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  • Flávio Dos Santos Gomes - O Campo Negro de Iguaçú - Escravos, Camponeses e Mocambos No Rio de Janeiro - 1812-1883

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    Flávio dos Santos Gomes - O campo negro de Iguaçú - escravos, camponeses e mocambos no Rio de Janeiro - 1812-1883

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    \VVENOO NA MAIS PERFEITA DESOADEM SUMMARY Life in the most perfoct disorder ‘Beginning with an aulyss af save lborrla- ions in the coffe growing repions of Sto Paulo ring he fn years of slavery, dis atce eck tw recover the concepts of redéen and tutoaomy among save group. 1a shoring th conection ‘etmeen slave cpficts and detands ou plants. {ows and do dv 1 saab peasant ay of Iie, through the oocpation of soll properties created wwards utsictenoo production, the at- le feces 08 examples where groups Of eed ‘en Were able esublish themselves, belt re~ cariosly, & indepeadent farmer, Within this context, specific cases of land ocwpation by fre- ten — such as Santana do Paria, Iapetina 1 Jambo and Sifvein - are adhoc, As © ‘ecground to this anayais we find the debate over the constitution of aru proletariat rough inmaigration, in contrast to reform projets ext Abolition ideas, wich defended the imeration of freditg along with the rest ofthe Comte Isbor fore into the agro-exprt economy. Heace, inconsderiag the coafits endstrgle sulting résumé, Vivant dans le plus parfait desordre eat aa de eco consoles cestves vant velop wa ue doa ies fe Tesuonie Qo entail aly le al tong do tval angus Uae soul ans Jes fons ates yer Ifa da pogu wla= ‘agi. Lesearsollge Taion de ccnine owpes Suirechn ql tdanieat bir feiqee de tao ets ~ en a! ge rodae= team indents et veut oat se appOTS sve oui gu usa lon dan cra es fens of les aves venient oda {tod devo pape on pops doops esting 4 Pagriculaze de subatnce, Cost dans ‘2 eomlete qu'il sborde coins cs spftigaes ocenpation do ters par des afranchis, ata sent 3 Santaga do Pana, b Tupeinings, 2 Sabon ot Silvan, L’nalyo penn: comme tele do fond Ys bats qul avant ios A épogee sa sujet dei constintion dua prorat ard par Je dials de Monmigrtion et urs meoapemts ‘vee Fappariten de projets rormines ou soll- Sonslses qui déendsitnt intgration des ffag- ci det tna 2 onomieagré-export- atudos atorsitics, 1825, deeb do 1983 O’campo negro! de Iguacu: escravos, camponeses e mocambos no Rio de Janeiro (1812-1883)* Flavio dos Santos Gomes** "+ Recebido pra pubicsSo em agosto de 1993, ‘+ Daworand em histria social pela Unicany o profesor do Depararpento de [No Rio de Janeiro do sSculo XIX, exis- fis na segido de Tguagu uma guase indes- ‘rutivelhidra, tal qval a de Lerma, ressalta- a pela mitologia grega em virtude dos 12 ‘wabalhos de Hiércules, As cabepus desse bicho terrivel eram as diversas comunida- es de escravos fugitives que surgiram ppouco depois de 1800 e que quase no final esse siculo sinda stormentevans morado- ese antoridades policias. ‘Em 1878, pouco mais de um sno ap6s at ealiagies de vérian diigtncias visando Aestruir de uma vez por todas aqueles mn cambos, 0 ministro da Justiga, Gama Cer- quera, em despacho uo governo imperil, eciarava que havia necessdade de toaar ‘npodiatas medidas, além das costumiras ¢, se maior das vezs, neficazes diigbocias policiais, para pér fim em definitivo aos re- utos de escravos fugitives. impedindo as- sim que se reproduzissem, “A semethanga a fibula da hidra de Lena” ministro da Justga nfo poderia ter si- do mais feliz na escotha dessa metéfore “inde is Lnimsidade aera do Pash. ‘para simbolzar a existenci dos mocambos naguela regio igussuana, Conta a mitolo- ‘a groga que, nos péntanos de Lerma, ha Ditava uma monstruose bidra, Tal erature, ‘uma espécie de sempente com vérias cabe- ‘9a, parca indestrutivel a todos aqueles que ousavam enfrenci-ia (Pinset, 1939), ‘As imagens desse conto mitolézice por cero estavam ma caboce Jo ainistro da JTustiga © = por que nfo dizer? ~ das outras ‘autoridades, fazeadciros ¢ lavradores da planicie iguaguana, que conviveram com os uilombolas da regio ap longo do século XIX, Entre mangues © pntanes, junto as margens do Rio [guage sews afluentes, ‘ado muito distante da core, igustmente fu bitava uma temerosahidrs, Por mais de meio século, 08 mocambos sobreviveram e se fortaloceram na regio, espeito dos esforgos das autoridades poli- ciais e fazendeiros locsis para destrf-los. prenderam alguns de seus babitantes. Essa Estudos Atro-Aslitcos, (2549-72, dazenbro de 1988, % ‘UtGAMO NEGRO DETGUAGU bids, no entante, teimava em reapaseoer emoutros locais da regio. ‘Através de diversas batalbas, nas quais antoridades planejaram estratégias diversas para destnir os mocambos, poderemos ver, ‘muito mais do que apenss quilombolas mi- ticos her6is rexistindo com firia& reescra- vizagio, Peroeberemnos, sim, como os fugh- tivos de Iguacu constiruram suas communi dades, ero ievinesos espace de Iutas durante a escravidio. Os quilombos que ‘aqui analisaremos de maneiraalguma fica- ‘ramp simplesmente & margem do sistema es- cravista, Pelo contrério, constituindo alian- ‘sas © com variadas estratégias socioecond- ‘cas, forjaram um mundo novo e original um verdadviro campo negro ~ dentro dos. ‘vésios mundos da escravidio, Dessa forma, ‘06 sados dos guilomboles acabarant por ‘modificar ¢reestruturar profunda e paula- tinamente 0 mundos dos que permaneciam cescravos. MORITANDO 0 CENAAIO Os mocambos da baixadd iguaguana se localizavamn nas margens dos Rios Iguacu e Sarapat, préximo as freguesias de Nossa Senhora do Pilar © Santo Ant6rio de Jacu- tinga. Essa regio, da qual ums parte pas- sari a constituir © munifpio de Tguag em 1833 e uma outra parte o de Estrela em 1846? era composta basicamente — em contar os desmembramentos ¢ anexagtes posteriores ~ das seguistes freguesias ua, ‘déeaéa de 1780: Nossa Senhora do Marapi- eu, Santo Antbaio de Jacutings, So Joo de Meriti, Nossa Senhora da Piedade de \ Tguague Nossa Senbora do Pilar de Tguagu. Segundo 08 registros populscionais, fetos centre 1779 © 1789, a populagéo de toda a regio era de 13.054 habitantes, sendo, T122eserav059 “ Em termos de estrunura econémice, conforme o relatério do marqués do La- ‘radio apresentando dados de 1769 1779, ‘regio era constityida da Seguinte forms © A frepuesia de Sto Joio de Mert, ‘que contava vom nove engenhos de agtear com 307 escravos, numa média de 34 ¢8- ‘eravos por engenhio ~ e duas engenhocas, com 23 escravos. Fsses engenbes produ iam cerca de 104 caiza de agdear © 46 pi- ‘pas de aguardente, enquanto as engenhocas {iubricavam 17 pipas de aguardente. © A freguesia de Nossa Seriora do Pi- lar de Iguags, que possui,além de trés en ‘Beahnocas, um Snico engeabo, pettencentt 0 capitio Luciano Gomes Ribeiro, fabri- ‘cando 40 caixas de agfear © 17 pipas de ‘aguardente, com 74 escraves. A freguesia de Santo Antonio de Ja- ‘ctinga, que tina sete engenhos, dos quais um abandonido ¢ posteriormente arrema- tado, nos qusisestavam empregasos apro- ximadamente 236 escravos, prodwindo 163 cainas de agéear © 77 pipas de aguar~ dente, com uma média de 39 escraves em ‘cada propciedade, © freguesia de Nossa Senhora do ‘Marapicu, composta de quatro engeakos, ‘que produziam em tomo de 152 caixas de ‘cticar © 61 pipas de aguardente, com quase 300 escravos. © E; finslnente, a freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguags, que tinha, somente duas engenhocas, com 70 escravos ‘eprodiugte de 30 pipas de aguardente ‘A. produglo agricola de mantimentos essa regio tambéan se destacava. Basean- do-se ainda nas esatsticas do marquee do Lavradio pasa 0 mesmo perfodo, as cinco ‘reguesias tinham considertvel produsio de gner0s alimenticios, sendo voltada para 0 ‘@bastecimento do mercado inter. Levando-se em consideragto 0 nimero ‘de eeravos ocupados nos engenhs de agé- car e & popalacio escrava total por fregue- Exudos AtoAsdteos, 1 2, daze 40950 sia no final do séeuloX VI, podemos con chr pe spronimadamente apenas 20% da ‘Populagdo escrava da regio estavam em pregadasnn prods agua, ja pat a exportagdo seja para o mercadg interno. Vale dizer que grande parte dos eseravos rovavelmenteestava envovida na prods {ode pterosalimension, extrago de 1o- a fabric de tole tls, qu abst ‘clam ilo 56 4 prépria regigo como também ‘corte freplesn fof O Eagenbo da Conoco, na frogusia de Santo Ant Xo da Taetings, com 1A escraves, por exemplo, fabricava apenas trés caixas de ‘cfr © mein pipe de aguardente, vito qBe ‘sua “cultura principal era de mandioca, sendo eubsiin ade cana” (Matroso Maia Forte, 1933, p. 36, 56-7 © 59; Pereira, 1977; Mendes, 1950).° Fasilitada pela sua localizacéo seogrt- a, cortada por intimeros ries, «regiio fguaguana encootrava escoamenton fic} para seus prodatos. Na freguesia de Sto Too de Meri, “para. o sev comtrio ser ‘igo das fazendas ¢ dos engenhos”, havin 14 ports visados desde Rin Meritt ‘bém denominado Sfo Joo, até o Rio Sara- put. A freguesia de Nossa Senhora da Pie- dade de Tguagu esooava sua prodocio atra- ‘6s de dois porto, enguanto a de Nossa ‘Senhora do Pilar de Tguapa azn 0 seu co ‘méreio com 18 bars e wna Jancha,dist- Duds em gove portos. 36 pradugio da freguesia de Santo Anténio de Jacutings era eecoada por oil ports, sendo qua Jocalizados 10 Rio Iguagee o restante no Ria Sarapat, Ese portos era, na sua msioria,con- ‘wolados par faznndeiros ecomertianies lo- cais, que, através de bares € Incas ¢ da ulizpdo de escravos barqueirs, emado- res ¢ carregadores, administravam grande parte do escoamento da producto econda- ‘1 di regio. Diate de ido iso, a ea, stidns Atosidicos, 125, dozontrode 1998 fuAvio Dos sxnTos Goues ‘que se estendia também por outras fregue- ‘iss mais interioranas, encontrava-se numa situagéo privilegiads em temmos de comér- cio, abastecimento © produgéo agricola. As combarcagdes subiam e desciam os vitios 10s, principalmente 0 Tguagu e o Sareput, sbastooendo e escomndo a produgio de toda aregifo. A via de escosmento Muvish da regio também favoreceu a economia de outras ‘poalidades circumvizinbas. A planicis igua- «vana divisava com varias outsas regi6es de ‘considerfvel desenvolvimento econbmico, © excoamento da producto regional nfo se dava somente através da via fluvial [Desde meados do sseulo XVII, a regio possuiagstradas que ss ligavamaté a corte, como a estrada da "Policia" ¢ do “Comér- io”. Outras estradas préximo a freguesia de Nossa Sentora é Piedade de Iguagu _qpe se interiigavam aos portos chegaram a ‘eseonr parte da produgio cafecira de Pir, Valeoga © Vassouras 0 primeiro quartel 4o aéculo XIX. Na 6poca,o jf entéo muni- cfpio de Tguagu possuia vérios estabelecl- ‘mentos comereitis com grandes trapiches para armazenamento de produtos. Nilo obstanfe todas as condligées favo~ hveis para o seu deseavolvitento, a regio iguaguaia provavelmente teve ums parte ‘de sou dinamismo econtmico abalada em ‘meados do séoulo XIX. Como jf mencio- ames, ess regio tinba considerével pro-

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