ISSN: 0327-9383
ulyses@cenpat.edu.ar
Sociedad Argentina para el Estudio de los
Mamíferos
Argentina
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Mastozoología Neotropical, 12(2):133-144, Mendoza, 2005 ISSN 0327-9383
©SAREM, 2005 Versión on-line ISSN 1666-0536
Key words. Delomys dorsalis. Mixed forest with conifers. Reproduction. Sigmodontinae.
Southern Brazil.
quisas sobre o tema tem sido desenvolvida no com temperaturas compreendidas entre -3 °C e
Cerrado (Mello, 1980; Dietz, 1983; Alho e 18 °C para o mês mais frio, entre 18,3 °C e 27
Pereira, 1985; Alho et al., 1986; Nitikman e °C para o mês mais quente, e temperatura média
Mares, 1987; Mares e Ernest, 1995; Talamoni anual igual a 18,5 °C (Galeti, 1972). A Flores-
e Dias, 1999) e na Mata Atlântica (Fonseca e ta Nacional de São Francisco de Paula, situada
Kierulff, 1989; Olmos, 1991; Pereira et al., a 930 m acima do nível do mar, junto à borda
1993; Bergallo, 1995; Bergallo e Magnusson, da escarpa do Planalto das Araucárias, locali-
1999). Em áreas de Mata Atlântica do extremo za-se no centro da região de maior ocorrência
sul do Brasil, contudo, os esforços empreendi- do clima superúmido a úmido, o que resulta
dos na tentativa de compreender a dinâmica numa pluviometria com totais elevados (>2200
das populações de pequenos roedores têm sido mm/ano) e distribuídos ao longo de todos os
insuficientes. Este estudo visa a fornecer infor- meses do ano (IBGE, 1986). É comum a ocor-
mações a respeito da biologia reprodutiva de rência de geadas no outono e no inverno, bem
Delomys dorsalis, espécie restrita às florestas como a precipitação de neve nos meses mais
úmidas tropicais e subtropicais do sul e sudes- frios. Variações na precipitação e temperatura
te do Brasil, e do nordeste da Argentina, cujos ao longo do período de estudo, em relação às
hábitos permanecem praticamente desconheci- médias obtidas para 30 anos (dados do Institu-
dos (Voss, 1993). Especificamente, buscou-se to Estadual de Meteorologia), podem ser ob-
identificar o período reprodutivo da espécie, servadas na Fig. 1.
através da análise histológica das gônadas de
machos e fêmeas; observar características MATERIAIS E MÉTODOS
morfológicas externas de ambos os sexos que
indicassem a condição reprodutiva, associan- Atividades de Campo e Laboratório
do-as com o estado de maturação das células Coletaram-se indivíduos para o exame histológico
gaméticas; determinar o período de gestação e das gônadas, mensalmente, de fevereiro de 1997 a
o número de filhotes por ninhada; definir o abril de 1998. Capturas no terreno e no sub-bosque
período de amamentação e registrar os princi- (entre 1.5 e 2.0 m de altura) foram efetuadas com
pais eventos ontogenéticos dos filhotes. armadilhas de arame galvanizado do tipo gaiola, de
tamanhos 9x9x22 cm e 14x14x30 cm. Utilizaram-
se 140 armadilhas distribuídas em pontos
ÁREA DE ESTUDO eqüidistantes, sob a forma de grade, 70 ao nível do
A área de estudo localiza-se no município de terreno e 70 no sub-bosque, os quais se constituí-
São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, ram em estações fixas de captura (a distância entre
em uma unidade de conservação do Instituto as estações foi de aproximadamente 10 m).
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Como isca, foram empregadas fatias de milho-
Naturais Renováveis (IBAMA), a Floresta verde cobertas com pasta de amendoim. As armadi-
lhas foram expostas, em média, durante 3 noites
Nacional de São Francisco de Paula (29º23’S,
consecutivas e revisadas diariamente, objetivando-
50º23’W), incluída entre os ecossistemas que se substituir as iscas e solucionar eventuais impre-
compõem a Reserva da Biosfera da Mata Atlân- vistos.
tica no Estado desde 1993 (Marcuzzo et al., Os espécimes coletados, depositados na coleção
1998). Essa unidade compreende uma área de científica do Laboratório de Mastozoologia do
1606,7 ha, 901,9 dos quais são cobertos por Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Uni-
Floresta Ombrófila Mista, cuja espécie domi- versidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),
nante é Araucaria angustifolia. Uma descrição foram medidos (de acordo com Moojen, 1943) e
detalhada da área de estudo é encontrada em pesados. Também foram observadas características
externas indicadoras do estado reprodutivo (posi-
Cademartori et al. (2002).
ção dos testículos nos machos, abertura do orifício
O tipo climático predominante na região, vaginal e tamanho dos mamilos nas fêmeas). A
segundo o sistema geral de Köppen-Geiger, é seguir, foram fixados em formol 10% e conserva-
o subtropical úmido, classificado como Cfb, dos em álcool 70%. A preparação e a análise
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mm
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precipitação 97-98 precipitação média p/ 30 anos
temperatura média 97-98 temperatura média p/ 30 anos
Fig. 1. Precipitação e temperatura média obtidas durante o período de estudo (janeiro/97 a abril/98) no município de
São Francisco de Paula (29º20’S, 50º31’W), em relação às médias para 30 anos (1931 a 1961).
histológica das gônadas transcorreram de acordo número de fetos ou embriões visíveis em cada cor-
com a seqüência de procedimentos de rotina descri- no uterino.
tos sinteticamente a seguir.
a) Fixação: as peças foram fixadas em formol Observações em Cativeiro
10% por um período mínimo de 24 h; Com o objetivo de se determinar o período de
b) Desidratação: sofreram um processo de desi- gestação, observar o cuidado parental, assim como
dratação, passando por uma bateria alcoólica ascen- o número de filhotes gerados, e aspectos do desen-
dente; volvimento ontogenético, foram mantidos em cati-
c) Diafanização: foram mergulhadas em xilol; veiro 10 casais extraídos da área de estudo. Procu-
d) Confecção dos blocos de parafina: as peças rando-se minimizar as condições de estresse, os
foram incluídas em parafina líquida; animais foram mantidos em caixas plásticas médias
e) Seccionamento: os blocos de parafina foram (comumente utilizadas na manutenção de cobaias),
seccionados, obtendo-se cortes semi-seriados com nas dependências do Biotério da PUCRS, de setem-
aproximadamente 5 ìm de espessura; bro de 1996, quando foram capturados, a agosto de
f) Coloração: após a montagem das lâminas, 1998, quando houve perda total do grupo por into-
procedeu-se à coloração com Hematoxilina/Eosina. xicação alimentar causada por ração contaminada.
A análise histológica, para a determinação do Mensalmente, os animais eram pareados e mantidos
estado de maturação das células gaméticas, restrin- juntos durante 24 h, sendo então recolocados em
giu-se ao testículo e epidídimo esquerdos, para os caixas individuais. Durante os períodos em que
machos, e abrangeu toda a amostra de indivíduos foram obtidas ninhadas, os comportamentos envol-
coletados (n=131). No caso das fêmeas, ambos os vidos no cuidado parental foram observados quali-
ovários foram seccionados; de um total de 110 es- tativamente e registrados, diariamente.
pécimes, uma subamostra de 88 fêmeas foi obser-
vada quanto à presença de corpos lúteos, folículos Análise Quantitativa
pré-ovulatórios (de Graaf ou vesiculares) ou em Utilizou-se o programa estatístico GraphPad Instat
estágios iniciais de desenvolvimento (primários e versão 3.01 na aplicação dos testes estatísticos re-
secundários). Em fêmeas grávidas, identificou-se o lacionados a seguir.
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Fig. 2. Índice de abundância de machos de Delomys dorsalis capturados na Floresta Nacional de São Francisco de Paula
(29º23’S, 50º23’W) de fevereiro/97 a abril/98: A – sexualmente ativos, B – sexualmente inativos.
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Fig. 3. Curvas de distribuição de freqüência do comprimento cabeça-corpo (em mm) de Delomys dorsalis capturados
na Floresta Nacional de São Francisco de Paula (29º23’S, 50º23’W): A – maio/97 a agosto/97, B – setembro/
97 a março/98.
BIOLOGIA REPRODUTIVA DE DELOMYS DORSALIS EM FLORESTA COM ARAUCÁRIAS 139
KS=0,1135, p>0,05; g 1=0,4145, p>0,05; pinhões foram predados por pequenos roedo-
g2=0,5374, p>0,05). Comparando-se os indiví- res). Enfatiza-se, ainda, a redução da amplitu-
duos capturados de maio/97 a agosto/97 (Fig. de de comprimento cabeça-corpo na primave-
3A) com os capturados de setembro/97 a mar- ra-verão, resultante da ausência de indivíduos
ço/98 (Fig. 3B), constatou-se a existência de mais velhos, o que sugere um rápido rejuve-
intervalos de classe de menor comprimento no nescimento da população.
primeiro período, ausentes no segundo. Acres- Da comparação dos comprimentos médios
centando-se a isso, o comprimento médio da mensais das amostras coletadas de maio/97 a
amostra do outono-inverno de 1997 (mé- agosto/97 (Tabela 1), mediante a aplicação de
dia=109,77 mm; n=159) diferiu significativa- ANOVA um fator - SNK, resultou uma dife-
mente daquele obtido na primavera-verão sub- rença significativa entre a média de junho/97,
seqüente (média=115,59 mm; n=58), corrobo- inferior, e as demais (p<0,0001). Dessa forma,
rando a hipótese do recrutamento prevalente é possível inferir que o pico do recrutamento
de maio/97 a ago/97 (t=4,494, p<0,0001). É ocorreu no referido mês. A possibilidade de
importante destacar que este período coincide uma breve redução da atividade reprodutiva
com a fase de maturação das pinhas na Flores- no período de inverno, todavia, não pode ser
ta Ombrófila Mista e, conseqüentemente, com descartada, posto que em julho/97, por exem-
a grande disponibilidade de um importante plo, apareceram apenas machos inativos, ape-
recurso alimentar exclusivo desse ambiente, os sar de serem encontradas fêmeas com folículos
pinhões (sementes produzidas por Araucaria vesiculares (Fig. 4). Krebs e Delong (1965)
angustifolia). Os estudos de Müller (1986) relatam a inibição da atividade sexual em
sobre a influência dos roedores e aves na rege- subadultos de Microtus californicus, particu-
neração da A. angustifolia em uma área de larmente nos machos, em uma população com
floresta nativa, próxima a Curitiba, no Estado elevadas taxas de crescimento individual e
do Paraná, apontam os pequenos roedores como populacional. Outra evidência pode ser
os principais responsáveis pelo consumo de verificada pela baixa freqüência de fêmeas
pinhões (em 20 transectos de 100 m2, 48% dos grávidas em junho/97 e sua total ausência nos
Tabela 1
Estimativas do comprimento cabeça-corpo (em mm) dos espécimes de Delomys dorsalis capturados na
Floresta Nacional de São Francisco de Paula (29º23’S, 50º23’W), de fevereiro/97 a abril/98.
ESTIMATIVAS
fevereiro 97 - - 2 129 95
março 97 114,33 9,45 15 125 90
maio 97 109,88 10,45 41 137 90
junho 97 104,38 9,81 42 130 86
julho 97 114,16 7,52 38 135 99
agosto 97 111,21 8,01 38 137 95
setembro 97 116,65 5,73 26 125 106
outubro 97 - - 4 123 110
novembro 97 122,17 8,86 6 131 110
dezembro 97 - - 2 132 128
janeiro 98 - - 3 133 106
fevereiro 98 112,12 6,40 8 121 102
março 98 109,00 5,83 8 120 102
abril 98 114,86 7,60 7 131 108
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Fig. 4. Condição reprodutiva dos espécimes de Delomys dorsalis capturados na Floresta Nacional de São Francisco de
Paula (29º23’S, 50º23’W) de fevereiro/97 a abril/98: A – machos, B – fêmeas.
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meses subseqüentes do período (Fig. 4B). Tal ção para o fato de ambas as áreas terem reve-
categoria só ressurgiu a partir de outubro/97, lado o mesmo padrão, apesar da oferta dife-
um mês após o reaparecimento de machos com rencial de alimento. Como já foi mencionado,
espermatozóides no epidídimo (Fig. 4A). Há o outono-inverno é caracterizado pela disponi-
duas hipóteses que podem ser consideradas para bilidade de um importante recurso alimentar
explicar esse fenômeno: a primeira refere-se à na Floresta Ombrófila Mista, os pinhões, au-
maturação sexual tardia em machos de peque- sentes na área estudada por Olmos. Conclui-
nos roedores, comparativamente às fêmeas se, então, que a inatividade reprodutiva descri-
(Fleming, 1971; Rickart, 1977; De Villafañe, ta pelo referido autor, provavelmente, não seja
1981; Aguilera, 1985). Talvez, os machos re- explicada, unicamente, pela falta de alimento,
crutados no final do outono e meados do in- mas possa ser atribuída, também, à incorpora-
verno tornem-se aptos à reprodução somente ção de jovens ainda imaturos à população.
com a proximidade da primavera. Machos em A partir de outubro/97, a acentuada redução
início de atividade reprodutiva (princípio de na abundância de machos sexualmente ativos e
espermiogênese nos túbulos seminíferos) fo- inativos (Fig. 2), bem como a diminuição no
ram observados em agosto/97, sendo que em número de fêmeas registradas no local de es-
setembro/97, em sua maioria, já apresentavam tudo (Fig. 4B), podem estar associadas a uma
intensa espermiogênese nos túbulos seminíferos ampliação da área de domínio vital e à ocupa-
e moderada quantidade de espermatozóides no ção do estrato arbóreo. Essa hipótese funda-
epidídimo (Fig. 4A). A segunda hipótese, com- menta-se na captura de espécimes no sub-bos-
plementar à primeira, está apoiada na ação de que (20% do total amostrado), na observação
fatores climáticos, provavelmente das baixas de indivíduos escalando rapidamente árvores
temperaturas típicas do inverno, que reduziri- de mais de 20 m de altura, e na análise de
am a probabilidade de sobrevivência da prole. Voss (1993), que estabelece correspondência
Conforme Streilein (1982), a reprodução exige entre determinadas características morfológicas
um investimento considerável de tempo e ener- da espécie e a habilidade escansorial, não
gia e o êxito reprodutivo depende da obstante Carvalho (1965), Olmos (1991) e
minimização do esforço empreendido em épo- Fonseca et al. (1996) apontem D. dorsalis como
cas inapropriadas. Fatores exógenos, tais como exclusivamente ou essencialmente terrestre.
fotoperíodo, temperatura e precipitação, estão Davis (1945) refere-se à possibilidade de ocu-
freqüentemente correlacionados com o suces- pação do estrato arbóreo por pequenos roedo-
so ou o insucesso reprodutivo em pequenos res em função da flutuação sazonal na dispo-
mamíferos. nibilidade de recursos. Fonseca e Kierulff
Olmos (1991) trabalhou em área de Floresta (1989), Bergallo e Magnusson (1999) relatam
Atlântica, no Estado de São Paulo, a uma al- que as flutuações populacionais intra-anuais
titude de 850 m e condições climáticas seme- parecem ser reguladas pela disponibilidade de
lhantes, registrando D. dorsalis como a espé- alimento (frutos ou artrópodos) em
cie mais abundante. Sugere que a reprodução ecossistemas tropicais, influenciada pela dinâ-
se interrompa durante o inverno (maio-agos- mica das chuvas. A hipótese apresentada, con-
to), com a redução na disponibilidade de ali- tudo, deve ser testada por meio da amostragem
mento, indicando que os indivíduos de mais do estrato arbóreo propriamente dito e do es-
baixo peso foram capturados nesse período. tudo simultâneo da flutuação dos recursos dis-
As informações obtidas nesta investigação, poníveis na área, principalmente durante a pri-
contudo, tornam tal afirmação incompleta, pois mavera-verão. Outrossim, não se pode descar-
o autor, ao atribuir a inatividade reprodutiva e tar a interferência de outros fatores na dinâmi-
o mais baixo peso, exclusivamente, à redução ca populacional, tais como a predação e a
na disponibilidade de alimento, exclui a possi- emigração.
bilidade desse resultado ser fortemente influ- Possivelmente, variações interanuais na dis-
enciado pelo recrutamento. Chama-se a aten- ponibilidade de recursos e em outros fatores
142 Mastozoología Neotropical, 12(2):133-144, Mendoza, 2005 C. V. Cademartori et al.
www.cricyt.edu.ar/mn.htm
ecológicos sejam também responsáveis pelos reprodutiva em fêmeas, a que se mostrou mais
padrões observados e, embora existam indiví- confiável foi a presença de mamas conspícuas,
duos sexualmente ativos ao longo do ano intei- posto que das 60 fêmeas sexualmente ativas,
ro, uma intensificação na atividade reprodutiva, em cujos ovários foram encontrados corpos
em períodos favoráveis, pode maximizar a lúteos ou folículos vesiculares, 55% apresenta-
sobrevivência da prole. A elevada abundância ram tal característica. A abertura do orifício
de machos sexualmente ativos em fevereiro/98 vaginal, todavia, não foi fidedigna, tendo sido
(Fig. 2A), assim como a captura exclusiva de observada em apenas 10% da amostra analisa-
fêmeas grávidas em fevereiro/97- março/97 da. A posição dos testículos, nos machos, tam-
(Fig. 4B), parecem sugerir um pico de ativida- bém não permitiu uma avaliação precisa. Em
de reprodutiva no final do verão. apenas 20 dos 46 machos definidos como se-
As análises histológicas detalhadas efetuadas xualmente ativos mediante a análise histológica,
nas gônadas das fêmeas e as observações de os testículos encontraram-se em posição
animais em cativeiro permitem afirmar que as escrotal. Os estudos de McCravy e Rose (1992)
mesmas apresentam estro pós-parto. Tal hipó- apontam a posição dos testículos como um
tese é demonstrada pela existência de fêmeas indicativo relativamente confiável (87-94%),
grávidas, exibindo, simultaneamente, corpos contrariamente aos resultados aqui obtidos. As
lúteos e folículos vesiculares no ovário. Acres- características externas das fêmeas também se
cente-se a isso a observação, em cativeiro, de mostraram pouco consistentes, sendo o tama-
duas fêmeas, que durante o final do período de nho dos mamilos a mais fiel.
amamentação, obtiveram uma segunda ninha-
da. O estro pós-parto já foi relatado para vá- Desenvolvimento Ontogenético
rias espécies de pequenos roedores (Jameson, em Cativeiro
1953; Richmond e Conaway, 1969; Lee et al., Em cativeiro, foi obtido um total de oito
1970; Rickart, 1977; Aguilera, 1985; Nelson, ninhadas ao longo dos meses de abril e no-
1985) e, conforme Conaway (1971), constitui- vembro de 1997, janeiro, fevereiro, março,
se num mecanismo que permite aumentar a junho (n=2) e agosto de 1998. O período de
produtividade em pequenos mamíferos, cuja gestação, para quatro fêmeas acompanhadas
expectativa de vida é curta. desde o dia do acasalamento, ficou compreen-
A partir da análise de 16 fêmeas grávidas dido entre 21 e 22 dias, não discrepando de
com implantações visíveis, foram evidencia- dados citados para outras espécies de peque-
dos 27 embriões no corno uterino direito e 29 nos roedores (Aguilera, 1985). Das oito gesta-
no esquerdo, considerando-se uma variação de ções, cinco resultaram em apenas dois filhotes,
dois a cinco embriões por fêmea. Davis (1947) duas resultaram em três e uma, em quatro. Os
registrou uma variação de dois a quatro embri- filhotes nasceram com os olhos fechados, des-
ões para cinco fêmeas grávidas coletadas. Do providos de pêlos, mas com o dorso parcial-
total de fêmeas analisadas, sete apresentaram mente pigmentado. O peso médio ao nasci-
um maior número de implantações no corno mento, para as fêmeas, foi de 3.8 g ± 0.31
esquerdo, seis, no direito, e em três delas o (n=9) e, para os machos, foi de 4.1 g ± 0.81
número de implantações foi idêntico nos dois (n=8). O dorso e as orelhas tornaram-se inten-
cornos uterinos. Embora Pereira et al. (1993) samente pigmentados até o quinto dia. No sé-
tenham relatado uma clara tendência de im- timo dia, o dorso apresentou-se densamente
plantação no corno direito para três espécies coberto por pêlos e a listra dorsal, caracterís-
de cricetídeos da Floresta Atlântica, sugerindo tica da espécie, nítida. Neste mesmo dia, os
uma maior atividade ou sucesso de fertilização incisivos inferiores erupcionaram. A erupção
do ovário correspondente, isso parece inválido dos superiores, todavia, deu-se entre o 10º e o
para D. dorsalis. 11º dias, período em que o ventre se tornou
Das características comumente referidas na densamente coberto por uma pelagem branco-
literatura como indicadoras de atividade acinzentada. Os filhotes abriram os olhos entre
BIOLOGIA REPRODUTIVA DE DELOMYS DORSALIS EM FLORESTA COM ARAUCÁRIAS 143
o 12º e o 13º dias, e entre o 16º e o 17º dias BERGALLO HG. 1995. Comparative life-history
saíram do ninho, na companhia da mãe, ali- characteristics of two species of rats, Proechimys
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mentando-se de frutos e sementes. O término Forest of Brazil. Mammalia 59:51-64.
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somente entre o 22º e o 25º dias. climate and food availability on four rodent species
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486.
CONCLUSÕES CADEMARTORI CV, RV MARQUES, SM PACHECO,
A reprodução, em D. dorsalis, ocorreu ao lon- LRM BAPTISTA e M GARCIA. 2002. Roedores
ocorrentes em Floresta Ombrófila Mista (São Fran-
go de todo o ano, observando-se, entretanto, cisco de Paula, Rio Grande do Sul) e a caracterização
uma redução no período de inverno, em decor- do seu habitat. Comunicações do Museu de Ciências
rência do recrutamento de jovens. Diferente- e Tecnologia - PUCRS, Serie Zoologia 15:61-86.
mente da maioria dos ecossistemas, o outono- CARVALHO CT. 1965. Bionomia de pequenos mamífe-
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inverno, na Floresta Ombrófila Mista, é carac- 257.
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de gestação e o estro pós-parto constatados 4:239-247.
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constituem estratégias vantajosas em ambien- de Akodon azarae azarae (Fischer, 1829). Historia
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co consistentes, pois subestimaram a magnitu- (76):1-8.
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bolsa; ao Unilasalle, pela concessão de auxílio destinado Museum of Zoology (143):1-77.
ao aprimoramento acadêmico; ao IBAMA, especialmente FONSECA GAB e MCM KIERULFF. 1989. Biology and
ao Eng. Florestal Artur José Soligo, administrador da natural history of Brazilian Atlantic Forest small
FLONA de São Francisco de Paula e demais funcionári- mammals. Bulletin of the Florida State Museum
os, pelo auxílio e cooperação; às colegas Rosane Vera 34:99-152.
Marques e Susi Missel Pacheco, pela colaboração siste- FONSECA GAB, G HERRMANN, YLR LEITE, RA
mática nas atividades de campo; ao Eng. Eletricista MITTERMEIER, AB RYLANDS e JL PATTON.
Fernando Ramos, pelo inestimável apoio técnico; ao Prof. 1996. Lista anotada dos mamíferos do Brasil.
Júlio César González, coordenador do Laboratório de Occasional Papers in Conservation Biology (4):1-38.
Mastozoologia do MCT/PUCRS, pelo apoio e estímulo GALETI PA. 1972. Conservação do solo, reflorestamento,
constantes; ao biólogo Marcos Machado, pelas contribui- clima. Impres, Campinas, SP.
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