Escavações profundas
1) Parede de estacas-prancha
Berry e Reid (1993) reportam que as paredes de estaca-prancha são
formadas por uma linha de estacas entrelaçadas e cravadas no terreno. Estas
estruturas são flexíveis e sua estabilidade vem da ancoragem desenvolvida na
parte engastada, ou do suporte horizontal devido a um sistema de tirantes e blocos
de ancoragem, da fixação direta a uma estrutura rígida ou, no caso de escavações
escoradas, de estroncas a diferentes níveis. Antigamente eram construídas de
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madeira, mais tarde de concreto armado, e atualmente estacas metálicas são mais
empregadas devido à maior relação apresentada entre resistência e peso.
Craig (2007) indica que a estabilidade do muro depende inteiramente da
resistência passiva mobilizada na frente do muro. A resistência passiva age acima
do ponto C, próximo à extremidade inferior do muro, como mostrado na Figura
2.2 (c), fornecendo um momento de fixação. Puller (2003) recomenda que no
projeto o estado limite último seja considerado em função da deformação da
parede e do solo na parte posterior da parede. Este estado limite é determinado
como segue:
Em relação à estabilidade global, Puller (2007) indica que se refere à
provisão de uma profundidade de penetração suficiente para prevenir o
tombamento da parede, correspondente à ficha da cortina em balanço. Quando a
penetração da parede for aumentada além do valor mínimo, a fixação da parede
torna-se progressivamente maior até a obtenção de uma fixação completa,
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onde γ representa o peso específico do solo e Ka e Kp os coeficientes de
empuxo ativo e passivo, respectivamente.
A resistência passiva é determinada por:
R= Php - Pha
e considerando o equilíbrio de momentos em redor do ponto C,
1 1
K p d3 K a H d
3
(2.3)
6 6
1
onde K a , resultando em:
Kp
H
d (2.4)
K 2/3
p 1
Referente à falha da fundação, Puller (2007) indica que, em solos coesivos
homogêneos, a penetração da parede (ficha) deve ser suficiente para evitar a
ruptura do fundo da escavação. Sowers e Sowers (1972) indicam que, para solos
em situação de carregamento não drenado, a superfície de ruptura é determinada
de forma aproximada desenhando-se linhas retas inclinadas de 45º dos cantos do
fundo da escavação e unindo seu ponto de interseção com um arco de círculo com
centro no canto oposto, conforme Figura 2.3 (b). O tramo MN é um arco circular,
portanto o comprimento de ON é (B/2)/cos45º (aproximadamente 0.7B). A
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Figura 2.3 - Cálculo dos fatores de segurança contra levantamento do fundo em solos
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coesivos: (a) escavação profunda com H/B>1, de acordo com Bjerrum e Eide (1956); (b)
para escavação superficial ou larga, com H/B<1, de acordo com Terzaghi (1943), (Puller,
2003).
Figura 2.5 - Penetração necessária da cortina impermeável para evitar ruptura hidráulica
em areia densa ou fofa: (a) maciço de profundidade infinita; (b) camada de profundidade
finita (Puller, 2003).
entre os dois tipos de paredes diafragma. O primeiro tipo é uma parede continua
de estacas primárias de argamassa ou concreto, com ou sem armadura, e estacas
secundárias de concreto armado. O segundo é uma parede continua de estacas
primárias constituídas por mistura de bentonita-cimento ou bentonita-cimento-
cinzas volantes, enquanto que as estacas secundárias são de concreto armado. Esta
solução, no entanto, está limitada a casos onde a escavação é superficial com
esforços de flexão limitados, em estruturas temporárias ou obras de
impermeabilização.
Figura 2.8 - Esquema de execução com o método úmido europeu (Palacio, 2004).
3) Lajes de jet-grouting
Jet-grouting é uma técnica de melhoramento de solos que consiste em
injetar no terreno, sem escavação prévia, jatos horizontais de calda de cimento sob
elevada velocidade (cerca de 250 m/s) que aplicam elevada energia cinética e
desagregam a estrutura do terreno natural, misturando-o com a calda e formando
um material de características mecânicas reforçadas e de menor permeabilidade.
Este processo envolve as seguintes três etapas: a primeira consiste na
desestruturação do solo, com as partículas sólidas deslocadas pela ação de um ou
mais jatos de alta velocidade; a segunda se caracteriza pela mistura das partículas
desagregadas com a calda de cimento injetada, e a terceira etapa corresponde à
cimentação, com a aglutinação das partículas de solo formando um material que
se pressupõe mais rígido, resistente e de menor permeabilidade. A principal
diferença entre colunas e lajes de argamassa consiste no fato do tratamento
chegar ou não até a superfície. A Figura 2.9 apresenta o processo de construção de
lajes de jet-grouting.
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Figura 2.12 - Escavações escoradas: (a) movimento lateral e (b) recalque da superfície,
(Clough et al. 1989).
Ou et al. (1993) ressaltam que o primeiro perfil de recalque ocorre nos casos
onde a parede apresenta um pequeno deslocamento nas etapas inicias da
escavação; onde o recalque máximo ocorre a uma distância aproximada da parede,
H2 na Figura 2.14, de cerca da metade da profundidade final da escavação. O
segundo perfil de recalque ocorre, nos casos em que grandes deslocamentos da
parede acontecem nos estágios iniciais da escavação, quando o efeito do balanço
pode conduzir a valores de recalque maiores nas proximidades da face da parede.
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Esta proposta também pode ser empregada através das expressões a seguir:
d
0.5
0.5
d
0.8 ; v 1 vm
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Se (2.8a)
He F H e F
0.5
0.5
d 1 d
Se 0.8 1.0 ; v 0.6 vm (2.8b)
He F 2 H e F
1 d 0.5
0.5
d
Se 1.0 1.5 ; v 0.3 vm (2.8c)
He F 5 H e F
d
v 0.171 0.342 vm para 2 < d/He ≤ 4 (2.9b)
He
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Figura 2.19 - Método proposto para a previsão do perfil de recalques do tipo “spandrel”.
(Hsieh e Ou, 1998).
Na Figura 2.19, verifica-se que a linha a-b tem uma inclinação relativamente
alta, que pode induzir distorções angulares grandes nas construções adjacentes à
parede da escavação. Esta é a zona de influência primária, que se estende até 2He.
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Figura 2.21 - Áreas das componentes em balanço e profunda (Hsieh e Ou, 1998)
Na Figura 2.22 se mostra que o perfil do tipo côncavo ocorre para As ≥ 1,6
Ac. Hsieh e Ou (1998) ressaltam que, em geral, o valor do recalque superficial
máximo (δvm) pode ser estimado em função do valor do deslocamento máximo da
parede, δhm, sugerindo sua obtenção a partir dos dados experimentais da Figura
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2.23, que inclui tanto os casos de obra estudados por estes autores.
A Figura 2.23 mostra valores de δvm compreendidos entre 0,5 δhm a 0,75 de
δhm, na maior parte dos casos, com limite superior de δvm= δhm. Hsieh e Ou (1998)
consideram que a estimativa de δhm através do gráfico proposto por Clough e
O´Rourke (1990) é menos precisa e deve ser utilizada apenas como uma primeira
aproximação. O seguinte procedimento foi estabelecido por Hsieh e Ou (1998)
para a previsão dos recalques superficiais causados por escavações:
a) Proceder à previsão da máxima deformação lateral da parede δhm,
utilizando análises de deformação lateral, seja pelo Método dos Elementos
Finitos, seja por métodos baseados em vigas sobre base elástica.
b) Determinar o tipo de perfil esperado para o recalque, calculando a área da
bacia de deflexão horizontal tipo balanço (Ac) e a área da deflexão horizontal
profunda da parede (As), referenciando-se à Figura 2.21 e Figura 2.22
c) Estimar o valor máximo do recalque superficial (δvm) com base na relação
δvm= f(δhm) da Figura 2.23.
d) Calcular o recalque superficial para as várias distâncias à parede, de
acordo com a Figura 2.19 ou Figura 2.20.
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comparados com uma análise 3D da escavação pelo método dos elementos finitos,
com deslocamentos previstos que se situaram entre aqueles valores previamente
determinados nas análises de deformação plana e axissimétrica, com as menores
diferenças de deslocamentos horizontais nas zonas médias da escavação
(anteriormente calculados no estado plano de deformação) e de deslocamentos
verticais nas regiões dos vértices (anteriormente determinados no estado de
axissimetria). Outro problema abordado foi a importância da interação solo-
estrutura, investigando-se o comportamento de uma escavação em argila saturada,
na condição não drenada, suportada por um muro cantilever, considerando-se uma
resistência ao cisalhamento de 0,5 Su na interface solo-muro. Determinou-se a
profundidade de colapso da estrutura em 13.6m, porém com maiores
deslocamentos apresentados abaixo da base da escavação enquanto que, ao
contrário, esperava-se que estes ocorreriam no topo da escavação. Verificou-se
que a zona de solo tracionado estendeu-se até a profundidade de 6,5m,
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mínimo de 6%. Por retroanálise de E50 em função das forças nas estroncas no
nível A, considerando c= 30 kN/m2, K0= 0.4, γ= 15 kN/m3, Rinter= 0.2, para o
estagio 3, obtém-se um erro mínimo de 0.1%. Por retroanálise de E50 em função
dos deslocamentos horizontais, considerando c= 70 kN/m2, K0= 31.3, γ= 13.5
kN/m3, Rinter= 0.2, para o estagio 8, obtém-se um erro mínimo de 31.3%. Por
retroanálise de E50 em função das forças nas estroncas no nível A considerando c=
30 kN/m2, K0= 0.4, γ= 13.5 kN/m3, Rinter= 0.2, para o estagio 8, obtém-se um erro
mínimo de 16%. Com o modelo de Mohr-Coulomb o conjunto de parâmetros que
mais se aproximou dos resultados da instrumentação foi c = [10 - 30] kPa, K0=
0,45, γ= 15 kN/m3, E50= [3200 a 72000] kPa, Rinter= 0,5, enquanto que para o
modelo HSM (Hardening Soil Model) foi c = f(NSPT) kPa, K0= [0,4 - 0,53], γ=
13,5 kN/m3, E50= [2800 - 360000] kPa, Rinter= [0,2 - 0,5]. De modo geral, as
retroanálises executadas com o modelo HSM produziram resultados mais precisos
do que aquelas calculadas com o modelo de Mohr-Coulomb.
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