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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A examinadora elabora provas que exigem mais do que o conhecimento puro do ECA.

Não utilizar o termo menor, que além de preconceituoso é atécnico. Utilizar criança,
adolescente e jovem.

Livro: Luciano Rossato e Paulo Lépore.

Ler os artigos de Flávio Américo Frasseto.

Site: ABMPD

1. Doutrina da proteção integral

Não se pode conhecer o direito da criança e do adolescente sem conhecer a doutrina da


proteção integral. Trata-se de uma doutrina norteadora.

É fundada na Carta de Direitos da Criança da ONU, de 1959. Enuncia um modo de se tratar a


questão jurídica da infância.

Propõe que a criança e o adolescente sejam reconhecidos como pessoa em condição peculiar
de existência. A segunda proposta é que o Estado, a família e a sociedade devem fazer o
possível e o necessário para desenvolver integralmente a personalidade da criança e do jovem
por intermédio de garantias apropriadas.

De maneira geral, propõe-se que crianças e adolescentes sejam tidos como sujeitos especiais
de direito em razão de sua condição peculiar. Condição peculiar é entendida como
vulnerabilidade pessoal e social.

A doutrina garante o integral desenvolvimento da personalidade em sentido material


(conjunto de atributos pessoais físicos, psíquicos, intelectuais).

Quando se converte a proposta da proteção integral em direito, a consequência é que direitos


fundamentais das crianças e adolescentes devem ser protegidos pelo Estado, família e
sociedade.

Características fundamentais da proteção integral: i) estabelece a universalização dos direitos


fundamentais especiais indistintamente, ii) possui a nota da prevenção geral (sistema de
normas que atua dentro da perspectiva da prevenção geral) e iii) garantia da convivência
familiar.
Universalização significa que toda e qualquer criança e adolescente será sujeito de direitos
fundamentais, independente de sua condição social, econômica etc. É um contraponto da
doutrina da proteção irregular.

Atua sob o signo da prevenção geral, ou seja, o sistema jurídico tem que atuar de modo a criar
condições para a efetividade dos direitos fundamentais consagrados. A ideia de prevenção
geral redunda na ideia de políticas públicas. A proteção da criança e do adolescente deixa de
ter caráter repressivo e passa a possuir caráter protetivo, com a necessidade de políticas
públicas destinadas a esses sujeitos especiais de direitos.

A garantia da convivência familiar é imprescindível para a proteção integral. Não há proteção


integral sem família. A atuação do sistema de garantias é voltada à convivência familiar na
família natural, extensa ou ao menos na família substituta.

O direito de infância é produto de um microssistema jurídico (evita-se a ideia de sistema único,


piramidal de Kelsen). As fontes normativas são: CR, ECA, CC, CP, CLT, LOAS, LDB, Convenções
Internacionais a respeito da infância

2. Princípios

Serão tratados apenas os dois princípios mais importantes.

2.1. Princípio do reconhecimento da condição peculiar

Esse princípio é o fundamento do direito da infância, que visa garantia igualdade material às
crianças e adolescentes.

Reconhece-se na criança e no adolescente a situação de sujeitos vulneráveis e, portanto, de


carecedores de uma proteção jurídica compatível com essa circunstância, sob pena de quebra
da isonomia.

2.2. Princípio da garantia de prioridade absoluta

Art. 4º do ECA e 227 da CR.

A tutela de direitos da infância goza de prioridade absoluta frente a quaisquer outros direitos
ou interesses contrapostos.

É a fonte primordial da regra hermenêutica segunda a qual a interpretação relativa à infância


deve sempre levar em conta o superior interesse da criança e do adolescente.
Como fica a prioridade absoluta em situações problema (ex.: confronto de interesses de
crianças e idosos, aos quais também é garantida prioridade absoluta)? Nesse caso, há uma
antinomia. Há três critérios: i) hierarquia, ii) especialidade e iii) ponderação de interesses. O
status da norma que garante prioridade à criança é constitucional e a que garante ao idoso é
infraconstitucional. Resolve-se com o primeiro critério.

O ECA diz que os serviços públicos devem garantir prioridade no atendimento de crianças e
adolescentes. Há um voto do Ministro Celso de Mello, no qual estabelece a necessidade de
construção de creches pelo poder público, sem espaço para a alegação da reserva do possível.

A prioridade absoluta tem limites e algumas vezes deve ser relativizada: ponderação de
interesses.

Suponha-se que um prefeito tenha verba para a construção de dez creches. O município sofre
uma enchente e milhares de famílias carentes ficam sem teto. Ele poderá realocar essa verba
para a construção de casas? Trata-se de outro caso em que deverá haver ponderação de
interesses.

3. Sujeitos da proteção integral

Art. 2º do ECA.

Os sujeitos são a criança e o adolescente.

O critério objetivo definidor é o etário ou biológico: criança é toda pessoa com menos de 12
anos e adolescente é toda pessoa maior de 12 e menor de 18 anos.

Jovem-adulto é aquele que tem entre 18 e 21 anos, não é mais adolescente, mas ainda não
terminou o ciclo de amadurecimento. Ele pode ser tratado pelo ECA, desde que haja norma
especial de caráter autorizativo (2º, parágrafo único). Ex.: art. 121, §5º (jovem-adulto deve ser
posto compulsoriamente em liberdade aos 21 anos, ou seja, jovem-adulto pode cumprir
medida socioeducativa por ato infracional cometido antes da maioridade).

Em relação ao nascituro, o direito de infância ainda oscila. O CC, segundo o STF, é natalista. O
julgamento da ADI sobre a Lei de Biossegurança mostra que o STF ainda adota a corrente
natalista. Por esta corrente, o nascituro não será sujeito da proteção integral. Dentro da
perspectiva jurídica atual, entretanto, é difícil continuar defendendo a corrente natalista. MHD
diz que o nascituro tem personalidade jurídica material e adquire a personalidade jurídica
formal ao nascer com vida (teoria da personalidade condicionada). Pela teoria da
personalidade condicional, é possível conceder ao nascituro a proteção integral.
No campo estatutário (ECA), existe uma corrente concepcionista em razão do art. 8º, que
estabelece que a gestante tem direito ao atendimento pré e perinatal. É liderada pela
professora Tânia Pereira (filha de Caio Mário).

Pergunta-se: essa norma do art. 8º protege apenas a gestante ou também o nascituro? Se


fosse para proteger a gestante estaria na Lei do SUS e não no ECA, portanto, é possível extrair
que o legislador visa a proteger o nascituro (o art. 8º está entre os artigos que protegem o
direito à vida).

4. Sistema de garantias

Muitos dizem que o próprio ECA é o sistema de garantias da infância.

Sistema corresponde a um complexo de elementos com atividades próprias, porém


coordenadas, com objetivos comuns.

O microssistema do ECA apresenta por um lado direitos, medidas e procedimentos para a


garantia desses direitos e de outro lado instituições que também de modo coordenado
operam esse sistema.

O sistema de garantias atua na perspectiva de três diretrizes básicas: i) constituição e


implementação de direitos fundamentais (políticas públicas, normas, divulgação,
esclarecimento e educação sobre direitos fundamentais); ii) defesa de direitos fundamentais
(através de medidas de natureza administrativa, penal, civil, processual, ações constitucionais,
coletivas); iii) controle institucional e social permanente do sistema (realizado pela DP, MP,
sociedade civil, Conselhos de Direitos, Fóruns da Infância). São diretrizes importantes e que se
relacionam com a atuação da DP, que é um agente da assistência jurídica integral.

5. Direitos fundamentais da criança e do adolescente

Advém das seguintes fontes: CR (art. 227), ECA (arts. 7º a 69) e Convenções Internacionais.

Os direitos fundamentais da criança e do adolescente são considerados direitos fundamentais


especiais. São assim chamados, pois recortados especificamente para a criança e o
adolescente, o que não inibe a titularidade de outros direitos fundamentais.

Devem ser vistos tanto na dimensão subjetiva (pessoal) como na dimensão objetiva. Na
dimensão subjetiva, os direitos fundamentais são de natureza individual. A dimensão objetiva
envolve a projeção nos direitos sociais e garantias processuais formais.

Os direitos fundamentais também são direitos sociais. A partir do momento em que o mundo
percebe mais claramente suas distinções de classe, sua miséria, as desobrigações do Estado,
que se dá com a 2ª GM, os direitos sociais passam a ter maior importância. Percebe-se que os
direitos fundamentais sociais de nada servem se não houver condições materiais para
viabilizar seu exercício.

Direitos fundamentais individuais dependem da iniciativa do sujeito para sua garantia e


efetividade (ex.: se a liberdade é ofendida, o sujeito maneja um HC). Na dimensão objetiva, a
efetividade dos direitos sociais depende de uma ação estatal através de políticas públicas (ex.:
de nada adiante que o legislador constituinte preveja o direito à educação se o poder público
não construir creches e pré-escolas).

Em relação às políticas públicas, no direito de infância, aplica-se o princípio da proibição do


retrocesso, segundo o qual nenhuma decisão do legislador ou do Judiciário podem afetar
direito fundamental constituído, atingindo sua essência para torná-lo inócuo.

O ECA enumera alguns direitos fundamentais: direito à vida e à saúde (arts. 7º a 14), direito à
liberdade, à dignidade e ao respeito (arts. 15 a 18), direito à convivência familiar e comunitária
(arts. 19 a 52), direito à educação, à cultura e ao lazer (arts. 53 a 59) e direito ao não trabalho
para a criança e parte dos adolescentes, à profissionalização e à proteção no trabalho (arts. 60
a 69).

O art. 7º faz referência clara à garantia do direito à vida e à saúde em condições dignas. Não
basta garantir a mera sobrevivência, mas o mínimo existencial deve ser garantido a todos.

Direito à saúde não é o direito à ausência de doença, mas ao bem-estar físico, psíquico,
emocional, condições sanitárias, condições socioambientais adequadas, atendimento
preventivo e curativo. Expressão importante desse direito é o art. 13, que garante a crianças e
adolescentes que os pais lhes acompanhem quando internadas em hospital, ainda que em
ambiente coletivo. Essa companhia ajuda na recuperação da criança e do adolescente.

A crianças e adolescentes é concedida liberdade integral, ou seja, não são obrigadas a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em razão de imperativo legal. Abarca a liberdade de ir e vir,
de expressão do pensamento, de convicção religiosa, de culto, de associação, de ação política
para os que tenham 16 anos. A única liberdade que é restringida é a liberdade de iniciativa
econômica. Os direitos de liberdade são amplos e são afirmativos do tratamento de crianças e
adolescentes como entes autônomos, capazes de manifestar vontade.

O direito ao respeito é o direito não sofrer agressões a direitos personalíssimos ou de


personalidade. Vale dizer, crianças e adolescentes são sujeitos de direitos de personalidade
compatíveis com seu desenvolvimento.
Dignidade humana significa que a pessoa humana é o valor máximo do sistema, é um valor em
si, valor supremo e insuperável. O direito à dignidade é o direito de não ser submetido a
tratamento vexatório, desumano.

Direito à convivência familiar é o direito de ser criado e educado junto a uma comunidade
familiar. É mecanismo essencial da proteção integral. O ECA consagra esse direito como a base
da proteção integral.

Conceitos de família:

i) natural: é a família biológica, nuclear. É o núcleo mais restrito das relações familiares.
Compõe-se de ascendentes e seus descendentes.

ii) extensa: é a família para além dos pais, envolve tios, avós.

iii) substituta: é a família decorrente do acolhimento que alguém presta à criança ou


adolescente em substituição a sua família natural.

No direito à convivência familiar, o legislador estabelece prioridade em prol da família natural


(art. 19 e 39). A colocação em família substituta é medida excepcional e a adoção só é
admitida depois de esgotadas todas as tentativas de retorno à família natural.

Direito à educação é a grande mola propulsora da mobilidade social. Direito à educação é o


direito à formação pessoal, intelectual e técnica, com vistas a permitir que a criança ou
adolescente possam exercer a sua cidadania. A educação deve constituir a consciência crítica
do indivíduo.

O direito à educação tem três faces importantes: i) garantia de acesso e permanência universal
e gratuita no ensino fundamental (ensino fundamental compreende desde a creche até a 8ª
série); ii) garantia da participação do aluno e de sua família no processo pedagógico influindo
com suas opiniões; iii) garantia a educação de qualidade (grande problema do Brasil).

Direito ao não trabalho é destinado às crianças e adolescentes com menos de 14 anos


(proibição do trabalho infantil). A própria CR proíbe o trabalho infantil, que é definido como
aquele exercido mediante subordinação e remuneração da qual dependa o sustento da família
em prejuízo da formação educacional.

Direito à profissionalização é o direito à formação técnico-profissional que habilite o


adolescente a ingressar no mercado de trabalho em condições dignas. A profissionalização
pode ser iniciar aos 14 anos, que se estende até os 25 anos. A atividade laborativa destina-se à
aprendizagem, com garantia de salário mínimo e sem prejuízo da formação educacional.
Trabalho com carteira assinada só é possível a partir dos 16 anos.
Direito à proteção no trabalho: a legislação proíbe determinadas atividades laborais para os
adolescentes. Trabalho proibido é aquele que possa acarretar algum dano de ordem física ou
moral. Trabalho penoso é aquele que exige esforço físico superior às forças físicas naturais do
adolescente. O trabalho noturno também é proibido.

6. Operadores do sistema de garantias

Os órgãos operadores são instituições com atuação coordenada, fundamentada em princípios


e diretrizes, com atribuições especificadas pela lei.

No centro encontra-se o juiz, que é uma espécie de eixo. Deve ser um juiz garantista do
sistema (e não autoritário). Ao lado dele, encontra-se o MP, que também cumpre papel
importante e deveria ter uma atuação garantista em relação aos direitos fundamentais. Do
outro lado, encontra-se a DP e a advocacia privada.

MP  juiz  DP

Há também o conselho de direitos da criança e do adolescente e o conselho tutelar.

Ainda pode ser incluída no sistema de garantias a polícia, que hodiernamente não tem
cumprido seu papel garantista.

6.1. Conselhos de direitos

É um organismo dos mais importantes para a proteção da criança e do adolescente.

Trata-se de um órgão colegiado, composto por representantes de sociedade civil organizada e


por representantes do Estado, cujas atribuições dizem respeito à formulação de políticas
públicas para a infância, assim como a fiscalização dos respectivos programas de sua
implementação.

O fundamento é o art. 204 da CR, que deu ensejo à edição do art. 82 do ECA.

Garante a participação popular na formulação de políticas públicas. O ECA consagra a


democracia participação como mecanismo para a operação do sistema de garantias.

Composição: é paritária, ou seja, representantes do Estado e da sociedade civil organizada


(ONGs). O número de representantes é equitativo para permitir decisões consensuais.

A estrutura se dá em cada uma das unidades da federação. Todo município e estado tem um
conselho de direitos e existe, ainda, o CONANDA, que é o conselho nacional. Cada um atua em
sua esfera de competência.
A atividade do conselho se reveste de caráter deliberativo, vinculativo para órgãos públicos e
sociedade em geral. O caráter não é opinativo.

A principal atividade é a formulação e a implementação de políticas públicas (direitos


fundamentais sociais). Esses direitos fundamentais sociais (dimensão objetiva) tem uma
característica: não se implementam por si, dependendo de uma atuação estatal, que é a
política pública.

Os conselhos também têm a função de fiscalização de programas que compõe o sistema.

Os membros da sociedade civil organizada são eleitos para mandato de 3 anos, podem ser
reconduzidos uma vez e não recebem remuneração.

Esfera federal: CONANDA;

Esfera estadual: CONDECA;

Esfera municipal: CMDCA;

As entidades de acolhimento devem estar cadastradas no CMDCA.

As medidas em meio aberto (LA e PSC) são geridas pelo Município. As medidas em meio
fechado (SL e internação) são cadastradas no CONDECA.

6.2. Conselho tutelar

Arts. 131 a 140 do ECA.

Trata-se de órgão colegiado local, dotado de autonomia funcional, permanente e não


jurisdicional, cujas finalidades principais dizem respeito à aplicação e fiscalização da
observância das normas estatutárias no âmbito do município.

O conselho tutelar também é expressão da democracia participativa, pois os componentes do


conselho são cidadãos comuns.

O fundamento de existência é a necessidade de desjudicializar o atendimento. É um meio de


garantia administrativa de direitos, que, em regra, é mais célere que o meio jurisidicional.

Tem natureza típica de órgão público, dotado de alguns poderes específicos visando à
proteção da infância. O principal poder é o de requisição, para garantir direitos
administrativamente, em caráter de prevenção, para que o Judiciário só seja chamado em
último caso.

Os conselheiros tutelares são agentes públicos remunerados pelos cofres públicos.

As características principais são: i) local (a sede é sempre o município), ii) colegiado (composto
por 5 cidadãos comuns eleitos pela população para mandato de 4 anos, podendo ser
reconduzido uma única vez. A partir de 2015, a eleição será nacionalmente unificada)), iii)
autonomia funcional (as deliberações do conselho só podem ser revistas pelo Judiciário
quando abusivas), iv) permanente (são considerados permanentes os órgãos essenciais), v)
não jurisdicional (atua na hipótese de ameaça a direito, mas a atividade é meramente
administrativa).

A finalidade é a fiscalização e aplicação das normas estatutárias.

Requisitos para ser conselheiro: i) idoneidade moral, ii) idade mínima de 21 anos e iii)
residência no local onde exerça a atividade.

Impedimentos: i) marido e mulher, ii) ascendentes e descendentes, iii) sogro e genro ou nora,
iv) irmãos, v) cunhados durante o cunhadio, vi) tio e sobrinho, v) padrasto, madrasta ou
enteado.

Principais atribuições do conselho tutelar (art. 136):

i) atendimentos às crianças e adolescentes em situação de risco (art. 98). Enquanto o conselho


de direitos atua no horizonte macro, o conselho tutelar atua em relação a crianças e
adolescentes determinados, individualizados.

Situação de risco: violação ou ameaça a direitos fundamentais da criança e do adolescente.


Decorre de omissão ou abuso do Estado e da sociedade, da família e da própria conduta da
criança ou adolescente.

ii) atendimento à família da criança ou adolescente e risco

iii) art. 56: atribuição de garantir incolumidade às crianças e adolescentes vítimas de violência
familiar ou doméstica e àquelas que abandonam os estudos. Os coordenadores de escola
devem comunicar as ocorrências de maus-tratos, evasão escolar e elevados níveis de
repetência ao conselho tutelar.

iv) fiscalização das entidades de atendimento. Entidades de atendimento são entidades que
desenvolvem programas voltados às crianças e adolescentes em risco, seja no âmbito do ato
infracional ou da assistência e promoção. Essas entidades promovem acolhimento
institucional, cumprimento de medidas socioeducativas.

6.3. Juiz

O juiz tem um papel garantista fundamental no sistema de garantias.

Na esfera da infância, o juiz tem competência administrativa e jurisdicional.

A competência administrativa refere-se à esfera da prevenção: compete ao juiz a fiscalização


das entidades de atendimento (art. 95), garantir a efetividade das normas gerais de proteção
especial à infância, autorizando previamente a participação ou o mero ingresso de criança e
adolescente em atividades que são consideradas potencialmente lesivas da proteção integral
(art. 149). Por meio de portaria ou alvará, o juiz poderá autorizar o ingresso e permanência de
crianças e adolescentes em certas atividades artísticas e esportivas. Deve autorizar
previamente que crianças e adolescentes se tornem protagonistas de filmes, novelas etc.

Os alvarás são destinados a situações específicas, concretas e as portarias a situações mais


gerais.

A decisão do juiz deve ser fundamentada e levar em conta a natureza do espetáculo, o nível de
frequência do público do espetáculo, impacto eventual sobre a criança do ponto de vista moral
etc.

O juiz não pode baixar portarias que restrinjam a locomoção de adolescentes pela via pública
depois de determinado horário. É o chamado toque de recolher. Esse tipo de portaria foi
considerada ilegal pelo STJ, pois existe em prol da criança e do adolescente o direito de
liberdade de ir e vir e um ato administrativo não poderia restringir esse direito. Além disso, o
limite dessa liberdade deve ser regulado pelos pais (o Estado não deve se imiscuir no exercício
do poder familiar) e o juiz não poderá se valer de portarias para legislar. Ou seja, através de
portarias o juiz não pode criar normas gerais.

O juiz também tem competência jurisdicional (art. 148). Há algumas competências exclusivas:
i) aplicação de medida socioeducativa, ii) remissão como forma de suspensão ou extinção do
processo, iii) decidir sobre adoção e procedimentos coligados (guarda e tutela podem ser
deferidas pelo juiz de família), iv) ações coletivas que tutelam direitos da criança e do
adolescente, v) aplicação de penalidades administrativas.

O juiz não pode instaurar procedimento (procedimento verificatório) para averiguar situações
de risco. Essa competência é do MP.

6.4. Ministério Público


Arts. 200 e seguintes.

O MP tem atuação exclusivamente administrativa, ou seja, não é órgão jurisdicional.

As principais atividades são: fiscalizar as entidades de atendimento, averiguação e investigação


de circunstancias relativas a situação de risco individuais, instauração de inquérito civil para
verificar ameaças a direitos difusos da criança e do adolescente (o inquérito pode originar um
TAC, uma recomendação ou uma ACP).

O MP tem atribuição para atuar no processo também, como autor, assistente da parte ou
custos legis. Será autor quando tiver legitimação para agir (legal e autônoma ou legitimação
extraordinária). Ex.: ação de investigação de paternidade, destituição do poder familiar.

Ex. do MP assistente da parte: MS manejado pelo MP para defender direito individual de uma
criança.

Se o MP não atuar como custos legis haverá nulidade do processo. Ou seja, quando o MP não
for parte, deverá atuar como custos legis. Essa nulidade, entretanto, é relativa, devendo ser
comprovado o prejuízo efetivo.

6.5. Defensoria Pública

A DP tem papel relevante, podendo atuar tanto na promoção de direitos quanto na defesa de
direitos fundamentais, tanto no âmbito individual como coletivo.

Promoção de direitos: compete à DP a assistência jurídica integral à família, à criança e ao


adolescente, o que compreende a orientação em caráter preventivo inclusive quanto aos
direitos e melhores meios de defesa.

Defesa de direitos: proteção e atuação na esfera dos direitos coletivos e individuais. Na esfera
dos diretos coletivos, compete à DP a promoção de ACPs coletivas na proteção de interesses e
direitos da criança e do adolescente no âmbito dos direitos fundamentais em geral, embora
não disponha de meios para a investigação administrativa dessas violações por meio do
inquérito civil. Na esfera individual, a DP está devidamente legitimada para atuar na defesa de
direitos do adolescente autor de ato infracional, impetrando medidas necessárias, como HC,
MS, tanto quanto promovendo sua defesa em juízo. Na esfera cível também compete à DP
papéis relevantes como a impetração de MS, ações de alimentos, investigação de paternidade
e medidas correlatas para a garantia de direitos.

7. Medidas do sistema de garantias e suas diretrizes

Há duas espécies de medidas: de proteção e socioeducativas.


As medidas de proteção são voltadas à prevenção e cuidados com os direitos das crianças e
adolescentes nas situações de risco.

As medidas socioeducativas são aplicadas aos autores de atos infracionais.

As medidas de proteção têm diretrizes específicas que devem ser observadas (arts. 100 e 101).
São as diretrizes da intervenção protetiva. Visam a otimizar esse atendimento e devem ser
respeitadas por todos os órgãos que operam o sistema de garantias. As mais importantes são:

i) reconhecimento da condição peculiar

ii) superior interesse da criança e do adolescente

iii) intervenção precoce

iv) intervenção mínima

v) participação e oitiva da criança e do adolescente no atendimento

ATO INFRACIONAL

1. Conceito

Ato infracional é tudo aquilo que é considerado crime ou contravenção penal (art. 103 do
ECA).

Criança comete ato infracional, porém não é responsabilizada, ou seja, a ela só podem ser
aplicadas medidas de proteção. A criança apreendida é encaminhada ao concelho tutelar, que
pode aplicar medidas de proteção. Lembrar que o conselho tutelar não pode colocar a criança
em família substitutiva ou em acolhimento institucional ou familiar.

Ao adolescente pode ser imputada a prática de ato infracional. Leva-se em consideração


sempre a data do fato. Aos 21 anos cessa a competência da VIJ. A única medida socioeducativa
que expressamente menciona a aplicação até os 21 anos é a internação, portanto, na prova da
DP, é possível defender que as demais medidas devem ser extintas quando o adolescente
completa 18 anos, em razão do princípio da taxatividade.

A medida socioeducativa (MS) é diferente da pena, que possui caráter essencialmente


retributivo e punitivo. A medida socioeducativa possui caráter pedagógico e sancionatório. O
ECA estabelece que a MS somente pode ser aplicada pelo juiz ao adolescente que praticou ato
infracional. É muito importante trabalhar com os dois caráteres das MS (pedagógico e
sancionatório), pois a DP defende que uma medida aplicada depois de vários anos da prática
do ato infracional perde o caráter pedagógico e passa a ser somente pena. O juiz não é
obrigado a aplicar MS mesmo quando a sentença seja julgada procedente.

2. Apuração do ato infracional

O adolescente pode ser apreendido em flagrante delito ou por ordem judicial fundamentada.

Uma vez apreendido em flagrante delito, o adolescente deve ser encaminhado a uma
delegacia de polícia. A autoridade policial deve entrar em contato com os pais do adolescente.
A regra é a liberação do adolescente, ou seja, para que o adolescente fique apreendido a
autoridade policial deve fundamentar sua decisão na manutenção da ordem pública ou para
proteção do próprio adolescente.

Se o crime é cometido com violência ou grave ameaça, o delegado lavra um auto de apreensão
em flagrante. Se não houver violência ou grave ameaça, o delegado pode fazer um boletim de
ocorrência circunstanciado.

Caso não sejam localizados os pais ou responsável, o delegado pode acionar o conselho tutelar
para auxiliar na procura dos pais.

O delegado pode entregar o adolescente à família, que assina um termo de compromisso para
que o adolescente seja encaminhado no primeiro dia útil seguinte ao MP, para a realização da
oitiva informal.

Se o delegado não libera o adolescente, deve apresentar incontinenti ao MP, para a oitiva
informal. Se isto não for possível, o delegado deve encaminhar o adolescente para entidade
própria. Em SP, essa entidade é a UAI – unidade de atendimento inicial. Na maioria das
cidades, esse local não existe, então o adolescente permanece na delegacia, separado dos
adultos, e deve ser encaminhado ao fórum em até 24h.

Se o adolescente liberado com compromisso de ir até o MP não comparece, o MP pode pedir


força policial para trazer até ele o adolescente.

A oitiva informal está prevista no art. 178 do ECA. Oitiva informal ainda não é processo. No
âmbito da infância e juventude vige o princípio da oralidade que irá trazer celeridade. A oitiva
informal é o primeiro contato do adolescente com o MP. Podem comparecer os pais e
responsável e também a vítima. O promotor conversa com o adolescente e com os pais. A
presença da defesa não é expressa no ECA, mas também não é vedada e a CR e os princípios
da ampla defesa e contraditório devem ser aplicados. Sempre que possível o adolescente deve
ser acompanhado por defensor.

O MP pode tomar três atitudes: i) arquivamento, ii) representação e iii) remissão.


O arquivamento e a remissão devem ser homologados pelo juiz. Se o juiz não concordar,
aplica-se o art. 28 do CPP.

A DP entende que a oitiva informal é inconstitucional por ferir o princípio da ampla defesa e do
contraditório. A ideia da oitiva informal trazida pelo ECA é boa, pois pode ser aplicada a
remissão, mas na prática utiliza-se a oitiva informal para responsabilização do adolescente.

A remissão é um direito do adolescente. Nesse sentido, o promotor teria de fundamentar a


sua não aplicação.

Remissão pode ser entendida como perdão. Na remissão, não se discute a responsabilização
do adolescente. É bem semelhante à suspensão condicional do processo. A remissão
concedida pelo MP é forma de exclusão do processo.

A remissão pode ser pura e simples ou cumulada com medida. A DP entende que não cabe
remissão cumulada com medida, pois somente poderia cumprir MS o jovem que foi
responsabilizado pelo ato infracional. Na remissão não se discute autoria.

A remissão não é considerada para fins de antecedentes.

A remissão somente pode ser cumulada com meios em meio aberto (advertência, obrigação
de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida).

O juiz pode aplicar a remissão até antes da sentença.

Obs.: a DP entende que para a remissão com medida ou pura e simples é imprescindível a
concordância do adolescente. Há decisões judiciais no sentido de que é necessária a
concordância e também no sentido de que não seria necessária.

Há um equivalente da remissão no item 11 das regras de Beijing.

Havendo representação, o juiz decide se recebe ou não. Recebendo, o juiz marca desde logo a
audiência de apresentação e decide sobre a apreensão ou não do adolescente (se vai
responder ao processo internado provisoriamente ou não). A internação provisória ou a
desinternação podem ser decididas a qualquer tempo antes da sentença.

A internação provisória tem o prazo máximo de 45 dias, contados do primeiro momento em


que o adolescente foi apreendido.

Em algumas comarcas em que a unidade de internação provisória não existe, o adolescente


deve ser encaminhado para a unidade mais próxima. O ECA diz que o prazo máximo em que o
adolescente pode ficar apreendido na delegacia aguardando vaga na internação provisória é
de 5 dias.

O ECA não fala expressamente do uso de algemas, mas deve-se fazer analogia à SV que
restringe o uso de algemas a casos excepcionais.

Se o adolescente não for encontrado para ser notificado da audiência da apresentação, o juiz
pode decretar a busca e apreensão do adolescente. Se o adolescente for devidamente
notificado e não comparecer à audiência, o juiz pode determinar a condução coercitiva.

Antes da audiência de apresentação, o adolescente deve entrevistar-se com o defensor. Na


audiência, o adolescente pode utilizar-se do silencio e os pais também serão ouvidos.

A segunda audiência é chamada de audiência em continuação, na qual há produção de provas,


apresentação de laudos da equipe interdisciplinar e debates orais de 20 min (prorrogáveis por
mais 10 min), sendo primeiro o MP e depois a defesa.

Caso o juiz considere o adolescente responsável, poderá aplicar uma MS. Não existe gradação
entre as medidas, ou seja, qualquer MS pode ser aplicada a qualquer momento, preferindo-se
as medidas em meio aberto.

O juiz deve levar em consideração a capacidade do jovem para cumprir a medida, as


circunstancias pessoais e a gravidade do ato infracional. A gravidade do ato infracional, por si
só, não é fundamento para aplicar medida mais grave.

Súmulas do STJ:

Súmula 108 – a aplicação de medida socioeducativa ao adolescente pela prática de ato


infracional é de competência exclusiva do juiz.

Súmula 342 – no procedimento para aplicação de MS, é nula a desistência de outras provas em
face da confissão do adolescente.

Súmula 265 – é necessária a oitiva do menor infrator antes de se decretar a regressão da MS.
Se o adolescente descumprir uma medida, o juiz, antes de decretar a internação, deve ouvir o
adolescente.

Súmula 492 – o ato infracional análogo ao trafico de drogas por si só não conduz
obrigatoriamente à imposição de MS de internação ao adolescente. O art. 122 do ECA fala das
hipóteses de internação. A internação pode ser aplicada quando houver violência ou grave
ameaça contra a pessoa. Trafico de drogas não envolve violência ou grave ameaça à pessoa,
portanto, a internação não poderia ser aplicada. Os juízes, na prática, fundamentam a
internação na prática do ato grave e em alguma outra situação (como, por exemplo, que o
adolescente foge constantemente de casa). É uma artimanha para driblar a expressão “por si
só” da súmula.

Súmula 338 – a prescrição penal é aplicável às MS. O TJSP entende que a MS prescreve em 4
anos (isso porque o prazo máximo de internação é de 3 anos e pela regra do art. 109 do CP
prescreveria em 8 anos. contudo, deve-se aplicar a redução do art. 115 do CP, por ser o
adolescente menor de 18 anos na data do fato, chegando ao patamar de 4 anos).

Porém, se para um adulto a prescrição ocorre em termo menor, esse prazo deve ser aplicado,
pois o tratamento destinado ao adolescente não pode ser mais gravoso do que o destinado ao
adulto. Ex.: uso de drogas prescreve em 2 anos. Utilizando-se a regra do art. 115 do CP, o crime
prescreveria em 1 ano, então esse prazo deve ser aplicado ao adolescente em detrimento do
prazo de 4 anos.

Tese da DP: nem todo ato infracional é passível de internação, portanto, o prazo máximo de
internação de 3 anos também não pode ser aplicado às demais medidas. O problema está na
liberdade assistida, para a qual não há prazo máximo previsto em lei. A DP defende, com base
no principio da brevidade, que a prescrição deve se dar pelo prazo mínimo de 6 meses, ou
seja, prescreveria em 1 ano e meio.

3. Medidas socioeducativas em espécie

3.1. Advertência

Trata-se de admoestação verbal realizada pelo juiz.

A DP defende que a advertência como prevista no ECA é inconstitucional, pois para aplicação
de MS é preciso prova da autoria e da materialidade. O ECA, contudo, diz que para a aplicação
da advertência basta a prova da materialidade e indícios suficientes de autoria. Aplica-se uma
MS sancionatória com base apenas em indícios de autoria, o que revela o caráter
inconstitucional da medida.

3.2. Prestação de serviços à comunidade

O prazo máximo é de 6 meses. Podem ser cumpridas 8 horas semanais, em dias úteis ou não,
desde que não atrapalhe o estudo e o trabalho do adolescente.

O trabalho não pode ser degradante, humilhante e deve ter alguma relação de utilidade com o
adolescente.

O trabalho é gratuito.
3.3. Obrigação de reparar o dano

É o dever de reparar o dano. É a MS destinada a que o adolescente reparar o dano, ou seja, o


adolescente deve reparar o dano. Se o adolescente não puder reparar o dano, o juiz deve
converter a medida.

Executa-se nos próprios autos do processo de conhecimento.

3.4. Liberdade assistida

É a medida que mais atende aquilo que se espera das MS.

Os técnicos são os profissionais que acompanham o adolescente no cumprimento da medida.

O adolescente vai até um determinado local no qual é acompanhado por um corpo técnico,
que trabalha o adolescente e sua família. Realiza-se matrícula na escola, em estudo técnico ou
desenvolvimento de trabalho como aprendiz. O grande problema prático é que não existem
muitas equipes técnicos.

O prazo mínimo é de 6 meses.

3.5. Semiliberdade

Aplicam-se à semiliberdade as regras da internação.

É a medida mais difícil de ser cumprida pelo adolescente por envolver grande senso de
responsabilidade. O adolescente fica internado durante a semana, podendo sair para estudar,
trabalhar, fazer um curso, sem necessidade de autorização judicial para a realização dessas
atividades externas. O juiz não pode limitar a realização de atividades externas. O adolescente
dorme na unidade de internação durante a semana e nos finais de semana retorna a sua casa.

Não é necessária autorização judicial para a realização de qualquer atividade.

o prazo máximo é de 3 anos, pois segue as regras da internação.

3.6. Internação

É a MS privativa de liberdade.

O adolescente fica internado por prazo indeterminado. Há o prazo máximo de 3 anos previsto
no ECA.

O relatório de acompanhamento deve ser realizado a cada 6 meses.


Princípios: i) brevidade (o adolescente deve ficar internado pelo menor tempo possível), ii)
condições peculiares do adolescente, iii) excepcionalidade (a internação somente é aplicada
quando nenhuma outra medida possa ser aplicada. O juiz deve explicar porque as demais
medidas não servem ao caso concreto).

Obs.: internação provisória não é medida socioeducativa!

Cabe internação (art. 122):

i) por ato cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. O tráfico de drogas, ainda que
crime hediondo, não entra nesse inciso, ou seja, não cabe internação.

ii) pelo cometimento reiterado de infrações de natureza grave. Reiteração não é o mesmo que
reincidência. Reincidência é a prática de novo crime após sentença transitada em julgado por
crime anterior. O adolescente reincidente não pode ser internado com base no inciso II.
Reiteração configura-se com o cometimento do terceiro ato. A DP entende que reiteração só
se configura no quarto ato.

A reiteração deve ser de infração de natureza grave. Entende-se que infração grave é aquela
cujo crime é apenado com reclusão. O STJ, contudo, entende que o furto, ainda que apenado
com reclusão, não é crime de natureza grave. Ex.: cometimento de tráfico com duas
reiterações de crimes de dano anteriores não cabe a internação por esse inciso. Isso porque o
dano não é crime de natureza grave e o inciso fala em reiteração em crimes de natureza grave.

É preciso o transito em julgado dos atos anteriores. Na prática, contudo, isso não é observado.

iii) internação-sanção: é a consequência pelo não cumprimento de determinada MS. É preciso


o não cumprimento reiterado e injustificado de MS anteriormente imposta.

A reiteração depende também da prática de 3 atos. O descumprimento deve ser injustificado.


O prazo é de até 90 dias (3 meses).

Deve haver audiência com oitiva prévia do adolescente para a decretação da internação-
sanção.

Se o adolescente não cumpre a LA em remissão, ele não pode ser internado. O que acontece
que é o processo é retomado.

Obs.: remissão não serve para fins de antecedentes, pois não há responsabilização do
adolescente.
Terminado o prazo da internação-sanção, o adolescente deve voltar a cumprir a medida. O
correto é que o juiz faça uma audiência para ouvir o adolescente e avaliar a necessidade da
medida.

Recurso: os recursos seguem a lógica do CPC. O prazo de apelação é de 10 dias.

SINASE (LEI 12.594/12)

1. Medidas socioeducativas

Objetivos:

i) responsabilização do adolescente (caráter sancionatório) quanto às consequências lesivas do


ato infracional e, sempre que possível, incentivando a reparação.

ii) integração social do adolescente (caráter pedagógico) e garantia dos seus direitos
individuais e sociais, através do cumprimento do PIA.

iii) desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como


parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos. A DP entende que se a
sentença que impõe LA é parâmetro máximo, então não poderia haver regressão para a
internação.

Princípios:

i) legalidade: o jovem não pode receber tratamento mais gravoso que um adulto. Ex.: na
prática de ato infracional equiparado ao roubo, para a DP, não poderia ser imposta internação,
pois um adulto primário cumpriria pena em regime semiaberto por roubo simples.

ii) excepcionalidade: na intervenção judicial e na imposição das medidas, favorecendo a


autocomposição de conflitos.

iii) prioridade a práticas e medidas restaurativas: foco na vítima. Justiça restaurativa é uma
forma de composição de conflitos na qual mais importante do que apreciar a responsabilidade
ou não é encontrar a pacificação das partes.

iv) proporcionalidade em relação à ofensa cometida.

v) brevidade.

vi) individualização: leva-se em consideração a idade, capacidade e circunstancias pessoais do


adolescente.
vii) mínima intervenção: apenas o essencial para o cumprimento da medida.

viii) não discriminação do adolescente. As condições particulares do adolescente devem ser


respeitadas.

ix) fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.

Obs.: É possível a aplicação de mais de uma MS na mesma sentença. O próprio ECA fala que a
imposição pode ser cumulativa, desde que compatíveis entre si (ex.: medida em meio aberto
não é compatível com medida em meio fechado).

Apenas o juiz pode aplicar MS. A defesa e o MP intervirão, sob pena de nulidade, na execução
de MS.

Peças para o processo de execução:

i) documentos de caráter pessoal do adolescente existentes no processo de conhecimento,


principalmente aqueles que digam respeito à idade.

ii) as indicadas pelo juiz sempre que houver necessidade.

Obrigatórias:

i) representação, ii) certidão de antecedentes, iii) sentença ou acórdão, iii) estudos técnicos
realizados na fase de conhecimento.

Se o adolescente tiver algum problema que o impossibilite, a MS não pode ser cumprida,
devendo ser aplicada medida protetiva para tratamento.

O juiz deve encaminhar, imediatamente, após a autuação, cópia ao órgão gestor do


atendimento socioeducativo.

PIA: para as MS de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e


internação deve haver a elaboração do PIA – plano individual de atendimento. As medidas de
advertência e obrigação de reparar o dano são cumpridas no próprio processo de
conhecimento, portanto, não há processo de execução.

Os pais ou responsável devem participar da elaboração do PIA. O adolescente também deve


participar da elaboração do PIA.

O PIA será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de


atendimento, com a participação efetiva do adolescente e sua família, representada por seus
pais ou responsável.
Deve constar no PIA: i) resultados da avaliação interdisciplinar, ii) objetivos declarados pelo
adolescente, iii) previsão de suas atividades de integração social e/ou capacitação profissional,
iv) atividades de integração e apoio à família.

Caso seja semiliberdade ou internação, devem constar também: i) designação do programa de


atendimento mais adequado para o cumprimento da medida, ii) definição de atividades
internas e externas, individuais ou coletivas, das quais o adolescente poderá participar, iii)
fixação de metas para o alcance de desenvolvimento de atividades externas.

Na internação, pode haver a realização de atividades externas, salvo decisão judicial em


contrário.

Prazo para elaboração do PIA: o prazo para medida em meio fechado é de 45 dias e para
medida em meio aberto é de 15 dias.

A direção do programa de atendimento, pessoalmente ou por meio de membro da equipe


técnica, terá acesso aos autos do procedimento de apuração do ato infracional e também em
relação a outros procedimentos de apuração a que tenha respondido o adolescente (art. 57 do
SINASE).

Pode também requisitar: i) ao estabelecimento de ensino, o histórico escolar e as anotações


sobre seu aproveitamento, ii) dados sobre o resultado da medida anteriormente aplicada e
cumprida em outro programa de atendimento, iii) resultados de acompanhamento
especializado anterior.

Podem ter acesso ao PIA: i) servidores do programa de atendimento, ii) adolescente, iii) pais
ou responsável, iv) MP, v) defensor. Exceto expressa previsão judicial.

Depois da elaboração do PIA, é encaminhado ao MP e defesa, com 3 dias para manifestação. A


defesa e o MP podem requerer a realização de perícias ou avaliações que entendam
necessárias para a complementação.

A impugnação do PIA pelo MP ou pela defesa deve ser fundamentada.

Se aceita a impugnação, o juiz designa audiência com defesa, MP e equipe do programa,


adolescente e seus pais.

A impugnação não suspende a execução do plano individual, salvo determinação judicial em


contrário.

Se não houver impugnação, acabado o prazo, considerar-se-á o plano aprovado.


Prazo para reavaliação das medidas: as medidas da LA, semiliberdade e internação deverão ser
reavaliadas no máximo a cada 6 meses (art. 42 do SINASE). Ou seja, a reavaliação pode ser
requerida em prazo inferior. Podem requerer: adolescente, equipe técnica, pais ou
responsável, defesa e MP. A reavaliação pode ser requerida a qualquer tempo.

A gravidade do ato infracional, antecedentes e o tempo de duração da medida não são fatores
que, por si só, justifiquem a não substituição da medida por outra menos grave. A DP entende
que isso vale também para a extinção da medida.

Vedações à autoridade judicial: juiz não pode determinar o reinicio de cumprimento de MS ou


deixar de considerar os prazos máximos. Exceção: ato infracional cometido durante a exceção
(se o ato infracional tiver sido cometido antes da sentença, não haverá reinicio do
cumprimento, mas se foi cometido durante a execução da medida, o adolescente começa a
cumprir sem desconto do tempo já cumprido).

Não pode haver nova internação por conta de ato infracional praticado antes do cumprimento
da medida (art. 45, §2º). Ex.: adolescente cumpre medida de internação e depois do
cumprimento, o juiz determina nova internação por ato praticado antes do cumprimento da
medida. O objetivo da internação é trabalhar o adolescente e se o juiz entende que a medida
cumpriu seus objetivos não há motivo para nova internação. Se houvesse nova internação,
haveria o caráter apenas punitivo da medida. Lembrar sempre que a MS tem caráter punitivo e
educativo.

A lei fala apenas em internação, mas na DP defender que não cabe para qualquer MS.

Direitos do adolescente:

i) ser acompanhado por pais, responsável e defensor, em qualquer fase do procedimento


administrativo ou judicial.

ii) ser incluído em programa de meio aberto se inexistir unidade de atendimento, exceto em
casos de ato de violência ou grave ameaça.

iii) ser respeitado em sua personalidade, intimidade, liberdade de pensamento e religião e


todos os direitos não limitados na sentença.

iv) peticionar, por escrito ou verbalmente, a qualquer autoridade ou órgão público e ser
respondido, obrigatoriamente, em 15 dias.

v) receber sempre que solicitar informações sobre a evolução do PIA, participando,


obrigatoriamente, de sua elaboração e, se o caso, revaliação.
vi) direito de visita: podem visitar o cônjuge, companheiro, pais, responsável, parentes e
amigos. O adolescente tem direito de receber visitas do filho, independente da idade.

Visita íntima: apenas para o adolescente casado ou que viva em união estável. O visitante deve
ser identificado, registrado pela direção do programa, que emitirá documento de identificação,
pessoal e intransferível especifico para visita íntima.

Formas de extinção da MS:

i) morte;

ii) realização de sua finalidade;

iii) aplicação da pena privativa de liberdade, a ser cumprida em regime fechado ou semiaberto,
em execução provisória ou definitiva. Ex.: adolescente que ainda está cumprindo MS depois de
ter completado 18 anos. Caso tenha ficado preso preventivamente e depois tenha sido
inocentado, esse prazo contará para a MS.

iv) pela condição de doença grave, que torne o adolescente incapaz de submeter-se ao
cumprimento da medida;

v) demais hipóteses previstas me lei.

SAÚDE MENTAL

1. Lei 10.216/11 (Lei da reforma psiquiátrica) e Portarias do Ministério da Saúde.

Entende-se que a internação não resolve os problemas de drogadição ou de saúde mental,


devendo ser apenas eventual etapa do tratamento. O ideal não é fortalecer as medidas de
internação, mas sim as medidas ambulatoriais.

O tratamento de um doente mental ou usuário problemático de drogas não se restringe ao


individuo, devendo incluir sua família.

Existem três tipos de internação:

i) voluntária: o próprio paciente quer ser internado.

ii) involuntária: o usuário não adere ao tratamento e não concorda com a internação. O
paciente não quer o tratamento, mas terceiro (e não apenas família) pode solicitar a
internação. Não necessita de ordem judicial. Somente pode ser determinada a internação
quando a pessoa está em surto e coloca em risco a sua própria saúde. Se a pessoa tem
condições de entender a sua situação e não quer se tratar, ela não pode ser obrigada a isso. A
DP faz uma critica, pois se a pessoa estivesse com um câncer e não quisesse se tratar, ela não
poderia ser obrigada a tanto.

A internação deve se dar pelo mínimo de tempo possível. Quem determina o prazo não é o
Judiciário, pois se trata de questão médica.

Quando a pessoa vai ser internada, deve ser elaborado o plano terapêutico singular, inclusive
para cumprimento após a internação, nos equipamentos ambulatoriais.

A pessoa pode se recusar a ir ao Caps ou equipamento de saúde. O Caps tem o dever de


realizar visita domiciliar quando o paciente não quer aderir ao tratamento (art. 6º, VI, da
Portaria 130/12).

iii) compulsória: o usuário também não adere ao tratamento e não concorda com a internação.
Necessita de ordem judicial.

Nas três modalidades é imprescindível a elaboração de laudo médico que entenda pela
imperatividade da medida.

A DP defende que o ideal é que o juiz não decida pela internação, pois se ele determinar é
apenas ele que irá desinternar. Nos casos mais graves, mesmo assim a DP não pede a
internação. A DP entra com ações de obrigação de fazer, para que o poder público cumpra
com sua obrigação e disponibilize vaga no equipamento de saúde. O intuito é que o juiz não
determine a internação. A DP por vezes coloca no pedido que a desinternação não dependa de
ordem judicial.

Frasseto entende que mesmo para a internação de criança ou adolescente não é preciso
autorização judicial. Há quem entenda pela necessidade de autorização judicial, como o
CREMESP.

Na internação compulsória não haverá responsável que pedirá a internação.

A DP entende que a internação compulsória é medida de segurança.

Quem deve decidir sobre a necessidade da internação é o médico e não o juiz.

CAPSi: Caps infantil.

CAPSad: Caps álcool e drogas.

CAPSIII: assemelha-se a um hospital, pois tem leitos e fica aberto 24h. A pessoa que está em
surto aguardando vaga para a internação deve esperar no CAPSIII.
A competência é do município. Para a falta de Caps, o defensor deve impetrar ACP.

2. LOAS (Lei 8.742/93)

Seguridade social: saúde, previdência e assistência social.

Ao colocar a assistência nesse tripé, a CR legitimou a assistência social no campo dos direitos,
da universalização do acesso e da responsabilidade estatal. Ou seja, é um direito que pode ser
reivindicado.

A LOAS é a matriz desta politica pública, propondo sua sistematização e institucionalização em


todo o território nacional através da definição de normas e critérios gerais para
implementação e gestão.

É dividida em cinco capítulos essenciais que regulamentam a assistência social brasileira,


pontos nodais de sua que serão discutidos a seguir. São eles: i) definição e objetivos, ii)
princípios e diretrizes, iii) organização e gestão, iv) benefícios, serviços, programas e projetos,
v) financiamento.

O art. 2º afirma a proteção à família e aos indivíduos a ela pertencentes em relação aos ciclos
da vida que os fragilizam ou vulnerabilizam, quais sejam: a maternidade, a infância, a
adolescência e a velhice.

Acrescenta o amparo às crianças e adolescentes em situação de risco ou vulnerabilidade social,


reafirmando a primazia do atendimento deste público. Merecem igual atenção dentre os
objetivos da assistência social a promoção da integração ao mercado de trabalho; a
habilitação, reabilitação e promoção à vida comunitária da pessoa com deficiência, bem como
a garantia de um salário mínimo de benefício mensal a este segmento e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, denominado como benefício de prestação continuada (BPC).

O BPC é o benefício concedido a alguns indivíduos por conta de deficiência ou por conta da
idade. Não é vitalício, devendo ser reanalisado a cada 2 anos. A renda familiar deve ser igual
ou inferior a ¼ do salário mínimo.

Fundo nacional de assistência social (FNAS) é instituído pela LOAS para financiamento de
programas na área de assistência.

São condições para os repasses dos recursos aos municípios, estados e DF, a instituição e
funcionamento do conselho de assistência social e ainda a comprovação orçamentária dos
recursos próprios destinados à assistência social, alocados em seus respectivos fundos de
assistência social, conforme art. 30 da LOAS.
A proteção social básica destina-se a famílias em que o vinculo ainda esteja preservado, mas é
preciso intervenção para que não haja maiores problemas.

A proteção social especial destina-se a famílias e indivíduos cujos direitos tenham sido violados
e/ou ameaçados, situação em que o risco social e pessoal já está instalado. O objetivo deste
nível de proteção social é restaurar a cidadania e, para tanto, são ofertados serviços
socioassistenciais que requerem maior estruturação técnico-operacional, atenção
especializada e individualizada, bem como encaminhamentos monitorados e sistemáticos
apoios e processos que asseguram qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção
social almejada.

Atenção social básica: CRAS

Atenção social especial: CREAS

Serviços atendidos pelo CREAS: média complexidade.

a) serviços de proteção e atendimento especializado a famílias e indivíduos (PAEFI).

b) serviço especializado em abordagem social.

c) serviço de proteção social e adolescentes em cumprimento de medida socioeducativas de


liberdade assistida e de prestação de serviços à comunidade.

d) serviço de proteção social especial para pessoas com deficiência, idosas e suas famílias.

e) serviço especializado para pessoas em situação de rua.

Nesses casos, ainda há certo vinculo com a família, mesmo nos casos de pessoa em situação de
rua.

Serviços de alta complexidade: publico alvo são crianças e adolescentes sob medida de
proteção, inclusive com deficiência, em situação de risco pessoal e social, em situação de
abandono ou cujas famílias ou responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitados
de cumprir sua função de cuidado e proteção; pessoa idosas que não disponham de condições
para permanecer com a família; pessoas adultas com deficiência, que não possuam vínculos
familiares ou mantenham vínculos fragilizados por ocorrência de abandono ou maus tratos,
que não dispõem de condições de auto-sustentabilidade; indivíduos e famílias em situação de
rua e de abandono, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos, com reduzida capacidade
de autonomia e independência e sem condições de auto-sustento; mulheres vitimas de
violência doméstica ou tráfico de pessoas, acompanhadas de seus filhos, que se eneocntram
em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social.
Essas pessoas são tratadas também nos CREAS.

Serviços oferecidos pela proteção social especial de alta complexidade:

a) serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes, para adultos e famílias,


para mulheres em situação de violência, para jovens e adultos com deficiência e para idosos.

b) serviço de acolhimento em república para jovens (transição até que o jovem consiga
independência), adultos em processo de saída das ruas e idosos.

c) serviço de acolhimento em família acolhedora.

d) serviço de proteção em situações de calamidades públicas e de emergências.

Obs.: provimento 32 do CNJ trata das audiências concentradas. Na audiência concentrada, o


juiz visa a resolver o problema da criança ou do adolescente acolhidos. Em relação à criança
acolhida deve primeiramente tentar retornar à família natural ou extensa. A audiência
concentrada tenta reestabelecer esses vínculos familiares e comunitários. Preferencialmente
devem ser realizadas na entidade de acolhimento. Devem estar presentes juiz, MP, DP, equipe
técnica da entidade e do juízo, pais, responsável, representante da secretaria da saúde,
habitação, educação, serviço social.

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