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Domésticas (2001)
Apenas um ano antes de surpreender com Cidade de Deus (2002), o
diretor Fernando Meirelles realizou aquele que seria seu “filme-
teste”, por assim dizer. Um experimento no qual ele pode exercer
muito do virtuosismo e da análise que pretendia aprofundar no traba-
lho seguinte. Em parceria com Nando Olival – que, desde então, reali-
zou apenas o interessante Os 3 (2011) – Meirelles construiu um
mosaico de situações envolvendo, como o próprio título já aponta, a
vida de empregadas domésticas e suas rotinas familiares e profissio-
nais. A partir deste foco, estabelece-se um olhar delicado e cuidadoso
a respeito da própria situação social do país, um lugar em que mulhe-
res fazem todo o esforço apenas para manter a ordem do dia, muitas
vezes em funções sem o devido crédito. Do elenco numeroso destaca-
vam-se vários nomes, como Gero Camilo, Robson Nunes e, principal-
mente, Graziela Moretto – que voltaria a repetir a parceria com o
cineasta no longa seguinte. São cinco batalhadoras que sofrem, lutam,
se cansam, dão o melhor de si e impressionam pela sinceridade do
relato apresentado. É um longa de ficção, que fique claro, mas poderia
ser tranquilamente um documentário, graças ao olhar nada glamouri-
zado da profissão e à entrega de todos os artistas envolvidos. – por
Robledo Milani
Doméstica (2012)
Antes de migrar para o cinema ficcional com o magistral Ventos de
Agosto (2014) e no ainda inédito Boi Neon (2015), o pernambucano
Gabriel Mascaro era apontado como um dos mais promissores docu-
mentaristas do cinema brasileiro recente, recebendo inclusive compa-
rações elogiosas com o imortal Eduardo Coutinho. Dedicado às refle-
xões (des)humanas e sociais em sua obra como artista visual, Mas-
caro já havia apontado suas objetivas para a desigualdade social nos
filmes Um Lugar ao Sol (2009) e Avenida Brasília Formosa (2010),
mas seu êxito é ainda mais pungente no recorte original de Doméstica
(2012). Abdicando de parte importante do processo de criação e da
linguagem cinematográfica, Mascaro entregou câmeras para sete ado-
lescentes com a missão de que estes filmassem as empregadas domés-
ticas de suas casas durante uma semana. Com a edição do material
bruto, o resultado é um retrato íntimo e delicado sobre temas como
intimidade, afeto e relações de poder, com ênfase em questões sérias
e ainda contemporâneas, como ineqüidade de gênero, raça e classes
sociais. Extremamente exitoso em suas pretensões, Mascaro ratifica a
cada trabalho o mérito de ser um jovem cineasta para se acompanhar
nas primeiras filas, seja na ficção ou no documentário. – por Conrado
Heoli