O Conceito de crime
Para os que defendem a prevenção geral negativa, esse fim será alcançado
intimidando as pessoas com a aplicação das penas. Para os que defendem a
prevenção geral positiva dizem que o fim não é alcançado com a intimação,
mas antes com a noção por parte das pessoas, que o direito é aplicado.
Dia ainda que é a culpa que irá fornecer o limite inultrapassável da pena, ou
seja, a culpa estabelece o máximo da pena compatível com o respeito pela
dignidade da pessoa humana e a base legal é o nº2 do artº18º CRP e também
os nºs 1 e 2 do artº40º do CP. Neste sentido a Professora Ana Brito diz que a
culpa é também fundamento da pena, isto devido ao princípio da culpa, o qual
exige sempre que se prove a culpa.
O professor F. Dias diz ainda que a culpa determina o limite exacto da pena,
mas conforme diz a Professora Ana Brito, a culpa faz variar a pena entre um
limite mínimo e um limite máximo por isso não nos dá a medida exacta
daquela. (ex. o artº132º C.P) e por isso a culpa não é uma medida exacta.
Através do nº 3 do artº71º C.P verificamos que a determinação da medida da
pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita em função da culpa do agente e
das exigências de prevenção”.
Princípios fundamentais do Direito Penal
O Princípio da Culpa
Sintetiza-se numa frase “não há pena sem culpa” que tem a ver com a
característica do crime que surge após a ilicitude mas também com a ligação
subjectiva do sujeito com o facto, isto é, o direito penal só pode actuar quando
o sujeito actua com liberdade de acção caso contrário não há ligação mínima
entre o sujeito e o facto (contrário ao C. Civil). De acordo com o princípio da
culpa, a medida da pena, não pode ultrapassar a medida da culpa, mas nem
toda a culpa tem de ser punida. Também nos podemos referir ao artº1º CRP
como base legal do princípio da culpa (dignidade da pessoa humana- liberdade
de agir= culpa).
O artº27º da CRP é outro princípio da culpa. Só há respeito pela liberdade se
se julgar segundo a sua culpa.
Principio da igualdade
O princípio da legalidade
O costume nacional é proibido como fonte de direito penal, ou seja, não pode
criar medidas penais positivas, mas, para afastar a responsabilidade penal já é
possível ( servir como causa da exclusão da ilicitude do comportamento)e
também pode ajudar a interpretar as normas penais.
2 – Princípio da tipicidade – já não tem a ver com as fontes, mas com o grau
de definição de crime e das penas e da conexão entre eles. Este subprincípio
apresenta-se com esta expressão “não há crime nem pena sem lei estrita
/certa” e diz-nos que é necessário que esteja determinado com suficiente
precisão, suficientemente determinados, as circunstâncias que compõem o
crime (os pressupostos) e o conteúdo da pena e da medida de segurança.
Quer dizer que nenhum comportamento humano poderá ser considerado
criminoso se não corresponder a um tipo legal de crime”. Mas não implica que
tenha de haver uma total determinação dos conceitos determinados pelas
normas penais, não quer dizer que não se possa utilizar conceitos
indeterminados (a expressão “motivo fútil” é um conceito indeterminado mas
não viola princípio da tipicidade. Suficiente determinado quer dizer: desde que
o essencial que constitui o ilícito criminoso esteja expresso no tipo legal não há
violação do princípio da tipicidade.
São normas totalmente remissivas porque remetem para outro ramo de direito
o essencial da conduta punível. Regra geral não é permitida em Direito Penal a
interpretação analógica (integração de lacunas), face ao nº1 doa rtº29ºCRP e
nº3 do artº1º C.P(tem a ver com o fim último do P. da legalidade para o cidadão
não ser surpreendido com a punição de condutas que não esteja à espera).
Mas essa integração só é proibida quando esta determine a fundamentação ou
a agravação da responsabilidade do agente. Quer dizer que se for para
diminuir ou afastar a responsabilidade já será possível e também para
interpretar conceitos em direito penal (ex. motivo fútil do artº132ºCP).
A interpretação extensiva
Não está na letra da lei, mas ainda cabe no pensamento do legislador, portanto
no espírito da lei, ou seja, têm o mínimo de correspondência na lei (Manuel de
Andrade) que entende que a interpretação extensiva não é possível em direito
penal se for para agravar ou fundamentar a responsabilidade jurídico-criminal
do agente (nº3 do artº29º CRP), mas é permitida a “interpretação declarativa
lacta”,
a) Princípio da irretroactividade
Resulta do princípio da legalidade e significa que uma lei penal desfavorável
não poderá aplicar-se a factos praticados antes da entrada em vigor desta lei.
De acordo com o artº3º do C.P o facto considera-se praticado no momento da
conduta e não do resultado. Tal resulta dos nº1 e 3 do artº29º CRP, onde se
fala em lei anterior e também dos nº1 do artº1º e nº1 do artº2º ambos do C.P.
Este princípio estende-se às medidas de segurança e seus pressupostos (nº3
do artº29º CRP)
b) Princípio da rectroactiva
Este princípio está consagrado na última parte do nº4 do artº29ºCRP e artº2º
do CP. Ao contrário do Princípio da irretroactividade da lei penal desfavorável
ao agente não resulta do princípio da legalidade porque aqui não é preciso
proteger. Este princípio decorre de outros dois princípios fulcrais que são o
princípio da necessidade da pena (o direito só deve actuar quando necessário
para proteger bens jurídicos fundamentais e essenciais – intervenção mínima
do direito penal- deixou de ser necessário aplicar a pena mais grave) e o
princípio da igualdade (serem punidos da mesma maneira quando praticam os
factos).
A lei posterior à prática do crime é mais favorável ao arguido quando consente
uma punição mais leve (nº4 do artº2º do C.P) e as leis em confronto são as que
entram em vigor entre o momento da prática do facto até ao termo da
execução.
A lei também é mais favorável quando a nova lei elimina a infracção, ou seja, o
facto que era crime deixa de o ser (nº2 do artº2º do C.P ou 2ª parte do nº4 do
artº29º da CRP). Tal pode acontecer também em duas situações:
Nos crimes cuja acção se prolonga no tempo (ex. nº2 do artº30ºCP), é tido
como um único crime e o momento da prática considera-se desde o início até
ao último momento da conduta e se durante aquele período (a decorrer o
sequestro) surgir uma lei mais desfavorável ao agente, vamos aplicar essa lei
que surge entretanto e não estamos a violar o princípio da não aplicação da lei
mais desfavorável ao agente porque o princípio só diz que é proibida a
aplicação retroactiva da lei mais desfavorável ao arguido, após o momento da
prática do facto,se for durante o momento da prática do facto não há solução.
No fundo a alteração que se dá é a lei que prevê o regime mais desfavorável
ocorre durante a prática.
As causas de justificação
se surgir uma nova lei que vai restringir a causa de justificação, face ao
princípio da legalidade há proibição da aplicação retroactiva da lei mais
desfavorável ao agente e não se pode aplicar essa causa de justificação.
Sabemos que o princípio da proibição da aplicação retroactiva da lei penal mais
desfavorável, como todo o princípio da legalidade, por norma, só se aplica às
normas penais positivas (as que fundamentam e agravam a responsabilidade
jurídico-criminal do agente) e aprendemos que não se aplica as negativas e em
princípio também às causas de exclusão da ilicitude, porque não é preciso uma
vez que estas têm por objectivo excluir ou atenuar a responsabilidade criminal
do agente, mas neste caso o que aconteceu à norma penal negativa foi que foi
restringido o seu âmbito e por isso se eu não aplicar o princípio da legalidade,
vou tratar de forma mais desfavorável o arguido. Aqui não vigora a regra de
que o P. da legalidade só se aplica às normas penais positivas. Então vou ter
de aplicar o P. da legalidade para proteger o cidadão face ao poder punitivo do
Estado e para não o surpreender com a penalização duma conduta que ele não
estava a contar porque estava a pensar que era esse o seu âmbito. Não estava
a contar com essa restrição.
Para a legítima defesa actuar o nosso legislador exige que haja uma agressão
actual e ilícita, que ameace interesses juridicamente protegidos, e que a minha
reacção seja uma forma de afastar essa agressão actual e ilícita e é por isso
que esta norma é uma norma penal negativa porque permite excluir a
responsabilidade penal da pessoa. Na legitima defesa preventiva não há uma
agressão actual e ilícita como refere o legislador no artº32º C.P mas se a única
hipótese que ele tem de se defender é actuar naquele momento o pode entrar
aqui é uma causa de justificação que não está prevista na lei e por isso se
chama supralegal admissível à luz dos princípios fundamentais do direito
(defesa do direito face ao ilícito). Não viola o P. da legalidade porque se trata
duma norma penal negativa e este princípio, por regra, não se aplica a estas
normas porque elas já visam proteger o agente face ao poder punitivo do
Estado. Apenas às positivas que agravam ou fundamentam a responsabilidade
jurídico-criminal do agente.
Hipótese 0
Tem a ver com o conceito material de crime. Visa dizer quais as características
que tem de ter para ser constitucional – tem de proteger bens jurídicos
fundamentais essenciais que estão em causa. Quer dizer que se não está em
causa um bem jurídico essencial a norma é inconstitucional- princípio da
mínima intervenção do direito penal.
Hipótese 1
Imagine-se que que a lei X previa para certo facto pena de prisão de 1 a 3 anos
e posteriormente surge a lei Y que passa a punir o facto como
contraordenação. Quid Juris?
Hipótese 2
Imagine que a lei X previa para determinado facto uma pena de prisão de 1 a 3
anos e pena acessória de suspensão do exercício de certa profissão até 1 ano.
Esta lei é substituída por a lei Y que passa a punir o mesmo facto com pena de
prisão até 5 anos.
Qual a lei que se devia de aplicar a A que praticou o facto na vigência da lei X e
vai a julgamento na vigência da lei Y.
Resposta:
O importante é determinar qual a lei mais favorável ao caso sub judice. Quer
dizer que se não temos indicação qual a lei mais favorável, temos de abrir as
duas hipóteses. Se o juiz decidir que a lei mais favorável é a X aplica-se a X ,
se decidir que é a Y aplica-se a Y.
Hipótese 3
b) sendo julgado hoje (abril de 2016) poderia Rui ser condenado a uma pena
de 7 anos de prisão?
Não. Tendo em conta o princípio da retroactividade da lei penal mais favorável,
a pena de 3 a 6 anos passou a ser a mais favorável nos termos da 2ª parte do
nº4 do artº29º CRP e 1ª parte do nº4 do artº2º do C.P