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Os sufixos nominalizadores –ção e –mento*

Solange Mendes Oliveira1


1
Centro de Comunicação e Expressão – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Campus Universitário – Trindade - CEP 88.040-970 – Florianópolis – SC – Brasil

Abstract. The purpose of the present study is to discuss, according to the


theory on Distributed Morphology (Halle and Marantz, 1993; Marantz, 1996,
1997; Halle, 2000; Embick, 2000; Embick and Noyer, 2004), the peculiarities
of the nominal suffixes –ção and –mento in the derivations formed from the
adjunctions of these morphemes to a verbal base. We explore the hypothesis
that there are semantic restrictions in the derivative forms on the part of the
stems, which will permit sometimes the verbal base adjunction to the nominal
suffix –ção, and sometimes to the nominal suffix –mento.
Keywords. suffixes –ção and –mento; Distributed Morphology.

Resumo. Este artigo discute, à luz do arcabouço teórico da Morfologia


Distribuída (Halle e Marantz, 1993; Marantz, 1996, 1997; Halle, 2000;
Embick, 2000; Embick e Noyer, 2004), as peculiaridades dos sufixos
nominalizadores - ção e - mento nas derivações formadas a partir da
adjunção destes morfemas a uma base verbal. Explora-se a hipótese de que
nas formações derivadas há restrições de cunho aspectual impostas pela raiz,
que vão permitir ora a adjunção da base verbal ao sufixo nominalizador –ção,
ora ao sufixo nominalizador –mento.
Palavras-chaves. sufixos –ção e –mento; Morfologia Distribuída.

1. Introdução
A adjunção dos sufixos nominalizadores –ção e -mento às raízes verbais forma
substantivos abstratos, como perseguição, obrigação, posicionamento, questionamento
etc.; entretanto, isto não ocorre de forma aleatória, pois temos, por exemplo,
distribuição, e não *distribuimento, assim como endividamento, e não *endividação.
Sendo assim, explora-se a hipótese de que as raízes verbais impõem restrições de cunho
aspectual às formações derivadas, que vão permitir ora a adjunção da base verbal ao
sufixo nominalizador –ção, ora ao sufixo nominalizador –mento.
O trabalho divide-se em três seções. Primeiramente, delineam-se os aspectos
mais importantes da Morfologia Distribuída, que são relevantes para explicar a
adjunção dos sufixos em questão a uma raiz verbal; em seguida, apresenta-se uma
proposta de análise para explicar a adjunção de –ção e –mento às diferentes bases
verbais; a última seção apresenta as conclusões do trabalho.

2. A Morfologia Distribuída
A teoria da Morfologia Distribuída (doravante, MD) propõe uma arquitetura de
gramática na qual um único sistema gerativo, a sintaxe, congrega palavras e sintagmas
que são submetidos a dois outros módulos independentes, a morfologia e a fonologia.
Em sua essência, portanto, a abordagem da MD para a morfologia é sintática.
Alguns aspectos da formação de palavras surgem de operações sintáticas
(Merge, Move), enquanto outros aspectos são realizados por operações que ocorrem em

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PF. É este fato que justifica o termo Morfologia Distribuída (Embick e Noyer, 2004).
As unidades que estão sujeitas às operações sintáticas Merge e Move – os
morfemas - são os nós terminais dos diagramas em árvore. Estes morfemas são
compostos de um complexo de traços gramaticais/sintático-semânticos e, dependendo
da variedade de traços que eles contêm, são definidos ou como morfemas abstratos ou
como Raízes.
Morfemas não têm conteúdo fonológico, que é atribuído via Inserção de
Vocabulário ou Spell-out. A Inserção Vocabular é governada pelo Princípio de
Subconjunto, que diz que é o item do vocabulário que se combinar com o maior
número de traços especificados no morfema terminal que será inserido naquela posição;
se o item do vocabulário contiver traços não presentes no morfema, a inserção não
ocorrerá (Halle, 2000, p.131). Os itens do vocabulário são, então, uma relação entre um
fragmento fonológico e uma informação sobre onde este fragmento pode ser inserido.
Todos os itens do vocabulário competem pela inserção. A Inserção Vocabular é
responsável também pelo fornecimento de traços fonológicos às raízes. A estrutura
interna das palavras é, portanto, um produto da sintaxe e de operações (morfológicas e
morfonológicas) no componente PF (Marantz, 1996).
Enquanto os traços que compõem os morfemas são universais, as Raízes são
combinações (específicas) de sons e significados específicos das línguas. Segundo
Marantz (1996), nossas categorias sintáticas usuais – nomes, verbos e adjetivos – são,
na verdade, categorias morfológicas que emergem durante a derivação somente no
contexto de certas projeções funcionais, isto é, um nome é uma Raiz em um local
relacionado com um núcleo funcional particular D(eterminante). As Raízes são então
categorizadas quando estiverem em um local que se relacione com um dos núcleos
funcionais doadores de categoria: nome (n), adjetivo (a) ou verbo (v), ou seja, os
núcleos funcionais determinam no ambiente da Raiz a categoria a que ela pertence. As
palavras pertencem às categorias morfológicas, mas são sempre derivadas
sintaticamente (Marantz, 1996, 1997; Embick, 2000).
Assim, no quadro da MD, a formação de palavras é possível quando a uma raiz
(√) adjungir-se um afixo derivacional portador de categoria morfossintática. Somente
assim forma-se um nome (n), ou um adjetivo (a), ou um verbo (v).
Segundo Marantz (1997), há um continuum entre os significados de morfemas
atômicos e palavras derivadas. As palavras então podem ter significados especiais do
tipo que as raízes devem ter, mas sintaticamente as estruturas derivadas devem ter
significados predizíveis a partir dos significados de suas partes e de suas estruturas
internas. Assim, formações como transmissão, administração, por exemplo, carregam a
implicação semântica de sua estrutura interna, que inclui um verbo aspectual (v), um
verbo raiz (√), e um sufixo nominalizante. Para o autor, as categorias semânticas devem
ser predizíveis com base na estrutura sintática, e, portanto, as categorias semânticas são
decorrentes dos ambientes verbais e nominais.
Entre as categorias funcionais em cujos ambientes as raízes se tornam verbos,
estão ν-1 e v-2. A categoria funcional ν-1 projeta um agente (como, por exemplo, o
verbo destruir), enquanto que ν-2 (como os verbos crescer e quebrar) não o faz. Verbos
como destruir têm a propriedade aspectual [evento não causado internamente], o que
implica causa externa ou agente, enquanto que verbos como crescer e quebrar têm a
propriedade aspectual [mudança de estado causada internamente], o que implica

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resultado de mudança de estado. Portanto, há uma aparente incompatibilidade entre ν-2
e verbos que impliquem causas externas ou agentes, como o verbo destruir (cf.“João
destruiu a cidade” e “*A cidade destruiu”).
O exemplo em (1), abaixo, ilustra o uso nominal da raiz de verbos como
destruir, em que a concatenação de uma raiz com “D” a coloca em um contexto nominal
e, como conseqüência, não há nenhum elemento agentivo para o sintagma nominal
(Marantz 1997, p. 218):
(1) a destruição da cidade.
D nominalizador

D √DESTRUIR

√DESTRUIR a cidade
Já o agente da projeção ν-1, que serve para verbalizar as raízes, ocorre na
sentença em (2):
(2) João destruiu a cidade.
ν -1 verbalizador

ν-1 √DESTRUIR

√DESTRUIR a cidade
O ambiente verbal em (2) revela, semanticamente, um evento não causado
internamente, e, conseqüentemente, um agente externo. O ambiente nominal em (1)
igualmente denota um evento não causado internamente.
Já em (3) abaixo, temos um exemplo de ν-2, em que a raiz do verbo crescer faz
referência a uma mudança de estado causada internamente:
(3) O mato cresceu.
ν-2 verbalizador

ν-2 √CRESCER

√CRESCER
A raiz √CRESCER, ao contrário de √DESTRUIR, é não-agentiva.
Conseqüentemente, quando crescer é colocado em um ambiente nominal, não há
nenhum agente para o sintagma nominal, e temos somente “o crescimento do mato”.
Assim, destruir / destruição parecem reter seu agente, enquanto que
crescer/crescimento perdem a possibilidade de expressar o causador agentivo. A
solução para esta configuração é puramente sintática. A raiz lexical por trás tanto do
verbo destruir como do nome destruição inclui significado causativo, então, implica um
agente. Por outro lado, na raiz por trás de crescer e crescimento falta o significado
causativo.
Há diversas diferenças entre ambientes sentenciais e nominais; entre elas está a
possível presença de um agente sintaticamente projetado: ambientes sentenciais –

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verbais – permitem estes agentes, enquanto ambientes nominais não o permitem. Assim,
para Marantz (1996, p.19), o nó aspecto sintaticamente pode projetar um agente.
Embick (2000, p.217) igualmente aponta para uma conexão direta entre as propriedades
aspectuais que estão implicadas nas nominalizações e as propriedades da estrutura
funcional. Esta configuração sintática está ilustrada em (4):
(4) Estrutura sintática das formações deverbais:
AspP

Asp vP

v √P

√Raiz
Para Embick, os traços de v (o núcleo v é um verbo leve, funcional) dizem
respeito à agentividade/causatividade e eventividade ou estatividade. Asp contém traços
que se referem às propriedades dos núcleos funcionais. As Raízes, como já vimos, não
carregam noções morfológicas de categoria; os núcleos funcionais são identificáveis em
termos de seu contexto de traços sintático-semânticos e então desempenham um papel
definido na realização morfológica da Raiz. Tomados juntos, os 2 núcleos funcionais
(Asp e v) contêm informações aspectuais básicas acerca da eventividade ou estatividade.
Em suma, no quadro teórico da MD, as raízes são a-categoriais; na sintaxe, são
concatenadas (merged) com núcleos funcionais abstratos doadores de categoria. No
domínio verbal, este núcleo é v (Chomsky, 1995). No ambiente não-verbal, este núcleo
é n para os nomes e a para os adjetivos. A realização fonológica destes núcleos
doadores de categoria é tipicamente um sufixo derivacional. Se os afixos contiverem
traços fonológicos, o radical será derivado. Uma palavra só é concebida como
morfologicamente bem formada após o cumprimento da condição de adjunção de um
sufixo temático ao radical. No componente morfológico ocorre a operação de Inserção
Vocabular, tendo como resultado a inserção da raiz (√) e a inserção do afixo
derivacional, que é sintaticamente motivado, embora não seja pronunciado. Um afixo
tem, então, um traço de seleção categorial que determina sua inserção em uma estrutura
morfológica. A informação que permite diferenciar as formas derivadas de formas
simples, segundo este modelo teórico, é o conteúdo fonológico do afixo doador de
categoria morfossintática à raiz.

3. Os sufixos nominalizadores -ção e –mento


Nesta seção, analisam-se as formações derivadas com –ção e –mento com o
intuito de sustentar a hipótese de que nessas derivações há restrições semânticas por
parte da raiz, que vão permitir ora a adjunção da base verbal ao sufixo nominalizador –
ção, ora ao sufixo nominalizador –mento.
Para isso, duas proposições teóricas norteiam este estudo:
(i) Raízes (√) são categorias neutras e somente adquirem categoria morfossintática
quando a elas for adicionado um morfema definidor de categoria, isto é, um
afixo derivacional que contenha traços fonológicos (Marantz, 1996, 1997;
Embick, 2000); neste caso, -ção e –mento.

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(ii) As nominalizações são sensíveis ao aspecto verbal quando este é sintaticamente
expresso; logo, em uma formação derivada interagem as propriedades aspectuais
da forma verbal e do morfema.
Os sufixos nominais -ção e -mento acrescentam-se somente a temas verbais
(tema = raiz + vogal temática) e têm como resultado nomes abstratos: armação,
laminação, fundição, punição, rendição, reparação, agradecimento, andamento,
atrevimento, sentimento, sofrimento etc. Certos substantivos com sentido concreto,
como documento, monumento etc., vieram “com sentido especializado do latim para o
português” (Said Ali, 2001, p.180).
Em se tratando de verbos regulares que pertençam à primeira conjugação (-ar)
ou à terceira conjugação (-ir), há a anexação de –mento e –ção diretamente aos temas
verbais: arma(r)ção, fundi(r)ção, puni(r)ção; casa(r)mento, orna(r)mento, feri(r)mento
etc. Se os verbos pertencem à segunda conjugação (-er), quem ganha a disputa pela
inserção vocabular é o alomorfe (-i-) da vogal temática (-e-) - confiram-se, por exemplo,
rendi/rendeste; sofri/sofreste; agradeci/agradeceste etc.: sofrimento, agradecimento,
rendição, perdição etc.
Passemos então à análise das formações derivadas com o sufixo nominalizador –
ção, seguindo o modelo proposto por Marantz (1996, 1997) e Embick (2000):

3.1 Sufixo -ção


Observem-se primeiramente alguns exemplos de formações relevantes para a
discussão:
(5) Formações derivadas a partir de uma forma verbal + -ção:
nomeação mastigação aceleração aparição
declaração rendição dedetização destruição
criação perdição obrigação localização
gesticulação administração averiguação realização
sinalização transmissão comparação oração
punição digitação penalização operacionalização
reparação povoação viabilização regionalização
fundição perseguição capacitação robotização
divulgação laminação armação coroação
valorização fundição renovação elaboração
renovação acomodação animação estruturação
aprovação traição utilização formulação
afirmação dinamização instalação invenção
consecução afinação composição esfregação
retificação islamização exteriorização centralização
focalização legalização organização caracterização
pulverização polemização estilização generalização
popularização canonização alimentação comparação
suavização invocação solução posição
instrução configuração redução sinalização
Olhando as formações exemplificadas acima, o que se observa é que em todas
elas o evento não é causado internamente; portanto, estes dados indicam que as formas

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verbais que compõem essas formações têm agentes implicados por um evento com
causa externa – pertencem, portanto, à classe ν-1. A noção [causação não-interna] é uma
propriedade inerente a essas raízes e é decorrência semântica do molde morfossintático
[tema verbal + sufixo -ção nominalizador].
O sufixo –ção é, pois, um morfema agentivo/causativo, já que se adjunge a
verbos agentivos/causativos, que exigem um agente: nomear/nomeação,
declarar/declaração, punir/punição, reparar/reparação, fundir/ fundição etc. O
morfema causativo, segundo Chafe (1979, p.131), converte uma raiz verbal que é
processo em uma que, por derivação, denota tanto processo como o resultado da ação.
O sufixo –ção adjunge-se tanto a bases verbais primitivas – render, inventar,
criar, trair, obrigar, perder etc., como a bases verbais derivadas com o sufixo –izar,
que encerra idéia causativa (cf. Coutinho, 1976, p. 173): sinalizar, valorizar, focalizar,
localizar, popularizar, penalizar, dinamizar, organizar, realizar, generalizar etc.
As nominalizações são produzidas quando se coloca uma raiz em um contexto
verbal e, este, em um contexto nominal. A interação que se estabelece entre as
implicações semânticas da raiz verbal e do sufixo nominalizador –ção está representada
no diagrama em (6):
(6) nP

n AspP

Asp vP
-ÇÃO
[morfema +agentivo/]
+causativo v √ DECLARAR
[causação externa
ou agente]
√DECLARAR
A derivação ocorre como exposto abaixo, na qual, com base em Lemle (2002),
coloca-se em prática, na análise, a interação entre a semântica do componente lexical e
do afixo derivacional:
1º) a raiz √DECLARAR entra na derivação e é concatenada ao núcleo funcional
verbalizador v, que tem o traço aspectual [causação externa];
2º) o morfema –ção, inserido no núcleo funcional Asp, carrega o traço
[+agentivo] e é semanticamente compatível com o traço [causação externa] da raiz;
3º) a raiz declarar se concatena ao morfema -ção, que preenche a exigência
semântica de agentividade;
4º) na parte fonológica da derivação, o núcleo funcional nominalizador n atrai a
forma [declarar + ção], que se move para incorporar-se a n, formando declaração.
Neste ponto, a derivação se encontra como em (7):

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(7) Spell-Out
nP

n AspP
declaração
[resultado da
ação/agenti- Asp vP
vidade] -ÇÃO
[morfema +agentivo/
+causativo] v √DECLARAR

[causação
externa ou agente]

√DECLARAR
Passemos agora à análise de derivações formadas a partir de uma base verbal + o
sufixo nominalizador –mento.

3.2 Sufixo –mento


Observem-se primeiramente as formações derivadas exemplificadas em (8):
(8) Formações derivadas a partir de uma forma verbal + -mento:
enriquecimento melhoramento encadeamento apagamento
rejuvenescimento atrevimento alongamento falecimento
vivenciamento agradecimento desenvolvimento juramento
aprofundamento posicionamento empobrecimento sofrimento
atrelamento aprimoramento cometimento alagamento
alargamento amadurecimento ajustamento levantamento
sentimento prevalecimento andamento envelhecimento
florescimento aguçamento ferimento carregamento
esfriamento abastecimento movimento alinhamento
engrandecimento aparelhamento estabelecimento amolecimento
rebaixamento aperfeiçoamento pronunciamento embelezamento
encarceramento encantamento enfraquecimento endurecimento
emagrecimento conhecimento escurecimento favorecimento
esclarecimento sombreamento questionamento encurtamento
apodrecimento enrubescimento encaminhamento barateamento
embranquecimento parecimento fingimento empilhamento
engavetamento enquadramento asfaltamento enraizamento
bombardeamento arredondamento constrangimento esvaziamento
amaciamento mascaramento cerceamento fechamento
enrijecimento alçamento agrupamento alvejamento

Analisando as formações derivadas exemplificadas acima, o que se observa é


que todas as formas verbais que permitem a adjunção de -mento têm agentes implicados
por situações com causação interna – pertencem, portanto, à classe ν-2. A noção
[causação interna] é então decorrência semântica do molde morfossintático [raiz +
-mento]. Desta forma, -mento é um morfema não-agentivo, dado que se adjunge a

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verbos não-agentivos e não-causativos: amadurecer, florescer, esfriar, falecer,
envelhecer, embelezar, enfraquecer, fingir etc. As raízes verbais que compõem as
derivações em (9) denotam mudança de estado e as formações derivadas exprimem o
resultado da mudança de estado.
A noção [causação interna] é uma propriedade inerente a essas raízes, e verbos
com estas propriedades temáticas são tanto inceptivos, isto é, implicam situações cuja
realização denota o começo de uma outra situação, como incoativos, ou seja, implicam
mudança de estado (cf. Travaglia, 1994; Castilho, 2002) ou “conversão de uma
configuração em outra” (Chafe, 1970, p.124), como se pode observar em:
amadurecer/amadurecimento; sofrer/sofrimento; sentir/sentimento; mover/movimento;
falecer/falecimento; atrever/atrevimento; fingir/fingimento etc.
O sufixo –mento adjunge-se a várias bases verbais formadas por derivação
parassintética. Estas bases são formadas: a) da adjunção do prefixo a-, que indica
mudança de estado (cf. Coutinho, 1976, p.177), a um substantivo ou adjetivo + o sufixo
verbal -ar: alagar, alinhar, agrupar, alargar, amaciar, arredondar etc.; b) da adjunção
do prefixo a- a um adjetivo + o sufixo –ecer, que exprime idéia incoativa (cf. Coutinho,
1976, 177): agradecer, apodrecer, amolecer, amadurecer etc.; c) da adjunção do
prefixo e-/en-/in-, que exprime idéia de movimento para dentro (cf. Coutinho, 1976,
p.177), a um adjetivo + o sufixo –ecer: enriquecer, envelhecer, engrandecer,
emagrecer, empobrecer, embranquecer, enfraquecer etc.; d) da adjunção do prefixo re-,
que indica “outra vez” (cf. Said Ali, 2001, p.187), ou do prefixo es- que denota
intensidade (cf. Coutinho, 1976, p.177), a um adjetivo + o sufixo –ecer/-scer:
rejuvenescer, esclarecer, escurecer etc.
As formações derivadas a partir de –mento podem ainda indicar o meio ou o
instrumento, como em ferramenta, vestimenta etc., das quais não nos ocuparemos aqui.
A interação entre a semântica da raiz verbal e o sufixo nominalizador -mento
está representada no diagrama em (9):
(9) nP

n AspP

Asp vP
-MENTO
[morfema não-
agentivo] v √SENTIR
[causação
interna]
√SENTIR
Assim ocorre a derivação, na qual, se coloca na descrição, a interação entre a
semântica do componente lexical e do afixo derivacional (Lemle 2002):
1º) a raiz √SENTIR entra na derivação e é concatenada ao núcleo funcional
verbalizador v, que tem o traço aspectual [causação interna];
2º) o morfema –mento, inserido no núcleo funcional Asp, carrega o traço
[-agentivo] e é semanticamente compatível com o traço [causação interna] da raiz;
3º) a raiz sentir se concatena ao morfema -mento, que preenche a exigência
semântica de não-agentividade;

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4º) na derivação fonológica, o núcleo funcional nominalizador n atrai a forma
[sentir + mento], que se move para incorporar-se a n, formando sentimento.
A derivação, neste ponto, encontra-se como representada em (10):
(10) Spell-Out

nP

n AspP
sentimento
[resultado da mu-
dança de estado] Asp
-MENTO vP
[morfema não-agentivo]

v √SENTIR
[causação interna]

√SENTIR
Observou-se que há algumas formações duplas na língua, como ligação e
ligamento; internação e internamento; salvação e salvamento. Os vocábulos ligação
(“ato ou efeito de ligar”) e ligamento (“tecido fibroso que constitui meio de união de
articulações ou de partes ósseas”) não são palavras derivadas, mas são formas
primitivas, provenientes do latim ligatione e ligamentu, respectivamente (Dicionário
Aurélio, 1999, p. 1212). O mesmo acontece com os vocábulos salvação (“ato ou efeito
de salvar”) e salvamento (‘operação ou efeito de salvar”), que provêm, respectivamente,
do latim salvatione e salvamentu (Dicionário Aurélio, 1999, p.1805). Supõe-se que,
provavelmente, deveria haver, em latim, uma diferença de sentido entre essas formas.
Já internação e internamento são realmente formas derivadas formadas a partir
da adjunção de –ção e –mento ao verbo internar, constituindo, assim, uma rara exceção.
Ambas as formas são sinônimas e exprimem “ato ou efeito de internar(se)” (Dicionário
Aurélio, 1999, p.1126). Será que há algum tipo de diferença semântica na interpretação
dessas palavras por parte dos falantes? Aqui está um dado para ser investigado em
pesquisas futuras.

4. Considerações finais
A análise das formações derivadas com –ção e –mento leva-nos a concluir que:
a) Os verbos que se adjungem ao sufixo nominalizador –ção denotam um evento
não causado internamente, o que implica em causa externa ou agente, e têm como
resultado uma forma derivada que denota o resultado da ação ou da agentividade;
b) Já os verbos que se adjungem ao sufixo –mento denotam mudança de estado
causada internamente, o que implica em causa interna, e têm como resultado uma forma
derivada que denota mudança de estado;
c) As nominalizações são sensíveis ao aspecto, que, por sua vez, decorre da
estrutura [raiz + sufixo nominalizador]; portanto, nas formações derivadas há restrições
semânticas por parte da raiz, já que nessas formações interagem as propriedades
aspectuais da forma verbal e do morfema;

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d) Verbos causativos não podem passar a verbos de mudança de estado com
causadores internos: *administramento, *nomeamento; e nem verbos não-causativos
podem passar a verbos de mudança de estado com causadores externos: *enriquecição,
*envelhecição etc.;
e) A morfologia derivacional deve ser sintática e não lexical, mas sem
desobedecer às restrições semânticas impostas pelas raízes e pelos morfemas.

* Agradeço a Maria Cristina Figueiredo Silva a leitura cuidadosa deste texto. Se alguns problemas ainda
persistem, são de minha inteira responsabilidade

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