Anda di halaman 1dari 11

A voz como vínculo do discurso radiofônico: uma ferramenta para a promoção da

saúde

Ana Paula Machado Velho


Centro Universitário de Maringá
ampv@uol.com.br

Sônia Cristina Vermelho


Centro Universitário de Maringá
cristina.vermelho@gmail.com

Num aeroporto, no meio da confusão da sala de desembarque, um homem


pergunta o nome de uma das passageiras ao seu lado, que conversa com o parente
que veio lhe buscar. Mal acabou de ouvir a resposta, o sujeito diz que já sabia, porque
aquela é “a voz e a forma convincente de falar que ele ouve no programa de
radiojornalismo, todos os dias pela manhã, são inconfundíveis”.
Experiências como estas marcam a vida profissional de um radiojornalista e nos
põem a pensar sobre o poder da fala, a capacidade das pessoas envolverem outras
emocionalmente, mesmo em situações como um programa de rádio em que se
pretende apresentar, discutir e analisar fatos pelo viés jornalístico.
Muitos pesquisadores já escreveram sobre o rádio e sua linguagem que mistura
elementos sonoros diversos: a voz, a música, os efeitos sonoros e o silêncio. Mas
poucos se atêm ao fato de que esta voz tem personalidade e é ela que provoca a
interação entre as “mentes” de comunicadores/jornalistas e ouvinte. Sem ela, a peça
radiofônica, a reportagem e todas as outras formas de organização de mensagens no
rádio não existem de fato, resta apenas a música, mas esta é outra forma de
expressão. Enfim, é a voz que promove o rádio como meio de comunicação.
Há três fases na história da tecnologia radiofônica: a da radiotelegrafia, quando
os sinais sonoros em código Morse eram disseminados usando as ondas
eletromagnéticas, sem a utilização de fios, entre dois pontos; a radiotelefonia, na qual
os sons eram transmitidos em ondas eletromagnéticas entre dois pontos, em duas
vias; e a radiodifusão, por meio da qual se emite e recebe sons de diversas naturezas
(a emissora), através de ondas eletromagnéticas de um ponto para todos os outros
onde houver ouvintes equipados com receptores (Ferrareto, 2000, p. 92). O interesse
aqui é discutir esta última tecnologia, porque é ela que vai viabilizar o surgimento do
rádio como veículo de comunicação de massa.
Em artigo publicado na Revista GHREBH, A ciência e o rádio multimídia,
oficialmente, foi só em 1906 que se deu a primeira transmissão radiofônica de voz no
mundo, realizada pelo americano Lee De Forest. Diz-se oficial, porque a história do
rádio no Brasil conta que, no final do século XIX, o padre gaúcho Roberto Landell de
Moura começou suas pesquisas sobre as ondas de rádio, transmitindo pela primeira
vez, em 1892, a voz humana, em Campinas. Mas em nenhum desses dois momentos se
dá, ainda, o surgimento da radiodifusão sonora. Isso só vai acontecer em 1920, quando
é criada a primeira rádio no molde como conhecemos hoje.
A emissora surgiu de uma experiência de Frank Conrad que, a partir de sua
casa, na Pensilvânia (EUA), começou a fazer transmissões experimentais. Muito
habilidoso, desenvolveu o microfone e, em pouco tempo, suas conversas ganharam
repercussão. Ele começou a receber cartas de ouvintes que o sintonizavam, ainda com
rádios galena[1], elogiando sua atuação e as músicas que ele colocava no ar com a
ajuda do dono de uma loja de discos da sua cidade que emprestava as obras em troca
da citação de sua empresa no ar. O sucesso foi tanto que a Westinghouse Eletric and
Manufacturing Company cria, nos mesmos moldes, a primeira rádio americana, a
KDKA, que vai ao ar em 2 de novembro de 1920 (Ferrareto, 2000, p. 89).

A Voz
A voz constitui-se no processo biofísico de externar a palavra, ideias e o
pensamento. Emerge como a forma primária de comunicação humana e, portanto,
estruturadora da cognição. Um dos grandes teóricos do século XX que nos ajudou a
compreender a função da fala foi Lev Semyonovich Vygotsky. Tomando como base o
materialismo dialético formalizou teorias para compreender os processos de
aprendizagem e o comportamento humano, partindo da compreensão da importância
da fala e da linguagem, dos signos e dos instrumentos para a organização desses
processos. Segundo os estudiosos de Vygostky, suas pesquisas permitiram criticar
tanto a noção de que a compreensão de funções psicológicas superiores humanas
poderia ser entendida pela multiplicação e complicação dos princípios derivados da
psicologia animal - em particular aqueles princípios que representam uma combinação
mecânica das leis do tipo estímulo-resposta -, quanto aquelas teorias que afirmam que
as propriedades das funções intelectuais do adulto são resultado unicamente da
maturação, e que, estando previamente formadas na criança o desenvolvimento é só
um processo de amadurecimento natural dessas funções. (Vygotsky, 1989)
Sendo a fala uma das funções psicológicas desenvolvidas ao longo do
desenvolvimento humano, segundo Vygotsky essas são processos em constante
movimentação, não só no sentido individual como também histórico. De acordo com a
teoria marxista de sociedade, as mudanças históricas na sociedade e,
consequentemente, na vida material, produzem mudanças na natureza humana, na
consciência e no comportamento. Portanto, caso fosse possível estudar as estruturas
mentais do homo sapiens, bem provavelmente estas seriam diferenciadas das do
homem moderno. A diferença fundamental entre o homo sapiens e o homem
moderno, indicada pelos estudos da sociologia de orientação marxista é que a criação
de instrumentos, símbolos e de linguagem própria, os quais foram se aprimorando e
amplificando ao longo da história humana, trouxeram mudanças profundas no
desenvolvimento cognitivo e psíquico. O uso crescente desses elementos –
instrumentos, ferramentas e linguagem - permitiu o desenvolvimento de estruturas
mentais mais complexas. Em face disto, Vygotsky, diferenciava a humanidade dos
animais, pelo fato de que o homem se utiliza da natureza, transformando-a e
transformando, dessa forma, a si mesmo; enquanto os animais simplesmente usam a
natureza.1 O desenvolvimento, dessa forma, estaria caracterizado de duas formas, o
biologicamente inato e o historicamente adquirido.
A partir de suas experiências e de outros pesquisadores, Vygotsky indicou a
importância da fala no processo de interação da criança com o meio social e no
amadurecimento das funções psicológicas inferiores para funções superiores, na
organização e planejamento das suas ações. Durante o desenvolvimento, a criança
passa por vários estágios na sua forma de utilizar a fala. Primeiramente, ela tem a
função de ajudar na resolução de problemas, assim como as mãos e outras partes do
corpo. A fala nesse período é externa. A criança fala enquanto age. Posteriormente, a
fala passa a ter uma função interna, de planejar uma ação. Essas mudanças são muito
bem retratadas por Vygotsky da seguinte forma:
(...) quando as crianças descobrem que são incapazes de resolver
um problema por si mesmas, dirigem-se então a um adulto e,
verbalmente, descrevem o método que, sozinhas, não foram
capazes de colocar em ação. A maior mudança na capacidade
das crianças para usar a linguagem como um instrumento para a
solução de problemas acontece um pouco mais tarde no seu
desenvolvimento, no momento em que a fala socializada é
internalizada. Ao invés de apelar para o adulto, as crianças
passam a apelar para si mesmas; a linguagem passa, assim, a
adquirir uma função intrapessoal além do seu uso interpessoal.
(Vygostky, 1989, p. 30)
Dessa forma a relação entre o uso de instrumentos e a fala afetam várias
funções psicológicas, em particular a percepção, as operações sensório-motoras e a
atenção, sendo cada uma delas parte de um sistema dinâmico do comportamento.
Segundo Vygostky ainda, mais tarde os mecanismos intelectuais relacionados a fala
adquirem uma nova função: a percepção verbalizada passa do ato de rotular à função
de sintetizar, tornando-se um instrumento para se atingir formas mais complexas da
percepção cognitiva.
Vygotsky coloca que a linguagem, instrumento desenvolvido pela humanidade,
é o que permite passarmos de geração em geração a cultura e os conhecimentos
adquiridos pela humanidade. É também, o meio pelo qual a criança inicia o seu
desenvolvimento. Vygotsky (1989), ainda coloca a distinção, dentro de um processo
geral de desenvolvimento, que:
(...) existem duas linhas qualitativamente diferentes de
desenvolvimento, diferindo quanto à sua origem: de um lado, os
processos elementares, que são de origem biológica; de outro, as
funções psicológicas superiores, de origem sócio-cultural. A
história do comportamento da criança nasce do entrelaçamento
dessas duas linhas.(p. 52)

1 Para transformar a natureza, o homem utiliza os instrumentos criados por ele mesmo.
À medida que a criança cresce, não somente mudam as atividades evocadoras
da memória, como também o seu papel no sistema das funções psicológicas. A
memória nas fases bem iniciais da infância, é uma das funções psicológicas centrais.
Pensar, nessa fase significa lembrar; no entanto, essas lembranças são baseadas na
lembrança de exemplos concretos, não possuindo ainda um caráter de abstração. As
palavras, com isso, adquirem significados diferentes quando se trata de criança em
idades distintas. Para crianças no inicio da infância, emitir palavras não significa indicar
conceitos conhecidos, mas é a utilização de uma ferramenta para nomear classes
conhecidas ou grupos de elementos visuais relacionados entre si por certas
características visualmente comuns. Como colocou Vygotsky: para as crianças, pensar
significa lembrar; no entanto, para o adolescente, lembrar significa pensar.
Destas considerações em torno da linguagem, portanto, da palavra como a
materialização do pensamento, como estruturante da cognição humana, é
interessante articular essa questão com a própria história da mídia. A voz e a elocução
que sustentaram a comunicação, inicialmente, por meio de grunhidos que,
sistematizados, se transformaram em linguagem simbólica, esta última sendo
aprimorada na mesma proporção que se complexificaram a sociedade, as cidades e os
meios de transmissão do pensamento, da comunicação.
Ainda que saibamos do papel que o surgimento da escrita trouxe ao
desenvolvimento humano, até os dias atuais é na linguagem oral que toda a tradição
vai estrutura como fator de agregação social e de manifestações culturais. Mesmo com
a invenção de Guttenberg, que desenvolveu a tipografia, os livros e as primeiras
edições de jornais e revistas, estas se limitavam ao domínio dos nobres letrados e do
Clero. A letra e a voz, livro de Paul Zumthor (ano), descreve muito bem esta história,
apontando que a “literatura” medieval era estruturada para ser dita, falada. Eram os
textos ditos que lastreavam toda a comunicação social, promoviam os vínculos da
cultura.
A situação toma outras direções com o esgotamento do modelo social da Idade
Média, com o surgimento do comércio internacional, promovido pelas grandes
navegações e pelo surgimento de uma classe social que não eram nem os nobres de
“sangue real” e nem integrantes do clero: os burgueses. A necessidade de que a
população tivesse domínio da escrita estimulou o se fortalecimento, surgindo assim,
uma tendência a textolatria.
A Revolução Francesa e o Iluminismo são o clímax deste movimento de
popularização da informação oficial. A burguesia, a classe média, assume
definitivamente as rédeas da sociedade e exige ter acesso aos bens culturais que se
disseminam pelo mundo. Esta nova classe promove a Revolução Industrial e vão
investir no aprimoramento dos meios de comunicação, inicialmente com propósitos
diversos, mas que se encaminhou para tornar os meios de comunicação de massa
como a forma mais acabada para divulgar os produtos que a indústria colocava no
mercado. Os jornais e os periódicos se aprimoram ao passo em que há a evolução das
aplicações da eletricidade e, com isso, o surgimento de “novos” meios de
comunicação. Entre eles está o rádio que vai se estabelecer como mídia de massa ao
promover a disseminação de notícias e entretenimento por meio da voz.

Voz e vínculo
É importante frisar que ao falarmos em comunicação estamos nos referindo a
uma iniciativa de se propor vínculos com o outro, de interagir com o outro no sentido
de mover alguém a ouvir, a prestar atenção às mensagens que colocamos no mundo.
Num texto intitulado “Rádio Nova, constelações da radiofonia
contemporânea”, Norval Baitello Jr. (ano) propõe que ouvir é trazer a atenção de
alguém para o que nós dizemos e mostramos. Ele amplia a noção de ouvir para
explicar como qualquer elemento disponível no universo da mídia pode nos fazer
mergulhar em seu significado, a partir do momento em que consegue estabelecer
relações com lembranças, em geral importantes para o individuo. Comunicação não se
dá, então, só pela emissão de mensagens, mas no momento em que o indivíduo aceita,
apreende e se atenta para o conteúdo disponibilizado.
Possivelmente o rádio seja uma das mídias que ilustra bem esta proposição de
um envolvimento profundo entre a mensagem e o indivíduo/ouvinte, que Baitello
batizou de vínculo. A história deste suporte mostra como o veículo foi capaz de
mobilizar famílias inteiras durante seus anos de ouro no Brasil e, no exemplo clássico
vivido por Orson Welles no episódio da transmissão da peça radiofônica Guerra dos
Mundos, nos Estados Unidos em 1938, que levou muitos ouvintes acreditando que a
Terra estava sendo invadida por extraterrestres. Naquele tempo, o rádio era o
principal meio de comunicação de massa e estava no centro da sala, a família se
reuniam em volta do aparelho receptor.
Hoje, o modelo é diferente. Ainda que tenhamos outros meios mais atrativos, o
rádio ganha pela sua mobilidade: pode-se ouvir rádio em qualquer lugar, mas também
porque não exige atenção exclusiva. A diminuição de tamanho e os vários formatos é
resultado do aprimoramento da tecnologia que substituiu as enormes e dispendiosas
válvulas, para os transistores tornando-o menor e portátil.
Contudo, nesse novo ambiente, em meio ao conjunto de estímulos que o
indivíduo recebe no meio social e urbano, o rádio deve falar a cada um dos ouvintes. O
vínculo é estabelecido com cada um, que pode estar no meio do trânsito, dentro do
carro, digitando um texto no computador, executando tarefas domésticas ou
trabalhando numa empresa.
É em função desta complexidade do fenômeno comunicacional midiático que
se funda a importância do envolvimento provocado pela mensagem jornalística o qual
se dá a partir da voz de alguém que a concretiza, denominado de elocução, a palavra
dita. “A voz é um meio sonoro que desperta a capacidade evocativa da palavra”, ela é
um “gesto sonoro”, como propõem as considerações de Werner Klippert, no livro
traduzido por George Bernard Sperber, Introdução à peça radiofônica. (ano)
No universo jornalístico radiofônico a palavra ganha expressão com a fonação e
interpretação na voz do comunicador. Este último não apenas lê, interpreta o
conteúdo das mensagens escritas, como também, comenta, entrevista, analisa. Enfim,
fala informalmente ao microfone. Esse processo gera no ouvinte a sensação de que
está participando de um diálogo, apesar de não poder responder diretamente a quem
lhe fala. Essa incompletude provoca em quem ouve a necessidade de complementar o
diálogo com sua imaginação. Através da palavra, “o receptor cria imagens em sua
mente – imagens interiores” (Baumworcel, 2001, p. 109). As imagens mentais vão
comportar sensações, emoções e relações afetivas. Isto porque, nossa cognição foi
estruturada por meio da palavra, da linguagem realizada nas trocas intra e
intersubjetivas (Vygotsky, 1989).
Do ponto de vista da comunicação, são nestas interações que se dão os
vínculos (Baitello, ano), o que explica aquele encontro do jornalista e do ouvinte no
aeroporto, pessoas tão íntimas e que nunca se viram. É “a palavra imaginada, fonte
evocadora de uma experiência sensorial mais completa” (Baumworcel, 2001, p. 109).
Plessner diz que
(...)na conversa se encobre a ligação do homem à linguagem. (...) Quanto mais
plástica for a expressão e quanto mais transparecer seu caráter metafórico – não
apenas com intenções poéticas – tanto mais intensamente é sentida a presença do
que se quis dizer no invólucro do que foi dito. (ano, p. )
Em outras palavras: está concretizado o vínculo.

Nova era do rádio


Num mundo onde a imagem é sedutora, mas ao mesmo tempo invade a
escolha de se estabelecer ou não contato (vínculo), já que se dá a ver excessivamente
em qualquer situação do cotidiano, o ouvir torna-se um modelo de interação
alternativo e menos invasivo. Este não determina, mas propõe a interação com aquele
que se permite ouvir.
A reestruturação do rádio no Brasil, depois da decadência provocada pela
chegada da televisão, se deu exatamente sobre relações afetivas entre profissionais e
rádio ouvintes. Com as propostas de entretenimento transferidas para a televisão, o
rádio adota uma programação que reúne música e esporte (entretenimento) e
jornalismo (notícias e prestação de serviços). Ajudado pela miniaturização e a
portabilidade, o rádio se transformou no companheiro de todas as horas, por meio do
qual alguém conta alguma coisa.
Essa característica estimulou o governo militar a utilizá-lo como instrumento de
integração nacional, levando sua ideologia às mais longínquas regiões do País. E foi por
esta característica, também, que o rádio venceu a derrocada comercial: passou pela
ditadura com a exploração do filão da música de qualidade, trazida pela tecnologia da
Freqüência Modulada (FM), e chegou aos anos 80, para se fortalecer com o novo
período de valorização da informação jornalística e dos movimentos populares.
Inúmeros novos políticos vão surgir destas mobilizações que aconteceram pós-Anistia.
Pessoas que colocaram suas vozes em rádios, muitas ditas livres ou comunitárias, vão
se transformar em representantes do povo. E todo este processo vai abrir caminho
para o surgimento de emissoras exclusivamente de notícias nos anos 90.
Atualmente, a radiodifusão sonora passa por momentos ainda mais
promissores. Pesquisas mostram que os jovens ou a “geração da televisão” vêm
descobrindo o rádio. Programas como o Pânico, da Rádio Jovem Pan (sem entrar no
mérito da qualidade do conteúdo, o que não é foco desta discussão) vêm
conquistando este público justamente porque se estrutura na conversa.
Comunicadores populares falam das coisas do cotidiano, utilizando o humor,
entrevistas informais com as chamadas “celebridades” e abrindo espaço para a
participação do ouvinte.
A vida urbana, que exige que o indivíduo passe quase o dia todo fora de casa,
leva-o a procurar informação e entretenimento no rádio. Ele procura contato com o
mundo de uma forma que não precise utilizar as mãos, ocupadas com as tarefas
profissionais ou com o volante, quer ouvir o outro, além dos barulhos da paisagem
sonora[2] da cidade. Ligando-se ao veículo, liga-se à vida. Com isso, o horário de
exposição das pessoas ao rádio se expande. Agora, ele mobiliza o ouvinte das 6 às 19
horas, não só pela manhã (Martins, 2005, p. 106), como foi registrado durante
décadas.
Em consequência, formatos esquecidos voltam ao dial com o objetivo de
explorar a dialogia. A CBN (Central Brasileira de Notícias), emissora de jornalismo 24
horas que define a si mesma como A rádio que toca notícia, vem explorando a
veiculação de crônicas e comentários, por exemplo, e se rendeu a um tipo de
programa que é classificado como entretenimento, ao qual ela resistiu por muito
tempo, que é o esporte. Entendeu que o ouvinte queria este conteúdo apresentado de
uma forma bastante informal.
Sob esta mesma perspectiva, a emissora não se preocupa em irradiar
entrevistas de 12, às vezes, 15 minutos, uma nova realidade para um veículo de
comunicação que sempre se lastreou em um tempo curto para os elementos, uma
forma de dar movimento sonoro à programação, apresentando mensagens curtas em
sons e vozes diferentes.
As práticas apresentadas acima são sinais de que há uma nova postura do
radiojornalismo, que resgata a fala, já que esta propõe uma relação mais estreita com
o público atual, ávido por ouvir o outro. As pessoas procuram a conversa, o diálogo, a
interação. E estes detalhes surgem quando a voz do rádio se enche de personalidade,
por meio de jornalistas/comunicadores envolventes que conseguem demonstrar sua
capacidade profissional e humana, no momento de conduzir a interlocução com os
entrevistados, de ler os textos pré-produzidos, de traduzir as notícias para quem ouve.
Voltamos à voz, ao diálogo, à elocução, aos vínculos. Nestes elementos é que está o
diferencial do rádio.
No entanto, existe hoje uma preferencia para o exercício da profissão nos
meios que utilizam a imagem, tais como aquelas formatadas em um minuto e meio nas
reportagens de televisão. Imagem bonita, mas que não é profunda, é
descontextualizada e fria, pois se estrutura em módulos empacotados de informação
com cenas quebradas e textos editados. Muitas vezes o reconhecimento vem da
plástica visual e não pelo vínculo afetivo, que se dá quando o comunicador é contador
de fatos e não apenas locutor de offs, escondido atrás da narração de um fato.
Pergunte às igrejas e aos políticos o que significa o poder do rádio e eles vão
explicar porque são detentores de 80% das emissoras do País. Essa alquimia de
emoções que se dá na radiodifusão sonora pode ser vista como a arma dos
doutrinadores eletrônicos que têm o dom da palavra ideológica. Mas, também, pode
ser o prêmio daqueles que dedicam a vida profissional ao diálogo no radiojornalismo,
se entregam ao encontro diário com o ouvinte. Aqueles que, mesmo distantes
fisicamente, confiam ao comunicador suas dúvidas, seus anseios, suas alegrias e suas
lutas.

O rádio e a Promoção da saúde


Um dos aspectos do cotidiano que tem conquistado a mídia é a saúde. A cada
dia, ficam mais claro que a saúde tem muitas dimensões, todas decorrentes das
complexas relações entre os aspectos físicos, psicológicos e sociais da natureza
humana. A medicina e o sistema de tratamento das enfermidades não dão conta de
promover uma melhor qualidade de vida ao indivíduo, mesmo com avanços
fenomenais no desenvolvimento de técnicas ultrasofisticadas e medicamentos para as
mais diferentes patologias. Nesse contexto os meios de comunicação, principalmente,
o rádio com suas características, podem ser um importante aliado na promoção da
saúde.
Como lembra Capra (1982), as intervenções biomédicas, embora
extremamente úteis em emergências individuais, têm muito pouco efeito sobre a
saúde da população como um todo. É sabido que a saúde do ser humano está mais
ligada ao comportamento, à alimentação e às condições e à natureza do ambiente em
que o indivíduo está inserido do que as modernas técnicas e teorias científicas no
campo da medicina.
Em função das limitações das ciências médicas, há algumas décadas vem se
estruturando o campo da promoção da saúde o qual defende a importância de
instrumentalizar o indivíduo com informações, para que ele possa ser mais atuante na
conquista da qualidade de vida. Configura-se aí e legitima-se no Brasil e em boa parte
do mundo a doutrina dos cuidados primários ou Atenção Primária da Saúde (APS), que
cresceu como resposta aos interesses políticos e pragmáticos de prevenção da doença.
Essa nova filosofia se fortaleceu no Brasil nos anos de 1980, quando os
movimentos sociais renascem com muita força, na tentativa de minimizar o custo
social do período militar no país. É nesse momento que o próprio Estado age em favor
de mudanças na área social, que são ratificadas com a promulgação de uma nova
Constituição. A nova Carta Magna contém o desenho do Sistema Único de Saúde que,
em sua essência, visa implementar um novo modelo de política de saúde pública, no
qual a disseminação de informação é fundamental.
A Associação Americana de Medicina define esse processo de organização de
informação como uma iniciativa de alfabetização em saúde. Consiste exatamente em
habilitar o cidadão da capacidade de obter, processar e compreender as informações
básicas em saúde, necessária à tomada de decisões apropriadas e que apoiem o
correto seguimento de instruções terapêuticas. Ações nesta área demandam novas
estratégias de reorganização do sistema de saúde, novos investimentos financeiros e,
também, em propostas de comunicação em saúde que resultem em mudanças de
estilos de vida.
Observa-se, enfim, que há um movimento, inclusive dentro das instituições
acadêmicas, no sentido de construir elos teórico-metodológicos para fortalecer os
processos de comunicação em saúde, criando núcleos de referência, assessorias e
grupos de trabalho que vêm promovendo o debate da temática em diferentes fóruns,
realizando pesquisas, editando publicações, capacitando profissionais da saúde e da
comunicação.
Tem se mostrado muito fecunda a relação de parceria entre jornalistas e
enfermeiros, médicos, psicólogos, nutricionistas entre outros especialistas, os quais
alimentam os profissionais de comunicação com informações de cunho social trazendo
importantes subsídios para a organização de ações de comunicação mais efetivas. Por
outro lado, os profissionais de comunicação apresentam àqueles que atuam em
hospitais e clínicas, de que forma as tecnologias comunicacionais, hoje, podem
sustentar ações de promoção da saúde com a linguagem, o espírito da sociedade atual,
a qual tem os meios de comunicação como mediadores.
Enfim, é importante estratégias específica para a divulgação das informações
essenciais sobre saúde. As palavras rebuscadas, técnicas, a linguagem especializada,
com estrutura duramente elaborada para a reprodução de ideias da academia para a
academia ou com estrutura discursivo-léxica altamente precisa, utilizada na
elaboração de novas ideias, não contribuem com ações que tem como foco “instruir” o
indivíduo para o processo individual de promoção da saúde. É preciso levar informação
decodificada para os mais diversos públicos.
Nossa tese é de que a voz, para a promoção da saúde, é um dos grandes
veículos de comunicação de massa. Nossa argumentação para tanto é de que a voz,
com toda a carga afetiva de quem fala, a qual pode dedicar profunda confiança para o
estabelecimento de vínculos, pode ser um poderoso instrumento para a mudança de
comportamento tão necessária para a promoção da saúde. A voz, a fala, a palavra
pronunciada está na matriz mais profunda do processo de estruturação da linguagem,
portanto, da comunicação humana. A voz, que é dita, é reconhecida em qualquer lugar
e momento, mesmo no barulhento saguão de desembarque de um aeroporto.
Bibliografia
FERRARETO. O rádio: a história, o veículo e a técnica. Porto Alegre: Sagra Luzzatto,
2000.
VELHO, Ana Paula M. A linguagem do rádio multimídia. IN: Revista GHREBH, nº 5.
Disponível em www.cisc.br. Acesso em 17 maio 2005.
VIGOTSKY, Lev. S. A Formação Social da Mente. 3ª ed. São Paulo: Livraria Martins
Fontes, 1989.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a literatura medieval. São Paulo: Companhia das
Letras, 1993.
BAITELLO, N. Rádio Nova, constelações da radiofonia contemporânea (completar)
KLIPPERT, W. Introdução à peça radiofônica (completar)
BAUMWORCEL, Ana. “Radiojornalismo e sentido no novo milênio”. In: MOREIRA, Sônia
Virgínia e DEL BIANCO, Nélia (Org.). Desafios do Rádio no Século XXI. São Paulo:
INTERCOM, Rio de Janeiro: UERJ, 2001.
PLESSNER, H. “Antropologia dos sentidos”. In: GADAMER; VOGLER (Orgs.). Nova
antropologia: o homem e sua existência biológica, social e cultural São Paulo: EPU,
1977, Volume 7.
MARTINS, Sérgio. A nova era do rádio. Revista Veja. São Paulo. 2 mar. 2005.
CAPRA, FRITJOF. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora Cultrix, 1982.

Referências
BURKETT, Warren. Jornalismo Científico: como escrever sobre ciência, medicina e alta
tecnologia para os meios de comunicação/tradução Antônio Trânsito. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 1990, p. 28.
CARVALHO, Tais e OSWALDO-CRUZ, Elisa. O que o brasileiro pensa sobre ciência e
tecnologia? 18/07/2011. Site da Academia Brasileira de Ciências. Disponível em
http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=1304. Acesso em out 2011.
CUNHA, Marcia Borin e GIORDAN, Marcelo da XIV. A percepção da Ciência e da
Tecnologia: um estudo comparativo. Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV
ENEQ). Anais. 2008. Disponível em
http://quimica.fe.usp.br/textos/educ/pdf/TrabalhoENEQ2008.pdf. Acesso em outubro
2011.
GENRO FILHO, Adelmo. O Segredo da Pirâmide: para uma teoria marxista do
jornalismo. Porto Alegre: Editora Tchê, 1987.
LOPES, Felisbela ET AL. Jornalismo de Saúde e Fontes de Informação: uma análise dos
jornais portugueses entre 2008 e 2010 (2011). Derecho a Comunicar, Número 2.
Disponível em http://www.derechoacomunicar.amedi.org.mx/pdf/num2/7-
rita_araujo.pdf. Acesso em out 2011.
MARQUES DE MELO, José. O Jornalismo Científico na Universidade Brasileira. IN: anais
do 4º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico. São Paulo: ABJC, AIPC, 1984.
MEDITSCH, Eduardo. O Conhecimento do Jornalismo. Florianópolis: Editora da UFSC,
1992.
NATANSOHN, Graciela (2004). Comunicação & Saúde: interfaces e diálogos possíveis.
Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, Vol.
VI, n. 2. Disponível em
http://www2.eptic.com.br/sgw/data/bib/artigos/ac91b84bc163228f74ae2a291b80dd
81.pdf
OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002 – Coleção
Comunicação
REIS apud VERAS JÚNIOR, José Soares. Da informação do Conhecimento. BOCC. 2003.
Disponível em http://www.jornalismocientifico.com.br/conceitojornacientifico.htm.
Acesso em 20 abr 2006.
REUTERS. Brasil é o 50 país que mais procura informação sobre saúde na Internet. O
Globo. 4/1/2011; Digital e Mídia. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2011/01/04/brasil-o-5-pais-que-mais-
procura-orientacoes-sobre-saude-na-internet-revela-pesquisa-923418594.asp). Acesso
em out 2011.
SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
SPERBER, George Bernard. Introdução à peça radiofônica. Seleção, tradução,
introdução e notas de George B. Sperber. São Paulo: EPU, 1980.
TEIXEIRA, Ricardo A. Confiança na mídia pode ser um importante fator de promoção à
saúde. 2009. ICBNeuro – Consciência. Brasília, 2009. Disponível em:
http://www.icbneuro.com.br/consciencia/jornalismoSaude.php?p=js&id=7. Acesso em
6 de out 2011.
TEIXEIRA, Ricardo. O importante papel do jornalismo na alfabetização em
Saúde; 2008, ConsCiência no Dia-a-Dia. Disponível em
http://consciencianodiaadia.com/2008/08/28/o-grande-papel-do-jornalismo-na-
alfabetizacao-em-saude/). Acesso em 11/08/2011.
VERAS JÚNIOR, José Soares. Da informação do Conhecimento. BOCC. 2003. Disponível
em http://www.jornalismocientifico.com.br/conceitojornacientifico.htm). Acesso em
20 abr 2006.
VILCHES, Lorenzo. A Migração Digital. Tradução Maria Immacolata Vassallo de Lopes.
Rio de Janeiro: Editora PUC Rio; São Paulo: Editora Loyola, 2003.
VILELA, Elaine M. e MENDES, Iranilde J. M. (2003). Interdisciplinaridade e Saúde:
estudo bibliográfico. Rev Latino-am Enfermagem, Ano 07, Vol 06, Nº 01. Disponível
em http://www.scielo.br/pdf/rlae/v11n4/v11n4a16.pdf. Acesso em jul 2011.
ZAREMBA, Lílian; BENTES, Ivana. (Orgs.) Rádio Nova. Constelações da radiofonia
contemporânea 3. Rio de Janeiro: UFRJ, ECO, Publique, s/d.

Notas
[1] O rádio galena era um receptor simples que podia ser fabricado em casa por alguns
ouvintes. Consistia num fragmento de sulfeto de chumbo natural, chamada galena,
ligado à antena por um fio, com o som chegando aos ouvintes por um par de fones
auriculares.
[2] Termo cunhado por Murray Schafer, IN: SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo.
São Paulo: Editora Unesp, 2001.

Anda mungkin juga menyukai