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O que é ordem pública no

sistema de justiça criminal


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brasileiro?

Cristina Maria Zackseski


O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?
Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes

Professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília - UnB. Doutora em Estudos Comparados Sobre as Américas pela
UnB. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Graduada em Direito pela Universidade Federal de
Santa Maria - UFSM. Vice-coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança NEVIS/UnB.
zackseski@ig.com.br

Patrick Mariano Gomes


Doutorando em Direito pela Universidade de Coimbra. Mestre em Direito pela Universidade de Brasília - UnB. Graduado em
Direito pela Faculdade de Direito de Presidente Prudente
patrickmariano@atonfon.com

Resumo
Um dos conceitos mais controvertidos no âmbito da justiça criminal é o de ordem pública. Neste texto apresentam-se as
duas faces desta moeda que são, de um lado, o uso que se faz desse conceito nos procedimentos judiciais – especialmen-
te na decretação de prisões preventivas a partir das decisões do Supremo Tribunal Federal –, e de outro, as características
que o conceito assume no âmbito da segurança pública, em especial no período posterior à Constituição Federal de 1988.

Palavras-Chave
Criminologia crítica. Ordem pública. Discurso jurídico penal. Supremo Tribunal Federal. Segurança pública.

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O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?
Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes
INTRODUÇÃO

E ste artigo apresenta duas abordagens


sobre o controvertido conceito de or-
dem pública no âmbito do sistema de justiça
outros países nesta época, que continuam a
impactar na forma com que se percebe a se-
gurança e a ordem pública.
criminal brasileiro. A atenção está concentra-
da em dois momentos privilegiados do fun- O conceito de ordem pública surge nor-
cionamento desse sistema: no primeiro, estu- malmente associado ao exercício do poder no
dam-se as decretações de prisões preventivas âmbito dos Estados Nacionais, mas é eivado
com fundamento da garantia da ordem pú- de ambiguidades, pois em muitas ocasiões está
blica; no segundo, procura-se desvendar sua atrelado ao “acautelamento” do meio social,
utilização no âmbito da segurança urbana nas outras vezes diz respeito ao clamor público,
últimas décadas. A primeira parte do estudo noutras está vinculado a considerações sobre a
resulta da análise do discurso de 460 decisões gravidade do crime, ou à segurança do ofendi-
judiciais da Suprema Corte no período com- do e, na visão de Gabriel Bentin de Almeida,
preendido entre 1930 e 2013. A segunda par- exatamente por isso esse conceito traz insegu-
te diz respeito ao contexto político criminal rança jurídica (ALMEIDA, 2003).
em que a segurança urbana ganha força e traz
consigo o conceito de ordem pública, com Interesse público e bem comum são duas
novos usos, alguma concretude, mas nada referências constantes em tentativas de se de-
distante dos antigos significados políticos que finir o que é ordem pública; também são fre-
informam as decisões judiciais. O marco tem- quentes as menções à convivência harmoniosa
poral desta segunda abordagem, no Brasil, é e pacífica. Trata-se, pois, de um conceito com
o período que sucede à Constituição Federal conteúdo indeterminado, que se tenta explicar
de 1988, tanto pela referência importante a partir de outros, igualmente indeterminados,
que é na política e no direito brasileiro, mas e que, portanto, só são passíveis de explicitação
também pelas mudanças que ocorreram em pela observação de práticas políticas. Portanto,

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para que se entenda o que realmente significa, e pacífica, fiscalizado pelo Poder de Polícia, e
os resultados de tais ações devem ser observa- constituindo uma situação ou condição que
dos, quer dizer, a forma com que os distúrbios conduza ao bem comum. (ZAVERUCHA,
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da ordem são controlados e quais as consequ- 2005, p. 151).


ências dessas ações para a democracia e para
a estabilidade das instituições, pois também No Brasil, esta imprecisão interfere na rotina
é muito comum que as instituições, especial- de funcionamento do sistema penal, uma vez
mente as polícias, sofram os efeitos da falta de que o Código de Processo Penal Brasileiro, em
confiança da população. seu artigo 312, inclui, entre os casos em que o
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juiz pode decretar a prisão preventiva, a garantia


É evidente a associação entre polícia e or- da ordem pública. Ele possui a seguinte reda-
dem pública. Esta associação está expressa em ção: “A prisão preventiva poderá ser decretada
declarações de inspiração weberiana como a como garantia da ordem pública, da ordem eco-
que segue: “A necessidade de criar instituições nômica, por conveniência da instrução crimi-
asseguradoras da ordem pública nasceu com o nal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
Estado moderno que estabeleceu o monopó- quando houver prova da existência do crime e
lio legítimo da força viabilizado pela polícia” indício suficiente de autoria”. A expressão “ga-
(STEINBERGER; CARDOSO, 2005, p. 97). rantia da ordem pública” não tem significado
Esse entendimento corrobora a lógica da orga- exato e é uma das inúmeras situações nas quais
nização das Secretarias Estaduais de Segurança a lei é vaga e imprecisa. A dificuldade em es-
Pública brasileiras, cujas competências são: a) clarecer com precisão tais significados pode
executar a política governamental para preser- corresponder, no caso específico da “garantia
vação da ordem pública e do patrimônio; b) da ordem pública”, ao que não pode ser dito,
manter e garantir os direitos dos cidadãos; c) pois ao dizê-lo o legislador ou o intérprete da
desenvolver planos estaduais de segurança pú- lei poderia contrariar outros dispositivos legais,
blica; d) fortalecer as instituições públicas esta- direitos fundamentais e princípios constitucio-
duais e municipais; e) qualificar os agentes de nais penais expressos (em sua grande maioria)
segurança pública (BRASIL, 2005). no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.

Nesta esteira, Jorge Zaverucha apresenta o No âmbito da política criminal, algumas


conceito de ordem pública utilizado no Regu- distinções básicas podem ser feitas. Na pers-
lamento para as Polícias Militares e Corpos de pectiva eficientista, a ordem pública significa a
Bombeiros Militares (Decreto 88.777), que é ausência da ocorrência de crimes (e atualmen-
de 1983 e segundo ele continua em vigor: te de distúrbios da ordem e incivilidades), de-
[...] conjunto de regras formais, que emanam pendente de uma política criminal repressiva,
do ordenamento jurídico da Nação, tendo que seria necessária para a coesão social em
por escopo regular as relações sociais de to- torno das regras e mesmo para a existência do
dos os níveis, de interesse público, estabele- Estado. Na perspectiva garantista, a situação é
cendo um clima de convivência harmoniosa outra, ou seja: na medida em que há partici-

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pação social na elaboração e na aplicação das governo de Getúlio Vargas até o ano de 1937,
regras, contribui-se para uma noção de ordem quando Estado Novo foi constituído, foi mar-
pública que não esteja afeta à chamada razão cado pelo “perigo” do comunismo.

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de Estado, e sim mais próxima do sentido
democrático de participação nas decisões, tal Em 22 de junho de 1936, o STF negou
como está expresso o ideal democrático nos provimento ao Recurso Criminal nº 919, impe-
documentos produzidos por organismos in- trado por Antônio Laredo Reis e outros, assim
ternacionais que se ocupam do problema da ementado: “Lei de Segurança. Bombas de dyna-
insegurança urbana e da prevenção dos con- mite destinadas a subversão da ordem pública; a

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flitos na contemporaneidade1. sua apreensão, e a subsequente confissão de um
dos acusados, autoriza a condenação”. O inqué-
Portanto, numa análise preliminar, do pon- rito, aberto por determinação do Chefe de Po-
to de vista do Estado e no discurso jurídico lícia de Manaus (AM), visava apurar a respon-
modernos, ordem pública significa respeito à sabilidade dos promotores de uma conjuração
lei e funcionamento regular das instituições de para subverter a ordem pública naquela capital
controle. Nas políticas criminais atuais, signifi- e atentar contra as autoridades legitimamente
ca a manutenção do controle sobre aquilo que constituídas. O julgamento do suposto plano
as pessoas percebem como distúrbio no fun- de implantação de regime comunista no Estado
cionamento das instituições que devem agir do Amazonas, por meio da explosão de prédios
em seu favor. No campo específico das polí- públicos e com auxílio de cidadãos colombianos
ticas de segurança observa-se que o conceito e seringalistas desempregados, foi o primeiro
de ordem pública que orienta as políticas de caso em que ordem pública e prisão preventiva
segurança no Brasil desempenha uma função se tornaram objeto de análise do Supremo.
deslegitimadora do discurso dos direitos hu-
manos e da participação cidadã, uma vez que A única definição sobre o conceito de or-
a guerra contra o crime adquire maior relevân- dem pública no STF durante esse período veio
cia política se comparada às ações dos gover- no voto do ministro Bento de Faria, em sede
nos locais destinadas à inclusão dos habitantes do habeas corpus nº 28.383, julgado em 25 de
das cidades e ao incentivo a comportamentos fevereiro de 1943:
conforme a lei. Isso será tratado no desenvolvi- O conceito de – ordem pública – é amplo, e
mento deste artigo, com o aprofundamento e nele se compreende não só a segurança polí-
ilustração de tais observações preliminares. tica como também a jurisdição, para não per-
mitir a ninguém o poder de ameaçar, quer a
A ORDEM PÚBLICA NOS PROCEDIMENTOS existência e a finalidade das instituições, quer
JUDICIAIS – O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL o sistema jurídico, a paz pública e os princí-
Na segunda metade dos anos 1930, a re- pios da moral que governam a sociedade.
lação entre ordem pública e cárcere começou
a compor a jurisprudência da Corte Suprema. As constantes declarações de estado de
O conturbado período histórico do primeiro emergência fizeram com que a Suprema Corte

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se eximisse de julgar as ordens de habeas cor- A Apelação nº 1.439/SP tratou da marca-
pus que se apresentavam, não questionando a ção de um comício de caráter subversivo na
orientação política vigente, e o aparato legisla- cidade de Santos, em 30 de setembro de 1949,
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tivo repressivo aos comunistas, levado a efeito sem prévia comunicação à polícia. Uma vez
pelo ministro da justiça, Vicente Raó, acabou proibido o comício pelas autoridades locais,
por direcionar grande parte dos processos de policiais e participantes entraram em confron-
cunho político ao Tribunal de Segurança Na- to, ocorrendo a morte de um investigador e
cional. O etiquetamento ou a atribuição do sta- um “comunista” (conforme a decisão judicial).
tus de criminoso a inimigos políticos foi a tôni- A decisão veio assim ementada:
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ca desse período. A ação contra os comunistas A lei 431 não foi revogada pela Constituição.
se deu tanto na criminalização primária (pro- Não é crime ser comunista, mas se este, atra-
dução de leis), como na criminalização secun- vés de partido ou associação exerce atividade
dária (aplicação da lei penal). O que se exigiu contrária à segurança do Estado ou à ordem
para concretização deste último foi uma ação pública e social, estará sujeito às penas do art.
de centralização e fortalecimento da polícia e, 3 nº 8 da lei 431.
para o primeiro, a elaboração de leis e decretos
que deram o substrato para a ação repressiva. Toda a estrutura repressiva fortalecida no
Estado Novo não ruiria, obviamente, da noite
Todos os acórdãos do STF do período para o dia com o fim do regime político au-
1936-1945 que fazem menção à ordem pú- toritário. Grande parte do aparato legislativo
blica se referem a crimes de natureza política, repressivo penal brasileiro continuou a existir,
sendo assim considerados aqueles contra o Es- mesmo com a derrocada dos regimes autoritá-
tado, contra a Lei de Segurança Nacional ou rios que o instituíram.
em razão de defender ideias políticas contrárias
ao regime. Na busca realizada na base de da- No habeas corpus nº 31.688/SP, julgado em
dos construída para a pesquisa não se localizou 22 de agosto de 1951, sendo relator o minis-
qualquer decisão relacionada a crimes comuns. tro Nelson Hungria, fica evidente que a polícia
continuou tendo liberdade de atuação, mesmo
Do criminoso político ao criminoso após o fim do Estado Novo:
comum – 1945-1974 Fatos perturbadores ou ameaçadores da per-
A Constituição de 1946 anuncia no pre- turbação da ordem pública. Competência da
âmbulo um regime de tendência democrática autoridade policial. Independentemente de
e sua elaboração se deu em um contexto po- inquérito policial, pode a autoridade, na fun-
lítico menos conturbado e contou, inclusive, ção de polícia preventiva, mandar vir a sua
com a participação de parlamentares do Parti- presença, para esclarecimento de fatos per-
do Comunista. Não sem razão, portanto, que turbadores ou ameaçadores de perturbação
os acórdãos analisados que são posteriores ao da ordem pública, as pessoas neles envolvi-
fim do Estado Novo, em 1945, indicam uma das. A intimação para tal fim independe de
diminuição nas perseguições aos comunistas. mandado formal.

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No entanto, já se nota alguma tentati- CONSIDERANDO que, assim, se torna
va de controle da atividade policial nos anos imperiosa a adoção de medidas que impeçam
subsequentes. É o que se vê no habeas corpus sejam frustrados os ideais superiores da Re-

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nº 33.610/SE, de 22 de junho de 1955, cuja volução, preservando a ordem, a segurança, a
paciente era uma dona de casa do interior do tranquilidade, o desenvolvimento econômico
Estado de Sergipe, presa pelas seguintes razões: e cultural e a harmonia política e social do
Adianta que a prisão foi ditada pelo acúmu- País comprometidos por processos subversi-
lo de queixas contra a beneficianda, “mulher vos e de guerra revolucionária;
solteira e sem honra no sentido de virginda- CONSIDERANDO que todos esses fatos

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de.” [...] Acrescenta que o seu procedimento perturbadores da ordem são contrários aos
é muito sujo na cidade e na polícia, por se ideais e à consolidação do Movimento de
tratar de pessoa linguaruda e fuxiqueira... março de 1964, obrigando os que por ele
se responsabilizaram e juraram defendê-lo,
A decisão do Supremo, neste julgamento, a adotarem as providências necessárias, que
dá uma resposta ao arbítrio policial: evitem sua destruição.
Não é lícito à autoridade policial atribuir-se
o direito de, ao seu alvedrio, mandar deter O AI nº 5 deu poderes ao Presidente da Re-
e prender as pessoas, fora dos casos previstos pública para fechar o Congresso Nacional e,
na lei. Na missão de velar pela ordem e tran- em seu art. 10, suspendeu a garantia de habeas
quilidade públicas não se inclui a faculdade corpus nos casos de crimes políticos contra a
de enclausurar os cidadãos, salvo em flagran- segurança nacional, a ordem econômica e so-
te delito ou mediante ordem escrita de quem cial e a economia popular. Em 16 de janeiro de
competente. O prestígio da autoridade deflui 1969, os ministros do Supremo Tribunal Fede-
do respeito, por parte dela, dos mandamen- ral Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Vic-
tos constitucionais e legais, da serenidade e tor Nunes Leal foram aposentados pelo regime
legitimidade de seus atos. militar com amparo no referido Ato.

O regime democrático, instaurado com a Não foram localizadas muitas decisões do STF
Constituição de 1946, mantém-se até 1964, do período 1945-1974 que versam sobre o tema
quando os militares instalam-se no poder. O da ordem pública e prisão preventiva. No entanto,
início do período ditatorial, do ponto de vista ao fim desse período encontra-se o primeiro acór-
legislativo, é marcado pela edição de 17 Atos dão relativo à prática de crime comum.
Institucionais (AI). Os primeiros cassaram
mandatos, suspenderam direitos conquistados O repertório de 33 anos de jurisprudência
e extinguiram partidos políticos. do STF sobre ordem pública e prisão preventiva,
contados da entrada em vigor do novo Código
O preâmbulo do Ato Institucional nº 5, de de Processo Penal (CPP), é constituído exclusi-
13 de dezembro de 1968, já anuncia a busca de vamente por crimes políticos. Demonstrou-se,
inimigos e, novamente, em nome da ordem: assim, que a formação do conceito da ordem

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pública e sua relação com o cárcere se deu antes nizações Criminosas. Já nos anos 2000, o maior
mesmo da previsão legislativa de 1941, e serviu impacto legislativo de recrudescimento penal foi,
como substrato de construção de uma tentativa sem dúvida, a entrada em vigor da nova Lei de
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de racionalidade no discurso jurídico-penal para Drogas, Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.


justificar a perseguição aos inimigos do poder É neste contexto de endurecimento da legislação
instituído, mesmo que para tanto bastasse so- penal que a jurisprudência do Supremo Tribunal
mente a diferença no campo das ideias. Federal passa a ser mais abundante no tema da
ordem pública e prisão cautelar.
Da entrada em vigência do atual CPP até
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o ano de 1974 o instituto se manteve fiel aos Com acentuada influência da legislação
propósitos de sua criação, restringindo-se ao estrangeira autoritária, a entrada em vigor da
papel de importante instrumento político de Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995, instituiu
estigmatização, isolamento e, porque não, ani- no País um novo inimigo: o “crime organiza-
quilação daqueles que ousassem discordar dos do”. Combatê-lo virou palavra de ordem em
que detinham o poder. qualquer discurso político, tanto da esquerda
quanto da direita (KARAM, 1996).
O habeas corpus nº 52.697/RJ, julgado em
13 de setembro de 1974, foi o primeiro a men- Com relação às organizações criminosas
cionar a ordem pública para justificar o encar- pode-se citar o habeas corpus nº 102.164/RJ:
ceramento provisório por crime comum. Os Decreto de prisão preventiva devidamen-
pacientes foram acusados de integrar quadrilha te fundamentado na garantia da ordem
especializada em furtos de veículos. pública, considerada a participação do
Paciente em organização criminosa, nota-
A tentativa de construção de uma nova damente o exercício de chefia, e a possi-
racionalidade do discurso jurídico- bilidade objetiva de reiteração delituosa,
penal para justificar o aprisionamento que não é desmentida pelos elementos
cautelar – 1974 até os dias atuais constantes nos autos.
Como não se revisou a legislação de cunho
autoritário, base das leis penais elaboradas du- As organizações criminosas passam a compor o
rante o Estado Novo, a possibilidade legal de discurso jurídico-penal com a entrada em vigor da
determinar a prisão de um cidadão ou cidadã lei em maio de 1995, o que indica que a partir de
com a justificativa de perigo ou risco à ordem então os atores jurídicos tiveram que buscar o que
pública acabou servindo para outros propósitos. seria organização criminosa e quem a compunha.

A década de 1990, para o campo penal bra- A atual lei de drogas, por sua vez, consti-
sileiro, é marcada, sob a ótica legislativa, pela tui marco relevante para a construção de um
entrada em vigor da Lei nº 8.072/90, que ficou discurso jurídico-penal que eleva à categoria
conhecida como dos Crimes Hediondos, e da Lei de inimigo interno a figura do traficante. Para
nº 9.034, de 3 de maio de 1995, a Lei das Orga- Vera Regina Pereira de Andrade:

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Trata-se de uma Política de guerra, comba- De acordo com informações divulgadas
te ou beligerância (genocida) que, inserida outrora pelo governo brasileiro (BRASIL,
num processo de transnacionalização ou 2005), o “aumento da criminalidade e da

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globalização do controle social – é poten- violência” tem origens na década de 1960 e
cializada, no Brasil, por uma tríplice base principalmente 1970, quando o país atraves-
ideológica: a ideologia da defesa social (em sou um processo acelerado de urbanização e
nível dogmático) complementada pela ide- de crescimento de grandes centros urbanos e
ologia da segurança nacional (em nível de regiões metropolitanas, sob um regime auto-
Segurança Pública), ambas as ideologias em ritário e excludente.

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sentido negativo instrumentalizadas (no ní-
vel legislativo) pelos Movimentos de Lei e Segundo José Murilo de Carvalho, na épo-
Ordem (com sua ideologia em sentido posi- ca da promulgação da Constituição de 1988
tivo). (ANDRADE, 2013, p. 2-3) pensava-se que: “[...] o fato de termos recon-
quistado o direito de eleger nossos prefeitos,
Dessa forma, ao analisar os procedimentos governadores e presidente da República seria
judiciais no STF relativos à prisão preventiva garantia de liberdade, de participação, de se-
para garantia da ordem pública, foi possível gurança, de desenvolvimento, de emprego,
perceber que os inimigos da ordem são aqueles de justiça social” (CARVALHO, 2001, p. 7).
que o poder político punitivo assim determina Contudo, o mesmo autor diz que o exercício
e opta por selecionar durante determinado pe- de direitos, como a liberdade de pensamento
ríodo ou processo histórico. e o voto, não é suficiente para a garantia de
outros “direitos”, como o emprego e a segu-
O MARCO LEGAL DA SEGURANÇA E DA rança, ou seja, que o exercício de direitos civis
ORDEM PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO e políticos não se relacionam, direta e imedia-
FEDERAL DE 1988 tamente, com direitos sociais.
A Constituição brasileira de 1988 é um mar-
co importante na história do País, tanto do pon- A Constituição Federal de 1988 classifica
to de vista jurídico como do político e social. a segurança como um direito social. É dedica-
Ela é o símbolo formal da redemocratização do também a este assunto um capítulo intitu-
brasileira, que se iniciou em 1985, e neste texto lado “Da Segurança Pública”. Neste capítulo
é o ponto de partida para a análise da constru- estabelece-se o sistema de segurança pública,
ção do conceito de ordem pública nas políticas com seus órgãos e funções (art. 144, incisos
de segurança. Este diploma legal contém várias I a V), sendo este sistema encarregado da: a)
menções à ordem pública, sendo que algumas preservação da ordem pública; b) preservação
delas carregam consigo flagrantes contradições da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
ou ambiguidades que são reveladoras das pecu-
liaridades deste conceito, e que indicam um ca- O direito à segurança é geralmente situ-
minho para observar modificações também em ado entre os direitos individuais. Na Cons-
outros documentos e discursos. tituição federal brasileira de 1988 a segu-

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rança aparece, inicialmente, no preâmbulo Esta relação local-global se reflete nas po-
e depois, no Título II, referente aos direitos líticas públicas contemporâneas. A construção
e garantias fundamentais. Ela é mencionada da cidadania, por exemplo, para José Murilo
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tanto na redação do caput do artigo 5º – Dos de Carvalho, “[...] tem a ver com a relação das
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – pessoas com o Estado e com a nação”, pois as
como no caput do artigo 6º – Dos Direitos pessoas se tornavam cidadãs “[...] à medida
Sociais. No entanto, configurar a segurança que passavam a se sentir parte de uma nação
como um direito constitucionalmente pro- e de um Estado, ao passo que hoje existe um
tegido não significa que serão atendidos pa- consenso em torno da ideia de que vivemos
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drões mínimos de proteção igualitária. Nes- uma crise do Estado-nação” (CARVALHO,


se sentido, Theodomiro Dias Neto faz uma 2001, p. 12). Contudo, para este estudo sobre
observação sobre o direito à segurança que as modificações na segurança que estão impli-
precisa ser considerada: cadas nesta crise do Estado-nação importa a
A doutrina constitucional alemã – tradicio- afirmação seguinte do autor:
nalmente orientada à ideia do Estado como A redução do poder do Estado afeta a natureza
centro único do poder, da política e do di- dos antigos direitos, sobretudo políticos e so-
reito – passou a legitimar restrições às ga- ciais. Se os direitos políticos significam partici-
rantias individuais com base em um “direito pação no governo, uma diminuição no poder
fundamental à segurança” (Isensee, 1983), a do governo reduz também a relevância do di-
ser protegido pelo Estado por intermédio do reito de participar. Por outro lado, a ampliação
aparato penal. Ferrajoli (1978) diagnostica a da competição internacional coloca pressão so-
deturpação da noção de garantismo, que de bre o custo da mão de obra e sobre as finanças
sistema de garantias da segurança do cida- estatais, o que acaba afetando o emprego e os
dão contra o arbítrio estatal converte-se em gastos do governo, do qual dependem os direi-
sistema de garantias de segurança do Estado. tos sociais. (CARVALHO, 2001, p. 13)
(DIAS NETO, 2005, p. 93).
Além dessa necessária e complexa equa-
Então a segurança não dependeria apenas ção que envolve diversos direitos e garantias
dos direitos individuais, e sim de todos os di- fundamentais há uma preocupação específica
reitos fundamentais, ainda que as políticas atu- quanto ao lugar e ao desenho constitucional da
ais destinadas a melhorar as condições de se- segurança, e um dos problemas mais flagrantes
gurança das populações urbanas estejam sendo compreende o controle militarizado sobre a
desenvolvidas pelas administrações locais que, ordem pública, pois segundo Jorge Zaverucha:
em geral, têm suas competências mais forte- A nova Constituição descentralizou poderes
mente relacionadas aos direitos sociais, eco- e estipulou importantes benefícios sociais si-
nômicos e culturais. Somam-se, aí, o direito milares às democracias mais avançadas. No
ao meio ambiente, cuja gestão também está a entanto, uma parte da Constituição perma-
cargo dos governos locais e que também possui neceu praticamente idêntica à Constituição
uma interface com a política global. autoritária de 1967 e sua emenda de 1969.

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Refiro-me às cláusulas relacionadas com as Segurança, ordem, igualdade, parti-
forças armadas, polícias militares estaduais, cipação, segregação
sistema judiciário militar e de segurança pú- Um problema não resolvido das políti-

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blica em geral. (ZAVERUCHA, 2005, p. 59) cas de segurança contemporâneas consiste no
acesso diferenciado a esse bem público, dadas
Pode-se dizer, portanto, que no Brasil o as situações de exclusão, ou seja, de não perten-
controle militar sobre a ordem pública perma- cimento a uma comunidade determinada. Phi-
nece. Ele pode ser observado tanto na legisla- lippe Robert, para referir-se àqueles que a lite-
ção quanto em documentos de governo, sendo ratura sociológica e criminológica atual refere

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que esta opção está sempre justificada pela imi- como ‘excluídos’ (outsiders), utiliza o termo de-
nência de perigos que, no mais das vezes, são sarraigados (‘desgarrados’), definindo-os como
definidos arbitrariamente. “[...] aquellos que no participan de los vínculos
de pertenencia a una comunidad” (ROBERT,
A ORDEM PÚBLICA NAS POLÍTICAS 2003, p. 40). São, portanto, os “outros” da psi-
URBANAS DE SEGURANÇA canálise, os “estranhos” da política urbana, os
Assim como na jurisprudência do Supremo “imigrantes” da política internacional, os “sus-
Tribunal Federal analisada anteriormente, nas peitos” do sistema penal, os “não civilizados”
políticas de segurança o conceito de ordem pú- das políticas de segurança urbana. A definição
blica também assume configurações distintas a trazida pelo autor, apesar de dizer respeito ao
depender da configuração política, das diversas caso francês em particular, é relevante para este
possibilidades de construção da ideia de ini- trabalho uma vez que serve de guia para a aná-
migo, e dos objetivos sociais manifestos cultu- lise das dinâmicas excludentes da atualidade,
ralmente e planetariamente. A proposta, nesta concentradas nos desejos de segurança das po-
etapa, é discutir o conceito de ordem pública pulações urbanas, pois as políticas atuais neste
a partir das dinâmicas do contexto urbano e ramo ressuscitam a comunidade como ente ca-
das formulações políticas voltadas a padrões paz de realizar este desejo, em alguma medida,
conhecidos hoje como de “qualidade de vida”, mas em geral elas só abrangem os incluídos.
pois este conceito está afeto ao tema da segu-
rança, que já foi nacional, passou a ser pública A participação comunitária surge como a
e se transformou em urbana durante o trans- nova panaceia para o problema da segurança e
curso do século XX. como alternativa ao modelo repressivo de polí-
tica nesta área, mas os pressupostos que infor-
O conceito de ordem pública é reeditado na mam esta alternativa, no mais das vezes, são os
medida em que as cidades assumem um papel mesmos que informam as políticas das quais
relevante na administração dos problemas de pretendem diferenciar-se: a pobreza como causa
segurança, e é nessa reedição do conceito que se do crime, o grande problema que representam
centra o interesse deste estudo, por se considerar os pequenos delitos ou as incivilidades, a inca-
que assim ele está mais próximo do que nunca pacidade dos governos democráticos de contro-
esteve de assumir um significado concreto. lar a delinquência, a segurança como indicador

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de qualidade de vida, etc. São comuns em textos com os segmentos mais influentes, em maiores
acadêmicos e relatórios de governo afirmações condições de articular publicamente as suas de-
genéricas como as que seguem: “[...] hay una mandas, assumindo o controle da agenda e dos
Artigos

relación positiva entre la participación ciudada- recursos policiais. (DIAS NETO, 2000, p. 97).
na y el control efectivo de la criminalidad; su
papel en la prevención del delito es crucial. Los Outra ressalva importante a este tipo de es-
ciudadanos pueden ayudar a disminuir el delito tratégia de segurança é a sua vocação simbólica,
o permitir que se convierta en un estilo de vida.” quer dizer, ela foi desenvolvida para que o envol-
(PÉREZ GARCÍA, 2004, p. 33) vimento de comunidades nas questões de segu-
O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?
Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes

rança representasse uma mudança na percepção


Policiamento e Comunidade e na avaliação que fazem da atividade policial.
A segurança comunitária geralmente fun- Isso significa que a estratégia de policiamento
ciona a partir de redes de informações e rela- comunitário é muito mais uma resposta simbó-
ções entre os habitantes de um determinado lica ao problema da insegurança e da desordem
bairro, que utilizam mecanismos como o Nei- do que uma estratégia real, capaz de modificar
ghbourhood Watch, ou grupos privados de au- a segurança objetiva das populações urbanas. A
todefesa, ou também a partir do envolvimen- estratégia de segurança que tenha como foco
to da polícia com os cidadãos nas estratégias o policiamento comunitário envolve, no mais
conhecidas como Policiamento Comunitário. das vezes, os elementos que aqui se discutem: 1.
Sabe-se, porém, que algumas estratégias nesse necessidade de prevenção dos conflitos; 2. par-
sentido surtiram ou surtem efeito sobre as in- ticipação da comunidade; 3. controle das desor-
civilidades, e assim mesmo quando utilizadas dens (ROSEMBAUN, 2002).
em bairros compostos de cidadãos fortemente
articulados, ou com níveis elevados de capital Mas, afinal, de quem é a segurança provida
social. Segundo Theodomiro Dias Neto: pela iniciativa comunitária? Contra quem ou que
Estudos sobre a composição das organizações tipo de risco? Não seria este um exemplo da se-
comunitárias costumam destacar uma maior gurança como “razão de Estado” na administra-
incidência de indivíduos casados, proprietários, ção das cidades, em vez da tão falada “segurança
com maior tempo de residência na área e em cidadã”? Paradoxalmente, não seria a segurança
melhor situação econômica e educacional. Uma cidadã (geralmente relacionada ao policiamento
avaliação da Police Fondation sobre um projeto comunitário e a iniciativas similares) mais for-
de organização comunitária promovido pela temente identificada com a segurança dos con-
polícia de Houston indicou um maior êxito do domínios artificiais de classes médias e altas, que
programa entre brancos e proprietários. Uma nada tem a ver com redes comunitárias?
das explicações para esta disparidade seria a ten-
dência da polícia em limitar seus contatos com Nos bairros ricos, a segurança é, em grande
os grupos já estabelecidos, ao invés de investir parte, privada e nos bairros pobres as pessoas
na comunicação com segmentos não-organiza- têm outras necessidades. Muitas vezes elas mes-
dos. Tal situação pode aguçar as divisões sociais, mas são percebidas como perigosas, portanto,

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não estão em condições de se preocuparem com Está na moda supor que certos referenciais
suas condições de segurança de acordo com os de uma vida digna conseguem criar bairros
padrões dos grupos incluídos, no sentido con- dignos – escolas, parques, moradias limpas e

Artigos
vencional de proteção contra o risco criminal coisas do gênero. Como a vida seria fácil se
comum, ou não conseguem expressá-las de for- fosse verdade! Que maravilha satisfazer uma
ma que alcancem o nível da formulação de polí- sociedade complexa e exigente dando-lhe sin-
ticas. Este problema é particularmente relevante gelas guloseimas concretas! Na prática, causa
para a realidade brasileira, pois no final da déca- e efeito não são assim tão singelos. Tanto que
da de 1980 a população urbana no Brasil já era um estudo feito em Pittsburgh, com o intuito

O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?


Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes
de 111.867.000 pessoas, entre as quais 33,2% de demonstrar a suposta íntima correlação en-
eram pobres urbanos (SERRA, 1998). tre moradias melhores e condições sociais mais
altas, comparou os índices de delinquência em
Além do problema da pobreza, há que se cortiços com aqueles em novos conjuntos ha-
considerar também a segmentação, pois a dis- bitacionais e chegou à embaraçosa conclusão
tância social, inclusive em termos de localiza- de que a delinquência era mais alta nos con-
ção espacial na cidade – segregação – e qualida- juntos habitacionais em que havia melhorias.
de das moradias, reduz a possibilidade de inte- (JACOBS, 2000, p. 123 e 124).
ração social entre grupos distintos (SUNKEL,
2003, p. 311). Quanto menor for este contato, Para ela não existe relação entre boa mo-
maior a probabilidade de os comportamentos radia e bom comportamento, no que cita a
dos “estranhos” serem considerados negativos. denominação de Reinhold Niebuhr para isso,
Nesse sentido, são importantes as observações como a “doutrina da salvação pelos tijolos”
de Luiz Cezar de Queiroz Ribeiro, pois para ele (JACOBS, 2000, p. 124). A autora salienta
“[...] a segregação espacial assume o papel de aspectos que avalia como mais importantes
reprodutora das desigualdades no que respei- do que a qualidade das moradias para que um
ta à distribuição do poder social na sociedade, bairro possa ser considerado bom e útil para
entendido este como a capacidade diferenciada os moradores e para as próprias cidades, tais
dos grupos e classes em desencadear ações que como a capacidade de resolver problemas, a
lhes permitam disputar recursos urbanos” (RI- capacidade para autogestão e a qualidade dos
BEIRO, 2004, p. 27). contatos dos habitantes com “[...] grupos po-
líticos, administrativos e de interesse comum
Jane Jacobs dedica um capítulo inteiro de na cidade como um todo” (JACOBS, 2000,
seu livro Morte e vida de grandes cidades aos p. 130). Com este último aspecto marca-se a
usos dos bairros e toca num dos fundamentos importância de inter-relações que ampliam a
das atuais políticas de segurança urbana, tan- vida pública e ao mesmo tempo reduzem a ne-
to norte-americanas quanto europeias, que é cessidade de correntes de comunicação longas
a noção de ordem (limpeza, silêncio, ilumina- (ou mesmo lacunas) e que fazem demandas
ção) no ambiente urbano e sua relação com a das comunidades serem atendidas, gerando o
segurança contra o risco criminal: compromisso da reciprocidade, sob pena de

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não haver ajuda em demandas futuras. temente um discurso intolerante do que uma
prática verdadeiramente intolerante para com
O fato de Jane Jacobs criticar a “doutrina da o crime. Ademais, quando os processos repres-
Artigos

salvação pelos tijolos” não quer dizer que não deva sivos funcionam “a todo o gás”, dirigem-se,
haver preocupação com a qualidade das moradias como em todo lugar, a alguns grupos de cri-
por parte do poder público. O alerta da autora está minosos, e não a todos2, provocando situações
concentrado no perigo da destruição das relações desconfortáveis para as autoridades quando a
existentes entre os moradores de conjuntos habita- desigualdade é flagrante, ou perpetuando as
cionais consolidados para a realização de projetos consequentes injustiças quando a desigualdade
O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?
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arquitetônicos que não levem em consideração é sustentável pelos códigos culturais e se esta-
tais relações e ainda pretendam resolver problemas belece no âmbito do controle social informal.
complexos como os de segurança.
Philipe Robert também descreve a passagem
Neste estudo, concorda-se com Jacqueline da regulação comunitária à regulação estatal na
Muniz e Domício Proença Júnior quando afir- segurança, dizendo que esta surge quando aque-
mam que “[...] é a orquestração das comunida- la não é mais produtiva, devido à complexidade
des com as polícias e com as agências públicas das relações sociais. O autor destaca o anoni-
que produz ordem”, e também entende-se que mato3, que substitui o conhecimento mútuo e
a ordem pública é “[...] uma realidade mais o respectivo potencial de controle. Ele relaciona
ampla do que a contenção da desordem e a o recurso ao Estado (esfera penal) e a “neces-
investigação, repressão e dissuasão do ilícito” sidade” de uma resposta punitiva ao desconhe-
(MUNIZ; PROENÇA JÚNIOR, 1997, p. cimento sobre a autoria dos delitos, sendo este
15). No entanto, uma nova noção de ordem um ponto de relevo da prática penal que não é
está sendo desenvolvida com a interação dos levado em consideração pela teoria. Enquanto
diversos atores e agências na elaboração e im- pesquisas apontam a proximidade entre agres-
plementação de políticas urbanas. Essa noção sor e vítima em vários tipos de crimes graves
deveria se pautar por concepções que garantis- (crimes contra a vida, a integridade física, se-
sem uma participação equânime e includente, xual, psicológica, etc.)4, que ocorrem inclusive
em que a proteção resultante fosse aproveitada no ambiente doméstico, também revelam que
por todos, e não apenas se reforçasse a partici- o temor é provocado pelo que é estranho, pelo
pação por outros canais daqueles que já estão desconhecido, pelo outro que não tem identida-
incluídos ou representados formalmente na de, do qual só são esperados prejuízos materiais,
administração dos espaços e dos recursos. A físicos ou de outra natureza.
percepção mais ampla do problema não garan-
te que o tipo de controle resultante não esteja Anthony Giddens cita Barth para falar so-
eivado dos mesmos vícios do controle formal bre os sentimentos de identidade de grupo,
sobre a desordem resumida nos ilícitos penais. e diz que em todos os tempos e em todos os
lugares eles são excludentes, ou seja, a forma
No entanto, no Brasil, temos mais frequen- como um grupo ou comunidade é concebido

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depende das características atribuídas aos ou- ciedade civil são mal vistos e suas lideranças em
tros, aos estrangeiros. O autor menciona in- geral são consideradas perigosas.
clusive culturas tribais nas quais a palavra que

Artigos
significa membro da comunidade é a mesma Em 16 de dezembro de 2013, o Ministé-
usada para humano. Assim também surge a as- rio da Defesa – Estado Maior Conjunto das
sociação de estrangeiro com a designação “bár- Forças Armadas editou a Portaria Normativa
baro” (GIDDENS, 2001, p. 141). nº 3.461, em que dispõe sobre a “garantia da
Lei e da Ordem”. Entre definições de atuação
A visão do outro como perigoso pode ser asso- para todas as forças em caso de ocorrência da

O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?


Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes
ciada, então, à velha e contestável distinção entre hipótese do art. 142 da Constituição de 1988,
casa e rua, já explorada na teoria social brasileira o documento também define quem são, no re-
(COIMBRA, 1998) e que envolve uma separa- gime democrático, as “forças oponentes”:
ção percebida como problemática por Philippe São segmentos autônomos ou infiltrados em
Robert, entre as categorias público e privado (RO- movimentos sociais, entidades, instituições,
BERT, 2003). Para o autor, a comunidade cumpre e/ou organizações não governamentais que
o papel oposto daquele pretendido pelas políticas poderão comprometer a ordem pública ou
atuais de segurança urbana, ou seja, sua atuação até mesmo a ordem interna do País, utili-
consiste no encaminhamento de mais denúncias zando procedimentos ilegais. 5. PÚBLICOS
por parte das organizações comunitárias. A exis- ALVO 5.1. Integrantes de movimentos con-
tência do controle comunitário ativo implica, em testatórios [...] 5.3. Integrantes de organiza-
seu pensamento, a possibilidade de resolver os ções criminosas. 1) Características a) dividi-
conflitos na própria comunidade, sem ter que re- dos em facções criminosas; [...].
correr à ação estatal (ROBERT, 2003, p. 57).
O debate em torno da Portaria do Minis-
No caso brasileiro não é isso que percebe- tério da Defesa se insere no contexto atual das
mos. Os problemas não têm sido resolvidos na manifestações populares frequentes no Brasil.
comunidade, exceto em casos-limite como os de Soma-se a isso a realização de eventos interna-
linchamento, e há cada vez mais a tendência de cionais no País que despertam a atenção dos
se recorrer à ação estatal ou simplesmente espe- órgãos de segurança pública e das autoridades.
rar por ela. O próprio Poder Judiciário mono-
poliza as conhecidas alternativas judiciais, como A edição do documento normativo reco-
a mediação e a conciliação, e o Poder Executivo, loca em pauta o uso de conceitos vagos e in-
no comando das polícias, não dá verdadeiras determinados no direito, como o da ordem
condições de articulação destas a outros serviços pública, sempre aptos a justificar o discurso
públicos, aproximando a comunidade a uma jurídico penal e a ação política repressiva por
perspectiva participativa nas condições de se- parte das autoridades.
gurança efetivas e também no planejamento de
ações voltadas a uma ideia futura de segurança. Importante notar que o uso do conceito da
As organizações sociais e os movimentos da so- ordem pública transcende o próprio art. 312

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do Código de Processo Penal (CPP) de 1941, política de segurança adotada. Uma legitima e
estando perfeitamente, como se vê, incorpora- serve de base para a outra.
do nas ações de segurança pública como fun-
Artigos

damento discursivo racional da intervenção Atualmente vê-se o desenrolar de outro ca-


estatal em situações de crise em pleno Estado pítulo desse reforço de estereótipos e estigmas
Democrático de Direito. negativos, construídos nos últimos anos na polí-
tica e na comunicação social brasileira, no deba-
CONSIDERAÇÕES FINAIS te que está acontecendo no Congresso Nacional
O presente texto exibiu um panorama do em torno da definição legal de terrorismo. O
O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?
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uso do conceito de ordem pública como ele- último lance dessa disputa no plano legislativo
mento discursivo que orienta a prestação juris- ocorreu em 28 de outubro de 2015, com a re-
dicional no Supremo Tribunal Federal nos casos tirada no Senado Federal de um trecho, ante-
de prisão preventiva e a apropriação que dele riormente aprovado na Câmara, que excluía da
tem sido feita no âmbito da segurança públicas aplicabilidade do novo tipo penal às manifesta-
das últimas décadas. Estes dois aspectos se re- ções políticas, aos movimentos sociais, sindicais
lacionam intrinsecamente, dado que, ao servir e religiosos que tivessem o objetivo de defender
de fundamento para justificar o encarceramen- liberdades, direitos e garantias constitucionais.
to provisório, termina por orientar uma política Não se sabe qual será o desfecho da tramitação
pública de segurança que privilegia a segregação desse projeto de lei (2016/2015), mas nota-se
e criminalização de determinados grupos sociais que o cerco se fecha em torno da radicalização
(como no caso da Portaria do Ministério da da resposta punitiva a situações de inconformi-
Defesa). Assim, caracteriza-se uma via de mão dade com um sistema no qual as condições de
dupla, na medida em que o procedimento judi- respeito à lei são acessíveis a poucos e desrespei-
cial irradia para a política de segurança pública, tadas pelos próprios formuladores das leis e das
dado que a ação de encarceramento fundada na políticas públicas. A noção de ordem pública,
seletividade de grupos mal vistos socialmente sem dúvida, permanece central e desconectada
termina por orientar e reforçar tais estigmas na dos interesses da população.

1. Para uma descrição mais completa sobre as tendências de política criminal citadas, ver Zackseski e Duarte (2012).

2. Refere-se à seletividade do sistema penal, amplamente descrita na literatura criminológica da segunda metade do século XX.
O Direito Penal como o direito desigual por excelência é objeto de discussão de Alessandro Baratta, no capítulo VIII do livro
Criminologia crítica e crítica do direito penal (BARATTA, 1999).

3. “Al hablar de anonimato no quiero decir que nadie conoce a nadie o que no hay vínculos sociales. Simplemente, este vínculo se
produce mediante contactos sociales parciales, múltiples, en localizaciones diversas” (ROBERT, 2003, p. 57).

4. De acordo com uma pesquisa de vitimização realizada em Brasília, em 60% das agressões sexuais, homicídios e lesões corporais os
autores conheciam as vítimas. Essa pesquisa foi encomendada pela Secretaria de Segurança Pública. Os autores tiveram acesso a
alguns de seus dados por meio do Coronel Sérgio Coelho, em 18 de julho de 2006.

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O que é ordem pública no sistema de justiça
criminal brasileiro?

Artigos
Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes

Resumen Abstract

O que é ordem pública no sistema de justiça criminal brasileiro?


Cristina Maria Zackseski e Patrick Mariano Gomes
¿Qué es orden público en el sistema de justicia criminal What is public order in the Brazilian criminal justice system?
brasileño? One of the most controversial concepts in the sphere of criminal
Uno de los conceptos más controvertidos en el ámbito de justice is public order. In this text, the two sides of this coin are
la justicia criminal es el del orden público. En este texto, se described. On the one hand, the use of this concept in court
presentan las dos caras de esta moneda que son, por un lado, proceedings – particularly in the ruling of preventive detention
el uso que se hace de ese concepto en los procedimientos based on decisions by the Federal Supreme Court –, and on
judiciales – especialmente en el decreto de encarcelamientos the other hand, the characteristics that the concept takes on in
preventivos a partir de las decisiones del Supremo Tribunal the sphere of public safety, particularly after the 1988 Federal
Federal–, y por otro, las características que el concepto Constitution.
asume en el ámbito de la seguridad pública, en especial en
el período posterior a la Constitución Federal de 1988. Keywords: Critical criminology. Public order. Criminal law
discourse. Federal Supreme Court. Public safety.

Palabras clave: Criminología crítica. Orden público.


Discurso jurídico penal. Supremo Tribunal Federal.
Seguridad pública.

Data de recebimento: 09/11/2015


Data de aprovação: 15/02/2016

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