RMS Titanic
Estado Naufragado
Características gerais
Deslocamento 52.310 t
Tonelagem 46.328 t
Maquinário 29 caldeiras
2 motores de tripla-expansão
com quatro cilindros
1 turbina de baixa pressão
Comprimento 269 m
Boca 28 m
Calado 10,5 m
Altura 53 m
Tripulação 892
Passageiros 2435
Nota: ""Titanic"" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Titanic
(desambiguação).
O RMS Titanic foi um navio de passageiros britânico operado pela White Star Line e
construído pelos estaleiros da Harland and Wolff em Belfast. Foi a segunda embarcação
da Classe Olympic de transatlânticos depois do RMS Olympic e seguido
pelo HMHS Britannic. Projetado pelos engenheiros navais Alexander Carlisle e Thomas
Andrews, sua construção começou em março de 1909 e ele foi lançado ao mar em maio
de 1911. O Titanic foi pensado para ser o navio mais luxuoso e mais seguro de sua época,
gerando lendas que era supostamente "inafundável".
A embarcação partiu em sua viagem inaugural de Southampton para Nova Iorque em 10
de abril de 1912, no caminho passando em Cherbourg-Octeville na França e
por Queenstown na Irlanda. Ele colidiu com um iceberg às 23h40min do dia 14 de abril e
afundou na madrugada do dia seguinte com mais de 1 500 pessoas a bordo, sendo um
dos maiores desastres marítimos em tempos de paz de toda a história. Seu naufrágio
destacou vários pontos fracos de seu projeto, deficiências nos procedimentos de
evacuação de emergência e falhas nas regulamentações marítimas da época. Comissões
de inquérito foram instauradas nos Estados Unidos e no Reino Unido, levando a mudanças
nas leis internacionais de navegação que permanecem em vigor mais de um século
depois.
Os destroços do Titanic foram procurados por décadas até serem encontrados em 1985
por uma equipe liderada por Robert Ballard. Ele se encontra a 3843 m de profundidade e a
650 km ao sudeste de Terra Nova no Canadá. Sua história e naufrágio permaneceram no
imaginário popular durante décadas, levando a produção de vários livros e filmes a seu
respeito, mais notavelmente o filme Titanic de 1997. Até hoje o Titanic permanece como
um dos navios mais famosos da história, com seus destroços atraindo várias expedições
de exploração ao longo dos anos.
Índice
1Antecedentes
2Construção
3Características
o 3.1Especificações
o 3.2Instalações
o 3.3Segurança
4Passageiros
5Tripulação
6História
o 6.1Testes marítimos
o 6.2Partida
o 6.3Travessia
o 6.4Naufrágio
6.4.1Colisão
6.4.2Danos
6.4.3Primeiras ações
6.4.4Botes lançados
6.4.5Momentos finais
6.4.6Resgate
7Reação pública
8Mortos
9Causas
10Inquéritos
11Legado
o 11.1Destroços
o 11.2Cultura popular
12Referências
13Bibliografia
14Ligações externas
Antecedentes
Joseph Bruce Ismay, presidente da companhia de navios White Star Line, e lorde William
Pirrie, 1.º Barão Pirrie e presidente dos estaleiros da Harland and Wolff, decidiram em
1907 construir três navios para competir com RMS Lusitania e o RMS Mauretania da
rival Cunard Line. Essas novas embarcações seriam as maiores, mais luxuosas e mais
seguras construídas até então, já que para os dois homens a melhor aposta era competir
com seus rivais britânicos e alemães em elegância do que em velocidade.[1][2] Seus nomes
foram depois definidos como Olympic, Titanic e Gigantic (depois alterado para Britannic),
em referência a três raças da mitologia grega: olimpianos, titãs e gigantes.[3]
Os projetos das três embarcações foram realizados nos escritórios de desenho da Harland
and Wolff em Belfast, Irlanda,[2] pelos engenheiros navais Alexander Carlisle, cunhado de
Pirrie e responsável pelas decorações, instalações e dispositivos de segurança, e Thomas
Andrews, sobrinho de Pirrie e chefe do Departamento de Desenho Naval.[4] Carlisle
acabou se aposentando repentinamente em 1910 enquanto o Olympic e o Titanic ainda
estavam em construção, deixando Andrews como o único responsável pelos estaleiros e
projetos.[5] Acredita-se que isso ocorreu porque o engenheiro queria colocar 66 botes
salva-vidas a bordo das embarcações e por causa de possíveis problemas com o sistema
de anteparas, porém suas ideias e reclamações supostamente foram rejeitadas por
Ismay.[6]
Ismay aprovou o projeto dos navios em 31 de julho de 1908 e assinou uma carta de
acordo com os estaleiros.[4] Nenhum contrato formal foi assinado porque a White Star e a
Harland and Wolff tinham uma relação muito próxima e forte que vinha de décadas
antes.[3] Pirrie viu a importância das embarcações e contratou o fotógrafo Robert Welch
para registrar o andamento das obras. A qualidade dos navios não foi negligenciada e os
melhores materiais disponíveis foram empregados na construção.[7]
Construção
O Titanic nos três momentos de sua construção: primeiro a armação do casco, depois o lançamento
e por fim a equipagem.
Características
O Titanic tinha 269 metros de comprimento, 28 metros de largura e 53 metros de altura.
Sua arqueação era de aproximadamente 46 mil toneladas, por volta de mil toneladas a
mais que o Olympic.[20] Ele operava com uma tripulação de 892 pessoas e podia
transportar até 2435 passageiros dispostos em três classes.[21] Além disso, a embarcação
também carregava correio e por isso recebeu o prefixo Royal Mail Ship (RMS).[2] Ao todo,
o Titanic custou 7,5 milhões de dólares em valores da época.[22] O navio era dividido em
dez conveses, sendo o maior navio transatlântico construído até então.[23] O convés mais
alto era chamado de "convés superior" ou "convés dos botes" e era onde ficavam os botes
salva-vidas, alojamento dos oficiais e a ponte de comando. Abaixo estavam os conveses
de A a G, todos destinados aos passageiros com exceção do último, que também abrigava
compartimentos de carga. Mais abaixo ficavam mais compartimentos de carga, a casa das
máquinas, caldeiras, alojamentos da tripulação e as reservas de suprimentos.[24]
Especificações
Vinte das 29 caldeiras do Titanic, montadas e prontas para serem instaladas, c. 1911–12.
O Titanic, assim como seus irmãos Olympic e Britannic, era movido por uma combinação
de dois sistemas de propulsão. Ele possuia 29 caldeiras a vapor agrupadas em seis
salas,[25] alimentando dois motores de tripla expansão com quatro cilindros cada que
moviam as duas hélices laterais. O vapor excedente era reutilizado por uma turbina de
baixa pressão que movia a hélice central. O navio conseguia chegar a uma velocidade
média de 21 nós (39 km/h), consumindo entre 638 a 737 toneladas de carvão por dia.[26] A
energia elétrica que operava a iluminação e outros equipamentos da embarcação era
gerada por quatro dínamos de 400 kW.[4] Os fumos da combustão do carvão eram
descarregados através das três primeiras chaminés. A quarta chaminé era apenas
ornamental, adicionada principalmente para fazer com que os navios da
Classe Olympic parecessem mais "potentes" nos olhos do público, porém também era
usada para ventilar a casa de máquinas e as cozinhas.[27]
Na parte frontal do convés dos botes ficava a ponte de comando, que se estendia por toda
a largura do navio e compreendia dois passadiços, duas cabines de observação laterais,
um sala de navegação e uma sala das cartas marítimas. Atrás da ponte ficavam os
alojamentos dos oficiais, que recebiam uma cabine proporcional a sua hierarquia; o
capitão Edward Smith, como oficial comandante, ocupava uma suíte com escritório, casa
de banho e até mesmo uma banheira.[28] Atrás da primeira chaminé ficava a sala
das comunicações sem fio, operada diariamente pelos radiotécnicos Jack Phillips e Harold
Bride.[29] Os alojamentos dos foguistas e mecânicos ficavam localizados na extremidade
da proa e eles acessavam seus locais de trabalho através de uma escada em espiral e um
longo corredor.[30]
Além disso, um cesto de gávea funcionava a partir do mastro dianteiro, acessado por uma
escada interna, e havia uma passarela de navegação no convés da popa.[28] Uma linha
telefônica permitia a comunicação direta entre a ponte com o cesto de gávea, a casa do
leme, a passarela de navegação e a casa de máquinas, melhorando a velocidade e
precisão das manobras. Outra linha permitia que os passageiros da primeira classe
entrassem em contato com alguns dos serviços de bordo do Titanic.[31]
Instalações
Ver artigos principais: Instalações da primeira classe do RMS Titanic e Instalações da
segunda e terceira classes do RMS Titanic
Além disso, o Titanic também tinha um fundo duplo e oito bombas d'água capazes de
extrair quatrocentas toneladas de água por hora.[4] Todas essas medidas de segurança
levaram aos rumores por parte da imprensa de que a embarcação era supostamente
"inafundável". No entanto, esses rumores não surgiram pela primeira vez com o Titanic, já
que a própria White Star Line havia descrito o RMS Cedric como "praticamente
inafundável" nove anos antes.[38]
O Titanic também estava equipado com vinte botes salva-vidas: catorze com capacidade
total para 65 pessoas, dois cúteres de emergência que acomodavam até quarenta
pessoas e quatro botes desmontáveis Engelhardt que conseguiam levar 47 pessoas.
Dessa forma, os vinte barcos teoricamente poderiam conter 1178 pessoas, ou seja, um
terço da capacidade total do navio.[39]Apesar de ser um número baixo, era muito mais do
que as legislações marítimas da época exigiam; o pensamento contemporâneo era de que
navios do tamanho do Titanic demorariam para afundar e que assim os botes serviriam
para transportar os passageiros do navio naufragando para alguma embarcação de
resgate.[40]
O engenheiro Alexander Carlisle havia considerado a ideia de colocar mais botes a bordo,
porém foi rejeitado por Ismay, dentre outros motivos, porque isso iria diminuir o espaço do
convés dos botes e enfraquecer a confiabilidade do público na empresa. Mesmo assim, a
fim de evitar custos adicionais caso uma possível mudança nas leis, Carlisle conseguiu
convencer Ismay a instalar turcos tipo Wellin que eram capazes de baixar até dois
botes.[41] Apenas 710 pessoas conseguiram embarcar nos botes durante o naufrágio,
pouco mais da metade da capacidade total que poderiam acomodar. As leis marítimas
foram alteradas dois anos depois em 1914 através da Convenção Internacional para a
Salvaguarda da Vida Humana no Mar exigindo que as companhias sempre tivessem botes
suficientes para todos a bordo.[42]
Passageiros
Ver também: Passageiros do RMS Titanic
John Jacob Astor e sua esposa Madeleine Astor, os passageiros mais ricos do navio.
O Titanic partiu em sua primeira e única viagem com 1316 passageiros a bordo: 325 na
primeira classe, 285 na segunda e 706 na terceira. Deles, 922 embarcaram
em Southampton, 274 em Cherbourg-Octeville na França e 120
em Queenstown na Irlanda. Na primeira classe estavam os passageiros mais ricos do
navio, dentre eles empresários, artistas, oficiais militares, políticos e outros. Em muitos
casos eles viajaram com várias malas de bagagem e um ou mais criados
particulares.[43] Dentre as personalidades que viajaram na primeira classe durante a
viagem inaugural do Titanic pode-se destacar Joseph Bruce Ismay, presidente da White
Star Line,[44] e Thomas Andrews, um dos engenheiros do navio.[45] Ambos viajaram a fim
de observar possíveis defeitos que poderiam ocorrer e melhorias que poderiam ser
aplicadas no Britannic. O passageiro mais rico a bordo era John Jacob Astor IV, um militar,
escritor, inventor e empresário norte-americano, que viajava junto de sua esposa
Madeleine.[46] Outros passageiros detentores de grandes fortunas incluiam Margaret
Brown,[47] Benjamin Guggenheim,[48]Jacques Futrelle,[49] Cosmo Duff-Gordon,[50] Archibald
Gracie[51] e o tenista Richard Norris Williams.[52] Archibald Butt, um dos assessores do
presidente William Howard Taft, também fez a travessia a bordo do Titanic para retornar
aos Estados Unidos a fim de se preparar para as eleições presidenciais.[53] John Pierpont
Morgan, banqueiro e empresário norte-americano, também deveria ter viajado no Titanic,
porém desistiu de última hora para comemorar o aniversário de sua amante em Aix-les-
Bains na França.[54]
A segunda classe era mais diversificada e incluía empresários, professores, clérigos e
imigrantes, por vezes ricos, que retornavam ao seu país natal.[55] Dentre eles é possível
destacar Lawrence Beesley, um jornalista e escritor britânico que depois do naufrágio
publicaria um dos primeiros relatos do desastre, The Loss of the SS Titanic.[56] Também na
segunda classe estava a família Navratil: o pai Michel e os filhos bebês Michel Marcel e
Edmond. Eles foram registrados ao embarcarem como "família Hoffman" e para os outros
passageiros eram um pai viúvo com seus dois filhos pequenos. Entretanto, Michel Navratil
na verdade havia perdido a custódia das crianças para sua ex-esposa mas decidiu fugir
com eles para os Estados Unidos; Michel morreu no naufrágio, porém Michel Marcel e
Edmond sobreviveram e ficaram conhecidos como os "órfãos do Titanic".[57]
Por fim, a terceira classe era onde estavam os imigrantes. Eram pessoas que muitas
vezes viajavam em grandes grupos familiares de até doze membros.[58] Eles vinham de
diferentes partes da Europa como Escandinávia, Leste Europeu, Irlanda e até mesmo da
Ásia.[59] Antes do embarque todos foram sujeitos a controles sanitários pois os
regulamentos de imigração norte-americana eram bem rigorosos para evitar
contaminação. A terceira classe era a única a ser obrigada a passar por esses exames,
também estando previsto que novas examinações fossem realizadas assim que
chegassem a Nova Iorque.[60]
Tripulação
Ver artigo principal: Tripulação do RMS Titanic
Os quatro oficiais sobreviventes. Em pé: Harold Lowe, Charles Lightoller e Joseph Boxhall. Sentado:
Herbert Pitman.
O comissário chefe Hugh McElroy junto com o capitão Edward Smith a bordo do Titanic.
História
Testes marítimos
O Titanic deixou o porto de Southampton às 12h15min do dia 10 de abril de 1912 com 953
passageiros a bordo, 29 dos quais desembarcariam antes do navio seguir para Nova
Iorque. A bordo estavam pessoas de quarenta nacionalidades diferentes. Ao partir a
embarcação passou perto do SS New York, que estava atracado no cais. A sucção das
hélices do Titanic fez com que as amarras que prendiam o New York se soltassem, e ele
rapidamente começou a se aproximar do navio maior. Smith deu ordem para que as
máquinas entrassem em ré a fim criar um efeito que empurrasse o New York para longe.
Os rebocadores do porto conseguiram parar o New York e impedir uma colisão, porém os
dois navios chegaram a ficar a menos de dois metros de distância um do outro.[84] Esse
incidente fez com que o Titanic deixasse Southampton com uma hora de atraso.[85]
Em seguida ele foi para Cherbourg-Octeville na França, chegando às 18h35min. 22
passageiros desembarcaram e outros 274 subiram a bordo, em sua maioria da primeira
classe. Já que a embarcação era muito grande para entrar no porto da cidade,[86] o
transporte dos passageiros foi realizado por dois barcos auxiliares: o SS Nomadic e
o SS Traffic.[86][87] O navio deixou Cherbourg às 20h10min.[2]
O Titanic então rumou para Queenstown na Irlanda, chegando às 11h30min do dia
seguinte. Sete passageiros desceram e 120 embarcaram,[88] principalmente imigrantes da
terceira classe que pretendiam tentar a vida nos Estados Unidos. O navio deixou
Queenstown às 13h30min e iniciou sua travessia transatlântica para Nova Iorque com
1316 passageiros e 889 tripulantes.[89] Desde o naufrágio muitas vezes se afirmou que o
capitão Smith planejava se aposentar ao final da viagem;[90] entretanto, não existem
evidências concretas que essa era realmente sua intenção[91] enquanto outras fontes
sugerem que a White Star Line planejava mantê-lo no comando do Titanic até o
lançamento do Britannic, então agendado para 1914.[92]
Travessia
A travessia do Titanic pelo oceano Atlântico ocorreu sem grandes incidentes pelos dois
dias seguintes. No dia 12 de abril ele começou a receber avisos de gelo vindos de outras
embarcações. A primeira mensagem deste tipo foi do SS La Touraine, que alertava sobre
uma névoa densa, uma espessa camada de gelo na superfície da água e
vários icebergs em diferentes pontos do oceano. Essa mensagem foi imediatamente
entregue ao capitão Smith.[93]
O navio recebeu várias outras mensagens de icebergs e campos de gelo por todo o dia
seguinte. Na parte da tarde, o incêndio que estava ocorrendo em uma de suas reservas de
carvão desde antes da partida de Southampton foi finalmente apagado. Esse tipo de
incidente não era incomum em embarcações da época, porém sua intensidade foi rara
devido a uma explosão de gás e pela baixa qualidade do carvão ocasionada por uma
greve de mineiros. Foram necessários vários homens para apagar o fogo, que
possivelmente pode ter enfraquecido as paredes do casco.[94] O SS Rappahannockenviou
às 22h30min mais uma notificação sobre camadas de gelo grossas e campos de icebergs;
o recebimento dessa mensagem foi confirmado no diário de bordo por um dos
oficiais.[95][96]
Novas mensagens foram recebidas também durante a tarde e noite de 14 de abril.
Diferentemente das anteriores, apenas alguns desses avisos foram entregues na ponte e
Smith não tomou conhecimento da maioria deles.[96]
Naufrágio
Ver artigo principal: Naufrágio do RMS Titanic
Colisão
O iceberg que acredita-se ter sido batido pelo Titanic, fotografado pelo comissário chefe do SS Prinz
Adalbert na manhã do dia 15. Testemunhas afirmam que o iceberg tinha rastros de pintura vermelha
do casco do navio em um de seus lados.
O Titanic já havia percorrido mais de 2 500 quilômetros por volta da noite de 14 de abril.
Dentre os avisos de gelo recebidos durante o dia estava um do SS Californian. Às
22h55min, o Californian enviou um outro aviso para todos os navios próximos, inclusive
para o Titanic. Porém, Jack Phillips interrompeu o operador da outra embarcação e o
mandou calar a boca para que pudesse continuar enviando mensagens dos passageiros
para o continente. Logo depois disso o operador de rádio do Californian desligou seus
equipamentos e foi dormir, já que não era costume manter os operadores trabalhando
durante a noite.[97]
Por volta das 23h30min, o Titanic estava viajando a pouco mais de 21,5 nós (41
km/h),[98] com a maioria dos passageiros já estando dormindo ou retirados em suas
cabines. Neste momento na ponte de comando estavam de serviço o primeiro oficial
Murdoch e o sexto oficial Moody, enquanto na roda do leme estava o quartel-mestre
Robert Hichens. No cesto de gávea no mastro principal estavam os vigias Frederick Fleet
e Reginald Lee. Era uma noite escura, não havia nuvens nem Lua no céu e a água estava
completamente calma; atualmente sabe-se que uma água extremamente calma como
aquela encontrada pelo Titanic é um sinal da presença de icebergs por perto, porém isso
não era de conhecimento dos marinheiros da época.[99]
Fleet e Lee avistaram um iceberg diretamente na frente do navio à aproximadamente
23h40min. Fleet tocou o sino de alerta três vezes e telefonou para a ponte, informando
Moody sobre o gelo. O sexto oficial repassou o aviso para Murdoch, que por sua vez
ordenou uma parada total das máquinas[100] e que Hichens virasse a embarcação
para bombordo.[101] Houve um atraso antes que quaisquer uma das ordens pudessem
entrar em efeito: o mecanismo de manobra demorava até trinta segundos para mover o
leme do Titanic,[102] enquanto parar os motores também era uma tarefa que precisava de
muito tempo para poder ser realizada.[103]
O Titanic começou a virar quase quarenta segundos depois, porém isso não foi suficiente.
O iceberg colidiu com o lado estibordo do navio, arranhando seu casco embaixo da linha
d'água e fazendo com que pedaços de gelo caíssem nos conveses dianteiros.[104] Murdoch
ordenou uma virada para estibordo a fim de mudar o curso da popa e dessa forma evitar
que o gelo danificasse toda a extensão do navio, também ativando o fechamento imediato
das comportas estanques para tentar conter a água.[105] Smith estava em sua cabine no
momento da colisão, porém sentiu a vibração do navio e foi para a ponte, onde Murdoch
lhe informou sobre o ocorrido. O capitão ordenou que todas as máquinas fossem
desligadas e mandou chamar Thomas Andrews a fim de investigar as avarias.[106]
Danos
Às 0h05min já do dia 15 de abril, Smith deu ordem para que os botes fossem preparados e
os passageiros acordados. Ele ordenou que Phillips e Bride começassem a enviar pedidos
de socorro, que erroneamente direcionaram os navios de resgate para uma posição 21 km
distante de onde o Titanic realmente estava.[114] Os comissários de bordo logo foram bater
de porta em porta chamando os passageiros e pedindo para que eles fossem para o
convés dos botes.[115] O tratamento recebido dependia da posição social; os comissários
da primeira classe cuidavam cada um de apenas algumas cabines, então eles podiam
ajudar os passageiros a se vestirem e irem para o convés, enquanto os comissários da
segunda e terceira classe tinham de percorrer várias cabines rapidamente, rudemente
acordar os passageiros e mandá-los colocarem coletes salva-vidas.[116] Apesar das
ordens, muitos passageiros e tripulantes estavam relutantes em atender os pedidos, por
não acreditarem que o Titanic estava em perigo ou por não quererem sair no frio da noite.
Não foi dito que o navio estava afundando, porém algumas pessoas perceberam que ele
estava inclinando.[115]
No convés a tripulação iniciou o preparo dos botes, porém era difícil ouvir qualquer coisa
devido ao barulho do vapor das caldeiras que estava sendo evacuado pelas
chaminés.[117]O som era tão alto que tiveram que usar sinais de mão para se
comunicarem.[118] Além disso, eles estavam mal preparados para uma emergência já que o
treinamento com botes havia sido mínimo. Esses barcos supostamente estariam com
suprimentos de emergência, porém muitos passageiros posteriormente descobriram que
tinham recebido apenas provisões parciais, apesar dos esforços do padeiro chefe Charles
Joughin e sua equipe. Nenhum exercício de emergência havia sido realizado
no Titanic desde sua partida de Southampton.[119] Tudo isso foi piorado pela aparente
indecisão, insegurança e paralisia de Smith, que falhou em dar certas ordens, não
organizou a tripulação e negligenciou informações cruciais sobre a real situação do
navio.[120]
Botes lançados
Ver artigo principal: Botes salva-vidas do RMS Titanic
Sinal de socorro enviado pelo Titanic às 1h40min e captado pelo navio russo SS Birma.
O preenchimento dos botes salva-vidas começou por volta dàs 0h20min. O segundo oficial
Lightoller se dirigiu ao capitão e sugeriu que a evacuação fosse iniciada com as mulheres
e crianças. Smith, ainda em estado de paralisia, concordou com a cabeça e disse "coloque
as mulheres e crianças e abaixe-os". Lightoller assumiu o lançamento dos botes no lado
bombordo enquanto Murdoch ficou encarregado do lado estibordo. Entretanto, os dois
homens interpretaram as ordens de maneira diferente: o primeiro oficial entendeu que
eram mulheres e crianças primeiro, enquanto o segundo oficial presumiu que eram
mulheres e crianças apenas. Dessa forma, Lightoller lançava seus botes caso não
houvesse nenhuma mulher por perto para embarcar, enquanto Murdoch por sua vez
permitia a entrada de homens depois de embarcadas todas as mulheres e crianças.
Nenhum dos dois sabia a capacidade exata dos barcos e temeram superlotá-los, assim
vários botes foram abaixados com menos da metade de sua capacidade total.[121]
Pouquíssimos passageiros estavam inicialmente dispostos a embarcar nos botes e os
oficiais tiveram grande dificuldade em persuadi-los. Eles eram em sua enorme maioria
membros da primeira classe. Ismay sabia da necessidade de urgência na evacuação e
correu pelo lado estibordo do convés superior pedindo para as pessoas embarcarem.
Algumas mulheres, casais e homens solteiros foram persuadidos a embarcar no bote nº 7,
que foi o primeiro a ser lançado ao mar por volta dàs 0h45min com apenas 28 pessoas.[122]
Nos conveses inferiores a situação era bem mais alarmante. Os tripulantes das salas das
caldeiras nº 5 e 6 estavam lutando por suas vidas enquanto ao mesmo tempo tentavam
impedir que o vapor das caldeiras não entrasse em contato com água congelante do
oceano, algo que poderia ocasionar uma explosão. A sala da caldeira nº 4 começou a ser
inundada por volta das 1h20min, inicialmente pelo chão, indicando que o iceberg
possivelmente também danificou a parte inferior do casco.[122] Mais para a popa, o
engenheiro chefe Bell e seus colegas continuaram trabalhando nos geradores elétricos do
navio a fim de manter as luzes e o rádio funcionando. Eles aparentemente permaneceram
em seus postos até o fim, garantindo que o Titanic permanecesse iluminado até os
minutos finais.[123]
Ilustração de Charles Dixon do bote nº 15 sendo baixado em cima do nº 13.