Anda di halaman 1dari 4

Resenhas 155

historiador francês Jacques Le Goff.


Lançado na Europa em 1993, o
Eco, Umberto. A busca da língua livro se insere no projeto de
perfeita. Tradução de Antonio consolidação da União Européia e,
Angonese. Bauru: Edusc, 2001, por isso, foi editado simulta-
458 pp. neamente por cinco editoras do
Velho Continente.
A Bíblia afirma que “no
princípio era o verbo”. No entanto,
A diversidade de línguas é uma o livro sagrado abriga visões
maldição ou uma bênção? Essa contraditórias sobre a origem da
reflexão norteia as mais de 450 diversidade lingüística. No Velho
páginas de A busca da Língua Testamento, o capítulo 11 do
Perfeita. Nesse projeto, Umberto Gênesis justifica a existência de
Eco tentou reunir um pouco de todas tantas línguas como uma punição
as utopias européias a respeito da divina pela soberba humana.
busca de uma “língua perfeita” ou Porém, no capítulo 10, há uma
da “língua original”, aquela falada contradição que abre a possibilidade
por Adão, assim como projetos de de essa diversidade não ser
línguas universais. A tarefa foi entendida como uma desgraça.
extensa, pois passeia por dois mil Falando sobre a difusão dos filhos
anos de história, sendo que apenas de Noé, depois do dilúvio, a Bíblia
o século 19 teve 173 projetos de diz que “desses derivaram as nações
línguas internacionais. Ao contrário disseminadas pelos litorais (...) cada
do que poderia-se esperar, Eco não um com a própria língua (...)”. Ou
situa a investigação no campo da seja, antes do desmoronamento da
lingüística ou da semiótica, mas no Torre de Babel, a diversidade de
da história das idéias. línguas já estaria presente na Terra.
Embora o tema da confusão de Desgraça ou bênção, a curiosidade
línguas (assim como o desejo de ou a nostalgia pela época que
remediá-la criando uma língua uni- precedeu Babel e sua confusio
versal) esteja presente em diversas linguaru moveu numerosos
culturas, o autor optou por restringir estudiosos em diversas épocas.
o estudo à Civilização Européia. A Com sua pesquisa, Eco nos dá
obra faz parte do projeto The mak- elementos para entender essa
ing of Europe, coordenado pelo obsessão. Explica que os gregos do
156 Resenhas

período clássico já conheciam povos Império Romano e a Alta Idade


que falavam outras línguas, mas os Média, a Europa não existia ainda
chamavam de bàrbaroi, ou seja, como unidade geográfica. Novas
seres que balbuciavam falando de línguas formaram-se lentamente.
forma incompreensível. Os Calcula-se que, no fim do século
filósofos gregos acreditavam que sua V, o povo já não falava mais o
língua era o idioma da razão: Logos latim. Surgiram dialetos locais que
era o pensamento e Logos o misturavam o latim, linguagens
discurso. Com a expansão dessa anteriores à civilização romana e
civilização, uma língua grega raízes lingüísticas introduzidas pelos
unificada e uniforme (chamado bárbaros. Após a queda do Império
koinè) foi ensinada nas escolas de Romano, houve o nascimento dos
gramática e tornou-se a língua oficial reinos romano-barbáricos. A
de toda a área dominada por Europa apresentava-se então como
Alexandre Magno. Sobreviveu du- uma Babel de línguas novas e,
rante a dominação romana como somente depois, como um mosaico
língua cultural e foi a língua na qual de nações. Cito o autor: “A Europa
foram transmitidos os primeiros inicia-se com o nascimento das
textos do cristianismo. A linguagens vernáculas (...), a sua
preocupação com a natureza e a irrupção inicia a cultura crítica da
origem da linguagem está presente Europa que enfrenta o drama da
desde então: o diálogo Crátilo, de fragmentação das línguas e começa
Platão, indaga se o nomóteta a refletir em torno da própria
escolhera palavras que nomeiam as civilização multilíngüe”. Para Eco,
coisas conforme a natureza de cada a cultura européia tentou sanar este
uma (tese de Platão) ou se problema de duas formas: olhando
determinou tais palavras por lei ou para trás, em busca da língua de
convenção humana (tese de Adão, ou para frente, tentando
Hermógenes). construir uma língua da razão.
Na época em que o grego (koinè) Explicadas as motivações
ainda reinava na Bacia Mediter- profundas desta obsessão, podemos
rânea, o latim começou a impor-se falar do vasto conteúdo de A Procura
e espalhou-se por toda a Europa da Língua Perfeita. Eco dividiu a
dominada pelos romanos para pesquisa em quatro grupos de inter-
tornar-se a língua da cultura cristã esse. O primeiro grupo engloba as
no Ocidente. Entre a queda do línguas históricas, consideradas
Resenhas 157

perfeitas em algum momento por artificialmente e, por último, as


serem dadas como originárias ou línguas mais ou menos mágicas, que
misticamente perfeitas (sagradas). aspiram à perfeição pela
Entre as línguas sagradas estariam expressividade místico-simbólica.
o hebraico, o egípcio e o chinês. Há uma grande diferença entre
No grupo das línguas especiais por a procura da língua perfeita, movida
sua relação com a razão estariam o talvez pela crença de que como a
grego, o latim e, a partir do século estrutura da linguagem representaria
16, várias línguas nacionais. Eco a estrutura da realidade, a língua
detém-se em análises da Cabala (a perfeita engendraria o mundo
idéia da criação do mundo como perfeito, e a busca da língua uni-
fenômeno lingüístico), dos trabalhos versal, que seria falada em todo o
de Dante Alighieri (que na Idade planeta. De volta ao início, nos
Média reconheceu a linguagem perguntamos: afinal, a multi-
como uma faculdade universal) e plicidade de línguas é positiva ou
Ramon Llull (com o projeto da Ars negativa? Nas páginas finais, Eco
Magna, língua filosófica perfeita advoga a favor da diversidade e
mediante a qual seria possível con- sugere que propósitos diversos estão
verter os infiéis). O segundo grupo por trás dos atuais projetos de LIAs
de projetos abarca os estudos para a (Línguas Internacionais Auxiliares).
reconstrução da língua originária, a Uns nobres, outros nem tanto, pois
“língua-mãe”. Aqui, Franz Bopp, esses projetos servem ao o sonho da
Friedrich e Wilhelm von Schlegel integração, mas também trazem a
procuraram encontrar relações en- ameaça de dominação cultural e
tre o sânscrito, o grego, o latim, o econômica. Nesse sentido, o poeta
persa e o alemão. Esses projetos francês Michel Deguy, em
iniciam-se no século 18 e avançam entrevista à Revista Cult (novembro
no século 19. Chegou-se à hipótese de 2001), alertou para o fato de que
de que o sânscrito não foi a língua a diferença de línguas é o último
originária, mas sim toda uma família freio à instantaneidade das trocas
de línguas (incluindo o sânscrito) econômicas. “Babel breca o
teria se derivado de uma protolíngua mercado, mas o mercado infeliz-
(língua ancestral) não mais mente é mais forte do que tudo”,
existente, que poderia ser o indo- afirma Deguy. Ele acredita que
europeu. O terceiro grupo de caminhamos para algum tipo de Es-
projetos é o de línguas construídas peranto. “Preciso de três segundos
158 Resenhas

para transmitir uma ordem bancária, Ivanov, para quem “cada língua
mas de 30 anos para traduzir Borges constitui um determinado modelo
– e esse retarda-mento, que permite de Universo, um sistema semiótico
captar o tempo longo da tradição, é de compreensão do mundo, e se
um grande obstáculo ao grande temos 4 mil modos diferentes de
mercado mundial – e por isso há descrever o mundo, isto nos torna
uma guerra”, diz Deguy. Ou seja: mais ricos. Deveríamos preocupar-
ao mercado global não interessa a nos pela preservação das línguas tal
diferença. Sobre a importância da como nos preocupamos com a
diversidade lingüística, Eco dá seu ecologia.”
alerta no capítulo final, ao citar V.V. Marlova Aseff
UFSC

destaca a relação muito especial en-


tre Guimarães Rosa e Meyer-Clason
Bussolotti, Maria Apparecida
que era de admiração mútua e de
Faria Marcondes (org.). João
dedicação comum à perfeição de
Guimarães Rosa – Correspon-
uma tradução. Bussolotti editou a
dência com seu tradutor alemão
correspondência frutífera desde o
Curt Meyer-Clason (1958-1967),
início (primeira carta de Meyer-
Rio de Janeiro: Nova Fronteira/
Clason em 1958, ou seja, dois anos
Belo Horizonte: Editora da
depois da primeira edição de Grande
UFMG, 2003, 447pp.
Sertão: Veredas) até o final (última
carta de Guimarães Rosa de 27 de
agosto de 1967, três meses antes da
É rara a documentação da coope- sua morte). São aproximadamente
ração de autor e tradutor. Este livro 80 cartas – as onze primeiras tratam
é a exceção e prova que vale a pena da difícil escolha de uma editora
documentar as reflexões dos dois adequada na Alemanha, com
protagonistas no caminho do origi- depoimentos interessantíssimos
nal à tradução. Se trata de uma sobre o mercado editorial da época.
dissertação de mestrado que merece, As cartas seguintes entram em
sem dúvida, esta transformação para detalhes sobre a tradução e refletem
uma excelente publicação. O livro o processo contínuo de Guimarães

Anda mungkin juga menyukai