Ficha Catalográfica
CDD: 323.81044
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Ana Cláudia Ribeiro CRB 6/2868.
Autores: Marco Túlio Antunes Gomes, Marina Mesquita Camisasca
Organizadora: Thelma Yanagisawa Shimomura
Setembro de 2018,
Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos
Sumário
Página
1. A Comissão da Verdade em Minas Gerais 09
2. Um balanço do Relatório Final da Covemg 11
3. O contexto histórico das violações aos direitos humanos em 16
Minas Gerais: alguns casos exemplares
3.1 O governo João Goulart 16
3.2 O golpe de 1964 19
3.3 A ditadura militar (1964-1985) 20
3.3.1 Os anos iniciais 21
3.3.2 Os anos de chumbo 25
3.3.3 Os anos de distensão 31
3.3.4 A transição ao regime democrático (1985-1988) 34
Referências bibliográficas 36
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foi resultado da intensa repressão contra a luta dos camponeses pela reforma agrá-
ria. Interessante notar que, tão logo diminuiu a intervenção do Estado nas entida-
des representativas dos trabalhadores, reorganizou-se o movimento. Concomitan-
temente, os latifundiários também se organizaram por meio da União Democrática
Ruralista (UDR). O aumento dos confrontos e violências provocou o crescimento
das mortes no campo.
Cabe destacar que a denominação “Ano desconhecido” diz respeito às
ocorrências de mortes e desaparecimentos em data incerta, mas comprovadas por
meio de pesquisas realizadas nos acervos documentais e nas entrevistas com teste-
munhas. Vale observar também que os números levantados pela Covemg são par-
ciais, já que, devido a dificuldades de tempo e de recursos, nem todas as regiões de
Minas Gerais foram pesquisadas em sua integralidade. Contudo, os dados apura-
dos são de extrema importância para que se conheçam melhor as graves violações
aos direitos humanos.
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No início dos anos 1960 o Brasil era governado por João Goulart (1961-
1964), que assumiu a presidência sob a oposição ferrenha das direitas e o controle
pelo Congresso. Inicialmente premido pelo sistema de governo parlamentarista,
o presidente buscou compor alianças com grupos conservadores para garantir a
governabilidade, em especial o PSD, maior partido no Congresso. Por outro lado,
Goulart tinha compromissos com movimentos populares e partidos à esquerda,
cujas ações foram fundamentais para sustentar sua posse em face de ameaças gol-
pistas.
Tal situação contribuiu para que o presidente, especialmente durante o pe-
ríodo parlamentarista, se movimentasse de maneira oscilante, ora acenando para
os conservadores, ora assumindo posturas mais progressistas. Concomitantemen-
te, crescia o movimento reformista que defendia mudanças na estrutura socioeco-
nômica. Os defensores das reformas de base viam João Goulart como o herdeiro
do legado getulista e o político capaz de assumir a direção do processo geral por
transformações sociais.
Uma das diferenças entre o governo Jango e os seus precedentes foi o en-
volvimento do Poder Executivo com a questão fundiária, o presidente defendeu a
realização de uma reforma agrária no país. Tal postura se explicitou em novembro
de 1961, quando o presidente compareceu ao I Congresso Nacional de Lavradores
e Trabalhadores Agrícolas, organizado pela União dos Lavradores e Trabalhado-
res Agrícolas do Brasil (Ultab), em Belo Horizonte. Ademais, o governo federal
investiu para aprovar um projeto de reforma agrária pelo Congresso. Contudo,
havia divergências em relação à maneira como se indenizariam os proprietários
das terras desapropriadas.
Sem conseguir implantar a reforma agrária e nem conter o crescimento
inflacionário, Jango passou a sofrer pressões cada vez maiores à direita e à esquer-
da. Para os setores populares, o governo deveria implantar profundas reformas no
País: a agrária, para extinguir os latifúndios e democratizar a terra; a urbana, para
deter a especulação imobiliária e o crescimento urbano desordenado; a eleitoral,
para estender o direito de voto a soldados e analfabetos, além de legalizar o Par-
tido Comunista Brasileiro; a bancária, para criar o Conselho Monetário Nacional
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Incêndio de veículo
utilizado pela Oito pessoas morreram no massacre. Seis faleceram no próprio local do
PMMG durante conflito: Aides Dias de Carvalho, Alvino Ferreira Felipe, Antônio dos Reis, Geraldo
o “Massacre de
Itpatinga”. Foto Gualberto, Gilson Miranda e Sebastião Tomé. Dois chegaram aos hospitais, mas
do relatório final não resistiram aos ferimentos: a menina Eliane Martins, de três meses, e o fotógra-
da Comissão da
Verdade fo José Isabel do Nascimento. Houve ainda três desaparecimentos e 102 feridos.
Embora o “Massacre de Ipatinga” não tenha sido fruto da conspiração golpista em
marcha nacionalmente, o evento acabou adquirindo foros simbólicos como prelú-
19
Em 1968, a aliança foi posta na ilegalidade pelo presidente Costa e Silva (LAMA-
RÃO; 2018). Em agosto de 1976, Juscelino Kubitschek, que fora preso antes de
exilar-se e retornara ao Brasil, morreu em misterioso acidente de carro. Tal caso
foi investigado pela Covemg, que julgou plausível a existência de um assassinato
político. (COVEMG, 2017, vol. 1, p. 155).
Carro de JK após
o possível aten-
tado que causou
sua morte. Foto
do relatório final
da Comissão da
Verdade
de 1967, Castelo outorgou a Carta ditatorial, incluindo em seu texto apenas umas
poucas contribuições deliberadas pelos deputados, que compunham o Congresso
Nacional.
Mapa contendo
distribuição dos
centros de re-
pressão e tortura
em Belo Horizonte.
Foto do relatório
final da Comissão
da Verdade
29
Desfile da Grin.
Foto do relatório
A violência, durante o regime militar, atingiu a grupos diversos , no campo final da Comissão
da Verdade
e nas cidades. Em Minas Gerais, no meio rural, exemplos foram os despejos de
posseiros ocorridos em 1964 e 1967, no povoado de Cachoeirinha, hoje município
de Verdelândia. Localizado a 200 quilômetros de Montes Claros, ou seja, no sertão
do norte mineiro, o povoado de Cachoeirinha ficou submetido por mais de 15 anos
a um regime em que a única lei era ditada pelo coronel da PMMG em Montes Cla-
ros, Georgino Jorge de Souza. Muitos trabalhadores rurais viveram sob observação
constante, inclusive com paredes de casas perfuradas e devassadas cotidianamente,
despejos de moradores feitos do dia para a noite e práticas de torturas em praça
pública, com pessoas amarradas em moirões. (COVEMG, 2017, vol. 2, p. 29-30).
As truculências ocorridas nos anos de chumbo deixaram marcas profun-
das, generalizadas e duradouras na sociedade, chegando mesmo a reprimir pessoas
que nem mesmo atuavam diretamente contra o regime militar.
método já ficara claro com a morte súbita de Costa e Silva, quando seu vice, o civil
Pedro Aleixo, fora impedido de tomar posse, sendo preterido em benefício da junta
militar, deixando assim explícito o caráter do regime.
No primeiro ano de mandato, Geisel anunciou que daria início a uma
transição “lenta, gradual e segura”, mas o plano revelou sua falácia quando na
eleição de 1974 a Arena foi derrotada pelo MDB em 16 dos 21 estados da União.
Para frear o crescimento dos adversários nas eleições municipais, o governante fez
aprovar uma lei que proibia propagandas eleitorais que não fossem a mera imagem
do candidato e seu número de votação, enquanto um narrador lia o seu currículo.
A Lei Falcão, assim conhecida em referência ao seu criador, o ministro da Justiça
Armando Falcão, promoveu resultados positivos para Geisel, sendo eleitos 3.176
prefeitos e vereadores arenistas na eleição de 1976, enquanto o MDB elegeu 614
(REIS FILHO, 2014, p. 109).
Apesar do êxito da ditadura nas urnas, havia ainda no Congresso os
oposicionistas eleitos em 1974, que tentariam vetar qualquer tentativa de impor
contrarreformas constitucionais. Lançando mão do AI-5, Geisel fechou as casas
legislativas por duas semanas e outorgou o chamado Pacote de Abril. Entre as
medidas anunciadas, distorceu a representação proporcional na Câmara Federal,
fortalecendo a representação dos estados menos populosos, onde a Arena gozava
de maior expressividade, instaurou eleições indiretas para governador e estendeu o
seu próprio mandato de cinco para seis anos. O pacote instituiu ainda que um terço
dos senadores seria indicado indiretamente, por meio de colégios eleitorais forma-
dos por deputados estaduais e delegados das câmaras municipais. Tais políticos
se tornaram conhecidos como senadores “biônicos”, em referência a um seriado
norte-americano de sucesso da época. Por fim, o Pacote de Abril criou sublegendas
na eleição direta para senadores, de maneira que os partidos poderiam lançar até
três candidatos.
Diante da retomada do crescimento da inflação, a euforia vivenciada no
período anterior se esvaiu. Apesar do crescimento da oposição, Geisel encerrou
o mandato elegendo seu sucessor, o general João Batista Figueiredo. Antes disso,
conseguiu liquidar com vários segmentos opositores ao regime, exemplos são as
execuções de Pedro Pomar, Ângelo Arroio e João Batista Drummond, assim como
os assassinatos do operário Manoel Fiel e do jornalista Herzog.
Mesmo “saneado” o cenário político evoluiu para a crise final do regime
militar. Como descrito em módulo anterior, foi no governo Figueiredo que se deu a
aprovação da Lei da Anistia (1979), com a qual os agentes da ditadura militar ten-
taram precaver-se contra responsabilizações relativamente às arbitrariedades que
praticaram desde 1964.
Como vitória do movimento democrático, no ocaso de 1979 foi extinto o
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Referências bibliográficas
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