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A PEDAGOGIA DA NAÇÃO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO

BRASIL DO COLÉGIO PEDRO II (1838-1920)

Arlette Medeiros Gasparello


Universidade Federal Fluminense

Neste trabalho, apresento à discussão algumas questões relativas ao estudo da produção


didática de História do Brasil no século XIX, momento histórico de criação e consolidação do
Estado nacional brasileiro. Os compêndios1 selecionados foram os adotados no Colégio de Pedro
2
II no período da pesquisa, que teve como perspectiva de análise compreender a expressão
pedagógica da idéia de nação e de nacionalidade no ensino secundário (Gasparello, 2002).
A centralidade da investigação no Colégio Pedro II, deveu-se à importância dessa
instituição, fundada pelo poder público em 1837 no Rio de Janeiro e que serviu de modelo
nacional da forma secundária de ensino ao longo do Império.3
Os estudos sobre a historiografia nacional costumam indicar como pontos de referência no
século XIX um lugar institucional - o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e uma
obra - a História Geral do Brasil - de Francisco Adolfo de Varnhagen (1854) (Inglésias, 2000). 4
Em estreita relação com aqueles marcos, tem sido assinalada, na história da produção
didática de história nacional, a articulação de dois elementos que estimulam e consolidam essa
produção: o lugar social do autor – o Colégio Pedro II – e a instituição científica abalizadora – o

1
No Brasil do século XIX, o termo mais utilizado para o livro produzido com finalidades de ensino era compêndio,
cuja significação, nos dicionários da época consultados, refere-se ao tipo de livro caracterizado por ser uma
compilação de textos de vários autores, não uma produção original (Morais e Silva, 1922).
2
No século XIX, a denominação do colégio apareceu de forma diferenciada, mas sempre com destaque ao nome do
Imperador: no decreto de fundação consta Colégio de Pedro II; foi usual a expressão Imperial Colégio de Pedro II.
Com a República, sofreu mudança radical, como o nome de Instituto Nacional de Instrução Secundária e logo
depois Ginásio Nacional (1892). Em 1909, passou a ter um duplo nome: o Externato voltou a chamar-se Colégio de
Pedro II e o Internato Instituto Bernardo Pereira de Vasconcelos. Em 1911, houve a reunificação dos
estabelecimentos sob o antigo nome, sem a partícula ‘de’: Colégio Pedro II, que conserva até hoje, sofrendo
alteração apenas na atualização da grafia. (Sobre o assunto, ver Doria, 1937; Andrade, 1999; Vechia & Lorenz
(orgs.), 1998, Gasparello, 2002).
3
No Brasil, ao longo do século XIX, estendendo-se ao século XX, o modelo secundário do Colégio Pedro II
conviveu com o de exames parcelados ou de preparatórios, que davam acesso aos cursos superiores, até a
institucionalização da forma escolar do secundário no Brasil (sobre o tema, ver Silva, 1956; 1959; 1969; Haidar,
1972; Gasparello, 2002).
4
Para o tema das relações entre construção da nação brasileira e historiografia, ver Guimarães, M. L. S. (1988);
Odália (1997); para a compreensão da nação como objeto histórico e conceito político, ver Anderson (1989);
Hobsbawm (1990); Guibernau (1997); Chabod (1997); Noiriel (1995).
5
IHGB (Bittencourt, 1993; Melo, 1997). No entanto, a produção didática da história nacional
apresenta uma fase anterior a esses marcos, com relativa autonomia frente à atuação do Instituto
Histórico e que dá sentido à busca de uma pedagogia da nação, com dois livros que foram
conhecidos por estudantes por mais de quatro décadas. O primeiro, anterior à criação do Instituto
Histórico e Geográfico (IHGB), resultado de uma tradução do Resumé de l'histoire du Brésil, de
Ferdinand Denis6 pelo então capitão (depois major) português Henrique Luiz de Niemeyer
Bellegarde,7 que saiu publicado no Rio de Janeiro, em 1831. O outro, também escrito por um
militar, foi o Compendio de Historia do Brasil, escrito pelo General pernambucano José Ignacio
de Abreu e Lima, publicado pela primeira vez em 1843, em dois volumes, pela tipografia dos
Irmãos Laemmert. A obra, que teve uma história tumultuada pela censura de Varnhagen8 no
IHGB, foi reeditada em um só volume, de 352 páginas, no mesmo ano.9
Os dois autores não reivindicaram originalidade, pois resultaram de traduções e
adaptações. Utilizaram, porém, a literatura histórica existente à época, com base em autores
estrangeiros, como Robert Southey.10
A Lista dos subscritores do Resumo de Bellegarde (1831) representa indício da
importância conferida à divulgação e conhecimento de uma história nacional: políticos,

5
Tendo em vista a temática proposta, de construção da nacionalidade nos livros didáticos e o papel representado pelo
IHGB, a análise identificou três momentos significativos dessa produção, que têm como limites as datas do
aparecimento dos compêndios que os caracterizam: o primeiro, de 1831 a 1861; o segundo, de 1861 a 1900; o
terceiro, de 1900 a 1920.
6
Jean-Ferdinand Denis (1798-1890), escritor francês, viajou por toda a América do Sul no início do século,
principalmente no Brasil, onde pesquisou para seus trabalhos. Antes do Resumé de l’histoire du Brésil, Paris, 1825,
in-18, escreveu, com a colaboração de Thomas-Marie-Hippolyte Taunay, em 1821-1822, Le Brésil, histoire, moeurs
et coutumes des habitants de ce royaume, em seis volumes, que deve ter fundamentado o Resumé de 1825, época em
que Bellegarde estava na França. (Larousse, 1875). Sócio correspondente do IHGB, era muito considerado entre os
membros do Instituto, com os quais mantinha correspondência. Merece destaque, ainda, seu papel no
desenvolvimento do Romantismo no Brasil, com seus incentivos pela nacionalização das letras brasileiras (Coutinho
(dir.), 1997).
7
O Resumo de História do Brasil até 1828, registra na folha de rosto: “traduzido de Mr. Denis, corrigido e
aumentado por Luís Henrique Niemeyer Bllegarde".
8
O IHGB, assumindo a função legitimadora da escrita da história nacional, emitia pareceres sobre os compêndios
publicados e que usualmente eram oferecidos à instituição. A severa crítica de Varnhagen ao Compêndio de Abreu e
Lima(1844) produziu respostas enérgicas do autor censurado ( Abreu e Lima, 1844). Sobre o tema, ver Rodrigues,
1965; 1970; 1979; Gasparello, 2002).
9
A adoção do Resumo para as aulas do Imperial Colégio foi autorizada pelo Ministro do Império (Antonio Carlos
Andrada) em 1841 (Doria, 1997). Os Programas de Ensino indicam, nos anos da década de 1850 até 1862, o
Compêndio do General Abreu e Lima para o estudo da História do Brasil. A partir dessa data, foi adotado o livro
Lições de Historia do Brazil, de Joaquim Manoel de Macedo, professor do Colégio e membro do IHGB.
10
A obra do poeta e historiador inglês Robert Southey History of Brazil, publicada em três volumes (1810, 1817,
1819), serviu de referência importante para os autores de compêndios da primeira metade do século XIX, como
Bellegarde e Abreu e Lima, considerada por Iglesias (2000, p. 48) “a primeira história do Brasil verdadeiramente
monumental”, foi traduzida para o português em 1862, numa edição em seis volumes (Gasparello, 2002).

2
jornalistas, intelectuais, sacerdotes, condes, barões, marqueses, além de subscrições levantadas
entre a população de cidades e vilas. Sem dúvida, o prestígio do jovem Bellegarde por suas ações
como militar e engenheiro das principais obras da época, e o fato de participar da rede de relações
do poder intelectual e político, contribuíram para motivar adesões e congratulações pelo seu
Resumo. No entanto, levando-se em conta a categoria da publicação requerida - uma história da
nação – e dos subscritores que, em sua maior parte, formavam um corpo de brasileiros (e
estrangeiros) que nas duas primeiras décadas do regime independente do país tiveram parte ativa
e proeminente na construção da sua história, tem-se um registro das manifestações que, simbólica
e materialmente, apoiaram as expressões da nacionalidade brasileira.
• A primeira fase: uma história "patriótica"
Nesse período inicial, os autores didáticos escreveram sob o impacto da mudança política
e dos sentimentos que emergem com as novas experiências de um país livre, as expectativas em
relação ao seu futuro e os temores de um presente tumultuado pelas paixões políticas dos
primeiros tempos: viviam o nascimento de uma nova nação.
O surgimento desses compêndios não ocorreu devido a iniciativas ou demandas
institucionais e seus autores não tinham o magistério como atividade principal, ainda que Lima
tenha sido professor de matemática e se dedicado ao ensino nos últimos anos de vida, em
Pernambuco, e Bellegarde, como já indiquei, era engenheiro militar. Não foi, também, por
solicitação do Instituto – Bellegarde publicou o seu Resumo antes da fundação do Instituto e
Lima, apesar de sócio honorário, não era freqüentador das suas sessões. Bellegarde publica seu
Resumo aos 20 anos, quando o Rio de Janeiro estava em plena efervescência da Abdicação; Lima
publica o seu mais tarde, já homem maduro, após uma vida repleta de fortes experiências no
Brasil e no exterior. Um, brasileiro, pernambucano, de raízes familiares republicanas mas que
abraça a causa da monarquia por impulso patriótico: salvar a integridade da pátria. O outro, seis
anos mais novo, nascido em Portugal, brasileiro por opção, participou das forças que defenderam
a independência, família achegada ao poder; Abreu e Lima e família, sempre em confronto com o
poder legal.
A uni-los, a inteligência, o gosto pela história nacional, o patriotismo e a carreira militar –
uma das poucas opções possíveis, na época – ao lado da educação literária e humanista, outra
marca do seu tempo. Destinos paralelos no tempo, separados na vida: mas ambos deixaram suas
marcas no ensino de História e na memória social que ajudaram a construir.

3
O texto de Denis/Bellegarde constitui um primeiro modelo de livro didático de História
do Brasil, que se apresenta como resumo, com vistas ao ensino e finalidades patrióticas, sem
especificar grande número de datas e nomes – algumas datas e nomes aparecem nas margens, ao
lado do texto escrito – e apresenta, em linguagem simples e bem escrita, uma seleção de eventos
políticos considerados mais significativos da trajetória seguida na formação da unidade Brasil,
antiga colônia que teve uma independência considerada sui generis.
Sua originalidade se manifesta por conseguir narrar uma história dividida em “épocas
temáticas”, 11 com as principais etapas políticas do passado colonial: o domínio espanhol torna-se
marco referencial de duas épocas e palco de acontecimentos importantes para a nação, como o
despertar do patriotismo. No Brasil livre do jugo espanhol nasce a idéia de liberdade, mas num
movimento marcado pela incúria de seus conjurados mineiros.
Abreu e Lima viveu intensamente os eventos da primeira metade do século XIX. Nos
livros e na imprensa oposicionista, o autor expressou o seu caráter controvertido mas sem
ambigüidade, incapaz de ser compreendido linearmente. Suas posições têm a marca de um tempo
conflituoso, que exigia decisão e ação. Filho do famoso Padre Roma, José Inácio Ribeiro de
Abreu Lima, personagem importante da revolução republicana de 1817, tornou-se um exilado,
fugindo do país às vésperas da independência, para ter a experiência revolucionária e republicana
na luta pela liberdade dos países sul-americanos, conquistando glórias e o generalato das mãos de
Bolívar.
O autor, o compêndio e suas histórias entrelaçadas pertencem ao seu tempo, feito de luta,
esperança e construção. A nação que emerge de seu compêndio não é pacífica, os heróis erram e
cometem crimes e lutam por seus interesses. O índio é o brasileiro que luta contra os invasores e
opressores; os colonos ambiciosos e cruéis na caça ao índio; o negro torna-se fugitivo e audaz;
homens ilustres e destemidos que morrem pelo ideal republicano; patriotas que salvaram a
integridade nacional com a monarquia. E na população do século XIX enxerga um povo com
classes diferentes e ainda escravos e libertos que participam de movimentos de rua.
O que parece ter pesado mais para a condenação do Compêndio pelo futuro Visconde de
Porto Seguro foi o posicionamento desassombrado e crítico de Abreu e Lima em questões vitais

11
No Resumo de Bellegarde (1831), a história nacional é apresentada em seis épocas. A primeira, que não constava
do original francês, mostra, sob o título O Brasil antes da conquista, um autor crítico que aponta os malefícios da
ação conquistadora dos portugueses e dos europeus em geral aos indígenas da América e denuncia “sua quase total
aniquilação” (p. 23).

4
da construção de uma história nacional. O general colocou contra si uma instituição reconhecida
oficialmente como o lugar com a responsabilidade de dar a última palavra sobre os escritos de
qualquer natureza sobre o passado nacional e que contava com as poderosas figuras do secretário
geral cônego Januário da Cunha Barbosa e do prestigiado Varnhagen. 12
A nação brasileira que emerge nos textos desse período fundamenta uma história
patriótica , devido às conotações nacionalistas de seus autores, mas resulta um texto sem a marca
e o peso de uma história imperial, oficial e pedagógica do segundo momento.
O estilo é mais livre, o texto não demonstra a preocupação de ser educativo, com intuito
de inculcar determinados esquemas e verdades na mente dos leitores/alunos. Em certos
momentos, chega a ser crítico, no reconhecimento dos malefícios da ação conquistadora e de que
os escravos fugiam devido à tirânica injustiça de seus senhores (Bellegarde, 1831); quando se
refere aos portugueses como invasores e opressores, na sua relação com os índios e na posição
claramente favorável à causa dos jesuítas e condenação dos colonos, principalmente os paulistas,
chamados de desumanos e ambiciosos na caça aos índios e destruição das aldeias (Abreu e Lima,
1843).
O ato da descoberta torna-se mito fundador: o Brasil – no seu todo imaginado – estava ali
inteiro para ser descoberto pelos portugueses. Mas lançam os argumentos e heróis da história
nacional que serão perpetuados nos livros didáticos. Na estrada da descoberta, dos índios, das
capitanias, do governo geral, das invasões estrangeiras, dos jesuítas e colonos, das minas, da
conjuração mineira, da revolução pernambucana, chega-se à independência e ao Império
brasileiro.
• A segunda fase: a história oficial é imperial
13
Com a publicação das Lições de História do Brasil, do romancista e professor do
Colégio Joaquim Manoel de Macedo, inicia-se período marcado pela construção dos paradigmas
da nacionalidade sob a ótica da elite brasileira – a da nação imperial. O outro livro desse período,

12
Varnhagen publicara, em 1825, Reflexões críticas sobre o escripto do seculo XVI, que, devido ao
ineditismo de suas revelações, como o nome do autor do documento, foi-lhe concedida a entrada na Academia Real
das Ciências de Lisboa “de modo tão honroso que foi admitido para as três classes de que ela se compõe sobre o
titulo de Noticias do Brasil”. Com as Reflexões e o Diário da Navegação, passou a ser membro do IHGB (Garcia,
1928, p. 999).
13
Em dois volumes, o primeiro publicado em 1861, no Rio de Janeiro, pela Tipografia Imparcial, de J. M. N. Garcia,
143; o segundo em 1863, Tipografia C. A. Mello, na mesma cidade.

5
14
Lições de Historia do Brazil , seguindo o exemplo de Macedo, foi também escrito por um
professor catedrático, Luís de Queirós Mattoso Maia, para seus alunos do Internato.
O livro de Macedo (1861), ao contrário do Compêndio de Abreu e Lima, encontrou todas
as condições favoráveis ao sucesso: veio preencher a lacuna de um compêndio especialmente
escrito para os alunos do Colégio e foi escrito de acordo com o seu plano de estudos. Além
disso, seu autor era membro efetivo da instituição legitimadora da escrita da História didática e
erudita e era professor do Imperial Colégio.
O outro compêndio dessa fase foi o do professor Luís de Queirós Mattoso Maia, que
também se intitulava Lições de História do Brasil. 15
Na pedagogia da nação destes autores da segunda metade do século XIX, o sistema de
colonização adotado pelos portugueses é avaliado segundo a perspectiva de garantir ou dificultar
a unidade da colônia e a de apontar como erros administrativos todas as ações metropolitanas
que considerassem prejudiciais ao fortalecimento da centralização e da harmonia na colônia. Mas
não foi um discurso único: Maia apresenta discordâncias em relação a Macedo e Varnhagen,
principalmente no que diz respeito aos conflitos entre jesuítas e colonos.
Macedo trata da hostilidade entre os colonos e os jesuítas, como uma “interminável
questão dos índios” e de forma favorável aos colonos. Nos jesuítas, vê “um interesse material
pouco nobre”, e uma “orgulhosa ambição” que seguiriam “os seus interesses e os seus planos de
futuro”, na aparente defesa da liberdade dos índios. Os colonos são descritos como “o povo que
se via vexado e oprimido” com a constante luta com os jesuítas e sua crítica se dirige à falta de
uma política decisiva da metrópole a favor dos colonos. A expulsão dos jesuítas é justificada
como de interesse do Estado, contra uma instituição perigosa ao bom andamento da ordem
colonial. Mas, duas décadas depois, Maia (s.d., p. 199) posiciona-se de maneira diferente;
apoiando-se em Southey, destaca os jesuítas como elementos poderosos “de catequese e de
civilização, pela educação que davam por intermédio de seus colégios” na colônia e lamenta os
efeitos prejudiciais neste setor causados pela expulsão da Companhia. 16

14
Lições de Historia do Brazil. s.d. Rio de Janeiro: Dias da Silva Júnior, Tipographo Editor. 342 p.
15
O exemplar que tive em mãos, o do acervo do IHGB, deve ser o da primeira edição: sem data, saiu pela editora
Dias da Silva Júnior, do Rio de Janeiro, em edição requintada, com capa dura, de cor verde com acabamentos
dourados nas páginas e na ilustração no centro da capa, com o símbolo doImpério do Brasil. Segundo Blake (1970),
a primeira edição seria de 1880 e a segunda em 1886. Uma quarta edição, com 390 páginas, saiu publicada em 1895.
16
O livro didático de Maia (s.d.) também foi o único do grupo analisado que faz referência ao que aconteceu mais
tarde à Companhia e seu restabelecimento no século XIX. Em geral, após a expulsão dos padres pelo Marquês de
Pombal, segue-se o silêncio em relação aos missionários (sobre o tema, ver Gasparello, 2002).

6
O grande tema, pela importância representada no desenvolvimento da unidade, é o tema
dos holandeses, que abrange várias lições (seis em Macedo, 1863 e quatro em Maia, s.d.). Nesse
núcleo, a Insurreição Pernambucana é identificada como o ato fundador do sentimento nacional,
com a união do colono aos elementos submissos na hierarquia social: os índios e os negros – que
a partir daí encontram o seu devido lugar: reconhecidos e enaltecidos, mas como componentes
subalternos e na medida em que se aliem e defendam a causa dos agentes metropolitanos e dos
senhores brancos.
Na série de acontecimentos que culminaram na independência, a história imperial valoriza
os processos de mudança desenvolvidos de uma forma política e inteligente – com o uso da
argumentação, da realização de acordos, da capacidade de aproveitar o momento certo e
oportuno – por homens generosos e ilustrados, que representam o povo. Tais mudanças não são
extemporâneas; foram longamente cultivadas pelo progresso das idéias, mas com a manutenção
da ordem social, como convém aos homens generosos e abnegados.
Na história imperial a nação é gerada por uma pátria-mãe branca e construída por seus
descendentes – os colonos – que, nessa construção, necessitaram exercer sua superioridade, de
raça e civilização, sobre os antigos habitantes naturais - nômades que percorriam o território
brasileiro - e os africanos trazidos como escravos. O brasileiro é fundamentalmente produto dos
colonos audazes e destemidos, orgulhosos na defesa dos seus interesses. Seus construtores são os
descendentes da raça colonizadora e como tais ligados aos europeus brancos e civilizados.
Mas os livros didáticos de História do Brasil no século XIX nos ensinam também que a
pedagogia da nação não foi construída linearmente nem foi singular: ao longo do império, visões
conflitantes, que ajudaram a fabricar diferentes representações da nação brasileira, estiveram
presentes no jogo contraditório da vida cultural e ideológica. Os textos didáticos permitem ainda
compreender como, nos recantos privilegiados das elites no poder, o esforço de vigilância e
controle dos corações e mentes dos brasileiros, mesmo os situados próximos a essa elite, foi
tarefa levada a sério e efetivada por diversos segmentos e escaninhos da rede de relações pessoais
e institucionais.

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