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Textos:

subsídios para
conjuntura agrária

Escritório Nacional do MST - Brasília

Reunião da Direção Nacional do MST


ENFF - São Paulo, Fevereiro de 2018
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 3

1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL............................ 5


1.1 CONGRESSO SERÁ MAIS CONSERVADOR E RENOVAÇÃO PEQUENA, DIZ DIAP...................................... 6

1.2 BALANÇO E PERSPECTIVAS DA DISPUTA NO CONGRESSO..................................................................... 8

1.3 DEPUTADO APRESENTA PROJETO PARA CLASSIFICAR MST E


MSTS COMO GRUPOS TERRORISTAS........................................................................................................... 10

1.4 LEI SOBRE TERRAS DE ESTRANGEIROS.................................................................................................. 12

1.5 LISTA DOS PRINCIPAIS PROJETOS RELACIONADOS À DISPUTA DE MODELOS PARA O CAMPO ............. 15

2. REFORMA AGRÁRIA.......................................................................................................................... 19
2.1 ANÁLISE DA PROPOSTA DE DECRETO QUE REDUZ A REFORMA AGRÁRIA A UM NEGÓCIO.................. 20

2.2 A LEI 13465/17 E A TITULAÇÃO / REGULARIZAÇÃO DOS ASSENTAMENTOS......................................... 22

3. CRIMINALIZAÇÃO NO CAMPO........................................................................................................ 25
3.1 VIOLÊNCIA NO CAMPO E CRIMINALIZAÇÃO DO MST: BALANÇO
DE 2017 E PERSPECTIVAS PARA 2018.......................................................................................................... 26

3.2 ERA TEMER JÁ TEM MAIS DE 100 ASSASSINATOS POR CONFLITOS AGRÁRIOS..................................... 29

4. REFORMA GOLPISTA......................................................................................................................... 31
4.1 REFORMA DA PREVIDÊNCIA FOI ARQUIVADA PELO POVO, AFIRMAM DIRIGENTES.............................. 32

5. CAMPO UNITÁRIO............................................................................................................................. 35
5.1 RELATÓRIO DO SEMINÁRIO NACIONAL DO CAMPO UNITÁRIO............................................................. 36
INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO
Passado o carnaval, as baterias do gover- teresses das empresas, tendo como priorida-
no e da bancada de sustentação ativam suas de este ano estes pontos : Reforma do PIS/
ações na retirada de direitos e na entrega do COFINS e a simplificação tributária, Au-
patrimônio público e da nossa soberania, por tonomia do Banco Central, Marco legal de
Brasília, principalmente com o retorno dos licitações e contratos, Nova lei de finanças
trabalhos no congresso nacional. públicas, Regulamentação do teto remune-
ratório, Privatização da Eletrobrás, Redução
Numa manobra de marketing, o governo
da desoneração da folha, Atualização da Lei
derrotado nas ruas e nos blocos de carnaval
Geral de Telecomunicações, Extinção do
retirou a pauta da Reforma da Previdência
Fundo Soberano e outros pontos mais.
para pautar o tema da segurança publica com
uma intervenção Militar no Rio de Janeiro, Com estes pontos apresentados e com a
acirrando ainda mais o fosso da desigualda- continuidade da crise econômica e politica a
de e da criminalização, desta vez colocando tendência do calendário de lutas este ano seja
no centro do poder politico da crise o Exér- ainda mais acirrado tendo que levarmos em
cito Brasileiro que depois de anos assuem o conta o processo eleitoral e a copa do mundo,
comando do ministério da Defesa e com isso por estas razões e pelo aprofundamento da
relocando o ministro interventor Jungmann crise social e ambiental que os movimentos
para o recém-criado ministério da Segurança tende a construir também uma pauta insti-
publica. tucional para enfrentar os desmontes do go-
verno e sua força. Este documento organiza-
Com esta manobra o governo muda a
do pelo escritório e Brigada Adão Pretto que
pauta e poderá fazer meia reforma da previ-
atua no Congresso Nacional busca alinhar
dência por decretos em pontos que não seja
estes pontos de enfrentamento institucional
necessário a aprovação do congresso e ao
e na construção de bandeiras de lutas sociais.
mesmo tempo tenta puxar parte da socieda-
de em defesa da pauta do suposto combate A luta pela democracia e pelo direito a
ao crime organizado Lula ser candidato será sem duvida uma das
mais fortes bandeiras nas ruas e por isso es-
Na pauta econômica segue o avanço de
tamos neste campo de batalha com as demais
uma politica voltada para o mercado acele-
organizações politicas do campo popular, e
rando de qualquer forma a privatização dos
precisamos seguir acompanhando o avanço
passivos ambientais e da nossa estatais elé-
do projeto do agronegócio no congresso na-
tricas como o caso da Privatização da Eletro-
cional e na esfera do executivo para poder
brás
entender e construir na luta com as demais
Além-claro da pauta apresentada logo em organizações do Campo Unitário e da Frente
seguida para a sociedade e para aprovação Brasil Popular nossas táticas de lutas, para
do congresso que vem dar mais solidez as fazer um enfrentamento ao Projeto de lei
politicas neoliberais deste governo ilegítimo que quer transformar ocupação rural e urba-
e de um congresso que defende apenas os in- na em terrorismo, mas também precisamos

3
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

construir e consolidar na base do movimen- cise passar pela aprovação do congresso.


to rural um enfrentamento a Privatizações
Por ultimo devemos preparar nossas for-
dos lotes da reforma agrária, no ano de 2017
ças e de forma unitária construir uma grande
mais de 26 mil famílias titulada definitiva-
jornada no 8 de março para nos dar condi-
mente foram excluídas da Politica da refor-
ções de irmos derrotando a cada jornada o
ma agrária.
projeto do golpe e seus representantes e sem
Seguimos aqui acompanhado as manobras medo de ser feliz buscar no mês de abril re-
para aprovação de uma lei que libera geral alizar ampla jornada unitária de luta contra
terra para estrangeiros e de um processo de o latifúndio e o agronegócio e em defesa da
criminalização aos movimentos e as lideran- agricultura camponesa !
ças que luta pela terra e contra este governo,
criminalização que também passa pelo acir-
ramento da luta contra o latifúndio e por tan- Bom estudo a todas e a todos,
to os despejos será cada vez maiores e mais
Vamos a Luta!
rápidos já que a justiça também compõe o
golpe e vem atundo para a manutenção dos
privilégios dos latifundiários.

Vale ressaltar que o conjunto das forças


Alexandre Conceição
populares e progressistas do país impôs uma
derrota importante ao governo e ao congres- Direção Nacional do MST
so e ao mercado mais esta atento as manobras
dos mesmo para não impor uma reforma da
Previdência por MP ou decretos que não pre-

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1
Projeto do golpe e
do agronegócio no
congresso nacional
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

1.1 CONGRESSO SERÁ MAIS CONSERVADOR E RENOVAÇÃO


PEQUENA, DIZ DIAP

por NIVALDO SOUZA — publicado 08/02/2018 00h30

https://www.cartacapital.com.br/

O perfil dos deputados e senadores eleitos em 2014 surpreendeu por ter sido o mais con-
servador desde o golpe de 1964, frustrando a expectativa criada pelas manifestações iniciadas
de junho do ano anterior. Para 2018, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamen-
tar (Diap) arrisca um prognóstico para o pleito de outubro e, assim, evitar nova surpresa: o
fenômeno conservador será potencializado pelo aumento das bancadas ruralista, religiosa,
empresarial e da bala.

“A pauta do Congresso que será eleito em 2018, com a criminalização da esquerda e o


afastamento do PT do governo, tende a ser mais conservadora”, afirma o diretor do Diap,
Antônio Augusto de Queiroz.

Toninho, como é chamado por parlamentares e jornalistas, é um dos analistas de Con-


gresso mais ouvidos no mundo político de Brasília. O Diap foi criado há 34 anos para asses-
sorar sindicatos de diversas categorias no acompanhamento do trabalho dos congressistas e
hoje atende a 900 organizações.

Segundo ele, o crescimento conservador deve acirrar a tensão sobre temas como a redu-
ção da maioridade penal, a revisão do estatuto do desarmamento e a imposição de barreiras
a discussões envolvendo questões de gênero. “Todas as bancadas conservadoras estão se pre-
parando para aumentar. Será um Congresso pior que o atual”, afirma.

ENOVAÇÃO FRUSTRADA

O diretor do Diap avalia também que haverá frustração no desejo de renovação do Con-
gresso desejado pela sociedade. Este será o efeito direto de mudanças feitas pelos atuais parla-
mentares na legislação eleitoral. Queiroz estima uma redução no índice de renovação - abaixo
dos 50% desde 1994.

Na contramão, os atuais deputados serão beneficiados pelo menor tempo de propagada


eleitoral gratuita na televisão, reduzida de 45 para 35 minutos. A diminuição do tempo de
campanha de 90 para 45 dias também favorecerá deputados e senadores com mandato.

Queiroz afirma que a mudança no modelo de financiamento - restrito ao fundo eleitoral,

6
1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL

recursos próprios e doações de pessoas físicas - deve impedir o surgimento de novatos. “O


candidato [com mandato] vai negociar com o partido que só fica [no partido] se a legenda der
para ele prioridade nos recursos e espaço no horário eleitoral gratuito. Os novos [candidatos]
que aspiram essa oportunidade [de ser parlamentar] não vão ter essa mesma oportunidade”,
compara.

Os prefeitos precisarão escolher entre novos e velhos aliados, que devem ser favorecidos
pela distribuição de emendas parlamentares. Cada deputado tem direito a R$ 14,8 milhões por
ano para destinar a cidades de sua base eleitoral. No total, as emendas formam bolo de R$ 8,8
bilhões em 2018, disputado por prefeitos de todo o país.

A estrutura para exercício de mandato do atuais deputados e senadores é outro fator


que joga contra estreantes nas urnas. “É uma série de vantagens que quem está chegando não
tem – como o auxílio gasolina para rodar o estado, verba de correio, funcionários de gabinete
para campanha. Como o espaço será pequeno, com o tempo de campanha reduzido, embora
haja no Brasil um desenho de renovação não há condições objetivas para novatos se eleger”,
sugere.

FORO PRIVILEGIADO

O foro privilegiado será fator decisivo na decisão dos parlamentares de se candidatar


à reeleição. O medo é perder prerrogativa de responder a processos no Supremo Tribunal
Federal (STF), geralmente mais lento para julgar corruptos em relação às primeira e segunda
instâncias.

De acordo com o Diap, o índice tradicional de 20% de deputados que não buscam a ree-
leição deve cair. Com isso, a renovação será prejudicada. O cálculo é de que a cada cem depu-
tados em reeleição, 80 conseguem renovar o votos para permanecer na Câmara. Uma peneira
com mais mandatários na disputa dificulta a passagem de candidatos em busca do primeiro
mandato.

O foro deve levar alguns senadores a desistir da reeleição para tentar uma vaga na Câ-
mara. “O que vai ocorrer é uma circulação no poder com o cara que é senador saindo para
deputado”, diz o diretor do Diap.

Serão 54 das 81 cadeiras em disputa no Senado, contra 513 vagas para a Câmara. “Na
nossa simulação, devem se reeleger de 21 a 25 senadores. Será menos de 50% de reeleição”,
afirma. “Haverá uma renovação a partir de celebridades, parentes [de políticos] e ocupantes
de cargos públicos em outras estruturas como ex-prefeitos.”

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TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

1.2 BALANÇO E PERSPECTIVAS DA DISPUTA NO CONGRESSO

O ano de 2017 foi a consolidação do golpe na parte institucional do Congresso e nas ações
do governo federal. Ficaram escancarados os objetivos do golpe, o projeto político de entrega
das riquezas do País, a expansão da miséria e do desemprego e os retrocessos na garantia dos
direitos humanos, numa corrida sem fim para a aprovação de leis que impedem a maioria do
povo brasileiro de acessar políticas públicas.  

Nos últimos anos, as bancadas ruralista, da bala e evangélica têm ocupado espaços em di-
versas comissões da Câmara dos Deputados. Historicamente, os ruralistas sempre priorizam a
Comissão de Agricultura, mas estão migrando para a outras comissões, como Meio Ambiente,
Direitos Humanos e a de Constituição e Justiça com o objetivo de aprovar seus projetos.

Com o golpe, essas forças intensificaram sua atuação, que teve como resultado a  criação
da CPI da Funai e Incra (que no seu relatório final pediu o indiciamento de mais de 100 pesso-
as, entre lideranças indígenas, quilombolas, Sem Terra, servidores públicos, procuradores da
República e religiosos), MP 759 (regularização fundiária rural e urbana), alteração no Estatuto
do Desarmamento (liberação das armas no rural),  mudanças nos limites de parques e unida-
des de conservação na Amazônia, alteração da legislação da mineração, decretos legislativos
que cancelam os decretos de desapropriação da reforma agrária, reconhecimentos  de territó-
rios quilombolas e terras indígenas  (assinados pela então Presidente Dilma em abril de 2016),
alteração na lei de cultivares, alteração da Lei do Funrural (perdão das dívidas do ruralistas e
de suas empresas).

Com a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Ouvidoria Agrária e da


Comissão de Combate a Violência do Campo, os conflitos, as mortes no campo e as ações de
despejos aumentaram. Outros programas como os Territórios Rurais, Territórios da Cidada-
nia, Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, Assessoria Técnica, Social e
Ambiental à Reforma Agrária, Programa Nacional de Reforma Agrária, Programa Nacional
de Educação na Reforma Agrária, Programa Cisternas e Minha Casa Minha Vida Rural estão
sedo desmontando. A mudança na portaria do trabalho escravo, articulada pelos ruralistas,
pretende limitar a ação do Estado na fiscalização nas condições de trabalho.

As políticas destinadas ao financiamento e crédito da agricultura familiar também fo-


ram afetadas após o impeachment de Dilma Rousseff. O Plano Safra da Agricultura Familiar
terá estagnação orçamentária em 2018/2019, que é um fato inédito, e o crédito rural do Pro-
naf apresenta queda de 21% em relação à safra 2016/2017 e de 37% em comparação à safra
2017/2018.

Com a articulação das bancadas conservadoras e o governo golpista, os ruralistas estão


indicando nomes de sua confiança para as estruturas do governo, como Funai, Incra e Ibama.

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1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL

As ações do legislativas e o discurso desses setores conservadores passam a sensação de


“liberou geral”, que tem reflexo no aumento dos crimes ambientais e na violência no campo
contra agricultores, sem terras, indígenas, populações tradicionais e quilombolas. Em 2017,
foram assassinadas 14 lideranças quilombolas.

Com a aprovação da PEC dos tetos dos gastos em 2016, que congela o orçamento da
União por 20 anos, a proposta orçamentária aprovada para este ano diminuiu recursos de di-
versos ministérios, aprofundando o projeto de desmonte do Estado Brasileiro.  Entre os seus
alvos, programas voltados para a agricultura familiar, setor responsável por colocar comida
na mesa do brasileiro.

Segundo o agrônomo Luciano Mansor de Mattos, pesquisador da Embrapa e autor de


um estudo sobre as consequências do ajuste de longo prazo no campo, o enfraquecimento e a
extinção dessas políticas levarão ao aumento da violência, à volta do êxodo rural, ao empobre-
cimento dos trabalhadores rurais, além de reduzir a produção de alimentos, comprometendo
a segurança alimentar e nutricional brasileira.

O governo não anuncia o fim dos programas, mas age para “desidratá-los”. Os progra-
mas mais ameaçados são o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), conhecido
como Merenda Escolar (a maior política de alimentação gratuita do mundo, que atende cerca
de 38 milhões de alunos) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

A aprovação da reforma trabalhista, que permite a terceirização geral e o trabalho inter-


mitente (o trabalhador fica à disposição do patrão sem receber) terá impactos neste ano na
vida do povo brasileiro e será possível identificar as consequências para os camponeses.

Com a eleição, o ano será mais curto e a agenda ficará concentrada no primeiro semestre
do ano. No Senado, projetos que flexibilizam a rotulagem dos transgênicos e a mudança no
estatuto do armamento devem avançar e começará a tramitar na Comissão de Direitos Huma-
nos do Senado a proposta de projeto de lei de criminalização do MST e de outros movimentos
(que teve apoio de mais de 21 mil pessoas na página na internet).

Na Câmara, além dos temas que os ruralistas não conseguiram concluir a votação em
2017, será necessário enfrentar novamente o tema do armamento, o PL de terra de estrangei-
ros, a alteração do licenciamento ambiental, o projeto de alteração da lei de cultivares, a priva-
tização do setor elétrico com repercussão nas áreas rurais (MP 814 e PL 9463/18), o tema dos
agrotóxicos com a liberação geral dos produtos (sendo anunciada como troca do apoio da ban-
cada ruralista), o arrendamento das terras indígenas para exploração por não índios, o projeto
de lei que altera a lei do terrorismo (que inclui as ações dos movimentos), a MP 808/2017 (com
967 emendas à reforma trabalhista). Os encaminhamentos do relatório da CPI da Funai/Incra
derivaram diversos projetos de interesse dos ruralistas, que tramitam nas comissões.

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TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

1.3 DEPUTADO APRESENTA PROJETO PARA CLASSIFICAR MST E


MSTS COMO GRUPOS TERRORISTAS
por ISABELLA MACEDO, publicado em 22/02/2018 as 18:14

http://www.congressoemfoco.uol.com.br/

O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) apresentou um projeto que visa classificar o Mo-
vimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) como
grupos terroristas. O projeto (leia a íntegra), apresentado no início de fevereiro e entregue ao
plenário da Câmara ontem (quarta, 21), altera o artigo 2º da Lei 13.260/16, conhecida como
Lei Antiterrorismo (leia a íntegra do dispositivo abaixo). A lei foi sancionada em março de 2016,
a poucos meses da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

Goergen afirmou ao Congresso em Foco que há outro projeto que também trata de al-
terações na lei, mas sua proposta visa coibir atos que “ultrapassam o limite Constitucional”.
“Ele [o outro projeto] não trata da forma como eu trato. Ele tenta transformar em ato terrorista
e aumentar pena para manifestações. Eu não tenho nenhum problema em relação a manifes-
tações”, afirmou o deputado.

O deputado disse que é preciso “colocar um limite” nas ações dos movimentos que lutam
por terra, e afirma que as organizações sociais agem como grupos terroristas e podem ameaçar
vidas. O deputado citou um episódio em que o MST foi acusado de invadir e depredar uma
fazenda. A invasão e a depredação citadas pelo deputado teriam acontecido no início de no-
vembro do ano passado. O Movimento Brasil Livre (MBL) divulgou, no Facebook, imagens de
um galpão incendiado e de destruição de parte das fazendas Igarashi e Curitiba, localizadas
em Correntina, no interior da Bahia, afirmando que o movimento destruiu “fazenda produti-
va, referência em tecnologia”.

O MST divulgou nota desmentindo a acusação do MBL, chamando-a de “fake news” e


afirmando que apesar de as manchetes de veículos de comunicação apontarem o movimento
como participante da ação, não houve envolvimento na mobilização. “Mesmo assim, reitera-
mos que apoiamos as ações de denúncia ao agronegócio, principalmente quando existe um
processo de privatização de recursos naturais e investimentos antipopulares, que neste caso,
afeta diretamente as comunidades camponesas localizadas nas proximidades das fazendas.
Segundo relatos, o projeto de irrigação da Igarashi e Curitiba estão secando os rios Carinha-
nha, Corrente e Grande, além de provocar queda de energia na região”, afirmou o MST na-
quela ocasião.

O projeto

A proposta do deputado acrescenta mais um parágrafo ao artigo da lei sob a justificativa


de que é necessário promover a evolução da lei antiterrorismo “a fim de se colocar um para-
deiro no clima de guerrilha que, não raro, instala-se em nosso território”. O artigo que o gaú-

10
1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL

cho pretende alterar define a interpretação do que é terrorismo e quais atos são enquadrados
como tal, prevendo pena de 12 a 30 anos de reclusão, além das penas aplicadas à ameaça e
violência (veja mais abaixo o que a lei define como atos terroristas).

Bandeira da reforma agrária: na foto, movimento ocupa os arredores do Congresso em


fevereiro de 2014, em pleno governo Dilma

O projeto de Goergen faz uma espécie de emenda ao parágrafo 2º da lei, que não aplica os
atos de terrorismo manifestações políticas ou de movimentos sociais, sindicais, religiosos, de
classe ou de categoria profissional que tenham “propósitos sociais ou reivindicatórios” para
defender direitos, liberdades e garantias previstas na Constituição. O acréscimo sugerido pelo
deputado determina que o parágrafo “não se aplica à hipótese de abuso do direito de articula-
ção de movimentos sociais, destinado a dissimular a natureza dos atos de terrorismo, como os
que envolvem a ocupação de imóveis urbanos ou rurais, com a finalidade de provocar terror
social ou generalizado”.

Confira o artigo da lei que o deputado pretende alterar:

Art. 2o  O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste arti-
go, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos
com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz
pública ou a incolumidade pública.

§ 1º  São atos de terrorismo: I – usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consi-
go explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes
de causar danos ou promover destruição em massa; II – (VETADO);

III – (VETADO);

IV – sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se


de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de co-
municação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas
de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos
essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de explo-
ração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento;

V – atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:

Pena – reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência. §
2º  O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações
políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados
por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o
objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal
contida em lei.

11
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

1.4 LEI SOBRE TERRAS DE ESTRANGEIROS

A regulamentação da aquisição de terras rurais por pessoas estrangeiras, físicas e jurí-


dicas se encontra no Plenário da Câmara dos Deputados, aguardando a constituição de uma
Comissão Especial para analisar o tema, ou a inclusão na pauta de votação.

Os projetos principais são o PL 2.289/2007, de autoria do Deputado Beto Faro – PT/PA,


e o PL 4.059/2012, de autoria da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados.

Ao PL 2.289/2007 encontram-se apensado também o PL 2.376/2007, do dep. Carlos Al-


berto Canuto (PMDB/AL), que pretende proibir a compra de terra por pessoa física ou jurídi-
ca estrangeira que se destine ao plantio de cultivares para a produção de agroenergia e a sub-
missão ao Congresso Nacional, no caso de empresas brasileiras cujo controle do capital seja de
pessoas estrangeiras; PL 3.483/2008, da deputa Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), que propõe
limitar a aquisição de imóveis rurais por estrangeiros a 50 (cinquenta) módulos fiscais ou 2,5
mil (dois mil e quinhentos) hectares; PL 4.240/2008, do deputado Mendes Thame (PSDB/
SP), que pretende regulamentar de forma ampla a aquisição, o arrendamento ou a posse de
propriedade rural por pessoa física ou pessoa jurídica estrangeira em todo o território nacio-
nal; PL 1.053/2015, do deputado Cláudio Cajado (DEM/BA), que estende as restrições da Lei
5.709/71 à posse de imóveis rurais, onerosas e gratuitas; PL 6.379/2016, do deputado Jerôni-
mo Goergen (PP/RS), que exclui das restrições da Lei as empresas florestais.

O PL 2.289/2007, de autoria do deputado Beto Faro – PT/PA, propõe critérios tais como,
a vedação de  arrendamento por tempo indeterminado; veda a concessão florestal à pessoa
estrangeira; veda a alienação, a qualquer título, ou doação, de terras públicas a pessoas es-
trangeiras; Limita a aquisição ou arrendamento a 35 (trinta e cinco) módulos fiscais, em área
contínua ou descontínua, ou a 2.500 (dois mil e quinhentos) hectares, o que for menor; dispen-
sa de qualquer outra exigência, a aquisição/arrendamento de área entre 04 (quatro) e 10 (dez)
módulos fiscais; aquisição/arrendamento estará condicionada ao cumprimento da Função
Social da Propriedade (artigo 186, CF/88); no caso de loteamentos rurais, pelo menos 50% da
área deverá ser ocupada por brasileiros; a soma das áreas rurais pertencentes e arrendadas a
pessoas estrangeiras não poderá ultrapassar a 25% (vinte e cinco por cento) da área total dos
Municípios onde se situem; pessoas de mesma nacionalidade não poderão ser proprietárias
ou arrendatárias, em cada Município, de mais de 40% (quarenta por cento) do limite anterior;
os projetos deverão ser aprovados pelos ministérios competentes; a aquisição de imóvel situ-
ado na Amazônia Legal e em área indispensável à segurança nacional dependerá do assenti-
mento prévio do Conselho de Defesa Nacional; e, estabelece a obrigatoriedade dos cartórios
manterem cadastro especial das terras registradas em nome de estrangeiros.

O PL 4.059/2012, de autoria da CAPADR, flexibiliza a aquisição de terras rurais por pes-


soas físicas e jurídicas estrangeiras ao permitir a aquisição sem qualquer limite ou controle

12
1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL

por empresas controladas por estrangeiros, ou aquelas constituídas na forma de Sociedade


Anônima, que operem em bolsa de valores. Autoriza, ainda, a aquisição de terras públicas por
pessoas estrangeiras para implantação de projetos agroindustriais; ratifica os atos praticados
no período de vigência da Lei 5.709 de 7 de outubro de 1.971, independentemente de qualquer
controle quanto à legalidade ou juridicidade dos atos; elimina a exigência de ocupação por
nacionais em projetos de parcelamentos; retira os limites de áreas por município, atualmente
previstos na legislação em vigor.

Os pontos de maior polêmica em torno tema podem ser assim resumidos:

- Conceito de pessoa estrangeira: Quanto à pessoa física a legislação nacional e internacio-


nal é clara e suficiente. No entanto, no que diz respeito à pessoa jurídica, especialmente aque-
las constituídas como sociedade de capitais, não há acordo. O PL dos ruralistas, por exemplo,
retira qualquer restrição às empresas controladas ou subsidiárias das empresas transnacio-
nais, equiparando-as às empresas nacionais.

- Limitações às aquisições: Este ponto não tem consenso em nenhum dos setores envol-
vidos. Os ruralistas dividem-se entre os mais radicais que não admitem qualquer restrição de
área; os que aceitam ampliar os limites, mantidas as limitações por território. No governo a
principal resistência vem do setor militar, principalmente em relação ás aquisições ilimitadas
na faixa de fronteira; e, do lado dos movimentos sociais e populares, há divergência quanto
aos investimentos em áreas ambientais, terras indígenas, etc.

- Regularização das aquisições irregulares: O Estado não tem o controle das aquisições
feitas sob a Lei 5.709 de 7 de outubro de 1.971. Os ruralistas defendem uma regularização sem
qualquer exigência ou restrição, o que desmoraliza a proposta em face das inúmeras denún-
cias de irregularidades.

- Controle Estatal: O Órgão responsável, por Lei, para fazer o controle é o INCRA. Mas
este controle não é feito, porque se trata de um Órgão desmoralizado e sem estrutura física e
humana para dar conta da tarefa. Os PLs também não dão conta de resolver este ponto. Pri-
meiro porque para criar, modificar ou suprimir a atribuição do INCRA a proposta deve ser de
iniciativa do Presidente da República.

O Poder Executivo até o presente momento não ousou apresentar um Projeto de Lei sobre
o Tema, limitando-se em adotar, em 2010, o Parecer CGUIAGU n° 0l/2008-RVJ, datado de 03
de setembro de 2008, do Excelentíssimo Consultor-Geral da União que estabeleceu alguns cri-
térios mínimos para equiparação de pessoa jurídica brasileira com pessoa jurídica estrangeira
quanto à aquisição e ao arrendamento de imóveis rurais, que adotou como critério que uma
determinada empresa criada em território nacional com participação de capital transnacional
somente será considerada como estrangeira se essa participação assegurar aos seus detentores
o poder de conduzir as deliberações da assembleia geral, de eleger a maioria dos administra-
dores da companhia e de dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos

13
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

da companhia. Caso contrário, não haverá qualquer restrição.

Por fim, considerando o grau de divergência existente no tema; que a exigência de regu-
larização deixou de ser um entrave para o capital, em decorrência do governo que se instalou
com o golpe; que o tema não se encontra elencado entre as prioridades divulgadas pelos atuais
ocupantes do Palácio do Planalto; não consta, sequer, da pauta dos movimentos sociais; é de
se concluir dificilmente será votado pelo Congresso Nacional neste ano eleitoral de 2018.

14
1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL

1.5 LISTA DOS PRINCIPAIS PROJETOS RELACIONADOS À DISPUTA


DE MODELOS PARA O CAMPO 

Lei  13.606/2018 – Funrural – No dia 10 de janeiro foi publicada a lei que tratou das dí-
vidas do Funrural e outros temas que forma apresentados pela bancada do PT e que seria em
benefício dos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O Governo sancionou a
Lei com 33 vetos, sendo alguns da área de interesse do nosso campo. Na retomada dos traba-
lhos do Congresso estes vetos serão analisados.

PL 4059/2012 - Terras para estrangeiros - O projeto de lei 4059/2012 teve origem na


Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da
Câmara dos Deputados. Atualmente, o projeto espera a votação em plenário.  O atual relató-
rio permite aquisição ilimitada de áreas para estrangeiros. O projeto fere substancialmente a
soberania nacional e alimentar do Brasil e tende a encarecer ainda mais o mercado de terras
no país

PL 5065/2016 – Terrorismo  - O projeto de lei, de autoria do deputado Delegado Edson


Moreira (PR/MG) altera o artigo 2º da Lei 13.260/2016, incluindo à definição de terrorismo a
“prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos, por razões de xenofobia, discrimina-
ção ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, ou por motivação ideológica, política, social e
criminal (...) expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública, a incolumidade pública e a
liberdade individual, ou para coagir autoridades, concessionários e permissionários do poder
público, a fazer ou deixar de fazer algo”. O projeto já foi aprovado pela Comissão de Relações
Exteriores e de Defesa Nacional. Atualmente tramita na Comissão de Segurança Pública e
Combate ao Crime Organizado e deve passar ainda pela Comissão Constituição e Justiça e de
Cidadania e pelo plenário

PL 6299/2002 PACOTE DO VENENO - Altera os arts 3º e 9º da Lei nº 7.802, de 11 de


julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a
utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e
dá outras providências. No ano passado, foram realizadas audiências públicas, mas a relatora
Deputada Tereza Cristina não apresentou o parecer final para a votação na comissão.

15
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

PL 827/2015 – LEI DE CULTIVARES - Altera a Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, que


institui a Lei de Proteção de Cultivares e dá outras providências. O Congresso Nacional decre-
ta: Art. 1º Esta Lei introduz alterações na Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, para ampliar os
direitos dos obtentores vegetais sobre o material de multiplicação da cultivar protegida. Não
existe acordo entre os ruralistas no texto a ser votado. No final do ano passado CNA, OCB e
outras entidades do agronegócio apresentaram documentos contrário o texto que vai a vota-
ção. O relator e o Deputado Nilson Leitão.

PL 3729/2004 – LICENCIAMENTO AMBIENTAL - Explicação da Ementa - Dispõe que


para a instalação de obra, empreendimento ou atividade potencialmente causadora de de-
gradação do meio ambiente, será exigido Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), com
ampla publicidade; regulamentando a Constituição Federal de 1988. A proposta dos ruralistas
e levar o texto direto ao plenário, já que não conseguem votar na comissão de fiscalização e
controle onde o relatório foi alterado e passa um liberou geral no licenciamento.

PL 6442/2016 - Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto do Dep. Nilson


Leitão, que “institui normas reguladoras do trabalho rural e dá outras providências” -  A co-
missão ainda não foi instalada apesar de os partidos já trem feitas as indicações. Como houve
uma repercussão sobre o PL “ legaliza o trabalho escravo”, o Deputado Nilson Leitão segurou
a tramitação do PL.

PL 7781/2017   Situação: Apensado ao PL 5074/1990 -   Autor - Comissão Parlamentar


de Inquérito destinada a investigar fatos relativos à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e
ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos termos que especifica
Ementa - Dispõe sobre a criação e o funcionamento, no âmbito da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal e do Congresso Nacional, das Comissões Parlamentares de Inquérito previs-
tas no § 3º do art. 58 da Constituição Federal. Revoga as Leis nº 1.579, de 1952 e 10.001, de 2000.

PL 7780/2017   Situação: Pronta para Pauta na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abas-


tecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) – Autor - Comissão Parlamentar de Inquérito
destinada a investigar fatos relativos à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e ao Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos termos que especifica. Ementa - Al-
tera a Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, para que as atividades do Incra em imóveis que
se pretende destinar à reforma agrária somente sejam permitidas, em caso de disputa judicial
sobre o bem, após a imissão na posse por decisão colegiada.

16
1. PROJETO DO GOLPE E DO AGRONEGÓCIO NO CONGRESSO NACIONAL

PL 7779/2017 -  Situação: Aguardando Parecer do Relator na Comissão de Agricultura,


Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) – Autor - Comissão Parlamen-
tar de Inquérito destinada a investigar fatos relativos à Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos termos que especifica,
Ementa - Altera o Código Penal para tipificar expressamente a transmissão irregular de lotes
da Reforma Agrária.

PL 9463/2018 Autor:  Poder Executivo - Ementa: Dispõe sobre a desestatização da Cen-


trais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobras e altera a Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, a Lei
nº 9.991, de 24 de julho de 2000, e a Lei nº 5.899, de 5 de julho de 1973. Explicação: Revoga
dispositivo da Lei nº 3.890-A, de 1961 e da Lei nº 10.848, de 2004

MP 808/2017 -  Altera a Consolidação das leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decre-
to-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. (Alteração da Reforma Trabalhista)

MP 814/2017 - Altera a Lei nº 12.111, de 9 de dezembro de 2009, que dispõe sobre os ser-
viços de energia elétrica nos Sistemas Isolados, e a Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, que
dispõe sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, recomposição tarifária ex-
traordinária, cria o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica - Proinfa
e a Conta de Desenvolvimento Energético - CDE e dispõe sobre a universalização do serviço
público de energia elétrica.

PEC 412/2009 - Altera o § 1º do art. 144 da Constituição Federal, dispondo sobre a or-
ganização da Polícia Federal. Explicação: Dispõe que Lei Complementar organizará a Polícia
Federal e prescreverá normas para sua autonomia funcional, administrativa e de elaboração
de proposta orçamentária.

PEC 7/2016 - Proposta de emenda à Constituição para inserir a terra e a água como di-
reitos fundamentais, que tramita no Senado. A proposta de autoria de Lindbergh Farias foi
admitida em votação pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Uma
proposta foi apresentada na Câmara e outra no Senado. Em 2016, em articulação com mo-
vimentos sociais do campo e com o Ministro Milton Rondó, os deputados Paulo Pimenta e
Padre João e o Senador Lindbergh Farias apresentaram a proposta.

17
2
REFORMA
AGRÁRIA
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

2.1 ANÁLISE DA PROPOSTA DE DECRETO QUE REDUZ A REFORMA


AGRÁRIA A UM NEGÓCIO

Por ACÁCIO BRIOZO

No findar de 2016, o Governo Temer publicou a MP 759, cujo conteúdo foi objeto de
muitas críticas de movimentos sociais e de pesquisadores. Como esperado, a tramitação da
MP no Congresso, causou danos maiores com alterações significativas no texto original. Em
24/11/2017, o Incra enviou à Casa Civil uma minuta de decreto de regulamentação da referi-
da lei. Nesta análise são apontados, ainda que de maneira muito breve, os principais retroces-
sos verificados no texto.

A minuta proposta extermina, entre outros, o conceito de “entidade representativa”, que


legitima a relação organizativa entre as famílias acampadas/assentadas e o Estado. Estas en-
tidades, em casos específicos e quando legalmente constituídas, podiam ser beneficiárias de
título de domínio coletivo. Por outro lado, a definição de acampamento ganhou uma descri-
ção adicional, condicionando o seu reconhecimento à inscrição das famílias no CadÚnico.
Para além de uma formalização de situação vulnerabilidade social, a exigência deste cadastra-
mento (de responsabilidade dos municípios) cria mais uma etapa burocrática, dificultando o
reconhecimento das famílias acampadas como reivindicantes de um direito constitucional e
dos acampamentos como espaço do protagonismo na luta pela terra e de demanda ativa por
políticas públicas.

Pelo disposto na minuta, o Incra deixará de cadastrar os acampamentos, até porque as


famílias acampadas não são preferência entre os possíveis beneficiários na criação de assen-
tamentos. Cabe também preocupação em relação a modelagem da pontuação, pois podem
ser amplificados os conflitos fundiários caso o público acampado não seja devidamente con-
siderado na seleção das famílias. A “seleção das famílias candidatas ao PNRA” passará a ser
realizada por assentamento “conforme a disponibilidade de áreas ou lotes”, portanto, não
havendo disponibilidade de áreas, não há ação do Estado.

Ainda no Capítulo sobre a seleção de famílias, além do edital de seleção, o processo de


inscrição das famílias para a seleção passa a ser individualizado. Este dispositivo acaba ve-
dando a inscrição coletiva. Além disso, a proposta altera o cadastro da família acampada para
um assentamento específico e não para um território.

O Capítulo II determina ainda as condições de permanência nos assentamentos. O art. 15


lista as condições para que a família se mantenha beneficiária do PNRA. No entanto, a princi-
pal ressalva se refere à possibilidade de celebração de contrato de integração1, um risco à au-

1 Este dispositivo foi inserido na conversão da MP 759 em Lei 13.465 por emenda proposta pelo Senador Wellington
Fagundes (PR/MT). O referido parlamentar é alvo de inquérito no STF (Inquérito nº 2340/2006) que apura crime de corrup-
ção ativa, passiva, peculato e lavagem ou ocultação de bens. Foi citado na delação premiada do ex-governador Silval Barbosa
como beneficiário de propina e seu nome também consta na planilha da JBS apreendida pela PF.

20
2. REFORMA AGRÁRIA

tonomia dos assentamentos mediante a invasão sem limites do capital nas áreas reformadas.

O art. 21 é absolutamente ilegal, pois propõe a regularização dos ocupantes irregulares


de lotes em assentamento, de ofício ou mediante solicitação, até o limite de quatro módulos
fiscais, afastando qualquer tipo de razoabilidade social. Agravando a situação, há casos em
assentamentos com lotes de 0,2 módulos fiscais de dimensão ou menos, portanto, 20 ou mais
lotes poderão ser legalizados para cada pessoa. A mensagem transmitida pelo governo nesse
caso é de que a terra deve ser tratada como simples mercadoria.

Pela proposta, os ocupantes irregulares que possuem áreas de quatro módulos fiscais (até
400 hectares na região amazônica) pagarão 50% do valor previsto na pauta de valores. Aque-
les que conseguirem regularizar um lote de 1 módulo fiscal, deverão pagar 10% do valor pre-
visto na pauta de valores. Se o pagamento for realizado à vista, cabe 20% de desconto. Além
de representar até 98,64% de isenção no preço de mercado, a inclusão de laranjas permitirá
verdadeira grilagem nos lotes da reforma agrária.

O Capítulo III apresenta as regras para a titulação provisória (Contrato de Concessão de


Uso - CCU) e definitiva (Contrato de Concessão de Direito Real de Uso - CDRU ou Título de
Domínio - TD). A minuta aponta que a CDRU será gratuita e somente haverá titulação defini-
tiva por meio deste instrumento “quando requerida por no mínimo 50% dos beneficiários de
um mesmo assentamento”.

O Capítulo IV aponta as disposições finais do Decreto, abarcando temas tão importantes


quanto os já abordados anteriormente.

O art. 46 define o conceito de “conclusão de investimentos”, apontando a preocupação da


Direção do Incra em se livrar dos assentamento, movimento já efetuado no governo FHC. De
acordo com a proposta, a conclusão de investimentos se dará com (i) a execução dos serviços
de medição e georreferenciamento do perímetro e das parcelas no assentamento; (ii) a viabili-
zação de meios de acesso no assentamento que permitam o trânsito de pessoas e escoamento
da produção; (iii) energia elétrica; (iv) água; (v) moradia e (vi) créditos de instalação a no mí-
nimo 50 % das famílias. No mesmo artigo, a Direção do Incra deixa nítida a intenção de não
realizar os investimentos básicos listados nos itens II a V, quando relega aos “entes federais
competentes” a necessidade de priorizar a sua realização.

A experiência mostra que essa delegação é um equívoco. Um exemplo é o cancelamento


do crédito de moradia pelo Incra, passando a responsabilidade para o Programa Minha Casa
Minha Vida, despencando a velocidade de construção de moradias em assentamentos.

Ainda sobre o tema da consolidação, a minuta traz cópia do previsto na Lei, consideran-
do consolidado o assentamento após 15 (quinze) anos de sua implantação. Explicitamente
determina que, mesmo sem o cumprimento dos dispositivos no Art. 46, o assentamento será
considerado consolidado, o que abarca uma quantidade imensa de assentamentos em todo o
País.

21
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

2.2 A LEI 13465/17 E A TITULAÇÃO / REGULARIZAÇÃO


DOS ASSENTAMENTOS
DIGA NÃO À LEI DA PRIVATIZAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA!!

O INCRA, os ruralistas e o golpista Temer, pretendem privatizar os assentamentos,


mercantilizando a terra. COMO? 1. se livrando deles; 2. fazendo caixa de campanha eleitoral
com o pagamento das custas pelos assentados; 3. se desobrigando de qualquer responsabili-
dade por prover políticas públicas, alegando falta de “beneficiários” – pois eles querem nos
tornar “proprietários.” O governo federal deve ter responsabilidade constitucional com a Re-
forma Agrária e isso está sendo destruido com essa lei 13465/17.

O INCRA está com uma equipe de Brasília andando pelos assentamentos e devemos
estar afiados no debate pra questionar e barrar mais esse golpe nos nossos direitos. Sabemos
que essa discussão não é fácil com nosso povo, por conta da precarização nos assentamentos
e pelo sentimento de ter algo “seu” no papel (o que é legítimo, mas não nesse contexto, e nem
para esta conquista que custou tanta luta coletiva).

O governo federal tá chamando essa privatização da Reforma Agrária de “moderniza-


ção nos assentamentos”. CUIDADO! A Reforma trabalhista foi vendida por “modernização
do trabalho”, e acabou tirando remuneração por deslocamento de trabalhador rural e criou o
tal do trabalho intermitente, no qual a pessoa é contratada e fica à disposição do patrão, mas
só recebe pelas horas que ele quiser te explorar. E tá vindo outra “modernização”, a da pre-
vidência, que retira nosso direito de segurados especiais rurais ao alterar 15 anos de segurado,
para 15 anos de contribuição – e isso é bem diferente, pois todo mundo da família que trabalha
na roça vai ter que contribuir individualmente e na regra atual, são 15 anos de reconhecimento
do trabalho agrícola, que vale pra família toda.

A lei 13465/17 é ampla e trata da regularização fundiária no rural e no urbano, aten-


dendo aos interesses do agronegócio e da especulação imobiliária. Seguem algumas infor-
mações básicas sobre titulação e regularização que estão na lei 13465/17 (resultante da MP
759/16) e que afetam diretamente os assentamentos (lembrando que isso se aplica somente
em assentamentos federais):

1. O QUE É A TITULAÇÃO? Logo que a pessoa é assentada, ela deveria receber


um CCU (Contrato de Concessão de Uso) que é provisório. Depois ela pode escolher
o título definitivo, que pode ser o CDRU (Concessão de Direito Real de Uso) ou o TD
(Título de Domínio); no CDRU o lote individual continua sendo da União, mas a fa-
mília tem direito de usufruir, passando o direito para as próximas gerações – não pode
vender e não pode colocar a terra em negociação bancária ou outra; no TD a coisa muda
pra pior, pois o assentado tem que comprar a terra, pagar os créditos que recebeu e se
torna proprietário do lote com direito de negociação comercial, que pode ser, por exem-
plo, oferecer a terra como garantia num empréstimo bancário (se não pagar, o banco
toma a “garantia”). Mas a titulação definitiva só pode ser feita quando o assentamento
estiver consolidado, e pelas regras atuais, isso deve ocorrer da seguinte forma: a) assen-

22
2. REFORMA AGRÁRIA

tamentos que tenham 15 anos (ou mais) na data da publicação da lei (01/06/17), e estes
o INCRA deve consolidar em até 3 anos; b) assentamentos criados até 2 anos depois da
data de publicação da MP 759 (22/12/2016). Parece complicado, mas é só um tratamen-
to sobre assentamentos antigos e os novos. Na prática, por enquanto, só “escapam” os
assentamentos que tiverem menos de 15 anos (mais um dia vão chegar lá) e que foram
criados antes da MP 759. Esse absurdo faz com que famílias assentadas “novas” – que
na realidade praticamente não existem - sejam assentadas e imediatamente, tituladas,
sem necessitar da tal consolidação do assentamento (caso sejam homologadas após
22/12/2018). O INCRA tá acelerando seus trabalhadores a titularem o maior número
de famílias e prometeram até premiações – criaram um titulômetro para promover a
competição entre as superintendências. Por que tanto interesse do golpista na titula-
ção? E Temer já anunciou na imprensa que faz questão de estar em entregas de CCU e
TD pelo país afora. Lutar!!!

1. ÁREA COLETIVA PODE SER TITULADA? Não!! Tá proibido titulação de


pessoa jurídica, logo, área coletiva de sede de cooperativa, escola, biblioteca, área de
comercialização não pode ser privatizada por essa lei.

2. O/A ASSENTADO/A PODE ESCOLHER QUE TIPO DE TÍTULO DEFINITI-


VO QUER? Sim!! Isso está assegurado na lei. Mas atenção: os técnicos do INCRA estão
vendendo a idéia do TD como única opção, como se as famílias não pudessem escolher
entre o TD e o CDRU. O MST defende a escolha do CDRU pois com ele, temos plenas
garantias de uso da terra, para nós e para nossos/as filhos/as. O TD representa a pri-
vatização de um bem público e é importante destacar que o/a assentado/a que optar
por esse título, não pode sair vendendo a terra de imediato, isso porque a venda ou
qualquer forma de negociação, somente pode ocorrer após prazo mínimo de 10 anos;
portanto só tem desvantagem: você paga o governo, só pode vender ou negociar o lote
depois de 10 anos e ainda por cima, acaba ajudando os ruralistas e os golpistas a faze-
rem uma enorme privatização da Reforma Agrária. Não compensa! Diga não ao TD!!

3. QUAL ASSENTAMENTO NÃO PODE TER TÍTULO DEFINITIVO? Assenta-


mentos PDS (sustentáveis); assentamentos onde ainda não tenha sido entregue o CCU
(em geral isso ocorre por incompetência do INCRA ou pela existência de disputa ju-
dicial sobre o valor da TDA fixada no ato de emissão de posse da área, e nesse caso,
enquanto não sanar esse óbice judicial, não pode ser emitido CCU).

4. QUAIS OS RISCOS DA TITULAÇÃO PARA AS MULHERES, OS JOVENS E


AS CRIANÇAS? Muitos! Hoje as mulheres tem a prioridade na titularidade (não con-
fundir com titulação) no cadastro dos assentamentos, conquistado com muita luta; em
caso de separação e se os filhos ficarem com as mulheres (sociedade patriarcal = quase
sempre ficam), o lote é uma garantia econômica importante; isso tem assegurado mais
reconhecimento da comunidade sobre o poder das mulheres e elas tem tido mais força
pra enfrentar a violência. Se tiver titulação em massa, a venda do lote e a pressão pra
“repartir” o dinheiro entre o casal, vai ser uma ameaça constante. Além disso, na lei, o
nome do homem, aparece na frente do nome da mulher, pra titulação. Temos que ficar
despertas!! Para os jovens e as crianças, o maior risco é a insegurança quanto à moradia,

23
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

à alimentação diversa / saudável e a perspectiva de trabalho e vida no campo. A titu-


lação é falsamente apresentada como direito do assentado, mas na realidade, abre um
caminho de insegurança para toda família e tende a aumentar as tensões e os conflitos
(próprios da disputa pela propriedade privada).

5. O QUE É A REGULARIZAÇÃO NOS ASSENTAMENTOS? O INCRA tem mui-


to interesse em regularizar o maior número de famílias, com vistas a aumentar o titulô-
metro, pois se a família ainda é irregular, ela não pode ser titulada. Na lei tem várias re-
gras, mas aqui importante destacar que as famílias a serem regularizadas, fruto da luta,
e que já estejam há mais de um ano no lote, após a publicação da MP 759 (22/12/2016),
devem fazer um ofício para o INCRA solicitando a abertura de processo de regulariza-
ção (ofício individual, mas com pressão coletiva).

6. O QUE QUEREMOS? Determinar o uso sobre a terra conquistada e que ela seja
sempre um território livre do latifúndio! Não deixaremos que decidam por nós, pois
governos passam, mas a comunidade que construimos com tanta luta, ninguém arran-
ca de nós!

Não tem carranca, nem trator, nem alavanca, quero ver quem é que arranca, nós aqui desse
lugar (A Violeira, Chico Buarque)

Lutar, construir Reforma Agrária Popular!!

Para saber mais:


1. LEI 13465/17 – http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/
l13465.htm.
2. LEI 8629/93 (lei que foi alterada pela 13465/17, mas alguns artigos foram mantidos e
destacamos abaixo o 18, referente as formas de titulação definitiva, portanto a redação abaixo
é a que está em vigor) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8629.htm.

TÍTULO I
DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA RURAL
“Art. 18. A distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária far-se-á por meio de títulos de
domínio, concessão de uso ou concessão de direito real de uso – CDRU (...)
§ 1° Os títulos de domínio e a CDRU são inegociáveis pelo prazo de dez anos, contado da data
de celebração do contrato de concessão de uso ou de outro instrumento equivalente, observa-
do o disposto nesta Lei.
Setor de Formação MST/SP

24
3
CriminalizAção
no Campo
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

3.1 VIOLÊNCIA NO CAMPO E CRIMINALIZAÇÃO DO MST: BALAN-


ÇO DE 2017 E PERSPECTIVAS PARA 2018.

O ano de 2017 foi marcado pelo acirramento da luta de classes em todos os campos de
batalhas política, jurídica e social. O presente texto tem como objetivo apresentar de forma
resumida os principais pontos da temática relacionada à criminalização da luta do MST em
2017, e apontar os principais desafios e batalhas que se avizinham em 2018, de acordo com as
atividades que são acompanhadas pelo Escritório de Direitos Humanos em BsB.

1. VIOLÊNCIA NO CAMPO. Destaca-se, em primeiro ponto, que 2017, segundo dados


da CPT, foram cometidos 65 assassinatos no campo, sendo as vítimas 29 sem terras, 11 qui-
lombolas, 9 posseiros, 6 indígenas, 3 aliados de camponeses e 1 pescador. Dentre todos estes
casos, destacamos o brutal assassinato do companheiro Silvino Nunes Gouveia, dirigente re-
gional do MST no Assentamento Liberdade, no município de Periquito em Minas Gerais; e o
Massacre de Pau D’Arco, executado pela Polícia Militar e Civil do Estado do Pará, no qual dez
trabalhadores rurais foram assassinados.

Em 2018 a perspectiva é que os conflitos e a violência no campo, promovidos pelas forças


do latifúndio continuem em alta. Diante disso é um dever das organizações e dirigentes do
MST estarem atentos, vigilantes e preparados para segurança e defesa da militância. Consti-
tui também uma importante tarefa interna melhorar a sistematização e as informações sobre
os casos de assassinatos, ameaças e despejos, bem como ampliar as redes de articulação para
denúncia dos casos de ameaças e despejos violentos.

2. CRIMINALIZAÇÃO PENAL. Vivemos um momento de aprofundamento do Estado


de Exceção no país com a relativização de importantes garantias fundamentais e individuais,
especialmente em matéria criminal. O protagonismo político do Poder Judiciário, do Minis-
tério Público e das Polícias, aliados com a Grande Mídia Golpista, revelam um quadro de
preocupante escalada de criminalização não apenas dos movimentos sociais, mas também dos
partidos políticos e sindicatos de esquerda. Especificamente em relação ao MST duas novida-
des merecem destaque:

i) a utilização da Lei de Organização Criminosa (Lei n. 12.850/13) pela Polícia Civil e


Militar, Ministério Público Estadual e Judiciário dos estados de Goiás e Paraná em dois im-
portantes focos de resistência e luta pela Reforma Agrária no país. A denominada “Operação
Castra”, no Paraná, foi a de maior envergadura nacional, com um ano de preparação, inves-
tigação e escutas telefônicas; depois com a decretação de 14 ordens de prisão preventiva para
militantes do MST; com o episódio de tentativa de invasão da ENFF; e matéria no Fantástico.
Seis companheiros/as chegaram a ficar presos por diversos meses e os demais resistindo à
prisão na clandestinidade. Diante da luta política e jurídica travada, as ordens de prisão refe-
rentes a estes casos foram revogadas e os companheiros estão soltos com medidas restritivas,

26
3. CRIMINALIZAÇÃO NO CAMPO

ressalvadas duas ordens de prisão no estado de Goiás que os companheiros continuam re-
sistindo à prisão. Neste particular destaca-se que não houve apreciação de mérito (sentença)
dos casos em primeira instância, o que deve acontecer, segundo nossa expectativa, no caso de
Goiás, ainda neste primeiro semestre de 2018.

ii) ordens de prisão para Cumprimento Provisório de Pena após Decisão de 2º Grau.
Após decisão do STF que autorizou prisão após decisão de 2ª instância, registramos especial-
mente nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, a expedição de mandados de prisão
para cumprimento de pena em processos antigos, em que haviam decisões desfavoráveis nos
Tribunais de Justiça dos estados e que aguardam julgamento de recursos no STJ e STF. Em
virtude dessa situação, um companheiro no Rio Grande do Sul está preso e dois resistem à
ordem de prisão, e em São Paulo um cumpre prisão em regime semiaberto e alguns cumprem
pena no regime aberto e outros também resistem à prisão. Destaca-se que eventual ordem de
prisão para o ex-presidente Lula tem fundamento nesta mesma situação. Há expectativa de
que o STF ainda neste primeiro semestre de 2018 mude tal entendimento1, que se constitui um
dos importantes pilares processuais também da operação Lava Jato.

Em resumo, atualmente, temos dois companheiros do MST presos: um no regime fecha-


do no RS, e um no semiaberto em SP.

Importante destacar que diversas avaliações caminham no sentido de que a maior per-
seguição criminal, com a teoria do domínio do fato2 ganhando ainda mais força com a Lei de
Organização Criminosa, no atual momento político vem sendo feita contra dirigentes do PT
no âmbito da Lava Jato, como ilustram os diversos processos contra o ex-presidente Lula e a
sua condenação no TRF4. Mas, assim que “superada” tal fase, com o acirramento das lutas e
manifestações sociais, a bola da vez para a Mídia Golpista e os setores conservadores, tende a
serem novamente os movimentos sociais que botam gente na rua e promovem ações diretas.
Neste sentido importante manter campanhas que tenham como objetivo denunciar a crimina-
lização das lutas sociais, pois, “Lutar não é crime!”.

Compreendemos que constitui também uma importante tarefa do MST aprofundar o


debate sobre a “resistência à prisão” e qualquer ordem judicial ilegal, como forma de discutir
internamente como lidar com essas situações decorrentes de prisões e mandados de reintegra-
ção de posse, mas, também, ajudar os demais movimentos, sindicatos e partidos sobre esse
tema.

 3. CRIMINALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. Outra frente de criminalização do movi-


mento está relacionado com o ataque jurídico contra cooperativas, associações, escolas e diri-
gentes na linha dos desdobramentos da CPI do MST de 2005. Dezenas de processos tramitam
no Tribunal de Contas da União e na Justiça Federal com o objetivo de responsabilizar econo-

1 Autorizando o cumprimento da pena após condenação no STJ e não mais nos Tribunais de
Justiça dos Estados.
2 Aplicada contra nossas ações há muito tempo.

27
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

micamente as pessoas jurídicas, físicas e até mesmo servidores públicos que participaram de
algum modo em convênios que tiveram ou têm por objeto o apoio da Reforma Agrária. Neste
campo obtivemos poucas, mas importantes vitórias processuais em 2017. No entanto o quadro
geral é bem negativo, no sentido de que muitos dirigentes e pessoas jurídicas estão sendo con-
denadas nestes processos. Precisamos debater como transformar esse tema em pauta de luta
política, e não apenas jurídica.

Outro ponto que também merece destaque sobre este tema, é o aumento de processos de
indenização decorrentes de ocupações de terras que passaram a ser movidas em face de pesso-
as jurídicas, tratadas como supostas “mantenedoras” ou “parte de um grupo econômico” que
“financiariam” o MST. Em diversos casos as ações de indenização em ocupações passaram
a ser movidas contra as entidades relacionadas na CPI, e não contra as pessoas que partici-
pam diretamente da ocupação ou em face do “MST”, que não possui personalidade jurídica.
Constitui uma importante tarefa da organização, principalmente neste momento de avanço e
ampliação interna das atividades de produção, da comercialização, das vendas institucionais,
feiras, etc., o cuidado com a regularidade jurídica, contábil e administrativa das cooperativas.

4. CPI INCRA/FUNAI e PROPOSTAS LEGISLATIVAS. Em 2017 foi encerrada a CPI


do INCRA/FUNAI 2, com um relatório final com maior foco na questão indígena. As deli-
berações e encaminhamentos não trazem grandes novidades para além do que já havia sido
determinado nas outras CPIs relacionadas ao MST.

Já em relação às movimentações da Bancada Ruralista, um ponto que merece destaque é


o andamento e a aprovação na Comissão de Agricultura e na Comissão de Segurança Pública
do PL 6717/2016, que trata da liberação de porte de arma para proprietários rurais. Atualmen-
te aguarda apreciação pela Comissão de Constituição e Justiça, para que, se eventualmente
aprovada nesta comissão, possa ir para o Plenário da Câmara. Importante acompanhar e de-
nunciar o absurdo que esse PL representa.

Com a promulgação do Decreto de Intervenção Federal Militar no Rio de Janeiro, o “en-


fraquecimento” no Congresso da PEC da Reforma da Previdência e o esgotamento das vias
institucionais de defesa do Lula, o Governo Golpista, com amplo apoio da bancada da bala
e ruralista, tende a concentrar esforços para aprovar projetos de lei na área de segurança pú-
blica, especialmente na flexibilização do Estatuto do Desarmamento. Leia-se: maior aparato,
estatal e particular, repressivo e armado, para inibir a luta e resistência da classe trabalhadora,
principalmente os setores organizados.

28
3. CRIMINALIZAÇÃO NO CAMPO

3.2 ERA TEMER JÁ TEM MAIS DE 100 ASSASSINATOS POR CONFLI-


TOS AGRÁRIOS

Por Cauê Seignemartin Ameni/www.deolhonosruralistas.com.br

Com 65 mortes, número de 2017 já é o maior nos últimos 14 anos e teve chacinas como
marca; Comissão Pastoral da Terra ainda apura outros casos  e quantidade pode aumentar

A era Temer já tem mais de cem assassinatos por conflitos agrários. Dados da Comissão Pastoral
da Terra (CPT) mostram que já há 65 mortes confirmadas em 2017. E alguns casos ainda estão sob
análise. Os demais assassinatos ocorreram em 2016, no período após a queda de Dilma Rousseff (PT),
entre a interinidade e a efetivação de Michel Temer (PMDB) na Presidência da República.
Na manhã de 12 de maio de 2016, o Senado votou pela abertura do processo de impeachment.
No mesmo dia, Dilma foi afastada para dar lugar a Temer. Dessa data até o fim do ano – conforme o
De Olho nos Ruralistas apurou junto à CPT -, 35 pessoas foram assassinadas por causa de conflitos no
campo. Mais da metade do total de mortos (61) daquele ano.
A situação piorou em 2017. Segundo dados parciais da CPT, divulgados em janeiro, no mínimo
65 pessoas foram assassinadas por lutarem pela reforma agrária e por seus territórios tradicionais.
Esse número pode aumentar se outras dez mortes sob investigação se confirmarem como assassinatos
políticos.
Este observatório mostrou no ano passado que, entre 1985 e 2016, 1.833 pessoas foram mortas
por conflitos agrários: “Democracia já tem quase 2 mil assassinatos políticos no campo“. Com as 65
mortes de 2017, esse número chega a 1.898.
Cabe registrar que esses números não se referem a conflitos comuns (em decorrência de brigas
entre trabalhadores rurais, por exemplo): referem-se a camponeses e lideranças assassinados em
decorrência da disputa por terra.

29
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

CHACINAS MARCARAM 2017

Os dados mostram o acirramento de uma tendência. O ano de 2016 já tinha uma marca histórica:
o maior número de assassinatos desde 2003. Isso significou um aumento de 20% de mortos em relação
a 2015. O ano de 2017 teve ainda mais mortes, 65, chegando perto da marca de 2003, quando 71 pessoas
morreram.

De acordo com o relatório da CPT sobre 2017, os assassinatos dos anos anteriores caracterizavam-
se pelos alvos seletivos: mortes de lideranças para amedrontar o restante da comunidade. No ano
passado, uma metodologia mais antiga voltou à tona: chacinas, massacres, assassinatos em massa.
O relatório destaca alguns exemplos mais eloquentes, como a chacina de Colniza, no Mato
Grosso, em abril, quando nove camponeses foram torturados e assassinados por pistoleiros a mando
dos madeireiros da região. A chacina de Vilhena, em Rondônia, ocorrida no mês seguinte, vitimou três
camponeses que lutavam pela reforma agrária na região.
O massacre com maior repercussão nacional foi o de Pau D’Arco, no Pará, também em maio.
Policiais militares e civis executaram dez trabalhadores rurais sem terra. O Tribunal de Justiça do
Estado do Pará (TJE) chegou a determinar a soltura, em 18 de dezembro, de todos os PMs envolvidos
nessa chacina. Na semana seguinte o Superior Tribunal de Justiça (STF) determinou novamente
a prisão.
“Chacina em Pau D’Arco foi responsabilidade do governo”, diz MST
O relatório descreve outros casos fatais e alguns episódios com vítimas que tiveram ferimentos
graves. Os dados são preliminares e devem integrar o relatório final que a comissão divulga sempre
no primeiro semestre do ano.
Segundo o relatório, os dados de 2017 confirmam uma tendência observada nos últimos dez anos:
as vítimas continuam sendo assassinadas indiretamente pela expansão do latifúndio, do agronegócio,
da mineração e das grandes obras de infraestrutura. Os atuais índices, destaca a pesquisa, conferem ao
Brasil o título de país mais violento para populações camponesas no mundo.

O PAPEL DAS REFORMAS

“O aumento da escalada dos assassinatos é também decorrente das reformas institucionais e


desmonte generalizado dos programas sociais e para o campo em especial”, escreve em outra pesquisa
João Cleps Junior, professor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, onde
coordena o Laboratório de Geografia Agrária.
Cleps falou sobre o tema na edição de dezembro do boletim DataLuta. “O rebaixamento ou mesmo
o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Ouvidoria Agrária têm como consequência o
aumento da criminalização e assassinatos no campo”, diz o pesquisador. Por encorajarem a impunidade.
Outro golpe contra as conquistas sociais, segundo ele, é a Medida Provisória que descaracteriza o
trabalho escravo, suspensa pelo STF. “Os ataques chegam por meio de Medidas Provisórias, decretos
e outras normas, sem discussão no Parlamento e com a sociedade em geral”, afirma.

30
4
REFORMA
GOLPISTA
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

4.1 REFORMA DA PREVIDÊNCIA FOI ARQUIVADA PELO POVO,


AFIRMAM DIRIGENTES

por RAILÍDIA CARVALHO/ http://www.vermelho.org.br

De acordo com Alexandre, a manutenção do Dia Nacional de Luta realizado nesta segun-
da em todo o país cravou a derrota do governo. “Ao lado disso foi marcante nesse período
de recesso ver que a população como um todo estava contra a reforma. As manifestações do
carnaval mostraram isso”, lembrou o dirigente.

O consultor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antonio


Augusto de Queiroz, o Toninho, avaliou a pressão do movimento social como determinante
para a derrota do governo. Na opinião dele, a intervenção federal no Rio e Janeiro foi uma
jogada do governo para encobrir a própria incapacidade de reunir os votos para aprovar a
reforma da Previdência.

“A reforma era uma das condições do mercado então, sem condições de aprovar a PEC,
o governo optou pela intervenção como álibi frente ao mercado. Foi uma jogada”, enfatizou
Toninho. É determinação regimental do Congresso que quando há uma intervenção federal
no país não pode haver tramitação de Propostas de Emenda à Constituição.

O consultor reiterou ainda que mesmo se houvesse votação o governo não teria os votos.
O constrangimento imposto aos deputados impediu Temer de conseguir os votos. “Se ele ti-
vesse os votos não teria optado pela intervenção. Foi determinante a pressão do movimento
social, especialmente dos trabalhadores do serviço público e trabalhadores rurais para que o
governo não conseguisse a maioria de que precisava. A panfletagem nos aeroportos, outdoors
com fotos dos deputados pró-reforma, carro de som circulando na base dos parlamentares,
ofensiva contra a propaganda do governo. Foi um trabalho muito forte de pressão”.

MST e Confederação Nacional dos Sindicatos de Agricultores e Agricultoras Familiares


(Contag) atuaram especialmente nos pequenos municípios e no contato direto com as regiões
de votação dos deputados. Para a grande maioria dos cerca de 5 mil municípios brasileiros a
previdência social é o que aquece a economia local mais ainda do que a verba do Fundo de
Participação dos Municípios.

“O governo sofreu uma derrota no debate da reforma da previdência e isso é decorrente


do entendimento correto que teve o movimento sindical, as organizações e movimentos so-
ciais que, a grosso modo, soube traduzir mais e melhor o quanto seria lesivo a aprovação de
um projeto com vistas ao desmonte da previdência social”, declarou ao Vermelho o presidente
da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Adilson Araújo.

32
4. REFORMA GOLPISTA

De acordo com Adilson, a nova situação deve servir de lição para os movimentos popu-
lares organizados. “É preciso dialogar mais e melhor com o nosso povo sobre o que é a pre-
vidência social, que é o nosso maior programa de distribuição de renda e um dos maiores do
mundo”, analisou o presidente da CTB.

“Quando o trabalhador adoece não é o patrão que paga o tratamento são os recursos da
seguridade social. Da mesma forma quando o trabalhador está desempregado. É nessa pou-
pança pública, que é a previdência, que ele vai garantir o seguro-desemprego”, exemplificou
Adilson. Se por um lado, a vitória deixa o movimento sindical de cabeça erguida de outro é
preciso manter a vigilância. “Não podemos dar a matéria por vencida”.

Vigilância também foi a palavra usada por Alexandre. “Estamos vigilantes para manter
a nossa mobilização frente a qualquer tentativa de reforma da Previdência até porque eles po-
dem tentar fazer através de Projeto de Lei ou através de Medida Provisória, sem passar pelo
Congresso”, alertou o dirigente do MST.

33
5
campo unitário
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

5.1 RELATÓRIO DO SEMINÁRIO NACIONAL DO CAMPO UNITÁRIO


ENFF 03 e 04 de fevereiro de 2018

Democracia e Luta de Classes

Segue uma breve síntese dos debates realizados no Encontro Unitário dos povos do campo,
das florestas e das águas, realizados nos dias 03 e 04 de fevereiro na Escola Nacional
Florestan Fernandes. São debates acerca da conjuntura, desafios e compromissos assumidos
coletivamente.

I. Elementos da conjuntura
a) O atual contexto político revela com mais clareza quem são as classes e as frações de
classe que estão jogando os seus interesses com o golpe, e quais os métodos utilizados
para a sua implementação.
b) Em meio à crise econômica do capitalismo, o golpe proporciona uma margem de lucro
ainda maior às empresas que se beneficiam com as privatizações e com a acelerada
apropriação dos recursos naturais (terra, água, minérios, petróleo, etc.). As forças
imperialistas também se movem no golpe. Para eles o Brasil é estratégico: reservas do
pré-sal, bens naturais, o neo extrativismo mineral.
c) O capital financeiro continua tendo predominância nesse momento e tem repercussão
no agrário. Com o golpe se revela que o cerne da luta de classes se situa nas finanças
públicas, no controle da mais valia social.
d) Há um processo mundial de total desregulamentação do capital que leva à
desregulamentação dos direitos e condições básicas de vida para os povos. No
Brasil, o sistema financeiro se caracteriza pela ilimitabilidade, imputabilidade e
irresponsabilidade com a sociedade. Com isso, constrói um sistema gigantesco de
apropriação financeira que ninguém conhece ou consegue impedir.
e) Orçamento Federal de 2018: 52% é de despesa financeira; que não é detalhada. É nesse
processo que se extrai a mais valia social sobre o orçamento público.
f) Os elementos da conjuntura de 2016/17 marcados pela imprevisibilidade, no atual
período começam a se materializar: privatizações, reformas. Nesse sentido as frações
de classe das forças golpistas estão unificadas, não há divergências entre eles. É só ver
o quadro das reformas
g) Afloram e ganham força as ideias conservadoras que atacam os processos que visam
o combate das desigualdades. Com isso, os setores sociais mais vulneráveis, como as
mulheres, jovens, os negros e negras, são ainda mais atingidos pelas medidas golpista
e a retirada de direitos.
h) A derrota no golpe é uma derrota de natureza estratégica para as forças de esquerda.
Não se trata de uma visão pessimista de que não tem saída. É um período de defensiva
estratégica. Há um cerco estratégico imposto pela classe dominante.

36
5. CAMPO UNITÁRIO

i) O centro da estratégia das forças de esquerda é tomar o poder do Estado. O centro


da estratégia dos inimigos da classe trabalhadora é a derrota de sua capacidade de
organização e mobilização. Por isso o aumento da criminalização dos movimentos
sociais, dos lutadores/as do povo e a da inabilitação de Lula como candidato.
j) A vitória golpista foi possível porque nos faltou a resistência de massa. As manifestações,
embora importantes, ficaram limitadas às forças organizadas que não tiveram força
suficiente para impedir o golpe. Ainda assim as manifestações de rua conseguiram
impor a narrativa das forças de esquerda, afirmando o golpe.
k) Projeta-se que o golpe precisa se legitimar ganhando as eleições, para também se
legitimar no cenário internacional. As eleições cumprem também um papel de
distensionar os conflitos sociais, as tensões sociais. Por isso que essas eleições não são
normais. Elas ganham centralidade na luta de classes.
l) Mas do ponto de vista eleitoral as forças conservadoras ainda têm dois problemas:
inabilitar a candidatura de Lula que é o que unifica um programa/agenda política da
esquerda e tem apoio popular; ganhar as eleições com um programa impopular. Então
o problema não é a definição de nomes, embora tenham contradições é superar esses
dois problemas.
m) Há indicativos de que o eleitorado não quer políticos. Por isso os ensaios da direita
de nomes de fora da política. A tática da esquerda: “eleição se Lula é golpe”. Esticar
essa tática na candidatura até onde der. Mas essa tática não será contemporizada pelos
inimigos. Eles querem inabilitar os próprios indicados de Lula.
n) Nesse cenário da conjuntura político-eleitoral qual é o dilema das forças de esquerda?
A força de Lula está nos setores inorganizados das massas e não nas forças organizadas.
Assim ganha força o papel do indivíduo na história e, neste cenário, o papel de Lula
será decisivo. A batalha Lula está em jogo. A tática deles é nitidamente impedir Lula
de ser candidato, a nossa é ganhar as massas. Assim a nossa grande tarefa é alterar
qualitativamente a força social nas massas. Elevar no seu grau de consciência e
organização.
o) No que atinge mais diretamente o campo há uma progressiva mudança das relações
fundiárias desde 1988: transformar todas as terras todas em mercadorias, a titulação
dos assentamentos já entra nessa perspectiva; apropriação das terras indígenas,
quilombolas – exploração agrícola e mineral; os parques e reservas transformar em
ativos; avançar sobre as terras públicas e devolutas.

II. Desafios
a) Permanentemente buscar identificar os elos frágeis do cerco imposto pelas forças
conservadoras no golpe. Identificar as contradições e atuar sobre elas.
b) Esforço em três aspectos: enfrentar, confrontar e não se isolar, por isso o desafio da
unidade das ações, com atenção também para a articulação com os setores urbanos
c) O cenário pede ações de massas e cuidar de três batalhas decisivas: batalha das
antenas; batalha das ruas; batalha do judiciário.
d) Jornada do 08 de março iniciar ainda em fevereiro contra a reforma da previdência.
e) Nesse momento é fundamental fortalecer dois princípios e métodos de organização

37
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

social: trabalho de base e formação política ideológica


f) Amplificar nosso potencial organizativo nos movimentos populares que continua
fragilizado. Construir e acumular força social; encontrar novas formas organizativas.
Superar os limites da articulação construída em torno apenas da conquista de
políticas públicas.
g) É preciso continuar resistindo, mas superar a tática do heroísmo para ter saldo e
acúmulo organizativo.
h) Organizar o nosso potencial produtivo no campo; organizar o nosso potencial
organizativo nos pequenos municípios. Atuar estrategicamente e explorar as
contradições do agronegócio. Desconstruir a imagem positiva do agronegócio que a
mídia tenta impor no imaginário da sociedade.
i) Denunciar a crescente violência no campo e atuar para assegurar a punição dos
culpados.
j) É preciso pautar a democratização do judiciário e aprofundar o debate sobre as
mudanças necessárias no sistema de justiça.
k) Luta para revocar a EC 95 que fere os princípios fundamental da progressividade
dos direitos humanos, ou a não regressão nos gastos públicos: saúde, moradia,
mobilidade urbana.
l) Continuar estudando e se apropriando dos avanços do capitalismo no campo.
Organizar as denúncias. Explicação das pautas, especialmente para destacar os efeitos
da privatização e mercantilização das terras, da água e demais bens naturais na vida
do povo. Elaboração de subsídios
m) O nosso processo de mobilização, da forma como estamos atuando, já está no roteiro
deles. Por isso precisamos ser criativos e continuar nos mobilizando.
n) É preciso passar um pente fino no sistema financeiro público. É preciso enfrentar os
proprietários dos títulos da dívida pública.
o) Construir estratégias para retomar o debate da reforma agrária para a sociedade e a
esquerda, tendo como questão central o direito à terra como bem público fundamental
para a humanidade.

III. Compromissos
III.I. Compromissos coletivos com a Frente Brasil Popular
Nos somamos com a avaliação politica realizada em recente plenária nacional da FBP,
da qual participamos, que coloca como centro de nossos esforços nesse quadrante da luta de
classes,:
1- A luta contra a reforma da previdência- Nenhum direito a menos.
2- A Luta por eleições livres e democráticas, - como direito de Lula ser candidato.
3- A luta em defesa da vida e dos direitos das mulheres.
4- Avançar no debate e construção de um programa popular, unitário para o Brasil.

38
5. CAMPO UNITÁRIO

Compromissos a curto Prazo


1. Participar ativamente de todas as formas possíveis, priorizando nossas atividades na
jornada nacional de lutas, definida pelas centrais sindicais e pela FBP, na semana de 19
a 23 de fevereiro, próximo.
2. Pensar numa ação unitária no dia 19 de fevereiro em Brasília – contra a reforma da
previdência. (Haverá mobilizações simbólicas também no ABC, no Rio de janeiro).
3. Naquela semana realizar manifestações em todos os municípios (câmara de vereadores,
fóruns, bancos, emissoras, e residências dos parlamentares que promovem a reforma
da previdência);
4. Elaborar panfletos e materiais de comunicação unitários nos temas: terra, água,
alimentos, direitos, previdência e encontrar as formas mais massivas possíveis para
divulgação. Utilizando programas de radio, e nossos jornais. (como o Brasil de fato);
5. Nos somarmos as iniciativas e brigadas da FBP, nas campanhas de pichação e
panfletagem para denunciar a situação.
6. Se houver prisão de Lula, iniciar uma greve de fome massiva em todos os municípios,
em lugares simbólicos como igrejas e Fóruns da cidade.
7. Ser mais criativo nas ações para cativar o povo, de forma didática e com simbologias
que denunciem a situação atual.
8. Difundir o abaixo assinado em defesa da eleição de Lula e da democracia, que já tem
200 mil assinaturas de personalidades. Agora precisamos popularizar.
9. Planejar uma ação massiva contundente no Nordeste em defesa de Lula
10. Articular manifestações nos aeroportos das capitais para pressionar os deputados que
viajam a Brasília, nos dias 18 e 19 de fevereiro.
11. Planejar uma jornada de luta unitária de todos os movimentos de trabalhadores do
campo, para o final de abril/18, com a pauta do campo.
.
Nossa participação no 08 de Março
1.Garantir a mobilização das mulheres do campo, no maior número possível de municípios.
E contribuir com as mobilizações unitárias programadas para as capitais e grandes cidades.
2.Unificar a palavra de ordem “Mulheres contra o capital: em defesa da democracia e da
soberania nacional”.

Semana do 17 de março – luta pela água


1.Construir grandes ações de massa regionais, em defesa ao direito à agua e denuncia das
empresas:
a)Marcha em MG – Mariana a Belo Horizonte
b)Vale – Rio de Janeiro
c)Vale – Paraubebas

39
TEXTOS: SUBSÍDIOS PARA CONJUNTURA AGRÁRIA

d) Correntina – BA
2. O MAB vai realizar a jornada de luta dos atingidos por barragens.

FAMA – Fórum Alternativo Mundial das Águas


1.Concentração massiva em Brasília, durante a realização do FAMA (17 a 22 de março).
Realizar um Juri popular para julgar as empresas que se apropriam das águas
2.Dialogar com a bancada de esquerda no congresso para ver diversas ações a realizar- se
no parlamento, sobretudo no Senado, como audiências públicas, etc.

ATIVIDADES DO MÊS DE ABRIL


1. Participar do seminário nacional de preparação das semanas sociais da CNBB. Dias 4 e
5 de abril em Brasília.
2. Participar da construção dos encontros regionais do ENA – Encontro Nacional de
Agroecologia
3. Participar e apoiar o acampamento “Terra Livre” dos povos indígenas em Brasília, dias
23 a 26 de abril.
4. Debater nas nossas instancias desde logo, para construir uma Jornada unitária dos de
todos trabalhadores rurais a nível nacional, na ultima semana de abril.

Atividades a realizar- se no Mês de maio


1. Participar das mobilizações do dia primeiro de maio, dia do trabalhador.
2. Fórum Nacional das Cidades de 22 a 24 – SP
3. Organizar uma mobilização massiva contra o judiciário que vai reunir toda sua cúpula,
com empresários e rede globo, em Maceió- dia 25 de maio.
4. Ajudar a articular com nossos operadores do direito para que participem do seminário
internacional da associação dos juristas pela democracia.(25 a 27 de maio).
5. Participação no Encontro nacional de agroecologia-ENA, de 30 de maio a 1º de junho
31 de maio a 03 de junho em BH no parque da cidade

Atividades a realizarem-se no Médio Prazo


1. Ficar atento as pautas de julgamento no STF, que ataca os direitos dos trabalhadores,
que devem ser julgadas nos próximos meses.
2. Realizar Audiência pública na Câmara dos deputados, para discutir a questão da
CNTBio. Já acordada com deputado Tato, presidente da comissão.
3. Organizar um Seminário Nacional para discutir os desmandos do Judiciário – 2ª
Semana de junho
4. Mobilização Nacional dos pescadores – 29 de junho

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5. CAMPO UNITÁRIO

5. Planejar o II encontro nacional unitário dos trabalhadores rurais em novembro- 2018-


em Brasília.
6. Pautar de forma permanente a tema da segurança e da violência no campo, contra os
trabalhadores.
Atividades relacionadas com o processo do Congresso do Povo organizado pela FBP:
1.Envolver os formadores dos Movimentos do campo nos estados para que contribuam
nessa em preparação ao Congresso, que terá como calendário: primeira quinzena de
março, seminários estaduais de preparação; segunda quinzena de março planejamento das
atividades nos municípios. Maio realização dos congressos do povo, no maior numero
possível de municípios do interior. Junho realização dos congressos estaduais, e final de
julho o congresso do povo nacional, a realizar-se noMaracanã, Rio de janeiro.
2.Garantir a realização do congresso do povo no maior número de municípios possíveis.
3.Nos debates dos Congresso do Povo inserir os temas da água, terra, alimentos e reforma
agrária.

RECOMENDAÇÕES DE NOSSA ORGANICIDADE


1. Construir e garantir a unidade de todos os movimentos de trabalhadores rurais
repetindo esse processo nacional, em todos estados e no maior numero possível de
municípios.
2. Que a plenária nacional seja representativa dos dirigentes de todas as organizações e
também trazer representantes dos estados e devemos nos manter articulados e garantir
reuniões a cada dois ou máximo três meses a nível nacional.
3. Próxima reunião dia 03 de abril, das 9-17 hs, em Brasília, possivelmente na CONTAG.

SÃO PAULO, 4 de fevereiro de 2018.

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