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As meninas soviéticas que

estouravam os miolos dos nazistas


Lyuba Vinogradova revê a história das franco-atiradoras soviéticas na
Segunda Guerra Mundial
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JACINTO ANTÓN
Barcelona 27 OUT 2017 - 23:58 CEST

Franco-atiradoras soviéticas da Segunda Guerra Mundial.

Eram majoritariamente muito jovens, algumas eram crianças. Vinham de


toda a União Soviética. O Exército Vermelho as recrutou aos milhares
na Segunda Guerra Mundial para usá-las como franco-atiradoras: deviam
apontar suas armas à distância e estourar os miolos dos soldados
inimigos, literalmente. Era a missão delas, era esse o ofício para o qual
foram meticulosamente preparadas e, embora matassem nazistas que
haviam invadido e devastado seu país e muitas tivessem longas listas de
vítimas –e algumas inclusive desfrutaram disso–, quase todas tinham
desmoronado e chorado na primeira vez, ao alvejar um ser humano com
sua arma. Tampouco nenhuma delas, cercada por uma grande massa de
camaradas sexualmente famintos, foi poupada de ter de suportar o
assédio e o abuso de seus comandantes e colegas masculinos,
geralmente bêbados: um verdadeiro combate em duas frentes. Embora
várias tenham se tornado muito populares e até recebido o título de
Heroínas da URSS, não puderam fazer carreira no Exército e, na volta
para casa, foram muitas vezes xingadas de mulheres-machos ou
prostitutas.

MAIS INFORMAÇÕES
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Quem conta isso é a pesquisadora russa Lyuba Vinogradova (Moscou,


1973) em sua chocante e ao mesmo tempo comovedora história dessas
franco-aturadoras, Avenging Angels (recentemente publicada na Espanha
pela editora Pasado & Presente com o título de Ángeles Vengadores, ou
Anjos Vingadores). Reconhecida colaboradora de Antony Beevor e Max
Hastings, Vinogradova –que teve publicada pela mesma editora sua obra
sobre as não menos surpreendentes aviadoras soviéticas da mesma
guerra (Defending the Motherland)– incluiu em seu livro depoimentos de
algumas franco-atiradoras que ela mesma conheceu e entrevistou. Como
Ekaterina Terekhova, de 90 anos, que manca levemente, consequência
de um ferimento de guerra em Sebastopol, que abateu trinta alemães.
Embora pareça uma marca enorme, o número empalidece diante dos
resultados de algumas de suas companheiras, como a lendária Liudmila
Pavlichenko, considerada a melhor franco-atiradora de todos os tempos,
à qual são atribuídas 309 mortes (Vinogradova questiona o dado), a
maioria com sua espingarda semiautomática Tokarev SVT-40 com mira
telescópica com aumento de 3,5 vezes (a maioria dos franco-atiradores,
no entanto, preferia a mais simples espingarda de ferrolho Mosin-Nagant,
mais precisa).
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As franco-atiradoras eram, junto com as aviadoras, a elite das mulheres


soldado soviéticas, das quais o Exército Vermelho, diante da escassez
de homens pela sangria da guerra, enviou à frente de batalha mais de
meio milhão (muitas mais se incluirmos as partizans e as milicianas civis)
para servir em todos os postos, desde a simples infantaria até
sapadoras, artilheiras e operadores de tanque. A iniciativa contrasta com
a oposição absoluta de Adolf Hitler a que as alemãs pegassem em
armas.

As franco-atiradoras, que obrigaram milhares de soldados alemães a


rastejar, foram treinadas como seus colegas homens e sofreram como
eles os rigores de uma guerra selvagem, aos quais foram acrescentadas
penúrias específicas como ter suas tranças cortadas, não dispor de
roupas e calçados adequados, de instalações sanitárias específicas ou
das medidas de higiene que requerem. A menstruação era um
aborrecimento quando se estava caçando nazistas. Muitas, diz
Vinogradova, usavam calcinha e sutiãs que haviam trazido de casa sob a
roupa íntima regulamentar de homem. Elas aprenderam a atirar, a se
camuflar, a permanecer imóveis por longos períodos de tempo.
Vinogradova cita que alguns estudos apontaram (com o perdão da
palavra) que elas podiam ter melhor desempenho na caça por serem
mais tranquilas e pacientes. Contra elas, tinham a dificuldade de suportar
o violento recuo do fuzil.
Liudmila Pavlichenko à espreita.

“Era, naturalmente, muito mais difícil e traumático matar uma pessoa


com uma espingarda do que em um avião”, diz. “A 200 ou 300 metros,
através da mira telescópica, você vê perfeitamente o rosto da vítima,
sabe muito bem quem está matando. Todas elas explicam que a primeira
morte foi um grande choque. Algumas se acostumaram, outras não. Ao
matar seu primeiro alemão, Lida Larionova pulou da trincheira
horrorizada e correu para suas fileiras gritando: “Eu matei uma pessoa!”.
Tonia Majliaguina, que era órfã, se lamentou depois de ter abatido sua
primeira vítima: “Ele era pai de alguém e eu o matei!”. A morte foi
deixando de impressioná-las de forma gradual. “Um cartucho, um
fascista!”, incentivava Roza Shánina quando já tinha matado mais de
vinte alemães. Ela morreu quase no fim da guerra, com a barriga aberta
por estilhaços, tentando conter com as mãos os intestinos que se
esparramavam e pedindo a seus companheiros que a matassem
rapidamente. Quando recebeu a medalha que havia ganho, Bella
Morózova fez o possível para mostrar apenas um lado do rosto. Uma
bala havia entrado pela têmpora do outro lado, atravessando sua
cavidade nasal e deixando-a sem um olho. Tinha apenas 19 anos. E
voltou para a frente. O soldado que tinha se apaixonado por ela não
mudou de opinião depois de vê-la desfigurada e depois da guerra
formaram uma família e viveram juntos por muitos anos; um raro final
feliz.

As franco-atiradoras lutavam em duplas e a morte da companheira, muito


comum, costumava ser um trauma terrível. Algumas perderam até
quatro.

Vinogradova acompanha a carreira de um bom número de franco-


atiradoras durante a guerra. Casos muito notáveis, como os de Natasha
Kovshova (capaz de atingir seus alvos no nariz, sua assinatura) e Masha
Polivánova, uma das duplas mais notáveis de franco-atiradoras. Em
1942, em Sutoki-Byakovo, elas apoiavam um franco-atirador homem e
um ataque deixou os três isolados. Foram feridos e as moças –seu
companheiro rastejou e escapou– juraram em seu poço de atiradoras
que não cairiam vivas nas mãos do inimigo (o que para uma franco-
atiradora invariavelmente significava violação, tortura e execução).
Tiraram o pino de segurança de suas granadas, esperaram a chegada
dos atacantes e então as fizeram explodir, morrendo e levando alguns
alemães.
As franco-atiradoras Kiseliova, Bulatova, Morozova e um colega em
1944.

Há casos como o de Sasha Shliakova, cujo capricho de usar um bonito


lenço vermelho durante suas missões levou que fosse morta por um
atirador alemão. Tania Baramziná, escolhida como franco-atiradora
embora fosse míope e usasse óculos, foi capturada, torturada e morta
com um lançador de granadas.

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Vinogradova dedica um capítulo a Pavlichenko, que visitou os Estados


Unidos e foi aclamada por multidões, à qual Woody Guthrie dedicou uma
canção e que foi admirada por Chaplin, que beijou seus dedos fascinado,
dizia que havia matado centenas de nazistas. “Acho a história dela muito
estranha”, diz a autora. “Na verdade, acho que qualquer estrela com
mais de 300 mortos, feminina ou masculina, é falsa. A propaganda
precisava de heróis”. E Zaitsev, o grande atirador que aparece no filme
Círculo de Fogo? “Muitos franco-atiradores que conheci foram muito
céticos em relação ao seu desempenho. Lidiya Bakieva, que matou 76
alemães, me disse: “Você tinha muita sorte se conseguisse lhes dar um
por dia. Matar dez, bem, isso exigiria que eles se alinhassem em fila
esperando que você disparasse neles!”.

Duelos com ases alemães

Vinogradova menciona muitos casos de duelos de franco-atiradoras com


sua contraparte alemã (sempre homens), inclusive com ases do fuzil.
Como aquele que é creditado a Pavlichenko, que teria matado, depois de
haver espreitado durante 24 horas, um tipo que tinha começado a caçar
em Dunquerque e que tinha (de acordo com a caderneta que foi
encontrada com o cadáver) 500 vítimas. Esse seria um dos 33 atiradores
alemães liquidados pela ucraniana.

Tosia Tinguinova teve seu duelo quando com vinte anos. Dispararam ao
mesmo tempo. Ela matou o franco-atirador alemão. Foi salva pelo recuo
do fuzil, que a afastou alguns centímetros, e a bala do inimigo perfurou a
culatra de sua arma ao invés de atingi-la na cabeça.

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