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OS ELEITOS DE GAIA – Prólogo

Todas as quintas-feiras, por volta de 9 da noite, Michel, Gabriel, Thiago e Rafael, todos
primos, se reuniam na casa do primeiro para “conversar com o rádio”, como diziam. Nessas
estranhas reuniões, eles perguntavam e uma voz metálica, vinda de um velho rádio “Philips”
de válvulas, respondia. Mas, eles estavam proibidos pela voz de contar o que acontecia ali, no
quarto de Michel, que ele próprio chamava de “Michelab”. Porém, os garotos anotavam tudo.
Um dia, esperavam, poderia contar para todos o teor das informações que captavam.
Numa daquelas noites, aconteceu o que mais esperavam. A voz iria se identificar.
Extasiados com a notícia, os quatro sequer prestaram atenção na aula. Eles eram colegas de
turma na Escola Normal e não se importaram com o pito da professora, que notou que todos
estavam por demais dsitraídos., Gabrisextas-feirasTodos ficavam encantados com seus
conhecimentos gerais. Como um menino daquela idade poderia saber sobre tanto assunto
diferente? E eram temas complicados! Na verdade, ele, que morava com sua família na cidade
mineira de Formiga, “pegava” tudo que sabia do rádio. Não falava para ninguém deste seu
segredo, pois poderia cair no ridículo. Ele perguntava e o rádio respondia? Era isso mesmo.
Para o espanto geral, Michel dizia que toda a sua sapiência vinha diretamente de uma pessoa
que dizia ser de outra dimensão. Ninguém acreditava, claro, mas todos sabiam que algo de
estranho tinha aquele menino. Uma coisa era certa, ele discutia com propriedade matérias
como física quântica, astronomia, história universal, enfim, o mistério do menino personde
morava com sua família, ele estava absorvido com a chamada transcomunicação instrumental,
uma inusitada maneira de comunicar com outras dimensões através de aparelhos eletrônicos,
tais como rádio, televisão e gravador. Ele se enfurnava em seu quarto logo após chegar da
aula e só saia de lá pouco antes de dormir. Sua mãe, aflita como sempre, ficava desesperada
com o menino que só pensava naquilo.
O problema era que seus estudos começavam a ficar prejudicados, porque aquilo o envolvia
de tal maneira, que às vezes ele nem prestava atenção na aula e o rendimento nas provas
ficavam ruins ao final de cada mês. Na verdade, Michel, ao invés de prestara atenção, ficava
anotando o que captava na noite anterior. Para o espanto geral, o garoto começou a discutir
variados temas que ninguém sequer imaginava que poderia saber naquela idade. Ora,
comentava sobre problemas de física quântica, ora de ciência, astronomia e até história
mundial. Ele afirmava que recebia aquelas informações que eram provenientes de uma
entidade habitante de um “universo paralelo”, conforme o próprio Michel afirmava com
extrema serenidade e confiança, não escondendo o deslumbramento.
Este era um dos grandes motivos porque não abandonava os “contactos”. Contudo, algo ainda
o intrigava. Quem, efetivamente, lhe passava tais informações? Por quê a “pessoa do Outro
Lado” jamais se identificava? Medo, questão de segurança? E se tudo aquilo era fruto de sua
mente? O menino começara a ficar inculcado. Tanto tempo passado e Michel ignorava a
identidade da fonte de suas informações. Esse problema teria que ser resolvido logo! “Da
próxima vez que eu conversar com esse cara, vou insistir para que revele sua procedência e,
claro, seu nome. Alegarei que não fica elegante conversar com desconhecidos”, pensou ele,
decidido a saber a conhecer a origem de suas “transcomunicações”.
Por volta de 5 horas de uma ensolarada e quente tarde, típica do verão formiguense, Regina, a
mãe de Michel, chamou-o: “Micha, meu filho, pegue a sua bicicleta e, por favor, vai comprar
pão, pois seu pai gosta de comer pão novo quando chega do trabalho!”
Acompanhado pelo Nestor, seu cachorro e fiel escudeiro, o menino pedalou até a Padaria do
Lack. No caminho, encontrou seus primos, os irmãos Rafael e Thiago. Cumprimentou-os e
logo foi contando sobre sua decisão.
“è hoje ou nunca, veio! Vou dar um ultimato na voz que se comunica comigo. Vou perguntar
de onde veio, o que quer e como se chama. Chega de ficar recebendo informação sem saber
de quem e o motivo!”
“Pó, legal, cara! – exclamou Rafael, o mais novo, e mais irrequieto – Não se esqueça de nos
dizer o que aconteceu... O contacto vai ser hoje ainda? Tia Ré vai deixar?”
“Não quero nem saber. Já sintonizei o meu rádio para a banda ideal. Quero aproveitar o dia de
hoje em que o céu está limpo, pois assim fica mais fácil captar as ondas no espaço, sem
interferência.”. Apesar da idade, o garoto Michel era sempre firme em suas decisões.
Certamente, ele iria convencer seus pais para que pudesse tentar o contacto naquela noite, em
torno de 9 horas, que se tornara praxe, principalmente às quintas-feiras. E assim aconteceu, ou
melhor, quase. Antes do estabelecido, Michel após conseguir convencer seus diletos genitores,
como sempre, tomou banho, escovou os dentes, colocou o pijama (pois estava decidido a
adentrar a madrugada, caso fosse necessário) e foi para seu quarto, que era também o seu
“laboratório”. Então começou a rodar o “dial” do rádio, à procura da sintonia fina, uma vez
que o mesmo já estava na freqüência de sempre. De repente, ouviu o barulho de um apito
vindo do lado de fora, talvez do corredor, que ficava perto da janela de seu quarto. O som era
grave e parecia vir de um apito, daqueles de atrair patos. Soava tão alto que seus ouvidos
começaram a doer. O que poderia ser, e de onde estava vindo aquele zunido tão alto?
Ressabiado, abriu a janela. Silêncio repentino. Nada. Subitamente, um clarão cegou-lhe os
olhos.

Meio tonto, procurou a porta da rua para ver o que era. Achou estranho começar a passar mal
sem mais nem menos só por causa de um barulho. Saiu de casa e espantou-se ao ver que
estava tudo escuro na rua. Não dava para ver nada: nem a rua, nem as casas, nada. Michel
sentiu que caía numa espécie de redemoinho. Procurou se apoiar em alguma coisa, mas nada
sentiu, só despencava. Teria caído num buraco da rua? E o barulho continuava...
Quando tudo parou, Michel fechou os olhos. Estava com medo de abrí-los. O que teria
acontecido? O silêncio era intenso. Nada se ouvia. Ausência total de som. Bem devagarinho,
foi abrindo os olhos. Subitamente, um facho de luz forte passou à sua frente como um raio.
Depois outro, e mais outro. Cores cintilantes atravessavam o seu caminho. Os pés estavam
apoiados em algo gelatinoso. Por isso, tentava equilibrar. Aos poucos, foi se familiarizando
com a situação. Conseguiu ficar de pé com mais firmeza. A vista já não mais doía, apesar do
jogo de luzes brilhantes que dançavam perto de si. Aos poucos foi reparando que realmente
estava num outro lugar. Onde? Em ? Ou estaria sonhando aquilo tudo?
Não. Ele não estava mais na rua de sua casa! Viu um vulto se aproximando. Não teve
medo. Esperou para ver o que era. Suavemente, aquela sombra tocou-lhe os ombros. Sensação
maravilhosa. O calor que invadiu seu corpo parecia energia pura e revigorante! Então, ele
ouviu uma voz muito serena que reverberava bem dentro de sua cabeça: “Finalmente, nos
encontramos, Michel!”
Emocionado, por estar finalmente “conhecendo pessoalmente” o seu “contato”,
Michel, tentou falar alguma coisa, mas viu que sua voz era interna, isto é, ela vinha do seu
pensamento. “Olá, meu amigo do “Outro Lado”. Estou vendo que você viu que eu já não
agüentava mais de tanta impaciência para conhecer-lhe!”.
Falava telepaticamente e ainda tentava visualizar o novo companheiro que ainda
estava com a mão direita sobre seu ombro. O amigo então falou-lhe com a sua habitual voz
serena, com o mesmo timbre que Michel ouvia diretamente de seu rádio: “Você é um
rapazinho muito esperto e impaciente mesmo... Mas, Landell nos permitiu apresentar a você.
Depois de tantos contatos, achamos que é hora de nos conhecermos melhor!”
“Diga-me agora qual é o seu nome e onde me encontro neste extao momento!”
“Devagar, garoto! Sempre muito afoito, não é mesmo?”, disse-lhe o Ser com um ar de
ironia, “Você agora se encontra num espaço diferente do seu. Aqui é uma espécie de mundo
intermediário. É diferente das dimensões paralelas que você tanto me falou pelo rádio,
lembra-se? Já disse naquela vez e repito: os místicos, estudiosos ou até mesmo cientistas que

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acham só existem mundos paralelos, estão enganados. Há mais morada do que eles
imaginam...”
“Mas me fala seu nome logo e onde estou exatamente!”, insistiu o irrequieto pré-
adolescente, achando que o nome do Ser seria tão importante quanto as informações que
recebia.
“Já também o disse várias vezes, mas você não captou. Primeiramente, nome é algo
secundário para nós. Somos identificados pela nossa essência. A quantidade de vibrações é
que denota quem somos. Assim, variamos de intensidade fotônica e somos identificados
facilmente. Futuramente, será assim na Terra. Assim mesmo, pode me chamar pelo nome
terreno de Márcio...”
Engraçado, aquele nome dizia algo muito forte para Michel. Isto sim é que era
vibração. Alguma coisa soava nesse nome que o menino desconfiava, mas não descobria o
motivo. De qualquer forma, ficara satisfeito. Agora, poderia identificar seu interlocutor
quando fosse com ele se comunicar, ou melhor, se “transcomunicar”.
“Portanto, o local onde estamos, está numa confluência terrestre. Difícil de você
entender, mas isto pouco importa neste momento. Diríamos que estamos próximos a Antares e
um pouco distantes de Marduk! Antares, bem como outras civilizações, como Baden, Capela,
Andrômeda, Alpha Centauro, Sírius, Plêiades e Muldon, entre outras mais, sempre auxilia a
Terra a buscar a sua religação com o TODO. Seus contactos facilitaram a sua conexão com as
energias desses orbes e isso vai ser muito importante, pois você criou uma antena que abriu
um corredor que há tantos anos procurávamos em vão...”
“Então quer dizer, que meu velho rádio conseguiu captar um canal que ninguém mais
havia conseguido antes?”, perguntou Michel, cheio de orgulho pelo seu feito inusitado.
“Pois exato é! Não importa se é velho, ou não. Sua caixa de válvulas rastreou uma via
que há muito estava apagada e que não encontrávamos. Isto é um outro assunto que não nos
cabe agora explicitar. Sua vinda só foi permitida, para que soubesse que seu trabalho é
frutífero!”
Michel ficou radiante. Estava ansioso para “voltar” e poder contar para Rafael e
Thiago, seus amigos do peito! Como que lendo o seu pensamento, Márcio finalizou: “Voltará
agora e esquecerá. Mas, ficará mais tranqüilo doravante, pois conseguiu seu intento e nós
também. Vá e continue na sua função...”
O que Márcio dissera para Michel fora cumprido, ou seja, ele voltou ao seu mundo,
mas de nada lembrava. Portanto, nem pôde contar sua “proeza” aos seus amigos Rafael e
Thiago, tampuco ao seu primo Gabriel. Mas esses três não perdiam por esperar, pois uma
nova aventura estava por começar.
O domingo em era daqueles típicos de verão: quente, ensolarado e festivo. Ao
acordar, Michel ligou para os amigos e os quatro foram à missa, como de praxe. Era a pré-
condição para que depois pudessem pegar suas bicicletas e “tocar rumo à Lagoa”, há uns 3 ou
4 quilômetros da cidade.
E assim foi. Logo após a sacra celebração dominical, cada um foi para sua casa a fim
de trocar de roupa e pegar o “carango” para praticarem o esporte predileto. “Michel, antes de
ir para a Lagoa, que tal, darmos uma ida do outro lado dela? Eu soube que lá tem uma nova
nascente água de onde brota pérolas... Topa?”, disse Thiago em cima de sua bicicleta,
esperando a reposta positiva dos outros além do próprio Michel. Nem pestanejaram.
Começaram pedalar diretamente até o local onde Thiago propusera.
Foi um longo caminho. De vez em quando, paravam porque Gabriel, o que menos
resistência tinha, - por ser mais avantajado – se cansava mais rápido. A mata pela qual tinham
que se embrenhar estava fechada. Como é característico dos meninos por volta de 13 ou 14
anos, não tiveram medo e foram em frente. “Vejam só, lá está a nascente. E deve estar cheia
de pérolas mesmo! Olha só como brilha!”, exclamou Michel, ao observar um brilho intenso

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vindo no pequeno riacho. “É mesmo! Vamos ficar ricos e poderemos incrementar nossos
carangos!”, acrescentou Rafael todo radiante, na expectativa de encontrar de fato as tais
pérolas que Thiago dissera que ali tinha aos montes.
Largaram as bicicletas ao chão e correram os quatro. De repente, o primeiro da fila,
que era Michel, tropeçou numa pedra e como num passe de mágica, desapareceu bem em
frente dos colegas. “O que aconteceu? Cadê o Michel? Ele sumiu, gente!”, gritou Gabriel, já
temendo pelo pior. “É mesmo! Vamos lá ver o que aconteceu!”, completou Rafael, também
temeroso.
Aproximaram-se do lugar e nada mais viram. “Não estou entendendo mais nada, como
o Michel desapareceu assim? Temos que ajudá-lo, véio!”, questionou Thiago, com um ar de
desafio e disposição para ajudar o amigo. “É mesmo! Mas, olha só, o Micha tropeçou nesta
pedra e sumiu...”, foi a conta de Rafael dizer isso e dar um chute na pedra e também
desaparecer como por encanto.
Dessa vez, Gabriel e Thiago não titubearam. Também chutaram a pedra e sumiram...
Estranhas cúpulas de vidro cercavam os quatro amigos. “Bem-vindo, gente! Onde
serás qu estamos? Engraçado, este aromar não me é estranho, parece que já estive aqui
antes...”, disse Michel, ao mesmo tempo que saudava os amigos recém-chegados. “Olha só,
cara, esses vidro não têm portas nem janelas!”, observam Thiago, boquiaberto assim como os
amigos.
Mas eis que surge um vulto de dentro de uma das abóbadas. Michel repararam algo
familiar naquela figura que se aproximava. Mas, sim! Era Márcio! O mesmo Ser que ele
conhecera naquela vez que “viajou” após as mensagens de transcomunicação! Por que não
havia sido lembrado antes para contar aos amigos? “Gente, conheço esse cara que se
aproxima!”, disse ele estampado alegria.
“E por quê você não havia nos contado antes?”, perguntou Gabriel. “Não sei, acho que
me esqueci ou fizeram-me esquecer, sei lá. Só sei que o nome dele é Márcio e nós estamos no
seu planeta, que está paralelo, ou do lado, não sei, do nosso Planeta!”
“Acertou, meu caro Michel! Bem-vindos sejam todos vocês ao lugar onde vivemos!”,
disse Márcio, que já estava perto dos quatro garotos, àquela altura maravilhados por estarem
num lugar tão bonito! Havia carros sem roda e sem portas também que passavam perto deles
sem fazer barulho e sem ninguém dentro. “Não se preocupem, meninos. Vocês não podem
enxergar os motoristas que são pessoas como eu, só que me reconfigurei meu padrão corporal
para que vocês possam me ver.”, sanou-lhes a dúvida o Ser chamado Márcio, daquele Planeta
em que os garotos s se encontravam.
“Como já disse certa vez ao Michel, a vida neste Planeta é quadridimensional. Nada
aqui, como podem ver, é feito de três dimensões, como na sua casa, o Planeta Terra. Vocês
estão aqui, porque têm uma missão muito importante a cumprir! Antes que me perguntem
qual é esta missão, os quatro terão que vir comigo e testarem suas capacidades mentais para
ver se conseguirão êxito no serviço que vamos passar-lhes! Venham comigo. Não reparem
vocês vão flutuar agora!” (cont.)
Os quatro, Michel, Gabriel, Rafael e Thiago, sentiram a melhor sensação de suas
vidas: começaram a voar! O corpo de cada um foi ficando leve, leve, até começar a flutuar.
No início, ficaram inseguros. Não sentir o chão e começar a planar de repente, era algo
indescritível para eles. Lembraram dos sonhos que tinham quando “voavam”. Começaram a
ver aquela bela e misteriosa cidade se distanciando de suas vistas, à medida que voavam para
cima. Michel reparava os detalhes do vôo. Quando inclinava - o corpo que estava na
horizontal - seu ombro direito para a direita, ele virava para esse lado, e vice-versa. Quando
queria aumentar a velocidade, dobrava o corpo todo num movimento de vai-e-vém, tal como
tivesse nadando borboleta. Para diminuir a velocidade e controlar melhor os movimentos,
levantava mais o peito. “Ihuuuii! Que beleza é voar!!”, gritou o garoto Michel para os

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colegas. Sua voz saía ofegante, por causa das rajadas fortes de vento de encontro ao seu rosto.
Os outros que o ouviam, acenavam positivamente com a cabeça e riam de alegria. Será que os
amigos s iriam acreditar naquela aventura espetacular? Era o que eles estavam pensando
naquele momento. E era tudo muito incrível para ser verdade. Mas estava tudo acontecendo
de fato!
Eles seguiam Márcio num vôo perfeitamente sincronizado, pois quando o líder fazia
um movimento, os quatro o repetiam. Já não podiam mais ver nada abaixo, pois as nuvens
tapavam sua visão. Apesar do vento forte, ninguém sentia frio. Por certo, sua temperatura
estava sendo controlada pelos pensamentos do próprio Márcio, como viriam a saber mais
tarde. Outra curiosidade, é que não ouviam o barulho de nada, exceto quando um gritava com
o outro, demonstrando a satisfação de estar voando. Fazia, pois, um silêncio tão profundo que
só podiam ouvir a roupa batendo contra o corpo.
“Fazemos tudo através do pensamento e com o pensamento...”, era o que todos
ouviram ao mesmo tempo. Na verdade, Márcio se comunicava com eles através da mente.
Todos moveram a cabeça e sorriram por estar ouvindo a mesma coisa e na mesma hora.
Tentaram se comunicar daquela maneira entre si: “Ô Rafael, você está me ouvindo?”. “Estou
muito bem, Michel!”. “E nós também!”, disseram Gabriel e Thiago. Era maravilhoso poder
conversar daquele jeito enquanto voavam! Aproveitaram e começaram a comentar. “Para onde
o Márcio estará nos levando agora?”. “Não sei. Só sei que estamos voando já há bastante
tempo e o lugar não chega!”, questionou Gabriel, já demonstrando uma certa impaciência.
De repente, eles repararam que Márcio diminuía a marcha. Isso indicava que iriam
“pousar”. E foi o que aconteceu. Imitando os gestos do líder, ficaram com os seus corpos na
vertical e começaram a descer para a superfície. Foi uma “aterrissagem” suave. Os pés
tocaram levemente o solo e todos se abraçaram de felicidade. Teriam voado de fato e tudo foi
um sucesso. Mas, eis que Rafael repara algo: “Ué, gente. Olha lá aquela cúpula de vidro!
Estamos no mesmo lugar. Voamos em círculo e viemos parar aqui de novo!”.
“Acertou, Rafael. Vocês passaram no teste que eu disse que iria fazer com vocês.
Vocês voaram com o auxílio de suas próprias mentes com pleno êxito! Conseguiram levitar e
se controlar no ar sem problema. Seguiram-me sem maiores incidentes. Provaram que não
existe medo em seus corações e este é o fator fundamental para cumprirem a missão a que
serão escalados. Sem medo, podemos fazer o que queremos. A vontade é o sentimento que
comanda as ações do corpo e da mente. Por isso, foram escolhidos os quatro. São unidos e
têm o mesmo padrão psíquico para enfrentarem as dificuldades que vão enfrentar em
conjunto...”, disse-lhes com entusiasmo o Ser Márcio, agora também aliviado por ter acertado
na escolha que fez: escolher quatro garotos s a fim de desempenhar uma missão crucial e
quase impossível. Eles eram, pois “os eleitos”!
“Márcio, quando é que vamos saber o que teremos que fazer?”, indagou o menino
Michel, com o assentimento dos amigos.
“Será breve. Antes, acompanhem-me. Podem andar tranqüilos. O chão parece estar
mole, mas é apenas uma sensação passageira. Com confiança chegarão onde quiserem.
Durante o trajeto, os meninos repararam melhor as outras pessoas que lhes cruzavam o
caminho. Elas eram iguais em termos físicos, mas totalmente diferentes no andar. Todas, sem
exceção, tinham um aspecto sereno. Caminhavam com uma tranqüilidade incomum. De vez
em quando, surgiam algumas pessoas “voando”. Todos tiveram a impressão de estarem
caminhando num cenário futurístico, tal como viam nos filmes de ficção científica.
Repentinamente, os cinco pararam em frente à uma daquelas cúpulas de vidro sem portas,
nem janelas. Márcio lhes sugeriu: “Agora, pensem forte e entremos.”. Foi o que aconteceu,
eles pensaram estar entrando e assim o fizeram. No interior do local viram uma tela, onde
leram: “Os quatro de chegam para a missão”!

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Michel olhou para seus companheiros, Gabriel, Rafael e Thiago e, além dos dizeres
que estavam estampados na tela, também notaram que, de fato, se encontravam todos dentro
da cúpula de vidro que não tinha portas nem janelas, conforme lhes advertira o Ser de nome
Márcio, o mentor que lhes guiava naquele momento crucial. Ele apenas entregou aos garotos
um rolo de pergaminho. Depois, só disse uma curta e significativa frase: “Voltem, descubram
e vençam. Somente três sóis lhes restam...”. E sumiu no éter. Na verdade, tudo desapareceu!
De repente, todos foram transportados de volta, bem ao lado da pedra que foi chutada
e fizera com que “saltassem” àquele mundo estranho. De início, pensaram estar sonhando,
mas viram que o pergaminho viera com eles. Sem perder tempo e sem questionar, Michel
abriu o rolo no chão e todos puderam ler uma enigmática mensagem grafada em letras
douradas que brilhavam intensamente por causa do reflexo solar:
“Este dia, este dia, este dia,
É o dia das núpcias reais.
Se teu nascimento o convida,
Se Deus te predestinou à alegria,
Sobe ao cimo que três templos
Coroam. E, em pessoa
Verás a história.
Prudência: Observa!
Sem uma ablução aplicada,
Essas núpcias podem te prejudicar.
Pena para o que hesita,
Cuidado a quem não faz o peso!
Seja especial e salve todos!”
O que queria dizer aquela mensagem? Como decifrá-la sem ajuda de Márcio que já
não estava mais com eles?
“Ô véio, e o que vamos fazer agora? Temos que descobrir o que estas palavras querem
dizer para cumprirmos a missão que o Márcio nos incumbiu!, disse meio decepcionado,
Rafael, esboçando também um certo medo por causa de todo mistério que os cercava naquela
hora. Michel, sem titubear, sugeriu o seguinte: “O jeito é levarmos este papel lá para a minha
casa e começarmos a descobrir logo o enigma. Pelo visto temos pouco tempo...”
“Com certeza”, completou Gabriel, “Não tem nem dúvida que os três sóis que o
Márcio disse antes de desaparecer, querem dizer três dias!”.
“Tem razão, cara! Veja só o começo da mensagem! A frase ‘este dia’ é repetida três
vezes!”, falou Thiago, o mais calado de todos, mas que dessa vez não perdera tempo.
“Bem, gente, vamos pegar nossas bicicletas e passarmos este domingo todo tentando
descobrir. E, tudo indica que nosso prazo termina depois de amanhã... As informações que
recebi durante o tempo todo de transcomunicação, certamente vão nos ser úteis. Sinto isto!”,
finalizou Michel, enrolando o pergaminho, pegando sua bicicleta e sendo seguido pelos
demais colegas correndo rumo à cidade.

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Chegando em sua casa, Michel reparou que faltava pouco para o meio-dia. Aquela
aventura no “outro planeta” tinha parecido ter durado horas, mas pelo visto o tempo em
pouco passara. Mas isto não importava naquele momento.
“Chegaram bem na hora. Michel, convide seus amigos para o almoço porque já está na
mesa!”, disse a mãe do garoto ao ver que ele chegava com os companheiros.
“Não, mamãe. Não estamos com fome agora. Nós vamos lá para o meu quarto, porque
temos muita coisa a fazer...”
Já que era domingo, D. Regina permitiu que assim fosse.
Os quatro meninos s sabiam, ou melhor sentiam, que a missão a eles incumbida pelo
Ser Márcio era muito importante. A mensagem deixada por ele, encerrava os passos que
deveriam seguir e o objetivo a cumprir. E tal missão deveria começar o mais rápido possível,
ou seja, em três dias. Portanto, como era domingo, tinham até terça-feira. Esse seria, pois, o
dia do início da incrível e mágica aventura que os aguardava...
Em seu quarto, Michel se reunira com seus três amigos, Gabriel, Rafael e Thiago a fim
de decifrar a mensagem grafada em letras douradas no pergaminho recebido. Como era
ainda início de tarde, tinham ainda algum tempo para delinearem os primeiros passos a seguir.
Michel pegou um quadro negro, usado pela sua irmã Mariana para “dar aulas” às suas
bonecas, e nele escreveu a enigmática mensagem:
“Este dia, este dia, este dia,
É o dia das núpcias reais.
Se teu nascimento o convida,
Se Deus te predestinou à alegria,
Sobe ao cimo que três templos
Coroam. E, em pessoa
Verás a história.
Prudência: Observa!
Sem uma ablução aplicada,
Essas núpcias podem te prejudicar.
Pena para o que hesita,
Cuidado a quem não faz o peso!
Seja especial e salve todos!”
“Bem, gente, vamos começar. Alguém tem um palpite para a primeira frase: ‘Este dia,
este dia, este dia’?
“Esta é fácil. Só pode ser o prazo que temos para começar nossa missão: 3 dias!”,
gritou Rafael, com seu típico jeito espalhafatoso.
“Tem razão. Olha só que o número três é um número cabalístico, como todos bem
sabem. Mas, está muito fácil. Será que é só isso?”, questionou o calado garoto Gabriel, sendo
assentido pelo Thiago, outro não menos calado.
“Pode ser também uma maneira de reforçar o momento em que cumpriremos a missão.
Uma forma de enfatizar um dia tão importante que, segundo o Márcio nos disse, é tão

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importante para a humanidade... Pela outra frase, seria o dia das ‘núpcias reais’. Mas o que
significa isto?”, complementou Michel, apontando para a segunda frase da mensagem.
Todos se entreolharam. Ninguém ousou opinar, pois não podiam supor o motivo de um
casamento estar implícito na mensagem.
Então Michel se lembrou que já lera aquelas palavras em algum compêndio da
biblioteca de seu pai. “Há pouco tempo, folheei um livro que falava de alquimia. Lembro-me
de ter lido algo parecido com estas palavras!”
“O que está esperando, ô véio! Vá lá e pegue este livro logo!”, levantou a voz o garoto
Thiago, já pressupondo que aquela seria uma pista certa.
Foi o que Michel fez. Pediu aos colegas que o esperassem. Como seu pai sempre fora
uma pessoa organizada, o menino conseguiu achar o livro que falava sobre alquimia na seção
dos “Livros Esotéricos”. Rapidamente, pegou a palavra no índice e correu até aos amigos para
ler-lhes o que achara: “Segundo a tradição Rosacruz, as núpcias reais representam o
casamento alquímico, ou seja, é quando as forças se unificam, para forjar o todo. O Uno que
transformará a humanidade. É o chamado “opus alchymicum”, um processo psicológico de
transformação do indivíduo, ou seja, a integração psíquica do consciente com o inconsciente.
No simbolismo alquímico são os esposos filosóficos fechados numa câmara nupcial. E a
Pedra Filosofal é o filho dessa união, sua descoberta gerará a posse dos atributos do Eu....”
“Pedra filosofal? Já li sobre ela... mas, dizem que não existe! É só um símbolo!”,
interrompeu Gabriel.
“Tem razão. Também já ouvi falar nela. Mas, sinto que há algo mais aí...”, falou
Michel, fechando um dos olhos e deduzindo que havia alguma coisa mais ainda intrínseca
naquela frase.
E ele continuou: “Se teu nascimento o convida...” Rafael não deixou que opinasse e
emendou: “Sou judeu e já ouvi esta frase quando do meu ‘barmitz-vá’! Esse é o nosso
batismo para uma nova vida que começa aos 13 anos!” E Thiago completou:
“Só pode ser isso mesmo! É a idade ideal para o renascimento! E nós temos 13 anos!”
Michel saltou da cama, onde estava sentado e prosseguiu:
“Eis um dos motivos de termos sido os escolhidos para cumprir a missão que o Ser
Márcio nos incumbiu: nossa idade de 13 anos é propícia para novas descobertas. Com certeza
somos eleitos desde muitas eras...”
“Já ouvi meu pai me dizer..” ,completou Thiago, “...que segundo as leis místicas, é a
idade da confluência da pureza com a maturidade. Foi nessa idade, por exemplo que o judeu
Jesus, o Cristo, começou a pregar, como já aprendemos no catecismo...”
“Então vamos continuar decifrando a mensagem, porque amanhã temos aula e, pelo
visto, depois vamos matar muitos dias de Escola...”, finalizou Gabriel, continuando:
“A frase seguinte, ‘Se Deus te predestinou à alegria...’”
“Esta não é difícil, véio, só pode ser que a missão que nos foi predestinada fará de nós
felizes... Bem, é o que acho...”, disse Michel, achando que seu palpite não satisfez e também
desconfiado com o êxito da aventura que estava por vir.
E os quatro garotos se empenhavam ao máximo para decifrar o restante da mensagem.
Em vão, pois a noite se aproximava mas, como era domingo, a mãe de Michel o chamou
dizendo que já estava na hora de cada um tomar o rumo de casa, pois no dia seguinte teriam
aula. Foi o que fizeram.

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“Gente. A mamãe me disse que está hora de nos despedirmos. Amanhã, na hora do
recreio lá na Escola, vamos combinar o que faremos com o que faltou da mensagem. Vou
guardar o pergaminho na minha mochila. Então vamos topar amanhã lá, ok?”
Cada um concordou com Michel e foram para suas respectivas casa.
Como era de se esperar, ninguém dormiu direito naquela noite de domingo para
segunda-feira. Somente Michel pegou num sono profundo...
O sonho que teve foi cheio de surpresas e revelações...
Numa tela do tamanho de um cinema, ele leu...
“No topo da montanha existe três casas... Numa delas está a “Grande Senhora”, a
magistus que os guiará até a rocha que transmuta! Muita prudência... Achem a casa certa, pois
existem forças indesejáveis... Não hesitem... ou perderão...”
O garoto acordou no meio da noite, logo após receber tais palavras e as escreveu num
papel. Depois, pegou o pergaminho com a mensagem e releu as últimas frases nele contidas:
“Sobe ao cimo que três templos. Coroam. E, em pessoa verás a história.... Prudência:
Observa! Sem uma ablução aplicada, Essas núpcias podem te prejudicar. Pena para o que
hesita, Cuidado a quem não faz o peso! Seja especial e salve todos!”.
“Pronto! Conseguimos decifrar! Seja lá quem for, me enviou o significado do resto da
mensagem! Daqui a pouco vou mostrar para os caras! Já podemos começar nossa aventura!”,
pensou ele com intenso regozijo. Depois disso, Michel nem dormiu direito.
Por volta de nove e meia da manhã, na hora do recreio, Michel chamou seus três
colegas e mostrou-lhes toda a mensagem. Dessa vez já decifrada.
“Isto indica que devemos achar a casa certa, senão falharemos. Quem hesita será
penalizado...”
“O que confirma o que meu pai sempre me diz: ‘A indecisão é o caminho da
perdição...’, terminou Michel, dando uma risadinha sarcástica.
“E para finalizar, o que temos a fazer agora é procurar pelo monte que tem três casas,
não é mesmo?”. Os três consentiram com o que Rafael disse.
O sino tocou. A aula iria recomeçar. Cada um tomou seu caminho rumo à sala. Todos
estavam pensativos e preocupados. De repente, o tilintar do sino foi ficando longe, longe...
À frente deles então surgiu uma luz muito forte. E uma imagem de mulher foi se
formando:
“Bem-vindos sejam! Sou a Musa, aquela que os guiará de agora em diante...”
Eles quase caíram para trás de tanto susto. Sem mais nem menos, ao invés de irem
para suas salas de aula, caminhavam por sobre um relva muito verde. O cheiro de grama
molhado foi o primeiro sinal de que estavam bem distantes da Escola...
A missão dos garotos estava começando de fato!
“Que mulher linda! Que olhos! Que cabelos! Quem será esta tal de Musa?”, foi logo
pensando Michel, ainda não refeito do susto ao se deparar com uma mulher tão bonita.
“Não se preocupem Michel, Gabriel, Rafael e Thiago. Fui indicada para indicar-lhes
os caminho dos Três Templos! Este há de ser espinhoso, sua persistência e auto-confiança,
derrubarão as investidas que sofrerão de agora em diante, pois há forças contrárias...”

9
Os quatro meninos engoliram em seco. Por um instante se emudeceram. Estavam
temerosos pelo que estava por vir. Além do mais, ainda não compreendiam como que, de
repente, apareceram naquela campina verde, pois todos se encontravam, há pouco, no galpão
da Escola onde estudavam. A mulher que surgira-lhes à frente, além de ser muita bela e
magnética, exalava um agradável aroma de mirra. Ficaram mudos por pouco tempo, e logo se
refizeram.
“Esta sensação de saltar de uma dimensão para outra, nós já tivemos. Foi quando
encontramos o Ser Márcio. Lá aprendemos a dominar nosso medo e conseguimos voar...”,
disse Michel readquirindo a coragem de sempre.
“Sei disso, bom garoto”,. interrompeu a Musa, com sua voz suave, “Márcio é um dos
nossos colaboradores e a sua missão foi justamente a que você acaba de dizer: fazer-lhes obter
o auto-domínio para poder enfrentar o que está para acontecer e cumprir seu objetivo...”
Enquanto falava, os amigos de Michel balançavam a cabeça, confirmando o que ele
falava àquele Ser feminino de intensa formosura e energia.
“Foi lá que ele nos deu a mensagem contida no pergaminho. Tentamos decifrá-lo, mas
conseguimos pouca coisa. Ainda ignoramos nossa missão. Sabemos que fomos indicados por
causa de nossa idade de 13 anos, que é cabalística, segundo muitas filosofias...”.
“Desconfiamos também que o dia das núpcias reais representa o casamento alquímico,
a união das polaridades para formar o Uno...”, complementou Rafael.
“Dizem que é o princípio da Pedra Filosofal, mas soubemos que ela é só um símbolo,
e não uma pedra material!”, arrematou Gabriel.
“Enfim, Musa, ficamos cientes dessas três casas que disse, pois na mensagem que
estava no pergaminho que Márcio nos deu, havia a menção a elas...Pensamos que havíamos
decifrado tudo, mas penso que falta saber o que significa ablução aplicada. Deve ter uma
significação importante! E por que a mensagem tinha que ser cifrada?”, finalizou Michel.
“Com certeza, Michel, Gabriel Rafael e Thiago. Vocês conseguiram descobrir o teor
fundamental da mensagem. É o primeiro passo vencido nesta árdua tarefa cósmica. A
mensagem tinha que estar assim, porque há correntes antagônicas no seu encalço. Tais forças
desejam este segredo a fim de intensificar seu poder e prevalecer, como já o fizeram em
outros mundos... Bem, isso é um outro assunto... A ablução aplicada, estimados meninos desta
bela e aprazível cidade do maravilhoso e predestinado Brasil, nada mais é, do que a higiene
mental definida. Têm a idade da perfeita harmonia mente e corpo. Já foram instruídos em
outras passagens de sua existência para adquirir esta feliz harmonia que ressurge em suas
almas! Suas mentes estão livres para alçar o vôo da liberdade que o ser humano almeja há
tantos milênios!”
A voz da Musa soava com uma bela sinfonia astral. Seu som parecia advir do teclado
cósmico. Para completar, sua imagem emanava centelhas finas que relaxavam os olhos de
quem a contemplava. Uma aura pura e límpida que encantava a todos.
“Dona Musa...”, disse Thiago, cabisbaixo e demonstrando todo seu respeito, o que fez
a Musa sorrir por causa da reverência, “...nós agora temos que saber para onde vamos. Que
caminho devemos pegar? Tudo aqui é muito verde e, pelo que estamos vendo, só tem grama
na nossa frente! Nenhuma árvore, nenhum pássaro. Nada. Só este chão de grama e o céu
azul!”
Musa pousou os seus plácidos e esverdeados olhos nos quatro meninos. Fez uma pausa
para tomar uma leve respiração, como que se revitalizasse de energia...

10
“Sua preocupação é conveniente. Aqui os bons pensamentos moldam esta linda
paisagem verdejante que estão vendo. O verde é a paz visual. E o momento condiz com o
estado de espírito de que tanto necessitarão. Leram ao final da mensagem: ‘cuidado a quem
não faz o peso, seja especial e salve todos’. O peso do temor não poderá afetá-los! Tampouco
o peso da dúvida!. Preparem-se para dar o salto rumo aos Três Templos de Malleuth, Yesod e
Hode. Aznak os acompanhará agora...”.
E a Musa desapareceu no éter...
Assustados, por causa do estranho e repentino desaparecimento da bela e mágica Musa, os
quatro garotos ficaram temerosos por um momento.
“Para onde ela foi, gente?”, indagou Michel com preocupação, “Sem mais, nem menos
ela nos deixou na mão!”, foi quando Rafael viu algo que surpreendeu a todos:
“Ei! Vejam que incrível, uma montanha está aparecendo do nada!”
Ainda perplexos, os meninos contemplaram aparecer-lhes à frente, uma montanha...,
tal qual uma miragem.
“Sim! E as três casas estão no topo! Seriam os templos da mensagem?”, falou Gabriel
com a mão direita sob a fronte a fim de enxergar melhor a cena maravilhosa...
“E o que fazemos agora? Vamos até lá...ou ficamos aqui esperando pela Musa para nos
proteger?”, disse temeroso, o macambúzio Thiago.
“Calma! Não se esqueçam que ela nos disse que o peso do temor e da dúvida não deve
nos afetar, senão falharemos...”, lembrou Michel, começando a caminhar rumo à colina, que
estava bem distante, enquanto os colegas o seguiam com a confiança renovada..
“Realmente. São três casas, ou templos, sei lá. Vamos ter de escolher um deles...”,
disse Gabriel, com respiração ofegante enquanto caminhava.
“Uma coisa me intriga, véio. A Musa nos disse três nomes. Apesar deles serem
complicados, guardei todos na minha cabeça: Malleuth, Yesod e Hode...”
“É isto aí, Rafael! Numa delas receberemos as coordenadas para continuarmos nossa
trilha!”, suspirou Michel, “mas... e se errarmos de casa?...”
“Esperem aí. Não podemos nos esquecer que a Musa nos falou de alguma coisa
parecida com Azna...”, emendou Gabriel e parando à frente dos amigos, quando Michel
corrigiu-o.
“É Aznak! E estou me lembrando também que ela não comentou nada sobre
caminharmos, pois como vemos, a colina ainda está longe e vamos perder muito tempo até
chegarmos lá...”
Nesse momento um voz ecoou em seus ouvidos.
“Protegidos da Musa! Soltem seus pensamentos! Imaginem que estão flutuando.
Recordem o Ser Iluminado Márcio! Deusa Aznak, a Magistus, os acompanhará...”
Os meninos se entreolharam, como que se perguntassem se haviam ouvido a mesma
coisa. Michel então lembrou-os.
“Tem razão! A distância dever encurtar agora! Certo. Vamos fazer o que o Márcio nos
ensinou. Primeiro, vamos voltar nossos pensamentos para as pontas dos dedos do pé. Agora
vamos subir aos pouquinhos até chegarmos à cabeça... Parte por parte...”
E assim o fizeram. À medida que transferiam suas consciências para cada região de
seus corpos, que sintonizadas com suas mentes, iam ficando dormente... E leve, muito leve...
Aos poucos, os pés de cada um, foram se desprendendo do chão... Começaram a flutuar...
“Ôba! Estamos planando! É o que nos aconteceu naquela vez no planeta do Márcio!
Agora vamos fazer exatamente como fizemos lá! Vamos ficar na horizontal... depois,
flexionar as costas como se estivéssemos nadando...vejam já podemos controlar nosso vôo!”

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E seguiram a lição aprendida com o Ser Márcio. Os movimentos eram uniformes e,
por isso, puderam volitar sem dificuldades até o topo do monte que aos poucos se
aproximava... fulgurante! Belo e misterioso...
Em poucos minutos, pousaram suavemente nos arredores das três casas. Cada uma
delas, ficava na ponta de um triângulo imaginário. No centro, havia uma árvore parecida com
“bonsai”. Seus frutos cintilavam como se fossem diamantes... Tinham luz própria.
Os quatro estavam deslumbrados. Maravilhado, Rafael observou:
“Olha só, véio, que árvore linda. Vejam como brilha... E agora o que faremos?”
Um dos galhos da árvore fez um movimento brusco e agarrou sua perna!
Rafael ficou literalmente engalfinhado por um dos galhos da misteriosa, árvore cujos
frutos reluziam tal qual diamantes. O galho moveu-se por si só na direção do garoto que não
teve como escapar, pois foi pego de surpresa.
“Socorro, gente! Esta árvore está viva! Estou preso! Ela está me puxando e está
machucando! Venham logo me ajudar! Rápido!”
O barulho que o vegetal fazia era como o crepitar da lenha queimando na lareira.
Michel, Gabriel e Thiago correram em direção à árvore que agia como um ser vivo e
tentaram segurar seu galho que movimentava-se para dentro dela própria, puxando Rafael
para um buraco que surgira em seu tronco. A intenção era mesmo “engolir” o garoto.
“Parece que esta árvore protege o lugar, pois ela está exatamente no centro do
triângulo que as três casas formam!”, observou Michel, enquanto fazia força contrária,
tentando salvar seu amigo.
Então o vegetal começou a liberar um líquido viscoso, igual à seiva. O leite era
pegajoso e colava ainda mais a perna de Rafael. A força que os três meninos faziam era inútil.
Foi quando Gabriel, o mais pesado de todos, teve uma idéia.
“Enquanto puxam, vou me sustentar no galho para ela quebrar!”
E foi o que aconteceu. A boa idéia do menino surtiu efeito e o galho se partiu,
liberando Rafael. Nesse momento a árvore retornou ao seu estado inerte e começou a brilhar
intensamente..
“Puxa vida! Sabia que os vegetais são seres vivos, mas mexendo assim e tentando me
matar, nunca vi igual, véio!”, falou aliviado o garoto Rafael, segurando a perna que fora
puxada e que ainda doía por causa do esforço, “Parabéns Biel, pela boa idéia que teve. Juro
que não te chamo mais de gordo!”, e todos riram descontraídos.
Nesse momento, outro clarão surgiu logo à frente deles. E reapareceu a bela e
fulgurante Musa. O brilho da árvore fez surgir a figura de um velhinho arqueado, cujas barbas
tocavam ao chão. Ele se apoiava num cajado que tinhas pequenas luzinhas, tal como os
“frutos” da árvore que ele era inicialmente.
“Sou Magus. Estou aqui à convite de Musa não para guiá-los, pois este é o seu dever,
mas para abrir-lhes as portas dessas três casas, onde aprenderão técnicas para obterem a
maestria.”
“Mas, por quê precisou nos assustar, transformando-se numa árvore hostil? E por quê
Musa voltou?, ao que Magus respondeu-lhe.
“Oportuna indagação, Michel. Eu e Musa, parceiros na eternidade, combinamos este
acontecimento, justamente para testar-lhes o espírito de iniciativa. E, pelo visto, não nos
enganamos novamente. Vocês tiveram a feliz idéia de fazer o peso no galho da árvore que eu
me transformei. Este foi apenas um teste, nada mais. Outros obstáculos hão de acontecer, mas
certamente não serão como este agora, pois a intenção será outra....”, quando Musa
complementou, apontando para as casas.
“Naquelas três casas, aprenderão lições para chegar à Ordem da Pedra Dourada, onde
estão os segredos do Cálice Sagrado, bem isto vocês saberão oportunamente...”

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Naquele instante, a porta principal de uma das casas, abriu-se sozinha. De lá soou
uma voz.
“Bem-vindos, entes do mundo tridimensional! Aqui, na casa de Malleuth, vocês
aprenderão a visão remota, a invisibilidade e a bilocação...”, quando outra porta de outra casa
abriu-se.
“Bem-vindos, entes do mundo tridimensional! Aqui na casa de Yesod, vocês
aprenderão os segredos da glândula pineal. Saberão como controlá-la e como utilizar seus
poderes para terem o domínio da telecinesia, para poderem mover os objetos com a força de
sua mente. Aqui saberão como utilizar a telepatia, em momentos em que o uso da voz é
perigoso...”. E a terceira porta se abriu.
“Bem-vindos, entes do mundo tridimensional! Aqui na casa de Hode, vocês
aprenderão a formarem seus pensamentos. Ficarão habilitados a concretizar as suas idéias em
formatos físicos. Seus pensamentos-forma serão moldados de acordo com o seu desejo...”.
Musa e Magus então pediram para que os quatro meninos os seguissem até a casa de
Malleuth, onde teriam as primeiras lições específicas daquela casa. E assim sucessivamente.
“O caminho para a Ordem da Pedra Dourada deverá ser trilhado com a sabedoria dos
Mestres. Maestria que irão aprender nestes três templos. Sejam perseverantes e encontrão o
seu ideal. Sejam persistentes e alcançarão seu objetivo. Acompanhe-nos!”, disse a formosa
Musa..
“Aqui serão coroados... e verão a história...”, complementou Magus, ajudando sua
parceira cósmica a conduzir os meninos até a primeira casa.
Já começo a entender a primeira frase daquela mensagem...”, disse Michel.
Antes de entrarem na casa de Malleuth, Rafael ainda teve tempo para perguntar ao
amigo.
“Por que você diz que agora já está compreendendo a mensagem? Por acaso, não a
deciframos lá na sua casa ainda ontem?”
“O coroamento de que fala a mensagem, com certeza, só acontecerá quando
aprendermos as lições que teremos nessas três casas para onde nos conduzem Magus e
Musa!”
Rafael e os outros dois, Gabriel e Thiago, balançaram afirmativamente suas cabeças e
continuaram caminhando rumo à primeira casa, cuja porta estava aberta à espera de seus
aprendizes.
“Musa, após aprendermos as técnicas de que falou em cada uma das casas, qual será
mesmo o nosso destino?”, disse Michel olhando para o maravilhoso ser que estava à sua
frente.
“O destino é traçado por vocês próprios, pois somente a sua iniciativa ditará o
compasso de seu caminho. O rumo que tomarão será a Ordem da Pedra Dourada, conforme
acabei de lhes dizer. Aquele lugar está além do murmurinho do mundo, além da percepção
dos limitados sentidos sensoriais do ser humano. É um templo invisível aos olhos comuns e é
onde o discípulo avançado se tornará um iniciado no Caminho da Rosa e nos segredos da
Cruz...”
“Se conseguirmos chegar lá, o que teremos que fazer então?”, perguntou Thiago
ajeitando suas calças e olhando para os colegas à espera de uma aprovação pela pergunta,
quando Magus disse..
“O Cálice Sagrado guarda segredos que mudarão o curso de Gaia, este conturbado
planeta em fase de transição. Se forem bem sucedidos, retirarão dessa arca, em forma de

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cálice, uma espada flamejante. Eu e minha parceira eterna os guiaremos na invisibilidade,
porém não poderemos mudar aquilo que mudarem...”
Dizendo isso, o Magus fez aparecer à frente de todos uma espada reluzente, tal como
uma imagem holográfica.
“Como já o disse Mateus, um dos discípulos do Iniciado Maior, não julgueis que vim
trazer a paz, mas a espada. O fogo nela incrustado, derrubará o mais temível inimigo que os
espreita. Ele cortará o éter e as dimensões estarão abertas para as passagens que se fizerem
necessárias...”
“A espada é o símbolo da divina sabedoria, é o próprio Universo. Está sob o signo do
conhecimento da vida eterna. Sua forma é serpentina, como podem ver. Com ela em mãos, a
eternidade da vida espiritual estará assegurada. Ela os defenderá contra o nefasto mal que quer
que o espírito seja finito. Eis sua missão!”, concluiu Musa, fazendo brilhar seus belos olhos
verdes.
“Teremos tempo para tanta coisa? Aprender as lições nos três templos e ainda ir para a
Ordem da Pedra Dourada, a fim de pegar a espada?”, questionou com propriedade, o menino
Michel.
“O tempo físico de aprendizagem será de três dias a contar do momento em que
pisarem nos arredores de Malleuth, Yesod e Hode, os guardiães dos três templos que lhes
ensinarão as habilidades psíquicas necessárias para galgarem a trilha da Rosa-Cruz”, avisou
Magus, quando Musa completou:
“Não se esqueçam que os símbolos da rosa e da cruz são a receita da vida: os que
desejam entender a rosa para obter a sabedoria eterna, primeiramente terão que aceitar as
disciplinas impostas pela cruz...”, ao que Gabriel interrompeu fitando os dois seres com
seriedade.
“Vocês nos disseram que são parceiros eternos, falaram sobre a vida eterna e a
eternidade do espírito que está em perigo e agora falam sobre a sabedoria eterna. Como
poderia ser definida a eternidade para entendermos um pouco melhor?”
“Uma pergunta oportuna”, disse Magus serenamente, apoiando-se em sua parceira, “a
eternidade é incontável, imutável e infindável, mas podemos passar-lhes o que ela representa
com uma breve analogia...”, e Musa concluiu formando novamente no espaço vazio, uma
imagem holográfica enquanto descrevia a cena: “Vejam que grande rochedo aqui à nossa
frente. Aquele pássaro o está bicando. Daqui a pouco, ele vai tirar com seu bico uma pequena
lasca de pedra. O pássaro precisa dessa pedrinha para apoiar seu ninho contra os ventos do
outono que se aproxima. Assim, ele faz isso uma vez por ano. Um dia, o rochedo ficará todo
dilapidado e desaparecerá. Quando isto acontecer, então terá se escoado um único segundo da
eternidade...”
Os meninos se entreolharam e puderam ter uma noção do significado da eternidade.
Chegara o momento de entrarem na casa de Malleuth.
“Entes do mundo tridimensional, adentrem a primeira das três câmaras. Façam o sinal
da cruz com a pontas de seus três dedos da mão direita na forma de um triângulo!”
Naquele momento, Musa e Magus desapareceram novamente.
O destino estava entregue nas mãos dos quatro meninos....
Os neófitos, Michel, Gabriel, Rafael e Thiago, acompanharam o Guardião Malleuth
que os conduziu ao interior de seu Templo, a primeira casa, onde iriam aprender as

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habilidades psíquicas necessárias ao cumprimento da missão, que inicialmente seria ir até a
Ordem da Pedra Dourada, a fim de resgatar a espada flamejante, guardada numa arca, o
Cálice Sagrado...
Musa e Magus espreitavam, mas no plano invisível. Conforme disseram, não poderiam
alterar o curso dos acontecimentos, somente auxiliar os meninos, numa extrema necessidade.
Vagarosamente os meninos entraram na casa de Malleuth, que vestia uma túnica
branca e um capuz que lhe cobria o rosto. Tal como Magus, tinha um cajado que lhe servia
como apoio, bem como outros atributos mágicos. O aroma de jasmim perfumava cada canto
da casa e transmitia um aura positiva que dava confiança aos garotos, ávidos por aprender as
primeiras lições de maestria.
No teto havia uma grande estrela de cinco pontas e o símbolo egípcio “Olho de
Hórus”. Outras mandalas também compunham o cenário que era iluminado por velas
diversas.
O chão era de terra batida, tal qual no interior de uma pirâmide.
Alguns passos depois, os quatro meninos, ainda guiados pelo Guardião, pararam em
frente a um corredor que terminava com uma entrada para uma câmara. O interior da câmara
estava escuro.
Então, o Guardião levantou o seu cajado e o bateu contra o chão. Mesmo sendo de
terra, o toque do cajado fez um som parecido como um cântico. A câmara então ficou toda
iluminada. Em seguida, surgiu uma grande águia que pousou em seu ombro. Formas e
sombras apareceram vindo do nada. E ele disse com entonação grave e retumbante:
“Este pássaro é o símbolo da sua Iniciação que está por acontecer. O som que ouvem
é composto de batidas de corações humanos, da música da alma dos homens. A aprendizagem
na casa de Malleuth terá seu início. Não descansarão, porque o seu tempo físico não
possibilita dilatações, mas seus corpos estarão sendo constantemente reativados com a energia
de Nous, a centelha que reanima.
Dito isto, os quatro meninos, tensos pela expectativa, mas felizes, adentraram a
câmara. Nesse momento, ouviram a entoação do mantra “AUM”, cujo significado seria mais
tarde explicado.
“Quando o discípulo está preparado, o Mestre vem. Este é o seu momento. Seus
poderes latentes serão restaurados e suas energias serão despertadas. Nesta casa de Malleuth,
saberão como operar a sua visão remota que lhes dará capa enxergarem além da distância que
seus olhos atingem. Esta habilidade lhes permitirá encontrar um amigo fora do alcance visual,
algum objeto desaparecido, ou um local distante. Depois, aprenderão a construir a nuvem de
energia que lhes dará a invisibilidade diante do perigo iminente. Finalmente, ainda neste local,
obterão os conhecimentos da técnica de bilocação. Seus corpos poderão ser duplicados e com
este artifício, poderão enganar o inimigo. O corpo astral se materializará e o corpo físico
continuará no seu mesmo lugar. As capacidades psíquicas aqui assimiladas, serão o primeiro
passo rumo ao domínio da vida, a sabedoria que só os Mestres possuem! Libertarão sua
contraparte espiritual, a rosa, de seu corpo físico, a cruz!”
E teve início o processo de aprendizagem na primeira casa. O dia inteiro se passou.
Conforme dissera Malleuth, nenhum dos garotos ficara cansado. Assimilaram cada lição com
esmero e empenho. E, conforme o esperado, foram todos aprovados. Musa e Magus,
invisíveis, estavam orgulhosos.
No segundo dia, os meninos passaram para a casa de Yesod, o Guardião encarregado
de passar-lhes novas lições para prosseguir com a Iniciação Sagrada.
“Nesta casa de Yesod, terão oportunidade de revitalizar sua glândula pineal, a sede da
alma. A casca que a envolve se dissipará. Assim feito, seus contactos com o mundo invisível
será possível. Então, poderão se projetar sem as interferências da consciência, pois a
subconsciência prevalecerá. Enfim, terão o poder de mover objetos materiais através da sua

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própria força mental e capacitados estarão em transmitir seus pensamentos um para o outro,
sem a necessidade da palavra oral. Não se preocupem em falhar, pois a verdadeira evolução
avança em forma espiral e é por isso que quando o caminho parece retomar ao mesmo ponto,
na verdade ele está sim passando novamente por lá, porém num novo nível, mais acima, numa
nova dimensão de conhecimento!”
Assim aconteceu. Mais uma etapa fora ultrapassada naquele segundo dia. No terceiro
dia, revigorados pela energia corrente que lhes perspassava o corpo, chegaram à casa de
Hode.
“Nesta casa de Hode, o terceiro templo da sabedoria, assimilarão o processo da
formação mental. Seus pensamentos tornar-se-ão formas concretas de acordo com o desejo de
cada um. Finalmente, estarão aptos para prosseguir rumo à Ordem da Pedra Dourada, sob a
proteção de Musa e Magus. Na missão que Aznak os incumbiu! CROMAAT!”
Assim foi feito. Após mais um árduo dia de lições de maestria, os meninos se
recolheram no mesmo local em que haviam ficado nos dois últimos dias. O sono foi pesado,
pois as atribulações foram intensas nos três dias em que aprenderam técnicas para a aquisição
plena do domínio da vida, a a maestria que os levaria à sabedoria do corpo e da mente. Agora,
teriam que complementar a missão, buscando a espada flamejante, depositada no interior do
Cálice Sagrado, uma arca que estava nos domínios da Ordem da Pedra Dourada.
Enfim, os quatro, Michel, Rafael, Gabriel e Thiago, de posse de suas mochilas,
despediram-se dos três guardiães, Malleuth, Yesod e Hode, que finalmente lhes proferiram,
cada um, mensagens significativas:
“Lege, relege, ora et labora, este é o axioma hermético que romperá barreiras
extrafísicas. Ide em paz...”, disse Malleuth.
“AUM, eis a semente de todos os mantras! ‘A’ representa o criador, a criação, o fogo e
a ação. É Brahma; ‘U’ é o conservador, o sol e a consciência. É Vishnu; ‘M’ é o destruidor, o
vento. É Shiva! Nele estão os poderes das divindades! A natureza está ao seu lado com esta
força. Ide em paz...”, disse Yesod.
“Benedictum dominus, Deus noster, qui dedit nobís signum. Este será o sinal para
adentrarem os portais da sagrada Ordem da Pedra Dourada. Seu sinal de reconhecimento será
representado por estas quatro âncoras, que cada um terá que carregar até lá chegarem..
Somente assim serão reconhecidos como os eleitos que portarão a espada flamejante. Assim,
abandonarão definitivamente suas muletas e aprenderão a caminhar com seus próprios pés...
Ide em paz...”
Foi-lhes entregue uma âncora de pouco peso, mas o suficiente para dificultar o passo
de cada um, pois não sabiam ainda qual distância a percorrer rumo à Ordem da Pedra
Dourada.
“Sequer nos falaram o motivo de termos que carregar estas âncoras... Mas, ordens são
ordens e nós temos que obedecer. Vamos em frente, gente!”, observou Michel, disposto ao
sacrifício.
Ao terminar de falar aos colegas, Michel, olhou para trás e levou um susto.
“Ei. Onde está o Rafael? Por quê não está aqui?”. Preocupados, os três se
entreolharam e viram que, de fato, Rafael não estava mais com eles.
“Como pode ser? O Fê estava aqui ainda agora quando nos despedimos dos
guardiães!”, exclamou Gabriel esboçando total surpresa pelo repentino desaparecimento do
amigo.
“Já sei”, disse Thiago, “vamos usar a nossa visão remota que aprendemos! Assim,
poderemos visualizar o seu paradeiro!”.
Assim o fizeram. Concentraram-se e de repente, Michel gritou.
“Olha só o engraçadinho! O Rafael estava neste mesmo lugar o tempo todo!”
Como num passe de mágica, Rafael ressurge do nada e diz em tom de decepção.

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“Não. Isto não vale, véio! Fiquei invisível e me acharam com a visão remota!”
E os quatro riram descontraidamente. Usaram dois dos ensinamentos adquiridos e
viram que o experimento surtira efeito. No caminho para a Ordem da Pedra Dourada - que
não era difícil de ser percorrido, pois era em linha reta, única, parecendo ser rumo ao infinito,
testaram outras habilidades aprendidas, como que ensaiassem para prevenir contra qualquer
perigo iminente.
Mas, esse perigo aconteceu mais cedo do que poderiam supor.
Andando à frente dos colegas, Michel se distraíu e foi literalmente engolido por uma
enorme planta parecida com uma papoula gigante.
“Cuidado! O Michel desapareceu dentro daquela planta que parece estar viva! O que
faremos? Não deu tempo para usarmos nossas técnicas!”, gritou desesperadamente o garoto
Rafael.
Ao acabar de dizer isto, uma voz gutural saiu de dentro da própria planta.
“Não podem continuar... A lâmina que corta nosso trajeto e fura o espaço não deve ser
desperta!”
“Devolva nosso amigo! Devemos cumprir nossa missão! AUMMMMM”, disse
Thiago, sendo acompanhado em uníssono por Gabriel e Rafael que entoavam o mantra
sagrado com todo o fervor.
A planta se debateu. Deu uma sacudida forte e se abriu, cuspindo Michel de seu
interior.
Nesse momento, os três amigos pularam em cima dele, a fim de o afastarem da planta.
“Foi na hora certa! Esse líquido da planta já estava começando a me queimar!”
Mas, o alívio durou pouco. Rapidamente, sombras preencheram o ambiente em que
estavam e sugaram a planta. Assustados, os quatro garotos viram que elas se aproximavam
deles...
As sombras se multiplicavam como por encanto e “ingeriam” tudo em volta. Nesse
mesmo tempo, começava uma forte ventania que fez com que os meninos se segurassem uns
aos outros para não voarem. O chão tremia e labaredas de fogo surgiam também do nada.
Era a fúria dos quatro elementos que acontecia sem mais nem menos. A voz gutural de
origem desconhecida, emitia sem parar aquela frase que eles ouviram vinda de dentro da
planta:
“O caminho deve ser impedido. A lâmina que corta nosso trajeto e fura os espaços
físicos, não dever ser desperta!”
Michel, Gabriel, Rafael e Thiago se protegiam como podiam, mas o esforço era inútil.
As sombras, que mais pareciam pequenos buracos negros, rodavam em sua volta ameaçando-
os.
Foi quando Thiago lembrou de um dos ensinamentos obtidos na casa de Hode.
“Vamos nos concentrar em formas ovais cheias de luz. Imaginem uma esfera
carregada de energia. Vamos pensar como se estívéssemos jogando sinuca. A bola de energia
seria a bola branca e as sombras, as outras bolas. Vamos encaçapá-las!”
Como se estivessem jogando, o intento dera resultado. A bola criada pelos seus
pensamentos, batia contra as sombras e estas explodiam e sumiam. Na mesma hora em que as
sombras se diluíam, os abalos sísmicos cessaram, o vento forte virou brisa e a tempestade de
água e fogo também acabaram.
“Viram que espetáculo lindo?! Pareciam fogos de artifício!”, exclamou Michel
aliviado.
“É verdade. E parabéns, Thiago, por ter tido calma suficiente para poder se lembrar
que aprendemos a criar pensamentos-forma!”, falou Rafael, batendo nas costas do colega.
“Então, vamos continuar nosso caminho, porque o tempo urge”, disse Gabriel,
ajeitando sua mochila, “Pôxa, como pesa esta âncora que os guardiães nos deram...”

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“Ei, estranho. Minha mochila está leve... Nossa! Minha âncora sumiu!”, disse Michel.
“Claro! Você a perdeu naquela planta, depois que ela o engoliu!”, complementou
Gabriel.
Os quatro se entreolharam, como que se questionassem o que deveriam fazer, pois a
planta havia desaparecido, após ter sido sugada pela sombra.
“Gente, o que nos resta a fazer, é praticar agora o ensinamento que recebemos de
Yesod...”, ponderou Michel, ao mesmo tempo, colocando seu dedo indicador direito em sua
própria testa, entre os olhos, “Vamos prender nossa respiração e concentrar em nossa pineal
que já está sem a casca e pronta a agir para nos ajudar a projetar nosso corpo extrafísico!”.
Os quatro assim o fizeram. Deitaram no chão e se concentraram. Em pouco tempo,
estavam fora de seus corpos físicos, graças à pronta ação da pineal, a antena para a projeção
sem interferência.
“Reparem que estamos em dimensão paralela. Aqui é tudo escuro, sem forma. Mas, dá
para notar que há vultos em nossa volta. Ouçam só estes zumbidos. Mais parece um enxame
de abelhas!”, disse Thiago, entusiasmado com a nova paisagem que todos vislumbravam fora
de seus corpos físicos.
“São mais pensamentos-forma! Aqui estão os resquícios de pensamentos negativos
que ficam rondando a esmo. Vamos ter cuidado para que não nos ataquem novamente, pois
eles não são como aquelas sombras que só sugam. Eles entram nas nossas mentes e podem
corroer nossas entranhas. Temos de nos proteger o mais rápido possível!”, revelou o
preocupado Michel.
“Já sei”, lembrou Rafael, “Vamos proferir aquele axioma hermético que o Guardião
Malleuth nos ensinou. Ele disse que rompe as barreiras não-físicas. Assim, poderemos furar
as dimensões e escapar dessas formas, além de chegar aonde queremos!”
Em uníssono, os quatro meninos entoaram: “Lege, relege, ora et labora”.
Novo espetáculo de luzes coloridas e redemoinhos. Um túnel surgira de repente. E eles
seguiram em frente. O axioma rompera os muros de energia à frente deles e a passagem
ficara livre.
Com o pensamento direcionado na âncora de Michel, conseguiram localizá-la. Estava
rodopiando no vácuo. De longe, parecia uma estrela, tal a velocidade que girava. Sem perder
tempo, os quatro deram um pulo e fisgaram o objeto. Rapidamente, voltaram aos seus corpos
que jaziam ao chão. E a âncora também se materializara ao lado deles.
Alegres, se cumprimentaram espalmando as mãos umas contra as outras.
Do éter, Musa observava ao lado de seu parceiro.
“Mais uma etapa vencida sem a nossa interveniência, meu querido Magus!”
“Que eles sigam o seu caminho até a Ordem da Pedra Dourada. Outros obstáculos hão
de surgir, mas até agora, os quatro seres do plano físico têm se saído muito bem....”, finalizou.
Michel liderava a fila rumo à Ordem da Pedra Dourada, onde teriam que arrebatar a
Espada Flamejante, hermeticamente guardada no Cálice Sagrado, uma arca em forma de
cálice, cuja abertura somente seria possível através das mãos dos “escolhidos”, caso não
fossem impedidos...
Os quatro meninos, ainda desconfiados, por causa dos percalços constantes e por saber
que eram visados pelas forças antagônicas, não interessadas no sucesso de sua missão,
caminhavam com passos firmes e decididos, porém tinham dificuldades, já que a âncora que
cada um carregava, mesmo não sendo muito pesada, reduzia suas passadas e, por isso,
ficavam cada vez mais cansados a cada metro andado. Suando muito, Gabriel foi o primeiro a
reclamar.
“Ainda vou descobrir por quê temos que carregar este pedaço de ferro pesado que não
vejo utilidade alguma! Tem que ser muito importante...”.

18
Cada um só balançou a cabeça. Evitavam falar muito a fim de economizar energia.
“Vejam só aonde este caminho termina...”, observou Rafael, “Parece que é num
túnel!”
“É mesmo! Pelo visto, vamos ter que entrar lá. Não temos escolha”, arrematou Thiago,
que raramente falava alguma coisa, como era de seu feitio.
Pé ante pé, foram entrando na caverna, cuja abertura só dava para passar um de cada
vez.. O cheiro de môfo era forte. Piados de morcegos ecoavam, o que tornava o local mais
lúgubre. Cada menino tinha uma pequena lanterna de bolso que ajudava enxergar melhor o
caminho, uma trilha bem estreita. Michel então reparou que começara a pingar do teto da
caverna um líquido branco e viscoso.
“Olha só, véio. A gosma que cai do teto, está formando uma poça borbulhante no
chão...”
Curiosos, estacaram para ver que, aos poucos a poça ia tomando uma forma humana.
“Não estou gostando nada disso!”, disse Rafael, desconfiado e se afastando de medo.
Aconteceu rapidamente. Os pingos formaram uma pessoa despelada que surgia da
poça. Somente os músculos apareciam. Pura carne viva ambulante. Uma visão grotesca em
forma de gente.
“Elementos de Gaia. Eis aqui o pior dos dramas humanos...o homem está despojado de
sua máscara que caiu. Resta apenas um amontoado de tecidos. Até que a humanidade retome
sua vestimenta carnal e recupere sua espiritualidade perdida...”
Thiago, ansiosamente, pegou sua âncora e tentou se proteger.
“O que está acontecendo? Pega leve! Vamos vazar daqui, galera!”.
A forma humana, sem pele, após falar, voltou ao estado anterior e o líquido escorreu
embrenhando-se na terra úmida. Michel, um pouco agitado, falou aos amigos, também
assustados.
“Este líquido tem o cheiro típico de ectoplasma. Numa reunião de materialização que
fui numa vez, eu reparei este detalhe. O espectro queria nos dizer alguma coisa que, com
certeza, tem a ver com nossa missão. Acho que os Guardiães têm razão: nossa missão é muito
importante...”
“Mais do que imaginamos! Vamos então continuar andando”, falou Thiago, colocando
sua âncora de volta na mochila. Ele era o mais preocupado de todos. E tinha razão disso...
Michel prosseguiu puxando a fila. Subitamente, pisou em algo parecido com um galho
seco. O estalo de quebrado foi iminente. Ele recuou e parou fazendo um gesto para os demais
que o seguiam.
“Olhem só que grande quantidade de galhos....”, disse iluminando o chão com a
lanterna. Em seguida, continuou o andar e tropeçou em algo parecido com um globo, o que o
fez cair.
“Não são galhos, são ossos! Tropecei num crânio! São esqueletos que estão num
círculo!”
Michel levantou-se rapidamente, ajudado por Rafael e Gabriel. Olhou para trás e viu
que Thiago não estava mais com eles como há pouco.
“Onde está o Thiago? Estava conosco há pouco... Vejam ele está ali!”

19
“Não consigo ultrapassar este círculo que está riscado no chão!”, gritou Thiago,
encurralado, “Tomei um choque quando tentei sair daqui! Ajudem-me!”
Os três meninos correram na direção do amigo. Quando tentaram entrar no círculo,
uma faísca surgiu e os arremessou para o lado. Caíram ao chão atordoados. Tinham tomado
um choque também.
“Parece que é um campo de força e a linha que o circunda é o limite”, disse Gabriel,
“Mas como você entrou aí se não pode sair?”
“Também não estou entendendo nada. Acho que a âncora causou isto, pois quando a
tirei da mochila para me defender daquela pessoa, vi este círculo se formando em volta de
mim. Ele é exatamente igual ao que circunda estes esqueletos aí! Só pode ter sido isso o que
aconteceu!”
“Bem, agora não importa. Temos que pensar uma maneira de tirar você daí, pois pelo
visto estes esqueletos eram de pessoas que não conseguiram sair do círculo...”
Os três meninos s, então, se sentaram no chão úmido da caverna e puseram a imaginar
como poderiam livrar o companheiro Thiago, aprisionado num círculo imaginário, que na
verdade tinha barreiras invisíveis e, portanto, intransponíveis.
Enquanto, pensava numa forma de libertar o amigo, Michel, apoiou sua mão ao solo.
Porém, não prestou atenção e tocou-a numa poça cheia do líquido viscoso que caíra do teto e
que formara a entidade despelada. Num ato instantâneo, tirou a mão da gosma e coçou a
cabeça, sujando-a. Os colegas, inclusive Thiago, que também via tudo do interior do círculo,
riram, descontraindo-se depois da tensão vivida nos últimos momentos.
“Não riem de mim! Foi mal! Vou limpar esta sujeira com a água do meu cantil...”, ele
disse, incomodado pela bagunça que fizera. Mas, como sempre fora vaidoso, resolveu
verificar como estava sua aparência. Então, retirou de dentro de um dos compartimentos de
sua mochila, um espelho.
Ao fazê-lo, o espelho refletiu o círculo onde estava Thiago. Michel reparou bem e viu
que nele aparecia uma imagem diferente da que eles viam na realidade.
“Incrível! O reflexo deste espelho mostra uma abertura no círculo que não
conseguimos ver fora dele! Conseguimos, Thiago! Vamos. Com esta ajuda, você conseguirá
sair daí!”, e mostrou ao amigo uma pequena falha cuja abertura dava para ele ultrapassar. E
foi o que aconteceu.
“Vocês viram? Thiago está livre! O espelho o salvou! Tudo foi tão simples!”, gritou
Rafael com entusiasmo e alívio pelo amigo ter sido libertado com mais facilidade do que
esperavam.
“Obrigado, gente. Também estou curioso para saber, como isto funcionou. Será que o
espelho tem poderes especiais?”, agradeceu e questionou Thiago, dessa vez mais
descontraído.
“Na verdade, o espelho nos serviu de ponte com o lado oposto. Seu reflexo mostrou
algo que nossos olhos físicos não viam. Como eu pude esquecer disso? Os magos têm o
espelho como condutor de energias e, portanto, canal para captar outras dimensões. Uma
espécie de televisão que detecta o mundo oculto...”, ensinou Michel.
“Tem razão”, complementou Gabriel, “antigamente eles usavam espelhos octogonais
para poder reconhecer e afastar o mal. São também considerados objetos de auto-
conhecimento. Nele são refletidas nossa contraparte, que, por sinal, aquele espectro se referiu.
Captamos o reflexo de nossa real personalidade-alma!”
“Digo mais: através do espelho, os próprios magos, ou outros feiticeiros, penetravam
nas trevas. E também faziam previsões através deles!”, finalizou Michel, quando Gabriel
completou.

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“Agora estamos liberados de novo para seguirmos nosso caminho rumo à Ordem da
Pedra Dourada! E ele parece ser longo...só espero que os obstáculos tenham acabado”.
Os quatro garotos ficaram em fila, puxada por Michel. Cumprimentaram-se e
embrenharam caverna adentro. Alguns passos depois, ouviram um murmúrio parecido com
água corrente.
“Este barulho parece ser de cachoeira...Vamos continuar para ver o que é.”, falou
Rafael, ainda um pouco ressabiado e temendo mais uma surpresa.
O ar ficara repentinamente perfumado. Um aroma de mirra tomou conta da caverna,
substituindo o cheiro de môfo. Vozes começaram a surgir do nada, vindas de todos os lados.
Os meninos, então, se aproximaram mais e depararam com uma bela cascata cujas águas
caíam abundantemente num lago cristalino. Os respingos batiam contra seus rostos,
refrescando-os.
“Que maravilha!”, exclamou Michel, “agora posso limpar minha cabeça! É incrível
como uma cachoeira tão bonita pode estar no interior de uma caverna tão sinistra como esta!”.
“Ei, vejam...”, interrompeu Rafael, “Da cascata estão surgindo várias portas!”
Em mais uma cena inusitada, apareceram doze portas, uma ao lado da outra,
diretamente do interior das águas que caíam. As portas se abriram e apareceram seis homens e
seis mulheres. Todos levitavam próximos à água. Vestiam uma túnica branca e seus capuzes
tinham cores diferentes, cada um com uma tonalidade, variando do branco ao amarelo claro.
Cada um dos quatro garotos ouviu algo dentro de suas mentes. Instanteneamente,
entoaram em uníssono: “Benedictum dominus, Deus noster, qui dedit nobís signum”
“Os portais da sagrada Ordem da Pedra Dourada reconhecem o seu sinal, ó escolhidos
de Gaia!”, conclamaram as doze entidades que levitavam em frente às doze portas.
“O que temos que fazer agora é mostrarmos nossas âncoras... Ah, finalmente, vou ficar
livre deste peso...”, pensou Gabriel, feliz por estar se livrando do estorvo.
E foi o que fizeram. Retiraram suas âncoras e as elevaram acima de suas cabeças...
No momento em que levantaram as suas âncoras, os quatro meninos sentiram uma
espécie de choque, ao mesmo tempo em que um raio trespassava o misterioso pedaço de ferro
que tinham carregado desde os Três Templos e de cujo significado, iriam saber em seguida.
Os doze seres, perfilados, em frente às doze portas, ainda levitavam com os braços
estendidos como que dando boas-vindas aos meninos. As águas da cachoeira passavam pelas
pedras côr de ouro, antes de baterem suavemente no lago cristalino.
Ainda com as âncoras suspensas e recebendo cargas de energia, cada menino se sentia
revitalizado. Na verdade, estavam sendo energizados, para enfrentarem os próximos
obstáculos que estavam por acontecer, tão logo adentrassem os domínios misteriosos da
Ordem da Pedra Dourada.
À frente dos dozes seres, surgiu uma figura de mulher. Era a Deusa Aznak, a Magistus,
que usava um manto branco, contrastando com os demais, que eram de cores variadas.
“Escolhidos de Gaia. As quatro âncoras representam os sentimentos arraigados no ser
humano que dificultam a sua evolução. Elas pesam seu caminhar e o espírito que se torna
carne, volta a rastejar até reassimilar o que aprendeu. As quatro âncoras, os sentimentos, estão
pois, presas ao navio, o ser humano, que parte da ilha da ignorância materialista rumo ao
porto seguro da evolução espiritual. A travessia será árdua, e por causa do peso das âncoras,
ela será lenta. O navio terá que se libertar delas para prosseguir seu caminho sem o seu peso
incômodo. À medida que o navio solta uma âncora, é um sentimento humano que vai embora.
A primeira âncora representa o peso do medo, a segunda âncora representa o peso do
radicalismo, a terceira âncora representa o peso da cegueira mental e a última âncora
representa o peso da maldade. Quando todas âncoras forem soltas do navio, o homem, o seu
caminho será liberado e ele navegará nas águas plácidas em direção à evolução que

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finalmente o integrará à sua contraparte Cósmica.... Dessa vez, liberto das amarras que tanto
travaram sua caminhada na Senda!”
De repente, as âncoras desapareceram das mãos dos meninos. E uma emoção diferente
tomou conta de cada um, fazendo-os ficar ainda mais orgulhosos de sua missão.
Os dozes seres levitando à frente da cachoeira, então, ficaram dispostos em seis,
formando uma ala. Os meninos começaram a flutuar em direção aos doze portais. Nesse
ínterim, ouviram algo que vinha do interior de suas mentes: “Deste ponto em diante, vocês
adotarão a postura que assimilaram nos Três Templos. Deste ponto em diante, retomaremos
nosso outro caminho. Que façam bom uso de seu livre-arbítrio. Num futuro longínquo, fora
do tempo e do espaço, voltaremos a nos encontrar... Nos confins da eternidade...”
Aquela palavra-chave que encerrava a mensagem, fez com que reconhecessem a sua
origem: Musa e Magus, que cumpriram a sua parte de protegerem os garotos até a entrada da
Ordem.
Deusa Aznak prosseguiu: “O Ritual dos doze portais é a primeira etapa a ser
transposta na Ordem da Pedra Dourada. Cada portal representa um degrau transposto.
Todavia, seres não desejosos ao cumprimento de sua missão, tentarão impedir o seu trilhar em
direção ao Cálice Sagrado, onde está a Espada Flamejante. Se triunfarem, ultrapassando os
doze portais, graus que se tornam degraus, adquirirão a personalidade-alma perene, que
sempre pertenceu a cada um de vocês, almas antigas, almas escolhidas, que sempre
contribuíram para a evolução do homem-ser. Receberão o Véu da Obscuridade que lhes
permitirá arrebatar a Espada Flamejante, a que expele as chamas que rasgam o visível e o
invisível e que permitirá galgar o cume da sabedoria!”.
Os quatro, em silêncio profundo, ouviam atentamente. Cada um imaginava o porvir e
cada um se preocupava com as conseqüências de um futuro iminente e imprevisível. Teriam
triunfo naquela inusitada empreitada? E se falhassem? O que poderia acontecer não somente
com eles próprios, mas com aqueles que estavam representando, aqueles que os havia
escolhidos?
Os meninos entraram na primeira porta e ficaram maravilhados com a sua beleza.
O ambiente era translúcido. A cor dominante era o amarelo escuro. Caminhavam sobre
um chão gelatinoso. Sabiam que não mais estavam flutuando como há pouco. Dessa vez,
porém, estavam seguros, pois já tiveram experiência semelhante. Dizeres hierografados e
brilhantes, surgiram à frente. Perceberam que os mesmos queriam dizer “Neophyte”, alusivos
ao grau do primeiro portal.
“Nossa missão entra na parte crucial... O que teremos pela frente?”, questionou
Michel..
“Esse clarão me faz bem aos olhos. Minha vista parece descansada. É uma sensação
parecida como que a massageassem!”, observou Gabriel, quando uma voz soou:
“Corda Fratres! Sirvam-se de sua pureza para enfrentar o seu primeiro desafio!”
Silêncio total. Apesar da claridade intensa, Michel olhou para seus amigos e ninguém
falou nada. Não descobriram de onde a voz provinha, mas era nítida e audível. E o convite foi
repetido.
“Corda Fratres! Sirvam-se de sua pureza para enfrentar o seu primeiro desafio!”
Estavam todos atentos, na expectativa por novas surpresas que a cada momento
ficavam ainda mais emocionantes. A luz era forte, mas não lhes ofuscava a vista. Ao
contrário, provocava um relaxamento inebriante. E a voz prosseguiu.
“O Ritual dos Doze Portais, conforme ressaltado, é o primeiro e efetivo desafio a fim
de que possam galgar o caminho definitivo rumo ao Cálice Sagrado, onde permanece
incólume a temível Espada Flamejante. Estamos no momento propício para tal. É o período
do equinócio que deve durar vinte e quatro horas do seu tempo solar. Dois portais por hora,
acaso sejam bem sucedidos...”

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“É o que esperamos...”, disse Michel, “pois sabemos que há forças que tentarão nos
impedir de arrebatar a Espada Flamejante...”
“Não deve haver espaço para aflições. Primeiramente, lhes será oferecido um manto
de cor alva, acompanhado com faixa e cordão das cores preta, vermelha e verde pálido,
simbolizando a separação dos elementos materiais e espirituais da natureza humana. Na
entrada de cada portal, serão visualizados círculos grafados no solo. Antes de adentrarem os
círculos, recitarão uma invocação em honra de Shekhinah e Asnak, aqueles que os velarão no
tortuoso caminho rumo a Ordem da Pedra Dourada, onde jaz a Espada Flamejante. O grau de
Neophyte lhes será concedido e os obstáculos surgirão a fim de interromper a sua jornada na
Senda!”
“Engraçado”, observou Gabriel, “acho que já conheço este ritual. Não sei de quando,
nem de onde e o por quê, mas tudo isso me é familiar...”. Os demais acenaram suas cabeças
em tom afirmativo, como que também tivessem a mesma opinião.
“Já reviveram estas passagens em épocas pretéritas. Estão repetindo o mesmo neste
equinócio, porque falharam naqueles tempos... Somente quando estiverem preparados, o
Mestre virá...mas, antes disso, terão que extinguir as energias contrárias ao seu triunfo!”
Os meninos engoliram em seco. Portanto, já haviam falhado em outras vidas. Deviam
repetir a missão. Mais uma oportunidade de se redimirem...
“Isto deve significar que vamos tentar impedir que as forças antagônicas nos vençam
novamente. Teremos outra chance... Mas por quê no equinócio?”, indagou Rafael.
“No equinócio, o movimento antienergético é menos intenso porque o éter está menos
susceptível a propagações desta natureza. As forças malignas se resguardam no Ponto Vernal,
que é o início do signo zodiacal de Áries, quando acontece a tempestade cósmica: um
momento sagrado, rico de eflúvios vivificantes, e quando canais são reabertos e liberados à
passagem de emissões livres de contaminações, ou de manifestações de atração insinuante e
perigosa. É o tempo ideal para a consecução dos planos da Força Maior de fazer finalmente
do homem a sua imagem e semelhança, assim como já foi feito em outros orbes. Assim,
somente a Espada Flamejante com seu fogo abrasador e cortante, fará com que a fusão com o
todo aconteça, e o mal será extinto em definitivo, sem possibilidades de renascer das cinzas
que o fogo extirpou.. Urantia poderá, então prosseguir na sua retomada rumo à ascensão
celestial! Adiante, ó escolhidos de Gaia!”
Dito isto, os quatro meninos visualizaram um trajeto iluminado logo à frente.
Seguiram o caminho de luz e se depararam com um manto branco. Vestiram-no. Depois
passaram o cordão multicor em torno da cintura. A faixa da mesma teve que ser envolta nos
olhos, vedando a visão. Como se fossem guiados por uma força desconhecida, caminharam
até o círculo.
A tensão era reinante. O suor corria-lhes face abaixo. As mãos também suavam e as
pernas tremiam. Estavam fracas, mas seus passos eram firmes, apesar da autoconfiança
abalada...
Pararam, de repente, e recitaram:
“Como Escolhido de Gaia, inicio este ritual, invocando a benção de Shekhinah e a
proteção do Véu da Obscuridade! Que Aznak esteja comigo nesta hora e para sempre.
Cromaat!”
Entraram no círculo. De repente, o chão se abriu e eles caíram no vazio. Nada podiam
ver por causa da venda nos olhos. Enquanto caíam no vácuo, tentaram reaver o autocontrole,
tão exercitado nos Três Templos. Imaginaram suas consciências em cada parte do corpo,
começando pelos pés.
Ao atingir o topo da cabeça, começaram a flutuar, tal como haviam aprendido com o
Ser Márcio, quando do início da aventura. Afobados, retiraram a venda. Foi o erro. Uma luz
forte cegou-lhes a visão e um barulho ensurdecedor ribombou. em todo o ambiente...

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O facho de luz começou a sugar os quatro meninos s que, àquela altura, já haviam
conseguido flutuar através de um exercício aprendido nos Três Templos. Mas, não
conseguiam ter o controle das ações, pois a sucção era forte. Aliado ao momentâneo
descontrole, o barulho continuava ribombando ininterruptamente em seus ouvidos. Tentaram
outros métodos que em outras ocasiões havia funcionado, em vão. Rodopiavam rumo ao
desconhecido.
“Esta emissão de luz está nos puxando sabe Deus para onde! O que será desta vez?
Que o Véu da Obscuridade nos proteja!” gritou Michel desesperado.
Novamente, tentaram retirar as vendas dos olhos, sem sucesso. Então, entenderam que
a faixa deveria ser necessária para proteger-lhes. Não sabiam se estavam caindo, ou se
estavam subindo. Só estavam esperando pelo impacto final. Imaginavam, assim, que aquilo
poderia ser uma armadilha mortal de alguma força das sombras. Falhariam de novo?
Subitamente, pararam. Lentamente, foram “pousando”. Seus pés tocaram em algo
sólido. Era terra firme! Onde poderiam ter chegado?
Olharam para os lados, para cima, para baixo. Sentiram um cheiro de peixe. Estavam
às margens de um imenso lago! O céu estava azul. Uma leve brisa suavizava a tensão recém-
vivida. Notaram que ainda usavam o manto branco, além do cordão com as cores preta,
vermelha e verde pálido, as cores que simbolizavam a separação dos elementos materiais e
espirituais da natureza humana, conforme havia lhes dito a voz, pouco antes de adentrarem o
círculo. Repararam, ainda, que a faixa já não mais lhes cobria a visão. Havia sumido pouco
antes do “pouso”.
O chão era arenoso e incomodava seus pés.
“Onde será que caímos?...”, questionou Rafael, “... mas este lugar não me é
estranho...”
“Também tenho a mesma sensação. Esta vista me é familiar, não me lembro de onde,
nem de quando...” completou Gabriel, sendo assentido por Michel e Thiago.
“O que nos resta é esperar. Com certeza, teremos a resposta brevemente, como sempre
tem acontecido ultimamente...”, observou Michel com propriedade.
Recostaram-se e ficaram na expectativa. Estavam mais tranqüilos, pois até o
momento, nada de grave tinha acontecido. Somente o susto inicial. Enquanto esperavam,
observaram a bela paisagem em volta. Sabiam que já haviam vivido aquele momento antes,
mas ignoravam a razão.
“Será que isto é um ‘deja-vu’? Ei, véio, deve ser cedinho agora neste lugar, pois o sol
ainda não apareceu no horizonte...”, constatou Thiago com seu habitual ar ressabiado.
“Como Profetas Velados, estejam prontos para vivenciar o Grau de Neophyte, o
primeiro grau de uma escada de doze degraus!
Os meninos viraram e se depararam com um senhor de estatura mediana, postura ereta
e voz grave. Pele morena, rosto imberbe, nariz adunco e lábios carnudos. O olhar era
penetrante e demonstrava sapiência. Os cabelos eram lisos e grisalhos, um indicativo que ele
era um senhor de idade. Usava um saiote, branco, com um cordão dourado na cintura. Tinha
uma pulseira no pulso direito, cuja extremidade era uma cabeça de cobra; usava, ainda, um
anel com um escaravelho nele incrustado. Calçava uma espécie de mocassim, também de cor
branca, com uma listra dourada em volta. Na mão esquerda, segurava uma cruz com as bordas
arredondadas, tendo uma rosa no centro.
“É um egípcio! Só pode ser! Suas roupas são típicas. Será que estamos no Egito
antigo?”, sussurrou Michel aos companheiros que esboçavam a mesma dúvida e curiosidade.
Nesse momento, o estranho senhor disse num idioma estranho, mas que todos entendiam
perfeitamente.
“Que as Hostes Celestiais os protejam. Estamos na terra dos Deuses! Ptah nos guia.
Aqui, o tempo e o espaço jazem e esperam pela estabilização definitiva de Urantia, sua

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origem... Aqui, a Divina Essência do Cósmico está em tudo e com tudo. Aqui, é onde
chamaram de Egito, sempre o Governo Oculto de Gaia. Que a benção e os poderes desta Cruz
de Ansata se infunda em seu ser!”
O sol, então, começou a surgir do outro lado do lago. Suas centelhas eram
revigorantes, límpidas e energéticas.
“A força de Deus Ra penetra em todo o seu Ser e os purifica a mente e o corpo,
tonificando-os e preparando-os para penetrarem nas câmaras escuras do primeiro grau, o grau
de Neophyte, quando a batalha começará.... Necessitarão desta energia para, pela derradeira
vez, atingirem ao que foram escolhidos. Não mais poderão falhar, como o fizeram em outras
vezes no pretérito. Não haverá mais chances, pois os tempos estão chegados! Vão em direção
ao Lago do Lírio! Tudo recomeçará agora!
Antes de se dirigirem ao Lago do Lírio, para enfrentarem o desafio do primeiro grau, o
grau de Neophyte, passo inicial do Ritual dos Doze Graus, o egípcio prosseguiu com as
instruções.
“Repito: não mais poderão falhar, uma vez que esta é a sua derradeira oportunidade...
Podem agora começar a sua caminhada em direção ao Lago do Lírio! Nas suas profundezas
deverão achar a Cruz de Ansata que jaz num dos tortuosos caminhos do Labirinto que ali está
também submerso. Aquele que descobrir seu paradeiro, deverá avisar e todos se unirão
novamente em direção à saída do Labirinto. Preparem-se. Não se esqueçam das lições
recebidas e apliquem-nas nos momentos necessários, porque as correntes antagônicas tentarão
uma vez mais impedir-lhes o êxito. Vencerão esta etapa se tiverem persistência e coragem. Se
ultrapassarem esta primeira câmara, passarão para o segundo grau, o grau de Zelator, onde
seu Mestre estará esperando a fim de repassar-lhes o subseqüente desafio, visando o grau
posterior. Que a paz e o poder estejam com vocês, ó eleitos de Gaia!”
Perfilados, os quatro meninos foram caminhando lentamente até o Lago do Lírio.
“Não estou entendendo...”, reclamou Rafael, “Isto é suicídio! Vamos nos afogar. Como
ultrapassaremos um labirinto sob o lago e ainda por cima tentar achar uma cruz?”
“Eis nosso primeiro teste. Temos que enfrentar... Quem sabe é tudo ilusão? Já vi este
filme antes... Lembrem-se de novo que falhamos numa certa época e que nova chance estão
nos dando. A última, por sinal... Não podemos mais duvidar de nossa visão interior, a
verdadeira...”, arrematou Michel, já consciente de sua capacidade real e fazendo seus amigos
consentirem com ele.
“Tem razão”, complementou Thiago, “falhamos em vidas passadas, mas agora a
confiança em nós mesmos está maior. Evoluímos com o passar do tempo e sabemos que nossa
força, aliada à proteção do Véu da Obscuridade será uma barreira difícil de ser rompida pelas
forças do mal!”
E os quatro entoaram em uníssono:
“Benedictum dominus, Deus noster, qui dedit nobís signum”
Enquanto caminhavam., viram surgir por cima de suas cabeças, um véu etéreo”, que
emanava luzes de variadas cores. Eram energias protetoras que circundavam os intrépidos
infantes s!
Mesmo autoconfiantes, tiveram uma sensação estranha quando seus pés tocaram as
águas gélidas do lago. Repararam que ainda estavam presos à ilusão da matéria. Nesse
momento, deram-se as mãos e visualizaram um terreno árido, sem água. Foi quando ouviram
todos ao mesmo tempo: “A ilusão de Maia é temporária... No silêncio do Labirinto, ouçam a
sua própria voz, a do seu próprio Deus interior. Toque na sede da alma e sinta suas energias.
Siga o seu caminho verdadeiro! O forte domina o pseudo-forte, e o fraco sucumbe ante o seu
poder!”

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Os quatro tocaram com o dedo indicador no centro de sua testa e prenderam a
respiração, imaginando sua glândula pineal, a sede da alma, sendo reabastecida de energias
sutis que lhes retiraria da mente as ilusões a que estavam acostumados a conviver.
Este “recado interior” lhes renovou as forças e, à medida que entravam no lago, um
poder estranho e envolvente tomou conta de seus corpos, agora, de conformação mental.
Por fim, adentraram inteiramente o lago. As cabeças estavam cobertas pela água.
“Vejam só! Respiramos sem problemas e falamos também! A água, ou o que quer que
seja realmente, não nos atinge. Não mais temos a ilusão da matéria! Conseguimos vencer o
primeiro passo. O Labirinto deve estar logo ali...”, vibrou Rafael, cheio de entusiasmo e vigor
com a nova sensação extramaterial que estava vivenciando juntamente com seus
companheiros.
Não demorou muito para que avistassem a entrada do Labirinto. Ali havia uma figura
significativa: um Sol expandia seus raios em cima de uma cruz cujas quatro pontas havia
quatro estrelas iluminadas. A imagem era tridimensional e as estrelas pulsavam aumentando o
seu realismo e beleza. Logo abaixo da imagem, puderam ler uma mensagem hierografada mas
que, mesmo assim, puderam entender perfeitamente: “O Arcano do Sol Radiante, Ra, ilumina
a cruz do adepto que a pertencer. Seu fulgor generoso distribui sua energia a quem o
merece.”.
Então, ultrapassaram a porta de entrada do Labirinto. E cada um tomou um caminho
diferente dos vários logo após a entrada. Conforme lhes recomendara o egípcio, aquele que
achasse a Cruz de Ansata, deveria enviar uma mensagem telepática e combinar o local do
reencontro. Mas não seria assim tão fácil, mesmo com seus poderes e a proteção do Véu da
obscuridade...
A escuridão era total. Silêncio profundo. Cada um tomou seu caminho rumo ao
desconhecido.
Confiantes, ao mesmo tempo, temerosos do porvir e devido ao pleno breu em baixo do
Lago do Lírio, onde, ao menos conseguiam se locomover, falar e respirar graças à ação da
pineal que sutilizara seus corpos físicos, os quatro caminharam cada um para uma direção
diferente, já que estavam num Labirinto submerso. Seu objetivo era, conforme dissera o
Mestre do Grau de Neophyte, achar uma Cruz de Ansata para galgarem o próximo passo, o
grau posterior: o segundo, o de Zelator.
Eles sabiam que não era uma tarefa fácil, apesar de todos saberem que estavam
protegidos pelo Véu da Obscuridade, mas, sabiam também que essa missão já fora tentada em
outras ocasiões de suas vidas pregressas. Todas em vão. Aquela oportunidade era, segundo
souberam, a derradeira. E por ser a última, as forças malignas não perderiam uma chance tão
preciosa de dizimar de vez com o intento daquele quarteto proveniente de Gaia,
especificamente de , Brasil.
Deram-se “boa sorte” e foram em frente.
Michel, mesmo sem estar enxergando bem, tateava as paredes cheias de musgos e
outras plantas do Labirinto. Peixes, moluscos e outros habitantes do lago passavam a sua
volta, sem se importar com sua pouco visível presença. Os corredores eram, pois estreitos. Ele
ainda olhou para cima e, no mesmo tempo que se maravilhava com a vista, ainda duvidava de
momentos tão inusitados.
“Nossa! Como é bela esta visão daqui de baixo! O sol está refletindo no lago e seus
raios dão a impressão de que estou debaixo de um grande vidro transparente e reluzente! Será
que alguém vai acreditar em nós quando contarmos esta aventura?”
E continuou na sua busca incessante pela cruz. O mesmo acontecia com os outros três
meninos. Cada um perscrutava o seu próprio caminho. Todos estavam atentos e o medo era
algo que não estavam tendo. Na verdade, até aquele momento, nada de anormal havia
acontecido.

26
“Já estou começando a achar que estas sombras que eles tanto falaram, desistiram de
nos pegar. Acho que o Véu da Obscuridade está funcionando mesmo...”, pensou aliviado,
Gabriel.
Em outro corredor, Rafael começou a questionar o êxito do desafio.
“Pôxa, já faz tempo que tento ver alguma coisa e nada até agora. Só peixe e plantas em
minha frente! Apesar da escuridão, dá para sentir que este fundo está abarrotado de seres
aquáticos. Mas a cruz mesmo que é bom, nada! Será que vamos conseguir achar alguma
coisa?”
Os outros três estavam fazendo o mesmo questionamento. O tempo passava e a
monotonia já estava incomodando. Apenas seguiam pelo corredor adentro. Desconfiavam que
estavam andando sem rumo e, por causa do escuro intenso, dificilmente poderiam achar um
cruz.
Então, simultaneamente, tiveram a intuição de levar o dedo indicador ao centro da
testa, exatamente como haviam feito há pouco, quando deixaram de sentir os efeitos da água
para submergir no lago sem alterações orgânicas. E eles recordaram de lembranças recentes.
“Estou me lembrando daquela voz que disse que, quando estivéssemos sem saber o
que fazer, deveríamos consultar nosso Deus Interior. Será que vai dar certo?”
O gesto foi executado. Foi quando ouviram a voz proveniente do fundo de seu âmago:
“A terceira visão é uma visão remota”
Foi a dica que tanto esperavam. A visão remota fora uma das habilidades psíquicas que
aprenderam nos Três Templos. Novamente, seria necessário aplicá-la. Visualizando à
distância e sem a necessidade de seus corpos, certamente descobririam o paradeiro da Cruz de
Ansata e o trabalho físico seria poupado.
Foi justamente o que ocorreu. Seus “olhares psíquicos” se distanciaram e, com a
destreza de “ver” em variadas direções ao mesmo tempo, sem sair do corpo, conseguiram
achar a cruz.
Estava cravada numa reentrância, não muito distante do local onde estavam. Foi muito
fácil!
“Esta foi moleza!”, pensou Thiago satisfeito, “Agora é só comunicar com os outros e
vamos sair logo daqui!”. Este mesmo pensamento ocorreu com cada um dos demais
companheiros.
Marcaram um lugar e voltaram a “habitar” seus corpos, não muito distantes dali.
Eis que, ao reabrir os olhos, viram que estavam próximos uns dos outros e não mais
distantes..
“O que? Onde estamos? Como viemos parar aqui? E juntos?. Interrogou Gabriel.
“Vejam, há grades luminosas por todos os lados!”, observou Michel, denotando
preocupação.
Entreolharam-se e reparam que estavam numa espécie de masmorra. As grades não
eram de aço, como o habitual, mas de fachos de luz, tal qual raios de laser.
“Daqui não mais poderão sair. Corpos e mentes estão aprisionados finalmente! Para
todo o eterno!”, disse em tom grave uma sombra que se aproximava desses quatro meninos
s...
“Mas... por quê haveríamos de fugir daqui? Por acaso, não estamos tentando
justamente libertar corpos e mentes do jugo maligno que domina a Terra?”, disse em voz alta,
num misto de desespero e dúvida, o garoto Michel, como que questionasse algo que parecia
uma ameaça feita pela estranha sombra que se aproximava deles numa masmorra cercada de
grades iluminadas.
“Ad rosae per crucem, ad crucem, per rosae. Sou o seu mestre deste grau, o segundo,
de Zelator...”, disse a sombra, “Minha incumbência é repassar-lhes as instruções do seu
próximo desafio, a prova dos quatro elementos. Nós, mestres, nos expressamos, ora de forma

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clara e simples, ora de forma simbólica e ora de forma sagrada, através de mantras e
hierógrafos. Corpos e mentes estão ainda aprisionados. Sua libertação depende de vocês,
escolhidos de Gaia! A Espada Flamejante - a que corta o mundo irreal e o transforma em real
– os aguarda uma vez mais, no Cálice Sagrado. Sabem muito bem, que tal tentativa já foi
engendrada no pretérito e que esta é a derradeira oportunidade, pois a eternidade não espera
mais. A degradação de Gaia prossegue e os tempos são findos. Chance última, chance de
remissão, ressurreição decantada. Agora, ou jamais. A eternidade é infinita, mas o tempo não.
Nova falha e a irreversibilidade estará decretada!”
“Então, por quê estamos confinados entre estas grades de luz?”, indagou Gabriel.
“Metáfora da prisão em que se encontram, como já dito. Elas representam o medo de
enfrentar a verdade. Elas representam a ilusão mundana que domina a tudo e a todos de Gaia.
Elas são as barreiras que impedem o seu progresso, por causa da vaidade, do orgulho e da
presunção. O ser humano tem que ser humilde e reconhecer sua presente insignificância. Por
outro lado, deve estar ciente que é um deus mortal e poderá ser imortal, tornando-se Deus: à
imagem e semelhança da Mente Universal, a força conjunta de todas as mentes do Cósmico!
Ele pode se tornar o senhor de si mesmo. O autodomínio deve predominar! Urantia não pode
se degradar mais. Adentrem, escolhidos de Gaia ao Umbral de Ísis! Ali serão testados uma
vez mais, sem chance de erro. Não deverá haver espaço para o fracasso. Todavia, poderão
desistir neste momento. Um de vocês já o fez. Este é o sagrado direito da liberdade de ir e vir,
que nem sempre coaduna com as Leis Cósmicas, mas devem ser acatadas...”
“Estamos aqui para isso, mas já enfrentamos outras sombras, como saberemos se não é
do mal?...”, ousou perguntar o garoto Rafael, sendo assentido pelos colegas.
Fez-se silêncio... Os olhos dos meninos sequer piscavam. Tensos, esperaram pela
reposta do provável mestre daquele grau, que deveria transmitir-lhes os procedimentos
posteriores. Mesmo em dúvida, reafirmaram sua disposição de prosseguir, porque tinham
perfeita ciência de que aquela era, de fato, a última chance de se redimirem das falhas do
passado. Sabiam que, caso desse tudo errado, não haveria nova chance e o mundo retrocederia
no seu compasso evolutivo definitivamente.
Aos poucos, a sombra foi se dissipando para confirmar o que dizia. E apareceu um
sacerdote egípcio. Diferentemente do mestre egípcio do primeiro grau, o de Neophyte, o
mestre do segundo grau usava uma indumentária branca feita de um fino tecido. Cingindo-lhe
a cintura, um cinto dourado. A cabeça era toucada por uma tiara azul, branca e vermelha.
Calçava uma sandália com as mesmas cores. O rosto transmitia serenidade e sua voz grave era
tão vibrante que reverberava em toda a câmara. A entonação soava tal qual um mantra que
magnetizava os garotos.
“No Umbral de Ísis, passarão pela prova dos quatro elementos: água, terra, fogo e ar.
Doravante, suas habilidades psíquicas, tão fervorosa e ardorosamente adquiridas quando da
aprendizagem nos Três Templos, cessarão momentaneamente. Sua terceira visão, a sede da
alma, volta ao seu casulo habitual, pois a prova será executada por seres materiais. No
primeiro grau, testaram sua capacidade extra-física. Agora, testarão a física: a mais difícil. Os
quatro elementos tornar-se-ão palpáveis, ou seja, voltarão a ser ilusórios. Adotarão, pois,
somente a sua vontade própria, sem destemor, pois o medo é a barreira que cega os
movimentos e empaca a evolução humana!”
O sacerdote, então, apontou-lhes a antecâmara logo à frente: o Umbral de Ísis. Havia
um corredor estreito e longo. O seu final era bifurcado em quatro passagens. Ali a escuridão
era intensa. Cada menino recebeu um anel que tinha um símbolo específico. O de Michel,
tinha o símbolo da água; o de Rafael, fogo; o de Gabriel, ar e o de Thiago, terra.
“Croomat! Podem se dirigir ao Umbral de Ísis onde terão a prova dos quatro
elementos. Antes, sigam pelo corredor. Depois, cada um tome seu caminho indicado pelo

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símbolo do anel. Preparem-se. Se um falhar, todos falham. Isto já aconteceu. Evitem que a
falha seja repetida. Senão será o fim...”
A tensão já era reinante. Lembranças do passado afloraram e eles reviam seus erros
daquele tempo. A prova dos quatro elementos ia começar! A mente do corpo físico seria
testada...
Os garotos, portanto, tinham exata noção dos perigos que teriam que enfrentar, cada
um, durante a prova dos quatro elementos. Sabiam, também, que esse desafio era o mais
difícil, pois não poderiam utilizar as habilidades psíquicas aprendidas nos Três Templos. O
segundo grau, o de Zelator, era, sem dúvida o crucial. Vagas lembranças passavam em suas
mentes e os erros do passado jamais poderiam ser repetidos. Novo fracasso era o fim
definitivo, sem direito a nova chance. O mal, ou o lado oposto às forças benignas, iria
predominar, caso fracassassem. Por outro lado, e para amenizar um pouco a tensão, com o
passar das eras ficaram mais evoluídos. Aprenderam novas técnicas psíquicas e,
conseqüentemente, aprenderam a dominar melhor suas mentes físicas, aquelas que seriam
testadas desta vez.
Contudo, a ansiedade por causa da expectativa, tentava dominá-los Aquela prova seria
superior às suas forças físicas? Como passar pelas árduas provas da água, do fogo, do ar e da
terra? E se um deles falhasse? Tudo seria perdido! Por isso, cada um tentava dar força para o
outro.
“Desta vez, vamos vencer. Nossos poderes estão mais depurados e isso nos faz
fortes!”, comentou Michel, olhando com firmeza para seus companheiros inseparáveis, que
concordaram com idêntica disposição e empolgação.
De súbito, os anéis que tinham em seus dedos, começaram a cintilar. Michel, estava
com o anel cujo símbolo era da água; Rafael, com o do fogo; Gabriel, com o do ar e Thiago,
com o da terra. A prova estava por começar. Num sentimento mútuo de solidariedade, deram-
se as mãos e caminharam até o interior do Umbral de Ísis, onde a prova ocorreria. Conforme o
sacerdote egípcio lhes dissera, havia um corredor estreito e comprido. Mas o seu final dava
para enxergar. A escuridão era total. Sentiram que tinham que andar para a frente. Sem parar.
E assim o fizeram.
Enquanto andavam, ninguém falava nada. O silêncio era profundo. Ouviam somente o
som de suas ofegantes respirações. O ritmo do bombear de seus pulmões aumentava a cada
passo que davam no breu intenso. Como o caminho era estreito, não só temiam tropeçar ou
cair no vazio, mas bater em alguma parede. Não estava muito quente, mas o suor já corria
livremente em suas faces. As mãos, seguras umas nas outras, estavam molhadas e frias. À
medida que adentravam o Umbral, o ar ia ficando mais rarefeito. Porém, não sabiam se
estavam subindo ou descendo. Era mais um motivo para evitar falar, pois assim
economizariam mais energia.
Deram de encontro com um muro... Não podiam retornar... Tinham que continuar, pois
as instruções para cada seriam dadas a qualquer momento, como lhes dissera o egípcio.
Michel, que estava à frente, então tateou o paredão. Correu as mãos e viu que era uma pedra
fria e lisa. Havia um entalhe. Nesse entalhe, tinha um dente que parecia um filete, ou um
ramo. Sentiu que deveria puxá-lo, mas antes, resolveu quebrar o silêncio, sussurrando aos
amigos que iria fazer esse movimento
“Cuidado, pode ser uma armadilha! Aqui, todo cuidado é pouco!”, preveniu Gabriel.
A inteligência e os sentidos compreendiam que algo grave poderia acontecer quando
tocassem naquele filete no interior da abertura da parede. A escuridão continuava angustiante
e a falta de visão, complicava tudo, pois o medo queria dominá-los. E isto era o que mais lhes
incomodava. Michel, recuou a mão do entalhe. Não. Não poderia ficar indeciso, pois já ouvira
de seu pai que “a indecisão é o caminho da perdição”. Naquele momento todos sentiram o

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mais completo abandono. Sentiam desamparados como jamais sentiram antes. Lembraram da
família e dos fracassos de antigamente. Mas, não podiam retroceder. Michel, então, puxou a
lingüeta. A pedra se moveu e uma pequena brecha surgiu. Do outro lado, nada podia ser
visualizado ainda, pois a escuridão continuava total. Deveriam entrar? O peso da dúvida
aumentava-lhes a indecisão. E se fosse um abismo depois daquela diminuta abertura? Porém,
o peso da palavra firmada teria que predominar. Sem os atributos extrafísicos, tudo seria mais
perigoso. Mas se recuassem antes mesmo da prova começar, seria uma covardia sem
precedentes. Somente com a coragem iriam em frente. A escolha era pela liberdade da vitória.
Pensavam na Espada Flamejante e na alegria que teriam ao arrebatá-la finalmente. Com ela, o
mundo seria diferente. E o “aqui-agora” predominaria finalmente! Não poderia haver
obstáculo que os impedisse de seguir adiante! Era a superação de todas as dificuldades vividas
até aquele momento. Tudo, em benefício da evolução de seus “Eus” e do “Todo”! Novo
fracasso, representaria a derrocada definitiva daquele que se intitulava “ser humano”!
Quanta responsabilidade!
Com dificuldade, todos passaram pela brecha. Viram, enfim, quatro portas. Os
símbolos dos quatro elementos estavam logo acima delas. Perceberam, enfim, a voz familiar
do sacerdote.
“Sigam pelos seus caminhos! A prova do quatro elementos começa no Umbral de
Ísis!”
Ainda perfilados, os quatro meninos de obedeceram as ordens do sacerdote egípcio e
seguiram pelo corredor, no interior do Umbral de Ísis, até chegar à frente das portas, cujos
símbolos – dos quatro elementos – eram iguais aos anéis que portavam. Apesar da
autoconfiança, estavam tensos. Afinal, não sabiam o que poderia lhes acontecer logo adiante.
“Agora, filho de Gaia,” disse o sacerdote, virando-se primeiramente para Michel,
“você está próximo a adentrar as entranhas do Umbral de Ísis, onde tentará vencer a primeira
prova do elemento água. Se o medo dominar o seu espírito, pode desistir, pois ainda há tempo.
Mas, se preferir seguir adiante, não se esqueça que nenhum que ousou penetrar no coração de
Ísis pôde recuar. Você bem sabe, quais seriam as conseqüências...”
“Eu e meus colegas estamos decididos, Mestre do grau de Zelator. Se já falhamos em
outros tempos, agora não repetiremos os erros do passado, pois de nossas ações e realizações,
muitos dependem! Venceremos!”
O sacerdote inclinou seu corpo para a frente, em sinal de tolerância. Ao mesmo tempo,
demonstrou sua satisfação com a atitude do garoto Michel. O venerável Mestre sabia que
aquela decisão era unânime. Com certeza, obteria a mesma resposta dos outros meninos ao
fazer-lhes semelhante advertência. Eles também estavam prestes a iniciar suas provas.
“Então, escolhido de Gaia, despeço-me de sua pessoa neste momento. Irá empreender
o caminho da salvação. Sua vitória, será a vitória do Todo, a passagem de um estágio para
outro. Adentre a porta deste santuário oculto. A prova do poço deverá ser ultrapassada com
louvor. Ao fazê-lo, os outros escolhidos tentarão igual êxito, para que possam, em conjunto,
galgarem a Espada Flamejante que jaz no interior do Cálice Sagrado.”
Michel curvou humildemente seu corpo, em sinal de respeito, e se dirigiu para a
abertura que estava próxima. Nesse instante, seu anel, com o símbolo da água, emanou
cintilantes faíscas ao cruzar a porta. Era o sinal do início da prova dos quatro elementos.
“Seguirá pelo corredor, posicionado na forma figurativa do atraso humano. Alguns
metros após percorrê-lo, obterá as instruções sobre o que deverá fazer. Como está isento dos
poderes psíquicos, não poderá ouví-las telepaticamente. Terá que achar um pergaminho com
os procedimentos a serem tomados. Se for perspicaz, o achará...”
De repente, o teto ficou mais baixo e Michel foi obrigado a entrar andando de quatro.
Era a simbologia representando a insignificância do homem, conforme ressaltara o sacerdote.
A representação de sua ainda completa animalidade com relação ao seu psiquismo. Quando o

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teto voltasse a ficar mais alto a verticalidade corpórea seria readquirida, como prova de que a
evolução era uma questão de tempo. Assim, o duto era estreito e a escuridão completa. E ele
continuou rastejando sem saber o que iria acontecer adiante.
Silêncio absoluto. Nada se ouvia. Como já havia acontecido anteriormente, Michel só
podia detectar a sua própria respiração e o som de seu joelho e mãos se arrastando no
corredor. Não lhe restava mesmo nenhuma alternativa, senão continuar avançando,
suportando a dificuldade física e, sobretudo, mental, pois a ansiedade provocada pela
expectativa, era intensa e incomodava.
Mil pensamentos percorriam seu íntimo. Venceria aquela prova? E se falhasse? O que
os colegas diriam? Quais as conseqüências? Estes questionamentos eram apenas aquele
preâmbulo sempre presente em momentos antes de qualquer prova, como vinha acontecendo.
Michel parou de repente. Estava sobressaltado, porque o esforço fatigava seu corpo, a
tal ponto que o sufocamento, provocado pela estreiteza do lugar, fazia sua respiração ficar
ainda mais ofegante. Começava a indagar a si mesmo, se aquela prova seria superior às suas
forças psíquicas. Diferentemente das vezes passadas, agora não poderia fazer uso dos métodos
que aprendera nos Três Templos. Somente a parte física teria que ser utilizada. Momento
supremo para testar sua capacidade material de enfrentar e vencer as dificuldades. Teve a
sensação de que a mente lhe escapava. De que tudo se dissolvia à sua volta. Subitamente, viu
que estava sendo vítima de uma vertigem causada pelo esforço extremo. Sabia que um
homem poderia morrer de medo...
“Não posso fraquejar agora...”, pensou, “...tenho que prosseguir. E vou conseguir...”
Sofrendo intensas dores, por causa do esforço descomunal que fazia, enquanto
rastejava no duto estreito rumo ao local da primeira prova, do primeiro elemento, a água,
Michel prosseguiu valentemente. Enquanto avançava, esticava seus braços para tentar relaxar
e evitar as caimbras. As trevas pareciam não ter fim para ele. Estava impaciente. Como
acharia o pergaminho que continha as instruções para enfrentar a prova do poço? Aquele
corredor era tão ínfimo, que seu corpo mal conseguia se locomover com mais desenvoltura.
Então, concentrou todo o seu instinto na incógnita. Algo lhe dizia que deveria apalpar
perto do seu joelho esquerdo, pois sentira uma pequena protuberância no chão exatamente
naquele lugar. E assim o fez. Passou a mão no lugar, mas, para sua decepção, nada viu ou
sentiu. Não. O pergaminho não estava ali, como supusera. Esforço em vão. Intuição falha.
Levantou um pouco mais a cabeça e sentiu uma folha roçando-lhe o cocuruto. Depois, subiu
a mão direita logo acima e puxou tal folha.
“Eis o tal pergaminho! Este caroço no chão foi o sinal. Acertei!”, disse em voz baixa,
apesar da fadiga que apossava de seu corpo.
Porém, como poderia ver o que estava escrito se tudo estava escuro? Não foi preciso
pensar e matutar muito, pois olhou à sua frente e viu uma réstia de luz saindo de uma pequena
greta na pedra ao seu lado. Com dificuldade, pôde ler o seguinte: “Atenta, filho de Gaia: está
por atravessar o poço. Sua água é escura e densa. Sua profundidade é incerta. Os habitantes
desse fundo são hostis e sorrateiros. Combata-os com sua coragem e espírito de perseverança,
elementos primordiais para alcançar um objetivo. Que a força de Maat esteja ao seu lado.”
Michel ficou titubeante. Todavia, não tinha outra escolha, senão prosseguir. Se
voltasse, seria a derrocada definitiva. Isto estava mesmo fora de seus planos e, com certeza, de
seus outros três amigos, prestes a empreenderem seus respectivos embates. Continuou firme.
Rastejava rumo ao vazio, ao incerto. As costas doíam, assim como todo seu corpo que estava
naquela posição horizontal já há bem tempo. Para seu alívio, o teto foi ficando mais alto à
medida que prosseguia. Era o sinal de que o final do corredor estava próximo. No entanto, o
risco de se precipitar no vazio persistia e isto o incomodava também. Não seria mais um teste
de coragem? Se seu instinto fizera-lhe achar o pergaminho, por que então o mesmo
sentimento dizia-lhe que poderia cair a qualquer momento num buraco repentino? Mas,

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poderia ser um rebate falso. Um aviso proveniente exclusivamente do seu instinto de
preservação. Deveria seguir. Dominaria seus nervos a todo custo...
Assim, naquele instante, Michel resolveu esticar seu pescoço um pouco mais à frente
de seu corpo e viu que, de fato, o chão terminava. Reparou que havia degraus abaixo.
Lentamente, e com dificuldade, sentou-se e, em seguida, passou as pernas para frente.
Finalmente, estava de pé! Pegou na própria cintura, curvou-se para trás e ouviu um estalo.
Era o som dos ossos do corpo ao voltar à posição ereta. Tocou os pés no primeiro degrau.
Desceu mais um lance da escada. Mais outro. Sentiu que a água tocara-lhe os membros
inferiores. Estava no poço! Deveria nadar ou deveria andar? O que ocorreria depois? Haveria
ali animais aquáticos tal como havia lido no pergaminho? Ou era blefe?
Um odor meio acre chegou-lhe às narinas... Vinha da água, que mais parecia lama, tal
a sua densidade. A escuridão persistia, mas a visão de Michel já se acostumara com o breu
total, por isso, isso não o atormentava muito. Preocupado, estava mesmo era com o que
poderia acontecer daquele momento em diante. Aquele poço poderia ter um diâmetro imenso,
como poderia ser muito estreito. Não importava. Teria que ultrapassá-lo e não adiantaria mais
elucubrações ao léu que só faziam aumentar o seu estado de ansiedade que até ali, ainda
estava sob controle.
Pouco a pouco, palmo a palmo, foi avançando de novo. A água não o cobrira
totalmente. Bateu no pescoço e ficou nessa medida enquanto andava, tocando no fundo.
Sentia frio por estar molhado. Dessa vez, somente os seus cinco sentidos agiam. Ou seja, as
ilusões da matéria prevaleciam. Não obstante e, paradoxalmente, à medida que avançava, ia
ficando mais tranqüilo, porque sabia que estava vencendo os obstáculos. Estava ciente que a
covardia aumenta o medo, que cresce e se agiganta, enquanto a coragem multiplica a
segurança daquele que a exercita com prudência. Caminhava e caminhava. O fundo ainda
dava pé. De repente, Michel vislumbrou um ponto de luz física. Estaria se aproximando do
fim da jornada, ou seria uma armadilha?
Pé ante pé, foi caminhando através da densa e escura água, tentando se aproximar da
pequena claridade que aumentava de tamanho.
De súbito, ele parou. Avançaria e arriscaria? Dúvida cruel. O sentimento de medo
queria dominá-lo. Não foi preciso andar muito. A luz é que foi ao seu encontro. E o atingiu
em cheio!
O corpo de Michel, atingido pela luz - enquanto caminhava no poço, a fim de cumprir
a primeira prova dos quatro elementos - ficou totalmente imerso na água. Imediatamente, ele
prendeu a respiração. Tinha de se autodominar. Imaginava seus pulmões repletos de oxigênio.
Pensou, ainda, que o cérebro estava sendo oxigenado suficientemente para que não perdesse
os sentidos. Teria que ficar lúcido, cônscio de suas ações e atento. Esta criação mental, era
permitida, por ser de caráter material. A visualização fez com que resistisse o impacto do
mergulho repentino, sem sequer poder ir à tona para respirar. E esse estado perdurou durante a
prova.
“Estou conseguindo prender a respiração e resistir... E essa luz parece um raio
infravermelho, pois é quente e penetrante! Engraçado: ela faz um barulho que me é familiar
aos ouvidos...”.
Percebeu, então, que o som aos poucos se transformava na vibração de uma voz
humana conhecida. O som foi se firmando, até ficar perfeitamente audível. Era a voz do
sacerdote!
Sua voz era pausada e suave, como de hábito. Ao mesmo tempo estava impregnada de
profunda gravidade, pelo sentido implícito das palavras que proferia.
“Atenção, escolhido de Gaia! Neste momento seu corpo está no fundo do poço. Esta é
a alegoria do presente estado humano em seu mundo. Mas, você transformou sua vida, porque
conseguiu superar a contento a prova do poço. Resistiu ao torpor da água. Refluiu seus

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pulmões e seu cérebro com a força de seu pensamento visualizador e sobreviveu graças à sua
coragem. A luz representa a vida. A alma é uma luz velada. Se abandonada, escurece como
uma lamparina sem combustível. Caminhe agora até a beirada do poço e espere do lado
externo do Umbral de Ísis, para onde será conduzido até outra câmara. Ali, esperará, até que a
prova dos quatro elementos finde. Rafael deverá ser chamado agora. A prova do tapete será
iniciada...”
Michel ouviu aquilo com imensurável alívio. Cumprira a sua parte. Compreendera que
a ausência de medo, evitou qualquer eventual mal que poderia lhe surgir. Os animais
aquáticos ditos pelo sacerdote, nada mais eram do que visões que uma mente conturbada e
medrosa pode construir. O medo surge do nada, e faz do nada uma imensa bola de neve, que
soterra e termina a vida mundana, suas conquistas e seus desejos, congelados pelo medo
aviltante.
Do outro lado, estava postado o garoto Rafael, à espera de sua prova, pois ele seria o
próximo. Como sempre fora seu temperamento, ele estava de certo modo tranqüilo, alheio.
O Mestre do grau de Zelator aproximou-se dele e, com a mesma voz grave – não
obstante, suave -, proclamou-lhe, tal como fizera com Michel.
“Sua vitória, será a vitória do Todo, a passagem de um estágio para outro. Adentre a
porta deste santuário oculto. . A prova do fogo deverá ser ultrapassada com louvor. Ao fazê-lo,
os outros escolhidos tentarão igual êxito, para que possam, em conjunto, galgarem a Espada
Flamejante que jaz no interior do Cálice Sagrado.”
Conforme também fizera seu companheiro, Rafael curvou-se reverentemente seu
corpo e caminhou rumo à segunda porta. Seu anel, com o símbolo do fogo, reluziu ao
ultrapassá-la. A prova do segundo elemento estava por começar.
“Todo aquele que é escravo dos sentidos vive definitivamente nas trevas. Seu corpo
arde, porque é vencido pelas ilusões da matéria. A água já foi vista e sentida. Agora, a seu
turno, você sentirá o fogo, aquele que tanto assusta o ser humano, Aquele que dá o calor, mas
também a dor. Tudo dependendo da maneira como é sentido...”
“Nossa, o que será que vai acontecer comigo? Tenho horror a fogo e agora vou ser
testado... Vou sair desta!”, pensou Rafael, preocupado e menos sereno do que há pouco.
“A prova do tapete é o seu desafio, escolhido de Gaia. O que reluz logo ali adiante é
um piso onde crepitam milhares de brasas de carvões acesos. Todo o solo é um tapete
incandescente. Seu objetivo será caminhar sobre as brasas até o final do corredor, voltando em
seguida ao seu ponto de partida...”
“Impossível para mim! Não tenho boas recordações com fogo e, por isso, receio que
vou desistir! Não posso me sujeitar a algo tão material! Isto não é ilusão!”, esbravejou Rafael.
“É compreensível o seu temor, que não pode ser confundido com medo. Sua memória
infunde-lhe o ardume que as brasas provocam e seu desfecho não é de modo algum aprazível.
Mas como as teorias e ensinamentos que não são práticos possuem apenas um valor subjetivo,
é necessário, por si mesmo, que comprove como as forças do homem são ilimitadas e, em
muitos sentidos, porque a sua origem e seu destino são divinos... Vá e demonstre a sua
superioridade perante a vida!”
Rafael estava estático. Paralisado, como que estivesse em estado de choque. Enquanto
o sacerdote falava, lembranças do passado invadiam sua mente, deixando-lhe inquieto. Queria
desistir de tudo. Aquela prova ultrapassava seus sentimentos.
“Está disposto a abandonar tudo que colheu até agora, rejeitando as vitórias que obteve
com tanto esmero? Vai deixar a sua alma indefesa e sem armadura, à mercê da ignorância do
desconhecido e do destino? Por acaso, quer apagar novamente da memória tudo que aprendeu
em todas as suas existências? Quer renegar o que considera bem, a favor do mal? A dualidade
deve perdurar?”

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“Jamais! Não sou medroso! Foi só um momento de fragilidade. Não sou fraco. Vou
continuar e enfrentar o que der e vier. Meus colegas não vão se decepcionar comigo jamais!”
“Eis o discurso mais apropriado, escolhido de Gaia! Vocês são os eleitos, não por
acaso, mas por definição e merecimento. Refaça o seu destino e siga adiante!”
Rafael sentiu-se fortalecido e recomeçou a andar. À sua frente, crepitavam milhares de
brasas incandescentes, formando um tapete de fogo. O local estava abafado, por causa do
calor. De longe, ele podia vislumbrar as emanações que subiam do tapete. E Rafael arrepiava,
não de frio, mas devido as dúvidas que ainda pairavam. Todavia, ele estava decidido e não iria
parar mais, tampouco pensar muito no que poderia acontecer com seus pés, que já sentiam o
chão quente.
Então, Rafael mergulhou em estado de profunda introspecção, esquecendo que as
plantas de seus pés pisavam abrasadores carvões acesos. As brasas rangiam enquanto ele
caminhava sobre elas e se rompiam, apagando-se àquele contato. Ele seguiu em frente,
avançando como que envolto em uma auréola de ouro. Ignorava se era o esplendor do fogo ou
outro esplendor imaterial. Poderia ser a aura de seu próprio corpo.
E o menino de , enfrentou o corredor cheio de brasas. Ele caminhava celeremente, sem
nada temer, privando-se de qualquer outro pensamento que pudesse fazê-lo perder a
concentração. Ele sabia que se seu espírito vacilasse, poderia perecer no incandescente tapete.
Mas não era o que estava acontecendo. A cada passo dado, Rafael ia sentindo mais
forte. Suava muito, mas resistia bem. Estava em autêntico transe mediúnico. Caminhava com
destemor. Então, seus pés encontraram o chão morno. Ele sentiu que atingira o lado oposto.
Parou. Respirou fundo e virou-se. Teria que voltar pelo mesmo trajeto, a fim de cumprir uma
das provas dos quatro elementos.
“Consegui ultrapassar a primeira parte. Agora, nada mais me segura, estou certo que
vou chegar lá!”, pensou cheio de segurança e uma ponta de satisfação consigo mesmo.
Tornou a pisar nas brasas. Sem dor, sem temor. Dessa vez, caminhava ainda mais
rapidamente. Nada sentia de anormal nos pés. Somente um leve ardor e nada mais. A certeza
enchera-lhe de ânimo. E nada mais poderia detê-lo.
De fato, a volta fora muito mais ágil. Finalmente, Rafael chegou ao local onde
começara o trajeto por sobre o tapete de fogo. Era como despertar de um torpor. De um sonho.
Nenhum resquício ficou na sola de seus pés. A admiração pelo seu ato, fazia com que sorrisse
de alegria e alívio pela missão cumprida. O mesmo acontecia com o sacerdote, de semblante
sereno e satisfeito.
“Cumpriu a sua parte com denodo e desenvoltura. Pensamentos indesejáveis não
conseguiram refluir em sua mente, até então combalida por causa de medos e traumas antigos.
Você venceu a prova e a si mesmo. Tudo isso, por que soube moldar a forma de pensar. E é
isto que todos devem fazer. Se é frio, pense no quente. Se é triste, pense no alegre. Se é
desanimador, pense no animador. Esculpindo o que pensa, conseguirá o que quer. Eis o poder
da vontade!”
Rafael foi então conduzido pelo Mestre do grau de Zelator para a câmara onde estava
Michel, que também já havia concluído sua prova, a da água.
Gabriel já estava postado, à espera das instruções para a sua prova. O Mestre disse-lhe:
“Sua vitória, será a vitória do Todo, a passagem de um estágio para outro. Adentre a
porta deste santuário oculto. A prova do ar deverá ser ultrapassada com louvor. Ao fazê-lo, os
outros escolhidos tentarão igual êxito, para que possam, em conjunto, galgarem a Espada
Flamejante que jaz no interior do Cálice Sagrado.”
Conforme também fizeram seus companheiros, Michel e Rafael, Gabriel curvou-se
com reverência e caminhou rumo à terceira porta. Seu anel, com o símbolo do ar, reluziu ao
ultrapassá-la. A prova do terceiro elemento estava por começar. E Gabriel pensou:
“Sou asmático. Espero que não me tirem o ar...”

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Gabriel estava preocupado, tal como aconteceu com seus outros dois amigos, Michel e
Rafael, que já haviam passado pela prova dos quatro elementos. O Mestre Zelator, então
falou com a mesma entonação grave, porém serena e penetrante: “Neste momento em que a
terceira prova do terceiro elemento - o ar - está prestes a ser iniciada, o escolhido de Gaia
deverá me acompanhar para que o rito seja executado com louvor e reverência...”
Gabriel, ciente de suas responsabilidades, assentiu baixando a cabeça. Em seguida,
seguiu o Mestre com passos curtos e ritmados. Ele usava um traje que cobria todo seu corpo.
Este era feito de um tecido leve parecido com seda que era bem refrescante, apesar do
ambiente estar muito abafado.
Ao cruzar uma das câmaras, notou em seu interior, a presença de seus companheiros,
Michel e Rafael. Presumiu que ambos haviam sido bem-sucedidos em suas provas. Gabriel e
o Mestre desceram alguns degraus para uma outra câmara que era, pois, subterrânea. Logo na
entrada, quatro lamparinas ardiam ao pé de um sarcófago vazio. A urna estava belamente
decorada em sua parte externa com motivos simbólicos. Ali estavam os quatro elementos e o
símbolo do elemento ar sobressaía. Gabriel continuava atento e curioso. Sua preocupação era
pelo fato de ser asmático. Se era a prova do ar, “algo mais” poderia acontecer e só de pensar
nisso, perdia o fôlego...
O Mestre apontou para o interior da urna. Um sinal que o arrepiou...
“Escolhido de Gaia: esta é a prova do sarcófago. Nesta hora crucial da presente
existência de seu Eu, deve adentrá-lo. Ali seu corpo irá jazer. Repousará após o fechamento da
tampa. Irá adquirir, portanto, as asas da liberdade e visitará o reino da morte. Os liames
humanos serão rompidos e ele se tornará ilimitado. É o advento de sua força divina imanente!
E os elementos corporais se separarão...”
“Como pode ser? Não posso fazer isto! Sofro de asma! Como resistirei em um lugar
fechado, sem ar para respirar? Não. Não quero visitar o reino da morte, porque vou ficar lá
para sempre!”, falou Gabriel com desvelada preocupação quanto ao seu futuro, que lhe
parecia sombrio.
“Ali você sentirá o toque do eterno. Saberá que o tempo é tênue, uma linha sem fim e
sem começo. Onde o presente é o passado e o futuro. Onde não existe a ilusão e onde a
eternidade é um momento que nunca termina! Adentre o sarcófago e preencha o seu vazio... e
o seu próprio vazio!”
Gabriel respirou fundo e entendeu que não era hora para dar vazão ao seu medo de
perder o ar...e a vida. Assim como seus amigos, revigorou-se com as palavras do Mestre e
passou a ter certeza de que venceria. Calmamente, subiu uma pequena escada e entrou no
sarcófago. O Mestre fez o gesto e ele repetiu-o, cruzando os braços em cima do peito. Era o
sinal de que estava preparado. Antes da tampa baixar, ainda pôde vislumbrar a abóboda do
teto. Viu novamente os símbolos dos quatro elementos, água, fogo, ar e terra ali incrustados.
O Mestre então finalizou seu discurso.
“Ao ser fechada a tampa deste sarcófago, concentre todo o poder de sua mente nas
asas que brotarão na sua alma e de sua alma. Elas lhes darão a liberdade almejada, pois só se
consegue aquilo que deseja, com a fervorosa força mental, com a ilimitada força de vontade,
sem o malefício alheio...”
Assim foi feito. A tampa do sarcófago foi baixando lentamente... Gabriel esqueceu-se
que sofria de asma e fechou seus olhos. Surgiu a escuridão total. Gabriel tentou respirar, mas
viu que o oxigênio acabava rapidamente. O ar, elemento vital para nossa sobrevivência,
acabara... Mas acabara ilusoriamente... Agora, o ar era composto de outros elementos: a
essência vital!
Aos poucos, ele foi desfalecendo. Mar de trevas. Viu-se então, provido de asas que
desatavam-lhe os nós das ligaduras da matéria. Um foco de luz bem distante foi se
aproximando... bem davagarinho... Ouviu um mantra que já conhecia bem: “Mathrem”. Este

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som vocálico ecoou no fundo de suas entranhas e ele se viu envolvido por uma luz. Sentiu-se
pleno! O ar já fluía em seus pulmões. Respirava e voava pela imensidão da eternidade. A
gravidade não mais puxava o seu corpo. Estava leve como uma pluma. A coragem e a certeza
do sucesso, revigorava seu espírito liberto. Era a sensação de paz profunda que lhe era
infundida em todo o seu Ser. Suavemente ele “pousou” num vale onde o verde prevalecia. Viu
muitas pessoas conversando, e sorrindo também. Demonstravam estar felizes naquela
condição. Sentou-se no gramado e, gozando de total liberdade, apreciou o cenário...
E ficou assim. Foi um momento tão cheio de felicidade, que durou uma eternidade...
“Acorda, eleito de Gaia! Você acaba de compreender um dos mistérios do mundo. O
mistério que atordoa o ser humano: o segredo da felicidade. Privado do elemento ar, você
ficou três horas em estado de letargia plena e assim pôde vislumbrar os encantos da
eternidade. Cumpriu sua parte com denodo e desenvoltura. Você venceu a prova do
sarcófago!”
Gabriel reabriu os olhos e suspirou... Estava novamente do Outro Lado da vida...
E ficou assim. Foi um momento tão cheio de felicidade, que durou uma eternidade...
“Desperte, escolhido de Gaia! Você acaba de compreender um dos mistérios do
mundo. O mistério que o ser humano mais busca: a felicidade total. Privado do elemento ar,
você ficou muitas horas do seu tempo, em estado de paz profunda e, assim, pôde sentir a
essência da felicidade em seu ser. Cumpriu, pois, a sua parte com denodo e desenvoltura.
Você venceu a prova do sarcófago!”
Gabriel reabriu os olhos e suspirou... Estava novamente de volta do outro lado da
vida...
Ele ainda estava meio grogue, mas sabia e sentia na alma os resquícios do êxtase
vivido naquele “Outro Lado”. Só não entendia como havia conseguido ficar muitas horas
enfiado dentro de um caixão e sem ar para respirar! Tudo tinha sido tão rápido, com num
passe de mágica!
“O tempo é imaginário...é uma das ilusões criadas pela mente ainda limitada dos
homens. O tempo não pode ser percebido nem medido, porque ele é perene, não tem começo,
nem fim. É constante. Ele é o que acontece agora, neste momento: sempre. Por enquanto
ainda, é prematuro para que o ser humano de Gaia o entenda e o sinta, porque está preso às
amarras tridimensionais, portanto, com limites de começo e fim. A Espada Flamejante será o
artífice para decifrar mais este enigma terreno”, disse o Mestre Zelator, como que respondesse
ao questionamento de Gabriel, que imediata e involuntariamente, viu em sua mente um álbum
de fotografias...
Ele, então, foi conduzido para a câmara onde estavam Michel e Rafael, que já haviam
cumprido suas tarefas ao ultrapassarem as provas da água e do fogo.
Os dois garotos receberam o amigo com alegria. Mais um havia triunfado!
Faltava a última etapa para fechar a prova dos quatro elementos: a prova da terra.
Thiago, pacientemente, esperava pelo seu turno. Naquela altura, sentia que os
companheiros haviam sido bem-sucedidos em seus testes. E este era o seu objetivo também.
O Mestre Zelator, aproximou-se dele e falou com a mesma entonação serena e
penetrante: “Neste momento em que a prova do quarto elemento – a terra - está prestes a ser
iniciada, o escolhido de Gaia deverá me acompanhar para que o rito seja executado com
louvor e reverência...”
Thiago, ciente de suas responsabilidades, assentiu baixando a cabeça. Em seguida,
seguiu o Mestre. Ao contrário de Gabriel, ele usava um traje mais pesado, feito de um tecido
grosso, parecendo saco de linhagem. Tudo indicava que era para proteger seu corpo.
Ao cruzar uma das câmaras, notou em seu interior a presença dos companheiros,
Michel, Rafael e Gabriel. Conversam alegremente entre si. Essa cena deu mais força ainda a

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Thiago. Agora só dependia do seu sucesso, para o triunfo final. Cumprindo o ritual de início,
o Mestre falou.
“Sua vitória, será a vitória do Todo, a passagem de um estágio para outro. Adentre a
porta deste santuário oculto. A prova da terra deverá ser ultrapassada. Ao fazê-lo, a prova dos
quatro elementos estará completada. E os quatro escolhidos de Gaia, triunfantes, poderão
seguir o caminho para o arrebatamento definitivo da Espada Flamejante, que jaz no interior
do Cálice Sagrado.”
Conforme também fizeram seus amigos, Thiago curvou-se reverentemente o corpo e
caminhou rumo à quarta e última porta do Umbral de Ísis. Seu anel, com o símbolo da terra,
reluziu ao ultrapassá-la. A prova do quarto elemento estava por começar.
“A prova da catacumba é o seu desafio, escolhido de Gaia! Aquela tampa de cimento
que daqui pode vislumbrar, é a porta de entrada para o túmulo. Ali penetrando, seu corpo será
logo coberto por quilos de terra... E assim permanecerá até o momento em que o Cósmico o
permitir. Sua resistência e sua persistência determinarão o seu limite. Se você for paciente,
determinado e perseverante, alcançará o seu objetivo. A vida é feita de desafios e todos eles só
poderão ser vencidos se tais atributos forem parte de sua pessoa. Quem luta por um ideal,
consegue o que quer... ”
“Como pode ser isto? Não posso ser decidido se meu teste vai contra as leis da vida!
Vou morrer soterrado! A terra vai me sufocar! Não sei o que aconteceu com meus amigos,
mas certamente eles não tiveram que lutar contra a morte! Recuso-me a aceitar tal desafio!
Vou sucumbir debaixo da terra!”, exclamou Thiago, desesperado pela iminência de ser
enterrado vivo.
“Não é assim que se fala. A indecisão deve ser extirpada da sua vida, assim como o foi
com os outros escolhidos de Gaia! Seu estado de ânimo removerá esses escombros que tanto
pesam em suas costas. O peso da terra é o símbolo dos incômodos que afligem o ser humano
neste plano de três dimensões. Vá. Confie em si próprio e remova os detritos de terra que
impregnam o seu espírito!”
Thiago compreendeu a realidade. Tinha que cumprir o rito. Tinha que perder o
momentâneo temor. Foi o que acontecera. Adentrou a catacumba e uma tonelada de terra
cobriu o seu corpo...
Thiago sentiu os flocos de terra caindo pesadamente por sobre o seu corpo. O traje que
vestia, de tecido mais resistente, protegia sua pele. Foi uma sensação jamais vivenciada. Aos
poucos, ele era enterrado vivo. O que fazer? E quando a terra tocasse o seu nariz? Como
poderia sobreviver? Como respiraria com toda aquela terra entranhando em sua pele?
Pacientemente, como sempre foi a sua maneira de ser, ele apenas esperava. Nada podia fazer.
Somente esperar...
E a terra caía. E Thiago, lentamente era enterrado vivo... Vagarosamente...
De repente, a escuridão plena! Thiago tentou respirar. Tossiu. A terra penetrou de vez
em suas narinas. Os ouvidos também já estavam tomados. Assim, nenhum som era ouvido.
Impossível sentir ou escutar alguma coisa! Apenas um zunido oco e intermitente, vindo de
dentro do cérebro. Era o som do vazio. Do nada... O garoto estava imobilizado. Compactado.
E os sentidos foram se perdendo... De fato, Thiago perdia as sensações materiais, mas
ganhava aquelas não-físicas: as verdadeiras. Era a realidade total que começava a tomar seu
ser integralmente! Ao mesmo tempo, em que se desligava do mundo palpável, das ilusões da
vida material, ele penetrava no mundo não-palpável, mas real. O mundo da verdade absoluta!
Apesar da pressão da terra sobre seu corpo, Thiago começou a ficar leve como uma
pluma. O fardo terreno deixava de ser empecilho para que sua alma “alçasse” seu vôo de
liberdade.
Ele sabia que seu corpo estava literalmente estacado por causa do volume de terra que
o cobria e mesmo assim, adquirira uma leveza inusitada, jamais sentida. Compreendera uma

37
vez mais, agora na prática, que a matéria era o maior obstáculo para a aquisição da maestria, o
autodomínio, ou a plenitude da alma: metas tão almejadas pela humanidade terrena.
Como num filme, Thiago viu a figura de um humano carregando nas costas um fardo
cheio de terra. Quando se cansava, ele parava para beber água ou se alimentar. Ao seu
derredor, brotavam muitas espécies de árvores. Havia árvores de onde saíam frutos, uns eram
saudáveis, outros, venenosos. Mas o homem não se importava. Pegava tudo que estava ao seu
alcance, não importando a reação que teria posteriormente. Havia, ainda, árvores que davam
frutos do conhecimento, do saber. Essas árvores eram completamente ignoradas pelo homem.
Ele preferia se alimentar, em vez de conhecer. Para ele, “saber não enchia barriga”. E o
homem continuou andando. Todavia, sua caminhada ia ficando mais difícil, pois a terra
contida no fardo que carregava parecia aumentar de volume. Então, o homem foi ficando
fraco e fraco. Não importava o quanto ele se alimentava, mas seus passos tornaram-se
difíceis, trôpegos...
De repente, ele resolveu colher um dos frutos do conhecimento que vinham das
árvores que sempre ignorara. Para sua felicidade, o homem reparou que aos poucos o fardo
foi ficando mais leve. Eis o segredo da sobrevivência: o alimento da alma! O corpo precisava
da alma para sobreviver. E a alma precisava “saber” para ser saudável! Em corpo são, uma
mente sã, e vice-versa!
Essa alegoria viva, mostrou a Thiago que o homem precisa também alimentar a sua
mente para continuar seus passos com firmeza rumo à perfeição!
E Thiago acordou de seu sono profundo...
A tampa da catacumba estava aberta e ele já não tinha terra por sobre seu corpo.
“Levanta, escolhido de Gaia! A matéria já não cobre mais o seu frágil, porém resoluto
invólucro carnal! Você acabou de compreender que o peso da terra, o quarto elemento,
também faz nascer os frutos que alimentam tanto o corpo quanto a mente, dependendo de
cada um. Viu que a catacumba representa a veste derradeira que decompõe o corpo. Ainda
assim, as suas mazelas não se desfazem. Ficam impregnadas no espírito. Ali, é representação
da passagem de um estágio para outro, da ressurreição da consciência adormecida pela vida
terrestre É o símbolo de uma mudança, que pode ser aprazível ou pode ser drástica,
dependendo dos caminhos que cada um persegue. Assim, tal como seus outros três
companheiros, escolhidos pelo Cósmico, você cumpriu sua parte com denodo e desenvoltura.
Você venceu a prova da catacumba!”
Thiago, orgulhoso consigo mesmo e, com aquilo que aprendera literalmente na pele,
foi então conduzido do Umbral de Ísis, para onde estavam seus queridos colegas, Michel,
Rafael e Gabriel que o saudaram com intensa alegria.
A Prova dos Quatro Elementos estava concluída!
A Espada Flamejante estava mais próxima!
Emoção geral! Michel, Rafael, Gabriel e Thiago estavam orgulhosos de si mesmos e
orgulhosos pelo dever cumprido! Uns cumprimentavam os outros! Empolgação e vibração!
Dessa vez, os quatro viram que podiam ser eles próprios, sem os artífices da mente, mas
agindo como sempre foram: seres humanos na ascepção da palavra, no seu mais amplo e
sagrado sentido! Conseguiram cumprir os seus objetivos sem “tramarem com a imaginação
criativa”! Eles, os quatro, possuíam dons que poucos possuíam, mas naquela vez foram
impedidos de agir com os seus poderes mentais e, mesmo assim, conseguiram vencer! A
vitória dos “eleitos de Gaia”, o planeta Terra!
“Não acredito, véio! Conseguimos cumprir a prova dos quatro elementos! No início,
pensei que não conseguiríamos sair dessa, já que fomos proibidos de usar o que aprendemos
nos Três Templos! Mas, vi que realmente agora estamos determinados a honrar nossa cidade e
nosso mundo!”, exclamou com alegria e regozijo, o garoto Michel.

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“É mesmo, véio! Também estou feliz. Nós quatro realizamos aquilo que propomos!
Perdemos o medo e vimos que não precisamos só das habilidades psíquicas para
conseguirmos os nosso intentos. Precisamos, sim, de sermos perseverantes e auto-confiantes,
independentemente de qualquer artifício adicional que possamos ter! Basta-nos querer! E
pronto!”, complementou Rafael...
“E querer é poder! Provamos que quando queremos alguma coisa - desde que seja com
as melhores das intenções, sempre visando o melhor para nós mesmos e para o nosso próximo
– nada nos detém, pois o Cósmico sempre vai conspirar a nosso favor! É tão simples! Se
todos soubessem disso, nada de ruim aconteceria para ninguém!”, asseverou com firmeza,
Gabriel.
“E termino nossas observações com uma só frase: sem o medo e com boas intenções,
conseguimos qualquer coisa!”, finalizou Thiago.
Dito isto, os quatro voltaram a se cumprimentar. Abraçaram-se efusivamente. A alegria
e a satisfação estavam estampadas em seus rostos de crianças recém-renascidas ao novo-
mundo!
O Mestre Zelator aproximou-se dos quatro e, num gesto característico, indicou-lhes
uma outra câmara: “Escolhidos de Gaia! Vocês triunfaram em seus intentos. Estão aptos a
prosseguirem o seu caminho rumo à resplandecente Espada Flamejante, que jaz no Cálice
Sagrado à espera dos eleitos que a arrebatarão. São de fato apontados pelo Cósmico a
cumprirem tão sublime missão. Provaram que podem! Provaram que são capazes e provaram
que o ser humano não precisa ter dotes extraordinários para obter o que lhe parece impossível.
Para tanto, têm que ser persistentes e perseverantes; têm que querer, e obterão! Portanto,
retiro-os do Umbral de Ísis e conduzo-os ao Palácio de Nefertiti! Chegou a hora de
penetrarem no seio do Cálice Sagrado, onde repousa o símbolo supremo que rasga o agora e
faz o tempo deixar de ser uma linha reta, para se tornar um círculo...!”
Os meninos não compreenderam muito bem o que o Mestre queria dizer com “rasgar o
agora” mas, como tudo que vivenciavam era mesmo misterioso, não se importaram e o
acompanharam plácida e reverentemente... E o Mestre prosseguiu...
“Escolhidos de Gaia! Quando os quatro tiverem a honra de tocarem na Espada
Flamejante e erguerem tal poderoso símbolo, o Véu da Obscuridade será desvelado! Suas
lâminas iluminarão as trevas! Adiante, pequenos guerreiros deste planeta, que está em
evolução e que está por ultrapassar seu mais precioso momento rumo à perfeição! A Ordo
Summum Bonum os aguarda! É o supremo tempo que finalmente acontece! É o dia das
núpcias reais! A Mente Universal os predestinou para esta honraria. Os especiais que foram
escolhidos. Mereceram e terão o seu prêmio. Devo, finalmente, dar-lhes um especial adendo:
Musa e Mago estão orgulhosos...”
Por tudo isso, especialmente por causa da menção aos seus protetores, Musa e Mago,
os quatro heróis s se emocionaram. Fazia tempo que não ouviam falar daqueles que os
protegia., pois sabiam que, mesmo sem poder utilizar seus poderes mentais, precisavam dessa
proteção que vinha desses “anjos” vindos da eternidade. Vindos de um tempo sem começo e
sem fim...
Enfim, Michel e sua turma, penetraram no Palácio de Nefertiti!
Tudo naquela câmara era diferente do Umbral de Ísis, a câmara das provações. Agora,
eles sentiam o gosto do dever cumprido! À sua volta, o ambiente era maravilhoso! A energia
reinante dominava-os com intensidade! Sabiam que aquele sagrado lugar era o preâmbulo
para algo mais sublime: a ante-sala para o paraíso! Mas, este deveria ter seu preço! Todos os
quatro respiraram profundamente. Sorveram toda aquela energia, primordial para o passo
final da sua jornada!

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Chegara, enfim, a hora-mestra! Os quatro s então tocaram no Cálice Sagrado e a
surpresa foi imensa! Surgira o mais cobiçado objeto do mundo tridimensional: a Espada
Flamejante!
A Espada Flamejante reluzia do interior do Cálice Sagrado, em cuja tampa
estava escrito o seguinte: “Este dia, este dia, este dia,
É o dia das núpcias reais.
Se teu nascimento o convida,
Se Deus te predestinou à alegria,
Sobe ao cimo que três templos
Coroam. E, em pessoa
Verás a história.
Prudência: Observa!
Sem uma ablução aplicada,
Essas núpcias podem te prejudicar.
Pena para o que hesita,
Cuidado a quem não faz o peso!
Seja especial e salve todos!”
“Eis novamente os mesmos dizeres que deparamos no início de toda esta nossa
aventura mística!”, observou Michel.
“O engraçado é que a mensagem está hierografada e nós pudemos entender tudo
perfeitamente sem nunca termos estudado esta antiga linguagem egípcia!”, complementou
Rafael, com curiosidade em saber o motivo.
“Nós é que assim pensamos. Com certeza, nossos registros acásicos dizem o oposto.
Na verdade, tudo indicava que este é um idioma que já sabemos há milênios!”, consertou
Gabriel, sentindo que tudo aquilo era familiar.
“E digo mais”, acrescentou Thiago, “este próprio momento já foi vivido por nós, pois
vejo tudo novamente. Porém, reparo que jamais o realizamos. É um futuro que víamos e
sentíamos, mas nunca conseguimos realizar de fato. Pelo visto, o nosso triunfo fez com que
este evento se concretizasse efetivamente...!”
“...porque transformamos um futuro provável, em realidade! Falhamos em outras
vezes, mas agora conseguimos cumprir todos os desafios. Parece que nossa saga está mesmo
no seu final!”, bradou Michel, cumprimentando novamente os inseparáveis amigos. Alegria
geral.
“O que temos a fazer agora, segundo parece ser mais sensato, é erguermos a espada e
esperarmos para ver o que acontece...”, prosseguiu Michel, ao mesmo tempo que seus
companheiros se aproximavam, preparando-se para o ato magno de toda a missão.
Os quatro meninos s, então, se debruçaram no Cálice Sagrado e puxaram para si a
cobiçada e temida Espada Flamejante - que emitia fagulhas de luz - erguendo-a acima de suas
cabeças. Em uníssono, entoaram, sem saber por quê: “Acqua-Flamus-Ahmat-Tarnaf!”
Fez-se escuridão plena! De súbito, a espada parou de reluzir. Inicialmente, os garotos
se assustaram com este efeito. Bem à frente a parede pareceu se romper. Viram que era o
espaço que se rasgava, tal qual o pano de uma tela de cinema! O que acontecera? A espada
simplesmente “cortou” a visão que tinham. Seria o tempo sendo redimensionado, como
dissera-lhes anteriormente o Sacerdote? Eles sentiram que algo muito além de suas
percepções materiais acontecia. Sentiram que o tempo a que estavam presos, parara. E a vida

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de cada um começou a ser projetada dentro de suas mentes e, simultaneamente, no espaço em
que estavam. A sensação era que estavam vivendo um sonho real, palpável! Tudo em fração
de segundos! Entenderam, finalmente, o que estava ocorrendo: aquilo era a eternidade tão
decantada anteriormente, era o “aqui-agora”.
Portanto, o tempo deixara de ser um fator linear; uma criação meramente humana.
Acontecia algo inexplicável para a compreensão corriqueira do homem da Terra. Ali estava,
enfim, a chave da cobiçada e misteriosa Espada Flamejante: demonstrar, através de seu “corte
dimensional”, a realidade: a verdade absoluta! Naquele “momentum” eterno, o oposto do bem
tornara-se uma ilusão, pois o uno prevalecia, ignorando a irreal bipolaridade, tão presente na
vida humana e tão falsa!
O micro e o macrocosmos universal estava, pois, no âmago de cada um daqueles
quatro heróicos meninos de : os “Escolhidos de Gaia”!
Agora eles teriam que difundir aquela inusitada sensação que a Espada Flamejante
propiciava.
“Seja especial e salve todos!”, era a frase derradeira da mensagem, que lhes vinha à
mente naquela hora. O simbólico objeto, no mais, representava a ação que negava as maiores
barreiras humanas: a ilusão do tempo e a ilusão do bem e do mal!
Em pouco tempo, após sentir e assimilar a dádiva advinda da Espada Flamejante, os
quatro voltaram às três dimensões de espaço-tempo de que faziam parte. Chegara a hora
suprema!
Michel, Rafael, Gabriel e Thiago, de volta à materialidade tridimensional,
compreenderam em definitivo que eram os “porta-vozes” da grande mudança que estava por
vir.
“Pelo visto, esta missão está apenas começando...”, observou Michel, “e nossa função
será difundir este novo-tempo que está próximo de acontecer!”.
“E essa propaganda deverá tocar o coração daquele que tiver ouvidos de ouvir e olhos
de ver...”, arrematou com propriedade, o menino Gabriel.
“O que quer dizer que o recado será captado internamente. Novas descobertas
científicas vão fazer todos, céticos e não, ficarem boquiabertos!”, complementou Rafael, com
emoção.
Assim, enquanto teciam comentários com relação ao seu iminente futuro, surgiu-lhes à
frente, uma mulher muito imponente. Era alta, esguia e irradiava uma profunda paz aos
meninos.
“Salutis in omnibus punctis trianguli! Sou Nice, a Guardiã da Ordem da Pedra Doura,
onde está o Palácio de Nefertiti, repositório do Cálice Sagrado, que guardou a Espada
Flamejante por tantos milênios, até que os eleitos de Gaia tomaram-lhe a posse. Esta Espada
Flamejante representa o poder da palavra, do Verbo Sagrado e Divino! Em verdade, é só uma
lâmina, que é o uno. Todavia, a Espada Flamejante ainda tem o duplo gume que persistirá
enquanto o homem continuar dual, iludindo-se com a duplicidade em suas ações. A unidade
do Todo é a verdade absoluta!”
“Sagrada Nice, diga-nos, pois, o que representam esses dois gumes?”, questionou
Thiago.
“Representam o duplo poder criador e destruidor do chamado ‘homo-sapiens’! A
espada é o símbolo associado também ao raio provocado pelas nuvens e ao raio solar.
Enquanto perdurarem seus dois gumes, haverá chuva ou sol. A dualidade de seu gume refere-
se, pois, às duas correntes que ora permeiam o eixo terráqueo. É o lado claro e escuro da
Força. Mas ela poderá fazer com que o Uno prevaleça e retire de Gaia as viseiras da
incompreensão e da ignorância que resultam no baixo nível de sabedoria e raciocínio! E este é
o novo tempo que chega! Mas, necessário será conter os passos estreitos desta raça que se diz
sapiente e dar por terminado seus temores inconsistentes com relação à vida e à morte... Vocês

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receberão o Véu da Obscuridade que os protegerá nesta missão de todas as missões! Este é o
legado dos escolhidos de Gaia: portar a Espada Flamejante!”
“Teremos que carregar esta bela espada conosco? Se ela ‘corta’ as dimensões,
tornando-as em uma só, como a controlaremos e como devemos nos proceder?”, perguntou
Michel.
“Ao portarem tão maravilhoso símbolo, rememorarão em suas telas mentais que
foram auxiliados por Musa, Magus, Neophyte, Zelator, Malleuth, Hode, Yesod e Deusa
Aznak, a Magistus. Nesta aventura, aprenderam a dominar suas habilidades psíquicas, mas
souberam também se comportar sem elas com sucesso, pois, afinal, ainda estão com suas
vestes tridimensionais. De posse da Espada Flamejante - que é ‘acqua’, porque resiste à água
que inunda; que é ‘flamus’, porque resiste ao fogo que queima; que é ‘ahmat’, porque resiste
ao ar que sufoca e que é ‘tarnaf’, porque resiste à terra que sepulta - obterão a proteção, o
manto energético e a carapaça de força que precisarão para agir contra a obscuridade!
Propagarão, enfim, a luz verdadeira que os aspirantes e buscadores de Gaia almejam. Somente
então haverá a integração psíquica que os religará ao real, unificando o consciente ao
inconsciente e levando-os a conhecer o Eu verdadeiro, que é o resultado alquímico de corpo
e mente fechados na câmara nupcial do Absoluto, resultando nas Núpcias Reais! Sigam a
trilha para o novo rumo! Paz profunda nas pontas do Sagrado Triângulo!”
Orgulhosos pelas palavras proferidas por Nice, e cientes de suas sublimes
responsabilidades, Michel, Rafael, Gabriel e Thiago partiram de volta para casa.
“Agora começamos nosso trabalho de levar esta boa-nova que, no final das contas, é
mais velha do que nossa vã ignorância imagina... Se é que podemos afirmar que o ‘novo’ e o
‘velho’ realmente existem, pois como sabemos muito bem, o tempo é circular!”, falou Michel
aos amigos, enquanto os quatro se retiravam da Ordem da Pedra Dourada, rumo à sua amada
cidade: .
E as coisas “aconteceram de fato”: em pouco tempo, o mundo começaria a conviver
com novas descobertas da física relacionadas ao “tempo”. Começava a revolução da Física
Moderna! Eram os primeiros efeitos das ações da Espada Flamejante... Início de “Novos
Rumos”!
Já acomodados em casa, depois da aventura que, em termos materiais, durou não
menos do que poucos dias (na verdade, para as famílias de cada um dos quatro meninos, eles
estavam excursionando com a Escola), os resultados começaram a surgir: primeiros sinais do
“trabalho silencioso” recém-iniciado...
Em cadeia nacional, Michel, Rafael, Gabriel e Thiago viram a seguinte notícia sobre
as mais recentes descobertas relacionadas à Física:
“Cientistas acabam de descobrir e comprovar através de experimentos, que um raio
de luz emitido de um ponto qualquer chegará a seu destino antes de ter iniciado sua viagem.
Na verdade, essa seria a constatação prática de que o tempo não corre como uma flecha, de
um presente em direção a um futuro, ou seja, o tempo na verdade seria circular e eterno.
Como não poderia deixar de ser, o experimento já está provocando controvérsias entre os
físicos de partículas. O que mais os incomoda é que, se a luz realmente puder viajar à frente
no tempo, ela poderá transportar informação. Com esta estrondosa descoberta, estará
quebrado um dos pilares mais básicos da física cartesiana a da causalidade, que diz que a
causa sempre tem de vir antes do efeito. A própria Teoria da Relatividade de Einstein também
terá de ser revista, pois ela depende em grande parte do conceito de que a velocidade da luz
é o limite do universo e não pode ser superada O experimento dos pesquisadores de
Princeton é a mais recente e clara constatação de que o mundo físico não funciona de acordo
com o que pensamos e sentimos, nem com as convenções da física newtoniana. A ciência
moderna está começando a perceber que as partículas subatômicas aparentemente existem
em pelo menos dois lugares ao mesmo tempo, sem fazer distinção entre espaço e tempo. Em

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resumo, estamos diante da possibilidade prática de conseguir explicações científicas sobre
temas que até agora se limitavam ao terreno das filosofias, ficção ou religiões, como viagens
no tempo, telepatia, universos paralelos, existência e imortalidade da alma e muitos outros
Também estará aberta a possibilidade de criação de computadores com velocidades de
transmissão de informações jamais imaginadas, os chamados computadores quânticos!”
Os quatro, que assistiam juntos ao Jornal, se entreolharam e sorriram.
Eles já sabiam que os “acontecimentos” estavam chegando: novo rumos traçados, por
causa da nova concepção de “tempo”!
Dentro da mochila de um deles, um facho de luz piscou.
Parecia ser de uma espada...
FIM

“O processo mental do homem atuado pela presença da fenomenologia violadora das


leis físicas conhecidas, leva-o a defrontar situações estranhas em que sente impotente,
diminuto, ameaçado, assustado, porquanto percebe que as forças que geram tais alterações
do sistema natural (“natural”, evidentemente, na conformidade de suas concepções limitadas
ao plano de sua captação sensorial), são por demais poderosas. O desconhecimento delas
leva-o ao medo, conseqüência natural para quem NADA SABE.” (Wilson Veado – pg 162 –
vide Bibliografia)

BIBLIOGRAFIA
1. VEADO, Wilson – “A Espada na Maçonaria e na História” – Ed. Madras,
1998.
2. LLARCH, Joan – “La Pirâmide Iniciática” – Ed. M. Roca, 1983.
3. GORCEIX, Bernard – “La Bible dês Rose-Croix” – Presses Univ. de France,
1970.
4. FRÈRE, Jean-Claude – “Vie et Mystères des Rose-Croix” – Maison Mame,
1973.

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