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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS

INSITITUO DE FILOSOSFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA CONTEPORÂNEA I (HUM03393)

SANDRO MARQUES DOS SANTOS

ENTRE A REVOLUÇÃO E A CONTRARREVOLUÇÃO: O DUPLO CARÁTER DO


LIBERALISMO

Porto Alegre
2016
ENTRE A REVOLUÇÃO E A CONTRARREVOLUÇÃO: O DUPLO
CARÁTER DO LIBERALISMO

1. INTRODUÇÃO

O objetivo desse trabalho é produzir uma discussão em torno de um dos grandes


fatos do século XIX, o liberalismo. Mais especificamente pretendo discutir um elemento
muito interessante do liberalismo que o marca enquanto movimento político: o seu duplo
caráter como movimento que desempenhou um papel revolucionário, ao mesmo tempo
em que possuiu um papel conservador dentro das revoluções que abalaram os alicerces
do Antigo Regime no século XVIII e XIX. Nesse sentido, irei discutir o papel que o
liberalismo despenhou enquanto movimento revolucionário, analisando os limites de suas
ideias e o confronto que isso irá provocar com outros grupos de contestação ao Antigo
Regime, que buscaram ir além do programa liberal em favor de ideias de democracia
integral e igualdade. Escolhi esse tema porque possuo grande interesse nos movimentos
e ideias políticas do século XIX e optei por um trabalho em torno do liberalismo para
escapar um pouco da minha zona de conforto, o socialismo, cuja história e literatura tenho
maior conhecimento.

2.

O liberalismo surge como uma filosofia política que produz uma análise crítica da
sociedade de Antigo Regime, aristocrática e absolutista. É nesse ambiente de privação de
liberdades que ele se tornou um movimento subversivo que rejeita as autoridades e
condena as instituições de sua época. No centro de suas ideias, está uma filosofia social
individualista que demonstra forte ceticismo ao Estado, ao poder e aos grupos
organizados; em resumo, à coletividade em geral, pois ela vê neles uma potencial ameaça
sufocadora do indivíduo e de seus direitos. Nesse sentido, o liberalismo formou um
poderoso movimento de contestação e luta em favor da expansão de liberdades políticas
e sociais no século XVIII e XIX.
Por conseguinte, o liberalismo oferecia um programa baseado em valores e ideias
que buscavam solucionar a questão política, " entendida essencialmente como o problema
das relações entre o indivíduo e o Estado." (). A solução da questão política perpassava
pelo embate direto com as estruturas de poder do Antigo Regime, notadamente o
absolutismo monárquico, o alto clero e os privilégios da classe aristocrática. Se
levantando contra essas estruturas de poder, o liberalismo "inspira então as revoluções,
levanta barricadas, enquanto milhares de homens se deixam matar pela ideia liberal";
demonstrando assim que o liberalismo era um movimento de cunho revolucionário. Isso
fica ainda mais evidenciado quando destacamos o seu aspecto internacionalista, herdado
do cosmopolitismo do iluminismo, mas que, ao contrário desse, saí do ambiente restritivo
dos salões e das altas classes, alcançando as camadas populares de diferentes países. Desta
forma, mesmo não existindo a criação de grupos supranacionais como as Internacionais
de trabalhadores fundadas pelos socialistas, esse internacionalismo permite a exportação
de ideias e a unificação da luta revolucionária na Europa se não em termos de organização
central, ela as unifica em termos simbólicos pelo compartilhamento de ideias e pela
solidariedade entre os movimentos. Deste modo, quando analisamos as ideias e ações do
liberalismo somos apresentados a um movimento com um caráter claramente
revolucionário. Entretanto, até que ponto vão as reivindicações do liberalismo? Quais são
os limites da filosofia política do liberalismo?
O liberalismo representava uma força subversiva dentro do quadro do Antigo
Regime, que conseguiu inspirar o levante das massas em rebelião contra a ordem
estabelecida, porém, passado o levante, o liberalismo revelava um outro aspecto de suas
ideias. De crítico das instituições, ele se tornava seu defensor, de propagador da
sublevação, ele se tornava conservador. O que levava o liberalismo a apresentar esse
duplo caráter aparentemente contraditório? Como já dito anteriormente, o liberalismo
mostrava uma forte preocupação com o poder sufocador das intuições e dos grupos contra
o indivíduo e entre esses grupos se incluíam as próprias camadas populares. Por isso a
proposta de revolução dos liberais era limitada, pois apesar de defenderem o fim do
absolutismo, não desejavam que a revolução criasse em seu lugar aquilo que eles
consideravam uma ditadura da maioria. O indivíduo que os liberais procuravam proteger
era um indivíduo particular, o burguês, o liberalismo era afinal um pensamento nascido
dentro da classe burguesa e respondia também aos seus interesses, os quais não eram
sempre os mesmos das camadas populares. Sendo assim, se por um lado o liberalismo
conseguia despertar a população para a revolta, ele temia perder o controle sobre o
processo revolucionário. Afinal, a população podia ser atraída pelos slogans e pela
propaganda liberal, mas, diante da edificação de uma nova sociedade, ela possuía seus
próprios interesses. Enquanto os liberais, contrários ao absolutismo, aceitavam a
monarquia constitucional, o povo pedia a república; enquanto os liberais defendiam o
voto, mas censitário, o povo pedia pelo sufrágio universal masculino. Isto posto, enquanto
o liberalismo enfrentava o Antigo Regime e as forças da contrarrevolução, o seu caráter
revolucionário se destacava, mas alcançado seus objetivos, findado o absolutismo e criada
as instituições liberais, ele se tornava conservador, ele desconfiava e mesmo temia que o
clamor popular levasse a revolução longe demais e, portanto, se recusava a avançar mais
nas mudanças. É por essa rejeição ao Antigo Regime e ao aumento do impulso
revolucionário das massas que ele advogava por um "justo meio" entre a velha e a nova
ordem. Justo meio era justamente o apelido da Monarquia de Julho que prometia evitar o
conservadorismo de Carlos X e o radicalismo da esquerda.
Buscando superar esses limites impostos pela ideia liberal, a ideia democrática
surgia entre as camadas populares para responder suas exigências. Ela não negava as
conquistas do liberalismo, pelo contrário, ela as reafirmava, mas buscava lhe dar maiores
amplitudes. Ela louvava o direito ao voto, mas não aceitava a restrição provocada pelo
censo. Não há democracia sem sufrágio universal é o lema dos democratas. Essas
exigências eram condenadas pelo centro pensante das ideias liberais formadas por
membros das classes altas, que viam os direitos políticos ligados a posse de propriedade.
Podemos perceber isso nessa citação de Benjamin Constant, um dos mais proeminentes
liberais de seu tempo:

"I do not wish to wrong the working class. It is no less patriotic than
other classes. It is often ready for the most heroic sacrifices, and its
devotion is all the more admirable in that it is neither rewarded
financially nor with honor. As I see it, however, the patriotism which
gives one the courage to die for one’s country is one thing, while that
which makes one capable of understanding one’s interests is another.
Therefore a condition beyond having been born in the country and the
prescribed age is required, namely the leisure needed for developing an
informed outlook and soundness of judgment. Only property secures
this leisure. Only property can render men capable of exercising
political rights. Only owners can be citizens." (166)

Aos olhos de liberais como Benjamin Constant, o sufrágio universal estabeleceria a


tirania da maioria sobre a minoria, atentando contra o triunfo do indivíduo. Os liberais
não poderiam escolher entre o despotismo e essa tirania. Da mesma forma, eles não
poderiam aceitar a sociedade de privilégios aristocráticos do Antigo Regime ou o ideário
igualitário que os democratas preconizavam. Desta forma, o liberalismo possuía uma
“dupla preocupação essencial: o indivíduo deve ser protegido, ao mesmo tempo, contra o
Estado e contra as massas; por conseguinte, é preciso encontrar os mecanismos
institucionais destinados a impedir esse duplo perigo." (). Esse era o justo meio que os
liberais defendiam, nem a sociedade de Antigo Regime e nem a sociedade que os
democratas queriam. Se torna claro assim como o liberalismo não conseguia ir além de
certas limitações geradas por sua origem dentro das elites. É claro que não podemos cair
em um simplismo e analisar o liberalismo como "a defesa pura e simples de interesses",
pois se fosse assim "ele não teria suscitado adesões desinteressadas, que foram até o
sacrifício supremo." () Mas esses interesses evidentemente existiam e explicam em muito
os limites do liberalismo. Um outro exemplo que poderíamos trazer aqui é o da formação
dos Estados Unidos, que nasceu influenciado por ideias iluministas e liberais, tornando-
se depois uma fonte de inspiração para revolucionários europeus. Contudo, a exemplo
dos liberais da Europa, as lideranças da Revolução Americana também demonstravam
ceticismo em uma expansão indiscriminada de direitos políticos. Poderia aqui falar do
fato que uma parcela grande da população americana não tinha nem sequer o direito ao
próprio corpo, mas, mesmo quando analisamos os direitos da parcela branca da
população, percebemos as restrições ao voto. A recém-formada república não apenas
adotou inicialmente o voto censitário, como mesmo após o fim dessa restrição para
homens brancos durante os períodos de democracia Jeffersoniana e da democracia
Jacksoniana nos anos finais do século XVIII, o voto poucos anos depois ainda sofria a
restrição do sistema de colégio eleitoral, que estabelecia que os eleitores deveriam
escolher delegados e estes então deveriam eleger o presidente e o vice-presidente. Tendo
em vista que não existe exigência de compromisso dos delegados ao presidente que eles
foram eleitos para votar, esse sistema criava um mecanismo onde o establishment tem
uma barreira contra possíveis candidatos que firam de alguma forma sua hegemonia.
Assim sendo, mesmo que do ponto de vista "dos governos absolutistas todos estes
movimentos eram igualmente subvertedores da estabilidade e da boa ordem" (185),
haverá uma divisão marcante entre o ideário liberal e democrático. Para o primeiro, seu
modelo político ideal corresponde à fase primeira fase mais moderada da Revolução
Francesa que implementou a Constituição de 1791 com um sistema de monarquia
constitucional com um sistema parlamentar de qualificação por propriedade. Para o
segundo, sua inspiração provém da fase jacobina da Revolução com uma república
democrática e com uma inclinação para o "estado de bem estar social". Temos assim a
contraposição entre um modelo oligárquico e outro que demonstra forte animosidades às
elites; dois sistemas que compartilham apenas um desejo de oferecer algo novo em
substituição ao antigo sistema e a forte aversão dos ultraconservadores. E é dessa forma
que os liberais se vêm na situação de travar uma batalha em duas frentes contra a ameaça
da restauração e da democracia, sempre buscando um meio termo entre os dois como
solução; um grande exemplo disso vinha da Grã-Bretanha que adotava o ideal sistema
liberal de monarquia constitucional e não mostrava simpatia ao absolutismo, mas temia
muito o crescimento de ideias radicais de democracia e jacobinismo. E, diante dessa dupla
ameaça, os liberais passarão então a ficar divididos entre aqueles que consideravam
possível enfrentar a dupla ameaça de despotismo pelo Estado e pela democracia de
massas. Benjamin Constant entra nessa lista de liberais que acreditavam que as
instituições eram capazes de impedir o despotismo. Por outro lado, há pensadores como
Alexis de Tocqueville que encaravam com pessimismo essa situação e viam como
inelutável o combate à democracia, por isso buscavam maneiras não de impedir seu
surgimento, mas de atenuar os males que ela causa ao indivíduo e suas liberdades.

4. Considerações finais

Os conturbados séculos XVIII e XIX testemunharam o surgimento de movimentos


e revoluções que abalaram os alicerces da antiga sociedade aristocrática e feudal. Entre
esses movimentos, o liberalismo se destacou por seu pioneirismo e protagonismo.
Nascido dentro da burguesia, mas com amplo alcance popular ele ofereceu uma
perspectiva de crítica ao sistema de Antiga Regime e assim ele foi encarado pelo "partido"
da contrarrevolução como um movimento revolucionário e subversivo. Entretanto, apesar
de seu papel revolucionário, o liberalismo é um movimento com um duplo caráter:
revolucionário em um momento, conservador em outro. Se por um lado ele era
protagonista de revoluções, ele também era protagonista de combate a revoluções, quando
essas iam longe demais dos objetivos e aspirações dos ideais liberais. Nesse sentido, o
caráter revolucionário do liberalismo repousa em sua ação combativa contra a sociedade
de Antigo Regime, contra o sistema de privilégios aristocráticos e feudais; seu caráter
conservador surgia quando ele se encontrava diante da perda de controle dos rumos da
revolução e das camadas populares. No momento em que ele se deparava com exigências
de grupos que iam além do programa liberal, que eram mais revolucionários que ele, o
liberalismo de movimento crítico das intuições se tornava seu protetor. Essa característica
do movimento liberal pode ser explicada pela sua origem dentro da classe burguesa; desta
forma, se a burguesia deseja uma expansão de direitos como o voto, ela não desejava o
sufrágio universal masculino, o qual ela encarava como pernicioso. É claro que não
devemos fazer uma análise simplista e tomar isso como uma comprovação que o
liberalismo servia apenas aos interesses de uma classe, que não havia um genuíno desejo
de mudar a sociedade para melhor. Esse desejo existia, o sacrifico que muitos fizeram por
essas ideias comprova isso, porém esses interesses existiam. É dessa convivência entre
interesses e desejos que nasce o duplo caráter desse movimento que foi um dos grandes
fatos do século XIX, o século das revoluções.
Referências bibliográficas

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