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UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO HOMOAFETIVA NO ROMANCE BOM


CRIOULO, DE ADOLFO CAMINHA

Carlos Daniel Dutra (UENP/CLCA/CJ)

Resumo:

Diante do grande tabu presente na nossa sociedade acerca da homossexualidade, vê-se a


necessidade de trabalhar com obras que portem dessa temática, visando fomentar sua
valorização e analisar suas representações. Paralelamente a esse fator, nota-se que é possível
usar da literatura para abordar e trabalhar a representatividade homoafetiva, analisando como
essa afetividade é representada na literatura. Considerando esse princípio, após a análise do
romance Bom Crioulo, de Adolfo Caminha (1895), percebeu-se a importância de trabalhar esse
conteúdo, mesmo sendo representado, na obra, de forma pejorativa. A pesquisa foi feita a partir
de uma análise documental – leituras acerca da obra em estudo. Fundamentado nessa análise, é
possível perceber que o autor, além de apresentar situações da realidade diária de muitas
pessoas, em muitos momentos, essa representação foi exposta como uma patologia, fazendo
uso de termos como “homossexualismo” (termo que fazia referência, antes de 1990, a uma
desordem mental). Consumando, essa análise será de suma importância para estudos acerca da
homoafetividade na literatura brasileira, além de fomentar a representatividade ALGBTQI+.

Palavras-Chave: Literatura; Romance; Representação homoafetiva; Bom Crioulo.

Abstract:

In the face of the great taboo present on the society of the homosexuality, see the needs of work
with that portem this thematic, flying fomenting its valorization and are to their representations.
Parallel to this factor, it is not used in the literature to meet and work at homoaffective
representativeness, and the subject is affectated is represented in the literature. This year, after
an analysis of the novel Bom Crioulo, by Adolfo Caminha (1895), he perceived the importance
of the novel as the same, being represented, in the work, in a pejorative way. The research was
done from a documentary analysis - readings about the work under study. This was exposed as
a pathology, making use of terms such as "homosexuality" (a reference term, 1990; mental
disorder). Consumando, an extremely important analysis for studies on homoafetivity in the
Brazilian literature, in addition to promoting ALGBTQI + representativeness.

Keywords: Literature; Romance; Homoaffective representation; Good Creole.


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Introdução:

A pesquisa aqui apresentada planeia analisar a representação homoafetiva no romance


Bom Crioulo (1895). A obra analisada é um romance do final do século XIX, do escritor
Cearense Adolfo Ferreira dos Santos Caminha, um dos principais escritores do Naturalismo no
Brasil. O romance é uma das primeiras obras – senão a primeira – a abordar essa temática na
literatura brasileira. O relato aborda uma relação entre dois marinheiros, o jovem Aleixo e o
negro Amaro (Bom Crioulo), sendo uma atitude corajosa de Caminha e, muito importante para
a literatura brasileira. O autor facejou inúmeras críticas ante à narrativa, sendo questionado se
realmente merecia respeito, por passar “[...] longos dias ocupado em analisar e discutir a
psicologia improvável de nauseantes crimes contra a natureza [...]” (VERÍSSIMO, 1895. In:
VALENTIN, 2013, n.p.) e, o romance foi, durante décadas, proibido em bibliotecas e escolas
públicas (TREVISAN, 2011. In: VALENTIN, 2013, n.p.). Houve, ainda na época,
questionamentos se Caminha era homossexual, pois assim, o romance poderia ser interpretado
como uma autobiografia (HOWES, 2005, p. 175).
À vista disso, nota-se a importância de Bom Crioulo, por abordar um assunto da natureza
humana, de maneira que apresente as diferenças e realidades da sociedade, encarada por uma
considerada minoria. Ademais, obras com esse conteúdo estando no mercado, acabam por
alcançar um número maior de pessoas, e quanto maior o público atingido, maior será a
valorização dessa representatividade, desta forma, vista como algo normal do dia a dia, como
aponta Carlos Eduardo Bezerra:

Há quem veja de forma negativa as traduções do Bom-crioulo, por tratar o


romance como mais um produto oferecido ao público GLS por editoras e sites
especializados. No entanto, é preciso admitir que a literatura, como parte da
indústria cultural, ou não, é uma prática que se materializa nos livros, portanto,
é também um produto e está no mercado como o arroz, o feijão, o pão nosso
e o pai-nosso de cada dia (BEZERRA, 2012, p. 11).

Para mais, a representatividade é muito importante, pois ela dá força às minorias e, com
essa obra Caminha inicia o que conhecemos hoje por “literatura gay”. Falar sobre
homossexualidade, até nos dias de hoje, ainda é um grande tabu e, deparando com obras que
disponham de tal conteúdo, vê-se que é possível usar da literatura para lograr maior visibilidade
em uma luta que é diária. Ademais, que conquiste espaço e força representativa, mas, esse artigo
tem por tenção apresentar como Caminha representou uma relação homoafetiva em sua obra
mais polêmica e de maior sucesso.
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Fundamentação Teórica:

Ao analisar a obra, percebe-se, além de outros motivos, “[...] que a beleza de Bom-
Crioulo está na sua temática, na paixão das personagens, na tese naturalista defendida pelo
romancista, na visão de mundo, de sociedade, de sujeito, de raça, de gênero [...]” ( DA SILVA,
2012, p. 89). Antônio de Pádua, com suas belíssimas palavras, ainda diz:

Politicamente falando, em tempos de diversidade sexual, poderíamos dizer


que a publicação de textos brasileiros de temática homoerótica talvez, numa
comparação extremamente mal formulada, poderia ser equiparada às paradas
gay, momentos em que os sujeitos considerados homoafetivos ou
simpatizantes juntam-se com um objetivo comum: exibir para os não gays e
para os que ainda não se assumiram gays o valor que estes sujeitos têm numa
sociedade que está se abrindo para uma política de legalização das relações
afetivas entre pessoas do mesmo sexo. (DA SILVA, 2012, p. 101)

Quanto a busca dos homossexuais por seus direitos, Lugarinho (2008) aponta que essas
reivindicações, fomentam a construção de uma identidade homossexual. Que essa reivindicação
os salva das garras da religião e do direito pelo seu confinamento na patologia.
Em relação a recepção da obra, Magalhães não teve restrição alguma ao criticá-la,
dizendo que Caminha “[...] exibiu e desenvolveu o seu assunto horripilante e nauseabundo
como se fosse a coisa mais singela e mais corrente do mundo das letras [...]” (FARIA, apud
MAGALHÃES, 2015, p.79). Ante a apreciação positiva da obra, Faria apresenta o
reconhecimento das relações homoeróticas no ambiente da Marinha, expressando que “Se ao
naturalismo cabia a descrição da vida tão como ela era, nada mais natural que o estudo de casos
existentes na vida real” (2015, p. 83). Howes também está em concordância à ideia de que
Caminha descreve em sua obra, experiências pessoais de sua vida a bordo do navio e, parece
provável que ele observou os comportamentos homossexuais durante esse período. Ele ainda
diz, que:

Escrito numa época de transição social e incerteza política, Bom-


Crioulo não dá nenhuma resposta clara para as questões que levanta. Baseado
num drama homossexual da vida real, inspira-se tanto nos preceitos da
literatura clássica como nas teorias científicas contemporâneas para alcançar
seus objetivos estéticos. (HOWES, 2005, p. 187)

Acerca da maneira que Caminha tratou a homossexualidade em sua obra, em alguns


momentos pejorativos, Valentin nos apresenta momentos em que o autor faz uso da palavra
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“homossexualismo”, termo designado, até os anos 90, para referir-se à pessoas com transtornos
psicológicos. Sendo assim, ele aponta:

Desse modo, ressalte-se que Caminha, apesar de trabalhar a


homossexualidade como assunto central em Bom-Crioulo, condenava-a, o que
pode ser verificado, inclusive, pelo uso, em seu artigo, do termo
“homossexualismo”, que caracteriza o fenômeno em questão como
patologia.” (VALENTIN, 2013, n.p)

Se atualmente o romance é reconhecido como uma possível literatura gay, “[...] é porque
parte dos seus leitores, na língua original ou nas traduções citadas, foi capaz de se reconhecer
nesse fato e de se sentir pertencendo a ele.” (BEZERRA, 2012, p. 14)

Materiais e Métodos:

Para tanto, a análise aqui exposta teve como uma de suas primeiras ações a análise da
obra Bom Crioulo, de Adolfo Caminha, como já citada, a fim de compreender a representação
homoafetiva da narrativa. Ademais, contei com o auxílio de artigos que ajudaram no melhor
entendimento e compreensão da obra e dos objetivos da pesquisa.
Paralelamente, fiz uso e leitura dos artigos “A história da literatura brasileira e a
literatura gay: aspectos estéticos e políticos” (DA SILVA, 2012), “Nasce a literatura gay no
Brasil. Aspectos da literatura gay” (LUGARINHO, 2008) e “Bom-crioulo: um romance da
literatura gay made in Brazil” (BEZERRA, 2012), que trouxeram suporte em relação ao aspecto
histórico dessa literatura.

Diferente do Romantismo, estética literária em que o amor se realiza


em um plano quase espiritual e o corpo é mais um antagonista do que um
protagonista na vida das personagens e na condução do enredo, pois de um
modo geral sua forma de expressão é amor cortês, o Naturalismo assume o
homem corporificando-o, descrevendo detalhes da musculatura, da forma
fixa, exagerando nos traços quando necessários aos seus objetivos.
(BEZERRA, 2012, p. 7)

No que diz respeito a representação homoafetiva e recepção da obra, tive como base os
artigos “A recepção crítica e a representação da homoafetividade no romance Bom-Crioulo”
(VALENTIN, 2013) e “A passos macios e cautelosos, as mãos enluvadas: a primeira recepção
de Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha” (FARIA, 2015), que guiaram-me na melhor
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compreensão dessa representação, que expuseram a maneira que Caminha buscou representar
a homoafetividade no romance, de maneira respeitosa e, também, pejorativa, e apoiou na
lucidez da receptividade da obra na época (1985), salientando como os leitores a receberam
e/ou criticaram.

A defesa do romance não animou somente a pena do próprio autor, o


que salienta a importância da polêmica causada pelo livro nas críticas
realizadas nos rodapés e crônicas jornalísticas da época. Além disso, evidencia
que havia leituras diferentes do romance, que apresentavam uma visão menos
condenatória e até hoje desconhecida pela historiografia do romance e do
naturalismo brasileiro. (FARIA, 2015, p. 83)

Resultados e Discussão:

Analisando a obra, foi possível observar a importância de obras que portem de tal
conteúdo – mesmo sendo abordada de maneira “trágica”. Diferente do Romantismo, em que o
amor é realizado em um plano quase espiritual, a obra Naturalista aborda esse amor de maneira
carnal, corporificando o homem.

Bom Crioulo tinha despido a camisa de algodão, e, nu da cintura para cima,


numa riquíssima exibição de músculos, os seios muito salientes, as espáduas
negras reluzentes, em sulco profundo e liso de alto a baixo no dorso, nem
sequer gemia, como se estivesse a receber o mais leve dos castigos.
(CAMINHA, 2011, p. 37)

Além de exaltar a imagem do homem, a obra retrata essa relação de maneira


“animalesca”, como podemos observar quando Amaro cruza com o jovem Aleixo: “[...] essa
atração animal que faz o homem escravo da mulher e que em todas as espécies impulsiona o
macho para a fêmea, sentiu-a Bom Crioulo irresistivelmente ao cruzar a vista pela primeira vez
com o grumetezinho.” (CAMINHA, 2011, p.46). A partir daí, Amaro fica loucamente
determinado a conquistar o jovem e começa a protege-lo dos outros marinheiros. O negro sente
uma atração física extrema pelo grumete e, ele o retrata como uma “quase mulher”, como vemos
aqui: “Nunca vira formas de homem tão bem tornadas, braços assim, quadris rijos e carnudos
como aqueles... Faltavam-lhe os seios para que Aleixo fosse uma verdadeira mulher!... Que
beleza de pescoço, que delícia de ombros, que desespero!...” (CAMINHA, 2011, p. 80).
Amaro logo consegue atingir seu objetivo, aluga um quarto em uma pousada, de D.
Carolina, e muda-se com o grumete para lá. Entretanto, acaba encontrando um obstáculo que
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pode, e deseja, acabar com sua relação com Aleixo. D. Carolina! Sim, a dona da pousada logo
começa a desejar o jovem grumete, e está determinada a dominá-lo.

D. Carolina realizara, enfim, o seu desejo, a sua ambição de mulher gasta:


possuir um amante novo, mocinho, imberbe, com uma ponta de ingenuidade
a ruborizar-lhe a face, um amante quase ideal, que fosse para ela o que um
animal de estima é para o seu dono – leal, sincero, dedicado até o sacrifício.
(CAMINHA, 2011, p. 116)

No decorrer da obra, é possível observar que a narrativa não trata apenas de um romance
entre dois marinheiros, mas sim de uma relação abusiva. Aleixo se entrega aos braços de
Amaro, por se sentir protegido ao lado dele, uma vez que o negro passou a protege-lo e tratá-lo
como um bibelô. Como, por exemplo, quando “Bom Crioulo esmurrara desapiedadamente um
segunda-classe, porque este ousara, ‘sem o seu consentimento’, maltratar o grumete Aleixo, um
belo marinheirito de olhos azuis, muito querido por todos e de quem diziam-se coisas”
(CAMINHA, 2011, p.37). Essa relação de posse que Bom Crioulo tem sobre o jovem
marinheiro, pode ser vista em outros momentos da obra, como em seu clímax:

Como tudo mudara naquela casa depois que o negro saíra! O sótão, o
misterioso sotãozinho estava abandonado, Aleixo não queria saber dele,
odiava-o, porque ali é que se tinha feito escravo de Bom Crioulo, ali é que
‘tinha perdido a vergonha’. O pobre quarto era como um lugar de maldições:
vivia trancado à chave, lúgubre e poeirento. (CAMINHA, 2011, p.128)

Paralelamente, é possível notar que Aleixo não amava/desejava Amaro, e sim se sentia
seguro, pois, à D. Carolina, ele tem um desejo, um afago, ele à almeja, ele “[...] estimava-a do
fundo do coração e tornou a jurar que havia de morrer junto dela, na mesma cama – juntinho,
lado a lado...” (CAMINHA, 2011, p. 117)
Consumando, quando Amaro fica sabendo da relação de seu “marinheirito” com D.
Carolina, ele fica enfurecido, vai a procura do jovem e a tragédia final acontece. O que é muito
importante ressaltar acerca da tragédia final da obra, é que um crime muito parecido com o que
denota Caminha, aconteceu na época na Rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro, onde parte da
história acontece.

Durante o seu tempo na Marinha, dois eventos ocorreram que foram


noticiados nos jornais e que juntos tem uma semelhança notável com os
eventos descritos no romance. Um desses eventos aconteceu em março de
1888 e envolveu o suposto assassinato de um grumete pardo de 16 anos, André
Nogueira. Os detalhes deste caso como foram noticiados pela imprensa
carioca eram confusos mas um relato disse que Nogueira foi assassinado na
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Rua da Misericórdia, onde o romance é parcialmente situado. No final, soube-


se que Nogueira não tinha sido assassinado mas tinha desertado. (HOWES,
2005, p.176-177)

Considerações Finais:

O resultado da pesquisa, apresenta a importância da obra, por abordar de um assunto


social diariamente silenciado. Caminha denota a afetividade entro dois homens de maneira
abusiva, grotesca e, ao mesmo tempo, apaixonante. É extremamente admirável a ousadia do
autor, por trabalhar abertamente com um assunto polêmico, em um contexto muito conservador.
O romance foi precursor por tratar diretamente da homossexualidade, sendo precursor na
literatura brasileira. A análise, aqui apresentada, fomenta o uso de obras portadoras de
conteúdos socialmente tratados como minorias (no caso, a homossexualidade). Ademais, será
de extrema importância para futuras pesquisas, estudos e análises sobre homoafetividade na
literatura brasileira.

Referências:

BEZERRA, Carlos Eduardo. Bom-crioulo: um romance da literatura gay made in Brazil.


Bagoas-Estudos gays: gêneros e sexualidades, v. 1, n. 01, 2012. Disponível
em:<https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/download/2257/1690>. Acesso em: 31 jul.
2018.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. São Paulo: Hedra, 2009. 160 p.

DA SILVA, Antônio de Pádua Dias. A história da literatura brasileira e a literatura gay:


aspectos estéticos e políticos. Revista Leitura, v. 1, n. 49, 2012. Disponível
em:<http://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/view/946>. Acesso em: 31 jul.
2018.

FARIA, Maraísa. A passos macios e cautelosos, as mãos enluvadas: a primeira recepção de


Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha. Revista Soletras, n. 30, p. 72-89, 2015. Disponível
em:<http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/view/19166>. Acesso em:
05 ago. 2018.
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HOWES, Robert. Raça e sexualidade transgressiva em Bom Crioulo de Adolfo


Caminha. Revista Graphos, v. 7, n. 1, 2005. Disponível
em:<http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/viewFile/9459/5112>.
Acesso em: 02 ago. 2018.

LUGARINHO, Mauro César. Nasce a literatura gay no Brasil. Aspectos da literatura gay. João
Pessoa: Editora UFPB, p. 09-24, 2008. Disponível
em:<https://www.researchgate.net/profile/Mario_Lugarinho/publication/311545242_NASC
E_A_LITERATURA_GAY_NO_BRASIL_Reflexoes_para_Luis_Capucho/links/584bd45e08aeb98
9251f1f64/NASCE-A-LITERATURA-GAY-NO-BRASIL-Reflexoes-para-Luis-Capucho.pdf>. Acesso
em: 31 jul. 2018.

VALENTIN, Leandro Henrique Aparecido. A recepção crítica e a representação da


homossexualidade no romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha. Mafuá, Florianópolis, ano
11, n. 20, outubro 2013. Disponível
em:<http://www.mafua.ufsc.br/numero20/ensaios/leandro.html>. Acesso em: 01 ago.
2018.

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