A CASA DA CABEÇA DE CAVALO TEOUNDA GERSAO ed. D. Quixote, 248 pp., 2 980$00
«Como se disse, olhar a Casa de fora e
de longe não deve ser tomado como sinóni- mo de medo. Mas a verdade é que a Casa está há muito tempo fechada e todos os seus habitantes estão mortos. (Na Vila dizia-se que nas janelas apare- ciam luzes, que logo se apagavam quando alguém mais afoito se aproximava, e havia quem afirmasse ter visto Ercilio passear debaixo das laranjeiras, ou Inácio sair de madrugada, com a espingarda a tiracolo e o cão Rufino. Mas quando chegavam perto já não viam ninguém, era só um ramo de árvore, uma mancha na terra, a sombra de uma nuvem no chão).» Casa da Cabeça de Cavalo é um livro A habitado por fantasmas que ocupam uma casa assombrada. Mas não é um livro infantil nem uma história de terror feita à base de lugares comuns. O quinto romance da autora de O Silêncio é feito de memórias e de um tempo que nada tem de cronológico. Porque é o tempo dos mortos: as chávenas de chá servem-se va- zias, o relógio de cuco não bate as horas por- que elas não fazem falta, as conversas repe- tem-se vezes sem conta e Januário aponta nos seus caderninhos, pequenos pormenores do mundo dos vivos que teme esquecer. Mas, se a Casa da Cabeça de Cavalo hoje está vazia e abandonada, há muito tempo ela foi palco de estórias excêntricas e improváveis. Depois de contarem uns aos outros as recordações da própria morte, os fantasmas que nela habitam actualmente não se cansam de rememorar, por puro di- vertimento, essas estórias de antepassados: o irascível Duarte Augusto, contra tudo e contra todos, a ciumenta e curvilínea Viri- ta ... Com personalidades bem marcadas e num frágil equilíbrio de convivência todos, os habitantes (mesmo os forasteiros integra- dos) da Casa vivem quase como se não existisse um mundo exterior.