Anda di halaman 1dari 17

CINEMAS DE RUA EM BELÉM-PA - PRESENÇAS E AUSÊNCIAS

RIBEIRO, SALMA N. (1); SANJAD, THAÍS A.B.C. (2)

1. Universidade Federal do Pará. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU)


Avenida Augusto Côrrea, nº1, Cidade Universitária José da Silveira Netto, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – Guamá.
salmanogueira@gmail.com

2. Universidade Federal do Pará. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (FAU-


PPGAU-ITEC-UFPA)
Avenida Augusto Côrrea, nº1, Cidade Universitária José da Silveira Netto, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – Guamá.
thais@ufpa.br

RESUMO
As primeiras exibições cinematográficas que se tem notícia na cidade de Belém do Pará, são do final
do século XIX, havendo fontes discordantes sobre o primeiro local de exibição, se no Teatro
Providência (1868) ou no Teatro da Paz (1896). A partir de então, aparelhos de projeção em
barracões improvisados, com tecnologias distintas, passaram a marcar presença constante,
sobretudo em datas festivais nos lagos e praças da cidade. Até que os teatros passassem a ser
adaptados para cine-teatros e posteriormente surgissem os primeiros cinemas. Entre 1920 e 1930,
Belém apresenta mais de vinte salas de cinemas de rua, incluindo cinemas de bairros (com
acomodações mais simples) ou mesmo o Cine Olympia, considerado o primeiro cinema de luxo da
cidade. Atualmente existem dois remanescentes ainda em funcionamento, da era dos cinemas de
rua, o centenário Cinema Olympia, bem tombado, mantido pela prefeitura e o Cine Ópera, o qual
elegeu como gênero único de exibição filmes erótico-pornográficos, fenômeno que se percebe em
várias capitais do país, como alternativa para a permanência desses espaços. Este trabalho tem
como objetivo o registro das transformações, desaparecimentos e permanências desses espaços
destinados à exibição cinematográfica, que começaram a entrar em declínio na década de 1990. A
relevância do tema esta pautada na teoria de Rielg e no valor de rememoração dos monumentos
remanescentes, bem como a salvaguarda da memória dos monumentos transformados ou
destruídos. A metodologia se deu a partir do registro fotográfico dos monumentos identificados,
pesquisa documental e entrevistas. Antes da chegada dos shoppings centers os cinemas de ruas e
teatros eram locais de entretenimento, cultura e sociabilidade, esse trabalho se propõe a registrar a
importância desses espaços para esse período.

Palavras-chave: Cinemas de rua; transformação; desaparecimento; permanência


1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
Introdução 18

Hoje, na cidade de Belém, há dois cinemas de rua que permanecem ativos, um


mantido pela prefeitura, outro que exibe filmes erótico-pornográficos, único gênero que
possibilitou a manutenção da sala de cinema em razão do lucro da bilheteria. Este fenômeno
ocorreu em todo país devido à evolução televisão, VHS, DVD e internet. Pouco se sabe
sobre os mais de trinta cinemas de Belém que, se somados às salas do interior do estado os
quais se tem registro, esse número se eleva para cerca de cinquenta cinemas, todos com
história e memórias próprias, sem mencionar as projeções itinerantes que não ocorriam nas
salas de projeção propriamente ditas.

No Brasil, alguns movimentos protestam a curta memória que se tem acerca dos
cinemas de rua, organizam manifestações com projeção nas fachadas ou nas paredes
externas de edificações, que no passado já funcionaram como cinemas de ruas,
videointervenções, misturando imagens de arquivo, trechos de filmes, além de imagens
captadas ao vivo no local. Esse movimento é denominado como Cine Fantasma, que foi
idealizado e dirigido pela premiada professora universitária, cineasta e doutora em Artes
Visuais, a carioca Paola Barreto, apoiada por uma equipe enorme que, no site do
movimento, encoraja os dispostos a reunir uma equipe “fantasma”, montar um projetor e sair
pela cidade “assombrando” os arredores dos extintos cinemas, afinal foi dessa forma que o
movimento começou.

O Cine Fantasma busca muito mais que exaltar a memória dos cinemas de rua,
mas fazer refletir sobre o quanto essa nova realidade imposta, na qual a migração das salas
de cinema para o interior dos shoppings centers, são garantia de conforto e segurança,
mudaram nossa percepção sobre a cidade e as relações de convívio antes desenvolvidas
nela, para que hoje as ruas se tornem meros espaços destinados a estacionamento e
passagem.

Esse trabalho tem como objetivo trazer à luz a memória desses espaços,
apresentar suas transformações e registrar o uso atual desses locais, que antes eram a
principal forma de entretenimento, cultura e lazer da população belenense, nos quais
também se desenvolviam redes de sociabilidade.

Sua relevância está pautada na teoria de Riegl (2006), segundo o qual o


monumento é uma criação humana, que deixa para as gerações futuras, lembranças de
fatos e/ou ações. Riegl não faz distinção entre os monumentos históricos e artísticos, sendo
assim, os cinemas de rua mencionados no estudo apresentam valor simbólico não
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
intencional, com valor atribuído posteriormente, ressaltando seu caráter de rememoração
atribuído, sobretudo segundo seu valor histórico.

A pesquisa teve inicio em 2009, com a realização da pesquisa documental na qual se


buscou as publicações do crítico de cinema Pedro Veriano sobre os cinemas de rua em
Belém e do historiador Pere Petit, sobre o catalão Ramón de Baños, ao qual são conferidas
as primeiras imagens filmadas sobre a Amazônia, além da pesquisa em blogs e redes
sociais, sobre memórias e imagens compartidas a cerca dos cinemas de rua.

Posteriormente iniciaram-se as vistas aos locais mencionados na pesquisa


documental ou mesmo de locais citados em entrevistas ou por conhecidos, como
logradouros dos antigos cinemas de rua para o registro fotográfico de seu estado atual.

Informações adicionais e contrastantes foram inseridas a partir do lançamento do


filme “Olhos D’água – Da Lanterna Mágica ao Cinematographo” de 2014, realizado por
Eduardo Souza, o qual apresenta uma extensa pesquisa sobre o tema, com entrevistas
nacionais e internais que incluem algumas referencias citadas no trabalho.

Histórico dos Cinemas de Ruas em Belém-PA

Segundo Veriano (1999) as primeiras exibições cinematográficas que se tem notícia


na cidade de Belém datam de 29 de dezembro de 1896 e 3 de janeiro de 1897 quando,
utilizando o Vitascope da indústria Edson, realizadas no Teatro da Paz, inaugurado no dia
15 de fevereiro de 1878, a projeção em quatro partes, de uma espécie de quinze curtas com
“fotografias animadas”, programação que não obteve repercussão, devido sua deficiência
técnica.

No entanto, a página da rede social do filme “Olhos D’água – Da Lanterna Mágica ao


Cinematographo” (2014), uma realização de Eduardo Souza, alega que um dos primeiros
espaços sociais de Belém onde se apresentaram inúmeras companhias de dança,
malabaristas, equilibristas, ilusionistas, mágicos e os primeiros lanternistas que vinham de
todos os continentes "fazer as américas" era o Theatro Providência (1812-1878), localizado
no largo das Mercês, porção central da cidade, próximo a qual se desenvolve o comercio
local atualmente. Em 1851 passa pelo theatro o "afamado pelotiqueiro e malabarista" norte-
americano Mr. Robert, dono da "Companhia Equestre Robert". Em 1868 o prestidigitador
espanhol Marouphas y Benevides de Las Bergas, vindo a vapor da Europa e a caminho de
Nova York, desembarca no porto de Belém junto com muitos outros saltimbancos em busca
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
de aventura, e passa alguns dias na cidade. Este senhor será responsável pelo primeiro
espetáculo de projeção de imagens e efeitos óticos na Amazônia, apresentando ao público
do Theatro Providência os cosmoramas da Guerra do Paraguay através da lanterna mágica.

Segundo Ribeiro (1966), o Teatro Providência, em 1872, ardera quase todo em


chamas. Recomposto superficial e sumariamente, o teatrinho ainda por vários anos
receberia troupes de fora e grupos locais, sendo ali como que a germinação de um futuro
teatro paraense, enquanto a lenta burocracia não entregava ao povo o novo “Theatro Nossa
Senhora da Paz”. Os espectadores, que eram os cidadãos mais abastados da Província,
nas noites de espetáculo acorriam ao pequeno prédio de madeira, levando seus criados,
uns a clarear as ruas do percurso com archotes, outros a carregar cadeiras e bilhas com
água para que seus senhores pudessem aplaudir o que iria acontecer no palco tosco, á luz
de lampiões de óleo de andiroba. Uma história que marcou a vida cotidiana de Belém até 15
de Fevereiro de 1878, quando em noite de gala foi inaugurado o “Theatro Nossa Senhora da
Paz”, decretando o nobre Providência ao esquecimento quase absoluto.

Em 1903, por meio de um aparelho Biograph também da empresa Edson, o Sr.


Elpídio Brito Pontes, que teria adquirido aparelhos e fitas, na Casa Gaumont em Paris,
realizou algumas exibições ao público como novidade, em local improvisado no Largo de
Nazaré, porção central da cidade, em ocasião da festa anual do Círio de Nazaré (SALLES,
2012).

Assim como o Largo das Mercês ou o Largo de Nazareth, São Braz era um dos
pontos de encontro da população belenense no início do século XX. Além de abrigar a
suntuosa Estação de Ferro de Bragança, e também ser o lugar de chegada dos nordestinos
que vinham trabalhar nos seringais da Amazônia, lá aconteciam as famosas festas de São
Braz com tudo que um arraial da época tinha direito, e ainda com o acréscimo de um
velódromo, pista de hipismo, e claro, os barracões que exibiam as concorridas "fitas
cinematographicas". E foram nestes precários barracões que se exibiram algumas das
primeiras películas da história do cinema, como as produções fantásticas de Georges
Méliès, as primeiras comédias dos irmãos Lumière ou os pequenos filmetes de Thomas
Edison (SOUZA, 2015).

Em 1904, em um barracão da Avenida Popular, dessa vez com fitas e aparelhos


adquiridos nos Estados Unidos, mas ainda da fábrica Thomas Edison, novas exibições
foram realizadas, iniciativa do Sr. Aníbal Cavalleiro, o qual teria apresentado as primeiras
películas fílmicas sobre a Amazônia, com cenas do Círio de Nazaré, além de Vistas da
Quermesse do Bosque Municipal de Belém (SALLES, 2012).
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
No que diz respeito ao Cinematographo dos irmãos Lumière, o cearense Nicola
Parente foi o pioneiro ao realizar exibições no arraial de Nazaré em 1905. Relatos indicam
que Parente foi o primeiro a retratar a Amazônia pelas lentes do cinematographo, uma vez
que o aparelho era versátil e funcionava como projetor e câmera filmadora. No entanto,
nunca foram encontradas provas sobre o fato. Parente fixou-se em Abaetetuba, interior do
Pará, onde montou uma loja de fotografia, constituiu família e morreu vítima de uma
explosão provocada pela manipulação de carburetos (VERIANO, 2006).

Em 1905, aparelhos e fitas, algumas coloridas, da casa Pathé Frère, de Paris, foram
exibidas primeiramente no teatro Politheama e posteriormente no teatro Chalet, iniciativas
do maestro Cincinato Ferreira de Souza. Pagavam-se as películas e as exibições se davam
com um pequeno custo de pessoal recrutado na cidade (SALLES, 2012).

Para os empresários locais, cinema era sinônimo de bom negócio, pois não havia
dispêndios com salários, passagens, hospedagens ou inúmeras outras exigências materiais.
Como os filmes eram mudos, para atrair o público, chegavam com dicas para sonoplastia,
truques já utilizados no teatro, capazes de criar ambientes sonoros com o objetivo de
sensibilizar o público. Devido aos altos custos exigidos pelos teatros, estes foram perdendo
vez ou adaptando-se para ambientes denominados de cine-teatros (VERIANO, 1999).

Em 1908, o espanhol Joaquin Llopis, industrial da borracha, realizava exibições de


películas em espaços anteriormente utilizados unicamente como teatros, como o Politeama,
na Rua 28 de Setembro e posteriormente, por volta de 1911, também no Odeon que
funcionava no quintal da casa de Llopis na Praça Justo Chermont, também conhecido pelo
nome de Cinema Ideal. No entanto, Llopis foi o primeiro empreendedor paraense a construir
espaço destinado especificamente para funcionar como cinema (VERIANO, 1999).

Com a ajuda de Ramon de Baños, cineasta catalão responsável por retratar as


primeiras imagens filmadas da Amazônia, e dos equipamentos e filmes adquiridos na
Europa, Joaquin Llopis e seu sócio, o italiano Callicchio, pretendiam construir em Belém um
cinema mais moderno, funcionando diariamente e com maior capacidade de público, uma
vez que, segundo Petit (2010 apud BAÑOS, 1991), o Odeon, não era muito “confortável nem
apto para certa classe de famílias, além disso, estava um pouco longe dos lugares chiques
onde acudia a gente que podia gastar”.

Após algumas tentativas sem sucesso, no dia 16 de março de 1912, inaugurou-se o


Salão Rio Branco, nome em homenagem ao Ministro de relações Exteriores, Barão do Rio
Branco, que havia falecido no mês anterior ao da inauguração do cinema, localizado na

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
lateral esquerda do Teatro da Paz, ao lado do Café da Paz. O cinema contava com 250
lugares e era permanentemente perfurado por uma bateria de dez perfumadores
automáticos de ar comprimido inventado por Ramon de Baños. Por um mês o Salão Rio
Branco foi considerado “o mais novo e luxuoso cinema de Belém”, uma vez que no dia 24 de
abril desse mesmo ano, era inaugurado o Cinema Olympia (PETIT, 2012).

Quando o Cine Olympia foi inaugurado, no dia 24 de Abril de 1912, já funcionavam


12 salas de cinemas em Belém, salas pequenas, em sua maioria cinemas de bairro, com
acomodações humildes, contrastando com a luxuosa sala de cinema, herança do período
áureo da borracha, inaugurada pelos empresários Antônio Martins e Carlos Augusto
Teixeira, que já eram proprietários do Grande Hotel e do Palace Theatre (VERIANO, 1999).

O Cine Olympia era um espaço destinado a uma elite que não frequentava as salas
existentes na cidade. Em estilo Art Nouveau o Olympia oferecia ao público um espaço com
400 poltronas, dez ventiladores, seis portas, 14 janelas que se abriam nas duas faces
laterais do edifício, além de uma sala de espera equipada receber a orquestra que tocava
antes das exibições iniciarem, bem como um espaço destinado a orquestra no interior da
sala abaixo da tela, pois os filmes eram mudos. A orquestra executava a trilha que
acompanhava as projeções, o teto era adornado em gesso e chumbo com desenhos em
alto-relevo e luminárias em ferro importado da França, na cabine de projeção, os projetores
utilizados eram alemães. De maneira incomum, as entradas para a sala de projeção se
localizavam abaixo da tela, posição estratégica, uma vez que a elite muito bem trajada que
frequentava o local tinha o objetivo de ver e ser vista (VERIANO, 1999).

Segundo Veriano (1999) em 1930, quando a grafia do nome do cinema foi alterada
para Olímpia (com i), chegava a Belém o cinema falado, e o Olímpia exibia o filme “Alvorada
do Amor” (The Love Parade, 1929). Ao final da referida década o cinema foi vendido para o
banqueiro Adalberto Marques, o qual fundou a Cia. Cinematographica Paraense Ltda, que
não sobreviveu por muito tempo. Em 1940, o cinema sofre uma reforma e é modernizado, o
estilo arquitetônico da edificação passa a assumir feições do Art Decó, além de receber
difusores de ar importados dos Estados Unidos e poltronas estofadas. No dia 17 de
Dezembro de 1940 o cinema é reinaugurado com a exibição do filme “Balalaika” (1939).

Em 1946 o cinema é vendido ao exibidor cearense Luís Severiano Ribeiro, que com
a inauguração do Cine Palácio, anunciado como “o máximo de luxo e conforto” e a pressão
popular, devido à degradação apresentada pelo espaço, o novamente Olympia (com y)
passa por mais uma reforma e é reinaugurado no dia 27 de Maio de 1960 com a exibição do
filme “Volta ao Mundo em 80 Dias” (Around the World in Eighth Days, 1956), apresentando o
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
estilo moderno, as poltronas e a tela de projeção foram substituídas, o ambiente passou a
contar com sistema de ar refrigerado, os banheiros também foram reformados e a cabine de
projeção recebeu novos equipamentos (VERIANO, 1999).

Nas três décadas que se seguiram a edificação foi submetida a pequenas reformas
que modificaram o estilo arquitetônico da década de 1960, descaracterizando o edifício, que
apresentava uma mescla de estilos desarmoniosos.

O grupo Severiano Ribeiro administrou o cinema até 2006, data que foi cogitado a
venda do espaço para uma igreja evangélica. A população unida a artistas e realizadores
cinematográficos locais protestou para que o espaço permanecesse como sala de exibição,
o cinema então passou a ser administrado pela prefeitura de Belém, convertendo-se em
espaço municipal cultural. Atualmente o cinema apresentar programação regular, bem como
parcerias com a embaixada da França em Belém e o Instituto Goethe, que auxiliam a
programação, com o empréstimo de filmes inéditos na capital paraense. Até a ocasião de
seu centenário, o Olympia sofreu ações, sobretudo, vinculadas à sua manutenção, sem
alterações arquitetônicas e estruturais relevantes, com exceção da instalação de splits de ar,
para climatização do ambiente, e a utilização de data show e DVD player para projeção dos
filmes, no entanto, algumas vezes ainda são exibidos filmes em película.

O largo de Nazaré, o qual pode ser considerado a cinelândia paraense, concentrava


uma considerável parcela dos cinemas de rua da cidade. Segundo Veriano (1999) foi
inaugurado em 1920 o Iracema, pelo seringalista cearense conhecido como Raimundo
Sargento, o qual havia dado baixa com a patente e com o investimento dos lucros de seus
seringais, construiu o cinema que recebeu o nome da famosa personagem de José de
Alencar, fazendo referencia a sua terra natal. O Iracema era considerado um cinema de luxo
que disputava público com o Olympia como “cabeças de produção”, ou seja, os filmes que
chegavam a Belém, estreavam primeiramente nesse dois cinemas, para depois percorrerem
as outras salas de exibição da cidade. No ano de 1946, o Iracema não resistiu as novas
exigências de mercado e a sala foi vendida para o cearense radicado no Rio de Janeiro,
Luís Severiano Ribeiro.

O Cine Poeira recebeu esse nome devido à simplicidade de sua construção, o piso
do cinema era de terra batida. Localizado ao lado do Iracema, quando adquirido pelo grupo
Cardoso & Lopes em 1920, passa a se chamar Nazaré. O cinema posteriormente adquirido
também pelo grupo Severiano Ribeiro, permanece funcionando com o nome de Nazaré, tal
qual o Iracema, que, bem como o Ópera, na década de 1980 passa a exibir filmes erótico-
pornográficos. Apenas em 1997 o grupo Severiano Ribeiro inaugura na cidade os cinemas
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
Nazaré 1 e 2. Após um longo período com o letreiro que comunicava “Fechado para
reformas”, em 2007 o espaço é oficialmente vendido para uma loja de departamentos.

Segundo Veriano (1999) o Teatro Chalet localizado na Praça Justo Chermont, bairro
de Nazaré, centro da cidade, também destinava sua programação a exibição de filmes, por
isso era conhecido como Cinema Ideal. O Teatro Chalet posteriormente passaria a chamar-
se Teatro Moderno.

Em 1937 o espaço dá lugar ao Cinema Moderno, empreendimento do grupo Cardoso


& Lopes. A sala de exibição do cinema Moderno se dividida em duas classes separadas por
uma armação em madeira, as quais apresentavam preços diferenciados, a primeira classe
disponibilizava aos expectadores que podiam pagar um valor maior, poltronas de madeira, a
segunda classe bancos corridos, após a reforma pela qual passou o cinema em 1959, a
separação em classes foi extinta (VERIANO, 1999). Hoje no local funciona um
estacionamento, que no período do Círio, dá lugar a montagem do arraial de Nazaré.

O Cine Independência, inaugurado na Av. Magalhães Barata, bairro de São Brás, na


véspera do Natal de 1931, também pelo grupo Cardoso & Lopes, bem como o Moderno,
pertencente ao mesmo grupo, apresentava a sala de exibição dividida em duas classes, a
primeira com poltronas de madeira, a segunda com bancos corridos (VERIANO, 1999).
Atualmente no local, situa-se um edifício residencial, no entanto em frente à edificação há
um memorial notificando a existência do cinema no local.

No dia 28 de março de 1961, por iniciativa do empresário João Jorge Hage,


conhecido por sua paixão pelo cinema, em associação com seu irmão Elias Hage, é
inaugurado o Cine-Teatro Ópera, também no largo de Nazaré. O qual segundo Bessa
(2003) era equipado com 1.500 lugares, mezanino e piso de taco, inaugurando em Belém
um sistema de ar insuflado, no qual exaustores retiravam o ar quente do ambiente. Os
filmes eram exibidos por meio de dois projetores a carvão da marca Elerman e Zeiss, o
carvão que alimentava a emissão de luz dos projetores era importado. Em meio a
Cinelândia belenense o Cine Ópera sempre portava acomodações mais simples e na
década de 1980 passa a dedicar sua programação exclusivamente as películas erótico-
pornográficas, período caracterizado como o de declínio das salas de cinema de rua no
Brasil, vários cinemas passaram a inserir filmes do gênero em suas programações como
forma de sobrevivência.

Em meio a crise pela qual passavam os cinemas de rua em Belém, o Cine Palácio
inaugurou uma nova fase na cidade. Inaugurado no dia 12 de dezembro de 1959, na Av.

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
Presidente Vargas, bairro da Campina, centro de Belém. Impulsionando o mercado
cinematográfico local. O projeto de Rino Levi pra o Cine Palácio previa 1300 poltronas
estofadas; sistema de ar condicionado; camarotes; tapetes; tratamento acústico com
sistema de fibra de plástico; lâmpadas nas laterais baixas das poltronas para auxiliar quem
chegasse quando as luzes centrais da sala de exibição já estivessem apagadas; projetores
Phillips do ano com sistema de som “perspecta” veiculado pela Metro Goldwyn Mayer,
distribuidora que tinha contrato com o grupo Cardoso & Lopes (Moderno e Independência).
Para conseguir exclusividade da Metro, o Palácio aceitou pagar um preço superior pelos
filmes, além do seu custo operacional elevado. O cinema, começou assim a ter dificuldades
para se manter no mercado, e em 1970, o Palácio já fazia parte do circuito de seu
concorrente direto, o circuito São Luís, do grupo Severiano Ribeiro. No entanto, o
proprietário só conseguiu manter o cinema até o ano de 1997, quando a baixa renda de
bilheteria, obrigou a empresa a vender o local para uma igreja evangélica, antes interessada
no Cinema Nazaré (VERIANO, 1999).

No dia 28 de Junho 1978, chega a Belém o circuito Cinearte, iniciativa do banqueiro


e empresário mineiro, Alexandrino Moreira, que inicialmente inaugura os cinemas 1 e 2. A
ideia inicial, era que o cinema fosse implantado na Tv. Quintino Bocaiúva, na casa onde
morreu o maestro Carlos Gomes, no entanto, o espaço era pequeno e a casa teria que ser
demolida, então o local escolhido para a construção foi um terreno, propriedade de
Alexandrino Moreira, na Tv. São Pedro, bairro da Campina, um espaço grande, porém, a rua
não era asfaltada, e além de lama, apresentava buracos (VERIANO, 2006).

O cinema 3, só foi inaugurado em agosto de 1987 e posteriormente a locadora


Cinema 4, atualmente no local encontra-se instalada uma instituição de ensino superior. A
família Moreira, também foi a pioneira em instalar cinemas nos shoppings da cidade, como
as salas Castanheira 1 e 2 (Shopping Castanheira), as quais foram substituídas por uma
rede de cinemas multiplex paulistana. Além das salas Doca 1 e 2 (Shopping Doca
Boulevard), as quais, bem como o shopping, local em que atualmente funciona o Boulevard
Shopping, deram lugar a uma rede de cinemas multiplex mexicana. Segundo Veriano (2006)
os cinemas da família Moreira já anunciavam o declínio dos cinemas de rua. O circuito
Cinearte funcionou na cidade até o ano de 2006.

Segundo Veriano (1999) os cinemas de bairro eram modestos, os ingressos


apresentavam preços diferenciados, além de não oferecer ao público, o mesmo conforto,
dos luxuosos cinemas localizados no centro da cidade, uma vez que no geral, os assentos
das salas de projeção eram bancos corridos. No entanto, o público, geralmente residente do
próprio bairro, era assíduo na única sessão realizada pelos cinemas, que aconteciam
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
geralmente às 20h, com a projeção de filmes anteriormente exibidos dos chamados
“cabeças de produção”. Sobre essas salas populares, se sabe de suas existências na
cidade, porém pouco se conhece sobre seu histórico e há poucos registros sobre suas
memórias as quais geralmente encontra-se em blogs ou em redes sociais que compartilham
imagens antigas da cidade. Tão pouco há registro da edificação que as abrigava no
momento de seu funcionamento, locais que em sua maioria sofreram adaptações para o
novo uso que exercem atualmente.

Um caso curioso diz respeito à curtíssima existência do Cine Gloria, inaugurado em


1930, marcando a existência do cinema falado no Pará. Quem esteve na première foi
surpreendido por uma desagradável coincidência, que causou enorme constrangimento
entre os presentes, uma vez que, nessa mesma noite estourou a revolução de 1930, os
homens foram conduzidos a um quartel próximo e as mulheres conduzidas as suas
residências sob escolta militar (VERIANO, 1999).

Os cinemas localizados na Av. Pedro Miranda, bairro da Pedreira, também


apresentavam históricos peculiares. O Cine Paraíso foi inaugurado em 1956, inicialmente foi
propriedade de Manuel Almeida Moreira, posteriormente foi vendido a um comerciante
ligado a casas noturnas, que agregou ao cinema cassino, bar e apresentações ao vivo que
aconteciam antes das projeções. A novidade não agradou e logo o cinema deixou de
funcionar. O espaço atualmente destina-se a uso religioso, no qual funciona uma igreja
evangélica (VERIANO, 1999).

O Cine Rex, posteriormente chamado de Cine Vitória, inaugurado em 1946, no bairro


da Pedreira também era de propriedade do já mencionado grupo Cardoso & Lopes,
atualmente no local funciona uma papelaria. O grupo Teixeira & Martins, na ocasião em que
eram proprietários do Olympia, também administravam outros cinco cinemas, o Popular
(1926) e o Poeira (que posteriormente daria lugar ao cinema Nazaré, no local que
atualmente encontra-se uma loja de departamentos), ambos localizados no bairro de
Nazaré, o Íris na rua 28 de Setembro no bairro do Reduto (inaugurado em 1924 - atualmente
oficina mecânica) o Cine São João (que em 1957 daria lugar ao Cine Art) na Av. Senador
Lemos bairro do Umarizal (onde atualmente encontra-se uma igreja evangélica) e o Guarani
(1931) no bairro da Cidade Velha (atual Ministério Público), que disputava público com o
Cinema Universal (1943), o qual apresentava semelhanças arquitetônicas com o Cine
Olympia, pois as entradas de acesso para a sala de exibição localizavam-se abaixo da tela
de projeção (onde atualmente também encontram-se instalações do Ministério Público).

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
O Cine-Teatro Paramazon, na Tv. Piedade, bairro do Reduto, centro de Belém, foi
uma iniciativa do pernambucano Domingos Pereira, espaço no qual atualmente funciona
uma boate. Os Cinemas 11 Bandeirinhas, na rua José Bonifácio, bairro do Guamá, onde
atualmente encontra-se um posto de combustível e o Cine Brasilândia na Av. Senador
Lemos, bairro da Sacramenta, espaço demolido e reloteado pela prefeitura, foram iniciativas
de Salim Herme, inaugurados em 1957. O cine Moderno, já mencionado, também foi
demolido e atualmente o local oferece o serviço de estacionamento, faz parte do complexo
da Basílica, administrado pela igreja. No período da festividade do Círio de Nossa Senhora
de Nazaré, o parte da área do estacionamento dá lugar ao arraial de Nazaré, com
montagem do parque de diversões.

Dos cinemas mencionados, o mapa da cidade de Belém (Figura 01), apresenta os


espaços que se tem registro fotográfico:

Figura 01: Cine Universal (1943), Cine Guarani (1931), Cinemas 1, 2 e 3 (Cinemas 1 e 2 inaugurados em
1978 e cinema 3 inaugurado em 1987), Salão Rio Branco (1912), (Cine Olympia (1912), Cine Palácio
(1959), Cine Paramazon (1957) , Cine Íris (1924), Cine Moderno (1937), Cine Ópera (1961), Cine Nazaré 1
e 2 (Nazaré 1, inaugurado em 1920, antigo Cine Poeira; Nazaré 2, inaugurado em 1997, antigo Cine
Iracema (1920), Cine 11 Bandeirinhas (1957), Cine Independência (1931), Cine Art (1957, antigo Cine São
João), Cine Vitória (1946, antigo Cine Rex), Cine Paraíso (1956), Cine Brasilândia (1957).

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
Transformações

Entre as edificações que foram adaptadas para receber um novo uso, destacam-se
as de uso religioso, sobretudo as igrejas evangélicas (Figura 02 A, B e C), os usos
institucionais, como instituições de ensino (Figura 02 D) e instituições públicas (Figura 02 E
e F), usos de serviço, como posto de gasolina (Figura 02 G), banco (Figura 02 H), boate
(Figura 02 I), oficina mecânica (Figura 02 J), além de comércio, como papelaria (Figura 02
K) e loja de departamentos (Figura 02 L).

A E I

B F J

C G K

H L
D

Figura 02: (A)Antigo Cine Palácio, (B) Antigo Cine Art, (C) Antigo Cine Paraíso, (D) Antigo Cinemas 1, 2 e 3,
(E) Antigo Cine Universal, (F) Antigo Cine Guarani, (G) Antigo 11 Bandeirinhas, (H) Antigo Salão Rio Branco,
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=294613, (I) Antigo Cine Paramazon, (J) Antigo Cine
Íris, (K)Presenças
Antigo Cine Vitória, (L) Antigo Cine Nazaré 1 e 2.
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
Quantos aos espaços que permaneces, destaca-se o cinema centenário Cinema
Olympia (Figura 03 A), mantido pela prefeitura de Belém e o Cine Ópera (Figura 03 B), que
desde a década de 1980 dedica sua programação a exibição de filmes erótico-
pornográficos, fenômeno que ocorreu em várias capitais do Brasil, como forma de
sobrevivências.

A B

Figura 03: (A) Cinema Olympia (1912), (B) Cine Ópera (1961)

Ausências

Em relação aos espaços demolidos, destacam-se os usos para serviço e


entretenimento (Figura 04 A), reloteamento (Figura 04 B) e uso residencial (Figura 04 C e
D).

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
A B

C D

Figura 04: (A) Antigo Cine Moderno, (B) Antigo Cine Brasilândia, (C) Antigo Cine Independência,
(D) Placa em memória ao cinema em frente ao edifício.

Conclusão

A pesquisa iniciada em 2009 auxiliou a elaboração do trabalho de conclusão de


curso intitulado “Cine Ópera: Proposta de Reabilitação do – O Bozão – O Bonitão”,
defendido em 2014 como pré-requisito para a obtenção do título de bacharel em Arquitetura
e Urbanismo no Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará, sendo assim o
artigo apresentado é um desdobramento desse trabalho.

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
A partir do registro de dezessete cinemas de rua identificados na cidade de Belém do
Pará, observa-se que não há por parte do poder público (Cine Olympia) ou privado (Cine
Ópera) interesse ou recursos financeiros suficientes para que se faça a devida manutenção
dos remanescentes cinemas de rua. O Cine Olympia tombado no ano da comemoração de
seu centenário (2012) é um espaço cultural pouco conhecido e frequentado, mas poderia
ser um cartão postal da cidade devido sua história e localização. O Cine Ópera por sua vez,
poderia diversificar suas atividades como meio de ampliar o lucro do proprietário para que
assim fossem realizadas bem feitorias no espaço, conceitos como obsceno e segredo,
característicos da indústria pornográfica, já funcionam nesse caso, como marketing para o
espaço, atraindo o público interessado em conhecê-lo, o qual não é o público alvo das
sessões erótico-pornográficas regulares.

Entre os espaços transformados, identificaram-se os usos de serviço e comércio


como mais frequentes, seguido do uso como os templos religiosos, devido à tipologia
semelhante entre esses dois espaços, o que não demanda um grande número de alterações
para a realização de sua adaptação, além do uso institucional.

Nos espaços ausentes, dos quais os antigos cinemas de rua foram demolidos,
registra-se um enorme espaço de propriedade da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré,
que na maior parte do ano é utilizado como estacionamento, ou ainda a reutilização desses
espaços para fins residenciais, seja com a implantação de condomínio vertical ou para
reloteamento.

Referências Bibliográficas

BESSA, Esperança. Sexo explícito garante casa cheia no cine Ópera. O Liberal. Belém, 3
Fevereiro 2003. Caderno Cartaz.

CARNEIRO, Eva Dayna Felix. Belém entre filmes e fitas: a experiência do cinema, do
cotidiano das salas às representações sociais nos anos de 1920. Belém, 2011.

PETIT, Pere. Ramon de Baños, um pioneiro do cinema catalão em Belém do Pará nos
tempos da borracha (1911-1913). O Olhar da História, n. 15. Salvador, 2010.

PETIT, Pere. Ramon de Baños: do Rio Branco ao Olympia. In: VERIANO, Pedro; ÁLVARES,
Maria Luzia Miranda (Org.). Cinema Olympia – 100 da história social de Belém. Belém:
GEPEM, 2012.

RIEGL, Aloïs. O culto moderno dos monumentos: sua essência e sua gênese. (tradução
Elaine R. Peixoto e Albertina Vicentini). Goiânia: Editora da UCG, 2006.
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017
RIBEIRO, De Campos. Gostosa Belém de outrora... Belém: Impr. Universitária do Pará,
1996.

SALLES, Vicente. No declínio da ópera chegou o cinema no Pará. In: VERIANO, Pedro;
ÁLVARES, Maria Luzia Miranda (Org.). Cinema Olympia – 100 da história social de Belém.
Belém: GEPEM, 2012.

SOUZA, Eduardo (Realizador). (2015). Olhos D’água – Da Lanterna Mágica ao


Cinematographo. Belém: Mekaron Filmes

VERIANO, Pedro. Cinema no tucupi. Belém: Secult, 1999.

VERIANO, Pedro. Fazendo fitas: memórias do cinema paraense. Belém: EDUFPA, 2006.

1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil


Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

Anda mungkin juga menyukai