JORNAL CATARSE
Março de 2019 Número 122
INTRODUÇÃO
1
SAUNDERS, Doug. Cidade de Chegada – A Migração final e o Futuro do Mundo. Editora DVS. São Paulo,
2013, página 1 e 2.
2
É só observar o que está acontecendo na fronteira da Venezuela nesse momento (agosto de 2018), onde um
grande número de pessoas está sendo expulsas de Roraima e da cidade de Manaus de uma forma brutal. Também
nas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro dormindo pelas ruas e sendo expulsas de suas propriedades.
4
Por que muitas pessoas nos dias de hoje se refugiam dentro dos
shoppings centers, nos seus carros blindados com vidros escurecidos?
Por que os condomínios fechados se proliferam? Por que as pessoas
circulam temerosas nas cidades, com medo da violência?
3GRAHAM, Stephen. As grandes cidades sitiadas – O Novo Urbanismo Militar. Editora Boitempo, SP, Ano
2016, páginas 45-50.
5
4Op.cit. p.32
6
“Em 1940, por exemplo, a população que vivia nas cidades era
de 18,8 milhões de habitantes e em 2000 ela é de aproximadamente 138
milhões de pessoas. Dez anos depois (2010), apenas 15,65 da população
5 FREITAG, Bárbara. Teorias da Cidade. Editora Papirus, 2010, São Paulo. 2006.
6
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. Editora Papirus (Uma pesquisa sobre as ideias sobre as origens
das mudanças Cultural) 17º Edição, 2008)
7 HARVEY, p.30
8 Ver site:http//fernandonogueiracosta.wordpress.com/2010/11/29/censo-2010-população-urbana.
7
9 Ver site:http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=23440
8
e criaram seus modos de vida e agora são empurrados para zonas cada
vez mais distantes, onde os mesmos fenômenos se repetem. 10
Pergunta Harvey:
10
Ver FIX, Mariana, nos seus dois livros: o primeiro chamado Parceiros da Exclusão. O outro
chama-se Nasce uma nova São Paulo, ambos editados pela Editora Boitempo, 2001.
11
HAVERY, David. Condição Pós-Moderna. Edição Loyola (Uma pesquisa sobre as Origens da
Mudança Cultural, 17ª Edição, 2008, p. 17)
9
12
Ver, por exemplo, o livro chamado História do Ceará.
10
13
SIMONE, Sousa. História do Ceará. Fortaleza: Stylus Comunicação, 1989.
14
CARVALHO, Benedito José. Marcas de Família, memória no tempo. Editora Annablume. São
Paulo 2002.
11
15
BOTELHO, Tarciso R. in Revitalização da região central de Fortaleza – Novos Usos dos espaços
públicos. Artigo publicado no livro chamado As Cidades e seus agentes: práticas e representações.
Autores: Heitor Frúgoli; Luciana Teixeira de Andrade, Fernando Aréas Peixoto (organizadores).
Editora PUC- Minas, Belo Horizonte, 2006.
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Ver o livro Uma história do Ceará, Organizado pela professora-historiadora, Simone de Souza,
que já está na quarta edição, Editada pela Fundação Demócrito Rocha, que reúne diversos
ensaios por 15 dos mais expressivos historiadores cearenses da atualidade.
17
HAVEY, David. A produção capitalista do espaço urbano, Editora Annablume, 2ª Edição, 1994,
São Paulo.
12
18
ROLNIK, Suely. Toxicómano da identidade – subjetividade em tempo de globalização. Org. por
LINS, Daniel, 1997. 1989.
19
Ao circular nos dias de hoje (2017) pelo bairro de Aldeota, a “área nobre” da cidade percebe-se a quase
inexistência das antigas residências familiares. No lugar dessas antigas moradias, onde moravam reduzidas
famílias de classe média, bancários, funcionários públicos, militares, donos de lojas etc. o que se vê hoje são
enormes edifícios de mais de 20 andares e um sistema de segurança sofisticado, comandado por empresas
que se proliferam na cidade, na mesma proporção em que a violência se expande. O medo surge na mesma
proporção dos lucros dessas empresas de segurança, hoje um negócio altamente lucrativo nas grandes
metrópoles.
13
20Os dez bairros mais ricos de Fortaleza têm renda pessoal de 26% da cidade, segundo estudo divulgado
pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE)). O levantamento mostra que os 44
bairros de menor renda da capital juntos somam o mesmo percentual obtido pelos bairros ricos. Dessa
forma, apenas 7% da população se apropria de 26% da renda pessoal total da cidade De acordo com o órgão
estadual, parte da má distribuição de renda tende a se refletir espacialmente nos bairros de Fortaleza, por
causa da decisão de onde residir estar fortemente condicionada à renda, disponibilização de serviços
públicos (educação, saúde, transporte etc.), oportunidade de emprego, dentre outros. O trabalho comprova
o relatório das Nações Unidas State of the World Cities 2010/2011: Bridging the Urban Divide, que coloca
Fortaleza como a cidade de Fortaleza foi considerada pelo Censo Demográfico de 2010 a quinta cidade mais
desigual do mundo. O diretor Geral do IPECE, professor Flávio Ataliba, afirma que houve o mapeamento de
119 bairros em cinco grupos, com intervalos de R$ 499,99. O Meireles, bairro mais rico da cidade, tem uma
renda média 15,3 vezes (R$ 3.659,54) maior que a do Conjunto Palmeiras (R$ 239,25), que ocupa o último
lugar (119ª colocação). O estudo identificou a existência de uma forte concentração espacial da renda
média pessoal de Fortaleza. De acordo com Flávio Ataliba, essa elevada dificuldade pode ocasionar, dentre
outros problemas, a potencialização de tensões sociais, culminando com o aumento da violência, assim
como maiores transtornos de mobilidade urbana, já que é natural o movimento de pessoas de bairros
muitos pobres para bairros de nível de renda mais elevado em busca de emprego, renda e serviços. Os
bairros mais ricos, com média entre R$ 2 mil e R$ 3.659,54, estão concentrados em uma única Secretaria
Executiva Regional da capital. Entre os dez mais ricos, nove estão localizados na SER II: Meireles,
Guararapes, Cocó, De Lourdes, Aldeota, Mucuripe, Dionísio Torres, Varjota e Praia de Iracema. Na décima
posição está o Bairro de Fátima, que pertence a SER IV. Já os dez bairros com menor renda média pessoal
são: Conjunto Palmeiras, Parque Presidente Vargas, Canindezinho, Siqueira, Genibaú, Granja Portugal,
Pirambu, Granja Lisboa, Autran Nunes, e Bom Jardim. Entre os bairros mais pobres, seis estão localizados na
SER V. (Fonte: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/fortaleza/renda-dos-10-bairros-mais-ricos-de-
fortaleza-e-igual-a-dos-44-bairros-mais-pobres)
21
Fonte: http://cod.ibge.gov.br/2VJ4N
14
todos esses processos de mudanças que estão ocorrendo nas grandes cidades do
mundo, com seus grandes e violentos impactos provocados pela globalização?
Como se manifestam os conflitos sociais?
22
CALDEIRA, Pires do Rio. Cidade de Muros: Crime e Segregação em São Paulo. Editora 34 e
EDUSP, 2000.
23
Seguindo o mercado de shopping brasileiro, a cidade de Fortaleza é a segunda maior cidade do Nordeste
com o maior número de shoppings. A Capital já tem 28, perdendo apenas para Salvador, que possuiu 33
16
Mas não foi somente as belas praias e seus 30 quilômetros que se tornaram
“espaços para bons negócios”, mas, também, seus territórios, que vão além do
litoral, e que se transformam em reserva de valor, como aconteceu e está
acontecendo em muitas cidades brasileiras e mundiais. 25
25
As redes hoteleiras vêm se expandindo nos dias de hoje e ganham novas configurações com o aumento do
turismo, hoje uma das fontes de renda da cidade. Nos anos 70-80 podíamos perceber as cidades praieiras
com uma estrutura precária. Isso vem se alterando ao longo do tempo. A construção de novos hotéis em
praias distantes vem aumentando substancialmente e o turismo adquirindo novas proporções.
Recentemente o governo e as empresas aéreas estão oferecendo voos diretos de alguns países para a
cidade de Fortaleza. O turismo é atualmente uma mercadoria altamente rentável. Não podemos esquecer,
17
A cidade fordista (que Fortaleza nunca foi) está sendo transformada pelo
grande capital e muito de seu futuro passa por grandes negociações que, muitas
vezes, escapam da lógica local e, por isso, estão sujeitas às oscilações do mercado
financeiro mundial e aos grandes mal-estares, como as expulsões.
também, que a cidade de Fortaleze dispõe de um forte aparato para realização de eventos e têm atraído
muitas empresas e pessoas para a cidade.
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Para especialistas, “o melão [do Ceará e Rio Grande do Norte] na China é ouro, para o chinês”. A
fruticultura brasileira para a exportação é considerada produto de alto valor agregado no mercado
internacional, considerando, por exemplo, os grãos e outras commodities. Enquanto o preço referencial em
dólar por tonelada de milho é 200 e a de soja chega a 450, a de frutas oscila entre 1.000 a 1.700 dólares/t. O
Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de produção de frutas, mas a sua posição é considerada
inexpressiva no negócio mundial. Exporta apenas 2% das frutas que produz, conforme a CNA. Os dez
maiores produtores mundiais são responsáveis por pouco mais de 60% da produção total. Segundo a Adece
(Agência de Desenvolvimento do Ceará), a produção mundial de frutas tem apresentado crescimento
contínuo, principalmente pela grande diversidade de espécies cultivadas em clima tropical. As frutas mais
produzidas no mundo são as bananas e plátanos (no Brasil são consumidas como um só produto), melancia,
maçã, laranja, uva, pera e abacaxi. O Brasil é o maior produtor mundial de suco de laranja, mamão e
abacaxi. Mesmo assim, é apenas o 15º exportador mundial de frutas, de acordo com o órgão cearense.
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Segundo as notícias da imprensa local, a batalha contra o tráfico de drogas no Ceará cresceu em 2017. De
janeiro a junho deste ano, por dia foram apreendidos cerca de 18 kg de entorpecentes. Maconha, crack e
cocaína. Essas são as principais drogas apreendidas pela polícia do Ceará. Os dados mais recentes mostram
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Como afirma Bauman, “as cidades, nas quais vive atualmente mais da
metade do gênero humano, são de certa maneira os depósitos onde se descarregam
os problemas criados e não resolvidos no espaço global. São depósitos em muitos
aspectos. Existe, por exemplo, o problema global de poluição do ar e da água, e da
administração municipal e qualquer cidade deve suportar suas consequências e
lutar com seus recursos locais para limpar as consequências, as águas, purificar o
ar, conter as marés. ”
“Como os dos ambulatórios públicos sem remédios, por conta da alta dos
preços de determinados fármacos, decorrente de conflitos na grande indústria
farmacêutica ou da imposição “direitos de propriedade intelectual, é sempre a
cidade que arca com as consequências, dificilmente tendo de enfrenta-las e, menos
ainda, resolvê-las. “Tudo recai sobre a população local, sobre a cidade, sobre o
“bairro”, escreve o sociólogo. E tudo fica ainda mais grave, obviamente, quando
não formulamos e levamos à prática políticas públicas claras e objetivas para os
dilemas e problemas urbanos. Como acontece neste momento no Brasil.”29
que as apreensões ocorrem, principalmente, entre 18h e 0h. Nos seis primeiros meses de 2017, a
apreensão de drogas feita pela Denarc (Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas) mais que dobrou em
relação ao mesmo período de 2016. (http://tribunadoceara.uol.com.br/videos/vem-que-tem/saiba-como-
funciona-o-combate-ao-trafico-de-drogas-no-ceara/)
28
A socióloga Fernanda Maria Vieira Ribeiro, na sua pesquisa chamada Turismo sexual na cidade de
Fortaleza, Estado do Ceará,e sua interface com a exploração sexual de crianças e adolescentes e com o
tráfico de pessoas, observou que “o desenvolvimento ou expansão do mercado do sexo deu visibilidade a
antigos fenômenos. A partir da década de 1990, uma diversidade de estudos e pesquisas investigou o
desenvolvimento do turismo voltado para o lazer e especificamente com fins sexuais, sobretudo nos países
de “Terceiro Mundo”. Contudo – afirma a autora – “estudos mais recentes têm desafiado a percepção linear
entre turismo sexual e prostituição, trazendo novas configurações do chamado turismo sexual no século
XXI. O fato do Nordeste do Brasil ter se tornado um roteiro almejado por turistas sexuais recentemente e a
forma particular como esse turismo se desenvolveu nesta região tornou difícil a existência de uma indústria
do sexo organizada. Apesar da problematização da ligação direta entre turismo sexual e prostituição, duas
grandes preocupações vêm se tornando alvo de políticas públicas e de debate nas organizações da
sociedade civil no Brasil e no Nordeste: o turismo sexual ligado à exploração sexual de crianças e
adolescentes e ao tráfico de pessoas. Traço nesse trabalho as configurações do turismo sexual na cidade de
Fortaleza/CE e sua interface com os fenômenos elencados, a partir de pesquisa realizada no ano de 2012. ,
http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1373300391_ARQUIVO_Fernanda
MariaVieiraRibeiro.pdf)
29
BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Editora Zahar, São Paulo, 2005.
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30
CARVALHO FILHO, Benedito José. Marcas de Família, travessia no tempo. Editora Annablume,
2000, São Paulo.
20
pobres, enquanto o meio rural esta proporção chegava a 51,3%. No meio urbano,
não metropolitano, estava proporção chegava a alcançar 31,1%.
Das 670 mil pessoas ocupadas nas atividades produtivas em Fortaleza, 338
mil estavam no setor serviços, 159 mil no comércio, 95 mil na indústria, 55 mil na
administração pública e 23 mil na construção civil.
O pouco tempo que passei na cidade de Fortaleza circulei pelas zonas ricas
e pobres e percebi o seu crescimento urbano desenfreado, o contraste urbano, a
apartação social e a violenta explosão demográfica, a pobreza, a precária
mobilidade urbana, o crescimento da criminalidade e tantos outros problemas.
Temos, hoje, uma cidade abarrotada de gente sem emprego (ou com empregos
precários) e tantos outros problemas.
31
HARVEY, David. Cidades Rebeldes (Do direito à Cidade à Revolução Urbana. (Editora Martins
Fontes).
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Mas o leitor, na maioria das vezes, não relaciona essas expulsões com essa
abstração chamada “capital financeiro”. O que ele é e como age nos dias de hoje?
Eis o desafio.
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