Ainda segundo Teixeira Coelho, o artista do século XIX será percebido como
um herói sem causa, que fala exclusivamente a partir do seu próprio Eu,
diferentemente do artista do século XX, que passa a ser aquele que abraça as
causas sociais, o artista ideologicamente engajado. É claro que estas
classificações correspondem exclusivamente à sociedade ocidental, e que o
fortalecimento de um olhar sobre o artista não significa o desaparecimento dos
outros olhares. Estes continuam presentes na trama social
Em oposição ao moderno que aqui apresentamos, está o pós-moderno, que no
plano dos saberes caracteriza-se pelo questionamento da lógica científica. Os
pós-modernos defendem a desconstrução da "verdade", assumindo posturas
relativizadoras. Tais posturas terão conseqüências no fazer artístico e no
pensar histórico do fazer artístico. Conseqüências que não podem ser
homogeneizadas, dado que "a pós-modernidade assume em cada linguagem
um aspecto diferente" (COELHO, 1986, p. 83), principalmente na arte, já que
"manifestações universais não as há mais raras do que na arte" (HAUSER,
1984, p. 76). Porém, é possível apresentarmos uma ruptura que caracteriza o
fazer artístico desta realidade que aqui chamamos de pós-moderna. A partir do
artigo de Annateresa Fabris (1998), é possível concluirmos que na
Modernidade o fazer artístico - e principalmente o das artes plásticas -
caracteriza-se pela produção da "imagem especular", isto é, a obra de arte
enquanto objeto de contemplação. Segundo esta autora, "a idéia clássica da
janela é substituída pela interação permanente entre imagem e modelo, pela
possibilidade de penetrar no interior da imagem, que se transforma em lugar,
ao ver abandonada a bidimensionalidade à qual estava condenada" (FABRIS,
1998, p. 223). É o caso, por exemplo, das instalações, onde o espectador, além
de ver a obra, entra nela, sente-na em seu corpo, toca-a e, em alguns casos,
pode até modificá-la. Já no plano teatral, a pós-modernidade pode se
caracterizar pelo princípio do "público participante", isto é:
Para concluir, o que queremos afirmar aqui é que, da mesma forma como a
arte, também a História da Arte sofre a interferência de uma nova "épistémè"
que está se constituindo e que, apesar de ainda pouco compreendida,
chamamos de pós-moderna; sendo que esta interferência obriga ao historiador
da arte refletir novos conceitos a partir de uma perspectiva relativizadora e
interdisciplinar, o mesmo acontecendo com o historiador de qualquer outro
objeto, já que historiografar a arte é função do historiador e não do artista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOTTON, Alain de. Para que serve a arte? Folha de São Paulo, São Paulo, 23, ago., 1998,
cad. MAIS!, p. 3.
BURKE, Peter. A Revolução Francesa da Historiografia: A escola dos Annales, 1929-1989.
Tradução por Nile Odália. São Paulo: UNESP, 1991.
• A Aventura do Livro do Leitor ao Navegador - ROGER CHARTIER
CHARTIER, Roger. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. Trad. por Reginaldo de
Moraes. São Paulo: UNESP, 1998.
• TEIXEIRA COELHO, Moderno Pós Moderno: Modos e Versões – São Paulo: Iluminuras,
2005.
FABRIS, Annateresa. Redefinindo o conceito de imagem. Revista Brasileira de História, São
Paulo, v. 18, n. 35, 1998, p. 217-224.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. 4 ed. Trad. por Luiz F. B.. Neves. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 1995.
HAUSER, Arnold. A Arte e a Sociedade. Trad. por. Maria M. Morgado. Lisboa: Presença, 1984.
KERN, Mara Lúcia Bastos. Os impasses da história da arte: interdisciplinaridade e/ou
especificidades do objeto de estudo? Revista da SBPH, Curitiba, n. 16, 1999, p. 107-113.
NAPOLITANO, Marcos. História e arte, história das artes ou simplesmente história? (mimeo).