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Análise de Redes Sociais e Migração

Dois aspectos fundamentais do “retorno”

Dimitri Fazito

Os sistemas empíricos de migração podem ser seja, operado mediante padrões relacionais das re-
representados por modelos de redes sociais justa- des sociais – e, em contrapartida à essencialização,
mente porque existe a condição do “retorno”. De o retorno também dinamiza o processo migratório
um lado, tal condição essencializa o fenômeno mi- (Fazito, 2005a).
gratório, imputando-lhe uma causa fundamental Nesse sentido, o retorno nas migrações cum-
singular, isto é, a idéia original para todo migrante pre dois aspectos básicos: 1) fundamenta simbo-
de que seu projeto de deslocamento só encontra sen- licamente todo e qualquer projeto migratório; 2)
tido se o ciclo vital da migração se fecha no retorno desempenha uma função estrutural na topologia
à terra natal – um princípio simbólico que inscreve a (estruturas invariantes universais)1 de um siste-
circularidade nas migrações (Sayad, 2000). ma de migração que, muitas vezes, o particulariza
De outro lado, este princípio simbólico do re- num dado contexto (a circularidade da rede social
torno também se exerce formalmente, isto é, por da migração).
meio de condições estruturais formais que cons- Este artigo pretende analisar estes dois aspec-
tituem um sistema de migração. Assim, na repre- tos e, principalmente, como eles atuam na quali-
sentação formal do processo migratório, também ficação de um sistema empírico de migração. Em
observamos a estruturação de fluxos e pólos de outras palavras, a idéia defendida aqui é de que os
origem e destino como num circuito integrado, ou sistemas de migração dependem do “retorno”, tan-
to no nível dos discursos como no nível das práti-
Artigo recebido em agosto/2008 cas, para a consolidação de um sistema migratório
Aprovado em setembro/2009 estável e expansivo.
RBCS Vol. 25 n° 72 fevereiro/2010

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Na última parte do artigo, com base na com- mentos opostos em um mesmo processo (regiões
paração topológica de quatro sistemas de migração, expulsoras e receptoras), mas também se inscre-
procura-se mostrar que o retorno desempenha, de ve numa realidade política, econômica, social e
fato, um papel estrutural elementar na organização historicamente distinta (Bourdieu e Wacquant,
e na evolução dos fluxos migratórios – com espe- 2000).
cial destaque para a participação dos retornados Por exemplo, uma pessoa ou família ausente de
nos processos de intermediação na travessia entre sua terra natal e presente em outra região represen-
origem e destino. ta mais do que um simples deslocamento, pois, de
fato, o que se opera é a transfiguração de um evento
vital em um significado particular na estrutura so-
O poder simbólico do retorno e o fenômeno cial na qual se insere a pessoa ou grupo familiar (al-
migratório terações sociais profundas ocorrem tanto na origem
como no destino).
A migração é um fenômeno social e demográ- Assim, para Sayad, esse deslocamento físico é
fico complexo, pois ao mesmo tempo em que um também um deslocamento de poder, o poder de
fluxo migratório possui características universais e significação do evento na estrutura social – ou seja,
estruturalmente semelhantes a outros fluxos, ele de- o poder simbólico constitutivo do ato de migrar.
senvolve histórica e socialmente sua singularidade Afinal,
(Davis, 1989).
Ao se pensar o fenômeno migratório segundo [...] não se deixa sua terra impunemente, pois
a perspectiva dos regimes demográficos poder-se-ia o tempo age sobre todos os seus pares. Não
dizer que os deslocamentos são como eventos vitais se prescinde impunemente do grupo e de sua
reguladores, ou integradores das estruturas popula- ação cotidianamente presente, [...] bem como
cionais que se vinculam a uma estrutura social his- de seus mecanismos de inserção social, meca-
toricamente dada. Ao final, essa interatividade de nismos que são ao mesmo tempo prescritivos e
eventos e estruturas garantiria a coerência interna normativos e, enfim, largamente performativos
de um regime demográfico específico e revelaria os (2000, p. 14).
padrões e impactos das migrações sobre populações
e sociedades (Kreager, 1987). Desse modo, podemos concluir que tal dupli-
Na migração, a unidade e a coerência entre os cidade de ausência/presença representa uma pro-
eventos do ciclo de vida e os significados percebidos funda ruptura na ordem do tecido social, disparada
e atribuídos ao longo de sua experiência (de indiví- por processos populacionais reguladores.
duos e grupos sociais) devem-se àquilo que Sayad Em Sayad, o retorno representa uma catego-
(2000) chamou de “retorno”, o elemento constitu- ria fundamental do fenômeno migratório porque
tivo da condição do migrante. No entanto, como confere sentido e explica a unidade das relações
mostra Sayad, o retorno implica um paradoxo ine- complexas entre emigração e imigração, ausência e
rente à constituição do fenômeno migratório, pois presença, exclusão e inserção. Além disso, o autor
a noção mesma de retorno “está intrinsecamente mostra que o retorno é uma possibilidade que só
circunscrita à denominação e à idéia de emigração existe no seu devir, pois é em si mesmo uma jus-
e imigração. Não existe imigração em um lugar tificativa manipulada politicamente pelo migrante
sem que tenha havido emigração a partir de outro em resposta à sua ausência. O retorno não é apenas
lugar; não existe presença em qualquer lugar que um retorno ao espaço físico, mas essencialmente o
não tenha a contrapartida de uma ausência alhures” retorno ao espaço social transfigurado por eventos
(2000, p. 11). vitais e, conseqüentemente, uma impossibilidade
O produto do fenômeno migratório, uma concreta, pois não se retorna àquela mesma estru-
duplicidade da presença/ausência como faces tura de coisas e eventos que se vivia no passado e
de uma mesma moeda, não apenas unifica ele- depois se “abandonou”.

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O poder simbólico do retorno nasce exata- Diante da impossibilidade do retorno, muitas


mente dessa impossibilidade prática de não se vezes vivida inconscientemente pelos imigrantes,
poder retornar, de fato, para o mesmo “estado parece só restar a alternativa socialmente estruturada
de coisas” que se deixou ao emigrar. Portanto, os de uma espécie de dissimulação. O imigrante ma-
deslocamentos não são operados apenas no espa- nipula simbolicamente suas próprias experiências
ço físico, mas sobretudo num campo de relações cotidianas ao criar suas ilusões sobre o retorno às
sociais que organiza o princípio estruturante espa- origens buscando, assim, justificar sua situação mui-
cial. Isto é, os deslocamentos refundam os “terri- tas vezes incômoda de deslocado e inclassificável.
tórios” e suas geografias pela inserção no campo Nesse sentido, segundo Sayad (1998) e Bour-
social de novos sujeitos e relações sociais (Sayad, dieu (2003; Bourdieu e Wacquant, 2000) a dis-
1998; Bourdieu, 1998). simulação não é um fato planejado e pretendido
Contudo, para que o retorno continue sendo pelos imigrantes (algo que pode ser também plena-
uma boa justificativa para o emigrante e sua comu- mente consciente mas não necessariamente), pois
nidade na defesa da racionalidade do deslocamen- depende das relações entre as trajetórias pessoais no
to, tal impossibilidade prática de retorno às origens contexto estrutural da migração. Os acordos tácitos
deve ser prontamente mascarada ou ignorada. sobre o reconhecimento da realidade objetiva que
Emigra-se com a crença absoluta de que um dia se os cerca são feitos cotidianamente, e o migrante vai
retornará para o mesmo “espaço” original, como se inscrevendo novos sinais (aprendizados, intuições,
a decisão de emigrar fosse puramente individual e racionalizações etc.) em seu habitus (que é dinâmi-
pontual, localizada num espaço e tempo manipulá- co e se renova sempre), e que afinal se instala em
vel racionalmente. seu próprio corpo (Bourdieu, 2003).
Mais do que isto, quando o emigrante inicia sua A este respeito, vale citar nossas observações
peregrinação por outros territórios, pouco a pouco de campo – em Governador Valadares e Poços de
se dá conta de que a ausência no lugar de origem Caldas, em Minas Gerais, com migrantes brasilei-
implica políticas extremas de negociação com os que ros retornados que relatavam o processo de traves-
ficaram e com aqueles estabelecidos no seu destino sia ilegal da fronteira México-Estados Unidos. Os
final. Como afirmou Bourdieu, o projeto migratório relatos sugerem que durante a travessia, como num
nos lança ritual de passagem, os migrantes vão literalmente
deixando as vestes do corpo ao longo do caminho,
[...] no cerne da contradição constitutiva de e em seu lugar vão listando as novas marcas (físi-
uma vida impossível e inevitável por via da cas) adquiridas e historicizadas. Chegando ao desti-
evocação das mentiras inocentes com que se no, essas marcas indeléveis são inscritas num novo
reproduzem as ilusões sobre a terra de exílio, campo social e ganham novos significados: neste
[e assim,] ele [Sayad] traça com pequenas caso, as marcas legitimam a condição do migrante
pinceladas um retrato impressionante dessas na comunidade brasileira alhures.2
“pessoas deslocadas”, privadas de um lugar Então, a dissimulação é algo que se apreende
apropriado no espaço social e de lugar marca- logo quando se torna migrante, e se dissimula para
do nas classificações sociais. Como Sócrates, o si mesmo, para os outros na origem e para os ou-
imigrante é atopos, sem lugar, deslocado, in- tros no destino, como forma de consagrar um novo
classificável. [...] Nem cidadão nem estrangei- contrato social que precisa estabelecer os limites
ro, nem totalmente do lado do Mesmo, nem da crença social nesse triplo sentido de relações. A
totalmente do lado do Outro, o “imigrante” dissimulação engendrada pelos migrantes, em face
situa-se nesse lugar “bastardo” de que Platão às impossibilidades de um retorno completo, é “o
também fala, a fronteira entre o ser e o não- efeito propriamente simbólico de desconhecimen-
ser social. Deslocado, no sentido de incon- to, que resulta da ilusão [do indivíduo] da sua au-
gruente e de importuno, ele suscita embaraço tonomia absoluta em relação às pressões externas”
(1998, pp. 11-12). (Bourdieu, 2003, p. 212). Acredita-se livre para

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escolher o destino, o trabalho, escolher as justifi- Análise demográfica e antropológica do


cativas para si mesmo sobre a ausência na origem, retorno
porque ao final acredita-se absolutamente autôno-
mo em relação aos outros – e até a si mesmo. Do ponto de vista das técnicas de mensuração,
Enfim, segundo Sayad, tendo por foco as pesquisas feitas no Brasil (Ribeiro
et al., 1998; Ribeiro e Carvalho, 1998; Carvalho,
[...] percebemos como, usando os recursos do 2004), conclui-se que as migrações de retorno exer-
aparelho tradicional, o informante [migran- cem grande impacto sobre o processo social das mi-
te] produz o próprio modelo do mecanismo grações, contribuindo definitivamente para o forta-
segundo o qual se reproduz a emigração e no lecimento e a expansão dos fluxos migratórios.
qual a experiência alienada e mistificada da Em linhas gerais, a análise do volume e da evo-
emigração preenche uma função essencial. O lução dos contra-fluxos da migração permite-nos
desconhecimento coletivo da verdade objetiva avaliar mais adequadamente o perfil de um siste-
da emigração [dissimulação] que todo o gru- ma de migração e seu comportamento geral – com
po se esforça por manter (os emigrantes que efeito, o corolário de uma tradição analítica que
selecionam as informações que trazem quan- tem sua origem nos estudos clássicos de Ravenstein
do passam algum tempo na terra; os antigos (1980; Lee, 1980).
emigrantes que “encantam” as lembranças que Assim, por exemplo, as análises de Carvalho
guardaram da França; os candidatos à emigra- (2004) sobre os imigrantes retornados internacio-
ção que projetam sobre a França suas aspira- nais no Brasil (baseando-se nos microdados cen-
ções mais irrealistas etc.) constitui a mediação sitários do IBGE), comparando a evolução das
necessária através da qual se pode exercer a ne- contra-correntes migratórias entre dois períodos
cessidade econômica (1998, p. 44). qüinqüenais (1986-1991 e 1995-2000), mostram
que os fluxos internacionais brasileiros estão em
Portanto, o retorno denuncia a natureza sistê- franco processo de consolidação e expansão – nota-
mica e intimamente conexa do fenômeno migrató- damente os fluxos de fronteira dos brasileiros imi-
rio. Ainda que o retorno desejado pelos migrantes grantes no Paraguai e os fluxos internacionais para
seja uma impossibilidade concreta, ele exerce uma os Estados Unidos e Japão.
força motriz capaz de se materializar em normas, Segundo Carvalho (2004, p. 6), o volume dos
valores e comportamentos de indivíduos e grupos. retornados aumentou sensivelmente entre os dois
A partir da realização de um evento particular (a períodos qüinqüenais, saltando de 52% entre 1986
migração) no ciclo de vida de uma pessoa ou grupo, e 1991 para 66% entre 1995 e 2000, o número
os significados, as relações e a inserção do imigrante de retornados em relação ao conjunto total de imi-
na estrutura social (tanto da sociedade de origem grantes internacionais daqueles períodos. Além dis-
como na de destino) são modificados, proporcio- so, de todas as regiões originárias dos contra-fluxos,
nando dinâmica e complexidade a todo o sistema. aqueles provenientes do Paraguai, Estados Unidos
Talvez por isso as redes sociais da migração fi- e Japão constituíram-se nos principais centros “ex-
gurem como metáforas apropriadas à descrição do pulsores de retornados” (sendo os brasileiros retor-
fenômeno migratório ao conectar ações, pessoas, nados do Paraguai o contingente mais expressivo –
objetos e categorias em um mesmo regime demo- 80,7%).3 A preponderância destes três contra-fluxos
gráfico (Tilly, 1990). Contudo, as redes sociais que principais diz respeito à evolução dos sistemas de
fundamentam os projetos migratórios, mais que me- migração internacional do Brasil com o Paraguai,
taforicamente, exercem de fato um constrangimento os Estados Unidos e o Japão. Após uma década de
estrutural (dada a distribuição topológica das rela- fluxos contínuos de emigrantes para esses países, as
ções sociais entre os indivíduos constituintes da co- correntes migratórias de retornados atua no sentido
letividade) que pode e deve ser mensurado (Soares, de reforçar as redes sociais existentes e consolidar
2002; Fazito, 2005a). decisivamente o sistema de migração.

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O estudo de Carvalho (2004) também revela muito grande sobre as estratégias dos migrantes e
o impacto dos retornados sobre a economia na- seus projetos de deslocamento (Davis, 1989; Sayad,
cional. Em especial a comparação dos ganhos de 1998).
escolaridade e renda dos retornados internacionais Quanto a tais estratégias, talvez as maiores re-
vis-à-vis a população não migrante nas unidades corrências ou padrões sejam mesmo a participação
federativas de origem. Mesmo considerando os das redes familiares nos deslocamentos, tanto para
retornados (brasileiros natos) menos favorecidos justificar o retorno, como a própria migração. Por-
(em especial os chamados “Brasiguaios”), os di- tanto, importante fator de determinação dos fluxos
ferenciais de escolaridade e renda pesam sensivel- migratórios, devem ser as modificações estruturais
mente a favor dos imigrantes retornados (chama na reprodução da organização familiar em todo o
a atenção, nos dois qüinqüênios analisados, os processo de migração/retorno (Boyd, 1989; Tilly,
retornados dos Estados Unidos e da Europa que 1990).
apresentam renda quatro vezes superior aos não- Em outro trabalho (Fazito, 2005b), constatou-
migrantes brasileiros). se que as famílias, e os retornados, desempenham
Portanto, como a análise dos microdados cen- papel estrutural semelhante (quando não integral-
sitários ajudam a revelar, o retorno é também um mente compartilhados e interdependentes) com
fenômeno que organiza e “justifica” os desloca- relação à sustentação das redes de apoio social dos
mentos – no sentido das leis de Ravenstein (1980), migrantes e também no processo de intermediação
isto é, as contracorrentes que encerram o ciclo das (travessia) entre origem e destino.4
correntes migratórias. Desse modo, as emigrações Outro ponto interessante revelado pelos tra-
internacionais, que continuam com grande ím- balhos antropológicos (Gmelch, 1980; Lockwood,
peto no sistema brasileiro (Carvalho et al., 2001; 1990; Margolis, 1994; Sayad, 1998; Fígoli e Vile-
Carvalho, 2004), são reforçadas pelos retornados. la, 2004; Brettell, 2000) é a idéia de uma espécie
Em geral, pela “sensação” de sucesso do empre- de ritual de passagem para os migrantes. Isto é, em
endimento migratório, que tais retornados bem- contextos específicos, onde as migrações se tornam
sucedidos, de certo modo, legitimam socialmente estratégias sociais integradas e multiplicadoras na
(conscientemente ou não) nas suas comunidades de comunidade local (ou mesmo nacional), desen-
origem – os dados analisados por Carvalho (2004) volve-se aquilo que se tem chamado de “cultura
são evidências inequívocas do “sucesso médio” dos migratória”. Os deslocamentos inserem-se, desse
deslocados (renda e escolaridade). modo, em uma matriz cultural que os legitima e
Contudo, outros estudos sobre a migração de lhes confere autonomia a ponto de cada projeto
retorno não mostram consenso sobre a qualifica- migratório não depender, necessariamente, de um
ção deste “sucesso” ou “fracasso” dos retornados. “sucesso econômico” convencional.
De fato, parece não haver qualquer consenso real Assim, as migrações legitimam-se socialmente
sobre as causas, os padrões e os efeitos do retorno por normas e valores próprios das comunidades, e
(Sayad, 2000; Sáenz e Davila, 1992; Muschkin, os deslocamentos passam a significar o processo de
1993; Lorenzo-Hernandéz, 1999; Lockwood, reconhecimento e pertencimento coletivo. Em ou-
1990; Cunha, 2000; Amaral e Nogueira, 1992; tras palavras, em comunidades como a de Governa-
Scott, 1986; Gmelch, 1980; Brettell, 2000). Em dor Valadares (Soares, 2002), as estratégias sociais
linhas gerais, talvez possamos dizer que o retorno de negociação e construção das identidades neces-
não ocorre pura e simplesmente por um “sucesso” sariamente passam pela organização de uma cultura
ou um “fracasso” econômico no mercado de traba- migratória que valoriza o ato de migrar como requi-
lho do destino. sito essencial ao ser valadarense. Por conseqüência,
Contrariamente às generalizações de Ravens- para o jovem de Governador Valadares, emigrar
tein (1980), há quem diga que não se pode tratar para os Estados Unidos passa a ser um fato natural,
as migrações fora de seu contexto histórico e so- o devir existencial que marca sua identidade singu-
cial, e, nisto, descobre-se que há uma diversidade lar – e nesse sentido, antropologicamente, o des-

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locamento passa a ser entendido como instituição Poços de Caldas, observamos alguns retornados
social expressa ritualmente. bem-sucedidos empresarialmente que, paradoxal-
Então o retorno é visto como uma decorrên- mente, comentavam sobre a reemigração de ou-
cia necessária do projeto migratório, isto é, conse- tros tantos conhecidos que voltaram dos Estados
qüência deste ritual de passagem, o ato original de Unidos com dinheiro e perderam tudo em maus
emigrar que o retorno finaliza e consagra. De fato, negócios no Brasil. Como disse um retornado, tal-
o retorno pode então ser compreendido como fato vez o maior problema para os brasileiros que têm
social total (no sentido original de Mauss, 2003), a experiência migratória seja a dificuldade de acei-
catalisador do poder simbólico por meio de uma tar o trabalho assalariado no Brasil. Depois que
prática de sacralização do deslocamento, então ritual- retorna, o brasileiro “não aceita mais trabalhar de
mente encenado e encerrado nas relações comuni- empregado”).
tárias (Sayad, 1998, 2000).
Pensando a migração internacional, parece in-
teressante conservar esta idéia de ritual de passagem, Configuração estrutural das redes sociais de
especialmente naquelas situações em que os migran- migração
tes não têm necessidade evidente de emigrar por
causas econômicas ou profissionais, ou em que pare- Esta última parte procura integrar as consi-
ce haver uma “cultura migratória” singular que qua- derações precedentes tendo como base uma análi-
lifica e necessita de rituais específicos como medida se estrutural das topologias de quatro sistemas de
de fortalecimento da ordem moral da comunidade migração.5 A principal questão a ser demonstrada
(caso específico de Governador Valadares). pelas comparações formais dos sistemas migratórios
Por fim, as teorias sobre o capital humano pa- diz respeito às funções estruturais desempenhadas
recem ter alcance limitado quando comparamos pelos retornados no processo social da migração ou,
alguns estudos sobre realidades empíricas diversas em outros termos, explicar objetivamente o papel
(Saénz e Davila, 1992; Muschkin, 1993; Lorenzo- (na estrutura reticular) exercido pelos retornados
Hernandéz, 1999). Em geral, constata-se que as ha- no sistema de migração.
bilidades adquiridas durante a migração, com fre- Os retornados (tanto quanto os arranjos fami-
qüência, não parecem ser operativas na maioria dos liares, Fazito, 2005b) ocupam posições estruturais
casos estudados. De fato, a importância das habili- fundamentais para a organização e a sustentação
dades adquiridas no processo migratório deveriam dos sistemas de migração, em especial, posições es-
ser ao menos relativizadas em cada configuração truturais de intermediação dos fluxos entre origem
social no retorno. e destino. Na Figura 1, podemos visualizar a topo-
Como se observa em diversas situações (Mus- logia de quatro sistemas de migração (analisados
chkin, 1993; Lorenzo-Hernandéz, 1999; Lo- em maior detalhe, em Fazito, 2005a).
ckwood, 1990; DeBiaggi, 2003; Scott, 1986; Cada sociograma representa um sistema empí-
Sayad, 1998), as habilidades adquiridas muitas rico de migração, numa perspectiva sincrônica, abs-
vezes podem vir a se tornar verdadeiros obstáculos traídos em suas topologias particulares (os vértices
à reinserção dos retornados nas comunidades de representam posições estruturais, e os arcos direcio-
origem e atuam também como potencializadores nados representam as conexões ou fluxos entre os
de conflito com os não-migrantes, até dentro da vértices). Na perspectiva da Análise de Redes Sociais
família, como no caso das relações de gênero entre (ARS), é importante diferenciar posições estruturais
casais (DeBiaggi, 2003). de atores sociais. Ou seja, as posições são relacionais
Assim, tanto dinheiro poupado como habi- e se qualificam a partir das conexões e das interde-
lidades técnicas adquiridas não parecem cumprir pendências com outras posições. Os atores ocupam
papel definitivo na re-adaptação do retornado em concretamente uma dada posição no sistema. Com
suas comunidades de origem (em trabalhos de relação aos arcos, aqui eles representam o “repas-
campo, tanto em Governador Valadares como em se” ou fluxo de pessoas, portanto as setas indicam a

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orientação dos fluxos, por exemplo, de um vértice “muitos dos donos destas agências de turismo tam-
de origem para um vértice de destino. bém já haviam sido emigrantes em algum momen-
Em todos estes casos analisados a posição de to” (2003, p. 274).
intermediação ocupada pelos retornados é funda- Algo semelhante também ocorreu noutra via
mental, pois todos eles interferem direta ou indi- do sistema de migração internacional brasileiro,
retamente no processo de travessia dos migrantes – nomeadamente o fenômeno do deslocamento em
embora nenhum destes vértices que representam a massa dos dekasseguis para o Japão. Como se obser-
posição estrutural de intermediação ocupada pelo va no sociograma da Figura 1, os retornados tam-
retornado seja formalmente “vértices-obstáculos” bém ali ocupam posição de destaque e se integram
(isto é, cutpoints do sistema, ver Fazito, 2005a). fundamentalmente às famílias na origem e princi-
A definição formal de “vértice-obstáculo” im- palmente no destino (Japão), consolidando aquilo
plica a quebra de qualquer grafo (sistema) em pelo que pode ser identificado como um bloco estrutu-
menos dois subcomponentes maximais. Isto é, se ral de intermediários. Este bloco é imprescindível
tais vértices forem excluídos da rede em questão, para a consumação das atividades de intermediação
necessariamente esta ficará desconfigurada. A uni- gerenciadas pelos agenciadores japoneses (brokers
ficação funcional de dois ou mais vértices do grafo responsáveis pelo recrutamento e encaminhamento
podem compor “blocos estruturais” que atuem, em dos dekasseguis no mercado de trabalho japonês).
associação, como “vértices-obstáculos”, dividindo o Contudo, é importante salientar que, diferente-
grafo original em subcomponentes menores, como mente do sistema migratório de valadarenses para
poderia ocorrer nos casos analisados a seguir (para os Estados Unidos, no caso dos dekasseguis as mi-
detalhes técnicos, ver Fazito, 2005a, cap. 3; Wasser- grações são regulares (legais) e o agenciamento dos
man e Faust, 1994). migrantes diz respeito à sua inserção no mercado
Em outras palavras, os retornados tendem a de trabalho japonês, e não no processo da traves-
ocupar posições estruturais intermediárias capa- sia. Portanto, os brokers, no sistema dekassegui, são
zes de oferecer alternativas estratégicas ao deslo- agentes oficiais e legalizados que ganham força es-
camento dos migrantes que podem tanto facilitar pecialmente a partir dos contatos estabelecidos com
como dificultar o sucesso da travessia, na origem as redes pessoais dos retornados.
e no destino. No primeiro caso, da migração in- Assim como ocorrido no caso anterior (a rela-
ternacional de brasileiros para os Estados Unidos, ção direta entre retornados e agências de turismo
vemos que os retornados potencializam os fluxos, em Governador Valadares), também neste caso en-
em especial de ilegais, associando-se à intermedia- contramos a situação na qual os retornados, devido
ção de agentes, falsificadores e agências de turismo. aos laços fortes de suas redes pessoais, conseguiram
Além disso, uma vantagem estrutural do retornado ao longo do tempo mobilizar contatos pessoais na
é sua rede de conexões com os membros familia- origem e no destino para além das próprias famí-
res nas comunidades de origem e destino. Isto é, lias e empreenderam uma atividade especializada de
os retornados utilizam seus laços fortes (devido à intermediação e suporte dos brasileiros residentes
intimidade das relações sociais intrafamiliares) nas no Japão. Este é o caso da consolidação recente das
redes pessoais para recrutamento, agenciamento e chamadas empresas dekasseguis, empresas de brasi-
suporte dos migrantes (Goza, 2003; Soares, 2002; leiros para brasileiros no Japão que vendem de tudo
Fazito, 2005a). para atender ao público imigrante (Urano, 2002;
Outra particularidade deste sistema de mi- Ribas, 2003; Ocada, 2003).
gração se deve ao fato de os retornados terem es- Mais interessante é a convergência da análise
pecializado empresarialmente suas atividades de estrutural global das redes sociais com a análise
intermediação e fundado as agências de turismo das informações censitárias. No caso da emigração
(em especial na cidade de Governador Valadares) internacional para os Estados Unidos, percebe-se
responsáveis pela organização dos fluxos ilegais para que o incremento do fluxo de emigrantes e retor-
os Estados Unidos (Soares, 2002). Segundo Goza, nados ocorre nos últimos dez ou quinze anos e que,

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Figura 1
Sociogramas de Quatro Sistemas de Migração (Fazito, 2005a)

1. Brasil/Estados Unidos 2. Dekasseguis

emigrantes dekasseguis
agentes

retornado agente máfia


retornados

falsificador
igreja
ag.tur. família.bras. empres.bras.

família.jap.
fam.amig.bras empres.dekas.
coiote

empres.jap.

pastor
fam.amig.eua
empreit.jap.

3. Tailândia 4. Sri Lanka

trab.urb. recrut.destino

empr.inter. retornados
patrões locais

trab.rurais trab.cingales

recrut.local empregador

retornados ag.trab.destino

ag.inter.
subrecrut.ilegal
ag.part.local

ag.gov.(bfe)

sindicatos
trab.especial.

subagentes

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a partir deste incremento, as agências de turismo grantes pioneiros terem se constituído no retorno
em Governador Valadares e a participação dos re- posterior em agenciadores e recrutadores oficiais
tornados no processo de intermediação se expandiu ou ilegais (Eleens e Speckman, 1990; Singhanetra-
enormemente e se consolidou em definitivo (Soa- Renard, 1992). Aqui se observa, por assim dizer,
res, 2002; Fazito, 2005a; Goza, 2003). a convergência entre o constrangimento estrutu-
No caso dos dekasseguis, a análise de Carvalho ral (dada a topologia do sistema em questão) e o
(2004, pp. 13-14) é contundente. Enquanto no constrangimento social legitimado pelo contexto
“qüinqüênio 1986-1991, o número de migrantes cultural (que garante maior poder simbólico aos
provenientes do Japão era muito pequeno, 1.827 que possuem capital social elevado nas relações fa-
pessoas, das quais a proporção de brasileiros natos miliares). Contudo, é importante salientar que a
era diminuta, apenas em torno de 9%”, no perío- convergência entre esses fatores não garante por si
do compreendido entre 1995 e 2000, o número de só a associação do migrante retornado com as re-
retornados dekasseguis chegou a 87% do fluxo de des de atravessadores das migrações (como no caso
imigrantes do Japão. O mesmo período do estabe- exemplar das agências de turismo em Governador
lecimento e da expansão das empresas dekasseguis no Valadares). A partir da análise das redes sociais nos
Japão que mantêm seus laços com os retornados sistemas de migração, podemos evidenciar os aspec-
no Brasil (Urano, 2002; Ribas, 2003). tos estruturais que favorecem determinados atores
Por fim, os dois últimos sociogramas represen- (como é o caso especial dos retornados e dos grupos
tam os sistemas de migração laboral entre países familiares) a ocuparem posições sociais específicas.
do Sudeste Asiático e o Oriente Médio. Ambos os Porém, a ocupação e o exercício efetivos de deter-
grafos evidenciam as posições estruturais ocupadas minados papéis estruturais, como é o caso da inter-
pelos retornados como importantes mecanismos de mediação da migração, pode em muitos casos não
intermediação em todo sistema. De fato, os retor- se concretizar em favor de outros atores – nestes
nados facilitam as travessias de emigrantes ao de- casos, muitos migrantes retornados, embora sejam
senvolverem conexões alternativas àquelas contro- “favorecidos” estruturalmente, podem não efetivar
ladas diretamente por agentes e recrutadores. suas posições.
Os retornados antecipam o recrutamento e o
agenciamento dos emigrantes trabalhadores, in-
fluenciando inclusive nas etapas migratórias pos- Considerações finais
teriores (também já no destino). Por intermédio
de suas redes pessoais, os retornados conectam os As análises sobre os retornados, tal como pro-
emigrantes aos agenciadores, ou diretamente às curamos mostrar, tanto com base em análises de
agências de trabalho internacional, e em vários ca- caráter antropológico sobre o poder simbólico e
sos, até diretamente aos empregadores no destino ritual do retorno, como a partir da análise formal
(caso notável daquele descrito e analisado por Ele- e estrutural das migrações, reforçam a idéia da cir-
ens e Speckman, 1990). Assim, prescindindo das cularidade e da expansão dos sistemas migratórios
estratégias oficiais, ou demolindo os monopólios segundo padrões relacionais específicos.
constituídos ilegalmente pelas redes mafiosas como Em linhas gerais, pode-se dizer que um sistema
é o caso dos sindicatos de trabalhadores tailandeses de migração se define pela associação e sobreposição
(Singhanetra-Renard, 1992), esses retornados inse- de diferentes “redes migratórias”: especificamente,
ridos no contexto cultural asiático desempenham “redes de fluxos” e “redes sociais”. Enquanto a rede
papéis sociais legitimados pela coletividade e po- de fluxos representa a estrutura topológica bruta
tencializados pela configuração topológica das redes e abstrata de um sistema, a rede social representa
sociais da migração. a topologia sensível e correspondente ao contexto
Além disso, como ficou evidenciado nos casos histórico-social do qual faz parte.
anteriores, nos sistemas asiáticos os autores tam- Enfim, em se tratando de um sistema de mi-
bém observaram o fenômeno recorrente de emi- gração, embora a rede de fluxos e a rede social se

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configurem a partir de pessoas (nós) e suas relações a todo o processo social da migração. Seja quanto
(laços), deve-se pensar em dimensões analíticas di- aos aspectos simbólicos e de legitimação social dos
versas mas complementares. A rede de fluxos refere- deslocamentos, seja quanto aos aspectos operativos
se ao agregado estatístico da população de indivídu- dos fluxos. Além disso, como ficou demonstrado,
os que se deslocam entre duas regiões distintas (é o os retornados têm a função primordial de “fechar”
simples somatório dos deslocados que representam o sistema de migração e conferir o sentido decisivo
os vínculos entre duas regiões tomadas como nós aos projetos de deslocamento, garantindo a circula-
da rede). A rede social refere-se não ao agregado, ridade dos movimentos populacionais e a legitimi-
mas à estrutura social composta das relações sociais dade dos eventos nos ciclos de vida de indivíduos e
cotidianas entre as diversas pessoas, migrantes e grupos sociais.
não-migrantes, de uma dada comunidade.
Além disso, pode-se dizer que a posição de in-
termediação em um sistema de migração (ocupada Notas
pelos retornados), tanto quanto toda posição de in-
termediação em quaisquer sistemas sociais (sejam 1 Sobre a importância da topologia em diversos siste-
quais forem os atores sociais ocupantes de tal po- mas reticulares, ver especialmente Barabási (2003).
sição), é uma prerrogativa formal relativa que, em 2 Numa breve incursão etnográfica, ao longo dos meses
larga medida, independe dos processos empíricos de junho e julho de 2007, tivemos a oportunidade de
(Fazito, 2005a). Em outras palavras, a combinação estudar o contexto da emigração internacional para os
ou a sobreposição do sistema empírico com suas re- Estados Unidos nas cidades de Governador Valadares
lações de ordem formal (topológica) pode ocorrer e Poços de Caldas (ambas em Minas Gerais). Fizemos
entrevistas em profundidade com migrantes retor-
ou não. Porém, se tal sobreposição ocorre, então ela
nados dos Estados Unidos, sendo que a maioria dos
indica atores posicionados mais vantajosamente do
entrevistados se constituía de migrantes irregulares,
que outros e, nesse sentido, empiricamente mais que entraram nos Estados Unidos através da fronteira
poderosos e monopolistas dos fluxos que outros mexicana. Também entrevistamos “emigrantes poten-
(Barabási, 2003). ciais” e “agentes da migração”.
Portanto, a análise estrutural mostra que, mes- 3 Entretanto, é preciso salientar a especificidade do
mo se não existissem atores concretos capazes de sistema de migração entre Brasil e Paraguai, no qual
ocuparem com sucesso a posição de intermediação se insere todo o processo de formação e expansão da
num sistema social qualquer, cedo ou tarde outros chamada comunidade de “Brasiguaios”. Este sistema
atores poderiam conquistar esse espaço, dados os de migração, com suas peculiaridades históricas, apre-
constrangimentos formais relativos da estrutura reti- senta uma dinâmica bastante particular (Marques,
cular (Soares, 2002; Fazito, 2005a). Pois todo sistema 2008).
social, por definição, é composto (segundo sua topo- 4 Este ponto será mais bem desenvolvido na próxima
logia) por vértices/nós e arcos/relações que se inscre- seção pela análise formal das topologias de quatro sis-
vem na realidade social e obedecem a uma hierar- temas empíricos de migração.
quia social (de normas e valores) associada à hie- 5 Para mais detalhes sobre os aspectos metodológicos e
rarquia estrutural que determina a possibilidade conceituais da Teoria dos Grafos e Análise de Redes
formal de ocupação de posições, intermediárias ou Sociais utilizadas como suporte destas análises, ver Fa-
zito (2005a).
não, componentes da estrutura (Knoke e Kuklinsky,
1983; Degenne e Forsé, 1999).
Desse modo, procurou-se mostrar a utilidade
da Análise de Redes Sociais para os estudos das Ciên­ Bibliografia
cias Sociais em geral, tomando-se o caso das análi-
ses demográficas e sociológicas das migrações. AMARAL, Ana Elizabeth e NOGUEIRA, Ro-
Como conclusão, parece evidente que os retor- nidalva. (1992), “A volta da asa branca e as
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Análise de Redes Sociais e Migração  99

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176  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 25 N° 72

Análise de Redes Sociais e SOCIAL NETWORK ANALYSIS L’analyse des rÉseaux


Migração: dois aspectos AND MIGRATION: TWO sociaux et de migration :
fundamentais do “retorno” FUNDAMENTAL ASPECTS deux aspects fondamentaux
OF THE “RETURN” du “retour”

Dimitri Fazito Dimitri Fazito Dimitri Fazito

Palavras-chave: Análise de Redes Sociais; Keywords: Migration; “Return;” Cir- Mots-clés: Analyse des Réseaux Sociaux;
Migração; “Retorno”; Circularidade; So- cularity; Social Network Analysis; Rela- Migration; “Retour”; Circularité; Socio-
ciologia relacional. tional sociology. logie relationnelle.

Os movimentos migratórios, entendi- Seen as the displacement process of indi- Les mouvements migratoires, considé-
dos como processos de deslocamento viduals and collectivities in the physical rés comme un processus de déplacement
no espaço físico e social, de indivíduos and social space, migration phenomena d’individus et de collectivités dans l’es-
e coletividades, encontram na condição meet in the “return” its fundamental in- pace physique et social, retrouvent dans la
do “retorno” seu princípio instrumental strumental principle. However, this op- condition du “retour” leur principe d’ac-
fundamental. Contudo, este princípio erative principle develops two decisive tion fondamental. Ce principe opératif
operativo desenvolve dois aspectos deter- aspects for the nature and viability of présente, toutefois, deux aspects décisifs
minantes para a natureza e a viabilidade the migratory projects in any historical- pour la nature et la viabilité des projets
dos projetos migratórios em qualquer social context: on the one side, the sym- migratoires dans n’importe quel contexte
contexto histórico-social: o aspecto sim- bolic aspect that ascertains the “circular- historique et social : l’aspect symbolique
bólico e o aspecto formal dos padrões ity” wanted in the human displacements; et l’aspect formel des modèles relation-
relacionais das redes sociais. Neste tra- and on the other, the formal aspect of the nels des réseaux sociaux. Ce travail pro-
balho, pretende-se analisar o fenômeno social networks relational patterns that pose l’analyse du phénomène migratoire
migratório a partir da Análise de Redes perform structurally the “circularity.” In à partir de l’Analyse de Réseaux Sociaux
Sociais aplicada a quatro sistemas empíri- this work, we intend to analyze the mi- appliquée à quatre systèmes empiriques de
cos de migração como estudos de caso. gratory phenomenon starting from the migration utilisés comme études de cas.
Social Network Analysis (SNA) applied
to four empiric systems of migration as
case studies. This way, we hope to con-
tribute to the theoretical-methodological
development of the network analysis in
the contemporary social sciences.

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