Manual · p. 280
Daí a necessidade de fazer sentir como o homem pode ser grande, recordando feitos glorio-
sos e incentivando os seus contemporâneos a partir para novas tarefas, capazes de os fazer
recuperar a fé e o valor perdidos, a virtude. É esta, a meu ver, a principal mensagem d’Os Lusía-
das e o verdadeiro sentido das invetivas a D. Sebastião. Daí o sentido da generalidade das consi-
20 derações ou excursos moralizadores do Poeta. Ergue-se dessas considerações uma teoria, uma
ideologia, um conjunto de valores ético-políticos perfeitamente enquadrados no espírito renas-
centista e humanista.
O ideal de homem virtuoso é, para Camões, o daquele que, como ele, for possuidor de
que do bem comum; recusando a ambição de ocupar bons lugares para melhor se exercer a
corrupção, ainda que modelando-se à imagem de quem ocupa o poder, para, depois, “despir e
roubar o pobre povo”, não pagando “o suor da servil gente”. Deus, o Rei, o Bem comum são valo-
35 res supremos: que se crie um estado social justo e liberto da exploração. Que os homens sejam
valentes na guerra e justos na paz: isso significa a recusa da tirania, da exploração.
Aos poetas cabe a honrosa missão de celebrar tais valores, dando-lhes o prémio da imortali-
fotocopiável
dade: ele, Luís de Camões, tantas vezes injustamente perseguido e maltratado, oferece-se,
humildemente, como exemplo “de amor dos pátrios feitos valerosos”, como portador de enge-