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Revisitando os conceitos de sincronia e diacronia no


“Curso de linguística geral”
JORGE LUIS QUEIROZ CARVALHO*

Resumo
Neste ensaio, nos propomos a discutir um dos pilares da teoria linguística
saussuriana: a distinção entre sincronia e diacronia como forma de fundar uma
ciência da linguagem. Mesmo explicitando que seu foco investigativo recai sobre a
sincronia, debatemos o fato de Saussure se preocupar em não polarizar a
Linguística, embora considere uma dessas vertentes mais relevantes para os seus
objetivos. Parece-nos claro, assim, que o pesquisador não ignora a historicidade,
mas a encara de um modo diferente dos estudiosos antecedentes a ele. Em vez de
considerá-la a partir de uma concepção evolutivo-biológica, tal qual fizeram seus
predecessores, postula que ela é produzida dentro do próprio sistema linguístico.
Palavras chave: Saussure, estruturalismo, dicotomias.
Abstract
In this essay, we propose to discuss one of the pillars of Saussure’s linguistic
theory: the distinction between synchrony and diachrony as a way to establish a
science of language. Even explaining that his investigative focus is on the
synchrony, we discussed that Saussure doesn’t want to polarize Linguistic in one of
these perspectives, but he considers synchrony as the most relevant to his
objectives. It seems clear, therefore, that the researcher does not ignore the
historicity, but he faces it not in the same way the previous researches did. Instead
of considering it from an evolutionary-biological conception as his predecessors,
he postulates that it is produced within the linguistic system.
Key words: Saussure, structuralism, dichotomies.

*
JORGE LUIS QUEIROZ CARVALHO é Mestre em Linguística pela Universidade Federal do
Ceará (UFC).
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Introdução pensamento de Saussure. Nesse


O marco inaugural do Estruturalismo, segmento, destacamos os muitos eventos
como sabemos, está atrelado à publicação ocorridos recentemente no Brasil, em que,
do Cours de linguistique générale devido ao centenário da morte do autor
(SAUSSURE, 1916) – CLG, obra em 2013, considerado o pai da
póstuma organizada por alunos de Linguística, suas reflexões sobre a ciência
Ferdinand de Saussure, que apresenta as da linguagem foram mais uma vez
ideias revolucionárias desse autor e é exaltadas em eventos como a Jornada
considerada uma das maiores Internacional Ferdinand de Saussure e o II
contribuições já produzidas para os Simpósio Nacional de Estudos sobre os
estudos da linguagem. Encontramos, nas Manuscritos de Ferdinand de Saussure,
reflexões desse teórico, o esforço para ambos realizados na UFRN – Natal, e o I
sistematizar o campo de estudos da Congresso Internacional 100 anos com
Linguística partindo de uma mudança de Saussure, realizado na USP – São Paulo.
atitude em relação ao seu objeto. Nas Reconhecendo essa promulgada
proposições de Saussure, a Linguística, atualidade e, principalmente, a enorme
que até então tinha se dedicado contribuição dada por esse teórico, temos
majoritariamente aos estudos histórico- a intenção de apresentar, neste trabalho,
comparativos, deveria, a partir de um um panorama geral da discussão acerca
novo posicionamento teórico- de um dos pilares da teoria linguística
metodológico, centrar-se na análise saussuriana: a distinção das linguísticas
sincrônica, ou seja, dedicar-se a sincrônica e diacrônica como forma de
investigação da língua em um estado fundar uma ciência da linguagem que
histórico determinado, sem a necessidade toma por objeto de estudo a língua em si e
de traçar o percurso diacrônico de sua por si mesma, independente da
evolução. investigação de fatores históricos e/ou
Esse e outros posicionamentos de evolutivos. Esse aspecto chama nossa
Saussure que serão apresentados atenção na medida em que se configura
posteriormente provocaram uma virada como uma das particularidades da
nos estudos linguísticos que repercute até corrente estruturalista na Linguística
hoje. Além disso, é comum encontrar (PIAGET, 1976) e é vista uma das
debates, palestras e trabalhos que se grandes inovações que Saussure trouxe
propõem a discutir a atualidade do para esse campo de estudos.
A título de ilustração, percebemos que Linguística passou a ser encarada como
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essa atitude na Linguística também é ciência. Sendo assim, visamos elucidar a
presente no Estruturalismo americano no relevância de tais conceitos buscando
qual Bloomfield ([1933]1956, p. 158, apoio, principalmente, nas proposições de
tradução livre) faz questão de destacar Saussure (2006), Beveniste (1976) e
que estuda a língua numa perspectiva Coseriu (1980).
sincrônica. Embora não use esses termos,
o teórico deixa claro que se preocupa, Sobre os conceitos de sincronia e
principalmente, com a descrição das diacronia
línguas “em qualquer momento e em Em discussão sobre o objeto da
qualquer comunidade, e não com suas linguística, Saussure (1916[2006]) nos
falhas ocasionais ou com suas mudanças mostra que delimitá-lo não é uma tarefa
no curso da história1”. Ele informa ainda fácil. Fazendo uma comparação com
que, “a fim de descrever uma língua, não outras ciências, ele relata que muitas
é necessário nenhum conhecimento delas trabalham com objetos dados
histórico que seja2”. Nosso trabalho, previamente sob os quais se criam
porém, se voltará, exclusivamente, à diferentes pontos de vista, porém, na
discussão da maneira pela qual Saussure Linguística, a ordem é inversa. O autor
fez sua delimitação teórica, uma vez que diz, em sua célebre citação, que: “Bem
observamos que o próprio Bloomfield longe de dizer que o objeto precede o
(1956), ao se referir a pesquisadores que ponto de vista, diríamos que é o ponto de
realizaram trabalhos descritivos sem vista que cria o objeto” (SAUSSURE,
recorrer ao aparato histórico, cita 2006, p. 15). Nessa medida, cabe ressaltar
Saussure, o que reafirma o pioneirismo que o ponto de vista criador do foco de
desse autor e a influência direta ou investigação da Linguística, diz respeito à
indireta que exerceu em gerações elaboração e delimitação de um objeto
posteriores de linguistas. investigativo como maneira de viabilizar
Embora saibamos que as ideias o estudo científico da língua e não
estruturalistas sobre sincronia e diacronia corresponde à natureza do fenômeno
e, sobretudo, que a suposta cisão entre linguístico como um todo, tendo em vista
esses dois conceitos foram reconsideradas que ele é passível de diferentes
por autores que vieram depois de interpretações.
Saussure, salientamos que este texto pode Com essa intenção de dar um tratamento
contribuir com uma discussão e científico a Linguística, o pensamento
apresentação dessas noções para aqueles inovador do assim-chamado mestre
que ainda se encontram no início dos genebrino trouxe à tona o que Lopes
estudos linguísticos. Além disso, não se (1997), citando Eduardo Prado Coelho, se
pode negar que a delimitação entre refere como o caráter dialógico da
estudos sincrônicos e estudos diacrônicos linguagem, uma clara referência ao
ainda provoca confusões teóricas mesmo postulado de Saussure (2006, p. 15) de
para leitores já iniciados. Não obstante, é que, independente do ponto de vista que
imprescindível relatar que foi justamente se adote, “o fenômeno linguístico
a partir dessa delimitação que a apresenta perpetuamente duas faces que
se correspondem e das quais uma não
1
“at any one time in any one community, and not vale senão pela outra”. Referendando-nos
with its occasional failures or with its changes in
the course of history”
na observação de Benveniste (1976, p.
2
“in order to describe a language one needs no 43), essa dialogicidade pode ser encarada
historical knowledge whatever” como o “que há de primordial na doutrina
saussuriana”. Desse modo, nada na constatação, todavia, não é nenhuma
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linguagem escapa de ser observado e novidade e o próprio Saussure (2006)
definido por termos duplos. Beveniste destaca essa característica em toda sua
(1976, p. 43), ao discutir sobre essa obra. Portanto, apesar da linguagem,
questão, destaca as seguintes dualidades enquanto objeto de investigação, não
apresentadas por Saussure: sustentar uma observação unilateral,
– dualidade articulatória/acústica;
todos os seus elementos, embora
dualizados, formam um todo e se
– dualidade do som e do sentido; concretizam a partir de sua contraparte. É
– dualidade do indivíduo e da por essa razão que Saussure (2006) se
sociedade; refere a muitos deles como dicotomias, ou
seja, as duas partes de um mesmo
– dualidade da língua e da fala;
elemento.
– dualidade do material e do não-
substancial; Com esse posicionamento, Saussure
– dualidade do “memorial” (2006) apresenta as dicotomias essenciais
(paradigmático) e do sintagmático; para estabelecimento do objeto de estudo
da Linguística, são elas: a) Língua x Fala,
– dualidade da identidade e da na qual o autor concebe a língua como
oposição; fato social, analisável e, por essa razão,
– dualidade do sincrônico e do objeto de investigação da Linguística, em
diacrônico, etc. oposição à fala, considerada ato
Embora não venhamos a debater individual e heterogêneo; b) Sincronia x
longamente sobre todos esses elementos, Diacronia, em que o autor delimita como
precisamos mencionar que Saussure foco de investigação o estudo sincrônico
(2006) recebeu muitas críticas por ter da língua, como discutiremos nas
destacado tantos paradoxos na linguagem. próximas linhas; c) Significado x
Como forma de contestar essas críticas, Significante, que diz respeito aos
evocamos novamente o posicionamento componentes do signo linguístico, sendo
de Benveniste (1976, p. 45) que considera o significado concebido como o conceito
que “a linguagem é o que há de mais e o significante como a imagem acústica;
paradoxal no mundo, e infelizes daqueles e d) Relações sintagmáticas x
que não o vêem”. Essa passagem permite associativas, no qual a primeira diz
a compreensão de que a suposta unicidade respeito às relações que os termos
da linguagem reside apenas na percepção estabelecem entre si na fala e se baseia no
leiga e, embora tenha recebido críticas, o caráter linear da língua, enquanto a
caráter duplo apresentado por Saussure segunda diz respeito ao fato de que as
(2006) pode ser facilmente percebido a palavras formam grupos em nossa
partir de observações mais atentas, memória nos quais se associam por algo
inclusive, ao que é proposto no próprio em comum.
CLG.
O destaque de tantos paradoxos, além de
No entanto, é preciso destacar que, apesar meio para estabelecer a ciência da
da defesa ao caráter duplo da linguagem, linguagem, possibilita a compreensão da
todos os elementos apontados língua como sistema, ou em outros
anteriormente não podem ser termos, como estrutura. É preciso
considerados como completamente destacar, porém, que o termo estrutura
isolados, uma vez que eles não existem não aparece no CLG e sua compreensão
senão em relação um com o outro. Essa parte da noção de sistema desenvolvida
por Saussure. Para ele, “a língua constitui científica, Saussure (2006) a considera
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de um sistema de valores puros que nada como uma perspectiva que possui uma
determina fora do estado momentâneo de base mais consistente e objeto mais bem
seus termos” (SAUSSURE, 2006, p. 95). definido do que dos estudos comparados.
Essa reflexão sintetiza a máxima Por outro lado, o autor pondera que é
saussuriana de que a língua deve ser somente a partir de métodos históricos de
estudada em um momento específico e se análise que podemos compreender melhor
refere, ainda, o postulado de que os cada um dos estados pelos quais as
signos linguísticos fazem parte de um línguas passam.
sistema, cujos valores podem ser
estabelecidos apenas a partir das relações Sem abrir mão das críticas, o autor parece
de oposição que estabelecem entre si. preocupado em destacar que essas duas
correntes prestam contribuições
A relação que todas essas dicotomias favoráveis à ciência da linguagem e não é
mantém entre si, como já mencionamos, é sua intenção desprezar ou priorizar
de interdependência e, desse modo, nenhum dos dois legados. Essa
também está presente na distinção entre compreensão se reforça ao observamos
sincronia e diacronia, sobre a qual nos que ele relata que a Gramática Clássica
deteremos a partir de agora. Saussure via apenas o fato sincrônico e ignorava
(2006, p. 96) as distingue dizendo que “é completamente a diacronia, enquanto os
sincrônico tudo quanto se relacione com o estudos linguísticos que passaram a se
aspecto estático da nossa ciência, delinear a partir dos estudos
diacrônico tudo quanto diz respeito às comparativos, permitiu lançar olhar para
evoluções”. Feita essa distinção, ele uma característica intrínseca a toda e
explicita que dará prioridade ao estudo do qualquer língua: sua mutabilidade. Assim,
aspecto estático ao alegar uma maior vemos que ambas as preocupações são
relevância nos estudos dessa orientação. pertinentes para os estudos sobre a
Uma de suas justificativas para essa linguagem.
escolha diz respeito ao fato de que, para
um indivíduo falante, os dados históricos Admitindo a relevância dos estudos
não são levados em conta, já que se gramaticais e históricos que
expressa a partir de um estado específico predominavam em seu tempo e no
da língua. De maneira semelhante, o passado, Saussure (2006) considera
linguista, interessado em compreender importante que a Linguística resgate
esse ou outros estados, deve ignorar os características da Gramática Tradicional,
anteriores ou, se for o caso, os estados porém, abandonando as especificidades
posteriores, isto é, deve abrir mão da teórico-metodológicas que ele julga
análise diacrônica. imperfeitas, como o fato dessa corrente
ignorar a formação das palavras e ser
O pai da Linguística explora essa questão normativa, devendo ela incorporar os
fazendo uma crítica à escola denominada procedimentos metodológicos que estão
Gramática Comparada, que objetivava apontados no CLG. Na figura a seguir
reconstituir hipoteticamente uma língua apresentamos um esquema elucidativo no
que fosse anterior a todas as outras por qual o teórico discute a relação entre
procedimentos diacrônicos de análise. Ele sincronia e diacronia no quadro
mostra que a Gramática Clássica, anterior linguístico que está a desenvolver, através
à Grama Comparada, partia de um estudo da distinção de dois eixos: o das
sincrônico e, apesar de ser censurada simultaneidades (A – B) e o das sucessões
pelos comparativistas de não ser (C – D).
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Figura 1. Esquema dos eixos simultâneos e sucessivos.


Fonte: Saussure (2006, p. 95)

Para Saussure (2006) o eixo A – B, ou Nesse texto, Saussure explicita que a


eixo das simultaneidades, diz respeito às sincronia diz respeito à gramática,
relações entre coisas coexistentes no diferente da diacronia que é considerada
sistema, que dispensam a observação das agramatical. Nessa perspectiva, não existe
influências do tempo, enquanto o eixo C – gramática histórica e sim estudos
D diz respeito ao eixo das sucessões, no diacrônicos, sendo gramatical apenas o
qual as coisas do eixo das estudo sincrônico. É preciso destacar,
simultaneidades se situam em relação a ainda, que na leitura do CLG podemos
seus estados anteriores (ou posteriores). O encontrar pistas que validam essa
pesquisador mostra que o estudo da informação. Ao falar de sincronia,
língua, como sistema de valores puros, Saussure (2006, p. 117) diz que a ela
ganharia mais se fosse estudado a partir “pertence tudo o que se chama ‘gramática
de ambos os eixos, porém a complexidade geral’, pois é somente pelos estados de
e diversidade de signos impossibilita um língua que se estabelecem as diferentes
estudo que seja capaz de abarcar essas relações que incubem à gramática”. Já no
duas dimensões. que se refere à diacronia, Saussure (2006,
Lopes (1997) afirma que a distinção p. 102) aponta que as modificações pelas
desses eixos provoca equívocos por parte quais a língua passa “só podem ser
de muitos leitores ao observar que o eixo estudadas fora do sistema”. Esse
A – B tem sido considerado como a posicionamento permite a interpretação
descrição estrutural por excelência e o de que, em certos pontos, o CLG vai de
eixo C – D como a única descrição encontro ao que está expresso no
diacrônica. Por esses equívocos, Saussure manuscrito encontrado na década de 1950
(2006), assim como outros estruturalistas, e corrobora com a ideia de que o estudo
sofreram outras críticas por, diacrônico não diz respeito a um estudo
supostamente, terem ignorado o caráter gramatical, pois só pode ser desenvolvido
histórico da língua. Lopes (1997) mostra, fora e indo além do sistema sincrônico, ou
porém, que esse tipo de acusação é seja, fora da gramática.
incabível ao mestre genebrino e pode ser Coseriu (1980), em um ponto de vista
rebatida a partir da consulta a um semelhante, chama atenção para o fato de
manuscrito inédito até 1957 no qual que as línguas não são produtos acabados,
Saussure expõe de maneira mais clara a mas sim, produções. É com base nessa
relação entre sincronia e diacronia. concepção que o autor pretende elucidar
melhor o impasse causado pelo polêmico
paradoxo entre sincronia e diacronia. interdependentes e pode ser reforçada
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Coseriu (1980) retoma as proposições de através da clássica comparação entre a
Humboldt para dizer para a linguagem língua e uma partida de xadrez, na qual se
não é um produto (ergon), mas sim, uma observa, em ambos os casos, sistemas de
atividade (enérgeia). As expressões em valores que passam por modificações. A
grego demarcam adesão e vinculo com o analogia explica que cada partida do jogo
pensamento aristotélico que define permite a movimentação de apenas uma
energéia como uma atividade criadora peça, assim como acontece na língua, em
infinita. Desse modo, “uma língua não é que as mudanças se aplicam apenas a
uma ‘coisa feita’, um produto estático, elementos isolados, e não ao sistema em
mas um conjunto de ‘modos de fazer’, um sua totalidade.
sistema de produção, que, a todo instante,
somente em parte surge como já realizado Cada lance do jogo, do mesmo modo que
historicamente”. Portanto, “a técnica os elementos da língua que se modificam,
linguística é essencialmente um sistema repercute em todo o sistema e os efeitos
para a criação de fatos novos, e não para a dos movimentos ocorridos são
simples a repetição do que já se fez”. imprevisíveis. No xadrez, o deslocamento
das peças provoca mudanças que fazem
Entender que a língua é uma atividade, com que o estado atual do jogo se torne
isto é um sistema de produção, supera as diferente do estado anterior e,
supostas fronteiras existentes entre consequentemente, do estado posterior. O
sincronia e diacronia e, sendo assim, é espectador que observa uma partida já
possível conceber que “o funcionamento iniciada não precisa ter conhecimento dos
das regras e a ‘mudança linguística’ não movimentos que ocorreram partidas
são, na própria língua, dois momentos, anteriores para compreender o estado
mas apenas um” (COSERIU, 1980, p. atual do jogo, o que igualmente acontece
23). Destaca-se, então, que a visão com os falantes, que não precisam ter
tradicional de sincronia e de diacronia conhecimento de como se deu o percurso
distingue o funcionamento do fazimento evolutivo de sua língua para poderem se
da língua. O fazimento, aqui expressar de maneira proficiente.
compreendido enquanto atividade, Todavia, no xadrez os jogadores realizam
enérgeia, visa o funcionamento dos fatos os movimentos de maneira consciente e
linguísticos. Coseriu (1979) então, diz intencional. As mudanças na no sistema
que as línguas funcionam a partir da linguístico, ao contrário, não são
sincronia, que é constituída conscientes e nem intencionais.
diacronicamente. Com essa exposição,
entende-se que a linguagem pode ser Lopes (1997) reporta que esse exemplo
concebida como atividade/processo e rebate as falsas acusações de que
também como produto. Saussure (2006) ignora a historicidade da
língua e trás a tona dois conceitos de
Já no CLG, notamos que Saussure (2006, historicidade, a externa e a interna. A
p. 102), mesmo explicitando seu foco primeira diz respeito à adaptação do
investigativo, está preocupado em não modelo evolutivo-biológico para o estudo
polarizar a Linguística por priorizar a da língua e considera que as
vertente sincrônica. Assim assevera o transformações acontecem de fora para
autor: “Sem dúvida, cada alteração tem dentro, ou seja, as mudanças no ambiente
sua repercussão no sistema”. Essa citação social provocam mudanças no sistema. Já
mostra como as duas noções são a historicidade interna parte de uma
autônomas e ao mesmo tempo compreensão de que as transformações
são produzidas dentro do próprio sistema uma análise diacrônica e sincrônica, o que
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e acontecem apenas em alguns elementos. é reafirmado na conclusão da seção que
Esses elementos que se modificam, como trata dessa dicotomia: “Cumpre
vimos, repercutem em todo o sistema e reconhecer que a forma teórica e ideal de
geram um novo estado histórico, ou seja, uma ciência nem sempre é a forma que
uma nova sincronia. lhe impõem as exigências da prática”
Com isso, fica claro que Saussure (2006) (SAUSSURE, 2006, p. 115). Por isso, o
não ignora a historicidade, mas a encara autor considera ideal que cada linguista se
de um modo diferente. Ao invés de dedique apenas a uma dessas dimensões,
considerá-la a partir de uma concepção dada a dificuldade de dominar ambas em
evolutivo-biológica, tal qual fizeram seus um único estudo, ou em um único campo
predecessores, ele considera que ela é teórico.
produzida dentro do próprio sistema, que Essa discussão pode ser resumida a partir
muda a partir da transformação dos da reflexão de Lopes (1997) de que
elementos que lhe integram ocasionando coexistem em cada estado da língua seu
um novo estado histórico, como bem passado (arcaísmos), presente (norma
mostrou o exemplo do jogo de xadrez. vigente) e futuro (neologismos), o que
Isso leva a conclusão de que não há uma corrobora com o que tentamos mostrar ao
distinção radical entre sincronia e longo de nosso texto. As reflexões de
diacronia, o que também é apontado pelo Saussure (2006) que aqui apresentamos
próprio Saussure (2006) que diz que uma deixam claro que a prioridade dada à
não exclui a outra. sincronia trata-se uma escolha
Assim reporta Saussure (2006, p. 114): metodológica e, em nenhum momento,
“essas duas ordens de fenômenos se ela é apresentada em detrimento da
acham em todas as partes estreitamente diacronia. Ambas as possibilidades de
ligadas entre si, uma a condicionar a estudo têm muito a oferecer a Linguística,
outra, acaba-se por acreditar que não vale mas um campo que busca a legitimação
a pena distingui-las”. Como discutimos como ciência exige recortes que
anteriormente, ele mesmo admite que possibilitem uma investigação mais
seria ideal um estudo que pudesse abarcar rigorosa e concreta.
Conclusão de um fenômeno linguístico que pudesse
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Pudemos observar que essa escolha ser quantificado, ou seja, a língua como
metodológica repercutiu de tal modo que, sistema imanente, sincrônico e abstraído
ainda hoje, a maioria dos estudos se volta das situações de uso. Como era de se
a vertente sincrônica. Mesmo com essa esperar, estudos posteriores – vinculados
grande adesão ao pensamento de Saussure a estudos funcionalistas, discursivos e
(2006), também destacamos que o autor enunciativos – superaram algumas das
foi alvo de muitas críticas e, apesar de seu lacunas encontradas nas proposições
ponto de vista claro, houve quem o saussurianas e continuam contribuindo
acusasse de ser ahistoricista e ignorar os para os avanços da Linguística, que hoje
estados evolutivos da língua. Esse estudo se consolida como um campo do
tentou mostrar que essas críticas ao conhecimento de relevância incontestável.
mestre genebrino são infundadas, uma
vez que o teórico trás posicionamentos Referências
explícitos acerca da relevância de ambas
BENVENISTE, E. Problemas de Lingüística
as abordagens e, mesmo os pontos que Geral I. São Paulo: Editora da Universidade de
não ficaram explicitados no CLG, estão São Paulo, 1976.
subentendidos nessa obra e também
BLOOMFIELD, L. Language. Nova York: Henry
foram alvo de reflexão, podendo ser Holt and Company, 1956.
esclarecidos através da consulta de seus
COSERIU, E. O homem e sua linguagem. São
manuscritos encontrados em décadas Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
posteriores a publicação de sua obra 1980.
póstuma.
LOPES, E. A identidade e a diferença: raízes
É preciso entender, ainda, que os históricas das teorias estruturalistas da narrativa.
posicionamentos estruturalistas emergem São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
1997.
sob influência do positivismo – cujo
método científico era o quantitativo e PIAGET, J. O estruturalismo. São Paulo: Difel,
postulava que os resultados de pesquisas 1979.
científicas só podiam ser válidos se SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. São
fossem mensuráveis. Nesse sentido, a Paulo: Cultrix, 2006.
proposta de Saussure (2006) era a de
oferecer um panorama teórico- Recebido em 2015-12-19
metodológico que possibilitasse o estudo Publicado em 2016-06-15

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