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Ministério da Educação
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba
Campus João Pessoa
Coordenação de Instrumento Musical

OFICINAS MUSICAIS D’AS CALUNGAS: COMPREENDENDO O PROCESSO DE


ENSINO APRENDIZAGEM

OLGA SORRENTINO MARTINS

JOÃO PESSOA - PB
MARÇO, 2019
2

Ministério da Educação
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba
Campus João Pessoa
Coordenação de Instrumento Musical

OFICINAS MUSICAIS D’AS CALUNGAS: COMPREENDENDO O PROCESSO DE


ENSINO APRENDIZAGEM

Monografia apresentada como requisito parcial à


conclusão do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio
em Instrumento Musical do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba, Campus
João Pessoa.

OLGA SORRENTINO MARTINS

ORIENTADOR: PROF. DR. ITALAN CARNEIRO BEZERRA

JOÃO PESSOA - PB
MARÇO, 2019
3

OLGA SORRENTINO MARTINS

OFICINAS MUSICAIS D’AS CALUNGAS: COMPREENDENDO O PROCESSO DE


ENSINO APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado, em ___/___/____, pela banca


examinadora:

__________________________________________
Prof. Dr. Italan Carneiro Bezerra
Orientador / IFPB

__________________________________________
Prof. Ms. Gilvanildo de Aquino Sena
Membro Interno / IFPB

__________________________________________
Prof. Ms. Adriano Caçula Mendes
Membro Interno / IFPB

JOÃO PESSOA - PB
MARÇO, 2019
4

À Unidade Popular pelo Socialismo


5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Naná Vianna, por ter me formado enquanto artista circense, o que
curiosamente me levou a fazer esta pesquisa.
A Fernando Lima, pela compreensão e apoio muito importantes para a realização
deste trabalho.
A Eleusis Monteiro, pela amizade e parceria durante o curso.
A Maria Denise Cruz, pela amizade e por tudo que aprendi nesses anos.
Ao meu Orientador, Italan Carneiro, que construiu esse trabalho comigo e me ajudou
a compreender esse novo mundo.
Ao Professor Gilvanildo Sena, por toda a paciência, os ensinamentos, as reflexões e a
tranquilidade.
Às Calungas por colaborarem com o desenvolvimento deste trabalho.
À Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico e à Associação
Paraibana dos Estudantes Secundaristas, por defenderem os interesses dos estudantes do
ensino técnico e lutarem por uma educação pública, gratuita e de qualidade.
6

RESUMO

Este trabalho trata de investigar as oficinas musicais organizadas pelo grupo percussivo “As
Calungas”, buscando compreender o processo de ensino aprendizagem musical desenvolvido.
Para tanto, mostrou-se necessária a reflexão sobre contextos como as manifestações da
cultura popular e os espaços de educação não formal, buscando a compreensão dos processos
de ensino aprendizagem musical realizados nestes contextos. No desenvolvimento da
pesquisa, analisamos os materiais disponibilizados pelo grupo nas redes sociais,
empreendemos observações de campo e realizamos entrevistas semi estruturadas. Percebemos
que as Oficinas se utilizam de métodos originários da cultura popular, assim como da
educação musical não formal e ainda elementos da educação formal, sendo essa junção a
principal característica do processo de transmissão musical entre Oficineiras e Oficinandas
realizado nas Oficinas d'As Calungas.

Palavras chave: Ensino e Aprendizagem Musical; Oficinas Musicais; Educação não formal;
Cultura Popular; As Calungas.
7

Sumário

Introdução ​………………………………………………………………………...… 8
1. Metodologia​ ……………………………………………………………………...…10
2. Transmissão musical em grupos da cultura popular ………………………….…
11
2.1 Concepções de Educação ……………………………………………………..… 11
2.2 Educação Musical na Cultura Popular ………………………………………….. 14
3. Conhecendo “As Calungas” ​………………………………………………………. 16
3.1 Surgimento das Oficinas ………………………………………………………... 16
3.2 Processo de ingresso nas Oficinas ……………………………………………… 17
3.3 As Oficineiras e Oficinandas ………………………………………………….... 18
3.3.1 Oficineiras …………………………………………………………………….. 18
3.3.2 Oficinandas …………………………………………………………………… 19
4. Processo de ensino aprendizagem musical nas Calungas ………………………..
21
4.1 As oficinas ………………………………...……………………………………. 21
Considerações finais​ ………………………………………………………………. 25
Referências ​……………………………………………………………………..….. 26
8

Introdução

Nas últimas décadas a área da Educação Musical vem ampliando seu interesse pela
compreensão dos processos de ensino aprendizagem musical realizados para além dos
espaços escolares. Desse modo, entendemos como importante a compreensão de contextos
como as manifestações da cultura popular e os espaços de educação não formal.
Neste trabalho abordaremos as oficinas musicais realizadas pelo grupo percussivo
denominado “As Calungas”, sendo este um contexto inserido na interseção entre as
expressões da cultura popular e os espaços de educação musical não formal. As Oficinas d’As
Calungas se diferem de outros espaços de transmissão musical associados aos grupos
tradicionais da cultura popular pois, apesar de reunirem elementos diversos originários desse
contexto, tais quais oralidade, repetição, imitação, etc., possuem aproximação com as
características dos espaços não formais e em algum nível até mesmo dos espaços formais de
educação musical. Como resultado das Oficinas, é formado anualmente o bloco carnavalesco
As Calungas. O nome do grupo remete-se às bonecas de pano típicas do nordeste brasileiro
também conhecidas como bruxinhas, fazendo referência ao fato do grupo ser composto
exclusivamente por mulheres.
Diante desse curioso cenário, surge então o interesse em compreender as
particularidades dos processos que dão base para a transmissão do repertório do Bloco, de
modo que formulamos a seguinte questão de pesquisa: “Como se dá o processo de ensino
aprendizagem musical nas Oficinas d’As Calungas?”.
Buscando resposta para o questionamento apontado, este trabalho indica como
objetivo geral “compreender o processo de ensino aprendizagem musical nas Oficinas d’As
Calungas”. Para isso, elencamos como objetivos específicos: investigar a motivação das
oficinandas para participarem das Oficinas; compreender o processo de ingresso nas Oficinas;
analisar as estratégias metodológicas das Oficineiras e a dinâmica de elaboração e
desenvolvimento das Oficinas.
Para a construção deste trabalho, optamos pela realização de entrevistas semi
estruturadas assim como observações. A pesquisa bibliográfica também acompanhou todo o
desenvolvimento da pesquisa.
Este texto encontra-se estruturado em quatro capítulos, no primeiro apresentamos a
metodologia empregada, detalhando a pesquisa de campo. No segundo capítulo, através de
9

revisão de literatura, expomos as discussões localizadas na área da Educação Musical acerca


dos contextos educacionais e da transmissão musical na cultura popular. O terceiro capítulo,
por sua vez, apresenta o Grupo e o Bloco As Calungas. Por fim, no quarto capítulo
analisamos o processo de ensino aprendizagem musical desenvolvido nas Oficinas d’As
Calungas.
10

1. Metodologia

O trabalho foi realizado a partir de observações aos ensaios das Oficinas, análise do
material disponibilizado pelo grupo nas redes sociais e realização de entrevistas semi
estruturadas.
As observações aconteceram nas Oficinas d’As Calungas realizadas na Universidade
Federal da Paraíba, entre os meses de novembro de 2018 e janeiro de 2019. Realizamos as
observações por cerca de quatro domingos, e em todos eles, observamos das 15h às 17h30, o
tempo de duração das Oficinas.
Quanto à análise dos materiais online, acessamos o blog d’As Calungas que contém a
apresentação do grupo contando sua história, a origem de seu nome e seus objetivos. Também
assistimos aos vídeos disponibilizados no YouTube para as Oficinandas, nos quais as
Oficineiras demonstram em seus instrumentos a execução dos gêneros musicais trabalhados
nas Oficinas.
As entrevistas foram gravadas em áudio e abordaram os seguintes eixos: materiais
utilizados, atividade para casa, avanço do repertório, dificuldades e estratégias de superação,
o público da Oficina, surgimento da Oficina, e interesse das Oficinandas.
Foram entrevistadas quatro oficineiras no dia 16 de dezembro de 2018 e três
oficinandas no dia 20 de janeiro de 2019. As entrevistas foram realizadas ao final das
oficinas, tendo em média a duração de 10 (dez) minutos entre as oficineiras e 4 (quatro)
minutos entre as oficinandas.
Optamos por não usar o nome verdadeiro das entrevistadas ao longo do texto,
buscando preservar suas imagens, desse modo, elas foram identificadas como: Oficineira de
Alfaia, Oficineira de Caixa, Oficineira de Agbê, Oficineira de Agogô/Ganzá, Oficinanda de
Alfaia, Oficinanda de Agbê, Oficinanda de Agogô/Ganzá. As oficinandas entrevistadas foram
escolhidas utilizando o critério de terem necessariamente que ter iniciado sua prática musical
nas Oficinas d’As Calungas.
11

2. Transmissão musical em grupos da cultura popular

As Calungas trata-se de um grupo percussivo formado por mulheres que


majoritariamente tiveram uma educação musical formal, mas que procura reproduzir os
métodos de ensino de grupos da cultura popular, como grupos de maracatu, por exemplo.
Desse modo, neste capítulo refletiremos acerca dos conceitos de educação formal, educação
não-formal e educação informal, relacionando-os com o processo de transmissão musical
realizado em grupos da cultura popular.
Para tanto, efetuamos revisão de literatura utilizando a plataforma “Google
Acadêmico”1, realizando pesquisa a partir dos termos “cultura popular”, “educação musical
na cultura popular” e “educação não-formal”. As referências dos textos encontrados também
serviram de base para a pesquisa.

2.1 Concepções de Educação


O processo de educação pode acontecer sob diversas configurações, não havendo um
consenso sobre a categorização das múltiplas formas de educação. Neste subitem, vamos
refletir sobre as possibilidades mais abordadas na literatura nas áreas de educação e educação
musical, entendendo como uma etapa necessária para a compreensão d​o processo de ensino
aprendizagem nas Oficinas d’As Calungas.
Destacando a diversidade presente nos processos de formação, as autoras Quadra e
D’Avila (2016, p. 1) afirmam que “a escola é importante, mas não é o único ambiente que
auxilia no processo de formação, e portanto, não podemos desvincular o que ocorre fora da
escola, no ambiente familiar e cultural”. Confirmando essa ideia no contexto da Música,
Arroyo (2002) aponta que:
[...] a Educação Musical vem ampliando seus objetos de investigação, não
apenas abordando práticas de educação musical escolares sob um referencial
sociocultural, mas debruçando-se sobre outros espaços não escolares de
ensino e aprendizagem musical presentes em diferentes sociedades e
culturas. (ARROYO, 2002, p. 103)

1
Disponível em: <https://scholar.google.com.br/>. Acesso em: 15/02/2019.
12

Tomando como principal referência o ambiente da escola, a autora classifica os


processos de educação a partir das categorias “escolar” e “não escolar”, sendo esta uma das
divisões mais recorrentes encontrada na literatura.
No entanto, confirmando a ausência de consenso sobre a categorização das múltiplas
formas de educação, outros autores, como Libâneo (2000), classificam a educação a partir do
critério da “intencionalidade”. Nessa perspectiva, a educação se divide em “educação
intencional” e “educação não-intencional”. Para o autor, a educação intencional pode ser
subdividida em formal e não-formal; e a educação não-intencional em informal ou educação
paralela. Dada a complexidade de definição dos termos, concordamos com Wille (2005, p. 2)
quando esta afirma que “torna-se relevante, portanto, refletir sobre os significados dos termos
‘formal’ e ‘informal’, considerados como temática de destaque nas discussões atuais de
educação musical”.
Antes de iniciarmos a discussão acerca dos termos “formal” e “informal”, destacamos
que outros autores utilizam ainda a expressão “não-formal”, como por exemplo Queiroz
(2008) ao clas​sificar os espaços de educação musical nos seguintes termos:
1. ​Espaços formais​, constituídos pelas escolas de educação básica, escolas
especializadas da área e outras instituições de ensino regulamentadas pela
legislação educacional vigente no país;
2. Espaços não-formai​s, que abrange ONGs, projetos sociais, associações
comunitárias, espaços diversos que oferecem cursos livres de música, etc.;
3. ​Espaços informais​, que abarcam manifestações da cultura popular em
geral, expressões musicais urbanas, etc. (QUEIROZ, 2008, p. 2, grifos
nossos)

Sobre as características dos espaços formais, autores como Bruno (2014, p. 3)


analisam que “a educação formal requer tempos e locais específicos, pessoal especializado,
organização, sistematização sequencial das actividades, disciplina, regulamentos e leis,
órgãos superiores; tem um carácter metódico e organiza-se por idades/níveis de
conhecimento”. Ainda sobre as particularidades desses espaços, Gadotti (2005) aponta:
A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada
principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz
educacional centralizada como o currículo, com estruturas hierárquicas e
burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos
ministérios da educação.​ (​ GADOTTI, 2005, p. 2)
13

Acerca das características dos espaços não formais, encontramos caracterizações


como a de Gadotti (2005) que os descreve a partir da sua diferenciação em relação aos
espaços formais:
A educação não-formal é mais difusa, menos hierárquica e menos
burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam
necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de
“progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder
certificados de aprendizagem. (GADOTTI, 2005, p. 2)

Por fim, tratando da educação informal, podemos defini-la, segundo Bruno (​2014, p.
14), como “um processo permanente e não organizado: os conhecimentos não são
sistematizados, são transmitidos a partir da prática e da experiência anteriores, e actua no
campo das emoções e sentimentos”. Ainda segundo a autora “a educação informal está
associada ao processo de socialização dos indivíduos, e, neste sentido, desenvolve hábitos,
atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar segundo valores e crenças do
grupo a que se pertence ou se frequenta” (BRUNO, 2014, p. 14).
Sintetizando as características inerentes às três categorias de educação acima
mencionadas, elencamos os seguintes aspectos: intencionalidade, sistematização,
regulamentação. Desse modo, a educação formal pode ser definida como aquela que possui
explicitamente a intenção de concretizar a transmissão do saber, ou seja, nesse contexto
encontramos a figura do “estudante” e do “professor”. A segunda característica da educação
formal é a estruturação de forma sistemática do processo de ensino aprendizagem, composta
por: estrutura sequencial, avaliações e certificação. A terceira característica da educação
formal, é possuir regulamentação pelos órgãos competentes, tais quais o Ministério da
Educação. A educação não formal, por sua vez, também possui a característica da
intencionalidade, podendo ou não possuir também sistematização, mas não possui uma
regulamentação oficial. Já a educação informal é o processo de ensino aprendizagem que
acontece a partir da socialização espontânea, portanto não possui intencionalidade, tampouco
sistematização e regulamentação. O quadro abaixo sintetiza as características elencadas:

Educação Intencionalidade Sistematização Regulamentação

FORMAL X X X

NÃO FORMAL X (?)

INFORMAL
14

É importante ressaltar que as categorizações mencionadas (escolar e não escolar;


intencional e não intencional; formal, não formal e informal) não são contraditórias ou
excludentes, tratam-se de formas diferentes de classificar didaticamente as várias
configurações da educação a partir de enfoques diferentes.
De acordo com as denominações discutidas, as Oficinas d’As Calungas são entendidas
como um espaço híbrido, tendo muitas características da educação não formal e informal,
tendo em vista que apesar de culminarem numa manifestação da cultura popular, que é o
Bloco, as Oficinas possuem aspectos sistemáti​cos e são entendidas pelas Oficineiras como um
projeto social, como veremos no Capítulo 4.

2.2 Educação Musical na Cultura Popular


A expressão Cultura Popular trata-se de um termo que possui diversos significados, de
modo que neste trabalho entendemos Cultura Popular como ​o conjunto de ideias, expressões
artísticas e conhecimentos enraizados na consciência de um povo, passado de geração em
geração e que se modifica através do tempo. Consideramos que todas as pessoas, de algum
modo, participam da construção da Cultura Popular referente ao contexto no qual se
encontram inseridas, podendo participar ativamente de suas manifestações.
Dentro do conjunto dessas manifestações, a música pode ser entendida como um
“fenômeno sociocultural, [que] constitui uma das mais ricas e significativas expressões do
homem, sendo produto das vivências, das crenças, dos valores e dos significados que
permeiam sua vida cotidiana” (QUEIROZ; ​FIGUEIRÊDO, 2006, p. 75), encontrando-se
presente na quase totalidade das expressões da Cultura Popular. Desse modo, tendo em vista a
fundamental presença da música nas expressões da Cultura Popular, entendemos como
necessária a compreensão dos seus processos de transmissão nesse contexto.
Expressando esse entendimento, Queiroz, (2007, p. 2) afirma que “temos, na
atualidade, consciência de que a aprendizagem de música ocorre em diferentes ‘mundos
musicais’2 e que cada universo estabelece uma dinâmica própria para transmitir aquilo que
elege como fundamental para a sua música”.

2
Por “mundos musicais”, o autor compreende os diversos contextos de prática musical, o termo foi cunhado por
Ruth Finnegan (1989).
15

Tratando da transmissão da música no universo da Cultura Popular, especialmente


daquela relacionada às manifestações folclóricas, Brandão (1984, p. 45-46) aponta que esta
segue “os padrões típicos da reprodução popular do saber, ou seja, oralmente, por imitação
direta e sem a organização de situações formais e eruditas de ensino-e-aprendizagem”.
Aprofundando a reflexão acerca das especificidades da educação musical na cultura
popular, destacamos três características a partir do pensamento de ​Tanaka-sorrentino (2012,
p. 33)​:
1. Coletividade, troca de experiências e cooperação entre os participantes;
2. Maior valorização da percepção auditiva em detrimento da leitura da notação musical,
sendo o uso da partitura na maioria dos casos inexistente;
3. Prazer e significação na prática instrumental.
Tendo como base a discussão transcorrida, podemos concluir que a transmissão
musical em grupos da cultura popular se caracteriza principalmente como educação informal,
pois se dá pelo processo de socialização.
Destacamos que as Oficinas do Bloco As Calungas não se encaixam restritamente na
classificação informal pois, apesar do desfile do Bloco se tratar de uma manifestação da
Cultura Popular, o processo de ensino a​prendizagem das Oficina é relativamente
sistematizado, portanto estando aproximado da educação não formal.
Após as discussões acima realizadas, no próximo capítulo, intitulado “Conhecendo As
Calungas”, apresentaremos o Grupo As Calungas e as Oficinas por ele organizadas,
entendendo o surgimento das Oficinas, um pouco de sua configuração, o processo de
inscrição nas oficinas e conhecendo quem compõe o Bloco As Calungas, suas Oficineiras e
Oficinandas.
16

3. Conhecendo “As Calungas”


As Calungas é um grupo formado exclusivamente por mulheres percussionistas de
João Pessoa, nascido em 2008. Seu nome se refere às bonecas de pano muito comuns na
Paraíba. Conforme informações disponibilizadas em seu blog3, “o grupo pesquisa, executa e
divulga ritmos e canções da cultura popular brasileira em especial, com foco nos
compositores da região Nordeste, mas também passeia pelos ritmos do mundo”.

3.1 Surgimento das Oficinas


O Grupo se inspirou em blocos de carnaval de outras cidades compostos apenas por
mulheres. Em 2014, o Bloco “As Calungas” desfilou pela primeira vez pelas ruas de João
Pessoa. Para que o Bloco pudesse existir, foi preciso que outras mulheres que não
compunham o grupo também tocassem durante o desfile. Diante desse cenário, foram criadas
as Oficinas com o objetivo de transmitir a prática dos instrumentos de percussão e o
repertório do grupo, para por fim, formar o cortejo que se divide em quatro naipes de
instrumentos: Alfaia, Caixa, Agbê e Agogô/Ganzá.
Todos esses são instrumentos percussivos de altura não-definida4 de execução
realizada com as mãos, sendo Alfaia, Caixa e Agogô instrumentos a serem executados com o
auxílio de baquetas. O Agbê e Ganzá, por sua vez, são percutidos diretamente com as mãos,
conforme imagens abaixo:

Figura 1. ALFAIA Figura 2. CAIXA

3
Disponível em: <http://calungas.blogspot.com/>. Acesso em: 09/02/2019.
4
Instrumentos percussivos de altura não-definida são instrumentos de percussão que produzem sons que podem
ser medidos em ​hertz porém não são associados às alturas das notas musicais.
17

Figura 3. AGOGÔ Figura 4. AGBÊ

Figura 5. GANZÁ

Além de servirem de preparação para o desfile do bloco de carnaval, as Oficinas


também têm o objetivo de fazer com que um maior número de mulheres se interessem pela
percussão, tendo em vista que segundo as Oficineiras, a nossa cultura, ainda hoje em dia,
entende a percussão como um espaço a ser ocupado prioritariamente por homens.

3.2 Processo de ingresso nas Oficinas


Para ingressar nas oficinas d’As Calungas as candidatas não são submetidas a nenhum
processo seletivo, tendo em vista que não há uma quantidade máxima de Oficinandas
participantes. Desse modo, todas as mulheres, a partir de 16 anos de idade, que preencherem,
dentro do prazo estabelecido, o formulário online disponibilizado através da plataforma
Google (método de inscrição usado em 2018) podem participar das Oficinas.
O formulário é composto basicamente de perguntas que abordam informações
pessoais do tipo nome, idade, endereço, etc. Além dessas questões, o formulário solicita a
escolha do instrumento a ser trabalhado na Oficina. No documento, as candidatas são
18

informadas que o grupo não disponibiliza os instrumentos necessários para os trabalhos da


Oficina, cabendo portanto às Oficinandas a responsabilidade de providenciar os instrumentos
necessários para a realização dos ensaios e práticas individuais.

3.3 As Oficineiras e Oficinandas


Neste subitem, discorreremos sobre as principais características das Oficineiras e
Oficinandas e sobre como ocorre o ingresso no Bloco.
É importante destacar a diferenciação que existe entre a composição do “Bloco As
calungas” e do “Grupo As Calungas”. O grupo As Calungas é composto por mulheres
percussionistas, foi formado em 2008 e desde então realiza apresentações, faz participações
em shows de outros artistas estando em atividade artístico-musical constante. Já o Bloco As
Calungas, é um bloco de carnaval, e conta com a participação de mais de cem mulheres que
se somam ao Grupo As Calungas por meio das Oficinas. O Bloco tem atividade apenas
durante aproximadamente 5 meses do ano, momento no qual se prepara para o carnaval
buscando o desfile do bloco. Portanto, qualquer mulher a partir de dezesseis anos pode
compor o Bloco As Calungas ingressando nas Oficinas, mas apenas algumas mulheres
participam do “grupo artístico”. Dentre as integrantes do Grupo, oito atuam como Oficineiras.
Dessas oito, a maioria é licenciada em música.

3.3.1 Oficineiras
As quatro Oficineiras entrevistadas ingressaram no Bloco na condição de
Oficinandas, e após o desfile do bloco, foram convidadas a ingressarem no Grupo de modo
que no Ciclo de Oficinas seguinte já atuaram como Oficineiras. As Oficinas funcionam como
ensaios do Bloco, portanto, mesmo mulheres que já tem uma prática instrumental participam
como Oficinandas, para assim ensaiarem para o Bloco.
A Oficineira de Caixa relatou que ingressou n’As Calungas quando foi convidada a
tocar em uma das apresentações do Grupo, o convite foi feito na época em que ela era
estudante de percussão no curso de licenciatura em música da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). Logo depois, ela passou a participar das Oficinas como Oficinanda, e no ano
seguinte passou a atuar como Oficineira.
A Oficineira de Agbê, assim como a Oficineira de Caixa, também cursava licenciatura
em música no momento em que ingressou no Bloco como Oficinanda. Apesar de cursar a
19

Licenciatura com habilitação no instrumento flauta transversal, a Oficineira de Agbê foi


convidada para as Oficinas por uma colega que na época era Oficinanda porque apesar de
flautista também atuava como percussionista.
A Oficineira de Alfaia é licenciada em artes, com habilitação em música, e atualmente
está terminando o curso de percussão sinfônica na ​Escola de Música Anthenor Navarro
(EMAN). Assim como as outras, ingressou no Bloco como Oficinanda e um ano depois se
tornou Oficineira.
A Oficineira de Agogô/Ganzá é a única dentre as entrevistadas que não passou pela
educação musical formal, tendo realizado seu primeiro contato com a prática instrumental no
ingresso da Oficina. Após seu primeiro desfile no Bloco, foi convidada a participar do grupo
e ser Oficineira no ano seguinte.
Desse modo, conforme fala das quatro Oficineiras, destacou-se como uma etapa
importante no trajeto das Oficineiras a passagem pela condição de Oficinanda, de modo que
mesmo as mulheres que já tinham uma formação em música passaram por esta etapa. Ao
mesmo tempo, podemos perceber pela fala da Oficineira Agogô/Ganzá, que não é preciso ter
uma educação formal em música para ser Oficineira, no caso dela, apenas as próprias
Oficinas foram suficientes para formá-la enquanto Oficineira.

3.3.2 Oficinandas
Tendo em vista o grande quantitativo de participantes, aproximadamente em número
de 100 (cem), por conta das limitações deste trabalho, não foi possível traçar um perfil
detalhado apresentando as características das mulheres que atualmente compõem o Bloco
d´As Calungas. Não obstante, pudemos constatar, a partir das falas das Oficineiras e
Oficinandas que, em sua maioria, as Oficinandas possuem perfis sociais e culturais bastante
diversificados. Desse modo, encontramos mulheres que tiveram variadas motivações para
ingressarem no Bloco, algumas extremamente interessadas na percussão assim como outras
mais interessadas no caráter político que tem um grupo de percussão composto só por
mulheres5.
Ilustrando a diversidade do Bloco entre as entrevistadas, a Oficinanda de
Agogô/Ganzá pretende no futuro aprender a tocar um instrumento melódico e estudar teoria

5
Além do Bloco promover a inserção de mulheres na percussão, também participa das manifestações de
mulheres, como por exemplo o ato de rua do dia Internacional da Mulher.
20

musical, tendo ingressado na Oficina na verdade com essa expectativa. Nesse sentido, a
Oficinanda afirma:
Eu tinha uma expectativa de que a gente fosse aprender alguma coisa
de música mesmo, assim. Mas é só uma repetição, você tem que olhar
e repetir o que tá sendo feito. Algumas das oficineiras, das instrutoras,
nem falam tipo grave e agudo, só mais alguma vez que aparece o que
que é grave e o que é agudo, então não tenho noção de música, mas é
repetição você olha e repete, tenta se encaixar. (OFICINANDA DE
AGOGÔ/GANZÁ, 20/01/2019)

Já a Oficinanda de Agbê ressalta tanto seu interesse pelo instrumento quanto pela
convivência com tantas mulheres diversas. Conforme entrevista, ela pretende continuar
tocando Agbê em outros grupos com um repertório parecido com o d’As Calungas.
A partir das informações abordadas neste capítulo e da discussão realizada no capítulo
anterior, trataremos a seguir do processo de ensino aprendizagem que se desenvolve nas
Oficinas procurando analisá-lo e compreendê-lo.
21

4. O processo de ensino aprendizagem


Neste capítulo vamos descrever e analisar o processo de ensino aprendizagem
desenvolvido nas Oficinas do Bloco As Calungas, de acordo com as entrevistas e observações
realizadas.

4.1 As oficinas
As Oficinas têm como objetivo a preparação do Bloco para o desfile de carnaval.
Possuem duração média de cinco meses e acontecem aos domingos das 15h às 17h30, no
coreto do Centro de Vivências da UFPB, ​Campus 1​ . Conforme ressaltaram as oficineiras, as
oficinas procuram reproduzir o processo de ensino dos grupos da cultura popular, discutido
no Capítulo 2, de modo que se destacam a oralidade e a aprendizagem por repetição. O
conjunto de Oficinandas é dividido nos quatro naipes (Alfaia, Caixa, Agbê e Agogô/Ganzá) e
cada naipe é orientado por duas Oficineiras. O avanço das Oficinas consiste em trabalhar um
novo gênero musical por semana e ensaiar todos os gêneros já trabalhados antes.
As oficinas são divididas em 3 momentos:

Primeiro Momento​ - Acolhida:


As Oficineiras dão avisos que são necessários (sobre as próximas atividades do Bloco
e outras orientações de preparativos individuais das Oficinandas para o desfile) e
introduzem as características do gênero musical que será demonstrado logo em
seguida e trabalhado ao longo do encontro. Esse momento dura aproximadamente
entre dez e vinte minutos.
Segundo Momento​ - Oficinas dos naipes:
Cada Oficinanda e Oficineira se dirige para seu naipe, nesse grupo menor elas fazem
alongamento conduzido pelas Oficineiras. Depois as Oficinandas passam a tocar o
gênero musical demonstrado pelas Oficineiras no primeiro momento, repetindo as
células rítmicas e os movimentos de dança que as Oficineiras do naipe executam. Em
seguida, elas ensaiam os gêneros musicais já passados anteriormente enfatizando
aqueles que o grupo apresentou mais dificuldade. A quantidade de Oficinandas pode
variar bastante, já que este número é resultado da escolha do instrumento das
Oficinandas, o naipe das caixas no momento da pesquisa era o menor, por ser
considerado um instrumento de difícil execução pelas Oficinandas.
22

Terceiro Momento - Cortejo: Os naipes se juntam novamente e se organizam no


formato de um bloco, Agbês na frente, logo depois Agogô/Ganzá, seguidos pelo naipe
das caixas e por fim o naipe das Alfaias. Nessa configuração, todas ensaiam os
gêneros musicais trabalhados até então e simulam a dinâmica das atividades do Bloco,
praticando a caminhada e as danças que serão realizadas no desfile carnavalesco.

Para transmitir as frases rítmicas para as mulheres, as Oficineiras cantam a célula


rítmica que estão tocando, seja em sílabas que simulam o timbre do instrumento como “ti e
tu” ou em palavras como “chocolate, pão e leite” onde cada sílaba representa uma subdivisão
do pulso, de modo que a palavra chocolate, por exemplo, normalmente representa quatro
semicolcheias. Então, ao mesmo tempo que as Oficineiras e Oficinandas executam as células
rítmicas, elas também as pronunciam por meio dessas sílabas.
Normalmente, o naipe ensaia com todas as componentes juntas, mas há exceções em
que o naipe é dividido em dois, cada qual com uma oficineira, em um grupo com mais
facilidade e outro com mais dificuldade. Essa caracteriza-se como uma das estratégias
metodológicas das Oficineiras para facilitar o aprendizado. Para superar as dificuldades, as
Oficineiras recorrem a diversas outras estratégias, como: realizar ensaios extras, dividir as
frases musicais em “sub frases”, promover atendimentos individualizados, diminuir o
andamento das células rítmicas ou chamar uma integrante de outro naipe para tocar o seu
instrumento junto com o naipe em questão para que as Oficinandas entendam o papel do seu
instrumento dentro do contexto musical.
Uma outra estratégia, utilizada no naipe de Agogô/Ganzá, é que a Oficinanda passe a
executar apenas a célula básica que caracteriza a marcação do pulso6 do gênero trabalhado,
caso a oficinanda não consiga superar as dificuldades depois de muitas tentativas.
Uma exigência feita às Oficinandas é a presença, de modo que as Oficinas começam
por volta de outubro e a partir do mês de dezembro, dado a proximidade com o carnaval, é
estabelecido um limite de quatro faltas, e a oficinanda que ultrapassá-lo não poderá tocar no
Bloco no desfile de carnaval.
O repertório é pensado procurando destacar os gêneros musicais da cultura popular,
principalmente nordestinos e originários da cultura negra, sendo estes atualmente:

6
Pulso diz respeito à marcação do andamento da música.
23

Caboclinho, Baque de Aruenda, Salsa, Ijexá, Ciranda, Coco, Cacuriá, Samba Reggae (1, 2 e
3), Samba Duro, Funk, Maracatu (Marcação, Malê, Martelo).
São montados arranjos para os quatro instrumentos trabalhados buscando evoluções
progressivas de um gênero musical para o outro, de modo que os arranjos iniciais são simples
(para que as mulheres com pouca experiência no instrumento não tenham muita dificuldade)
mas vão se tornando mais complexos com o passar do tempo.
Além das atividades presenciais realizadas durante as Oficinas, as Oficineiras
preparam alguns materiais “didáticos”, como a gravação de vídeos contendo os gêneros
musicais que já foram trabalhados para que as Oficinandas pratiquem as células rítmicas entre
um ensaio e outro. Nos vídeos, as células rítmicas são demonstradas tanto no andamento
desejado para o Bloco quanto em um andamento mais lento, orientando as oficinandas a
praticarem os gêneros musicais já trabalhados nas Oficinas. Os vídeos são disponibilizados na
plataforma YouTube.7
As Oficineiras dos naipes das alfaias e das caixas também disponibilizam de forma
escrita as manulações8 utilizadas durante os ensaios e enviam para as Oficinandas via
aplicativo Whatsapp.
Apesar de procurarem reproduzir o processo de ensino dos grupos tradicionais da
Cultura Popular, a maioria das oficineiras tem formação pedagógica e se utiliza de estratégias
de ensino como os materiais acima citados, que não são tradicionalmente usadas em grupos
folclóricos. Também demonstram consciência pedagógica por não aceitarem meninas com
menos de 16 anos, indicando ​que esse público​ exigiria uma outra metodologia de ensino.
As Oficineiras entendem As Oficinas ​como um projeto social que requer
planejamento das atividades, de modo que podemos entender que n’As Calungas (Grupo e
Bloco) encontramos elementos da educação musical não formal, informal e até mesmo
formal. A educação formal pela qual as Oficineiras passaram influencia de forma
determinante as Oficinas, assim como a transmissão musical realizada nos ​padrões típicos da
reprodução popular do conhecimento​, característica dos grupos tradicionais os quais as

7
​Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UC7OcipNwk-UsWd86LrdL_kw>. Acesso em:
27/02/2019.
8
O termo “manulação” refere-se a sequência de mãos utilizada para a realização de células rítmicas. A expressão
é comumente utilizada pelos instrumentistas de percussão, normalmente utilizando-se das letras D e E,
referindo-se respectivamente às mãos direita e esquerda. No contexto das Calungas além da indicação da mão a
ser utilizada, as oficineiras indicam ainda a intensidade da nota a ser executada, utilizando-se do recurso da
letras maiúsculas e minúsculas.
24

Oficineiras têm como exemplo. Dessa forma, se confirma que “​os contextos formais e,
também, os não-formais, têm se beneficiado significativamente nos últimos tempos do
constante diálogo que têm estabelecido com formas de transmissão musical de outros
universos culturais” (QUEIROZ, 2007, p. 3).
Podemos destacar que o elemento mais presente e recorrente nas falas das Oficineiras
e das Oficinandas é a prática musical. Todas destacaram a importância fundamental da prática
e da repetição para o processo de aprendizagem, conforme relato da Oficineira de Caixa:
[...] com o tempo elas vão tendo uma noção do todo. No meu caso das
caixas, com o tempo elas vão percebendo como é que a caixa funciona
quando tão todos os naipes juntos, quais são as frases que são mais
importantes da caixa e onde é que a caixa toca mais baixo pra que
outro instrumento possa sobressair. Então, a medida que elas vão
estudando em casa, elas vão tendo mais essa noção musical, porque
no começo, nas primeiras oficinas, fica tudo muito barulho assim, mas
com o tempo, elas vão tendo uma noção musical mesmo, da música,
que a gente vem construindo juntas. (OFICINEIRA DE CAIXA,
16/12/2018)

Durante o desfile do Bloco, as Oficineiras se tornam as Mestras do cortejo e


coordenam seus naipes dando comandos por meio de apitos, gestos e algumas orientações
passadas oralmente. Elas ainda tentam sanar algumas dificuldades das Oficinandas durante o
desfile fazendo um atendimento individualizado.
Assim pudemos compreender as Oficinas d'As Calungas, entendendo suas diversas
influências, seu repertório e as estratégias de transmissão musical das Oficineiras.
Percebemos a importância de todos os elementos mencionados ao longo do texto como
fundamentais para a realização das Oficinas, de modo que a combinação dessas variadas
características proporcionou as condições necessárias para um exitoso processo de ensino
aprendizagem que, dentro de seu universo, atendeu as necessidades e objetivos específicos
dos envolvidos.
25

Considerações finais

Ao longo do trabalho, pudemos perceber a grande diversidade de influências sociais e


culturais que compõem o Bloco As Calungas. Caracterizando essa pluralidade, as Oficinas
ofertadas procuram reproduzir o processo de ensino aprendizagem dos grupos tradicionais da
cultura popular, mas apresentam um formato diferente, com momentos planejados, inscrições
através da Internet e o estabelecimento de Oficineiras e Oficinandas. Outro elemento de
destaque nesse contexto diz respeito ao uso dos recursos tecnológicos, como a gravação de
vídeos, ressignificando diversas das práticas que caracterizam o aprendizado musical desse
repertório associado à cultura popular.
As Oficinas resultam no desfile do Bloco, momento no qual as Oficinandas já
adquiriram condições de executar o repertório ensaiado. Não obstante, pudemos perceber o
interesse das Oficinandas em continuar a prática instrumental para além do ciclo de Oficinas.
Outra questão de destaque foi a inserção das Oficinandas como Oficineiras no ciclo seguinte,
de modo que podemos afirmar que as Oficinas também formam Oficineiras, como foi o caso
da Oficineira de Agogô/Ganzá.
A partir do trabalho realizado, pudemos ainda compreender que os atuais espaços de
transmissão musical, inclusive aqueles associados à cultura popular, como é o caso da Oficina
d’As Calungas, encontram-se inevitavelmente permeados pela junção de elementos advindos
dos mais distintos contextos (formal, não formal e informal), o que contribui
significativamente no desenvolvimento do processo de formação musical dos sujeitos.
Por fim, esperamos que esse trabalho possa contribuir para a difusão e inserção do
repertório musical da cultura popular em outros espaços, como por exemplo aqueles
associados à cultura escolar.
26

Referências

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