1 INTRODUÇÃO
A idéia de que o Processo deve corresponder “à soma de atos que objetiva
solucionar litígios, efetivar direito ou acautelar outro processo”, ou mesmo como “o
método utilizado pelo Estado para desempenhar a função jurisdicional”, de há muito vem
sendo reelaborada pela visão pós-moderna da doutrina, em especial aquela definida pelo
modelo constitucional do processo objeto de estudos e construções teóricas desenvolvidas
por Andolina, Vignera, Baracho, Rosemiro Pereira Peal e Sérgio Luiz de Souza Araújo),
fundamentada segundo o enquadramento normativo do devido processo legal e seus
consectários: contraditório, ampla defesa, direito ao advogado, isonomia, acesso
incondicionado e gratuito à jurisdição, fundamentação e revisibilidade das decisões,
duração razoável e celeridade da tramitação.
1
Artigo resultante das pesquisas e investigações a partir do Projeto FIP 1.593/2007, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, por sua Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-Graduação.
Agradecimentos, assim, à PUC Minas pelo financiamento da bolsa de pesquisa à graduanda, sem qual,
certamente, os esforços de investigação ficariam muito aquém do esperado.
2
Doutor e Mestre em Direito e em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade Mineira de Direito da PUC Minas.
Advogado. Redator do presente ensaio.
1
Por outro lado, já não se pode pensar no procedimento como “o modo de o
processo se formar e se desenvolver” mas no iter estrutural resultante do complexo
normativo previamente definido, a ser percorrido pelos litigantes e juiz ao longo da
trajetória, do itinerário processual, porém realizado em contraditório, no qual as partes
encontram-se em posição de simétrica paridade, rumo ao provimento de mérito nos termos
da teoria fazzalariana do processo.
3
Aluna do 7º. Período do Curso de Direito da PUC Minas, Unidade Contagem. Auxiliar direta na coleta da
bibliografia e demais materiais necessários para o bom desenvolvimento da pesquisa.
2
muito tempo de forma quase soberana, até que começou a despontar, dentro da doutrina,
uma outra proposta pela qual era possível se considerar as relações entre procedimento e
processo.
A doutrina tradicional sempre conferiu um caráter teleológico ao processo,
prossegue ARAÚJO (1999:126), procurando demonstrar que o seu escopo seria ou de atuar
o direito material ou pacificar com justiça. O procedimento seria apenas a forma e o modo
como eram realizados os atos processuais. Trata-se de um problema fundamental e que
nunca foi suficientemente explicado. Ora, se o processo tem caráter teleológico, o
procedimento também o terá. É que, no dizer de GONÇALVES (1992:65-66), “se o
procedimento se constitui em meio necessário para a existência, ou o desenvolvimento, ou
a ordenação, do processo, tem então, o caráter teleológico que toda técnica intrinsecamente
comporta, como meio idôneo para atingir finalidades. Mesmo considerado como série de
atos do processo, o procedimento estaria impregnado de sentido teleológico, porque sua
finalidade, já explícita em sua funcionalidade, não poderia ser negada”.
4
Este capítulo foi desenvolvido tomando como base, prioritariamente, a obra de ARAÚJO, Sério Luiz Souza.
Teoria Geral do Processo Penal. Belo Horizonte: Mandamentos, 1999, nomeadamente o capítulo “X”, que
discorre sobre a “natureza jurídica do processo”, páginas 123-134.
3
final são opostos. Fica evidente que essa concepção trabalha com um novo conceito de
procedimento e dele extrai um novo conceito de processo”.
4
2.4. O PROCESSO COMO ESPÉCIE DO GÊNERO PROCEDIMENTO
5
enfim, aos atos da chamada “jurisdição voluntária”. Mas se ocorrer divergência de
interesses sobre o provimento, entre seus destinatários, o procedimento pode transformar
em processo”. (GONÇALVES 1992:112).
Existem ações que dão origem a processos cuja tramitação se submeterá à forma
ordinária, sumária ou especial, entendendo-se aquela como uma seqüência normativa
previamente estruturada. A par do previsto na parte geral do código (processo de
conhecimento, cautelar e de execução), o Código de Processo Civil brasileiro dá
tratamento específico a certos procedimentos - ditos especiais -, nos quais “avulta o
elevado grau de influência do direito material, contendo o próprio Código de Processo
normas heterotópicas, de puro direito civil ou comercial.... sendo difícil o intérprete
identificar quais as normas processuais e quais as normas de direito material”, como
lembrado por Vicente Greco (1997:200).
De toda forma, prossegue Greco, quando do exame do procedimento especial deve-
se fazê-lo “à luz das regras gerais do processo de conhecimento, daí serem, num primeiro
momento, aplicáveis aos procedimentos especiais os princípios do processo e do
procedimento da teoria geral”, em tudo que for permitido, isto é, a teoria geral só será
aplicada se não houver norma especial a regrar o procedimento especial, ou, em outras
palavras, não se aplicando ao litígio o procedimento sumário nem o procedimento especial,
vigora o ordinário (art. 274), dentro do princípio de que norma especial derroga a geral
(GRECO 1997:202).
Este livro IV do CPC está dividido em dois títulos. O primeiro está dedicado aos
procedimentos de jurisdição contenciosa, “que são aqueles em que realmente se
desenvolve função jurisdicional, ou seja, atividade estatal em busca de solução jurídica a
ser imposta soberanamente na solução de situações litigiosas” (THEODORO JÚNIOR
1996:3)). O segundo título refere-se à jurisdição voluntária que, para alguns, nem mesmo é
jurisdição no sentido técnico. Segundo essa linha doutrinária, através dela o que se dá é
atividade administrativa desempenhada excepcionalmente pelos órgãos jurisdicionais.
Assim, substancialmente é atividade administrativa e apenas subjetivamente é judicial.
Contudo, a jurisdição não comporta divisões. Por isto, a partir da teoria fazzalariana
do processo, pode-se chegar mesmo a afirmar acerca natureza e o caráter jurisdicional da
6
jurisdição voluntária, exercida por quem dela regularmente investido, o que afasta a idéia
de administração pública de direito privado, já que os particulares não têm aquele poder,
exercido por uma parcela do Estado.
Procedimentos especiais contenciosos são aqueles que se acham submetidos a
trâmites específicos e que se revelam total ou parcialmente distintos do procedimento
ordinário e do sumário. No dizer de José Alberto dos Reis, “é a fisionomia especial do
direito que postula a forma especial do processo” (GRECO 1997:200).
5
Resumo, com algumas observações, do capítulo XII, da obra de DINAMARCO, Cândido Rangel.
Fundamentos do processo civil moderno. 3a. ed. Volume I, São Paulo: Malheiros, 2000, p. 377-398.
7
doutrinários, os quais, no presente estudo, serão objeto de algumas reformulações, a fim de
se adequar aos novos ventos doutrinários.
8
interesses a serem considerados, mas o faz segundo as formas e os diversos modos
definidos pelo Processo e que formata o atuar do órgão jurisdicional, onde o Estado atua no
intuito de aplicar a lei quando esta visa proteger os interesses de uma determinada pessoa
ou agregado de pessoas (família, naquele processo).
Trata-se de uma reflexão sobre a possível unidade básica da “jurisdição
contenciosa” e “voluntária”, considerando-a esta função com a obrigatoriedade de seguir
os diversos modos de exercício procedimentais. A idéia está apoiada na premissa de que
tanto na “jurisdição voluntária” quanto na “contenciosa” o Estado-juiz tem diante de si
pessoas que estão a debater, pelo PROCESSO CONSTITUCIONAL, situações que exigem
pacificação de conflito, mesmo que, no aspecto puramente técnico-processual, o conflito
não esteja formalmente deduzido perante o órgão estatal, nem seja o caso de se adotar
provimentos que alcancem a esfera de direitos de uma pessoa em benefício da outra.
Aliás, para Dinamarco, o Código de Processo Civil afirma vigorosamente a
unidade da jurisdição e a inclusão da “jurisdição voluntária” nessa categoria, segundo o
contido no art. 1.º.
Ao demais disto, a teoria fazzalariana do processo chega mesmo a afirmar a
natureza e o caráter jurisdicional da “jurisdição voluntária”, exercida por quem dela
regularmente investido, o que afasta a idéia de administração pública de direito privado,
até porque os particulares estão autorizados a exercitar o direito de ação perante uma
parcela do Estado.
De resto, para se afastar de vez a dicotomia , é bem de ver que os procedimentos de
“jurisdição voluntária” regem-se por disposições próprias quando as houver ou, na
ausência de normas específicas, pelas disposições ditadas diretamente para o processo em
geral ou para o procedimento ordinário (regras de competência, imparcialidade,
capacidade, ou seja, as disposições que constam dos arts. 86 ss. do CPC têm caráter
genérico e aplicam-se a todas às espécies de procedimento e valem tanto para o
contencioso como para o voluntário).
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Destarte o procedimento de “jurisdição voluntária” inteiro não corre nas férias,
apenas os atos cujo adiantamento possa trazer prejuízo à parte (vale dizer, apenas os atos
desses processos, necessários à conservação de direitos é que correm nas férias, na
interpretação do STF relativamente à redação do art. 174, I, do CPC).
Diz a doutrina clássica não existir partes, na “jurisdição voluntária”, por sequer
haver processo. Ora, a nova tendência doutrinária – Elio Fazzalari à frente – aponta a
existência de uma teoria geral do processo que vali além dos limites do processo
“jurisdicional” (procedimento administrativo, legislativo, etc.). No fundo, teoria geral do
processo é teoria geral do exercício das atividades das partes e do estado-juiz, como
formas preestabelecidas, segundo o procedimento adotado (se jurisdicional, há processo,
presente o contraditório).
Logo, se há processo a própria idéia do contraditório excluiria falar-se em
“interessados” mas, sim der partes. Para Dinamarco, na “jurisdição voluntária” veríamos,
“tanto quanto nos processos de jurisdição contenciosa, um juiz exercendo o poder; e vemos
também as pessoas que participam daquela atividade e sujeitas a deveres, poderes,
faculdades e ônus perante o juiz. Este deve respeitar a posição das partes, exercendo o
poder estatal dentro dos limites traçados pela lei” (DINAMARCO 2000).
Ou seja, há processo (procedimento realizado em contraditório), na jurisdição
voluntária, e não apenas uma “medida administrativa”.
E, neste contexto, não há falar-se que na “jurisdição contenciosa” que em regra não
há provas determinadas de ofício, enquanto que na “voluntária” qualquer prova poderia ser
determinada de ofício. Primeiro, porque o procedimento básico (na chamada “jurisdição
voluntária”) conta muito pouco regramento nos arts. 1103-111 do CPC e, além disso, à
falta de norma específica e sempre que não ocorrer incompatibilidade alguma, há de
prevalecer em alguma medida o procedimento ordinário, até por disposição expressa da
lei (art. 271).
No que concerne aos prazos há disposição específica disciplinando o prazo para
responder nos procedimentos de “jurisdição voluntária”, que é de dez dias, conforme o art.
1106, a qual por ser especial derroga a geral, de 15 dias, segundo o contido no art. 297, do
Código de Processo Civil brasileiro.
Quanto aos recursos, no procedimento de “jurisdição voluntária”, há apelação da
sentença como previsto no art. 1110, que é repetição do art. 513, e das decisões
interlocutórias caberá agravo.
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4.4. Coisa julgada e revelia. “Jurisdição de equidade”
Por último, segundo os termos do art. 1.111, a sentença poderá ser modificada, sem
prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes, o que para
alguns, seria a negação da autoridade da coisa julgada, a qual incidiria sobre sentença de
mérito e esta só existiria, no conceito carnelutiano, quando houver lide no sentido de
conflito de interesses, lide esta inexistente na “jurisdição voluntária”.
Não haveria coisa julgada “material”, mas apenas “formal”, na jurisdição
voluntária.
Por este raciocínio, destas decisões da “jurisdição voluntária” não haveria a
possibilidade, tampouco necessidade, de se intentar a ação rescisória, porque nestes feitos
os pronunciamentos judiciais são suscetíveis de serem desfeitos, segundo a conveniência e
oportunidade. Assim, “se os fatos posteriores justificarem a alteração do que ficou decidido
ou se, ap[os a prolação da sentença, verificar-se a ocorrência de alguns dos motivos que em
tese autorizariam a rescisória, pode o juiz modificar a sentença (art. 1.111)”.6
Na realidade, em face da previsão do Código de Processo Civil Brasileiro da
chamada “jurisdição de equidade” as decisões daí advindas poderiam ser refeitas, como
maiores possibilidades de revisão do que aconteceria se se tratasse de critério de legalidade
estrita (a revisão, nesta hipótese, possível apenas pela via recursal ou rescisória). Em
conformidade com o contido no inciso II, do artigo 5º., da Constituição Brasileira, contudo,
iniludível que, nesta parte, o CPC brasileiro não foi recepcionado, deitando por terra, por
incompatibilidade com a Constituição, o conceito de “jurisdição de equidade”.
6
NUNES, Elpídio Donizetti. Curso didático de direito processual civil. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p.
563.
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5.1. DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - CPC ARTIGOS 890 A 900
Ligada ao pagamento por consignação (uma das formas de extinção das obrigações)
quando há mora do credor (mora accipiendi), e prevista no Código Civil, artigos 334 a
345, consignar em pagamento é pagar forçadamente, através da autoridade jurisdicional. O
objetivo da consignação em pagamento é a liberação do devedor, com a respectiva
extinção da obrigação (diz-se que o devedor tem o direito de desobrigar-se)
Pode ter por objeto coisa certa, incerta ou quantia em dinheiro e será sempre
possível quando alguém necessitar pagar, entregar ou devolver coisa (art. 893, CPC)
Definição: uma vez que o vínculo obrigacional não pode perdurar eternamente, cuida a lei
de instituir uma alternativa liberatória para o sujeito passivo, sempre que se torne inviável
o acordo liberatório entre as partes. Esse caminho é a consignação, que tem por finalidade
efetivar o pagamento e, por conseqüência, a liberação do consignante. Para Theodoro
Júnior, na realidade trata-se de “uma modalidade de pagamento, ou seja, o pagamento feito
em juízo, independentemente da anuência do credor, mediante depósito da res debita”
(THEODORO JUNIOR 1996:14).
Trata-se de ação predominantemente declarativa, por que o ato de depósito, objeto
do julgamento final, é da parte e não do juízo. A sentença se limita a reconhecer a eficácia
liberatória do depósito promovido pelo devedor. O que extingue, portanto, a dívida, não é
a sentença, mas o depósito do devedor. A sentença proclama apenas essa extinção.
Esse sucedâneo de pagamento - a consignação - consiste no depósito judicial da
quantia ou da coisa devida e é utilizado pelo devedor quando (art. 335 CCivil):
a) o credor se recusa injustificadamente a receber a prestação
b) o devedor não consegue efetuar validamente o pagamento voluntário por
desconhecimento ou incerteza quer em torno de quem seja o credor, quer em razão de
sua ausência ou não-localização ao tempo do cumprimento da obrigação
c) demais casos previstos no artigo 335, do Código Civil; no antigo Código Comercial (art.
437), no Código Tributário Nacional (art. 164) e na Lei de Locações (artigo 67,
L.8245/91)
A ação de consignação em pagamento tem como fundamento mora do credor e é
requerida no lugar do pagamento. Para que se faça a consignação, a dívida tem de ser certa
(quanto não há controvérsia quanto à sua existência), líquida (o objeto da dívida é
determinado, conhecido) e exigível (isto é, vencida).
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A consignação é facultativa mas é obrigatória nos casos de dúvida a quem se deva
pagar (art. 895, CPC). São pressupostos da consignação a) a mora do credor (mora
accipiendi) ou b) o risco de pagamento ineficaz.
A consignação pode ser:
a) extra judicial (art. 890, parág. 1.º), evitando-se o processo, em que o devedor ou 3.º
interessado opta por efetuar o depósito da quantia em estabelecimento bancário oficial,
situado no lugar do pagamento, em conta de correção monetária, certificando-se o credor
por carta com aviso de recepção, e uma vez decorrido o prazo de 10 dias para manifestação
da recusa o devedor ficará liberado da obrigação ou, em caso de recusa por escrito do
credor ao estabelecimento bancário (nesta hipótese ficará sem efeito o depósito bancário),
deverá o devedor/interessado, então, propor a
b) consignação judicial que é a própria ação se houve depósito extra-judicial mas não foi
recebido pelo credor (prazo de 30 dias (que não é de decadência ou preclusão), hipótese
que o autor deve apontar na inicial a existência do depósito) ou depósito em juízo.
Possível a cumulação do pedido consignatório com outros pedidos diferentes, no
mesmo processo, observando-se, porém, o procedimento ordinário. Caso de ação
consignatória principal e ação consignatória incidente, especialmente nos casos
lembrados por Theodoro Júnior “na generalidade das prestações líquidas ou incertas, é
sempre cabível a cumulação sucessiva de apuração e declaração do quantum debeatur com
o pedido conseqüente de autorização para depósito liberatório a posteriori.. em que o autor
desde logo deposite em juízo o valor em que provisoriamente estima de sua dívida”
(THEODORO JUNIOR 1996:23).
Possível o denominado Depósito consignatório (incidente) comum na hipótese em
que se discute a constitucionalidade de imposto (ver art. 164 do Código Tributário
Nacional).
A Ação de depósito pode ter a seguinte definição: há depósito sempre que alguém
recebe de outrem alguma coisa para guardar com a obrigação de restituir e tem como
objeto uma coisa corpórea, móvel na maioria das vezes. Traço distintivo do depósito é a
guarda da coisa, como finalidade principal, quando não exclusiva e sempre no interesse do
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depositante. Só há depósito se a guarda da coisa é o elemento preponderante e mais
característico da relação jurídica, quanto não o único (essência do contrato).
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5.3 AÇÕES DE PRESTAÇÃO DE CONTAS (CPC 914/919)
“Existe lide quando há conflito de interesses, qualificado por pretensão resistida”,
na lição carnelutiana. Por isto, em havendo uma relação jurídica consistente na
administração de bens, valores ou interesses de outrem - oriundas da lei (procedimento
judicial: tutor, curador, depositário, etc.) ou do contrato (ex. mandato, representação
mercantil, gestão de negócios, conta-corrente bancária, etc.), importante que se faça uma
prestação de contas e que deve ser feita por:
a) aqueles que têm o direito de exigir as contas e
b) aquele que tem a obrigação de prestar e quer prestá-las, até por que ambos têm
o direito de ver-se desonerados.
O objetivo deste procedimento é liquidar dito relacionamento jurídico, vale dizer,
de se fazer um acertamento do citado vínculo jurídico, no sentido de apurar-se com
exatidão a existência ou não de um saldo o qual, uma vez positivo será fixado o montante,
extraindo-se título executivo judicial.
As ações de prestação de contas têm natureza dúplice, isto é, a demanda para
provocar a apresentação, discussão e aprovação das contas tanto pode partir da iniciativa
de quem tem a obrigação de dar contas como daquele a quem cabe o direito de exigi-las. O
juízo ao julgar as contas o saldo credor pode ser tanto a favor do autor quanto do réu.
Para cabimento desta ação é necessário a existência de um vínculo, “não se
podendo haver dúvida quanto ao direito de exigir e o dever de prestar contas, sempre que
em jogo estiver uma relação contratual em que há, de um lado, a administração dos bens
que ensejam a repartição posterior de rendas” (Theodoro Júnior 1996:99) ou, ainda no
dizer deste jurista mineiro “qualquer contrato, enfim, que gere múltiplas e complexas
operações de débito e crédito entre as partes reclama prestação de contas se não há
constante e expresso reconhecimento dos lançamentos que um contratante faz à conta do
outro” (THEODORO JUNIOR 1996:100).
Segundo a Súmula 259/STJ a ação de prestação de contas pode ser proposta pelo
titular de conta-corrente bancária. Destarte, só existirá interesse (jurídico, art. 2.º, do CPC)
na ação de prestação de contas quando haja recusa na dação ou aceitação das contas
particulares ou quando ocorrer controvérsia quanto à composição das verbas que hajam de
integrar o acerto das contas, a não ser nos casos em que a prestação de contas só pode ser
feita em juízo (inventariante, tutor ou curador).
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No que concerne ã Legitimação compete indiferentemente tanto ao que tem a
obrigação de dar as contas como ao que tem o direito de exigi-las (914). Estas contas
devem ser apresentadas em forma mercantil, especificando-se as receitas e as despesas, e o
respectivo saldo, instruindo-se com os documentos pertinentes (917). O autor pode vir a
juízo seja para exibir as contas e pedir sua aprovação por sentença, seja para compelir o réu
a apresentá-las e sujeitá-las à deliberação judicial (caráter dúplice).
16
animus está contido no corpus. Para Ihering, é possuidor quem procede com aparência de
dono, ainda que não o seja, nem deseje sê-lo.
O Código Civil brasileiro adotou a teoria objetiva, de Ihering, ao dizer: Art. 1.196.
“Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade”. Não obstante, em alguns momentos, o Código adota
a teoria de Savigny, como, por exemplo, é o caso do usucapião, em que se exige a intenção
de dono.
Assim, natureza da posse constitui o sinal exterior da propriedade. É possuidor
quem dá destinação econômica ao bem, por si mesmo ou mesmo cedendo-o a outrem.
Daí podemos tirar a natureza jurídica da posse como sendo um direito real, isto é, exercício
do direito sem intermediário, vale dizer, nasce de um fato protegido pelo direito, e tem
oponibilidade erga omnes.
É importante trabalhar-se com a terminologia referente à posse e ao direito de
propriedade. Assim, teríamos, de um lado, ius possidendi que é a posse de quem já é titular
do direito real e, por outro, o ius possessionis que é o caso daquele tem posse mas não tem
título
Relativamente ao objeto jurídico da posse qualquer bem pode ser possuído, tanto os
corpóreos, quanto os incorpóreos, neste incluídos os direitos, mas apenas aqueles sobre os
quais pode-se exercer poder externo, característico da propriedade, principalmente a
fruição e que, portanto, podem ser defendidos por meio dos interditos. Assim, estão fora os
direitos de crédito e todos os direitos que não sejam essencialmente reais.
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Em todos os casos a posse é exercida temporariamente (é uma relação transitória
de direito), e tem o possuidor direto o direito de defender sua posse até mesmo contra o
possuidor indireto.
Art. 1.197: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em
virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida,
podendo o ossuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
b) Posse justa e posse injusta – art. 1.200, CCB, caracteriza-se como posse justa aquela
que NÃO for violenta (não se adquiriu pela força), clandestina (não é pública), precária
(não se originou no abuso de confiança ou pela não restituição da coisa). A posse não
violenta é aquela mansa, pacífica e tranqüila (que pode gerar o usucapião), nos moldes dos
art. 1.238 e e 1.242, do Código Civil. A posse injusta, ao contrário, é aquela obtida pela
violência, clandestinamente e de forma precária.
c). Posse de boa e de má-fé: é de boa fé: art. 1.201, CCB: “se o possuidor ignorar o vício,
ou obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa, ou do direito possuído”. De boa-fé será
a posse em que o possuidor se encontre na convicção inabalável de que a coisa realmente
lhe pertence. A boa-fé é importante nas ações de usucapião extraordinário. Já a posse de
má-fé é aquela que o possuidor tem ciência de que a coisa foi obtida de forma violenta,
clandestina e precária. Enquanto perdurar a posse de má-fé não haverá proteção
possessória, senão após sanado o vício.
d). Posse jurídica e detenção – art. 1.198, CCB: simples detenção equivale a mera
custódia, cumprindo uma pessoa instruções de terceiro (fâmulo da posse) não gera posse,
ao contrário da posse jurídica. Exemplo: contrato de depósito.
e). Posse velha e posse nova – (sem previsão no CCB – art. 924, do CPC), isto é, posse
nova: menos de ano e dia e posse velha: mais de ano e dia.
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essenciais, se reveste de outros: boa-fé, decurso de tempo; posse mansa, pacífica,
ininterrupta, sem oposição; justo título; com animo de dono, etc.
Principais ações destinadas à defesa da posse são as ações de manutenção de posse,
a ação de reintegração de posse, a ação de interdito proibitório, adiante estudadas. A
doutrina, embora não unânime, também aponta estas:
1) ação de embargos de terceiro: perda ou ameaça à posse em razão de constrição
judicial.
2) ação de nunciação de obra nova: embargos contra construção, realizada no terreno
vizinho, que prejudique a posse.
3) ação de dano infecto: ruína da casa vizinha ou vício/irregularidade na realização de
obras. Tem o objetivo de acautelar a posse.
4) ação de imissão de posse: de reintegração ou reivindicatória de posse, sob a forma de
execução (imissão por mandado judicial para entrega de coisa certa – art. 625, do CPC).
Esta ação tem como objetivo solucionar conflitos surgidos no confronto entre o
direito de construir e o direito de vizinhança. De acordo com o artigo 1.301 Código Civil o
vizinho pode embargar a construção de prédio que invada a área do seu ou deite goteiras
ou a menos de metro e meio do seu se abra terraço ou varanda. Também é aplicável para
casos de desrespeito a zoneamento ou ao contrato, inclusive de loteamento (Lei 6766/79).
Pela nunciação de obra nova reage o prejudicado contra construção erguida com
infringência ao direito de vizinhança e às normas administrativas (fim ou destinação do
imóvel em desrespeito ao zoneamento). Visa impedir ou embargar o prosseguimento de
construção que prejudica imóvel. Qualquer obra de engenharia civil (reforma, ampliação,
escavações, terraplanagem, demolições).
A ação de nunciação de obra é utilizada quando existem (art. 934) I-conflitos de
vizinhança; II-litígios entre condôminos em casos de execução de obra em propriedade
comum e III-conflitos entre particulares e o poder público, para impedir violação de
lei/regulamento relativo às construções. Considere-se que os prédios não têm que ser
necessariamente vizinhos.
No caso construção que invade terreno vizinho é possível substituição do embargo
da obra por indenização da faixa usurpada, quando mínimas as dimensões e não ocorra real
prejuízo com a destinação do prédio. Agora, se já concluída a obra, não há o que embargar.
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Possível transmudar-se a nunciação em ação demolitória (rito ordinário) desde que haja
cumulação de pedidos na inicial (embargo da obra com demolição).
Importante ressaltar que a obra só é considerada nova quando reúne dupla
característica: inovação que importe alteração prejudicial no prédio entre vizinhos e a
construção ainda inacabada. Por fim, a ação de nunciação de obra nova não serve para
discussão sobre limites (caso da demarcatória)
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constitucional, disciplinado, também, pelos art. 1.239 e 1.240, do CCB) e coisa hábil
(coisas corpóreas; partes certas e precisas; disponíveis (não pode ser fora do comércio).
Das várias espécies de usucapião, aponta-se as mais importantes, a saber:
a) ordinário: art. 1.242 Código Civil. Requisitos: posse “ad usucapionem”; tempo (10
anos), justo título e boa fé. Possível usucapião para excesso de área (quando o terreno
possuído tem extensão maior do aquela designada no título).
b) extraordinário: art. 1.238, caput, do CCB. Requisitos: posse “ad usucapionem”, tempo
de 15 anos sem justo título e sem boa fé, reduzindo-se para 10 anos, no caso previsto no
parágrafo único, do art. mencionado.
c) constitucional , a ser requerido apenas uma única vez e não se exige justo título e boa-
fé - urbano (art. 183 e parágrafos, da CF; art. 1.240, CCB e art. 9º a 14, da Lei
10.257/01), posse “ad usucapionem”, tempo de 5 anos, área de 250 m2, imóvel a ser
utilizado como moradia do possuidor e sua família, não podendo ele se proprietário de
outro imóvel. Rural (art. 191, CF; 1.239, do CCB): posse “ad usucapionem”, tempo de
5 anos, área até 50 hectares, moradia da família, tornar a terra produtiva com seu
trabalho, não ser proprietário.
21
recebimento coativo da dívida; logo de execução”, tratando-se pois de atos de “mero
adendo, de natureza preparatória, do processo de execução”, onde deveria, aliás, se inserir
(livro II, do CPC) ( SANTOS 2003).
Já para Vicente Greco a ação monitória pode ser definida como “um misto de ação
executiva em sentido lato e cognição, predominando, porém a força executiva”, em que o
autor pede ao juiz e este determina a citação do réu para pagar ou entregar coisa móvel em
15 dias que, senão obedecida a ordem esta se transforma em mandado executivo, com
força de sentença condenatória transita em julgado. (GRECO 1997:260).
Este ato do juízo - que se limita a verificar mediante cognição sumária ou
superficial se a pretensão do autor se apoia em documento escrito - parte de um
convencimento liminar e provisório de que o credor, pela prova exibida, é realmente titular
do direito subjetivo que lhe assegura a prestação reclamada ao réu.
Apontam-se como pressupostos de admissibilidade do pedido monitório a saber:
b) subjetivo, isto é, a existência de um credor da obrigação, que pode ser pessoa física ou
jurídica, e de um devedor, obrigado a pagar dinheiro, ou devolver bem. O falido, o
insolvente, o incapaz e a pessoa jurídica de direito público não podem ser sujeitos
passivos do procedimento injuncional por que não têm a livre disponibilidade dos seus
bens.
Além disso, impossível a monitória contra a Fazenda Pública e por várias razões: a
revelia não lhe produz nenhum efeito; transformado o procedimento monitório em
mandado executivo este só pode ser pago via precatório (art. 100, Const. República), pois
que os bens públicos são impenhoráveis; pessoas jurídicas de direito público não têm
poderes para transacionar, exceto quando expressamente autorizadas por lei.
A obrigação deve estar representada por escrito, sem a forma executiva (arts. 584 e
585 c/c 1.102 a), sempre líquida, certa e exigível.. “O documento mais comum é o que vem
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assinado pelo próprio devedor, não importa a forma, a exemplo dos contratos, das
declarações unilaterais , das missivas, dos meros bilhetes.. as contas de água, luz e
telefone, os saldos bancários com prova do contrato de correntista” (SANTOS 2003), a
duplicata não aceita antes do protesto, a declaração de venda de um veículo (Greco
1997:261), o título de crédito prescrito, etc.
Theodoro Júnior afirma que “não é imprescindível que o documento esteja
assinado, podendo ser acolhido o que provém de terceiro ou daqueles registros como os do
comerciante ou dos assentos domésticos que não costumam ser assinados” ou como
lembrado por Mandrioli “é qualquiasi documento che il giudice ritenga meritevole di fede
quanto ad autenticità ed efficaccia probatoria” (apud THEODORO JUNIOR 1996:377).
A morte é fato jurídico relevante por que pode levar à transmissão de patrimônio
para herdeiros. Estes bens, havendo mais de um herdeiro, devem ser inventariados,
incluindo-se aí as dívidas ativas e passivas e quaisquer direitos e partilhados, para se
estabelecer a divisão da herança que tocará aos sucessores.
O procedimento ora em estudo serve também para disciplinar outros casos de
partilha: o da sucessão provisória dos bens dos ausentes (art. 1.163 do CPC) e o da divisão
dos bens do casal na dissolução da sociedade conjugal (art. 1.121, parágrafo único). “O
inventário é o procedimento especial de jurisdição contenciosa com a finalidade de
transmitir a herança e a atribuição de quinhões aos sucessores”, na objetiva definição de
Vicente Greco (1997:240-241).
E contencioso pois no mínimo previne lides, na visão carnelutiana, vale dizer, o
inventário será judicial ainda que as partes sejam capazes. A sentença de partilha tem força
de título executivo. Fala-se em inventário negativo: medida de jurisdição voluntária, é o
expediente criado pela praxe forense para provar que o óbito se deu sem deixar bens a
partilhar. Utilizado para cumprimento de certas obrigações (lavrar escritura em favor de
terceiros) ou para produção de efeitos jurídicos (permitir o casamento do cônjuge
sobrevivente).
Segundo a Lei 6.858/80 combinada com o disposto o artigo 1.037, do CPC,
estabelecem a desnecessidade de inventário para pagamento e/ou transferência de valores
de pequena monta e/ou relacionados com o contrato de trabalho do finado, como por
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exemplo o saque do FGTS, saldos em contas correntes/poupança, PIS, salários e parcelas
rescisórias.
Existem dois tipos (ou duas espécies) de inventário: o pleno (ou inventário
propriamente dito), disciplinado pelos artigos 982 a 1.030) e o arrolamento, de rito mais
simples, sumário (artigos 1031/1038 - com partilha amigável havendo herdeiros maiores e
capazes - que pode ser o). A forma do arrolamento poderá ser adotada, ainda, quando os
bens a inventariar não ultrapassarem o equivalente às antigas 2.000 OTN’s (redação dada
pelo artigo 1.036). A lei processual prevê possibilidade de processamento de inventários
cumulados, nos casos dos artigos 1.043 e 1.044.
O inventário e partilha devem ser requeridos em 30 dias (pena: multa incidente
sobre imposto causa mortis) e terminar em seis meses em razão do juízo universal do
inventário: artigo 96: todas as ações que o espólio for réu (não em que ele for autor ou que
versarem sobre bens imóveis). O procedimento sucessório tem por finalidade definir o
acervo para os herdeiros, isto é, o juízo vai decidir apenas sobre causas (de fato e de
direito) relativas à sucessão, provadas por documentos, relacionadas com o inventário.
Fora destes casos constituir-se-ão questões de alta indagação, oportunidade em que se
remeterá as partes para as vias ordinárias.
Observe-se que as chamadas questões de alta indagação, segundo a previsão do
artigo 984 são as que dependem de cognição com dilação probatória, contraditório pleno,
em procedimento ordinário, como nos casos de anulação de casamento, anulação de
testamento, investigação de paternidade, concubinato, etc.
A regra geral de competência é que o inventário deverá ser aberto no foro do
domicílio do autor da herança ou no foro da situação dos bens (se o falecido não tinha
domicílio certo) ou no lugar do óbito (se existirem bens situados em lugares diferentes). A
jurisdição brasileira será competente para proceder ao inventário dos bens deixados pelo
“de cujus” estrangeiro - caso de competência absoluta e improrrogável (Theodoro Júnior
1996:266).
Nos termos do art. 985/986 entre a morte e a nomeação do inventariante e para que
os bens não fiquem em situação imprecisa haverá um administrador provisório (cabeça do
casal ou herdeiro que esteja na posse dos bens), gerindo provisoriamente o patrimônio, mas
sem poderes para deles dispor.
No campo da legitimidade esta se apresenta ampla e concorrente mas não
sucessiva para requerer a abertura do inventário (desde o óbito qualquer um dos
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legitimados está autorizado): quem estiver na posse e administração do espólio,
normalmente cabendo em primeiro lugar ao administrador provisório (987) mas qualquer
pessoa arrolada no artigo 988 (cônjuge supérstite, herdeiro, legatário, credor...Fazenda
Pública, excepcionalmente até por portaria do juízo, embora ne procedat iudex ex officio
há interesse de ordem pública)
Importante não confundir quem está legitimidado para abertura do inventário
(987/988) com a pessoa do inventariante (ordem de nomeação do art. 990).
A petição inicial deve obedecer a regra do artigo 987, parágrafo único, instruída
com a certidão de óbito e com pedido de nomeação do inventariante, que deve ser, nesta
ordem, cônjuge, herdeiro que esteja na posse dos bens, qualquer herdeiro, testamenteiro,
pessoa indicada pelo juiz, etc.); este, é agente especial do juízo e quem administra o acerto
hereditário, o inventariante deve ser pessoa capaz e é nomeado por termo nos autos
segundo escolha delimitada pela lei (o artigo 990 estabelece uma ordem preferencial de
nomeação que o juízo não pode violar, sob pena de impugnação, exceto em circunstâncias
específicas)
São encargos do inventariante (exceto o dativo), segundo o artigo 991, do CPC
representar o espólio [que é uma universalidade de direitos e obrigações = patrimônio (-)
dívidas), não tem personalidade jurídica mas possui capacidade processual]. Exerce um
munus publico, representa o espólio, aliena bens, etc. mas toma medidas de simples
administração, a maioria das vezes dependendo de alvará judicial, à vista dos limites do
artigo 992.
Segundo o art. 995 o inventariante pode ser removido se agir com desídia na
condução da inventariança, se deixar deteriorar bens ou não defender o espólio, se não
prestar contas ou se sonegar bens. A decisão interlocutória que remove o inventariante se
faz por simples incidente processual, por requerimento do interessado e após defesa; corre
em apenso. Juiz pode ordenar busca e apreensão de bens que estejam em poder do
inventariante removido.
O inventariante nomeado presta compromisso em 5 dias, deve oferecer as
primeiras declarações em 20 dias (artigo 993 e parágrafo único), pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais e não poderá encerrar o inventário sem prestar contas de
sua gestão, que pode ser sob a forma de ação de prestação de contas, a qual corre em
apenso aos autos do inventário.
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Por fim, assinale-se que o procedimento de inventário transcorre em dois estágios:
1.º) inventário (petição inicial, nomeação inventariante, primeiras declarações, citações,
avaliação dos bens, últimas declarações, imposto) e 2.º) partilha (petição dos quinhões,
deliberação e julgamento da partilha; formal).
Se encerra por dois tipos de partilha: judicial, necessariamente se houver herdeiros
incapazes, ou amigável, elaborada ou por escritura pública ou por escrito particular, em
qualquer caso homologada por juiz, se herdeiros maiores e capazes.
Pagos os credores ou reservados bens, abrem-se 10 dias para herdeiros formularem
pedido de quinhão, deliberando o juízo sobre a partilha (decisão interlocutória); após, é
elaborado um esboço de partilha , com estrita observância da ordem legal prevista no
artigo 1023: monte mor monte partível (menos dívidas) = meação do morto (menos
meação do cônjuge supérstite) = metade disponível (menos bens constantes do testamento,
se houver) = legítima (a ser partilhada).
A partilha será lançada nos autos e conterá um auto de orçamento (contendo a
descrição dos bens, os herdeiros, valores) e a folha de pagamento (a parte que coube a
cada herdeiro). Confirmado o pagamento do imposto e das custas, ouvida a Fazenda
Pública, o juiz julgará a partilha por sentença , a qual faz coisa julgada e constitui título
executivo judicial contra inventariante/herdeiro para entrega dos bens partilhados.
Possível a sobre partilha sobre bens não arrolados na época própria e nos casos do
artigo 1.040, uma vez passado em julgado a sentença relativa à partilha é expedido o
formal, que servirá de título para registro em cartórios, no DETRAN, etc.cabível ação
rescisória, em dois anos, contra sentença que julgou a partilha judicial e ação anulatória
contra a sentença que homologou a partilha amigável, em um ano.
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Sabe-se que o casamento somente se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou
pelo divórcio, vale dizer, apenas nestes casos é que o vínculo se dissolve.
No caso da separação esta pode ser: consensual (amigável) ou não-consensual
(litigiosa), como um prelúdio para o divórcio (a separação consensual não resolve lide e
não faz coisa julgada). No Brasil, a separação é remédio para um fato.
Na Separação consensual é condição essencial serem casados há mais de um ano
(art. 1.574, CCB; era de dois anos - art. 4o Lei Divórcio) e a vontade manifestada perante o
juízo, tudo homologado porque a lei não impõe motivos. Trata-se de uma separação
imotivada, ou seja, as partes requerem a homologação.
O pedido não se baseia na conduta do marido ou da mulher e tem fundamento da
inicial apenas razões de direito, isto é, a Lei do Divórcio e o Código Civil. Procura-se
transformar a separação litigiosa para a separação consensual. O juízo tambem procurará
conciliar as partes (uma separação litigiosa pode causar transtornos para os filhos, por
exemplo).
No que concerne à Separação não-consensual ou Separação Judicial, pode ser:
a) motivada: art. 5.º, Lei do Divórcio e art. 1.572, do CCB (imputação de ato que importe
grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum). Nesse
caso, um cônjuge tem que imputar ao outro a culpa, obrigatoriamente (infringência de
um dos deveres do casamento, previstos no artigo 1.573, do Código Civil: adultério;
tentativa de morte; sevícia ou injúria grave; abandono voluntário do lar conjugal,
durante um ano contínuo; condenação por crime infamante; conduta desonrosa. O juiz
pode considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em
comum).
O motivo alegado tem que ficar comprovado, em juízo, sendo que a parte ofendida
é quem requer a separação. Exemplos de conduta desonrosa: injúria grave; cônjuge com
terceiros. Ex.: expor ao ridículo; desonestidade; uso de bebidas alcoólicas; não presta
assistência moral, etc. Nestas hipóteses deve-se demonstrar a impossibilidade de
convivência do casal, para melhor aplicabilidade da norma. Deve-se, ainda, expor bem os
fundamentos, pois a separação não consensual comporta reconvenção.
Por fim, a lei brasileira prevê o Divórcio por conversão, previsto nos arts. 25 e 35,
LD; parágrafo único do art. 1.580, do CCB) ou direto (art. 40, LD). A conversão da
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separação Judicial em divórcio tem a petição é igual à da separação onsensual. Observe-se
que no divórcio não há necessidade de, obrigatoriamente, haver partilha.
O “nome” é Ação de Conversão de Separação Judicial em Divórcio e a parte
contrária não poderá entrar com a reconvenção, e pode contestar se não houver passado um
ano do trânsito em julgado da sentença que decretou a separação judicial ou o não
cumprimento das exigências e/ou obrigações.
Finalmente, a lei brasileira prevê o divórcio direto consensual - art. 40, caput,
parágrafo 2.º, LD; parágrafo 2.º, do art. 1.580, do CCB. Tem uma característica: não pode
o casal interromper o prazo de dois anos, morando juntos um mês, por exemplo. O divórcio
direto não consensual é previsto no art. 40 c/c artigo 5.º e parágrafos, da Lei do Divórcio e
é desnecessário apontar o motivo do casal encontrar-se separado, bastando apenas provar o
tempo (parágrafo 1.º, do art. 1.580, do CCB).
6 CONCLUSÃO
Os Procedimentos Especiais, como se disse, são um importante instrumento de
operacionalização dos direitos no Estado Democrático. A forma como vem sento
trabalhados, entretanto, em tempos de omissão legislativa, leva à conclusão da total
ausência de PROCESSO em seu emprego na rotina forense.
Assim, a ação de consignação em pagamento, o usucapião, a ação monitória, entre
outros, são categorias processuais re-visitadas pela pesquisa sistematicamente filtrados
pelo paradigma constitucional do Estado Democrático, regente da operacionalidade
constitucional, tudo em cumprimento ao artigo 207, da Constituição Brasileira.
Nenhuma efetivação de direito, nesta era da pós-modernidade em que vivemos,
pode ser levada a cabo sem uma teoria democrática que a sustente e esta só pode ser
moldada no ambiente de esclarecimento pelo Conhecimento.
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