P O R E V A N D R O F. P O N T E S
Salmo 133
A semana que passou foi agitada pela decisão do STF, que determinou a
competência da Justiça Eleitoral para julgar os chamados “casos conexos”, a
saber: todos os processos em que se identi que uma causa jurídica cujos
efeitos foram, diretamente ou indiretamente, de natureza eleitoral.
A Justiça ainda precisa modular os efeitos dessa decisão, a saber, veri car o
que esse entendimento interfere, na prática, em cada processo em que houver
crime eleitoral como consequência de um ato anterior de corrupção, lavagem
de dinheiro e outros delitos “não-eleitorais”.
Já há tempos que o STF vem modi cando o direito e isso, de certa forma, não
vem contando com a simpatia de inúmeros setores da sociedade, que estão
alijadas desse processo de modi cação.
Antes de se criticar ou elogiar a linha que vem sendo adotada pelo STF (e não
quero aqui cair na esparrela de debater o inquérito aberto pelo Presidente do
STF na mesma sessão em que o caso ora mencionado foi julgado), cumpre
aqui constatar um fato: há hoje uma crise institucional instalada no seio da
República.
Identi car essa crise não é crítica nem elogio – é constatar um fato óbvio que
o próprio Ministro Barroso reconhece ao, ele mesmo, criticar a iniciativa da
investigação dos descontentes e, em passado recente e remoto, ter a rmado
que os desígnios da Corte não correspondem, muita vez, ao que pensa e deseja
a maioria do povo brasileiro. O próprio Ministro Barroso sabe que vem
mudando o direito brasileiro unilateralmente e que fazer isso sem enfrentar
descontentes seria explicitar que essas modi cações frequentam las de
motéis com o seu amante, o despotismo (a conclusão é do Ministro, embora a
metáfora, confesso, seja minha, já que metáfora não é crítica).
Não quero também entrar no mérito de suas teses nem debater legalização de
aborto (assunto do qual minha posição é aberta e radicalmente contra essa
barbárie humana) – a ideia é voltar a um arauto do pensamento jurídico, que
começou conservador e terminou na esquerda: Go redo Telles Junior.
Ao escrever que o direito justo é o direito legítimo, entendendo legítimo
aquele direito que corresponde a uma aspiração natural na sociedade,
Go redo, nos idos dos anos 1950 e em sua fase mais conservadora e
bergsoniana, a rmava que a falta de respaldo dessa maioria seria, de certa
forma, um núcleo de con ito entre o direito natural de um povo e de uma
nação contra o direito tecnocrático de minorias putativas. Mesmo em seu
momento pseudoprogressista (como na Cartas aos Brasileiros em 1977), o
tema da legitimidade foi central, mostrando que o velho mestre nunca
abandonou o seu peculiar jusnaturalismo.
Sob o ponto de vista técnico, as falas do Ministro Barroso (e isso não é uma
crítica, mas apenas a constatação de um fato) são o maior atestado de que o
STF vem agindo de forma ilegítima.
As decisões judiciais devem sim funcionar como um diapasão social, sob pena
de aprofundar uma crise de legitimidade do direito (coisa que até Habermas
falava, quando a legitimidade em questão lhe agradava debater ou simular).
A solução para essa crise instalada tem de necessariamente ser
suprainstitucional.
Quando a rmo suprainstitucional, quero dizer que ela deve ser constitucional e
ao mesmo tempo pairar acima das instituições; mas sempre abaixo e dentro dos
limites da Constituição Federal.
Deixe-me entrar aqui um pouco no detalhe dessa solução que está tão a mão
– que coisa é essa de Conselho da República? O que signi ca? De onde vem?
Como funciona? Onde vive? Como se alimenta?
Como dito, a Constituição estabelece para que serve esse Conselho: além
dessa tarefa de pronunciar-se e possivelmente intervir para garantir a
estabilidade das instituições democráticas, o Conselho trata ainda de intervenção
federal, estado de defesa e estado de sítio.
Quero apenas lembrar que o Brasil está muito próximo de ter que veri car se
a situação na Venezuela já con gura estado de defesa nacional.
Os líderes no Senado hoje são, pela maioria, o Senador Eduardo Braga e pela
Minoria o Senado Randolfe Rodrigues.
Perceba assim que veio a tona então no ano passado que a constituição tinha
esse art. 90. Michel Temer, que se apresenta como professor de direito
constitucional e até tem um livrinho divertido sobre o assunto, desconhecia
por completo a questão. Continua sem entender para que serve o instituto.
E não é culpa dele. Nem como professor da matéria, nem como político, nem
como ex-Presidente.
O leitor e a leitora poderão trazer das estantes para a mesa todas as obras de
direito constitucional escritas, incluindo o best-seller do Professor Pedro
Lenza. Não há mais do que 2 parágrafos sobre o tema, isso quando resolvem
tratar do assunto.
Mas é com José A onso que os dois parágrafos cam interessantes. Ao longo
de suas quases 1000 páginas, é na de número 671 em sua última edição que o
“Curso do Zé A onso” vai tratar do tema em literalmente dois parágrafos
(dos quais 1 e meio são cópias do que dispõem os artigos da constituição). A
única parte em que lhe coube algum comentário está assim desde a primeira
edição até hoje: “revela-se, assim, como um conselho de consolidação
democrática, mas só a experiência vai con rmar a sua utilidade. Foi inspirado
no Conselho de Estado instituído nos arts. 144 a 149 da Constituição
portuguesa, e surgiu no bojo da proposta parlamentarista que, tendo caído, o
deixou de herança dentro do presidencialismo, com certeza para não merecer
a menor atenção do Presidente da República, que, no personalismo do sistema,
não costuma consultar senão os seus próprios botões (às vezes)” (os grifos são
meus).
Não só para ele, mas para a totalidade dos “juristas” esse Conselho é “inútil”.
Não quero aqui sugerir que o desinteresse dos juristas em face desse órgão
decorre de sua natureza eminentemente política, já que não conta com a
participação de membros do Poder Judiciário, nem mesmo de membros das FFAA:
creio que o desinteresse decorre mesmo de uma absoluta ignorância sobre o
instituto e não da impossibilidade de ter acesso a mais cargos (mesmo porque
a lei determina que o exercício das funções no Conselho da República “é
considerada atividade relevante e não remunerada” (grifei, para afastar
abutres).
É uma lei bastante chinfrim, feita as pressas, sem cuidado; mas é o que temos
para hoje.
Cumpre lembrar que desde a constituição de 1988 até essa lei de Collor, que
preencheu o Conselho da República a época, os presidentes Sarney, Collor,
FHC e Lula zeram nomeações esporádicas para esse Conselho sem nunca,
jamais tê-lo instalado ou usado. Essas nomeações todas caducaram por
evidente ausência de instalação do órgão e de efetivo exercício com
deliberações. A situação é tão caótica que nem sequer uma webpage em algum
“.gov” esse Conselho dispõe.
A história de maus tratos a esse Conselho anda junto com a história da tal
política de coalizão.
Foi no segundo mandato de Lula, governo que, hoje sabemos, foi anabolizado
pelas práticas do Mensalão e do Petrolão, que o Conselho da República foi
completamente jogado no ostracismo.
A premissa básica dessa reforma deveria ter em testa que a Operação Lavajato
não é apenas um patrimônio histórico do Brasil, mas sim de toda a
humanidade. Demos um landmark ao mundo no combate à corrupção e na
forma justa, legítima, legal e até garantista de se colocar na cadeia um
número elevado de corruptos e de criminosos perigosos envolvidos em
organizações que realizaram atos de lavagem de dinheiro, em troca de uma
fraude absoluta ao princípio representativo.
A dúvida nal, eu sei, diz respeito a esse histórico obscuro dessa instituição
que foi sorrateiramente deixada à inanição por Lula e cruelmente sepultada
por Dilma – note-se ainda que há uma PEC para reformar esses artigos e
incluir como membros natos desse Conselho da República… ex-presidentes
eleitos, o que colocaria de volta em um órgão suprainstitucional não apenas a
mulher sapiens Dilma Rousse , mas também e sobretudo o meliante de Atibaia.
Lula inovou e adaptou a política de coalizão a um sistema soviético, em que o
Secretário Geral da República iria controlar tais articulações. Esse secretário
geral da república era o então Ministro da Casa Civil e não por coincidência,
foi escalado Zé Dirceu para essa função.
É por essa razão que essa política de coalizão, também conhecida como
política do toma-lá-dá-cá (TLDC), criada por FHC e ACM e so sticada como
máquina de poder por Lula e Zé Dirceu, tem por obrigação matar o Conselho da
República.
Bem aventurado o homem que que não segue os conselhos dos ímpios e não trilha
o caminho dos pecadores e nem participa da reunião de insolentes
Salmo 1
Os pontos de vista expressos neste artigo são as opiniões do autor e não
refletem necessariamente a posição da RENOVA Mídia.
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