em todo o País;
subvencionadas pelo governo ou que exerçam serviço públi- II – um Tribunal Regional, na Capital de cada Estado, no
co delegado, correspondentes ao segundo mês subsequente Distrito Federal e, mediante proposta do Tribunal Superior,
ao da eleição; na Capital de Território;

158
III – juntas eleitorais; § 2º No desempenho de suas atribuições o Corregedor
IV – juízes eleitorais. Geral se locomoverá para os Estados e Territórios nos se-
Art. 13. O número de juízes dos Tribunais Regionais não guintes casos:
será reduzido, mas poderá ser elevado até nove, mediante I – por determinação do Tribunal Superior Eleitoral;
proposta do Tribunal Superior, e na forma por ele sugerida. II – a pedido dos Tribunais Regionais Eleitorais;
Art. 14. Os juízes dos Tribunais Eleitorais, salvo mo vo III – a requerimento de Par do deferido pelo Tribunal
jus ficado, servirão obrigatoriamente por dois anos, e nunca Superior Eleitoral;
por mais de dois biênios consecu vos. IV – sempre que entender necessário.
§ 1º Os biênios serão contados, ininterruptamente, sem o § 3º Os provimentos emanados da Corregedoria Geral
desconto de qualquer afastamento nem mesmo o decorrente vinculam os Corregedores Regionais, que lhes devem dar
de licença, férias, ou licença especial, salvo no caso do § 3º. imediato e preciso cumprimento.
(Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966) Art. 18. Exercerá as funções de Procurador Geral, junto
§ 2º Os juízes afastados por mo vo de licença férias e ao Tribunal Superior Eleitoral, o Procurador Geral da Re-
licença especial, de suas funções na Jus ça comum, ficarão pública, funcionando, em suas faltas e impedimentos, seu
automa camente afastados da Jus ça Eleitoral pelo tempo subs tuto legal.
correspondente exceto quando com períodos de férias cole- Parágrafo único. O Procurador Geral poderá designar ou-
vas, coincidir a realização de eleição, apuração ou encerra- tros membros do Ministério Público da União, com exercício
mento de alistamento. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966) no Distrito Federal, e sem prejuízo das respec vas funções,
§ 3º Da homologação da respec va convenção par dária para auxiliá-lo junto ao Tribunal Superior Eleitoral, onde não
até a apuração final da eleição, não poderão servir como juí- poderão ter assento.
zes nos Tribunais Eleitorais, ou como juiz eleitoral, o cônjuge, Art. 19. O Tribunal Superior delibera por maioria de
perante consanguíneo legí mo ou ilegí mo, ou afim, até o votos, em sessão pública, com a presença da maioria de
segundo grau, de candidato a cargo ele vo registrado na seus membros.
circunscrição. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966) Parágrafo único. As decisões do Tribunal Superior, assim
§ 4º No caso de recondução para o segundo biênio na interpretação do Código Eleitoral em face da Cons tuição
observar-se-ão as mesmas formalidades indispensáveis à e cassação de registro de par dos polí cos, como sobre
quaisquer recursos que importem anulação geral de eleições
primeira inves dura. (Parágrafo único renumerado pela Lei
ou perda de diplomas, só poderão ser tomadas com a pre-
nº 4.961, de 1966)
sença de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento
Art. 15. Os subs tutos dos membros efe vos dos Tribu-
de algum juiz, será convocado o subs tuto ou o respec vo
nais Eleitorais serão escolhidos, na mesma ocasião e pelo
suplente.
mesmo processo, em número igual para cada categoria.
Art. 20. Perante o Tribunal Superior, qualquer interes-
sado poderá arguir a suspeição ou impedimento dos seus
TÍTULO I membros, do Procurador Geral ou de funcionários de sua
DO TRIBUNAL SUPERIOR Secretaria, nos casos previstos na lei processual civil ou penal
e por mo vo de parcialidade par dária, mediante o processo
Art. 16. Compõe-se o Tribunal Superior Eleitoral: (Reda- previsto em regimento.
ção dada pela Lei nº 7.191, de 1984) Parágrafo único. Será ilegí ma a suspeição quando o
I – mediante eleição, pelo voto secreto: (Redação dada excipiente a provocar ou, depois de manifestada a causa,
pela Lei nº 7.191, de 1984) pra car ato que importe aceitação do arguido.
a) de três juízes, dentre os Ministros do Supremo Tribunal Art. 21. Os Tribunais e juízes inferiores devem dar imedia-
Federal; e (Redação dada pela Lei nº 7.191, de 1984) to cumprimento às decisões, mandados, instruções e outros
b) de dois juízes, dentre os membros do Tribunal Federal atos emanados do Tribunal Superior Eleitoral.
de Recursos; (Redação dada pela Lei nº 7.191, de 1984) Art. 22. Compete ao Tribunal Superior:
II – por nomeação do Presidente da República, de dois I – Processar e julgar originariamente:
entre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade a) o registro e a cassação de registro de par dos polí cos,
moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. (Redação dos seus diretórios nacionais e de candidatos à Presidência
dada pela Lei nº 7.191, de 1984) e vice-presidência da República;
§ 1º Não podem fazer parte do Tribunal Superior Elei- b) os conflitos de jurisdição entre Tribunais Regionais e
toral cidadãos que tenham entre si parentesco, ainda que juízes eleitorais de Estados diferentes;
por afinidade, até o quarto grau, seja o vínculo legí mo ou c) a suspeição ou impedimento aos seus membros,
ilegí mo, excluindo-se neste caso o que ver sido escolhido ao Procurador Geral e aos funcionários da sua Secretaria;
por úl mo. (Redação dada pela Lei nº 7.191, de 1984) d) os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem cone-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 2º A nomeação de que trata o inciso II deste ar go não xos come dos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos
poderá recair em cidadão que ocupe cargo público de que Tribunais Regionais;
seja demissível ad nutum; que seja diretor, proprietário ou e) (Execução suspensa pela RSF nº 132, de 1984)
sócio de empresa beneficiada com subvenção, privilegio, f) as reclamações rela vas a obrigações impostas por
isenção ou favor em virtude de contrato com a administração lei aos par dos polí cos, quanto à sua contabilidade e à
pública; ou que exerça mandato de caráter polí co, federal, apuração da origem dos seus recursos;
estadual ou municipal. (Redação dada pela Lei nº 7.191, g) as impugnações á apuração do resultado geral, pro-
de 1984) clamação dos eleitos e expedição de diploma na eleição de
Art. 17. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá para seu Presidente e Vice-Presidente da República;
presidente um dos ministros do Supremo Tribunal Federal, h) os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos
cabendo ao outro a vice-presidência, e para Corregedor Geral nos Tribunais Regionais dentro de trinta dias da conclusão
da Jus ça Eleitoral um dos seus membros. ao relator, formulados por par do, candidato, Ministério
§ 1º As atribuições do Corregedor Geral serão fixadas Público ou parte legi mamente interessada. (Redação dada
pelo Tribunal Superior Eleitoral. pela Lei nº 4.961, de 1966)

159
i) as reclamações contra os seus próprios juízes que, solicitada sua audiência por qualquer dos juízes, ou por
no prazo de trinta dias a contar da conclusão, não houve- inicia va sua, se entender necessário;
rem julgado os feitos a eles distribuídos. (Incluído pela Lei V – defender a jurisdição do Tribunal;
nº 4.961, de 1966) VI – representar ao Tribunal sobre a fiel observância
j) a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde das leis eleitorais, especialmente quanto à sua aplicação
que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão irre- uniforme em todo o País;
corrível, possibilitando-se o exercício do mandato ele vo até VII – requisitar diligências, cer dões e esclarecimentos
o seu trânsito em julgado. (Incluído pela LCP nº 86, de 1996) necessários ao desempenho de suas atribuições;
II – julgar os recursos interpostos das decisões dos Tri- VIII – expedir instruções aos órgãos do Ministério Público
bunais Regionais nos termos do Art. 276 inclusive os que junto aos Tribunais Regionais;
versarem matéria administra va. IX – acompanhar, quando solicitado, o Corregedor Geral,
Parágrafo único. As decisões do Tribunal Superior são pessoalmente ou por intermédio de Procurador que designe,
irrecorrível, salvo nos casos do Art. 281. nas diligências a serem realizadas.
Art. 23. Compete, ainda, priva vamente, ao Tribunal
Superior, TÍTULO II
I – elaborar o seu regimento interno; DOS TRIBUNAIS REGIONAIS
II – organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Geral,
propondo ao Congresso Nacional a criação ou ex nção dos Art. 25. Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
cargos administra vos e a fixação dos respec vos vencimen- (Redação dada pela Lei nº 7.191, de 1984)
tos, provendo-os na forma da lei; I – mediante eleição, pelo voto secreto: (Redação dada
III – conceder aos seus membros licença e férias assim pela Lei nº 7.191, de 1984)
como afastamento do exercício dos cargos efe vos; a) de dois juízes, dentre os desembargadores do Tribunal
IV – aprovar o afastamento do exercício dos cargos efe- de Jus ça; (Redação dada pela Lei nº 7.191, de 1984)
vos dos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais; b) de dois juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de
V – propor a criação de Tribunal Regional na sede de Jus ça; (Redação dada pela Lei nº 7.191, de 1984)
qualquer dos Territórios; II – do juiz federal e, havendo mais de um, do que for
VI – propor ao Poder Legisla vo o aumento do número escolhido pelo Tribunal Federal de Recursos; e (Redação dada
dos juízes de qualquer Tribunal Eleitoral, indicando a forma pela Lei nº 7.191, de 1984)
desse aumento; III – por nomeação do Presidente da República de dois
dentre seis cidadãos de notável saber jurídico e idoneidade
VII – fixar as datas para as eleições de Presidente e Vi-
moral, indicados pelo Tribunal de Jus ça. (Redação dada
ce-Presidente da República, senadores e deputados federais,
pela Lei nº 7.191, de 1984)
quando não o verem sido por lei:
Art. 26. O Presidente e o Vice-Presidente do Tribunal
VIII – aprovar a divisão dos Estados em zonas eleitorais
Regional serão eleitos por este dentre os três desembarga-
ou a criação de novas zonas;
dores do Tribunal de Jus ça; o terceiro desembargador será
IX – expedir as instruções que julgar convenientes à o Corregedor Regional da Jus ça Eleitoral.
execução deste Código; § 1º As atribuições do Corregedor Regional serão fixadas
X – fixar a diária do Corregedor Geral, dos Corregedores pelo Tribunal Superior Eleitoral e, em caráter suple vo ou
Regionais e auxiliares em diligência fora da sede; complementar, pelo Tribunal Regional Eleitoral perante o
XI – enviar ao Presidente da República a lista tríplice qual servir.
organizada pelos Tribunais de Jus ça nos termos do ar. 25; § 2º No desempenho de suas atribuições o Corregedor
XII – responder, sobre matéria eleitoral, às consultas Regional se locomoverá para as zonas eleitorais nos seguin-
que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdição, tes casos:
federal ou órgão nacional de par do polí co; I – por determinação do Tribunal Superior Eleitoral ou
XIII – autorizar a contagem dos votos pelas mesas recep- do Tribunal Regional Eleitoral;
toras nos Estados em que essa providência for solicitada pelo II – a pedido dos juízes eleitorais;
Tribunal Regional respec vo; III – a requerimento de Par do, deferido pelo Tribunal
XIV – requisitar a força federal necessária ao cumpri- Regional;
mento da lei, de suas próprias decisões ou das decisões dos IV – sempre que entender necessário.
Tribunais Regionais que o solicitarem, e para garan r a vota- Art. 27. Servirá como Procurador Regional junto a cada
ção e a apuração; (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966) Tribunal Regional Eleitoral o Procurador da República no
XV – organizar e divulgar a Súmula de sua jurisprudência; respec vo Estado e, onde houver mais de um, aquele que
XVI – requisitar funcionários da União e do Distrito for designado pelo Procurador Geral da República.
Federal quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço de § 1º No Distrito Federal, serão as funções de Procurador
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sua Secretaria; Regional Eleitoral exercidas pelo Procurador Geral da Jus ça


XVII – publicar um bole m eleitoral; do Distrito Federal.
XVIII – tomar quaisquer outras providências que julgar § 2º Subs tuirá o Procurador Regional, em suas faltas ou
convenientes à execução da legislação eleitoral. impedimentos, o seu subs tuto legal.
Art. 24. Compete ao Procurador Geral, como Chefe do § 3º Compete aos Procuradores Regionais exercer, pe-
Ministério Público Eleitoral; rante os Tribunais junto aos quais servirem, as atribuições
I – assis r às sessões do Tribunal Superior e tomar parte do Procurador Geral.
nas discussões; § 4º Mediante prévia autorização do Procurador Geral,
II – exercer a ação pública e promovê-la até final, em podendo os Procuradores Regionais requisitar, para auxi-
todos os feitos de competência originária do Tribunal; liá-los nas suas funções, membros do Ministério Público local,
III – oficiar em todos os recursos encaminhados ao não tendo estes, porém, assento nas sessões do Tribunal.
Tribunal; Art. 28. Os Tribunais Regionais deliberam por maioria
IV – manifestar-se, por escrito ou oralmente, em todos de votos, em sessão pública, com a presença da maioria de
os assuntos subme dos à deliberação do Tribunal, quando seus membros.

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§ 1º No caso de impedimento e não exis ndo quorum, VII – apurar com os resultados parciais enviados pelas
será o membro do Tribunal subs tuído por outro da mesma juntas eleitorais, os resultados finais das eleições de Governa-
categoria, designado na forma prevista na Cons tuição. dor e Vice-Governador de membros do Congresso Nacional e
§ 2º Perante o Tribunal Regional, e com recurso voluntário expedir os respec vos diplomas, remetendo dentro do prazo
para o Tribunal Superior qualquer interessado poderá arguir de 10 (dez) dias após a diplomação, ao Tribunal Superior,
a suspeição dos seus membros, do Procurador Regional, ou cópia das atas de seus trabalhos;
de funcionários da sua Secretaria, assim como dos juízes e VIII – responder, sobre matéria eleitoral, às consultas
escrivães eleitorais, nos casos previstos na lei processual civil que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou
e por mo vo de parcialidade par dária, mediante o processo par do polí co;
previsto em regimento. IX – dividir a respec va circunscrição em zonas eleitorais,
§ 3º No caso previsto no parágrafo anterior será obser- submetendo essa divisão, assim como a criação de novas
vado o disposto no parágrafo único do art. 20. (Incluído pela zonas, à aprovação do Tribunal Superior;
Lei nº 4.961, de 1966) X – aprovar a designação do O cio de Jus ça que deva
Art. 29. Compete aos Tribunais Regionais: responder pela escrivania eleitoral durante o biênio;
I – processar e julgar originariamente: XI – (Revogado pela Lei nº 8.868, de 1994)
a) o registro e o cancelamento do registro dos diretórios XII – requisitar a força necessária ao cumprimento de
estaduais e municipais de par dos polí cos, bem como de suas decisões solicitar ao Tribunal Superior a requisição de
candidatos a Governador, Vice-Governadores, e membro do força federal;
Congresso Nacional e das Assembléias Legisla vas; XIII – autorizar, no Distrito Federal e nas capitais dos Es-
b) os conflitos de jurisdição entre juízes eleitorais do tados, ao seu presidente e, no interior, aos juízes eleitorais,
respec vo Estado; a requisição de funcionários federais, estaduais ou municipais
c) a suspeição ou impedimentos aos seus membros ao para auxiliarem os escrivães eleitorais, quando o exigir o
Procurador Regional e aos funcionários da sua Secretaria acúmulo ocasional do serviço;
assim como aos juízes e escrivães eleitorais; XIV – requisitar funcionários da União e, ainda, no Distrito
d) os crimes eleitorais come dos pelos juízes eleitorais; Federal e em cada Estado ou Território, funcionários dos
e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em ma- respec vos quadros administra vos, no caso de acúmulo
téria eleitoral, contra ato de autoridades que respondam
ocasional de serviço de suas Secretarias;
perante os Tribunais de Jus ça por crime de responsabilidade
XV – aplicar as penas disciplinares de advertência e de
e, em grau de recurso, os denegados ou concedidos pelos
suspensão até 30 (trinta) dias aos juízes eleitorais;
juízes eleitorais; ou, ainda, o habeas corpus quando houver
XVI – comprir e fazer cumprir as decisões e instruções
perigo de se consumar a violência antes que o juiz compe-
do Tribunal Superior;
tente possa prover sobre a impetração;
f) as reclamações rela vas a obrigações impostas por XVII – determinar, em caso de urgência, providências para
lei aos par dos polí cos, quanto a sua contabilidade e à a execução da lei na respec va circunscrição;
apuração da origem dos seus recursos; XVIII – organizar o fichário dos eleitores do Estado.
g) os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos XIX – suprimir os mapas parciais de apuração mandando
pelos juízes eleitorais em trinta dias da sua conclusão para u lizar apenas os bole ns e os mapas totalizadores, desde
julgamento, formulados por par do candidato Ministério que o menor número de candidatos às eleições proporcio-
Público ou parte legi mamente interessada sem prejuízo nais jus fique a supressão, observadas as seguintes normas:
das sanções decorrentes do excesso de prazo. (Redação dada (Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966)
pela Lei nº 4.961, de 1966) a) qualquer candidato ou par do poderá requerer ao
II – julgar os recursos interpostos: Tribunal Regional que suprima a exigência dos mapas parciais
a) dos atos e das decisões proferidas pelos juízes e juntas de apuração; (Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966)
eleitorais. b) da decisão do Tribunal Regional qualquer candidato
b) das decisões dos juízes eleitorais que concederem ou ou par do poderá, no prazo de três dias, recorrer para o
denegarem habeas corpus ou mandado de segurança. Tribunal Superior, que decidirá em cinco dias; (Incluído pela
Parágrafo único. As decisões dos Tribunais Regionais são Lei nº 4.961, de 1966)
irrecorríveis, salvo nos casos do Art. 276. c) a supressão dos mapas parciais de apuração só será
Art. 30. Compete, ainda, priva vamente, aos Tribunais admi da até seis meses antes da data da eleição; (Incluído
Regionais: pela Lei nº 4.961, de 1966)
I – elaborar o seu regimento interno; d) os bole ns e mapas de apuração serão impressos
II – organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Regional pelos Tribunais Regionais, depois de aprovados pelo Tribunal
provendo-lhes os cargos na forma da lei, e propor ao Congres- Superior; (Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966)
so Nacional, por intermédio do Tribunal Superior a criação ou e) o Tribunal Regional ouvira os par dos na elaboração
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

supressão de cargos e a fixação dos respec vos vencimentos; dos modelos dos bole ns e mapas de apuração a fim de que
III – conceder aos seus membros e aos juízes eleitorais estes atendam às peculiaridade locais, encaminhando os
licença e férias, assim como afastamento do exercício dos modelos que aprovar, acompanhados das sugestões ou im-
cargos efe vos submetendo, quanto aqueles, a decisão à pugnações formuladas pelos par dos, à decisão do Tribunal
aprovação do Tribunal Superior Eleitoral; Superior. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 1966)
IV – fixar a data das eleições de Governador e Vice-Go- Art. 31. Faltando num Território o Tribunal Regional,
vernador, deputados estaduais, prefeitos, vice-prefeitos , ficará a respec va circunscrição eleitoral sob a jurisdição do
vereadores e juízes de paz, quando não determinada por Tribunal Regional que o Tribunal Superior designar.
disposição cons tucional ou legal;
V – cons tuir as juntas eleitorais e designar a respec va TÍTULO III
sede e jurisdição; DOS JUÍZES ELEITORAIS
VI – indicar ao tribunal Superior as zonas eleitorais ou
seções em que a contagem dos votos deva ser feita pela Art. 32. Cabe a jurisdição de cada uma das zonas elei-
mesa receptora; torais a um juiz de direito em efe vo exercício e, na falta

161
deste, ao seu subs tuto legal que goze das prerroga vas do TÍTULO IV
Art. 95. da Cons tuição. DAS JUNTAS ELEITORAIS
Parágrafo único. Onde houver mais de uma vara o Tribu-
nal Regional designara aquela ou aquelas, a que incumbe o Art. 36. Compor-se-ão as juntas eleitorais de um juiz de
serviço eleitoral. direito, que será o presidente, e de 2 (dois) ou 4 (quatro)
Art. 33. Nas zonas eleitorais onde houver mais de uma cidadãos de notória idoneidade.
serven a de jus ça, o juiz indicará ao Tribunal Regional a § 1º Os membros das juntas eleitorais serão nomeados
que deve ter o anexo da escrivania eleitoral pelo prazo de 60 (sessenta) dia antes da eleição, depois de aprovação do
dois anos. Tribunal Regional, pelo presidente deste, a quem cumpre
§ 1º Não poderá servir como escrivão eleitoral, sob pena também designar-lhes a sede.
de demissão, o membro de diretório de par do polí co, nem § 2º Até 10 (dez) dias antes da nomeação os nomes das
o candidato a cargo ele vo, seu cônjuge e parente consan- pessoas indicadas para compor as juntas serão publicados
guíneo ou afim até o segundo grau. no órgão oficial do Estado, podendo qualquer par do, no
§ 2º O escrivão eleitoral, em suas faltas e impedimentos, prazo de 3 (três) dias, em pe ção fundamentada, impugnar
será subs tuído na forma prevista pela lei de organização as indicações.
§ 3º Não podem ser nomeados membros das Juntas,
judiciária local.
escru nadores ou auxiliares:
Art. 34. Os juízes despacharão todos os dias na sede da
I – os candidatos e seus parentes, ainda que por afinida-
sua zona eleitoral.
de, até o segundo grau, inclusive, e bem assim o cônjuge;
Art. 35. Compete aos juízes:
II – os membros de diretorias de par dos polí cos devi-
I – cumprir e fazer cumprir as decisões e determinações damente registrados e cujos nomes tenham sido oficialmente
do Tribunal Superior e do Regional; publicados;
II – processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns III – as autoridades e agentes policiais, bem como os
que lhe forem conexos, ressalvada a competência originária funcionários no desempenho de cargos de confiança do
do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais; Execu vo;
III – decidir habeas corpus e mandado de segurança, em IV – os que pertencerem ao serviço eleitoral.
matéria eleitoral, desde que essa competência não esteja Art. 37. Poderão ser organizadas tantas Juntas quantas
atribuída priva vamente a instância superior. permi r o número de juízes de direito que gozem das ga-
IV – fazer as diligências que julgar necessárias a ordem ran as do Art. 95 da Cons tuição, mesmo que não sejam
e presteza do serviço eleitoral; juízes eleitorais.
V – tomar conhecimento das reclamações que lhe forem Parágrafo único. Nas zonas em que houver de ser orga-
feitas verbalmente ou por escrito, reduzindo-as a termo, nizada mais de uma Junta, ou quando es ver vago o cargo
e determinando as providências que cada caso exigir; de juiz eleitoral ou es ver este impedido, o presidente do
VI – indicar, para aprovação do Tribunal Regional, a ser- Tribunal Regional, com a aprovação deste, designará juízes
ven a de jus ça que deve ter o anexo da escrivania eleitoral; de direito da mesma ou de outras comarcas, para presidirem
VII – (Revogado pela Lei nº 8.868, de 1994) as juntas eleitorais.
VIII – dirigir os processos eleitorais e determinar a ins- Art. 38. Ao presidente da Junta é facultado nomear,
crição e a exclusão de eleitores; dentre cidadãos de notória idoneidade, escru nadores e
IX- expedir tulos eleitorais e conceder transferência auxiliares em número capaz de atender a boa marcha dos
de eleitor; trabalhos.
X – dividir a zona em seções eleitorais; § 1º É obrigatória essa nomeação sempre que houver
XI mandar organizar, em ordem alfabé ca, relação dos mais de dez urnas a apurar.
eleitores de cada seção, para remessa a mesa receptora, § 2º Na hipótese do desdobramento da Junta em Turmas,
juntamente com a pasta das folhas individuais de votação; o respec vo presidente nomeará um escru nador para servir
XII – ordenar o registro e cassação do registro dos can- como secretário em cada turma.
didatos aos cargos ele vos municiais e comunicá-los ao § 3º Além dos secretários a que se refere o parágrafo
Tribunal Regional; anterior, será designado pelo presidente da Junta um escru-
XIII – designar, até 60 (sessenta) dias antes das eleições nador para secretário-geral compe ndo-lhe;
os locais das seções; I – lavrar as atas;
II – tomar por termo ou protocolar os recursos, neles
XIV – nomear, 60 (sessenta) dias antes da eleição, em
funcionando como escrivão;
audiência pública anunciada com pelo menos 5 (cinco) dias
III – totalizar os votos apurados.
de antecedência, os membros das mesas receptoras;
Art. 39. Até 30 (trinta) dias antes da eleição o presidente
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XV – instruir os membros das mesas receptoras sobre


da Junta comunicará ao Presidente do Tribunal Regional as
as suas funções; nomeações que hover feito e divulgará a composição do
XVI – providenciar para a solução das ocorrências que se órgão por edital publicado ou afixado, podendo qualquer par-
verificarem nas mesas receptoras; do oferecer impugnação mo vada no prazo de 3 (três) dias.
XVII – tomar todas as providências ao seu alcance para Art. 40. Compete à Junta Eleitoral;
evitar os atos viciosos das eleições; I – apurar, no prazo de 10 (dez) dias, as eleições realizadas
XVIII – fornecer aos que não votaram por mo vo jus fi- nas zonas eleitorais sob a sua jurisdição.
cado e aos não alistados, por dispensados do alistamento, II – resolver as impugnações e demais incidentes veri-
um cer ficado que os isente das sanções legais; ficados durante os trabalhos da contagem e da apuração;
XIX – comunicar, até às 12 horas do dia seguinte a rea- III – expedir os bole ns de apuração mencionados no
lização da eleição, ao Tribunal Regional e aos delegados de Art. 178;
par dos credenciados, o número de eleitores que votarem IV – expedir diploma aos eleitos para cargos municipais.
em cada uma das seções da zona sob sua jurisdição, bem Parágrafo único. Nos municípios onde houver mais de
como o total de votantes da zona. uma junta eleitoral a expedição dos diplomas será feita pelo

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que for presidida pelo juiz eleitoral mais an go, à qual as do recibo ou o fizerem a pessoa não autorizada por escrito.
demais enviarão os documentos da eleição. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966)
Art. 41. Nas zonas eleitorais em que for autorizada a § 5º A res tuição de qualquer documento não poderá
contagem prévia dos votos pelas mesas receptoras, com- ser feita antes de despachado o pedido de alistamento pelo
pete à Junta Eleitoral tomar as providências mencionadas juiz eleitoral.
no Art. 195. § 6º Quinzenalmente o juiz eleitoral fará publicar pela
imprensa, onde houver ou por editais, a lista dos pedidos
PARTE TERCEIRA de inscrição, mencionando os deferidos, os indeferidos e os
DO ALISTAMENTO conver dos em diligência, contando-se dessa publicação o
prazo para os recursos a que se refere o parágrafo seguinte.
TÍTULO I § 7º Do despacho que indeferir o requerimento de ins-
DA QUALIFICAÇÃO E INSCRIÇÃO crição caberá recurso interposto pelo alistando, e do que o
deferir poderá recorrer qualquer delegado de par do.
Art. 42. O alistamento se faz mediante a qualificação e § 8º Os recursos referidos no parágrafo anterior serão
inscrição do eleitor. julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral dentro de 5 (cin-
Parágrafo único. Para o efeito da inscrição, é domicílio co) dias.
eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente, § 9º Findo esse prazo, sem que o alistando se manifeste,
e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á ou logo que seja desprovido o recurso em instância supe-
domicílio qualquer delas. rior, o juiz inu lizará a folha individual de votação assinada
Art. 43. O alistando apresentará em cartório ou local pelo requerente, a qual ficará fazendo parte integrante do
previamente designado, requerimento em fórmula que processo e não poderá, em qualquer tempo, se subs tuída,
obedecerá ao modelo aprovado pelo Tribunal Superior. nem dele re rada, sob pena de incorrer o responsável nas
Art. 44. O requerimento, acompanhado de 3 (três) retra- sanções previstas no Art. 293.
tos, será instruído com um dos seguintes documentos, que § 10. No caso de indeferimento do pedido, o Cartório
não poderão ser supridos mediante jus ficação: devolverá ao requerente, mediante recibo, as fotografias e
I – carteira de iden dade expedida pelo órgão compe- o documento com que houver instruído o seu requerimento.
tente do Distrito Federal ou dos Estados; § 11. O tulo eleitoral e a folha individual de votação
II – cer ficado de quitação do serviço militar; sòmente serão assinados pelo juiz eleitoral depois de pre-
III – cer dão de idade extraída do Registro Civil; enchidos pelo cartório e de deferido o pedido, sob as penas
IV – instrumento público do qual se infirá, por direito do ar go 293. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966)
ter o requerente idade superior a dezoito anos e do qual § 12. É obrigatória a remessa ao Tribunal Regional da ficha
conste, também, os demais elementos necessários à sua do eleitor, após a expedição do seu tulo. (Incluído pela Lei
qualificação; nº 4.961, de 1966)
V – documento do qual se infira a nacionalidade brasi- Art. 46. As folhas individuais de votação e os tulos serão
leira, originária ou adquirida, do requerente. confeccionados de acordo com o modelo aprovado pelo
Parágrafo único. Será devolvido o requerimento que não Tribunal, Superior Eleitoral.
contenta os dados constantes do modelo oficial, na mesma § 1º Da folha individual de votação e do tulo eleitoral
ordem, e em caracteres inequívocos. constará a indicação da seção em que o eleitor ver sido
Art. 45. O escrivão, o funcionário ou o preparador rece- inscrito a qual será localizada dentro do distrito judiciário
bendo a fórmula e documentos determinará que o alistando ou administra vo de sua residência e o mais próximo dela,
date e assine a pe ção e em ato con nuo atestará terem sido considerados a distância e os meios de transporte.
a data e a assinatura lançados na sua presença; em seguida, § 2º As folhas individuais de votação serão conserva-
tomará a assinatura do requerente na folha individual de das em pastas, uma para cada seção eleitoral; às mesas
votação” e nas duas vias do tulo eleitoral, dando recibo da receptoras serão por estas encaminhadas com a urna e os
pe ção e do documento. demais documentos da eleição às juntas eleitorais, que as
§ 1º O requerimento será subme do ao despacho do juiz devolverão, findos os trabalhos da apuração, ao respec vo
nas 48 (quarenta e oito), horas seguintes. cartório, onde ficarão guardadas.
§ 2º Poderá o juiz se ver dúvida quanto a iden dade § 3º O eleitor ficará vinculado permanentemente à seção
do requerente ou sobre qualquer outro requisito para o eleitoral indicada no seu tulo, salvo:
alistamento, converter o julgamento em diligência para que o I – se se transferir de zona ou Município hipótese em que
alistando esclareça ou complete a prova ou, se for necessário, deverá requerer transferência.
compareça pessoalmente à sua presença. II – se, até 100 (cem) dias antes da eleição, provar, pe-
§ 3º Se se tratar de qualquer omissão ou irregularidade rante o Juiz Eleitoral, que mudou de residência dentro do
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que possa ser sanada, fixará o juiz para isso prazo razoável. mesmo Município, de um distrito para outro ou para lugar
§ 4º Deferido o pedido, no prazo de cinco dias, o tulo muito distante da seção em que se acha inscrito, caso em
e o documento que instruiu o pedido serão entregues pelo que serão feitas na folha de votação e no tulo eleitoral, para
juiz, escrivão, funcionário ou preparador. A entrega far-se-á esse fim exibido as alterações correspondentes, devidamente
ao próprio eleitor, mediante recibo, ou a quem o eleitor auten cadas pela autoridade judiciária.
autorizar por escrito o recebimento, cancelando-se o tulo § 4º O eleitor poderá, a qualquer tempo requerer ao juiz
cuja assinatura não for idên ca à do requerimento de inscri- eleitoral a re ficação de seu tulo eleitoral ou de sua folha
ção e à do recibo. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966) individual de votação, quando neles constar erro evidente,
O recibo será obrigatoriamente anexado ao processo ou indicação de seção diferente daquela a que devesse
eleitoral, incorrendo o juiz que não o fizer na multa de um corresponder a residência indicada no pedido de inscrição
a cinco salários-mínimos regionais na qual incorrerão ainda ou transferência. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966)
o escrivão, funcionário ou preparador, se responsáveis bem § 5º O tulo eleitoral servirá de prova de que o eleitor
como qualquer deles, se entregarem ao eleitor o tulo cuja está inscrito na seção em que deve votar. E, uma vez datado e
assinatura não for idên ca à do requerimento de inscrição e assinado pelo presidente da mesa receptora, servirá também

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de prova de haver o eleitor votado. (§ 4º renumerado pela no caso de inu lização ou dilaceração, com a primeira via
Lei nº 4.961, de 1966) do tulo.
Art. 47. As certidões de nascimento ou casamento, § 2º No caso de perda ou extravio do tulo, o juiz, após
quando des nadas ao alistamento eleitoral, serão fornecidas receber o requerimento de segunda via, fará publicar, pelo
gratuitamente, segundo a ordem dos pedidos apresentados prazo de 5 (cinco) dias, pela imprensa, onde houver, ou por
em cartório pelos alistandos ou delegados de par do. editais, a no cia do extravio ou perda e do requerimento de
§ 1º Os cartórios de Registro Civil farão, ainda, gratuita- segunda via, deferindo o pedido, findo este prazo, se não
mente, o registro de nascimento visando ao fornecimento houver impugnação.
de cer dão aos alistandos, desde que provem carência de Art. 53. Se o eleitor es ver fora do seu domicílio eleitoral
recursos, ou aos Delegados de Par do, para fins eleitorais. poderá requerer a segunda via ao juiz da zona em que se
(Redação dada pela Lei nº 6.018, de 1974) encontrar, esclarecendo se vai recebê-la na sua zona ou na
§ 2º Em cada Cartório de Registro Civil haverá um livro em que requereu.
especial aberto e rubricado pelo Juiz Eleitoral, onde o cida- § 1º O requerimento, acompanhado de um novo tulo
dão ou o delegado de par do deixará expresso o pedido de assinado pelo eleitor na presença do escrivão ou de funcio-
cer dão para fins eleitorais, datando-o. (§ 1º acrescentado nário designado e de uma fotografia, será encaminhado ao
pela Lei nº 4.961, de 1966 e renumerado pela Lei nº 6.018, juiz da zona do eleitor.
de 1974) § 2º Antes de processar o pedido, na forma prevista no
§ 3º O escrivão, dentro de quinze dias da data do pedido, ar go anterior, o juiz determinará que se confira a assinatura
concederá a cer dão, ou jus ficará, perante o Juiz Eleitoral constante do novo tulo com a da folha individual de votação
por que deixa de fazê-lo. (§ 2º acrescentado pela Lei nº 4.961, ou do requerimento de inscrição.
de 1966 e renumerado pela Lei nº 6.018, de 1974) § 3º Deferido o pedido, o tulo será enviado ao juiz da
§ 4º A infração ao disposto neste artigo sujeitará o Zona que remeteu o requerimento, caso o eleitor haja soli-
escrivão às penas do Art. 293. (§ 3º acrescentado pela Lei citado essa providência, ou ficará em cartório aguardando
nº 4.961, de 1966 e renumerado pela Lei nº 6.018, de 1974) que o interessado o procure.
§ 4º O pedido de segunda-via formulado nos termos
Art. 48. O empregado mediante comunicação com 48
deste ar go só poderá ser recebido até 60 (sessenta) dias
(quarenta e oito) horas de antecedência, poderá deixar de
antes do pleito.
comparecer ao serviço, sem prejuízo do salário e por tempo
Art. 54. O requerimento de segunda-via, em qualquer
não excedente a 2 (dois) dias, para o fim de se alistar eleitor
das hipóteses, deverá ser assinado sobre selos federais,
ou requerer transferência.
correspondentes a 2% (dois por cento) do salário-mínimo
Art. 49. Os cegos alfabe zados pelo sistema “Braille”, da zona eleitoral de inscrição.
que reunirem as demais condições de alistamento, podem Parágrafo único. Somente será expedida segunda-via a
qualificar-se mediante o preenchimento da fórmula impressa eleitor que es ver quite com a Jus ça Eleitoral, exigindo-se,
e a aposição do nome com as letras do referido alfabeto. para o que foi multado e ainda não liquidou a dívida, o prévio
§ 1º De forma idên ca serão assinadas a folha individual pagamento, através de sêlo federal inu lizado nos autos.
de votação e as vias do tulo.
§ 2º Esses atos serão feitos na presença também de CAPÍTULO II
funcionários de estabelecimento especializado de amparo Da Transferência
e proteção de cegos, conhecedor do sistema “Braille”, que
subscreverá, com o Escrivão ou funcionário designado, Art. 55. Em caso de mudança de domicílio, cabe ao
o seguinte declaração a ser lançada no modelo de reque- eleitor requerer ao juiz do novo domicílio sua transferência,
rimento; “Atestamos que a presente fórmula bem como a juntando o tulo anterior.
folha individual de votação e vias do tulo foram subscritas § 1º A transferência só será admi da sa sfeitas as se-
pelo próprio, em nossa presença”. guintes exigências:
Art. 50. O juiz eleitoral providenciará para que se proceda I – entrada do requerimento no cartório eleitoral do
ao alistamento nas próprias sedes dos estabelecimentos de novo domicílio até 100 (cem) dias antes da data da eleição.
proteção aos cegos, marcando previamente, dia e hora para II – transcorrência de pelo menos 1 (um) ano da inscrição
tal fim, podendo se inscrever na zona eleitoral correspon- primi va;
dente todos os cegos do município. III – residência mínima de 3 (três) meses no novo domicí-
§ 1º Os eleitores inscritos em tais condições deverão ser lio, atestada pela autoridade policial ou provada por outros
localizados em uma mesma seção da respec va zona. meios convincentes.
§ 2º Se no alistamento realizado pela forma prevista nos § 2º O disposto nos nºs II e III, do parágrafo anterior, não
ar gos anteriores, o número de eleitores não alcançar o mí- se aplica quando se tratar de transferência de tulo eleitoral
nimo exigido, este se completará com a inclusão de outros de servidor público civil, militar, autárquico, ou de membro
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ainda que não sejam cegos. de sua família, por mo vo de remoção ou transferência.
Art. 51. (Revogado pela Lei nº 7.914, de 1989) (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 1966)
§ 1º (Revogado pela Lei nº 7.914, de 1989) Art. 56. No caso de perda ou extravio do tulo anterior
§ 2º (Revogado pela Lei nº 7.914, de 1989) declarado esse fato na pe ção de transferência, o juiz do
§ 3º (Revogado pela Lei nº 7.914, de 1989) novo domicílio, como ato preliminar, requisitará, por tele-
grama, a confirmação do alegado à Zona Eleitoral onde o
CAPÍTULO I requerente se achava inscrito.
Da Segunda Via § 1º O Juiz do an go domicílio, no prazo de 5 (cinco)
dias, responderá por o cio ou telegrama, esclarecendo se o
Art. 52. No caso de perda ou extravio de seu tulo, interessado é realmente eleitor, se a inscrição está em vigor,
requererá o eleitor ao juiz do seu domicílio eleitoral, até e, ainda, qual o número e a data da inscrição respec va.
10 (dez) dias antes da eleição, que lhe expeça segunda via. § 2º A informação mencionada no parágrafo anterior,
§ 1º O pedido de segunda via será apresentado em car- suprirá a falta do tulo extraviado, ou perdido, para o efeito
tório, pessoalmente, pelo eleitor, instruído o requerimento, da transferência, devendo fazer parte integrante do processo.

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Art. 57. O requerimento de transferência de domicílio cílio solicitará informações sobre o valor da multa arbitrada
eleitoral será imediatamente publicado na imprensa oficial na zona de origem, salvo se o eleitor não quiser aguardar a
na Capital, e em cartório nas demais localidades, podendo resposta, hipótese em que pagará o máximo previsto.
os interessados impugná-lo no prazo de dez dias. (Redação § 3º O pagamento da multa, em qualquer das hipóteses
dada pela Lei nº 4.961, de 1966) dos parágrafos anteriores, será comunicado ao juízo de
§ 1º Cer ficado o cumprimento do disposto neste ar go o origem para as necessárias anotações.
pedido deverá ser desde logo decidido, devendo o despacho
do juiz ser publicado pela mesma forma. (Redação dada pela CAPÍTULO III
Lei nº 4.961, de 1966) Dos Preparadores
§ 2º Poderá recorrer para o Tribunal Regional Eleitoral,
no prazo de 3 (três) dias, o eleitor que pediu a transferência, Arts. 62 a 65. (Revogado pela Lei nº 8.868, de 1994)
sendo-lhe a mesma negada, ou qualquer delegado de par -
do, quando o pedido for deferido. CAPÍTULO IV
§ 3º Dentro de 5 (cinco) dias, o Tribunal Regional Eleito- Dos Delegados de Par do Perante o Alistamento
ral decidirá do recurso interposto nos têrmos do parágrafo
anterior. Art. 66. É licito aos par dos polí cos, por seus delegados:
§ 4º Só será expedido o novo tulo decorridos os prazos I – acompanhar os processos de inscrição;
previstos neste ar go e respec vos parágrafos. II – promover a exclusão de qualquer eleitor inscrito ile-
Art. 58. Expedido o novo tulo o juiz comunicará a galmente e assumir a defesa do eleitor cuja exclusão esteja
transferência ao Tribunal Regional competente, no prazo de sendo promovida;
10 (dez) dias, enviando-lhe o tulo eleitoral, se houver, ou III – examinar, sem perturbação do serviço e em presença
documento a que se refere o § 1º do ar go 56. dos servidores designados, os documentos rela vos ao alis-
§ 1º Na mesma data comunicará ao juiz da zona de tamento eleitoral, podendo dêles rar cópias ou fotocópias.
origem a concessão da transferência e requisitará a “folha § 1º Perante o juízo eleitoral, cada par do poderá nomear
individual de votação”. 3 (três) delegados.
§ 2º Perante os preparadores, cada partido poderá
§ 2º Na nova folha individual de votação ficará consig-
nomear até 2 (dois) delegados, que assistam e fiscalizem
nado, na coluna des nada a “anotações”, que a inscrição
os seus atos.
foi ob da por transferência, e, de acordo com os elementos
§ 3º Os delegados a que se refere êste ar go serão
constantes do tulo primi vo, qual o ul mo pleito em que
registrados perante os juízes eleitorais, a requerimento do
o eleitor transferido votou. Essa anotação constará também,
presidente do Diretório Municipal.
de seu tulo. § 4º O delegado credenciado junto ao Tribunal Regional
§ 3º O processo de transferência só será arquivado após Eleitoral poderá representar o par do junto a qualquer
o recebimento da folha individual de votação da Zona de juízo ou preparador do Estado, assim como o delegado
origem, que dele ficará constando, devidamente inu lizada, credenciado perante o Tribunal Superior Eleitoral poderá
mediante aposição de carimbo a nta vermelha. representar o par do perante qualquer Tribunal Regional,
§ 4º No caso de transferência de município ou distrito juízo ou preparador.
dentro da mesma zona, deferido o pedido, o juiz determinará
a transposição da folha individual de votação para a pasta CAPÍTULO V
correspondente ao novo domicílio, a anotação de mudança Do Encerramento do Alistamento
no tulo eleitoral e comunicará ao Tribunal Regional para a
necessária averbação na ficha do eleitor. Art. 67. Nenhum requerimento de inscrição eleitoral ou
Art. 59. Na Zona de origem, recebida do juiz do novo de transferência será recebido dentro dos 100 (cem) dias
domicílio a comunicação de transferência, o juiz tomará as anteriores à data da eleição.
seguintes providencias: Art. 68. Em audiência pública, que se realizará às 14
I – determinará o cancelamento da inscrição do transfe- (quatorze) horas do 69 (sexagésimo nono) dia anterior à
rido e a remessa dentro de três dias, da folha individual de eleição, o juiz eleitoral declarará encerrada a inscrição de
votação ao juiz requisitante; eleitores na respec va zona e proclamará o número dos
II – ordenará a re rada do fichário da segunda parte inscritos até as 18 (dezoito) horas do dia anterior, o que
do tulo; comunicará incon nente ao Tribunal Regional Eleitoral, por
III – comunicará o cancelamento ao Tribunal Regional telegrama, e fará público em edital, imediatamente afixado
a que es ver subordinado, que fará a devida anotação na no lugar próprio do juízo e divulgado pela imprensa, onde
ficha de seus arquivos; houver, declarando nele o nome do úl mo eleitor inscrito
IV – se o eleitor havia assinado ficha de registro de par - e o número do respec vo tulo, fornecendo aos diretórios
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do, comunicará ao juiz do novo domicílio e, ainda, ao Tribunal municipais dos par dos cópia autên ca desse edital.
Regional, se a transferência foi concedida para outro Estado. § 1º Na mesma data será encerrada a transferência de
Art. 60. O eleitor transferido não poderá votar no novo eleitores, devendo constar do telegrama do juiz eleitoral ao
domicílio eleitoral em eleição suplementar à que ver sido Tribunal Regional Eleitoral, do edital e da cópia deste forne-
realizada antes de sua transferência. cida aos diretórios municipais dos par dos e da publicação
Art. 61. Somente será concedida transferência ao eleitor da imprensa, os nomes dos 10 (dez) úl mos eleitores, cujos
que es ver quite com a Jus ça Eleitoral. processos de transferência estejam defini vamente ul ma-
§ 1º Se o requerente não instruir o pedido de transferên- dos e o número dos respec vos tulos eleitorais.
cia com o tulo anterior, o juiz do novo domicílio, ao solicitar § 2º O despacho de pedido de inscrição, transferência, ou
informação ao da zona de origem, indagará se o eleitor está segunda via, proferido após esgotado o prazo legal, sujeita
quite com a Jus ça Eleitoral, ou não o estando, qual a im- o juiz eleitoral às penas do Art. 291.
portância da multa imposta e não paga. Art. 69. Os tulos eleitorais resultantes dos pedidos de
§ 2º Instruído o pedido com o tulo, e verificado que o inscrição ou de transferência serão entregues até 30 (trinta)
eleitor não votou em eleição anterior, o juiz do novo domi- dias antes da eleição.

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Parágrafo único. A segunda via poderá ser entregue ao Art. 77. O juiz eleitoral processará a exclusão pela forma
eleitor até a véspera do pleito. seguinte:
Art. 70. O alistamento reabrir-se-á em cada zona, logo I – mandará autuar a pe ção ou representação com os
que estejam concluídos os trabalhos da sua junta eleitoral. documentos que a instruírem:
II – fará publicar edital com prazo de 10 (dez) dias para
TÍTULO II ciência dos interessados, que poderão contestar dentro de
DO CANCELAMENTO E DA EXCLUSÃO 5 (cinco) dias;
III – concederá dilação probatória de 5 (cinco) a 10 (dez)
Art. 71. São causas de cancelamento: dias, se requerida;
I – a infração dos ar gos. 5º e 42; IV – decidirá no prazo de 5 (cinco) dias.
II – a suspensão ou perda dos direitos polí cos; Art. 78. Determinado, por sentença, o cancelamento,
III – a pluralidade de inscrição; o cartório tomará as seguintes providências:
IV – o falecimento do eleitor; I – re rará, da respec va pasta, a folha de votação,
V – deixar de votar em 3 (três) eleições consecu vas. registrará a ocorrência no local próprio para “Anotações”e
(Redação dada pela Lei nº 7.663, de 27/5/1988) juntá-la-á ao processo de cancelamento;
§ 1º A ocorrência de qualquer das causas enumeradas II – registrará a ocorrência na coluna de “observações”
neste ar go acarretará a exclusão do eleitor, que poderá ser do livro de inscrição;
promovida ex officio , a requerimento de delegado de par do III – excluirá dos fichários as respec vas fichas, colecio-
ou de qualquer eleitor. nando-as à parte;
§ 2º No caso de ser algum cidadão maior de 18 (dezoito) IV – anotará, de forma sistemá ca, os claros abertos
anos privado temporária ou defini vamente dos direitos polí- na pasta de votação para o oportuno preenchimento dos
cos, a autoridade que impuser essa pena providenciará para mesmos;
que o fato seja comunicado ao juiz eleitoral ou ao Tribunal V – comunicará o cancelamento ao Tribunal Regional
Regional da circunscrição em que residir o réu. para anotação no seu fichário.
§ 3º Os oficiais de Registro Civil, sob as penas do Art. 293, Art. 79. No caso de exclusão por falecimento, tratando-se
enviarão, até o dia 15 (quinze) de cada mês, ao juiz eleitoral de caso notório, serão dispensadas as formalidades previstas
da zona em que oficiarem, comunicação dos óbitos de cida- nos nºs. II e III do ar go 77.
dãos alistáveis, ocorridos no mês anterior, para cancelamento Art. 80. Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso no
das inscrições. prazo de 3 (três) dias, para o Tribunal Regional, interposto
§ 4º Quando houver denúncia fundamentada de fraude pelo excluendo ou por delegado de par do.
no alistamento de uma zona ou município, o Tribunal Regio- Art. 81. Cessada a causa do cancelamento, poderá o inte-
nal poderá determinar a realização de correição e, provada a ressado requerer novamente a sua qualificação e inscrição.
fraude em proporção comprometedora, ordenará a revisão
do eleitorado obedecidas as Instruções do Tribunal Superior PARTE QUARTA
DAS ELEIÇÕES
e as recomendações que, subsidiariamente, baixar, com o
cancelamento de o cio das inscrições correspondentes aos
TÍTULO I
tulos que não forem apresentados à revisão. (Incluído pela
DO SISTEMA ELEITORAL
Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
Art. 72. Durante o processo e até a exclusão pode o
Art. 82. O sufrágio e universal e direto; o voto, obriga-
eleitor votar validamente.
tório e secreto.
Parágrafo único. Tratando-se de inscrições contra as Art. 83. Na eleição direta para o Senado Federal, para
quais hajam sido interpostos recursos das decisões que as Prefeito e Vice-Prefeito, adotar-se-á o princípio majoritário.
deferiram, desde que tais recursos venham a ser providos (Redação dada pela Lei nº 6.534, de 26.5.1978)
pelo Tribunal Regional ou Tribunal Superior, serão nulos os Art. 84. A eleição para a Câmara dos Deputados, As-
votos se o seu número for suficiente para alterar qualquer sembléias Legisla vas e Câmaras Municipais, obedecerá ao
representação par dária ou classificação de candidato eleito princípio da representação proporcional na forma desta lei.
pelo princípio maioritário. Art. 85. A eleição para deputados federais, senadores e
Art. 73. No caso de exclusão, a defesa pode ser feita pelo suplentes, presidente e vice-presidente da República, gover-
interessado, por outro eleitor ou por delegado de par do. nadores, vice-governadores e deputados estaduais far-se-á,
Art. 74. A exclusão será mandada processar ex officio pelo simultâneamente, em todo o País.
juiz eleitoral, sempre que ver conhecimento de alguma das Art. 86. Nas eleições presidenciais, a circunscrição serão
causas do cancelamento. País; nas eleições federais e estaduais, o Estado; e nas mu-
Art. 75. O Tribunal Regional, tomando conhecimento nicipais, o respec vo município.
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através de seu fichário, da inscrição do mesmo eleitor em


mais de uma zona sob sua jurisdição, comunicará o fato ao De Registro dos Candidatos
juiz competente para o cancelamento, que de preferência
deverá recair: Art. 87. Somente podem concorrer às eleições candidatos
I – na inscrição que não corresponda ao domicílio elei- registrados por par dos.
toral; Parágrafo único. Nenhum registro será admi do fora do
II – naquela cujo tulo não haja sido entregue ao eleitor; período de 6 (seis) meses antes da eleição.
III – naquela cujo tulo não haja sido u lizado para o Art. 88. Não é permi do registro de candidato embora
exercício do voto na úl ma eleição; para cargos diferentes, por mais de uma circunscrição ou
IV – na mais an ga. para mais de um cargo na mesma circunscrição.
Art. 76. Qualquer irregularidade determinante de exclu- Parágrafo único. Nas eleições realizadas pelo sistema
são será comunicada por escrito e por inicia va de qualquer proporcional o candidato deverá ser filiado ao par do, na
interessado ao juiz eleitoral, que observará o processo esta- circunscrição em que concorrer, pelo tempo que for fixado
belecido no ar go seguinte. nos respec vos estatutos.

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Art. 89. Serão registrados: Art. 95. O candidato poderá ser registrado sem o preno-
I – no Tribunal Superior Eleitoral os candidatos a presi- me, ou com o nome abreviado, desde que a supressão não
dente e vice-presidente da República; estabeleça dúvida quanto à sua iden dade.
II – nos Tribunais Regionais Eleitorais os candidatos a Art. 96. Será negado o registro a candidato que, pública
senador, deputado federal, governador e vice-governador ou ostensivamente faça parte, ou seja adepto de par do
e deputado estadual; polí co cujo registro tenha sido cassado com fundamento
III – nos Juízos Eleitorais os candidatos a vereador, pre- no ar go 141, § 13, da Cons tuição Federal.
feito e vice-prefeito e juiz de paz. Art. 97. Protocolado o requerimento de registro, o pre-
Art. 90. Somente poderão inscrever candidatos os sidente do Tribunal ou o juiz eleitoral, no caso de eleição
par dos que possuam diretório devidamente registrado na municipal ou distrital, fará publicar imediatamente edital
circunscrição em que se realizar a eleição. para ciência dos interessados.
Art. 91. O registro de candidatos a presidente e vi- § 1º O edital será publicado na Imprensa Oficial, nas
ce-presidente, governador e vice-governador, ou prefeito e capitais, e afixado em cartório, no local de costume, nas
vice-prefeito, far-se-á sempre em chapa única e indivisível, demais zonas.
ainda que resulte a indicação de aliança de par dos.
§ 2º Do pedido de registro caberá, no prazo de 2 (dois)
§ 1º O registro de candidatos a senador far-se-á com o
dias, a contar da publicação ou afixação do edital, impugna-
do suplente par dário.
ção ar culada por parte de candidato ou de par do polí co.
§ 2º Nos Territórios far-se-á o registro do candidato a
deputado com o do suplente. § 3º Poderá, também, qualquer eleitor, com fundamento
Art. 92. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997) em inelegibilidade ou incompa bilidade do candidato ou na
Art. 93. O prazo da entrada em cartório ou na Secretaria incidência deste no ar go 96 impugnar o pedido de registro,
do Tribunal, conforme o caso, de requerimento de registro dentro do mesmo prazo, oferecendo prova do alegado.
de candidato a cargo eletivo terminará, improrrogavel- § 4º Havendo impugnação, o par do requerente do re-
mente, às dezoito horas do nonagésimo dia anterior à data gistro terá vista dos autos, por 2 (dois) dias, para falar sobre
marcada para a eleição . (Redação dada pela Lei nº 6.978, a mesma, feita a respec va in mação na forma do § 1º.
de 19/1/1982) Art. 98. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas as
§ 1º Até o septuagésimo dia anterior à data marcada seguintes condições:
para a eleição, todos os requerimentos devem estar julgados, I – o militar que ver menos de 5 (cinco) anos de serviço,
inclusive os que verem sido impugnados. (Redação dada será, ao se candidatar a cargo ele vo, excluído do serviço
pela Lei nº 6.978, de 19/1/1982) a vo;
§ 2º As convenções par dárias para a escolha dos can- II – o militar em a vidade com 5 (cinco) ou mais anos
didatos serão realizadas, no máximo, até dez dias antes do de serviço ao se candidatar a cargo ele vo, será afastado,
término do prazo do pedido de registro no cartório elei- temporariamente, do serviço a vo, como agregado, para
toral ou na Secretaria do Tribunal. (Redação dada pela Lei tratar de interesse par cular; (Vide CF/1988, art. 14, § 8º, I)
nº 6.978, de 19/1/1982) III – o militar não excluído e que vier a ser eleito será, no
§ 3º Nesse caso, se se tratar de eleição municipal, o juiz ato da diplomação, transferido para a reserva ou reformado.
eleitoral deverá apresentar a sentença no prazo de 2 (dois) (Vide Lei nº 6.880, de 9/12/1980, art. 82, XIV, e § 4º)
dias, podendo o recorrente, nos 2 (dois) dias seguintes, adi- Parágrafo único. O Juízo ou Tribunal que deferir o re-
tar as razões do recurso; no caso de registro feito perante gistro de militar candidato a cargo ele vo comunicará ime-
o Tribunal, se o relator não apresentar o acórdão no prazo diatamente a decisão à autoridade a que o mesmo es ver
de 2 (dois) dias, será designado outro relator, na ordem da subordinado, cabendo igual obrigação ao par do, quando
votação, o qual deverá lavrar o acórdão do prazo de 3 (três) lançar a candidatura.
dias, podendo o recorrente, nesse mesmo prazo, aditar as Art. 99. Nas eleições majoritárias poderá qualquer
suas razões. par do registrar na mesma circunscrição candidato já por
Art. 94.O registro pode ser promovido por delegado de outro registrado, desde que o outro par do e o candidato
par do, autorizado em documento autên co, inclusive tele- o consintam por escrito até 10 (dez) dias antes da eleição,
grama de quem responda pela direção par dária e sempre
observadas as formalidades do Art. 94.
com assinatura reconhecida por tabelião.
Parágrafo único. A falta de consentimento expresso
§ 1º O requerimento de registro deverá ser instruído:
I – com a cópia autên ca da ata da convenção que houver acarretará a anulação do registro promovido, podendo o
feito a escolha do candidato, a qual deverá ser conferida com par do prejudicado requerê-la ou recorrer da resolução que
o original na Secretaria do Tribunal ou no cartório eleitoral; ordenar o registro.
II – com autorização do candidato, em documento com Art. 100. Nas eleições realizadas pelo sistema proporcio-
a assinatura reconhecida por tabelião; nal, o Tribunal Superior Eleitoral, até 6 (seis) meses antes do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

III – com cer dão fornecida pelo cartório eleitoral da pleito, reservará para cada Par do, por sorteio, em sessão
zona de inscrição, em que conste que o registrando é eleitor; realizada com a presença dos Delegados de Par do, uma
IV – com prova de filiação partidária, salvo para os série de números a par r de 100 (cem). (Redação dada pela
candidatos a presidente e vice-presidente, senador e res- Lei nº 7.015, de 16/7/1982)
pec vo suplente, governador e vice-governador, prefeito e § 1º A sessão a que se refere o caput deste ar go será
vice-prefeito; anunciada aos Par dos com antecedência mínima de 5
V – com folha-corrida fornecida pelos cartórios compe- (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº 7.015, de 16/7/1982)
tentes, para que se verifique se o candidato está no gozo dos § 2º As convenções par dárias para escolha dos candi-
direitos polí cos (Art. 132, III, e 135 da Cons tuição Federal); datos sortearão, por sua vez, em cada Estado e município,
(Redação dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) os números que devam corresponder a cada candidato.
VI – com declaração de bens, de que constem a origem (Redação dada pela Lei nº 7.015, de 16/7/1982)
e as mutações patrimoniais. § 3º Nas eleições para Deputado Federal, se o número de
§ 2º A autorização do candidato pode ser dirigida direta- Par dos não for superior a 9 (nove), a cada um correspon-
mente ao órgão ou juiz competente para o registro. derá obrigatoriamente uma centena, devendo a numeração

167
dos candidatos ser sorteada a par r da unidade, para que CAPÍTULO III
ao primeiro candidato do primeiro Par do corresponda o Da Cédula Oficial
número 101 (cento e um), ao do segundo Par do 201 (du-
zentos e um), e assim sucessivamente. (Redação dada pela Art. 104. As cédulas oficiais serão confeccionadas e dis-
Lei nº 7.015, de 16/7/1982) tribuídas exclusivamente pela Jus ça Eleitoral, devendo ser
§ 4º Concorrendo 10 (dez) ou mais Par dos, a cada um impressas em papel branco, opaco e pouco absorvente. A im-
corresponderá uma centena a par r de 1.101 (um mil cento e pressão será em nta preta, com pos uniformes de letra.
um), de maneira que a todos os candidatos sejam atribuídos § 1º Os nomes dos candidatos para as eleições majo-
sempre 4 (quatro) algarismos, suprimindo-se a numeração ritárias devem figurar na ordem determinada por sorteio.
correspondente à série 2.001 (dois mil e um) a 2.100 (dois § 2º O sorteio será realizado após o deferimento do
mil e cem), para reiniciá-la em 2.101 (dois mil cento e um), úl mo pedido de registro, em audiência presidida pelo juiz
a par r do décimo Par do. (Redação dada pela Lei nº 7.015, ou presidente do Tribunal, na presença dos candidatos e
de 16/7/1982) delegados de par do.
§ 5º Na mesma sessão, o Tribunal Superior Eleitoral sor- § 3º A realização da audiência será anunciada com 3 (três)
teará as séries correspondentes aos Deputados Estaduais e dias de antecedência, no mesmo dia em que for deferido o
Vereadores, observando, no que couber, as normas constan- úl mo pedido de registro, devendo os delegados de par do
tes dos parágrafos anteriores, e de maneira que a todos os ser in mados por o cio sob protocolo.
candidatos sejam atribuídos sempre número de 4 (quatro) § 4º Havendo subs tuição de candidatos após o sorteio,
algarismos. (Redação dada pela Lei nº 7.015, de 16/7/1982) o nome do novo candidato deverá figurar na cédula na se-
guinte ordem:
Art. 101. Pode qualquer candidato requerer, em pe ção
I – se forem apenas 2 (dois), em úl mo lugar;
com firma reconhecida, o cancelamento do registro do seu
II – se forem 3 (três), em segundo lugar;
nome. (Redação dada pela Lei nº 6.553, de 19/8/1978)
III – se forem mais de 3 (três), em penúl mo lugar;
§ 1º Desse fato, o presidente do Tribunal ou o juiz, confor- IV – se permanecer apenas 1 (um) candidato e forem
me o caso, dará ciência imediata ao par do que tenha feito a subs tuídos 2 (dois) ou mais, aquele ficará em primeiro
inscrição, ao qual ficará ressalvado o direito de subs tuir por lugar, sendo realizado novo sorteio em relação aos demais.
outro o nome cancelado, observadas tôdas as formalidades § 5º Para as eleições realizadas pelo sistema proporcional
exigidas para o registro e desde que o novo pedido seja a cédula conterá espaço para que o eleitor escreva o nome
apresentado até 60 (sessenta) dias antes do pleito. ou o número do candidato de sua preferência e indique a
§ 2º Nas eleições majoritárias, se o candidato vier a sigla do par do. (Vide Ato Complementar nº 20, de 1966)
falecer ou renunciar dentro do período de 60 (sessenta) § 6º As cédulas oficiais serão confeccionadas de maneira
dias mencionados no parágrafo anterior, o par do poderá tal que, dobradas, resguardem o sigilo do voto, sem que seja
subs tui-lo; se o registro do novo candidato es ver deferi- necessário o emprego de cola para fechá-las.
do até 30 (trinta) dias antes do pleito serão u lizadas as já
impressas, computando-se para o novo candidato os votos CAPÍTULO IV
dados ao anteriormente registrado. Da Representação Proporcional
§3º Considerar-se-á nulo o voto dado ao candidato que
haja pedido o cancelamento de sua inscrição salvo na hipó- Art. 105. Fica facultado a 2 (dois) ou mais Par dos coli-
tese prevista no parágrafo anterior, in fine. garem-se para o registro de candidatos comuns a deputado
§ 4º Nas eleições proporcionais, ocorrendo a hipótese federal, deputado estadual e vereador. (Redação dada pela
prevista neste ar go, ao subs tuto será atribuído o número Lei nº 7.454, de 30/12/1985)
anteriormente dado ao candidato cujo registro foi cancelado. § 1º A deliberação sobre coligação caberá à Convenção
§ 5º Em caso de morte, renúncia, inelegibilidade e preen- Regional de cada Par do, quando se tratar de eleição para
chimento de vagas existentes nas respec vas chapas, tanto a Câmara dos Deputados e Assembléias Legisla vas, e à
em eleições proporcionais quanto majoritárias, as subs tui- Convenção Municipal, quando se tratar de eleição para a
ções e indicações se processarão pelas Comissões Execu vas. Câmara de Vereadores, e será aprovada mediante a vota-
(Incluído pela Lei nº 6.553, de 19/8/1978) ção favorável da maioria, presentes 2/3 (dois terços) dos
Art. 102. Os registros efetuados pelo Tribunal Superior convencionais, estabelecendo-se, na mesma oportunidade,
serão imediatamente comunicados aos Tribunais Regionais o número de candidatos que caberá a cada Par do. (Incluído
e por estes aos juízes eleitorais. pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985)
§ 2º Cada Par do indicará em Convenção os seus candida-
tos e o registro será promovido em conjunto pela Coligação.
CAPÍTULO II
(Incluído pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Do Voto Secreto
Art. 106. Determina-se o quociente eleitoral dividin-
do-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a
Art. 103. O sigilo do voto é assegurado mediante as
preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fra-
seguintes providências: ção se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.
I – uso de cédulas oficiais em todas as eleições, de acordo Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.504, de
com modelo aprovado pelo Tribunal Superior; 30/9/1997)
II – isolamento do eleitor em cabine indevassável para o Art. 107. Determina-se para cada Par do ou coligação o
só efeito de assinalar na cédula o candidato de sua escolha quociente par dário, dividindo-se pelo quociente eleitoral
e, em seguida, fechá-la; o número de votos válidos dados sob a mesma legenda ou
III – verificação da auten cidade da cédula oficial à vista coligação de legendas, desprezada a fração. (Redação dada
das rubricas; pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985)
IV – emprego de urna que assegure a inviolabilidade Art. 108. Estarão eleitos tantos candidatos registrados
do sufrágio e seja suficientemente ampla para que não se por um Par do ou coligação quantos o respec vo quociente
acumulem as cédulas na ordem que forem introduzidas. par dário indicar, na ordem da votação nominal que cada

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um tenha recebido. (Redação dada pela Lei nº 7.454, de § 1º Em casos excepcionais, devidamente jus ficados,
30/12/1985) o Tribunal Regional poderá autorizar que sejam ultrapassados
Art. 109. Os lugares não preenchidos com a aplicação os índices previstos neste ar go desde que essa providência
dos quocientes partidários serão distribuídos mediante venha facilitar o exercício do voto, aproximando o eleitor do
observância das seguintes regras: (Redação dada pela Lei local designado para a votação.
nº 7.454, de 30/12/1985) § 2º Se em seção des nada aos cegos, o número de
I – dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a eleitores não alcançar o mínimo exigido este se completará
cada Par do ou coligação de Par dos pelo número de lugares com outros, ainda que não sejam cegos.
por ele ob do, mais um, cabendo ao Par do ou coligação Art. 118. Os juízes eleitorais organizarão relação de elei-
que apresentar a maior média um dos lugares a preencher; tores de cada seção a qual será reme da aos presidentes das
(Redação dada pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985) mesas receptoras para facilitação do processo de votação.
II – repe r-se-á a operação para a distribuição de cada um
dos lugares. (Redação dada pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985) CAPÍTULO II
§ 1º O preenchimento dos Iugares com que cada Par do Das Mesas Receptoras
ou coligação for contemplado far-se-á segundo a ordem de
votação recebida pelos seus candidatos. (Redação dada pela Art. 119. A cada seção eleitoral corresponde uma mesa
Lei nº 7.454, de 30/12/1985) receptora de votos.
§ 2º Só poderão concorrer à distribuição dos lugares os Art. 120. Cons tuem a mesa receptora um presidente,
Par dos e coligações que verem ob do quociente eleitoral. um primeiro e um segundo mesários, dois secretários e um
(Redação dada pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985) suplente, nomeados pelo juiz eleitoral sessenta dias antes
Art. 110. Em caso de empate, haver-se-á por eleito o da eleição, em audiência pública, anunciado pelo menos
candidato mais idoso. com cinco dias de antecedência. (Redação dada pela Lei
Art. 111. Se nenhum Par do ou coligação alcançar o nº 4.961, de 4/5/1966)
quociente eleitoral, considerar-se-ão eleitos, até serem § 1º Não podem ser nomeados presidentes e mesários:
preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados. I – os candidatos e seus parentes ainda que por afinidade,
(Redação dada pela Lei nº 7.454, de 30/12/1985) até o segundo grau, inclusive, e bem assim o cônjuge;
Art. 112. Considerar-se-ão suplentes da representação
II – os membros de diretórios de par dos desde que
par dária: (Vide Lei nº 7.454, de 30/12/1985)
exerça função execu va;
I – os mais votados sob a mesma legenda e não eleitos
III – as autoridades e agentes policiais, bem como os
efe vos das listas dos respec vos par dos;
funcionários no desempenho de cargos de confiança do
II – em caso de empate na votação, na ordem decres-
Execu vo;
cente da idade.
IV – os que pertencerem ao serviço eleitoral.
Art. 113. Na ocorrência de vaga, não havendo suplente
para preenchê-la, far-se-á eleição, salvo se faltarem menos § 2º Os mesários serão nomeados, de preferência entre
de nove meses para findar o período de mandato. os eleitores da própria seção, e, dentre estes, os diploma-
dos em escola superior, os professores e os serventuários
TÍTULO II da Jus ça.
DOS ATOS PREPARATÓRIOS DA VOTAÇÃO § 3º O juiz eleitoral mandará publicar no jornal oficial,
onde houver, e, não havendo, em cartório, as nomeações que
Art. 114. Até 70 (setenta) dias antes da data marcada para ver feito, e in mará os mesários através dessa publicação,
a eleição, todos os que requererem inscrição como eleitor, para cons tuírem as mesas no dia e lugares designados,
ou transferência, já devem estar devidamente qualificados às 7 horas.
e os respec vos tulos prontos para a entrega, se deferidos § 4º Os mo vos justos que verem os nomeados para
pelo juiz eleitoral. recusar a nomeação, e que ficarão a livre apreciação do juiz
Parágrafo único. Será punido nos têrmos do art. 293 o juiz eleitoral, somente poderão ser alegados até 5 (cinco) dias
eleitoral, o escrivão eleitoral, o preparador ou o funcionário a contar da nomeação, salvo se sobrevindos depois desse
responsável pela transgressão do preceituado neste ar go ou prazo.
pela não entrega do tulo pronto ao eleitor que o procurar. § 5º Os nomeados que não declararem a existência de
Art. 115. O s juízes eleitorais, sob pena de responsabili- qualquer dos impedimentos referidos no § 1º incorrem na
dade comunicarão ao Tribunal Regional, até 30 (trinta) dias pena estabelecida pelo Art. 310.
antes de cada eleição, o número de eleitores alistados. Art. 121. Da nomeação da mesa receptora qualquer
Art. 116. A Jus ça Eleitoral fará ampla divulgação através par do poderá reclamar ao juiz eleitoral, no prazo de 2 (dois)
dos comunicados transmi dos em obediência ao disposto dias, a contar da audiência, devendo a decisão ser proferida
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

no Art. 250. § 5º pelo rádio e televisão, bem assim por em igual prazo.
meio de cartazes afixados em lugares públicos, dos nomes § 1º Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso para o
dos candidatos registrados, com indicação do par do a que Tribunal Regional, interposto dentro de 3 (três) dias, deven-
pertençam, bem como do número sob que foram inscritos, do, dentro de igual prazo, ser resolvido.
no caso dos candidatos a deputado e a vereador. § 2º Se o vício da cons tuição da mesa resultar da incom-
pa bilidade prevista no nº I, do § 1º, do Art. 120, e o registro
CAPÍTULO I do candidato for posterior à nomeação do mesário, o prazo
Das Seções Eleitorais para reclamação será contado da publicação dos nomes dos
candidatos registrados. Se resultar de qualquer das proibi-
Art. 117. As seções eleitorais, organizadas à medida em ções dos nºs II, III e IV, e em virtude de fato superveniente,
que forem sendo deferidos os pedidos de inscrição, não o prazo se contará do ato da nomeação ou eleição.
terão mais de 400 (quatrocentos) eleitores nas capitais e de § 3º O par do que não houver reclamado contra a com-
300 (trezentos) nas demais localidades, nem menos de 50 posição da mesa não poderá arguir sob esse fundamento,
(cinquenta) eleitores. a nulidade da seção respec va.

169
Art. 122. Os juízes deverão instruir os mesários sobre o II – decidir imediatamente tôdas as dificuldades ou dú-
processo da eleição, em reuniões para esse fim convocadas vidas que ocorrerem;
com a necessária antecedência. III – manter a ordem, para o que disporá de força pública
Art. 123. Os mesários substituirão o presidente, de necessária;
modo que haja sempre quem responda pessoalmente pela IV – comunicar ao juiz eleitoral, que providenciará ime-
ordem e regularidade do processo eleitoral, e assinarão a diatamente as ocorrências cuja solução deste dependerem;
ata da eleição. V – remeter à Junta Eleitoral todos os papéis que verem
§ 1º O presidente deve estar presente ao ato de abertura sido u lizados durante a recepção dos votos;
e de encerramento da eleição, salvo força maior, comunican- VI – auten car, com a sua rubrica, as cédulas oficiais e
do o impedimento aos mesários e secretários pelo menos numerá-las nos têrmos das Instruções do Tribunal Superior
24 (vinte e quatro) horas antes da abertura dos trabalhos, Eleitoral;
ou imediatamente, se o impedimento se der dentro desse VII – assinar as fórmulas de observações dos fiscais ou
prazo ou no curso da eleição. delegados de par do, sobre as votações;
§ 2º Não comparecendo o presidente até as sete horas VIII – fiscalizar a distribuição das senhas e, verificando
e trinta minutos, assumirá a presidência o primeiro mesário que não estão sendo distribuídas segundo a sua ordem nu-
e, na sua falta ou impedimento, o segundo mesário, um dos mérica, recolher as de numeração intercalada, acaso re das,
secretários ou o suplente. as quais não se poderão mais distribuir.
§ 3º Poderá o presidente, ou membro da mesa que IX – anotar o não comparecimento do eleitor no verso
assumir a presidência, nomear ad hoc, dentre os eleitores da folha individual de votação. (Incluído pela Lei nº 4.961,
presentes e obedecidas as prescrições do § 1º, do Art. 120, de 4/5/1966)
os que forem necessários para completar a mesa. Art. 128. Compete aos secretários:
Art. 124. O membro da mesa receptora que não compa- I – distribuir aos eleitores as senhas de entrada pre-
recer no local, em dia e hora determinados para a realização viamente rubricadas ou carimbadas segundo a respec va
de eleição, sem justa causa apresentada ao juiz eleitoral até ordem numérica;
30 (trinta) dias após, incorrerá na multa de 50% (cinquenta II – lavrar a ata da eleição;
por cento) a 1 (um) salário-mínimo vigente na zona eleitoral III – cumprir as demais obrigações que lhes forem atri-
cobrada mediante sêlo federal inu lizado no requerimento buídas em instruções.
Parágrafo único. As atribuições mencionadas no nº 1
em que for solicitado o arbitramento ou através de execu-
serão exercidas por um dos secretários e os constantes dos
vo fiscal.
nos. II e III pelo outro.
§ 1º Se o arbitramento e pagamento da multa não for
Art. 129. Nas eleições proporcionais os presidentes das
requerido pelo mesário faltoso, a multa será arbitrada e
mesas receptoras deverão zelar pela preservação das listas
cobrada na forma prevista no ar go 367.
de candidatos afixadas dentro das cabinas indevassáveis
§ 2º Se o faltoso for servidor público ou autárquico, tomando imediatas providências para a colocação de nova
a pena será de suspensão até 15 (quinze) dias. lista no caso de inu lização total ou parcial.
§ 3º As penas previstas neste ar go serão aplicadas em Parágrafo único. O eleitor que inu lizar ou arrebatar as
dôbro se a mesa receptora deixar de funcionar por culpa listas afixadas nas cabinas indevassáveis ou nos edi cios
dos faltosos. onde funcionarem mesas receptoras, incorrerá nas penas
§ 4º Será também aplicada em dobro observado o do ar go 297.
disposto nos §§ 1º e 2º, a pena ao membro da mesa que Art. 130. Nos estabelecimentos de internação cole va
abandonar os trabalhos no decurso da votação sem justa de hansenianos os membros das mesas receptoras serão
causa apresentada ao juiz até 3 (três) dias após a ocorrência. escolhidos de preferência entre os médicos e funcionários
Art. 125. Não se reunindo, por qualquer mo vo, a mesa sadios do próprio estabelecimento.
receptora, poderão os eleitores pertencentes à respec va
seção votar na seção mais próxima, sob a jurisdição do CAPÍTULO III
mesmo juiz, recolhendo-se os seus votos à urna da seção Da Fiscalização Perante as Mesas Receptoras
em que deveriam votar, a qual será transportada para aquela
em que verem de votar. Art. 131. Cada par do poderá nomear 2 (dois) delega-
§ 1º As assinaturas dos eleitores serão recolhidas nas dos em cada município e 2 (dois) fiscais junto a cada mesa
fôlhas de votação da seção a que pertencerem, as quais, receptora, funcionando um de cada vez.
juntamente com as cédulas oficiais e o material restante, § 1º Quando o município abranger mais de uma zona
acompanharão a urna. eleitoral cada par do poderá nomear 2 (dois) delegados
§ 2º O transporte da urna e dos documentos da seção junto a cada uma delas.
será providenciado pelo presidente da mesa, mesário ou § 2º A escolha de fiscal e delegado de par do não poderá
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

secretário que comparecer, ou pelo próprio juiz, ou pessoa recair em quem, por nomeação do juiz eleitoral, já faça parte
que êle designar para esse fim, acompanhando-a os fiscais da mesa receptora.
que o desejarem. § 3º As credenciais expedidas pelos par dos, para os
Art. 126. Se no dia designado para o pleito deixarem de fiscais, deverão ser visadas pelo juiz eleitoral.
se reunir tôdas as mesas de um município, o presidente do § 4º Para esse fim, o delegado do par do encaminhará as
Tribunal Regional determinará dia para se realizar o mesmo, credenciais ao Cartório, juntamente com os tulos eleitorais
instaurando-se inquérito para a apuração das causas da dos fiscais credenciados, para que, verificado pelo escrivão
irregularidade e punição dos responsáveis. que as inscrições correspondentes as tulos estão em vigor
Parágrafo único. Essa eleição deverá ser marcada dentro e se referem aos nomeados, carimbe as credenciais e as
de 15 (quinze) dias, pelo menos, para se realizar no prazo apresente ao juiz para o visto.
máximo de 30 (trinta) dias. § 5º As credenciais que não forem encaminhadas ao
Art. 127. Compete ao presidente da mesa receptora, e, Cartório pelos delegados de par do, para os fins do parágrafo
em sua falta, a quem o subs tuir: anterior, poderão ser apresentadas pelos próprios fiscais para
I – receber os votos dos eleitores; a obtenção do visto do juiz eleitoral.

170
§ 6º Se a credencial apresentada ao presidente da mesa § 2º Os presidentes da mesa que não verem recebido
receptora não es ver auten cada na forma do § 4º, o fiscal até 48 (quarenta e oito) horas antes do pleito o referido
poderá funcionar perante a mesa, mas o seu voto não será material deverão diligenciar para o seu recebimento.
admi do, a não ser na seção em que o seu nome es ver § 3º O juiz eleitoral, em dia e hora previamente desig-
incluído. nados em presença dos fiscais e delegados dos par dos,
§ 7º O fiscal de cada par do poderá ser subs tuído por verificará, antes de fechar e lacrar as urnas, se estas estão
outro no curso dos trabalhos eleitorais. completamente vazias; fechadas, enviará uma das chaves,
Art. 132. Pelas mesas receptoras serão admi dos a fis- se houver, ao presidente da Junta Eleitoral e a da fenda,
calizar a votação, formular protestos e fazer impugnações, também se houver, ao presidente da mesa receptora, jun-
inclusive sobre a iden dade do eleitor, os candidatos regis- tamente com a urna.
trados, os delegados e os fiscais dos par dos. Art. 134. Nos estabelecimentos de internação cole va
para hansenianos serão sempre u lizadas urnas de lona.
TÍTULO III
DO MATERIAL PARA A VOTAÇÃO TÍTULO IV
DA VOTAÇÃO
Art. 133. Os juízes eleitorais enviarão ao presidente de
cada mesa receptora, pelo menos 72 (setenta e duas) horas CAPÍTULO I
antes da eleição, o seguinte material. Dos Lugares da Votação
I – relação dos eleitores da seção que poderá ser dis-
pensada, no todo ou em parte, pelo respec vo Tribunal Art. 135. Funcionarão as mesas receptoras nos lugares
Regional Eleitoral em decisão fundamentada e aprovada pelo designados pelos juízes eleitorais 60 (sessenta) dias antes da
Tribunal Superior Eleitoral. (Redação dada pela Lei nº 6.055, eleição, publicando-se a designação.
de 17/6/1974) § 1º A publicação deverá conter a seção com a numeração
II – relações dos par dos e dos candidatos registrados, ordinal e local em que deverá funcionar com a indicação
as quais deverão ser afixadas no recinto das seções eleito- da rua, número e qualquer outro elemento que facilite a
rais em lugar visível, e dentro das cabinas indevassáveis as localização pelo eleitor.
relações de candidatos a eleições proporcionais; § 2º Dar-se-á preferência aos edi cios públicos, recor-
III – as fôlhas individuais de votação dos eleitores da rendo-se aos par culares se faltarem aqueles em número e
seção, devidamente acondicionadas; condições adequadas.
IV – uma folha de votação para os eleitores de outras § 3º A propriedade par cular será obrigatória e gratui-
seções, devidamente rubricada; tamente cedida para esse fim.
V – uma urna vazia, vedada pelo juiz eleitoral, com ras § 4º É expressamente vedado uso de propriedade
de papel ou pano forte; pertencente a candidato, membro do diretório de par do,
VI – (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) delegado de par do ou autoridade policial, bem como dos
VI – sobrecartas maiores para os votos impugnados ou respec vos cônjuges e parentes, consanguíneos ou afins,
sobre os quais haja dúvida; (Inciso VII renumerado pela Lei até o 2º grau, inclusive.
nº 4.961, de 4/5/1966) § 5º Não poderão ser localizadas seções eleitorais em
VII – cédulas oficiais; (Inciso VIII renumerado pela Lei fazenda sí o ou qualquer propriedade rural privada, mesmo
nº 4.961, de 4/5/1966) exis ndo no local prédio público, incorrendo o juiz nas penas
VIII – sobrecartas especiais para remessa à Junta Eleitoral do Art. 312, em caso de infringência. (Redação dada pela Lei
dos documentos rela vos à eleição; (Inciso IX renumerado nº 4.961, de 4/5/1966)
pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) § 6º Os Tribunais Regionais, nas capitais, e os juízes
IX – senhas para serem distribuídas aos eleitores; (Inciso eleitorais, nas demais zonas, farão ampla divulgação da
X renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) localização das seções.
X – tinta, canetas, penas, lápis e papel, necessários § 6ºA Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada
aos trabalhos; (Inciso XI renumerado pela Lei nº 4.961, de eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais, para orien-
4/5/1966) tá-los na escolha dos locais de votação de mais fácil acesso
XI – fôlhas apropriadas para impugnação e fôlhas para para o eleitor deficiente sico. (Incluído pela Lei nº 10.226,
observação de fiscais de par dos;(Inciso XII renumerado pela de 15 de maio de 2001)
Lei nº 4.961, de 4/5/1966) § 6ºB (Vetado) (Incluído pela Lei nº 10.226, de 15 de
XII – modelo da ata a ser lavrada pela mesa receptora; maio de 2001)
(Inciso XIII renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) § 7º Da designação dos lugares de votação poderá qual-
XIII – material necessário para vedar, após a votação, quer par do reclamar ao juiz eleitoral, dentro de três dias
a fenda da urna; (Inciso XIV renumerado pela Lei nº 4.961, a contar da publicação, devendo a decisão ser proferida
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de 4/5/1966) dentro de quarenta e oito horas. (Incluído pela Lei nº 4.961,


XIV – um exemplar das Instruções do Tribunal Supe- de 4/5/1966)
rior Eleitoral; (Inciso XV renumerado pela Lei nº 4.961, de § 8º Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso para o
4/5/1966) Tribunal Regional, interposto dentro de três dias, devendo
XV – material necessário à contagem dos votos quando no mesmo prazo, ser resolvido. (Incluído pela Lei nº 4.961,
autorizada; (Inciso XVI renumerado pela Lei nº 4.961, de de 4/5/1966)
4/5/1966) § 9º Esgotados os prazos referidos nos §§ 7º e 8º deste
XVI – outro qualquer material que o Tribunal Regional ar go, não mais poderá ser alegada, no processo eleitoral,
julgue necessário ao regular funcionamento da mesa. (Inciso a proibição con da em seu § 5º. (Incluído pela Lei nº 6.336,
XVII renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) de 1º/6/1976)
§ 1º O material de que trata este ar go deverá ser re- Art. 136. Deverão ser instaladas seções nas vilas e po-
me do por protocolo ou pelo correio acompanhado de uma voados, assim como nos estabelecimentos de internação
relação ao pé da qual o des natário declarará o que recebeu cole va, inclusive para cegos e nos leprosários onde haja,
e como o recebeu, e aporá sua assinatura. pelo menos, 50 (cinquenta) eleitores.

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Parágrafo único. A mesa receptora designada para qual- Art. 145. O presidente, mesários, secretários, suplentes
quer dos estabelecimentos de internação cole va deverá e os delegados e fiscais de par do votarão, perante as mesas
funcionar em local indicado pelo respec vo diretório mesmo em que servirem, sendo que os delegados e fiscais, desde
critério será adotado para os estabelecimentos especializa- que a credencial esteja visada na forma do ar go 131, § 3º;
dos para proteção dos cegos. quando eleitores de outras seções, seus votos serão tomados
Art. 137. Até 10 (dez) dias antes da eleição, pelo menos, em separado.(Alterado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) (Vide
comunicarão os juízes eleitorais aos chefes das repar ções Lei nº 7.332, de 1º/7/1985)
públicas e aos proprietários, arrendatários ou administra- § 1º O suplente de mesário que não for convocado para
subs tuição decorrente de falta, somente poderá votar na
dores das propriedades par culares a resolução de que
seção em que es ver incluído o seu nome. (Revogado pela
serão os respec vos edi cios, ou parte deles, u lizados para
Lei nº 4.961, de 4/5/1966 e restabelecido pela Lei nº 7.332,
pronunciamento das mesas receptoras. de 1º/7/1985)
Art. 138. No local des nado a votação, a mesa ficará § 2º Com as cautelas constantes do ar. 147, § 2º, pode-
em recinto separado do público; ao lado haverá uma cabina rão ainda votar fora da respec va seção: (Renumerado do
indevassável onde os eleitores, à medida que comparecerem, parágrafo único pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
possam assinalar a sua preferência na cédula. I – o juiz eleitoral, em qualquer seção da zona sob sua
Parágrafo único. O juiz eleitoral providenciará para que jurisdição, salvo em eleições municipais, nas quais poderá
nós edi cios escolhidos sejam feitas as necessárias adap- votar em qualquer seção do município em que for eleitor;
tações. II – o Presidente da República, o qual poderá votar em
qualquer seção, eleitoral do país, nas eleições presidenciais;
CAPÍTULO II em qualquer seção do Estado em que for eleitor nas eleições
Da Polícia dos Trabalhos Eleitorais para governador, vice-governador, senador, deputado federal
e estadual; em qualquer seção do município em que es ver
Art. 139. Ao presidente da mesa receptora e ao juiz inscrito, nas eleições para prefeito, vice-prefeito e vereador;
III – os candidatos à Presidência da República, em qual-
eleitoral cabe a polícia dos trabalhos eleitorais.
quer seção eleitoral do país, nas eleições presidenciais, e,
Art. 140. Somente podem permanecer no recinto da em qualquer seção do Estado em que forem eleitores, nas
mesa receptora os seus membros, os candidatos, um fiscal, eleições de âmbito estadual;
um delegado de cada par do e, durante o tempo necessário IV – os governadores, vice-governadores, senadores,
à votação, o eleitor. deputados federais e estaduais, em qualquer seção do
§ 1º O presidente da mesa, que é, durante os trabalhos, Estado, nas eleições de âmbito nacional e estadual; em
a autoridade superior, fará re rar do recinto ou do edi cio qualquer seção do município de que sejam eleitores, nas
quem não guardar a ordem e compostura devidas e es ver eleições municipais;
pra cando qualquer ato atentatório da liberdade eleitoral. V – os candidatos a governador, vice-governador, se-
§ 2º Nenhuma autoridade estranha a mesa poderá nador, deputado federal e estadual, em qualquer seção
intervir, sob pretexto algum, em seu funcionamento, salvo do Estado de que sejam eleitores, nas eleições de âmbito
o juiz eleitoral. nacional e estadual;
Art. 141. A força armada conservar-se-á a cem metros VI – os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, em qual-
da seção eleitoral e não poderá aproximar-se do lugar da vo- quer seção de município que representarem, desde que
eleitores do Estado, sendo que, no caso de eleições munici-
tação, ou dêle penetrar, sem ordem do presidente da mesa.
pais, nelas somente poderão votar se inscritos no município;
VII – os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador,
CAPÍTULO III em qualquer seção de município, desde que dele sejam
Do Início da Votação eleitores;
VIII – os militares, removidos ou transferidos dentro do
Art. 142. No dia marcado para a eleição, às 7 (sete) horas, período de 6 (seis) meses antes do pleito, poderão votar nas
o presidente da mesa receptora os mesários e os secretários eleições para presidente e vice-presidente da República na
verificarão se no lugar designado estão em orem o material localidade em que es verem servindo.
reme do pelo juiz e a urna des nada a recolher os votos, IX – os policiais militares em serviço. (Incluído pela Lei
bem como se estão presentes os fiscais de par do. nº 9.504, de 9/5/1995)
Art. 143. As 8 (oito) horas, supridas as deficiências de- § 3º Os eleitores referidos neste ar go votarão mediante
clarará o presidente iniciados os trabalhos, procedendo-se as cautelas enumeradas no Art. 147, § 2º, não sendo, porém,
em seguida à votação, que começará pelos candidatos e os seus votos, recolhidos à urna, e sim a um invólucro espe-
cial de papel ou pano forte, o qual será lacrado e rubricado
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eleitores presentes.
§ 1º Os membros da mesa e os fiscais de par do deverão pelos membros da mesa e fiscais presentes e encaminhado à
Junta Eleitoral com a urna e demais documentos da eleição.
votar no correr da votação, depois que verem votado os
(Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) e (Restabelecido
eleitores que já se encontravam presentes no momento da pela Lei nº 7.332, de 1º/7/1985)
abertura dos trabalhos, ou no encerramento da votação.
(Parágrafo único renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) CAPÍTULO IV
§ 2º Observada a prioridade assegurada aos candidatos, Do Ato de Votar
têm preferência para votar o juiz eleitoral da zona, seus
auxiliares de serviço, os eleitores de idade avançada os en- Art. 146. Observar-se-á na votação o seguinte:
fermos e as mulheres grávidas. (Incluído pela Lei nº 4.961, I – o eleitor receberá, ao apresentar-se na seção, e antes
de 4/5/1966) de penetrar no recinto da mesa, uma senha numerada, que
Art. 144. O recebimento dos votos começará às 8 (oito) o secretário rubricará, no momento, depois de verificar pela
e terminará, salvo o disposto no Art. 153, às 17 (dezessete) relação dos eleitores da seção, que o seu nome constada
horas. respec va pasta;

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II – no verso da senha o secretário anotará o número presidente da seção eleitoral, res tuíndo, porém, a primeira,
de ordem da folha individual da pasta, número esse que a qual será imediatamente inu lizada à vista dos presentes
constará da relação enviada pelo cartório à mesa receptora; e sem quebra do sigilo do que o eleitor haja nela assinalado;
III – admi do a penetrar no recinto da mesa, segundo a XIV – introduzida a sobrecarta na urna, o presidente
ordem numérica das senhas, o eleitor apresentará ao presi- da mesa devolverá o tulo ao eleitor, depois de datá-lo e
dente seu tulo, o qual poderá ser examinado por fiscal ou assiná-lo; em seguida rubricará, no local próprio, a folha
delegado de par do, entregando, no mesmo ato, a senha; individual de votação.
IV – pelo número anotado no verso da senha, o presi- Art. 147. O presidente da mesa dispensará especial aten-
dente, ou mesário, localizará a folha individual de votação, ção à iden dade de cada eleitor admi do a votar Exis ndo
que será confrontada com o tulo e poderá também ser dúvida a respeito, deverá exigir-lhe a exibição da respec va
examinada por fiscal ou delegado de par do; carteira, e, na falta desta, interrogá-lo sobre os dados cons-
V – achando-se em ordem o tulo e a folha individual e tantes do tulo, ou da folha individual de votação, confron-
não havendo dúvida sobre a iden dade do eleitor, o presi- tando a assinatura do mesmo com a feita na sua presença
dente da mesa o convidará a lançar sua assinatura no verso pelo eleitor, e mencionando na ata a dúvida suscitada.
da folha individual de votação; em seguida entregar-lhe-á a § 1º A impugnação à iden dade do eleitor, formulada
cédula única rubricada no ato pelo presidente e mesários e pelos membros da mesa, fiscais, delegados, candidatos
numerada de acordo com as Instruções do Tribunal Superior ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por
instruindo-o sobre a forma de dobrá-la, fazendo-o passar a escrito, antes de ser o mesmo admi do a votar.
cabina indevassável, cuja porta ou cor na será encerrada § 2º Se persis r a dúvida ou for man da a impugnação,
em seguida; tomará o presidente da mesa as seguintes providências:
VI – o eleitor será admi do a votar, ainda que deixe de I – escreverá numa sobrecarta branca o seguinte: “Im-
exibir no ato da votação o seu tulo, desde que seja inscrito pugnado por “F”;
na seção e conste da respec va pasta a sua folha individual de II – entregará ao eleitor a sobrecarta branca, para que ele,
votação; nesse caso, a prova de ter votado será feita median- na presença da mesa e dos fiscais, nela coloque a cédula
te cer dão que obterá posteriormente, no juízo competente; oficial que assinalou, assim como o seu tulo, a folha de
VII – no caso da omissão da folha individual na respec - impugnação e qualquer outro documento oferecido pelo
va pasta verificada no ato da votação, será o eleitor, ainda, impugnante;
III – determinará ao eleitor que feche a sobrecarta branca
admi do a votar, desde que exiba o seu tulo eleitoral e
e a deposite na urna;
dele conste que o portador é inscrito na seção, sendo o seu
IV – anotará a impugnação na ata.
voto, nesta hipótese, tomando em separado e colhida sua
§ 3º O voto em separado, por qualquer mo vo, será
assinatura na folha de votação modelo 2 (dois). Como ato
sempre tomado na forma prevista no parágrafo anterior.
preliminar da apuração do voto, averiguar-se-á se se trata
Art. 148. O eleitor somente poderá votar na seção elei-
de eleitor em condições de votar, inclusive se realmente toral em que es ver incluído o seu nome.
pertence à seção; § 1º Essa exigência somente poderá ser dispensada nos
VIII – verificada a ocorrência de que trata o número an- casos previstos no art. 145. e seus parágrafos.
terior, a Junta Eleitoral, antes de encerrar os seus trabalhos, § 2º Aos eleitores mencionados no art. 145. não será per-
apurará a causa da omissão. Se ver havido culpa ou dolo, mi do votar sem a exibição do tulo, e nas fôlhas de votação
será aplicada ao responsável, na primeira hipótese, a multa modelo 2 (dois), nas quais lançarão suas assinaturas, serão
de até 2 (dois) salários mínimos, e, na segunda, a de suspen- sempre anotadas na coluna própria as seções mecionadas
são até 30 (trinta) dias; nos tulo re dos.
IX – na cabina indevassável, onde não poderá perma- § 3º Quando se tratar de candidato, o presidente da mesa
necer mais de um minuto, o eleitor indicará os candidatos receptora verificará, previamente, se o nome figura na rela-
de sua preferência e dobrará a cédula oficial, observadas as ção enviada à seção, e quando se tratar de fiscal de par do,
seguintes normas: se a credencial está devidamente visada pelo juiz eleitoral.
a) assinalando com uma cruz, ou de modo que torne § 4º (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
expressa a sua intenção, o quadrilátero correspondente ao § 5º (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
candidato majoritário de sua preferência; Art. 149. Não será admi do recurso contra a votação, se
b) escrevendo o nome, o prenome, ou o número do não ver havido impugnação perante a mesa receptora, no
candidato de sua preferência nas eleições proporcionais. ato da votação, contra as nulidades arguidas.
(Redação dada pela Lei nº 7.434, de 19/12/1985) Art. 150. O eleitor cego poderá:
c) (Revogado pela Lei nº 6.989, de 5/5/1982) I – assinar a folha individual de votação em letras do
X – ao sair da cabina o eleitor depositará na urna a cédula; alfabeto comum ou do sistema Braille;
XI – ao depositar a cédula na urna o eleitor deverá fazê-lo II – assinalar a cédula oficial, u lizando também qualquer
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de maneira a mostrar a parte rubricada à mesa e aos fiscais sistema;


de par do, para que verifiquem sem nela tocar, se não foi III – usar qualquer elemento mecânico que trouxer con-
subs tuída; sigo, ou lhe for fornecido pela mesa, e que lhe possibilite
XII – se a cédula oficial não for a mesmo, será o eleitor exercer o direito de voto
convidado a voltar à cabina indevessável e a trazer seu voto Art. 151. (Revogado pela Lei nº 7.914, de 7/12/1989)
na cédula que recebeu; senão quiser tornar à cabina ser-lhe-á Art. 152. Poderão ser utilizadas máquinas de votar,
recusado a ocorrência na ata e ficando o eleitor re do pela a critério e mediante regulamentação do Tribunal Superior
mesa, e à sua disposição, até o término da votação ou a Eleitoral.
devolução da cédula oficial já rubricada e numerada;
XIII – se o eleitor, ao receber a cédula ou ao recolher-se à CAPÍTULO V
cabia de votação, verificar que a cédula se acha estragada ou, Do Encerramento da Votação
de qualquer modo, viciada ou assinalada ou se ele próprio,
por imprudência, imprevidência ou ignorância, a inu lizar, es- Art. 153. Às 17 (dezessete) horas, o presidente fará entre-
tragar ou assinalar erradamente, poderá pedir uma outra ao gar as senhas a todos os eleitores presentes e, em seguida,

173
os convidará, em voz alta, a entregar à mesa seus tulos, Art. 155. O presidente da Junta Eleitoral e as agências do
para que sejam admi dos a votar. Correio tomarão as providências necessárias para o recebi-
Parágrafo único. A votação con nuará na ordem numé- mento da urna e dos documentos referidos no ar go anterior.
rica das senhas e o tulo será devolvido ao eleitor, logo que § 1º Os fiscais e delegados de par dos têm direito de
tenha votado. vigiar e acompanhar a urna desde o momento da eleição,
Art. 154. Terminada a votação e declarado o seu en- durante a permanência nas agências do Correio e até a en-
cerramento elo presidente, tomará estes as seguintes trega à Junta Eleitoral.
providências: § 2º A urna ficará permanentemente à vista dos interes-
I – vedará a fenda de introdução da cédula na urna, de sados e sob a guarda de pessoa designada pelo presidente
modo a cobri-la inteiramente com ras de papel ou pano da Junta Eleitoral.
forte, rubricadas pelo presidente e mesários e, faculta va- Art. 156. Até as 12 (doze) horas do dia seguinte à rea-
mente, pelos fiscais presentes, separará todas as folhas de lização da eleição, o juiz eleitoral é obrigado, sob pena de
votação correspondentes aos eleitores faltosos e fará constar,
responsabilidade e multa de 1 (um) a 2 (dois) salários míni-
no verso de cada uma delas na parte des nada à assinatura
do eleitor, a falta verificada, por meio de breve registro, que mos, a comunicar ao Tribunal Regional, e aos delegados de
auten cará com a sua assinatura. (Redação dada pela Lei par do perante êle credenciados, o número de eleitores que
nº 4.961, de 4/5/1966) votaram em cada uma das seções da zona sob sua jurisdição,
II – encerrará, com a sua assinatura, a folha de votação bem como o total de votantes da zona.
modelo 2 (dois), que poderá ser também assinada pelos § 1º Se houver retardamento nas medidas referidas no
fiscais; Art. 154, o juiz eleitoral, assim que receba o o cio constan-
III – mandará lavra, por um dos secretários, a ata da elei- te desse disposi vo, nº VII, fará a comunicação constante
ção, preenchendo o modelo fornecido pela Jus ça Eleitoral, deste ar go.
para que conste: § 2º Essa comunicação será feita por via postal, em o cios
a) os nomes dos membros da mesa que hajam compa- registrados de que o juiz eleitoral guardará cópia no arquivo
recido, inclusive o suplente; da zona, acompanhada do recibo do Correio.
b) as subs tuições e nomeações feitas; § 3º Qualquer candidato, delegado ou fiscal de par do
c) os nomes dos fiscais que hajam comparecido e dos poderá obter, por cer dão, o teor da comunicação a que se
que se re raram durante a votação; refere este ar go, sendo defeso ao juiz eleitoral recusá-la ou
d) a causa, se houver, do retardamento para o começo procras nar a sua entrega ao requerente.
da votação; Art. 157. (Revogado pela Lei nº 7.914, de 7/12/1989)
e) o número, por extenso, dos eleitores da seção que
compareceram e votaram e o número dos que deixaram de TÍTULO V
comparecer; DA APURAÇÃO
f) o número, por extenso, de eleitores de outras seções
que hajam votado e cujos votos hajam sido recolhidos ao CAPÍTULO I
invólucro especial;
Dos Órgãos Apuradores
g) o mo vo de não haverem votado alguns dos eleitores
que compareceram;
h) os protestos e as impugnações apresentados pelos Art. 158. A apuração compete:
fiscais, assim como as decisões sobre eles proferidas, tudo I – às Juntas Eleitorais quanto às eleições realizadas na
em seu inteiro teor; zona sob sua jurisdição;
i) a razão de interrupção da votação, se ver havido, e o II – aos Tribunais Regionais a referente às eleições para
tempo de interrupção; governador, vice-governador, senador, deputado federal e
j) a ressalva das rasuras, emendas e entrelinhas porventu- estadual, de acordo com os resultados parciais enviados
ra existentes nas folhas de votação e na ata, ou a declaração pelas Junta Eleitorais;
de não exis rem; III – ao Tribunal Superior Eleitoral nas eleições para
IV – mandará, em caso de insuficiência de espaço no presidente e vice-presidente da República , pelos resultados
modelo des nado ao preenchimento, prosseguir a ata em parciais reme dos pelos Tribunais Regionais.
outra folha devidamente rubricada por êle, mesários e fiscais
que o desejarem, mencionado esse fato na própria ata; CAPÍTULO II
V – assinará a ata com os demais membros da mesa, Da Apuração nas Juntas
secretários e fiscais que quiserem;
VI – entregará a urna e os documentos do ato eleitoral ao Seção I
presidente da Junta ou à agência do Correio mais próxima, Disposições Preliminares
ou a outra vizinha que ofereça melhores condições de segu-
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rança e expedição, sob recibo em triplicata com a indicação Art. 159. A apuração começará no dia seguinte ao das
de hora, devendo aqueles documentos ser encerrados em eleições e, salvo mo vo jus ficado, deverá terminar dentro
sobrecartas rubricadas por ele e pelos fiscais que o quiserem; de 10 (dez) dias.
VII – comunicará em o cio, ou impresso próprio, ao juiz § 1º Iniciada a apuração, os trabalhos não serão interrom-
eleitoral da zona a realização da eleição, o número de elei-
pidos aos sábados, domingos e dias feriados, devendo a Junta
tores que votaram e a remessa da urna e dos documentos
à Junta Eleitoral; funcionar das 8 (oito) às 18 (dezoito) horas, pelo menos.
VIII – enviará em sobrecarta fechada uma das vias do reci- § 2º Em caso de impossibilidade de observância do pra-
bo do Correio à Junta Eleitoral e a outra ao Tribunal Regional. zo previsto neste ar go, o fato deverá ser imediatamente
§ 1º Os Tribunais Regionais poderão prescrever outros jus ficado perante o Tribunal Regional, mencionando-se as
meios de vedação das urnas. horas ou dias necessários para o adiamento que não poderá
§ 2º No Distrito Federal e nas capitais dos Estados po- exceder a cinco dias. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de
derão os Tribunais Regionais determinar normas diversas 4/5/1966)
para a entrega de urnas e papéis eleitorais, com as cautelas § 3º Esgotado o prazo e a prorrogação es pulada neste
des nadas a evitar violação ou extravio. ar go ou não tendo havido em tempo hábil o pedido de

174
prorrogação, a respec va Junta Eleitoral perde a competência X – se houve demora na entrega da urna e dos documen-
para prosseguir na apuração devendo o seu presidente re- tos conforme determina o nº VI, do Art. 154.
meter, imediatamente ao Tribunal Regional, todo o material XI – se consta nas folhas individuais de votação dos elei-
rela vo à votação. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) tores faltosos o devido registro de sua falta. (Incluído pela
§ 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior, Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
compe rá ao Tribunal Regional fazer a apuração. (Incluído § 1º Se houver indício de violação da urna, proceder-se-á
pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) da seguinte forma:
§ 5º Os membros da Junta Eleitoral responsáveis pela I – antes da apuração, o presidente da Junta indicará
inobservância injus ficada dos prazos fixados neste ar go pessoa idônea para servir como perito e examinar a urna
estarão sujeitos à multa de dois a dez salários-mínimos, com assistência do representante do Ministério Público;
aplicada pelo Tribunal Regional. (Incluído pela Lei nº 4.961, II – se o perito concluir pela existência de violação e o seu
de 4/5/1966) parecer for aceito pela Junta, o presidente desta comunicará
Art. 160. Havendo conveniência, em razão do número a ocorrência ao Tribunal Regional, para as providências de lei;
de urnas a apurar, a Junta poderá subdividir-se em turmas, III – se o perito e o representante do Ministério Público
até o limite de 5 (cinco), todas presididas por algum dos concluírem pela inexistência de violação, far-se-á a apuração;
seus componentes. IV – se apenas o representante do Ministério Público
Parágrafo único. As dúvidas que forem levantadas em entender que a urna foi violada, a Junta decidirá, podendo
cada turma serão decididas por maioria de votos dos mem- aquele, se a decisão não for unânime, recorrer imediatamen-
bros da Junta. te para o Tribunal Regional;
Art. 161. Cada par do poderá credenciar perante as V – não poderão servir de peritos os referidos no Art. 36,
Juntas até 3 (três) fiscais, que se revezem na fiscalização § 3º, nos. I a IV.
dos trabalhos. § 2º s impugnações fundadas em violação da urna somen-
§ 1º Em caso de divisão da Junta em turmas, cada par do te poderão ser apresentadas até a abertura desta.
poderá credenciar até 3 (três) fiscais para cada turma. § 3º Verificado qualquer dos casos dos nos. II, III, IV e V do
§ 2º Não será permi da, na Junta ou turma, a atuação ar go, a Junta anulará a votação, fará a apuração dos votos
de mais de 1 (um) fiscal de cada par do. em separado e recorrerá de o cio para o Tribunal Regional.
Art. 162. Cada par do poderá credenciar mais de 1 (um) § 4º Nos casos dos números VI, VII, VIII, IX e X, a Junta
decidirá se a votação é válida, procedendo à apuração defi-
delegado perante a Junta, mas no decorrer da apuração só
ni va em caso afirma vo, ou na forma do parágrafo anterior,
funcionará 1 (um) de cada vez.
se resolver pela nulidade da votação.
Art. 163. Iniciada a apuração da urna, não será a mesma
§ 5º A junta deixará de apurar os votos de urna que não
interrompida, devendo ser concluída.
es ver acompanhada dos documentos legais e lavrará termo
Parágrafo único. Em caso de interrupção por mo vo de
rela vo ao fato, remetendo-a, com cópia da sua decisão,
força maior, as cédulas e as folhas de apuração serão reco- ao Tribunal Regional.
lhidas à urna e esta fechada e lacrada, o que constará da ata. Art. 166. Aberta a urna, a Junta verificará se o número
Art. 164. É vedado às Juntas Eleitorais a divulgação, por de cédulas oficiais corresponde ao de votantes. (Redação
qualquer meio, de expressões, frases ou desenhos estranhos dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
ao pleito, apostos ou con dos nas cédulas. § 1º A incoincidência entre o número de votantes e o de
§ 1º Aos membros, escru nadores e auxiliares das Juntas cédulas oficiais encontradas na urna não cons tuirá mo vo
que infringirem o disposto neste ar go será aplicada a multa de nulidade da votação, desde que não resulte de fraude
de 1 (um) a 2 (dois) salários-mínimos vigentes na Zona Elei- comprovada. (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
toral, cobrados através de execu vo fiscal ou da inu lização § 2º Se a Junta entender que a incoincidência resulta de
de selos federais no processo em que for arbitrada a multa. fraude, anulará a votação, fará a apuração em separado e
§ 2º Será considerada dívida líquida e certa, para efeito recorrerá de o cio para o Tribunal Regional.
de cobrança, a que for arbitrada pelo Tribunal Regional e Art. 167. Resolvida a apuração da urna, deverá a Junta
inscrita em livro próprio na Secretaria desse órgão. inicialmente:
I – examinar as sobrecartas brancas con das na urna,
Seção II anulando os votos referentes aos eleitores que não podiam
Da Abertura da Urna votar; (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
II – misturar as cédulas oficiais dos que podiam votar
Art. 165. Antes de abrir cada urna a Junta verificará: com as demais existentes na urna. (Redação dada pela Lei
I – se há indício de violação da urna; nº 4.961, de 4/5/1966)
II – se a mesa receptora se cons tuiu legalmente; III – (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
III – se as folhas individuais de votação e as folhas modelo IV – (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
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2 (dois) são autên cas; Art. 168. As questões rela vas à existência de rasuras,
IV – se a eleição se realizou no dia, hora e local designa- emendas e entrelinhas nas folhas de votação e na ata da
dos e se a votação não foi encerrada antes das 17 (dezessete) eleição, somente poderão ser suscitadas na fase correspon-
horas; dente à abertura das urnas.
V – se foram infringidas as condições que resguardam
o sigilo do voto; Seção III
VI – se a seção eleitoral foi localizada com infração ao Das Impugnações e dos Recursos
disposto nos §§ 4º e 5º do Art. 135;
VII – se foi recusada, sem fundamento legal, a fiscalização Art. 169. À medida que os votos forem sendo apurados,
de par dos aos atos eleitorais; poderão os fiscais e delegados de par do, assim como os
VIII – se votou eleitor excluído do alistamento, sem ser candidatos, apresentar impugnações que serão decididas
o seu voto tomado em separado; de plano pela Junta.
IX – se votou eleitor de outra seção, a não ser nos casos § 1º As Juntas decidirão por maioria de votos as impug-
expressamente admi dos; nações.

175
§ 2º De suas decisões cabe recurso imediato, interposto § 2º (Revogado pelo art 39 da Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
verbalmente ou por escrito, que deverá ser fundamentado § 2º Serão nulos os votos, em cada eleição pelo sistema
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas para que tenha se- proporcional: (Parágrafo renumerado pelo art. 39 da Lei
guimento. nº 4.961, de 4/5/1966)
§ 3º O recurso, quando ocorrerem eleições simultâneas, I – quando o candidato não for indicado, através do nome
indicará expressamente eleição a que se refere. ou do número, com clareza suficiente para dis nguí-lo de
§ 4º Os recursos serão instruídos de o cio, com cer dão outro candidato ao mesmo cargo, mas de outro par do, e o
da decisão recorrida; se interpostos verbalmente, constará eleitor não indicar a legenda;
também da cer dão o trecho correspondente do bole m. II – se o eleitor escrever o nome de mais de um candi-
(Redação dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) dato ao mesmo cargo, pertencentes a par dos diversos, ou,
Art. 170. As impugnações quanto à iden dade do eleitor, indicando apenas os números, o fizer também de candidatos
apresentadas no ato da votação, serão resolvidas pelo con- de par dos diferentes;
fronto da assinatura tomada no verso da folha individual de III – se o eleitor, não manifestando preferência por candi-
votação com a existente no anverso; se o eleitor votou em dato, ou o fazendo de modo que não se possa iden ficar o de
separado, no caso de omissão da folha individual na respec- sua preferência, escrever duas ou mais legendas diferentes
va pasta, confrontando-se a assinatura da folha modelo 2 no espaço rela vo à mesma eleição.
(dois) com a do tulo eleitoral. IV – (Incluído pela Lei nº 6.989, de 5/5/1982) e (Restabe-
Art. 171. Não será admi do recurso contra a apuração, lecido pela Lei nº 7.332, de 1º/7/1985)
se não ver havido impugnação perante a Junta, no ato § 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a
apuração, contra as nulidades arguidas. candidatos inelegíveis ou não registrados. (Parágrafo renu-
Art. 172. Sempre que houver recurso fundado em con- merado pelo art. 39 da Lei nº 4.961, de 4/5/66)
tagem errônea de votos, vícios de cédulas ou de sobrecartas § 4º O disposto no parágrafo anterior não se aplica
para votos em separado, deverão as cédulas ser conservadas quando a decisão de inelegibilidade ou de cancelamento de
em invólucro lacrado, que acompanhará o recurso e deverá registro for proferida após a realização da eleição a que con-
ser rubricado pelo juiz eleitoral, pelo recorrente e pelos correu o candidato alcançado pela sentença, caso em que os
delegados de par do que o desejarem. (Redação dada pela votos serão contados para o par do pelo qual ver sido feito
Lei nº 4.961, de 4/5/1966) o seu registro. (Incluído pela Lei nº 7.179, de 19/12/1983)
Art. 176. Contar-se-á o voto apenas para a legenda, nas
eleições pelo sistema proporcional: (Redação dada pela Lei
Seção IV
nº 8.037, de 1990)
Da Contagem dos Votos
I – se o eleitor escrever apenas a sigla par dária, não
indicando o candidato de sua preferência; (Redação dada
Art. 173. Resolvidas as impugnações a Junta passará a
pela Lei nº 8.037, de 1990)
apurar os votos.
II – se o eleitor escrever o nome de mais de um candidato
Parágrafo único. Na apuração, poderá ser u lizado sis- do mesmo Par do; (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990)
tema eletrônico, a critério do Tribunal Superior Eleitoral e III – se o eleitor, escrevendo apenas os números, indicar
na forma por ele estabelecida. (Incluído pela Lei nº 6.978, mais de um candidato do mesmo Par do; (Redação dada
de 19/1/1982) pela Lei nº 8.037, de 1990)
Art. 174. As cédulas oficiais, à medida em que forem IV – se o eleitor não indicar o candidato através do nome
sendo abertas, serão examinadas e lidas em voz alta por um ou do número com clareza suficiente para dis ngui-lo de
dos componentes da Junta. outro candidato do mesmo Par do. (Redação dada pela Lei
§ 1º Após fazer a declaração dos votos em branco e nº 8.037, de 1990)
antes de ser anunciado o seguinte, será aposto na cédula, Art. 177. Na contagem dos votos para as eleições realiza-
no lugar correspondente à indicação do voto, um carimbo das pelo sistema proporcional observar-se-ão, ainda, as se-
com a expressão “em branco”, além da rubrica do presidente guintes normas: (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990)
da turma. (Redação dada pela Lei nº 6.055, de 17/6/1974) I – a inversão, omissão ou erro de grafia do nome ou
§ 2º O mesmo processo será adaptado para o voto nulo. prenome não invalidará o voto, desde que seja possível a
(Incluído pela Lei nº 6.055, de 17/6/1974) iden ficação do candidato; (Redação dada pela Lei nº 8.037,
§ 3º Não poderá ser iniciada a apuração dos votos da de 1990)
urna subsequente sob as penas do Art. 345, sem que os votos II – se o eleitor escrever o nome de um candidato e o
em branco da anterior estejam todos registrados pela forma número correspondente a outro da mesma legenda ou não,
referida no § 1º. (Parágrafo 2º acrescentado pela Lei nº 4.961, contar-se-á o voto para o candidato cujo nome foi escrito,
de 4/5/1966 e renumerado pela Lei nº 6.055, de 17/6/1974) bem como para a legenda a que pertence; (Redação dada
§ 4º As questões rela vas às cédulas somente poderão pela Lei nº 8.037, de 1990)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ser suscitadas nessa oportunidade. (Parágrafo único renume- III – se o eleitor escrever o nome ou o número de um
rado para § 3º pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966 e renumerado candidato e a legenda de outro Par do, contar-se-á o voto
para § 4º pela Lei nº 6.055, de 17/6/1974) para o candidato cujo nome ou número foi escrito; (Redação
Art. 175. Serão nulas as cédulas: I – que não correspon- dada pela Lei nº 8.037, de 1990)
derem ao modelo oficial; (Vide Lei nº 7.332, de 1º/7/1985) IV – se o eleitor escrever o nome ou o número de um
II – que não es verem devidamente auten cadas; candidato a Deputado Federal na parte da cédula referente
III – que con verem expressões, frases ou sinais que a Deputado Estadual ou vice-versa, o voto será contado para
possam iden ficar o voto. o candidato cujo nome ou número foi escrito; (Redação dada
§ 1º Serão nulos os votos, em cada eleição majoritária: pela Lei nº 8.037, de 1990)
I – quando forem assinalados os nomes de dois ou mais V – se o eleitor escrever o nome ou o número de candi-
candidatos para o mesmo cargo; datos em espaço da cédula que não seja o correspondente
II – quando a assinalação es ver colocada fora do qua- ao cargo para o qual o candidato foi registrado, será o voto
drilátero próprio, desde que torne duvidosa a manifestação computado para o candidato e respec va legenda, conforme
da vontade do eleitor. o registro. (Incluído pela Lei nº 8.037, de 1990)

176
Art. 178. O voto dado ao candidato a Presidente da Re- Art. 182. Os tulos dos eleitores estranhos à seção serão
pública entender-se-á dado também ao candidato a vice-pre- separados, para remessa, depois de terminados os trabalhos
sidente, assim como o dado aos candidatos a governador, da Junta, ao juiz eleitoral da zona neles mencionadas, a fim
senador, deputado federal nos territórios, prefeito e juiz de que seja anotado na folha individual de votação o voto
de paz entender-se-á dado ao respec vo vice ou suplente. dado em outra seção.
Art. 179. Concluída a contagem dos votos a Junta ou Parágrafo único. Se, ao ser feita a anotação, no confronto
turma deverá: do tulo com a folha individual, se verificar incoincidência ou
I – transcrever nos mapas referentes à urna a votação outro indício de fraude, serão autuados tais documentos e o
apurada; juiz determinará as providências necessárias para apuração
II – expedir bole m contendo o resultado da respec va do fato e consequentes medidas legais.
seção, no qual serão consignados o número de votantes, Art. 183. Concluída a apuração, e antes de se passar à
a votação individual de cada candidato, os votos de cada subsequente, as cédulas serão recolhidas à urna, sendo esta
legenda par dária, os votos nulos e os em branco, bem como fechada e lacrada, não podendo ser reaberta senão depois
recursos, se houver. de transitada em julgado a diplomação, salvo nos casos de
§ 1º Os mapas, em todas as suas folhas, e os bole ns de recontagem de votos.
apuração, serão assinados pelo presidente e membros da Parágrafo único. O descumprimento do disposto no
presente ar go, sob qualquer pretexto, cons tui o crime
Junta e pelos fiscais de par do que o desejarem.
eleitoral previsto no Art. 314.
§ 2º O bole m a que se refere e este ar go obedecerá a
Art. 184. Terminada a apuração, a Junta remeterá ao
modelo aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral, podendo
Tribunal Regional no prazo de vinte e quatro horas, todos os
porém, na sua falta, ser subs tuído por qualquer outro ex- papéis eleitorais referentes às eleições estaduais ou federais,
pedido por Tribunal Regional ou pela própria Junta Eleitoral. acompanhados dos documentos referentes à apuração,
§ 3º Um dos exemplares do bole m de apuração será juntamente com a ata geral dos seus trabalhos, na qual
imediatamente afixado na sede da Junta, em local que possa serão consignadas as votações apuradas para cada legenda
ser copiado por qualquer pessoa. e candidato e os votos não apurados com a declaração
§ 4º Cópia auten cada do bole m de apuração será en- dos mo vos porque o não foram. (Redação dada pela Lei
tregue a cada par do, por intermédio do delegado ou fiscal nº 4.961, de 4/5/1966)
presente, mediante recibo. § 1º Essa remessa será feita em invólucros fechado,
§ 5º O bole m de apuração ou sua cópia auten cada lacrado e rubricado pelos membros da Junta, delegados e
com a assinatura do juiz e pelo menos de um dos membros fiscais de Par do, por via postal ou sob protocolo, conforme
da Junta, podendo ser apresentado ao Tribunal Regional, nas for mais rápida e segura a chegada ao des no. (Parágrafo
eleições federais e estaduais, sempre que o número de votos único renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
constantes dos mapas recebidos pela Comissão Apuradora § 2º Se a remessa dos papéis eleitorais de que trata este
não coincidir com os nele consignados. ar go não se verificar no prazo nele estabelecido os membros
§ 6º O par do ou candidato poderá apresentar o bole m da Junta estarão sujeitos à multa correspondente à metade
na oportunidade concedida pelo Art. 200, quando terá vista do salário-mínimo regional por dia de retardamento. (Inclu-
do relatório da Comissão Apuradora, ou antes, se durante os ído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
trabalhos da Comissão ver conhecimento da incoincidência § 3º Decorridos quinze dias sem que o Tribunal Regional
de qualquer resultado. tenha recebido os papéis referidos neste ar go ou comunica-
§ 7º Apresentado o bole m, será aberta vista aos de- ção de sua expedição, determinará ao Corregedor Regional
mais par dos, pelo prazo de 2 (dois) dias, os quais somente ou Juiz Eleitoral mais próximo que os faça apreender e enviar
poderão contestar o erro indicado com a apresentação de imediatamente, transferindo-se para o Tribunal Regional a
bole m da mesma urna, reves do das mesmas formalidades. competência para decidir sobre os mesmos. (Incluído pela
Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
§ 8º Se o bole m apresentado na contestação consignar
Art. 185. Sessenta dias após o trânsito em julgado da
outro resultado, coincidente ou não com o que figurar no
diplomação de todos os candidatos, eleitos nos pleitos elei-
mapa enviado pela Junta, a urna será requisitada e recontada
torais realizados simultaneamente e prévia publicação de
pelo próprio Tribunal Regional, em sessão. edital de convocação, as cédulas serão re radas das urnas
§ 9º A não expedição do bole m imediatamente após a e imediatamente incineradas, na presença do Juiz Eleitoral e
apuração de cada urna e antes de se passa à subsequente, em ato público, vedado a qualquer pessoa inclusive ao Juiz,
sob qualquer pretexto, cons tui o crime previsto no Art. 313. o seu exame na ocasião da incineração. (Redação dada pela
Art. 180. O disposto no ar go anterior e em todos os Lei nº 6.055, de 17/6/1974)
seus parágrafos aplica-se às eleições municipais, observadas Parágrafo único. Poderá ainda a Jus ça Eleitoral, toma-
somente as seguintes alterações: das as medidas necessárias à garan a do sigilo, autorizar a
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I – o bole m de apuração poderá ser apresentado à Junta reciclagem industrial das cédulas, em proveito do ensino
até 3 (três) dia depois de totalizados os resultados, devendo público de primeiro grau ou de ins tuições beneficentes.
os par dos ser cien ficados, através de seus delegados, da (Incluído pela Lei nº 7.977, de 27/12/1989)
data em que começará a correr esse prazo; Art. 186. Com relação às eleições municipais e distritais,
II – apresentado o bole m será observado o disposto uma vez terminada a apuração de todas as urnas, a Junta
nos §§ 7º e 8º do ar go anterior, devendo a recontagem ser resolverá as dúvidas não decididas, verificará o total dos
procedida pela própria Junta. votos apurados, inclusive os votos em branco, determinará o
Art. 181. Salvo nos casos mencionados nos ar gos ante- quociente eleitoral e os quocientes par dários e proclamará
riores, a recontagem de votos só poderá ser deferida pelos os candidatos eleitos.
Tribunais Regionais, em recurso interposto imediatamente § 1º O presidente da Junta fará lavrar, por um dos secre-
após a apuração de cada urna. tários, a ata geral concernente às eleições referidas neste
Parágrafo único. Em nenhuma outra hipótese poderá ar go, da qual constará o seguinte:
a Junta determinar a reabertura de urnas já apuradas para I – as seções apuradas e o número de votos apurados
recontagem de votos. em cada urna;

177
II – as seções anuladas, os mo vos por que foram e o Art. 193. Havendo coincidência entre o número de cé-
número de votos não apurados; dulas e o de votantes deverá a mesa, inicialmente, misturar
III- as seções onde não houve eleição e os mo vos; as cédulas con das nas sobrecartas brancas, da urna e do
IV – as impugnações feitas, a solução que lhes foi dada invólucro, com as demais.
e os recursos interpostos; § 1º Em seguida proceder-se-á à abertura das cédulas e
V – a votação de cada legenda na eleição para vereador; contagem dos votos, observando-se o disposto nos ar gos.
VI – o quociente eleitoral e os quocientes par dários; 169 e seguintes, no que couber.
VII – a votação dos candidatos a vereador, incluídos em § 2º Terminada a contagem dos votos será lavrada ata
cada lista registrada, na ordem da votação recebida; resumida, de acordo com modelo aprovado pelo Tribunal
VIII – a votação dos candidatos a prefeito, vice-prefeito Superior e da qual constarão apenas as impugnações acaso
e a juiz de paz, na ordem da votação recebida. apresentadas, figurando os resultados no bole m que se incor-
§ 2º Cópia da ata geral da eleição municipal, devidamente porará à ata, e do qual se dará cópia aos fiscais dos par dos.
auten cada pelo juiz, será enviada ao Tribunal Regional e ao Art. 194. Após a lavratura da ata, que deverá ser assinada
Tribunal Superior Eleitoral. pelos membros da mesa e fiscais e delegados de par do,
Art. 187. Verificando a Junta Apuradora que os votos das as cédulas e as sobrecartas serão recolhidas à urna, sendo
seções anuladas e daquelas cujos eleitores foram impedidos esta fechada, lacrada e entregue ao juiz eleitoral pelo pre-
de votar, poderão alterar a representação de qualquer par - sidente da mesa ou por um dos mesários, mediante recibo.
do ou classificação de candidato eleito pelo princípio majo- § 1º O juiz eleitoral poderá, havendo possibilidade,
ritário, nas eleições municipais, fará imediata comunicação designar funcionários para recolher as urnas e demais do-
do fato ao Tribunal Regional, que marcará, se for o caso, dia cumentos nos próprios locais da votação ou instalar postos
para a renovação da votação naquelas seções. e locais diversos para o seu recebimento.
§ 1º Nas eleições suplementares municipais obser- § 2º Os fiscais e delegados de par do podem vigiar e
var-se-á, no que couber, o disposto no Art. 201. acompanhar a urna desde o momento da eleição, durante
§ 2º Essas eleições serão realizadas perante novas mesas a permanência nos postos arrecadadores e até a entrega à
receptoras, nomeadas pelo juiz eleitoral, e apuradas pela Junta.
própria Junta que, considerando os anteriores e os novos Art. 195. Recebida a urna e documentos, a Junta deverá:
resultados, confirmará ou invalidará os diplomas que houver I – examinar a sua regularidade, inclusive quanto ao
expedido. funcionamento normal da seção;
II – rever o bole m de contagem de votos da mesa recep-
§ 3º Havendo renovação de eleições para os cargos de
tora, a fim de verificar se está aritme camente certo, fazendo
prefeito e vice-prefeito, os diplomas somente serão expedi-
dêle constar que, conferido, nenhum erro foi encontrado;
dos depois de apuradas as eleições suplementares.
III – abrir a urna e conferir os votos sempre que a con-
§ 4º Nas eleições suplementares, quando ser referirem a
tagem da mesa receptora não permi r o fechamento dos
mandatos de representação proporcional, a votação e a apu-
resultados;
ração far-se-ão exclusivamente para as legendas registradas.
IV – proceder à apuração se da ata da eleição constar im-
pugnação de fiscal, delegado, candidato ou membro da pró-
Seção V pria mesa em relação ao resultado de contagem dos votos;
Da Contagem dos Votos pela Mesa Receptora V – resolver todas as impugnações constantes da ata
da eleição;
Art. 188. O Tribunal Superior Eleitoral poderá autorizar VI – pra car todos os atos previstos na competência das
a contagem de votos pelas mesas receptoras, nos Estados Juntas Eleitorais.
em que o Tribunal Regional indicar as zonas ou seções em Art. 196. De acordo com as instruções recebidas a Junta
que esse sistema deva ser adotado. Apuradora poderá reunir os membros das mesas receptoras
Art. 189. Os mesários das seções em que for efetuada e demais componentes da Junta em local amplo e adequado
a contagem dos votos serão nomeados escru nadores da no dia seguinte ao da eleição, em horário previamente fixado,
junta. e a proceder à apuração na forma estabelecida nos ar gos.
Art. 190. Não será efetuada a contagem dos votos pela 159 e seguintes, de uma só vez ou em duas ou mais etapas.
mesa se esta não se julgar suficientemente garan da, ou se Parágrafo único. Nesse caso cada par do poderá creden-
qualquer eleitor houver votado sob impugnação, devendo ciar um fiscal para acompanhar a apuração de cada urna,
a mesa, em um ou outro caso, proceder na forma determi- realizando-se esta sob a supervisão do juiz e dos demais
nada para as demais, das zonas em que a contagem não foi membros da Junta, aos quais caberá decidir, em cada caso,
autorizada. as impugnações e demais incidentes verificados durante os
Art. 191. Terminada a votação, o presidente da mesa trabalhos.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tomará as providências mencionadas nas alíneas II, III, IV e


V do Art. 154. CAPÍTULO III
Art. 192. Lavrada e assinada ata, o presidente da mesa, Da Apuração nos Tribunais Regionais
na presença dos demais membros, fiscais e delegados do
par do, abrirá a urna e o invólucro e verificará se o número Art. 197. Na apuração, compete ao Tribunal Regional.
de cédulas oficiais coincide com o de votantes. I – resolver as dúvidas não decididas e os recursos in-
§ 1º Se não houver coincidência entre o número de terpostos sobre as eleições federais e estaduais e apurar as
votantes e o de cédulas oficiais encontradas na urna e no votações que haja validado em grau de recurso;
invólucro a mesa receptora não fará a contagem dos votos. II – verificar o total dos votos apurados entre os quais se
§ 2º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior, incluem os em branco;
o presidente da mesa determinará que as cédulas e as so- III – Determinar os quocientes, eleitoral e par dário, bem
brecartas sejam novamente recolhidas a urna e ao invólucro, como a distribuição das sobras;
os quais serão fechados e lacrados, procedendo, em seguida, IV – proclamar os eleitos e expedir os respec vos di-
na forma recomendada pelas alíneas VI, VII e VIII e do Art. 54. plomas;

178
V – fazer a apuração parcial das eleições para Presidente Art. 201. De posse do relatório referido no ar go anterior,
e Vice-presidente da República. reunir-se-á o Tribunal, no dia seguinte, para o conhecimento
Art. 198. A apuração pelo Tribunal Regional começará do total dos votos apurados, e, em seguida, se verificar que
no dia seguinte ao em que receber os primeiros resultados os votos das seções anuladas e daquelas cujos eleitores
parciais das Juntas e prosseguirá sem interrupção, inclusive foram impedidos de votar, poderão alterar a representação
nos sábados, domingos e feriados, de acordo com o horário de candidato eleito pelo princípio majoritário, ordenará a
previamente publicado, devendo terminar 30 (trinta) dias realização de novas eleições.
depois da eleição. Parágrafo único. As novas eleições obedecerão às se-
§ 1º Ocorrendo mo vos relevantes, expostos com a guintes normas:
necessária antecedência, o Tribunal Superior poderá conce- I – o Presidente do Tribunal fixará, imediatamente, a data,
der prorrogação desse prazo, uma só vez e por quinze dias. para que se realizem dentro de 15 (quinze) dias, no mínimo,
(Parágrafo único renumerado e alterado pela Lei nº 4.961, e de 30 (trinta) dias no máximo, a contar do despacho que a
de 4/5/1966) fixar, desde que não tenha havido recurso contra a anulação
§ 2º Se o Tribunal Regional não terminar a apuração no das seções;
prazo legal, seus membros estarão sujeitos à multa corres- II – somente serão admi dos a votar os eleitores da
pondente à metade do salário-mínimo regional por dia de seção, que hajam comparecido a eleição anulada, e os de
retardamento. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) outras seções que ali houverem votado;
Art. 199. Antes de iniciar a apuração o Tribunal Regional III – nos casos de coação que haja impedido o compa-
cons tuirá com 3 (três) de seus membros, presidida por um recimento dos eleitores às urnas, no de encerramento da
destes, uma Comissão Apuradora. votação antes da hora legal, e quando a votação ver sido
§ 1º O Presidente da Comissão designará um funcionário realizada em dia, hora e lugar diferentes dos designados,
do Tribunal para servir de secretário e para auxiliarem os poderão votar todos os eleitores da seção e somente estes;
seus trabalhos, tantos outros quantos julgar necessários. IV – nas zonas onde apenas uma seção for anulada,
§ 2º De cada sessão da Comissão Apuradora será lavrada o juiz eleitoral respec vo presidirá a mesa receptora; se
ata resumida. houver mais de uma seção anulada, o presidente do Tribu-
§ 3º A Comissão Apuradora fará publicar no órgão oficial, nal Regional designará os juízes presidentes das respec vas
diariamente, um bole m com a indicação dos trabalhos re- mesas receptoras.
alizados e do número de votos atribuídos a cada candidato. V – as eleições realizar-se-ão nos mesmos locais ante-
§ 4º Os trabalhos da Comissão Apuradora poderão ser riormente designados, servindo os mesários e secretários
acompanhados por delegados dos par dos interessados,
que pelo juiz forem nomeados, com a antecedência de, pelo
sem que, entretanto, neles intervenha com protestos, im-
menos, cinco dias, salvo se a anulação for decretada por
pugnações ou recursos.
infração dos §§ 4º e 5º do Art. 135;
§ 5º Ao final dos trabalhos, a Comissão Apuradora apre-
VI – as eleições assim realizadas serãoapuradas pelo
sentará ao Tribunal Regional os mapas gerais da apuração e
Tribunal Regional.
um relatório, que mencione:
Art. 202. Da reunião do Tribunal Regional será lavrada
I – o número de votos válidos e anulados em cada Junta
Eleitoral, rela vos a cada eleição; ata geral, assinada pelos seus membros e da qual constarão:
II – as seções apuradas e os votos nulos e anulados de I – as seções apuradas e o número de votos apurados
cada uma; em cada uma;
III – as seções anuladas, os mo vos por que o foram e o II – as seções anuladas, as razões por que o foram e o
número de votos anulados ou não apurados; número de votos não apurados;
IV – as seções onde não houve eleição e os mo vos; III – as seções onde não tenha havido eleição e os mo-
V – as impugnações apresentadas às Juntas e como foram vos;
resolvidas por elas, assim como os recursos que tenham IV – as impugnações apresentadas às juntas eleitorais e
sido interposto: como foram resolvidas;
VI – a votação de cada par do; V – as seções em que se vai realizar ou renovar a eleição;
VII – a votação de cada candidato; VI – a votação ob da pelos par dos;
VIII – o quociente eleitoral; VII – o quociente eleitoral e o par dário;
IX – os quocientes par dários; VIII – os nomes dos votados na ordem decrescente dos
X- a distribuição das sobras. votos;
Art. 200. O relatório a que se refere o ar go anterior fica- IX – os nomes dos eleitos;
rá na Secretaria do Tribunal, pelo prazo de 3 (três) dias, para X – os nomes dos suplentes, na ordem em que devem
exame dos par dos e candidatos interessados, que poderão subs tuir ou suceder.
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examinar também os documentos em que êle se baseou. § 1º Na mesma sessão o Tribunal Regional proclamará
§ 1º Terminado o prazo supra, os par dos poderão apre- os eleitos e os respec vos suplentes e marcará a data para
sentar as suas reclamações, dentro de 2 (dois) dias, sendo a expedição solene dos diplomas em sessão pública, salvo
estas subme das a parecer da Comissão Apuradora que, no quanto a governador e vice-governador, se ocorrer a hipótese
prazo de 3 (três) dias, apresentará aditamento ao relatório prevista na Emenda Cons tucional nº 13.
com a proposta das modificações que julgar procedentes, § 2º O vice-governador e o suplente de senador, consi-
ou com a jus ficação da improcedência das arguições. (Pa- derar-se-ão eleitos em virtude da eleição do governador e
rágrafo único renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) do senador com os quais se candidatarem.
§ 2º O Tribunal Regional, antes de aprovar o relatório da § 3º Os candidatos a governador e vice-governador
Comissão Apuradora e, em três dias improrrogáveis, julgará somente serão diplomados depois de realizadas as eleições
as impugnações e as reclamações não providas pela Comis- suplementares referentes a esses cargos.
são Apuradora, e, se as deferir, voltará o relatório à Comissão § 4º Um traslado da ata da sessão, auten cado com a
para que sejam feitas as alterações resultantes da decisão. assinatura de todos os membros do Tribunal que assinaram a
(Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) ata original, será reme da ao Presidente do Tribunal Superior.

179
§ 5º O Tribunal Regional comunicará o resultado da elei- III – os votos anulados pelo Tribunal Regional que devem
ção ao Senado Federal, Câmara dos Deputados e Assembléia ser computados como válidos;
Legisla va. IV – a votação de cada candidato;
Art. 203. Sempre que forem realizadas eleições de âm- V – o resumo das decisões do Tribunal Regional sobre as
bito estadual juntamente com eleições para presidente e dúvidas e impugnações, bem como dos recursos que hajam
vice-presidente da República, o Tribunal Regional desdobrará sido interpostos para o Tribunal Superior, com as respec vas
os seus trabalhos de apuração, fazendo tanto para aquelas decisões e indicação das implicações sobre os resultados.
como para esta, uma ata geral. Art. 208. O relatório referente a cada Estado ficará na
§ 1º A Comissão Apuradora deverá, também, apresentar Secretaria do Tribunal, pelo prazo de dois dias, para exa-
relatórios dis ntos, um dos quais referente apenas às elei- me dos par dos e candidatos interessados, que poderão
ções presidenciais. examinar também os documentos em que êle se baseou e
§ 2º Concluídos os trabalhos da apuração o Tribunal Re- apresentar alegações ou documentos sobre o relatório, no
gional remeterá ao Tribunal Superior os resultados parciais prazo de 2 (dois) dias.
das eleições para presidente e vice-presidente da República, Parágrafo único. Findo esse prazo serão os autos conclu-
acompanhados de todos os papéis que lhe digam respeito. sos ao relator, que, dentro em 2 (dois) dias, os apresentará a
Art. 204. O Tribunal Regional julgando conveniente, julgamento, que será previamente anunciado.
poderá determinar que a totalização dos resultados de cada Art. 209. Na sessão designada será o feito chamado a
urna seja realizada pela própria Comissão Apuradora. julgamento de preferência a qualquer outro processo.
Parágrafo único. Ocorrendo essa hipótese serão obser- § 1º Se o relatório ver sido impugnado, os par dos
vadas as seguintes regras: interessados poderão, no prazo de 15 (quinze) minutos,
I – a decisão do Tribunal será comunicada, até 30 (trinta) sustentar oralmente as suas conclusões.
dias antes da eleição aos juízes eleitorais, aos diretórios dos § 2º Se do julgamento resultarem alterações na apuração
par dos e ao Tribunal Superior; efetuada pelo Tribunal Regional, o acórdão determinará que
II – iniciada a apuração os juízes eleitorais remeterão a Secretaria, dentro em 5 (cinco) dias, levante as fôlhas de
ao Tribunal Regional, diariamente, sob registro postal ou apuração parcial das seções cujos resultados verem sido
por portador, os mapas de todas as urnas apuradas no dia; alterados, bem como o mapa geral da respec va circunscri-
III – os mapas serão acompanhados de o cio sucinto, ção, de acordo com as alterações decorrentes do julgado,
que esclareça apenas a que seções correspondem e quantas devendo o mapa, após o visto do relator, ser publicado na
ainda faltam para completar a apuração da zona; Secretaria.
IV – havendo sido interposto recurso em relação a urna § 3º A esse mapa admi r-se-á, dentro em 48 (quarenta
correspondente aos mapas enviados, o juiz fará constar do
e oito) horas de sua publicação, impugnação fundada em
o cio, em seguida à indicação da seção, entre parênteses,
erro de conta ou de cálculo, decorrente da própria sentença.
apenas esse esclarecimento – “houve recurso”;
Art. 210. Os mapas gerais de todas as circunscrições
V – a ata final da junta não mencionará, no seu texto,
com as impugnações, se houver, e a folha de apuração final
a votação ob da pelos par dos e candidatos, a qual ficará
levantada pela secretaria, serão autuados e distribuídos a
constando dos bole ns de apuração do Juízo, que dela ficarão
fazendo parte integrante; um relator geral, designado pelo Presidente.
VI – cópia auten cada da ata, assinada por todos os que Parágrafo único. Recebidos os autos, após a audiência
assinaram o original, será enviada ao Tribunal Regional na do Procurador Geral, o relator, dentro de 48 (quarenta e
forma prevista no art. 184; oito) horas, resolverá as impugnações rela vas aos erros de
VII – a Comissão Apuradora, à medida em que for rece- conta ou de cálculo, mandando fazer as correções, se for o
bendo os mapas, passará a totalizar os votos, aguardando, caso, e apresentará, a seguir, o relatório final com os nomes
porém, a chegada da cópia autên ca da ata para encerrar a dos candidatos que deverão ser proclamados eleitos e os
totalização referente a cada zona; dos demais candidatos, na ordem decrescente das votações.
VIII – no caso de extravio de mapa o juiz eleitoral provi- Art. 211. Aprovada em sessão especial a apuração geral,
denciará a remessa de 2a.via, preenchida à vista dos dele- o Presidente anunciará a votação dos candidatos, proclaman-
gados de par do especialmente convocados para esse fim do a seguir eleito presidente da República o candidato, mais
e pelos resultados constantes do bole m de apuração que votado que ver ob do maioria absoluta de votos, excluídos,
deverá ficar arquivado no Juízo. para a apuração desta, os em branco e os nulos.
Art. 212. Verificando que os votos das seções anuladas e
CAPÍTULO IV daquelas cujos eleitores foram impedidos de votar, em todo
Da Apuração no Tribunal Superior o país, poderão alterar a classificação de candidato, ordenará
o Tribunal Superior a realização de novas eleições.
Art. 205. O Tribunal Superior fará a apuração geral das § 1º Essas eleições serão marcadas desde logo pelo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

eleições para presidente e vice-presidente da República Presidente do Tribunal Superior e terão lugar no primeiro
pelos resultados verificados pelos Tribunais Regionais em domingo ou feriado que ocorrer após o 15º (décimo quinto)
cada Estado. dia a contar da data do despacho, devendo ser observado o
Art. 206. Antes da realização da eleição o Presidente do disposto nos números II a VI do parágrafo único do Art. 201.
Tribunal sorteará, dentre os juízes, o relator de cada grupo § 2º Os candidatos a presidente e vice-presidente da
de Estados, ao qual serão distribuídos todos os recursos e República somente serão diplomados depois de realizadas
documentos da eleição referentes ao respec vo grupo. as eleições suplementares referentes a esses cargos.
Art. 207. Recebidos os resultados de cada Estado, e jul- Art. 213. Não se verificando a maioria absoluta, o Con-
gados os recursos interpostos das decisões dos Tribunais gresso Nacional, dentro de quinze dias após haver recebido
Regionais, o relator terá o prazo de 5 (cinco) dias para apre- a respec va comunicação do Presidente do Tribunal Superior
sentar seu relatório, com as conclusões seguintes: Eleitoral, reunir-se-á em sessão pública para se manifestar
I – os totais dos votos válidos e nulos do Estado; sobre o candidato mais votado, que será considerado eleito
II – os votos apurados pelo Tribunal Regional que devem se, em escru nio secreto, ob ver metade mais um dos votos
ser anulados; dos seus membros.

180
§ 1º Se não ocorrer a maioria absoluta referida no caput Art. 221. É anulável a votação:
deste ar go, renovar-se-á, até 30 (trinta) dias depois, a elei- I – (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
ção em todo país, à qual concorrerão os dois candidatos I – quando houver extravio de documento reputado es-
mais votados, cujos registros estarão automaticamente sencial; (Inciso II renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
revalidados. II – quando for negado ou sofrer restrição o direito de
§ 2º No caso de renúncia ou morte, concorrerá à eleição fiscalizar, e o fato constar da ata ou de protesto interposto,
prevista no parágrafo anterior o subs tuto registrado pelo por escrito, no momento: (Inciso III renumerado pela Lei
mesmo par do polí co ou coligação par dária. nº 4.961, de 4/5/1966)
Art. 214. O presidente e o vice-presidente da República III – quando votar, sem as cautelas do Art. 147, § 2º.
tomarão posse a 15 (quinze) de março, em sessão do Con- (Inciso IV renumerado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
gresso Nacional. a) eleitor excluído por sentença não cumprida por ocasião
Parágrafo único. No caso do § 1º do ar go anterior, da remessa das folhas individuais de votação à mesa, desde
a posse realizar-se-á dentro de 15 (quinze) dias a contar da que haja oportuna reclamação de par do;
b) eleitor de outra seção, salvo a hipótese do Art. 145;
proclamação do resultado da segunda eleição, expirando,
c) alguém com falsa identidade em lugar do eleitor
porém, o mandato a 15 (quinze) de março do quarto ano.
chamado.
Art. 222. É também anulável a votação, quando viciada
CAPÍTULO V de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que trata o
Dos Diplomas Art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou capta-
ção de sufrágios vedado por lei.
Art. 215. Os candidatos eleitos, assim como os suplentes, § 1º (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
receberão diploma assinado pelo Presidente do Tribunal § 2º (Revogado pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
Regional ou da Junta Eleitoral, conforme o caso. Art. 223. A nulidade de qualquer ato, não decretada de
Parágrafo único. Do diploma deverá constar o nome do o cio pela Junta, só poderá ser arguida quando de sua prá-
candidato, a indicação da legenda sob a qual concorreu, ca, não mais podendo ser alegada, salvo se a arguição se
o cargo para o qual foi eleito ou a sua classificação como basear em mo vo superveniente ou de ordem cons tucional.
suplente, e, faculta vamente, outros dados a critério do § 1º Se a nulidade ocorrer em fase na qual não possa ser
juiz ou do Tribunal. alegada no ato, poderá ser arguida na primeira oportunidade
Art. 216. Enquanto o Tribunal Superior não decidir o que para tanto se apresente.
recurso interposto contra a expedição do diploma, poderá § 2º Se se basear em mo vo superveniente deverá ser
o diplomado exercer o mandato em toda a sua plenitude. alegada imediatamente, assim que se tornar conhecida,
Art. 217. Apuradas as eleições suplementares o juiz ou podendo as razões do recurso ser aditadas no prazo de 2
o Tribunal reverá a apuração anterior, confirmando ou inva- (dois) dias.
lidando os diplomas que houver expedido. § 3º A nulidade de qualquer ato, baseada em mo vo de
Parágrafo único. No caso de provimento, após a diplo- ordem cons tucional, não poderá ser conhecida em recurso
mação, de recurso contra o registro de candidato ou de interposto fora do prazo. Perdido o prazo numa fase própria,
recurso parcial, será também revista a apuração anterior, só em outra que se apresentar poderá ser arguida.(Redação
para confirmação ou invalidação de diplomas, observado o dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
disposto no § 3º do Art. 261. Art. 224. Se a nulidade a ngir a mais de metade dos votos
Art. 218. O presidente de Junta ou de Tribunal que do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições
diplomar militar candidato a cargo eletivo, comunicará federais e estaduais ou do município nas eleições municipais,
imediatamente a diplomação à autoridade a que o mesmo julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal
es ver subordinado, para os fins do Art. 98. marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte)
a 40 (quarenta) dias.
§ 1º Se o Tribunal Regional na área de sua competência,
CAPÍTULO VI
deixar de cumprir o disposto neste ar go, o Procurador Re-
Das Nulidades da Votação
gional levará o fato ao conhecimento do Procurador Geral,
que providenciará junto ao Tribunal Superior para que seja
Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá
marcada imediatamente nova eleição.
sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se
§ 2º Ocorrendo qualquer dos casos previstos neste
de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo. capítulo o Ministério Público promoverá, imediatamente a
Parágrafo único. A declaração de nulidade não poderá ser punição dos culpados.
requerida pela parte que lhe deu causa nem a ela aproveitar.
Art. 220. É nula a votação: CAPÍTULO VII
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

I – quando feita perante mesa não nomeada pelo juiz Do Voto no Exterior
eleitoral, ou cons tuída com ofensa à letra da lei;
II – quando efetuada em folhas de votação falsas; Art. 225. Nas eleições para presidente e vice-presidente
III – quando realizada em dia, hora, ou local diferentes da República poderá votar o eleitor que se encontrar no
do designado ou encerrada antes das 17 horas; exterior.
IV – quando preterida formalidade essencial do sigilo § 1º Para esse fim serão organizadas seções eleitorais,
dos sufrágios. nas sedes das Embaixadas e Consulados Gerais.
V – quando a seção eleitoral ver sido localizada com § 2º Sendo necessário instalar duas ou mais seções po-
infração do disposto nos §§ 4º e 5º do art. 135. (Incluído derá ser u lizado local em que funcione serviço do governo
pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) brasileiro.
Parágrafo único. A nulidade será pronunciada quando Art. 226. Para que se organize uma seção eleitoral no
o órgão apurador conhecer do ato ou dos seus efeitos e o exterior é necessário que na circunscrição sob a jurisdição da
encontrar provada, não lhe sendo lícito supri-la, ainda que Missão Diplomá ca ou do Consulado Geral haja um mínimo
haja consenso das partes. de 30 (trinta) eleitores inscritos.

181
Parágrafo único. Quando o número de eleitores não sofrer violência, moral ou sica, na sua liberdade de votar,
a ngir o mínimo previsto no parágrafo anterior, os eleitores ou pelo fato de haver votado.
poderão votar na mesa receptora mais próxima, desde que Parágrafo único. A medida será válida para o período
localizada no mesmo país, de acordo com a comunicação compreendido entre 72 (setenta e duas) horas antes até 48
que lhes for feita. (quarenta e oito) horas depois do pleito.
Art. 227. As mesas receptoras serão organizadas pelo Art. 236. Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco)
Tribunal Regional do Distrito Federal mediante proposta dos dias antes e até 48 (quarenta e oito) horas depois do encer-
chefes de Missão e cônsules gerais, que ficarão inves dos, no ramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo
que for aplicável, da funções administra vas de juiz eleitoral. em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal con-
Parágrafo único. Será aplicável às mesas receptoras o denatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito
processo de composição e fiscalização par dária vigente a salvo-conduto.
para as que funcionam no território nacional. § 1º Os membros das mesas receptoras e os fiscais de
Art. 228. Até 30 (trinta) dias antes da realização da elei- par do, durante o exercício de suas funções, não poderão
ção todos os brasileiros eleitores, residentes no estrangeiro, ser de dos ou presos, salvo o caso de flagrante delito; da
comunicarão à sede da Missão diplomá ca ou ao consulado mesma garan a gozarão os candidatos desde 15 (quinze)
geral, em carta, telegrama ou qualquer outra via, a sua con- dias antes da eleição.
dição de eleitor e sua residência. § 2º Ocorrendo qualquer prisão o preso será imediata-
§ 1º Com a relação dessas comunicações e com os dados mente conduzido à presença do juiz competente que, se
do registro consular, serão organizadas as folhas de votação, verificar a ilegalidade da detenção, a relaxará e promoverá
e no ficados os eleitores da hora e local da votação. a responsabilidade do coator.
§ 2º No dia da eleição só serão admi dos a votar os que Art. 237. A interferência do poder econômico e o desvio
constem da folha de votação e os passageiros e tripulantes de ou abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdade
navios e aviões de guerra e mercantes que, no dia, estejam do voto, serão coibidos e punidos.
na sede das sessões eleitorais. § 1º O eleitor é parte legí ma para denunciar os culpados
Art. 229. Encerrada a votação, as urnas serão enviadas e promover-lhes a responsabilidade, e a nenhum servidor
pelos cônsules gerais às sedes das Missões Diplomá cas. público. Inclusive de autarquia, de en dade paraestatal e de
Estas as remeterão, pela mala diplomá ca, ao Ministério sociedade de economia mista, será lícito negar ou retardar
das Relações Exteriores, que delas fará entrega ao Tribunal ato de o cio tendente a esse fim.
Regional Eleitoral do Distrito Federal, a quem compe rá a § 2º Qualquer eleitor ou par do polí co poderá se dirigir
apuração dos votos e julgamento das dúvidas e recursos que ao Corregedor Geral ou Regional, relatando fatos e indicando
hajam sido interpostos. provas, e pedir abertura de inves gação para apurar uso
Parágrafo único. Todo o serviço de transporte do material indevido do poder econômico, desvio ou abuso do poder de
eleitoral será feito por via aérea. autoridade, em bene cio de candidato ou de par do polí co.
Art. 230. Todos os eleitores que votarem no exterior terão § 3º O Corregedor, verificada a seriedade da denúncia
os seus tulos apreendidos pela mesa receptora. procederá ou mandará proceder a inves gações, regen-
Parágrafo único. A todo eleitor que votar no exterior do-se estas, no que lhes for aplicável, pela Lei nº 1579 de
será concedido comprovante para a comunicação legal ao 18/3/1952.
juiz eleitoral de sua zona. Art. 238. É proibida, durante o ato eleitoral, a presença
Art. 231. Todo aquele que, estando obrigado a votar, de força pública no edi cio em que funcionar mesa recep-
não o fizer, fica sujeito, além das penalidades previstas para tora, ou nas imediações, observado o disposto no Art. 141.
o eleitor que não vota no território nacional, à proibição de Art. 239. Aos par dos polí cos é assegurada a prioridade
requerer qualquer documento perante a repar ção diplo- postal durante os 60 (sessenta) dias anteriores à realização
má ca a que es ver subordinado, enquanto não se jus ficar. das eleições, para remessa de material de propaganda de
Art. 232. Todo o processo eleitoral realizado no estran- seus candidatos registrados.
geiro fica diretamente subordinado ao Tribunal Regional do
Distrito Federal. TÍTULO II
Art. 233. O Tribunal Superior Eleitoral e o Ministério DA PROPAGANDA PARTIDÁRIA
das Relações Exteriores baixarão as instruções necessárias
e adotarão as medidas adequadas para o voto no exterior. Art. 240. A propaganda de candidatos a cargos ele vos
Art. 233-A. Aos eleitores em trânsito no território nacio- somente é permi da após a respec va escolha pela conven-
nal é igualmente assegurado o direito de voto nas eleições ção. (Vide Lei nº 12.034, de 2009)
para Presidente e Vice-Presidente da República, em urnas Parágrafo único. É vedada, desde quarenta e oito horas
especialmente instaladas nas capitais dos Estados e na forma antes até vinte e quatro horas depois da eleição, qualquer
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

regulamentada pelo Tribunal Superior Eleitoral. (Incluído pela propaganda polí ca mediante radiodifusão, televisão, comí-
Lei nº 12.034, de 2009) cios ou reuniões públicas.
Art. 241. Toda propaganda eleitoral será realizada sob a
PARTE QUINTA responsabilidade dos par dos e por eles paga, imputan-
DISPOSIÇÕES VÁRIAS do-lhes solidariedade nos excessos pra cados pelos seus
candidatos e adeptos.
TÍTULO I Art. 242. A propaganda, qualquer que seja a sua forma
DAS GARANTIAS ELEITORAIS ou modalidade, mencionará sempre a legenda par dária e só
poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar
Art. 234. Ninguém poderá impedir ou embaraçar o meios publicitários des nados a criar, ar ficialmente, na
exercício do sufrágio. opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais.
Art. 235. O juiz eleitoral, ou o presidente da mesa recep- (Redação dada pela Lei nº 7.476, de 15/5/1986)
tora, pode expedir salvo-conduto com a cominação de prisão Parágrafo único. Sem prejuízo do processo e das penas
por desobediência até 5 (cinco) dias, em favor do eleitor que cominadas, a Jus ça Eleitoral adotará medidas para fazer

182
impedir ou cessar imediatamente a propaganda realizada § 1º Quando o ato de propaganda ver de realizar-se em
com infração do disposto neste ar go. lugar designado para a celebração de comício, na forma do
Art. 243. Não será tolerada propaganda: disposto no Art. 3º da Lei nº 1207, de 25/10/1950, deverá
I – de guerra, de processos violentos para subverter o ser feita comunicação à autoridade policial, pelo menos 24
regime, a ordem polí ca e social ou de preconceitos de raça (vinte e quatro) horas antes de sua realização.
ou de classes; § 2º Não havendo local anteriormente fixado para a
II – que provoque animosidade entre as forças armadas celebração de comício, ou sendo impossível ou di cil nele
ou contra elas, ou delas contra as classes e ins tuições civis; realizar-se o ato de propaganda eleitoral, ou havendo pedi-
III – de incitamento de atentado contra pessoa ou bens; do para designação de outro local, a comunicação a que se
IV – de ins gação à desobediência cole va ao cumpri- refere o parágrafo anterior será feita, no mínimo, com ante-
mento da lei de ordem pública; cedência, de 72 (setenta e duas) horas, devendo a autoridade
V – que implique em oferecimento, promessa ou soli- policial, em qualquer desses casos, nas 24 (vinte e quatro)
citação de dinheiro, dádiva, rifa, sorteio ou vantagem de horas seguintes, designar local amplo e de fácil acesso, de
qualquer natureza; modo que não impossibilite ou frustre a reunião.
VI – que perturbe o sossego público, com algazarra ou § 3º Aos órgãos da Jus ça Eleitoral compete julgar das
abusos de instrumentos sonoros ou sinais acús cos; reclamações sobre a localização dos comícios e providências
VII – por meio de impressos ou de objeto que pessoa sobre a distribuição equita va dos locais aos par dos.
inexperiente ou rús ca possa confundir com moeda; Art. 246. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997)
VIII – que prejudique a higiene e a esté ca urbana ou Art. 247. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997)
contravenha a posturas municiais ou a outra qualquer res- Art. 248. Ninguém poderá impedir a propaganda elei-
trição de direito; toral, nem inu lizar, alterar ou perturbar os meios lícitos
IX – que caluniar, difamar ou injuriar quaisquer pessoas, nela empregados.
bem como órgãos ou en dades que exerçam autoridade Art. 249. O direito de propaganda não importa restrição
pública. ao poder de polícia quando este deva ser exercído em bene-
§ 1º O ofendido por calúnia, difamação ou injúria, sem cio da ordem pública.
prejuízo e independentemente da ação penal competente, Art. 250. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997)
poderá demandar, no Juízo Civil a reparação do dano moral Art. 251. No período des nado à propaganda eleitoral
respondendo por este o ofensor e, solidariamente, o par do gratuita não prevalecerão quaisquer contratos ou ajustes
polí co deste, quando responsável por ação ou omissão a firmados pelas empresas que possam burlar ou tornar ine-
quem que favorecido pelo crime, haja de qualquer modo xequível qualquer disposi vo deste Código ou das instruções
contribuído para ele. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) baixadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.
§ 2º No que couber aplicar-se-ão na reparação do dano Art. 252. (Revogado pelo Decreto-Lei nº 1.538, de
moral, referido no parágrafo anterior, os ar gos. 81 a 88 da 14/4/1977)
Lei nº 4117, de 27/08/1962. (Incluído pela Lei nº 4.961, de Art. 253. (Revogado pelo Decreto-Lei nº 1.538, de
4/5/1966) 14/4/1977)
§ 3º É assegurado o direito de resposta a quem for, Art. 254. (Revogado pelo Decreto-Lei nº 1.538, de
injuriado difamado ou caluniado através da imprensa rádio, 14/4/1977)
televisão, ou alto-falante, aplicando-se, no que couber, Art. 255. Nos 15 (quinze) dias anteriores ao pleito é
os ar gos. 90 e 96 da Lei nº 4117, de 27/8/1962. (Incluído proibida a divulgação, por qualquer forma, de resultados de
pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) prévias ou testes pré-eleitorais.
Art. 244. É assegurado aos par dos polí cos registrados Art. 256. As autoridades administra vas federais, estadu-
o direito de, independentemente de licença da autoridade ais e municipais proporcionarão aos par dos, em igualdade
pública e do pagamento de qualquer contribuição: de condições, as facilidades permi das para a respec va
I – fazer inscrever, na fachada de suas sedes e depen- propaganda.
dências, o nome que os designe, pela forma que melhor § 1º No período da campanha eleitoral, independen-
lhes parecer; temente do critério de prioridade, os serviços telefônicos,
II – instalar e fazer funcionar, normalmente, das quatorze oficiais ou concedidos, farão instalar, na sede dos diretórios
às vinte e duas horas, nos três meses que antecederem as devidamente registrados, telefones necessários, mediante
eleições, alto-falantes, ou amplificadores de voz, nos locais requerimento do respec vo presidente e pagamento das
referidos, assim como em veículos seus, ou à sua disposi- taxas devidas. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
ção, em território nacional, com observância da legislação § 2º O Tribunal Superior Eleitoral baixará as instruções
comum. necessárias ao cumprimento do disposto no parágrafo ante-
Parágrafo único. Os meios de propaganda a que se refere rior fixado as condições a serem observadas. (Incluído pela
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o nº II deste ar go não serão permi dos, a menos de 500 Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
metros:
I – das sedes do Execu vo Federal, dos Estados, Territó- TÍTULO III
rios e respec vas Prefeituras Municipais; DOS RECURSOS
II – das Câmaras Legisla vas Federais, Estaduais e Mu-
nicipais; CAPÍTULO I
III – dos Tribunais Judiciais; Disposições Preliminares
IV – dos hospitais e casas de saúde;
V – das escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros, Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito sus-
quando em funcionamento; pensivo.
VI – dos quartéis e outros estabelecimentos militares. Parágrafo único. A execução de qualquer acórdão será
Art. 245. A realização de qualquer ato de propaganda feita imediatamente, através de comunicação por o cio,
par dária ou eleitoral, em recinto aberto, não depende de telegrama, ou, em casos especiais, a critério do presidente
licença da polícia. do Tribunal, através de cópia do acórdão.

183
Art. 258. Sempre que a lei não fixar prazo especial, o re- CAPÍTULO II
curso deverá ser interposto em três dias da publicação do Dos Recursos Perante as Juntas e Juízos Eleitorais
ato, resolução ou despacho.
Art. 259. São preclusivos os prazos para interposição Art. 265. Dos atos, resoluções ou despachos dos juízes
de recurso, salvo quando neste se discu r matéria cons - ou juntas eleitorais caberá recurso para o Tribunal Regional.
tucional. Parágrafo único. Os recursos das decisões das Juntas
Parágrafo único. O recurso em que se discu r matéria serão processados na forma estabelecida pelos ar gos. 169
cons tucional não poderá ser interposto fora do prazo. Perdi- e seguintes.
do o prazo numa fase própria, só em outra que se apresentar Art. 266. O recurso independerá de termo e será inter-
poderá ser interposto. posto por pe ção devidamente fundamentada, dirigida ao
Art. 260. A distribuição do primeiro recurso que chegar juiz eleitoral e acompanhada, se o entender o recorrente,
ao Tribunal Regional ou Tribunal Superior, previnirá a com- de novos documentos.
petência do relator para todos os demais casos do mesmo Parágrafo único. Se o recorrente se reportar a coação,
município ou Estado. fraude, uso de meios de que trata o art. 237 ou emprego de
Art. 261. Os recursos parciais, entre os quais não se processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por
incluem os que versarem matéria referente ao registro de lei, dependentes de prova a ser determinada pelo Tribunal,
candidatos, interpostos para os Tribunais Regionais no caso bastar-lhe-á indicar os meios a elas conducentes. (Incluído
de eleições municipais, e para o Tribunal Superior no caso pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
de eleições estaduais ou federais, serão julgados à medida Art. 267. Recebida a pe ção, mandará o juiz in mar o
que derem entrada nas respec vas Secretarias. recorrido para ciência do recurso, abrindo-se-lhe vista dos
§ 1º Havendo dois ou mais recursos parciais de um autos a fim de, em prazo igual ao estabelecido para a sua
mesmo município ou Estado, ou se todos, inclusive os de interposição, oferecer razões, acompanhadas ou não de
diplomação já es verem no Tribunal Regional ou no Tribu- novos documentos.
nal Superior, serão eles julgados seguidamente, em uma ou § 1º A in mação se fará pela publicação da no cia da vista
mais sessões. no jornal que publicar o expediente da Jus ça Eleitoral, onde
§ 2º As decisões com os esclarecimentos necessários houver, e nos demais lugares, pessoalmente pelo escrivão,
ao cumprimento, serão comunicadas de uma só vez ao juiz independente de inicia va do recorrente.
eleitoral ou ao presidente do Tribunal Regional. § 2º Onde houver jornal oficial, se a publicação não ocor-
§ 3º Se os recursos de um mesmo município ou Estado rer no prazo de 3 (três) dias, a in mação se fará pessoalmente
deram entrada em datas diversas, sendo julgados separa- ou na forma prevista no parágrafo seguinte.
damente, o juiz eleitoral ou o presidente do Tribunal Re- § 3º Nas zonas em que se fizer in mação pessoal, se não
gional, aguardará a comunicação de todas as decisões para for encontrado o recorrido dentro de 48 (quarenta e oito)
cumpri-las, salvo se o julgamento dos demais importar em horas, a in mação se fará por edital afixado no fórum, no
alteração do resultado do pleito que não tenha relação com local de costume.
o recurso já julgado. § 4º Todas as citações e in mações serão feitas na forma
§ 4º Em todos os recursos, no despacho que determinar estabelecida neste ar go.
a remessa dos autos à instância superior, o juízo “a quo” § 5º Se o recorrido juntar novos documentos, terá o
esclarecerá quais os ainda em fase de processamento e, no recorrente vista dos autos por 48 (quarenta e oito) horas
úl mo, quais os anteriormente reme dos. para falar sobre os mesmos, contado o prazo na forma
§ 5º Ao se realizar a diplomação, se ainda houver recurso deste ar go.
pendente de decisão em outra instância, será consignado § 6º Findos os prazos a que se referem os parágrafos
que os resultados poderão sofrer alterações decorrentes anteriores, o juiz eleitoral fará, dentro de 48 (quarenta e oito)
desse julgamento. horas, subir os autos ao Tribunal Regional com a sua resposta
§ 6º Realizada a diplomação, e decorrido o prazo para e os documentos em que se fundar, sujeito à multa de dez por
recurso, o juiz ou presidente do Tribunal Regional comunicará cento do salário-mínimo regional por dia de retardamento,
à instância superior se foi ou não interposto recurso. salvo se entender de reformar a sua decisão. (Redação dada
Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
somente nos seguintes casos: § 7º Se o juiz reformar a decisão recorrida, poderá o
I – inelegibilidade ou incompa bilidade de candidato; recorrido, dentro de 3 (três) dias, requerer suba o recurso
II – errônea interpretação da lei quanto à aplicação do como se por êle interposto.
sistema de representação proporcional;
III – erro de direito ou de fato na apuração final, quanto à CAPÍTULO III
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determinação do quociente eleitoral ou par dário, contagem Dos Recursos nos Tribunais Regionais
de votos e classificação de candidato, ou a sua contemplação
sob determinada legenda; Art. 268. No Tribunal Regional nenhuma alegação escrita
IV – concessão ou denegação do diploma em manifesta ou nenhum documento poderá ser oferecido por qualquer
contradição com a prova dos autos, nas hipóteses do art. 222 das partes, salvo o disposto no art. 270. (Redação dada pela
desta Lei, e do art. 41-A da Lei nº 9.504, de 30 de setembro Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
de 1997. (Redação dada pela Lei nº 9.840, de 28/9/1999) Art. 269. Os recursos serão distribuídos a um relator em
Art. 263. No julgamento de um mesmo pleito eleitoral, 24 (vinte e quatro) horas e na ordem rigorosa da an guidade
as decisões anteriores sobre questões de direito cons tuem dos respec vos membros, esta úl ma exigência sob pena
prejulgados para os demais casos, salvo se contra a tese de nulidade de qualquer ato ou decisão do relator ou do
votarem dois terços dos membros do Tribunal. Tribunal.
Art. 264. Para os Tribunais Regionais e para o Tribunal § 1º Feita a distribuição, a Secretaria do Tribunal abrirá
Superior caberá, dentro de 3 (três) dias, recurso dos atos, vista dos autos à Procuradoria Regional, que deverá emi r
resoluções ou despachos dos respec vos presidentes. parecer no prazo de 5 (cinco) dias.

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§ 2º Se a Procuradoria não emi r parecer no prazo fixado, Art. 275. São admissíveis embargos de declaração:
poderá a parte interessada requerer a inclusão do processo I – quando há no acórdão obscuridade, dúvida ou con-
na pauta, devendo o Procurador, nesse caso, proferir parecer tradição;
oral na assentada do julgamento. II – quando for omi do ponto sobre que devia pronun-
Art. 270. Se o recurso versar sobre coação, fraude, uso ciar-se o Tribunal.
de meios de que trata o Art. 237, ou emprego de processo § 1º Os embargos serão opostos dentro em 3 (três) dias
de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei da data da publicação do acórdão, em pe ção dirigida ao
dependente de prova indicada pelas partes ao interpô-lo relator, na qual será indicado o ponto obscuro, duvidoso,
ou ao impugná-lo, o relator no Tribunal Regional deferi-la-á contraditório ou omisso.
em vinte e quatro horas da conclusão, realizado-se ela no § 2º O relator porá os embargos em mesa para julga-
prazo improrrogável de cinco dias. (Redação dada pela Lei mento, na primeira sessão seguinte proferindo o seu voto.
nº 4.961, de 4/5/1966) § 3º Vencido o relator, outro será designado para lavrar
§ 1º Admi r-se-ão como meios de prova para aprecia- o acórdão.
ção pelo Tribunal as jus ficações e as perícias processadas § 4º Os embargos de declaração suspendem o prazo para
perante o juiz eleitoral da zona, com citação dos par dos a interposição de outros recursos, salvo se manifestamente
que concorreram ao pleito e do representante do Ministério protelatórios e assim declarados na decisão que os rejeitar.
Público. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) Art. 276. As decisões dos Tribunais Regionais são termi-
§ 2º Indeferindo o relator a prova , serão os autos, a re- na vas, salvo os casos seguintes em que cabe recurso para
querimento do interessado, nas vinte e quatro horas seguin- o Tribunal Superior:
tes, presentes à primeira sessão do Tribunal, que deliberará I – especial:
a respeito. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) a) quando forem proferidas contra expressa disposição
§ 3º Protocoladas as diligências probatórias, ou com a de lei;
juntada das jus ficações ou diligências, a Secretaria do Tri- b) quando ocorrer divergência na interpretação de lei
bunal abrirá, sem demora, vista dos autos, por vinte e quatro entre dois ou mais tribunais eleitorais.
horas, seguidamente, ao recorrente e ao recorrido para II – ordinário:
dizerem a respeito. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) a) quando versarem sobre expedição de diplomas nas
§ 4º Findo o prazo acima, serão os autos conclusos ao eleições federais e estaduais;
relator. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) b) quando denegarem habeas corpus ou mandado de
Art. 271. O relator devolverá os autos à Secretaria no segurança.
prazo improrrogável de 8 (oito) dias para, nas 24 (vinte e § 1º É de 3 (três) dias o prazo para a interposição do
quatro) horas seguintes, ser o caso incluído na pauta de recurso, contado da publicação da decisão nos casos dos
julgamento do Tribunal. nº I, letras a e b e II, letra b e da sessão da diplomação no
§ 1º Tratando-se de recurso contra a expedição de caso do nº II, letra a.
diploma, os autos, uma vez devolvidos pelo relator, serão § 2º Sempre que o Tribunal Regional determinar a rea-
conclusos ao juiz imediato em an guidade como revisor, lização de novas eleições, o prazo para a interposição dos
o qual deverá devolvê-los em 4 (quatro) dias. recursos, no caso do nº II, a, contar-se-á da sessão em que,
§ 2º As pautas serão organizadas com um número de pro- feita a apuração das sessões renovadas, for proclamado o
cessos que possam ser realmente julgados, obedecendo-se resultado das eleições suplementares.
rigorosamente a ordem da devolução dos mesmos à Secreta- Art. 277. Interposto recurso ordinário contra decisão do
ria pelo Relator, ou Revisor, nos recursos contra a expedição Tribunal Regional, o presidente poderá, na própria pe ção,
de diploma, ressalvadas as preferências determinadas pelo mandar abrir vista ao recorrido para que, no mesmo prazo,
regimento do Tribunal. ofereça as suas razões.
Art. 272. Na sessão do julgamento, uma vez feito o re- Parágrafo único. Juntadas as razões do recorrido, serão
latório pelo relator, cada uma das partes poderá, no prazo os autos reme dos ao Tribunal Superior.
improrrogável de dez minutos , sustentar oralmente as suas Art. 278. Interposto recurso especial contra decisão do
conclusões. Tribunal Regional, a pe ção será juntada nas 48 (quarenta
Parágrafo único. Quando se tratar de julgamento de re- e oito) horas seguintes e os autos conclusos ao presidente
cursos contra a expedição de diploma, cada parte terá vinte dentro de 24 (vinte e quatro) horas.
minutos para sustentação oral. § 1º O presidente, dentro em 48 (quarenta e oito) horas
Art. 273. Realizado o julgamento, o relator, se vitorioso, do recebimento dos autos conclusos, proferirá despacho
ou o relator designado para redigir o acórdão, apresentará fundamentado, admi ndo ou não o recurso.
a redação deste, o mais tardar, dentro em 5 (cinco) dias. § 2º Admi do o recurso, será aberta vista dos autos ao re-
§ 1º O acórdão conterá uma síntese das questões deba- corrido para que, no mesmo prazo, apresente as suas razões.
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das e decididas. § 3º Em seguida serão os autos conclusos ao presidente,


§ 2º Sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior, se o que mandará remetê-los ao Tribunal Superior.
Tribunal dispuser de serviço taquigráfico, serão juntas ao Art. 279. Denegado o recurso especial, o recorrente po-
processo as notas respec vas. derá interpor, dentro em 3 (três) dias, agravo de instrumento.
Art. 274. O acórdão, devidamente assinado, será pu- § 1º O agravo de instrumento será interposto por pe çao
blicado, valendo como tal a inserção da sua conclusão no que conterá:
órgão oficial. I – a exposição do fato e do direito;
§1º Se o órgão oficial não publicar o acórdão no prazo II – as razões do pedido de reforma da decisão;
de 3 (três) dias, as partes serão in madas pessoalmente e, III – a indicação das peças do processo que devem ser
se não forem encontradas no prazo de 48 (quarenta e oito) trasladadas.
horas, a in mação se fará por edital afixado no Tribunal, no § 2º Serão obrigatoriamente trasladadas a decisão recor-
local de costume. rida e a cer dão da in mação.
§ 2º O disposto no parágrafo anterior aplicar-se-á a todos § 3º Deferida a formação do agravo, será in mado o
os casos de citação ou in mação. recorrido para, no prazo de 3 (três) dias, apresentar as

185
suas razões e indicar as peças dos autos que serão também Art. 284. Sempre que este Código não indicar o grau
trasladadas. mínimo, entende-se que será ele de quinze dias para a pena
§ 4º Concluída a formação do instrumento o presidente de detenção e de um ano para a de reclusão.
do Tribunal determinará a remessa dos autos ao Tribunal Art. 285. Quando a lei determina a agravação ou atenu-
Superior, podendo, ainda, ordenar a extração e a juntada ação da pena sem mencionar o quantum, deve o juiz fixá-lo
de peças não indicadas pelas partes. entre um quinto e um terço, guardados os limites da pena
§ 5º O presidente do Tribunal não poderá negar segui- cominada ao crime.
mento ao agravo, ainda que interposto fora do prazo legal. Art. 286. A pena de multa consiste no pagamento ao
§ 6º Se o agravo de instrumento não for conhecido, Tesouro Nacional, de uma soma de dinheiro, que é fixada em
porque interposto fora do prazo legal, o Tribunal Superior dias-multa. Seu montante é, no mínimo, 1 (um) dia-multa e,
imporá ao recorrente multa correspondente a valor do maior no máximo, 300 (trezentos) dias-multa.
salário-mínimo vigente no país, multa essa que será inscrita § 1º O montante do dia-multa é fixado segundo o pruden-
e cobrada na forma prevista no art. 367. te arbítrio do juiz, devendo este ter em conta as condições
§ 7º Se o Tribunal Regional dispuser de aparelhamento pessoais e econômicas do condenado, mas não pode ser
próprio, o instrumento deverá ser formado com fotocópias inferior ao salário-mínimo diário da região, nem superior ao
ou processos semelhantes, pagas as despesas, pelo preço valor de um salário-mínimo mensal.
do custo, pelas partes, em relação às peças que indicarem. § 2º A multa pode ser aumentada até o triplo, embora
não possa exceder o máximo genérico caput, se o juiz consi-
CAPÍTULO IV derar que, em virtude da situação econômica do condenado,
Dos Recursos no Tribunal Superior é ineficaz a cominada, ainda que no máximo, ao crime de
que se trate.
Art. 280. Aplicam-se ao Tribunal Superior as disposições Art. 287. Aplicam-se aos fatos incriminados nesta lei as
dos ar gos. 268, 269, 270, 271 (caput), 272, 273, 274 e 275. regras gerais do Código Penal.
Art. 281. São irrecorríveis as decisões do Tribunal Su- Art. 288. Nos crimes eleitorais come dos por meio da
imprensa, do rádio ou da televisão, aplicam-se exclusiva-
perior, salvo as que declararem a invalidade de lei ou ato
mente as normas deste Código e as remissões a outra lei
contrário à Cons tuição Federal e as denegatórias de “habeas
nele contempladas.
corpus”ou mandado de segurança, das quais caberá recurso
ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no
CAPÍTULO II
prazo de 3 (três) dias.
Dos Crimes Eleitorais
§ 1º Juntada a pe ção nas 48 (quarenta e oito) horas se-
guintes, os autos serão conclusos ao presidente do Tribunal, Art. 289. Inscrever-se fraudulentamente eleitor:
que, no mesmo prazo, proferirá despacho fundamentado, Pena – Reclusão até cinco anos e pagamento de cinco
admi ndo ou não o recurso. a 15 dias-multa.
§ 2º Admi do o recurso será aberta vista dos autos ao Art. 290. Induzir alguém a se inscrever eleitor com infra-
recorrido para que, dentro de 3 (três) dias, apresente as ção de qualquer disposi vo deste Código.
suas razões. Pena – Reclusão até 2 anos e pagamento de 15 a 30
§ 3º Findo esse prazo os autos serão reme dos ao Su- dias-multa.
premo Tribunal Federal. Art. 291. Efetuar o juiz, fraudulentamente, a inscrição
Art. 282. Denegado recurso, o recorrente poderá inter- de alistando.
por, dentro de 3 (três) dias, agravo de instrumento, obser- Pena – Reclusão até 5 anos e pagamento de cinco a
vado o disposto no Art. 279 e seus parágrafos, aplicada a quinze dias-multa.
multa a que se refere o § 6º pelo Supremo Tribunal Federal. Art. 292. Negar ou retardar a autoridade judiciária, sem
fundamento legal, a inscrição requerida:
TÍTULO IV Pena – Pagamento de 30 a 60 dias-multa.
DISPOSIÇÕES PENAIS Art. 293. Perturbar ou impedir de qualquer forma o
alistamento:
CAPÍTULO I Pena – Detenção de 15 dias a seis meses ou pagamento
Disposições Preliminares de 30 a 60 dias-multa.
Art. 294. (Revogado pela Lei nº 8.868, de 14/4/1994)
Art. 283. Para os efeitos penais são considerados mem- Art. 295. Reter tulo eleitoral contra a vontade do eleitor:
bros e funcionários da Jus ça Eleitoral: Pena – Detenção até dois meses ou pagamento de 30 a
I – os magistrados que, mesmo não exercendo funções 60 dias-multa.
eleitorais, estejam presidindo Juntas Apuradoras ou se Art. 296. Promover desordem que prejudique os traba-
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encontrem no exercício de outra função por designação de lhos eleitorais;


Tribunal Eleitoral; Pena – Detenção até dois meses e pagamento de 60 a
II – Os cidadão que temporariamente integram órgãos 90 dias-multa.
da Jus ça Eleitoral; Art. 297. Impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio:
III – Os cidadão que hajam sido nomeados para as mesas Pena – Detenção até seis meses e pagamento de 60 a
receptoras ou Juntas Apuradoras; 100 dias-multa.
IV – Os funcionários requisitados pela Jus ça Eleitoral. Art. 298. Prender ou deter eleitor, membro de mesa
§ 1º Considera-se funcionário público, para os efeitos receptora, fiscal, delegado de par do ou candidato, com
penais, além dos indicados no presente ar go, quem, em- violação do disposto no Art. 236:
bora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, Pena – Reclusão até quatro anos.
emprego ou função pública. Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber,
§ 2º Equipara-se a funcionário público quem exerce para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra
cargo, emprego ou função em en dade paraestatal ou em vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou pro-
sociedade de economia mista. meter abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:

186
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de cinco cada urna e antes de passar à subsequente, sob qualquer
a quinze dias-multa. pretexto e ainda que dispensada a expedição pelos fiscais,
Art. 300. Valer-se o servidor público da sua autoridade delegados ou candidatos presentes:
para coagir alguém a votar ou não votar em determinado Pena – pagamento de 90 a 120 dias-multa.
candidato ou par do: Parágrafo único. Nas seções eleitorais em que a contagem
Pena – detenção até seis meses e pagamento de 60 a for procedida pela mesa receptora incorrerão na mesma
100 dias-multa. pena o presidente e os mesários que não expedirem ime-
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário diatamente o respec vo bole m.
da Jus ça Eleitoral e comete o crime prevalecendo-se do Art. 314. Deixar o juiz e os membros da Junta de recolher
cargo a pena é agravada. as cédulas apuradas na respec va urna, fechá-la e lacrá-la,
Art. 301. Usar de violência ou grave ameaça para coagir assim que terminar a apuração de cada seção e antes de
alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou passar à subsequente, sob qualquer pretexto e ainda que
par do, ainda que os fins visados não sejam conseguidos: dispensada a providencia pelos fiscais, delegados ou candi-
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de cinco datos presentes:
a quinze dias-multa. Pena – detenção até dois meses ou pagamento de 90 a
Art. 302. Promover, no dia da eleição, com o fim de impe- 120 dias-multa.
dir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto a concentração Parágrafo único. Nas seções eleitorais em que a contagem
de eleitores, sob qualquer forma, inclusive o fornecimento dos votos for procedida pela mesa receptora incorrerão na
gratuito de alimento e transporte cole vo: (Redação dada mesma pena o presidente e os mesários que não fecharem
pelo Decreto-Lei nº 1.064, de 24/10/1969) e lacrarem a urna após a contagem.
Pena – reclusão de quatro (4) a seis (6) anos e pagamento Art. 315. Alterar nos mapas ou nos bole ns de apuração
de 200 a 300 dias-multa. ((Redação dada pelo Decreto-Lei a votação ob da por qualquer candidato ou lançar nesses do-
nº 1.064, de 24/10/1969) cumentos votação que não corresponda às cédulas apuradas:
Art. 303. Majorar os preços de u lidades e serviços Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15
necessários à realização de eleições, tais como transporte e dias-multa.
alimentação de eleitores, impressão, publicidade e divulga- Art. 316. Não receber ou não mencionar nas atas da
ção de matéria eleitoral.
eleição ou da apuração os protestos devidamente formulados
Pena – pagamento de 250 a 300 dias-multa.
ou deixar de remetê-los à instância superior:
Art. 304. Ocultar, sonegar açambarcar ou recusar no dia
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15
da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de u lida-
dias-multa.
des, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclu-
Art. 317. Violar ou tentar violar o sigilo da urna ou dos
sividade dos mesmos a determinado par do ou candidato:
invólucros.
Pena – pagamento de 250 a 300 dias-multa.
Art. 305. Intervir autoridade estranha à mesa receptora, Pena – reclusão de três a cinco anos.
salvo o juiz eleitoral, no seu funcionamento sob qualquer Art. 318. Efetuar a mesa receptora a contagem dos
pretexto: votos da urna quando qualquer eleitor houver votado sob
Pena – detenção até seis meses e pagamento de 60 a impugnação (art. 190):
90 dias-multa. Pena – detenção até um mês ou pagamento de 30 a 60
Art. 306. Não observar a ordem em que os eleitores dias-multa.
devem ser chamados a votar: Art. 319. Subscrever o eleitor mais de uma ficha de
Pena – pagamento de 15 a 30 dias-multa. registro de um ou mais par dos:
Art. 307. Fornecer ao eleitor cédula oficial já assinalada Pena – detenção até 1 mês ou pagamento de 10 a 30
ou por qualquer forma marcada: dias-multa.
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 Art. 320. Inscrever-se o eleitor, simultaneamente, em
dias-multa. dois ou mais par dos:
Art. 308. Rubricar e fornecer a cédula oficial em outra Pena – pagamento de 10 a 20 dias-multa.
oportunidade que não a de entrega da mesma ao eleitor. Art. 321. Colher a assinatura do eleitor em mais de uma
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 60 a 90 ficha de registro de par do:
dias-multa. Pena – detenção até dois meses ou pagamento de 20 a
Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em 40 dias-multa.
lugar de outrem: Art. 322. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997)
Pena – reclusão até três anos. Art. 323. Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inve-
Art. 310. Pra car, ou permi r membro da mesa receptora ridicos, em relação a par dos ou candidatos e capazes de
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que seja pra cada, qualquer irregularidade que determine a exercerem influência perante o eleitorado:
anulação de votação, salvo no caso do Art. 311: Pena – detenção de dois meses a um ano, ou pagamento
Pena – detenção até seis meses ou pagamento de 90 a de 120 a 150 dias-multa.
120 dias-multa. Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é come do
Art. 311. Votar em seção eleitoral em que não está ins- pela imprensa, rádio ou televisão.
crito, salvo nos casos expressamente previstos, e permi r, Art. 324. Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou
o presidente da mesa receptora, que o voto seja admi do: visando fins de propaganda, imputando-lhe falsamente fato
Pena – detenção até um mês ou pagamento de 5 a 15 definido como crime:
dias-multa para o eleitor e de 20 a 30 dias-multa para o Pena – detenção de seis meses a dois anos, e pagamento
presidente da mesa. de 10 a 40 dias-multa.
Art. 312. Violar ou tentar violar o sigilo do voto: § 1º Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa a
Pena – detenção até dois anos. imputação, a propala ou divulga.
Art. 313. Deixar o juiz e os membros da Junta de expedir § 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o crime,
o bole m de apuração imediatamente após a apuração de mas não é admi da:

187
I – se, cons tuindo o fato imputado crime de ação priva- por qualquer dos seus membros, concorreu para a prá ca
da, o ofendido, não foi condenado por sentença irrecorrível; de delito, ou dela se beneficiou conscientemente.
II – se o fato é imputado ao Presidente da República ou Parágrafo único. Nesse caso, imporá o juiz ao diretório
chefe de governo estrangeiro; responsável pena de suspensão de sua a vidade eleitoral
III – se do crime imputado, embora de ação pública, por prazo de 6 a 12 meses, agravada até o dôbro nas rein-
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. cidências.
Art. 325. Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou Art. 337. Par cipar, o estrangeiro ou brasileiro que não
visando a fins de propaganda, imputando-lhe fato ofensivo es ver no gozo dos seus direitos polí cos, de a vidades par-
à sua reputação: dárias inclusive comícios e atos de propaganda em recintos
Pena – detenção de três meses a um ano, e pagamento fechados ou abertos:
de 5 a 30 dias-multa. Pena – detenção até seis meses e pagamento de 90 a
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se ad- 120 dias-multa.
mite se ofendido é funcionário público e a ofensa é rela va Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá o respon-
ao exercício de suas funções. sável pelas emissoras de rádio ou televisão que autorizar
Art. 326. Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou transmissões de que participem os mencionados neste
visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ar go, bem como o diretor de jornal que lhes divulgar os
ou o decôro: pronunciamentos.
Pena – detenção até seis meses, ou pagamento de 30 a Art. 338. Não assegurar o funcionário postal a prioridade
60 dias-multa. prevista no Art. 239:
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: Pena – Pagamento de 30 a 60 dias-multa.
I – se o ofendido, de forma reprovável, provocou dire- Art. 339. Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo
tamente a injúria; votos, ou documentos rela vos à eleição:
II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra Pena – reclusão de dois a seis anos e pagamento de 5 a
injúria. 15 dias-multa.
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário
que, por sua natureza ou meio empregado, se considerem da Jus ça Eleitoral e comete o crime prevalecendo-se do
aviltantes: cargo, a pena é agravada.
Pena – detenção de três meses a um ano e pagamento Art. 340. Fabricar, mandar fabricar, adquirir, fornecer,
de 5 a 20 dias-multa, além das penas correspondentes à ainda que gratuitamente, subtrair ou guardar urnas, obje-
violência prevista no Código Penal. tos, mapas, cédulas ou papéis de uso exclusivo da Jus ça
Art. 327. As penas cominadas nos ar gos. 324, 325 e Eleitoral:
326, aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é Pena – reclusão até três anos e pagamento de 3 a 15
come do: dias-multa.
I – contra o Presidente da República ou chefe de governo Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário
estrangeiro; da Jus ça Eleitoral e comete o crime prevalecendo-se do
II – contra funcionário público, em razão de suas funções; cargo, a pena é agravada.
III – na presença de várias pessoas, ou por meio que Art. 341. Retardar a publicação ou não publicar, o dire-
facilite a divulgação da ofensa. tor ou qualquer outro funcionário de órgão oficial federal,
Art. 328. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997) estadual, ou municipal, as decisões, citações ou in mações
Art. 329. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997) da Jus ça Eleitoral:
Art. 330. Nos casos dos ar gos. 328 e 329 se o agente Pena – detenção até um mês ou pagamento de 30 a 60
repara o dano antes da sentença final, o juiz pode reduzir dias-multa.
a pena. Art. 342. Não apresentar o órgão do Ministério Público,
Art. 331. Inu lizar, alterar ou perturbar meio de propa- no prazo legal, denúncia ou deixar de promover a execução
ganda devidamente empregado: de sentença condenatória:
Pena – detenção até seis meses ou pagamento de 90 a Pena – detenção até dois meses ou pagamento de 60 a
120 dias-multa. 90 dias-multa.
Art. 332. Impedir o exercício de propaganda: Art. 343. Não cumprir o juiz o disposto no § 3º do
Pena – detenção até seis meses e pagamento de 30 a Art. 357:
60 dias-multa. Pena – detenção até dois meses ou pagamento de 60 a
Art. 333. (Revogado pela Lei nº 9.504, de 30/9/1997) 90 dias-multa.
Art. 334. U lizar organização comercial de vendas, distri- Art. 344. Recusar ou abandonar o serviço eleitoral sem
buição de mercadorias, prêmios e sorteios para propaganda justa causa:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou aliciamento de eleitores: Pena – detenção até dois meses ou pagamento de 90 a


Pena – detenção de seis meses a um ano e cassação do 120 dias-multa.
registro se o responsável for candidato. Art. 345. Não cumprir a autoridade judiciária, ou qual-
Art. 335. Fazer propaganda, qualquer que seja a sua quer funcionário dos órgãos da Jus ça Eleitoral, nos prazos
forma, em língua estrangeira: legais, os deveres impostos por este Código, se a infração
Pena – detenção de três a seis meses e pagamento de não es ver sujeita a outra penalidade: (Redação dada pela
30 a 60 dias-multa. Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
Parágrafo único. Além da pena cominada, a infração ao Pena – pagamento de trinta a noventa dias-multa. (Re-
presente ar go importa na apreensão e perda do material dação dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
u lizado na propaganda. Art. 346. Violar o disposto no Art. 377:
Art. 336. Na sentença que julgar ação penal pela infração Pena – detenção até seis meses e pagamento de 30 a
de qualquer dos ar gos. 322, 323, 324, 325, 326,328, 329, 60 dias-multa.
331, 332, 333, 334 e 335, deve o juiz verificar, de acordo com Parágrafo único. Incorrerão na pena, além da autorida-
o seu livre convencionamento, se diretório local do par do, de responsável, os servidores que prestarem serviços e os

188
candidatos, membros ou diretores de par do que derem § 2º Se o Ministério Público julgar necessários maiores
causa à infração. esclarecimentos e documentos complementares ou outros
Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência a elementos de convicção, deverá requisitá-los diretamente
diligências, ordens ou instruções da Jus ça Eleitoral ou opor de quaisquer autoridades ou funcionários que possam
embaraços à sua execução: fornecê-los.
Pena – detenção de três meses a um ano e pagamento Art. 357. Verificada a infração penal, o Ministério Público
de 10 a 20 dias-multa. oferecerá a denúncia dentro do prazo de 10 (dez) dias.
Art. 348. Falsificar, no todo ou em parte, documento § 1º Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre-
público, ou alterar documento público verdadeiro, para fins sentar a denúncia, requerer o arquivamento da comunicação,
eleitorais: o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invo-
Pena – reclusão de dois a seis anos e pagamento de 15 cadas, fará remessa da comunicação ao Procurador Regional,
a 30 dias-multa. e este oferecerá a denúncia, designará outro Promotor para
§ 1º Se o agente é funcionário público e comete o crime oferecê-la, ou insis rá no pedido de arquivamento, ao qual
prevalecendo-se do cargo, a pena é agravada. só então estará o juiz obrigado a atender.
§ 2º Para os efeitos penais, equipara-se a documento § 2º A denúncia conterá a exposição do fato criminoso
público o emanado de en dade paraestatal inclusive Fun- com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado
dação do Estado. ou esclarecimentos pelos quais se possa iden ficá-lo, a classi-
Art. 349. Falsificar, no todo ou em parte, documento ficação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
par cular ou alterar documento par cular verdadeiro, para § 3º Se o órgão do Ministério Público não oferecer a de-
fins eleitorais: núncia no prazo legal representará contra êle a autoridade
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 3 a 10 judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade
dias-multa. penal.
Art. 350. Omi r, em documento público ou par cular, § 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior
declaração que dêle devia constar, ou nele inserir ou fazer o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação de ou-
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, tro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia.
para fins eleitorais: § 5º Qualquer eleitor poderá provocar a representação
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 contra o órgão do Ministério Público se o juiz, no prazo de
dias-multa, se o documento é público, e reclusão até três 10 (dez) dias, não agir de o cio.
anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é Art. 358. A denúncia, será rejeitada quando:
par cular. I – o fato narrado evidentemente não cons tuir crime;
Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é II – já es ver ex nta a punibilidade, pela prescrição ou
funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do outra causa;
cargo ou se a falsificação ou alteração é de assentamentos III – for manifesta a ilegi midade da parte ou faltar con-
de registro civil, a pena é agravada. dição exigida pela lei para o exercício da ação penal.
Art. 351. Equipara-se a documento (348,349 e 350) Parágrafo único. Nos casos do número III, a rejeição da
para os efeitos penais, a fotografia, o filme cinematográfico, denúncia não obstará ao exercício da ação penal, desde que
o disco fonográfico ou fita de ditafone a que se incorpore promovida por parte legí ma ou sa sfeita a condição.
declaração ou imagem des nada à prova de fato juridica- Art. 359. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora
mente relevante. para o depoimento pessoal do acusado, ordenando a citação
Ar. 352. Reconhecer, como verdadeira, no exercício deste e a no ficação do Ministério Público. (Redação dada
da função pública, firma ou letra que o não seja, para fins pela Lei nº 10.732, de 5/9/2003)
eleitorais: Parágrafo único. O réu ou seu defensor terá o prazo de
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 10 (dez) dias para oferecer alegações escritas e arrolar tes-
dias-multa se o documento é público, e reclusão até três temunhas. (Incluído pela Lei nº 10.732, de 5/9/2003)
anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é Art. 360. Ouvidas as testemunhas da acusação e da
par cular. defesa e pra cadas as diligências requeridas pelo Ministé-
Art. 353. Fazer uso de qualquer dos documentos falsifi- rio Público e deferidas ou ordenadas pelo juiz, abrir-se-á o
cados ou alterados, a que se referem os ar gos. 348 a 352: prazo de 5 (cinco) dias a cada uma das partes – acusação e
Pena – a cominada à falsificação ou à alteração. defesa – para alegações finais.
Art. 354. Obter, para uso próprio ou de outrem, do- Art. 361. Decorrido esse prazo, e conclusos os autos ao
cumento público ou par cular, material ou ideologicamente juiz dentro de quarenta e oito horas, terá o mesmo 10 (dez)
falso para fins eleitorais: dias para proferir a sentença.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Pena – a cominada à falsificação ou à alteração. Art. 362. Das decisões finais de condenação ou absolvi-
ção cabe recurso para o Tribunal Regional, a ser interposto
CAPÍTULO III no prazo de 10 (dez) dias.
Do Processo das Infrações Art. 363. Se a decisão do Tribunal Regional for condena-
tória, baixarão imediatamente os autos à instância inferior
Art. 355. As infrações penais definidas neste Código são para a execução da sentença, que será feita no prazo de 5
de ação pública. (cinco) dias, contados da data da vista ao Ministério Público.
Art. 356. Todo cidadão que ver conhecimento de infra- Parágrafo único. Se o órgão do Ministério Público deixar
ção penal deste Código deverá comunicá-la ao juiz eleitoral de promover a execução da sentença serão aplicadas as
da zona onde a mesma se verificou. normas constantes dos parágrafos 3º, 4º e 5º do Art. 357.
§ 1º Quando a comunicação for verbal, mandará a auto- Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais
ridade judicial reduzi-la a têrmo, assinado pelo apresentante e dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos re-
e por duas testemunhas, e a remeterá ao órgão do Ministério cursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á,
Público local, que procederá na forma deste Código. como lei subsidiária ou suple va, o Código de Processo Penal.

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TÍTULO V Art. 369. O Governo da União fornecerá, para ser distribu-
DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS ído por intermédio dos Tribunais Regionais, todo o material
des nado ao alistamento eleitoral e às eleições.
Art. 365. O serviço eleitoral prefere a qualquer outro, Art. 370. As transmissões de natureza eleitoral, feitas por
é obrigatório e não interrompe o inters cio de promoção autoridades e repar ções competentes, gozam de franquia
dos funcionários para êle requisitados. postal, telegráfica, telefônica, radiotelegráfica ou radiote-
Art. 366. Os funcionários de qualquer órgão da Jus ça lefônica, em linhas oficiais ou nas que sejam obrigadas a
Eleitoral não poderão pertencer a diretório de par do polí- serviço oficial.
co ou exercer qualquer a vidade par dária, sob pena de Art. 371. As repartições públicas são obrigadas, no
demissão. prazo máximo de 10 (dez) dias, a fornecer às autoridades,
Art. 367. A imposição e a cobrança de qualquer multa, aos representantes de par dos ou a qualquer alistando as
salvo no caso das condenações criminais, obedecerão às informações e cer dões que solicitarem rela vas à matéria
seguintes normas: eleitoral, desde que os interessados manifestem especifica-
I – No arbitramento será levada em conta a condição mente as razões e os fins do pedido.
econômica do eleitor; Art. 372. Os tabeliães não poderão deixar de reconhecer
II – Arbitrada a multa, de o cio ou a requerimento do nos documentos necessários à instrução dos requerimentos
eleitor, o pagamento será feito através de selo federal inu - e recursos eleitorais, as firmas de pessoas de seu conheci-
lizado no próprio requerimento ou no respec vo processo; mento, ou das que se apresentarem com 2 (dois) abonadores
III – Se o eleitor não sa sfizer o pagamento no prazo conhecidos.
de 30 (trinta) dias, será considerada dívida líquida e certa, Art. 373. São isentos de sêlo os requerimentos e todos
para efeito de cobrança mediante execu vo fiscal, a que for os papéis des nados a fins eleitorais e é gratuito o reco-
inscrita em livro próprio no Cartório Eleitoral; nhecimento de firma pelos tabeliães, para os mesmos fins.
IV – A cobrança judicial da dívida será feita por ação exe- Parágrafo único. Nos processos -crimes e nos execu vos
cu va na forma prevista para a cobrança da dívida a va da fiscais referente a cobrança de multas serão pagas custas nos
Fazenda Pública, correndo a ação perante os juízos eleitorais; têrmos do Regimento de Custas de cada Estado, sendo as
V – Nas Capitais e nas comarcas onde houver mais de devidas à União pagas através de selos federais inu lizados
um Promotor de Jus ça, a cobrança da dívida far-se-á por nos autos.
intermédio do que for designado pelo Procurador Regional Art. 374. Os membros dos tribunais eleitorais, os juízes
Eleitoral; eleitorais e os servidores públicos requisitados para os órgãos
VI – Os recursos cabíveis, nos processos para cobrança da Jus ça Eleitoral, que, em virtude de suas funções nos
da dívida decorrente de multa, serão interpostos para a mencionados órgãos não verem as férias que lhes coube-
instância superior da Jus ça Eleitoral; rem, poderão gozá-las no ano seguinte , acumuladas ou não.
VII – Em nenhum caso haverá recurso de o cio; (Redação dada pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966)
VIII – As custas, nos Estados, Distrito Federal e Territórios Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 4.961, de
serão cobradas nos termos dos respec vos Regimentos de 4/5/1966)
Custas; Art. 375. Nas áreas contestadas, enquanto não forem
IX – Os juízes eleitorais comunicarão aos Tribunais Re- fixados defini vamente os limites interestaduais, far-se-ão
gionais, trimestralmente, a importância total das multas as eleições sob a jurisdição do Tribunal Regional da circuns-
impostas, nesse período e quanto foi arrecadado através de crição eleitoral em que, do ponto de vista da administração
pagamentos feitos na forma dos números II e III; judiciária estadual, estejam elas incluídas.
X – Idên ca comunicação será feita pelos Tribunais Re- Art. 376. A proposta orçametária da Jus ça Eleitoral será
gionais ao Tribunal Superior. anualmente elaborada pelo Tribunal Superior, de acordo com
§ 1º As multas aplicadas pelos Tribunais Eleitorais serão as propostas parciais que lhe forem reme das pelos Tribunais
consideradas líquidas e certas, para efeito de cobrança me- Regionais, e dentro das normas legais vigentes.
diante execu vo fiscal desde que inscritas em livro próprio Parágrafo único. Os pedidos de créditos adicionais que
na Secretaria do Tribunal competente. (Incluído pela Lei se fizerem necessários ao bom andamento dos serviços
nº 4.961, de 4/5/1966) eleitorais, durante o exercício serão encaminhados em
§ 2º A multa pode ser aumentada até dez vezes, se o juiz, relação trimestral à Câmara dos Deputados, por intermédio
ou Tribunal considerar que, em virtude da situação econô- do Tribunal Superior.
mica do infrator, é ineficaz, embora aplicada no máximo. Art. 377. O serviço de qualquer repar ção, federal, esta-
(Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) dual, municipal, autarquia, fundação do Estado, sociedade de
§ 3º O alistando, ou o eleitor, que comprovar devidamen- economia mista, en dade man da ou subvencionada pelo
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te o seu estado de pobreza, ficará isento do pagamento de poder público, ou que realiza contrato com este, inclusive o
multa. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) respec vo prédio e suas dependências não poderá ser u liza-
§ 4º Fica autorizado o Tesouro Nacional a emi r sêlos, sob do para beneficiar par do ou organização de caráter polí co.
a designação “Selo Eleitoral”, des nados ao pagamento de Parágrafo único. O disposto neste ar go será tornado
emolumentos, custas, despesas e multas, tanto as adminis- efe vo, a qualquer tempo, pelo órgão competente da Jus ça
tra vas como as penais, devidas à Jus ça Eleitoral. (Incluído Eleitoral, conforme o âmbito nacional, regional ou municipal
pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) do órgão infrator mediante representação fundamentada
§ 5º Os pagamentos de multas poderão ser feitos através par dário, ou de qualquer eleitor.
de guias de recolhimento, se a Jus ça Eleitoral não dispuser Art. 378. O Tribunal Superior organizará, mediante
de sêlo eleitoral em quan dade suficiente para atender aos proposta do Corregedor Geral, os serviços da Corregedoria,
interessados. (Incluído pela Lei nº 4.961, de 4/5/1966) designando para desempenhá-los funcionários efe vos do
Art. 368. Os atos requeridos ou propostos em tempo seu quadro e transformando o cargo de um deles, diplo-
oportuno, mesmo que não sejam apreciados no prazo legal, mado em direito e de conduta moral irrepreensível, no de
não prejudicarão aos interessados. Escrivão da Corregedoria símbolo PJ – 1, a cuja nomeação

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serão inerentes, assim na Secretaria como nas diligências, invariavelmente, considerando que, para o efeito de
as atribuições de tular de o cio de Jus ça. foro especial, crime eleitoral não passa de espécie do
Art. 379. Serão considerados de relevância os serviços gênero crime comum (STF. Rcl. Nº 511).
prestados pelos mesários e componentes das Juntas Apu-
radoras. Logo,
§ 1º Tratando-se de servidor público, em caso de pro-
moção a prova de haver prestado tais serviços será levada os crimes eleitorais são crimes comuns, especial-
em consideração para efeito de desempate, depois de ob- mente, diante das regras eleitorais específicas,
servados os critérios já previstos em leis ou regulamentos. das normas de caráter temporário e da incidência
§ 2º Persis ndo o empate de que trata o parágrafo an- típica delimitada no calendário eleitoral entre o
terior, terá preferência, para a promoção, o funcionário que alistamento e a diplomação dos candidatos eleitos,
tenha servido maior número de vezes. pois, fora dessas fases, o crime perde sua natureza
§ 3º O disposto neste ar go não se aplica aos membros jurídico-eleitoral e passa a a ngir bens jurídicos di-
ou servidores de Jus ça Eleitoral. ferenciados (RAMAYANA, 2008, p. 554).
Art. 380. Será feriado nacional o dia em que se realizarem
eleições de data fixada pela Cons tuição Federal; nos demais Classificação dos Crimes Eleitorais
casos, serão as eleições marcadas para um domingo ou dia
já considerado feriado por lei anterior. Existem diversas classificações para os crimes eleitorais.
Art. 381. Esta lei não altera a situação das candidaturas Adota-se a classificação de Joel J. Cândido (2006, p. 283-285).
a Presidente ou Vice-Presidente da República e a Governa-
dor ou Vice-Governador de Estado, desde que resultantes Crimes contra a Organização Administra va da Jus ça
de convenções par dárias regulares e já registradas ou em Eleitoral – arts. 305, 306, 310, 311, 318 e 340 do Código
processo de registro, salvo a ocorrência de outros mo vos Eleitoral;
de ordem legal ou cons tucional que as prejudiquem. Crimes contra os Serviços da Jus ça Eleitoral – arts. 289,
Parágrafo único. Se o registro requerido se referir iso- 290, 291, 292, 293, 296, 303, 304, 341, 342, 343, 344, 345,
ladamente a Presidente ou a Vice-Presidente da República 346 e 347 do Código Eleitoral; art. 11, incisos I, II, III, IV e V,
e a Governador ou Vice-Governador de Estado, a validade da Lei nº 6.091/1974; art. 72 da Lei das Eleições;
respec va dependerá de complementação da chapa conjunta Crimes contra a Fé Pública Eleitoral – arts. 313, 314,
na firma e nos prazos previstos neste Código (Cons tuição, 315, 316, 348, 349, 350, 352, 353 e 354 do Código Eleitoral;
Art. 81, com a redação dada pela Emenda Cons tucional § 2º do art. 68; incisos I e II do art. 72 e art. 87, todos da Lei
nº 9). das Eleições;
Art. 382. Este Código entrará em vigor 30 dias após a Crimes contra a Propaganda Eleitoral – arts. 323, 324,
sua publicação. § 1º do art. 324, 325, 326, § 2º do art. 326, 331, 332, 334,
Art. 383. Revogam-se as disposições em contrário. 335, 337 e parágrafo único do art. 337 do Código Eleitoral;
§ 4º do art. 33, e art. 40, ambos da Lei das Eleições;
Brasília, 15 de julho de 1965. 144º da Independência Crimes contra o Sigilo ou o Exercício do Voto – arts. 295,
e 77º da República. 297, 298, 299, 300, 301, 302, 307, 308, 309, 312, 317 e 339
do Código Eleitoral; art. 5º da Lei nº 7.021/1982; incisos I, II
H. CASTELLO BRANCO e III do § 5º do art. 39, parágrafo único do art. 91, todos da
Milton Soares Campos Lei das Eleições;
Crimes contra os Par dos Polí cos – arts. 319, 320, 321
e 338 do Código Eleitoral; art. 25 da Lei das Inelegibilidades;
CRIMES ELEITORAIS §§ 2º e 3º do art. 34 da Lei das Eleições.

Crime eleitoral, sob o aspecto formal, é a conduta que se Sanções nos Crimes Eleitorais
amolda a um po penal inserido em uma legislação eleitoral.
Os crimes eleitorais protegem bens jurídicos eleitorais, bem Os crimes eleitorais são apenados com penas priva vas
como direitos polí cos. Qualquer conduta que possa macular de liberdade, com multa, com a perda do registro de candi-
a lisura, a legi midade e a normalidade das eleições, assim daturas ou do diploma ou, também, com a suspensão das
também que limite o exercício do sufrágio, será pificada a vidades eleitorais.
como crime eleitoral e receberá uma sanção penal. Segundo o art. 284 do Código Eleitoral, quando não for
Os crimes eleitorais estão descritos nos arts. 289 a 354 do indicado o grau mínimo, entende-se que será ele de quinze
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Código Eleitoral e em leis extravagantes, tais como a Lei das dias para a pena de detenção e de um ano para a de reclusão.
Eleições, Lei nº 6.091/1974, Lei nº 7.021/1982, entre outras. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da
pena sem mencionar o quantum, deve o juiz fixá-lo entre um
Natureza Jurídica dos Crimes Eleitorais quinto e um terço, guardados os limites da pena cominada
ao crime (art. 287 do Código Eleitoral).
Existem duas espécies de crimes: os crimes comuns e
os crimes de responsabilidade. De acordo com a doutrina Crimes em Espécie
majoritária e com a jurisprudência do STF, os crimes eleitorais
são crimes comuns. Nesse sen do: Código Eleitoral
Art. 289. Inscrever-se fraudulentamente eleitor.
Desde, pelo menos, o julgamento da Rcl nº 10, por Pena – Reclusão até cinco anos e pagamento de cinco
acórdão de 10/11/1971, essa E. Corte tem por pací- a 15 dias-multa.
fico que crime eleitoral é reputado, na técnica cons- Art. 290. Induzir alguém a se inscrever eleitor com
tucional, crime comum. A par r daí, a Corte vem, infração de qualquer disposi vo deste Código.

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Pena – Reclusão até 2 anos e pagamento de 15 a 30 Pena – pagamento de 250 a 300 dias-multa.
dias-multa. Art. 305. Intervir autoridade estranha à mesa recep-
Art. 291. Efetuar o juiz, fraudulentamente, a inscrição tora, salvo o juiz eleitoral, no seu funcionamento sob
de alistando. qualquer pretexto.
Pena – Reclusão até 5 anos e pagamento de cinco a Pena – detenção até seis meses e pagamento de 60
quinze dias-multa. a 90 dias-multa.
Art. 292. Negar ou retardar a autoridade judiciária, Art. 306. Não observar a ordem em que os eleitores
sem fundamento legal, a inscrição requerida. devem ser chamados a votar:
Pena – Pagamento de 30 a 60 dias-multa. Pena – pagamento de 15 a 30 dias-multa.
Art. 293. Perturbar ou impedir de qualquer forma o Art. 307. Fornecer ao eleitor cédula oficial já assina-
alistamento. lada ou por qualquer forma marcada.
Pena – Detenção de 15 dias a seis meses ou paga- Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a
mento de 30 a 60 dias-multa. 15 dias-multa.
[...] Art. 308. Rubricar e fornecer a cédula oficial em
Art. 295. Reter tulo eleitoral contra a vontade do
outra oportunidade que não a de entrega da mesma
eleitor.
ao eleitor.
Pena – Detenção até dois meses ou pagamento de
30 a 60 dias-multa. Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 60
Art. 296. Promover desordem que prejudique os a 90 dias-multa.
trabalhos eleitorais. Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou
Pena – Detenção até dois meses e pagamento de 60 em lugar de outrem.
a 90 dias-multa. Pena – reclusão até três anos.
Art. 297. Impedir ou embaraçar o exercício do su- Art. 310. Pra car, ou permi r membro da mesa re-
frágio. ceptora que seja pra cada, qualquer irregularidade
Pena – Detenção até seis meses e pagamento de 60 que determine a anulação de votação, salvo no caso
a 100 dias-multa. do art. 311.
Art. 298. Prender ou deter eleitor, membro de mesa Pena – detenção até seis meses ou pagamento de 90
receptora, fiscal, delegado de par do ou candidato, a 120 dias-multa.
com violação do disposto no art. 236. Art. 311. Votar em seção eleitoral em que não está
Pena – Reclusão até quatro anos. inscrito, salvo nos casos expressamente previstos,
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou rece- e permi r, o presidente da mesa receptora, que o
ber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou voto seja admi do.
qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e Pena – detenção até um mês ou pagamento de 5 a
para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a 15 dias-multa para o eleitor e de 20 a 30 dias-multa
oferta não seja aceita. para o presidente da mesa.
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de Art. 312. Violar ou tentar violar o sigilo do voto.
cinco a quinze dias-multa. Pena – detenção até dois anos.
Art. 300. Valer-se o servidor público da sua autori- Art. 313. Deixar o juiz e os membros da Junta de
dade para coagir alguém a votar ou não votar em expedir o boletim de apuração imediatamente
determinado candidato ou par do. após a apuração de cada urna e antes de passar à
Pena – detenção até seis meses e pagamento de 60 subsequente, sob qualquer pretexto e ainda que
a 100 dias-multa.
dispensada a expedição pelos fiscais, delegados ou
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcioná-
candidatos presentes.
rio da Jus ça Eleitoral e comete o crime prevalecen-
do-se do cargo a pena é agravada. Pena – pagamento de 90 a 120 dias-multa.
Art. 301. Usar de violência ou grave ameaça para Parágrafo único. Nas seções eleitorais em que a con-
coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado tagem for procedida pela mesa receptora incorrerão
candidato ou par do, ainda que os fins visados não na mesma pena o presidente e os mesários que não
sejam conseguidos. expedirem imediatamente o respec vo bole m.
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de Art. 314. Deixar o juiz e os membros da Junta de reco-
cinco a quinze dias-multa. lher as cédulas apuradas na respec va urna, fechá-la
Art. 302. Promover, no dia da eleição, com o fim de e lacrá-la, assim que terminar a apuração de cada
impedir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto seção e antes de passar à subsequente, sob qualquer
a concentração de eleitores, sob qualquer forma, pretexto e ainda que dispensada a providencia pelos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

inclusive o fornecimento gratuito de alimento e fiscais, delegados ou candidatos presentes.


transporte cole vo. Pena – detenção até dois meses ou pagamento de
Pena – reclusão de quatro (4) a seis (6) anos e paga- 90 a 120 dias-multa.
mento de 200 a 300 dias-multa. Parágrafo único. Nas seções eleitorais em que a
Art. 303. Majorar os preços de u lidades e serviços contagem dos votos for procedida pela mesa recep-
necessários à realização de eleições, tais como tora incorrerão na mesma pena o presidente e os
transporte e alimentação de eleitores, impressão, mesários que não fecharem e lacrarem a urna após
publicidade e divulgação de matéria eleitoral. a contagem.
Pena – pagamento de 250 a 300 dias-multa. Art. 315. Alterar nos mapas ou nos bole ns de apu-
Art. 304. Ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no ração a votação ob da por qualquer candidato ou
dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, lançar nesses documentos votação que não corres-
de u lidades, alimentação e meios de transporte, ou ponda às cédulas apuradas.
conceder exclusividade dos mesmos a determinado Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a
par do ou candidato. 15 dias-multa.

192
Art. 316. Não receber ou não mencionar nas atas da § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de
eleição ou da apuração os protestos devidamente for- fato, que, por sua natureza ou meio empregado, se
mulados ou deixar de remetê-los à instância superior. considerem aviltantes.
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a Pena – detenção de três meses a um ano e pagamen-
15 dias-multa. to de 5 a 20 dias-multa, além das penas correspon-
Art. 317. Violar ou tentar violar o sigilo da urna ou dentes à violência prevista no Código Penal.
dos invólucros. Art. 327. As penas cominadas nos arts. 324, 325 e 326
Pena – reclusão de três a cinco anos. aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes
Art. 318. Efetuar a mesa receptora a contagem dos é come do:
votos da urna quando qualquer eleitor houver votado I – contra o Presidente da República ou chefe de
sob impugnação (art. 190). governo estrangeiro;
Pena – detenção até um mês ou pagamento de 30 II – contra funcionário público, em razão de suas
a 60 dias-multa. funções;
Art. 319. Subscrever o eleitor mais de uma ficha de III – na presença de várias pessoas, ou por meio que
registro de um ou mais par dos. facilite a divulgação da ofensa.
Pena – detenção até 1 mês ou pagamento de 10 a [...]
30 dias-multa. Art. 330. Nos casos dos arts. 328 e 329, se o agente
Art. 320. Inscrever-se o eleitor, simultaneamente, em repara o dano antes da sentença final, o juiz pode
dois ou mais par dos. reduzir a pena.
Pena – pagamento de 10 a 20 dias-multa. Art. 331. Inu lizar, alterar ou perturbar meio de
Art. 321. Colher a assinatura do eleitor em mais de propaganda devidamente empregado.
uma ficha de registro de par do. Pena – detenção até seis meses ou pagamento de 90
Pena – detenção até dois meses ou pagamento de a 120 dias-multa.
20 a 40 dias-multa. Art. 332. Impedir o exercício de propaganda.
[...] Pena – detenção até seis meses e pagamento de 30
Art. 323. Divulgar, na propaganda, fatos que sabe a 60 dias-multa.
Art. 334. U lizar organização comercial de vendas,
inverídicos, em relação a par dos ou candidatos e ca-
distribuição de mercadorias, prêmios e sorteios para
pazes de exercerem influência perante o eleitorado.
propaganda ou aliciamento de eleitores.
Pena – detenção de dois meses a um ano, ou paga-
Pena – detenção de seis meses a um ano e cassação
mento de 120 a 150 dias-multa.
do registro se o responsável for candidato.
Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é co-
Art. 335. Fazer propaganda, qualquer que seja a sua
me do pela imprensa, rádio ou televisão.
forma, em língua estrangeira.
Art. 324. Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, Pena – detenção de três a seis meses e pagamento
ou visando fins de propaganda, imputando-lhe falsa- de 30 a 60 dias-multa.
mente fato definido como crime. Parágrafo único. Além da pena cominada, a infração
Pena – detenção de seis meses a dois anos, e paga- ao presente ar go importa na apreensão e perda do
mento de 10 a 40 dias-multa. material u lizado na propaganda.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa Art. 336. Na sentença que julgar ação penal pela
a imputação, a propala ou divulga. infração de qualquer dos arts. 322, 323, 324, 325,
§ 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o 326,328, 329, 331, 332, 333, 334 e 335, deve o juiz
crime, mas não é admi da: verificar, de acordo com o seu livre convencionamen-
I – se, cons tuindo o fato imputado crime de ação to, se diretório local do par do, por qualquer dos seus
privada, o ofendido, não foi condenado por sentença membros, concorreu para a prá ca de delito, ou dela
irrecorrível; se beneficiou conscientemente.
II – se o fato é imputado ao Presidente da República Parágrafo único. Nesse caso, imporá o juiz ao diretó-
ou chefe de governo estrangeiro; rio responsável pena de suspensão de sua a vidade
III – se do crime imputado, embora de ação pública, eleitoral por prazo de 6 a 12 meses, agravada até o
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. dobro nas reincidências.
Art. 325. Difamar alguém, na propaganda eleitoral, Ar. 337. Par cipar, o estrangeiro ou brasileiro que
ou visando a fins de propaganda, imputando-lhe fato não es ver no gozo dos seus direitos polí cos, de
ofensivo à sua reputação. a vidades par dárias inclusive comícios e atos de
Pena – detenção de três meses a um ano, e paga- propaganda em recintos fechados ou abertos.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

mento de 5 a 30 dias-multa. Pena – detenção até seis meses e pagamento de 90


Parágrafo único. A exceção da verdade somente se a 120 dias-multa.
admite se ofendido é funcionário público e a ofensa Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá o respon-
é rela va ao exercício de suas funções. sável pelas emissoras de rádio ou televisão que auto-
Art. 326. Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, rizar transmissões de que par cipem os mencionados
ou visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a neste ar go, bem como o diretor de jornal que lhes
dignidade ou o decoro. divulgar os pronunciamentos.
Pena – detenção até seis meses, ou pagamento de Art. 338. Não assegurar o funcionário postal a prio-
30 a 60 dias-multa. ridade prevista no art. 239.
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: Pena – Pagamento de 30 a 60 dias-multa.
I – se o ofendido, de forma reprovável, provocou Art. 339. Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo
diretamente a injúria; votos, ou documentos rela vos à eleição.
II – no caso de retorsão imediata, que consista em Pena – reclusão de dois a seis anos e pagamento de
outra injúria. 5 a 15 dias-multa.

193
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcioná- fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
rio da Jus ça Eleitoral e comete o crime prevalecen- ser escrita, para fins eleitorais.
do-se do cargo, a pena é agravada. Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a
Art. 340. Fabricar, mandar fabricar, adquirir, fornecer, 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão
ainda que gratuitamente, subtrair ou guardar urnas, até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o
objetos, mapas, cédulas ou papéis de uso exclusivo documento é par cular.
da Jus ça Eleitoral. Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental
Pena – reclusão até três anos e pagamento de 3 a é funcionário público e comete o crime prevalecen-
15 dias-multa. do-se do cargo ou se a falsificação ou alteração é de
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcioná- assentamentos de registro civil, a pena é agravada.
rio da Jus ça Eleitoral e comete o crime prevalecen- Art. 351. Equipara-se a documento (arts. 348, 349 e
do-se do cargo, a pena é agravada. 350) para os efeitos penais, a fotografia, o filme cine-
Art. 341. Retardar a publicação ou não publicar, o di- matográfico, o disco fonográfico ou fita de ditafone
retor ou qualquer outro funcionário de órgão oficial a que se incorpore declaração ou imagem des nada
federal, estadual, ou municipal, as decisões, citações à prova de fato juridicamente relevante.
ou in mações da Jus ça Eleitoral. Ar. 352. Reconhecer, como verdadeira, no exercício
Pena – detenção até um mês ou pagamento de 30 da função pública, firma ou letra que o não seja, para
a 60 dias-multa. fins eleitorais.
Art. 342. Não apresentar o órgão do Ministério Públi- Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a
co, no prazo legal, denúncia ou deixar de promover 15 dias-multa se o documento é público, e reclusão
a execução de sentença condenatória. até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o
Pena – detenção até dois meses ou pagamento de documento é par cular.
60 a 90 dias-multa1. Art. 353. Fazer uso de qualquer dos documentos fal-
Art. 343. Não cumprir o juiz o disposto no § 3º do sificados ou alterados, a que se referem os arts. 348
art. 357. a 352.
Pena – detenção até dois meses ou pagamento de Pena – a cominada à falsificação ou à alteração.
60 a 90 dias-multa. Art. 354. Obter, para uso próprio ou de outrem,
Art. 344. Recusar ou abandonar o serviço eleitoral documento público ou par cular, material ou ideo-
sem justa causa. logicamente falso para fins eleitorais.
Pena – detenção até dois meses ou pagamento de Pena – a cominada à falsificação ou à alteração.
90 a 120 dias-multa.
Art. 345. Não cumprir a autoridade judiciária, ou qual- Lei nº 6.091/1974 (Fornecimento gratuito de trans-
quer funcionário dos órgãos da Jus ça Eleitoral, nos porte, em dias de Eleições)
prazos legais, os deveres impostos por este Código, Art. 11. Cons tui crime eleitoral:
se a infração não es ver sujeita a outra penalidade. I – descumprir, o responsável por órgão, repar ção
Pena – pagamento de trinta a noventa dias-multa. ou unidade do serviço público, o dever imposto no
Art. 346. Violar o disposto no art. 377. art. 3º, ou prestar informação inexata que vise a elidir,
Pena – detenção até seis meses e pagamento de 30 total ou parcialmente, a contribuição de que ele trata;
a 60 dias-multa. Pena – detenção de quinze dias a seis meses e paga-
Parágrafo único. Incorrerão na pena, além da au- mento de 60 a 100 dias-multa.
toridade responsável, os servidores que prestarem II – desatender à requisição de que trata o art. 2º;
serviços e os candidatos, membros ou diretores de Pena – pagamento de 200 a 300 dias-multa, além da
par do que derem causa à infração. apreensão do veículo para o fim previsto.
Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência III – descumprir a proibição dos arts. 5º, 8º e 10;
a diligências, ordens ou instruções da Jus ça Eleitoral Pena – reclusão de quatro a seis anos e pagamento
ou opor embaraços à sua execução. de 200 a 300 dias-multa (art. 302 do Código Eleitoral).
Pena – detenção de três meses a um ano e pagamen- IV – obstar, por qualquer forma, a prestação dos ser-
to de 10 a 20 dias-multa. viços previstos nos arts. 4º e 8º desta Lei, atribuídos
Art. 348. Falsificar, no todo ou em parte, documento à Jus ça Eleitoral;
público, ou alterar documento público verdadeiro, Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
para fins eleitorais. V – u lizar em campanha eleitoral, no decurso dos 90
Pena – reclusão de dois a seis anos e pagamento de (noventa) dias que antecedem o pleito, veículos e em-
15 a 30 dias-multa. barcações pertencentes à União, Estados, Territórios,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 1º Se o agente é funcionário público e comete o Municípios e respec vas autarquias e sociedades de


crime prevalecendo-se do cargo, a pena é agravada. economia mista.
§ 2º Para os efeitos penais, equipara-se a documento Pena – cancelamento do registro do candidato ou de
público o emanado de en dade paraestatal inclusive seu diploma, se já houver sido proclamado eleito.
Fundação do Estado.
Art. 349. Falsificar, no todo ou em parte, documento Lei das Inelegibilidades
par cular ou alterar documento par cular verdadei- Art. 20. O candidato, par do polí co ou coligação
ro, para fins eleitorais. são parte legí ma para denunciar os culpados e
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 3 a promover-lhes a responsabilidade; a nenhum ser-
10 dias-multa. vidor público, inclusive de autarquias, de en dade
Art. 350. Omi r, em documento público ou par cular, paraestatal e de sociedade de economia mista será
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou lícito negar ou retardar ato de o cio tendente a esse
1
fim, sob pena de crime funcional.
Assunto cobrado na prova do Ministério Público do Estado de Rondônia/Cespe/
Promotor de Jus ça Subs tuto/2010/Questão 59. [...]

194
Art. 25. Cons tui crime eleitoral a arguição de inele- Art. 87. Na apuração, será garan do aos fiscais e dele-
gibilidade, ou a impugnação de registro de candidato gados dos par dos e coligações o direito de observar
feito por interferência do poder econômico, desvio diretamente, a distância não superior a um metro da
ou abuso do poder de autoridade, deduzida de forma mesa, a abertura da urna, a abertura e a contagem
temerária ou de manifesta má-fé. das cédulas e o preenchimento do bole m.
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, § 1º O não atendimento ao disposto no caput enseja
e multa de 20 (vinte) a 50 (cinquenta) vezes o valor a impugnação do resultado da urna, desde que apre-
do Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e, no caso de sua sentada antes da divulgação do bole m.
ex nção, de tulo público que o subs tua. § 2º Ao final da transcrição dos resultados apurados
no bole m, o Presidente da Junta Eleitoral é obrigado
Lei das Eleições a entregar cópia deste aos par dos e coligações con-
Art. 33. Omissis.: correntes ao pleito cujos representantes o requeiram
§ 4º A divulgação de pesquisa fraudulenta cons tui até uma hora após sua expedição.
crime, punível com detenção de seis meses a um ano § 3º Para os fins do disposto no parágrafo anterior, cada
e multa no valor de cinquenta mil a cem mil UFIR. par do ou coligação poderá credenciar até três fiscais
Art. 34. Omissis.: perante a Junta Eleitoral, funcionando um de cada vez.
§ 1º Mediante requerimento à Justiça Eleitoral, § 4º O descumprimento de qualquer das disposições
os par dos poderão ter acesso ao sistema interno de deste ar go cons tui crime, punível com detenção de
controle, verificação e fiscalização da coleta de dados um a três meses, com a alterna va de prestação de
serviços à comunidade pelo mesmo período e multa,
das en dades que divulgaram pesquisas de opinião
no valor de um mil a cinco mil UFIR.
rela vas às eleições, incluídos os referentes à iden-
[...]
ficação dos entrevistadores e, por meio de escolha
Art. 91. Nenhum requerimento de inscrição eleitoral
livre e aleatória de planilhas individuais, mapas ou ou de transferência será recebido dentro dos cento e
equivalentes, confrontar e conferir os dados publi- cinquenta dias anteriores à data da eleição.
cados, preservada a iden dade dos respondentes. Parágrafo único. A retenção de tulo eleitoral ou do
§ 2º O não cumprimento do disposto neste ar go comprovante de alistamento eleitoral cons tui crime,
ou qualquer ato que vise a retardar, impedir ou punível com detenção, de um a três meses, com a alter-
dificultar a ação fiscalizadora dos par dos cons tui na va de prestação de serviços à comunidade por igual
crime, punível com detenção, de seis meses a um período, e multa no valor de cinco mil a dez mil UFIR.
ano, com a alterna va de prestação de serviços à [...]
comunidade pelo mesmo prazo, e multa no valor de Art. 94. Os feitos eleitorais, no período entre o regis-
dez mil a vinte mil UFIR. tro das candidaturas até cinco dias após a realização
§ 3º A comprovação de irregularidade nos dados pu- do segundo turno das eleições, terão prioridade para
blicados sujeita os responsáveis às penas mencionadas a par cipação do Ministério Público e dos Juízes de
no parágrafo anterior, sem prejuízo da obrigatoriedade todas as Jus ças e instâncias, ressalvados os pro-
da veiculação dos dados corretos no mesmo espaço, cessos de habeas corpus e mandado de segurança.
local, horário, página, caracteres e outros elementos § 1º É defeso às autoridades mencionadas neste ar-
de destaque, de acordo com o veículo usado. go deixar de cumprir qualquer prazo desta Lei, em
[...] razão do exercício das funções regulares.
Art. 39. Omissis.: § 2º O descumprimento do disposto neste ar go cons-
§ 5º Cons tuem crimes, no dia da eleição, puníveis tui crime de responsabilidade e será objeto de ano-
com detenção, de seis meses a um ano, com a al- tação funcional para efeito de promoção na carreira.
terna va de prestação de serviços à comunidade
pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil PROCESSO PENAL ELEITORAL
a quinze mil UFIR:
I – o uso de alto-falantes e amplificadores de som ou Introdução
a promoção de comício ou carreata;
II – a arregimentação de eleitor ou a propaganda de O processo penal eleitoral, apesar de ser ramo autônomo
boca de urna; da ciência jurídica, com princípios específicos, mas tendo
III – a divulgação de qualquer espécie de propaganda em vista o princípio da instrumentalidade das formas, é o
de par dos polí cos ou de seus candidatos, mediante meio pelo qual o Estado verificará se a conduta perpetrada
publicações, cartazes, camisas, bonés, broches ou é crime e, então, aplicará a sanção prevista pela prá ca do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

dís cos em vestuário. po penal eleitoral.


Art. 68. O bole m de urna, segundo modelo aprovado Assim, se houver a prá ca de uma infração penal eleitoral
pelo Tribunal Superior Eleitoral, conterá os nomes e surge para o Estado o direito de exercer seu jus puniendi, mas
os números dos candidatos nela votados. deverá fazê-lo por meio de um processo, garan ndo-se ao
§ 1º O Presidente da Mesa Receptora é obrigado a réu o direito à ampla defesa e ao contraditório.
entregar cópia do bole m de urna aos par dos e co- O processo penal eleitoral é uma relação jurídica que se
ligações concorrentes ao pleito cujos representantes instaura entre o tular da ação, o réu e o Estado-Juiz. Nessa
o requeiram até uma hora após a expedição. relação processual, há deveres, direitos, ônus e obrigações
§ 2º O descumprimento do disposto no parágrafo para as partes.
anterior cons tui crime, punível com detenção, de Essa relação jurídica processual para a apuração e julga-
um a três meses, com a alterna va de prestação de mento dos crimes eleitorais deverá se instaurar na Jus ça
serviço à comunidade pelo mesmo período, e multa Eleitoral. Aliás, “verificada a conexão entre crime eleitoral e
no valor de um mil a cinco mil UFIR. comum, a competência para processar e julgar ambos é da
[...] Jus ça Eleitoral” (TSE. HC nº 576).

195
Inquérito Policial nos Crimes Eleitorais Denúncia

A realização das inves gações para a apuração da autoria Após o recebimento das informações acerca da ocorrên-
e da materialidade dos crimes eleitorais compete à polícia cia da infração penal eleitoral, o Ministério Público Eleitoral
judiciária da União, ou seja, à polícia federal. No entanto, poderá:
é possível à polícia civil inves gar ilícitos eleitorais. Aliás, • oferecer a denúncia, no prazo de 10 dias;
veja o seguinte julgado do TSE: • requerer o arquivamento do inquérito policial.

A competência legal da Polícia Federal para a instau- Neste úl mo caso, se o juiz eleitoral não concordar com
ração de inquéritos policiais de apuração da prá ca o pedido de arquivamento, deve remeter os autos do IP ao
de ilícito capitulado no Código Eleitoral, por inicia va procurador regional eleitoral e este oferecerá a denúncia,
do Ministério Público, Juiz ou Tribunal Eleitoral, não designará outro membro do Ministério Público Eleitoral para
exclui a competência, de igual inicia va, da Autori- oferecê-la ou insis rá no pedido de arquivamento, ao qual
dade Policial Estadual, em ação suple va. Faltando estará o juiz eleitoral obrigado a atender.
autoridade policial federal no distrito da culpa, pode São requisitos da denúncia:
a autoridade policial estadual, ex officio, se couber, • exposição do fato criminoso com todas as suas circuns-
autuar em flagrante e conceder fiança, por crime tâncias;
eleitoral, respeitadas as mesmas restrições impostas • qualificação do acusado;
à Polícia Federal (Res. TSE nº 11.494, de 8/10/1982, • classificação do crime;
Cta. nº 6.656, Rel. Min. Carlos Madeira). • quando necessário, o rol de testemunhas.

Na seara eleitoral, o inquérito policial deverá ser con- A denúncia deve ser instruída com provas e fatos do
cluído em 10 dias se o inves gado es ver preso ou em 30 crime eleitoral. “Meras no cias jornalís cas não cons tuem
dias se es ver solto. provas” (Res. TSE nº 22.541, Rel. Min. Gerardo Grossi).
Se a denúncia não for oferecida no prazo de 10 dias,
No cia-Crime Eleitoral o juiz deve solicitar ao Procurador Regional Eleitoral para
que designe outro membro do Ministério Público Eleitoral
O inquérito policial, no âmbito eleitoral, somente será para oferecê-la.
instaurado mediante requisição do Ministério Público Eleito-
Hipóteses de rejeição da denúncia
ral e da Jus ça Eleitoral, salvo no caso de prisão em flagrante.
Pelo art. 356 do Código Eleitoral, qualquer pessoa do
A denúncia deverá ser rejeitada quando:
povo que ver conhecimento da existência de infração penal
• o fato narrado evidentemente não cons tuir crime;
eleitoral em que caiba ação pública deverá, verbalmente ou
• es ver ex nta a punibilidade (art. 107, Código Penal);
por escrito, comunicá-la ao juiz eleitoral.
• for manifesta a ilegi midade da parte ou faltar condi-
Uma vez recebida essa no cia-crime eleitoral, o juiz
ção exigida pela lei para o exercício da ação penal.
eleitoral remetê-la-á ao Ministério Público Eleitoral ou à
polícia judiciária, com a requisição para a instauração de No úl mo caso, a rejeição da denúncia não obsta que
inquérito policial. a ação penal seja exercida novamente caso seja sa sfeita
Por sua vez, se a autoridade policial ver conhecimento a condição de procedibilidade ou caso seja proposta pela
da prá ca de crime eleitoral, deverá informar imediatamente parte legí ma.
ao juiz eleitoral competente e, se necessário, procederá a
inves gação para a apuração de elementos que possam
subsidiar o eventual oferecimento da ação penal.
Competência
Nos moldes da previsão do art. 121 da Cons tuição
Ação Penal Eleitoral Federal, a competência da Jus ça Eleitoral será regulada
por meio de lei complementar. Embora, no que se refere à
A ação penal que dá surgimento ao processo eleitoral é seara penal eleitoral, não ter havido a atuação do legislador
classificada, segundo a taxionomia tradicional, como ação pe- infracons tucional, entende-se ser da Jus ça Eleitoral a
nal pública incondicionada. Desse modo, a ação penal elei- competência para julgar os crimes eleitorais.
toral deverá ser proposta pelo Ministério Público Eleitoral. Abaixo faz-se uma análise dos órgãos jurisdicionais com-
Há a possibilidade de ajuizamento da ação penal privada
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

petentes para o julgamento dos crimes eleitorais.


subsidiária da pública?
Supremo Tribunal Federal
Na medida em que a própria Carta Magna não es-
tabeleceu nenhuma restrição quanto à aplicação O Presidente, o Vice-Presidente da República, o Senador
da ação penal privada subsidiária, nos processos e o Deputado Federal, se cometerem infrações penais elei-
rela vos aos delitos previstos na legislação especial, torais, têm foro de prerroga va de função cons tucional e o
deve ser ela admi da nas ações em que se apuram julgamento dos crimes eleitorais come dos por eles deve ser
crimes eleitorais. A queixa-crime em ação penal feito pelo Supremo Tribunal Federal. A esse respeito, veja o
privada subsidiária somente pode ser aceita caso o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:
representante do Ministério Público não tenha ofe-
recido denúncia, requerido diligências ou solicitado O Supremo Tribunal Federal, sendo o juiz natural
o arquivamento de inquérito policial, no prazo legal dos membros do Congresso Nacional nos processos
(TSE. REspe nº 21.295). penais condenatórios, é o único órgão judiciário

196
competente para ordenar, no que se refere à apu- os crimes da esfera de competência originária dos
ração de supostos crimes eleitorais atribuídos a Tribunais Regionais Eleitorais ou mesmo do Tribunal
parlamentares federais, toda e qualquer providência Superior Eleitoral e, ainda, do Supremo Tribunal
necessária à obtenção de dados probatórios essen- Federal ou mesmo do Superior Tribunal de Jus ça.
ciais à demonstração de alegada prá ca delituosa, É que, neste âmbito, a competência é remanescente,
inclusive a decretação da quebra de sigilo bancário ou seja, somente se não forem da seara de atribui-
dos congressistas. A jurisprudência do Supremo ções originárias dos órgãos jurisdicionais superiores
Tribunal Federal firmou-se no sen do de definir a é que deterão de tal parcela de jurisdição.
locução cons tucional ‘crimes comuns’ como expres-
são abrangente a todas as modalidades de infrações Quadro esquemá co da competência no processo penal
penais, estendendo-se aos delitos eleitorais e alcan- eleitoral:
çando, até mesmo, as próprias contravenções penais
(Rcl nº 511, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em
9/2/1995, Plenário, DJ de 15/9/1995). Autor do Crime Eleitoral Órgão Eleitoral
Presidente e Vice-Presidente Supremo Tribunal Federal
Superior Tribunal de Jus ça Governador e Vice-Gover-
Superior Tribunal de Jus ça
nador
Se Governador ou o Vice-Governador cometerem crimes Prefeito Tribunal Regional Eleitoral
eleitorais, devem ser julgados pelo Superior Tribunal de Vice-Prefeito Juiz Eleitoral
Jus ça. Nesse sen do: Senador da República Supremo Tribunal Federal
Deputado Federal Supremo Tribunal Federal
A jurisprudência se pacificou no sen do de que a
Deputado Estadual Tribunal Regional Eleitoral
competência para processar e julgar, originariamen-
te, os feitos rela vos a crimes eleitorais pra cados Vereadores Juiz Eleitoral
por governador de Estado é do Superior Tribunal de
Jus ça (TSE. REspe nº 15.584). Rito Processual

Tribunal Superior Eleitoral Todo cidadão que ver conhecimento de infração penal
eleitoral deverá comunicá-la ao juiz eleitoral da zona onde
Segundo a alínea d, do inciso I, do art. 22, do Código a mesma se verificou. Quando esta comunicação for verbal,
Eleitoral, compe rá ao TSE processar e julgar, originaria- mandará a autoridade judicial reduzi-la a termo, assinado
mente, os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem pelo apresentante e por duas testemunhas, e a remeterá ao
conexos come dos pelos seus próprios juízes e pelos juízes órgão do Ministério Público local (art. 356, CE).
dos Tribunais Regionais. Se o Ministério Público julgar necessários maiores es-
No entanto, essa regra legal não foi recepcionada pela clarecimentos e documentos complementares ou outros
Cons tuição Federal de 1988, pois, de acordo com a nova elementos de convicção, deverá requisitá-los diretamente
ordem jurídica, os crimes comuns (e o crime eleitoral é es- de quaisquer autoridades ou funcionários que possam
pécie de crime comum) come dos pelos Ministros do TSE fornecê-los.
devem ser processados e julgados pelo STF, e os come dos No que se refere ao rito processual, o julgamento dos
pelos membros do TRE devem ser julgados pelo STJ. crimes eleitorais está regulado pelo Código Eleitoral, da
Portanto, o TSE não possui competência penal originária. seguinte forma:
1º Passo – Verificada a infração penal, o Ministério
Tribunal Regional Eleitoral Público oferecerá a denúncia dentro do prazo de 10 dias.
1.1 Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresen-
O TRE julgará os crimes come dos pelos Deputados tar a denúncia, requerer o arquivamento da comunicação,
Estaduais e Distritais, pelos Prefeitos (STF. HC nº 434), pelos
o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invo-
Juízes Eleitorais, pelos promotores eleitorais.
cadas, fará remessa da comunicação ao Procurador Regional,
Nota-se, desse modo, que todas as autoridades que, pela
e este oferecerá a denúncia, designará outro Promotor para
Cons tuição Federal, possuem foro de prerroga va de função
perante o Tribunal de Jus ça ou perante o Tribunal Regional oferecê-la, ou insis rá no pedido de arquivamento, ao qual
Federal, quando pra carem crimes eleitorais, deverão ser só então estará o juiz obrigado a atender.
1.2 A denúncia conterá a exposição do fato criminoso
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

processadas e julgadas perante o Tribunal Regional Eleitoral.


com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado
Juiz Eleitoral ou esclarecimentos pelos quais se possa iden ficá-lo, a classi-
Em linha de princípio, caberá ao Juiz Eleitoral, do lugar da ficação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
prá ca deli va, o julgamento dos crimes eleitorais. Exceção 1.3 Se o órgão do Ministério Público não oferecer a de-
à regra serão as hipóteses em que o autor goze de foro de núncia no prazo legal, representará contra ele a autoridade
prerroga va de função estabelecida na Cons tuição. Serão judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade
também julgados pelo Juiz Eleitoral, os vices-prefeitos e os penal.
vereadores. Trata-se de competência fixada de forma residual. 1.4 Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior,
Seguem as lições de Suzana de Camargo Gomes (1998, o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação de ou-
p. 189) acerca da competência do juiz eleitoral: tro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia.
1.5 Qualquer eleitor poderá provocar a representação
A competência dos juízes eleitorais, em matéria contra o órgão do Ministério Público se o juiz, no prazo de
criminal, tem como pressuposto o de que não sejam 10 (dez) dias, não agir de o cio.

197
2º Passo – O Juiz rejeitará a denúncia quando: dos Estados e da Jus ça Federal, pelo prazo de 6 (seis)
2.1 o fato narrado evidentemente não cons tuir crime; meses, prorrogável por igual período, até o máximo
2.2 já es ver ex nta a punibilidade, pela prescrição ou de 2 (dois) anos, para a realização do interrogatório
outra causa; e de outros atos da instrução, na sede do tribunal ou
2.3 for manifesta a ilegi midade da parte ou faltar con- no local onde se deva produzir o ato. (Incluído pela
dição exigida pela lei para o exercício da ação penal. Lei nº 12.019, de 2009)
Art. 4º Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribu-
3º Passo – Recebida a denúncia, o juiz designará dia e nal, far-se-á a no ficação do acusado para oferecer
hora para o depoimento pessoal do acusado, ordenando a resposta no prazo de quinze dias.
citação deste e a no ficação do Ministério Público. § 1º Com a no ficação, serão entregues ao acusado
4º Passo – O réu ou seu defensor terá o prazo de 10 cópia da denúncia ou da queixa, do despacho do
dias para oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas. relator e dos documentos por este indicados.
5º Passo – Ouvidas as testemunhas da acusação e da § 2º Se desconhecido o paradeiro do acusado, ou
defesa e pra cadas as diligências requeridas pelo Ministério se este criar dificuldades para que o oficial cumpra
Público e deferidas ou ordenadas pelo juiz, abrir-se-á o prazo a diligência, proceder-se-á a sua notificação por
de cinco dias a cada uma das partes – acusação e defesa – edital, contendo o teor resumido da acusação, para
para alegações finais. que compareça ao Tribunal, em cinco dias, onde terá
6º Passo – Decorrido esse prazo e conclusos os autos ao vista dos autos pelo prazo de quinze dias, a fim de
juiz dentro de quarenta e oito horas, terá o mesmo 10 dias apresentar a resposta prevista neste ar go.
para proferir a sentença. Art. 5º Se, com a resposta, forem apresentados novos
7º Passo – Das decisões finais de condenação ou absol- documentos, será in mada a parte contrária para
vição cabe recurso para o Tribunal Regional, a ser interposto sobre eles se manifestar, no prazo de cinco dias.
no prazo de 10 dias. Parágrafo único. Na ação penal de inicia va privada,
será ouvido, em igual prazo, o Ministério Público.
Art. 6º A seguir, o relator pedirá dia para que o Tri-
Vê-se que o Código Eleitoral somente regulou o rito a
bunal delibere sobre o recebimento, a rejeição da
ser seguido se processo e julgamento forem da competên-
denúncia ou da queixa, ou a improcedência da acusa-
cia do juiz eleitoral. Nos casos de competência originária
ção, se a decisão não depender de outras provas.
dos Tribunais, a jurisprudência tem admi do a aplicação
§ 1º No julgamento de que trata este ar go, será
do procedimento previsto na Lei nº 8.038/1990. A seguir,
facultada sustentação oral pelo prazo de quinze mi-
trazem-se os ar gos da referida Lei relevantes ao processo
nutos, primeiro à acusação, depois à defesa.
penal eleitoral:
§ 2º Encerrados os debates, o Tribunal passará a
deliberar, determinando o Presidente as pessoas
CAPÍTULO I que poderão permanecer no recinto, observado o
Ação Penal Originária disposto no inciso II do art. 12 desta lei.
Art. 7º Recebida a denúncia ou a queixa, o relator
Art. 1º Nos crimes de ação penal pública, o Ministério designará dia e hora para o interrogatório, mandan-
Público terá o prazo de quinze dias para oferecer do citar o acusado ou querelado e in mar o órgão
denúncia ou pedir arquivamento do inquérito ou das do Ministério Público, bem como o querelante ou o
peças informa vas. assistente, se for o caso.
§ 1º Diligências complementares poderão ser defe- Art. 8º O prazo para defesa prévia será de cinco
ridas pelo relator, com interrupção do prazo deste dias, contado do interrogatório ou da in mação do
ar go. defensor da vo.
§ 2º Se o indiciado es ver preso: Art. 9º A instrução obedecerá, no que couber, ao pro-
a) o prazo para oferecimento da denúncia será de cedimento comum do Código de Processo Penal.
cinco dias; § 1º O relator poderá delegar a realização do inter-
b) as diligências complementares não interromperão rogatório ou de outro ato da instrução ao juiz ou
o prazo, salvo se o relator, ao deferi-las, determinar membro de tribunal com competência territorial no
o relaxamento da prisão. local de cumprimento da carta de ordem.
Art. 2º O relator, escolhido na forma regimental, será § 2º Por expressa determinação do relator, as in -
o juiz da instrução, que se realizará segundo o dispos- mações poderão ser feitas por carta registrada com
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

to neste capítulo, no Código de Processo Penal, no aviso de recebimento.


que for aplicável, e no Regimento Interno do Tribunal. Art. 10. Concluída a inquirição de testemunhas, serão
Parágrafo único. O relator terá as atribuições que a in madas a acusação e a defesa, para requerimento
legislação processual confere aos juízes singulares. de diligências no prazo de cinco dias.
Art. 3º Compete ao relator: Art. 11. Realizadas as diligências, ou não sendo estas
I – determinar o arquivamento do inquérito ou de requeridas nem determinadas pelo relator, serão in-
peças informa vas, quando o requerer o Ministério madas a acusação e a defesa para, sucessivamente,
Público, ou submeter o requerimento à decisão apresentarem, no prazo de quinze dias, alegações
competente do Tribunal; escritas.
II – decretar a ex nção da punibilidade, nos casos § 1º Será comum o prazo do acusador e do assistente,
previstos em lei. bem como o dos corréus.
III – convocar desembargadores de Turmas Criminais § 2º Na ação penal de inicia va privada, o Ministério
dos Tribunais de Jus ça ou dos Tribunais Regionais Fe- Público terá vista, por igual prazo, após as alegações
derais, bem como juízes de varas criminais da Jus ça das partes.

198
§ 3º O relator poderá, após as alegações escritas, apresentante e por duas testemunhas, e a remeterá
determinar de o cio a realização de provas reputadas ao Ministério Público Eleitoral. (Cespe/TRE-PA/Ana-
imprescindíveis para o julgamento da causa. lista Judiciário/Área Judiciária)
Art. 12. Finda a instrução, o Tribunal procederá ao
julgamento, na forma determinada pelo regimento Se, ao analisar a comunicação do crime, o Ministério
interno, observando-se o seguinte: Público julgar necessários esclarecimentos adicionais
I – a acusação e a defesa terão, sucessivamente, e documentos complementares ou outros elementos
nessa ordem, prazo de uma hora para sustentação de convicção, deverá requisitá-los diretamente de
oral, assegurado ao assistente um quarto do tempo quaisquer autoridades ou funcionários que possam
da acusação; fornecê-los. (Cespe/TRE-PA/Analista Judiciário/Área
II – encerrados os debates, o Tribunal passará a pro- Judiciária)
ferir o julgamento, podendo o Presidente limitar a
presença no recinto às partes e seus advogados, ou O uso de símbolos ou imagens semelhantes aos
somente a estes, se o interesse público exigir. u lizados pelo governo cons tui crime punível com
pena de detenção ou prestação alterna va e multa.
Aplicação Subsidiária do Código de Processo (Cespe/TRE-MT/Analista Judiciário/Área Judiciária)
Penal
A captação de sufrágio mediante promessa de em-
Por fim, de acordo com o art. 34 do Código Eleitoral, o Có- prego ou função pública, ou outra vantagem pessoal,
digo de Processo Penal será aplicado como norma suple va cons tui crime punível com a cassação do registro
para o preenchimento de eventuais lacunas norma vas nas ou diploma. (Cespe/TRE-MT/Analista Judiciário/Área
regras do processo penal eleitoral. Judiciária)

Isto é correto Causar, intencionalmente, dano sico a equipamento


usado na votação cons tui crime, punível com re-
O Par do Alfa, integrante da Coligação Beta, apre- clusão de cinco a dez anos. (Cespe/TRE-MT/Analista
sentou, por seu presidente, comunicação verbal da Judiciário/Área Judiciária)
prá ca de crime eleitoral ao Juiz Eleitoral da Zona
onde a mesma se verificou. A comunicação foi re- Isto é incorreto
duzida a termo, assinado pelo apresentante e por
duas testemunhas e reme da ao Ministério Público. O Par do Alfa, integrante da Coligação Beta, apresen-
O órgão do Ministério Público requereu o arquiva-
tou, por seu presidente, comunicação verbal da prá ca
mento e o Juiz, não concordando, ordenou a remessa
de crime eleitoral ao Juiz Eleitoral da Zona onde a mes-
da comunicação ao Procurador Regional Eleitoral,
ma se verificou. A comunicação foi reduzida a termo,
tendo este insis do no pedido de arquivamento.
Nesse caso, o Juiz está obrigado a atender e deverá assinado pelo apresentante e por duas testemunhas
determinar o arquivamento da comunicação. (FCC/ e reme da ao Ministério Público. O órgão do Minis-
TRE-AC/Analista Judiciário/Área Judiciária) tério Público requereu o arquivamento e o Juiz, não
concordando, ordenou a remessa da comunicação ao
As infrações penais eleitorais são de ação pública. Procurador Regional Eleitoral, tendo este insis do no
(Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judiciária) pedido de arquivamento. Nesse caso, o juiz remeterá
a comunicação ao Tribunal Superior Eleitoral. (FCC/
Cons tui crime, punível com até dois meses de de- TRE-AC/Analista Judiciário/Área Judiciária)
tenção, abandonar o serviço eleitoral sem justa causa.
(Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judiciária) Os crimes eleitorais estão previstos em capítulos es-
pecíficos do Código Penal brasileiro. (Cespe/TRE-RS/
As infrações penais definidas como crime eleitoral são Analista Judiciário/Área Judiciária)
de ação pública. (Cespe/TRE-RS/Analista Judiciário/
Área Judiciária) O procurador regional eleitoral que receber do juiz
comunicação que fora inicialmente arquivada pelo
Nos crimes eleitorais, quem oferece a denúncia é o Ministério Público não pode insis r na promoção do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Ministério Público perante a Jus ça Eleitoral. (Cespe/ arquivamento em razão da natureza do bem jurídico
TRE-RS/Analista Judiciário/Área Judiciária) tutelado pelo direito penal eleitoral. (Cespe/TRE-PA/
Analista Judiciário/Área Judiciária)
As infrações definidas no Código Eleitoral são de
ação pública. (Cespe/TRE-PA/Analista Judiciário/
Área Judiciária) Realizar a carga o a preparação de urna eletrônica em
local público cons tui crime. (Cespe/TRE-MT/Analista
Todo cidadão que ver conhecimento de infração pe- Judiciário/Área Judiciária)
nal pificada no Código Eleitoral deverá comunicá-la
ao juiz eleitoral da zona onde o crime se verificou. EXERCÍCIOS
(Cespe/TRE-PA/Analista Judiciário/Área Judiciária)
1. (Cespe/TRE-PA/Analista Judiciário/Área Administra -
Quando a comunicação do crime for verbal, mandará va/2007) De acordo com as disposições legais e cons-
a autoridade judicial reduzi-la a termo, assinado pelo tucionais vigentes, assinale a opção incorreta.

199
a) O Código Eleitoral contém normas des nadas a Um é membro do Tribunal Regional Federal com sede na
assegurar a organização e o exercício de direitos Capital do Estado ou no Distrito Federal ou, na ausência,
polí cos; precipuamente, os de votar e ser votado. um juiz federal escolhido pelo Tribunal respec vo. Os
b) Diversamente do que ocorre com as leis em ge- dois úl mos membros são escolhidos pelo
ral, compete ao TSE expedir instruções para a fiel a) Governador do Estado entre seis advogados de no-
execução do Código Eleitoral e das demais normas tável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
eleitorais. em lista da Ordem dos Advogados do Brasil, os quais
c) Todo o poder emana do povo, que o exerce ou por devem ser aprovados pelo Senado Federal.
b) Governador do Estado entre seis advogados de no-
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
tável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
termos da Cons tuição Federal; os mandatários são
em lista do Tribunal de Jus ça, os quais devem ser
escolhidos, direta e secretamente, entre candidatos
aprovados pela Assembleia Legisla va do Estado.
indicados por par dos polí cos nacionais, ressalvada c) Presidente da República entre seis advogados de
a eleição indireta nos casos previstos na Cons tuição notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
e em leis específicas. em lista do Tribunal de Jus ça, os quais devem ser
d) Entre os que não podem alistar-se como eleitores, aprovados pelo Senado Federal.
estão os analfabetos. d) Presidente da República entre seis advogados de
e) Qualquer cidadão pode pretender investidura notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
em cargo ele vo, respeitadas as condições cons - em lista do Tribunal de Jus ça.
tucionais e legais de elegibilidade e incompa bili- e) Presidente da República entre seis advogados de
dade. notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
em lista do Supremo Tribunal Federal.
2. (FCC/TRE-RN/Analista Judiciário/Área Administrati-
va/2011) Peculiaridade da Jus ça Eleitoral é a prerroga- 4. (Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Administra -
va norma va conferida ao Tribunal Superior Eleitoral. va/2009) Criada pelo Código Eleitoral de 1932, a jus ça
Em relação a tal função, é correto afirmar que o TSE eleitoral passou a ser a responsável pela organização
exerce função de e operacionalização do sistema eleitoral brasileiro,
a) legislador primário, com a possibilidade de inovar a vidade fundamental para solidificação do estado de-
mocrá co de direito. Considerando que, desde então,
na ordem jurídica, e que, no que tange ao pleito
ela passou por diversas mudanças, assinale a opção que
eleitoral, há limitação temporal para o exercício de
está de acordo com a norma zação cons tucional em
referido poder norma vo, sendo o dia 5 de março
vigor.
do ano da eleição seu termo final. a) As juntas eleitorais, embora prestem importante
b) natureza secundária, regulamentar somente, assessoria ao trabalho dos juízes eleitorais, não
cabendo-lhe expedir as instruções necessárias à são consideradas órgãos da jus ça eleitoral strictu
fiel execução da lei eleitoral. Considerando que a sensu, por serem formadas ordinariamente apenas
prerroga va do TSE é meramente regulamentar, não por ocasião da realização de alguma eleição, sendo
há limitação temporal para o exercício de referida desfeitas logo a seguir.
função em relação ao pleito eleitoral. b) O TSE é composto por apenas sete ministros, dos
c) legislador primário, com a possibilidade de inovar quais, três são ministros do STF e dois, ministros do
na ordem jurídica. Considerando a natureza de tal STJ, escolhidos mediante declaração de voto pelos
função, não há limitação temporal para seu exercício seus pares que têm assento no órgão especial das
em relação ao pleito eleitoral. respec vas cortes, portanto, os ministros mais an-
d) natureza secundária, regulamentar somente, gos.
cabendo-lhe expedir as instruções necessárias à c) O TRE-MA é composto por dois desembargadores
fiel execução da lei eleitoral. No que tange ao pleito do tribunal de jus ça, dois juízes de direito, um
eleitoral, há limitação temporal para o exercício pelo juiz federal e dois advogados, sendo que apenas
TSE de referido poder norma vo, sendo possível os desembargadores têm de ser escolhidos por
exercê-lo até o dia 5 de março do ano da eleição. votação secreta, tendo em vista que ocupam os
e) legislador primário, inovando na ordem jurídica, dois cargos mais importantes, o de presidente e o
de vice-presidente.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

com a função regulamentar, cabendo-lhe, neste


d) Uma das hipóteses em que cabe recurso para o TSE
úl mo caso, expedir as instruções necessárias à fiel
de decisões proferidas pelos TREs é se estas verem
execução da lei eleitoral. Em relação a esta úl ma
sido proferidas contra disposição expressa da CF ou
prerroga va, há limitação temporal corresponden- da cons tuição estadual.
do o dia 5 de março do ano da eleição, ao termo e) Os acórdãos proferidos pelos TREs não podem ser
final. impugnados, perante o STF, por meio de recurso
extraordinário.
3. (FCC/TRE-RN/Analista Judiciário/Área Administrati-
va/2011) Os Tribunais Regionais Eleitorais são com- 5. (Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Adminis-
postos por sete membros. Quatro deles são escolhidos tra va/2009) Assinale a opção correta a respeito da
mediante eleição secreta no âmbito do Tribunal de composição do TSE.
Jus ça, sendo dois desembargadores e dois juízes de a) O advogado-geral da União integrará o TSE, caso seja
direito. indicado pelo presidente da República.

200
b) O advogado-geral da União integra o TSE, indepen- c) II e III.
dentemente de indicação polí ca. d) II e IV.
c) Um juiz de trabalho de primeira instância faz parte do
TSE por indicação do Tribunal Superior do Trabalho. 9. (FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009)
d) Um advogado militante integrará o TSE mediante Lauro é Ministro do Superior Tribunal de Jus ça; Maria
indicação do Superior Tribunal Militar. é Desembargadora do Tribunal de Jus ça do Estado; e
e) O corregedor eleitoral do TSE será ministro oriundo Mário é advogado de notável saber jurídico e idoneida-
do STJ. de moral. Nesse caso, preenchidas os demais requisitos
legais,
6. (Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Administra - a) Lauro pode vir a integrar o Tribunal Superior Elei-
va/2009) Assinale a opção incorreta acerca do trata-
toral; Maria pode vir a integrar o Tribunal Regional
mento cons tucional rela vo aos tribunais regionais
Eleitoral do respec vo Estado; e Mário pode vir a
eleitorais (TREs).
integrar tanto o Tribunal Superior Eleitoral, como o
a) É incons tucional a previsão legisla va de que a elei-
Tribunal Regional Eleitoral.
ção de juízes para compor os TREs se faça mediante
b) Lauro pode vir a integrar o Tribunal Regional Elei-
eleição por voto secreto dos tribunais de jus ça dos
estados, tendo em vista o princípio da publicidade. toral; Maria pode vir a integrar o Tribunal Superior
b) A presidência e a vice-presidência dos TREs devem Eleitoral; e Mário pode vir a integrar somente o
recair sempre sobre os membros desembargadores. Tribunal Regional Eleitoral.
c) Os membros dos TREs oriundos de nomeação, pelo c) Lauro pode vir a integrar o Tribunal Superior Elei-
presidente da República, serão escolhidos entre seis toral; Maria e Mário podem vir a integrar tanto o
advogados de notável saber jurídico e idoneidade Tribunal Superior Eleitoral, como o Tribunal Regional
moral, indicados pelo respec vo tribunal de jus ça. Eleitoral.
d) Haverá apenas um TRE na capital de cada estado e d) Lauro, Maria e Mário podem vir a integrar tanto o
no Distrito Federal. Tribunal Superior Eleitoral, como o Tribunal Regional
Eleitoral.
7. (Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Administra - e) Lauro pode vir a integrar o Tribunal Superior Elei-
va/2009) Quanto aos órgãos da jus ça eleitoral, assinale toral; Maria pode vir a integrar o Tribunal Superior
a opção correta. Eleitoral; e Mário pode vir a integrar somente o
a) O TSE compõe-se, em seu todo, de juízes da magis- Tribunal Regional Eleitoral.
tratura de carreira nomeados pelo presidente da
República dentre os ministros do Supremo Tribunal 10. (FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009)
Federal e do Superior Tribunal de Jus ça. Compete aos Tribunais Regionais Eleitorais
b) O TSE elegerá seu presidente, vice-presidente e a) processar e julgar originariamente os crimes eleito-
corregedor entre os ministros do Supremo Tribunal rais come dos pelos juízes que os integram.
Federal. b) processar e julgar originariamente a suspeição e
c) Os membros dos tribunais regionais eleitorais de impedimento aos juízes que os integram.
cada estado da Federação serão nomeados pelos
c) dividir a Zona Eleitoral em Seções Eleitorais.
governadores, após indicação do respec vo tribunal
d) nomear os membros das Mesas Receptoras.
de jus ça.
d) Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo mo vo jus - e) exercer a ação pública e promovê-la até o final.
ficado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca
por mais de dois biênios consecu vos. 11. (Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judiciá-
ria/2009) Considerando a hipótese de que Antônio seja
8. (Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Administra - juiz federal e se candidate a juiz do TRE de determinada
va/2009) A respeito da composição e atribuição das unidade da Federação, assinale a opção correta.
juntas eleitorais, julgue os itens a seguir. a) É possível a pretensão de Antônio, desde que a sua
I – Os membros das juntas eleitorais serão nomeados indicação seja do STJ.
pelo presidente do TSE, depois da aprovação do res- b) É impossível a pretensão de Antônio, pois juiz de
pec vo tribunal regional eleitoral. primeira instância não integra TRE.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

II – Os servidores que integram o serviço eleitoral não c) É impossível a pretensão de Antônio, pois juiz ou
podem ser nomeados membros das juntas eleitorais, desembargador de TRF não integra TRE.
escru nadores ou auxiliares. d) Uma única vaga de TRE é des nada a juiz de TR F,
III – As juntas eleitorais são órgãos colegiados de primei- onde houver.
ra instância, sendo compostos por um juiz de direito, e) Desde que a indicação de Antônio seja do STF, é pos-
que atua como presidente, e dois ou quatro cidadãos sível a pretensão desse magistrado.
de notória idoneidade.
IV – As zonas eleitorais podem ter mais de uma junta,
limitadas ao número máximo de cinco juntas por mu- 12. (Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judiciá-
nicípio. ria/2009) Acerca dos tribunais e juízes eleitorais, assi-
nale a opção correta.
Estão certos apenas os itens: a) Os juízes eleitorais e as juntas eleitorais são órgãos
a) I e III. da jus ça eleitoral.
b) I e IV. b) Os membros do TSE são vitalícios.

201
c) Os órgãos da jus ça eleitoral não têm competência e) Cabe ao TRE de cada estado da Federação enviar
para julgar habeas corpus, mandado de segurança, ao presidente da República a lista organizada pelos
habeas data ou mandado de injunção. tribunais de jus ça, entre cidadãos de notável saber
d) O STF não tem competência para rever decisões do jurídico e idoneidade moral, para, em número de
TSE. dois, compor os TREs.

13. (Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judiciá- 16. (FCC/TRE-PI/Técnico Judiciário/Área Administrati-


ria/2009) A respeito da jus ça eleitoral, assinale a opção va/2009) Os juízes de Direito que integram o Tribunal
incorreta. Regional Eleitoral devem ser
a) A competência da jus ça eleitoral deverá ser fixada a) indicados pelo Ministério Público Federal e nomea-
em lei complementar, à qual incumbe dispor sobre dos pelo Presidente da República.
sua organização. b) nomeados pelo Governador do respec vo Estado.
b) Os tribunais regionais eleitorais, com sede na capital c) escolhidos por nomeação do Presidente da República.
dos estados e no Distrito Federal, são compostos de, d) escolhidos, mediante eleição e pelo voto secreto,
no mínimo, sete juízes, com cinco deles indicados pelo Tribunal de Jus ça do respec vo Estado.
entre os desembargadores e dois entre os juízes de e) escolhidos pelo Congresso Nacional e nomeados
direito. pelo Presidente da República.
c) As juntas eleitorais, como órgãos colegiados de
primeira instância, são cons tuídas 60 dias antes 17. (Cespe/TRE-GO/Técnico Judiciário/Área Administra -
da eleição. va/2009) Segundo a CF, são órgãos da Jus ça Eleitoral
d) Os membros dos tribunais eleitorais, os juízes de a) Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Elei-
direito e os integrantes das juntas eleitorais, no toral, Tribunal Regional Eleitoral, Juízes Eleitorais e
exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, Juntas Eleitorais.
gozarão de plenas garan as e serão inamovíveis. b) Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleito-
ral, Juízes Eleitorais e Ministério Público Eleitoral.
14. (Cespe/TRE-MG/Técnico Judiciário/Área Administra-
c) Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleito-
va/2009) Com relação à composição e competência
ral, Juízes Eleitorais e o Corregedor Eleitoral.
das juntas eleitorais, assinale a opção incorreta.
d) Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleito-
a) As juntas eleitorais são compostas por um juiz de
ral, Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais.
direito, um escrivão eleitoral e, obrigatoriamente,
quatro cidadãos de notória idoneidade.
18. (Cespe/TRE-GO/Técnico Judiciário/Área Administra-
b) Os funcionários ocupantes de cargos de confiança
va/2009) Assinale a opção correta em relação aos
do Poder Execu vo, bem como os que integram o
tribunais e juízes eleitorais.
serviço eleitoral, não podem ser nomeados mem-
a) O TSE é composto de sete membros, entre os quais
bros das juntas eleitorais.
c) As atribuições das juntas eleitorais incluem a resolu- três ministros do STF, dois ministros do Superior
ção de impugnações e incidentes verificados durante Tribunal de Jus ça (STJ), um ministro do Tribunal
os trabalhos de apuração e a expedição dos bole ns Regional Eleitoral (TRE) e um advogado escolhido
de apuração, uma vez concluída a contagem dos pelo presidente da República.
votos. b) O TSE é composto de sete membros, entre os quais
d) Nos municípios com mais de uma junta eleitoral, três ministros do STF, dois ministros do STJ, um de-
a expedição dos diplomas será de competência da sembargador federal e um advogado escolhido pelo
junta que for presidida pelo juiz eleitoral mais an go. presidente da República.
e) Cons tui caso de afastamento imediato do presi- c) O TSE elegerá seu presidente e o vice-presidente,
dente de junta eleitoral deixar de receber ou de respec vamente, entre os ministros do STF e os mi-
mencionar em ata os protestos recebidos. nistros do STJ. O Corregedor Eleitoral será escolhido
entre os ministros oriundos da classe dos advogados.
15. (Cespe/TRE-MG/Técnico Judiciário/Área Administra - d) O TSE elegerá seu presidente e seu vice-presidente
va/2009) Considerando a organização e as competên- entre os ministros do STF, e o Corregedor Eleitoral
cias do TSE, assinale a opção correta. entre os ministros do STJ.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a) Os advogados que compõem o TSE são nomeados


pelo presidente da República entre os indicados, em 19. (Cespe/TRE-GO/Técnico Judiciário/Área Administra -
lista sêxtupla, pelo Conselho Federal da Ordem dos va/2009) Assinale a opção correta acerca de tribunais
Advogados do Brasil. e juízes eleitorais.
b) O presidente, o vice-presidente e o corregedor a) Das decisões dos TREs caberá recurso quando de-
eleitoral do TSE são escolhidos entre os ministros do negarem habeas corpus, mandado de segurança,
Supremo Tribunal Federal que compõem o tribunal. habeas data ou mandado de injunção.
c) As funções de procurador geral junto ao TSE são b) As decisões do TSE são irrecorríveis.
exercidas pelo procurador geral da República, c) Os TREs são compostos por dois juízes escolhidos
funcionando, em suas faltas e impedimentos, seu entre os desembargadores do tribunal de jus ça,
subs tuto legal. por dois juízes escolhidos entre os juízes de direito,
d) Em razão de o TSE cons tuir a instância máxima da por dois juízes oriundos da classe dos advogados
jus ça eleitoral, suas decisões são sempre irrecor- e por dois juízes dos Tribunais Regionais Federais
ríveis. (TRFs).

202
d) Os juízes dos tribunais eleitorais são vitalícios, so- d) O Corregedor pode elaborar e alterar o Regimento
mente podendo perder o cargo por meio de decisão Interno da Corregedoria Regional Eleitoral, sem que
judicial transitada em julgado. disso precise prestar contas ao Tribunal.

20. (Cespe/TRE-GO/Técnico Judiciário/Área Administra - 23. (FCC/TRE-PB/Analista Judiciário/Área Administrati-


va/2009) Considerando a composição e as atribuições va/2007) João é Juiz de Direito da Comarca da Capital
dos TREs, assinale a opção correta. do Estado de São Paulo. Paulo é Desembargador do
a) Os membros dos TREs são, todos eles, nomeados Tribunal de Jus ça do Estado de Minas Gerais. Pedro é
pelo presidente da República, entre cidadãos de Desembargador do Tribunal Regional Federal com sede
notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados na Capital de São Paulo. Mário é membro do Ministério
pelo tribunal de jus ça de cada estado da Federação. Público do Estado de São Paulo. Manoel é Ministro do
b) Os TREs deliberam por maioria de votos, em sessão Superior Tribunal de Jus ça. Podem vir a integrar o
pública, com a presença da maioria de seus mem- Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo
bros. a) João e Pedro.
c) Compete aos TREs processar o registro e o cance- b) Paulo e Pedro.
lamento do registro de candidatos a governador, c) Pedro e Mário.
vice-governador e deputado estadual, cabendo d) Mário e Manoel.
ao TSE o registro e o cancelamento do registro de e) João e Manoel.
candidatos a senador, deputado federal, presidente
e vice-presidente da República. 24. (FCC/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Administra -
d) As decisões dos TREs são irrecorríveis, e, portanto, va/2007) João é agente policial. José desempenha cargo
termina vas, quando versarem sobre expedição de de confiança do Execu vo. Paulo pertence ao serviço
diplomas em eleições estaduais. eleitoral. Pedro é advogado militante na região. Podem
ser nomeados membros das Juntas Eleitorais, apenas
21. (Cespe/TRE-GO/Técnico Judiciário/Área Administra -
a) Paulo.
va/2009) A respeito das competências dos tribunais
b) Paulo e Pedro.
eleitorais, assinale a opção incorreta.
c) João e Paulo.
a) Compete ao TSE julgar, originariamente, os conflitos
d) José e Pedro.
de jurisdição entre juízes eleitorais do respec vo
e) Pedro.
estado.
b) No desempenho de suas atribuições, o corregedor
25. (FCC/TRE-SE/Analista Judiciário/Área Administrati-
regional da Jus ça Eleitoral poderá locomover-se
va/2007) Dentre outros, fazem parte da composição
para as zonas eleitorais, a requerimento de par do
polí co, deferido pelo TRE. do Tribunal Superior Eleitoral dois juízes
c) São irrecorríveis as decisões do TSE, salvo as que a) entre seis advogados de notório saber jurídico e
declararem a invalidade de lei ou ato contrário à CF idoneidade moral, indicados pelo Superior Tribunal
e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de de Jus ça.
segurança. b) escolhidos entre os Desembargadores dos Tribunais
d) Não podem fazer parte do TSE cidadãos que tenham de Jus ça dos Estados, escolhidos pelo Presidente
entre si parentesco, ainda que por afinidade, até o da República.
quarto grau, seja o vínculo legí mo ou ilegí mo, c) escolhidos mediante eleição e pelo voto secreto,
excluindo-se, nesse caso, o que ver sido escolhido entre os Ministros do Superior Tribunal de Jus ça.
por úl mo. d) escolhidos entre os Ministros do Supremo Tribunal
Federal e nomeados por livre escolha do Presidente
22. (Cespe/TRE-GO/Técnico Judiciário/Área Administra - da República.
va/2009) Acerca dos atos pra cados pelo Corregedor e) federais, escolhidos pelos Tribunais Regionais Fe-
Regional Eleitoral, assinale a opção correta. derais e nomeados pelo Presidente da República.
a) Caso o Corregedor esteja impossibilitado de compa-
recer a uma sessão do Tribunal, por estar realizando GABARITO
uma correição em alguma zona eleitoral, deixa de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ter direito à gra ficação de presença prevista para 1. d 14. a


aqueles que estão presentes nas sessões. 2. d 15. c
b) Nos deslocamentos do Corregedor, seja naqueles 3. d 16. d
que ocorrerem por determinação do TSE ou do 4. e 17. d
próprio TRE, seja naqueles ocorridos a pedido dos 5. e 18. d
juízes eleitorais, ou de par dos, há uma praxe de que 6. a 19. a
este se faça acompanhar pelo Procurador Regional 7. d 20. b
Eleitoral, mas tal acompanhamento não está pre- 8. c 21. a
visto regimentalmente, sendo apenas um costume 9. a 22. c
ins tuído. 10. b 23. a
c) Se a Corregedoria Regional Eleitoral emanar provi- 11. d 24. e
mentos em matéria administra va, estes passam a 12. a 25. c
ser vinculantes para os seus servidores, para os juízes 13. b
e para os servidores das zonas eleitorais.

203
Sérgio Bautzer / André Portela 2. Superada a fase de composição amigável dos
danos civis e não ocorrendo a transação, é recebida
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS a denúncia formalmente apresentada.
3. Suspensão do processo (art. 31, LCP; art. 89, Lei
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995 nº 9.099/1995; art. 77, Cód. Penal).
Fundamento Cons tucional
Finalidade da Norma
O art. 98, I, da Carta Magna rege que
A Lei no 9.099/1995, ao dispor sobre os Juizados Espe-
a União, no Distrito Federal e nos Territórios, e nos ciais Criminais, prevê como um de seus objeƟvos principais
Estados criarão: a reparação dos danos sofridos pela víƟma do crime.2
I – juizados especiais, providos por juízes togados,
ou togados e leigos1, competentes para a concilia- Outra finalidade desta norma é a aplicação de pena não
ção, o julgamento e a execução de causas cíveis de privaƟva de liberdade3ao autor de infração penal de menor
menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo.
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral
e sumaríssimo, permi dos, nas hipóteses previstas Competência
em lei, a transação e o julgamento de recursos por
A competência do Juizado Especial Criminal é de con-
turmas de juízes de primeiro grau.
ciliação, julgamento e a execução das infrações penais de
menor potencial ofensivo4, respeitadas as regras de conexão
Ainda no mesmo ar go em comento, mas em seu § 1º,
prescreve que “Lei federal disporá sobre a criação de juizados e con nência, como rege o art. 1º da lei ora estudada, que
especiais no âmbito da Jus ça Federal.” assim assinala:
Atendendo o disposi vo cons tucional, foi promulgada Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, ór-
a Lei nº 9.099/1995, que cria o Juizado Especial Criminal gãos da Jus ça Ordinária, serão criados pela União,
(Jecrim), responsável por processar e julgar as infrações no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,
penais de menor potencial ofensivo no âmbito estadual. para conciliação, processo, julgamento e execução,
A Lei nº 10.259/2001, por sua vez, ins tuiu o Juizado nas causas de sua competência.
Especial Criminal no âmbito da Jus ça Federal, cuja com-
petência vem descrita no art. 2º que foi alterado pela Lei Assim, em regra, são exemplos de crimes que, quando
nº 11.313/2006, in verbis: objeto de processo e julgamento, obedecerão as regras da
Lei nº 9.099/1995 e deverão ser julgados pelos Juizados
Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal
Especiais Criminais: lesão corporal de natureza leve ou
processar e julgar os feitos de competência da Jus ça
culposa, perigo de contágio venéreo, omissão de socorro
Federal rela vos às infrações de menor potencial
da qual resulta lesão corporal de natureza grave e exercício
ofensivo, respeitadas as regras de conexão e con -
arbitrário das próprias razões.5
nência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante
COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL. SURSIS PROCES-
o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente
SUAL. MULTA.
da aplicação das regras de conexão e con nência,
Conforme a remansosa jurisprudência deste Supe-
observar-se-ão os ins tutos da transação penal e da
composição dos danos civis. (Redação dada pela Lei rior Tribunal, o critério do legislador para definir a
nº 11.313, de 2006) competência dos juizados especiais criminais é o
quantum máximo da pena priva va de liberdade
Cumpre ressaltar que o Juizado Especial Criminal Federal, abstratamente cominada. No caso, a pena máxima
segundo o art. 109 da Lei Fundamental, não julga as con- abstrata prevista para o crime descrito no art. 7º, II,
travenções penais. Também diz a Súmula nº 38 do STJ que: da Lei nº 8.137/1990 é de cinco anos, logo não há
constrangimento ilegal na conduta do juiz da vara
Compete à Jus ça Estadual Comum, na vigência da criminal de declarar-se competente para o feito. O
Cons tuição de 1988, o processo por contravenção referido ar go comina sanção mínima superior a um
penal, ainda que pra cada em detrimento de bens, ano de pena priva va de liberdade ou, alterna va-
serviços ou interesse da união ou de suas en dades. mente, multa. Assim, se a Lei nº 9.099/1995 autoriza
o sursis processual nos casos em que haja cominação
de pena priva va de liberdade, mesmo que restrinja
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Já o STJ tem competência para julgar contravenção penal


quando o autor do fato ver foro por prerroga va de função. sua aplicação aos crimes cuja pena mínima seja igual
Vejamos a decisão nº 179 /DF – 1999/0112430-1: ou inferior a um ano, é de rigor admi r tal bene cio
quando o legislador preveja ao delito pena alterna-
Penal e Processual Penal. Contravenções (art. 31). va de multa; pois, nesses casos, independente da
Representação. Subprocurador-Geral do Trabalho. pena priva va de liberdade abstratamente prevista,
Competência STJ. Recebimento da Denúncia. Suspen- não se trata de delito de alta reprovabilidade, não
são do Processo. CF, art. 105, I, a. Lei nº 9.099/1995,
2
arts. 60, 61, 72, 73, 74, 76, 77, 89 e 92. CPP, art. 41. 3
TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2001.
Tema cobrado na seguinte prova: Delegado Federal/1997.
1. O STJ tem competência para processar e julgar 4
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Ad-
Subprocurador-Geral do Trabalho denunciado pela ministra va e Judiciária/2003; OAB-RS/1º Exame/2006; OAB-MG/2º Exame de
prá ca de contravenção penal. Ordem/2004; UFPA/MPE-PA/Bacharel em Direito/Nível Superior/2004; Cespe/
TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007; Conselho da Polícia Civil/PC-PR/
Delegado/2007.
1 5
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Admi- Tema cobrado nas seguintes provas: TJ-MA/Juiz/2003; Cespe/TSE/Analista
nistra va e Judiciária/2003. Judiciário/Área Judiciária/2007; Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2000.

204
sendo aqueles que, necessariamente, devam ser pu- 2. O delito capitulado no art, 2º, I, da Lei nº 8.137/1990,
nidos com pena de prisão. Destarte, como salientado cuja pena de detenção é de 6 (seis) meses a 2 (dois)
pelo impetrante, a pena de multa é menos gravosa anos, é crime de menor potencial ofensivo, estando
do que qualquer pena priva va de liberdade. Logo, o sujeito à competência dos Juizados Especiais Criminais.
oferecimento de proposta de suspensão condicional (Grifo Nosso)
do processo do paciente, além de ser plenamente (TJDFT, Processo nº 20060020152617CCP/DF, Rel.
cabível, é providência consentânea com os ins tutos Edson Alfredo Smanio o, Câmara Criminal, julg. em
trazidos pela Lei nº 9.099/1995. Precedentes citados: 19/11/2007, DJU: 7/2/2008. Pág.: 2022)
HC 34.422-BA, DJ 10/12/2007; HC 109.980-SP, DJe
2/3/2009; RHC 27.068-SP, DJe 27/9/2010, e REsp Estatuto do Idoso e os Juizados Especiais
968.766-SC, DJe 28/9/2009. HC 125.850-SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em De acordo com art. 94:
31/5/2011.
Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima
Ainda quanto à competência, dispõe o art. 60 desta lei: priva va de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos,
aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que
togados ou togados e leigos, tem competência para a couber, as disposições do Código Penal e do Código
conciliação, o julgamento e a execução das infrações
de Processo Penal.
penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as
regras de conexão e con nência. (Redação dada pela
Lei nº 11.313, de 2006) Com a edição da Lei nº 11.313/2006, os Juizados Especiais
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante Criminais se tornaram competentes para processar e julgar
o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes infrações penais, cuja pena não excedesse a 2 anos.
da aplicação das regras de conexão e con nência, Porém antes da edição da lei mencionada, houve quem
observar-se-ão os ins tutos da transação penal e sustentasse que o Estatuto do Idoso ampliado teria inovado
da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei o conceito de infração penal de menor potencial ofensivo.
nº 11.313, de 2006) O art. 94 do Estatuto do Idoso tem a seguinte expressão:
“aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de 26
Conceito de Infrações Penais de Menor Potencial de setembro de 1995”, assim podemos concluir que a nova
lei refere-se, apenas, à aplicação do procedimento peculiar
Ofensivo dos Juizados Especiais Criminais, não havendo que se falar
que a lei em estudo inovou o conceito de infração de menor
O art. 61 desta lei estabelece que
potencial ofensivo.
Nesse sen do, acrescentam os ilustres juristas Luiz Flávio
consideram-se infrações penais de menor potencial
Gomes e Tales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira, no
ofensivo, para os efeitos desta lei, as contravenções
ar go “O Estatuto do Idoso ampliou o conceito de menor
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com potencial ofensivo?”, ipsis li eris:
multa.6
1º – que o conceito de “procedimento” do art. 94, do
O ar go comentado teve sua redação alterada pela Lei Estatuto do Idoso está vinculado com o procedimento
nº 11.313/2006, passando a abranger todas as contravenções strito sensu (arts. 77 a 83) da Lei nº 9.099/1995 e não
penais, independentemente de adotarem ou não rito espe- o procedimento lato sensu (Audiência Preliminar dos
cial, e crimes a que a lei comine pena máxima não superior arts. 70/73 da Lei nº 9.099/1995, transação penal,
a dois anos, sem qualquer exceção a procedimento especial. composição civil dos danos e representação nas le-
O ilustre Desembargador Edson Smanio o do Tribunal sões para pena máxima de 4 anos, como sugeriu de
de Jus ça do Distrito Federal assentou em seu voto a con- início); 2º – que con nua a viger no Brasil o conceito
ceituação legal de infração de menor potencial ofensivo: de infração de menor potencial ofensivo com pena
máxima até 2 anos (art. 2º, parágrafo único da Lei
Ementa nº 10.259/2001) e, ainda, o conceito de infração de
Conflito de competência. Juizado Especial Criminal médio potencial para embriaguez ao volante (art.
e Vara Criminal Comum. Art. 2º, inciso I, da Lei 306 do CTB), cuja pena máxima é de 3 anos, porém,
nº 8.137/1990. Crime de menor potencial ofensivo. cabendo nesse caso os ins tutos despenalizadores da
Competência do Juizado Especial Criminal. Lei nº 9.099/1995 (art. 291, parágrafo único da Lei nº
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

1. Segundo o art. 61 da Lei nº 9.099/1995, com a 9.503/1997). Não tendo sido ampliado o conceito de
redação que lhe deu a Lei nº 11.313/2006, “con- infração de menor potencial ofensivo, todos os deli-
sideram-se infrações penais de menor potencial tos (mesmo os previstos no Estatuto do Idoso) cuja
ofensivo, para os efeitos desta lei, as contravenções pena máxima supere a dois anos devem ser objeto
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima de inquérito policial (não TC) e são da competência
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com da Jus ça Comum (não juizados).
multa.”
Par lhamos do entendimento esmagador de que o art.
6
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Agente/2004; OAB-RS/1º 94 do Estatuto do Idoso não revogou o conceito de infração
Exame/2006; OAB-RO/40º Exame; OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004; 19º penal de menor potencial ofensivo. Na verdade, o que se
Concurso Público para Procurador da República/2002; OAB-MG/1º Exame de
Ordem/2005; Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/3º Exame de quis dizer foi que os crimes previstos na Lei nº 10.741/2003,
Ordem/2006; OAB-RJ/23º Exame de Ordem/2003; Cespe/TSE/Analista Judiciá- cuja pena máxima é de até 4 anos, serão julgados de acordo
rio/Área Judiciária/2007; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária – A vi- com a regra de procedimento prevista na Lei nº 9.099/1995,
dade Processual/2003; OAB-RJ/25º Exame de Ordem/2004; UEG-GO/Delegado
de Polícia de 3ª Classe/2003; UFPA/MPE-PA/Bacharel em Direito/2004. senão vejamos o que foi no cia no site do STF:

205
Após um intenso debate no Plenário do Supremo O informa vo nº 556 do STF no ciou:
Tribunal Federal (STF) sobre o alcance do art. 94 da
Lei nº 10.741/2003, que determina a aplicação dos Lei nº 10.741/2003: Crimes contra Idosos e Aplicação
procedimentos e bene cios previstos na Lei dos Jui- da Lei 9.099/1995
zados Especiais (JE) para os crimes come dos contra O Tribunal iniciou julgamento de ação direta de in-
idosos, cuja pena máxima seja menor que quatro cons tucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral
anos, o ministro Carlos Ayres Bri o pediu vista da da República contra a expressão “exceto nos serviços
Ação Direta de Incons tucionalidade (ADI) 3096. sele vos e especiais, quando prestados paralelamen-
A questão [...] é saber se o disposi vo beneficia as te aos serviços regulares”, constante do caput do
ví mas idosas que sofrem os crimes, que pelo pro- art. 39, da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso),
cedimento sumário da Lei nº 9.099/1995 conseguem que assegura aos maiores de 65 anos a gratuidade
ter a resolução mais breve de seus li gios, ou se o dos transportes cole vos públicos e urbanos e se-
ar go ques onado atende mais aos infratores que miurbanos, e do art. 94, do mesmo diploma legal,
que determina a aplicação, aos crimes pificados
cometem crimes contra os idosos, que acabam sendo
nessa lei, cuja pena máxima priva va de liberdade
beneficiados com o que dispõe a Lei dos Juizados
não ultrapasse 4 anos, do procedimento previsto
Especiais. na Lei nº 9.099/1995, e, subsidiariamente, no que
Para a relatora do processo, ministra Cármen Lúcia couber, as disposições do Código Penal e do Código
Antunes Rocha, o art. 94 deveria ser interpretado de de Processo Penal. Preliminarmente, o Tribunal não
acordo com a Cons tuição Federal, no sen do de que conheceu da ação rela vamente ao art. 39 da lei im-
sejam aplicados aos crimes previstos no estatuto do pugnada, por já ter se pronunciado pela cons tucio-
idoso apenas os “procedimentos” previstos na Lei nalidade desse disposi vo quando do julgamento da
nº 9.099/1995 – para dar celeridade aos processos – , ADI nº 3.768/DF (DJE de 26/10/2007, Tribunal Pleno).
e não os bene cios, como possibilidade de concilia- Em seguida, a Min. Cármen Lúcia, relatora, julgou
ção, transação penal ou a conversão da pena. Com parcialmente procedente o pedido formulado para
isso, frisou a ministra, os idosos teriam a possibili- dar interpretação conforme a Cons tuição ao art. 94
dade de ver os autores dos crimes processados de da Lei nº 10.741/2003, no sen do de que, aos crimes
forma ágil, sem, contudo, vê-los beneficiados pela previstos nessa lei, cuja pena máxima priva va de
Lei nº 9.099/1995. liberdade não ultrapasse 4 anos, aplica-se o proce-
O debate incluiu a par cipação de todos os ministros dimento sumaríssimo previsto na Lei nº 9.099/1995,
presentes à sessão. O ministro Marco Aurélio manifes- não se admi ndo interpretação que permita aplica-
tou sua dificuldade em acompanhar a relatora. Para ção benéfica ao autor do crime cuja ví ma seja idoso.
ele, seria inócuo aplicar interpretação conforme ao Asseverou que, se interpretada a norma no sen do
disposi vo, uma vez que a Lei dos Juizados Especiais de que seriam aplicáveis aos crimes come dos contra
já abrange crimes com pena inferior a dois anos. O es- os idosos os bene cios da Lei nº 9.099/1995, a lei
tatuto só teria feito ampliar a aplicação dessa lei para impugnada seria incons tucional, haja vista a pos-
crimes com penas até quatro anos. sibilidade de, em face de um único diferencial, qual
Já a ministra Ellen Gracie revelou seu entendimento seja, a idade da ví ma do delito, ter-se, por exemplo,
no sen do de que o legislador teria embasado a re- um agente respondendo perante o Sistema Judiciário
dação deste disposi vo em esta s cas que demons- Comum e outro com todos os bene cios da Lei dos
Juizados Especiais, não obstante a prá ca de crimes
tram que grande parte dos crimes contra idosos são
da mesma gravidade (pena máxima não superior a
pra cados no seio familiar. Assim, para Ellen Gracie
4 anos). Assim, estabelecendo que seria aplicável
pode ser importante que se tenha um mecanismo apenas o procedimento sumaríssimo previsto na Lei
legal possibilitando uma solução pacificadora. Celso nº 9.099/1995 aos crimes mencionados, o idoso
de Mello, decano da Corte, disse que, em princípio, seria, então, beneficiado com a celeridade proces-
o art. 94 permite que o idoso que sofre algum crime sual, mas o autor do crime não seria beneficiado
veja a solução de seu caso, de forma ágil. com eventual conciliação ou transação penal. Em
O ministro Cezar Peluso disse entender que o dispo- divergência, o Min. Eros Grau julgou improcedente
si vo pode acabar beneficiando, também, os autores o pleito, por reputar, tendo em conta não ter sido
dos crimes pra cados contra idosos. Muitos crimes apontada, na inicial, a violação a nenhum preceito
não são come dos por familiares, e seus autores cons tucional, não caber ao Supremo o exercício do
também se beneficiariam do disposi vo. Para ele, controle da razoabilidade e da proporcionalidade das
deve se analisar, no caso, o respeito ao princípio leis. Após, pediu vista dos autos o Min. Carlos Bri o.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

da isonomia. Ele citou como exemplo uma situação (ADI nº 3.096/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário,
fic cia, em que duas pessoas cometem crime com 19/8/2009)
penas inferiores a quatro anos, um contra um idoso
e outro não. O primeiro será processado pela Lei Em junho de 2010, o STF decidiu a questão em tela,
nº 9.099/1995 e o outro pela jus ça comum. Segundo conforme no cia veiculada em seu site:
Peluso, isso pode levar à perigosa conclusão de que [...] concluído hoje (16), com o retorno do voto-vista
é mais conveniente cometer crime contra idoso. Não do ministro Ayres Bri o, o julgamento da Ação Direta
se pode criar esse po de discriminação, concluiu de Incons tucionalidade (ADI nº 3.096) ajuizada pelo
Cezar Peluso. procurador-geral da República contra o art. 94 do Es-
O ministro Eros Grau, que completa 69 anos nesta tatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que determina
quarta-feira (19), disse entender que não compete à a aplicação dos procedimentos e bene cios rela vos
Corte analisar a razoabilidade da lei. Assim, o ministro aos Juizados Especiais aos crimes come dos contra
votou pela improcedência da ADI. idosos, cuja pena máxima não ultrapasse quatro anos.
[...] O entendimento do STF é de que o disposi vo legal

206
deve ser interpretado em favor do seu específico des - tucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral da
natário – o próprio idoso – e não de quem lhe viole os República para dar interpretação conforme ao art. 94
direitos. Com isso, os infratores não poderão ter acesso da Lei nº 10.741/2003
a bene cios despenalizadores de direito material,
como conciliação, transação penal, composição civil de Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena
danos ou conversão da pena. Somente se aplicam as máxima priva va de liberdade não ultrapasse
normas estritamente processuais para que o processo 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento
termine mais rapidamente, em bene cio do idoso. previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro
Ao acompanhar a ministra Cármen Lúcia Antunes de 1995, e, subsidiariamente, no que couber,
Rocha, o ministro Ayres Britto procurou resumir as disposições do Código Penal e do Código de
numa frase o entendimento da ministra relatora em Processo Penal.
relação ao equívoco come do pelos legisladores na
confecção do Estatuto do Idoso. no sen do de que aos crimes previstos nessa lei, cuja
Autores de crimes do mesmo potencial ofensivo pena máxima priva va de liberdade não ultrapasse
serão subme dos a tratamentos diversos, sendo que 4 anos, aplica-se a Lei nº 9.099/1995 apenas nos as-
o tratamento mais benéfico está sendo paradoxal- pectos estritamente processuais, não se admi ndo,
mente conferido ao agente que desrespeitou o bem em favor do autor do crime, a incidência de qualquer
jurídico mais valioso: a incolumidade e a inviolabili- medida despenalizadora – v. Informativo nº 556.
dade do próprio idoso, afirmou. Concluiu-se que, dessa forma, o idoso seria beneficia-
Por maioria de votos, vencidos os ministros Eros Grau do com a celeridade processual, mas o autor do crime
e Marco Aurélio, o Plenário decidiu que os bene cios não seria beneficiado com eventual composição civil
despenalizadores previstos na Lei nº 9.099/1995 e de danos, transação penal ou suspensão condicional
também no Código Penal não podem beneficiar os do processo. Vencidos o Min. Eros Grau, que julgava
autores de crimes cujas ví mas sejam pessoas idosas. improcedente o pleito, e o Min. Marco Aurélio, que o
A lei que criou os Juizados Especiais permite a aplica- julgava totalmente procedente. ADI nº 3.096/DF, rel.
ção de procedimentos e bene cios como a transação Min. Cármen Lúcia, Plenário, 16/6/2010. (ADI-3.096)
penal e a composição dos danos civis nas infrações
penais de menor potencial ofensivo. O Estatuto do Princípios Norteadores dos Juizados Especiais
Idoso previu a aplicação dos atos processuais da Lei Criminais
dos Juizados Especiais para os crimes come dos
contra idosos, cuja pena máxima não ultrapasse Os princípios que regem os Juizados Especiais Criminais
quatro anos. Para a relatora do processo, a interpre- estão con dos no art. 62 da Lei nº 9.099/1995, valendo
tação conforme a Cons tuição do art. 94 do Estatuto transcrevê-lo:
implica apenas na celeridade do processo e não nos
bene cios. Na sessão de hoje, o único a divergir foi Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orien-
o ministro Marco Aurélio. O ministro Eros Grau havia tar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade,
divergido na sessão inicial por entender que não economia processual e celeridade, objetivando,
compete à Corte analisar a razoabilidade da lei, por sempre que possível, a reparação dos danos sofridos
isso votou pela improcedência da ADI. pela ví ma e a aplicação de pena não priva va de
O ministro Marco Aurélio manifestou sua tese con- liberdade.7
trária à relatora.
Creio que quanto ao procedimento da lei, par u-se Oralidade
para uma opção polí co-norma va. Não podemos
atuar como legisladores posi vos e fazer surgir no O Princípio da Oralidade consiste no predomínio da
cenário uma norma zação que seja diversa daquela palavra oral sobre a escrita, trazendo uma maior celeridade
aprovada pelas duas Casas do Congresso Nacional. ao processo. Cumpre observar que, apesar da oralidade
ser um dos princípios norteadores desta lei, poderá haver
Por isso, o ministro Marco Aurélio considerou o
registros escritos, como previsto no § 3º do art. 65 da lei ora
disposi vo integralmente incons tucional, tendo
comentada, senão vejamos:
em vista que o Estatuto ampliou para pena não su-
perior a quatro anos a aplicação de bene cio que a
Lei dos Juizados Especiais limita a pena não superior Art. 65. [...]
a dois anos. § 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente
Eu me pergunto: se não houvesse o Estatuto do Ido- os atos havidos por essenciais. Os atos realizados
em audiência de instrução e julgamento poderão ser
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

so, o que se teria? A aplicação pura e simples da Lei


nº 9.099 e aí só seriam realmente beneficiados pela gravados em fita magné ca ou equivalente.8
lei agentes que a lei beneficia, ou seja, aqueles cujas
penas máximas não ultrapassem dois anos. A meu ver, O princípio da oralidade possui subprincípios, quais
na contramão dos interesses sociais, se elasteceu a sejam, princípio do imedia smo (coleta imediata de provas
aplicação da Lei nº 9.099, concluiu o ministro. pelo magistrado), princípio da iden dade sica do juiz9(o juiz
que preside a instrução, deve ser o mesmo que sentencia),
No Informa vo nº 591 do STF, há o resumo da decisão princípio da concentração (maior número de atos pra cados
em tela: no mesmo momento processual) e o princípio da irrecorri-
bilidade das decisões interlocutórias (não cabe recurso das
Lei nº 10.741/2003: Crimes contra Idosos e Aplicação decisões interlocutórias)
da Lei nº 9.099/1995 – 2
7
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002;
Em conclusão, o Tribunal julgou parcialmente proce- Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administra va e Judiciária/2003.
8
Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2006.
dente pedido formulado em ação direta de incons- 9
NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002.

207
Informalidade Art. 38. A sentença mencionará os elementos de
convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos
O Princípio da Informalidade quer dizer que os atos de- relevantes ocorridos em audiência, dispensado o
vem ser executados sem entraves desnecessários. relatório.13
Podemos visualizar este princípio com a leitura do art. 65,
§ 2º, da lei: Por fim, é válido citar o art. 78, que expressa bem o
princípio em comento, dispondo que
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre
que preencherem as finalidades para as quais foram oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a
realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 termo, entregando-se cópia ao acusado, que com
desta lei. ela ficará citado e imediatamente cien ficado da
§ 2º A prá ca de atos processuais em outras comarcas designação de dia e hora para a audiência de instru-
poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de ção e julgamento, da qual também tomarão ciência
comunicação. (Grifo Nosso) o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil
e seus advogados.
Ainda quanto ao princípio, pode-se afirmar que a parte po-
derá entrar com embargos de declaração ainda em audiência, Obs.: O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a
sem ter a necessidade de pe cionar para esclarecer o ponto brevidade dos Juizados Especiais não dispensa o controle
obscuro, controverso ou omisso por parte do magistrado. de consƟtucionalidade de normas, estando as decisões de
turmas recursais exclusivamente sujeitas à sua jurisdição.14
Economia processual
Competência de Foro
O Princípio da Economia Processual significa que há um
ganho de tempo ao longo do procedimento. Exemplo pico No rela vo à competência territorial, ou seja, a compe-
deste princípio seria a in mação por via telefônica (caso tência de foro, vale citar as três teorias que tratam sobre a
in mado compareça em audiência) ou ainda a citação em sua fixação, quais sejam:
audiência, evitando a locomoção do oficial de jus ça para a) Teoria da A vidade: competência do lugar onde ocor-
realizar a diligência. rer a ação ou a omissão;
b) Teoria do resultado: competência do lugar onde se
Celeridade deu o resultado;
c) Teoria mista ou da ubiquidade: a competência pode
O Princípio da Celeridade significa uma maior agilidade ser dada onde se deu a ação ou omissão ou onde se deu o
dos atos processuais, devendo as causas de maior complexi- resultado
dade serem deslocadas do Jecrim para a Jus ça Comum10,
como pode ser notado no art. 77, § 2º, da lei: Percebe-se de forma clara com a simples leitura do art. 6º
do Código Penal (CP) que fora adotada a teoria ubiquidade.
Art. 77. Na ação penal de inicia va pública, quando
não houver aplicação de pena, pela ausência do autor Art. 6º Considera-se pra cado o crime no lugar em
do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
no art. 76 desta lei, o Ministério Público oferecerá bem como onde se produziu ou deveria produzir-se
ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver o resultado.
necessidade de diligências imprescindíveis.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso Em contraposição, o Código de Processo Penal (CPP)
não permi rem a formulação da denúncia, o Minis- adotou a teoria do resultado, como pode ser observado
tério Público poderá requerer ao Juiz o encaminha- através da leitura do art. 70:
mento das peças existentes, na forma do parágrafo
único do art. 66 desta lei. (Grifo Nosso) Art. 70. A competência será, de regra, determinada
pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no
Ainda sobre o princípio da celeridade, o art. 69 nos caso de tenta va, pelo lugar em que for pra cado o
mostra que não há que se falar em abertura de inquérito úl mo ato de execução.
policial11, mas sim em mero termo circunstanciado, cuja
forma é mais simplificada. Todavia, o art. 63 da Lei nº 9.099/1995 não foi claro como
o CP e o CPP, deixando de forma confusa a redação do ar go
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimen- a seguir transcrito:
to da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor Art. 63. A competência do Juizado será determinada
do fato e a ví ma, providenciando-se as requisições pelo lugar em que foi pra cada a infração penal.
dos exames periciais necessários.
Para melhor entendimento da matéria segue lição de
Ademais, a lei prevê a possibilidade de haver sentença Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 254):
sem relatório, tendo por obje vo simplificar o processo.12
Menciona o art. 63 da Lei nº 9.099/1995, que “a
10
11
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador. competência do Juizado será determinada pelo lugar
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PA/Juiz Subs tuto/2001-2002;
TJ-RN/Oficial de Jus ça/2002; NCE/PC-DF/Delegado/2004; Cespe/TJ-DF/Analis-
em que foi pra cada a infração penal.” Surgiu, então,
ta Judiciário/Área Judiciária – A vidade Processual/2003; Promotor-DF/2002; a polêmica doutrinária acerca do foro competente
UEG-GO/Delegado de Polícia de 3ª Classe/2003; NCE/Faepol/PC-RJ/Delega- para apurar a infração, tendo em vista a dubiedade
do/2001; Cespe/Defensoria Pública-SE/Defensor de 2ª Categoria/2005; Cespe/
Secad-TO/Polícia Civil/Delegado de 1ª Classe/2008; Delegado Federal/1997;
13
PC-AM/Delegado/2001. Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Admi-
12
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Admi- nistra va e Judiciária/2003.
14
nistra va e Judiciária/2003. Promotor-BA/2004.

208
do termo “pra cada”. Alguns preferem interpretá-lo Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão
como o lugar onde ocorreu a ação ou omissão (Ada realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem
Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho, as normas de organização judiciária.
Antonio Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes,
Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099, In mação
de 26/9/1995, p. 81), outros veem como certo o
local onde ocorreu o resultado, crendo que o termo In mação é o ato processual onde se informa à parte da
“pra cada” é sinônimo de “consumada” (Tourinho prá ca de algum outro ato processual já ocorrido.
Filho, Código de Processo Penal comentado, v. 1, p. As inƟmações poderão ser efetuadas por Oficial de
179; Rodão Oliveira de Carvalho e Algomiro Carvalho JusƟça, independentemente de mandado ou de carta pre-
Neto, Comentários à Lei 9.099, de 26 de setembro catória.18 Poderá ser realizado ainda por correspondência,
de 1995, p. 127). com aviso de recebimento pessoal.
Posicionamo-nos pela teoria da ubiquidade, podendo Em conformidade com o art. 67 da lei,
ser tanto o lugar da ação ou omissão quanto o lugar
do resultado. O termo “pra car” quer dizer tanto quando se tratar de pessoa jurídica ou firma, será
“levar a efeito” ou “realizar” – que daria o sen do realizado mediante entrega ao encarregado da re-
de consumação – , quanto “executar” – conferindo cepção, que será obrigatoriamente iden ficado, ou,
a impressão de ser ação, mo vo pelo qual o melhor sendo necessário, por oficial de jus ça, independen-
a fazer é acolher a teoria mista, aceitando como foro temente de mandado ou carta precatória, ou ainda
competente ambos os lugares, certamente quando por qualquer meio idôneo de comunicação.
a infração penal comportar essa divisão entre ação
e resultado. Apesar de o Código de Processo Penal dispor que a inƟ-
mação do defensor nomeado seja pessoal, o STF orienta-se
Em recente julgado, o TJDFT se posicionou nos termos no senƟdo de que não se aplica essa regra no Juizado
do julgado a seguir transcrito: Especial Criminal. Assim, o julgamento dos recursos pela
turma recursal dos juizados especiais criminais prescinde
Ementa da inƟmação pessoal dos defensores públicos, bastando a
Reclamação. Crime contra a honra. Processamento inƟmação pela imprensa oficial.19
no domicílio do réu. Opção do ofendido. Reclamação O parágrafo único do ar go supramencionado afirma que
conhecida e provida. 1. A despeito do art. 63 da Lei “dos atos pra cados em audiência considerar-se-ão desde
nº 9.099/1995 determinar que a competência para
logo cientes as partes, os interessados e defensores.”
o julgamento de infração penal é do lugar onde ela
foi pra cada, o art. 73 do CPP, o qual aplica-se sub-
Citação
sidiariamente aos processos dos Juizados Especiais,
confere aos ofendidos a escolha do domicílio dos réus
A citação será pessoal, realizada ainda em audiência ou
para processar a ação própria. 2. À vista dos princípios
por mandado.
norteadores dos juizados especiais, o processamento
A Lei nº 9.099/1995 estabeleceu verdadeira mudança
da causa junto ao Terceiro Juizado Criminal de Brasília
mostra-se mais producente especialmente porque na estrutura processual penal. Assim, pode-se afirmar que
ofensores, ofendidos e aqueles que tomaram conhe- não haverá citação ficta no Juizado Especial Criminal.20
cimento da carta difamatória residem em Brasília.
3. Reclamação conhecida e provida. (Grifo Nosso) Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio
(TJDFT, Processo nº 20050160006148DVJ/DF, 1ª Tur- Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
ma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Parágrafo único. Não encontrado o acusado para
do DF, julg. em 4/4/2006, DJU de 2/6/2006, p.: 364) ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes
ao Juízo comum para adoção do procedimento
Sustentamos o entendimento de que a Lei nº 9.099/1999 previsto em lei.
expressamente adotou a Teoria da A vidade, não havendo
que falar na adoção das demais teorias. Desta forma, quanto aos crimes de competência dos
juizados especiais criminais, afirma-se que não sendo o réu
encontrado para ser citado pessoalmente, o magistrado
Atos Processuais encaminhará as peças existentes ao juízo comum para
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

adoção do procedimento previsto em lei.21


A Lei nº 9.099/1995, que insƟtuiu os Juizados Especiais
Ainda aqui, a denúncia ou queixa não será recebida
Criminais, determina, com relação aos atos processuais,
imediatamente, sendo imprescindível a citação do acusa-
que atendidos os critérios estabelecidos em lei, serão váli-
dos sempre que preencherem as finalidades para as quais 18
Fundep/TJ-MG/Oficial de Jus ça/2005.
forem realizados15, inclusive correspondência eletrônica.16 19
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2005; TJDFT/
O art. 12 da lei ora em comento afirma que os atos 20
Juiz de Direito Subs tuto/2007.
Tema cobrado na seguinte prova: Unama/Defensoria Pública-PA/Defensor de
processuais poderão ser realizados em horário noturno.17 1ª Entrância/2006; FGV/TJ-SE/Analista Judiciário/Direito/2004; Cespe/TRE-MA/
Analista Judiciário/Área Judiciária/2005; FGV/TJ-SE/Técnico Judiciário/Adminis-
tra va e Judiciária/2004; TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2001; OAB-PR/
15
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judi- Exame 02-2006; Cespe/AGU/Advogado/2002; OAB-GO/2º Exame/2006;
ciário/2006; OAB-PR/Exame 02-2006; Fundep/TJ-MG/Oficial de Jus ça/2005. Fundep/TJ-MG/Oficial de Jus ça/2005; OAB-GO/2º Exame/2006; OAB-GO/2º
16
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judiciá- Exame/2006; OAB-MS/81º Exame de Ordem/2005; TJ-RJ/Oficial de Jus ça
rio/2006. Avaliador.
17
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judi- 21
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Agente de Polícia/2004;
ciário/2006; TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2001; Conselho da Polícia Unama/Defensoria Pública-PA/Defensor de 1ª Entrância/2006; OAB-GO/2º
Civil/Delegado/2007. Exame/2006.

209
do, que será inƟmado a consƟtuir defensor, que poderá requisição do Juiz ou do Ministério Público ou ainda
responder à acusação22. com relação ao exame de corpo de delito.
• Dispensável: tal caracterís ca está in mamente liga-
Fase Preliminar da à acusação, pois esta, quando possuir elementos
mínimos de prova para propositura da ação penal,
Fase preliminar é o momento que está in mamente dispensará a lavratura do termo circunstanciado.
ligado aos procedimentos policias. Trata-se de uma fase
pré-processual. Procedimento de Lavratura do Termo Circunstanciado
O autor, depois de assinar o termo de compromisso
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimen- de comparecimento ao juizado, será liberado, não sendo
to da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o imposta prisão em flagrante.
encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor O termo de compromisso de comparecimento é uma
do fato e a ví ma, providenciando-se as requisições peça que integra o termo circunstanciado.
dos exames periciais necessários. Se o autor se recusar a assinar o termo de compromisso
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavra- de comparecimento, ele será preso em flagrante e será
tura do termo, for imediatamente encaminhado ao arbitrada a fiança, se for o caso.
juizado ou assumir o compromisso de a ele compa- Quando a Lei nº 9.099/1995 fala na prisão em flagrante,
recer, não se imporá prisão em flagrante, nem se quer dizer que será lavrado um auto de prisão em flagrante.
exigirá fiança. Em caso de violência domés ca, o juiz Se o autuado pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de
poderá determinar, como medida de cautela, seu Drogas) se recusar a assinar o termo de comparecimento, não
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência poderá ser preso em flagrante, pois é proibida a detenção
com a ví ma. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de do usuário (art. 48 da Lei de Drogas).
13/5/2002) No termo circunstanciado, deve conter os seguintes dados:
a) a qualificação dos envolvidos;
Termo Circunstanciado b) data e hora da comunicação;
c) local e natureza da ocorrência;
É o procedimento administra vo, inquisi vo, presidido d) indicação de eventuais perícias necessárias;
por autoridade policial que tem como finalidade a apuração e) resumo dos fatos.
das infrações penais de menor potencial ofensivo.
Termo Circunstanciado e Lei Maria da Penha
Caracterís cas do Termo Circunstanciado Como não se aplica a Lei nº 9.099 para os crimes e con-
• Oficialidade: a inves gação criminal não pode ficar travenções pra cados em situação de violência domés ca,
a cargo do par cular, sendo assim o Estado investe tais infrações, mesmo de menor potencial ofensivo, não mais
a Polícia de autoridade para elucidar as infrações poderão ser apuradas mediante termo circunstanciado, mas
penais de menor potencial ofensivo e sua autoria. sim por inquérito policial.
• Indisponibilidade: o termo circunstanciado não pode Sobre as contravenções, vejamos o que já decidiu o STJ:
ser arquivado pelo Delegado de Polícia. O Juiz é quem
arquiva tal procedimento a pedido do Promotor de Competência. Contravenção. Lei Maria da Penha.
Jus ça. Vale lembrar que, uma vez arquivado, assim No caso, o autor desferiu socos e tapas no rosto
como o inquérito policial, o termo circunstanciado da declarante, porém sem deixar lesões. Os juízos
somente poderá ser reaberto se surgirem novas suscitante e suscitado enquadraram a conduta no
provas, que alterem o contexto fá co. art. 21 da Lei de Contravenções Penais (vias de fato).
• Obrigatoriedade: salvo nos casos de crimes de ação Diante disso, a Seção conheceu do conflito para
penal pública condicionada e privada, a autoridade declarar competente o juízo de Direito da Vara Cri-
policial age de o cio tão logo tenha conhecimento minal, e não o do Juizado Especial, por entender ser
da prá ca da infração penal de menor potencial inaplicável a Lei nº 9.099/1995 aos casos de violência
ofensivo. domés ca e familiar contra a mulher, ainda que se
• Procedimento escrito: as peças do termo circunstan- trate de contravenção penal. Precedentes citados: CC
ciado serão digitadas, devendo a autoridade policial nº 104.128-MG, 3ª Seção do STJ, DJe 5/6/2009; CC
rubricá-las. Porém um dos princípios que regem os nº 105.632-MG, 3ª Seção do STJ, DJe nº 30/6/2009,
Juizados Especiais Criminais é o da oralidade, regra e CC nº 96.522-MG, 3ª Seção do STJ, DJe 19/12/2008.
que não se aplica no âmbito policial. (CC nº 104.020-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
• Inquisi vo: na fase policial não incidem os princípios
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Moura, 3ª Seção do STJ, julg. em 12/8/2009)


do contraditório nem da ampla defesa – inquisi o sine
coercione nulla est – inquisição sem poder de coerção Sustentamos que é possível a lavratura de termo circuns-
é nula. No termo circunstanciado não há acusado tanciado para se apurar as contravenções penais pra cadas
ou réu, mas sim autor do fato. Porém, vale ressaltar em situação de violência domés ca, uma vez que o art. 41
que o suspeito, mesmo não exis ndo a incidência da Lei nº 11.340/2006 faz referência apenas ao crimes, não
das regras mencionadas, con nuará sendo sujeito fazendo menção aos chamados “crimes-anões”.
de direitos cons tucionais.
• Discricionário: a discricionariedade está relacionada Termo circunstanciado e o crime de lesão corporal
aos atos de inves gação. Não há obrigatoriedade de culposa por acidente de trânsito
a autoridade policial atender aos pedidos da ví ma Com a reforma do Código de Trânsito Brasileiro imprimida
ou do autor do fato. Importante lembrar que a dis- pela “Lei Seca”, o crime de lesão corporal culposa ocorrida
cricionariedade torna-se mi gada em se tratando de por acidente de trânsito será apurado por termo circunstan-
22
TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador.
ciado. Será apurado por inquérito policial quando:

210
1. O condutor es ver embriagado ou sob efeito de subs- A Lei dos Juizados também criou a necessidade de re-
tâncias entorpecentes; presentação para o oferecimento de ação penal nos delitos
2. O condutor es ver par cipando de compe ção ou de lesões corporais leves e lesões culposas, que antes eram
exibição não autorizadas; delitos de ação penal pública incondicionada, sendo válida
3. O condutor transitar em velocidade superior à máxima a transcrição do art. 88:
permi da para a via em 50 km.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da
Audiência Preliminar legislação especial, dependerá de representação a
ação penal rela va aos crimes de lesões corporais
A audiência preliminar, prevista na Lei nº 9.099/1995,23 leves e lesões culposas.
também é uma fase pré-processual, tendo em vista não haver
ainda denúncia ou queixa oferecida. Assim, não há que se Lei Maria da Penha e as Lesões Corporais de
falar em processo criminal. Natureza Leve e Culposa
Como dito acima, acerca da finalidade da lei dos jui-
zados, a audiência preliminar visa à transação civil e à Sustentamos que a autoridade policial não pode agir de
transação penal24.
o cio, ou seja, sem provocação da ví ma, uma vez que o
crime de lesão corporal de natureza leve é ação penal pública
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen-
condicionada à representação.
tante do Ministério Público, o autor do fato e a ví ma
Corroboramos nossa asser va como que dispõe a decisão
e, se possível, o responsável civil, acompanhados por
da 6ª Turma do STJ, no Informa vo nº 0385, período de 2 a
seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibi-
6 de março de 2009, disposto no site <www.stj.gov.br>, que
lidade da composição dos danos e da aceitação da
assim foi publicada:
proposta de aplicação imediata de pena não priva va
de liberdade.
Lei Maria da Penha. Representação.
Caso ocorra o encaminhamento, pela autoridade policial, A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria,
do autor do fato e da ví ma ao Jecrim, com obje vo de se concedeu a ordem de habeas corpus, mudando o
solucionar o problema, e não haja pauta para a imediata entendimento quanto à representação prevista no
audiência, será designada data próxima, da qual ambos art. 16 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
sairão cientes. Considerou que, se a ví ma só pode retratar-se da
representação perante o juiz, a ação penal é condicio-
Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a ví ma, nada. Ademais, a dispensa de representação significa
e não sendo possível a realização imediata da audi- que a ação penal teria prosseguimento e impediria a
ência preliminar, será designada data próxima, da reconciliação de muitos casais. (HC nº 113.608-MG,
qual ambos sairão cientes. Rel. originário Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão
Min. Celso Limongi – Desembargador convocado do
Com o não comparecimento de qualquer dos envolvidos, TJ-SP – , 6ª Turma, julg. em 5/3/2009)
marca-se uma nova audiência, providenciando a in mação
nos termos do art. 67 e 68. Porém, o entendimento majoritário que prevalece no âm-
bito do Superior Tribunal de Jus ça é de que o crime de lesão
Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos corporal pra cada contra a mulher no âmbito domés co é
envolvidos, a Secretaria providenciará sua in mação qualificada por força do art. 129, § 9º do Código Penal e se
e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos disciplina segundo as diretrizes desse Estatuto Legal, sendo
arts. 67 e 68 desta lei. a ação penal pública incondicionada26, vejamos:

É importante salientar que se tratando de Jecrim não há HC nº 96.992/DF (6ª Turma)


condução coerci va dos envolvidos à audiência, mas, sim, Processual penal. Habeas corpus. Violência domés-
mero encaminhamento.25 ca. Lesão corporal simples ou culposa pra cada
contra mulher no âmbito domés co. Proteção da
Representação família. Proibição de aplicação da Lei nº 9.099/1995.
Ação penal pública incondicionada. Ordem denega-
A representação é uma autorização, ou seja, a manifes- da.1. A família é a base da sociedade e tem a especial
tação de vontade da ví ma ou de seu representante legal proteção do Estado; a assistência à família será feita
na pessoa de cada um dos que a integram, criando
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

em processar criminalmente o autor do fato.


Observando-se o art. 75 da lei, “não ob da a composição mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a relações. (Inteligência do art. 226 da Cons tuição
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, da República). 2. As famílias que se erigem em meio
que será reduzida a termo”. Conforme leciona Ricardo An- à violência não possuem condições de ser base de
tonio Andreucci (2008, p. 425): apoio e desenvolvimento para os seus membros, os
filhos daí advindos dificilmente terão condições de
a teor desse ar go, evidencia-se a primazia da repa- conviver sadiamente em sociedade, daí a preocupa-
ração do dano sobre a punição criminal, fazendo com ção do Estado em proteger especialmente essa
que o ofendido somente possa exercer seu direito ins tuição, criando mecanismos, como a Lei Maria
de representação após frustrada a composição civil. da Penha, para tal desiderato. 3. Somente o proce-
dimento da Lei nº 9.099/1995 exige representação
23
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/TJ-SE/Técnico Judiciário/Administra va
e Judiciária/2004.
24 26
FGV/TJ-SE/Analista Judiciário/Direito/2004. Nesta mesma linha de raciocínio encontra-se o professor Luis Flávio Gomes
25
Tema cobrado na seguinte prova: PC-AM/Delegado/2001. e Alice Bianchinni.

211
da ví ma no crime de lesão corporal leve e culposa ví ma nos casos de lesões corporais de natureza leve
para a propositura da ação penal. 4. Não se aplica decorrentes de violência domés ca, após a vigência
aos crimes pra cados contra a mulher, no âmbito da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).
domés co e familiar, a Lei nº 9.099/1995. (Art. 41 A questão está sendo discutida em um recurso
da Lei nº 11.340/2006). 5. A lesão corporal pra cada especial destacado pela Quinta Turma como repre-
contra a mulher no âmbito domés co é qualificada senta vo dessa discussão para ser julgado pelo rito
por força do art. 129, § 9º do Código Penal e se dis- da Lei dos Recursos Repe vos (Lei nº 11.672/2008),
ciplina segundo as diretrizes desse Estatuto Legal, diante dos inúmeros recursos que chegam ao STJ
sendo a ação penal pública incondicionada. 6. A nova sobre esse ponto da lei.
redação do § 9º do art. 129 do Código Penal, feita O recurso em destaque foi apresentado pelo Minis-
pelo art. 44 da Lei nº 11.340/2006, impondo pena tério Público do Distrito Federal e dos Territórios.
máxima de três anos a lesão corporal qualificada, O obje vo é reverter a decisão do tribunal local
pra cada no âmbito familiar, proíbe a u lização do que entendeu que “a natureza da ação do crime do
procedimento dos Juizados Especiais, afastando por art. 129, § 9º, do Código Penal é pública condicionada
mais um mo vo, a exigência de representação da à representação. O art. 41 da Lei nº 11.340/2006,
ví ma. 7. Ordem denegada. ao ser interpretado com o art. 17 do mesmo diploma,
apenas veda os bene cios como transação penal e
Também no HC nº 91.540/MS, 5ª Turma, de 13/4/2009, suspensão condicional do processo nos casos de
o Tribunal se posicionou neste mesmo sen do, ou seja, violência familiar. Assim, julgou ex nta a punibilidade
afirmando que a lesão corporal de natureza leve pra cada (cessação do direito do Estado de aplicar a pena ao
com violência domés ca e familiar contra a mulher inde- condenado devido à ação ou fato posterior à infração
pende de representação. Para esse delito, a Ação Penal é penal) quando não há condição de instaurar processo
incondicionada.27 diante da falta de representação da ví ma.
Como o recurso representa tema discu do repe -
Processo penal. Habeas corpus. Lesão corporal leve damente e será julgado pela Lei nº 11.672, após a
pra cada com violência familiar contra a mulher. publicação da conclusão do julgamento no Diário da
Inaplicabilidade da Lei nº 9.099/1995 e, com isso, de Jus ça Eletrônico (DJe), todos os tribunais de jus ça
seu art. 88, que dispõe ser condicionada à represen- e regionais federais serão comunicados do resulta-
tação o referido crime. Ausência de nulidade na não do para aplicação imediata em casos semelhantes,
designação da audiência prevista no art. 16 da Lei o mesmo acontecendo nos processos que veram sua
Maria da Penha, cujo único propósito é a retratação tramitação paralisada no próprio STJ por determina-
da representação. Parecer ministerial pela concessão ção do ministro Napoleão Maia Filho, sejam os que
do writ. Ordem denegada. se encontram nos gabinetes dos ministros sejam os
1. Esta Corte, interpretando o art. 41 da Lei nº que estão ainda pendentes de distribuição.
11.340/2006, que dispõe não serem aplicáveis aos
crimes nela previstos a Lei dos Juizados Especiais, já Em 2010, o STJ decidiu conforme no cia veiculada no site
resolveu que a averiguação da lesão corporal de natu- www.stj.gov.br que o crime de lesão corporal de natureza
reza leve pra cada com violência domés ca e familiar leve pra cada em situação de violência domés ca é de ação
contra a mulher independe de representação. Para penal pública condicionada à representação. Vejamos:
esse delito, a Ação Penal é incondicionada (REsp. nº
1.050.276/DF, Rel. Min. Jane Silva, DJU 24/11/2008). É necessária a representação da ví ma de violên-
2. Se está na Lei nº 9.099/1990, que regula os Juizados cia domés ca para propositura de ação penal. Por
Especiais, a previsão de que dependerá de repre- maioria, a Terceira Seção do Superior Tribunal de
sentação a ação penal rela va aos crimes de lesões Jus ça (STJ) entendeu ser necessária a representação
corporais e lesões culposas (art. 88) e a Lei Maria da da ví ma no casos de lesões corporais de natureza
Penha afasta a incidência desse diploma despenali- leve, decorrentes de violência domés ca, para a
zante, inviável a pretensão de aplicação daquela regra propositura da ação penal pelo Ministério Público. O
aos crimes come dos sob a égide desta Lei. entendimento foi contrário ao do relator do processo,
3. Ante a inexistência da representação como condi- ministro Napoleão Nunes Maia Filho.
ção de procedibilidade da ação penal em que se apura O relator considerava não haver incompa bilidade
lesão corporal de natureza leve, não há como cogitar em se adotar a ação penal pública incondicionada
qualquer nulidade decorrente da não realização da nos casos de lesão corporal leve ocorrida no ambiente
audiência prevista no art. 16 da Lei nº 11.340/2006,
familiar e se manter a sua condicionalidade no caso
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cujo único propósito é a retratação.


de outros ilícitos.
4. Ordem denegada, em que pese o parecer minis-
Segundo o ministro, não é demais lembrar que a
terial em contrário.
razão para se des nar à ví ma a oportunidade e
conveniência para instauração da ação penal, em
Em 26/8/2009, no site <www.stj.gov.br>, foi informado
determinados delitos, nem sempre está relacionada
que o STJ decidiu que a Lei Maria da Penha é tema de recurso
com a menor gravidade do ilícito pra cado.
repe vo:
“Por vezes, isso se dá para proteger a in midade da
ví ma em casos que a publicidade do fato delituoso,
O ministro Napoleão Nunes Maia Filho, da Terceira
eventualmente, pode gerar danos morais, sociais e
Seção do Superior Tribunal de Jus ça (STJ), deu prazo
de 15 dias para que pessoas, órgãos ou en dades psicológicos. É o que se verifica nos crimes contra os
que tenham interesse na controvérsia se manifestem costumes. Assim, não há qualquer incongruência em
sobre a necessidade ou não de representação da alterar a natureza da ação nos casos de lesão corpo-
ral leve para incondicionada enquanto se mantêm
27
RESP. nº 1.050.276/DF, Rel. Min. Jane Silva, 6ª Turma, DJU 24/11/2008). os crimes contra os costumes no rol dos que estão

212
condicionados à representação”, afirmou. O ministro Roberto Gurgel salienta que, após a edição da Lei
Og Fernandes e o desembargador convocado Haroldo nº 11.340, duas posições se formaram a respeito da
Rodrigues acompanharam o voto do relator. forma de ação penal rela va ao “crime de lesões cor-
Entretanto, o entendimento predominante con- porais leves pra cado contra a mulher no ambiente
siderou mais salutar admi r-se, em tais casos, a domés co: pública condicionada à representação da
representação, isto é, que a ação penal dependa da ví ma ou pública incondicionada”.
representação da ofendida, assim como também a O procurador-geral afirma que a única interpretação
renúncia. Para o decano da Seção, ministro Nilson compa vel com a Cons tuição e o fim da norma em
Naves, “a pena só pode ser cominada quando for tela é a de se u lizar ao crime come do contra a
impossível obter esse fim através de outras medidas mulher a ação penal pública incondicionada. Caso
menos gravosas”. contrário, ressalta a ADI, estaria a u lizar a interpre-
Além do ministro Nilson Naves, divergiram do en- tação que importa em violação ao
tendimento do relator os ministros Felix Fischer,
Arnaldo Esteves Lima, Maria Thereza de Assis Moura, princípio cons tucional da dignidade da pessoa
Jorge Mussi e o desembargador convocado Celso humana, aos direitos fundamentais da igual-
Limongi. [...]
dade, à proibição de proteção deficiente dos
[...] A questão foi apreciada em um recurso especial
direitos fundamentais e ao dever do Estado
destacado pelo ministro Napoleão Nunes Maia
Filho como representa vo dessa discussão para ser de coibir e prevenir a violência no âmbito das
julgado pelo rito da Lei dos Recursos Repe vos (Lei relações familiares.
nº 11.672/2008), diante dos inúmeros recursos que
chegam ao STJ sobre esse ponto da lei. De acordo com Gurgel, a interpretação que condicio-
O recurso foi interposto pelo Ministério Público do na à representação o início da ação penal rela va a
Distrito Federal e dos Territórios com o obje vo de crime de lesão corporal de natureza leve, pra cado
reverter decisão do tribunal local que entendeu que em ambiente domés co, gera para as ví mas desse
“a natureza da ação do crime do art. 129, § 9º, do po de violência “efeitos desproporcionalmente noci-
Código Penal é pública condicionada à representa- vos”. Roberto Gurgel afirma que no caso de violência
ção”. Para o TJ, o art. 41 da Lei nº 11.340/2006, ao domés ca, tem-se, a um só tempo, grave violação a
ser interpretado como art. 17 do mesmo diploma, direitos humanos e expressa previsão cons tucional
apenas veda os bene cios como transação penal de o Estado coibir e prevenir sua ocorrência. “A opção
e suspensão condicional do processo nos casos de cons tucional foi clara no sen do de não se tratar de
violência familiar. Assim, julgou ex nta a punibilidade mera questão privada”, afirma.
(cessação do direito do Estado de aplicar a pena ao
condenado devido à ação ou fato posterior à infração Representação e o Crime de Lesão Coporal
penal) quando não há condição de instaurar processo
diante da falta de representação da ví ma. Culposa por Acidente de Trânsito
No STJ, o MP sustentou que o crime de lesão cor-
poral leve sempre se processou mediante ação O crime de lesão corporal culposa decorrente de acidente
penal pública incondicionada, passando a exigir-se de trânsito em regra é de ação penal pública condicionada
representação da ví ma apenas a par r da Lei nº à representação. Porém será de ação penal pública incon-
9.099/1995, cuja aplicação foi afastada pelo art. 41 dicionada quando:
da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 1. O condutor es ver embriagado ou sob efeito de subs-
tâncias entorpecentes;
Recentemente, conforme informação veiculada no site 2. O condutor es ver par cipando de compe ção ou
www.s .gov.br , acesso em 11 de junho de 2010, foi veiculada exibição não autorizadas;
a seguinte no cia: 3. O condutor transitar em velocidade superior à máxima
permi da para a via em 50 km.
Lei Maria da Penha é objeto de Ação Direta de In-
cons tucionalidade
Representação e Contravenção de Vias de Fato
Com o obje vo de afastar a aplicabilidade da Lei dos
Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995) aos crimes Sustentamos que a contravenção de vias de fato é de
come dos no âmbito da Lei Maria da Penha (Lei nº ação penal pública condicionada, pois se a lesão corporal
11.340/2006), bem como para determinar que o de natureza leve exige representação, com mais razão o
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

crime de lesão corporal de natureza leve come do “delito-anão” exigirá.


contra mulher seja processado mediante ação pe- O STF tem entendimento em sen do contrário ao nosso:
nal pública incondicionada, o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, propôs Ação Direta de Tratando-se de contravenção penal, a ação é pública
Incons tucionalidade (ADI nº 4.424), com pedido incondicionada devendo o Ministério Público ofere-
de medida cautelar, no Supremo Tribunal Federal. cer denúncia independentemente de representação
O relator é o ministro Marco Aurélio. da ví ma. Com esse entendimento, a Turma indeferiu
O pedido do procurador-geral está fundamentado habeas corpus que obje vava o trancamento de
na necessidade de se dar interpretação conforme a ação penal instaurada pelo Ministério Público pela
Cons tuição aos arts. 12, I; 16 e 41 da Lei Maria da prá ca da contravenção penal de vias de fato (LCP,
Penha. Na ação, ele ressalta que essa norma “foi uma art. 21), no qual se sustentava a decadência do di-
resposta a um quadro de impunidade de violência reito de representação da ví ma. Considerou-se que
domés ca contra a mulher, gerado, fortemente, pela permanece em vigor a primeira parte do art. 17 da
aplicação da Lei nº 9.099”. LCP (“A ação penal é pública, ...”), não se aplicando o

213
art. 88 da Lei nº 9.099/1995, que tornou condiciona- de composição dos danos cíveis acarreta a renúncia ao
da à representação a ação penal rela va aos crimes direito de representação.32
de lesões corporais leves (HC nº 80.617/MG, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julg. 1ª Turma, em 20/3/2001) Transação Penal33

Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly em sua A transação penal nada mais é que uma proposta de
obra Teoria e Prá ca dos Juizados Especiais Criminais, 4. aplicação imediata34 da pena, cujo cumprimento acarreta a
ed., Forense, 2008, nos ensinam: ex nção da punibilidade. Importa salientar que a aceitação
não imputa culpa ao indivíduo, ou seja, o sujeito que aceita
Por fim, com inteira propriedade, Ada Pellegrini a transação penal, proposta exclusivamente pelo Ministério
Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio Público (ação penal pública),35 não está assumindo a cul-
Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes deixaram pa.36 Este ins tuto implica suspensão do curso processual
assentado que: “A contravenção prevista no art. 21 da até o prazo final do acordo transacional, não resultando em
Lei das Contravenções Penais (vias de fato), embora reincidência, sendo vedado o registro do feito em cer dão
implique menor ofensa ao bem jurídico integridade de antecedentes criminais.37
sica, con nua sendo de ação penal pública incon- No procedimento dos Juizados Especiais Criminais poderá
dicionada. Aqui não prevalece a regra, intocável do ser realizada a transação penal, com a aplicação imediata
ponto de vista lógico, de que se a lei exige represen- de pena restri va de direitos ou multas, mesmo na hipótese
tação para o mais (lesão corporal) também se faz de ação penal pública incondicionada.
necessária para o menos (vias de fato). O raciocínio Cumpre observar que não se trata de direito subje vo
não é válido tendo em vista o disposto no art. 100, § do agente, mas de faculdade do Ministério Público, que
1º, do CP, que diz: A ação pública é promovida pelo poderá oferecê-la ou não.
Ministério Público, dependendo, quando a lei o exi- Havendo divergência com relação à aceitação da propos-
ge, de representação do ofendido ou de requisição ta entre o advogado e o autor da infração, valerá a posição
do Ministro da Jus ça. Por falta de previsão legal do autor, desconsiderando-se a opinião do advogado.
expressa a referida contravenção, em síntese, con - Por fim, resta esclarecer que o indivíduo não poderá ser
nua ‘incondicionada’” (Juizados Especiais Criminais, beneficiado novamente com a transação penal pelo prazo
Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 180). de 5 anos, conforme preceitua o art. 76 e seu § 4º:

Medidas Despenalizadoras ou Alterna vas Art. 76 [...]


Previstas na Lei dos Juizados Especiais Criminais § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público
aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena
Composição dos Danos Civis restri va de direitos ou multa, que não importará
em reincidência, sendo registrada apenas para im-
A composição dos danos civis assegura à ví ma a repa- pedir novamente o mesmo bene cio no prazo de
ração de eventuais danos sofridos. cinco anos.
Nos termos da Lei nº 9.099/1995, a composição dos da-
nos civis será reduzida a termo e valerá como tulo execu vo Por fim, vale lembrar que o Ministério Público, ainda que
judicial, não impedindo eventual proposição da ação penal oferecida a representação, poderá propor diretamente a
pública incondicionada,28 haja vista a redação do art. 74 e transação penal, independentemente do comparecimento
seu parágrafo único, que assim dispõe: da víƟma à audiência preliminar.38

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida Transação Penal e Ação Penal Privada
a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença Para o Supremo Tribunal Federal, é possível transação
irrecorrível, terá eficácia de tulo a ser executado no penal no âmbito da ação penal privada e, caso isso ocorra,
juízo civil competente. o Ɵtular da proposta é o querelante.39
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de inicia- No STJ, foi decidido no HC nº 60.933/DF, tendo como
va privada ou de ação penal pública condicionada relator o Min. Arnaldo Esteves de Lima, 5ª Turma, publicado
à representação, o acordo homologado acarreta a em 23/6/2008:
renúncia29 ao direito de queixa ou representação.
Habeas corpus. Difamação e injúria. Ação penal
Observa-se que a sentença homologatória de com- originária de competência de tribunal regional.
posição dos danos civis é irrecorrível.30 Em contrapar da, Aplicação da Lei nº 9.099/1995. Audiência para a
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a sentença homologatória de transação penal é recorrível.31


Importante repe r que nos crimes de ação penal privada 32
Tema cobrado nas seguintes provas: Defensoria Pública-PA/Defensor de 1ª
ou condicionada à representação, a homologação do acordo Entrância/2006; Ejef/Unama/TJ/MG/Juiz Subs tuto/2005; Cespe/TRE-MA/
Analista Judiciário/Área Judiciária/2005.
33
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/TJ-SE/Técnico Judiciário/Área Adminis-
28
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública-SE/Defensor tra va e Judiciária/2004.
34
de 2ª Categoria/2005; NCE/PC-DF/Agente/2004; TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005; Tema cobrado na seguinte prova: TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005.
35
OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/Exame 01-2006; Cespe/OAB-AL-
Judiciária/2005; NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002; FGV/TJ-AM/Serviços AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-RN-PE/2º Exame de Ordem/2006; PC-TO/Delegado
Notariais e de Registro/2005; Cespe/OAB-ES/1º Exame de Ordem/2004; PC-AM/ de 1ª Classe/2007.
36
Delegado/2001. Tema cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ-SE/Analista Judiciário/Direito/2004;
29
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol-SP/Delegado/2000. OAB-PR/1º Exame de Ordem/2004.
30 37
Tema cobrado nas seguintes provas: Ejef/TJ-MG/Juiz Substituto/2005; Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad-TO/Delegado de 1ª Clas-
OAB-Nordeste/1º Exame de Ordem/2004. se/2008; TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005; OAB-PR/Exame 01-2006; OAB-ES/2º
31
Tema cobrado nas seguintes provas: Ejef/TJ-MG/Juiz Substituto/2005; Exame de Ordem/2004.
38
OAB-Nordeste/1º Exame de Ordem/2004; OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004; TJ-MA/Juiz/2003.
39
Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005; Cespe/OAB-ES/1º Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-CE/Juiz Subs tuto/2005-2004;
Exame de Ordem/2004. Cespe/OAB-ES/1º Exame de Ordem/2004.

214
proposta da transação. Preclusão pelo recebimento caso de descumprimento da transação, a medida de
da queixa-crime. Suspensão condicional do processo. execução de suas condições, mas jamais de segui-
Possibilidade. Ordem parcialmente concedida. mento da ação penal. O processo foi relatado pelo
1. Recebida a queixa-crime sem oportuna e específica ministro Cezar Peluso, que se louvou em precedentes
oposição do magistrado ou do querelado quanto à do próprio STF para negar provimento ao recurso.
matéria, resta preclusa a discussão acerca da aplica- O ministro Marco Aurélio, acompanhando voto do
ção da transação penal. Precedente do STF (HC nº relator, lembrou como precedentes para a decisão
86.007/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira o julgamento dos Habeas Corpus (HCs) nos 80.802 e
Turma, DJ 1º/9/2006). 84.876 e do RE nº 268.320.
2. “A Lei nº 9.099/1995, desde que obedecidos
os requisitos autorizadores, permite a suspensão A 5ª Turma do STJ decidiu acatar o posicionamento do
condicional do processo, inclusive nas ações penais STF sobre o tema da transação penal, de que é possível dar
de inicia va exclusivamente privada, sendo que a andamento na ação penal diante do descumprimento da
legi midade para o oferecimento da proposta é do transação penal. Vejamos:
querelante” (APN 390/DF, Rel. Min. Felix Fischer,
Corte Especial, DJ 10/4/2006) . A Turma concedeu a ordem para acolher o entendi-
3. Ordem parcialmente concedida para determinar mento segundo o qual o descumprimento das condi-
ao Tribunal de origem que, sem prejuízo da regular ções impostas em transação penal (art. 76 da Lei nº
tramitação da ação penal, in me o querelante para 9.099/1995) acarreta o oferecimento da denúncia e
que se manifeste sobre a suspensão condicional do seguimento da ação penal. Segundo destacou o Min.
processo, em conformidade com o art. 89 da Lei nº Relator, recentemente, reconhecida a repercussão
9.099/1995. geral, a matéria foi objeto de análise pelo STF. Na
oportunidade, firmou-se o posicionamento de que o
Descumprimento da Transação Penal prosseguimento da persecução penal na hipótese de
Descumprido o termo de transação, este se torna insub- descumprimento das condições impostas na transa-
sistente, cabendo ao Ministério Público requerer a instaura- ção penal não ofende os princípios do contraditório,
ção de inquérito policial ou oferecer a denúncia.40 ampla defesa e devido processo legal, uma vez que a
Outro não é o posicionamento do Supremo Tribunal decisão homologatória do acordo, subme da à condi-
Federal, senão vejamos no cia veiculada no site <www.s . ção resolu va – descumprimento do pactuado – não
gov.br>, acesso em novembro de 2009: faz coisa julgada material. O Min. Relator ponderou
que, apesar da aludida decisão ser desprovida de
Plenário: Descumprimento de transação penal au- caráter vinculante, o posicionamento adotado pela
toriza o MP a retomar ação penal. A homologação unanimidade dos integrantes do STF, órgão respon-
de transação penal não elimina a retomada ou a sável em úl ma instância pela interpretação cons -
instauração de inquérito ou de ação penal pelo Mi- tucional, deve ser observado. Concluiu que, atento
nistério Público (MP), em caso de descumprimento à finalidade do ins tuto da repercussão geral, e em
da transação. Ao reafirmar jurisprudência já estabe- homenagem à uniformização da jurisprudência, é
lecida nesse sen do, o Plenário do Supremo Tribunal imperiosa a revisão do posicionamento adotado pelo
negou provimento, nesta quinta-feira (19), ao Recurso Superior Tribunal de Jus ça, passando-se a admi r
Extraordinário (RE) nº 602072 e determinou o pros- o ajuizamento da ação penal quando descumpridas
seguimento de ação penal contra Maria de Fá ma as condições estabelecidas em transação penal.
da Luz Araújo pelo MP do estado do Rio Grande do HC 188.959-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
Sul. No RE, que já teve reconhecida repercussão 20/10/2011.
geral pelo STF, Maria de Fá ma se insurgia contra
decisão da Turma Recursal Criminal do estado do Requisitos para o Oferecimento da Transação Penal41
Rio Grande do Sul, que determinou a remessa dos Não será admi da a transação penal quando ficar com-
autos ao Ministério Público para o prosseguimento provado:
do processo penal, em função do descumprimento,
pela recorrente, das medidas homologadas em tran-
I – ter sido o autor da infração condenado, pela prá -
sação penal. Alegações. A recorrente alegava ofensa
ca de crime, à pena priva va de liberdade, por sentença
aos ar gos 5º, incisos LVIII (ameaça à liberdade de
defini va;
locomoção), XXXVI (ato jurídico perfeito), XL (não
Apesar da redação do inciso supracitado, o Supremo
retroatividade da lei, a não ser em benefício do
Tribunal Federal se posiciona de modo diverso por entender
réu) e LIV (não privação da liberdade sem o devido
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

que o acatamento da referida regra configura pena de caráter


processos legal) da Cons tuição Federal (CF). Ela sus-
perpétuo, abominada pela Carta Magna.
tentava, em síntese, que “existem alterna vas para
Para o Supremo, só não será admi da a transação penal
que não restem frustradas as transações penais sem
quando o come mento da infração for aferido dentro do
que seja necessário deturpar o sen do e a função de
tal ins tuto”. Nessa linha, defendia a tese de que a prazo de 5 anos após a ex nção da punibilidade, ou seja,
celebração da transação entre as partes “vale como quando ainda es ver no período de reincidência.
sentença ou até mesmo como acordo judicializado,
nos moldes daquilo que ocorre nas ações de alimen- II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no
tos ou de separação, em que cada parte abre mão prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restri va ou
de um pouco pela solução do li gio, de forma que multa, nos termos do art. 76 da Lei nº 9.099/1995;
resta a ngida pela coisa julgada, seja material, seja III – não indicarem os antecedentes, a conduta social e
formal”. Assim, restaria ao promotor de Jus ça, em a personalidade do agente, bem como os mo vos e as cir-
cunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
40
Tema cobrado nas seguintes provas: TRF-3ª Região/Juiz Federal Subs tuto/XIII
Concurso; TJ-MA/Juiz/2003. 41
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 01-2006.

215
Mi gação dos Princípios da Obrigatoriedade e Indis- [...]
ponibilidade O art. 27 da Lei nº 9.605/1998, além de todos esses
Segundo o Princípio da Obrigatoriedade, o Ministério requisitos obje vos e subje vos, condiciona a pro-
Público não pode recusar-se a promover a competente ação posta de transação à prévia composição do dano
penal, quando idenƟficar hipótese na qual a lei exija sua ambiental, ou seja, a existência de acordo entre o
atuação. Entretanto, tal princípio encontra-se atenuado Ministério Público e o infrator, que, uma vez homo-
mediante a previsão de conciliação e transação nas infra- logado judicialmente, valerá como tulo execu vo
ções penais de menor potencial ofensivo.42 judicial (CF, art. 74 da Lei nº 9.099/1995). É impor-
Com a previsão do art. 76 da lei em comento, e em vista tante salientar que não há necessidade da reparação
do Princípio da Obrigatoriedade, que rege a ação penal efe va nesse momento, basta a existência de acordo
pública, surgiram diversas doutrinas, de um lado afirmando nesse sen do.
a mi gação deste princípio e, de outro, o surgimento do Essa nova legislação, no entanto, não prevê a desig-
Princípio da Oportunidade Regrada43, também conhecido nação de audiência para a tenta va de conciliação.
como Discricionariedade Limitada. Não nos parece o caso de se aplicar extensivamente a
O mesmo fato ocorre com a suspensão condicional do Lei dos Juizados Especiais Criminais, pois não se exige
processo. De acordo com o art. 42 do Código de Processo que o acordo quanto à composição dos danos seja
Penal, o Ministério Público não poderá desis r da ação penal. realizado perante o Magistrado – over table – basta
Porém, como se sabe, o ins tuto da suspensão condicional que ele seja subme do à homologação.
do processo visa à suspensão deste para posterior ex nção [...]
da punibilidade. Se, por um lado, o legislador – com a transação – pro-
Assim, os ins tutos da transação penal e da suspensão curou atenuar as consequências jurídicas dos ilícitos
condicional do processo mitigaram, respectivamente, penais, jamais prescindiu da rigorosa aferição do juízo
os princípios da Obrigatoriedade e da Indisponibilidade.44 de suficiência, que leva em conta a biografia do pos-
sível beneficiário e, mais do que isso, principalmente
Transação Penal e Crime Con nuado na presente lei, as consequências do dano provocado.
É incabível o bene cio da transação penal em relação às [...]
infrações penais come das em con nuidade deli va (crime De todo modo, a teor do art. 27 da Lei nº 9.605/1998,
con nuado) quando a pena mínima cominada ultrapassa o nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo,
quantum estabelecido na Lei nº 9.099/1995. a proposta de transação penal somente poderá ser
Nesse sen do, o Superior Tribunal de Jus ça se pro- formulada pelo Ministério Público desde que tenha
nunciou: havido a prévia composição do dano ambiental, de
que trata o art. 74 da Lei dos Juizados, salvo em caso
STJ – HC nº 33.212/SP (5ª Turma) de comprovada impossibilidade. Dessa forma, a lei
Ementa dos crimes ambientais introduziu mais um requisito
HC. Penal. Lei nº 9.099/1995. Art. 76. Transação pe- impedi vo para a transação penal – a não efe vação
nal. Crime de desacato. Impossibilidade. da composição da reparação do dano ambiental.
Afastam-se da esfera da proposta de transação penal Importante ressaltar, contudo, que o próprio art. 27
os crimes qualificados como de menor potencial da lei ambiental excepciona essa regra, admi ndo
ofensivo com pena máxima superior a dois anos. Pre- a proposta de acordo na esfera penal, quando for
cedentes da Quinta Turma. No caso, a pena máxima impossível a realização da conciliação de reparação
prevista para o crime de desacato é de 2 (dois) anos, do dano na audiência preliminar. Cumpre ao repre-
que, acrescida da causa de aumento prevista para o sentante do Ministério Público, em um primeiro
crime con nuado (um sexto a dois terços), ultrapassa momento, avaliar os mo vos que impossibilitaram
o quantum estabelecido na Lei nº 9.099/1995 c/c Lei a composição, principalmente se opostos pelo autor
nº 10.259/2001, impedindo, assim, o oferecimento do fato.
da proposta de transação penal. Se o Juiz de Direito discordar do órgão do Ministério
Ordem denegada. Público e entender que as razões aparentes não afas-
tam a conciliação do dano ambiental, deverá indeferir
Transação penal nos crimes ambientais a homologação, com o consequente prosseguimento
Os mestres Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf da ação penal contra o acusado e sujeitando sua
Maluy, em sua obra Teoria e Prá ca dos Juizados Especiais decisão, naturalmente, ao duplo grau de jurisdição,
Criminais, 4. ed., Forense, 2008, ensinam: pela via recursal.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Por outro lado, se o magistrado discordar das razões


Seguindo uma tendência que, no Brasil, já se ini- invocadas pelo Promotor de Jus ça para não propor
ciara com o advento da Lei dos Juizados Especiais a transação penal, remeterá os autos ao Procurador-
Criminais, a Lei dos Crimes Ambientais dá ênfase à -geral de Jus ça para a revisão de seu posicionamen-
reparação do dano causado pela infração, ampliou o to, com a aplicação analógica do art. 28 do CPP.
rol das penas alterna vas à privação da liberdade e
alterou parcialmente as medidas despenalizadoras já Transação penal e Responsabilidade da pessoa jurídica
conhecidas, ou seja, a transação penal e a suspensão Os festejados doutrinadores Pedro Henrique Demercian
condicional do processo. e Jorge Assaf Maluly, em obra já citada, professam:

42
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública-AL/Defensor de
A Cons tuição Federal inovou no art. 225, § 3º, e
1ª Classe/2003; TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2001. estabeleceu a responsabilidade penal da pessoa jurí-
43
44
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol-SP/Delegado de Polícia Civil/2000. dica pela prá ca de crimes ambientais. Nesse esteio,
Tema cobrado nas seguintes provas: Acadepol-MG/Delegado da Polícia Ci-
vil/2003; Unemat/Covest/MPE-MT/Analista Jurídico/2004.
a Lei nº 9.605/1998, no seu art. 3º, expressamente

216
atribui à pessoa jurídica a responsabilidade penal, cesso é impediƟva de ação privada subsidiária49, tendo em
nos casos em que a infração penal seja come da por vista não haver inércia por parte do órgão competente. Além
decisão do seu representante legal ou contratual, ou de propor a suspensão, o Ministério Público será também
de seu órgão colegiado, no interesse ou bene cio de competente para delimitar o “período de prova”.
sua en dade. Cabe ainda observar que a suspensão condicional do
Da mesma forma, como se viu, a Lei dos Crimes processo não é direito público subjeƟvo do réu, podendo
Ambientais previu regras próprias para as medidas ou não ser oferecida proposta pelo querelante, quando se
despenalizadoras da transação penal e da suspen- tratar de ação penal privada.50
são condicional do processo (arts. 76 e 89 da Lei nº No referente ao tema, o STF assim julgou:
9.099/1995).
A Lei Ambiental não tratou especificamente da ação STF – HC nº 81.720/SP (1ª Turma)
penal e do processo-crime quando o acusado é uma Ementa: I – Suspensão condicional do processo e
pessoa jurídica. O Código de Processo Penal, de 1941, recebimento de denúncia. Cabível, em tese, a sus-
também não dispõe de qualquer regra sobre espécie pensão condicional do processo, é válido o acórdão
de procedimento. que – não a tendo proposto o autor da ação – recebe
Desse modo, na ausência de regras próprias na área a denúncia ou queixa e determina que se abra vista
criminal, para viabilizar a aplicação da lei penal, é ne- ao MP ou ao querelante para que proponha ou não
cessário que o operador do direito tome por emprés- a suspensão: não faria sen do provocar a respeito o
mo do Direito processual civil as normas existentes autor da ação penal antes de verificada a viabilidade
sobre a representação em juízo das pessoas jurídicas. da instauração do processo. II – Suspensão condicio-
Com efeito, o silêncio do legislador sobre esse as- nal do processo instaurado mediante ação penal pri-
pecto faz supor que pretendia ver aplicadas as regras vada: acertada, no caso, a admissibilidade, em tese,
processuais já existentes. O ar go 12, inciso VI, do da suspensão, a legi mação para propô-la ou nela
CPC dispõe que as pessoas jurídicas serão represen- assen r é do querelante, não, do Ministério Público.
tadas, a va e passivamente, por quem os respec vos
estatutos designarem, ou, não os designando, por O Superior Tribunal de Jus ça também já se posicionou
seus diretores. O art. 9º da Lei nº 9.099/1995, ao nesse sen do, senão vejamos:
dispor sobre os Juizados Especiais Cíveis, admite que
o réu, sendo pessoa jurídica ou tular de firma indi- STJ – RHC nº 17.061 (6ª Turma)
vidual, seja representado por preposto credenciado. Ementa: Recurso ordinário em habeas corpus.
Entendemos prescindível a presença dos diretores da Processual penal. Crimes contra a honra. Lei de im-
empresa inves gada, para fins de composição cível ou prensa. Ação penal privada. Suspensão condicional
transação penal, se eles outorgarem expressamente do processo. Legi midade para o seu oferecimento.
a seu mandatário ou preposto poderes para realizar Aplicação analógica do art. 89, da Lei nº 9.099/1995.
esses acordos. 1. O bene cio processual previsto no art. 89, da Lei
Aliás, a jurisprudência tem admi do no processo nº 9.099/1995, mediante a aplicação da analogia in
civil que a representação da pessoa jurídica seja bonam partem, prevista no art. 3º do Código de Pro-
realizada por mandatário ou mesmo preposto, para cesso Penal, é cabível também nos casos de crimes
fins do depoimento pessoal da parte, desde que o de ação penal privada. Precedentes do STJ.
representante possua poderes especiais e os neces- 2. Recurso provido.
sários conhecimentos da causa (RT nº 672/123). Não
se pode olvidar da importância desse ato processual Por fim, enfa za-se que não pode o juiz das execuções
porque dele pode decorrer a declaração de confissão decidir sobre suspensão condicional do processo51, pois
da parte. haveria neste momento uma total aberração jurídica.

Suspensão Condicional do Processo (Sursis) 45 Suspensão Condicional do Processo e Crimes Cuja


a Pena Mínima Seja Superior a 1 ano e Multa
Este ins tuto determina a paralisação do processo46 Alterna va
com potencialidade extintiva, pois, segundo estatui a
O STF, ao julgar o HC nº 83.926, 2ª Turma, decidiu que é
Lei nº 9.099/1995 (cria os Juizados Especiais Criminais),
possível a concessão de suspensão condicional do processo
vencido o prazo da suspensão do processo sem que haja
em crimes cuja pena mínima seja superior a 1 ano desde
revogação, deve o juiz declarar exƟnta a punibilidade.47 Tal
que seja cumulada de maneira alternada a pena de multa.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

paralisação é denominada “período de prova”, que poderá


Senão vejamos:
ser de 2 a 4 anos.
O tular para propor a suspensão condicional do pro-
Suspensão Condicional do Processo: Pena Mínima
cesso é o Ministério Público, não podendo o juiz propor o
Superior a 1 Ano e Multa Alterna va (Transcrições)
sursis.48 Vale ressaltar que a suspensão condicional do pro-
(v. Informa vo nº 475) HC nº 83.926/RJ* Relator: Min.
Cezar Peluso. Ementa: Ação Penal. Crime contra re-
45
Tema cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ-SE/Técnico Judiciário/Área Ad- lações de consumo. Pena. Previsão alterna va de
ministra va e Judiciária/2004; NCE/PC-DF/Delegado/2004; Acadepol/PC-SC/ multa. Suspensão condicional do processo. Admis-
Delegado Subs tuto/2008; PC-AM/Delegado/2001. sibilidade. Recusa de proposta pelo Ministério Público.
46
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/
PC-TO/Delegado de 1ª Classe/2007.
47 49
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-Nordeste/2º Exame de Ordem/2003; 17º Concurso Público para Procurador da República/1999.
50
OAB-GO/1º Exame/2006; OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004; OAB-Nordeste/2º Tema cobrado nas seguintes provas: Defensoria Pública-AM/Defensor de 4ª
Exame de Ordem/2003., Classe/2003; 17º Concurso Público para Procurador da República/1999; Cespe/
48
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor de AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007.
51
4ª Classe/2003. Vunesp/OAB-SP/133º Exame.

217
Constrangimento ilegal caracterizado. HC concedido Ordem denegada, cassando-se a liminar concedida”
para que o MP examine os demais requisitos da (fls. 261). Neste habeas corpus, os impetrantes re-
medida. Interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/1995. querem concessão da ordem tão só para que “seja
Quando para o crime seja prevista, alterna vamente, reconhecida a aplicabilidade da suspensão condicio-
pena de multa, que é menos gravosa do que qualquer nal do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/1995) ao
pena priva va de liberdade ou restri va de direito, delito tipificado no art. 7º, inc. XI, da Lei nº
tem-se por sa sfeito um dos requisitos legais para a 8.137/1990”. Pleiteam liminar que determine sus-
suspensão condicional do processo. Relatório: pensão do processo da Ação Penal nº 2002.01.022343-
1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de 8, em trâmite perante a 25ª Vara Criminal do foro da
Damião Pedrosa Vicente, contra acórdão proferido comarca do Rio de Janeiro-RJ, o que foi deferido (fls.
pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus ça 26-28). A Procuradoria-Geral da República, que ini-
que lhe denegou a ordem nos autos do HC nº 24.158. cialmente pugnara pelo deferimento parcial, depois
O paciente foi denunciado, juntamente com José re ficou o parecer, opinando pela concessão da or-
Hercílio Cabral, pela prá ca do delito previsto no art. dem (fls. 318-325), verbis: “3. Como se vê, o Promo-
7º, inc. IX, da Lei nº 8.137/1990, porque teria, na tor de Jus ça, desprezando a alegação da cominação
qualidade de gerente geral da filial Vila da Penha de alterna va da pena de multa, manifestou-se contrá-
Casas Sendas, exposto à venda mercadorias em rio à suspensão condicional do processo. O Tribunal
condições impróprias ao consumo. Recebida a de- de Jus ça do Estado do Rio de Janeiro, embora não
núncia, a defesa do paciente requereu fosse analisa- aceitando a tese da infração de menor potencial
da, pelo representante do Ministério Público, a ofensivo, para efeitos da transação e da transferência
possibilidade de suspensão condicional do processo, da competência para o Juizado Especial Criminal,
nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/1995, porque determinou a remessa do processo ao Procurador-
ao delito imputado é cominada, alterna vamente à -Geral de Jus ça, por aplicação analógica do art. 28
priva va de liberdade, pena de multa. O represen- do Código de Processo Penal, para fins de exame da
tante do Ministério Público, todavia, reputou inapli- proposta de suspensão condicional do processo. 4.
cável a suspensão condicional do processo, e o juiz, A Procuradoria-Geral de Jus ça, entretanto, argu-
acatando tal entendimento, designou data para o mentando que o mínimo cominado para a pena
interrogatório do paciente. A defesa impetrou, então, priva va da liberdade é de dois anos de reclusão,
habeas corpus ao Tribunal de Jus ça do Estado do afastou a hipótese da suspensão condicional do
Rio de Janeiro. A ordem foi parcialmente concedida, processo. 5. A impetração, no que lhe assiste razão,
nos seguintes termos: “Habeas Corpus – Paciente insiste na tese do cabimento da suspensão condicio-
condenado por infração aos arts. 7º, IX, da Lei nº nal do processo. Com efeito, para os delitos do art.
8.137 de 27/12/1990. Os impetrantes requerem a 7º da Lei nº 8.137/1990 são cominadas penas alter-
concessão da Ordem no sen do de determinar a na vas de reclusão, de 2 a 5 anos, ou de multa. Tais
formulação de proposta de suspensão condicional as circunstâncias, bem demonstra a esmerada pe ção
do processo. Procurador de Jus ça opinou pela de- que, para fins de aplicação do art. 89 da Lei nº
negação da ordem. Concessão de Liminar. Concessão 9.099/1995, a pena mínima a ser considerada é a de
parcial da Ordem, por unanimidade, no sen do de multa que, em tese, pode ser a única a ser aplicada.
descons tuir o Juízo monocrá co que recebera a [...] 6. Tal o quadro, resulta caracterizado o constran-
denúncia, aplicando-se in casu o que preceitua o art. gimento ilegal decorrente do ato do Procurador-
28 do CPP, com remessa dos autos a consideração do -Geral de Jus ça que, incorretamente, afirmou a
Exmo. Sr. Procurador-Geral de Jus ça” (fls. 223-228). impossibilidade jurídica da suspensão condicional
A Procuradoria-Geral de Jus ça, entretanto, insis u do processo. 7. Isso posto, re ficando a manifestação
no não oferecimento da proposta de transação penal anterior, opino pelo deferimento da ordem, com
ou de suspensão condicional do processo (fls. 302- extensão de o cio ao corréu, para que, reconhecida
314), e este retomou seu curso. A defesa impetrou em tese a possibilidade de suspensão condicional
novo habeas corpus, agora perante o Superior Tribu- do processo, cuja proposta foi indevidamente recu-
nal de Jus ça, para aplicação imediata do rito suma- sada, gerando ameaça à liberdade do paciente, re-
ríssimo ao feito, com a consequente formulação de tornem os autos ao Ministério Público estadual para
proposta de transação penal, ou, alterna vamente, manifestação fundamentada do Promotor de Jus ça
de suspensão condicional do processo. O Superior sobre a oportunidade ou não da proposta de suspen-
Tribunal de Jus ça denegou-lhe a ordem, nos termos são do processo” (fls. 323-325). É o relatório. VOTO:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

desta ementa: “Penal e Processual Penal. Exposição 1. Para a suspensão condicional do processo, a Lei
à venda de produtos impróprios para consumo (art. nº 9.099/1995 exige que a infração imputada ao réu
7º da Lei nº 8.137/1990). Suspensão Condicional do tenha mínima cominada igual ou inferior a 1 (um)
Processo. Advento da Lei nº 10.259/2001. Modifica- ano. Entendo que entra no âmbito de admissibilida-
ção. Inocorrência. Delito não considerado de menor de da suspensão condicional a imputação de delito
potencial ofensivo. Rito da Lei nº 10.259/2001 ina- que comine pena de multa de forma alterna va à
plicável. O art. 89 da Lei nº 9.099/1995 não foi alte- priva va de liberdade, ainda que esta tenha limite
rado pela Lei nº 10.259/2001, restando este aplicável, mínimo superior a 1 (um) ano. Nesses casos, a pena
somente, às infrações penais com pena mínima co- mínima cominada, parece-me óbvio, é a de multa,
minada igual ou inferior a 01 ano. De outro lado, o em tudo e por tudo, menor em escala e menos gra-
delito em questão não pode ser considerado como vosa do que qualquer pena priva va de liberdade ou
de menor potencial ofensivo, porquanto a pena restri va de direito. É o que se ra ao ar go 32 do
máxima cominada é de 05 anos de detenção (ex vi Código Penal, onde as penas priva vas de liberdade,
art. 2º, parágrafo único da Lei nº 10.259/2001). restri vas de direito e de multa são capituladas na

218
ordem decrescente de gravidade. Por isso, se previs- Aplicação Analógica do art. 28 do CPP
ta, alterna vamente, pena de multa, tem-se por
sa sfeito um dos requisitos legais para admissibili- Aplica-se ao instituto da suspensão condicional do
dade de suspensão condicional do processo. É o que processo o art. 28 do Código de Processo Penal, que assim
convém ao caso. A denúncia oferecida contra o pa- dispõe:
ciente e seu corréu, JOSÉ HERCÍLIO CABRAL, imputa-
-lhes a prá ca do delito descrito no art. 7º, inc. IX, da Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresen-
Lei nº 8.137/1990, assim pificado: “Art. 7º. Cons tui tar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito
crime contra as relações de consumo: [...] IX – vender, policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz,
ter em depósito, para vender ou expor à venda, ou no caso de considerar improcedentes as razões invo-
de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mer- cadas, fará remessa do inquérito ou peças de informa-
cadoria, em condições impróprias ao consumo. Pena ção ao Procurador-Geral, e este oferecerá a denúncia,
– detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa” designará outro órgão do Ministério Público para
(grifos nossos). Não discuto a desproporcionalidade oferecê-la, ou insis rá no pedido de arquivamento,
entre as penas cominadas e as condutas previstas no ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
ar go 7º da Lei nº 8.137/1990. O fato é que, contem-
plada, de forma alterna va, a aplicação exclusiva da Tal ar go é denominado doutrinariamente como Princí-
pena de multa, abre-se ao acusado a possibilidade pio da Devolução, tendo em vista a possibilidade de arqui-
de suspensão condicional do processo. É, aliás, o vamento do processo.
que sustentam os idealizadores da Lei: “Nas hipóte- Assim, imaginemos que determinado indivíduo reúne
ses em que penas diversas vêm cominadas alterna- todos os requisitos objeƟvos e subjeƟvos permissivos da
tivamente (prisão mínima acima de um ano ou suspensão condicional do processo. Não obstante, e apesar
multa, ad exemplum, arts. 4º, 5º e 7º da Lei nº de haver o Juiz inƟmado o Ministério Público para mani-
8.137/1990), nos parece muito evidente o cabimen- festar-se sobre o assunto, o Promotor de JusƟça recusou-se
a oferecer a proposta de suspensão do processo. Nessa
to da suspensão do processo, pela seguinte razão: a
situação, se o juiz dissenƟr da conduta do promotor, deve-
pena mínima cominada é a de multa. Se a lei (art. 89)
rá encaminhar os autos ao Procurador-Geral de JusƟça.53
autoriza a suspensão condicional do processo em
Acerca do tema, decidiu o STJ:
caso de pena priva va de liberdade mínima até um
ano, a for ori, conclui-se que, quando a pena mínima
REsp nº 251.033/SP (6ª Turma)
cominada é a multa, também cabe tal ins tuto. Pou- Ementa
co importa que a multa seja, no caso, alterna va. Se Recurso especial. Processual penal. Lei nº 9.099/1995.
o legislador previu tal pena como alterna va possível Art. 89. Suspensão condicional do processo. Titulari-
é porque, no seu entender, o delito não é daqueles dade do Ministério Público. Aplicação analógica do
que necessariamente devam ser punidos com pena art. 28 do CPP.
de prisão. Se, para os efeitos de prevenção geral, 1. Cabe ao Ministério Público a tularidade para a
contentou-se a lei, em nível de cominação abstrata, proposição da suspensão condicional do processo,
com a multa alterna va, é porque, conforme seu não podendo o juiz subs tuí-lo nessa função.
entendimento, não se trata de delito de alta repro- 2. Por conter requisitos de natureza axiológica a
vabilidade. Sendo assim, entra no amplo espectro da suspensão condicional do processo não é direito
sua nova polí ca criminal de priorizar a ressocializa- subje vo do réu.
ção do infrator por outras vias, que não a prisional. 3. Divergindo juiz e promotor acerca da suspensão
Na essência da suspensão condicional, ademais, condicional do processo, devem ser os autos encami-
outros interesses estão presentes: reparação da ví - nhados ao Procurador-Geral, por aplicação analógica
ma, desburocra zação da Jus ça etc. Para os crimes ao disposto no art. 28 do CPP (Súmula nº 696 do STF).
de média gravidade (e dentro desse conceito entram 4. Recurso provido em parte.
evidentemente os delitos punidos em abstrato com
pena – alterna va – de prisão ou multa) a resposta Já o STF editou a Súmula nº 696 que assim dispõe:
estatal adequada é a de que acaba de ser descrita”.
2. Ante o exposto, concedo a ordem, para que o re- Reunidos os pressupostos legais permissivos da sus-
presentante do Ministério Público estadual es me pensão condicional do processo, mas se recusando o
se o paciente, bem como o corréu JOSÉ HERCÍLIO Promotor de Jus ça a propô-la, o Juiz, dissen ndo, re-
CABRAL, preenchem, ou não, os demais requisitos meterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se
necessários à suspensão condicional do processo, por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

formulando-lhes proposta, se seja o caso. A ordem é


de o cio estendida ao corréu. Crimes que Admitem a Concessão de Sursis
Processual
Suspensão Condicional do Processo e Crimes
Ambientais A suspensão condicional do processo é cabível em
qualquer crime cuja pena mínima cominada seja igual ou
Com referência à suspensão condicional do processo, inferior a 1 ano54, pouco importando a pena máxima. Ou
o prazo de efeƟva suspensão do processo para autores de 53
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado Federal/2004;
crimes ambientais pode ultrapassar quatro anos.52 OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor
de 4ª Classe/2003; Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005; Cespe/
Como já dito anteriormente, esta paralisação em sua Promotor-AM/2001.
54
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RO/40º Exame; Cespe/TJ-MT/Juiz
normalidade (processos comuns) poderá ser de 2 a 4 anos. Subs tuto/2004; Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor Público de 4ª Clas-
se/2003; Promotor-DF/2002; TJDFT/Juiz de Direito Subs tuto/2007; TJ-RJ/Oficial
52
Promotor-DF/2002. de Jus ça Avaliador; Promotor-RN/2004; OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003.

219
seja, pode ser aplicado o sursis para o crime de furto, tendo Condições da Suspensão Condicional do Processo61
em vista que a pena mínima é de 1 ano e a máxima de 4
anos.55 Logicamente, por ser a pena máxima superior a 2 Uma vez aceita a proposta pelo acusado e seu defensor,
anos, não será julgado pelo Juizado Especial Criminal, mas o juiz poderá suspender o processo, submetendo o acusado
sim pela jus ça comum. ao período de prova62, sob as seguintes condições:
I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;63
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada II – proibição de frequentar determinados lugares;
for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
esta lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, sem autorização do Juiz;
poderá propor a suspensão do processo, por dois a IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men-
quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo salmente, para informar e jus ficar suas a vidades.
processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autori- Além das condições acima referidas, pode o juiz especi-
zariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do ficar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
Código Penal). desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusa-
do, conforme preceitua o § 2º do art. 89.
Vale ressalvar que na jurisprudência atual, vindo o acór-
dão da Corte de Apelação a excluir a condenação de crime Revogação da Suspensão Condicional
mais grave e restando apenas crime com pena mínima de
até um ano, abrir-se-á vista ao Ministério Público para que Será revogada a suspensão se, no curso do prazo, o bene-
examine a possibilidade de propor a suspensão condicional ficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar,
do processo.56 sem mo vo jus ficado, a reparação do dano.64

Impossibilidade de concessão de Sursis Processual § 3º A suspensão será revogada se, no curso do


prazo, o beneficiário vier a ser processado por ou-
tro crime ou não efetuar, sem mo vo jus ficado,
São exemplos de delitos que não se admite o sursis a reparação do dano.65
processual: § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado
a) o delito de Corrupção A va57; vier a ser processado, no curso do prazo, por con-
b) o delito de Corrupção Passiva58; travenção, ou descumprir qualquer outra condição
c) o delito de Roubo59. imposta.

O bene cio da suspensão do processo não é aplicável em A jurisprudência e a doutrina vêm assentando que, se
relação às infrações penais come das em concurso material, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por
concurso formal ou con nuidade deli va, quando a pena outro crime66, apenado com multa (exclusivamente), não há
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência que se falar em quebra do sursis. Além dessa possibilidade,
da majorante, ultrapassar o limite de um 1 ano.60 entendemos que não acarretará a revogação da suspensão
Referida matéria foi sumulada pela Suprema Corte, se o indivíduo vier a ser condenado por crime culposo.
valendo a conferência: De outra parte, não ofende ao princípio consƟtucional
da inocência a negaƟva do Ministério Público em oferecer
STF Súmula nº 723 proposta de suspensão condicional do processo pelo fato de
Não se admite a suspensão condicional do processo o denunciado responder a outro processo, em que sequer
por crime con nuado, se a soma da pena mínima da foi realizado o interrogatório.67
infração mais grave com o aumento mínimo de um A revogação poderá ser efetuada mesmo após o término
sexto for superior a um ano. do período de prova, sendo válida a leitura do julgado do
STF a seguir exposto:
Outro não é o entendimento do Superior Tribunal de
Jus ça: STF – HC nº 84.654/SP (6ª Turma)
Ementa: Habeas corpus. Juizados especiais. Suspen-
são condicional do processo. Come mento de outro
STJ Súmula nº 243
crime durante o período de prova. Possibilidade de
O bene cio da suspensão do processo não é apli-
revogação do bene cio após o término do biênio
cável em relação às infrações penais come das em
probatório. Esta Corte firmou entendimento no
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

concurso material, concurso formal ou con nuidade


sen do de que o bene cio da suspensão condicional
deli va, quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência da majorante, ultra- 61
Tema cobrado nas seguintes provas: Esaf/PG-DF/Procurador/2004; OAB-SP/127º
passar o limite de um (1) ano. Exame de Ordem/2005; Promotor-MG/2006; Cespe/Promotor-AM/2001;
OAB-RS/1º Exame de Ordem/2004; OAB-RJ/25º Exame de Ordem/2004.
62
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005;
55
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil de Promotor-DF/2002.
63
1ª Classe/2008. Tema cobrado na seguinte prova: Promotor-DF/2002.
56 64
Tema cobrado nas seguintes provas: TRF-4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005; Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área
Cespe/TJ-CE/Juiz Subs tuto/2005-2004. Judiciária/2004; Cespe/TJ-MT/Juiz Substituto/2004; OAB-ES/2º Exame
57
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003. de Ordem/2004; Cespe/OAB-ES/1º Exame de Ordem/2004; Esaf/PG-DF/
58
OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003. Procurador/2004; Cespe/AGU/Advogado/2006; Promotor-RN/2004; Cespe/
59
OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003. Promotor-AM/2001; Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007; TRF-
60
Tema cobrado nas seguintes provas: Promotor-RN/2004; TRF-4ª Região/Juiz -3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Subs tuto; FGV/TJ-SE/Analista Judiciário/
Federal Subs tuto/2005; Cespe/Promotor-AM/2001; Promotor-DF/2002; 17º Direito/2004.
65
Concurso Público para Procurador da República/1999; OAB-GO/1º Exame de Tema cobrado na seguinte prova: FGV/TJ-SE/Analista Judiciário/Direito/2004.
66
Ordem/2004; OAB-RJ/23º Exame de Ordem/2003; Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tu- Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005.
67
to/2005; Conselho da Polícia Civil/PC-PR/Delegado/2007. Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor de 4ª Classe/2003.

220
do processo pode ser revogado após o período de I – O fato de ser, o autoaborto, crime doloso contra a
prova, desde que os fatos que ensejaram a revogação vida não é, por si, óbice para a aplicação da suspensão
tenham ocorrido antes do término deste período. prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/1995.
Ordem indeferida. II – Recurso provido, para que, afastada a limitação
contra legem, sejam examinados os demais requi-
Revo ga çã o fa c u l tat i va Revogação obrigatória da sus- sitos.
da suspensão do proces- pensão do processo – art. 89,
so – art. 89, § 4º, da Lei § 3º, da Lei nº 9.099/1995. Desistência da Suspensão Condicional do Processo
nº 9.099/1995.
Uma vez que for constatado pelo Parquet, logo após a
Se, durante o prazo, o be- Se comete um crime no pe-
apresentação da proposta, que o acusado não preenche
neficiário comete uma con- ríodo do sursis processual,
as condições legais para a aplicação do sursis processual,
travenção, o juiz pode ou o juiz o revogará.
não configura constrangimento ilegal o fato de o Ministério
não revogar a suspensão do
Público ter manifestado desistência, designando o Juiz, em
processo.
acatamento, a data para o interrogatório.
O não cumprimento das O beneficiário não repara o
demais condições. dano, salvo mo vo jus ficado. STJ – RHC nº 9.773/RJ (5ª Turma)
Ementa
Emenda o Libelli e Suspensão Condicional do Processual penal. Suspensão condicional do proces-
Processo so. Desistência.
1. Verificado pelo membro do Ministério Público,
Segundo Capez (2009): logo após a apresentação da proposta, que o acusado
não preenche as condições legais para a aplicação da
A Lei nº 11.719/2008 acrescentou dois parágrafos suspensão condicional do processo, não configura
ao art. 383 do CPP, que trata da emenda o libelli. constrangimento ilegal o fato do Parquet ter manifes-
O § 1º passou a prever que: “Se, em consequência
tado desistência, designando o Juiz, em acatamento,
de definição jurídica diversa, houver possibilidade
a data para o interrogatório.
de proposta de suspensão condicional do processo,
2. Conforme exige a Lei nº 9.099/1995, art. 89, não
o juiz procederá de acordo com o disposto na lei”.
é possível a concessão do bene cio ao acusado que
Tomou, portanto expressa orientação con da na
ostentar condenação anterior, por mais que cumprida
Súmula nº 337 do STJ: “É cabível a suspensão con-
há mais de cinco anos, posto não ser aplicável para
dicional do processo na desclassificação do crime
esse fim o comando inserto no Código Penal, art. 64,
e na procedência parcial da pretensão puni va”.
I. (HC nº 8.671/RJ, 3ª Seção, Rel. Min. José Arnaldo,
Desse modo deverá o juiz, em tais casos , proceder
DJ de 14/6/1999).
de acordo com a Lei nº 9.099/1995, a fim de que se
3. Recurso a que se nega provimento.
possibilite a proposta da suspensão condicional do
processo pelo Ministério Público, nas hipóteses em
Nulidade Absoluta e Suspensão Condicional do
que esta seja possível (art. 89 da Lei). De acordo como
o novo § 2º, se, em consequência da nova jurídica, Processo
o crime passar a ser de competência de outro juízo,
os autos deverão a este ser reme dos, por exemplo, Já fora decidido pelo Superior Tribunal de Jus ça que a
delito cuja competência seja dos Juizados Especiais ausência de in mação do denunciado para se manifestar
Criminais, onde será possível a realização da transa- sobre a proposta de sursis processual caracterizaria nulida-
ção penal (art.72 da Lei). de absoluta, e não apenas rela va, podendo ser arguida a
qualquer tempo, prescindindo da demonstração do prejuízo.
Prescrição e Suspensão Condicional do Processo
STJ – HC nº 17.165/SP (6ª Turma)
Conforme regra do § 6º do art. 89, não correrá a prescri- Ementa
ção durante o prazo de suspensão do processo.68 Habeas corpus. Art. 89 da Lei nº 9.099/1995. Proposta
do Ministério Público de suspensão condicional do
Suspensão Condicional do Processo e Crime Doloso processo. Discordância do advogado cons tuído.
Contra a Vida Falta de in mação do denunciado. Nulidade absoluta.
Ato voluntário e personalíssimo. Necessidade de sua
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

O Superior Tribunal de Jus ça já decidiu que o fato do manifestação.


agente ter come do crime doloso contra a vida (por exemplo, 1. A falta de in mação do denunciado para se mani-
aborto) não é, por si, óbice para a aplicação da suspensão festar sobre a proposta de suspensão condicional do
prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/1995. processo caracteriza nulidade absoluta, e não ape-
nas rela va, podendo, pois, ser arguida a qualquer
STJ – RHC nº 7.379/RS (5ª Turma) tempo, prescindindo da demonstração do prejuízo.
Ementa 2. O alegado constrangimento é evidente e manifesto,
Penal e processual penal. Recurso ordinário de ha- pois a aceitação ou não da proposta de suspensão
beas corpus. condicional do processo é ato a ser pra cado pes-
Autoaborto. Suspensão do processo. (Art. 89 da Lei soalmente pelo denunciado. Não há como admi r
nº 9.099/1995). que o advogado, mesmo com poderes especiais,
delibere unilateralmente sobre a proposta oferecida
68
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/ pelo Ministério Público, não aceitando, como no
OAB-ES/1º Exame de Ordem/2004; Promotor-RN/2004; TJ-RJ/Oficial de Jus ça
Avaliador.
caso, se a Lei nº 9.099/1995 exige em seu art. 89,

221
§ 1º, a manifestação tanto do interessado como Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida
de seu defensor, prevendo, aliás, que, em caso de a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com
divergência entre eles, prevalecerá a vontade do ela ficará citado e imediatamente cien ficado da
indiciado (art. 89, § 7º). designação de dia e hora para a audiência de instru-
3. Habeas corpus parcialmente concedido para anu- ção e julgamento, da qual também tomarão ciência
lar o processo a par r da audiência de conciliação, o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil
inclusive. e seus advogados.
§ 1º Se o acusado não es ver presente, será citado
Suspensão Condicional da Pena na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cien ficado
da data da audiência de instrução e julgamento, de-
Trata-se de ins tuto diverso, pois se suspende apenas a vendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar
pena e não o processo. A suspensão condicional da pena é requerimento para in mação, no mínimo cinco dias
providência que evita a prisão de condenados a penas de antes de sua realização.
duração curta, sendo certo que sua concessão depende do § 2º Não estando presentes o ofendido e o responsá-
atendimento de certos requisitos. Neste tema, entende-se vel civil, serão in mados nos termos do art. 67 desta
por sursis humanitário aquele disciplinado no Código Penal, lei para comparecerem à audiência de instrução e
aplicável mesmo que a pena definida seja superior a 2 anos, julgamento.
não superando 4 anos, se razões de saúde do condenado § 3º As testemunhas arroladas serão in madas na
jusƟficar o beneİcio.69 forma prevista no art. 67 desta lei.

Transação Penal X Suspensão Condicional do Processo Quan dade de Testemunhas

Transação Penal Suspensão Condicional A quan dade de testemunhas é variável de acordo com
o delito come do. Segue-se a seguinte regra:
É cabível nas infrações pe- Crimes cuja pena mínima é
nais de menor potencial igual ou inferior a um ano. • Crimes apenados com reclusão = até 8 testemunhas
ofensivo: crimes cuja pena (rito ordinário);
máxima é de até dois anos, e
em todas as contravenções. Art. 401 – CPP: Na instrução poderão ser inquiridas
até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8
Procedimento nos Juizados Especiais Criminais (oito) pela defesa. (Redação dada pela Lei nº 11.719,
de 2008).
O rito das ações penais originárias e o rito dos Juizados
Especiais Criminais admitem manifestação da defesa antes • Crimes apenados com detenção = até 5 teste-
do juízo de admissibilidade da inicial acusatória (denúncia munhas72(rito sumário);
ou queixa).70
Art. 532 – CPP: Na instrução, poderão ser inquiridas
Início da Ação Penal até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação
e 5 (cinco) pela defesa. (Redação dada pela Lei
Não havendo o ins tuto da transação penal por qualquer nº 11.719, de 2008).
dos mo vos con dos nessa lei, o Ministério Público deverá
oferecer a denúncia na forma oral. • Contravenções penais = até 3 testemunhas.73

Exame de Corpo de Delito Audiência de Instrução e Julgamento


Nos crimes de competência dos juizados especiais cri- Em procedimento previsto na Lei dos Juizados Especiais,
minais, não é necessário o exame de corpo de delito para após infruơferas as propostas de conciliação e de transa-
o oferecimento da denúncia.71 ção penal, aberta a audiência de instrução e julgamento
(art. 81), o primeiro ato processual será a concessão da
Requisitos da Denúncia palavra ao defensor para responder à acusação.74

Os requisitos da denúncia do Jecrim são os mesmos Art. 79. No dia e hora designados para a audiência
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

presentes no art. 41 do Código de Processo Penal, que de instrução e julgamento, se na fase preliminar não
assim dispõe: ver havido possibilidade de tenta va de conciliação
e de oferecimento de proposta pelo Ministério Pú-
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição blico, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74
do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, e 75 desta lei.
a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa iden ficá-lo, a classificação do crime Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao
e, quando necessário, o rol das testemunhas. defensor para responder à acusação, após o que o
Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo
recebimento, serão ouvidas a ví ma e as testemunhas
69
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RO/40º Exame.
70 72
OAB-PR/Exame 02-2006. TJ/MA/Juiz/2003.
71 73
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/2º Exame de Ordem/2004; NCE/ TJ-MA/Juiz/2003.
74
PC-DF/Delegado/2004; NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001; Cespe/AGU/Advo- Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/3º Exame/2006; FGV/TJ-SE/
gado/2002. Analista Judiciário/Direito/2004.

222
de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o Debates Orais
acusado, se presente, passando-se imediatamente
aos debates orais e à prolação da sentença. Os debates orais serão de 20 minutos, podendo ser
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência prorrogados por mais 10 minutos.
de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou
excluir as que considerar excessivas, imper nentes Recursos Cabíveis
ou protelatórias.
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado Os únicos recursos possíveis no Juizado Especial Criminal
termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo são os Embargos de Declaração e a Apelação.78
breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em
audiência e a sentença. Apelação
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará
os elementos de convicção do Juiz. No procedimento dos Juizados Especiais Criminais
caberá apelação da decisão que homologar a proposta de
No Informa vo nº 427, o Supremo Tribunal Federal re- transação penal feita pelo Ministério Público.79
conheceu tratar-se de nulidade rela va a inobservância da
regra supracitada: Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de
crime de ação penal pública incondicionada, não
A inobservância do disposto no art. 81 da Lei nº sendo caso de arquivamento, o Ministério Público
9.099/1995 constitui nulidade relativa que, não poderá propor a aplicação imediata de pena restri va
arguida oportunamente, gera preclusão (Lei nº de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
9.099/1995: “Art. 81. Aberta a audiência, será dada a § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior
palavra ao defensor para responder à acusação, após caberá a apelação referida no art. 82 desta lei.
o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; (Grifo Nosso)
havendo recebimento, serão ouvidas a ví ma e as
testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a Cumpre lembrar ainda que cabe apelação da decisão
seguir o acusado, se presente, passando-se imediata- que rejeitar a denúncia, que poderá ser julgada por turma
mente aos debates orais e à prolação da sentença.”). de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição,
Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu reunidos na sede do juizado.80
habeas corpus impetrado em favor de condenado
pela prá ca do crime de lesão corporal e ameaça (CP, Prazo da Apelação
arts. 129 e 147), em concurso material, no qual se O prazo para a interposição de apelação no Juizado
pretendia a decretação da nulidade dos atos proces- Especial Criminal é de dez dias.81
suais pra cados na ação penal, desde o recebimento
da denúncia, sob a alegação de prejuízo pela não Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou
observância do rito previsto na Lei nº 9.099/1995, queixa e da sentença caberá apelação, que poderá
tendo em conta tratar-se de crimes de menor poten- ser julgada por turma composta de três Juízes em
cial ofensivo, cuja soma das penas em abstrato seria exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos
inferior a dois anos. Precedente citado: HC nº 85.271/ na sede do Juizado.
MS (DJU de 1º/7/2005, 2ª Turma). § 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias,
(HC nº 88.650/SP, Rel. Min. Eros Grau, 2ª Turma, contados da ciência da sentença pelo Ministério Pú-
16/5/2006) blico, pelo réu e seu defensor, por pe ção escrita, da
qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
Importante lembrar que a regra é que não se pronunciará (Grifo Nosso)
qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.75
Vale lembrar ainda que a apelação deverá ser interposta
Ausência Injus ficada na Audiência de Instrução e com as razões e o pedido do recorrente.82
Julgamento
STF – HC nº 86.454 (2ª Turma)
Tratando-se de ação penal privada por crime de menor Ar go
potencial ofensivo, a ausência injusƟficada do querelante Tratando-se de apelação interposta no sistema dos
e de seu advogado, na audiência de instrução e julgamen- juizados especiais criminais, impõe-se ao recorrente o
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

to, ocasionará a perempção, que é causa de exƟnção da


punibilidade.76 78
Tema cobrado nas seguintes provas: Unama/Defensoria Pública-PA/Defensor
de 1ª Entrância/2006; Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005; Cespe/TJ-DF/Técnico
Interrogatório Judiciário/Área Administra va e Judiciária/2003; Fundep/TJ-MG/Oficial Judici-
ário/2005; OAB-Nordeste/1º Exame de Ordem/2004; OAB-PR/Exame 02-2006;
OAB-MG/1º Exame de Ordem/2004; TRF-3ª Região/Juiz Federal Subs tuto/XIII
O interrogatório, na audiência única de instrução, Concurso.
debates e julgamento, é feito após serem inquiridas as 79
Tema cobrado nas seguintes provas: TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005; NCE/PC-DF/
testemunhas de acusação e de defesa.77 Delegado/2004; Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administra va e Ju-
diciária/2003; TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador; 20º Concurso Público para
Procurador da República/2003; OAB-PR/Exame 01-2006.
75 80
OAB-PR/Exame 02-2006. Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito Subs tu-
76
Cespe/AGU/Advogado/2002. to/2007; OAB-MG/1º Exame de Ordem/2004.
77 81
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB-SP/131º Exame; Cespe/ Tema cobrado nas seguintes provas: Faurgs/MPE-RS/Assistente de Procura-
TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administra va e Judiciária/2003; OAB-RS/3º doria/2002; Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2005; Vunesp/TJ-SP/2005; Cespe/
Exame/2006; Delegado Federal/1997; OAB-MG/1º Exame de Ordem/2005; TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administra va e Judiciária/2003; OAB-MG/2006;
OAB-MG/2º Exame de Ordem/2004; NCE/PC-DF/Agente/2004; Promo- Fundep/TJ-MG/Oficial Judiciário/2005.
82
tor-DF/2002; TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador. TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador.

223
dever de apresentar, com a pe ção recursal, as razões registros expressos da ciência do conteúdo da deci-
de apelação, no prazo único de dez dias, conforme são. HC deferido para declarar a tempes vidade dos
dispõe o § 1º do art. 82 da Lei nº 9.099/1995 (“A embargos de declaração opostos. HC nº 87.338/SE,
apelação será interposta no prazo de 10 (dez) dias, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, 6/6/2006.
contados da ciência da sentença pelo Ministério Pú-
blico, pelo réu e seu defensor, por pe ção escrita, da Mandado de Segurança
qual constarão as razões e o pedido do recorrente”).
Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu Contrariando o STJ, o STF decidiu pelo não cabimento
habeas corpus em que condenados pela prá ca dos de mandado de segurança no âmbito dos Juizados, senão
crimes previstos no art. 10 da Lei nº 9.437/1997 e vejamos:
no art. 29 da Lei nº 9.605/1998 alegavam constran-
gimento ilegal por cerceamento de defesa, em razão Não cabe mandado de segurança contra decisão
de a Sé ma Turma de Recursos de Santa Catarina interlocutória proferida em Juizado Especial. Essa
não conhecer de recurso de apelação interposto em foi a orientação firmada pela maioria do Tribunal,
seu bene cio, porque desacompanhado das razões ao negar provimento a recurso extraordinário in-
recursais. Precedentes citados: HC nº 79.843/MG terposto contra acórdão de Turma Recursal Cível e
(DJU de 30/6/2000, 2ª Turma) e HC nº 85.210/SP (DJU Criminal do Tribunal de Jus ça do Estado da Bahia que
de 1º/7/2005, 2ª Turma). (HC nº 86.454/SC, Rel. Min. indeferira a pe ção inicial do mandado de segurança
Carlos Velloso, 2ª Turma, 18/10/2005) (Grifo Nosso) da recorrente – impetrado contra decisão liminar
concedida em primeiro grau, no âmbito dos Juizados
O prazo para oferecer as contrarrazões será de 10 dias.83 Especiais – , ex nguindo o feito sem julgamento do
mérito. Asseverou-se que a Lei nº 9.099/1995 está
Embargos de Declaração voltada à promoção de celeridade no processamen-
to e julgamento das causas cíveis de complexidade
Diferentemente do es pulado no Código de Processo menor, razão pela qual consagrou a regra da irrecor-
Penal, os embargos de declaração apenas suspendem o ribilidade das decisões interlocutórias. Não caberia,
prazo.84 por isso, nos casos por ela abrangidos, a aplicação
subsidiária do Código de Processo Civil, sob a forma
Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, do agravo de instrumento ou a u lização do ins tuto
em sentença ou acórdão, houver obscuridade, con- do mandado de segurança, cujos prazos para interpor
tradição, omissão ou dúvida. e impetrar, respec vamente, não se coadunam com
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por os fins pretendidos pela Lei nº 9.099/1995. Aduziu-se
escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, conta- ser faculta va a opção pelo rito sumaríssimo, com
dos da ciência da decisão. as vantagens e limitações que a escolha acarreta.
§ 2º Quando opostos contra sentença, os embargos Asseverou-se, ademais, que a admissão do mandado
de declaração suspenderão o prazo para o recurso. de segurança ensejaria ampliação da competência
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de o cio. dos Juizados Especiais, o que caberia exclusivamente
ao Poder Legisla vo. Por fim, afastou-se a ofensa ao
Prazo para os Embargos de Declaração princípio da ampla defesa, haja vista a possibilidade
O prazo para oposição de Embargos Declaratórios em de impugnação das decisões interlocutórias quando
matéria criminal, no âmbito dos Juizados Especiais Federais da interposição de recurso inominado. Vencido o
Criminais, é de 5 (cinco) dias.85 Min. Marco Aurélio, que provia o recurso, por consi-
derar estar-se diante de exceção alcançada pela Lei
STF – HC nº 87.338 (1ª Turma) nº 1.533/1951, já que, não obstante essa lei revelar
A Turma deferiu habeas corpus impetrado contra como regra o não cabimento de mandado de segu-
decisão de turma recursal de juizado especial cri- rança contra decisão judicial, tal previsão pressuporia
minal que, por intempes vidade, não conhecera de a possibilidade de ter-se recurso contra essa decisão,
embargos de declaração opostos pelo paciente. No o que, na espécie, não se teria. Concluía, assim, que
caso, o termo inicial do prazo para oferecimento do o afastamento do mandado de segurança importaria
aludido recurso fora a data da sustentação oral dos o afastamento da própria jurisdição. (RE nº 576847/
advogados. Considerou-se que os embargos de de- BA, Rel. Min. Eros Grau, Plenário, 20/5/2009)
claração seriam tempes vos, porquanto apresenta-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

dos no período legal de 5 dias da data da publicação Turma Recursal


do acórdão da turma recursal. Entendeu-se que,
não obstante os princípios inerentes aos juizados Primeiramente, é importante afirmar que turma recursal
especiais, tais como o da celeridade, o da oralidade e não se trata de órgão de 2º instância, mas sim de 1ª instância.
outros, o princípio maior da garan a do contraditório O recurso de apelação contra sentença do magistrado será
e da ampla defesa deveria ser observado. Ademais, enviado à turma recursal.86
asseverou-se que não seria razoável a declaração da Os recursos cabíveis das decisões das turmas recursais
extemporaneidade a par r da realização de susten- são os recursos extraordinários87 e os embargos de declara-
tação oral dos procuradores, haja vista inexis rem
86
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área
Administra va e Judiciária/2003; Promotor-BA/2004; OAB-PR/2º Exame de
83
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2005. Ordem/2004.
84 87
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/2º Exame de Ordem/2004; TRF-5ª Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PA/Juiz Subs tuto/2001-2002;
Região/Juiz Federal Subs tuto/2001. Unama/Defensoria Pública-PA/Defensor de 1ª Entrância/2006; TRF-3ª Região/
85
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-GO/2º Exame/2006; Vunesp/ XIII Concurso/Juiz Federal Substituto; Faurgs/MPE-RS/Assistente de Pro-
OAB-SP/129º Exame; OAB-Nordeste/1º Exame de Ordem/2004. curadoria/2002; Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2005.

224
tórios. Lembre-se que não cabe recurso especial ao STJ88, Informa vo nº 437), no sen do de que compete aos
tendo em vista que o art. 105 da Cons tuição Federal rege tribunais de jus ça processar e julgar habeas corpus
que o Superior Tribunal Federal apenas julgará, em recurso impetrado contra ato de turma recursal de juizado
especial, as causas decididas, em única ou úl ma instância, especial criminal, a Turma, resolvendo questão de or-
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos dem, declarou a incompetência do STF e determinou
Estados, do Distrito Federal e Territórios, que não é o caso. a remessa dos autos ao Tribunal de Jus ça do Estado
Habeas corpus contra turma recursal é endereçado ao de São Paulo. Trata-se, na espécie, de writ em que
Tribunal de Jus ça89. Cumpre observar que resta superada se pretende o trancamento de ação penal instaurada
a Súmula nº 690 do STF. contra advogado da vo pela suposta prá ca do crime
Tal entendimento já fora objeto de julgamento perante de desacato, decorrente de sua re rada voluntária da
a Suprema Corte e publicado no informa vo nº 437/2006, sala de audiências, em razão de ter sido indeferido,
vejamos: pelo juízo, seu requerimento de entrevista separada
com seu cliente, que se encontrava preso – v. Infor-
O Tribunal, por maioria, mantendo a liminar deferi- ma vo 400. HC nº 86.026 QO/SP, Rel. Min. Marco
da, declinou da sua competência para o Tribunal de Aurélio, 1ª Turma, 26/9/2006.
Jus ça do Estado de São Paulo, a fim de que julgue
habeas corpus impetrado contra ato da Turma Recur- STF – RMS nº 26.058
sal do Juizado Criminal da Comarca de Araçatuba-SP Ar go
em que se pretende o trancamento de ação penal Não cabe ao STF o conhecimento de recurso ordinário
movida contra delegado de polícia acusado da prá ca interposto contra decisão denegatória de mandado
do crime de prevaricação – v. Informa vo nº 413. de segurança emanada de turma recursal de juizado
Entendeu-se que, em razão de compe r aos tribunais especial criminal. Com base nesse entendimento,
de jus ça o processo e julgamento dos juízes estadu- a Turma negou provimento a agravo regimental em
ais nos crimes comuns e de responsabilidade, ressal- recurso ordinário em mandado de segurança em
vada a competência da Jus ça Eleitoral (CF, art. 96, que se alegava o cabimento do recurso. Entendeu-se
III), a eles deve caber o julgamento de habeas corpus
que a Cons tuição é taxa va (art. 102, II, a) quanto à
impetrado contra ato de turma recursal de juizado es-
interposição de recurso em mandado de segurança,
pecial criminal. Asseverou-se que, em reforço a esse
o qual só cabe contra acórdão de tribunal superior,
entendimento, tem-se que a competência originária
e que, apesar de as turmas recursais funcionarem
e recursal do STF está prevista na própria Cons tui-
ção, inexis ndo preceito que delas trate que leve à como segunda instância recursal, enquadram-se
conclusão de compe r ao Supremo a apreciação de como órgãos colegiados de primeiro grau. Ademais,
habeas ajuizados contra atos de turmas recursais afastou-se a pretensão de interpretação, por analo-
criminais. Considerou-se que a EC nº 22/1999 expli- gia, com o recurso em habeas corpus interposto con-
citou, rela vamente à alínea i do inciso I do art. 102 tra órgão colegiado de 1º grau, haja vista tratar-se de
da CF, que cumpre ao Supremo julgar os habeas orientação superada em face do que decidido, pelo
quando o coator for tribunal superior, cons tuindo Plenário, no HC nº 86.834/SP (j. em 23/8/2006), no
paradoxo admi r-se também sua competência quan- sen do de que compete aos tribunais de jus ça pro-
do se tratar de ato de turma recursal criminal, cujos cessar e julgar habeas corpus impetrado contra ato
integrantes sequer compõem tribunal. Vencidos os de turma recursal de juizado especial criminal. (RMS
Ministros Sepúlveda Pertence, Cármen Lúcia e Celso nº 26.058 AgR/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª
de Mello que reconheciam a competência originária Turma, 2/3/2007)
do STF para julgar o feito, reafirmando a orientação
fixada pela Corte em uma série de precedentes, no Hipóteses de Encaminhamento do Processo ao
sen do de que, na determinação da competência dos Juízo Comum
tribunais para conhecer de habeas corpus contra co-
ação imputada a órgãos do Poder Judiciário, quando Poderá haver delitos de menor potencial ofensivo que
silente a Cons tuição, o critério decisivo não é o da não serão julgados pelo Juizado Especial Criminal, desde que
superposição administra va ou o da competência verificada as situações descritas a seguir90:
penal originária para julgar o magistrado coator ou
integrante do colegiado respec vo, mas sim o da 1. Conexão e con nência
hierarquia jurisdicional.
(HC nº 86.834/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, Imaginemos que ocorra um delito de ameaça conexo com
23/8/2006)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o crime de roubo. O delito de ameaça é de menor potencial


ofensivo e, em tese, deveria ser julgado perante o Juizado
No mesmo sen do, seguem outros julgados: Especial Criminal, todavia, por força do art. 60 da lei, será
julgado no Juízo Comum, em decorrência da conexão/con-
STF – HC nº 86.026 nência com o crime de roubo, já que este não se enquadra
Ar go no conceito de infração de menor potencial ofensivo.
Aplicando a recente orientação firmada pelo Plenário Contudo, em conformidade com o parágrafo único do
no julgamento do HC 86.834/SP (j. em 23/8/2006, v. ar go supramencionado, haverá a possibilidade de aplicação
88
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PA/Juiz Subs tuto/2001-2002;
dos ins tutos da transação penal e da composição dos danos
TRF-3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Subs tuto. civis. Ou seja: poderá haver estes dois ins tutos em pleno
89
Tema cobrado nas seguintes provas: TRF-4ª Região/XI Concurso/Juiz Federal juízo comum91. Não se trata mais de ins tutos priva vos do
Subs tuto; TRF-3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Subs tuto; TJDFT/Juiz de
Direito Subs tuto/2007; Acadepol-MG/PC-MG/Delegado/2003; OAB-GO/1º
Juizado Especial.
Exame de Ordem/2004; Esaf/Promotor-CE/2001; OAB-MS/79º Exame de Or-
90
dem/2004; TRF-4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005; TJ-RJ/Oficial de Jus ça Tema cobrado na seguinte prova: NCE/PC-DF/Delegado/2004.
91
Avaliador; UEG/PC-GO/Delegado/2008. Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/2º Exame de Ordem/2004.

225
2. Causas de aumento de pena Juizado Especial Criminal e o processo será encaminhado
ao juízo comum.94
Se por qualquer mo vo recaia uma das causas gerais
de aumento de pena (3º momento da aplicação da pena), Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio
ultrapassando, assim, o limite máximo da pena de 2 anos, Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
este delito não será mais julgado perante o JEC. Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser
Na hipótese de concurso de crimes, a pena considerada citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao
para fins de fixação de competência dos juizados especiais Juízo comum para adoção do procedimento previsto
será o resultado da soma, no caso de concurso material, em lei. (Grifo Nosso)
ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime
conƟnuado, das penas máximas cominadas aos delitos.92 Vale a pena mencionar interessante de decisão da 3ª
Seção do STJ:
3. A complexidade da causa
AUDIÊNCIA PRELIMINAR. NÃO COMPARECIMENTO.
Quando houver complexidade no caso, o Ministério AUTOR. DELITO.
Público poderá (ato discricionário) requerer ao Juiz o en- Trata-se de conflito nega vo de competência travado
caminhamento das peças ao juízo comum. É o que rege o entre o juízo da vara de inquéritos policiais (susci-
art. 77, § 2º, da Lei nº 9.099/1995: tante) e o juízo da vara do juizado especial criminal
(suscitado), ambos da mesma comarca. No ciam os
Art. 77. Na ação penal de inicia va pública, quando autos que fora lavrado termo circunstanciado pela
não houver aplicação de pena, pela ausência do autor prá ca, em tese, do delito pificado no art. 28 da Lei
do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista nº 11.343/2006 (usuário de droga/pequena quan a)
no art. 76 desta lei, o Ministério Público oferecerá e, sendo designada audiência preliminar para ofere-
ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver cimento de transação penal, ela não se realizou em
necessidade de diligências imprescindíveis. razão do não comparecimento do acusado. Então, o
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não juízo suscitado acolheu manifestação do MP estadual
permi rem a formulação da denúncia, o Ministério e determinou a remessa dos autos ao juízo da vara cri-
Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento minal, com fundamento no art. 66, parágrafo único,
das peças existentes, na forma do parágrafo único da Lei nº 9.099/1995 e, por sua vez, o juízo da vara de
do art. 66 desta lei. inquéritos policiais suscitou o conflito de competên-
cia, alegando que não foi cumprido o art. 77, caput
Exemplificando o caso, imaginemos que após envol- e § 1º, da Lei nº 9.099/1995, pois o MP deveria ter
vimento em infração penal de menor potencial ofensivo, oferecido denúncia oral ao juízo suscitado. Explica
Tício foi encaminhado ao juizado especial criminal, onde o Min. Relator que, não comparecendo o acusado à
o promotor de jusƟça requereu a abertura de inquérito audiência preliminar designada para oferecimento
policial em face da complexidade do caso, o que impediu de transação penal e não havendo a necessidade de
a formulação imediata da denúncia. Posteriormente, foi diligências imprescindíveis, o MP deve oferecer de
oferecida, perante o juízo criminal da comarca, denúncia, imediato a denúncia oral nos termos do art. 77 da Lei
que tramitou pelo rito sumário, findando pela absolvição. nº 9.099/1995 e, somente após a apresentação dessa
O assistente de acusação recorreu, e o recurso foi distribuído exordial acusatória, é que poderiam ser reme dos
à turma recursal, que lhe deu provimento e condenou Tício
os autos ao juízo comum para proceder à citação
a dois meses de detenção, pena subsƟtuída por prestação
editalícia, conforme dispõe expressamente o art.
pecuniária à víƟma. Mesmo tratando-se de infração penal
78, § 1º, da referida lei. Diante do exposto, a Seção
de menor potencial ofensivo, a ação penal poderá ser pro-
conheceu do conflito e declarou a competência do
cessada perante o juízo comum, em face dos argumentos
juízo suscitado. Precedente citado: CC 102.240-PB,
aduzidos pelo promotor de jusƟça.93
DJe 30/4/2009. CC 104.225-PR, Rel. Min. Haroldo
Importante lembrar que nas infrações de menor poten-
Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE),
cial ofensivo, quando o Jecrim encaminhar ao juízo comum,
observar-se-á o rito sumário. É o que rege o art. 538 do julgado em 25/5/2011
Código de Processo Penal:
Observações Importantes
Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial
ofensivo, quando o juizado especial criminal enca- 1. Foro Privilegiado e Juizados Especiais Criminais
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

minhar ao juízo comum as peças existentes para a


adoção de outro procedimento, observar-se-á o pro- Uma pergunta bastante per nente seria: “é possível a
cedimento sumário previsto neste Capítulo. (Redação aplicação dos bene cios Juizado Especial Criminal às au-
dada pela Lei nº 11.719, de 2008) toridades que gozam de foro privilegiado?” A resposta é
sim, visto que estas autoridades também podem cometer
4. Réu em lugar incerto e não sabido pequenas infrações95. Logicamente, estes não serão proces-
sados propriamente nos Juizados Especiais Criminais, mas os
Se o acusado não for encontrado por estar em local incer- ins tutos poderão ser usados no juízo respec vo.
to ou não sabido para ser citado (chamamento do réu a juízo, Vejamos o que decidiu o STJ, no Conflito de Competência
onde lhe será dado ciência do conteúdo da peça formulada nº 41.659/MT 2004/0024832-0, 3ª Seção, que teve como
pelo órgão competente), será excluída a competência do Relatora a Ministra Laurita Vaz:

92
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judi- 94
Tema cobrado nas seguintes provas: Funiversa/PC-DF/Agente/2009; Acade-
ciária/2007; Cespe/TJ-MT/Juiz Subs tuto/2004. pol-SP/Delegado/DP 01/2008.
93 95
Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor de 4ª Classe/2003. Tema cobrado na seguinte prova: PC-AM/Delegado/2001.

226
Conflito nega vo de competência. Processual penal. 2. O art. 41 da Lei nº 11.340/2006 afasta a aplicação
Desacato pra cado por prefeito municipal. Aplicação da Lei nº 9.099/1995, onde se menciona ser a inicia-
da Lei dos Juizados Especiais. Competência do Tribu- va da ação penal, sujeita à representação da ví ma.
nal de Jus ça. Portanto, desnecessária a representação para apurar
1. Na hipótese de come mento de crimes comuns, o delito previsto no art. 129, § 9º, do Código Penal.
sem a ngir interesses da União, o prefeito municipal, 3. Diante de conexão entre ações penais, envolvendo
que possui prerroga va de foro cons tucionalmente delitos abrangidos pela Lei nº 9.099/1995 e o Código
estabelecida, deve ser processado e julgado pelo Penal, a competência para julgar o delito de menor
Tribunal de Jus ça local, sem prejuízo da aplicação potencial ofensivo é do juízo criminal comum.
dos ins tutos da Lei nº 9.099/1995, quando se tratar 4. Ordem denegada.
de crimes de menor potencial ofensivo. (TJDFT, Processo nº 20090020000873HBC/DF, 1ª Tur-
2. Conflito conhecido para declarar competente o ma Criminal, Rel. Renato Scussel, julg. em 19/2/2009,
Tribunal de Jus ça do Mato Grosso. DJU de 26/3/2009, p. 122)

2. Art. 28 da Lei nº 11.343/2006 e Juizados Especiais Ementa


Criminais Penal e processual penal. Recurso em sen do es-
trito. Contravenção penal. Vias de fato. Violência
Antes do advento da Lei nº 11.343/2006, o STJ e o STF domés ca e familiar contra a mulher. Condição de
procedibilidade. Necessidade de representação. Lei
se manifestavam favoravelmente quanto à possibilidade da
nº 9.099/1995. Arts. 16 e 41 da Lei nº 11.340/2006.
aplicação da Lei dos Juizados Criminais Federais ao delito de
Punibilidade ex nta. Processo arquivado.
uso de entorpecentes.96
Com o advento da Lei nº 9.099/1995 passaram
Exis a polêmica acerca da aplicação da Lei nº 10.259/2001 as contravenções penais, independentemente da
ao revogado art. 16 da Lei nº 6.368/76 (porte de droga para pena, a ser consideradas infrações penais de menor
uso próprio). potencial ofensivo (art. 61 da lei). E, como tal, obvia-
As Leis nºs 11. 313/2006 e 11.343/2006 acabaram com mente sujeitas ao procedimento ins tuído pela Lei
a polêmica sobre a aplicação dos ins tutos previstos na Lei nº 9.099/1995, reservando-se o procedimento dos
nº 9.099/1995 ao crime de porte de droga para uso próprio. arts. 531 e seguintes do código de processo penal
aos restritos casos do parágrafo único do art. 66 e
3. Abuso de Autoridade e Juizados Especiais Criminais dos §§ 2º e 3º do art. 77 da Lei nº 9.099/1995. Daí
que o art. 17 do Decreto-Lei nº 3.688/1941 (Lei das
Entendemos ser viável a aplicação do Jecrim aos delitos Contravenções Penais), ao prescrever que “a ação
de abuso de autoridade, visto que os delitos arrolados na penal é pública, devendo a autoridade proceder de
Lei nº 4.898/1965 estabelecem penas de natureza penal, o cio”, deve ser compa bilizado com o novo sistema
administra va (perda do cargo e inabilitação para o exercício processual ins tuído pela Lei nº 9.099/1995. Esta,
de função pública) e civil. por seu art. 88, para o crime de lesão corporal leve,
Desta forma, não acompanhamos a posição de Guilherme sem dúvida mais grave do que a contravenção de
Nucci e César Bitencourt. vias de fato, exige a representação da ví ma como
condição de procedibilidade. inadmissível receber o
4. Lei Maria da Penha e Juizados Especiais Criminais crime mais grave, no caso o de lesão corporal leve,
tratamento mais brando, ao condicionar a persecu-
Não se aplica o rito da Lei dos Juizados Especiais aos ção penal à vontade da ví ma, do que o outorgado
crimes pra cados com violência domés ca e familiar contra à infração menos grave, na espécie a contravenção
a mulher97, independentemente da pena imposta, visto que de vias de fato. Esta, pois, também reclama repre-
a Lei nº 11.340/2006 veda expressamente a aplicação da Lei sentação da ví ma. Solução alvitrada pela incidência
nº 9.099/1995, senão vejamos: dos princípios cons tucionais da proporcionalidade
e da razoabilidade.
Art. 41. Aos crimes pra cados com violência domés- Como o art. 41 da Lei nº 11.340/2006 exclui apenas
ca e familiar contra a mulher, independentemente os crimes da incidência da Lei nº 9.099/1995, esta
da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 se aplica às contravenções penais, inclusive a de
de setembro de 1995. vias de fato.
Ausente, no caso, a representação da ofendida,
e decorrido o prazo respec vo, correta a sentença
O Tribunal de Jus ça do Distrito Federal decidiu:
atacada que declarou a ex nção da punibilidade,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

reconhecendo a decadência.
Ementa
De qualquer sorte, ainda que se considerasse pre-
Habeas corpus. Violência domés ca. Lesão corporal
sente a representação na espécie, já que é cediço
qualificada. Arts. 129, § 9º e 147, caput do Código
não se exigir forma rígida para a sua oferta, mesmo
Penal. Conexão. Representação. Ordem denegada.
assim válida a renúncia ao direito de representação,
1. Com o advento da Lei nº 11.340/2006 os crimes
manifestada perante a autoridade policial, nesse
que envolvem a violência domés ca não são mais
caso entendida como retratação da representação.
consideradas infrações de menor potencial ofensivo.
Inviável a audiência do art. 16 da Lei nº 11.340/2006,
Logo, a ação penal per nente para o delito de lesão
porque inaplicável o procedimento desta às contra-
corporal qualificada, descrito no art. 129, § 9º, é a
venções penais, que se regem pela lei nº 9.099/1995.
ação pública incondicionada.
Recurso a que se nega provimento.
(TJDFT, Processo nº 20070110347640RSE/DF, 1ª
96
Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2006. Turma Criminal, Rel. Mario Machado, julg. em
97
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judi-
ciária – A vidade Processual/2003; UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe/2003. 4/12/2008, DJU de 3/2/2009, p. 99)

227
Porém o STJ decidiu de maneira contrária, senão vejamos: Ementa
Reclamação. Delito de trânsito. Lesão corporal
Competência. Contravenção. Lei Maria da Penha. culposa. Crime de menor potencial ofensivo. Com-
No caso, o autor desferiu socos e tapas no rosto da petência declinada em favor de juizado especial
declarante, porém sem deixar lesões. Os juízos susci- criminal. Perda do objeto. Prejudicialidade.
tante e suscitado enquadraram a conduta no art. 21 1. Com a remessa dos autos ao juizado especial cri-
da Lei de Contravenções Penais (vias de fato). Diante minal da circunscrição especial judiciária de Brasília,
disso, a Seção conheceu do conflito para declarar este o objeto da reclamação, deve esta ser da como
competente o juízo de Direito da Vara Criminal, e não prejudicada.
o do Juizado Especial, por entender ser inaplicável a 2. Reclamação julgada prejudicada. Unânime.
Lei nº 9.099/1995 aos casos de violência domés ca e (TJDFT, Processo nº 20060020093640RCL/DF,
familiar contra a mulher, ainda que se trate de contra- 2ª Turma Criminal, Rel. Maria Ivatônia, julg. em
25/10/2007, DJU de 31/1/2008, p. 992)
venção penal. Precedentes citados: CC nº 104.128-MG,
3ª Seção, DJe 5/6/2009; CC nº 105.632-MG, 3ª Seção,
Ementa
DJe nº 30/6/2009, e CC nº 96.522-MG, 3ª Seção, DJe
Processual penal. Reclamação. Lesão corporal cul-
19/12/2008. (CC nº 104.020-MG, Rel. Min. Maria posa. Acidente de trânsito. Decisão posterior. Re-
Thereza de Assis Moura, 3ª Seção, julg. em 12/8/2009) conhecimento da competência do Juizado Especial
Criminal. Pena priva va de liberdade não superior
5. Crime Tentado e Juizados Especiais Criminais a dois anos.
1. Há perda do objeto, quando decisão posterior
Entendemos não ser possível a aplicação do Juizado reconhece que a competência para o processo e jul-
Especial Criminal aos delitos tentados cuja pena máxima em gamento de crime de lesão corporal culposa causado
abstrato, após a devida dedução de 1/3, não ultrapasse os por acidente de trânsito é da vara do juizado especial
dois anos es pulados pela Lei nº 9.099/1995. criminal, porquanto a pena priva va de liberdade não
Em sen do contrário, afirma Guilherme Nucci (2008, p. ultrapassa dois anos.
744) que 2. Reclamação ex nta.
(TJDFT, Processo nº 20060020104413RCL/DF, 1ª Tur-
será de menor potencial ofensivo a infração tentada ma Criminal, Rel. Souza e Ávila, julg. em 11/10/2007,
e que se tome o máximo em abstrato previsto no po DJU de 12/12/2007, p. 104)
incriminador, deduzindo-se o mínimo de um terço
(art. 14, parágrafo único, CP). 7. Crime Militar e Lei dos Juizados Criminais

6. Crimes de Trânsito e Juizados Especiais Criminais Não se aplicam no âmbito da Jus ça Militar98 os prin-
cípios e os ins tutos dos Juizados Especiais, tendo em vista
O Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 291, estabele- expressa vedação legal.
cia que aos crimes de lesão corporal culposa, de embriaguez Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no
ao volante e de par cipação em compe ção não autoriza- âmbito da Jus ça Militar.
da, aplicar-se-ia o procedimento da Lei nº 9.099/1995, no
8. Crime Eleitoral e Lei dos Juizados Criminais
entanto, com a Lei nº 11.705, de 2008, atualmente, apenas
o delito de lesão corporal culposa segue o rito do Juizado
Entendemos ser possível a aplicação dos bene cios do
Especial Criminal. Juizado Especial Criminal aos crimes eleitorais, não havendo
qualquer prejuízo ao mérito da questão.
Art. 291. Aos crimes come dos na direção de veículos ..............................................................................................
automotores, previstos neste Código, aplicam-se as [...]
normas gerais do Código Penal e do Código de Pro- Dos Juizados Especiais Criminais
cesso Penal, se este Capítulo não dispuser de modo Disposições Gerais
diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro
de 1995, no que couber. Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes
togados ou togados e leigos, tem competência para a con-
Já o § 1º do art. 291 do CTB dispõe que são aplicáveis aos ciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
crimes de lesão corporal culposa decorrentes de trânsito as menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

seguintes medidas despenalizadoras: a composição civil, a e con nência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
transação penal e a exigência de representação, salvo nas Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo
hipóteses já referidas anteriormente. Assim dispõe o dispo- comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das
si vo em comento: regras de conexão e con nência, observar-se-ão os ins tutos
da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído
§ 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão cor- pela Lei nº 11.313, de 2006)
poral culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor po-
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o tencial ofensivo, para os efeitos desta lei, as contravenções
agente es ver: (Renumerado do parágrafo único pela penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não su-
Lei nº 11.705, de 2008) perior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação
dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
O Tribunal de Jus ça do DF, nos delitos de lesão corporal Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orien-
culposa, decidiu que a competência é do Juizado Especial tar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, eco-
Criminal, conforme julgados a seguir: 98
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/2º Exame de Ordem/2004.

228
nomia processual e celeridade, obje vando, sempre que Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen-
possível, a reparação dos danos sofridos pela ví ma e a tante do Ministério Público, o autor do fato e a ví ma e, se
aplicação de pena não priva va de liberdade. possível, o responsável civil, acompanhados por seus advo-
gados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição
Seção I dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata
Da Competência e dos Atos Processuais de pena não priva va de liberdade.
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo conciliador sob sua orientação.
lugar em que foi pra cada a infração penal. Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Jus -
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão ça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre
realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na
conforme dispuserem as normas de organização judiciária. administração da Jus ça Criminal.
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a
preencherem as finalidades para as quais foram realizados, escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irre-
atendidos os critérios indicados no art. 62 desta lei. corrível, terá eficácia de tulo a ser executado no juízo civil
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que competente.
tenha havido prejuízo. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de inicia va
§ 2º A prá ca de atos processuais em outras comarcas po- privada ou de ação penal pública condicionada à represen-
derá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação. tação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os de queixa ou representação.
atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência Art. 75. Não ob da a composição dos danos civis, será
de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer
magné ca ou equivalente. o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Jui- Parágrafo único. O não oferecimento da representação
zado, sempre que possível, ou por mandado. na audiência preliminar não implica decadência do direito,
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser cita- que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
do, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime
para adoção do procedimento previsto em lei. de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de
Art. 67. A in mação far-se-á por correspondência, com arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplica-
aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa ju- ção imediata de pena restri va de direitos ou multas, a ser
rídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado especificada na proposta.
da recepção, que será obrigatoriamente iden ficado, ou, § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única apli-
sendo necessário, por oficial de jus ça, independentemente cável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio § 2º Não se admi rá a proposta se ficar comprovado:
idôneo de comunicação. I – ter sido o autor da infração condenado, pela prá ca de
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência crime, à pena priva va de liberdade, por sentença defini va;
considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessa- II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo
dos e defensores. de cinco anos, pela aplicação de pena restri va ou multa,
Art. 68. Do ato de in mação do autor do fato e do nos termos deste ar go;
mandado de citação do acusado, constará a necessidade III – não indicarem os antecedentes, a conduta social e
de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a personalidade do agente, bem como os mo vos e as cir-
a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado de- cunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
fensor público. § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu de-
fensor, será subme da à apreciação do Juiz.
Seção II § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita
Da Fase Preliminar pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restri va de
direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento registrada apenas para impedir novamente o mesmo bene-
cio no prazo de cinco anos.
da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá
imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a ví ma,
a apelação referida no art. 82 desta lei.
providenciando-se as requisições dos exames periciais ne-
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste
cessários.
ar go não constará de cer dão de antecedentes criminais,
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

salvo para os fins previstos no mesmo disposi vo, e não terá


do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
no juízo cível.
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de vio-
lência domés ca, o juiz poderá determinar, como medida Seção III
de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de Do Procedimento Sumariíssimo
convivência com a ví ma. (Redação dada pela Lei nº 10.455,
de 13/5/2002) Art. 77. Na ação penal de inicia va pública, quando não
Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a ví ma, e não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato,
sendo possível a realização imediata da audiência preliminar, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 des-
será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes. ta lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
envolvidos, a Secretaria providenciará sua in mação e, se imprescindíveis.
for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada
68 desta lei. com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta

229
lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do § 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito
exame do corpo de delito quando a materialidade do crime ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência
es ver aferida por bole m médico ou prova equivalente. da decisão.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de
permi rem a formulação da denúncia, o Ministério Públi- declaração suspenderão o prazo para o recurso.
co poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de o cio.
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta lei.
§ 3º Na ação penal de inicia va do ofendido poderá ser Seção IV
oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a comple- Da Execução
xidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das
providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta lei. Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria
termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará do Juizado.
citado e imediatamente cien ficado da designação de dia Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará
e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual ex nta a punibilidade, determinando que a condenação não
também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, fique constando dos registros criminais, exceto para fins de
o responsável civil e seus advogados. requisição judicial.
§ 1º Se o acusado não es ver presente, será citado na Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita
forma dos arts. 66 e 68 desta lei e cien ficado da data da au- a conversão em pena priva va da liberdade, ou restri va de
diência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas direitos, nos termos previstos em lei.
testemunhas ou apresentar requerimento para in mação, Art. 86. A execução das penas priva vas de liberdade e
no mínimo cinco dias antes de sua realização. restri vas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável processada perante o órgão competente, nos termos da lei.
civil, serão in mados nos termos do art. 67 desta lei para
comparecerem à audiência de instrução e julgamento. Seção V
§ 3º As testemunhas arroladas serão in madas na forma Das Despesas Processuais
prevista no art. 67 desta lei.
Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e
instrução e julgamento, se na fase preliminar não ver havido aplicação de pena restri va de direitos ou multa (arts. 74 e
76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, conforme
possibilidade de tenta va de conciliação e de oferecimento
dispuser lei estadual.
de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos ter-
mos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta lei.
Seção VI
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz,
Disposições Finais
quando imprescindível, a condução coerci va de quem deva
comparecer. Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legisla-
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defen- ção especial, dependerá de representação a ação penal rela-
sor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, va aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for
ouvidas a ví ma e as testemunhas de acusação e defesa, igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta lei,
interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor
imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença. a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as condenado por outro crime, presentes os demais requisitos
que considerar excessivas, imper nentes ou protelatórias. que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, do Código Penal).
assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor,
dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença. na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os suspender o processo, submetendo o acusado a período de
elementos de convicção do Juiz. prova, sob as seguintes condições:
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por II – proibição de frequentar determinados lugares;
turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. sem autorização do Juiz;
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias,
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IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men-


contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo salmente, para informar e jus ficar suas a vidades.
réu e seu defensor, por pe ção escrita, da qual constarão as § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica
razões e o pedido do recorrente. subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à
§ 2º O recorrido será in mado para oferecer resposta situação pessoal do acusado.
escrita no prazo de dez dias. § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo,
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não
da fita magné ca a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei. efetuar, sem mo vo jus ficado, a reparação do dano.
§ 4º As partes serão in madas da data da sessão de § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier
julgamento pela imprensa. a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios funda- descumprir qualquer outra condição imposta.
mentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão. § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará
Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em ex nta a punibilidade.
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-
omissão ou dúvida. pensão do processo.

230
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste 8. (Acadepol-MG/Delegado/2003) Não se exige previa no-
ar go, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. ficação do réu para manifestação sobre os termos da
Art. 90. As disposições desta lei não se aplicam aos pro- denúncia, antes do seu recebimento no procedimento
cessos penais cuja instrução já es ver iniciada. (Vide ADIN do Juizado Especial Criminal.
nº 1.719-9) 9. (Acadepol-SP/Delegado/2003) A Lei dos Juizados Es-
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no peciais Criminais, no tocante à competência, adotou
âmbito da Jus ça Militar. (Ar go incluído pela Lei nº 9.839, a teoria da ubiquidade, podendo ser tanto o lugar da
de 27/9/1999) ação ou omissão quanto o do resultado.
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições 10. (Acadepol-MG/Delegado/2003) Os ins tutos da Tran-
dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem sação Penal e da Suspensão Condicional do Processo
incompa veis com esta lei. mi garam, respec vamente, os seguintes princípios do
Processo Penal brasileiro: Obrigatoriedade e indisponi-
REFERÊNCIAS bilidade.
11. (Acadepol-MG/Delegado/2003) Os ins tutos da Tran-
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação penal especial. 4. sação Penal e da Suspensão Condicional do Processo
ed. Rev. e aum. São Paulo: Saraiva, 2008. mi garam, respec vamente, os seguintes princípios do
Processo Penal Brasileiro: Verdade real e oficialidade.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Volume IV – legis- 12. (Acadepol-SP/Delegado/2003) A Lei dos Juizados Es-
lação especial. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. peciais Criminais, no tocante à competência, adotou a
teoria do domicílio da ví ma.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais 13. (Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor de 4ª Clas-
comentadas. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. se/2003) Havendo nega va do promotor de jus ça em
oferecer proposta de sursis processual, por entender
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e ausentes os elementos obje vos, o magistrado poderá
execução penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. oferecer diretamente a proposta, conforme condições
previstas taxa vamente na lei.
EXERCÍCIOS 14. (Esaf/PG-DF/Procurador/2004) Para a suspensão con-
dicional do processo, exige-se como requisitos: que o
1. (Cespe/TJ-PA/Juiz Subs tuto/2001-2002) Nas hipóteses acusado seja primário e de bons antecedentes.
de incidência da Lei nº 9.099/1995, a autoridade deverá 15. (Esaf/PG-DF/Procurador/2004) Para a suspensão con-
instaurar inquérito policial, bem como proceder ao dicional do processo, exige-se como requisito: que o
indiciamento do acusado, em qualquer caso. acusado se retrate.
2. (Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2006) 16. (Esaf/PG-DF/Procurador/2004) Para a suspensão con-
O STJ tem-se manifestado favoravelmente quanto à dicional do processo, exige-se como requisitos: que
possibilidade da aplicação da Lei dos Juizados Criminais ocorra perdão judicial.
Federais ao delito de uso de entorpecentes. 17. (Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007) A
3. (Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil de 1ª suspensão condicional do processo não pode ser revo-
Classe/2008) Os crimes de lesão corporal culposa, gada após o seu termo final, ainda que comprovado que
embriaguez ao volante e par cipação em compe ção o mo vo de sua revogação ocorreu durante o período
não autorizada, elencados no Código de Trânsito Brasi- do bene cio.
leiro, são apurados por meio de termo circunstanciado 18. (TRF-3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Subs tuto) O
de ocorrência, sendo vedada, em qualquer hipótese, órgão ministerial poderá propor a suspensão condi-
a prisão em flagrante em tais condutas, nos termos
cional do processo quando já dispuser dos elementos
dispostos na Lei dos Juizados Especiais Criminais.
necessários ao oferecimento da denúncia, não sendo
4. (OAB-RS/1º Exame/2006) Para que se aplique o rito
do Juizado Especial Criminal, é necessário que o ilícito obrigatório o oferecimento formal da peça acusatória.
penal seja uma infração de menor potencial ofensivo. 19. (TRF-3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Subs tuto)
Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo Pode ser concedida a suspensão condicional do proces-
as contravenções penais e crimes a que a lei comine so ainda que o acusado esteja foragido ou seu paradeiro
pena máxima não superior a 1 ano. seja desconhecido, desde que o defensor cons tuído
5. (NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002) No âmbito tenha poderes especiais para aceitar a proposta e as
dos Juizados Especiais Criminais, o acordo civil entre condições impostas;
ofendido (direto ou de modo secundário) e autor do 20. (Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor de 4ª Clas-
fato, homologado pelo juiz, em crime de ação pública se/2003) A suspensão condicional do processo será
incondicionada implicará: o arquivamento do termo concedida no caso de concurso de crimes cuja pena
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circunstanciado por falta de interesse. mínima, pelo somatório, exceder um ano, caso em que
6. (Unama/Defensoria Pública-PA/Defensor de 1ª Ent- o período de provas deverá ser de quatro anos.
rância/2006) Quanto aos crimes de competência dos 21. (Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007)
juizados especiais, é correto afirmar: Nos crimes de ação Considere a seguinte situação hipoté ca. Carlos foi
penal pública condicionada, a homologação do acordo denunciado pelo Ministério Público pela prá ca de
de composição dos danos cíveis acarreta a renúncia ao crime de emissão de tulo ao portador sem permis-
direito de representação. são legal. Apesar de Carlos ser primário e portador de
7. (Cespe/Defensoria Pública-AL/Defensor de 1ª Clas- bons antecedentes, o Ministério Público não ofereceu
se/2003) Segundo o princípio da obrigatoriedade, proposta de suspensão condicional do processo. Nessa
o órgão do Ministério Público não pode recusar-se a situação, é pacífico o entendimento de que a suspen-
promover a competente ação penal, quando iden ficar são condicional do processo é um direito subje vo do
hipótese na qual a lei exija sua atuação. Entretanto, tal acusado, podendo Carlos impetrar habeas corpus com
princípio encontra-se atenuado mediante a previsão de a finalidade de ser beneficiado com tal direito.
conciliação e transação nas infrações penais de menor 22. (Cespe/TJ-MT/Juiz Subs tuto/2004) A suspensão do
potencial ofensivo. processo deverá ser revogada se o acusado vier a ser

231
processado, no curso do processo, pela prática de 36. (OAB-Nordeste/3º Exame de Ordem/2003) Admite
contravenção penal. suspensão condicional do processo: o delito de Roubo.
23. (Cespe/AGU/Advogado/2004) Considere a seguinte 37. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004) Obsta à concessão
situação hipoté ca: Um indivíduo foi condenado a de sursis condenação anterior à pena de multa.
pena priva va de liberdade de dois anos de reclusão, 38. (OAB-PR/2º Exame de Ordem/2004) A suspensão con-
em regime aberto, pela prá ca do crime de furto qua- dicional do processo só poderá ser aplicada nos casos
lificado. Irresignada, a defesa apelou para o tribunal de de competência do juizado especial criminal.
jus ça, que deu provimento ao recurso, reconhecendo 39. (Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007)
a causa de diminuição da pena referente ao arrependi- Carlos foi denunciado pelo Ministério Público pela
mento posterior. Assim, a pena priva va de liberdade prá ca de crime de emissão de tulo ao portador
foi reduzida para 1 ano e 4 meses de reclusão. Nessa sem permissão legal. Apesar de Carlos ser primário e
situação, cabe ao Tribunal de Jus ça converter o feito portador de bons antecedentes, o Ministério Público
em diligência, a fim de que o Ministério Público ofereça não ofereceu proposta de suspensão condicional do
a proposta do sursis processual. processo. Nessa situação, é pacífico o entendimento de
24. (Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária – A - que a suspensão condicional do processo é um direito
vidade Processual/2003) Um termo circunstanciado subje vo do acusado, podendo Carlos impetrar habeas
pificou indevidamente lesão corporal culposa sofrida corpus com a finalidade de ser beneficiado com tal
por Márcia como come da por Paulo, seu marido. direito.
Descobriu, entretanto, o MP que Márcia escorregara 40. (OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004) Quanto à sus-
sozinha em sua residência, não tendo havido nenhuma pensão condicional do processo: correrá a prescrição
negligência ou imprudência por parte de Paulo. Na durante o prazo de suspensão do processo
situação hipoté ca acima, o MP deverá propor suspen- 41. (OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005) Sobre a suspensão
são do processo. condicional do processo: pode ocorrer antes do ofere-
25. (OAB-GO/1º Exame/2006) Nos termos da Lei cimento da denúncia.
nº 9.099/1995, vencido o prazo da suspensão condi- 42. (OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005) Sobre a suspensão
cional do processo pelo prazo de 2 (dois) anos, sem condicional do processo: pode ocorrer antes do rece-
qualquer impugnação, deverá o Juiz: sentenciar, absol- bimento da denúncia.
vendo o acusado. 43. (17º Concurso Público para Procurador da Repúbli-
26. (OAB-GO/1º Exame/2006) Nos termos da Lei ca/1999) A suspensão condicional do processo: cons-
nº 9.099/1995, vencido o prazo da suspensão condi- tui faculdade discricionária regrada do juiz.
cional do processo pelo prazo de 02 (dois) anos, sem 44. (Promotor-RN/2004) Durante o prazo de suspensão con-
qualquer impugnação, deverá o Juiz: determinar o dicional do processo, a prescrição ficará interrompida.
arquivamento dos autos. 45. (Cespe/Promotor-AM/2001) Considerando a orientação
27. (OAB-GO/1º Exame/2006) Nos termos da Lei do STJ, no caso de concurso material de crimes, as penas
nº 9.099/1995, vencido o prazo da suspensão condi- mínimas não são somadas para fins de concessão da
cional do processo pelo prazo de 2 (dois) anos, sem suspensão condicional do processo.
qualquer impugnação, deverá o Juiz: julgar ex nta a 46. (Cespe/Promotor-AM/2001) Considerando a orientação
culpabilidade do acusado. do STJ, para a verificação dos requisitos da suspensão
28. (OAB-Nordeste/2º Exame de Ordem/2003) Segundo condicional do processo, a majorante do crime con -
estatui a Lei nº 9.099/1995 (cria os Juizados Especiais nuado não deve ser computada.
Criminais), vencido o prazo da suspensão do processo, 47. (Promotor-DF/2002) Com referência à suspensão con-
sem que haja revogação, deve o juiz declarar ex nta a dicional do processo, aplica-se, em tese, para todo e
pena. qualquer crime, desde que a pena máxima cominada
29. (OAB-RO/40º Exame) A suspensão condicional do pro- não ultrapasse um ano de detenção.
cesso é cabível: em qualquer crime cuja pena máxima
cominada for igual ou inferior a 1 ano. GABARITO
30. (OAB-RO/40º Exame) A suspensão condicional do
processo é cabível: somente nas infrações de menor 1. E 22. E 43. E
potencial ofensivo cuja pena mínima cominada for igual 2. C 23. E 44. E
ou inferior a 1 ano. 3. E 24. E 45. E
31. (OAB-RO/40º Exame) A suspensão condicional do 4. E 25. E 46. E
processo é cabível: somente nas infrações de menor 5. E 26. E 47. E
potencial ofensivo cuja pena máxima cominada for 6. C 27. E
inferior a 1 ano.
32. (OAB-Nordeste/2º Exame de Ordem/2003) Segundo 7. C 28. E
8. E 29. E
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

estatui a Lei nº 9.099/1995 (cria os Juizados Especiais


Criminais), vencido o prazo da suspensão do processo, 9. E 30. E
sem que haja revogação, deve o juiz absolver o acusado. 10. C 31. E
33. (OAB-Nordeste/2º Exame de Ordem/2003) Segundo 11. E 32. E
estatui a Lei nº 9.099/1995 (cria os Juizados Especiais 12. E 33. E
Criminais), vencido o prazo da suspensão do processo, 13. E 34. E
sem que haja revogação, deve o juiz proceder ao in- 14. E 35. E
terrogatório do acusado, determinando de imediato a 15. E 36. E
colheita de provas. 16. E 37. E
34. (OAB-Nordeste/3º Exame de Ordem/2003) Admite sus- 17. E 38. E
pensão condicional do processo: o delito de Corrupção
18. E 39. E
A va.
35. (OAB-Nordeste/3º Exame de Ordem/2003) Admite sus- 19. E 40. E
pensão condicional do processo: o delito de Corrupção 20. E 41. E
Passiva. 21. E 42. E

232
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA portamento do agente será penalmente irrelevante,
porque manifestamente a pico. Precedentes. Se o
LEI Nº 8.137/1990 Ministério Público, no entanto, independentemente
da “representação fiscal para fins penais” a que se
Segundo Kiyoshi Harada (2009) os crimes de sonegação
refere o art. 83 da Lei nº 9.430/1996, dispuser, por
fiscal definidos na Lei nº 4.729/1965 deram lugar aos cha-
outros meios, de elementos que lhe permitam com-
mados crimes contra a ordem tributária definidos na Lei provar a defini vidade da cons tuição do crédito
nº 8.137/1990. tributário, poderá, então, de modo legí mo, fazer
instaurar os per nentes atos de persecução penal
Inquérito Policial por delitos contra a ordem tributária. A questão do
início da prescrição penal nos delitos contra a ordem
A circunstância de não conclusão do procedimento tributária. Precedentes.” 2
administrativo fiscal visando à constituição do crédito
tributário impede a inves gação policial e a instauração É o que prevalece de maneira esmagadora na juris-
de inquérito policial do crime contra a ordem tributária prudência, apesar de o STF já ter sinalizado entendimento
sobre o mesmo fato1. diverso em julgado recente:
Senão vejamos o que decidiu o STF:
Crimes contra a Ordem Tributária e Instauração de
Ementa: Habeas corpus. Denegação de medida Inquérito – 1
liminar. Súmula nº 691/STF. Situações excepcionais A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que
que afastam a restrição sumular. Crimes Contra a se discute a possibilidade, ou não, de instauração de
Ordem Tributária (Lei nº 8.137/1990, art. 1º). Crédito inquérito policial para apuração de crime contra a
tributário ainda não cons tuído defini vamente. ordem tributária, antes do encerramento do proce-
Procedimento administra vo-fiscal ainda em curso dimento administra vo-fiscal. Na espécie, empresa
quando oferecida a denúncia. Ajuizamento prema- da qual os pacientes eram sócios sofrera fiscalização
turo da ação penal. Impossibilidade. Ausência de promovida pela Fazenda Estadual, que remetera ao
picidade penal. Reconhecimento da configuração Ministério Público representação fiscal, solicitando
de conduta pica somente possível após a defini va a quebra do sigilo fiscal daquela, para exame de
cons tuição do crédito tributário. Inviabilidade da suposta prá ca de crimes contra a ordem tributária.
instauração da persecução penal, mesmo em sede de Os fiscais reputavam a diligência imprescindível para
inquérito policial, enquanto a cons tuição do crédito a conclusão do procedimento fiscal instaurado, haja
tributário não se reves r de defini vidade. Ausência vista que os pacientes não apresentaram as informa-
de justa causa para a persecu o criminis, se instau- ções requeridas sobre determinada conta-corrente
rado inquérito policial ou ajuizada ação penal antes da empresa. O parquet, então, requerera a quebra
de encerrado, em caráter defini vo, o procedimento do sigilo bancário da empresa, o que fora deferido
administra vo-fiscal. Ocorrência, em tal situação, pelo juízo de origem. Contra esta decisão, a defesa
de injusto constrangimento, porque des tuída de impetrara habeas corpus perante o tribunal local que
o acolhera, em parte, por entender manifestamente
picidade penal a conduta objeto de inves gação
ilegal o ato, dado que prolatado sem forma ou figura
pelo poder público. Consequente impossibilidade de
de juízo, ausentes o inquérito ou o processo judicial.
prosseguimento dos atos persecutórios. Invalidação,
Em consequência disso, o órgão ministerial requisita-
desde a origem, por ausência de fato pico, do proce-
ra a instauração de inquérito policial, no bojo do qual
dimento judicial ou extrajudicial de persecução penal. fora formalizado e deferido judicialmente o pleito de
Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Habeas afastamento do sigilo bancário da empresa. A impe-
corpus conhecido, em parte, e, nessa parte, deferi- tração reitera as alegações de que: a) seria ilegal a
do. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, instauração de inquérito policial antes da conclusão
sempre em caráter extraordinário, tem admi do o do procedimento administra vo-fiscal; b) posterior
afastamento, hic et nunc, da Súmula nº 691/STF, em encerramento do procedimento administra vo-fiscal
hipóteses nas quais a decisão ques onada divirja da não convalidaria anterior inicia va de instauração de
jurisprudência predominante nesta Corte ou, então, inquérito policial; e c) seria ilegal a prova ob da por
veicule situações configuradoras de abuso de poder meio da quebra de sigilo bancário decretada judicial-
ou de manifesta ilegalidade. Precedentes. Hipótese mente. (HC nº 95.443/SC, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª
ocorrente na espécie. Enquanto o crédito tributário Turma, 25/8/2009).
não se cons tuir, defini vamente, em sede adminis-
tra va, não se terá por caracterizado, no plano da Crimes contra a Ordem Tributária e Instauração de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

picidade penal, o crime contra a ordem tributária, Inquérito – 2


tal como previsto no art. 1º da Lei nº 8.137/1990. A Min. Ellen Gracie, relatora, indeferiu o writ. Obser-
É que, até então, não havendo sido ainda reconhecida vou que, em que pese orientação firmada pelo STF
a exigibilidade do crédito tributário (an debeatur) e no HC nº 81.611/DF (DJU de 13/5/2005) – no sen do
determinado o respec vo valor (quantum debeatur), da necessidade do exaurimento do processo adminis-
estar-se-á diante de conduta absolutamente desves- tra vo-fiscal para a caracterização do crime contra a
da de picidade penal. A instauração de persecu- ordem tributária –, o caso guardaria peculiaridades
ção penal, desse modo, nos crimes contra a ordem a afastar a aplicação do precedente. Asseverou que,
tributária definidos no art. 1º da Lei nº 8.137/1990 no caso, a instauração do inquérito policial vera
somente se legi mará, mesmo em sede de inves- como escopo possibilitar à Fazenda estadual uma
gação policial, após a defini va cons tuição do completa fiscalização na empresa dos pacientes, que
crédito tributário, pois, antes que tal ocorra, o com-
2
STF. HC nº 90.957, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma, julgado em 11/9/2007,
1
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciá- DJe-126. Divulg. 18/10/2007; Public. 19/10/2007. DJ 19/10/2007. PP-00087
ria/2004. Ement. Vol-02294-02 PP-00335.

233
apresentava sérios indícios de irregularidade. Aduziu Assim, um indivíduo, após regular prisão em flagrante
que, durante a fiscalização, foram iden ficados, pelo pela prá ca de crime contra a ordem tributária, obteve
Fisco estadual, depósitos realizados na conta da em- liberdade provisória mediante o pagamento da fiança de
presa dos pacientes, sem o devido registro nos livros R$ 15.000,00. Em seguida, e ainda na fase de inquérito, foi
fiscais e contábeis, revelando, assim, a possível venda pago o valor de R$ 2.000,00 rela vo ao débito tributário e
de mercadorias correspondentes aos depósitos men- acessórios apurados pelo Fisco, e julgada ex nta a punibi-
cionados sem a emissão dos respec vos documentos lidade do crime. Nessa situação, o valor da fiança deverá
fiscais. Enfa zou que tais depósitos configurariam ser devolvido em sua integralidade4.
fortes indícios de ausência de recolhimento do Im-
posto sobre Circulação de Mercadorias – ICMS nas Ação Penal
operações realizadas. Salientou que, diante da recusa
da empresa em fornecer documentos indispensáveis
De acordo com a Súmula nº 609 do STF, é pública incon-
à fiscalização da Fazenda estadual, tornara-se neces-
dicionada a ação penal por crime contra a ordem tributária5.
sária a instauração do procedimento inquisitorial para
Nos crimes contra a ordem tributária, o oferecimento
formalizar e instrumentalizar o pedido de quebra do
de denúncia depende da conclusão de procedimento
sigilo bancário, diligência imprescindível para a con-
administra vo-fiscal, mesmo se tratando de ação penal
clusão da fiscalização e, consequentemente, para a
pública incondicionada6.
apuração de eventual débito tributário. Concluiu que
No site <www.s .gov.br> foi veiculada a seguinte no cia:
considerar ilegal, na presente hipótese, a instauração
de inquérito policial, que seria indispensável para
PSV 29 – Necessidade de lançamento defini vo do
possibilitar uma completa fiscalização da empresa,
tributo para pificar crime tributário. A Proposta de
equivaleria a assegurar a impunidade da sonegação
Súmula Vinculante (PSV 29) foi a mais deba da em
fiscal, na medida em que não haveria como concluir
Plenário, a par r da intervenção da vice-procuradora-
a fiscalização sem o afastamento do sigilo bancá-
-geral da República, Deborah Duprat. A representante
rio. Dessa forma, julgou possível a instauração de
do Ministério Público alertou que embora houvesse
inquérito policial para apuração de crime contra a
condições formais para a aprovação da súmula, a ma-
ordem tributária, antes do encerramento do processo
téria não estava madura o suficiente para tornar-se
administra vo fiscal, quando for imprescindível para
vinculante.A PSV foi aprovada por maioria de votos,
viabilizar a fiscalização. Após, pediu vista dos autos o
vencidos os ministros Joaquim Barbosa, Ellen Gracie
Min. Cezar Peluso. HC nº 95.443/SC, Rel. Min. Ellen
e Marco Aurélio. A maioria dos ministros, entretanto,
Gracie, 2ª Turma, 25/8/2009.
aprovou a nova súmula no sen do de que não se pi-
fica crime material contra a ordem tributária, previsto
Sigilo no Inquérito Policial
no art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/1990, antes do
lançamento defini vo do tributo. Relator da PSV, o
Se, nos autos de um inquérito policial que apura crime
ministro Cezar Peluso afirmou que a jurisprudência
tributário, foi decretada judicialmente a quebra de sigilo
do STF atualmente não admite processo-crime sem
bancário do inves gado, e o advogado cons tuído regular-
que esteja pré-definido o crédito, embora a posição
mente requerer vista dos autos na Delegacia de Polícia, caso
da Corte esteja baseada em fundamentos concor-
lhe seja negado, sob argumento de que o inquérito corre em
rentes – a respeito da condição de procedibilidade
sigilo, por conta da juntada de extratos e outros documentos
e da inexistência de elemento norma vo do po
bancários, o causídico deverá impetrar mandado de seguran-
penal, por exemplo.“Nós temos um conjunto de
ça, com fundamento no art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/19943.
fundamentos, mas isto não é objeto da súmula. O
Sustentamos também ser possível o ajuizamento de
objeto da súmula é a conclusão da Corte de que não
reclamação junto ao STF por descumprimento da Súmula
há possibilidade de exercício de ação penal antes da
Vinculante nº 14, que diz:
apuração da existência certa do crédito tributário que
se supõe sonegado”, explicou Peluso.Verbete: “Não
É direito do defensor, no interesse do representado,
se pifica crime material contra a ordem tributária,
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
previsto no art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/1990,
documentados em procedimento inves gatório reali-
zado por órgão com competência de polícia judiciária, antes do lançamento defini vo do tributo”.
digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Representação Fiscal
Fiança e Inquérito Policial
O STF entende que os crimes previstos na Lei nº 8.137/1990
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

O auto de prisão em flagrante faz nascer o inquérito po- são de ação penal pública incondicionada e que a representa-
licial, e segundo dispõe a nova redação do art. 322 do CPP, ção fiscal nada mais é do que peça de informação endereçada
a Autoridade Policial somente poderá conceder fiança nos ao Ministério Público:
casos de infração cuja pena priva va de liberdade máxima
não seja superior a 4 (quatro) anos. Ementa: Ação direta de incons tucionalidade. 2.
O Delegado de Polícia, conforme dispunha o § 2º do art. Art. 83 da Lei nº 9.430, de 27/12/1996. 3. Arguição
325 do CPP, não podia fixar fiança nos crimes de sonegação de violação ao art. 129, I, da Cons tuição. No a
fiscal e contra a economia popular. Porém tal vedação foi criminis condicionada “à decisão final, na esfera ad-
abolida com a edição da Lei nº 12.403, que alterou a redação ministra va, sobre a exigência fiscal do crédito tribu-
do disposi vo em comento. tário”. 4. A norma impugnada tem como des natários
Se o autuado recolher a fiança fixada pelo juiz, será coloca-
4
do em liberdade provisória. Caso haja o pagamento do débito Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor
Público de 4ª Classe/2003.
tributário, o valor da fiança será devolvido em sua integralidade. 5
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004.
6
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Cate-
3
Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/132º Exame. goria/2002.

234
os agentes fiscais, em nada afetando a atuação do cisão defini va do processo administra vo, em tema
Ministério Público. É obrigatória, para a autoridade de crimes contra a ordem tributária, porque condição
fiscal, a remessa da no a criminis ao Ministério obje va de punibilidade, na luz da jurisprudência do
Público. 5. Decisão que não afeta orientação fixada no Supremo Tribunal Federal, impede a propositura da
HC nº 81.611. Crime de resultado. Antes de cons tuí- ação penal, com suspensão do prazo prescricional.
do defini vamente o crédito tributário não há justa 3. Recurso improvido. Habeas corpus de o cio. 10
causa para a ação penal. O Ministério Público pode,
entretanto, oferecer denúncia independentemente Conclusão do Procedimento Administra vo Fiscal
da comunicação, dita “representação tributária”, se, e Ação Penal
por outros meios, tem conhecimento do lançamento
defini vo. 6. Não configurada qualquer limitação à
De acordo com a jurisprudência do STF, o Ministério Pú-
atuação do Ministério Público para propositura da
ação penal pública pela prá ca de crimes contra a blico não poderá ajuizar ação penal no crime de sonegação
ordem tributária. 7. Improcedência da ação. 7 fiscal quando es ver encerrado o processo administra vo
fiscal e o crédito tributário lançado. Senão vejamos:
Conclui-se que os crimes contra a ordem tributária
são todos de ação penal pública incondicionada, porém Recurso em habeas corpus. Crime Contra a Ordem
qualquer pessoa do povo poderá provocar a inicia va do Tributária e outros crimes. Sonegação. Procedimento
Ministério Público, fornecendo-lhe, por escrito, informa- administra vo. Exaurimento. Condição de procedibi-
ções sobre o fato e a sua respec va autoria8. lidade. Ação penal.
Na linha do que vem delineando o Supremo Tribunal
Federal, somente é possível o início da ação penal em
Condição Obje va de Punibilidade X Condição de relação a crime de sonegação quando o procedimen-
Procedibilidade to administra vo em curso for defini vamente con-
cluído, já que discu vel, ainda, o lançamento tribu-
O exaurimento do processo administra vo fiscal não é tário. In casu, comprova-se nos autos a controvérsia
condição de procedibilidade da ação penal, mas sim condição administra vo-fiscal, por onde a nova interpretação
obje va de punibilidade do crime tributário, senão vejamos da Suprema Corte vem autorizando o trancamento da
o que decidiu o STJ: ação penal. Recurso provido para trancar a ação penal
em relação ao crime de sonegação fiscal (art. 1º, I,
Processual penal. Habeas corpus. Delito tributário. da Lei nº 8.137/1990), sem prejuízo da futura ação
Lançamento condição obje va de punibilidade. Minis- penal, com o término do procedimento administra-
tério Público. Ação penal. Início. Impossibilidade. Re- vo, HC nº 37.401/SP prejudicado. 11
quisição. Informações bancárias e fiscais. Intervenção Ementa: Penal. Processual penal. Crime Contra a
judicial. Inexistência. Prova ilícita. Ordem concedida. Ordem Tributária. Lei nº 8.137/1990, art. 1º. I –
1. O lançamento defini vo é condi o sine qua non Condenação fundada em representação fiscal que
para a cons tuição do crédito tributário, de modo demonstra que o paciente teria omi do nas decla-
que, sem ele, não há que se falar em supressão de
rações de renda bens sem origem jus ficada, com a
tributo e, portanto, inexiste a necessária legi midade
finalidade de burlar o fisco. II – Falta justa causa para
para instauração da ação penal;
a ação penal pela prá ca do crime pificado no art. 1º
2. Sendo o exaurimento do processo administra -
da Lei nº 8.137, de 1990, enquanto não cons tuído,
vo-fiscal de lançamento condição obje va de puni-
em defini vo, o crédito fiscal pelo lançamento. HC
bilidade do delito tributário, a sua falta configura-se
nº 81.611/DF, Ministro Sepúlveda Pertence, Plená-
barreira intransponível ao Parquet para iniciar a
rio, 10/12/2003. II – No caso, o crédito fiscal já está
persecu o in judicio, pois além de ensejar constran-
gimento ilegal, será de todo inú l; cons tuído, visto que o procedimento administra vo
3. O Ministério Público não detém o poder de, per se, fiscal instaurado contra o paciente foi concluído em
determinar a quebra de sigilo fiscal e bancário, mas 1994. III – HC indeferido. 12
somente quando for precedida da devida autorização
judicial, pena de macular de ilícita a prova ob da e, Ementa: habeas corpus. Penal. Processual penal. Cri-
assim, imprestável para o fim de sustentar a ação me Contra a Ordem Tributária. Representação fiscal.
penal ou decisão condenatória; Suspensão do curso da ação penal. Decisão defini va
4. Ordem concedida para trancar o processo criminal.9 do procedimento administra vo fiscal. Condição de
procedibilidade da ação penal. Lavagem de dinheiro.
Recurso em habeas corpus. Direito Penal e Direito Crime autônomo. 1. Denúncia carente de justa causa
quanto ao crime tributário, pois não precedeu da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Processual Penal. Crime Contra a Ordem Tributária.


Quebra de sigilo. Prova ilícita. Inocorrência. Exauri- inves gação fiscal administra va defini va a apurar
mento da instância administra va. Condição obje va a efe va sonegação fiscal. Nesses crimes, por serem
de punibilidade. Ausência de justa causa. materiais, é necessária a comprovação do efe vo
A representação fiscal, dirigida ao Ministério Público dano ao bem jurídico tutelado. A existência do crédito
para fins penais, substancia cumprimento de dever tributário é pressuposto para a caracterização do cri-
legal, compreendendo, por certo, o de instrução ade- me contra a ordem tributária, não se podendo admi r
quada com os elementos documentais que cer ficam denúncia penal enquanto pendente o efeito preclusivo
o ilícito penal tributário, no caso, as declarações do da decisão defini va em processo administra vo.
imposto de renda do imputado autor. 2. A falta de de- 10
STJ. RHC nº 15.382/RS, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, julgado
em 9/5/2006, DJ 5/2/2007, p. 379.
7 11
STF. ADI nº 1.571, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em STJ. RHC nº 16.750/SP, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, julgado
10/12/2003, DJ 30/4/2004, PP-00027 Ement. Vol-02149-02 PP-00265. em 16/12/2004, DJ 14/3/2005, p. 386.
8 12
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-ES/Escrivão de Polícia/2006. STF. RHC nº 85.513, Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, julgado em 4/10/2005,
9
STJ. HC nº 31.205/RJ, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Rel. p/ Acórdão Ministro DJ 11/11/2005, PP-00048 Ement. Vol-02213-03 PP-00431 RTJ Vol-00196-01
Paulo Medina, 6ª Turma, julgado em 2/9/2004, DJ 26/11/2007, p. 247. PP-00302 LEXSTF v. 28, n. 325, 2006, p. 417-422.

235
Precedentes. 2. O crime de lavagem de dinheiro, cogitava a jurisprudência de suspensão da pretensão
por ser autônomo, não depende da instauração de puni va do Estado na pendência de parcelamento.
processo administra vo-fiscal. Os fatos descritos na Os disposi vos legais per nentes (arts. 14 da Lei
denúncia, se comprovados, podem pificar o crime nº 8.137/1990 e 34 da Lei nº 9.245/1995) eram apli-
descrito na norma penal vigente, devendo, quanto a cados literalmente, sem qualquer flexibilização. En-
este, prosseguir a ação penal. Precedentes. 3. Habeas tretanto, não se permi a a instauração de ação penal
corpus parcialmente concedido. 13 na pendência de processo administra vo tributário
originário de impugnação do lançamento tributário,
Denúncia Genérica e os Crimes Mul tudinários por força do art. 83 da Lei nº 9.430/1996, que proí-
be a representação penal enquanto não encerrado
Na lição do Mestre Ricardo Andreucci (2008), “[...] crime defini vamente o processo administra vo tributário.
mul tudinário: é o pra cado por uma mul dão, em tumulto, Essa norma, impugnada pelo MPF, foi considerada
organizada, espontaneamente, no sen do de um compor- cons tucional pelo Plenário do STF (Adin nº 1.571-
tamento comum [...]”. 1-DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 19/12/2003).
Nos crimes mul tudinários, como comumente ocorre A suspensão da pretensão puni va do Estado só veio
nos pra cados contra a ordem tributária, pode o promotor a ser prevista no art. 15 da Lei nº 9.964/2000, que
narrar genericamente a par cipação de cada agente14. ins tuiu o Refis. Incluídos os créditos tributários no
Assim não há necessidade da descrição pormenorizada regime de parcelamento antes do recebimento da
da conduta de cada um dos acusados. denúncia opera-se a suspensão da pretensão puni va
concomitantemente com a suspensão da prescrição
criminal (§ 1º do art. 15). A ex nção de punibilidade,
A Questão da Ex nção de Punibilidade todavia, só ocorrerá com o pagamento integral dos tri-
butos sob o regime de parcelamento (§ 3º do art. 15).
Magistral a lição de Kyioshy Harada (2009) sobre a ques- Com a quitação total do crédito tributário a suspensão
tão da ex nção da punibilidade: da pretensão punitiva convola-se em extinção da
punibilidade. Nesse sen do a jurisprudência do STF:
O art. 14 da Lei nº 8.137/1990, em sua redação ori- RHC nº 89.618-RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio.
ginal, versava sobre ex nção da punibilidade pelo Atualmente, vigora o art. 9º da Lei nº 10.684, de
pagamento do tributo antes do recebimento da 30/5/2003, vazado nos seguintes termos: “Art. 9º.
denúncia, a exemplo do que prescrevia o art. 2º da É suspensa a pretensão puni va do Estado, referente
Lei nº 4.729/1965. aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137,
À luz desse disposi vo formou-se a jurisprudência de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A
no STF segundo a qual somente o pagamento da do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
úl ma parcela do crédito tributário fracionado tem Código Penal, durante o período em que a pessoa
o condão de ex nguir a punibilidade, podendo em jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
consequência, quando for o caso, ser recebida a es ver incluída no regime de parcelamento.
denúncia: RTJ nº 163/885. § 1º A prescrição criminal não corre durante o período
Esse art. 14 veio a ser revogado pelo art. 98 da Lei da suspensão da pretensão puni va.
nº 8.383/1991. Porém, por força do princípio da § 2º Ex ngue-se a punibilidade dos crimes referidos
ultra vidade das normas penais, aquela disposição neste ar go quando a pessoa jurídica relacionada
do art. 14 con nuou sendo aplicada em relação aos com o agente efetuar o pagamento integral dos
fatos ocorridos durante a sua vigência. Aliás, é nosso débitos oriundos de tributos e contribuições sociais,
entendimento de que o pagamento antes da denún- inclusive acessórios”.
cia exclui a responsabilidade nos termos do art. 138 O caput do art. 9º suspende a pretensão puni va do
do CTN. E mais, nos crimes contra a ordem tributária Estado com a adesão do contribuinte inadimplente
o bem jurídico tutelado é o Erário. Não se trata de ao regime de pagamento parcelado (Refis I, Refis II,
re rar de circulação elemento que represente ame- Paex etc.). Não mais existe a restrição do diploma
aça à sociedade. legal anterior que condicionava a adesão ao programa
Posteriormente, o art. 34 da Lei nº 9.249/1995 rein- de parcelamento antes do recebimento da denún-
troduziu a ex nção da punibilidade dos crimes contra cia. O § 1º, de forma lógica e harmônica, suspende
a ordem tributária pelo pagamento do tributo antes igualmente a prescrição criminal porque a ex nção
do recebimento da denúncia. Em face do princípio da punibilidade dar-se-á apenas com o pagamento
da retroa vidade da lei benigna (art. 5º, XL, da CF) o total da dívida tributária. Nesse sen do, a jurispru-
preceito do art. 34 tem aplicação a todos os casos, dência do STF: HC nº 90.591/SP, 1ª Turma, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence; RHC nº 89.152/SC, 1ª Turma,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

inclusive, àqueles já defini vamente julgados. [...]


Na vigência do art. 14 da Lei nº 8.137/1990 e do Rel. Min. Ricardo Lewandowski.
art. 34 da Lei nº 9.249/1995 firmou-se a Jurisprudên- Se o contribuinte for excluído do regime de pagamen-
cia no sen do de que somente com a ex nção total to parcelado, a pretensão puni va do Estado fica ipso
do crédito tributário é possível reconhecer a ex nção fato rea vada, podendo prosseguir o inquérito poli-
da punibilidade dos crimes contra a ordem tributária, cial, bem como ocorrer o recebimento da denúncia e
não bastando a existência de mero parcelamento em a instauração da ação penal. Entretanto, se do ato de
curso: RTJ nº 171/505 e RTJ nº 177/1321. exclusão ver sido interposto recurso administra vo,
Na vigência dos diplomas legais retro referidos ne- por força do princípio cons tucional do contraditório
nhum efeito provocava na esfera penal o acolhimento e ampla defesa, enquanto em tramitação o respec-
do pedido de parcelamento do crédito tributário. Não vo processo administra vo tributário, a pretensão
puni va do Estado con nuará suspensa.
13
STF. HC nº 85.949, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, julgado em 22/8/2006, Por derradeiro, cumpre analisar o disposto no § 2º do
DJ 6/11/2006, PP-00038 Ement. Vol-02254-02 PP-00407 RTJ VOL-00199-03 art. 9º da Lei nº 10.684/2003, que tem uma abran-
PP-01132.
14
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária. gência maior que a norma do caput que tem natureza

236
temporária. A ex nção da punibilidade proclamada enseja, de acordo com o entendimento do STF, a ex nção
pelo § 2º não está vinculada ao pagamento integral da punibilidade do crime contra a ordem tributária17.
de débitos tributários incluídos no Refis II. O texto Por fim, o pagamento do débito tributário realizado
refere-se, com lapidar clareza, ao pagamento de após o recebimento da denúncia extingue, consoante
“débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, orientação do STJ e do STF, a punibilidade do crime contra
inclusive acessórios”. Não mais existe a relação entre a ordem tributária18.
a adesão ao programa de parcelamento e a ex nção
da punibilidade, como estava no § 3º do art. 15 da Dos Crimes em Espécie
Lei nº 9.964/2000, que ins tuiu o Refis I.
Agora, o pagamento integral do débito tributário, 1. Supressão ou Redução de Tributo ou Contribuição
a qualquer tempo, incluído ou não no programa Social ou Qualquer Acessório
de parcelamento, ex ngue a pretensão puni va do
Estado. O legislador par u para a despenalização
Art. 1º Cons tui crime contra a ordem tributária
completa na hipótese de pagamento integral do
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
débito tributário, com o que se tem por sa sfeito o
interesse público tutelado. Seria uma iniquidade não qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
reconhecer a ex nção da punibilidade ao contribuin-
te devedor que paga, de uma só vez, a totalidade do Obje vidade Jurídica
débito tributário e, ao mesmo tempo, reconhecer O bem protegido pela norma é o erário público.
essa ex nção da pretensão puni va do Estado em Para a configuração de crime contra a ordem tributária,
relação ao contribuinte devedor que paga a úl ma não é necessária a existência de origem lícita da renda ou
prestação decorridos mais de dez anos. Nesse sen- de rendimentos subtraídos dolosamente da tributação,
do evoluiu a Jurisprudência da Corte Suprema: HC caracterizando infração penal a sonegação fiscal de lucro
nº 81.929-RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Cezar Peluso; HC oriundo de a vidade criminosa19.
nº 83.414-RS, 1ª Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa.
Por oportuno, esclareça-se que a norma do § 2º do Sujeito A vo e Passivo
art. 9º da Lei nº 10.684/2003 – ex nção da punibili- O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
dade pelo pagamento a qualquer tempo – tem apli- passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
cação aos casos presentes, futuros e passados. Quem
es ver cumprindo pena decorrente de condenação Núcleo do Tipo
por crime contra ordem tributária poderá obter alvará O núcleo do po é “suprimir”, no sen do de não pagar
de soltura mediante pagamento integral do tributo o tributo devido, e “reduzir”, que significa pagar menos do
devido acrescido de acessórios. que é devido.

Concluímos que, nos crimes contra a ordem tributária, Elemento Subje vo


ex ngue-se a punibilidade mesmo se o agente promover O crime é doloso e não admite a modalidade culposa.
o pagamento integral da dívida depois do oferecimento
da denúncia15. Objeto Material
Vejamos o que já decidiu o STJ: Nota fiscal ou documento equivalente de venda de mer-
cadoria ou prestação de serviço.
Habeas corpus. Falsidade ideológica e crime contra
ordem tributária. Falso pra cado exclusivamente Consumação e Tenta va
com a finalidade de reduzir o tributo a ser recolhido. A consumação ocorre no momento em que há o não
Crime-meio absorvido pelo crime-fim. Princípio da pagamento ou a redução do tributo, contribuição e qualquer
consunção. Pagamento integral do débito tributário acessório.
antes do recebimento da denúncia. Ex nção da pu- A tenta va é admissível se for possível fracionar o iter
nibilidade. Ordem concedida.
criminis.
1 – Caracterizado que a redução do imposto a ser
recolhido era o obje vo pretendido pelos pacientes,
2. Omissão de Informação ou Prestação de Declaração
sendo a declaração falsa o meio empregado à consu-
mação do delito, cons tuindo, assim, fase obrigatória Falsa às Autoridades Fazendárias
e necessária do iter criminis, deve a falsidade ser ab-
sorvida pelo crime contra a ordem tributária. 2 – Deve I – omi r informação, ou prestar declaração falsa às
ser ex nta a punibilidade da ação penal que apura autoridades fazendárias;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o ilícito tributário quando es ver demonstrado nos


autos que houve o recolhimento do imposto devido, Obje vidade Jurídica
com os respec vos acréscimos, antes do recebimen- O bem protegido pela norma é o erário público.
to da denúncia. Precedentes. 3 – Ordem concedida A omissão de informações às autoridades fazendárias
para trancar a ação penal em relação aos pacientes, só cons tui crime contra a ordem tributária quando ver
estendendo-se, de o cio, os efeitos da decisão ao cor- a finalidade de suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
réu Valério Binazzi, nos termos do art. 580 do CPP.16 social e qualquer acessório20.

Também podemos concluir que a adesão ao Programa 17


Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TCE-GO/Procurador do Ministério
de Recuperação Fiscal Refis, com o parcelamento de débitos Público junto ao tribunal de contas dos municípios do Estado de Goiás/2007.
oriundos de falta de recolhimento de débitos tributários, 18
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TCE-GO/Procurador do Ministério
Público junto ao tribunal de contas dos municípios do Estado de Goiás/2007.
19
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TCE-GO/Procurador do Ministério
15
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/2º Exame/2006. Público junto ao tribunal de contas dos municípios do Estado de Goiás/2007.
16
STJ. HC nº 120.551/SP, Rel. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador con- 20
Tema cobrado na seguinte prova: FCC/Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/
vocado do TJ-CE), 6ª Turma, julgado em 18/8/2009, DJe 8/9/2009. Procurador do Município/2006.

237
Sujeito A vo e Passivo de po penal misto alterna vo do art. 1º da Lei
O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito nº 8.137/1990 que cons tui crime de resultado”
passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública. (ADIn nº 1.571-1, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJ de 30/4/2004; ref. voto-vista do Min.
Núcleo do Tipo Sepúlveda Pertence.) 6. Ordem concedida para
O núcleo do po é “omi r”, que significa deixar de prestar trancar a ação penal em tela com relação aos ora
ou ocultar as informações à Fazenda Pública. Necessário in- Pacientes, ficando suspenso o prazo prescricional até
formar que trata-se de um crime omissivo, vez que deixa de o julgamento defini vo do processo administra vo. 22
fazer algo. Além do mais, há o núcleo “prestar”, referindo-se
à declaração falsa, que significa fornecer informação ao Fisco Recentemente o STF editou a súmula vinculante nº 24
que não corresponda à verdade do STF, cujo teor é o seguinte:
Cons tui crime contra a ordem tributária, omi r de-
claração sobre rendas, para eximir-se, parcialmente, de NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A OR-
pagamento de tributo21. DEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º, INCISOS I A
IV, DA LEI Nº 8.137/1990, ANTES DO LANÇAMENTO
Elemento Subje vo DEFINITIVO DO TRIBUTO.
O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
No que tange à tenta va, não é possível na modalidade
Consumação e Tenta va omissiva. Ricardo Antonio Andreucci (2009, p. 481) entende
A consumação ocorre no momento em que há a su- ser admissível.
pressão ou a redução do tributo, contribuição e qualquer
acessório. 3. Fraude à Fiscalização Tributária
O crime em estudo é classificado como de resultado,
senão vejamos: II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo elemen-
tos inexatos, ou omi ndo operação de qualquer na-
Habeas corpus. Crime Contra a Ordem Tributária. CPMF. tureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
Sonegação. Art. 1º, Inciso I, da Lei nº 8.137/1990. Ação
penal. Art. 83 da Lei nº 9.430/1996. Crédito fiscal. Obje vidade Jurídica
Pendência de processo administra vo. Ausência de O bem protegido pela norma é o erário público.
lançamento defini vo. Delito não consumado. Falta
de justa causa. Trancamento. Prazo prescricional que Sujeito A vo e Passivo
não se inicia. Precedentes do STF. O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
1. É cediço que a jurisprudência deste Superior Tribu- passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
nal de Jus ça se firmou no sen do de que a decisão
final na esfera administra va, a teor do art. 83, da Lei Núcleo do Tipo
nº 9.430/1996, não se cons tui em condição obje va O núcleo do po é “fraudar”, que significa trapacear ou
de procedibilidade para a propositura da ação penal enganar.
para apurar eventual come mento de crime contra
a ordem tributária. 2. Todavia, a questão con nua Elemento Subje vo
sendo objeto de acirrados debates tanto nos Tribu- O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
nais quanto na Doutrina. E, recentemente, nos autos
do HC nº 81.611/DF, o Supremo Tribunal Federal, Consumação e Tenta va
com sua composição renovada, por decisão plenária A consumação ocorre no momento em que há a su-
majoritária, reformou o entendimento até então pre- pressão ou a redução do tributo, contribuição e qualquer
valecente sobre o tema. 3. Acolhendo os judiciosos acessório.
argumentos esposados pela Corte Suprema, tem-se No que tange à tenta va, não par lhamos o posiciona-
que não há justa causa para a persecução penal do cri- mento de Andreucci (2009, p. 482), que afirma:
me previsto no art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/1990,
quando o suposto crédito fiscal ainda pende de Embora não haja consenso na doutrina, entendemos
lançamento defini vo, uma vez que a inexistência que, em tese, poderia haver tenta va, a qual, por si
deste impede a configuração do delito e, por conse- só, já seria punida como crime consumado previsto
guinte, o início da contagem do prazo prescricional. no art. 2º da lei ora em comento.
4. No caso dos autos, não foi concluído o processo
administra vo em que se discute a incidência ou não 4. Falsificação ou Alteração de Documento Rela vo à
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

da CPMF nas operações financeiras realizadas pelo Operação Tributável


Banco Itaú S.A., nas chamadas contas de depósitos
vinculados, em cumprimento ao que fora contratado III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata,
pela Empresa Souza Cruz representada pelos ora nota de venda, ou qualquer outro documento rela vo
Pacientes. 5. A chamada “‘representação fiscal para à operação tributável;
fins penais’ ordenada à administração fiscal pelo
disposi vo atacado [art. 83, da Lei nº 9.430/1996], Obje vidade Jurídica
é mera no cia criminis, posto que obrigatória, e não O bem protegido pela norma é o erário público.
condição necessária da propositura da ação penal”;
e, sem ferir essa premissa, tem-se que “antes de Sujeito A vo e Passivo
cons tuído defini vamente o crédito tributário, não O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
há justa causa para a ação penal quando se cuide passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
21 22
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Ins tuto de Previdência e Assistência STJ. HC nº 37.959/RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5ª Turma, julgado em 28/6/2005,
dos Servidores do Estado do Espírito Santo – IPAJM/Advogado/2006. DJ 29/8/2005, p. 375.

238
A tulo de exemplo ,se Júlio suprimiu tributo, elaboran- 6. Nega va ou Ausência de Fornecimento de Nota
do documento que sabia ser falso, caso Júlio seja servidor Fiscal ou Fornecimento em Desacordo com a Legislação
público e tenha pra cado o fato no exercício de suas fun-
ções, sua pena será agravada de um terço até a metade23. V – negar ou deixar de fornecer, quando obrigató-
rio, nota fiscal ou documento equivalente, rela va
Núcleo do Tipo a venda de mercadoria ou prestação de serviço,
O núcleo do po é “falsificar”, que significa inovar com efe vamente realizada, ou fornecê-la em desacordo
fraude, e “alterar”, que significa modificar de qualquer forma com a legislação.
o documento rela vo à operação tributável.
Andreucci (2009, p. 482) ainda explica que esse crime Obje vidade Jurídica
O bem protegido pela norma é o erário público.
não se confunde com o de duplicata simulada. En-
quanto, no delito em comento, o bem vendido existe Sujeito A vo e Passivo
vindo descrito falsamente na nota fiscal, fatura, dupli- O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
cata, nota de venda ou documento semelhante, com passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
o intuito de fraudar o Fisco, no crime de duplicata
simulada inexiste qualquer bem vendido. Núcleo do Tipo
O núcleo do po é “negar”, que significa recusar, ou
Elemento Subje vo “deixar de fornecer”, que significa recusar-se a fornecer ou
O crime é doloso, não se admi ndo a modalidade culposa. a entregar.
Cumpre ressaltar que o crime em análise “independe de
Objeto Material qualquer outra circunstância para sua caracterização, senão
O objeto material, que significa a coisa sobre a qual recai a recusa imo vada em apresentar documentos necessários
a conduta do agente, é a nota fiscal, fatura, duplicata, nota à fiscalização24”.
de venda, ou qualquer outro documento rela vo à operação
tributável. Elemento Subje vo
O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
Consumação e Tenta va
A consumação ocorre no momento em que há o não Consumação e Tenta va
pagamento ou a redução do tributo, contribuição e qual- A consumação ocorre no momento em que há a su-
quer acessório. A tenta va será admissível se for possível o pressão ou a redução do tributo, contribuição e qualquer
fracionamento do iter criminis. acessório.
No que tange à tenta va, entendemos ser inadmissível,
5. Elaboração, Distribuição, Fornecimento, Emissão uma vez que se trata de crime instantâneo.
ou U lização de Documento Falso ou Inexato
IV – elaborar, distribuir, fornecer, emi r ou u lizar 7. Falta de Atendimento da Exigência da Autoridade
documento que saiba ou deva saber falso ou inexato;
Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência
Obje vidade Jurídica da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá
O bem protegido pela norma penal é o erário público. ser conver do em horas em razão da maior ou menor
complexidade da matéria ou da dificuldade quanto
Sujeito A vo e Passivo ao entendimento da exigência, caracteriza a infração
O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito do inciso V.
passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
Neste momento, o legislador equiparou o parágrafo
Núcleo do Tipo único ao delito de nega va ou ausência de fornecimento de
Os verbos que compõem o po penal em apreço são: 1) nota fiscal ou fornecimento em desacordo com a legislação.
“elaborar”, que significa preparar; 2) “distribuir”, que significa Trata-se de um crime a prazo.
repar r; 3) “fornecer”, que significa entregar; 4) “emi r”, que Rui Stoco (2001, p. 619) afirma:
significa enviar e 5) “u lizar”, que significa usar.
A fiscalização sempre ressen u da dificuldade en-
Elemento Subje vo contrada na obtenção de informações e acesso aos
O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa. documentos e livros contábeis, cuja verificação é
fundamental aos trabalhos de auditoria fiscal junto
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Objeto Material a empresas.


O objeto material é o documento falso ou inexato.
E con nua:
Consumação e Tenta va
A consumação, segundo Andreucci (p. 483), Assim, o contribuinte tem obrigação de colocar à
disposição da autoridade todos os documentos
ocorre com a efe va elaboração, distribuição, for- constantes de seus arquivos, rela vos a venda de
necimento, emissão ou u lização de documento mercadorias ou a prestação de serviços, tais como
que saiba ou deva saber falso ou inexato, obtendo talonários com cópias de notas fiscais, guias de re-
o agente o proveito consistente na supressão ou colhimento, cópias de informações fiscais, controle
redução do tributo, contribuição social ou acessório. de emissão de faturas e duplicatas, livros de registros
diversos, ainda que a contabilidade seja feita com
No que tange à tenta va, entendemos ser admissível. auxílio da informá ca.
23 24
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2004. TJ-SP – RT, 755/595.

239
Recentemente, o STJ decidiu: não encerrada, na instância fiscal, o respec vo pro-
cedimento administra vo, não se mostraria possível
DELITO MATERIAL. NÃO ATENDIMENTO. EXIGÊNCIA. a instauração da persecução penal nos delitos contra
FISCO. a ordem tributária, tais como pificados no art. 1º da
O STJ já firmou o entendimento de que o delito de Lei nº 8.137/1990. Esclareceu-se ser juridicamente
supressão ou redução de tributo é material (art. 1º inviável a instauração de persecução penal, mesmo
da Lei nº 8.137/1990), consumando-se, portanto, na fase inves gatória, enquanto não se concluir, pe-
no momento da efe va supressão ou redução con- rante órgão competente da administração tributária,
substanciadas na vantagem auferida ou no prejuízo o procedimento fiscal tendente a cons tuir, de modo
causado com a evasão tributária. Por sua vez, o delito defini vo, o crédito tributário. Asseverou-se, por fim,
previsto no parágrafo único do referido disposi vo que se estaria diante de comportamento desves do
(de descumprir exigência da autoridade fazendária) de picidade penal, a evidenciar, portanto, a impos-
também tem essa natureza. Portanto, para sua sibilidade jurídica de se adotar, validamente, contra o
configuração, é necessário que haja a redução ou suposto devedor, qualquer ato de persecução penal,
supressão de tributo tal qual definido no caput da- seja na fase pré-processual (inquérito policial), seja
quele ar go, o que não ocorreu na hipótese. REsp na fase processual (persecu o criminis in judicio),
nº 1.113.460-SP, 6ª Turma, Rel. Min. Celso Limongi pois comportamentos atípicos não justificariam
(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em a u lização pelo Estado de medidas de repressão
24/11/2009. criminal. HC nº 101.900/SP, rel. Min. Celso de Mello,
21/9/2010. (HC nº 101.900)
Jurisprudência sobre o tema crime contra a ordem
tributária e a absorção do crime de falsidade ideológica – 8. Declaração Falsa ou Omissão de Declaração
1ª Turma do STF:
Art. 2º Cons tui crime da mesma natureza:
Princípio da Consunção: Crime contra a Ordem Tri- I – fazer declaração falsa ou omi r declaração sobre
butária e Falsidade Ideológica – 1 rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude,
Ao aplicar a Súmula Vinculante nº 24 (“Não se pifica para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento
crime material contra a ordem tributária, previsto de tributos;
no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/1990, antes
do lançamento defini vo do tributo”), a Turma de- Obje vidade Jurídica
feriu habeas corpus para determinar, por ausência O bem protegido pela norma é o erário público.
de picidade penal, a ex nção do procedimento
inves gatório instaurado para apurar suposta prá ca Sujeito A vo e Passivo
de crimes de falsidade ideológica e contra a ordem O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
tributária. Na espécie, o paciente, domiciliado no passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
Estado de São Paulo, teria ob do o licenciamento
de seu veículo no Estado do Paraná de modo su- Núcleo do Tipo
postamente fraudulento – indicação de endereço O po apresenta três verbos-núcleo: “fazer”, “omi r” e
falso –, com o fim de pagar menos tributo, haja vista “empregar”. Conforme Andreucci em obra já mencionada
que a alíquota do IPVA seria menor. Inicialmente, (p. 484):
salientou-se que o STJ reconhecera o prejuízo do
habeas lá impetrado, em face da concessão, nes- A declaração falsa, a omissão de declaração sobre
tes autos, de provimento cautelar. Em seguida, rendas, bens ou fatos, e o emprego de outra fraude
observou-se que a operação desencadeada pelas devem ter como finalidade eximir-se o agente, total
autoridades estaduais paulistas mo vara a suscitação ou parcialmente, do pagamento de tributo.
de diversos conflitos de competência entre órgãos
judiciários dos Estados-membros referidos, tendo o Elemento Subje vo
STJ declarado competente o Poder Judiciário paulista. O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
Aquela Corte reconhecera configurada, em contexto
idên co ao dos autos do writ em exame, a ocorrência Consumação e Tenta va
de delito contra a ordem tributária (Lei nº 8.137/1990), A consumação ocorre com o emprego da fraude para
em virtude da supressão ou redução de tributo, afas- eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo.
tada a caracterização do crime de falsidade ideológica Importante ressaltar que se trata de crime formal, não se
(CP, art. 299). Reputou-se claro que o delito alega- exigindo assim, que o agente se isente total ou parcialmente
damente pra cado seria aquele definido no art. 1º
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

do pagamento do tributo para a caracterização do delito.


da Lei nº 8.137/1990, tendo em conta que o crimen Neste sen do:
falsi teria cons tuído meio para o come mento do
delito-fim, resolvendo-se o conflito aparente de Apresentada pelo contribuinte a declaração de
normas pela aplicação do postulado da consunção, rendimentos, contendo afirmação falsa a respeito
de tal modo que a vinculação entre a falsidade ideo- de despesas médicas (tratamento dentário), com a
lógica e a sonegação fiscal permi ria reconhecer, em finalidade de reduzir o imposto a pagar (IRPF), resta
referido contexto, a preponderância do delito contra consumado o crime de sonegação fiscal.25
a ordem tributária.
(...) No que tange à tenta va, entendemos ser inadmissível
Ademais, determinou-se que, o reconhecimento da nas modalidades “fazer declaração falsa” e “omi r decla-
configuração do crime contra a ordem tributária, ração”. Nas demais modalidades, entendemos ser possível
afastada a caracterização do delito de falsidade ideo- desde que fracionável o i nerário do crime.
lógica, tornaria per nente a invocação, na espécie, da
Súmula Vinculante nº 24. Destacou-se que, enquanto 25
TRF-1ª Região – RT, 729/654.

240
9. Omissão no Recolhimento de Valor de Tributo ou 10. Exigência, Pagamento ou Recebimento de
Contribuição Percentagem Sobre a Parcela de Imposto ou
Contribuição
II – deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo
ou de contribuição social, descontado ou cobrado, III – exigir, pagar ou receber, para si ou para o con-
na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que tribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre
deveria recolher aos cofres públicos; a parcela dedu vel ou deduzida de imposto ou de
contribuição como incen vo fiscal;
Obje vidade Jurídica
O bem protegido pela norma é o erário público. Cons tui crime contra a ordem tributária receber, para
o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a
Sujeito A vo e Passivo
parcela dedu vel de contribuição como incen vo fiscal28.
O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública.
Obje vidade Jurídica
Núcleo do Tipo O bem protegido pela norma é o erário público.
O núcleo do po é “deixar”, que, segundo Andreucci
(p. 485): Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo do delito segundo Andreucci (p. 486),
referindo-se ao recolhimento do valor de tributo ou
contribuição social, descontado ou cobrado, na qua- pode ser qualquer pessoa que ocupe função pública,
lidade de sujeito passivo da obrigado e que deveria que ocupe função nas empresas ou instituições
ser recolhido aos cofres públicos. financeiras, que se dediquem a arrecadar parcelas
correspondentes a incen vos fiscais. Também pode
Andreucci (2009, p. 485) ainda afirma que “a omissão
no recolhimento deve ocorrer ‘no prazo legal’, ou seja, no ser sujeito a vo deste delito o intermediário que, em
prazo previsto pela legislação tributária para o recolhimento seu nome, pra que as ações previstas no po penal.
do tributo ou contribuição social.”
No que tange ao ICMS, Rui Stoco (2001, p. 678), após Já o sujeito passivo é o Estado, representado pela Fa-
explicar o mecanismo do referido imposto, conclui que a zenda Pública.
omissão no recolhimento caracterizaria o crime em comento:
“Cabe, por primeiro, demonstrar o mecanismo do ICMS, im- Núcleo do Tipo
posto com a caracterís ca peculiar da não cumula vidade”. Os verbos que compõem o núcleo do po são: 1) “exigir”,
2) “pagar” e 3) “receber”.
Elemento Subje vo
O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa. Elemento Subje vo
A tulo de exemplo, se Rubens, sócio-gerente de uma O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
sociedade comercial, deixou de recolher, de forma conscien-
te, no prazo legal, o ICMS, referente aos meses de março Consumação e Tenta va
e abril de 2002, escriturado nos livros fiscais e declarado No que tange à consumação, nos explica Andreucci (2009,
à administração fazendária, ele pra cou, em tese, crime p. 486 e 487):
contra a ordem tributária26.
na modalidade de conduta “exigir”, a consumação
Consumação e Tenta va se opera com a mera exigência (crime formal), in-
A consumação ocorre no momento em que não há o
dependentemente da obtenção da percentagem.
recolhimento do valor da contribuição social, no prazo legal.
Nas modalidade de conduta “pagar” e “receber”,
No que tange à tenta va, entendemos ser inadmissível
por se tratar de crime omissivo. a consumação ocorre com o efe vo pagamento ao
intermediário ou à empresa, ou com o efe vo rece-
Súmula nº 171 do STJ bimento ou aceitação da percentagem.
Diz a Súmula nº 171 do STJ: “Cominadas cumula vamen-
te, em lei especial, penas priva vas de liberdade e pecuniária, 11. Omissão ou Aplicação Indevida de Incen vo Fiscal
é defeso a subs tuição da prisão por multa”. ou Parcelas de Imposto
Tendo em vista que a Lei nº 8.137/1990 é especial e co-
mina em seu preceito secundário pena de multa, é proibida a IV – deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

subs tuição da pena priva va de liberdade por pena de multa. o estatuído, incen vo fiscal ou parcelas de imposto
Assim, por exemplo, se Haroldo foi processado por liberadas por órgão ou en dade de desenvolvimento;
crime contra a ordem tributária, ao omi r o recolhimento
de tributo cobrado de terceiro, na qualidade de sujeito Obje vidade Jurídica
passivo da obrigação tributária. A pena prevista para o O bem protegido pela norma é o erário público.
crime come do é a detenção de seis meses a dois anos e
multa, e Haroldo foi condenado à pena de oito meses de Sujeito A vo e Passivo
detenção e multa. Nessa situação, de acordo com a juris- O sujeito a vo do delito é o contribuinte. Já o sujeito
prudência do STJ, Haroldo não pode obter a subs tuição da passivo é o Estado, representado pela Fazenda Pública e
pena priva va de liberdade a que foi subme do por pena secundariamente a en dade beneficiária.
restri va de direitos ou por multa27.
26
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado da União/2002.
28
27
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Tema cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-RN/Analista Judiciário/Área Admi-
Público da União de 2ª Categoria/2004. nistra va/2005.

241
Núcleo do Tipo Obje vidade Jurídica
O núcleo do po é “deixar” e “aplicar”. O bem protegido pelo Direito Penal é a integridade das
Stoco (2001, p. 624) diz: informações contábeis.
visou o legislador coibir a burla que se vem pra cando Sujeito A vo e Passivo
com os chamados incen vos fiscais, ou seja, aquelas O sujeito a vo do delito é o contribuinte e o terceiro que
parcelas dedu veis do imposto de renda, concedidas se u liza ou divulga programa de processamento de dados in-
sob condição, ou seja, desde que aplicados em deter- devidamente. Já o sujeito passivo é a en dade pública lesada.
minadas áreas de atuação que o Governo especificou
como prioritárias para receber tais bene cios. Núcleo do Tipo
Elemento Subje vo Os verbos-núcleo são “u lizar” e “divulgar”.
O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
Elemento Subje vo
Consumação e Tenta va O crime é doloso, não admi ndo a modalidade culposa.
Andreucci (p. 487) explica que:
Consumação e Tenta va
na modalidade omissiva, consuma-se o crime com a A consumação ocorre no momento da mera u lização
ausência de aplicação do incen vo fiscal ou parcelas ou divulgação do programa.
de imposto, devendo ser observado o prazo legal No que tange à tenta va, entendemos ser admissível.
para que isso ocorra. Na modalidade comissiva,
consuma-se com a aplicação ou parcela de imposto Delação Premiada ou Delação Eficaz
em desacordo com o estatuído.
12. U lização ou Divulgação Indevida de Programa de Nos crimes previstos na Lei nº 8.137/1990, come dos em
Processamento de Dados quadrilha ou coautoria, o coautor ou par cipe que através
de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou ju-
V – u lizar ou divulgar programa de processamento dicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um
de dados que permita ao sujeito passivo da obriga- a dois terços. Trata-se da delação premiada ou eficaz. Ve-
ção tributária possuir informação contábil diversa jamos quadro compara vo elaborado pelo Professor José
daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Canosa:

Lei Código 7.492/1986 8.072/1990 8.137/1990 8.884/1994 9.034/1995 9.613/1998 Lava- 9.807/1999 11.343/2006
Penal Sistema Hediondos Ordem Ordem Econômi- Crime Orga- gem de Dinheiro Proteção às Drogas e Afins
Financeiro Tributária ca/Cade nizado Ví mas e
Econômica Testemunhas
Ar go 159, § 4º 25, § 2º 8º, parágra- 16, parágra- 35, b e c 6º 1º, § 5º 13 e 14 41
fo único fo único
Conduta Denúncia C o n f i s s ã o D e n ú n c i a C o n f i s s ã o Colaboração com Colaboração Colaboração es- Colaboração C o l a b o ra ç ã o
do agente espontânea d o b a n d o espontânea as investigações espontânea pontânea efetiva e vo- voluntária com
ou quadrilha e proc. adminis- luntária a inves gação e
tra vo processo crime
Resulta- Facilitar Revelação Possibili- Revelação Identificação dos Esclarecer Esclarecimen- Identificação Identificação
do espe- a libera- de toda a dade de d e to d a a demais coautores infrações to que conduza de coautores de coau tores
rado ç ã o d o trama deli- desmante- trama deli- e informações e penais e sua à apuração das ou par cipes; ou partícipes
s e q u e s - tuosa lamento da tuosa DOCS. autoria infrações penais localização da e recuperação
trado quadrilha ou e sua autoria ou ví ma com in- total ou parcial
bando à localização de tegridade si- do produto do
bens, direitos ou ca preservada; crime
valores objeto do recuperação
crime do produto
Bene cio Redução Redução da Redução da Redução da Impede ofereci- Redução da Redução da pena Redução da R e d u ç ã o d a
previsto da pena pena pena pena mento da denún- pena e início em regime pena; perdão pena
cia; extinção da aberto; subs tui- judicial
ação punitiva da ção da pena priv.
administração pú- liberd. por restri-
blica; ex nção da tiva de direitos;
punibilidade perdão judicial
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Quantum 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3 1/3 a 2/3

Dos Crimes Contra a Economia e as Relações de a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
Consumo de 2011)
b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011)
Recentemente, a Lei nº 12.529 de 2011 deu nova reda-
c) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
ção ao art. 4º e revogou os arts. 5º e 6º da Lei 8.137/1990.
de 2011)
Vejamos: d) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
Art. 4º Cons tui crime contra a ordem econômica: de 2011)
I – abusar do poder econômico, dominando o mercado e) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência de 2011)
mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de f) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
empresas; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011) de 2011)

242
II – formar acordo, convênio, ajuste ou aliança renda ou de rendimentos subtraídos dolosamente da
entre ofertantes, visando: (Redação dada pela Lei tributação, não caracterizando infração penal a sonegação
nº 12.529, de 2011) fiscal de lucro oriundo de a vidade criminosa.
a) à fixação artificial de preços ou quantidades 6. (Cespe/Ins tuto de Previdência e Assistência dos Servido-
vendidas ou produzidas; (Redação dada pela Lei res do Estado do Espírito Santo – IPAJM/Advogado/2006)
nº 12.529, de 2011) Cons tui crime contra a ordem tributária omi r decla-
b) ao controle regionalizado do mercado por empre- ração sobre rendas, para eximir-se, parcialmente, de
sa ou grupo de empresas; (Redação dada pela Lei pagamento de tributo.
nº 12.529, de 2011) 7. (FCC/Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/Procurador
c) ao controle, em detrimento da concorrência, de do Município/2006) A omissão de informações às autorida-
rede de distribuição ou de fornecedores. (Redação des fazendárias cons tui crime contra a ordem tributária,
dada pela Lei nº 12.529, de 2011) independentemente da intenção de suprimir ou reduzir
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e mul- tributo, pois a conduta é punível a tulo de culpa.
ta. (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011) 8. (Cespe/AGU/Advogado da União/2002) Rubens, sócio-ge-
III – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.529, rente de uma sociedade comercial, deixou de recolher, de
de 2011) forma consciente, no prazo legal, o ICMS, referente aos
IV – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
meses de março e abril de 2002, escriturado nos livros fiscais
de 2011)
e declarado à administração fazendária. Nessa situação,
V – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.529,
Rubens pra cou, em tese, crime contra a ordem tributária.
de 2011)
VI – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.529, 9. (FCC/Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/Procura-
de 2011) dor do Município/2006) A omissão de informações às
VII – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.529, autoridades fazendárias não cons tui crime contra a
de2011) ordem tributária, pois a fiscalização tem outros meios
de verificar as operações realizadas e a regularidade dos
recolhimentos.
REFERÊNCIAS
10. (NCE e Faepol/PC-RJ/Delegado/2001) Roberto, fiscal de
ANDREUCCI, Ricardo Antônio, Manual de direito penal. 4. rendas do Estado, ao constatar que a empresa Alvorada
ed. São Paulo: Saraiva, 2008. estava irregular em relação às obrigações tributárias
referentes ao ICMS, recebe a quan a de dez mil reais
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação penal especial. 6. para não efetuar o lançamento do auto de infração.
ed. atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2009. O comportamento de Roberto configura crime contra
ordem tributária.
HARADA, Kiyoshi. Parcelamento e crimes contra a ordem 11. (Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2004)
tributária . Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2140, 11 maio A norma que impõe determinada sanção a quem vende
2009. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/ mercadoria por preço superior ao oficialmente tabelado,
texto.asp?id=12806>. Acesso em: 21 nov. 2009. incorrendo no crime contra a ordem econômica, é norma
penal em branco.
STOCO, Rui; FRANCO, Alberto Silva. Leis penais especiais e 12. (Cespe/PC-RR/Delegado/2003) Manoel adquiriu, de uma
sua interpretação jurisprudencial, (Coord.). 7. ed. rev e atual concessionária autorizada, um veículo novo com garan a
e ampl. São Paulo: RT, 2001, v. 1. de fábrica de dois anos pela importância de R$ 55 mil. No
ato da compra, o vendedor entregou a Manoel a nota
EXERCÍCIOS fiscal, mas negou-se a entregar-lhe o cer ficado de ga-
ran a do veículo automotor. Nessa situação, o vendedor
1. A representação fiscal é condição da ação penal nos pra cou crime contra a ordem tributária.
crimes contra a ordem tributária. 13. (Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2002)
2. (FCC/Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/Procurador Nos crimes contra a ordem tributária, o oferecimento
do Município/2006) A omissão de informações às auto- de denúncia independe da conclusão de procedimento
ridades fazendárias não cons tui crime contra a ordem administra vo-fiscal, uma vez que se trata de ação penal
tributária, pois tal omissão, em qualquer hipótese, só pública incondicionada.
pode pificar mera infração administra va passível de 14. (FCC/Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/Procurador
cobrança do tributo eventualmente devido e multa. do Município/2006) A omissão de informações às auto-
3. (Cespe/Controladoria-Geral-PB/Auditor de Contas Públi- ridades fazendárias não cons tui crime contra a ordem
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cas) As condutas que pificam o crime contra a ordem tributária, pois tal omissão, ainda que dolosa, só pode
tributária decorrente de supressão ou redução de tributo, pificar mera infração administra va passível de cobrança
não incluem promover a oferta pública ou a colocação no do tributo eventualmente devido.
mercado financeiro de tulos da dívida pública sem que 15. (Cespe/TCE-GO/Procurador do Ministério Público junto
tenham sido criados por lei. ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goi-
4. (FCC/Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/Procurador ás/2007) O pagamento do débito tributário realizado
do Município/2006) A omissão de informações às auto- após o recebimento da denúncia não ex ngue, consoante
ridades fazendárias só cons tui crime contra a ordem orientação do STJ e do STF, a punibilidade do crime contra
tributária quando ver a finalidade de suprimir ou reduzir a ordem tributária.
tributo, ou contribuição social e qualquer acessório. 16. (Cespe/OAB-TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-MA-ES-DF-CE-
5. (Cespe/TCE-GO/Procurador do Ministério Público junto BA-AM-AP-AL-AC/1º Exame da Ordem/2007) O agente
ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goi- que mantém, no exterior, depósitos não declarados à
ás/2007) Para a configuração de crime contra a ordem repar ção federal competente pra ca crime contra a
tributária, é necessária a existência de origem lícita da ordem econômica.

243
17. (Cespe/OAB-TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-MA-ES-DF-CE-B 28. (Cespe/AGU/Procurador Federal/2002) Um deputado fe-
A-AM-AP-AL-AC/1º Exame da Ordem/2007) O agente que deral pra cou um crime contra a ordem tributária durante
mantém, no exterior, depósitos não declarados à repar ção o exercício funcional. Nessa situação, a competência para
federal competente pra ca crime contra as relações de processar e julgar o parlamentar será do STF, ainda que
consumo. o inquérito policial ou a ação penal sejam iniciados após
18. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polí- a cessação do exercício funcional.
cia/2009) Se um indivíduo remeter dinheiro para o exterior, 29. (Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor Público de 4ª
sem autorização legal e sem declará-lo à repar ção federal Classe/2003) Considere a seguinte situação hipoté ca.
competente, ele pra cará crime contra a ordem tributária. Um indivíduo, após regular prisão em flagrante pela
19. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polí- prá ca de crime contra a ordem tributária, obteve liber-
cia/2009) Se um indivíduo remeter dinheiro para o exterior,
dade provisória mediante o pagamento da fiança de R$
sem autorização legal e sem declará-lo à repar ção federal
competente, ele pra cará crime contra a ordem econômica. 15.000,00. Em seguida, e ainda na fase de inquérito, foi
20. (Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polí- pago o valor de R$ 2.000,00 rela vo ao débito tributário
cia/2009) Nos crimes contra a ordem tributária, a delação e acessórios apurado pelo fisco, e julgada ex nta a puni-
premiada não é prevista como causa de redução da pena. bilidade do crime. Nessa situação, o valor da fiança deverá
21. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) O Supremo Tribunal ser devolvido em sua integralidade.
Federal decidiu que os crimes previstos no art. 1º da Lei nº 30. (Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público de
8.137/1990 são crimes materiais. Isso significa que: é preciso 2ª Categoria/2004) Considere a seguinte situação hipo-
aguardar o término do procedimento administra vo-fiscal té ca. Haroldo foi processado por crime contra a ordem
em que seja constatada a efe va redução ou supressão do tributária, ao omi r o recolhimento de tributo cobrado
tributo para ajuizar a ação penal por crime de sonegação de terceiro, na qualidade de sujeito passivo da obrigação
fiscal. tributária. A pena prevista para o crime come do é a de-
22. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) O Supremo Tri- tenção de seis meses a dois anos e multa, e Haroldo foi
bunal Federal decidiu que os crimes previstos no art. 1º condenado à pena de oito meses de detenção e multa.
da Lei nº 8.137/1990 são crimes materiais. Isso significa Nessa situação, de acordo com a jurisprudência do STJ,
que: é preciso que a denúncia venha acompanhada de Haroldo pode obter a subs tuição da pena priva va de
laudo pericial subscrito por dois peritos oficiais ates- liberdade a que foi subme do por pena restri va de
tando a falsificação da Certidão Negativa de Débitos
direitos ou por multa.
Fiscais.
23. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) O Supremo Tribunal 31. (Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2004) Em virtude do ar-
Federal decidiu que os crimes previstos no art. 1º da Lei nº quivamento, pelo pagamento, de peças de informações
8.137/1990 são crimes materiais. Isso significa que: o autor efe vado pela jus ça federal por crime contra a ordem
do crime terá a pena aumentada em 1/3 a 2/3. tributária de tributos de competência da União, deverá
24. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) O Supremo Tribunal ser também arquivado inquérito policial que tenha sido
Federal decidiu que os crimes previstos no art. 1º da Lei nº instaurado pela polícia estadual para apurar o mesmo
8.137/1990 são crimes materiais. Isso significa que: não fato, onde ocorreu a supressão de tributos estaduais.
será instaurado inquérito para apuração da conduta do fun- 32. (Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2004)
cionário que patrocinar, direta ou indiretamente, interesse Acerca do inquérito e da denúncia: a circunstância de não
privado perante a administração fazendária, valendo-se da conclusão do procedimento administra vo fiscal visando
qualidade de funcionário público. a cons tuição do crédito tributário impede a inves gação
25. (FGV/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2008) O Supremo Tribunal policial e a instauração de inquérito policial do crime
Federal decidiu que os crimes previstos no art. 1º da Lei nº contra a ordem tributária sobre o mesmo fato.
8.137/1990 são crimes materiais. Isso significa que: a lei foi
33. (Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2004)
revogada.
Acerca do inquérito e da denúncia: nos crimes mul tudi-
26. (Cespe/AGU/Advogado/2002) Um indivíduo foi indiciado
nários, como comumente ocorre nos pra cados contra a
pela prá ca do crime de tráfico ilícito de entorpecentes
com conexão probatória com crime contra a ordem tribu- ordem tributária, pode o promotor narrar genericamente
tária, consistente na sonegação de receita na declaração de a par cipação de cada agente.
imposto de renda de pessoa sica (IRPF). Nessa situação, 34. (OAB-GO/2º Exame de 2006) Nos Crimes Contra a Or-
a competência para processar e julgar o indivíduo pelas duas dem Tributária, ex ngue-se a punibilidade somente se o
infrações penais será da jus ça federal. agente promover o pagamento integral da dívida antes
27. (Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2000) Considere a do oferecimento da Denúncia, mas, não, depois.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

seguinte situação hipoté ca. HC recebeu vultosa quan a 35. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004) É pública condi-
do Ins tuto Nacional do Seguro Social, mediante ação aci- cionada a ação penal por crime contra a ordem tributária.
dentária e acordo administra vo, a tulo de indenização, e,
à vista da sua natureza, sobre o valor percebido não incidiria
tributação. Posteriormente, descobriu-se haver HC pra cado GABARITO
o crime de peculato, de que resultou, nos autos da ação pe-
nal instaurada, ser condenado, por ter desviado formidável 1. E 8. C 15. E 22. E 29. C
soma de recursos integrantes do patrimônio da previdência 2. E 9. E 16. E 23. E 30. E
social. No ano posterior ao desvio, HC deixou de informar à 3. C 10. C 17. E 24. E 31. E
administração tributária, não apresentando declaração de 4. C 11. C 18. E 25. E 32. E
rendimentos à Receita Federal, os bens adquiridos com 5. E 12. E 19. E 26. C 33. C
os recursos espúrios, tais como imóveis e veículos. Nesse 6. C 13. E 20. E 27. C 34. E
caso, HC pra cou o crime de sonegação fiscal, mesmo 7. E 14. E 21. C 28. E 35. E
tratando-se de renda ob da por a vidade ilícita.

244
LEI MARIA DA PENHA LEI Nº 11.340, DE 7 impeça de usar qualquer método contracep vo ou que a
DE AGOSTO DE 2006 force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à pros tuição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação;
ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais
Finalidade da Norma e reprodu vos. Exemplos: crimes de estupro ou de aborto.
4) A violência patrimonial, entendida como qualquer
A Lei Maria da Penha foi editada com as seguintes conduta que configure retenção, subtração, destruição
finalidades: parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
1) Criar mecanismos para coibir a violência domés ca e documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da econômicos, incluindo os des nados a sa sfazer suas ne-
Cons tuição Federal e da Convenção sobre a Eliminação de cessidades. Exemplo: crime de dano.
todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da 5) A violência moral, entendida como qualquer conduta
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar que configure calúnia, difamação ou injúria. Exemplo: crimes
a Violência contra a Mulher. contra a honra.
2) Criação dos Juizados de Violência Domés ca e Familiar
contra a Mulher.
3) Criação de medidas prote vas de urgência concedidas
Abrangência da Norma
para a mulher ví ma de violência domés ca.
São consideradas situações que exigem a aplicação da
Lei Maria da Penha as ocorridas:
Formas de Violência Domés ca e Familiar a) No âmbito da unidade domés ca, compreendida
como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
A violência domés ca e familiar contra a mulher cons tui ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
uma das formas de violação dos direitos humanos. agregadas;
São formas de violência domés ca e familiar contra a b) No âmbito da família, compreendida como a comu-
mulher, entre outras: nidade formada por indivíduos que são ou se consideram
1) A violência sica, entendida como qualquer conduta aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
que ofenda sua integridade ou saúde corporal. Exemplo: por vontade expressa;
crime de lesão corporal. c) Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
2) A violência psicológica, entendida como qualquer agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, inde-
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da pendentemente de coabitação.
autoes ma ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desen-
volvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, Nota-se ainda que, de acordo com o parágrafo único
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, do art. 5º desta norma, as relações pessoais independem
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, de orientação sexual. Desta forma, é possível vislumbrar a
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chanta- existência de violência domés ca, com a consequente inci-
gem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir dência da Lei Maria da Penha, numa relação homoafe va
e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde entre mulheres.
psicológica e à autodeterminação. Assim, podem ser ví mas de crimes e contravenções
Abaixo elencamos um julgado do TJDFT em que o com- come das em situação de violência domés ca: esposa,
panheiro obrigava sua companheira a beber do próprio companheira, namorada, ex-esposa, ex-companheira,
sangue. Vejamos: ex-namorada, mãe, filha, neta, avó, a, sobrinha.
Sobre a questão do namoro, já decidiu o STJ:
HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. COMPA-
NHEIROS. PACIENTE QUE OBRIGA A COMPANHEIRA O namoro é uma relação ín ma de afeto que inde-
A BEBER DO SANGUE DO PRÓPRIO PULSO. COM- pende de coabitação; portanto, a agressão do namo-
PORTAMENTO INADEQUADO E ESTRANHO. AUDI- rado contra a namorada, ainda que tenha cessado
ÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. DIRETIVA o relacionamento, mas que ocorra em decorrência
RAZOÁVEL. AMEAÇA DE MORTE. dele, caracteriza violência domés ca. (STJ – HC nº
1. Ante o inusitado do caso, onde o paciente teria 92.875-RS- Min. Jane Silva, 6ª Turma, Dje 17/11/2008)
obrigado a companheira a beber do seu sangue
(do paciente) que se esvaía do punho, aponta para No Conflito de Competência nº 96532 / MG a 3ª Seção
a sensatez de se esperar a realização da audiência do STJ, Relatora Ministra JANE SILVA, decidiu que:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de instrução e julgamento, oportunidade em que a


autoridade apontada como coatora se comprome- CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2008/0127004-8
teu a reexaminar os fatos, lógico, após oi va dos CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA
envolvidos. DA PENHA. RELAÇÃO DE NAMORO. DECISÃO DA 3ª
2. Ordem denegada. SEÇÃO DO STJ. AFETO E CONVIVÊNCIA INDEPENDEN-
(20090020122083HBC, Relator SILVÂNIO BARBO- TE DE COABITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE ÂMBITO
SA DOS SANTOS, 2ª Turma Criminal, julgado em DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI Nº 11.340/2006. APLI-
17/09/2009, DJ 20/10/2009, p. 140) CAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª
VARA CRIMINAL.
3) A violência sexual, entendida como qualquer conduta 1. Caracteriza violência domés ca, para os efeitos da
que a constranja a presenciar, a manter ou a par cipar de Lei n nº 11.340/2006, quaisquer agressões sicas,
relação sexual não desejada, mediante in midação, amea- sexuais ou psicológicas causadas por homem em
ça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar uma mulher com quem tenha convivido em qualquer
ou a u lizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a relação ín ma de afeto, independente de coabitação.

245
2. O namoro é uma relação ín ma de afeto que in- que o agressor conviveu com a ofendida por vinte e
depende de coabitação; portanto, a agressão do na- quatro anos, ainda que apenas como namorados, pois
morado contra a namorada, ainda que tenha cessado aludido disposi vo legal não exige a coabitação para a
o relacionamento, mas que ocorra em decorrência configuração da violência domés ca contra a mulher.
dele caracteriza violência domés ca. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do
3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Jus ça, Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro
ao decidir os conflitos nos 91.980 e 94.447, não se Lafaiete-MG, o suscitado.
posicionou no sentido de que o namoro não foi
alcançado pela Lei Maria da Penha, ela decidiu, por Não serão ví mas de infrações penais pra cadas em si-
maioria, que naqueles casos concretos, a agressão tuação de violência domés ca a pros tuta, salvo se ver um
não decorria do namoro. relacionamento de afeto paralelo ao “trabalho”, ou a mulher
4. A Lei Maria da Penha é um exemplo de implemen- que mantenha um relacionamento fugaz ou esporádico com
tação para a tutela do gênero feminino, devendo ser outro homem.
aplicada aos casos em que se encontram as mulheres E se a ví ma for transexual. A Lei ora em análise a pro-
ví mas da violência domés ca e familiar. tege? Para tanto nos valemos dos ensinamentos de Rogério
5. Conflito conhecido para declarar a competência do Sanches e Ronaldo Ba sta Pinto quanto citam as lições dos
Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro mestres Cris ano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald sobre
Lafaiete-MG. o transexualismo:

A 3ª Turma do STJ, no Conflito de Competência nº 100.654/ O transexual não se confunde com o homossexual,
MG, cuja relatora foi a Ministra Laurita Vaz, decidiu: bissexual, intersexual ou mesmo com o travesti.
O transexual é aquele que sofre uma dicotomia
LEI MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PRATICADA EM sico-psíquica, possuindo um sexo sico, dis nto de
DESFAVOR DE EX-NAMORADA. CONDUTA CRIMINOSA sua conformação sexual psicológica. Nesse quadro,
VINCULADA A RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO. CARAC- a cirurgia de mudança de sexo pode se apresentar
TERIZAÇÃO DE ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI como um modo necessário para a conformação do
Nº 11.340/2006. APLICAÇÃO. seu estado sico e psíquico1
1. A Lei nº 11.340/2006, denominada Lei Maria da
Penha, em seu art. 5º, inciso III, caracteriza como vio- Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Ba sta Pinto afirmam
lência domés ca aquela em que o agressor conviva ou que há duas grandes correntes, conforme se observa a seguir:
tenha convivido com a ofendida, independentemente
de coabitação. Contudo, necessário se faz salientar que [...] há duas posições: uma primeira mais conserva-
a aplicabilidade da mencionada legislação a relações dora, entendendo que o transexual, gene camente,
ín mas de afeto como o namoro deve ser analisada não é mulher (apenas passa a ter órgão genital de
em face do caso concreto. Não se pode ampliar o conformidade feminina), e que, portanto, descarta
termo – relação ín ma de afeto – para abarcar um para hipótese, a proteção especial; já para uma cor-
relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. rente mais moderna, desde que pessoa portadora de
2. In casu, verifica-se nexo de causalidade entre a transexualismo transmute suas caracterís cas sexuais
conduta criminosa e a relação de in midade existente (por cirurgia e modo irreversível), deve ser encarada
entre agressor e ví ma, que estaria sendo ameaçada de acordo com sua nova realidade morfológica, eis
de morte após romper namoro de quase dois anos, si- que a jurisprudência admite, inclusive, re ficação
tuação apta a atrair a incidência da Lei nº 11.340/2006. de registro civil.2
3. Conflito conhecido para declarar a competência do
Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Vale lembrar que Nelson Rosenvald e Cris ano Chaves
Lafaiete/MG. seguem o entendimento a segunda corrente, que é mais
moderna, e que defende a possibilidade do transexual ser
No mesmo sen do: protegido pela lei em apreço, desde que suas caracterís cas
sexuais tenham sido modificadas cirurgicamente, de modo
CC 103813 / MG CONFLITO DE COMPETÊNCIA RE irreversível.
LATOR MIN. JORGE MUSSI. TERCEIRA TURMA. Sanches Cunha e Ba sta Pinto ainda citam Rogério Grecco
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA que reforça a segunda corrente, afirmando que o transexual
DA PENHA. EX-NAMORADOS. VIOLÊNCIA COMETIDA operado pode ser ví ma inclusive de estupro, conforme se
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

EM RAZÃO DO INCONFORMISMO DO AGRESSOR verifica no trecho abaixo transcrito:


COM O FIM DO RELACIONAMENTO. CONFIGURAÇÃO
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. Se existe alguma dúvida sobre a possibilidade de o
APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.340/2006. COMPETÊNCIA legislador transformar um homem em uma mulher,
DO SUSCITADO. isso não acontece quando estamos diante de uma
1. Configura violência contra a mulher, ensejando a decisão transitada em julgado. Se o Poder Judiciário,
aplicação da Lei nº 11.340/2006, a agressão come da depois de cumprido o devido processo legal, deter-
por ex-namorado que não se conformou com o fim de minar a modificação da condição sexual de alguém,
relação de namoro, restando demonstrado nos autos tal fato deverá repercu r em todos os âmbitos de sua
o nexo causal entre a conduta agressiva do agente vida, inclusive o penal.3
e a relação de in midade que exis a com a ví ma.
1
2. In casu, a hipótese se amolda perfeitamente ao Direito Civil – Teoria Geral. 4ª Ed. Rio De Janeiro: Lumem Iures, 2006. p. 115.
2
Legislação Criminal Especial. Coleção Ciências Criminais. V. 6ª Ed. Revista dos
previsto no art. 5º, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, Tribunais, 2009, p. 1059.
já que caracterizada a relação ín ma de afeto, em 3
Curso de Direito Penal. Niterói: Impetus. 2006. V. 3, p. 530.

246
Recentemente o STJ, conforme no cia extraída do seu O Juiz pode decretar de o cio essas medidas prote vas?
site, deciciu que a instrução criminal é via adequada para Veja que o caput do art. 19 dispõe que “as medidas
avaliar enquadramento de ex-marido na Lei Maria da Penha: prote vas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a re-
querimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida”.
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ) re- Muito embora este disposi vo legal tenha silenciado
jeitou pedido de habeas corpus no qual o réu requeria em relação à possibilidade de o juiz autuar ex officio nesse
par cular, vigora entendimento segundo o qual tais medidas
o não enquadramento da sua conduta na Lei Maria
podem ser concedidas de o cio pelo juiz.
da Penha. A Turma entendeu que a análise envolveria
É que o § 1º do mesmo ar go, aparentemente suprindo
matéria fá ca, que somente poderia ser avaliada na
a lacuna legisla va, determina que
instrução criminal. “Entendo que, no presente caso, o
juiz, mais perto das partes e das provas, tem melhores as medidas protetivas de urgência poderão ser
condições de apreciar a classificação do delito”, disse concedidas de imediato, independentemente de
o relator, Ministro Og Fernandes. audiência das partes e manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
O entendimento decorreu do pedido de trancamento
da ação penal pelo crime de ameaça. O ex-marido Tal redação induz à possibilidade de concessão de o cio,
teve habeas corpus negado pela Sexta Câmara de pelo juiz, das medidas prote vas de urgência.
Direito Criminal do Tribunal de Jus ça do Estado de Conclui-se, pois, que as medidas prote vas de urgência
São Paulo (TJ-SP), que não aceitou as jus fica vas poderão ser concedidas de o cio pelo juiz5 e não é neces-
do acusado. Na ocasião, o ex-marido solicitava o sária a audiência das partes.6
trancamento da ação e o não enquadramento de
sua conduta na Lei Maria da Penha. O réu dizia não Prazos
ter come do nenhum po de violência domés ca
contra sua ex-mulher. A Autoridade Policial tem prazo de 48 horas para remeter
Consta na denúncia que o réu discu a judicialmen- ao juiz expediente apartado com o requerimento das medi-
te a separação com sua ex-esposa. Desde então, das prote vas de urgência feito pela mulher.
teria começado a promover ameaças a ela e a seus Recebido o expediente com o pedido da ofendida, o juiz
parentes por meio de blogs e e-mails. Ele teria en- também tem o prazo de 48 horas para conhecer dos autos e
caminhado um buquê de flores à ex-sogra, com um decidir sobre as medidas prote vas.
bilhete no qual falava sobre a separação e as suas Nesse mesmo prazo, o magistrado deve determinar o
consequências. encaminhamento da ví ma ao órgão de assistência judiciária
Na primeira instância, a denúncia pelo crime de (quando for o caso), além de comunicar o Ministério Público
ameaça não foi aceita. O Ministério Público recorreu para a adoção das medidas per nentes.
da decisão e o TJ-SP reformou a sentença para deter-
minar o recebimento da denúncia. O réu recorreu, Espécies de Medidas Prote vas de Urgências
então, ao STJ para reverter o acórdão do tribunal
estadual. As medidas prote vas de urgência podem ser dirigidas
O Ministro Og Fernandes afirmou que a denúncia ao agressor e à ofendida.
demonstra, em tese, a configuração do crime de ame-
aça. Registrou, ainda, que paira certa dúvida quanto à Ao Agressor
alegada a picidade da conduta do paciente. O pedido 1) Suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
foi negado, tanto em relação ao trancamento da ação com comunicação ao órgão competente, nos termos do
penal quanto ao não enquadramento na Lei Maria da Estatuto do Desarmamento.
Penha. Nesse caso, a Jus ça deverá verificar, no curso Na hipótese de aplicação desta medida, caso o agressor
do processo, se há ou não essa infração. se enquadre nos casos previstos nos incisos do art. 6º do
Estatuto do Desarmamento7, o juiz comunicará ao respec vo
órgão, corporação ou ins tuição, as medidas prote vas de
Medidas Prote vas de Urgência urgência concedidas e determinará a restrição do porte de
As medidas prote vas de urgência serão aplicadas isolada 5
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/Exame de Ordem/Questão 48/
ou cumula vamente. Asser va D/2007/2.
6
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-SP/Exame 135/Questão
Cumpre ressaltar que as medidas poderão ser subs tuí- 58/Alterna va B/2008; Cespe/OAB/ Exame de Ordem/Questão 48/Asser va
das a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre D/2007/2.
7
que os direitos reconhecidos na lei em estudo forem ame- I – os integrantes das Forças Armadas; II – os integrantes de órgãos referidos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nos incisos do caput do art. 144 da Cons tuição Federal; III – os integrantes
açados ou violados. das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais
Frise-se que as medidas prote vas de urgência dispostas de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no
nos arts. 22, 23 e 24 são meramente exemplifica vas, po- regulamento desta Lei;
IV – os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000
dendo o juiz conceder outras independentemente dessas, (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em
desde que repute mais adequadas. serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004); V – os agentes operacio-
Importante destacar que, no que tange às medidas pro- nais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de
Segurança do Gabinete de Segurança Ins tucional da Presidência da República;
te vas de urgência, apenas o magistrado pode decretá-las4. VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII,
Quem pode solicitar as medidas prote vas de urgência? da Cons tuição Federal; VII – os integrantes do quadro efe vo dos agentes e
guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias;
• Ministério Público, por meio de requerimento; VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores cons tuí-
• a própria ofendida. das, nos termos desta Lei; IX – para os integrantes das en dades de desporto
legalmente cons tuídas, cujas a vidades espor vas demandem o uso de armas
de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber,
a legislação ambiental; X – integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita
4
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/STF/Analista Judiciário – Execução Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e
de Mandados/ Questão150/2008. Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007)

247
armas, ficando o superior imediato do agressor responsável anulação da decisão para que outra fosse proferida
pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de em termos mais condizentes com a viabilidade de
incorrer nos crime de prevaricação, ou de desobediência, seu acatamento. HC nº 163.835-SP, Rel. Min. Aldir
conforme o caso. Passarinho Junior, julgado em 16/11/2010.
2) Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a ofendida. 4) Proibição de contato com a ofendida, seus familiares
3) Proibição de aproximação da ofendida, de seus familia- e testemunhas, por qualquer meio de comunicação.
res e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância 5) Proibição de frequentar de determinados lugares a fim
entre estes e o agressor. de preservar a integridade sica e psicológica da ofendida.
6) Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
No RHC nº 23.654/AP, a 5ª Turma do STJ, cujo relator foi menores, ouvida a equipe de atendimento mul disciplinar
o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, decidiu: ou serviço similar.
7) Prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LEI MA-
RIA DA PENHA (LEI Nº 11.340/2006). POSSIBILIDADE À Ofendida
DE FIXAÇÃO, EM UNIDADES MÉTRICAS, DA DISTÂN- 1) Determinar a recondução da ofendida e a de seus
CIA A SER MANTIDA PELO AGRESSOR DA VÍTIMA. dependentes ao respec vo domicílio, após afastamento do
EXPRESSA PREVISÃO LEGAL (ART. 22, III DA LEI Nº agressor.
11.340/2006). VIOLAÇÃO LEGALMENTE AUTORIZADA 2) Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem
AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO DO SUPOSTO AGRES- prejuízo dos direitos rela vos a bens, guarda dos filhos e
SOR. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS. ALEGA- alimentos.
ÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO DE PARENTESCO 3) Determinar a separação de corpos.
ENTRE ACUSADO E A MENOR ENVOLVIDA NOS FATOS. 4) Res tuição de bens indevidamente subtraídos pelo
INADEQUAÇÃO DA VIA DO WRIT. PARECER DO MPF agressor à ofendida.
5) Proibição temporária para a celebração de atos e
PELO DESPROVIMENTO DO RECURSO ORDINÁRIO.
contratos de compra, venda e locação de propriedade em
RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.
comum, salvo expressa autorização judicial.
1. Conforme anotado no parecer ministerial, nos ter-
6) Suspensão das procurações conferidas pela ofendida
mos do art. 22, III da Lei nº 11.340/2006, conhecida
ao agressor.
por Lei Maria da Penha, poderá o Magistrado fixar, 7) Prestação de caução provisória, mediante depósito
em metros, a distância a ser man da pelo agressor da judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prá ca
ví ma – tal como efe vamente fez o Juiz processante de violência domés ca e familiar contra a ofendida.
da causa – , sendo, pois, desnecessário nominar quais 8) Encaminhar a ofendida e seus dependentes à progra-
os lugares a serem evitados, uma vez que, se assim ma oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento.
fosse, lhe resultaria burlar essa proibição e assediar a
ví ma em locais que não constam da lista de lugares De acordo com a Lei nº 10.778/2003, não é objeto de
previamente iden ficados. no ficação compulsória, a violência contra mulher atendida
2. A questão rela va à existência, ou não, de parentes- em serviço de saúde.8
co entre o suposto agressor e a menor envolvida nos
fatos demandaria a vidade cogni va incompa vel Comunicação ao Cartório
com a via do writ, visto que não existem elementos O juiz deverá oficiar ao cartório competente sempre que
suficientes nos autos a comprovar as alegações feitas houver a concessão das medidas de proibição temporária
pelo recorrente, sendo pois, passível de verificação para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
mediante procedimento judicial próprio. locação de propriedade em comum, e suspensão das pro-
3. Parecer do MPF pelo desprovimento do recurso. curações conferidas pela ofendida ao agressor.
4. Recurso Ordinário desprovido.
Consequência do Descumprimento da Medida Prote va
Recentemente, acerca do tema, decidiu a Quarta Turma Quando houver descumprimento de uma das medidas
do STJ: prote vas es puladas pelo magistrado, o agressor poderá
responder por crime de desobediência, a depender do caso
HC. PROIBIÇÃO. APROXIMAÇÃO. OFENDIDA. concreto.
Na cautelar de separação de corpos, proibiu-se ao Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução
paciente aproximar-se a menos de 300 metros de criminal, para garan r a execução das medidas prote vas de
distância da autora e testemunhas (art. 22, III, a e b, urgência, caberá a prisão preven va do agressor, decretada
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

da Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha), com res- pelo juiz, de o cio, se no curso da ação penal, a requerimento
salvas apenas à visitação de seu genitor, morador do do Ministério Público, do querelante do assistente ou me-
mesmo edi cio em que ela reside, daí o ajuizamento diante representação da Autoridade Policial.
da ordem de habeas corpus. Frente a isso, vê-se que a O Juiz poderá revogar a prisão preven va se, no curso
restrição, imposta para assegurar ao processo um fim do processo, verificar a falta de mo vo para que subsista,
ú l, além de propiciar a própria garan a individual, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que
tem forma legí ma e foi precedida de expressa e a jus fiquem.
fundamentada autorização do juízo. Pesa também Desta forma, é possível a prisão preven va no crime
a constatação de que, no âmbito de habeas corpus, de ameaça, punido com detenção, se resulta de violência
não se permite o revolvimento dos aspectos de fato e contra a mulher no âmbito familiar.9
prova. Com esses fundamentos, a Turma, por maioria, 8
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/1º Exame de Ordem/Prova 1ª fase/
denegou a ordem. Questão 62/Asser va A/2004.
O voto vencido aludia à impossibilidade concreta de 9
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-SP/Exame 135/Questão 58/
Alterna va A/2008; Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/SSP-MG/
cumprimento da medida pelo paciente e concedia a DRS/Delegado de Polícia/ Nível Superior/Questão 41/Asser va B/2007.

248
Já decidiu o STJ: 3) fornecer transporte para a ofendida e seus dependen-
tes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMI- 4) se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar
LIAR CONTRA A MULHER. AMEAÇAS CONTRA A a re rada de seus pertences do local da ocorrência ou do
EX-COMPANHEIRA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS domicílio familiar;
PROTETIVAS. INDEFERIMENTO DA REVOGAÇÃO DA 5) informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta
PRISÃO PREVENTIVA. CRIME PUNIDO COM DETEN- Lei e os serviços disponíveis.
ÇÃO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊN-
CIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. ORDEM DENEGADA. Ainda no que tange aos procedimentos policiais, com
1. Inexiste ilegalidade na manutenção da prisão relação os casos de violência domés ca e familiar contra a
cautelar do paciente quando consta dos autos que mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade
vem reiteradamente ameaçando de morte sua policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem
ex-companheira e descumprindo decisões judiciais, prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal.
inclusive a que deferiu medidas prote vas em favor
da ví ma. 6) Ouvir a ofendida, lavrar o bole m de ocorrência e
2. A prisão preven va, em regra, apenas é cabível
tomar a representação a termo.
quando o crime em apuração é punido com pena
de reclusão. Contudo, ainda que se trate de crime
punido com detenção, é possível a custódia cautelar Oi va da Ofendida
quando presente um dos requisitos da prisão preven-
va (art. 312, CPP) e configurado o descumprimento A ofendida comparecerá à Delegacia de Polícia para ser re-
de medidas prote vas fixadas com fundamento na duzida a termo suas declarações a respeito das circunstâncias
Lei Maria da Penha, na forma do disposto no art. 313, da infração penal, da suposta autoria, além da indicação das
inciso IV do Código de Processo Penal. provas que possam ser produzidas. Se mesmo regularmente
3. Habeas corpus admitido, mas ordem denega- no ficada, a ví ma não comparecer sem justo mo vo, ela po-
da, para manter a decisão que decretou a prisão derá se conduzida coerci vamente à autoridade competente.
preventiva do paciente e a decisão que indefe-
riu o pedido de revogação da prisão preventiva. Representação
(20090020125158HBC, Relator ROBERVAL CASEMIRO A representação é uma autorização, ou seja, a manifes-
BELINATI, 2ª Turma Criminal, julgado em 24/09/2009, tação de vontade da ví ma ou de seu representante legal no
DJ 20/10/2009, p. 142 ) sen do de ver processado criminalmente o autor do fato.

Liberdade Provisória Lei Maria da Penha e a Lesão Corporal em


Situação de Violência Domés ca
Não há vedação expressa à liberdade provisória no diplo-
ma legal conhecido como Lei Maria da Penha.10 Sustentamos que a autoridade policial pode agir de o cio,
Assim poderá ser concedida liberdade provisória ao ou seja, mesmo sem a provocação da ví ma, uma vez que
agressor que tenha come do crime em situação de violên- o crime de lesão corporal de natureza leve é de ação penal
cia domés ca desde que estejam ausentes os requisitos da pública incondicionada.
prisão preven va e não haja descumprimento das medidas Corroboramos nossa asser va com o que dispõe a de-
prote vas. cisão na ADI 4424 , conforme no cia veiculada no site do
Vale lembrar que sempre que o agressor for preso ou co-
STF, cujo acesso foi em 10/2/2011, que assim foi publicada:
locado em liberdade a ví ma de violência domés ca deverá
ser no ficada acerca de tais fatos. Outra não é a redação do
art. 21 da Lei Maria da Penha: Quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Supremo julga procedente ação da PGR sobre Lei
Maria da Penha
Art. 21. A ofendida deverá ser no ficada dos atos
processuais relativos ao agressor, especialmente Por maioria de votos, vencido o presidente, ministro
dos per nentes ao ingresso e à saída da prisão, sem Cezar Peluso, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
prejuízo da in mação do advogado cons tuído ou
(STF) julgou procedente, na sessão de hoje (09),
do defensor público.
a Ação Direta de Incons tucionalidade (ADI 4424)
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar
ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
in mação ou no ficação ao agressor.
quanto aos ar gos 12, inciso I; 16; e 41 da Lei Maria
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

da Penha (Lei nº 11.340/2006).


Atuação Policial
A corrente majoritária da Corte acompanhou o voto
Quando se tratar de violência doméstica e familiar do relator, ministro Marco Aurélio, no sen do da
contra a mulher, a autoridade policial deverá, entre outras possibilidade de o Ministério Público dar início a ação
providências: penal sem necessidade de representação da ví ma.
1) Garan r proteção policial, quando necessário, co-
municando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
O ar go 16 da lei dispõe que as ações penais públicas
Judiciário;
2) encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde “são condicionadas à representação da ofendida”,
e ao Ins tuto Médico Legal; mas, para a maioria dos ministros do STF, essa circuns-
tância acaba por esvaziar a proteção cons tucional
10
Cespe/1º Exame da Ordem/1ª fase (Tocan ns, Sergipe, Rio Grande do Norte, assegurada às mulheres. Também foi esclarecido que
Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, não compete aos Juizados Especiais julgar os crimes
Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá,
Alagoas, Acre.) Caderno A/ Questão 44/Asser va A/2007. come dos no âmbito da Lei Maria da Penha.

249
Ministra Rosa Weber Na verdade, as mulheres não são vulneráveis, mas
Primeira a acompanhar o relator, a ministra Rosa sim maltratadas, são mulheres sofridas”, asseverou.
Weber afirmou que exigir da mulher agredida uma
representação para a abertura da ação atenta contra Ministro Ricardo Lewandowski
a própria dignidade da pessoa humana. “Tal condi- Ao acompanhar o relator, o ministro Ricardo Lewan-
cionamento implicaria privar a ví ma de proteção dowski chamou atenção para aspectos em torno
sa sfatória à sua saúde e segurança”, disse. Segundo do fenômeno conhecido como “vício da vontade” e
ela, é necessário fixar que aos crimes come dos com salientou a importância de se permi r a abertura da
violência domés ca e familiar contra a mulher, inde- ação penal independentemente de a ví ma prestar
pendentemente da pena prevista, não se aplica a Lei queixa. “Penso que estamos diante de um fenômeno
dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995). psicológico e jurídico, que os juristas denominam
de vício da vontade, e que é conhecido e estudado
Dessa forma, ela entendeu que o crime de lesão cor- desde os an gos romanos. As mulheres, como está
poral leve, quando pra cado com violência domés ca demonstrado esta s camente, não representam
e familiar contra a mulher, processa-se mediante ação criminalmente contra o companheiro ou marido
penal pública incondicionada. em razão da permanente coação moral e sica que
sofrem e que inibe a sua livre manifestação da von-
Ministro Luiz Fux tade”, finalizou.
Ao acompanhar o voto do relator quanto à possibili-
dade de a ação penal com base na Lei Maria da Penha Ministro Gilmar Mendes
ter início mesmo sem representação da ví ma, o mi- Mesmo afirmando ter dificuldade em saber se a
nistro Luiz Fux afirmou que não é razoável exigir-se da melhor forma de proteger a mulher é a ação penal
mulher que apresente queixa contra o companheiro pública condicionada à representação da agredida
num momento de total fragilidade emocional em ou a ação incondicionada, o ministro Gilmar Men-
razão da violência que sofreu. des acompanhou o relator. Segundo ele, em muitos
casos a ação penal incondicionada poderá ser um
Sob o ângulo da tutela da dignidade da pessoa hu- elemento de tensão e desagregação familiar. “Mas
mana, que é um dos pilares da República Federa va como estamos aqui fixando uma interpretação que,
do Brasil, exigir a necessidade da representação, no
eventualmente, declarando (a norma) cons tucio-
meu modo de ver, revela-se um obstáculo à efe va-
nal, poderemos rever, diante inclusive de fatos, vou
ção desse direito fundamental porquanto a proteção
acompanhar o relator”, disse.
resta incompleta e deficiente, mercê de revelar sub-
jacentemente uma violência simbólica e uma afronta
a essa cláusula pétrea. Ministro Joaquim Barbosa
O ministro Joaquim Barbosa, por sua vez, afirmou
Ministro Dias Toffoli que a Cons tuição Federal trata de certos grupos
Ao acompanhar o posicionamento do relator, o mi- sociais ao reconhecer que eles estão em situação de
nistro Dias Toffoli salientou que o voto do ministro vulnerabilidade. Para ele, quando o legislador, em
Marco Aurélio está ligado à realidade. O ministro bene cio desses grupos, edita uma lei que acaba se
afirmou que o Estado é “par cipe” da promoção da revelando ineficiente, é dever do Supremo, levando
dignidade da pessoa humana, independentemente em consideração dados sociais, rever as polí cas no
de sexo, raça e opções, conforme prevê a Cons tuição sen do da proteção. “É o que ocorre aqui”, concluiu.
Federal. Assim, fundamentando seu voto no ar go
226, parágrafo 8º, no qual se preceitua que “o Estado Ministro Ayres Bri o
assegurará a assistência à família na pessoa de cada Para o ministro Ayres Bri o, em um contexto patriar-
um dos que a integram, criando mecanismos para cal e machista, a mulher agredida tende a condescen-
coibir a violência no âmbito de suas relações”, o mi- der com o agressor. “A proposta do relator no sen do
nistro Dias Toffoli acompanhou o relator. de afastar a obrigatoriedade da representação da
agredida como condição de propositura da ação
Ministra Cármen Lúcia penal pública me parece rimar com a Cons tuição”,
A ministra Cármen Lúcia destacou a mudança de concluiu.
mentalidade pela qual passa a sociedade no que se
refere aos direitos das mulheres. Citando ditados Ministro Celso de Mello
anacrônicos – como, “em briga de marido e mulher, O decano do Supremo, ministro Celso de Mello, tam-
não se mete a colher” e “o que se passa na cama é bém acompanhou o relator. “Estamos interpretando
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

segredo de quem ama” – , ela afirmou que é dever a lei segundo a Cons tuição e, sob esse aspecto,
do Estado adentrar ao recinto das “quatro paredes” o ministro-relator deixou claramente estabelecido o
quando na relação conjugal que se desenrola ali significado da exclusão dos atos de violência domés-
houver violência. ca e familiar contra a mulher do âmbito norma vo
da Lei nº 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais),
Para ela, discussões como a de hoje no Plenário do com todas as consequências, não apenas no plano
STF são importan ssimas nesse processo. “A interpre- processual, mas também no plano material”, disse.
tação que agora se oferece para conformar a norma à
Cons tuição me parece basear-se exatamente na pro- Para o ministro Celso de Mello, a Lei Maria da Penha
teção maior à mulher e na possibilidade, portanto, de é tão importante que, como foi salientado durante
se dar cobro à efe vidade da obrigação do Estado de o julgamento, é fundamental que se dê atenção ao
coibir qualquer violência domés ca. E isso que hoje ar go 226, parágrafo 8º, da Cons tuição Federal, que
se fala, com certo eufemismo e com certo cuidado, prevê a prevenção da violência domés ca e familiar
de que nós somos mais vulneráveis, não é bem assim. pelo Estado.

250
Ministro Cezar Peluso (Decreto-Lei nº 3.688/1941, art. 21, caput), à pena
Único a divergir do relator, o presidente do STF, de 15 dias de prisão simples, subs tuída por restri va
ministro Cezar Peluso, adver u para os riscos que a de direitos consistentes em prestação de serviços à
decisão de hoje pode causar na sociedade brasileira comunidade.
porque não é apenas a doutrina jurídica que se [...] Aduziu-se, inicialmente, que a Lei nº 11.340/2006
encontra dividida quanto ao alcance da Lei Maria teria por escopo coibir a violência domés ca e fa-
da Penha. Citando estudos de várias associações da miliar contra a mulher, em observância ao art. 226,
sociedade civil e também do IPEA, o presidente do § 8º, da CF (“Art. 226. A família, base da sociedade,
STF apontou as conclusões acerca de uma eventual tem especial proteção do Estado. ... § 8º O Estado
conveniência de se permi r que os crimes come dos assegurará a assistência à família na pessoa de cada
no âmbito da lei sejam processados e julgados pelos um dos que a integram, criando mecanismos para
Juizados Especiais, em razão da maior celeridade de coibir a violência no âmbito de suas relações.”). A
suas decisões. esse respeito, salientou-se que a mesma lei, em seu
art. 7º, definiria como “violência domés ca e familiar
“Sabemos que a celeridade é um dos ingredientes contra a mulher” não apenas a violência sica, mas
importantes no combate à violência, isto é, quanto também a psicológica, social, patrimonial e moral.
mais rápida for a decisão da causa, maior será sua Reputou-se, por sua vez, que o preceito con do no
eficácia. Além disso, a oralidade ínsita aos Juizados art. 41 da referida lei afastaria, de forma categórica,
Especiais é outro fator importan ssimo porque essa a Lei nº 9.099/1995 de todo processo-crime cujo qua-
violência se manifesta no seio da en dade familiar. dro revelasse violência domés ca ou familiar contra
Fui juiz de Família por oito anos e sei muito bem como a mulher, o que abarcaria os casos de contravenção
essas pessoas interagem na presença do magistrado. penal. No ponto, o Min. Luiz Fux ressaltou que as
Vemos que há vários aspectos que deveriam ser con- causas a envolver essa matéria seriam reves das de
siderados para a solução de um problema de grande complexidade incompa vel com o rito sumaríssimo
complexidade como este”, salientou. dos Juizados Especiais. O Min. Marco Aurélio, relator,
acrescentou que a Lei “Maria da Penha” preveria a
Quanto ao entendimento majoritário que permi rá o criação de juizados específicos para as situações de
início da ação penal mesmo que a ví ma não tenha a que trata e que seria incongruente, pois, a aplicação
inicia va de denunciar o companheiro-agressor, o mi- de regras da Lei n° 9.099/1995.
nistro Peluso adver u que, se o caráter condicionado [...] Assinalou-se, ademais, que o ato perpetrado pelo
da ação foi inserido na lei, houve mo vos jus ficados paciente teria a ngido não só a integridade sica da
para isso. “Não posso supor que o legislador tenha mulher, mas também sua dignidade, a qual o contexto
sido leviano ao estabelecer o caráter condicionado norma vo buscaria proteger. Nesse aspecto, o Min.
da ação penal. Ele deve ter levado em consideração, Cezar Peluso, Presidente, observou que o art. 98, I,
com certeza, elementos trazidos por pessoas da da CF não conteria a definição de “infrações penais
área da sociologia e das relações humanas, inclusive de menor potencial ofensivo”, de modo que a lei in-
por meio de audiências públicas, que apresentaram fracons tucional poderia estabelecer critérios – não
dados capazes de jus ficar essa concepção da ação restritos somente à pena cominada – aptos a incluir,
penal”, disse. ou não, determinadas condutas nesse gênero. Enten-
deu-se, também, que a norma impugnada estaria de
Ao analisar os efeitos prá cos da decisão, o pre- acordo com o princípio da igualdade, na medida em
sidente do STF afirmou que é preciso respeitar o que a mulher careceria de especial proteção jurídica,
direito das mulheres que optam por não apresentar dada sua vulnerabilidade, e que atenderia à ordem
queixas contra seus companheiros quando sofrem jurídico-cons tucional, no sen do de combater o
algum po de agressão. “Isso significa o exercício do desprezo às famílias, considerada a mulher como
núcleo substancial da dignidade da pessoa humana, sua célula básica. Destacou-se, por fim, que a pena
que é a responsabilidade do ser humano pelo seu imposta consubstanciaria mera advertência a inibir
des no. O cidadão é o sujeito de sua história, é dele a reiteração de prá cas mais condenáveis. HC nº
a capacidade de se decidir por um caminho, e isso 106.212/MS, rel. Min. Marco Aurélio, 24/3/2011.
me parece que transpareceu nessa norma agora con- (HC-106.212).
testada”, salientou. O ministro citou como exemplo a
circunstância em que a ação penal tenha se iniciado e
O Professor Thiago André Pierobom de Ávila11 afirma
o casal, depois de feitas as pazes, seja surpreendido
que o crime de lesão corporal em situação de violência do-
por uma condenação penal”.
més ca ou familiar contra mulher é de ação penal pública
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

incondicionada. Vejamos:
O STF, antes do julgamento da ADI nº 4.424, manifestou-
-se no sen do da cons ucionalidade do art. 41 da Lei Maria Considerar o crime de lesão corporal em situação
da Penha, senão vejamos: de violência domés ca ou familiar contra mulher de
ação penal pública incondicionada é relevante para
[...] O Plenário denegou habeas corpus no qual superar a pressão sociológica que existe sobre a mu-
pretendida a suspensão dos efeitos da condenação lher para esta não levar adiante a responsabilização
imposta ao paciente, nos termos do art. 89 da Lei nº do crime. Há uma alteração do foco da responsa-
9.099/1995, e, em consequência, declarou a cons - bilização, pois a culpa do agressor ser processado
tucionalidade do art. 41 da Lei nº 11.340/2006 (“Aos não mais será da ví ma que assim escolheu, mas
crimes pra cados com violência domés ca e familiar do próprio agressor que violou as normas sociais.
contra a mulher, independentemente da pena pre- Normalmente há um ciclo de brigas do casal, que
vista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro vai da agressão, separação emocional, reconciliação,
de 1995.”). Na espécie, o paciente fora condenado,
pela prá ca de contravenção penal de vias de fato 11
Publicado no site: h p://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10692

251
lua de mel, novas agressões e reinício do ciclo. Como RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. LESÃO CORPORAL
a retratação à representação geralmente ocorre na LEVE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
fase da lua de mel, condicionar a resposta do Estado A MULHER. EXEGESE DOS ARTS. 16 E 41 DA LEI Nº
à representação significa afirmar que o Estado fará 11.340/2006. NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO.
tábula rasa da situação de violência que certamente RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. NÃO ACEITAÇÃO.
se reiterará ali adiante se nada for realizado. Assim, PROVIMENTO DO RECURSO.13
a alteração para ação incondicionada permite que o
Estado tenha mais instrumentos de ação frente uma Renúncia à Representação
situação de violência domés ca (de forma especial
o encaminhamento do agressor a acompanhamento Rege o art. 16 da Lei Maria da Penha:
psicossocial), para alterar a realidade, mesmo quando
a ví ma não deseje o prosseguimento do processo. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à
representação da ofendida de que trata esta Lei, só
O Tribunal de Jus ça do Distrito Federal e Territórios já será admi da a renúncia à representação perante
se posicionou quanto ao tema, porém, ainda não há unani- o juiz, em audiência especialmente designada com
midade nas turmas criminais12. Senão vejamos: tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e
ouvido o Ministério Público. (Grifamos)
HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER. CONTEÚDO POLÍTICO E SOCIAL Faz-se necessário conceituar alguns ins tutos jurídicos,
DA LEI nº 11.340/2006. DELITOS DE LESÕES COR- uma vez que aparentemente houve certa confusão nos ter-
PORAIS LEVES E LESÕES CULPOSAS. NATUREZA DA mos empregados pelo legislador.
AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA O professor Tourinho Filho14 afirma que, “renúncia” é
HUMANA E PROTEÇÃO À FAMILIA. EFETIVIDADE DA a abdicação do direito de oferecer queixa-crime, ou seja,
LEI. ORDEM DENEGADA. de promover ação penal privada. Diferentemente, a “retra-
1. O ar go 1º da Lei nº 11.340/2006, conhecida como tação”, de que tratam o Código Penal, em seu art.102, e o
Lei Maria da Penha enuncia o conteúdo polí co social Código de Processo Penal, em seu art. 25, nos dizeres de
da recém norma editada, em atenção aos reclamos Fernando Capez15 é a abdicação da vontade de ver instaurado
de ontem da sociedade brasileira ante o elevado o inquérito policial ou de oferecida a denúncia.
índice de casos de violência contra a mulher no seio Desta forma, observa-se, que o termo “renúncia”, empre-
familiar e domés co, exigindo uma resposta penal gado no art. 16 da Lei em estudo, na verdade, tem sen do
eficaz do Estado. de “retratação” ao direito de representação.
2. A sociedade há muito tempo sente-se incomodada Analisando o art. 16 da Lei Maria da Penha, verifica-se
com as prá cas violentas no seio familiar contra a que a ofendida não poderá se retratar da representação na
mulher, cujas medidas despenalizadoras previstas na esfera policial, apenas em audiência judicial, com a presença
Lei nº 9.099/1995 não foram suficientes para coibir do órgão ministerial.
e prevenir a violência contra a mulher. Caso a ví ma não se retrate, haverá o recebimento da
3. A exegese que confere efe vidade à repressão aos denúncia, tendo início o processo crime.
crimes de violência domés ca contra a mulher nos Vale lembrar que segundo o Código de Processo Penal,
casos de lesões corporais leves e lesões culposas é o é possível a retratação da representação na esfera policial,
o que não ocorre nos crimes pra cados em situação de
da não vinculação da atuação do Ministério Público
violência domés ca.
ao interesse exclusivo da ofendida tal como previsto
Assim no Estatuto Processual Penal, da data do fato até
no art. 88 da Lei nº 9.099/1995.
o oferecimento da denúncia, a representação é retratável.16
4. Na busca da concre zação dos fins propostos pela
Depois do recebimento da denúncia, a representação se
Lei nº 11.340/2006 prevalece o interesse público
torna irretratável.17
traduzido na coibição de violência domés ca, lastre-
Sobre a representação, decidiu recentemente o STJ
ada na garan a cons tucional de ampla proteção à
conforme no cia veiculada em 14/10/2010 no site www.
família e no princípio cons tucional da dignidade da
stj.gov.br:
pessoa humana.
5. Essa orientação permite a compreensão do al- Maria da Penha: registro policial basta para mostrar
cance, sen do e significado dos art. 16 e 41 da Lei interesse da ví ma em ação contra agressor.
nº 11.340/2006 para reconhecer que os delitos de A mulher que sofre violência domés ca e comparece
lesão corporal simples e lesão culposa come dos no à delegacia para denunciar o agressor já está manifes-
âmbito domés co e familiar contra a mulher são de tando o desejo de que ele seja punido, razão pela qual
ação pública incondicionada, reservando-se à aplica-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

não há necessidade de uma representação formal


ção do art. 16 àqueles crimes em que a atuação do para a abertura de processo com base na Lei Maria
Ministério Público fica vinculada ao interesse privado da Penha (Lei nº 11.340/2006). Esse entendimento
da ví ma em punir o seu ofensor. foi adotado pela Quinta Turma do Superior Tribunal
6. Ordem denegada.
13
TJDFT, 1ª Turma Criminal, Processo 20060910172536RSE, REL. DES. Mario
De outra parte o TJDFT também já decidiu que os crimes Machado, J. 12 Jul. 2007, DJ 1 Ago. 2007, p. 89.
14
FILHO Tourinho, COSTA Fernando da, Processo Penal. 12ª edição. Revista
de lesão corporal leve e culposa são de ação penal pública Atualizada, Principalmente em face das Leis Nº 7.209/1984 (Parte Geral do
condicionada à representação. Vejamos: CP), 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) e Cons tuição de 1988. São Paulo.
Saraiva. 1990, p. 295; 339 e 510.
15
CAPEZ, Fernando, Curso de Processo Penal. 2ª edição, Atualizada e Ampliada.
São Paulo. Saraiva. 1998. P.106.
12 16
No sentido de ser ação penal pública incondicionada: TJDFT, 1ª turma Tema Cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-SP/Exame 135/Questão 58/
criminal, processo 20060910173057 APR, REL. DES. Sérgio Bi encourt, j. Alterna va D/2008; Cespe/UnB/Ministério da Jus ça – Departamento de
31 maio 2007, DJU 25 jul. 2007, p. 126; TJDFT, 2ª Turma Criminal, Processo Polícia Federal/ Escrivão de Polícia Federal /Questão 22/Asser va 1/2002.
17
20070020040022hbc, REL. DES. Nilsoni de Freitas, j. 28 jun. 2007, DJ 26 set. Tema cobrado na seguinte prova: FCC/Defensoria Pública do Estado do Mara-
2007, p. 122. nhão – Defensor Público de 1ª Classe/ Questão 25/ Asser va E/2003.

252
de Jus ça (STJ) ao julgar um recurso contra decisão seguimento a ação penal. Com esse entendimento,
do Tribunal de Jus ça do Distrito Federal (TJDF). Em a Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ)
fevereiro de 2010, a Terceira Seção do STJ (que reúne concedeu mandado de segurança ao Ministério
os membros da Quinta e da Sexta Turmas) decidiu, ao Público do Mato Grosso do Sul (MPMS) para que a
julgar um recurso repe vo, que a representação da audiência prevista no ar go 16 da Lei Maria da Penha
ví ma é condição indispensável para a instauração da só ocorra quando a ví ma manifeste, antecipada,
ação penal (Resp nº 1.097.042). A decisão de agora espontânea e livremente, o interesse de se retratar.
é a primeira desde então que estabelece que essa A decisão é unânime.
representação dispensa formalidades, uma vez estar
clara a vontade da ví ma em relação à apuração do A Lei 11.340/06, conhecida por Maria da Penha, criou me-
crime e à punição do agressor.O TJDF havia negado canismos de proteção contra a violência domés ca e familiar
a concessão de habeas corpus para um homem sofrida pelas mulheres. Entre as medidas, está a previsão de
acusado com base na Lei Maria da Penha. De acordo que a ação penal por lesão corporal leve é pública – isto é,
com a decisão de segunda instância, em nenhum deve ser tocada pelo MP –, mas condicionada à representa-
momento a lei fala de impor realização de audiência ção da ví ma. O STJ já pacificou o entendimento de que essa
para a ofendida confirmar a representação. Para o representação não exige qualquer formalidade, bastando a
TJ, somente havendo pedido expresso da ofendida manifestação perante autoridade policial para configurá-la.
ou evidência da sua intenção de se retratar, e desde Porém, o ar go 16 da lei dispõe: “Nas ações penais pú-
que antes do recebimento da denúncia, é que o juiz blicas condicionadas à representação da ofendida de que
designará audiência para, ouvido o Ministério Públi- trata esta lei, só será admi da a renúncia à representação
co, admi r a retratação da representação. O acusado perante o juiz, em audiência especialmente designada com
apontava irregularidades no processo, alegando que tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
em momento algum a ví ma fizera representação o Ministério Público.” Para o Tribunal de Jus ça sul-mato-
formal contra ele. Para a defesa, a abertura da ação grossense, a designação dessa audiência seria ato judicial
penal teria que ser precedida por uma audiência ju- de mero impulso processual, não configurando ilegalidade
dicial, na qual a ví ma confirmasse a representação ou arbitrariedade caso realizada espontaneamente pelo juiz.
contra o acusado.
Ra ficação Constrangedora
Ainda que se considere necessária a represen-
tação, entendo que esta prescinde de maiores Mas o desembargador convocado Adilson Macabu diver-
formalidades, bastando que a ofendida demonstre giu do tribunal local. Para o relator, a audiência prevista no
o interesse na apuração do fato delituoso, disposi vo não deve ser realizada de o cio, como condição
da abertura da ação penal, sob pena de constrangimento
afirmou o relator do recurso na Quinta Turma, ministro ilegal à mulher ví ma de violência domés ca e familiar. Isso
Napoleão Nunes Maia Filho. Segundo ele, esse inte- “configuraria ato de ‘ra ficação’ da representação, inadmis-
resse “é evidenciado pelo registro da ocorrência na sível na espécie”, asseverou.
delegacia de polícia e a realização de exame de lesão
corporal”.O ministro expressou ressalvas quanto à “Como se observa da simples leitura do disposi vo
tese vitoriosa na Terceira Seção, pois, para ele, a lesão legal, a audiência a que refere o ar go somente se
corporal no âmbito familiar é crime de ação pública realizará caso a ofendida expresse previamente sua
incondicionada (ou seja, que não depende de repre- vontade de se retratar da representação ofertada em
sentação da ví ma para ser tocada pelo Ministério Pú- desfavor do agressor”, acrescentou o relator. “Assim,
blico). Ele sustentou seu voto em decisões anteriores não há falar em obrigatoriedade da realização de tal
do STJ, no mesmo sen do de que não há uma forma audiência, por inicia va do juízo, sob o argumento
rígida preestabelecida para a representação. O caso de tornar certa a manifestação de vontade da ví ma,
julgado é o segundo precedente neste sen do. Em inclusive no sen do de ‘não se retratar’ da represen-
setembro de 2009, antes portanto do julgamento do tação já realizada”, completou.
recurso repe vo na Terceira Seção, a Quinta Turma
decidiu da mesma forma ao analisar o HC nº 130.000, Em seu voto, o desembargador indicou precedentes tanto
cuja relatora foi a ministra Laurita Vaz. Naquela oca- da Quinta quanto da Sexta Turma nesse mesmo sen do.
sião, os ministros afirmaram que “a representação [...]
prescinde de rigores formais, bastando a inequívoca Os Juizados Especiais Criminais e a Lei Maria da
manifestação de vontade da ví ma”. No caso julgado, Penha
a Turma considerou a queixa levada à autoridade po-
licial, materializada no bole m de ocorrência, como
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Não se aplica a lei dos Juizados Especiais aos crimes co-


suficiente para o seguimento da ação. As duas decisões me dos em situação de violência domés ca. Senão vejamos
da Quinta Turma foram unânimes. o que dispõe a Lei nº 11.340/2006:
Recentemente, a 5ª Turma do STJ, decidiu no RMS 34607, Art. 41. Aos crimes pra cados com violência domés-
que a audiência de jus ficação prevista no ar go 16 da Lei ca e familiar contra a mulher, independentemente
Maria da Penha não pode ser determinada de o cio pelo da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26
juiz. Vejamos no cia extraída do site www.stj.jus.br, acesso de setembro de 1995.
em 15/09/2011, às 09h02:
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal já decidiu
Lei Maria da Penha: audiência para renúncia de em conformidade com o que preceitua o art. 41 da Lei
representação não pode ser determinada de o cio nº 11.340/2006, como se observa a seguir:
A ví ma de violência domés ca não pode ser cons-
trangida a ratificar perante o juízo, na presença PENAL E PROCESSUAL PENAL. LEI MARIA DA PENHA.
de seu agressor, a representação para que tenha AGRESSÃO À EX-COMPANHEIRA. PRETENSÃO A BENE-

253
FÍCIO DA LEI Nº 9.099/1995. ALEGAÇÃO DE CONDUTA “NÃO SE APLICA AOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A
DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. PRINCÍPIOS DA MULHER, NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR, A LEI
INSIGNIFICÂNCIA E DA ADEQUAÇÃO SOCIAL. Nº 9.099/1995. (ART. 41 DA LEI Nº 11.340/2006)”,
1. O réu agrediu a ex-companheira ao ser recusada a RAZÃO POR QUE “A LESÃO CORPORAL PRATICADA
proposta de reconciliação, causando lesões corporais CONTRA A MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO“ É
leves. Rejeita-se a pretensão à suspensão condicional TIPO “DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA”
do processo, nada obstante a pouca ofensividade das (STJ, SEXTA TURMA, RESP. 1000222/DF, NÚMERO
lesões, bem como a absolvição com base no princípio REGISTRO: 2007/0254130-0, RELATORA: MIN. JANE
da insignificância ou da adequação social. SILVA, DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG,
2. O art. 41 da Lei nº 11.340/2006 exclui expres- JULGADO EM 23/09/2008, PUBLICADO NO DJE EM
samente a aplicabilidade da Lei nº 9.099/1995 e o 24/11/2008).
princípio da insignificância e o da adequação social
exigem a inexpressividade ou nocividade social mí- 2. NA MESMA LINHA, O ENTENDIMENTO MAJORI-
nima da conduta do agente, o que não se coaduna TÁRIO DA 2ª TURMA CRIMINAL DO TJDFT (TJDFT:
com as condutas de que trata a Lei Maria da Penha, 20080110968325RSE DF, ACÓRDÃO Nº: 345984,
cujas normas tencionam por cobro ao histórico JULGADO EM 29/01/2009, 2ª TURMA CRIMINAL,
de violência domés ca nos lares brasileiros, reco- RELATOR: DES. ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS, PU-
nhecendo justamente a sua extrema ofensividade BLICADO NO DJU EM 25/03/2009 PÁG.: 142, SEÇÃO
social. A ví ma sofreu puxões de cabelo e lesões no 3); (20070110725180RSE, RELATOR SILVANIO BAR-
pescoço decorrente de tenta va de enforcamento, BOSA DOS SANTOS, 2ª TURMA CRIMINAL, JULGADO
que só cessou com a intervenção da sogra. EM 11/09/2008, DJ 01/10/2008 P. 137)”.
3. A palavra da ví ma sempre teve especial destaque
na apuração desse po de crime e neste caso a ofen- 3. RECURSO MINISTERIAL CONHECIDO E PARCIAL-
dida declarou que temia novas agressões em razão MENTE PROVIDO PARA O FIM DE, AFASTADA A
de fatos pretéritos, levando-a a buscar socorro junto POSTERIOR REJEIÇÃO DA DENÚNCIA, AFASTAR A
à autoridade policial, vencendo o terror moral que a DECADÊNCIA RECONHECIDA E A CONSEQUENTE
dominara e a tolhera anteriormente. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, DETERMINAR QUE
4. Apelação desprovida. O FEITO PROSSIGA EM SEUS ULTERIORES TERMOS.
(20070910144586APR, Relator GEORGE LOPES LEI-
TE, 1ª Turma Criminal, julgado em 1/10/2009, DJ Ousamos discordar do posicionamento do TJDF, uma vez
14/10/2009, p. 309) que a competência dos Juizados Especiais está prevista no
art. 98, inciso I da Carta Magna, que rege:
Ainda neste sen do:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios,
Registro do Acórdão Número: 381.144 e os Estados criarão:
Data de Julgamento: 13/8/2009 I – juizados especiais, providos por juízes togados,
Órgão Julgador: 2ª Turma Criminal ou togados e leigos, competentes para a conciliação,
Relator: MARIA IVATÔNIA o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
Disponibilização no DJ-e: 20/10/2009, p. 196 complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e suma-
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. LEI MARIA DA PE- ríssimo, permi dos, nas hipóteses previstas em lei,
NHA (LEI Nº 11.340/2006). LESÃO CORPORAL – ART. a transação e o julgamento de recursos por turmas
129, § 9º, CPB – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. DENÚNCIA de juízes de primeiro grau;
RECEBIDA. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. INS-
TRUÇÃO CRIMINAL LEVADA A EFEITO. FASE DO ART. Assim as infrações penais de menor potencial ofensivo
502, CPP. REJEIÇAO DA DENÚNCIA. EXTINÇÃO DA pra cadas em situação de violência domés ca deveriam
PUNIBILIDADE PELA DECADÊNCIA. ser julgadas pelos Juizados Especiais Criminais, sendo que o
agressor, a depender do caso concreto, poderia fazer jus as
1. UMA VEZ RECEBIDA A DENÚNCIA, NÃO CABE AO medidas despenalizadoras.
JUIZ REJEITÁ-LA POSTERIORMENTE, QUALQUER SEJA Como não se aplica a Lei nº 9.099/1995 para os crimes e
O FUNDAMENTO. contravenções pra cados em situação de violência domés -
ca, tais infrações, mesmo de menor potencial ofensivo, não
2. JÁ QUE “A FAMÍLIA É A BASE DA SOCIEDADE” E mais poderão ser apuradas mediante termo circunstanciado.
O ESTADO, NO EXERCÍCIO DA PROTEÇÃO ESPECIAL Ou seja, a autoridade policial deve proceder à apuração de
QUE A ELA DEVE CONFERIR, CRIA “MECANISMOS crimes e contravenções penais pra cados em situação de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

PARA COIBIR A VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DE SUAS violência domés ca e familiar contra a mulher sempre por
RELAÇÕES”; JÁ QUE “AS FAMÍLIAS QUE SE ERIGEM meio de inquérito policial.
EM MEIO À VIOLÊNCIA NÃO POSSUEM CONDIÇÕES Sobre as contravenções, vejamos o que já decidiu o STJ:
DE SER BASE DE APOIO E DESENVOLVIMENTO PARA
OS SEUS MEMBROS, OS FILHOS DAÍ ADVINDOS COMPETÊNCIA. CONTRAVENÇÃO. LEI MARIA DA
DIFICILMENTE TERÃO CONDIÇÕES DE CONVIVER PENHA
SADIAMENTE EM SOCIEDADE, DAÍ A PREOCUPAÇÃO
DO ESTADO EM PROTEGER ESPECIALMENTE ESSA No caso, o autor desferiu socos e tapas no rosto da
INSTITUIÇÃO, CRIANDO MECANISMOS, COMO A LEI declarante, porém sem deixar lesões. Os juízos susci-
MARIA DA PENHA, PARA TAL DESIDERATO”, JÁ QUE tante e suscitado enquadraram a conduta no art. 21
“SOMENTE O PROCEDIMENTO DA LEI Nº 9.099/1995 da Lei de Contravenções Penais (vias de fato). Diante
EXIGE REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA NO CRIME DE disso, a Seção conheceu do conflito para declarar
LESÃO CORPORAL LEVE E CULPOSA PARA A PROPO- competente o juízo de Direito da Vara Criminal, e não
SITURA DA AÇÃO PENAL”, DEVE-SE CONCLUIR QUE o do Juizado Especial, por entender ser inaplicável a

254
Lei nº 9.099/1995 aos casos de violência domés ca AGRESSÃO. VIAS DE FATO. RELAÇÕES DOMÉSTICAS.
e familiar contra a mulher, ainda que se trate de con- Na hipótese, o ora paciente foi condenado, em pri-
travenção penal. Precedentes citados: CC nº 104.128- meiro grau de jurisdição, a 15 dias de prisão simples,
MG, 3ª Seção, DJe 5/6/2009; CC nº 105.632-MG, 3ª por prá ca descrita como contravenção penal (art.
Seção, DJe nº 30/6/2009, e CC nº 96.522-MG, 3ª 21 do DL nº 3.688/1941), sendo subs tuída a pena
Seção, DJe 19/12/2008. (CC nº 104.020-MG, Rel. corporal por restri va de direitos de prestação de
Min. Maria Thereza de Assis Moura, 3ª Seção, julg. serviços à comunidade. A apelação interposta pelo
Em 12/8/2009). MP foi provida, reformando a sentença para fixar a
impossibilidade de subs tuição em face da violência,
Recentemente, a Sexta Turma do STJ, contrariando o dis- concedendo, de outra parte, o sursis, ficando a cargo
posto no art. 41 da Lei Maria da Penha, decidiu que é possível da execução os critérios da suspensão condicional
conceder suspensão condicional do processo nos crimes da pena. Sobreveio, então, o habeas corpus, no qual
pra cados em situação de violência domés ca, desde que se alegou que vias de fato, ou seja, a contravenção
preenchidos os requisitos do art. 89 da Lei nº 9.099/1995: come da pelo paciente, diferentemente da lesão
corporal, não provoca ofensa à integridade sica ou
LEI MARIA DA PENHA. SURSIS PROCESSUAL. Trata-se à saúde da ví ma. Salientou-se que é perfeitamente
de habeas corpus em que se discute a possibilidade possível subs tuir a pena priva va de liberdade por
de oportunizar ao MP o oferecimento de proposta restri va de direito, pois a violência e a grave ameaça
de suspensão condicional do processo (sursis pro- que obstam a concessão da benesse devem resultar
cessual) nos feitos vinculados à Lei Maria da Penha. de crime grave que traga perigo à vida da ví ma, e
A Turma, por maioria, concedeu a ordem pelos fun- não de crime de menor potencial ofensivo, como no
damentos, entre outros, de que, na hipótese, tendo caso. Além disso, aduziu-se que a subs tuição é a
a inflição da reprimenda culminado na aplicação medida mais adequada à realidade do caso concreto,
de mera restrição de direitos (como, em regra, é o pois é certo que, sendo direito subje vo do paciente,
caso das persecuções por infrações penais de médio ela não pode ser negada, notadamente porque não
potencial ofensivo), não se mostra proporcional invia- há, quanto aos delitos pra cados com violência do-
més ca, tratamento diferenciado.
bilizar a incidência do art. 89 da Lei nº 9.099/1995,
A Turma concedeu a ordem pelos fundamentos,
por uma interpretação amplia va do art. 41 da Lei nº
entre outros, de que é razoável supor, assim como
11.340/2006, pois tal providência revelaria uma op-
defendido na impetração, que a violência impedi va
ção dissonante da valorização da dignidade da pessoa
da subs tuição da pena priva va de liberdade por
humana, pedra fundamental do Estado democrá co restri vas de direitos seja aquela de maior gravidade
de direito. Consignou-se que, havendo, no leque de e não, como na espécie, mera contravenção de vias
opções legais, um instrumento benéfico tendente ao de fato, chamada por alguns até mesmo de “crime
reequilíbrio das consequências deletérias causadas anão”, dada a sua baixa ou quase inexistente reper-
pelo crime, com a possibilidade de evitar a carga que cussão no meio social. Consignou-se, ademais, que,
es gma za a condenação criminal, mostra-se injusto, no caso, a agressão sequer deixou lesão aparente, daí
numa perspec va material, deixar de aplicá-lo per fas porque soa desarrazoado negar ao paciente o direito
et nefas. Precedentes citados do STF: HC nº 82.969- à subs tuição da pena priva va de liberdade; pois,
PR, DJ 17/10/2003; do STJ: REsp. nº 1.097.042-DF, em úl ma ra o, estar-se-ia negando a incidência do
DJe 21/5/2010. HC nº 185.930-MS, Rel. Min. Maria art. 44 do CP, visto que a violência, pela sua ínfima
Thereza de Assis Moura, julgado em 14/12/2010. repercussão na própria ví ma ou no meio social, não
impede, antes recomenda, sejam aplicadas penas
Proibição da Aplicação de Pena de Cesta Básica alterna vas, inclusive em sintonia com a própria
ou Pecuniária Lei Maria da Penha, notadamente a sua mensagem,
expressa no seu art. 45, que promoveu alteração no
A Lei Maria da Penha dispõe que é proibida a aplicação, parágrafo único do art. 152 da Lei nº 7.210/1984.
nos casos de violência domés ca e familiar contra a mulher, Precedente citado: HC nº 87.644-RS, DJe 30/6/2008.
de penas isoladas de cesta básica ou pecuniárias.18 Senão HC nº 180.353-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
vejamos: Moura, julgado em 16/11/2010.

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência Entendemos que além da não aplicação dos ins tutos
domés ca e familiar contra a mulher, de penas de despenalizadores previstos na Lei nº 9.099/1995, a Lei
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem nº 11.340/2006 proíbe que, após o devido processo legal,
como a subs tuição de pena que implique o paga- o magistrado converta a pena priva va de liberdade em
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

restri va de direito.
mento isolado de multa.
No momento do cumprimento da pena priva va de
liberdade, a depender do regime, o juiz poderá determinar
A redação do art. 17 da lei em estudo dá a entender o comparecimento obrigatório do agressor a programas de
que não é possível a subs tuição da pena priva va de li- recuperação e reeducação. Vejamos o que dispõe o ar go
berdade por restri va de direito, pois caso contrário seria 45 da Lei Maria da Penha:
desnecessária sua existência, uma vez que o art. 41 já veda
a aplicação da Lei nº9.099/1995. A pena de cesta básica e de Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de
multa retratada na norma em análise, na nossa concepção, 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a
são penas restri vas de direito e não as medidas alterna vas seguinte redação:
da transação penal, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099/1995. Art. 152. [...]
A Sexta Turma do STJ tem um entendimento contrário Parágrafo único. Nos casos de violência domés ca
ao nosso: contra a mulher, o juiz poderá determinar o compa-
recimento obrigatório do agressor a programas de
18
Cespe/OAB-SP/Exame 135/Questão 58/ Alterna va c/2008. recuperação e reeducação. (NR)

255
Providências Adotadas pela Autoridade Policial • Determinar que se proceda ao exame de corpo de
delito da ofendida e requisitar outros exames peri-
• Colher todas as provas que servirem para o esclare- ciais necessários;
cimento do fato e de suas circunstâncias.
Os ves gios são os rastros, as pistas ou os indícios dei-
Com relação às provas, são admi dos como meios pro- xados por alguém durante a prá ca de uma infração penal.
batórios não só o exame de corpo de delito feito no Ins tuto Nas infrações que deixam ves gios, o exame de corpo
Médico Legal, mas também os laudos ou prontuários médicos de delito, direto ou indireto, con nua sendo indispensável.
fornecidos por hospitais e postos de saúde. São denominados transeuntes os delitos que não dei-
Considerando a importância do tema, faremos uma incur- xam ves gios. Por exemplo, o crime de injúria pra cada de
são sobre “provas” no processo penal, a fim de possibilitar maneira verbal.
um melhor entendimento do assunto. Vejamos: Não transeuntes os que deixam ves gios, como o crime
O princípio cons tucional da inadmissibilidade das provas de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo.
ilícitas no processo penal norteia as a vidades desenvolvidas O corpo de delito vem a ser o conjunto de ves gios
pelas ins tuições estatais responsáveis pela persecução deixados pelo fato criminoso. São os elementos materiais,
criminal. Tal postulado está expresso no art. 5º, LVI da Cons- percep veis pelos nossos sen dos, resultantes de infração
tuição de 1988: penal. É a prova da existência do crime e corresponde ao
conjunto de elementos sicos, materiais, con dos expli-
citamente, na definição do crime, isto é, no modelo legal.
são inadmissíveis, no processo, as provas ob das
Exame de corpo de delito direto: quando há a emissão
por meios ilícitos.
de um laudo pericial atestando a materialidade do delito,
documento realizado pela verificação pessoal feita pelos
A Lei nº 11.690/2008 alterou a redação do art. 157 do peritos.
Código de Processo Penal, sedimentando no texto infracons- O legislador ao impor aos delitos não transeuntes, a ne-
tucional o princípio em estudo: cessidade de provas materiais, periciais, quis buscar a certeza
do crime (materialidade). Porém, como exceção, se houver o
São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do desaparecimento dos ves gios, haverá a supressão por meio
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as ob- de prova testemunhas.
das em violação a normas cons tucionais ou legais. A única fórmula legal válida para preencher a sua falta é
a colheita de depoimentos de testemunhas, nos termos do
Não poderíamos deixar de mencionar que já foi sedi- art. 167 CPP que preconiza que “Não sendo possível o exame
mentado no cenário jurídico brasileiro a Teoria dos Frutos de corpo de delito, por haverem desaparecido os ves gios,
da Árvore Envenenada, conhecida por fruits of the poison’s a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
tree. A redação do § 1º do art. 157 do CPP sinte za o signi- A nova redação do art.159 diz que “o exame de corpo
ficado da regra: de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior”. Todavia, no local
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas onde não houver peritos oficiais, o exame será realizado por
das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso
de causalidade entre umas e outras, ou quando as superior preferencialmente na área específica, dentre as
derivadas puderem ser ob das por uma fonte inde- que verem habilitação técnica relacionada com a natureza
pendente das primeiras. do exame.
Importante salientar que os peritos não oficiais prestarão
Consideram-se provas ilícitas as ob das com violação o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo.
da in midade, da vida privada, da honra, da imagem, do • Ouvir o agressor e as testemunhas;
domicílio e das comunicações, basicamente quando houver Uma vez indiciado formalmente, o interrogatório no
violação a normas jurídicas de direito material. Já as provas âmbito policial é a oportunidade que o agressor tem de se
ilegí mas são aquelas ob das com a violação de normas de dirigir ao Delegado de Polícia, e apresentar sua versão dos
direito processual. fatos imputados, podendo, inclusive indicar meios de prova,
A a vidade-fim da Polícia Judiciária é a coleta de provas confessar, ou até mesmo permanecer em silêncio.
suficientes para que o Órgão Ministerial ou o querelado Testemunha é a pessoa que declara ter conhecimento
fundamentem uma futura peça acusatória. Na busca da elu- do fato criminoso ou algo relacionado a ele. Desde que re-
cidação do fato criminoso, não é possível que a Autoridade gularmente no ficada, a testemunha fará a declaração por
Policial ou seus agentes ajam no arrepio da lei. meio de um depoimento oral.
Na fase inquisitorial, a coleta de uma prova que não ob- A prova testemunhal é um depoimento realizado por
serve as formalidades legais ou que viole normas de direito, uma pessoa que presenciou o fato criminoso. É uma mani-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

festação do conhecimento acerca de um determinado fato.


pode ensejar sua ilicitude.
No processo penal toda pessoa poderá depor, mas não quer
O Delegado de Polícia, diante da ciência de que nos
dizer que irá contribuir efe vamente para a verdade real.
autos do inquérito policial há prova produzida de maneira As testemunhas serão ouvidas separadamente em audi-
ilegal, deverá mandar desentranhá-la quando possível, assim ência, preservando a incomunicabilidade entre elas durante
como as demais nascidas a par r dela, uma vez que se tal todo o procedimento de inquirição, com o fim de garan r
ilicitude for constatada no curso da ação penal, poderá gerar maior fidelidade das provas com a realidade dos fatos.
a responsabilização da Autoridade Policial ou seus agentes Quanto à inquirição das testemunhas o Código de Pro-
por crime de abuso de autoridade, além da absolvição do cesso Penal segue atualmente o sistema conhecido como
acusado por falta de provas, uma que as que embasaram a cross examina on, autorizando a formulação das perguntas
denúncia, serão consideradas ilícitas ou ilegí mas. diretamente as testemunhas.
O juiz avaliará se as perguntas são per nentes, e caso
• Remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas ex- induzam a resposta, não tenham relação com a causa ou se
pediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, forem repe das, não as considerará. Se houver algum ponto
para a concessão de medidas prote vas de urgência; não esclarecido, o juiz poderá complementar a inquirição.

256
A presença do réu durante a inquirição das testemunhas O parágrafo único do mencionado ar go afirma que “será
é obrigatória em homenagem aos princípios do contraditório garan do o direito de preferência, nas varas criminais, para
e da ampla defesa. Caso a sua presença possa prejudicar a o processo e o julgamento das causas referidas no caput”.
verdade ou o desenvolvimento do depoimento (causar hu- No tocante à competência para julgamento de crime
milhação, temor, ou sério constrangimento a testemunha ou doloso contra a vida pra cado em situação de violência do-
ofendido), o juiz fará por videoconferência ou determinará més ca, a fase do sumário da culpa deverá ocorrer na Vara do
a re rada do acusado. A medida será reduzida a termo e Tribunal do Júri e não no JECRIM, como alguns sustentavam.
devidamente jus ficada. O STJ, no HC nº 121.214 / DF, decidiu:

• Ordenar a iden ficação do agressor e fazer juntar aos PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
autos sua folha de antecedentes criminais, indicando QUALIFICADO TENTADO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
a existência de mandado de prisão ou registro de JUIZADO ESPECIAL. COMPETÊNCIA. CONSTRANGI-
outras ocorrências policiais contra ele; MENTO. RECONHECIMENTO.
1. Estabelecendo a Lei de Organização Judiciária
Com relação à expressão “iden ficação do agressor”, local que cabe ao Juiz-Presidente do Tribunal do Júri
podemos afirmar que não se trata da iden ficação criminal, processar os feitos de sua competência, mesmo antes
prevista na Lei nº 12.037/2009, mas sim da coleta de dados do ajuizamento da ação penal, é nulo o processo, por
do agressor tais como filiação, idade, local de nascimento, crime doloso contra a vida – mesmo que em contexto
profissão endereço, naturalidade, nacionalidade etc. de violência domés ca – que corre perante o Juizado
Especial Criminal.
• Remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial 2. Ordem concedida para anular o processo a par r
ao juiz e ao Ministério Público. do recebimento da denúncia, encaminhando-se os
autos para o 1º Tribunal do Júri de Ceilândia/DF, foro
O prazo de conclusão do inquérito policial nos crimes competente para processar e julgar o feito. Ministra
pra cados em situação de violência domés ca segue as MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA SEXTA TURMA
regras do art. 10 do Código de Processo Penal. Data da Publicação/Fonte DJe 8/6/2009.

Competência Híbrida Da Irretroa vidade da Lei Maria da Penha

Dispõe o art. 14 da Lei Maria da Penha: Como a Lei nº 11.340/2006 é mais prejudicial ao acusado
de infração penal pra cada em situação de violência domés-
Art. 14. Os Juizados de Violência Domés ca e Familiar ca, não é possível que ela retroaja para abarcar fatos ocor-
contra a Mulher, órgãos da Jus ça Ordinária com ridos antes de sua edição,senão vejamos o entendimento
competência cível e criminal, poderão ser criados da Sexta turma do STJ:
pela União, no Distrito Federal e nos Territórios,
e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a LEI MARIA DA PENHA. RETROATIVIDADE. JUIZ
execução das causas decorrentes da prá ca de vio- NATURAL.
lência domés ca e familiar contra a mulher. Na espécie, em 2007, a ví ma (ex-esposa do pacien-
te) ajuizou ação penal privada em face do paciente,
Pela leitura do disposi vo anterior se percebe que o le- distribuída a juizado especial criminal, acusando-o
gislador deu aos Juizados de Violência Domés ca e Familiar da prá ca de violência domés ca consistente nos
contra a Mulher competência híbrida para conhecer matérias delitos de injúria e difamação. No entanto, alega-se,
tanto cíveis quanto criminais. na impetração, a incompetência do juizado especial,
O art. 15 da Lei Maria da Penha tem a seguinte redação: visto que a legislação estadual criou, em 2006, juizado
de violência domés ca e familiar contra a mulher
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para com competência específica para conhecer e julgar
os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: processos referentes a esses delitos e, por isso, houve
I – do seu domicílio ou de sua residência; violação do art. 41 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria
II – do lugar do fato em que se baseou a demanda; da Penha). No entanto, o Min. Relator ressaltou que,
III – do domicílio do agressor. indubitavelmente, a Lei Maria da Penha, que contém
disposições de direito penal e de direito processual
Nota-se que a ví ma poderá escolher o foro de seu penal, é mais gravosa do que a Lei nº 9.099/1995 (Lei
domicílio ou de sua residência, o lugar do fato em dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), porque,
que se baseou a demanda ou o domicílio do agressor como cediço, seu art. 41 veda, expressamente, a apli-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

para processá-lo no âmbito cível. cação da Lei dos Juizados Especiais às infrações penais
De outra parte, a regra de fixação de competência come das com violência domés ca e familiar contra
no âmbito criminal segue as regras do Código de a mulher, não admi ndo a concessão de bene cios
Processo Penal peculiares aos crimes de menor potencial ofensivo,
razão pela qual não pode retroagir. Destarte, o art. 5º,
XL, da CF/1988 veda a retroa vidade de lei penal mais
Dispõe ainda o art. 33 desta lei que:
gravosa. Além disso, não se trata de competência
superveniente, visto que os fatos criminosos foram
enquanto não estruturados os Juizados de Violência consumados antes da edição da Lei Maria da Penha,
Domés ca e Familiar contra a Mulher, as varas cri- portanto antes da instalação do juizado de violência
minais acumularão as competências cível e criminal domés ca e familiar contra a mulher. Por isso tudo,
para conhecer e julgar as causas decorrentes da a ordem não pode ser concedida, pois violaria o prin-
prá ca de violência domés ca e familiar contra a cípio do juiz natural, ex vi do art. 5º, LIII, da CF/1988,
mulher, observadas as previsões do Título IV desta Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado
Lei, subsidiada pela legislação processual per nente. do TJ-SP), julgado em 15/6/2010.

257
LEI DE DROGAS LEI Nº 11.343, DE 23 DE e la (lança-perfume). Tratava-se de writ em que se dis-
cu a a ocorrência, ou não, de aboli o criminis quanto
AGOSTO DE 2006
ao cloreto de e la ante a edição de resolução da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa que,
Conceito Legal 8 dias após o haver excluído da lista de substâncias
entorpecentes, novamente o incluíra em tal listagem.
A Lei nº 11.343/2006, que revogou as Leis nos 6.368/1976 Inicialmente, assinalou-se que o Brasil adota o sistema
e 10.409/2002, institui o Sistema Nacional de Políticas de enumeração legal das substâncias entorpecentes
Públicas sobre Drogas – Sisnad, prescreve medidas para para a complementação do po penal em branco
prevenção do uso indevido, atenção, reinserção social de rela vo ao tráfico de entorpecentes. Acrescentou-se
usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para que o art. 36 da Lei nº 6.368/1976 (vigente à época
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de dos fatos) determinava fossem consideradas entor-
drogas e define crimes. pecentes, ou capazes de determinar dependência
Consideram-se drogas as substâncias ou os produtos sica ou psíquica, as substâncias que assim vessem
capazes de causar dependência, assim especificados em lei sido especificadas em lei ou ato do Serviço Nacional
ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo de Fiscalização da Medicina e Farmácia do Ministério
Poder Execu vo da União. da Saúde – sucedida pela Anvisa. Consignou-se que
o problema surgira com a Resolução Anvisa RDC
Norma Penal em Branco nº 104, de 7/12/2000, que re rara o cloreto de e la
da Lista F2 – lista das substâncias psicotrópicas de
Para efeitos de aplicação desta lei, será considerada uso proscrito no Brasil, da Portaria SVS/MS nº 344,
droga àquela substância que es ver na Portaria SVS/MS de 12/5/1998 – para incluí-lo na Lista D2 – lista de
nº 344, de 12 de maio de 1998. insumos u lizados como precursores para fabrica-
Dessa forma, afirma-se que a Lei nº 11.343/2006 é uma ção e síntese de entorpecentes e/ou psicotrópicos.
norma penal em branco heterogênea, pois necessita de outra Ocorre que aquela primeira resolução fora editada
norma para ter eficácia. Senão vejamos: pelo diretor-presidente da Anvisa, ad referendum da
diretoria colegiada (Decreto nº 3.029/1999, art. 13,
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do IV), não sendo tal ato referendado, o que ensejara a
art. 1º desta lei, até que seja atualizada a terminolo- reedição da Resolução nº 104, cujo novo texto inserira
gia da lista mencionada no preceito, denominam-se o cloreto de e la na lista de substâncias psicotrópicas
drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, (15/12/2000).
precursoras e outras sob controle especial, da Por- [...]Aduziu-se que o fato de a primeira versão da Reso-
taria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998. lução Anvisa RDC nº 104 não ter sido posteriormente
referendada pelo órgão colegiado não lhe afastaria
Aboli o Criminis a vigência entre sua publicação no Diário Oficial da
União – DOU e a realização da sessão plenária, uma
Caso ocorra alguma alteração na lista publicada pelo vez que não se cuidaria de ato administra vo comple-
Poder Execu vo, re rando desta um composto químico ou xo, e sim de ato simples, mas com caráter precário,
droga, haverá incidência da causa ex n va da punibilidade decorrente da vontade de um único órgão – Diretoria
chamada aboli o criminis. da Anvisa – , representado, excepcionalmente, por
Assim, imagine a seguinte situação: no dia 1º/3/1984, seu diretor-presidente. Salientou-se que o propósito
Jorge foi preso em flagrante por ter vendido lança-perfu- da norma regimental do citado órgão seria assegurar
me – cloreto de e la – , substância considerada entorpe- ao diretor-presidente a vigência imediata do ato,
cente por portaria do Ministério da Saúde de 27/1/1983. nas hipóteses em que aguardar a reunião do órgão
Todavia, no dia 4/4/1984, houve publicação de nova colegiado lhes pudesse fulminar a u lidade. Por
portaria daquele Ministério excluindo o cloreto de e la conseguinte, assentou-se que, sendo formalmente
do rol de substâncias entorpecentes. Posteriormente, em válida, a resolução editada pelo diretor-presidente
13/3/1985, foi publicada outra portaria do Ministério da produzirá efeitos até a republicação, com texto ab-
Saúde, incluindo novamente a referida substância naquela solutamente diverso. Repeliu-se a fundamentação
lista. Nesta situação, de acordo com o entendimento do STF, da decisão impugnada no sen do de que faltaria
ocorreu a chamada aboliƟo criminis, e Jorge, em 4/4/1984, ao ato pra cado pelo diretor-presidente o requisito
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

deveria ter sido posto em liberdade, não havendo retro- de urgência, dado que a mera leitura do preâmbulo
ação da portaria de 13/3/1985, em face do princípio da da resolução confirmaria a presença desse pres-
irretroa vidade da lei penal mais severa.1 suposto e que a primeira edição da resolução não
Recentemente o STF decidiu: fora objeto de impugnação judicial, não tendo sua
legalidade diretamente ques onada. Assim, diante
AboliƟo Criminis e Cloreto de E la – 1 da repercussão do ato administra vo na picidade
penal e, em homenagem ao princípio da legalidade
A Turma deferiu habeas corpus para declarar ex nta penal, considerou-se que a manutenção do ato seria
a punibilidade de denunciado pela suposta prá ca do menos prejudicial ao interesse público do que a sua
delito de tráfico ilícito de substância entorpecente (Lei invalidação. Rejeitou-se, também, a ocorrência de
nº 6.368/1976, art. 12) em razão de ter sido flagrado, erro material, corrigido pela nova edição da resolu-
em 18/2/1998, comercializando frascos de cloreto de ção, a qual significará, para efeitos do art. 12 da Lei
nº 6.368/1976, conferir novo sen do à expressão
1
Cespe/Delegado Federal/2004. “substância entorpecente ou que determine de-

258
pendência sica ou psíquica, sem autorização ou em Se houver descumprimento das penas mencionadas,
desacordo com determinação legal ou regulamentar”, também não haverá conversão em priva va de liberdade,
elemento da norma penal incriminadora. Concluiu-se mas sim sucessivamente admoestação verbal e multa.
que atribuir eficácia retroa va à nova redação da O crime de porte de droga para uso próprio é delito que
Resolução Anvisa RDC nº 104 – que tornou a definir se caracteriza por ser misto alternaƟvo,5 ou seja, o crime
o cloreto de e la como substância psicotrópica – re- será único, ainda que o agente praƟque mais de uma das
presentaria flagrante violação ao art. 5º, XL, da CF. ações indicadas.
Em suma, assentou-se que, a par r de 7/12/2000
até 15/12/2000, o consumo, o porte ou o tráfico da Retroa vidade da Lei
aludida substância já não seriam alcançados pela
Lei de Drogas e, tendo em conta a disposição da lei Em relação à reprimenda aplicada ao usuário de drogas,
cons tucional mais benéfica, que se deveria julgar a Lei nº 11.343/2006 é mais benéfica e assim retroage em
ex nta a punibilidade dos agentes que pra caram
bene cio do réu que foi condenado com base na an ga Lei
quaisquer daquelas condutas antes de 7/12/2000.
nº 6.368/1976.
HC nº 94.397/BA, rel. Min. Cezar Peluso, 2ª Turma,
Cul var plantas des nadas à preparação de drogas para
9/3/2010. (HC-94.397).
uso próprio é crime, segundo a Lei de Tóxicos.6
Senão vejamos o que dispõe o § 1º do art. 28 da lei em
Objeto Jurídico nos Crimes Previstos na Lei de estudo:
Drogas
[...] mesmas medidas submete-se quem, para seu
O bem protegido pelo Direito Penal ao incriminar condu- consumo pessoal, semeia, cul va ou colhe plantas
tas relacionadas às drogas que causam dependência sica e des nadas à preparação de pequena quan dade de
química é a saúde cole va. Os crimes previstos no art. 35 da substância ou produto capaz de causar dependência
Lei de Drogas protegem também a paz pública.
sica ou psíquica. (Grifo Nosso)
Elemento Subje vo nos crimes previstos na Lei Antes da edição da Lei nº 11.343/2006, não havia norma
de Drogas que disciplinasse o assunto. Na época em que vigeu a Lei
nº 6.368/1976, surgiram três correntes sobre o tema: 1) a
Os crimes previstos na Lei de Drogas são dolosos, salvo conduta seria de tráfico de drogas, 2) outra sustentava que
o crime previsto no art. 38, que é culposo. seria porte de droga para uso próprio, 3) por fim que o fato
era a pico.
Do Crime de Porte de Droga para uso Próprio Assim, se o agente semear, cul var e, posteriormente,
fizer a colheita de plantas des nadas à preparação de entor-
O famigerado art. 16 da Lei nº 6.368/1976, que era ape- pecente, em um mesmo contexto fá co, ele não responderá
nado com detenção de 6 meses a 2 anos, deu lugar ao crime pelo concurso material dos respecƟvos delitos.7
previsto no art. 28 da Lei de Drogas. Se o plan o for para fins de produção de droga para
É o revogado e famigerado art. 16 da Lei nº 6.368/1976, difusão ilícita, estará configurado o crime do art. 33, § 1º,
que era apenado com detenção de até 2 anos. II, da Lei de Drogas.
Aquele que adquirir, guardar, ver em depósito, trans-
portar ou trouxer consigo2, para consumo pessoal, drogas
sem autorização ou em desacordo com determinação legal Descriminalização do Porte de Drogas Para Uso
ou regulamentar, está cometendo uma infração penal. Próprio
Desde a edição da novíssima Lei de Drogas, não se pune
o usuário de drogas com pena priva va de liberdade, mas Houve descriminalização da conduta prevista no art. 28
sim com as seguintes penas: I – advertência, II – prestação da Lei de Drogas? Segundo o STF, não houve descriminaliza-
de serviços à comunidade, III – comparecimento a curso ção, mas sim despenalização, ou seja, não se aplicam penas
educa vo. priva vas de liberdade.
Considere que determinado indivíduo, ao ser abor- Para o STF, con nua sendo crime e não infração admi-
dado por policiais em via pública, trazia consigo pequena nistra va contra a saúde pública.
quan dade de maconha, para consumo pessoal. Nessa Vale lembrar que não estamos diante de uma causa
situação, após o devido processo legal, o indivíduo poderá prevista no art. 107, III, do Código Penal – “retroa vidade de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ser subme do às penas de advertência acerca dos efeitos lei que não mais considera o fato como criminoso”, ou seja,
das drogas, a prestação de serviços à comunidade3 ou uma causa de aboliƟo criminis8. Considera-se que a conduta
a medida educa va de comparecimento a programa ou do uso de substâncias entorpecentes con nua sendo crime
curso educa vo4. sob a égide da lei nova, tendo ocorrido, isto sim, uma des-
As duas úl mas podem ter pena máxima de 5 meses, se penalização9, cuja caracterís ca marcante seria a exclusão
o indivíduo for primário, e, se reincidente, de até 10 meses. de penas priva vas de liberdade como sanção principal ou
Tais penas prescrevem em dois anos, por expressa dis-
5
posição legal. Tema cobrado na prova do NCE/UFRJ/Polícia Civil do DF/Agente de Polí-
cia/2004.
6
Cespe/1º Exame da Ordem/1ª Fase/2006 (Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará,
2
Tema cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2004. Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito
3
Tema cobrado na prova da Vunesp/OAB-SP/131º Exame e UEG/Agência Santo).
7
Prisional/2002. Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-DF/2003/Nível Superior/Analista
4
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Governo do Estado do Espírito Judiciário/Área Judiciária/A vidade Processual.
8
Santo/Secretaria de Jus ça/Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário/Nível Tema cobrado na prova do Cespe/OAB-SP/Exame 135/2008.
9
Médio/2007; Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário e Segurança/ Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Supremo Tribunal Federal/Analista
Nível Médio/2007. Judiciário/Área Judiciária/2008.

259
subs tu va da infração penal, conforme já decidiu o Colendo lastreando seu convencimento no fato de que a Lei de Intro-
STF (RE nº 430.105 QO/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª dução ao Código Penal brasileiro, em seu art. 1º dispõe que:
Turma, 13/2/2007, Informa vo nº 456/STF).
Considera-se crime a infração penal a que a lei comina
A Turma, resolvendo questão de ordem no sen do pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente,
de que o art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (Nova Lei de quer alterna va ou cumula vamente com a pena de
Tóxicos) não implicou aboli o criminis do delito de multa; contravenção, a infração a que a lei comina,
posse de drogas para consumo pessoal, então previs- isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
to no art. 16 da Lei nº 6.368/1976, julgou prejudicado ou ambas, alterna va ou cumula vamente.
recurso extraordinário em que o Ministério Público
do Estado do Rio de Janeiro alegava a incompetên- Segue o jurista:
cia dos juizados especiais para processar e julgar
conduta capitulada no art. 16 da Lei nº 6.368/1976. Ora, se legalmente (no Brasil) ‘crime’ é a infração
Considerou-se que a conduta antes descrita neste penal punida com reclusão ou detenção (quer isola-
ar go con nua sendo crime sob a égide da lei nova, da ou cumula va ou alterna vamente com multa),
tendo ocorrido, isto sim, uma despenalização, cuja não há dúvida que a posse de droga para consumo
caracterís ca marcante seria a exclusão de penas pessoal (com a nova Lei) deixou de ser ‘crime’ porque
priva vas de liberdade como sanção principal ou as sanções impostas para essa conduta (advertência,
subs tu va da infração penal. Afastou-se, também, prestação de serviços à comunidade e comparecimen-
o entendimento de parte da doutrina de que o fato, to a programas educa vos – art. 28) não conduzem
agora, cons tuir-se-ia infração penal sui generis10, a nenhum po de prisão. Aliás, justamente por isso,
pois esta posição acarretaria sérias consequências, tampouco essa conduta passou a ser contravenção
tais como a impossibilidade de a conduta ser enqua- penal (que se caracteriza pela imposição de prisão
drada como ato infracional, já que não seria crime simples ou multa). Em outras palavras: a nova Lei de
nem contravenção penal, e a dificuldade na definição Drogas, no art. 28, descriminalizou a conduta da posse
de droga para consumo pessoal. Re rou-lhe a e queta
de seu regime jurídico. Ademais, rejeitou-se o argu-
de ‘infração penal’ porque de modo algum permite
mento de que o art. 1º do Decreto-Lei nº 3.914/1941
a pena de prisão. E sem pena de prisão não se pode
(Lei de Introdução ao Código Penal e à Lei de Contra-
admi r a existência de infração ‘penal’ no nosso País.
venções Penais) seria óbice a que a novel lei criasse
crime sem a imposição de pena de reclusão ou de
E arremata: “Diante de tudo quanto foi exposto, conclui-
detenção, uma vez que esse dispositivo apenas
-se que a posse de droga para consumo pessoal passou a
estabelece critério para a dis nção entre crime e
configurar uma infração sui generis”.
contravenção, o que não impediria que lei ordinária
O entendimento do Supremo enfraqueceu a corrente
superveniente adotasse outros requisitos gerais de
doutrinária que afirmava que o fato seria uma infração sui
diferenciação ou escolhesse para determinado delito
generis11.
pena diversa da privação ou restrição da liberdade. Também podemos afirmar que o crime de porte de droga
Aduziu-se, ainda, que, embora os termos da Nova Lei para uso próprio não é contravenção12.
de Tóxicos não sejam inequívocos, não se poderia par- Por fim, vale lembrar, que o Plenário do STF, à unanimi-
r da premissa de mero equívoco na colocação das dade, reconheceu a legi midade da “marcha da maconha”
infrações rela vas ao usuário em capítulo chamado que está amparada nos direitos cons tucionais de reunião e
“Dos Crimes e das Penas”. Por outro lado, salientou-se de livre expressão do pensamento. A decisão foi tomada no
a previsão, como regra geral, do rito processual esta- julgamento da ADPD nº 187, que deu interpretação, confor-
belecido pela Lei nº 9.099/1995. Por fim, tendo em me à Cons tuição, ao art. 287 do Código Penal.
conta que o art. 30 da Lei nº 11.343/2006 fixou em
2 anos o prazo de prescrição da pretensão puni va Procedimento de Apuração do Crime de Porte de
e que já transcorrera tempo superior a esse perío-
do, sem qualquer causa interrup va da prescrição,
Droga para Uso Próprio
reconheceu-se a ex nção da punibilidade do fato e,
O crime previsto no art. 28 da Lei de Drogas será apu-
em consequência, concluiu-se pela perda de objeto
rado mediante termo circunstanciado. É crime de menor
do recurso extraordinário. (Grifo Nosso)
potencial ofensivo.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Compete aos Juizados Especiais Criminais o julgamento


Renato Marcão, em texto extraído da internet em 28 de
das infrações penais de menor potencial ofensivo.
janeiro de 2011, nos ensina que:
Todas as contravenções
Uma das questões propostas pela nova Lei de Tóxicos
determina saber se ocorreu ou não descriminaliza- Infração de Menor
ção, diante do novo tratamento penal conferido às Potencial Ofensivo
Crimes cuja pena máxima
condutas reguladas no art. 28 (caput e § 1º).
é de até 2 anos
Luiz Flávio Gomes foi quem primeiro escreveu sobre o
A Lei nº 9.099/1995 veio regulamentar o art. 98, I, da
assunto.
CF. Num primeiro momento, eram consideradas infrações
Entende o jurista que “o legislador aboliu o caráter
penais de menor potencial ofensivo os crimes cuja pena
‘criminoso’ da posse de drogas para consumo pessoal” [1],
11
Tema cobrado na prova do Cespe/OAB-SP/Exame 135/2008.
10 12
Tema cobrado na prova do Cespe/OAB-SP/Exame 135/2008. Tema cobrado na prova do Cespe/OAB-SP/Exame 135/2008.

260
máxima era de 1 ano e as contravenções que não possuíssem Corroboramos nosso posicionamento colacionando
procedimento diferenciado (ex.: jogo do bicho). Nesta épo- decisão do Supremo Tribunal Federal, em um processo da
ca, o porte de drogas para uso próprio não era considerado Jus ça Militar:
infração penal de menor potencial ofensivo.
Em 2001, foi editada a Lei dos Juizados Especiais Crimi- STF – HC nº 91.759/MG (1ª Turma)
nais, que diz que as infrações de menor potencial ofensivo Ementa: Habeas corpus. Cons tucional. Penal Militar
são os crimes cuja pena máxima é de até dois anos. Surgiu e Processual Penal Militar. Porte de substância en-
então uma divergência se era possível a aplicação da Lei dos torpecente em lugar sujeito à administração militar
Juizados Especiais Federais no âmbito da Jus ça Estadual. (art. 290 do CPM). Não aplicação do princípio da
Surge o ques onamento se o crime de porte de drogas insignificância aos crimes relacionados a entorpe-
para uso próprio seria de competência do Juizado. O STJ centes. Precedentes. Incons tucionalidade e revoga-
manifestou-se favoravelmente quanto à possibilidade da ção tácita do art. 290 do Código Penal Militar. Não
aplicação da Lei dos Juizados Criminais Federais ao delito ocorrência. Precedentes. Habeas corpus denegado.
de uso de entorpecentes13, na época em que vigorava a Lei 1. É pacífica a jurisprudência desta Corte Suprema no
nº 6.368/1976. sen do de não ser aplicável o princípio da insignifi-
Prevaleceu o entendimento que era possível a aplicação cância ou bagatela aos crimes relacionados a entor-
do JECF (Juizado Especial Criminal Federal) no âmbito da pecentes, seja qual for a qualidade do condenado.
Jus ça Estadual. No ano de 2006, a divergência foi sanada 2. Não há relevância na arguição de incons tucio-
com a edição da Lei nº 11.343/2006, que alterou o art. 61 nalidade considerando o princípio da especialidade,
da Lei nº 9.099/1995. aplicável, no caso, diante da jurisprudência da Corte.
3. Não houve revogação tácita do art. 290 do Código
Termo circunstanciado Penal Militar pela Lei nº 11.343/2006, que estabele-
O termo circunstanciado (art. 69 da Lei nº 9.099/1995) é ceu o Sistema Nacional de Polí cas Públicas sobre
um procedimento administra vo inquisi vo, presidido pela Drogas, bem como normas de prevenção ao consumo
autoridade policial que visa a apuração das infrações penais e repressão à produção e ao tráfico de entorpecentes,
de menor potencial ofensivo. com destaque para o art. 28, que afasta a imposição
de pena priva va de liberdade ao usuário. Aplica-se
Procedimento de apuração à espécie o princípio da especialidade, não havendo
O usuário de drogas será conduzido à delegacia, onde razão para se cogitar de retroa vidade da lei penal
será registrada ocorrência e lavrado termo circunstanciado. mais benéfica. 4. Habeas corpus denegado e liminar
Após a lavratura do termo circunstanciado, o usuário será cassada. (Grifo Nosso)
encaminhado ao Juizado Especial Criminal. Se não for pos-
sível o encaminhamento do usuário ao juizado, ele assinará O Pleno do STF reafirma que insignificância não se aplica
termo de compromisso de comparecimento e, em seguida, a porte de drogas em estabelecimento militar, conforme no-
será liberado. O termo de compromisso faz parte do termo cia veiculada no site www.s .gov.br, acesso em 11/11/2010,
circunstanciado. quinta-feira:
Se o usuário de drogas se recusar a assinar o termo de
compromisso, mesmo assim será liberado, pois é proibida O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reafir-
a sua detenção. Ele não será sujeito a vo do auto de prisão mou seu entendimento de que a posse de reduzida
em flagrante. quan dade de substância entorpecente por militar,
Assim, se, após consumir por inteiro um cigarro conten- em unidade sob administração castrense, não permi-
do substância entorpecente, um indivíduo for preso por te a aplicação do chamado princípio da insignificância
policiais e levado à delegacia mais próxima, não deverá ser penal. A decisão foi tomada no julgamento do Habeas
lavrado auto de prisão em flagrante pela prá ca do crime Corpus (HC) nº 94.685, ajuizado na Corte em favor
de porte de drogas.14 de um ex-soldado do exército, condenado a um ano
de prisão pelo porte de 3,8 gramas de maconha no
Transação Penal e o Crime de Porte de Drogas quartel em que cumpria serviço militar obrigatório.
para Uso Próprio Os ministros confirmaram, nesta tarde (11), a decisão
tomada pelo Plenário em 21 de outubro deste ano,
No juizado, será realizada a audiência preliminar para a no julgamento do HC nº 103.684, que tratava do
propositura da transação penal e assim o Ministério Público mesmo tema. Na oportunidade, por maioria de votos,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

poderá propor a aplicação imediata das penas previstas no os ministros entenderam que seria inaplicável a tese
art. 28 da Lei de Drogas. da insignificância no âmbito das relações militares.
Se não houver êxito no acordo, a denúncia será ofere- E ainda que a legislação especial – o Código Penal
cida verbalmente na própria audiência, observando-se em Militar – prevalece sobre a lei comum, a nova lei de
seguida, o rito sumariíssimo do art. 77 da Lei nº 9.099/1995. tóxicos (Lei nº 11.343/2006). Para os ministros, as
relações militares são dominadas pela disciplina e
Princípio da Insignificância hierarquia. No início do julgamento do HC nº 94.685,
em outubro de 2008, a relatora do caso, ministra Ellen
Sustentamos que não se aplica o Princípio da Insignifi- Gracie, considerou que o porte de droga, mesmo que
cância no delito de porte de uso próprio, apesar de exis rem para consumo pessoal, é prejudicial e perigoso nas
diversos entendimentos em contrário. Forças Armadas. A ministra entendeu, na ocasião, que
um julgamento favorável ao réu poderia fragilizar as
13
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs- ins tuições militares e lembrou que a Lei de Tóxicos
tuto/2006 e Vunesp/OAB-SP/131º Exame.
14
Tema cobrado na prova do Cespe/Polícia Civil-RR/Agente de Polícia/2003. não revogou o art. 290, do Código Penal Militar, que

261
trata do uso, porte ou tráfico de entorpecentes em ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescre-
lugar sujeito à administração militar. No julgamento ver, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
do HC nº 94.685, ficou vencido apenas o ministro que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
(aposentado) Eros Grau. determinação legal ou regulamentar, estará incorrendo no
crime pificado no art. 33 desta lei, tráfico ilícito de drogas.
Cumpre ressaltar que a 1ª Turma do STF, no começo
de 2012, entendeu ser cabível a aplicação do princípio da Trata-se de um delito que se caracteriza por ser misto
insignificância ao crime de porte de droga para uso próprio: alternaƟvo,17 ou seja, a pessoa responderá por um crime,
ainda que o agente pra que mais de uma das ações.
Ao aplicar o princípio da insignificância, a 1ª Turma Cumpre apenas mencionar recente decisão da Quinta
concedeu habeas corpus para trancar procedimento Turma do STJ, sustentando a ocorrência de con nuidade
penal instaurado contra o réu e invalidar todos os atos deli va no caso da prá ca de vários crimes de tráfico:
processuais, desde a denúncia até a condenação, por
ausência de picidade material da conduta imputada. TRÁFICO. DROGAS. CONTINUIDADE DELITIVA
No caso, o paciente fora condenado, com fulcro no Com referência ao crime de tráfico de drogas, a
art. 28, caput, da Lei nº 11.343/2006, à pena de 3 Turma, por maioria, entendeu, entre outros tópicos,
meses e 15 dias de prestação de serviços à comuni- que a jurisprudência do STJ é pacífica quanto a per-
dade por portar 0,6 g de maconha. Destacou-se que mi r o aumento de pena pela con nuidade deli va
a incidência do postulado da insignificância, de modo ao se levar em conta o número de infrações. Assim,
a tornar a conduta a pica, exigiria o preenchimento na hipótese, de quatro delitos, entendeu correta a
concomitante dos seguintes requisitos: mínima ofen- exacerbação da pena em um quarto em razão do
sividade da conduta do agente; nenhuma periculosi-
crime con nuado. O voto divergente do Min. Jorge
dade social da ação; reduzido grau de reprovabilidade
Mussi entendia não ser possível aplicar ao delito de
do comportamento; e inexpressividade da lesão jurí-
tráfico de drogas a figura do crime con nuado em
dica provocada. Consignou-se que o sistema jurídico
razão de sua natureza de crime permanente. O Min.
exigiria considerar a relevan ssima circunstância de
Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador
que a privação da liberdade e a restrição de direitos
convocado do TJ-AP) acompanhou a maioria com
do indivíduo somente se jus ficariam quando estrita-
ressalvas. Precedentes citados: HC nº 112.087-SP; HC
mente necessárias à própria proteção das pessoas, da
sociedade e de outros bens jurídicos que lhes fossem nº 125.013-MS, DJe 30/11/2009; HC nº 106.027-RS,
essenciais, notadamente naqueles casos em que os DJe 23/8/2010; HC nº 103.977-SP, DJe 6/4/2009; HC
valores penalmente tutelados se expusessem a dano, nº 44.229-RJ, DJ
efe vo ou potencial, impregnado de significa va le-
sividade. Deste modo, o direito penal não deveria se Exemplos
ocupar de condutas que produzissem resultados cujo 1) Pedro e José prepararam e guardaram em depósito,
desvalor — por não importar em lesão significa va a para fins de difusão ilícita, aproximadamente 13.410g de
bens jurídicos relevantes — não representaria, por merla e 2.830g de cocaína. Ambos foram autuados em fla-
isso mesmo, expressivo prejuízo, seja ao tular do grante delito. Na situação hipoté ca descrita, o po penal
bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria pode ser classificado como composto.18
ordem social. HC nº 110.475/SC, rel. Min. Dias Toffoli, 2) Assim, imaginemos que um traficante de drogas
14/2/2012. (HC nº 110.475) comprou dois quilos de cocaína e, em seguida, vendeu a
metade do entorpecente, retendo em depósito um quilo
Em relação ao crime de tráfico de drogas, cumpre men- da droga para posterior consumo e venda. Nessa situação,
cionar recente decisão da Quinta Turma do STJ: observa-se que várias condutas picas evidenciam o tráfico
de entorpecentes, conforme pificado na legislação espe-
PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. TRÁFICO. DROGAS. cífica e, assim, no caso em apreço, o agente responderá
Conforme precedentes, não se aplica o princípio da apenas pelo delito de tráfico ilícito de entorpecentes, sem
insignificância ao delito de tráfico de drogas, visto caracterizar qualquer po de con nuação deli va.19
se tratar de crime de perigo abstrato ou presumido. Ainda com relação ao tráfico, mesmo ausente a intenção
Dessarte, é irrelevante para esse específico fim a de lucro com a alienação do entorpecente, pode ocorrer a
quan dade de droga apreendida. Precedentes cita- imputação penal por tráfico, que não contém tal elementar
dos do STF: HC nº 88.820-BA, DJ 19/12/2006; HC nº em seu po.20
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

87.319-PE, DJ 15/12/2006; do STJ: HC nº 113.757-SP, Em determinadas condutas, será possível a figura tenta-
DJe 9/2/2009; HC nº 81.590-BA, DJe 3/11/2008; HC da, por exemplo, vender. Porém, em algumas outras, como
nº 79.661-RS, DJe 4/8/2008, e HC nº 55.816-AM, DJ expor à venda, não será possível a tenta va.
11/12/2006. HC nº 122.682-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Exemplo: Alexandre, funcionário público federal, expu-
julgado em 18/11/2010. nha à venda, em uma via pública, oferecendo aos transeun-
tes que passavam, papelotes de 10g contendo a substância
Tráfico de Drogas 17
Tema cobrado na prova do NCE/UFRJ/Polícia Civil do DF/Agente de Polí-
cia/2004.
Aquele que “importar, exportar, remeter, preparar, pro- 18
Cespe/OAB-SP/135 Exame/2008.
19
duzir, fabricar, adquirir, vender15, expor à venda, oferecer”16, Tema cobrado na prova do Cespe/MPE-TO/Analista Ministerial/Ciências
Jurídicas/Nível Superior/2006.
20
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF-4ª Região/Juiz Federal
15
Cespe/TJ-RR/Oficial de Jus ça/2001. Subs tuto/2005; Cespe/3º Exame da Ordem/1ª Fase/2006 (Alagoas, Ama-
16
Tema cobrado na prova do NCE/UFRJ/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio zonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba,
de Janeiro/2001. Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte).

262
cannabis saƟva, vulgarmente conhecida por maconha. Comentários ao art. 33, § 4º, da Lei de Drogas
A polícia foi comunicada do fato, mas não compareceu ao
local. Antes de ele efe var qualquer venda, alguns pedes- Rege o § 4º do art. 33:
tres efetuaram a prisão de Alexandre, encaminhando-o à
superintendência da Polícia Federal. Neste caso, Alexandre Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste ar go,
praƟcou o crime de tráfico ilícito de entorpecentes, na sua as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
forma consumada, mesmo não chegando a comercializar a terços, vedada a conversão em penas restri vas de
substância entorpecente difundindo-a ilicitamente.21 direitos, desde que o agente seja primário, de bons
No que tange ao verbo “prescrever”, tratado no ar go antecedentes, não se dedique às a vidades crimino-
supra, afirma-se que se trata de um crime próprio, ou seja, sas nem integre organização criminosa.
apenas médico ou den stas poderiam cometê-lo.
O tráfico de drogas é um crime permanente. Assim, em É uma novidade no ordenamento jurídico. Quando o
algumas condutas referentes ao tráfico ilícito de substância traficante for primário, de bons antecedentes, não se dedi-
entorpecente em que o agente tem em depósito ou guarda car a a vidades criminosas nem pertencer a organizações
consigo entorpecente para comercialização, é possível a criminosas, ele poderá receber o bene cio de redução de
autuação do agente em flagrante e a qualquer tempo, pois, pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas. Porém o fato
nesta hipótese, a consumação do delito prolonga-se no de incidir tal norma não faz com que o tráfico deixe de ser
tempo, dependendo da vontade do agente. 22 considerado crime equiparado ao hediondo.
Se o morador, após abordado por agentes policiais nas Nesse sen do está a jurisprudência do STJ:
proximidades de sua residência, lhes franqueia o ingresso
no imóvel em que reside, onde é encontrado e apreendido TRÁFICO. DIMINUIÇÃO. PENA. HEDIONDEZ.
material entorpecente, não há que se falar em prova ilícita
a pretexto de invasão de domicílio sem o devido mandado O crime de tráfico de drogas (caput e § 1º do art. 33
judicial.23 da Lei nº 11.343/2006), por expressa disposição cons-
tucional (art. 5º, XLIII, da CF/1988), é figura equipa-
Figura Equiparada ao Tráfico rada, sem ressalvas, aos crimes hediondos tal como
definidos em lei (Lei nº 8.072/1990), daí se sujeitar ao
Vejamos o que dispõe o inciso III do § 1º do art. 33 da tratamento dispensado a esses crimes. Assim, não se
lei em estudo: jus fica afastar essa equiparação pelo só mo vo de
que incidente a causa especial de diminuição de pena
III – u liza local ou bem de qualquer natureza de que prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, pois
tem a propriedade, posse, administração, guarda ou tal incidência não implica desconsiderar as razões
vigilância, ou consente que outrem dele se u lize, que levaram o próprio texto cons tucional a prever
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em tratamento rigoroso ao tráfico. Acrescente-se que a
desacordo com determinação legal ou regulamentar, vedação à subs tuição da pena priva va de liberdade
para o tráfico ilícito de drogas. por restri va de direitos, também prevista no § 4º do
referido ar go de lei, presta-se a demonstrar que a
previsão da redução da pena não afasta o caráter he-
É um crime próprio, tendo em vista que apenas incorrerá
diondo do crime. Nem sequer o alegado paralelo com
neste delito aquele que tem a propriedade, posse, adminis-
o homicídio privilegiado mostra-se per nente, visto
tração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele
que, contrariamente ao que ocorre nos crimes contra
se u lize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
a vida, no impropriamente nominado “tráfico privi-
desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o
legiado”, as circunstâncias que se consideram para
tráfico ilícito de drogas.
diminuir a pena não têm o condão de mi gar o juízo
Desta forma, se o dono de um imóvel consen r que
de reprovação incidente sobre a conduta de traficar: a
nele se consumam ilegalmente substâncias entorpecentes,
aplicação da referida causa de diminuição da pena do
não estará sujeito às penas previstas para o tráfico dessas
tráfico interfere na quan dade da pena, não na quali-
substâncias24.
ficação ou natureza do malsinado crime. Sendo assim,
Para que haja a configuração do crime em estudo,
na hipótese em questão, é descabida a pretensão de
a pessoa, proprietária de um imóvel deve consen r que nele
subs tuir a pena priva va de liberdade por restri va
trafiquem drogas, pois se houver o consen mento para que
de direitos, bem como de fixar o regime inicial aberto
se consumam substâncias entorpecentes restará configurado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

(arts. 33, § 4º, e 44 da Lei nº 11.343/2006 e art. 2º,


outro crime.
§ 1º, da Lei nº 8.072/1990). Precedentes citados do
O local pode ser imóvel ou móvel: embarcação, veículo,
STF: liminar no HC nº 102.881-SC, DJe 11/3/2010;
aeronave. Não há necessidade de o agente ser o dono do
do STJ: HC nº 143.361-SP, 5ª Turma, DJe 8/3/2010.
local u lizado para o tráfico, bastando que tenha a posse ou
HC nº 149.942-MG, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma,
simples administração, guarda ou vigilância da droga (crime
julgado em 6/4/2010.
autônomo).
Vale ressaltar que o Magistrado, ao conceder o bene-
cio em tela, deverá se ater a quan dade de drogas
apreendida, senão vejamos o que nos traz o informa-
21
Tema cobrado na prova do Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia vo nº 441 do STJ: Em atenção à própria finalidade
Federal/2002.
22
Cespe/Governo do Estado do Espírito Santo/Secretaria de Jus ça/Agente de da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) – repressão
23
Escolta e Vigilância Penitenciário/Nível Médio/2007. ao tráfico ilícito de entorpecentes, a quan dade e a
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público de 2ª Categoria/2001.
24
Cespe/Ministério da Jus ça/Departamento de Polícia Federal/Escrivão de
variedade da droga traficada devem ser consideradas
Polícia Federal/2002. na fixação da pena-base. Contudo, isso não impede

263
que também sejam consideradas para apurar o grau 4 – Ordem concedida no (HC nº 93.394 / DF, Min.
da redução previsto no § 4º do art. 33 daquele mesmo Jane Silva, julg. em 26/2/2008).
diploma. Precedentes citados: HC nº 121.666-MS,
DJe 31/8/2009; HC nº 140.743-MS, DJe 23/11/2009, De outra parte, o STJ decidiu:
e HCnº 133.789-MG, DJe 5/10/2009. HC nº 142.368-
MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 5/8/2010. O paciente foi condenado à pena defini va de sete
anos de reclusão em regime fechado e multa por
Vale ressaltar que o Magistrado, ao conceder o bene cio infração ao art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006.
em tela, deverá se ater a quan dade de drogas apreendida, Sustenta a impetração a ausência de fundamentação
senão vejamos o que nos traz o informa vo nº 441 do STJ: concreta para manutenção da pena-base acima do
mínimo legal, alega que processos em andamento fo-
Em atenção à própria finalidade da Lei de Drogas ram considerados como antecedentes criminais e que
(Lei nº 11.343/2006) – repressão ao tráfico ilícito de deve ser aplicada a causa de diminuição prevista no
entorpecentes –, a quan dade e a variedade da droga art. 33, § 4º, da mencionada lei. Para o Min. Relator, a
traficada devem ser consideradas na fixação da pena- elevada quan dade da droga (157,3 kg de maconha)
-base. Contudo, isso não impede que também sejam é fundamento suficiente, no caso, para a manutenção
consideradas para apurar o grau da redução previsto da pena-base tal como fixada pela sentença e confir-
no § 4º do art. 33 daquele mesmo diploma. Prece- mada pelo acórdão recorrido. Na hipótese, a exacer-
dentes citados: HC nº 121.666-MS, DJe 31/8/2009; bação da pena-base, ainda que se re re a menção aos
HC nº 140.743-MS, DJe 23/11/2009, e HC nº 133.789- maus antecedentes do paciente, porque, segundo
MG, DJe 5/10/2009. HC nº 142.368-MS, Rel. Min. Og a orientação deste Superior Tribunal, ações penais
Fernandes, julgado em 5/8/2010. em andamento e inquéritos em curso não podem
ser considerados como maus antecedentes para fins
Sustentamos, seguindo parcela da jurisprudência, que é de elevação da pena-base, sob pena de violação do
possível a norma ser aplicada para aqueles que cometeram princípio cons tucional da presunção de inocência,
crimes de tráfico antes do advento da Lei nº 11.343/2006, a sanção penal não deve retroceder ao mínimo legal,
por ser mais benéfica ao autor, desde que preencha os uma vez que extremamente elevada a culpabilidade
em vista da quan dade de droga apreendida. É invi-
requisitos legais.
ável a aplicação do redutor do art. 33, § 4º, da Lei nº
Diante da aplicação da norma é que entendemos o
11.343/2006 no caso; pois, apesar da primariedade
porquê de o legislador incluir no art. 44 da Lei de Drogas a
do acusado, a expressiva quan dade da droga indica
proibição de conversão da pena priva va de liberdade em
sua par cipação em organização criminosa. HC nº
restri va de direito. Com a redução da pena, por ser o crime
140.221-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
de tráfico come do sem violência ou grave ameaça, desde
5ª Turma, julgado em 22/9/2009.
que preenchidos os requisitos: 1 – a pena priva va de liber-
dade não for superior a 4 anos e o crime não for come do A 2ª Turma do STF decidiu no seguinte sen do:
com violência ou grave ameaça à pessoa, ou, qualquer que
for a pena aplicada, se o crime for culposo; 2 – o réu não Tráfico de Drogas e Combinação de Leis Incrimi-
for reincidente em crime doloso; 3 – se a culpabilidade, nadoras
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado indicarem a aplicação do art. 44 do Código Penal, A Turma indeferiu habeas corpus impetrado em fa-
seria cabível a conversão. vor de condenada à pena de 4 anos de reclusão por
Por ser mais benéfico, § 4º, do artigo 33 da Lei nº tráfico ilícito de entorpecentes (Lei nº 6.368/1976,
11.343/2006 retroage. art. 12) em que pleiteada a diminuição da pena
Senão vejamos o que decidiu a 6ª Turma do STJ: para o mínimo legal (3 anos), tendo em vista ser ela
primária e preponderarem circunstâncias judiciais fa-
Penal. Habeas Corpus. Tráfico de drogas. Diminuição voráveis. Requeria-se, também, por idên cas razões,
de pena da Lei Nova. Aplicação retroa va. Possibili- a aplicação do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006,
dade. Fixação pelo juiz da Execução. Subs tuição da que possibilita a redução da pena de um sexto a dois
pena priva va de liberdade por restri va de direitos. terços em tais casos. Considerou-se que a sentença
Possibilidade. Escolha pelo Juiz da Execução. Ordem condenatória estaria devidamente fundamenta-
concedida. da, com mo vação suficiente para a elevação da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

1 – É aplicável retroa vamente, nos termos do dispos- pena-base acima do mínimo legal. Rejeitou-se, de
to na Cons tuição da República e no Código Penal, a igual modo, o pleito de incidência do novo disposi-
norma penal benéfica, mesmo em caso de sentença vo da Lei nº 11.343/2006, pois a causa especial de
transitada em julgado. diminuição nele estabelecida tem como parâmetro
2 – A redução da pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei a nova pena imposta ao crime de tráfico de entorpe-
nº 11.343/2006, por ser ins tuto de direito material, centes pelo diploma legal em questão, que parte do
deve ter sua aplicação retroa va determinada sempre mínimo de 5 anos. Assim, combinar referida norma
que visualizada a possibilidade do réu ser beneficiado. com a pena imposta à paciente, sob a égide da Lei
3 – A subs tuição da pena priva va de liberdade nº 6.368/1976, significaria criar uma terceira pena,
imposta a traficantes de drogas condenados sob a não estabelecida em lei, o que seria vedado ao órgão
égide da an ga Lei An drogas é possível, salvo se julgador, por força dos princípios da separação dos
a quan dade da pena imposta não o permi r ou se poderes e da reserva legal.
for desfavorável o exame das circunstâncias judiciais HC nº 96.844/MS, rel. Min. Joaquim Barbosa,
referentes ao agente. Precedentes do STF. 4/12/2009. (HC nº 96.844).

264
O Plenário do STF buscando pacificar o entendimento Realçou, ainda, que a vedação de convergência de
sobre a retroa vidade do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas, disposi vos de leis diversas seria apenas produto de
julgou recentemente a questão. Como houve empate entre interpretação da doutrina e da jurisprudência, sem
os Ministros, prevaleceu a tese mais favorável ao réu: apoio direto em texto cons tucional. O Min. Celso de
Mello, a seu turno, enfa zou que o citado pronun-
Tráfico de drogas e combinação de leis – 5 ciamento fora ra ficado em momento subsequente,
no julgamento de outro habeas corpus. Acresceu que
Em conclusão de julgamento, o Plenário, ante empate não se cuidaria, na espécie, da denominada “criação
na votação, desproveu recurso extraordinário em indireta da lei”. Ato con nuo, assinalou que, mesmo
que se discu a a aplicabilidade, ou não, da causa se fosse criação indireta, seria preciso observar que
de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da esse tema haveria de ser necessariamente examinado
Lei nº 11.343/2006 sobre condenações fixadas com à luz do princípio cons tucional da aplicabilidade da
base no art. 12, caput, da Lei nº 6.368/1976, diploma lei penal mais benéfica.
norma vo este vigente à época da prá ca do delito – [...]
v. Informa vos 611 e 628. Além disso, assentou-se a
manutenção da ordem de habeas corpus, concedida De outro lado, o Min. Ricardo Lewandowski, rela-
no STJ em favor do ora recorrido, que originara o tor, dava provimento ao recurso do parquet para
recurso. Na espécie, o recorrente, Ministério Público determinar que o juízo da Vara de Execuções Penais
Federal, alegava afronta ao art. 5º, XL, da CF (“a lei aplicasse, em sua integralidade, a legislação mais
benéfica ao recorrido, no que fora acompanhado
penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”),
pelos Ministros Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa,
ao argumento de que a combinação de regras mais
Luiz Fux e Marco Aurélio. Ressaltava a divisão da
benignas de 2 sistemas legisla vos diversos formaria
doutrina acerca do tema. Entendia não ser possível
uma terceira lei. Aduziu-se que a expressão “lei”
a conjugação de partes mais benéficas de diferentes
con da no princípio insculpido no mencionado inciso normas para se criar uma terceira lei, sob pena de
referir-se-ia à norma penal, considerada como dispo- ofensa aos princípios da legalidade e da separação
si vo isolado inserido em determinado diploma de de poderes. Afirmava que a Cons tuição permi ria a
lei. No ponto, destacou-se que a discussão estaria na retroa vidade da lei penal para favorecer o réu, mas
combinação de normas penais que se friccionassem não mencionaria sua aplicação em partes. Registrava
no tempo. Afirmou-se, ademais, que a Cons tuição que a Lei nº 6.368/1976 estabelecia para o delito de
vedaria a mistura de normas penais que, ao dispor tráfico de drogas uma pena em abstrato de 3 a15 anos
sobre o mesmo ins tuto legal, contrapusessem-se de reclusão e fora revogada pela Lei nº 11.343/2006,
temporalmente. Nesse sen do, reputou-se que o que cominara, para o mesmo crime, pena de 5 a 15
fato de a Lei nº 11.343/2006 ter criado a figura do anos de reclusão. Evidenciava, dessa maneira, que a
pequeno traficante, a merecer tratamento diferen- novel lei teria imposto reprimenda mais severa para
ciado – não contemplada na legislação anterior – não aquele po penal e que o legislador se preocupara
implicaria conflito de normas, tampouco mescla, visto em diferenciar o traficante organizado do pequeno
que a minorante seria inédita, sem contraposição traficante.
a qualquer regra pretérita. Por se tratar de pedido Acrescentava haver correlação entre o aumento da
de writ na origem e em vista de todos os atuais pena-base mínima prevista no caput do art. 33 da Lei
Ministros do STF terem votado, resolveu-se aplicar nº 11.343/2006 e a inserção da causa de diminuição
ao caso concreto o presente resultado por ser mais disposta em seu § 4º. Explicitava que, ao ser permi-
favorável ao paciente com fundamento no art. 146, da a combinação das leis referidas para se extrair
parágrafo único, do RISTF (“Parágrafo único. No jul- um terceiro gênero, os magistrados atuariam como
gamento de habeas corpus e de recursos de habeas legisladores posi vos. Por fim, ponderava que se
corpus proclamar-se-á, na hipótese de empate, a de- poderia chegar à situação em que o delito de tráfico
cisão mais favorável ao paciente”). Nesse tocante, fosse punido com pena semelhante às das infrações
adver u-se que, apesar de a repercussão geral ter de menor potencial ofensivo. Concluía que, na dúvida
sido reconhecida, em decorrência da peculiaridade quanto à legislação mais benéfica em determinada
da situação, a temá ca cons tucional em apreço não situação, dever-se-ia examinar o caso concreto e
fora consolidada. verificar a lei que, aplicada em sua totalidade, fosse
mais favorável. RE 596152/SP, rel. orig. Min. Ricardo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

[...] Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Ayres Bri o,


13/10/2011. (RE-596152)
O Min. Cezar Peluso, Presidente, frisou o teor do voto [...]
proferido pela 2ª Turma no julgamento do HC 95435/
RS (DJe de 7/11/2008), no sen do de entender que O Min. Luiz Fux apontava afronta ao princípio da
aplicar a causa de diminuição não significaria baralhar isonomia (CF, art. 5º, caput), pois a lex ter a, aplicada
e confundir normas, uma vez que o juiz, ao assim pelo STJ, conceberia paradoxo decorrente da retro-
proceder, não criaria lei nova, apenas se movimen- ação da lei para conferir aos fatos passados situação
taria dentro dos quadros legais para uma tarefa de jurídica mais favorável do que àqueles pra cados
integração perfeitamente possível. Além disso, con- durante a sua vigência. Dessumia que a aplicação da
signou que se deveria cumprir a finalidade e a ra o retroa vidade da lei “em ras” consis ria em velada
do princípio, para que fosse dada correta resposta ao deturpação da nova percepção que o legislador,
tema, não havendo como se repudiar a aplicação da responsável por expressar os anseios sociais, mani-
causa de diminuição também a situações anteriores. festara sobre a mesma conduta. Indicava, ademais,

265
violação a outros fundamentos da Cons tuição: o O art. 33, § 3º, da Lei nº 11.343/2006, também não
princípio da legalidade e a democracia. Criar-se-ia, é crime equiparado ao hediondo. É um delito de menor
com a tese por ele refutada, regra não prevista na potencial ofensivo, tendo em vista que a pena máxima não
lei an ga nem na lei nova, que não experimenta- ultrapassa dois anos. Desta forma, será julgado pelo Juizado
ria do ba smo democrá co atribuído à lei formal. Especial Criminal.
Destacava que a questão reclamaria, portanto, Para se configurar o crime em estudo, devem estar
o que se denominara como “sistema da apreciação presentes os seguintes requisitos: 1) o consumo da droga
in concreto” em conjunto com o princípio da alter- deve ser conjunto; 2) com pessoa de seu relacionamento;
na vidade, para resolver pela aplicação da lei an ga 3) a oferta da droga deve ser gratuita e eventual. Assim está
ou da lei nova, uma ou outra, integralmente. O Min. disposto no § 3º do art. 33:
Marco Aurélio, por sua vez, aduzia que, com a Lei
nº 11.343/2006, houvera, também, a exacerbação § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem obje vo
das penas rela vas à multa. Assegurava que, naquele de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para
contexto, cuidara-se, para situações peculiares, de juntos a consumirem:
uma causa de diminuição da reprimenda, ao inseri-la Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano,
no ar go. No aspecto, salientava que o parágrafo seria e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e qui-
interpretado segundo o ar go. A razão de ser do precei-
nhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas
to seria mi gar a elevação do piso em termos de pena
no art. 28. (Grifo Nosso)
restri va da liberdade de 3 para 5 anos. Por esse mo vo,
entendia haver mesclagem de sistemas, ao se manter a
Se a pessoa que ofereceu a droga ver intuito de lucro
pena da Lei nº 6.368/1976 adotando-se, contudo, a cau-
sa de diminuição que estaria jungida à cabeça do art. 33 restará configurado o delito de tráfico. Do mesmo modo, se o
da outra norma. Asseverava que, ao se proceder dessa oferecimento se der de maneira reiterada, haverá a conduta
maneira, colocar-se-ia em segundo plano o princípio de tráfico de drogas.
unitário e criar-se-ia novo diploma para reger a matéria. A doutrina e a jurisprudência decidiram quem é a figura
(RE 596152/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. mencionada no po, pois não existe definição de quem ela
p/ o acórdão Min. Ayres Bri o). seja.
Pela teoria monista, todas as pessoas que forem flagradas
Novidades consumindo droga em conjunto responderão pelo delito em
tela, não havendo que se falar em porte para uso próprio
Induzimento, Ins gação ao Uso Indevido de Drogas em relação ao que portava a substância no momento da
detenção.
O § 2º do art. 33 traz em seu bojo a situação de induzimen-
to, ins gação ou auxílio de alguém ao uso indevido de drogas. Tráfico de Maquinário
§ 2º Induzir, ins gar ou auxiliar alguém ao uso inde-
O legislador previu na Lei das Drogas as figuras picas
vido de droga:
incriminadoras aos agentes que fabricam, adquirem, u li-
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa
zam, transportam, oferecem, vendem, distribuem, dentre
de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
outros, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer
Induzir significa dar a ideia. Já ins gar significa reforçar objeto des nado à fabricação, preparação, produção ou
a ideia e, por fim, auxiliar significa colaborar materialmente. transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo
Não é crime equiparado ao hediondo. É um delito afian- com determinação legal ou regulamentar.
çável na esfera policial. É um crime formal, não havendo Exemplo de maquinários: Bico de Bunsen, Pipeta, Tubo
necessidade de que a pessoa que foi induzida, ins gada ou de ensaio, balança de precisão, tudo que guarnece um “la-
auxiliada, consuma efe vamente a droga. boratório” de produção de droga. Para a configuração do
crime em estudo, deve haver prova da des nação ilícita que
Cessão Eventual de Droga os agentes dariam aos maquinários.
Se houver a apreensão de droga, o agente responderá
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal ao julgar a apenas pelo crime de tráfico.
ADI 4274 se manifestou novamente acerca da “marcha da Ainda sobre o tema, com relação ao procedimento
maconha”. O Plenário entendeu que a “marcha da maconha” previsto na nova Lei de Drogas, tratando-se de crime de
está acobertada de legalidade. fabricação de objeto des nado à preparação de drogas
O que se pretendia na ação era o reconhecimento do sem autorização ou em desacordo com determinação legal
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

crime em tela. Mas para os Ministros, tal posicionamento ou regulamentar, o juiz, ao receber a denúncia, poderá
configuraria violação aos direitos cons tucionalmente as- decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas
segurados de livre expressão do pensamento e de reunião. a vidades, se este for funcionário público, comunicando
Assim, foi dada interpretação conforme à Cons tuição para o fato ao órgão respec vo.26
o § 2º do ar go 33 da Lei de Drogas, para excluir qualquer Recentemente a 6ª Turma do STJ, conforme no cia vei-
entendimento que dê ensejo à configuração do crime para culada no site www.stj.gov.br, em 3/2/2011 , decidiu que a
os que se manifestarem pela liberação de drogas no Brasil. simples posse de balança de precisão não prova conexão
A nova lei cria crime inexistente na lei anterior (Lei
com tráfico. Vejamos:
nº 6.369/1976) consistente no oferecimento eventual de
droga, sem intuito de lucro, a pessoa de relacionamento
A apreensão isolada de balança de precisão não basta
do agente, para juntos consumirem.25
para caracterizar o crime de posse de equipamento
25
Tema cobrado nas provas: Vunesp/OAB-SP/131º Exame; NCE/UFRJ e Faepol/ para o preparo de entorpecentes (art. 34 da Lei
Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001 e NCE/UFRJ/Delegado da
26
Polícia Civil do DF/2004. Cespe/Tribunal de Jus ça do Acre/Juiz de Direito Subs tuto/2007.

266
nº 11.343/2006). Esse foi o entendimento da maioria sendo cinco anos e dez meses por tráfico e três anos
dos ministros da Sexta Turma, em pedido de habeas e seis meses pela associação, enquanto o outro, a oito
corpus originário da Bahia. O órgão julgador acom- anos e seis meses de reclusão, ou seja, cinco anos e
panhou o voto do relator, desembargador convocado três meses por tráfico e três anos e três meses pela
Celso Limongi. associação. A Defensoria Pública, no habeas corpus,
Na residência do acusado foram apreendidos pacotes alega que a condenação por associação foi funda-
de maconha e balança de precisão. Ele foi condenado mentada no simples fato de estarem os pacientes
pelo Tribunal de Jus ça da Bahia (TJ-BA) em razão dos juntos no momento da abordagem policial e que o
crimes previstos nos arts. 33, 34 e 40, inciso III, da Lei enquadramento legal para o aumento da pena é o de
nº 11.343/2006 – ou seja, tráfico de drogas, posse associação eventual prevista em legislação revogada
de apetrecho para produção ou preparo da droga e pela Lei nº 11.343/2006. Para o Min. Relator, não há
também a previsão de aumento de pena se o delito crime de associação; pois, em nenhum momento, foi
é come do na proximidade de presídios. A defesa do feita qualquer referência nos autos a vínculo associa-
acusado fez o pedido para o afastamento das acusações vo permanente, e esse crime reclama concurso de
do art. 34, mas o pedido foi negado pelo tribunal baiano. duas ou mais pessoas de forma estável ou permanen-
No recurso ao STJ, alegou-se que as acusações do te, ligadas pelo animus associa vo dos agentes, não
art. 34 da Lei nº 11.343/2006 seriam englobadas se confundindo com a simples coautoria. Observa
pelas do art. 33. A defesa também afirmou que não que também nesse sen do é a jurisprudência deste
se aplicaria o aumento de pena previsto no art. 40 da Superior Tribunal. Com esse entendimento, a Turma
referida lei, já que não haveria elementos suficientes concedeu a ordem para excluir da condenação o
para indicar que a droga seria distribuída em presídio, po do art. 35 da Lei nº 11.343/2006. Precedentes
e esta não foi apreendia em suas proximidades. citados: HC nº 21.863-MG, 6ª Turma, DJ 4/8/2003,
Em seu voto, o desembargador convocado Celso e HC nº 46.077-MS, 5ª Turma, DJ 20/3/2006. HC
Limongi destacou que os doutrinadores consideram nº 149.330-SP, Rel. Min. Nilson Naves, 6ª Turma,
que o delito de preparo é formal e subsidiário ao cri- julgado em 6/4/2010.
me de tráfico de drogas, mas é possível que ambas as
condutas sejam autônomas. Ou seja, quem prepara Idealizemos que em meados de julho do corrente ano, X,
pode não fazer parte da organização que vende e en- Y e Z associaram-se, com vontade associa va permanente,
trega o entorpecente. Para o magistrado, a diferença a fim de pra carem tráfico ilícito de substância entorpe-
entre o art. 33 e o art. 34 é que o primeiro se refere cente. No dia 13 de agosto, por volta das 13h, agentes de
à preparação, e o segundo, à distribuição efe va da polícia federal, passando-se por compradores, adentraram
droga ao consumidor. A balança se des na não para na residência de Z e, em cumprimento a mandado de busca,
a produção, mas para o preparo. efetuaram a prisão em flagrante de X, Y e Z, que de nham
O ministro apontou que, na residência do réu, foram em depósito, para negócio, doze quilos de cocaína. Neste
encontradas apenas a balança e as drogas, nada, caso, X, Y e Z pra caram os crimes de associação criminosa
entretanto, que indicasse ser um instrumento para a e tráfico ilícito de entorpecentes.27
fabricação, produção, transformação ou preparo de Cumpre ressaltar que havendo associação para o tráfico
entorpecentes. “A balança era, neste caso, u lizada e o crime de tráfico de drogas, ocorrerá concurso material
na extremidade final da a vidade criminosa, a saber, das infrações, somando-se as penas.
a disponibilização da droga, já pronta ao consumo”, Assim, pode-se afirmar que a associação para o tráfico
apontou. Para ele, isso indicaria que haveria uma é um delito autônomo.
dupla imputação em um mesmo delito. De acordo com jurisprudência firmada no âmbito do
Quanto à questão do art. 40, o desembargador con- STJ e no do Supremo Tribunal Federal, o delito de asso-
siderou não haver elementos suficientes para indicar ciação para o tráfico de entorpecentes não é considerado
a intenção de venda próxima a presídio. Com essas hediondo.28
considerações, o desembargador manteve a conde-
nação por tráfico de drogas, mas afastou a acusação Financiamento e Custeio do Tráfico
do art. 34 e o aumento da pena prevista no art. 40.
Aquele que financia ou custeia a prá ca de qualquer
Associação para o Tráfico dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta
lei pra cará o delito de financiamento e custeio de drogas.
A conduta pressupõe inves mentos de maneira reiterada e
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Pressupõe a associação de no mínimo duas pessoas para


a prá ca dos crimes de tráfico de drogas e equiparados. É um contumaz no tráfico de drogas.
crime de concurso necessário, de condutas paralelas porque No parágrafo único do art. 35 da Lei de Drogas, há a
os envolvidos se auxiliam na prá ca do delito. previsão do delito de associação para o financiamento e
Para haver o delito de associação para o tráfico, a juris- custeio do tráfico.
prudência exige que haja estabilidade entre os membros Também é exigida uma mínima estabilidade entre seus
da relação. associados.
Nesse sen do já decidiu o STJ: Assim, o indivíduo que financiar apenas uma vez, por
exemplo, incorrerá no art. 33 (par cipe) com o aumento de
TRÁFICO. DROGAS. ASSOCIAÇÃO. pena previsto no art. 40, VII:
27
Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia Federal/2000.
Trata-se de pacientes denunciados e condenados por 28
Tema cobrado na prova do Cespe/3º Exame da Ordem/1ª Fase/2006 (Alagoas,
tráfico de entorpecentes e associação; um deles foi Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraí-
ba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte); Cespe/Ministério da Jus ça/
condenado a nove anos e quatro meses de reclusão, Agente da Polícia Federal/2000; TRF-4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005.

267
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta lei prazo da pena priva va de liberdade aplicada, e pa-
são aumentadas de um sexto a dois terços, se: gamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos)
[...] dias-multa.
VII – o agente financiar ou custear a prá ca do crime.
(Grifo Nosso) Vejam que o art. 39 exige que o piloto da aeronave ou
embarcação exponha a dano potencial a incolumidade de
Colaboração como Informante outrem, pois do contrário, se não houver a exposição o fato
será a pico. Trata-se de crime de perigo concreto.
O art. 37 dispõe sobre o delito de quem colabora como Assim, se “A”, depois de consumir cocaína e sob o efeito
informante com grupo, organização ou associação des nados desta substância, conduzir uma pequena embarcação a
à prá ca de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput motor de sua propriedade, na praia, expondo a risco a inco-
e § 1º, e 34 desta lei. lumidade de outrem, com as manobras perigosas que fizer,
Um exemplo pico deste ar go é a figura do “fogue- pra cará crime previsto na Lei nº 11.343/2006 (Lei sobre
teiro” ou “falcão” encontrado geralmente em favelas, cuja Drogas)29, e não crime de “direção perigosa”, previsto na
a vidade é avisar aos traficantes sobre a incursão da polícia Lei nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro)30, nem
no local. Caso tal indivíduo venha a informar apenas um contravenção penal de “direção perigosa”31.
traficante, sustentamos que responderá como par cipe no
delito de tráfico. Causas de Aumento de Pena
O colaborador do tráfico não integra efe vamente o
grupo, apenas passa informações a seus integrantes. Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta
Concordamos com o Professor Ricardo Andreucci (2009, lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:32
p. 183) que nos ensina: I – a natureza, a procedência da substância ou do
produto apreendido e as circunstâncias do fato evi-
[...] não se trata de um crime habitual, não necessi- denciarem a transnacionalidade do delito33;
tando para sua configuração, da reiteração de con-
dutas. Uma única informação já caracteriza o crime. Rege o art. 70 desta lei:

A 5ª Turma do STJ denegou ordem em HC impetrado Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes pre-
em favor de réu foi condenado por ‘contribuir’ para o trafico vistos nos arts. 33 a 37 desta lei, se caracterizado
de drogas. No remédio cons tucional, a defesa alegava ilícito transnacional, são da competência da Jus ça
que com o advento da Lei nº 11.343/2006 teria ocorrido Federal. (Grifo Nosso)
aboli o criminis em relação ao crime definido no art. 12,
§ 2º, inciso III, da Lei nº 6.368/1976. Não sa sfeita com o Retomando a análise dos incisos do art. 40 da lei em
entendimento do STJ, a defesa impetrou HC no STF, sendo comento:
que a 1ª Turma do STF, por maioria dos votos, no HC 106155/
RJ, entendeu que a conduta antes pificada na lei revogada, II – o agente pra car o crime prevalecendo-se de
tem correspondente no ar go 37 da Nova Lei de Drogas (Lei função pública ou no desempenho de missão de
nº 11.343/2006). O ministro Luiz Fux em seu voto analisou educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
que: “não há dis nção antológica entre os termos nucleares III – a infração ver sido come da nas dependências ou
‘contribuir’ e ‘colaborar’ a ensejar inafastável conclusão de imediações de estabelecimentos prisionais34, de ensino
que ambas as condutas estão pificadas em ambas as leis”. ou hospitalares, de sedes de en dades estudan s,
sociais, culturais, recrea vas, espor vas, ou benefi-
Prescrição Culposa de Drogas centes, de locais de trabalho cole vo, de recintos onde
se realizem espetáculos ou diversões de qualquer na-
Prescrever é sinônimo de receitar. É crime próprio, pois tureza, de serviços de tratamento de dependentes de
apenas médicos e den stas podem receitar drogas. drogas ou de reinserção social, de unidades militares
É o único delito culposo da lei e não admite tenta va, ou policiais ou em transportes públicos;
portanto.
O crime se configura quando há a prescrição ou alguém Assim, suponha que um preso, durante a execução da
ministra culposamente drogas sem que o paciente delas pena em estabelecimento prisional, seja flagrado comer-
necessite, faz em dose excessiva ou em desacordo com cializando substância entorpecente com os demais internos
determinação legal ou regular. da unidade. Nessa situação, aquele que comercializou a
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Ministrar significa aplicar ou introduzir a droga no or- droga deverá responder pelo crime de tráfico de substância
ganismo da ví ma. Também é crime próprio pois podem entorpecente, com a pena aumentada de um sexto a dois
pra cá-lo os médicos, den stas, enfermeiros, farmacêu cos. terços em razão do local onde foi come da a infração.35
Se houver condenação, o juiz deverá comunicá-la ao
Conselho Federal da categoria a que o agente pertença. 29
30
Acadepol/Delegado de Polícia Subs tuto/SC/2008.
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol/Delegado de Polícia Subs tuto/
SC/2008.
Condução da Embarcação 31
Acadepol/Delegado de Polícia Subs tuto/SC/2008; Cespe/TJ-RR/Analista
Processual/Nível Superior/2006.
32
Tema cobrado nas seguintes provas: FCC/Polícia Civil do Estado do Maranhão/
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o Agente de Polícia 3ª Classe/Nível Médio/2006; Cespe/Governo do Estado do
consumo de drogas, expondo a dano potencial a Espírito Santo/Secretaria de Jus ça/Agente de Escolta e Vigilância Penitenci-
ário/Nível Médio/2007.
incolumidade de outrem: 33
TRF-4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, 34
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/Procuradoria Geral do Estado
de São Paulo/Procurador do Estado/2005.
além da apreensão do veículo, cassação da habilita- 35
Cespe/Governo do Estado do Espírito Santo/Secretaria de Jus ça/Agente de
ção respec va ou proibição de obtê-la, pelo mesmo Escolta e Vigilância Penitenciário/Nível Médio/2007.

268
IV – o crime ver sido pra cado com violência, grave pois se houver o inves mento de valores de maneira reite-
ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer rada e contumaz, haverá a configuração do crime previsto
processo de in midação difusa ou cole va; no art. 36 da lei em tes lha.
V – caracterizado o tráfico entre Estados da Federação
ou entre estes e o Distrito Federal; Conexão Probatória
Vale a pena trazer a colação recente julgado da 2ª Turma A conexão probatória ou instrumental pressupõe vínculo
do STF: obje vo entre crimes diversos, de tal modo que a prova de
uma ou de qualquer de suas circunstâncias elementares
Configuração da Interestadualidade de Tráfico de influa na prova da outra.
Drogas Exemplificando: um indivíduo foi indiciado pela prá ca
do crime de tráfico ilícito de entorpecentes com conexão
Por reputar devidamente aplicada a causa de probatória com crime contra a ordem tributária, consistente
aumento de pena prevista no art. 40, V, da Lei na sonegação de receita na declaração de imposto de renda
nº 11.343/2006 (“Art. 40. As penas previstas nos de pessoa sica (IRPF). Nessa situação, a competência para
arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto processar e julgar o indivíduo pelas duas infrações penais
a dois terços, se: ... V – caracterizado o tráfico entre será da jus ça federal.38
Estados da Federação ou entre estes e o Distrito
Federal”), a Turma indeferiu habeas corpus em que Suspensão Condicional da Pena
se afirmava a necessidade de efe va transposição de
fronteira estadual para a caracterização da interes- Com as mudanças no entendimento dos Tribunais Su-
tadualidade. Na espécie, o paciente fora preso em periores acerca da possibilidade de subs tuição da pena
flagrante em ônibus que fazia o trajeto de Campo priva va de liberdade por restri va de direitos nos crimes
Grande/MS a Cuiabá/MT, trazendo consigo substân- de tráfico, sustentamos que é possível a concessão do sursis
cia entorpecente, e confessara, na fase inquisitorial penal em tais delitos. Vejamos recente decisão da Primeira
e em juízo, a intenção de transportar a droga para Turma do STF:
cidade situada no Estado de Mato Grosso. Asseverou-
-se que, sob o aspecto da polí ca penal adotada, a Tráfico de drogas: sursis e subs tuição de pena por
inovação disposta no mencionado inciso visaria coibir restri va de direitos
a expansão do tráfico de entorpecentes entre as uni- A 1ª Turma julgou prejudicado habeas corpus em
dades da Federação. Entendeu-se que a configuração que condenado à reprimenda de 1 ano e 8 meses de
da interestadualidade do tráfico de entorpecentes reclusão em regime fechado e 166 dias-multa, pela
prescindiria da efe va transposição das fronteiras do prá ca do crime de tráfico ilícito de entorpecentes
Estado, e que bastariam, para tanto, elementos que (Lei nº 11.343/2006, art. 33), pleiteava a suspensão
sinalizassem a des nação da droga para além dos condicional da pena nos termos em que concedida
pelo Tribunal de Jus ça estadual. Em seguida, deferiu,
limites estaduais. HC nº 99.452/MS, rel. Min. Gilmar
de o cio, a ordem para reconhecer a possibilidade
Mendes, 21/9/2010. (HC-99.452).
de o juiz competente subs tuir a pena priva va de
liberdade por restri va de direitos, desde que preen-
VI – sua prá ca envolver ou visar a a ngir criança
chidos os requisitos obje vos e subje vos previstos
ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer na lei. A impetração ques onava acórdão que, em
mo vo, diminuída ou suprimida a capacidade de 9/3/2010, ao dar provimento a recurso especial
entendimento e determinação36; do parquet, não admi ra o sursis, em virtude de
expressa vedação legal. Consignou-se que, ao julgar
Com relação a este inciso, devemos nos reportar ao o HC nº 97.256/RS (DJe de 16/12/2010), o Supremo
art. 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que rege: concluíra, em 1º/9/2010, pela incons tucionalidade
dos arts. 33, § 4º; e 44, caput, da Lei nº 11.343/2006,
Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ambos na parte em que vedavam a subs tuição da
ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança pena priva va de liberdade por restri va de direitos
ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos em condenação pelo delito em apreço. Asseverou-
componentes possam causar dependência sica ou -se, portanto, estar superado este impedimento.
psíquica, ainda que por u lização indevida; Salientou-se que a convolação da reprimenda por
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

restri va de direitos seria mais favorável ao pacien-


Destarte, tendo em vista a especialidade da lei de drogas, te. Ademais, observou-se que o art. 77, III, do CP
só será aplicado o art. 243 do ECA quando não se tratar de estabelece a aplicabilidade de suspensão condicio-
substâncias entorpecentes,por exemplo, venda de cola de nal da pena quando não indicada ou cabível a sua
sapateiro, solventes em geral e bebida alcoólica.37 subs tuição por restri va de direitos (CP, art. 44). HC
nº 104.361/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, 3/5/2011.
VII – o agente financiar ou custear a prá ca do crime. (HC nº 104.361)

Haverá a incidência do inciso em estudo, quando houver Liberdade Provisória


um único ato de financiamento e custeio do tráfico de drogas,
Segundo a Lei de Drogas, em seu art. 44, não é possível
36
Tema cobrado na prova do Cespe/TJ-RR/Oficial de Jus ça/2001. a concessão de liberdade provisória sem a fixação de fiança
37
Tema cobrado na prova do NCE/UFRJ e Faepol/Delegado da Polícia Civil do
38
Rio de Janeiro/2001. Cespe/AGU/Advogado da União/2002.

269
nos crimes de tráfico. O tema é tormentoso na jurisprudên- provisória, vedada a conversão de suas penas em
cia. No site do STF, foi veiculada a seguinte no cia no dia 8 restri vas de direitos.”). Rela vamente à alegada
de junho de 2009: contradição com a Lei nº 11.464/2007, entendeu-se
que também não assis ria razão à impetração, já que
Preso em flagrante por tráfico de drogas obtém a Lei nº 11.343/2006 é especial em relação à Lei dos
liberdade provisória: Crimes Hediondos, não havendo, portanto, qualquer
Preso em flagrante por tráfico de drogas, V.K.C obteve an nomia no sistema jurídico. HC nº 97.463/MG, Rel.
liminar em Habeas Corpus (HC) para responder ao Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, 6/10/2009.
processo criminal em liberdade. A decisão foi toma-
da pelo ministro Eros Grau que deferiu o pedido de Recentemente, a 2ª Turma do STF decidiu que:
liminar no HC nº 99.278.
Em sua decisão, o ministro relatou que o Supremo Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas. A Turma,
vem adotando o entendimento de que o preso em superando a restrição fundada no Enunciado 691 da
flagrante por tráfico de entorpecentes não tem o Súmula do STF, concedeu, de o cio, habeas corpus
direito à liberdade provisória, por expressa vedação para assegurar a denunciado pela suposta prá ca do
do art. 44 da Lei nº 11.343/2006. delito de tráfico de substância entorpecente (Lei nº
Contudo, Eros Grau lembrou recente decisão do 11.343/2006, art. 33) o direito de permanecer em
ministro Celso de Mello no HC nº 97.976, segundo liberdade, salvo nova decisão judicial em contrário
a qual “não se decreta prisão cautelar sem que haja do magistrado competente fundada em razões su-
real necessidade de sua efe vação”. pervenientes. Enfa zou-se que a prisão cautelar do
Em sua decisão, o ministro Eros Grau observa que o paciente fora man da com base, tão somente, no
impedimento previsto na Lei nº 11.343/2006 para art. 44 da Lei nº 11.343/2006 (“Art. 44. Os crimes
conceder liberdade provisória à pessoa presa em previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta
flagrante por tráfico de drogas é “expressiva afronta Lei são inafiançáveis e insusce veis de sursis, graça,
aos princípios [constitucionais] da presunção de indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a
conversão de suas penas em restri vas de direitos.”)
inocência, do devido processo legal e da dignidade
que, segundo a Turma, seria de cons tucionalidade,
da pessoa humana”. Na avaliação do ministro Eros
ao menos, duvidosa. HC nº 100742/SC, Rel. Celso de
Grau, “é inadmissível, em face dessas garan as cons-
Mello, 3/11/2009.
tucionais, possa alguém ser compelido a cumprir
pena sem decisão transitada em julgado”.
Já para o Superior Tribunal de Justiça prevalece de
maneira esmagadora o entendimento de que não é cabível
De outra parte o STF decidiu que:
liberdade provisória no crime de tráfico de drogas por com-
pleta vedação legal, como se pode perceber por meio do
A Turma indeferiu habeas corpus impetrado pela Informa vo nº 349:
Defensoria Pública da União em favor de paciente
preso em flagrante pela suposta prá ca dos crimes Crimes hediondos. Proibição. Liberdade provisória.
previstos no art. 33 da Lei nº 11.343/2006. Pleiteava- A liberdade provisória de que cuida o art. 310, pará-
-se a concessão de liberdade provisória ao argumento grafo único, do CPP, no caso de prisão em flagrante,
de que a segregação mostrar-se-ia insustentável, está subordinada à certeza da inocorrência de qual-
dado que não se encontrava fundada nos requisitos quer das hipóteses que autorizam a prisão preven-
da constrição cautelar, expressos no art. 312 do CPP, va, decorrente dos elementos existentes nos autos
bem como de que o indeferimento do bene cio dis- ou de prova da parte onerada, bastante para afastar
creparia do que disposto na Lei nº 11.464/2007. Preli- a presunção legal de necessidade da custódia. A Lei
minarmente, a Turma, por maioria, resolveu questão nº 8.072/1990, na sua redação original, ao dar cum-
de ordem no sen do de não afetar o julgamento primento ao inciso XLIII do art. 5º da CF/1988, fez, de
do processo ao Plenário. Vencido, no ponto, o Min. seu lado, insusce veis de fiança e liberdade provisória
Marco Aurélio que, ressaltando o fato de a causa de os crimes hediondos, a prá ca de tortura, o tráfico de
pedir envolver pleito de declaração incidental de in- entorpecentes e o terrorismo, estabelecendo caso de
cons tucionalidade do art. 44 da Lei nº 11.343/2006, prisão cautelar de necessidade presumida iuris et de
pugnava pelo deslocamento do feito, considerado o iure, na hipótese de prisão decorrente de flagrante
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Verbete Vinculante 10 [“Viola a cláusula de reserva delito. Observou o Min. Relator que a Terceira Seção
de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário deste Superior Tribunal (HC nº 76.779-MT) culminou
de tribunal que, embora não declare expressamente por firmar a compreensão de que a proibição de
a incons tucionalidade de lei ou ato norma vo do liberdade provisória, com ou sem fiança, decorre,
poder público, afasta sua incidência, no todo ou em primariamente, da própria Constituição Federal,
parte.”]. Assentou-se, no mérito, que a jurisprudência fazendo materialmente desinfluente a questão da
desta Corte é firme quanto à legi midade da proi- revogação, ou não, do art. 44 da nova Lei de Tóxicos
bição de liberdade provisória nos crimes de tráfico (Lei nº 11.343/2006) pela Lei nº 11.464/2007, que
ilícito de entorpecentes, uma vez que ela decorre da deu nova redação ao art. 2º da Lei nº 8.072/1990.
inafiançabilidade prevista no art. 5º, XLIII, da CF e da A proibição da liberdade provisória a acusados pela
vedação expressa estabelecida no art. 44 da citada Lei prá ca de crimes hediondos deriva da inafiançabi-
de Drogas (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput e lidade dos delitos dessa natureza preconizada pela
§ 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insus- Cons tuição da República e da Lei nº 11.343/2006,
ce veis de sursis, graça, indulto, anis a e liberdade que é, por si, fundamento suficiente por se tratar

270
de norma especial especificamente em relação ao relembrar que, num passado não muito distante,
parágrafo único do art. 310 do CPP. Dessarte, é in- o art. 21 do Estatuto do Desarmamento (que proibia
compa vel com a lei e com a Cons tuição Federal a a concessão da liberdade provisória aos crimes nele
interpretação que conclui pela admissibilidade, no previstos), com conteúdo idên co ao art. 44 da Lei de
caso de qualquer desses crimes, da conversão da Drogas (não concessão da liberdade provisória), foi
prisão cautelar decorrente de flagrante delito em declarado incons tucional pelo STF (ADIn nº 3.112).
liberdade provisória. (HC nº 93.591-MS, Rel. Min. Então, porque insis r em afirmar que a liberdade
Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, julg. em 27/3/2008) provisória não pode alcançar os crimes de tráfico de
drogas? A liberdade é a regra no nosso ordenamento
Luiz Flávio Gomes, analisando decisão da segunda Turma jurídico, e como ressaltou o Ministro Celso de Mello
do STF, entendeu que em recente decisão (HC nº 97.976), não se decreta a
prisão cautelar sem que haja real necessidade de sua
[...] A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em efe vação, devendo, sempre, considerar, também,
que se pleiteia a soltura de denunciado, preso em a triste realidade do sistema carcerário brasileiro.
flagrante, pela suposta prá ca dos crimes previstos A nosso ver, o legislador não pode subs tuir-se ao juiz
nos arts. 33, caput e § 1º, II, e 35, caput, ambos com- na aferição ou não da necessidade da decretação, em
binados com o art. 40, I, todos da Lei nº 11.343/2006. cada caso concreto, da prisão cautelar. A edição de
A impetração reitera as alegações de: a) ausência de leis rígidas e engessadas não é o melhor caminho para
fundamentação da decisão que man vera a custódia o controle da criminalidade, cabendo ao magistrado
cautelar do paciente; b) direito subje vo do paciente a análise das circunstâncias de cada caso concreto.
à liberdade provisória e c) primariedade e residên- Não tem sido esse o entendimento adotado pela Mi-
cia fixa do paciente. A Min. Ellen Gracie, relatora, nistra Ellen Gracie. Mas com certeza, esse não será o
adotando orientação segundo a qual há proibição entendimento majoritário da Egrégia Segunda Turma
legal para a concessão de liberdade provisória em do STF, que vem dis nguindo com precisão o méto-
favor dos sujeitos a vos do crime de tráfico ilícito do subsun vo (legalista) do método da ponderação
de entorpecentes, indeferiu o writ. Mencionou que, (cons tucionalista), não dando margem ao Direito
à luz do art. 2º, II, da Lei nº 8.072/1990, do art. 44 da penal do inimigo39.
Lei nº 11.343/2006 e do art. 5º, XLIII, da CF, é vedada
a concessão de tal benesse. Após, o julgamento foi Diante da polêmica, no final do ano de 2010, o Plenário
suspenso em virtude do pedido de vista do Min. do STF iniciou julgamento acerca da possibilidade de se
Eros Grau. HC nº 97579/MT, rel. Min. Ellen Gracie, conceder liberdade provisória aos crimes de tráfico:
9/6/2009. (HC nº 97.579) [...] o tema liberdade pro-
visória no delito de tráfico de drogas volta a debate Liberdade provisória e tráfico de drogas – 3
(na 2ª Turma do STF). Afirmar que não é cabível a O Plenário retomou julgamento de dois habeas
liberdade provisória no crime de tráfico de drogas é corpus, afetados pela 2ª Turma, nos quais se ques-
um rematado equívoco (seja do ponto de vista legal, ona a proibição de liberdade provisória, prevista no
seja do ponto de vista cons tucional). Cuida-se de art. 44 da Lei nº 11.343/2006, a presos em flagrante
postura pica do Direito penal do inimigo (de Jakobs), por tráfico ilícito de entorpecentes – v. Informa vos
que consiste precisamente em admi r que o processo nos 598 e 599. Inicialmente, por maioria, acolheu-se
contra o inimigo não deve ter todas as garan as do questão de ordem suscitada pelo Min. Marco Aurélio
processo contra o cidadão. Pessoa é pessoa e não no sen do de que não fosse admi do o cômputo
pessoa é não pessoa! do voto prolatado pelo Min. Eros Grau na sessão
A Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990), de julgamento da 2ª Turma. Vencidos os Ministros
em sua redação original, proibia, nesses crimes e Joaquim Barbosa, relator, Dias Toffoli, Gilmar Men-
equiparados (o delito de tráfico de drogas sempre des e Cezar Peluso, Presidente. No mérito, o relator
foi considerado crime equiparado), a concessão de deferiu o writ. Consignou, primeiro, que a decisão
liberdade provisória. Vale lembrar, que tal proibição que denegara o pedido de liberdade provisória não
foi reiterada na Lei An drogas (Lei nº 11.343/2006), encontraria respaldo em circunstância concreta ou
em seu art. 44. Entretanto, esse cenário foi completa- nos requisitos cautelares do art. 312 do CPP. Ao revés,
mente alterado com o advento da Lei nº 11.464/2007 estaria amparada apenas na vedação legal abstrata à
(vigente desde 29/3/2007), que suprimiu a proibi- liberdade provisória con da no preceito ques onado.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ção da liberdade provisória nos crimes hediondos Em sequência, o Min. Joaquim Barbosa mencionou
e equiparados (prevista então no art. 2º, inciso II, que o STF já decidira que nem mesmo a condenação
da Lei nº 8.072/1990). Esse inciso II vedava a fiança em dois graus de jurisdição autorizaria a expedição de
e a liberdade provisória. Com o advento da Lei mandado de prisão, a qual dependeria do reconhe-
nº 11.464/2007 caiu a proibição da liberdade provi- cimento dos pressupostos cautelares pelo juiz ou do
sória. Só a fiança agora está proibida. De acordo com trânsito em julgado da sentença condenatória. Assim,
a visão puni vista, se a lei proíbe fiança, também se o Poder Judiciário não poderia, depois de ampla
proíbe, por analogia, a liberdade provisória. Estamos cognição e apreciação dos fatos e provas, determi-
falando de analogia contra o réu! A violação ao princí- nar a custódia do condenado mesmo considerando
pio da legalidade é patente. Houve uma sucessão de que os recursos excepcionais têm efeito meramente
leis processuais materiais, à qual se aplica o princípio devolu vo, com muito menos razão uma decisão
da posterioridade. Em outras palavras: desapareceu sumária, como a da prisão em flagrante, poderia
do ordenamento jurídico brasileiro a vedação da li-
berdade provisória para tais crimes. Nunca é de mais 39
Disponível em <h p://www.lfg.com.br>. Acesso em: 24 jun. 2009.

271
escapar à obrigatoriedade de fundamentação tendo Em 2012, o Plenário do STF declarou incons tucional a
em conta o caso concreto e os requisitos cautelares. proibição de concessão de liberdade provisória para os que
Asseverou que a segregação de o cio ofenderia os cometerem os chamados crimes de tráfico, prevista no art.
direitos cons tucionais de mo vação das decisões 44 da Lei de Drogas40.
judiciais, mo vação esta que não poderia ser feita em Vejamos o que o site www.s .jus.br no ciou acerca do
abstrato, e de acesso ao Judiciário, haja vista que o tema, em 10 de maio de 2012:
art. 44 da Lei nº 11.343/2006 re raria a possibilidade
de examinar a existência de lesão ao direito do jurisdi- Regra que proíbe liberdade provisória a presos por
cionado, obrigando a Jus ça a manter preso o acusa- tráfico de drogas é incons tucional
do em situação de flagrante. Salientou, ademais, Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tri-
que este Tribunal já se manifestara contrariamente bunal Federal (STF) concedeu parcialmente habeas
à prisão ex lege. corpus para que um homem preso em flagrante por
[...] tráfico de drogas possa ter o seu processo analisado
novamente pelo juiz responsável pelo caso e, nessa
Considerou que a proibição de fiança estabelecida nova análise, tenha a possibilidade de responder
na norma cons tucional não poderia ser confundi- ao processo em liberdade. Nesse sen do, a maioria
da com vedação à liberdade provisória, porquanto dos ministros da Corte declarou, incidentalmente*, a
seriam ins tutos diversos. Aquela seria fixada in- incons tucionalidade de parte do ar go 44** da Lei
dependentemente da apreciação dos pressupostos nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), que proibia a con-
cautelares (CPP, art. 322) e, no caso dos crimes cessão de liberdade provisória nos casos de tráfico
hediondos, a própria Cons tuição impediria que de entorpecentes.
a autoridade policial e o juiz a arbitrassem. Dessa A decisão foi tomada no Habeas Corpus (HC 104339)
forma, dispensável a previsão legal acerca da fiança. apresentado pela defesa do acusado, que está preso
Enfa zou que a Cons tuição não estabeleceria a desde agosto de 2009. Ele foi abordado com cerca
impossibilidade de concessão da liberdade provisória de cinco quilos de cocaína, além de outros entorpe-
aos presos em flagrante por crimes hediondos, visto centes em menor quan dade.
que as hipóteses de liberdade provisória não se
restringiriam às de crimes afiançáveis. Concluiu que Argumentos
a prisão em flagrante no processo penal brasileiro, O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, afirmou
seja o crime afiançável ou não, estaria condicionada, em seu voto que a regra prevista na lei “é incompa-
para sua manutenção, à presença dos requisitos cau- vel com o princípio cons tucional da presunção de
telares previstos no art. 312 do CPP. Com isso, o juízo inocência e do devido processo legal, dentre outros
competente teria sempre o dever de demonstrar no princípios”.
caso concreto a necessidade de manter o acusado O ministro afirmou ainda que, ao afastar a concessão
preso durante o processo (CPP, art. 312). Após o de liberdade provisória de forma genérica, a norma
voto do Min. Dias Toffoli que, ao seguir o relator, re ra do juiz competente a oportunidade de, no caso
declarou a incons tucionalidade do art. 44 da Lei concreto, “analisar os pressupostos da necessidade
nº 11.343/2006 na parte em veda a liberdade provi- do cárcere cautelar em inequívoca antecipação
sória aos crimes previstos “nos arts. 33, caput e § 1º, de pena, indo de encontro a diversos disposi vos
e 34 a 37 desta Lei” para tornar defini va a liberdade cons tucionais”.
dos pacientes, pediu vista a Min. Cármen Lúcia. Segundo ele, a lei estabelece um po de regime de
[...] prisão preven va obrigatório, na medida em que
torna a prisão uma regra e a liberdade uma exceção.
O Plenário retomou julgamento conjunto de dois O ministro lembrou que a Cons tuição Federal de
habeas corpus, afetados pela 2ª Turma, nos quais 1988 ins tuiu um novo regime no qual a liberdade é
ques onada a proibição de liberdade provisória, a regra e a prisão exige comprovação devidamente
prevista no art. 44 da Lei nº 11.343/2006, a presos
fundamentada.
em flagrante por tráfico ilícito de entorpecentes – v.
Nesse sen do, o ministro Gilmar Mendes indicou
Informa vos nos 599 e 611. Em voto-vista, a Min.
que o caput do art. 44 da Lei de Drogas deveria ser
Cármen Lúcia não conheceu do HC nº 92.687/DF.
considerado incons tucional, por ter sido editado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Destacou que, de acordo com informações prestadas


em sen do contrário à Cons tuição. Por fim, desta-
em data anterior à impetração do writ nesta Corte,
cou que o pedido de liberdade do acusado deve ser
o juízo de origem deferira a liberdade provisória,
analisado novamente pelo juiz, mas, dessa vez, com
desclassificando o crime de tráfico para o de posse, e
base nos requisitos previstos no ar go 312 do Código
que, portanto, não haveria objeto. Reajustaram seus
de Processo Penal.
votos pelo não conhecimento os Ministros relator e
O mesmo entendimento foi acompanhado pelos mi-
Dias Toffoli. No que se refere ao HC nº 100.949/SP,
nistros Dias Toffoli, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski,
após manifestação da Min. Cármen Lúcia esclarecen-
Cezar Peluso, Celso de Mello e pelo presidente, mi-
do que, na espécie, o acórdão recorrido não teria em
nenhum momento tratado da Lei nº 11.343/2006, nistro Ayres Bri o.
mas fundamentado a custódia cautelar no art. 312 do
CPP, o Min. Joaquim Barbosa indicou adiamento. HC
40
nº 92.687/MG e HC nº 100.949/SP, rel. Min. Joaquim BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Plenário, HC 104339/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 10 de mai. 2012. Disponível: h p://migre.me/92vK4.
Barbosa, 9/12/2010. (HC nº 92.687) Acesso em: 11 de mai. 2012.

272
Fiança e liberdade provisória melhantes que chegarem aos gabinetes. Dessa forma,
De acordo com o ministro Dias Toffoli, a impossibilida- cada ministro poderá aplicar esse entendimento por
de de pagar fiança em determinado caso não impede meio de decisão monocrá ca.
a concessão de liberdade provisória, pois são coisas
diferentes. Segundo ele, a Cons tuição não vedou a Da Cons tucionalidade do § 4º do Art. 33 e do
liberdade provisória e sim a fiança. Art. 44
O ministro Toffoli destacou regra da própria Cons -
tuição segundo a qual “ninguém será levado à prisão Num primeiro momento, o STJ decidiu pela cons tucio-
ou nela man da quando a lei admi r a liberdade nalidade do § 4º do art. 33 e do art. 44 da Lei de Drogas,
provisória, com ou sem fiança”. conforme no cia veiculada em 12/11/2009 – 8h:

Liberdade como regra Não cabe conversão de pena para crime de tráfico
A regra é a liberdade e a privação da liberdade é a de entorpecentes.
exceção à regra”, destacou o ministro Ayres Bri o. Ele A Corte Especial do Superior Tribunal de Jus ça (STJ)
lembra que chegou a pensar de forma diferente em rejeitou arguição de incons tucionalidade do § 4º do
relação ao caso: “eu dizia que a prisão em flagrante art. 33 e do art. 44 da Lei nº 11.343/2006 (a chamada
em crime hediondo perdura até a eventual sentença Lei An drogas), suscitada pela Sexta Turma. Acom-
condenatória”, afirmou, ao destacar que após meditar panhando voto vista do ministro Ari Pargendler, que
sobre o tema alcançou uma compreensão diferente. divergiu do ministro relator Og Fernandes, a Corte ra-
O presidente também ressaltou que, para determinar ficou os disposi vos legais que vedam a subs tuição
a prisão, é preciso que o juiz se pronuncie e também da pena priva va de liberdade pela pena restri va de
que a con nuidade dessa prisão cautelar passe pelo direitos nos crimes de tráfico ilícito de entorpecentes.
Poder Judiciário. “Há uma necessidade de permanen- O art. 44 da Lei nº 11.343 dispõe que “os crimes
te controle da prisão por órgão do Poder Judiciário previstos nos arts. 33, caput e parágrafo 1º, e 34 a 37
que nem a lei pode excluir”, destacou. desta Lei são inafiançáveis e insusce veis de sursis,
O ministro Celso de Mello também afirmou que graça, indulto, anis a e liberdade provisória, vedada
cabe ao magistrado e, não ao legislador, verificar se a conversão de suas penas em restri vas de direitos”.
se configuram ou não, em cada caso, hipóteses que O § 4º do art. 33 dispõe que “nos delitos definidos
jus fiquem a prisão cautelar. no caput e no § 1º deste ar go, as penas poderão
ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a
conversão em penas restri vas de direitos, desde
Divergência
que o agente seja primário, de bons antecedentes,
O ministro Luiz Fux foi o primeiro a divergir da posição
não se dedique às a vidades criminosas nem integre
do relator. Ele entende que a vedação à concessão
organização criminosa”.
de liberdade provisória prevista no art. 44 da Lei
Ari Pargendler iniciou seu minucioso voto citando
de Drogas é cons tucional e, dessa forma, negou o matéria jornalís ca informando que o governo pre-
habeas corpus. O ministro afirmou que “a criminali- tende propor mudanças na lei an drogas para que
dade que paira no país está umbilicalmente ligada à quem for flagrado pela polícia vendendo pequena
questão das drogas”. quan dade de droga, es ver desarmado e não ver
“Entendo que foi uma opção do legislador cons tuin- ligação comprovada com o crime organizado seja
te dar um basta no tráfico de drogas através dessa condenado a penas alterna vas.
estratégia de impedir, inclusive, a fiança e a liberdade A no cia foi a introdução para o desenvolvimento
provisória”, afirmou. do voto que abriu e consolidou a divergência. “Se
a presente arguição de incons tucionalidade for
Excesso de prazo julgada procedente, o efeito será maior que o das
O ministro Marco Aurélio foi o segundo a se posicio- mudanças que serão propostas pelo Ministério da
nar pela cons tucionalidade do ar go e afirmou que Jus ça: a pena de privação da liberdade poderá ser
“os representantes do povo brasileiro e os represen- subs tuída pela pena de restrição de direitos desde
tantes dos estados, deputados federais e senadores, que atendidas as demais exigências legais”, ressaltou.
percebendo a realidade prá ca e o mal maior que Para Ari Pargendler, a adoção da pena priva va de
é revelado pelo tráfico de entorpecentes, editaram liberdade para punir o crime de tráfico de entorpe-
regras mais rígidas no combate ao tráfico de drogas”.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

centes não implica no descumprimento das normas


No entanto, ao verificar que o acusado está preso há cons tucionais da dignidade humana e da individuali-
quase três anos sem condenação defini va, votou zação da pena, invocadas para a declaração de incons-
pela concessão do HC para que ele fosse colocado tucionalidade. Segundo o ministro, a privação da
em liberdade, apenas porque há excesso de prazo liberdade pode parecer inconciliável com a dignidade
na prisão cautelar. humana, mas os princípios cons tucionais devem ser
O ministro Joaquim Barbosa também votou pela ponderados, e o da defesa social, representado pela
concessão do habeas corpus, mas sob o argumento pena, jus fica a privação temporária da liberdade
de falta de fundamentação da prisão. Ele também para garan r a convivência social.
votou pela cons tucionalidade da norma. Também destacou que existe um estreito paralelo
entre a norma da lei an drogas e o preceito cons-
Decisões monocrá cas tucional disposto no art. 5º, XLIII, que determina
Por sugestão do relator, o Plenário definiu que cada que a lei considerará inafiançável e insusce vel de
ministro poderá decidir individualmente os casos se- graça ou anis a, dentre outros, o tráfico ilícito de

273
entorpecentes. Para ele, a lógica está justamente na [...]
relação entre a inafiançabilidade pelo tráfico ilícito Asseverou que, no ordenamento pátrio, a subs-
de entorpecentes e a inconversibilidade da pena de tuição da pena não caberia em qualquer crime,
privação da liberdade pela pena restri va de direito: sendo esta vedada em várias situações (CP, art.
“como jus ficar a prisão antes de uma condenação 44). Salientou que o Código Penal, ao versar sobre
judicial, para, depois desta, subs tuí-la pela pena a subs tuição da pena, fixara as diretrizes a serem
restri va de direitos? indagou em seu voto. observadas pelo juiz no momento de sua aplicação.
Segundo o ministro, o argumento de que a vedação Consignou, ademais, que o ins tuto em apreço não
da conversão leva à padronização da pena peca pelo derivaria diretamente da garan a cons tucional da
excesso. “Se a lei deve assegurar indiscriminadamen- individualização da pena, haja vista que o ordena-
te ao juiz o arbítrio para, no caso do trafico ilícito de mento não outorgaria ao juiz a liberdade ampla da
entorpecentes, subs tuir a pena priva va da liber- analisar se a subs tuição seria possível em toda e
dade pela pena restri va de direitos, o próprio art. qualquer situação concreta. Reputou que a garan a
44 do Código Penal seria incons tucional ao excluir da individualização da pena somente seria violada se
desse regime, com maior razão, os crimes come dos o legislador es vesse impedido por completo de rea-
à base da violência ou de grave ameaça à pessoa”. lizar a individualização judicial nos crimes hediondos
Ari Pargendler ressaltou que as hipóteses excludentes em pelo menos um de seus dois momentos: o da apli-
do regime de subs tuição de penas, contempladas no cação da pena prevista na lei pelo juiz sentenciante
art. 44 do Código Penal, tem como suporte unicamen- e o da execução e cumprimento da reprimenda pelo
te o critério do legislador ordinário, enquanto que a condenado. Assinalou, nesse sen do, que a proibição
inconversibilidade das penas quando a condenação legal da subs tuição da pena no delito de tráfico,
decorre do tráfico ilícito de drogas tem por si a vonta- referir-se-ia apenas a uma diminuição da esfera de
de do cons tuinte, que em dois momentos destacou atuação judicial na cominação da reprimenda e que
a importância da repressão a esse crime: no art. 5º, não se ex nguiria a possibilidade de individualiza-
XLIII, e no art. 5º, LI, que autoriza a extradição do ção judicial na fase de sua aplicação. Aduziu que o
brasileiro naturalizado comprovadamente envolvido legislador teria legi midade para estabelecer limites
no trafico ilícito de entorpecentes e drogas afins. mínimos e máximos à atuação judicial, na imposição
O voto vista rejeitando a arguição de incons tucio- da pena em concreto, e que, por tal mo vo, a Lei
nalidade foi acompanhado por maioria. Ficaram penal poderia impor tanto as penas previstas no art.
vencidos os ministros Og Fernandes e Nilson Naves. 5º, XLVI, da CF – tais como, penas priva vas de liber-
dade e restri vas de direitos – quanto outras ali não
Porém, segundo o Informa vo nº 597, o Plenário do
abarcadas, à exceção das penas cons tucionalmente
STF decidiu acerca da incons tucionalidade da proibição da
proscritas (art. 5º, XLVII). Concluiu que a garan a da
conversão da pena priva va de liberdade em restri va de
individualização da pena não cons tuiria impedimen-
direito, vejamos:
to a outras vedações legais e que, se abstraída em
demasia, culminaria em situação na qual o legislador
Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Subs tuição de
não poderia ins tuir pena alguma, compe ndo ao
Pena Priva va de Liberdade por Restri vas de Di-
reitos nº 10 juiz individualizar a sanção penal de acordo com o
O Tribunal retomou julgamento de habeas corpus, seu julgamento no caso concreto dentre aquelas
afetado ao Pleno pela 1ª Turma, em que condenado estabelecidas exclusivamente na Cons tuição.
à pena de 1 ano e 8 meses de reclusão pela prá ca [...]
do crime de tráfico ilícito de entorpecentes (Lei Após os votos dos Ministros Dias Toffoli, Ricardo
nº 11.343/2006, art. 33, § 4º) ques ona a cons tu- Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso, Pre-
cionalidade da vedação abstrata da subs tuição da sidente, que acompanhavam o Min. Ayres Bri o,
pena priva va de liberdade por restri va de direitos relator, no sen do de conceder parcialmente a ordem
disposta no art. 44 da citada Lei de Drogas (“Os crimes e declarar incidentalmente a incons tucionalidade
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta da expressão “vedada a conversão em penas restri-
Lei são inafiançáveis e insusce veis de sursis, graça, vas de direitos”, constante do § 4º do art. 33 da Lei
indulto, anis a e liberdade provisória, vedada a con- nº 11.343/2006, e da expressão “vedada a conversão
versão de suas penas em restri vas de direitos.”). Sus- de suas penas em restri vas de direitos”, con da no
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tenta a impetração que a proibição, nas hipóteses de também aludido art. 44 do mesmo diploma legal, e
tráfico de entorpecentes, da subs tuição pretendida dos votos dos Ministros Cármen Lúcia, Ellen Gracie
ofende as garan as da individualização da pena (CF, e Marco Aurélio, que seguiam a divergência, o jul-
art. 5º, XLVI), bem como aquelas constantes dos inci- gamento foi suspenso a fim de se colher o voto do
sos XXXV e LIV do mesmo preceito cons tucional – v. Min. Celso de Mello. Por derradeiro, concedeu-se
Informa vos nos 560 e 579. O Min. Joaquim Barbosa, medida cautelar em favor do paciente para que ele
em voto-vista, iniciou a divergência e denegou o writ aguarde em liberdade a conclusão deste julgamento.
por considerar que a vedação à subs tuição da pena HC nº 97.256/RS, rel. Min. Ayres Bri o, 26/8/2010.
priva va de liberdade por restri va de direitos nos (HC nº 97.256).
crimes de tráfico de drogas estaria de acordo com a
Cons tuição e com a realidade social brasileira, não Em 2010, o STJ mudou o entendimento a respeito da
prejudicando a individualização justa, equânime e possibilidade de conversão da pena priva va de liberdade
adequada da pena cabível nesses crimes, de acordo em restri va de direitos. Vejamos as no cias veiculadas no
com o caso concreto. site www.stj.gov.br:

274
Pena de Prisão por Tráfico de Drogas é subs tuída A Sexta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ)
por Restrição de Direitos admite, dependendo das circunstâncias, que uma
Até recentemente, a Jus ça brasileira dispensava pessoa condenada por tráfico de drogas inicie o cum-
tratamento processual igual para condutas diferen- primento da pena em regime semiaberto ou mesmo
tes quando o crime era o tráfico de entorpecentes. aberto. O colegiado reconhece também a possibilida-
Tanto o condenado por vender um grama de droga de de subs tuição da pena priva va de liberdade por
quanto aquele que guardava cem quilos do tóxico restri va de direitos para quem cometeu o crime de
não recebiam o bene cio da pena alterna va, capaz tráfico sob a vigência da Lei nº 11.464/2007 (crimes
hediondos).
de evitar o encarceramento.
Mas, recentemente, o Superior Tribunal de Jus ça
Adotando esse recente entendimento, a Turma con-
(STJ) alargou a interpretação do princípio da indivi- cedeu habeas corpus a um homem condenado por
dualização das penas. A conclusão foi que vedar a tráfico de drogas para estabelecer o regime aberto
subs tuição das penas indiscriminadamente para para o cumprimento da pena priva va de liberdade
crimes de tráfico agride este preceito inscrito na e para subs tuí-la por duas restri vas de direitos,
Cons tuição Federal. a serem definidas pelo juízo da execução.
A par r disso, a Sexta Turma do Tribunal converteu
em duas penas restri vas de direito a pena de prisão As circunstâncias do caso foram fundamentais para a
de um condenado por tráfico de drogas (art. 33 da concessão do duplo bene cio. Preso com 7,2 gramas
Lei nº 11.343/2006, nova Lei An drogas). “Para duas de crack e um grama de maconha, o réu é primário,
condutas diferentes, a melhor recomendação é que sem registro de antecedentes criminais, de modo
haja soluções diferentes”, jus ficou o ministro Nilson que a pena base foi fixada em primeira instância no
Naves, relator do habeas corpus. mínimo legal (cinco anos) e depois reduzida a um
Com a decisão, o homem condenado a um ano e ano e oito meses.
oito meses prestará serviços à comunidade e terá
O relator no STJ, desembargador convocado Harol-
limitação de fim de semana, ficando a cargo do juiz
do Rodrigues, afirmou que, considerando a pena
de execução estabelecer o que for necessário para aplicada, reconhecida a primariedade do réu e
implementação das penas. fixada a pena base no mínimo legal, em razão das
circunstâncias judiciais favoráveis, respeitando-se o
Precedente princípio da individualização da pena, ela deve ser
A posição é inovadora no STJ e ganhou força depois cumprida no regime aberto. Para ele, como a pena
do julgamento do HC nº 102.678 no Supremo Tribunal não ultrapassa quatro anos, não deve ser aplicado
Federal (STF). O julgamento na Sexta Turma do STJ o disposi vo da Lei de Crimes Hediondos que veda
ocorreu uma semana depois que a Segunda Turma do esse bene cio por não considerar as par cularidades
STF analisou o caso, relatado pelo ministro Eros Grau. do caso concreto. Esse tem sido o entendimento
O Supremo restabeleceu ao condenado por tráfico adotado pela Sexta Turma.
de drogas a pena restri va de direitos, que subs tuiu
uma condenação imposta pela Jus ça mineira. Quanto à subs tuição da pena priva va de liberda-
A vedação legal para a subs tuição de pena é, em de por restri va de direitos, a Turma também vem
concedendo o bene cio a condenados pelo delito
tese, o art. 44 da nova Lei An drogas, que torna os
de tráfico. O fundamento é o mesmo. Os ministros
crimes de tráfico de drogas inafiançáveis e insusce-
entendem que a Lei de Crimes Hediondos, ao vedar
veis de sursis, graça, indulto, anis a e liberdade a subs tuição de pena sem considerar as peculiari-
provisória, vedando, inclusive, a conversão de suas dades do caso concreto, ofenderia os princípios da
penas em restri vas de direitos. individualização da pena, da proporcionalidade e da
No STF, decisões individuais e da Segunda Turma têm efe vação do justo.
afastado a aplicação desse disposi vo legal tanto para
permi r a conversão da pena quanto para conceder Não comungamos do entendimento do STJ e do STF uma
liberdade provisória. vez que a Cons tuição Federal determina que os crimes
Mas é o julgamento do HC nº 97.256 pelo Pleno do hediondos e equiparados sejam tratados com mais rigor
STF que vai decidir sobre a incons tucionalidade dos do que os demais delitos. Permi r o início do cumprimento
disposi vos da nova Lei An drogas que proíbem a da pena de reclusão em regime semiaberto ou aberto ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

conversão da pena priva va de liberdade em restri - convertê-la em restri va de direito é usurpar mandamento
va de direitos para condenados por tráfico de drogas. cons tucional.
O habeas corpus, originalmente da Primeira Turma,
é relatado pelo ministro Ayres Bri o. O julgamento foi Inquérito, Processo e Julgamento dos Crimes de
interrompido por pedido de vista no dia 18 de março. Tráfico
Em novembro de 2009, em questão suscitada pela
Sexta Turma, a Corte Especial do STJ rejeitou a argui- O auto de prisão em flagrante faz nascer o inquérito
ção de incons tucionalidade dos mesmos disposi - policial.
vos legais, agora analisados pelo STF . Assim, o policial civil “Tício”, visando à prisão de “Mé-
vio”, conhecido traficante da Capital, se passou por consu-
Recentemente, o STJ admi u regime inicial aberto e midor e dele comprou 10 papelotes de cocaína, provocando
restrição de direitos em crime de tráfico, conforme no cia a negociação (venda da droga). Quando o traficante re rou
veiculada no site www.stj.gov.br: a droga e a entregou para o policial, outros dois policiais

275
civis, “Caio” e “Linus”, efetuaram a prisão de “Mévio” em O prazo para conclusão do Inquérito policial em se
flagrante delito. Nesse caso, a prisão em flagrante do tra- tratando do delito de tráfico está disposto no art. 51 da lei
ficante é lícita e não se dá pela compra e venda simulada, em comento:
mas sim pelo fato de o traficante, espontaneamente, trazer
consigo droga, que é uma modalidade permanente do crime Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo
em questão.41 de 30 (trinta) dias, se o indiciado es ver preso, e de
A autoridade policial, no momento em que fizer a 90 (noventa) dias, quando solto.45(Grifo Nosso)
apreensão da droga, deverá encaminhá-la aos peritos para Parágrafo único. Os prazos a que se refere este ar go
constatar (laudo de constatação) se há o princípio a vo da podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério
droga42. Caso não haja tal princípio, o fato é a pico. Público, mediante pedido jus ficado da autoridade
Para se lavrar o auto de prisão é necessário o laudo de de polícia judiciária.
constatação da substância apreendida, que é provisório, por
um perito oficial ou por duas pessoas. Todavia, onde não
Assim:
houver peritos oficiais, o exame será realizado por 2 (duas)
pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que verem 30 dias se o indiciado es ver preso.
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. 90 dias se o indiciado es ver solto.
Sustentamos que o art. 159 do CPP revogou tacitamente
o art. 50 da Lei nº 11.343/2006, no tocante ao número de Inquérito Policial e prisão temporária
peritos, por ser norma posterior.
O laudo defini vo é o que resulta do exame químico-toxi- O prazo do inquérito policial, se o indiciado es ver
cológico feito de forma cien fica e minuciosa. Sustentávamos preso em virtude de prisão temporária, será de cinco dias,
que antes da revogação implícita do § 2º do art. 50 da Lei prorrogáveis por mais cinco dias, havendo exceção para
de Drogas, eram necessários dois peritos para a elaboração determinados casos, a exemplo dos crimes de tráfico de
do laudo defini vo, conforme se depreende da leitura do entorpecentes ou tortura, em que o prazo se estende para
disposi vo mencionado: “O perito que subscrever o laudo 30 dias, prorrogáveis por igual período, em caso de extrema
a que se refere o § 1º deste ar go não ficará impedido de e comprovada necessidade46.
par cipar da elaboração do laudo defini vo.43”
O laudo defini vo deve ser juntado aos autos antes da Outros Prazos de Conclusão do Inquérito Policial
audiência de instrução e julgamento, para que as partes
possam conhecer seu teor com antecedência. Segundo o art. 10, caput, do CPP, os prazos para conclu-
Sobre o tema, vale a pena trazer à colação importante são do inquérito são os seguintes:
de decisão da 1ª Turma do STF:
10 dias – indiciado preso – contados da efe vação da
Laudo defini vo de exame toxicológico no crime de
medida restri va da liberdade (prisão em flagrante,
tráfico de drogas
preven va e outras);
A 1ª Turma negou provimento a recurso ordinário em
habeas corpus no qual se pleiteava a nulidade da deci- 30 dias – indiciado solto – contando-se o prazo da
são que condenara o recorrente por tráfico de drogas. data da instauração do IP.
Alegava-se que o laudo toxicológico defini vo teria
sido juntado após a sentença, quando da interposição O § 3º do disposi vo mencionado diz:
de recurso pelo Ministério Público. Assentou-se que,
no caso, a apresentação tardia desse parecer técnico Quando o fato for de di cil elucidação, e o indiciado
não acarretaria a nulidade do feito, haja vista que es ver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a
demonstrada a materialidade deli va por outros devolução dos autos, para ulteriores diligências, que
meios probatórios. Asseverou-se, ademais, que a serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
nulidade decorrente da juntada extemporânea teria
como pressuposto a comprovação de prejuízo ao Na legislação extravagante encontramos os seguintes
réu, para evitar-se condenação fundada em meros prazos:
indícios, sem a certeza da natureza da substância a) O art. 66 da Lei nº 5.010/1966 diz que o Delegado da
ilícita, o que não teria ocorrido na espécie. Polícia Federal, nos crimes de competência da Jus ça Federal
RHC nº 110429/MG, rel. Min. Luiz Fux, 6/3/2012. (art. 109/CF), quando o indiciado es ver preso, tem 15 dias
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

(RHC-110429) para concluir o inquérito policial, podendo ser prorrogado


por mais 15 dias, a pedido, devidamente fundamentado da
No julgamento do crime de tráfico de substância entor-
Autoridade Policial e deferido pelo Juiz.
pecente e diante da ausência, nos autos, do laudo defini vo,
b) Nos crimes contra a economia popular (Lei
o juiz não poderá proferir sentença penal condenatória.44
nº 1.521/1951), o prazo de conclusão do inquérito policial
41
será sempre de 10 dias, esteja o indivíduo preso ou solto.
Tema cobrado nas seguintes provas: Acadepol-SC/Delegado de Polícia Subs-
tuto/2008; Cespe/Ministério da Jus ça/Agente da Polícia Federal/2000; c) O inquérito militar tem, segundo o CPPM, o prazo de
Cespe/TJ-PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/Nível Superior/2006; Cespe/ 20 dias para ser concluído, se o militar es ver preso, ou 40
Delegado da Polícia Federal/2002; Cespe/TJ-RR/Analista Processual/Nível
Superior/2006; Cespe/TJ-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/Nível Supe-
dias, prorrogáveis por outros 20 dias, se es ver solto.
rior/2003-2004; OAB-ES/2º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.
42
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-MG/2006; Promotor-RN/2004.
43 45
OAB-MG/1º Exame de Ordem/2004. Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-
44
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública-SE/Defensor de -MS-PB-RN-PE/2º Exame de Ordem/2006.
46
2ª Categoria/2005; OAB-MG/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/MJ/Departa- Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil
mento de Polícia Federal/Escrivão/2002; Promotor-RN/2004. de 1ª Classe/2008.

276
Prisão em Flagrante Infiltração quer dizer, segundo Cobra (1997),

Considere-se que a autoridade policial de uma de- [...] o trabalho de agente de polícia consistente na
legacia, por intermédio de uma denúncia anônima, foi sua introdução em determinado meio, sem que sua
informada de que determinado sujeito guardava em sua real a vidade seja conhecida, para nele trabalhar ou
casa grande quan dade de cocaína, que seria distribuída viver, temporariamente, como parte integrante do
na cidade naquela mesma noite. Diante da urgência em se ambiente, com a finalidade de descobrir ou apurar
localizar a droga, a autoridade policial determinou que uma alguma coisa.
equipe de policiais realizasse diligências no local. Às 23h da
mesma noite, os policiais, sem mandado judicial, adentra- Não é possível a infiltração de par culares em associa-
ram a residência indicada e apreenderam 100kg de cocaína. ções para o tráfico.
O dono da casa foi preso e autuado em flagrante delito por Não há disposição legal que regule a atuação do agente
tráfico de drogas. Nessa situação, a prisão foi legal.47 infiltrado quando no seio de uma associação criminosa. A Lei
de Drogas, assim como a Lei nº 9.034/1995 não prevê quais
Incomunicabilidade do Preso condutas delituosas ele poderia pra car para preservar sua
verdadeira iden dade.49
Aos delitos descritos nesta lei, aplicam-se todos os Assim, a lei não permite que venham a atuar como
princípios cons tucionais possíveis ao caso, ou seja, nos agentes infiltrados os membros do Ministério Público50,
processos cuja imputação seja o delito hediondo ou equi- agentes da Polícia Rodoviária Federal51, ou ainda os pre-
parado – quais sejam, terrorismo, tráfico de entorpecentes sos que venham a colaborar para o desmantelamento da
ou tortura – a autoridade policial não poderá decretar a organização criminosa52.
incomunicabilidade do preso48.
Mesmo se tratando de um delito equiparado ao he- Entrega Vigiada
diondo, o traficante não poderá permanecer incomunicável
durante as inves gações no curso do inquérito. A entrega vigiada pode ser definida como uma técnica
de inves gação pela qual a autoridade judicial permite que
Meios de Inves gação um carregamento de drogas enviado ocultamente em qual-
quer po de transporte possa chegar ao seu des no sem
O art. 53 da Lei de Drogas traz meios de inves gação dos ser interceptado, a fim de se poder iden ficar o remetente,
crimes de tráfico. Vejamos: o des natário e os demais par cipantes dessa manobra
criminosa.53
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal Entre as inovações trazidas pela lei ora estudada,
rela va aos crimes previstos nesta lei, são permi - destaca-se a possibilidade de não atuação policial sobre os
dos, além dos previstos em lei, mediante autorização portadores de produtos, substâncias ou drogas ilícitas que
judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes se encontrem em território brasileiro, com a finalidade de
procedimentos inves gatórios: iden ficar e responsabilizar o maior número de integran-
I – a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de tes de operações de tráfico e distribuição de drogas, sem
inves gação, cons tuída pelos órgãos especializados prejuízo da ação penal cabível.54
per nentes; A entrega vigiada não está prevista na Lei do Crime
II – a não atuação policial sobre os portadores de Organizado.55
drogas, seus precursores químicos ou outros produ- A entrega vigiada necessita de autorização judicial, o que
tos u lizados em sua produção, que se encontrem no não ocorre no flagrante prorrogado.
território brasileiro, com a finalidade de iden ficar
e responsabilizar maior número de integrantes de Colaboração Voluntária
operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da
ação penal cabível. O art. 41 da Lei de Drogas traz a chamada colaboração
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste ar - voluntária:
go, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o i nerário provável e a iden ficação dos O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamen-
agentes do delito ou de colaboradores. te com a inves gação policial e o processo criminal na
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

iden ficação dos demais coautores ou par cipes do


Os meios são: crime e na recuperação total ou parcial do produto
a) A infiltração de agentes de polícia. do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida
b) Entrega vigiada (equivocadamente chamada por al- de 1/3 a 2/3.
guns de flagrante prorrogado).

Infiltração de Agentes 49
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação e
Escrivão/2009; FGV/PC-RJ/Inspetor/2008.
50
A infiltração de agentes também está prevista no inciso Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB-SP/133º Exame;
OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004.
V do art. 2º da Lei nº 9.034/1995. 51
Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/133º Exame.
52
Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/133º Exame.
53
JESUS, 2002.
47 54
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Município de Vitória/Agente Comu- Tema cobrado nas seguintes provas: TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006; ACP/PC-SP/
nitário de Segurança/2007. Delegado/2002; NCE/PC-DF/Agente/2004.
48 55
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/1º Exame de Ordem/2005. Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/133º Exame.

277
Requisitos peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério
Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma
a) A colaboração deve estar relacionada a um crime de das seguintes providências: (Grifo Nosso)
lavagem de dinheiro. I – requerer o arquivamento;
b) A colaboração deve ser espontânea, sem que tenha II – requisitar as diligências que entender necessárias;
existido anterior sugestão de terceiro. O colaborador é III – oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) teste-
quem deve procurar as autoridades públicas para que haja munhas e requerer as demais provas que entender
a formalização da colaboração. per nentes.
c) Eficácia da colaboração, possibilitando a iden ficação
dos demais coautores ou par cipes e a recuperação total ou Ainda aqui, importante salientar que mesmo sem a con-
parcial do produto dos crimes de tráfico. fecção do laudo toxicológico do indiciado é possível o ofereci-
A colaboração voluntária é também chamada de delação mento de denúncia pelo crime de tráfico de entorpecentes.57
premiada e está prevista de forma esparsa na legislação
pátria, senão vejamos: Defesa Preliminar
1) Código Penal (art. 159, § 4º – extorsão mediante
sequestro); No processo por crime de tráfico de drogas, o acusado,
2) Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990, art. 8º,
antes do interrogatório, poderá ofertar defesa por escrito,
parágrafo único);
no prazo de dez dias.58
3) Lei nº 8.137/1990, sobre crimes contra a ordem tribu-
Na seara da revogada Lei nº 6.368/1976, a Sexta Turma
tária, econômica e contra as relações de consumo (art. 16,
do STJ entendia que a nulidade por falta de oportunidade
parágrafo único);
para resposta à acusação configurava nulidade absoluta (art.
4) Lei de Combate ao Crime Organizado (art. 6º);
38, Lei nº 10.409/2002) – RHC 17097 / SP, HC 103121 / SP, HC
5) Lei que dispõe sobre o programa de Proteção a Ví mas
e Testemunhas (Lei nº 9.807/1999, arts. 13 e 14); 96514 / SP, RHC 21500 / SP. Recentemente, no HC 138.275-
6) Lei nº 9.034/1995, art. 6º. Lei que dispõe sobre a u li- SP (5/11/2009), o Ministro Og Fernandes se posicionou pela
zação de meios operacionais para prevenção e repressão de nulidade rela va da inobservância.
ações pra cadas por organizações criminosas; Realizada a defesa prévia, o magistrado terá um prazo de
7) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Lei 5 (cinco) dias para decidir se rejeita ou recebe a denúncia.
nº 7.492/1986, § 2º, do art. 25; Recebida a denúncia, o juiz deverá designar dia e hora
8) Ordem Econômica/Cade. Lei nº 8.884/1994, art. 35. para a audiência de instrução e julgamento, ordenar a citação
pessoal do acusado, a in mação do Ministério Público, do
Sobre o tema, vale a pena trazer à colação recente deci- assistente, e, se for o caso, requisitará os laudos periciais.
são da Sexta Turma acerca do tema: Tratando-se dos crimes de tráfico, o juiz, ao receber
a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do
CONFISSÃO. DELAÇÃO PREMIADA. COLABORAÇÃO denunciado de suas a vidades, se for funcionário público,
EFICAZ. comunicando ao órgão respec vo.
O ins tuto da delação premiada consiste em um
benefício concedido ao acusado que, admitindo Audiência de Instrução e Julgamento
a participação no delito, fornece às autoridades
informações eficazes, capazes de contribuir para a A audiência de instrução e julgamento iniciará com o
resolução do crime. In casu, embora o paciente tenha interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas.
admi do a prá ca do crime a ele imputado, segundo Posteriormente, será dada a palavra ao representante do
as instâncias ordinárias, não houve efe va colabo- Ministério Público e ao defensor do acusado, para susten-
ração com a inves gação policial e com o processo tação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um,
criminal, tampouco o fornecimento de informações prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.
eficazes para a descoberta da trama delituosa. Sendo
assim, visto que a mera confissão parcial do paciente Sentença
não representou auxílio efe vo na inves gação e
elucidação do evento delituoso, inaplicável à es- Findados os debates orais, o magistrado proferirá a sen-
pécie a benesse da delação premiada. (Precedente tença, que poderá ser ainda em audiência ou o fará em 10
citado: REsp 1.111.719-SP, DJe 13/10/2009. HC dias ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.
nº 174.286-DF, Rel. Min. Sebas ão Reis Júnior, julgado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

em 10/4/2012)
Apelação
Prazo para Oferecimento da Denúncia
De acordo com o art. 59 da Lei nº 11.343/2006, aos cri-
No procedimento ins tuído pela Lei de Drogas, recebidos mes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta lei,
os autos do inquérito policial, o Ministério Público terá o o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, salvo se
prazo de 10 dias para oferecer a denúncia, arrolar testemu- for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na
nhas e requerer as diligências que entender necessárias.56 sentença condenatória.59
57
Tema cobrado na seguinte prova: MPE-PR/Assessor Jurídico/2002.
Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito 58
Tema cobrado nas seguintes provas: TRF-3ª Região/XII Concurso/Juiz Federal
Subs tuto; OAB-MG/2006; OAB-MG/1º Exame de Ordem/2004; Acadepol-MG/
policial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou Delegado da Polícia Civil/2003; Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2002;
OAB-MG/2006; OAB-DF/1º Exame de Ordem/2003; Promotor-BA/2004.
56 59
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-MG/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/ Tema cobrado na seguinte prova: 12º Concurso Público para Procurador da
MJ/Agente da Polícia Federal/2002; Cespe/MPE-PR/Assessor Jurídico/2002. República.

278
O Superior Tribunal de Jus ça (RHC nº 23.987/SP e HC Assim, podemos concluir que o tráfico internacional de
nº 92.886/SP) e o Supremo Tribunal Federal estão se manifes- drogas é de competência da Jus ça Federal64, enquanto o
tando no sen do de que somente será negado ao condenado tráfico interestadual é julgado na esfera estadual.
o direito de apelar em liberdade se es verem presentes os Cumpre salientar que o parágrafo único do art. 70 da Lei
requisitos da prisão preven va. de Drogas dispõe que os crimes pra cados nos Municípios
Se es verem ausentes os requisitos da prisão preven - que não sejam sede de Vara Federal serão processados e
va, o condenado que permaneceu em liberdade durante a julgados na Vara Federal da circunscrição respec va. Agora
instrução criminal poderá apelar da sentença condenatória não é mais possível, de acordo com a Lei nº 11.343/2006,
sem se recolher ao cárcere. que o juiz estadual julgue um crime de tráfico internacional
É o posicionamento que par lhamos. de drogas, caso não exista Vara Federal no Município onde
se deu o delito em tes lha.
Progressão de Regime de Cumprimento de Pena
Prerroga va de Função e a Lei de Drogas
O an go art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990 afirmava que
a pena por crime previsto na lei deveria ser cumprida em
Ademir, membro do Tribunal de Contas do Município
regime integralmente fechado.
de São Paulo, é preso em flagrante quando guardava em
Contudo, tal ar go não se encontrava em perfeita sintonia
sua casa de praia, na cidade de Maricá, Estado do Rio de
com o Princípio Cons tucional (art. 5º, XLVI, primeira parte).
Neste sen do, o Supremo Tribunal Federal entendeu Janeiro, para fim de tráfico, dois quilos de cocaína. A auto-
que a vedação de progressão de regime pela Lei dos Crimes ridade judiciária competente para o processo e julgamento
Hediondos ofendia, essencialmente, determinado princípio de Ademir é o Superior Tribunal de Jus ça65, tendo em vista
cons tucional da individualização da pena.60 o art. 105, I, da Lei Fundamental, que rege:
A Lei nº 11.464, de 2007, que alterou a Lei dos Crimes
Hediondos, diz que a pena por crime previsto neste ar go Art. 105 – Compete ao Superior Tribunal de Jus ça:
será cumprida inicialmente em regime fechado.61 I – processar e julgar, originariamente:
Assim, é possível a progressão de regime ao indivíduo que a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e
comete crime de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes.62 do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilida-
Primário – A progressão dar-se-á após o cumprimento de, os desembargadores dos Tribunais de Jus ça dos
de 2/5 (dois quintos) da pena; Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tri-
Reincidente – A progressão dar-se-á após o cumprimento bunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
de 3/5 (três quintos) da pena. os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos
Livramento Condicional Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os
do Ministério Público da União que oficiem perante
Há possibilidade da concessão de livramento condicional, tribunais; (Grifo Nosso)
desde que cumprido os requisitos, que são: ter cumprido
mais de 2/3 da pena e não ser reincidente específico, ou Confisco dos Bens
seja, já ostentar condenação com trânsito em julgado por
crime de tráfico.
Dispõe o art. 243 da Lei Fundamental:
Juízo ou Tribunal de Exceção Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde
forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotró-
Considerando-se a ordem cons tucional vigente para picas serão imediatamente expropriadas e especifica-
os crimes de tortura, de tráfico ilícito de entorpecentes e mente des nadas ao assentamento de colonos, para
drogas afins e de terrorismo, bem como para os definidos o cul vo de produtos alimen cios e medicamentosos,
como crimes hediondos, não é possível a convocação de sem qualquer indenização ao proprietário e sem
juízo ou tribunal de exceção63 para julgá-los por completa
prejuízo de outras sanções previstas em lei.
vedação cons tucional.
Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido
Competência em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins será confiscado e reverterá em bene cio de ins tui-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Nos termos do art. 109, V, da CF, são julgados pela Jus ça


ções e pessoal especializados no tratamento e recuperação
Federal os crimes previstos em tratado ou convenção interna-
de viciados e no aparelhamento e custeio de a vidades de
cional, quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha
fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.
tráfico dessas substâncias.66
60
Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/129º Exame. O confisco de bens por tráfico de entorpecentes não
61
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2000; exige na norma cons tucional a con nuidade ou perma-
OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004; FCC/TRF-4ª Região/Analista Judiciário/
Área Judiciária/2004; Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de Escolta e nência na u lização de bens para o tráfico.67
Vigilância Penitenciário/2007; Cespe/TJ-RR/Oficial de Jus ça/2001; Cespe/
MJ/Agente da Polícia Federal/2002; OAB-PR/Exame 01-2006; OAB-GO/2º
64
Exame/2006; Cespe/Ins tuto de Previdência e Assistência dos Servidores-ES Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/MJ/Agente da Polícia Fe-
(IPAJM)/Advogado/2006; Cespe/TJ-RR/Técnico Judiciário/2006; Vunesp/ deral/2002; OAB-GO/1º Exame de Ordem/2004; TRF-4ª Região/Juiz Federal
OAB-SP/131º Exame; OAB-ES/2º Exame de Ordem/2004; OAB-RS/1º Exame Subs tuto/2005.
65
de Ordem/2005; Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN-SE-ES/1º Exame de Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/PC-RJ/Delegado/2001.
66
Ordem/2006; UEG/Agência Prisional/2002. Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública-AM/Defensor
62
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/MJ/Agente da Polícia Federal/2000. Público de 4ª Classe/2003.
63 67
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/1º Exame/2006. TRF-4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2005.

279
Rege o art. 60 desta lei: 2. (Cespe/Governo do Estado do Espírito Santo/Secretária
de Jus ça/Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário/
Art. 60. O juiz, de o cio, a requerimento do Ministério Nível Médio/Questão 94/2007) Suponha que um preso,
Público ou mediante representação da autoridade durante a execução da pena em estabelecimento prisio-
de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, ha- nal, seja flagrado comercializando substância entorpe-
vendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso cente com os demais internos da unidade. Nessa situa-
do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras ção, aquele que comercializou a droga deverá responder
medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis pelo crime de tráfico de substância entorpecente, com
e imóveis ou valores consistentes em produtos dos a pena aumentada de um sexto a dois terços em razão
crimes previstos nesta lei, ou que cons tuam proveito do local onde foi come da a infração.
auferido com sua prá ca, procedendo-se na forma 3. (Cespe/Ministério Público do Estado do Tocan ns/
dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de MPE-TO/Analista Ministerial/Ciências Jurídicas (Ca-
outubro de 1941 – Código de Processo Penal. derno SS)/Nível Superior/Questão 114/2006) Um
§ 1º Decretadas quaisquer das medidas previstas traficante de drogas comprou dois quilos de cocaína
neste ar go, o juiz facultará ao acusado que, no prazo e, em seguida, vendeu a metade do entorpecente,
de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a produção retendo em depósito um quilo da droga para posterior
de provas acerca da origem lícita do produto, bem consumo e venda. Nessa situação, observa-se que várias
ou valor objeto da decisão. condutas picas evidenciam o tráfico de entorpecentes,
§ 2º Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, conforme pificado na legislação específica e, assim, no
o juiz decidirá pela sua liberação. caso em apreço, o agente responderá por dois ou mais
§ 3º Nenhum pedido de res tuição será conhecido delitos de tráfico ilícito de entorpecentes em con nu-
sem o comparecimento pessoal do acusado, poden- ação deli va, uma vez que adquiriu, vendeu e reteve
do o juiz determinar a prá ca de atos necessários à em depósito substância entorpecente.
conservação de bens, direitos ou valores. 4. (Cespe/3º Exame da Ordem/1ª Fase/Alagoas, Amazo-
§ 4º A ordem de apreensão ou sequestro de bens, nas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Gros-
direitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, so do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do
ouvido o Ministério Público, quando a sua execução Norte/Caderno A/Questão 41/Asser va “B”)/2006 De
imediata possa comprometer as inves gações. acordo com jurisprudência firmada no âmbito do STJ e
no do Supremo Tribunal Federal, o delito de associação
para o tráfico de entorpecentes é considerado hediondo.
REFERÊNCIAS 5. (Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de
Segurança/Nível Médio/Questão 89/2007) Considere
ANDREUCCI. Ricardo. Legislação penal especial. 6. ed. Sa-
que João e Fábio foram abordados em praça pública,
raiva, 2009. portando, cada qual, uma pequena quan dade de
droga ilícita. Por causa dessa ação, foram conduzidos
COBRA, Coriolano Nogueira. Manual de inves gação policial, à presença da autoridade policial. Nessa situação, após
7. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. a formalização do procedimento judicial competente,
João e Fábio poderão ser submetidos às penas de
GOMES, Luiz Flávio; SANCHES, Rogério Cunha. Posse de advertência, prestação de serviços à comunidade ou
drogas para consumo pessoal: crime, infração penal “sui medida educa va de comparecimento a programa ou
generis” ou infração administra va? Disponível em: <h p:// curso educa vo.
www.lfg.com.br>. Acesso em: 12 dez. 2006. 6. (Cespe/1º Exame da Ordem/1ª Fase/Nordeste – Ala-
goas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
GOMES, Luiz Flávio. DAMÁSIO, Bárbara. Liberdade provisória Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo/
e tráfico de drogas. Disponível em: <h p://www.lfg.com.br>. Caderno 1/Questão 42, asser va “C”/2006) Cul var
Acesso em: 24 jun. de 2009. plantas des nadas à preparação de entorpecentes é
crime, segundo a Lei de Tóxicos.
JESUS, Damásio de. Entrega vigiada. São Paulo: Complexo 7. (Cespe/3º Exame da Ordem/1ª Fase/Alagoas, Amazo-
Jurídico Damásio de Jesus, Fev., 2002. Disponível em: www. nas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Gros-
damasio.com.br. so do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do
Norte/Caderno A/Questão 41/asser va “C”/2006) De
EXERCÍCIOS
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

acordo com jurisprudência firmada no âmbito do STJ e


no do Supremo Tribunal Federal, para a configuração
Julgue os itens. do crime de tráfico de entorpecentes, é necessária a
1. (Cespe/Governo do Estado do Espírito Santo/Secretária presença do especial fim de agir consistente na finali-
de Jus ça/Agente de Escolta e Vigilância Penitenci- dade de comercialização da droga.
ário/Nível Médio/Questão 93/2007) Considere que 8. (Cespe/PMDF/Curso de Formação de Soldado (CFSDPM)
determinado indivíduo, ao ser abordado por policiais do Quadro de Praças Policiais Militares Combatentes
em via pública, trazia consigo pequena quan dade da PMDF (QPPMC)/Questão 107/2009) Um policial
de maconha, para consumo pessoal. Nessa situação, militar em serviço de policiamento ostensivo, abordou
após o devido processo legal, o indivíduo poderá ser um cidadão, penalmente imputável, que portava um
subme do às penas de advertência acerca dos efeitos cigarro artesanal contendo pequena quan dade do
das drogas, a prestação de serviços à comunidade ou a entorpecente conhecido como maconha. As circuns-
medida educa va de comparecimento a programa ou tâncias da abordagem e a pequena quan dade da
curso educa vo. droga evidenciaram, de pronto, tratar-se de posse de

280
entorpecente para uso próprio. Nessa situação, o poli- b) Na hipótese de indeferimento do pedido de liber-
cial deve proceder à apreensão da droga e qualificar o dade provisória do referido indivíduo, que venha a
usuário, em formulário, liberando-o em seguida, pois ser formulado por seu advogado, haverá, segundo
a nova lei an drogas descriminalizou o uso e o porte o STF, violação ao princípio da não-culpabilidade.
de entorpecentes para consumo próprio. c) Em caso de condenação por tráfico de drogas, o juiz,
9. (Cespe/STF/Analista Judiciário – Área Judiciária/Ques- na fixação da pena, considerará a personalidade e a
tão 140/2008) Com relação ao sistema nacional de po- conduta social do preso, sendo, porém, indiferente a
lí cas públicas sobre drogas, julgue o item: A legislação quan dade da substância entorpecente apreendida.
descriminalizou a conduta de quem adquire, guarda, d) O crime de tráfico de drogas é inafiançável, mas
tem em depósito, transporta ou traz consigo, para con- admite o sursis.
sumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo e) O STF tem adotado orientação segundo a qual há
com determinação legal ou regulamentar. Atualmente, proibição legal para a concessão da liberdade provi-
o usuário de drogas será isento da aplicação de pena e sória em favor dos sujeitos a vos do crime de tráfico
subme do a tratamento para recuperação e reinserção ilícito de drogas.
social.
10. (Cespe STF/Analista Judiciário – Área Judiciária/Questão 13. (Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/Questão 53/2009)
141/2008) Com relação ao sistema nacional de polí cas Acerca do tráfico ilícito e do uso indevido de substân-
públicas sobre drogas, julgue o item: É a pica a conduta cias entorpecentes, com base na legislação respec va,
do agente que semeia plantas que cons tuam matéria- assinale a opção correta.
-prima para a preparação de drogas, ainda que sem a) No caso de porte de substância entorpecente para
autorização ou em desacordo com determinação legal uso própri o, não se impõe prisão em flagrante,
ou regulamentar. devendo o autor de fato ser imediatamente enca-
minhado ao juízo competente ou, na falta deste,
11. (Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substituto/ assumir o compromisso de a ele comparecer.
Questão 86/2009) Acerca das disposições da Lei b) Para a lavratura do auto de prisão em flagrante,
nº 11.343/2006, que estabelece normas para repressão é suficiente o laudo de constatação da natureza e
à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, quan dade da droga, o qual será necessariamente
assinale a opção correta. firmado por perito oficial.
a) Na hipótese de tráfico internacional pra cado em c) O IP rela vo a indiciado preso deve ser concluído
município do território nacional que não seja sede no prazo de 30 dias, não havendo possibilidade de
de vara da jus ça federal, a competência para jul- prorrogação do prazo. A autoridade policial pode,
gamento será da jus ça comum estadual. todavia, realizar diligências complementares e
b) A vedação expressa pela referida lei do bene cio remetê-las posteriormente ao juízo competente.
da liberdade provisória na hipótese de crimes de d) Findo o prazo para conclusão do inquérito, a autori-
tráfico ilícito de entorpecentes é, por si só, mo vo dade policial remete os autos ao juízo competente,
suficiente para impedir a concessão dessa benesse relatando sumariamente as circunstâncias do fato,
ao réu preso em flagrante.
sendo-lhe vedado jus ficar as razões que a levaram
c) Essa lei trouxe nova previsão de concurso eventual
à classificação do delito.
de agentes como causa de aumento de pena, razão
e) É legalmente vedada a não atuação policial aos
pela qual não é ilegal a condenação do réu pelo
portadores de drogas, a seus precursores químicos
delito de tráfico com a pena acrescida dessa ma-
ou a outros produtos u lizados em sua produção,
jorante.
d) A norma ex nguiu o crime de posse de pequena que se encontrem no território brasileiro.
quan dade de drogas para consumo pessoal, reco-
mendando apenas o encaminhamento do usuário 14. (Cespe/PMDF/Curso de Formação de Soldado (CFSDPM)
para programas de tratamento de saúde. do Quadro de Praças Policiais Militares Combatentes
e) Terá a pena reduzida de um a dois terços o agente da PMDF (QPPMC)/Questão 107/2009) Um policial
que, em razão da dependência de droga, era, ao tem- militar em serviço de policiamento ostensivo, abordou
po da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido um cidadão, penalmente imputável, que portava um
a infração penal pra cada, inteiramente incapaz de cigarro artesanal contendo pequena quan dade do
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se entorpecente conhecido como maconha. As circuns-
de acordo com esse entendimento. tâncias da abordagem e a pequena quan dade da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

droga evidenciaram, de pronto, tratar-se de posse de


12. (Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Subs tuto/ entorpecente para uso próprio. Nessa situação, o poli-
Questão 82/2009) Considerando que um indivíduo, cial deve proceder à apreensão da droga e qualificar o
primário, tenha sido preso em flagrante pela prá ca do usuário, em formulário, liberando-o em seguida, pois
delito de tráfico de drogas, assinale a opção correta de a nova lei an drogas descriminalizou o uso e o porte
acordo com a legislação per nente à matéria e com a de entorpecentes para consumo próprio.
jurisprudência do STF.
a) Em caso de condenação, o citado indivíduo terá a sua GABARITO
pena diminuída se, em razão da dependência, ou sob
o efeito de droga, proveniente de caso fortuito ou
1. C 5. C 9. E 13. a
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
2. C 6. C 10. E 14. E
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
3. E 7. E 11. b
do fato ou de determinar-se de acordo com esse
4. E 8. E 12. e
entendimento.

281
Busca Informa zada Vestcon Art. 7º As citações e in mações da União serão feitas na
forma prevista nos arts. 35 a 38 da Lei Complementar nº 73,
de 10 de fevereiro de 1993.
LEI Nº 10.259, DE 12 DE JULHO DE 2001 Parágrafo único. A citação das autarquias, fundações e
empresas públicas será feita na pessoa do representante
Dispõe sobre a ins tuição dos máximo da en dade, no local onde proposta a causa, quan-
Juizados Especiais Cíveis e Crimi- do ali instalado seu escritório ou representação; se não, na
nais no âmbito da Jus ça Federal. sede da en dade.
Art. 8º As partes serão in madas da sentença, quando
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso não proferida esta na audiência em que es ver presente
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: seu representante, por ARMP (aviso de recebimento em
mão própria).
Art. 1º São ins tuídos os Juizados Especiais Cíveis e § 1º As demais in mações das partes serão feitas na
Criminais da Jus ça Federal, aos quais se aplica, no que não pessoa dos advogados ou dos Procuradores que oficiem nos
conflitar com esta Lei, o disposto na Lei nº 9.099, de 26 de respec vos autos, pessoalmente ou por via postal.
setembro de 1995. § 2º Os tribunais poderão organizar serviço de in mação
Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal das partes e de recepção de pe ções por meio eletrônico.
processar e julgar os feitos de competência da Jus ça Federal Art. 9º Não haverá prazo diferenciado para a prá ca de
rela vos às infrações de menor potencial ofensivo, respeita- qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito
das as regras de conexão e con nência. (Redação dada pela público, inclusive a interposição de recursos, devendo a
Lei nº 11.313, de 2006) citação para audiência de conciliação ser efetuada com
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o antecedência mínima de trinta dias.
juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, repre-
das regras de conexão e con nência, observar-se-ão os ins- sentantes para a causa, advogado ou não.
tutos da transação penal e da composição dos danos civis. Parágrafo único. Os representantes judiciais da União,
(Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006) autarquias, fundações e empresas públicas federais, bem
Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível pro- como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a
cessar, conciliar e julgar causas de competência da Jus ça conciliar, transigir ou desis r, nos processos da competência
Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como dos Juizados Especiais Federais.
executar as suas sentenças. Art. 11. A en dade pública ré deverá fornecer ao Juizado
§ 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial a documentação de que disponha para o esclarecimento
Cível as causas: da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de
I – referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Cons tuição conciliação.
Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropria- Parágrafo único. Para a audiência de composição dos
danos resultantes de ilícito criminal (arts. 71, 72 e 74 da Lei
ção, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995), o representante da
por improbidade administra va e as demandas sobre direitos
en dade que comparecer terá poderes para acordar, desis r
ou interesses difusos, cole vos ou individuais homogêneos;
ou transigir, na forma do art. 10.
II – sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações
Art. 12. Para efetuar o exame técnico necessário à con-
públicas federais;
ciliação ou ao julgamento da causa, o Juiz nomeará pessoa
III – para a anulação ou cancelamento de ato adminis-
habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes da
tra vo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de audiência, independentemente de in mação das partes.
lançamento fiscal; § 1º Os honorários do técnico serão antecipados à conta
IV – que tenham como objeto a impugnação da pena de de verba orçamentária do respec vo Tribunal e, quando
demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções vencida na causa a en dade pública, seu valor será incluído
disciplinares aplicadas a militares. na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal.
§ 2º Quando a pretensão versar sobre obrigações vincen- § 2º Nas ações previdenciárias e rela vas à assistência so-
das, para fins de competência do Juizado Especial, a soma cial, havendo designação de exame, serão as partes in madas
de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no para, em dez dias, apresentar quesitos e indicar assistentes.
art. 3º, caput. Art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá
§ 3º No foro onde es ver instalada Vara do Juizado Es- reexame necessário.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

pecial, a sua competência é absoluta. Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação
Art. 4º O Juiz poderá, de o cio ou a requerimento das de lei federal quando houver divergência entre decisões
partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, sobre questões de direito material proferidas por Turmas
para evitar dano de di cil reparação. Recursais na interpretação da lei.
Art. 5º Exceto nos casos do art. 4º, somente será admi do § 1º O pedido fundado em divergência entre Turmas da
recurso de sentença defini va. mesma Região será julgado em reunião conjunta das Turmas
Art. 6º Podem ser partes no Juizado Especial Federal em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador.
Cível: § 2º O pedido fundado em divergência entre decisões
I – como autores, as pessoas sicas e as microempresas e de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contra-
empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei nº 9.317, riedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será
de 5 de dezembro de 1996; julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes
II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da
públicas federais. Jus ça Federal.

282
§ 3º A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas sendo facultado à parte exequente a renúncia ao crédito do
será feita pela via eletrônica. valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do
§ 4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Unifor- saldo sem o precatório, da forma lá prevista.
mização, em questões de direito material, contrariar súmula Art. 18. Os Juizados Especiais serão instalados por deci-
ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Jus ça são do Tribunal Regional Federal. O Juiz presidente do Juizado
-STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação designará os conciliadores pelo período de dois anos, admi-
deste, que dirimirá a divergência. da a recondução. O exercício dessas funções será gratuito,
§ 5º No caso do § 4º, presente a plausibilidade do direito assegurados os direitos e prerroga vas do jurado (art. 437
invocado e havendo fundado receio de dano de di cil repara- do Código de Processo Penal).
ção, poderá o relator conceder, de o cio ou a requerimento Parágrafo único. Serão instalados Juizados Especiais
do interessado, medida liminar determinando a suspensão Adjuntos nas localidades cujo movimento forense não jus-
dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida. fique a existência de Juizado Especial, cabendo ao Tribunal
§ 6º Eventuais pedidos de uniformização idên cos, rece-
designar a Vara onde funcionará.
bidos subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais,
Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação
ficarão re dos nos autos, aguardando-se pronunciamento
desta Lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas
do Superior Tribunal de Jus ça.
§ 7º Se necessário, o relator pedirá informações ao capitais dos Estados e no Distrito Federal.
Presidente da Turma Recursal ou Coordenador da Turma de Parágrafo único. Na capital dos Estados, no Distrito
Uniformização e ouvirá o Ministério Público, no prazo de cin- Federal e em outras cidades onde for necessário, neste úl-
co dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam partes mo caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão
no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias. instalados Juizados com competência exclusiva para ações
§ 8º Decorridos os prazos referidos no § 7º, o relator previdenciárias.
incluirá o pedido em pauta na Seção, com preferência sobre Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá
todos os demais feitos, ressalvados os processos com réus ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do
presos, os habeas corpus e os mandados de segurança. foro definido no art. 4º da Lei nº 9.099, de 26 de setembro
§ 9º Publicado o acórdão respec vo, os pedidos re dos de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual.
referidos no § 6º serão apreciados pelas Turmas Recursais, Art. 21. As Turmas Recursais serão ins tuídas por decisão
que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los pre- do Tribunal Regional Federal, que definirá sua composição e
judicados, se veicularem tese não acolhida pelo Superior área de competência, podendo abranger mais de uma seção.
Tribunal de Jus ça. § 1º (Revogado pela Lei nº 12.665, de 2012)
§ 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de § 2º (Revogado pela Lei nº 12.665, de 2012)
Jus ça e o Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas Art. 22. Os Juizados Especiais serão coordenados por Juiz
competências, expedirão normas regulamentando a compo- do respec vo Tribunal Regional, escolhido por seus pares,
sição dos órgãos e os procedimentos a serem adotados para
com mandato de dois anos.
o processamento e o julgamento do pedido de uniformização
Parágrafo único. O Juiz Federal, quando o exigirem as cir-
e do recurso extraordinário.
Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta cunstâncias, poderá determinar o funcionamento do Juizado
Lei, será processado e julgado segundo o estabelecido nos Especial em caráter i nerante, mediante autorização prévia
§§ 4º a 9º do art. 14, além da observância das normas do do Tribunal Regional Federal, com antecedência de dez dias.
Regimento. Art. 23. O Conselho da Jus ça Federal poderá limitar,
Art. 16. O cumprimento do acordo ou da sentença, com por até três anos, contados a par r da publicação desta Lei,
trânsito em julgado, que imponham obrigação de fazer, não a competência dos Juizados Especiais Cíveis, atendendo
fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante à necessidade da organização dos serviços judiciários ou
o cio do Juiz à autoridade citada para a causa, com cópia administra vos.
da sentença ou do acordo. Art. 24. O Centro de Estudos Judiciários do Conselho da
Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quan a certa, Jus ça Federal e as Escolas de Magistratura dos Tribunais
após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento será Regionais Federais criarão programas de informá ca neces-
efetuado no prazo de sessenta dias, contados da entrega sários para subsidiar a instrução das causas subme das aos
da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada para a Juizados e promoverão cursos de aperfeiçoamento des na-
causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal dos aos seus magistrados e servidores.
ou do Banco do Brasil, independentemente de precatório. Art. 25. Não serão reme das aos Juizados Especiais as
§ 1º Para os efeitos do § 3º do art. 100 da Cons tuição demandas ajuizadas até a data de sua instalação.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno valor,


Art. 26. Compe rá aos Tribunais Regionais Federais pres-
a serem pagas independentemente de precatório, terão
tar o suporte administra vo necessário ao funcionamento
como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a
dos Juizados Especiais.
competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3º, caput).
§ 2º Desatendida a requisição judicial, o Juiz determinará Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data
o sequestro do numerário suficiente ao cumprimento da de sua publicação.
decisão.
§ 3º São vedados o fracionamento, repar ção ou quebra Brasília, 12 de julho de 2001; 180º da Independência e
do valor da execução, de modo que o pagamento se faça, 113º da República.
em parte, na forma estabelecida no § 1º deste ar go, e, em
parte, mediante expedição do precatório, e a expedição de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
precatório complementar ou suplementar do valor pago. Paulo de Tarso Tamos Ribeiro
§ 4º Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no Roberto Brant
§ 1º, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do precatório, Gilmar Ferreira Mendes

283
Sérgio Bautzer • É um microssistema mul disciplinar, pois além de
possuir regras que regulam as relações de consumo,
possui ainda normas de Direito Civil, Processual Civil,
DIREITO DO CONSUMIDOR Penal e Processual Penal.
• Traz princípios específicos para equilibrar as relações
Histórico de consumo. Por exemplo, o Poder Público deve ins -
tuir órgãos de defesa do consumidor, como exemplo
Com a Revolução Industrial, houve o aumento da popu- o Procon.
lação dos grandes centros urbanos e, como consequência,
• Traz normas de ordem pública e de interesse social.
o aumento pela demanda por produtos e serviços.
Por exemplo, os contratos de consumo são regidos por
Buscou-se um novo modelo de produção. Assim, surge
normas de ordem pública, de observância obrigatória.
a produção em série ou em escala. Produz-se mais, a um
preço menor. Há a consolidação de tal modelo no período
Relação jurídica de consumo é a existente entre fornece-
posterior à Segunda Guerra Mundial. Assim se rompeu com
o conceito clássico de produção, em que vigorava a bilate- dor e consumidor e que tem por objeto a aquisição de um
ralidade da produção. produto ou a u lização de um serviço.
A principal caracterís ca do modelo de produção em Ou seja, é a que se forma tendo como partes – consu-
série é a unilateralidade na produção, ou seja, é o fornecedor midor e fornecedor e como objeto – produto ou serviço.
que estabelece o que, quando e como produzir. Ao consumi-
dor cabe apenas aderir ou não a um contrato. Produto: bens materiais ou imateriais1, móveis ou
O novo modelo de produção tem por objeto prestar imóveis. Há o produto se o consumidor ver um ônus para
maior número de produtos/serviços, dando maior vazão adquiri-lo. Se não houver contraprestação, não haverá pro-
pela quan dade em razão da qualidade. duto. José Cretella Júnior refere-se ao produto como “sendo
Com o passar dos anos, surgem produtos defeituosos e qualquer coisa que, por ter valor econômico, entra no campo
inúmeros consumidores lesados em seus direitos. No Brasil, jurídico e passa a ser objeto de cogitação pelo homem, en-
era o Código Civil de 1916 que disciplinava as relações de quanto parte integrante da relação jurídica.”2
consumo. Era uma época em que reinava de maneira sobe-
rana o pacta sunt servanda. Serviço: é qualquer a vidade fornecida no mercado
A lei em comento era incompa vel com o regramento de consumo mediante remuneração, excetuadas as de
imposto pelo novo modelo de produção, pois se estava diante natureza trabalhista3.
de uma relação jurídica desequilibrada, uma vez que vigorava Legalmente, segundo o CDC, serviço
a unilateralidade da produção.
Assim, era imprescindível a intervenção dos Poderes é qualquer a vidade fornecida no mercado de consu-
Judiciário, Legisla vo e Execu vo nas relações de consumo, mo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
com a finalidade de equilibrá-las. bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo
Há presunção absoluta de que o consumidor é a parte as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
fragilizada na relação.
O serviço público se sujeita às regras do Código de Defesa
Disposições Cons tucionais Referentes ao do Consumidor.
Consumidor Vejamos o que dispõem o caput e parágrafo único do
art. 22 da lei em comento:
Diversos disposi vos na Cons tuição tratam do consumidor.
O art. 5º, XXXII, diz que o Estado promoverá, na forma Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, con-
da lei, a defesa do consumidor. cessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra
Já o art. 170 diz que a ordem econômica, fundada na forma de empreendimento, são obrigados a fornecer
valorização do trabalho humano e na livre inicia va, tem por serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames essenciais, con nuos.
da jus ça social, tendo como um dos seus princípios a defesa
do consumidor. [...] Nos casos de descumprimento, total ou parcial,
O art. 48 do Ato das Disposições Cons tucionais Transitó-
das obrigações referidas neste ar go, serão as pes-
rias estabeleceu que o Congresso Nacional, dentro de cento
soas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar
e vinte dias da promulgação da Cons tuição, elaboraria o
os danos causados, na forma prevista neste código.
Código de Defesa do Consumidor.
Por fim, existem regras cons tucionais implícitas que
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

norteiam a defesa do consumidor: É de se frisar que não é todo e qualquer serviço público
a) dignidade da pessoa humana; que se submeterá ao CDC.
b) direito à vida; Quando o serviço for prestado de forma genérica,
c) direito à in midade, vida privada, honra e imagem; e a contraprestação pecuniária for efe vada por meio de
d) direito à informação; tributos, há relação jurídica de natureza tributária, não se
e) direito à eficiência na prestação de serviço público. aplicando assim o CDC. Exemplos: serviço de saúde pública
ou de segurança pública.
Há o reconhecimento de que o consumidor é a parte Quando o serviço for prestado de forma individualizada,
vulnerável dentro da relação de consumo. e a contraprestação pecuniária for efe va por meio de tarifa

1
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/
Código de Defesa do Consumidor (CDC) Questão 34/Asser va B.
2
Comentários ao Código do Consumidor: coordenado por José Cretella Júnior
Sobre a Lei nº 8.078/1990, podemos tecer as seguintes e René Ariel Do . Rio de Janeiro: Forense, 1992, p.57
3
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/
considerações: Questão 34/Asser va D.

284
ou preço público, aplica-se o CDC. Exemplo: serviço de trans- a todas as ví mas do acidente de consumo. Para fins de
porte cole vo. reparação do dano, não se usa as regras do direito privado.
Observação: Os contratos de locação não se sujeitam Acerca do tema o STJ decidiu:
às disposições do CDC4.
No entanto, o contrato de mútuo entre o agente finan- CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ACIDENTE
ceiro do SFH e o mutuário é abrangido pelo CDC5. AÉREO. TRANSPORTE DE MALOTES. RELAÇÃO DE
CONSUMO. CARACTERIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE
Consumidor PELO FATO DO SERVIÇO. VÍTIMA DO EVENTO. EQUI-
É a pessoa sica ou jurídica que adquire ou u liza um PARAÇÃO A CONSUMIDOR. ART. 17 DO CDC.
produto ou um serviço, como des natário final. I – Resta caracterizada relação de consumo se a ae-
O que é o des natário final? ronave que caiu sobre a casa das ví mas realizava
É quem adquire o produto ou u liza o serviço para sa- serviço de transporte de malotes para um des na-
sfazer uma necessidade ou u lidade pessoal. Importante tário final, ainda que pessoa jurídica, uma vez que
ressaltar que não há ânimo de renegociar. Sobre o tema o o art. 2º do Código de Defesa do Consumidor não
STJ entende: faz tal dis nção, definindo como consumidor, para
os fins prote vos da lei, “... toda pessoa İsica ou
Recurso Especial. Código de Defesa do Consumidor. jurídica que adquire ou uƟliza produto ou serviço
Prestação de serviços. Des natário final. Juízo com- como desƟnatário final”. Abrandamento do rigor
petente. Foro de eleição. Domicílio do autor. técnico do critério finalista.
– Insere-se no conceito de “des natário final” a II – Em decorrência, pela aplicação conjugada com
empresa que se u liza dos serviços prestados por o art. 17 do mesmo diploma legal, cabível, por
outra, na hipótese em que se u lizou de tais ser- equiparação, o enquadramento do autor, a ngido
viços em bene cio próprio, não os transformando em terra, no conceito de consumidor. Logo, em tese,
para prosseguir na sua cadeia produ va. Estando a admissível a inversão do ônus da prova em seu favor.
relação jurídica sujeita ao CDC, deve ser afastada a Recurso especial provido. (STJ, Resp. nº 540.235/TO,
cláusula que prevê o foro de eleição diverso do domi- Relator Ministro Castro Filho, DJ 6/3/2006)
cílio do consumidor. – Recurso especial conhecido e
provido. (STJ, REsp. nº 488.274, Rel. Nancy Andrigui, a) Cole vidade de pessoas, ainda que indetermináveis,
3ª T. 22/5/2003, DJ 23/6/2003). (negritamos) que haja intervindo nas relações de consumo. Há neces-
sidade da par cipação na relação de consumo. Aqui há a
Há duas correntes para defini-lo. legi midade para tutela cole va dos consumidores.
1 – Teoria Finalista: é todo aquele que re ra produto ou Felipe Peixoto Braga Neto professa “assim, quem quer
serviço do mercado de consumo para uso próprio ou de sua que intervenha, ainda que de modo indeterminado, nas re-
família. Consumidor será o des natário final econômico do lações de consumo, é equiparado a consumidor, recebendo
produto ou serviço, sem visar lucro. Tal teoria afirma que a proteção a este dispensada. Se um sujeito compra pasta
a interpretação da expressão des natário final deve ser de dentes que é usada por vários estudantes, moradores de
restrita e somente o consumidor, parte mais vulnerável uma mesma república, e tal pasta causa séria inflamação nas
na relação contratual, merece especial tutela jurídica6. É a gengivas dos usuários, todos os que a usuram são consumi-
corrente que o STJ se filia de maneira flexibilizada. dores, ainda que não hajam contrato de consumo”.9
Será consumidor aquele que comprar o bem sem ter a b) Todas as ví mas do evento danoso, ou seja, as pes-
intenção de extrair proveito econômico? soas expostas às prá cas comerciais ou contratuais, ainda
2 – Teoria Maximalista: é todo aquele que re ra pro- que indetermináveis10. Não há necessidade de relação espe-
duto ou serviço do mercado de consumo7. Pouco importa cífica, bastando a mera exposição. Outra não é a redação do
o des no final do produto. Para os adeptos de tal corrente, art. 17 do CDC: “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se
basta que o produto não tenha sido adquirido para revenda. aos consumidores todas as ví mas do evento”. Entende o STJ:
O art. 2º, caput, do CDC diz que: “Consumidor é toda
pessoa sica ou jurídica que adquire ou u liza produto ou PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EXPLOSÃO
serviço como des natário final”. DE LOJA DE FOGOS DE ARTIFÍCIO. INTERESSES INDI-
O Código de Defesa do Consumidor não adota em sua pu- VIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE ATIVA DA
reza nenhuma das duas, pois ambas podem causar injus ças. PROCURADORIA DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. RES-
A pessoa jurídica, em várias circunstâncias, é des natária PONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO. VÍTIMAS
final econômica. DO EVENTO. EQUIPARAÇÃO A CONSUMIDORES.
Observação: Não é considerada relação de consumo, I – Procuradoria de assistência judiciária tem legi mi-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

mas aƟvidade de consumo intermediária, a aquisição de dade a va para propor ação civil pública obje vando
bens ou a uƟlização de serviços por pessoa jurídica para indenização por danos materiais e morais decorren-
implemento ou incremento de sua aƟvidade empresarial8. tes de explosão de estabelecimento que explorava
o comércio de fogos de ar cio e congêneres, por-
Consumidor por Equiparação quanto, no que se refere à defesa dos interesses do
Equiparam-se ao consumidor todas as ví mas do evento consumidor por meio de ações cole vas, a intenção
lesivo. O CDC estende as regras da responsabilidade civil do legislador pátrio foi ampliar o campo da legi -
mação a va, conforme se depreende do art. 82 e
4
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/ incisos do CDC, bem assim do art. 5º, inciso XXXII,
5
Questão 34/Asser va A. da Cons tuição Federal, ao dispor expressamente
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/
Questão 34/Asser va E.
6
Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/Questão 32/Asser va A. 9
BRAGA Neto, Felipe Peixoto: Manual de direito do consumidor: à luz da juris-
7
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/ prudência do STJ, Salvador: Edição Juspodivm, 2009, p. 88.
Questão 32/Asser va B. 10
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/
8
Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009/Questão 141. Questão 22/Asser va A.

285
que incumbe ao “Estado promover, na forma da lei, Fornecedor
a defesa do consumidor”. No art. 3º do CDC está o conceito legal de fornecedor:
II – Em consonância com o art. 17 do Código de Defe-
sa do Consumidor, equiparam-se aos consumidores [...] é toda pessoa sica ou jurídica, pública ou pri-
todas as pessoas que, embora não tendo par cipado vada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
diretamente da relação de consumo, vem a sofrer despersonalizados12, que desenvolvem a vidade de
as consequências do evento danoso, dada a poten- produção, montagem, criação, construção, transfor-
cial gravidade que pode a ngir o fato do produto mação, importação, exportação, distribuição ou co-
o do serviço, na modalidade vício de qualidade por mercialização de produtos ou prestação de serviços.
insegurança. Recurso especial não conhecido. (STJ,
REsp. nº 181.580, Relator Ministro Castro Filho, 3ª T., Para Cretella Júnior
j. 9/12/2003, DJ 22/3/2004).
essas a vidades, assim indicadas no Código, são:
c) Equiparam-se aos consumidores todas as pessoas produção (a vidade que conduz ao produto qualquer
determináveis ou não, expostas às prá cas comerciais ou bem imóvel, material ou imaterial); montagem (a
contratuais. De acordo com o entendimento de Felipe Pei- combinação de peças que, no conjunto, vão formar o
xoto Braga Neto: produto); criação (desenvolvimento da a vidade es-
piritual ou sica do homem que cons tui novidade);
assim, quem quer que seja exposto à publicidade construção (com ou sem cria vidade); transformação
abusiva, mesmo sem adquirir o produto ou usado o (mudança ou alteração de estrutura ou forma de pro-
serviço, pode, amparado no art. 29 do CDC, reivindi- duto já existente em outro); importação e exportação
car a proteção peculiar do consumidor.11 (aquisição de produtos do exterior e venda de produ-
tos para o exterior); distribuição (ato de concre zar
Cumpre ressaltar que o próprio Estado pode ser consi- a tradi o da res); comercialização (prá ca habitual
derado consumidor. de atos de comercial); prestação de serviços (aquele
que presta serviços a outras en dades).13
d) Também é considerado consumidor por equipara-
ção, segundo a Suprema Corte Brasileira, o passageiro de Fornecedor é quem habitualmente pratica uma das
transporte aéreo internacional que sofrer danos morais condutas mencionadas.
decorrentes de atrasos. Segundo o STF, aqui aplica-se o CDC, Todos que par cipam da cadeia produ va, excluindo o
afastando a incidência do Código Brasileiro de Aeronáu ca des natário final, são fornecedores. Segundo João Andrades
(CBA) e a Convenção de Varsóvia (integrada ao ordenamento Carvalho,
jurídico pelo Decreto nº 20.704 de 1931). Vejamos a ementa:
não importa a tarefa assumida pelo fornecedor nes-
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DANOS MO- se universo. É totalmente irrelevante o papel que
RAIS DECORRENTES DE ATRASO OCORRIDO EM VOO ele desempenha, quando se trata da afirmação dos
INTERNACIONAL. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA direitos do consumidor. Tanto poderá ser criador,
DO CONSUMIDOR. MATÉRIA INFRACONSTITUCIO- como o simples distribuidor do bem, ou do serviço.
NAL. NÃO CONHECIMENTO. Tanto poderá ser o comerciante no varejo como no
1. O princípio da defesa do consumidor se aplica a atacado. Tanto poderá ser o Estado como indivíduo.
todo o capítulo cons tucional da a vidade econô- Tanto poderá ser pessoa sica ou jurídica. 14
mica.
2. Afastam-se as normas especiais do Código Bra- Para efeitos de responsabilização do fornecedor em caso
sileiro da Aeronáu ca e da Convenção de Varsóvia de defeitos nos produtos ofertados, entende o STJ pela pos-
quando implicarem retrocesso social ou vilipêndio sibilidade de aplicação do CDC contra ins tuições financeiras
aos direitos assegurados pelo Código de Defesa do quando os serviços forem vinculados à a vidade bancária.
Consumidor . Vejamos o julgado:
3. Não cabe discu r, na instância extraordinária,
sobre a correta aplicação do Código de Defesa do DIREITO CIVIL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
Consumidor ou sobre a incidência, no caso concreto, VEÍCULO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA.
de específicas normas de consumo veiculadas em CONTRATO ACESSÓRIO. CÓDIGO DE DEFESA DO
legislação especial sobre o transporte aéreo interna- COSUMIDOR. DEFEITO NO PRODUTO. RESPONSABI-
cional. Ofensa indireta à Cons tuição de República.
LIDADE DO FORNECEDOR.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

4. Recurso não conhecido.


1. O HYPERLINK “h p://www.jusbrasil.com.br/legis-
(RE 351750, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Re-
lacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumi-
lator (a) p/ Acórdão: Min. CARLOS BRITTO, Primeira
dor-lei-8078-90” \o “Código de Defesa do Consumi-
Turma, julgado em 17/3/2009, DJe-181 DIVULG
dor – Lei 8078/90”Código de Defesa do Consumidor
24/9/2009 PUBLIC 25/9/2009 EMENT VOL-02375-03
é aplicável às ins tuições financeiras (Súmula nº 297),
PP-01081 RJSP v. 57, nº 384, 2009, p. 137-143)
mas apenas em relação aos serviços a nentes à a vi-
dade bancária. Por certo que o banco não está obrigado
Na esteira do pensamento do STF, o STJ estendeu a aplica-
a responder por defeito de produto que não forneceu
ção do CDC aos casos de acidentes aéreos. Segundo a Corte,
tão somente porque o consumidor adquiriu-o com
as ví mas de acidentes aéreos localizadas em super cie são
consumidores por equiparação (bystanders), devendo ser
12
a elas estendidas as normas do art. 17 do CDC, rela vas a Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/
Questão 34/Asser va C.
danos por fato do serviço. 13
Ob. cit. p.37
14
CARVALHO, João Andrades. Código de Defesa do Consumidor: comentários,
11
Ob.cit. p.90 doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Aide, 2000.

286
valores ob dos por meio de financiamento bancário. sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
Se o banco fornece dinheiro, o consumidor é livre para consumidores e fornecedores;
escolher o produto que lhe aprouver. No caso de o IV – educação e informação de fornecedores e consu-
bem apresentar defeito, o comprador ainda con nua midores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à
devedor da ins tuição financeira. melhoria do mercado de consumo;
2. Não há relação de acessoriedade entre o contrato V – incen vo à criação pelos fornecedores de meios efi-
de compra e venda de bem de consumo e o de finan- cientes de controle de qualidade e segurança de produtos e
ciamento que propicia numerário ao consumidor para serviços, assim como de mecanismos alterna vos de solução
aquisição de bem que, pelo registro do contrato de de conflitos de consumo;
alienação fiduciária, tem sua propriedade transferida VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos
para o credor. (STJ, 4ªT, REsp 1014547/DF. Relator pra cados no mercado de consumo, inclusive a concorrência
Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA. DJe 7/12/2009) desleal e u lização indevida de inventos e criações industriais
das marcas e nomes comerciais e signos dis n vos, que
De acordo também com o STJ, é possível à ins tuição possam causar prejuízos aos consumidores;
financeira ser responsabilizada solidariamente por vícios VII – racionalização e melhoria dos serviços públicos;
na construção de imóvel quando, além de financiar a obra, VIII – estudo constante das modificações do mercado
prover o empreendimento elaborando projetos, escolhendo de consumo.
a construtora e negociando diretamente com o consumidor.
Dessa forma, a ins tuição bancária (in case a Caixa Econômica Análise dos Princípios
Federal) atua fora de sua finalidade, sendo aqui também
empreendedora. Vejamos o julgado: 1 – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: o forne-
cedor, ao colocar serviço ou produto no mercado, deverá
RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABI- respeitar a dignidade do consumidor. Nesse sen do é o
TAÇÃO. VÍCIOS NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEL CUJA ensinamento de Leonardo de Medeiros Garcia
OBRA FOI FINANCIADA. LEGITIMIDADE DO AGENTE
FINANCEIRO. a cobrança de um débito é um exercício regular de
1. Em se tratando de empreendimento de natureza direito, mas deve ser feito de forma comedida e sem
popular, des nado a mutuários de baixa renda, como excesso, devendo, sempre, respeitar o princípio da
na hipótese em julgamento, o agente financeiro é dignidade da pessoa humana. O Código veda todas
parte legí ma para responder, solidariamente, por as formas de abusos pra cadas para se obter a qui-
vícios na construção de imóvel cuja obra foi por ele tação da dívida.15
financiada com recursos do Sistema Financeiro da
Habitação. Precedentes. 2 – Princípio da Transparência: o fornecedor deverá
2. Ressalva quanto à fundamentação do voto-vista, no informar de forma adequada os principais elementos do
sen do de que a legi midade passiva da ins tuição produto e serviço colocados no mercado de consumo, bem
financeira não decorreria da mera circunstância de como a forma de contratação. Vejamos o que dispõe o
haver financiado a obra e nem de se tratar de mútuo art. 46 do CDC:
contraído no âmbito do SFH, mas do fato de ter a
CEF provido o empreendimento, elaborado o projeto Os contratos que regulam as relações de consumo
com todas as especificações, escolhido a construtora não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
e o negociado diretamente, dentro de programa de oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu
habitação popular. (STJ, 4ªT, REsp 738071/SC. Relator conteúdo, ou se os respec vos instrumentos forem
Min. LUIS FELIPE SALOMÃO. Julgado em 9/12/2011) redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu
sen do e alcance.
Princípios que Regem as Relações de Consumo
A Polí ca Nacional das Relações de Consumo tem por Segundo Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin,
obje vo o atendimento das necessidades dos consumidores,
o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de tais disposi vos legais, como consequência jurídica,
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de significam que, dada a informação, ou feita a pu-
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de blicidade, desde que suficientemente precisa, ou
consumo, atendidos os seguintes princípios: apresentada a oferta, o fornecedor cria um direito
I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor potesta vo para o consumidor, este pode aceitar,
no mercado de consumo; ou não, o negócio que se propõe; o fornecedor está
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

II – ação governamental no sen do de proteger efe va- em pura situação de sujeição. Se houver aceitação
mente o consumidor: do oblato, o contrato está concluído.16
a) por inicia va direta;
b) por incen vos à criação e desenvolvimento de asso- Há produtos que o risco é inerente à sua u lidade, como,
ciações representa vas; por exemplo, os explosivos e agrotóxicos.
c) pela presença do Estado no mercado de consumo; Há produtos que o risco é essencial. No caso de riscos de
d) pela garan a dos produtos e serviços com padrões produtos potencialmente lesivos, a proteção do consumidor
adequados de qualidade, segurança, durabilidade e de- se faz por meio da informação. É dever de o fornecedor
sempenho. informar o consumidor a respeito dos riscos do produto.
III – harmonização dos interesses dos par cipantes das
relações de consumo e compa bilização da proteção do con- 15
GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor. 5.ed-Niterói, Rio de
sumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico Janeiro: Impetus,2009. p.258
16
e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e outros. Código brasileiro de
defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 6ª Ed. Rio
funda a ordem econômica (art. 170, da Cons tuição Federal), de Janeiro: Forense Universitária: 1999.

287
A informação é um direito preven vo geral. Vejamos o que b) técnico ou,
dispõe o art. 31 do CDC: c) jurídico/cien fico.

A oferta e apresentação de produtos ou serviços Sobre o tema, Cláudia Lima Marques


devem assegurar informações corretas, claras, pre-
cisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas revela a existência de três pos de vulnerabilidade: a
caracterís cas, qualidades, quan dade, composição, técnica, onde o consumidor não possui conhecimen-
preço, garan a, prazos de validade e origem, entre tos específicos sobre o objeto que está adquirindo
outros dados, bem como sobre os riscos que apresen- e, portanto, é mais facilmente enganado quanto às
tam à saúde e segurança dos consumidores. caracterís cas ou quanto à u lidade do bem ou do
serviço; a jurídica ou cien fica caracterizada pela falta
O disposi vo em comento traz o modo pelo qual as in- de conhecimentos jurídicos específicos, de contabili-
formações devem ser prestadas, sendo que as concernentes dade ou de economia; e a fá ca ou socioeconômica,
aos riscos dos produtos devem ser destacadas. relacionada à posição de monopólio, fá co ou jurídi-
O STJ recentemente reconheceu que: co, por seu grande poder econômico ou em razão da
essencialidade do serviço, impõe a sua superioridade
...O direito à informação, abrigado expressamente a todos que ele contratam.19
pelo art. 5º, XIV, da Cons tuição Federal, é uma das
formas de expressão concreta do Princípio da Trans- Vulnerabilidade é uma regra de elaboração legisla va
parência, sendo também corolário do Princípio da em sede de normas de consumo. Impõe a criação de meca-
Boa-fé Obje va e do Princípio da Confiança, todos nismos contratuais diferenciados que visem à proteção do
abraçados pelo CDC... (STJ, REsp. nº 586.316, Relator consumidor. Como consequência, gera presunção absoluta.
Ministro Herman Benjamin, 2ª T., DJ 19/3/2009) Assim pela lei, o consumidor é o vulnerável.
Hipossuficiência é fenômeno de direito processual.
3 – Princípio da Harmonia: consubstancia-se em dois Como consequência, gera presunção rela va, devendo ser
outros – boa-fé obje va e equilíbrio. demonstrada no caso concreto20. É aplicada nas ações de
a) Boa-fé obje va: analisa aspectos externos como regras consumo, sendo um critério orientador do juiz para inversão
de conduta, lealdade, hones dade das partes na obrigação. do ônus da prova.
Na prá ca, constata-se a lealdade analisando os chamados A hipossuficiência será vista pela dificuldade do consu-
deveres anexos. São eles: dever de informação, dever de midor em produzir prova, mas não é toda e qualquer prova,
proteção, dever de cooperação; este se consubstancia mas sim aquela de di cil produção. No ensinamento de
quando não há dificuldade no adimplemento da obrigação. Antônio Carlos Efing: “a hipossuficiência deve ser analisada
Conforme ensina Judith Hofmeister Mar ns Costa: “a boa-fé caso a caso, ao passo que a vulnerabilidade do consumidor
obje va é a regra de conduta que se baseia em “um dever é inerente a sua própria condição.”21
de agir de acordo com determinados padrões, socialmente
recomendado, de confiança e lealdade”.17 5 – Princípio da Intervenção do Estado: vejamos o que
b) Equilíbrio: o CDC confere prerroga vas ao consumidor, dispõe o art. 4º, II, da lei em estudo:
parte vulnerável da relação, com o obje vo de equilibrar
uma relação jurídica desigual. Assevera o professor Paulo [...] A Polí ca Nacional das Relações de Consumo tem
Luiz Ne o Lôbo: por obje vo o atendimento das necessidades dos
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
o princípio do equilíbrio material entre as prestações, segurança, a proteção de seus interesses econômicos,
ou princípio da equivalência, apresenta-se como um a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
dos princípios fundamentais do atual direito contra- transparência e harmonia das relações de consumo,
tual. Aplicável não apenas às relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: [...]
mas as relações contratuais em geral: talvez uma das II – ação governamental no sen do de proteger efe-
maiores caracterís cas do contrato, na atualidade, vamente o consumidor:
seja o crescimento do princípio da equivalência. a) por inicia va direta;
Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio b) por incen vos à criação e desenvolvimento de
contratual, seja para manter a proporcionalidade associações representa vas;
inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
desequilíbrios supervenientes, pouco importando d) pela garan a dos produtos e serviços com padrões
que as mudanças de circunstâncias pudessem ser adequados de qualidade, segurança, durabilidade e
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

previsíveis. O que interessa não é mais a exigência desempenho.


cega de cumprimento do contrato, da forma como
foi assinado ou celebrado, mas se sua execução não 6 – Princípio da Igualdade nas Contratações: o fornece-
acarreta vantagem desproporcional para uma das dor não poderá fazer dis nções entre os consumidores, salvo
partes e onerosidade excessiva para outra. 18 em relação àqueles em condições especiais.
4 – Princípio da Vulnerabilidade: vulnerável é o con- 7 – Dever de Informar: assim está disposto no inciso III
sumidor. do art. 6º:
Constata-se a vulnerabilidade a par r de três aspectos:
a) econômico, 19
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o
novo regime das relações contratuais. 4ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
17
COSTA, Judith Hofmeister Mar ns. A ambiguidade das peças publicitárias e 1995.
20
os princípios do Código de Defesa do Consumidor. Porto Alegre: Revista da Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/
AJURIS, 59:13-30, Nov., 1993. Questão 32/Asser va D.
18 21
LÔBO, Paulo Luiz Netto, Transformações gerais do contrato: RTDC, EFING, Antônio Carlos. Banco de dados e cadastro de consumidores. Biblioteca
vol. 16, out/dez 2003, p.111. de Direito do Consumidor. Vol. 18. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2002.

288
[...] a informação adequada e clara sobre os diferen- atualizada, e a perdas e danos. (200000045530220001
tes produtos e serviços, com especificação correta de MG 2.0000.00.455302-2/000, Relator(a): Sebas ão
quan dade, caracterís cas, composição, qualidade e Pereira de Souza, Julgamento: 4/3/2005, Publicação:
preço, bem como sobre os riscos que apresentem; 2/4/2005) (negritamos)

É o mais importante dos direitos trazidos pelo Código. 8.1 Prá cas Permi das: há porém, algumas prá cas que
Vejamos o que dispõe o § 1º do art. 10 do CDC: apesar de terem excessos reconhecidos, são permi das pela
jurisprudência nacional. O Puffing, também conhecido como
O fornecedor não poderá colocar no mercado de con- exagero publicitário, se dá nos casos das propagandas que
sumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber supervalorizam o produto anunciado. Exemplo: “melhor
apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade carro do mundo!”, ou “a cerveja mais gostosa do carnaval!”.
à saúde ou segurança. Aqui temos a figura do dolo bônus (dolo “do bem”) importa-
do do direito civil, sendo tal exagero aceitável como prá ca
§ 1º O fornecedor de produtos e serviços que, publicitária. Nesse caso, o fornecedor não está obrigado a
posteriormente à sua introdução no mercado de comprovar que aquele é o melhor produto do mundo, se
consumo, ver conhecimento da periculosidade que presume a informação como parte da arte publicitária. So-
apresentem, deverá comunicar o fato imediatamen- mente se o puffing fizer ofertas obje vas estará vinculando o
anunciante (exemplo: “menor preço do mercado! Cobrimos
te às autoridades competentes e aos consumidores,
qualquer oferta!”). Já o Teaser é a propaganda incompleta,
mediante anúncios publicitários22.
com vistas a despertar a curiosidade no interlocutor. Ex.:
mostra-se a silhueta de um carro com o anúncio “vem ai
O produtor tem o dever de comunicar a existência do um novo carro revolucionário, aguardem”. Dessa forma,
risco às autoridades competentes e consumidores, por meio pode-se não iden ficar a marca ou o segmento de mercado
de mensagens publicitárias. do veículo, não pormenorizando também o eventual cliente.
Os anúncios publicitários a que se refere o § 1º do art. 10 Para quem acompanha as novelas e filmes ficará fácil reco-
do CDC serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, nhecer o Merchandising. Essa é modalidade publicitária que
às expensas do fornecedor do produto ou serviço. mostra uma marca ou produto no momento da produção
As obrigações do art. 10 do CDC não interferem na ar s ca. Exemplo: durante uma cena da novela uma pessoa,
responsabilidade do fornecedor. Não é causa excludente de bebendo refrigerante, fala: “nossa, que delícia beber uma
responsabilidade civil. Coca-Cola gelada!”, ou durante um filme, faz a propaganda
de uma bolsa específica. Devemos ressaltar que parte da
8 – Princípio da proteção contra a publicidade enga- doutrina considera essa prá ca ilícita quando o produto não
nosa ou abusiva: Publicidade enganosa é aquela total ou fica claramente destacado (ou oculto), configurando uma
parcialmente falsa, que induz o consumidor em erro pelo mensagem subliminar.
fornecimento de dados incorretos. Publicidade abusiva é
aquela discriminatória ou que explore fraquezas dos con- 9 – Proteção contra Cláusulas e Prá cas Abusivas: O
sumidores ou que permita, tolere ou incen ve à prá ca de art. 39 traz um rol exemplifica vo de prá cas abusivas.
lesões a valores. Sobre publicidade o Tribunal de Jus ça de Vejamos:
Minas Gerais já decidiu que:
[...] É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,
PUBLICIDADE ENGANOSA – CDC – OPÇÃO – ART. 35 CDC – dentre outras prá cas abusivas:
DIREITO SUBJETIVO – A propaganda enganosa é vedada pela I – condicionar o fornecimento de produto ou de
legislação consumeirista em seu art. 37, quando regula que serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
“é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva”. – Publi- bem como, sem justa causa, a limites quan ta vos;
cidade enganosa é qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente Sobre o tema o STJ já se posicionou:
falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão,
capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natu- ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. APLICAÇÃO
reza, caracterís cas, qualidade, quan dade, propriedades, DE MULTA PECUNIÁRIA POR OFENSA AO CÓDIGO
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos DE DEFESA DO CONSUMIDOR. OPERAÇÃO DENO-
e serviços – art. 37, § 1º, CDC. – Exis ndo publicidade en- MINADA ‘VENDA CASADA’ EM CINEMAS. CDC,
ganosa, surge para os consumidores os seguintes direitos ART. 39, I. VEDAÇÃO DO CONSUMO DE ALIMENTOS
ADQUIRIDOS FORA DOS ESTABELECIMENTOS CINE-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

subje vos previstos no art. 35 do CDC:


MATOGRÁFICOS.
1. A intervenção do Estado na ordem econômica,
Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar
fundada na livre inicia va, deve observar os princípios
cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade,
do direito do consumidor, objeto de tutela cons tu-
o consumidor poderá, alterna vamente e à sua livre
cional fundamental especial (CF, arts. 170 e 5º, XXXII).
escolha: 2. Nesse contexto, consagrou-se ao consumidor no
I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos seu ordenamento primeiro, a saber: o Código de De-
termos da oferta, apresentação ou publicidade; fesa do Consumidor Brasileiro, dentre os seus direitos
II – aceitar outro produto ou prestação de serviço básicos “a educação e divulgação sobre o consumo
equivalente; adequado dos produtos e serviços, asseguradas a
III – rescindir o contrato, com direito à res tuição de liberdade de escolha e a igualdade nas contratações”
quan a eventualmente antecipada, monetariamente (art. 6º, II, do CDC).
22
3. A denominada ‘venda casada’, sob esse enfoque,
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas-
se/2009/Questão 145. tem como raƟo essendi da vedação a proibição

289
imposta ao fornecedor de, u lizando de sua superio- Observação: o orçamento descrito no inciso VI deve ser
ridade econômica ou técnica, opor-se à liberdade de prévio e escrito, sob pena de se configurar prá ca abusiva24.
escolha do consumidor entre os produtos e serviços
de qualidade sa sfatório e preços compe vos. O STJ já decidiu que:
4. Ao fornecedor de produtos ou serviços, con-
sectariamente, não é lícito, dentre outras prá cas PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – RECURSO
abusivas, condicionar o fornecimento de produto ESPECIAL – NÃO RECEPÇÃO PELA CF/1988 DOS ARTS.
ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou 3º E 9º DA LEI Nº 5.966/1973 – MATÉRIA DE ÍNDOLE
serviço (art. 39, I do CDC). CONSTITUCIONAL – VIOLAÇÃO AOS ARTS. 3º, ALÍNE-
5. A prá ca abusiva revela-se patente se a empresa AS d, e E f, 5º E 9º DA LEI Nº 5.966/1973 – INEXIS-
cinematográfica permite a entrada de produtos TÊNCIA – RESOLUÇÃO DO CONMETRO E PORTARIA
adquiridos na suas dependências e interdita o DO INMETRO – FUNDAMENTO NA LEI Nº 5.966/1973
adquirido alhures, engendrando por via oblíqua a E NO CDC – RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO
cognominada ‘venda casada’, interdição inextensível E DESPROVIDO.
ao estabelecimento cuja venda de produtos alimen- 1. É inadequada a via do especial para a apreciação
cios cons tuiu a essência da sua a vidade comer- de suposta não recepção de disposi vos legais pela
cial como, verbi graƟa, os bares e restaurantes. Cons tuição Federal de 1988, pois tal resultaria em
6. O juiz, na aplicação da lei, deve aferir as finali- usurpação da competência do Pretório Excelso.
dades da norma, por isso que, in casu, revela-se 2. Não há ilegalidade na Resolução nº 11⁄1988
manifesta a prá ca abusiva. do CONMETRO e na Resolução nº 74⁄1995 do IN-
7. A aferição do ferimento à regra do art. 170, da CF METRO, por se tratarem de atos que estabelecem
é interditada ao STJ, porquanto a sua competência normas e critérios para efe var a polí ca nacional
cinge-se ao plano infracons tucional. de metrologia, nos termos da Lei nº 5.966⁄1973.
8. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribu- 3. Ademais, Código de Defesa do Consumidor veda
nal de origem, embora sucintamente, pronuncia-se a introdução no mercado de consumo de qualquer
de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos produto ou serviço em desacordo com as normas
autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a expedidas pelos órgãos oficiais competentes
rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, (Art. 39, VIII).
desde que os fundamentos u lizados tenham sido 4. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte,
suficientes para embasar a decisão. desprovido. (STJ, Resp. nº 416211/PR, Relator Mi-
9. Recurso especial improvido. (REsp. nº 744.602/RJ, nistro Denise Arruda, DJ 31/5/2004)
Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em
1/3/2007, DJ 15/3/2007 p. 264, REP DJ 22/3/2007 p. Já o art. 51 traz um rol exemplifica vo das chamadas
286) (negritamos) cláusulas abusivas:
São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
II – recusar atendimento às demandas dos consu- contratuais rela vas ao fornecimento de produtos e servi-
midores, na exata medida de suas disponibilidades ços que:
de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsa-
e costumes; bilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos
III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicita- produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição
ção prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor
serviço; e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser
IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do limitada, em situações jus ficáveis.
consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhe- Conforme ensina Leonardo de Medieros Garcia:
cimento ou condição social, para impingir-lhe seus
produtos ou serviços; O fornecedor não poderá inserir em contrato cláusula
V – exigir do consumidor vantagem manifestamente que o isente do dever de indenizar ou mesmo que
excessiva;
atenue a responsabilidade. São as chamadas cláusu-
VI – executar serviços sem a prévia elaboração de
las de irresponsabilidade que, quando inseridas em
orçamento e autorização expressa do consumidor,
contratos, são consideradas nulas de pleno direito,
ressalvadas as decorrentes de prá cas anteriores
como se não exis ssem, ou seja, não terão nenhuma
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

entre as partes;
eficácia perante o consumidor. 25
VII – repassar informação deprecia va, referente
a ato pra cado pelo consumidor no exercício de
II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da
seus direitos23;
quan a já paga, nos casos previstos neste código;
VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer
III – transfiram responsabilidades a terceiros;
produto ou serviço em desacordo com as normas
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abu-
expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se
sivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exage-
normas específicas não exis rem, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra en dade rada, ou sejam incompa veis com a boa-fé ou a equidade;
credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, O STJ entende que:
Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);
24
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/Questão47/
Item II.
23 25
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/Questão47/ GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor. 5.ed-Niterói, Rio de
Item IV. Janeiro: Impetus, 2009, p. 297.

290
CONSUMIDOR – CARTÃO DE CRÉDITO – FURTO – RES- São considerados abusivos os contratos de consumo
PONSABILIDADE PELO USO – CLÁUSULA QUE IMPÕE que preveem perda total das prestações pagas, na
A COMUNICAÇÃO – NULIDADE – CDC/ART. 51, IV. hipótese de inadimplemento por culpa exclusiva do
– São nulas as cláusulas contratuais que impõem ao consumidor.27
consumidor a responsabilidade absoluta por com- São considerados abusivos os contratos de consumo
pras realizadas com cartão de crédito furtado até o que atribuam ao consumidor a obrigação de ressar-
momento (data e hora) da comunicação do furto. cir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que
Tais avenças de adesão colocam o consumidor em igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor.28
desvantagem exagerada e militam contra a boa-fé e São considerados abusivos os contratos de consu-
a equidade, pois as administradoras e os vendedores mo que preveem multa moratória de 5% (cinco por
têm o dever de apurar a regularidade no uso dos cento) sobre o valor da prestação na hipótese de
cartões. (STJ, Resp. nº 348.343/SP, Relator Ministro fornecimento que envolva a outorga de crédito.29
Humberto Gomes de Barros, DJ 26/6/2006).
[...] 10 – Princípio da Conservação do Contrato de Consumo:
VI – estabeleçam inversão do ônus da prova em
Como é possível alterar cláusulas contratuais, presume-se
prejuízo do consumidor;
que se quer conservar o contrato de consumo.
VII – determinem a u lização compulsória de arbi-
Assim está disposto de maneira explícita no § 2º do
tragem;
art. 51 do CDC:
VIII – imponham representante para concluir ou rea-
lizar outro negócio jurídico pelo consumidor; A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não
IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou invalida o contrato, exceto quando de sua ausência,
não o contrato, embora obrigando o consumidor; apesar dos esforços de integração, decorrer ônus
X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, excessivo a qualquer das partes.
variação do preço de maneira unilateral;
XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato Neste sen do o Prof. Rogério Ferraz Doninni:
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido
ao consumidor; Pelo disposto no § 2º do art. 51 do CDC vê-se que
XII – obriguem o consumidor a ressarcir os custos de não somente o consumidor pode valer-se da resolu-
cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe ção contratual, mas também o fornecedor, pois não
seja conferido contra o fornecedor; teria qualquer sen do conservar um contrato que
XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateral- traga ônus excessivo a qualquer dos contratantes.
mente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após O fornecedor pode, eventualmente, pelo disposto
sua celebração; neste ar go, estar impossibilitado de cumprir com
XIV – infrinjam ou possibilitem a violação de normas uma obrigação contratual que lhe cause ônus exces-
ambientais; sivo, o que configuraria uma violação ao art. 4º, III,
XV – estejam em desacordo com o sistema de prote- do CDC, pelo qual os contratos devem ser celebrados
ção ao consumidor; e executados sempre com supedâneo na boa-fé e
XVI – possibilitem a renúncia do direito de indeniza- no equilíbrio nas relações entre consumidores e
ção por benfeitorias necessárias. fornecedores30.
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos,
a vontade que: 11 – Princípio da Modificação e Revisão das Cláusulas
I – ofende os princípios fundamentais do sistema Contratuais: é possível a modificação das cláusulas contra-
jurídico a que pertence; tuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
II – restringe direitos ou obrigações fundamentais revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
inerentes à natureza do contrato, de tal modo a excessivamente onerosas. Basta a prova do desequilíbrio
ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; contratual.
III – se mostra excessivamente onerosa para o con- Os contratos de consumo são regidos por normas de
sumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do ordem pública, de observância obrigatória.
contrato, o interesse das partes e outras circunstân- Há mi gação da cláusula pacta sunt servanda (contrato
cias peculiares ao caso. faz lei entre as partes). Em sede de relação de consumo,
o contrato faz lei entre as partes, desde que não traga ex-
[...]
cessiva onerosidade ao consumidor.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 4º É facultado a qualquer consumidor ou en dade


Aplica-se também a cláusula rebus sic stan bus.
que o represente requerer ao Ministério Público que
Não se aplica a teoria da Imprevisão nos contratos regidos
ajuíze a competente ação para ser declarada a nuli-
pelo Código de Defesa do Consumidor.
dade de cláusula contratual que contrarie o disposto
neste código ou de qualquer forma não assegure o 12 – Princípio da Adequação e Eficiência do Serviço
justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes. Público:
Por fim, observe as seguintes asser vas de prova: Está previsto no art. 6º, X, do CDC que dispõe sobre “[...] a
adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”.
São considerados abusivos os contratos de consumo
que transferem a responsabilidade do fornecedor à 27
FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/Questão 19/Asser va B.
companhia seguradora.26 28
FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/Questão 19/Asser va C.
29
FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/Questão 19/Asser va D.
30
DONINNI, Rogério Ferraz. A revisão dos contratos no Código Civil e no Código
26
FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/Questão 19/Asser va A. de Defesa do Consumidor. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2001.

291
13 – Responsabilidade Solidária: Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de
maneira diversa o ônus da prova quando:
Quando mais de uma pessoa causar danos ao consumi- I – recair sobre direito indisponível da parte;
dor, todos responderão solidariamente. II – tornar excessivamente di cil a uma parte o exercício
Assim está disposto no parágrafo único do art. 7º: “Tendo do direito.
mais de um autor a ofensa, todos responderão solidaria- O art. 6º, inciso VIII, do CDC permite a inversão do ônus
mente pela reparação dos danos previstos nas normas de da prova pela:
consumo”.
Também nesse sen do está o § 1º do art. 25: “Havendo a) Verossimilhança da alegação;
mais de um responsável pela causação do dano, todos res- b) Hipossuficiência do consumidor.
ponderão solidariamente pela reparação prevista nesta e
nas seções anteriores”. A lei em estudo diz que um dos direitos básicos do con-
De acordo com o entendimento do Doutrinador Arruda sumidor é a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
Alvim “cada responsável solidário responde pela totalidade com a inversão do ônus da prova a seu favor, no processo
dos danos, estando obrigado cada um individualmente a civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
responder pela completa indenização”.31 quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
O STJ já decidiu que: de experiências.
Há divergência acerca do momento da inversão da
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRESTAÇÃO DE prova, se:
SERVIÇOS MÉDICOS. Quem se compromete a pres- 1) no momento do saneamento do processo,
tar assistência médica por meio de profissionais 2) quando do despacho da pe ção inicial ou
que indica, é responsável pelos serviços que estes 3) na sentença.
prestam. Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp. A inversão do ônus da prova não é um direito subje vo
nº 138.059, Relator Ministro Ari Pargendler, 3ª T., j. do consumidor, mas sim uma faculdade conferida ao juiz.
13/3/2001, p. DJ 11/6/2001). O magistrado, no caso concreto, u liza-se de dois cri-
térios: a) verossimilhança ou b) hipossuficiência. Basta a
14 – Princípio da Inversão do Ônus da Prova: presença de um para o juiz determinar a inversão do ônus
da prova.
É pacífico na jurisprudência a asserção de responsabi- Em regra, ao alegar defeito de produto, deverá demons-
lidade solidária entre fabricante e fornecedor de veículos trar que o produto é defeituoso. Pode o juiz determinar a
(concessionárias) por defeitos no bem. Segundo o acórdão a inversão do ônus, seja por conta da hipossuficiência ou pela
seguir, o STJ entendeu pela solidariedade também nos casos verossimilhança da alegação.
que os defeitos não forem resolvidos pelo fornecedor dentro Haverá a inversão de forma automá ca conforme previ-
do período de garan a: são expressa do art. 38 do CDC: “O ônus da prova da veraci-
dade e correção da informação ou comunicação publicitária
RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE DEFESA DO CON- cabe a quem as patrocina.”
SUMIDOR. VEÍCULO NOVO. AQUISIÇÃO. DEFEITOS Recentemente o STJ decidiu que:
NÃO SOLUCIONADOS DURANTE O PERÍODO DE
GARANTIA. PRESTAÇÃO JURISDICIONAL DEFICIENTE. PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. INVERSÃO DO
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO FABRICANTE E DO ÔNUS DA PROVA. ART. 6º, VIII, DO CDC. PRESSUPOS-
FORNECEDOR. INCIDÊNCIA DO ART. CDC. DECADÊN- TOS LEGAIS. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO.
CIA. AFASTAMENTO. FLUÊNCIA DO PRAZO A PARTIR CABIMENTO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FALTA DE
DO TÉRMINO DA GARANTIA CONTRATUAL. PREQUESTIONAMENTO.
1. Diversos precedentes desta Corte, diante de 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública movida pelo
questões rela vas a defeitos apresentados em veí- Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte
culos automotores novos, firmaram a incidência do contra a Agência Brasileira de Telecomunicações S/A,
art. Código de Defesa do Consumidor para reconhe- com o fito de obter reparação de danos causados
cer a responsabilidade solidária entre o fabricante e aos consumidores pela cobrança indevida de débitos
o fornecedor. relacionados a ligações de longa distância.
2. O prazo de decadência para a reclamação de vícios 2. O Tribunal de origem desproveu o Agravo de
do produto não corre durante o período de garan a Instrumento, mantendo a decisão que determinou
contratual, em cujo curso o veículo foi, desde o pri- a inversão do ônus probatório liminarmente e sem
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

meiro mês da compra, reiteradamente apresentado fundamentação.


à concessionária com defeitos. Precedentes. (STJ, 3. O art. 6º, VIII, do CDC inclui no rol dos direitos
4ªT, REsp 547794/PR. Relatora Min. MARIA ISABEL básicos do consumidor “a facilitação da defesa de
GALOTTI. DJe 22/02/2011) seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a cri-
No Código de Processo Civil, o art. 333 define as regras tério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
sobre a inversão do ônus da prova: for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
[...]. O ônus da prova incumbe: de experiências”.
I – ao autor, quanto ao fato cons tu vo do seu direito; 4. A expressão “a critério do juiz” não põe a seu
II – ao réu, quanto à existência de fato impedi vo, mo- talante a determinação de inversão do ônus proba-
difica vo ou ex n vo do direito do autor. tório; apenas evidencia que a medida será ou não
determinada caso a caso, de acordo com a avaliação
31
do julgador quanto à verossimilhança das alegações
ALVIM, Arruda, ALVIM, Thereza, ALVIM, Eduardo Arruda et al, Código do con-
sumidor comentado. 2ª ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1995. ou à hipossuficiência do consumidor.

292
5. A transferência do encargo probatório ao réu não VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
cons tui medida automá ca em todo e qualquer com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no pro-
processo judicial, razão pela qual é imprescindível cesso civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
que o magistrado a fundamente, demonstrando seu alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
convencimento acerca da existência de pressuposto as regras ordinárias de experiências;
legal. Precedentes do STJ. [...]
6. A tese recursal de que a inversão do ônus da prova X – a adequada e eficaz prestação dos serviços pú-
não pode ser deferida em favor do Ministério Público blicos em geral.
em Ação Civil Pública, por faltar a condição de hipos-
suficiência, não foi deba da na instância ordinária, O art. 6º do CDC traz um rol exemplifica vo de direitos
tampouco foram opostos Embargos de Declaração do consumidor, senão vejamos o que dispõe o art. 7º:
para esse fim. Aplicação, por analogia, da Súmula nº
282/STF, ante a falta de preques onamento. Os direitos previstos neste código não excluem outros
7. Ad argumentandum, tal alegação não prospera. decorrentes de tratados ou convenções internacio-
A uma, porque a hipossuficiência refere-se à rela- nais de que o Brasil seja signatário, da legislação
ção material de consumo, e não à parte processual. interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas
A duas, porque, conforme esclarecido alhures, tal me- autoridades administra vas competentes, bem como
dida também pode se sustentar no outro pressuposto dos que derivem dos princípios gerais do direito,
legal, qual seja, a verossimilhança das alegações. analogia, costumes e equidade.
8. Afasta-se a determinação liminar de que a ora re-
corrente arque com o ônus probatório, sem prejuízo Por exemplo, a responsabilidade do fornecedor é ba-
de eventual e oportuna inversão. seada na Teoria do Risco, prevista no Código Civil de 2002.
9. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa É um direito do consumidor que não se encontra previsto
parte, provido. no ar go em estudo.
(REsp. nº 773.171/RN, Relator Ministro Herman Passaremos a analisar alguns direitos previstos no CDC:
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 20/8/2009, 1 – Direito de proteção à vida, saúde e segurança. O for-
DJe 15/12/2009) (negritamos). necedor deverá preservar a vida, a saúde e a segurança dos
consumidores. Exige-se, portanto, informação adequada,
Direitos Básicos do Consumidor conforme se vislumbra pela leitura do art. 9º do CDC. Para
Sergio Cavalieri: “não basta que os produtos e/ou serviços
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: sejam simplesmente adequados aos fins a que se des -
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra nam (qualidade-adequação); é preciso que sejam seguros
os riscos provocados por prá cas no fornecimento (qualidade-segurança)”33. José Geraldo entende
de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos; que a mera exposição a perigo da saúde do consumi-
II – a educação e divulgação sobre o consumo adequa- dor é mo vo para serem tomadas providências em
do dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade face do consumidor, sempre com vistas à proteção
de escolha e a igualdade nas contratações; deste, que tem o direito de exigir dos diversos for-
III – a informação adequada e clara sobre os diferen- necedores de produtos e serviços que adotem todas
tes produtos e serviços, com especificação correta de as providências necessárias até para evitar riscos ao
quan dade, caracterís cas, composição, qualidade e consumo de produtos, ainda que intrinsecamente
preço, bem como sobre os riscos que apresentem; apresentem algum risco. 34
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coerci vos ou desleais, Segundo Cavalieri:
bem como contra prá cas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços; é por esta razão que representa uma obrigação do
V – a modificação das cláusulas contratuais que esta- fornecedor a indicação de advertências, de sinais
beleçam prestações desproporcionais ou sua revisão ostensivos, de informações precisas, nos rótulos,
em razão de fatos supervenientes que as tornem nas embalagens, nos invólucros, nos recipientes, nas
excessivamente onerosas; peças publicitárias, no caso de produtos, e nos locais
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

onde são desenvolvidos serviços potencialmente


Observação: Tal inciso, dispensa a prova do caráter perigosos. 35
imprevisível do fato superveniente, bastando a
demonstração objeƟva da excessiva onerosidade 2 – É direito do consumidor integral reparação dos da-
advinda para o consumidor32. nos patrimoniais e morais sofridos, individuais, cole vos e
difusos.
VI – a efe va prevenção e reparação de danos pa-
trimoniais e morais, individuais, cole vos e difusos; É exatamente em função desta obrigação de reparar
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administra vos os danos que os fornecedores, para prevenirem a
com vistas à prevenção ou reparação de danos pa-
trimoniais e morais, individuais, cole vos ou difusos, 33
CAVALIERI Filho, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas,
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 2008.
34
FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso fundamental de direito do consumidor.
técnica aos necessitados; São Paulo: Atlas, 2007. p. 37.
35
Cavalieri Filho, op. cit., p.80
32
Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009/Questão 144.

293
ocorrência do dano, instrumentaliza a ocorrência do responsabilidade sobre referida área, e, por conse-
chamado recall, procedimento pelo qual o próprio quência, resta caracterizado seu dever de guarda e
fabricante de produtos de consumo duráveis concla- vigilância dos veículos automotores que ali param.
ma seus consumidores a comparecerem geralmente 2 – Sendo o mesmo realizador de a vidade em-
às agências concessionárias, de molde a trocarem presarial, que visa ao lucro, resta evidente que tais
peças defeituosas.36 serviços são oferecidos no intuito de atrair clien-
tela ao estabelecimento, sendo o estacionamento
E isto ocorre exatamente pelo fato de que os forne- público essencial ao sucesso de sua a vidade, não
cedores têm consciência de que, no caso de aciden- podendo prosperar a argumentação do recorrente
tes em função do defeito em determinada peça do de que tal serviço é apenas para monitorização
produto, serão responsabilizados tanto que no que dos consumidores para o acesso às vagas, por-
se refere ao ressarcimento acerca do mesmo, como quanto a presença de tais homens transmite-lhes
também dos danos materiais e, às vezes, até morais, a ideia de que seus automóveis estarão seguros e
experimentados pelo consumidor em função do salvos de incidentes como o do caso em quadro.
respec vo acidente. 37 3 – A respaldar este raciocínio, colaciono julgado
proferidos em situação análoga, verbis: “No caso
Não existem indenizações tarifadas ao consumidor, sendo vertente, ao deslocar um funcionário, registrado e
que toda cláusula contratual que atenue a indenização ao atuando em nome da empresa para determinado
consumidor é abusiva, portanto nula. estacionamento, ainda que público, passa a em-
Toda lesão deve ser reparada e não pode ser imposta
presa a imiscuir em seus clientes a impressão de
limitação indenizatória ao consumidor, que poderá contratar
que o referido estacionamento pertence ao esta-
limitadamente.
belecimento gerando uma sensação de segurança e
tranquilidade àqueles que lá desfrutarão e gastarão
Responsabilidade Civil no CDC sem preocupar-se com seus pertences. A obrigação
de indenizar deriva da prá ca de um ato ilícito, seja
No CDC, a regra é a responsabilidade civil obje va, ou este ato comissivo ou omissivo. A responsabilidade
seja, independe da demonstração de culpa. civil baseada no direito consumerista se assenta
Essa responsabilidade obje va é fundamentada pela no risco da a vidade do fornecedor em face do
Teoria do Risco da A vidade. Para essa teoria, todo aquele
consumidor, tanto pelo aspecto contratual, quando
que coloca serviço ou produto no mercado de consumo cria
pelo aspecto extracontratual independentemente
um risco de dano a terceiros. Concre zado esse dano, surge
de culpa por parte do agente. Desta forma, passa
o dever de repará-lo, independentemente da existência de
o prestador de serviços a se responsabilizar pelos
culpa.
bens que seu funcionário aparentemente está
vigiando. [...]. Ademais, por tratar-se de bene cio
Elementos da Responsabilidade Civil que se insere em sua a vidade comercial pelo fato
de deslocar um de seus funcionários para o local,
1 – Ação ou omissão (existência da relação de consumo);
a responsabilidade da recorrente é obje va pelos
2 – Lesão ao consumidor;
danos que causar ao consumidor, independente da
3 – Nexo causal entre ação ou omissão e a lesão.
existência ou não de culpa, na forma dos arts. 14 e
22 do CDC, bastando para tanto a existência de nexo
A regra é a responsabilidade civil obje va, que independe
de causalidade entre o evidente defeito do serviço
do elemento culpa.
e o dano causado”. (20050110266163 ACJ, Relator
Inicialmente, deve-se comprovar o dano, o nexo de cau-
Gilberto de Oliveira, Primeira Turma Recursal dos
salidade e o vício/defeito. Nesse sen do é o entendimento
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julgado
do TJDFT:
em 2/5/2006, DJ 20/6/2006 p. 131) 4. Exsurge, então,
DIREITO CONSUMERISTA – RESPONSABILIDADE a responsabilidade civil do estabelecimento comer-
CIVIL – DANOS MATERIAIS – FURTO AO INTERIOR cial em indenizar os prejuízos ocorridos em razão
DE VEÍCULO OCORRIDO EM ESTACIONAMENTO PÚ- de furto havido no interior do veículo do recorrido,
BLICO QUE SERVE A CENTRO COMERCIAL – LOCAL além dos danos causados no seu exterior em razão
de arrombamento. 5. Recorrente condenado ao
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

EM QUE O CONTROLE DO TRÁFEGO E A VIGILÂNCIA


SÃO REALIZADOS POR FUNCIONÁRIOS DE EMPRESA pagamento das custas e de honorários advoca cios,
TERCEIRIZADA DE SEGURANÇA – OBRIGAÇÃO DE à razão de 20% (vinte por cento) do valor da condena-
INDENIZAR CONFIGURADA – RECURSO CONHECIDO ção (art. 55 da lei de regência). (20060111169705ACJ,
E IMPROVIDO. Relator LEILA ARLANCH, Primeira Turma Recursal dos
1 – O Shopping Center ao manter, em estaciona- Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julgado
mento localizado em área pública, funcionários em 21/8/2007, DJ 16/10/2007 p. 119) (Negritamos)
de empresa terceirizada para fazer o controle do
tráfego do local, objetivando oferecer conforto Entende o Superior Tribunal de Jus ça que a responsabi-
aos usuários do empreendimento, passa a ter lidade civil obje va do fornecedor se estende a toda a cadeia
de fornecedores de forma solidária. Por exemplo, caso haja
36
Op. cit., p.148 a falência do fornecedor imediato de gêneros alimen cios
37
RAGAZZI; LUIZ, José; SCHLOMMER, Raquel; NICASTRO; Vitor Hugo Honesko,
Código de defesa do consumidor comentado; 1ª Ed. São Paulo: Editora Ver-
(supermercado), quaisquer das pessoas jurídicas (ou sicas,
ba m, 2010. no exercício de atividade empresária) que venderam o

294
alimento ao estabelecimento que veio a falir, serão conside- Analisando a seguinte situação hipotética: Antônio
rados responsáveis por essa transação, arcando com todas as recebeu em sua residência inúmeras cartas de cobrança,
despesas dos eventuais vícios ou irregularidades do produto. emiƟdas pela concessionária de serviço público de forne-
O entendimento é aplicável a todas as relações de consumo, cimento de energia elétrica, referente à parcelas que já
incluindo as de serviços médico-hospitalares e de turismo. haviam sido pagas. Ocorre que, apesar da adimplência de
Vejamos o seguinte julgado: Antônio, o serviço de fornecimento de energia elétrica foi
interrompido pela concessionária, o que o levou a pagar
CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IN- o débito indevido e ajuizar ação ordinária de repeƟção de
DENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. MÉDICO indébito, com pedido de resƟtuição em dobro do valor pago.
PARTICULAR. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. HOSPI- Antônio pleiteou ainda, nessa mesma ação, declaração de
TAL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. LEGITIMIDADE abusividade de aumento tarifário. Com base nessa situa-
PASSIVA AD CAUSAM. 1. Os hospitais não respondem ção hipotéƟca, a cobrança não caracteriza vício de serviço,
obje vamente pela prestação de serviços defeituo- devendo ser afastado o prazo decadencial previsto no CDC
sos realizados por profissionais que nele atuam sem para o ajuizamento da ação judicial38.
vínculo de emprego ou subordinação. Precedentes. Para o doutrinador Felipe Peixoto:
2. Embora o art. 14, § 4º, do CDC afaste a responsabi-
lidade obje va dos médicos, não se exclui, uma vez embora tanto no vício quanto no fato haja responsa-
comprovada a culpa desse profissional e configurada bilidade civil do fornecedor, ambos não se confundem
uma cadeia de fornecimento do serviço, a solidarie- no sistema brasileiro. No vício há um descompasso
dade do hospital imposta pelo caput do art. 14 do entre o produto ou o serviço oferecido e as legí mas
CDC. 3. A cadeia de fornecimento de serviços se car- expecta vas do consumidor (intrínseco). Já no fato há
acteriza por reunir inúmeros contratos numa relação um dano ao consumidor, a ngindo-o em sua integri-
de interdependência, como na hipótese dos autos, dade sica ou moral (extrínseco). Pode-se dizer, em
em que concorreram, para a realização adequada extrema simplificação, que o vício a nge o produto,
do serviço, o hospital, fornecendo centro cirúrgico, enquanto que o fato a nge a pessoa do consumidor
equipe técnica, medicamentos, hotelaria; e o médico, (danos morais e materiais). 39
realizando o procedimento técnico principal, ambos
auferindo lucros com o procedimento. 4. Há o dever Responsabilidade pelo Fato do Produto/Serviço
de o hospital responder qualita vamente pelos pro-
fissionais que escolhe para atuar nas instalações por A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço
ele oferecidas. 5. O reconhecimento da responsabili- está ligada, relata Sérgio Pinheiro Marçal,
dade solidária do hospital não transforma a obrigação
de meio do médico, em obrigação de resultado, pois ao conceito de acidente de consumo, ou seja, quando
a responsabilidade do hospital somente se configura ocorrer acidente causado em razão de produto ou
quando comprovada a culpa do médico, conforme a serviço defeituoso, o fornecedor (fabricante, produ-
teoria de responsabilidade subje va dos profissionais tor, construtor nacional ou estrangeiro, importador e
liberais abrigada pelo Código de Defesa do Consumi- comerciante, este em casos expressos) será respon-
dor. 6. Admite-se a denunciação da lide na hipótese sável perante o consumidor. 40
de defeito na prestação de serviço. Precedentes.
O fato do produto é o dano causado ao consumidor em
Diferença entre Fato do Produto e do Serviço, razão de um acidente de consumo. Exemplo: o teto que desa-
bou em um shopping em São Paulo, ferindo diversas pessoas.
e Vício do Produto e Vício do Serviço
Vejamos o que dispõe o art. 12 do CDC:
Há vício do produto quando este não apresentar os
O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou
bene cios e vantagens que o consumidor poderia dele legi-
estrangeiro, e o importador respondem indepen-
mamente aguardar. Assim, o produto vale menos ou tem
dentemente da existência de culpa, pela reparação
menor u lidade por conta de uma falhar qualquer.
dos danos causados aos consumidores por defeitos
Exemplo: ar-condicionado que não refresca o ambiente.
decorrentes de projeto, fabricação, construção,
Vício é a mera inadequação do serviço ou produto para
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
os fins a que se des na. O defeito diz respeito à inseguran-
acondicionamento de seus produtos, bem como por
ça do produto ou do serviço (a inadequação transcende o
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

produto ou serviço para a ngir a pessoa ou o patrimônio do


u lização e riscos.
consumidor). Exemplo: geladeira explode, podendo causar
outros danos.
Considere a seguinte situação hipotéƟca. Em razão de
No fato do produto, o dano vai além do mero desvalor
falha no sistema de freios do automóvel de sua propriedade,
e da falha. É a causa de um dando ao consumidor por conta
recém-adquirido e com poucos quilômetros rodados, Fábio
de um defeito do produto ou serviço.
atropelou Silas. Nessa situação hipotéƟca, Silas pode acio-
Há quem sustente que o defeito seria um vício com um
nar a montadora do veículo, sob o argumento da ocorrência
resultado lesivo.
de acidente de consumo, em virtude de ser consumidor por
O CDC fala em responsabilidade pelo fato do produto/
equiparação41.
serviço e pelo vício do produto/serviço.
Responsabilidade civil por fato – visa à proteção à inte- 38
Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/Questão 35.
gridade sica e psíquica. 39
NETO Braga, PEIXOTO Felipe: Manual de direito do consumidor: à luz da juris-
Responsabilidade civil por vício – visa à proteção ao 40
prudência do STJ. Salvador: Edição Juspodivm, 2009, p. 100.
Revista Direito do Consumidor nº 6. São Paulo: Abril/Junho 1993, p. 105
patrimônio do consumidor. 41
Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009/Questão 143.

295
Há três categorias de fornecedores: III – não conservar adequadamente os produtos
a) real: fabricante, produtor e construtor. perecíveis.
b) presumido: importador. Parágrafo único. Aquele que efe var o pagamento
c) aparente: fornece o nome ou a marca ao produto ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso
final. Exemplo: franqueador, lembrando que o franqueado contra os demais responsáveis, segundo sua par ci-
responde também pelo dano causado ao consumidor. pação na causação do evento danoso.

Há três modalidades de defeitos: A responsabilidade do comerciante pelos danos causados


a) de concepção ou criação: no projeto, na fórmula ou aos consumidores é subsidiária na hipótese de fato ou de
no design. produto do serviço.
b) de produção ou fabricação: abrange os defeitos de Na hipótese de vícios será sempre solidária.
fabricação, construção, montagem, manipulação e acondi- Apesar de garan r o direito de regresso, é proibida a
cionamento dos produtos. denunciação da lide, senão vejamos o que dispõe art. 88
c) de informação ou comercialização: na apresentação do CDC:
do produto. Informação insuficiente ou inadequada (inclusive
em relação à publicidade). Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código,
a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo
O produto é defeituoso quando não oferece a segurança autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se
que dele legi mamente se espera, levando-se em considera- nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.
ção as circunstâncias relevantes, entre as quais sua apresen-
tação, o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam, Os fundamentos jurídicos da vedação da denunciação
a época em que foi colocado em circulação. são: a) traria nova pessoa ao processo, retardando o ressar-
Para James Marins, o Risco do desenvolvimento é a cimento do consumidor. b) nova causa de pedir.
possibilidade de que um determinado produto venha a ser Observação: A individualização da responsabilidade do
introduzido no mercado sem que possua defeito cognoscível, fornecedor pela colocação do produto no mercado pode
ainda que exaus vamente testado, ante o grau de conhe- afastar a responsabilidade do comerciante45.
cimento cien fico disponível à época de sua introdução,
ocorrendo, todavia que, posteriormente, decorrido deter- Excludentes de Responsabilidade
minado período do início de sua circulação no mercado de Dispõe o art. 12, § 3º, do CDC:
consumo venha a se detectar defeito, somente iden ficável
ante a evolução dos meios técnicos e cien ficos, capaz de O fabricante, o construtor, o produtor ou importador
causar danos aos consumidores. só não será responsabilizado quando provar:
Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os I – que não colocou o produto no mercado;
acidentes de consumo no Código de Proteção e Defesa do II – que, embora haja colocado o produto no mercado,
Consumidor. o defeito inexiste;
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p.128 III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Teoria dos Riscos do Desenvolvimento No inciso II do disposi vo em comento, verifica-se o


rompimento do nexo causal entre a ação e a lesão.
O fornecedor responde por defeitos constatados após A jurisprudência entende que a culpa concorrente do
a colocação do produto no mercado, em razão dos avanços consumidor não exclui, mas apenas atenua a responsa-
tecnológicos? bilidade do fornecedor46. No tocante a culpa exclusiva do
Para a maioria da doutrina e da jurisprudência, não exclui consumidor, já decidiu o STJ:
a responsabilidade.
O produto não é considerado defeituoso pelo fato de RECURSO ESPECIAL – RESPONSABILIDADE CIVIL –
outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado42. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – DANOS MATERIAIS – SA-
QUES INDEVIDOS EM CONTA-CORRENTE – CULPA
Cabe lembrar que o CDC estatui que o produto não EXCLUSIVA DA VÍTIMA – ART. 14, § 3º DO CDC –
é considerado defeituoso pelo fato de outro de me- IMPROCEDÊNCIA.
lhor qualidade ter sido colocado no mercado (CDC, 1 – Conforme precedentes desta Corte, em relação
art. 12, parágrafo 2º). Assim, se um novo computador, ao uso do serviço de conta-corrente fornecido pelas
lançado no mercado, faz em poucos segundos tarefa ins tuições bancárias, cabe ao corren sta cuidar
que os modelos anteriores levavam minutos, isso não pessoalmente da guarda de seu cartão magné co
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

fará com que estes sejam considerados defeituosos. 43 e sigilo de sua senha pessoal no momento em que
deles faz uso. Não pode ceder o cartão a quem quer
Responsabilidade do Comerciante que seja, muito menos fornecer sua senha a terceiros.
Dispõe o art. 13 do CDC: Ao agir dessa forma, passa a assumir os riscos de sua
conduta, que contribui, à toda evidência, para que
O comerciante é igualmente responsável, nos termos seja ví ma de fraudadores e estelionatários. (RESP
do ar go anterior, quando: nº 602.680/BA, Relator Ministro Fernando Gonçal-
I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o impor- ves, DJU de 16/11/2004; RESP nº 417835⁄AL, Relator
tador não puderem ser idenƟficados44; Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJU de 19/8/2002).
II – o produto for fornecido sem iden ficação clara do 2 – Fica excluída a responsabilidade da ins tuição
seu fabricante, produtor, construtor ou importador; financeira nos casos em que o fornecedor de servi-
42 45
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/Questão 46/Item V. Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/Questão 46/Item III.
43 46
Op.cit., p.104 Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas-
44
FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/Questão 22/Asser va B. se/2009/Questão 150.

296
ços comprovar que o defeito inexiste ou que, apesar NA RODOVIA. AUSÊNCIA DE CONTAGEM DE PAS-
de exis r, a culpa é exclusiva do consumidor ou de SAGEIROS. BANHEIRO EXISTENTE NO COLETIVO.
terceiro (art. 14, § 3º do CDC). RECONHECIMENTO CULPA CONCORRENTE. DANOS
3 – Recurso conhecido e provido para restabelecer a MORAIS CONFIGURADOS, FACE RISCO ATIVIDADE
r. sentença(STJ, Resp. nº 601.805/SP, Relator Ministro ECONÔMICA DESENVOLVIDA PELA RECORRENTE.
Jorge Scartezzine, DJ 14/11/2005) (negritamos). QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO ADEQUADA-
MENTE. DECISÃO: RECURSO CONHECIDO E IMPROVI-
Já o caso fortuito e força maior são causas excludentes DO, SENTENÇA MANTIDA. 1 – O fato de o passageiro
de responsabilidade para a jurisprudência. Cumpre ressaltar ter saído e se afastado do ônibus, a pretexto de
que são causas que excluem a responsabilidade, desde que fazer necessidades fisiológicas, no momento em
ocorram após a colocação do produto ou serviço no mercado que o ônibus se encontrava em plena rodovia, de
de consumo. Nessa linha é o entendimento jurisprudencial madrugada, parado em virtude de falhas mecâni-
do STJ: cas, contribuiu para o esquecimento do passageiro
na rodovia, mormente porque o ônibus possuía
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANS- banheiro, sendo de se considerar a ocorrência de
PORTE COLETIVO. BALA PERDIDA. FATO DE TER- culpa concorrente. 2 – Todavia, a culpa não pode
CEIRO. ser imputada com exclusividade ao passageiro, como
Bala perdida não é fato conexo aos riscos inerentes pretende a empresa recorrente, eis que o ônibus
do deslocamento, mas cons tui evento alheio ao se encontrava parado, por problemas mecânicos,
contrato de transporte, não implicando responsabi- e como tal, cabia a recontagem de passageiros ao
lidade da transportadora. novamente empreender a viagem, até porque a
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa responsabilidade da empresa, em face do risco da
extensão, provido. (STJ, Resp. nº 613.402/SP, Relator a vidade econômica que desenvolve é obje va em
Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ 4/10/2004). relação ao contrato celebrado com o passageiro de
levá-lo ao seu des no, no tempo e modo devidos.
Responsabilidade Pelo Fato do Serviço 3 – A perda da celebração do casamento de um filho
Ocorre com o acidente de consumo decorrente de um efe vamente é fato que a nge a personalidade, não
serviço defeituoso. se cons tuindo em apenas mero aborrecimento.
Diz o art. 14 do CDC: 4 – Quanto ao pedido alterna vo de redução do
quantum indenizatório, tendo em vista a culpa
O fornecedor de serviços responde, independente- concorrente do recorrido, não há provimento a ser
mente da existência de culpa, pela reparação dos concedido, uma vez que o doutor julgador levou em
danos causados aos consumidores por defeitos consideração tal fato ao fixar a indenização. 5 – Ante
rela vos à prestação dos serviços, bem como por ao exposto, nego provimento ao recurso, mantendo a
informações insuficientes ou inadequadas sobre sentença nos termos em que proferida. 6 – Condeno
sua fruição e riscos47. a recorrente no pagamento das custas processuais
e em honorários advoca cios, que ora fixo em 10 %
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a (dez por cento) sobre o valor da condenação, com
segurança que o consumidor dele pode esperar, fulcro no art. 20, §3º do CPC. 7 – Acórdão lavrado
levando-se em consideração as circunstâncias rele- nos moldes preconizados pelo art. 46, 2ª parte, da
vantes, entre as quais: Lei nº 9.099, de 1995.(20070210040810ACJ, Relator
I – o modo de seu fornecimento; IRACEMA MIRANDA E SILVA, Segunda Turma Recursal
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julga-
se esperam; do em 17/3/2009, DJ 22/4/2009 p. 272) (negritamos)
III – a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela Uma interpretação restri va dos arts. 12 e 14 do CDC
adoção de novas técnicas. levará a conclusão de que não há compensação de culpas.
A jurisprudência entende como causas excludentes de
As excludentes de responsabilidade estão previstas no responsabilidade o caso fortuito e força maior, desde que
§ 3º do disposi vo da lei em comento. ocorram durante ou após a prestação do serviço48.
Fortuito interno: é aquele que está relacionado com a
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsa- a vidade desempenhada.
bilizado quando provar: Fortuito externo: é aquele que não está relacionado com
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a a vidade desempenhada.
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais
Responsabilidade dos Profissionais Liberais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
O profissional liberal é o não empregado, que trabalha
por conta própria, em profissão de nível superior ou não,
Para a jurisprudência, da mesma forma, a culpa concor-
exercendo a vidade cien fica ou ar s ca.
rente atenua a responsabilidade do fornecedor. Assim, é o
A peculiaridade da responsabilidade do profissional
entendimento do TJDFT, vejamos:
liberal no CDC é que ela é subje va (responde na hipótese
CIVIL. CDC. CONTRATO DE TRANSPORTE. ÔNIBUS de dolo e culpa). Vejamos o que dispõe o art. 14, § 4º: “A
PARADO NA ESTRADA POR FALHA MECÂNICA. responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será
PASSAGEIRO QUE DEIXARA O COLETIVO PARA apurada mediante a verificação de culpa”. Nessa linha é o
FINS DE NECESSIDADES FISIOLÓGICAS, ESQUECIDO entendimento do STJ:
47 48
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/Questão Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas-
46/Item I. se/2009/Questão 150.

297
CIVIL. CIRURGIA. SEQUELAS. REPARAÇÃO DE DANOS. A expressão “fornecedor” abrange todos os sujeitos
INDENIZAÇÃO. CULPA. PRESUNÇÃO. IMPOSSIBILI- previstos no art.12 da lei em estudo.
DADE. Há os vícios de qualidade e de quan dade.
1 – Segundo doutrina dominante, a relação entre
médico e paciente é contratual e encerra, de modo Vícios de Qualidade
geral (salvo cirurgias plás cas embelezadoras), obri- 1 – Aqueles que tornam o produto inadequado ao con-
gação de meio e não de resultado. sumo. Exemplo: geladeira que não funciona.
2 – Em razão disso, no caso de danos e sequelas 2 – Aqueles que tornam o produto impróprio ao consu-
porventura decorrentes da ação do médico, impres- mo. Exemplo: iogurte com prazo de validade vencido.
cindível se apresenta a demonstração de culpa do 3 – Aqueles que diminuem o valor do produto.
profissional, sendo descabida presumi-la à guisa de 4 – Aqueles que es verem em desacordo com as infor-
responsabilidade obje va. mações constantes da embalagem, rotulagem ou mensagem
3 – Inteligência dos arts. 159 e 1545 do Código Civil publicitária. Levam-se em consideração, entretanto, as va-
de 1916 e do art. 14, § 4º do Código de Defesa do riações decorrentes da natureza do produto.
Consumidor. As alterna vas conferidas ao consumidor diante de um
4 – Recurso especial conhecido e provido para vício de qualidade estão previstas no § 1º do art. 18 do CDC:
restabelecer a sentença. “(STJ, Resp. nº 196.306/ Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta
SP, Relator Ministro Fernando Gonçalves, 3/8/2004, dias51, pode o consumidor exigir, alterna vamente e à sua
Informa vo nº 216)” (negritamos) escolha:

Dois principais fundamentos para a responsabilidade I – a subs tuição do produto por outro da mesma
subje va: espécie, em perfeitas condições de uso;
1 – Existência de relação intuitu personae. II – a res tuição imediata da quan a paga, mone-
2 – O profissional liberal exercer a vidade de meio. tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
Se o profissional liberal tem obrigação de resultado, não III – o aba mento proporcional do preço.52
há mo vo para que a regra seja diferente dos fornecedores. § 2º Poderão as partes convencionar a redução ou
ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior,
Responsabilidade Pelo Vício do Produto não podendo ser inferior a sete nem superior a
Diz o art. 18: cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão,
a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
Os fornecedores de produtos de consumo duráveis separado, por meio de manifestação expressa do
ou não duráveis respondem solidariamente pelos consumidor53.
vícios de qualidade ou quan dade que os tornem § 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das
impróprios ou inadequados ao consumo a que se alterna vas do § 1º deste ar go sempre que, em
des nam ou lhes diminuam o valor, assim como razão da extensão do vício, a subs tuição das partes
por aqueles decorrentes da disparidade, com as viciadas puder comprometer a qualidade ou caracte-
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rís cas do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as de produto essencial.
variações decorrentes de sua natureza, podendo o § 4º Tendo o consumidor optado pela alterna va do
consumidor exigir a subs tuição das partes viciadas. inciso I do § 1º deste ar go, e não sendo possível a
subs tuição do bem, poderá haver subs tuição por
Se o consumidor compra lâmpada em cuja embala- outro de espécie, marca ou modelo diversos, me-
gem vem a indicação de 200 wa s, porém a lâmpada diante complementação ou res tuição de eventual
só tem verdadeiramente 100 wa s, trata-se de vício diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
do produto.49 incisos II e III do § 1º deste ar go.
A respeito do que configura vício, manifestou-se a Atestado o vício de qualidade, o fornecedor tem prazo
doutrina: de 30 dias para saná-lo. O prazo pode ser reduzido a 7 ou
aumentado para 180 dias, por acordo, desde que respeitem
Vício, pois, é todo aquele que impede ou reduz a
os limites mencionados.
realização da função ou do fim a que se des nam
O prazo começa a contar a par r da no ficação, sendo
o produto ou o serviço, afetando a u lidade que
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de bom tom que o consumidor a formalize.


o consumidor deles espera. Este desvio da função,
O consumidor tem direito de ser ressarcido pelos gastos
desfavorável ao consumidor, segundo a previsão
que teve por ter sido privado do produto pelo vício.
corrente ou convencional, define-se subjetiva e
Há duas hipóteses nas quais se dispensa o prazo legal,
obje vamente. 50
pois não há como sanar o vício:
1) vício de tal magnitude que a subs tuição das partes
Diferenças para o vício redibitório do Código Civil:
possa vir a comprometer a qualidade do produto.
1 – Para o CDC, o vício pode ser oculto ou aparente. Para
2) produtos denominados essenciais. São de três pos:
o Código Civil, só pode ser vício oculto.
a) medicamentos;
2 – O CDC não exige que o vício seja de natureza grave
nem contemporâneo à celebração do contrato. 51
Assunto cobrado na prova do TJ-MS/Juiz Subs tuto/FCC/Nível Superior/2010/
Questão 22/Asser va D.
52
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/
49
Op.cit., p.101 Questão 22/Asser va E.
50 53
LÔBO, Paulo Luiz Ne o, Responsabilidade por Vício do Produto ou do Serviço. Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas-
Brasília: Brasília Jurídica, 1996, p.52 se/2009/Questão 148.

298
b) alimentos; Responsabilidade pelo Vício do Serviço
c) vestuários. Roberto Senise Lisboa, sobre a responsabilidade por
vícios nos serviços, esclarece que “o fornecedor de serviços,
Nas duas hipóteses acima o consumidor pode optar: seja ele profissional liberal ou não, responde obje vamente
• pela troca do produto; pelos danos puramente econômicos sofridos pelo consumi-
• pela devolução do que pagou monetariamente atua- dor quando a a vidade se demonstrar inadequada para o
lizado; fim que razoavelmente dela se espera”.54
• pelo aba mento proporcional do preço pago. Dispõe o art. 20 da lei em estudo:

Qualquer cláusula contratual que limite a opção de es- O fornecedor de serviços responde pelos vícios de
colha do consumidor é nula abusiva. qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou
lhes diminuam o valor, assim como por aqueles de-
Vícios de Quan dade correntes da disparidade com as indicações constan-
Quando o conteúdo líquido do produto for inferior tes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o
às informações constantes no recipiente, embalagem ou consumidor exigir, alterna vamente e à sua escolha:
mensagem publicitária. O consumidor pode optar pela
complementação, além de três outras opções. Ressalta-se I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional e
que não há prazo. quando cabível;
Diz o art. 19 do CDC que: II – a res tuição imediata da quan a paga, mone-
tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
Os fornecedores respondem solidariamente pelos perdas e danos;
vícios de quan dade do produto sempre que, res- III – o aba mento proporcional do preço.
peitadas as variações decorrentes de sua natureza, § 1º A reexecução dos serviços poderá ser confiada
seu conteúdo líquido for inferior às indicações cons- a terceiros devidamente capacitados, por conta e
tantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou risco do fornecedor.
de mensagem publicitária, podendo o consumidor § 2º São impróprios os serviços que se mostrem
inadequados para os fins que razoavelmente deles
exigir, alterna vamente e à sua escolha:
se esperam, bem como aqueles que não atendam as
I – o aba mento proporcional do preço;
normas regulamentares de prestabilidade.
II – complementação do peso ou medida;
III – a subs tuição do produto por outro da mesma
Serviços de Manutenção
espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
O Poder Público tem o dever de ofertar serviços adequa-
IV – a res tuição imediata da quan a paga, mone-
dos, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, con nuos.
tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais Diz o art. 22 do CDC:
perdas e danos.
§ 1º Aplica-se a este ar go o disposto no § 4º do Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, con-
ar go anterior. cessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra
§ 2º O fornecedor imediato será responsável quando forma de empreendimento, são obrigados a fornecer
fizer a pesagem ou a medição e o instrumento u li- serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
zado não es ver aferido segundo os padrões oficiais. essenciais, con nuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, to-
Vícios de Disparidade tal ou parcial, das obrigações referidas neste ar go,
Nos vícios de disparidade, o consumidor pode optar: serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las
• pela devolução do que pagou; e a reparar os danos causados, na forma prevista
• pelo aba mento proporcional do valor; ou neste código.
• por o serviço ser refeito.
O vício do serviço público leva a duas consequências:
Se não ver capacidade técnica, pode o consumidor exigir a) Poderá se exigir do Poder Público adequação do
do fornecedor que terceiro faça o serviço, devendo o úl mo serviço.
pagar pelo trabalho. b) Poderá se exigir do Poder Público ser condenado a
O vício de disparidade informa va recai tanto na diferen- reparar o dano.
ça do produto anunciado ao produto real, quanto a qualquer
mecanismo que induza o consumidor a erro, fazendo o Garan a Legal
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

“comprar gato por lebre”. De acordo com o professor Luiz Diz o art. 24 da lei em estudo que:
Antônio Rizza o Nunes, temos os seguintes exemplos de A garan a legal de adequação do produto ou serviço
vícios de disparidade: fazem com que o produto não funcione independe de termo expresso, vedada a exoneração con-
adequadamente, como um liquidificador que não gira; fazem tratual do fornecedor.
com que o produto funcione mal, como a televisão sem som Leonardo de Medeiros Garcia nos ensina que
o automóvel que “morre” toda hora; diminuam o valor do
produto, como riscos na lataria do automóvel, mancha no quando o fornecedor presta um serviço ou coloca um
terno; não estejam de acordo com informações, como o vidro produto no mercado, deve garan r que os mesmos
de mel de 500 ml que só tem 400 ml; ou façam os serviços correspondam às expecta vas do consumidor, tanto
os serviços apresentarem caracterís cas com funcionamento em sua qualidade, como em quan dade, eficiência
insuficiente ou inadequado como o serviço de desentupidora e informação.55
que no dia seguinte faz com que o banheiro alugue. 54
(NUNES, Luiz Antônio Rizza o. Comentários ao código de Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo. Revista dos Tribunais: São
Paulo, 2001.p. 204.
defesa do consumidor. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2000) 55
Op. cit.,p.174

299
Essa garan a independe de termo expresso já que VÍCIO DO SERVIÇO. DECADÊNCIA. O direito de o con-
não decorre da vontade das partes, mas da lei. sumidor reclamar vício oculto do serviço decai em
A garan a legal existe naturalmente, sendo interna 90 (noventa) dias, cujo prazo tem seu termo inicial
ao produto ou ao serviço fornecido. Mesmo que o no momento em que ficar evidenciado o defeito.
fornecedor não garanta a adequação ao produto e (2007.001.39334- Apelação Cível. Rel Des. Milton
do serviço, a lei o faz, sendo, por isso, nula qualquer Fernandes de Souza – Julgamento: 7/8/2007 – Quinta
cláusula exonera va.56 Câmara Cível – TJ/RJ)

Caracterís cas Caso haja a instauração de inquérito civil, também não


• Ilimitada. flui o prazo decadencial, até o encerramento do procedi-
• Irrecusável mento58.
• Aplica-se a qualquer po de produto, novo ou usado. Se já es ver fluindo, pode haver a suspensão do prazo
decadencial.
Garan a Contratual Assim, para efeitos de contagem do prazo:
A garan a contratual é faculta va, dependendo de pre- • Quando se tratar de vício aparente, o prazo é contado
visão no contrato. da data da entrega do produto ou do término da exe-
Dispõe o art. 50 do CDC: cução do serviço.
• Quando se tratar de vício oculto, o prazo é contado a
A garan a contratual é complementar à legal e será par r do momento em que ficar evidenciado o vício.
conferida mediante termo escrito.
Parágrafo único. O termo de garan a ou equivalente Prazo Prescricional
deve ser padronizado e esclarecer, de maneira ade- Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação
quada em que consiste a mesma garan a, bem como pelos danos causados por fato do produto ou do serviço,
a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada iniciando-se a contagem do prazo a par r do conhecimento
e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe do dano e de sua autoria.
entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor,
Cuida-se aqui, de fato do produto ou do serviço, com
no ato do fornecimento, acompanhado de manual
ofensa à segurança do consumidor. 59
de instrução, de instalação e uso do produto em
O produto, em decorrência do vício, como já as-
linguagem didá ca, com ilustrações.
sinalado, a nge a incolumidade sico-psíquica do
consumidor, potencializando, assim, um acidente de
É complementar e o prazo é contado após o término da
consumo, sujeitando-se o consumidor a um perigo
garan a legal. eminente.60
Obstam a decadência a reclamação comprovadamente O Código, aqui, estabelece prazo prescricional único
formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produ- para todos os casos de acidente de consumo.61
tos e serviços até a resposta nega va correspondente, que
deve ser transmi da de forma inequívoca, e a instauração Cavalieri Filho nos ensina que
de inquérito civil, até seu encerramento.
esse prazo só começa a correr a par r do conheci-
Prazo Decadencial mento do dano e de sua autoria. Destarte, se determi-
A lei confere prazo para fazer valer esse direito de garan- nada doença manifestar-se em um consumidor anos
a. Diz o art. 26 do CDC: após ter u lizado algum medicamento ou produto
alimen cio, e ficar demonstrado que a doença tem
O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de por causa esse medicamento ou produto, somente
fácil constatação caduca em: a par r daí começa a correr o prazo prescricional .62
I – trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço
e de produtos não duráveis; Já decidiu o STJ que:
II – noventa dias, tratando-se de fornecimento de
serviço e de produtos duráveis. O art. 27 do mesmo diploma legal cuida somente das
§ 1º Inicia-se a contagem do prazo decadencial a hipóteses em que estão presentes vícios de qualidade
par r da entrega efe va do produto ou do término do produto por insegurança, ou seja, casos em que o
da execução dos serviços. produto traz um vício intrínseco que potencializa um
acidente de consumo, sujeitando-se o consumidor
Assim, segundo o Código de Defesa do Consumidor, os a um perigo iminente. (STJ, REsp. nº 114.473, Rel.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

prazos de 30 (trinta) e 90 (noventa) dias para reclamar de Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 24/3/1997, DJ
vícios aparentes e de fácil constatação em produtos e ser- 5/5/1997)
viços, duráveis e não duráveis, têm natureza decadencial.
Fluem os prazos decadenciais imediatamente nos vícios O período quinquenal, todavia, não é aplicável para
de fácil constatação. as hipóteses em que se debate a responsabilidade
Começa a fluir o prazo da data que o vício vier a ser iden- pelo vício, quando o consumidor sofre apenas danos
ficado – no caso de vício oculto. O prazo decadencial não patrimoniais.63
flui se houver reclamação do consumidor até a resposta do 58
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas-
fornecedor57. O consumidor deve provar que reclamou. De se/2009/Questão 152.
acordo com entendimento do Egrégio TJ/RJ: 59
GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor. 5.ed-Niterói, Rio de
Janeiro: Impetus,2009.p.122.
60
Resp. nº 114.473/RJ. Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, em
24/3/1997.
56 61
Ibidem Ob.cit, p.122.
57 62
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas- Cavalieri Filho, Sérgio. Ob.cit., p.445.
63
se/2009/Questão 152. Lisboa, Roberto Senise. Ob. cit., p.277

300
A prescrição relaciona-se a acidente de consumo e a Ministério Público. Legi midade a va. Pessoa jurí-
decadência relaciona-se a vício64. dica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor.
Limite de responsabilização dos sócios. Código de
Teoria da Desconsideração da Pessoa Jurídica Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao res-
Se o sócio abusar fraudulentamente de uma empresa, sarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
responderá com seu patrimônio, responderá subsidiariamen- Art. 28, § 5º. – Considerada a proteção do consumidor
te pelas dívidas sociais. um dos pilares da ordem econômica, e incumbindo
Deve ser demonstrada a fraude (dolo) para que se alcance
ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica,
o patrimônio do sócio.
Diz o art. 28 do CDC que: do regime democrá co e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial
O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica legi midade para atuar em defesa de interesses indi-
da sociedade quando, em detrimento do consumidor, viduais homogêneos de consumidores, decorrentes
houver abuso de direito, excesso de poder, infração de origem comum. – A teoria maior da desconside-
da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não
ou contrato social. A desconsideração também pode ser aplicada com a mera demonstração de estar
será efe vada quando houver falência, estado de a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de
insolvência, encerramento ou ina vidade da pessoa suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova
jurídica provocados por má administração. de insolvência, ou a demonstração de desvio de
[...] finalidade (teoria subjetiva da desconsideração),
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria
jurídica sempre que sua personalidade for, de algu-
obje va da desconsideração).
ma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores. – A teoria menor da desconsideração, acolhida em
nosso ordenamento jurídico excepcionalmente
As pessoas jurídicas têm, dentre seus princípios no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental,
fundamentais, aquele que proclama sua autonomia incide com a mera prova de insolvência da pessoa
patrimonial. Isso significa que os bens das pessoas jurídica para o pagamento de suas obrigações,
naturais que a compõem, em princípio, não se con- independentemente da existência de desvio de
fundem com o patrimônio da pessoa jurídica. Tal finalidade ou de confusão patrimonial.
princípio, porém, não é absoluto, cedendo espaço – Para a teoria menor, o risco empresarial normal às
quando ficar evidenciado que a pessoa jurídica foi a vidades econômicas não pode ser suportado pelo
deturpada em suas finalidades, abrigando fraudes terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas
e abusos 65. Assim, “provada a existência de fraude, pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que
é inteiramente aplicável a teoria da desconsideração estes demonstrem conduta administra va proba,
da pessoa jurídica a fim de resguardar os interesses
isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz
dos credores prejudicados” (STJ, REsp. nº 211.619,
Rel. Min. Waldemar Zveiter, 3ª T., p. 23/4/2001) de iden ficar conduta culposa ou dolosa por parte
dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
O Código Civil em seu art. 50 diz que: em caso de abuso – A aplicação da teoria menor da desconsideração
da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de fi- às relações de consumo está calcada na exegese
nalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto
a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando a incidência desse disposi vo não se subordina à
lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e demonstração dos requisitos previstos no caput
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos do ar go indicado, mas apenas à prova de causar,
bens par culares dos administradores ou sócios da pessoa a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao
jurídica. ressarcimento de prejuízos causados aos consu-
midores. (STJ, REsp. nº 279.273, Rel. Min. Nancy
Diferenças da Desconsideração da Personalidade Pre-
Andrighi, 3ª T., 29/3/2004) (negritamos)
vista no Código Civil da Prevista no CDC
1 – No CDC, a desconsideração pode ser decretada de
o cio pelo juiz, pois é norma de ordem pública, de interesse Requisito Obje vo para aplicação da teoria (da descon-
social. No Código Civil, depende de requerimento do inte- sideração da pessoa jurídica): a insuficiência de patrimônio
ressado ou do MP. social para arcar com as dívidas da empresa (requisito in-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

2 – O CDC aplica a Teoria Menor da desconsideração da dispensável), principalmente para reparar os consumidores
pessoa jurídica, ou seja, basta a insolvência para que haja que foram lesados.
a desconsideração da personalidade jurídica. O Código Civil
aplica a Teoria Maior, que exige a insolvência e o desvio de Requisito Subje vo para aplicação da teoria (da descon-
finalidade. Sobre o tema o STJ já se posicionou no seguinte sideração da pessoa jurídica): é o uso fraudulento da razão
sen do: social. O Código de Defesa do Consumidor se contenta com
a culpa, caracterizada pela má administração, pela imperícia
Responsabilidade civil e Direito do consumidor. no trato das situações.
Recurso especial. Shopping Center de Osasco-SP.
Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Tipos de Responsabilidade de Acordo com o Modelo
64
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas- de Sociedade (Sociedades Integrantes de Grupos Societá-
se/2009/Questão 152. rios, Sociedades Controladas, Sociedades Consorciadas e
65
NETO Braga, PEIXOTO Felipe: Manual de Direito Do Consumidor: À Luz da Juris-
prudência do STJ, Salvador: Edição Juspodivm, 2009, p. 181. Sociedades Coligadas)

301
As sociedades integrantes dos grupos societários e as Observação: O fornecedor que veicule propaganda de
sociedades controladas são subsidiariamente responsá- notável pontualidade e eficiência de seus serviços de en-
veis pelas obrigações decorrentes do Código de Defesa do trega assume os riscos da aƟvidade, como o atraso aéreo.
consumidor66.
As sociedades consorciadas são solidariamente res- Peças de Reposição
ponsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. Já as Os fabricantes e importadores deverão assegurar a
sociedades coligadas só responderão por culpa. oferta de componentes e peças de reposição enquanto não
A desconsideração da pessoa jurídica alcança o patrimô- cessar a fabricação ou importação do produto68.
nio do acionista controlador e daqueles que tenham poder Assim, o fornecedor deve manter o mercado abasteci-
de gestão. do com peças de reposição de seus produtos. Perdura por
espaço de tempo razoável, mesmo após o encerramento da
produção ou da importação daquele bem.
Prá cas Comerciais
Ao lançar um novo produto no mercado, deve o fornece-
É uma fase de pós-produção. Estão relacionadas com
dor abastecer o mercado com peças de reposição. O tempo
o mercado de consumo, valendo para prá cas comerciais
que perdura este deve estar ligado internamente com a vida
e contratuais.
ú l do produto.
Considera-se consumidor toda pessoa exposta a uma Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser
prá ca comercial ou contratual. Exemplo: mensagem pu- man da por período razoável de tempo, na forma da lei.
blicitária. Entendem vários tribunais brasileiros que a mera demora
no fornecimento (entrega) de peças de reposição já é capaz
Oferta no CDC de gerar dano moral ao consumidor, dado o dever obje vo
A oferta é qualquer informação ou publicidade suficiente- do fabricante em fornecê-las num tempo razoável. Vejamos
mente precisa a respeito de preços e condições de produtos o julgado do TJSP:
ou de serviços, veiculadas de qualquer forma. Ela precisa ser
veiculada, divulgada. Também precisa ser precisa, ou seja, INDENIZAÇÃO APLICAÇÃO DO DANO MATERIAL E
comparada com base em dados obje vos. MORAL CARACTERIZADO.
A oferta vincula o fornecedor, que está obrigado a cum- A relação jurídica qualificada por ser “de consumo”
prir aquilo que ofertou, e não poderá alegar erro, equívoco, não se caracteriza pela presença de pessoa sica ou
pois sua responsabilidade é obje va. jurídica em seus polos, mas pela presença de uma
E se o fornecedor se recusar a cumprir o teor da oferta? parte vulnerável de um lado (consumidor) e de outro,
Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumpri- um fornecedor.
mento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor Mitigação da vulnerabilidade, de acordo com os
poderá, alterna vamente e à sua livre escolha: precedentes do Superior Tribunal de Jus ça. Diante
• exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos ter- disso, é evidente a possibilidade de pessoa jurídica
mos da oferta, apresentação ou publicidade; ser consumidora dos produtos e serviços bancários;
• aceitar outro produto ou prestação de serviço equi- Dano material e moral caracterizado pela demora do
valente; ou fabricante em fornecer as peças de reposição, pois
• rescindir o contrato, com direito à res tuição de é dever do fabricante assegurar o fornecimento de
quan a eventualmente antecipada, monetariamente peças de reposição até mesmo depois de cessada
atualizada, e a perdas e danos67. a produção do veículo por tempo razoável (pará-
grafo único do art.32 do CDC). (TJSP, 20ª CDP, APL
A oferta obriga o fornecedor que a veicular e integra 1945732020098260100. Relatora Des. Maria Lúcia
a contrato que vier a ser celebrado ainda que dele Pizzo . Publicado em 4/9/2012)
não conste. É a chamada força vincula va.
A oferta prevista no CDC difere da disposta no Código Responsabilidade dos Prepostos
Civil. A primeira vincula, obriga, o fornecedor, já a O fornecedor responde solidariamente pelos atos pra -
do CC é mero convite, não obrigando o fornecedor. cados por seus prepostos ou representantes comerciantes69.
Em caso de oferta ou venda por telefone ou Pela disposição topográfica, o art. 34 do CDC se refere à
oferta e afirma que, quando ela é feita pelo representante
reembolso postal, deve constar o nome do fabricante
comercial ou preposto, é feita em nome do fornecedor. Sobre
e endereço na embalagem, publicidade e em todos os
a responsabilidade do preposto, o STJ já decidiu:
impressos u lizados na transação comercial.
Diz o art. 427 do CC que a proposta de contrato obriga
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

RESPONSABILIDADE CIVIL. USINA. TRANSPORTE DE


o proponente, se o contrário não resultar dos termos TRABALHADORES RURAIS. MOTORISTA PRESTADOR
dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias DE SERVIÇO TERCEIRIZADO. VÍNCULO DE PREPOSIÇÃO.
do caso. RECONHECIMENTO. – Para o reconhecimento do
O art. 429 do Código Civil diz que a oferta ao público vínculo de preposição, não é preciso que exista um
equivale à proposta quando encerra os requisitos contrato pico de trabalho; é suficiente a relação
essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar de dependência ou que alguém preste serviço sob o
das circunstâncias ou dos usos. Já o parágrafo único interesse e o comando de outrem. Precedentes. Re-
do disposi vo em comento diz que pode revogar-se curso especial não conhecido. (STJ, Resp. nº 304.673,
a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde Min. Barros Monteiro, DJ 11/3/2002).
que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

68
66 Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/Questão 33/Asser va D.
Assunto cobrado na prova do FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/ 69
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Clas-
Questão 18.
67 se/2009/Questão 154.
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Subs tuto/2009/
Questão 33/Asser va E.

302
Publicidade Elemento Subje vo
É qualquer informação difundida com o fim de es mular É o Dolo. No § 2º do ar go em tela está prevista a forma
os consumidores a consumirem um produto ou a u lizarem culposa.
um serviço. A publicidade é um direito do fornecedor, e não
um dever. Cabe à lei traçar limites gerais que devem ser Consumação e Tenta va
respeitados. O crime se consuma quando o fornecedor deixa cons-
O art. 31 do CDC diz que: cientemente de alertar, mediante recomendações escritas
ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.
A oferta e apresentação de produtos ou serviços Por ser um crime omissivo não é admissível a tenta va.
devem assegurar informações corretas, claras, pre- O mesmo vale para a modalidade culposa.
cisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas Rege o art. 64 do CDC:
caracterís cas, qualidades, quan dade, composição,
preço, garan a, prazos de validade e origem, entre Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade com-
outros dados, bem como sobre os riscos que apresen- petente e aos consumidores a nocividade ou pe-
tam à saúde e segurança dos consumidores. riculosidade de produtos cujo conhecimento seja
posterior à sua colocação no mercado:
A informação deve ser correta, verdadeira, que não Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa.
seja capaz de induzir o consumidor em erro. Deve ser clara,
entendida de imediato, com facilidade, pelo consumidor. Verbo-núcleo
A informação deve ser precisa, ou seja, exata, definida, Deixar significa não fazer algo.
ligada ao bem a que se refere, além de ser ostensiva, ou
seja, de fácil percepção, que não exige maiores esforços do Elemento Norma vo
consumidor, e em língua portuguesa. Periculosidade significa possibilidade de algo vir a ser
O STJ já decidiu: perigoso. Já nocividade significa possibilidade de vir a causar
dano.
DIREITO DO CONSUMIDOR. INFORMAÇÃO CLARA
E PRECISA. ART. 31 DO CDC. O Código de Defesa do Sujeito A vo e Passivo
Consumidor assegura, expressamente, ao consumi- O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime
dor o direito à informação correta, clara e precisa próprio. O sujeito passivo é o consumidor. Secundariamente
do preço dos produtos, inclusive para os casos de a cole vidade.
pagamento via cartão de credito. Recurso especial
provido. (STJ, REsp. nº 81.269, Rel. Min. Castro Filho, Elemento Subje vo
2ª T., p. 25/6/2001) É o Dolo.

Consumação e Tenta va
CRIMES PREVISTOS NO CDC O crime se consuma quando o fornecedor deixa de
comunicar à autoridade competente e aos consumidores
Rege o art. 63 do CDC: sobre a nocividade ou a periculosidade do produto em
circulação. Sustentamos que o fornecedor deve comunicar
Omi r dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocivida- tanto à autoridade competente quanto ao consumidor, não
de ou periculosidade de produtos, nas embalagens, bastando apenas a comunicação ao primeiro. Por ser um
nos invólucros, recipientes ou publicidade: crime omissivo não é admissível a tenta va.
Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa.
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem deixar Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas
de alertar, mediante recomendações escritas os- quem deixar de re rar do mercado, imediatamente
tensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser quando determinado pela autoridade competente,
prestado. os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste
§ 2º Se o crime é culposo: ar go.
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.
Verbo-núcleo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Verbo-núcleo Deixar significa não fazer algo.

Omi r no po em apreço significa não dizer algo. Elemento Norma vo


Perigoso é aquilo que é arriscado. Já nocivo é aquilo
Elementos Norma vos do Tipo que prejudica.
Periculosidade significa possibilidade de algo vir a ser
perigoso. Já nocividade significa possibilidade de vir a causar Sujeito A vo e Passivo
o dano. O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de cri-
me próprio. Já a ví ma é o consumidor. Secundariamente
Sujeito A vo e Passivo a cole vidade.
O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime
próprio, uma vez que exige uma especial qualidade do sujeito Elemento Subje vo
passivo, que é ser fornecedor. É o Dolo.

303
Consumação e Tenta va Verbos-núcleo
O crime se consuma quando o fornecedor, ciente da Fazer significa dizer, já omi r é deixar de fazer algo.
nocividade ou periculosidade do produto, não o ra do mer-
cado. Por ser um crime omissivo não é admissível a tenta va. Sujeito A vo e Passivo
Dispõe o art. 65 do CDC: O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime
próprio. O sujeito passivo é o consumidor. Secundariamente
a cole vidade.
Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculo-
sidade, contrariando determinação de autoridade Elemento Subje vo
competente: É o Dolo. No § 2º o crime é culposo.
Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Parágrafo único. As penas deste ar go são aplicáveis Consumação e Tenta va
sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal Na modalidade comissiva (ação), o crime se consuma
e à morte. quando o fornecedor faz afirmação falsa ou enganosa. Já
na modalidade omissiva, quando o fornecedor omite infor-
Verbo-núcleo mação relevante sobre a natureza, caracterís ca, qualidade,
Executar significa não realizar. quan dade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou
garan a de produtos ou serviços. Na modalidade comissiva
Sujeito A vo e Passivo cabe tenta va já na omissiva não é cabível. Por fim, na mo-
dalidade culposa também é inadmissível a tenta va.
O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de cri-
Rege o art. 67 do CDC:
me próprio. O consumidor é a ví ma do crime em estudo.
Secundariamente a cole vidade. Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou
deveria saber ser enganosa ou abusiva:
Elemento Norma vo Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.
Periculosidade significa possibilidade de algo vir a ser
perigoso. Verbos-núcleo
Fazer significa realizar e promover significa fazer o de-
Elemento Subje vo senvolvimento de algo.
É o Dolo.
Elemento Norma vo
De acordo com a Professora Neusa Demar ni Gomes,
Consumação e Tenta va
a publicidade seria a:
O crime se consuma quando se executa serviço de alto
grau de periculosidade, contrariando determinação de au- a vidade mediante a qual bens de consumo e servi-
toridade competente. Trata-se de crime de mera conduta. ços que estão a venda se dão a conhecer, tentando
Como é possível fracionar o iter criminis, é admissível a convencer o público da vantagem de adquiri-los.70
tenta va.
Sujeito A vo e Passivo
ANÁLISE DO PARÁGRAFO ÚNICO O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime
Caso ocorra lesão corporal ou morte da ví ma, o autor próprio. Já o sujeito passivo é o consumidor. Secundariamen-
responderá por tais condutas em concurso com o delito ora te a cole vidade.
em estudo.
Elemento Subje vo
Reza o art. 66 do CDC:
É o Dolo, que pode ser direto (sabe) como eventual
(deveria saber).
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou
omitir informação relevante sobre a natureza, Consumação e Tenta va
caracterís ca, qualidade, quan dade, segurança, O crime se consuma com a veiculação do comercial,
desempenho, durabilidade, preço ou garan a de sabendo ou devendo saber que a propaganda é enganosa
produtos ou serviços: ou abusiva.
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa. Como é possível fracionar o iter criminis, é admissível
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a tenta va.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a oferta. Diz o art. 68 do CDC:


§ 2º Se o crime é culposo;
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.
deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a
se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua
Oferta no CDC saúde ou segurança:
A oferta é qualquer informação ou publicidade suficiente- Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa:
mente precisa a respeito de preços e condições de produtos
ou de serviços, veiculadas de qualquer forma. Ela precisa ser Verbos-núcleo
veiculada, divulgada. Também tem de ser precisa, ou seja, Fazer significa realizar e promover significa fazer o desen-
comparada com base em dados obje vos. volvimento de algo. Induzir significa dar a ideia.
A oferta vincula o fornecedor, que está obrigado a cum-
prir aquilo que ofertou, e não poderá alegar erro, equívoco, 70
Disponível na internet: h p://aldeiajuridica.iv.org.br/portal/direito-publicitario/
pois sua responsabilidade é obje va. curiosidades/o-que-significa-o-termo-201cpublicidade201d/

304
Elemento Norma vo Sujeito A vo e Passivo
De acordo com a Professora Neusa Demar ni Gomes, O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de
a publicidade seria a: crime próprio. A ví ma é o consumidor. Secundariamente
a cole vidade.
a vidade mediante a qual bens de consumo e servi-
ços que estão à venda se dão a conhecer, tentando Elemento Subje vo
convencer o público da vantagem de adquiri-los.71 É o Dolo.

Sujeito A vo e Passivo Consumação e Tenta va


O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime Como é possível fracionar o iter criminis, é admissível
próprio. O sujeito passivo é o consumidor. Secundariamente a tenta va.
a cole vidade. Se houver a conivência do consumidor no emprego de
produtos, peça ou componentes de reposição usados, não
Elemento Subje vo haverá o crime.
É o Dolo, que pode ser direto (saber) ou indireto (deveria
saber). Objeto Material
A conduta do criminoso recai sobre produtos, peça ou
Consumação e Tenta va componentes de reposição.
O crime se consuma com a veiculação da publicidade.
Não há necessidade de que o consumidor se comporte de for- Consumação e Tenta va
ma prejudicial ou perigosa à saúde. É admissível a tenta va. Como é possível fracionar o iter criminis, é admissível
Diz o art. 69 do CDC: a tenta va.
Diz o art. 71 do CDC:
Art. 69. Deixar de organizar dados fá cos, técnicos
Art. 71. U lizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,
e cien ficos que dão base à publicidade:
coação, constrangimento sico ou moral, afirmações
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.
falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor, injus fi-
Verbo-núcleo
cadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho,
Deixar significa não fazer algo. Já organizar significa
descanso ou lazer:
colocar em ordem.
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.
Elemento Norma vo Verbo-núcleo
De acordo com a Professora Neusa Demar ni Gomes, U lizar no contexto significa servir-se de algo.
a publicidade seria a:
Sujeito A vo e Passivo
a vidade mediante a qual bens de consumo e servi- O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de cri-
ços que estão a venda se dão a conhecer, tentando me próprio. A ví ma do crime em estudo é o consumidor.
convencer o público da vantagem de adquiri-los.72 Secundariamente a cole vidade.
Sujeito A vo e Passivo Elemento Subje vo
O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime É o Dolo.
próprio. O sujeito passivo é o consumidor. Secundariamente
a cole vidade. Consumação e Tenta va
O crime se consuma com a cobrança da dívida com ame-
Elemento Subje vo aça, coação, constrangimento sico ou moral, afirmações
É o Dolo. falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro proce-
dimento que exponha o consumidor a ridículo ou interfira
Consumação e Tenta va o seu trabalho, descanso ou lazer.
O crime se consuma quando o fornecedor deixa cons- Como é possível o fracionamento do iter criminis, é ad-
cientemente de organizar dados fá cos, técnicos e cien ficos missível a tenta va.
que dão base à publicidade. Por ser um crime omissivo, não Rege o art. 72 do CDC:
é admissível a tenta va.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Rege o art. 70 do CDC: Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consu-


midor às informações que sobre ele constem em
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou cadastros, banco de dados, fichas e registros:
componentes de reposição usados, sem autorização Pena – Detenção de seis meses a um ano ou multa.
do consumidor:
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa. Verbos-núcleo
Impedir significa não permi r e dificultar significa tornar
Verbo-núcleo di cil.
Empregar significa u lizar.
Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo do crime é a pessoa que tem o controle
71
Disponível na internet: h p://aldeiajuridica.iv.org.br/portal/direito-publicitario/ sobre informações constantes em cadastro, banco de dados,
curiosidades/o-que-significa-o-termo-201cpublicidade201d/
72
Disponível na internet: h p://aldeiajuridica.iv.org.br/portal/direito-publicitario/ fichas ou registros. Trata-se de crime próprio. Já o sujeito
curiosidades/o-que-significa-o-termo-201cpublicidade201d/ passivo é o consumidor. Secundariamente a cole vidade.

305
Elemento Subje vo Totalmente desnecessária a inclusão de tal disposi vo
É o Dolo. no CDC, uma vez que o Código Penal traz tal regra esculpida
no art. 29, que é aplicada às leis penais especiais de acordo
Consumação e Tenta va com o disposto no art. 12 do mesmo diploma.
O crime se consuma com o simples impedimento ou
dificuldade imposta ao consumidor pela pessoa que tem o ANÁLISE DO ART. 76 DO CDC
controle sobre informações constantes em cadastro, banco Dispõe o art. 76 do CDC:
de dados, fichas e registros. Não cabe tenta va.
Dispõe o art. 73 do CDC:
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informa- pificados neste código:
ção sobre consumidor constante de cadastro, banco I – serem come dos em época de grave crise eco-
de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria nômica ou por ocasião de calamidade;
saber ser inexata: II – ocasionarem grave dano individual ou cole vo;
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa. III – dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
IV – quando come dos:
Verbo-núcleo a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição
Deixar significa não fazer algo. econômico-social seja manifestamente superior à
da ví ma;
Sujeito A vo e Passivo b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor
O sujeito a vo do crime é a pessoa responsável pela ma- de dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas
nutenção do cadastro, banco de dados, fichas ou registros. portadoras de deficiência mental interditadas ou
Trata-se de crime próprio. Já o sujeito passivo é o consumidor. não;
Secundariamente a cole vidade. V – serem pra cados em operações que envolvam
alimentos, medicamentos ou quaisquer outros
Elemento Subje vo
É o Dolo, que pode ser direto (sabe) ou eventual (deveria produtos ou serviços essenciais.
saber).
Professa Ricardo Antônio Andreucci (2009, p. 533):
Consumação e Tenta va
O crime se consuma quando a pessoa deixa de fazer as A aplicação dessas circunstâncias agravantes especí-
devidas correções nos dados. Por ser um crime omissivo não ficas dos crimes contra as relações de consumo não
é admissível a tenta va. impede a das circunstâncias agravantes genéricas dos
Dispõe o art. 74 do CDC: arts. 65 e 66 do Código Penal.

Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será
de garantia adequadamente preenchido e com fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e
especificação clara de seu conteúdo; ao máximo de dias de duração da pena priva va da
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa. liberdade cominada ao crime. Na individualização
desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60,
Verbo-núcleo
§1º do Código Penal.
Deixar significa não fazer algo.

Sujeito A vo e Passivo Caso não haja o pagamento da multa, segue-se


O sujeito a vo do crime é o fornecedor. Trata-se de crime a regra do art. 51 do Código Penal, tornando-se dívida a va
próprio. Já o sujeito passivo é o consumidor. Secundariamen- a ser executada pela Procuradoria da Fazenda.
te a cole vidade.
ANÁLISE DO ART. 78 DO CDC
Elemento Subje vo Rege o art. 78 do CDC:
É o Dolo.
Art. 78. Além das penas priva vas de liberdade
Consumação e Tenta va e de multa, podem ser impostas, cumula va ou
Consuma-se quando o fornecedor dolosamente não alternadamente, observado o disposto nos arts. 44
entrega o termo de garan a adequadamente preenchido ao a 47, do Código Penal:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

consumidor. Por ser um crime omissivo não admite tenta va. I – a interdição temporária de direitos;
II – a publicação em órgãos de comunicação de
ANÁLISE DO ART. 75 grande circulação ou audiência, às expensas do con-
Rege o art. 75 do CDC:
denado, de no cia sobre os fatos e a condenação;
III – a prestação de serviços à comunidade.
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para
os crimes referidos neste código, incide as penas a
esses cominadas na medida de sua culpabilidade, Com a maestria de sempre professa Andreucci (2009,
bem como o diretor, administrador ou gerente p. 534):
da pessoa jurídica que promover, permi r ou por
qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, Não se aplicam aos crimes do Código de Defesa do
exposição à venda ou manutenção em depósito de Consumidor as penas restri vas de direito de presta-
produtos ou a oferta e prestação de serviços nas ção pecuniária, perda de bens e valores e limitação
condições por ele proibidas. de valores.

306
ANÁLISE DO ART. 79 II – interesses ou direitos cole vos, assim entendidos,
Rege o art. 79: para efeitos deste código, os transindividuais, de na-
tureza indivisível de que seja tular grupo, categoria
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
este código, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade contrária por uma relação jurídica base;
que presidir o inquérito, entre cem e duzentas mil III – interesses ou direitos individuais homogêneos,
vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), assim entendidos os decorrentes de origem comum.
ou índice equivalente que venha a subs tuí-lo.
Parágrafo único. Se assim recomendar a situação Antes de entrarmos no assunto da defesa do consumidor
econômica do indiciado ou réu, a fiança poderá ser: em juízo, vale a pena citar as definições do Ilustre Professor
a) reduzida até a metade do seu valor mínimo; Fernando Capez acerca do tema:
b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.
1. Interesse Privado
Fiança
É a garan a prestada pelo indiciado ou réu preso para que “O interesse qualifica-se como privado quando ver
responda ao inquérito ou ao processo-crime em liberdade. como tular o cidadão individualmente considera-
1) Pode-se falar que a fiança tem duas finalidades, que do.73”
a de subs tuir a prisão, isto é, o preso obtém sua Exemplos: o interesse do indivíduo em defender sua
liberdade mediante o recolhimento de determinada propriedade privada contra turbações; o interesse na
garan a, que pode ser em bens ou dinheiro; cobrança de uma dívida; o interesse na redução do
2) no caso de o acusado ser condenado, a fiança propor- valor loca cio de um imóvel etc.74
cionar a reparação do dano, a sa sfação da multa e
as custas processuais. 2. Interesse Público

Assistente de Acusação e Ação Penal Privada (...) a expressão ‘interesse público’ tem sido u liza-
da para alcançar também os chamados interesses
Subsidiária da Pública sociais, os interesses indisponíveis do indivíduo e
da cole vidade, os interesses difusos, cole vos e
Rege o art. 80 do CDC que:
individuais homogêneos, que podem não coincidir
com os interesses estatais.75
No processo penal a nente aos crimes previstos nes-
te código, bem como a outros crimes e contravenções 3. Interesse Público Primário
que envolvam relações de consumo, poderão intervir,
como assistentes do Ministério Público, os legi - “(...) o interesse público primário é o interesse do
mados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais bem geral, ou seja, o interesse da sociedade ou da
também é facultado propor ação penal subsidiária, cole vidade como um todo.76”
se a denúncia não for oferecida no prazo legal.
4. Interesse Público Secundário
Podem funcionar como assistentes de acusação:
1) as en dades e órgãos da Administração Pública, direta É o interesse público visto pelos órgãos da Admi-
ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, espe- nistração, ou melhor, o modo pelo qual os órgãos
cificamente des nados à defesa dos interesses e direitos administra vos veem o interesse público.77
previstos no CDC;
2) as associações legalmente cons tuídas há pelo menos 5. Interesses Metaindividuais ou Transindividuais
um ano e que incluam entre seus fins ins tucionais a defesa
dos interesses e direitos protegidos pelo CDC, dispensada a Ao lado do interesse meramente privado e do in-
autorização assemblear. teresse público secundário, existe uma categoria
Caso o Órgão do Ministério Público não ofereça a de- intermediária, na qual se encontram os interesses
núncia no prazo legal, além da ví ma, as en dades, órgãos cole vos, ou seja, aqueles referentes a toda uma
e associações podem ajuizar a queixa-crime para promover categoria de pessoas (condôminos de um edi cio,
a ação penal privada subsidiária da pública. sócios de uma empresa, atletas de uma equipe es-
por va, empregados do mesmo patrão).78
A Defesa do Consumidor em Juízo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Um interesse é metaindividual quando, além de


I – Análise do art. 81 do CDC ultrapassar o círculo individual, corresponde aos
anseios de todo um segmento ou categoria social.79
Rege o art. 81 da lei em comento:
6. Interesses Difusos
A defesa dos interesses e direitos dos consumidores
e das ví mas poderá ser exercida em juízo indivi- São aqueles em que os tulares não são previamen-
dualmente, ou a tulo cole vo. te determinados ou determináveis e encontram-se
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida
73
quando se tratar de: CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, p. 185.
74
Ibid., p.185.
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, 75
Ibid., p.186.
para efeitos deste código, os transindividuais, de 76
Ibid., p.186.
77
natureza indivisível, de que sejam tulares pessoas Ibid., p.186.
78
Ibid., p.187.
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 79
Ibid., p.187.

307
ligados por circunstâncias de fato. São interesses III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
indivisíveis e, embora comuns a uma categoria mais pios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
ou menos abrangentes de pessoas, não se pode afir- IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade
mar com precisão a quem pertencem, nem em que de economia mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
medida quan ta va são por elas compar lhados.80 V – a associação que, concomitantemente: (Incluído pela
Lei nº 11.448, de 2007).
7. Interesses Cole vos a) esteja cons tuída há pelo menos 1 (um) ano nos
termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
(...) são cole vos somente os interesses que compre- b) inclua, entre suas finalidades ins tucionais, a proteção
endem uma categoria determinada, ou pelo menos ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica,
determinável de pessoas, dizendo respeito a um à livre concorrência ou ao patrimônio ar s co, esté co,
grupo, classe ou categoria de indivíduos, ligados pela histórico, turís co e paisagís co. (Incluído pela Lei nº 11.448,
mesma relação jurídica básica (art. 81, par. ún., II, do de 2007).
CDC). Do mesmo modo que os difusos, os interesses Os legi mados de que trata o art. 82 do CDC poderão
cole vos têm natureza indivisível, na medida em que propor, em nome próprio e no interesse das ví mas ou seus
não podem ser par lhados individualmente entre os sucessores, ação civil cole va de responsabilidade pelos
seus tulares.81 danos individualmente sofridos.

8. Interesses Individuais Homogêneos 1. Legi mação Ordinária

São os direitos individuais cujo tular é perfeitamente Todo o nosso sistema jurídico foi concebido para a
iden ficável e cujo objeto é divisível. Diferenciam-se, defesa clássica de interesses por meio da legi mação
pois, dos interesses cole vos, em virtude da divisi- ordinária, de modo que cada lesado somente pode
bilidade do direito tularizado pelos vários sujeitos. defender seu próprio interesse.83
O que caracteriza um direito individual como ho-
mogêneo é a natureza comum, similar, semelhante (...) É o que depreende do disposto no art. 6º do CPC:
entre os interesses de cada um dos vários tulares.82 ‘Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito
alheio, salvo quando autorizado por lei’.84
II – Análise do art. 82 do CDC
Rege o art. 82 do CDC: 2. Legi mação Extraordinária

Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legi ma- É a possibilidade de alguém, em nome próprio,
dos concorrentemente: defender interesse alheio. Nesse caso, configura-se
I – o Ministério Público, verdadeira subs tuição processual, inconfundível
II – a União, os Estados, os Municípios e o Distrito com a representação, em que alguém, em nome
Federal; alheio, defende o interesse alheio.85
III – as en dades e órgãos da Administração Pública,
direta ou indireta, ainda que sem personalidade 3. Defesa Judicial de Interesses Difusos e Cole vos
jurídica, especificamente des nados à defesa dos
interesses e direitos protegidos por este código; Conforme salienta HUGO NIGRO MAZZILLI, ‘antes do
IV – as associações legalmente constituídas há advento da Lei nº 7.347, de 24/7/1985, poucas fórmulas
pelo menos um ano e que incluam entre seus fins havia para a defesa global, em juízo, de interesses difusos e
ins tucionais a defesa dos interesses e direitos pro- cole vos. Além da ação popular ajuizada pelo cidadão e da
tegidos por este código, dispensada a autorização ação civil conferida ao MP, en dades de classe ou associações
assemblear. também estavam autorizadas a postular interesses cole vos,
§ 1º O requisito da pré-cons tuição pode ser dis- em juízo’, desde que houvesse lei expressa permi ndo essa
pensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 inicia va... Então, para disciplinar a ação civil pública de
e seguintes, quando haja manifesto interesse social responsabilidade por danos causados a interesses difusos,
evidenciado pela dimensão ou caracterís ca do dano, surgiu a Lei nº 7.347/1985, que passou a ser conhecida como
Lei da Ação Civil Pública ou Lei de Proteção aos Interesses
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
Difusos.86
O Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de
4. Cons tuição e Legislação sobre Interesses Difusos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Defesa do Consumidor, o Estatuto do Idoso e a Lei de Ação


Cole vos e Individuais Homogêneos
Civil Pública formam um microssistema, o que permite dizer
que a Defensoria Pública também pode defender o consu-
Com a Cons tuição de 1988, ampliou-se o rol dos legi -
midor em juízo, senão vejamos o que dispõe o art. 5º da Lei
mados a vos para a defesa dos interesses transindividuais.
nº 7.347/1985:
Entre os direitos e deveres individuais e cole vos, a Lei Maior
Têm legi midade para propor a ação principal e a ação
conferiu às en dades associa vas, quando expressamente
cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
autorizadas, a legi midade para representar seus filiados
I – o Ministério Público; (Redação dada pela Lei
judicial ou extrajudicialmente. Cuidou do mandado de segu-
nº 11.448, de 2007).
rança cole vo, que pode ser impetrado por par do polí co,
II – a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei
organização sindical, en dade de classe ou associação legal-
nº 11.448, de 2007).
83
Ibid., p.193.
80 84
Ibid., p.187. Ibid., p.193.
81 85
Ibid., p.190. Ibid., p.195.
82 86
Ibid., p.190. Ibid., p.195.

308
mente cons tuída e em funcionamento há pelo menos um 3. Objeto
ano, em defesa dos seus membros ou associados. Cometeu
ao sindicato a defesa dos direitos e dos interesses cole vos Atualmente, a Lei nº 7.347/1985 inclui sem eu campo
ou individuais da categoria não só em questões judiciais de proteção a defesa:
como administra vas. Conferiu ampla legi mação ao MP a) do meio ambiente;
para a propositura de ações civis públicas e para a defesa b) do consumidor;
de interesses cole vos e difusos. Permi u aos índios, às suas c) da ordem urbanís ca (Medida Provisória nº 2.180-
comunidades e às suas organizações a legi mação a va para 35/2001);
ações em defesa de seus interesses. Ampliou também, as hi- d) dos bens e direitos de valor ar s co, esté co, histórico,
póteses de propositura da ação popular pelo cidadão e o rol turís co e paisagís co, que são chamados de patrimônio
dos legi mados a vos para a ação de incons tucionalidade.87 cultural;
Obje vando viabilizar a defesa em juízo de interesses e) da ordem econômica e da economia popular (Medida
difusos, cole vos e individuais homogêneos, sobrevieram: Provisória nº 2.180-35/2001);
a) a Lei nº 7.853, de 24/10/1989, para a defesa das pes- f) ainda, e, principalmente, de qualquer outro interesse
soas portadoras de deficiências; difuso ou cole vo. Essa tutela refere-se aos danos morais e
b) a Lei nº 7.913, de 7/12/1989, sobre a responsabilidade patrimoniais.92
por danos causados aos inves dores no mercado de valores
mobiliários; 4. Tutela Principal e Cautelar
c) a Lei nº 8.069, de 13/7/1990, que dispõe sobre o ECA; e
d) a Lei nº 8.884, de 11/6/1994, para a ação de respon- Por ação civil pública da Lei nº 7.347/1985, compreen-
sabilidade por danos morais e patrimoniais causados por dem-se:
infração de ordem econômica.88 a) as ações principais condenatórias, de reparação do
dano ou de indenização;
Podemos incluir no rol mencionado pelo ilustre Profes- b) as ações cautelares preparatórias ou incidentes;
sor Fernando Capez, mais três leis: o Código de Defesa do c) as ações cautelares sa sfa vas, que não dependem
Consumidor, o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha. É a da propositura de uma ação principal;
expressão do Princípio da Integra vidade do Microssistema d) as ações de liquidação de sentença e de execução; e
Processual Cole vo. e) quaisquer outras ações para a proteção de interesses
difusos e cole vos, sejam declaratórias, cons tu vas ou de
III – ANÁLISE DO ART. 83 DO CDC preceito cominatório.93

Disciplina o art. 83 da lei em comento: 5. Legi mação A va

Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por No campo da defesa do meio ambiente, do consumidor,
este código são admissíveis todas as espécies de ações da ordem econômica e da proteção ao patrimônio ar s co,
capazes de propiciar sua adequada e efe va tutela. esté co, histórico, turís co e paisagís co, são legi mados
a vos, concorrentemente, para a tutela desses interesses
No disposi vo em estudo está preconizado o Princípio difusos:
da máxima amplitude ou da a picidade ou não taxa vida- a) o Ministério Público;
de do processo cole vo, e assim para a tutela dos direitos b) a União;
metaindividuais são admissíveis todas as espécies de ação. c) os Estados e Distrito Federal;
d) os Municípios;
1. Conceito de Ação Civil Pública e) as autarquias;
f) as empresas públicas;
(...) toda aquela ação proposta pelo MP e demais g) as fundações;
legi mados a vos, com o fim de pleitear tutela juris- h) as sociedades de economia mista; e
dicional a interesses difusos, cole vos ou individuais i) as associações que estejam cons tuídas há pelo menos
homogêneos.89 um ano, nos termos da lei civil.94

Em síntese, há duas posições: Como já exposto, podemos incluir ainda a Defensoria


a) para a primeira, a par r da Lei nº 7.347/1985, toda Pública no rol dos legi mados a promover a defesa dos
ação visando à tutela de direito difuso (cole vo ou individual consumidores em juízo, ante a recente alteração promovida
homogêneo) é chamada de ação civil pública; pela Lei nº 11.448/2007.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

b) para a segunda, ação civil pública é somente aquela


proposta pelo MP, ao passo que a ação proposta pelos demais 6. Legi mação Passiva
legi mados a vos denomina-se ação cole va.90
“No sistema da Lei da Ação Civil Pública qualquer
2. Ação Cole va pessoa, sica ou jurídica, pode ser parte passiva na
relação processual.95”
É a denominação que o CDC preferiu para a ação
des nada à tutela dos chamados interesses difusos Convém lembrar que o MP, órgão estatal sem persona-
e cole vos, em vez de ação civil pública.91 (Grifei). lidade jurídica, não possui legi midade passiva para a ação
civil pública ou cole va. Assim, o Estado responderá pelos
87
Ibid., p.196.
88 92
Ibid., p.196. Ibid., p.199.
89 93
Ibid., p.198. Ibid., p.204.
90 94
Ibid., p.198. Ibid., p.205.
91 95
Ibid., p.198. Ibid., p.207.

309
eventuais atos pra cados e o agente ministerial será respon- específica da obrigação ou determinará providências
sável pelos casos de dolo ou fraude.96 que assegurem o resultado prá co equivalente ao do
adimplemento.
7. Interesse de Agir § 1º A conversão da obrigação em perdas e danos
somente será admissível se por elas optar o autor
(...) o interesse processual passou a decorrer não da ou se impossível a tutela específica ou a obtenção
disposição de sa sfazer uma pretensão individual, mas da do resultado prá co correspondente.
relevância social do interesse defendido. Assim, atualmente, § 2º A indenização por perdas e danos se fará sem
o interesse processual é configurado pelo trinômio: prejuízo da multa (art. 287, do Código de Processo
a) necessidade (individual ou transindividual); Civil).
b) u lidade; § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
c) adequação, significando que a ação judicial: vendo jus ficado receio de ineficácia do provimento
• deve mostrar-se indispensável para a obtenção do final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente
bem da vida pretendido, que não poderia ser ob do ou após jus ficação prévia, citado o réu.
de outra forma(...) § 4º O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na senten-
• deve trazer uma u lidade prá ca para o autor, de modo ça, impor multa diária ao réu, independentemente
a acrescentar-lhe alguma vantagem em relação à sua de pedido do autor, se for suficiente ou compa vel
posição jurídica pré-processual; com a obrigação, fixando prazo razoável para o cum-
• deve guardar per nência com o provimento jurisdicio- primento do preceito.
nal pretendido. § 5º Para a tutela específica ou para a obtenção do re-
sultado prá co equivalente, poderá o juiz determinar
Tal interesse, no que se refere aos legi mados a vos para as medidas necessárias, tais como busca e apreensão,
as ações civis públicas ou cole vas, à exceção do MP, deve remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra,
ser sempre demonstrado.97 impedimento de a vidade nociva, além de requisição
de força policial.
No que diz respeito ao MP, porém, ao contrário dos
demais legi mados, o interesse de agir é sempre Multa Diária e Liminar
presumido e não precisa ser demonstrado.98
Quando o objeto da ação civil pública ou cole va for a
8. Li sconsórcio e Assistência execução de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz poderá
impor o cumprimento de prestação da a vidade devida ou
Em consequência da legitimação concorrente, a Lei a cessação da a vidade nociva, sob pena de execução espe-
nº 7.347/1985 permite o li sconsórcio a vo entre os legi - cífica ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente
mados para a ação civil pública. Assim, qualquer dos legi ma- ou compa vel.100
dos do art. 5º da Lei pode ingressar em juízo, isoladamente ou Coisa diversa da multa diária é a multa liminar, fixada
em li sconsórcio com algum outro colegi mado.’ É possível iniƟo liƟs (negritamos), a tulo de medida de cautela. A mul-
qualquer hipótese de li sconsórcio a vo nas ações civis pú- ta liminar é aquela imposta em juízo de cognição parcial
blicas ou cole vas entre os respec vos legi mados a vos.99 da lide, com o intuito de obter de imediato a cessação da
a vidade nociva. Embora exigível somente após o trânsito
9. Custas Processuais e Honorários Advoca cios em julgado da decisão favorável ao autor, será devida desde
o descumprimento da cominação liminar.101
Nas ações cole vas de que trata o Código de Defesa do
Consumidor não haverá adiantamento de custas, emolumen- V – ANÁLISE DO ART. 90 DO CDC
tos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, Rege o art. 90 do CDC:
em honorários de advogados, custas e despesas processuais.
Em caso de li gância de má-fé, a associação autora e Aplicam-se às ações previstas neste tulo as normas
os diretores responsáveis pela propositura da ação serão do Código de Processo Civil e da Lei nº 7.347, de 24 de
solidariamente condenados em honorários advoca cios e julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito
ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade
civil, naquilo que não contrariar suas disposições.
por perdas e danos.
Aquele que efe var o pagamento ao prejudicado poderá
Considerações sobre o Inquérito Civil
exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

segundo sua par cipação na causação do evento danoso,


1. Finalidade
sendo que a ação de regresso poderá ser ajuizada em pro-
cesso autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se
O inquérito civil é um procedimento administra vo-
nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.
-inves gatório, de caráter pré-processual, que se realiza
extrajudicialmente, a cargo do MP, e se des na a colher
IV – ANÁLISE DO ART.84 DO CDC
elementos para eventual propositura da ação civil pública
ou cole va. Não existe inquérito civil a cargo de associações
Rege o art. 84 do CDC:
civis ou dos demais colegi mados.102
Como se des na apenas a colher elementos de convic-
Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obri-
ção para a promoção de ação civil pública, o inquérito civil
gação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
consiste numa inves gação administra va prévia de inicia va
96
Ibid., p.207.
100
97
Ibid., p.208. Ibid., p.212.
101
98
Ibid., p.209. Ibid., p.213.
102
99
Ibid., p.209. Ibid., p.219.

310
exclusiva do MP. Trata-se de um instrumento ú l, mas não promoveu o arquivamento do inquérito civil deverá,
obrigatoriamente necessário, pois o Promotor de Jus ça no prazo de 3 (três) dias, encaminhá-lo ao Conselho
poderá dispensá-lo quando já ver em mãos os elementos Superior da ins tuição, sob pena de falta funcional.110
para propor a ação principal ou cautelar.103
No inquérito civil, podem-se dis nguir três fases: instau- As peças de informação, além do próprio inquérito
ração, instrução e conclusão. A fase de instauração inicia-se civil, também estão sujeitas ao controle de arquiva-
com portaria ou despacho ministerial, acolhendo requeri- mento pelo Conselho Superior do MP.111
mento ou representação. Na fase de instrução, procede-se
à colheita de provas pela oi va de testemunhas, juntada O Conselho Superior do Ministério Público poderá
de documentos, realização de vistorias, exames e perícias. homologar o arquivamento (fato que não impedirá
Por fim, a conclusão do inquérito, com a elaboração de seu desarquivamento a qualquer tempo, com novas
relatório final sobre a propositura da ação ou a promoção provas), determinar novas diligências ou determinar
do arquivamento.104 que outro representante do MP promova a ação civil
pública.112
2. Instauração
VI – ANÁLISE DO ART. 92 DO CDC
A instauração do inquérito civil faz-se de o cio, por
portaria do membro do MP, ou em despacho que é por este Dispõe o art. 92 do CDC:
lançado no requerimento ou representação a ele dirigido
por cidadãos, autoridades, associações ou quaisquer outros “O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará
interessados.105 sempre como fiscal da lei”.
Na tramitação do inquérito civil, as normas do CPP a -
nentes ao inquérito policial, no que diz respeito, por exemplo, Atuação do Ministério Público
ao modo de instauração, a diligências para coleta de provas,
(...) a Lei nº 7.347/1985 estabeleceu, no seu art. 5º,
a redução de peças a escrito e a perícias, aplicam-se subsi-
§ 1º, que: ‘O Ministério Público, se não intervier no
diariamente.106
processo como parte, atuará obrigatoriamente como
fiscal da lei’. Com esse disposi vo, busca-se garan r
3. Poderes Instrutórios
a presença do Ministério Público nas ações que ver-
sem sobre interesses difusos e cole vos, seja como
“Para a elaboração do inquérito civil, o MP poderá
autor, seja como órgão interveniente que, por não as
proceder a no ficações e requisições, a fim de melhor ter ajuizado, obrigatoriamente nelas deve oficiar.113
inves gar os fatos.107”
Ajuizada a ação civil pública, dela não pode desis r o
A no ficação é uma verdadeira in mação, por meio MP por ser indisponível o seu objeto, mas, ao final,
da qual o órgão do MP faz saber a alguém que deseja diante das provas produzidas, poderá manifestar-se
ouvi-lo e, para isso, marcará dia, hora e local para pela sua procedência ou improcedência.114
comparecimento. No caso de nega va em atender ao O MP, no entanto, não está obrigado a propor a ação
chamado, existe a possibilidade de haver a condução civil pública quando não iden ficar a hipótese de
coerci va.108 atuação, devendo, nesse acaso, determinar o arquiva-
mento do inquérito civil ou procedimento apuratório,
4. Transação remetendo os autos ao Conselho Superior.115

No curso do inquérito civil, pode surgir a possibilidade VII – ANÁLISE DOS ARTS. 93 E 94 DO CDC
de se obter um compromisso de ajustamento, que
poderá ser invocado como fundamento para arqui- Regem os arts. 93 e 94 do CDC:
var a inves gação instaurada. Havendo transação
que atenda integralmente à defesa dos interesses Art. 93. Ressalvada a competência da Jus ça Federal,
difusos, obje vados no inquérito civil, permite-se o é competente para a causa a jus ça local:
arquivamento do mesmo.109 I – no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o
dano, quando de âmbito local;
5. Arquivamento II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Fe-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

deral, para os danos de âmbito nacional ou regional,


O órgão do MP, não se convencendo da existência de aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos
fundamento para a propositura da ação civil pública, casos de competência concorrente.
promoverá, mo vada e diretamente, o arquivamento Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no
do inquérito civil ou das peças de informação(...) órgão oficial, a fim de que os interessados possam
Entretanto, esse arquivamento, ao contrário do que intervir no processo como li sconsortes, sem prejuízo
ocorre com o inquérito policial, será apreciado pelo de ampla divulgação pelos meios de comunicação
Conselho Superior do MP. O membro do MP que social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

103
Ibid., p.219.
104 110
Ibid., p.220. Ibid., p.221.
105 111
Ibid., p.220. Ibid., p.222.
106 112
Ibid., p.220. Ibid., p.222.
107 113
Ibid., p.220. Ibid., p.210.
108 114
Ibid., p.220. Ibid., p.210.
109 115
Ibid., p.221. Ibid., p.210.

311
Competência promover a execução. A sentença que julgar proce-
dente o pedido condenatório, formulado na ação, cria
Na tutela de interesses difusos, cole vos e individuais um tulo execu vo não só para o autor do processo
homogêneos, a competência é a do lugar do dano. de conhecimento, como também para os demais
Essa regra tem por obje vo facilitar o ajuizamento colegi mados.118
da ação civil pública ou cole va e a coleta da prova. A atual redação do art. 15 da Lei nº 7.347/1985 de-
Trata-se de competência absoluta, inderrogável ou termina que, decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito
improrrogável por vontade das partes. Quando o em julgado da sentença condenatória, sem que a
dano ocorrer em mais de uma comarca, com mais associação autora promova a execução, esta deverá
de um juízo igualmente competente, o critério de ser promovida pelo MP, facultada igual inicia va
determinação da competência será o do da preven- aos demais legi mados. No caso, diante do direito
ção, contanto que o dano não tenha repercussão declarado em concreto, o MP, como encarregado
estadual ou nacional(...) Se o dano ou a ameaça de da defesa da ordem jurídica, é obrigado a assumir a
dano ver o caráter estadual ou nacional, nesse caso promoção da execução na ação civil pública ou cole-
se deve aplicar, analogicamente, a regra do art. 93, va abandonada, ao contrário do que acontece com
II, do CDC.116 a hipótese de abandono da ação de conhecimento
pelo colegi mado.119
“Nos casos de competência concorrente, aplicam-se O art. 15 da Lei em comento traz o chamado Princí-
as regras do CPC.117” pio da indisponibilidade da execução cole va, pois
uma vez condenado o réu a determinada obrigação,
VIII – ANÁLISE DOS ARTS. 98, 99 E 100 DO CDC é obrigatória a execução da sentença caso não haja
cumprimento.
Regem os arts. 98, 99 e 100 do CDC: No que se refere à recons tuição dos bens lesados,
a Lei da Ação Civil Pública criou, a tulo de indeni-
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo zação pelo dano causado, um fundo para o qual as
promovida pelos legi mados de que trata o art. 82, condenações em dinheiro devem reverter. Gerido
abrangendo as ví mas cujas indenizações já veram por um conselho federal ou por conselhos estaduais,
sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo conforme a origem do produto auferido (condenação
do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada da Jus ça Federal ou condenação da Jus ça estadual),
pela Lei nº 9.008, de 21/3/1995) um dos obje vos desse fundo é des nar recursos
§ 1º A execução cole va far-se-á com base em cer- para a recons tuição dos danos provenientes de le-
dão das sentenças de liquidação, da qual deverá são ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio
constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado. cultural ou a outros interesses difusos e cole vos. 120
§ 2º É competente para a execução o juízo:
I – da liquidação da sentença ou da ação condenató- IX – ANÁLISE DOS ARTS. 103 e 104 DO CDC
ria, no caso de execução individual;
II – da ação condenatória, quando cole va a exe- Dispõe o art. 103 do CDC:
cução.
Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorren- Nas ações cole vas de que trata este código, a sen-
tes de condenação prevista na Lei nº 7.347, de 24 tença fará coisa julgada:
de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos I – erga omnes, exceto se o pedido for julgado im-
individuais resultantes do mesmo evento danoso, procedente por insuficiência de provas, hipótese em
estas terão preferência no pagamento. que qualquer legi mado poderá intentar outra ação,
Parágrafo único. Para efeito do disposto neste ar go, com idên co fundamento valendo-se de nova prova,
a des nação da importância recolhida ao fundo cria- na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
do pela Lei nº 7.347 de 24 de julho de 1985, ficará II – ultra partes, mas limitadamente ao grupo, cate-
sustada enquanto pendentes de decisão de segundo goria ou classe, salvo improcedência por insuficiência
grau as ações de indenização pelos danos individu- de provas, nos termos do inciso anterior, quando se
ais, salvo na hipótese de o patrimônio do devedor tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo
ser manifestamente suficiente para responder pela único do art. 81;
integralidade das dívidas.
III – erga omnes, apenas no caso de procedência
Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habili-
do pedido, para beneficiar todas as ví mas e seus
tação de interessados em número compa vel com
sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a gravidade do dano, poderão os legi mados do


único do art. 81.
art. 82 promover a liquidação e execução da inde-
§ 1º Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I
nização devida.
e II não prejudicarão interesses e direitos individuais
Parágrafo único. O produto da indenização devida
dos integrantes da cole vidade, do grupo, categoria
reverterá para o fundo criado pela Lei nº 7.347, de
ou classe.
24 de julho de 1985.
§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de
improcedência do pedido, os interessados que não
Execução e Fundo para Recons tuição dos Bens
verem intervindo no processo como li sconsortes
Lesados
poderão propor ação de indenização a tulo individual.
§ 3º Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16,
Na ação civil pública ou cole va, sobrevindo a con-
combinado com o art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de
denação, qualquer dos colegi mados a vos pode
118
Ibid., p.216.
116 119
Ibid., p.211. Ibid., p.216.
117 120
Ibid., p.211. Ibid., p.216.

312
julho de 1985, não prejudicarão as ações de indeni- o Estado tulariza o jus puniendi (negritamos) e,
zação por danos pessoalmente sofridos, propostas portanto, torna-se sujeito passivo de toda e qualquer
individualmente ou na forma prevista neste código, infração penal.125
mas, se procedente o pedido, beneficiarão as ví mas
e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação Além disso, enquanto na ação civil pública busca-se
e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99. uma pretensão reparatória, na ação penal, pretende-
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à -se a imposição de pena. Por isso, é na pessoa do
sentença penal condenatória. tular e na natureza do direito defendido e do pro-
vimento jurisdicional que se diferencia a tutela penal
Coisa julgada da civil. Exemplo: um governante provoca grande
dano ao erário, desviando, em proveito próprio,
Diante das peculiaridades da ação civil pública ou imensa quan dade de verbas públicas. A ação civil
cole va, o fenômeno da coisa julgada na defesa pública visa à recomposição do dano em defesa de
de interesses metaindividuais recebe tratamento todos aqueles que, direta ou indiretamente, foram
especial.121 a ngidos com a improbidade. O MP estará, em nome
próprio, defendendo um número indeterminado de
A Lei da Ação Civil Pública, embora tenha consagrado pessoas. No entanto, paralelamente, o Estado, por
o princípio de que a sentença defini va fará coisa meio do mesmo MP, seu órgão, promoverá a ação
julgada erga omnes (negritamos), admi u uma exce- penal para sa sfação do seu direito de punir.126
ção: ‘(...) exceto se a ação for julgada improcedente
por deficiência de provas, hipótese em que qualquer XII – Ações de Responsabilidade do Fornecedor de
legi mado poderá intentar outra ação com idên co Produtos e Serviços
fundamento, valendo-se de nova prova’ (art. 16).122
A Lei nº 9.494/1997 deu nova redação ao art. 16, Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de
referindo-se à limitação da força erga omnes (negri- produtos e serviços, serão observadas as seguintes normas:
tamos) da coisa julgada da ação civil pública, quanto 1) a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
à competência territorial do órgão julgador. Há duas 2) o réu que houver contratado seguro de responsabi-
posições: lidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a
1ª) a lei deve ser aplicada literalmente, exis ndo o integração do contraditório pelo Ins tuto de Resseguros do
limite territorial do juiz; Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o
2ª) a limitação territorial da coisa julgada é incons tu- pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de
cional, pois não é possível a divisão do meio ambiente Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico
e dos direitos tutelados em face desta competência. será in mado a informar a existência de seguro de responsa-
Obs.: o STF manteve a cons tucionalidade da limita- bilidade, facultando-se, em caso afirma vo, o ajuizamento de
ção territorial da coisa julgada.123 ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada
É a manifestação do princípio do máximo bene cio a denunciação da lide ao Ins tuto de Resseguros do Brasil e
da tutela jurisdicional cole va, que preconiza que a dispensado o li sconsórcio obrigatório com este.
decisão no processo cole vo, beneficia o consumidor, Os legi mados a agir na forma do Código de Defesa
não podendo prejudicá-lo. do Consumidor poderão propor ação visando compelir o
Poder Público competente a proibir, em todo o território
X – ANÁLISE DO 5º, § 6º, DA LEI DA AÇÃO CIVIL nacional, a produção, divulgação distribuição ou venda, ou
PÚBLICA (introduzido pelo art. 113 do CDC) a determinar a alteração na composição, estrutura, fórmula
ou acondicionamento de produto, cujo uso ou consumo
Termo de Compromisso de Ajustamento regular se revele nocivo ou perigoso à saúde pública e à
incolumidade pessoal.
A norma do art. 5º, § 6º, da Lei da Ação Civil Pública,
introduzida pelo art. 113 do CDC, passou a admi r
o compromisso de ajustamento, em matéria de de- EXERCÍCIOS
fesa de interesses difusos e cole vos. Desse modo,
os órgãos públicos legi mados podem tomar dos 1. (MPE-SP/Promotor de Jus ça/2012) Segundo o Código
interessados o compromisso de ajustamento de sua de Defesa do Consumidor, na ação que tenha por objeto
conduta às exigências legais. Ocorre que, dentre os o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer,
legi mados a vos, nem todos são órgãos públicos. o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

As associações civis, sociedades de economia mista, determinará providências que assegurem o resultado
fundações ou empresas públicas ficam, portanto, prá co equivalente ao do adimplemento. Segundo esse
excluídas da possibilidade de celebrar a transação.124 disposi vo,
a) a conversão da obrigação em perdas e danos poderá
XI – A TUTELA PENAL DOS INTERESSES DIFUSOS NA ser concedida ainda que sem por ela optar o autor,
VISÃO DE FERNANDO CAPEZ desde que seja impossível a tutela específica ou a
obtenção do resultado prá co correspondente.
(...) na ação penal, busca-se a sa sfação do direito de b) a indenização por perdas e danos excluirá a multa.
punir, que pertence exclusivamente ao Estado. Com c) é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
efeito, enquanto ente dotado de soberania, somente após jus ficação prévia, citado o réu, bastando que
o fundamento da demanda seja relevante.
121
Ibid., p.214.
122
Ibid., p.214.
123
Ibid., p.215. 125
Ibid., p.225.
124
Ibid., p.212. 126
Ibid., p.225.

313
d) na sentença, o juiz somente poderá impor multa 5. (MPE-PR/Promotor de Jus ça/2012) Sobre os contratos
diária ao réu se houver pedido expresso do autor. de consumo e suas cláusulas, é incorreto afirmar que:
e) para a tutela específica ou para a obtenção do resul- a) As cláusulas são susce veis de revisão, caso se tor-
tado prá co equivalente, poderá o juiz determinar as nem excessivamente onerosas ao consumidor na
medidas necessárias, tais como busca e apreensão, execução do contrato;
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, b) O conteúdo da mensagem publicitária integra o
impedimento de a vidade nociva, além de requisi- contrato;
ção de força policial e prisão civil temporária do réu. c) A nulidade de uma cláusula abusiva não invalida
o contrato, exceto se sua supressão vier a onerar
2. (MPE-SP/Promotor de Jus ça/2012) Com relação à excessivamente uma das partes;
responsabilidade do sistema consumerista quanto aos d) As cláusulas que restringem direitos devem ser
acidentes de consumo, é incorreto afirmar que grafadas em destaque;
a) é culposa a responsabilidade pessoal dos profissio- e) A garan a estabelecida entre as partes subs tui a
nais liberais. fixada em lei.
b) a responsabilidade do comerciante é subsidiária.
6. (Cespe/MPE-PI/Promotor de Jus ça/2012) Conforme o
c) a responsabilidade do fabricante é obje va.
CDC, é garan do ao consumidor o acesso às informa-
d) a responsabilidade do fabricante não comporta
ções sobre ele existentes em cadastros, fichas, registros
excludentes de ilicitude.
e dados pessoais e de consumo arquivados, bem como
e) a responsabilidade do fornecedor de serviço com-
as referentes às suas respec vas fontes. Considerando
porta excludentes de ilicitude. essa informação, assinale a opção correta no que se re-
fere aos bancos de dados e cadastros de consumidores.
3. (MPE-PR/Promotor de Jus ça/2012) Assinale a alter- a) Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às
na va correta: informações que sobre ele constem em cadastros,
a) A reclamação comprovadamente formulada pelo banco de dados, fichas e registros cons tui infração
consumidor perante o fornecedor de produto durá- penal.
vel, obsta o curso do prazo decadencial de 30 (trinta) b) O mandado de segurança é o instrumento jurídico
dias para reclamar por vícios aparentes ou de fácil adequado para assegurar o conhecimento de infor-
constatação. mações rela vas ao consumidor constantes de regis-
b) As disposições do código do consumidor não se tro ou banco de dados de en dades governamentais
aplicam ao contrato advoca cio firmado entre o ou de caráter público.
profissional e o par cular, em razão do caráter liberal c) Os bancos de dados e cadastros rela vos a con-
do serviço prestado. sumidores, os serviços de proteção ao crédito e
c) Em caso de compra por meio da rede mundial de congêneres devem ser ins tuídos e man dos por
computadores, o consumidor pode desistir do en dades públicas.
contrato, no prazo de 10 (dez) dias a contar do re- d) É imprescindível o aviso de recebimento na carta de
cebimento do produto; comunicação enviada ao consumidor que o avise
d) No tocante à propaganda comercial a competência sobre a inclusão de seu nome em bancos de dados
para legislar é priva va da União. e cadastros de maus pagadores.
e) A regulamentação das convenções coletivas de e) Segundo a jurisprudência sumulada do STJ, compete
consumo, que delibera sobre o preço do trigo, por ao fornecedor no ficar o devedor antes de proceder
exemplo, obrigam os associados e os demais for- à inscrição de seu nome no cadastro de proteção ao
necedores do citado cereal, a par r do respec vo crédito.
registro do instrumento em cartório.
7. (Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito/2012) Em consonância
4. (MPE-PR/Promotor de Jus ça/2012) Tendo em conta com os preceitos decorrentes das ações de respon-
as asser vas abaixo, aponte a incorreta: sabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços,
a) Cessada a importação de um produto, o importador assinale a opção correta.
não fica automa camente desobrigado de assegurar a) A ação de responsabilidade civil do fornecedor de
produtos e serviços deve ser proposta, obrigatoria-
ao consumidor as peças de reposição corresponden-
mente, no domicílio do autor.
tes.
b) O fornecedor demandado poderá denunciar à lide o
b) Pelo código consumerista, a contrapropaganda
seu segurador, o qual passará a assumir a condição
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

é medida susce vel de ser aplicada pelos órgãos


de codevedor perante o consumidor.
públicos competentes de proteção ao consumidor, c) Declarado falido o fornecedor e confirmada, pelo
após procedimento administra vo, assegurada a síndico, a existência do seguro de responsabilidade,
ampla defesa. poderá o consumidor ajuizar ação de indenização
c) O ônus da prova da veracidade e correção da comu- diretamente contra o segurador.
nicação publicitária incumbe ao seu patrocinador. d) Por disposição de lei, é vedada a denunciação da
d) Quem promove publicidade que deveria saber ser lide ao Ins tuto de Resseguros do Brasil, sendo ne-
capaz de induzir o consumidor a se comportar de cessária, entretanto, a sua convocação para a ação,
forma prejudicial à sua saúde, pra ca crime pifi- na condição de li sconsorte necessário.
cado no código do consumidor. e) Conforme entendimento do STJ e da doutrina,
e) O juízo criminal pode aplicar, cumula vamente, a expressão responsabilidade civil, mencionada no
pena restri va de direito ao fornecedor, consistente art. 101 do CDC, refere- se, apenas, à responsabili-
em publicar em órgãos de comunicação de grande dade extracontratual, não se aplicando, portanto,
circulação, no cia sobre os fatos e a condenação. às ações de responsabilidade contratual.

314
8. (Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito/2012) Acerca da descon- e) Conforme jurisprudência do STJ, não se admite
sideração da personalidade jurídica nas relações de repe ção de indébito de valor pago em virtude de
consumo, assinale a opção correta. cláusula abusiva constante de contratos de consumo.
a) O CDC admite a responsabilização de sociedades
que, embora associadas a outras, conservem a 10. (Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito/2012) Assinale a opção
respec va autonomia patrimonial e administra va, correspondente à situação hipoté ca que retrata prá-
independentemente da demonstração da ocorrência ca comercial aceitável, de acordo com as disposições
de culpa. do CDC.
b) Nos termos do CDC, o juiz deverá desconsiderar a a) Em contrato de serviços de uma empresa de enge-
personalidade jurídica da sociedade apenas quando nharia para a construção de imóvel residencial, em-
es ver diante de hipóteses de fraude ou abuso de bora o consumidor vesse prazo certo para cumprir
direito. a sua prestação de pagar, a construtora fixou apenas
c) De acordo com a jurisprudência do STJ, a teoria o prazo total de seis meses para a conclusão da obra,
menor da desconsideração, acolhida no direito do contados a par r do término da fundação do imóvel,
consumidor, incide com a mera prova de insolvên- sem estabelecer expressamente prazo para o início
cia da pessoa jurídica para o pagamento de suas ou término da execução dos serviços de fundação
obrigações, exigindo-se, para isso, apenas a simples da referida obra.
demonstração de desvio de finalidade. b) Em uma cidade acome da por uma grave enchente,
d) Nas relações de consumo, as empresas consorciadas o dono de um mercado local impôs, para a comer-
não se obrigam apenas em nome próprio, uma vez cialização de água mineral, o limite quan ta vo
que possuem vínculo de solidariedade, expressa- máximo de dois garrafões por consumidor, em razão
mente previsto no CDC. da limitação de seu estoque e a fim de garan r que o
e) Ainda que não seja comprovada a insuficiência dos maior número de consumidores pudesse ter acesso
bens que compõem o patrimônio de quaisquer ao produto.
das sociedades integrantes dos grupos societários, c) Determinada ins tuição bancária enviou, sem prévia
o consumidor lesado poderá prosseguir na cobrança solicitação ou anuência dos clientes, cartão de cré-
contra as demais integrantes, em razão do vínculo dito para a residência de determinados corren stas,
de solidariedade expressamente previsto no CDC. escolhidos em razão de seu alto poder aquisi vo.
d) O dono de uma loja de sapatos avisou aos outros
9. (Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito/2012) No que se refere às comerciantes de sapatos do bairro que determinada
prá cas comerciais nas relações de consumo, assinale consumidora, além de habitualmente reclamar da
a opção correta. qualidade de produtos e serviços, já propôs várias
a) De acordo com o CDC, os bancos de dados e ca- ações em face de outros fornecedores.
dastros rela vos a consumidores, os serviços de e) Uma instituição particular de educação infantil
proteção ao crédito e congêneres são en dades reajustou a mensalidade para além dos índices de
de caráter privado, sendo, por isso, assegurados ao inflação e deixou de apresentar, para os responsáveis
consumidor mecanismos para que os registros a ele legais das crianças matriculadas, a justa causa do
rela vos constantes nessas en dades não lhe sejam referido aumento.
negados, quer quanto ao acesso, quer quanto às
11. (Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito/2012) Assinale a opção
re ficações.
correta acerca do direito do consumidor e da proteção
b) De acordo com o CDC, a veiculação e a precisão da
contratual.
informação são os dois requisitos necessários para
a) O CDC determina explicitamente que a interpreta-
a incidência do princípio da vinculação aplicado à
ção das cláusulas contratuais seja mais favorável ao
oferta e à publicidade, podendo o consumidor, se
consumidor, estando, por isso, em dissonância com
houver a recusa do cumprimento da oferta, acionar
o princípio cons tucional da isonomia.
o fornecedor que pagou e dirigiu a preparação e a
b) A consequência direta para o inadimplemento da
veiculação do anúncio; conforme entendimento do
obrigação de fazer derivada do recibo de sinal,
STJ, em nenhuma hipótese, entretanto, poderão ser
escritos par culares e pré-contratos é a resolução
responsabilizados, no caso de recusa, o fornecedor
em perdas e danos, uma vez que o CDC deixou de
indireto ou o veículo de comunicação.
c) Em consonância com os princípios da transparência, conferir ao juiz poderes para tornar efe va a tutela
da boa-fé obje va e da confiança, o CDC estatui uma do consumidor por meio da execução específica da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

obrigação geral de informação, que, no âmbito da obrigação de fazer.


proteção à vida e à saúde do consumidor, conforme c) O legislador, com o fim de proteger a vontade do
entendimento do STJ, é manifestação autônoma da consumidor das técnicas agressivas de vendas do-
obrigação de segurança e exige comportamento miciliares, inovou o ordenamento jurídico nacional
posi vo do fornecedor. Esse comportamento se ao incluir, no CDC, um prazo de reflexão obrigatório
concre za no dever de informar que o seu produto e um direito de arrependimento, nos casos dos con-
ou serviço pode causar male cios, ainda que apenas tratos concluídos fora do estabelecimento comercial,
a uma minoria da população. fazendo incidir tal norma, por exemplo, na compra
d) O consumidor cobrado judicialmente em quan a e venda de imóvel celebrada no recinto do cartório
indevida, salvo hipótese de engano jus ficável, tem de notas, na presença do oficial.
direito à repe ção do indébito nos termos do CDC, d) Ao contrário da garan a legal, que é sempre obri-
exigindo-se a prova do erro exclusivamente em gatória, a garan a contratual é mera faculdade que
relação aos contratos bancários, conforme jurispru- pode ser concedida por liberalidade do fornecedor,
dência solidificada do STJ. cons tuindo um anexo voluntário e podendo, por

315
isso, ser concedida mesmo após a celebração do 15. (Cespe/DPE-RO/Defensor Público/2012) Assinale a op-
contrato; o CDC, entretanto, não permite que tal ção correta, no que se refere à defesa do consumidor
garan a seja dada verbalmente, sendo o termo em juízo.
escrito a substância do ato. a) Comprovada a li gância de má-fé, a associação au-
e) De acordo com os adeptos da teoria finalista, a fim tora responsável pela propositura de ação cole va
de que as normas do CDC sejam aplicadas a um será condenada em honorários advoca cios e a vinte
número cada vez maior de relações de mercado, vezes o valor das custas processuais.
o estatuto consumerista deve ser aplicado a todas as b) Em ação de responsabilidade civil do fornecedor de
produtos e serviços, o réu que houver contratado
pessoas jurídicas, não importando, pois, se têm ou
seguro de responsabilidade poderá denunciar à lide
não obje vo de lucro quando adquirem um produto o segurador.
ou u lizam um serviço. c) De acordo com o que dispõe o CDC, os interesses ou
direitos cole vos são aqueles de origem comum, de
12. (Cespe/TJ-AC/Juiz de Direito/2012) Com o advento do natureza indivisível e de que sejam tulares pessoas
CDC, passou-se a aceitar, no Brasil, a existência de va- indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
lores jurídicos superiores ao dogma da vontade, como d) A defesa dos interesses e direitos dos consumidores
o equilíbrio e a boa-fé nas relações de consumo. Acerca pode ser exercida em juízo, a tulo cole vo, pelo
das cláusulas abusivas nos contratos de consumo, assi- MP, pelas en dades da administração pública e pelo
nale a opção correta. par cular ví ma de acidente de consumo.
a) A sentença que reconhece a nulidade da cláusula e) Em ações civis públicas para a defesa dos direitos
abusiva é declaratória e tem efeito ex nunc. do consumidor, quando o MP atuar como parte na
b) Nos termos do CDC, prescrevem em cinco anos os demanda, será desnecessária sua atuação como
prazos referentes à pretensão do consumidor à re- fiscal da lei.
paração pelos danos causados por fato do produto
16. (Cespe/DPE-RO/Defensor Público/2012) Com relação
ou serviço e os referentes à alegação de nulidade da
ao direito do consumidor, assinale a opção correta.
cláusula abusiva. a) Além dos elementos subje vo e obje vo, comumen-
c) Com o obje vo de promover lealdade, transparên- te descritos pela doutrina para a caracterização da
cia e equilíbrio nas relações de consumo, o CDC relação de consumo, outros elementos podem ser
dedica especial atenção à proteção contratual do iden ficados na aludida relação, tais como a causa,
consumidor e, reconhecendo que a supremacia o vínculo acobertado pelo direito, a função do bem
do fornecedor sobre o consumidor caracteriza-se, e(ou) serviço fornecido e u lizado pelos sujeitos e
sobretudo, nas contratações em massa, restringe o mercado de consumo.
as cláusulas abusivas ao contrato de adesão. b) O CDC não trata do princípio da prevenção de da-
d) A abusividade e a consequente declaração de nulida- nos materiais e extramateriais em seus enunciados
de das cláusulas abusivas, conforme entendimento norma vos.
pacificado na doutrina, podem ser conhecidas por c) A revisão dos contratos de consumo por fatos su-
ato de o cio do juiz, independentemente de reque- pervenientes a sua conclusão é possível se sobrevier
rimento da parte ou do interessado. manifesta desproporção, por mo vos imprevisíveis
e) Nos termos da sistemá ca adotada pelo CDC, para a ou extraordinários, entre o valor da prestação devi-
da e o valor vigente no momento de sua execução,
caracterização da abusividade da cláusula, é neces-
podendo o juiz corrigir tal prestação, a pedido da
sário que o fornecedor tenha agido de má-fé e que o parte, para assegurar o valor real da prestação. Esse
consumidor não a tenha aceitado conscientemente. entendimento pode efe var deveres contratuais
gerais nas relações de consumo, como os da: função
13. (Cespe/DPE-RO/Defensor Público/2012) Entre os ins- social, função ambiental, boa-fé, equivalência mate-
trumentos com os quais o poder público conta para a rial, solidariedade, confiança, informação, equidade/
execução da Polí ca Nacional das Relações de Consumo jus ça e cooperação.
inclui-se d) Uma das finalidades do CDC é promover a igualdade
a) a ins tuição de promotorias de jus ça de defesa do formal entre os par cipes da relação de consumo,
consumidor, no âmbito do MP. o que se evidencia pelos enunciados norma vos –
b) a assistência jurídica integral e gratuita a todos os cons tucionais, principiológicos, de interesse social
consumidores. e de ordem privada – a respeito das relações inter-
c) a criação do balcão de atendimento ao consumidor, privadas.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

no âmbito municipal. e) O Código Civil de 2002, que trata da relação jurídica


d) a ins tuição de associações de defesa do consumi- entre iguais, regula, com princípios próprios, os con-
tratos civis, sendo os contratos de consumo regidos
dor.
exclusivamente pelo CDC, que trata de relação entre
e) o fomento pecuniário às fundações ins tuídas para
desiguais.
a defesa do consumidor.
17. (Cespe/DPE-RO/Defensor Público/2012) Assinale a
14. (Cespe/DPE-RO/Defensor Público/2012) Com relação à opção correta no que tange ao direito do consumidor.
veiculação de publicidade, o CDC veda, expressamente, a) Ao fornecedor é concedido o prazo máximo de trinta
a) a propaganda promocional. dias para sanar os vícios de qualidade dos produtos,
b) a propaganda subliminar. sendo vedado ao consumidor, durante esse prazo,
c) o merchandising. exigir subs tuição imediata do produto, res tuição
d) o puffing. imediata da quan a paga ou aba mento proporcio-
e) o teaser. nal do preço.

316
b) A DP não tem legi midade a va para propor ação ci- c) Nos contratos bancários assinados após a vigência
vil pública para a defesa, por exemplo, dos interesses do CDC, a multa moratória não poderá exceder a 2%.
da cole vidade de consumidores caso estes tenham d) Nos contratos bancários, cabe ao julgador conhecer,
assumido contratos de arrendamento mercan l para de o cio, da abusividade das cláusulas contratuais.
a aquisição de veículos automotores, com cláusula e) É abusiva cláusula contratual que es pule juros re-
de indexação monetária atrelada à variação cambial, muneratórios superiores a 12% ao ano, ainda que a
dada a natureza individual desse direito. taxa contratada esteja na média do mercado.
c) Segundo a doutrina e a jurisprudência pátrias, o le-
gislador, ao tratar da desconsideração da personali- 20. (Cespe/MPE-PI/Promotor de Jus ça/2012) Com base
dade jurídica, ou disregard doctrine, no CDC, adotou no que dispõe o CDC, assinale a opção correta com
a teoria maior ou subje va, ao passo que, para as relação à disciplina norma va das prá cas comerciais.
mesmas formas de expressão do direito, ao tratar da a) Os fornecedores devem assegurar, durante um perío-
mesma matéria no Código Civil, o legislador adotou a do mínimo de quinze anos, a oferta de componentes
teoria menor ou obje va, o que implica a dissolução e peças de reposição quando cessadas a fabricação
da pessoa jurídica caso se comprove abuso do direito ou importação do produto.
de personalidade, com prejuízo ao consumidor. b) É vedada a publicidade de bens e serviços por tele-
d) A demanda reparatória por danos materiais e extra- fone, quando a chamada telefônica for onerosa ao
materiais ajuizada pelo consumidor sujeita-se ao pra- consumidor que a originar.
zo prescricional de cinco anos, cuja contagem se inicia, c) A responsabilidade do fornecedor, por atos de seus
por determinação legal, a par r do conhecimento representantes autônomos, é subsidiária e obje va,
do dano e de sua autoria, podendo-se aplicar, para sendo cabível ação regressiva contra o causador
interpretar disposi vo legal, a teoria da ac o nata, direto do dano.
segundo a qual o termo a quo da prescrição inicia-se d) A informação ou comunicação de caráter publicitário
da ciência do prejuízo, e não, como alude o Código inteira ou parcialmente falsa é considerada publici-
Civil, da ocorrência da violação do direito. dade abusiva.
e) De acordo com a jurisprudência do STJ, as cláusulas e) Em regra, os exageros (puffing), em razão do princí-
de eleição de foro em contratos bancários que sejam pio da vinculação contratual da oferta, obrigam os
pactuadas em prejuízo ao acesso do consumidor à fornecedores, mesmo que não guardem a caracte-
jurisdição podem ser declaradas nulas de o cio pelo rís ca da precisão.
magistrado
21. (Cespe/MPE-RR/Promotor de Jus ça/2012) Conside-
18. (Cespe/MPE-RR/Promotor de Jus ça/2012) Conside- rando as caracterís cas do CDC, os princípios aplicáveis
rando as normas de defesa do consumidor em juízo e ao direito do consumidor bem como os integrantes da
o entendimento do STJ a respeito do tema, assinale a relação de consumo, assinale a opção correta.
opção correta. a) Segundo a corrente maximalista ou obje va, con-
a) O MP não possui legi midade para promover ACP sumidor é o não profissional, ou seja, aquele que
na defesa de direitos dos consumidores de energia adquire ou u liza um produto para uso próprio ou
elétrica, dada a vedação expressamente prevista na de sua família.
lei que dispõe sobre a ACP. b) Consoante o que postula a corrente finalista ou
b) É competente, sem exceção, a jus ça local do foro do subje va, o des natário final é o des natário fá -
lugar onde ocorra ou tenha ocorrido o dano, quando co, pouco importando a des nação econômica do
de âmbito local, e do foro da capital do estado ou no bem ou a finalidade lucra va daquele que adquire
do DF, para os danos de âmbito nacional ou regional. o produto ou o serviço.
c) Aplica-se o prazo prescricional quinquenal previsto c) O STJ adota, em regra, a teoria finalista, mas, em
na Lei da Ação Popular à ACP decorrente de direitos casos em que reste evidente a vulnerabilidade do
individuais homogêneos. adquirente do produto ou serviço, adota a teoria
d) A defensoria pública não detém legi midade para maximalista, preferindo alguns autores denominá-la,
ajuizar ACP em defesa dos direitos difusos, cole vos nesses casos, de teoria finalista mi gada, atenuada
e individuais homogêneos dos consumidores. ou aprofundada.
e) É vedado ao juiz dispensar o requisito da pré-cons- d) Embora não previsto expressamente no CDC,
tuição da associação de defesa dos interesses e o princípio da vulnerabilidade é considerado pela
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

direitos dos consumidores para o ajuizamento de doutrina consumerista como um pilar do direito do
ação cole va, mesmo quando haja manifesto inte- consumidor.
resse social. e) O direito do consumidor é sub-ramo do direito
privado e, em razão da sua especificidade, todos os
19. (Cespe/MPE-RR/Promotor de Jus ça/2012) No que direitos e garan as dos consumidores estão exclu-
tange ao entendimento do STJ a respeito dos contratos sivamente previstos no CDC.
bancários, assinale a opção correta.
a) Nos contratos de mútuo bancário, é vedada a capita- 22. (Cespe/MPE-RR/Promotor de Jus ça/2012) De acor-
lização mensal de juros, mesmo que expressamente do com a jurisprudência do STJ, aplicam-se as regras
pactuada, pois o anatocismo gera prestações exces- do CDC a
sivamente onerosas ao consumidor. a) contrato de locação, perícia judicial e serviços nota-
b) Em contrato de empréstimo bancário, pode-se riais.
prever a cobrança cumula va da comissão de per- b) serviço de fornecimento de água e esgoto, contrato
manência e da correção monetária. de previdência privada e contrato de plano de saúde.

317
c) crédito educa vo custeado pelo Estado ao aluno, estabelecido que Mar ns vistoriara toda mercadoria
relação travada entre condomínio e condôminos e antes da aquisição e que o consumidor re raria os
contrato de franquia. produtos no depósito da empresa. Considerando tal
d) contrato de serviços advoca cios, contrato de traba- situação fic cia, assinale a alterna va correta à luz do
lho e envio de produto gratuitamente como brinde. disposto na Lei nº 8.078/1990, de acordo com cada
e) pagamento de contribuição de melhoria, contrato de hipótese abaixo apresentada:
cooperação técnica entre empresas de informá ca a) A garan a legal do produto independe de termo
e contrato bancário. expresso no contrato, bem como é lícito ao forne-
cedor es pular que se exime de responsabilidade na
23. (Cespe/MPE-RR/Promotor de Jus ça/2012) A respeito hipótese de vício de qualidade por inadequação do
dos bancos de dados e cadastros de consumidores, produto, desde que fundada em ignorância sobre o
assinale a opção correta com base no entendimento vício.
do STJ b) É nula de pleno direito a cláusula contratual que
a) Cabe ao credor da dívida providenciar a no ficação exonere a contratada de qualquer obrigação de in-
do devedor antes de proceder à inscrição em órgão denizar por vício do produto em razão de ter sido a
de proteção ao crédito.
mercadoria vistoriada previamente pelo consumidor.
b) É indispensável o aviso de recebimento em carta de
c) O contrato poderia prever a impossibilidade de
comunicação ao consumidor sobre a nega vação de
reembolso da quan a por Mar ns, bem como ter
seu nome em bancos de dados e cadastros.
transferido previamente a responsabilidade por
c) Para a abstenção da inscrição ou manutenção do
nome do consumidor em cadastro de inadimplentes eventual vício do produto, com exclusividade, ao fa-
requerida em antecipação de tutela e(ou) em me- bricante.
dida cautelar, basta que o consumidor demonstre d) A Zoop Z tem liberdade para estabelecer compulso-
que a cobrança indevida se funda em jurisprudência riamente a u lização de arbitragem, bem como exigir
consolidada do STF ou do STJ e que ele não tem con- o ressarcimento dos custos de cobrança da obrigação
dições econômico-financeiras para pagar a dívida. de Mar ns, sem que o mesmo seja conferido contra
d) O nome do devedor pode ser man do nos serviços o fornecedor.
de proteção ao crédito até o prazo da prescrição da
pretensão de cobrança ou, se ajuizada execução, até 26. (FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado/2012) A te-
a sa sfação do crédito. lespectadora Maria, após assis r ao anúncio de certa
e) Não cabe indenização por dano moral em razão de máquina fotográfica, ligou e comprou o produto via
anotação irregular em cadastro de proteção ao cré- telefone. No dia 19 de março, a câmara chegou ao seu
dito, se preexistente legí ma inscrição, ressalvado endereço. Acerca dessa situação, assinale a alterna va
o direito ao cancelamento. correta.
a) A contar do recebimento do produto, a consumidora
24. (Cespe/MPE-RR/Promotor de Jus ça/2012) Assinale a pode exercer o direito de arrependimento no prazo
opção correta a respeito das normas de direito penal prescricional de quinze dias.
e de processo penal previstas no CDC. b) Mesmo que o produto não tenha defeito, se Maria
a) No processo penal a nente aos crimes come dos se arrepender da aquisição e desis r do contrato
contra as relações de consumo, é vedada ao MP no dia 25 de março do mesmo ano, os valores
a assistência, porém lhe é facultada a propositura eventualmente pagos, a qualquer tulo, deverão
de ação penal subsidiária, se a denúncia não for ser devolvidos, monetariamente atualizados.
oferecida no prazo legal. c) Se, no dia 26 de março do mesmo ano, a consumi-
b) Assim como ocorre no direito ambiental, a pessoa dora pretender desis r do contrato, não poderá
jurídica pode ser responsabilizada criminalmente se fazê-lo, pois, além de o prazo decadencial já ter
os seus representantes legais ou até mesmo empre- fluído, os contratos são regidos pelo brocardo pacta
gados cometerem fatos picamente previstos como sunt servanda.
crimes no CDC. d) Após o prazo de desistência, que é decadencial,
c) A conduta de impedir ou dificultar o acesso do Maria não poderá reclamar de vícios do produto ou
consumidor às informações que sobre ele constem
de desconformidades entre a oferta apresentada e
em cadastros, banco de dados, fichas e registros é
as caracterís cas do bem adquirido, a não ser que
expressamente prevista como crime no CDC.
exista garan a contratual.
d) O sujeito passivo dos crimes contra as relações
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de consumo é o consumidor pessoa sica, consi-


derando-se fato a pico o crime come do contra 27. (FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciá-
consumidor pessoa jurídica ou consumidor por equi- ria/2012) No tocante aos conceitos de Consumidor,
paração, em observância ao princípio da vedação à Fornecedor, Produtos e Serviços, considere:
responsabilidade obje va. I – Fornecedor é toda pessoa sica ou jurídica que
e) Considera-se circunstância agravante nos crimes - desenvolve a vidade de produção, importação, expor-
pificados no CDC o fato de o agente cometer o delito tação, ou comercialização de produtos ou prestação
contra os consumidores de ins tuições financeiras, de serviços, excluindo-se os entes despersonalizados.
de saúde e de ensino privados. II – Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material
ou imaterial.
25. (FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado/2012) Mar ns III – Serviço é qualquer a vidade fornecida no mercado
celebrou negócio jurídico com a empresa Zoop Z para o de consumo, mediante remuneração, inclusive as de na-
fornecimento de dez volumes de determinada merca- tureza bancária, financeira, de crédito e as decorrentes
doria para entretenimento infan l. No contrato restava das relações de caráter trabalhista.

318
IV – Equipara-se a consumidor a cole vidade de pesso- a) Cometerá crime de consumo configurado no crime
as, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas de recall o fornecedor que não comunicar à autori-
relações de consumo. dade competente e aos consumidores a nocividade
ou periculosidade de produtos cujo conhecimento
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, está cor- seja posterior à sua colocação no mercado e não
reto o que consta apenas em retirá-lo imediatamente de circulação, quando
a) I e II. determinado pela autoridade competente. Nesse
b) I e III. sen do, a ordem da autoridade competente para
c) II, III e IV. a re rada do citado bem do mercado de consumo
d) I e IV. deve ser pessoal ao fornecedor responsável, para
e) II e IV. fins de configuração do crime.
b) A pificação penal prote va do consumidor, em
28. (FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciá- regra e por conta da presunção de perigo que traz
ria/2012) Cibelle das Flores comprou em uma loja de consigo, não exige, para a sua consumação, a rea-
departamento uma máquina fotográfica, uma caixa de lização de dano sico, mental ou econômico ao
bombons, um pijama e uma TV de LCD de 42 polegadas. indivíduo-consumidor, sendo certo que o direito
penal econômico protege primeiramente não o con-
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor,
sumidor em si, mas a relação jurídica de consumo,
o direito de Cibelle reclamar pelos vícios aparentes
pois esta é um bem jurídico autônomo, supraindi-
ou de fácil constatação caducará, contado da efe va
vidual e imaterial.
entrega do produto, no prazo de
c) A sentença civil não fará coisa julgada erga omnes
a) trinta dias para a caixa de bombons e noventa dias nos limites da competência territorial do órgão pro-
para a máquina fotográfica, o pijama e a TV. lator, exceto se o pedido for julgado improcedente
b) trinta dias para a caixa de bombons e sessenta dias por insuficiência de provas, hipótese em que apenas
para a máquina fotográfica, o pijama e a TV. o MP poderá intentar outra ação com idên co fun-
c) sessenta dias para a caixa de bombons e cento e damento, valendo-se de nova prova.
vinte dias para a máquina fotográfica, o pijama e a d) No direito do consumidor, vício e defeito dos bens
TV. possuem o mesmo sentido: relacionam-se com
d) sessenta dias para a caixa de bombons, a máquina o fato de o bem gerar a responsabilidade civil do
fotográfica, o pijama e a TV. fornecedor por defeito ou por insegurança.
e) trinta dias para a caixa de bombons e o pijama e e) A lei é a única forma de expressão juridicamente
cento e vinte dias para a máquina fotográfica e a TV. correta para se criar órgão de defesa do consumidor
no âmbito do Poder Execu vo.
29. (Cespe/MPE-TO/Promotor de Jus ça/2012) Assinale a
opção correta a respeito das relações de consumo e dos 31. (Cespe/MPE-TO/Promotor de Jus ça/2012) A respeito
integrantes dessas relações, da qualidade de produtos da defesa do consumidor, da convenção cole va de
e serviços e da prevenção e reparação de danos deles consumo e da responsabilidade pelo fato do produto,
advindos, bem como de aspectos diversos associados assinale a opção correta.
às prá cas comerciais. a) Caso a ofensa tenha mais de um autor, todos res-
a) É pacífico no âmbito do STJ que o CDC seja aplicável ponderão solidariamente pela reparação dos danos
nas a vidades notariais e registrais. previstos nas normas de consumo. Tal hipótese é
b) Segundo o direito consumerista brasileiro, o consu- exemplo de li sconsórcio alterna vo em uma rela-
midor cobrado em quan a indevida tem direito à ção de consumo.
repe ção do indébito, por valor igual ao dobro do b) Há, na doutrina brasileira, a análise de pelo menos
que lhe ver sido cobrado em excesso, acrescido de cinco teorias do nexo causal – equivalência das
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de condições ou do histórico dos antecedentes; causa-
engano jus ficável. lidade adequada; dano direto e imediato ou teoria
c) Não há uniformidade doutrinária quanto à exis- da interrupção do nexo causal; causa on as fact;
tência de dis nção de significado entre os termos proximate cause – para fins de demonstração da
publicidade e propaganda: há os que defendem vinculação entre o dano e o fato danoso, inclusive
essa existência e os que argumentam em favor da nos casos de responsabilização por perda de uma
existência de sinonímia entre referidos termos. chance em uma relação jurídica civil e de consumo.
c) A convenção coletiva de consumo é espécie de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

d) Para o STJ, as ins tuições financeiras respondem


negócio jurídico em que en dades privadas de re-
subje vamente pelos danos gerados por fortuito
presentação de consumidores e de fornecedores re-
rela vo a fraudes e delitos pra cados por terceiros
gulam relações de consumo, no que toca a condições
no âmbito de operações bancárias. rela vas a preço, qualidade, quan dade, garan a
e) Para o CDC e para o STJ, somente há danos à saúde e caracterís cas de bens e serviços, assim como a
do consumidor a par r do momento em que este reclamação e composição de conflitos de consumo.
consome o bem viciado em sua qualidade. Dessa forma, por ser um ajuste entre par culares
concebido sob a égide do princípio do consensua-
30. (Cespe/MPE-TO/Promotor de Jus ça/2012) A respeito lismo, tal convenção tornar-se-á obrigatória tão logo
da responsabilidade por vício do produto e do serviço, se estabeleça o consenso entre os convenentes.
das implicações administra vas e penais associadas d) A facilitação da defesa dos direitos do consumidor,
às relações de consumo e das ações cole vas para a inclusive com a inversão do ônus da prova a seu fa-
defesa de interesses individuais homogêneos ligados vor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
às citadas relações, assinale a opção correta. verossímil a alegação ou quando for hipossuficiente

319
o consumidor, segundo as regras ordinárias de ex- sofrer danos sicos de pequena gravidade, o fabricante
periências, caracteriza um exemplo de inversão do do produto responderá por tais danos, mesmo que seja
ônus probatório legal ou ope legis, ou seja, a inver- provada a culpa exclusiva do consumidor na ocorrência
são vem expressa em lei e sua aplicação não torna do acidente.
necessária qualquer decisão judicial determinadora 38. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012)
de tal inversão. Considere a seguinte situação hipoté ca.
e) Decorrido o prazo de dois anos sem habilitação de Devido a um erro de digitação, um fornecedor anunciou
interessados em número compa vel com a gravi- na Internet um estoque de trinta unidades de aparelhos
dade do dano, poderão os legi mados cole vos de ar condicionado de 20.000 btu pelo preço unitário
para a defesa do consumidor em juízo promover a de apenas R$ 2,00, quando o correto seria o preço de
liquidação e execução da indenização devida. R$ 2.000,00. Tal erro só foi percebido no dia seguinte
à veiculação da referida propaganda, quando diversos
32. (Cespe/MPE-TO/Promotor de Jus ça/2012) Com refe-
rência às caracterís cas e princípios do CDC, às relações consumidores exigiam comprar os aparelhos mediante
de consumo, à defesa do consumidor em juízo e ao o pagamento do preço inicialmente anunciado. Nessa
registro de informações em bancos e cadastros de situação, de acordo com o CDC e com os princípios de
consumidores, assinale a opção correta. direito aplicáveis à espécie, o fornecedor estaria obri-
a) Não se confunde, como faz o CDC, contrato de ade- gado a vender os aparelhos pelo preço inicialmente
são e condições gerais dos contratos, pois o proble- anunciado.
ma é de con nente e de conteúdo, respec vamente, 39. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012)
já que o contrato de adesão é instrumento que O fornecedor de produto ou serviço é solidariamente
concre za os efeitos das condições gerais, embora responsável pelos atos de seus prepostos ou represen-
ele não contenha somente condições gerais. tantes autônomos.
b) A exceção de contrato não cumprido é ins tuto
diverso da excep o doli, mas também se aplica às 40. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) Acerca dos conceitos
relações de consumo, por exemplo, nos casos de de fornecedor e de consumidor, assinale a alterna va
vício no bem e no serviço. correta.
c) Não é possível a incidência do CDC nos contratos de a) As sociedades de fato e as irregulares não são con-
mul propriedade imobiliária e(ou) de me-sharing.
sideradas fornecedoras de acordo com o diploma
d) O CDC trata da execução individual da sentença
consumerista por serem desprovidas de personali-
fundada em direito individual homogêneo, mas não
contempla a execução por fluid recovery. dade jurídica.
e) Uma das hipóteses de habeas data trazidas pela CF b) O Código de Defesa do Consumidor é composto pelo
consiste em assegurar o conhecimento de informa- conceito de consumidor em sen do estrito e pelo
ções rela vas à pessoa do impetrante, constantes conceito de consumidor por equiparação. Em rela-
de registros ou bancos de dados de en dades go- ção ao primeiro, há a exclusão das pessoas jurídicas.
vernamentais ou de caráter público. Todavia, o con- c) A definição do ar go 2º (segundo) do Código de
sumidor não poderá socorrer-se de tal medida para Defesa do Consumidor prescinde a análise do sujeito
obter informações man das em banco de dados de considerado des natário fá co e econômico do bem
pessoas jurídicas de direito privado, como é o caso ou do serviço.
da Serasa. d) A teoria finalista aprofundada se concentra em
inves gar no caso concreto a noção de consumidor
Julgue os itens. final imediato e a de vulnerabilidade.
33. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012) O
CDC é uma norma principiológica, de ordem pública e 41. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) Acerca dos funda-
interesse social. mentos cons tucionais do Direito do Consumidor e da
34. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012) Se
oferta e publicidade no Código de Defesa do Consumi-
um indivíduo comprar um aparelho telefônico em uma
loja de eletrodomés cos mediante a emissão de cheque dor, é correto afirmar:
e este for indevidamente devolvido ao vendedor, tal a) O legislador cons tuinte determinou no Ato das Dis-
devolução não caracterizará dano moral ao emitente posições Cons tucionais Transitórias que dentro do
do cheque. prazo de dois anos deveria ser elaborado um Código
35. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012) de Defesa do Consumidor.
Por se tratar de matéria de interesse local, os municí- b) Conforme determina a Cons tuição Federal de 1988,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

pios e o Distrito Federal têm competência para legislar a competência para legislar sobre direito do consu-
sobre o tempo de atendimento ao público nas agências midor é comum à União, aos Estados e ao Distrito
bancárias em funcionamento no respec vo território. Federal.
c) É dever do fornecedor, na publicidade de seus pro-
36. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012) Os dutos ou serviços, manter em seu poder os dados
produtos e serviços colocados no mercado de consumo fá cos, técnicos e cien ficos que dão sustentação à
não podem acarretar riscos à saúde ou à segurança mensagem.
dos consumidores, exceto os considerados normais e d) Considera-se enganosa a publicidade que explore o
previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, medo ou a supers ção, se aproveite da deficiência
tais como remédios e fogos de ar cio.
de julgamento e experiência da criança, ou que
seja capaz de induzir o consumidor a se comportar
37. (Cespe/Banco da Amazônia/Técnico Cien fico/2012)
Se um consumidor, devido ao uso inadequado de um de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
aparelho eletrodomés co no preparo de alimentos, segurança.

320
42. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) De acordo com o b) Consideram-se amostras grá s os produtos ou ser-
regime jurídico de responsabilidade e deveres estabe- viços enviados ou entregues ao consumidor sem
lecido no Código de Defesa do Consumidor, assinale a solicitação prévia, inexis ndo nesse caso obrigação
alterna va correta. de pagamento.
a) Na hipótese de responsabilidade por vício do pro- c) Por se tratar de direito básico do consumidor, o valor
duto e do serviço, caso ocorra dano causado por constante em orçamento terá validade pelo prazo de
componente ou peça incorporada ao produto ou dez dias, contado de seu recebimento pelo consu-
serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, midor, não podendo haver es pulação diversa.
construtor ou importador e o que realizou a incor- d) No caso de fornecimento de produtos ou de serviços
poração. sujeitos ao regime de controle ou de tabelamento
b) Obsta a prescrição a reclamação comprovadamente de preços, os fornecedores deverão respeitar os
formulada pelo consumidor perante o fornecedor limites oficiais, sob pena de, não o fazendo, res-
de produtos e serviços até a resposta nega va cor- ponderem pela res tuição da quan a recebida em
respondente, que deve ser transmi da de forma excesso, monetariamente atualizada, não podendo
inequívoca. o consumidor exigir à sua escolha o desfazimento do
c) A garan a legal de adequação do produto ou serviço negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.
depende de termo expresso, sendo possível es pula-
ção contratual de cláusula que impossibilite, exonere 46. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) Tendo em vista a
ou atenue a obrigação de indenizar. disciplina dos bancos de dados e das cláusulas abusivas
d) Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação no Código de Defesa do Consumidor, é correto afirmar:
pelos danos causados por vício do produto ou do a) Os bancos de dados e cadastros rela vos a consumi-
serviço, iniciando-se a contagem do prazo a par r dores, bem como os serviços de proteção ao crédito
do conhecimento do dano e de sua autoria. e congêneres são considerados en dades de caráter
público.
43. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) Sobre as hipóteses b) O Código de Defesa do Consumidor, inspirado na
de Desconsideração da Personalidade Jurídica contem- Lei de Locações (nº 8.245/1991), estabelece que,
pladas no Código de Defesa do Consumidor, assinale a salvo expressa disposição contratual em contrário,
alterna va incorreta. as benfeitorias serão indenizáveis.
a) As sociedades integrantes dos grupos societários e c) Nos contratos bancários, é dever do julgador conhe-
as sociedades controladas são subsidiariamente res- cer, de o cio, da abusividade das cláusulas.
ponsáveis pelas obrigações decorrentes do Código d) São consideradas cláusulas abusivas as que infrinjam
de Defesa do Consumidor. ou possibilitem a violação de normas ambientais,
b) As sociedades consorciadas só responderão por devendo ocorrer a sua anulabilidade.
culpa.
c) Poderá haver desconsideração sempre que a perso- 47. (MPE-GO/Promotor de Jus ça/2012) Assinale a afirma-
nalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressar- va correta.
cimento de prejuízos causados aos consumidores. a) Segundo entendimento do STJ, a inversão do ônus
d) Dentre as hipóteses de desconsideração previstas da prova é regra de instrução, devendo a decisão
no Código de Defesa do Consumidor, encontram-se judicial que a determina ser proferida preferencial-
a ocorrência de falência, estado de insolvência, mente na fase do saneamento do processo.
encerramento ou ina vidade da pessoa jurídica b) A garan a legal de adequação do produto ou serviço
provocados por má administração. depende de termo expresso, no qual se explicitará
o alcance da responsabilidade do fornecedor.
44. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) Sobre a oferta de c) Verificando no processo a existência de uma cláusula
produtos e serviços no Código de Defesa do Consumi- abusiva inserta em um contrato bancário, o juiz
dor, assinale a alterna va correta. deverá declarar a nulidade da cláusula, quer a re-
a) Em se tratando de produtos refrigerados oferecidos querimento do interessado, do Ministério Público,
ao consumidor, estes deverão ser gravados de forma ou mesmo ex o cio, por ser tratar de matéria de
efêmera. ordem pública.
b) O ônus da prova da veracidade e correção da infor- d) O Ministério Público, mediante inquérito civil, pode
mação ou comunicação publicitária cabe a quem as efetuar o controle administra vo abstrato e pre-
veicula. ven vo das cláusulas contratuais, cuja decisão terá
c) O fornecedor de produtos ou serviços é subsidiaria- caráter geral.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

mente responsável pelos atos de seus prepostos ou


representantes autônomos. 48. (FCC/DPE-PR/Defensor Público/2012) De acordo com a
d) Em caso de oferta ou venda por telefone ou reem- nova realidade contratual prevista no Código de Defesa
bolso postal, deve constar o nome do fabricante e do Consumidor,
endereço na embalagem, publicidade e em todos os a) não se exige a imprevisibilidade do fato superve-
impressos u lizados na transação comercial. niente para a revisão de cláusulas contratuais.
b) o pacta sunt servanda tem preponderância sobre os
45. (UFPR/TJ-PR/Juiz de Direito/2012) Acerca das prá cas outros princípios.
abusivas no âmbito do Código de Defesa do Consumi- c) as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de
dor, assinale a alterna va correta. forma extensiva.
a) De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, d) as cláusulas contratuais gerais têm controle admi-
o fornecedor não pode limitar a quan dade de pro- nistra vo abstrato e preven vo.
dutos que podem ser adquiridos por consumidor, e) a forma de redação dos instrumentos contratuais
sob pena de incorrer em prá ca abusiva. assume relevância rela va.

321
49. (FCC/DPE-PR/Defensor Público/2012) Em junho de a) Um dos direitos básicos do consumidor, previstos
2011, Renata adquiriu, para uso pessoal, um aparelho pelo CDC, é o de proteção da vida, saúde e segu-
de som, com garan a contratual de 12 meses. Seis rança contra os riscos provocados por prá cas no
meses após a compra, o aparelho esquentou muito e fornecimento de produtos e serviços considerados
queimou. Levado à assistência técnica, após 27 dias, foi perigosos ou nocivos.
apresentado laudo que o produto não nha conserto, b) Um dos direitos básicos do consumidor, previstos
considerando a extensão do vício ocasionado e que pelo CDC, é o de modificação das cláusulas contra-
não havia nada a ser feito. Nesse caso, tendo em vista tuais que estabeleçam prestações desproporcionais
o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor, ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que
a) não tem relevância se existe ou não vínculo con- as tornem excessivamente onerosas.
tratual em casos de responsabilidade por vício do c) Um dos direitos básicos do consumidor, previstos
produto. pelo CDC, é o de acesso aos órgãos judiciários e
b) o direito de reclamar judicialmente se iniciou no administra vos com vistas à prevenção ou repa-
momento em que ficou evidenciado o vício e o prazo ração de danos patrimoniais e morais, individuais,
decadencial é de trinta dias. cole vos ou difusos, assegurada a proteção jurídica,
c) a consumidora tem direito a res tuição imediata da administra va e técnica aos necessitados.
quan a paga, independentemente do prazo que o d) Um dos direitos básicos do consumidor, previstos
fornecedor ficou com o produto. pelo CDC, é o de facilitação da defesa de seus direi-
d) inexiste solidariedade entre o fabricante e o comer- tos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
ciante em questões rela vas a vício do produto, favor, no processo civil, desde que haja comprovação
segundo o Código de Defesa do Consumidor. da alegação e quando for ele hipossuficiente, segun-
e) a consumidora não tem direito a subs tuição do do as regras da lei.
produto por outro da mesma espécie, considerando
que o prazo máximo que dispõe o fornecedor para 53. (TJ-PR/Assessor Jurídico/2012) Sobre as disposições do
sanar o vício não foi a ngido. Código de Defesa do Consumidor acerca da oferta e da
publicidade, é correto afirmar:
50. (FCC/DPE-PR/Defensor Público/2012) De acordo com a) O fornecedor do produto ou serviço é subsidiaria-
o Código de Defesa do Consumidor, mente responsável pelos atos de seus prepostos sem
a) a inscrição de inadimplente pode ser man da nos vínculo emprega cio ou representantes autônomos.
serviços de proteção ao crédito por, no máximo, b) O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou
três anos. serviços, manterá, em seu poder, para informação
b) é desnecessária a comunicação ao consumidor da dos legí mos interessados, os dados fá cos, técnicos
abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e cien ficos que dão sustentação à mensagem.
e de consumo. c) É abusiva qualquer modalidade de informação ou
c) os bancos de dados e cadastros rela vos aos con- comunicação de caráter publicitário, inteira ou
sumidores e os serviços de proteção ao crédito são parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,
considerados en dades de caráter privado. mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o
d) cabe ao fornecedor a no ficação do devedor antes consumidor a respeito da natureza, caracterís cas,
de proceder à inscrição. qualidade, quan dade, propriedades, origem, preço
e) da anotação irregular em cadastro de proteção e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
ao crédito, não cabe indenização por dano moral, d) Os fabricantes e importadores deverão assegurar
quando preexistente legí ma inscrição. a oferta de componentes e peças de reposição
enquanto não cessar a fabricação ou importação
51. (FCC/DPE-PR/Defensor Público/2012) Sobre oferta e do produto. Cessadas a produção ou importação,
publicidade é correto afirmar que a oferta deverá ser man da por, no mínimo, 20
a) no caso de outorga de crédito, como nas hipóteses (vinte) anos.
de financiamento ou parcelamento, é necessária
apenas a discriminação do número, periodicidade 54. (TJ-PR/Assessor Jurídico/2012) Com base no que o Có-
e valor das prestações digo de Defesa do Consumidor norma za sobre bancos
b) o ônus da prova da veracidade e correção da infor- de dados, assinale a alterna va correta.
mação ou comunicação publicitária cabe à agência a) Os cadastros e dados de consumidores devem ser
de publicidade. obje vos, claros, verdadeiros e em linguagem de
c) é enganosa a publicidade que desrespeita valores da fácil compreensão, não podendo conter informações
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sociedade e que é capaz de induzir o consumidor a nega vas referentes a período superior a três anos.
se comportar de forma prejudicial à sua saúde. b) Os órgãos públicos de defesa do consumidor mante-
d) configura infração ao direito básico do consumidor à rão cadastros atualizados de reclamações fundamen-
informação apenas informar os preços em parcelas, tadas contra fornecedores de produtos e serviços,
obrigando-o ao cálculo total. devendo divulgá-los pública e semestralmente.
e) da inexecução de uma oferta, apresentação ou publi- c) O consumidor, sempre que encontrar inexa dão nos
cidade, o consumidor não pode aceitar a entrega de seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata
outro produto ou prestação de serviço equivalente. correção, devendo o arquivista, no prazo de trinta
dias, comunicar a alteração aos des natários das
52. (TJ-PR/Assessor Jurídico/2012) De acordo com o que informações incorretas.
dispõe o Código de Defesa do Consumidor (CDC), d) Os bancos de dados e cadastros rela vos a con-
Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, acerca dos sumidores, os serviços de proteção ao crédito e
direitos básicos do consumidor, assinale a alterna va congêneres são considerados en dades de caráter
incorreta. público.

322
55. (TJ-PR/Assessor Jurídico/2012) Com base nas dispo- d) O comerciante é igualmente responsável ao forne-
sições do Código de Defesa do Consumidor acerca de cedor pelo fato do produto caso o fabricante não
prescrição e decadência, assinale a alterna va que puder ser iden ficado.
completa a seguinte previsão: “O direito de reclamar e) A culpa exclusiva do consumidor não isenta o forne-
pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca cedor de reparar o dano pelo seu produto.
em __________”.
a) cento e vinte dias, tratando-se de fornecimento de 59. (PUC-PR/TJ-MS/Juiz de Direito/2012) Sobre o conceito
serviço e de produtos não duráveis.
de consumidor, marque a alterna va correta:
b) noventa dias, tratando-se de fornecimento de ser-
a) De acordo com o Código de Defesa do Consumidor,
viço e de produtos não duráveis.
c) sessenta dias, tratando-se de fornecimento de ser- as pessoas expostas às prá cas comercias abusivas
viço e de produtos não duráveis. equiparam-se a consumidores, ainda que indeter-
d) trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço mináveis.
e de produtos não duráveis. b) As pessoas ví mas de produto defeituoso podem ser
equiparadas a consumidor, todavia não receberão o
56. (TJ-PR/Assessor Jurídico/2012) Com base das disposi- tratamento do Código de Defesa do Consumidor, que
ções do Código de Defesa do Consumidor, assinale a possibilita, entre outras coisas, a inversão do ônus da
alterna va correta. prova.
a) O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente c) O conceito de consumidor, consoante a Lei nº 8.078/1990,
responsável pelos atos de seus prepostos ou repre- engloba exclusivamente a pessoa sica que adquire ou
sentantes autônomos. utiliza produto ou serviço como destinatário final.
b) Rela vamente à publicidade, é abusiva qualquer d) Equipara-se o consumidor a qualquer pessoa que, não
modalidade de informação ou comunicação de
sendo des natário final, tenha adquirido produto com
caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa,
vício de qualidade.
capaz de induzir em erro o consumidor a respeito
da natureza, caracterís cas, qualidade, quan dade, e) A cole vidade de pessoas que intervenha na relação de
propriedades, origem, preço e quaisquer outros consumo, não é, para os efeitos da Lei nº 8.078/1990,
dados sobre produtos e serviços. considerada consumidora.
c) Para os efeitos do Código de Defesa do Consumidor,
a publicidade é abusiva por omissão quando deixa 60. (PUC-PR/TJ-MS/Juiz de Direito/2012) A respeito dos
de informar sobre dado essencial do produto ou bancos de dados e cadastros dos consumidores, é cor-
serviço. reto afirmar:
d) É proibida toda a publicidade de bens e serviços por a) Os cadastros e dados de consumidores deverão ser
telefone. claros e verdadeiros e não poderão conter infor-
mações nega vas referentes a período superior a 6
57. (PUC-PR/TJ-MS/Juiz de Direito/2012) Sobre as prá cas (seis) anos.
comerciais, marque a alterna va correta: b) O consumidor possui o direito de ter acesso às infor-
a) A publicidade não pode ser considerada enganosa
mações existentes em cadastros, fichas, registros e
por conter informação de caráter parcialmente falso.
dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele;
b) O ônus da prova da veracidade e correção da infor-
mação ou comunicação cabe ao consumidor. contudo, não pode saber sobre as respec vas fontes.
c) O Código de Defesa do Consumidor é omisso no que c) Os bancos de dados e cadastros rela vos a con-
concerne à publicidade enganosa; a regulação da sumidores, os serviços de proteção ao crédito e
publicidade encontra-se em legislação específica. congêneres são considerados en dades de caráter
d) Os fabricantes e os importadores deverão assegu- público.
rar a oferta de componentes e peças de reposição d) A abertura do cadastro não deverá ser comunicada
enquanto não cessar a fabricação ou a importação por escrito ao consumidor, quando não solicitada
do produto. por ele.
e) A oferta disciplinada pela Lei nº 8.078/1990 não e) O consumidor que encontrar inexa dão nos seus
possui caráter vinculante. dados e cadastros não poderá exigir sua imediata
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

correção.
58. (PUC-PR/TJ-MS/Juiz de Direito/2012) No que concerne
à responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto,
Cespe/Defensor Público do Estado do Ceará/2008
marque a alterna va correta:
a) O produto não pode ser considerado defeituoso por
não oferecer, simplesmente, a segurança que dele Acerca das normas de proteção e defesa do consumidor,
legi mamente se espera. julgue os próximos itens.
b) O produto é considerado defeituoso pelo fato de 61. Considere que tenha ocorrido um roubo no interior de
outro de melhor qualidade ter sido colocado no um ônibus da SB Transportes Ltda., concessionária de
mercado serviço público de transporte cole vo. Nessa situação,
c) O fabricante do produto defeituoso irá responder a SB Transportes Ltda. está isenta de responder pelos
pelos danos causados ao consumidor ainda que danos experimentados pelos passageiros, uma vez
prove que tenha não colocado o produto no mercado que se trata de caso fortuito estranho à sua a vidade
de consumo. negocial.

323
62. As sociedades consorciadas somente responderão pelos Cespe/Promotor de Jus ça Tocan ns/2004
danos causados aos consumidores mediante a apuração
da culpa na par cipação do evento danoso. 71. Na defesa dos consumidores, um aspecto primordial
63. O Código de Defesa do Consumidor adota a teoria é a definição do que é consumidor e fornecedor. Em
menor da desconsideração da personalidade jurídica, conformidade com as normas aplicáveis, assinale a
bastando a demonstração da insolvência da pessoa opção incorreta com relação a esses conceitos.
jurídica para o pagamento de suas obrigações, inde- a) O estado do Tocan ns, por ser pessoa jurídica de di-
pendentemente da existência de desvio de finalidade reito público, não pode ser enquadrado no conceito
de consumidor.
ou de confusão patrimonial.
b) Um mesmo estabelecimento comercial pode ser
64. Sujeitam-se às normas de proteção e defesa do consu- fornecedor e consumidor em operações dis ntas.
midor os serviços prestados por perito judicial. c) A cole vidade também pode ser equiparada a con-
65. É considerada consumidora indústria farmacêu ca que sumidor, quando intervier nas relações de consumo.
tenha firmado contrato de financiamento com vistas d) Quando uma concessionária de energia elétrica
exclusivamente a incrementar sua a vidade negocial. fornece um produto aos cidadãos, submete-se ao
Código de Defesa do Consumidor (CDC).
“Uma explosão, no interior de uma loja localizada no cen- e) Uma indústria asiá ca que exporta produtos para o
tro de uma grande cidade, causou danos a pessoas que se Brasil enquadra-se no conceito de fornecedor.
encontravam no interior e no exterior do estabelecimento.”
72. Em conformidade com o CDC, assinale a opção que
Com base nessa situação e nas normas de proteção e defesa não corresponde a um ditame norma vo rela vo ao
do consumidor, julgue os itens seguintes: Ministério Público.
66. Todas as ví mas da explosão são consideradas consu- a) A ins tuição de promotorias de jus ça de defesa
midoras, para efeito de reparação dos danos. do consumidor insere-se no contexto da Polí ca
Nacional das Relações de Consumo.
67. O prazo para requerer a indenização em razão da ex-
b) O Ministério Público pode, a requerimento de qual-
plosão é de cinco anos, contados a par r da data da
quer cole vidade, ajuizar a competente ação para
ocorrência do evento danoso. ser declarada a nulidade de cláusula contratual que
contrarie o disposto no CDC, porém não é admi da
Julgue os itens, a respeito das normas de proteção e defesa a atuação do Ministério Público a pedido de consu-
do consumidor. midor individual.
68. Considere que o cartão de crédito de Tânia tenha c) No processo penal a nente aos crimes previstos
sido furtado no dia 5 de dezembro pela manhã e que, no CDC, a União pode intervir como assistente do
em razão de conges onamento da linha telefônica, Ministério Público.
somente à noite ela tenha conseguido comunicar a d) Tanto o Ministério Público como o Distrito Federal
ocorrência do furto à operadora do cartão de crédito. é legi mado para promover a defesa cole va dos
Considere, ainda, que, posteriormente, tenham sido interesses e direitos dos consumidores e das ví mas.
constatadas várias compras com a u lização do cartão e) Nas ações coletivas para a defesa de interesses
furtado. Nessa situação, é nula a cláusula contratual individuais homogêneos que não tenham sido ajui-
que imponha a Tânia a integral responsabilidade pelas zadas pelo Ministério Público, a ele caberá, de o cio,
compras realizadas com seu cartão até o momento da a atuação como fiscal da lei.
comunicação à operadora de cartões de crédito.
73. A ordenação norma va sobre o Ministério Público
69. A veiculação de publicidade enganosa em horário nobre
compreende, entre outras, a Lei nº 6.825/1993 – Lei
na televisão cons tui ofensa a direitos cole vos, o que Orgânica Nacional do Ministério Público – , que dispõe
legi ma o Ministério Público a ajuizar ação civil pública sobre normas gerais para a organização do Ministério
contra o ofensor. Público dos estados. Entre seus disposi vos, essa lei
70. Considere a seguinte situação hipoté ca. acrescenta às funções do Ministério Público, em matéria
Depois de inúmeros testes, determinada indústria do de relações de consumo, o (a):
ramo de cosmé cos lançou no mercado brasileiro um a) promoção de ação de incons tucionalidade de leis
hidratante com fator de proteção solar específico para ou atos norma vos estaduais ou municipais, em face
aplicação no rosto. Decorridos alguns dias, a indústria da Cons tuição estadual, rela vamente às relações
começou a receber reclamações de consumidores que de consumo.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sen ram forte irritação na região dos olhos após a b) promoção, priva va, da ação penal pública sobre
aplicação do produto. Diante dessa situação, a indústria consumo.
decidiu reiniciar os testes laboratoriais para descobrir c) promoção do inquérito civil e a ação civil pública,
qual componente da fórmula estaria causando a irri- para a reparação dos danos causados ao consumidor.
tação. Com esses testes, descobriu-se que havia riscos d) ingresso em juízo, de o cio, para responsabilizar os
gestores públicos omissos que compõem o sistema
de o produto causar lesões irreversíveis. Imaginando
de proteção ao consumidor.
possível repercussão nega va para a imagem da em-
e) interposição de recursos em ações civis rela vas a
presa, a indústria decidiu reduzir a produção do referido consumo, iniciadas por entes privados.
hidratante durante o período de testes.
Nessa situação, inexis ndo qualquer resultado danoso 74. A Lei nº 7.347/1985 veio disciplinar a ação civil pública
efe vo, a omissão da indústria em comunicar às auto- de responsabilidade por danos causados a diversos se-
ridades competentes a respeito dessa descoberta não tores e valores da sociedade, entre eles, ao consumidor.
cons tui conduta criminosa. Entre seus disposi vos, encontra-se o estabelecimento

324
de normas sobre a legi midade para a propositura de Com base nessa situação hipoté ca, assinale a opção
ação civil pública. As ins tuições legi madas para essa correta.
propositura não incluem: a) O hospital responderá pelos danos, podendo arguir
a) autarquia que esteja cons tuída há pelo menos em regresso a responsabilidade de Klaus.
um ano, nos termos da lei civil e que inclua, entre b) Caracterizada a conduta de Klaus como causadora
suas finalidades ins tucionais, a proteção ao meio do dano, o hospital não poderá ser responsabiliza-
ambiente e ao consumidor. do, pois não existe nexo causal que ligue a pessoa
b) sociedade de economia mista que esteja cons tuída jurídica à lesão come da.
há pelo menos um ano, nos termos da lei civil e que
c) Por se tratar de questão que envolve profissional
inclua, entre suas finalidades ins tucionais, a prote-
ção ao meio ambiente e ao consumidor. liberal, a responsabilidade civil do hospital é de
c) empresa pública que esteja constituída há pelo ordem subje va, sendo necessário provar-se culpa
menos um ano,nos termos da lei civil e que inclua, in eligendo ou in vigilando para sua condenação.
entre suas finalidades ins tucionais, a proteção ao d) Se o hospital não for sociedade empresária, mas
meio ambiente e ao consumidor. en dade filantrópica, não se configurará a relação
d) associação que esteja cons tuída há pelo menos de consumo.
um ano, nos termos da lei civil e que inclua, entre e) Se a lesão provocasse a morte de Alberto, o MP
suas finalidades ins tucionais, a proteção ao meio estaria legi mado a oferecer a ação de indenização
ambiente ao consumidor. em tela, como subs tuto processual.
e) sindicato que esteja constituído há pelo menos
um ano, nos termos da lei civil e que inclua, entre 77. O Código de Proteção e Defesa do Consumidor trouxe
suas finalidades ins tucionais, a proteção ao meio significa va contribuição à disciplina da responsabi-
ambiente e ao consumidor. lidade civil, tanto contratual como extracontratual,
ampliando e reforçando sua extensão com o obje vo
75. Francisco, servidor público, adquiriu, da sociedade
de proteger o consumidor contra vícios ou defeitos
Barbosa e Silva Revenda de Produtos Eletrônicos Ltda.,
de produtos e serviços oferecidos no mercado. Com
três computadores para uso pessoal: um para si próprio,
outro para sua esposa e o terceiro para seu filho. Antes relação a esse assunto, assinale a opção correta.
mesmo de u lizar um dos aparelhos, decidiu Francisco a) Os produtos oferecidos no mercado não poderão
aliená-lo. Foi o computador, portanto, vendido para oferecer riscos à vida, à saúde e à segurança do
Roberto. Ainda dentro do prazo de garan a, os três consumidor, sob pena de ocasionarem a responsa-
aparelhos apresentaram defeito. Em face das regras bilidade do fornecedor.
constantes no Código Brasileiro de Defesa do Consumi- b) As sanções por vícios de qualidade nos produtos
dor (CDC), rela vamente à situação hipoté ca acima, obje vam resguardar o consumidor de falhas ocultas
assinale a opção correta. do produto ou do serviço, conferindo-lhe prazo de
a) Caso o contrato celebrado entre Francisco e Roberto reclamação que se inicia na data em que for eviden-
contenha cláusula que atribua a Roberto, comprador, ciado o defeito.
o ônus da prova de qualquer vício do produto, essa c) A responsabilidade por informações falsas ou
cláusula será considerada válida, haja vista a não inexatas, no conteúdo da embalagem de produto,
aplicação do CDC a essa relação jurídica. referentes ao seu conteúdo líquido, limita-se ao
b) Caso seja comprovado que o vício do produto é de fá- fabricante e não a nge os demais fornecedores,
brica, a sociedade Barbosa e Silva não terá qualquer
em razão da impossibilidade obje va de causarem
responsabilidade pelos prejuízos daí resultantes.
ou conhecerem tal vício.
c) Caso seja comprovado que o vício do produto é de
fábrica, a sociedade Barbosa e Silva somente poderá d) Nas compras fora do estabelecimento do fornecedor,
ser responsabilizada subsidiariamente, após esgota- a remessa de bens em quan dade inferior ao acor-
dos os meios para a cobrança da dívida do fabricante dado e pago pelo consumidor caracterizará vício de
do produto. quan dade nos produtos.
d) Caso Francisco proponha ação contra a sociedade e) Constatado vício de qualidade no produto que o
Barbosa e Silva e não sejam localizados bens perten- torne impróprio para consumo, a lei concede ao
centes a ela, poderá ser aplicada a teoria da descon- fornecedor a oportunidade de saná-lo no prazo de
sideração, desde que demonstrada a intenção dos 30 dias.
sócios da referida sociedade em fraudar credores.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

e) Tratando-se de vício de produto, Francisco poderá 78. Considere que determinado grupo de sociedades, com-
propor ação apenas contra a sociedade Barbosa e posto pelas pessoas jurídicas F, G e K, seja controlado
Silva, e, provando-se o vício de fábrica do produto, pela sociedade F e que, nele, G seja sociedade coligada
essa sociedade terá ação contra o fabricante. a K, a qual, por sua vez, é consorciada à sociedade L.
Nessa situação, considerando que a sociedade K seja
Cespe/Promotor do Estado do Amazonas/2007
responsável por obrigações decorrentes do Código de
Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a opção
76. Alberto foi atendido no hospital Barcelona, com suspei-
tas de intoxicação. Porém, durante seu tratamento, foi correta quanto à extensão dessa responsabilidade para
ví ma de erro médico, come do pelo Dr. Klaus, médico as demais sociedades referidas.
daquela casa. O tratamento inadequado causou expres- a) As sociedades F e G responderão solidariamente por
sivas lesões à integridade sica de Alberto, que ofereceu, essas obrigações.
então, ação de indenização contra o hospital, com base b) A sociedade L responderá subsidiariamente pelas
no Código de Proteção e Defesa do Consumidor. citadas obrigações.

325
c) A sociedade F responderá subsidiariamente e a so- c) Quando for verossímil a alegação ou for o consumi-
ciedade G responderá solidariamente pelas referidas dor hipossuficiente, poderá o Juiz inverter o ônus da
obrigações. prova para facilitar a defesa dos direitos do consumi-
d) A sociedade G só responderá por culpa pelas referi- dor, segundo as regras ordinárias de experiências.
das obrigações. d) Na aferição da responsabilidade do fornecedor de
e) As sociedades G e K responderão solidariamente produto ou serviço, o Código de Defesa do Consumi-
pelas obrigações. dor aboliu o elemento subje vo da culpa, acolhendo
os postulados da responsabilidade obje va.
79. Para melhor disciplinar o exercício da profissão de
empresário no que se refere ao respeito pelos direitos 82. (MP-BA/2004) Assinale a alterna va que preenche,
dos consumidores, o Código de Defesa e Proteção do correta e respec vamente, as lacunas do texto abaixo,
Consumidor regulou aspectos relevantes das prá cas que diz respeito ao direito do consumidor.
comerciais, par cularmente quanto à oferta e à publi- Prescreve em _____________ anos a pretensão à re-
cidade de produtos e serviços. Acerca dessa disciplina, paração pelos danos causados por fato do produto ou
assinale a opção correta. do serviço (acidente de consumo), iniciando-se a con-
a) O fabricante ou o importador assegurarão a oferta tagem do prazo a par r do conhecimento do dano e de
de componentes e peças de reposição do produto sua autoria. O direito de reclamar pelos vícios ocultos,
enquanto eles es verem sendo vendidos no merca- tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos
do. duráveis, caduca em ___________ dias.
b) É vedado ao fornecedor condicionar os limites quan- a) 3 (três) – 30 (trinta).
ta vos do fornecimento de produtos, de modo a b) 3 (três) – 90 (noventa).
estabelecer que a aquisição versará sobre limite c) 5 (cinco) – 90 (noventa).
mínimo ou máximo de unidades. d) 5 (cinco) – 180 (cento e oitenta).
c) A publicidade será enganadora por omissão quando e) 10 (dez) – 180 (cento e oitenta).
deixar de informar sobre dado essencial do produto
ou do serviço. 83. (MP-BA/2004) Sobre a defesa do consumidor em Juízo
d) O fornecedor poderá enviar, sem solicitação prévia, é correto afirmar que:
qualquer propaganda ou produto ao consumidor, a) na ação que tenha por objeto o cumprimento da
obrigação de fazer ou não fazer, sendo relevante
desde que isso não acarrete nenhum prejuízo ao
o fundamento da demanda e havendo jus ficado
des natário.
receio da ineficácia do provimento final, é lícito ao
e) Aprovado o orçamento prévio de fornecimento de
juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus -
serviço, o consumidor terá até 7 dias para, unilate-
ficação prévia, citado o réu, podendo impor multa
ralmente, desis r do negócio.
diária, sempre a pedido do autor, se for suficiente ou
compa vel com a obrigação, fixando prazo razoável
80. Quanto à defesa administra va e judicial do consumi- para o cumprimento do preceito.
dor, assinale a opção correta. b) as associações estão legi madas, concorrentemente,
a) As en dades legi madas para representar o con- a exercer em juízo a defesa cole va dos interesses e
sumidor em juízo também estão autorizadas a, direitos dos consumidores, desde que, sem exceção,
respeitados a ampla defesa e o contraditório, aplicar estejam legalmente cons tuídas há pelo menos
multas por infração às normas de proteção ao con- 1(um) ano e que incluam entre seus fins ins tucio-
sumo. nais a defesa dos interesses e direitos protegidos por
b) A suspensão das atividades do fornecedor que este código.
infringir normas de defesa do consumidor será c) é facultado ao magistrado inverter o ônus da prova,
temporária, exigindo-se que a ordem de interdição se o consumidor provar sua hipossuficiência ou
decorra de prévia decisão judicial. indicar a semelhança com a verdade.
c) Qualquer associação civil está autorizada a ofere- d) havendo o concurso de créditos decorrentes, em
cer ação cole va des nada à defesa dos direitos e ação civil pública, de condenação em dinheiro e
interesses difusos dos consumidores, independen- depositados no Fundo de defesa de Direitos Difu-
temente de seu objeto ou de autorização individual sos, e de indenizações pelos prejuízos individuais
ou estatutária. resultantes do mesmo evento danoso, estas terão
d) Os órgãos de proteção do consumo que não se preferência de pagamento.
reves rem de personalidade jurídica não estarão e) em uma ação civil pública movida na defesa de direi-
legi mados a promover a defesa do consumidor em to do consumidor, decorridos 60 (sessenta) dias do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

juízo. trânsito em julgado da sentença condenatória, sem


e) O MP, mesmo se não for o autor de ação em defesa que a associação autora lhe promova a execução,
dos consumidores, necessariamente atuará na causa poderão fazê-lo o Ministério Público ou os demais
como fiscal da lei. legi mados.

81. (MP-GO/2004) Assinale a alterna va incorreta. 84. (Juiz-PA/2002) José adquiriu fogão da empresa Y, fabri-
a) O Código de defesa do consumidor prevê o ressar- cado pela empresa X. Após ter sido instalado, o fogão
cimento dos danos causados a terceiros, estranhos provocou incêndio na casa de José e na de seu vizinho
à relação de consumo, em razão dos defeitos do João.
produto ou serviço. Em face a situação hipoté ca apresentada, julgue os
b) Instauração do inquérito civil público não obsta a seguintes itens.
decadência do direito do consumidor de reclamar a) João fica equiparado a consumidor, podendo exigir
pelos vícios aparentes ou de fácil constatação em reparação dos fornecedores pelos prejuízos decor-
serviços ou produtos. rentes do incêndio.

326
b) O dever da empresa X de ressarcir os prejuízos pro- 89. (Defensor Público-MA/2003) Considere as seguintes
vocados pelo incêndio a José estão relacionados à afirmações em relação ao vício do produto:
responsabilidade pelo fato do produto. I – Não sendo sanado em 30 dias, o consumidor pode
c) Pelo vício do produto, a empresa X responde inde- exigir, a critério do fornecedor, a subs tuição do produ-
pendentemente de culpa; a responsabilidade pelo to ou a res tuição imediata da quan a paga.
vício do produto da empresa Y, todavia, dependerá II – Não sendo sanado em 30 dias, o consumidor pode
de prévia demonstração de culpa. exigir, à sua escolha e alterna vamente, a subs tuição
d) O contrato a ser celebrado entre José e a empresa do produto por outro ou a res tuição imediata da
Y poderá definir cláusula, desde que redigida com o quan a paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo
devido destaque, em que se es pule que a respon- de eventuais perdas e danos.
sabilidade desse fornecedor dependerá de prévia
III – Não sendo sanado em 15 dias, o consumidor pode
demonstração de culpa.
exigir o aba mento proporcional do preço.
e) Caso José seja comerciante e tenha ele adquirido
o produto com vistas a revendê-lo, a relação entre IV – Não sendo sanado em 15 dias, o consumidor
José e a empresa Y con nuará a ser de consumo, pode exigir a res tuição imediata da quan a paga ou
haja vista ser José pessoa sica. a subs tuição do produto, com prejuízo, nesse caso, de
eventuais perdas e danos.
85. (MPF/2003) O conceito de consumidor adotado pelo
Código de Defesa do Consumidor é de caráter: Somente está correto o que se afirma em:
a) jurídico. a) I.
b) comercial. b) II.
c) misto e de sen do sociológico. c) III.
d) meramente econômico. d) IV.
e) III e IV.
86. (MPF/2003) A relação jurídica entre os cooperados
e a coopera va habitacional, no caso de exclusão de 90. (MP-MG/2003) Assinale a alterna va incorreta. No
associado por desistência ou rescisão de contrato, no sistema do Código de Defesa do Consumidor, a carac-
tocante à disciplina dos valores pagos: terização do vício do produto gerador de obrigação de
a) rege-se pelo Código de Defesa do Consumidor. redibir exige os seguintes pressupostos:
b) somente se regerá pelo Código de Defesa do Con- a) causa anterior à tradição.
sumidor se o imóvel não se des nar à prá ca de b) contrato de consumo.
comércio. c) defeito de quan dade ou qualidade.
c) rege-se pelas regras estatutárias. d) impossibilidade de subs tuição de partes viciadas.
d) rege-se pelas regras estatutárias que não forem
e) inadequação do produto ou diminuição de seu valor.
colidentes com as disposições prote vas do Código
de Defesa do Consumidor.
Cespe/Procurador de Assistência Judiciária/2007
87. (Juiz-BA/2004) Quanto às normas que disciplinam os
contratos de consumo, julgue os itens seguintes. 91. O conceito de consumidor adotado pelo código de
a) Um ente sem personalidade jurídica pode ser for- defesa do consumidor é de caráter:
necedor de bens e (ou) serviços de consumo. a) jurídico.
b) O empresário é, em regra, fornecedor de bens e(ou) b) comercial.
serviços de consumo. c) misto e de sen do sociológico.
c) Se uma cole vidade de pessoas, ainda que indeter- d) meramente econômico.
mináveis, intervém em uma relação de consumo,
essa cole vidade é protegida pelo direito do con- 92. Ante o sistema adotado pelo código de defesa do con-
sumidor. sumidor, é certo asseverar que:
d) Não é considerado fornecedor o exportador de a) ao consumidor incumbe sempre a prova do dano e
produtos. o nexo de causalidade entre o dano e o produto.
b) o caso fortuito e a força maior são excludentes do
88. (Juiz-BA/2004) Acerca dos princípios que regem as re- dever de indenizar por parte do fornecedor.
lações de consumo e os direitos do consumidor, julgue c) a responsabilidade subje va nele presumida é a do
os itens que se seguem. risco integral.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

b) A polí ca nacional de relações de consumo tem d) a responsabilidade civil obje va nele prevista é a do
como princípio o pressuposto de que o consumidor risco integral.
é a parte mais vulnerável na relação de consumo.
c) A publicidade abusiva, mesmo que condenável,
À luz da sistemá ca do Código de Defesa do Consumidor
não se insere no âmbito de proteção do direito do
consumidor. (CDC) acerca das relações de consumo e da responsabilidade
d) Não se insere entre os direitos do consumidor a pelo fato do produto e por vícios de produtos e serviços,
prevenção de danos morais. julgue os próximos itens.
e) Para que haja inversão do ônus da prova, é neces- 93. As relações de consumo surgem de um negócio jurídico
sária a hipossuficiência do consumidor. efetuado entre o fornecedor, pessoa jurídica privada
f) Como forma de facilitar a defesa dos direitos do que desenvolve a vidades de produção, construção ou
consumidor, o ordenamento jurídico brasileiro comercialização de produtos ou prestação de serviços,
estabeleceu a inversão do ônus da prova, tanto no e o consumidor, pessoa sica ou jurídica que adquire
processo civil quanto no penal. ou u liza produtos ou serviços como des natário final.

327
94. Nos casos de desvio de bagagem em transporte aé- GABARITO
reo, caracteriza-se o defeito na prestação do serviço.
O fornecedor de serviço responde, independentemente 1. a 65. E
da existência de culpa, pela reparação dos danos cau- 2. d 66. E
sados ao consumidor advindo de defeitos rela vos à 3. d 67. E
sua prestação de serviço, bem como por informações 4. b 68. C
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 5. e 69. C
95. Caberá ao adquirente comprovar a preexistência ou 6. a 70. E
concomitância do vício aparente, quando do recebi- 7. c 71. a
mento do objeto do contrato de consumo, pois, com a 8. d 72. b
tradição, transfere-se a propriedade e presume-se que 9. c 73. c
10. b 74. e
o consumidor soube do vício no momento da conclusão
11. d 75. a
do contrato e aceitou a coisa defeituosa. 12. d 76. a
13. a 77. e
Cespe/Procurador de Roraima/2004 14. b 78. d
15. e 79. c
Em relação a conceitos u lizados para a aplicação das normas 16. a 80. e
de defesa do consumidor, julgue os itens subsequentes. 17. d 81. b
96. Para a defesa do consumidor, uma pessoa sica que 18. c 82. c
preste serviço enquadra-se no conceito de fornecedor. 19. c 83. d
97. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor 20. b 84. C, C, E, E, E
(CDC), para que uma sociedade seja considerada forne- 21. c 85. d
cedora terá que ser dotada de personalidade jurídica. 22. b 86. c
23. e 87. C, C, C, E
98. Para efeito de direito do consumidor, não se enquadram
24. c 88. C, E, E, E, E
como produtos os bens de natureza imaterial. 25. b 89. b
99. Apesar de terem um regime próprio de direitos do con- 26. b 90. d
sumidor, os serviços de natureza bancária enquadram- 27. e 91. d
-se no conceito de serviços previstos no CDC. 28. a 92. d
29. c 93. e
Cespe/Escriturário do Banco do Brasil/2007 30. b 94. c
31. b 95. e
Acerca do Código de Defesa do Consumidor Bancário (CDCB) 32. a 96. C
e da Lei da Acessibilidade, julgue os itens a seguir. 33. c 97. E
100. De acordo com o CDCB, com relação ao horário e ao 34. e 98. E
local de atendimento, os bancos não podem tratar 35. c 99. C
36. c 100. C
diferentemente clientes e não clientes na execução de
37. e 101. C
serviços decorrentes de convênios.
38. e 102. E
101. Na assinatura de contrato com portador de deficiência 39. c 103. E
visual, a leitura do inteiro teor do referido instrumento 40. d 104. C
deve ser feita em voz alta, a não ser quando por eles 41. c
dispensada, exigindo-se, mesmo no caso de dispensa 42. a
da leitura pelo cliente, declaração do contratante 43. b
de que tomou conhecimento dos direitos e deveres 44. d
das partes envolvidas, cer ficada por duas testemu- 45. b
nhas. 46. a
102. Para efeito de acessibilidade, pessoa portadora de defi- 47. a
ciência ou com mobilidade reduzida é definida como so- 48. a
mente aquela que tem sua capacidade de relacionar-se 49. c
50. e
com o meio e de u lizá-lo de forma permanentemente
51. d
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

limitada. 52. d
103. As pessoas portadoras de deficiência sica ou com 53. b
mobilidade reduzida, os idosos, com idade igual ou 54. d
superior a sessenta e cinco anos, gestantes, lactantes e 55. d
pessoas acompanhadas por criança de colo têm direito 56. a
ao atendimento prioritário, não podendo depender de 57. d
senhas para serem atendidas. 58. d
104. Nos saques em espécie, de valores acima de R$ 5.000,00 59. a
(cinco mil reais), realizados em conta de depósitos à 60. c
vista, os bancos poderão postergar a operação para o 61. C
expediente seguinte, vedada a u lização de tal facul- 62. E
63. C
dade nos saques de valores inferiores a esse estabele-
64. C
cido.

328
Sérgio Bautzer / André Portela O inciso IV do art. 109 da Cons tuição da República:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e


LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS julgar:
[...]
Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de Outubro de 1941 IV – os crimes polí cos e as infrações penais pra ca-
das em detrimento de bens, serviços ou interesses da
Introdução União ou de suas en dades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
Infração penal é gênero da qual são espécies crime e competência da Jus ça Militar e da Jus ça Eleitoral.
contravenção penal. Tal diferença fora es pulada pela Lei
de introdução ao Código Penal, Decreto-Lei nº 3.914, de 9 O STJ editou a Súmula nº 38 dizendo que compete à Jus -
de dezembro de 1941, que ça Estadual o processo e julgamento das contravenções, ain-
da que come das em detrimento de bens da União, vejamos:
considera crime a infração penal que a lei comina
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, Compete à Jus ça Estadual Comum, na vigência da
quer alterna va ou cumula vamente com a pena de Cons tuição de 1988, o processo por contravenção
multa; contravenção, a infração penal a que a lei co- penal, ainda que pra cada em detrimento de bens,
mina, isoladamente, pena de prisão simples1 ou de serviços ou interesse da União ou de suas en dades.
multa, ou ambas alterna va ou cumula vamente.2
Caberá à Jus ça Estadual julgar a contravenção penal
De acordo com os ensinamentos de Rogério Greco: mesmo quando for conexa com crime de competência da
Jus ça Federal.
Na verdade, não há diferença substancial entre con- O Superior Tribunal de Jus ça decidiu:
travenção e crime. O critério da escolha dos bens que
devem ser protegidos pelo Direito Penal é polí co, da CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL.
mesma forma que é polí ca a rotulação da conduta COMPETÊNCIA. CRIME E CONTRAVENÇÃO. FATOS
como contravencional ou criminosa. (GRECO, p. 133) DIVERSOS. I – Compete à Jus ça Federal processar
e julgar crime de descaminho e à Jus ça do Estado
As contravenções penais são infrações penais de menor po- a contravenção penal – art. 109, IV, da Cons tuição.
tencial ofensivo. De acordo com o art. 61 da Lei nº 9.099/1995, II – As denúncias oferecidas pelos representantes do
consideram-se infrações de menor potencial ofensivo as con- Ministério Público Federal e Estadual não guardam
travenções penais e crimes a que a lei comine pena máxima identidade absoluta quanto aos fatos descritos.
não superior a 2 anos.3 Desta forma, pode ser aplicado às Além disso, somente se prorroga competência para
contravenções penais, por exemplo, a transação penal4. Juízo que possui competência para julgar as causas.
III – A Súmula nº 52 do ex nto Tribunal Federal de
Competência Recursos declarava competente a Jus ça Federal para
processar e julgar crimes conexos de competência
Na vigência da atual Cons tuição e de acordo com o federal e estadual. IV – Conflito não conhecido.
entendimento predominante na jurisdição federal superior, (STJ – CC 12.351/RJ, Rel. Min. Jesus Costa Lima,
compete à jus ça estadual comum o processo por contra- 3ª Seção, julgado a 4/5/1995).
venção penal, ainda que pra cada contra interesse da União
ou de suas en dades autárquicas e empresas públicas5. No mesmo sen do:
Assim, as contravenções penais, ainda que atentem
contra bens, serviços e interesses da União, suas autarquias PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COM-
ou empresas públicas serão julgadas pela Jus ça estadual.6 PETÊNCIA. CRIME E CONTRAVENÇÃO. DESMEMBRA-
Como já afirmado, a competência para julgamento da MENTO. CONEXÃO. I – As contravenções, mesmo que
infração de vias de fato é do Juizado Especial Estadual. Se, pra cadas em detrimento de interesses da União
por exemplo, Tício foi denunciado por ter pra cado, em são apreciadas na Jus ça Estadual (Súmula nº 38 –
tese, a contravenção de vias de fato contra Policial Federal STJ). II – Na hipótese de conexão ou con nência,
é certo assegurar que será do Juizado Especial Estadual a prevalece a regra cons tucional (art. 109, inciso
competência para o julgamento.7 IV), indicando a necessidade do desmembramento.
Conflito julgado procedente. (STJ – CC nº 20.454, Rel.
1
Prisão Simples é a pena cumprida sem rigor penitenciário em estabelecimento
Min. Félix Fischer, 3ª Seção, julgado a 13/12/1999).
especial ou seção especial de prisão comum, em regime aberto ou semiaberto.
O Tribunal Regional Federal da Quarta Região também
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

De acordo com o art. 6º da Lei das Contravenções penais a pena de prisão sim-
ples é a pena cumprida sem rigor penitenciário em estabelecimento especial já se posicionou quanto ao tema:
ou seção especial de prisão comum, em regime aberto ou semiaberto.
2
FGV/ Tribunal de Jus ça do Amazonas/ TJ-AM/Nível Superior/Serviços Notariais PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. LIBERDADE PRO-
e de registro/ Questão 26/ Asser va a/2005.
3
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/1º Exame 2006/Questão 74/ VISÓRIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 594 DO CPP. CONTRA-
Asser va d. VENÇÃO PENAL. INCOMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE
4
OAB-SP/ 132º Exame/Vunesp/Questão 68/Asser va c. DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. O art. 594 do CPP – 41 não
5
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/UnB/Questão 77/Defensoria Pública
da União/ Defensor Público da União de 2ª Categoria/2004; Cespe/Questão 22/ vulnera o princípio da presunção de inocência. Além
Item 1/ Tribunal Regional Federal 1ª Região/2001; Tribunal Regional Federal 1ª de rela va tal presunção, a Cons tuição Federal não
Região/XI Concurso/Juiz Federal Subs tuto/Questão 56/Asser va b; Tribunal presume a inocência do acusado de infração penal; diz
Regional Federal 1ª Região/XI Concurso/Juiz Federal Subs tuto/Questão 56/ apenas que ‘ninguém será considerado culpado até o
Asser va c; Tribunal Regional Federal 1ª Região/XI Concurso/Juiz Federal
Subs tuto/Questão 56/Asser va d; OAB-GO/2º Exame de Ordem/Prova 1ª trânsito em julgado da sentença penal condenatória’
Fase/Questão 79/ Asser va c/ 2003; OAB-MS/79º Exame de Ordem /Prova 1ª (art. 5, inc. 57) e ‘ninguém será levado à prisão ou nela
Fase/ Questão 83/ Asser va d/2004; Cespe/UnB Ministério da Jus ça/ Agente man do, quando a lei admi r a liberdade provisória,
da Polícia Federal/Questão 32/Asser va 3/1997.
6
OAB-MG/Questão 56/Asser va a, c e d/2007. com ou sem fiança’ (art. 5, inc. 66). Ou seja, admite
7
OAB-MG/Questão 56/Asser va b/2007. a prisão provisória, salvo quando a lei possibilitar a

329
liberdade provisória, com ou sem fiança. E o art. 594 • As regras da contagem de prazo;
cons tui a norma a que se refere o texto cons tu- • As causas excludentes de ilicitude;
cional, na medida em que impõe a segregação do • Das descriminantes puta vas;
condenado que não seja primário e apresentar maus • As causas de exclusão da imputabilidade;
antecedentes. As regras cons tucionais citadas ape- • As causa de exclusão da culpabilidade;
nas impedem a inscrição do nome do réu no rol dos • A aberra o ictus;
culpados, o início da execução da pena, e a produção • A aberra o criminis;
de outros efeitos da condenação antes do trânsito • As regras do concurso de pessoas;
em julgado da sentença condenatória. 2. Ainda que • As regras do concurso material, formal e contravenção
presente a conexão com crime para o qual a Jus ça con nuada;
Federal seja competente, as contravenções devem ser
• A obrigação de reparar o dano civil da sentença con-
processadas e julgadas pela Jus ça Estadual, tendo
em vista que o art. 109, inciso 4 da CF/1988 expres- denatória;
samente as exclui do âmbito da competência daquela • As causas de exclusão da punibilidade e
Jus ça. (TRF – 4ª Região – Processo nº 97.04436.998, • As regras das várias formas de prescrição.
2ª Turma, julgado a 28/8/1997).
O ins tuto da aboli o criminis é uma forma de exclusão da
Porém, o Min. Fernando Gonçalves ao se deparar com punibilidade encontrada no Código Penal. Nada mais é que a
tal assunto entendeu em sen do contrário: descriminalização de um fato que era considerado crime. Por
exemplo: imagine que Tales estava sendo processado por ter
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CONTRAVENÇÃO PE- estabelecido jogo de azar em uma praça de sua cidade. Pos-
NAL. CONEXÃO COM CRIME FEDERAL. SÚMULA Nº teriormente, surgiu uma lei que deixou de considerar o fato
122/STJ. 1 – Compete à Jus ça Federal o processo e como infração penal, ou seja, houve uma descriminalização.
julgamento unificado dos crimes conexos de compe- Nessa situação, o processo deve ser encerrado em vir-
tência federal e estadual, não se aplicando a regra tude da aboli o criminis.
do art. 78, a, do CPP. 2. Conflito de competência co- Todavia, não se aplica às contravenções penais:
nhecido para declarar a competência do Juízo Federal • Prisão temporária.
da Vara de Imperatriz – MA, o suscitado. (STJ – CC • Lei dos crimes hediondos.
nº 24.215/MA, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 3ª • Não existe quadrilha ou bando para prá ca de contra-
Seção, julgado a 8/9/1999). venções.
• Prisão preven va11.
Não podemos comungar tal posicionamento e assim
seguimos o entendimento da Suprema Corte ao afirmar que Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção
pra cada no território nacional.
a competência penal da Jus ça Federal comum – que
possui extração cons tucional – reveste-se de caráter O art. 2º mostra que o Decreto-Lei adotou o Princípio da
absoluto, está sujeita a regime de direito estrito e Territorialidade diferentemente do Código Penal, que por
apenas deixa de incidir naquelas hipóteses taxa va- sua vez adotou o Princípio da Territorialidade temperada12.
mente indicadas no texto da própria Carta Polí ca.8 O legislador não se preocupou em estabelecer normas
Além do mais, a competência da Jus ça Federal, fixada de punição ao agente que comete uma contravenção fora
na Cons tuição, somente pode ser ampliada ou redu- do território nacional.13
zida por emenda cons tucional, contra ela não preva- Assim, as contravenções penais pra cadas no exterior
lecendo disposi vo legal hierarquicamente inferior.9 não serão punidas no Brasil.
Sistema Penal Da Tenta va
O Brasil adota o critério bipar do, sendo que a infração Art. 4º Não é punível a tenta va de contravenção.
penal é gênero, da qual são espécies crime (também conhe-
cido como delito) e contravenção. A tenta va de contravenção penal é impunível14.
O professor Wilson Lavoren diz que os mesmos ins - Não se pune por questões de polí ca criminal por se
tutos aplicados aos crimes, aplicam-se às contravenções: tratar de condutas que são atribuídas penas brandas, como
• Princípio da Legalidade; a multa e a prisão simples.
• Da anterioridade; Guilherme de Souza Nucci segue a tese de que nem
• Da aboli o criminis;
mesmo as contravenções consumadas deveriam ser punidas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

no ordenamento jurídico atual.


O ins tuto da aboli o criminis é uma causa ex n va da
punibilidade encontrada no Código Penal. Nada mais é que a
Da Desistência Voluntária e do Arrependimento Eficaz
descriminalização de um fato que era considerado crime. Por
exemplo: imagine que Tales estava sendo processado por
ter estabelecido jogo de azar em uma praça de sua cidade. Defendemos a tese de que é incabível a aplicação dos
Posteriormente, surgiu uma lei que deixou de considerar ins tutos da desistência voluntária e arrependimento eficaz,
o fato como infração penal, ou seja, houve uma descrimi- ambos previstos no art. 15 do Código Penal. Ora, se a tenta-
nalização. Nessa situação, o processo deve ser encerrado
11
em virtude da aboliƟo criminis.10 Tema Cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Oficial de Diligências/
Especialidade: Ins tucional/Questão 107/2006; Cespe/UnB/Ministério da
• Da retroa vidade da lei mais benéfica; Jus ça/Agente da Polícia Federal/ Questão 94/2004.
12
Tema cobrado na seguinte prova: Delegado de Polícia de São Paulo/ Acadepol-
8
STF – HC nº 79.331, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma, J. A 24/8/1999. -SP/Questão 17/Asser va d/2003.
9 13
STJ – (RSTJ nº 92/157). Tema Cobrado na Seguinte Prova: FGV/ TJ-AM/Tribunal de Jus ça do Amazonas/
10
Tema Cobrado na Seguinte prova: Cespe/Polícia Civil-RR/Agente de Polícia/ Nível Superior/ Serviços Notariais e de Registro/Questão 26/Asser va b/2005.
14
Questão 113/2003. NCE/UFRJ/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe/Questão 2/Asser va 5/2002.

330
va da contravenção está afastada pelo próprio texto legal, Ação Penal
impra cável o agente desis r de um fato considerado delito,
uma vez que a contravenção já fora consumada. Ao se falar Segundo dispõe o art. 17, a ação penal é pública incondi-
em contravenção na fase executória, ou se consuma ou não cionada, ou seja, o Parquet não só pode como deve ingres-
se leva para a esfera do Direito Penal. sar com a ação (Princípio da Obrigatoriedade) e o delegado
instaurar o inquérito (caracterís ca da obrigatoriedade no
Das Penas que tange a ação penal pública incondicionada) sem que
haja necessidade de representação ou concordância da
Dispõe o art. 5º da Lei das Contravenções Penais que são ví ma ou requisição pelo Ministro da Jus ça.16
penas principais a prisão simples e a multa. Não são impostas Segundo Décio Luiz (2007):
as penas de detenção ou de reclusão ao contraventor.
De acordo com o art. 6º, a pena de prisão simples deve Quando se fala em ação penal nas contravenções
ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento penais, somente se pode falar em AÇÃO PENAL
especial ou seção especial de prisão comum, em regime PÚBLICA INCONDICIONADA, inexis ndo, pois, ação
semiaberto ou aberto. penal privada ou pública condicionada à represen-
O condenado a pena de prisão simples fica sempre se- tação ou requisição.
parado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.
O trabalho do condenado é faculta vo, se a pena aplicada, Sustentamos que a contravenção de vias de fato é de
não excede a quinze dias. ação penal pública condicionada, pois se a lesão corporal
Com a alteração do art. 61 da Lei nº 9.099/1995, todas de natureza leve exige representação, com mais razão o
as contravenções penais são de competência do Juizado “delito-anão” exigirá.
Especial Criminal. Assim, são cabíveis todas as medidas O STF tem entendimento em sen do contrário ao nosso:
despenalizadoras (transação penal, composição civil, sursis
processual e exigência de representação) previstas na Lei Tratando-se de contravenção penal, a ação é pública
nº 9.099/1995, sendo que em consequência não é imposta incondicionada devendo o Ministério Público ofere-
atualmente a prisão simples ao contraventor. cer denúncia independentemente de representação
da ví ma. Com esse entendimento, a Turma indeferiu
Da Possibilidade de Conversão da Pena habeas corpus que obje vava o trancamento de ação
penal instaurada pelo Ministério Público pela prá ca
O art. 9º da Lei das Contravenções Penais diz que a da contravenção penal de vias de fato (LCP, art. 21),
no qual se sustentava a decadência do direito de
multa converte-se em prisão simples, de acordo com representação da ví ma. Considerou-se que perma-
o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de nece em vigor a primeira parte do art. 17 da LCP (“A
multa em detenção. Reza o parágrafo único que se ação penal é pública,...”), não se aplicando o art. 88
a multa é a única pena cominada, a conversão em da Lei nº 9.099/1995, que tornou condicionada à
prisão simples se faz entre os limites de quinze dias representação a ação penal rela va aos crimes de
e três meses. lesões corporais leves (HC nº 80.617/MG, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, julg. em 20/3/2001)
Vale lembrar que o art. 9º fora revogado pela Lei
nº 9.268/1996, que aboliu a possibilidade de conversão da Por fim, com inteira propriedade, Ada Pellegrini
multa em prisão.15 Desta forma, tratando-se de contravenção G r i n o v e r, A n t ô n i o M a g a l h ã e s G o m e s F i l h o ,
penal, ainda que o contraventor não venha pagar a multa Antonio Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes deixaram
devida, jamais ocorrerá a conversão da pena de multa em assentado que:
prisão simples.
A contravenção prevista no art. 21 da Lei das Con-
travenções Penais (vias de fato), embora implique
Da Duração da Pena
menor ofensa ao bem jurídico integridade sica,
A duração da pena de prisão simples não pode, em caso
con nua sendo de ação penal pública incondiciona-
algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das
da. Aqui não prevalece a regra, intocável do ponto
multas ultrapassarem cinquenta contos.
de vista lógico, de que se a lei exige representação
A mesma regra fora adotada pelo art. 75 do Código Penal
para o mais (lesão corporal) também se faz necessária
ao afirmar que o tempo de cumprimento das penas priva vas
para o menos (vias de fato). O raciocínio não é válido
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de liberdade não pode ser superior a 30 anos.


tendo em vista o disposto no art. 100, § 1º, do CP,
que diz: A ação pública é promovida pelo Ministério
Da Suspensão Condicional da Pena Público, dependendo, quando a lei o exige, de repre-
Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode sus- sentação do ofendido ou de requisição do Ministro da
pender por tempo não inferior a um ano nem superior a três, Jus ça. Por falta de previsão legal expressa a referida
a execução da pena de prisão simples, bem como conceder contravenção, em síntese, con nua ‘incondicionada’
livramento condicional. (Juizados Especiais Criminais, Editora Revista dos
O art. 11 traz em seu bojo a possibilidade do agente que Tribunais, 1995, p. 180).
cometa uma contravenção penal venha a ser beneficiado
com o ins tuto do sursis, ou seja, a suspensão condicional
do pena. 16
Tema cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-PE/Técnico Ministerial/Área
Administra va/Questão 51/Asser va a/2006; FGV/TJ-SE/Analista Judiciário/
Direito/Questão 32/Asser va d/2004; OAB-GO/ 1º Exame de Ordem/Questão
63/Asser va d/2003; OAB-RS/2º Exame de Ordem/Prova 1ª Fase/Questão 33/
15
Delegado de Polícia de São Paulo/Acadepol-SP/Questão 17/Asser va b/2003. Asser va c/2004.

331
Marino Pazzaglini Filho (1996, p. 91) ainda explana o tema: que o apelante portava faca para o fim desvirtuado,
imperioso é o improvimento do recurso do réu.
Não se aplica o art. 88 à contravenção de vias de (20070210007956APJ, Relator ESDRAS NEVES, PRI-
fato, por ausência de expressa determinação legal. MEIRA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, julgado em 16/12/2008,
Em São Paulo, o ex nto TACRIM decidiu17: DJ 13/3/2009, p. 140) (Grifo nosso).
Lei nº 9.099/1995. Representação. Aplicação aos
casos de infração de vias de fato. Impossibilidade: o Por meio da Ementa nº 39 proferida em plenário e homo-
disposto no art. 88 da Lei nº 9.099/1995 não se es- logada pelo Procurador-Geral de Jus ça e pelo Corregedor-
tende à infração prevista no art. 21 da LCP, porquanto -Geral do Ministério Público do Estado do Rio Grande do
ele só se refere aos crimes de lesões corporais leves, Sul, decidiu-se que “o porte de arma branca cons tui fato
lesões culposas e às hipóteses expressamente previs- a pico, visto que não previsto pela Lei das Contravenções
tas no Código Penal e Legislação Especial. (TACRIM-SP, Penais ou pela Lei nº 10.826/2003”. Comunga desse mesmo
Apelação nº 995.589, Rel. Xavier de Aquino, Rolo/ entendimento Nucci que ensina (2009, p. 166):
Flash nº 1.036/125).
[...] não vemos a possibilidade de aplicação do art.
Parte Especial 18, pois não há lei disciplinando a concessão e auto-
Em um primeiro momento, é salutar mencionar que os rização da autoridade para fabricação, importação,
arts. 18 e 19 da Lei das Contravenções Penais encontram-se exportação, depósito ou venda de uma faca de cozi-
derrogados pelos arts. 17, 18 e 19 Lei nº 10.826/2003, que nha por exemplo. Por outro lado, se o passatempo
dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de alguém consis r em fabricar espadas ou lanças,
de fogo e munição, e ainda sobre o Sistema Nacional de conseguiria ele autorização da Polícia Federal (ou
Armas – Sinarm. Estadual) para tanto? Se não há esse po de previ-
são, inviável é o po penal. Argumenta-se que há
Ponto Controver do sobre a Possibilidade de previsão cons tucional para que a União conceda
Aplicação do art. 18 da Lei de Contravenções Penais a autorização e fiscalize a produção e comerciali-
para Armas Brancas zação de material bélico (art.2, VI, CF). Entretanto,
material bélico é o armamento des nado a guerra.
Uma informação que é importante ser levada em conta Não estamos na época medieval, quando se lutava
é com relação à possibilidade de aplicação da lei de contra- com espadas, lanças e flechas, mo vo pelo qual
venções ao porte ilegal de armas brancas. A doutrina diverge não se pode denominar esse po de arma como
muito quando se depara com tal tema. Uma corrente afirma material bélico. Na atualidade, nem os índios, ainda
que os arts. 18 e 19 da Lei das Contravenções estariam par- existentes, valem-se de tão an quados instrumentos
cialmente derrogados, uma vez que a Lei nº 10.826/2003 (talvez em reservas e para caça), pois tem acesso a
traz em seu bojo condutas criminosas relacionadas às armas vida moderna como qualquer outro indivíduo. Aliás,
de fogo, acessórios e munições. Damásio de Jesus afirma: não se tem no cia de guerras entre tribos indígenas,
que fosse regulada pelo Código Penal ou pela Lei de
O art. 18 foi derrogado pela Lei nº 9.437, de 20 de Contravenção Penal, mo vo pelo qual o art.18 é, de
fevereiro de 1997, que define os crimes de porte fato inaplicável.
ilegal de armas de fogo. A Lei nº 9.437, de 1997, em
parte, foi revogada pela Lei nº 10.826, de 2003 (Es- Recentemente, o Tribunal de Jus ça do Estado do Rio
tatuto do Desarmamento), que disciplina os ilícitos Grande do Sul se deparou com tal tema através do Acórdão
relacionados com a arma de fogo e munição. Assim, nº 71.002.123.750:
tratando-se de armas brancas, con nua aplicando-se
o art. 18 da LCP; cuidando-se, entretanto, de armas PORTE DE ARMA BRANCA. ART. 19 DA LEI DAS CON-
de fogo, incide o Estatuto do desarmamento. TRAVENÇÕES PENAIS. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
POR ATIPICIDADE DA CONDUTA. INCONFORMIDADE
O entendimento de Damásio de Jesus (2009, p. 54) é MINISTERIAL. SENTENÇA MANTIDA. Sentença abso-
seguido pela jurisprudência: lutória man da, a uma porque não há lei regulamen-
tando o porte de arma branca, sendo, pois, impossível
PENAL. PORTE DE ARMA BRANCA. DESTINAÇÃO conseguir licença da autoridade para carregar consigo
DISTINTA DA ORIGINÁRIA. CONTRAVENÇÃO PENAL. uma faca; a duas porque segundo o disposto no
RECURSO IMPROVIDO. O art. 19 da Lei das Contra- art. 5º, inc. II, da CF, ninguém será obrigado a fazer
venções Penais resta consumado se alguém u liza ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

faca para fim desvirtuado, ou seja, para a vidade de lei. Por fim, cuidando-se o art. 19 da LCP de po penal
ataque e defesa. A finalidade originária deste po incriminador, não pode ficar ao critério do operador
de instrumento é o uso domés co, não podendo do direito aplicá-lo ou não, a seu talante, ou seja,
ser transportado para defesa pessoal. O apelante conforme a sua interpretação de eventual vontade
foi flagrado portando arma branca. Não se dirigia do agente. APELAÇÃO DESPROVIDA, POR MAIORIA.
a um churrasco; não ia salgar alguns peixes; o uso (Recurso Crime nº 71.002.123.750, Turma Recursal
era desvirtuado; a arma seria u lizada como meio Criminal, Turmas Recursais, Relatora: Cris na Pereira
de defesa e talvez de ataque. Uma breve consulta à Gonzales, Julgado em 22/6/2009)
folha penal do apelante revela que sua personalida-
de voltada para o crime autoriza a conclusão de que Art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto
sabe manejar com destreza o instrumento que com des nado a provocar aborto: (Redação dada pela
ele foi apreendido, para fins de defesa e ataque, sem Lei nº 6.734, de 1979)
limitações quanto aos resultados. Restando provado Pena – multa de um mil cruzeiros a dez mil cruzeiros.
17
TACRIM-SP (Apelações nºs 995.589, 985.417 e 999.983). (Redação dada pela Lei nº 6.734, de 1979)

332
Verbo-Núcleo há possibilidade na modalidade culposa os doutrinadores
O núcleo do po é anunciar substância ou objeto des- Valdir Szinck (1991) e Paulo L. Nogueira (1993).
nado a provocar aborto.18
Anunciar significa dar no cia ao público. Consumação e Tenta va
A contravenção se consuma com a simples realização de
Obje vidade Jurídica uma das condutas descritas no po.
A obje vidade jurídica é tutelar a vida em sua forma Com relação a possibilidade de se caracterizar a tenta va,
intrauterina. como já afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível.

Sujeito A vo e Passivo Jurisprudência


Qualquer um pode ser sujeito a vo. Porém o sujeito
passivo é a cole vidade. Decidiu o TJDFT:

Elemento Subje vo PENAL. ART. 21 DA LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS.


O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma culposa. LEGÍTIMA DEFESA AFASTADA. RECURSO IMPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDA-
Consumação e Tenta va MENTOS.
A contravenção se consuma com a simples realização de
uma das condutas descritas no po. 1. As provas produzidas, harmônicas e coerentes,
Com relação a possibilidade de se caracterizar a tenta va, demonstraram que após discussão verbal o réu des-
como já foi afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível. feriu socos e chutes nas três ví mas mulheres. Reação
imoderada. Legí ma defesa afastada.
Art. 21. Pra car vias de fato contra alguém: 2. Materialidade e autoria da contravenção penal do
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, art. 21 da Lei de Contravenções Penais devidamente
ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o comprovada. Sobre a matéria o per nente prece-
fato não cons tui crime. dente do e. TJDFT, de relatoria do Exmo. Des. Edson
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um Alfredo Smanio o: “[...] 2. Para restar caracterizada
terço) até a metade se a ví ma é maior de 60 (ses- a legí ma defesa própria, necessário que o agente
senta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) u lize moderadamente dos meios necessários para
repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito
É a mais corriqueira das contravenções penais, que seu ou de outrem [...]” (20070110385359APR; 1ª
configura uma forma de violência contra a pessoa, sem que Turma Criminal; DJ 4/9/2009, p. 207).
ocorra lesão corporal na ví ma. 3. Recurso conhecido e desprovido. Sentença man da
Alguns exemplos: alguém rasgar a roupa de outrem, por seus próprios fundamentos, com súmula de julga-
desferir um tapa na cara sem a intenção de humilhar, sacudi- mento servindo de acórdão na forma do art. 82, § 5º,
-la, dar empurrões, puxões de cabelos, bofetadas, socos e da Lei nº 9.099/1995.(20070910228609APJ, Relator
pontapés em que não há lesão. SANDRA REVES VASQUES TONUSSI, PRIMEIRA TURMA
Tício, planejando matar Mévio, dispara um ro contra RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS
o mesmo. Ocorre que Tício não sabia que sua arma estava DO DF, julgado em 22/9/2009, DJ 1/10/2009, p. 105)
desmuniciada. Neste caso, NÃO há que se falar ao menos
em vias de fato.19
Ressalta-se ainda que exista uma linha muito tênue entre
Ação Penal
as vias de fato e a lesão corporal. A diferença se encontra
na intenção do agente. Se o agente tem animus de lesionar, Há quem sustente que a ação penal no caso da contra-
responderá pelo crime de lesão corporal ou tenta va, se venção de vias de fato é pública incondicionada20.
for o caso. Caso contrário, onde não houver tal obje vo, Concordamos que o assunto é polêmico21, e não co-
responderá por contravenção penal. mungamos com os que sustentam que a ação é pública
Importante ainda traçar uma diferença com relação à incondicionada. Em sen do contrário ao nosso, Ada Pellegrini
injúria real e a contravenção. Aquela tem como obje vo Grinover (1996, p. 180).
ofender a dignidade ou o decoro da pessoa. Por exemplo: Ainda na Suprema Corte, no HC nº 80.549, sendo Rel.
Tício segura Mévio, para esbofetá-lo, e ainda o xinga, com Min. Nelson Jobim, foi adotado o posicionamento que em se
o obje vo de humilhá-lo. Neste caso, não haverá a contra- tratando de contravenção penal, a ação é pública incondicio-
venção de vias de fato, mas sim injúria real. nada devendo o Ministério Público oferecer denúncia inde-
pendentemente de representação da ví ma, senão vejamos:
Obje vidade Jurídica
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

A obje vidade jurídica é tutelar a integridade sica do Tratando-se de contravenção penal, a ação é pública
indivíduo. incondicionada devendo o Ministério Público ofere-
cer denúncia independentemente de representação
Sujeito A vo e Passivo 20
TACRIM-SP, ACRIM Nº 1.074.733, Rt nº 749/694; TACRIM-SP, RECRIM Nº
Quanto aos sujeitos da infração, tanto o a vo quanto o 1.116.133, 2ª Câm., Rel. Juiz Érix Ferreira, RT nº 761/634.
passivo podem ser qualquer pessoa. 21
Para quem entende que é de ação pública condicionada à representação:
1ª) A Ação Penal por Contravenção de Vias de Fato é Condicionada à Represen-
tação, como se dá com a Lesão Corporal Leve Dolosa. Nesse Sen do: Ronaldo
Elemento Subje vo Ba sta Pinto, “A Lei nº 9.099/1995 e a Contravenção de Vias de Fato”, Bole m
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma do IBCCRIM, São Paulo, Ago.1996, 44/3; Ronaldo Frigini, “Vias de Fato e Repre-
culposa. Ao contrário deste entendimento, entende-se que sentação”, Rt nº 745/450; TACRIM-SP, RECRIM Nº 1.149.707, 4ª Câm., Rel. Juiz
Devienne Ferraz, Revista de Julgados do TACRIM-SP, São Paulo, Fiuza Editores,
Out./Dez.1999, 44/411; TACRIM-SP, ACRIM Nº 1.052.645, 5ª Câm., Rel. Juiz Feiez
18
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/TJ-AM/Tribunal de Jus ça do Amazonas/ Ga az, J. 28/7/1997, Rt nº 746/617; TACRIM-SP, RECRIM Nº 1.137.067, 6ª Câm.,
Nível Superior/Serviços Notariais e de Registro/Questão 26/Asser va d/2005. Rel. Juiz Almeida Braga, Rt nº 767/607; TACRIM-SP, RECRIM Nº 1.149.705, 3ª
19
Tema cobrado na seguinte prova: IPAD/ Polícia Civil Pernambuco/ Perito Cri- Câm., Rel. Juiz Poças Leitão, Rt nº 772/602 e Revista de Julgados do TACRIM-SP,
minal/Questão 87/Asser va e /2006. São Paulo, Fiuza Editores, Out./Dez.1999, 44/393;

333
da ví ma. Com esse entendimento, a Turma indeferiu Consumação e Tenta va
habeas corpus que obje vava o trancamento de ação Na hipótese do caput ocorre a consumação com a inter-
penal instaurada pelo Ministério Público pela prá ca nação em estabelecimento psiquiátrico sem as formalidades
da contravenção penal de vias de fato (LCP, art. 21), legais de pessoa apresentada como doente mental. No § 1º,
no qual se sustentava a decadência do direito de ao término do prazo concedido para a comunicação no § 2º,
representação da ví ma. Considerou-se que perma- com a saída do doente mental do estabelecimento psiquiá-
nece em vigor a primeira parte do art. 17 da LCP (A trico. A tenta va é impunível.
ação penal é pública...), não se aplicando o art. 88 da Art. 23. Receber e ter sob custódia doente mental,
Lei nº 9.099/1995, que tornou condicionada à repre- fora do caso previsto no ar go anterior, sem auto-
sentação a ação penal rela va aos crimes de lesões rização de quem de direito:
corporais leves. HC nº 80.617-MG, rel Min. Sepúlveda Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses,
Pertence, 20/3/2001. (HC nº 80.617). Informa vo ou multa.
nº 221. Título: Crime Societário e Denúncia. Ar go:
Tratando-se de crime societário, a denúncia deve nar- Verbos-núcleo
rar de forma direta o liame entre a conduta do sócio O núcleo do po é receber, que significa aceitar ou
e o ato ilícito que lhe está sendo imputado, sob pena acolher. Já ter sob sua custódia tem o significado de ter
de tornar-se inviável o exercício ao direito de ampla em vigilância. O autor deverá receber pessoa especial, com
defesa. Com base nesse entendimento, a Turma, con- doença ou enfermidade mental, e o manter sob sua custódia
siderando não atendidos na espécie os requisitos do em estabelecimento psiquiátrico. Ex.: o curador do incapaz
art. 41 do CPP, deferiu habeas corpus para determinar não autoriza a internação da pessoa subme da à curatela.
o trancamento da ação penal instaurada contra a Sujeito A vo e Passivo
paciente por suposto crime pra cado contra a ordem O po penal exige uma especial qualidade do agente,
tributária, dado que a denúncia contra ela oferecida qual seja que a pessoa detenha atribuição para internar
concluíra pela sua concorrência para a prá ca do de- (médico ou administrador do estabelecimento psiquiátrico).
lito em razão de a mesma ocupar o cargo de Diretora Já o sujeito passivo é o doente mental.
Vice-Presidente da sociedade, e de ser esposa do
Diretor-Presidente, não havendo qualquer compro- Elemento Subje vo
vação de sua efe va par cipação na administração O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma culposa.
da sociedade. Salientou-se que, embora não se exija
que a denúncia descreva de forma individualizada a Obje vidade Jurídica
conduta de cada indiciado, exige-se, ao menos, que Protege-se a liberdade pessoal.
ela contenha a relação entre o delito pra cado e as
condutas do indiciado. HC deferido, sem prejuízo Consumação
de eventual nova denúncia que atenda ao disposto Ocorre no instante em que se inicia a custódia do doente
no art. 41 do CPP. HC nº 80.549-SP, rel. Min. Nelson mental. A tenta va é impunível.
Jobim, 2ª Turma, 20/3/2001. (HC nº 80.549)
Subsidiariedade
O po previsto no art. 23 é subsidiário em relação ao
Art. 22. Receber em estabelecimento psiquiátrico, do art. 22.
e nele internar, sem as formalidades legais, pessoa
apresentada como doente mental: Das Contravenções Referentes ao Patrimônio
Pena – multa. Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumen-
§ 1º Aplica-se a mesma pena a quem deixa de co- to empregado usualmente na prá ca de crime de furto:
municar a autoridade competente, no prazo legal, Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos,
internação que tenha admitido, por motivo de e multa.
urgência, sem as formalidades legais.
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias Verbo-núcleo
a três meses, ou multa, aquele que, sem observar Os verbos-núcleo do po são fabricar (construir, criar),
as prescrições legais, deixa re rar-se ou despede de ceder (transferir a outrem), ou vender (alienar por deter-
minado preço).
estabelecimento psiquiátrico pessoa nele, internada.
Sujeito A vo e Passivo
Verbo-núcleo O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa.
Os verbos-núcleo do po são receber que, no caso tem
sen do de acolher. O autor deverá receber em estabelecimen- Elemento Subje vo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

to psiquiátrico, pessoa especial, com doença ou enfermidade O elemento subje vo é o dolo. Não existe a forma culposa.
mental, e a interná-la, sem observar as formalidades legais.
Objeto Material
Sujeito A vo e Passivo A conduta do contraventor recai sobre a gazua ou outro
O sujeito a vo é qualquer pessoa, embora a maior parte instrumento empregado usualmente para prá ca de furto
das vezes seja o administrador do estabelecimento, ou o tais como o pé de cabra, lima, alicate, serra etc.
médico do hospital, enfim, pessoa que detenha atribuição
para internar. Já o sujeito passivo é a pessoa enferma. Obje vidade Jurídica
Protege-se o patrimônio.
Elemento Subje vo Consumação
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma culposa. Ocorre com o inicio da fabricação. A tenta va é impunível.
Obje vidade Jurídica Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condena-
A liberdade pessoal. do, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à

334
liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou Núcleo do Tipo
mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instru- O verbo-núcleo é abrir que significa destrancar.
mentos empregados usualmente na prá ca de crime
de furto, desde que não prove des nação legí ma: Sujeito A vo e Passivo
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano e O sujeito a vo é o serralheiro ou pessoa que exerça o cio
multa. que dependa de habilidade, como, por exemplo, o chaveiro.
Já o sujeito passivo é a sociedade.
Verbos-núcleo
O núcleo do po “ter em seu poder” significa que o autor Elemento Subje vo
possui livremente a gazua. O objeto é a gazua (chave falsa) É a culpa, pois consiste na negligência do sujeito de cer-
e o instrumento des nado usualmente à prá ca de furto, fica-se das qualidades da pessoa que lhe solicita o serviço.
por ser impreciso merece exemplos doutrinários: alicate,
pé-de-cabra, serra etc. Obje vidade Jurídica
Protege-se além do patrimônio, a segurança pública.
Sujeito A vo e Passivo
O po penal exige uma especial qualidade do agente, Consumação e Tenta va
sendo que o sujeito a vo somente pode ser vadio (aquele Ocorre com a abertura da fechadura. A tenta va é im-
que não tem ocupação conhecida ou decente, desocupado), punível.
mendigo (aquele que pede esmolas ou vive de esmolas) ou
o condenado anteriormente por crime de furto (art. 155 do Exploração da Credulidade Pública
Código Penal) ou por roubo (art. 157 do Código Penal). Já o
sujeito passivo é a cole vidade. O art. 27 da Lei de Contravenções Penais encontra-se
revogado pela Lei nº 9.521, de 27/11/1997.
Elemento Subje vo Desta forma, a exploração da credulidade pública NÃO
O elemento subje vo é o dolo. Não existe a forma culposa. é mais uma contravenção penal.22

Obje vidade Jurídica Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado
O patrimônio. ou em suas adjacências, em via pública ou em di-
reção a ela:
Consumação e Tenta va Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa,
de trezentos mil réis a três contos de réis.
Ocorre com a posse do objeto material. A tenta va é
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples,
impunível. de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos
mil réis a dois contos de réis, quem, em lugar ha-
Jurisprudência bitado ou em suas adjacências, em via pública ou
Sobre a cons tucionalidade do disposi vo em comento em direção a ela, sem licença da autoridade, causa
já decidiram os Magistrados do DF: deflagração perigosa, queima fogo de ar cio ou
solta balão aceso.
PENAL. DELITO DO ART. 25 DA LEI DE CONTRA-
VENÇÕES PENAIS. CRIME DE PERIGO PRESUMIDO. A infração prevista no caput do ar go supra foi revogada
CONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO LEGAL. pelo art. 15 da Lei nº 10.826/2003, que rege:
CRIME CONFIGURADO. 1 – Portar, o agente, chave
“mixa”, instrumento empregado na prá ca de crime, Disparo de Arma de Fogo
com eficiência testada, conforme laudo pericial, de- Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição
pois de condenado por crime de roubo e sem prova em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
de des nação legí ma, configura a contravenção pública ou em direção a ela, desde que essa conduta
prevista no art. 25 da Lei de Contravenções Penais. não tenha como finalidade a prá ca de outro crime:
2 – Os crimes de perigo abstrato não são incons- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
tucionais e jus ficam-se como opção do Estado
no sen do de proteger bens jurídicos relevantes Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é
antes mesmo da ocorrência de uma ameaça con- inafiançável. (Veja ADI nº 3.112-1)
creta de lesão. 3 – Recurso conhecido e improvido.
(20070710082975APJ, Relator ARLINDO MARES, Com relação ao parágrafo único do mesmo ar go, pode-
Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais -se afirmar que houve uma revogação parcial, pois, o art. 42
Cíveis e Criminais do DF, julgado em 30/6/2009, DJ da Lei nº 9.605/1998 rege sobre a soltura de balões, in verbis:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

11/9/2009, p. 297)(negritamos).
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar ba-
Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão lões que possam provocar incêndios nas florestas e
de serralheiro ou o cio análogo, a pedido ou por demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou
incumbência de pessoa de cuja legi midade não qualquer po de assentamento humano:
se tenha cer ficado previamente, fechadura ou Pena – detenção de um a três anos ou multa, ou
qualquer outro aparelho des nado à defesa de ambas as penas cumula vamente.
lugar ou objeto:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, Já com relação à deflagração, que significa detonar, estou-
ou multa. rar ou explodir, o entendimento dominante é que se deve apli-
car o disposto no § 1º do art. 251 do Código Penal, que rege:
Objeto Material
A conduta do contraventor recai sobre a fechadura, ou
outro aparelho des nado ao trancamento do lugar, como, 22
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/TJ-AM/Serviços Notariais e de Registro/
por exemplo, o cadeado. Questão 26/Asser va e/2005.

335
Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade sica Elemento Subje vo
ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arre- O elemento subje vo é o dolo, podendo tal contravenção
messo ou simples colocação de engenho de dinamite ser punida na forma culposa.
ou de substância de efeitos análogos:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Obje vidade Jurídica
A incolumidade pública.
Desta forma, a contravenção apenas subsiste no que se
relaciona à queima de fogos de ar cios, como, por exemplo, Consumação e Tenta va
rojões, “bombas” ou qualquer outro artefato sem a devida Ocorre com a simples omissão. A tenta va é impunível.
licença da autoridade competente.
Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de
É importante destacar que se da queima dos fogos ocor-
pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida
rer incêndio, há o crime do art. 250 do CP, que acabará por cautela animal perigoso:
absorver a contravenção penal. Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses,
Quando houver venda de fogos de ar cios a criança ou ou multa.
adolescente, haverá o crime do art. 244 da Lei nº 8.069/1990. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
a) na via pública, abandona animal de ro, carga ou
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente corrida, ou o confia à pessoa inexperiente;
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou ado- b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segu-
lescente fogos de estampido ou de ar cio, exceto rança alheia;
aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo
incapazes de provocar qualquer dano sico em caso a segurança alheia.
de u lização indevida:
Pena – detenção de seis meses a dois anos, e multa. Verbos-núcleo
Deixar em liberdade (permi r que fique solto), confiar à
Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, guarda (entregar a outrem com a finalidade de vigilância) de
por erro no projeto ou na execução, dar-lhe causa: pessoa inexperiente (sem experiência) e não guardar (não
Pena – multa, se o fato não cons tui crime contra a tomar conta, com a devida cautela (atenção necessária) são
incolumidade pública. as condutas que tem por objeto o animal perigoso (é o que
pode causar dano a terceiro, seja ou não veroz).
Verbo-núcleo
Sujeito A vo e Passivo
Segundo o Professor Guilherme Nucci, provocar (gerar, O sujeito a vo será a pessoa que tem a posse ou a
produzir) ou dar causa (ser fonte de algo). As condutas propriedade do animal. Já o sujeito passivo é a sociedade
voltam-se a desabamento de construção (queda, ruína)23. e, secundariamente, as pessoas ví mas do risco de lesão
causado pela falta de cautela na guarda do animal.
Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo é qualquer pessoa. Já o sujeito passivo Elemento Subje vo
é a sociedade. O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
culposa.
Elemento Subje vo
“[...] pode ser o dolo, na forma provocar o desabamento, Obje vidade Jurídica
como também a culpa no formato por erro no projeto ou A incolumidade pública.
na execução. [...]”24
Consumação e Tenta va
Obje vidade Jurídica Ocorre com o abandono do animal ou com a simples
Protege-se a incolumidade pública. Incólume significa omissão de cautela. Na alínea a, com sua entrega a terceiro.
aquele que não sofreu dano. Já na alínea b, com excitação ou irritação e por fim na alínea
c, com o perigo decorrente da condução perigosa. A tenta va
é impunível.
Consumação e Tenta va
Ocorre com o desabamento total ou parcial da constru- Jurisprudência
ção. A tenta va é impunível. Sobre a contravenção em estudo, já decidiram os Ma-
gistrados do DF:
Art. 30. Omi r alguém a providência reclamada pelo
estado ruinoso de construção que lhe pertence ou PENAL. CONTRAVENÇÃO. GUARDA DE ANIMAL PERI-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cuja conservação lhe incumbe: GOSO. PITBULL. AUTORIA DUVIDOSA. ABSOLVIÇÃO.


Pena – multa. 1. O Juiz não está vinculado ao pedido de absolvição
formulado pelo Ministério Público, encontrando ple-
Verbos-núcleo na vigência o art. 385 do Código de Processo Penal.
O núcleo do po é omi r, que é um não fazer. O con- 2. Infringe a regra proibi va con da no art. 31 da
traventor deixa de tomar a providência reclamada pela LCP aquele que negligencia na guarda de cachorro
construção que está para desabar. da raça pitbull, animal sabidamente perigoso, per-
mi ndo com sua omissão que o cão fuja para a rua
Sujeito A vo e Passivo e realize ataque a outro animal de terceira pessoa.
O sujeito a vo é qualquer pessoa. Já o sujeito passivo 3. Exis ndo nos autos a no cia de que o cachorro
é a sociedade. estava em período de adestramento e não se poden-
do precisar se, no momento do fato, estava o pitbull
23
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev. na posse do seu dono ou do suposto adestrador,
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 188.
24
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5 ed.rev. impõe-se a aplicação do princípio in dúbio pro reo
atual. e ampl. São Paulo, página 189. para absolver o acusado.

336
4. Recurso do MP conhecido e provido. Prejudicado o Verbo-núcleo
apelo do réu. (20060210019915APJ, Relator SANDO- O núcleo do po é dirigir, que tem o sen do de pilotar. O
VAL OLIVEIRA, PRIMEIRA TURMA RECURSAL DOS JUI- sujeito a vo deve pilotar a aeronave sem estar devidamente
ZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, julgado licenciado.
em 9/12/2008, DJ 26/1/2009, p. 125) (negritamos). Assim incorre em contravenção penal que dirige ae-
ronave sem estar devidamente licenciado, mesmo que
Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo tenha como passageiro um piloto que possua experiência
na via pública, ou embarcação a motor em águas no mesmo artefato e esteja em dia com sua documentação
públicas: junto ao Departamento de Aviação Civil.26
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos
de réis. Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito
Elemento Espacial do Tipo passivo é a sociedade.
As condutas equiparadas previstas na alíneas a e c dizem
que o fato deve ocorrer em via públca (espaço). Elemento Subje vo
A respeito da direção sem habilitação é correto afirmar O elemento subje vo é o dolo. Não se pune pela culpa.
que segundo posição dominante no STF e na doutrina,
o art. 32 da LCP, que define a contravenção de direção Consumação e Tenta va
sem habilitação, foi derrogado pelo art. 309 do Código de A contravenção se consuma com a simples realização de
Trânsito Brasileiro. Quando se tratar de veículo automotor uma das condutas descritas no po.
há crime; quando se tratar de embarcação a motor, existe Com relação à possibilidade de se caracterizar a tenta va,
contravenção.25 como já afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível.
Rege o art. 309 do CTB: Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embar-
cações em águas públicas, pondo em perigo a
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, segurança alheia:
sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses,
ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando ou multa.
perigo de dano:
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Verbo-núcleo
Segundo o Professor Nucci, dirigir (conduzir) veículo
A Súmula nº 720 da Suprema Corte assim dispõe: (meio de transporte), na via pública (lugares de livre acesso
da população), ou dirigir embarcações (construções aptas
O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que a navegar em águas, a motor ou não) em águas públicas
reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou o (lugares de livre acesso da população).27
art. 32 da lei das contravenções penais no tocante à
direção sem habilitação em vias terrestres. Sujeito A vo e Passivo
Em relação à condução perigosa de embarcação em
Desta forma, houve uma derrogação, ou seja, remanesce águas públicas, pode ser sujeito a vo qualquer pessoa.
apenas a figura do po relacionada à direção de embarcações Quanto à condução perigosa de veículo automotor, somente
a motor em águas públicas. poderá ser sujeito a vo o condutor habilitado, pois caso
contrário haverá a incidência do crime previsto no art. 309
Verbo-núcleo do Código de Trânsito Brasileiro.
O núcleo do po é dirigir significa conduzir. Cumpre res-
saltar que deve haver a condução sem a devida autorização, Elemento Subje vo
licença embarcação a motor em águas públicas. O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
Note que o po fala em águas públicas, ou seja, a con- culposa.
dução de embarcação em águas par culares é considerada
fato a pico, vez que o Direito Penal não adota a analogia in Obje vidade Jurídica
malem partem. A incolumidade pública.

Sujeito A vo e Passivo Consumação e Tenta va


O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito Ocorre em momento definido. A tenta va é impunível.
passivo imediato é a sociedade. Porém, o sujeito passivo Art. 35. Entregar-se na prá ca da aviação, a acro-
mediato é o indivíduo sujeito a sofrer as lesões. bacias ou a voos baixos, fora da zona em que a lei o
permite, ou fazer descer a aeronave fora dos lugares
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Elemento Subje vo des nados a esse fim:


O elemento subje vo é o dolo. Não se pune pela culpa. Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses,
ou multa.
Consumação e Tenta va
A contravenção se consuma com a simples realização de Verbo-Núcleo
uma das condutas descritas no po. Segundo o Professor Guilherme Nucci, entregar-se (de-
Com relação à possibilidade de se caracterizar a tenta va, dicar-se a algo) na prá ca de aviação (direção de aeronave)
como já afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível. e acrobacias (manobras bruscas) ou a voos baixos (abaixo
da linha permi da), ou fazer descer (aterrissar) a aeronave
Art. 33. Dirigir aeronave sem estar devidamente
licenciado: [...] em lugar diverso do autorizado.28
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, 26
Delegado de Polícia Subs tuto de Santa Catarina/Questão 31/Asser va d/2001.
e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. 27
NUCCi, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 197.
25 28
NCE/UFRJ/Delegado da Polícia Civil de 3ª classe do RJ/Questão 8/Asser va NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
i/2002. atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, página 198.

337
Sujeito A vo e Passivo Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito O sujeito a vo é qualquer pessoa. Já o sujeito passivo
passivo é a sociedade. é a sociedade.
Elemento Subje vo
Elemento Subje vo O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma culposa.
culposa.
Obje vidade Jurídica
Obje vidade Jurídica A incolumidade pública.
A incolumidade pública.
Consumação e Tenta va
Consumação e Tenta va Ocorre com o arremesso, derramamento etc. A tenta va
Ocorre com a prá ca da manobra proibida. A tenta va é impunível.
é impunível.
Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fuma-
Art. 36. Deixar do colocar na via pública, sinal ou ça, vapor ou gás, que possa ofender ou molestar
obstáculo, determinado em lei ou pela autoridade alguém:
e des nado a evitar perigo a transeuntes: Pena – multa.
Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. O ar go supra foi revogado pelo art. 54 da Lei dos Crimes
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: Ambientais.
a) apaga sinal luminoso, destrói ou remove sinal
de outra natureza ou obstáculo des nado a evitar Das Contravenções Referentes à Paz Pública
perigo a transeuntes;
b) remove qualquer outro sinal de serviço público. Art. 39. Par cipar de associação de mais de cinco
pessoas, que se reúnam periodicamente, sob com-
Verbo-núcleo promisso de ocultar à autoridade a existência, ob-
Nunca é demais citar os ensinamentos do professor je vo, organização ou administração da associação:
Guilherme Nucci (2010, p. 199) acerca do tema: Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupan-
deixar de colocar (abster-se) os objetos, sinais (algo te de prédio que o cede, no todo ou em parte, para
que serve para advertência) ou obstáculos (barreira) reunião de associação que saiba ser de caráter secreto.
que servem para impedimento, des nados a evitar § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias,
(impedir) perigo (risco de dano) aos transeuntes deixar de aplicar a pena, quando lícito o objeto da
(pessoas que caminham por vias públicas). associação.

Sujeito A vo e Passivo Sustentamos que o disposi vo não foi recepcionado pela


O sujeito a vo é a pessoa que tem obrigação legal de CF/1988, não cons tuindo contravenção a conduta de quem
inserir o sinal ou o obstáculo descrito no po. Já o sujeito par cipa de associação secreta composta por no mínimo 6
passivo é a sociedade. pessoas, que promove encontros frequentes, escondendo
sua existência da autoridade, bem como o obje vo da orga-
Elemento Subje vo nização, diante do que dispõe os incisos XV, XVI, XVII, XVIII,
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma XIX e XX do art. 5º da CF.
culposa. O ordenamento jurídico brasileiro incrimina a conduta
de quem se reúne de maneira estável e permanente para
Obje vidade Jurídica cometer crimes na zona urbana (quadrilha), na zona rural
A incolumidade pública. (bando), quem se associa de maneira permanente para
cometer condutas relacionas ao tráfico de drogas (associa-
Consumação e Tenta va ção e associação para o financiamento), fora que o Brasil é
Ocorre no instante em que se exige do sujeito o cumpri- signatário da Convenção de Palermo, que define o que vem
mento do dever de colocar em via pública o sinal ou obstá- a ser uma organização criminosa.
culo, vindo a omi r-se. A tenta va é impunível. Não há o porquê de se punir, por exemplo, a conduta de
seis jovens, maiores, que se unem para jogar RPG.
Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou
em lugar de uso comum, ou do uso alheio, coisa que Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo
possa ofender, sujar ou molestar alguém: inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Pena – multa. ato oficial, em assembleia ou espetáculo público,


se o fato não cons tui infração penal mais grave;
Verbos-núcleo Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses,
O professor Guilherme Nucci diz: ou multa.

arremessar (a rar com força, lançar) ou derramar Podemos usar como exemplo a conduta do jogador de
(deixar correr um líquido para fora) coisa (qualquer futebol que ofende com gesto obsceno a torcida do me ad-
objeto) que possa ofender (lesar), sujar (manchar) ou versário, causando tumulto. Também o torcedor que invade
molestar (incomodar) alguém (pessoa humana) em o campo de futebol, paralisando a par da até sua re rada.
via pública (local de livre acesso da população, em
lugar de uso comum) (local de acesso comum) ou de Verbos-núcleo
uso alheio (uso par cular).29 Segundo o professor Nucci, provocar (dar causa) tumulto
29
NUCCi, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
(desordem) ou portar-se (agir) de modo inconveniente (ino-
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 199. portuno) ou desrespeitoso (em reverência) são as condutas.

338
Enumera o po em comento, os locais onde tais manifesta- ou sinais acús cos ou 4) provocando ou não procurando
ções são inadmissíveis: solenidade (fes vidade) ou ato oficial impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda.
(cerimônia organizada pelo Estado), assembleia (reunião de
pessoas para determinado fim) ou espetáculo público (exibi- Sujeito A vo e Passivo
ção teatral ou cinematográfica em local aberto ao público).30 O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito passi-
vo é a cole vidade. Não há necessidade de que várias pessoas
Sujeito A vo e Passivo registrem ocorrência policial contra o contraventor, bastando
O sujeito a vo é qualquer pessoa. Já o sujeito passivo é que uma pessoa se sinta perturbada com as condutas acima.
a cole vidade.
Elemento Subje vo
Elemento Subje vo O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma culposa.
culposa.
Obje vidade Jurídica Obje vidade Jurídica
A incolumidade pública. Segundo Guilherme Nucci é a paz pública.31

Consumação Consumação e Tenta va


Ocorre com a ocorrência efe va do tumulto ou quando o Ocorre com o ato de perturbar o trabalho ou o sossego
contraventor passa a se comportar de maneira inconvenien- alheios. A tenta va é impunível. Não há necessidade de que
te. Trata-se de uma infração penal subsidiária, pois se houver a contravenção seja habitual, basta a prá ca de uma única
a ocorrência de um fato mais grave, haverá a absorção. conduta, para que a Autoridade Policial haja e faça cessar
a perturbação.
Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou
perigo inexistente, ou pra car qualquer ato capaz Jurisprudência
de produzir pânico ou tumulto: Sobre a contravenção em estudo, já decidiu o Egrégio
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, TJDFT:
ou multa.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONTRAVENÇÃO
Verbos-núcleo DE PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO PÚBLICO. HO-
Provocar significa dar causa. Exige-se que o contraventor MOLOGAÇÃO DE ACORDO NA ESFERA CÍVEL,
no cie desastre ou perigo inexistente. VISANDO EXTINGUIR PROCESSO EM TRÂMITE NA
ESFERA PENAL. OFERECIMENTO DA DENÚNCIA.
Sujeito A vo e Passivo IMPOSSIBILIDADE. COMÉRCIO GERENCIADO PELO
O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito DENUNCIADO, QUE IGNORA AUTO DE INFRAÇÃO E
passivo é a cole vidade. CONTINUA NORMALMENTE COM SUAS ATIVIDADES
DE BAR E LANCHONETE. INSTALAÇÕES LINDEIRAS A
Elemento Subje vo LOTES RESIDENCIAIS. RUÍDOS EM ALTO VOLUME,
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma ACOMPANHADOS DE ALGAZARRA DOS FREQUENTA-
culposa. DORES, CAUSANDO TRANSTORNOS NA VIZINHANÇA.
INFRAÇÕES CARACTERIZADAS. CONDENAÇÃO JUSTA,
Obje vidade Jurídica COM PENAS CORRETAMENTE DOSADAS. RECURSO
A ordem pública. IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. De acordo
Consumação e Tenta va com o ar go 25, do Código de Processo Penal – CPP,
Ocorre com o alarme ou com a realização de ato que a representação será irretratável depois de ofereci-
provoca pânico ou tumulto. A tenta va é impunível. da a denúncia. 2. O abaixo-assinado é documento
Bem comum a prá ca de tal contravenção “contra” es- idôneo para demonstrar o descontentamento da
colas e faculdades em dias de prova e repar ções públicas, cole vidade. A impugnação do documento baseado
principalmente as policiais, paralisando de sobremaneira as em suposições, não pode prosperar em Juízo. Cabe-
a vidades concernentes. ria ao denunciado neste caso, fazer prova de que os
que ali assinaram não residem nas proximidades do
Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego comércio objeto do li gio. 3. Se o acusado reitera as
alheios: prá cas abusivas consistentes em permi r que no
I – com gritaria ou algazarra; local por ele administrado se produza excessivo ba-
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em rulho ou se adote conduta incompa vel com a moral
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

desacordo com as prescrições legais; social, máxime após às 22:00 horas, conspicuamente
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais ofendendo a vida normal de seus vizinhos, comete
acús cos; a contravenção penal de perturbação do sossego
IV – provocando ou não procurando impedir barulho público. 4. Sentença man da por seus próprios e
produzido por animal de que tem a guarda: jurídicos fundamentos, com Súmula de julgamento
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, servindo de Acórdão, na forma do art. 82, § 5º, da Lei
ou multa. nº 9.099/1995.(20081110000894APJ, Relator JOSÉ
GUILHERME DE SOUZA, Segunda Turma Recursal dos
Verbos-núcleo Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julgado
O contraventor acaba por perturbar o trabalho ou o em 18/5/2010, DJ 8/6/2010, p. 195)(negritamos).
sossego com: 1) gritaria ou algazarra, 2) exercendo profissão PENAL. PROCESSO PENAL. PERTURBAÇÃO DO SOSSE-
incômoda ou ruinosa, 3) abusando de instrumentos sonoros GO ALHEIO. CONTRAVENÇÃO PENAL. MATERIALIDA-
31
30
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev. NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 205. atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 208.

339
DE E AUTORIA DO CRIME DEVIDAMENTE COMPRO- Consumação e Tenta va
VADAS NOS AUTOS. CONTEÚDO PROBATÓRIO SU- A contravenção se consuma com a recusa de receber o
FICIENTE PARA CORROBORAR OS FATOS ALEGADOS real, seja durante ato ro neiro, seja durante ato comercial.
NA DENÚNCIA OFERTADA PELO PARQUET. SENTENÇA Com relação à possibilidade de se caracterizar a tenta va,
MANTIDA. 1. Incorre nas penas do art. 42 da Lei de como já afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível.
Contravenções Penais quem, por vontade livre e
consciente, perturba o sossego alheio, com gritaria, Art. 44. Usar, como propaganda, de impresso ou
algazarra e abuso de instrumentos sonoros. In casu, objeto que pessoa inexperiente ou rús ca possa
evidente a ilicitude da conduta da recorrente, que, confundir com moeda:
desde Out/2007, promove festas quinzenais em sua Pena – multa.
residência – localizada em ambiente des nado a fins
de moradia, diga-se de passagem, de maneira que, Verbos-núcleo
mesmo após o pedido de cessação das perturbações, Guilherme Nucci analisa o núcleo do po assim:
feita pelos moradores, a acusada insiste em pra cá-
-las. 2. O conjunto probatório dos autos é suficiente usar (servir-se de algo) impressão (papel que contém
para se constatar a materialidade e a autoria do crime algo estampado) ou objeto (peça) como propaganda
em comento, vez que os depoimentos das ví mas (f. (anúncio) que possa ser confundido com a moeda
(unidade de valor ou dinheiro que serve para tran-
62-3) encontram-se em harmonia com o bole m de
sações) em curso legal.33
ocorrência (f. 2-10). Ademais, não obstante decre-
tada a revelia da acusada – depreendendo-se que a Sujeito A vo e Passivo
recorrente optou por não apresentar, em juízo, sua O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito
versão dos fatos – , a ré confessou, extrajudicialmente passivo é o Estado, sendo que secundariamente a pessoa
a versão das ví mas, confirmando as alegações das inexperiente (imatura) ou rús ca.
testemunhas, no sen do de que realmente ultrapas-
sara os limites do volume do som da festa (f. 5). 3. Se Elemento Subje vo
a acusada reitera as prá cas abusivas consistentes em O elemento subje vo é o dolo. Não se pune pela culpa.
permi r que no local, no qual mantém sua residência,
se produza excessivo barulho ou se adote conduta Obje vidade Jurídica
incompa vel com a moral social, máxime após às A validade e a perfeita circulação da moeda.
22:00 horas, conspicuamente ofendendo a vida nor-
mal de seus vizinhos, comete a contravenção penal Consumação
de perturbação do sossego público. 4. Sentença man- A contravenção se consuma com o uso do impresso ou
da por seus próprios e jurídicos fundamentos, com objeto.
Súmula de julgamento servindo de Acórdão, na forma Com relação à possibilidade de se caracterizar a tenta va,
do art. 46 da Lei nº 9.099/1995. Sem condenação em como já afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível.
honorários advoca cios por militar a recorrente sob o
pálio da jus ça gratuita. (20080310105853APJ, Relator Art. 45. Fingir-se funcionário público:
JOSÉ GUILHERME DE SOUZA, Segunda Turma Recursal Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa.
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julgado
em 12/1/2010, DJ 26/3/2010, p. 324) (negritamos). Verbos-Núcleo
O verbo-núcleo do po é fingir (simular). O contraventor
Das Contravenções Referentes à Fé Pública finge ser funcionário Público, que é aquele que exerce cargo,
Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda emprego ou função pública, ainda que transitoriamente e
de curso legal no país: sem remuneração.
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos
de réis. Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo pode ser qualquer do povo. Já o sujeito
Verbos-núcleo passivo é o Estado.
O verbo-núcleo do po é recusar que significa rejeitar a
moeda corrente no país (objeto material), atualmente o real. Elemento Subje vo
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
Objeto Jurídico culposa.
É a proteção da moeda nacional, evitando-se que co-
merciantes selecionem a moeda que pretendem realizar o Obje vidade Jurídica
Tutelar a fé pública.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

negócio, enfraquecendo assim, a moeda brasileira.


Lembre-se que o simples fato de recusar o recebimento Consumação
de cheque NÃO caracteriza contravenção penal, uma vez A contravenção se consuma com o uso do impresso ou
que o po exige para configuração do delito a recusa de objeto, não havendo necessidade de que a pessoa efe va-
receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país.32 mente se confunda.
Sujeito A vo e Passivo Jurisprudência
O sujeito a vo pode ser qualquer do povo. Já o sujeito
passivo é o Estado. Sobre a contravenção em estudo, já decidiu o Egrégio
TJDFT:
Elemento Subje vo
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONTRAVENÇÕES
culposa. DE VIAS DE FATO E DE SIMULAÇÃO DA QUALIDADE
32 33
Tema cobrado na seguinte prova: FGV/TJ-AM/Tribunal de Jus ça do Amazonas/ NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
Serviços Notariais e de Registro/Questão 26/Asser va c/2005. atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 209.

340
DE SERVIDOR PÚBLICO. PORTE ILEGAL DE ARMA E tenham alegado um prejuízo de nove mil e quinhen-
AMEAÇA. RÉU QUE SE APRESENTA COMO POLICIAL tos reais, sendo mil e quinhentos reais em espécie
FEDERAL, SE PRONTIFICANDO A INTERMEDIAR A e o restante em cheques. Não há nos autos recibo,
QUITAÇÃO DE IMÓVEL JUNTO À CAIXA ECONÔMICA microfilmes ou extratos bancários para confirmar
FEDERAL. RECUSA EM DEVOLVER CHEQUES RECEBI- a apropriação de qualquer valor pelo réu. Consi-
DOS PARA ESSE FIM. VÍTIMAS ESCORRAÇADAS DO derando o fato relatado nos autos, os ves gios da
ESCRITÓRIO COM AGRESSÃO FÍSICA E INTIMIDAÇÃO ação criminosa não podiam deixar de exis r, não
COM ARMA DE FOGO. REGULARIDADE DA REPRESEN- sendo neste caso suficiente a palavra da ví ma para
TAÇÃO. INSUFICIÊNCIA DA PROVA DE APROPRIAÇÃO caracterizar o po penal.
INDÉBITA. 1. Réu acusado das contravenções de vias 7. Desprovimento da apelação do réu e provi-
de fato e simulação da condição de funcionário mento parcial da apelação do órgão acusador.
público, além de porte desautorizado de arma de (20050710254014APR, Relator GEORGE LOPES LEI-
fogo, ameaça e apropriação indébita. Alegando TE, 1ª Turma Criminal, julgado em 22/10/2009, DJ
a qualidade de policial federal, se ofereceu para 11/1/2010, p. 81) (negritamos).
intermediar em nome das ví mas a quitação de
imóvel financiado pela Caixa Econômica Federal, Art 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou dis-
recebendo para isso alguns cheques assinados. n vo de função pública que não exerce; usar, in-
Instado posteriormente pelas ví mas a devolvê-los, devidamente, de sinal, dis n vo ou denominação
reafirmou ser policial federal e se muniu de arma de cujo emprego seja regulado por lei. (Redação dada
fogo, agarrando a mulher pelo braço e a empurrando pelo Decreto-Lei nº 6.916, de 2/10/1944)
para fora do escritório. No saguão do prédio, ainda Pena – multa, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o
portando o revólver, avançou contra o marido dela fato não cons tui infração penal mais grave. (Reda-
e o agrediu. Os dois o haviam procurado porque ção dada pelo Decreto-Lei nº 6.916, de 2/10/1944)
não ob nham informação sobre o andamento da
quitação e descobriram que o número do processo Verbo- núcleo
que indicou se referia ao de outra pessoa. Na primeira figura o contraventor usa em público uni-
2. Não há falta de representação para punição pelas forme (vestuário modelo que é feito para uma ins tuição)
contravenções penais quando a ví ma relata agres- ou dis n vo (insígnia) de função pública que não exerce.
sões sofridas à autoridade policial, manifestando Na segunda figura, o contraventor usa indevidamente sinal,
expressamente o interesse na punição do réu. O fato dis n vo ou denominação deva se observar a lei.
de constar na ocorrência policial apenas a imputação
de porte ilegal de arma e ameaça é irrelevante em Sujeito a vo e Sujeito Passivo
face das declarações reduzidas a termo, onde as O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Na lição de
ví mas evidenciaram a vontade na punição do réu Sílvio Maciel, sujeito passivo “ é o Estado e, secundariamen-
pelos gravames sofridos, não podendo ser frustrada te, o órgão ou en dade cujo uniforme, dis n vo, sinal ou
essa expectativa pela imprecisão do modelo de denominação foi u lizado indevidamente”.34
documento preenchido por agente policial. O Juiz
não está adstrito à capitulação da denúncia e muito Elemento Subje vo
menos a um formulário e a representação prescinde É dolosa a contravenção em estudo, não se punindo a
de rigor formal, bastando que o ofendido demonstre modalidade culposa.
de forma inequívoca interesse na persecução penal.
3. A palavra das ví mas sempre teve especial relevân- Obje vidade Jurídica
cia na apuração de crimes, servindo de suporte para Protege-se a fé pública.
a condenação quando se apresenta lógica, coerente
e harmônica com outros elementos de convicção. Consumação
Não há como subs tuir penas corporais impostas em A contravenção se consuma com o uso efetivo, em
decorrência de vias de fato diante da violência e grave público, do uniforme ou do dis n vo de função pública
ameaça à pessoa exercida com emprego de arma de que o contraventor não exerça. Na segunda figura, quando
fogo. Inteligência do art. 44, inciso I, do Código Penal. usa indevidamente o sinal, dis n vo ou denominação cujo
4. A configuração do porte ilegal de arma de fogo é emprego seja previsto em lei. Nunca é demais lembrar que
autônoma e independente em relação ao crime de não se pune a figura tentada.
ameaça e à contravenção de vias de fato. O simples
fato de o réu ter pegado o revólver guardado no Das Contravenções Relativas à Organização do
escritório e o conduzido até a recepção do edi cio Trabalho
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

no intuito de in midar as ví mas é suficiente para Art. 47. Exercer profissão ou a vidade econômica ou
configurar o porte ilegal de arma de fogo, indepen- anunciar que a exerce, sem preencher as condições
dentemente da ameaça perpetrada. a que por lei está subordinado o seu exercício:
5. Não há como considerar a ameaça absorvida pelo Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses,
porte ilegal de arma de fogo. O réu passou a portá- ou multa.
-la ainda no interior do escritório, com intuito de
atemorizar as ví mas e ainda desceu com ela até a Verbos-núcleo
Guilherme Nucci ao analisar o núcleo do po diz que:
recepção do edi cio para reafirmar a plausibilidade
da ameaça. O simples fato de ter levado a arma do
exercer (desempenhar habitualmente) profissão
escritório até o saguão seria suficiente para confi-
(a vidade especializada, regulamentada pelo Esta-
gurar o porte ilegal, independentemente da efe va
ameaça perpetrada contra a ví ma. 34
Legislação Especial Criminal - 2 ed. atual. ampl. - São Paulo: Editora Revista
6. Não há prova suficiente para sustentar a conde- dos Tribunais, 2010 - (Coleção Ciências Criminais; 6/ coordenação Luiz Flávio
nação por apropriação indevida, embora as ví mas Gomes, Rogério Sanches) página 143.

341
do), ou a vidade econômica ( qualquer meio de vida CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CORRETOR
que proporcione renda), ou anunciar (divulgar) que a DE IMÓVEIS. EXERCÍCIO DAS ATIVIDADES APÓS
exerce, sem preencher as condições legais.35 CANCELAMENTO DE SUA INSCRIÇÃO NO CRECI, POR
INADIMPLÊNCIA DAS ANUIDADES. CONTRAVENÇÃO
Sujeito A vo e Passivo PENAL CONFIGURADA (ART. 47 DO DECRETO-LEI
O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito nº 3.688/1941. EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO OU
passivo é o Estado. ATIVIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. A conduta do agente que exerce a vidades de
Elemento Subje vo corretagem de imóveis após o cancelamento de sua
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma inscrição no Creci, por inadimplência das anuidades
culposa. devidas, se amolda à contravenção penal prevista
no art. 47 do Decreto-Lei nº 3.688/1941, haja vista
Obje vidade Jurídica que permaneceu clandes namente na profissão re-
A norma protege o interesse social de certas profissões
gulamentada, exercendo-a sem o preenchimento de
que sejam exercidas somente por pessoas qualificadas por
condição legal a que está subordinado o seu exercício,
lei.
qual seja, inscrição perante o órgão de fiscalização
Consumação profissional.
Ocorre com a prá ca de vários atos que demonstrem 2. Não há que se falar, no caso dos autos, de violação
que o contraventor está exercendo, de maneira ilegal, uma à decisão administra va proibi va do exercício de
profissão. Na outra modalidade a contravenção se consuma a vidade e, consequentemente, no crime previsto no
com o simples anúncio. Cumpre ressaltar que se a pessoa art. 205 do CP, haja vista o disposto nos arts. 3º, 4º e
exercer a medicina, a odontologia e a farmácia, responderá 5º, da Resolução nº 761/2002, do Conselho Federal
pelo crime previsto no art. 282 do CP. de Corretores de Imóveis – Cofeci, no sen do de
que o pagamento do débito acarreta a restauração
Jurisprudência automá ca da inscrição no Creci, e que “o cancela-
Sobre a contravenção em estudo, já decidiu o Egrégio mento de inscrição por falta de pagamento [...] não
TJDFT: representa punição disciplinar, mas sim, mero ato
administra vo de saneamento cadastral”.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO. DESCLAS-
3. Conflito conhecido para declarar competente o
SIFICAÇÃO DA CONDUTA. ART. 171, CAPUT, DO CP.
ART. 47 DA LCP. DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA. Juízo de Direito da 1ª Vara do Juizado Especial Cível
EXERCÍCIO IRREGULAR DE PROFISSÃO. ADVOCACIA. e Criminal de Poços de Caldas – MG, o suscitado.
CONTRAVENÇÃO PENAL. (CC 104.924/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TER-
Denunciada que se apresentou como advogada à ví- CEIRA SEÇÃO, julgado em 24/3/2010, DJe 19/4/2010)
ma para promover defesa em processo judicial sem
possuir a devida habilitação profissional. Conduta que Recentemente, no CC nº 104.924 / MG, Relator Ministro
não configura o delito previsto no art. 171, caput, do JORGE MUSSI a Terceira Seção do STJ, decidiu que:
Código Penal, porque nem todas as elementares do
estelionato foram adequadamente demonstradas, [...]
pois o serviço para o qual foi contratada foi prestado 1. A conduta do agente que exerce a vidades de
por outro advogado e a pedido dela, restando afasta- corretagem de imóveis após o cancelamento de sua
do o caráter ilícito da vantagem ob da. Nesse quadro, inscrição no Creci, por inadimplência das anuidades
correta a desclassificação da conduta atribuída à devidas, se amolda à contravenção penal prevista
acusada – estelionato – para a figura descrita no no art. 47 do Decreto-Lei nº 3.688/1941, haja vista
art. 47 da Lei das Contravenções Penais, com declínio que permaneceu clandes namente na profissão re-
da competência para Juizado Especial Criminal. gulamentada, exercendo-a sem o preenchimento de
Recurso desprovido. (20050310019373RSE, Relator condição legal a que está subordinado o seu exercício,
MÁRIO MACHADO, 1ª Turma Criminal, julgado em qual seja, inscrição perante o órgão de fiscalização
15/1/2009, DJ 10/2/2009, p. 170) profissional. 2. Não há que se falar, no caso dos au-
tos, de violação à decisão administra va proibi va
PENAL E PROCESSO PENAL – CONTRAVENÇÃO –
TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS – O fato do exercício de a vidade e, consequentemente, no
é pico se o agente nha conhecimento da irregula- crime previsto no art. 205 do CP, haja vista o disposto
ridade do veículo para o transporte de passageiros. nos arts. 3º, 4º e 5º, da Resolução nº 761/2002, do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Não é crível que vesse recebido um veículo de ter- Conselho Federal de Corretores de Imóveis – Cofeci,
ceiro para trabalhar com transporte de passageiros no sen do de que o pagamento do débito acarreta a
sem indagar sobre a regularidade da documentação restauração automá ca da inscrição no Creci, e que
ou desconfiado da irregularidade, ante a falta de “o cancelamento de inscrição por falta de pagamen-
apresentação da autorização do Detran. Não há erro to [...] não representa punição disciplinar mas, sim,
escusável se o réu sabia da necessidade da autoriza- mero ato administra vo de saneamento cadastral”.
ção para exercer o transporte de passageiros. Recurso 3. Conflito conhecido para declarar competente o
improvido. Unânime. (20030110829703APJ, Relator Juízo de Direito da 1ª Vara do Juizado Especial Cível
MARIA DE FÁTIMA RAFAEL DE AGUIAR RAMOS, PRI- e Criminal de Poços de Caldas-MG, o suscitado.
MEIRA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, julgado em 17/5/2005, Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições
DJ 1/8/2005, p. 74) legais, comércio de an guidades, de obras de arte,
35
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
ou de manuscritos e livros an gos ou raros:
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 211. Pena – prisão simples de um a seis meses, ou multa.

342
Verbos-núcleo Pena – prisão simples, de três meses a um ano,
Guilherme Nucci ao analisar o núcleo do po nos ensina: e multa, de dois a quinze contos de réis, estendendo-
-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e
exercer (desempenhar com a habitualidade) o comér- objetos de decoração do local.
cio (compra e venda) de an guidades (objetos raros, § 1º A pena é aumentada de um terço, se existe
an gos), obras de arte (trabalhos produzidos com entre os empregados ou par cipa do jogo pessoa
bom gosto e qualidade) ou manuscritos (documentos menor de dezoito anos.
escritos a mão) sem obedecer às prescrições legais. § 2º Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a
[...] Cuida-se norma penal em branco.36 dois contos de réis, quem é encontrado a par cipar
do jogo, como ponteiro ou apostador.
Sujeito A vo e Passivo § 3º Consideram-se, jogos de azar:
O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito a) o jogo em que o ganho e a perda dependem
passivo é o Estado. exclusiva ou principalmente da sorte;
b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipó-
Elemento Subje vo dromo ou de local onde sejam autorizadas;
O Elemento Subje vo é o dolo. Não existe modalidade c) as apostas sobre qualquer outra competição
culposa. espor va.
§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar
Obje vidade Jurídica acessível ao público:
O controle do comércio ilegí mo de objetos an gos e a) a casa par cular em que se realizam jogos de azar,
obras de arte. quando deles habitualmente par cipam pessoas
que não sejam da família de quem a ocupa;
Consumação b) o hotel ou casa de habitação cole va, a cujos
A consumação da contravenção em estudo ocorrerá com hóspedes e moradores se proporciona jogo de azar;
a realização do úl mo ato caracterizador da habitualidade c) a sede ou dependência de sociedade ou associa-
(conjunto de atos). ção, em que se realiza jogo de azar;
d) o estabelecimento des nado à exploração de
Art. 49. Infringir determinação legal rela va à matrí- jogo de azar, ainda que se dissimule esse des no.
cula ou à escrituração de indústria, de comércio, ou
de outra a vidade: Verbos-núcleo
Pena – multa. Segundo o Professor Sílvio Maciel, “a conduta é estabelecer
(instalar e manter) ou explorar (auferir lucro) jogo de azar (jogo
Verbo-núcleo que depende, exclusiva ou principalmente, do fator sorte)”.37
Nucci nos ensina que:
Sujeito A vo e Passivo
infringir (violar, transgredir) determinação legal (co- Qualquer pessoa pode pra car a contravenção em estudo.
mando norma vo em relação à matrícula (inscrição Trata-se de uma infração penal de dupla subje vidade pas-
em registros oficiais) ou escrituração (mantença siva, pois tanto o Estado como a cole vidade são ví mas.
de livros e registro de a vidades de indústria e de
comércio ou outra a vidade) de indústria (a vidade Elemento Subje vo
de produção de mercadoria), de comércio ( a vidade O elemento subjetivo é o dolo, não havendo forma
de compra e venda de produtos) ou outra a vidade. culposa.
Cuida-se de norma penal em branco.
Elemento espacial do po
Sujeito A vo e Passivo O lugar em que o jogo se estabeleceu ou está sendo
O sujeito a vo é a pessoa encarregada, por determinação explorado deve ser público ou acessível ao público.
legal, a proceder à matrícula ou à escrituração, o que seria
uma especial qualidade exigida para o contraventor. Já o Obje vidade Jurídica
sujeito passivo é o Estado. Proteger os bons costumes.

Elemento Subje vo Consumação e Tenta va


O elemento subje vo é o dolo. Não há forma culposa. A contravenção exige habitualidade por parte do autor,
assim são necessários vários atos por parte do contraventor
Obje vidade Jurídica para a configuração da infração penal em estudo.
Proibir o funcionamento irregular de firmas comerciais, Com relação à possibilidade de se caracterizar a tenta va,
industriais ou de outras a vidades. como já afirmado (art. 4º da LCP), esta é impunível.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Consumação Classificação de Jogos de Azar


Ocorre com a realização de qualquer ato que demonstre O § 3º do ar go examinado afirma que:
a infringência da determinação legal ou da escrituração.
Consideram-se jogos de azar:
Das Contravenções Rela vas à Polícia de Costumes a) o jogo em que o ganho e a perda dependem
exclusiva ou principalmente da sorte;
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipó-
lugar público ou acessível ao público, mediante o dromo ou de local onde sejam autorizadas;
pagamento de entrada ou sem ele: (Veja o Decreto- c) as apostas sobre qualquer outra competição
-Lei nº 4.866, de 23/10/1942) (Veja o Decreto-Lei espor va.
nº 9.215, de 30/4/1946)
³⁷ Legislação Especial Criminal - 2 ed. atual. ampl. - São Paulo: Editora Revista
36
Leis Penais e Processuais Penais Comentadas - 5. ed. rev. atual. e ampl. - São dos Tribunais, 2010 - (Coleção Ciências Criminais; 6/ coordenação Luiz Flávio
Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 211. Gomes, Rogério Sanches) página 151.

343
Exemplos de jogos de azar: bozo, jogo de dados, ronda, O art. 54 e seu parágrafo único foram revogados pelo
vinte e um, tampinha, tômbola, rifas, roleta e pôquer (NINO, art. 49 do Decreto-Lei nº 6.259/1944.
Wilson, 1995).
O Buraco, truco, pif-paf, caixeta bilhar, pebolim, NÃO SÃO Art. 55. Imprimir ou executar qualquer serviço de
CONSIDERADOS JOGOS DE AZAR, uma vez que necessitam de feitura de bilhetes, lista de sorteio, avisos ou carta-
alguma habilidade do jogador e não exclusivamente da sorte. zes rela vos a loteria, em lugar onde ela não possa
Ao jogo de bingo, não se aplica mais o art. 50 da Lei das legalmente circular:
Contravenções, pois a Lei nº 9.981/2000, regulada pelo De- Pena – prisão simples, de um a seis meses, e multa,
creto nº 3.659/2000 já pificou tal conduta em seus ar gos. de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Ainda aqui, importante informar que o bingo eletrônico
é igualmente considerado jogo de azar. (STJ, AgRg na Medi- A norma em questão foi revogada pelo art. 51 do Decreto-
da Cautelar nº 10.784-RS, 2ª Turma, Rel Castro Meira, v.u., -Lei 6.259/1944.
13/12/2005).
Art. 56. Distribuir ou transportar cartazes, listas de
Jurisprudência sorteio ou avisos de loteria, onde ela não possa le-
O Tribunal de Jus ça do DF já decidiu que: galmente circular:
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa,
PENAL. CONTRAVENÇÃO PENAL. EXPLORAÇÃO DE
de cem a quinhentos mil réis.
JOGO DE AZAR EM LUGAR PÚBLICO OU ACESSÍVEL AO
PÚBLICO. PRINCÍPIOS DA ADEQUAÇÃO SOCIAL E DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. PENA APLICA- O art. 56 foi revogado pelo art. 52 do Decreto-Lei nº
DA DE FORMA PROPORCIONAL ÀS CIRCUNSTÂNCIAS 6.259/1944.
JUDICIAIS DO ART. 59 DO CP. 1. São inaplicáveis os
princípios da adequação social e da insignificância à Art. 57. Divulgar, por meio de jornal ou outro impres-
contravenção de exploração de jogo de azar em local so, de rádio, cinema, ou qualquer outra forma, ainda
público ou acessível ao público, pois há relevância penal que disfarçadamente, anúncio, aviso ou resultado
da conduta, resultando lesividade econômica e social. de extração de loteria, onde a circulação dos seus
2. Nada a censurar quanto à pena-base, uma vez que bilhetes não seria legal:
bem dosada, proporcionalmente às circunstâncias judi- Pena – multa, de um a dez contos de réis.
ciais, em parte desfavoráveis ao acusado, em face de sua
conduta social pretérita nega va, pois já havia se envol- O art. 57 foi revogado pelos arts. 55, 56 e 57 do Decreto-
vido anteriormente na prá ca da mesma contravenção. Lei nº 6.259/1944.
3. Recurso conhecido e improvido. (20060210036074APJ,
Relator ARLINDO MARES, Segunda Turma Recursal dos Art. 58. Explorar ou realizar a loteria denominada
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julgado em jogo do bicho, ou pra car qualquer ato rela vo à
30/6/2009, DJ 11/9/2009, p. 296) sua realização ou exploração38:
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano,
Art. 52. Introduzir, no país, para o fim de comércio, e multa, de dois a vinte contos de réis.
bilhete de loteria, rifa ou tômbola estrangeiras: Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, duzentos mil réis a dois contos de réis, aquele que
e multa, de um a cinco contos de réis. par cipa da loteria, visando a obtenção de prêmio,
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem para si ou para terceiro.
vende, expõe à venda, tem sob sua guarda. para
o fim de venda, introduz ou tenta introduzir na O art. 58 da Lei das Contravenções Penais fora revogado
circulação, bilhete de loteria estrangeira. pelo Decreto-Lei nº 6.259 de 10 de fevereiro de 1944, que
dispõe sobre o serviço de loterias.
O art. 52 e seu parágrafo único foram revogados respec- Rege o art. 58 deste decreto:
vamente pelos arts. 46 e 50 do Decreto-Lei nº 6.259/1944.
Art. 58. Realizar o denominado “jogo do bicho”, em
Art. 53. Introduzir, para o fim de comércio, bilhete que um dos par cipantes, considerado comprador
de loteria estadual em território onde não possa ou ponto, entrega certa quan a com a indicação de
legalmente circular: combinações de algarismos ou nome de animais,
Pena – prisão simples, de dois a seis meses, e multa, a que correspondem números, ao outro par ci-
de um a três contos de réis.
pante, considerado o vendedor ou banqueiro, que
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende,
se obriga mediante qualquer sorteio ao pagamento
expõe à venda, tem sob sua guarda, para o fim de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

venda, introduz ou tonta introduzir na circulação, de prêmios em dinheiro.


bilhete de loteria estadual, em território onde não Penas: de seis (6) meses a um (1) ano de prisão sim-
possa legalmente circular. ples e multa de dez mil cruzeiros (Cr$ 10.000,00) a
cinquenta mil cruzeiros (Cr$ 50.000,00) ao vendedor
O art. 53 e seu parágrafo único foram revogados respec - ou banqueiro, e de quarenta (40) a trinta (30) dias
vamente pelos arts. 46, 48 e 50 do Decreto-Lei nº 6.259/1944. de prisão celular ou multa de duzentos cruzeiros
(Cr$ 200,00) a quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) ao
Art. 54. Exibir ou ter sob sua guarda lista de sorteio comprador ou ponto.
de loteria estrangeira: § 1º Incorrerão nas penas estabelecidas para ven-
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, dedores ou banqueiros:
de duzentos mil réis a um conto de réis. a) os que servirem de intermediários na efetuação
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem exibe do jogo;
ou tem sob sua guarda lista de sorteio de loteria
estadual, em território onde esta não possa legal- 38
Tema cobrado na seguinte prova: Delegado de Polícia Subs tuto de Santa
mente circular. Catarina/ Questão 31/Asser va c/2001.

344
b) os que transportarem, conduzirem, possuírem, JURISPRUDÊNCIA
verem sob sua guarda ou poder, fabricarem, da- Segundo no cia veiculada no site do STF, terça-feira, 26
rem, cederem, trocarem, guardarem em qualquer de outubro de 2010, com o tulo: “Descriminalização de
parte, listas com indicações do jogo ou material corrupção de menores na prá ca de mendicância arquiva
próprio para a contravenção, bem como de qualquer ação penal”, acerca do tema a 1ª Turma decidiu:
forma contribuírem para a sua confecção, u lização,
curso ou emprego, seja qual for a sua espécie ou A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF)
quan dade; arquivou ação penal em trâmite na 1ª Vara Criminal
c) os que procederem à apuração de listas ou à orga- da Comarca de Barbacena, Minas Gerais, contra
nização de mapas rela vos ao movimento do jogo; E.C.G., denunciado por corrupção de menores para
d) os que por qualquer modo promoverem ou faci- a prá ca de mendicância.
litarem a realização do jogo. A Turma seguiu, por unanimidade, o voto do relator,
§ 2º Consideram-se idôneos para a prova do ato ministro Ricardo Lewandowski, que considerou a
contravencional quaisquer listas com indicações matéria inusitada, tendo em vista alteração super-
claras ou disfarçadas, uma vez que a perícia revele veniente da lei que aboliu o crime.
se des narem à perpetração do jogo do bicho. Isso porque as condutas previstas nos ar gos em que
a denúncia se baseou teriam sido, posteriormente,
Vale lembrar a Súmula nº 51 do STJ que afirma que “a descriminalizadas. O caso foi analisado durante
punição do intermediador, no jogo do bicho, independe da sessão ocorrida na tarde desta terça-feira (26), no
iden ficação do “apostador” ou do “banqueiro”. julgamento do Habeas Corpus (HC) nº 103.787.
Importante observar que os arts. 51 a 58 foram revogados
pelo Decreto-Lei nº 6.259/1944. O caso
Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosi- Desde o mês de agosto de 2002, E.C.G. e uma corré in-
dade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda duziram menores a pedir esmolas pelas ruas da cidade
que lhe assegure meios bastantes de subsistência, de Barbacena, incitando-os à prá ca da mendicância.
ou prover à própria subsistência mediante ocupa- Eles foram denunciados como incursos no art. 1º, da
ção ilícita: Lei nº 2.252/1954, e art. 60, da Lei das Contravenções
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses. Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941), respec vamente,
Parágrafo único. A aquisição superveniente de ren- corrupção de menores e mendicância.
da, que assegure ao condenado meios bastantes de Foi concedido o bene cio da suspensão condicional
subsistência, ex ngue a pena. do processo pelo prazo de dois anos e, após o trans-
curso do período de prova, foi ex nta a punibilidade
Obje vidade Jurídica
pela juíza da 1ª Vara Criminal da Comarca de Barbace-
Tutelar os bons costumes.
na. Contra essa decisão, o Ministério Público estadual
interpôs recurso no Tribunal de Jus ça (TJ-MG), que o
Verbos-núcleo
desproveu. Na sequência, o MP recorreu ao Superior
Entregar-se à ociosidade significa ficar desocupado ou
Tribunal de Jus ça (STJ), que cassou a decisão que
no ócio.
declarou ex nta a punibilidade do acusado.
Observa-se que o po penal exige que o indivíduo seja
válido ao trabalho e não possua renda e não tenho como
prover seu sustento. Descriminalização

Sujeito A vo e Passivo Com base no art. 2º, do Código Penal, a defesa alegava que
O contraventor deve ter condições para o trabalho, e não houve aboli o criminis, isto é, abolição dos crimes im-
ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, putados aos denunciados em razão da revogação da Lei
ou prover à própria subsistência. Não se pode confundir o nº 2.252/1954 pelo art. 7º, da Lei nº 12.015/2009, e
vadio com o desempregado, pois aquele é válido ao trabalho, também do art. 60, da Lei das Contravenções Penais,
mas se entrega ao ócio. Já este não consegue oportunida- pela Lei nº 11.983/2009.Sustentava a impossibilidade
des para desenvolver suas a vidades labora vas diante das de revogação do bene cio da suspensão condicional
dificuldades impostas pelo mercado de trabalho. O sujeito do processo após o término do período de prova, es-
passivo é a sociedade. pecialmente depois de declarada a ex nção da puni-
A pessoa com renda não pode configurar como sujeito bilidade por decisão judicial. Os advogados insis am
a vo da contravenção de vadiagem, pois mesmo sendo de- no reconhecimento da a picidade da conduta tendo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

socupado, este ainda possui renda que lhe assegure meios em vista a aboli o criminis. Alterna vamente, pediam
de subsistência. que fosse restabelecida a sentença de primeiro grau
A an ga redação do art. 323, II, do Código de Processo que declarou ex nta a punibilidade.
Penal Brasileiro dispunha que:
Crimes dis ntos
Não será concedida fiança:
[...] II – nas contravenções pificadas nos arts. 59 De início, o ministro Ricardo Lewandowski esclareceu
e 60 da Lei das Contravenções Penais. Com a nova haver dis nção entre o delito de corrupção de meno-
redação do CPP, dada pela Lei nº 12.403/2011, tal res previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente
disposição foi revogada. (art. 244-B) e o crime de corrupção de menores pre-
visto no Código Penal (art. 218-A e 218-B).
Cumpre informar que o art. 60 da Lei das Contravenções Segundo ele, o primeiro delito referia-se apenas a
Penais (Mendicância) fora revogada pela Lei nº 11.983, de aspecto relacionado à inserção do jovem na crimina-
2009. lidade e o segundo, quanto à questão sexual.

345
Não se deve olvidar o disposto nos art. 218-A e (pessoa humana) de maneira ofensiva (prejudicia, agressivol)
218-B do Código Penal que cuidam da corrupção de ao pudor (sen mento de vergonha ou recato sexual).39
menores no campo sexual, favorecendo a depravação O afago nas nádegas de uma pessoa, o simples toque no
precoce do adolescente que, levado pelo adulto, peito de uma mulher, o famoso “beijo roubado” e os gracejos
passa a pra car o ato sexual como se fosse algo ba- com conotação sexual são condutas que cons tuem a con-
nal, prejudicando a boa formação dos seus valores travenção de importunação ofensiva ao pudor.
morais, explicou.
Sujeito A vo e Passivo
Voto Sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. O mesmo vale
para o sujeito passivo.
Apesar de verificar que a alegada ocorrência de
aboli o criminis da imputação feita ao acusado não Elemento Subje vo
foi analisada pelo STJ, Lewandowski entendeu que O elemento subje vo é o dolo. Não se pune pela culpa.
“as peculiaridades do caso recomendam a conces-
são da ordem de o cio”. Ele avaliou que o art. 60 da Obje vidade Jurídica
Lei das Contravenções Penais foi revogado pela Lei Tutelar os bons costumes.
nº11.983/1990 “descriminalizando, assim, a conduta
antes descrita como mendicância”. Elemento Espacial do Tipo
O relator também analisou que a Lei nº 12.015/1999 O po exige, ainda, que a importunação se dê em lugar
realmente revogou a Lei nº 2.252/1954, que tratava público ou acessível ao público.
da corrupção de menores. “Todavia, inseriu o art.
244-B no Estatuto da Criança e do Adolescente – Consumação
ECA (Lei nº 8.069/1990) cuja redação é a mesma da A contravenção se consuma com a importunação.
norma revogada”, disse o ministro. O disposi vo tem
a seguinte redação: Jurisprudência
Sobre a possibilidade de desclassificação de atentado
Corromper ou facilitar a corrupção de menor de violento ao pudor para a contravenção em estudo:
18 anos, com ele pra cando infração penal ou
induzindo-o a pra car. APELAÇÃO CRIMINAL. TENTATIVA. ATENTADO VIO-
LENTO AO PUDOR. ROUBO. EMPREGO DE UMA
De acordo com o ministro Ricardo Lewandowski, o TESOURA. TENTATIVA. PLEITO ABSOLUTÓRIO.
referido Estatuto busca proteger o menor em relação IMPOSSIBILIDADE. PROVA SEGURA DA AUTORIA.
à influência nega va de adultos na fase de formação DEPOIMENTO HARMÔNICO DA VÍTIMA. PEDIDO.
da personalidade, evitando, com isso, a sua inserção DESCLASSIFICAÇÃO. CONTRAVENÇÃO PENAL. IM-
precoce no mundo do crime. PORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR (LCP ART. 61).
IMPOSSIBILIDADE. CONTATO FÍSICO COM A VÍTIMA.
Logo, deixando de ser a mendicância infração pe- LESÃO CORPORAL. INQUÉRITOS POLICIAIS E PRO-
nal, desaparece no caso sob exame objeto jurídico CESSOS EM ANDAMENTO. MAUS ANTECEDENTES.
tutelado pelo ECA, uma vez que não mais existe a IMPOSSIBILIDADE. MINORAÇÃO DA PENA-BASE.
contravenção penal que os menores foram levados APELAÇÃO DESPROVIDA.
a pra car, ocorrendo, por consequência, lógica a 1. É itera vo o entendimento doutrinário e juris-
aboli o criminis em relação aos dois delitos impu- prudencial que para configurar o delito de atentado
tados ao paciente, concluiu. Assim, o relator con- violento ao pudor, é imprescindível o contato sico
cedeu a ordem de o cio para arquivar a ação penal do ofensor com a ví ma.
rela vamente às duas imputações – mendicância e 2. Nos crimes contra os costumes, há de se emprestar
corrupção de menor. Ele reconheceu a a picidade especial valor à palavra da ví ma, mormente quando
dos atos atribuídos ao acusado e julgou prejudicado encontra respaldo nos demais elementos de prova.
o habeas corpus quanto ao pedido da suspensão 3. Não é possível a desclassificação do crime de
condicional do processo. atentado violento ao pudor para a forma descrita
no art. 61 da LCP (importunar alguém em lugar
Elemento subje vo público ou acessível ao público, de modo ofensivo),
O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma se o acusado agiu com violência e com evidente
culposa. intenção libidinosa.
4. Inquéritos policiais ou ações penais em andamen-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Consumação to, inclusive sentença condenatória sem o trânsito


A contravenção se consuma com a simples realização de em julgado, não podem, em razão do princípio cons-
uma das condutas descritas no po. tucional do estado presumido de inocência, ser
considerados para agravar a pena-base.
Art. 60. Mendigar, por ociosidade ou cupidez: 5. Apelação parcialmente provida.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses. (20010510052560APR, Relator NILSONI DE FREITAS
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um sexto a CUSTÓDIO, 2ª Turma Criminal, julgado em 16/4/2009,
um terço, se a contravenção é pra cada: DJ 13/5/2009, p. 119) (negritamos).
a) de modo vexatório, ameaçador ou fraudulento.
b) mediante simulação de molés a ou deformidade; Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado
c) em companhia de alienado ou de menor de de embriaguez, de modo que cause escândalo ou
dezoito anos. ponha em perigo a segurança própria ou alheia:
Guilherme Nucci, ao analisar o núcleo do po, ensina 39
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
importunar (incomodar com pedidos repe vos) alguém atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 223.

346
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, Verbos-núcleo
ou multa. O núcleo do po é servir que significa oferecer, por à dis-
posição, entregar, favorecer, bebida alcoólica, independente
Verbos-núcleo do teor alcoólico.
Segundo Guilherme Nucci apresentar-se (mostrar-se, A dúvida permanece com relação à entrega de bebida
exibir-se) publicamente (em local em estado de embriaguez alcoólica ao menor de dezoito anos. Aplica-se a Lei das
(intoxicado pelo uso excessivo de álcool) causando escândalo Contravenções ou o art. 243 do Estatuto da Criança e do
(alvoroço) ou pondo em perigo a segurança própria ou alheia. Adolescente? Sustentamos que prevalece o ECA sobre a Lei
das Contravenções, pois aquela além de ser norma especial,
Sujeito A vo e Passivo
Sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o passivo é é mais recente em relação a esta.
a sociedade. Lembrando que o art. 81, II do ECA, rege:

Elemento Subje vo É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:


O elemento subje vo é o dolo. [...]
II – bebidas alcoólicas;
Consumação
A contravenção se consuma com a apresentação da pes- Elemento Norma vo
soa em estado de embriaguez, nas condições descritas no O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
po penal. É necessário laudo clínico produzido por perito culposa.
oficial ou duas pessoas idôneas atestando o estado de em-
briaguez da pessoa. O uso do bafômetro não é indicado uma Consumação
vez que a tolerância ao álcool varia de pessoa para pessoa. A contravenção se consuma com a simples realização de
uma das condutas descritas no po.
Jurisprudência
Já decidiu o TJDFT: Jurisprudência
Acerca do tema já decidiu o TJDFT:
PENAL. PROCESSO PENAL. CONTRAVENÇÃO PENAL.
EMBRIAGUEZ. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPRO- PENAL. FORNECIMENTO DE BEBIDA ALCOÓLICA
VADAS. PENA DE MULTA, FIXADA NO MÍNIMO LEGAL. A ADOLESCENTE. TIPIFICAÇÃO. DENÚNCIA QUE
1. Pra ca a contravenção penal prevista pelo ar go IMPUTA O CRIME DO ART. 243 DO ECA. CONDUTA
62 do Decreto-Lei nº 3.668, de 3/10/1941, o agen- PREVISTA NO ART. 63, I, DA LEI DE CONTRAVENÇÕES
te que em estado e lico se nega a pagar a conta, PENAIS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. O art. 243
e permanecendo no interior do estabelecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente pifica ven-
comercial (bar), causa escândalos que afugenta os der, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou
clientes da casa, pondo em risco a segurança pró- entregar, de qualquer forma, à criança ou ao adoles-
pria, e alheia, obrigando o comerciante a chamar a cente, sem justa causa, produtos cujos componentes
polícia. 2. Correta mostra-se a escolha da pena de possam causar dependência sica ou psíquica, ainda
multa dentre as penas alterna vas, quando esta se faz que por u lização indevida. Nesta pificação não
bastante e suficiente para reprovar e prevenir a ocor- incluiu o legislador bebidas alcoólicas. E, conhecedor
rência de novas infrações, mormente quando fixada da diferença entre os produtos referidos no art. 243 e
no mínimo legal. 3. Recurso conhecido e improvido, as bebidas alcoólicas, tanto que a externa no art. 81,
sentença man da. (20030110789525APJ, Relator incisos II e III, do mesmo Estatuto, assim o fez, porque
JOÃO BATISTA TEIXEIRA, Segunda Turma Recursal dos já existente, no art. 63, inciso I, da Lei de Contraven-
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, julgado ções Penais, a pificação de servir bebidas alcoólicas
em 28/9/2005, DJ 18/10/2005, p. 167) (negritamos). a menor de 18 (dezoito) anos.
Art. 63. Servir bebidas alcoólicas: Como a denúncia, na espécie, imputa ao paciente o
I – a menor de dezoito anos; crime do art. 243 do ECA por ter ele fornecido bebida
II – a quem se acha em estado de embriaguez; alcoólica a menor, ressente-se de justa causa.
III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculda- Ordem concedida para trancar a ação penal.
des mentais; (20080020063477HBC, Relator MARIO MACHADO, 1ª
IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente Turma Criminal, julgado em 5/6/2008, DJ 30/6/2008,
proibida de frequentar lugares onde se consome p. 81) (negritamos).
bebida de tal natureza:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou Recentemente a Sexta Turma do STJ decidiu que:
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
Obje vidade Jurídica VENDA. ÁLCOOL. ADOLESCENTES.
Tutelar os bons costumes. A venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos
é pica e encontra correspondência no art. 63, I,
Sujeito A vo e Passivo da Lei de Contravenções Penais. No caso, a errônea
Sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Vale lembrar que capitulação dos fatos no art. 243 do ECA não jus fica
tal contravenção não se aplica apenas aos donos e garçons o trancamento da ação penal; como consabido, o
de bares e restaurantes, mas a todas as pessoas que servi- agente defende-se dos fatos e não de sua capitulação
rem bebidas alcoólicas para as pessoas arroladas no art. 63. jurídica. Com esse entendimento, a Turma acolheu
O sujeito passivo além da cole vidade, será também o o parecer do MPF e concedeu a ordem de o cio
menor de 18 (dezoito) anos, o alienado mental, bem como para alterar a capitulação dos fatos. Precedentes
aquele que a lei proíbe de frequentar lugares onde serve citados: RHC nº 20.618-MG, DJe 6/9/2010; HC nº
bebida alcoólica. 89.696-SP, DJe 23/8/2010; HC nº 113.896-PR, DJe nº

347
16/11/2010, e Ag 1.275.948-PR, DJe 6/4/2010. RHC próprios da vida em liberdade, na natureza, totalmen-
nº 28.689-RJ, Rel. Min. Celso Limongi (Desembarga- te diferente de cão ou do gato, criaturas domés cas
dor convocado do TJ-SP), julgado em 5/5/2011. na essência, podem ser capturados e criados em casa
tornando-se domés cos (ex.: re rar um papagaio da
Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo natureza e, criando-o em casa, torna-se um animal
a trabalho excessivo: domés co). Por outro lado, pode-se re rar da vida
Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou silvestre uma jaguatirica e, domando-a, torná-la
multa, de cem a quinhentos mil réis. animal domes cado. O po penal do art. 32 da Lei
§ 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora nº 9.605/1998 cuida, exclusivamente, dos animais
para fins didá cos ou cien ficos, realiza em lugar selvagens, que podem ser, eventualmente, criados
público ou exposto ao publico, experiência dolorosa em casa (domés cos) ou amansados, man dos em
ou cruel em animal vivo. jaula ou gaiola (domes cados). Um cavalo nascido e
§ 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o criado num sí o, não pode ser denominado animal
animal é subme do a trabalho excessivo ou tratado silvestre. Por isso, para essa espécie de animal con-
com crueldade, em exibição ou espetáculo público. nua aplicável a contravenção do art. 64.

Obje vidade Jurídica Sustentamos que o art. 64 da Lei das Contravenções Pe-
Os bons costumes associado à é ca. nais foi totalmente revogado pela Lei dos Crimes Ambientais.

Verbos-Núcleo Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqui-


Ensina o Professor Nucci que lidade, por acinte ou por mo vo reprovável:
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses,
tratar ( manusear, cuidar) animal (ser irracional dota- ou multa.
do de movimentação e sensibilidade com crueldade
(com dureza insensibilidade, de forma dolorosa) ou Verbos-núcleo
submetê-lo ( sujeitá-lo) a trabalho excessivo (esforço Nucci professa:
exagerado). Crueldade na definição de Damásio de
Jesus (2007) significa: “Qualidade do que é dolorante, molestar (aborrecer, afetar) alguém (pessoa humana)
torturante”. ou perturbar-lhe( abalar ou desassossegar) a tran-
quilidade (serenidade, paz) por acinte (de propósito)
Sujeito A vo e Passivo ou por mo vo reprovável (condenável). A contra-
O sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. O sujeito venção é muito comum em situações de violência
passivo é a sociedade. Nesse sen do, importante relembrar de domés ca, entre divorciados, ex-companheiros
que o animal não é sujeito passivo e sim objeto material. e ex-namorados.41

Elemento Subje vo Sujeito A vo e Passivo


O elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma culposa. Pode ser qualquer pessoa. Também qualquer pessoa
pode ser ví ma da contravenção em comento.
Consumação
Ocorre no instante em que é empregado tratamento Elemento Subje vo
cruel ao animal ou de sua submissão a trabalho excessivo. É o dolo. Não há forma culposa. Definindo as expressões
Confronto como o Art. 32 da Lei nº 9.605/1998 “acinte” e “maneira censurável” explica Damásio de Jesus:42
“[...] propósito de perturbar, [...] Mo vo reprovável: despre-
Prevê o art.32 da Lei dos Crimes Ambientais: zível, censurável, sem jus ficação, ilegí mo”.

Pra car ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mu lar Obje vidade Jurídica
animais silvestres, domés cos ou domes cados, na- A tranquilidade pessoal.
vos ou exó cos: Pena-detenção, de três meses a um
ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem Consumação
realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, Ocorre exatamente no instante em que o sujeito passivo
ainda que para fins didá cos ou cien ficos, quando é molestado.
exis rem recursos alterna vos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se Das Contravenções Referentes à Administração
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ocorre morte do animal. Pública


Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:
Acerca do confronto com o art. 32 da Lei nº 9.605/1998, I – crime de ação pública, de que teve conhecimento
ensina Guilherme de Souza Nucci:40 no exercício de função pública, desde que a ação
penal não dependa de representação;
Esse po penal diz respeito exclusivamente, aos ani-
II – crime de ação pública, de que teve conhecimen-
mais silvestres (selvagens, agrestes), como onça,
to no exercício da medicina ou de outra profissão
capivara, leão, gre etc. Não envolve, naturalmente
sanitária, desde que a ação penal não dependa de
cães, gatos etc. Quando encontramos os termos
domés cos, devemos ler como mera ocorrência de representação e a comunicação não exponha o
anterior menção a animais silvestres, exatamente cliente a procedimento criminal:
como, em seguida, deparamo-nos com os termos Pena – multa.
na vos ou exó cos. Em suma, os animais selvagens, 41
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 229.
42
40
Op. cit., p.222. Op.Cit.,p.228.

348
Verbos-núcleo Sujeito A vo e Passivo
Deixa de comunicar à autoridade competente (Autori- Sujeito a vo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito
dade Policial ou Membro do Ministério Público) crime de passivo é o Estado.
ação penal pública incondicionada de que teve ciência no
exercício da função pública, da medicina ou de outra pro- Elemento Subje vo
fissão sanitária. O Elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
culposa.
Sujeito A vo e Passivo
O sujeito a vo somente poderá ser funcionário público, Obje vidade Jurídica
na primeira figura, médico ou profissional da saúde, na se- O normal funcionamento da Administração.
gunda figura. Já o sujeito passivo é o Estado.
Elemento Norma vo Consumação
Con do nas expressões “crime”, “função pública”, “ação Ocorre no instante da recusa em fornecer os dados.
pública” e “representação”. Deixar de comunicar (omi r) a
autoridade competente (funcionário, ou agente do Estado). Art. 70. Pra car qualquer ato que importe violação
É exigível que o delito seja de Ação Pública, não dependendo do monopólio postal da União:
de representação da ví ma (ação pública condicionada). Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou
ambas cumula vamente.
Obje vidade Jurídica
O normal funcionamento da Administração. A tendência O art. 70 foi revogado pelo art. 42 da Lei nº 6.538, de 22
é que a conduta em estudo se torne um fato a pico, pois se o de junho de 1978, que disciplina o serviço postal. Hoje o fato
crime de falsa iden dade não está sendo punido atualmente, configura “crime” e tem a seguinte redação:
ante o princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova
contra si mesmo, o que dizer da contravenção penal em tela Coletar, transportar, transmi r ou distribuir, sem ob-
de uma simples contravenção penal. servância das condições legais, objetos de qualquer
natureza sujeitos ao monopólio da União, ainda que
Consumação pagas as tarifas postais ou de telegramas. Pena: de-
Consuma-se a contravenção com a omissão de comuni- tenção, até dois meses, ou pagamento não excedente
cação por tempo jurídico relevante. a dez dias-multa. FORMA ASSIMILADA.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem
Art. 67. Inumar ou exumar cadáver, com infração promova ou facilite o contra bando postal ou pra que
das disposições legais: qualquer ato que importe em violação do monopólio
Pena – prisão simples, de um mês a um ano, ou multa. exercido pela União sobre os serviços postais e de
telegramas.
Verbos-núcleo
Inumar significa sepultar e exumar, que tem sen do
de desenterrar ou rar da sepultura. O objeto material da REFERÊNCIAS
contravenção em estudo é o cadáver (corpo morto).
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Volume
Sujeito A vo e Passivo I, 12 ed. Rio de Janeiro, Editora Impetus, 2010.
O Sujeito A vo pode ser qualquer pessoa. O sujeito
passivo é o Estado. Grinover, Ada Pellegrini et Al., Juizados Especiais Criminais –
Comentários à Lei nº 9.099, de 26/9/1995, São Paulo, Rt
Elemento Subje vo nº 1996.
O Elemento subje vo é o dolo. Não se pune a forma
culposa. JESUS, Damásio E. de. Lei das Contravenções Penais Anota-
da. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
Obje vidade Jurídica
O normal funcionamento da Administração. LAVORENTI, Wilson. Leis Penais Especiais Anotadas. Ed.
Millennium, 10ª Edição, 2008.
Consumação
Ocorre no inicio da inumação ou exumação.
MARINO Pazzaglini Filho et Alli, In Juizado Especial Criminal,
Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, ATLAS, 1996.
justificadamente solicitados ou exigidos, dados
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou indicações concernentes à própria iden dade, NINNO, wilson. Leis Penais Especiais e sua Interpretação.
estado, profissão, domicílio e residência: Ed. Revista dos tribunais, 1995.
Pena – multa.
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Contravenções Penais Controver-
Verbos-núcleo das. Ed. Edição Universitária de Direito, 1993.
Nas palavras de Nucci:
Nucci, de Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Co-
recusar (negar-se a alguma coisa) à autoridade (fun- mentadas. Editora Revista dos Tribunais. 3ª Edição, 2008.
cionário público inves do em determinado poder)
dados rela vos à própria qualificação ( elementos RODRIGUES, Décio Luiz José, Leis Penais Especiais Comen-
individualizadores como estado civil, profissão, do- tadas, Sorocaba-SP: editora Minelli, 2007.
micílio etc.).43
43
SNICK, Valdir. Contravenções Penais. Ed. Edição Universitária
NUCCI, Guilherme. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010, página 232. de Direito, 1991.

349
Sérgio Bautzer O obje vo principal da lei em estudo é a recuperação do
dano ambiental. Dispõe o art. 225, § 3º, CF:
LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS 3º As condutas e a vidades consideradas lesivas ao
PARTE GERAL meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas si-
cas ou jurídicas, a sanções penais e administra vas,
A Lei nº 9.605/1998 dispõe sobre os crimes ambientais, independentemente da obrigação de reparar os
as infrações administra vas e outras disposições per nentes. danos causados.
Conceito de meio ambiente dado pelo Professor
Guilherme Nucci A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica
o espaço ocupado pelos seres vivos, onde habitam A questão que gera polêmica é a possibilidade de a pes-
e há interação recíproca, influenciando na forma de soa jurídica ser sujeito a vo dos delitos ambientais.
vida e na mantença desse lugar, com todas as suas Num primeiro momento, será analisa a questão da con-
naturais caracterís cas1. duta das pessoas sicas. Dispõe o art. 2º da lei em comento:

O professor Fernando Capez nos ensina que: Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a
prá ca dos crimes previstos nesta Lei, incide nas pe-
a Lei nº 6.938/1981 (Lei de Polí ca Nacional do Meio nas a estes cominadas, na medida da sua culpabilida-
Ambiente) definiu Meio Ambiente como sendo ‘o de, bem como o diretor, o administrador, o membro
conjunto de condições, leis, influências e interações de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente,
de ordem sica, química e biológica, que permite, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que,
abriga e rege a vida em todas as suas formas’ (art. sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de
3º, I). Segundo Édis Milaré, “no conceito jurídico de impedir a sua prá ca, quando podia agir para evitá-la.
meio ambiente podemos dis nguir duas perspec vas
principais: uma estrita e outra ampla. Numa visão Sobre o assunto, o Professor Fernando Capez nos ensina:
estrita, o meio ambiente nada mais é do que a ex-
pressão do patrimônio natural e suas relações com e O ar go prevê o concurso de pessoas, nos moldes do
entre os seres vivos. Tal noção, é evidente, despreza art. 29 do CP, admi ndo a coautoria e a par cipação.
tudo aquilo que não seja relacionado com os recursos Também conhecido como codelinquência, concurso
naturais. Numa concepção ampla, que vai além dos de agentes ou concurso de delinquentes, ocorre
limites estreitos fixados pela Ecologia tradicional, quando vários agentes cometem uma infração penal
o meio ambiente abrange toda a natureza original em conjunto. Dependendo da forma como os agentes
(natural) e ar ficial, assim como os bens culturais atuam para a prá ca do delito haverá coautoria ou
correlatos. Temos a aqui, então, um detalhamento do par cipação.4
tema, de um lado com o meio ambiente natural, ou Coautoria: todos os agentes, em colaboração recí-
sico, cons tuído pelo solo, pela água, pelo ar, pela proca e visando ao mesmo fim, realizam a conduta
energia, pela fauna e pela flora, e, do outro, com o principal. Na lição de Johannes Wessels, ‘coautoria
meio ambiente ar ficial (ou humano), formado pelas é o come mento comunitário de um fato punível
edificações, equipamentos e alterações produzidas mediante uma atuação conjunta consciente e que-
pelo homem, enfim, os assentamentos de natureza rida’. Ocorre a coautoria, portanto, quando dois ou
urbanís ca e demais construções”.2 mais agentes, conjuntamente, realizam o verbo do
po. Conforme lembra Hans Welzel, ‘a coautoria é,
O nobre doutrinador nos oferece ainda a seguinte clas- em úl ma análise, a própria autoria. Funda-se ela
sificação: sobre o princípio da divisão do trabalho; cada autor
colabora com sua parte no fato, a parte dos demais,
Desse modo a classificação doutrinária de Meio na totalidade do delito e, por isso, responde pelo
Ambiente é a seguinte: todo’. A contribuição dos coautores no fato criminoso
• Meio Ambiente Natural: aquele que existe por si não necessita, contudo, ser materialmente a mesma,
só, independentemente da influência do homem. podendo haver uma divisão dos atos execu vos.
Exemplo: a atmosfera, a água (rios, mares, lagos Exemplo: no delito de roubo, um dos coautores em-
etc.), a flora, a fauna, o solo. prega violência contra a ví ma e o outro re ra dela
• Meio Ambiente Ar ficial: aquele decorrente da ação um objeto; no estupro, um constrange, enquanto o
humana. Exemplo: conjunto de edificações, prédios, outro mantém conjunção carnal com a ofendida, e
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

fábricas, casas, praças, ruas, jardins, o meio ambien- assim por diante. O coautor que concorre na realiza-
te do trabalho, enfim, tudo o que é construído pelo ção do po também responderá pela qualificadora
homem. (Obs.: mesmo que se localizem no meio de ou agravante de caráter obje vo quando ver consci-
uma mata, por exemplo, serão considerados parte ência desta e aceitá-la como possível. Obs.: não cabe
do meio ambiente ar ficial, posto que decorrem de coautoria em crime omissivo próprio, de modo que,
intervenção humana no meio ambiente natural). se duas pessoas deixarem de prestar socorro a uma
• Meio Ambiente Cultural: cons tuído pelo patri- pessoa ferida, podendo cada uma delas fazê-lo sem
mônio arqueológico, ar s co, turís co, histórico, risco pessoal, ambas cometerão o crime de omissão
paisagís co, monumental etc. Também decorre de socorro, isoladamente, não se concretizando
da ação humana, que atribui valores especiais a hipótese de concurso de agentes.5
determinados bens do patrimônio cultural do país.3 Par cipação: par cipe é quem concorre para que
1
o autor ou coautores realizem a conduta principal,
Nucci, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas – 4ª
edição, São Paulo: Ed Revista dos Tribunais, 2009. página 874.
4
2
CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, p. 17. Ibid., p.18.
3 5
Ibid., p.18. Ibid., p.19.

350
aquele que, sem pra car o verbo (núcleo) do po, impossível a responsabilização penal da pessoa jurídica
concorre de algum modo para a produção do resul- dissociada da pessoa sica, a qual age com elemento
tado. Assim, no exemplo citado acima, pode-se dizer subje vo próprio. Precedentes citados: RHC 19.734-
que o agente que exerce vigilância sobre o local pra RO, DJ 23/10/2006; HC 86.259-MG, DJe 18/8/2008,
que seus comparsas pra quem o delito de roubo é e REsp 800.817-SC, DJe 22/2/2010. RHC 24.239-ES, Rel.
considerado par cipe, pois, sem realizar a conduta Minº Og Fernandes, julgado em 10/6/2010.
principal (não subtraiu, nem cometeu violência ou
grave ameaça contra a ví ma), colaborou para que Sobre o assunto, o Professor Capez diz que:
os autores lograssem a produção do resultado.6
De acordo com o que dispõe nosso Código Penal, geralmente, nos crimes ambientais pra cados por
pode-se dizer que autor é aquele que realiza a ação pessoas jurídicas ocorre o concurso de pessoas, posto
nuclear do po (o verbo), enquanto par cipe é quem que, na maioria das vezes, os atos delituosos são
sem realizar o núcleo (verbo) do po, concorre de pra cados por pessoa sica, que se encontra ligada
alguma maneira para a produção do resultado ou à pessoa cole va e age no interesse desta.9
para a consumação do crime.7 Além da possibilidade de concurso de agentes, referi-
do ar go, em sua segunda parte, seguindo a linha do
O disposi vo prevê a existência de concurso de pessoas art. 13, § 2º, do CP, estabelece o dever jurídico de agir
nos crimes ambientais, além de adotar a Teoria Monista, por parte do diretor, do administrador, do membro
Unitária ou Igualitária, segundo o qual, no concurso de de conselho e de órgão técnico, do auditor, gerente,
agentes, existe um só crime em que todos par cipantes preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sa-
respondem por ele. bendo da conduta criminosa de terceiro e podendo
O art. 2º criou o dever jurídico de agir, que torna a agir para evitar a sua prá ca, omite-se. Nesse caso
omissão penalmente relevante. O diretor, o administrador, temos a modalidade de par cipação por omissão,
o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o ge- respondendo o omitente como par cipe do crime
rente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica podem (concorreu para o mesmo mediante comportamento
ser responsáveis pela omissão. A parte final do disposi vo omissivo). Assim, o agente responderá pelo delito
impede a responsabilidade obje va de prepostos e manda- na forma dolosa, se ver se omi do querendo ou
tários de pessoas jurídicas. Na palavras de Nucci aceitando o risco de o dano ambiental se produzir,
e na modalidade culposa se, admi da essa forma
há de se ressaltar, ainda mais, que é fundamental a
pelo po legal, atuar com negligência. Trata-se do
existência de nexo causal entre a omissão do dirigente
chamado crime omissivo por comissão, também
da pessoa jurídica e o resultado danoso alcançado no
tocante ao meio ambiente8. conhecido como omissivo impróprio. No caso da
par cipação por omissão, como o omitente nha
Nesse sen do, vide RHC 19.119 da 5ª Turma do STJ: o dever de evitar o resultado, por este responderá
na qualidade de par cipe. Para que se caracterize
CRIME. MEIO AMBIENTE. PESSOA JURÍDICA. a par cipação por omissão é necessário que ocor-
Conforme a jurisprudência deste Superior Tribunal, ram, na lição de Aníbal Bruno, ‘os elementos de ser
nos crimes que envolvem sociedades empresárias uma conduta ina va voluntária, quando ao agente
(nos quais a autoria nem sempre se mostra bem cabia, na circunstância, o dever jurídico de agir, e
definida), a acusação tem que estabelecer, mesmo ele atua com a vontade consciente de cooperar no
que minimamente, a ligação entre a empreitada cri- fato’. Exemplo: se o diretor de uma empresa observa
minosa e o denunciado. O simples fato de ser sócio, um subordinado seu autorizar um dano de impacto
gerente ou administrador não permite a instauração ambiental e, ciente do seu dever jurídico de emi r
da persecução penal pelos crimes pra cados no âm- uma contraordem, omite-se, permi ndo, conscien-
bito da sociedade, se não se comprovar, ainda que temente, a lesão ao meio ambiente, responderá por
mediante elemento a ser aprofundado no decorrer este crime, na qualidade de par cipe (par cipação
da ação penal, a relação de causa e efeito entre as por omissão).10
imputações e a função do denunciado na sociedade,
sob pena de acolher indevida responsabilidade penal Vale ressaltar o entendimento do Superior Tribunal de
obje va. Na hipótese, foi denunciada, primeiramente, Jus ça acerca da denúncia genérica, que considerou inepta
a pessoa jurídica e, por meio de aditamento, a pes- aquela que cita o diretor simplesmente pelo status do cargo,
soa sica. Em relação a esta úl ma, o MP, quando sem discriminar sua conduta. Cuida-se assim de abuso do
do aditamento à denúncia, não se preocupou em poder acusatório do Ministério Público. Assim decidiu o STJ
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

apontar o vínculo entre ela e a ação poluidora. Só no HC 57213:


isso bastaria para tachar de inepto o aditamento à
denúncia. Contudo, soma-se a isso o fato de haver, Hipótese em que o Ministério imputou aos pacien-
nos autos, procuração pública que dá poderes para tes a suposta prá ca do crime previsto no art. 54,
outrem gerir a sociedade. Daí que o aditamento não caput, da Lei nº 9.605/1998, pois, na condição de
se sustenta ao incluir a recorrente apenas por sua proprietária e representante legal de empresa, teria
qualidade de proprietária da sociedade. A inépcia do lançado efluentes líquidos, sem o devido tratamento,
aditamento também contamina a denúncia como um em corpo d’água pertencente à bacia do Médio Tietê/
todo, em razão de agora só figurar a pessoa jurídica Sorocaba-SP, causando poluição capaz de resultar
como denunciada, o que é formalmente inviável, pois é em danos à saúde humana. [...] O simples fato de
ser sócio, gerente ou administrador de empresa não
6
Ibid., p.19.
7
Ibid., p.19.
8 9
Nucci, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas – 4ª CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, 3, p.20.
10
edição, São Paulo: Ed Revista dos Tribunais, 2009. página 875. Ibid., p.20.

351
autoriza a instauração de processo criminal por cri- sica que atua em seu nome ou em seu bene cio,
mes pra cados no âmbito da sociedade, se não restar uma vez que “não se pode compreender a respon-
comprovado, ainda que com elementos a serem sabilização do ente moral dissociada da atuação de
aprofundados no decorrer da ação penal, a mínima uma pessoa sica, que age com elemento subje vo
relação de causa e efeito entre as imputações e a próprio cf. Resp nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Mi-
sua função na empresa, sob pena de se reconhecer nistro Gilson Dipp, DJ de 13/6/2005 (Precedentes).
a responsabilidade penal obje va. A inexistência Recurso desprovido.
absoluta de elementos hábeis a descrever a relação
entre os fatos delituosos e a autoria ofende o princí- Deve ser ressaltado que não há responsabilidade penal
pio cons tucional da ampla defesa, tornando inepta autônoma da pessoa jurídica.
a denúncia. [...] Deve ser declarada a inépcia da Assim, dispõe o art. 3º da Lei dos Crimes Ambientais:
denúncia e determinada a anulação da ação penal
nº 488/1999 em relação à paciente, com extensão Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas
ao corréu, nos termos do art. 580 do Código de administra va, civil e penalmente conforme o dis-
Processo Penal.
posto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
come da por decisão de seu representante legal ou
A respeito desse tema, surgiram quatro correntes:
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse
1 – A primeira que é minoritária diz que a Cons tuição
não criou a responsabilidade penal da pessoa jurídi- ou bene cio da sua en dade.
cas, dispondo que elas estão subme das a sanções Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas
administra vas. São adeptos de tal corrente Miguel jurídicas não exclui a das pessoas sicas, autoras,
Reale Júnior e o Ministro aposentado do STJ Vicente coautoras ou par cipes do mesmo fato.
Cernicchiaro;
2 – Segundo Zaffaroni, René Ariel Do , Régis Prado, O sistema adotado pela lei em tela é o DA DUPLA IMPU-
Alberto Silva Franco, Tourinho, Luiz Flávio Gomes, TAÇÃO ou DAS IMPUTAÇÕES PARALELAS. Ainda assim, para se
a Cons tuição permi u a responsabilidade penal da responsabilizar a pessoa jurídica, exigem-se dois requisitos:
pessoa jurídica, com a ressalva de que as pessoas 1 – Que o crime seja come do por decisão de represen-
jurídicas não podem cometer crimes. Os argumen- tante legal ou contratual ou por órgão colegiado.
tos u lizados são: (i) as pessoas jurídicas não têm 2 – Que o crime tenha sido come do no interesse ou no
capacidade de conduta (não têm dolo ou culpa) e bene cio da en dade. Exemplo: não é possível responsabi-
(ii) as pessoas jurídicas não agem com culpabilidade lizar penalmente a Petrobrás por derramamento de óleo,
(potencial consciência da ilicitude, imputabilidade e uma vez que houve um acidente, que não gerou bene cio
poder agir de outro modo). As pessoas jurídicas não para a sociedade.
podem sofrer os efeitos da sanção penal; Em virtude da punição da pessoa física e jurídica,
3 – A Cons tuição criou a responsabilidade penal da ques onou-se se haveria violação ao princípio processual do
pessoa jurídica, que por sua vez tem capacidade para ne bis in idem, ou seja, de que ninguém pode ser processado
cometer crime. Embasa-se na Teoria da Realidade criminalmente duas vezes pelo mesmo fato. Ficou decidido
ou da Personalidade Real de O o Gierke. Sinte ca- que a pessoa jurídica não se confunde com pessoa sica, não
mente, as pessoas jurídicas são entes reais, dotadas havendo que se falar em violação à regra processual. A 5ª Turma
de capacidade própria, dis ntas das pessoas que as do STJ no REsp 564960/SC se posicionou da seguinte forma:
compõem;
4 – A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada pe- CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PES-
nalmente se for em conjunto com pessoa sica. É
SOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE
a posição de Fernando Capez. O STJ adota a quarta
COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIO-
corrente, que admite a responsabilidade penal da
NAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO
pessoa jurídica, desde quem em conjunto com pessoa
sica. Nesse sen do o RHC 19.119: POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE
DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁ- EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRA-
RIO EM HABEAS CORPUS. ARTS. 62 E 3º, DA LEI DORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA.
Nº 9.605/1998. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL.
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA CON- CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATU-
DUTA. INOCORRÊNCIA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. REZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. RECURSO PROVIDO
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA I – Hipótese em que pessoa jurídica de direito pri-
I – O trancamento de ação por falta de justa causa, vado, juntamente com dois administradores, foi
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

na via estreita do writ, somente é viável desde que denunciada por crime ambiental, consubstanciado
se comprove, de plano, a a picidade da conduta, em causar poluição em leito de um rio, através de
a incidência de causa de ex nção da punibilidade ou lançamento de resíduos, tais como, graxas, óleo, lodo,
ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a areia e produtos químicos, resultantes da a vidade
materialidade do delito, hipóteses não ocorrentes na do estabelecimento comercial.
espécie (Precedentes). II – A Lei ambiental, regulamentando preceito cons-
II – Qualquer entendimento contrário, isto é, no tucional, passou a prever, de forma inequívoca,
sen do de se reconhecer a a picidade da conduta a possibilidade de penalização criminal das pessoas
do ora paciente, demandaria, necessariamente, jurídicas por danos ao meio ambiente.
o revolvimento do material fá co-probatório o que, III – A responsabilização penal da pessoa jurídica pela
nesta estreita via, mostra-se inviável (Precedentes). prá ca de delitos ambientais advém de uma escolha
III – Admite-se a responsabilidade penal da pessoa polí ca, como forma não apenas de punição das
jurídica em crimes ambientais desde que haja a condutas lesivas ao meio ambiente, mas como forma
imputação simultânea do ente moral e da pessoa mesmo de prevenção geral e especial.

352
IV – A imputação penal às pessoas jurídicas encontra contra a pessoa jurídica pela prá ca de crime ambien-
barreiras na suposta incapacidade de pra carem uma tal. Para o TJ, a responsabilização penal da pessoa
ação de relevância penal, de serem culpáveis e de jurídica pela prá ca de delitos ambientais advém
sofrerem penalidades. de uma escolha polí ca, como forma não apenas de
V – Se a pessoa jurídica tem existência própria no punição das condutas lesivas ao meio ambiente, mas
ordenamento jurídico e pra ca atos no meio social também de prevenção geral e especial. Além disso,
através da atuação de seus administradores, poderá a lei ambiental previu para as pessoas jurídicas penas
vir a pra car condutas picas e, portanto, ser passível autônomas de multas, de prestação de serviços à co-
de responsabilização penal. munidade, restri vas de direitos, liquidação forçada e
VI – A culpabilidade, no conceito moderno, é a res- desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas
ponsabilidade social, e a culpabilidade da pessoa à sua natureza jurídica.
jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seu Ao recorrer ao STJ, o Ministério Público sustentou viola-
administrador ao agir em seu nome e proveito. ção do Código Processual Penal quando da sentença e
VII – A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada dos embargos e ofensa à Lei nº 9.605/1998, que dispõe
quando houver intervenção de uma pessoa sica, sobre as sanções penais e administra vas derivadas de
que atua em nome e em bene cio do ente moral. condutas e a vidades lesivas ao meio ambiente. Por
VIII – De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser fim, argumentou a impossibilidade de oferecimento da
beneficiária direta ou indiretamente pela conduta denúncia unicamente contra a pessoa jurídica.
pra cada por decisão do seu representante legal ou Ao decidir, o relator, ministro Arnaldo Esteves Lima,
contratual ou de seu órgão colegiado. destacou que não houve denúncia contra a pessoa
sica responsável pela empresa e, por essa razão,
IX – A atuação do colegiado em nome e proveito
o acórdão que determinou o recebimento da denún-
da pessoa jurídica é a própria vontade da empresa.
cia deve ser anulado.
A copar cipação prevê que todos os envolvidos no
evento delituoso serão responsabilizados na medida Questão recorrente é se cabe HC em favor de pessoa
se sua culpabilidade. jurídica? O meio adequado é o mandado de segurança. No
X – A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas RHC 16.762, a 6ª Turma do STJ se posicionou da seguinte
penas autônomas de multas, de prestação de servi- forma sobre o tema:
ços à comunidade, restri vas de direitos, liquidação
forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DI-
adaptadas à sua natureza jurídica. REITO PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL.
XI – Não há ofensa ao princípio cons tucional de que TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PESSOA JURÍDICA
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado...”, NA QUALIDADE DE PACIENTE. INADMISSIBILIDADE.
pois é incontroversa a existência de duas pessoas RECURSO IMPROVIDO
dis ntas: uma sica – que de qualquer forma con- 1. Como é da jurisprudência deste Superior Tribunal
tribui para a prá ca do delito – e uma jurídica, cada de Jus ça, o habeas corpus não se presta para am-
qual recebendo a punição de forma individualizada, parar reclamos de pessoa jurídica, na qualidade de
decorrente de sua a vidade lesiva. paciente, eis que restrito à liberdade ambulatorial.
XII – A denúncia oferecida contra a pessoa jurídica Precedentes.
de direito privado deve ser acolhida, diante de sua 2. Recurso a que se nega provimento.
legi midade para figurar no pólo passivo da relação
processual-penal. No mesmo sen do é o posicionamento da 1ª Turma
XIII – Recurso provido, nos termos do voto do Relator. do STF:
Recentemente o STJ decidiu novamente acerca da ma- A Turma, em votação majoritária, negou provimento
téria, conforme no cia veiculada no site www.stj.gov.br: a agravo regimental interposto contra decisão que
não conhecera, por ausência de interesse processual,
Ação penal contra pessoa jurídica por crime am- de habeas corpus impetrado em favor de represen-
biental exige imputação simultânea da pessoa sica tante legal de pessoa jurídica, o qual fora citado
responsável. para, nessa qualidade, presentá-la (CPC, art. 12, I)
[...] em ação penal contra ela instaurada pela suposta
Responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes prá ca de crimes ambientais. A decisão impugnada
ambientais é admi da desde que haja a imputação assentara a inexistência de risco de constrangimento
simultânea do ente moral e da pessoa sica que atua ilegal à liberdade de locomoção do paciente, uma
em seu nome ou em seu bene cio, já que não se vez que ele não figurava como réu no mencionado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

pode compreender a responsabilização do ente moral processo-crime. Tendo em conta que, no caso, a de-
dissociada da atuação de uma pessoa sica, que age núncia fora oferecida contra a pessoa jurídica da qual
com o elemento subje vo próprio. A decisão é da o ora agravante seria representante legal, afirmou-se
Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus ça (STJ), exis r óbice ao processamento do writ. Enfa zou-se
que anulou o recebimento de denúncia de crime não haver, segundo o ordenamento jurídico pátrio
ambiental pra cado por uma empresa paranaense. e a par r da Cons tuição, possibilidade de pessoa
O Ministério Público do Paraná ofereceu denúncia jurídica que se encontre no pólo passivo de ação
contra uma empresa, pela prá ca do delito ambiental penal valer-se do habeas corpus porque o bem jurí-
previsto no art. 41 da Lei nº 9.605/1998 (provocar dico por ele tutelado é a liberdade corporal, própria
incêndio em mata ou floresta), que foi rejeitada em das pessoas naturais. Vencido o Minº Marco Aurélio
primeira instância. que, sem apreciar o mérito do habeas corpus, provia
O Tribunal de Jus ça do Paraná (TJ-PR), por sua vez, o agravo para que viesse, devidamente aparelhado,
proveu o recurso em sen do estrito para determinar ao Colegiado. HC 88747Agr/ES, 1ª Turma rel. Minº
o recebimento da denúncia oferecida exclusivamente Carlos Bri o, 15/9/2009. (HC-88747)

353
Sobre o tema, Fernando Capez nos ensina: art. 225, § 3º, foi explícita ao admi r a responsabi-
lização criminal dos entes jurídicos, ao estatuir: ‘as
A Lei nº 9.605/1998 abandonou a chamada teoria condutas e a vidades consideradas lesivas ao meio
da ficção, criada por Savigny e tradicional em nosso ambiente sujeitarão os infratores, pessoas sicas ou
sistema penal, segundo a qual as pessoas jurídicas são jurídicas, a sanções penais e administra vas, inde-
uma pura abstração, carecendo de vontade própria, pendentemente da obrigação de repara os danos
consciência e finalidade, imprescindíveis para o fato causados’. Deste modo, a Lei nº 9.605/1998 apenas
pico, bem como de imputabilidade e capacidade atendeu ao comando emergente da Carta Magna.13
para ser culpável. São, por isso, incapazes de delin- A nosso ver, andou bem o legislador. A pessoa jurídica
quir. Na realidade, as decisões da pessoa jurídica são pode mesmo ser sujeito a vo de crime. O princípio
tomadas pelos seus membros, pessoas naturais, que societas delinquere non potest não é absoluto. Há cri-
por uma ficção legal consideram-se como sendo da mes que somente poderão ser pra cados por pessoas
pessoa jurídica. Os delitos a ela imputados, por con- sicas, como homicídio, estupro, roubo etc. Mas há
sequência são pra cados por seus membros ou dire- outros que, por suas caracterís cas, são come dos
tores, de modo que pouco importa que o interesse da quase que exclusivamente por pessoas jurídicas e,
pessoa jurídica tenha servido de mo vo ou fim para sobretudo, no exclusivo interesse delas. São os cri-
o delito. A teoria da ficção arrima seu entendimento mes pra cados mediante fraude, delitos ecológicos
no brocardo romano societas delinquere non potest e diversas figuras culposas. Não convence o argu-
(a pessoa jurídica não comete delitos) e sustenta que mento da doutrina tradicional no sen do de que é
aos entes cole vos faltam: impossível a aplicação de pena às pessoas jurídicas.
a) capacidade de ação no sen do estrito do Direito Há muitas modalidades de pena, sem ser a priva va
Penal (consciência e vontade): somente a ação finalis- de liberdade, que se adaptam à pessoa jurídica, tais
ta pode ser valorada pelo direito, e apenas o homem como a multa, a prestação pecuniária, a interdição
é capaz de exercer um a vidade finalista, dirigida pela temporária de direitos e as penas alterna vas de um
vontade à consecução de um fim; logo, somente o modo geral. Outras ainda podem ser criadas. Ora, se
homem detentor de consciência e vontade pode ser foi vontade do cons tuinte e do legislador proteger
sujeito a vo de crime; bens jurídicos relevantes, tais como o meio ambiente
b) capacidade de culpabilidade (imputabilidade,
e a ordem econômica, contra agressões pra cadas
potencial consciência da ilicitude e exigibilidade
por en dades cole vas, não há como negar tal pos-
de conduta diversa): a pessoa jurídica é incapaz de
sibilidade ante argumentos de cunho individualista,
culpabilidade, na medida em que esta se funda em
que serviram de fundamento para a revolução bur-
juízo de censura pessoal pela realização do injusto
guesa de 1789. A sociedade moderna precisa criar
pico, só podendo, portanto, ser endereçada a uma
mecanismos de defesa contra agressões diferentes
pessoa humana;
que surgem e se mul plicam dia a dia. Assim é o
c) capacidade de pena (princípio da personalidade da
pena): torna-se inconcebível a penalização da pessoa finalismo, o funcionalismo e outras teorias do Direi-
jurídica, tendo-se em vista, em primeiro lugar, que, to Penal que devem adaptar-se à superior vontade
em face do princípio da personalidade da pena, esta cons tucional, e não o contrário. Tal mudança na
deve recair exclusivamente sobre o autor do delito concepção da responsabilidade criminal faz-se ne-
e não sobre todos os membros da corporação; em cessária, porque a criminalidade, ao longo do tempo,
segundo lugar, a pena tem por escopo a idéia de assumiu diferentes formas e modalidades, que não
retribuição, in midação e reeducação.11 mais se restringem aos clássicos delitos constantes
Em síntese, a pessoa jurídica não possui capacidade do Código Penal. Urge que o Direito Penal passe por
de ação (consciência e vontade); logo, somente a uma adaptação de seus conceitos e princípios para
pessoa natural detentora de consciência e vontade proporcionar adequada prevenção e repressão aos
pode ser sujeito a vo de um crime.12 crimes, o que não significa abandonar as conquistas
Contrariando essa corrente, nosso legislador filiou- do Direito Penal liberal. Suponhamos uma quadrilha
-se à teoria da realidade ou da personalidade real, que oculte sob o manto protetor de uma empresa,
preconizada por O o Gierke. Para este entendimento protegida pelo escudo da intangibilidade penal, a
a pessoa jurídica não é um ser ar ficial, criado pelo qual, de forma dolosa e predeterminada, realize
Estado, mas sim um ente real, independente dos inúmeras operações ilegais de destruição ambien-
indivíduos que a compõem. Sustenta que a pessoa tal, valendo-se da facilidade de ocultação de suas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

coletiva possui uma personalidade real, dotada iden dades, por detrás de estruturas cada vez mais
de vontade própria, com capacidade de ação e de complexas das sociedades jurídicas. Cumpre mais
pra car ilícitos penais. É, assim, capaz de dupla res- uma vez observar que a responsabilidade da pessoa
ponsabilidade: civil e penal. Essa responsabilidade é jurídica não implica na exclusão da responsabilidade
pessoal, iden ficando-se com a da pessoa natural. Em da pessoa sica que pra cou o crime. São dois siste-
síntese, a pessoa jurídica é uma realidade que possui mas de imputação paralelos. Portanto, há um sistema
vontade e capacidade de deliberação, devendo-se, de imputação para a pessoa sica e outro para a pes-
então, reconhecer-lhe a capacidade criminal, a ela soa jurídica. ‘A responsabilidade das pessoas jurídicas
se aplicando os princípios da responsabilidade pes- não exclui a das pessoas sicas, autoras, coautoras ou
soal e da culpabilidade. No que tange aos delitos par cipes do mesmo fato, o que demonstra a adoção
pra cados contra o meio ambiente, a CF, em seu do sistema da dupla imputação’.14

11 13
Ibid., p. 21. Ibid., p. 22.
12 14
Ibid., p. 22. Ibid., p. 22.

354
Também adepto da teoria realista, Sérgio Salomão Princípio da Insignificância e os Crimes
Shecaira elenca os dois argumentos mais contun- Ambientais
dentes contra a responsabilidade penal da pessoa
jurídica: Segundo a jurisprudência, aplica-se o princípio da insig-
a) Não há responsabilidade sem culpa. A pessoa jurí- nificância aos crimes ambientais. Decidiu a Quinta Turma do
dica, por ser desprovida de inteligência e vontade, é STJ, no HC nº 143.208/SC:
incapaz, por si própria, de cometer um crime, neces-
sitando sempre recorrer a seus órgãos integrados por HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. CRIME AMBIEN-
pessoas sicas, estas sim com consciência e vontade TAL. ART. 34 DA LEI Nº 9.605/1998. AUSÊNCIA DE
de infringir a lei. DANO AO MEIO AMBIENTE. CONDUTA DE MÍNIMA
b) A condenação de uma pessoa jurídica poderia OFENSIVIDADE PARA O DIREITO PENAL. ATIPICI-
a ngir pessoas inocentes como os sócios minoritários DADE MATERIAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
(que votaram contra a decisão), os acionistas que não APLICAÇÃO. TRANCAMENTO. ORDEM CONCEDIDA.
veram par cipação na ação delituosa.15 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, o princípio da insignificância tem como ve-
No entanto, logo a seguir, rebate-os com precisão. tores a mínima ofensividade da conduta do agente,
Contra o primeiro argumento, Shecaira assevera que a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido
‘o comportamento criminoso, enquanto violador grau de reprovabilidade do comportamento e a inex-
de regras sociais de conduta, é uma ameaça para a pressividade da lesão jurídica provocada.
convivência social e, por isso, deve enfrentar reações 2. Hipótese em que, com os acusados do crime de
de defesa (através das penas). O mesmo pode ser pesca em local interditado pelo órgão competente,
feito com as pessoas jurídicas [...]. Sobre o assunto, não foi apreendido qualquer espécie de pescado, não
a doutrina francesa assim se expressa: ‘a pessoa co- havendo no cia de dano provocado ao meio ambiente,
le va é perfeitamente capaz de vontade, porquanto mostrando-se desproporcional a imposição de sanção
nasce e vive do encontro das vontades individuais penal no caso, pois o resultado jurídico, ou seja, a lesão
de seus membros. A vontade cole va que a anima produzida, mostra-se absolutamente irrelevante.
não é um mito e caracteriza-se, em cada etapa im- 3. Embora a conduta dos pacientes se amolde à pici-
portante de sua vida, pela reunião, pela deliberação dade formal e subje va, ausente no caso a picidade
e pelo voto da assembleia geral dos seus membros material, que consiste na relevância penal da conduta
ou dos Conselhos de Administração, de Gerência ou e do resultado picos em face da significância da
de Direção. Essa vontade cole va é capaz de cometer lesão produzida no bem jurídico tutelado pelo Estado.
crimes tanto quanto a vontade individual’. No que 4. Ordem concedida para, aplicando-se o prin-
tange ao segundo, afirma: “[...] Na legislação penal cípio da insignificância, trancar a Ação Penal
brasileira há três dis ntas formas de punição. A Parte nº 2009.72.00.002143-8, movida em desfavor dos
Geral do Código Penal prevê penas priva vas de liber- pacientes perante a Vara Federal Ambiental de Flo-
dade, restri vas de direitos e multa. Nenhuma delas rianópolis/SC.
deixa de, ao menos indiretamente, a ngir terceiros.
Quando há uma privação da liberdade de um chefe de Também já decidiu a Quinta Turma do STJ, no HC nº
família, sua mulher e filhos se vêem privados daquele 112.840/SP:
que mais contribui no sustento do lar. [...] se a pena
HABEAS CORPUS PREVENTIVO. CRIME CONTRA O
fosse de interdição de direitos (ou de suspensão de
MEIO AMBIENTE. PESCA MEDIANTE A UTILIZAÇÃO
autorização ou habilitação para dirigir veículo). Não
DE APARELHOS, PETRECHOS, TÉCNICAS E MÉTODOS
resta a menor dúvida que um motorista profissional,
NÃO PERMITIDOS (ART. 34, PAR. ÚNICO, II DA LEI
condenado a essa úl ma punição, teria muita dificul- Nº 9.605/1998). PESCA DE, APROXIMADAMENTE,
dade para o sustento da família, a qual acabaria por 2 QUILOGRAMAS DE PEIXES. POSSIBILIDADE DE
ser indiretamente a ngida. O mesmo argumento é APLICAÇÃO, NA ESPÉCIE, DO PRINCÍPIO DA INSIG-
válido para a multa. As penas pecuniárias recaem so- NIFICÂNCIA. PEQUENA QUANTIDADE DE PESCADO
bre o patrimônio de um casal, ainda que só o marido APREENDIDA. SUPOSTO CRIME QUE CONSISTIU NA
tenha sido condenado, e não sua esposa”.16 UTILIZAÇÃO DE UMA REDE SUPERIOR EM APENAS
Finalmente, embora admi ndo a responsabilidade 50 CENTÍMETROS AO LIMITE ESTABELECIDO NA
penal da pessoa jurídica, Shecaira, invocando as lições LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA. INEXISTÊNCIA DE DANO
de João Castro e Sousa, entende que existem requisi- EFETIVO AO MEIO AMBIENTE. PARECER DO MPF
tos a serem preenchidos para o reconhecimento da PELA CONCESSÃO DA ORDEM. ORDEM CONCEDIDA,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

responsabilidade da pessoa jurídica: “Em primeiro PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL MOVIDA CONTRA
lugar a infração individual há de ser pra cada no OS PACIENTES, POR SUPOSTA INFRAÇÃO AO ART.
interesse da pessoa cole va; além disso, a infração 34, PAR. ÚNICO, II DA LEI Nº 9.605/1998.
come da pela pessoa sica deve ser pra cada por 1. O princípio da insignificância, que está diretamente
alguém que se encontre estreitamente ligado à pes- ligado aos postulados da fragmentariedade e inter-
soa cole va; finalmente, a prá ca da infração deve venção mínima do Estado em matéria penal, tem sido
ter o auxílio do poderio da pessoa cole va, pois o que acolhido pelo magistério doutrinário e jurisprudencial
verdadeiramente caracteriza e dis ngue as infrações tanto desta Corte, quanto do colendo Supremo Tribu-
das pessoas cole vas é o poderio que atrás delas se nal Federal, como causa supralegal de picidade. Vale
oculta, resultante da reunião de forças econômicas”.17 dizer, uma conduta que se subsuma perfeitamente ao
modelo abstrato previsto na legislação penal pode vir
a ser considerada a pica por força deste postulado.
15

16
Ibid., p. 24. 2. Entretanto, é imprescindível que a aplicação do re-
Ibid., p. 24.
17
Ibid., p. 25.
ferido princípio se dê de forma prudente e criteriosa,

355
razão pela qual é necessária a presença de certos individualizador da pena deveria desdobrar-se em
elementos, tais como (I) a mínima ofensividade da três fases: (1ª) o juiz fixa a pena de acordo com as
conduta do agente; (II) a ausência total de periculo- circunstâncias judiciais; (2ª) o juiz leva em conta as
sidade social da ação; (III) o ínfimo grau de reprova- circunstâncias agravantes e atenuantes legais; (3ª) o
bilidade do comportamento e (IV) a inexpressividade juiz leva em conta as causas de aumento e de dimi-
da lesão jurídica ocasionada, consoante já assentado nuição de pena.19
pelo colendo Pretório Excelso (HC 84.412/SP, Rel. Primeira fase: incidem as chamadas circunstâncias
Minº CELSO DE MELLO, DJU 19/4/2004). judiciais, aquelas que ficam a cargo da análise dis-
3. Para incidir a norma penal incriminadora, é indispen- cricionária do juiz, diante de determinado agente e
sável que a pesca com equipamentos proibidos possa, das caracterís cas do caso concreto. Justamente pelo
efe vamente, causar risco às espécies ou ao ecossiste- fato de a lei penal reservar ao juiz um considerável
ma; nada disso, todavia, se verifica no caso concreto, arbítrio na valorização das circunstâncias é que se faz
em que dois pescadores, u lizando-se de somente uma necessário fundamentar a fixação da pena-base. As
rede – rede esta considerada ilegal porque superior circunstâncias judiciais são: o grau de culpabilidade,
em 50 cen metros ao limite legalmente estabelecido, antecedentes, conduta social, personalidade, mo vos
como registrado no aresto –, nham re rado da represa do crime, consequências do crime e comportamento
apenas 2 quilogramas de peixes, de espécie diversas. da ví ma. 20
4. Evidente a a picidade material da conduta, pela Segunda fase: entram as circunstâncias genéricas
desnecessidade de movimentar a máquina estatal, agravantes e atenuantes. As primeiras sempre au-
com todas as implicações conhecidas, para apurar mentam a pena, não podendo o juiz deixar de levá-las
conduta desimportante para o Direito Penal, por não em consideração. A enumeração é taxa va, de modo
representar ofensa a qualquer bem jurídico tutelado que, se a circunstância não es ver expressamente
pela Lei Ambiental. prevista como agravante, poderá ser considerada
5. Parecer do MPF pela concessão da ordem. conforme o caso como circunstância judicial. A pre-
6. Ordem concedida para trancar a Ação Penal movida vista no art. 61, I, do CP trata da reincidência. As
contra os pacientes, por suposta infração ao art. 34, previstas no art. 61, II, do CP, só se aplicam aos crimes
parágrafo único, II da Lei nº nº 9.605/1998. dolosos ou preterdolosos. Não se aplicam aos crimes
culposos. Exemplo: o agente lesiona culposamente o
seu cônjuge. Neste caso a agravante do art. 61, II, a,
Análise do Ar go 4º da Lei nº 9.605/1998 do CP não terá incidência. Isto porque o agente não
visa à determinada pessoa, pois não quer o resultado.
Rege o disposi vo em estudo: As previstas no art. 62 do CP só se aplicam no caso
de concurso de agentes. As agravantes nunca podem
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica elevar a pena acima do máximo previsto em lei. São
sempre que sua personalidade for obstáculo ao as seguintes: reincidência, mo vo fú l, mo vo torpe,
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do finalidade de facilitar ou assegurar a execução, ocul-
meio ambiente. tação, impunidade ou vantagem de outro crime, à
traição, emboscada, dissimulação ou qualquer outro
Sobre o assunto nos ensina Fernando Capez: recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido, emprego de veneno, fogo, explosivo, tortu-
O legislador adotou a teoria da desconsideração ra ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
da pessoa jurídica nos casos em que esta possa ser resultar perigo comum, contra ascendente, descen-
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados ao dente, cônjuge ou irmão, com abuso de autoridade
meio ambiente e consequente responsabilização civil ou prevalecendo-se de relações domés cas, de coa-
das pessoas sicas que a compõem.18 bitação ou de hospitalidade, com abuso de poder ou
violação de dever inerente a cargo, o cio, ministério
Da Aplicação da Pena nos Crimes Ambientais ou profissão, contra criança, velho, enfermo ou mu-
lher grávida, quando o ofendido estava sob imedia-
No crime ambiental, o juiz analisará as circunstâncias ta proteção da autoridade, em ocasião de incêndio,
judiciais do art. 59 do CP e as disposições ao art. 6º da Lei naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública
nº 9.605/1998, respeitando desta forma o princípio cons - ou de desgraça par cular do ofendido, em estado de
tucional da individualização da pena. embriaguez preordenada. As agravantes genéricas do
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, art. 62 do CP são as seguintes: reincidência, mo vo
fú l, mo vo torpe, finalidade de facilitar ou assegurar
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a autoridade competente observará:


I – a gravidade do fato, tendo em vista os mo vos da a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de
infração e suas consequências para a saúde pública outro crime, à traição, emboscada, dissimulação ou
e para o meio ambiente; qualquer outro recurso que dificulte ou torne im-
II – os antecedentes do infrator quanto ao cumpri- possível a defesa do ofendido, emprego de veneno,
mento da legislação de interesse ambiental; fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou
III – a situação econômica do infrator, no caso de multa. cruel, ou de que possa resultar perigo comum, con-
tra ascendente, descendente, cônjuge ou irmão, com
Sobre o assunto, magistral é a lição de Capez: abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
domés cas, de coabitação ou de hospitalidade, com
O Código Penal, em seu art. 68, adotou o sistema tri- abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo,
fásico de cálculo da pena, acolhendo, assim, a posição o cio, ministério ou profissão, contra criança, velho,
de Nélson Hungria, que sustentava que o processo
19
Ibid., p. 26.
18 20
Ibid., p. 25. Ibid., p. 26.

356
enfermo ou mulher grávida, quando o ofendido esta- da tenta va, supondo que, após as duas primeiras
va sob imediata proteção da autoridade, em ocasião fases, a pena tenha permanecido no mínimo legal.
de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer cala- Nesse caso, na terceira e úl ma fase, com a redução
midade pública ou de desgraça par cular do ofendi- de 1/3 ou de 2/3, essa pena obrigatoriamente ficará
do, em estado de embriaguez preordenada. As agra- inferior ao mínimo. 24
vantes genéricas do art. 62 do CP são as seguintes:
promover ou organizar a cooperação no crime, dirigir Qualificadoras: só estão previstas na Parte Especial.
a a vidade dos demais, coagir ou induzir outrem à Sua função é a de alterar os limites mínimo e máximo
execução material do crime, ins gar ou determinar a da pena.25
cometer crime alguém que esteja sob sua autoridade Consequência das qualificadoras: elevam os limites
ou não seja punível em virtude de condição ou qua- abstratos da pena priva va de liberdade. Em que fase
lidade pessoal, executar o crime ou dele par cipar da fixação de pena elas entram? Em nenhuma. Ora,
em razão de paga ou promessa de recompensa. 21 se elas apenas alteram os limites de pena, precedem
As atenuantes são aquelas que sempre diminuem a às fases de dosagem dentro desses limites. Assim,
pena. Sua aplicação é obrigatória. Nunca podem re- o juiz, antes de iniciar a primeira fase de fixação de
duzir a pena aquém do mínimo legal. Estão elencadas pena, deve observar se o crime é simples ou qualifi-
no art. 65 do CP. São as seguintes: ser o agente menor cado para saber dentro de quais parâmetros fixará a
de 21 anos na data do fato, ser o agente maior de 70 reprimenda. Exemplo: no furto simples, a pena varia
anos na data da sentença, desconhecimento da lei, de um a quatro anos, e é nesses limites que será
pra car o crime por mo vo de relevante valor social dosada nas três fases; se o furto for qualificado, os
ou moral, ter o agente procurado, por sua espontânea limites passam a ser de dois a oito anos, e é dentro
vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar- destes que a pena será fixada.26
-lhe ou minorar-lhe as consequências, reparação do O art. 6º da Lei nº 9.605/1998 criou mais algumas
dano até o julgamento, pra car o crime sob coação circunstâncias judiciais, que entram na primeira fase,
moral resis vel, obediência de autoridade superior, juntamente com as constantes do art. 59 do CP. Trata-
ou sob influência de violenta emoção provocada por -se de circunstâncias específicas, as quais somente
ato injusto da ví ma, confissão espontânea da autoria têm incidência no caso de crimes previstos na Lei
do crime perante a autoridade, pra car o crime sob Ambiental. Assim, o juiz, para a fixação da pena, le-
influência de mul dão em tumulto, se não o provo- vará em conta as seguintes circunstâncias:
cou. Há ainda as circunstâncias atenuantes inomina- a) a gravidade do fato, tendo em vista os mo vos da
das, as quais não estão especificadas em lei, podendo infração e suas consequências para a saúde pública
ser anteriores ou posteriores ao crime, por exemplo, e para o meio ambiente;
desespero momentâneo em virtude de dificuldade b) os antecedentes do infrator quanto ao cumprimen-
financeira, problemas na família etc. No art. 66 do CP to da legislação de interesse ambiental;
encontra-se a chamada circunstância atenuante ino- c) a situação econômica do infrator, no caso de multa.
minada, a qual, embora não prevista expressamente O art. 79 da Lei Ambiental determina que se aplicam
em lei, pode ser considerada em razão de algum outro subsidiariamente a esta lei as disposições do Código
dado relevante.22 Penal e do Código de Processo Penal. Desse modo,
na primeira fase de aplicação da pena, o juiz, além
Atenção: em nenhuma das duas primeiras fases, o das circunstâncias constantes do art. 59 do CP, deverá
juiz poderá diminuir ou aumentar a pena fora de seus considerar as relacionadas pelo art. 6º desta lei, na
limites legais (cf. Súmula nº 231 do STJ). Ao estabele- qualidade de circunstâncias judiciais específicas.27
cer a pena, deve-se respeitar o princípio da legalida-
de, fazendo-o dentro dos limites legais, como prevê Sobre a pena-base, calculam-se as agravantes e a atenuan-
o art. 59, II, do CP. Aplicadas fora dos limites previstos tes, previstas nos arts. 14 e 15 da Lei dos Crimes Ambientais.
pela lei penal, surge uma subespécie delituosa, com Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
um novo mínimo e um novo máximo. E, mais, cria- I – baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
-se um novo sistema, o das penas indeterminadas.23 II – arrependimento do infrator, manifestado pela
espontânea reparação do dano, ou limitação signifi-
Terceira fase: são as causas de aumento e diminuição ca va da degradação ambiental causada;
genéricas e as específicas, aquelas que aumentam ou III – comunicação prévia pelo agente do perigo imi-
diminuem a pena em proporções predeterminadas, nente de degradação ambiental;
tais como 1/2, 1/3, 1/6, 2/3 etc. Não interessa se IV – colaboração com os agentes encarregados da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

estão previstas na Parte Geral ou na Parte Especial: vigilância e do controle ambiental.


essas causas são levadas em consideração na úl ma Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena,
fase de fixação de pena, nos termos do citado art. quando não cons tuem ou qualificam o crime:
68 do CP. Exemplo: furto simples tentado. A pena do I – reincidência nos crimes de natureza ambiental;
consumado varia de um a quatro anos de reclusão. II – ter o agente come do a infração:
Par ndo do mínimo legal de um ano, o juiz, em uma a) para obter vantagem pecuniária;
primeira fase, consulta o art. 59 do CP para saber se b) coagindo outrem para a execução material da
as circunstâncias são favoráveis ou não ao agente; em infração;
seguida, verifica se há agravantes ou atenuantes; na c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave,
úl ma fase, diminuirá a pena de 1/3 a 2/3 em face a saúde pública ou o meio ambiente;
24
21
Ibid., p. 28.
Ibid., p. 26. 25
22
Ibid., p. 28.
Ibid., p. 27. 26
23
Ibid., p. 28.
Ibid., p. 28. 27
Ibid., p. 29.

357
d) concorrendo para danos à propriedade alheia; Crime doloso, se a pena priva- Crime doloso, se a pena pri-
e) a ngindo áreas de unidades de conservação ou va de liberdade for inferior a vativa for igual ou inferior a
áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime quatro anos. quatro anos.
especial de uso; Circunstâncias judiciais favo- Que o réu não seja reincidente
f) a ngindo áreas urbanas ou quaisquer assenta- ráveis. em crime doloso.
mentos humanos;
g) em período de defeso à fauna; Rege o art. 7º da Lei dos Crimes Ambientais:
h) em domingos ou feriados;
i) à noite; Art. 7º As penas restri vas de direitos são autônomas
j) em épocas de seca ou inundações; e subs tuem as priva vas de liberdade quando:
l) no interior do espaço territorial especialmente I – tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena
protegido; priva va de liberdade inferior a quatro anos;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do condenado, bem como
captura de animais;
os mo vos e as circunstâncias do crime indicarem
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
que a subs tuição seja suficiente para efeitos de
o) mediante abuso do direito de licença, permissão
reprovação e prevenção do crime.
ou autorização ambiental; Parágrafo único. As penas restri vas de direitos a que
p) no interesse de pessoa jurídica man da, total ou se refere este ar go terão a mesma duração da pena
parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por priva va de liberdade subs tuída.
incen vos fiscais;
q) a ngindo espécies ameaçadas, listadas em relató- Sobre o tema, vale a pena trazer à colação os estudos
rios oficiais das autoridades competentes; doutrinários do Professor Fernando Capez:
r) facilitada por funcionário público no exercício de
suas funções. Classificação das penas alterna vas:
a) penas restri vas de direitos;
Sobre o ar go 14 da lei em estudo, Capez entende: b) pena de multa.28

trata-se de atenuantes específicas, as quais entram Classificação das penas alterna vas restri vas de
na segunda fase de fixação da pena, juntamente com direitos:
as genéricas, constantes dos arts. 65 e 66 do CP. Dimi- a) penas restri vas de direitos em sen do estrito;
nuem a pena, porém nunca podem reduzi-la aquém b) penas restri vas de direitos pecuniárias.29
do mínimo legal. A redução fica a critério do juiz.
Penas restri vas de direitos em sen do estrito
Já sobre o ar go 15, Capez diz que Consistem em uma restrição qualquer ao exercício
de uma prerroga va ou direito. São elas:
são circunstâncias específicas, somente aplicáveis a) prestação de serviços à comunidade;
aos crimes previstos nesta Lei, as quais ingressam na b) limitação de fim de semana;
segunda fase de fixação da pena, ao lado das agravan- c) as quatro interdições temporárias de direitos: proi-
tes dos arts. 61 e 62 do CP. Exasperam a pena, porém bição de frequentar determinados lugares; proibição
nunca podem elevá-la acima do máximo previsto do exercício de cargo, função pública ou mandato
em lei. O aumento fixa a critério do juiz. Importante ele vo; proibição do exercício de profissão ou a vi-
dade; e suspensão da habilitação para dirigir veícu-
notar que o inciso I menciona a reincidência nos
lo (entendemos que esta foi ex nta pelo Código de
crimes de natureza ambiental. Nesse caso o agente
Trânsito Brasileiro).30
pra ca infração ambiental após ter sido condenado
por crime ambiental anterior, em sentença transitada Penas restri vas de direitos pecuniárias
em julgado. Para que a reincidência seja aplicada, am- Implicam uma diminuição do patrimônio do agente
bas as infrações devem possuir natureza ambiental, ou uma prestação inominada em favor da ví ma ou
previstas em diversas leis e não necessariamente na seus herdeiros. São elas:
Lei nº 9.605/1998. a) prestação pecuniária em favor da ví ma;
b) prestação inominada;
Deve-se dividir o estudo das penas restri vas de direitos c) perda de bens e valores.31
aplicadas para as pessoas sicas (arts. 7º a 13 da Lei Ambien-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tal) daquelas aplicadas para as pessoas jurídicas. Requisitos para a subs tuição da pena priva va de
O art. 7º prevê os requisitos para aplicação, já o art. 8º liberdade por pena alterna va restri va de direitos
prevê as espécies de penas restri vas de direitos. De acordo com o art. 7º da Lei dos Crimes Ambientais:
Abaixo há quadro compara vo das penas restri vas a) Pena priva va de liberdade aplicada inferior a qua-
de direito (previstas tanto no CP como na Lei dos Crimes tro anos (de acordo com a regra geral, prevista no art.
Ambientais) aplicadas às pessoas sicas. Lembrando que as 44 do CP, cabe a subs tuição se a pena for igual ou
penas restri vas de direito são autônomas e subs tuem as inferior a quatro anos). Na hipótese de condenação
penas priva vas de liberdade. por crime culposo, a subs tuição será possível, inde-
pendentemente da quan dade da pena imposta. Ao
Hipóteses de aplicação de Hipóteses de aplicação de contrário do art. 44 do CP, cabe a subs tuição ainda
pena restri va de direito – Lei pena restritiva de direito –
Ambiental. Código Penal. 28
Ibid., p. 29.
29
Crime culposo, qualquer que Que o crime seja come do sem Ibid., p. 30.
30
Ibid., p. 30.
seja a pena. violência ou grave ameaça. 31
Ibid., p. 30.

358
que o crime tenha sido come do com violência ou adotou o entendimento de que a sentença que aplica
grave ameaça à pessoa. a penalidade por ocasião da audiência preliminar,
b) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta ou a de que cuida o art. 76 da Lei nº 9.099/1995, não é
personalidade ou ainda os mo vos e circunstâncias condenatória nem absolutória, mas homologatória
recomendarem a subs tuição (diferentemente do da transação penal. Desobedecidas as restrições im-
art. 44 do CP, a lei não proibiu o bene cio para o postas, a consequência não será a conversão em pena
reincidente em crime doloso, nem para o reincidente priva va de liberdade, mas a descons tuição do acor-
específico).32 do penal e a remessa dos autos ao Ministério Público
para o oferecimento da denúncia, dando-se início ao
Conversão da pena alterna va em priva va de liber- processo criminal pelas vias normais. (STF, HC 79.572/
dade GO, rel. Min. Marco Aurélio, j. 29/2/2000)34
Anteriormente à Lei nº 9.714/1998, a questão da con-
versão da pena restri va de direitos em priva va de Rege o art. 8º da Lei em estudo:
liberdade estava tratada no art. 45 do CP. Atualmen-
te, de acordo com o § 5º do art. 44, acrescentado Art. 8º As penas restri vas de direito são:
pela nova legislação, sobrevindo condenação a pena I – prestação de serviços à comunidade;
priva va de liberdade por outro crime, o juiz da exe- II – interdição temporária de direitos;
cução decidirá sobre a conversão, podendo deixar III – suspensão parcial ou total de a vidades;
de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir IV – prestação pecuniária;
a pena subs tu va anterior. Dessa forma, haverá a V – recolhimento domiciliar.
conversão da pena restri va de direitos em priva va
de liberdade quando: Prestação de serviços à comunidade ou a en dades
a) durante o cumprimento da pena alterna va, so- públicas
brevier condenação a pena priva va de liberdade.
Trata-se, obrigatoriamente, de decisão transitada Possui as seguintes caracterís cas:
em julgado, por impera vo do princípio do estado a) consiste na atribuição ao condenado de tarefas gra-
de inocência; tuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de con-
b) a novo condenação tornar impossível o cumpri- servação, e, no caso de dano da coisa par cular, pública ou
mento da pena alterna va; tombada, na restauração desta, se possível (cf. art. 9º da Lei
c) o condenado não for encontrado para ser in mado
nº 9.605/1998);
do início do cumprimento da pena;
b) a prestação de serviços à comunidade pela pessoa
d) houver o descumprimento injus ficado da restri-
jurídica consis rá em custeio de programas e de projetos
ção imposta ou quando o condenado pra car falta
ambientais, execução de obras de recuperação de áreas de-
grave.33
gradadas, manutenção de espaços públicos e contribuições
a en dades ambientais ou culturais públicas;
Tempo de cumprimento da pena priva va de liber-
c) a prestação de serviços à comunidade ou a en dades
dade resultante de conversão
públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses
Conver da a pena restri va de direitos em priva va
de privação da liberdade;
de liberdade, será reduzido o tempo em que o con-
d) as tarefas não serão remuneradas, uma vez que se
denado esteve solto, devendo cumprir preso somente
trata do cumprimento da pena principal (LEP, art. 30), e não
o período restante. A lei determina, no entanto, seja
respeitado um saldo mínimo de 30 dias de detenção existe pena remunerada;
ou reclusão, não podendo o agente ficar preso por e) as tarefas serão atribuídas conforme as ap dões do
menos tempo, ainda que restassem menos de 30 dias condenado;
para o cumprimento integral da pena alterna va. Des- f) a carga horária de trabalho consiste em uma hora por
se modo, se, operada a dedução, resultar um período dia de condenação, fixada de modo a não prejudicar a jor-
inferior, o condenado deverá ficar pelo menos 30 dias nada normal de trabalho (CP, art. 46, § 3º);
preso. Tratando-se de prisão simples, não há exigên- g) cabe ao juiz da execução designar a en dade creden-
cia de período mínimo (CP, art. 44, § 4º). De acordo ciada junto à qual o condenado deverá trabalhar (LEP, art.
com a legislação anterior, desprezava-se o tempo de 149, I);
cumprimento da pena restri va, e o agente nha h) a en dade comunicará mensalmente ao juiz da execu-
de cumprir preso todo o período correspondente à ção, mediante relatório circunstanciado, sobre as a vidades
pena aplicada na sentença condenatória, o que era e o aproveitamento do condenado (LEP, art. 150);
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

profundamente injusto. Quanto às penas restri vas i) se a pena subs tuída for superior a um ano, é facultado
pecuniárias, como não existe tempo de cumprimen- ao condenado cumprir a pena subs tu va em tempo inferior
to de pena a ser descontado, o mais justo é que se ao da pena priva va subs tuída (CP, arts. 55 e 46, § 4º), nun-
deduza do tempo de pena priva va de liberdade a ca inferior à metade da pena priva va de liberdade fixada;
ser cumprido o percentual já pago pelo condenado. j) por en dades públicas devemos entender tanto as per-
Assim, se ver pago metade do valor, somente terá tencentes à Administração direta quanto à indireta passíveis
de cumprir preso metade da pena priva va aplicada de serem beneficiadas pela prestação dos serviços. Assim,
na sentença condenatória. Obs.: na hipótese de des- além da própria Administração direta, podem receber a pres-
cumprimento de pena restri va de direitos imposta tação de serviços: as empresas públicas, as sociedades de
em transação penal, nas infrações de competência economia mista, as autarquias, as en dades subvencionadas
dos Juizados Especiais Criminais, o STF, por sua 2ª T., pelo Poder Público.35

32 34
Ibid., p. 30. Ibid., p. 31.
33 35
Ibid., p. 31. Ibid., p. 32.

359
Interdição temporária de direito ob do com o crime (o que for maior). A nosso ver, andou bem
o legislador, uma vez que, se limitasse o valor da prestação
É a proibição de o condenado contratar com o Poder pecuniária ao prejuízo suportado pelo ofendido, estaria in-
Público, de receber incen vos fiscais ou quaisquer outros viabilizando sua aplicação àqueles crimes em que não ocorre
bene cios, bem como de par cipar de licitações, pelo prazo prejuízo, por exemplo, em alguns delitos tentados. O valor
de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, pago será deduzido do montante de eventual condenação
no de crimes culposos (cf. art. 10 da Lei nº 9.605/1998).36 em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários,
o que vale dizer, a fixação da prestação pecuniária não im-
Analisando o ar go 10 da lei em estudo, Capez diz que: pede a futura ação civil reparatória (ac o civilis ex delicto).
Importante notar que, se o juiz atribuir o bene cio da pres-
o parágrafo único do art. 7º desta Lei dispõe que as tação pecuniária a alguma en dade, no lugar da ví ma ou
penas restri vas de direitos terão a mesma duração seus herdeiros, não haverá dedução do valor na futura ação
da pena priva va de liberdade subs tuída. Assim indenizatória, porquanto não coincidentes os beneficiários.
também dispõe o art. 55 do CP. Porém a norma do Admite-se que o pagamento seja feito em ouro, jóias, tulos
art. 10 é especial em relação à geral. Desse modo, se mobiliários e imóveis, em vez de moeda corrente.40
houver a subs tuição da pena restri va de liberdade
pela pena de interdição temporária de direito, esta Analisando o ar go 12 da Lei dos Crimes Ambientais,
terá a duração prevista no art. 10, qual seja, cinco Capez entende que:
anos no caso de crimes dolosos e de três anos, no
de crimes culposos, não sendo, portanto, pelo tempo esse disposi vo assemelha-se ao § 1º do art. 45
da pena restri va de liberdade.37 do CP que assim dispõe: ‘a prestação pecuniária
consiste no pagamento em dinheiro à ví ma, a seus
Suspensão total ou parcial das a vidades dependentes ou à en dade pública ou privada com
des nação social, de importância, fixada pelo juiz,
Trata-se de pena aplicável à pessoa jurídica, dentro da não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior
linha adotada pelo legislador de sua responsabilização penal. a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O
A extensão da paralisação varia de acordo com a gravidade valor pago será deduzido do montante de eventual
do crime e do dano produzido ao meio ambiente.38 condenação em ação de reparação civil, se coinci-
dentes os beneficiários’. O pagamento da prestação
Sobre o ar go 11 da Lei dos Crimes Ambientais, Capez pecuniária poderá ser feito à vista ou em parcelas,
nos ensina que: à ví ma, a seus dependentes ou a en dade pública
ou privada com fim social. O valor é fixado pelo juiz,
a suspensão prevista no ar go pode ser total ou não podendo ser inferior a um salário mínimo, nem
parcial e refere-se às a vidades irregulares. Desse superior a 360 salários mínimos. O Poder Judiciário
modo, empresas que exercem a vidades regulares não pode ser des natário da prestação, pois, apesar
não sofrerão essa sanção. Por exemplo: uma empresa de ter des nação social, não é en dade. O montante
montada para desmatamento, para poluição, pode será fixado livremente pelo juiz, de acordo com o que
sofrer a sanção. Já uma indústria petroleira exerce for suficiente para a reprovação do delito, levando-se
a vidades regulares de refino, distribuição de pe- em conta a capacidade econômica do condenado
tróleo etc.; portanto, exerce uma a vidade regular, e a extensão do prejuízo causado à ví ma ou seus
não podendo ser punida com essa sanção se causar herdeiros. Em hipótese alguma será possível sair dos
danos ambientais acidentalmente.39 valores mínimos e máximos fixados em lei, não se
admi ndo, por exemplo, prestação em valor inferior a
Prestação pecuniária um salário mínimo, nem mesmo em caso de tenta va.
O valor pago será deduzido do montante de eventual
A prestação pecuniária consiste no pagamento em di- condenação em ação de reparação civil; portanto, a
nheiro, à vista ou em parcelas, à ví ma, a seus dependentes fixação de prestação pecuniária não impede a futura
ou à en dade pública ou privada com des nação social, de ação civil reparatória. Importante notar que, se o juiz
importância fixada pelo juiz, não inferior a um nem superior atribuir o bene cio da prestação pecuniária a alguma
a 360 salários mínimos (cf. art. 12 da Lei nº 9.605/1998). O en dade, no lugar da ví ma, ou seus herdeiros, não
Poder Judiciário não pode ser o des natário da prestação, haverá dedução do valor na futura ação indenizatória,
porquanto não coincidentes os beneficiários.41
pois, apesar de ter des nação social, não é en dade. O mon-
tante será fixado livremente pelo juiz, de acordo com o que
O art. 79 da Lei Ambiental determina que se aplicam
for suficiente para a reprovação do delito, levando-se em
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

subsidiariamente as disposições do Código Penal e do Código


conta a capacidade econômica do condenado e a extensão
de Processo Penal. Desse modo entendemos que, apesar de
do prejuízo causado à ví ma ou seus herdeiros. Em hipóte-
a Lei Ambiental não mencionar os dependentes da ví ma,
se alguma será possível sair dos valores mínimo e máximo
estes poderão ser beneficiários da prestação pecuniária, apli-
fixados em lei, não se admi ndo, por exemplo, prestação em
cando-se subsidiariamente o § 1º do art. 45 do CP. Seguindo
valor inferior a uma salário mínimo, nem mesmo em caso
a mesma linha de raciocínio, o valor da prestação pecuniária
de tenta va. Deve-se frisar que o legislador, ao fixar o teto
será deduzido do montante de eventual condenação em re-
máximo da prestação pecuniária em 360 salários mínimos, paração civil se coincidentes os beneficiários.42
seguiu critério diverso daquele que regulamenta a perda de Dis nção entre prestação pecuniária e multa: a mul-
bens e valores (CP, art. 45, § 3º), no qual o limite do valor é ta é sanção cujo valor des na-se ao Fundo Penitenciário,
o total do prejuízo suportado pela ví ma ou o do provento revertendo em favor da cole vidade; o valor da prestação
36
Ibid., p. 33.
37 40
Ibid., p. 36. Ibid., p. 34.
38 41
Ibid., p. 34. Ibid., p. 36.
39 42
Ibid., p. 36. Ibid., p. 37.

360
pecuniária, no entanto, des na-se à ví ma. A multa não I – multa;
pode ser conver da em pena priva va de liberdade, sendo II – restri vas de direitos;
considerada, para fins de execução, dívida de valor (CP, art. III – prestação de serviços à comunidade.
51). A prestação pecuniária, ao contrário, admite conversão As penas restri vas de direitos, no caso, são penas
(CP, art. 44, § 4º).43 principais. As pessoas jurídicas não sofrem penas
priva vas de liberdade. Porém as primeiras são cal-
Recolhimento domiciliar culadas com base nestas.

Trata-se de modalidade de pena priva va de liberdade Capez nos ensina que:


em regime aberto, nas hipóteses do art. 117 da LEP, imposta
ao dirigente ou qualquer outra pessoa sica responsável. a Lei Ambiental estabelece três modalidades de
Tratando-se de pena excessivamente branda, deve ficar re- penas a serem aplicadas à pessoa jurídica: multa,
servada somente às hipóteses de pouca lesividade ou danos pena restri va de direitos e prestação de serviços
de pequena monta. O recolhimento domiciliar baseia-se na à comunidade. Observe que na realidade a pena de
autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, prestação de serviços à comunidade é espécie da
que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou pena restri va de direitos. Elas poderão ser aplicadas
exercer a vidade autorizada, permanecendo recolhido nos isolada, cumula va ou alterna vamente.
dias e horários de folga em residência ou em qualquer local Quanto à multa, será calculada segundo os critérios
des nado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na do Código Penal (art. 18 da Lei nº 9.605/1998) e
sentença condenatória (cf. art. 13 da Lei nº 9.605/1998).44 deverá ser levada em conta a situação econômica
do infrator, conforme dispõe o art. 6º, inciso III, da
Vale a pena mencionar o disposto no ar go 13 da Lei dos Lei em análise.
Crimes Ambientais: Verifica-se, portanto, que o legislador não elaborou
regras próprias para a condenação da pessoa jurídica.
Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na auto- Sérgio Salomão Shecaira observa que melhor seria
disciplina e senso de responsabilidade do condenado, se o legislador houvesse transplantado o sistema de
que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar cur- dias-multa do Código Penal para a legislação prote va
so ou exercer a vidade autorizada, permanecendo do meio ambiente, com as devidas adaptações, de
recolhido nos dias e horários de folga em residência modo a fixar uma unidade específica que correspon-
ou em qualquer local des nado a sua moradia habitu- desse a um dia de faturamento da empresa e não ao
al, conforme estabelecido na sentença condenatória. padrão de dias-multa con dos na Parte Geral do CP.

Ainda sobre o assunto, Capez nos ensina que: Diz o art. 22 da Lei de Crimes Ambientais

essa pena, na realidade, configura uma pena priva va Art. 22. As penas restri vas de direitos da pessoa
de liberdade; porém, o legislador impropriamente a jurídica são:
englobou dentre as penas restri vas de direitos.45 I – suspensão parcial ou total de a vidades;
II – interdição temporária de estabelecimento, obra
Lei Ambiental Código Penal ou a vidade;
Prestação de Serviço à Comu- Prestação de Serviço à Comu- III – proibição de contratar com o Poder Público, bem
nidade – ver art. 8º, I e o art. 9º
nidade – ver arts. 43, IV, e 46, como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
da Lei dos Crimes Ambientais. § 2º ambos do CP. § 1º A suspensão de a vidades será aplicada quan-
Interdição temporária de di- Interdição temporária de di- do estas não es verem obedecendo às disposições
reitos – ver arts. 8º e 10 da Lei
reitos – ver art. 43, inciso legais ou regulamentares, rela vas à proteção do
dos Crimes Ambientais. V, cumulado com o art. 47, meio ambiente.
incisos I, II e IV. § 2º A interdição será aplicada quando o estabe-
Suspensão das a vidades. Ver Sem previsão correspondente. lecimento, obra ou a vidade es ver funcionando
arts. 8º e 11 da Lei dos Crimes sem a devida autorização, ou em desacordo com a
Ambientais. concedida, ou com violação de disposição legal ou
Prestação pecuniária. Ver arts. Prestação pecuniária – Ver regulamentar.
8º, IV e 12 da Lei dos Crimes art. 43, I, e 45, § 1º ambos do § 3º A proibição de contratar com o Poder Público
Ambientais. Código Penal. e dele obter subsídios, subvenções ou doações não
Recolhimento domiciliar. Ver No Código Penal, há a limita- poderá exceder o prazo de dez anos.
arts. 8º, V, e 13 da Lei dos ção de fim de semana – ver
Crimes Ambientais. arts. 43, VI, e 48 ambos do CP. Capez entende que:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Penas Restri vas de Direitos Aplícáveis às as penas restri vas de direitos aplicáveis à pessoa
Pessoas Jurídicas jurídica são a suspensão parcial ou total de a vidades
(a qual será aplicada quando estas não es verem
Nas palavras do Professor Guilherme Nucci: “o art. 21
obedecendo às disposições legais ou regulamentares,
desta Lei não inova em absolutamente em nada”46.
rela vas à proteção do meio ambiente); a interdição
temporária de estabelecimento, obra ou a vidade
Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumula va ou
(que será aplicada quando o estabelecimento, obra
alterna vamente às pessoas jurídicas, de acordo com ou a vidade es ver funcionando sem a devida auto-
o disposto no art. 3º, são: rização, ou em desacordo com a concedida, ou com
43
Ibid., p. 37. violação de disposição legal ou regulamentar); proi-
44
Ibid., p. 35. bição de contratar com o Poder Público, bem como
45
46
Ibid., p. 38. dele obter subsídios, subvenções ou doações (esta
Nucci, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas.
4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 900. proibição não poderá exceder o prazo de 10 anos).

361
Análise do art. 23 da Lei nº 9.605/1998 O Sursis simples previsto no art. 78, § 1º do CP é con-
Diz o disposi vo em tela: cedido quando a pena priva va de liberdade não é superior
a dois anos., sendo que o condenado no primeiro ano do
Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela período de prova, deverá prestar serviços à comunidade, ou
pessoa jurídica consis rá em: submeter-se à limitação de fim de semana.
I – custeio de programas e de projetos ambientais; O Sursis especial previsto no art. 78, § 2º do CP será
II – execução de obras de recuperação de áreas concedido quando a pena não exceder a dois anos, desde
degradadas; que o condenado tenha reparado o dano e as circunstâncias
III – manutenção de espaços públicos; do art. 59 sejam favoráveis.
IV – contribuições a en dades ambientais ou culturais O Sursis etário previsto no art. 77, § 2º do Código Penal
públicas. será concedido quando o condenado for maior de 70 anos à
data da sentença concessiva. A pena não pode ser superior
Na lição de Fernando Capez: a 4 anos, sendo o período de prova (lapso de tempo fixado
pelo juiz durante o qual fica suspensa a execução da pena).
modalidades de prestação de serviços à comunidade: O Sursis humanitário previsto no art. 77, § 2º do Código
custeio de programas e de projetos ambientais; exe- Penal será concedido em virtude do estado de saúde do
cução de obras de recuperação de áreas degradadas; condenado. A pena não poderá ser superior a 4 anos, sendo
manutenção de espaços públicos; contribuições a o período de prova de 4 a 6 anos.
en dades ambientais ou culturais públicas. As espécies de sursis se aplicam à Lei Ambiental, sendo
o cabimento nas condenações até três anos.
Análise do Ar go 24 da Lei nº 9.605/1998 O sursis especial da Lei Ambiental, exige a observância
Rege a norma em comento: de condições relacionadas ao meio ambiente, sendo que
o condenado não fica sujeito às condições do CP, mas às
Art. 24. A pessoa jurídica cons tuída ou u lizada, condições de proteção do meio ambiente.
preponderantemente, com o fim de permi r, facilitar
ou ocultar a prá ca de crime definido nesta Lei terá Sobre o tema, Capez ensina que:
decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio
será considerado instrumento do crime e como tal o sursis está previsto nos arts. 77 a 82 do CP, e, por
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. força do art. 79 da Lei Ambiental, aplica-se aos cri-
mes ambientais; logo, todos os requisitos gerais da
Analisando o ar go em tes lha, Capez diz que: suspensão condicional da pena são também exigidos
para os crimes ambientais.47
caberá também ação civil pública proposta pelo Mi- Consiste em um direito público subje vo do réu de,
nistério Público, com base no art. 1.218, VII, do CPC, preenchidos todos os requisitos legais, ter suspensa
visando à dissolução judicial e ao cancelamento do a execução da pena imposta, durante certo prazo e
registro e atos cons tu vos da pessoa jurídica em mediante determinadas condições.48
questão, se a sua recusa em cooperar implicar em Os requisitos para a obtenção do bene cio são:
ofensa à lei, à moralidade, à segurança e à ordem a) que a pena aplicada seja priva va de liberdade,
pública e social, nos termos do art. 115 da Lei de já que não pode ser concedido nas penas restri vas
Registros Públicos. Nessa mesma hipótese, indepen- de direitos (STF, 1ª T., HC 67.308-RS, j. 4/4/1989, DJU
dentemente de a ação civil pública ser proposta, o 19/5/1989, p. 8441; e RT 731/497) nem nas penas de
Presidente da República poderá determinar a suspen- multa, a teor do art. 80 do CP (RT 631/312);
são temporária das a vidades da empresa que ser b) que a pena aplicada não seja superior a três anos;
recusar a cooperar (cf. Lei nº 9.085/1946). c) impossibilidade de subs tuição por pena restri va
A dissolução da pessoa jurídica é decorrência lógica de direitos: a suspensão condicional é subsidiária em
da liquidação forçada, pois com esta a empresa perde relação à subs tuição da pena priva va de liberdade
seus bens e valores. por restri va de direitos (CP, art. 77, IIII, c.c. o art.
44), pois “só se admite a concessão do sursis quando
Sursis incabível a subs tuição da pena priva va de liberdade
por uma das penas restri vas de direito, conforme
Na definição de Ricardo Andreucci: “A suspensão con- preceitua o art. 77, inciso III, do CP”.
dicional da pena é também conhecida nos meios jurídicos Assim, torna-se obrigatória a subs tuição de penas
pelo nome de sursis, que significa suspensão, permi ndo priva vas de liberdade por uma das restri vas de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

que o condenado não se sujeite à execução da pena priva- direitos, quando o juiz reconhece na sentença as
va de liberdade”. circunstâncias favoráveis do art. 59, bem como as
O Sursis nos crimes ambientais segue as regras do CP, condições dos incisos II e III do art. 44 c.c. seus pará-
observando-se os arts. 16 e 17 da lei em estudo: grafos, todos do CP, caracterizando direito subje vo
do réu (nesse sen do: STJ, 6ª T., Resp 67.570-0-SC,
Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão rel. Min. Adhemar Maciel, unânime, DJU 26/8/1996);
condicional da pena pode ser aplicada nos casos d) condenado não reincidente em crime doloso;
de condenação a pena priva va de liberdade não e) que as circunstâncias judiciais previstas nos arts.
superior a três anos. (Grifo nosso) 59 do CP e 6º, I a III, da Lei nº 9.605/1998, sejam
Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o favoráveis ao agente.49
§ 2º do art. 78 do Código Penal será feita mediante
laudo de reparação do dano ambiental, e as condi- 47
ções a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, p. 40.
48
Ibid., p. 40.
com a proteção ao meio ambiente. 49
Ibid., p. 40.

362
Espécies de sursis: Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios
a) Etário: é aquele em que o condenado é maior de do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que
70 anos à data da sentença concessiva. Nesse caso, aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada
o sursis pode ser concedido desde que a pena não até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem
exceda a quatro anos, aumentando-se, em contrapar- econômica auferida.
da, o período de prova para um mínimo de quatro e
um máximo de seis anos. Com a entrada em vigor da Há uma inovação na Lei Ambiental, o juiz pode mul plicar
Lei nº 9.714/1998, estendeu-se o bene cio também até três vezes, tendo em vista a vantagem econômica auferi-
para os condenados cujo estado de saúde jus fique da pela prá ca do delito contra o meio ambiente.
a suspensão, mantendo-se os mesmo requisitos do Em análise compara va com o art. 60, § 1º do CP, se ve-
sursis etário; rifica que no Estatuto Penal para se aumentar a pena, o juiz
b) Humanitário: é aquele em que o condenado, por leva em conta a situação econômica do réu.
razões de saúde, independentemente de sua idade,
tem direito ao sursis, desde que a pena não exceda a Sobre o tema, o Professor Capez nos ensina que:
quatro anos, aumentando-se, em contrapar da, o pe-
ríodo de prova para um mínimo de quatro e um má- o Código Penal adotou o critério do dia-multa, re-
ximo de seis anos. Foi criado pela Lei nº 9.714/1998. vogando todos os disposi vos que fixavam a pena
Deve ser aplicado para casos de doentes terminais; de multa em valores expressos em cruzeiros. Dessa
c) Simples: é aquele em que, preenchidos os requisi- forma, a Lei das Contravenções Penais passou a ter
tos mencionados, fica o réu sujeito, no primeiro ano suas multas calculadas de acordo com esse novo cri-
de prazo, a uma das condições previstas no art. 78, tério. As leis que possuem critérios próprios para a
§ 1º, do CP (prestação de serviços à comunidade ou pena de multa, como a Lei de Imprensa e a Lei de
limitação de fim de semana); Tóxicos, não foram modificadas pela Parte Geral do
d) Especial: o condenado fica sujeito a condições Código Penal, que só a ngiu as multas com valores
mais brandas, previstas cumula vamente (não po- expressos em cruzeiros. Assim, onde se lia ‘multa de
dem mais ser aplicadas alterna vamente, em face da X cruzeiros’, leia-se apenas ‘multa’. 53
Lei nº 9.268/1996) no art. 78, § 2º, do CP (proibição O valor arrecadado com a multa, sempre que a
de frequentar determinados lugares; de ausentar-se condenação for proveniente da Jus ça Comum, no
da comarca onde reside sem autorização do juiz; e Estado de São Paulo, será rever do em favor do Fun-
comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men- do Penitenciário do Estado de São Paulo – FUNPESP,
salmente, para informar e jus ficar suas a vidades).50 vinculado à Secretaria Estadual da Administração
Penitenciária, criado pela Lei Estadual nº 9.171, de
Sursis especial 31/5/1995, cuja finalidade é a construção, reforma,
Para ficar sujeito a essas condições mais favoráveis, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos
o sentenciado deve, além de preencher os requisitos carcerários, dentre outros aperfeiçoamentos do Sis-
obje vos e subje vos normais, reparar o dano e ter tema Penitenciário.54
as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CP Como calcular o valor? Superando três etapas:
inteiramente favoráveis para si. Dispõe o § 2º do art. a) encontrar o número de dias-multa;
78 do CP: Durante o prazo da suspensão, o condenado
b) encontrar o valor de cada dia-multa;
ficará sujeito à observação e ao cumprimento das
c) mul plicar o número de dias-multa pelo valor de
condições estabelecidas pelo juiz. Se o condenado
cada um deles.55
houver reparado o dano, salvo impossibilidade de
fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Códi-
go lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá Como encontrar o número de dias-multa? A lei fixa
subs tuir a exigência do parágrafo anterior pelas se- um limite mínimo de 10 e um máximo de 360 dias-
guintes condições, aplicadas cumula vamente: -multa. A questão é como situar o número de dias-
a) proibição de frequentar determinados lugares; -multa dentro desses limites. Até a entrada em vigor
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, da Lei nº 9.268/1996, entendíamos que a posição
sem autorização do juiz; mais correta era a segunda (sendo também aceitá-
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, vel a terceira), uma vez que, em caso de conversão,
mensalmente, para informar e jus ficar suas a vi- cada dia-multa corresponderá a um dia de deten-
dades.51 ção. Nesse caso, se fosse adotada a primeira posi-
ção, o número de dias-multa de um condenado eco-
A comprovação da reparação do dano ambiental nomicamente mais favorecido seria superior ao de
deverá ser feita pelo laudo de reparação ambiental um outro menos aquinhoado e, ocorrendo a conver-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

elaborado por autoridades ambientais competentes. são da multa em detenção, o rico ficaria mais tempo
A impossibilidade da reparação também deverá ser preso do que o pobre, não porque vesse come do
comprovada pelo laudo. As condições a serem impos- uma infração mais grave, mas apenas por ser mais
tas pelo juiz poderão ser as previstas nas alíneas a, b rico, o que não nos parece justo. De acordo com a
e c do § 2º do art. 78 do CP e outras que deverão se segunda e terceira posições, o número de dias-mul-
relacionar com a proteção ambiental.52 ta é dosado de acordo com o grau de culpabilidade
de cada agente, não havendo disparidade na hipó-
Cálculo da Pena de Multa tese de uma conversão. Com a alteração legisla va
e a impossibilidade de conversão da multa em pena
O cálculo da pena de multa se faz nos termos do art. 49 priva va de liberdade, acabou o grande argumento
do Código Penal. para dosar o número de dias-multa de acordo com a
50 53
Ibid., p. 41. Ibid., p. 43.
51 54
Ibid., p. 42. Ibid., p. 43.
52 55
Ibid., p. 42. Ibid., p. 43.

363
culpabilidade. Assim, atualmente, entendemos que b) formação de autos apartados, nos quais se fará
somente deve exis r um critério, tanto para o cálcu- e execução;
lo do número de dias-multa quanto para a aferição c) o Ministério Público requer a citação do condena-
do seu valor: o fixado pelo art. 60, caput, do CP, ou do para, dentro do prazo de 10 dias, pagar a multa
seja, principalmente a capacidade econômica de ou nomear bens à penhora;
cada condenado.56 d) decorrido o prazo sem pagamento ou manifes-
Como fixar o valor de cada dia-multa? O valor é fi- tação do executado, o escrivão extrairá uma nova
xado com base no maior salário mínimo vigente ao cer dão, informando detalhadamente sobre o ocor-
tempo da infração penal, variando entre o limite rido;
mínimo de 1/30 até cinco salários mínimos. O juiz e) a cer dão será reme da à Procuradoria Fiscal
situará esse valor dentro dos limites, atendendo do Estado, que se encarregará de promover a exe-
à capacidade econômica do réu, podendo, ainda, cução da multa perante a Vara da Fazenda Pública,
aumentar o valor até o triplo, se entendê-lo insufi- nos termos do procedimento previsto na legislação
ciente e ineficaz em face da situação financeira do tributária.61
acusado.57
Como a lei manda tomar por base o valor do salário Obs.: além de entender que a atribuição para a co-
mínimo vigente na data do fato (princípio da ante- brança da multa não é mais do Ministério Público, o
rioridade da pena), por equidade também determi- STJ afirma que tal execução compete à Procuradoria
na a sua atualização de acordo com os índices de da Fazenda Estadual, quando a condenação provier
correção monetária, incidentes a par r da data do da Jus ça Comum, e não à da Fazenda Nacional, a
fato.58 qual só terá atribuição quando a multa penal ver
sido imposta pela Jus ça Federal (Confl. de Atrib.
Execução da multa nº 105, Paraíba, 1ª Seção, rela. Ministra Eliana Cal-
Com o advento da Lei nº 9.268/1996 foram introdu- mon, j. 18/12/2000, DJU 5/3/2001).62
zidas as seguintes modificações na legislação penal:
a) não existe mais conversão da pena de multa em A perícia de constatação do dano ambiental deter-
mina quais os danos ocorridos, a possibilidade de
detenção;
reparação e o valor do prejuízo causado.63
b) a atribuição para a execução da multa passa a ser
O parágrafo único do disposi vo sob comentário pre-
da Fazenda Pública (Procuradoria Fiscal), deixando
vê a possibilidade da u lização da prova emprestada,
de ser do Ministério Público (a execução da pena de
desde que respeitada a garan a do contraditório.64
multa perde seu caráter penal, devendo o seu valor
ser inscrito como dívida a va do Estado); Sentença Penal nos Crimes Ambientais
c) transitada em julgado a condenação, o juiz da exe-
cução criminal manda in mar o sentenciado para A Lei dos Crimes Ambientais já adotava a atual orientação
pagamento da multa no prazo de 10 dias. Superado que rege o processo penal moderno, no tocante à fixação
esse prazo, não havendo o pagamento, será extraída pelo juiz, da indenização causada pelo crime . O magistrado,
uma cer dão circunstanciada, contendo informes ao prolatar a sentença, poderá arbitrar valor mínimo a tulo
sobre a condenação e a multa, que será reme da à de reparação dos danos ambientais provocados pelo delito.
Fazenda Pública;
d) a competência será da Vara da Fazenda Pública e Rege o art. 20 da Lei dos Crimes Ambientais
não mais das execuções criminais; Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que
e) os prazos prescricionais para a execução da mul- possível, fixará o valor mínimo para reparação dos
ta, bem como as causas interrup vas e suspensivas danos causados pela infração, considerando os pre-
da prescrição, passam a ser os previstos na Lei nº juízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal) e no Código Tri- Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença
butário Nacional. A prescrição, portanto, ocorrerá condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo
em cinco anos (CTN, art. 174, caput); valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da
f) o procedimento para a execução será também o liquidação para apuração do dano efetivamente
previsto na legislação tributária.59 sofrido. (Grifo Nosso)
A lei nova é mais benéfica do que a legislação ante- Capez professa:
rior e, por isso, tem efeito retroa vo, favorecendo
todos aqueles que, em face da conversão, estejam o juiz, sempre que possível, deverá fixar na sentença
cumprindo pena deten va. Foi derrogado o art. 85 penal condenatória o quantum mínimo para a repara-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

da Lei dos Juizados Especiais Criminais na parte em ção do dano causado. Para a fixação do valor, deverá
que permi a a conversão da multa em pena priva - levar em conta os prejuízos sofridos pelo ofendido
va de liberdade.60 ou pelo meio ambiente. Após o trânsito em julgado
a sentença cons tui um tulo execu vo judicial, que
Procedimento previsto para execução da pena de será executado no juízo cível.
multa
Envolve as seguintes fases: Perícia nos Crimes Ambientais
a) extração de cer dão da sentença condenatória,
após o trânsito em julgado; Segundo o art. 19 da Lei, a perícia ambiental deverá
fixar o valor montante do prejuízo, sempre que possível.
56
Ibid., p. 43.
57 61
Ibid., p. 44. Ibid., p. 45.
58 62
Ibid., p. 44. Ibid., p. 45.
59 63
Ibid., p. 44. Ibid., p. 46.
60 64
Ibid., p. 45. Ibid., p. 46.

364
O valor será considerado, inclusive, no cálculo da fiança. Este era o panorama jurídico vigente até o surgimento
Para se verificar a vantagem conquistada com a prá ca do da Lei nº 10.259, de 12/7/2001, que entrou em vigor
delito ambiental, além do dano causado ao meio ambiente, após seu período de vaca o legis de seis meses, e que
é necessária a realização de perícia. ins tuiu os Juizados Especiais Criminais no âmbito
Na lição do Professor Guilherme Nucci, da Jus ça Federal. O art. 2º, parágrafo único, desta
Lei, estabelece: ‘Consideram-se infrações de menor
os crimes que deixam ves gios materiais devem redun- potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os cri-
dar na elaboração do laudo pericial, para a formação mes a que a lei comine pena máxima não superior a
da materialidade (prova de sua existência), conforme dois anos, ou multa’. Surgiram, então, as seguintes
prevê o art. 159 do CPP. [...] Em regra, os crimes contra modificações: aumentou-se o máximo cominado da
o meio ambiente são capazes de deixar ves gios [...] pena priva va de liberdade de um para dois anos;
mo vo pelo qual o art. 19 da Lei nº 9605/1998 faz re- não existe mais a circunstância especial impedi va do
ferência à perícia de constatação de dano ambiental65. procedimento especial, estando alcançadas todas as
infrações penais. Tais mudanças refletem não apenas
Dispõe o art. 19: nas infrações de competência dos Juizados Federais,
A perícia de constatação do dano ambiental, sempre mas também nos estaduais, provocando, por conse-
que possível, fixará o montante do prejuízo causado guinte, uma releitura do art. 61 da Lei nº 9.099/1995.
para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa. Com efeito, surgiu uma nova definição jurídica do que
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil venha a ser infração de menor potencial ofensivo,
ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo não sendo possível manter dois conceitos diversos
penal, instaurando-se o contraditório. desta expressão, um para as Jus ças Estaduais e
outro para a Jus ça Federal. A uma, porque a legis-
Prova emprestada – É aquela que migra de um processo lação inferior não pode dar duas definições diferen-
a outro, com as mesmas partes. O parágrafo único permite a tes para o mesmo conceito previsto no art. 98, I, do
u lização da prova produzida no processo ou inquérito civil Texto Cons tucional; a duas, porque o tratamento
no processo penal, desde que seja garan do o contraditório. diferenciado importaria em ofensa ao princípio da
Requisito para se u lizar a prova emprestada: que as partes proporcionalidade. Desta maneira, em qualquer Jui-
dos processos sejam as mesmas (princípio do contraditório). zado Especial Criminal, seja de âmbito comum, seja
de âmbito federal, os chamados crimes de menor
Questões Processuais da Lei potencial ofensivo passam a seguir a definição do art.
2º, parágrafo único, da nova lei. Interpretação diversa
A Transação Penal e Suspensão Condicional do Processo levaria a diversidade de tratamento para situações
nos Crimes Ambientais assemelhadas, ferindo a ordem cons tucional. ‘As-
Juntamente com a exigência de representação em deter- sim, o crime de abuso de autoridade, previsto na Lei
minados crimes e a composição civil, a transação penal e o nº 4.898/1965, por ter rito processual especial, não
Sursis processual são medidas despenalizadoras previstas na é de competência do Juizado Especial Criminal. Apli-
Lei dos Juizados Especiais Criminais. cada literalmente a lei nova, teríamos as seguintes
Na Lei Ambiental, o autor do fato só terá direito à tran- consequências, dependendo da qualificação jurídica
sação, caso tenha feito a composição do dano ambiental. do autor: 1ª) crime de competência da Jus ça Fe-
Os requisitos para a transação: são todos os previstos no deral: Juizado Especial Criminal da Jus ça Federal;
art. 76 da Lei nº 9.099/1995, aliados a composição civil do 2ª) delito de competência da Jus ça Comum: Juizado
dano ambiental. É o que dispõe o art. 27 da lei em estudo: Especial Criminal da Jus ça Estadual.’ No tocante às
contravenções penais, a mencionada Lei nada fala,
Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial até porque, nos termos da Súmula nº 38 do STJ, tais
ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena infrações são de competência da Jus ça Comum. No
restri va de direitos ou multa, prevista no art. 76 da entanto, não se pode admi r que os crimes sejam
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente todos de competência dos Juizados, tenham ou não
poderá ser formulada desde que tenha havido a procedimento especial, enquanto as contravenções
prévia composição do dano ambiental, de que trata sofrem com tal limitação. Seria ilógico o admi r que
o art. 74 da mesma Lei, salvo em caso de comprovada um crime com pena de até dois anos, para o qual se
impossibilidade. (Grifo nosso) prevê procedimento especial, seja de competência
dos Juizados Criminais, e negar tal bene cio a uma
Acerca da transação penal e das medidas despenalizado- contravenção que tenha procedimento diverso do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ras, o Professor Fernando Capez nos ensina que: previsto no Código de Processo Penal. À vista disto,
o parágrafo único do art. 2º da Lei nº 10.259/2001
o procedimento de jurisdição consensual incide so- modificou a redação do art. 61 da Lei nº 9.099/1995,
bre as chamada infrações de menor potencial ofen- passando a cons tuir infrações de menor potencial
sivo, cuja definição vem descrita no art. 61 da Lei nº ofensivo, em qualquer âmbito, estadual ou federal:66
9.099/1995. Eram consideradas infrações penais de • todos os crimes a que lei comine pena priva va de
menor potencial ofensivo as contravenções penais e liberdade igual ou inferior a dois anos, tenham ou não
os crimes que a lei cominasse pena máxima de reclu- procedimento especial;67
são ou detenção igual ou inferior a um ano, desde que • todas as contravenções penais, tenham ou não
não previsto procedimento especial. Previsto o pro- procedimento especial. Além disso, o procedimento
cedimento especial, estava presente circunstância es- dos Juizados não terá aplicação se concorrer algum
pecial impedi va do procedimento consensual da lei. fato que desloque a causa para o juízo comum, por
66
65
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, 3, p. 54.
67
4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 898. Ibid., p. 56.

365
exemplo, o foro por prerroga va de função, conexão penal pública incondicionada, ou ser efetuada repre-
ou con nência com crime de competência da juris- sentação nos casos de ação penal pública condiciona-
dição comum, impossibilidade de citação pessoal do da; não ter sido o agente beneficiado anteriormente,
autuado, ou, ainda, diante de uma eventual e grande no prazo de cinco anos, pela transação; não ter sido
complexidade da causa.68 o autor da infração condenado por sentença defi-
ni va com trânsito em julgado a pena priva va de
Audiência preliminar liberdade (reclusão, detenção e prisão simples); não
Composição civil dos danos e transação penal. A audi- ser caso de arquivamento do termo circunstanciado;
ência preliminar precede ao procedimento sumaríssi- circunstâncias judiciais do art. 59 do CP favoráveis;
mo, cuja instauração depende do que nela for decidi- formulação da proposta pelo Ministério Público e
do. Des na-se à conciliação tanto cível quanto penal, aceita por parte do autor da infração e do defensor
estando presentes Ministério Público, autor, ví ma (cons tuído, da vo ou público).71
e juiz. A conciliação é gênero, do qual são espécies De acordo com o art. 27 da Lei nº 9.605/9198, nos
a composição e a transação. A composição refere- crimes ambientais, a proposta de aplicação imediata
-se aos danos de natureza civil e integra a primeira de pena restri va de direitos ou multa, prevista no
fase do procedimento; a segunda fase compreende a art. 76 da lei nº 9.099, de 26/9/1995, somente po-
transação penal, isto é, o acordo penal entre o Minis- derá ser formulada desde que tenha havido a prévia
tério Público e o autor do fato, pelo qual é proposta composição do dano ambiental, de que trata o art.
a este uma pena não priva va de liberdade, ficando 74 da mesmo lei, salvo em caso de comprovada im-
dispensado dos riscos de uma pena de reclusão ou possibilidade.72
detenção, que poderia ser imposta em uma futura
sentença, e, o que é mais importante, do vexame de A prévia composição é entendida como o compromisso
ter de se submeter a um processo criminal es gma- a reparar o dano ambiental.
zante e traumá co.69 Segundo a Lei nº 9.099, o sursis processual é cabível nos
crimes cuja pena mínima não seja superior a um ano. O art.
Composição dos danos civis (1ª fase) 28 da Lei em tes lha diz que:
O Ministério Público não entra nessa fase, a não
ser que o ofendido seja incapaz. A composição dos Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de
danos civis somente é possível nas infrações que 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de
acarretem prejuízos a virtuais ví mas. Os danos po- menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as
dem ser tanto morais quanto materiais. Acordada a seguintes modificações [...]
composição, será ela homologada pelo juiz togado, e I – a declaração de ex nção de punibilidade, de que
tornada irrecorrível. Terá eficácia de tulo execu vo trata o § 5º do ar go referido no caput, dependerá
a ser executado no juízo cível competente; sendo o de laudo de constatação de reparação do dano
valor até 40 vezes o salário mínimo, executa-se no ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no
próprio Juizado Especial Cível. O acordo homologado, inciso I do § 1º do mesmo ar go;
tratando-se de ação penal de inicia va privada ou II – na hipótese de o laudo de constatação com-
pública condicionada, acarreta a renúncia ao direito provar não ter sido completa a reparação, o prazo
de queixa ou de representação, ex nguindo-se, por de suspensão do processo será prorrogado, até o
conseguinte, a punibilidade do agente. Os crimes de período máximo previsto no ar go referido no caput,
lesão corporal culposa e leve, segundo o art. 88 da acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo
Lei nº 9.099/1995, dependem de representação, de da prescrição;
tal sorte que, se não vier a ser oferecida, a conse- III – no período de prorrogação, não se aplicarão as
quência é a mesma referida acima. Mostrando-se condições dos incisos II, III e IV do § 1º do ar go men-
inviabilizado o acordo, será oferecida representação cionado no caput; (nota do professor – leia-se art. 89)
verbal no momento da audiência. Não o fazendo, IV – findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á
não há falar em decadência, desde que respeitado o à lavratura de novo laudo de constatação de repa-
art. 38 do CPP, que trata do prazo decadencial para o ração do dano ambiental, podendo, conforme seu
oferecimento da aludida representação; o direito de
resultado, ser novamente prorrogado o período de
representação não se esgota na audiência. Exceção:
suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste
caso o ofendido seja menor de 18 anos, o direito de
ar go, observado o disposto no inciso III;
representação será exercido pelo seu representante
V – esgotado o prazo máximo de prorrogação, a de-
legal, e, caso este não o faça, após a ngir a maiori-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

claração de ex nção de punibilidade dependerá de


dade penal, poderá fazê-lo no prazo de seis meses
laudo de constatação que comprove ter o acusado
(Súmula nº 594 do STF).70
tomado as providências necessárias à reparação
integral do dano.
Transação penal (2ª fase)
A transação penal ocorrerá entre o promotor e o
Nos delitos ambientais, para que o juiz se pronuncie
autor do fato, e consiste na faculdade de dispor da
pela ex nção da punibilidade, exige-se a elaboração de um
ação penal, de não promovê-la sob certas condições.
Esse ins tuto vem a atenuar o princípio da obriga- laudo de constatação da reparação do dano ambiental. Se o
toriedade na propositura da ação penal pública pelo réu demonstrar que não tem condições de reparar o dano,
Ministério Público. Pressupostos: tratar-se de ação cumpridos os demais requisitos da suspensão condicional do
processo, o juiz declarará ex nta a punibilidade.
68
Ibid., p. 56.
69 71
Ibid., p. 56. Ibid., p. 57.
70 72
Ibid., p. 56. Ibid., p. 57.

366
O Professor Capez acerca do tema nos ensina: O art. 26 da Lei nº 9605/1998 diz que todas as infrações
penais previstas em tal lei, são de ação penal pública incon-
o art. 89 da Lei nº 9.099/1995 prevê a possibilidade dicionada.
de o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
propor a suspensão condicional do processo, por Competência
dois a quatro anos, em crimes cuja pena mínima
cominada seja igual ou inferior a um ano, abrangidos A jurisprudência do STF e do STJ entende que a proteção
ou não por esta lei, desde que o acusado preencha as do meio ambiente é competência comum da União, dos
seguintes exigências: não esteja sendo processado ou Estados, do DF e dos Municípios, e como não há disposi vo
não tenha sido condenado por outro crime; estejam cons tucional ou legal que estabelece qual a Jus ça é com-
presentes os demais requisitos que autorizariam a petente, logo, os crimes ambientais seguem a regra geral,
suspensão condicional da pena (art. 77 do CP). Cum- ou seja, são de competência da Jus ça Estadual. Só serão
pridas as condições impostas (reparação do dano, da competência da Jus ça Federal (art. 109, inciso IV, CRFB)
proibição de frequentar lugares e de se ausentar da os crimes pra cados em detrimento de bens, serviços ou
comarca sem autorização do juiz e comparecimento interesse direto da União ou de suas en dades autárquicas
mensal obrigatório ao juízo) durante o prazo de sus- ou empresas públicas.
pensão, a punibilidade será declarada ex nta (art. 89, A Súmula nº 91 do STJ que dispunha ser competência da
§ 5º, da Lei nº 9.099/1995). A inicia va para propor Jus ça Federal o julgamento de crimes pra cados contra a
a suspensão condicional do processo é uma facul- fauna foi cancelada em 2000. O crime ambiental pra cado
dade exclusiva do Ministério Público, a quem cabe em área de preservação permanente: em regra, é a Jus ça
promover priva vamente a ação penal pública (CF, Estadual a competente.
art. 129, I), não podendo o juiz da causa subs tuir-se Outra hipótese de julgamento pela Jus ça Federal: se o
a este, do mesmo modo que descabe ao magistrado, autor do crime ver prerroga va de função na Jus ça Fede-
ante a recusa fundamentada do Ministério Público ral. Deve ser lembrada a hipótese do inciso V do art. 109 da
em requerer a suspensão condicional do processo, o
CF que diz compe r à Jus ça Federal o processo e julgamento
exercício de tal faculdade, visto que não se trata de
dos crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
direito subje vo do réu, mas de ato discricionário
do Parquet. Na hipótese de o Promotor de Jus ça quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
recusar-se a fazer a proposta, o juiz, verificando devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.
presentes os requisitos obje vos para a suspensão do O art. 225, § 4º, CF diz que “A Floresta Amazônica
processo, deverá encaminhar os autos ao Procurador- brasileira, a Mata Atlân ca, a Serra do Mar, o Pantanal
-Geral de Jus ça para que este se pronuncie sobre o Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional,
oferecimento ou não da proposta. e sua u lização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições
De acordo com o art. 28 da Lei nº 9.605/1998, que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
as disposições do art. 89 da Lei nº 9.099/1995 quanto ao uso dos recursos naturais”. Patrimônio nacional
aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo não é o mesmo que patrimônio da União. Portanto, a com-
definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: petência con nua da Jus ça Estadual. Assim decidiu o STF
a punibilidade somente poderá ser ex nta, após a no Recurso Extraordinário 300.244 (1ª Turma):
juntada de laudo de constatação de reparação do
dano ambiental. EMENTA: Competência. Crime previsto no art. 46,
Na hipótese de o laudo de constatação compro- parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998. Depósito de
var não ter sido completa a reparação, o prazo de madeira na va proveniente da Mata Atlân ca. Ar go
suspensão do processo será prorrogado por até 225, § 4º, da Cons tuição Federal. – Não é a Mata
cinco anos, suspendendo-se a prescrição. Durante a Atlân ca, que integra o patrimônio nacional a que
prorrogação, não se aplicarão as condições impostas alude o art. 225, § 4º, da Cons tuição Federal, bem
para a suspensão do processo. Finda a prorrogação, da União. – Por outro lado, o interesse da União para
será feito novo laudo de constatação e, dependendo que ocorra a competência da Jus ça Federal prevista
do seu resultado, o período poderá ser novamente no art. 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e
prorrogado por igual prazo. Esgotado o prazo má- específico, e não, como ocorre no caso, interesse
ximo de prorrogação, a declaração de ex nção de genérico da cole vidade, embora aí também incluído
punibilidade dependerá de laudo de constatação genericamente o interesse da União. – Consequente-
que comprove ter o acusado tomado as providências mente, a competência, no caso, é da Jus ça Comum
necessárias à reparação integral do dano. estadual. Recurso extraordinário não conhecido.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Ação Penal Quando houver interesse genérico da cole vidade a


competência é da Jus ça Estadual. Mesmo quando o crime
Rege o art. 26 da lei em estudo: for come do em área fiscalizada pelo Ibama ou qualquer
outro órgão federal a competência é da Jus ça estadual.
Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal Assim decidiu a 6ª Turma do STJ no HC 38.649/SC:
é pública incondicionada.
HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. COMPETÊN-
Sobre o assunto nos ensina o Professor Fernando Capez: CIA. JUSTIÇA FEDERAL. NECESSIDADE DE DEMONS-
TRAÇÃO DE INTERESSE DIRETO DA UNIÃO. APA DO
A ação penal é promovida exclusivamente pelo ANHATOMIRIM. DECRETO Nº 528/1992. CRIME PRA-
Ministério Público, independentemente da vontade TICADO PRÓXIMO À APA. NORMAS DO CONAMA.
ou interferência de quem quer que seja, bastando, FISCALIZAÇÃO PELO IBAMA. FALTA DE INTERESSE
para tanto, que concorram as condições da ação e os DIRETO DA AUTARQUIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
pressupostos processuais. ESTADUAL. ANULAÇÃO DO PROCESSO. PRESCRIÇÃO.

367
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA Jus ça Federal processar e julgar os crimes polí cos
1. A par r da edição da Lei nº 9.605/1998, os delitos e as infrações penais pra cadas em detrimento de
contra o meio ambiente passaram a ter disciplina bens, serviços ou interesse da União ou de suas en -
própria, não se definindo, contudo, a Jus ça com- dades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
petente para conhecer das respec vas ações penais, contravenções penais de qualquer natureza (CF, art.
certamente em decorrência do con do nos arts. 23 109, IV). Compete à Jus ça Estadual processar e julgar
e 24 da Cons tuição Federal, que estabelecem ser tudo o que não for de competência das jurisdições
da competência comum da União, Estados, Distrito especiais e federal (competência residual).73
Federal e Municípios proteger o meio ambiente,
preservando a fauna, bem como legislar concorren- Em regra, as infrações contra o meio ambiente são de
temente sobre essa matéria. competência da Jus ça Comum Estadual. Se pra ca-
2. Impõe-se a verificação de ser o delito pra cado em das em detrimento de bens, serviços ou interesse da
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou União ou de suas en dades autárquicas ou empre-
de suas en dades autárquicas ou empresas públicas, sas públicas, excluídas as contravenções penais de
a teor do disposto no art. 109, IV, da Carta Magna, de qualquer natureza, serão de competência da Jus ça
forma a firmar ou não a competência da Jus ça Federal. Federal.74
3. A APA do Anhatomirim foi criada pelo Decreto
nº 528, de 20 de maio de 1992, evidenciando o inte- Compe a à Jus ça Federal processar e julgar os cri-
resse federal que a envolve, não havendo dúvida de mes pra cados contra a fauna, nos termos da Súmula
que, se es vesse dentro da APA a construção, seria 91 do STJ. Ocorre que o STJ deliberou pelo cancela-
da Jus ça Federal a competência para julgar o crime mento da referida súmula, passando tais crimes para
ambiental, independentemente de ser o Ibama o a competência, em regra, da Jus ça Comum Estadual,
responsável pela administração e fiscalização da área. excetuando-se apenas quando o fato a ngir bens e
4. A proximidade da APA, por si só, não serve para interesses da União, por exemplo, no caso de pesca
determinar o interesse da União, visto que o De- ilegal no mar territorial brasileiro. Outros exemplos:
creto nº 99.274/1990 estabelece tão-somente que crime pra cado a ngindo a fauna de um Parque
a a vidade que possa causar dano na área situada Nacional (há interesse da União) compete à Jus ça
num raio de 10 km da Unidade de Conservação ficará Federal; a ngindo a fauna de um Parque Estadual, a
sujeita às normas editadas pelo Conama, o que não competência será da Jus ça Estadual; pesca preda-
significa que a referida área será tratada como a pró- tória pra cada em mar territorial, em rio federal, em
pria Unidade de Conservação, tampouco que haverá lagos de interesse da União, em Unidades de Con-
interesse direto da União sobre ela. servação da União: competência da Jus ça Federal.
5. O fato de o Ibama ser responsável pela administra- Nas áreas em que não houver interesse da União, a
ção e a fiscalização da APA, conforme entendimento competência será da Jus ça Estadual; lavra de recur-
desta Corte Superior, não atrai, por si só, a competên- sos minerais, inclusive os do subsolo: competência da
cia da Jus ça Federal, notadamente no caso, em que Jus ça Federal (CF, art. 20, IX); crimes contra o orde-
a edificação foi erguida fora da APA, sendo cancelado namento urbano e contra a Administração Ambiental:
o enunciado nº 91/STJ, que dispunha que “compete à se a ngirem interesses, bens e serviços da União são
Jus ça Federal processar e julgar os crimes pra cados de competência da Jus ça Federal (exemplo: Museu
contra a fauna”. Nacional do Rio de Janeiro).75
6. Não sendo o crime de que aqui se trata pra cado
em detrimento de bens, serviços ou interesse direto Da Apreensão do Produto e do Instrumento de
da União ou de suas en dades autárquicas ou empre-
sas públicas, inexiste razão para que a respec va ação Infração
penal vesse tramitado perante a Jus ça Federal.
7. Restando anulado o processo, e considerando Administra va ou de Crime
que a sanção que venha a ser imposta ao paciente,
pelo delito em exame, não poderá ultrapassar 1 ano Rege o ar go 25 da lei em estudo:
e 4 meses, sanção aplicada na sentença ora anulada,
constata-se ter ocorrido a prescrição da pretensão Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus
puni va, em razão do decurso de mais de quatro anos produtos e instrumentos, lavrando-se os respec vos
desde a data do fato, 3/12/1998, com base no art. 109, autos.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

V, c/c o art. 110, § 1º, os dois do Código Penal. § 1º Os animais serão libertados em seu habitat ou
8. Ordem concedida, declarando-se, de o cio, ex nta entregues a jardins zoológicos, fundações ou en da-
a punibilidade. des assemelhadas, desde que fiquem sob a respon-
sabilidade de técnicos habilitados.
Competência é a delimitação do poder jurisdicional, § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madei-
fixa os limites dentro dos quais o juiz pode prestar ras, serão estes avaliados e doados a ins tuições
jurisdição. O art. 69 e incisos do CPP dispõem que cien ficas, hospitalares, penais e outras com fins
a competência se determina: pelo lugar da infração beneficentes.
ou pelo domicílio do réu (ra one loci), pela natureza § 3º Os produtos e subprodutos da fauna não pe-
da infração (ra one materiae) e pela prerroga va de recíveis serão destruídos ou doados a ins tuições
função (ra one personae). Para a fixação da compe- cien ficas, culturais ou educacionais.
tência ra one materiae importa verificar se o julga- 73
Ibid., p. 53.
mento compete à jurisdição comum (Jus ça Estadual 74
Ibid., p. 53.
ou Jus ça Federal) ou jurisdição especial. Compete à 75
Ibid., p. 53.

368
§ 4º Os instrumentos u lizados na prá ca da infração de determinados crimes e em hipóteses específicas,
serão vendidos, garan da a sua descaracterização por devendo ser mo vadamente declarados na sentença
meio da reciclagem condenatória. Não são, portanto, automá cos nem
ocorrem em qualquer hipótese.77
Analisando o disposi vo, o nobre doutrinando Fernando
Capez nos ensina que: “Dentre os efeitos secundários extrapenais genéricos
encontram-se:
Nossa legislação prevê as seguintes medidas confis- a) O confisco pela União dos instrumentos do crime,
catórias: desde que seu uso, porte, detenção, alienação ou
fabrico cons tuam fato ilícito. Instrumentos do crime
a) CPP, art. 240, § 1º, b: medida cautelar de busca e (instrumenta sceleris) são os objetos u lizados pelo
apreensão domiciliar do produto do crime (vanta- agente na realização da infração administra va ou
gem direta ob da com a prá ca da infração penal; penal. Podemos citar como exemplo de instrumentos
exemplo: o carro roubado), determinada no inquérito as armas u lizadas para a caça, os petrechos de pesca
policial ou no processo penal pelo juiz; etc., quando sua prá ca cons tui crime. A perda dos
b) CPP, art. 240, § 1º, d: busca e apreensão de armas instrumentos do crime é automá ca, decorrendo do
e instrumentos do crime; trânsito em julgado da sentença condenatória. Disso
c) CPP, art. 125: medida cautelar de sequestro (na resulta que é incabível o confisco em estudo quando
verdade, um misto de arresto e sequestro) de bens celebrada a transação penal prevista no art. 74 da Lei
imóveis adquiridos como proveito do crime (vanta- nº 9.099/1995, uma vez que a natureza jurídica do
gem indireta ob da com a prá ca da infração penal; ato decisório é de mera sentença homologatória. Da
exemplo: o dinheiro ob do com a venda do carro mesma forma, não cabe falar em confisco dos instru-
roubado); mentos do crime na hipótese de arquivamento, ab-
d) CPP, art. 132: medida cautelar de sequestro (tam- solvição ou ex nção da punibilidade pela prescrição
bém é um misto de arresto e sequestro) de bens mó- da pretensão puni va. Cumpre, finalmente, dizer que
veis adquiridos como proveito do crime; o confisco não se confunde com a medida processual
e) CPP, art. 134: pedido de inscrição da hipoteca legal de apreensão. Esta, na realidade, é pressuposto da-
de bens imóveis de origem lícita (não são proveito do quele. A apreensão dos instrumentos e de todos os
crime, mas bens lícitos, regulares do acusado) visan- objetos que verem relação com o crime deve ser
do à futura reparação do dano cível ou à decretação determinada pela autoridade policial (CPP, art. 6º).
futura da pena de perda de bens e valores; b) Confisco pela União do produto e do proveito do
f) CPP, art. 137: pedido de arresto de bens móveis crime: produto é a vantagem direta auferida pela prá-
de origem lícita, visando à futura reparação do dano ca do crime (exemplo: o relógio furtado); proveito
ou a imposição da pena de perda de bens e valores; é a vantagem decorrente do produto (exemplo: o
g) CP, art. 91, I: tornar certa a obrigação de reparar dinheiro ob do com a venda do relógio furtado). Na
o dano; realidade, o produto do crime deverá ser res tuído
h) CP, art. 91, II, a: perda para a União dos instru- ao lesado ou ao terceiro de boa-fé, somente se, re-
mentos do crime, cujo porte, detenção, alienação alizado o confisco pela União, permanecer ignorada
ou fabrico cons tuam fato ilícito; iden dade do dono ou não for reclamado o bem ou
i) CP, art. 91, II, b: perda do produto ou proveito do o valor. Trata-se de efeito da condenação criminal;
crime para a União, após ressarcimento do lesado; portanto, prevalece ainda que tenha ocorrido a pres-
j) Art. 243 e parágrafo único da CF; art. 34 da Lei de crição da pretensão executória, pois esta somente
Tóxicos: confisco dos instrumentos do crime, ainda a nge o cumprimento da pena, subsis ndo os demais
que seu porte não cons tua fato ilícito; efeitos da condenação. A Lei nº 9.605, de 12/2/1998,
k) Lei nº 9.605/1998, art. 25 e parágrafos: perda dos que dispõe sobre as sanções penais e administra vas
instrumentos empregados na prá ca do crime ambien- derivadas de condutas e a vidades lesivas ao meio
tal, ainda que seu porte não cons tua fato ilícito.76 ambiente, prevê que, verificada a infração, sejam
apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-
-se os respec vos autos. Os produtos passíveis de
Cons tuem efeitos da condenação:
apreensão constantes do ar go sob comentário são:
a) Principais: imposição da pena priva va de liberda-
animais, produtos perecíveis ou madeiras, produtos
de, da restri va de direitos, da pena de multa ou de
e subprodutos da fauna, adquiridos pelo agente com
medida de segurança;
a prá ca do crime.78
b) Secundários:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

b.1) de natureza penal: repercutem na esfera penal.


Embora o Código Penal determine o confisco dos ins-
Assim, a condenação induz a reincidência; impede,
trumentos e produtos do crime no art. 91, II, alíneas a
em regra, o sursis; causa, regra, a revogação do sursis;
e b, ressalva que não são todos os instrumentos que
leva à inscrição do nome do condenado no rol de
podem ser confiscados, mas somente aqueles cujo
culpados (CPP, art. 393, II);
porte, fabrico ou alienação cons tuam fato ilícito. A
b.2) de natureza extrapenal: repercutem em outra es- Lei nº 9.605/1998, no entanto, não faz tal ressalva.
fera que não a criminal. Classificam-se em genéricos e Desse modo, quaisquer instrumentos u lizados para
específicos. Os primeiros decorrem de qualquer con- a prá ca da infração ambiental podem ser apreen-
denação criminal e não precisam ser expressamente didos, sejam ou não permi dos o seu porte, fabrico
declarados na sentença. São, portanto, efeitos auto- ou alienação.79
má cos de toda e qualquer condenação. Os especí-
ficos decorrem da condenação criminal pela prá ca
77
Ibid., p. 51.
78
Ibid., p. 51.
79
76
Ibid., p. 50. Ibid., p. 52.

369
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 29 III – Vender (alienar ou vender por preço certo); expor
à venda (pôr à vista com a finalidade de vender); exportar
1. Obje vidade Jurídica (transportar ou vender para fora do país); adquirir (obter ou
comprar); guardar (manter sob sua posse); ter em ca veiro
O equilíbrio ecológico.80 (privar a espécie da liberdade); ter em depósito (armazenar
para fins de comércio); u lizar (aproveitar, usar, valer-se de)
2. Objeto Material ou transportar (conduzir de um local para outro) ovos, lavras
ou espécimes da fauna, bem como produtos e objetos dela
Espécimes da fauna silvestre, produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou
oriundos; ninho, abrigo ou criadouro natural, ovos e larvas sem a devida permissão, licença ou autorização da autori-
dos espécimes da fauna (§ 1º, II e III).81 dade competente.89
Fauna é o cole vo de animais de uma dada região. Dispõe
o § 3º que são espécimes da fauna silvestre todos aqueles 2.2. Sujeito A vo
pertencentes às espécies na vas, migratórias e quaisquer
outras, aquá cas ou terrestres, que tenham todo ou parte de Qualquer pessoa.90
seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território
brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. Espécime é o 2.3. Sujeito Passivo
exemplar de uma espécie viva.82
Espécie é a unidade básica de classificação dos seres A cole vidade.91
vivos. Designa população (ou populações) de seres com
caracterís cas gené cas comuns, que em condições normais 2.4. Elementos Norma vos
reproduzem-se de forma a gerar descendentes férteis. Tam-
bém entendida como uma unidade morfológica sistemá ca 2.4.1. No caput
em que suas caracterís cas externas são razoavelmente Sem a devida permissão, licença ou autorização da
constantes, de forma que a espécie possa ser reconhecida autoridade competente, ou em desacordo com a ob da.92
e diferenciada das outras por seu intermédio.83
Espécie na va é aquela que se origina naturalmente em 2.4.2. No § 1º
uma região sem a intervenção do homem. Também consi- I – [...] sem licença, autorização ou em desacordo com
derada como aquela cuja área de distribuição é restrita a a ob da.
uma região geográfica limitada e usualmente bem definida.84 III – [...] não autorizados ou sem a devida permissão,
Espécies migratórias são aquelas que mudam periodi- licença ou autorização da autoridade competente; (por
camente, ou passam de uma região para outra, de um país
exemplo, o agente mantém em ca veiro espécime da fauna
para outro. Exemplos: gafanhotos, andorinhas.85
silvestre sem a devida autorização).93
Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
Permissão é o ato administra vo unilateral, discricioná-
rio, pelo qual o Poder Público, em caráter precário, faculta
2.1. Condutas Típicas
a alguém o uso de um bem público ou a responsabilidade
2.1.1. No caput pela prestação do serviço público.
Licença é o ato administra vo, unilateral, vinculado, pelo
Matar ( rar a vida, assassinar); perseguir (seguir de perto, qual o Poder Público faculta a um par cular o exercício de
ir ao encalço de); caçar (perseguir animais a ro, a laço, a rede uma a vidade privada e material. A Resolução do Conama
etc., para aprisionar ou matá-los); apanhar (prender, captu- nº 237/1997 define Licença Ambiental como sendo o ato
rar, agarrar); u lizar (aproveitar, usar, valer-se de) espécimes administra vo pelo qual o órgão ambiental competente
da fauna, sem a devida permissão, licença ou autorização, estabelece as condições, restrições e medidas de controle
ou em desacordo com a ob da.86 ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor,
pessoa sica ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e
2.1.2. No § 1º operar a vidades ou empreendimentos u lizadores de re-
cursos ambientais, considerados efe va ou potencialmente
I – Impedir a procriação da fauna: consiste em impos- poluidores ou aqueles que, sob qualquer forma, possam
sibilitar, embaraçar, tornar impraticável, não permitir a causar degradação ambiental.
reprodução das espécies da fauna.87 Autorização é o ato administra vo unilateral, discricio-
II – Modificar (mudar, transformar); danificar (lesar, nário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

prejudicar); destruir (ex nguir, aniquilar) ninho, abrigo ou exercício de uma a vidade privada e material.94
criadouro natural.
Ninho é a habitação das aves, feita por elas para a postura 3. Elemento Subje vo
de ovos e criação dos filhotes; abrigo é o local que oferece
proteção; criadouro natural é a área dotada de instalações O dolo, consistente na vontade livre e consciente de rea-
capaz de possibilitar a vida e a procriação de espécies da fau- lizar qualquer das condutas descritas em lei, em prejuízo do
na silvestre, onde possam receber a assistência adequada.88 equilíbrio ecológico. Não há previsão de conduta culposa.95
80
CAPEZ, Fernando. Legislação Especial. São Paulo: Paloma, 2002, p. 61.
81
Ibid., p. 61.
82 89
Ibid., p. 61. Ibid., p. 63.
83 90
Ibid., p. 61. Ibid., p. 63.
84 91
Ibid., p. 61. Ibid., p. 63.
85 92
Ibid., p. 62. Ibid., p. 63.
86 93
Ibid., p. 62. Ibid., p. 63.
87 94
Ibid., p. 62. Ibid., p. 63.
88 95
Ibid., p. 62. Ibid., p. 64.

370
4. Momento Consuma vo e. Cetacea (baleias e golfinhos): baleia-franca, jubarte,
boto-cachimbo.
4.1. No caput f. Roden a (roedores): ouriço-preto, rato do mato.
g. Artiodactyla (veados): cervo-do-pantanal, veado-
Com a morte, perseguição, caça, apanha ou u lização de -campeiro.
espécimes da fauna.96 II – Aves:
a. Tinamiformes (codornas): juó, codorna-mineira, per-
4.2. No § 1º digão, macuco.
b. Phoenicopteriformes: flamingos.
I – Com o impedimento à procriação da fauna, sem licen- c. Anseriformes: mergulhão.
ça, autorização ou em desacordo com a ob da. d. Falconiformes (falcões e águias): falcão-de-peito-
II – Com a modificação, com o dano ou com a destruição -vermelho, gavião-real, águia cinzenta, gavião preto.
de ninho, abrigo ou criadouro natural. e. Columbuformes (pombos): pomba-de-espelho, rolinha-
III – Com a venda, exposição à venda, exportação ou -do-planalto.
aquisição, com a guarda, com a conservação em ca veiro ou f. Psi aciformes (papagaios, periquitos e araras): papagaio-
depósito, com a u lização ou transporte de ovos, larvas ou -da-serra, papagaio-de-peito-roxo, arara-azul-pequena (prova-
espécimes da fauna silvestre, na va ou em rota migratória, velmente, já ex nta), arara-azul-grande, ararajuba, sabiá-cica.
bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes g. Piciformes (pica-paus e mar ns-pescadores): pica-pau
de criadouro não autorizados ou sem a devida permissão, rei, pica-pau-de-cara-amarela, bicudo.
licença ou autorização da autoridade competente.97 h. Passeriformes (passarinhos): bandeira-do-campo,
etê-de-coroa (provavelmente, já ex nta), pintassilgo-do-
5. Tenta va -nordeste, sabiá-pimenta, cardeal-amarelo, choquinha, te-
sourinha, andorinha-do-oco-do-pau, araponga-do-nordeste,
É possível.98 pavão, arapaçu, ferrugem.
III – Rep lia (répteis):
6. Perdão Judicial a. Chelonia (tartarugas): tartaruga-meio-pente, tartaru-
ga-verde, tartaruga-de-couro.
Há previsão do perdão judicial no § 2º do art. 29: no caso b. Squamata (cobras): surucucu.
de guarda domés ca de espécie silvestre não considerada c. Crocodilia (jacarés): jacaré-de-papo-amarelo, jacaré-açu.
ameaçada de ex nção, pode o juiz, considerando as circuns- IV – Amphibia (rãs):
tâncias, deixar de aplicar a pena.99 Paratelmatobius gaigeae. Família Leptodactylidae.
V – Insecta (insetos):
7. Causas de Aumento de Pena a. Lep doptera (borboletas): Papilio zagreus neyi. Família
Papilionidae.
Art. 29, § 4º: se os crimes previstos nesse ar go forem b. Odonata (libélulas – sin. lavadeiras): Leptagrion si-
pra cados contra espécie rara ou considerada ameaçada queirae.
de ex nção (§ 4º, I), em período proibido à caça (§ 4º, II), VI – Onychophora:
em unidade de conservação (§ 4º, V) ou com emprego de Onicófores (artrópodes que vivem debaixo de pedras ou
métodos ou de instrumentos capazes de provocar destruição troncos de árvores em decomposição).
em massa (§ 4º, VI), a pena é aumentada de metade. Essas VII – Cnidária (corais):
causas de aumento incidem a tulo de preterdolo. Quanto Coral-de-fogo.101
às causas de aumento previstas nos incisos III e IV do § 4º,
que se referem aos crimes pra cados durante a noite e aos O art. 29, § 5º, dispõe que, se o crime decorre do exercí-
crimes pra cados com abuso de licença, a pena também é cio de caça profissional, a pena poderá ser aumentada até o
aumentada de metade, porém requerem dolo no antece- triplo. Vale lembrar aqui que o art. 2º da Lei nº 5.197/1967
dente e dolo no consequente.100 (Lei de Proteção à Fauna) proíbe expressamente o exercício
da caça profissional.102
8. Espécies Ameaçadas de Ex nção Por força do § 6º, as disposições do art. 29 não se aplicam
aos atos de pesca. Crimes rela vos à pesca estão pificados
Segundo levantamento realizado pelo Ibama, o Brasil
nos arts. 34 e 35 da Lei do Meio Ambiente.103
possui 208 espécies de animais ameaçadas de ex nção e
dez novas espécies serão adicionadas em breve. Pode-ses
citar os seguintes exemplos: Comentários de Fernando Capez sobre o art. 30
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

I – Mammalia (mamíferos): 1. Obje vidade Jurídica

a. Primates (macacos): sagui, mico-leão-dourado, mico- O equilíbrio ecológico.104


-leão-preto.
b. Carnivora (carnívoros): lobo-guará, ariranha, jagua - 2. Objeto Material
rica, lontra, onça-pintada.
c. Xenarthra (desdentados): preguiça-de-coleira, taman- Peles e couros de an bios e répteis em bruto.
duá-bandeira, tatuaçu. Pele é o órgão menos espesso que reveste exteriormente
d. Sirenia (peixes-boi): peixe-boi, peixe-boi-marinho. o corpo dos animais.
Couro é a pele espessa de certos animais.
96
Ibid., p. 64.
97 101
Ibid., p. 64. Ibid., p. 65.
98 102
Ibid., p. 65. Ibid., p. 67.
99 103
Ibid., p. 65. Ibid., p. 67.
100 104
Ibid., p. 65. Ibid., p. 67.

371
Peles e couros em bruto são aqueles não trabalhados, 2. Objeto Material
não manufaturados.105
Os espécimes animais alienígenas, chamados também
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime de exó cos, que são as espécies que não são originárias de
uma área.117
3.1. Ação Nuclear
Exportar (transportar para fora do país) peles e couros 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
de an bios e répteis em bruto, sem a devida autorização.
A caracterização do crime se dá quando o agente, sem a 3.1. Ação Nuclear
devida autorização, transporta para fora do país as peles e
couros de an bios e répteis em bruto.106 Introduzir significa fazer entrar no país.118
An bios são os animais que vivem tanto em terra como
na água (exemplos: salamandras e anuros). Répteis são os 3.2. Sujeito A vo
animais que se arrastam quando andam, ou que possuem
pés tão curtos que parecem arrastar-se quando andam Qualquer pessoa que introduza espécime animal aliení-
(exemplo: tartarugas).107 gena em território nacional.119
Observe que se a exportação for de produtos e objetos
confeccionados com peles e couros dos espécimes referidos, 3.3. Sujeito passivo
por exemplo, bolsas, roupas, sapatos, o crime pra cado será
o previsto no art. 29, § 1º, III, da Lei Ambiental.108 A cole vidade.120

3.2. Sujeito A vo 3.4. Elemento Norma vo

Qualquer pessoa.109 Representado pela expressão sem parecer técnico oficial


favorável e licença expedida por autoridade competente.121
3.3. Sujeito Passivo Parecer é a manifestação opina va de um órgão con-
sul vo expendendo sua apreciação técnica acerca do que
A cole vidade.110 lhe é subme do. Licença é o ato administra vo, unilateral,
vinculado, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o
3.4. Elemento Norma vo exercício de uma a vidade privada e material. De acordo com
a Resolução do Conama nº 237/1997, Licença Ambiental é o
Representado pela locução sem a autorização da auto- ato administra vo pelo qual o órgão ambiental competente
ridade ambiental competente.111 estabelece as condições, restrições e medidas de controle
Autorização é o ato administra vo unilateral, discricio- ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor,
nário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o pessoa sica ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e
exercício de uma a vidade privada e material.112 operar a vidades ou empreendimentos u lizadores dos re-
cursos ambientais, considerados efe va ou potencialmente
4. Elemento Subje vo poluidores, ou aqueles que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental.122
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de ex-
portar os objetos materiais, ciente o agente que não possui 4. Elemento Subje vo
a devida autorização.113
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de
5. Momento Consuma vo
introduzir no país o espécime exó co.123
Consuma-se o crime com o envio das peles e couros
5. Momento Consuma vo
para o exterior.114

6. Tenta va Consuma-se o crime com a introdução do animal no país


sem parecer técnico favorável e sem a devida licença. 124
É possível. 115
6. Tenta va
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 31 É possível, pois pode ocorrer a apreensão da espécie no
momento de seu desembarque no país.125
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

1. Obje vidade Jurídica

O equilíbrio ecológico, que pode ser prejudicado com a Comentários de Fernando Capez sobre o art. 32
introdução de espécime animal no país, sem parecer favo-
rável e licença.116 1. Obje vidade Jurídica

105
Ibid., p. 68. O equilíbrio ecológico.126
106
Ibid., p. 68.
107 117
Ibid., p. 68. Ibid., p. 70.
108 118
Ibid., p. 68. Ibid., p. 70.
109 119
Ibid., p. 68. Ibid., p. 70.
110 120
Ibid., p. 69. Ibid., p. 70
111 121
Ibid., p. 69. Ibid., p. 70.
112 122
Ibid., p. 69. Ibid., p. 70.
113 123
Ibid., p. 69. Ibid., p. 71.
114 124
Ibid., p. 69. Ibid., p. 71.
115 125
Ibid., p. 69. Ibid., p. 71.
116 126
Ibid., p. 70. Ibid., p. 72.

372
2. Objeto Material em si é, normalmente, causada por meio de ferimentos ou
mu lações”.137
O po abrange todos os animais, sejam eles silvestres
(aqueles pertencentes à fauna silvestre), domés cos (aqueles 6. Tenta va
que vivem ou são criados em casa) ou domes cados (aqueles
que foram domados, amansados), na vos (aqueles que se É possível em todas as condutas previstas.138
originam naturalmente em uma região sem a intervenção
do homem) ou exó cos (espécies que não são originárias 7. Causa de Aumento de Pena (§ 2º)
da área em que vivem).127
Se, em consequência dos abusos, dos maus-tratos, dos
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime ferimentos, das mu lações ou da realização de experiência
dolorosa ou cruel, ocorrer a morte do animal, a pena é au-
3.1. Ações Nucleares mentada de 1/6 a 1/3.139

Pra car ato de abuso significa fazer uso excessivo, uso Comentários de Fernando Capez sobre o art. 33
errado daqueles animais.128
Pra car maus-tratos consiste em bater, espancar, tratar 1. Obje vidade Jurídica
com violência, ou, ainda, manter o animal em lugar sujo,
inadequado.129 O equilíbrio ecológico.140
Ferir significa causar ferimentos, fraturas ou contusões.130
Mu lar consiste em ex rpar parte do corpo do animal.131 2. Objeto Material
Realizar experiência dolorosa ou cruel (§ 1º) consiste em
submeter os animais, por atos dolorosos ou cruéis, a uma Espécime da fauna aquá ca (por exemplo: os peixes,
série de operações, por exemplo, observações, avaliações, os crustáceos, os moluscos, os corais) e os vegetais hidró-
provas, ensaios em condições determinadas, tendo em vista bios.141
resultado determinado. Essas experiências, ainda que sejam
realizadas para fins didá cos ou cien ficos, e quando exis - 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
rem recursos alterna vos, são proibidas quando provocam
dor ou sofrimento ao animal.132 3.1. Ações Nucleares

3.2. Sujeito A vo Provocar (ocasionar, produzir, gerar), pela emissão de


efluentes, o perecimento de espécimes da fauna aquá ca.
Qualquer pessoa.133 O agente produz, ocasiona, o perecimento de espécimes
da fauna aquá ca pela liberação de líquidos ou fluídos no
3.3. Sujeito Passivo ambiente. Como exemplo de efluentes, pode-se citar o
esgoto, lixo líquido, com ou sem par culas sólidas, gerados
A cole vidade.134 por a vidades industriais. Provocar, pelo carreamento de
materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquá ca.
3.4. Elemento Norma vo Carreamento de materiais, nesse caso, significa a condução
de materiais, detritos, rejeitos nocivos. Para Paulo Affonso
Presente no § 1º, na expressão: quando exis rem recur- Leme Machado, “a emissão de efluente pode ser fora dos
sos alterna vos.135 limites autorizados ou licenciados, ou mesmo dentro desses
limites. O carreamento ou lixiviação de materiais pode ser
4. Elemento Subje vo de substâncias registradas e receitadas, como agrotóxicos.
Para a caracterização do crime, não é preciso que a conduta
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de pra- do agente seja ilícita do ponto de vista do Direito Adminis-
car os atos de abuso, maus-tratos, ferir, mu lar os animais tra vo. A incriminação deve subsis r desde que haja nexo
ou com eles realizar experiência dolorosa ou cruel.136 causal entre a emissão dos efluentes ou o carreamento de
materiais com a morte dos espécimes da fauna aquá ca”.142
5. Momento Consuma vo De acordo com o parágrafo único, estando presentes
os crimes de perigo, encontram-se as seguintes condutas:
Na conduta de pra car abuso ou maus-tratos, o crime a) Causar degradação em viveiros, açudes ou estações de
consuma-se no instante da produção do perigo de dano aos aquicultura de domínio público. O agente origina ou produz
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

animais. Nas condutas de “ferir” e “mu lar”, a consumação danos em locais onde se criam e se reproduzem animais
ocorre com o efe vo ferimento ou mu lação. No § 1º, na ex- e plantas aquá cas. Açudes são construções des nadas a
periência dolorosa com a simples causação de dor ao animal represar águas para fins de irrigação, barragem, presúria.
vivo e, no caso da experiência cruel, com o efe vo dano ao Estações de aquicultura são locais onde são controladas as
animal. Para Carlos Ernani Constan no, “na experiência com taxas de natalidade, crescimento e mortalidade, visando
crueldade, cremos que haja delito de dano, pois a crueldade obter maior extração do animal explorado.143
127
b) Explorar campos naturais de invertebrados aquá cos
Ibid., p. 72.
128
Ibid., p. 72. e algas, sem licença, permissão ou autorização da autori-
129
Ibid., p. 72.
130 137
Ibid., p. 72. Ibid., p. 73.
131 138
Ibid., p. 72. Ibid., p. 74.
132 139
Ibid., p. 73. Ibid., p. 74.
133 140
Ibid., p. 73. Ibid., p. 75.
134 141
Ibid., p. 73. Ibid., p. 75.
135 142
Ibid., p. 73. Ibid., p. 75.
136 143
Ibid., p. 73. Ibid., p. 76.

373
dade competente. O agente aufere algum po de proveito 4. Elemento Subje vo
com a exploração sem licença, aproveita-se dos ambientes
em que invertebrados aquá cos (por exemplo: moluscos e O dolo, direto ou eventual.149
crustáceos) e algas normalmente vivem.
Licença é o ato administra vo unilateral, discricionário, 5. Momento Consuma vo
pelo qual o Poder Público, em caráter precário, faculta a
alguém o uso de um bem público ou a responsabilidade pela
O crime consuma-se com a morte dos espécimes da
prestação do serviço público.
Autorização é o ato administra vo unilateral, discricio- fauna aquá ca. Os crimes previstos no parágrafo único
nário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o consumam-se com a efe va degradação dos viveiros, açu-
exercício de uma a vidade privada e material. des ou estações de aquicultura de domínio público; com a
Invertebrados são todos os animais des tuídos de vérte- exploração dos campos naturais de invertebrados aquá cos
bras ou de qualquer po de esqueleto interno – car laginoso e algas; com o efe vo lançamento ao fundo de embarcações
ou ósseo – que funcione como estrutura para seu corpo. ou de detritos de qualquer natureza sobre os bancos de
Exemplos: moluscos, medusas, anêmonas-do-mar, corais moluscos ou corais.150
e hidroides (como as antomedusas), esponjas, caramujos,
ostras, polvos, lulas, mexilhões, estrelas-do-mar e ouriços- 6. Tenta va
-do-mar.
Algas fazem parte da família de plantas da classe das É possível.151
criptogâmicas, que vivem no fundo ou na super cie de águas
salgadas ou doces. Toda a fauna marinha depende, direta Comentários de Fernando Capez sobre o art. 34
ou indiretamente, da presença desses organismos vegetais,
que são os primeiros elos da cadeia alimentar, fornecendo
carbono orgânico aos animais superiores. Exemplos: algas 1. Obje vidade Jurídica
vermelhas (Rhodoficeas), algas verdes (Chloroficeas), algas
azuis (Cino ceas).144 O equilíbrio ecológico. 152
c) Fundear embarcações ou lançar detritos de qualquer
natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente 2. Objeto Material
demarcados em carta náu ca.
Fundear embarcações significa ancorar, lançar ao fundo, Peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, sus-
embarcações. Lançar detritos de qualquer natureza consiste ce veis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas
em a rar, arremessar, jogar sedimentos ou fragmentos de as espécies ameaçadas de ex nção, constantes nas listas
qualquer substância. Bancos de moluscos ou corais são ele- oficiais dos órgãos ambientais.153
vações existentes no fundo do mar decorrentes da deposição
de moluscos ou corais. Para a caracterização do crime, esses
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
bancos devem estar devidamente demarcados em carta
náu ca e o agente deverá ter consciência da existência da
demarcação. 3.1. Ações Nucleares
Embarcação é designação comum a toda construção
des nada a navegar sobre a água. 3.1.1. No caput
Moluscos são invertebrados pertencentes ao filo Mollus-
ca, que se caracterizam por apresentarem uma concha que O núcleo do po é pescar (consiste em atos tendentes a
serve de refúgio e de proteção ao corpo do animal. Exemplos: re rar, extrair, coletar, apanhar, apreender, capturar os ob-
caracóis, calamares, mexilhões, vieiras, ostras. jetos materiais do delito, ressalvadas as espécies ameaçadas
Corais são animais celenterados que possuem esqueleto de ex nção) em período no qual a pesca seja proibida ou em
interno ou externo, calcário e vivem nos mares. Podem vi- lugares interditados por órgão competente. Re rar os objetos
ver isoladamente ou em conjunto, formando colônias. São materiais do delito consiste em remover, rar de onde esta-
responsáveis por formarem os recifes e atóis.145 vam. Extrair significa rar de dentro de onde estava, arrancar.
Coletar significa fazer a coleta de, recolher. Apanhar significa
3.2. Sujeito A vo tomar, segurar. Apreender significa agarrar, apropriar-se de.
Capturar significa prender, deter, aprisionar.154
Qualquer pessoa.146
3.1.2. No parágrafo único
3.3. Sujeito Passivo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

A cole vidade.147 Transportar (conduzir ou levar de um lugar para outro),


comercializar (tornar comerciável ou comercial, negociar),
3.4. Elementos Norma vos beneficiar (submeter a processos des nados a dar-lhes con-
dições de serem consumidos) ou industrializar (aproveitar
No parágrafo único, incisos II e II, respectivamente, “algo” como matéria-prima industrial) espécimes provenien-
representados pelas expressões sem licença, permissão tes de coleta, apanha e pesca proibidas.155
ou autorização da autoridade competente e devidamente
demarcados em carta náu ca.148
149
Ibid., p. 78.
150
Ibid., p. 78.
144 151
Ibid., p. 76. Ibid., p. 78.
145 152
Ibid., p. 77. Ibid., p. 79.
146 153
Ibid., p. 77. Ibid., p. 79.
147 154
Ibid., p. 77. Ibid., p. 79.
148 155
Ibid., p. 78. Ibid., p. 80.

374
Exemplos: com tamanho inferior ao tabelado. A tabela não se
aplica a peixes oriundos da piscicultura. Nesse caso,
I – Períodos nos quais a pesca é proibida: é necessária apenas a comprovação da origem do
peixe (Fonte: Home page do Policiamento Florestal e
• Portaria nº 39, de 9/3/2001, do Ibama: o art. 1º proi- de Mananciais). O Ibama aceita os tamanhos mínimos
biu, anualmente, o exercício da pesca de arrasto com estabelecidos por legislação estadual, desde que mais
tração motorizada, para captura de camarão rosa, restri vos.160
camarão sete-barbas e camarão branco, no Estado
da Bahia, no período de 15 de março a 5 de maio. V – Quan dades superiores às permi das:
Proibiu também a pesca dos referidos espécimes
na área compreendida entre a divisa dos estados de • O limite de captura e transporte de pescado é de 30
Pernambuco e Alagoas e dos estados de Sergipe e kg mais um exemplar de qualquer peso, ou o limite
Bahia, no período de 1º de maio a 19 de junho.156 es pulado por legislação estadual, quando inferior a
30 kg, respeitados os tamanhos mínimos de captura
Portaria nº 72, de 30/10/2000, do Ibama: fixou o período (estabelecidos pelo Ibama). A Secretaria do Meio Am-
de 1º/11/2000 a 28/2/2001 como defeso da Piracema (fe- biente do Mato Grosso do Sul estabeleceu o limite de
nômeno migratório para reprodução) nas Bacias dos Rios 15 kg mais um exemplar. No Mato Grosso, o limite é de
Araguaia/Tocan ns. Proibiu a pesca, de qualquer categoria, 20 kg mais um exemplar; no Estado do Tocan ns, é de
nas lagoas marginais da Bacia dos Rios Araguaia/Tocan ns, 10 kg por pescador; em Minas Gerais, a cota permi da
no período supracitado.157 é de 15 kg mais um exemplar; em Goiás, o limite é de
10 kg mais um exemplar (em todos os casos devem
II – Lugares interditados por órgão competente: ser respeitados os tamanhos mínimos de captura).161

• Portaria nº 73, de 30/10/2000, do Ibama: o art. 4º VI – Aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não per-
proíbe a pesca amadora e profissional no trecho mi dos:
compreendido entre a montante pesca amadora; e
profissional no trecho compreendido entre a mon- • Portaria nº 21, de 9/3/1993: estabelece normas ge-
tante da UHE Sérgio Mo a (Porto Primavera) e a rais para o exercício da pesca na Bacia Hidrográfica
jusante da UHE de Jupiá, no rio Paraná, por se tratar do Rio Paraná e proíbe, em seu art. 2º, o emprego
de ambiente em transição. O art. 3º, § 1º, dispõe que dos seguintes aparelhos na pesca profissional: redes
permanece vigente toda norma zação específica para de arrasto de qualquer natureza; armadilhas po
a pesca, de qualquer categoria, rela va a reservatórios tapagem, pari, cercada ou qualquer aparelho fixo;
(Portaria Ibama nº 21-N, de 9/3/1993, Portaria Ibama aparelhos de mergulhos; e espinhéis que u lizem
nº 978, de 24/10/1989 e Portaria Sudepe nº 466, de cabos metálicos. Outro exemplo: a Portaria da Sudepe
8/11/1972 – a úl ma, com a nova redação, dispõe em nº 466, de 8/11/1972, que deu nova redação à Porta-
seu art. 4º: “Fica proibido qualquer po de pesca pra- ria nº 662, de 17/11/1970, estabelece em seu art. 2º:
cado a menos de 200 metros, a jusante e a montante “No exercício da pesca interior, fica proibido o uso dos
das barragens, cachoeiras, corredeiras e escadas de seguintes aparelhos: a) redes de arrasto e de lance,
peixe”.158 quaisquer; b) redes de espera com malhas inferiores
a 70 mm, c) rede eletrônica ou quaisquer aparelhos
III – Espécies que devam ser preservadas: que, por meio de impulsos elétricos, possam impedir
a livre movimentação dos peixes, possibilitando sua
• O “tambaqui” e o “pirarucu”, espécimes presentes na captura; d) tarrafas de qualquer po com malhas
Amazônia.159 inferiores a 50 mm, medidas es cadas entre ângulos
opostos etc.162
IV – Espécies com tamanhos inferiores aos permi dos:
3.2. Sujeito A vo
• O “pintado”, cujo tamanho mínimo estabelecido é
de 80 cm, encontrado em São Paulo, no Rio de Ja- Qualquer pessoa.163
neiro, no Espírito Santo, no Mato Grosso, no Mato
Grosso do Sul, na Bacia Amazônica, na Bacia do Rio 3.3. Sujeito Passivo
Paraná e na Bacia do Rio São Francisco; a “corvina”,
com tamanho mínimo de 25 cm, na Bacia do Rio São A cole vidade.164
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Francisco; a “pescada”, tamanho mínimo de 25 cm, na


Região Sul (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo), 3.4. Elementos Norma vos
no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul, na Bacia do
Rio Paraná e na Bacia do Rio São Francisco; o “dou- • Em período no qual a pesca seja proibida ou em luga-
rado”, cujo tamanho mínimo é de 60 cm, no Pará e res interditados por órgão competente (caput).165
no Amapá, e de 55 cm na Região Sul (São Paulo, Rio • Espécies que devam ser preservadas ou espécimes
de Janeiro, Espírito Santo), no Mato Grosso, no Mato com tamanhos inferiores aos permi dos (inciso I).166
Grosso do Sul, na Bacia do Rio Paraná; o “pacu”, com
tamanho mínimo de 30 cm, no Pará e no Amapá.
É proibido capturar, transportar, comercializar peixes 160
161
Ibid., p. 80.
Ibid., p. 81.
162
Ibid., p. 81.
156 163
Ibid., p. 80. Ibid., p. 82.
157 164
Ibid., p. 80. Ibid., p. 82.
158 165
Ibid., p. 80. Ibid., p. 82.
159 166
Ibid., p. 80. Ibid., p. 82.

375
• Quan dades superiores às permi das ou mediante 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
u lização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos
não permi dos (inciso II).167 3.1. Ação Nuclear
• Coleta, apanha e pesca proibidas (inciso III).168
a) Pescar mediante a u lização de explosivos ou subs-
4. Elemento Subje vo tâncias que, em contato com a água, produzam efeito se-
melhante. A conduta de pescar está definida no art. 36 da
É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de Lei Ambiental. Explosivo é o produto químico que quando
pescar em período no qual a pesca seja proibida; pescar em detonado produz uma reação química altamente exotérmica
lugares interditados por órgão competente; pescar espécies (calor), provocando o deslocamento de grandes volumes de
que devam ser preservadas ou espécimes com tamanho gás (uma explosão). Há dois pos principais de explosivos: os
inferior ao permi do; pescar quan dades superiores às per- deflagradores que são os explosivos de baixa potência (por
mi das, ou mediante a u lização de aparelhos, petrechos, exemplo: pólvora e nitrocelulose) e os detonadores ou de
técnicas e métodos não permi dos; transportar, comercia- alta potência (por exemplo: a dinamite). Como exemplo de
lizar, beneficiar ou industrializar espécimes provenientes da substâncias que, em contato com a água, produzem efeito
coleta, de apanha e pesca proibidas. 169 semelhante ao explosivo: aquelas capazes de provocar uma
descarga elétrica ou térmica na água.178
5. Momento Consuma vo b) Pescar mediante a u lização de substâncias tóxicas,
ou outro meio proibido pela autoridade competente. Tóxicas
• Com a efe va re rada, extração, coleta, apanha, apre- são aquelas substâncias químicas ou biológicas capazes de
ensão ou captura dos espécimes da fauna aquá ca ou provocar envenenamento. Pescar mediante a u lização de
dos vegetais hidróbios (caput).170 outro meio proibido pela autoridade competente é norma
• Com a efe va pesca da espécie que deve ser pre- cuja descrição está incompleta; trata-se de norma penal
servada ou dos espécimes com tamanho inferior ao em branco, necessitando de complementação por outra
permi do (inciso I).171 disposição legal ou regulamentar.179
• Com a efe va pesca de quan dades superiores às
permi das ou mediante a u lização de aparelhos, 3.2. Sujeito A vo
petrechos, técnicas e métodos não permi dos (inciso
II).172 Qualquer pessoa.180
• Com o efe vo transporte, comércio, beneficiamento
ou industrialização dos espécimes provenientes da 3.3. Sujeito Passivo
coleta, de apanha e pesca proibidas (inciso III).173
A cole vidade.181
Importante salientar que a Lei nº 7.643/1987 proíbe a
pesca de cetáceos, como as baleias e os golfinhos, em qual- 3.4. Elemento Norma vo
quer época, nas áreas jurisdicionais brasileiras. Portanto,
quem pesca esses espécimes aquá cos incide nas penas Está representado pela expressão “outro meio proibido
previstas no art. 2º da Lei nº 7.643/1987 (Lei da Proibição da pela autoridade competente” (inciso II, caput).182
Pesca de Cetáceos) por tratar-se de lei específica.174
4. Elemento Subje vo
6. Tenta va
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de
É admissível. 175 pescar u lizando-se de explosivos ou substâncias de efeitos
análogos, de substâncias tóxicas ou de outro meio proibido
pela autoridade competente.183
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 35
5. Momento Consuma vo
1. Obje vidade Jurídica
O crime consuma-se com a prá ca do ato tendente a
O equilíbrio ecológico.176 re rar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar es-
pécimes aquá cos mediante a u lização de explosivos ou
2. Objeto Material substâncias de efeitos análogos, de substâncias tóxicas ou
de outro meio proibido pela autoridade competente.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

De acordo com o art. 36 são os peixes, crustáceos, mo- O ar go ora sob comentário revogou o art. 8º da Lei
luscos e vegetais hidróbios, susce veis ou não de aproveita- nº 7.679/1988.
mento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de ex- Não há previsão de conduta culposa.184
nção, constantes nas listas oficiais dos órgãos ambientais.177
6. Tenta va
167
168
Ibid., p. 82. É possível, pois a pesca poderá não ocorrer por circuns-
Ibid., p. 82.
169
Ibid., p. 82.
tâncias alheias à vontade do agente (por exemplo: o sujeito
170
Ibid., p. 83.
171 178
Ibid., p. 83. Ibid., p. 84.
172 179
Ibid., p. 83. Ibid., p. 85.
173 180
Ibid., p. 83. Ibid., p. 85.
174 181
Ibid., p. 83. Ibid., p. 85.
175 182
Ibid., p. 83. Ibid., p. 85.
176 183
Ibid., p. 84. Ibid., p. 85.
177 184
Ibid., p. 84. Ibid., p. 85.

376
é obstado pela autoridade florestal no momento em que iria mes nocivos, assim caracterizados pelo órgão competente,
acionar o disposi vo explosivo).185 quando se aproximarem de áreas urbanas ou outros agrupa-
mentos humanos, gerando, desta maneira, um perigo atual
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 36 ou iminente à saúde individual ou pública”.190

Trata-se de norma penal complementar ou explica va. Comentários de Fernando Capez sobre o art. 38
Aplica-se aos arts. 34 e 35 da Lei Ambiental. Peixes são ani-
mais vertebrados aquá cos de sangue frio que respiram por 1. Noções Preliminares
meio de brânquias. Tipicamente, o corpo dos peixes tem um
padrão fusiforme e é coberto de escamas. Deslocam-se por Flora é o conjunto das espécies vegetais de uma deter-
meio de nadadeiras, especialmente pela nadadeira caudal minada região.191
que se projeta em um plano perpendicular ao corpo. Os pei- Floresta é o agrupamento de vegetação com elevada
xes dividem-se em dois grupos: car laginosos (tubarões, densidade, composta de árvores de grande porte, cobrin-
arraias) e ósseos – há cerca de 20 mil espécies de peixes do grande extensão de terras (No Brasil, podem-se citar a
ósseos, que incluem animais de 1 cm de comprimento até Floresta Amazônica e a Mata Atlân ca como exemplos de
outros de mais de 6 m, como o estrujão. Crustáceos: classe florestas tropicais; e o Pinheiral do Sul, como exemplo de
dos artrópodos mandibulados. Possuem como apêndices floresta subtropical).192
cefálicos antenas e maxilas, e seus olhos são picamente Associação arbórea de grande extensão e con nuidade.
compostos. Exemplos: camarões, siris, caranguejos, lagostas O “império da árvore” em um determinado território dotado
e outros inúmeros crustáceos diminutos que vivem em rios, de condições climá cas e ecológicas para o desenvolvimento
mares e lagos, integrando a fauna planctônica que representa de plantas superiores. Não há um limite definido entre uma
um dos primeiros elos da cadeia alimentar. Molusco: inver- vegetação arbus va e uma vegetação florestal. No Brasil,
tebrado pertencente ao filo Mollusca, que se caracteriza por os cerradões, as matas de cipós e os jundus, que são as flo-
apresentar uma concha que serve de refúgio e de proteção restas menos altas do país, têm de 7 a 12 m de altura média.
ao corpo do animal. Inclui as lesmas, calamares (lulas), Em contraste, na Amazônia ocorrem florestas de 25 a 36 m
caracóis, mexilhões, ostras, vieiras, polvos etc. As diversas de altura com sub-bosques de emergentes que a ngem até
espécies adaptaram-se a nichos terrestres, marinhos e de 40 – 45 m (Polígono dos Castanhais).193
água doce. Vegetais hidróbios são aqueles que vivem nas
águas, por exemplo, as algas marinhas.186 Floresta de Preservação Permanente são aquelas situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 37 o seu nível mais alto em faixa marginal;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água
Trata-se de po permissivo. O ar go prevê causas exclu- naturais ou ar ficiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chama-
dentes de ilicitude decorrentes de estado de necessidade.187
dos “olhos d’água”, qualquer que seja a sua situação topo-
I – Caça famélica: não é crime o abate de animal, ameaça-
gráfica, em um raio mínimo de 50 m de largura;
do ou não de ex nção, realizado em estado de necessidade,
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
para saciar a fome do agente (estado de necessidade próprio)
e) nas encostas ou partes destas, com declividade su-
ou de sua família (estado de necessidade de terceiros).188
perior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive;
II – Não é crime o abate de animais quando realizado para
f) nas res ngas, como fixadoras de dunas ou estabiliza-
proteger lavoura, pomares e rebanhos da ação predatória
doras de mangues;
ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a par r da
autorizado pela autoridade competente. Observe que esse
linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 m
inciso exige que o agente obtenha a autorização previamen-
em projeções horizontais;
te. Porém, não será em qualquer caso que poderá abater os h) em al tude superior a 1.800 m, qualquer que seja a
referidos animais. Somente poderá u lizar-se da autorização vegetação;
quando houver necessidade de proteger as suas lavouras, i) nas áreas metropolitanas definidas em lei;
pomares e rebanhos. Quer dizer: se, em determinada região, j) consideram-se, ainda, de preservação permanentes,
os agricultores ou criadores de rebanhos sabem que ataques quando assim declaradas por ato do Poder Público, as flo-
de animais predadores ou destruidores são frequentes, restas e demais formas de vegetação natural des nadas: a)
devem eles obter, previamente, da autoridade em voga, a atenuar a erosão das terras; b) a fixar as dunas; c) a formar
a respec va autorização [...]; o abate, mesmo com autori- faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; d) a auxi-
zação, só pode ser efetuado, quando surgir a necessidade, liar a defesa do território nacional a critério das autoridades
evidenciada pelo perigo atual ou iminente do ataque aos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

militares; e) a proteger sí os de excepcional beleza ou de


bens jurídicos protegidos.189 valor cien fico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna
[...] ou flora ameaçados de ex nção; g) a manter o ambiente
IV – Não é crime o abate de animais considerados no- necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar
civos, desde que assim caracterizado pela autoridade com- condições de bem-estar público.194
petente (Ibama). Animal nocivo é aquele que pode causar
danos, prejudicar a saúde do homem. 2. Obje vidade Jurídica
Importante lembrar que, como bem salientou Carlos A estabilidade do sistema ecológico.195
Ernani Constan no: “só poderão ser exterminados espéci-
190
Ibid., p. 88.
185 191
Ibid., p. 86. Ibid., p. 89.
186 192
Ibid., p. 86. Ibid., p. 89.
187 193
Ibid., p. 87. Ibid., p. 89.
188 194
Ibid., p. 87. Ibid., p. 89.
189 195
Ibid., p. 87. Ibid., p. 90.

377
3. Objeto Material Comentários de Fernando Capez sobre o art. 39
As florestas de preservação permanente, ainda que em 1. Obje vidade Jurídica
formatação.196
A estabilidade do sistema ecológico.207
4. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
2. Objeto Material
4.1. Ações Nucleares
As árvores que se localizam nas Florestas de Preservação
Destruir ou danificar. Destruir significa fazer desaparecer, Permanente.208
arruinar, devastar. Danificar consiste em prejudicar, causar Árvore: planta lenhosa com um tronco único de pronto
danos.197 reconhecimento, mas que em alguns casos não pode ser
U lizar a floresta de preservação permanente com in- diferenciada de arbustos. O tronco pode não ter galhos como
fringência das normas de proteção.198 na maioria das palmeiras ou permanecer como rebento
U lizar significa usar, fazer uso de, valer-se de.199 terminal durante a vida da árvore, como nas coníferas, ou,
Obs.: a conduta de “cortar árvores” está prevista em po frequentemente, criar uma coroa arredondada de galhos.
próprio (art. 39 da Lei Ambiental).200 Flores e frutos podem ser produzidos nos ramos ou nos ga-
lhos maiores, e, em algumas espécies, até mesmo nas folhas.
4.2. Sujeito A vo Exemplo: Coníferas – Eucalyptus (eucalipto).209

Qualquer pessoa. Poderá ser também o proprietário de 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
local situado em floresta de preservação permanente.201
3.1. Ação Nuclear
4.3. Sujeito Passivo
Cortar (derrubar pelo corte) árvore em floresta con-
A cole vidade.202 siderada de preservação permanente, sem permissão da
autoridade competente. Essa conduta era considerada
4.4. Elemento Norma vo contravenção penal pelo art. 26, b, do Código Florestal. Com
o advento da Lei Ambiental o fato agora cons tui crime.210
Con do na expressão “com infringência das normas de
proteção”.203 3.2. Sujeito A vo

5. Elemento Subje vo Qualquer pessoa. O proprietário do local situado em


Floresta de Preservação Permanente também pode ser
O dolo. Há previsão de culpa no parágrafo único; a pena considerado sujeito a vo, exceto quando possua permissão
será reduzida da metade se o crime for culposo.204 da autoridade competente.211

6. Momento Consuma vo 3.3. Sujeito Passivo

Com o efe vo dano, total ou parcial, da floresta con- A cole vidade.212


siderada de preservação permanente ou com sua simples
u lização com infringência das normas de proteção.205 3.4. Elemento Norma vo

7. Tenta va Representado pela expressão sem a permissão da auto-


ridade competente.
É possível.206 Permissão é o ato administra vo unilateral, discricioná-
rio, pelo qual o Poder Público, em caráter precário, faculta
Em 2006, com a edição da Lei nº 11.428/2006, foi inserido a alguém o uso de um bem público ou a responsabilidade
na Lei dos Crimes Ambientais o art. 38-A, que rege: pela prestação do serviço público.213

Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária 4. Elemento Subje vo


ou secundária, em estágio avançado ou médio de
regeneração, do Bioma Mata Atlân ca, ou u lizá-la O dolo, consistente na vontade livre e consciente de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

com infringência das normas de proteção: cortar árvores localizadas em floresta de preservação per-
Pena – Detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, manente sem a devida permissão.214
ou ambas as penas cumula vamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será 5. Momento Consuma vo
reduzida à metade.
O po exige, para sua consumação, o efe vo corte da
196
Ibid., p. 90. árvore.215
197
Ibid., p. 90.
198 207
Ibid., p. 91. Ibid., p. 92.
199 208
Ibid., p. 91. Ibid., p. 92.
200 209
Ibid., p. 91. Ibid., p. 92.
201 210
Ibid., p. 91. Ibid., p. 93.
202 211
Ibid., p. 91. Ibid., p. 93.
203 212
Ibid., p. 91. Ibid., p. 93.
204 213
Ibid., p. 91. Ibid., p. 93.
205 214
Ibid., p. 91. Ibid., p. 93.
206 215
Ibid., p. 91. Ibid., p. 94.

378
6. Tenta va proteção integral (estação ecológica, reserva biológica etc.)
e unidades de uso sustentável (áreas de proteção ambiental,
É possível.216 florestas, reservas ecológicas etc.). Pretendendo proteger
penalmente os dois grupos, o legislador deliberou dividir o
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 40 atual art. 40 em duas partes: no caput, cuidou das unidades
de proteção integral; no art. 40-A, tratou das unidades de
Observação inicial: o art. 40 revogou a contravenção pe- uso sustentável. Entendendo que a descrição dos delitos
nal prevista no art. 26, d, do Código Florestal. A Lei nº 9.985, ficou muito vaga e imprecisa, o que traz insegurança jurídica,
de 18/7/2000, que regulamenta o art. 225, § 1º, incs. I, II, o Presidente da República em exercício acabou vetando-os.
III e VII, da CF, ins tuiu o Sistema Nacional de Unidades de Consequência: o art. 40, caput, da Lei Ambiental, con nua
Conservação da Natureza. Dispôs os arts. 39 e 40: vigente, porém, agora, com uma importante modificação no
seu § 1º, isto é, ele só vale doravante para as unidades de
Art. 39. Dê-se ao art. 40 da Lei nº 9.605, de 12 de conservação de proteção integral. No que se refere às uni-
fevereiro de 1998, a seguinte redação: dades de conservação de uso sustentável (áreas de proteção
Art. 40. (Vetado) ambiental, reservas ecológicas etc.), não há mais que se falar
§ 1º Entende-se por Unidades de Conservação de em delito, por falta de previsão legal. Com o veto do art. 40-
Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas A, tudo isso deixou de ser crime (houve aboli o criminis).
Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Em outras palavras: antes da nova lei, 100% das unidades
Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre. (NR) de conservação e reservas ecológicas eram protegidas pelo
§ 2º A ocorrência de dano afetando espécies ame- Direito Penal. Depois dela, apenas 50%. Todos os crimes de
açadas de extinção no interior das Unidades de danos causados às áreas de uso sustentável devem ter a
Conservação de Proteção Integral será considerada punibilidade ex nta imediatamente. E o pior: esqueceu-se
circunstância agravante para a fixação da pena. (NR) de vetar, tal como exigia a coerência, o § 3º do art. 40-A, que
§ 3º [...] prevê a forma culposa do delito e a redução da pena à meta-
Art. 40. Acrescente-se à Lei nº 9.605, de 1998, o se- de. Resultado: sobrou a previsão de um “delito” culposo sem
guinte art. 40-A: a descrição de nenhuma conduta criminosa e a cominação
Art. 40-A. (Vetado) de uma pena inexistente. Já é sabido no Brasil da existência
§ 1º Entende-se por Unidades de Conservação de Uso de inúmeros “delitos” sem pena (por exemplo, art. 95 da Lei
Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas nº 8.212/1991); agora também temos “pena” sem delito!
de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacio- É bem provável que, em nenhuma outra época, nosso país
nais, as Reservas Extra vistas, as Reservas de Fauna, tenha presenciado tanto caos norma vo. Par cularmente,
as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as no âmbito penal, a desordem jurídica é impressionante.
Reservas Par culares do Patrimônio Natural. (AC) Ninguém mais sabe exatamente quantas leis acham-se em
§ 2º A ocorrência de dano afetando espécies ame- vigor. A arte de legislar com prudência, equilíbrio e come-
açadas de extinção no interior das Unidades de dimento está desaparecendo. Se de um lado é verdade que
Conservação de Uso Sustentável será considerada a lei ambiental brasileira prevê um exagerado número de
circunstância agravante para a fixação da pena. (AC) crimes (mais de sessenta, enquanto a média mundial não
§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à passa de dez); de outro, é evidente que não é por meio de
metade (AC)217 crassos erros legisla vos que se pode corrigir essa anoma-
lia. A balbúrdia jurídica e suas nefastas consequências, em
Grave equívoco do legislador: suma, exigem profundas modificações no processo legisla vo
brasileiro para nele introduzir a seguinte regra: algumas leis
As modificações à Lei Ambiental trazidas pela Lei aprovadas pelo legislador, depois de promulgadas, porém
nº 9.985/2000 e o veto presidencial ao caput do art. 40-A antes da sanção e da vigência, deveriam ser subme das a
deixaram as Unidades de Conservação de Uso Sustentável, uma independente Comissão de Especialistas, eleita pelo
outrora protegidas pela Lei nº 9.605/1998, sem proteção próprio Congresso Nacional, para as devidas correções
penal. Luiz Flávio Gomes explica por quê: técnicas. Quando o caso caberia ao Poder Legisla vo rever
A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que ins tuiu o suas decisões.218
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC), acaba de provocar um dos maiores atentados da Unidades de Conservação
nossa História contra o meio ambiente e o sistema jurídico
brasileiro: seus arts. 39 e 40, absurda e ilogicamente, elimi- 1. Noções Preliminares
naram a proteção penal de grande parte dos recursos am-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

bientais. Esse equívoco legisla vo com certeza causará não Unidade de Conservação: espaço territorial e seus re-
só um impacto superior aos recentes desastres ecológicos cursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
envolvendo a Petrobras, como também uma contundente re- caracterís cas naturais relevantes, legalmente ins tuído pelo
ação nacional e internacional, especialmente das associações Poder Público, com obje vos de conservação e limites defini-
ambientalistas. Deu-se o seguinte: o art. 40 da Lei Ambiental dos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
(Lei nº 9.605/1998) previa como crime causar dano direto ou garan as adequadas de proteção. A Lei nº 9.985/2000, no
indireto às unidades de conservação. No § 1º dizia: Entende- seu art. 7º, dividiu-as em dois grupos:219
-se por unidades de conservação as reservas biológicas, eco-
lógicas, estações ecológicas, florestas etc. Como se vê, todas 1.1. Unidades de Conservação de Proteção Integral
as reservas ecológicas achavam-se protegidas penalmente.
A recen ssima Lei nº 9.985, dando nova disciplina às unida- Compostas por Estações Ecológicas, Reservas Biológi-
des de conservação, dividiu-as em dois grupos: unidades de cas, Parques Nacionais, Monumentos Naturais e Refúgios
216 218
Ibid., p. 94. Ibid., p. 95.
217 219
Ibid., p. 94. Ibid., p. 97.

379
de Vida Silvestre. Têm como obje vo básico a preservação como àquelas previstas em regulamento. As unidades dessa
da natureza, sendo admi do apenas o uso indireto (aquele categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão
que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos denominadas, respec vamente, Parque Estadual e Parque
recursos naturais) dos recursos naturais, com exceção dos Natural Municipal. Exemplos: Parque Nacional da Chapada
casos previstos na Lei nº 9.985/2000.220 da Diaman na (BA), Parque Nacional da Chapada dos Guima-
rães (MT), Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO),
a) Estação Ecológica tem como obje vo a preservação da Parque Nacional da Ilha Grande (PR e MS), Parque Nacional
natureza e a realização de pesquisas cien ficas. É de posse e de Ita aia (RJ e MG), Parque Nacional Lençóis Maranhenses
domínio públicos, sendo que as áreas par culares incluídas (MA), Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que (PE), Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense (MT),
dispõe a Lei. É proibida a visitação pública, exceto quando Parque Nacional de São Joaquim (SC), Parque Nacional da
com obje vo educacional, de acordo com o que dispuser Serra da Bocaina (SP e RJ), Parque Nacional da Tijuca (RJ).223
o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico.
Pesquisas cien ficas dependem de autorização prévia da d) Monumento Natural tem como obje vo básico pre-
autoridade competente que poderá determinar condições e servar sí os naturais raros, singulares ou de grande beleza
restrições a serem observadas pelos pesquisadores. As alte- cênica. Pode ser cons tuído por áreas par culares, desde
rações dos ecossistemas das Estações Ecológicas só podem que seja possível compa bilizar os obje vos da unidade com
ser permi das nos seguintes casos: medidas que visem à a u lização da terra e dos recursos naturais do local pelos
restauração de ecossistemas modificados; manejo de espé- proprietários. Havendo incompa bilidade entre os obje vos
cies com o fim de preservar a diversidade biológica; coleta de da área e as a vidades privadas ou não havendo aquiescência
componentes dos ecossistemas com finalidades cien ficas; do proprietário às condições propostas pelo órgão respon-
pesquisas cien ficas cujo impacto sobre o ambiente seja sável pela administração da unidade para a coexistência
maior do que aquele causado pela simples observação ou do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área
pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, deve ser desapropriada. A visitação pública está sujeita às
em uma área correspondente a no máximo três por cento da condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da
extensão total da unidade e até o limite de 1500 hectares. unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por
Exemplos de Estações Ecológicas Federais: Estação Ecológica sua administração e àquelas previstas em regulamento.224
Serra das Araras (MT), Estação Ecológica Tupinambás (SP),
Estação Ecológica Tupiniquins (SP).221 e) Refúgio de Vida Silvestre tem como obje vo proteger
ambientes naturais, onde se asseguram condições para a
b) Reserva Biológica tem como obje vo a preservação existência ou reprodução de espécies ou comunidades da
integral da biota e demais atributos naturais existentes em flora local e da fauna residente ou migratória. Pode ser
seus limites, sem interferência humana direta ou modifica- cons tuído por áreas par culares, desde que seja possível
ções ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação compa bilizar os obje vos da unidade com a u lização da
de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo neces- terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.
sárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a di- Havendo incompa bilidade, a área deve ser desapropriada,
versidade biológica e os processos ecológicos naturais. É de de acordo com o que dispõe a Lei. A visitação pública está
posse e domínio públicos, sendo que as áreas par culares sujeita às normas e restrições estabelecidas pelo órgão
incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo responsável por sua administração e àquelas previstas em
com o que dispõe a Lei. É proibida a visitação pública, exceto regulamento. A pesquisa cien fica depende de autorização
aquela com obje vo educacional, de acordo com regulamen- prévia do órgão responsável pela administração da unidade e
to específico. A pesquisa cien fica depende de autorização está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas,
prévia do órgão responsável pela administração da unidade e bem como àquelas previstas em regulamento.225
está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas,
bem como àquelas previstas em regulamento. Exemplos de 1.2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Reservas Biológicas Federais: Reserva Biológica do Atol das
Rocas (RN), Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (SC), Têm como objetivo básico compatibilizar a conser-
Reserva Biológica Poço das Antas (RJ).222 vação da natureza com o uso sustentável de parcela dos
seus recursos naturais. Uso Sustentável é a exploração do
c) O Parque Nacional tem como obje vo básico a preser- ambiente de maneira a garan r a perenidade dos recursos
vação de ecossistemas naturais de grande relevância ecoló- ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo
gica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma
cien ficas e o desenvolvimento de a vidades de educação socialmente justa e economicamente viável. São compostas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

e interpretação ambiental, de recreação em contato com por: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse
a natureza e de turismo ecológico. É de posse e domínio Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extra vista, Reserva de
públicos, sendo que as áreas par culares incluídas em seus Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva
limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe Par cular do Patrimônio Natural.226
a Lei. A visitação pública é permi da, porém, está sujeita às
normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da a) Área de Proteção Ambiental é uma área em geral
unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de
por sua administração e àquelas previstas em regulamento. atributos abió cos, bió cos, esté cos ou culturais especial-
A pesquisa cien fica depende de autorização prévia do mente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar
órgão responsável pela administração da unidade e está das populações humanas, e tem como obje vos básicos
sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem
223
Ibid., p. 99.
220 224
Ibid., p. 97. Ibid., p. 99.
221 225
Ibid., p. 97. Ibid., p. 100.
222 226
Ibid., p. 98. Ibid., p. 100.

380
proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos recursos naturais da unidade. É de domínio público, com uso
naturais. É cons tuída por terras públicas ou privadas. Po- concedido às populações extra vistas tradicionais, conforme
dem ser estabelecidas normas e restrições para a u lização o disposto no art. 23 da Lei nº 9.985/2000, sendo que as áreas
de uma propriedade privada localizada em uma Área de par culares incluídas em seus limites devem ser desapropria-
Proteção Ambiental, respeitados os limites cons tucionais. das, de acordo com o que dispõe a Lei. A visitação pública
A realização de pesquisa cien fica e a visitação pública, nas é permi da, desde que compa vel com os interesses locais
áreas sob domínio público, ficarão sujeitas às condições e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área.
estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. Nas áreas sob A pesquisa cien fica é permi da e incen vada, sujeitando-
propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as -se à prévia autorização do órgão administra vo da unidade,
condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas às condições e restrições por ele estabelecidas e às normas
as exigências e restrições legais. Exemplo: Área de Proteção previstas em regulamento. São proibidas a exploração de
Ambiental Baleia Franca (SC), Área de Proteção Ambiental de recursos minerais e a caça amadorís ca ou profissional.
Cananeia-Iguape-Peruíbe (SP), Área de Proteção Ambiental A exploração comercial de recursos madeireiros só será
de Fernando de Noronha (PE), Área de Proteção Ambiental admi da em bases sustentáveis e em situações especiais e
de Petrópolis (RJ), Área de Proteção Ambiental da Serra da complementares às demais a vidades desenvolvidas na Re-
Man queira (MG, RJ e SP).227 serva Extra vista, conforme o disposto em regulamento e no
Plano de Manejo da unidade. Exemplos: Reserva Extra vista
b) Área de Relevante Interesse Ecológico é uma área, do Pirajubaé (SC), Reserva Extra vista Chico Mendes (AC).230
em geral, de pequena extensão, com pouca ou nenhuma
ocupação humana, com caracterís cas naturais extraordi- e) Reserva de Fauna é uma área natural com popula-
nárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, ções animais de espécies na vas, terrestres ou aquá cas,
e tem como obje vo manter os ecossistemas naturais de residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-
importância regional ou local e regular o uso admissível -científicos sobre o manejo econômico sustentável de
dessas áreas, de modo a compa bilizá-lo com os obje vos de recursos faunís cos. É de posse e domínio públicos, sendo
conservação da natureza. É cons tuída por terras públicas ou que as áreas par culares incluídas em seus limites devem
privadas. Respeitados os limites cons tucionais, podem ser ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a Lei. A vi-
estabelecidas normas e restrições para a u lização de uma sitação pública pode ser permi da, desde que compa vel
propriedade privada localizada em uma Área de Relevante com o manejo da unidade e de acordo com as normas es-
Interesse Ecológico. Exemplo de Área de Relevante Interesse tabelecidas pelo órgão responsável por sua administração.
Ecológico: Floresta da Cicuta (RJ), Ilha do Ameixal (SP), Mata É proibido o exercício da caça amadorís ca ou profissional.
de Santa Genebra (SP), Matão de Cosmópolis (SP), Serra das A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes
Abelhas – Rio da Prata (SC), Vale dos Dinossauros (PB).228 das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e
regulamentos.231
c) Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal
de espécies predominantemente na vas e tem como obje- f) Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área
vo básico o uso múl plo sustentável dos recursos florestais natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
e a pesquisa cien fica, com ênfase em métodos para explo- baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recur-
ração sustentável de florestas na vas. É de posse e domínio sos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados
públicos, sendo que as áreas par culares incluídas em seus às condições ecológicas locais e que desempenham um papel
limites devem ser desapropriadas de acordo com o que fundamental na proteção da natureza e na manutenção
dispõe a Lei. Quando criada pelo estado ou município, será da diversidade biológica. Seu obje vo básico é preservar a
denominada, respec vamente, Floresta Estadual e Floresta natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os
Municipal. É admi da a permanência de populações tradi- meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos
cionais que a habitam quando de sua criação, bem como e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais
a visitação pública, as quais ficam sujeitas ao disposto em das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar
regulamento e no Plano de Manejo da unidade. A pesquisa e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do
é permi da e incen vada, sujeitando-se à prévia autorização ambiente, desenvolvido por essas populações. É de domínio
da administração da unidade, às condições e restrições por público, sendo que as áreas par culares incluídas em seus
esta estabelecidas e àquelas previstas em regulamento. limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de
Exemplos de Florestas Nacionais: Região Norte – Floresta acordo com o que dispõe a Lei. O uso das áreas ocupadas
Nacional do Amapá, Floresta Nacional Tapajós; Região Nor- pelas populações tradicionais será regulado de acordo com o
deste – Floresta Nacional Araripe; Região Sudeste – Floresta disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Nacional Capão Bonito, Floresta Nacional Ipanema, Floresta As a vidades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento
Nacional Rio Preto; Região Sul – Floresta Nacional de Canela, Sustentável obedecerão às seguintes condições: é permi da
Floresta Nacional Passo Fundo. Exemplos de Florestas Es- e incen vada a visitação pública, desde que compa vel com
taduais em São Paulo: Floresta Estadual de Avaré, Floresta os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano
Estadual de Batatais, Floresta Estadual de Botucatu.229 de Manejo da área; é permi da e incen vada a pesquisa
cien fica voltada à conservação da natureza, à melhor rela-
d) Reserva Extra vista é uma área u lizada por popula- ção das populações residentes com seu meio e à educação
ções extra vistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão
no extra vismo e, complementarmente, na agricultura de responsável pela administração da unidade, às condições
subsistência e na criação de animais de pequeno porte. e restrições por este estabelecidas e às normas previstas
Tem como obje vos básicos proteger os meios de vida e a em regulamento; deve ser sempre considerado o equilíbrio
227
Ibid., p. 101.
228 230
Ibid., p. 101. Ibid., p. 102.
229 231
Ibid., p. 102. Ibid., p. 103.

381
dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; 4. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
finalmente, é admi da a exploração de componentes dos
ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e 4.1. Ação Nuclear
a subs tuição da cobertura vegetal por espécies cul váveis,
desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Causar dano significa ocasionar, provocar estrago, dete-
Plano de Manejo da área.232 rioração, danificação, prejuízo efe vo.239

g) Reserva Par cular do Patrimônio Natural é uma área 4.2. Sujeito A vo


privada, gravada com perpetuidade, com o obje vo de con-
servar a diversidade biológica. A perpetuidade constará de Qualquer pessoa, inclusive o proprietário ou possuidor
termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental da área localizada nas Unidades de Conservação ou aos
que verificará a existência de interesse público, e será aver- arredores destas, em um raio de 10 km.240
bado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis.
Só poderá ser permi da, na Reserva Par cular do Patrimônio 4.3. Sujeito Passivo
Natural, conforme se dispuser em regulamento: a pesquisa
cien fica; a visitação com obje vos turís cos, recrea vos e A cole vidade.241
educacionais. Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que
possível e oportuno, prestarão orientação técnica e cien fica 5. Elemento Subje vo
ao proprietário de Reserva Par cular do Patrimônio Natural
para elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de O dolo, consistente na vontade livre e consciente de
Gestão da unidade. Exemplos de RPPNs: Fazenda San Michele causar dano às Unidades de Conservação ou às áreas aos
(São José dos Campos, SP), Reserva Ecoword (A baia, SP), arredores destas, em um raio de 10 km.242
Reserva Carbocloro (Cubatão, SP), Fazenda Limeira (Petrópo- A conduta culposa está prevista no § 3º. Nesse caso,
lis, RJ), Reserva Maria Francisca Guimarães (Teresópolis, RJ), a pena será reduzida à metade.243
Reserva Salto Morato (Guarequeçaba, PR), Reserva Morro
das Aranhas (Florianópolis, SC), Fazenda Singapura (Bonito, 6. Momento Consuma vo
MS), Clube de Caça e Pesca Itororó (Uberlândia, MG).233
Com o efe vo dano às Unidades de Conservação ou em
As Unidades de Conservação (Unidades de Conservação suas áreas circundantes, dentro do raio de 10 km.244
de Proteção Integral e Unidades de Conservação de Uso
Sustentável) são criadas por ato do Poder Público.234 7. Tenta va
As Unidades de Conservação de Uso Sustentável podem
ser transformadas total ou parcialmente em Unidades de É possível.245
Proteção Integral, por instrumento norma vo do mesmo
nível hierárquico daquele que criou a unidade, desde que 8. Agravante
obedecidos os procedimentos de consulta pública (previs-
tos no art. 22, § 2º, da Lei nº 9.985/2000). A ampliação dos Art. 40, § 2º: será considerada circunstância agravan-
limites de uma Unidade de Conservação, sem modificação te para a fixação da pena a conduta do agente que
dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, ocasionar dano às Unidades de Conservação, afetan-
pode ser feita por instrumento norma vo do mesmo nível do espécies que estejam ameaçadas de ex nção.246
hierárquico daquele que criou a unidade, desde que obe-
decidos os procedimentos de consulta (previstos no art. 22, Comentários de Fernando Capez sobre o art. 41
§ 2º, da Lei nº 9.985/2000). A desafetação ou redução dos
limites de uma Unidade de Conservação só pode ser feita 1. Obje vidade Jurídica
mediante lei específica.235
A estabilidade do sistema ecológico.247
2. Obje vidade Jurídica
2. Objeto Material
O equilíbrio ecológico.236
Floresta ou mata.248
3. Objeto Material Floresta: agrupamento de vegetação com elevada densi-
dade, composta de árvores de grande porte, cobrindo grande
São as Unidades de Conservação e as áreas de que trata extensão de terras.249
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o art. 27 do Decreto nº 99.274/1990 (áreas localizadas em Mata: na linguagem vulgar, designa uma floresta de pe-
um raio de 10 km a par r das Unidades de Conservação).237 quena área ocupada por arvoredo silvestre, bravio e inculto;
grande extensão de terreno onde crescem árvores silvestres
Obs.: dispõe o art. 24 da Lei nº 9.985/2000 que o subsolo da mesma espécie; arvoredo; selva; bosque.250
e o espaço aéreo, sempre que influírem na estabilidade do
ecossistema, integram os limites das unidades de conser- 239
Ibid., p. 106.
vação.238 240
241
Ibid., p. 106.
Ibid., p. 106.
242
Ibid., p. 107.
243
Ibid., p. 107.
232 244
Ibid., p. 104. Ibid., p. 107.
233 245
Ibid., p. 104. Ibid., p. 107.
234 246
Ibid., p. 105. Ibid., p. 107.
235 247
Ibid., p. 105. Ibid., p. 108.
236 248
Ibid., p. 106. Ibid., p. 108.
237 249
Ibid., p. 106. Ibid., p. 108.
238 250
Ibid., p. 106. Ibid., p. 108.

382
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime em seu interior por buchas em combustão, amarradas a uma
ou mais bocas de arame.261
3.1. Ação Nuclear
Obs.: o art. 42 da Lei nº 9.605/1998 revogou o art. 26,
Provocar (incêndio) significa produzir, mo var.251 f, do Código Florestal, o qual dispunha que “cons tuem
Incêndio: é a combustão de matéria, causando danos contravenções penais [...]: f) fabricar, vender, transportar ou
ou destruição expressivos. É o fogo que se propaga com soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e
intensidade em altas chamas e em grandes proporções.252 demais formas de vegetação”. O fato agora cons tui crime.
Con nua em vigor, no entanto, a contravenção prevista no
3.2. Sujeito A vo art. 28, parágrafo único, da LCP, o qual prevê o po contra-
vencional de “soltar balão aceso, em lugar habitado ou em
Qualquer pessoa.253 suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem
licença da autoridade”. Desse modo, atualmente, existem
3.3. Sujeito Passivo duas situações: a) quem solta balão aceso próximo à área
ambiental ou urbana (que possui, em suas adjacências, flo-
A cole vidade.254 restas ou demais formas de vegetação) incide no art. 42 da
Lei Ambiental; b) quem solta balão aceso nos demais casos
incide no art. 28 da LCP.262
4. Elemento Subje vo
3.2. Sujeito A vo
O dolo, a vontade livre e consciente de provocar o incên-
dio em mata ou floresta. Qualquer pessoa.263
A conduta culposa é prevista na figura do parágrafo
único.255 3.3. Sujeito Passivo
5. Momento Consuma vo A cole vidade.264
A consumação dá-se com a efe va provocação do incên- 3.4. Elementos Norma vos
dio em mata ou floresta.
Se com sua conduta o agente também ver a consciência Representados pelas seguintes expressões: “urbana” e
de que está expondo a perigo a vida, a integridade sica ou “ po de assentamento humano”.265
o patrimônio de outrem, estará cometendo o crime previsto
no art. 250, com o aumento de pena do § 1º, II, h, do CP.”256 4. Elemento Subje vo

6. Tenta va O dolo, a vontade livre de fabricar, vender, transportar


ou soltar balões e a consciência de que estes poderão causar
É admissível.257 incêndios nas áreas previstas no po penal.266

Comentários de Fernando Capez sobre o art. 42 5. Momento Consuma vo

1. Obje vidade Jurídica Com a efe va fabricação, venda, transporte ou lança-


mento ao ar de balões que possam provocar incêndio nas
O equilíbrio ecológico.258 áreas previstas no po penal.267

2. Objeto Material 6. Tenta va

As florestas e demais formas de vegetação.259 É admissível.268

3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime Comentários de Fernando Capez sobre os arts. 43


e 44
3.1. Ações Nucleares
1. Obje vidade Jurídica
Fabricar (produzir, preparar, construir, manufaturar),
vender (alienar ou ceder por certo preço, trocar por dinheiro, O equilíbrio ecológico. 269
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

negociar), transportar (conduzir ou levar de um lugar para


outro) ou soltar (lançar ao ar, tornar livre) balões.260 2. Objeto Material
Balão é um artefato de papel fino, colado de maneira que
imita formas variadas, em geral de fabricação caseira, o qual Pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais das
se lança ao ar e que sobe por força do ar quente produzido florestas de domínio público ou consideradas de preservação
permanente.270
251 261
Ibid., p. 108. Ibid., p. 110.
252 262
Ibid., p. 108. Ibid., p. 110.
253 263
Ibid., p. 108. Ibid., p. 111.
254 264
Ibid., p. 108. Ibid., p. 111.
255 265
Ibid., p. 109. Ibid., p. 111.
256 266
Ibid., p. 109. Ibid., p. 111.
257 267
Ibid., p. 109. Ibid., p. 111.
258 268
Ibid., p. 110. Ibid., p. 111.
259 269
Ibid., p. 110. Ibid., p. 112.
260 270
Ibid., p. 110. Ibid., p. 112.

383
Pedra é matéria mineral, dura e sólida, da natureza das 4. Elemento Subje vo
rochas. Areia consiste em par culas de rochas em desagre-
gação, que se apresentam em grãos mais ou menos finos, O dolo, consistente na vontade livre e consciente do
nas praias, leitos de rios, desertos etc. Cal é substância agente de re rar as referidas substâncias de floresta de
branca, grosseiramente granulada, ob da pela calcinação domínio público ou de preservação permanente.
do carbonato de cálcio e usada em argamassas, na indústria Não há previsão de conduta culposa.279
cerâmica e farmacêu ca, na clarificação e desodorização de
óleos. Mineral é elemento ou composto químico formado em 5. Momento Consuma vo
geral por processos inorgânicos, o qual tem uma composição
A consumação ocorre com a efe va extração de pedra,
química definida e ocorre naturalmente na crosta terrestre.
areia, cal ou qualquer espécie de minerais.280
São exemplos de minerais: minério de ferro, hematita,
manganês, cassiterita, sal, níquel, cobre, zinco, potássio, 6. Tenta va
ouro, prata, cálcio, quartzo, feldspato, mica, argilas, pedras
preciosas ou não, pedras semipreciosas. Frequentemente, É possível.281
a palavra “mineral” é usada, em um sen do mais geral, para
referir-se a qualquer material com valor econômico (tal como Comentários de Fernando Capez sobre o art. 45
o petróleo) rado do solo.271
1. Obje vidade Jurídica
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
O equilíbrio ecológico.282
3.1. Ação Nuclear
2. Objeto Material
Extrair ( rar de dentro de onde estava, arrancar) pedra,
areia, cal ou qualquer espécie de minerais das florestas de Madeira de lei.283
domínio público ou das florestas consideradas de preserva- Madeira: cerne das árvores, anatomicamente cons tuído
ção permanente, sem prévia autorização.272 pelo lenho secundário morto. Madeira de lei é a madeira que
Floresta de Domínio Público: inicialmente, faz-se neces- possui maior durabilidade, resistência e solidez, própria para
construções e trabalhos expostos às intempéries; madeira
sário conceituar o que são bens públicos. Para Celso Antônio
dura (exemplos: madeiras extraídas da imbuia, do mogno,
Bandeira de Mello, bens público são todos aqueles que do cedro, do carvalho, da faia, da teca).284
pertencem às pessoas jurídicas de Direito Público (União,
estados, Distrito Federal, municípios, respec vas autarquias 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
e fundações de Direito Público), bem como os que, embora
não pertencentes a tais pessoas, estejam afetados à pres- 3.1. Ações Nucleares
tação de um serviço público. O conjunto de bens públicos
forma o “domínio público”, que inclui tanto bens imóveis Cortar (separar de um todo, dividir com instrumento
como móveis. Pode-se, assim, concluir que florestas de do- cortante); transformar em carvão (consiste em alterar, modi-
mínio público são as que pertencem à União, aos estados, ficar, converter material orgânico em carvão, sua combustão
ao Distrito Federal e aos municípios.273 incompleta) a madeira de lei. Carvão: pedra sedimentária
Florestas de Preservação Permanente: a definição está preta de origem orgânica, ou resultante da combustão in-
nos comentários ao art. 38 desta Lei.274 completa de variadas substâncias orgânicas, como a lenha,
as sementes de babaçu, o bagaço de cana e os resíduos de
3.2. Sujeito A vo origem animal. No presente ar go, são punidas as condutas
de cortar madeira de lei ou transformá-la em carvão, em
desacordo com as determinações legais.285
Qualquer pessoa, inclusive o proprietário ou possuidor
da área localizada nas florestas de domínio público ou de
3.2. Sujeito A vo
preservação permanente, que não possua autorização.275
Qualquer pessoa, incluindo-se o proprietário do local
3.3. Sujeito Passivo onde se encontram as árvores de madeira de lei.286

A cole vidade.276 3.3. Sujeito Passivo


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

3.4. Elemento Norma vo A cole vidade.287


3.4. Elementos Norma vos
Representado pela expressão “sem prévia autorização”.277
Autorização é o ato administra vo unilateral, discricio- Representados pelas expressões “em desacordo com as
nário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o determinações legais”; “assim classificada pro ato do poder
exercício de uma a vidade privada e material.278 público”.288
279
Ibid., p. 114.
280
Ibid., p. 114.
271 281
Ibid., p. 112. Ibid., p. 116.
272 282
Ibid., p. 113. Ibid., p. 115.
273 283
Ibid., p. 113. Ibid., p. 115.
274 284
Ibid., p. 113. Ibid., p. 115.
275 285
Ibid., p. 113. Ibid., p. 115.
276 286
Ibid., p. 113. Ibid., p. 115.
277 287
Ibid., p. 113. Ibid., p. 116.
278 288
Ibid., p. 114. Ibid., p. 116.

384
4. Elemento Subje vo 3.4. Elementos Norma vos

É o dolo, a vontade livre e consciente de cortar ou trans- Representados pelas expressões:


formar madeira de lei em carvão, sem autorização para tanto.
Também exige-se o especial fim de agir do sujeito: “Para fins • “sem exigir a exibição de licença do vendedor, outor-
industriais, energé cos ou para qualquer outra exploração, gada pela autoridade competente” e “sem munir-se
econômica ou não”.289 da via que deverá acompanhar o produto até final
beneficiamento” – caput;
5. Momento Consuma vo • “sem licença válida para todo o tempo da viagem
ou do armazenamento, outorgada pela autoridade
Consuma-se com o efe vo corte ou transformação da competente” – parágrafo único.
madeira de lei em carvão.290
Licença é o ato administra vo, unilateral, vinculado, pelo
6. Tenta va qual o Poder Público faculta a um par cular o exercício de
uma a vidade privada e material.298
É admissível.291
4. Elemento Subje vo
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 46
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de re-
1. Obje vidade Jurídica ceber ou adquirir os objetos materiais do delito, sem exigir
a licença do vendedor e sem munir-se da via que deverá
O equilíbrio ecológico.292 acompanhar o produto até final beneficiamento. Como bem
lembra Carlos Ernani Constan no, “exige-se do agente um
especial fim de agir (o fim comercial ou industrial de sua
2. Objeto Material
ação, consubstanciado na expressão “para fins comerciais ou
industriais”). No parágrafo único, também se exige o dolo,
Madeira (cerne das árvores, anatomicamente cons tu-
consistente na vontade livre e consciente de vender, expor
ído pelo lenho secundário morto), lenha (porção de ramos,
à venda, ter em depósito, transportar ou guardar os objetos
achas, ou fragmentos de tronco de árvores, reservados para
materiais sem possuir licença outorgada pela autoridade
servirem de combus vel), carvão (substância combus vel só-
competente.299
lida, negra, resultante da combustão incompleta de materiais
orgânicos) e outros produtos de origem vegetal (exemplos: 5. Momento Consuma vo
o látex, o óleo de cedro, o xaxim).293
Ocorre com a ação de receber, adquirir (para fins comer-
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime ciais ou industriais), vender, expor à venda, ter em depósito,
transportar ou guardar matéria de origem vegetal sem prévia
3.1. Ações Nucleares autorização da autoridade competente.300
3.1.1. No caput 6. Tenta va
Receber (obter a posse); adquirir (obter a propriedade,
por compra, doação, permuta, dação em pagamento) os É admissível nas hipóteses de receber, adquirir e vender.
objetos materiais do delito, para fins comerciais ou indus- Nas hipóteses de expor à venda, ter em depósito, transportar,
triais, sem exigir que o vendedor apresente a devida licença guardar, é inadmissível porque se trata de crimes de mera
e sem munir-se da via da licença que deverá acompanhar o conduta.301
produto.294
Comentários de Fernando Capez sobre os arts. 47
3.1.2. No parágrafo único
Vender (dispor dos produtos mediante contrapresta- e 48
ção, geralmente a tulo oneroso); expor à venda (ofertar 1. Obje vidade Jurídica
a eventuais compradores); ter em depósito (reter à sua
disposição); transportar (deslocar de um local para outro); O equilíbrio ecológico.302
guardar (conservar os produtos à disposição de terceiro) os
objetos materiais do delito sem a devida licença.295 2. Objeto Material
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

3.2. Sujeito A vo Florestas e demais formas de vegetação.303

Qualquer pessoa.296 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime

3.3. Sujeito Passivo 3.1. Ações Nucleares

A cole vidade.297 Impedir (embaraçar, interromper, tornar impra cável)


ou dificultar (tornar di cil ou custoso, colocar dificuldade) a
289
Ibid., p. 116. regeneração de florestas e demais formas de vegetação.304
290
Ibid., p. 116.
291 298
Ibid., p. 116. Ibid., p. 118.
292 299
Ibid., p. 117. Ibid., p. 119.
293 300
Ibid., p. 117. Ibid., p. 119.
294 301
Ibid., p. 117. Ibid., p. 119.
295 302
Ibid., p. 118. Ibid., p. 120.
296 303
Ibid., p. 118. Ibid., p. 120.
297 304
Ibid., p. 118. Ibid., p. 120.

385
Regeneração natural é o processo pelo qual a própria bens públicos municipais. Exemplos: o art. 110 da Lei Orgâ-
natureza reproduz, restaura, o que estava destruído. Impedir nica do município de São Paulo estabelece que cons tuem
ou dificultar esse processo configura crime.305 bens municipais todas as coisas móveis e imóveis, semo-
ventes, direitos e ações que, a qualquer tulo, pertençam
3.2. Sujeito A vo ao município. Sob esse prisma, plantas de ornamentação,
árvores, arbustos de logradouros públicos são bens públi-
Qualquer pessoa, inclusive o proprietário da área.306 cos municipais, cabendo, portanto, à municipalidade sua
correta manutenção, recuperação e preservação. Desse
3.3. Sujeito Passivo modo, a extração ou a poda, consistente na remoção de
galhos com a finalidade de garan r a conservação e o bom
A cole vidade.307 desenvolvimento das plantas, somente poderá ser realizada
dentro das normas previstas pela Legislação Municipal, com
4. Elemento Subje vo a autorização do Poder Público competente. (v. Lei Municipal
nº 10.365/1987, que disciplina o corte e a poda de vegeta-
O dolo, a vontade livre e consciente de impedir ou difi- ção de porte arbóreo existente no município de São Paulo).
cultar a regeneração natural de florestas e demais formas de Portanto, a conduta poderá ser a pica, se jus ficadamente
vegetação que foram danificadas anteriormente. necessária, realizada pelo Poder Público competente, ou com
Não há previsão de conduta culposa.308
o devido licenciamento ambiental.”315
Propriedades privadas alheias são os bens par culares.
5. Momento Consuma vo
Porém, não pertencentes ao sujeito ativo desse crime.
O crime se consuma com a efe va criação de impedimen- O ar go dispõe que o crime pode ser ocasionado por qual-
to ou de dificuldades à regeneração natural.309 quer modo ou meio, portanto, também pode ocorrer por
omissão.316
6. Tenta va
3.2. Sujeito A vo
310
É admissível.
Qualquer pessoa.317
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 49
Obs.: se as plantas ornamentam uma propriedade
1. Obje vidade Jurídica privada e quem pra ca a conduta for seu proprietário ou
possuidor, não se configura o crime, pois o po exige que a
O equilíbrio ecológico.311 propriedade seja alheia.318

2. Objeto Material 3.3. Sujeito Passivo

Plantas de ornamentação de logradouros públicos ou de A cole vidade, e, na hipótese de se tratar de propriedade


propriedade privada alheia. privada, também o proprietário ou possuidor desta.319
Plantas de ornamentação são aquelas que enfeitam,
decoram, realçam (exemplos: Cactaceae – cacto; Bromelia- 3.4. Elementos Norma vos
ceae – bromélias; Orchidaceae – orquídeas; as árvores em
geral; os arbustos e demais formas de vegetação).312 “Logradouros públicos” e “propriedade privada alheia”.320

3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime 4. Elemento Subje vo

3.1. Ações Nucleares O dolo, consistente na vontade livre e consciente de


destruir, lesar, maltratar os objetos materiais do delito. A mo-
Destruir (exterminar, desfazer de modo que a coisa per- dalidade culposa do crime está prevista no parágrafo único.321
ca a sua essência), danificar (deteriorar, prejudicar), lesar
(causar lesão a, ferir) ou maltratar (tratar com violência, 5. Momento Consuma vo
infligir maus-tratos), por qualquer modo ou meio, plantas
de ornamentação.313 Com a efe va destruição, dano ou lesão ou, ainda, com
Plantas de ornamentação são aquelas que enfeitam, de- a exposição a perigo, de que decorra probabilidade de dano
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

coram, realçam. Logradouros públicos são os bens públicos (perigo concreto).322


des nados à circulação pública, como ruas, estradas, praças,
pontes, jardins públicos etc.314 6. Tenta va
Obs.: vegetação existente em locais públicos (parques, É possível.323
ruas, canteiros, pontes, praças, jardins públicos) cons tui
305
Ibid., p. 120.
306 315
Ibid., p. 120. Ibid., p. 122.
307 316
Ibid., p. 120. Ibid., p. 123.
308 317
Ibid., p. 121. Ibid., p. 123.
309 318
Ibid., p. 121. Ibid., p. 123.
310 319
Ibid., p. 121. Ibid., p. 123.
311 320
Ibid., p. 121. Ibid., p. 123.
312 321
Ibid., p. 122. Ibid., p. 123.
313 322
Ibid., p. 122. Ibid., p. 123.
314 323
Ibid., p. 122. Ibid, p. 123.

386
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 50 Desmatar, explorar economicamente ou degradar
floresta, plantada ou na va, em terras de domínio
1. Obje vidade Jurídica público ou devolutas, sem autorização do órgão
competente:
O equilíbrio ecológico.324 Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
2. Objeto Material § 1º Não é crime a conduta pra cada quando neces-
sária à subsistência imediata pessoal do agente ou
Florestas na vas (que se originam naturalmente, sem a de sua família.
intervenção do homem) ou plantadas (aquelas cul vadas § 2º Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil
com a intervenção do homem) ou vegetação fixadora de hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por
dunas (dunas são montes de areia ou de terra formados pela milhar de hectare.
ação do vento – podem ser móveis ou fixas), protetora de
mangues (mangues são áreas alagadiças, cujo solo é uma es- Comentários de Fernando Capez sobre o art. 51
pécie de lama escura e mole em que vivem plantas e animais.
O manguezal é dominado por espécies vegetais dos gêneros 1. Obje vidade Jurídica
Rhizophora, Laguncularia e Avicennia que se caracterizam
por possuírem raízes aéreas que captam o oxigênio), cons - O equilíbrio ecológico.333
tuem objeto de especial preservação. Vegetação fixadora de
2. Objeto Material
dunas é aquela responsável pela estagnação das dunas. Isto
é, as plantas em torno das quais as par culas de areia (que Florestas e demais formas de vegetação.334
estão em movimento em razão dos ventos) acumulam-se,
aglu nando-se e formando as dunas. Vegetação protetora 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
de mangues é aquela que dispensa proteção aos mangues.325
3.1. Ações Nucleares
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
Comercializar (tornar comerciável ou comercial, nego-
3.1. Ações Nucleares ciar) ou u lizar (usar, fazer uso de, valer-se de) motosserra.335
Motosserra é o instrumento composto por uma serra
Destruir (exterminar, desfazer de modo que a coisa perca movida a motor, u lizado para serrar madeira.336
a sua essência) ou danificar (deteriorar, prejudicar) florestas
ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, 3.2. Sujeito A vo
objeto de especial preservação.326
Qualquer pessoa, inclusive o proprietário do local.337
3.2. Sujeito A vo
3.3. Sujeito Passivo
Qualquer pessoa, inclusive o proprietário do local.327
A cole vidade.338
3.3. Sujeito Passivo
3.4. Elemento Norma vo
A cole vidade.328
Con do na expressão “sem licença ou registro da auto-
3.4. Elemento Norma vo ridade competente”.339
Licença é o ato administra vo, unilateral, vinculado, pelo
Está con do na expressão “objeto de especial preser- qual o Poder Público faculta a um par cular o exercício de
vação”.329 uma a vidade privada e material. A Resolução do Conama
nº 237/1997 define Licença Ambiental como sendo o ato admi-
4. Elemento Subje vo nistra vo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece
as condições, restrições e medidas de controle ambiental que
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa sica ou
destruir, danificar os objetos materiais do delito.330 jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar a vidades ou
empreendimentos u lizadores de recursos ambientais, consi-
5. Momento Consuma vo derados efe va ou potencialmente poluidores ou aqueles que,
sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
Ocorre com a efe va destruição ou danificação das flo-
Sobre registro, vide Portaria Informa va nº 1.088 do Ibama
restas na vas ou plantadas, da vegetação fixadora de dunas,
de 10/7/1990 (dispõe sobre a regulamentação das a vidades
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou da vegetação protetora de mangues.331


ligadas à comercialização e uso de motosserras).340
6. Tenta va
4. Elemento Subje vo
332
É possível. O dolo, consistente na vontade livre e consciente de
Em 2006, com o advento da Lei nº 11.284/2006 foi inse- comercializar ou u lizar a motosserra sem possuir licença
rido na Lei em estudo o art. 50-A, que diz: ou registro necessários.341
324 333
Ibid., p. 124. Ibid., p. 126.
325 334
Ibid., p. 124. Ibid., p. 126.
326 335
Ibid., p. 124. Ibid., p. 126.
327 336
Ibid., p. 125. Ibid., p. 126.
328 337
Ibid., p. 125. Ibid., p. 126.
329 338
Ibid., p. 125. Ibid., p. 126.
330 339
Ibid., p. 125. Ibid., p. 126.
331 340
Ibid., p. 125. Ibid., p. 126.
332 341
Ibid., p. 125. Ibid., p. 127.

387
5. Momento Consuma vo 3.2. Sujeito A vo

Com a efetiva comercialização ou utilização da mo- Qualquer pessoa, inclusive o proprietário da área locali-
tosserra, sem a licença ou sem o registro da autoridade zada em Unidades de Conservação, sem a devida licença.348
competente.342
3.3. Sujeito Passivo
6. Tenta va
A cole vidade.349
343
É possível.
3.4. Elemento Norma vo
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 52
Sem licença da autoridade competente.350
1. Obje vidade Jurídica Licença é o ato administra vo, unilateral, vinculado,
pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o exercício
O equilíbrio ecológico.344 de uma a vidade privada e material. Segundo a Resolução
nº 237/1997 do Conama, Licença Ambiental é o ato adminis-
2. Objeto Material tra vo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece
as condições, restrições e medidas de controle ambiental
As Unidades de Conservação (espaço territorial e seus que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa
recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com sica ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar
caracterís cas naturais relevantes, legalmente ins tuído a vidades ou empreendimentos u lizadores dos recursos
pelo Poder Público, com obje vos de conservação e limites ambientais, considerados efe va ou potencialmente polui-
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se dores ou aqueles que, sob qualquer forma, possam causar
aplicam garan as adequadas de proteção). São divididas em: degradação ambiental.351
a) Unidades de Conservação de Proteção Integral: compostas
por Estações Ecológicas, Reservas Biológicas, Parques Nacio- 4. Elemento Subje vo
nais, Monumentos Naturais e Refúgios de Vida Silvestre; b)
Unidades de Conservação de Uso Sustentável: compostas O dolo de perigo.352
por Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse
Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extra vista, Reserva de 5. Momento Consuma vo
Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva
Par cular do Patrimônio Natural.345 Consuma-se com a entrada do agente nas referidas
áreas, portando substâncias ou instrumentos de caça ou de
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime exploração florestal.353

3.1. Ações Nucleares 6. Tenta va

É possível.354
Penetrar (entrar, invadir, transpor) em Unidades de Con-
servação, conduzindo (levando, carregando, transportando)
substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para Comentários de Fernando Capez sobre o art. 53
exploração de produtos ou subprodutos florestais.346
Substâncias: aquilo que define as qualidades materiais, 1. Comentário
qualquer matéria caracterizada por suas propriedades
específicas. No presente caso, as substâncias possuem pro- Neste ar go, estão previstas as causas especiais de au-
priedades próprias para caça ou para exploração de produtos mento de pena que incidem sobre os crimes contra a flora
ou subprodutos florestais. Instrumentos são os recursos (arts. 38 a 52).355
empregados para se alcançar um obje vo, conseguir um
resultado; meio. Caça é a procura, a busca, a perseguição de Espécies da Flora ameaçadas de ex nção: o Ibama tornou
animais, a ro, a laço, a rede etc., para aprisionar ou matá- pública a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Amea-
-los. Exploração é a especulação, o ato de rar proveito de, çada de Ex nção:356
fazer produzir, desenvolver. Produto Florestal: produto é tudo
aquilo produzido pela natureza – produto vegetal, produto Espécies marcadas com asteriscos (*) estão provavelmen-
mineral. É o resultado de qualquer a vidade humana ( sica te ex ntas. Essas espécies não foram encontradas na natu-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

reza nos úl mos 50 anos. Citam-se os seguintes exemplos:


ou mental); o produto da colheita; resultado da produção,
• Aechmea blumenavii reitz. BROMELIACEAE. Nomes
produtos agrícolas, produtos da indústria etc. Portanto, con-
populares: “gravatá”, “monjola”, “bromélia” (Santa
clui-se que o produto florestal é tudo aquilo produzido pelas
Catarina). Categoria: rara (R);
florestas. Subproduto é tudo que resulta secundariamente
• Aniba roseodora ducke. LAURACEAE. Nome popular:
de outra coisa; produto que se re ra do que resta de uma
“pau-de-rosa” (Amazonas, Pará). Categoria: em perigo
substância da qual se extraiu o produto principal (exemplo:
(E);
o látex re rado de várias plantas).347
348
Ibid., p. 129.
349
Ibid., p. 129.
350
Ibid., p. 129.
342 351
Ibid., p. 127. Ibid., p. 129.
343 352
Ibid., p. 127. Ibid., p. 130.
344 353
Ibid., p. 128. Ibid., p. 130.
345 354
Ibid., p. 128. Ibid., p. 130.
346 355
Ibid., p. 128. Ibid., p. 130.
347 356
Ibid., p. 128. Ibid., p. 131.

388
• Araucaria angus folia (Bertol) O. Kuntese. ARAUCA- 1. Noções Preliminares
RIA-CEAE. Nome popular: “pinheiro-do-paraná” (São
Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, A Lei nº 6.938/1981 (Lei de Polí ca Nacional do Meio
Minas Gerais). Categoria: vulnerável (V); Ambiente) definiu poluição como sendo “a degradação da
• Astronium urundeuva (Fr. All.) Engl. ANACARDIACEAE. qualidade ambiental resultante de a vidades que direta ou
Nome popular: “aroeira-do-sertão”, “aroeira-legí ma” indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
(Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Rio Grande do -estar da população; criem condições adversas às a vidades
Norte, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão, Piauí). sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afe-
Categoria: vulnerável (V); tem as condições esté cas ou sanitárias do meio ambiente;
• Bertholletia excelsa HBK. LECYTHIDACEAE. Nome lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
popular: “castanheira”, “castanheira-do-brasil” (Ama- ambientais estabelecidos”. Essa definição atribui à poluição
zonas, Pará, Maranhão, Rondônia, Acre). Categoria: um conceito bastante amplo. Desse modo, podem-se citar
vulnerável (V); como as seguintes espécies de poluição: sonora, hídrica,
• Caesalpina echinata lam. LEGUMINOSAE. Nome po- do solo, visual, atmosférica, por resíduos sólidos, térmica,
pular: “pau-brasil”, “pau-pernambuco”, “ibirapitanga” radioa va etc.359
(Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Rio
Grande do Norte). Categoria: em perigo (E); • Poluição atmosférica: causada pela liberação de gases
• Cariniana ianeirensis kunth. LECYTHIDACEAE. Nome na atmosfera ou por outras par culas, líquidas ou
popular: “jequi bá” (Rio de Janeiro). Categoria: rara (R); sólidas, minusculamente dispersas, em taxas muito
• Dorstenia tenuis bompl. ex bur. MORACEAE. Nome altas para serem dissipadas ou incorporadas à terra
popular: “violeta-da-montanha”, “violeta-montes” ou à água.360
(Paraná, Santa Catarina). Categoria: vulnerável (V);
• Dyckia ibiramansis reitz. BROMELIACEAE. Nome popu- Exemplos:
lar: “gravatá”, “bromélia” (Santa Catarina). Categoria: – emissão de monóxido de carbono e de hidrocarbone-
em perigo (E); tos por motores automobilís cos;
– queima de combus veis fósseis em centrais termoe-
• Lychnophora ericoides mart. COMPOSITAE. Nome
létricas;
popular: “arnica”, “candeia” (Goiás, Minas Gerais, São
– poluição atmosférica por materiais radioa vos (cen-
Paulo). Categoria: vulnerável (V);
trais nucleares são usadas na geração de eletricidade);
• Ocoteca porosa (Nees) barroso. LAURACEAE. Nome
– fabricação de ntas com solventes liberam hidrocar-
popular: “imbuia” (São Paulo, Paraná, Santa Catarina,
bonetos voláteis;
Rio Grande do Sul). Categoria: vulnerável (V);
– compostos de enxofre são produzidos a par r de
• Pilocarpus jaborandi holmes. RUTACEAE. Nome popu- combus veis fósseis;
lar: “jaborandi”, “jaborandi-de-pernambuco”, “arruda- – clorofluorcarbonetos (CFC) u lizados como propelen-
-do-mato”, “jaborandi-branco” (Ceará, Pernambuco). tes de aerossóis;
Categoria: em perigo (E); – pode ser provocada também por algum desastre
• Pilocarpus microphyllus stapf ex wardl. RUTACEAE. de grandes proporções como o da usina nuclear de
Nome popular: “jaborandi-legí mo”, “jaborandi-do- Chernobyl, na an ga União Sovié ca.361
-maranhão” (Pará, Maranhão, Piauí). Categoria: em
perigo (E); A Resolução do Conama nº 3/1990 dispõe que poluente
• Simarouba floribunda st. hil. SIMAROUBACEAE (Minas atmosférico é qualquer forma de matéria ou energia com
Gerais). Categoria: (*) intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou
• Simarouba suaveolensis st. hill. SIMAROUBACEAE caracterís cas em desacordo com os níveis estabelecidos,
(Minas Gerais). Categoria: (*) e que tornem o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde,
• Swietenia macrophylla king. MELIACEAE. Nome popu- inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais,
lar: “mogno”, “águano”, “araputangá”, “caoba”, “cedro- à fauna e flora, prejudicial à segurança, ao uso e gozo da
araná” (Acre, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Rondônia, propriedade e às a vidades normais da comunidade. A Re-
Tocan ns, Maranhão). Categoria: em perigo (E); solução também estabelece padrões de qualidade do ar.362
• Torresea acreana ducke. LEGUMINOSAE. Nome po-
pular: “cerejeira”, “cumaru-de-cheiro”, “imburana-de- • Poluição hídrica: poluição dos recursos hídricos devido
-cheiro” (Acre, Rondônia, Mato Grosso). Categoria: ao lançamento de esgotos sem tratamento, de resídu-
vulnerável (V); os sólidos, de lixo tóxico em cursos d’água, nos mares
• Vriesea brusquensis reitz. BROMELIACEAE. Nome etc. Pode decorrer também da drenagem urbana.363
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

popular: “gravatá”, “monjola”, “bromélia” (Santa


Catarina, Paraná). Categoria: rara (R); Exemplos:
• Worsleya raynei (J.D. Hooker) traub. & moldenke. – produtos químicos tóxicos, como os metais pesados
AMARYLLIDACEAE. Nome popular: “rabo-de-galo”, cádmio e mercúrio, produzidos em algumas operações
“imperatriz-do-brasil”, “amarilis-azul” (Rio de Janeiro). industriais e de mineração, e despejados nos rios,
Categoria: em perigo (E).357 lagos ou águas costeiras, podem matar os organismos
vivos e se acumular nos tecidos dos peixes e crustá-
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 54 ceos, que fazem parte da cadeia alimentar humana,
podendo provocar graves danos à saúde;
Este ar go revogou os arts. 15 da Lei nº 6.938/1991; 270,
caput, 1ª parte, e 271 do CP; e 38 da LCP.358 359
Ibid., p. 133.
360
Ibid., p. 134.
361
Ibid., p. 134.
357 362
Ibid., p. 131. Ibid., p. 134.
358 363
Ibid., p. 133. Ibid., p. 135.

389
– poluentes metálicos, como o alumínio, u lizados nos Segundo a Resolução nº 1, considera-se período diurno
tratamentos de água, que foi relacionado ao Mal de compreendido das 6h00 às 20h00 e período noturno, das
Alzheimer; e o chumbo, u lizado nos encanamentos 20h00 às 6h00.370
de algumas casas an gas e iden ficado como causa Diferenças de cinco dB são insignificantes (item 3.4.2
de danos cerebrais em algumas crianças; da Norma NBR 10.151 da Associação Brasileira de Normas
– resíduos animais (poluentes orgânicos) podem Técnicas – ABNT).371
ameaçar a sobrevivência dos peixes pela redução da A OMS estabelece como padrão suportável ao ouvido
quan dade de oxigênio dissolvido disponível; humano a marca de 70 decibéis. Níveis de ruídos superiores
– o uso excessivo de fer lizantes agrícolas (que acabam a 75 decibéis causam danos à saúde. Além da perda audi va,
contaminando o lençol freá co) pode causar a disse- a exposição con nua à poluição sonora pode causar hiper-
minação de algas venenosas; tensão, gastrite e lesões do sistema nervoso.372
– materiais radioa vos; Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública
– derramamento de petróleo ou óleos.364 da USP constatou que, na maioria dos principais pontos de
circulação de veículos da cidade de São Paulo, o barulho
• Poluição térmica: aumento na temperatura de um provocado por carros ultrapassa os limites estabelecidos
copo de água por uma pluma térmica, por exemplo, pela Legislação Municipal. Os operadores de tráfego da CET
que danifica o ecossistema aquá co (Exemplo: polui- que atuam no trânsito ficam expostos a essa poluição (que
ção térmica produzida pela água u lizada no sistema corresponde a uma média de 80 decibéis) por períodos de
de refrigeração das usinas de energia. Consequências: seis horas seguidas. Em decorrência disso, pelo menos 30%
redução da solubilidade do oxigênio em rios e lagos). dos funcionários sofrem algum po de perda audi va.373
Esse po de poluição também pode referir-se a mu-
danças nos padrões climá cos localizados, causados • Poluição radioa va: causada principalmente por usi-
pela emissão de gases de combustão quentes.365 nas e detritos nucleares, resíduos de radioisótopos,
testes e explosões nucleares. Afeta a fauna, a flora,
• Poluição do solo: contaminação da camada superior a saúde humana, os solos, as águas e o ar. Pode cau-
da terra na qual crescem as plantas. Por ser poroso, sar câncer, redução da capacidade visual, queda de
a poluição normalmente a nge o subsolo. A polui-
cabelos e pelos, alterações gené cas etc.374
ção é causada principalmente pelo uso excessivo de
fer lizantes agrícolas. Os nitratos e pes cidas foram
2. Conceito Geral de Poluição
associados ao desenvolvimento de diversos pos de
câncer nos seres humanos. Podem-se ainda citar como
Deste modo, poluição é qualquer po de degradação
exemplos de poluidores do solo:
– remédios e adi vos para manufatura e alimentos; do meio ambiente decorrente da a vidade humana de nele
– asbesto (amianto), utilizado em construções à introduzir substâncias ou energias prejudiciais, ocasionando
prova de fogo; danos aos diversos ecossistemas. O art. 54 da Lei do Meio
– lixo tóxico lançado no solo; Ambiente exige que o agente provoque a poluição em níveis
– resíduos sólidos.366 tais que resultem, ou possam resultar, danos à saúde humana
ou que causem a mortandade de animais ou a destruição
• Poluição visual: causada pelo excesso de faixas, car- significa va da flora. Assim, não é qualquer poluição que
tazes, painéis, letreiros luminosos, placas, paredes será punida, mas somente aquela que resultar em danos
pintadas e outdoors que veiculam propagandas, ex- à saúde humana, mortandade de animais ou a destruição
postos ao ar livre, à margem de vias públicas ou em significa va da flora.375
locais de visibilidade estratégica.367
3. Obje vidade Jurídica
• Poluição sonora: provocada por níveis excessivos de
ruídos. Os veículos automotores são as principais O equilíbrio ecológico.376
fontes de ruídos no meio ambiente.368
4. Objeto Material
O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente),
pela Resolução nº 1, de 08/03/1990, estabeleceu que “a O ser humano, a fauna e a flora.377
emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer a vidades
industriais, comerciais, sociais ou recrea vas, inclusive as 5. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
de propaganda polí ca, obedecerá, no interesse da saúde,
do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes esta- 5.1. Ação Nuclear
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

belecidos nesta resolução”. Exemplos de níveis máximos de


ruídos permissíveis, estabelecidos pelas Resoluções nº 1 e Causar (consiste em mo var, originar, produzir) poluição
nº 2 de 08/03/1990 do Conama: (é qualquer po de degradação do meio ambiente decorren-
a) hospitais: período diurno = 45 dB (decibéis); período te da a vidade humana de nele introduzir substâncias ou
noturno = 40 dB; energias prejudiciais). Como afirmado, a poluição provoca
b) residencial: período diurno = 55 dB; período noturno mortandade de animais, destruição significa va da flora,
= 50 dB; danos à saúde humana. Saúde humana é a situação normal
c) industrial: período diurno = 70 dB; período noturno
= 65 dB.”369 370
Ibid., p. 137.
371
Ibid., p. 137.
364 372
Ibid., p. 135. Ibid., p. 137.
365 373
Ibid., p. 135. Ibid., p. 137.
366 374
Ibid., p. 136. Ibid., p. 137.
367 375
Ibid., p. 136. Ibid., p. 137.
368 376
Ibid., p. 136. Ibid., p. 138.
369 377
Ibid., p. 136. Ibid., p. 138.

390
das funções orgânicas, sicas e mentais do ser humano. Mor- área localizada nas proximidades de um conjunto residencial
tandade é o extermínio, a matança. Destruição significa va como depósito clandes no de seus resíduos industriais.
da flora consiste em suprimir número expressivo de espécies Com isso ocorre a contaminação do solo, subsolo, ar e água.
vegetais. Os conceitos de fauna e flora estão nos comentários Detecta-se a presença de dezenas de gases tóxicos na região,
aos arts. 29 e 38 da Lei sob análise.378 derivados da decomposição dos resíduos – como o benzeno,
o metano, o decano, o trime lbenzeno, o clorobenzeno, en-
§ 1º O agente por negligência, imprudência ou impe- tre outros. A população local é contaminada, necessitando
rícia poderá causar poluição, caso em que sua pena de tratamento, o qual só terá eficácia se não ficarem mais
será de seis meses a um ano e multa.379 expostas àquelas substâncias tóxicas. As pessoas têm de ser
re radas do conjunto e as residências são interditadas);387
5.2. Sujeito A vo II – causar poluição atmosférica que provoque a re rada,
ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas,
Qualquer pessoa.380 ou que cause danos diretos à saúde da população (exemplo:
poluição atmosférica por materiais radioa vos – centrais nu-
5.3. Sujeito Passivo cleares são usadas na geração de eletricidade – logicamente
há necessidade de re rada dos habitantes);388
A cole vidade.381 III – causar poluição hídrica que torne necessária a
interrupção do abastecimento público de água de uma
5.4. Elementos Norma vos comunidade (exemplo: uma empresa agroindustrial u liza
fer lizantes em uma vasta área. Com a chuva, o produto é
Estão con dos nas expressões: “de qualquer natureza”, arrastado e polui uma represa que abastece várias cidades.
“em níveis tais”, “saúde” e “destruição significa va” (caput); O nitrato e o fosfato, principais componentes desse fer lizan-
“urbana”, “rural” (a área), “imprópria” (a re rada), “ainda te, favorecem a proliferação de algas, que acabam cobrindo
que momentânea”, “abastecimento público de água”, “uso completamente a super cie da água e, em consequência,
público”, “em desacordo com as exigências estabelecidas ocorre a interrupção do abastecimento público de água);389
em leis ou regulamentos” (§ 2º); “quando assim o exigir a IV – dificultar ou impedir o uso público das praias (exem-
autoridade competente”, “medidas de precaução”, “risco de plo: lixo tóxico lançado no mar a ngindo as praias);390
dano ambiental grave ou irreversível” (§ 3º).382
V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqui-
dos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas,
6. Elemento Subje vo
em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos.391
O dolo, consistente na vontade livre do agente na sua
atuação e consciente de que está ocasionando poluição em
níveis tais que resultem ou possam resultar danos à saúde Exemplos: 1) Dispõe o art. 1º da Resolução nº 6/1998 do
humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou Conama sobre licenciamento de Resíduos Industriais Perigo-
a destruição significa va da flora. A conduta culposa está sos: “No processo de licenciamento ambiental de a vidades
prevista no § 1º, no § 2º há previsão de condutas preterdo- industriais, os resíduos gerados e/ou existentes deverão ser
losas. O § 3º estabelece a modalidade qualificada de crime objeto de controle específico”. A resolução determina que
omissivo próprio.383 as indústrias geradoras de resíduos sólidos ao requererem o
licenciamento devem apresentar ao órgão ambiental compe-
7. Momento Consuma vo tente informações sobre a geração, caracterís cas e des no
final de seus resíduos. Devem apresentar um plano de ge-
O crime consuma-se com a efe va poluição que provoque renciamento, especificando o acondicionamento, a forma de
dano à saúde pública, mortandade de animais ou destruição transporte, o trajeto, o po de processamento e a des nação
da flora.384 final de seus resíduos poluentes. Portanto, se a indústria, por
exemplo, causar poluição em virtude de dar des nação final
8. Tenta va diversa da apresentada, ou por ter acondicionado os resíduos
em desacordo com o licenciamento ob do, estará sujeita às
É possível.385 penas previstas no § 2º do ar go sob comentário. 2) Vaza-
mento em um navio que transportava óleo cru. A substância
9. Qualificadoras se espalha por centenas de quilômetros da costa do litoral.392

9.1. §§ 2º e 3º Obs.: o inciso V refere-se à poluição causada pelo lança-


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

mento de resíduos sólidos. Segundo Paulo Afonso Leme Ma-


Esses parágrafos preveem as modalidades qualificadas chado, “o termo resíduo sólido, como entendemos no Brasil,
dos crimes previstos no caput. São as seguintes:386 significa lixo, refugo e outras descargas de materiais sólidos,
incluindo resíduos sólidos de materiais provenientes de ope-
Se o crime: rações industriais, comerciais e agrícolas e de a vidades da
I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a comunidade, mas não inclui materiais sólidos ou dissolvidos
ocupação humana (por exemplo, uma empresa u liza uma nos esgotos domés cos ou outros significa vos poluentes
existentes nos recursos hídricos, tais como a lama, resíduos
378
379
Ibid., p. 138. sólidos dissolvidos ou suspensos na água, encontrados nos
Ibid., p. 138.
380
Ibid., p. 139.
381 387
Ibid., p. 139. Ibid., p. 140.
382 388
Ibid., p. 139. Ibid., p. 140.
383 389
Ibid., p. 139. Ibid., p. 140.
384 390
Ibid., p. 139. Ibid., p. 140.
385 391
Ibid., p. 139. Ibid., p. 140.
386 392
Ibid., p. 140. Ibid., p. 141.

391
efluentes industriais, e materiais dissolvidos nas correntes 3.2. Sujeito A vo
de irrigação ou outros poluentes comuns da água.”393
Qualquer pessoa.406
O § 3º prevê a modalidade qualificada de crime omissivo
próprio. Nesse caso, o Poder Público exige que algumas medi- 3.3. Sujeito Passivo
das preven vas sejam adotadas na hipótese de risco de dano
ambiental grave ou irreversível, mas o agente se omite.394 A cole vidade.407

Comentários de Fernando Capez sobre o art. 55 3.4. Elementos Norma vos

1. Obje vidade Jurídica Estão presentes nas seguintes expressões: “Sem compe-
tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em
O equilíbrio ecológico.395 desacordo com a ob da” (caput); e “nos termos da autori-
zação, permissão, licença, concessão ou determinação do
2. Objeto Material órgão competente” (no parágrafo único).408
Permissão é o ato administra vo unilateral, discricioná-
São os recursos minerais.396 rio, pelo qual o Poder Público, em caráter precário, faculta a
alguém o uso de um bem público ou a responsabilidade pela
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime prestação do serviço público. Licença é o ato administra vo,
unilateral, vinculado, pelo qual o Poder Público faculta a um
3.1. Ações Nucleares par cular o exercício de uma a vidade privada e material.
A Resolução do Conama nº 237/1997 define Licença Am-
Executar (levar a efeito, efetuar, efe var) pesquisa, lavra biental como sendo o ato administra vo pelo qual o órgão
ou extração de recursos minerais.397 ambiental competente estabelece as condições, restrições e
Pesquisa: inves gação e estudo, minudentes e sistemá- medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas
cos, com o fim de estabelecer fatos ou princípios rela vos pelo empreendedor, pessoa sica ou jurídica, para localizar,
a um campo qualquer de conhecimento.398 instalar, ampliar e operar a vidades ou empreendimentos
Lavra é a exploração. É o conjunto de operações coor- u lizadores dos recursos ambientais, considerados efe va
denadas, cujo obje vo é o aproveitamento industrial da ou potencialmente poluidores ou aqueles que, sob qualquer
jazida, desde a extração das substâncias minerais úteis que forma, possam causar degradação ambiental. Autorização é o
con ver até o beneficiamento das mesmas (Decreto-Lei ato administra vo unilateral, discricionário, pelo qual o Poder
nº 227/1967, art. 36).399 Público faculta a um par cular o exercício de uma a vidade
Extração é a re rada de dentro de onde estava, arrancar, privada e material. Concessão é o contrato administra vo
colher, sacar, separar uma substância do corpo de que fazia pelo qual o Poder Público concede a responsabilidade pela
parte.400 prestação de um serviço público ou a realização de uma obra
Recursos minerais: são substâncias naturais da terra, na pública mediante a delegação de sua exploração. Para Celso
forma líquida, gasosa ou sólida. Podemos citar como exem- Antônio Bandeira De Mello, “é designação genérica de fórmu-
plo de extração de recursos naturais a exploração de jazidas la pela qual são expedidos atos amplia vos da esfera jurídica
(depósito natural de uma ou mais substâncias úteis inclusive de alguém. [...] É manifestamente inconveniente reunir sob
de combus veis, como o petróleo, o carvão, exploração de tal nome tão variada gama de atos profundamente dis ntos
minas de ouro etc.).401 quanto à estrutura e regimes jurídicos. Assim, verbi gra a,
O sujeito a vo pra ca referidas condutas sem autori- a concessão de serviço público e a de obra pública são atos
zação, permissão, concessão ou licença ou em desacordo bilaterais; já as de prêmio ou de cidadania são unilaterais”.409
com a ob da.402
A Resolução nº 237 de 19/12/1997 do Conama estabele- 4. Elemento Subje vo
ce que a extração, a pesquisa e a lavra de produtos minerais
são a vidades sujeitas ao licenciamento ambiental.403 O dolo, consistente na vontade livre e consciente de exe-
O parágrafo único prevê ainda que incorrerá nas mesmas cutar a pesquisa, a lavra, ou a extração de recursos minerais
penas aquele que deixa de recuperar a área pesquisada ou sem a competente autorização, permissão, concessão ou
explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, licença, ou em desacordo com a ob da.410
concessão ou determinação do órgão competente. Trata-se
de crime omissivo próprio.404 5. Momento Consuma vo
A CF dispõe em seu art. 225, § 2º: “Aquele que explorar
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente Com a efe va pesquisa, lavra ou extração de recursos
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão minerais (caput). Na hipótese do parágrafo único, com a não
público competente na forma da lei”.405 recuperação da área explorada.411

393
6. Tenta va
Ibid., p. 141.
394
Ibid., p. 141.
395
396
Ibid., p. 142. É possível.412
Ibid., p. 142.
397
Ibid., p. 142.
398
Ibid., p. 142.
399 406
Ibid., p. 142. Ibid., p. 143.
400 407
Ibid., p. 143. Ibid., p. 143.
401 408
Ibid., p. 143. Ibid., p. 143.
402 409
Ibid., p. 143. Ibid., p. 144.
403 410
Ibid., p. 143. Ibid., p. 144.
404 411
Ibid., p. 143. Ibid., p. 145.
405 412
Ibid., p. 143. Ibid., p. 145.

392
Carlos Ernani Constantino observa que o presente 3.4. Elementos Norma vos
dispositivo revogou o crime definido no art. 21 da Lei
nº 7.805/1989 (Regime de Lavra Garimpeira).413 Representados pelas seguintes expressões: “substância
tóxica perigosa ou nociva”, “saúde”, “em desacordo com as
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 56 exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos”
(caput); “em desacordo com as normas de segurança” (§ 1º);
1. Obje vidade Jurídica “nuclear” e “radioa va” (§ 2º).423

O meio ambiente ecologicamente equilibrado.414 4. Elemento Subje vo

2. Objeto Material O dolo, consistente na vontade do agente de pra car as


condutas, consciente de que são produtos ou substâncias
Produtos ou substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas tóxicas, perigosas ou nocivas.424
à saúde humana ou ao meio ambiente. Referidos produtos A modalidade culposa está prevista no § 3º, caso em que
são aqueles que possuem caráter venenoso.415 a pena será de detenção de seis meses a um ano, e multa.425

3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime 5. Momento Consuma vo

3.1. Ações Nucleares Com a efe va produção, processamento, embalagem, im-


portação, exportação, comercialização, fornecimento, trans-
Produzir (dar origem, criar), processar (realizar operações porte, armazenamento, guarda, depósito, uso dos produtos
que resultem mudanças ou sucessão de estados), embalar e substâncias referidos no po penal, em desacordo com as
(acondicionar em pacotes, fardos, caixas etc.), importar (fazer exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos.
vir de outro país, introduzir no país), exportar (transportar No caso do § 1º configura-se com o simples abandono dos
para fora do país), comercializar (tornar comerciável ou referidos produtos, ou com a u lização em desacordo com
comercial, negociar), fornecer (abastecer, prover), transpor- as normas de segurança.426
tar (conduzir ou levar de um lugar para outro), armazenar
(guardar ou conter em armazém, conter em depósito para 6. Tenta va
outrem), guardar (manter sob sua posse), ter em depósito
(armazenar para fins de comércio), usar (u lizar, fazer uso É possível.427
de, valer-se de) produtos ou substâncias tóxicas, perigosas ou
nocivas à saúde humana ou ao meio ambiente. Produtos ou Vale lembrar que, em 2010, a Lei nº 12.305/2010 alterou
substâncias tóxicas são aqueles nocivos, que têm a proprie- a Lei em estudo:
dade de envenenar; perigosas (que causam algum perigo); § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
nocivos (que prejudica, que causa dano).416 I – abandona os produtos ou substâncias referidos no
§ 1º: prevê a ocorrência de crime também na hipótese caput ou os u liza em desacordo com as normas ambientais
de o agente abandonar os produtos ou substâncias referidos ou de segurança;
no caput, ou u lizá-los em desacordo com as normas de II – manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta,
segurança.417 reu liza, recicla ou dá des nação final a resíduos perigosos
§ 2º: se o produto ou a substância for nuclear ou radioa- de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento.
va, a pena é aumentada de um sexto a um terço. Nucleares
são aqueles produzidos nas reações nucleares e que se origi- Comentários de Fernando Capez sobre os art. 57
nam pela transformação da massa das par culas e núcleos e 58
dos átomos. Radioa vos são aqueles que possuem nuclídeos
que emitem espontaneamente par culas ou radiação ele- Art. 57. (Vetado)
tromagné ca, e que é caracterís ca de uma instabilidade
de seus núcleos.418 São causas de aumento de pena específicas dos crimes
O sujeito a vo pra ca tais condutas em desacordo com as previstos nos arts. 54 a 56.428
exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos.419 As penas serão aumentadas:429
§ 3º: prevê a conduta culposa.420 • de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível
à flora ou ao meio ambiente em geral. Exemplo: o
3.2. Sujeito A vo sujeito provoca poluição em nível elevado em uma
floresta, danificando ou destruindo-a, de modo que
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

“Qualquer pessoa”.421 não é possível voltar ao estado anterior.430


• de um terço até a metade, se resulta lesão corporal
3.3. Sujeito Passivo de natureza grave em outrem. Exemplo: o agente
manipula material altamente tóxico, em desacordo
A cole vidade.422 com as exigências estabelecidas em lei, na presença
de outra pessoa, a qual fica exposta à contaminação
413
Ibid., p. 145.
que provoca queimaduras, catarata, câncer etc. Se a
414
Ibid., p. 146.
415 423
Ibid., p. 146. Ibid., p. 147.
416 424
Ibid., p. 146. Ibid., p. 147.
417 425
Ibid., p. 146. Ibid., p. 147.
418 426
Ibid., p. 146. Ibid., p. 148.
419 427
Ibid., p. 147. Ibid., p. 148.
420 428
Ibid., p. 147. Ibid., p. 148.
421 429
Ibid., p. 147. Ibid., p. 148.
422 430
Ibid., p. 147. Ibid., p. 149.

393
pessoa contaminada sofrer lesão corporal de natu- 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
reza grave, como a perda da visão de um dos olhos,
responderá o agente pelo crime previsto no art. 56, 3.1. Ações Nucleares
caput, incidindo o aumento de pena previsto no inciso
II do art. 58, ambos da Lei do Meio Ambiente.431 Construir (dar estrutura a, edificar, fabricar), reformar
(dar melhor forma a, restaurar, reparar), ampliar (aumentar,
Obs.: se houvesse a perda total da visão nos dois dilatar, alongar), instalar (estabelecer) ou fazer funcionar
olhos, a lesão seria gravíssima e, em razão da subsidia- (fazer estar em exercício, fazer mover-se), estabelecimentos,
riedade expressa prevista no parágrafo único, o agente obras ou serviços potencialmente poluidores. Potencialmen-
responderia pelo delito previsto no art. 129, § 2º, III, te poluidor é tudo aquilo que tem a capacidade de poluir (por
do CP, cuja pena é reclusão de dois a oito anos.432 exemplo: o agente, sem licença, faz funcionar uma an ga
usina nuclear que estava desa vada).438
• até o dobro, se resultar a morte de outrem. Exemplo:
indústria de solventes e fungicidas clorados que gera 3.2. Sujeito A vo
toneladas de resíduos tóxicos como o hexacloroben-
zeno (HCB) e hexaclorobutadieno (HCBD). Esgotada Qualquer pessoa.439
a capacidade da vala u lizada como depósito dos
resíduos, a indústria começa a descartá-los na área 3.3. Sujeito Passivo
fabril ociosa. Os trabalhadores ficam em contato diário
com as substâncias que causam doenças, como lesões A cole vidade.440
hepá cas, derma tes por todo o corpo, lesões neuro-
lógicas, câncer, alterações no sistema reprodutor etc. 3.4. Elementos Norma vos
Alguns funcionários morrem por cirrose hepá ca.433
Representado pelas seguintes expressões: “território na-
Obs.: se houver dolo direto ou eventual do agente cional”; “potencialmente poluidores” e “sem licença ou auto-
no sen do de provocar também a morte de outrem, rização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando
as normas legais e regulamentares per nentes”. Licença é o
responderá por homicídio doloso. Exemplificando: o
ato administra vo, unilateral, vinculado, pelo qual o Poder
agente, em desacordo com as exigências estabeleci-
Público faculta a um par cular o exercício de uma a vidade
das em lei, fornece substância tóxica a outrem que,
privada e material. Segundo a Resolução nº 237/1997 do
ao manipulá-la vem a falecer. Se houve dolo, direto
Conama, Licença Ambiental é o ato administra vo pelo qual
ou eventual, por parte do agente no sen do de que a
o órgão ambiental competente estabelece as condições,
morte ocorresse, responderá pelo crime mais grave.434 restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor, pessoa sica ou jurídica,
Comentários de Fernando Capez sobre os art. 59 para localizar, instalar, ampliar e operar ou a vidades ou em-
e 60 preendimentos u lizadores de recursos ambientais, conside-
rados efe va ou potencialmente poluidores ou aqueles que,
Art. 59. (Vetado) sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
Autorização é o ato administra vo unilateral, discricionário,
1. Obje vidade Jurídica pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o exercício
de uma a vidade privada e material.441
O equilíbrio ecológico.435
4. Elemento Subje vo
2. Objeto Material
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de
Estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, esta-
poluidores.436 belecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,
Estabelecimento é o complexo de bens reunidos pelo sem licença ou autorização dos órgãos ambientais compe-
comerciante para o desenvolvimento de sua a vidade comer- tentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares
cial. Obra é todo o efeito de um trabalho ou de uma ação. per nentes.442
Exemplo: um edi cio em construção, um trabalho cien fico
etc. Serviço é o desempenho de qualquer trabalho, emprego 5. Momento Consuma vo
ou comissão. É o produto da a vidade humana que, sem as-
sumir a forma de um bem material, sa sfaz uma necessidade. Com a efe va construção, reforma, ampliação, instalação
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Para Carlos Ernani Constan no, “o vocábulo aqui é u lizado ou funcionamento de estabelecimentos, obras ou serviços
em sua acepção mais genérica e não no sen do específico potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos
do Direito Comercial”. Ele cita o ensinamento de Pedro dos órgãos ambientais competentes ou contrariando as normas
Reis Nunes: “Estabelecimento é toda a casa ou organização legais e regulamentares per nentes.443
permanente de natureza comercial, industrial, agrícola etc.”
(Dicionário de Tecnologia Jurídica. 8ª ed. Rio de Janeiro: 6. Tenta va
Freitas Bastos, 1974. vol. 1, p. 584).437
É possível.444
431 438
Ibid., p. 148. Ibid., p. 151.
432 439
Ibid., p. 149. Ibid., p. 151.
433 440
Ibid., p. 149. Ibid., p. 151.
434 441
Ibid., p. 149. Ibid., p. 151.
435 442
Ibid., p. 150. Ibid., p. 152.
436 443
Ibid., p. 150. Ibid., p. 152.
437 444
Ibid., p. 150. Ibid., p. 152.

394
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 61 Comentários de Fernando Capez sobre o art. 62
1. Obje vidade Jurídica Esse disposi vo revogou o art. 165 do CP.455

O equilíbrio ecológico.445 1. Obje vidade Jurídica

2. Objeto Material O meio ambiente cultural.456


Meio ambiente cultural: cons tuído pelo patrimônio
Doença (falta ou perturbação da saúde, molés a) ou arqueológico, ar s co, turís co, histórico, paisagís co, mo-
praga (designação comum aos insetos e moléstias que numental etc. Decorre da ação humana, que atribui valores
atacam as plantas e os animais) ou espécies que possam especiais a determinados bens do patrimônio cultural do
país.457
causar dano (são todos os seres que podem causar lesões,
por exemplo, “vírus, bactérias, fungos, insetos aqui não 2. Objeto Material
existentes etc.”) à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora
ou aos ecossistemas.446 Bem especialmente protegido por lei, ato administra vo
ou decreto judicial (inc. I), e arquivo, registro, museu, biblio-
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime teca, pinacoteca, instalação cien fica ou similar protegido
por lei, ato administra vo ou decisão judicial (inc. II). O bem
3.1. Ação Nuclear ao qual se refere este ar go poderá ser qualquer objeto que
componha o meio ambiente cultural, protegido por lei, ato
Disseminar (difundir, espalhar por muitas partes) doença administra vo ou decisão judicial.458
ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, Arquivos: conjuntos de documentos. Registro: ins tuição,
à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas.447 repar ção, cartório ou livros especiais onde se realizam ins-
Agricultura é o conjunto de operações que transformam crições ou transcrições de atos, fatos, tulos e documentos,
o solo natural para produção de vegetais úteis ao homem. dando-lhes auten cidade e prevalência contra terceiros.
Pecuária: arte e indústria do tratamento e criação do gado. Museu: estabelecimento criado para conservar, estudar,
Ecossistema: unidade de natureza a va que combina co- valorizar e expor coleções de interesse ar s co, histórico e
munidades bió cas e ambientes abió cos, com os quais técnico. Biblioteca: coleção de livros e documentos congê-
interagem. Os ecossistemas variam muito em tamanho e neres. Pinacoteca: coleção de quadros. Instalação cien fica:
caracterís cas. Também chamado de biogeocenose.448 estabelecimentos des nados ao estudo de qualquer ramo
da ciência.459
3.2. Sujeito A vo Os outros estabelecimentos similares a que se refere o
disposi vo são quaisquer outros que componham o meio
Qualquer pessoa.449 ambiente cultural.460

3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime


3.3. Sujeito Passivo
3.1. Ações Nucleares
A cole vidade.450
Destruir significa fazer desaparecer, arruinar, devastar.
3.4. Elemento Norma vo Inu lizar significa tornar inú l, invalidar, tornar inú l para
algum mister. Deteriorar, danificar, alterar, estragar.461
Representado pela expressão: “que possam causar
dano”.451 3.2. Sujeito A vo
4. Elemento Subje vo Qualquer pessoa. Pode ser inclusive o proprietário do
bem protegido.462
O dolo, consistente na vontade livre e consciente do
agente de disseminar doenças, pragas, ou espécies que 3.3. Sujeito Passivo
possam causar os danos referidos no po penal.452
O sujeito passivo imediato é a cole vidade. O sujei-
5. Momento Consuma vo to passivo mediato é o proprietário do bem (público ou
par cular).463
Com a mera disseminação, bastando que a doença, praga,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ou espécie possam causar danos. Logo, é desnecessário que 3.4. Elementos Norma vos
haja perigo concreto.453
Representados pelas expressões: “bem especialmente
6. Tenta va protegido por lei, ato administra vo ou decisão judicial” e
“ou similar protegido por lei, ato administra vo, ou decisão
É possível.454 judicial” (incisos I e II).464
445 455
Ibid., p. 152. Ibid., p. 155.
446 456
Ibid., p. 153. Ibid., p. 155.
447 457
Ibid., p. 153. Ibid., p. 155.
448 458
Ibid., p. 153. Ibid., p. 155.
449 459
Ibid., p. 153. Ibid., p. 155.
450 460
Ibid., p. 153. Ibid., p. 155.
451 461
Ibid., p. 154. Ibid., p. 156.
452 462
Ibid., p. 154. Ibid., p. 156.
453 463
Ibid., p. 154. Ibid., p. 156.
454 464
Ibid., p. 154. Ibid., p. 156.

395
4. Elemento Subje vo do paisagís co até o monumental, são numerus clausus,
cons tuem enumeração taxa va; não é possível, portanto,
O dolo, consistente na vontade livre e consciente do a interpretação analógica intra legem, uma extensão da
agente de destruir, inu lizar ou deteriorar os objetos ma- norma incriminadora a hipóteses semelhantes, uma vez que
teriais que são protegidos por lei, ato administra vo ou o po penal diz “valor paisagís co, ecológico, turís co [...]
decisão judicial.”465 ou monumental” e não “monumental e outros similares”.479
Há previsão de conduta culposa no parágrafo único.466
2. Obje vidade Jurídica
5. Momento Consuma vo
O meio ambiente cultural ecologicamente equilibrado.480
Consuma-se com a efe va destruição, inu lização ou
deterioração do bem.467 3. Objeto Material

6. Tenta va Edificação ou local especialmente protegido por lei, ato


administra vo ou decisão judicial.481
É possível.468
4. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 63 4.1. Ações Nucleares
1. Noções Preliminares Alterar (modificar) o aspecto ou estrutura de edificação
ou local.482
• Valor paisagís co: rela vo à paisagem, que é o espaço Aspecto é a aparência e estrutura é o conjunto das par-
de um local, uma estrutura que se abrange em um tes de um todo, a parte substancial. Edificação consiste em
lance de vista. É um lugar de expressiva beleza.469 edi cios, construções, imóveis. Local significa o ambiente,
• Valor ecológico: rela vo às relações entre os organis- o lugar, o espaço.483
mos e o meio em que vivem.470
• Valor turís co: tudo o que diz respeito ao turismo, 4.2. Sujeito A vo
tudo o que desperta interesse e atrai aqueles que
fazem turismo.471 Qualquer pessoa, inclusive o proprietário da edificação
• Valor ar s co: rela vo às artes, especialmente às ou local especialmente protegido.484
belas artes; de lavor primoroso e original.472
• Valor histórico: rela vo à história, ao estudo das ori- 4.3. Sujeito Passivo
gens e processos de uma arte, de uma ciência ou de
um ramo do conhecimento.473 a) Imediato: cole vidade.
• Valor cultural: relativo à cultura característica de b) Mediato: o Estado.485
uma sociedade que é o complexo dos padrões de
comportamento, das crenças, das ins tuições e de 4.4. Elementos Norma vos
outros valores espirituais e materiais transmi dos
Estão con dos nas expressões: “especialmente prote-
cole vamente.474
gido por lei, ato administra vo ou decisão judicial”; “valor
• Valor religioso: rela vo à religião, à crença e suas
paisagís co, ecológico, turís co, ar s co, histórico, cultural,
manifestações por meio da doutrina e ritual próprios
religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental” e “sem
que envolvem, em geral, preceitos é cos.475 autorização da autoridade competente ou em desacordo
• Valor arqueológico: referente à arqueologia, ciência com a concedida”.486
que estuda a vida e a cultura dos povos an gos, por Autorização é o ato administra vo unilateral, discricio-
meio de escavações ou documentos, monumentos, nário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o
objetos etc. por eles deixados.476 exercício de uma a vidade privada e material.487
• Valor etnográfico: rela vo à etnografia, disciplina que
tem por fim o estudo e a descrição dos povos, sua 5. Elemento Subje vo
língua, raça, religião etc., e manifestações materiais
de sua a vidade.477 O dolo, consistente na vontade livre e consciente do
• Valor monumental: rela vo a monumentos, que são agente de alterar o aspecto ou a estrutura do bem espe-
obras ou construções notáveis des nadas a transmi r cialmente protegido. Não há previsão de forma culposa.488
à posteridade a memória de fato ou pessoa notável.478
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

6. Momento Consuma vo
Obs.: Carlos Ernani Constan no, com muita proprieda-
de, observa que “os valores mencionados no po, que vão Consuma-se com a efe va alteração no aspecto, ou na
465
aparência, na edificação ou no local especialmente prote-
Ibid., p. 156.
466
Ibid., p. 156. gido.489
467
Ibid., p. 157.
468 479
Ibid., p. 157. Ibid., p. 158.
469 480
Ibid., p. 157. Ibid., p. 158.
470 481
Ibid., p. 157. Ibid., p. 159.
471 482
Ibid., p. 157. Ibid., p. 159.
472 483
Ibid., p. 157. Ibid., p. 159.
473 484
Ibid., p. 158. Ibid., p. 159.
474 485
Ibid., p. 158. Ibid., p. 159.
475 486
Ibid., p. 158. Ibid., p. 159.
476 487
Ibid., p. 158. Ibid., p. 159.
477 488
Ibid., p. 158. Ibid., p. 160.
478 489
Ibid., p. 158. Ibid., p. 160.

396
7. Tenta va 5. Momento Consuma vo

É possível.490 Consuma-se com o simples início da edificação.503

Comentários de Fernando Capez sobre o art. 64 6. Tenta va

Obs.: as noções dos valores paisagís co, ecológico, ar- É possível.504


s co, turís co, histórico, cultural, religioso, arqueológico,
etnográfico ou monumental estão nos comentários ao art. 63 Do art. 65 da Lei dos Crimes Ambientais
desta Lei.491
Em 2011, a Lei nº 12.408/2011 alterou o ar go em es-
1. Obje vidade Jurídica tudo. Vejamos:

O meio ambiente cultural.492 Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou


monumento urbano:
2. Objeto Material Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
e multa.
Solo não edificável ou seu entorno.493 § 1º Se o ato for realizado em monumento ou coisa
Solo não edificável é aquele onde não se pode realizar tombada em virtude do seu valor ar s co, arqueoló-
construções, obras etc.494 Entorno é a região que se situa em gico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um)
volta de um determinado ponto; circunvizinhança.495 ano de detenção e multa.
§ 2º Não cons tui crime a prá ca de grafite realizada
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime com o obje vo de valorizar o patrimônio público
ou privado mediante manifestação ar s ca, desde
3.1. Ação Nuclear que consen da pelo proprietário e, quando couber,
pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no
Promover (originar, dar impulso a, fazer avançar, agen- caso de bem público, com a autorização do órgão
ciar) construção em solo não edificável.496 competente e a observância das posturas municipais
Construção é a edificação, a obra, o edi cio, o imóvel.497 e das normas editadas pelos órgãos governamentais
responsáveis pela preservação e conservação do
3.2. Sujeito A vo patrimônio histórico e ar s co nacional.

Qualquer pessoa. O proprietário do local ou de seu entor- Com a alteração promovida pela Lei nº 12.408/2011,
no não edificável também pode ser sujeito a vo do crime.498 houve a descriminalização da grafitagem nas situações do
§2º, desde que haja autorização de quem de direito.
3.3. Sujeito Passivo
Interessante o texto da lavra de David Pimentel Barbosa
499 de Siena, “A descriminalização do grafite (Lei nº 12.408/2011)
A cole vidade. O sujeito passivo secundário é o Estado.
e a picidade conglobante”, disponível na Internet: h p://
jus.com.br/revista/texto/19221/a-descriminalizacao-do-
3.4. Elementos Norma vos
-grafite-lei-no-12-408-2011-e-a-tipicidade-conglobante,
acesso em 27/7/2012:
Estão representados pelas expressões: “valor paisagís -
co, ecológico, ar s co, turís co, histórico, cultural, religioso,
A Lei nº 12.408, de 25 de maio de 2011, alterou a
arqueológico, etnográfico ou monumental” e “sem autori-
redação do art. 65 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro
zação da autoridade competente ou em desacordo com a de 1998, acrescentando um novo parágrafo no dispo-
concedida”.500 si vo, buscando “descriminalizar” o ato de grafitar.
Autorização é o ato administra vo unilateral, discricio- A novel disposição estabelece que: “não cons tui
nário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o crime a prá ca de grafite realizada com o obje vo
exercício de uma a vidade privada e material.501 de valorizar o patrimônio público ou privado me-
diante manifestação ar s ca, desde que consen da
4. Elemento Subje vo pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário
ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem
O dolo, consistente na vontade livre do agente de edifi-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

público, com a autorização do órgão competente e


car, ciente de que o solo ou seu entorno não são passíveis a observância das posturas municipais e das normas
de edificação.502 editadas pelos órgãos governamentais responsáveis
pela preservação e conservação do patrimônio histó-
rico e ar s co nacional” (art. 65, parágrafo segundo,
490
Ibid., p. 160. da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998).
491
Ibid., p. 160. Grafite, que deriva do italiano grafi o, usualmente é
492
Ibid., p. 160.
493
Ibid., p. 161. conceituado como inscrição ou desenho de épocas
494
495
Ibid., p. 161. an gas, toscamente riscado à ponta ou a carvão, em
Ibid., p. 161.
496
Ibid., p. 161.
rochas, paredes, vasos etc.; enquanto que pichação
497
Ibid., p. 161. possui “caráter polí co, escrito em muro de via públi-
498
499
Ibid., p. 161. ca” (HOLANDA FERREIRA, Aurélio de Albuquerque de.
Ibid., p. 161.
500
Ibid., p. 161.
501 503
Ibid., p. 161. Ibid., p. 162.
502 504
Ibid., p. 162. Ibid., p. 162.

397
Novo dicionário da língua portuguesa, 1ª ed. 14ª A Lei nº 12.408, de 25 de maio de 2011, buscou
impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 696 “descriminalizar” o grafite quando pra cado com o
e 1.083). obje vo de valorizar o patrimônio público ou privado
Com a devida vênia, a definição proposta para o mediante manifestação ar s ca.
grafite não parece ser consentânea com a atual A principal indagação que surge é a de que quais
realidade social. No presente, os indivíduos que se serão as consequências penais da expressão “não
dedicam ao grafite são considerados por muitos como cons tui crime”, u lizada pelo legislador. A conduta,
verdadeiros ar stas, que desenvolvem a a vidade sob as condições do parágrafo segundo do art. 65,
nos mais variados espaços urbanos (muros, viadutos, configuraria fato a pico ou o agente estaria ampa-
edi cios etc.). rado por uma causa excludente da an juridicidade?
Historicamente, o grafite é fruto de um movimento Seria inconcebível que o legislador por meio de uma
de contracultura parisiense de 1968, em que seus norma permissiva tolerasse a prá ca de determina-
adeptos inscreveram em diversos muros daquela da conduta, e por outra norma proibi va prevê-se
cidade mensagens de cunho polí co. A par r do alguma punição. Os pos penais não podem ser
predito movimento, o ato de grafitar ganhou noto- vistos como verdadeiros ermitões, vez que as normas
riedade, e foi difundido nos seios das comunidades jurídicas devem conviver e coexis r harmonicamente.
espalhadas pelos quatro cantos do globo. Defini vamente, as normas penais não devem ser en-
Há tempos, a sociedade civil divide-se na forma como caradas como um conjunto de vedações arbitrárias,
encaram o tema. Uma primeira parcela considerável pelo contrário, devem exprimir aos cidadãos máxima
da opinião pública entende que o grafite nada mais segurança jurídica.
é do que representação ar s ca; e há um segundo Parece lógico que se a norma penal permite ao agente
segmento social que pugna pela punição penal dos que pra que o grafite com o obje vo de valorizar o
chamados “grafiteiros”. patrimônio público ou privado mediante manifes-
A Cons tuição Federal diz cons tuir ao patrimônio tação ar s ca, não seria válido que qualquer outra
cultural brasileiro as criações ar s cas (ar go 216, norma de nosso ordenamento jurídico preveja qual-
inciso III), merecendo especial proteção do Poder
quer po de censura pela prá ca da predita conduta.
Público.
Segundo a célebre lição de Zaffaroni, “o juízo de
Por outro lado, igualmente, o meio ambiente mere-
picidade não é um mero juízo de picidade legal,
ceu destaque protecionista. A Lei nº 6.938, de 31 de
mas que exige outro passo, que é a comprovação da
agosto de 1981, que dispõe sobre a Polí ca Nacional
picidade conglobante, consistente na averiguação
do Meio Ambiente, no inciso I de seu ar go 3º, define
meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, da proibição através da indagação do alcance proi-
influências e interações de ordem sica, química e bi vo da norma, não considerada isoladamente,
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas e sim conglobada na ordem norma va” (ZAFFARONI,
as suas formas”. Eugênio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual
Tradicionalmente, o meio ambiente é classificado de direito penal: primeiro volume – parte geral. 7ª
em: natural, ar ficial, cultural, e do trabalho. O meio ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 396).
ambiente ar ficial “é compreendido pelo espaço A par r dessa compreensão, casos que eram solu-
urbano construído, consistente no conjunto de edifi- cionados pela análise da an juridicidade passaram a
cações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos ser resolvidos pela picidade, que deixa de ser mera-
equipamentos públicos (espaço urbano aberto) mente legal e passa a ser conglobante. Há verdadeira
(FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito antecipação da solução penal para diversos casos, vez
Ambiental. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21). que o juízo de picidade é prévio ao de juridicidade
A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe da conduta. Essa fórmula parece estar em maior sin-
sobre as sanções penais e administra vas derivadas tonia com os princípios democrá cos que norteiam
de condutas e a vidades lesivas ao meio ambiente, a Cons tuição da República Federa va do Brasil de
veio regulamentar o art. 225, parágrafo terceiro, da 1988. Ora, nada mais abominável do que sujeitar
Cons tuição Federal, cujo comando é de que: “as alguém que pra ca uma conduta permi da pelo
condutas e a vidades consideradas lesivas ao meio ordenamento jurídico a responder criminalmente,
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas sicas ou sob o pretexto de um necessário juízo de juridicidade.
jurídicas, a sanções penais e administra vas, inde- A expressão empregada pelo legislador de que “não
pendentemente da obrigação de reparar os danos cons tui crime”, de modo algum pode ser analisada
causados”. somente sob o aspecto da an juridicidade. Preferível,
Do preciso magistério de FIORILLO, depreende-se para o caso em tes lha, a solução pela a picidade (le-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

que: “a preservação da função social da cidade gal e conglobante) da conduta do agente que pra ca
(art. 182 da CF) passa a ter disciplina criminal ambien- o grafite com o obje vo de valorizar o patrimônio
tal (arts. 63 e 64 da Lei nº 9.605/1998), da mesma público ou privado, mediante manifestação ar s ca.
forma que o meio ambiente cultural aglu na, a par r Para que a conduta do agente seja considerada a pi-
da Lei nº 9.605, importante aliado no plano das san- ca, faz-se necessário que haja o “obje vo de valorizar
ções penais (arts. 62 e 65), tudo em harmonia com a o patrimônio público ou privado mediante manifes-
tutela do direito ambiental cons tucional voltada à tação ar s ca”. Torna-se de todo necessário este
proteção de brasileiros e estrangeiros residentes no especial fim do agente para que seja amparado pela
País” (Ob. cit., p. 380). norma penal permissiva. Caso o elemento subje vo
Assim sendo, o art. 65 da Lei nº 9.605, de 12 de da conduta seja diverso, ou seja, dolo de dano (degra-
fevereiro de 1998, tem como obje vidade jurídica dação do meio ambiente ar ficial), o agente poderá
tutelada o meio ambiente ar ficial, ou seja, o espaço responder pelo crime previsto no caput do art. 65.
urbano aberto (patrimônio público) e o espaço urba- Além disso, para que ocorra o caso de a picidade em
no fechado (edificações par culares). estudo, a norma permissiva prevê a existência alter-

398
na va de dois elementos norma vos, a depender da realizado pelo Departamento do Patrimônio Histórico, 400
tularidade do bem (objeto material da conduta). estão deteriorados, principalmente em virtude de pichações,
No caso do edi cio ou muro ser um bem privado, falta de manutenção e ações do tempo. Exemplos: “Obelisco
deve haver o consen mento do proprietário, locatá- da Memória”, localizado na Ladeira da Memória, é o maior
rio ou arrendatário. Por se tratar de norma penal be- alvo de pichação; estátua “Duque de Caxias” e “Monumento
néfica, por analogia, deve-se admi r o consen mento das Bandeiras”.508
de outras figuras congêneres como a do usufrutuário. O parágrafo único prevê a qualificadora no caso de o ato
Por outro lado, no caso de próprios ou equipamentos ser realizado em monumento ou coisa tombada em virtude
públicos, deve exis r “a autorização do órgão com- de seu valor ar s co, arqueológico ou histórico. Nesse caso
petente e a observância das posturas municipais e a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa.509
das normas editadas pelos órgãos governamentais
responsáveis pela preservação e conservação do 3.2. Sujeito A vo
patrimônio histórico e ar s co nacional”, sob pena de
ser caracterizado o delito previsto no caput do art. 65. Qualquer pessoa.510
À luz do art. 5º, inciso XL, da Cons tuição Federal,
e do art. 2º, parágrafo único, do Código Penal, a Lei 3.3. Sujeito Passivo
nº 12.408, de 25 de maio de 2011, que entrou em
vigor na data de sua publicação, por se tratar de lei A cole vidade. Sujeito passivo secundário: o Estado e o
penal que beneficia o agente (lex mi or), deve ser proprietário da edificação.511
aplicada aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença penal condenatória transitada em julgado 3.4. Elementos Norma vos
(retroatividade da lei mais benigna). Ressalta-se
que, segundo o caput do art. 2º, do Código Penal, Estão representados pelas expressões con das no caput:
a Lei nº 12.408, de 25 de maio de 2011, fez cessar “urbano” e no parágrafo único: “valor ar s co, arqueológico
os efeitos penais das sentenças condenatórias, mas ou histórico”.512
não os seus efeitos civis.
No Brasil e em diversos países, cada vez mais o gra- 4. Elemento Subje vo
fite passa a ter status de patrimônio ar s co, que
em regra é fruto cultural de grandes conglomerados O dolo, consistente na vontade livre e consciente de o
urbanos. A Lei nº 12.408, de 25 de maio de 2011, agente pra car as condutas descritas no po penal.513
sensível a esse fenômeno social, houve por bem
“descriminalizar” a conduta, fato que inegavelmente 5. Momento Consuma vo
favorecerá o fomento desta prá ca ar s ca.
A consumação ocorre com a efe va prá ca dos atos de
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 65 pichar, grafitar ou conspurcar por qualquer meio.514

1. Obje vidade Jurídica 6. Tenta va

O patrimônio cultural e o ordenamento urbano.505 É possível.515

2. Objeto Material Comentários de Fernando Capez sobre o art. 66


Edificação ou monumento urbano ou monumento ou 1. Obje vidade Jurídica
coisa tombada em virtude de seu valor ar s co, arqueológico
ou histórico.506 A Administração Ambiental.516
Edificação: construção, edi cio, imóveis em geral. Monu-
mento urbano: obras ou construções notáveis pertencentes 2. Objeto Material
ou localizadas nas cidades. Monumento ou coisa tombada:
objeto de tombamento.507 Informações ou dados técnico-cien ficos em procedi-
mentos de autorização ou de licenciamento ambiental.517
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
3.1. Ações Nucleares
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

3.1. Ações Nucleares


Pichar (escrever dizeres ou desenhos, com ntas ou
spray, nas paredes das edificações, nos monumentos, nos Fazer (proferir, exprimir, produzir) afirmação falsa, en-
muros etc.), grafitar (também é um modo de escrever pa- ganosa, omi r a verdade, sonegar informações ou dados
lavras ou desenhos em muros, paredes de edificações, nos técnico-cien ficos.518
monumentos; porém, geralmente o agente o faz com o
508
intuito de embelezar), conspurcar (sujar, macular, manchar, Ibid., p. 163.
509
Ibid., p. 163.
corromper, por qualquer outro meio – por exemplo, o agen- 510
Ibid., p. 163.
te lança na edificação um poluente oxidante) edificação 511
Ibid., p. 164.
512
ou monumento urbano. A cidade de São Paulo possui 450 Ibid., p. 164.
513
Ibid., p. 164.
monumentos históricos públicos. Segundo levantamento 514
Ibid., p. 164.
515
Ibid., p. 164.
505 516
Ibid., p. 162. Ibid., p. 165.
506 517
Ibid., p. 162. Ibid., p. 165.
507 518
Ibid., p. 163. Ibid., p. 165.

399
Afirmação falsa: o agente afirma uma inverdade. Afir- Comentários de Fernando Capez sobre o art. 67
mação enganosa: o agente afirma algo ilusório, ar ficioso,
simulado, induz a erro. Omi r a verdade: o agente não Obs.: o presente disposi vo revogou o art. 21 da Lei
menciona, deixa de dizer a realidade do ocorrido, do fato. nº 6.453/1977.527
Sonegar informações ou dados técnico-cien ficos: o agente
esconde, oculta, com fraude, dados, comunicação ou no cia 1. Obje vidade Jurídica
a respeito de alguém ou de algo.519
A Administração Pública Ambiental.528
3.2. Sujeito A vo
2. Objeto Material
O funcionário público. Considera-se funcionário público,
para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou Licença, autorização ou permissão.529
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Licença é o ato administra vo, unilateral, vinculado,
Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em- pelo qual o Poder Público faculta a um par cular o exercício
prego ou função pública em en dade paraestatal, e quem de uma a vidade privada e material. Segundo a Resolução
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou nº 237/1997 do Conama, Licença Ambiental é o ato adminis-
conveniada para execução de a vidade pica da Adminis- tra vo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece
tração Pública.520 as condições, restrições e medidas de controle ambiental que
deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa sica ou
3.3. Sujeito Passivo jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar a vidades
ou empreendimentos u lizadores de recursos ambientais,
A cole vidade. O Estado é o sujeito passivo secundário, considerados efetiva ou potencialmente poluidores ou
podendo ser também o interessado na obtenção da autori- aqueles que, sob qualquer forma, possam causar degradação
zação ou licenciamento ambiental.521 ambiental. Autorização é o ato administra vo unilateral, dis-
cricionário, pelo qual o Poder Público faculta a um par cular
3.4. Elementos Norma vos o exercício de uma a vidade privada e material. Permissão
é o ato administra vo unilateral, discricionário, pelo qual o
Estão con dos nas seguintes expressões: “procedimentos Poder Público, em caráter precário, faculta a alguém o uso
de autorização ou de licenciamento ambiental”; “funcio- de um bem público ou a responsabilidade pela prestação
nário público”; “falsa ou enganosa”; “verdade”; “técnico- do serviço público.530
-cien ficos”.522
Procedimento é o conjunto de atos administra vos que 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
têm uma sequência. Autorização é o ato administra vo,
unilateral, discricionário, pelo qual o Poder Público facul- 3.1. Ação Nuclear
ta a um par cular o exercício de uma a vidade privada
e material. Licenciamento Ambiental é o procedimento Conceder (dar, outorgar) licença, autorização ou permis-
administra vo pelo qual o órgão ambiental competente são em desacordo com as normas ambientais para execução
licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de a vidades (qualquer ação ou trabalho específico), obras
de a vidades e empreendimentos u lizadores de recursos
(efeitos do trabalho ou da ação, edi cio em construção) ou
ambientais, considerados efe va ou potencialmente polui-
serviços (desempenho de qualquer trabalho). Exemplos de
dores ou daqueles que, sob qualquer forma, possam causar
a vidades ou empreendimentos sujeitos ao licenciamento
degradação ambiental, considerando as disposições legais
ambiental:
e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso
– Extração e tratamento de minerais (pesquisa mine-
(Resolução nº 237/1997 do Conama, art. 1º, I).523
ral com guia de u lização, lavra a céu aberto, lavra
subterrânea, lavra garimpeira, perfuração de poços
4. Elemento Subje vo
e produção de petróleo e gás natural etc.).
– Indústria de produtos minerais não metálicos (fabrica-
O dolo, consistente na vontade livre e consciente de o
ção e elaboração de produtos minerais não metálicos,
funcionário público fazer a afirmação falsa ou enganosa, omi-
r a verdade ou sonegar os dados ou informações em pro- tais como: produção de material cerâmico, cimento,
cedimentos de autorização ou Licenciamento Ambiental.524 gesso, amianto e vidro, entre outros).
– Indústria metalúrgica (fabricação de aço e de produtos
5. Momento Consuma vo siderúrgicos; produção de fundidos de ferro e aço/
forjados/arames/relaminados com ou sem tratamento
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Com a afirmação falsa ou enganosa, com a omissão da de super cie; metalurgia dos metais não ferrosos,
verdade ou com a sonegação dos dados ou informações em em formas primárias e secundárias, inclusive ouro;
procedimentos de autorização ou Licenciamento Ambiental.525 produção de laminados/ligas/artefatos de metais não
ferrosos com ou sem tratamento etc.).
6. Tenta va – Indústria mecânica (fabricação de máquinas, apare-
lhos, peças, utensílios e acessórios com e sem trata-
É possível.526 mento térmico e/ou de super cie).
– Indústria de material de transporte (fabricação e mon-
519
Ibid., p. 165. tagem de veículos rodoviários e ferroviários; peças
520
Ibid., p. 165. e acessórios; fabricação e montagem de aeronaves;
521
Ibid., p. 166.
522
Ibid., p. 166.
523 527
Ibid., p. 166. Ibid., p. 167.
524 528
Ibid., p. 166. Ibid., p. 167.
525 529
Ibid., p. 166. Ibid., p. 167.
526 530
Ibid., p. 167. Ibid., p. 167.

400
fabricação e reparo de embarcações e estruturas 4. Elemento Subje vo
flutuantes).
– Indústria de madeira (serraria e desdobramento de O dolo, consistente na vontade livre e consciente do
madeira; preservação de madeira; fabricação de funcionário público de conceder a licença, a autorização ou
estruturas de madeira e de móveis etc.). a permissão em desacordo com as normas ambientais.535
– Indústria de papel e celulose (fabricação de artefatos
de papel, papelão, cartolina, cartão e fibra prensada 5. Momento Consuma vo
etc.).
– Indústria de borracha (beneficiamento de borracha Consuma-se com a efe va concessão da licença, da
natural; fabricação de câmara de ar e fabricação e autorização ou da permissão em desacordo com as normas
recondicionamento de pneumá cos etc.). ambientais.536
– Indústria de couros e peles (secagem e salga de couros O parágrafo único prevê a modalidade culposa do crime
e peles; fabricação e artefatos diversos de couros e previsto no caput.537
peles etc.).
– Indústria química (produção de substâncias e fabri- 6. Tenta va
cação de produtos químicos; fabricação de produtos
derivados do processamento de petróleo, de rochas É possível.538
betuminosas e de madeira; fabricação de sabões,
detergentes e velas; fabricação de preparados para Comentários de Fernando Capez sobre o art. 68
limpeza de polimento, desinfetantes, inseticidas,
germicidas e fungicidas etc.). 1. Obje vidade Jurídica
– Indústria de produtos alimentares e bebidas (pre-
paração, beneficiamento e industrialização de leite A Administração Pública Ambiental.539
e derivados; fabricação de conservas; fabricação de
bebidas alcoólicas etc.). 2. Objeto Material
– Indústrias diversas (usinas de produção de concreto;
usinas de asfalto; serviços de galvanoplas a). Obrigação de relevante interesse ambiental.540
– Obras civis (rodovias, ferrovias, hidrovias, metropo-
litanos; canais para drenagem; abertura de barras, 3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
embocaduras e canais etc.).
– Serviços de u lidade (produção de energia termoe- 3.1. Ação Nuclear
létrica; transmissão de energia elétrica; estações de
tratamento de água etc.). Deixar de cumprir. Consiste em omi r-se, preterir, pos-
– Transporte, terminais e depósitos (transporte de car- tergar obrigação de relevante interesse ambiental, que é
gas perigosas; transporte por dutos; marinas, portos aquela de grande importância para a preservação do meio
e aeroportos etc.). ambiente. É necessário que o agente possua o dever legal
– Turismo (complexos turís cos e de lazer, inclusive ou contratual de cumprir a referida obrigação.541
parques temá cos e autódromos).
– A vidades agropecuárias (projeto agrícola; criação de 3.2. Sujeito A vo
animais; projetos de assentamentos e de colonização).
– Uso de recursos naturais (silvicultura; exploração eco- A pessoa que ver o dever legal ou contratual de cumprir
nômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais; obrigação de relevante interesse ambiental.542
a vidade de manejo de fauna exó ca e criadouro de
fauna silvestre; u lização do patrimônio gené co na- 3.3. Sujeito Passivo
tural; manejo de recursos aquá cos vivos; introdução
de espécies exó cas e/ou gene camente modificadas; A cole vidade. O Poder Público é o sujeito passivo se-
uso da diversidade biológica pela biotecnologia).531 cundário.543

3.2. Sujeito A vo 3.4. Elemento Norma vo

Funcionário público.532 Contido na expressão “dever legal ou contratual de


cumprir a obrigação de relevante interesse ambiental”.544
3.3. Sujeito Passivo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

4. Elemento Subje vo
A cole vidade. O Poder Público é o sujeito passivo se-
cundário.533 O dolo, consistente na vontade livre do agente de se
omi r do dever legal ou contratual de relevante interesse
3.4. Elementos Norma vos ambiental. Trata-se de crime omissivo próprio.545

Con dos nas expressões: “em desacordo com as normas 535


536
Ibid., p. 170.
Ibid., p. 170.
ambientais”; “funcionário público”; “licença, autorização ou 537
Ibid., p. 170.
permissão” e “ato autoriza vo do Poder Público”.534 538
Ibid., p. 171.
539
Ibid., p. 171.
540
Ibid., p. 171.
541
Ibid., p. 171.
531 542
Ibid., p. 168. Ibid., p. 172.
532 543
Ibid., p. 170. Ibid., p. 172.
533 544
Ibid., p. 170. Ibid., p. 172.
534 545
Ibid., p. 170. Ibid., p. 172.

401
No parágrafo único, há previsão da modalidade culposa população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da
do crime.546 produção e do mercado, ao exercício de a vidade econômica
ou de outras a vidades dependentes de concessão, autori-
5. Momento Consuma vo zação, permissão ou licença do Poder Público de cujas a vi-
dades possam decorrer poluição ou agressão à natureza”.556
Consuma-se com a simples omissão no cumprimento da
obrigação legal ou contratual.547 4. Elemento Subje vo

6. Tenta va O dolo, consistente na vontade livre e consciente de


obstar ou dificultar a fiscalização do Poder Público no trato
Não é admissível. Trata-se de crime omissivo próprio, de questões ambientais.557
o qual se consuma com a simples abstenção do comporta-
5. Momento Consuma vo
mento.548
Consuma-se com a efe va criação de obstáculo ou difi-
Comentários de Fernando Capez sobre o art. 69 culdade à fiscalização.558
1. Obje vidade Jurídica 6. Tenta va

A Administração Pública Ambiental.549 É possível, porém, “é de di cil configuração, pois o in-


frator, ao tentar obstar a ação fiscalizadora de um agente
2. Objeto Material público ambiental, já terá consumado o delito, na conduta
de dificultar”.559
A ação fiscalizadora do Poder Público.550 Vale lembrar que a Lei nº 11.284/2006 incluiu na Lei dos
Crimes Ambientais o ar go 69-A, que rege:
3. Elementos do Tipo e Sujeitos do Crime
Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão
3.1. Ações Nucleares florestal ou qualquer outro procedimento adminis-
tra vo, estudo, laudo ou relatório ambiental total
Obstar (impedir, opor-se) ou dificultar (tornar custoso de ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por
fazer, por impedimento ou dificuldade) a ação fiscalizadora omissão:
do Poder Público.551 Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Se o crime é culposo:
3.2. Sujeito A vo Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
Qualquer pessoa.552 (dois terços), se há dano significa vo ao meio am-
biente, em decorrência do uso da informação falsa,
incompleta ou enganosa.
3.3. Sujeito Passivo

3.3.1. Primário Comentários de Fernando Capez sobre os art. 70


A cole vidade.553 a 76

3.3.2. Secundário Considera-se infração administra va ambiental toda


O Poder Público responsável pela ação fiscalizadora.554 ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo,
promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. São
autoridades competentes para lavrar auto de infração am-
3.4. Elementos Norma vos
biental e instaurar processo administra vo os funcionários
de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de
Con dos nas expressões: “ação fiscalizadora do Poder Meio Ambiente – Sisnama, designados para as a vidades
Público” e “questões ambientais”.555 de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos
Ação fiscalizadora do Poder Público é a a vidade de Portos, do Ministério da Marinha. Qualquer pessoa, cons-
polícia administra va pela qual a Administração Pública tatando infração ambiental, poderá dirigir representação às
visa prevenir ou reprimir a vidades que sejam contrárias autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

ao interesse da cole vidade. Paulo Affonso Leme Machado do exercício do seu poder de polícia. A autoridade ambiental
define o poder de polícia ambiental como “a a vidade da que ver conhecimento de infração ambiental é obrigada
Administração Pública que limita ou disciplina direito, inte- a promover a sua apuração imediata, mediante processo
resse, ou liberdade, regula a prá ca de ato ou a abstenção de administra vo próprio, sob pena de corresponsabilidade.
fato em razão de interesse público concernente à saúde da As infrações ambientais são apuradas em processo admi-
nistra vo próprio, assegurado o direito à ampla defesa e ao
546
Ibid., p. 172.
contraditório, observadas as disposições desta Lei.560
547
Ibid., p. 172. O processo administra vo, para apuração de infração
548
Ibid., p. 172. ambiental, deve observar os seguintes prazos máximos: 20
549
Ibid., p. 173.
550
Ibid., p. 173.
551 556
Ibid., p. 173. Ibid., p. 174.
552 557
Ibid., p. 173. Ibid., p. 174.
553 558
Ibid., p. 173. Ibid., p. 174.
554 559
Ibid., p. 174. Ibid., p. 175.
555 560
Ibid., p. 174. Ibid., p. 175.

402
dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o meterá, quando necessário, ao órgão judiciário competente
auto de infração, contados da data da ciência da autuação; para decidir a seu respeito, ou a encaminhará à autoridade
30 dias para a autoridade competente julgar o auto de infra- capaz de atendê-la. Deverá conter: o nome e a qualificação
ção, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não da autoridade solicitante; o objeto e o mo vo de sua formu-
a defesa ou impugnação; 20 dias para o infrator recorrer da lação; a descrição sumária do procedimento em curso no
decisão condenatória à instância superior do Sistema Nacio- país solicitante; a especificação da assistência solicitada; a
nal do Meio Ambiente – Sisnama, ou à Diretoria de Portos e documentação indispensável ao seu esclarecimento, quando
Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o po de for o caso. Deve ser man do sistema de comunicações apto
autuação; cinco dias para o pagamento de multa, contados a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com
da data do recebimento da no ficação.561 órgãos de outros países.568
As infrações administra vas são punidas com as seguintes
sanções, observado o disposto no art. 6º desta Lei: adver- Comentários de Fernando Capez sobre o art. 79
tência; multa simples; multa diária; apreensão dos animais,
produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza Código Penal e do Código de Processo Penal.569
u lizados na infração; destruição ou inu lização do produto; Para o cumprimento do disposto nesta Lei, os órgãos
suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de ambientais integrantes do Sisnama, responsáveis pela
obra ou a vidade; demolição de obra; suspensão parcial ou execução de programas e projetos e pelo controle e fisca-
total de a vidades; restri va de direitos. Se o infrator co- lização dos estabelecimentos e das a vidades susce veis
meter, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão de degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados a
aplicadas, cumula vamente, as sanções a elas cominadas. 562 celebrar, com força de tulo execu vo extrajudicial, termo de
As sanções restritivas de direito são: suspensão de compromisso com pessoas sicas ou jurídicas responsáveis
registro, licença ou autorização; cancelamento de registro, pela construção, instalação, ampliação e funcionamento
licença ou autorização; perda ou restrição de incen vos e de estabelecimentos e a vidades u lizadores de recursos
bene cios fiscais; perda ou suspensão da par cipação em ambientais, considerados efe va e/ou potencialmente polui-
linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de dores. No tocante aos empreendimentos em curso até o dia
crédito; proibição de contratar com a Administração Pública, 30/3/1998, envolvendo construção, instalação, ampliação e
pelo período de até três anos.563 funcionamento de estabelecimentos e a vidades u lizadores
Os valores arrecadados em pagamento de multas por in- de recursos ambientais, considerados efe va ou potencial-
fração ambiental serão rever dos ao Fundo Nacional do Meio mente poluidores. A assinatura do termo de compromisso
Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10/7/1989; Fundo deveria ser requerida pelas pessoas sicas e jurídicas interes-
Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8/1/1932; fundos sadas, até o dia 31/12/1998, mediante requerimento, escrito
estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, protocolizado junto aos órgãos competentes do Sisnama,
conforme dispuser o órgão arrecadador.564 e firmado pelo dirigente máximo do estabelecimento. Da
A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, data da protocolização do requerimento e enquanto perdurar
quilograma ou outra medida per nente, de acordo com o a vigência do correspondente termo de compromisso, ficará
objeto jurídico lesado.565 suspensa, em relação aos fatos que deram causa à celebra-
O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municí- ção do instrumento, a aplicação de sanções administra vas
pios, Distrito Federal ou Territórios subs tui a multa federal contra a pessoa sica ou jurídica que o houver ajustado.
na mesma hipótese de incidência.566 A celebração do termo de compromisso, de que trata este
O valor da multa, de que trata este Capítulo, será fixado ar go, não impede a execução de eventuais multas aplicadas
no regulamento desta Lei, corrigido periodicamente, com antes da protocolização do requerimento. Considera-se res-
base nos índices estabelecidos na legislação per nente, cindido de pleno direito o termo de compromisso, quando
sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo descumprida qualquer de suas cláusulas, ressalvado o caso
de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).567 fortuito ou de força maior. O termo de compromisso deveria
ser firmado em até 90 dias, contados da protocolização do
Comentários de Fernando Capez sobre os art. 77 requerimento. O requerimento de celebração do termo de
a 78 compromisso deveria conter as informações necessárias à
verificação da sua viabilidade técnica e jurídica, sob pena de
Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e indeferimento do plano. Sob pena de ineficácia, os termos
os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que de compromisso deveriam ser publicados no órgão oficial
concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro competente, mediante extrato.570
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

país, sem qualquer ônus, quando solicitado para: produção


de prova; exame de objetos e lugares; informações sobre Comentários de Fernando Capez sobre o art. 80
pessoas e coisas; presença temporária da pessoa presa,
cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma A regulamentação ocorreu pelo Decreto nº 3.179/1999
causa; outras formas de assistência permi das pela legisla- (dispõe sobre a especificação das sanções administra vas
ção em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte. aplicáveis às condutas e a vidades lesivas ao meio ambien-
A solicitação será dirigida ao Ministério da Jus ça, que a re- te, e dá outras providências), com as alterações do Decreto
nº 3.919/2001.571
561
Ibid., p. 176.
562
Ibid., p. 176.
563
Ibid., p. 176.
564 568
Ibid., p. 176. Ibid., p. 177.
565 569
Ibid., p. 176. Ibid., p. 177.
566 570
Ibid., p. 176. Ibid., p. 178.
567 571
Ibid., p. 176. Ibid., p. 179.

403
EXERCÍCOS 4. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am-
biente – Manejo de Fauna Silvestre/Questão 27/2008)
1. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am- No Brasil, quem matar, perseguir, caçar, apanhar, u lizar
biente – Manejo de Fauna Silvestre/Questão 21/2008) espécimes da fauna silvestre, na vos ou em rota migra-
Em relação à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, tória, sem a devida permissão, licença ou autorização
que dispõe sobre as sanções penais e administra vas da autoridade competente, ou em desacordo com a
derivadas de condutas e a vidades lesivas ao meio ob da está sujeito à seguinte pena:
a) multa de seis a vinte salários mínimos.
ambiente, a pessoa jurídica cons tuída ou u lizada,
b) detenção de um a dois anos e multa.
preponderantemente, com o fim de permi r, facilitar
c) detenção de um a três anos.
ou ocultar a prá ca de crime definido nessa lei terá d) detenção de seis meses a um ano e multa.
decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será e) detenção de um a cinco anos.
considerado instrumento do crime e como tal perdido
em favor do(a) 5. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am-
a) Fundo Penitenciário Nacional. biente – Manejo de Fauna Silvestre/Questão 28/2008) No
b) Fundo para financiamento do Programa da Agricul- Brasil, quem cortar árvores em floresta considerada de
tura Familiar. preservação permanente, sem permissão da autoridade
c) Fundação Nacional do Índio (Funai). competente, está sujeito à seguinte pena:
d) Fundação Nacional da Saúde (Funasa). a) detenção, de um a três anos, ou multa.
e) Ins tuto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). b) detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as
penas cumula vamente.
2. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am- c) detenção, de dois a três anos, ou multa, ou ambas
biente – Manejo de Fauna Silvestre/Questão 22/2008) as penas cumula vamente.
Quem pra ca crimes contra a fauna pode ter a pena d) detenção, de dois a três anos, ou multa.
aumentada de metade, se o crime for pra cado e) detenção, de dois a três anos, e multa.
a) em período liberado à caça.
b) sem abuso de licença. 6. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am-
c) fora de unidade de conservação. biente – Planejamento Ambiental/Questão 26/2008) É
d) durante a noite. considerado crime ambiental:
I – destruir museu protegido por lei;
e) sem emprego de métodos ou instrumentos capazes
II – lançar substância tóxica no rio, provocando mor-
de provocar destruição em massa.
tandade de peixes;
III – dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no
3. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am- trato de questões ambientais.
biente – Manejo de Fauna Silvestre/Questão 26/2008)
Em relação às Disposições Gerais da Lei nº 9.605, de 12 Está correto o con do
de fevereiro de 1998, é correto afirmar que a) somente no item I.
a) poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre b) somente no item II.
que sua personalidade for obstáculo ao ressarci- c) somente no item III.
mento de prejuízos causados à qualidade do meio d) em todos os itens.
ambiente. e) somente nos itens II e III.
b) quem concorre para a prá ca dos crimes previstos
nesta lei incide nas penas a estes cominadas, na me- 7. (Vunesp/Sema-SP/Gestão Governamental em Meio Am-
dida da sua culpabilidade, exceto o diretor, o admi- biente – Planejamento Ambiental/Questão 32/2008)
nistrador, o membro de conselho e de órgão técnico, A Lei de Crimes Ambientais, “A Lei da Natureza”, inova
o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de como instrumento jurídico de proteção ao meio am-
pessoa jurídica que, sabendo da conduta criminosa biente, ao
de outrem, deixar de impedir a sua prá ca, quando a) prever em todas as infrações, mecanismos de punição
podia agir para evitá-la. severa aos infratores e não permi r a aplicação de pe-
c) quem concorre para a prá ca dos crimes previstos nas alterna vas na constatação de danos ambientais.
nesta lei incide nas penas a estes cominadas, na b) estabelecer que, na imposição da penalidade, a auto-
medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, ridade ambiental não deve considerar a situação do
infrator quanto a grau de instrução e escolaridade.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o administrador, o membro de conselho e de órgão


c) permi r, como pena restri va de direito, que pessoas
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou manda-
jurídicas infratoras de lei ambiental sejam contrata-
tário de pessoa jurídica que, mesmo não sabendo
das ou obtenham subvenção do Poder Público.
da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir d) não prever a responsabilidade penal de funcionários
a sua prá ca, quando podia agir para evitá-la. de órgãos ambientais, que devem responder a pro-
d) as pessoas jurídicas não serão responsabilizadas ad- cessos administra vos internos aos órgãos públicos.
ministra va, civil e penalmente conforme o disposto e) definir responsabilidade de pessoa jurídica, inclusive
nesta lei, nos casos em que a infração seja come da penal, e também de pessoa sica autora da infração.
por decisão de seu representante legal ou contratual,
ou de seu órgão colegiado, no interesse ou bene cio GABARITO
de sua en dade.
e) a responsabilidade das pessoas jurídicas exclui a das
1. a 3. a 5. b 7. e
pessoas sicas, autoras, co-autoras ou par cipes do
2. d 4. d 6. d
mesmo fato.

404
Juliane Alcântara Obs.: A Polícia Rodoviária e o Batalhão de Trânsito são
criados a par r de convênios com o DER e o Detran, res-
pec vamente.
LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO LEI
Nº 9.503/1997 CÓDIGO DE TRÂNSITO Competências de cada Órgão
BRASILEIRO
A Lei nº 9.503/1997 foi sancionada em 23/9/1997, mas CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito
passou a vigorar em janeiro de 1998, período de 120 dias
conhecido por vacaƟo legis. Composição (art. 10):

Conceito de TRÂNSITO (art. 1º, § 1º): Art. 10. O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN,
com sede no Distrito Federal e presidido pelo dirigen-
Considera-se trânsito a u lização das vias por pes- te do órgão máximo execu vo de trânsito da União,
soas, veículos e animais, isolados ou em grupos, tem a seguinte composição:
conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, III – Um representante do Ministério da Ciência e
estacionamento e operação de carga ou descarga. Tecnologia;
IV – um representante do Ministério da Educação e
SNT – Sistema Nacional de Trânsito do Desporto;
V – um representante do Ministério do Exército;
Conceito VI – um representante do Ministério do Meio Am-
biente e da Amazônia Legal;
Art. 5º O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto
VII – um representante do Ministério dos Trans-
de órgãos e en dades da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios que tem por fina- portes;
lidade o exercício das a vidades de planejamento, XX – um representante do ministério ou órgão coor-
administração, norma zação, pesquisa, registro e denador máximo do Sistema Nacional de Trânsito;
licenciamento de veículos, formação, habilitação e XXIIum representante do Ministério da Saúde;
reciclagem de condutores, educação, engenharia, XXIII – um representante do Ministério da Jus ça.
operação do sistema viário, policiamento, fisca-
lização, julgamento de infrações e de recursos e Competências (art. 12) – Lembre-se que o Contran é
aplicação de penalidades. um órgão consul vo/norma vo, logo, suas competências
Em resumo: é o conjunto de órgãos que cuida do estarão relacionadas à criação de normas e diretrizes que
trânsito, sendo órgãos norma vos, consul vos e irão guiar todos os demais órgãos do Sistema, além de
execu vos. coordená-los.
Obje vos Básicos do SNT (Art. 6º)
I – estabelecer as normas regulamentares referidas
neste Código e as diretrizes da Polí ca Nacional de
I – estabelecer diretrizes da Polí ca Nacional de
Trânsito;
Trânsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao con-
forto, à defesa ambiental e à educação para o II – coordenar os órgãos do Sistema Nacional de
trânsito, e fiscalizar seu cumprimento; Trânsito, obje vando a integração de suas a vidades;
II – fixar, mediante normas e procedimentos, III – (Vetado)
a padronização de critérios técnicos, financeiros IV – criar Câmaras Temá cas;
e administra vos para a execução das a vidades V – estabelecer seu regimento interno e as diretrizes
de trânsito; para o funcionamento dos CETRAN e CONTRANDIFE;
III – estabelecer a sistemá ca de fluxos permanen- VI – estabelecer as diretrizes do regimento das JARI;
tes de informações entre os seus diversos órgãos e Comentário: Observe que o CONTRAN não estabe-
en dades, a fim de facilitar o processo decisório e lece o regimento das JARIS, apenas suas diretrizes,
a integração do Sistema. ou seja, norteia sua confecção.
Observe que o caput do ar go 5º traz a finalidade VII – zelar pela uniformidade e cumprimento das
do SNT, já o ar go 6º dispõe a respeito dos obje-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

normas contidas neste Código e nas resoluções


vos do SNT. complementares;
VIII – estabelecer e norma zar os procedimentos
SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO para a imposição, a arrecadação e a compensação
ÓRGÃOS FEDERAL ESTADUAL das multas por infrações come das em unidade da
NORMATIVOS/ CONTRAN CETRAN Federação diferente da do licenciamento do veículo;
CONSULTIVOS CONTRANDIFE (DF) (Grifo nosso)
EXECUTIVOS DENATRAN DETRAN IX – responder às consultas que lhe forem formula-
CIRETRAN (MUNIC.) das, rela vas à aplicação da legislação de trânsito;
RODOVIÁRIOS DNIT DER (Grifo nosso)
FISCALIZADORES PRF DETRAN X – norma zar os procedimentos sobre a aprendi-
PRE (PM) zagem, habilitação, expedição de documentos de
condutores, e registro e licenciamento de veículos;
RECURSAIS JARI JARI
(Grifo nosso)

405
Comentário: XI – designar, em caso de recursos deferidos e na
Veja que no inciso VIII o Contran também estabelece hipótese de reavaliação dos exames, junta especial
os procedimentos rela vos à imposição, arrecadação e de saúde para examinar os candidatos à habilitação
compensação de multas, ao passo que, quanto aos pro- para conduzir veículos automotores.
cedimentos de aprendizagem, habilitação, expedição de
documentos de condutores e registro e licenciamento de Composição
veículos, ele apenas norma za.
Art. 15. Os presidentes dos CETRAN e do CONTRAN-
XI – aprovar, complementar ou alterar os disposi - DIFE são nomeados pelos Governadores dos Estados
vos de sinalização e os disposi vos e equipamentos e do Distrito Federal, respec vamente, e deverão
de trânsito; (Grifo nosso) ter reconhecida experiência em matéria de trânsito.
XII – apreciar os recursos interpostos contra as (Grifo nosso)
decisões das instâncias inferiores, na forma deste
Código; (Grifo nosso)
Os membros dos CETRAN e do CONTRANDIFE são nome-
XIII – avocar, para análise e soluções, processos sobre
ados pelos Governadores dos Estados e do Distrito Federal,
conflitos de competência ou circunscrição, ou, quan-
respec vamente e deverão ser pessoas de reconhecida ex-
do necessário, unificar as decisões administra vas;
e (Grifo nosso) periência em trânsito. O mandato dos membros do CETRAN
XIV – dirimir conflitos sobre circunscrição e compe- e do CONTRANDIFE é de dois anos, admi da a recondução.
tência de trânsito no âmbito da União, dos Estados
e do Distrito Federal. Denatran – Departamento Nacional de Trânsito

Comentário: Observe que entre os municípios não é Órgão máximo execu vo de trânsito. Competências
competência do Contran, mas do Cetran, conforme dispõe (art. 19) – A lista de competências é extensa, mas lembre-se,
o ar go 14, inciso IX. por ser o órgão máximo execu vo, suas competências esta-
rão relacionadas a colocar em prá ca/executar tudo o que
Dentro do Contran existem as Câmaras Temá cas, que foi criado pelo CTB e pelas normas do CONTRAN.
são órgãos técnicos formados por especialistas para darem Possui uma competência interessante, que é a pos-
suporte ao Contran. sibilidade de intervenção no órgão execu vo de transito
estadual/DF:
Cetran – Conselho Estadual de Trânsito e Contradife –
Conselho de Trânsito do Distrito Federal Comprovada, por meio de sindicância, a deficiência
técnica ou administra va ou a prá ca constante de
Competências (art. 14) – Lembre-se, também são órgãos atos de improbidade contra a fé pública, contra o pa-
consul vos/norma vos, contudo, na esfera Estadual/DF, trimônio ou contra a administração pública, o órgão
logo, suas competências também estarão relacionadas à execu vo de trânsito da União, mediante aprovação
norma zação, mas, no âmbito estadual. do CONTRAN, assumirá diretamente ou por dele-
gação, a execução total ou parcial das a vidades
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas do órgão execu vo de trânsito estadual que tenha
de trânsito, no âmbito das respec vas atribuições; mo vado a inves gação, até que as irregularidades
II – elaborar normas no âmbito das respectivas sejam sanadas.
competências;
III – responder a consultas rela vas à aplicação I – cumprir e fazer cumprir a legislação de trânsito
da legislação e dos procedimentos norma vos de e a execução das normas e diretrizes estabelecidas
trânsito; (Grifo nosso)
pelo CONTRAN, no âmbito de suas atribuições;
IV – es mular e orientar a execução de campanhas
II – proceder à supervisão, à coordenação, à correi-
educa vas de trânsito; (Grifo nosso)
ção dos órgãos delegados, ao controle e à fiscalização
V – julgar os recursos interpostos contra decisões:
a) das JARI; da execução da Polí ca Nacional de Trânsito e do
b) dos órgãos e en dades execu vos estaduais, nos Programa Nacional de Trânsito; (Grifo nosso)
casos de inap dão permanente constatados nos III – ar cular-se com os órgãos dos Sistemas Nacio-
exames de ap dão sica, mental ou psicológica; nais de Trânsito, de Transporte e de Segurança Pú-
VI – indicar um representante para compor a co- blica, obje vando o combate à violência no trânsito,
missão examinadora de candidatos portadores de promovendo, coordenando e executando o controle
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

deficiência sica à habilitação para conduzir veículos de ações para a preservação do ordenamento e da
automotores; (Grifo nosso) segurança do trânsito; (Grifo nosso)
VII – (Vetado) IV – apurar, prevenir e reprimir a prá ca de atos
VIII – acompanhar e coordenar as a vidades de de improbidade contra a fé pública, o patrimônio,
administração, educação, engenharia, fiscalização, ou a administração pública ou privada, referentes à
policiamento ostensivo de trânsito, formação de segurança do trânsito; (Grifo nosso)
condutores, registro e licenciamento de veículos, V – supervisionar a implantação de projetos e pro-
ar culando os órgãos do Sistema no Estado, repor- gramas relacionados com a engenharia, educação,
tando-se ao CONTRAN; administração, policiamento e fiscalização do trânsito
IX – dirimir conflitos sobre circunscrição e com- e outros, visando à uniformidade de procedimento;
petência de trânsito no âmbito dos Municípios; e (Grifo nosso)
(Grifo nosso) VI – estabelecer procedimentos sobre a aprendiza-
X – informar o CONTRAN sobre o cumprimento das gem e habilitação de condutores de veículos, a ex-
exigências definidas nos §§ 1º e 2º do art. 333. pedição de documentos de condutores, de registro

406
e licenciamento de veículos; Lembre-se que o CON- educação, policiamento ostensivo, fiscalização,
TRAN irá norma zar esses procedimentos (art. 12, X) operação e administração de trânsito, propondo
VII – expedir a Permissão para Dirigir, a Carteira medidas que es mulem a pesquisa cien fica e o
Nacional de Habilitação, os Cer ficados de Registro ensino técnico-profissional de interesse do trânsito,
e o de Licenciamento Anual mediante delegação aos e promovendo a sua realização;
órgãos execu vos dos Estados e do Distrito Federal; XXIV – opinar sobre assuntos relacionados ao trânsito
(Grifo nosso) interestadual e internacional;
XXV – elaborar e submeter à aprovação do CONTRAN
Comentário: Observe que é de responsabilidade do De- as normas e requisitos de segurança veicular para
natran a expedição dos documentos, contudo, ele a delega fabricação e montagem de veículos, consoante sua
aos Detrans. des nação;
XXVI – estabelecer procedimentos para a concessão
VIII – organizar e manter o Registro Nacional de do código marca-modelo dos veículos para efeito de
Carteiras de Habilitação – RENACH; registro, emplacamento e licenciamento;
IX – organizar e manter o Registro Nacional de Veí- XXVII – instruir os recursos interpostos das decisões
culos Automotores – RENAVAM; do CONTRAN, ao ministro ou dirigente coordenador
X – organizar a estatística geral de trânsito no máximo do Sistema Nacional de Trânsito;
território nacional, definindo os dados a serem XXVIII – estudar os casos omissos na legislação de
fornecidos pelos demais órgãos e promover sua trânsito e submetê-los, com proposta de solução,
divulgação; (Grifo nosso) ao Ministério ou órgão coordenador máximo do
XI – estabelecer modelo padrão de coleta de infor-
Sistema Nacional de Trânsito;
mações sobre as ocorrências de acidentes de trânsito
XXIX – prestar suporte técnico, jurídico, administra-
e as esta s cas do trânsito;
vo e financeiro ao CONTRAN.
XII – administrar fundo de âmbito nacional des nado
à segurança e à educação de trânsito; (Grifo nosso)
XIII – coordenar a administração da arrecadação de PRF – Polícia Rodoviária Federal
multas por infrações ocorridas em localidade dife-
rente daquela da habilitação do condutor infrator Competências (art. 20) – Lembre-se, ela é a polícia de
e em unidade da Federação diferente daquela do trânsito FEDERAL, logo, somente poderá atuar em rodovias
licenciamento do veículo; (Grifo nosso) e estradas FEDERAIS.
XIV – fornecer aos órgãos e en dades do Sistema
Nacional de Trânsito informações sobre registros I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas
de veículos e de condutores, mantendo o fluxo de trânsito, no âmbito de suas atribuições;
permanente de informações com os demais órgãos II – realizar o patrulhamento ostensivo, executando
do Sistema; (Grifo nosso) operações relacionadas com a segurança pública,
XV – promover, em conjunto com os órgãos compe- com o obje vo de preservar a ordem, incolumidade
tentes do Ministério da Educação e do Desporto, de das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros;
acordo com as diretrizes do CONTRAN, a elaboração III – aplicar e arrecadar as multas impostas por
e a implementação de programas de educação de infrações de trânsito, as medidas administra vas
trânsito nos estabelecimentos de ensino; (Grifo decorrentes e os valores provenientes de estada e
nosso) remoção de veículos, objetos, animais e escolta de
XVI – elaborar e distribuir conteúdos programá cos veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas;
para a educação de trânsito; IV – efetuar levantamento dos locais de acidentes
XVII – promover a divulgação de trabalhos técnicos de trânsito e dos serviços de atendimento, socorro
sobre o trânsito; e salvamento de ví mas;
XVIII – elaborar, juntamente com os demais órgãos V – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e
e en dades do Sistema Nacional de Trânsito, e sub- adotar medidas de segurança rela vas aos serviços
meter à aprovação do CONTRAN, a complementação de remoção de veículos, escolta e transporte de
ou alteração da sinalização e dos disposi vos e carga indivisível; (Grifo nosso)
equipamentos de trânsito; VI – assegurar a livre circulação nas rodovias fede-
XIX – organizar, elaborar, complementar e alterar rais, podendo solicitar ao órgão rodoviário a adoção
os manuais e normas de projetos de implementação de medidas emergenciais, e zelar pelo cumprimento
da sinalização, dos disposi vos e equipamentos de das normas legais rela vas ao direito de vizinhança,
trânsito aprovados pelo CONTRAN; promovendo a interdição de construções e instala-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

XX – expedir a permissão internacional para conduzir ções não autorizadas;


veículo e o cer ficado de passagem nas alfândegas, VII – coletar dados esta s cos e elaborar estudos
mediante delegação aos órgãos executivos dos sobre acidentes de trânsito e suas causas, adotando
Estados e do Distrito Federal;
ou indicando medidas operacionais preven vas e
XXI – promover a realização periódica de reuniões
encaminhando-os ao órgão rodoviário federal;
regionais e congressos nacionais de trânsito, bem
como propor a representação do Brasil em congres- VIII – implementar as medidas da Polí ca Nacional
sos ou reuniões internacionais; de Segurança e Educação de Trânsito;
XXII – propor acordos de cooperação com organis- IX – promover e par cipar de projetos e programas
mos internacionais, com vistas ao aperfeiçoamento de educação e segurança, de acordo com as diretrizes
das ações inerentes à segurança e educação de estabelecidas pelo CONTRAN;
trânsito; X – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sis-
XXIII – elaborar projetos e programas de formação, tema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação
treinamento e especialização do pessoal encarre- e compensação de multas impostas na área de sua
gado da execução das a vidades de engenharia, competência, com vistas à unificação do licenciamen-

407
to, à simplificação e à celeridade das transferências XII – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sis-
de veículos e de prontuários de condutores de uma tema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação
para outra unidade da Federação; e compensação de multas impostas na área de sua
XI – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído competência, com vistas à unificação do licenciamen-
produzidos pelos veículos automotores ou pela sua to, à simplificação e à celeridade das transferências
carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de veículos e de prontuários de condutores de uma
de dar apoio, quando solicitado, às ações específicas para outra unidade da Federação;
dos órgãos ambientais. XIII – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e
ruído produzidos pelos veículos automotores ou
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura pela sua carga, de acordo com o estabelecido no
de Transportes e DER – Departamento Estadual de art. 66, além de dar apoio às ações específicas dos
Trânsito órgãos ambientais locais, quando solicitado;
XIV – vistoriar veículos que necessitem de autoriza-
São órgãos execu vos rodoviários, ou seja, atuarão nas ção especial para transitar e estabelecer os requi-
Rodovias/Estradas federais e estaduais, respec vamente sitos técnicos a serem observados para a circulação
(mais à frente veremos a diferença e a classificação das vias desses veículos.
rurais e vias urbanas).
Suas competências estão no art. 21, estão mais relacio- Comentário: Um exemplo desse po de veículo são as
nadas à organização do trânsito, abertura e conservação carretas que transportam cargas superdimensionadas.
de vias, autorização para construção às margens das vias.
DETRAN – Departamento de Trânsito
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas
de trânsito, no âmbito de suas atribuições; Competências (art. 22) – O Detran é o órgão execu vo
II – planejar, projetar, regulamentar e operar o responsável pelas vias urbanas (daqui a pouco você saberá
trânsito de veículos, de pedestres e de animais, o que são vias rurais e vias urbanas, além de suas classifi-
e promover o desenvolvimento da circulação e da cações).
segurança de ciclistas;
III – implantar, manter e operar o sistema de si- I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas
nalização, os disposi vos e os equipamentos de de trânsito, no âmbito das respec vas atribuições;
controle viário; II – realizar, fiscalizar e controlar o processo de for-
IV – coletar dados e elaborar estudos sobre os aci- mação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão
dentes de trânsito e suas causas; de condutores, expedir e cassar Licença de Aprendi-
V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de zagem, Permissão para Dirigir e Carteira Nacional de
Habilitação, mediante delegação do órgão federal
policiamento ostensivo de trânsito, as respec vas
competente;
diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;
Comentário: Conforme visto anteriormente, esse órgão
Comentário: Lembre-se que o órgão responsável pelo
é o Denatran.
policiamento ostensivo nas rodovias Federais é a PRF e nas
rodovias Estaduais é a Polícia Militar em convênio com os
III – vistoriar, inspecionar quanto às condições de
DERs. segurança veicular, registrar, emplacar, selar a placa,
e licenciar veículos, expedindo o Cer ficado de Re-
VI – executar a fiscalização de trânsito, autuar, gistro e o Licenciamento Anual, mediante delegação
aplicar as penalidades de advertência, por escrito, do órgão federal competente;
e ainda as multas e medidas administra vas ca-
bíveis, no ficando os infratores e arrecadando as Comentário: Essa competência também é delegada
multas que aplicar; pelo Denatran.
VII – arrecadar valores provenientes de estada e
remoção de veículos e objetos, e escolta de veículos IV – estabelecer, em conjunto com as Polícias Mi-
de cargas superdimensionadas ou perigosas; litares, as diretrizes para o policiamento ostensivo
VIII – fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e de trânsito;
medidas administra vas cabíveis, rela vas a infra-
ções por excesso de peso, dimensões e lotação dos Comentário: Atenção, pois agora o policiamento osten-
veículos, bem como no ficar e arrecadar as multas sivo é feito nas vias urbanas.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

que aplicar;
IX – fiscalizar o cumprimento da norma con da no V – executar a fiscalização de trânsito, autuar e
art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as aplicar as medidas administra vas cabíveis pelas
multas nele previstas; infrações previstas neste Código, excetuadas aque-
las relacionadas nos incisos VI e VIII do art. 24, no
Comentário: O art. 95 trata da autorização prévia para exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito;
realização de obras ou eventos que possam obstruir ou
atrapalhar a livre circulação na via. Comentário: O art. 24 traz as competências dos órgãos
de trânsito municipais.
X – implementar as medidas da Polí ca Nacional de
Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; VI – aplicar as penalidades por infrações previstas
XI – promover e par cipar de projetos e programas neste Código, com exceção daquelas relacionadas
de educação e segurança, de acordo com as diretrizes nos incisos VII e VIII do art. 24, no ficando os infra-
estabelecidas pelo Contran; tores e arrecadando as multas que aplicar;

408
VII – arrecadar valores provenientes de estada e II – planejar, projetar, regulamentar e operar o
remoção de veículos e objetos; trânsito de veículos, de pedestres e de animais,
VIII – comunicar ao órgão execu vo de trânsito da e promover o desenvolvimento da circulação e da
União a suspensão e a cassação do direito de dirigir e segurança de ciclistas;
o recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação; III – implantar, manter e operar o sistema de si-
nalização, os disposi vos e os equipamentos de
Comentário: Esse órgão é o Denatran, lembre-se que controle viário;
ele é responsável pela manutenção do RENACH, portanto, IV – coletar dados esta s cos e elaborar estudos
precisa obter esses dados. sobre os acidentes de trânsito e suas causas;
V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de
IX – coletar dados esta s cos e elaborar estudos polícia ostensiva de trânsito, as diretrizes para o
sobre acidentes de trânsito e suas causas; policiamento ostensivo de trânsito;
X – credenciar órgãos ou en dades para a execução VI – executar a fiscalização de trânsito, autuar e
de a vidades previstas na legislação de trânsito, na aplicar as medidas administra vas cabíveis, por
forma estabelecida em norma do CONTRAN; infrações de circulação, estacionamento e parada
previstas neste Código, no exercício regular do
Comentário: Um exemplo é o credenciamento das Poder de Polícia de Trânsito;
Autoescolas.
Comentário: Observe que os órgãos municipais de trân-
XI – implementar as medidas da Polí ca Nacional de sito não podem aplicar todas as multas previstas no CTB.
Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
XII – promover e par cipar de projetos e programas VII – aplicar as penalidades de advertência por es-
de educação e segurança de trânsito de acordo com crito e multa, por infrações de circulação, estaciona-
as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN; mento e parada previstas neste Código, no ficando
XIII – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sis- os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
tema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação VIII – fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e
e compensação de multas impostas na área de sua medidas administra vas cabíveis rela vas a infra-
competência, com vistas à unificação do licenciamen- ções por excesso de peso, dimensões e lotação dos
to, à simplificação e à celeridade das transferências veículos, bem como no ficar e arrecadar as multas
de veículos e de prontuários de condutores de uma que aplicar;
para outra unidade da Federação; IX – fiscalizar o cumprimento da norma con da no
XIV – fornecer, aos órgãos e en dades execu vos art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as
de trânsito e executivos rodoviários municipais, multas nele previstas;
os dados cadastrais dos veículos registrados e dos X – implantar, manter e operar sistema de estacio-
condutores habilitados, para fins de imposição e namento rota vo pago nas vias;
no ficação de penalidades e de arrecadação de XI – arrecadar valores provenientes de estada e re-
multas nas áreas de suas competências; moção de veículos e objetos, e escolta de veículos
XV – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e de cargas superdimensionadas ou perigosas;
ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela XII – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e
sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, adotar medidas de segurança rela vas aos serviços
além de dar apoio, quando solicitado, às ações es- de remoção de veículos, escolta e transporte de
pecíficas dos órgãos ambientais locais; carga indivisível;
XVI – ar cular-se com os demais órgãos do Sistema XIII – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sis-
Nacional de Trânsito no Estado, sob coordenação do tema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação
respec vo CETRAN. e compensação de multas impostas na área de sua
competência, com vistas à unificação do licenciamen-
PM – Polícias Militares dos Estados e DF to, à simplificação e à celeridade das transferências
de veículos e de prontuários dos condutores de uma
Só atuarão no trânsito quando houver convênio com para outra unidade da Federação;
o DER ou o Detran, veja o art. 23, possui apenas um inciso XIV – implantar as medidas da Polí ca Nacional de
válido: executar a fiscalização de trânsito, quando e confor- Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
me convênio firmado, como agente do órgão ou en dade XV – promover e par cipar de projetos e programas
execu vos de trânsito ou execu vos rodoviários, concomi- de educação e segurança de trânsito de acordo com
tantemente com os demais agentes credenciados. as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN;
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XVI – planejar e implantar medidas para redução


CIRETRAN – Circunscricional Regional de Trânsito da circulação de veículos e reorientação do tráfe-
go, com o obje vo de diminuir a emissão global de
São os órgãos execu vos municipais. Suas competências poluentes;
estão no art. 24. Na verdade eles são uma subdivisão dos XVII – registrar e licenciar, na forma da legislação, ci-
Detrans. clomotores, veículos de tração e propulsão humana
No Distrito Federal, como não existem municípios, e de tração animal, fiscalizando, autuando, aplicando
estas competências também são do DETRAN/DF: § 1º As penalidades e arrecadando multas decorrentes de
competências rela vas a órgão ou en dade municipal serão infrações;
exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou en dade XVIII – conceder autorização para conduzir veículos
execu vos de trânsito. de propulsão humana e de tração animal;
XIX – ar cular-se com os demais órgãos do Sistema
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas Nacional de Trânsito no Estado, sob coordenação
de trânsito, no âmbito de suas atribuições; do respec vo CETRAN;

409
XX – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e de pedestres em nível (ou seja, sem faixa de pedestres).
ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela Quando não sinalizada, a velocidade máxima é de 80 km/h
sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, para todos os veículos.
além de dar apoio às ações específicas de órgão Via Arterial – Aquela caracterizada com interseções em
ambiental local, quando solicitado; nível e passagens de pedestres em nível, geralmente con-
XXI – vistoriar veículos que necessitem de autoriza- trolada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros
ção especial para transitar e estabelecer os requi- e às vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito entre
sitos técnicos a serem observados para a circulação as regiões da cidade. Quando não sinalizada, a velocidade
desses veículos. máxima é de 60 km/h para todos os veículos.
Via Coletora – Aquela des nada a coletar e distribuir o
JARI – Juntas Administra vas de Recursos de trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de
Infrações trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro
das regiões da cidade. Quando não sinalizada, a velocidade
Competências (art. 17): máxima é de 40 km/h para todos os veículos.
Via Local – Aquela caracterizada por interseções em
nível não semaforizadas, des nada apenas ao acesso local
I – julgar os recursos interpostos pelos infratores;
ou a áreas restritas. Quando não sinalizadas a velocidade
II – solicitar aos órgãos e en dades execu vos de máxima é de 30 km/h para todos os veículos.
trânsito e execu vos rodoviários informações com- Observação: A velocidade mínima em qualquer via (ru-
plementares rela vas aos recursos, obje vando uma ral ou urbana) NÃO pode ser inferior a metade da máxima,
melhor análise da situação recorrida; salvo exceções.
III – encaminhar aos órgãos e en dades execu vos de Uma exceção, por exemplo, é o transporte de super
trânsito e execu vos rodoviários informações sobre cargas, mas, nesse caso, deverá haver escolta.
problemas observados nas autuações e apontados
em recursos, e que se repitam sistema camente.
Normas Gerais de Circulação e Conduta – Arts.
26 a 59
Vias
O Código de Trânsito se preocupa com a segurança de
Conceito: super cie por onde transitam veículos, pessoas todos, por esse mo vo traz normas de conduta que priorizam
e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamen- o respeito mútuo. Por exemplo:
to, ilha e canteiro central (Conceito dado pelo CTB, em seu
anexo). Art. 26. Os usuários das vias terrestres devem:
I – abster-se de todo ato que possa cons tuir perigo
Classificação: ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas
ou de animais, ou ainda causar danos a propriedades
Vias Rurais públicas ou privadas;
Servem para ligar municípios, estados, países. II – abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo pe-
Estradas – via rural não pavimentada (estrada de terra). rigoso, a rando, depositando ou abandonando na
Quando não sinalizada, a velocidade máxima de circulação via objetos ou substâncias, ou nela criando qualquer
é de 60 km/h para qualquer po de veículo. outro obstáculo.
Rodovias – via rural pavimentada. Quando não sinalizada Art. 27. Antes de colocar o veículo em circulação nas
a velocidade máxima de circulação é de: vias públicas, o condutor deverá verificar a existência
• 110 km/h – para automóveis, camionetas e motoci- e as boas condições de funcionamento dos equipa-
cletas; mentos de uso obrigatório, bem como assegurar-se
• 90 km/h – para ônibus e microônibus; da existência de combus vel suficiente para chegar
• 80 km/h – para os demais veículos. ao local de des no.

Obs.: Estas velocidades estão no art. 61. Observe que o Veja, ao ler esse capítulo da lei, você entenderá a maioria
CTB estabeleceu a velocidade de 110 km/h para camione- das infrações de trânsito, geralmente, quem não observa
tas (veículo misto des nado ao transporte de passageiros essas normas gerais de circulação e conduta já estará co-
e carga no mesmo compar mento Ex.: Toyota/SW4, GM/ metendo uma infração.
Blazer), excluindo as caminhonetes (veículo des nado ao Este capítulo é um dos mais cobrados em provas de
concurso, a banca geralmente traça um paralelo entre uma
transporte de carga com peso bruto total de até três mil e
norma de circulação e uma infração, por isso, tente visua-
quinhentos quilogramas. Ex.: GM/D20, Ford/Ranger), logo,
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lizar cada conduta que a norma traz, assim será muito fácil
a velocidade máxima para as caminhonetes é de 80 km/h, entender e memorizar. Veja que são regras de preferências
lembre-se: em rodovias não sinalizadas. de circulação, ultrapassagens, uso da iluminação, execução
Perímetro Urbano é o trecho de rodovia que passa pela de manobras etc.
via urbana, elas se sobrepõem. Você perceberá que a lei está ensinando como dirigir
com segurança, se todos a observassem com certeza não
Vias Urbanas teríamos mortes no trânsito!
Ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e similares abertos à Sinalização – Arts. 80 a 90 e Anexo II
circulação pública, situados na área urbana, caracterizados
principalmente por possuírem imóveis edificados ao longo Classificação (art. 87):
de sua extensão.
Via de Trânsito Rápido – Aquela caracterizada por aces- Ver cal: se u liza de placas onde o meio de comunicação
sos especiais com trânsito livre, sem interseções em nível, (sinal) está na posição ver cal, fixado ao lado ou suspenso
sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem travessia sobre a via.

410
Tipos: Luminosos: é a sinalização semafórica, cuja função é
a) Regulamentação: tem por finalidade informar aos controlar os deslocamentos.
usuários das condições, proibições ou restrições no uso
da via. Suas mensagens são Impera vas e seu desrespeito Tipos:
cons tui infração. Dá uma ordem. a) De Regulamentação: tem a função de efetuar o
Caracterís ca: circular, com borda vermelha e fundo controle do trânsito em um cruzamento ou seção de via,
branco. Exceto: “parada obrigatória” e “dê a preferência”. alternando o direito de passagem de cada um dos fluxos de
b) Advertência: tem por finalidade ALERTAR os usuários veículos e/ou pedestres.
das vias para condições potencialmente perigosas, indicando Caracterís cas: para controle de veículos são nas cores:
sua natureza. Tem caráter de recomendação. verde (siga), amarelo (atenção) e vermelho (pare). Para
Caracterís ca: tem a forma de um quadrado “deitado”, controle de pedestres são nas cores verde (atravesse) e
de cor amarela. Exceto: “sen do único”, “sen do duplo” e vermelho (aguarde)
“cruz de Santo André”. b) De Advertência: tem a função de adver r da existên-
c) Indicação: tem por finalidade indicar as vias, os des - cia de obstáculo ou situação perigosa, devendo o condutor
nos e locais de interesse, bem como orientar condutores de reduzir a velocidade.
veículos. Suas mensagens possuem um caráter meramente Caracterís ca: compõe-se de uma ou duas luzes de cor
informa vo ou educa vo, NÃO cons tuindo imposição. amarela cujo funcionamento é intermitente ou piscante
Caracterís ca: Geralmente são nas cores azul ou verde. alternado.

Horizontal: Se u liza de linhas, marcações, símbolos e Sonoros: sinal de apito, podendo ser:
legendas, pintados ou apostos sobre o pavimento da via.  Um silvo breve = Siga
Cores:  Dois silvos breves = Pare
 Amarela: divide fluxos opostos, em vias de duplo  Um silvo breve + Um silvo longo = Trânsito Impedido
sen do;
 Branca: divide fluxo de mesmo sen do, em vias de Gestos do agente de trânsito e do condutor: ver anexo II.
sen do único;
 Vermelha: regula espaço des nado a bicicletas (ciclo- ORDEM DE PREVALÊNCIA (art. 89):
vias) e símbolos;  as ordens do agente de trânsito sobre as normas de
 Azul: pintura de símbolos em áreas especiais; circulação e outros sinais;
 Preta: u lizada para proporcionar contraste.  as indicações do semáforo sobre os demais sinais;
 as indicações dos sinais sobre as demais normas de
Traçados: trânsito.
 Con nua: indica proibição;
 Descon nua/Seccionada/Tracejada: indica permissão; Ou seja, mesmo que haja outra sinalização no local,
 Símbolos e Legendas. as ordens do agente prevalecem.

Disposi vos de sinalização auxiliar: incrementam a Habilitação – Arts. 140 a 160


visibilidade da sinalização ou de obstáculos à circulação.
O CTB traz normas gerais sobre a habilitação. As normas
Tipos: específicas estão con das em Resolução do CONTRAN (ex:
a) Delimitadores: são elementos refletores, com o obje - Resolução nº 50).
vo de melhorar a percepção do condutor quanto aos limites
de espaço des nados ao rolamento e a separação de faixas. Categorias:
Tipos: Balizadores, Balizamento refle vo de pontes e  Categoria A – Condutor de veículo motorizado de duas
viadutos, Tachas e Tachões. ou três rodas, com ou sem carro lateral – motos;
b) Canalização: Não são refletores, servem para evitar  Categoria B – Condutor de veículo motorizado, não
que veículos transponham determinado local ou faixa. abrangido pela categoria A, cujo peso bruto total não
Tipos: Prismas de concreto. exceda a 3.500 kg (três mil e quinhentos quilogramas)
c) Sinalização de Alerta: obje va melhorar a percepção e cuja lotação não exceda a 8 (oito) lugares, excluído
do condutor de veículo quanto a um possível empecilho ao o do motorista – automóveis;
seu deslocamento.  Categoria C – Condutor de veículo motorizado u lizado
Tipos: Marcação de Obstáculos; Marcadores de Perigo; em transporte de carga, cujo peso bruto total exceda
Marcadores de Alinhamento. a 3.500kg (três mil e quinhentos quilogramas) – cami-
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d) Alterações no Pavimento: são u lizadas para es mu- nhões;


lar a redução de velocidade.  Categoria D – Condutor de veículo motorizado u liza-
Tipos: Pavimento rugoso; Pavimento fresado; Ondulação do no transporte de passageiros, cuja lotação exceda
transversal. a 8 (oito) lugares, excluído o do motorista – ônibus,
e) Proteção Con nua: servem para evitar que veículos microônibus, vans;
e/ou pedestres transponham determinado local.  Categoria E – Condutor de combinação de veículos
Tipos: Defensa; Barreira de Concreto; Gradis. em que a unidade tratora se enquadre nas categorias
f) Uso Temporário: indica situações de emergência, B, C ou D e cuja unidade acoplada, reboque, semirre-
bloqueando ou canalizando o trânsito, servindo de proteção boque, trailer ou ar culada tenha 6.000 kg (seis mil
a pedestres, trabalhadores etc. quilogramas) ou mais de peso bruto total, ou cuja
Tipos: Cones, Cavaletes, Tapumes, Baldes. lotação exceda a 8 (oito) lugares – carretas.
g) Painel Eletrônico: disposi vos eletrônicos dispostos
ver calmente à via que fornecem informações diversas ao Requisitos Gerais:
usuário.  ser penalmente imputável;

411
 saber ler e escrever; b) quanto à espécie; de passageiros; de carga; misto; de
 possuir Carteira de Iden dade ou equivalente. compe ção; de tração; especial; de coleção.
c) quanto à categoria: oficial; de representação diplo-
Obs.: A idade para rar a CNH está relacionada com a má ca, de repar ções consulares de carreira ou organismos
responsabilidade penal e não com a responsabilidade internacionais; par cular; de aluguel; de aprendizagem.
civil, pois quem dirige poderá incorrer em algum crime
de trânsito, logo, não interessa se a pessoa conseguiu Atenção: Nenhum proprietário ou responsável poderá,
a emancipação civil, pois a imputabilidade penal se dá sem prévia autorização da autoridade competente, fazer ou
aos 18 anos de idade. ordenar que sejam feitas no veículo modificações de suas
caracterís cas de fábrica.
Requisitos Específicos:
a) Para habilitar-se na categoria C, o condutor deverá Da Segurança dos Veículos
estar habilitado no mínimo há um ano na categoria B e não São equipamentos obrigatórios:
ter come do nenhuma infração grave ou gravíssima, ou  cinto de segurança;
ser reincidente em infrações médias, durante os úl mos  encosto de cabeça;
doze meses.  para os veículos de transporte e de condução escolar,
b) Para habilitar-se nas categorias D e E ou para conduzir os de transporte de passageiros com mais de dez
veículo de transporte cole vo de passageiros, de escolares, lugares e os de carga com peso bruto total superior
de emergência ou de produto perigoso, o candidato deverá a quatro mil, quinhentos e trinta e seis quilogramas,
preencher os seguintes requisitos: equipamento registrador instantâneo inalterável de
 ser maior de vinte e um anos; velocidade e tempo – tacógrafo;
 estar habilitado: 1) no mínimo há dois anos na catego-  disposi vo des nado ao controle de emissão de gases
ria B, ou no mínimo há um ano na categoria C, quando poluentes e de ruído;
pretender habilitar-se na categoria D; 2) no mínimo há  equipamento suplementar de retenção – air bag fron-
um ano na categoria C, quando pretender habilitar-se tal para o condutor e o passageiro do banco dianteiro;
na categoria E;
 não ter come do nenhuma infração grave ou gravís- Atenção: A Resolução nº 14 do Contran traz mais equi-
sima ou ser reincidente em infrações médias durante pamentos obrigatórios.
os úl mos doze meses;
Para bicicletas, são equipamentos obrigatórios: a cam-
 ser aprovado em curso especializado e em curso de
painha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos
treinamento de prá ca veicular em situação de risco,
pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo.
nos termos da norma zação do CONTRAN.
É vedado nas áreas envidraçadas dos veículos:
 o uso de cor nas, persianas fechadas ou similares
Exames Necessários para Habilitação
nos veículos em movimento, salvo nos que possuam
 De ap dão sica e mental;
espelhos retrovisores em ambos os lados;
 Escrito, sobre legislação de trânsito e de noções de
primeiros socorros;  aposição de inscrições, películas refle vas ou não,
 De direção veicular, realizado na via pública, em veículo painéis decora vos ou pinturas, quando comprometer
da categoria para a qual es ver habilitando-se. a segurança do veículo.

Obs.1: A primeira habilitação é fornecida primeiro Iden ficação Veicular


mediante Permissão para Dirigir, com validade de 1 O veículo será iden ficado obrigatoriamente por carac-
(um) ano, período em que o condutor não poderá teres gravados no chassi ou no monobloco, reproduzidos em
cometer nenhuma infração grave ou gravíssima ou ser outras partes, conforme dispuser o CONTRAN.
reincidente em infração média, caso contrário, terá O veículo será identificado externamente por meio
que refazer todos os exames. de placas dianteira e traseira, sendo esta lacrada em sua
Obs.2: A renovação da CNH se dará no período de 5 estrutura.
em 5 anos, até os 65 anos de idade, a par r do qual Os caracteres das placas serão individualizados para cada
passará a ser de 3 em 3 anos. Atenção: o período de veículo e o acompanharão até a baixa do registro, sendo
renovação poderá ser reduzido antes dos 65 anos de vedado seu reaproveitamento.
idade, caso o condutor tenha problemas de saúde. Os veículos de duas ou três rodas são dispensados da
Obs.3: O que vence não é o direito de dirigir, mas os placa dianteira.
exames médicos, por esse mo vo só exige a renovação Os veículos de uso bélico não são emplacados.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

dos exames médicos.


Registro e Licenciamento de Veículos
Curiosidade: Os Centros de Formação de Condutores Todo veículo automotor, elétrico, ar culado, reboque ou
(CFC’s) podem ser do po A (somente teórico), po B (so- semirreboque, deve ser registrado perante o órgão execu vo
mente prá co) ou po AB (teórico e prá co). de trânsito do Estado ou do Distrito Federal, no Município de
É obrigatório o porte da Permissão para Dirigir ou da domicílio ou residência de seu proprietário, na forma da lei.
Carteira Nacional de Habilitação quando o condutor es ver Registrado o veículo, expedir-se-á o Cer ficado de Regis-
à direção do veículo. tro de Veículo – CRV (é o famoso DUT – Documento Único
de Transferência).
Veículos – Arts. 96 a 129 Será obrigatória a expedição de novo Cer ficado de
Registro de Veículo quando: for transferida a propriedade;
Classificação: o proprietário mudar o Município de domicílio ou residên-
a) quanto à tração: automotor; elétrico; de propulsão cia; for alterada qualquer caracterís ca do veículo; houver
humana; de tração animal; reboque ou semirreboque. mudança de categoria.

412
No caso de transferência de propriedade, o prazo para o Atenção: Suspensão = Recolhimento CNH + Curso de
proprietário adotar as providências necessárias à efe vação reciclagem
da expedição do novo Cer ficado de Registro de Veículo é
de trinta dias, sendo que nos demais casos as providências  Cassação da CNH ou Permissão – Prazo dois anos:
deverão ser imediatas. Aplicada quando: dirigir com CNH suspensa; condena-
Todo veículo automotor, elétrico, ar culado, reboque ou ção por crime de trânsito; for reincidente nas infrações
semirreboque, para transitar na via, deverá ser licenciado dos arts. 162,III; 163;164;165;173;174;175.
anualmente pelo órgão execu vo de trânsito do Estado, ou O condutor deverá passar por todo processo para nova
do Distrito Federal, onde es ver registrado o veículo. habilitação.
O Cer ficado de Licenciamento Anual será expedido ao  Apreensão do veículo – Prazo de 1 a 30 dias.
veículo licenciado (este é o CRLV, o famoso “verdinho” que Apreensão = Recolhimento do CLA + Remoção do
recebemos anualmente em casa). É obrigatório o porte do veículo
Cer ficado de Licenciamento Anual.  Curso de reciclagem – Aplicado quando:
Condutor a ngir 20 pontos; condenado judicialmente
Atenção: O veículo somente será considerado licenciado por crime de trânsito; suspensão do direito de dirigir;
estando quitados os débitos rela vos a tributos, encargos se envolver em acidente a que deu causa; a qualquer
e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo,
tempo.
independentemente da responsabilidade pelas infrações
come das.
Medidas Administra vas – Arts. 269 a 279
Penalidades – Arts. 256 a 268
ESPÉCIES:
ESPÉCIES:  Retenção do veículo – É rápido, basta sanar o pro-
 Advertência por escrito – Só subs tui a multa em blema e será liberado, mas se o problema não puder
infrações leves ou médias; sanado no local, o agente poderá recolher o CLA e dar
 Multas: prazo para que o condutor resolva.
Atenção: Vai ser multado mesmo resolvendo o pro-
blema, só não vai ter o veículo recolhido ao depósito.
Natureza da Pontos Valor Valor em R$
O agente deve emi r recibo, que geralmente fica
Infração em Ufir
atrás da 2ª via da multa. O veículo fica com restrição
GRAVÍSSIMA 7 180 191,54 administra va até voltar ao Detran e mostrar que
GRAVE 5 120 127,69 sanou o problema.
MÉDIA 4 80 85,13
LEVE 3 50 53,20  Remoção do veículo – Será levado ao depósito. Quan-
do for remoção sem apreensão, basta sanar o proble-
Atenção: Infrações agravadas: ma e pagar as despesas que o veículo será liberado,
mas se houver previsão de apreensão, a autoridade
X – 3 (R$ 574,62) X – 5 (R$ 957,70) de trânsito poderá es pular prazo para que o veículo
Disputar corrida por espí- Promover/par cipar de fique no depósito, conforme visto anteriormente.
rito de emulação = Pega compe ção sem autorização
= Racha Atenção: No DF o Detran não tem es pulado o prazo
de apreensão por não possuir vaga no depósito, logo,
Dirigir c/ CNH categoria Dirigir com CNH cassada ou
se o condutor sanar o problema, terá seu veículo
diferente suspensa
liberado após o pagamento das despesas.
Dirigir sem possuir habi- Dirigir Bêbado ou drogado
litação  Recolhimento da CNH – Aplicada nos casos previstos
Transitar sobre calça- Condutor envolvido em aci- pelo CTB e quando houver suspeita de fraude. Deverá
da, acostamento, pas- dente que deixar de prestar ser mediante recibo.
seio etc. socorro ou sinalizar ou remo-
ver o veículo etc.  Recolhimento do CRV (registro) – Aplicada quando
Exceder a velocidade houver suspeita de fraude e se, alienado o veículo,
acima de 50% da máxima não for transferido em 30 dias.
permi da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Atenção: Só se aplica no caso de o an go proprietário


Obs.: Pega = 2 carros disputando e os condutores se deci-
ter feito a comunicação da venda ao Detran. Nesse
dem na hora Racha = + de 2 carros e é previamente marcado
caso, o veículo fica com restrição administra va e
 Suspensão do direito de dirigir – Somente se aplica nos nenhum documento é emi do e assim que for parado
casos previstos pelo CTB e quando o condutor a ngir em uma blitz vai para o depósito e só sai transferido.
20 pontos na CNH:
 Recolhimento do CLA (licenciamento) – Aplicada
quando houver suspeita de fraude; se es ver vencido
Multa 1ª vez Reincidência
ou no caso de retenção em que a irregularidade não
de suspensão em 12 meses
puder ser sanada no local, conforme visto acima.
Não agravada De 1 a 3 meses De 6 a 10 meses
Agravada x3 De 2 a 7 meses De 8 a 16 meses  Transbordo do excesso de carga – Exigência para
Agravada x5 De 4 a 12 meses De 12 a 24 meses seguir viagem, só não se aplica a cargas perecíveis.

413
 Teste de dosagem de alcoolemia (bafômetro) ou A lavratura do Auto de Infração não significa a imediata
substância entorpecente – Para a aplicação da mul- aplicação da penalidade cabível, pois a autoridade de trân-
ta não é obrigatório, desde que o agente relate os sito, na esfera da competência estabelecida no Código e
notórios sinais de embriaguez do condutor e tenha dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto
testemunha, mas para a configuração do crime de de infração e aplicará a penalidade cabível.
trânsito é obrigatório. Após aplicação da penalidade, será expedida no ficação
ao proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa postal
 Recolhimento de animais soltos na via – O dono do ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que assegure
animal vai pagar multa + despesas com o recolhimento. a ciência da imposição da penalidade.

 Realização de exames de ap dão sica ou mental. Atenção: A no ficação devolvida por desatualização do
endereço do proprietário do veículo será considerada válida
As medidas administra vas têm caráter complementar para todos os efeitos.
às penalidades.
A no ficação trará o prazo para apresentação de defesa
Infrações – Arts. 162 a 255 prévia, que NÃO poderá ser inferior a 30 dias, a contar da
emissão da no ficação e não do dia da autuação.
Veja algumas dicas: Para a penalidade de multa, o CTB traz desconto de 20%
 Multa – Será aplicada apenas multa quando for para quem pagar até o dia do vencimento.
infrações que o condutor comete em movimento.
Ex: dirigir falando ao celular, dirigir sem cinto de Recursos
segurança etc.
 Multa + Retenção – Será aplicado quando for algo que Estados/ União
pode ser sanado no local e, geralmente, diz respeito Municípios/DF
ao veículo. Ex.: falta/defeito/falha de algum equi- Defesa prévia O próprio órgão O próprio órgão ana-
pamento obrigatório, falta de documento de porte analisa lisa
obrigatório, excesso de carga ou passageiro etc. 1ª instância JARI do órgão au- JARI do órgão autua-
 Multa + Remoção – Geralmente é aplicada em casos Sem pagar tuador dor
que o veículo está colocando a segurança do trân- a multa
sito em risco ou atrapalhando a livre circulação na 2ª instância Cetran/Ciretran/ Contran, se for gravís-
via. Ex.: tentar consertar o veículo no meio da via, Só se pagar Contrandife sima, suspensão ou
deixar acabar o combus vel e todas as infrações de a multa cassação
estacionamento, exceto a infração de estacionar na
contramão, quando for permi do o estacionamento Crimes de Trânsito – Arts. 291 a 312
na mão correta.
Aos crimes de trânsito aplica-se a Lei nº 9.099/1995, no
Processo Administra vo – Arts. 280 a 290 que couber. Em outras palavras, se o delito for conceituado
como infração penal de menor potencial ofensivo, deve-se
O Auto de Infração aplicar as disposições previstas na referida lei, inclusive re-
Deve conter: la vas à transação, como ocorre no delito de lesão corporal
 pificação da infração; culposa decorrente de acidente de trânsito. Este disposi vo,
 local, data e hora do come mento da infração; contudo, não se aplica quando o agente es ver:
 caracteres da placa de iden ficação do veículo, sua • sob influência de álcool ou qualquer outra substância
marca e espécie, e outros elementos julgados neces- psicoa va que determine dependência;
sários à sua iden ficação; • par cipando, em via pública, de corrida, disputa ou
 o prontuário do condutor, sempre que possível, (NÃO compe ção automobilís ca, de exibição ou demons-
é obrigatório); tração de perícia em manobra de veículo automotor,
 iden ficação do órgão ou en dade e da autoridade não autorizada pela autoridade competente;
ou agente autuador ou equipamento que comprovar • transitando em velocidade superior à máxima permi-
a infração; da para a via em 50 km/h.
 assinatura do infrator, sempre que possível, valendo
esta como no ficação do come mento da infração Não se aplica também a Lei nº 9.099/1995 ao homicídio
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

(se assinar o órgão autuador NÃO precisa enviar a culposo decorrente de acidente de trânsito, já que a pena
no ficação de autuação, que é aquela car nha com o máxima em abstrato cominada é de 4 anos de detenção, e à
prazo para a defesa prévia, pois você já tem conheci- embriaguez ao volante, já que a pena priva va de liberdade
mento que foi no ficado. Contudo, os Detrans ainda é de 6 meses a 3 anos de detenção. Nestes casos deverá
assim preferem enviar a no ficação com o prazo para ser instaurado inquérito policial para a inves gação de tais
interpor a Defesa Prévia). infrações.
Se o réu for reincidente na prá ca de crime de trânsito,
Atenção: Não sendo possível a autuação em flagrante, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou
o agente de trânsito relatará o fato à autoridade no próprio habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das
auto de infração, ou seja, algumas infrações podem ser demais sanções cabíveis.
autuadas sem precisar parar o infrator, como por exemplo, Não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá
dirigir sem cinto de segurança ou falando ao celular, contu- fiança, ao condutor de veículo, nos casos de acidente de
do, tem infração que só pode ser autuada quando se para trânsito de que resulte ví ma, se prestar a ela pronto e
o motorista, como é o exemplo da embriaguez ao volante. integral socorro.

414
• São delitos de trânsito: pulmões. De acordo com a redação do § 1º, inciso
– Homicídio culposo na direção de veículo automotor II, do art. 306, bastam sinais que indiquem alteração
(art. 302); da capacidade psicomotora. De acordo com o § 2º:
• Casos de aumento de pena desse crime: se o A verificação do disposto neste ar go poderá ser
agente: ob da mediante teste de alcoolemia, exame clínico,
• não possuir Permissão para dirigir ou CNH; perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios
• pra cá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; de prova em direito admi dos, observado o direito
• omi r socorro à ví ma do acidente, quando à contraprova.
possível fazê-lo sem risco pessoal; • O sujeito passivo do delito é a cole vidade, uma vez
• no exercício de sua profissão ou atividade, que a obje vidade jurídica é a tutela da incolumida-
es ver conduzindo veículo de transporte de de pública.
passageiros. • Para pificar o crime não é mais necessário que a
• Pelo princípio da consunção, a embriaguez ao conduta do motorista alcoolizado exponha a dano
volante era absorvida pelo homicídio culposo, potencial a incolumidade de outrem, basta que o
haja vista que ela cons tuía o núcleo da culpa. teor alcoólico esteja acima do permi do por lei.
Contudo, com a nova redação dada ao art. 306 do – Obs.: Mesmo que o condutor se recuse a se sub-
CTB, a embriaguez ao volante passou a ser crime meter ao teste do bafômetro, a materialidade do
abstrato (presumido), de modo que o motorista crime poderá ser constatada por outros meios de
alcoolizado (com concentração de álcool por litro prova, conforme visto no § 2º do art. 306.
de sangue igual ou superior a 6 decigramas) que – Violação de suspensão ou proibição de se obter per-
causar homicídio culposo poderá ser duplamente missão para dirigir veículo automotor (art. 307)
responsabilizado, ou seja, poderá responder em • O sujeito a vo desse delito é aquele que foi sus-
concurso material pelos delitos de homicídio penso ou sofreu proibição de obter permissão ou
culposo e embriaguez ao volante. Há, ainda, a pos- habilitação para dirigir veículo automotor e viola
sibilidade de o agente vir a responder, nesse caso, ou desrespeita ou descumpre essa determinação.
por homicídio doloso (dolo eventual), uma vez que – O sujeito passivo é o Estado, uma vez que a
o motorista que dirige embriagado assume o risco obje vidade jurídica é a tutela da administração
de causar acidente com morte. pública.
– Lesão corporal culposa na direção de veículo automo- – Incorre nas mesmas penas o condenado que deixa
tor (art. 303); de entregar, em 48 horas da in mação pessoal,
• Os casos de aumento de pena previstos no homicídio a Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação.
culposo aplicam-se à lesão corporal culposa. – A pena a que se refere o ar go é de detenção de
• Pelo princípio da consunção, a lesão corporal cul- 6 meses a 1 ano e multa, com nova imposição
posa no trânsito absorve o delito de dirigir sem adicional de idên co prazo de suspensão ou de
habilitação, em face da menor lesividade do úl mo. proibição.
Assim, havendo a renúncia expressa ao direito de – Par cipação em compe ção não autorizada – “racha”
representação pelo crime de lesão corporal culposa, (art. 308)
não pode a majorante, decorrente da ausência de • O sujeito passivo do delito é a cole vidade, uma vez
habilitação, persis r como delito autônomo, deven- que a obje vidade jurídica é a tutela da incolumida-
do ser declarada ex nta a punibilidade também do de pública.
crime de dirigir sem habilitação. • A conduta consiste em par cipar (integrar, fazer
– omissão de socorro (art. 304); parte) em corrida, disputa ou compe ção automo-
• Somente o condutor do veículo automotor envolvido bilís ca não autorizada pela autoridade competente,
no acidente com ví ma e que não ver agido com desde que resulte dano potencial à incolumidade
culpa é que responde pelo delito em tela, pois, se pública ou privada, como é o caso do chamado
agiu com culpa, o delito por ele pra cado será o de “racha”.
lesão corporal culposa ou homicídio culposo, sendo • O delito é de perigo concreto, necessitando, para
a omissão de socorro apenas causa de aumento sua configuração, da demonstração da potenciali-
de pena. dade lesiva.
• O condutor será responsabilizado pela omissão – Direção sem habilitação (art. 309)
de socorro ainda que a sua omissão seja suprida • O sujeito passivo do delito é a cole vidade, uma vez
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

por terceiros ou que se trate de ví ma com morte que a obje vidade jurídica é a tutela da incolumida-
instantânea ou com ferimentos leves. de pública.
– Fuga do local do acidente (art. 305); • A conduta consiste em dirigir (conduzir, operar) o
• É crime próprio do condutor do veículo automotor veículo automotor, em via pública, sem a devida
envolvido no acidente. Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se
• A intenção do condutor é fugir à responsabilidade cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano.
penal ou civil que lhe possa ser atribuída. • Trata-se de crime de perigo concreto, uma vez que
• O sujeito passivo é o Estado e, secundariamente, a lei exige a efe va ocorrência do perigo de dano,
a pessoa eventualmente prejudicada pela conduta pois, uma vez não comprovado, o fato é a pico.
do agente. • A falta de habilitação para dirigir veículo é absorvida
– Embriaguez ao volante (art. 306); pelo crime de lesão corporal culposa, pelo princípio
• Após a publicação da Lei nº 12.760/2012, o crime da consunção, em face da menor lesividade do úl -
de embriaguez ao volante independe de constatação mo, ou seja, havendo a renúncia expressa ao direito
do teor alcoólico no sangue ou ar expelido pelos de representação pelo crime de lesão corporal cul-

415
posa, não pode a majorante, decorrente da ausência § 1º Considera-se trânsito a u lização das vias por pes-
de habilitação, persis r como delito autônomo, de- soas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos
vendo ser declarada ex nta a punibilidade também ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e
do crime de dirigir sem habilitação. operação de carga ou descarga.
– Entrega da direção de veículo automotor a pessoa § 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de
não autorizada (art. 310) todos e dever dos órgãos e en dades componentes do Sis-
• O sujeito passivo do delito é a cole vidade, uma vez tema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das
que a obje vidade jurídica é a tutela da incolumida- respec vas competências, adotar as medidas des nadas a
de pública. assegurar esse direito.
• A conduta consiste em permi r (possibilitar, tolerar),
§ 3º Os órgãos e en dades componentes do Sistema
confiar (incumbir) e entregar (passar às mãos) a di-
Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respec -
reção de veículo automotor a pessoa nos seguintes
casos: vas competências, obje vamente, por danos causados aos
• não habilitada; cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e
• com habilitação cassada; manutenção de programas, projetos e serviços que garantam
• com o direito de dirigir suspenso; o exercício do direito do trânsito seguro.
• que, por seu estado ou saúde, sica ou mental, § 4º (Vetado)
não esteja em condições de conduzi-lo com segu- § 5º Os órgãos e en dades de trânsito pertencentes ao
rança. Sistema Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações
• que, por embriaguez, não esteja em condições de à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do
conduzi-lo com segurança. meio-ambiente.
– Tráfego em velocidade incompa vel com a segurança Art. 2º São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as ave-
(art. 311) nidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas
• O sujeito passivo do delito é a cole vidade, uma vez e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo órgão
que a obje vidade jurídica é a tutela da incolumida- ou en dade com circunscrição sobre elas, de acordo com as
de pública. peculiaridades locais e as circunstâncias especiais.
• A conduta consiste em trafegar (dirigir, andar)
em velocidade incompa vel com a segurança nas Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consi-
proximidades de escolas, hospitais, estações de em- deradas vias terrestres as praias abertas à circulação pública
barque e desembarque de passageiros, logradouros e as vias internas pertencentes aos condomínios cons tuídos
estreitos, ou onde haja grande movimentação ou por unidades autônomas.
concentração de pessoas, gerando perigo de dano. Art. 3º As disposições deste Código são aplicáveis a
• Trata-se de crime de perigo concreto, haja vista a qualquer veículo, bem como aos proprietários, condutores
exigência, para se caracterizar o crime, que tenha dos veículos nacionais ou estrangeiros e às pessoas nele
existido comprovação da ocorrência do perigo expressamente mencionadas.
de dano. Art. 4º Os conceitos e definições estabelecidos para os
– Fraude processual (art. 312) efeitos deste Código são os constantes do Anexo I.
• O sujeito passivo do crime é o Estado, uma vez que
a obje vidade jurídica é a proteção da administra- CAPÍTULO II
ção da jus ça.
Do Sistema Nacional de Trânsito
• A conduta consiste em inovar ar ficiosamente
(modificar, adulterar com emprego de ar cio)
em caso de acidente automobilís co com ví ma, Seção I
na pendência do respec vo procedimento policial Disposições Gerais
preparatório, inquérito policial ou processo penal,
o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de Art. 5º O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de
induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz. órgãos e en dades da União, dos Estados, do Distrito Federal
• Haverá punição ainda que os procedimentos de e dos Municípios que tem por finalidade o exercício das
inquérito policial ou processo penal não tenha se a vidades de planejamento, administração, norma zação,
iniciado, mas, já houve por parte do agente, ino- pesquisa, registro e licenciamento de veículos, formação, ha-
vação ar ficiosa. bilitação e reciclagem de condutores, educação, engenharia,
operação do sistema viário, policiamento, fiscalização, julga-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997 mento de infrações e de recursos e aplicação de penalidades.


Art. 6º São obje vos básicos do Sistema Nacional de
Ins tui o Código de Trânsito Trânsito:
Brasileiro. I – estabelecer diretrizes da Polí ca Nacional de Trânsi-
to, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: cumprimento;
II – fixar, mediante normas e procedimentos, a padro-
CAPÍTULO I
nização de critérios técnicos, financeiros e administra vos
Disposições Preliminares
para a execução das a vidades de trânsito;
Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terres- III – estabelecer a sistemá ca de fluxos permanentes de
tres do território nacional, abertas à circulação, rege-se por informações entre os seus diversos órgãos e en dades, a fim
este Código. de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema.

416
Seção II XV – (Vetado)
Da Composição e da Competência XVI – (Vetado)
do Sistema Nacional de Trânsito XVII – (Vetado)
XVIII – (Vetado)
Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os XIX – (Vetado)
seguintes órgãos e en dades: XX – um representante do ministério ou órgão coorde-
I – o Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, coorde- nador máximo do Sistema Nacional de Trânsito;
nador do Sistema e órgão máximo norma vo e consul vo; XXI – (Vetado)
II – os Conselhos Estaduais de Trânsito – CETRAN e o XXII – um representante do Ministério da Saúde. (Incluído
Conselho de Trânsito do Distrito Federal – CONTRANDIFE, pela Lei nº 9.602, de 1998)
órgãos norma vos, consul vos e coordenadores; XXIII – 1 (um) representante do Ministério da Jus ça.
III – os órgãos e en dades execu vos de trânsito da (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; § 1º (Vetado)
IV – os órgãos e en dades execu vos rodoviários da § 2º (Vetado)
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; § 3º (Vetado)
Art. 11. (Vetado)
V – a Polícia Rodoviária Federal;
Art. 12. Compete ao CONTRAN:
VI – as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Fe-
I – estabelecer as normas regulamentares referidas neste
deral; e
Código e as diretrizes da Polí ca Nacional de Trânsito;
VII – as Juntas Administra vas de Recursos de Infra- II – coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito,
ções – JARI. obje vando a integração de suas a vidades;
Art. 7º-A. A autoridade portuária ou a en dade con- III – (Vetado)
cessionária de porto organizado poderá celebrar convênios IV – criar Câmaras Temá cas;
com os órgãos previstos no art. 7º, com a interveniência dos V – estabelecer seu regimento interno e as diretrizes para
Municípios e Estados, juridicamente interessados, para o fim o funcionamento dos CETRAN e CONTRANDIFE;
específico de facilitar a autuação por descumprimento da VI – estabelecer as diretrizes do regimento das JARI;
legislação de trânsito. (Incluído pela Lei nº 12.058, de 2009) VII – zelar pela uniformidade e cumprimento das normas
§ 1º O convênio valerá para toda a área sica do porto con das neste Código e nas resoluções complementares;
organizado, inclusive, nas áreas dos terminais alfandegados, VIII – estabelecer e norma zar os procedimentos para a
nas estações de transbordo, nas instalações portuárias pú- imposição, a arrecadação e a compensação das multas por
blicas de pequeno porte e nos respec vos estacionamentos infrações come das em unidade da Federação diferente da
ou vias de trânsito internas. (Incluído pela Lei nº 12.058, do licenciamento do veículo;
de 2009) IX – responder às consultas que lhe forem formuladas,
§ 2º (Vetado) (Incluído pela Lei nº 12.058, de 2009) rela vas à aplicação da legislação de trânsito;
§ 3º (Vetado) (Incluído pela Lei nº 12.058, de 2009) X – norma zar os procedimentos sobre a aprendizagem,
Art. 8º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios habilitação, expedição de documentos de condutores, e re-
organizarão os respec vos órgãos e en dades execu vos de gistro e licenciamento de veículos;
trânsito e execu vos rodoviários, estabelecendo os limites XI – aprovar, complementar ou alterar os disposi vos
circunscricionais de suas atuações. de sinalização e os disposi vos e equipamentos de trânsito;
Art. 9º O Presidente da República designará o ministério XII – apreciar os recursos interpostos contra as decisões
ou órgão da Presidência responsável pela coordenação máxi- das instâncias inferiores, na forma deste Código;
ma do Sistema Nacional de Trânsito, ao qual estará vinculado XIII – avocar, para análise e soluções, processos sobre
o CONTRAN e subordinado o órgão máximo execu vo de conflitos de competência ou circunscrição, ou, quando ne-
trânsito da União. cessário, unificar as decisões administra vas; e
Art. 10. O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, XIV – dirimir conflitos sobre circunscrição e competência
com sede no Distrito Federal e presidido pelo dirigente do de trânsito no âmbito da União, dos Estados e do Distrito
órgão máximo execu vo de trânsito da União, tem a seguinte Federal.
Art. 13. As Câmaras Temá cas, órgãos técnicos vincu-
composição:
lados ao CONTRAN, são integradas por especialistas e têm
I – (Vetado)
como obje vo estudar e oferecer sugestões e embasamento
II – (Vetado)
técnico sobre assuntos específicos para decisões daquele
III – um representante do Ministério da Ciência e Tec-
colegiado.
nologia;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 1º Cada Câmara é cons tuída por especialistas repre-


IV – um representante do Ministério da Educação e do sentantes de órgãos e en dades execu vos da União, dos
Desporto; Estados, ou do Distrito Federal e dos Municípios, em igual
V – um representante do Ministério do Exército; número, pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito, além
VI – um representante do Ministério do Meio Ambiente de especialistas representantes dos diversos segmentos da
e da Amazônia Legal; sociedade relacionados com o trânsito, todos indicados
VII – um representante do Ministério dos Transportes; segundo regimento específico definido pelo CONTRAN e
VIII – (Vetado) designados pelo ministro ou dirigente coordenador máximo
IX – (Vetado) do Sistema Nacional de Trânsito.
X – (Vetado) § 2º Os segmentos da sociedade, relacionados no pa-
XI – (Vetado) rágrafo anterior, serão representados por pessoa jurídica e
XII – (Vetado) devem atender aos requisitos estabelecidos pelo CONTRAN.
XIII – (Vetado) § 3º Os coordenadores das Câmaras Temá cas serão
XIV – (Vetado) eleitos pelos respec vos membros.

417
§ 4º (Vetado) III – encaminhar aos órgãos e en dades execu vos de
I – (Vetado) trânsito e execu vos rodoviários informações sobre proble-
II – (Vetado) mas observados nas autuações e apontados em recursos,
III – (Vetado) e que se repitam sistema camente.
IV – (Vetado) Art. 18. (Vetado)
Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito – Art. 19. Compete ao órgão máximo execu vo de trânsito
CETRAN e ao Conselho de Trânsito do Distrito Federal – da União:
CONTRANDIFE: I – cumprir e fazer cumprir a legislação de trânsito e a
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de execução das normas e diretrizes estabelecidas pelo CON-
trânsito, no âmbito das respec vas atribuições; TRAN, no âmbito de suas atribuições;
II – elaborar normas no âmbito das respec vas compe- II – proceder à supervisão, à coordenação, à correição dos
tências; órgãos delegados, ao controle e à fiscalização da execução
III – responder a consultas rela vas à aplicação da legis- da Polí ca Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de
lação e dos procedimentos norma vos de trânsito; Trânsito;
IV – es mular e orientar a execução de campanhas edu- III – ar cular-se com os órgãos dos Sistemas Nacionais de
Trânsito, de Transporte e de Segurança Pública, obje vando o
ca vas de trânsito;
combate à violência no trânsito, promovendo, coordenando
V – julgar os recursos interpostos contra decisões:
e executando o controle de ações para a preservação do
a) das JARI;
ordenamento e da segurança do trânsito;
b) dos órgãos e en dades execu vos estaduais, nos casos
IV – apurar, prevenir e reprimir a prá ca de atos de impro-
de inap dão permanente constatados nos exames de ap dão bidade contra a fé pública, o patrimônio, ou a administração
sica, mental ou psicológica; pública ou privada, referentes à segurança do trânsito;
VI – indicar um representante para compor a comissão V – supervisionar a implantação de projetos e programas
examinadora de candidatos portadores de deficiência sica relacionados com a engenharia, educação, administração,
à habilitação para conduzir veículos automotores; policiamento e fiscalização do trânsito e outros, visando à
VII – (Vetado) uniformidade de procedimento;
VIII – acompanhar e coordenar as a vidades de admi- VI – estabelecer procedimentos sobre a aprendizagem
nistração, educação, engenharia, fiscalização, policiamento e habilitação de condutores de veículos, a expedição de
ostensivo de trânsito, formação de condutores, registro e documentos de condutores, de registro e licenciamento de
licenciamento de veículos, ar culando os órgãos do Sistema veículos;
no Estado, reportando-se ao CONTRAN; VII – expedir a Permissão para Dirigir, a Carteira Nacional
IX – dirimir conflitos sobre circunscrição e competência de Habilitação, os Cer ficados de Registro e o de Licencia-
de trânsito no âmbito dos Municípios; e mento Anual mediante delegação aos órgãos execu vos dos
X – informar o CONTRAN sobre o cumprimento das exi- Estados e do Distrito Federal;
gências definidas nos §§ 1º e 2º do art. 333. VIII – organizar e manter o Registro Nacional de Carteiras
XI – designar, em caso de recursos deferidos e na hipótese de Habilitação – RENACH;
de reavaliação dos exames, junta especial de saúde para IX – organizar e manter o Registro Nacional de Veículos
examinar os candidatos à habilitação para conduzir veículos Automotores – RENAVAM;
automotores. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) X – organizar a esta s ca geral de trânsito no território
Parágrafo único. Dos casos previstos no inciso V, julgados nacional, definindo os dados a serem fornecidos pelos de-
pelo órgão, não cabe recurso na esfera administra va. mais órgãos e promover sua divulgação;
Art. 15. Os presidentes dos CETRAN e do CONTRANDIFE XI – estabelecer modelo padrão de coleta de informações
são nomeados pelos Governadores dos Estados e do Distrito sobre as ocorrências de acidentes de trânsito e as esta s cas
Federal, respec vamente, e deverão ter reconhecida expe- do trânsito;
riência em matéria de trânsito. XII – administrar fundo de âmbito nacional des nado à
§ 1º Os membros dos CETRAN e do CONTRANDIFE são segurança e à educação de trânsito;
nomeados pelos Governadores dos Estados e do Distrito XIII – coordenar a administração da arrecadação de
Federal, respec vamente. multas por infrações ocorridas em localidade diferente da-
§ 2º Os membros do CETRAN e do CONTRANDIFE deverão quela da habilitação do condutor infrator e em unidade da
Federação diferente daquela do licenciamento do veículo;
ser pessoas de reconhecida experiência em trânsito.
XIV – fornecer aos órgãos e en dades do Sistema Nacio-
§ 3º O mandato dos membros do CETRAN e do CONTRAN-
nal de Trânsito informações sobre registros de veículos e de
DIFE é de dois anos, admi da a recondução.
condutores, mantendo o fluxo permanente de informações
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Art. 16. Junto a cada órgão ou en dade execu vos de


com os demais órgãos do Sistema;
trânsito ou rodoviário funcionarão Juntas Administra vas de XV – promover, em conjunto com os órgãos competentes
Recursos de Infrações – JARI, órgãos colegiados responsáveis do Ministério da Educação e do Desporto, de acordo com as
pelo julgamento dos recursos interpostos contra penalidades diretrizes do CONTRAN, a elaboração e a implementação de
por eles impostas. programas de educação de trânsito nos estabelecimentos
Parágrafo único. As JARI têm regimento próprio, observa- de ensino;
do o disposto no inciso VI do art. 12, e apoio administra vo XVI – elaborar e distribuir conteúdos programá cos para
e financeiro do órgão ou en dade junto ao qual funcionem. a educação de trânsito;
Art. 17. Compete às JARI: XVII – promover a divulgação de trabalhos técnicos sobre
I – julgar os recursos interpostos pelos infratores; o trânsito;
II – solicitar aos órgãos e en dades execu vos de trân- XVIII – elaborar, juntamente com os demais órgãos e
sito e execu vos rodoviários informações complementares en dades do Sistema Nacional de Trânsito, e submeter à
rela vas aos recursos, obje vando uma melhor análise da aprovação do CONTRAN, a complementação ou alteração
situação recorrida; da sinalização e dos disposi vos e equipamentos de trânsito;

418
XIX – organizar, elaborar, complementar e alterar os ma- IV – efetuar levantamento dos locais de acidentes de
nuais e normas de projetos de implementação da sinalização, trânsito e dos serviços de atendimento, socorro e salvamento
dos disposi vos e equipamentos de trânsito aprovados pelo de ví mas;
CONTRAN; V – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
XX – expedir a permissão internacional para conduzir medidas de segurança rela vas aos serviços de remoção de
veículo e o cer ficado de passagem nas alfândegas, mediante veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
delegação aos órgãos execu vos dos Estados e do Distrito VI – assegurar a livre circulação nas rodovias federais,
Federal; podendo solicitar ao órgão rodoviário a adoção de medidas
XXI – promover a realização periódica de reuniões emergenciais, e zelar pelo cumprimento das normas legais
regionais e congressos nacionais de trânsito, bem como rela vas ao direito de vizinhança, promovendo a interdição
propor a representação do Brasil em congressos ou reuniões de construções e instalações não autorizadas;
internacionais; VII – coletar dados esta s cos e elaborar estudos sobre
XXII – propor acordos de cooperação com organismos acidentes de trânsito e suas causas, adotando ou indicando
internacionais, com vistas ao aperfeiçoamento das ações medidas operacionais preven vas e encaminhando-os ao
inerentes à segurança e educação de trânsito; órgão rodoviário federal;
XXIII – elaborar projetos e programas de formação,
VIII – implementar as medidas da Polí ca Nacional de
treinamento e especialização do pessoal encarregado da
Segurança e Educação de Trânsito;
execução das a vidades de engenharia, educação, policia-
IX – promover e par cipar de projetos e programas de
mento ostensivo, fiscalização, operação e administração
educação e segurança, de acordo com as diretrizes estabe-
de trânsito, propondo medidas que es mulem a pesquisa
cien fica e o ensino técnico-profissional de interesse do lecidas pelo CONTRAN;
trânsito, e promovendo a sua realização; X – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sistema
XXIV – opinar sobre assuntos relacionados ao trânsito Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação
interestadual e internacional; de multas impostas na área de sua competência, com vistas
XXV – elaborar e submeter à aprovação do CONTRAN as à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade
normas e requisitos de segurança veicular para fabricação e das transferências de veículos e de prontuários de conduto-
montagem de veículos, consoante sua des nação; res de uma para outra unidade da Federação;
XXVI – estabelecer procedimentos para a concessão do XI – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
código marca-modelo dos veículos para efeito de registro, produzidos pelos veículos automotores ou pela sua car-
emplacamento e licenciamento; ga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar
XXVII – instruir os recursos interpostos das decisões do apoio, quando solicitado, às ações específicas dos órgãos
CONTRAN, ao ministro ou dirigente coordenador máximo do ambientais.
Sistema Nacional de Trânsito; Art. 21. Compete aos órgãos e en dades execu vos
XXVIII – estudar os casos omissos na legislação de trânsito rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
e submetê-los, com proposta de solução, ao Ministério ou Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
órgão coordenador máximo do Sistema Nacional de Trânsito; I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de
XXIX – prestar suporte técnico, jurídico, administra vo e trânsito, no âmbito de suas atribuições;
financeiro ao CONTRAN. II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito
§ 1º Comprovada, por meio de sindicância, a deficiência de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desen-
técnica ou administra va ou a prá ca constante de atos de volvimento da circulação e da segurança de ciclistas;
improbidade contra a fé pública, contra o patrimônio ou III – implantar, manter e operar o sistema de sinalização,
contra a administração pública, o órgão execu vo de trân- os disposi vos e os equipamentos de controle viário;
sito da União, mediante aprovação do CONTRAN, assumirá IV – coletar dados e elaborar estudos sobre os acidentes
diretamente ou por delegação, a execução total ou parcial de trânsito e suas causas;
das a vidades do órgão execu vo de trânsito estadual que V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de policia-
tenha mo vado a inves gação, até que as irregularidades mento ostensivo de trânsito, as respec vas diretrizes para
sejam sanadas. o policiamento ostensivo de trânsito;
§ 2º O regimento interno do órgão execu vo de trânsito VI – executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as
da União disporá sobre sua estrutura organizacional e seu penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e
funcionamento.
medidas administra vas cabíveis, no ficando os infratores e
§ 3º Os órgãos e en dades execu vos de trânsito e exe-
arrecadando as multas que aplicar;
cu vos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal
VII – arrecadar valores provenientes de estada e remoção
e dos Municípios fornecerão, obrigatoriamente, mês a mês,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas super-


os dados esta s cos para os fins previstos no inciso X.
Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito dimensionadas ou perigosas;
das rodovias e estradas federais: VIII – fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de administra vas cabíveis, rela vas a infrações por excesso de
trânsito, no âmbito de suas atribuições; peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como no ficar e
II – realizar o patrulhamento ostensivo, executando arrecadar as multas que aplicar;
operações relacionadas com a segurança pública, com o IX – fiscalizar o cumprimento da norma contida no
obje vo de preservar a ordem, incolumidade das pessoas, art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas
o patrimônio da União e o de terceiros; nele previstas;
III – aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações X – implementar as medidas da Polí ca Nacional de
de trânsito, as medidas administra vas decorrentes e os va- Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
lores provenientes de estada e remoção de veículos, objetos, XI – promover e par cipar de projetos e programas de
animais e escolta de veículos de cargas superdimensionadas educação e segurança, de acordo com as diretrizes estabe-
ou perigosas; lecidas pelo CONTRAN;

419
XII – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sistema XV – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga,
de multas impostas na área de sua competência, com vistas de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio,
à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade quando solicitado, às ações específicas dos órgãos ambien-
das transferências de veículos e de prontuários de conduto- tais locais;
res de uma para outra unidade da Federação; XVI – ar cular-se com os demais órgãos do Sistema Na-
XIII – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído cional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respec vo
produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, CETRAN.
de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio Art. 23. Compete às Polícias Militares dos Estados e do
às ações específicas dos órgãos ambientais locais, quando Distrito Federal:
solicitado; I – (Vetado)
XIV – vistoriar veículos que necessitem de autorização II – (Vetado)
especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a III – executar a fiscalização de trânsito, quando e confor-
serem observados para a circulação desses veículos. me convênio firmado, como agente do órgão ou en dade
Parágrafo único. (Vetado) execu vos de trânsito ou execu vos rodoviários, concomi-
Art. 22. Compete aos órgãos ou en dades execu vos tantemente com os demais agentes credenciados;
de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de IV – (Vetado)
sua circunscrição: V – (Vetado)
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de VI – (Vetado)
trânsito, no âmbito das respec vas atribuições; VII – (Vetado)
II – realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, Parágrafo único. (Vetado)
aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores, Art. 24. Compete aos órgãos e en dades execu vos de
expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
Dirigir e Carteira Nacional de Habilitação, mediante delega- I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de
ção do órgão federal competente; trânsito, no âmbito de suas atribuições;
III – vistoriar, inspecionar quanto às condições de segu- II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito
rança veicular, registrar, emplacar, selar a placa, e licenciar ve- de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desen-
ículos, expedindo o Cer ficado de Registro e o Licenciamento volvimento da circulação e da segurança de ciclistas;
Anual, mediante delegação do órgão federal competente; III – implantar, manter e operar o sistema de sinalização,
IV – estabelecer, em conjunto com as Polícias Militares, os disposi vos e os equipamentos de controle viário;
as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; IV – coletar dados esta s cos e elaborar estudos sobre
V – executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar os acidentes de trânsito e suas causas;
as medidas administra vas cabíveis pelas infrações previstas V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia
neste Código, excetuadas aquelas relacionadas nos incisos ostensiva de trânsito, as diretrizes para o policiamento os-
VI e VIII do art. 24, no exercício regular do Poder de Polícia tensivo de trânsito;
de Trânsito; VI – executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as
VI – aplicar as penalidades por infrações previstas neste medidas administra vas cabíveis, por infrações de circulação,
Código, com exceção daquelas relacionadas nos incisos VII estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício
e VIII do art. 24, no ficando os infratores e arrecadando as regular do Poder de Polícia de Trânsito;
multas que aplicar; VII – aplicar as penalidades de advertência por escrito
VII – arrecadar valores provenientes de estada e remoção e multa, por infrações de circulação, estacionamento e
de veículos e objetos; parada previstas neste Código, no ficando os infratores e
VIII – comunicar ao órgão execu vo de trânsito da União a arrecadando as multas que aplicar;
suspensão e a cassação do direito de dirigir e o recolhimento VIII – fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas
da Carteira Nacional de Habilitação; administra vas cabíveis rela vas a infrações por excesso de
IX – coletar dados esta s cos e elaborar estudos sobre peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como no ficar
acidentes de trânsito e suas causas; e arrecadar as multas que aplicar;
X – credenciar órgãos ou en dades para a execução IX – fiscalizar o cumprimento da norma contida no
de a vidades previstas na legislação de trânsito, na forma art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas
estabelecida em norma do CONTRAN; nele previstas;
XI – implementar as medidas da Polí ca Nacional de X – implantar, manter e operar sistema de estacionamen-
Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; to rota vo pago nas vias;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

XII – promover e par cipar de projetos e programas de XI – arrecadar valores provenientes de estada e remoção
educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas super-
estabelecidas pelo CONTRAN; dimensionadas ou perigosas;
XIII – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sistema XII – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação medidas de segurança rela vas aos serviços de remoção de
de multas impostas na área de sua competência, com vistas veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade XIII – integrar-se a outros órgãos e en dades do Sistema
das transferências de veículos e de prontuários de conduto- Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação
res de uma para outra unidade da Federação; de multas impostas na área de sua competência, com vistas
XIV – fornecer, aos órgãos e en dades execu vos de trân- à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade
sito e execu vos rodoviários municipais, os dados cadastrais das transferências de veículos e de prontuários dos condu-
dos veículos registrados e dos condutores habilitados, para tores de uma para outra unidade da Federação;
fins de imposição e no ficação de penalidades e de arreca- XIV – implantar as medidas da Polí ca Nacional de Trân-
dação de multas nas áreas de suas competências; sito e do Programa Nacional de Trânsito;

420
XV – promover e par cipar de projetos e programas de III – quando veículos, transitando por fluxos que se cru-
educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes zem, se aproximarem de local não sinalizado, terá preferência
estabelecidas pelo CONTRAN; de passagem:
XVI – planejar e implantar medidas para redução da cir- a) no caso de apenas um fluxo ser proveniente de rodo-
culação de veículos e reorientação do tráfego, com o obje vo via, aquele que es ver circulando por ela;
de diminuir a emissão global de poluentes; b) no caso de rotatória, aquele que es ver circulando
XVII – registrar e licenciar, na forma da legislação, ciclo- por ela;
motores, veículos de tração e propulsão humana e de tração c) nos demais casos, o que vier pela direita do condutor;
animal, fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e IV – quando uma pista de rolamento comportar várias
arrecadando multas decorrentes de infrações; faixas de circulação no mesmo sen do, são as da direita
XVIII – conceder autorização para conduzir veículos de des nadas ao deslocamento dos veículos mais lentos e de
propulsão humana e de tração animal; maior porte, quando não houver faixa especial a eles des-
XIX – ar cular-se com os demais órgãos do Sistema Na- nada, e as da esquerda, des nadas à ultrapassagem e ao
cional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respec vo deslocamento dos veículos de maior velocidade;
CETRAN; V – o trânsito de veículos sobre passeios, calçadas e nos
XX – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
acostamentos, só poderá ocorrer para que se adentre ou
produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga,
se saia dos imóveis ou áreas especiais de estacionamento;
de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio
VI – os veículos precedidos de batedores terão prioridade
às ações específicas de órgão ambiental local, quando so-
de passagem, respeitadas as demais normas de circulação;
licitado;
XXI – vistoriar veículos que necessitem de autorização VII – os veículos des nados a socorro de incêndio e
especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a salvamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de
serem observados para a circulação desses veículos. trânsito e as ambulâncias, além de prioridade de trânsito,
§ 1º As competências rela vas a órgão ou en dade mu- gozam de livre circulação, estacionamento e parada, quando
nicipal serão exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou em serviço de urgência e devidamente iden ficados por
en dade execu vos de trânsito. disposi vos regulamentares de alarme sonoro e iluminação
§ 2º Para exercer as competências estabelecidas neste vermelha intermitente, observadas as seguintes disposições:
ar go, os Municípios deverão integrar-se ao Sistema Nacional a) quando os disposi vos es verem acionados, indicando
de Trânsito, conforme previsto no art. 333 deste Código. a proximidade dos veículos, todos os condutores deverão
Art. 25. Os órgãos e en dades execu vos do Sistema deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, indo para a
Nacional de Trânsito poderão celebrar convênio delegando direita da via e parando, se necessário;
as a vidades previstas neste Código, com vistas à maior b) os pedestres, ao ouvir o alarme sonoro, deverão
eficiência e à segurança para os usuários da via. aguardar no passeio, só atravessando a via quando o veículo
Parágrafo único. Os órgãos e en dades de trânsito po- já ver passado pelo local;
derão prestar serviços de capacitação técnica, assessoria e c) o uso de disposi vos de alarme sonoro e de iluminação
monitoramento das a vidades rela vas ao trânsito durante vermelha intermitente só poderá ocorrer quando da efe va
prazo a ser estabelecido entre as partes, com ressarcimento prestação de serviço de urgência;
dos custos apropriados. d) a prioridade de passagem na via e no cruzamento deve-
rá se dar com velocidade reduzida e com os devidos cuidados
CAPÍTULO III de segurança, obedecidas as demais normas deste Código;
Das Normas Gerais de Circulação e Conduta VIII – os veículos prestadores de serviços de u lidade pú-
blica, quando em atendimento na via, gozam de livre parada
Art. 26. Os usuários das vias terrestres devem: e estacionamento no local da prestação de serviço, desde
I – abster-se de todo ato que possa cons tuir perigo que devidamente sinalizados, devendo estar iden ficados
ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de na forma estabelecida pelo CONTRAN;
animais, ou ainda causar danos a propriedades públicas ou IX – a ultrapassagem de outro veículo em movimento
privadas; deverá ser feita pela esquerda, obedecida a sinalização
II – abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo perigoso, regulamentar e as demais normas estabelecidas neste
a rando, depositando ou abandonando na via objetos ou Código, exceto quando o veículo a ser ultrapassado es ver
substâncias, ou nela criando qualquer outro obstáculo.
sinalizando o propósito de entrar à esquerda;
Art. 27. Antes de colocar o veículo em circulação nas vias
X – todo condutor deverá, antes de efetuar uma ultra-
públicas, o condutor deverá verificar a existência e as boas
passagem, cer ficar-se de que:
condições de funcionamento dos equipamentos de uso obri-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a) nenhum condutor que venha atrás haja começado


gatório, bem como assegurar-se da existência de combus vel
suficiente para chegar ao local de des no. uma manobra para ultrapassá-lo;
Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter do- b) quem o precede na mesma faixa de trânsito não haja
mínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indicado o propósito de ultrapassar um terceiro;
indispensáveis à segurança do trânsito. c) a faixa de trânsito que vai tomar esteja livre numa
Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas extensão suficiente para que sua manobra não ponha em
à circulação obedecerá às seguintes normas: perigo ou obstrua o trânsito que venha em sen do contrário;
I – a circulação far-se-á pelo lado direito da via, admi n- XI – todo condutor ao efetuar a ultrapassagem deverá:
do-se as exceções devidamente sinalizadas; a) indicar com antecedência a manobra pretendida, acio-
II – o condutor deverá guardar distância de segurança nando a luz indicadora de direção do veículo ou por meio de
lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como gesto convencional de braço;
em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, b) afastar-se do usuário ou usuários aos quais ultra-
a velocidade e as condições do local, da circulação, do veículo passa, de tal forma que deixe livre uma distância lateral de
e as condições climá cas; segurança;

421
c) retomar, após a efe vação da manobra, a faixa de II – ao sair da via pelo lado esquerdo, aproximar-se o
trânsito de origem, acionando a luz indicadora de direção do máximo possível de seu eixo ou da linha divisória da pista,
veículo ou fazendo gesto convencional de braço, adotando quando houver, caso se trate de uma pista com circulação
os cuidados necessários para não pôr em perigo ou obstruir nos dois sen dos, ou do bordo esquerdo, tratando-se de
o trânsito dos veículos que ultrapassou; uma pista de um só sen do.
XII – os veículos que se deslocam sobre trilhos terão Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de
preferência de passagem sobre os demais, respeitadas as direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres
normas de circulação. e ciclistas, aos veículos que transitem em sen do contrário
§ 1º As normas de ultrapassagem previstas nas alíneas a pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de
e b do inciso X e a e b do inciso XI aplicam-se à transposição preferência de passagem.
de faixas, que pode ser realizada tanto pela faixa da esquerda Art. 39. Nas vias urbanas, a operação de retorno deverá
como pela da direita. ser feita nos locais para isto determinados, quer por meio
§ 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta esta- de sinalização, quer pela existência de locais apropriados,
belecidas neste ar go, em ordem decrescente, os veículos de ou, ainda, em outros locais que ofereçam condições de
maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos segurança e fluidez, observadas as caracterís cas da via, do
menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, veículo, das condições meteorológicas e da movimentação
pela incolumidade dos pedestres. de pedestres e ciclistas.
Art. 30. Todo condutor, ao perceber que outro que o Art. 40. O uso de luzes em veículo obedecerá às seguintes
segue tem o propósito de ultrapassá-lo, deverá: determinações:
I – se es ver circulando pela faixa da esquerda, deslo- I – o condutor manterá acesos os faróis do veículo, u li-
car-se para a faixa da direita, sem acelerar a marcha; zando luz baixa, durante a noite e durante o dia nos túneis
II – se es ver circulando pelas demais faixas, manter-se providos de iluminação pública;
naquela na qual está circulando, sem acelerar a marcha. II – nas vias não iluminadas o condutor deve usar luz alta,
Parágrafo único. Os veículos mais lentos, quando em fila, exceto ao cruzar com outro veículo ou ao segui-lo;
deverão manter distância suficiente entre si para permi r III – a troca de luz baixa e alta, de forma intermitente e por
que veículos que os ultrapassem possam se intercalar na curto período de tempo, com o obje vo de adver r outros
fila com segurança. motoristas, só poderá ser u lizada para indicar a intenção
Art. 31. O condutor que tenha o propósito de ultrapassar de ultrapassar o veículo que segue à frente ou para indicar a
um veículo de transporte cole vo que esteja parado, efetu- existência de risco à segurança para os veículos que circulam
ando embarque ou desembarque de passageiros, deverá no sen do contrário;
reduzir a velocidade, dirigindo com atenção redobrada ou IV – o condutor manterá acesas pelo menos as luzes
de posição do veículo quando sob chuva forte, neblina ou
parar o veículo com vistas à segurança dos pedestres.
cerração;
Art. 32. O condutor não poderá ultrapassar veículos em
V – O condutor u lizará o pisca-alerta nas seguintes
vias com duplo sen do de direção e pista única, nos trechos
situações:
em curvas e em aclives sem visibilidade suficiente, nas pas-
a) em imobilizações ou situações de emergência;
sagens de nível, nas pontes e viadutos e nas travessias de
b) quando a regulamentação da via assim o determinar;
pedestres, exceto quando houver sinalização permi ndo a
VI – durante a noite, em circulação, o condutor manterá
ultrapassagem.
acesa a luz de placa;
Art. 33. Nas interseções e suas proximidades, o condutor VII – o condutor manterá acesas, à noite, as luzes de
não poderá efetuar ultrapassagem. posição quando o veículo es ver parado para fins de em-
Art. 34. O condutor que queira executar uma manobra barque ou desembarque de passageiros e carga ou descarga
deverá cer ficar-se de que pode executá-la sem perigo para de mercadorias.
os demais usuários da via que o seguem, precedem ou vão Parágrafo único. Os veículos de transporte cole vo regu-
cruzar com ele, considerando sua posição, sua direção e sua lar de passageiros, quando circularem em faixas próprias a
velocidade. eles des nadas, e os ciclos motorizados deverão u lizar-se
Art. 35. Antes de iniciar qualquer manobra que implique de farol de luz baixa durante o dia e a noite.
um deslocamento lateral, o condutor deverá indicar seu Art. 41. O condutor de veículo só poderá fazer uso de
propósito de forma clara e com a devida antecedência, por buzina, desde que em toque breve, nas seguintes situações:
meio da luz indicadora de direção de seu veículo, ou fazendo I – para fazer as advertências necessárias a fim de evitar
gesto convencional de braço. acidentes;
Parágrafo único. Entende-se por deslocamento lateral a II – fora das áreas urbanas, quando for conveniente ad-
transposição de faixas, movimentos de conversão à direita, ver r a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

à esquerda e retornos. Art. 42. Nenhum condutor deverá frear bruscamente seu
Art. 36. O condutor que for ingressar numa via, proce- veículo, salvo por razões de segurança.
dente de um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência Art. 43. Ao regular a velocidade, o condutor deverá ob-
aos veículos e pedestres que por ela estejam transitando. servar constantemente as condições sicas da via, do veículo
Art. 37. Nas vias providas de acostamento, a conversão à e da carga, as condições meteorológicas e a intensidade do
esquerda e a operação de retorno deverão ser feitas nos trânsito, obedecendo aos limites máximos de velocidade
locais apropriados e, onde estes não exis rem, o condutor estabelecidos para a via, além de:
deverá aguardar no acostamento, à direita, para cruzar a I – não obstruir a marcha normal dos demais veículos
pista com segurança. em circulação sem causa jus ficada, transitando a uma
Art. 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra velocidade anormalmente reduzida;
via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá: II – sempre que quiser diminuir a velocidade de seu
I – ao sair da via pelo lado direito, aproximar-se o máximo veículo deverá antes cer ficar-se de que pode fazê-lo sem
possível do bordo direito da pista e executar sua manobra risco nem inconvenientes para os outros condutores, a não
no menor espaço possível; ser que haja perigo iminente;

422
III – indicar, de forma clara, com a antecedência ne- I – para facilitar os deslocamentos, os rebanhos deverão
cessária e a sinalização devida, a manobra de redução de ser divididos em grupos de tamanho moderado e separados
velocidade. uns dos outros por espaços suficientes para não obstruir o
Art. 44. Ao aproximar-se de qualquer po de cruzamento, trânsito;
o condutor do veículo deve demonstrar prudência especial, II – os animais que circularem pela pista de rolamento
transitando em velocidade moderada, de forma que pos- deverão ser man dos junto ao bordo da pista.
sa deter seu veículo com segurança para dar passagem a Art. 54. Os condutores de motocicletas, motonetas e
pedestre e a veículos que tenham o direito de preferência. ciclomotores só poderão circular nas vias:
Art. 45. Mesmo que a indicação luminosa do semáforo I – u lizando capacete de segurança, com viseira ou
lhe seja favorável, nenhum condutor pode entrar em uma in- óculos protetores;
terseção se houver possibilidade de ser obrigado a imobilizar II – segurando o guidom com as duas mãos;
o veículo na área do cruzamento, obstruindo ou impedindo III – usando vestuário de proteção, de acordo com as
a passagem do trânsito transversal. especificações do CONTRAN.
Art. 46. Sempre que for necessária a imobilização tem- Art. 55. Os passageiros de motocicletas, motonetas e
porária de um veículo no leito viário, em situação de emer- ciclomotores só poderão ser transportados:
gência, deverá ser providenciada a imediata sinalização de I – u lizando capacete de segurança;
advertência, na forma estabelecida pelo CONTRAN. II – em carro lateral acoplado aos veículos ou em assento
Art. 47. Quando proibido o estacionamento na via, suplementar atrás do condutor;
a parada deverá restringir-se ao tempo indispensável para III – usando vestuário de proteção, de acordo com as
embarque ou desembarque de passageiros, desde que não especificações do CONTRAN.
interrompa ou perturbe o fluxo de veículos ou a locomoção Art. 56. (Vetado)
de pedestres. Art. 57. Os ciclomotores devem ser conduzidos pela di-
Parágrafo único. A operação de carga ou descarga será reita da pista de rolamento, preferencialmente no centro da
regulamentada pelo órgão ou en dade com circunscrição faixa mais à direita ou no bordo direito da pista sempre que
sobre a via e é considerada estacionamento. não houver acostamento ou faixa própria a eles des nada,
Art. 48. Nas paradas, operações de carga ou descarga e proibida a sua circulação nas vias de trânsito rápido e sobre
nos estacionamentos, o veículo deverá ser posicionado no as calçadas das vias urbanas.
sen do do fluxo, paralelo ao bordo da pista de rolamento Parágrafo único. Quando uma via comportar duas ou
e junto à guia da calçada (meio-fio), admi das as exceções mais faixas de trânsito e a da direita for des nada ao uso
devidamente sinalizadas.
exclusivo de outro po de veículo, os ciclomotores deverão
§ 1º Nas vias providas de acostamento, os veículos pa-
circular pela faixa adjacente à da direita.
rados, estacionados ou em operação de carga ou descarga
Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla,
deverão estar situados fora da pista de rolamento.
a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver
§ 2º O estacionamento dos veículos motorizados de duas
ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for pos-
rodas será feito em posição perpendicular à guia da calçada
sível a u lização destes, nos bordos da pista de rolamento,
(meio-fio) e junto a ela, salvo quando houver sinalização que
no mesmo sen do de circulação regulamentado para a via,
determine outra condição.
com preferência sobre os veículos automotores.
§ 3º O estacionamento dos veículos sem abandono do
condutor poderá ser feito somente nos locais previstos Parágrafo único. A autoridade de trânsito com circunscri-
neste Código ou naqueles regulamentados por sinalização ção sobre a via poderá autorizar a circulação de bicicletas no
específica. sen do contrário ao fluxo dos veículos automotores, desde
Art. 49. O condutor e os passageiros não deverão abrir que dotado o trecho com ciclofaixa.
a porta do veículo, deixá-la aberta ou descer do veículo sem Art. 59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado
antes se cer ficarem de que isso não cons tui perigo para pelo órgão ou en dade com circunscrição sobre a via, será
eles e para outros usuários da via. permi da a circulação de bicicletas nos passeios.
Parágrafo único. O embarque e o desembarque devem Art. 60. As vias abertas à circulação, de acordo com sua
ocorrer sempre do lado da calçada, exceto para o condutor. u lização, classificam-se em:
Art. 50. O uso de faixas laterais de domínio e das áreas I – vias urbanas:
adjacentes às estradas e rodovias obedecerá às condições de a) via de trânsito rápido;
segurança do trânsito estabelecidas pelo órgão ou en dade b) via arterial;
com circunscrição sobre a via. c) via coletora;
Art. 51. Nas vias internas pertencentes a condomínios d) via local;
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cons tuídos por unidades autônomas, a sinalização de re- II – vias rurais:


gulamentação da via será implantada e man da às expensas a) rodovias;
do condomínio, após aprovação dos projetos pelo órgão ou b) estradas.
en dade com circunscrição sobre a via. Art. 61. A velocidade máxima permi da para a via será
Art. 52. Os veículos de tração animal serão conduzidos indicada por meio de sinalização, obedecidas suas caracte-
pela direita da pista, junto à guia da calçada (meio-fio) ou rís cas técnicas e as condições de trânsito.
acostamento, sempre que não houver faixa especial a eles § 1º Onde não exis r sinalização regulamentadora, a ve-
destinada, devendo seus condutores obedecer, no que locidade máxima será de:
couber, às normas de circulação previstas neste Código e I – nas vias urbanas:
às que vierem a ser fixadas pelo órgão ou en dade com a) oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito
circunscrição sobre a via. rápido:
Art. 53. Os animais isolados ou em grupos só podem b) sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais;
circular nas vias quando conduzidos por um guia, observado c) quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras;
o seguinte: d) trinta quilômetros por hora, nas vias locais;

423
II – nas vias rurais: (nove) horas mais 2 (duas), no mesmo dia. (Incluído Lei
a) nas rodovias: nº 12.619, de 2012) (Vigência)
1) 110 (cento e dez) quilômetros por hora para auto- § 4º Entende-se como tempo de direção ou de condução
móveis, camionetas e motocicletas; (Redação dada pela Lei de veículo apenas o período em que o condutor es ver efe -
nº 10.830, de 2003) vamente ao volante de um veículo em curso entre a origem
2) noventa quilômetros por hora, para ônibus e microô- e o seu des no, respeitado o disposto no § 1º, sendo-lhe
nibus; facultado descansar no interior do próprio veículo, desde
3) oitenta quilômetros por hora, para os demais veículos; que este seja dotado de locais apropriados para a natureza
b) nas estradas, sessenta quilômetros por hora.
e a duração do descanso exigido. (Incluído Lei nº 12.619, de
§ 2º O órgão ou en dade de trânsito ou rodoviário com
circunscrição sobre a via poderá regulamentar, por meio de 2012) (Vigência)
sinalização, velocidades superiores ou inferiores àquelas § 5º O condutor somente iniciará viagem com duração
estabelecidas no parágrafo anterior. maior que 1 (um) dia, isto é, 24 (vinte e quatro) horas após
Art. 62. A velocidade mínima não poderá ser inferior à o cumprimento integral do intervalo de descanso previsto
metade da velocidade máxima estabelecida, respeitadas as no § 3º. (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
condições operacionais de trânsito e da via. § 6º Entende-se como início de viagem, para os fins do
Art. 63. (Vetado) disposto no § 5º, a par da do condutor logo após o carre-
Art. 64. As crianças com idade inferior a dez anos devem gamento do veículo, considerando-se como con nuação
ser transportadas nos bancos traseiros, salvo exceções regu- da viagem as par das nos dias subsequentes até o des no.
lamentadas pelo CONTRAN. (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para § 7º Nenhum transportador de cargas ou de passageiros,
condutor e passageiros em todas as vias do território na- embarcador, consignatário de cargas, operador de terminais
cional, salvo em situações regulamentadas pelo CONTRAN.
de carga, operador de transporte mul modal de cargas ou
Art. 66. (Vetado)
Art. 67. As provas ou compe ções despor vas, inclusive agente de cargas permi rá ou ordenará a qualquer motorista
seus ensaios, em via aberta à circulação, só poderão ser rea- a seu serviço, ainda que subcontratado, que conduza veículo
lizadas mediante prévia permissão da autoridade de trânsito referido no caput sem a observância do disposto no § 5º.
com circunscrição sobre a via e dependerão de: (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
I – autorização expressa da respec va confederação § 8º (Vetado). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
despor va ou de en dades estaduais a ela filiadas; Art. 67-B. (Vetado). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012)
II – caução ou fiança para cobrir possíveis danos mate- (Vigência)
riais à via; Art. 67-C. O motorista profissional na condição de con-
III – contrato de seguro contra riscos e acidentes em dutor é responsável por controlar o tempo de condução
favor de terceiros; es pulado no art. 67-A, com vistas na sua estrita observância.
IV – prévio recolhimento do valor correspondente aos (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
custos operacionais em que o órgão ou en dade permis- Parágrafo único. O condutor do veículo responderá pela
sionária incorrerá.
não observância dos períodos de descanso estabelecidos
Parágrafo único. A autoridade com circunscrição sobre
a via arbitrará os valores mínimos da caução ou fiança e do no art. 67-A, ficando sujeito às penalidades daí decorrentes,
contrato de seguro. previstas neste Código. (Incluído Lei nº 12.619, de 2012)
(Vigência)
CAPÍTULO III-A Art. 67-D. (Vetado). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012)
(Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência) (Vigência)

CAPÍTULO III-A CAPÍTULO IV


Da Condução de Veículos Dos Pedestres e Condutores de Veículos não Motorizados
por Motoristas Profissionais
Art. 68. É assegurada ao pedestre a utilização dos
Art. 67-A. É vedado ao motorista profissional, no exercí- passeios ou passagens apropriadas das vias urbanas e dos
cio de sua profissão e na condução de veículo mencionado acostamentos das vias rurais para circulação, podendo a
no inciso II do art. 105 deste Código, dirigir por mais de
autoridade competente permi r a u lização de parte da
4 (quatro) horas ininterruptas. (Incluído Lei nº 12.619, de
2012) (Vigência) calçada para outros fins, desde que não seja prejudicial ao
§ 1º Será observado intervalo mínimo de 30 (trinta) mi- fluxo de pedestres.
nutos para descanso a cada 4 (quatro) horas ininterruptas § 1º O ciclista desmontado empurrando a bicicleta
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

na condução de veículo referido no caput, sendo facultado equipara-se ao pedestre em direitos e deveres.
o fracionamento do tempo de direção e do intervalo de § 2º Nas áreas urbanas, quando não houver passeios ou
descanso, desde que não completadas 4 (quatro) horas quando não for possível a u lização destes, a circulação de
con nuas no exercício da condução. (Incluído Lei nº 12.619, pedestres na pista de rolamento será feita com prioridade
de 2012) (Vigência) sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, exceto
§ 2º Em situações excepcionais de inobservância jus - em locais proibidos pela sinalização e nas situações em que
ficada do tempo de direção estabelecido no caput e desde a segurança ficar comprome da.
que não comprometa a segurança rodoviária, o tempo de § 3º Nas vias rurais, quando não houver acostamento
direção poderá ser prorrogado por até 1 (uma) hora, de modo ou quando não for possível a u lização dele, a circulação de
a permi r que o condutor, o veículo e sua carga cheguem a pedestres, na pista de rolamento, será feita com prioridade
lugar que ofereça a segurança e o atendimento demandados.
(Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência) sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, em
§ 3º O condutor é obrigado a, dentro do período de 24 sen do contrário ao deslocamento de veículos, exceto em
(vinte e quatro) horas, observar um intervalo de, no mínimo, locais proibidos pela sinalização e nas situações em que a
11 (onze) horas de descanso, podendo ser fracionado em 9 segurança ficar comprome da.

424
§ 4º (Vetado) CAPÍTULO VI
§ 5º Nos trechos urbanos de vias rurais e nas obras de Da Educação para o Trânsito
arte a serem construídas, deverá ser previsto passeio des-
nado à circulação dos pedestres, que não deverão, nessas Art. 74. A educação para o trânsito é direito de todos e
condições, usar o acostamento. cons tui dever prioritário para os componentes do Sistema
§ 6º Onde houver obstrução da calçada ou da passagem Nacional de Trânsito.
para pedestres, o órgão ou en dade com circunscrição sobre § 1º É obrigatória a existência de coordenação educa-
a via deverá assegurar a devida sinalização e proteção para cional em cada órgão ou en dade componente do Sistema
circulação de pedestres. Nacional de Trânsito.
Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre to- § 2º Os órgãos ou en dades execu vos de trânsito de-
mará precauções de segurança, levando em conta, principal- verão promover, dentro de sua estrutura organizacional ou
mente, a visibilidade, a distância e a velocidade dos veículos, mediante convênio, o funcionamento de Escolas Públicas de
u lizando sempre as faixas ou passagens a ele des nadas Trânsito, nos moldes e padrões estabelecidos pelo CONTRAN.
sempre que estas exis rem numa distância de até cinqüenta Art. 75. O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os temas
metros dele, observadas as seguintes disposições: e os cronogramas das campanhas de âmbito nacional que
I – onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da
deverão ser promovidas por todos os órgãos ou en dades
via deverá ser feito em sen do perpendicular ao de seu eixo;
do Sistema Nacional de Trânsito, em especial nos períodos
II – para atravessar uma passagem sinalizada para pedes-
referentes às férias escolares, feriados prolongados e à Se-
tres ou delimitada por marcas sobre a pista:
a) onde houver foco de pedestres, obedecer às indica- mana Nacional de Trânsito.
ções das luzes; § 1º Os órgãos ou en dades do Sistema Nacional de
b) onde não houver foco de pedestres, aguardar que Trânsito deverão promover outras campanhas no âmbito de
o semáforo ou o agente de trânsito interrompa o fluxo de sua circunscrição e de acordo com as peculiaridades locais.
veículos; § 2º As campanhas de que trata este ar go são de caráter
III – nas interseções e em suas proximidades, onde não permanente, e os serviços de rádio e difusão sonora de sons
existam faixas de travessia, os pedestres devem atravessar e imagens explorados pelo poder público são obrigados a
a via na con nuação da calçada, observadas as seguintes difundi-las gratuitamente, com a freqüência recomendada
normas: pelos órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito.
a) não deverão adentrar na pista sem antes se cer ficar Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na
de que podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos; pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de
b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e en -
não deverão aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar dades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da
sobre ela sem necessidade. União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
Art. 70. Os pedestres que es verem atravessando a via nas respec vas áreas de atuação.
sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste ar go,
de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica, o Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta
onde deverão ser respeitadas as disposições deste Código. do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades
Parágrafo único. Nos locais em que houver sinalização Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá:
semafórica de controle de passagem será dada preferência I – a adoção, em todos os níveis de ensino, de um cur-
aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo rículo interdisciplinar com conteúdo programá co sobre
em caso de mudança do semáforo liberando a passagem segurança de trânsito;
dos veículos. II – a adoção de conteúdos rela vos à educação para
Art. 71. O órgão ou en dade com circunscrição sobre o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o
a via manterá, obrigatoriamente, as faixas e passagens de treinamento de professores e mul plicadores;
pedestres em boas condições de visibilidade, higiene, segu- III – a criação de corpos técnicos interprofissionais para
rança e sinalização. levantamento e análise de dados esta s cos rela vos ao
trânsito;
CAPÍTULO V
IV – a elaboração de planos de redução de acidentes de
Do Cidadão
trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários
de trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade
Art. 72. Todo cidadão ou en dade civil tem o direito de
na área de trânsito.
solicitar, por escrito, aos órgãos ou en dades do Sistema
Art. 77. No âmbito da educação para o trânsito caberá
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Nacional de Trânsito, sinalização, fiscalização e implantação


de equipamentos de segurança, bem como sugerir altera- ao Ministério da Saúde, mediante proposta do CONTRAN,
ções em normas, legislação e outros assuntos per nentes estabelecer campanha nacional esclarecendo condutas a
a este Código. serem seguidas nos primeiros socorros em caso de acidente
Art. 73. Os órgãos ou en dades pertencentes ao Sistema de trânsito.
Nacional de Trânsito têm o dever de analisar as solicitações Parágrafo único. As campanhas terão caráter permanente
e responder, por escrito, dentro de prazos mínimos, sobre por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, sendo in-
a possibilidade ou não de atendimento, esclarecendo ou tensificadas nos períodos e na forma estabelecidos no art. 76.
jus ficando a análise efetuada, e, se per nente, informando Art. 77-A. São assegurados aos órgãos ou en dades com-
ao solicitante quando tal evento ocorrerá. ponentes do Sistema Nacional de Trânsito os mecanismos
Parágrafo único. As campanhas de trânsito devem ins tuídos nos arts. 77-B a 77-E para a veiculação de men-
esclarecer quais as atribuições dos órgãos e en dades per- sagens educa vas de trânsito em todo o território nacional,
tencentes ao Sistema Nacional de Trânsito e como proceder em caráter suplementar às campanhas previstas nos arts. 75
a tais solicitações. e 77. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009).

425
Art. 77-B. Toda peça publicitária des nada à divulgação Parágrafo único. O percentual de dez por cento do total
ou promoção, nos meios de comunicação social, de produto dos valores arrecadados des nados à Previdência Social, do
oriundo da indústria automobilís ca ou afim, incluirá, obri- Prêmio do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados
gatoriamente, mensagem educa va de trânsito a ser con- por Veículos Automotores de Via Terrestre – DPVAT, de que
juntamente veiculada. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). trata a Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974, serão re-
§ 1º Para os efeitos dos arts. 77-A a 77-E, consideram-se passados mensalmente ao Coordenador do Sistema Nacional
produtos oriundos da indústria automobilís ca ou afins: de Trânsito para aplicação exclusiva em programas de que
(Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). trata este ar go.
I – os veículos rodoviários automotores de qualquer Art. 79. Os órgãos e en dades execu vos de trânsito
espécie, incluídos os de passageiros e os de carga; (Incluído poderão firmar convênio com os órgãos de educação da
pela Lei nº 12.006, de 2009). União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
II – os componentes, as peças e os acessórios u lizados obje vando o cumprimento das obrigações estabelecidas
nos veículos mencionados no inciso I. (Incluído pela Lei neste capítulo.
nº 12.006, de 2009).
§ 2º O disposto no caput deste ar go aplica-se à pro- CAPÍTULO VII
paganda de natureza comercial, veiculada por inicia va do Da Sinalização de Trânsito
fabricante do produto, em qualquer das seguintes modali-
dades: (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). Art. 80. Sempre que necessário, será colocada ao longo
I – rádio; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). da via, sinalização prevista neste Código e em legislação
II – televisão; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). complementar, des nada a condutores e pedestres, vedada
III – jornal; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). a u lização de qualquer outra.
IV – revista; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). § 1º A sinalização será colocada em posição e condições
V – outdoor. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). que a tornem perfeitamente visível e legível durante o dia e a
§ 3º Para efeito do disposto no § 2º, equiparam-se ao noite, em distância compa vel com a segurança do trânsito,
fabricante o montador, o encarroçador, o importador e o conforme normas e especificações do CONTRAN.
revendedor autorizado dos veículos e demais produtos dis- § 2º O CONTRAN poderá autorizar, em caráter experi-
criminados no § 1º deste ar go. (Incluído pela Lei nº 12.006, mental e por período prefixado, a u lização de sinalização
de 2009). não prevista neste Código.
Art. 77-C. Quando se tratar de publicidade veiculada em Art. 81. Nas vias públicas e nos imóveis é proibido colocar
outdoor instalado à margem de rodovia, dentro ou fora da luzes, publicidade, inscrições, vegetação e mobiliário que
respec va faixa de domínio, a obrigação prevista no art. 77-B possam gerar confusão, interferir na visibilidade da sinali-
estende-se à propaganda de qualquer po de produto e zação e comprometer a segurança do trânsito.
anunciante, inclusive àquela de caráter ins tucional ou Art. 82. É proibido afixar sobre a sinalização de trânsito
eleitoral. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). e respec vos suportes, ou junto a ambos, qualquer po
Art. 77-D. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) de publicidade, inscrições, legendas e símbolos que não se
especificará o conteúdo e o padrão de apresentação das relacionem com a mensagem da sinalização.
mensagens, bem como os procedimentos envolvidos na Art. 83. A afixação de publicidade ou de quaisquer
respec va veiculação, em conformidade com as diretrizes legendas ou símbolos ao longo das vias condiciona-se à
fixadas para as campanhas educa vas de trânsito a que se prévia aprovação do órgão ou en dade com circunscrição
refere o art. 75. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). sobre a via.
Art. 77-E. A veiculação de publicidade feita em desacor- Art. 84. O órgão ou en dade de trânsito com circuns-
do com as condições fixadas nos arts. 77-A a 77-D cons tui crição sobre a via poderá re rar ou determinar a imediata
infração punível com as seguintes sanções: (Incluído pela Lei re rada de qualquer elemento que prejudique a visibilidade
nº 12.006, de 2009). da sinalização viária e a segurança do trânsito, com ônus para
I – advertência por escrito; (Incluído pela Lei nº 12.006, quem o tenha colocado.
de 2009). Art. 85. Os locais des nados pelo órgão ou en dade
II – suspensão, nos veículos de divulgação da publicidade, de trânsito com circunscrição sobre a via à travessia de
de qualquer outra propaganda do produto, pelo prazo de pedestres deverão ser sinalizados com faixas pintadas ou
até 60 (sessenta) dias; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). demarcadas no leito da via.
III – multa de 1.000 (um mil) a 5.000 (cinco mil) vezes o Art. 86. Os locais des nados a postos de gasolina, ofici-
valor da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou unidade que nas, estacionamentos ou garagens de uso cole vo deverão
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

a subs tuir, cobrada do dobro até o quíntuplo, em caso de ter suas entradas e saídas devidamente iden ficadas, na
reincidência. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). forma regulamentada pelo CONTRAN.
§ 1º As sanções serão aplicadas isolada ou cumula va- Art. 87. Os sinais de trânsito classificam-se em:
mente, conforme dispuser o regulamento. (Incluído pela Lei I – ver cais;
nº 12.006, de 2009). II – horizontais;
§ 2º Sem prejuízo do disposto no caput deste ar go, III – disposi vos de sinalização auxiliar;
qualquer infração acarretará a imediata suspensão da vei- IV – luminosos;
culação da peça publicitária até que sejam cumpridas as V – sonoros;
exigências fixadas nos arts. 77-A a 77-D. (Incluído pela Lei VI – gestos do agente de trânsito e do condutor.
nº 12.006, de 2009). Art. 88. Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue
Art. 78. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do após sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realiza-
Desporto, do Trabalho, dos Transportes e da Jus ça, por ção de obras ou de manutenção, enquanto não es ver devi-
intermédio do CONTRAN, desenvolverão e implementarão damente sinalizada, ver cal e horizontalmente, de forma a
programas des nados à prevenção de acidentes. garan r as condições adequadas de segurança na circulação.

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Parágrafo único. Nas vias ou trechos de vias em obras CAPÍTULO IX
deverá ser afixada sinalização específica e adequada. Dos Veículos
Art. 89. A sinalização terá a seguinte ordem de preva-
lência: Seção I
I – as ordens do agente de trânsito sobre as normas de Disposições Gerais
circulação e outros sinais;
II – as indicações do semáforo sobre os demais sinais; Art. 96. Os veículos classificam-se em:
III – as indicações dos sinais sobre as demais normas I – quanto à tração:
de trânsito. a) automotor;
Art. 90. Não serão aplicadas as sanções previstas neste b) elétrico;
Código por inobservância à sinalização quando esta for in- c) de propulsão humana;
suficiente ou incorreta. d) de tração animal;
§ 1º O órgão ou en dade de trânsito com circunscrição e) reboque ou semi-reboque;
sobre a via é responsável pela implantação da sinalização, II – quanto à espécie:
a) de passageiros:
respondendo pela sua falta, insuficiência ou incorreta co-
1 – bicicleta;
locação.
2 – ciclomotor;
§ 2º O CONTRAN editará normas complementares no
3 – motoneta;
que se refere à interpretação, colocação e uso da sinalização.
4 – motocicleta;
5 – triciclo;
CAPÍTULO VIII 6 – quadriciclo;
Da Engenharia de Tráfego, da Operação, da Fiscalização e 7 – automóvel;
do Policiamento Ostensivo de Trânsito 8 – microônibus;
9 – ônibus;
Art. 91. O CONTRAN estabelecerá as normas e regula- 10 – bonde;
mentos a serem adotados em todo o território nacional quan- 11 – reboque ou semi-reboque;
do da implementação das soluções adotadas pela Engenharia 12 – charrete;
de Tráfego, assim como padrões a serem pra cados por b) de carga:
todos os órgãos e en dades do Sistema Nacional de Trânsito. 1 – motoneta;
Art. 92. (Vetado) 2 – motocicleta;
Art. 93. Nenhum projeto de edificação que possa trans- 3 – triciclo;
formar-se em pólo atra vo de trânsito poderá ser aprovado 4 – quadriciclo;
sem prévia anuência do órgão ou en dade com circunscrição 5 – caminhonete;
sobre a via e sem que do projeto conste área para estaciona- 6 – caminhão;
mento e indicação das vias de acesso adequadas. 7 – reboque ou semi-reboque;
Art. 94. Qualquer obstáculo à livre circulação e à seguran- 8 – carroça;
ça de veículos e pedestres, tanto na via quanto na calçada, 9 – carro-de-mão;
caso não possa ser re rado, deve ser devida e imediatamente c) misto:
sinalizado. 1 – camioneta;
Parágrafo único. É proibida a u lização das ondulações 2 – u litário;
transversais e de sonorizadores como redutores de velo- 3 – outros;
cidade, salvo em casos especiais definidos pelo órgão ou d) de compe ção;
en dade competente, nos padrões e critérios estabelecidos e) de tração:
pelo CONTRAN. 1 – caminhão-trator;
Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar 2 – trator de rodas;
ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou 3 – trator de esteiras;
4 – trator misto;
colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão
f) especial;
prévia do órgão ou en dade de trânsito com circunscrição
g) de coleção;
sobre a via.
III – quanto à categoria:
§ 1º A obrigação de sinalizar é do responsável pela exe-
a) oficial;
cução ou manutenção da obra ou do evento.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

b) de representação diplomá ca, de repar ções consu-


§ 2º Salvo em casos de emergência, a autoridade de trân- lares de carreira ou organismos internacionais acreditados
sito com circunscrição sobre a via avisará a comunidade, por junto ao Governo brasileiro;
intermédio dos meios de comunicação social, com quarenta c) par cular;
e oito horas de antecedência, de qualquer interdição da via, d) de aluguel;
indicando-se os caminhos alterna vos a serem u lizados. e) de aprendizagem.
§ 3º A inobservância do disposto neste ar go será pu- Art. 97. As caracterís cas dos veículos, suas especifi-
nida com multa que varia entre cinqüenta e trezentas UFIR, cações básicas, configuração e condições essenciais para
independentemente das cominações cíveis e penais cabíveis. registro, licenciamento e circulação serão estabelecidas pelo
§ 4º Ao servidor público responsável pela inobservância CONTRAN, em função de suas aplicações.
de qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94, Art. 98. Nenhum proprietário ou responsável poderá,
a autoridade de trânsito aplicará multa diária na base de sem prévia autorização da autoridade competente, fazer ou
cinqüenta por cento do dia de vencimento ou remuneração ordenar que sejam feitas no veículo modificações de suas
devida enquanto permanecer a irregularidade. caracterís cas de fábrica.

427
Parágrafo único. Os veículos e motores novos ou usa- mento aos requisitos de segurança veicular, devendo, para
dos que sofrerem alterações ou conversões são obrigados isso, manter disponíveis a qualquer tempo os resultados dos
a atender aos mesmos limites e exigências de emissão de testes e ensaios dos sistemas e componentes abrangidos pela
poluentes e ruído previstos pelos órgãos ambientais compe- legislação de segurança veicular.
tentes e pelo CONTRAN, cabendo à en dade executora das Art. 104. Os veículos em circulação terão suas condições
modificações e ao proprietário do veículo a responsabilidade de segurança, de controle de emissão de gases poluentes e
pelo cumprimento das exigências. de ruído avaliadas mediante inspeção, que será obrigatória,
Art. 99. Somente poderá transitar pelas vias terrestres o na forma e periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN para
veículo cujo peso e dimensões atenderem aos limites esta- os itens de segurança e pelo CONAMA para emissão de gases
belecidos pelo CONTRAN. poluentes e ruído.
§ 1º O excesso de peso será aferido por equipamento de § 1º (Vetado)
pesagem ou pela verificação de documento fiscal, na forma § 2º (Vetado)
estabelecida pelo CONTRAN. § 3º (Vetado)
§ 2º Será tolerado um percentual sobre os limites de peso § 4º (Vetado)
bruto total e peso bruto transmi do por eixo de veículos à § 5º Será aplicada a medida administra va de retenção
super cie das vias, quando aferido por equipamento, na aos veículos reprovados na inspeção de segurança e na de
forma estabelecida pelo CONTRAN. emissão de gases poluentes e ruído.
§ 3º Os equipamentos fixos ou móveis u lizados na pesa- Art. 105. São equipamentos obrigatórios dos veículos,
gem de veículos serão aferidos de acordo com a metodologia entre outros a serem estabelecidos pelo CONTRAN:
e na periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN, ouvido o I – cinto de segurança, conforme regulamentação espe-
órgão ou en dade de metrologia legal. cífica do CONTRAN, com exceção dos veículos des nados
Art. 100. Nenhum veículo ou combinação de veículos ao transporte de passageiros em percursos em que seja
poderá transitar com lotação de passageiros, com peso bruto permi do viajar em pé;
total, ou com peso bruto total combinado com peso por II – para os veículos de transporte e de condução escolar,
eixo, superior ao fixado pelo fabricante, nem ultrapassar a
os de transporte de passageiros com mais de dez lugares e
capacidade máxima de tração da unidade tratora.
os de carga com peso bruto total superior a quatro mil, qui-
Parágrafo único. O CONTRAN regulamentará o uso de
nhentos e trinta e seis quilogramas, equipamento registrador
pneus extralargos, definindo seus limites de peso.
instantâneo inalterável de velocidade e tempo;
Art. 101. Ao veículo ou combinação de veículos u lizado
III – encosto de cabeça, para todos os pos de veículos
no transporte de carga indivisível, que não se enquadre nos
automotores, segundo normas estabelecidas pelo CONTRAN;
limites de peso e dimensões estabelecidos pelo CONTRAN,
poderá ser concedida, pela autoridade com circunscrição IV – (Vetado)
sobre a via, autorização especial de trânsito, com prazo certo, V – disposi vo des nado ao controle de emissão de
válida para cada viagem, atendidas as medidas de segurança gases poluentes e de ruído, segundo normas estabelecidas
consideradas necessárias. pelo CONTRAN.
§ 1º A autorização será concedida mediante reque- VI – para as bicicletas, a campainha, sinalização noturna
rimento que especificará as caracterís cas do veículo ou dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor
combinação de veículos e de carga, o percurso, a data e o do lado esquerdo.
horário do deslocamento inicial. VII – equipamento suplementar de retenção – air bag
§ 2º A autorização não exime o beneficiário da responsa- frontal para o condutor e o passageiro do banco dianteiro.
bilidade por eventuais danos que o veículo ou a combinação (Incluído pela Lei nº 11.910, de 2009)
de veículos causar à via ou a terceiros. § 1º O CONTRAN disciplinará o uso dos equipamentos
§ 3º Aos guindastes autopropelidos ou sobre caminhões obrigatórios dos veículos e determinará suas especificações
poderá ser concedida, pela autoridade com circunscrição técnicas.
sobre a via, autorização especial de trânsito, com prazo de § 2º Nenhum veículo poderá transitar com equipamento
seis meses, atendidas as medidas de segurança consideradas ou acessório proibido, sendo o infrator sujeito às penalidades
necessárias. e medidas administra vas previstas neste Código.
Art. 102. O veículo de carga deverá estar devidamente § 3º Os fabricantes, os importadores, os montadores,
equipado quando transitar, de modo a evitar o derramamen- os encarroçadores de veículos e os revendedores devem
to da carga sobre a via. comercializar os seus veículos com os equipamentos obriga-
Parágrafo único. O CONTRAN fixará os requisitos mí- tórios definidos neste ar go, e com os demais estabelecidos
nimos e a forma de proteção das cargas de que trata este pelo CONTRAN.
ar go, de acordo com a sua natureza. § 4º O CONTRAN estabelecerá o prazo para o atendimen-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

to do disposto neste ar go.


Seção II § 5º A exigência estabelecida no inciso VII do caput deste
Da Segurança dos Veículos ar go será progressivamente incorporada aos novos projetos
de automóveis e dos veículos deles derivados, fabricados,
Art. 103. O veículo só poderá transitar pela via quando importados, montados ou encarroçados, a partir do 1º
atendidos os requisitos e condições de segurança estabele- (primeiro) ano após a definição pelo Contran das especifi-
cidos neste Código e em normas do CONTRAN. cações técnicas per nentes e do respec vo cronograma de
§ 1º Os fabricantes, os importadores, os montadores e implantação e a par r do 5º (quinto) ano, após esta definição,
os encarroçadores de veículos deverão emi r cer ficado de para os demais automóveis zero quilômetro de modelos ou
segurança, indispensável ao cadastramento no RENAVAM, projetos já existentes e veículos deles derivados. (Incluído
nas condições estabelecidas pelo CONTRAN. pela Lei nº 11.910, de 2009)
§ 2º O CONTRAN deverá especificar os procedimentos § 6º A exigência estabelecida no inciso VII do caput deste
e a periodicidade para que os fabricantes, os importadores, ar go não se aplica aos veículos des nados à exportação.
os montadores e os encarroçadores comprovem o atendi- (Incluído pela Lei nº 11.910, de 2009)

428
Art. 106. No caso de fabricação artesanal ou de modifi- veículo, man da a mesma iden ficação anterior, inclusive
cação de veículo ou, ainda, quando ocorrer subs tuição de o ano de fabricação.
equipamento de segurança especificado pelo fabricante, § 3º Nenhum proprietário poderá, sem prévia permissão
será exigido, para licenciamento e registro, cer ficado de da autoridade execu va de trânsito, fazer, ou ordenar que se
segurança expedido por ins tuição técnica credenciada por faça, modificações da iden ficação de seu veículo.
órgão ou en dade de metrologia legal, conforme norma Art. 115. O veículo será iden ficado externamente por
elaborada pelo CONTRAN. meio de placas dianteira e traseira, sendo esta lacrada em
Art. 107. Os veículos de aluguel, des nados ao transporte sua estrutura, obedecidas as especificações e modelos es-
individual ou cole vo de passageiros, deverão sa sfazer, além tabelecidos pelo CONTRAN.
das exigências previstas neste Código, às condições técnicas e § 1º Os caracteres das placas serão individualizados para
aos requisitos de segurança, higiene e conforto estabelecidos cada veículo e o acompanharão até a baixa do registro, sendo
pelo poder competente para autorizar, permi r ou conceder vedado seu reaproveitamento.
a exploração dessa a vidade. § 2º As placas com as cores verde e amarela da Bandeira
Art. 108. Onde não houver linha regular de ônibus, Nacional serão usadas somente pelos veículos de repre-
a autoridade com circunscrição sobre a via poderá autorizar, sentação pessoal do Presidente e do Vice-Presidente da
a tulo precário, o transporte de passageiros em veículo República, dos Presidentes do Senado Federal e da Câmara
de carga ou misto, desde que obedecidas as condições de dos Deputados, do Presidente e dos Ministros do Supremo
segurança estabelecidas neste Código e pelo CONTRAN. Tribunal Federal, dos Ministros de Estado, do Advogado-Geral
Parágrafo único. A autorização citada no caput não pode- da União e do Procurador-Geral da República.
rá exceder a doze meses, prazo a par r do qual a autoridade § 3º Os veículos de representação dos Presidentes dos
pública responsável deverá implantar o serviço regular de Tribunais Federais, dos Governadores, Prefeitos, Secretários
transporte cole vo de passageiros, em conformidade com Estaduais e Municipais, dos Presidentes das Assembléias
a legislação per nente e com os disposi vos deste Código. Legisla vas, das Câmaras Municipais, dos Presidentes dos
(Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) Tribunais Estaduais e do Distrito Federal, e do respec vo
Art. 109. O transporte de carga em veículos des nados chefe do Ministério Público e ainda dos Oficiais Generais
ao transporte de passageiros só pode ser realizado de acordo das Forças Armadas terão placas especiais, de acordo com
com as normas estabelecidas pelo CONTRAN. os modelos estabelecidos pelo CONTRAN.
Art. 110. O veículo que ver alterada qualquer de suas § 4º Os aparelhos automotores des nados a puxar ou
caracterís cas para compe ção ou finalidade análoga só arrastar maquinaria de qualquer natureza ou a executar
poderá circular nas vias públicas com licença especial da trabalhos agrícolas e de construção ou de pavimentação
autoridade de trânsito, em i nerário e horário fixados. são sujeitos, desde que lhes seja facultado transitar nas
Art. 111. É vedado, nas áreas envidraçadas do veículo: vias, ao registro e licenciamento da repar ção competente,
I – (Vetado) devendo receber numeração especial.
II – o uso de cor nas, persianas fechadas ou similares nos § 5º O disposto neste ar go não se aplica aos veículos
veículos em movimento, salvo nos que possuam espelhos de uso bélico.
retrovisores em ambos os lados. § 6º Os veículos de duas ou três rodas são dispensados
III – aposição de inscrições, películas refle vas ou não, da placa dianteira.
painéis decora vos ou pinturas, quando comprometer a § 7º Excepcionalmente, mediante autorização específi-
segurança do veículo, na forma de regulamentação do CON- ca e fundamentada das respec vas corregedorias e com a
TRAN. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) devida comunicação aos órgãos de trânsito competentes,
Parágrafo único. É proibido o uso de inscrição de caráter os veículos u lizados por membros do Poder Judiciário e do
publicitário ou qualquer outra que possa desviar a atenção Ministério Público que exerçam competência ou atribuição
dos condutores em toda a extensão do pára-brisa e da tra- criminal poderão temporariamente ter placas especiais, de
seira dos veículos, salvo se não colocar em risco a segurança forma a impedir a iden ficação de seus usuários específicos,
do trânsito. na forma de regulamento a ser emi do, conjuntamente, pelo
Art. 112. (Revogado pela Lei nº 9.792, de 1999) Conselho Nacional de Jus ça – CNJ, pelo Conselho Nacional
Art. 113. Os importadores, as montadoras, as encarroça- do Ministério Público – CNMP e pelo Conselho Nacional de
doras e fabricantes de veículos e autopeças são responsáveis Trânsito – CONTRAN. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
civil e criminalmente por danos causados aos usuários, a ter- Art. 116. Os veículos de propriedade da União, dos
ceiros, e ao meio ambiente, decorrentes de falhas oriundas Estados e do Distrito Federal, devidamente registrados
de projetos e da qualidade dos materiais e equipamentos e licenciados, somente quando estritamente usados em
u lizados na sua fabricação. serviço reservado de caráter policial, poderão usar placas
par culares, obedecidos os critérios e limites estabelecidos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Seção III pela legislação que regulamenta o uso de veículo oficial.


Da Iden ficação do Veículo Art. 117. Os veículos de transporte de carga e os cole vos
de passageiros deverão conter, em local facilmente visível,
Art. 114. O veículo será iden ficado obrigatoriamente a inscrição indica va de sua tara, do peso bruto total (PBT),
por caracteres gravados no chassi ou no monobloco, repro- do peso bruto total combinado (PBTC) ou capacidade máxima
duzidos em outras partes, conforme dispuser o CONTRAN. de tração (CMT) e de sua lotação, vedado o uso em desacordo
§ 1º A gravação será realizada pelo fabricante ou mon- com sua classificação.
tador, de modo a iden ficar o veículo, seu fabricante e as
suas caracterís cas, além do ano de fabricação, que não CAPÍTULO X
poderá ser alterado. Dos Veículos em Circulação Internacional
§ 2º As regravações, quando necessárias, dependerão
de prévia autorização da autoridade execu va de trânsito Art. 118. A circulação de veículo no território nacional,
e somente serão processadas por estabelecimento por ela independentemente de sua origem, em trânsito entre o
credenciado, mediante a comprovação de propriedade do Brasil e os países com os quais exista acordo ou tratado in-

429
ternacional, reger-se-á pelas disposições deste Código, pelas I – Cer ficado de Registro de Veículo anterior;
convenções e acordos internacionais ra ficados. II – Cer ficado de Licenciamento Anual;
Art. 119. As repar ções aduaneiras e os órgãos de con- III – comprovante de transferência de propriedade,
trole de fronteira comunicarão diretamente ao RENAVAM a quando for o caso, conforme modelo e normas estabelecidas
entrada e saída temporária ou defini va de veículos. pelo CONTRAN;
Parágrafo único. Os veículos licenciados no exterior não IV – Cer ficado de Segurança Veicular e de emissão de
poderão sair do território nacional sem prévia quitação de poluentes e ruído, quando houver adaptação ou alteração
débitos de multa por infrações de trânsito e o ressarcimento de caracterís cas do veículo;
de danos que verem causado a bens do patrimônio público, V – comprovante de procedência e jus fica va da pro-
respeitado o princípio da reciprocidade. priedade dos componentes e agregados adaptados ou mon-
tados no veículo, quando houver alteração das caracterís cas
CAPÍTULO XI originais de fábrica;
Do Registro de Veículos VI – autorização do Ministério das Relações Exteriores,
no caso de veículo da categoria de missões diplomá cas,
Art. 120. Todo veículo automotor, elétrico, ar culado, de repar ções consulares de carreira, de representações de
reboque ou semi-reboque, deve ser registrado perante o organismos internacionais e de seus integrantes;
órgão execu vo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal, VII – cer dão nega va de roubo ou furto de veículo,
no Município de domicílio ou residência de seu proprietário, expedida no Município do registro anterior, que poderá ser
na forma da lei. subs tuída por informação do RENAVAM;
§ 1º Os órgãos execu vos de trânsito dos Estados e do VIII – comprovante de quitação de débitos rela vos a
Distrito Federal somente registrarão veículos oficiais de tributos, encargos e multas de trânsito vinculados ao veículo,
propriedade da administração direta, da União, dos Estados, independentemente da responsabilidade pelas infrações
do Distrito Federal e dos Municípios, de qualquer um dos come das;
poderes, com indicação expressa, por pintura nas portas, IX – (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998)
do nome, sigla ou logo po do órgão ou en dade em cujo X – comprovante rela vo ao cumprimento do disposto no
nome o veículo será registrado, excetuando-se os veículos
art. 98, quando houver alteração nas caracterís cas originais
de representação e os previstos no art. 116.
do veículo que afetem a emissão de poluentes e ruído;
§ 2º O disposto neste ar go não se aplica ao veículo de
XI – comprovante de aprovação de inspeção veicular e
uso bélico.
de poluentes e ruído, quando for o caso, conforme regula-
Art. 121. Registrado o veículo, expedir-se-á o Cer ficado
mentações do CONTRAN e do CONAMA.
de Registro de Veículo – CRV de acordo com os modelos e
Art. 125. As informações sobre o chassi, o monobloco,
especificações estabelecidos pelo CONTRAN, contendo as
caracterís cas e condições de invulnerabilidade à falsificação os agregados e as caracterís cas originais do veículo deverão
e à adulteração. ser prestadas ao RENAVAM:
Art. 122. Para a expedição do Cer ficado de Registro I – pelo fabricante ou montadora, antes da comercializa-
de Veículo o órgão execu vo de trânsito consultará o ca- ção, no caso de veículo nacional;
dastro do RENAVAM e exigirá do proprietário os seguintes II – pelo órgão alfandegário, no caso de veículo importado
documentos: por pessoa sica;
I – nota fiscal fornecida pelo fabricante ou revendedor, III – pelo importador, no caso de veículo importado por
ou documento equivalente expedido por autoridade com- pessoa jurídica.
petente; Parágrafo único. As informações recebidas pelo RENA-
II – documento fornecido pelo Ministério das Relações VAM serão repassadas ao órgão execu vo de trânsito respon-
Exteriores, quando se tratar de veículo importado por mem- sável pelo registro, devendo este comunicar ao RENAVAM,
bro de missões diplomá cas, de repar ções consulares de tão logo seja o veículo registrado.
carreira, de representações de organismos internacionais e Art. 126. O proprietário de veículo irrecuperável, ou
de seus integrantes. defini vamente desmontado, deverá requerer a baixa do
Art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Cer ficado registro, no prazo e forma estabelecidos pelo CONTRAN,
de Registro de Veículo quando: sendo vedada a remontagem do veículo sobre o mesmo
I – for transferida a propriedade; chassi, de forma a manter o registro anterior.
II – o proprietário mudar o Município de domicílio ou Parágrafo único. A obrigação de que trata este ar go
residência; é da companhia seguradora ou do adquirente do veículo
III – for alterada qualquer caracterís ca do veículo; des nado à desmontagem, quando estes sucederem ao
IV – houver mudança de categoria. proprietário.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

§ 1º No caso de transferência de propriedade, o prazo Art. 127. O órgão execu vo de trânsito competente só
para o proprietário adotar as providências necessárias à efetuará a baixa do registro após prévia consulta ao cadastro
efe vação da expedição do novo Cer ficado de Registro do RENAVAM.
de Veículo é de trinta dias, sendo que nos demais casos as Parágrafo único. Efetuada a baixa do registro, deverá ser
providências deverão ser imediatas. esta comunicada, de imediato, ao RENAVAM.
§ 2º No caso de transferência de domicílio ou residência Art. 128. Não será expedido novo Cer ficado de Registro
no mesmo Município, o proprietário comunicará o novo de Veículo enquanto houver débitos fiscais e de multas de
endereço num prazo de trinta dias e aguardará o novo licen- trânsito e ambientais, vinculadas ao veículo, independen-
ciamento para alterar o Cer ficado de Licenciamento Anual. temente da responsabilidade pelas infrações come das.
§ 3º A expedição do novo cer ficado será comunicada Art. 129. O registro e o licenciamento dos veículos de
ao órgão execu vo de trânsito que expediu o anterior e ao propulsão humana, dos ciclomotores e dos veículos de
RENAVAM. tração animal obedecerão à regulamentação estabelecida
Art. 124. Para a expedição do novo Cer ficado de Registro em legislação municipal do domicílio ou residência de seus
de Veículo serão exigidos os seguintes documentos: proprietários.

430
CAPÍTULO XII V – lanternas de luz branca, fosca ou amarela dispostas
Do Licenciamento nas extremidades da parte superior dianteira e lanternas de
luz vermelha dispostas na extremidade superior da parte
Art. 130. Todo veículo automotor, elétrico, ar culado, traseira;
reboque ou semi-reboque, para transitar na via, deverá ser VI – cintos de segurança em número igual à lotação;
licenciado anualmente pelo órgão execu vo de trânsito do VII – outros requisitos e equipamentos obrigatórios
Estado, ou do Distrito Federal, onde es ver registrado o estabelecidos pelo CONTRAN.
veículo. Art. 137. A autorização a que se refere o ar go anterior
§ 1º O disposto neste ar go não se aplica a veículo de deverá ser afixada na parte interna do veículo, em local
uso bélico. visível, com inscrição da lotação permi da, sendo vedada
§ 2º No caso de transferência de residência ou domicílio, a condução de escolares em número superior à capacidade
é válido, durante o exercício, o licenciamento de origem. estabelecida pelo fabricante.
Art. 131. O Cer ficado de Licenciamento Anual será Art. 138. O condutor de veículo des nado à condução de
expedido ao veículo licenciado, vinculado ao Cer ficado escolares deve sa sfazer os seguintes requisitos:
de Registro, no modelo e especificações estabelecidos pelo I – ter idade superior a vinte e um anos;
CONTRAN. II – ser habilitado na categoria D;
§ 1º O primeiro licenciamento será feito simultanea- III – (Vetado)
mente ao registro. IV – não ter come do nenhuma infração grave ou gra-
§ 2º O veículo somente será considerado licenciado víssima, ou ser reincidente em infrações médias durante os
estando quitados os débitos rela vos a tributos, encargos doze úl mos meses;
e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo, V – ser aprovado em curso especializado, nos termos da
independentemente da responsabilidade pelas infrações regulamentação do CONTRAN.
come das. Art. 139. O disposto neste Capítulo não exclui a compe-
§ 3º Ao licenciar o veículo, o proprietário deverá com- tência municipal de aplicar as exigências previstas em seus
provar sua aprovação nas inspeções de segurança veicular regulamentos, para o transporte de escolares.
e de controle de emissões de gases poluentes e de ruído,
conforme disposto no art. 104. CAPÍTULO XIII-A
Art. 132. Os veículos novos não estão sujeitos ao licen- Da Condução de Moto-Frete
ciamento e terão sua circulação regulada pelo CONTRAN (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
durante o trajeto entre a fábrica e o Município de des no.
Parágrafo único. O disposto neste ar go aplica-se, igual- Art. 139-A. As motocicletas e motonetas des nadas ao
mente, aos veículos importados, durante o trajeto entre a al- transporte remunerado de mercadorias – moto-frete – so-
fândega ou entreposto alfandegário e o Município de des no. mente poderão circular nas vias com autorização emi da
Art. 133. É obrigatório o porte do Cer ficado de Licen- pelo órgão ou en dade execu vo de trânsito dos Estados
ciamento Anual. e do Distrito Federal, exigindo-se, para tanto: (Incluído pela
Art. 134. No caso de transferência de propriedade, o pro- Lei nº 12.009, de 2009)
prietário an go deverá encaminhar ao órgão execu vo de I – registro como veículo da categoria de aluguel; (Incluído
trânsito do Estado dentro de um prazo de trinta dias, cópia pela Lei nº 12.009, de 2009)
auten cada do comprovante de transferência de proprieda- II – instalação de protetor de motor mata-cachorro, fi-
de, devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se xado no chassi do veículo, des nado a proteger o motor e a
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas perna do condutor em caso de tombamento, nos termos de
e suas reincidências até a data da comunicação. regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito – Contran;
Art. 135. Os veículos de aluguel, des nados ao transporte (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
individual ou cole vo de passageiros de linhas regulares ou III – instalação de aparador de linha antena corta-pipas,
empregados em qualquer serviço remunerado, para registro, nos termos de regulamentação do Contran; (Incluído pela
licenciamento e respec vo emplacamento de caracterís ca Lei nº 12.009, de 2009)
comercial, deverão estar devidamente autorizados pelo IV – inspeção semestral para verificação dos equipamen-
tos obrigatórios e de segurança. (Incluído pela Lei nº 12.009,
poder público concedente.
de 2009)
§ 1º A instalação ou incorporação de disposi vos para
CAPÍTULO XIII
transporte de cargas deve estar de acordo com a regula-
Da Condução de Escolares
mentação do Contran. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
§ 2º É proibido o transporte de combus veis, produtos
Art. 136. Os veículos especialmente des nados à condu-
inflamáveis ou tóxicos e de galões nos veículos de que trata
ção cole va de escolares somente poderão circular nas vias
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

este ar go, com exceção do gás de cozinha e de galões con-


com autorização emi da pelo órgão ou en dade execu vos
tendo água mineral, desde que com o auxílio de side-car,
de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, exigindo-se, nos termos de regulamentação do Contran. (Incluído pela
para tanto: Lei nº 12.009, de 2009)
I – registro como veículo de passageiros; Art. 139-B. O disposto neste Capítulo não exclui a
II – inspeção semestral para verificação dos equipamen- competência municipal ou estadual de aplicar as exigên-
tos obrigatórios e de segurança; cias previstas em seus regulamentos para as a vidades de
III – pintura de faixa horizontal na cor amarela, com moto-frete no âmbito de suas circunscrições. (Incluído pela
quarenta cen metros de largura, à meia altura, em toda a Lei nº 12.009, de 2009)
extensão das partes laterais e traseira da carroçaria, com o
dís co ESCOLAR, em preto, sendo que, em caso de veículo CAPÍTULO XIV
de carroçaria pintada na cor amarela, as cores aqui indicadas Da Habilitação
devem ser inver das;
IV – equipamento registrador instantâneo inalterável de Art. 140. A habilitação para conduzir veículo automotor
velocidade e tempo; e elétrico será apurada por meio de exames que deverão

431
ser realizados junto ao órgão ou en dade execu vos do a) no mínimo há dois anos na categoria B, ou no mínimo
Estado ou do Distrito Federal, do domicílio ou residência do há um ano na categoria C, quando pretender habilitar-se na
candidato, ou na sede estadual ou distrital do próprio órgão, categoria D; e
devendo o condutor preencher os seguintes requisitos: b) no mínimo há um ano na categoria C, quando preten-
I – ser penalmente imputável; der habilitar-se na categoria E;
II – saber ler e escrever; III – não ter come do nenhuma infração grave ou gra-
III – possuir Carteira de Iden dade ou equivalente. víssima ou ser reincidente em infrações médias durante os
Parágrafo único. As informações do candidato à habili- úl mos doze meses;
tação serão cadastradas no RENACH. IV – ser aprovado em curso especializado e em curso de
Art. 141. O processo de habilitação, as normas rela - treinamento de prá ca veicular em situação de risco, nos
vas à aprendizagem para conduzir veículos automotores e termos da norma zação do CONTRAN.
elétricos e à autorização para conduzir ciclomotores serão Parágrafo único. A par cipação em curso especializado
regulamentados pelo CONTRAN. previsto no inciso IV independe da observância do disposto
§ 1º A autorização para conduzir veículos de propulsão no inciso III. (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
humana e de tração animal ficará a cargo dos Municípios. Art. 146. Para conduzir veículos de outra categoria o
§ 2º (Vetado) condutor deverá realizar exames complementares exigidos
Art. 142. O reconhecimento de habilitação ob da em para habilitação na categoria pretendida.
outro país está subordinado às condições estabelecidas Art. 147. O candidato à habilitação deverá submeter-se
em convenções e acordos internacionais e às normas do a exames realizados pelo órgão execu vo de trânsito, na
CONTRAN. seguinte ordem:
Art. 143. Os candidatos poderão habilitar-se nas catego- I – de ap dão sica e mental;
rias de A a E, obedecida a seguinte gradação: II – (Vetado)
I – Categoria A – condutor de veículo motorizado de duas III – escrito, sobre legislação de trânsito;
ou três rodas, com ou sem carro lateral; IV – de noções de primeiros socorros, conforme regula-
II – Categoria B – condutor de veículo motorizado, não mentação do CONTRAN;
abrangido pela categoria A, cujo peso bruto total não exceda V – de direção veicular, realizado na via pública, em veí-
a três mil e quinhentos quilogramas e cuja lotação não exceda culo da categoria para a qual es ver habilitando-se.
a oito lugares, excluído o do motorista; § 1º Os resultados dos exames e a iden ficação dos
III – Categoria C – condutor de veículo motorizado u li- respec vos examinadores serão registrados no RENACH.
zado em transporte de carga, cujo peso bruto total exceda (Renumerado do parágrafo único, pela Lei nº 9.602, de 1998)
a três mil e quinhentos quilogramas; § 2º O exame de ap dão sica e mental será preliminar
IV – Categoria D – condutor de veículo motorizado u - e renovável a cada cinco anos, ou a cada três anos para
lizado no transporte de passageiros, cuja lotação exceda a condutores com mais de sessenta e cinco anos de idade, no
local de residência ou domicílio do examinado. (Incluído pela
oito lugares, excluído o do motorista;
Lei nº 9.602, de 1998)
V – Categoria E – condutor de combinação de veículos em
§ 3º O exame previsto no § 2º incluirá avaliação psicológi-
que a unidade tratora se enquadre nas categorias B, C ou D
ca preliminar e complementar sempre que a ele se submeter
e cuja unidade acoplada, reboque, semirreboque, trailer ou
o condutor que exerce a vidade remunerada ao veículo,
ar culada tenha 6.000 kg (seis mil quilogramas) ou mais de incluindo-se esta avaliação para os demais candidatos apenas
peso bruto total, ou cuja lotação exceda a 8 (oito) lugares. no exame referente à primeira habilitação. (Redação dada
(Redação dada pela Lei nº 12.452, de 2011) pela Lei nº 10.350, de 2001)
§ 1º Para habilitar-se na categoria C, o condutor deverá § 4º Quando houver indícios de deficiência sica, men-
estar habilitado no mínimo há um ano na categoria B e não tal, ou de progressividade de doença que possa diminuir a
ter come do nenhuma infração grave ou gravíssima, ou ser capacidade para conduzir o veículo, o prazo previsto no § 2º
reincidente em infrações médias, durante os úl mos doze poderá ser diminuído por proposta do perito examinador.
meses. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
§ 2º São os condutores da categoria B autorizados a § 5º O condutor que exerce a vidade remunerada ao veí-
conduzir veículo automotor da espécie motor-casa, definida culo terá essa informação incluída na sua Carteira Nacional de
nos termos do Anexo I deste Código, cujo peso não exceda a Habilitação, conforme especificações do Conselho Nacional
6.000 kg (seis mil quilogramas), ou cuja lotação não exceda de Trânsito – Contran. (Incluído pela Lei nº 10.350, de 2001)
a 8 (oito) lugares, excluído o do motorista. (Incluído pela Lei Art. 148. Os exames de habilitação, exceto os de direção
nº 12.452, de 2011) veicular, poderão ser aplicados por en dades públicas ou
§ 3º Aplica-se o disposto no inciso V ao condutor da privadas credenciadas pelo órgão execu vo de trânsito dos
combinação de veículos com mais de uma unidade tracio- Estados e do Distrito Federal, de acordo com as normas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nada, independentemente da capacidade de tração ou do estabelecidas pelo CONTRAN.


peso bruto total. (Renumerado pela Lei nº 12.452, de 2011) § 1º A formação de condutores deverá incluir, obrigato-
Art. 144. O trator de roda, o trator de esteira, o trator riamente, curso de direção defensiva e de conceitos básicos
misto ou o equipamento automotor des nado à movimen- de proteção ao meio ambiente relacionados com o trânsito.
tação de cargas ou execução de trabalho agrícola, de terra- § 2º Ao candidato aprovado será conferida Permissão
plenagem, de construção ou de pavimentação só podem para Dirigir, com validade de um ano.
ser conduzidos na via pública por condutor habilitado nas § 3º A Carteira Nacional de Habilitação será conferida ao
categorias C, D ou E. condutor no término de um ano, desde que o mesmo não
Art. 145. Para habilitar-se nas categorias D e E ou para tenha come do nenhuma infração de natureza grave ou
conduzir veículo de transporte cole vo de passageiros, de gravíssima ou seja reincidente em infração média.
escolares, de emergência ou de produto perigoso, o candi- § 4º A não obtenção da Carteira Nacional de Habilitação,
dato deverá preencher os seguintes requisitos: tendo em vista a incapacidade de atendimento do disposto
I – ser maior de vinte e um anos; no parágrafo anterior, obriga o candidato a reiniciar todo o
II – estar habilitado: processo de habilitação.

432
§ 5º O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN poderá Art. 156. O CONTRAN regulamentará o credenciamento
dispensar os tripulantes de aeronaves que apresentarem para prestação de serviço pelas auto-escolas e outras en -
o cartão de saúde expedido pelas Forças Armadas ou pelo dades des nadas à formação de condutores e às exigências
Departamento de Aeronáu ca Civil, respec vamente, da necessárias para o exercício das a vidades de instrutor e
prestação do exame de ap dão sica e mental. (Incluído pela examinador.
Lei nº 9.602, de 1998) Art. 157. (Vetado)
Art. 149. (Vetado) Art. 158. A aprendizagem só poderá realizar-se: (Vide Lei
Art. 150. Ao renovar os exames previstos no ar go an- nº 12.217, de 2010) Vigência
terior, o condutor que não tenha curso de direção defensiva I – nos termos, horários e locais estabelecidos pelo órgão
e primeiros socorros deverá a eles ser subme do, conforme execu vo de trânsito;
norma zação do CONTRAN. II – acompanhado o aprendiz por instrutor autorizado.
Parágrafo único. A empresa que u liza condutores con- § 1º Além do aprendiz e do instrutor, o veículo u lizado
tratados para operar a sua frota de veículos é obrigada a na aprendizagem poderá conduzir apenas mais um acompa-
fornecer curso de direção defensiva, primeiros socorros e nhante. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.217,
outros conforme norma zação do CONTRAN. de 2010).
Art. 151. No caso de reprovação no exame escrito sobre § 2º Parte da aprendizagem será obrigatoriamente
legislação de trânsito ou de direção veicular, o candidato só realizada durante a noite, cabendo ao CONTRAN fixar-lhe
poderá repe r o exame depois de decorridos quinze dias da a carga horária mínima correspondente. (Incluído pela Lei
divulgação do resultado. nº 12.217, de 2010).
Art. 152. O exame de direção veicular será realizado pe- Art. 159. A Carteira Nacional de Habilitação, expedida
rante uma comissão integrada por três membros designados em modelo único e de acordo com as especificações do
pelo dirigente do órgão execu vo local de trânsito, para o CONTRAN, atendidos os pré-requisitos estabelecidos neste
período de um ano, permi da a recondução por mais um Código, conterá fotografia, iden ficação e CPF do condutor,
período de igual duração. terá fé pública e equivalerá a documento de iden dade em
§ 1º Na comissão de exame de direção veicular, pelo todo o território nacional.
menos um membro deverá ser habilitado na categoria igual
§ 1º É obrigatório o porte da Permissão para Dirigir ou da
ou superior à pretendida pelo candidato.
Carteira Nacional de Habilitação quando o condutor es ver
§ 2º Os militares das Forças Armadas e Auxiliares que
à direção do veículo.
possuírem curso de formação de condutor, ministrado em
§ 2º (Vetado)
suas corporações, serão dispensados, para a concessão
§ 3º A emissão de nova via da Carteira Nacional de Ha-
da Carteira Nacional de Habilitação, dos exames a que se
bilitação será regulamentada pelo CONTRAN.
houverem subme do com aprovação naquele curso, desde
que neles sejam observadas as normas estabelecidas pelo § 4º (Vetado)
CONTRAN. § 5º A Carteira Nacional de Habilitação e a Permissão para
§ 3º O militar interessado instruirá seu requerimento Dirigir somente terão validade para a condução de veículo
com o cio do Comandante, Chefe ou Diretor da organiza- quando apresentada em original.
ção militar em que servir, do qual constarão: o número do § 6º A iden ficação da Carteira Nacional de Habilitação
registro de iden ficação, naturalidade, nome, filiação, idade expedida e a da autoridade expedidora serão registradas
e categoria em que se habilitou a conduzir, acompanhado no RENACH.
de cópias das atas dos exames prestados. § 7º A cada condutor corresponderá um único registro no
§ 4º (Vetado) RENACH, agregando-se neste todas as informações.
Art. 153. O candidato habilitado terá em seu prontuário § 8º A renovação da validade da Carteira Nacional de
a iden ficação de seus instrutores e examinadores, que Habilitação ou a emissão de uma nova via somente será
serão passíveis de punição conforme regulamentação a ser realizada após quitação de débitos constantes do prontuário
estabelecida pelo CONTRAN. do condutor.
Parágrafo único. As penalidades aplicadas aos instru- § 9º (Vetado)
tores e examinadores serão de advertência, suspensão e § 10. A validade da Carteira Nacional de Habilitação está
cancelamento da autorização para o exercício da a vidade, condicionada ao prazo de vigência do exame de ap dão sica
conforme a falta come da. e mental. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
Art. 154. Os veículos des nados à formação de condu- § 11. A Carteira Nacional de Habilitação, expedida na
tores serão iden ficados por uma faixa amarela, de vinte vigência do Código anterior, será subs tuída por ocasião do
cen metros de largura, pintada ao longo da carroçaria, vencimento do prazo para revalidação do exame de ap dão
à meia altura, com a inscrição AUTO-ESCOLA na cor preta. sica e mental, ressalvados os casos especiais previstos nesta
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Parágrafo único. No veículo eventualmente u lizado para Lei. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
aprendizagem, quando autorizado para servir a esse fim, Art. 160. O condutor condenado por delito de trânsito
deverá ser afixada ao longo de sua carroçaria, à meia altura, deverá ser subme do a novos exames para que possa voltar
faixa branca removível, de vinte cen metros de largura, com a dirigir, de acordo com as normas estabelecidas pelo CON-
a inscrição AUTO-ESCOLA na cor preta. TRAN, independentemente do reconhecimento da prescri-
Art. 155. A formação de condutor de veículo automotor ção, em face da pena concre zada na sentença.
e elétrico será realizada por instrutor autorizado pelo órgão § 1º Em caso de acidente grave, o condutor nele en-
execu vo de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal, volvido poderá ser subme do aos exames exigidos neste
pertencente ou não à en dade credenciada. ar go, a juízo da autoridade execu va estadual de trânsito,
Parágrafo único. Ao aprendiz será expedida autorização assegurada ampla defesa ao condutor.
para aprendizagem, de acordo com a regulamentação do § 2º No caso do parágrafo anterior, a autoridade execu-
CONTRAN, após aprovação nos exames de ap dão sica, va estadual de trânsito poderá apreender o documento
mental, de primeiros socorros e sobre legislação de trânsito. de habilitação do condutor até a sua aprovação nos exames
(Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) realizados.

433
CAPÍTULO XV no § 4º do art. 270 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de
Das Infrações 1997 – do Código de Trânsito Brasileiro. (Redação dada pela
Lei nº 12.760, de 2012)
Art. 161. Cons tui infração de trânsito a inobservância de Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no
qualquer preceito deste Código, da legislação complementar caput em caso de reincidência no período de até 12 (doze)
ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às meses. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
penalidades e medidas administra vas indicadas em cada Art. 166. Confiar ou entregar a direção de veículo a pes-
ar go, além das punições previstas no Capítulo XIX. soa que, mesmo habilitada, por seu estado sico ou psíquico,
Parágrafo único. As infrações come das em relação às não es ver em condições de dirigi-lo com segurança:
resoluções do CONTRAN terão suas penalidades e medidas Infração – gravíssima;
administra vas definidas nas próprias resoluções. Penalidade – multa.
Art. 162. Dirigir veículo: Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto
I – sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Per- de segurança, conforme previsto no art. 65:
missão para Dirigir: Infração – grave;
Infração – gravíssima; Penalidade – multa;
Penalidade – multa (três vezes) e apreensão do veículo; Medida administra va – retenção do veículo até coloca-
II – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão ção do cinto pelo infrator.
para Dirigir cassada ou com suspensão do direito de dirigir: Art. 168. Transportar crianças em veículo automotor sem
Infração – gravíssima; observância das normas de segurança especiais estabeleci-
Penalidade – multa (cinco vezes) e apreensão do veículo; das neste Código:
III – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão Infração – gravíssima;
para Dirigir de categoria diferente da do veículo que esteja Penalidade – multa;
conduzindo: Medida administra va – retenção do veículo até que a
Infração – gravíssima; irregularidade seja sanada.
Penalidade – multa (três vezes) e apreensão do veículo; Art. 169. Dirigir sem atenção ou sem os cuidados indis-
Medida administra va – recolhimento do documento pensáveis à segurança:
de habilitação; Infração – leve;
IV – (Vetado) Penalidade – multa.
V – com validade da Carteira Nacional de Habilitação Art. 170. Dirigir ameaçando os pedestres que estejam
vencida há mais de trinta dias: atravessando a via pública, ou os demais veículos:
Infração – gravíssima; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa; Penalidade – multa e suspensão do direito de dirigir;
Medida administra va – recolhimento da Carteira Nacio- Medida administra va – retenção do veículo e recolhi-
nal de Habilitação e retenção do veículo até a apresentação mento do documento de habilitação.
de condutor habilitado; Art. 171. Usar o veículo para arremessar, sobre os pe-
VI – sem usar lentes corretoras de visão, aparelho auxiliar destres ou veículos, água ou detritos:
de audição, de prótese sica ou as adaptações do veículo Infração – média;
impostas por ocasião da concessão ou da renovação da Penalidade – multa.
licença para conduzir: Art. 172. A rar do veículo ou abandonar na via objetos
Infração – gravíssima; ou substâncias:
Penalidade – multa; Infração – média;
Medida administra va – retenção do veículo até o sa- Penalidade – multa.
neamento da irregularidade ou apresentação de condutor Art. 173. Disputar corrida por espírito de emulação:
habilitado. Infração – gravíssima;
Art. 163. Entregar a direção do veículo a pessoa nas Penalidade – multa (três vezes), suspensão do direito de
condições previstas no ar go anterior: dirigir e apreensão do veículo;
Infração – as mesmas previstas no ar go anterior; Medida administra va – recolhimento do documento de
Penalidade – as mesmas previstas no ar go anterior; habilitação e remoção do veículo.
Medida administra va – a mesma prevista no inciso III Art. 174. Promover, na via, compe ção espor va, even-
do ar go anterior. tos organizados, exibição e demonstração de perícia em
Art. 164. Permi r que pessoa nas condições referidas manobra de veículo, ou deles par cipar, como condutor,
nos incisos do art. 162 tome posse do veículo automotor e sem permissão da autoridade de trânsito com circunscrição
passe a conduzi-lo na via: sobre a via:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Infração – as mesmas previstas nos incisos do art. 162; Infração – gravíssima;


Penalidade – as mesmas previstas no art. 162; Penalidade – multa (cinco vezes), suspensão do direito
Medida administra va – a mesma prevista no inciso III de dirigir e apreensão do veículo;
do art. 162. Medida administra va – recolhimento do documento de
Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer habilitação e remoção do veículo.
outra substância psicoa va que determine dependência: Parágrafo único. As penalidades são aplicáveis aos pro-
(Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008) motores e aos condutores par cipantes.
Infração – gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705, Art. 175. U lizar-se de veículo para, em via pública,
de 2008) demonstrar ou exibir manobra perigosa, arrancada brusca,
Penalidade – multa (dez vezes) e suspensão do direito derrapagem ou frenagem com deslizamento ou arrastamento
de dirigir por 12 (doze) meses. (Redação dada pela Lei de pneus:
nº 12.760, de 2012) Infração – gravíssima;
Medida administra va – recolhimento do documento Penalidade – multa, suspensão do direito de dirigir e
de habilitação e retenção do veículo, observado o disposto apreensão do veículo;

434
Medida administra va – recolhimento do documento de V – na pista de rolamento das estradas, das rodovias, das
habilitação e remoção do veículo. vias de trânsito rápido e das vias dotadas de acostamento:
Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente com Infração – gravíssima;
ví ma: Penalidade – multa;
I – de prestar ou providenciar socorro à ví ma, podendo Medida administra va – remoção do veículo;
fazê-lo; VI – junto ou sobre hidrantes de incêndio, registro de
II – de adotar providências, podendo fazê-lo, no sen do água ou tampas de poços de visita de galerias subterrâneas,
de evitar perigo para o trânsito no local; desde que devidamente iden ficados, conforme especifica-
III – de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos ção do CONTRAN:
da polícia e da perícia; Infração – média;
IV – de adotar providências para remover o veículo do Penalidade – multa;
local, quando determinadas por policial ou agente da auto- Medida administra va – remoção do veículo;
ridade de trânsito; VII – nos acostamentos, salvo mo vo de força maior:
V – de iden ficar-se ao policial e de lhe prestar infor- Infração – leve;
mações necessárias à confecção do bole m de ocorrência: Penalidade – multa;
Infração – gravíssima; Medida administra va – remoção do veículo;
Penalidade – multa (cinco vezes) e suspensão do direito VIII – no passeio ou sobre faixa des nada a pedestre,
de dirigir; sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como nas ilhas, refúgios,
Medida administra va – recolhimento do documento ao lado ou sobre canteiros centrais, divisores de pista de ro-
de habilitação. lamento, marcas de canalização, gramados ou jardim público:
Art. 177. Deixar o condutor de prestar socorro à ví ma Infração – grave;
de acidente de trânsito quando solicitado pela autoridade Penalidade – multa;
e seus agentes: Medida administra va – remoção do veículo;
Infração – grave; IX – onde houver guia de calçada (meio-fio) rebaixada
Penalidade – multa. des nada à entrada ou saída de veículos:
Art. 178. Deixar o condutor, envolvido em acidente sem
Infração – média;
ví ma, de adotar providências para remover o veículo do
Penalidade – multa;
local, quando necessária tal medida para assegurar a segu-
Medida administra va – remoção do veículo;
rança e a fluidez do trânsito:
X – impedindo a movimentação de outro veículo:
Infração – média;
Infração – média;
Penalidade – multa.
Art. 179. Fazer ou deixar que se faça reparo em veículo na Penalidade – multa;
via pública, salvo nos casos de impedimento absoluto de sua Medida administra va – remoção do veículo;
remoção e em que o veículo esteja devidamente sinalizado: XI – ao lado de outro veículo em fila dupla:
I – em pista de rolamento de rodovias e vias de trânsito Infração – grave;
rápido: Penalidade – multa;
Infração – grave; Medida administra va – remoção do veículo;
Penalidade – multa; XII – na área de cruzamento de vias, prejudicando a
Medida administra va – remoção do veículo; circulação de veículos e pedestres:
II – nas demais vias: Infração – grave;
Infração – leve; Penalidade – multa;
Penalidade – multa. Medida administra va – remoção do veículo;
Art. 180. Ter seu veículo imobilizado na via por falta de XIII – onde houver sinalização horizontal delimitadora
combus vel: de ponto de embarque ou desembarque de passageiros de
Infração – média; transporte cole vo ou, na inexistência desta sinalização, no
Penalidade – multa; intervalo compreendido entre dez metros antes e depois do
Medida administra va – remoção do veículo. marco do ponto:
Art. 181. Estacionar o veículo: Infração – média;
I – nas esquinas e a menos de cinco metros do bordo do Penalidade – multa;
alinhamento da via transversal: Medida administra va – remoção do veículo;
Infração – média; XIV – nos viadutos, pontes e túneis:
Penalidade – multa; Infração – grave;
Medida administra va – remoção do veículo; Penalidade – multa;
II – afastado da guia da calçada (meio-fio) de cinqüenta Medida administra va – remoção do veículo;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cen metros a um metro: XV – na contramão de direção:


Infração – leve; Infração – média;
Penalidade – multa; Penalidade – multa;
Medida administra va – remoção do veículo; XVI – em aclive ou declive, não estando devidamente
III – afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais de freado e sem calço de segurança, quando se tratar de veí-
um metro: culo com peso bruto total superior a três mil e quinhentos
Infração – grave; quilogramas:
Penalidade – multa; Infração – grave;
Medida administra va – remoção do veículo; Penalidade – multa;
IV – em desacordo com as posições estabelecidas neste Medida administra va – remoção do veículo;
Código: XVII – em desacordo com as condições regulamentadas
Infração – média; especificamente pela sinalização (placa – Estacionamento
Penalidade – multa; Regulamentado):
Medida administra va – remoção do veículo; Infração – leve;

435
Penalidade – multa; Infração – leve;
Medida administra va – remoção do veículo; Penalidade – multa;
XVIII – em locais e horários proibidos especificamente II – na faixa ou pista da esquerda regulamentada como
pela sinalização (placa – Proibido Estacionar): de circulação exclusiva para determinado po de veículo:
Infração – média; Infração – grave;
Penalidade – multa; Penalidade – multa.
Medida administra va – remoção do veículo; Art. 185. Quando o veículo es ver em movimento, deixar
XIX – em locais e horários de estacionamento e parada de conservá-lo:
proibidos pela sinalização (placa – Proibido Parar e Estacio- I – na faixa a ele des nada pela sinalização de regula-
nar): mentação, exceto em situações de emergência;
Infração – grave; II – nas faixas da direita, os veículos lentos e de maior
Penalidade – multa; porte:
Medida administra va – remoção do veículo. Infração – média;
§ 1º Nos casos previstos neste ar go, a autoridade de Penalidade – multa.
trânsito aplicará a penalidade preferencialmente após a Art. 186. Transitar pela contramão de direção em:
remoção do veículo. I – vias com duplo sen do de circulação, exceto para
§ 2º No caso previsto no inciso XVI é proibido abandonar ultrapassar outro veículo e apenas pelo tempo necessário,
o calço de segurança na via. respeitada a preferência do veículo que transitar em sen do
Art. 182. Parar o veículo: contrário:
I – nas esquinas e a menos de cinco metros do bordo do Infração – grave;
alinhamento da via transversal: Penalidade – multa;
Infração – média; II – vias com sinalização de regulamentação de sen do
Penalidade – multa; único de circulação:
II – afastado da guia da calçada (meio-fio) de cinqüenta Infração – gravíssima;
cen metros a um metro: Penalidade – multa.
Infração – leve; Art. 187. Transitar em locais e horários não permi dos
Penalidade – multa; pela regulamentação estabelecida pela autoridade compe-
III – afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais de tente:
um metro: I – para todos os pos de veículos:
Infração – média; Infração – média;
Penalidade – multa; Penalidade – multa;
IV – em desacordo com as posições estabelecidas neste II – (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998)
Código: Art. 188. Transitar ao lado de outro veículo, interrom-
Infração – leve; pendo ou perturbando o trânsito:
Penalidade – multa; Infração – média;
V – na pista de rolamento das estradas, das rodovias, Penalidade – multa.
das vias de trânsito rápido e das demais vias dotadas de Art. 189. Deixar de dar passagem aos veículos precedidos
acostamento: de batedores, de socorro de incêndio e salvamento, de polí-
Infração – grave; cia, de operação e fiscalização de trânsito e às ambulâncias,
Penalidade – multa; quando em serviço de urgência e devidamente iden ficados
VI – no passeio ou sobre faixa des nada a pedestres, por disposi vos regulamentados de alarme sonoro e ilumi-
nas ilhas, refúgios, canteiros centrais e divisores de pista de nação vermelha intermitentes:
rolamento e marcas de canalização: Infração – gravíssima;
Infração – leve; Penalidade – multa.
Penalidade – multa; Art. 190. Seguir veículo em serviço de urgência, estando
VII – na área de cruzamento de vias, prejudicando a este com prioridade de passagem devidamente iden ficada
circulação de veículos e pedestres: por disposi vos regulamentares de alarme sonoro e ilumi-
Infração – média; nação vermelha intermitentes:
Penalidade – multa; Infração – grave;
VIII – nos viadutos, pontes e túneis: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 191. Forçar passagem entre veículos que, transitando
Penalidade – multa; em sen dos opostos, estejam na iminência de passar um pelo
IX – na contramão de direção: outro ao realizar operação de ultrapassagem:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Infração – média; Infração – gravíssima;


Penalidade – multa; Penalidade – multa.
X – em local e horário proibidos especificamente pela Art. 192. Deixar de guardar distância de segurança late-
sinalização (placa – Proibido Parar): ral e frontal entre o seu veículo e os demais, bem como em
Infração – média; relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento,
Penalidade – multa. a velocidade, as condições climá cas do local da circulação
Art. 183. Parar o veículo sobre a faixa de pedestres na e do veículo:
mudança de sinal luminoso: Infração – grave;
Infração – média; Penalidade – multa.
Penalidade – multa. Art. 193. Transitar com o veículo em calçadas, passeios,
Art. 184. Transitar com o veículo: passarelas, ciclovias, ciclofaixas, ilhas, refúgios, ajardina-
I – na faixa ou pista da direita, regulamentada como de mentos, canteiros centrais e divisores de pista de rolamento,
circulação exclusiva para determinado po de veículo, exceto acostamentos, marcas de canalização, gramados e jardins
para acesso a imóveis lindeiros ou conversões à direita: públicos:

436
Infração – gravíssima; Art. 205. Ultrapassar veículo em movimento que integre
Penalidade – multa (três vezes). cortejo, prés to, desfile e formações militares, salvo com
Art. 194. Transitar em marcha à ré, salvo na distância autorização da autoridade de trânsito ou de seus agentes:
necessária a pequenas manobras e de forma a não causar Infração – leve;
riscos à segurança: Penalidade – multa.
Infração – grave; Art. 206. Executar operação de retorno:
Penalidade – multa. I – em locais proibidos pela sinalização;
Art. 195. Desobedecer às ordens emanadas da autorida- II – nas curvas, aclives, declives, pontes, viadutos e túneis;
de competente de trânsito ou de seus agentes: III – passando por cima de calçada, passeio, ilhas, ajar-
Infração – grave; dinamento ou canteiros de divisões de pista de rolamento,
Penalidade – multa. refúgios e faixas de pedestres e nas de veículos não moto-
Art. 196. Deixar de indicar com antecedência, mediante rizados;
gesto regulamentar de braço ou luz indicadora de direção do IV – nas interseções, entrando na contramão de direção
veículo, o início da marcha, a realização da manobra de parar da via transversal;
o veículo, a mudança de direção ou de faixa de circulação: V – com prejuízo da livre circulação ou da segurança,
Infração – grave; ainda que em locais permi dos:
Penalidade – multa. Infração – gravíssima;
Art. 197. Deixar de deslocar, com antecedência, o veículo Penalidade – multa.
para a faixa mais à esquerda ou mais à direita, dentro da Art. 207. Executar operação de conversão à direita ou à
respec va mão de direção, quando for manobrar para um esquerda em locais proibidos pela sinalização:
desses lados: Infração – grave;
Infração – média; Penalidade – multa.
Penalidade – multa. Art. 208. Avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de
Art. 198. Deixar de dar passagem pela esquerda, quando parada obrigatória:
solicitado: Infração – gravíssima;
Infração – média; Penalidade – multa.
Penalidade – multa. Art. 209. Transpor, sem autorização, bloqueio viário com
ou sem sinalização ou disposi vos auxiliares, deixar de aden-
Art. 199. Ultrapassar pela direita, salvo quando o veículo
trar às áreas des nadas à pesagem de veículos ou evadir-se
da frente es ver colocado na faixa apropriada e der sinal de
para não efetuar o pagamento do pedágio:
que vai entrar à esquerda:
Infração – grave;
Infração – média;
Penalidade – multa.
Penalidade – multa.
Art. 210. Transpor, sem autorização, bloqueio viário
Art. 200. Ultrapassar pela direita veículo de transporte policial:
cole vo ou de escolares, parado para embarque ou desem- Infração – gravíssima;
barque de passageiros, salvo quando houver refúgio de Penalidade – multa, apreensão do veículo e suspensão
segurança para o pedestre: do direito de dirigir;
Infração – gravíssima; Medida administra va – remoção do veículo e recolhi-
Penalidade – multa. mento do documento de habilitação.
Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral de um Art. 211. Ultrapassar veículos em fila, parados em ra-
metro e cinqüenta cen metros ao passar ou ultrapassar zão de sinal luminoso, cancela, bloqueio viário parcial ou
bicicleta: qualquer outro obstáculo, com exceção dos veículos não
Infração – média; motorizados:
Penalidade – multa. Infração – grave;
Art. 202. Ultrapassar outro veículo: Penalidade – multa.
I – pelo acostamento; Art. 212. Deixar de parar o veículo antes de transpor
II – em interseções e passagens de nível; linha férrea:
Infração – grave; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa. Penalidade – multa.
Art. 203. Ultrapassar pela contramão outro veículo: Art. 213. Deixar de parar o veículo sempre que a respec-
I – nas curvas, aclives e declives, sem visibilidade sufi- va marcha for interceptada:
ciente; I – por agrupamento de pessoas, como prés tos, passe-
II – nas faixas de pedestre; atas, desfiles e outros:
III – nas pontes, viadutos ou túneis; Infração – gravíssima;
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IV – parado em fila junto a sinais luminosos, porteiras, Penalidade – multa.


cancelas, cruzamentos ou qualquer outro impedimento à II – por agrupamento de veículos, como cortejos, forma-
livre circulação; ções militares e outros:
V – onde houver marcação viária longitudinal de divisão Infração – grave;
de fluxos opostos do po linha dupla con nua ou simples Penalidade – multa.
con nua amarela: Art. 214. Deixar de dar preferência de passagem a pe-
Infração – gravíssima; destre e a veículo não motorizado:
Penalidade – multa. I – que se encontre na faixa a ele des nada;
Art. 204. Deixar de parar o veículo no acostamento à II – que não haja concluído a travessia mesmo que ocorra
direita, para aguardar a oportunidade de cruzar a pista ou sinal verde para o veículo;
entrar à esquerda, onde não houver local apropriado para III – portadores de deficiência sica, crianças, idosos e
operação de retorno: gestantes:
Infração – grave; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa. Penalidade – multa.

437
IV – quando houver iniciado a travessia mesmo que não III – ao aproximar-se da guia da calçada (meio-fio) ou
haja sinalização a ele des nada; acostamento;
V – que esteja atravessando a via transversal para onde IV – ao aproximar-se de ou passar por interseção não
se dirige o veículo: sinalizada;
Infração – grave; V – nas vias rurais cuja faixa de domínio não esteja
Penalidade – multa. cercada;
Art. 215. Deixar de dar preferência de passagem: VI – nos trechos em curva de pequeno raio;
I – em interseção não sinalizada: VII – ao aproximar-se de locais sinalizados com advertên-
a) a veículo que es ver circulando por rodovia ou ro- cia de obras ou trabalhadores na pista;
tatória; VIII – sob chuva, neblina, cerração ou ventos fortes;
b) a veículo que vier da direita; IX – quando houver má visibilidade;
II – nas interseções com sinalização de regulamentação X – quando o pavimento se apresentar escorregadio,
de Dê a Preferência: defeituoso ou avariado;
Infração – grave; XI – à aproximação de animais na pista;
Penalidade – multa. XII – em declive;
Art. 216. Entrar ou sair de áreas lindeiras sem estar ade- XIII – ao ultrapassar ciclista:
quadamente posicionado para ingresso na via e sem as pre- Infração – grave;
cauções com a segurança de pedestres e de outros veículos: Penalidade – multa;
Infração – média; XIV – nas proximidades de escolas, hospitais, estações
Penalidade – multa. de embarque e desembarque de passageiros ou onde haja
Art. 217. Entrar ou sair de fila de veículos estacionados intensa movimentação de pedestres:
sem dar preferência de passagem a pedestres e a outros Infração – gravíssima;
veículos: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 221. Portar no veículo placas de iden ficação em
Penalidade – multa. desacordo com as especificações e modelos estabelecidos
Art. 218. Transitar em velocidade superior à máxima per-
pelo CONTRAN:
mi da para o local, medida por instrumento ou equipamento
Infração – média;
hábil, em rodovias, vias de trânsito rápido, vias arteriais e
Penalidade – multa;
demais vias: (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
Medida administra va – retenção do veículo para regu-
I – quando a velocidade for superior à máxima em até
larização e apreensão das placas irregulares.
20% (vinte por cento): (Redação dada pela Lei nº 11.334,
Parágrafo único. Incide na mesma penalidade aquele
de 2006)
Infração – média; (Redação dada pela Lei nº 11.334, que confecciona, distribui ou coloca, em veículo próprio ou
de 2006) de terceiros, placas de iden ficação não autorizadas pela
Penalidade – multa; (Redação dada pela Lei nº 11.334, regulamentação.
de 2006) Art. 222. Deixar de manter ligado, nas situações de aten-
II – quando a velocidade for superior à máxima em mais dimento de emergência, o sistema de iluminação vermelha
de 20% (vinte por cento) até 50% (cinqüenta por cento): intermitente dos veículos de polícia, de socorro de incêndio
(Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006) e salvamento, de fiscalização de trânsito e das ambulâncias,
Infração – grave; (Redação dada pela Lei nº 11.334, ainda que parados:
de 2006) Infração – média;
Penalidade – multa; (Redação dada pela Lei nº 11.334, Penalidade – multa.
de 2006) Art. 223. Transitar com o farol desregulado ou com
III – quando a velocidade for superior à máxima em mais o facho de luz alta de forma a perturbar a visão de outro
de 50% (cinqüenta por cento): (Incluído pela Lei nº 11.334, condutor:
de 2006) Infração – grave;
Infração – gravíssima; (Incluído pela Lei nº 11.334, Penalidade – multa;
de 2006) Medida administra va – retenção do veículo para re-
Penalidade – multa [3 (três) vezes], suspensão imediata gularização.
do direito de dirigir e apreensão do documento de habilita- Art. 224. Fazer uso do facho de luz alta dos faróis em vias
ção. (Incluído pela Lei nº 11.334, de 2006) providas de iluminação pública:
Art. 219. Transitar com o veículo em velocidade inferior Infração – leve;
à metade da velocidade máxima estabelecida para a via, Penalidade – multa.
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retardando ou obstruindo o trânsito, a menos que as condi- Art. 225. Deixar de sinalizar a via, de forma a prevenir
ções de tráfego e meteorológicas não o permitam, salvo se os demais condutores e, à noite, não manter acesas as luzes
es ver na faixa da direita: externas ou omi r-se quanto a providências necessárias para
Infração – média; tornar visível o local, quando:
Penalidade – multa. I – ver de remover o veículo da pista de rolamento ou
Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de permanecer no acostamento;
forma compa vel com a segurança do trânsito: II – a carga for derramada sobre a via e não puder ser
I – quando se aproximar de passeatas, aglomerações, re rada imediatamente:
cortejos, prés tos e desfiles: Infração – grave;
Infração – gravíssima; Penalidade – multa.
Penalidade – multa; Art. 226. Deixar de re rar todo e qualquer objeto que
II – nos locais onde o trânsito esteja sendo controlado tenha sido u lizado para sinalização temporária da via:
pelo agente da autoridade de trânsito, mediante sinais so- Infração – média;
noros ou gestos; Penalidade – multa.

438
Art. 227. Usar buzina: Medida administra va – retenção do veículo para re-
I – em situação que não a de simples toque breve como gularização;
advertência ao pedestre ou a condutores de outros veículos; XX – sem portar a autorização para condução de escola-
II – prolongada e sucessivamente a qualquer pretexto; res, na forma estabelecida no art. 136:
III – entre as vinte e duas e as seis horas; Infração – grave;
IV – em locais e horários proibidos pela sinalização; Penalidade – multa e apreensão do veículo;
V – em desacordo com os padrões e freqüências estabe- XXI – de carga, com falta de inscrição da tara e demais
lecidas pelo CONTRAN: inscrições previstas neste Código;
Infração – leve; XXII – com defeito no sistema de iluminação, de sinaliza-
Penalidade – multa. ção ou com lâmpadas queimadas:
Art. 228. Usar no veículo equipamento com som em volu- Infração – média;
me ou freqüência que não sejam autorizados pelo CONTRAN: Penalidade – multa.
Infração – grave; XXIII – em desacordo com as condições estabelecidas
Penalidade – multa; no art. 67-A, rela vamente ao tempo de permanência do
Medida administra va – retenção do veículo para re- condutor ao volante e aos intervalos para descanso, quando
gularização. se tratar de veículo de transporte de carga ou de passageiros:
Art. 229. Usar indevidamente no veículo aparelho de (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
alarme ou que produza sons e ruído que perturbem o sossego Infração – grave; (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012)
público, em desacordo com normas fixadas pelo CONTRAN: (Vigência)
Infração – média; Penalidade – multa; (Incluído pela Lei nº 12.619, de
Penalidade – multa e apreensão do veículo; 2012) (Vigência)
Medida administra va – remoção do veículo. Medida administra va – retenção do veículo para cum-
Art. 230. Conduzir o veículo: primento do tempo de descanso aplicável; (Incluído pela Lei
I – com o lacre, a inscrição do chassi, o selo, a placa ou nº 12.619, de 2012) (Vigência)
qualquer outro elemento de iden ficação do veículo violado XXIV- (Vetado). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012)
ou falsificado; (Vigência)
Art. 231. Transitar com o veículo:
II – transportando passageiros em compar mento de
I – danificando a via, suas instalações e equipamentos;
carga, salvo por mo vo de força maior, com permissão
II – derramando, lançando ou arrastando sobre a via:
da autoridade competente e na forma estabelecida pelo
a) carga que esteja transportando;
CONTRAN;
b) combus vel ou lubrificante que esteja u lizando;
III – com disposi vo an -radar;
c) qualquer objeto que possa acarretar risco de acidente:
IV – sem qualquer uma das placas de iden ficação; Infração – gravíssima;
V – que não esteja registrado e devidamente licenciado; Penalidade – multa;
VI – com qualquer uma das placas de iden ficação sem Medida administra va – retenção do veículo para re-
condições de legibilidade e visibilidade: gularização;
Infração – gravíssima; III – produzindo fumaça, gases ou par culas em níveis
Penalidade – multa e apreensão do veículo; superiores aos fixados pelo CONTRAN;
Medida administra va – remoção do veículo; IV – com suas dimensões ou de sua carga superiores
VII – com a cor ou caracterís ca alterada; aos limites estabelecidos legalmente ou pela sinalização,
VIII – sem ter sido subme do à inspeção de segurança sem autorização:
veicular, quando obrigatória; Infração – grave;
IX – sem equipamento obrigatório ou estando este ine- Penalidade – multa;
ficiente ou inoperante; Medida administra va – retenção do veículo para re-
X – com equipamento obrigatório em desacordo com o gularização;
estabelecido pelo CONTRAN; V – com excesso de peso, admi do percentual de to-
XI – com descarga livre ou silenciador de motor de ex- lerância quando aferido por equipamento, na forma a ser
plosão defeituoso, deficiente ou inoperante; estabelecida pelo CONTRAN:
XII – com equipamento ou acessório proibido; Infração – média;
XIII – com o equipamento do sistema de iluminação e de Penalidade – multa acrescida a cada duzentos quilogra-
sinalização alterados; mas ou fração de excesso de peso apurado, constante na
XIV – com registrador instantâneo inalterável de velocida- seguinte tabela:
de e tempo viciado ou defeituoso, quando houver exigência a) até seiscentos quilogramas – 5 (cinco) UFIR;
desse aparelho; b) de seiscentos e um a oitocentos quilogramas – 10
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XV – com inscrições, adesivos, legendas e símbolos de (dez) UFIR;


caráter publicitário afixados ou pintados no pára-brisa e em c) de oitocentos e um a um mil quilogramas – 20 (vin-
toda a extensão da parte traseira do veículo, excetuadas as te) UFIR;
hipóteses previstas neste Código; d) de um mil e um a três mil quilogramas – 30 (trin-
XVI – com vidros total ou parcialmente cobertos por ta) UFIR;
películas refle vas ou não, painéis decora vos ou pinturas; e) de três mil e um a cinco mil quilogramas – 40 (qua-
XVII – com cor nas ou persianas fechadas, não autori- renta) UFIR;
zadas pela legislação; f) acima de cinco mil e um quilogramas – 50 (cinqüen-
XVIII – em mau estado de conservação, comprometendo ta) UFIR;
a segurança, ou reprovado na avaliação de inspeção de segu- Medida administra va – retenção do veículo e transbor-
rança e de emissão de poluentes e ruído, prevista no art. 104; do da carga excedente;
XIX – sem acionar o limpador de pára-brisa sob chuva: VI – em desacordo com a autorização especial, expedida
Infração – grave; pela autoridade competente para transitar com dimensões
Penalidade – multa; excedentes, ou quando a mesma es ver vencida:

439
Infração – grave; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa e apreensão do veículo; Penalidade – multa e apreensão do veículo;
Medida administra va – remoção do veículo; Medida administra va – remoção do veículo.
VII – com lotação excedente; Art. 239. Re rar do local veículo legalmente re do para
VIII – efetuando transporte remunerado de pessoas ou regularização, sem permissão da autoridade competente ou
bens, quando não for licenciado para esse fim, salvo casos de de seus agentes:
força maior ou com permissão da autoridade competente: Infração – gravíssima;
Infração – média; Penalidade – multa e apreensão do veículo;
Penalidade – multa; Medida administra va – remoção do veículo.
Medida administra va – retenção do veículo; Art. 240. Deixar o responsável de promover a baixa do
IX – desligado ou desengrenado, em declive: registro de veículo irrecuperável ou defini vamente des-
Infração – média; montado:
Penalidade – multa; Infração – grave;
Medida administra va – retenção do veículo; Penalidade – multa;
X – excedendo a capacidade máxima de tração: Medida administra va – Recolhimento do Cer ficado de
Infração – de média a gravíssima, a depender da relação Registro e do Cer ficado de Licenciamento Anual.
entre o excesso de peso apurado e a capacidade máxima de Art. 241. Deixar de atualizar o cadastro de registro do
tração, a ser regulamentada pelo CONTRAN; veículo ou de habilitação do condutor:
Penalidade – multa; Infração – leve;
Medida Administra va – retenção do veículo e transbor- Penalidade – multa.
do de carga excedente. Art. 242. Fazer falsa declaração de domicílio para fins de
Parágrafo único. Sem prejuízo das multas previstas nos registro, licenciamento ou habilitação:
incisos V e X, o veículo que transitar com excesso de peso ou Infração – gravíssima;
excedendo à capacidade máxima de tração, não computado Penalidade – multa.
o percentual tolerado na forma do disposto na legislação, Art. 243. Deixar a empresa seguradora de comunicar
somente poderá con nuar viagem após descarregar o que ao órgão execu vo de trânsito competente a ocorrência de
exceder, segundo critérios estabelecidos na referida legisla-
perda total do veículo e de lhe devolver as respec vas placas
ção complementar.
e documentos:
Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte
Infração – grave;
obrigatório referidos neste Código:
Penalidade – multa;
Infração – leve;
Medida administra va – Recolhimento das placas e dos
Penalidade – multa;
Medida administra va – retenção do veículo até a apre- documentos.
sentação do documento. Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor:
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo I – sem usar capacete de segurança com viseira ou óculos
de trinta dias, junto ao órgão execu vo de trânsito, ocorridas de proteção e vestuário de acordo com as normas e especi-
as hipóteses previstas no art. 123: ficações aprovadas pelo CONTRAN;
Infração – grave; II – transportando passageiro sem o capacete de segu-
Penalidade – multa; rança, na forma estabelecida no inciso anterior, ou fora do
Medida administra va – retenção do veículo para re- assento suplementar colocado atrás do condutor ou em
gularização. carro lateral;
Art. 234. Falsificar ou adulterar documento de habilita- III – fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas
ção e de iden ficação do veículo: em uma roda;
Infração – gravíssima; IV – com os faróis apagados;
Penalidade – multa e apreensão do veículo; V – transportando criança menor de sete anos ou que
Medida administra va – remoção do veículo. não tenha, nas circunstâncias, condições de cuidar de sua
Art. 235. Conduzir pessoas, animais ou carga nas partes própria segurança:
externas do veículo, salvo nos casos devidamente autori- Infração – gravíssima;
zados: Penalidade – multa e suspensão do direito de dirigir;
Infração – grave; Medida administra va – Recolhimento do documento
Penalidade – multa; de habilitação;
Medida administra va – retenção do veículo para trans- VI – rebocando outro veículo;
bordo. VII – sem segurar o guidom com ambas as mãos, salvo
Art. 236. Rebocar outro veículo com cabo flexível ou eventualmente para indicação de manobras;
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corda, salvo em casos de emergência: VIII – transportando carga incompa vel com suas especi-
Infração – média; ficações ou em desacordo com o previsto no § 2º do art. 139-
Penalidade – multa. A desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.2009, de 2009)
Art. 237. Transitar com o veículo em desacordo com as IX – efetuando transporte remunerado de mercadorias
especificações, e com falta de inscrição e simbologia neces- em desacordo com o previsto no art. 139-A desta Lei ou com
sárias à sua iden ficação, quando exigidas pela legislação: as normas que regem a a vidade profissional dos motota-
Infração – grave; xistas: (Incluído pela Lei nº 12.2009, de 2009)
Penalidade – multa; Infração – grave; (Incluído pela Lei nº 12.2009, de 2009)
Medida administra va – retenção do veículo para re- Penalidade – multa; (Incluído pela Lei nº 12.2009,
gularização. de 2009)
Art. 238. Recusar-se a entregar à autoridade de trânsito Medida administra va – apreensão do veículo para re-
ou a seus agentes, mediante recibo, os documentos de ha- gularização. (Incluído pela Lei nº 12.2009, de 2009)
bilitação, de registro, de licenciamento de veículo e outros § 1º Para ciclos aplica-se o disposto nos incisos III, VII e
exigidos por lei, para averiguação de sua auten cidade: VIII, além de:

440
a) conduzir passageiro fora da garupa ou do assento Art. 251. U lizar as luzes do veículo:
especial a ele des nado; I – o pisca-alerta, exceto em imobilizações ou situações
b) transitar em vias de trânsito rápido ou rodovias, salvo de emergência;
onde houver acostamento ou faixas de rolamento próprias; II – baixa e alta de forma intermitente, exceto nas se-
c) transportar crianças que não tenham, nas circunstân- guintes situações:
cias, condições de cuidar de sua própria segurança. a) a curtos intervalos, quando for conveniente adver r
§ 2º Aplica-se aos ciclomotores o disposto na alínea b a outro condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo;
do parágrafo anterior: b) em imobilizações ou situação de emergência, como
Infração – média; advertência, u lizando pisca-alerta;
§ 3º A restrição imposta pelo inciso VI do caput deste c) quando a sinalização de regulamentação da via deter-
ar go não se aplica às motocicletas e motonetas que tra- minar o uso do pisca-alerta:
cionem semi-reboques especialmente projetados para esse Infração – média;
fim e devidamente homologados pelo órgão competente. Penalidade – multa.
(Incluído pela Lei nº 10.517, de 2002) Art. 252. Dirigir o veículo:
Penalidade – multa. I – com o braço do lado de fora;
Art. 245. U lizar a via para depósito de mercadorias, II – transportando pessoas, animais ou volume à sua
materiais ou equipamentos, sem autorização do órgão ou esquerda ou entre os braços e pernas;
en dade de trânsito com circunscrição sobre a via: III – com incapacidade sica ou mental temporária que
Infração – grave; comprometa a segurança do trânsito;
Penalidade – multa; IV – usando calçado que não se firme nos pés ou que
Medida administra va – remoção da mercadoria ou do comprometa a u lização dos pedais;
material. V – com apenas uma das mãos, exceto quando deva fazer
Parágrafo único. A penalidade e a medida administra va sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo,
incidirão sobre a pessoa sica ou jurídica responsável. ou acionar equipamentos e acessórios do veículo;
Art. 246. Deixar de sinalizar qualquer obstáculo à livre VI – u lizando-se de fones nos ouvidos conectados a
circulação, à segurança de veículo e pedestres, tanto no aparelhagem sonora ou de telefone celular;
leito da via terrestre como na calçada, ou obstaculizar a via Infração – média;
indevidamente: Penalidade – multa.
Infração – gravíssima; Art. 253. Bloquear a via com veículo:
Penalidade – multa, agravada em até cinco vezes, a crité- Infração – gravíssima;
rio da autoridade de trânsito, conforme o risco à segurança. Penalidade – multa e apreensão do veículo;
Parágrafo único. A penalidade será aplicada à pessoa Medida administra va – remoção do veículo.
sica ou jurídica responsável pela obstrução, devendo a Art. 254. É proibido ao pedestre:
autoridade com circunscrição sobre a via providenciar a I – permanecer ou andar nas pistas de rolamento, exceto
sinalização de emergência, às expensas do responsável, ou, para cruzá-las onde for permi do;
se possível, promover a desobstrução. II – cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pontes, ou
Art. 247. Deixar de conduzir pelo bordo da pista de ro- túneis, salvo onde exista permissão;
lamento, em fila única, os veículos de tração ou propulsão III – atravessar a via dentro das áreas de cruzamento,
humana e os de tração animal, sempre que não houver salvo quando houver sinalização para esse fim;
acostamento ou faixa a eles des nados: IV – u lizar-se da via em agrupamentos capazes de per-
Infração – média; turbar o trânsito, ou para a prá ca de qualquer folguedo,
Penalidade – multa. esporte, desfiles e similares, salvo em casos especiais e com
Art. 248. Transportar em veículo des nado ao transporte a devida licença da autoridade competente;
de passageiros carga excedente em desacordo com o esta- V – andar fora da faixa própria, passarela, passagem
belecido no art. 109: aérea ou subterrânea;
Infração – grave; VI – desobedecer à sinalização de trânsito específica;
Penalidade – multa; Infração – leve;
Medida administra va – retenção para o transbordo. Penalidade – multa, em 50% (cinqüenta por cento) do
Art. 249. Deixar de manter acesas, à noite, as luzes de valor da infração de natureza leve.
posição, quando o veículo es ver parado, para fins de em- Art. 255. Conduzir bicicleta em passeios onde não seja
barque ou desembarque de passageiros e carga ou descarga permi da a circulação desta, ou de forma agressiva, em
de mercadorias: desacordo com o disposto no parágrafo único do art. 59:
Infração – média; Infração – média;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Penalidade – multa. Penalidade – multa;


Art. 250. Quando o veículo es ver em movimento: Medida administra va – remoção da bicicleta, mediante
I – deixar de manter acesa a luz baixa: recibo para o pagamento da multa.
a) durante a noite;
b) de dia, nos túneis providos de iluminação pública; CAPÍTULO XVI
c) de dia e de noite, tratando-se de veículo de transporte Das Penalidades
cole vo de passageiros, circulando em faixas ou pistas a eles
des nadas; Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das com-
d) de dia e de noite, tratando-se de ciclomotores; petências estabelecidas neste Código e dentro de sua
II – deixar de manter acesas pelo menos as luzes de circunscrição, deverá aplicar, às infrações nele previstas,
posição sob chuva forte, neblina ou cerração; as seguintes penalidades:
III – deixar de manter a placa traseira iluminada, à noite; I – advertência por escrito;
Infração – média; II – multa;
Penalidade – multa. III – suspensão do direito de dirigir;

441
IV – apreensão do veículo; § 1º Os valores das multas serão corrigidos no primeiro
V – cassação da Carteira Nacional de Habilitação; dia ú l de cada mês pela variação da UFIR ou outro índice
VI – cassação da Permissão para Dirigir; legal de correção dos débitos fiscais.
VII – frequência obrigatória em curso de reciclagem. § 2º Quando se tratar de multa agravada, o fator mul pli-
§ 1º A aplicação das penalidades previstas neste Código cador ou índice adicional específico é o previsto neste Código.
não elide as punições originárias de ilícitos penais decor- § 3º (Vetado)
rentes de crimes de trânsito, conforme disposições de lei. § 4º (Vetado)
§ 2º (Vetado) Art. 259. A cada infração come da são computados os
§ 3º A imposição da penalidade será comunicada aos seguintes números de pontos:
órgãos ou en dades execu vos de trânsito responsáveis pelo I – gravíssima – sete pontos;
licenciamento do veículo e habilitação do condutor. II – grave – cinco pontos;
Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, III – média – quatro pontos;
ao proprietário do veículo, ao embarcador e ao transporta- IV – leve – três pontos.
dor, salvo os casos de descumprimento de obrigações e de- § 1º (Vetado)
veres impostos a pessoas sicas ou jurídicas expressamente § 2º (Vetado)
mencionados neste Código. § 3º (Vetado). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012)
§ 1º Aos proprietários e condutores de veículos serão (Vigência)
impostas concomitantemente as penalidades de que trata Art. 260. As multas serão impostas e arrecadadas pelo
este Código toda vez que houver responsabilidade solidária órgão ou en dade de trânsito com circunscrição sobre a via
em infração dos preceitos que lhes couber observar, res- onde haja ocorrido a infração, de acordo com a competência
pondendo cada um de per si pela falta em comum que lhes estabelecida neste Código.
for atribuída. § 1º As multas decorrentes de infração come da em
§ 2º Ao proprietário caberá sempre a responsabilidade unidade da Federação diversa da do licenciamento do veículo
pela infração referente à prévia regularização e preenchimen- serão arrecadadas e compensadas na forma estabelecida
to das formalidades e condições exigidas para o trânsito do pelo CONTRAN.
veículo na via terrestre, conservação e inalterabilidade de § 2º As multas decorrentes de infração come da em
suas caracterís cas, componentes, agregados, habilitação unidade da Federação diversa daquela do licenciamento
legal e compa vel de seus condutores, quando esta for do veículo poderão ser comunicadas ao órgão ou en dade
exigida, e outras disposições que deva observar. responsável pelo seu licenciamento, que providenciará a
§ 3º Ao condutor caberá a responsabilidade pelas infra- no ficação.
ções decorrentes de atos pra cados na direção do veículo. § 3º (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998)
§ 4º O embarcador é responsável pela infração rela va § 4º Quando a infração for come da com veículo licen-
ao transporte de carga com excesso de peso nos eixos ou ciado no exterior, em trânsito no território nacional, a multa
no peso bruto total, quando simultaneamente for o único respec va deverá ser paga antes de sua saída do País, res-
remetente da carga e o peso declarado na nota fiscal, fatura peitado o princípio de reciprocidade.
ou manifesto for inferior àquele aferido. Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir
§ 5º O transportador é o responsável pela infração rela- será aplicada, nos casos previstos neste Código, pelo prazo
va ao transporte de carga com excesso de peso nos eixos mínimo de um mês até o máximo de um ano e, no caso de
ou quando a carga proveniente de mais de um embarcador reincidência no período de doze meses, pelo prazo mínimo
ultrapassar o peso bruto total. de seis meses até o máximo de dois anos, segundo critérios
§ 6º O transportador e o embarcador são solidariamente estabelecidos pelo CONTRAN.
responsáveis pela infração rela va ao excesso de peso bruto § 1º Além dos casos previstos em outros ar gos deste
total, se o peso declarado na nota fiscal, fatura ou manifesto Código e excetuados aqueles especificados no art. 263, a sus-
for superior ao limite legal. pensão do direito de dirigir será aplicada quando o infrator
§ 7º Não sendo imediata a iden ficação do infrator, a ngir, no período de 12 (doze) meses, a contagem de 20
o proprietário do veículo terá quinze dias de prazo, após a (vinte) pontos, conforme pontuação indicada no art. 259.
no ficação da autuação, para apresentá-lo, na forma em que (Redação dada pela Lei nº 12.547, de 2011)
dispuser o CONTRAN, ao fim do qual, não o fazendo, será § 2º Quando ocorrer a suspensão do direito de dirigir,
considerado responsável pela infração. a Carteira Nacional de Habilitação será devolvida a seu tular
§ 8º Após o prazo previsto no parágrafo anterior, não imediatamente após cumprida a penalidade e o curso de
havendo identificação do infrator e sendo o veículo de reciclagem.
propriedade de pessoa jurídica, será lavrada nova multa ao § 3º A imposição da penalidade de suspensão do direito
proprietário do veículo, man da a originada pela infração, de dirigir elimina os 20 (vinte) pontos computados para fins
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cujo valor é o da multa mul plicada pelo número de infrações de contagem subsequente. (Incluído pela Lei nº 12.547,
iguais come das no período de doze meses. de 2011)
§ 9º O fato de o infrator ser pessoa jurídica não o exime § 4º (Vetado). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012)
do disposto no § 3º do art. 258 e no art. 259. (Vigência)
Art. 258. As infrações punidas com multa classificam-se, Art. 262. O veículo apreendido em decorrência de pena-
de acordo com sua gravidade, em quatro categorias: lidade aplicada será recolhido ao depósito e nele permane-
I – infração de natureza gravíssima, punida com multa de cerá sob custódia e responsabilidade do órgão ou en dade
valor correspondente a 180 (cento e oitenta) UFIR; apreendedora, com ônus para o seu proprietário, pelo prazo
II – infração de natureza grave, punida com multa de valor de até trinta dias, conforme critério a ser estabelecido pelo
correspondente a 120 (cento e vinte) UFIR; CONTRAN.
III – infração de natureza média, punida com multa de § 1º No caso de infração em que seja aplicável a penali-
valor correspondente a 80 (oitenta) UFIR; dade de apreensão do veículo, o agente de trânsito deverá,
IV – infração de natureza leve, punida com multa de valor desde logo, adotar a medida administra va de recolhimento
correspondente a 50 (cinquenta) UFIR. do Cer ficado de Licenciamento Anual.

442
§ 2º A res tuição dos veículos apreendidos só ocorrerá CAPÍTULO XVII
mediante o prévio pagamento das multas impostas, taxas e Das Medidas Administra vas
despesas com remoção e estada, além de outros encargos
previstos na legislação específica. Art. 269. A autoridade de trânsito ou seus agentes, na
§ 3º A re rada dos veículos apreendidos é condicionada, esfera das competências estabelecidas neste Código e dentro
ainda, ao reparo de qualquer componente ou equipamento de sua circunscrição, deverá adotar as seguintes medidas
obrigatório que não esteja em perfeito estado de funcio- administra vas:
namento. I – retenção do veículo;
§ 4º Se o reparo referido no parágrafo anterior demandar II – remoção do veículo;
providência que não possa ser tomada no depósito, a auto- III – recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação;
ridade responsável pela apreensão liberará o veículo para IV – recolhimento da Permissão para Dirigir;
reparo, mediante autorização, assinando prazo para a sua V – recolhimento do Cer ficado de Registro;
reapresentação e vistoria. VI – recolhimento do Cer ficado de Licenciamento Anual;
§ 5º O recolhimento ao depósito, bem como a sua manu- VII – (Vetado)
tenção, ocorrerá por serviço público executado diretamente VIII – transbordo do excesso de carga;
ou contratado por licitação pública pelo critério de menor IX – realização de teste de dosagem de alcoolemia ou
preço. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) perícia de substância entorpecente ou que determine de-
Art. 263. A cassação do documento de habilitação pendência sica ou psíquica;
dar-se-á: X – recolhimento de animais que se encontrem sol-
I – quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator con- tos nas vias e na faixa de domínio das vias de circulação,
duzir qualquer veículo; res tuindo-os aos seus proprietários, após o pagamento de
II – no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das multas e encargos devidos.
infrações previstas no inciso III do art. 162 e nos arts. 163, XI – realização de exames de ap dão sica, mental, de
164, 165, 173, 174 e 175; legislação, de prá ca de primeiros socorros e de direção
III – quando condenado judicialmente por delito de veicular. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
trânsito, observado o disposto no art. 160. § 1º A ordem, o consen mento, a fiscalização, as medidas
§ 1º Constatada, em processo administra vo, a irregula- administra vas e coerci vas adotadas pelas autoridades
ridade na expedição do documento de habilitação, a autori-
de trânsito e seus agentes terão por obje vo prioritário a
dade expedidora promoverá o seu cancelamento.
proteção à vida e à incolumidade sica da pessoa.
§ 2º Decorridos dois anos da cassação da Carteira Na-
§ 2º As medidas administra vas previstas neste ar -
cional de Habilitação, o infrator poderá requerer sua rea-
go não elidem a aplicação das penalidades impostas por
bilitação, submetendo-se a todos os exames necessários à
infrações estabelecidas neste Código, possuindo caráter
habilitação, na forma estabelecida pelo CONTRAN.
Art. 264. (Vetado) complementar a estas.
Art. 265. As penalidades de suspensão do direito de § 3º São documentos de habilitação a Carteira Nacional
dirigir e de cassação do documento de habilitação serão apli- de Habilitação e a Permissão para Dirigir.
cadas por decisão fundamentada da autoridade de trânsito § 4º Aplica-se aos animais recolhidos na forma do inciso
competente, em processo administra vo, assegurado ao X o disposto nos arts. 271 e 328, no que couber.
infrator amplo direito de defesa. Art. 270. O veículo poderá ser re do nos casos expressos
Art. 266. Quando o infrator cometer, simultaneamente, neste Código.
duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumula va- § 1º Quando a irregularidade puder ser sanada no local
mente, as respec vas penalidades. da infração, o veículo será liberado tão logo seja regularizada
Art. 267. Poderá ser imposta a penalidade de advertência a situação.
por escrito à infração de natureza leve ou média, passível de § 2º Não sendo possível sanar a falha no local da infração,
ser punida com multa, não sendo reincidente o infrator, na o veículo poderá ser re rado por condutor regularmente
mesma infração, nos úl mos doze meses, quando a autori- habilitado, mediante recolhimento do Cer ficado de Licen-
dade, considerando o prontuário do infrator, entender esta ciamento Anual, contra recibo, assinalando-se ao condutor
providência como mais educa va. prazo para sua regularização, para o que se considerará,
§ 1º A aplicação da advertência por escrito não elide o desde logo, no ficado.
acréscimo do valor da multa prevista no § 3º do art. 258, § 3º O Cer ficado de Licenciamento Anual será devolvido
imposta por infração posteriormente come da. ao condutor no órgão ou en dade aplicadores das medidas
§ 2º O disposto neste ar go aplica-se igualmente aos administra vas, tão logo o veículo seja apresentado à auto-
pedestres, podendo a multa ser transformada na par cipa- ridade devidamente regularizado.
ção do infrator em cursos de segurança viária, a critério da § 4º Não se apresentando condutor habilitado no local da
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autoridade de trânsito. infração, o veículo será recolhido ao depósito, aplicando-se


Art. 268. O infrator será subme do a curso de reciclagem, neste caso o disposto nos parágrafos do art. 262.
na forma estabelecida pelo CONTRAN: § 5º A critério do agente, não se dará a retenção imediata,
I – quando, sendo contumaz, for necessário à sua ree- quando se tratar de veículo de transporte cole vo transpor-
ducação; tando passageiros ou veículo transportando produto perigo-
II – quando suspenso do direito de dirigir; so ou perecível, desde que ofereça condições de segurança
III – quando se envolver em acidente grave para o qual para circulação em via pública.
haja contribuído, independentemente de processo judicial; Art. 271. O veículo será removido, nos casos previstos
IV – quando condenado judicialmente por delito de neste Código, para o depósito fixado pelo órgão ou en dade
trânsito; competente, com circunscrição sobre a via.
V – a qualquer tempo, se for constatado que o condutor Parágrafo único. A res tuição dos veículos removidos só
está colocando em risco a segurança do trânsito; ocorrerá mediante o pagamento das multas, taxas e despesas
VI – em outras situações a serem definidas pelo CON- com remoção e estada, além de outros encargos previstos
TRAN. na legislação específica.

443
Art. 272. O recolhimento da Carteira Nacional de Habili- CAPÍTULO XVIII
tação e da Permissão para Dirigir dar-se-á mediante recibo, Do Processo Administra vo
além dos casos previstos neste Código, quando houver
suspeita de sua inauten cidade ou adulteração. Seção I
Art. 273. O recolhimento do Cer ficado de Registro Da Autuação
dar-se-á mediante recibo, além dos casos previstos neste
Código, quando: Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de
I – houver suspeita de inauten cidade ou adulteração; trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:
II – se, alienado o veículo, não for transferida sua pro- I – pificação da infração;
priedade no prazo de trinta dias. II – local, data e hora do come mento da infração;
Art. 274. O recolhimento do Cer ficado de Licenciamento III – caracteres da placa de iden ficação do veículo, sua
Anual dar-se-á mediante recibo, além dos casos previstos marca e espécie, e outros elementos julgados necessários
neste Código, quando: à sua iden ficação;
I – houver suspeita de inauten cidade ou adulteração; IV – o prontuário do condutor, sempre que possível;
II – se o prazo de licenciamento es ver vencido; V – iden ficação do órgão ou en dade e da autoridade ou
III – no caso de retenção do veículo, se a irregularidade agente autuador ou equipamento que comprovar a infração;
não puder ser sanada no local. VI – assinatura do infrator, sempre que possível, valendo
Art. 275. O transbordo da carga com peso excedente é esta como no ficação do come mento da infração.
condição para que o veículo possa prosseguir viagem e será § 1º (Vetado)
efetuado às expensas do proprietário do veículo, sem pre- § 2º A infração deverá ser comprovada por declaração
juízo da multa aplicável. da autoridade ou do agente da autoridade de trânsito, por
Parágrafo único. Não sendo possível desde logo atender aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, rea-
ao disposto neste ar go, o veículo será recolhido ao depósi- ções químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente
to, sendo liberado após sanada a irregularidade e pagas as disponível, previamente regulamentado pelo CONTRAN.
despesas de remoção e estada. § 3º Não sendo possível a autuação em flagrante, o agen-
Art. 276. Qualquer concentração de álcool por litro te de trânsito relatará o fato à autoridade no próprio auto de
de sangue ou por litro de ar alveolar sujeita o condutor às infração, informando os dados a respeito do veículo, além
penalidades previstas no art. 165. (Redação dada pela Lei dos constantes nos incisos I, II e III, para o procedimento
nº 12.760, de 2012) previsto no ar go seguinte.
Parágrafo único. O Contran disciplinará as margens de to- § 4º O agente da autoridade de trânsito competente para
lerância quando a infração for apurada por meio de aparelho lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário
de medição, observada a legislação metrológica. (Redação
ou cele sta ou, ainda, policial militar designado pela auto-
dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
ridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em
sua competência.
acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trân-
sito poderá ser subme do a teste, exame clínico, perícia ou
Seção II
outro procedimento que, por meios técnicos ou cien ficos,
Do Julgamento das Autuações e Penalidades
na forma disciplinada pelo Contran, permita cer ficar influ-
ência de álcool ou outra substância psicoa va que determine
dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da compe-
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.760, tência estabelecida neste Código e dentro de sua circuns-
de 2012) crição, julgará a consistência do auto de infração e aplicará
§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser a penalidade cabível.
caracterizada mediante imagem, vídeo, constatação de sinais Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu
que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, altera- registro julgado insubsistente:
ção da capacidade psicomotora ou produção de quaisquer I – se considerado inconsistente ou irregular;
outras provas em direito admi das. (Redação dada pela Lei II – se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida
nº 12.760, de 2012) a no ficação da autuação. (Redação dada pela Lei nº 9.602,
§ 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas adminis- de 1998)
tra vas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida no fica-
que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos ção ao proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa
previstos no caput deste ar go. (Incluído pela Lei nº 11.705, postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que
de 2008) assegure a ciência da imposição da penalidade.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Art. 278. Ao condutor que se evadir da fiscalização, não § 1º A no ficação devolvida por desatualização do en-
submetendo veículo à pesagem obrigatória nos pontos de dereço do proprietário do veículo será considerada válida
pesagem, fixos ou móveis, será aplicada a penalidade pre- para todos os efeitos.
vista no art. 209, além da obrigação de retornar ao ponto § 2º A no ficação a pessoal de missões diplomá cas, de
de evasão para fim de pesagem obrigatória. repar ções consulares de carreira e de representações de or-
Parágrafo único. No caso de fuga do condutor à ação ganismos internacionais e de seus integrantes será reme da
policial, a apreensão do veículo dar-se-á tão logo seja loca- ao Ministério das Relações Exteriores para as providências
lizado, aplicando-se, além das penalidades em que incorre, cabíveis e cobrança dos valores, no caso de multa.
as estabelecidas no art. 210. § 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a
Art. 279. Em caso de acidente com ví ma, envolvendo condutor, à exceção daquela de que trata o § 1º do art. 259,
veículo equipado com registrador instantâneo de veloci- a no ficação será encaminhada ao proprietário do veículo,
dade e tempo, somente o perito oficial encarregado do responsável pelo seu pagamento.
levantamento pericial poderá re rar o disco ou unidade § 4º Da no ficação deverá constar a data do término do
armazenadora do registro. prazo para apresentação de recurso pelo responsável pela

444
infração, que não será inferior a trinta dias contados da data Parágrafo único. Esgotados os recursos, as penalidades
da no ficação da penalidade. (Incluído pela Lei nº 9.602, aplicadas nos termos deste Código serão cadastradas no
de 1998) RENACH.
§ 5º No caso de penalidade de multa, a data estabelecida
no parágrafo anterior será a data para o recolhimento de seu CAPÍTULO XIX
valor. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) Dos Crimes de Trânsito
Art. 283. (Vetado)
Art. 284. O pagamento da multa poderá ser efetuado até Seção I
a data do vencimento expressa na no ficação, por oitenta Disposições Gerais
por cento do seu valor.
Parágrafo único. Não ocorrendo o pagamento da multa Art. 291. Aos crimes come dos na direção de veículos
no prazo estabelecido, seu valor será atualizado à data do automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas
pagamento, pelo mesmo número de UFIR fixado no art. 258. gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se
Art. 285. O recurso previsto no art. 283 será interpos- este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a
to perante a autoridade que impôs a penalidade, a qual Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
remetê-lo-á à JARI, que deverá julgá-lo em até trinta dias. § 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal
§ 1º O recurso não terá efeito suspensivo.
culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de
§ 2º A autoridade que impôs a penalidade remeterá o
26 de setembro de 1995, exceto se o agente es ver: (Re-
recurso ao órgão julgador, dentro dos dez dias úteis subse-
qüentes à sua apresentação, e, se o entender intempes vo, numerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008)
assinalará o fato no despacho de encaminhamento. I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância
§ 3º Se, por mo vo de força maior, o recurso não for psicoa va que determine dependência; (Incluído pela Lei
julgado dentro do prazo previsto neste ar go, a autoridade nº 11.705, de 2008)
que impôs a penalidade, de o cio, ou por solicitação do II – par cipando, em via pública, de corrida, disputa ou
recorrente, poderá conceder-lhe efeito suspensivo. compe ção automobilís ca, de exibição ou demonstração
Art. 286. O recurso contra a imposição de multa poderá de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada
ser interposto no prazo legal, sem o recolhimento do seu pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705,
valor. de 2008)
§ 1º No caso de não provimento do recurso, aplicar-se-á III – transitando em velocidade superior à máxima per-
o estabelecido no parágrafo único do art. 284. mi da para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por
§ 2º Se o infrator recolher o valor da multa e apresentar hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
recurso, se julgada improcedente a penalidade, ser-lhe-á § 2º Nas hipóteses previstas no § 1º deste ar go, deverá
devolvida a importância paga, atualizada em UFIR ou por ser instaurado inquérito policial para a inves gação da infra-
índice legal de correção dos débitos fiscais. ção penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
Art. 287. Se a infração for come da em localidade diver- Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a
sa daquela do licenciamento do veículo, o recurso poderá permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
ser apresentado junto ao órgão ou en dade de trânsito da pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou
residência ou domicílio do infrator. cumula vamente com outras penalidades.
Parágrafo único. A autoridade de trânsito que receber o Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de
recurso deverá remetê-lo, de pronto, à autoridade que im- se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo
pôs a penalidade acompanhado das cópias dos prontuários automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.
necessários ao julgamento. § 1º Transitada em julgado a sentença condenatória,
Art. 288. Das decisões da JARI cabe recurso a ser inter- o réu será in mado a entregar à autoridade judiciária, em
posto, na forma do ar go seguinte, no prazo de trinta dias quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira
contado da publicação ou da no ficação da decisão. de Habilitação.
§ 1º O recurso será interposto, da decisão do não pro- § 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de
vimento, pelo responsável pela infração, e da decisão de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
provimento, pela autoridade que impôs a penalidade.
automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.249, de 2010)
de condenação penal, es ver recolhido a estabelecimento
Art. 289. O recurso de que trata o ar go anterior será
apreciado no prazo de trinta dias: prisional.
I – tratando-se de penalidade imposta pelo órgão ou Art. 294. Em qualquer fase da inves gação ou da ação
en dade de trânsito da União: penal, havendo necessidade para a garantia da ordem
a) em caso de suspensão do direito de dirigir por mais pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de o cio, ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de seis meses, cassação do documento de habilitação ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante
penalidade por infrações gravíssimas, pelo CONTRAN; representação da autoridade policial, decretar, em decisão
b) nos demais casos, por colegiado especial integrado mo vada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
pelo Coordenador-Geral da JARI, pelo Presidente da Junta dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
que apreciou o recurso e por mais um Presidente de Junta; Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou
II – tratando-se de penalidade imposta por órgão ou en- a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do
dade de trânsito estadual, municipal ou do Distrito Federal, Ministério Público, caberá recurso em sen do estrito, sem
pelos CETRAN E CONTRANDIFE, respec vamente. efeito suspensivo.
Parágrafo único. No caso da alínea b do inciso I, quando Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou
houver apenas uma JARI, o recurso será julgado por seus a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será
próprios membros. sempre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho
Art. 290. A apreciação do recurso previsto no art. 288 Nacional de Trânsito – CONTRAN, e ao órgão de trânsito
encerra a instância administra va de julgamento de infrações do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou
e penalidades. residente.

445
Art. 296. Se o réu for reincidente na prá ca de crime pre- Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à me-
visto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão tade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único
da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, do ar go anterior.
sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do
dada pela Lei nº 11.705, de 2008) acidente, de prestar imediato socorro à ví ma, ou, não po-
Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no dendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar
pagamento, mediante depósito judicial em favor da ví ma, auxílio da autoridade pública:
ou seus sucessores, de quan a calculada com base no dis- Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o
posto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver fato não cons tuir elemento de crime mais grave.
prejuízo material resultante do crime. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste ar go o
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por
do prejuízo demonstrado no processo. terceiros ou que se trate de ví ma com morte instantânea
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 ou com ferimentos leves.
a 52 do Código Penal. Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa repa- acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que
ratória será descontado. lhe possa ser atribuída:
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as pe- Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
nalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade
come do a infração: psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou
I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com de outra substância psicoa va que determine dependência:
grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
II – u lizando o veículo sem placas, com placas falsas Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e
ou adulteradas; suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habi-
III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de litação para dirigir veículo automotor.
Habilitação; § 1º As condutas previstas no caput serão constatadas
IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
de categoria diferente da do veículo; I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de
V – quando a sua profissão ou a vidade exigir cuidados álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligra-
especiais com o transporte de passageiros ou de carga; ma de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei
VI – u lizando veículo em que tenham sido adulterados nº 12.760, de 2012)
equipamentos ou caracterís cas que afetem a sua segurança II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Con-
ou o seu funcionamento de acordo com os limites de veloci- tran, alteração da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei
dade prescritos nas especificações do fabricante; nº 12.760, de 2012)
VII – sobre faixa de trânsito temporária ou permanente- § 2º A verificação do disposto neste ar go poderá ser
mente des nada a pedestres. ob da mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia,
Art. 299. (Vetado) vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em di-
Art. 300. (Vetado) reito admi dos, observado o direito à contraprova. (Incluído
Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes pela Lei nº 12.760, de 2012)
de trânsito de que resulte ví ma, não se imporá a prisão em § 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os
flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral dis ntos testes de alcoolemia para efeito de caracterização
socorro àquela. do crime pificado neste ar go. (Incluído pela Lei nº 12.760,
de 2012)
Seção II Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter
Dos Crimes em Espécie a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
imposta com fundamento neste Código:
Art. 302. Pra car homicídio culposo na direção de veículo Penas – detenção, de seis meses a um ano e multa, com
automotor: nova imposição adicional de idên co prazo de suspensão
Penas – detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou de proibição.
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condena-
dirigir veículo automotor. do que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do
Parágrafo único. No homicídio culposo come do na art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um Art. 308. Par cipar, na direção de veículo automotor, em
terço à metade, se o agente: via pública, de corrida, disputa ou compe ção automobilís-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

I – não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de ca não autorizada pela autoridade competente, desde que
Habilitação; resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:
II – pra cá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; Penas – detenção, de seis meses a dois anos, multa e
III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habi-
sem risco pessoal, à ví ma do acidente; litação para dirigir veículo automotor.
IV – no exercício de sua profissão ou a vidade, es ver Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem
conduzindo veículo de transporte de passageiros. a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se
V – (Incluído pela Lei nº 11.275, de 2006) (Revogado pela cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Lei nº 11.705, de 2008) Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 303. Pra car lesão corporal culposa na direção de Art. 310. Permi r, confiar ou entregar a direção de veículo
veículo automotor: automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada
Penas – detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para seu estado de saúde, sica ou mental, ou por embriaguez,
dirigir veículo automotor. não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:

446
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Parágrafo único. Os limites de tolerância a que se refere
Art. 310-A. (Vetado) (Incluído pela Lei nº 12.619, de este ar go, até a sua fixação pelo CONTRAN, são aqueles
2012) (Vigência) estabelecidos pela Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985.
Art. 311. Trafegar em velocidade incompa vel com a Art. 324. (Vetado)
segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações Art. 325. As repar ções de trânsito conservarão por cinco
de embarque e desembarque de passageiros, logradouros anos os documentos rela vos à habilitação de condutores
estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concen- e ao registro e licenciamento de veículos, podendo ser mi-
tração de pessoas, gerando perigo de dano: crofilmados ou armazenados em meio magné co ou óp co
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. para todos os efeitos legais.
Art. 312. Inovar ar ficiosamente, em caso de acidente Art. 326. A Semana Nacional de Trânsito será comemo-
automobilís co com ví ma, na pendência do respec vo
rada anualmente no período compreendido entre 18 e 25
procedimento policial preparatório, inquérito policial ou
de setembro.
processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz: Art. 327. A par r da publicação deste Código, somente
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. poderão ser fabricados e licenciados veículos que obedeçam
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste ar go, ainda aos limites de peso e dimensões fixados na forma desta
que não iniciados, quando da inovação, o procedimento Lei, ressalvados os que vierem a ser regulamentados pelo
preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere. CONTRAN.
Parágrafo único. (Vetado)
CAPÍTULO XX Art. 328. Os veículos apreendidos ou removidos a qual-
Disposições Finais e Transitórias quer tulo e os animais não reclamados por seus proprietá-
rios, dentro do prazo de noventa dias, serão levados à hasta
Art. 313. O Poder Execu vo promoverá a nomeação pública, deduzindo-se, do valor arrecadado, o montante
dos membros do CONTRAN no prazo de sessenta dias da da dívida rela va a multas, tributos e encargos legais, e o
publicação deste Código. restante, se houver, depositado à conta do ex-proprietário,
Art. 314. O CONTRAN tem o prazo de duzentos e qua- na forma da lei.
renta dias a par r da publicação deste Código para expedir Art. 329. Os condutores dos veículos de que tratam os
as resoluções necessárias à sua melhor execução, bem como arts. 135 e 136, para exercerem suas a vidades, deverão
revisar todas as resoluções anteriores à sua publicação, apresentar, previamente, cer dão nega va do registro de
dando prioridade àquelas que visam a diminuir o número de distribuição criminal rela vamente aos crimes de homicídio,
acidentes e a assegurar a proteção de pedestres. roubo, estupro e corrupção de menores, renovável a cada
Parágrafo único. As resoluções do CONTRAN, existentes
cinco anos, junto ao órgão responsável pela respec va con-
até a data de publicação deste Código, con nuam em vigor
cessão ou autorização.
naquilo em que não conflitem com ele.
Art. 315. O Ministério da Educação e do Desporto, me- Art. 330. Os estabelecimentos onde se executem refor-
diante proposta do CONTRAN, deverá, no prazo de duzentos e mas ou recuperação de veículos e os que comprem, vendam
quarenta dias contado da publicação, estabelecer o currículo ou desmontem veículos, usados ou não, são obrigados a
com conteúdo programá co rela vo à segurança e à educa- possuir livros de registro de seu movimento de entrada e
ção de trânsito, a fim de atender o disposto neste Código. saída e de uso de placas de experiência, conforme modelos
Art. 316. O prazo de no ficação previsto no inciso II do aprovados e rubricados pelos órgãos de trânsito.
parágrafo único do art. 281 só entrará em vigor após duzentos § 1º Os livros indicarão:
e quarenta dias contados da publicação desta Lei. I – data de entrada do veículo no estabelecimento;
Art. 317. Os órgãos e en dades de trânsito concederão II – nome, endereço e iden dade do proprietário ou
prazo de até um ano para a adaptação dos veículos de con- vendedor;
dução de escolares e de aprendizagem às normas do inciso III – data da saída ou baixa, nos casos de desmontagem;
III do art. 136 e art. 154, respec vamente. IV – nome, endereço e iden dade do comprador;
Art. 318. (Vetado) V – caracterís cas do veículo constantes do seu cer fi-
Art. 319. Enquanto não forem baixadas novas normas cado de registro;
pelo CONTRAN, con nua em vigor o disposto no art. 92 VI – número da placa de experiência.
do Regulamento do Código Nacional de Trânsito – Decreto § 2º Os livros terão suas páginas numeradas pografica-
nº 62.127, de 16 de janeiro de 1968. mente e serão encadernados ou em folhas soltas, sendo que,
Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas no primeiro caso, conterão termo de abertura e encerramen-
de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

to lavrados pelo proprietário e rubricados pela repar ção


engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização
de trânsito, enquanto, no segundo, todas as folhas serão
e educação de trânsito.
auten cadas pela repar ção de trânsito.
Parágrafo único. O percentual de cinco por cento do valor
das multas de trânsito arrecadadas será depositado, men- § 3º A entrada e a saída de veículos nos estabelecimentos
salmente, na conta de fundo de âmbito nacional des nado referidos neste ar go registrar-se-ão no mesmo dia em que
à segurança e educação de trânsito. se verificarem assinaladas, inclusive, as horas a elas corres-
Art. 321. (Vetado) pondentes, podendo os veículos irregulares lá encontrados
Art. 322. (Vetado) ou suas sucatas ser apreendidos ou re dos para sua completa
Art. 323. O CONTRAN, em cento e oitenta dias, fixará a regularização.
metodologia de aferição de peso de veículos, estabelecen- § 4º As autoridades de trânsito e as autoridades policiais
do percentuais de tolerância, sendo durante este período terão acesso aos livros sempre que o solicitarem, não poden-
suspensa a vigência das penalidades previstas no inciso V do, entretanto, re rá-los do estabelecimento.
do art. 231, aplicando-se a penalidade de vinte UFIR por § 5º A falta de escrituração dos livros, o atraso, a fraude
duzentos quilogramas ou fração de excesso. ao realizá-lo e a recusa de sua exibição serão punidas com a

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multa prevista para as infrações gravíssimas, independente Decretos-leis nºs 584, de 16 de maio de 1969, 912, de 2 de
das demais cominações legais cabíveis. outubro de 1969, e 2.448, de 21 de julho de 1988.
Art. 331. Até a nomeação e posse dos membros que Brasília, 23 de setembro de 1997; 176º da Independência
passarão a integrar os colegiados des nados ao julgamento e 109º da República.
dos recursos administra vos previstos na Seção II do Capítulo
XVIII deste Código, o julgamento dos recursos ficará a cargo FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
dos órgãos ora existentes. Iris Rezende
Art. 332. Os órgãos e en dades integrantes do Sistema Eliseu Padilha
Nacional de Trânsito proporcionarão aos membros do CON-
TRAN, CETRAN e CONTRANDIFE, em serviço, todas as facili- ANEXO I
dades para o cumprimento de sua missão, fornecendo-lhes DOS CONCEITOS E DEFINIÇÕES
as informações que solicitarem, permi ndo-lhes inspecionar
a execução de quaisquer serviços e deverão atender pronta- Para efeito deste Código adotam-se as seguintes defi-
mente suas requisições. nições:
Art. 333. O CONTRAN estabelecerá, em até cento e vinte ACOSTAMENTO – parte da via diferenciada da pista de
rolamento des nada à parada ou estacionamento de veícu-
dias após a nomeação de seus membros, as disposições
los, em caso de emergência, e à circulação de pedestres e
previstas nos arts. 91 e 92, que terão de ser atendidas pelos
bicicletas, quando não houver local apropriado para esse fim.
órgãos e en dades execu vos de trânsito e execu vos ro- AGENTE DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO – pessoa, civil
doviários para exercerem suas competências. ou policial militar, credenciada pela autoridade de trânsito
§ 1º Os órgãos e en dades de trânsito já existentes terão para o exercício das a vidades de fiscalização, operação,
prazo de um ano, após a edição das normas, para se ade- policiamento ostensivo de trânsito ou patrulhamento.
quarem às novas disposições estabelecidas pelo CONTRAN, AR ALVEOLAR – ar expirado pela boca de um indiví-
conforme disposto neste ar go. duo, originário dos alvéolos pulmonares. (Incluído pela Lei
§ 2º Os órgãos e en dades de trânsito a serem criados nº 12.760, de 2012)
exercerão as competências previstas neste Código em cum- AUTOMÓVEL – veículo automotor des nado ao trans-
primento às exigências estabelecidas pelo CONTRAN, con- porte de passageiros, com capacidade para até oito pessoas,
forme disposto neste ar go, acompanhados pelo respec vo exclusive o condutor.
CETRAN, se órgão ou en dade municipal, ou CONTRAN, se AUTORIDADE DE TRÂNSITO – dirigente máximo de ór-
órgão ou en dade estadual, do Distrito Federal ou da União, gão ou en dade execu vo integrante do Sistema Nacional
passando a integrar o Sistema Nacional de Trânsito. de Trânsito ou pessoa por ele expressamente credenciada.
Art. 334. As ondulações transversais existentes deverão BALANÇO TRASEIRO – distância entre o plano ver cal
ser homologadas pelo órgão ou en dade competente no pra- passando pelos centros das rodas traseiras extremas e o
zo de um ano, a par r da publicação deste Código, devendo ponto mais recuado do veículo, considerando-se todos os
ser re radas em caso contrário. elementos rigidamente fixados ao mesmo.
Art. 335. (Vetado) BICICLETA – veículo de propulsão humana, dotado de
Art. 336. Aplicam-se os sinais de trânsito previstos duas rodas, não sendo, para efeito deste Código, similar à
no Anexo II até a aprovação pelo CONTRAN, no prazo de motocicleta, motoneta e ciclomotor.
trezentos e sessenta dias da publicação desta Lei, após a BICICLETÁRIO – local, na via ou fora dela, des nado ao
manifestação da Câmara Temá ca de Engenharia, de Vias e estacionamento de bicicletas.
Veículos e obedecidos os padrões internacionais. BONDE – veículo de propulsão elétrica que se move
Art. 337. Os CETRAN terão suporte técnico e financeiro sobre trilhos.
dos Estados e Municípios que os compõem e, o CONTRAN- BORDO DA PISTA – margem da pista, podendo ser de-
DIFE, do Distrito Federal. marcada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a
Art. 338. As montadoras, encarroçadoras, os importa- parte da via des nada à circulação de veículos.
CALÇADA – parte da via, normalmente segregada e
dores e fabricantes, ao comerciarem veículos automotores
em nível diferente, não des nada à circulação de veículos,
de qualquer categoria e ciclos, são obrigados a fornecer,
reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível,
no ato da comercialização do respec vo veículo, manual
à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação
contendo normas de circulação, infrações, penalidades, e outros fins.
direção defensiva, primeiros socorros e Anexos do Código CAMINHÃO-TRATOR – veículo automotor des nado a
de Trânsito Brasileiro. tracionar ou arrastar outro.
Art. 339. Fica o Poder Execu vo autorizado a abrir crédito CAMINHONETE – veículo des nado ao transporte de
especial no valor de R$ 264.954,00 (duzentos e sessenta e carga com peso bruto total de até três mil e quinhentos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

quatro mil, novecentos e cinqüenta e quatro reais), em favor quilogramas.


do ministério ou órgão a que couber a coordenação máxima CAMIONETA – veículo misto des nado ao transporte de
do Sistema Nacional de Trânsito, para atender as despesas passageiros e carga no mesmo compar mento.
decorrentes da implantação deste Código. CANTEIRO CENTRAL – obstáculo sico construído como
Art. 340. Este Código entra em vigor cento e vinte dias separador de duas pistas de rolamento, eventualmente
após a data de sua publicação. subs tuído por marcas viárias (canteiro fic cio).
Art. 341. Ficam revogadas as Leis nºs 5.108, de 21 de CAPACIDADE MÁXIMA DE TRAÇÃO – máximo peso
setembro de 1966, 5.693, de 16 de agosto de 1971, 5.820, que a unidade de tração é capaz de tracionar, indicado pelo
de 10 de novembro de 1972, 6.124, de 25 de outubro de fabricante, baseado em condições sobre suas limitações de
1974, 6.308, de 15 de dezembro de 1975, 6.369, de 27 de geração e mul plicação de momento de força e resistência
outubro de 1976, 6.731, de 4 de dezembro de 1979, 7.031, dos elementos que compõem a transmissão.
de 20 de setembro de 1982, 7.052, de 02 de dezembro de CARREATA – deslocamento em fila na via de veículos au-
1982, 8.102, de 10 de dezembro de 1990, os arts. 1º a 6º e tomotores em sinal de regozijo, de reivindicação, de protesto
11 do Decreto-lei nº 237, de 28 de fevereiro de 1967, e os cívico ou de uma classe.

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CARRO DE MÃO – veículo de propulsão humana u lizado ILHA – obstáculo sico, colocado na pista de rolamen-
no transporte de pequenas cargas. to, des nado à ordenação dos fluxos de trânsito em uma
CARROÇA – veículo de tração animal des nado ao trans- interseção.
porte de carga. INFRAÇÃO – inobservância a qualquer preceito da legis-
CATADIÓPTRICO – disposi vo de reflexão e refração da lação de trânsito, às normas emanadas do Código de Trân-
luz u lizado na sinalização de vias e veículos (olho-de-gato). sito, do Conselho Nacional de Trânsito e a regulamentação
CHARRETE – veículo de tração animal destinado ao estabelecida pelo órgão ou en dade execu va do trânsito.
transporte de pessoas. INTERSEÇÃO – todo cruzamento em nível, entronca-
CICLO – veículo de pelo menos duas rodas a propulsão mento ou bifurcação, incluindo as áreas formadas por tais
humana. cruzamentos, entroncamentos ou bifurcações.
CICLOFAIXA – parte da pista de rolamento des nada INTERRUPÇÃO DE MARCHA – imobilização do veículo
à circulação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização para atender circunstância momentânea do trânsito.
específica. LICENCIAMENTO – procedimento anual, rela vo a obri-
CICLOMOTOR – veículo de duas ou três rodas, provido gações do proprietário de veículo, comprovado por meio de
de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não documento específico (Cer ficado de Licenciamento Anual).
exceda a cinqüenta cen metros cúbicos (3,05 polegadas LOGRADOURO PÚBLICO – espaço livre des nado pela
cúbicas) e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda municipalidade à circulação, parada ou estacionamento de
a cinqüenta quilômetros por hora. veículos, ou à circulação de pedestres, tais como calçada,
CICLOVIA – pista própria des nada à circulação de ciclos, parques, áreas de lazer, calçadões.
separada fisicamente do tráfego comum. LOTAÇÃO – carga ú l máxima, incluindo condutor e pas-
CONVERSÃO – movimento em ângulo, à esquerda ou à sageiros, que o veículo transporta, expressa em quilogramas
direita, de mudança da direção original do veículo. para os veículos de carga, ou número de pessoas, para os
CRUZAMENTO – interseção de duas vias em nível. veículos de passageiros.
DISPOSITIVO DE SEGURANÇA – qualquer elemento que LOTE LINDEIRO – aquele situado ao longo das vias urba-
tenha a função específica de proporcionar maior segurança nas ou rurais e que com elas se limita.
LUZ ALTA – facho de luz do veículo des nado a iluminar
ao usuário da via, alertando-o sobre situações de perigo que
a via até uma grande distância do veículo.
possam colocar em risco sua integridade sica e dos demais
LUZ BAIXA – facho de luz do veículo des nada a iluminar
usuários da via, ou danificar seriamente o veículo.
a via diante do veículo, sem ocasionar ofuscamento ou in-
ESTACIONAMENTO – imobilização de veículos por tempo
cômodo injus ficáveis aos condutores e outros usuários da
superior ao necessário para embarque ou desembarque de
via que venham em sen do contrário.
passageiros. LUZ DE FREIO – luz do veículo des nada a indicar aos
ESTRADA – via rural não pavimentada. demais usuários da via, que se encontram atrás do veículo,
ETILÔMETRO – aparelho des nado à medição do teor que o condutor está aplicando o freio de serviço.
alcoólico no ar alveolar. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) LUZ INDICADORA DE DIREÇÃO (pisca-pisca) – luz do ve-
FAIXAS DE DOMÍNIO – super cie lindeira às vias rurais, ículo des nada a indicar aos demais usuários da via que o
delimitada por lei específica e sob responsabilidade do ór- condutor tem o propósito de mudar de direção para a direita
gão ou en dade de trânsito competente com circunscrição ou para a esquerda.
sobre a via. LUZ DE MARCHA À RÉ – luz do veículo des nada a ilu-
FAIXAS DE TRÂNSITO – qualquer uma das áreas longitu- minar atrás do veículo e adver r aos demais usuários da via
dinais em que a pista pode ser subdividida, sinalizada ou não que o veículo está efetuando ou a ponto de efetuar uma
por marcas viárias longitudinais, que tenham uma largura manobra de marcha à ré.
suficiente para permi r a circulação de veículos automotores. LUZ DE NEBLINA – luz do veículo des nada a aumentar
FISCALIZAÇÃO – ato de controlar o cumprimento das a iluminação da via em caso de neblina, chuva forte ou
normas estabelecidas na legislação de trânsito, por meio nuvens de pó.
do poder de polícia administra va de trânsito, no âmbito de LUZ DE POSIÇÃO (lanterna) – luz do veículo des nada a
circunscrição dos órgãos e en dades execu vos de trânsito indicar a presença e a largura do veículo.
e de acordo com as competências definidas neste Código. MANOBRA – movimento executado pelo condutor para
FOCO DE PEDESTRES – indicação luminosa de permissão alterar a posição em que o veículo está no momento em
ou impedimento de locomoção na faixa apropriada. relação à via.
FREIO DE ESTACIONAMENTO – disposi vo des nado a MARCAS VIÁRIAS – conjunto de sinais cons tuídos de
manter o veículo imóvel na ausência do condutor ou, no caso linhas, marcações, símbolos ou legendas, em pos e cores
de um reboque, se este se encontra desengatado. diversas, apostos ao pavimento da via.
FREIO DE SEGURANÇA OU MOTOR – disposi vo des - MICROÔNIBUS – veículo automotor de transporte cole-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

nado a diminuir a marcha do veículo no caso de falha do vo com capacidade para até vinte passageiros.
freio de serviço. MOTOCICLETA – veículo automotor de duas rodas, com
FREIO DE SERVIÇO – disposi vo des nado a provocar a ou sem side-car, dirigido por condutor em posição montada.
diminuição da marcha do veículo ou pará-lo. MOTONETA – veículo automotor de duas rodas, dirigido
GESTOS DE AGENTES – movimentos convencionais de por condutor em posição sentada.
braço, adotados exclusivamente pelos agentes de autori- MOTOR-CASA (MOTOR-HOME) – veículo automotor cuja
dades de trânsito nas vias, para orientar, indicar o direito carroçaria seja fechada e des nada a alojamento, escritório,
de passagem dos veículos ou pedestres ou emi r ordens, comércio ou finalidades análogas.
sobrepondo-se ou completando outra sinalização ou norma NOITE – período do dia compreendido entre o pôr-do-sol
constante deste Código. e o nascer do sol.
GESTOS DE CONDUTORES – movimentos convencionais ÔNIBUS – veículo automotor de transporte cole vo com
de braço, adotados exclusivamente pelos condutores, para capacidade para mais de vinte passageiros, ainda que, em
orientar ou indicar que vão efetuar uma manobra de mu- virtude de adaptações com vista à maior comodidade destes,
dança de direção, redução brusca de velocidade ou parada. transporte número menor.

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OPERAÇÃO DE CARGA E DESCARGA – imobilização do REFÚGIO – parte da via, devidamente sinalizada e pro-
veículo, pelo tempo estritamente necessário ao carrega- tegida, des nada ao uso de pedestres durante a travessia
mento ou descarregamento de animais ou carga, na forma da mesma.
disciplinada pelo órgão ou en dade execu vo de trânsito RENACH – Registro Nacional de Condutores Habilitados.
competente com circunscrição sobre a via. RENAVAM – Registro Nacional de Veículos Automotores.
OPERAÇÃO DE TRÂNSITO – monitoramento técnico base- RETORNO – movimento de inversão total de sen do da
ado nos conceitos de Engenharia de Tráfego, das condições direção original de veículos.
de fluidez, de estacionamento e parada na via, de forma RODOVIA – via rural pavimentada.
a reduzir as interferências tais como veículos quebrados, SEMI-REBOQUE – veículo de um ou mais eixos que se
acidentados, estacionados irregularmente atrapalhando o apóia na sua unidade tratora ou é a ela ligado por meio de
trânsito, prestando socorros imediatos e informações aos ar culação.
pedestres e condutores. SINAIS DE TRÂNSITO – elementos de sinalização viária
PARADA – imobilização do veículo com a finalidade e pelo que se u lizam de placas, marcas viárias, equipamentos de
tempo estritamente necessário para efetuar embarque ou controle luminosos, disposi vos auxiliares, apitos e gestos,
desembarque de passageiros. des nados exclusivamente a ordenar ou dirigir o trânsito
PASSAGEM DE NÍVEL – todo cruzamento de nível entre dos veículos e pedestres.
uma via e uma linha férrea ou trilho de bonde com pista SINALIZAÇÃO – conjunto de sinais de trânsito e disposi-
própria. vos de segurança colocados na via pública com o obje vo
PASSAGEM POR OUTRO VEÍCULO – movimento de pas- de garan r sua u lização adequada, possibilitando melhor
sagem à frente de outro veículo que se desloca no mesmo fluidez no trânsito e maior segurança dos veículos e pedestres
sen do, em menor velocidade, mas em faixas dis ntas da via. que nela circulam.
PASSAGEM SUBTERRÂNEA – obra de arte des nada à SONS POR APITO – sinais sonoros, emi dos exclusiva-
transposição de vias, em desnível subterrâneo, e ao uso de mente pelos agentes da autoridade de trânsito nas vias,
pedestres ou veículos. para orientar ou indicar o direito de passagem dos veículos
PASSARELA – obra de arte des nada à transposição de ou pedestres, sobrepondo-se ou completando sinalização
vias, em desnível aéreo, e ao uso de pedestres. existente no local ou norma estabelecida neste Código.
PASSEIO – parte da calçada ou da pista de rolamento, TARA – peso próprio do veículo, acrescido dos pesos da
neste úl mo caso, separada por pintura ou elemento sico carroçaria e equipamento, do combus vel, das ferramentas
separador, livre de interferências, des nada à circulação e acessórios, da roda sobressalente, do ex ntor de incêndio
exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas. e do fluido de arrefecimento, expresso em quilogramas.
PATRULHAMENTO – função exercida pela Polícia Ro- TRAILER – reboque ou semi-reboque po casa, com duas,
doviária Federal com o obje vo de garan r obediência às quatro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado à traseira de
normas de trânsito, assegurando a livre circulação e evitando automóvel ou camionete, u lizado em geral em a vidades
acidentes. turís cas como alojamento, ou para a vidades comerciais.
PERÍMETRO URBANO – limite entre área urbana e área TRÂNSITO – movimentação e imobilização de veículos,
rural. pessoas e animais nas vias terrestres.
PESO BRUTO TOTAL – peso máximo que o veículo transmi- TRANSPOSIÇÃO DE FAIXAS – passagem de um veículo de
te ao pavimento, cons tuído da soma da tara mais a lotação. uma faixa demarcada para outra.
PESO BRUTO TOTAL COMBINADO – peso máximo TRATOR – veículo automotor construído para realizar
transmi do ao pavimento pela combinação de um cami- trabalho agrícola, de construção e pavimentação e tracionar
nhão-trator mais seu semi-reboque ou do caminhão mais o outros veículos e equipamentos.
seu reboque ou reboques. ULTRAPASSAGEM – movimento de passar à frente de
PISCA-ALERTA – luz intermitente do veículo, u lizada outro veículo que se desloca no mesmo sen do, em menor
em caráter de advertência, des nada a indicar aos demais velocidade e na mesma faixa de tráfego, necessitando sair
usuários da via que o veículo está imobilizado ou em situação e retornar à faixa de origem.
de emergência. UTILITÁRIO – veículo misto caracterizado pela versa li-
PISTA – parte da via normalmente u lizada para a circu- dade do seu uso, inclusive fora de estrada.
lação de veículos, iden ficada por elementos separadores VEÍCULO ARTICULADO – combinação de veículos acopla-
ou por diferença de nível em relação às calçadas, ilhas ou dos, sendo um deles automotor.
aos canteiros centrais. VEÍCULO AUTOMOTOR – todo veículo a motor de pro-
PLACAS – elementos colocados na posição vertical, pulsão que circule por seus próprios meios, e que serve
fixados ao lado ou suspensos sobre a pista, transmi ndo normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas,
mensagens de caráter permanente e, eventualmente, va- ou para a tração viária de veículos u lizados para o trans-
riáveis, mediante símbolo ou legendas pré-reconhecidas e porte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

legalmente ins tuídas como sinais de trânsito. conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre
POLICIAMENTO OSTENSIVO DE TRÂNSITO – função trilhos (ônibus elétrico).
exercida pelas Polícias Militares com o obje vo de prevenir VEÍCULO DE CARGA – veículo des nado ao transporte
e reprimir atos relacionados com a segurança pública e de carga, podendo transportar dois passageiros, exclusive
de garan r obediência às normas rela vas à segurança de o condutor.
trânsito, assegurando a livre circulação e evitando acidentes. VEÍCULO DE COLEÇÃO – aquele que, mesmo tendo sido
PONTE – obra de construção civil des nada a ligar mar- fabricado há mais de trinta anos, conserva suas caracterís -
gens opostas de uma super cie líquida qualquer. cas originais de fabricação e possui valor histórico próprio.
REBOQUE – veículo des nado a ser engatado atrás de VEÍCULO CONJUGADO – combinação de veículos, sendo
um veículo automotor. o primeiro um veículo automotor e os demais reboques ou
REGULAMENTAÇÃO DA VIA – implantação de sinalização equipamentos de trabalho agrícola, construção, terraplena-
de regulamentação pelo órgão ou en dade competente com gem ou pavimentação.
circunscrição sobre a via, definindo, entre outros, sen do de VEÍCULO DE GRANDE PORTE – veículo automotor des -
direção, po de estacionamento, horários e dias. nado ao transporte de carga com peso bruto total máximo

450
superior a dez mil quilogramas e de passageiros, superior a Art. 1º Fica aprovado o Anexo II do Código de Trânsito
vinte passageiros. Brasileiro – CTB, anexo a esta Resolução.
VEÍCULO DE PASSAGEIROS – veículo des nado ao trans- Art. 2º Os órgãos e en dades de trânsito terão até 30
porte de pessoas e suas bagagens. de junho de 2006 para se adequarem ao disposto nesta
VEÍCULO MISTO – veículo automotor des nado ao trans- Resolução.
porte simultâneo de carga e passageiro. Art. 3º Esta Resolução entra em vigor 90 (noventa) dias
VIA – super cie por onde transitam veículos, pessoas e após a data de sua publicação.
animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento,
ilha e canteiro central. AILTON BRASILIENSE PIRES
VIA DE TRÂNSITO RÁPIDO – aquela caracterizada por Presidente do Conselho
acessos especiais com trânsito livre, sem interseções em
LUIZ CARLOS BERTOTTO
nível, sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem
Ministério das Cidades - Titular
travessia de pedestres em nível.
VIA ARTERIAL – aquela caracterizada por interseções RENATO ARAUJO JUNIOR
em nível, geralmente controlada por semáforo, com aces- Ministério da Ciência e Tecnologia - Titular
sibilidade aos lotes lindeiros e às vias secundárias e locais,
possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade. JUSCELINO CUNHA
VIA COLETORA – aquela des nada a coletar e distribuir o Ministério da Educação - Titular
trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de
trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro CARLOS ALBERTO F DOS SANTOS
das regiões da cidade. Ministério do Meio Ambiente - Suplente
VIA LOCAL – aquela caracterizada por interseções em
nível não semaforizadas, des nada apenas ao acesso local AFONSO GUIMARÃES NETO
ou a áreas restritas. Ministério dos Transportes - Titular
VIA RURAL – estradas e rodovias.
VIA URBANA – ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e EUGENIA MARIA SILVEIRA RODRIGUES
similares abertos à circulação pública, situados na área ur- Ministério da Saúde - Suplente
bana, caracterizados principalmente por possuírem imóveis
edificados ao longo de sua extensão. ANEXO II
VIAS E ÁREAS DE PEDESTRES – vias ou conjunto de vias DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO – CTB
des nadas à circulação prioritária de pedestres.
VIADUTO – obra de construção civil des nada a transpor 1. SINALIZAÇÃO VERTICAL
uma depressão de terreno ou servir de passagem superior.
É um subsistema da sinalização viária cujo meio de co-
municação está na posição ver cal, normalmente em placa,
fixado ao lado ou suspenso sobre a pista, transmi ndo
RESOLUÇÃO Nº 160, DE 22 DE ABRIL DE mensagens de caráter permanente e, eventualmente, va-
2004 riáveis, através de legendas e/ou símbolos pré-reconhecidos
e legalmente ins tuídos.
Aprova o Anexo II do Código A sinalização ver cal é classificada de acordo com sua
de Trânsito Brasileiro. função, compreendendo os seguintes pos:
– Sinalização de Regulamentação;
O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO – CONTRAN, usan- – Sinalização de Advertência;
do da competência que lhe confere o art. 12, inciso VIII, da Lei – Sinalização de Indicação.
nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que ins tuiu o Código
1.1. SINALIZAÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO
de Trânsito Brasileiro – CTB e conforme Decreto nº 4.711, Tem por finalidade informar aos usuários as condições,
de 29 de maio de 2003, que dispõe sobre a coordenação proibições, obrigações ou restrições no uso das vias. Suas
do Sistema Nacional de Trânsito – SNT, e Considerando a mensagens são impera vas e o desrespeito a elas cons tui
aprovação na 5ª Reunião Ordinária da Câmara Temá ca de infração.
Engenharia da Via.
1.1.1. Formas e Cores
Considerando o que dispõe o Ar go 336 do Código de A forma padrão do sinal de regulamentação é a circular,
Trânsito Brasileiro, resolve: e as cores são vermelha, preta e branca:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Caracterís cas dos Sinais de Regulamentação

451
Cons tuem exceção, quanto à forma, os sinais R-1 – Parada Obrigatória e R-2 – Dê a Preferência, com as caracterís cas:

1.1.2. Dimensões Mínimas


Devem ser observadas as dimensões mínimas dos sinais, conforme o ambiente em que são implantados, consideran-
do-se que o aumento no tamanho dos sinais implica em aumento nas dimensões de orlas, tarjas e símbolos.

a) sinais de forma circular

Diâmetro Tarja Orla


Via
mínimo (m) mínima (m) mínima (m)
Urbana 0,40 0,040 0,040
Rural (estrada) 0,50 0,050 0,050
Rural (rodovia) 0,75 0,075 0,075
Áreas protegidas por 0,30 0,030 0,030
legislação especial (*)

(*) rela va a patrimônio histórico, ar s co, cultural, arquitetônico, arqueológico e natural.

b) sinal de forma octogonal – R-1

Lado mínimo Orla interna Orla externa


Via
(m) branca mínima (m) vermelha mínima (m)
Urbana 0,25 0,020 0,010
Rural (estrada) 0,35 0,028 0,014
Rural (rodovia) 0,40 0,032 0,016
Áreas protegidas por 0,18 0,015 0,008
legislação especial (*)

(*) rela va a patrimônio histórico, ar s co, cultural, arquitetônico, arqueológico e natural.

c) sinal de forma triangular – R-2


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Lado mínimo Orla mínima


Via
(m) (m)
Urbana 0,75 0,10
Rural (estrada) 0,75 0,10
Rural (rodovia) 0,90 0,15
Áreas protegidas por 0,40 0,06
legislação especial (*)

(*) rela va a patrimônio histórico, ar s co, cultural, arquitetônico, arqueológico e natural.

As informações complementares, cujas caracterís cas são descritas no item 1.1.5, possuem a forma retangular.

452
1.1.3. Dimensões Recomendadas

a) sinais de forma circular

Diâmetro Tarja Orla


Via
(m) (m) (m)
Urbana 0,75 0,075 0,075
(de trânsito rápido)
Urbana (demais vias) 0,50 0,050 0,050
Rural (estrada) 0,75 0,075 0,075
Rural (rodovia) 1,00 0,100 0,100

b) sinal de forma octogonal – R-1

Lado Orla interna Orla externa


Via
(m) branca (m) vermelha (m)
Urbana 0,35 0,028 0,014
Rural (estrada) 0,35 0,028 0,014
Rural (rodovia) 0,50 0,040 0,020

c) sinal de forma triangular – R-2

Lado Orla interna


Via
(m) branca (m)
Urbana 0,90 0,15
Rural (estrada) 0,90 0,15
Rural (rodovia) 1,00 0,20

1.1.4. Conjunto de Sinais de Regulamentação

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

453
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

454
1.1.5. Informações Complementares
Sendo necessário acrescentar informações para complementar os sinais de regulamentação, como período de validade,
caracterís cas e uso do veículo, condições de estacionamento, além de outras, deve ser u lizada uma placa adicional ou incor-
porada à placa principal, formando um só conjunto, na forma retangular, com as mesmas cores do sinal de regulamentação.

Caracterís cas das Informações Complementares

Cor
Fundo Branca
Orla interna (opcional) Vermelha
Orla externa Branca
Tarja Vermelha
Legenda Preta

Não se admite acrescentar informação complementar para os sinais R-1 – Parada Obrigatória e R-2 – Dê a Preferência.
Nos casos em que houver símbolos, estes devem ter a forma e cores definidas em legislação específica.

Exemplos:

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

1.2. Sinalização de Advertência


Tem por finalidade alertar os usuários da via para condições potencialmente perigosas, indicando sua natureza.

1.2.1. Formas e Cores


A forma padrão dos sinais de advertência é quadrada, devendo uma das diagonais ficar na posição ver cal. À sinalização
de advertência estão associadas as cores amarela e preta.

455
Caracterís cas dos Sinais de Advertência

Forma Cor
Fundo Amarela
Símbolo Preta
Orla interna Preta
Orla externa Amarela
Legenda Preta
Cons tuem exceções:
 quanto à cor:
– o sinal A-24 – Obras, que possui fundo e orla externa na cor laranja;
– o sinal A-14 – Semáforo à Frente, que possui símbolo nas cores preta, vermelha, amarela e verde;
– todos os sinais que, quando u lizados na sinalização de obras, possuem fundo na cor laranja.
 quanto à forma, os sinais A-26a – Sen do Único, A-26b – Sen do Duplo e A-41 – Cruz de Santo André.

Sinal
Cor
Forma Código
Fundo Amarela
A-26a Orla interna Preta
A-26b Orla externa Amarela
Seta Preta
Fundo Amarela
A-41 Orla interna Preta
Orla externa Amarela

A Sinalização Especial de Advertência e as Informações Complementares, cujas caracterís cas são descritas nos itens
1.2.4 e 1.2.5, possuem a forma retangular.

1.2.2. Dimensões Mínimas


Devem ser observadas as dimensões mínimas dos sinais, conforme a via em que são implantados, considerando-se que
o aumento no tamanho dos sinais implica em aumento nas dimensões de orlas e símbolos.

a) Sinais de forma quadrada

Lado mínimo Orla externa Orla interna


Via
(m) mínima (m) mínima (m)
Urbana 0,45 0,010 0,020
Rural (estrada) 0,50 0,010 0,020
Rural (rodovia) 0,60 0,010 0,020
Áreas protegidas por
0,30 0,006 0,012
legislação especial (*)
(*) rela va a patrimônio históricos ar s co, cultural, arquitetônico, arqueológico e natural.
Obs.: Nos casos de placas de advertência desenhadas numa placa adicional, o lado mínimo pode ser de 0,030m.

b) Sinais de forma retangular

Lado maior Lado menor Orla externa Orla interna


Via
mínimo (m) mínimo (m) mínima (m) mínima (m)
Urbana 0,50 0,25 0,010 0,020
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Rural (estrada) 0,80 0,40 0,010 0,020


Rural (rodovia) 1,00 0,50 0,010 0,020
Áreas protegidas por
0,40 0,20 0,006 0,012
legislação especial (*)
(*) rela va a patrimônio históricos, ar s co, cultural, arquitetônico, arqueológico e natural.

c) Cruz de Santo André

Parâmetro Variação
Relação entre dimensões de largura e
de 1:6 a 1:10
comprimento dos braços
Ângulos menores formados entre os
entre 45º e 55º
dois braços

456
1.2.3. Conjunto de Sinais de Advertência

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

457
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

458
1.2.4. Sinalização Especial de Advertência
Estes sinais são empregados nas situações em que não é possível a u lização dos sinais apresentados no item 1.2.3.
O formato adotado é retangular, de tamanho variável em função das informações nelas con das, e suas cores são
amarelas e pretas:

Caracterís cas da Sinalização Especial de Advertência

Cor
Fundo Amarela
Símbolo Preta
Orla interna Preta
Orla externa Amarela
Legenda Preta
Tarja Preta

Na sinalização de obras, o fundo e a orla externa devem ser na cor laranja.

Exemplos:

a) Sinalização Especial para Faixas ou Pistas Exclusivas de Ônibus

b) Sinalização Especial para Pedestres

c) Sinalização Especial de Advertência somente para rodovias, estradas e vias de trânsito rápido
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

459
1.2.5. Informações Complementares um só conjunto, na forma retangular, admi da a exceção
Havendo necessidade de fornecer informações comple- para a placa adicional contendo o número de linhas férreas
mentares aos sinais de advertência, estas devem ser inscritas que cruzam a pista. As cores da placa adicional devem ser
em placa adicional ou incorporada à placa principal formando as mesmas dos sinais de advertência.

Caracterís cas das Informações Complementares

Cor
Fundo Amarela
Orla interna Preta
Orla externa Amarela
Legenda Preta
Tarja Preta
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Na sinalização de obras, o fundo e a orla externa devem ser na cor laranja.

1.3. Sinalização de Indicação


Tem por finalidade iden ficar as vias e os locais de interesse, bem como orientar condutores de veículos quanto aos
percursos, os des nos, as distâncias e os serviços auxiliares, podendo também ter como função a educação do usuário.
Suas mensagens possuem caráter informa vo ou educa vo.
As placas de indicação estão divididas nos seguintes grupos:

1.3.1. Placas de Iden ficação


Posicionam o condutor ao longo do seu deslocamento, ou com relação a distâncias ou ainda aos locais de des no.

a) Placas de Iden ficação de Rodovias e Estradas

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Rodovias e Estradas Pan-Americanas

460
Forma Cor
Fundo Branca

Orla interna Preta

Orla externa Branca

Legenda Preta

Dimensões mínimas (m)


Altura 0,45
Chanfro Inclinado 0,14
Largura Superior 0,44
Largura Inferior 0,41
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Rodovias e Estradas Federais

Forma Cor
Fundo Branca
Orla interna Preta
Orla externa Branca
Tarja Preta
Legenda Preta

Dimensões mínimas (m)


Largura 0,40
Altura 0,45
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
Tarja 0,02
Exemplos:

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Rodovias e Estradas Eataduais

Forma Cor
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Fundo Branca
Orla interna Preta
Orla externa Branca
Legenda Preta

Dimensões mínimas (m)


Largura 0,51
Altura 0,45
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01

461
Exemplos:

b) Placas de Iden ficação de Municípios

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Municípios

Forma Cor
Fundo Azul
Retangular, com lado Orla interna Branca
maior na horizontal Orla externa Azul
Legenda Branca

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,20 (*)
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
(*) áreas protegidas por legislação especial (patrimônio histórico, arquitetônico etc.), podem apresentar altura de letra inferior, desde que
atenda os critérios de legibilidade.

Exemplos

c) Placas de Iden ficação de Regiões de Interesse de Tráfego e Logradouros

A parte de cima da placa deve indicar o bairro ou avenida/rua da cidade. A parte de baixo a região ou zona em que o
bairro ou avenida/rua es ver situado. Esta parte da placa é opcional.

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Regiões de Interesse de Tráfego e Logradouros

Forma Cor
Fundo Azul
Orla interna Branca
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Retangular Orla externa Azul


Tarja Branca
Legendas Branca

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,10
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
Tarja 0,01

462
Exemplos:

d) Placas de Iden ficação Nominal de Pontes, Viadutos, Túneis e Passarelas

Caracterís cas das Placas de Iden ficação Nominal de Pontes, Viadutos, Túneis e Passarelas

Forma Cor
Fundo Azul
Orla interna Branca
Retangular, com lado
Orla externa Azul
maior na horizontal
Tarja Branca
Legendas Branca

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,10
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
Tarja 0,01

Exemplos:

e) Placas de Iden ficação Quilométrica

Caracterís cas das Placas de Iden ficação Quilométrica

Forma Cor
Fundo Azul
Orla interna Branca
Retangular, com lado
Orla externa Azul
maior na ver cal
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Tarja Branca
Legendas Branca

Dimensões mínimas (m)


Altura da letra 0,150
Altura da letra (ponto cardeal) 0,125
Altura do algarismo 0,150
Orla interna 0,020
Orla externa 0,010
Tarja(*) 0,010

(*) quando separar a informação adicional do ponto cardeal.

463
Na u lização em vias urbanas as dimensões devem ser determinadas em função do local e do obje vo da sinalização.
Exemplos:

f) Placas de Iden ficação de Limite de Municípios / Divisa de Estados / Fronteira / Perímetro Urbano

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Limite de Municípios / Divisa de Estados / Fronteira / Perímetro Urbano

Forma Cor
Fundo Azul
Orla interna Branca
Retangular, com lado
Orla externa Azul
maior na horizontal
Tarja Branca
Legendas Branca

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,12
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
Tarja 0,01

Exemplos:

g) Placas de Pedágio

Caracterís cas das Placas de Pedágio

Forma Cor
Fundo Azul
Orla interna Branca
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Retangular, com lado Orla externa Azul


maior na horizontal Tarja Branca
Legendas Branca
Seta Branca

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,12
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
Tarja 0,01

464
Exemplos:

1.3.2. Placas de Orientação de Des no

Indicam ao condutor a direção que o mesmo deve seguir para a ngir determinados lugares, orientando seu percurso
e/ou distâncias.

a) Placas Indica vas de Sen do (Direção)

Caracterís cas das Placas Indica vas de Sen do

Mensagens de Nomes de Rodovias/Estradas ou


Mensagens de Localidades
Forma Associadas aos seus Simbolos
Cor Cor
Fundo Verde Fundo Azul
Orla interna Branca Orla interna Branca
Orla externa Verde Orla externa Azul
Retangular, com lado Tarja Branca Tarja Branca
maior na horizontal Legendas Branca Legendas Branca
Setas Branca Setas Branca
De acordo com a
Símbolos -
rodovia / estrada

Dimensões mínimas (m)


VIA URBANA 0,125(*)
Altura das letras
VIA RURAL 0,150(*)
Orla interna 0,020
Orla externa 0,010
Tarja 0,010

(*) áreas protegidas por legislação especial (patrimônio histórico, arquitetônico etc), podem apresentar altura de letra inferior, desde que
atenda os critérios de legibilidade.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Exemplos:

465
b) Placas Indica vas de Distância

Caracterís cas das Placas Indica vas de Distância

Mensagens de Nomes de Rodovias/Estradas ou


Mensagens de Localidades
Forma Associadas aos seus Simbolos
Cor Cor
Fundo Verde Fundo Azul
Orla interna Branca Orla interna Branca
Orla externa Verde Orla externa Azul
Retangular, com lado
Tarja Branca Tarja Branca
maior na horizontal
Legendas Branca Legendas Branca
De acordo com a
Símbolos -
rodovia / estrada

Dimensões mínimas (m)


VIA URBANA 0,125(*)
Altura das letras
VIA RURAL 0,150(*)
Orla interna 0,020
Orla externa 0,010
Tarja 0,010
(*) áreas protegidas por legislação especial (patrimônio histórico, arquitetônico etc), podem apresentar altura de letra inferior, desde que
atenda os critérios de legibilidade.

c) Placas Diagramadas

Caracterís cas das Placas Diagramadas

Mensagens de Nomes de Rodovias/Estradas ou


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Mensagens de Localidades
Forma Associadas aos seus Simbolos
Cor Cor
Fundo Verde Fundo Azul
Orla interna Branca Orla interna Branca
Orla externa Verde Orla externa Azul
Retangular, com lado Tarja Branca Tarja Branca
maior na horizontal Legendas Branca Legendas Branca
Setas Branca Setas Branca
De acordo com a
Símbolos -
rodovia / estrada

466
Dimensões mínimas (m)
VIA URBANA 0,125(*)
Altura das letras
VIA RURAL 0,150(*)
Orla interna 0,020
Orla externa 0,010
Tarja 0,010

(*) áreas protegidas por legislação especial (patrimônio histórico, arquitetônico etc), podem apresentar altura de letra inferior, desde que
atenda os critérios de legibilidade.

Exemplos:

1.3.3. Placas Educa vas

Tem a função de educar os usuários da via quanto ao seu comportamento adequado e seguro no trânsito. Podem conter
mensagens que reforcem normas gerais de circulação e conduta.

Caracterís cas das Placas Educa vas

Forma Cor
Fundo Branca
Orla interna Preta
Orla externa Branca
Retangular
Tarja Preta
Legendas Preta
Pictograma Preta

Dimensões mínimas (m)


Altura da letra (placas VIA URBANA 0,125(*)
para condutores) VIA RURAL 0,150(*)
Altura das letras (placas para pedestres) 0,050
Orla interna 0,020
Orla externa 0,010
Tarja 0,010
Pictograma 0,200 x 0,200
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Exemplos:

467
1.3.4. Placas de Serviços Auxiliares

Indicam aos usuários da via os locais em que os mesmos podem dispor dos serviços indicados, orientando sua direção
ou iden ficando estes serviços.
Quando em um mesmo local encontra-se mais de um po de serviço, os respec vos símbolos podem ser agrupados
numa única placa.

a) Placas para Condutores

Caracterís cas das Placas de Serviços Auxiliares para Condutores

Forma Cor
Fundo Azul
Quadro interno Branca
Placa: retangular
Seta Branca
Quadro interno:
Legenda Branca
quadrada
Fundo Branca
Pictograma
Figura Preta

Cons tui exceção a placa indica va de “Pronto Socorro” onde o Símbolo deve ser vermelho.

Dimensões mínimas (m)


VIA URBANA 0,20 x 0,20
Quadro interno
VIA RURAL 0,40 x 0,40

Exemplos de Pictogramas:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

468
Exemplos de Placas

Obs.: Os pictogramas podem ser u lizados opcionalmente nas placas de orientação.

b) Placas para Pedestres

Caracterís cas das Placas de Serviços Auxiliares para Pedestres

Forma Cor
Fundo Azul
Orla interna Branca
Orla externa Azul
Retangular, lado Tarja Branca
maior na horizontal Legendas Branca
Seta Branca
Fundo Branca
Pictograma
Figura Preta

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,05
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01
Tarja 0,01
Pictograma 0,20 x 0,20

1.3.5. Placas de Atra vos Turís cos


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Indicam aos usuários da via os locais em que os mesmos podem dispor dos atrativos turísticos existentes,
orientando sobre sua direção ou iden ficando estes pontos de interesse.

Exemplos de Pictogramas:

469
Atra vos Históricos e Culturais

Área Para a Prá ca de Esportes

Áreas de Recreação

Locais para A vidades de Interesse Turís co

TIT-01 TIT-03
TIT-02 TIT-04 TIT-05
Festas
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Teatro Conven- Artesanato


Populares Zoológico
ções

TIT-07 TIT-08 TIT-10


TIT-06 Exposi- TIT-09 Pavilhão
Feira
Planetário ção agro- Rodeio de feiras e
Típica
pecuária exposições

470
a) Placas de Iden ficação de Atra vo Turís co

Caracterís cas das Placas de Iden ficação de Atra vo Turís co

Forma Cor
Fundo Marrom
Orla interna Branca
Orla externa Marrom
Retangular
Legendas Branca
Fundo Branca
Pictograma
Figura Preta

Dimensões mínimas (m)


Altura das letras 0,10
Pictograma 0,40 x 0,40
Orla interna 0,02
Orla externa 0,01

Exemplos de Placas:

b) Placas Indica vas de Sen do de Atra vo Turís co

Caracterís cas de Placas Indica vas de Sen do

Forma Cor
Fundo Marrom
Orla interna Branca
Orla externa Marrom
Tarja Branca
Retangular
Legendas Branca
Setas Branca
Fundo Branca
Pictograma
Figura Preta

Dimensões mínimas (m)


Altura da letra VIA URBANA 0,125(*)
(placas para condutores) VIA RURAL 0,150(*)
Altura da letra
0,050
(placas para pedestres)
Pictograma 0,200 x 0,200
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Orla interna 0,020


Orla externa 0,010
Tarja 0,010
(*) áreas protegidas por legislação especial (patrimônio histórico, arquitetônico etc), podem apresentar altura de letra inferior, desde que
atenda os critérios de legibilidade.

Exemplos:

471
c) Placas Indica vas de Distância de Atra vos Turís cos

Caracterís cas das Placas Indica vas de Distância de Atra vos Turís cos

Forma Cor
Fundo Marrom
Orla interna Branca
Orla externa Marrom
Retangular
Legendas Branca
Fundo Branca
Pictograma
Figura Preta

Dimensões mínimas (m)


Altura da letra VIA URBANA 0,125(*)
(placas para condutores) VIA RURAL 0,150(*)
Altura da letra
0,050
(placas para pedestres)
Pictograma 0,200 x 0,200
Orla interna 0,020
Orla externa 0,010
(*) áreas protegidas por legislação especial (patrimônio histórico, arquitetônico etc), podem apresentar altura de letra inferior, desde que
atenda os critérios de legibilidade.

Exemplos:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

2. Sinalização Horizontal 2.1. Caracterís cas

É um subsistema da sinalização viária que se u liza de A sinalização horizontal mantém alguns padrões cuja
linhas, marcações, símbolos e legendas, pintados ou apostos mescla e a forma de coloração na via definem os diversos
sobre o pavimento das vias. pos de sinais.
Têm como função organizar o fluxo de veículos e pedes-
tres; controlar e orientar os deslocamentos em situações 2.1.1. Padrão de Traçado
com problemas de geometria, topografia ou frente a obstá- Seu padrão de traçado pode ser:
culos; complementar os sinais ver cais de regulamentação, – Con nuo: são linhas sem interrupção pelo trecho da
advertência ou indicação. Em casos específicos, tem poder via onde estão demarcando; podem estar longitudinalmente
de regulamentação. ou transversalmente apostas à via.

472
– Tracejado ou Seccionado: são linhas interrompidas, das ciclofaixas e/ou ciclovias, na parte interna destas,
com espaçamentos respec vamente de extensão igual ou associada à linha de bordo branca ou de linha de divisão
maior que o traço. de fluxo de mesmo sen do e nos símbolos de hospitais e
– Símbolos e Legendas: são informações escritas ou farmácias (cruz).
desenhadas no pavimento, indicando uma situação ou – Branca: u lizada na regulação de fluxos de mesmo
complementando sinalização ver cal existente. sen do; na delimitação de trechos de vias, des nados ao
estacionamento regulamentado de veículos em condições
2.1.2. Cores especiais; na marcação de faixas de travessias de pedestres,
A sinalização horizontal se apresenta em cinco cores: símbolos e legendas.
– Amarela: u lizada na regulação de fluxos de sen dos – Azul: u lizada nas pinturas de símbolos de pessoas
opostos; na delimitação de espaços proibidos para estacio- portadoras de deficiência sica, em áreas especiais de esta-
namento e/ou parada e na marcação de obstáculos. cionamento ou de parada para embarque e desembarque.
– Vermelha: utilizada para proporcionar contraste, – Preta: u lizada para proporcionar contraste entre o
quando necessário, entre a marca viária e o pavimento pavimento e a pintura.

Para iden ficação da cor, neste documento, é adotada a seguinte convenção:

2.2. Classificação veículos, a sua divisão em faixas, a separação de fluxos


A sinalização horizontal é classificada em: opostos, faixas de uso exclusivo de um po de veículo, re-
– marcas longitudinais; versíveis, além de estabelecer as regras de ultrapassagem
– marcas transversais; e transposição.
– marcas de canalização;
De acordo com a sua função, as marcas longitudinais são
– marcas de delimitação e controle de estacionamento
e/ou parada; subdivididas nos seguintes pos:
– inscrições no pavimento. a) Linhas de Divisão de Fluxos Opostos
Separam os movimentos veiculares de sen dos contrá-
2.2.1. Marcas Longitudinais rios e regulamentam a ultrapassagem e os deslocamentos
Separam e ordenam as correntes de tráfego, definindo laterais, exceto para acesso à imóvel lindeiro.
a parte da pista des nada normalmente à circulação de

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

473
– Largura das linhas: mínima 0,10 m
máxima 0,15 m

– Distância entre as linhas: mínima 0,10 m


máxima 0,15 m

– Relação entre A e B: mínima 1:2


máxima 1:3
– Cor: amarela

Exemplos de aplicação:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

474
b) Linhas de Divisão de Fluxo de Mesmo Sen do
Separam os movimentos veiculares de mesmo sen do e regulamentam a ultrapassagem e a transposição.

– Largura das linhas: mínima 0,10 m


máxima 0,20 m

– Demarcação de faixa ex- mínima 0,10 m


clusiva no fluxo
Largura da linha: mínima 0,00 m
máxima 0,30 m

– Relação entre A e B: mínima 1:2


máxima 1:3
– Cor: Branca

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

c) Linha de Bordo
Delimita a parte da pista des nada ao deslocamento de veículos.

475
– Largura das linhas: mínima 0,10 m
máxima 0,30 m

– Cor: Branca

Exemplo de Aplicação:

d) Linha de Con nuidade


Proporciona con nuidade a outras marcações longitudinais, quando há quebra no seu alinhamento visual.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

476
– Largura da linha: a mesma da linha à qual dá con nuidade.
– Relação entre A e B = 1:1.
– Cor branca, quando dá con nuidade a linhas brancas; cor amarela, quando dá con nuidade a linhas amarelas.

Exemplo de Aplicação:

2.2.3. Marcas Transversais De acordo com a sua função, as marcas transversais são
Ordenam os deslocamentos frontais dos veículos e os subdivididas nos seguintes pos:
harmonizam com os deslocamentos de outros veículos e a) Linha de Retenção
dos pedestres, assim como informam os condutores sobre Indica ao condutor o local limite em que deve parar o
a necessidade de reduzir a velocidade e indicam travessia veículo.
de pedestres e posições de parada. Em casos específicos
têm poder de regulamentação.

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

477
b) Linhas de Es mulo à Redução de Velocidade
Conjunto de linhas paralelas que, pelo efeito visual, induzem o condutor a reduzir a velocidade do veículo.

c) Linha de “Dê a Preferência”


Indica ao condutor o local limite em que deve parar o veículo, quando necessário, em locais sinalizados com a placa R-2.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

478
Exemplo de Aplicação:

d) Faixas de Travessia de Pedestres


Regulamentam o local de travessia de pedestres.

– Largura da linha – A: mínima 0,30 m


máxima 0,40 m

– Distâncias entre as linhas – B: mínima 0,30 m


máxima 0,80 m

– Largura da faixa – C: em função do volume de pedestres e da visibilidade mínima 3,00 m


recomendadad 4,00 m
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

– Largura da linha – D: mínima 0,40 m


máxima 0,60 m

– Largura da faixa – E: mínima 3,00 m


recomendada 4,00 m

– Cor: branca

479
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

480
Exemplos de Aplicação:
e) Marcação de Cruzamentos Rodocicloviários
Regulamenta o local de travessia de ciclistas.

Exemplo de aplicação:

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

481
f) Marcação de Área de Conflito
Assinala aos condutores a área da pista em que não devem parar e estacionar os veículos, prejudicando a circulação.

– Largura da linha de borda externa – A: mínima 0,15 m


– Largura das linhas internas – B: mínima 0,10 m
– Espaçamento entre os eixos das linhas internas – C: mínimo 1,00 m
– Cor: amarela

Exemplos de aplicação:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

482
g) Marcação de Área de Cruzamento com Faixa Exclusiva
Indica ao condutor a existência de faixa(s) exclusiva(s).

2.2.4. Marcas de Canalização


Orientam os fluxos de tráfego em uma via, direcionando a circulação de veículos. Regulamentam as áreas de pavimento
não u lizáveis.
Devem ser na cor branca quando direcionam fluxos de mesmo sen do e na proteção de estacionamento e na cor ama-
rela quando direcionam fluxos de sen dos opostos.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

483
Área de proteção
Dimensões Circulação
de estacionamento
Largura da linha lateral A mínima 0,10 m mínima 0,10 m
mínima 0,30 m mínima 0,10 m
Largura da linha lateral B
máxima 0,50 m máxima 0,40 m
mínima 1,10 m mínima 0,30 m
Largura da linha lateral C
máxima 3,50 m máxima 0,60 m

Exemplos de aplicação:

Ordenação de Movimentos em Trevos com Alças e Faixas de aceleração / desaceleração

Ordenação de Movimento em Retornos com Faixa Adicional para o Movimento


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

484
Ilhas de Canalização e Refúgio para Pedestres

Canteiro Central Formado com Marcas de Canalização com Conversão à Esquerda

Marca de Alternância do Movimento de Faixas por Sen do

Ilhas de Canalização Envolvendo Obstáculos na Pista

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Acomodação para Início de Canteiro Central

485
Acomodação para início de canteiro central b) Marca Delimitadora de Parada de Veículos Específicos
Delimita a extensão da pista des nada à operação ex-
clusiva de parada. Deve sempre estar associada ao sinal de
regulamentação correspondente.
É opcional o uso destas sinalizações quando u lizadas
junto ao marco do ponto de parada de transporte cole vo.

opcional

opcional calçada opcional

opcional

calçada

opcional

calçada

2.2.5 Marcas de Delimitação e Controle de Estaciona- opcional


mento e/ou Parada
Delimitam e propiciam melhor controle das áreas em calçada

que é proibido ou regulamentado o estacionamento e a


parada de veículos, quando associadas à sinalização ver-
cal de regulamentação. Em casos específicos, tem poder – Largura da linha: mínima 0,10m
de regulamentação. De acordo com sua função as marcas máxima 0,20mm
de delimitação e controle de estacionamento e parada são
subdivididas nos seguintes pos: – Cor: amarela
a) Linha de Indicação de Proibição de Estacionamento
e/ou Parada
Delimita a extensão da pista ao longo da qual aplica-se a Exemplos de Aplicação:
proibição de estacionamento ou de parada e estacionamento
estabelecida pela sinalização ver cal correspondente. Marca Delimitadora para Parada de Ônibus em Faixa
de Trânsito

– Largura da linha: mínima 0,10m


máxima 0,20mm
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

- Cor: amarela
Exemplo de Aplicação: Marca Delimitadora para Parada de ônibus em Faixa de
Estacionamento

486
Marca Delimitadora para Parada de Ônibus feita em • Paralelo ao meio-fio:
Reentrância da Calçada
– Linha simples con nua ou tracejada

– Largura da linha: mínima 0,10m


máxima 0,20mm
– Relação: 1:1
– Cor: branca
• Em ângulo:
Marca Delimitadora para Parada de Ônibus em Faixa de
Trânsito com Avanço de Calçada na Faixa de Estacionamento – Linha con nua

Marca Delimitadora para Parada de Ônibus com Supressão


de Parte da Marcação – Dimensões:
A = mínima 0,10 m
máxima 0,20 m
B = largura efe va da vaga
C = comprimento da vaga
D = mínima 0,20 m
máxima 0,30 m
B e C, estabelecidas em função das dimensões dos veí-
culos a u lizar as vagas.
– Cor: branca
Exemplos de Aplicação:
Estacionamento Paralelo ao Meio-Fio
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

c) Marca Delimitadora de Estacionamento Regula-


mentado
Delimita o trecho de pista no qual é permi do o estacio-
namento estabelecido pelas normas gerais de circulação e
conduta ou pelo sinal R-6b.

487
Marca com Delimitação da Vaga Estacionamento em Áreas Isoladas

Marca sem Delimitação da Vaga

2.2.6 Inscrições no Pavimento


Melhoram a percepção do condutor quanto às condi-
ções de operação da via, permi ndo-lhe tomar a decisão
adequada, no tempo apropriado, para as situações que se
lhe apresentarem. São subdivididas nos seguintes pos:
a) Setas Direcionais

Siga em frente Vire à esquerda

Estacionamento em Ângulo

Vire à direita Siga em frente ou


vire à esquerda
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Siga em frente Retorno à


ou vire à direita esquerda

Retorno à
direita

488
– Comprimento da seta:
Fluxo veicular: mínimo 5,00 m
máximo 7,50 m
Fluxo pedestre (somente seta “Siga em Frente” com
parte da haste suprimida):
mínimo 2,00 m
máximo 4,00 m
– Cor: branca
Indica vo de Mudança Obrigatório de Faixa

– Comprimento da seta: mínimo 5,00 m


máximo 7,50 m
– Cor: branca
Indica vo de Movimento em Curva (Uso em Situação de
Curva Acentuada)

– Comprimento da seta: mínimo 4,50 m


– Cor: branca
Exemplos de Aplicação:

b) Símbolos
Indicam e alertam o condutor sobre situações específicas
na via
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

• “Dê a Preferência”

Indica vo de Interseção com Via que Tem Preferência

– Dimensões: comprimento mínimo 3,60 m


máximo 6,00 m

– Cor: branca

489
• “Cruz de Santo André” Exemplos de Aplicação:

Indica vo de cruzamento rodoferroviário

– Comprimento: 6,00 m

– Cor: branca

• “Bicicleta”

Indica vo de via, pista ou faixa de trânsito de uso de


ciclistas

c) Legendas
Advertem acerca de condições par culares de opera-
ção da via e complementam os sinais de regulamentação
e advertência.

– Cor: branca

• “Serviços de Saúde”

Indica vo de área ou local de serviços de saúde

– Dimensão: diâmetro mínimo 1,20 m


– Cor: conforme indicado

• “Deficiente Físico” Obs.: Para legendas curtas a largura das letras e algarismos
podem ser maiores.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Indica vo de local de estacionamento de veículos que – Comprimento mínimo:


transportam ou que sejam conduzidos por pessoas porta- Para legenda transversal ao fluxo veicular: 1,60 m
doras de deficiências sicas
Para legenda longitudinal ao fluxo veicular: 0,25 m

– Cor: branca

Exemplos de Legendas:

– Dimensão: lado mínimo 1,20 m


– Cor: conforme indicado

490
Cor do elemento refletivo: – Branca: para ordenar
fluxos de mesmo sen do; – Amarela: para ordenar fluxos
de sen dos opostos; – Vermelha: em vias rurais, de pista
simples, duplo sen do de circulação, podem ser u lizadas
unidades refle vas na cor vermelha, junto ao bordo da pista
ou acostamento do sen do oposto.

Exemplo:

 Balizadores de Pontes, Viadutos, Túneis, Barreiras


e Defensas: unidades refle vas afixadas ao longo
do guarda-corpo e/ou mureta de obras de arte, de
barreiras e defensas.

Cor do elemento refle vo: – Branca: para ordenar fluxos


de mesmo sen do; – Amarela: para ordenar fluxos de sen-
dos opostos; – Vermelha: em vias rurais, de pista simples,
3. DISPOSITIVOS AUXILIARES duplo sen do de circulação, podem ser u lizadas unidades
refle vas na cor vermelha, afixados no guarda-corpo ou mu-
Disposi vos Auxiliares são elementos aplicados ao pa- reta de obras de arte, barreiras e defensas do sen do oposto.
vimento da via, junto a ela, ou nos obstáculos próximos, de Exemplo:
forma a tornar mais eficiente e segura a operação da via. São
cons tuídos de materiais, formas e cores diversos, dotados
ou não de refle vidade, com as funções de: – incrementar
a percepção da sinalização, do alinhamento da via ou de
obstáculos à circulação; – reduzir a velocidade pra cada; –
oferecer proteção aos usuários; – alertar os condutores
quanto a situações de perigo potencial ou que requeiram
maior atenção.
Os Disposi vos Auxiliares são agrupados, de acordo
com suas funções, em: – Disposi vos Delimitadores; – Dis-
posi vos de Canalização; – Disposi vos de Sinalização de
Alerta; – Alterações nas Caracterís cas do Pavimento; –
Disposi vos de Proteção Con nua; – Disposi vos Lumino-
sos; – Disposi vos de Proteção a Áreas de Pedestres e/ou  Tachas: elementos contendo unidades refletivas,
Ciclistas; – Disposi vos de Uso Temporário. aplicados diretamente no pavimento.
 Cor do corpo: branca ou amarela, de acordo com a
marca viária que complementa.
3.1. DISPOSITIVOS DELIMITADORES
Cor do elemento refletivo: – Branca: para ordenar
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

São elementos u lizados para melhorar a percepção do fluxos de mesmo sen do; – Amarela: para ordenar fluxos
condutor quanto aos limites do espaço des nado ao rola- de sen dos opostos, – Vermelha: em rodovias, de pista
mento e a sua separação em faixas de circulação. São apostos simples, duplo sen do de circulação, podem ser u lizadas
em série no pavimento ou em suportes, reforçando marcas unidades refle vas na cor vermelha, junto à linha de bordo
viárias, ou ao longo das áreas adjacentes a elas. do sen do oposto.
Podem ser mono ou bidirecionais em função de possu-
írem uma ou duas unidades refle vas. O po e a(s) cor(es) Especificação mínima: Norma ABNT.
das faces refle vas são definidos em função dos sen dos de
circulação na via, considerando como referencial um dos sen-
dos de circulação, ou seja, a face voltada para este sen do.

Tipos de Disposi vos Delimitadores:


 Balizadores: unidades refle vas mono ou bidirecio-
nais, afixadas em suporte.

491
Exemplo de aplicação: Planta Vista

Segregadores: tem a função de segregar pistas para


uso exclusivo de determinado po de veículo ou pedestres. –
Cor: amarela.

Exemplo:

Planta Vista

 Tachões: elementos contendo unidades refle vas,


aplicados diretamente no pavimento.
 Cor do corpo: amarela
3.3. Disposi vos de Sinalização de Alerta
Cor do elemento refletivo: – Branca: para ordenar
fluxos de mesmo sen do; – Amarela: para ordenar fluxos São elementos que têm a função de melhorar a percep-
de sen dos opostos; – Vermelha: em rodovias, de pista ção do condutor quanto aos obstáculos e situações gerado-
ras de perigo potencial à sua circulação, que estejam na via
simples, duplo sen do de circulação, podem ser u lizadas
ou adjacentes à mesma, ou quanto a mudanças bruscas no
unidades refle vas na cor vermelha, junto à linha de bordo
alinhamento horizontal da via.
do sen do oposto.
Possuem as cores amarela e preta quando sinalizam
situações permanentes e adquirem cores laranja e branca
Especificação mínima: Norma ABNT. quando sinalizam situações temporárias, como obras.

Tipos de Disposi vos de Sinalização de Alerta:

Marcadores de Obstáculos: unidades refle vas apostas


no próprio obstáculo, des nadas a alertar o condutor quanto
à existência de obstáculo disposto na via ou adjacente a ela.

 Cilindros Delimitadores

Exemplo de aplicação:

– Cor do corpo: preta


Marcadores de Perigo: unidades refle vas fixadas em
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

– Cor do material refle vo: amarela.


suporte des nadas a alertar o condutor do veículo quanto
a situação potencial de perigo.
3.2. Disposi vos de Canalização
Marcador de Perigo Marcador de Perigo Marcador de Perigo
indicando que a indicando que a passagem indicando que a
passagem deverá ser poderá ser feita tanto pela passagem deverá ser
feita pela direita direita como pela esquerda feita pela esquerda
Os disposi vos de canalização são apostos em série sobre
a super cie pavimentada.
Marcador de Perigo indicando
que a passagem deverá ser feita
tanto pela direita como pela esquerda

Tipos de Disposi vos de Canalização:

Prismas: tem a função de subs tuir a guia da calçada


(meio-fio) quando não for possível sua construção imedia-
ta. – Cor: branca ou amarela, de acordo com a marca viária
que complementa.

492
Marcadores de Alinhamento: unidades refle vas fixa- Disposi vos de Contenção e Bloqueio
das em suporte, des nadas a alertar o condutor do veículo
quando houver alteração do alinhamento horizontal da via. Exemplos:

Tipos de Disposi vos para Fluxo Veicular:


3.4. Alterações nas Caracterís cas do Pavimento
Defensas Metálicas
São recursos que alteram as condições normais da pista
de rolamento, quer pela sua elevação com a u lização de Especificação mínima: Norma ABNT
disposi vos sicos colocados sobre a mesma, quer pela
mudança ní da de caracterís cas do próprio pavimento.
São u lizados para:
– es mular a redução da velocidade;
– aumentar a aderência ou atrito do pavimento;
– alterar a percepção do usuário quanto a alterações de
ambiente e uso da via, induzido-o a adotar comportamento
cauteloso;
– incrementar a segurança e/ou criar facilidades para a
circulação de pedestres e/ou ciclistas.
Barreiras de Concreto
3.5. Disposi vos de Proteção Con nua
Especificação mínima: Norma ABNT
São elementos colocados de forma con nua e perma-
nente ao longo da via, confeccionados em material flexível, Exemplos:
maleável ou rígido, que têm como obje vo:
– evitar que veículos e/ou pedestres transponham de-
terminado local;
– evitar ou dificultar a interferência de um fluxo de veí-
culos sobre o fluxo oposto.

Tipos de Disposi vos para Fluxo de Pedestres e Ciclistas:

Gradis de Canalização e Retenção

Devem ter altura máxima de 1,20 m e permi r intervisi-


bilidade entre veículos e pedestres.

Exemplos:
Disposi vos An -ofuscamento

Especificação mínima: Norma ABNT


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Exemplos:

493
3.6. Disposi vos Luminosos Cilindro
Especificação mínima: Norma ABNT
São disposi vos que se u lizam de recursos luminosos
para proporcionar melhores condições de visualização da Exemplos:
sinalização, ou que, conjugados a elementos eletrônicos,
permitem a variação da sinalização ou de mensagens,
como por exemplo: – advertência de situação inesperada à
frente; – mensagens educa vas visando o comportamento
adequado dos usuários da via; – orientação em praças de
pedágio e pá os públicos de estacionamento; – informação
sobre condições operacionais das vias; – orientação do trân-
sito para a u lização de vias alterna vas; – regulamentação
de uso da via.
Balizador Móvel
Tipos de Disposi vos Luminosos:

Painéis Eletrônicos

Tambores

Exemplos:
Painéis com Setas Luminosas

Exemplos:

Fita Zebrada

Exemplo:
3.7. Disposi vos de uso Temporário
São elementos fixos ou móveis diversos, u lizados em
situações especiais e temporárias, como operações de
trânsito, obras e situações de emergência ou perigo, com o
obje vo de alertar os condutores, bloquear e/ou canalizar
o trânsito, proteger pedestres, trabalhadores, equipamen-
tos etc.

Aos disposi vos de uso temporário estão associadas as


cores laranja e branca.

Tipos de Disposi vos de uso Temporário:


LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Cones
Cavaletes
Especificação mínima: Norma ABNT
Exemplos:
Exemplos:

494
Exemplos:

Barreiras

Exemplos:

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

495
Tapumes

Gradis

Exemplos:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Elementos Luminosos Complementares

Exemplos:

496
Bandeiras

Faixas

Exemplos:

4. SINALIZAÇÃO SEMAFÓRICA 4.1. Sinalização Semafórica de Regulamentação

A sinalização semafórica é um subsistema da sinalização A sinalização semafórica de regulamentação tem a função


viária que se compõe de indicações luminosas acionadas de efetuar o controle do trânsito num cruzamento ou seção
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

alternada ou intermitentemente pelo sistema elétrico/ele- de via, através de indicações luminosas, alternando o direito
trônico, cuja função é controlar os deslocamentos. de passagem dos vários fluxos de veículos e/ou pedestres.
Existem dois (2) grupos: – a sinalização semafórica de
regulamentação; – a sinalização semafórica de advertência.
4.1.1. Caracterís cas
Formas e Dimensões Compõe-se de indicações luminosas de cores preesta-
belecidas, agrupadas em um único conjunto, dispostas ver-
Forma do calmente ao lado da via ou suspensas sobre ela, podendo
Semáforo Des nado a Dimensão da Lente neste caso ser fixadas horizontalmente.
Foco
Movimento Veicular Circular Diâmetro: 200 mm
4.1.2. Cores das Indicações Luminosas
ou 300 mm
As cores u lizadas são:
Movimento de Pedes- Quadrado Lado mínimo: 200 a) Para controle de fluxo de pedestres: – Vermelha:
tres e Ciclistas mm indica que os pedestres não podem atravessar. – Vermelha

497
Intermitente: assinala que a fase durante a qual os pedestres o condutor parar o veículo, salvo se isto resultar em situação
podem atravessar está a ponto de terminar. Isto indica que de perigo. – Verde: indica permissão de prosseguir na marcha,
os pedestres não podem começar a cruzar a via e os que te- podendo o condutor efetuar as operações indicadas pelo sinal
nham iniciado a travessia na fase verde se desloquem o mais luminoso, respeitadas as normas gerais de circulação e conduta.
breve possível para o local seguro mais próximo. – Verde:
assinala que os pedestres podem atravessar. 4.1.3. Tipos
b) Para controle de fluxo de veículos: – Vermelha: indica a) Para Veículos: – Compostos de três indicações lu-
obrigatoriedade de parar – Amarela: indica “atenção”, devendo minosas, dispostas na sequência preestabelecida abaixo:

O acendimento das indicações luminosas deve ser na cal composto de dois focos vermelhos, um amarelo e
sequência verde, amarelo, vermelho, retornando ao verde. um verde – Compostos de duas indicações luminosas,
Para efeito de segurança recomenda-se o uso de, dispostas na sequência preestabelecida abaixo. Para uso
no mínimo, dois conjuntos de grupos focais por apro- exclusivo em controles de acesso específico, tais como
ximação, ou a utilização de um conjunto de grupo fo- praças de pedágio e balsa.

Com símbolos, que podem estar isolados ou integrando um semáforo de três ou duas indicações luminosas.

Exemplos:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

498
em determinados horários e situações específicas. Fica o con-
dutor do veículo obrigado a reduzir a velocidade e respeitar
o disposto no Ar go 29, inciso III, alínea C.

5. SINALIZAÇÃO DE OBRAS
A Sinalização de Obras tem como caracterís ca a u liza-
ção dos sinais e elementos de Sinalização Ver cal, Horizontal,
Semafórica e de Disposi vos e Sinalização Auxiliares combi-
nados de forma que: – os usuários da via sejam adver dos so-
bre a intervenção realizada e possam iden ficar seu caráter
temporário; – sejam preservadas as condições de segurança
e fluidez do trânsito e de acessibilidade; – os usuário sejam
orientados sobre caminhos alterna vos; – sejam isoladas
as áreas de trabalho, de forma a evitar a deposição e/ou
lançamento de materiais sobre a via.
b) Para Pedestres Na sinalização de obras, os elementos que compõem a
sinalização ver cal de regulamentação, a sinalização hori-
zontal e a sinalização semafórica têm suas caracterís cas
preservadas.
A sinalização ver cal de advertência e as placas de orien-
tação de des no adquirem caracterís cas próprias de cor,
sendo adotadas as combinações das cores laranja e preta.
Entretanto, mantém as caracterís cas de forma, dimen-
sões, símbolos e padrões alfanuméricos:

Sinalização ver cal de Cor u lizada para


4.2. Sinalização Semafórica de Advertência Advertência ou de Indicação Sinalização de Obras
Fundo Laranja
A sinalização semafórica de advertência tem a função
de adver r da existência de obstáculo ou situação perigo- Símbolo Preta
sa, devendo o condutor reduzir a velocidade e adotar as Orla Preta
medidas de precaução compa veis com a segurança para
seguir adiante. Tarja Preta
Setas Preta
4.2.1. Caracterís cas
Compõe-se de uma ou duas luzes de cor amarela, cujo Letras Preta
funcionamento é intermitente ou piscante alternado, no
caso de duas indicações luminosas. Os disposi vos auxiliares obedecem as cores estabeleci-
das no capítulo 3 deste Anexo, mantendo as caracterís cas
de forma, dimensões, símbolos e padrões alfanuméricos.

São exemplos de sinalização de obras: LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

No caso de grupo focal de regulamentação, admite-se o


uso isolado da indicação luminosa em amarelo intermitente,

499
6. Gestos

a) Gestos de Agentes da Autoridade de Trânsito


As ordens emanadas por gestos de Agentes da Autoridade de Trânsito prevalecem sobre as regras de circulação e as
normas definidas por outros sinais de trânsito. Os gestos podem ser:

Significado Sinal

Ordem de parada obrigatória


para todos os veículos. Quan-
do executada em interseções,
os veículos que já se encon-
trem nela não são obrigados Braço levantado ver calmente, com a palma da mão para a frente.
a parar.

Ordem de parada para todos


os veículos que venham de
direções que cortem ortogo- Braços estendidos horizontalmente, com a palma da mão para
nalmente a direção indicada a frente.
pelos braços estendidos, qual-
quer que seja o sen do de
seu deslocamento.

Ordem de parada para todos


os veículos que venham de
direções que cortem ortogo-
Braço estendido horizontalmente, com a palma
nalmente a direção indicada
da mão para frente, do lado do trânsito a que se
pelo braço estendido, qual-
des na.
quer que seja o sen do de seu
deslocamento.

Braço estendido horizontalmente, com a palma da mão para baixo,


Ordem de diminuição da velo- fazendo movimentos ver cais.
cidade.

Ordem de parada para os veí- Braço estendido horizontalmente, agitando uma luz vermelha
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

culos aos quais a luz é dirigida. para um determinado veículo.

Braço levantado, com movimento de antebraço da frente para a retaguarda


Ordem de seguir. e a palma da mão voltada para trás.

500
b) Gestos de Condutores

Significado Sinal

Dobrar à esquerda

Dobrar à direita

Diminuir a marcha ou
parar

Obs.: Válido para todos os pos de veículos.

Sinais Sonoros

Sinais de apito Significado Emprego


liberar o trânsito em direção /
um silvo breve siga
sen do indicado pelo agente.
dois silvos
pare indicar parada obrigatória
breves
diminuir a quando for necessário fazer
um silvo longo
marcha diminuir a marcha dos veículos.

Os sinais sonoros somente devem ser u lizados em conjunto com os gestos dos agentes.

EXERCÍCIOS 5. Ao serem estacionadas, as motocicletas devem manter


um ângulo de cerca de 90º em relação ao meio-fio, ex-
Cespe/Detran-ES/Cargo: Assistente ceto quando a sinalização de estacionamento no local
Técnico de Trânsito/2010 determine outra condição.
6. Quando não houver faixa des nada aos veículos de
O CTB prevê diversas a tudes que visam à boa condução dos tração animal, estes devem ser conduzidos à direita da
veículos e prá cas de direção defensiva. Com relação às nor- pista, junto ao meio-fio ou pelo acostamento, e seus
mas gerais de circulação e conduta, julgue os itens de 1 a 5. condutores devem seguir, no que couber, as normas
1. Em condomínios cons tuídos por unidades autônomas, especificadas no CTB e outras que vierem a ser fixadas
a implantação e a manutenção da sinalização que pelos órgãos competentes.
regulamenta o uso de suas vias internas competem
exclusivamente ao condomínio, cabendo à respec va Cada um dos itens subsequentes apresenta uma situação
prefeitura municipal – ou ao governo do estado, se for hipoté ca, seguida de uma asser va a ser julgada, com base
o caso – sua fiscalização e regulamentação. no que prevê o CTB em relação a condução de veículos,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

2. Os únicos casos em que é permi do ao condutor usar a infrações e penalidades.


buzina, desde que em toque breve, são: quando, para 7. Certo dia, Félix foi convidado por alguns colegas da
evitar acidentes, for necessário fazer advertências; e, faculdade para ir a um bar após as aulas, dirigindo-se
fora de áreas urbanas, quando for conveniente, para até lá de motocicleta. Bebeu em demasia e, quando
avisar a outro condutor que se pretende ultrapassá-lo. foi embora, esqueceu o capacete no balcão do esta-
3. Visando maior segurança, ao trafegar em vias urbanas belecimento. Tentou voltar para buscá-lo, mas o bar já
ou rurais de pista dupla, o ciclista amador deve se co- havia fechado, então, resolveu voltar para casa assim
locar no sen do contrário ao fluxo normal, visto que, mesmo. Parado por um agente de trânsito, apesar de
desse modo, terá melhor visibilidade dos veículos que ter explicado a situação, teve sua habilitação re da
dele se aproximem. e sua motocicleta apreendida. Nessa situação, Félix
4. Caso o proprietário de um rebanho deseje deslocar seus responderá, cumula vamente, pelas duas infrações
animais por uma rodovia, estes só poderão circular pela (pilotar sem capacete e sob efeito de álcool), contudo,
pista de rolamento se forem conduzidos por um guia, ser-lhe-á aplicada apenas a penalidade referente à
que deve mantê-los junto ao bordo da pista. infração mais grave.

501
8. Devidamente habilitado, João conduzia uma motoci- per nente do CONTRAN foi modificada e, a par r de
cleta na qual transportava seu filho, Carlos, que nha agosto de 2010, crianças usuárias das cadeirinhas terão
apenas nove anos de idade, quando foi interceptado de viajar apenas no banco de trás dos veículos.
em um posto móvel de fiscalização de trânsito. Nessa 16. O extintor de incêndio é equipamento obrigatório
situação, em face da idade de Carlos, o agente de em todos os veículos automotores, excetuando-se as
trânsito responsável pela abordagem de João deveria motocicletas, os triciclos, os ciclomotores, os tratores,
tê-lo multado e deveria ter-lhe aplicado a medida ad- os veículos de coleção e os des nados a exportação.
ministra va de recolhimento imediato da CNH. Sua durabilidade mínima deve variar entre três e cinco
9. Antônio, morador de zona rural, teve seu direito de anos, conforme o veículo a que se des nar.
dirigir suspenso após ter come do uma infração gravís-
sima no trânsito. Apesar desse fato, voltou a usar sua Com relação às infrações de trânsito, julgue os itens sub-
motocicleta, visto que precisava ir à cidade comprar secu vos.
insumos usados em sua lavoura. Nessa situação, caso 17. Comprovada a embriaguez, o condutor terá seu veículo
seja abordado por agente de fiscalização de trânsito, apreendido e sua CNH cancelada pelo período de um
e uma vez confirmada a reincidência, Antônio terá sua ano e, caso queira voltar a conduzir veículo automotor,
motocicleta apreendida e será multado, mas não po- terá de realizar, após este período, todos os exames
derá sofrer qualquer outra sanção, visto que sua CNH para a obtenção de nova habilitação.
já havia sido suspensa. 18. A chamada Lei Seca diz respeito à fiscalização de condu-
10. Pedro pilotava sua motocicleta em uma rodovia, em tores sob efeito de álcool e também de qualquer outra
velocidade compa vel com a via, quando foi parado substância psicoa va que cause dependência. Portanto,
em uma blitz. Na ocasião, o agente de trânsito abordou o condutor que apresentar sintomas de torpor ou eufo-
Pedro, adver ndo-o de que seria multado e teria sua ria, mesmo que não se evidencie a existência de álcool
CNH recolhida por estar transitando com os faróis do em seu organismo pelo bafômetro, pode ser subme do
veículo apagados. Inconformado, Pedro disse ao agente a outros exames pelas autoridades de trânsito e sofrer
de trânsito que não poderia perder o direito à direção, as mesmas penalidades.
visto que usava todos os equipamentos de segurança
exigidos por lei e que nunca havia sido multado, não Motorista que atropelou três crianças
tendo acumulado sequer um ponto em seu prontuário. é liberado após prestar depoimento
Nessa situação, independentemente da boa conduta
pregressa de Pedro, o agente de trânsito agiu correta- O motorista do caminhão que, no úl mo dia 14, atrope-
mente, de acordo com o CTB. lou três meninas e bateu em casas da avenida Almir Dehar,
na Zona Norte de São Paulo, foi indiciado por lesão corporal
Com relação a segurança e condução de veículos automoto- culposa, tendo sido liberado após prestar depoimento. Ele
res, julgue os próximos itens, considerando que a denomi- deixou a delegacia sem falar com os jornalistas. O veículo
nação Lei da Cadeirinha, sempre que empregada, refere-se estava sem licenciamento havia três anos e o motorista não
à Resolução nº 277/2008 do CONTRAN. era habilitado.
11. É proibida a ultrapassagem de veículos em vias com Internet: <www.g1.globo.com> (com adaptações).
duplo sen do de direção e pista única, nos trechos em
curvas e em aclives nos quais a visibilidade seja insufi- Considerando os fatos narrados no texto acima, julgue os
ciente. Em pontes e viadutos, desde que a visibilidade próximos itens.
seja boa e garanta a segurança, a ultrapassagem é per- 19. Por ter causado acidente grave, caso fosse habilitado e
mi da, mesmo não havendo sinalização nesse sen do. desejasse voltar a conduzir veículo automotor, o con-
12. De acordo com o CTB, nas rodovias, a velocidade dutor seria obrigado a fazer novos exames de saúde,
máxima permitida para automóveis, camionetas e psicológicos e de direção, sumariamente, a critério da
motocicletas é de cento e dez quilômetros por hora. autoridade execu va estadual de trânsito.
13. De acordo com o CTB, o uso do cinto de segurança é 20. Além de ter de responder penalmente pelo fato, o mo-
obrigatório a todos os ocupantes do veículo em todas torista do caminhão, como dirigia sem habilitação,
as vias do território nacional, sendo vedada qualquer o que corresponde a infração gravíssima, está sujeito
modificação de seu disposi vo, quer seja para travar a multa e apreensão do veículo. Caso o proprietário do
caminhão tenha autorizado o infrator a conduzir seu
ou afrouxar o sistema.
veículo, este também terá sua CNH recolhida.
O não cumprimento dessa norma corresponde a infração
grave e sujeita o condutor a multa e retenção do veículo GABARITO
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

para regularização.
14. A Lei da Cadeirinha, que é um aperfeiçoamento da le- 1. E 13. C
gislação de trânsito, estabelece condições de segurança 2. C 14. C
para o transporte de passageiros com idade inferior a 3. E 15. E
dez anos. Não obstante, essa lei não se aplica ao trans- 4. C 16. C
porte cole vo, aos táxis e a veículos cujo peso bruto 5. C 17. E
total seja superior a 3,5 toneladas. 6. C 18. C
15. Em uma primeira versão da chamada Lei da Cadeirinha, 7. E 19. E
os condutores de veículos dotados de airbag para pro- 8. E 20. C
teção ao passageiro do banco dianteiro foram autori- 9. E
zados a usar a cadeirinha de crianças nesses assentos,
10. C
desde que a cadeirinha fosse compa vel com o peso
11. E
e a altura da criança transportada; entretanto, como
tal permissão contradizia o próprio CTB, a resolução 12. C

502
Sérgio Bautzer / André Portela Já a pena em concreto (aquela que é fixada pelo juiz na
sentença) tem finalidade retribu va – retribui com um mal
LEI DE EXECUÇÃO PENAL LEP o mal causado pelo crime, além de buscar evitar que o con-
LEI Nº 7.210/1984 denado seja reincidente, ou seja, que ele volte a delinquir.
A pena em execução concre za a prevenção especial e a
Conceito de Execução Penal retribuição, tendo por finalidade a ressocialização do preso.

Nas palavras de Guilherme Nucci (2009, p. 432), Caracterís cas da Pena

trata-se de fase do processo penal, em que se faz Segundo Fernando Capez (2008), são caracterís cas
valer o comando con do na sentença condenatória da pena:
penal, impondo-se, efe vamente, a pena priva va
a) legalidade (art. 1º, CP, e art. 5º, XXXIX, CF): a pena deve
de liberdade, a pena restri va de direitos ou a pe-
cuniária. estar prevista em lei (sen do estrito), não sendo admi da
sua previsão por meio de regulamento ou ato norma vo
É a fase processual em que o Estado faz valer sua pre- infralegal.
tensão puni va que, na execução, desdobra-se em preten- b) anterioridade (art. 1º, CP, e art. 5º, XXXIX, CF): a lei
são executória (NUCCI, 2008, p. 400). Como bem ilustra o deve ser anterior à prá ca da infração penal por ela prevista.
Professor Mário Coimbra (2009, p. 25), é com a execução c) personalidade (art. 5º, XLV, CF): a pena não pode
da sentença que se dá vida à sanção penal. passar da pessoa do condenado.
d) individualidade (art. 5º, XLVI, CF): a imposição e o cum-
Obje vo da Execução Penal primento da pena deverão observar as condições individuais
de culpabilidade do condenado e da sentença condenatória.
Rege o art. 1º da Lei nº 7.210/1984 que
e) inderrogabilidade: a aplicação da pena é obrigatória,
a execução penal tem por objetivo efetivar as salvo as exceções legais.
disposições de sentença ou decisão criminal e pro- f) proporcionalidade (art. 5º, XLVI e XLVII, CF): a pena
porcionar condições para a harmônica integração deve ser proporcional ao crime pra cado.
social do condenado e do internado1. g) humanidade (art. 75, CP, e art. 5º, XLVIII, CF): não
são admi das penas perpétuas, de trabalhos forçados, de
Segundo nos ensina o Professor Renato Marcão (2005, p. banimento, cruéis ou de morte, estas salvo nos casos de
2), a Lei de Execução Penal adotou a teoria mista ou eclé ca, guerra declarada.
em que a natureza retribu va da pena não busca apenas a
prevenção, mas também a humanização.
De acordo com Fernando Capez (2007, p. 19): Natureza Jurídica da Execução Penal

a execução aproxima-se da doutrina mista, tendo Trata-se de um processo jurisdicional.


finalidade precipuamente u litária e preven va, De acordo com Ada Pellegrini Grinover (1987, p. 7),
embora conserve seu caráter afli vo, por meio da
efe vação da sanção imposta na sentença condena- execução penal é a vidade complexa, que se desen-
tória. Pune-se o delinquente, ao mesmo tempo em volve, entrosadamente, nos planos jurisdicional e
que se busca sua recuperação.
administra vo. Nem se desconhece que dessa a vi-
São, portanto, duas finalidades da execução penal: dade par cipam dois Poderes estatais: o Judiciário
• proporcionar meios para que a sentença criminal seja e o Execu vo, por intermédio, respec vamente, dos
integralmente cumprida, e; órgãos jurisdicionais e dos estabelecimentos penais.
• reintegrar o sentenciado ao convívio social2.
Para Paulo Lúcio Nogueira (1996, p. 5-6),
Finalidades da Pena
a execução penal é de natureza mista, complexa
Segundo Capez (2008), a pena é e eclética, no sentido de que certas normas de
execução pertencem ao direito processual, como a
sanção penal de caráter afli vo, imposta pelo Estado,
solução de incidentes, enquanto outras que regulam
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

em execução de uma sentença, ao culpado pela prá -


ca de uma infração penal, consistente na restrição ou a execução propriamente dita pertencem ao direito
privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar administra vo.
a retribuição puni va ao delinquente, promover a
sua readaptação social e prevenir novas transgres- Na lição de Mirabete (1997, p. 25),
sões pela in midação dirigida a cole vidade.
[...] afirma-se na exposição de mo vos do projeto
A pena tem três finalidades: retribu va, preven va e res- que se transformou na Lei de Execução Penal:
socializadora. Quando a pena é cominada em abstrato (por
vencida a crença histórica de que o direito regula-
exemplo, crime de furto simples – pena mínima de 1 ano e
pena máxima de 4 anos), tem como finalidade a prevenção dor da execução é de índole predominantemente
geral (visa à sociedade, buscando evitar a prá ca do crime). administra va, deve-se reconhecer, em nome de
sua própria autonomia, a impossibilidade de sua
1
Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002.
inteira submissão aos domínios do Direito Penal e
2
Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002. Processual Penal.

503
Fundamento Cons tucional nais, des nados a mulheres, deverá haver berçário, onde
as condenadas possam amamentar seus filhos4, é o que
Conforme ensinamento de Paulo Lúcio Nogueira (1996, rege o art. 82, § 1º:
p. 7),
Art. 82. Os estabelecimentos penais des nam-se ao
estabelecida a aplicabilidade das regras previstas no condenado, ao subme do à medida de segurança,
Código de Processo Penal, é indispensável a existên- ao preso provisório5 e ao egresso.
cia de um processo, como instrumento viabilizador § 1º A mulher e o maior de sessenta anos, separada-
da própria execução, onde devem ser observados mente, serão recolhidos a estabelecimento próprio
os princípios e as garan as cons tucionais a saber: e adequado à sua condição pessoal. (Redação dada
legalidade, jurisdicionalidade, devido processo legal, pela Lei nº 9.460, de 4/6/1997).
verdade real, imparcialidade do juiz, igualdade das
partes, persuasão racional ou livre convencimento, Recentemente, o § 2º do art. 83 e o art. 89 da Lei de
contraditório e ampla defesa, inicia va das partes, Execução Penal sofreram alterações:
publicidade, oficialidade e duplo grau de jurisdição,
entre outros. Art. 83. [...]
§ 2º Os estabelecimentos penais des nados a mulhe-
Em diversas passagens da Cons tuição Federal, pode-se res serão dotados de berçário, onde as condenadas
perceber a proteção dada na execução penal. Assim, pode- possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los,
mos citar os incisos XLVI, XLVII, XIX, XLVIII, XLIX e L, todos do no mínimo, até 6 (seis) meses de idade. (Redação
art. 5º da Lei Fundamental. dada pela Lei nº 11.942, de 2009)

Princípios que Regem a Execução Penal3 Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88,
a penitenciária de mulheres será dotada de seção
Legalidade para gestante e parturiente e de creche para abrigar
crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7
Nas palavras de Capez (2007, p. 18), “a pena deve estar (sete) anos, com a finalidade de assis r a criança de-
prevista em lei vigente, não se admi ndo seja cominada em samparada cuja responsável es ver presa. (Redação
regulamento ou ato norma vo infralegal [...]”. dada pela Lei nº 11.942, de 2009)
Segundo o Professor Renato Flávio Marcão (2005, p. 2), Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e
pelo princípio da legalidade, da creche referidas neste ar go: (Incluído pela Lei
nº 11.942, de 2009)
todos os atos que envolvem a execução penal devem I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo
obediência aos limites do tulo execu vo judicial com as diretrizes adotadas pela legislação educacio-
decorrente da sentença penal condenatória ou de nal e em unidades autônomas; e (Incluído pela Lei
absolvição imprópria, observadas as disposições nº 11.942, de 2009)
norma vas que a informam. Qualquer ato fora dos II – horário de funcionamento que garanta a melhor
limites fixados no tulo execu vo cons tui excesso assistência à criança e à sua responsável. (Incluído
ou desvio de execução. pela Lei nº 11.942, de 2009)

Igualdade Individualização da Execução Penal ou Princípio da


Personalização da Execução Penal
Trata-se de princípio cons tucional que atua em todas
as áreas do relacionamento indivíduo-indivíduo e indiví- O princípio da individualização da pena traduz a diretriz
duo-Estado, segundo o qual o condenado não pode sofrer cons tucional con da no art. 5º, inciso XLVI, da Cons tui-
discriminação de natureza racial, social, religiosa ou polí ca, ção Federal, de orientação, aplicação e execução da pena,
durante a execução penal, salvo as dis nções em razão do segundo a qual
mérito pessoal do sentenciado e dos aspectos individuais
de cada execução. o condenado não só receba a pena adequada à re-
Percebe-se ni damente a concre zação do princípio provação e prevenção do crime, dentre os critérios
aludido pela leitura do parágrafo único do art. 3º da lei ora previamente estabelecidos em lei, mas que também,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

estudada: “Não haverá qualquer dis nção de natureza racial, no decorrer da execução, receba o condenado a
social, religiosa ou polí ca.” devida atenção do Estado, não só no que tange às
Admite-se a dis nção quanto à idade e quanto ao sexo, suas caracterís cas pessoais mas que, de igual forma,
senão vejamos o que dispõe o art. 41 da lei em estudo: a expiação seja atenuada, à medida que se constate
uma prognose posi va de reeducação penal. (COIM-
Art. 41. Cons tuem direitos do preso: BRA, 2009, p. 23).
XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exi-
gências da individualização da pena; De acordo com Capez (2007, p. 18): “A imposição da pena
e o cumprimento deverão ser individualizados de acordo com
Assim, a mulher e o maior de 60 anos, separadamente, a culpabilidade e o mérito do sentenciado”. Dispõe o art. 5º
serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à
sua condição pessoal. No caso dos estabelecimentos pe-
4
Promotor-RN/2004.
5
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-RJ/Delegado/2002; UEG/Agência
3
UEG/Agência Prisional/2002. Prisional/2002; Uespi/Agente Penitenciário/2006.

504
da lei em estudo: “Os condenados serão classificados, se- cons tucionais: contraditório, ampla defesa, duplo grau de
gundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar jurisdição, publicidade e legalidade.
a individualização da execução penal”.6 É garan do ao condenado, ainda, o direito à prova e o
direito de não se autoincriminar.
Fases da Individualização da Pena Sem embargo de posições divergentes, Guilherme
Na lição de Mário Coimbra (2009, p. 23), a individualiza- de Souza Nucci (2008, p. 456) sustenta que é suficiente a
ção da pena se processa em três fases dis ntas. garan a ao preso de apresentação de seus mo vos para o
• Primeira fase: o legislador fixa a pena de acordo com come mento da falta pessoalmente. Afirma que
a relevância do bem jurídico protegido e a gravidade
da conduta delituosa. não há necessidade de defesa técnica, inclusive para
• Segunda fase: é a fase da individualização judiciária. não burocra zar e emperrar o processo administra -
O juiz fixa a pena adequada ao caso concreto, determi- vo, que necessita ser célere para a garan a da ordem
nando de que forma será processada a sua execução.
e disciplina internas do estabelecimento penal.
• Terceira fase: trata-se do momento executório ou
administra vo da pena, em que se dá, efe vamente,
Complementa dizendo que
a individualização executória da pena. É a fase na qual
a individualização judiciária será executada.
caso exista abuso ou cerceamento de defesa,
Jurisdicionalidade invoca-se a atuação do juiz corregedor do presídio.
Nesse caso, ingressa a defesa técnica e a falta anotada
O princípio da jurisdicionalidade evidencia o sen do pode ser revista.
jurisdicional da execução penal, segundo o qual a atuação
do juiz se estende à execução penal em toda sua plenitude, A ampla defesa, na lição de Capez (2007, p. 21),
podendo ser provocado pelo condenado quando este ob-
servar violação a quaisquer de seus direitos ou agir de o cio compreende o direito à defesa técnica, efetuado por
para apurar fatos atentatórios das garan as previstas na Lei profissional habilitado, e o direito à autodefesa, que
de Execução Penal e na Cons tuição Federal (COIMBRA, é o direito do acusado de presenciar a realização das
2009, p. 21). provas produzidas contra si, o de oferecer as que
Nas palavras de Nucci (2009, p. 432) ver e o de ser ouvido antes de qualquer decisão
que altere a forma de execução da pena.
cuida-se da a vidade jurisdicional, voltada a tornar
efe va a pretensão puni va do Estado, em associa- Duplo Grau de Jurisdição
ção à a vidade administra va [...], assim a execução
penal tem natureza mista, pois também é composta Aplica-se o princípio do duplo grau de jurisdição à execu-
de episódios meramente administra vos. ção penal, pois “todas as decisões de conteúdo jurisdicional,
que concedam ou restrinjam um direito do sentenciado,
Reeduca vo (Ressocialização) submetem-se a recurso para a instância superior” (CAPEZ,
2007, p. 21).
Busca-se na execução penal a ressocialização do preso, O recurso adequado para impugnar as decisões pro-
para que ele volte a conviver em sociedade. feridas pelo Juiz no procedimento judicial nas situações
É primordial, na lei de Execução Penal, a reinserção do
previstas na Lei de Execução Penal é agravo.8
condenado e do internado na sociedade, apesar de serem
Cumpre destacar que o agravo em execução é o único
eles removidos do convívio social por determinado lapso
recurso previsto na Lei de Execução Penal, na forma do
de tempo.
Os instrumentos para reeducação estão previstos no disposto no art. 197.
art. 11 da lei analisada:
Humanidade
Art. 11. A assistência será:
I – material; Não são admi das as penas de morte, salvo em caso
II – à saúde; de guerra declarada, perpétuas, de trabalhos forçados9, de
III – jurídica; banimento e cruéis.
IV – educacional;
V – social; Da Execução Provisória da Pena
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

VI – religiosa.
Do Preso Provisório
A tulo de exemplo, o art. 17 da Lei de Execução Pe-
nal rege que a assistência educacional compreenderá a O preso provisório
instrução escolar e a formação profissional do preso e do
internado. 7 é aquele que se encontra segregado cautelarmente,
por força de prisão em flagrante, prisão temporária,
Devido Processo Legal, Contraditório e Ampla Defesa prisão preven va, prisão decorrente de pronúncia
ou sentença condenatória recorrível (COIMBRA,
Como existe o exercício da jurisdição, existe o processo. 2009, p. 26).
Se este existe, estarão presentes os seguintes princípios
6
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-PR/Exame 03-2006; UEG/Agência
8
Prisional/2002. Tema cobrado na seguinte prova: Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2007.
7 9
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 03-2006. UEG/Agência Prisional/2002.

505
O parágrafo único do art. 2º da LEP diz que as dispo- especial e extraordinário, em regra, não possuem
sições legais da execução penal são aplicáveis aos presos efeito suspensivo – v. Informa vos nos 367, 371 e
provisórios: 501. Salientou-se, de início, que a orientação até
agora adotada pelo Supremo, segundo a qual não
Art. 2º [...] há óbice à execução da sentença quando pendente
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao apenas recursos sem efeito suspensivo, deveria
preso provisório e ao condenado pela Jus ça Eleito- ser revista. Esclareceu-se que os preceitos veicula-
ral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento dos pela Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal,
sujeito à jurisdição ordinária. arts. 105, 147 e 164), além de adequados à ordem
cons tucional vigente (art. 5º, LVII: “ninguém será
Neste par cular, a LEP prevê ainda que as pessoas presas considerado culpado até o trânsito em julgado de
provisoriamente ficarão separadas das que já es verem sentença penal condenatória”), sobrepõem-se,
definitivamente condenadas10. Assim dispõe o art. 84, temporal e materialmente, ao disposto no art. 637
caput, da LEP: do CPP, que estabelece que o recurso extraordinário
não tem efeito suspensivo e, uma vez arrazoados
Art. 84. O preso provisório ficará separado do con- pelo recorrido os autos do traslado, os originais
denado por sentença transitada em julgado. baixarão à primeira instância para a execução da
sentença. Asseverou-se que, quanto à execução
Se o acusado é cautelarmente preso, antes da sentença da pena priva va de liberdade, dever-se-ia aplicar
condenatória se tornar irrecorrível, ficando recolhido em o mesmo entendimento fixado, por ambas as Tur-
estabelecimento prisional, deverá ser subme do às mesmas mas, rela vamente à pena restri va de direitos, no
regras que regem a execução penal. sen do de não ser possível a execução da sentença
O início formal da execução da pena dependerá ou não sem que se dê o seu trânsito em julgado. Aduziu-se
da prisão do condenado, pois ele já pode estar preso, seguida que, do contrário, além da violação ao disposto
no art. 5º, LVII, da CF, estar-se-ia desrespeitando o
da expedição da guia de recolhimento pelo Juiz.
princípio da isonomia. HC nº 84.078/MG, Rel. Min.
É possível a progressão de regime antes do trânsito em
Eros Grau, Plenário, 5/2/2009.
julgado da decisão condenatória segundo o STF, como dispõe
a Súmula nº 716:
Presos Condenados pela Jus ça Militar ou Eleitoral
Admite-se a progressão de regime de cumprimento
Na lição de Nucci (2008, p. 402),
da pena ou a aplicação imediata de regime menos
severo nela determinada, antes do trânsito em jul-
caso o condenado por delito eleitoral ou por crime
gado da sentença condenatória. militar cumpra pena em estabelecimento sujeito
à jurisdição comum, sob a corregedoria do juiz da
Aos acusados que se encontram em prisão especial execução criminal estadual, no caso de presídios
também poderá ser conferido o bene cio de progressão administrados pelo Estado, ou do juiz da execução
de regime, consoante o disposto na Súmula nº 717 do STF: criminal federal, se o presídio for administrado pela
“Não impede a progressão de regime de execução da pena, União, deve integrar-se às mesmas regras condutoras
fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o da execução penal dos demais detentos.
réu se encontrar em prisão especial”.
Segundo a Jurisprudência dominante do Superior Tri-
Da Incons tucionalidade da Execução Provisória da bunal de Jus ça: compete ao juízo das execuções penais
Pena do Estado a execução das penas impostas a sentenciados
pela jus ça federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos
O tema foi suscitado no STF em decisão proferida no HC a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.11
nº 84.078/MG: No intuito de dirimir os conflitos de competência entre
os Juízes Estaduais e os das jurisdições especializadas, o STJ
Ofende o princípio da não culpabilidade a execução editou a Súmula nº 192, com o seguinte teor:
da pena priva va de liberdade antes do trânsito
em julgado da sentença condenatória, ressalvada
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Súmula nº 192, STJ: Compete ao Juízo das Execuções


a hipótese de prisão cautelar do réu, desde que Penais do Estado a execução de penas impostas a
presentes os requisitos autorizadores previstos no sentenciados pela Jus ça Federal, Militar ou Eleito-
art. 312 do CPP. Com base nesse entendimento, ral, quando recolhidos a estabelecimento sujeito à
o Tribunal, por maioria, concedeu habeas corpus, administração estadual.
afetado ao Pleno pela 1ª Turma, para determinar
que o paciente aguarde em liberdade o trânsito Recentemente o STJ decidiu:
em julgado da sentença condenatória. Tratava-se
de habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ EXECUÇÃO. PENA. PRESÍDIO FEDERAL. A Turma reite-
que man vera a prisão preven va do paciente/ rou o entendimento de que a Resolução nº 502/2006
impetrante, ao fundamento de que os recursos do Conselho da Jus ça Federal é cons tucional, ao
permi r o cumprimento de pena imposta por deci-
10
Tema cobrado na seguinte prova: NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe do
11
RJ/2002. Tema cobrado na seguinte prova: TJ-MA/Juiz/2003.

506
são da Jus ça estadual em estabelecimento federal − direito a contato com o mundo exterior13, por meio de
sob competência do juízo de Execução Criminal da correspondência escrita, da leitura e de outros meios
Jus ça Federal. A alegação de que o cumprimento da de informação que não comprometam a moral e os
pena deve dar-se próximo à origem do condenado, bons costumes (art. 41, XV, da LEP).
de seus familiares e afins, para que seja facilitado o
processo de ressocialização e de modo a contribuir Da Classificação do Condenado
para a saúde do preso não deve sobrepor-se ao inte-
resse cole vo de segurança e ordem pública, além da Em sen do amplo, classificar significa distribuir em gru-
própria ordem no estabelecimento de cumprimento pos ou classes, conforme determinados critérios (NUCCI,
da pena. Assim, demonstrada inquietude no presídio 2008, p. 408).
de origem, em razão da presença do ora paciente, de Os condenados serão classificados segundo seus ante-
notória periculosidade, impõe-se sua transferência cedentes e personalidade, para orientar a individualização
para local que possa recebê-lo e garan r não só da execução penal.14
a segurança pública mas também a segurança do Assim dispõe o art. 5º da LEP: “Os condenados serão
condenado. A manutenção do apenado no sistema classificados, segundo os seus antecedentes e personali-
penitenciário federal é medida excepcional e pro- dade, para orientar a individualização da execução penal.”
visória, devendo, cumprido o tempo determinado, A classificação dos condenados é, na lição de Renato
voltar a execução da sanção para o juízo de origem. Marcão (2005, p. 32), “requisito fundamental para demarcar
Contudo, na espécie, diante da periculosidade do o início da execução cien fica das penas priva vas de liberda-
paciente, que chefia uma das maiores organizações de e da medida de segurança deten va.” Afirma, ainda, que
criminosas do país, jus fica-se permanência naquele
sistema prisional, desde que o ato seja devidamente a exigência dogmá ca da proporcionalidade da pena
fundamentado pelo juízo estadual. Quanto ao perí- está igualmente atendida no processo de classifica-
odo de permanência no sistema, não há qualquer ção, de modo que a cada sentenciado, conhecida
óbice em permanecer na prisão federal por mais de a sua personalidade e analisado o fato come do,
dois anos, desde que haja mo vação. A lei não diz corresponda o tratamento penitenciário adequado.
que a inclusão só pode ocorrer uma vez; sempre que
a ordem pública reclamar, deverá haver reinclusão, A compreensão de alguns conceitos trazidos pelo dispo-
desde que por mo vos diversos dos anteriores. HC nº si vo supra se faz necessária.
116.301-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado Na definição de Nucci (2008, p. 408), antecedente é tudo
em 10/11/2009. o que ocorreu ao agente no campo penal, ou seja, é a sua
vida pregressa em matéria criminal.
Da Competência Jurisdicional da Jus ça Federal
A análise dos antecedentes e o exame de personalidade
do condenado permi rão que a administração penitenciária
A Lei nº 11.671/2008 que dispõe sobre a transferência
não só separe os primários dos reincidentes, como também
e inclusão de presos em estabelecimentos penais federais
estabeleça a terapêu ca penal devida (COIMBRA, 2009, p. 23).
de segurança máxima preconiza acerca da competência
jurisdicional no seu art. 2º, a saber:
O art. 6º da Lei de execução Penal diz que a classifica-
o ção será feita por Comissão Técnica de Classificação15, nos
Art. 2 A a vidade jurisdicional de execução penal
seguintes termos:
nos estabelecimentos penais federais será desen-
volvida pelo juízo federal da seção ou subseção
Art. 6º A classificação será feita por Comissão Técnica
judiciária em que es ver localizado o estabeleci-
de Classificação que elaborará o programa individu-
mento penal federal de segurança máxima ao qual
alizador da pena priva va de liberdade adequada
for recolhido o preso.
ao condenado ou preso provisório16. (Redação dada
pela Lei nº 10.792, de 1º/12/2003) (Grifo Nosso)
Dos Direitos Não A ngidos pela Sentença ou pela
Lei A Comissão Técnica de Classificação é órgão colegiado,
existente em cada estabelecimento. Será presidida pelo
O art. 3º, caput, da LEP assim dispõe:
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

diretor do estabelecimento carcerário e composta, no mí-


nimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegu- (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar
rados todos os direitos não a ngidos pela sentença de condenado à pena priva va de liberdade.
ou pela lei. Dispõe o art. 8º da LEP:
Dentre os direitos que devem ser preservados, podemos Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena
destacar, sem prejuízo de outros não incompa veis com os priva va de liberdade, em regime fechado, será
fins da pena:
– direito a assistência educacional que compreenderá a
13
instrução escolar e a formação profissional do preso12 Tema cobrado na seguinte prova: Ejef/Juiz Subs tuto/2005.
14
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 03-2006.
(art. 208, § 1º, da CF, arts. 17 a 21 da LEP); 15
UEG/Agência Prisional/2002.
16
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN
-SE-ES/1º Exame de Ordem/2006; NCE/PC-RJ/Delegado/2002; UEG/Agência
12
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 03-2006. Prisional/2002; Uespi/Agente Penitenciário/2006.

507
subme do a exame criminológico para a obtenção No caso de preso condenado pela prá ca de crime de
dos elementos necessários a uma adequada classi- competência da jus ça federal, que está cumprindo pena em
ficação e com vistas à individualização da execução. presídio estadual, será competente para julgar questões da
Parágrafo único. Ao exame de que trata este ar go execução o juiz da vara das execuções estadual.
poderá ser submetido o condenado ao cumpri- No caso de preso condenado pela prá ca de crime de
mento da pena priva va de liberdade em regime competência da jus ça comum estadual, que está cumprin-
semiaberto. do pena em presídio federal, será competente para julgar
as questões surgidas o juiz federal da vara das execuções.
Acerca da diferença entre o exame de personalidade e o Quando se tratar da pena restri va de direito e do sursis,
criminológico, leciona Nucci (2008, p. 409) que será competente o juiz da execução do local do domicílio
do reeducando.
o primeiro é mais amplo e genérico, envolvendo as- Já pena de multa que, se descumprida, não poderá
pectos relacionados à personalidade do condenado, ser conver da em pena priva va de liberdade, deve ser
seus antecedentes, sua vida familiar e social, sua executada nos termos do Código Tributário Nacional. STJ e
capacidade labora va, entre outros fatores, aptos a STF entendem que a competência para julgar não é mais do
evidenciar o modo pelo qual deve cumprir sua pena juiz da vara da execução criminal, mas sim do juiz da vara
da Fazenda Pública.
no estabelecimento penitenciário (regime fechado
No caso de condenado que tem foro por prerroga va
ou semiaberto); o segundo é mais específico, abran-
de função, enquanto não a perder, quem acompanhará a
gendo a parte psicológica e psiquiátrica do exame de
execução é o Tribunal competente para processá-lo e julgá-lo.
classificação, pois concede maior atenção à maturi-
O condenado por crime eleitoral ou por crime militar
dade do condenado, sua disciplina, capacidade de
pode cumprir a pena em estabelecimento sujeito à jurisdi-
suportar frustrações e estabelecer laços afe vos com ção comum, sob corregedoria do juiz da execução criminal
a família ou terceiros, grau de agressividade, visando estadual, no caso de presídios administrados pelo Estado,
à composição de um conjunto de fatores, des nados ou do juiz da execução criminal federal, se o presídio for
a construir um prognós co de periculosidade, isto é, administrado pela União. 19
sua tendência a voltar à vida criminosa. A Lei nº 7.210/1984, em seu art. 66, define a competên-
cia do Juízo de Execuções Penais. Entre elas, destacam-se
Do Juízo da Execução17 as seguintes:
• Interditar, no todo ou em parte, estabelecimento
Segundo dispõe o art. 65 da LEP: penal que es ver funcionando em condições inade-
quadas; 20
Art. 65. A execução penal compe rá ao Juiz indica- • Aplicar aos casos julgados lei posterior que de qual-
do na lei local de organização judiciária e, na sua quer modo favorecer o condenado; 21
ausência, ao da sentença.
No que tange à aplicação da lei penal mais benigna
Quanto à competência do Juízo da Execução, já se pro- pelo juiz da vara das execuções criminais, vale destacar a
nunciou o Supremo Tribunal Federal, nos seguintes termos: Súmula nº 611 do STF: Transitada em julgado a sentença
condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação
A competência do juiz da execução é fixada pela lei de lei mais benigna.
local de organização judiciária, isto é, lei do Estado • Declarar ex nta a punibilidade.22
onde a pena é cumprida, mesmo que a condena- • Determinar o cumprimento de pena ou medida de
segurança em outra comarca.23
ção tenha sido imposta em sede federal (STF, HC
• Decidir sobre soma ou unificação de penas24; progres-
nº 64.583, 2ª Turma, 1987).
são ou regressão do regime; livramento condicional
e incidentes de execução. 25
A competência do juízo das execuções se inicia com o
trânsito em julgado da sentença condenatória proferida
Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 465) nos ensina que
pelo Juiz.
a soma e a unificação das penas é uma a vidade primordial
Assim, de acordo com a Lei de Execução Penal, transi- do juiz da execução, embora o juiz da condenação também
tada em julgado a sentença que aplicou a pena restri va possa fazê-lo. Quando houver condenação por mais de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de direitos, o juiz de execução, de o cio ou a requerimento um crime, no mesmo processo ou em processos dis ntos,
do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo
para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de resultado da soma ou unificação das penas, observada,
en dades públicas ou solicitá-las a par culares.18 quando for o caso, a detração ou remição.26
A competência em matéria de execução penal não se
vincula ao lugar da condenação do réu. É competente para
19
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-MA/Juiz/2003.
acompanhar a execução da pena o juiz da execução do lugar 20
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006.
em que o condenado cumpre a pena. 21
Tema cobrado nas seguintes provas: TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006; Vunesp/
OAB-SP/133º Exame.
22
Tema cobrado nas seguintes provas: 12º Concurso Público para Procurador
17
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Agente/2004; OAB-SP/126º da República e Vunesp/OAB-SP/133º Exame.
23
Exame de Ordem/2005; Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/3º 12º Concurso Público para Procurador da República.
24
Exame de Ordem/2006; Cespe/OAB-TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-MA-ES-DF Tema cobrado na prova da OAB-RS/1º Exame/2007.
25
-CE-BA-AM-AP-AL-AC/1º Exame de Ordem/2007; NCE/PC-DF/Delegado/2004; Tema cobrado nas seguintes provas: TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006; Vunesp/
TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2001. OAB-SP/133º Exame; Promotor-DF/2002; Cespe/AGU/Advogado/2002.
18 26
Tema cobrado na seguinte prova: NCE/PC-DF/Delegado/2004. Tema cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Juiz/2009.

508
Contudo o juiz deve observar o disposto na Súmula II – o Juízo da Execução;
nº 715 do STF: III – o Ministério Público;
IV – o Conselho Penitenciário;
Súmula nº 715. A pena unificada para atender ao V – os Departamentos Penitenciários;
limite de 30 anos de cumprimento, determinado VI – o Patronato;
pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para VII – o Conselho da Comunidade;
a concessão de outros bene cios, como o livramento VIII – a Defensoria Pública.
condicional ou regime mais favorável de execução.
Também o Defensor Público passou a integrar o Conselho
O juízo da execução penal poderá realizar a conversão da Comunidade, conforme se depreende pela nova redação
da pena priva va de liberdade, não superior a dois anos, do art. 80:
em restri va de direitos, desde que cumpridos os requisitos
legais.27 A conversão da pena refere-se a um incidente de
Art. 80. Haverá, em cada comarca, um Conselho
execução, previsto no art. 180 da LEP.
da Comunidade composto, no mínimo, por 1 (um)
A LEP prevê, ainda, em seu art. 183, que, quando, no
representante de associação comercial ou industrial,
curso da execução da pena priva va de liberdade, sobrevier
doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de 1 (um) advogado indicado pela Seção da Ordem dos
o cio, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Advogados do Brasil, 1 (um) Defensor Público indi-
Pública ou da autoridade administra va, poderá determinar cado pelo Defensor Público Geral e 1 (um) assistente
a subs tuição da pena por medida de segurança. (Redação social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho
dada pela Lei nº 12.313, de 2010)28 Nacional de Assistentes Sociais.
Importante salientar que não pode o juiz das execuções
decidir sobre suspensão condicional do processo. 29 A Lei nº 12.313/2010 diz que a Defensoria Pública velará
Cabe ao Conselho Nacional de PolíƟca Criminal e Pe- pela regular execução da pena e da medida de segurança,
nitenciária, no exercício de suas a vidades, em âmbito oficiando, no processo execu vo e nos incidentes da exe-
federal ou estadual, e não ao juízo de execuções penais, cução, para a defesa dos necessitados em todos os graus
propor diretrizes da polí ca criminal quanto à prevenção e instâncias, de forma individual e cole va, tendo ainda a
do delito, administração da Jus ça Criminal e execução das incumbência de:
penas e das medidas de segurança. 30 1 – requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento
Alterações Promovidas pela Lei nº 12.313/2010 do processo execu vo;
b) a aplicação aos casos julgados de lei posterior que de
O art. 16 da Lei de Execução Penal passou a ter a seguinte qualquer modo favorecer o condenado;
redação: c) a declaração de ex nção da punibilidade;
d) a unificação de penas;
Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter e) a detração e remição da pena;
serviços de assistência jurídica, integral e gratuita, f) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de
pela Defensoria Pública, dentro e fora dos estabele- execução;
cimentos penais. g) a aplicação de medida de segurança e sua revogação,
§ 1º As Unidades da Federação deverão prestar bem como a subs tuição da pena por medida de segurança;
auxílio estrutural, pessoal e material à Defensoria h) a conversão de penas, a progressão nos regimes, a
Pública, no exercício de suas funções, dentro e fora suspensão condicional da pena, o livramento condicional, a
dos estabelecimentos penais.
comutação de pena e o indulto;
§ 2º Em todos os estabelecimentos penais, haverá
i) a autorização de saídas temporárias;
local apropriado des nado ao atendimento pelo
j) a internação, a desinternação e o restabelecimento da
Defensor Público.
situação anterior;
§ 3º Fora dos estabelecimentos penais, serão im-
plementados Núcleos Especializados da Defensoria k) o cumprimento de pena ou medida de segurança em
Pública para a prestação de assistência jurídica inte- outra comarca;
gral e gratuita aos réus, sentenciados em liberdade, l) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º
egressos e seus familiares, sem recursos financeiros do art. 86 desta Lei;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

para cons tuir advogado. (NR) 2 – requerer a emissão anual do atestado de pena a
cumprir;
A Defensoria Pública passou a ser um dos Órgãos da 3 – interpor recursos de decisões proferidas pela autori-
Execução Penal, conforme a nova redação do art. 61 da Lei dade judiciária ou administra va durante a execução;
em estudo: 4 – representar ao Juiz da execução ou à autoridade ad-
ministra va para instauração de sindicância ou procedimento
Art. 61. São órgãos da execução penal: administra vo em caso de violação das normas referentes
I – o Conselho Nacional de Polí ca Criminal e Peni- à execução penal;
tenciária; 5 – visitar os estabelecimentos penais, tomando provi-
dências para o adequado funcionamento, e requerer, quando
27
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-RS/Juiz de Direito Subs tuto/2009. for o caso, a apuração de responsabilidade;
28
29
TJ-RS/Juiz de Direito Subs tuto/2009 6 – requerer à autoridade competente a interdição, no
Vunesp/OAB-SP/133º Exame.
30
TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006. todo ou em parte, de estabelecimento penal.

509
Para cumprir as disposições legais, o órgão da Defensoria XI – chamamento nominal;
Pública visitará periodicamente os estabelecimentos penais, XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exi-
registrando a sua presença em livro próprio. Para os traba- gências da individualização da pena;
lhos, haverá instalação des nada à Defensoria Pública nos XIII – audiência especial com o diretor do estabe-
estabelecimentos penais. lecimento;
XIV – representação e pe ção a qualquer autorida-
Deveres e Direitos do Preso de, em defesa de direito;
XV – contato com o mundo exterior por meio de cor-
Nos arts. 38 a 43 da LEP, foi traçado o estatuto jurídico respondência escrita, da leitura e de outros meios
do preso. de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes;
Dos Deveres do Condenado XVI – atestado de pena a cumprir, emi do anual-
mente, sob pena da responsabilidade da autoridade
O art. 39 da LEP traz um rol taxa vo, que não poderá ser judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713,
ampliado, salvo por lei. Aplica-se tal disposi vo tanto para de 13/8/2003)
o condenado quanto para o preso provisório, desde que Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V,
compa veis com sua situação.
X e XV poderão ser suspensos ou restringidos me-
Lembrando que o trabalho realizado pelo preso é
diante ato mo vado do diretor do estabelecimento.
obrigatório31, não se tratando de trabalho forçado – que é
cons tucionalmente proibido – o art. 50 da LEP pune com
falta grave a conduta do preso que propositadamente se Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 430) destaca o direito
acidente para não trabalhar. ao trabalho remunerado como um dos mais importantes
O trabalho externo32 será admissível para os presos em direitos do condenado, ressaltando-o como uma oportuni-
regime fechado somente em serviço ou obras públicas rea- dade de obtenção de redução da pena, por meio da remição.
lizadas por órgãos da administração direta ou indireta, ou Destaca, ainda, que
en dades privadas, desde que tomadas as cautelas contra
a fuga e em favor da disciplina33. além do mais, cons tui a mais importante forma de
Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso reeducação e ressocialização, buscando-se incen var
que vier a pra car fato definido como crime, for punido por o trabalho honesto e, se possível, proporcionar ao
falta grave, ou ver comportamento contrário aos requisitos recluso ou detento a formação profissional que não
estabelecidos em lei. possua, porém deseje.

Direitos do Preso A natureza jurídica do trabalho é mista, sendo direito


e dever.
Segundo a Cons tuição Federal e a LEP, o sentenciado Os direitos previstos nos incisos V, X e XV do art. 41 da
deve preservar todos os direitos não afetados pela sentença LEP podem ser suspensos ou restringidos (rela vos).
condenatória. Uma polêmica que se estabeleceu na doutrina diz res-
O art. 41 da LEP traz um rol exemplifica vo de direitos, peito à indagação sobre se o preso têm suspenso ou não os
a saber: direitos polí cos.
O art. 15, III, da Carta Magna rege que
Art. 41. Cons tuem direitos do preso:
I – alimentação suficiente e vestuário;
é vedada a cassação de direitos polí cos, cuja perda
II – atribuição de trabalho e sua remuneração;
ou suspensão só se dará nos casos de: [...] III – con-
III – Previdência Social;
IV – cons tuição de pecúlio; denação criminal transitada em julgado, enquanto
V – proporcionalidade na distribuição do tempo para durarem seus efeitos.
o trabalho, o descanso e a recreação;
VI – exercício das a vidades profissionais, intelec- Desta forma, o entendimento que se tem quanto ao
tuais, ar s cas e despor vas anteriores, desde que tema é que preso condenado em defini vo (sentença que
compa veis com a execução da pena; não cabe recurso) tem suspenso seus direitos polí cos (não
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

VII – assistência material, à saúde, jurídica, educa- pode votar ou ser votado).
cional, social e religiosa; A dúvida poderia pairar com relação aos presos provisó-
VIII – proteção contra qualquer forma de rios. Mas já de imediato nos adiantamos e informamos que
sensacionalismo;34 estes mantêm seus direitos polí cos. A questão é que, na
IX – entrevista pessoal e reservada com o advogado; prá ca, este direito não é assegurado, uma vez que não existe
X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes estrutura para viabilizar a instalação das sessões eleitorais
e amigos em dias determinados; no interior dos estabelecimentos prisionais.
Calha informar que esta questão da inviabilidade na
31
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.2; Ces- instalação das sessões eleitorais já está presente nos Tribu-
pe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário/2007; nais Regionais Eleitorais do Brasil, como, por exemplo, em
Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de Segurança/2007.
32
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/2º Exame/2007. São Paulo.
33
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/2007.2; Cespe/OAB-AL-BA-CE Vejamos o que dizem os arts. 39 e 41 da Lei de Execução
-MA-PB-PE-PI-RN-SE-ES/1º Exame de Ordem/2006.
34
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RJ/32º Exame. Penal:

510
Art. 39. Cons tuem deveres do condenado: Art. 41. Cons tuem direitos do preso38:
Rol taxaƟvo Rol exemplificaƟvo
I – comportamento disciplinado e cumprimento fiel da I – alimentação suficiente e vestuário;
sentença; II – atribuição de trabalho e sua remuneração39;
II – obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com III – Previdência Social;
quem deva relacionar-se; IV – cons tuição de pecúlio;
III – urbanidade e respeito no trato com os demais conde- V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o
nados; trabalho, o descanso e a recreação40;
IV – conduta oposta aos movimentos individuais ou cole vos VI – exercício das a vidades profissionais, intelectuais, ar s-
de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina; cas e despor vas anteriores, desde que compa veis com a
V – execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; execução da pena;
VI – submissão à sanção disciplinar imposta; VII – assistência material, à saúde41, jurídica, educacional,
VII – indenização à ví ma ou aos seus sucessores35; social e religiosa;
VIII – indenização ao Estado, quando possível, das despe- VIII – proteção contra qualquer forma de sensacionalismo42;
sas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto IX – entrevista pessoal e reservada com o advogado;
proporcional da remuneração do trabalho36; X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos
IX – higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; em dias determinados;
X – conservação dos objetos de uso pessoal. XI – chamamento nominal;
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que cou- XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da
ber, o disposto neste ar go.37 individualização da pena;
XIII – audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV – representação e pe ção a qualquer autoridade, em
defesa de direito43;
XV – contato com o mundo exterior por meio de correspon-
dência escrita, da leitura e de outros meios de informação
que não comprometam a moral e os bons costumes;44
XVI – atestado de pena a cumprir, emi do anualmente, sob
pena da responsabilidade da autoridade judiciária compe-
tente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 13/8/2003)
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV
poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato mo -
vado do diretor do estabelecimento.

35363738394041424344
Ainda quanto ao tema, informa-se que, caso um presi- Já o asseio da cela ou alojamento é um dever do
diário não possa receber a devida assistência médica nas preso.
dependências do estabelecimento prisional, é-lhe garan -
do, por lei, o direito à assistência de médico par cular e à Sanções Disciplinares
realização dos exames necessários. 45
Cumpre informar que, muito embora o ar go referente A LEP prevê certas medidas de caráter disciplinar como
aos direitos do preso seja meramente exemplifica vo, não consequência lógica da não observância dos deveres.
cons tui direitos do preso os abaixo arrolados: Quanto ao alcance das medidas disciplinares, dispõe o
• obtenção de regalias46; art. 44 da LEP:
• elogio por boa conduta47;
• asseio da cela ou alojamento.48 Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a
ordem, na obediência às determinações das autori-
A Lei de Execução Penal adota o sistema de recompensas, dades e seus agentes e no desempenho do trabalho.
prevendo entre suas espécies até mesmo a concessão de Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o conde-
regalias49. Desta forma, as regalias não seriam um direito, nado à pena priva va de liberdade ou restri va de
mas sim uma forma de recompensa. direitos e o preso provisório.
35
Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de Segurança/2007.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

36
Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de Segurança/2007. Nos termos do parágrafo único do art. 44 da Lei de Exe-
37
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Município de Vitória/Agente cução Penal, não estão sujeitos às sanções disciplinares os
Comunitário de Segurança/2007; Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de internados subme dos à medida de segurança.50
Escolta e Vigilância Penitenciário/2007.
38
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RJ/32º Exame; Cespe/Município de
Rege o art. 45 da Lei de Execuções Penais que não ha-
Vitória/Agente Comunitário de Segurança/2007. verá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior
39
Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de Segurança/2007. previsão legal ou regulamentar51.
40
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-PR/Exame 03-2006. Adverte-se ainda que as sanções não poderão colocar em
41
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN-SE
-ES/1º Exame de Ordem/2006. perigo a integridade sica52 e moral do condenado, sendo
42
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RJ/32º Exame. vedado o emprego de cela escura53 e sanções cole vas54.
43
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de
Escolta e Vigilância Penitenciário/2007; TRF-3ª Região/Juiz Federal Subs tuto.
44 50
Tema cobrado na seguinte prova: Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005. Tema cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Juiz/2009.
45 51
Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN-SE-ES/1º Exame de Ordem/2006. UEG/Agência Prisional/2002.
46 52
Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005. UEG/Agência Prisional/2002.
47 53
Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005. Tema cobrado nas seguintes provas: UEG/Agência Prisional/2002; Cespe/
48
Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005. OAB/Exame de Ordem/2007.2.
49 54
UEG/Agência Prisional/2002. Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.2.

511
O direito de defesa ao condenado é previsto no caso de A lei em comento traz cinco espécies de sanção disci-
aplicação de sanções disciplinares. 55 plinar, todas previstas no art. 53: advertência verbal, re-
Para individualizar a sanção disciplinar, levar-se-ão preensão, suspensão ou restrição de direitos, isolamento e
em conta a natureza, os mo vos, as circunstâncias e as inclusão no regime disciplinar diferenciado. Dentre as quais
consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e se destacam:
seu tempo de prisão. 56
As faltas subdividem-se em GRAVE, MÉDIA e LEVE. a) Isolamento na Cela ou em Local Apropriado
De acordo com o art. 49 da Lei de Execução Penal,
as faltas disciplinares médias e leves deverão ser ins tuídas A sanção de isolamento está prevista no art. 53, III, da
por lei local.57 lei ora estudada. Trata-se de um cas go atribuído ao preso,
Em se tratando de falta disciplinar, pune-se a tenta va, o qual ficará impedido de trabalhar e não terá qualquer
com a sanção correspondente à falta consumada.58 po de lazer durante o período máximo de 30 (trinta) dias65.
O art. 49 da LEP dispõe:
b) Isolamento Realizado Pela Autoridade Administra va
Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em le-
ves, médias e graves. A legislação local especificará De acordo com a Lei de Execução Penal vigente, a au-
as leves e médias, bem assim as respec vas sanções. toridade administrativa poderá decretar o isolamento
preven vo do faltoso pelo prazo de até dez dias. 66
Parágrafo único. Pune-se a tenta va com a sanção
correspondente à falta consumada.
Art. 60. A autoridade administra va poderá decretar
o isolamento preven vo do faltoso pelo prazo de
As faltas médias e leves ficam a cargo da legislação es- até dez dias. A inclusão do preso no regime disci-
tadual59 e distrital. A Lei de Execução Penal dispõe sobre as plinar diferenciado, no interesse da disciplina e da
faltas graves no art. 50: averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena 1º/12/2003)
priva va de liberdade que60: Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão
I – incitar ou par cipar de movimento para subverter preven va no regime disciplinar diferenciado será
a ordem ou a disciplina; computado no período de cumprimento da sanção
II – fugir61; disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
III – possuir, indevidamente, instrumento capaz de 1º/12/2003)
ofender a integridade sica de outrem62;
IV – provocar acidente de trabalho; Importante salientar que é expressamente vedado o
V – descumprir, no regime aberto, as condições isolamento em cela escura. 67
impostas;
VI – inobservar os deveres previstos nos incisos II e Regime Disciplinar Diferenciado (RDD
V, do ar go 39, desta lei.63
VII – ver em sua posse, u lizar ou fornecer aparelho Está previsto no art. 52 da LEP o Regime Disciplinar Di-
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comuni- ferenciado (RDD). Não é regime de cumprimento de pena,
cação com outros presos ou com o ambiente externo. mas sim uma espécie de sanção disciplinar.
(Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007)
Parágrafo único. O disposto neste ar go aplica-se, no Caracterís cas do RDD
que couber, ao preso provisório.
São caracterís cas do Regime Disciplinar Diferenciado:
O rol do art. 50 da lei em estudo é taxa vo. • duração máxima de trezentos e sessenta dias68, sem
A Lei nº 11.466/2007 acrescentou o inciso VII afirmando prejuízo de repe ção da sanção por nova falta grave
que é falta grave a posse de celular64. Essa lei previu tam- de mesma espécie69.
bém que a omissão do agente público no dever de impedir • recolhimento em cela individual, que não significa ser
a entrada desses aparelhos configura crime previsto no cela escura ou insalubre;
art. 319-A do CP. • visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crian-
E terceiros que introduzem celulares nas penitenciárias? ças, com duração de duas horas.
Configura crime previsto no art. 349-A, que pune com pena • o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias
de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, quem ingres- para banho de sol.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada


de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou Hipóteses de Cabimento para o RDD
similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
Dispõe o art. 52 da lei ora estudada:
55
UEG/Agência Prisional/2002.
56
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Delegado/2004; OAB-RS/1º
A prá ca de fato previsto como crime doloso cons tui
Exame/2007. falta grave e, quando ocasione subversão da ordem
57
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Juiz/2009.
58 65
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Juiz/2009. Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Delegado/2004; Promo-
59
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-P tor-RN/2004.
66
E-SE-RN/3º Exame de Ordem/2006. Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Delegado/2004; Promo-
60
UEG/Agência Prisional/2002. tor-RN/2004.
61 67
UEG/Agência Prisional/2002. Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de
62
UEG/Agência Prisional/2002. Escolta e Vigilância Penitenciário/2007; UEG/Agência Prisional/2002; Cespe/
63
UEG/Agência Prisional/2002. OAB/Exame de Ordem/2007.2.
64 68
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-P Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/128º Exame.
69
E-SE-RN/3º Exame de Ordem/2006. Tema cobrado na seguinte prova: NCE/PC-DF/Agente de Polícia/2004.

512
ou disciplina internas, sujeita o preso provisório70, mais, o sistema penitenciário, em nome da ordem
ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, e da disciplina, bem como da regular execução das
ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes penas, há que se valer de medidas disciplinadoras,
caracterís cas [...] e o regime em questão atende ao primado da
proporcionalidade entre a gravidade da falta e a
Observa-se que tanto o preso provisório quanto o es- severidade da sanção. Outrossim, a inclusão no
trangeiro podem ser inseridos no RDD. RDD não traz qualquer mácula à coisa julgada ou ao
princípio da segurança jurídica, como quer fazer crer
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também o impetrante, uma vez que, transitada em julgado
poderá abrigar presos provisórios ou condenados, a sentença condenatória, surge entre o condenado
nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco e o Estado, na execução da pena, uma nova relação
para a ordem e a segurança do estabelecimento penal jurídica e, consoante consignado, o regime ins tuído
ou da sociedade. pela Lei nº 10.792/2003 visa propiciar a manutenção
§ 2º Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar da ordem interna dos presídios, não representando,
diferenciado o preso provisório ou o condenado sob portanto, uma quarta modalidade de regime de
o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento cumprimento de pena, em acréscimo àqueles pre-
ou par cipação, a qualquer tulo, em organizações vistos pelo Código Penal (art. 33, CP). Pelo mesmo
criminosas, quadrilha ou bando.71 fundamento, a possibilidade de inclusão do preso
provisório no RDD não representa qualquer ofensa
Há vozes na doutrina que se posicionam pela incons - ao princípio da presunção de inocência, tendo em
tucionalidade do RDD por se tratar de uma pena cruel, que vista que, nos termos do que estabelece o parágrafo
é vedada pela Lei Fundamental. único do art. 44 da Lei de Execução Penal, “estão
Entendendo pela constitucionalidade do RDD, o STJ sujeitos à disciplina o condenado à pena priva va
decidiu: de liberdade ou restritiva de direitos e o preso
provisório”. Registre-se, por oportuno, que esta
Considerando-se que os princípios fundamentais
não é a situação do ora paciente, que se encontra
consagrados na Carta Magna não são ilimitados
encarcerado em virtude de condenação à pena de
(princípio da rela vidade ou convivência das liberda-
51 (cinquenta e um) anos de reclusão”. (STJ, HC
des públicas), vislumbra-se que o legislador, ao ins-
nº 40.300-RJ, 5ª Turma, Rel. Arnaldo Esteves Lima,
tuir o Regime Disciplinar Diferenciado, atendeu ao
7/6/2005)
princípio da proporcionalidade. Legi ma a atuação
estatal, tendo em vista que a Lei nº 10.792/2003,
que alterou a redação do art. 52 da LEP, busca dar Inclusão do RDD de Forma Preven va
efe vidade à crescente necessidade de segurança
nos estabelecimentos penais, bem como resguardar A Lei de Execução Penal prevê a possibilidade de inclu-
a ordem pública, que vem sendo ameaçada por são preven va no Regime Disciplinar Diferenciado.72
criminosos que, mesmo encarcerados, con nuam
comandando ou integrando facções criminosas que Procedimento para inserção no RDD
atuam no interior do sistema prisional – liderando Conforme dispõe o art. 54 da LEP, o RDD somente pode-
rebeliões que não raro culminam com fugas e mor- rá ser decretado pelo juiz73 da execução criminal, podendo
tes de reféns, agentes penitenciários e/ou outros a autoridade administra va isolar preven vamente o preso
detentos – e, também, no meio social. por até 10 dias, em caso de urgência. Vejamos:
O Regime Disciplinar Diferenciado é previsto,
portanto, como modalidade de sanção disciplinar As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplica-
(hipótese disciplinada no caput do art. 52, da LEP) das por ato mo vado do diretor do estabelecimento
e, também, como medida cautelar (hipóteses dos e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho
§§ 1º e 2º da LEP), caracterizando-se pelas seguintes do juiz competente74.
restrições: permanência do preso em cela individual,
limitação do direito de visita e redução do direito É de se ressaltar que o Regime Disciplinar Diferenciado,
de saída da cela, prevista apenas por 2 (duas) horas. ainda que por ato mo vado, não pode ser aplicado pelo
Assim, não há falar em violação ao princípio da diretor do estabelecimento penal.75
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), Com exceção do RDD, o diretor do estabelecimento po-
à proibição da submissão à tortura, a tratamento derá aplicar todas as outras sanções disciplinares.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

desumano e degradante (art. 5º, III, da CF) e ao Não pode o juiz de o cio incluir o preso no RDD, depen-
princípio da humanidade das penas (art. 5º, XLVII, dendo sempre de provocação. O Ministério Público, o diretor
da CF), na medida em que é certo que a inclusão no do estabelecimento e a autoridade policial podem requerer
RDD agrava o cerceamento à liberdade de locomo- a inclusão do preso no RDD. Dispõe o art. 54, § 1º:
ção, já restrita pelas próprias circunstâncias em que
se encontra o custodiado, contudo não representa, A autorização para a inclusão do preso em regime
per si, a submissão do encarcerado a padecimentos disciplinar dependerá de requerimento circunstan-
sicos e psíquicos, impostos de modo vexatório, ciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou
o que somente restaria caracterizado nas hipóteses outra autoridade administra va.
em que houvesse, por exemplo, o isolamento em
celas insalubres, escuras ou sem ven lação. Ade-
72
Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/128º Exame.
70 73
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB-SP/130º Exame; NCE/PC-DF/ Tema cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB-SP/128º Exame.
74
Agente de Polícia/2004. Tema cobrado nas seguintes provas: Promotor-DF/2002.
71 75
Tema cobrado nas seguintes provas: NCE/PC-DF/Agente de Polícia/2004. Tema cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Juiz/2009.

513
Das Penitenciárias Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar
destina-se ao cumprimento da pena em regime
Segundo a inteligência do art. 87 da LEP, as penitenciá- semiaberto.
rias des nam-se aos condenados que cumprem pena de
reclusão, em regime fechado.76 O condenado que esteja cumprido a pena priva va de
O mesmo disposi vo, em seu parágrafo único, dispõe liberdade em regime semiaberto poderá ser alojado em
que a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os compar mento cole vo, observados os requisitos da letra
Territórios poderão construir penitenciárias des nadas, a do parágrafo único do art. 88 da Lei de Execução Penal.
exclusivamente, aos presos provisórios, e condenados que
estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar Da Casa do Albergado
diferenciado.77
Cumpre informar o que dispõe ainda o art. 88 da Lei de Rege o art. 93 da Lei de Execução Penal que “a Casa do
Execução Penal: Albergado des na-se ao cumprimento de pena priva va
de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação
Art. 88. O condenado será alojado em cela indivi- de fim de semana” 83.
dual que conterá dormitório, aparelho sanitário e
lavatório78. Da Execução das Penas em Espécie
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade
celular79: Execução das Penas Priva vas de Liberdade
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos
fatores de aeração, insolação e condicionamento As penas priva vas de liberdade estão elencadas no
térmico adequado à existência humana; art. 33 do Código Penal: “A pena de reclusão deve ser
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados). cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de
detenção em regime semiaberto, ou aberto, salvo neces-
Rege o art. 90 da LEP que as penitenciárias dos homens sidade de transferência a regime fechado”
serão construídas em locais afastados dos centros urbanos, O art. 105 da LEP diz que o início formal da execução
à distância que não restrinja a visitação80. da pena se dá com a expedição da guia de recolhimento,
o que somente ocorre quando, após o trânsito em julgado
Das Penitenciárias Femininas da sentença condenatória, o réu se encontra preso. Nesse
sen do, é o entendimento do STJ:
No art. 89 da LEP, estão previstas normas cogentes de
observação obrigatória pelo Poder Público: A teor do disposto no art. 105 da Lei nº 7.210/1984,
o processo de execução somente poderá ser instau-
Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, rado, pelo juízo competente, após o recolhimento
a penitenciária de mulheres será dotada de seção do condenado. (RHC nº 17.737-SP, 5ª Turma, Rel.
para gestante e parturiente e de creche para abrigar Laurita Vaz, 18/8/2005)
crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7
(sete) anos, com a finalidade de assis r a criança A pena priva va de liberdade será executada em forma
desamparada cuja responsável es ver presa. progressiva com a transferência para regime menos rigo-
Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e roso, a ser determinada pelo juiz84, quando o preso ver
da creche referidas neste ar go: (Incluído pela Lei cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior
nº 11.942, de 2009) e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado
I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que
com as diretrizes adotadas pela legislação educa- vedam a progressão.
cional e em unidades autônomas; e (Incluído pela
Lei nº 11.942, de 2009) Regime Inicial de Cumprimento de Pena
II – horário de funcionamento que garanta a melhor Nos termos do disposto no art. 110 da LEP, o condenado
assistência à criança e à sua responsável. (Incluído pode iniciar o cumprimento de pena priva va de liberdade
pela Lei nº 11.942, de 2009) no regime fechado, semiaberto ou aberto85.
O juiz verificará a espécie de pena priva va de liberdade,
No estabelecimento para mulheres, somente se permi- a quan dade da pena aplicada, se o condenado é reincidente e
rá o trabalho de pessoal do sexo feminino, salvo quando as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal.
se tratar de pessoal técnico especializado. 81 Na lição de Damásio de Jesus,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Das Colônias Agrícolas a decisão sobre o regime inicial de cumprimento da


pena faz coisa julgada formal e material. Não pode
ser modificada pelo juiz da execução. Entendeu-se,
As Colônias Agrícolas des nam-se ao cumprimento da
porém, que o juiz da execução pode alterar as condi-
pena em regime semiaberto82.
ções do regime inicial, desde que haja conveniência.
76
Tema cobrado nas seguintes provas: UEG/Agência Prisional/2002; Acade-
pol-SP/Delegado de Polícia/2003; OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005. Quando se tratar de condenação por crime hediondo ou
77
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Juiz/2009. equiparado, o regime inicial de cumprimento de pena será
78
Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002. obrigatoriamente o fechado.
79
Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002.
80
Tema cobrado na seguinte prova: Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003.
81 83
Cespe/Secretaria de Jus ça-ES/Agente de Escolta e Vigilância Penitenciá- Tema cobrado nas seguintes provas: Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003;
rio/2007. FCC/TRT/23ª-Região/Nível Superior/Analista Judiciário/Área Judiciária/2004.
82 84
Tema cobrado nas seguintes provas: UEG/Agência Prisional/2002; FCC/TRT-23ª Tema cobrado na seguinte prova: Promotor-DF/2002.
85
Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2004. Tema cobrado na seguinte prova: OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004.

514
O tempo de cumprimento das penas priva vas de liber- cionalidade do regime integralmente fechado previsto no
dade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 86 § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990. Vejamos:
Assim dispõe o art. 75 do Código Penal:
Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maio-
Art. 75 O tempo de cumprimento das penas priva vas ria, deferiu pedido de habeas corpus e declarou,
de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. incidenter tantum, a inconstitucionalidade do
§ 1º Quando o agente for condenado a penas pri- § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990, que veda a
va vas de liberdade cuja soma seja superior a 30 possibilidade de progressão do regime de cumpri-
(trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender mento da pena nos crimes hediondos definidos no
ao limite máximo deste ar go. art. 1º do mesmo diploma legal. [...] Quanto a esse
§ 2º Sobrevindo condenação por fato posterior ao ponto entendeu-se que a vedação de progressão
início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifi- de regime prevista na norma impugnada afronta
cação, desprezando-se, para esse fim, o período de o direito à individualização da pena (CF, art. 5º,
pena já cumprido.87 LXVI), já que, ao não permi r que se considerem as
par cularidades de cada pessoa, a sua capacidade
O STF, por meio da Súmula nº 715, entende que, para de e reintegração social os esforços aplicados com
concessão de bene cios, incidirá sobre a pena imposta na vistas à ressocialização, acaba tornando inócua
sentença e não sobre os 30 anos: a garan a cons tucional. Ressaltou-se, também,
que o disposi vo apresenta incoerência, porquanto
A pena unificada para atender ao limite de trinta anos impede a progressividade, mas admite o livramento
de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código condicional após o cumprimento de 2/3 da pena.
Penal, não é considerada para a concessão de outros [...] O Tribunal, por unanimidade, explicitou que
bene cios, como o livramento condicional ou regime a declaração incidental de incons tucionalidade
mais favorável de execução. do preceito legal em questão não gerará consequ-
ências jurídicas com relação às penas já ex ntas
Espécies de Pena Priva va de Liberdade nesta data, uma vez que a decisão plenária envolve,
a) Reclusão unicamente, o afastamento do óbice representado
Pode-se impor o regime de cumprimento de pena fe- pela norma ora declarada incons tucional, sem
chado, semiaberto ou aberto. Impõe-se o fechado quando a prejuízo da apreciação, caso a caso, pelo magistrado
pena for superior a 8 anos. Se a pena for superior a 4 e não competente, dos demais requisitos per nentes ao
superior a 8 anos, o regime inicial pode ser o semiaberto, reconhecimento da possibilidade de progressão.
desde que o condenado não seja reincidente. Plenário (Informa vo nº 417)
Se a pena imposta pelo juiz for igual ou inferior a 4 anos,
o regime pode ser o aberto, desde que o condenado não seja Progressão de Regime
reincidente. Se for reincidente, de acordo com o art. 33 do CP,
iniciará no fechado. Nesse sen do, é o que dispõe a Súmula A progressão de regime consiste na passagem do regime
nº 269 do STJ88: “É admissível a adoção do regime prisional mais rigoroso para outro mais brando de cumprimento de
semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou in- pena priva va de liberdade91.
ferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais”. Há três regimes de cumprimento de pena, quais sejam,
o fechado o semiaberto e o aberto. O Brasil adota o sistema
b) Detenção progressivo.
O regime inicial só pode ser o semiaberto ou o aberto. Cumpre ressaltar que o condenado por crime contra
Excepcionalmente, poderá ir para o fechado por meio da a administração pública terá a progressão de regime do
regressão. cumprimento da pena condicionada à reparação do dano
Será semiaberto se a pena for superior a 4 anos. Será que causou, ou à devolução do produto do ilícito pra cado,
aberto se a pena for igual ou inferior a 4 anos, desde que o com os acréscimos legais.
condenado não seja reincidente.
Crime hediondo ou equiparado: Requisitos para a Progressão92
Como já dissemos, a Lei nº 8.072/1990, em seu art. 2º,
alterado recentemente pela Lei nº 11.464/2007, diz que o Do regime fechado para o semiaberto:
regime inicial para cumprimento de pena89 em caso de con- I – Condenação transitada em julgado
denação por crimes hediondos e equiparados é o fechado, Atualmente admite-se execução provisória em bene cio
admi ndo-se a progressão. do réu (quando se tratar de réu preso). Nesse sen do, a Sú-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

A Lei nº 9.455/1997, que trata do crime de tortura, diz, mula nº 716 do STF:
desde a sua edição, que o regime inicial para cumprimento
de pena é o fechado. Admite-se a progressão de regime de cumprimento
Não existe no ordenamento jurídico brasileiro o regime da pena ou a aplicação imediata de regime menos
de cumprimento de pena integralmente fechado90. severo nela determinada, antes do trânsito em jul-
O STF, no julgamento do HC nº 82.959-SP, (Pleno) em que gado da sentença condenatória.
foi Relator o Ministro Marco Aurélio, declarou a incons tu-
II – Cumprimento de 1/6 da pena
86
87
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-GO/1º Exame/2006. Segundo a Lei de Execução Penal, o réu condenado por
Tema cobrado nas seguintes provas: 12º Concurso Público para Procurador
da República.
crime que não seja hediondo terá direito à progressão do
88
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/1º Exame/2006. regime fechado para o regime semiaberto quando houver
89
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2005; Cespe/
91
PC-PB/Agente de Inves gação e Escrivão de Polícia/2009. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-GO/3º Exame/2006; Promo-
90
Tema cobrado nas seguintes provas: Promotor-BA/2004; OAB-GO/2º Exa- tor-RN/2004.
92
me/2006. Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RJ/30º Exame.

515
cumprido pelo menos 1/6 (um sexto) da pena em regime De acordo com jurisprudência do Superior Tribunal de
fechado e seu mérito indicar a progressão93. Jus ça e do Supremo Tribunal Federal, a Lei de Execuções
Uma observação que deve ser feita é que os crimes he- Penais deixou de exigir a submissão do condenado a exame
diondos ou equiparados, atualmente, admitem progressão, criminológico, anteriormente imprescindível para fins de
com o cumprimento de 2/5 da pena, se primário, e de 3/5 progressão do regime prisional, sem, no entanto, re rar
da pena, se reincidente94. do juiz a faculdade de requerer sua realização quando, de
forma fundamentada e excepcional, entender absoluta-
III – Bom comportamento carcerário mente necessária sua confecção para a formação de seu
Trata-se de requisito subje vo, que implica o convencimento. 97
Recentemente, o STF editou súmula vinculante acerca
preenchimento de uma série de requisitos de ordem do tema em comento:
pessoal, como autodisciplina, senso de responsabili-
dade do sentenciado e esforço voluntário e respon- PSV: Progressão de Regime e Exame Criminológico
sável em par cipar do conjunto das a vidades des- O Tribunal, por maioria, acolheu proposta de edição
nadas a sua harmônica integração social, avaliado de Súmula Vinculante com o seguinte teor: “Para
de acordo com seu comportamento perante o delito efeito de progressão de regime de cumprimento de
pra cado, seu modo de vida e sua conduta carcerária pena, por crime hediondo ou equiparado, pra cado
(CAPEZ, 2007, p. 111). antes de 29 de março de 2007, o juiz da execução,
ante a incons tucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei
A an ga redação do art. 112 da LEP, alterada pela Lei nº 8.072/1990, aplicará o art. 112 da Lei de Execução
nº 10.792/2003, exigia o parecer da Comissão Técnica de Penal, na redação original, sem prejuízo de avaliar se
Classificação e a submissão do condenado a exame crimi- o condenado preenche, ou não, os requisitos obje -
nológico. vos e subje vos do bene cio, podendo determinar,
A esse respeito, o STJ se posicionou: para tal fim, de modo fundamentado, a realização de
exame criminológico”. Vencido o Min. Marco Aurélio
A progressão de regime de cumprimento de pena que não aprovava o verbete, asseverando que o
(fechado para o semiaberto) passou a ser direito direito à progressão de regime, pouco importando a
do condenado, bastando que se satisfaça dois exigência deste ou daquele outro espaço quanto ao
pressupostos: o primeiro, de caráter obje vo, que cumprimento da pena, seria um direito pacificado
depende do cumprimento de pelo menos 1/6 (um hoje no território nacional, e, ainda, que se estaria a
sexto) da pena; o segundo, de caráter subje vo, reintroduzir no cenário norma vo, com a exigência
rela vo ao bom comportamento carcerário, que do exame criminológico, prejudicial ao réu, o texto
deve ser atestado pelo diretor do estabelecimento primi vo do art. 112 da LEP, derrogado pela Lei nº
prisional. Embora temerário subs tuir a exigência 10.792/2003. PSV 30/DF, 16/12/2009.
de parecer da Comissão Técnica de Classificação e
a submissão do presidiário a exame criminológico – Salienta-se que, se o delito for pra cado contra a Ad-
como condição à eventual direito de progressão do ministração Pública, só ocorrerá a progressão se houver a
regime fechado para o semiaberto – por um simples reparação do dano. Assim dispõe o art. 33, § 4º, CP, in verbis:
atestado de boa conduta firmado pelo diretor do
estabelecimento prisional, essa foi a intenção do O condenado por crime contra a administração públi-
legislador ao editar a Lei nº 10.792/2003, que deve ca terá a progressão de regime do cumprimento da
ser observada pelo Juízo das Execuções Penais, sob pena condicionada à reparação do dano que causou,
pena de violação ao disposto no aludido art. 112 da ou à devolução do produto do ilícito pra cado, com
LEP, em sua nova redação. (STJ, HC nº 38.602-PR, 5ª os acréscimos legais.
T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima)
Observa-se que para a concessão de progressão de
Com relação ao tema, calha informar que o come men- regime prisional é desnecessária a elaboração de lauda da
to de falta grave, como a fuga, enseja o reinício da contagem Comissão Técnica de Classificação.98
de período necessário à concessão de nova progressão de
regime.95
Do regime semiaberto para o aberto:
No regime aberto, a pena é cumprida na Casa do Al-
OiƟva do MP
bergado.
É obrigatória a oi va do Ministério Público sobre a pro-
É caracterís ca própria da Casa do Albergado ser um es-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

gressão de regime.
tabelecimento des nado ao cumprimento de pena priva va
da liberdade e de pena de limitação de fim de semana. 99
Exame Criminológico
Os requisitos são os mesmos da progressão do fechado
Nota-se que tanto o exame de personalidade quanto o
para o semiaberto, além dos previstos nos arts. 113, 114 e
exame criminológico são instrumentos u lizados na clas-
115 da LEP:
sificação do condenado.96

93
Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/1º Exame/2006; OAB-RJ/24º
Exame de Ordem/2004; TJ-SC/Oficial de Jus ça/2003; Cespe/TJ-CE/Juiz Subs- supõe a aceitação de seu programa e das condições
tuto/2005-2004; Vunesp/OAB-SP/131º Exame; Cespe/Defensoria Pública da impostas pelo Juiz.
União/Defensor Público de 2ª Categoria/2004; 12º Concurso Público para
Procurador da República.
94 97
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-P
e Escrivão de Polícia/2009; OAB-RJ/30º Exame; Promotor-RN/2004; Cespe/ B-PE-SE-RN/3º Exame de Ordem/2006; Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação
OAB-ES/1º Exame de Ordem/2004. e Escrivão de Polícia/2009; OAB-RJ/30º Exame; UEG/Agência Prisional/2002.
95 98
Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN-SE-ES/1º Exame de Ordem/2006. Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003.
96 99
UEG/Agência Prisional/2002. Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002.

516
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto I – pra car fato definido como crime doloso ou falta
o condenado que: grave;
I – es ver trabalhando ou comprovar a possibilidade II – sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena,
de fazê-lo imediatamente; somada ao restante da pena em execução, torne
II – apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo re- incabível o regime (art. 111).
sultado dos exames a que foi subme do, fundados § 1º O condenado será transferido do regime aberto
indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e se, além das hipóteses referidas nos incisos ante-
senso de responsabilidade, ao novo regime. riores, frustrar os fins da execução ou não pagar,
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho podendo, a multa cumula vamente imposta.
as pessoas referidas no art. 117 desta Lei. § 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior,
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições espe- deverá ser ouvido previamente o condenado.
ciais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo
das seguintes condições gerais e obrigatórias: É possível regressão por salto? Sim, o condenado volta
I – permanecer no local que for designado, durante do regime aberto para o fechado.
o repouso e nos dias de folga; Importante observar que a ocorrência da regressão, isto
II – sair para o trabalho e retornar, nos horários é, passagem de regime menos severo ao mais rigoroso, se
fixados; dará no momento em que es ver caracterizada a prá ca
III – não se ausentar da cidade onde reside, sem
de um novo delito ou falta grave105, não se exigindo, para
autorização judicial;
tanto, a condenação com trânsito em julgado.106
IV – comparecer a Juízo, para informar e jus ficar as
suas a vidades, quando for determinado.
Medida de Segurança de Internação
Salienta-se que a progressão de regime da pena não pode
ser deferida pelo diretor da casa prisional. 100 O sistema vicariante impõe exclusivamente a imposição
da pena ou da medida de segurança107 que foi adotado pelo
Progressão por Salto Brasil a par r da reforma penal de 1984.
No ordenamento jurídico brasileiro, existem duas espé-
Consiste na passagem direta do regime fechado para o cies de sanção penal: a pena e a medida de segurança, esta
aberto. Não há previsão legal para tanto, porém a jurispru- aplicada aos inimputáveis, maiores de 18 anos.
dência admite que se o condenado cumpriu 1/6 da pena no Tratando-se de medida de segurança de internação, apli-
regime fechado e se não houver vaga no regime semiaberto, cada a inimputável, o exame de cessação de periculosidade
caso ele cumpra mais 1/6 da pena no fechado, ele poderá será feito no fim do prazo mínimo de duração da medida
ir para o aberto. ou a qualquer tempo, desde que seja por determinação do
Diferentemente do impasse causado na progressão de juiz da execução ou ainda de ano em ano, após vencido o
regime prisional, a regressão pode se dar “por saltos”, de prazo mínimo.108
forma que o apenado pode regredir do regime prisional A conversão da pena priva va de liberdade em medida
aberto diretamente para o regime prisional fechado. 101 de segurança está prevista legalmente109 na Lei de Execução
Penal, em seu art. 183. Vejamos:
Regime Domiciliar e o Regime Aberto
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena
Dispõe o art. 117 da Lei de Execuções Penais: priva va de liberdade, sobrevier doença mental ou
perturbação da saúde mental, o Juiz, de o cio, a re-
Somente se admi rá o recolhimento do beneficiário querimento do Ministério Público ou da autoridade
de regime aberto em residência par cular quando administra va, poderá determinar a subs tuição da
se tratar de: pena por medida de segurança.
I – condenado maior de 70 (setenta) anos102;
II – condenado acome do de doença grave, Autorização de Saída
III – condenada com filho menor ou deficiente sico
ou mental;
Cuida-se de gênero, com duas espécies:
IV – condenada gestante.
1) permissão de saída (arts. 120 e 121 da LEP);
Importante observar que o Superior Tribunal de Jus ça 2) saída temporária (arts. 122 a 124 da LEP).
vem entendendo ser possível a prisão domiciliar, para
qualquer pessoa, caso na cidade onde ela resida não exista Art. 120. Os condenados que cumprem pena em
casa do albergado103. regime fechado ou semiaberto e os presos pro-
visórios110 poderão obter permissão para sair do
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Regressão estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer


um dos seguintes fatos:
Dispõe o art. 118 da LEP: I – falecimento ou doença grave do cônjuge, compa-
nheira, ascendente, descendente ou irmão;
a execução da pena priva va de liberdade ficará II – necessidade de tratamento médico (parágrafo
sujeita à forma regressiva104, com a transferência único do art. 14).
para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando
o condenado: 105
Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002.
106
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs -
100
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/1º Exame/2006; Promo- tuto/2007.
107
tor-DF/2002. OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004.
101 108
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RJ/30º Exame. Tema cobrado no 12º Concurso Público para Procurador da República.
102 109
Tema cobrado na seguinte prova: UEG/Agência Prisional/2002. Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs-
103
Tema cobrado na seguinte prova: Cespe/1º Exame de Ordem/2007; Cespe/ tuto/2007 e TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador.
110
OAB-TO-SE-RN-RJ-PI-PE-PB-MT-MS-MA-ES-DF-CE-BA-AM-AP-AL-AC. Tema cobrado nas seguintes provas: TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005; Cespe/OAB
104
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-SP/122º Exame de Ordem/2003. -AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PA-PE-SE-RN/3º Exame de Ordem/2006.

517
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida I – comportamento adequado;
pelo diretor do estabelecimento onde se encontra II – cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena,
o preso. se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se
Art. 121. A permanência do preso fora do estabeleci- reincidente;
mento terá a duração necessária à finalidade da saída. III – compa bilidade do bene cio com os obje vos
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em da pena.
regime semiaberto poderão obter autorização
para saída temporária111 do estabelecimento, sem Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao bene-
vigilância direta, nos seguintes casos:
ficiário as seguintes condições, entre outras que entender
I – visita à família;
II – frequência a curso suple vo profissionalizante, compa veis com as circunstâncias do caso e a situação
bem como de instrução do 2º grau ou superior, na pessoal do condenado: 1) fornecimento do endereço onde
Comarca do Juízo da Execução; reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado
III – par cipação em a vidades que concorram para durante o gozo do bene cio; 2) recolhimento à residência vi-
o retorno ao convívio social. sitada, no período noturno; 3) proibição de frequentar bares,
casas noturnas e estabelecimentos congêneres. Quando se
Cumpre ressaltar que a ausência de vigilância direta não tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução
impede a u lização de equipamento de monitoração eletrônica de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o ne-
pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução. cessário para o cumprimento das a vidades discentes. Nos
A saída temporária para os condenados do regime se- demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser
miaberto dependerá de bom comportamento, da compa - concedidas com prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias
bilidade do bene cio com os obje vos da pena, bem como de intervalo entre uma e outra.
do cumprimento mínimo de 1/6 da pena para os primários À luz do disposto no art. 124 da Lei de Execução Penal,
e de 1/4 da pena para os reincidentes. atendidos os requisitos legais, a autorização temporária ao
Outro ponto a ser salientado é que para concessão de apenado será concedida por prazo não superior a 7 dias,
saída temporária ao condenado que cumpre pena em regi- podendo ser renovada por mais 4 vezes durante o ano113,
me semiaberto não se exige o cumprimento mínimo de um
sexto da pena (art. 123, II, da Lei nº 7.210/1984), quando como se observa a seguir:
o condenado, o recém-ingresso nesse regime, já cumprira
esse requisito no regime anterior. 112 Art. 124. A autorização será concedida por prazo não
Assim dispõe o art. 123 da LEP: superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por
mais 4 (quatro) vezes durante o ano. (Grifo Nosso)
Art. 123. A autorização será concedida por ato Parágrafo único. Quando se tratar de frequência a
mo vado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério curso profissionalizante, de instrução de 2º grau ou
Público e a administração penitenciária e dependerá superior, o tempo de saída será o necessário para o
da sa sfação dos seguintes requisitos: cumprimento das a vidades discentes.

PERMISSÃO DE SAÍDA SAÍDA TEMPORÁRIA


Condenados do fechado ou semiaberto; e preso provisório. Condenado do regime semiaberto. Ainda, deve ter cumpri-
do 1/6 da pena, se primário, e 1/4 da pena, se reincidente.
Precisa de bom comportamento. Esse período deve incidir
sobre o global da pena (Súmula nº 40 do STJ).114
O preso será escoltado. Sem vigilância direta.
Finalidades: a) falecimento ou doença grave de cônjuge, Finalidades: a) visita a família. b) Frequentar cursos. c) A -
companheiro ascendente, descendente, irmão.115 b) Neces- vidades de ressocialização.
sidade de tratamento médico/odontológico.
Autoridade competente para permi r o bene cio: art. 120, Competente para decidir sobre a saída temporária será o
parágrafo único. Diretor do estabelecimento. Se tal autori- juiz da execução.
dade negar, pe ciona-se ao juiz.
Período: tempo indeterminado – necessário aos fins da saída. Período: tempo determinado. Art. 124. Tem direito a 5 saídas
temporárias por ano.

Para obtenção dos bene cios de saída temporária e crime doloso, for punido por falta grave, desatender
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

trabalho externo, considera-se o tempo de cumprimento da as condições impostas na autorização ou revelar baixo
pena no regime fechado. grau de aproveitamento do curso.
A saída temporária pode ser revogada. Não há tal previ- Parágrafo único. A recuperação do direito à saída
são para a permissão de saída. temporária dependerá da absolvição no processo
penal, do cancelamento da punição disciplinar
Art. 125. O bene cio será automa camente revogado ou da demonstração do merecimento do conde-
quando o condenado pra car fato definido como -nado.
111112 113

114115

111
Tema cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB-SP/130º Exame; OAB-RS/2º Exame/2007.
112
12º Concurso Público para Procurador da República.
113
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RO/43º Exame.
114
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/2º Exame/2007; OAB-RO/43ºExame.
115
Tema cobrado na seguinte prova: Promotor-RN/2004

518
Remição Súmula Vinculante nº 9 do STF
O STF decidiu pela cons tucionalidade do art. 127 da
Na lição de Nucci (2008), a remição LEP e editou a Súmula Vinculante nº 9, pacificando o enten-
dimento de que não há ofensa ao direito adquirido, a perda
é o resgate da pena pelo trabalho, proporcionando do direito ao tempo remido, quando houver o come mento
ao condenado a possibilidade de diminuição da pena, de falta grave.121
conforme exerça uma tarefa atribuída pela direção
do presídio. Trata-se de um bene cio decorrente da Súmula Vinculante nº 9
obrigatoriedade do trabalho, imposta como um dos O disposto no art. 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de
deveres do preso (art. 39, V, LEP). Além de abater da Execução Penal) foi recebido pela ordem cons tu-
pena, o trabalho deve ser remunerado. cional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal
previsto no caput do art. 58.
De acordo com o art. 126 da LEP, a remição consiste na
dedução de um dia de pena a cada três dias116 trabalhados, Porém deve ser observado o que preconiza o ar go 127
sendo cabível apenas nos regimes fechado117 e semiaberto. 118 da LEP:
No regime aberto, o trabalho não gera remição.119
Vinha prevalecendo, no Superior Tribunal de Jus ça, Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3
conforme a Súmula nº 341, o entendimento segundo o qual (um terço) do tempo remido, observado o disposto
a remição da pena é possível tanto pelo trabalho quanto pelo no art. 57, recomeçando a contagem a par r da data
estudo do preso. da infração disciplinar.
A Lei nº 12.433/2011 adotou a disposição jurisprudencial
e alterou o ar go 126 da Lei de Execução Penal: Da Detração Penal
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime O ins tuto da detração penal encontra-se no art. 42 do
fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou Código Penal, vejamos:
por estudo, parte do tempo de execução da pena.
§ 1º A contagem de tempo referida no caput será Art. 42. Computam-se, na pena priva va de liber-
feita à razão de: dade e na medida de segurança, o tempo de prisão
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de fre- provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão
quência escolar – a vidade de ensino fundamental, administra va e o de internação em qualquer dos
médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou estabelecimentos referidos no ar go anterior.
ainda de requalificação profissional – divididas, no
mínimo, em 3 (três) dias; Pode-se conceituar o ins tuto da detração penal como
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. sendo o cálculo de redução da pena priva va de liberdade
[...] ou de medida de segurança aplicada ao final da sentença,
do período de prisão temporária ou preven va ou ainda de
Nesse sen do é a redação da Súmula nº 341 do STJ: “A internação para tratamento psiquiátrico em que o senten-
frequência a curso de ensino formal é causa de remição de ciado cumpriu anteriormente.122 No ensinamento de René
parte do tempo de execução da pena sob regime fechado Ariel Do (2002, p. 604):
ou semiaberto”.
Ressalta-se, que o § 7º do ar go 126 da Lei de Execução Consiste a detração no aba mento na pena priva va
Penal diz que é possível a remição durante a prisão provisória. de liberdade e na medida de segurança, do tempo
Em relação à possibilidade de remição em medida de em que o sentenciado sofreu prisão provisória, prisão
segurança, ensina Alexandre de Moraes (1999, p. 186): administra va ou internação em hospital de custó-
dia e tratamento psiquiátrico, ou mesmo em outro
não tem direito à remição o agente que está subme -
estabelecimento similar.
do à medida de segurança de internação em hospital
de custódia e tratamento psiquiátrico, ainda que essa
Bitencourt (2003, p. 440) explica que
internação possa ser objeto de detração penal, pois
o sentenciado não estará cumprindo pena segundo
através da detração penal permite-se descontar, na
as regras do regime fechado ou semiaberto, expostas
no caput do art. 126 da LEP. pena ou na medida de segurança, o tempo de prisão
ou de internação que o condenado cumpriu antes
Preso Impossibilitado de Trabalhar da condenação.

Em se tratando de execução das penas, o preso impossi- Observa-se que a detração penal não está subordinada a
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

bilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, con nuará a nenhuma condição, bastando apenas que o apenado tenha
beneficiar-se com a remição, mesmo sem estar trabalhando.120 permanecido preso ou internado provisoriamente durante
O § 4º do ar go 126 da LEP diz que o preso impossibilita- o curso do processo para que faça jus à detração penal. 123
do, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos Victor Gonçalves (2002, p. 112) ainda cita que
con nuará a beneficiar-se com a remição.
se alguém foi condenado a 3 anos e 6 seis meses e havia
ficado preso por 6 meses aguardando a sentença, terá
116
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-SP/125º Exame de Ordem/2005; de cumprir apenas o restante da pena, ou seja, 3 anos.
OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005; OAB-MT/1º Exame de Ordem/2005;
OAB-PR/Exame 03-2006.
117
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RO/40º Exame; OAB-MT/1º Exame
121
de Ordem/2005; Promotor-RN/2004; OAB-RS/1º Exame/2006. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RO/43º Exame; OAB-GO/1º Exa-
118
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública da União/ me/2007.
122
Defensor de 2ª Categoria/2004; OAB-RO/40º Exame; OAB-RS/1º Exame/2006; Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-MT/1º Exame de Ordem/2005;
OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004. Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.2; Cespe/PC-PB/Agente de Inves gação
119
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/1º Exame/2006. e Escrivão de Polícia/2009.
120 123
TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005. OAB-RJ/30º Exame.

519
Suspensão Condicional da Execução da Pena – O sursis especial previsto no art. 78, § 2º, do CP será
Sursis concedido quando a pena não exceder a dois anos, desde
que o condenado tenha reparado o dano e as circunstâncias
O sursis não deve ser confundido com a suspensão do art. 59 sejam favoráveis.
condicional do processo, ins tuto previsto na Lei do Juizado O sursis etário previsto no art. 77, § 2º, do Código Penal será
Especial Criminal. concedido quando o condenado for maior de 70 anos à data da
O sursis nada mais é que a suspensão condicional da sentença concessiva. A pena não pode ser superior a 4 anos,
execução da pena. sendo o período de prova de 4 a 6 anos (lapso de tempo fixado
A suspensão condicional da execução da pena simples previs- pelo juiz durante o qual fica suspensa a execução da pena).
ta no art. 78, § 1º, do CP é concedida quando a pena priva va de O sursis humanitário previsto no art. 77, § 2º, do Código
liberdade não é superior a dois anos, sendo que o condenado, Penal será concedido em virtude do estado de saúde do
no primeiro ano do período de prova, deverá prestar serviços condenado. A pena não poderá ser superior a 4 anos, sendo
à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana. o período de prova de 4 a 6 anos.

SURSIS SIMPLES SURSIS ESPECIAL SURSIS ETÁRIO SURSIS HUMANITÁRIO


Art. 77 c/c 78, § 1º, do CP. Art. 77 c/c 78, § 2º, do CP. Art. 77, § 2º, do CP. Art. 77, § 2º, do CP.
A pena imposta não pode ser A pena imposta não pode A pena imposta não pode ser A pena imposta não supera 4 anos.
superior a dois anos. ser superior a dois anos. superior a 4 anos. O período de prova foi alargado para
Considera-se concurso de cri- Considera-se concurso de O agente deve ser maior de 4 a 6 anos. Razões de saúde jus fi-
mes (material, formal, con nui- crimes (material, formal, 70 anos, na data da sentença cam a concessão do sursis. A clau-
dade deli va). con nuidade deli va). (que primeiro o condena). sura torna di cil a cura da doença.
Período de prova: de 2 a 4 anos. Período de prova: de 2 a Período de prova: de 4 a 6 Período de prova: de 4 a 6 anos.
4 anos. anos.
No primeiro ano, ou presta ser- Havendo reparado o dano, Aplicam-se as condições do Aplica-se o art. 78 do CP, o § 1º, ou,
viços à comunidade, ou fica com aplica-se o art. 78, § 2º. art. 78, § 1º, ou do art. 78, § 2º, se reparou o dano, o art. 78, § 2º.
limitação de fim de semana. se houver reparado o dano.
Requisitos: a) Não reincidente em No mais, são idên cos os No mais, são idênticos os No mais, são idên cos.
crime doloso. b) Circunstâncias requisitos. requisitos.
judiciais favoráveis. c) Incabíveis
penas restri vas de direito ao réu.

É possível sursis em crime hediondo ou equiparado? No plano do Direito Penal e Processual Penal, fala-se
Atualmente, sendo possível a progressão de regime de em audiência admonitória quando o réu, beneficiado
cumprimento de pena, não há impedimento para o sursis pelo sursis, é lembrado em audiência, pelo magistrado da
para crime hediondo e equiparado, com a ressalva de que o condenação125, sobre as consequências da prá ca de nova
art. 44 da Lei nº 11.343/2006 proíbe o sursis para os crimes infração penal. Dispõe o art. 160 da LEP:
de tráfico de drogas.
Segundo a Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), o conde- Art. 160. Transitada em julgado a sentença condena-
nado pelo crime de tráfico, em se tratando de reincidente tória, o Juiz a lerá ao condenado126, em audiência,
específico (anterior condenação pelo mesmo crime de tráfi- adver ndo-o das consequências de nova infração
co) não poderá obter a outorga do livramento condicional124. penal e do descumprimento das condições impostas.

Revogação do sursis O art. 159 da LEP dispõe sobre a concessão do sursis


pelos Tribunais:
Revogação OBRIGATÓRIA:
1 – Condenação irrecorrível por crime doloso (não Art. 159. Quando a suspensão condicional da pena
importa a data da prá ca do crime, se antes ou durante o for concedida por Tribunal, a este caberá estabelecer
período de prova). as condições do bene cio.
2 – Não pagar a multa. Esta causa foi revogada pela Lei § 1º De igual modo proceder-se-á quando o Tribunal
nº 9.268/1996, devendo a multa ser executada. modificar as condições estabelecidas na sentença
3 – Não reparar o dano. Se houver reparação do dano recorrida.
antes da sentença, a espécie de sursis será especial. § 2º O Tribunal, ao conceder a suspensão condicio-
4 – Se o agente não observar as condições do art. 78, nal da pena, poderá, todavia, conferir ao Juízo da
§ 1º, do CP.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

execução a incumbência de estabelecer as condições


do bene cio, e, em qualquer caso, a de realizar a
B – Revogação FACULTATIVA: audiência admonitória a subs tuição da pena por
1 – Descumprimento de outras condições que não aque- medida de segurança.
las do art. 78, § 1º, do CP.
2 – Condenação irrecorrível, por contravenção penal Consequência do Não Comparecimento do
ou crime culposo, a uma pena priva va de liberdade ou de Condenado na Audiência Admonitória
restri va de direitos.
A ausência do condenado à audiência admonitória, para
Audiência Admonitória a qual fora in mado por edital com prazo de vinte dias, le-
vará a ineficácia do sursis e a imediata execução da pena.127
Historicamente, admonição é a repreensão feita pelo ma-
gistrado às pessoas mal comportadas durante a audiência. 125
Tema cobrado na seguinte prova: TJ-MA/Juiz/2003.
126
TJ-MA/Juiz/2003.
124 127
Tema cobrado na seguinte prova: Fundep/TJ-MG/Juiz/2009. TJ-MA/Juiz/2003.

520
Assim está disposto no art. 161 da lei ora em estudo: Se primário e tiver bons antecedentes, deverá ter
cumprido mais de 1/3 da pena.131 Se reincidente, cumpre
Art. 161. Se, in mado pessoalmente ou por edital com mais da 1/2 da pena. Se condenado por crime hediondo
prazo de 20 (vinte) dias, o réu não comparecer injus fi- ou equiparado132, deverá ter cumprido mais de 2/3 da pena,
cadamente à audiência admonitória, a suspensão fica- não podendo ser reincidente específico.
rá sem efeito e será executada imediatamente a pena. 4 – Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo.
Já decidiu o STJ: Requisitos SUBJETIVOS133:
1 – Comportamento carcerário sa sfatório durante a
Ementa execução da pena.
Habeas corpus subs tu vo de recurso ordinário. 2 – Bom desempenho do trabalho que lhe foi atribuído.
Furto tentado. Concessão de sursis. Réu que, embo- 3 – Ap dão para prover a própria subsistência, mediante
ra in mado, pessoalmente, por diversas vezes, não trabalho honesto.
comparece a audiência admonitória. Cassação do
4 – Condições pessoais que façam presumir que o con-
beneficio. Defesa que pretende seja ouvida antes,
denado não voltará a delinquir.
para jus ficar a ausência. Falta de amparo legal.
1. Se, in mado por diversas vezes para comparecer
a audiência admonitória, o réu não o faz, correta a Condições
cassação do sursis que lhe fora concedido, despicien-
do ouvir-se, antes, o seu defensor. Durante o período de prova, o réu ficará subme do a
2. Ordem denegada (STJ. Habeas Corpus: HC nº 6.849-RJ certas condições.
1998/0002209-0; Rel. Min. Anselmo San ago, julg. em
18/3/1998, 6ª Turma, publ. em DJ de 6/4/1998, p. 162) Obrigatórias:
1 – Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável, desde
Livramento Condicional que apto ao trabalho.
2 – O condenado deve comunicar periodicamente ao juiz
Segundo Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 514), sua ocupação atual.
3 – Não mudar de comarca sem prévia autorização do
trata-se de um ins tuto de polí ca criminal, des na- juiz.134
do a permi r a redução do tempo de prisão com a
concessão antecipada e provisória da liberdade do Faculta vas:
condenado, quando é cumprida pena priva va de 1 – Não mudar de residência sem autorização judicial.135
liberdade, mediante o preenchimento de determi- 2 – Recolher-se à habitação em hora fixada.
nados requisitos e a aceitação de certas condições. 3 – Não frequentar determinados lugares.

É a concessão, pelo Poder Judiciário, de liberdade As condições do livramento condicional poderão ser
antecipada, mediante o cumprimento de determinadas modificadas pelo juiz da execução136 nos termos do art. 144
condições, conferida ao condenado que cumpriu parte da da LEP.
pena priva va de liberdade que lhe foi imposta128.
Vale ressaltar que a concessão de livramento condicional Revogação do Livramento Condicional
não pressupõe que o condenado passou por todos os regimes
de cumprimento de pena. O juiz, de o cio, poderá determinar a revogação do
Após a Lei nº 10.792/2003, a concessão de livramento livramento condicional, ouvido o liberado.137 Importante
condicional prescinde de manifestação prévia do Conselho salientar que a revogação do Livramento Condicional poderá
Penitenciário, estando a critério do juízo de execuções,129 ser de maneira obrigatória ou faculta va.
como versa o art. 131 da LEP: Salvo quando a revogação do livramento condicional
O livramento condicional poderá ser concedido pelo resulta de condenação por outro crime anterior àquele
juiz da execução, presentes os requisitos do art. 83, bene cio, não se desconta na pena o tempo em que esteve
incisos e parágrafo único, do Código Penal, ouvidos o solto o condenado.138
Ministério Público e o Conselho Penitenciário.
Art. 88. Revogado o livramento, não poderá ser no-
Ressalta-se que as condições do livramento condicional vamente concedido, e, salvo quando a revogação re-
poderão ser modificadas pelo juiz da execução.130 sulta de condenação por outro crime anterior àquele
Duração do Livramento Condicional bene cio, não se desconta na pena o tempo em que
esteve solto o condenado. (Grifo Nosso)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

A duração do livramento condicional é exatamente o


tempo da pena priva va de liberdade que resta a ser cum- Revogação obrigatória
prida pelo condenado. 1 – Condenação irrecorrível por crime, com pena
priva va de liberdade, come do durante o beneİcio do
Requisitos para Concessão do Livramento Condicional livramento139.
Requisitos OBJETIVOS: 131
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/1º Exame/2007.
1 – A pena imposta deve ser priva va de liberdade. 132
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/1º Exame/2006; OAB-GO/2º
2 – A pena concreta a ser cumprida deve ser igual ou 133
Exame/2006; OAB-PR/Exame 01-2006.
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RJ/25º Exame de Ordem/2004.
superior a 2 anos. 134
Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007.
3 – Cumprimento de parte da pena. 135
Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007.
136
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/2º Exame/2006.
128 137
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RJ/25º Exame de Ordem/2004; Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003.
138
TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador. Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005;
129
Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PE-PI-RN-SE-ES/1º Exame de Ordem/2006. OAB-RS/1º Exame/2006.
130 139
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-RS/2º Exame/2006. Tema cobrado na seguinte prova: TJ-PA/Juiz Subs tuto/2005.

521
2 – Condenação irrecorrível, por crime, com pena priva - A legi mação do agravo em execução é ampla, senão
va de liberdade, come do antes da concessão do bene cio. vejamos o que dispõe este art. 195 da LEP:

Revogação faculta va O procedimento judicial iniciar-se-á de o cio, a re-


1 – Descumprimento das condições impostas. querimento do Ministério Público, do interessado,
2 – Condenação irrecorrível por crime ou contravenção de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou
a pena que não seja priva va de liberdade. Ex: restri va de descendente, mediante proposta do Conselho Peni-
direitos ou multa. tenciário, ou, ainda, da autoridade administra va.

Efeitos da Revogação Ressalta-se que contra a decisão que, no juízo da exe-


Ressalta-se, ainda, que, de acordo com o art. 88 do cução, indefere pedido de remição de pena pelo trabalho,
Código Penal brasileiro, uma vez revogado o livramento cabe recurso de agravo.144
condicional, este não poderá ser novamente concedido.140
Alterações Promovidas pela Lei nº 12.258/2010
Prorrogação do Livramento Condicional
O prazo do livramento condicional será prorrogado en- A Lei nº 12.258/2010 alterou a Lei de Execução Penal,
quanto não transitar em julgado a sentença no processo a para que fosse introduzido no cenário nacional a chamada
que responde o condenado por crime come do durante a monitoração eletrônica. Basicamente, com ordem judicial,
vigência do bene cio. a monitaração é feita com uma tornozeleira que indicará
O tempo remido será computado para a concessão de ao monitor os passos do condenado que tem autorização
livramento condicional e indulto.141 de saída temporária no regime semiaberto ou que cumpre
pena em prisão domiciliar.
Recurso Cabível na Revogação do Livramento Segundo o art. 146-C da Lei de Execução Penal, o conde-
Condicional nado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar
com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:
Da decisão que negar o livramento condicional, caberá 1 – receber visitas do servidor responsável pela moni-
agravo.142 toração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir
suas orientações;
Agravo em Execução 2 – abster-se de remover, de violar, de modificar, de
Dispõe o art. 197 da LEP: “Das decisões proferidas pelo danificar de qualquer forma o disposi vo de monitoração
Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo”.143 eletrônica ou de permi r que outrem o faça;
Importante salientar que, antes da Lei de Execução Pe- A violação comprovada dos deveres previstos no ar go
nal, das decisões proferidas pelo juiz da Vara das Execuções mencionado poderá acarretar, a critério do juiz da execução,
Criminais era cabível o Recurso em Sen do Estrito, conforme ouvidos o Ministério Público e a defesa:
se depreende da leitura do art. 581 do CPP. 1 – a regressão do regime;
Segundo a Súmula nº 700 do STF, é de cinco dias o 2 – a revogação da autorização de saída temporária;
prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da 3 – a revogação da prisão domiciliar;
execução penal. A advertência será aplicada, por escrito, para todos os
casos em que o juiz da execução decida não aplicar alguma
Súmula nº 700 das medidas mencionadas. A monitoração eletrônica poderá
É de cinco dias o prazo para interposição de agravo ser revogada quando se tornar desnecessária ou inadequa-
contra decisão do juiz da execução penal. da, como também quando o acusado ou condenado violar
os deveres a que es ver sujeito durante a sua vigência ou
Efeitos do Agravo em Execução: cometer falta grave.
São efeitos do agravo em execução:

A – Devolu vo.
B – Possibilidade do juízo de retratação, o chamado REFERÊNCIAS
efeito regressivo. O juiz pode decidir por manter ou não
sua decisão, antes de encaminhar o agravo para o Tribunal. BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. Parte geral. 8.
Entretanto, há um caso em que o agravo em execução ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 1.
tem efeito suspensivo, qual seja, contra sentença que desin-
terna ou libera o inimputável ou semi-imputável. CAPEZ, Fernando. Execução penal. 13. ed. São Paulo: Damá-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sio de Jesus, 2007.


140
Tema cobrado na seguinte prova: OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005.
141
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-RS/2º Exame/2006; OAB-MT/1º
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Parte geral. 12.
Exame de Ordem/2005; OAB-RS/3º Exame/2006; Acadepol-SP/Delegado de ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 1.
Polícia/2003; NCE/PC-DF/Delegado/2004.
142
Tema cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.2;
OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-P
COIMBRA, Mário. Execução penal. In: RÉGIS PRADO, Luiz.
B-RN-PE/2º Exame de Ordem/2006. (Coord.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. v. 3.
143
Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-ES/2º Exame de Ordem/2005;
Vunesp/OAB-SP/129º Exame; Promotor-DF/2002; TRF-4ª Região/Juiz Federal
Subs tuto/XI Concurso; TJ-MA/Juiz/2003; OAB-SC/1º Exame de Ordem/2004; DOTTI, R. A. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Ja-
OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005; 12º Concurso Público para Procura- neiro: Forense, 2002.
dor da República; Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/3º
Exame de Ordem/2006; Fundep/OAB-GO/2º Exame/2006; TJ-MG/Técnico
144
Judiciário/2007; OAB-RS/3º Exame/2006; TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador; Tema cobrado nas seguintes provas: OAB-ES/2º Exame de Ordem/2005;
13º Concurso Público para Procurador da República; Promotor-RN/2004; OAB-RJ/30º Exame; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/De-
Vunesp/OAB-SP/130º Exame; OAB-RS/1º Exame/2007; OAB-SP/125º Exame fensor de 2ª Categoria/2005; OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004; Promo-
de Ordem/2006. tor-MG/2006; OAB-GO/1º Exame/2007.

522
GONÇALVES, V. E. R. Direito penal: parte geral. 6. ed. São do Código Penal e a sentença dispõe que a execução será
Paulo: Saraiva, 2002. Coleção Sinopses Jurídicas. v. 7. iniciada após o seu trânsito em julgado. Mévio apela e
a sentença é confirmada pelo Tribunal Regional Federal
GRINOVER, Ada Pellegrini; BUSANA, Dante (Coord.). Natu- que determina a sua execução. A pena priva va de liber-
reza jurídica da execução penal. Execução penal. São Paulo: dade é subs tuída por duas penas restri vas de direito.
Max Limonad, 1987. A defesa interpõe recursos especial e extraordinário que
são admi dos. O Ministério Público Federal não recorreu
JESUS, Damásio E. de. Código de Processo Penal anotado. da sentença. O juiz das execuções pode iniciar a execu-
São Paulo: Saraiva, 1998. ção das penas restri vas de direito, porque os recursos
especial e extraordinário não têm efeito suspensivo e
MARCÃO, Renato. Lei de execução penal anotada e inter- o Tribunal Regional Federal não está hierarquicamente
pretada. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. subme do à determinação da sentença no sen do de
que a execução só se faça com trânsito em julgado,
MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. São Paulo: Atlas, mesmo que não tenha havido apelo ministerial.
1997. 6. (TRF 4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/XI Concurso)
Mévio é condenado em primeiro grau a 2 (dois) anos
MORAES, Alexandre de. Legislação penal especial. São Paulo: e 6 (seis) meses de reclusão e multa pelo crime do
Atlas, 1999. art. 168-A do Código Penal e a sentença dispõe que a
execução será iniciada após o seu trânsito em julgado.
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Mévio apela e a sentença é confirmada pelo Tribunal
Penal. São Paulo: Saraiva, 1996. Regional Federal que determina a sua execução. A pena
priva va de liberdade é subs tuída por duas penas
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais
restri vas de direito. A defesa interpõe recursos espe-
comentadas. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
cial e extraordinário que são admi dos. O Ministério
Tribunais, 2009.
Público Federal não recorreu da sentença. O juiz das
execuções pode iniciar a execução das penas restri -
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais
vas de direito e da pena de multa, porque os recursos
comentadas. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
especial e extraordinário não têm efeito suspensivo e
o Tribunal Regional Federal não está hierarquicamente
EXERCÍCIOS subme do à determinação da sentença no sen do de
que a execução só se faça com trânsito em julgado,
Julgue as questões. mesmo que não tenha havido apelo ministerial.
1. (Cespe/TJ-BA/Juiz Subs tuto/2005) Considere a se- 7. (TRF 4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/XI Concurso)
guinte situação hipoté ca. Pela prá ca do crime de Mévio é condenado em primeiro grau a 2 (dois) anos
homicídio qualificado, um indivíduo foi condenado
e 6 (seis) meses de reclusão e multa pelo crime do
defini vamente à pena priva va de liberdade de 12
art. 168-A do Código Penal e a sentença dispõe que a
anos de reclusão, tendo o juiz fixado na sentença penal
execução será iniciada após o seu trânsito em julgado.
o regime inicialmente fechado. Na fase execu va, o juiz,
Mévio apela e a sentença é confirmada pelo Tribunal
verificando a fixação equivocada do regime prisional,
Regional Federal que determina a sua execução. A pena
o corrigiu para integralmente fechado. Nessa situação,
priva va de liberdade é subs tuída por duas penas res-
por tratar-se de crime hediondo, com previsão legal
tri vas de direito. A defesa interpõe recursos especial e
expressa de que a pena deve ser cumprida em regime
integralmente fechado, a decisão do juiz da execução extraordinário que são admi dos. O Ministério Público
não violou a coisa julgada. Federal não recorreu da sentença. O juiz das execuções
2. (Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007)A não pode iniciar a execução das penas antes do trânsito
conversão da pena priva va de liberdade em medida em julgado da sentença, em face ao princípio cons tu-
de segurança não está prevista legalmente. cional da inocência.
3. (Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007) Em 8. (TRF 4ª Região/Juiz Federal Subs tuto/XI Concurso)
homenagem ao princípio da presunção da inocência, Mévio é condenado em primeiro grau a 2 (dois) anos
cons tucionalmente previsto, para que ocorra regres- e 6 (seis) meses de reclusão e multa pelo crime do
são, isto é, passagem de regime menos severo ao mais art. 168-A do Código Penal e a sentença dispõe que a
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

rigoroso, fundada na prá ca de novo crime, exige a Lei execução será iniciada após o seu trânsito em julgado.
de Execuções Penais a condenação com trânsito em Mévio apela e a sentença é confirmada pelo Tribunal
julgado. Regional Federal que determina a sua execução. A pena
4. (Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2007) priva va de liberdade é subs tuída por duas penas res-
Em caso de livramento condicional, concedido pelo tri vas de direito. A defesa interpõe recursos especial e
juiz após a oi va do Ministério Público e do Conselho extraordinário que são admi dos. O Ministério Público
Penitenciário, desde que preenchidos os requisitos Federal não recorreu da sentença. O juiz das execuções
obje vos e subje vos, o liberado se sujeitará a determi- pode iniciar apenas a execução da pena de multa,
nadas condições obrigatórias, entre elas a proibição de porque, não envolvendo a liberdade de locomoção do
residir em lugar diverso do lugar de juízo da execução. condenado, não ofende ao princípio cons tucional da
5. (TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/XI Concurso) não culpabilidade.
Mévio é condenado em primeiro grau a 2 (dois) anos e 6 9. (Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público
(seis) meses de reclusão e multa pelo crime do art. 168-A da União de 2ª Categoria/2004) A remissão consiste

523
na dedução de um dia de pena a cada três dias traba- 25. (Cespe/TJ-CE/Juiz Subs tuto/2004-2005) Considere a
lhados, sendo cabível apenas nos regimes fechado e seguinte situação hipoté ca. Rogério, réu primário, foi
semiaberto. condenado defini vamente à pena priva va de liber-
10. (Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público dade de 6 anos de reclusão, a ser cumprida em regime
da União de 2ª Categoria/2004) Na situação de um fechado por ter pra cado o crime de roubo com as
indivíduo ter sido condenado pelo crime de lesões causas especiais de aumento do concurso de pessoas
corporais graves e na hipótese de ele ter cumprido mais e emprego de arma. Nessa situação, consoante orien-
de um sexto da pena em regime fechado, não havendo tação do STJ, após cumprir mais de um ano da pena,
manifestação judicial acerca da progressão para o re- Rogério preencherá o requisito obje vo-temporal para
gime semiaberto, estará configurado constrangimento a progressão de regime prisional, trabalho externo e
ilegal que poderá ser sanado por habeas corpus. saída temporária.
11. (Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defen- 26. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) São incidentes de execução
sor Público de 2ª Categoria/2005) Em caso de prisão previstos na Lei de Execuções Penais: o livramento con-
temporária, o tempo da prisão efe vamente cumprido, dicional, a suspensão condicional da pena e a anis a.
27. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) São incidentes de execução
que não é alcançável pelo ins tuto da detração penal,
previstos na Lei de Execuções Penais: a anis a, o indulto
não pode ser computado na pena eventualmente im-
e o livramento condicional.
posta, dada a provisoriedade dessa medida.
28. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) São incidentes de execução
12. (TJDFT/Juiz de Direito Subs tuto/2007) A invocação do
previstos na Lei de Execuções Penais: as conversões de
princípio do contraditório não obsta a revogação, de penas, o excesso ou desvio de execução, a anis a e o
pronto, do bene cio da suspensão condicional da pena. indulto.
13. (TJDFT/Juiz de Direito Subs tuto/2007) A concessão de 29. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) São incidentes de execução
indulto é medida de natureza extraordinária, de com- previstos na Lei de Execuções Penais: a anis a, o indul-
petência priva va do Presidente da República que está, to, o livramento condicional e a medida de segurança.
no entanto, impedido de impor restrições ao bene cio. 30. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) São incidentes de execu-
14. (TJDFT/Juiz de Direito Subs tuto/2007) O livre acesso ção previstos na Lei de Execuções Penais: o excesso
aos terminais do ins tuto de iden ficação não fere ou desvio de execução, as conversões e o livramento
direito daqueles protegidos pelo manto da reabilitação. condicional.
15. (TJDFT/Juiz de Direito Subs tuto/2007) Após o trânsito 31. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) Em se tratando de exe-
em julgado da sentença condenatória, e expedido a cução das penas: a permissão de saída do estabeleci-
respec va carta de guia, pode o juiz que a proferiu, mento, mediante escolta, em caso de doença grave da
esteado na periculosidade presumida do réu, impor companheira, não poderá ser concedida se o preso for
medida de segurança. provisório.
16. (TJ-MA/Juiz/2003) Em relação à execução penal: ao juiz 32. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) Em se tratando de exe-
das execuções não compete a realização da audiência cução das penas: o condenado que cumpre pena em
admonitória nos casos de sursis. regime aberto poderá remir, pelo trabalho, parte do
17. (TJ-MA/Juiz/2003) Em relação à execução penal: a au- tempo de execução da pena.
sência do condenado à audiência admonitória, para a 33. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) Em se tratando de execu-
qual fora in mado por edital com prazo de vinte dias, ção das penas: o preso impossibilitado de prosseguir
levará a ineficácia do sursis e a imediata execução da no trabalho, por acidente, con nuará a beneficiar-se
pena. com a remição, mesmo sem estar trabalhando.
18. (TJ-MA/Juiz/2003) Em relação à execução penal: na au- 34. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) Em se tratando de exe-
diência admonitória, o escrivão fará a leitura da senten- cução das penas: o juiz da execução penal poderá
ça por determinação do juiz e este fará as advertências imediatamente revogar o livramento condicional em
necessárias ao beneficiado sobre as consequências de caso de prá ca pelo liberado de outra infração penal,
nova infração penal e do descumprimento das condi- bastando apenas ouvir o interessado, assegurando-lhe
ampla defesa e o contraditório.
ções impostas.
35. (Juiz Subs tuto/TJ-PA/2005) Em se tratando de execu-
19. (TJ-MA/Juiz/2003) Em relação à execução penal: das
ção das penas: em caso de revogação do livramento
decisões do juiz das execuções cabe recurso de agravo,
condicional mo vada por infração penal anterior à
em cinco dias, sem efeito suspensivo.
vigência do livramento, não se computará na pena o
20. (TJ-MA/Juiz/2003) Segundo a Jurisprudência dominante
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se


do Superior Tribunal de Jus ça, compete ao juízo das concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.
execuções penais do Estado a execução das penas 36. (Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005) Segundo a Lei de
impostas a sentenciados pela jus ça federal, militar Execução Penal, cons tui direito do preso: contato com
ou eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos o mundo exterior.
sujeitos a administração estadual. 37. (Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005) Segundo a Lei de
21. (TJ-GO/Juiz Subs tuto/2004-2005) O condenado pode Execução Penal, cons tui direito do preso: obtenção
recusar a graça. de regalias.
22. (TJ-GO/Juiz Subs tuto/2004-2005) O condenado pode 38. (Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005) Segundo a Lei de
recusar o indulto. Execução Penal, cons tui direito do preso: elogio por
23. (TJ-GO/Juiz Subs tuto/2004-2005) O condenado pode boa conduta.
recusar a anis a. 39. (Ejef/TJ-MG/Juiz Subs tuto/2005) Segundo a Lei de
24. (TJ-GO/Juiz Subs tuto/2004-2005) O condenado pode Execução Penal, cons tui direito do preso: asseio da
recusar a comutação da pena. cela ou alojamento.

524
40. (NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002) Em tema 52. (NCE/PC-DF/Delegado/2004) De acordo com a Lei de
de disposições gerais da prisão: sempre que possível, Execução Penal vigente: a autoridade administra va
as pessoas presas provisoriamente ficarão separadas poderá decretar o isolamento preven vo do faltoso
das que já es verem defini vamente condenadas. pelo prazo de até dez dias; a inclusão do preso no regi-
41. (NCE/PC-RJ/Delegado de 3ª Classe/2002) Em tema de me disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina
disposições gerais da prisão: quando o réu es ver no e da averiguação do fato, dependerá de despacho do
território nacional, em lugar estranho ao da jurisdição, juiz competente.
será deprecada a sua prisão, devendo constar da pre- 53. (Uespi/Agente Penitenciário/2006)Configura-se si-
catória o inteiro teor do mandado. tuação da prisão temporária: os presos temporários
42. (TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006) A Lei nº 7.210/1984, em deverão permanecer, obrigatoriamente, separados dos
seu art. 66, define a competência do Juízo de Execuções demais detentos.
Penais. Entre elas, destaca-se a seguinte: interditar, no 54. (OAB-RS/2º Exame/2006) Sobre a execução penal: a
todo ou em parte, estabelecimento penal que es ver comutação é causa ex n va da punibilidade.
funcionando em condições inadequadas. 55. (Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2007) O recurso
43. (TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006) A Lei nº 7.210/1984, em adequado para impugnar as decisões proferidas pelo
seu art. 66, define a competência do Juízo de Execuções Juiz no procedimento judicial nas situações previstas
Penais. Entre elas, destaca-se a seguinte: aplicar aos na Lei de Execução Penal é apelação.
casos julgados lei posterior que de qualquer modo 56. (Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2007) O recurso
favorecer o condenado. adequado para impugnar as decisões proferidas pelo
44. (TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006) A Lei nº 7.210/1984, em Juiz no procedimento judicial nas situações previstas
seu art. 66, define a competência do Juízo de Execuções na Lei de Execução Penal é agravo.
Penais. Entre elas, destaca-se a seguinte: decidir sobre 57. (Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2007) O recurso
soma ou unificação de penas; progressão ou regressão do adequado para impugnar as decisões proferidas pelo
regime; livramento condicional e incidentes de execução. Juiz no procedimento judicial nas situações previstas
45. (TJ-PR/Juiz Subs tuto/2006) A Lei nº 7.210/1984, em na Lei de Execução Penal é recurso em sen do estrito.
seu art. 66, define a competência do Juízo de Execuções 58. (Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2007) O recurso
Penais. Entre elas, destaca-se a seguinte: propor diretri- adequado para impugnar as decisões proferidas pelo
zes de polí ca criminal quanto à prevenção do delito,
Juiz no procedimento judicial nas situações previstas
administração da jus ça criminal e execução das penas
na Lei de Execução Penal é carta testemunhável.
e medidas de segurança.
59. (OAB-RS/2º Exame/2006) Sobre a execução penal: o
46. (Cespe/AGU/Advogado da União/2002) Considere a
tempo de pena remido será computado para a conces-
seguinte situação hipoté ca. Um indivíduo foi conde-
são de livramento condicional e indulto.
nado defini vamente à pena priva va de liberdade de
60. (OAB-RJ/32º Exame) Cons tui direito do preso previsto
quatro anos de reclusão, em regime aberto. Antes do
na Lei de Execução Penal visita ín ma a qualquer dia e
início da execução da reprimenda, adveio nova conde-
hora, desde que solicitada com antecedência de uma
nação defini va, agora à pena priva va de liberdade
semana à direção do estabelecimento prisional.
de seis anos de reclusão, em regime semiaberto. Nessa
situação, caberá ao juiz das execuções unificar as penas 61. (OAB-RJ/32º Exame) Cons tui direito do preso previsto
e fixar o regime fechado. na Lei de Execução Penal proteção contra qualquer
47. (Acadepol-SP/Delegado de Polícia/2003) O juiz, de forma de sensacionalismo.
o cio, poderá determinar a revogação do livramento 62. (OAB-RJ/32º Exame) Cons tui direito do preso previsto
condicional, ouvido o liberado. na Lei de Execução Penal redução de três dias da pena
48. (NCE/PC-DF/Delegado/2004)De acordo com a Lei de a ser cumprida para cada dia trabalhado no estabele-
Execução Penal vigente: o isolamento, a suspensão e cimento prisional.
a restrição de direitos não poderão exceder a dez dias, 63. (OAB-RJ/32º Exame) Cons tui direito do preso previsto
ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado. na Lei de Execução Penal um telefonema por dia, me-
49. (NCE/PC-DF/Delegado/2004) De acordo com a Lei de diante o monitoramento da conversa pelo diretor do
Execução Penal vigente: se a revogação for mo vada estabelecimento prisional.
por infração penal anterior à vigência do livramento, 64. (OAB-RS/2º Exame/2006) Sobre a execução penal: as
computar-se-á como tempo de cumprimento da pena condições do livramento condicional não poderão ser
o período de prova, sendo permi da, para a concessão modificadas pelo Juiz da execução.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

de novo livramento, a soma do tempo das duas penas. 65. (OAB-RS/2º Exame/2006) Sobre a execução penal:
50. (NCE/PC-DF/Delegado/2004) De acordo com a Lei de ainda que o apenado jus fique sua ausência à en dade
Execução Penal vigente: na aplicação das sanções dis- que deva prestar serviços à comunidade, o Juiz deverá
ciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os mo vos, converter a pena restri va de direitos em pena priva va
as circunstâncias e as consequências do fato, bem como de liberdade.
a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão. 66. (OAB-RS/1º Exame/2006) A progressão de regime da
51. (NCE/PC-DF/Delegado/2004) De acordo com a Lei de pena pode ser deferida pelo diretor da casa prisional,
Execução Penal vigente: transitada em julgado a sen- desde que cumpridas as disposições legais, ao passo
tença que aplicou a pena restri va de direitos, o juiz de que a regressão de regime somente pode ser decidida
execução, de o cio ou a requerimento do Ministério pelo juiz da execução.
Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, 67. (OAB-RS/1º Exame/2006) Segundo a Lei de Execuções
requisitar, quando necessário, a colaboração de en - Penais, somente podem remir parte da sanção corporal
dades públicas ou solicitá-las a par culares. os apenados que cumprem pena no regime fechado.

525
68. (OAB-RS/1º Exame/2006) Para o livramento condicio- decisão, a defesa, com base em recente decisão pro-
nal, exige-se o cumprimento da metade da pena para ferida pelo Supremo Tribunal Federal, poderá interpor
os condenados por crime hediondo, caso não sejam recurso em sen do estrito junto ao Juízo da Vara de
reincidentes específicos, e de 1/3 da pena para os não Execuções, dirigindo as razões recursais ao Tribunal de
reincidentes em crime doloso, Jus ça.
69. (OAB-RS/1º Exame/2006) A saída temporária para 74. (OAB-RS/3º Exame/2006) Luiz, cumprindo pena de 18
os condenados do regime semiaberto dependerá de anos e 4 meses de reclusão em regime integralmente
bom comportamento, da compa bilidade do bene cio fechado por homicídio qualificado, após implementado
com os obje vos da pena, bem como do cumprimento o lapso temporal de 1/6 do total de sua pena, postulou,
mínimo de 1/6 da pena para os primários e de 1/4 da através de seus advogados, a progressão de regime para
pena para os reincidentes. o semiaberto. O magistrado, analisando pedido defen-
70. (Vunesp/OAB-SP/133º Exame) Não pode o juiz das sivo, requisitou ao diretor da casa prisional informações
execuções declarar ex nta a punibilidade. sobre o comportamento carcerário do apenado, sendo
71. (OAB-RS/3º Exame/2006) Luiz, cumprindo pena de 18 este plenamente sa sfatório. Antes de decidir, encami-
anos e 4 meses de reclusão em regime integralmente nhou os autos ao Ministério Público, que se manifestou
fechado por homicídio qualificado, após implementado pelo indeferimento do pedido por se tratar de crime
o lapso temporal de 1/6 do total de sua pena, postulou, hediondo, insusce vel de progressão nos termos da Lei
através de seus advogados, a progressão de regime para nº 8.072/1990. O juiz acolheu na íntegra a promoção
o semiaberto. O magistrado, analisando pedido defen- ministerial, indeferindo o pleito da defesa. Contra esta
sivo, requisitou ao diretor da casa prisional informações decisão, a defesa, com base em recente decisão pro-
sobre o comportamento carcerário do apenado, sendo ferida pelo Supremo Tribunal Federal, poderá interpor
este plenamente sa sfatório. Antes de decidir, encami- recurso de agravo em execução junto ao Juízo da Vara
nhou os autos ao Ministério Público, que se manifestou de Execuções, dirigindo as razões do recurso ao Tribunal
pelo indeferimento do pedido por se tratar de crime de Jus ça.
hediondo, insusce vel de progressão nos termos da Lei 75. (OAB-RS/1º Exame/2006) Em qualquer hipótese de
nº 8.072/1990. O juiz acolheu na íntegra a promoção revogação do livramento condicional, não se desconta,
ministerial, indeferindo o pleito da defesa. Contra esta na pena, o tempo em que esteve solto o condenado.
decisão, a defesa, com base em recente decisão pro- 76. (OAB-RS/1º Exame/2006) É defesa a concessão da
ferida pelo Supremo Tribunal Federal, poderá interpor suspensão condicional da pena nos casos de crimes
recurso de agravo de instrumento junto ao Juízo da pra cados com violência ou grave ameaça.
Vara de Execuções, dirigindo as razões do recurso ao 77. (OAB-RS/1º Exame/2006) Para a obtenção da progres-
Tribunal de Jus ça. são de regime, o condenado deverá cumprir no mínimo
72. (OAB-RS/3º Exame/2006) Luiz, cumprindo pena de 18 1/5 da pena priva va de liberdade no regime anterior.
anos e 4 meses de reclusão em regime integralmente 78. (OAB-RS/1º Exame/2006) É admissível, conforme a
fechado por homicídio qualificado, após implementado Súmula 269 do STJ, a adoção do regime prisional se-
o lapso temporal de 1/6 do total de sua pena, postulou, miaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou
através de seus advogados, a progressão de regime para inferior a 4 anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
o semiaberto. O magistrado, analisando pedido defen- 79. (OAB-RS/1º Exame/2007) Sobre a execução da pena
sivo, requisitou ao diretor da casa prisional informações priva va de liberdade, é inviável a unificação das penas
sobre o comportamento carcerário do apenado, sendo pelo juízo da execução, salvo se as condenações verem
este plenamente sa sfatório. Antes de decidir, encami- origem na comarca do juiz responsável pela aplicação
nhou os autos ao Ministério Público, que se manifestou das sanções.
pelo indeferimento do pedido por se tratar de crime 80. (OAB-RS/1º Exame/2007) Sobre a execução da pena
hediondo, insusce vel de progressão nos termos da Lei priva va de liberdade, em vista do sistema progressivo
nº 8.072/1990. O juiz acolheu na íntegra a promoção previsto na Lei de Execuções Penais, para fazer jus ao
ministerial, indeferindo o pleito da defesa. Contra esta livramento condicional, o apenado deve passar por
decisão, a defesa, com base em recente decisão pro- todos os regimes de cumprimento da pena.
ferida pelo Supremo Tribunal Federal, poderá interpor 81. (OAB-RS/1º Exame/2007) Sobre a execução da pena
recurso de agravo em execução junto ao Tribunal de priva va de liberdade, a Lei de Execuções Penais per-
Jus ça. mite a execução provisória das penas corporais, caso
73. (OAB-RS/3º Exame/2006) Luiz, cumprindo pena de 18 definida em sentença a impossibilidade de apelar em
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

anos e 4 meses de reclusão em regime integralmente liberdade, mas a progressão de regime fica condicio-
fechado por homicídio qualificado, após implementado nada ao trânsito em julgado da decisão condenatória.
o lapso temporal de 1/6 do total de sua pena, postulou, 82. (OAB-RS/1º Exame/2007) Sobre a execução da pena
através de seus advogados, a progressão de regime para priva va de liberdade, na aplicação das sanções dis-
o semiaberto. O magistrado, analisando pedido defen- ciplinares, serão considerados a natureza, os mo vos,
sivo, requisitou ao diretor da casa prisional informações as circunstâncias e as consequências do fato, bem como
sobre o comportamento carcerário do apenado, sendo a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.
este plenamente sa sfatório. Antes de decidir, encami- 83. (OAB-RS/3º Exame/2006) Álvaro, sendo primário, foi
nhou os autos ao Ministério Público, que se manifestou condenado por crime de latrocínio (art. 157, § 3º, 2ª
pelo indeferimento do pedido por se tratar de crime parte, do Código Penal) a uma pena priva va de liber-
hediondo, insusce vel de progressão nos termos da Lei dade de 21 anos de reclusão em regime inicial fechado
nº 8.072/1990. O juiz acolheu na íntegra a promoção (crime pra cado em 1997). Iniciou o cumprimento da
ministerial, indeferindo o pleito da defesa. Contra esta pena em 26/8/2000, tendo ob do a remição de 207 dias

526
de pena. Considerando que Álvaro possui boa conduta 91. (OAB-GO/1º Exame/2006) O tempo de cumprimento
carcerária e jamais pra cou falta disciplinar de nature- das penas priva vas de liberdade não pode ser superior
za grave, seu advogado pleiteou ao Juízo, conjunta e a 35 (trinta e cinco) anos.
alterna vamente, progressão de regime e livramento 92. (OAB-PR/Exame 03-2006) Sobre a Lei de Execução
condicional. Tomando como base a apreciação do juiz Penal: o preso que trabalha conta com o bene cio da
realizada em 27/11/2006, o juiz poderá conceder so- remição: cada 5 (cinco) dias trabalhados equivalem a
mente a progressão de regime para o semiaberto. 1 (um) dia de pena remido.
84. (OAB-RS/3º Exame/2006) Álvaro, sendo primário, foi 93. (OAB-PR/Exame 03-2006) Sobre a Lei de Execução
condenado por crime de latrocínio (art. 157, § 3º, 2ª Penal: os condenados serão classificados segundo
parte, do Código Penal) a uma pena priva va de liber- seus antecedentes e personalidade, para orientar a
dade de 21 anos de reclusão em regime inicial fechado individualização da execução penal.
(crime pra cado em 1997). Iniciou o cumprimento da 94. (OAB-RS/2º Exame/2007) Foi concedido a Carlos, pelo
pena em 26/8/2000, tendo ob do a remição de 207 dias juiz da Vara de Execução Criminal, o direito de progre-
de pena. Considerando que Álvaro possui boa conduta dir do regime carcerário fechado para o semiaberto,
carcerária e jamais pra cou falta disciplinar de nature- pois preenchidos todos os requisitos necessários para
za grave, seu advogado pleiteou ao Juízo, conjunta e a obtenção do direito insculpido no art. 112 da Lei
alterna vamente, progressão de regime e livramento de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1984). Neste caso,
condicional. Tomando como base a apreciação do juiz Carlos poderá usufruir de serviço externo mediante
realizada em 27/11/2006, o juiz poderá conceder a autorização do chefe da segurança da casa prisional.
progressão de regime para o semiaberto e o livramento 95. (OAB-RS/2º Exame/2007) Foi concedido a Carlos, pelo
condicional. juiz da Vara de Execução Criminal, o direito de progredir
85. (OAB-RS/3º Exame/2006) Álvaro, sendo primário, foi do regime carcerário fechado para o semiaberto, pois
condenado por crime de latrocínio (art. 157, § 3º, 2ª preenchidos todos os requisitos necessários para a
parte, do Código Penal) a uma pena priva va de liber- obtenção do direito insculpido no art. 112 da Lei de Exe-
dade de 21 anos de reclusão em regime inicial fechado cuções Penais (Lei nº 7.210/1984). Neste caso, Carlos
(crime pra cado em 1997). Iniciou o cumprimento da poderá usufruir de serviço externo e saídas temporárias
pena em 26/8/2000, tendo ob do a remição de 207 dias devidamente autorizadas pelo juízo da execução.
de pena. Considerando que Álvaro possui boa conduta 96. (OAB-RS/2º Exame/2007) Foi concedido a Carlos, pelo
carcerária e jamais pra cou falta disciplinar de nature- juiz da Vara de Execução Criminal, o direito de progre-
za grave, seu advogado pleiteou ao Juízo, conjunta e dir do regime carcerário fechado para o semiaberto,
alterna vamente, progressão de regime e livramento pois preenchidos todos os requisitos necessários para
condicional. Tomando como base a apreciação do juiz a obtenção do direito insculpido no art. 112 da Lei de
realizada em 27/11/2006, o juiz não poderá conceder Execuções Penais (Lei nº 7.210/1984). Neste caso, Car-
a progressão de regime para o semiaberto nem o los poderá usufruir de saídas temporárias devidamente
livramento condicional, por não estarem presentes os autorizadas pelo diretor do estabelecimento prisional
requisitos legais. onde cumpria pena no regime fechado.
86. (OAB-RS/3º Exame/2006) Álvaro, sendo primário, foi 97. (OAB-RS/2º Exame/2007) Foi concedido a Carlos, pelo
condenado por crime de latrocínio (art. 157, § 3º, 2ª juiz da Vara de Execução Criminal, o direito de progre-
parte, do Código Penal) a uma pena priva va de liber- dir do regime carcerário fechado para o semiaberto,
dade de 21 anos de reclusão em regime inicial fechado pois preenchidos todos os requisitos necessários para
(crime pra cado em 1997). Iniciou o cumprimento da a obtenção do direito insculpido no art. 112 da Lei
pena em 26/8/2000, tendo ob do a remição de 207 dias de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1984). Neste caso,
de pena. Considerando que Álvaro possui boa conduta Carlos poderá usufruir de saídas diárias de 2 horas a
carcerária e jamais pra cou falta disciplinar de nature- combinar com o diretor da casa prisional.
za grave, seu advogado pleiteou ao Juízo, conjunta e 98. (OAB-GO/2º Exame/2006) As penas restritivas de
alterna vamente, progressão de regime e livramento direito são cumpridas em regime fechado (ainda que
condicional. Tomando como base a apreciação do juiz integralmente ou não), semiaberto ou aberto.
realizada em 27/11/2006, o juiz poderá conceder a 99. (OAB-PR/Exame 03-2006) Sobre a Lei de Execução Pe-
progressão de regime para o aberto. nal: a assistência educacional compreenderá a instrução
87. (OAB-GO/2º Exame/2006) Caso o Juiz responsável pela escolar e a formação profissional do preso.
Execução Penal profira uma decisão indeferindo um 100. (OAB-GO/2º Exame/2006) A concessão de livramento
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pedido endereçado a ele, para que pudesse um Acusa- condicional aos condenados por crimes hediondos ou
do obter unificação das penas a que está condenado, a eles equiparados é inviável juridicamente, tendo em
qual o Recurso cabível contra essa decisão? Recurso de vista a expressa proibição legal de que a pena imposta
Apelação. deve ser cumprida em regime integralmente fechado.
88. (OAB-GO/1º Exame/2006) O tempo de cumprimento 101. (OAB-PR/Exame 03-2006) Sobre a Lei de Execução
das penas priva vas de liberdade não pode ser superior Penal: é direito do preso a proporcionalidade na distri-
a 30 (trinta) anos. buição do tempo para o trabalho, descanso e recreação.
89. (OAB-GO/1º Exame/2006) O tempo de cumprimento 102. (OAB-GO/2º Exame/2006) Caso o Juiz responsável pela
das penas priva vas de liberdade não pode ser superior Execução Penal profira uma decisão indeferindo um
a 25 (vinte e cinco) anos. pedido endereçado a ele, para que pudesse um acusado
90. (OAB-GO/1º Exame/2006) O tempo de cumprimento obter unificação das penas a que está condenado, qual o
das penas priva vas de liberdade não pode ser superior Recurso cabível contra essa decisão? Recurso de Agravo
a 20 (vinte) anos. em Execução.

527
103. (OAB-GO/2º Exame/2006) Caso o Juiz responsável pela do. Em quanto tempo poderá José gozar do bene cio
Execução Penal profira uma decisão indeferindo um da liberdade condicional? Mais de 1/3 de cumprimento
pedido endereçado a ele, para que pudesse um acusado da pena.
obter unificação das penas a que está condenado, qual 117. (OAB-PR/Exame 01-2006) Sobre os crimes hediondos
o Recurso cabível contra essa decisão? Recurso em e equiparados: afora a discussão sobre a progressão
Sen do Estrito. de regime de cumprimento de pena, o Código Penal
104. (OAB-GO/2º Exame/2006) Caso o Juiz responsável pela brasileiro já contemplava a concessão de livramento
Execução Penal profira uma decisão indeferindo um condicional para os apenados pela prá ca de crimes
pedido endereçado a ele, para que pudesse um acusado hediondos.
obter unificação das penas a que está condenado, qual o 118. (OAB-PR/Exame 01-2006) Sobre os crimes hediondos
Recurso cabível contra essa decisão? Recurso Ordinário. e equiparados: a progressão de regime e o livramento
105. (OAB-RO/43º Exame) À Luz do disposto no art. 124 da condicional são ins tutos idên cos, sendo descabida,
Lei de Execução Penal, atendidos os requisitos legais, portanto, toda a discussão em torno do tema.
a autorização temporária ao apenado será concedida 119. (Vunesp/OAB-SP/130º Exame) Em relação à execução
por prazo não superior a 7 dias, podendo ser renovada penal, é correto afirmar que cabe apelação quando
por mais 2 vezes durante o ano. a decisão do juiz encerra o processo de execução,
106. (OAB-GO/3º Exame/2006) A transferência de preso e agravo quando resolve questão incidental, como a
recolhido em estabelecimento prisional de regime de progressão de regime.
fechado, para colônia agrícola, cons tui Comutação. 120. (Vunesp/OAB-SP/130º Exame) Em relação à execução
107. (OAB-GO/3º Exame/2006) A transferência de preso penal, é correto afirmar que o regime disciplinar dife-
recolhido em estabelecimento prisional de regime renciado só é aplicável a condenados reincidentes.
fechado, para colônia agrícola, cons tui Progressão. 121. (Vunesp/OAB-SP/128º Exame) A Lei de Execução Penal
108. (OAB-GO/3º Exame/2006) A transferência de preso prevê a repe ção do regime disciplinar diferenciado até
recolhido em estabelecimento prisional de regime o limite de um terço da pena aplicada.
fechado, para colônia agrícola, cons tui Promoção.
122. (Vunesp/OAB-SP/128º Exame) A Lei de Execução Penal
109. (OAB-GO/3º Exame/2006) A transferência de preso
prevê o período de dois anos como de duração máxima
recolhido em estabelecimento prisional de regime
no regime disciplinar diferenciado.
fechado, para colônia agrícola, cons tui Regressão.
123. (Vunesp/OAB-SP/128º Exame) A Lei de Execução Penal
110. (OAB-RO/43º Exame) À luz do disposto no art. 124 da
prevê a possibilidade de inclusão preven va no regime
Lei de Execução Penal, atendidos os requisitos legais,
disciplinar diferenciado.
a autorização temporária ao apenado será concedida
124. (Vunesp/OAB-SP/128º Exame) A Lei de Execução Penal
por prazo não superior a 7 dias, podendo ser renovada
prevê que o juiz ou, excepcionalmente, o diretor do
por mais 4 vezes durante o ano.
111. (OAB-RO/43º Exame) À luz do disposto no art. 124 da estabelecimento determine a inclusão do condenado
Lei de Execução Penal, atendidos os requisitos legais, no regime disciplinar diferenciado.
a autorização temporária ao apenado será concedida 125. (Vunesp/OAB-SP/130º Exame) Em relação à execução
por prazo não superior a 5 dias, podendo ser renovada penal, é correto afirmar que a remição de pena não se
por mais 2 vezes durante o ano. aplica a dias de estudo, conforme vedação expressa da
112. (OAB-RO/43º Exame) À luz do disposto no art. 124 da Lei de Execução Penal.
Lei de Execução Penal, atendidos os requisitos legais, 126. (OAB-RO/40º Exame) Remição penal ocorre quando,
a autorização temporária ao apenado será concedida através do trabalho, em regime fechado ou semiaberto,
por prazo não superior a 5 dias, podendo ser renovada o condenado poder remir parte do tempo da execução
por mais 4 vezes durante o ano. da pena na proporção de um dia de pena por três dias
113. (OAB-RJ/24º Exame de Ordem/2004) José, primário de trabalho.
com bons antecedentes, foi condenado pelo crime de 127. (OAB-RO/40º Exame) Remição penal é a possibilidade
estupro a pena de reclusão de 6 anos, em regime fecha- de quitar todos os débitos civis antes de ser recolhido
do. Em quanto tempo poderá José gozar do bene cio à prisão para que não incorra em mora.
da liberdade condicional? Mais de 1/6 de cumprimento 128. (OAB-RO/40º Exame) Remição penal é a concessão do
da pena. cumprimento de pena no regime de prisão aberta em
114. (OAB-RJ/24º Exame de Ordem/2004) José, primário residência par cular (prisão domiciliar) aos maiores de
com bons antecedentes, foi condenado pelo crime de setenta anos, gestantes e deficientes sicos ou mentais.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

estupro a pena de reclusão de 6 anos, em regime fecha- 129. (OAB-RO/40º Exame) Remição penal é a possibilidade
do. Em quanto tempo poderá José gozar do bene cio de se cumprir a pena priva va de liberdade em regime
da liberdade condicional? Mais de 1/2 de cumprimento semiaberto, após já ter cumprido um terço dela, em
da pena. regime fechado.
115. (OAB-RJ/24º Exame de Ordem/2004) José, primário 130. (Vunesp/OAB-SP/129º Exame) Das decisões proferidas
com bons antecedentes, foi condenado pelo crime de pelo Juiz da Execução Penal, caberá recurso de agravo
estupro a pena de reclusão de 6 anos, em regime fecha- sem efeito suspensivo.
do. Em quanto tempo poderá José gozar do bene cio 131. (Vunesp/OAB-SP/129º Exame) Das decisões proferidas
da liberdade condicional? Mais de 2/3 de cumprimento pelo Juiz da Execução Penal, caberá recurso de agravo
da pena. com efeito suspensivo.
116. (OAB-RJ/24º Exame de Ordem/2004) José, primário 132. (Vunesp/OAB-SP/129º Exame) Das decisões proferidas
com bons antecedentes, foi condenado pelo crime de pelo Juiz da Execução Penal, caberá recurso de apelação
estupro a pena de reclusão de 6 anos, em regime fecha- sem efeito suspensivo.

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133. (Vunesp/OAB-SP/129º Exame) Das decisões proferidas 150. (OAB-ES/2º Exame de Ordem/2005) Contra a decisão
pelo Juiz da Execução Penal, caberá recurso de apelação que, no juízo da execução, indefere pedido de remissão
com efeito suspensivo. de pena pelo trabalho, cabe recurso de agravo.
134. (Vunesp/OAB-SP/130º Exame) Em relação à execução 151. (OAB-RS/1º Exame de Ordem/2005) Vem prevalecen-
penal, é correto afirmar que o condenado que cumprir do, no Superior Tribunal de Jus ça, o entendimento
pena em regime semiaberto poderá se beneficiar de segundo o qual a remição da pena é possível tanto pelo
permissão de saída e de saída temporária, enquanto o trabalho quanto pelo estudo do preso.
condenado em regime fechado não poderá obter saída 152. (OAB-SC/1º Exame de Ordem/2004) Quanto à Execução
temporária, tendo direito à permissão de saída. Penal, é correto afirmar que: as decisões desenvol-
135. (Vunesp/OAB-SP/131º Exame) João foi acusado de ter ver-se-ão perante o juízo da execução e, das decisões
come do roubo qualificado em virtude do emprego de proferidas por este, caberá recurso de agravo, sem
arma. Em face do crime a ele imputado, se condenado, efeito suspensivo.
poderá progredir de regime. 153. (OAB-SC/1º Exame de Ordem/2004) Quanto à Execução
136. (Vunesp/OAB-SP/133º Exame) Não pode o juiz das Penal, é correto afirmar que: as decisões desenvol-
execuções decidir sobre livramento condicional. ver-se-ão perante o juízo criminal de origem e, das
137. (Vunesp/OAB-SP/133º Exame) Não pode o juiz das decisões proferidas por este, caberá recurso de agravo,
execuções decidir sobre prescrição. com efeito suspensivo.
138. (Vunesp/OAB-SP/133º Exame) Não pode o juiz das 154. (OAB-SC/1º Exame de Ordem/2004) Quanto à Execução
execuções decidir sobre suspensão condicional do Penal, é correto afirmar que: as decisões desenvol-
processo. ver-se-ão perante o juízo de origem e, das decisões
139. (OAB-MT/1º Exame de Ordem/2005) No tocante à proferidas por este, caberá apelação criminal, sem
remição: o tempo remido não será computado para a efeito suspensivo.
concessão do livramento condicional e indulto. 155. (OAB-SC/1º Exame de Ordem/2004) Quanto à Execução
140. (OAB-MT/1º Exame de Ordem/2005) No tocante à Penal, é correto afirmar que: as decisões desenvol-
remição: a punição por falta grave acarreta a perda do ver-se-ão perante o juízo da execução e, das decisões
direito do tempo remido. proferidas por este, caberá recurso em sen do estrito,
141. (OAB-MT/1º Exame de Ordem/2005) No tocante à com efeito suspensivo.
remição: a remição aplica-se nos regimes fechado, 156. (OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003) Para a concessão
semiaberto e aberto. de progressão de regime prisional é desnecessário a ela-
142. (OAB-MT/1º Exame de Ordem/2005) No tocante à boração de lauda da Comissão Técnica de Classificação.
remição: a cada cinco dias de trabalho, o preso poderá 157. (OAB-GO/3º Exame de Ordem/2003) Para a concessão
abater um dia da pena. de progressão de regime prisional é imprescindível a ela-
143. (OAB-RJ/30º Exame) Acerca da progressão e da regres- boração de lauda da Comissão Técnica de Classificação.
são de regimes prisionais: tem como requisitos, dentre 158. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005) Revogado o
outros, a mérito do apenado, traduzido pelo seu bom livramento condicional, este poderá ser novamente
comportamento prisional e o cumprimento de ao me- concedido.
nos um sexto da pena priva va de liberdade no regime 159. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005) Mesmo quando a
anterior. revogação do livramento condicional resulta de conde-
144. (OAB-RJ/30º Exame) Acerca da progressão e da regres- nação por outro crime anterior àquele bene cio, não
são de regimes prisionais: segundo o entendimento se desconta na pena o tempo em que esteve solto o
mais moderno da jurisprudência do Supremo Tribunal condenado.
Federal, é possível a progressão de regime para os 160. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Da decisão
crimes hediondos ou para os àqueles equiparados. que negar o livramento condicional, caberá agravo.
145. (OAB-RJ/30º Exame) Acerca da progressão e da regressão 161. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005) Salvo quando a
de regimes prisionais: assim como a progressão de regi- revogação do livramento condicional resulta de conde-
me, a regressão não pode se dar “por saltos”, de forma nação por outro crime anterior àquele bene cio, não
que o apenado não pode regredir do regime prisional se desconta na pena o tempo em que esteve solto o
aberto diretamente para o regime prisional fechado. condenado.
146. (OAB-RJ/30º Exame) Acerca da progressão e da re- 162. (OAB-GO/1º Exame de Ordem/2005) Em hipótese
gressão de regimes prisionais: após a edição da Lei alguma a revogação do livramento condicional enseja
nº 10.792/2003, a realização e o parecer posi vo no se desconta o tempo em que esteve solto do restante
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

exame criminológico e a realização e o parecer posi - a ser cumprido.


vo da Comissão Técnica de Classificação não mais são 163. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Acerca da
requisitos legais para a concessão da progressão de execução penal: é permi do o emprego de cela escura.
regime. 164. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Acerca da
147. (OAB-ES/2º Exame de Ordem/2005) Contra a decisão execução penal: são permi das as sanções cole vas.
que, no juízo da execução, indefere pedido de remissão 165. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Acerca da
de pena pelo trabalho, cabe carta testemunhável. execução penal: o condenado à pena priva va de liber-
148. (OAB-ES/2º Exame de Ordem/2005) Contra a decisão dade é obrigado a realizar qualquer trabalho que lhe
que, no juízo da execução, indefere pedido de remissão for conferido, independentemente de suas ap dões e
de pena pelo trabalho, cabe recurso de apelação. de sua capacidade.
149. (OAB-ES/2º Exame de Ordem/2005) Contra a decisão 166. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Acerca da exe-
que, no juízo da execução, indefere pedido de remissão cução penal: o trabalho externo será admissível para os
de pena pelo trabalho, cabe recurso em sen do estrito. presos em regime fechado somente em serviço ou obras

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públicas realizadas por órgãos da administração direta 179. (TJ-SC/Oficial de Jus ça/2003) Segundo a Lei de Exe-
ou indireta, ou en dades privadas, desde que tomadas cução Penal (Lei nº 7.210/1984), o réu condenado por
as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. crime que não seja hediondo terá direito à progressão
167. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Da decisão do regime fechado para o regime semiaberto quando
que negar o livramento condicional, caberá agravo. houver cumprido pelo menos 1/6 (um sexto) da pena
168. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Da decisão em regime fechado e seu mérito indicar a progressão.
que negar o livramento condicional, caberá recurso em 180. (TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador) Em tema de execu-
sen do estrito. ção penal, o Conselho Penitenciário poderá suscitar
169. (Cespe/OAB/Exame de Ordem – 2007.2) Da decisão que incidente de desvio da execução.
negar o livramento condicional, caberá recurso especial. 181. (TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador) Em tema de execução
penal, o indulto individual poderá ser provocado pelo
De acordo com as normas cons tucionais, a legislação ordi- Conselho Penitenciário, por falta de legi midade.
nária (Lei de Execução Penal) e as Regras Mínimas da ONU, 182. (OAB-SP/125º Exame de Ordem/2005) A remição de
julgue os itens a seguir, acerca do tratamento de pessoas pena consiste na redução do tempo de execução de
presas. pena pelo trabalho à razão de 1 (um) dia de pena por
170. (Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de 2 (dois) dias de trabalho.
Segurança/2007) O preso em cumprimento de pena 183. (OAB-SP/125º Exame de Ordem/2005) A remição de
priva va de liberdade deve conservar todos os direitos pena consiste na redução do tempo de execução de
não englobados na sentença condenatória, não caben- pena pelo trabalho à razão de 1 (um) dia de pena por
do a restrição de nenhum outro direito, visto que são 3 (três) dias de trabalho.
todos absolutos, como, por exemplo, o direito integral 184. (OAB-SP/125º Exame de Ordem/2005) A remição de
à in midade e à inviolabilidade das comunicações. pena consiste na redução do tempo de execução de
171. (Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de pena pelo trabalho à razão de 1 (um) dia de pena por
Segurança/2007) Mesmo para o preso provisório o 4 (quatro) dias de trabalho.
trabalho é obrigatório e poderá ser exercido tanto no 185. (OAB-SP/125º Exame de Ordem/2005) A remição de
interior como no exterior do estabelecimento prisional. pena consiste na redução do tempo de execução de
172. (Cespe/Município de Vitória/Agente Comunitário de pena pelo trabalho à razão de 1 (um) dia de pena por
Segurança/2007) O trabalho do preso será remunerado 5 (cinco) dias de trabalho.
mediante prévia tabela e o produto da remuneração 186. (TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador) Em tema de execução
atenderá, entre outros, a pequenas despesas pessoais penal, sobrevindo doença mental, no curso da execução
e à indenização dos danos causados pelo crime, desde da pena, o juiz determinará a suspensão do processo
que determinados judicialmente e não reparados por de execução, sendo-lhe vedado subs tuir a pena por
outros meios. medida de segurança
173. (OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005) Segundo previ- 187. (TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador) Em tema de execu-
são da Lei de Execução Penal, transmi da em julgado a ção penal, o recurso cabível da decisão que concede
sentença que aplicar a pena restri va de direitos, o juiz indulto individual e declara ex nta a punibilidade é o
da execução, se o Ministério Público o requerer, pro- em sen do estrito.
moverá a execução, não podendo o juiz agir de o cio. 188. (TJ-RJ/Oficial de Jus ça Avaliador) Em tema de execução
174. (OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005) Segundo previ- penal, o recurso cabível da decisão que concede indulto
são da Lei de Execução Penal, a Penitenciária des na-se cole vo e ex ngue o processo é o de apelação.
ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado, 189. (14º Concurso Público para Procurador da República)
e a Colônia Agrícola, Industrial ou similar des na-se ao O princípio da não culpabilidade concilia-se com a
cumprimento de pena em regime semiaberto. execução provisória.
175. (OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005) Segundo pre- 190. (13º Concurso Público para Procurador da República)
visão da Lei de Execução Penal, a contagem de tempo Das decisões proferidas no juízo da execução penal
para a remição será feita à razão de 1 (um) dia de pena caberá recurso de agravo.
para 2 (dois) de trabalho. 191. (12º Concurso Público para Procurador da República)
176. (OAB-SP/126º Exame de Ordem/2005) Segundo previ- Compete ao Juiz da execução decretar a ex nção da
são da Lei de Execução Penal, das decisões proferidas punibilidade em processo com sentença condenatória,
pelo juiz caberá recurso de agravo, com efeito suspen- ainda que não transitada em julgado.
sivo. 192. (12º Concurso Público para Procurador da República)
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

177. (TRF-5ª Região/Juiz Federal Subs tuto/2001) João, que Compete ao Juiz da execução aplicar a lei nova que
estava cumprindo pena priva va em regime aberto, mais favorecer o réu condenado em primeira instância,
sob a modalidade de prisão-albergue domiciliar, vem a exceto na hipótese de confirmação da sentença pelo
cometer crime de roubo, sendo denunciado. O juiz da Tribunal.
execução penal, tomando conhecimento da acusação 193. (12º Concurso Público para Procurador da República)
e da prá ca criminosa, pode determinar a regressão a Compete ao Juiz da execução autorizar a remoção
regime mais grave, após ouvir o condenado, tendo-se do condenado para cumprimento de pena em esta-
admi do que, cautelarmente, determine a suspensão belecimento penal de outra unidade federa va, sem
do regime aberto. prejuízo de sua competência para con nuar a decidir
178. (TRF-3ª Região/Juiz Federal Subs tuto) O procedimento os incidentes da execução.
judicial referente à situação e incidentes na execução da 194. (12º Concurso Público para Procurador da República)
pena pode ser iniciado também por pe ção do cônjuge, Durante a execução de sentença penal condenatória,
parente ou descendentes do sentenciado. preserva-se o direito à prisão especial em relação

530
àqueles que, no curso do processo, em razão de certas esse novo crime recebe nova condenação a 15 anos.
a vidades ou de diplomação em curso superior, fizeram Nessa hipótese: qualquer que seja o critério adotado
jus a esse bene cio. para a nova liquidação das penas, o termo inicial de
195. (12º Concurso Público para Procurador da República) cumprimento do total de penas da úl ma unificação
Durante a execução de sentença penal condenatória, será a data da primeira prisão do condenado, feitas as
proceder-se-á, na hipótese de duas ou mais penas, detrações e remições cabíveis.
à soma ou a unificação, conforme o caso, hipótese em 204. (12º Concurso Público para Procurador da República)
que o total ob do passará a ser considerado como um Réu condenado em dois processos a penas que somam
todo não só para a determinação do regime, progres- 40 anos comete novo crime, no interior do estabele-
são e outros bene cios, como também para regular a cimento penal, após cumprir 10 anos de reclusão. Por
prescrição. esse novo crime recebe nova condenação a 15 anos.
196. (12º Concurso Público para Procurador da República) Nessa hipótese: da decisão que fizer a nova unificação
Durante a execução de sentença penal condenatória, na de penas não cabe recurso algum, restando ao conde-
hipótese de várias guias de recolhimento em relação ao nado valer-se da revisão criminal ou do habeas corpus.
mesmo condenado, as várias penas serão executadas 205. (Promotor-RN/2004) Os autos originais de processo
com observância da ordem cronológica de recebimento penal extraviados, em primeira ou segunda instância,
dessas guias. serão restaurados no juízo ou instância em que ocor-
197. (12º Concurso Público para Procurador da República) reu o extravio, devendo, no caso de haver sentença
Durante a execução de sentença penal condenatória, condenatória, con nuar esta a produzir efeito, desde
para concessão de saída temporária ao condenado que conste da respec va guia arquivada na cadeia ou
que cumpre pena em regime semiaberto não se exige na penitenciária, onde o réu es ver cumprindo a pena,
o cumprimento mínimo de um sexto da pena (art. 123, ou de registro que torne a sua existência inequívoca
II, da Lei nº 7.210/1984), quando o condenado, o re- 206. (Promotor-RN/2004) A mulher e o maior de 60 anos,
cém-ingresso nesse regime, já cumprira esse requisito separadamente, serão recolhidos a estabelecimento
no regime anterior. próprio e adequado à sua condição pessoal. No caso
dos estabelecimentos penais, des nados a mulheres,
198. (12º Concurso Público para Procurador da República)
deverá haver berçário, onde as condenadas possam
Tratando-se de medida de segurança de internação,
amamentar seus filhos.
aplicada a inimputável: o exame de cessação de pericu-
207. (Promotor-RN/2004) A autoridade administra va não
losidade será feito: no fim do prazo mínimo de duração
poderá decretar o isolamento preven vo do apenado
da medida; a qualquer tempo, por determinação do juiz
que cometer falta grave.
da execução; ou de ano em ano, após vencido o prazo
208. (Promotor-RN/2004) Configura hipótese de saída tem-
mínimo.
porária o falecimento ou doença grave de irmão.
199. (12º Concurso Público para Procurador da República) 209. (Promotor-RN/2004) Não é admissível a remição para
Tratando-se de medida de segurança de internação, os condenados que cumprem a pena em regime aberto.
aplicada a inimputável: constatada a cessação da 210. (Promotor-MG/2006) Ao preso provisório é vedado
periculosidade, o internado será posto em liberdade, remir os dias trabalhados, podendo, no curso da exe-
incondicionalmente cução, pleitear o bene cio da detração penal.
200. (12º Concurso Público para Procurador da República) 211. (OAB-RJ/30º Exame) A respeito da detração penal:
Tratando-se de medida de segurança de internação, é a redução, pelo trabalho prisional, de parcela do
aplicada a inimputável: da decisão que decreta a desin- tempo de pena priva va de liberdade a ser cumprida
ternação, cabe recurso por parte do Ministério Público, pelo apenado primário e de bons antecedentes, assim
sem efeito suspensivo. reconhecido na sentença penal condenatória.
201. (12º Concurso Público para Procurador da República) 212. (OAB-RJ/30º Exame) A respeito da detração penal:
Tratando-se de medida de segurança de internação, não está subordinada a nenhuma condição, bastando
aplicada a inimputável: a não realização do exame de apenas que o apenado tenha permanecido preso ou
cessação de periculosidade, nos prazos determinados internado provisoriamente durante o curso do processo
em lei, importa da desinternação obrigatória do inter- para que faça jus à detração penal.
nado. 213. (OAB-RJ/30º Exame) A respeito da detração penal: é
202. (12º Concurso Público para Procurador da República) direito do apenado a pena priva va de liberdade, desde
Réu condenado em dois processos a penas que somam que tenha permanecido preso ou internado no curso
40 anos comete novo crime, no interior do estabele- do processo, possua bom comportamento prisional e já
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cimento penal, após cumprir 10 anos de reclusão. Por tenha cumprido ao menos um sexto da pena priva va
esse novo crime recebe nova condenação a 15 anos. de liberdade.
Nessa hipótese: feita a primeira soma (40 anos) as 214. (OAB-RJ/30º Exame) A respeito da detração penal: o
penas devem ser unificadas em 30 anos (limite má- apenado perde o direito à detração acaso, durante o
ximo); descontados 10 anos já cumpridos, obtém-se cumprimento da pena priva va de liberdade, venha ser
um restante de 20 anos que, somados aos 15 anos da punido por falta grave, seja condenado pela prá ca de
úl ma condenação, produz um novo total de 35 anos, crime doloso ou frustre a execução da pena de multa
o qual deverá também ser unificado em 30 anos para cumula vamente imposta.
observância de um novo limite máximo. 215. (Promotor-BA/2004) O condenado que cumpre pena
203. (12º Concurso Público para Procurador da República) em regime integralmente fechado poderá obter au-
Réu condenado em dois processos a penas que somam torização, após o cumprimento de um sexto da pena,
40 anos comete novo crime, no interior do estabele- para frequentar curso suple vo profissionalizante, de
cimento penal, após cumprir 10 anos de reclusão. Por acordo com a LEP (Lei de Execuções Penais).

531
216. (Promotor-DF/2002) Pode ser decretada a regressão de 230. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-RN-PE/2º
regime, por prá ca de falta grave, mediante relatório Exame da Ordem/2006) O recurso cabível da decisão
circunstanciado do diretor do presídio, em procedimen- que revoga o livramento condicional é a apelação.
to de cunho inquisitorial. 231. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-RN-PE/2º
217. (Promotor-DF/2002) Compete ao diretor do estabele- Exame da Ordem/2006) O recurso cabível da decisão
cimento prisional autorizar a progressão de regime de que revoga o livramento condicional é o agravo.
pena do preso, ad referendum do juiz das execuções 232. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/3º
penais Exame da Ordem/2006) Com relação à execução penal:
218. (Promotor-DF/2002) Havendo condenação, com trân- a posse de aparelho celular ou de seus componentes,
sito em julgado, por mais de um crime, em processos no interior do estabelecimento prisional, caracteriza
dis ntos que correram perante o mesmo juiz, a unifi- falta grave.
cação das penas do preso há de ser feita pelo juízo das 233. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/3º
execuções penais. Exame da Ordem/2006) Com relação à execução penal:
219. (Promotor-DF/2002) O recurso de agravo, adequado é compa vel com o cumprimento das penas em regime
para impugnar decisões do juiz da execução, tem efeito fechado a autorização para saídas temporárias que
suspensivo. consistam em visitas periódicas ao lar ou em trabalho
220. (Cespe/Secretária de Jus ça-ES/Agente de Escolta e extramuros.
Vigilância Penitenciário/2007) Permite-se, conforme a 234. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/3º
gravidade da falta disciplinar pra cada pelo preso, o seu Exame da Ordem/2006) Com relação à execução penal:
isolamento em cela escura, desde que o alojamento a transferência de penitenciária pode ser decidida no
disponha de instalação sanitária, água, aeração e cama. interesse do condenado, de forma que não lhe seja
221. (Cespe/Secretária de Jus ça-ES/Agente de Escolta e cerceado o direito a visitas dos familiares. Contudo
Vigilância Penitenciário/2007) O direito de representa- isso não cons tui direito subje vo do preso, cabendo
ção e pe ção permite ao preso queixar-se de eventuais a decisão ao juízo da execução, com base em interes-
abusos da administração no procedimento executório, ses administra vos, notadamente a conveniência da
podendo, sem censura, dirigir-se à autoridade judiciária segurança pública.
ou a outras competentes. 235. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-PE-SE-RN/
222. (Cespe/Secretária de Jus ça-ES/Agente de Escolta e 3º Exame da Ordem/2006) Com relação à execução
Vigilância Penitenciário/2007) Preveem as regras mí- penal: cabe à autoridade estadual dispor sobre as faltas
nimas da Organização das Nações Unidas (ONU) que disciplinares de natureza grave.
todos os presos devem ser subme dos à obrigação de 236. (OAB-SP/125º Exame de Ordem/2005) Em relação à
trabalho. Assim, desde que observadas as ap dões e liberdade do acusado durante o processo, é correto
a capacidade do condenado, é obrigatório o trabalho, afirmar que não cabe liberdade provisória com ou
tanto para o preso provisório quanto para o condenado sem fiança, nem apelação em liberdade, nos crimes
em caráter defini vo. hediondos e equiparados.
223. (Cespe/Secretária de Jus ça-ES/Agente de Escolta e 237. (OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004) O juiz, na sen-
Vigilância Penitenciário/2007) No estabelecimento tença, em caso de réu condenado por crime de roubo
prisional para mulheres, somente se permite o trabalho qualificado consumado, pode admi r o início do cum-
de pessoal do sexo feminino, salvo quando se tratar de primento da pena em regime aberto.
pessoal técnico especializado. 238. (OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004) O juiz, na sen-
224. (Cespe/OAB-ES/1º Exame da Ordem/2004) A admissi- tença, em caso de réu condenado por crime de roubo
bilidade de progressão no regime de execução da pena qualificado consumado, deve, em virtude de o roubo
aplicada ao crime de tortura estende-se aos demais ser crime que denota periculosidade e representa grave
crimes hediondos. ofensa social, fixar, como regra, o cumprimento inicial
225. (Cespe/OAB-ES/1º Exame da Ordem/2004) A proibição da pena em regime fechado.
de liberdade provisória nos processos por crimes he- 239. (OAB-SP/124º Exame de Ordem/2004) O juiz, na sen-
diondos não veda o relaxamento da prisão processual tença, em caso de réu condenado por crime de roubo
por excesso de prazo. qualificado consumado, pode admi r o início do cum-
226. (Cespe/OAB-ES/1º Exame da Ordem/2004) Conside- primento da pena priva va de liberdade em regime
ram-se de menor potencial ofensivo os crimes punidos semiaberto.
com reclusão ou detenção a que seja cominada pena 240. (OAB-SP/122º Exame de Ordem/2003) A execução da
máxima não superior a 2 anos, a par r do advento da pena priva va de liberdade sujeitar-se-á à forma regres-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Lei nº 10.259/2001, que ampliou o conceito de crime siva quando o condenado pra car infração pificada
de menor potencial ofensivo. como contravenção penal.
227. (Cespe/OAB-AL-BA-CE-MA-PB-PI-PE-RN-SE-ES/1º Exa- 241. (OAB-SP/122º Exame de Ordem/2003) A execução
me da Ordem/2006) A Lei de Execução de Penal não da pena priva va de liberdade sujeitar-se-á à forma
se aplica ao preso provisório. regressiva quando o condenado pra car falta grave.
228. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-RN-PE/2º 242. (OAB-SP/122º Exame de Ordem/2003) A execução da
Exame da Ordem/2006) O recurso cabível da decisão pena priva va de liberdade sujeitar-se-á à forma re-
que revoga o livramento condicional é a carta testemu- gressiva quando o condenado sofrer condenação por
nhável. crime anterior, qualquer que seja a pena.
229. (Cespe/OAB-AL-AM-BA-CE-ES-MA-MS-PB-RN-PE/2º 243. (OAB-SP/122º Exame de Ordem/2003) A execução
Exame da Ordem/2006) O recurso cabível da decisão da pena priva va de liberdade sujeitar-se-á à forma
que revoga o livramento condicional é o recurso em regressiva quando o condenado ver cumprido 1/6 da
sen do estrito. pena em regime mais severo.

532
244. (OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004) Considerando-se GABARITO
a execução da sentença penal: a remissão é a nova
proposta ao sistema e tem, entre outros méritos, o de
1. E 65. E 129. E 193. E
abreviar, pelo trabalho, parte do tempo da condenação. 2. E 66. E 130. C 194. E
245. (OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004) Considerando-se 3. E 67. E 131. E 195. E
a execução da sentença penal: a remição e a detração 4. E 68. E 132. E 196. E
são ins tutos que se harmonizam com a medida de 5. C 69. C 133. E 197. C
segurança. 6. E 70. E 134. C 198. C
246. (OAB-RO/43º Exame) No que tange à detração penal, 7. E 71. E 135. C 199. E
é certo afirmar que: trata-se do perdão judicial, no 8. E 72. E 136. E 200. E
qual o apenado trabalha três dias, por um dia de pena 9. C 73. E 137. E 201. E
perdoado. 10. E 74. C 138. C 202. C
247. (OAB-RO/43º Exame) No que tange à detração penal, 11. E 75. E 139. E 203. E
12. C 76. E 140. C 204. E
é certo afirmar que: trata-se da remição da pena, na
13. E 77. E 141. E 205. E
qual o apenado trabalha três dias, por um dia de pena 14. E 78. C 142. E 206. C
remido. 15. E 79. E 143. C 207. E
248. (OAB-RO/43º Exame) No que tange à detração penal, 16. C 80. E 144. C 208. E
é certo afirmar que: trata-se do cômputo na pena 17. C 81. E 145. E 209. C
priva va de liberdade e na medida de segurança do 18. E 82. C 146. C 210. E
tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, 19. C 83. C 147. E 211. E
o de prisão administra va e o de internação hospital 20. C 84. E 148. E 212. C
de custódia e tratamento psiquiátrico. 21. E 85. E 149. E 213. E
249. (OAB-RO/43º Exame) No que tange à detração penal, 22. E 86. E 150. C 214. E
é certo afirmar que: trata-se de regime especial, no qual 23. E 87. E 151. C 215. E
não há detração e/ou remição para o condenado reco- 24. C 88. C 152. C 216. E
25. C 89. E 153. E 217. E
lhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico.
26. E 90. E 154. E 218. C
250. (OAB-GO/1º Exame de 2007) No que diz respeito ao 27. E 91. E 155. E 219. E
cumprimento de pena, o ins tuto que manda com- 28. C 92. E 156. C 220. E
putar, na pena priva va de liberdade e na medida de 29. E 93. C 157. E 221. C
segurança, o tempo de prisão administra va, de prisão 30. E 94. E 158. E 222. E
provisória, a internação em hospital de custódia e tra- 31. E 95. C 159. E 223. C
tamento psiquiátrico, denomina-se: unificação. 32. E 96. E 160. C 224. E
251. (OAB-GO/1º Exame de 2007) No que diz respeito ao 33. C 97. E 161. C 225. E
cumprimento de pena, o ins tuto que manda com- 34. E 98. E 162. E 226. C
putar, na pena priva va de liberdade e na medida de 35. E 99. C 163. E 227. E
segurança, o tempo de prisão administra va, de prisão 36. C 100. E 164. E 228. E
37. E 101. C 165. E 229. E
provisória, a internação em hospital de custódia e tra-
38. E 102. C 166. C 230. C
tamento psiquiátrico, denomina-se: comutação.
39. E 103. E 167. C 231. E
252. (OAB-GO/1º Exame de 2007) No que diz respeito ao 40. C 104. E 168. E 232. C
cumprimento de pena, o ins tuto que manda com- 41. C 105. E 169. E 233. E
putar, na pena priva va de liberdade e na medida de 42. C 106. E 170. E 234. E
segurança, o tempo de prisão administra va, de prisão 43. C 107. C 171. E 235. E
provisória, a internação em hospital de custódia e tra- 44. C 108. E 172. C 236. E
tamento psiquiátrico, denomina-se: detração. 45. E 109. E 173. E 237. E
253. (OAB-GO/1º Exame de 2007) No que diz respeito ao 46. C 110. C 174. C 238. E
cumprimento de pena, o ins tuto que manda com- 47. C 111. E 175. E 239. C
putar, na pena priva va de liberdade e na medida de 48. E 112. E 176. E 240. E
segurança, o tempo de prisão administra va, de prisão 49. C 113. E 177. C 241. C
50. C 114. E 178. C 242. E
provisória, a internação em hospital de custódia e tra-
51. C 115. C 179. C 243. E
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

tamento psiquiátrico, denomina-se: reunificação. 52. C 116. E 180. C 244. E


254. (OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004) Considerando-se 53. E 117. C 181. C 245. E
a execução da sentença penal: o sistema vicariante ou 54. E 118. E 182. E 246. E
binário único impõe exclusivamente a imposição da 55. E 119. E 183. C 247. E
pena ou da medida de segurança. 56. C 120. E 184. E 248. C
255. (OAB-RJ/26º Exame de Ordem/2004) Considerando-se 57. E 121. E 185. E 249. E
a execução da sentença penal: a medida de segurança 58. E 122. E 186. E 250. E
aplica-se apenas aos semi-imputáveis e imputáveis. 59. C 123. C 187. E 251. E
256. (OAB-RJ/25º Exame de Ordem/2004) A contracautela 60. E 124. E 188. E 252. C
própria da prisão em flagrante legal, porém desneces- 61. C 125. E 189. C 253. E
sária, dispensável, ou seja, quando ausentes os pres- 62. E 126. C 190. C 254. C
63. E 127. E 191. E 255. E
supostos que legi mam a manutenção da segregação
64. E 128. E 192. E 256. E
cautelar do indivíduo é a livramento condicional.

533
Edgard Antônio Lemos Alves I – se qualquer Comissão, em seu parecer, se manifes-
tar favoravelmente a uma ou mais emendas e contra-
riamente a outra ou outras, caso em que a votação
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA se fará em grupos, segundo o sen do dos pareceres;
LEI Nº 8.429/1992 II – quando for aprovado requerimento para a vota-
ção de qualquer emenda destacadamente.
Introdução Parágrafo único. Proceder-se-á da mesma forma com
relação a subs tu vo do Senado a projeto da Câmara.
A Lei de Improbidade Administra va nasceu do Projeto
de Lei nº 1.446, de 14 de agosto de 1991, enviado pelo Po- Em conclusão o que ocorreu foi o seguinte: o Senado
der Execu vo ao Congresso Nacional através da Mensagem Federal apresentou ao projeto originário da Câmara Federal
nº 406. emenda subs tu va. Em consequência, não o rejeitou. Ape-
A proposta legisla va nha por finalidade combater a nas o alterou. Voltando à Câmara, foi o subs tu vo rejeitado,
prá ca desenfreada e a impunidade dos atos de corrupção man da a redação originária, com os destaques da proposição
que tanto assolavam o País na época, definindo os casos que subs tu va que foram devidamente analisadas pelas Comis-
cons tuíam enriquecimento ilícito e disciplinando o proce- sões Técnicas respec vas. Cumprindo dessa forma, o iter
dimento administra vo e judicial que deveria ser seguido procedimental, o projeto subiu à sanção. Não há pois, a meu
para apurar tais casos. ver, qualquer ofensa ao ar go 65 do Texto Fundamental.
O processo legisla vo teve início na Câmara Federal (Casa
Iniciadora, conforme disposição cons tucional – art. 64), A Improbidade na Cons tuição Federal de 1988
onde foi aprovado o Projeto de Lei e encaminhado ao Senado
Federal para revisão. O art. 37, § 4º, da Cons tuição Federal, dispõe que:
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de Os atos de improbidade administraƟva importarão
inicia va do Presidente da República, do Supremo a suspensão dos direitos políƟcos, a perda da função
Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarci-
início na Câmara dos Deputados. mento ao erário, na forma e gradação previstas em
lei, sem prejuízo da ação penal cabível1.
No Senado Federal sofreu emenda subs tu va e ne-
cessariamente voltou à Casa Iniciadora. A Câmara Federal, A Lei nº 8.429/1992, por sua vez, veio regulamentar o
examinando o subs tu vo, aprovou apenas alguns de seus disposto na Cons tuição Federal, classificando os atos de
disposi vos e remeteu-os em seguida à sanção presidencial, improbidade, os sujeitos a vos e passivos, as penalidades
obedecendo ao disposto no art. 65 da Cons tuição Federal. cabíveis, bem como o procedimento administra vo e judicial
para sua apuração.
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será Trata-se de lei que pune apenas condutas não com-
revisto pela outra, em um só turno de discussão e pa veis com a probidade e a moralidade administra va.
votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a As sanções possuem natureza civil ou polí co-administra va,
Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar. entretanto, serão julgadas pelo Poder Judiciário (não confun-
dir com o processo administra vo da Lei nº 8.112/1990, no
Alguns doutrinadores sustentam a tese de que a Lei qual quem processa e julga é a autoridade administra va).
nº 8.429/1992 já nasceu incons tucional (vício de forma), Podemos então conceituar o ato de improbidade ad-
pois a Câmara Federal, após aprovar apenas alguns dos ministra va como sendo todo aquele pra cado por agente
disposi vos constantes do subs tu vo do Senado Federal, público, que seja contrário às normas da moral e à lei, com
deveria a ele retornar para nova revisão. visível falta de honradez e de re dão de conduta em seu
Este, porém, não é o entendimento proferido em acórdão modo de agir perante a Administração Pública Direta, Indi-
na ADI nº 2.182-6, de 31 de maio de 2000, onde foi negada reta ou Fundacional e demais en dades protegidas pela lei.
a arguição de incons tucionalidade da referida lei por vício
de forma. Princípios Obrigatórios a Serem Observados pelos
Eis trecho do voto do relator Min. Maurício Corrêa:
Agentes Públicos
De fato, aprovada a emenda subs tu va no Senado
Federal, tenho que pode a Câmara dos Deputados, Repe ndo mandamento cons tucional do art. 37, caput,
retomando o projeto inicial, do qual se originou o o art. 4º desta Lei dispõe que os agentes públicos de qual-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

subs tu vo, nele incorporar destaques da emenda quer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
subs tu va da Casa Revisora, visto que cumprida a observância dos seguintes princípios:
plena realização do processo legisla vo, com a ma-
nifestação de vontade das duas Casas do Congresso Legalidade Subordina a a vidade administra va
Nacional. à lei.
Aproveitar partes do subs tu vo e fazê-las inserir Impessoalidade O agente público administra para
no projeto de lei final cons tui prerroga va da Casa todos, não podendo privilegiar nem
Iniciadora consoante está definido no ar go 190 do desmerecer ninguém em especial.
Regimento interno da Câmara dos Deputados, que Moralidade Impõe ao agente público a observân-
transcrevo: cia da lei de acordo com o interesse
público.
Art. 190. O substitutivo da Câmara a projeto do
Senado será considerado como série de emendas e 1
FCC/Tribunal de Contas-RO/Procurador do Ministério Público Junto ao Tribunal
votado em globo, exceto: de Contas/2010/Questão 26.

534
Publicidade Impõe aos agentes públicos trans- Ato Danoso Previsto como Improbidade
parência na gestão da coisa pública.
Eficiência Apesar de não figurar na “LIA”, é de Atos que importam enriquecimento ilícito.
observância obrigatória para os agen- Atos que causam prejuízo ao erário.
tes públicos após a EC nº 19/1998.
Impõe ao agente público a persecu- Atos que atentam contra os princípios da Administração
ção do bem comum de forma eficaz, Pública.
sempre em busca da qualidade.
A eficiência, como princípio, evita Classificação dos Atos de Improbidade
desperdícios e garante maior renta-
bilidade funcional. A Lei nº 8.429/1992 classificou os atos de improbidade
administra va em três espécies: atos que importam enri-
Elementos Necessários para Configurar o Ato de quecimento ilícito, atos que causam prejuízo ao erário e
Improbidade Administra va atos que atentam contra os princípios da Administração
Pública.
Sujeito A vo A seguir veremos cada uma das espécies e as penalidades
aplicáveis aos agentes públicos que nelas incidam.
Podem ser sujeitos a vos nos atos de improbidade:
Atos que Importam Enriquecimento Ilícito (art. 9º)
Agente público Todo aquele que exerce, ainda que
Cons tui ato de improbidade administra va que importa
transitoriamente ou sem remuneração,
enriquecimento ilícito auferir qualquer po de vantagem pa-
por eleição, nomeação, designação,
trimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato,
contratação ou qualquer outra forma função, emprego ou a vidade nas en dades enquadradas
de inves dura ou vínculo, mandato, como sujeito passivo.
cargo, emprego ou função pública
(art. 2º). Elementos Formadores
Terceiros São aqueles que, não sendo agentes Além do sujeito a vo e do sujeito passivo, ainda são
públicos, na qualidade de coautores necessários os seguintes elementos para caracterizar o
dos atos de improbidade administra- enriquecimento ilícito:
va, induzam ou concorram para sua
prática ou deles se beneficiem sob Elemento • Ação dolosa (comissiva ou omissiva).
qualquer forma, seja ela direta ou subje vo
indireta (art. 3º).
Pressupostos • Vantagem patrimonial indevida;
Sujeito Passivo exigíveis • Nexo de causalidade entre a vantagem
patrimonial indevida e o exercício de
Podem ser sujeitos passivos nos atos de improbidade cargo, mandato, função ou a vidade.
(art. 1º):
Atos de Improbidade Administra va que Importam
Enriquecimento Ilícito
Administração • Ministérios; A lei, ao elencar os atos de improbidade administra va
Direta • Presidência da República. que importam enriquecimento ilícito, o faz de forma exem-
Administração • Autarquias; plifica va, cons tuindo apenas parâmetro orientador para
Indireta • Fundações Públicas; aqueles que deverão interpretar e aferir a responsabilidade
do agente público.
• Empresas Públicas;
São atos de improbidade administra va que importam
• Sociedades de Economia Mista, de
enriquecimento ilícito:
qualquer dos Poderes da União, dos
•receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel
Estados, do DF, dos Municípios. ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica,
Outras en da- • Empresa incorporada ao patrimônio direta ou indireta, a tulo de comissão, percentagem,
des público; gra ficação ou presente de quem tenha interesse, di-
• En dade para cuja criação ou custeio reto ou indireto, que possa ser a ngido ou amparado
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

o erário haja concorrido ou concorra por ação ou omissão decorrente das atribuições do
com mais de 50% do patrimônio ou da agente público (art. 9º, I)2;
receita anual; •perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
• En dades que recebem subvenção, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
bene cio ou incen vo (fiscal ou cre- móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
di cio) de Órgão Público. en dades referidas no art. 1º por preço superior ao
• En dade para cuja criação ou custeio valor de mercado (art. 9º, II);
•perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
o erário haja concorrido ou concorra
para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem
com menos de 50% do patrimônio ou
público ou o fornecimento de serviço por ente estatal
da receita anual (nesse caso, a sanção por preço inferior ao valor de mercado (art. 9º, III);
patrimonial limita-se à repercussão do
ilícito sobre a contribuição dos cofres
2
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
públicos). Administra va/2010/Questão 34.

535
•
u lizar, em obra ou serviço par cular, veículos, máqui- • pagamento de multa civil de até 3 vezes o valor do
nas, equipamentos ou material de qualquer natureza, acréscimo patrimonial;
de propriedade ou à disposição de qualquer das en - • proibição de contratar com o poder público pelo prazo
dades mencionadas no art. 1º, bem como o trabalho de 10 anos;
de servidores públicos, empregados ou terceiros • proibição de receber bene cios ou incen vos fiscais
contratados por essas en dades (art. 9º, IV); ou credi cios, direta ou indiretamente, ainda que
•
receber vantagem econômica de qualquer natureza, por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prá- majoritário, pelo prazo de 10 anos.
ca de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer outra a vidade Atos que Causam Prejuízo ao Erário (art. 10)
ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem (art. 9º, V);
•
receber vantagem econômica de qualquer natureza, Cons tui ato de improbidade administra va que causa
direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,
medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbara-
outro serviço, ou sobre quan dade, peso, medida, tamento ou dilapidação dos bens ou haveres das en dades
qualidade ou caracterís ca de mercadorias ou bens enquadradas como sujeito passivo.
fornecidos a qualquer das en dades mencionadas no
art. 1º (art. 9º, VI); Elementos Formadores
•
adquirir, para si ou para outrem, no exercício de Além do sujeito a vo e do sujeito passivo, ainda são
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de necessários os seguintes elementos para caracterizar pre-
qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à juízo ao erário:
evolução do patrimônio ou à renda do agente público
(art. 9º, VII); Elemento • Ação ou omissão (dolosa ou culposa).
•
aceitar emprego, comissão ou exercer a vidade de subje vo
consultoria ou assessoramento para pessoa sica ou
Pressuposto • Ocorrência de dano ao patrimônio público:
jurídica que tenha interesse susce vel de ser a ngido
exigível perda patrimonial, desvio, apropriação,
ou amparado por ação ou omissão decorrente das
malbarateamento ou dilapidação dos bens
atribuições do agente público, durante a a vidade
(art. 9º, VIII); ou haveres das en dades previstas como
•
perceber vantagem econômica para intermediar a sujeitos passivos dos atos de improbidade.
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer • Nexo de causalidade entre a ocorrência do
natureza (art. 9º, IX); dano ao patrimônio público e o exercício
•
receber vantagem econômica de qualquer natureza, de cargo, mandato, função ou a vidade.
direta ou indiretamente, para omi r ato de o cio,
providência ou declaração a que esteja obrigado Atos de Improbidade Administra va que Causam Pre-
(art. 9º, X); juízo ao Erário
A lei, ao elencar os atos de improbidade administra va
•
incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio
que causam prejuízo ao erário, também o faz de forma
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
exemplifica va.
patrimonial das en dades mencionadas no art. 1º
São atos de improbidade administra va que causam
(art. 9º, XI);
prejuízo ao erário:
•
usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou va-
• facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incor-
lores integrantes do acervo patrimonial das en dades
poração ao patrimônio par cular, de pessoa sica ou
mencionadas no art. 1º (art. 9º, XII).
jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes
Penalidades (art. 12, I) do acervo patrimonial das en dades mencionadas no
O agente público recebe poderes para cumprir deveres art. 1º desta lei (art. 10, I);
e não para se locupletar ou permi r que outro se locuplete. • permi r ou concorrer para que pessoa sica ou jurí-
Como forma de assegurar o correto direcionamento das dica privada u lize bens, rendas, verbas ou valores
condutas dos agentes públicos a serviço do interesse público, integrantes do acervo patrimonial das entidades
a lei estabelece sanções para aquele que vier a cometer ato mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância
de improbidade que importe enriquecimento ilícito. das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
Na aplicação das penalidades, o juiz deve levar em conta a à espécie (art. 10, II);
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

extensão do dano causado, bem como o proveito patrimonial • doar à pessoa sica ou jurídica bem como ao ente
ob do pelo agente público. despersonalizado, ainda que de fins educa vos ou assis-
Independentemente das sanções previstas abaixo, que tências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio
podem ser aplicadas isolada ou cumula vamente, de acordo de qualquer das en dades mencionadas no art. 1º
com a gravidade do fato o agente público também pode vir desta lei, sem observância das formalidades legais e
a ser responsabilizado penal, civil e administra vamente regulamentares aplicáveis à espécie (art. 10, III);
conforme disposição prevista em legislação específica. • permi r ou facilitar a alienação, permuta ou locação
Sanções aplicáveis àqueles que pra cam atos de impro- de bem integrante do patrimônio de qualquer das
bidade que importa enriquecimento ilícito: en dades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a
• perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao prestação de serviço por parte delas, por preço inferior
patrimônio; ao de mercado (art. 10, IV);
• ressarcimento integral do dano, quando houver; • permi r ou facilitar a aquisição, permuta ou locação
• perda da função pública; de bem ou serviço por preço superior ao de mercado
• suspensão dos direitos polí cos de 8 a 10 anos; (art. 10, V);

536
• realizar operação financeira sem observância das Elementos Formadores
normas legais e regulamentares ou aceitar garan a Além do sujeito a vo e do sujeito passivo, ainda são
insuficiente ou inidônea (art. 10, VI); necessários os seguintes elementos para caracterizar a
• conceder bene cio administra vo ou fiscal sem a ob- violação de princípios:
servância das formalidades legais ou regulamentares
aplicáveis à espécie (art. 10, VII);
Elemento Ação ou omissão (dolosa), que viole os
• frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo
subje vo deveres de hones dade, imparcialidade,
indevidamente (art. 10, VIII);
legalidade e lealdade às ins tuições.
• ordenar ou permi r a realização de despesas não
autorizadas em lei ou regulamento (art. 10, IX); Pressuposto Nexo de causalidade entre o exercício
• agir negligentemente na arrecadação de tributo ou exigível funcional e o desrespeito aos princípios da
renda, bem como no que diz respeito à conservação Administração Pública.
do patrimônio público (art. 10, X);
• liberar verba pública sem a estrita observância das Atos de Improbidade que Atentam contra os Princípios
normas per nentes ou influir de qualquer forma para da Administração Pública
a sua aplicação irregular (art. 10, XI); A lei, ao elencar os atos de improbidade administra va
• permi r, facilitar ou concorrer para que terceiro se que atentam contra os princípios da Administração Pública,
enriqueça ilicitamente (art. 10, XII); também o faz de forma exemplifica va.
• permi r que se u lize, em obra ou serviço par cular, São atos de improbidade administra va que atentam
veículos, máquinas, equipamentos ou material de contra os princípios da Administração Pública:
qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de • pra car ato visando fim proibido em lei ou regulamen-
qualquer das en dades mencionadas no art. 1º desta to ou diverso daquele previsto, na regra de competên-
lei, bem como o trabalho de servidor público, empre- cia (art.11, I);
gados ou terceiros contratados por essas en dades • retardar ou deixar de pra car, indevidamente, ato de
(art. 10, XIII); o cio (art.11, II);
• celebrar contrato ou outro instrumento que tenha • revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
por objeto a prestação de serviços públicos por meio razão das atribuições e que deva permanecer em se-
da gestão associada sem observar as formalidades gredo (art.11, III);
previstas na lei (art. 10, XIV); • negar publicidade aos atos oficiais (art.11, IV);
• celebrar contrato de rateio de consórcio público sem • frustrar a licitude de concurso público (art.11, V);
suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem • deixar de prestar contas quando esteja obrigado a
observar as formalidades previstas na lei (art. 10, XV). fazê-lo (art.11, VI);
• revelar ou permi r que chegue ao conhecimento de
Penalidades (art. 12, inciso II) terceiro, antes da respec va divulgação oficial, teor de
Independentemente das sanções previstas abaixo, que medida polí ca ou econômica capaz de afetar o preço
podem ser aplicadas isolada ou cumula vamente, de acordo de mercadoria, bem ou serviço (art.11, VII).
com a gravidade do fato o agente público que comete ato
de improbidade que causa prejuízo ao erário também pode
Penalidades (art. 12, inciso III)
vir a ser responsabilizado penal, civil e administra vamente
Independentemente das sanções previstas abaixo, que
conforme disposição prevista em legislação específica.
podem ser aplicadas isolada ou cumula vamente, de acordo
Para a aplicação das penalidades o juiz deve levar em
conta a extensão do dano causado, bem como o proveito com a gravidade do fato o agente público também pode vir
patrimonial ob do pelo agente público. a ser responsabilizado penal, civil e administra vamente
Sanções aplicáveis àqueles que causam prejuízo ao conforme disposição prevista em legislação específica.
erário: Na aplicação das penalidades, o juiz deve levar em conta
• ressarcimento integral do dano; a extensão do dano causado pelo agente público.
• perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao Sanções aplicáveis àqueles que atentam contra os prin-
patrimônio (somente se concorrer esta circunstância); cípios da Administração Pública:
• perda da função pública; • ressarcimento integral do dano, se houver;
• suspensão dos direitos polí cos de 5 a 8 anos; • perda da função pública;
• pagamento de multa civil de até 2 vezes o valor do • suspensão dos direitos polí cos de 3 a 5 anos;
dano; • pagamento de multa civil de até 100 vezes o valor da
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

• proibição de contratar com o poder público pelo prazo remuneração percebida pelo agente;
de 5 anos; • proibição de contratar com o poder público pelo prazo
• proibição de receber bene cios ou incen vos fiscais de 3 anos;
ou credi cios, direta ou indiretamente, ainda que • proibição de receber bene cios ou incen vos fiscais
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ou credi cios, direta ou indiretamente, ainda que
majoritário, pelo prazo de 5 anos. por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de 3 anos.
Atos que Atentam contra os Princípios da
Administração Pública (art. 11)
Controle Patrimonial do Agente Público – Art. 13
Cons tui ato de improbidade administra va que atenta e §§
contra os princípios da administração pública qualquer ação
ou omissão que viole os deveres de hones dade, imparcia- Como forma de possibilitar o controle da evolução pa-
lidade, legalidade e lealdade às ins tuições. trimonial do agente público pela Administração, a lei condi-

537
cionou sua posse e exercício à apresentação de declaração O pedido de sequestro poderá incluir a inves gação,
de bens e valores que compõem o seu patrimônio privado. o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações
A declaração também será exigida na data em que o agente financeiras que por ventura o indiciado mantenha no exterior.
público deixar o cargo. Ambas devem ser arquivadas no Vale acrescentar também que, para fins de instrução
serviço de pessoal do órgão ou en dade. A apresentação da processual, a autoridade judicial ou administra va compe-
declaração foi regulamentada pelo Decreto nº 5.483 de 30 tente poderá determinar o afastamento do agente público do
de junho de 2005 (vide legislação a seguir). exercício do cargo, emprego ou função. A Lei nº 8.112/1990
A declaração compreenderá imóveis, móveis, semo- trata do assunto no art. 147, que assim dispõe:
ventes, dinheiro, tulos, ações e qualquer outra espécie de
bens e valores patrimoniais (excluindo apenas os objetos Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o
e utensílios de uso domés co), localizados no país ou no servidor não venha a influir na apuração da irre-
exterior, podendo, quando for o caso, abranger os bens e gularidade, a autoridade instauradora do processo
valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro e filhos, disciplinar poderá determinar o seu afastamento
ou de outras pessoas que vivam sob a sua dependência do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessen-
econômica (Ex.: pai, mãe, irmão inválido, e outros). ta) dias, sem prejuízo da remuneração3.
O agente público que se recusar a apresentar a declara- Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorro-
ção de bens no prazo determinado pela Administração ou a gado por igual prazo, findo o qual cessarão os seus
prestar falsa, será demi do a bem do serviço público. efeitos, ainda que não concluído o processo.

A ação principal (rito ordinário) será proposta pelo Mi-


O Procedimento Administra vo e o Processo
nistério Público ou pela pessoa jurídica interessada, em até
Judicial para Apuração de Ato de Improbidade trinta dias da efe vação da medida cautelar, sendo vedada
a transação, acordo ou conciliação.
Qualquer pessoa poderá representar à autoridade Quando a ação principal for proposta pelo Ministério
competente para que seja instaurado procedimento admi- Público, a pessoa jurídica interessada poderá, a juízo do
nistra vo inves gatório, com vistas a colher elementos que respec vo representante legal ou dirigente, abster-se de
comprovem a prá ca de atos de improbidade. contestar o pedido ou atuar ao lado do MP como li sconsor-
A representação poderá ser escrita ou reduzida a termo te, e desde que comprovadamente ú l ao interesse público.
e assinada. (Lei nº 4.717/1965, art. 6º, § 3º).
Como forma de se evitar denúncias infundadas ou fal-
sas, a lei estabeleceu alguns requisitos que deverão estar § 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito
presentes na representação: privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá
1º) a qualificação do representante; abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar
2º) as informações sobre o fato; ao lado do autor, desde que isso se afigure ú l ao
3º) a sua autoria; interesse público, a juízo do respec vo representante
4º) a indicação das provas de que tenha conhecimento. legal ou dirigente.
Caso a autoridade administra va rejeite a representação
por não atender aos requisitos estabelecidos acima, deverá, Se a ação for proposta pela pessoa jurídica, o Ministério
em despacho, fundamentar a decisão. A rejeição pela auto- Público atuará, obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena
ridade administra va não impede o autor da denúncia de de nulidade do processo.
fazê-la diretamente ao Ministério Público. A ação judicial deverá ser instruída com os documentos
Por outro lado, se forem atendidos os requisitos da que fundamentaram a representação ou as razões funda-
representação, a autoridade determinará a apuração dos mentadas da impossibilidade de apresentação dessas provas.
fatos. Caso o denunciado seja servidor federal, a apuração Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-
será processada de acordo com os arts. 148 a 182 da Lei -la e ordenará a no ficação do requerido para oferecer
nº 8.112 de 11 de dezembro de 1990, se for servidor militar, manifestação por escrito dentro do prazo de quinze dias.
será processada de acordo com os respec vos regulamentos O juiz tem o prazo de trinta dias para rejeitar a ação se
disciplinares. es ver convencido da inexistência do ato de improbidade,
A comissão encarregada de dar andamento ao procedi- da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita
mento administra vo deverá dar conhecimento ao Ministério (ação).
Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas de que existe Recebida a pe ção inicial, o réu será citado para apre-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

um procedimento em curso, que visa apurar ato de impro- sentar contestação. Da decisão que receber a pe ção inicial
bidade administra va. O Ministério Público e o Tribunal ou caberá agravo de instrumento.
Conselho de Contas, por sua vez, poderão, a requerimento, Em qualquer fase do processo, se o juiz reconhecer a
designar um representante para acompanhar o referido inadequação da ação de improbidade ex nguirá a ação sem
procedimento administra vo. julgamento (resolução do mérito – art. 267 do CPC) do mérito.
Havendo fundados indícios de responsabilidade, a lei,
em seus arts. 7º e 16, estabeleceu a possibilidade de medida Art. 267. Ex ngue-se o processo, sem resolução de
cautelar de indisponibilidade dos bens do indiciado, devendo mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)
a comissão processante, representar junto ao Ministério I – quando o juiz indeferir a pe ção inicial;
Público ou à Procuradoria do órgão, para que requeira ao II – quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano
juízo competente a decretação do sequestro dos bens do por negligência das partes;
agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou 3
Assunto cobrado na prova da Cespe/Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR/
causado dano ao erário. Analista Municipal/Procurador Municipal/2010/Questão 96.

538
III – quando, por não promover os atos e diligências § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para
que lhe compe r, o autor abandonar a causa por mais ilícitos pra cados por qualquer agente, servidor ou
de 30 (trinta) dias; não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as
IV – quando se verificar a ausência de pressupostos respec vas ações de ressarcimento.
de cons tuição e de desenvolvimento válido e regular
do processo; LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992
V – quando o juiz acolher a alegação de perempção,
li spendência ou de coisa julgada; Dispõe sobre as sanções apli-
VI – quando não concorrer qualquer das condições cáveis aos agentes públicos nos
da ação, como a possibilidade jurídica, a legi midade casos de enriquecimento ilícito no
das partes e o interesse processual; exercício de mandato, cargo, em-
VII – pela convenção de arbitragem; (Redação dada prego ou função na administração
pela Lei nº 9.307, de 23/9/1996) pública direta, indireta ou funda-
VIII – quando o autor desis r da ação; cional e dá outras providências.
IX – quando a ação for considerada intransmissível
por disposição legal; O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congres-
X – quando ocorrer confusão entre autor e réu; so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
XI – nos demais casos prescritos neste Código.
CAPÍTULO I
A sentença que julgar procedente a ação civil de repa- Das Disposições Gerais
ração de dano ou que decretar a perda dos bens havidos
ilicitamente, determinará o pagamento ou a reversão dos Art. 1º Os atos de improbidade pra cados por qualquer
bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica preju- agente público, servidor ou não, contra a administração direta,
dicada pelo Ilícito4. indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de
público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às comi- empresa incorporada ao patrimônio público ou de en dade
nações desta lei até o limite do valor da herança5. para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou con-
A perda da função pública e a suspensão dos direitos corra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
polí cos só se materializam com o trânsito em julgado da receita anual, serão punidos na forma desta lei.
sentença condenatória (princípio da presunção de inocência, Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalida-
estabelecido no art. 5º, LVII, da CF). des desta lei os atos de improbidade pra cados contra o
patrimônio de en dade que receba subvenção, bene cio
LVII – ninguém será considerado culpado até o trân- ou incen vo, fiscal ou credi cio, de órgão público bem
sito em julgado de sentença penal condenatória. como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento
do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes
Prescrição – Art. 23
casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre
a contribuição dos cofres públicos7.
A lei prevê duas hipóteses:
Art. 2º Reputa-se agente público, para os efeitos desta
• Pelo inciso I, a prescrição ocorre cinco anos após o tér-
lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
mino do exercício de mandato, de cargo em comissão
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
ou de função de confiança; contratação ou qualquer outra forma de inves dura ou
• Para aqueles que exercem cargo ou emprego efe - vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas en dades
vo, o inciso II estabelece que a prescrição ocorre no mencionadas no ar go anterior.
mesmo prazo prescricional previsto em lei específica Art. 3º As disposições desta lei são aplicáveis, no que
para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
do serviço público. No caso da Lei nº 8.112/1990, induza ou concorra para a prá ca do ato de improbidade
o prazo prescricional para punir os servidores com a ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta8.
penalidade de demissão é de cinco anos, art. 142, I. Art. 4º Os agentes públicos de qualquer nível ou hie-
rarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos
Art. 142. A ação disciplinar prescreverá: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e
I – em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.


com demissão, cassação de aposentadoria ou dispo- Art. 5º Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação
nibilidade e des tuição de cargo em comissão; ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro,
dar-se-á o integral ressarcimento do dano.
Por fim, cabe ressaltar que prescreve a propositura de Art. 6º No caso de enriquecimento ilícito, perderá o
ação des nada a apurar a responsabilização de agente pú- agente público ou terceiro beneficiário os bens ou valores
blico pela prá ca de atos de improbidade, contudo, as ações acrescidos ao seu patrimônio.
para a obtenção de ressarcimento por dano causado ao Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao
erário público são imprescri veis (art. 37, § 5º, da CF)6. patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, cabe-
rá a autoridade administra va responsável pelo inquérito
4
Assunto cobrado na prova do Vunesp/Ministério Público do Estado de São
7
Paulo/Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/Questão 35. Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Subs tuto
5
FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/Analista Judiciário/Área – I/2010/Questão 8.
8
Judiciária/Execução de Mandatos/2010/Questão 60. Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Prefeitura Municipal de Boa
6
Assunto cobrado na prova da FCC/Procuradoria Geral do Estado do Amazonas/ Vista-RR/Analista Municipal/Procurador Municipal/2010/Questão 34 e Cespe/
Procurador do Estado de 3ª Classe/2010/Questão 27. TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Subs tuto – I/2010/Questão 8.

539
representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade X – receber vantagem econômica de qualquer natureza,
dos bens do indiciado. direta ou indiretamente, para omi r ato de o cio, providên-
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o ca- cia ou declaração a que esteja obrigado;
put deste ar go recairá sobre bens que assegurem o integral XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio
ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo pa-
resultante do enriquecimento ilícito. trimonial das en dades mencionadas no art. 1º desta lei;
Art. 8º O sucessor daquele que causar lesão ao patri- XII – usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou
mônio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às valores integrantes do acervo patrimonial das en dades
cominações desta lei até o limite do valor da herança. mencionadas no art. 1º desta lei.

CAPÍTULO II Seção II
Dos Atos de Improbidade Administra va Dos Atos de Improbidade Administra va
que Causam Prejuízo ao Erário
Seção I
Dos Atos de Improbidade Administra va Art. 10. Cons tui ato de improbidade administra va que
que Importam Enriquecimento Ilícito causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer po de en dades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incor-
cargo, mandato, função, emprego ou a vidade nas en dades poração ao patrimônio par cular, de pessoa sica ou jurídica,
mencionadas no art. 1º desta lei, e notadamente: de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
I – receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel patrimonial das en dades mencionadas no art. 1º desta lei;
ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta II – permi r ou concorrer para que pessoa sica ou jurídi-
ou indireta, a tulo de comissão, percentagem, gra ficação ca privada u lize bens, rendas, verbas ou valores integrantes
ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, do acervo patrimonial das en dades mencionadas no art. 1º
que possa ser a ngido ou amparado por ação ou omissão desta lei, sem a observância das formalidades legais ou re-
decorrente das atribuições do agente público; gulamentares aplicáveis à espécie;
II – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, III – doar à pessoa sica ou jurídica bem como ao ente
para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel despersonalizado, ainda que de fins educa vos ou assis-
ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas en dades tências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de
referidas no art. 1º por preço superior ao valor de mercado; qualquer das en dades mencionadas no art. 1º desta lei,
III – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, sem observância das formalidades legais e regulamentares
para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem públi- aplicáveis à espécie;
co ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço IV – permi r ou facilitar a alienação, permuta ou locação
inferior ao valor de mercado; de bem integrante do patrimônio de qualquer das en dades
IV – u lizar, em obra ou serviço par cular, veículos, referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço
máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
de propriedade ou à disposição de qualquer das en dades V – permi r ou facilitar a aquisição, permuta ou locação
mencionadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
servidores públicos, empregados ou terceiros contratados VI – realizar operação financeira sem observância das
por essas en dades; normas legais e regulamentares ou aceitar garan a insufi-
V – receber vantagem econômica de qualquer natureza, ciente ou inidônea;
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prá ca de VII – conceder bene cio administra vo ou fiscal sem
jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, a observância das formalidades legais ou regulamentares
de usura ou de qualquer outra a vidade ilícita, ou aceitar aplicáveis à espécie;
promessa de tal vantagem; VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispen-
VI – receber vantagem econômica de qualquer natureza, sá-lo indevidamente;
direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição IX – ordenar ou permi r a realização de despesas não
ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou autorizadas em lei ou regulamento;
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

sobre quan dade, peso, medida, qualidade ou caracterís ca X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou
de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das en dades renda, bem como no que diz respeito à conservação do
mencionadas no art. 1º desta lei; patrimônio público;
VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de XI – liberar verba pública sem a estrita observância das
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qual- normas per nentes ou influir de qualquer forma para a sua
quer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do aplicação irregular;
patrimônio ou à renda do agente público; XII – permi r, facilitar ou concorrer para que terceiro se
VIII – aceitar emprego, comissão ou exercer a vidade de enriqueça ilicitamente;
consultoria ou assessoramento para pessoa sica ou jurídica XIII – permi r que se u lize, em obra ou serviço par cular,
que tenha interesse susce vel de ser a ngido ou amparado veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer
por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
público, durante a a vidade; en dades mencionadas no art. 1º desta lei, bem como o
IX – perceber vantagem econômica para intermediar a li- trabalho de servidor público, empregados ou terceiros con-
beração ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; tratados por essas en dades.

540
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha receber bene cios ou incen vos fiscais ou credi cios, direta
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurí-
gestão associada sem observar as formalidades previstas na dica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim
suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar como o proveito patrimonial ob do pelo agente.
as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107,
de 2005) CAPÍTULO IV
Da Declaração de Bens
Seção III
Dos Atos de Improbidade Administra va que Atentam Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam
Contra os Princípios da Administração Pública condicionados à apresentação de declaração dos bens e
valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de
Art. 11. Cons tui ato de improbidade administra va ser arquivada no serviço de pessoal competente.
§ 1º A declaração compreenderá imóveis, móveis, se-
que atenta contra os princípios da administração pública
moventes, dinheiro, tulos, ações, e qualquer outra espécie
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de hones -
de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no
dade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às ins tuições, exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores
e notadamente: patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de
I – pra car ato visando fim proibido em lei ou regulamen- outras pessoas que vivam sob a dependência econômica
to ou diverso daquele previsto, na regra de competência; do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de
II – retardar ou deixar de pra car, indevidamente, ato uso domés co.
de o cio; § 2º A declaração de bens será anualmente atualizada
III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em e na data em que o agente público deixar o exercício do
razão das atribuições e que deva permanecer em segredo; mandato, cargo, emprego ou função.
IV – negar publicidade aos atos oficiais; § 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do
V – frustrar a licitude de concurso público; serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis,
VI – deixar de prestar contas quando esteja obrigado a o agente público que se recusar a prestar declaração dos
fazê-lo; bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.
VII – revelar ou permi r que chegue ao conhecimento § 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia
de terceiro, antes da respec va divulgação oficial, teor de da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da
medida polí ca ou econômica capaz de afetar o preço de Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto
mercadoria, bem ou serviço. sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as
necessárias atualizações, para suprir a exigência con da no
CAPÍTULO III caput e no § 2º deste ar go.
Das Penas
CAPÍTULO V
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis Do Procedimento Administra vo e do Processo Judicial
e administra vas previstas na legislação específica, está o
responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autori-
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumula - dade administra va competente para que seja instaurada
vamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada inves gação des nada a apurar a prá ca de ato de impro-
pela Lei nº 12.120, de 2009). bidade9.
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a
I – na hipótese do art. 9º, perda dos bens ou valores
termo e assinada, conterá a qualificação do representante,
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral
as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das
do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão
provas de que tenha conhecimento.
dos direitos polí cos de oito a dez anos, pagamento de multa § 2º A autoridade administra va rejeitará a representa-
civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proi- ção, em despacho fundamentado, se esta não con ver as
bição de contratar com o Poder Público ou receber bene cios formalidades estabelecidas no § 1º deste ar go. A rejeição
ou incen vos fiscais ou credi cios, direta ou indiretamente, não impede a representação ao Ministério Público, nos
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja termos do art. 22 desta lei.
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; § 3º Atendidos os requisitos da representação, a au-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

II – na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do toridade determinará a imediata apuração dos fatos que,
dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao em se tratando de servidores federais, será processada na
patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de
pública, suspensão dos direitos polí cos de cinco a oito anos, dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de
pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano acordo com os respec vos regulamentos disciplinares.
e proibição de contratar com o Poder Público ou receber Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao
bene cios ou incen vos fiscais ou credi cios, direta ou indi- Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da
retamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da existência de procedimento administra vo para apurar a
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; prá ca de ato de improbidade10.
III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do 9
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho
dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos Subs tuto – I/2010/Questão 8 e Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Subs-
direitos polí cos de três a cinco anos, pagamento de multa tuto – I/2010/Questão 8.
civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida 10
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho
Subs tuto – I/2010/Questão 8 e Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Subs-
pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou tuto – I/2010/Questão 8.

541
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou § 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas
Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar repre- nos processos regidos por esta Lei o disposto no art. 221,
sentante para acompanhar o procedimento administra vo. caput e § 1º, do Código de Processo Penal. (Incluído pela
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
a comissão representará ao Ministério Público ou à pro- Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de
curadoria do órgão para que requeira ao juízo competente reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos
a decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos
que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica preju-
patrimônio público. dicada pelo ilícito.
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo
com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo CAPÍTULO VI
Civil. Das Disposições Penais
§ 2º Quando for o caso, o pedido incluirá a inves gação,
o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações Art. 19. Cons tui crime a representação por ato de im-
financeiras man das pelo indiciado no exterior, nos termos probidade contra agente público ou terceiro beneficiário,
da lei e dos tratados internacionais. quando o autor da denúncia o sabe inocente12.
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante
interessada, dentro de trinta dias da efe vação da medida está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais,
cautelar. morais ou à imagem que houver provocado.
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos
ações de que trata o caput. direitos polí cos só se efe vam com o trânsito em julgado
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá da sentença condenatória13.
as ações necessárias à complementação do ressarcimento Parágrafo único. A autoridade judicial ou administra va
do patrimônio público. competente poderá determinar o afastamento do agente
§ 3º No caso de a ação principal ter sido proposta pelo público do exercício do cargo, emprego ou função, sem pre-
Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no juízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária
§ 3º do art. 6º da Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965. à instrução processual.
(Redação dada pela Lei nº 9.366, de 1996) Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo independe:
como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, I – da efe va ocorrência de dano ao patrimônio público,
sob pena de nulidade. salvo quanto à pena de ressarcimento14; (Redação dada pela
§ 5º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo Lei nº 12.120, de 2009)
para todas as ações posteriormente intentadas que possuam II – da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de
a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei,
§ 6º A ação será instruída com documentos ou jus - o Ministério Público, de o cio, a requerimento de autoridade
ficação que contenham indícios suficientes da existência administra va ou mediante representação formulada de
do ato de improbidade ou com razões fundamentadas da acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instau-
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas, ração de inquérito policial ou procedimento administra vo.
observada a legislação vigente, inclusive as disposições ins-
critas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil. (Incluído CAPÍTULO VII
pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) Da Prescrição
§ 7º Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará
autuá-la e ordenará a no ficação do requerido, para ofere- Art. 23. As ações des nadas a levar a efeitos as sanções
cer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com previstas nesta lei podem ser propostas:
documentos e jus ficações, dentro do prazo de quinze dias. I – até cinco anos após o término do exercício de man-
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) dato, de cargo em comissão ou de função de confiança;
§ 8º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta
II – dentro do prazo prescricional previsto em lei especí-
dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se conven-
fica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem
cido da inexistência do ato de improbidade, da improcedên-
do serviço público, nos casos de exercício de cargo efe vo
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

cia da ação ou da inadequação da via eleita. (Incluído pela


ou emprego15.
Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
§ 9º Recebida a pe ção inicial, será o réu citado para
apresentar contestação. (Incluído pela Medida Provisória 12
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Prefeitura Municipal de Boa
nº 2.225-45, de 2001) Vista-RR/Analista Municipal/Procurador Municipal/2010/Questão 99, FCC/
§ 10. Da decisão que receber a pe ção inicial, caberá TRE-RS/Técnico Judiciário/Área Administra va/Analista Judiciário/Área Ad-
ministra va/2010/Questão 5 e Vunesp/Ministério Público do Estado de São
agravo de instrumento. (Incluído pela Medida Provisória Paulo/Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/Questão 35.
nº 2.225-45, de 2001) 13
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho
Subs tuto – I/2010/Questão 8, Cespe/Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR/
§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a Analista Municipal/Procurador Municipal/2010/Questão 98 e Vunesp/Mi-
inadequação da ação de improbidade, o juiz ex nguirá o nistério Público do Estado de São Paulo/Analista de Promotoria I/Assistente
processo sem julgamento do mérito11. (Incluído pela Medida Jurídico/2010/Questão 35.
14
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/Ministério Público do Estado de
Provisória nº 2.225-45, de 2001) São Paulo/Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/Questão 35 e Cespe/
Tribunal de Contas-RO/Procurador do Ministério Público/2010/Questão 25.
11 15
Assunto cobrado na prova do Vunesp/Ministério Público do Estado de São Assunto cobrado na prova da Cespe/Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR/
Paulo/Analista de Promotoria I/Assistente Jurídico/2010/Questão 35. Analista Municipal/Procurador Municipal/2010/Questão 100.

542
CAPÍTULO VIII 7. (Cespe/DPE-MA/Defensor Público de 1ª Classe/2011)
Das Disposições Finais Considerando a situação hipoté ca apresentada no
texto, assinale a opção correta.
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. a) Eventual ação de improbidade contra o secretário
Art. 25. Ficam revogadas as Leis nos 3.164, de 1º de junho somente poderá ser ajuizada pelo MP.
de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958, e demais b) Na hipótese de haver prejuízo ao erário nas con-
disposições em contrário. tratações feitas pelo secretário, a recomposição do
patrimônio público elidirá a sua responsabilização
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171º da Independên- por ato de improbidade administra va.
cia e 104º da República. c) Luiz e Paulo não responderão por eventual ação de
improbidade por não serem agentes públicos.
FERNANDO COLLOR d) Para a configuração do ato de improbidade, será
Célio Borja necessária a demonstração de ter havido superfa-
turamento das obras com consequente prejuízo ao
município.
EXERCÍCIOS e) Caso reste configurada a prá ca, pelo secretário, de
ato de improbidade administra va, Roberto estará
1. (Cespe/Seplag/Pefoce/Auxiliar de Perícia de 1ª Clas- sujeito a suspensão dos direitos polí cos, a multa e
se/2012) O herdeiro de agente público causador de a perda da função pública, penas que poderão ser
lesão ao patrimônio público não consiste em sujeito aplicadas cumula vamente.
a vo dos atos de improbidade administra va.
2. (Cespe/Seplag/Pefoce/Auxiliar de Perícia de 1ª Clas- 8. (Cespe/DPE-MA/Defensor Público de 1ª Classe/2011)
se/2012) A imposição de sanções aos agentes públicos Com base na situação hipoté ca apresentada no texto
em decorrência da prá ca de atos de improbidade ad- e no disposto na Lei nº 8.429/1992, que trata da im-
ministra va depende de decisão favorável do Tribunal probidade administra va, assinale a opção correta.
de Contas ou da efe va lesão ao erário. a) A aplicação das sanções previstas na Lei de Improbi-
3. (Cespe/Seplag/Pefoce/Auxiliar de Perícia de 1ª Clas- dade Administra va estará condicionada à rejeição
se/2012) Em caso de violação aos princípios da admi- das contas da prefeitura pelo respec vo tribunal de
nistração pública, a aplicação de multa civil depende da contas.
existência de sanções penais, civis e administra vas. b) Caso o MP fique inerte diante dos atos pra cados
4. (Cespe/MPE-PI/Analista Ministerial/Área Administra - pelo secretário, a DP poderá atuar suple vamente,
va/2012) Os atos de improbidade que importam enri- ajuizando ação de improbidade administra va.
quecimento ilícito sujeitam seus autores, entre outras c) Caso se comprove que Roberto, no seu segundo ano
sanções, à perda da função pública, à suspensão dos no cargo de secretário de Estado, tenha prestado
direitos polí cos de oito a dez anos e à perda dos bens declaração de bens e valores falsa, a fim de ocultar
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio. a elevação do seu patrimônio no período em que
5. (Cespe/MPE-PI/Analista Ministerial/Área Adminis- esteve à frente da secretaria de obras, ele poderá ser
tra va/2012) No sistema adotado pela referida lei, punido com a pena de demissão, a bem do serviço
são sujeitos a vos do ato de improbidade os agentes público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, de
públicos, assim como aqueles que, não se qualificando acordo com a referida lei.
como tais, induzem ou concorrem para a prá ca do d) Ajuizada ação de improbidade contra o secretário,
ato de improbidade ou dele se beneficiam direta ou não caberá recurso contra a decisão que receber a
indiretamente. inicial.
6. (Cespe/DPF/Agente de Polícia Federal/2012) Se o su- e) O prazo para propositura de ação de improbidade
contra o secretário prescreverá em cinco anos, con-
posto autor do ato alegar que não nha conhecimento
tados da data de sua posse no cargo.
prévio da ilicitude, o ato de improbidade restará afasta-
do, por ser o desconhecimento da norma mo vo para
9. (Cespe/AL-CE/Analista Legisla vo/2011) Na ação de
afastá-lo.
improbidade administra va, após o recebimento das
razões do requerido, o juiz, no prazo de trinta dias, se
Durante o primeiro ano em que Roberto ocupou o cargo de convencido da inexistência do ato de improbidade, da
secretário de obras de um próspero município de determi-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

improcedência da ação ou da inadequação da via eleita,


nado estado brasileiro, foram realizadas importantes obras, rejeitará a ação, por meio de decisão fundamentada.
como a duplicação da avenida principal da cidade, a cons- Por outro lado, se for recebida a pe ção inicial, decisão
trução de uma ponte, bem como da nova sede da prefeitura da qual caberá agravo de instrumento, o réu deverá ser
e de um moderno ginásio de esportes. Em inves gação citado para apresentar contestação.
realizada pelo MP local,
descobriu-se que pra camente todas as licitações realizadas 10. (Cespe/AL-ES/Procurador de 1ª Categoria/2011) De-
no município naquele ano foram vencidas pelas mesmas em- putado estadual que ocupa o cargo de presidente da
presas, todas de propriedade de Luiz e Paulo. Descobriu-se, assembleia legisla va de determinado estado autorizou
ainda, que os dois empresários eram amigos ín mos do se- a contratação de uma empresa de prestação de serviços
cretário e que as respec vas empresas empregavam diversos de limpeza com dispensa de licitação. Posteriormente,
parentes de Roberto, incluindo-se sua própria esposa, que verificou-se não só que a referida contratação fora
recebia da empreiteira em que trabalhava vultoso salário efe vada com sobrepreço, mas também que o proprie-
mensal para exercer a função de secretária execu va. tário da empresa contratada era filho do presidente da

543
assembleia. Considerando a situação hipoté ca acima 15. (Cespe/TC-DF/Auditor de Controle Externo/2012) Apenas
descrita, é correto firmar, com base na Lei de Improbi- a autoridade administra va competente poderá instau-
dade Administra va (Lei nº 8.429/1992) e na moderna rar inves gação des nada a apurar a prá ca de ato de
jurisprudência do STJ, que a conduta do presidente da improbidade, sendo vedada a representação da autori-
assembleia: dade para que ocorra a instauração da inves gação.
a) não configura ato de improbidade administra va, 16. (Cespe/TC-DF/Auditor de Controle Externo/2012)O
uma vez que a contratação de serviço especializado, agente público que colaborar com o retorno de recursos
como o de limpeza, inclui-se entre as hipóteses que do erário que tenham sido enviados para o exterior
ensejam a dispensa de licitação. terá a possibilidade de realizar um acordo ou transação
b) não configura ato de improbidade administra va com o Ministério Público, tendo em vista evitar a ação
para os fins da Lei nº 8.429/1992, que não alcança principal por improbidade administra va.
os agentes polí cos. 17. (Cespe/TC-DF/Auditor de Controle Externo/2012) A Lei
c) configura ato de improbidade administra va, com de Improbidade Administra va pune atos pra cados
dolo mínimo exigido pela jurisprudência. contra a administração direta, indireta ou fundacional
d) não configura ato de improbidade administra va, de qualquer dos poderes do DF, inclusive os realizados
por aqueles que não sejam servidores públicos.
uma vez que a jurisprudência majoritária tem exigido
18. (Cespe/TC-DF/Auditor de Controle Externo/2012) De
dolo mínimo, inexistente na contratação descrita.
acordo com a referida lei, a aplicação da pena de res-
e) configura ato de improbidade administra va, com
sarcimento aos cofres públicos independe da efe va
culpa, não sendo, contudo, necessária a comprova- ocorrência de dano ao patrimônio público.
ção de dolo nos termos da jurisprudência majoritá- 19. (Cespe/TC-DF/Auditor de Controle Externo/2012) Se-
ria. gundo a jurisprudência, é cabível o ajuizamento de ação
civil pública para apuração de ato de improbidade.
11. (Cespe/ECT/Administrador/2011) A dispensa indevida
de processo licitatório por agente público, além de 20. (Cespe/TJ-CE/Juiz Substituto/2012) Assinale a op-
causar prejuízo ao erário, cons tui ato de improbidade ção correta, tendo em vista as disposições da Lei
administra va que importa no enriquecimento ilícito nº 8.429/1992, que trata da improbidade administra va.
daquele que o pra ca. a) A lei determina que a autoridade administra va
12. (Cespe/MEC/2011) De acordo com a lei que regula- responsável pelo inquérito apresente ao MP re-
menta a improbidade administra va, será punido com presentação para a indisponibilidade dos bens do
a pena de demissão, a bem do serviço público, sem indiciado, nos casos em que o ato de improbidade
prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público ensejar enriquecimento ilícito, providência prescin-
que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro dível caso as condutas causem lesão ao erário ou
do prazo determinado, ou que a prestar falsa. atentem contra os princípios da administração.
b) Instaurado processo administrativo, a comissão
13. (Cespe/TJ-AC/Juiz Substituto/2012) À luz da Lei processante deverá dar conhecimento ao MP e ao
nº 8.429/1992, que trata da improbidade administra- tribunal de contas da existência de procedimento
va, assinale a opção correta. para apurar a prá ca de ato de improbidade. A lei
a) A instauração de processo judicial por ato de impro- admite que apenas o MP designe representante
bidade obsta a instauração de processo administra - e intervenha no procedimento administra vo, de
vo para apurar fato de idên co teor enquanto aquele modo a firmar sua convicção sobre os fatos que
não for concluído. estejam sendo apurados.
b) Cons tui ato de improbidade administra va que c) Qualquer pessoa poderá representar à autoridade
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão que competente para que seja instaurada inves gação
enseje perda patrimonial, desvio ou dilapidação dos des nada a apurar a prá ca de ato de improbidade,
bens e haveres públicos, mas apenas se configurado devendo a representação ser escrita ou reduzida a
o dolo do agente. termo e assinada e conter a qualificação do repre-
c) Os atos de improbidade que importem enriqueci- sentante, as informações sobre o fato e sua autoria e
a indicação das provas de que tenha conhecimento.
mento ilícito, que causem lesão ao erário ou que
d) Entre as medidas de natureza cautelar que podem
atentem contra os princípios da administração
ser adotadas na esfera administrativa, contra o
pública causam a perda ou a suspensão dos direitos
agente que pra que ato de improbidade, incluem-se
polí cos, por período que varia de cinco a dez anos. o afastamento do exercício do cargo, emprego ou
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

d) Entre as medidas de natureza cautelar que, previstas função, e o sequestro e bloqueio de bens.
nessa lei, só podem ser decretadas judicialmente e) O agente público que cometer ato lesivo ao patrimô-
incluem-se a indisponibilidade dos bens, o bloqueio nio público responderá por ação ou omissão, dolosa
de contas bancárias e o afastamento do agente do ou culposa, assim como o terceiro que, de forma
exercício do cargo, emprego ou função. direta ou indireta, dele se beneficiar, desde que aja
e) Tanto a perda da função pública quanto a suspensão de forma dolosa.
dos direitos polí cos pela prá ca de ato de impro-
bidade só se efe vam com o trânsito em julgado da GABARITO
sentença condenatória.
1. C 5. C 9. C 13. e 17. C
14. (Cespe/TC-DF/Auditor de Controle Externo/2012) Du-
2. E 6. E 10. c 14. C 18. E
rante a instrução processual, o agente público poderá
3. E 7. e 11. E 15. E 19. C
ser afastado do seu cargo mediante determinação de 4. C 8. c 12. C 16. E 20. c
autoridade administra va competente.

544
Rafaela Brito Os direitos de primeira geração junto com a revolução
industrial permi ram o crescimento das fábricas, as quais
contrataram grande número de operários. Como havia
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
liberdade contratual, os industriais impunham condições
de trabalho muito pesadas aos empregados. Diante disso, a
Conceito segunda geração de DH surgiu para equilibrar a relação entre
os mais poderosos e os mais necessitados da sociedade; são
Para Flávia Piovesan, segundo Richard B. Bilder, “o mo- os direitos econômicos e sociais. Ao contrário dos primeiros,
vimento internacional dos Direitos Humanos é baseado na
esses exigem uma prestação do Estado. São os direitos à
concepção de que toda a nação tem a obrigação de respeitar
saúde e à educação, por exemplo. A primeira Cons tuição
os Direitos Humanos de seus cidadãos e de que todas as
a declará-los foi a Cons tuição do México de 1917, seguida
nações e a comunidade internacional têm o direito e a res-
ponsabilidade de protestar, se um Estado não cumprir suas da Cons tuição de Weimar (Alemanha), em 1919.
obrigações. O Direito Internacional dos Direitos Humanos Durante os úl mos 30 anos do século XX, sugiram os DH
consiste em um sistema de normas internacionais, procedi- de terceira geração. Esses estão associados a um número
mentos e ins tuições desenvolvidas para implementar esta indeterminado de pessoas, como o direito ao meio ambiente,
concepção e promover o respeito dos direitos humanos em direitos do consumidor ou direitos da infância e da juventude.
todos os países.”1 Percebe-se que o lema da Revolução Francesa é a frase:
Os Direitos Humanos são os inerentes à pessoa humana Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Os DH de primeira
que tem por obje vo resguardar a integridade sica, psicoló- geração são direitos de liberdade contra o Estado opressor.
gica da própria pessoa e a de seus semelhantes. São direitos Os DH de segunda geração são direitos promotores da
os direitos fundamentais de todas as pessoas, sejam elas igualdade. E os direitos de terceira geração estão vinculados
mulheres, negros, homossexuais, índios, idosos, portadores à fraternidade.
de deficiências, populações de fronteiras, estrangeiros e No Brasil, a Cons tuição Federal de 1988 (CF/1988) trou-
migrantes, refugiados, portadores de HIV, crianças e adoles- xe avanços significa vos em matéria de DH. O Título II trata
centes, policiais, presos, despossuídos e os que têm acesso exclusivamente sobre os direitos e garan as fundamentais.
à riqueza. Todos, enquanto pessoas, devem ser respeitados, O ar go 5° da CF/1988 possui uma longa lista de direitos.
e sua integridade sica protegida e assegurada, segundo se Contudo, cabe destacar que os DH estão elencados em todo
posiciona o Planalto Central2. o texto da Cons tuição.
O Brasil também faz parte de pra camente todos os
Caracterís cas documentos internacionais sobre DH (Convenção para a
prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948); a
As principais caracterís cas são: Convenção rela va ao estatuto dos refugiados (1951); o
1. Imprescri bilidade: não se perde pelo decurso de Protocolo sobre o estatuto dos refugiados (1966); o Pacto in-
prazo. ternacional sobre direitos civis e polí cos (1966); o Protocolo
2. Inalienabilidade: não há transferência dos direitos faculta vo rela vo ao pacto internacional sobre direitos civis
humanos. e polí cos (1966); o Pacto internacional dos direitos econô-
3. Irrenunciabilidade. micos, sociais e culturais (1966); a Convenção internacional
4. Inviolabilidade: não pode haver afronta de leis infra- sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial
cons tucionais. (1965); a Convenção sobre a eliminação de todas as formas
5. Universal: é para todos, independente de sua nacio- de discriminação contra a mulher (1979); o Protocolo facul-
nalidade, sexo, raça, credo ou convicção polí co-filosófica.
ta vo à convenção sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação contra a mulher (1999); a Convenção contra a
Evolução Histórica tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou
degradantes (1984); a Convenção sobre os direitos da criança
A luta pela concre zação dos Direitos Humanos (DH)
(1989); o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
permi u a produção de importantes documentos como a
(1998); a Convenção americana sobre Direitos Humanos
Magna Carta, de 1215; a Declaração de Direitos do Bom Povo
(1969); o Protocolo adicional à convenção americana sobre
da Virgínia, de 1776; a Declaração de Direitos do Homem e
do Cidadão, de 1789; e a Declaração Universal de Direitos Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, so-
do Homem, de 1948. Sem dúvida, os horrores da Segunda ciais e culturais (1988); o Protocolo à convenção americana
sobre Direitos Humanos referente à abolição da pena de
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Guerra Mundial conscien zaram a sociedade internacional


da necessidade de criar regras mundiais sobre Direitos morte (1990); a Convenção interamericana para prevenir
Humanos. e punir a tortura (1985); a Convenção interamericana para
A primeira geração de DH atendia aos interesses da classe prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (1994);
burguesa ascendente ao final do século XVIII. Esses direitos a Convenção interamericana sobre tráfico internacional
estão associados à ideia de liberdade. São direitos da pessoa de menores (1994); e a Convenção interamericana para a
oponíveis ao Estado, como: liberdade religiosa; liberdade eliminação de todas as formas de discriminação contra as
contratual; direito de propriedade; direito à vida etc. Em pessoas portadoras de deficiência (1999)).
outras palavras, são direitos que buscam a não interferência A emenda cons tucional nº 45/2005 criou a possibilida-
do Estado, em excesso, na vida das pessoas. de de que os tratados sobre DH que forem aprovados pelo
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
1
BILDER, Richard B. Na overview of interna onal human rights law. In: HANNUM, votos, tenham hierarquia equivalente a de emendas cons -
Hurst (Editor) Guide to interna onal human rights pra c. 2 Ed. Philadelphia: tucionais. O primeiro tratado internacional com status cons -
University of Pennsylvania Press, 1992, pág. 3-5.
2
h p://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PRODHI.HTM tucional da História do Brasil foi a Convenção da Organização

545
das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Norte) e da República Islâmica do Irã, entre outras. Seria ino-
Deficiência, aprovado pelo Congresso em 2008. Os outros cente desconsiderar que cada Estado sustenta conceituação
tratados sobre DH possuem hierarquia supralegal, ou seja, de democracia com base em seus interesses polí cos.
acima das leis, mas abaixo da Cons tuição Federal, segundo Feitas essas considerações, sugere-se a leitura integral
decisão do STF no Recurso Extraordinário nº 466.343-SP. do texto da Declaração, transcrito a seguir:
Os horrores da Segunda Guerra Mundial conscien zaram
a sociedade internacional da necessidade de criar regras Declaração Universal dos Direitos Humanos 3
mundiais sobre Direitos Humanos. Em 1946, havia poucos
consensos a respeito da matéria, principalmente, entre os Adotada e proclamada pela
países dos blocos capitalistas e socialistas. Nesse contexto, resolução 217-A (III) da Assem-
faltavam condições para redigir um tratado internacional bleia Geral das Nações Unidas em
juridicamente vinculante. Por isso, optou-se na elaboração de 10 de dezembro de 1948.
uma declaração, sem força vinculante, mas com capacidade
de constranger seus signatários a cumpri-la, sob pena de Preâmbulo
perderem credibilidade perante os outros Estados. Considerando que o reconhecimento da dignidade
Assim, em 10/12/1948, a Assembleia Geral das Nações inerente a todos os membros da família humana e de seus
Unidas aprovou, mediante resolução, a Declaração Universal direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade,
da jus ça e da paz no mundo,
dos Direitos Humanos, a qual serviria de base para diversos
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos
tratados, esses já com força vinculante. Dentre esses tratados
direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultraja-
merecem destaque o Pacto sobre direitos civis e polí cos e o
ram a consciência da Humanidade e que o advento de um
Pacto sobre direitos econômicos, sociais e culturais, ambos mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra,
de 1966. Perceba-se que a Declaração Universal de 1948 de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da
inaugurou a busca pelo “[...] respeito universal e efe vo necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do
dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para homem comum,
todos, sem dis nção de raça, sexo, língua ou religião” (art. Considerando essencial que os direitos humanos sejam
55, alínea c da Carta das Nações Unidas). protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não
O art. I da Declaração remete aos três princípios fun- seja compelido, como úl mo recurso, à rebelião contra
damentais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e rania e a opressão,
fraternidade. Esses três axiomas, de uma maneira ou outra, Considerando essencial promover o desenvolvimento de
orientam cada ar go da Declaração. relações amistosas entre as nações,
O princípio da liberdade encontra-se descrito tanto no Considerando que os povos das Nações Unidas reafirma-
sen do de liberdade individual como polí ca. A primeira ram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais,
está reconhecida nos ar gos IV, IX, XIII, XVIII e XIX, que na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade
resguardam a liberdade de locomoção, de pensamento, de de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram
consciência, de expressão, de religião e proíbem a escravidão. promover o progresso social e melhores condições de vida
A segunda expressa o direito de toda pessoa de tomar parte em uma liberdade mais ampla,
no governo de seu país, diretamente ou mediante a eleição Considerando que os Estados-Membros se comprome-
de representantes (art. XXI). teram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas,
o respeito universal aos direitos humanos e liberdades
O art. II desenvolve o princípio da igualdade, afirmando
fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,
que não há como diminuir os direitos e liberdades das pes-
Considerando que uma compreensão comum desses
soas com base na raça, cor, sexo, língua, religião, opinião direitos e liberdades é da mis alta importância para o pleno
polí ca, origem nacional ou social, entre outros. No mesmo cumprimento desse compromisso,
sen do, o art. VII reafirma que todos são iguais perante a lei
e tem direito, sem qualquer dis nção, a igual proteção da lei. A Assembleia Geral proclama
A fraternidade permeia todos os direitos econômicos e A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos
sociais da Declaração, especificamente: como o ideal comum a ser a ngido por todos os povos e
– direito à seguridade social (arts. XXII e XXV); todas as nações, com o obje vo de que cada indivíduo e
– direito ao trabalho em condições dignas e a livre orga- cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
nização sindical (arts. XXIII e XXIV); Declaração, se esforce, através do ensino e da educação,
– direito à educação (art. XXVI); por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e,
pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

– direito à cultura e produção cien fica (art. XXVII).


e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a
Além dessas prerroga vas, a Declaração proclamou o sua observância universais e efe vos, tanto entre os povos
direito à nacionalidade (art. XV), a fim de deses mular a dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos
polí ca aplicada pelos nazistas de suprimir a nacionalidade territórios sob sua jurisdição.
alemã dos judeus. Se mesmo assim, o Estado insis r em
perseguir seus nacionais; qualquer pessoa poderá requerer Ar go I
asilo polí co a outro Estado (art. XIV). Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir
A u lização da expressão “sociedade democrá ca”, no art.
em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
XXIX, alínea 2, pode gerar dúvidas em relação ao sen do do
adje vo “democrá ca”. Contudo, há que entender a demo-
cracia da maneira mais abrangente possível, incluindo como
3
democrá cas as sociedades dos Estados Unidos da América, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Declaração Universal de Direitos Humanos. Página
oficial do Ministério da Jus ça. Acesso em: 30 dez. 2009. Disponível em:
a da República Democrá ca Popular da Coreia (Coreia do <h p://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>.

546
Ar go II Ar go XIII
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem dis nção residência dentro das fronteiras de cada Estado.
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
opinião polí ca ou de outra natureza, origem nacional ou inclusive o próprio, e a este regressar.
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Ar go XIV
Ar go III 1. Toda pessoa, ví ma de perseguição, tem o direito de
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança procurar e de gozar asilo em outros países.
pessoal. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de per-
seguição legi mamente mo vada por crimes de direito
Ar go IV comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios
Ninguém será man do em escravidão ou servidão, a das Nações Unidas.
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas
as suas formas.
Ar go XV
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
Ar go V
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua naciona-
Ninguém será subme do à tortura, nem a tratamento
lidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
ou cas go cruel, desumano ou degradante.

Ar go VI Ar go XVI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer
reconhecida como pessoa perante a lei. restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito
de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de
Ar go VII iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qual- dissolução.
quer dis nção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno
igual proteção contra qualquer discriminação que viole a consen mento dos nubentes.
presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação. Ar go XVII
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em
Ar go VIII sociedade com outros.
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua pro-
competentes remédio efe vo para os atos que violem os priedade.
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela
cons tuição ou pela lei. Ar go XVIII
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,
Ar go IX consciência e religião; este direito inclui a liberdade de
Ninguém será arbitrariamente preso, de do ou exilado. mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prá ca, pelo culto
Ar go X e pela observância, isolada ou cole vamente, em público
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma ou em par cular.
audiência justa e pública por parte de um tribunal indepen-
dente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou Ar go XIX
do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expres-
são; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter
Ar go XI
opiniões e de procurar, receber e transmi r informações
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito
e ideias por quaisquer meios e independentemente de
de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha
fronteiras.
sido provada de acordo com a lei, em julgamento público
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garan as


necessárias à sua defesa. Ar go XX
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e
omissão que, no momento, não cons tuíam delito perante associação pacíficas.
o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
pena mais forte do que aquela que, no momento da prá ca, associação.
era aplicável ao ato delituoso.
Ar go XXI
Ar go XII 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, de sue país, diretamente ou por intermédio de representan-
na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a tes livremente escolhidos.
ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço
proteção da lei contra tais interferências ou ataques. público do seu país.

547
3. A vontade do povo será a base da autoridade do 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses mo-
governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas rais e materiais decorrentes de qualquer produção cien fica,
e legí mas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro- literária ou ar s ca da qual seja autor.
cesso equivalente que assegure a liberdade de voto.
Ar go XXVIII
Ar go XXII Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacio-
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à nal em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela Declaração possam ser plenamente realizados.
cooperação internacional e de acordo com a organização e
recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e Ar go XXIX
culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvol- 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em
vimento da sua personalidade. que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade
é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa
Ar go XXIII
estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei,
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha
exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconheci-
de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
mento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de
proteção contra o desemprego. sa sfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e
2. Toda pessoa, sem qualquer dis nção, tem direito a do bem-estar de uma sociedade democrá ca.
igual remuneração por igual trabalho. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remu- alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e prin-
neração justa e sa sfatória, que lhe assegure, assim como cípios das Nações Unidas.
à sua família, uma existência compa vel com a dignidade
humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros Ar go XXX
meios de proteção social. Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado,
ingressar para proteção de seus interesses. grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer a vidade ou
pra car qualquer ato des nado à destruição de quaisquer
Ar go XXIV dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a
limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas
remuneradas. EXERCÍCIOS
Ar go XXV Funrio/Sejus-RO/Agente Penitenciário/2008
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz
de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive 1. A Assembleia Geral proclamou a Declaração Universal
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser a ngido
serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em por todos os povos e todas as nações, com o obje vo de
caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo
outros casos de perda dos meios de subsistência fora de sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através
seu controle. do ensino e da educação, por promover o respeito a
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou progressivas de caráter nacional e internacional, por
fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. assegurar o seu reconhecimento e a sua observância
universal e efe va, tanto entre os povos dos próprios
Ar go XXVI Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será sob sua jurisdição. Assim, conforme proclamou a Decla-
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. ração Universal dos Direitos Humanos, todo ser humano:
A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico- a) Tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
-profissional será acessível a todos, bem como a instrução estabelecidos nesta Declaração, sem dis nção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma,
superior, esta baseada no mérito.
religião, opinião polí ca ou de outra natureza, ori-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

2. A instrução será orientada no sen do do pleno desen-


gem nacional ou social, riqueza, nascimento, com
volvimento da personalidade humana e do fortalecimento
algumas restrições.
do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades b) Poderá fazer dis nção fundada na condição polí ca,
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a jurídica ou internacional do país ou território a que
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais pertença uma pessoa, quer se trate de um território
ou religiosos, e coadjuvará as a vidades das Nações Unidas independente, sob tutela, sem governo próprio, quer
em prol da manutenção da paz. sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero c) Tem direito à vida, à liberdade, podendo esta ser
de instrução que será ministrada a seus filhos. restringida, e à segurança pessoal a critério da
administração pública através da polícia militar, civil
Ar go XXVII e federal.
1. Toda pessoa tem o direito de par cipar livremente da d) Tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhe-
vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de par cipar cido como pessoa perante a lei, salvo nos casos
do processo cien fico e de seus bene cios. previstos em lei específica.

548
e) Tem direito a receber dos tribunais nacionais com- Tendo esses dois textos como referência inicial e conside-
petentes remédio efe vo para os atos que violem os rando aspectos conceituais e prá cos rela vos ao tema dos
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos direitos humanos, julgue os próximos itens.
pela cons tuição ou pela lei. 3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos parte
do pressuposto de que todos os seres humanos, sem
2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos preco- exceção, nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
4. O fato de a Declaração Universal dos Direitos Humanos
niza em seu art. XIII que todo ser humano tem direito
ter sido oficialmente adotada pelos países que integram
à liberdade de locomoção e residência dentro das
a Organização das Nações Unidas explica a inexistência
fronteiras de cada Estado e que todo ser humano tem de atrocidades e genocídios no mundo contemporâneo,
o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e diferentemente do que ocorria no passado, como, por
a este regressar. Quanto ao asilo polí co previsto nesta exemplo, durante o nazismo.
declaração é correto afirmar que: 5. Quando se trata de liberdade, em suas mais diversas
a) Deverá promover o bem de todos, sem preconceitos manifestações, os dois textos se contradizem, já que
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras em apenas um – a Cons tuição brasileira – diz-se cla-
formas de discriminação. ramente ser a liberdade a base dos direitos sociais e
b) Todo ser humano, ví ma de perseguição, tem o individuais.
direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 6. Pelos princípios que os embasam, é possível inferir que
c) Este direito poderá ser invocado mesmo em caso de ambos os documentos impelem ao combate a todas
perseguição legi mamente mo vada por crimes de as formas de preconceito e discriminação por mo vo
direito comum ou por atos contrários aos obje vos de raça, sexo, religião, cultura, condição econômica,
e princípios das Nações Unidas. aparência ou condição sica.
d) Rege-se pelo princípio da autodeterminação dos 7. A afirmação de que os homens têm direito à liberdade
povos. de viver “a salvo do temor e da necessidade”, con da
na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sugere
e) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
que o respeito à dignidade humana pressupõe, entre
alguma coisa senão em virtude de lei outras condições, o atendimento às demandas mate-
riais básicas e às rela vas a proteção e segurança.
Cespe/Secretaria Nacional de Jus ça-SNJ/ 8. Entre os direitos e deveres individuais e cole vos que
Ministério da Jus ça–MJ/Cargo: Agente Penitenciário menciona, a Cons tuição brasileira avança na concepção
Federal (Caderno Arca de Noé)/Nível Médio/2005 de liberdade ao afirmar que lei alguma poderá obrigar o
cidadão “a fazer ou deixar de fazer alguma coisa”.
Direitos Humanos 9. Inalienáveis são aqueles direitos fundamentais dos
quais as pessoas somente podem abrir mão em situa-
Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos ções muito especiais.
10. As bases filosóficas de ambos os documentos sugerem
Considerando que o reconhecimento da dignidade ine- que são condenáveis quaisquer formas de tortura e
rente a todos os membros da família humana e seus direitos tratamento ou cas go cruel, desumano ou degradante.
iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da jus ça
11. (Polícia Militar/PR/Nível Superior/Prova Branca/2009) A
e da paz no mundo,
respeito da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos assinale a alterna va correta.
direitos do homem resultaram em atos bárbaros que ul- I – Ninguém será man do em escravidão ou servidão,
trajaram a consciência da Humanidade e que o advento de a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em
um mundo em que os seres humanos gozem de liberdade todas as suas formas.
da palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do II – Ninguém será subme do à tortura, nem a trata-
temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta mento ou cas go cruel, desumano ou degradante.
inspiração do homem, III – Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o
Considerando ser essencial que os direitos do homem direito de ser presumida inocente até que a sua culpa-
sejam protegidos pelo império da lei, para que o homem bilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em
não seja compelido, como úl mo recurso, à rebelião contra julgamento público no qual lhe tenham sido assegura-
a rania e a opressão (...). das todas as garan as necessárias à sua defesa.
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

IV – Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação


Preâmbulo da Cons tuição Federal de 1988 ou omissão que, no momento, não cons tuíam delito
perante o direito nacional ou internacional. Entretanto,
poderá ser imposta pena mais forte do que aquela que,
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em
no momento da prá ca, era aplicável ao ato delituoso.
Assembleia Nacional Cons tuinte para ins tuir um Estado
a) Apenas I, III e III.
Democrá co, des nado a assegurar o exercício dos direitos b) Apenas I, II e IV.
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, c) Apenas I e II.
o desenvolvimento, a igualdade e a jus ça como valores d) Apenas I e IV.
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem pre- e) I, II, III, e IV.
conceitos, fundada na harmonia social e comprome da,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica 12. (Polícia Militar/PR/Nível Superior/2009) A respeito da
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinale a
a seguinte Cons tuição da República Federa va do Brasil. alterna va incorreta.

549
a) Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, c) direito a ser respeitado perante a lei como pessoa,
em que o livre o pleno desenvolvimento de sua direito de cons tuir família ,direto a nacionalidade,
personalidade é possível. direto a eutanásia.
b) Toda pessoa, ví ma de perseguição, tem o direito de d) direto a segurança pessoal, lazer, a uma jornada de
procurar e de gozar asilo em outros países, podendo trabalho justa.
inclusive esse direito ser invocado em caso de perse-
guição legi mamente mo vada por crimes de direito 15. (FJPF/Polícia Militar/RO/Nível Médio/2005) A expressão
de comum ou por atos contrários aos propósitos e “Direitos Humanos” designa os “direitos fundamentais”,
princípios das Nações Unidas. dos quais os demais direitos são decorrência. Assim, na
c) No exercício de seus direitos e liberdades, toda pes- verdade, os Direitos Humanos não são um ramo a mais
soa estará sujeita apenas às limitações determinadas do Direito, como o Direito Penal, o Direito Comercial
pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o etc. Os Direitos Humanos são a raiz de todos os direitos.
devido reconhecimento e respeito dos direitos e As violações a estes direitos fundamentais representam
liberdades de outrem e de sa sfazer às justas exi- uma questão bastante grave. Das opções abaixo, não
gências da moral, da ordem pública e do bem-estar se configura como um abuso aos Direitos Humanos:
de uma sociedade democrá ca. a) proferir ofensa sobre a etnia, opção religiosa ou
d) Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e sexual de um cidadão.
expressão; este direito inclui a liberdade de, sem b) agredir sica e verbalmente os vizinhos.
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e c) discriminar uma pessoa por ela pertencer a um
transmi r informações e ideias por quaisquer meios gênero diferente do seu.
e independentemente de fronteiras. d) explorar o trabalho de uma criança ou um adoles-
e) Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à se- cente.
gurança pessoal. e) inviabilizar a locomoção e acessibilidade de pessoas
com deficiência sica.
A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a “Declara-
ção Universal dos Direitos do Homem” como o ideal comum 16. (FJPF/Polícia Militar/RO/Nível Médio/2005) Preencha
a ser a ngido por todos os povos e todas as nações, com o os parênteses das afirma vas abaixo com C, se for
obje vo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, corretas, e E, se for erradas.
tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através A Declaração Universal dos Direitos Humanos versa que:
do ensino e da educação, por promover o respeito a esses ( ) “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à
direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressi- segurança dependendo de sua situação social”.
vas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu ( ) “Todos são iguais perante a lei e têm, sem dis nção,
reconhecimento e a sua observância universais e efe vos, direito de igual proteção da lei”.
( ) “Todas as pessoas têm direito, em condições de
tanto entre os povos dos próprios Estados Membros, quanto
plena igualdade, de serem ouvidas publicamente
entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
e com jus ça por um tribunal”.
( ) “Toda pessoa tem deveres para com a comunidade,
13. (Polícia Militar/MG/Concurso ao CFO PM/2008) Assi- e direitos, caso ela desenvolva livre e plenamente
nale a única afirma va correta quanto à Declaração a sua personalidade”.
Universal dos Direitos Humanos:
a) todo o homem tem capacidade para gozar os direi- A ordem correta, de cima para baixo, é:
tos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração a) C, E, E, C.
desde que respeitados a dis nção da espécie, raça, b) E, C, C, E.
cor, sexo, língua, religião, opinião polí ca. c) E, C, C, C.
b) poderá ser feita dis nção fundada na condição po- d) C, C, E, E.
lí ca, jurídica ou internacional do país ou território e) C, E, C, E.
a que pertença uma pessoa, quer se trate de um
território independente, sob tutela, sem governo 17. (Polícia Militar-PR/Nível Superior/Prova Branca/2009)
próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de A respeito das três gerações dos Direitos Humanos,
soberania. assinale a alterna va correta.
c) todo o homem, ví ma de perseguição, tem o direi- a) A primeira geração compreende os direitos eco-
to de procurar e de gozar asilo em outros países. nômicos e sociais como direito à saúde, educação,
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

Este direito não pode ser invocado em casos de moradia, trabalho, lazer e os direitos trabalhistas.
perseguição legi mamente mo vada por crimes de b) A segunda geração corresponde aos direitos civis e
polí cos, as liberdades individuais, o direito à vida,
direito comum ou por atos contrários aos obje vos
segurança, igualdade de tratamento perante à lei e
e princípios das Nações Unidas.
o direito de propriedade, de ir e vir.
d) ninguém será man do em servidão salvo em caso c) As organizações não governamentais não tem função
de guerra declarada. essencial de defesa e promoção dos direitos huma-
nos, pois tal tarefa limita-se aos Estados.
14. (Polícia Militar/MG Concurso ao CFO PM/2007) Marque d) A terceira geração é a dos chamados direitos dos povos,
a única alterna va abaixo em que todos os direitos que correspondem aos direitos básicos dos povos, tais
constam na Declaração Universal dos Direitos Humanos: como o direito ao desenvolvimento, à paz, e à par ci-
a) a vida, liberdade, igualdade, férias mensais. pação no patrimônio comum da humanidade.
b) garan a de emprego digno, salário justo, proprieda- e) As três gerações de direitos são categorias que se
de, voto censitário. excluem e não se completam.

550
18. (Polícia Militar-MG/Concurso ao CFO PM/Nível Su- c) 6 pontos.
perior/2007) Dentre as alterna vas abaixo, sobre os d) 12 pontos.
direitos sociais, marque a única alterna va correta. e) 30 pontos.
a) Voto.
b) Proteção a paternidade. 22. (Cespe/DPU/Defensor Público/2010) Segundo deter-
c) Assistência aos desamparados. minação das Nações Unidas acerca do uso da força, os
d) Previdência privada. governos devem garan r que a u lização arbitrária ou
abusiva da força ou de armas de fogo pelos policiais seja
19. (Polícia Militar-MG/Concurso ao CFO PM/Nível Supe- punida como infração penal, nos termos da legislação
rior/2007) Sobre os direitos polí cos, é correto afirmar nacional.
que: ( ) Certo ( ) Errado
a) são inelegíveis os inalienáveis e os analfabetos.
b) o Presidente da República, os Governadores de 23. (Cespe/DPU/Defensor Público/2010) No que diz respei-
Estado e do Distrito Federal , os prefeitos e quem to às ví mas do abuso de poder e da criminalidade e ao
os houver sucedido, ou subs tuído no curso dos uso da força e de armas de fogo pelos Estados, julgue
mandatos poderão ser reeleitos para períodos sub-
os itens que se seguem.
sequentes.
Consideram-se ví mas de abuso de poder as pessoas
c) para concorrerem a outros cargos , o Presidente da
que, individual ou cole vamente, tenham sofrido pre-
República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respec- juízos, nomeadamente atentado à integridade sica ou
vos mandatos até seis meses antes do pleito. mental, sofrimento de ordem moral, perda material ou
d) podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, grave atentado aos seus direitos fundamentais, como
durante o período do serviço militar obrigatório, os consequência de atos ou de omissões que, embora não
conscritos. cons tuam ainda violação da legislação penal nacional,
representam violações das normas internacionalmente
A visão dos Direitos Humanos, modernamente, não se enri- reconhecidas em matéria de direitos humanos.
queceu apenas com a aproximação dos “direitos econômicos ( ) Certo ( ) Errado
e sociais” aos “direitos de liberdade”. Ampliaramse também
os horizontes. Surgiram os chamados “direitos humanos da Cespe/TJ-RR/Agente de Proteção/2012
terceira geração”, “os direitos da solidariedade”.
24. A Declaração Universal de Direitos Humanos reconhece
20. (FJPF/Polícia Militar-RO/Nível Médio/2005) Estes se- o princípio da unicidade sindical.
riam: 25. A Declaração Universal de Direitos Humanos foi adotada
a) o direito à livre inicia va, à livre manifestação da após a 2ª Guerra Mundial pela Assembleia Geral das
vontade, à liberdade de ir e vir; Nações Unidas.
b) o direito ao desenvolvimento, à paz, a um meio 26. A Declaração Universal de Direitos Humanos não dis-
ambiente sadio e ecologicamente equilibrado; põe expressamente sobre o direito ao casamento, mas
c) o direito à segurança social, à educação, o direito assegura-o indiretamente ao proteger a família.
das minorias; 27. A Declaração Universal de Direitos Humanos garante
d) o direito ao livre-cambismo, à liberdade polí ca, o expressamente a gratuidade da educação fundamental.
direito de liberdade de pensamento e expressão; 28. A Declaração Universal de Direitos Humanos reconhe-
e) o direito à segurança social, à saúde mental e sica, ce expressamente que todos têm deveres para com a
o direito de par cipar da vida cultural e do progresso comunidade de que par cipam.
cien fico.
29. (Cespe-RJ/Seap-RJ/Inspetor de Segurança/2012) No
21. (FJPF/Polícia Militar-RO/Nível Médio/2005) Sobre os que concerne à liberdade das pessoas, a Declaração
Direitos Civis e Polí cos afirma-se: Universal dos Direitos Humanos, de 1948, repudia a(o):
I – São formas de manifestação da vontade popular,
a) Escravidão.
previstas no Cons tuição de 1988, o referendo, o ple-
b) Serviçal.
biscito e a pesquisa de opinião pública por ins tutos
c) Empregado.
previamente credenciados. (2 pontos)
d) Autônomo.
II – O voto para maiores de 16 anos e menores de 18
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

anos é faculta vo. (4 pontos) trabalhador.


III – É livre a criação, fusão, incorporação e ex nção de
par dos polí cos, resguardados a soberania nacional, 30. (MPT/Procurador/2012) Leia e analise os itens a seguir:
o regime democrá co, o pluripar darismo, os direitos I – A internacionalização dos direitos humanos ini-
fundamentais da pessoa humana. (8 pontos) ciou-se na segunda metade do século XIX, no processo
IV – Para concorrerem a outros cargos ele vos, o Pre- de luta contra a escravidão e na regulação dos direitos
sidente da República, os Governadores de Estado e do do trabalhador assalariado, especialmente a par r
Distrito Federal e os Prefeitos não necessitam renun- da criação da Organização Internacional do Trabalho,
ciar aos respec vos mandatos até seis meses antes do em 1919.
pleito. (16 pontos) II – Embora seja amplamente difundida na doutrina
jurídica, a concepção de gerações de direitos humanos
A soma das afirma vas corretas corresponde a: remete à noção de superação no decurso do tempo,
a) 2 pontos. quando, na verdade, os direitos humanos de todas as
b) 4 pontos. gerações coexistem simultaneamente na atualidade,

551
considerando os princípios da interdependência, inter- I – A Declaração compreende um conjunto de direitos
relacionamento e indivisibilidade. Os direitos humanos e faculdades sem as quais um ser humano não pode de-
sofrem processo de expansão, acumulação e fortaleci- senvolver sua personalidade sica, moral e intelectual.
mento, não de superação em gerações. II – Sendo universal, é aplicável a todas as pessoas de
III – A Declaração Universal dos Direitos Humanos de todos os países, raças, religiões e sexos, condicionada
1948, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, à aplicação ao regime polí co dos territórios nos quais
acentua a tendência à universalização dos direitos incide.
humanos. Seu cerne está no direito à vida digna e ela III – Consolida a afirmação de uma é ca universal,
não se limitou a declarar direitos civis, mas também ao consagrar um consenso sobre valores de cunho
direitos econômicos e sociais. universal a serem seguidos pelos Estados.
IV – A Convenção Americana de Direitos Humanos
aprovada pela Organização dos Estados Americanos Marque a opção correta.
e assinada em 1969, ins tuiu a da Corte Interameri- a) Somente as asser vas I e II estão corretas.
cana de Direitos Humanos, cujas decisões podem ser b) Somente as asser vas II e III estão corretas.
coerci vamente impostas, após o esgotamento das c) Somente as asser vas I e III estão corretas.
instâncias recursais. d) Somente a asser va I está correta.

Marque a alterna va correta: 34. (Fepese/DPE-SC/Técnico Administra vo/2013) Assinale


a) apenas as asser vas I e IV estão corretas. a alterna va correta em relação à Declaração Universal
b) apenas as asser vas II e III estão corretas. dos Direitos Humanos.
c) apenas a asser va IV está correta. a) A Declaração afirma que toda pessoa tem direito a
d) todas as asser vas estão corretas. repouso e lazer.
b) O texto da Declaração garante o sigilo de correspon-
A respeito da Declaração Universal de Direitos Humanos dência, porém assegura a sua violação para casos em
(DUDH), julgue o item que se segue. que a segurança exigir.
c) A Declaração contempla que instrução será gratuita
31. (Cespe/PC-CE/Inspetor/2012) Toda pessoa ví ma de
apenas para o nível fundamental.
perseguição tem o direito de procurar e de gozar asilo
d) A unicidade de base sindical é tratada na Declaração.
em outros países, mesmo em caso de perseguição
e) Assegura o direito ao apátrida de escolher a nacio-
legi mamente mo vada por crime de direito comum
nalidade cujos laços forem maiores.
ou por ato contrário aos propósitos e princípios das
Nações Unidas.
35. (Fepese/DPE-SC/Técnico Administra vo/2013) Assinale
a alterna va incorreta em relação à Declaração Univer-
32. (Funiversa/Sejus-DF/Especialista em Assistência So-
sal dos Direitos Humanos.
cial/2010) Acerca da Declaração Universal dos Direitos
a) Os direitos nela con dos são inalienáveis.
Humanos, assinale a alterna va correta. b) Os preceitos descritos serão desenvolvidos em co-
a) A Declaração é documento fortemente inspirado operação com as Nações Unidas.
pela doutrina religiosa da Igreja Católica e baseia-se c) A liberdade e a jus ça são fundamentos expressos
na crença em um deus único e no amor ao próximo. da Declaração.
b) A Declaração pressupõe as diferenças culturais d) A proteção pelo Estado de Direito é princípio implí-
entre os povos, mas adota determinados princípios cito.
e regras com caráter absoluto e pretensão de uni- e) A Declaração busca expressamente o desenvolvi-
versalidade, como a proscrição da escravidão e da mento de relações amistosas entre as nações.
tortura e a igualdade de todos perante a lei.
c) A fim de garan r o direito à imagem e a privacidade
GABARITO
dos cidadãos, a Declaração estabelece que, no caso
de alguém ser processado criminalmente, deverá ser
1. e 19. c
julgado pelo órgão competente em processo sigiloso;
2. b 20. b
o sigilo somente deverá ser levantado na hipótese
3. C 21. d
de condenação transitada em julgado. 4. E 22. C
d) Pelo fato de reconhecer o direito à liberdade de loco-
LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

5. E 23. C
moção e a relevância do intercâmbio cultural entre 6. C 24. E
os povos, a Declaração propugna a possibilidade de 7. C 25. C
livre entrada e saída dos indivíduos em qualquer 8. E 26. E
país, em tempo de paz. 9. E 27. C
e) Devido à inspiração de natureza socialista vigente na 10. C 28. C
época de sua aprovação, a Declaração não menciona 11. Anulada 29. a
de forma expressa o direito à propriedade privada. 12. b 30. b
13. c 31. E
33. (Fumarc/PC-MG/Escrivão de Polícia Civil/2011) A De- 14. d 32. b
claração Universal dos Direitos Humanos, adotada em 15. b 33. C
10 de dezembro de 1948, obje va delinear uma ordem 16. c 34. a
17. d 35. d
pública mundial fundada no respeito à dignidade da
18. c
pes- soa humana. Leia e analise as asser vas abaixo:

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