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Entre as Sombras e o Destino

Parte 1

“Sua vida foi trágica.


Ele não pediu para nascer.
Mas quando o trouxe até aqui,
Uma escolha lhe foi dada.”

A memória mais antiga que possuía era a da expressão de sua mãe em pranto e pavor ao olhar para seu filho recém-
nascido. Dos olhos do homem ao lado dela, escoltado por homens armados que praguejavam em línguas até então
desconhecidas, a mesma quantidade de lágrimas caía – apesar de sua expressão ser a de um profundo desgosto. Apenas a
senhora que lhe cobriu com um cobertor, secou seu corpo e lhe acalantou, tornou-se um rosto conhecido ao longo da vida,
mas até mesmo este rosto lhe fora tomado. Nunca mais ele chorou. Desde que se deu conta do significado de tudo aquilo.
Kiichi concluiu que sua existência estava amaldiçoada e que sua vida era o maior crime que alguém poderia ter cometido.

Houve um tempo em que uma família de aristocratas à serviço da monarquia de Lenórienn, os nobres e conservadores
Feuerblatt, possuiu o poder absoluto sobre o comando da cidade de geração em geração. Após os constantes ataques da
Aliança Negra contra as defesas élficas e a busca por refúgio de quase sua raça inteira no norte de Lammor, os Feuerblatts
perderam seu prestígio e influência, mas, de certo modo, conseguiram manter algumas posses e seu orgulho, reerguendo-
se um tempo depois em Rammor. Dentre suas tradições, o pior crime que um membro da família poderia cometer era a
miscigenação: a linhagem élfica deveria ser mantida pura, caso contrário, os próprios anciões sentenciavam seus
descendentes à morte.

A decepção era esperada quando o patriarca da família descobriu que sua filha única envolvera-se com um "inferior". Mas a
sabedoria da garota impediu a tempo a adaga que voou em sua direção, argumentando que por mais que sua vida fosse
uma posse das "Folhas de Fogo", a criança em seu ventre não conhecera a vida para ser julgada à morte. Desejando
postergar a perda de sua primogênita, o ancião acatou a este pedido e trancafiou sua filha no alto de uma torre para que
sua vergonha não fosse mostrada para a vila élfica. O jovem que a “maculou” foi encontrado pouco depois, sequestrado
por radicais que apoiavam os Feuerblatt e igualmente preso. Seus destinos estariam selados em alguns meses e não havia
nada a ser feito.

Mãe e pai viram pela primeira e última vez o choro de seu filho. O humano que apenas procurou uma aventura de uma
noite com a elfa nunca teve quaisquer consideração por ela e aos olhos dele o nascimento da criança era uma maldição.
Temendo pela vida do fruto de seu ventre, a primogênita deu um saco de moedas de ouro para a serva que lhe auxiliara
com o parto, ordenou que ela fugisse para o mais longe possível e nunca mais retornasse. Assim, a serva seguiu rumo ao
leste de Rammor, escalando a feroz cordilheira das temidas Montanhas Sanguinárias, enfrentando bestas lendárias e
diversas intempéries. Em algum momento, encontrando-se em segurança, a serva fez morada em uma floresta para cuidar
da criança de sua ama.

Kiichi teve uma infância solitária e amargurada. Mesmo recebendo cuidados, educação e afeto da serva, ele soube pela
morte de seus pais que não tinha o direito de estar vivo. Sua mãe de criação adquiriu uma doença diante das constantes
lutas contra as feras da montanha e sua vida se esvaía dia após dia ao efetuar pesadas tarefas domésticas -- e este fora seu
pior erro, afinal, ao pensar que o filho de um aristocrata não deveria sujar suas mãos com serviços braçais, não o preparou
para as dificuldades da montanha e as crueldades do mundo. Numa certa noite fria ela veio a falecer e o garoto, desolado,
viu-se novamente completamente sozinho e estava pronto para entregar-se ao destino que lhe era devido desde o
nascimento: a morte final.

Dias se passaram e as provisões da cabana começaram a se esgotar. A falta de força e experiência do garoto impedia que
ele saísse de lá. As sombras ganhavam cada vez mais força em seu coração e o pequenino não tinha mais forças para
continuar. Logo, para que Kiichi não fosse devorado por um dinossauro ou fatiado em um ninho de dragões caso tentasse
por os pés fora da cabana, ele utilizou a última pederneira para atear fogo em sua própria casa para, a partir dali, se juntar
a todos os seus familiares no outro mundo.

-- Estamos nessas montanhas há mais de três anos e eu nunca vi essa casa tão próxima de nós antes... Ela cheira a magia
élfica, mas esse fogo... Essa não, pode haver pessoas lá dentro!

Antes que tudo fosse consumido pelas chamas, um senhor calvo e barbudo invadiu a construção de madeira a fim de
socorrer possíveis vítimas do incêndio, mas tudo o que ele viu foi um local abandonado, o cadáver de uma mulher em uma
cama e uma criança de pele morena, olhos e cabelos negros, a segurar uma tocha acesa. Isto foi tudo o necessário para
concluir o que havia se passado e, sem pestanejar, o monge jogou-se no meio fogo, lançou o meio-elfo nos ombros e saltou
dali como um relâmpago, bem a tempo de o teto da cabana desabar e transformar, o que um dia foi chamado de moradia,
em uma pilha de escombros e cinzas.

-- Garoto, a vida é uma dádiva, um presente recebido pelos deuses para que simples existências como a nossa usufruam-na
da maneira mais plena possível. Toda vida um dia há de perecer, mas outras no lugar vão florescer. Não devemos nos livrar
dela de forma abrupta, mas aguardar que ela termine no seu próprio tempo, suave como a vinda da lua, que tomar lugar na
noite quando o sol descansa e dá lugar a ele para poder raiar mais um dia. Respeite a vida, e coisas maravilhosas virão com
ela.

-- ...

Tudo aconteceu muito depressa e Kiichi, que ainda estava em choque, permaneceu em silêncio. Apesar das palavras do
velho desconhecido não fazerem muito sentido para ele na época, o garoto reconheceu que sua mãe de criação teve uma
vida branda dentro da proteção do lar e uma morte pacífica, mesmo com a doença e das lutas constantes. Mas ele se
recordava das lágrimas de seus pais com seu nascimento e soube desde então que a morte fora abrupta com eles. Tudo o
que o garoto queria era estar junto deles pela eternidade e este pensamento enublava sua alma de pureza infantil
transparecendo sob seus olhos tão negros quanto os de um adulto calejado.

-- ... Eu não quero viver sozinho...

Por sorte (ou acaso) Ho Wa Somari conhecia crianças como aquela. O Templo Shaolin Ko Tenka, um santuário secreto de
estudo das artes marciais milenares e contemporâneas, fora construído sob o sangue e as cinzas de uma rivalidade
ancestral que tomou a vida de muitos monges e deixou mestres e pupilos, sem distinção, com cicatrizes que tão cedo não
seriam curadas. A conclusão desta história era nítida: decidido a dar um destino diferente do que o pequeno tentara
escrever para si, o velho Somari segurou a mão de Kiichi, impregnado de cinzas e sujeira, e o levou consigo para o templo
que lhe era responsabilidade.

-- Venha comigo, garoto. Vou levar você pra um lugar onde nunca estará sozinho.

[...]

A vida no templo não era nada fácil. Tarefas domésticas pesadas pela manhã, treinos intensos à tarde e estudos teóricos à
noite. Além disso, o refúgio era constantemente atacado pelas feras míticas gigantescas que viviam na região, mas o estilo
de luta singular dos aprendizes da Escola da Mente Oculta trazia vitórias indiscutíveis sem qualquer baixa. A rotina repleta
de disciplina, atividades físicas e superações diárias pouco a pouco retornou uma parte do brilho perdido dos olhos do
jovem meio-elfo, que chegou até mesmo a fazer um amigo (por mais que Kiichi contrariasse veemente este fato): Lu Bei era
seu nome e a rivalidade entre os dois seguiu por anos a fio como a busca por superação de um o outro em cada atividade,
que ia tanto de quem conseguisse limpar o pátio mais depressa quanto quem derrubasse mais Wyverns em uma invasão.

Essa amistosidade competitiva fez de ambos os melhores lutadores júnior do Templo. Mesmo sendo calado e um pouco
mal humorado, Xiao-Kii (nome o qual Kiichi recebeu de Somari ao entrar no templo sem questionar o porque) sempre
pregava peças em Xiao-Bei (nome recebido por Lu Bei, o qual ele se orgulhava) e vice-versa. Eles se desafiavam a tarefas de
dificuldade cada vez mais complexa e uma delas consistiu em ir até a sala de Yo Hua para trazer um objeto de lá.
Obviamente Kiichi foi pego em flagrante nesta ocasião, mas o jovem decidiu dar um propósito para aquela visita e
questionou o velho Somari enquanto o observava absorto em seus afazeres.

-- Mestre, quando vamos começar a aprender as técnicas de combate da Escola da Mente? Já chega de chutar sacos de
areia.

-- No temo certo, Xiao-Kii. Quando vocês estiverem prontos. -- Respondeu o mais velho, a guardar alguns pergaminhos com
inscrições mágicas e uma espada brilhante.

-- Mas mestre, eu e o Lu B... O Xiao-Bei, somos os melhores alunos do templo. Até mesmo conseguimos lutar ao lado dos
veteranos na contra as feras selvagens e estamos quase alcançando a maioridade! Você não quer que fiquemos mais
fortes?

-- Eu vejo tudo isso e estou muito orgulhoso com o progresso de vocês dois, mas a força não é medida por um número de
técnicas ou de inimigos caídos, e sim da capacidade de superação de um grande desafio. Quando tudo parecer perdido e
você for capaz de sobrepujar seu próprio destino, você será forte. A verdadeira vitória não é a que você derrota vários
inimigos, mas vence a si mesmo.

Impaciente e com o tom de voz alterado, Kiichi bate o punho cerrado contra a parede e responde.

-- Eu tive uma oportunidade de vencer a mim mesmo, mas você a tirou de mim naquela cabana, está lembrado? Se fosse
pra eu sobrepujar meu destino, que eu tivesse feito saindo de lá vivo sozinho! Minha vida é a prova de que eu sou fraco!

O velho tossiu algumas vezes, pigarreou, tomou uma xícara de chá que estava em sua mesa e respondeu em seu tom
brando usual.

-- Controle suas emoções e desapegue-se do passado, Xiao-Kii. Não há força sem equilíbrio, não importa quanto poder se
tenha em mãos.

Inconscientemente o discurso de Ho Wa teve efeito contrário sobre o meio-elfo. Contrariado, ele ficou ainda mais furioso e
começou a considerar todo aquele treinamento uma grande perda de tempo. Se ele fosse forte, sua mãe de criação não
precisaria lutar contra os monstros da montanha sem sua ajuda e ela não adoeceria. Nem seus pais precisariam ser mortos
por viver uma simples aventura se eles fossem fortes. Todos os problemas do mundo existiam porque o poder estava nas
mãos dos maus e pessoas boas como Somari ou até mesmo Ko Tenka buscavam apenas a paz e o equilíbrio sem luta. Para
que eles treinavam diariamente afinal? Isto tinha que mudar.

Na noite seguinte o aprendiz voltou a invadir sorrateiramente o escritório de seu mentor. Esgueirando-se pela escuridão
ele sabia que os pergaminhos, livros e a espada que estavam lá possuíam poder e o jovem os tomaria para si. Ele sabia que
nunca mais seria bem visto pelos monges, mas aquela era uma estrada para ser seguida sozinho. Em posse dos objetos,
enquanto fugia em silêncio, Kiichi encontrou-se justamente com Somari, que o aguardava de braços cruzados e um olhar de
reprovação na saída do templo. Kiichi adotou uma postura de combate, mas Somari ergueu uma das mãos e disse no
mesmo instante.

-- Você tomou sua decisão. Não sou eu quem você precisa lutar. É você mesmo. Espero que encontre o que está
procurando.

[...]

Em posse de livros, pergaminhos e textos de magia da Academia Arcana, além de uma espada ornamental muito bela capaz
de canalizar a energia mágica em forma de feitiços (arma a qual ele se tornou muito bom em manejar), Kiichi Heafy treinou
por anos em uma floresta oculta das Montanhas Sanguinárias em busca de se tornar um guerreiro completo. Além de se
tornar um adulto forte e saudável, os anos que se passaram também lhe trouxeram maturidade, temperança e
discernimento para a mente outrora juvenil. Aos poucos, muitas das lições dadas por seu antigo mestre começaram a lhe
fazer sentido. A gratidão pelo velho calvo que lhe acolhera em uma hora de tanto desespero crescia, bem como o
arrependimento por deixar tudo para trás, mesmo se tratando de uma vida sem luxos ou reconhecimentos.

Certa vez, muito antes que ele concluísse seu treinamento solitário, o meio-elfo não pode suportar a saudade e a vontade
de visitar o antigo templo, então ele partiu em uma viagem de volta. Além de ter abandonado o primeiro lugar a chamar de
lar, ele não deu qualquer explicação à primeira pessoa que ele um dia considerou amigo. “Lu Bei deve ter ficado furioso,
talvez eu dê alguma explicação para ele”. Mas ao entrar no templo, o que ele viu foi uma imensa comoção: seu mestre
estava ferido gravemente e sua consciência abandonara o seu próprio corpo. O autor da transgressão passou correndo por
ele sem que fosse possível identifica-lo, mas uma atitude muito mais urgente precisava ser tomada.

-- Eu sou Xiao-Kii, saiam todos da frente, eu vou ajuda-lo!

Kiichi sacou sua espada mágica, pronunciou palavras de encantamento e colocou-a sobre a garganta do velho. Alguns dos
presentes tentaram segurá-lo, mas seu corpo instintivamente fez com que uma onda de magia em forma de baque
afastasse a todos por vários metros pelo pátio. O ferimento aberto foi fechado magicamente, como se fosse costurado por
linhas invisíveis e, após alguns instantes, o mestre recobrou a consciência e cuspiu muito sangue. Bem a tempo de os
curandeiros invadirem a arena onde acontecera a luta e prestarem os devidos socorros ao monge caído. Posto em uma
maca e pronto para ser movido, o mestre ergueu minimamente a mão direita, abriu os olhos, virou-se na direção de quem
lhe devolveu a vida -- o garotinho da cabana que buscava a morte -- e disse com a voz fraca e trêmula antes de ser levado
para a enfermaria.

-- O pardal... Está de volta... Mas a primavera partiu... Não deixe... Se tornar inverno...

Com um aceno positivo e em pose resoluta, Kiichi Heafy, o Mago de Combate, se lançou em direção ao rastro de sangue e
destruição deixados para trás ao longo de rios, vales e montanhas em busca de seu destino.

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De Leonard Snart
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Em 06 de Dezembro de 2018

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