O mundo de Angela
Um breve mergulho na obra de Angela Gutiérrez, escritora cearense cuja história de vida se
confunde com sua obra literária e com a história de Fortaleza
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FOTO: IGOR DE MELO
DOCUMENTÁRIO
O corpo sem
Angela limites
(0)
Gutiérrez
costuma dizer
EDITAIS
que não se Secultfor
considera uma explica
grande escritora. diferença de
O motivo? valores
Segundo ela, os (0)
grandes
escritores
contam que
sofrem para
escrever. Para a
fortalezense,
entretanto, a
literatura é
somente um
prazer enorme.
“Quando estou
escrevendo, me
sinto
iluminada”.
Aclarada,
simples e
genial, Angela se tornou um ícone da literatura
Tweet cearense e, desde 1997, é membro da Academia
Cearense de Letras, atuando como diretora cultural
da entidade.
Com um sorriso aberto, a autora de O Mundo de
Flora conta que seu primeiro contato com os livros
foi ainda nos primeiros anos de vida, na biblioteca
do seu bisavô, Tomás Pompeu. “Eu praticamente nasci numa biblioteca
na casa do meu bisavô e a história da casa dele ainda alimenta minha
ficção”. Ela, que aprendeu a ler aos seis anos, desde cedo se encontrou na
literatura e descobriu, na família, a inspiração e o apoio necessário para
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se dedicar aos livros.
Angela optou, então, pelo curso de Letras na Universidade Federal do
Ceará (UFC). Aos 19 anos, já ministrava aulas na Casa de Cultura
Italiana, como bolsista. Em seguida, se tornou professora da UFC, cursou
Mestrado em Educação e mudouse para Minas Gerais para o Doutorado.
De volta a Fortaleza, Angela coordenou e implantou o mestrado de
Letras na UFC e foi diretorafundadora do Instituto de Cultura e Arte
(ICA). Sempre instigada a viver Fortaleza por completo, a escritora
enfrentou ainda o desafio de estar à frente da Casa José de Alencar,
trabalhando como diretora do espaço.
Apesar do amor infantil pela literatura, a escritora, que nasceu em 1945,
demorou para publicar seu primeiro livro. O Mundo de Flora só foi
revelado ao público em 1990. “Por ter escolhido Letras e ser professora,
desenvolvi um teor crítico que me fez demorar a começar na literatura”.
Por não gostar do que escrevia, quando finalizou a história de Flora,
levou o texto para os amigos Moreira Campos, Artur Eduardo Benevides,
Sânzio de Azevedo, Horácio Dídimo e Linhares Filho. Só depois da
aprovação dos cinco, a escritora estreante levou o projeto à diante.
O Mundo de Flora foi uma das leituras indicadas para o vestibular da
UFC, em 2007. Segundo Angela, a indicação permitiu que ela entrasse
em contato com muitos alunos e professores empenhados em estudar sua
obra. “A indicação proporcionou uma relação tão próxima com os
leitores, que considero uma das grandes alegrias que eu já tive na vida.”
A escritora conta, cheia de boas recordações, que esteve em mais de 40
escolas conversando sobre sua obra.
Outra obra muito importante para a carreira e vida de Angela é Luzes de
Paris e o Fogo de Canudos (2006). A autora pensou em escrever a obra
quando esteve em Minas Gerais e conta que foi preciso um
distanciamento do Nordeste para pensar sobre o tema. “Às vezes, é
preciso olhar de fora o seu lugar e retornar para ele.” Desde então,
Angela continua estudando sobre Euclides da Cunha, Antônio
Conselheiro e todo o universo de Canudos. Recentemente, Angela lançou
Os Sinos de Encarnação (2012) e atualmente já prepara duas novas
obras.
Paixões
Utilizandose constantemente da construção frasal “sou apaixonada por”,
Angela se assume uma mulher de paixões: seja por sua cidade natal,
Fortaleza, seja por seu marido, Oswaldo. Além da literatura, ela se diz
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enamorada por cinema e se assume amante das artes plásticas. ”Desde
cedo tive contato com o pintor Estrigas, depois com Descartes Gadelha, e
sempre fui apaixonada por artes plásticas”.
Dentre tantas referências para a sua carreira, ela destaca Machado de
Assis, Varga Llosa, Guimarães Rosa e, em especial, José de Alencar.
“Alguns escritores me fascinam realmente, como, José de Alencar. E,
apesar de sempre desmerecerem Alencar quando comparado a Machado,
sempre faço o contrário”. Ela conta que ama também a literatura francesa
e adora ler poesias e peças de teatro.
Família
Entre tantas paixões e referências é na família que Angela encontra um
guia para sua obra. De família tradicional e descendente do político
cearense Senador Pompeu, a escritora é filha do bacharel em Direito
Luciano Cavalcante, seu maior guia de leitura e de vida. Apesar de
falecido, o pai da autora ainda é sua principal motivação para trabalhar.
“De certa forma, eu escrevo por ele”, conta a escritora, que mantém o
sorriso, mas molha os olhos sempre ao falar do pai. Luciano Cavalcante,
apesar de amar literatura, não publicou nenhum livro.
Com o pai, a escritora aprendeu sobre a importância da leitura e, é lendo
pelo menos três horas por dia, que Ângela desvenda o mistério da escrita.
“Moreira Campos dizia que meu pai lia com sensibilidade e
potencialidade de compreensão”. Características essas, herdadas por
Ângela, que lê, vive e sonha com simplicidade e carrega a missão de
viver escrevendo e se apaixonando.
“A flor menina
Do casarão
Nunca termina
Sua canção
Traz o segredo
Dessa lição
Que vence o medo
Do coração
Canção no centro
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Do tempo de outrora
De sempre agora
Lição bem dentro
Da vida afora:
Mundo de Flora”
Poema escrito por Horácio Dídimo para Angela Gutiérrez, após ler O
Mundo de Flora pela primeira vez.
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