Anda di halaman 1dari 7

Fóruns na dark web incitam violência e mortes e

desafiam polícia
Massacre em Suzano foi comemorado em comunidades virtuais de criminosos

Voluntários dão abraço simbólico na escola Raul Brasil, em Suzano (Grande SP) - Ueslei
Marcelino/Reuters

16.mar.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/03/16/)

Artur Rodrigues
SÃO PAULO O massacre em uma escola pública em Suzano (Grande SP) na
quarta-feira (13) insuflou fóruns que são ponto de encontro de criminosos na
dark web (área não rastreável da internet) e desafiam a polícia a encontrar
formas de coibir novas mortes. 

A comemoração do massacre nos fóruns da internet começou minutos


depois de ser noticiado que Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique
de Castro, 25, (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/atiradores-matam-cinco-alunos-e-um-
funcionario-em-escola-em-suzano-na-grande-sp.shtml) invadiram a escola Raul Brasil com um
revólver e armas brancas, matando (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/ataque-a-tiros-
em-escola-de-suzano-remete-a-crimes-similares-nos-eua.shtml) oito pessoas e ferindo 11. 

A Folha vem acompanhando a reação nestes fóruns desde quarta —eles


ficam numa parte da internet em que é difícil rastrear os usuários, só
acessível com um navegador que mascara seus dados, o Tor. Os chamados
"chans" são como se fossem fóruns, onde os posts vão se somando em longas
conversas que, em alguns casos, discorrem sobre assassinato, pedofilia,
racismo e misoginia. 

"Homens de bem honrados", escreveu um usuário do fórum Dogolachan,


abaixo da foto de Guilherme e Luiz Henrique mortos. "Temos os nossos
primeiros atiradores sanctos formados no Dogola", completou outro. 
LAN House frequentada por Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, atiradores
de atentado em escola de Suzano (SP). - Fernanda Mena/Folhapress

Ainda é investigado pelo Ministério Público se os autores do massacre de fato


frequentaram esse fórum específico, mas eles já foram incluídos na galeria de
ídolos do Dogolachan, ao lado de outros antigos usuários assassinos ou
criminosos.

Em uma espiral de ódio (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/nao-ha-ligacao-entre-games-


violentos-e-chacina-afirma-autor.shtml), o crime alimentou anúncios de novos crimes,

batizados de actvm sanctvm (ato santo). 

Especialistas alertam para o despreparo de boa parte da polícia para coibir


este tipo de crime, com exceção de núcleos isolados especializados.

"Não é só comprar viatura e arma. A polícia precisa dar formação. Quem é


que consegue entrar na deep web e fazer uma investigação?", questiona a
criminóloga e escritora Ilana Casoy. "Um policial que faz esse trabalho
intelectual é tão importante quanto um atirador."
Ela afirma que a presença de um espaço onde fantasias criminosas são
aplaudidas pode ser um dos fatores (sempre há mais de um) a engatilhar um
atentado do tipo. "É um crime isso que fazem. O assassinato em massa é
muito grave, mas é grave também incitar o suicídio, o estupro, como fazem".
 

No ano passado, um dos frequentadores do fórum, André Garcia, 29, se


despediu no site: "Vou quitar deste mundo". Recebeu a resposta: "Se for se
matar, leve a escória junto". 

Em junho do ano passado, ele saiu de casa armado e atirou na nuca de uma
mulher que jamais havia visto na vida, em Penápolis (a 425 km de São Paulo).
Encurralado pela polícia, deu um tiro no próprio peito. A vítima morreu um
mês depois.

Kyo, como Garcia era conhecido no fórum, virou um mito na dark web
brasileira.

O ódio às mulheres é uma das características destes grupos, conhecidos


como incels (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/12/por-que-os-jovens-estao-fazendo-pouco-
sexo.shtml) —homens que se dizem "celibatários involuntários". 

"Pautar a imprensa e a sociedade por um ato visto como glorioso por esses
grupos é o objetivo deles, por isso, é preciso ser muito cauteloso nas
abordagens", afirma Rodrigo Nejm, diretor da ONG Safernet, que recebeu
mais de 130 mil denúncias de crimes na internet só em 2018. "Dependendo
de como se divulga, é uma forma de dar escala a grupos de 10, 20, 100
pessoas desequilibradas". 

O Ministério Público paulista chegou a afirmar investigar a ligação dos


autores do crime com organizações radicais que promovem crimes de ódio
ao redor do mundo. Já os poucos policiais e promotores especializados são
mais cautelosos. A reportagem procurou a delegacia especializada em crimes
de ódio em São Paulo (Decradi) e uma procuradora do Ministério Público
Federal que investigou o fundador do Dogolachan, e obteve respostas
negativas sobre pedidos de entrevistas. 
A Secretaria da Segurança da gestão de João Doria (PSDB) emitiu nota
afirmando apenas que os policiais têm conhecimento avançado e que não
darão entrevistas para não atrapalhar as investigações. 

As dificuldades técnicas nessas apurações já são grandes mesmo em períodos


de menor comoção.

Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em tecnologia,


Arthur Igreja diz que até mesmo a NSA (agência de segurança interna norte-
americana) pena para investigar na dark web. "É como investigar uma
quadrilha no passado, quando não havia rastreamento de IP, interceptação
de ligações. Como era feito na época? Infiltrando alguém para poder
entender. É isso que os investigadores estão fazendo." 

Ele diz que, apesar dos problemas de estrutura, há alguns "centros de


excelência" no Brasil. "A Operação Lava Jato só aconteceu por causa de uma
capacidade de apuração digital apurada."

Procuradores de Curitiba, berço da Lava Jato, colocaram na cadeia o criador


do Dogolachan, Marcelo Valle Silveira Mello (https://temas.folha.uol.com.br/liberdade-de-opiniao-
x-discurso-de-odio/o-que-diz-a-lei/projeto-de-lei-preve-ampliar-protecao-a-grupos-estigmatizados.shtml), o Psy. Em

dezembro, ele foi condenado a 41 anos de prisão por associação criminosa,


divulgação de imagens de pedofilia, racismo, coação, incitação a crimes e
terrorismo. Hoje, é outro mitificado entre os que se definem como "homens
sanctos".

Mello tem um longo histórico de crimes —chegou a ter contato pela internet


com o autor do massacre do Realengo, Wellington Menezes de Oliveira, 23,
que matou 12 alunos de uma escola na zona oeste do Rio, em 2011. Um ano
depois, ele e outro futuro fundador do Dogolachan, Emerson Eduardo
Rodrigues Setin, foram presos por suspeita de apologia da violência e
discriminação contra mulheres, negros, nordestinos, homossexuais e judeus
na internet. 

O Dogolachan foi criado um ano depois da prisão. Ali, os integrantes


passaram a se referir uns aos outros como homens sanctos e fazer ameaças a
diversas figuras públicas. Um deles foi o ex-deputado federal Jean
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/01/ministerio-da-justica-diz-que-nao-houve-omissao-sobre-ameacas-a-jean-

wyllys.shtml)Wyllis (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/01/ministerio-da-justica-diz-que-nao-houve-omissao-

(PSOL), que renunciou ao mandato e se mudou para a


sobre-ameacas-a-jean-wyllys.shtml)

Espanha. Entre os principais alvos de ameaças do grupo está a professora da


Universidade Federal do Ceará Lola Aronovich, militante feminista e autora
de uma série de denúncias contra Marcelo Valle que ajudaram a levá-lo para
a prisão.

GLOSSÁRIO

Deep web

É toda a parte da World Wide Web que não é indexada pelos motores de
busca

Dark web

Também chamada de Onion Web, é uma rede de sites e conteúdos acessíveis


somente via software específico, como o Tor

Tor

The Onion Routing. Se refere tanto a um software que acessa a dark web
quanto ao método: uma rede de computadores e roteadores ao redor do
mundo que é usada como caminho para acessar a rede, tornando impossível
desvendar a identidade do usuário

Chans

Fóruns de discussão que permitem postagens anônimas e têm pouca ou


nenhuma moderação, o que os tornou ambientes seguros para racismo,
vazamentos de imagens íntimas e troca de informações criminosas

Incel

Celibatários involuntários', homens com vida sexual pouco ativa ou


inexistente, que culpam as mulheres pelo fato. Trocam informações e
pregações misóginas por fóruns e redes sociais, como o Reddit

Chad

Homens sexualmente atraentes, catalogados numa escala de 1 a 10 

Stacy

Mulheres sexualmente ativas, que se relacionam com Chads por interesses


econômicos ou sociais, hábito chamado de 'hipergamia' pelos incels

Troll

Internautas que usam fóruns e caixas de comentários para provocar usuários


e incitar discussões

Fontes: Nota Técnica da Sociedade Civil para a CPI de Crimes Cibernéticos, Incels Wiki,
NoFap.com, Pirate Dot London

ENDEREÇO DA PÁGINA

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/foruns-na-dark-web-
incitam-violencia-e-mortes-e-desafiam-policia.shtml

Anda mungkin juga menyukai