Resumo: A presente pesquisa teve por finalidade analisar o desempenho do tijolo de solo-cimento com adição
de resíduo de tijolos cerâmicos em Sinop - MT quanto a resistência à compressão simples, visando a obtenção
de traços de solo-cimento-resíduo que apresentem potencial como material alternativo na construção civil. Foram
caracterizados o solo, o resíduo e a combinação entre eles. Foram confeccionados tijolos combinando
porcentagens diferentes de solo, cimento e resíduo, sendo testados mecanicamente e quanto à absorção, aos 7
dias. Os resultados obtidos mostraram que o uso deste resíduo nos tijolos apresentou redução da resistência,
não havendo traços com resíduo que atingiram o mínimo necessário para atender as normas brasileiras de solo-
cimento.
Palavras-chave: material alternativo, resíduo de construção, solo-cimento, tijolos.
Abstract: The present research had the purpose of analyzing the performance of the soil-cement brick with
addition of ceramic brick residue in Sinop - MT as the resistance to simple compression, aiming at obtaining
traces of soil-cement-residue that have potential as an alternative material in construction. The soil, the residue
and the combination between them were characterized. Bricks were made combining different percentages of
soil, cement and residue, being mechanically tested and absorption at 7 days. The results showed that the use of
this residue in the bricks presented reduction of the resistance, and there were no traces with residue that
reached the minimum necessary to meet the Brazilian standards of soil-cement.
O estudo feito por Cândido (2013) classificou os Ferraz (2004) afirma que, de maneira geral, para
resíduos de construção e demolição da cidade de otimizar a qualidade de um solo-cimento o solo deve
Sinop – MT, em que aproximadamente 89% do total apresentar as seguintes características:
de resíduos produzidos diariamente são passíveis de
Grãos passando na peneira ABNT 4,8 mm
reciclagem (Calsse A). Ele ainda quantificou estes
(nº 04): 100%;
resíduos, verificando uma geração diária de 110
toneladas. Grãos passando na peneira ABNT 0,42 mm
2.4.2 Resíduo de tijolos cerâmicos (nº 40): 15% a 100%;
Grãos passando na peneira ABNT 0,075 mm
O tijolo cerâmico é o produto mais utilizado nas (nº 200): 10% a 50%;
construções em alvenaria, que consiste em uma Limite de Liquidez < 45%;
técnica construtiva bastante difundida no Brasil. A Limite de Plasticidade < 18%.
alvenaria é confeccionada de maneira
excessivamente artesanal, produzindo uma A dosagem de solo-cimento segundo a ABCP (1986)
quantidade expressiva de resíduos. é uma sequência de ensaios feitos com determinada
quantidade de solo, cimento e água, seguida pela
De acordo com Cândido (2013) que quantificou os interpretação dos resultados por meio de critérios
resíduos provenientes de materiais cerâmicos em técnicos, sendo o resultado final a fixação de três
Sinop – MT, este tipo de resíduo foi responsável por variáveis: quantidade de cimento, quantidade de água
25% do total de resíduos produzidos nas obras locais. e massa específica aparente seca a ser alcançada
2.5 Métodos construtivos pós-compactação.
Conforme Grande (2003), a busca de novas soluções Segundo Souza (2006), o solo é o material que
construtivas, a reciclagem de resíduos, o aparece em maior volume na obtenção do solo-
desenvolvimento sustentável e a eliminação do cimento, a quantidade de cimento pode variar de 5% a
desperdício nas obras por meio da racionalização são 10% da massa do solo, sendo o suficiente para
um desafio aos profissionais da área e da sociedade. estabilizá-lo e conferir-lhe as propriedades de
Nesse contexto, novos materiais e sistemas resistência desejadas.
construtivos mais eficientes são os principais objetivos 2.5.3 Tijolo de solo-cimento
na tentativa de estabelecer uma relação saudável
entre baixo custo e qualidade, sem desprezar a De acordo com Souza (2006) os tijolos de solo-
cultura, o consumo e os limites da mão-de-obra. cimento constituem uma das alternativas para a
construção da alvenaria em habitações e outros tipos
2.5.1 Solo de edificações, utilizando como matéria-prima o solo,
Grande (2003) assegura que solo é um material cimento e água, sendo produzido por prensagem
apropriado para as mais diversas aplicações em manual ou hidráulica, e sua viabilidade depende
construções devido à sua abundância, facilidade de basicamente da existência de solos adequados para
obtenção e baixo custo, permitindo um amplo sua fabricação.
emprego em soluções construtivas. Conforme Souza (2006) as quantidades de solo,
Segundo Ferraz (2004), o solo tem sido usado como cimento e água a serem misturadas podem ser
material de construção há pelo menos dez mil anos, mensuradas em massa, e a relação entre essas
havendo registros em algumas civilizações antigas, quantidades deve propiciar tijolos com qualidade
tendo essas obras resistido ao tempo, conservando satisfatória após os primeiros sete dias de cura.
sua estética e sua qualidade estrutural. A ABCP (2000) apresenta as principais vantagens do
Souza (2006) afirma que o solo misturado com rochas tijolo de solo-cimento, sendo elas:
e madeiras foi o material que serviu de base para a
Pode, em geral, ser produzido com solo do
construção, devido a facilidade de obtenção e a
local de aplicação e no próprio canteiro de
grande abundância dessas matérias-primas na
obras, reduzindo ou eliminando os custos
natureza. No Brasil, a utilização de solo como material
com transporte.
de construção se iniciou com os exploradores
portugueses, por isso, grande parte das cidades Utiliza equipamentos simples e de baixo
custo.
Por dispensar a queima, não consome NBR 6459 – Determinação do limite de
combustível em sua fabricação. liquidez;
NBR 6508 – Determinação da massa
A regularidade de suas formas requer o específica dos grãos;
mínino na espessura de argamassa para seu
NBR 7180 – Determinação do limite de
assentamento.
plasticidade;
Pode dispensar o uso de revestimento, NBR 7181 – Análise granulométrica de solos;
sendo recomendado para paredes de tijolo à NBR 7182 – Ensaio de compactação.
vista.
As Figuras 1 e 2 mostram alguns ensaios realizados.
Não necessita de mão-de-obra
especializada.
Sua resistência a compressão simples é
semelhante à do tijolo cerâmico.
Souza (2006) afirma que os tijolos de solo-cimento
apresentam vantagens adicionais como conforto
térmico e acústico mais elevado que construções
feitas com tijolos convencionais, além de propiciar
uma obra mais limpa, com menos desperdício e
redução na geração de entulho.
3 Metodologia
3.1 Materiais
3.1.1 Solo
Foi utilizado solo da região de Sinop-MT, devidamente
caracterizado e verificado o enquadramento de suas
características dentro dos limites necessários à
utilização para o uso como solo cimento, comumente
vendido nas empresas fornecedoras de solos para
aterro, entre outros fins. Figura 1 – Etapa do ensaio de compactação. Fonte: Os
autores, 2017.
3.1.2 Cimento
Utilizou-se o cimento CP II, de uso rotineiro nas
construções locais e de fácil obtenção no comércio de
Sinop-MT, com propriedades satisfatórias para o
objetivo proposto.
3.1.3 Água
A água foi proveniente da rede de abastecimento do
município de Sinop-MT.
3.1.4 Resíduos
Os resíduos utilizados foram de tijolos cerâmicos
obtidos em olarias de Sinop – MT, que foram
triturados até atingir a granulometria necessária para
a confecção dos tijolos de solo-cimento.
3.2 Métodos
3.2.1 Traços
Na primeira etapa da pesquisa foram confeccionados
três traços para os tijolos, nos quais, combinou-se
com 12% de cimento, apenas solo e solo somado à
Figura 2 – Ensaio para determinação do limite de liquidez.
40% e 60% de resíduo. Na segunda etapa, a fim de
Fonte: Os autores, 2017.
obter-se resultados mais positivos, confeccionou-se
ainda, quatro traços, combinados com 15% e 18% de 3.2.3 Retração linear
cimento, apenas solo e solo somado à 20% de
resíduo. Foi realizado um ensaio de retração linear, baseado
no método sugerido pelo CEPED (1984), onde o solo
3.2.2 Ensaio de Caracterização de materiais foi umedecido até se obter uma consistência plástica,
sendo colocado dentro de uma caixa de 60 cm de
Para a caracterização do solo, do resíduo e das
comprimento, 8,5 cm de largura e 3,5 cm de
combinações entre eles, foram utilizadas as seguintes
espessura como mostram as Figuras 3 e 4. Após 7
normas:
dias à sombra, fez-se a medição das fendas
NBR 6457 – Preparação de amostras de solo existentes ao longo da caixa (Figura 5). A soma não
e ensaio de caracterização; deve passar de 20 mm e não deve apresentar fendas
transversais ao longo da amostra.
Figura 3 – Caixa para ensaio de retração linear. Fonte: Os
autores, 2017.
Figura 11 – Corpos-de-prova imersos em água antes do De acordo com os dados da Tabela 1 percebe-se que
ensaio de resistência. Fonte: Os autores, 2017. a adição do resíduo aumentou os limites de liquidez
dos traços com resíduo em comparação com o solo
natural. Apesar de ambos apresentarem limites dentro
da classificação para solo-cimento, esse aumento é
indesejável, visto que aumenta o fator água/cimento e
pode prejudicar a qualidade do produto final.
90
80 bastante pertinente para uso em solo-cimento,
70 aproximando-se de uma granulometria considerada
60 ideal.
50
40 Silte + Argila = 12 % 4.2 Ensaio de compactação
30
Areia = 88 % Na Tabela 3 são apresentados os valores das
20
10 Pedregulho = 0 % umidades ótimas e massas específicas secas
máximas das misturas estudadas. Nas Figuras 18, 19
0
0,01 0,1 1 10 100 e 20 observa-se as curvas de compactação atingidas.
Diâmetro da partícula (mm)
Figura 15 – Curva granulométrica do resíduo. Fonte: Os Tabela 3 – Umidade ótima e massa específica seca máxima
autores, 2017. Massa
específica
Traço Umidade
100 seca máxima
ótima (%) (kN/m³)
90
Porcentagem que passa (%)
Solo + 12% cimento + 40% resíduo Observa-se na Tabela 4 que os valores de retração
diminuíram com a adição resíduo. As misturas de solo
Solo + 12% cimento + 60% resíduo natural e solo + 20% de resíduo apresentaram
fissuras transverssais ao longo da caixa, como mostra
Figura 18 – Curvas de compactação dos traços com 12% de a Figura 5, não sendo recomendado o uso desse
cimento. Fonte: Os autores, 2017. material na confecção de tijolos de solo-cimento. As
misturas de solo + 40% de resíduo e solo + 60% de
resíduo apresentaram retrações nas margens da
19,5 caixa, não apresentando fissuras.
Peso específico Seco (KN/m3)
19
18,5
4.3 Resistência a compressão e absorção dos tijolos
18
Apresenta-se na Tabela 5 os resultados obtidos para
17,5
cada traço estudado em relação ao ensaio de
17 compressão e absorção dos tijolos.
16,5 Tabela 5 – Resistência a compressão e absorção dos tijolos
16 Resistência a
Absorção
9 11 13 15 17 19 21 23 Traço compressão
(%)
média (MPa)
Teor de umidade (%)
Solo+12% cimento 1,62 17,61
Solo + 15% cimento
Solo+12% cimento+40% resíduo 1,36 22,07
Solo + 15% cimento + 20% resíduo
Solo+12% cimento+60% resíduo 1,25 23,82
Figura 19 – Curvas de compactação dos traços com 15% de Solo+15% cimento 1,79 17,94
cimento. Fonte: Os autores, 2017.
Solo+15% cimento+20% resíduo 1,43 19,30
Solo+18% cimento 2,08 19,06
20
Solo+18% cimento+20% resíduo 1,68 20,11
Peso específico Seco
19,5
19 Fonte: Os autores, 2017.
18,5
18
(KN/m3)