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SEDUC-PA

Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará

Professor Classe I - Biologia


Edital Nº 01/2018 – SEAD, 19 de Março de 2018

MR106-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará - SEDUC-PA

Cargo: Professor Classe I - Biologia

(Baseado no Edital Nº 01/2018 – Sead, 19 de Março de 2018)

• Conhecimentos Específicos

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Autora
Jaqueline Lima

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Conhecimentos Específicos

Identidade dos seres vivos: Aspectos físicos, químicos e estruturais da célula;.............................................................................. 01


Organelas;.................................................................................................................................................................................................................... 06
Organização celular: seres procariontes, eucariontes e sem organização celular.......................................................................... 11
Funções celulares: síntese, transporte, eliminação de substâncias e processos de obtenção de energia (fermentação,
fotossíntese e respiração celular)....................................................................................................................................................................... 15
Ciclo celular................................................................................................................................................................................................................. 17
Noções básicas de microscopia.......................................................................................................................................................................... 21
Origem e evolução da vida: Hipóteses sobre a origem da vida;........................................................................................................... 26
Teoria de Lamarck e teoria de Darwin;............................................................................................................................................................. 36
Origem do homem. ................................................................................................................................................................................................ 41
Diversidade da vida: principais características dos representantes de cada domínio e de cada reino da natureza;........ 52
Regras de nomenclatura;....................................................................................................................................................................................... 56
Biodiversidade no planeta e no Brasil.............................................................................................................................................................. 58
Características anatômicas e fisiológicas do homem: fisiologia dos sistemas biológicos (digestório, respiratório, cardio-
vascular, urinário, nervoso, endócrino, imunológico, reprodutor e locomotor).............................................................................. 63
Transmissão da vida: Fundamentos da hereditariedade: gene e código genético, cálculos com probabilidade;.............. 64
Primeira e segunda leis de Mendel;.................................................................................................................................................................. 68
Aplicações da engenharia genética (clonagem, transgênicos)............................................................................................................... 70
Interação entre os seres vivos:............................................................................................................................................................................ 72
Conceitos básicos em ecologia;.......................................................................................................................................................................... 73
Relações tróficas (cadeias e teias alimentares);............................................................................................................................................ 78
Distribuição natural da matéria e da energia e concentração de pesticidas e de subprodutos radiativos;......................... 81
Relações ecológicas limitadoras do crescimento populacional;............................................................................................................ 88
Ecossistemas do Brasil. Organização funcional dos Ecossistemas; Relações ecológicas.............................................................. 89
Principais parasitoses: protozoonoses e verminoses;................................................................................................................................ 93
Ciclos biogeoquímicos;.......................................................................................................................................................................................... 98
Dinâmica de populações.....................................................................................................................................................................................105
Recursos renováveis e exploráveis;..................................................................................................................................................................107
Poluição ambiental e Desequilíbrios ecológicos........................................................................................................................................109
Ensino de Biologia: conhecimento científico e habilidade didática no ensino de Biologia......................................................114
A construção do conhecimento no ensino de Biologia: abordagens metodológicas.................................................................118
Recursos didáticos no ensino de Biologia (utilizados em sala de aula e laboratório, incluindo conhecimentos básicos de
técnicas, materiais e normas de segurança laboratoriais)......................................................................................................................122
O ensino de Biologia e as novas tecnologias da informação e comunicação................................................................................125
Avaliação de aprendizagem do conhecimento biológico......................................................................................................................128
Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a Disciplina de
Biologia.......................................................................................................................................................................................................................130
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Identidade dos seres vivos: Aspectos físicos, químicos e estruturais da célula;.............................................................................. 01


Organelas;.................................................................................................................................................................................................................... 06
Organização celular: seres procariontes, eucariontes e sem organização celular.......................................................................... 11
Funções celulares: síntese, transporte, eliminação de substâncias e processos de obtenção de energia (fermentação,
fotossíntese e respiração celular)....................................................................................................................................................................... 15
Ciclo celular................................................................................................................................................................................................................. 17
Noções básicas de microscopia.......................................................................................................................................................................... 21
Origem e evolução da vida: Hipóteses sobre a origem da vida;........................................................................................................... 26
Teoria de Lamarck e teoria de Darwin;............................................................................................................................................................. 36
Origem do homem. ................................................................................................................................................................................................ 41
Diversidade da vida: principais características dos representantes de cada domínio e de cada reino da natureza;........ 52
Regras de nomenclatura;....................................................................................................................................................................................... 56
Biodiversidade no planeta e no Brasil.............................................................................................................................................................. 58
Características anatômicas e fisiológicas do homem: fisiologia dos sistemas biológicos (digestório, respiratório, cardio-
vascular, urinário, nervoso, endócrino, imunológico, reprodutor e locomotor).............................................................................. 63
Transmissão da vida: Fundamentos da hereditariedade: gene e código genético, cálculos com probabilidade;.............. 64
Primeira e segunda leis de Mendel;.................................................................................................................................................................. 68
Aplicações da engenharia genética (clonagem, transgênicos)............................................................................................................... 70
Interação entre os seres vivos:............................................................................................................................................................................ 72
Conceitos básicos em ecologia;.......................................................................................................................................................................... 73
Relações tróficas (cadeias e teias alimentares);............................................................................................................................................ 78
Distribuição natural da matéria e da energia e concentração de pesticidas e de subprodutos radiativos;......................... 81
Relações ecológicas limitadoras do crescimento populacional;............................................................................................................ 88
Ecossistemas do Brasil. Organização funcional dos Ecossistemas; Relações ecológicas.............................................................. 89
Principais parasitoses: protozoonoses e verminoses;................................................................................................................................ 93
Ciclos biogeoquímicos;.......................................................................................................................................................................................... 98
Dinâmica de populações.....................................................................................................................................................................................105
Recursos renováveis e exploráveis;..................................................................................................................................................................107
Poluição ambiental e Desequilíbrios ecológicos........................................................................................................................................109
Ensino de Biologia: conhecimento científico e habilidade didática no ensino de Biologia......................................................114
A construção do conhecimento no ensino de Biologia: abordagens metodológicas.................................................................118
Recursos didáticos no ensino de Biologia (utilizados em sala de aula e laboratório, incluindo conhecimentos básicos de
técnicas, materiais e normas de segurança laboratoriais)......................................................................................................................122
O ensino de Biologia e as novas tecnologias da informação e comunicação................................................................................125
Avaliação de aprendizagem do conhecimento biológico......................................................................................................................128
Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a Disciplina de
Biologia.......................................................................................................................................................................................................................130
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

IDENTIDADE DOS SERES VIVOS: ASPECTOS FÍSICOS, QUÍMICOS E


ESTRUTURAIS DA CÉLULA;

Todos os organismos vivos são constituídos de pequenas estruturas denominadas células. Essas estruturas, que repre-
sentam a menor unidade de vida, são bastante complexas e diversas, sendo que nelas estão contidas as características mor-
fológicas e fisiológicas dos organismos vivos. As propriedades de um determinado organismo dependem de suas células
individuais, cuja continuidade ocorre por meio de seu material genético. A forma mais simples de vida ocorre em células
isoladas, que se propagam por divisão celular. Já os organismos superiores, como o próprio homem, são constituídos de
agregados celulares que desempenham funções especializadas.
As células de diferentes organismos são muito similares quanto à estrutura e a constituintes moleculares, apesar das
diferenças organizacionais fundamentais existentes. Ao analisar os constituintes moleculares, é importante considerar não
apenas as propriedades individuais das moléculas, como também as interações existentes entre elas e a sua localização
dentro da célula. Essa análise é ainda mais necessária quando se considera um organismo multicelular e os eventos que
ocorrem em seu interior, a fim de produzir a diferenciação e o desenvolvimento desse organismo. Assim, este capítulo
busca fornecer, uma breve revisão sobre a estrutura celular, seus constituintes moleculares e as interações realizadas por
esses compostos.

Estruturas celulares

As primeiras observações e a própria denominação de células para as unidades estruturais, nas quais são realizadas to-
das as funções necessárias à manutenção e à preservação da vida, foram feitas por Robert Hooke, em 1665. Todas as células,
independentemente da complexidade do organismo, possuem uma mesma estrutura formada pela membrana plasmática,
que circunda o conteúdo celular e o separa do meio extracelular pelo citosol e pelo núcleo (ou nucleoide). O citosol é todo
o volume interno celular, composto por uma solução aquosa complexa com várias partículas e moléculas dispersas. O ta-
manho e a forma da célula variam muito e não têm nenhuma relação com o tamanho do organismo. Algumas células vivem
isoladas, como os organismos unicelulares, porém as dos organismos pluricelulares, em geral, se relacionam umas com as
outras. A membrana celular plasmática, que circunda todas as células, é formada basicamente por uma dupla camada de
lipídeos da classe dos fosfolipídeos e, em quantidades variáveis, se associada com moléculas proteicas.
O limite entre o meio intracelular e extracelular é definido pela membrana plasmática. Para entrar ou sair de uma cé-
lula, uma substância deve transpor a membrana celular; portanto, isso dependerá da permeabilidade da membrana. Essa
bicamada lipídica é permeável a certos gases, como O2 e CO2, e impermeável a muitas substâncias, como açúcar, aminoá-
cidos e íons inorgânicos (K+ e Cl-). A água pode difundir-se livremente através da célula. Muitas proteínas estão ligadas
à membrana plasmática (permeases ou transportadoras), formando canais na bicamada lipídica e facilitando a passagem
de certas substâncias. Dessa forma, todas as células, de todos os organismos, possuem características estruturais comuns,
como a arquitetura de suas membranas e muitos processos metabólicos, até a replicação de DNA, a síntese proteica e a
produção de energia química.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Células de procariotos e eucariotos Apesar da simila- do núcleo. Essas molé- culas de DNA estão associadas a
ridade existente entre as células que constituem os seres proteínas, chamadas de histonas, formando os nucleosso-
vivos, os organismos mantêm diferenças fundamentais mos, componentes da cromatina.
em nível celular, podendo ser classificados em dois gran- O número e o tamanho dos cromossomos individuais
des grupos: os procariotos e os eucariotos. Os organis- variam muito entre os diferentes organismos eucarióticos.
mos procariotos são unicelulares e mais simples em sua Os fungos, por exemplo, possuem de 12 a 18 cromosso-
organização, embora possam ocorrer associados a grupos, mos; células humanas contêm dois conjuntos de 23 cro-
formando colônias com alguma diferenciação de funções. mossomos, cada um tem aproximadamente trinta vezes a
Os procariotos incluem as bactérias e as arqueas (bactérias quantidade de DNA presente em uma célula da bactéria
que sobrevivem em ambientes não usuais, como lagos sa- Escherichia coli. O DNA não é encontrado apenas no nú-
linos, piscinas térmicas e pântanos). Os organismos euca- cleo, mas também na mitocôndria das células de animais,
riotos são mais complexos e incluem não somente plantas plantas e fungos e no cloroplasto das plantas. Essa é uma
pluricelulares, animais e fungos, mas também protozoários das evidências que sugere a evolução dessas organelas a
e alguns organismos unicelulares, como leveduras e algas partir de bactérias que sofreram endocitose por células an-
verdes. cestrais. O DNA dessas organelas contém genes que codifi-
A principal diferença entre procariotos e eucariotos é cam proteínas específicas para o funcionamento da própria
que, nos eucariotos, encontram-se organelas, principal- organela.
mente o núcleo, que contém o genoma. As organelas são
regiões delimitadas por membranas internas, que formam Constituintes moleculares
compartimentos, nos quais se realizam funções especiali-
zadas. Nos procariotos, a ausência de envoltório nuclear Os constituintes moleculares são responsáveis pelas
deixa o genoma em contato direto com o restante do cito- interações bioquímicas entre milhares de moléculas que
plasma, em um espaço dentro da célula denominado nu- permitem a vida celular. Essas reações químicas aconte-
cleoide, ficando junto de ribossomos, outras partículas e cem em meio aquoso, por isso, a água, com poucas exce-
uma grande variedade de moléculas dissolvidas . As células ções (célula óssea), é o componente encontrado em maior
de procariotos possuem, normalmente, além da membrana quantidade na célula, sendo indispensável para a ativida-
plasmática, uma parede celular, cuja função é proporcionar de metabólica. A água, devido a sua natureza polar, serve
maior rigidez e proteção mecânica. Essa membrana tam- como solvente natural para íons, minerais e outras subs-
bém está presente em células eucarióticas vegetais. A com- tâncias e, também, como meio de dispersão para a estru-
posição química da parede celular de procariotos é bas- tura coloidal do citoplasma. A presença de íons, como Cl-,
tante complexa, contendo moléculas de polissacarídeos, Na+ e K+, é importante para manter a pressão osmótica e
lipídeos e proteínas (camada de peptideoglicano). o equilíbrio acidobásico da célula. Alguns íons inorgânicos,
A parede celular dos vegetais contém celulose e outros como o magnésio, são necessários na função de cofatores
polímeros. Células de fungos também estão circundadas enzimáticos. Outros, como o fosfato inorgânico, formam
por uma parede celular de composição diferente das de adenosina trifosfato (ATP), principal fonte de energia quí-
vegetais e bactérias. As bactérias gram-negativas possuem, mica dos processos vitais e os íons cálcio desempenham
ainda, uma membrana externa, que circunda a parede ce- um papel regulador.
lular. Essa parede celular é permeável a muitas substâncias Além da água e dos elementos químicos citados, a cé-
químicas com peso molecular superior a 1 kDa. Dentro da lula é constituída por pequenas moléculas e macromolé-
membrana plasmática, está o citoplasma, constituído pelo culas. As pequenas moléculas, como aminoácidos, nucleo-
citosol componente aquoso. O citoplasma de células euca- tídeos, lipídeos e açúcares constituem os substratos e os
rióticas difere do citoplasma de células procarióticas pela produtos de vias metabólicas, fornecendo energia para a
presença das organelas e de proteínas filamentosas, que célula e podendo, também, ser as unidades formadoras das
constituem o chamado citoesqueleto. Entre essas proteínas macromoléculas. Nessa estrutura de polímero biológico,
estão os filamentos de actina e os microtúbulos, envolvidos essas moléculas são chamadas de monômeros ou resíduos.
na geração de movimentos celulares, na determinação da As células são constituídas, basicamente, por três tipos de
forma celular e na capacidade de arranjar as organelas. Ou- polímeros: ácidos nucleicos formados pelos nucleotídeos
tra diferença fundamental observada entre procariotos e (monômero); proteínas constituídas pelos aminoácidos; e
eucariotos é em relação ao material genético. A informação carboidratos ou polissacarídeos cujos monômeros são os
genética de organismos procarióticos apresenta-se, geral- açúcares ou monossacarídeos. As células possuem uma
mente, em uma ou mais moléculas circulares de DNA. As grande quantidade de lipídeos que, diferentes dos demais,
bactérias são conhecidas por possuírem um único cromos- não são polímeros, sendo, de preferência, moléculas pe-
somo. O arranjo de genes, dentro desse cromossomo, dife- quenas. O lipídeo mais simples e abundante é o ácido gra-
re muito do arranjo em um cromossomo de células euca- xo, que participa da composição de outras moléculas de li-
rióticas. Nas células eucarióticas, o DNA nuclear é dividido pídeos mais complexas, como os triacilgliceróis. As estrutu-
em dois ou mais um desses cromossomos. Cada um desses ras maiores, como a bicamada das membranas biológicas
cromossomos é formado por uma molécula de DNA linear e as fibras do citoesqueleto, são formadas pela associação
que, exceto durante a divisão celular, está confinada dentro dessas macromoléculas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Aminoácidos e proteínas orgânicos, que possuem um átomo de carbono (C) ligado


a quatro grupamentos químicos diferentes. Um grupamen-
As proteínas resultam da expressão da informação to amínico (-NH2), um grupamento carboxílico (-COOH),
contida no gene. Por isso, é o gene que determinará a se- um átomo de hidrogênio (-H) e um grupamento variável,
quência de aminoácidos de uma proteína específica. Assim, são denominados cadeia lateral ou radical (-R). Observan-
toda proteína possui uma ordem definida de resíduos de do essa estrutura, é possível verificar que o grupamento R
aminoácidos, que, por sua vez, estabelece sua estrutura tri- determina as diferenças estruturais entre os aminoácidos.
dimensional ativa, denominada conformação nativa. A es- Com exceção da glicina, que possui um átomo de hidrogê-
trutura tridimensional da molécula, estabelecida conforme nio também no radical, todos os demais aminoácidos pos-
a própria sequência de aminoácidos, pode ser observada suem quatro grupamentos diferentes ligados ao C, dando
em experimentos de desnaturação de uma determinada origem a um carbono assimétrico.
proteína. As alterações em sua forma natural (nativa), por A presença desse carbono assimétrico gera duas mo-
mudanças nas condições do meio (alterações de pH, tem- léculas de imagem especular não superpostas (estereoisô-
peratura, adição de solventes) onde se encontra a proteína, meros), denominadas, por convenção, isômero D (dextro)
com consequente perda de sua função biológica, podem, e L (levo). Com raras exceções, apenas os aminoácidos de
algumas vezes, serem recuperadas. forma L são encontrados nas proteínas. Em pH fisiológico,
O restabelecimento da conformação nativa a renatu- os grupamentos amínico e carboxílico dos aminoácidos são
ração proteica pode ocorrer quando as condições do meio ionizados (NH3+ e COO-), fazendo com que o aminoácido
em que a molécula se encontra são restabelecidas, possi- tenha cargas positiva e negativa na mesma molécula (mo-
bilitando que os aminoácidos voltem a interagir. O enrola- lécula dipolar). A presença simultânea desses grupamentos
mento de uma proteína globular é um processo energeti- determina o comportamento acidobásico dos aminoácidos
camente favorável, sob condições fisiológicas, que permite (moléculas anfóteras). O caráter acidobá- sico, bem como
as interações entre os grupamentos químicos. As proteínas a carga elétrica do aminoácido, é determinado pelo pH do
são classificadas em duas classes principais: fibrosas e glo- meio onde ele se encontra.
bulares. As proteínas fibrosas, em sua maioria, desenvol- As cadeias laterais dos aminoácidos variam em tama-
vem um papel estrutural nas células e nos tecidos animais. nho, forma, carga elétrica, hidrofobicidade e reatividade.
Nessa classe estão o colágeno, componente dos ossos e Os aminoácidos com cadeias laterais polares são hidrofíli-
do tecido conectivo, e a -queratina, presente em unhas e cos e tendem a se localizar na superfície da proteína, devi-
cabelo. As proteínas globulares são assim chamadas por do a suas interações com a água. Além disso, quanto mais
possuírem uma estrutura enovela da e compactada, com aminoácidos polares estiverem presentes na proteína, mais
formato globular; abundantes e essenciais, elas podem ser solúvel em soluções aquosas ela será, porém os aminoáci-
encontradas em quaisquer organismos. Um exemplo são dos com grupamentos R apolares, por serem hidrofóbicos,
as enzimas, eficientes catalisadores biológicos que acele- tendem a estar presentes no interior das proteínas e pro-
ram as reações químicas. Com exceção de alguns RNAs vocarem sua insolubilidade em água. Na Figura 1.4, está
(ribozimas), que possuem atividade catalítica, todas as en- representada a estrutura dos vinte aminoácidos em pH fi-
zimas são proteínas. Toda proteína globular tem uma es- siológico (próximo de 7), que foram classificados conforme
trutura única, enovelada de forma específica e de acordo a solubilidade em água. A solubilidade varia com a polari-
com a função particular a ser executada. Já que a estrutu- dade de seus grupamentos R.
ra de uma proteína determina a sua função, é importante No grupo dos polares, arginina e lisina (polares bási-
conhecer as características estruturais dessa molécula. As cos) são carregadas positivamente, e glutamato e aspartato
proteínas são cadeias longas de aminoácidos e constituem (polares ácidos) são carregados negativamente, esses qua-
mais da metade do peso seco de uma célula. tro aminoácidos são os principais responsáveis pelas car-
Elas também são polímeros que desempenham inú- gas das proteínas. A histidina, que também tem carga po-
meras funções biológicas, além de determinarem a forma sitiva, auxilia na manutenção do pH (tampão fisioló- gico),
e a estrutura da célula. As proteínas são, ainda, conheci- pela sua capacidade de captar ou liberar prótons por meio
das como moléculas que realizam o trabalho celular. Elas do grupamento imidazol presente no radical. Pertencendo
catalisam um extraordinário número de reações químicas, à classe dos aminoácidos polares neutros, a cisteína pode
controlam a permeabilidade das membranas, regulam a reagir com outros resíduos de cisteína por meio do gru-
concentração de metabólitos, reconhecem e ligam não pamento tiol (SH), presente no radical para formar pontes
covalentemente outras biomoléculas, proporcionam mo- dissulfeto (S–S) em uma reação de oxidação. Esta ligação
vimento e controlam a função gênica. Todo esse diverso tem uma participação importante na conformação das pro-
número de funções é realizado por proteínas constituídas teínas.
por apenas 20 aminoácidos, entre todos os aminoácidos Os aminoácidos com cadeias laterais hidrofóbicas são
possíveis, unidos por ligações peptídicas. quase insolúveis em água, consequência da presença de
Como a conformação nativa, que permite à proteína hidrocarbonetos nestes grupamentos. A fenilalanina, o
realizar as suas funções, é uma consequência das proprie- triptofano e a tirosina possuem grupamentos aromáticos,
dades individuais características dos aminoácidos presentes responsáveis pela característica de absorção de luz ultra-
na molécula proteica, é importante revisar essas proprieda- violeta das proteínas no comprimento de onda de 280 nm.
des. Os aminoácidos são assim chamados por serem ácidos Prolina é um aminoácido especial, uma vez que a sua ca-

3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

deia lateral está ligada covalentemente ao nitrogênio do com a carbonila. Um exemplo é a D-glicose, fonte primá-
grupamento amínico, formando um anel rígido. A presença ria de energia para a maioria das células. A estrutura da
da prolina em uma cadeia proteica pode restringir a forma D-glicose pode se apresentar como uma cadeia linear ou
como a molécula irá se enovelar. como um anel hemiacetal, com duas estruturas diferentes.
Durante a síntese da molécula proteica, os aminoáci- Quando o grupamento aldeídico do carbono 1 reage com
dos vão se unindo por uma ligação covalente (ligação pep- o grupamento hidroxílico do carbono 5, o anel resultante
tídica) entre o grupamento carboxílico de um aminoácido possui 6 elementos, gerando uma D-glicopiranose. Se a li-
com o grupamento amínico de outro aminoácido, ligados gação hemiacetal ocorrer com o carbono 4, a estrutura é
por uma reação de desidratação, com a perda de uma mo- uma D-glicofuranose, cuja presença na natureza é muito
lécula de água. A molécula formada gera um peptídeo e mais rara. Todos os monossacarídeos, exceto a dihidroxia-
mantém o seu caráter anfótero, já que sempre ficará um cetona, contêm um ou mais carbonos assimétricos geran-
grupamento carboxílico livre em uma extremidade (C-ter- do estereoisômeros oticamente ativos (D e L). A ciclização
minal) e um grupamento amínico livre na outra extremida- da estrutura linear gera novos isômeros, denominados
de (N-terminal) (ver Figura 1.5). A combinação de apenas anômeros , por estarem ligados ao carbono anomérico.
dois aminoácidos forma um dipeptídeo; a união de poucos
aminoácidos dá origem a oligopeptídeos. Um polipeptídeo Os oligossacarídeos
é formado por muitos aminoácidos (às vezes, um núme-
ro superior a 1.000). A sequência de uma cadeia proteica são moléculas formadas, na sua maioria, pela ligação
é, por convenção, escrita com a extremidade N-terminal de poucas unidades monoméricas. Um exemplo é a sacaro-
à esquerda e a C-terminal à direta. O tamanho de uma se, um dissacarídeo formado pela união de uma molécula
proteína é, em geral, expresso pela sua massa em daltons de glicose e uma de frutose que, após processado, produz
(Da). Existem também proteínas conjugadas, essencialmen- o açúcar comum utilizado na alimentação. Os polissacarí-
te importantes que, para realizarem sua atividade celular, deos mais importantes nos organismos vivos são o amido
necessitam estar ligadas a outras moléculas não proteicas, e o glicogênio, pois representam substâncias de reserva, ou
os denominados grupos prostéticos. A essa categoria per- seja, a forma de estocagem de energia nas células vegetais
tencem as nucleoproteínas, as lipoproteínas e as cromo- e animais. O glicogênio é um polissacarídeo formado pela
proteínas. As enzimas formam uma importante classe de ligação de várias moléculas de glicose. A celulose também
proteínas que catalisa todas as reações químicas. Algumas é um importante polissacarídeo e é o principal elemento
delas, quando envolvidas em reações de oxirredução, só estrutural da parede celular da célula vegetal. Os dissaca-
possuem atividade quando ligadas covalentemente a uma rídeos, assim como os polissacarídeos, são formados por
coenzima (grupo prostético), como a nicotinamida adenina monossacarídeos, unidos covalentemente por ligações gli-
dinucleotídeo (NAD+ ), cuja estrutura é formada por um cosídicas. Essas ligações são formadas quando um grupa-
anel de nicotinamida, um anel de adenina e dois grupos de mento hidroxílico do carbono anomérico de um carboidra-
açúcares fosfatados unidos. to reage com o grupamento hidroxílico de outro carboi-
drato (ver Figura 1.8). Esses grupamentos hidroxílicos livres
Carboidratos podem, ainda, ligar-se com outros grupamentos amínico,
sulfato e fosfato de diferentes moléculas, formando molé-
Os carboidratos, ou monossacarídeos, são açúcares culas mais complexas, como os glicosaminoglicanos, prin-
simples e representam uma das grandes classes de mo- cipais componentes da matriz extracelular.
léculas biológicas com uma variedade de funções celula-
res. Os polissacarídeos são polímeros com longas cadeias Lipídeos
de unidades de monossacarídeos e constituem a principal
fonte de energia celular. Eles são, também, constituintes Os lipídeos formam um grupo de compostos caracte-
estruturais importantes da parede celular, atuando como rístico, que possuem múltiplas funções celulares e ocorrem
sinais de reconhecimento específico e desempenhando um com frequência na natureza. Geralmente, são moléculas
papel informacional. Além disso, são também substâncias pequenas que apresentam uma forte tendência a se asso-
intercelulares com função estrutural. Os carboidratos são ciarem por meio de forças não covalentes, formando agre-
formados por ligações covalentes de carbono, em uma re- gados lipídicos. Os lipídeos são, em geral, caracterizados
lação 1:1, e água (CH2O)n, em que n pode ser de 3 a 7. Eles por um tipo de estrutura própria. A para os ácidos graxos.
são classificados de acordo com o número de átomos de Uma molécula de ácido graxo possui duas regiões distin-
carbono presentes na molécula: trioses (3), pentoses (5) ou tas: uma região polar, hidrofílica, conectada a uma região
hexoses (6). apolar, hidrofóbica, constituída de uma cadeia de hidro-
Todos os monossacarídeos podem conter vários gru- carboneto. Esse tipo de estrutura caracteriza os lipídeos
pamentos hidroxílicos e um grupamento aldeídico ou ce- como um grupo de compostos pouco solúveis em água e
tônico. Esses dois grupamentos podem reagir com um gru- solúveis em solventes orgânicos. Essa característica mole-
pamento hidroxílico na mesma molécula, por meio de uma cular promove as associações do tipo anfipáticas reuniões
reação hemiacetal ou hemicetal, convertendo a estrutura das moléculas lipídicas com interações não covalentes em
linear para uma com formato de anel. O tipo de anel gera- meio aquoso. Essas interações possuem consequências
do será decorrente da ligação e de qual hidroxila se ligará consideráveis em nível celular, a mais importante delas é

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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a tendência de os lipídeos formarem micelas e bicamadas, e C) e um anel com 5 átomos. A molécula de colesterol é
que constituem as membranas biológicas. A estrutura exa- pouco anfipática, pois existe um grupamento hidroxílico
ta, formada quando o lipídeo está em contato com a água, localizado no final da molécula. O restante da molécula
depende da estrutura molecular específica das regiões hi- de colesterol é solúvel no interior hidrofóbico das mem-
drofílicas e hidrofóbicas da molécula. A seguir, alguns dos branas. Os anéis cicloexanos fusionados dessa molécula
principais lipídeos celulares. formam uma estrutura bastante rígida e sua presença na
membrana tende a romper a regularidade da estrutura,
Ácidos graxos conferindo-lhe maior rigidez. Essa estrutura compacta
também é responsável pelos efeitos danosos à saúde,
Os lipídeos mais simples são os ácidos graxos, também como a aterosclerose doença cardiovascular provocada
constituintes dos lipídeos mais complexos. Sua estrutura pelo armazenamento de colesterol nos vasos sanguíneos.
básica exemplifica a maioria das moléculas de lipídeos en-
contrada em grande quantidade nas células humanas. A Ácidos nucleicos
estrutura do ácido graxo é formada por uma longa cadeia
hidrocarbonada, hidrofóbica e pouco reativa quimicamen- Os ácidos nucleicos são macromoléculas de grande
te. Em geral, os ácidos graxos encontrados nos organis- importância biológica em todos os organismos vivos. A
mos vivos contêm um número par de átomos de carbono, partir dos ácidos nucleicos as células recebem as infor-
e sua cadeia de hidrocarboneto não é ramificada. Os ácidos mações sobre quais proteínas sintetizar, qual a sequência
graxos são classificados em saturados, insaturados ou po- de aminoácidos de sua estrutura e qual a função dessas
li-insaturados, dependendo das ligações entre os átomos moléculas. Eles são, portanto, as moléculas que estocam
de carbono. Nos ácidos graxos saturados, a cadeia contém e transmitem a informação genética na célula. Toda essa
apenas ligações simples, se existirem ligações duplas, os informação fica em unidades gênicas, localizadas nos
ácidos graxos são insaturados. Os ácidos graxos com mais cromossomos das células. Tal informação é decifrada por
do que uma ligação dupla são chamados de poli-insatu- meio do código genético, cuja tradução resulta na síntese
rados. Dois ácidos graxos poli-insaturados, classificados
proteica.
como essenciais, são o ácido linoleico, com 18 carbonos e
Existem dois tipos de ácidos nucleicos: ácido deso-
duas ligações duplas, e o linolênico, também com 18 car-
xirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). Ambos
bonos, porém com três ligações duplas.
são polímeros lineares de nucleotídeos, unidos por liga-
ções fosfodiéster. O número de monômeros em uma mo-
Fosfoacilgliceróis
lécula de ácido nucleico é, na maioria dos casos, muito
maior que o número de aminoácidos em uma proteína.
Os fosfoacilgliceróis, ou fosfolipídeos, são pequenas
Os RNAs variam em tamanho, podendo ter de dez a mi-
moléculas lipídicas, compostas por longas cadeias de áci-
do graxo e glicerol, ligadas a um grupo altamente polar. lhares de nucleotídeos. Tanto o DNA como o RNA consis-
Eles diferem dos triacilgliceróis por possuírem apenas duas tem em apenas quatro diferentes tipos de nucleotídeos.
moléculas de ácidos graxos unidas a uma molécula de gli-
cerol, cuja terceira hidroxila está esterificada a um ácido Ácido desoxirribonucleico
fosfórico (ácido fosfatídico). Esse fosfato pode estar unido
a uma molécula hidrofílica (colina, etanolamina, inositol ou O ácido desoxirribonucleico (DNA) encontra-se nos
serina), conforme o tipo de fosfoacil. A natureza anfipática organismos vivos como moléculas, de alto peso mole-
dos fosfoacigliceróis é responsável pelas associações mole- cular, por exemplo, E. coli que tem uma só molécula de
culares, que formam a membrana celular e conferem mui- DNA circular de 4,2 x 106 pb (pares de bases) e um com-
tas das suas propriedades. As membranas são basicamente primento total de 1,4 mm. A quantidade de DNA nos or-
duas camadas de fosfoacilgliceróis dispostas de forma que ganismos superiores pode ser centenas de vezes maior
as regiões hidrofóbicas ficam voltadas para o interior e as (700 vezes no caso do homem); o DNA de uma só célula
regiões hidrofílicas situadas nas interfaces aquosas. Esse diploide humana, completamente estendido, pode ter
arranjo em bicamada é a unidade estrutural de quase todas um comprimento de 1,7 m. Toda a informação genética
as membranas biológicas. O núcleo hidrofóbico da estrutu- de um organismo está acumulada na sequência linear das
ra atua como uma barreira de impermeabilidade. quatro bases. A estrutura primária de todas as proteínas
(quantidade e sequência dos 20 aminoácidos) deve estar
Esteroides codificada por um alfabeto de quatro letras (A, T, G e C).
Entre 1949 e 1953, Chargaff, estudando a composição de
Os esteroides são um grande grupo de moléculas, que bases do DNA, demonstrou que embora a composição
agregam várias funções, e incluem um considerável nú- variasse de uma espécie para outra, em todos os casos
mero de hormônios, entre eles os hormônios sexuais de a quantidade de adenina era igual à de timina (AT), e a
animais superiores. O colesterol é o esteroide de maior de citosina era igual à de guanina (CG). Assim, o número
importância, fazendo parte de membranas de células, prin- total de purinas era igual ao de pirimidinas (A+G C+T).
cipalmente de animais . Os esteroides derivam de uma es- Por outro lado, a relação AT/GC variava, de forma consi-
trutura geral que contém 3 anéis de 6 carbonos (anéis A, B derável, entre as espécies.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Ácido ribonucleico

O ácido ribonucleico (RNA) é uma molécula de ácido nucleico formada, em geral, por uma única cadeia com grande
diversidade de conformações. A sequência de bases (estrutura primária) é similar à do DNA, exceto pela substituição da deso-
xirribose por ribose e de timina por uracila. Existem três classes principais de ácido ribonucleico: RNA mensageiro (mRNA), que
contém a informação genética para a sequência de aminoácidos; RNA transportador (tRNA), que identifica e transporta as molé-
culas de aminoácidos até o ribossomo; e RNA ribossô- mico (rRNA), que representa 50% da massa dos ribossomos. O ribossomo
proporciona as condições moleculares para a síntese dos polipeptídeos. Todos os tipos de RNAs intervêm na síntese proteica.
Apesar da grande diversidade existente entre os organismos, todos são constituídos por pequenas unidades morfológicas, denomi-
nadas células, separadas do meio externo por uma membrana citoplasmática. Os organismos podem ser classificados em dois grandes
grupos, conforme a sua organização celular. Os organismos eucarióticos possuem um núcleo delimitado por uma membrana que envolve
o material genético e a compartimentalização de várias de suas funções em organelas. Os organismos procarióticos são estruturalmente
mais simples, em geral, unicelulares e o seu cromossomo está condensado no nucleoide, porém, sem estar envolvido por uma membrana.
A vida celular depende de milhares de interações químicas realizadas por moléculas que são comuns a todo tipo celu-
lar. A água é o componente encontrado em maior quantidade na célula e serve como solvente natural para que as reações
químicas celulares aconteçam. Além da água, a célula é constituída de pequenas moléculas e de biopolímeros formados
por muitas cópias de uma pequena molécula, ligada em cadeias por ligações covalentes. Os três tipos de biopolímeros
presentes nas células são: os ácidos nucleicos formados pelos nucleotídeos unidos por uma ligação fosfodiéster; as pro-
teínas constituídas pelos aminoácidos ligados através da ligação peptídica; e os carboidratos ou polissacarídeos cujos
monômeros são os açúcares ligados por ligação glicosídica. As células ainda possuem uma grande quantidade de lipídeos
que são, preferencialmente, moléculas pequenas, como os ácidos graxos, apresentando como característica principal serem
praticamente insolúveis em água. A estrutura geral de um lipídeo é de uma molécula anfipática com uma cauda apolar e
uma cabeça polar. Esse tipo de estrutura é responsável pelas interações não covalentes realizadas pelos fosfolipídeos para
formarem a dupla camada que origina as membranas celulares. As proteínas são sintetizadas no organismo conforme a
informação contida nos genes que constituem o genoma. O gene corresponde a um segmento de ácido desoxirribonu-
cleico (DNA), que é transcrito em diferentes tipos de ácidos ribonucleicos (RNAs) para a tradução da molécula de proteína.
A estrutura tridimensional da proteína é determinada pela sequência de aminoácidos presente na molécula. Aminoácidos com cadeias
laterais hidrofóbicas tendem a agregar-se no interior da proteína, evitando o ambiente aquoso. A preservação da conformação nativa de uma
proteína é dependente das condições do meio, como pH e temperatura, em que a proteína se encontra. Texto adaptado de ROSSETTI. M. L. R.

ORGANELAS;

Organelas são estruturas presentes nas células, comuns a muitos tipos delas. Isto é, são compartimentos celulares li-
mitados por membranas. Essas organelas desenvolvem funções distintas, que, no total, produzem as características de vida
associada com a célula. Na célula animal eucariótica existem três componentes básicos: membrana, citoplasma e núcleo.
MEMBRANA PLASMÁTICA- A membrana plasmática pode ser conhecida como plasmalema, membrana celular ou membrana cito-
plasmática. Entre todos os modelos propostos quanto à composição e a da estrutura da membrana, o mais aceito atualmente é o pro-
posto pelos cientistas Singer e Nicolson em 1972, simulada através de um mosaico fluido, como pode ser observado na imagem a seguir.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Todas as membranas plasmáticas celulares são cons- duas membranas fosfolipídicas, uma externa semelhante á
tituídas predominantemente por fosfolipídeos e proteínas membrana plasmática, e outra interna, com várias ondu-
em proporções diferentes e uma pequena quantidade de lações, conhecidas como invaginações internas. A região
açúcares, na forma de oligossacarídeos. limitada pela membrana interna é conhecida como matriz
Além disso, na grande maioria das células animais, a mitocondrial, onde existem proteínas, ribossomos e DNA
membrana plasmática apresenta uma camada rica em gli- mitocondrial.
cídios: o glicocálix ou glicocálice, que tem a função de re-
conhecimento químico da célula para seu exterior e tem
também função protetora, impedindo que alguns tipos de
vírus ou bactérias se anexem à célula.
A membrana celular é responsável pela recepção de
nutrientes e sinais químicos do meio extracelular. Para o
funcionamento normal e regulação das células, deve haver
a seleção das substâncias que entram e o impedimento da
entrada de partículas indesejáveis, ou ainda, a eliminação
das que se encontram no citoplasma. Essa é a chamada
permeabilidade seletiva, uma das funções mais importan-
tes da membrana. Outra função é o transporte, que ocorre
através dela, podendo ser dividido em ativo, quando há
gasto energético, e passivo, quando não há gasto energé-
tico.
NÚCLEO-O núcleo é o responsável pelo controle de
todas as funções celulares. A maior parte das células de
nosso corpo possui um único núcleo. Contudo, há células
que não possuem nenhum (glóbulos vermelhos maduros
nos seres humanos) e outras que possuem vários, como,
por exemplo, as células musculares esqueléticas. O núcleo
pode ser central, paracentral ou excêntrico.
No caso das células Eucariontes, o núcleo encontra-se RETICULO ENDOPLASMÁTICO- O retículo endoplas-
separado pela carioteca, que, além de ter a função de sepa- mático é uma organela exclusiva de células eucariontes.
rar o núcleo do citoplasma, comunica-se com o citoplasma Formado a partir da invaginação da membrana plasmática,
através dos poros nucleares. Estes poros são os responsá- é constituído por uma rede de túbulos e vesículas achata-
veis pelo controle da troca de substâncias entre o núcleo das, localizado próximo ao núcleo. Está envolvido na sín-
e o citoplasma. Dentro do núcleo, encontram-se corpos tese de proteínas e lipídios, na desintoxicação celular e no
em formatos esféricos denominados nucléolos, compostos transporte intracelular. É divido em dois: rugoso e liso. Os
protéicos, DNA e RNA e os genes nucleares, que possuem tipos de retículos endoplasmáticos são:
informações através de um código genético. Retículo Endoplasmático Rugoso- Conhecido também
De forma geral podemos dizer que o núcleo possui como retículo endoplasmático granuloso, é formado por
duas funções básicas: regular as reações químicas que sistemas de vesículas achatadas com ribossomos aderidos
ocorrem dentro da célula e armazenar suas informações à membrana. Devido aos ribossomos, participa da síntese
genéticas. de proteínas, que serão enviadas para o exterior das célu-
RIBOSSOMOS- São organelas membranosas. São res- las. Esse tipo de retículo é muito desenvolvido em células
ponsáveis pela síntese de proteínas através do RNA men- com função secretora. Possui também a função de trans-
sageiro que vem do núcleo. É composto por uma subuni- porte de substâncias.
dade maior, uma subunidade menor, fator liberação, RNA Retículo Endoplásmatico Liso- Conhecido também
mensageiro e RNA transportador. Existem ribossomos que chamado retículo endoplasmático agranular, é formado
estão isolados no citoplasma, outros estão inseridos no re- por sistemas de túbulos cilíndricos e sem ribossomos ade-
tículo endoplasmático rugoso. Os primeiros são a sede de ridos à membrana. Participam principalmente da síntese
produção proteínas que vão ser utilizadas no citosol, nos de esteróides, fosfolipídios e outros lipídios. Uma de suas
segundos as proteínas serão expelidas no próprio retículo, principais funções, é a desintoxicação do organismo huma-
logo após são utilizadas em demais compartimentos da cé- no, atuando na degradação do álcool ingerido em bebidas
lula ou levadas para o exterior da célula. alcoólicas, assim como a degradação de medicamentos
MITOCÔNDRIAS- As mitocôndrias são as principais ingeridos pelo organismo como antibióticos e substâncias
organelas celulares. Presentes nas células eucariontes, elas anestésicas. Esse tipo de retículo é abundante principal-
são responsáveis pela produção de energia no interior da mente em células do fígado, das gônadas e pâncreas.
célula. São bastante numerosas, principalmente em célu-
las onde se precisa de muita energia (por exemplo, célu-
las nervosas e do coração, que tem atividade contínua).
Está presente no citoplasma da célula. São formadas por

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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IMAGEM : retículo endoplasmático rugoso, retículo endoplasmático liso

COMPLEXO DE GOLGI- Situa-se próximo do núcleo celular e é formado por sáculos achatados e vesículas.As células
sintetizam um grande número de diferentes macromoléculas. O complexo de Golgi é parte integrante na modificação,
classificação e empacotamento dessas macromoléculas para que possam ser devidamente secretadas, num processo co-
nhecido como exocitose, ou então para que sejam usada dentro da célula. Ele modifica principalmente proteínas vindas
do retículo endoplasmático rugoso, mas também está envolvido no transporte de lipídios pela célula e na formação de
lisossomos. Dessa forma, o complexo de Golgi pode ser comparado a uma central de correios, na qual os “pacotes” são
enviados a diferentes destinos no interior da célula. Sua face convexa recebe as informações do retículo endoplasmático e
a vesícula direciona as informações.

LISOSSOMOS- São bolsas membranosas que contêm enzimas capazes de digerir substâncias orgânicas. Com origem
no aparelho de Golgi, os lisossomos estão presentes em praticamente todas as células eucariontes. Os lisossomos são or-
ganelas responsáveis pela digestão intracelular. As bolsas formadas na fagocitose e na pinocitose, que contêm partículas
capturadas no meio externo, fundem-se aos lisossomos, dando origem a bolsas maiores, onde a digestão ocorrerá. Outra
função dos lisossomos é reciclar outras organelas celulares estão envelhecidas, processo conhecido como autofagia.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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PEROXISSOMOS- São bolsas membranosas que contêm alguns tipos de enzimas digestivas. Os peroxissomos diferem
dos lisossomos principalmente quanto ao tipo de enzimas que possuem. Além de conterem enzimas que degradam gor-
duras e aminoácidos, têm também grandes quantidades da enzima catalase

CENTRÍOLOS- São organelas não envolvidas por membrana e que participam do progresso de divisão celular. São for-
mados por um total de nove trios de microtúbulos protéicos, que se organizam em cilindro.

CÍLIOS E FLAGELOS- São estruturas móveis, encontradas externamente em células de diversos seres vivos. Os cílios são curtos e
podem ser relacionados à locomoção e a remoção de impurezas. Em alguns protozoários, por exemplo, o paramécio, os cílios são uti-
lizados para a locomoção. Já os flagelos são longos e também se relacionam a locomoção de certas células, como o espermatozóide.
CITOESQUELETO- É o conjunto de filamentos e finíssimos túbulos de proteínas presentes no citossol das células, res-
ponsáveis pela sustentação e forma, permitindo o seu movimento e transporte de substâncias. Entre suas funções, também
destacamos a participação na organização dos centríolos, cílios e flagelos; orientação e deslocamento dos cromossomos,
formando as fibras do fuso e do áster durante o processo de divisão celular (mitose e meiose) e a execução de contrações
musculares pelo deslizamento dos filamentos de miosina sobre os de actina, entre outras.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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CLOROPLASTO- É uma organela presente nas células das plantas e outros organismos fotossintetizadores, como as
algas e alguns protistas. Possui clorofila, pigmento responsável pela sua cor verde. É um dos três tipos de plastos pigmen-
tados, ou cromoplastos (organelas citoplasmática cujo formato varia de acordo com o tipo de organismo e célula em que
se encontra), sendo os outros dois os cromoplastos e os leucoplastos.Os cloroplastos possuem nas suas delimitações duas
membranas liproprotéicas. A membrana externa é lisa, enquanto a interna é composta por várias dobras voltadas para o
interior do cloroplasto, formando os tilacóides e as lamelas. Na membrana interna dos cloroplastos estão os fotossistemas
com várias moléculas de clorofila disposta de maneira a formar uma espécie de antena, que capta a luz. Os fotossistemas
possuem outras substâncias além da clorofila que também participam da fotossíntese.
PAREDE CELULAR BEGETAL- A parede celular das plantas verdes é formada essencialmente por microfibrilas de celulo-
se. As primeiras camadas formam a parede primária, que mantém a sua elasticidade permitindo que a célula possa crescer.
Novas camadas de celulose depositadas dentro da parede primária geram espessamento da parede, inclusive com impreg-
nação de lignina. Após a formação destas, algumas plantas podem formar a parede secundária- com a qual as células não
podem mais crescer pois há maior rigidez nessa parede.
Células vizinhas comunicam entre si através de poros na parede celular, chamados pontuações, as quais são atraves-
sadas por filamentos citoplasmáticos chamados plasmodesmos, que estabelecem condução entre o protoplasma dessas
células adjacentes. Estas ligações explicam como as infecções ou outras doenças se espalham rapidamente por todos os
tecidos das plantas. Para além das ligações, existe ainda uma camada gelatinosa entre as paredes celulares das células
vizinhas que as mantém ligadas. Esta camada, chamada lamela média é formada por fibras de celulose entrelaçadas por
moléculas de pectinas e hemiceluloses. A parede celular das plantas verdes é normalmente permeável aos fluidos, exceto
quando impregnada com lignina ou suberina, nas plantas com crescimento secundário.

VACÚOLO CITOPLASMÁTICO - Os vacúolos (do latim”vaccuus” - vácuo) são estruturas celulares, muito abundantes nas
células vegetais, contidas no citoplasma da célula. De forma mais ou menos esféricas ou ovalado, geradas pela própria
célula ao criar uma membrana fechada que isola um certo volume celular do resto do citoplasma. Seu conteúdo é fluido,
e armazenam produtos de nutrição ou de excreção, podendo conter enzimas lisossômicas ou até mesmo pigmentos, caso
em que tomam o nome de vacúolos de suco celular. Os vacúolos de suco celular são delimitados pelo tonoplasto, mem-
brana lipoproteica, e são exclusivos das células de plantas e de certas algas. Nas células jovens de plantas são numerosos
e pequenos, e á medida que a célula cresce eles se fundem em um único, grande e bem-desenvolvido vacúolo. No interior
do vacúolo há uma solução aquosa de várias substancias, destacando-se sais, carboidratos e proteínas. Os vacúolos de suco
celular são importantes nos fenômenos osmóticos, e por poderem conter também pigmentos, como as antocianinas, são
os principais responsáveis pela coloração azul, violeta, vermelha e púrpura das flores e folhas.
Nas células animais os vacúolos são raros e não têm nenhum nome específico com exceção das células do tecido adi-
poso (os adipócitos) possuem vacúolos repletos de gordura, que servem como reserva energética.

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Texto adaptado de SILVA. C. P.

ORGANIZAÇÃO CELULAR: SERES PROCARIONTES, EUCARIONTES E SEM


ORGANIZAÇÃO CELULAR.

Apesar da diversidade entre os seres vivos, todos guardam muitas semelhanças, pois apresentam material genético
(DNA) em que são encontradas todas as informações que controlam a arquitetura e o funcionamento dos seres vivos. O
DNA é encontrado no interior da unidade dos seres vivos, conhecida como célula; com exceção dos vírus, todos os seres
vivos são formados por células. No interior das células, ocorrem todas as reações químicas dos seres vivos. As células orga-
nizadas formam os tecidos, que se reúnem para formar o s órgãos. A reunião de vários órgãos que funcionam em conjunto
constitui um sistema ou aparelho. Os vários sistemas ou aparelhos - como o circulatório, o respiratório, o esquelético, etc.
- constituem o organismo. São organismos: um pé de alface, uma laranjeira, um lobo ou uma ameba. No caso da ameba,
que é unicelular, não encontraremos todos os níveis de organização, visto que, não existem tecidos, órgãos ou sistemas. Os
seres vivos celulares têm o corpo formado por um ou mais tipos de células, conforme as figuras abaixo:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Vocês já pararam para pensar: “quais as diferenças entre uma célula bacteriana e uma célula animal?” O estudo das
células permitiu conhecermos dois padrões celulares fundamentais: a célula procariótica e a célula eucariótica.
Os seres vivos que possuem células procarióticas são chamados procariontes. Estas células mais simples são encon-
tradas em bactérias e cianobactérias. A maioria dos seres vivos, desde uma ameba (protozoário) até os vegetais e animais,
possuem células eucarióticas e são chamados eucariontes. Observe a tabela abaixo:

As células são classificadas em procariontes e eucariontes (do grego pro, primeiro; eu, verdadeiro, e karyon, noz, nú-
cleo). Os procariontes surgiram muito antes dos eucariontes. Há datação de fósseis de procariontes de três bilhões de anos.
Os eucariontes apareceram provavelmente há um bilhão de anos.
Os procariontes são as células que não possuem envoltório nuclear delimitando o material genético. Não possuem
também organelas membranosas e citoesqueleto, de modo que não ocorre o transporte de vesículas envolvidas na entrada
(endocitose) e na saída (exocitose) de substâncias. É o caso das bactérias e das algas azuis

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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As células procarióticas apresentam:


Parede celular – envoltório protetor
Membrana Plasmática – envoltório protetor
Nucleóide – formado por DNA, onde encontramos as informações genéticas da célula.
Citoplasma – composto por material gelatinoso, no qual encontramos os ribossomos , os únicos organóides da célula.
Ribossomos – realizam a síntese das proteínas das células.
A principal característica da célula procariótica é a ausência de um núcleo organizado.

Célula Eucariótica

As células eucariontes possuem envoltório nuclear, formando um núcleo verdadeiro, o que citoplasma dos eucariontes,
diferente daquele dos procariontes, é subdividido em compartimentos, aumentando a eficiência metabólica, o que permite
que atinjam maior tamanho sem prejuízo das suas funções. Essas células são encontradas nos protozoários, fungos, plantas
e animais protege o DNA do movimento do citoesqueleto.

As células eucarióticas apresentam: membrana plasmática, citoplasma e núcleo.

A membrana plasmática é um envoltório protetor da célula, apresenta uma propriedade importante que é a permeabi-
lidade seletiva: controla a entrada e saída das substâncias. No citoplasma, encontramos vários organóides: as mitocôndrias
responsáveis pela produção de energia, os ribossomos que sintetizam as proteínas das células, os lisossomos que realizam
a digestão intracelular, o complexo de Golgi que armazena e secreta substâncias, o retículo endoplasmático que transporta
e sintetiza substâncias, e outras estruturas que estudaremos posteriormente. O núcleo é organizado devido à presença
de um envoltório nuclear que envolve o material genético da célula, o DNA. Encontramos também no núcleo, o nucléolo,
corpúsculo onde ocorre a montagem dos ribossomos e o suco nuclear ou carioplasma

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Quadro comparativo entre procariontes e eucariontes:

Seres acelulares

Os vírus não apresentam estrutura celular verdadeira, são considerados parasitas obrigatórios, isto é, somente se re-
produzem e são ativos quando estão no interior de outras células vivas. Os vírus são constituídos por uma cápsula de
proteína chamada capsídeo, que envolve um filamento de ácido nucléico, denominado DNA ou RNA. Observe a estrutura
viral abaixo:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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As diferenças entre uma célula bacteriana e uma célula animal são:

Texto adaptado de MONTANARI. T.

FUNÇÕES CELULARES: SÍNTESE, TRANSPORTE, ELIMINAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS


E PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE ENERGIA (FERMENTAÇÃO, FOTOSSÍNTESE E
RESPIRAÇÃO CELULAR).

As células desempenham diversas funções no organismo e a depender do tecido que ela faz parte, essa função é mais
especializada. Por exemplo, a hemácia que é uma célula sanguínea tem a função de levar o oxigênio para as demais células
do organismo e receber o gás carbônico para expelí-lo ao nível dos pulmões. Os linfócitos que são células de defesa do
corpo, produzem anticorpos, os neurônios que são células nervosas conduzem o estímulo nervoso. As células musculares
efetuam a contração da fibra muscular e a descontração. As células renais fazem a filtração do sangue e formam a urina
para ser expelida pelo corpo. Os macrófagos efetuam uma limpeza no corpo fagocitando partículas ou organismos estra-
nhos ao corpo.As células absortivas do intestino, absorvem nutrientes, as células do pâncreas produzem enzimas digestivas
que vão auxiliar na digestão dos alimentos lá no intestino, outras células do pâncreas produzem a insulina e o glucagon que
são hormônios que regulam a quantidade de glicose no sangue. É uma variedade de funções e cada célula, fazem a respi-
ração celular para armazenar energia para o corpo, sintetizam proteínas sob o comando do DNA, renovam suas membranas
celulares, suas organelas, preservam seu material genético e uma série de funções que levaríamos dias para falar tudo.
A membrana celular é uma estrutura semipermeável, ou seja, com permeabilidade seletiva. Essa característica permite
que a célula troque substâncias com o meio extracelular, tais como como glicose, aminoácidos, oxigênio, gás carbônico,
amônia, sais minerais e água, por exemplo.
Essa troca de substâncias é de fundamental importância para a célula, tendo em vista que ela absorve, produz, consome
e elimina inúmeras substâncias metabólicas.
O transporte que ocorre através da membrana pode ocorrer de duas formas: transporte passivo e transporte ativo.

O Transporte Passivo

- Esse tipo de transporte ocorre sem gasto de energia (ATp). As moléculas são deslocadas sempre à favor do seu gra-
diente de concentração. Tipos: difusão simples, difusão facilitada, osmose.
- Difusão simples – É a passagem de moléculas de soluto pequenas (oxigênio, gás carbônico, íons) do meio mais con-
centrado (hipertônico) para o meio menos concentrado (hipotônico).
Caso seja estabelecido a igualdade entre as concentrações, ocorre o equilíbrio dinâmico entre os dois meios, ou seja,
para cada molécula que entra, outra sai. Exemplo: esse processo ocorre durante a hematose nos alvéolos pulmonares, onde
o oxigênio entra no sangue e o gás carbônico sai do sangue para o pulmão.
 Difusão facilitada – É a passagem de moléculas de soluto grandes (glicose, sais) do meio hipertônico para o meio hipo-
tônico. Porém ocorre a participação de uma proteína presente na membrana chamada “permease”. A permease tem função
de enzima pois acelera o processo de passagem de solutos grandes.
A Difusão Facilitada é um processo que não envolve gasto de energia. Exemplo: absorção da glicose pelas células do
intestino delgado.
Osmose –  É o deslocamento do solvente (água) do meio hipotônico para o meio hipertônico. Quando dois meios
possuem a mesma concentração dizem que são isotônicos. Exemplo: Quando colocamos hemácias em meio hipertônico, a
célula perde água ficando murcha (plasmolisada).
Quando a hemácia é colocada em um meio hipotônico, a célula recebe água ficando inchada (túrgida). Caso continue
entrando água, ocorre o rompimento da mesma chamado hemólise.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Quando esse experimento é feito com célula vegetal normal , no meio hipertônico, a membrana plasmática solta-se da
parede celular pela perda de água, sofrendo plasmólise. Num meio hipertônico, a célula recebe água tornando-se túrgida.
A presença da parede celular garante que a célula não se rompa.

O Transporte Ativo nas Células 

O Transporte Ativo ocorre com o gasto de energia (ATp). As molécula são forçadas a movimentarem-se contra seus
gradientes de concentrações. Exemplo: bomba de sódio (Na+) e potássio (K+).

Bomba de sódio (Na+) e potássio (K+)

A célula deve apresentar uma concentração de sódio (Na+) baixa dentro da célula, e alta fora. E a concentração do
potássio (K+) é alta dentro da célula ,e baixa fora.
Naturalmente, por difusão, o sódio (Na+) entra na célula, enquanto o potássio (K+) sai da célula.
Para manter a diferença de concentração, a célula força a entrada do potássio (K+) e a saída do sódio (Na+). Como
esses íons são forçados a ir do meio hipotônico para o hipertônico, ocorre gasto de energia.
A proporção: saem 3 moléculas de sódio, entram 2 de potássio.

Essa diferença de concentração de sódio e potássio entre os meios intra e extracelular, permitem que a membrana
fique polarizada.
Ex: a polarização da membrana é utilizada pelos neurônios para conduzir o impulso nervoso, para controlar as ativi-
dades do corpo. A condução do impulso nervoso ocorre por um processo de despolarização de membrana. Em seguida a
membrana é repolarizada com a bomba de sódio e potássio.

Transporte em bloco

É o transporte de substâncias gigantes, e não é possível passar pelas estruturas da membrana. Então ocorre um proces-
so de deformação da membrana para que essas substâncias sejam incorporadas ou eliminadas pelas célula.
Esse processo consome energia, uma vez que envolve a produção de mais membrana plasmática e movimentos do
citoesqueleto. ipos: endocitose e exocitose.
 Endocitose – É o englobamento de partículas para dentro da célula. Essas partículas serão digeridas pela células. Pode
ser de duas formas:
 1) Fagocitose: – englobamento de partículas sólidas; No interior da célula as partículas ficam envolvidas numa bolsa
dita fagossomo.
Ex: Esse processo pode ocorrer em protozoários com função de nutrição, como nas amebas, onde ocorre a formação
de pseudópodos para a captura do alimento.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

As células de defesa do corpo, leucócitos, fazem fagocitose afim de englobar corpos estranhos como bactérias, proto-
zoários, vírus, digerindo-os em seguida.
2) Pinocitose – englobamento de partículas líquidas ou dissolvidas em líquidos.  Após o englobamento, ocorre a for-
mação de uma vesícula com o conteúdo incorporado, chamado pinossomo.
Exocitose (clasmocitose) – É a eliminação de substâncias pela célula. Essas substâncias podem ser resultado da digestão
de partículas endocitadas, ou, substâncias produzidas pela própria célula (secreção) que serão expelidas.
Exemplo: Após a digestão de um composto fagocitado, a ameba absorve substâncias úteis, e descarta substâncias tó-
xicas ou inúteis. Esse descarte é realizado por clasmocitose.
As células das glândulas sebáceas liberam sebo (lipídeo) por clasmocitose, de modo que atingem a superfície da pele.
Esse sebo na pele confere impermeabilização e elasticidade à pele.
 

Veja na imagem acima que ocorre também exocitose quando os neurônios comunica-se entre si na sinapse nervosa.
Ocorre a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica por exocitose. Texto adaptado de SIVA. M. T.

CICLO CELULAR.

No ciclo celular é possível distinguir duas etapas, a interfase (subdivida em G1, S e G2) e o período de divisão celular
(mitose ou meiose).

A Interfase

É a fase em que a célula não está se dividindo, mas, está em intensa atividade se preparando para o processo de divi-
são celular. A interfase abrange três períodos: G1, S, e G2. (G significa intervalo gap - do inglês) e S corresponde a síntese.

Na fase G1

Nesta fase não ocorre a duplicação (síntese) do DNA. É produzido moléculas de RNA que vão para o citoplasma, onde
promoverão a síntese de proteínas. A célula cresce em volume e torna-se grande, com o dobro das proteínas iniciais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Na fase S

Ocorre a autoduplicação do DNA dobrando a quantidade de DNA no interior do núcleo. Depois disso, a célula está
pronta para dividir em duas novas células, que serão idênticas.

Na fase G2

Nesta fase, terminada a síntese de DNA, reinicia a produção de RNA, formando mais proteínas com um novo período
de crescimento celular. A célula entra em uma situação de desequilíbrio entre superfície e volume que obriga a célula a
iniciar o processo de divisão. Para iniciar o processo de divisão, a cromatina precisa iniciar a condensação, fato que ocorrerá
na primeira fase da divisão celular chamada de prófase, formando os cromossomos.

Os Cromossomos

Os cromossomos só se tornam visíveis e bem individualizados, durante a fases intermediárias da divisão celular. Cada
cromossomo é formado por uma única e longa molécula de DNA associadas a várias proteínas chamadas de histonas.

Classificação dos cromossomos

Quando uma célula vai entrar em divisão, os cromossomos são duplicados na interfase, na fase chamada de S. Os cro-
mossomos duplicados permanecem juntos formando cada um uma cromátide.
A espiralização de cada uma das cromátides em torno de si mesma forma uma constrição primária, que liga as duas
cromátides irmãs. Essa constrição é chamada de Centrômero.
De acordo com a posição do centrômero os cromossomos são classificados em:
Metacêntrico – Centrômero localizado na região mediana do cromossomo
Submetacêntrico – Centrômero localizado entre a posição mediana e uma das extremidades – formando braços desi-
guais.
Acrocêntrico – Centrômero localizado bem próximo de uma das extremidades
Telocêntrico – Centrômero localizado na extremidade do braço.
De acordo com o número de conjuntos cromossômicos que uma célula apresenta, ela podem ser classificadas em:
Haplóides (n) – apresentam apenas um conjunto cromossômico completo. Ex. óvulos e espermatozoides.
Diplóides (2n) – apresentam dois conjuntos cromossômicos completos. Ex. Todas as células do corpo, exceto as células
gaméticas.
Nas células diplóides cada cromossomo está presente em duplicata e formam os pares de cromossomos homólogos
(Exemplo: dois cromossomos 01 ... dois cromossomos 22 ).
Em células haplóides há apenas uma cópia de cada um dos cromossomos. O conjunto haplóide dos cromossomos de
uma espécie é denominado genoma.
O conjunto de dados sobre número, tamanho, forma e característica dos cromossomos de uma espécie é chamado
cariótipo e é variável nas diferentes espécies. Exemplos:
Homem 46
Cavalo 64
Drosófila 8;
Boi 60
Arroz 12
Jibóia 36
Cachorro 78
Feijão 22
Sapo 22
Milho 20

A divisão celular – Segunda fase do ciclo de vida de uma célula. é um fenômeno pelo qual uma célula se divide em
duas novas células.

Divisão Celular: Mitose e Meiose

É o processo pelo qual uma célula se divide em duas outras novas células. A grande maioria das células conhecidas se
reproduzem por mitose. Antes da célula se dividir primeiro ela duplica a cromatina, fase S da interfase, duplica a quantidade
de RNAs e proteínas, nas fases G1 e G2, o mesmo acontece com os centríolos e as demais organelas celulares. Logo após
a fase G2, a célula está apta a iniciar o processo de divisão propriamente dita.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Mitose

Diferentes Fases da Mitose

A mitose é um processo importante no crescimento dos organismos multicelulares e nos processos de regeneração de
tecidos do corpo. Nos unicelulares, é um tipo de divisão que ocorre quando há reprodução assexuada.
Uma célula dividindo-se por mitose dará origem a duas outras células, com o mesmo número de cromossomos da cé-
lula inicial em um processo contínuo, mais para entendimento foi subdividida em quatro principais fases: prófase, metáfase,
anáfase e telófase.

Prófase – fase inicial

Centríolos já duplicados afastam-se para os pólos, formam se as fibras do áster e as fibras do fuso mitótico; O nucléolo
se desintegra e o RNAr é distribuído pela célula; A membrana do núcleo se desorganiza; Os cromossomos já espiralizados
se prendem as fibras do fuso pelo centrômero.

Metáfase – fase meio

Os cromossomos dispõem-se na placa equatorial. Ao final da metáfase as cromátides de separam por encurtamento
das fibras do fuso.

Anáfase – fase deslocamento

Os cromossomos são arrastados pelas fibras do fuso em direção aos pólos.

Telófase - fase fim

Os cromossomos se desespiralizam. Refaz-se a membrana nuclear a partir do retículo endoplasmático; Novos nucléolos
são produzidos por uma região cromossômica chamada de organizador dos nucléolos. Ocorre então a cariocinese (divisão
do núcleo) e citocinese (divisão do citoplasma) com a separação das duas células filhas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Meiose d) Diplóteno,
e) Diacinese.
Leptóteno

Os cromossomos tornam-se visíveis como delgados


fios, mas ainda formam um denso emaranhado. Nesta fase
inicial, as duas cromátides-irmãs de cada cromossomo es-
tão alinhadas tão intimamente que não são distinguíveis.

Zigóteno

Os cromossomos homólogos começam a combinar-se


estreitamente ao longo de toda a sua extensão. O proces-
so de pareamento também chamado de sinapse é muito
preciso.

Paquíteno

Os cromossomos tornam-se bem mais espiralizados; O


pareamento é completo e Cada par de homólogos aparece
Divisão Celular- Meiose como um bivalente (às vezes denominada tétrade porque
contém quatro cromátides). Neste estágio ocorre o crossin-
g-over, ou seja, a troca de segmentos homólogos entre cro-
A meiose é um tipo de divisão celular em que uma cé- mátides não irmãs de um par de cromossomos homólogos.
lula dá origem a quatro novas células (produto da meiose)
Diplóteno
com metade do número de cromossomos da célula inicial
(chamada de divisão reducional).
Ocorre o afastamento dos cromossomos homólogos
Uma célula que apresenta 2n = 46 cromossomos, ao
que constituem os bivalentes. Embora os cromossomos
sofrer meiose, dá origem a quatro células com n = 23 cro-
homólogos se separem, seus centrômeros permanecem
mossomos.
intactos, de modo que cada conjunto de cromátides-irmãs
A meiose é um processo importante para a variabi-
continua ligado inicialmente. Depois, os dois homólogos
lidade genética dos organismos, sendo o tipo de divisão de cada bivalente mantêm-se unidos apenas nos pontos
que ocorre no processo de formação de gametas nos in- denominados quiasmas (cruzes). O escorregamento dos
divíduos que apresentam reprodução sexuada. A meiose quiasmas, é responsável pelo término co Crossing-over.
é responsável pela diversificação do material genético nas
espécies. Diacinese
A reprodução sexuada permite a mistura de genes de
dois indivíduos diferentes da mesma espécie para produzir Neste estágio os cromossomos atingem a condensa-
descendentes que diferem entre si e de seus pais em uma ção máxima.
série de características.
A meiose ocorre em duas etapas, que se subdividem Metáfase I
em prófase I e II, metáfase I e II, anáfase I e II e telófase I e II.
Correspondendo respectivamente a Meiose I e a Meiose II. As cromátides permanecem presas por um conjunto
A fase que antecede a meiose é conhecida como inter- de fibras, denominado fuso acromático. Os cromossomos
fase e assim como na interfase da mitose tem as fases G1, homólogos pareados se dispõem no equador da célula.
S e G2, com as mesmas funções.
Anáfase I
Meiose I – Primeira divisão da meiose
Os grupos de quatro cromátides separam-se em gru-
Prófase I - Os cromossomos homólogos, ou seja, que pos de dois, sendo levados cada um deles aos pólos opos-
possuem a mesma forma e constituição, juntam-se for- tos da célula. Não há separação das cromátides irmãs.
mando pares. Cada par de cromossomos é composto de
quatro cromátides, ligadas por dois centrômeros. Nesse Telófase I
estágio existe uma recombinação do material genético,
denominado permuta ou crossing-over. Os cromossomos descondensam-se; Os pólos da cé-
A Prófase I ainda é subdivide em: lula reorganizam-se em dois novos núcleos. Logo depois a
a) Leptóteno, célula se divide em duas, dando fim à primeira fase. Há um
b) Zigóteno, curto intervalo chamado de intercinese e inicia-se a segun-
c) Paquíteno, da parte da meiose. Chamada de meiose II.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Meiose II croscópio é necessário para verificar e medir as estruturas


que são produzidas na superfície das lâminas e que cons-
Esta segunda fase da meiose é mais simples. tituem os dispositivos.
O olho humano tem poder de resolução de aproxima-
Prófase II damente 0,1 mm ou 100 µm. Isto significa que se você olhar
dois pontos separados por uma distância menor que 100
Os núcleos das duas células desaparecem e as cromá- µm, esses pontos aparecerão como um ponto único. Para
tides espalham-se pelo citoplasma. distinguir estruturas separadas uma das outras por menos
de 100 µm, há necessidade de instrumentos ópticos que
Metáfase II tenham poder de resolução aumentada. É importante sa-
lientar a diferença entre poder de resolução e poder de au-
O fuso acromático ocupa as regiões centrais, manten- mento. Se você ampliar várias vezes uma mesma fotografia
do presas às cromátides na região equatorial da célula. comum, a imagem aumenta, mas os pontos separados por
menos de 100 µm continuarão a aparecer como um pon-
Anáfase II to só, borrado. É possível, portanto, aumentar a amplia-
ção, sem contudo melhorar a resolução. Os microscópios
Ocorre a divisão do centrômero que une os pares de permitiram ao homem observar estruturas com ampliação
cromátides separando-as. Cada cromátide é levada uma maior e maior resolução.
para cada extremidade da célula. O limite de resolução dos microscópios ópticos, que
são aqueles que utilizam a luz para iluminar o objeto que
Telófase II está sendo analisado, é de cerca de 0,2 µm (ou 200 nm ou
2 000 Aº ); é melhor que o olho humano cerca de 500 ve-
Os cromossomos desespiralizam, os núcleos reorgani- zes. Não se consegue construir microscópios ópticos com
zam e o citoplasma, massa fluida dentro da célula na qual desempenho melhor que este, pois o fator limitante é o
o núcleo está mergulhado, divide-se, dando origem a duas comprimento de onda da luz.
novas células contendo a metade do numero de cromos- Com o advento do microscópio eletrônico, o poder de
resolução foi aumentado cerca de 1000 vezes em relação
somos da célula inicial. Texto adaptado de CHAVES. S. R.
ao microscópio óptico. Para isso, em vez de feixes de luz,
empregam-se feixes de elétrons para “iluminar” o objeto
a ser analisado. As áreas do material que permitem me-
NOÇÕES BÁSICAS DE MICROSCOPIA. lhor transmissão de elétrons (regiões transparentes aos
elétrons) aparecem como áreas claras; as áreas que absor-
vem ou defletem os elétrons (regiões densas aos elétrons)
aparecem como áreas escuras. Os microscópios eletrônicos
Depois deste, muitos outros modelos foram aperfei-
têm limite de resolução próximo de 2 Aº, cerca de 500 000
çoados para as mais variadas aplicações, que vão desde a vezes maior que o do olho humano.
biologia até, mais recentemente, a microeletrônica e a as- O microscópio é um dos instrumentos mais versáteis e
tronomia (em observação minuciosa de fotos tiradas com utilizados no laboratório de semicondutores.
telescópios potentes). O avanço da eletrônica e engenha- Para tamanhos característicos menores que submi-
ria em si, tem permitido hoje em dia que se produzam ins- crons seu uso se torna inviável.
trumentos ópticos de grande precisão e comodidade para A utilização do microscópio ótico não se restringe ape-
quem os utiliza. Vale citar como exemplo, um microscópio nas a análise de características dos circuitos integrados, é
que faz uso de uma tela de cristal líquido colorido de alta também usado para analisar partículas encontradas nos
resolução para visualização das amostras, e cujo sistema circuitos, e ainda frequentemente usado para olhar e medir
óptico fica restrito a uma espécie de caneta óptica ligada o tamanho, o tipo e a densidade de defeitos em circuitos
por um cabo óptico (fibra óptica) ao sistema de processa- semicondutores.
mento digital da imagem. A identificação e análise de partículas requer uma certa
As dimensões geométricas de estruturas implementa- prática e habilidade por parte do microscopista. A técnica
das por processos de microeletrônica estão diretamente é mais usada para partículas maiores de 1 micrômetro e
ligadas ao desempenho do circuito integrado. Assim, no as análises dependem da combinação entre o desconhe-
controle da fabricação de circuitos integrados e dispositi- cimentos dos dados e o que se sabe sobre as partículas.
vos microeletrônicos, é necessário verificar e medir a geo- O microscópio apresenta dois sistemas de lentes con-
metria das estruturas construídas na superfície dos wafers. vergentes; a objetiva e a ocular. A objetiva é um conjun-
Devido à alta integração, esse controle torna-se impossível to de lentes que apresenta pequena distância focal e que
de ser feito a olho nu ou mesmo com uma lupa simples. fornece uma imagem real e aumentada do objeto que é
Assim na verificação de produtos, o microscópio ajuda observado. A ocular, também formada por lentes conver-
à visão humana a inspecionar os padrões das lâminas de gentes, funciona como uma lupa, que nos dá uma imagem
semicondutores, na fabricação dos circuitos integrados e virtual e aumentada da imagem real que se formou em
dispositivos de microeletrônica de todos os tipos, o mi- pela objetiva.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

A objetiva e a ocular são dispostas nas extremidades minoso cercado de anéis claros, com intensidades decres-
de um cilindro oco, constituindo a coluna do microscópio centes (difração). Quando buscamos aumentos baixos, não
e que possui a capacidade de se aproximar ou afastar da observamos essa figura, mas é ela que determina o limite
amostra para que se tenha a focalização perfeita. Isto é de aumento para cada cor da luz de iluminação. Quanto
realizado por intermédio de uma cremalheira que se acha maior λ mais critica é a situação. Dai concluirmos que já
associada a uma roda dentada. atingimos o aumento máximo permitido pelo MO, pois
A potência do microscópio é resultado do produto da as aberrações (distorções) das lentes já foram suficiente-
ampliação linear da objetiva pela potência da ocular; seu mente bem corrigidas, mas o nosso olho infelizmente não
valor será elevado quando as distâncias focais da objetiva vê a luz com λ menor que o violeta. É então que entramos
e ocular forem pequenas. com um novo universo que o ME pôde proporcionar.
O poder separador, ou distância mínima distinguível No inicio do século XX, o físico francês Louis De Broglie (1892-
entre dois pontos é limitado pela difração da luz. Assim, se 1987) propôs que partículas quânticas, como o elétron, têm asso-
o feixe de luz incidente tive uma abertura angular grande ciadas a si ondas cujos comprimentos variam com o inverso da
e utilizarmos lentes de inversão, o poder separador será velocidade. Para elétrons acelerados, por exemplo, por um po-
melhorado, pois elimina-se difração das bordas da lente tencial de 50 quilovolts (um kV = mil volts), λ é aproximadamente
dez mil vezes menor do que o da luz verde. Portanto, o efeito da
O microscópio óptico (MO) difração para elétrons seria extremamente menor do que para a
luz. Esta é a razão teórica da capacidade de aumento do ME.
Os primeiros microscópios de luz ou microscópios óp- Na década de 1930, Ernst Ruska (1906-1988), na Ale-
ticos (MO) surgiram no século XVII, principalmente com manha, construiu o que foi considerado como o primeiro
o holandês Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) e o in- ME. Hoje em dia o ME pode chegar a aumentos acima de
glês Robert Hooke (1635-1703). Leeuwenhoek construia um milhão de vezes (mil vezes mais que o MO), mas nas
microscópios com uma única lente, que chegavam a au- primeiras tentativas as imagens eram muito inferiores às
mentos de mais de 200 vezes. Esses microscópios com uma do MO, em qualidade e aumento.
lente só são chama os microscópios simples, e a imagem
fornecida não é boa. Hooke construiu seu microscópio com O ME consiste basicamente em:
duas lentes: uma delas era a ocular e a outra, a objetiva.
Esses microscópios são chamados microscópios compos- - canhão eletrônico com R fonte de elétrons (fio aque-
tos, e a imagem fornecida é melhor que a do microscópio cido), que podem ser acelerados em potenciais em geral
composto. de 20 até 100 KV.
- sistema elétrico para suprir as tensões e correntes
Coloração do aparelho.
- lentes magnéticas, que são bobinas (fios enrolados)
A maioria dos tecidos é incolor, o que torna difícil sua ob- para produzir um campo magnético atuante sobre os elé-
servação ao microscópio óptico. Devido a isso foram introdu- trons, tendo um efeito semelhante ao de uma lente co-
zidos métodos para a coloração dos tecidos, de modo a tor- mum para a luz.
nar seus componentes visíveis e destacados uns dos outros. - sistema de bombas para produzir alto vácuo (pres-
A coloração é feita usando-se geralmente misturas de são de cerca de 10-6 atm) e permitir que os elétrons mi-
substâncias químicas denominadas corantes. A maioria dos grem pelo tubo do aparelho, além de evitar a combustão
corantes usados em histologia comportam-se como ácidos do filamento pelo oxigênio do ar.
ou bases e tendem a formar ligações salinas com radicais - tela fluorescente para produzir uma imagem final
ionizáveis presentes nos tecidos. Os componentes dos te- visível, quando atingida pelos elétrons.
cidos que se coram facilmente com corantes básicos são O microscópio acima descrito è chamado microscópio
chamados basófilos, sendo chamados de acidófilos os que eletrônico de transmissão (MET), pois o que se observa é
se ligam a corantes ácidos. a projeção de uma fatia muito fina do material (como no
MO, embora muito mais fina). Mais recentemente, na dé-
O microscópio eletrônico (ME) cada de 1960, surgiu o chamado microscópio eletrônico
de varredura (MEV), cuja aplicação está na observação da
No inicio do século XIX estala definido o limite de reso- superfície dos materiais. Nesse aparelho, a superfície do
lução do microscópio óptico. Segundo o físico alemão Er- material é varrida ponto a ponto por um feixe de elétrons.
nst Abbe (1840-1905), esse limite dependia principalmente O preparo de amostras, particularmente as biológicas,
do comprimento de onda (λ) da luz com que se observa o é fundamental para obtenção de boas imagens. Para o
objeto. O MO não pode ver pontos do objeto mais próxi- MET, a amostra deve ser fixada com reagente especifi-
mos do que 0,2 micrometros (1 µm = 10-3 mm), ou seja, co, lavada, desidratada à água é substituida por acetona)
seu aumento máximo está em torno de mil vezes. (Não e imersa numa resina epóxi que endurece após ficar 48
muito mais do que Leeuwenhoek conseguia! ) horas numa estufa a 60°C. Aí então ela é cortada em fa-
O conhecimento dos fenômenos ondulatórios permi- tias finíssimas (espessura de 0,05 pm), corada com sais de
te-nos saber que a imagem de um ponto luminoso obtida metais pesados, como urânio e chumbo, e só depois disso
através de uma lente é formada por um circulo central lu- observada no MET.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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No caso do MEV, como desejamos uma superfície bem preservada e que produza uma boa corrente de elétrons secun-
dários para obtenção de uma boa imagem, o material é fixado como na forma anterior, mas a desidratação é feita por um
método (ponto critico do CO2 - dióxido de carbono) que praticamente não deforma o material. Após essa desidratação, a
amostra é coberta com fina camada de ouro, por método especial (sputtering). Depois disso, ela está pronta para obser-
vação no MEV.
No Brasil temos algumas dezenas de MEs, muitos dedicados à pesquisa biológica. Uma área que tem sido bastante
auxiliada pelos MEs é a protozoologia, especialmente no estudo de protozoários patogênicos tanto para os animais quanto
para as plantas.
A microscopia eletrônica tem se desenvolvido muito nos últimos anos, culminando com a criação do chamado mi-
croscópio de tunelamento quântico, cujos autores, Gerd Binning e Heinrich Roher, do Zurich Research Laboratory (IBM),
dividiram com Ruska o Prêmio Nobel de Física de 1986”.

MICROSCÓPIO ÓPTICO OU FOTÔNICO

Os microscópios ópticos modernos são descendentes do microscópio composto usado por Robert Hooke. Podem tam-
bém ser chamados microscópios Fotônicos (do grego photos, luz), pois utilizam luz em seu funcionamento.
Esses aparelhos possuem dois sistemas de lentes de vidro ou cristal (ocular e objetiva) e fornecem ampliações da ima-
gem geralmente entre cem e mil vezes.

1 = ocular
2 = objetivas e revólver
3 = platina
4 = charriot
5 = macrométrico
6 = micrométrico
7 = diafragma no condensador
8 = condensador
9 = botão do condensador
10 = dois parafusos centralizadores do condensador
11 = fonte de luz
12 = controle de iluminação
13 = diafragma de campo (alavanca no lado esquerdo do microscópio)
14 = dois parafusos de ajuste da lâmpada (esquerdo e direito)
15 = focalizadora da lâmpada (alavanca no lado direito do microscópio – não visível no fotografia).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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No microscópio óptico, a luz proveniente do objeto observado atravessa as lentes objetiva e ocular e chega ao olho do
observador, onde se forma a imagem ampliada. Se empregarmos, por exemplo, uma lente ocular que amplie dez vezes e
uma lente objetiva que amplie cem vezes, o valor final da ampliação será de mil vezes (o aumento da ocular multiplicado
pelo aumento da objetiva)

Poder de resolução e limite de resolução

A qualidade de um microscópio não depende apenas da ampliação, mas também do poder de resolução, que é a ca-
pacidade de distinguir pontos situados muito próximos (adjacentes) no objeto observado. Quanto maior essa capacidade,
melhor a definição da imagem.
O poder de resolução de um microscópio óptico tem limite. Se dois pontos estiverem a menos de 0,25 micrometro (1
um= 1 x 10 mm) um do outro, eles serão vistos como um único ponto .Essa distância é o limite de resolução. O poder de
resolução é função do comprimento de onda de luz visível utilizada (400 a 700 nm) e da abertura numérica (uma medida
de capacidade de concentrar luz). O limite de resolução é obtido com o menor comprimento de onda da luz visível e com
a objetiva de maior abertura numérica.
- Lentes de maior aumento- aberturas numéricas maiores
Quando as objetivas de 100x ou mais (de grande abertura numérica) são utilizadas, aplica-se uma gota de óleo de
imersão de alta pureza entre a espécime e a objetiva.
Quando o óleo é aplicado, os raios emergentes do espécime são coletados, aumentando assim a quantidade de luz
captada pela lente, melhorando a visualização da amostra.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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MÉTODOS PARA OBSERVAÇÃO MICROSCÓPICA Requisitos de um Microscópio

Preparação de lâminas para microscopia Caso se queira inspecionar soldas feitas por um
soldador automático, o campo de visão deve ser pe-
Para ser observado ao microscópio óptico é necessário que queno. A planaridade da amostra também é impor-
o material seja translúcido, uma vez que a imagem ampliada for- tante: se a superfície possui um alto relevo, então
ma-se depois de o feixe de luz atravessar o objeto e as lentes. um sistema óptico com uma grande profundidade de
Após passar por um ou mais processos de preparação, campo será necessário.
como veremos a seguir, o material é colocado sobre uma Diferentes exemplos de materiais apresentam
lamina retangular de vidro, que serve de suporte, e reco- problemas especiais e o que conta para o contraste
berto por uma lamínula fina e geralmente quadrada. Esse da imagem são as variações das propriedades ópticas,
conjunto é observado ao microscópio. tais como reflexibilidade, cor, polimento e índice de
refração.
Esfregaço Outro importante fator é a natureza dos defeitos
que se deseja encontrar. Diferentes tipos de defeitos
No caso de materiais biológicos cujas células são sol- ditam diferentes requisitos para medidas e objetivos.
tas, como o sangue, por exemplo, pode-se simplesmente Por exemplo, o principal requisito quando da medida
colocar sobre a lamina uma gota do material, espalhando- da largura das linhas de polisilício em uma pastilha é
-o uniformemente, para que as células distribuam-se em a sua alta precisão. Para alcançá-la, necessita-se de
uma fina camada, o que facilita a observação. Essa técni- uma iluminação própria para fazer com que os lados
ca é conhecida como esfregaço e também pode ser usada das linhas apareçam claramente. Se faz necessário
para materiais cujas células sejam pouco unidas entre si. também um conjunto padrão de calibração de largura
Células da parte interna (mucosa) da boca, por exemplo, de linha. A profundidade de campo terá que ser pe-
soltam-se facilmente quando raspadas de leve com um pa- quena para limitar os erros causados pelas variações
lito, podendo ser espalhada sobre a lamina e observada de distância entre as superfícies da amostra e as len-
ao microscópio. tes objetivas.
Outros parâmetros que são afetados compreen-
Esmagamento dem a abertura numérica das objetivas e o tipo de
contraste usado na iluminação.
Alguns materiais têm células relativamente bem unidas, Na produção, a faixa de ampliação largamente
mas que, por esmagamento, se separam entre a lamina e a aplicável para a inspeção de lâminas e máscaras está
lamínula. Em alguns casos, o material pode ser ligeiramen- entre 20X a 1000X. A maioria dos fabricantes de mi-
te fervido para que as células se separem, com maior faci- croscópios fornecem combinações de oculares de 10X
lidade. Por exemplo, partes vegetais macias, como pontas a 20X com objetivas na faixa de 2X a 50X.
de raízes e anteras, podem ser fervidas por alguns minutos Para a maioria das aplicações com microscópios
em corante e esmagadas entre lamina e lamínula. na fabricação de semicondutores, a qualidade do sis-
tema óptico de ampliação relativamente baixa é mais
Coloração importante. Uma lente bem corrigida (evitando aber-
rações), de potência relativamente baixa e da mesma
Quando se observam ao microscópio preparações de resolução de uma lente de grande ampliação, pode
material biológico fresco (vivo), pouco se distingue da es- ser mais útil no processamento de lâminas porque seu
trutura interna das células. As diferentes estruturas celulares campo de visão torna-se até 10 vezes maior.
apresentam pouco contraste óptico, isto é, têm mais ou me- De acordo com o que foi descrito, podemos con-
nos o mesmo grau de transparência à luz, de modo que a cluir que a microscopia óptica continua sendo e será
aparência do conteúdo celular é homogênea. Para superar ainda por um longo tempo uma técnica bastante uti-
esse problema os citologistas desenvolveram técnicas de co- lizada na indústria de microeletrônica.
loração, que consiste em mergulhar a célula em uma subs- Apesar do microscópio tornar a inspeção humana
tância denominada corante, capaz de tingir diferencialmente de lâminas tediosa e subjetiva devido às geometrias
uma ou mais partes celulares. Há umas poucas substâncias cada vez maisreduzidas, a automação crescente vem,
corantes que não matam as células, e por isso são chamadas por outro lado, resolver esse problema.
corantes vitais. Geralmente, porém, os corantes são tóxicos Os microscópios tradicionais possuem como van-
para as células, sendo usados depois que estas foram fixadas. tagens a sua disponibilidade, custo relativamente
Há dezenas de tipos de corante, cada um com suas baixo se comparados aos equipamentos de outras
propriedades específicas. A hematoxilina, por exemplo, é técnicas, proporciona uma medida não destrutiva da
um corante azul que apresenta grande afinidade pelo nú- amostra e é possível se analisar toda a lâmina. A des-
cleo da célula e pouca afinidade pelo citoplasma. Em mui- vantagem está na sua resolução e precisão limitadas
tos casos, uma mesma preparação pode ser submetida ao pelos sistemas ópticos tradicionais. Contudo, ainda é
tratamento com dois ou mais corantes, o que aumenta a o meio mais prático para medidas qualitativas. Texto
diferenciação entre as estruturas celulares. adaptado de SANTOS. R. E. D.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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só pode vir de outra vida. Curiosamente, contudo, Pas-


ORIGEM E EVOLUÇÃO DA VIDA: HIPÓTESES teur dizia que não tinha eliminado totalmente a possibi-
SOBRE A ORIGEM DA VIDA; lidade da geração espontânea. De fato, seu experimento
não poderia se aplicar à primeira vida, e a idéia de que a
vida podia vir da matéria inorgânica continuou em pau-
ta entre outros grandes cientistas. Entretanto, ela mudou
Embora a palavra vida pareça ter um sentido óbvio, ela para um contexto tão diferente das visões anteriores, que
conduz a diferentes idéias, tornando-se necessário definir não podemos rotulá-la da mesma forma. Essa nova forma
o próprio objeto a que nos referimos neste texto. Para psi- de “geração espontânea” só seria válida para a primeira
cólogos, ela traz à mente a vida psíquica; para sociólogos, vida, daí para a frente seria exigida a reprodução.
a vida social; para os teólogos, a vida espiritual; para as
pessoas comuns, os prazeres ou as mazelas da existência.
Isso é parte da nossa visão fortemente antropocêntrica do
mundo. Para uma parte (relativamente pequena) das pes-
soas, ela traz à mente imagens de florestas, aves e outros
animais. Mesmo essa imagem é parcial, já que a imensa
maioria dos seres vivos são organismos invisíveis. Os mi-
cróbios compõem a maior parte dos seres vivos, a maio-
ria (80%) vivendo abaixo da superfície terrestre, somando
uma massa igual à das plantas. Entretanto, os micróbios
ainda não ocupam a devida dimensão em nosso imaginá-
rio, apesar de mais de um século de uso do microscópio
e de frequentes notícias na mídia envolvendo a poderosa
ação de micróbios, ora causando doenças ora curando-as,
fazendo parte do ecossistema ou influindo na produção de
alimentos.
Esse quadro se deve ao fato de que a vida ainda é um
tema recente no âmbito científico, comparado com sua
antiguidade no pensamento filosófico e religioso. Uma
concepção muito difundida entre os povos de cultura ju-
daico-cristã-islâmica é que a vida foi insuflada na matéria
por Deus, e seria, portanto, uma espécie de milagre e não
uma decorrência de leis naturais. É difícil traçar a origem
dessa concepção, mas os escritos de Aristóteles (384-322 Charles Darwin (1809-1882) imaginava que uma poça
a.C.) falam da pneuma, que seria uma espécie de matéria de caldo nutritivo, contendo amônia, sais de fósforo, luz,
divina e que constituiria a vida animal. calor e eletricidade, pudesse ter dado origem a proteínas,
A pneuma seria um estágio intermediário de perfei- que se transformaram em compostos mais complexos,
ção logo abaixo do da alma humana. A dualidade ma- até origi- narem seres vivos. Entretanto, a extensão da
téria/vida nos animais (ou corpo/alma nos seres huma- evolução para o mundo molecular como o primeiro ca-
nos) já aparecia na escola socrática, da qual Aristóteles pítulo da evolução da vida só teve progresso a partir das
era membro, embora de modo um pouco diferente. Entre idéias de Alexander Ivanovich Oparin (1894-1980).
os animais superiores, o sopro vital passaria para os des- Ele procurou entender a origem da vida como parte da
cendentes por meio da reprodução. Entretanto, Aristóte- evolução de reações bioquímica, mediante a competição
les acreditava que alguns seres (insetos, enguias, ostras) e seleção darwiniana, na terra pré-biótica (antes do sur-
apareciam de forma espontânea, sem serem frutos da gimento da vida). Quanto ao local onde existiria vida, os
“semente” de outro ser vivo. Essa concepção é conhecida vedas e upanishads na Índia imaginavam a existência de
como geração espontânea e parece ter sido derivada dos partículas de vida permeando todo o Universo. Anaxágo-
pré-socráticos, que imaginavam que a vida, assim como ras (~500-428 a.C.) também imaginava que a vida estivesse
toda a diversidade do mundo, era formada por poucos presente em todo o cosmos. Giordano Bruno, no Renasci-
elementos básicos. A idéia de geração espontânea está mento, pregou ardorosamente a existência de outros mun-
também presente em escritos antigos na China, na Índia, dos habitados.
na Babilônia e no Egito, e em outros escritos ao longo dos A análise de meteoritos feitas por Berzelius nos anos
vinte séculos seguintes, como em van Helmont, W. Har- 1830 mostrou a existência de compostos orgânicos no
vey, Bacon, Descartes, Buffon e Lamarck. Parece que sua espaço. A partir disso, o físico e químico Savante A. Ar-
dispersão pelo mundo ocidental se deu por intermédio de rhenius (1859-1927) propôs que, além de produtos orgâ-
Aristóteles, dada sua grande influência em nossa cultura. nicos, a própria vida tivesse se originado no espaço, sen-
Um experimento de laboratório de Louis Pasteur do transportada para cá em meteoritos. Versões dessa
(1822-1895) colocou um ponto final na idéia da geração idéia foram apresentadas por Richter, Kelvin, Chamber-
espontânea. Depois dele, passou-se a admitir que a vida lain e, mais recentemente, por Francis Crick, Fred Hoyle,

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Chandra Wickramasinghe, John Oró e outros. Nem os defensores dessa hipótese, denominada panspermia, nem os do
cenário concorrente (segundo os quais a vida teria se originado na Terra) apresentaram provas robustas sobre o sítio
de origem da vida.
Na verdade, esse é um problema secundário, ante outras questões mais relevantes. Ao longo do último século, a
origem da vida começou a ser abordada cientificamente, por meio de experimentos de laboratório e estudo de processos
teóricos. Ela se tornou um tema eminentemente interdisciplinar, envolvendo cosmologia, astrofísica, planetologia, geo-
logia, química orgânica, biologia molecular, matemática e teoria de sistemas complexos. Nos últimos cinquenta anos ela
se desdobrou em diversos subtemas, alguns dos quais alcançaram progressos notáveis. Algumas questões fundamentais
continuam, entretanto, sem solução. Não temos nem sequer um conceito universalmente aceito do que é vida. Por que
uma definição como algo que nasce, cresce, se reproduz e morre, não é suficiente para caracterizar a vida? Simplesmente
porque existem diversos fenômenos naturais que satisfariam a essa definição. Pense em algo como um incêndio ou uma
tempestade, ou mesmo alguns programas de computador. Uma definição como essa não ajuda em nada os biólogos e
por isso eles não dependem dela. Em vez de falar em “vida” de modo genérico, o conceito de organismo vivo é muito
mais operacional. Um organismo vivo é baseado na célula, onde a informação genética está codificada no DNA (ácido
desoxirribonucléico) e se expressa na forma de proteínas. Nota-se que esse conceito é moderno, posterior à invenção do
microscópio e à descoberta do código genético. Para chegar a esse ponto, passou-se por diversas modificações ao longo
da história, como veremos mais adiante.
É nesse contexto particular que a vida será abordada neste artigo. Mas por que, num panorama com tantas vertentes
e possibilidades, nos limitaremos a discutir somente o tipo comum de vida que conhecemos? Existem outros tipos, aqui
ou em outros planetas? Como reconhecê-los? A restrição não é porque negamos a possibilidade de existirem outros para-
digmas de vida, mas porque essa é a única que possibilita uma abordagem científica, por apresentar dados observacionais
e modelos teóricos. Inúmeras tentativas de formular um conceito geral de vida foram e estão sendo feitas, mas nenhuma
delas apresentou vantagens significativas para entender a vida que conhecemos, nem previu a existência de formas ainda
desconhecidas que possam ser submetidas à observação. Ainda não existe uma Teoria Geral da Vida e isso restringe nossa
capacidade de entendê-la. Só a descoberta de outros exemplares de vida independentes da que conhecemos na Terra po-
deria nos levar a ampliar os horizontes conceituais. No item final, mostraremos projetos que visam descobrir vida fora da
Terra e discutiremos sua factibilidade e sua potencial contribuição para a compreensão da vida no âmbito científico.

Evolução e vida

A evolução é o processo de mudança dos organismos através do tempo, fazendo que os organismos atuais sejam
diferentes dos iniciais. Embora exista uma cadeia de continuidade ao longo do tempo, não é fácil inferir as propriedades
dos primeiros organismos com base nos atuais. É possível recuperar algumas informações sobre a estrutura corporal dos
progenitores das espécies atuais por meio dos fósseis. Isso permitiu fazer um mapa exuberante da evolução ao longo dos
últimos ~540 milhões de anos (M.a.). Todos os filos genéticos (arquiteturas corporais) existentes hoje surgiram na chamada
“explosão do Cambriano” que ocorreu por essa época. Ela se caracteriza pelo aparecimento de seres multicelulares.
No período pré-Cambriano (era geológica anterior a 570 M.a.) os seres eram unicelulares (feitos de uma única célula),
o que dificultou enormemente a formação de fósseis e sua descoberta através de microscópios. Os fósseis de microor-
ganismos foram rastreados até um passado tão remoto quanto 3,5 bilhões de anos (B.a.) atrás. Eles são encontrados em
agregados rochosos que ainda hoje são habitados por colônias de bactérias, os chamados estromatólitos,1 como os da
formação chamada de Apex do oeste da Austrália. Eles apresentam onze tipos diferentes de fósseis, mostrando aliás como
as células se dividiam e multiplicavam (embora exista quem conteste que eles sejam fósseis verdadeiros). Suas formas são
indistinguíveis das algas fotossintéticas atuais (cianobactérias) que infestam diversos ambientes da Terra. Mesmo sendo
primitivos para a vida atual, esses fósseis são de organismos tão complexos que não podem ter sido as primeiras formas de
vida. Microbiologistas e biólogos moleculares defendem que a cianobactéria teria sido um dos últimos grandes grupos de
bactérias a aparecer. Como recuar nossos estudos mais para trás no tempo? É muito difícil encontrar rochas mais antigas
que 3,5 bilhões de anos, pois a superfície do nosso planeta é constantemente reciclada. As rochas da superfície são forçadas
a imergir pela tectônica de placas, e nas profundezas da terra elas são cozidas sob pressão. Quanto mais antiga uma rocha,
mais rara ela é. Desse modo, não existem esperanças de encontrar fósseis muito mais antigos que 3,5 bilhões de anos, o
que interrompe o caminho em busca da origem da vida por meio desse tipo de registro.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A evolução biológica é um fato surpreendente e inesperado quando temos em mente que o código genético trabalha
para fazer uma cópia exata de si mesmo. A dupla hélice é uma garantia extra de fidelidade, providenciando duas cópias
de cada informação genética. Se só existissem as forças mantenedoras da identidade, não existiria a diversidade biológica.
Contudo, existem processos que levam a imperfeições na reprodução. Esses são “erros” aleatórios, naturais em qualquer
processo de cópia em razão da radioatividade ambiental, dos raios cósmicos provenientes do espaço ou de agentes quí-
micos. Eles geram moléculas-cópias diferentes das originais, de modo que, quando a molécula participa da reprodução,
o organismo resultante terá (em geral) pequenas diferenças de seu progenitor. Se ele for adaptado às condições do meio
ambiente, sobreviverá e poderá deixar descendência, aumentando a diversidade biológica.
Não existe uma pressão para a produção de organismos mais complexos ou mais “perfeitos”, como muitos acreditam.
Os mais complexos não parecem ser mais vantajosos do ponto de vista da sobrevivência que os mais simples. Se isso fosse
verdade, existiriam muito mais organismos complexos do que simples, ao contrário do que se observa na natureza. Essa
idéia de evolução como aperfeiçoamento é pregada pelos criacionistas, segundo os quais a natureza segue um plano inte-
ligente (inteligent design). Eles a aplicam não só para a evolução biológica, mas também para todos os fenômenos naturais.
Ela se traduz simplesmente na crença de que as forças naturais não seriam capazes de criar “ordem” e “beleza” se não fo-
rem guiadas por uma inteligência exterior à própria matéria. Adotar esse ponto de vista é dar à ciência um mero papel de
desvendar qual é esse plano subjacente à natureza que já está preestabelecido para todo o sempre. Esse determinismo foi
abandonado pela Mecânica Quântica há quase um século.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A árvore universal da vida

Atrás de sua enorme diversidade de formas, cores e tamanhos, os organismos atuais mostram características muito
similares que servem de parâmetros importantes para entender sua origem. Por exemplo, a água é a substância (molé-
cula) mais abundante da matéria viva: 70% do corpo humano, 95% da alface, 75% de uma bactéria. Todos os seres têm
uma alta porcentagem de água, o que favorece a hipótese de uma origem em meio aquoso. Sua composição atômica
também é admiravelmente simples. Apenas quatro elementos químicos – carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio
(CHON) – somam 99,9% da matéria viva. Eles estão entre os cinco mais abundantes do Universo, só deixando de fora o
hélio, que não faz ligações químicas. A bioquímica da vida é composta por combinações desses átomos, formando água
(H2 O), metano (CH4 ), amônia (NH3 ), dióxido de carbono (CO2 ), açúcares, proteínas, ácidos graxos e outros. Mesmo
que muitas proteínas tenham elementos metálicos e requeiram certos íons para funcionar, os elementos mais abun-
dantes são, de longe, os mencionados anteriormente. O fato de que a vida se compõe dos átomos mais amplamente
encontrados na natureza indica que ela é simplesmente uma expressão da oportunidade e não uma excepcionalidade,
um milagre, que poderia ser feito com materiais arbitrários, inclusive raros.

Embora bactérias, baleias, palmeiras e elefantes sejam tão diferentes entre si na forma, eles são extremamente pare-
cidos na química. As moléculas simples se combinam formando moléculas maiores os monômeros, como os nucleotídeos
e os aminoácidos. Os nucleotídeos e aminoácidos usados pelos seres vivos são em pequeno número e praticamente os
mesmos. A junção desses monômeros em grandes cadeias forma os biopolímeros: os ácidos nucléicos (RNA e DNA) e as
proteínas. São eles que estão por trás da diversidade biológica que observamos. Nos seres vivos atuais, o DNA carrega o
código de montagem das proteínas que são responsáveis pelas mais diversas funções. Além da composição material, a
forma de processamento de energia (metabolismo) também é muito parecida em todos os organismos vivos, ocorrendo
por um pequeno número de processos intimamente relacionados. A Figura 4 indica TODOS os seres vivos como parentes
e apresentando uma origem comum.
Uma forma poderosa de diagnosticar o parentesco dos seres vivos é pela análise genômica do RNA ribossômico
16s, que não pode ser aplicada a fósseis, pois esses perderam seu conteúdo celular. Os ribossomos são complexos mo-
leculares do interior das células que participam da produção de proteínas. Essas fábricas de proteínas são compostas de
vários tipos de ácido ribonucléico (RNA). Mutações, ao longo do tempo, alteram a ordem das bases no RNA ribossômico
(RNAr). Organismos que fazem parte de um grupo biológico que compartilha uma história recente têm RNAr semelhan-
te, e quanto mais afastado for o parentesco, mais esse se diferencia. A comparação do RNAr 16s entre dois grupos que
se originaram de um mesmo ramo evolutivo permite avaliar quantas mudanças ocorreram desde a separação. Isso pos-
sibilita a construção de uma árvore em que o comprimento do ramo é proporcional ao número de mudanças sofridas,
chamada de árvore filogenética universal.
Nota-se que, embora as plantas e animais sejam as formas mais familiares de vida para nós, elas perfazem somente
dois dos vinte ramos da árvore da vida. Além desses dois, somente os fungos têm membros visíveis sem a ajuda de
um microscópio. A maior parte da vida é invisível a olho nu. Todos os organismos conhecidos pertencem a um dos três
domínios: bactéria (ou eubactérias), archea (ou arqueobactérias) e eucarya (ou eucariotos). Todos os ramos se unem a
um ramo único numa região entre bacteria e archea. Esse ramo teria sido o do último ancestral comum (denominado
progenota).
A árvore filogenética concorda bem com o estudo dos fósseis, que mostra que os mais antigos eram do domínio
bacteria e archea, e os mais recentes, do eucarya. Ela poderia ser lida como uma sequência temporal, em que o tempo
presente estaria na ponta dos ramos e o passado na direção de sua conexão com outro ramo. Entretanto, os tempos

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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de divisão dos ramos não podem ser medidos com precisão, pois as taxas de mutação não são regulares com o tempo.
Outro aspecto da árvore universal é que ela se baseia nos seres que estão vivos hoje, que somam menos de 1% de todas
as espécies que se sucederam na longa história do planeta.

A formação da árvore filogenética parece não ter sido tão simples e linear como aqui apresentada. Nos eucariotos, as
mitocôndrias (responsáveis pela respiração) e os cloroplastos (responsáveis pela fotossíntese) parecem ter se originado de
bactérias que invadiram o interior de células se instalando numa associação simbiôntica. Da mesma forma, organismos pri-
mitivos podem ter se associado “horizontalmente” trocando material genético. Assim, em vez de um único tronco, a árvore
filogenética pode ter se originado de diversos troncos separados, que acabaram se unindo em três grandes ramos, que depois
se subdividiram em ramos secundários. Apesar disso, vamos continuar a falar do ancestral comum, independentemente de
ele ter aparecido como um único tipo de organismo ou de ter sido o resultado de uma aglutinação de linhagens diferentes.

O progenota (último ancestral comum)

O último ancestral comum deve ter tido características que são compartilhadas por todos os seres vivos: reprodução por meio
de genes (DNA), fábricas de proteínas (ribossomo e RNA), mecanismos para reparar erros no código, obter e armazenar energia.
Ele deve ter sido mais parecido com os organismos mais primitivos (ramos mais baixos da árvore universal) do que com os mais
modernos (pontas dos ramos). Os organismos dos ramos mais baixos são tolerantes ao calor, os termófilos e hipertermófilos.
Eles vivem em temperaturas parecidas com a da água fervente (90-113o C), como as encontradas nas fontes hidroter-
mais do fundo dos oceanos e em poças vulcânicas como as do Parque Yellowstone (Estados Unidos). Entretanto, existem
técnicas que permitem avaliar a temperatura de formação de bases nitrogenadas, e elas indicam que os organismos primiti-
vos teriam se originado em ambientes de temperatura moderada e não extrema. Outro fato que vai contra a origem da vida
em alta temperatura é o efeito desagregador que ela tem para o RNA, açúcares e alguns aminoácidos. A 100o C a meia-vida
de diversos compostos é de segundos a horas. Assim, os hipertermófilos teriam se adaptado às altas temperaturas e não
se formado nelas. Isso, somado à maquinaria complexa que esses já apresentam, indica que eles não poderiam ter sido a
primeira forma de vida. Na primeira metade do século passado, imaginava-se que a vida já teria se iniciado fabricando seu
próprio alimento (autotrofismo) como fazem hoje os seres fotossintetizantes. Na fotossíntese, por exemplo, o CO2 atmos-
férico é absorvido pela célula, e, sob a ação da luz e com a utilização de água, gera uma série de compostos orgânicos,
em especial açúcares como a glicose. Numa etapa seguinte, eles são usados para gerar energia e fabricar componentes
estruturais (corpo). Os animais não geram, mas capturam energia fabricada por outros organismos (heterotrofismo6 ).
Mediante a oxidação7 dos açúcares, percorre-se um caminho inverso ao da fotossíntese, liberando energia e devolvendo
CO2 à atmosfera.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Por volta do início dos anos 1900, esses processos estavam ainda sendo entendidos e se imaginava que, sem seres
autotróficos, não haveria fontes de alimento na Terra primitiva. Entretanto, o aparecimento de organismos que já nascem
fabricando sua própria comida parece implausível hoje em dia. Na década de 1920, Oparin apresentou uma idéia nova, que
teve grandes desdobramentos. Ele usou um cenário de evolução darwiniana lenta e gradual, partindo do mais simples para
o mais complexo. A partir dos hidrocarbonetos e da amônia, ter-se-iam formado outros compostos mais complexos, como
carboidratos e proteínas. Processos semelhantes, num ambiente redutor, foram propostos por J. B. S. Haldane (1892-1964).
Depois disso, o cenário autotrófico perdeu ímpeto, mas continua a ter seus defensores até hoje.

A química pré-biótica

Os aminoácidos são fundamentais para a vida. No mundo atual eles são produzidos por intermédio das proteínas, no
interior das células. Para a vida ter surgido, eles precisariam ter sido produzidos por processos abióticos (inorgânicos). A
proposta Oparin-Haldane é que os aminoácidos teriam sido produzidos a partir de moléculas carbonadas mais simples,
num ambiente redutor. Nos anos 1950, Harold Urey (1893-1981) argumentou que a atmosfera da Terra, em sua origem,
era parecida com a dos planetas gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Eles teriam mantido suas atmosferas quase
inalteradas por causa da grande massa (alta gravidade) e baixa temperatura (distantes do Sol).
Os planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) as teriam perdido pela baixa gravidade e pela proximidade do
Sol, que teria dissociado as moléculas pela ação dos raios UV e que produz alta temperatura atmosférica. Como Júpiter e
seus parceiros gasosos têm atmosfera rica em amônia (NH3), metano (CH4 ) e hidrogênio (H2 ), assim também teria sido a
atmosfera primitiva da Terra e dos outros planetas rochosos. A hipótese de Urey entusiasmou seu aluno Stanley Miller. Ele
conhecia a teoria de Oparin de que os aminoácidos poderiam se formar por processos abióticos numa atmosfera redutora
e decidiu colocar isso à prova no laboratório. Em 1953, montou um experimento mimetizando os processos atmosféricos,
em que um gás de amônia, metano e hidrogênio passava por uma câmara onde havia descargas elétricas, depois era con-
densado num recipiente de água e evaporado novamente, num ciclo contínuo.
Em poucos dias se formou um precipitado rico em aminoácidos. Esse resultado é espetacular e abriu horizontes novos
para o entendimento da origem da vida. O experimento é um cartão-postal exibido pelos professores de ciências como
sendo a demonstração de que foi assim que a vida se originou na Terra, mas isso é incorreto por dois motivos. O primeiro
problema com o experimento de Miller é que a atmosfera da Terra nunca foi redutora, pelo menos no grau necessário para
formar aminoácidos. As inúmeras variantes do experimento de Miller, quando realizadas em ambientes neutros (interme-
diário entre oxidante e redutor) ou baixamente redutores, nunca produziram quantidades relevantes de aminoácidos. A
idéia de atmosferas redutoras em planetas rochosos foi demonstrada inconsistente pela planetologia por volta dos anos
1970
Os planetas rochosos se formaram a partir de poeira seca, sem a capa de água e elementos voláteis que formaram os
planetas gasosos. É por isso que os planetas rochosos têm atmosferas neutras (ricas em dióxido de carbono e nitrogênio), e
os gasosos têm atmosferas redutoras (ricas em hidrogênio, amônia e metano). O segundo problema é que os experimentos
nunca produziram vida ou qualquer coisa mais complexa que aminoácidos. Como se explica então o fato de que a Terra e
outros planetas rochosos tenham água hoje (embora pouca em comparação com os corpos mais distantes do Sol)? Os frag-
mentos que restaram da formação de Júpiter e dos outros planetas gasosos foram lançados para todos os lados, em forma
de cometas, e muitos deles atingiram a Terra trazendo grande quantidade de água e compostos carbonados. A formação da
Lua (4,42 B.a.) pela colisão com um planetóide do tamanho de Marte com a Terra cozinhou a crosta terrestre e vaporizou os
oceanos trazidos pelos cometas. Novas quedas de cometas e meteoritos trouxeram mais água e compostos carbonados. O
calor dos impactos, o efeito estufa da luz solar na atmosfera rica em CO2 e a dissociação das moléculas hidrogenadas pela
radiação UV não deixam muito espaço para uma atmosfera redutora (rica em hidrogênio).
A descoberta das fontes hidrotermais submarinas trouxe uma nova esperança de encontrar esse ambiente redutor.
Esses locais são interessantes por serem abrigados contra a queda de meteoróides e cometas, por exalarem compostos
de interesse para a química pré-biótica (H2 S, CO e CO2 ) e pela fonte de energia térmica (temperaturas de até 350o C). Se
eles exalassem também HCN, CH4 e NH3 , formariam um ambiente redutor e possivelmente alguns tipos de aminoácidos,
embora não todos os necessários para a vida, por causa do efeito desagregador das altas temperaturas sobre alguns deles.

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Enquanto é difícil encontrar um ambiente favorável à formação de aminoácidos na Terra primitiva, o experimento de
Miller se mostra amplamente operativo fora dela. Alguns meteoritos (do tipo condrito), como o que caiu em Murchison na
Austrália em 1969, contêm boa quantidade de aminoácidos (100 ppm – partes por milhão), e eles são dos mesmos tipos
dos produzidos no experimento de Miller. Isso não é de estranhar, dado que esses corpos se formaram na região dos pla-
netas gasosos, onde o disco protoplanetário era rico em hidrogênio. Os cometas são ricos em compostos orgânicos (50%
H2 O, 1% HCN, 1% H2 CO3 , além de CO, CO2 e aminoácidos) e poderiam ter trazido boa quantidade de aminoácidos nas
últimas fases de formação da Terra. Os fragmentos pequenos, especialmente a poeira cometária, não geram muito calor
ao caír em, de modo que os aminoácidos podem ter sobrevivido à queda. Atualmente, caem ~40 mil toneladas/ano de
poeira cometária e o fluxo deve ter sido 100-1.000 vezes mais elevado nos primórdios da Terra. A questão ainda difícil de
responder é se o aporte de aminoácidos de fora da Terra teria sido suficiente para a origem da vida aqui.

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A formação de aminoácidos é surpreendentemente fá- mundo pré-RNA, mas a bioquímica que conhecemos não
cil nos ambientes tí- picos do Universo, ricos em hidrogê- nos dá pistas sobre a química primordial e teríamos que
nio molecular. Tanto que três tipos de aminoácidos simples investigar novos panoramas. Ainda não é claro que tipo
foram detectados em nuvens interestelares como a nebu- de molécula pode ter formado o primeiro material gené-
losa de Orion. Aminoácidos mais complexos são muito di- tico, e as etapas que podem ter levado a um mundo de
fíceis de ser identificados, mas podem estar presentes dada RNA ainda são nebulosas. A segunda vertente admite que
a enorme variedade de moléculas complexas existentes nas o metabolismo pode ter vindo antes do código genético. A
nuvens interestelares. idéia geral desse ponto de vista é que é possível que haja
Não se encontrou até agora um mecanismo ou am- organização considerável na própria seqüência de reações
biente que desse conta de produzir toda a variedade de químicas, sem que haja um código genético. Essa perspec-
compostos orgânicos necessários para a vida. É possível tiva, porém, ainda carece de evidências experimentais, já
que a sopa pré-biótica tenha tido contribuições de dife- que parece improvável que polímeros longos e reações
rentes processos ocorridos no ambiente interplanetário, complexas possam se organizar de forma autônoma. Al-
na atmosfera terrestre e nas fontes hidrotermais. Embora guns autores acham possível que exista um princípio de
o problema de saber quanto cada fonte contribuiu para a auto-organização que opere nesse sentido.
sopa pré-biótica continue em aberto, a origem abiótica de
compostos orgânicos essenciais para a vida, como os ami- Quando ocorreu a origem da vida?
noácidos, está firmemente embasada em experimentos de
laboratório e processos teóricos. É comum as pessoas pensarem que algo tão comple-
xo quanto a vida exigiria processos que só ocorrem rara-
A origem do código genético mente, demandando tempos extremamente longos para
terem alguma chance de ocorrer. Os dados atuais indicam
A origem do código genético talvez seja o passo mais que isso não é verdade. Vamos olhar para as primeiras eras
desafiador para se entender a origem da vida. O apareci- geológicas da Terra. A formação rochosa Isua (na Groen-
mento de um script de reprodução corresponde ao apa- lândia) é uma das mais antigas, tem 3,8 B.a. Embora não
recimento de um software, ou uma memória natural. Que contenha organismos fósseis, ela tem indicações de conta-
mecanismo tem essa capacidade? A passagem do inorgâ- minação por atividade biológica. O grafite encontrado nela
nico para a vida inicia-se num meio disperso e encontra tem um teor de 13C (variedade de átomo de carbono com
seu foco dentro do ambiente celular. A montagem de mo- seis prótons e sete nêutrons) em relação ao isótopo mais
léculas menores numa estrutura maior deve ter se dado leve 12C com valores típicos de material orgânico, como
num ambiente de competição e seleção. Não parece que o encontrado em restos vegetais atuais. Até agora, não se
essa montagem tenha se dado simplesmente por proces- encontrou outra explicação, a não ser a fotossíntese para
sos aleatórios, senão deveríamos ter uma série ininterrupta explicar essa anomalia do carbono. Outro dado que apon-
de moléculas, formando uma pirâmide com as moléculas ta para a fotossíntese em épocas remotas são os imensos
simples em grande número, formando a base e diminuindo depósitos de óxido de ferro (chamados de banded iron
em número à medida que aumenta o tamanho. A molécula formation – BIF), os mais antigos com ~3,7 B.a. de idade.
do DNA tem bilhões de átomos, um número imensamen- Nessa época, não existia oxigênio livre na atmosfera, como
te maior que as outras moléculas orgânicas menores. Esse indicado pela existência de pirita e uraninita.
salto de continuidade sugere que a molécula de DNA te- O oxigênio pode ter sido liberado nos oceanos pela
nha se formado por um processo específico, coordenando atividade de algas fotossintetizantes e consumido local-
um grande número de elementos simultaneamente. mente, oxidando o ferro. Se as rochas de Isua e os BIF mais
O desenvolvimento e a reprodução dos organismos antigos indicam existência de vida, ela deve ter surgido an-
atuais se dão por intermédio de um código genético uni- tes de 3,8 B.a., dado que a fotossíntese, por ser um proces-
versal (constituído sobre ácidos nucléicos) que contém so muito complexo, não deve ter sido a primeira forma de
as informações sobre as sequências de aminoácidos que produção de energia. O ancestral comum deve ter surgido
constituem as proteínas. Os ácidos nucléicos são a base da antes disso. Mais um motivo para recuar o aparecimento
replicação e as proteínas, a do metabolismo. Grosso modo, do progenota para antes de 3,8 B.a. é que os trezentos mi-
o processo de síntese protéica se baseia na transcrição das lhões de anos seguintes parecem ser muito curtos para a
informações do DNA para o RNA mensageiro e na tradu- vida ter atingido o nível de complexidade da cianobactéria,
ção em proteínas. Por sua vez, as proteínas controlam a ca- parente dos organismos que formaram os estromatólitos.
tálise e a replicação do DNA. Esse processo é tão complexo Mas não podemos recuar a origem da vida para tempos
que teria que ter passado por estágios mais simples em muito anteriores a esse. A Terra se formou há 4,56 B.a., e
fases anteriores. Como ele teria se iniciado? Parafraseando há 4,46 B.a. já tinha crosta sólida, a água tinha chovido das
o paradoxo do ovo e da galinha, surge a pergunta: quem nuvens para formar os oceanos e a atmosfera tinha tempe-
surgiu primeiro, o código genético ou o metabolismo? ratura aceitável. Mas nos primeiros ~700 milhões de anos
Existem defensores das duas possibilidades. Há uma hipó- ela era castigada por uma densa chuva meteorítica, alguns
tese de que o RNA teria sido a primeira molécula ativa na dos fragmentos com centenas de quilômetros de tamanho.
origem da vida chamada de mundo de RNA. Entretanto, o Uma colisão dessas vaporizaria os oceanos e aqueceria
RNA também é tão complexo que existe a hipótese de um tanto a atmosfera, que levaria mais de mil anos para chover

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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de novo. Se já existia vida na Terra nessa época, ela teria sido destruída, não uma, mas muitas vezes. Ela só poderia ter se
arraigado de forma estável depois do fim da chuva de meteoros esterilizantes, ou seja, há menos de 3,9 B.a. Isso deixa uma
janela de o diferencial de C ou os BIF como indício de vida, o intervalo de tempo para a vida ter se formado e evoluído até o
nível de complexidade da cianobactéria sobe para meros 400 M.a. Nos 3,5 B.a. seguintes a vida aumentou sua diversidade,
mas não aconteceram saltos de complexidade tão grandes quanto o inicial, do inorgânico para o vivo. Por isso, a janela de
tempo de centenas de milhões de anos é pequena e indica que esse salto não é tão difícil ou improvável para a natureza.
A janela para a origem da vida, se ela se iniciou na Terra, pode ser bem mais curta do que os quatrocentos milhões de
anos indicados antes. Uma escala de tempo muito curta poderia ser obtida do fato que as reações químicas que produzem
as grandes moléculas (polímeros) são reversíveis. Em escalas de dias a meses, a maioria delas reverteria para componentes
mais simples, em meio aquoso. Isso poderia ser evitado se as grandes moléculas fossem retiradas do meio líquido, logo
que formadas. Esse cenário funcionaria se a vida tivesse surgido nas plataformas continentais e não no fundo dos oceanos.
No início, as placas litosféricas9 ainda estavam submersas, e as indicações mais fortes são de que a vida tenha surgido no
fundo dos oceanos.
Outra forma de evitar a reversibilidade seria encerrar as macromoléculas em membranas, como as paredes celulares.
Naquele tempo não havia células como as atuais, mas é possível que houvesse membranas formadas por processos inorgâ-
nicos. Oparin sugeriu que coacervados, formados espontaneamente por polímeros em solução aquosa, tenham constituído
a membrana de uma protocélula. Embora eles realmente se formem em laboratório, são muito instáveis. Outros tipos de
formação de membranas são possíveis; por exemplo, os proteinóides que Sidney Fox sintetizou em laboratório. Mesmo
depois de escapar da reversibilidade, os componentes da vida primitiva encontrariam outras armadilhas fatais. Uma delas
são as fontes hidrotermais que existem no fundo dos oceanos. Elas reciclam um volume igual ao dos oceanos atuais em dez
milhões de anos. Entretanto, quando o interior da Terra era mais quente, esse processo era muito mais forte e os tempos
de reciclagem eram muito mais curtos. A água sai das fontes hidrotermais com T>350o C, sendo totalmente esterilizada.
Quanto menor a escala de tempo, mais simples deve ter sido o processo de origem da vida.
Na Terra, ela se instalou tão cedo e tão rapidamente que parece ser um mero subproduto da formação planetária. Isso
abre enormes perspectivas de que ela também tenha surgido em outros planetas, que só na nossa galáxia devem ultrapas-
sar a casa dos trilhões. No volume visível do Universo existem cerca de cem bilhões de galáxias como a nossa, elevando o
número de planetas para mais de 10. O fato de que a origem da vida seja um assunto tão difícil de ser compreendido não
nos deve induzir ao erro de assumir que também seja difícil de ser realizada pela natureza. A janela para a formação de
vida na Terra é tão estreita, que alguns preferem acreditar que ela tenha aportado aqui já pronta (hipótese de panspermia).
O conforto que se ganha aumentando a janela de tempo para dez bilhões de anos e multiplicando a diversidade de situa-
ções físicas e químicas por um número incontável de planetas se perde pelo imenso isolamento cósmico dos astros e pela
exiguidade de mecanismos viáveis de transporte de seres vivos de um para outro. O transporte só é viável para planetas
próximos, como entre a Terra e Marte. O problema do mecanismo de origem se transfere daqui para outro planeta, mas
sua solução não se torna mais fácil.

34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Perspectivas de vida fora da Terra Os resultados são esperados para uma escala de tempo
de uma ou duas décadas e poderemos estar vivos para vê-los.
O estudo da vida no contexto astronômico é relevan- O que vai se procurar? Simplesmente a vida na forma mais
te por diversos motivos. O mais fundamental deles é que comum que conhecemos na Terra e que tem habitado nosso
nunca poderemos ter uma teoria geral da vida enquanto planeta por mais tempo: microorganismos. Não seria falta de
conhecermos só o exemplar terrestre. Tomemos a física imaginação restringir a busca ao trivial que conhecemos? A res-
como paradigma, ela tem teorias gerais porque existem trição tem excelentes motivos. Primeiro, não adianta procurar
inúmeras situações em que podem ser aplicadas e se veri- algo que não se sabe como identificar. Segundo, os microorga-
ficar como cada parâmetro varia de uma situação para ou- nismos contaminam as atmosferas planetárias com moléculas
tra. A multiplicidade de situações permite fazer previsões e facilmente identificáveis a grandes distâncias, como o ozônio
passar a teoria pelo crivo do teste empírico. Só a descober- (O3), por exemplo. Uma atmosfera com camada de ozônio é
ta de outros exemplares de vida, formados fora da Terra, impensável sem uma atividade fotossintética em grande escala.
permitirá ver o que é fundamental e o que é secundário O oxigênio, por sua alta reatividade química, está fir-
no fenômeno. Outro motivo é que as informações sobre as memente preso em moléculas e, para ser liberado, precisa
condições físicas e químicas da Terra, no momento em que de um agente que vá no sentido contrário do potencial
a vida aqui se estabeleceu, estão perdidas para sempre. A químico. Isso indica que existe um processo que atua con-
observação de outros astros permite rever o passado, pois tra o equilíbrio termodinâmico (localmente), o que é uma
tudo o que vemos no espaço são acontecimentos que se das características da vida. Além disso, o ozônio é decom-
deram no passado, quanto mais distante no espaço, mais posto pela luz ultravioleta do Sol, e a manutenção de uma
longe no tempo. A luz atravessa o espaço e, de modo aná- camada na atmosfera implica uma constante reposição
logo à rocha que atravessa o tempo, traz registros fósseis. de oxigênio livre, o que indicaria continuidade da fonte,
No espaço existem inúmeros planetas em diversos estágios ou seja, reprodução – outra característica da vida. O me-
de formação que permitem rever as etapas evolutivas por tano, em planetas rochosos, funciona exatamente como o
que a Terra passou, como se fosse uma viagem no tempo. ozônio, mas indicando atividade heterotrófica, em vez de
Outro motivo para olhar para o céu é simplesmente tes- autotrófica. Na Terra, as capas de metano são produzidas
tar o pressuposto básico do evolucionismo que assume que a por bactérias anaeróbicas em aterros sanitários, no intesti-
vida é um fato natural, surgindo como parte dos processos de no de animais ou no material orgânico em decomposição
transformação da matéria e dissipação de energia. Qualquer nos pântanos. No caso de planetas gasosos, o metano é de
outro planeta em condições físicas iguais à da Terra teria tido origem abiótica e sua presença não é um indicador de ati-
a mesma chance de gerar vida. Até agora, o único empreendi- vidade biológica. Em terceiro lugar, a vida, como a conhe-
mento de procura de vida fora da Terra foi por meio da escuta cemos, parece ter altíssima probabilidade de existir. Não só
de sinais de rádio que poderiam ter sido enviados por civiliza- ela apareceu na Terra logo no início, mas manteve-se em
ções extraterrestres. Embora tenhamos simpatia por qualquer expansão mesmo sob a ação de catástrofes globais como
esforço metódico, esses projetos acabaram sendo excluídos da vulcanismo, congelamento, queda de grandes meteoritos.
pauta dos financiamentos governamentais por motivos justos. A vida está mais para uma praga invasora e resistente
Em primeiro lugar, não existe uma teoria testável sobre do que algo improvável e delicado. Os elementos químicos
a probabilidade de a evolução ter produzido seres comu- que ela requer estão entre os mais abundantes do Univer-
nicantes como nós em outros lugares, ou sobre a decisão so; e, quando ele atingiu dois bilhões de anos de idade
deles de aplicar recursos para avisar a todo o Universo que (~12 B.a. atrás), a tabela periódica já tinha elementos em
existem, ou sobre a inevitabilidade de que a comunicação todas as suas casas. Nessa época, já havia enorme quan-
seja feita através de ondas de rádio, ou ainda sobre quan- tidade de água, e moléculas complexas podiam começar
to tempo uma civilização tecnológica que demanda tantos a se formar, como se observa nas nuvens interestelares. A
recursos pode sobreviver sem se autodestruir. Em segundo formação dos planetas segue a das estrelas, pois são parte
lugar, está o modus operandi da produção científica atual. do mesmo processo. O auge de formação estelar foi atingi-
O número de variáveis envolvidas na escuta de rádio é tão do há ~10 B.a, de modo que os planetas típicos são velhos.
grande que é impossível oferecer aos órgãos financiado- Isso não implica dizer que a vida está pululando em todos
res uma expectativa de escala de tempo para que sejam os cantos da Galáxia, mas que a vida como a conhecemos
obtidos resultados. Para qual estrela apontar, por quanto tem boas chances de existir e de ser encontrada por meio
tempo manter a escuta, em que frequências monitorar de contaminações nas atmosferas planetárias. A procura de
os sinais, que tipo de sinais são produtos de linguagem e vida microscópica no sistema solar foi feita de modo muito
quais são emissões naturais? Quantos estudantes se con- limitado em Marte. O interesse em Marte é porque está re-
venceriam em devotar suas vidas a um projeto que even- lativamente próximo e porque apresentou condições favo-
tualmente levaria milênios para dar resultado, recebendo ráveis à vida em seu início. Ele teve oceanos rasos ao longo
bolsas por no máximo quatro anos? Os projetos atuais de de centenas de milhões de anos, os impactos meteoríticos
busca de vida seguem uma linha científica clássica. Eles são lá foram menos brutais que na Terra, dada sua gravidade
tão consistentes e capturaram a imaginação do contribuin- menor, e as temperaturas atmosféricas parecem ter sido
te de tal modo que os recursos já permitem um avanço mais amenas que aqui. Tudo somado, Marte apresenta um
vigoroso. Esse certamente será um dos grandes temas do fator favorável ao aparecimento de vida maior que a Terra
século XXI. e numa janela de tempo mais longa.

35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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O fato de que o planeta congelou há mais de 3,5 bi- imagem da Mãe Terra, tão acolhedora para a vida. Mas,
lhões de anos indica que, se a vida existiu lá, ela foi inter- por outro, está o fato de que a contaminação por produ-
rompida logo no início, a menos que tenha sido transplan- tos da atividade biológica é facilmente visível nas tênues
tada para cá a bordo dos incontáveis meteoritos (40 bi- atmosferas dos planetas rochosos, por serem muito rare-
lhões de toneladas) que aqui aportaram. Se encontrarmos feitas. Os telescópios atuais estão muito aquém da acuida-
vida lá do mesmo tipo que a da Terra, isso não vai se cons- de necessária para fotografar planetas rochosos em torno
tituir num segundo ponto de apoio para a generalização de outras estrelas. Mas isso é uma mera questão técnica,
da teoria da vida. Não poderemos excluir a possibilidade que se resolve com investimentos humanos e financeiros.
de que somos marcianos ou eles são terráqueos, dado que Os recursos financeiros estão aparecendo. Será necessário
a probabilidade de contaminação nas duas direções não é aumentar o poder resolvente dos telescópios por um fator
desprezível. A Lua de Júpiter, Europa, tem atrativos por ter mil (o salto foi de um fator ~10 nesses quatrocentos anos
um mar de água líquida com fontes hidrotermais (debaixo desde Galileu). Depois, devemos peneirar os fótons da luz
de numa capa de gelo), numa situação não muito diferente provenientes do planeta, pois, a cada um bilhão de fótons
da que se imagina hoje para o início de vida na Terra. Sua da estrela hospedeira, entram no telescópio apenas alguns
vantagem em relação a Marte é a baixíssima probabilida- poucos do planeta. Será preciso apagar a estrela, sem in-
de de contaminação a partir da Terra. Mas fazer um furo terferir na luz do planetinha situado a frações de segun-
de dezenas de quilômetros de profundidade na capa de dos de arco12 dela. Os instrumentos para isso já estão em
gelo de Europa e procurar micróbios num volume de água desenvolvimento, e as primeiras detecções diretas devem
maior que o dos oceanos da Terra é um empreendimento acontecer em menos de duas décadas. Aí bastará passar a
economicamente inviável na atualidade. Não existem ou- luz dos planetas rochosos pelo espectrógrafo e procurar a
tros lugares no sistema solar que ofereçam perspectivas assinatura do ozônio e do metano.
tão boas quanto Marte e Europa para a vida ter surgido. Nesse meio tempo, novas gerações de pesquisadores li-
gados a esses projetos poderão descobrir outros sinais mais
característicos de contaminação biológica diferentes dos
aqui apresentados. Depois de passar pelo crivo uma exten-
sa lista de planetas, poderemos ter estatística suficiente para
saber se o Universo é tão biófilo quanto nos parece hoje. É
possível que não encontremos nenhum sinal de vida (para o
grande deleite dos criacionistas contrários à teoria evoluti-
va), mas o progresso científico só tem como escolha produzir
testes que possam contradizer as premissas teóricas. Se exis-
tirem detecções positivas, aí será o início do estudo de cada
tipo particular de vida, e seria ficção especular quais vão ser
as técnicas empregadas para isso. Assim, uma teoria geral da
vida não é esperada para tão cedo, mas se há uma coisa clara
é que o avanço tecnológico e científico sempre superou as
expectativas e chegou antes do que se esperava. Texto adap-
tado de DAMINELLI. A; DAMINELLI. D. S. C.

TEORIA DE LAMARCK E TEORIA DE DARWIN;

De qualquer modo, o sistema solar é um pouco irrele-


vante para uma teoria geral da vida, dado que precisamos de
uma abundância de exemplos diferentes. Para vasculhar um
grande número de planetas, temos que olhar para as estrelas, O senso comum tem consagrado uma oposição com-
em torno das quais devem existir trilhões, só na nossa galáxia. pleta entre as teorias evolucionistas de Jean-Baptiste La-
Os instrumentos atuais só conseguem detectar planetas de marck e de Charles Darwin. A teoria do naturalista francês
modo indireto, por meio da reação gravitacional da estrela seria errada e o naturalista inglês teria conseguido produzir
hospedeira, e isso se limita a casos atípicos (planetas muito a correta explicação da evolução. Suas teorias, portanto,
grandes e bem próximos da estrela central). Mesmo assim, já seriam totalmente distintas. Essa concepção tem sido repe-
se conhecem mais de 150 planetas extra-solares. Todos são tida há longo tempo pelos textos de divulgação científica e
desinteressantes para a vida, pois trata-se de gigantes gaso- até mesmo pelos livros didáticos de biologia. Por exemplo,
sos que reciclam suas atmosferas entre temperaturas de mi- o arqueólogo Richard Leakey e o antropólogo Roger Lewin,
lhares de graus no interior a -180o C, no topo das nuvens. em um livro de divulgação, afirmam:
O Santo Graal da procura da vida está escondido nos Lamarck, sem o querer, propunha a suposição absurda
planetas rochosos como o nosso. Outra falta de imagi- de que o longo pescoço da girafa, por exemplo, fosse o
nação? Talvez. Por um lado, ainda não nos libertamos da resultado de gerações de espichamento de pescoço. Como

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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consequência, o lamarckismo, como sua teoria foi cognomina- Lamarck afirmava que ao fazerem força para alcançar
da, trouxe algum descrédito a toda a causa da evolução. Ten- alimento em árvores altas, as girafas esticavam seu pesco-
do ao fundo os princípios de Lyell, tais ideias aproximaram-se ço e com o tempo os pescoços ficavam mais compridos.
muito do darwinismo. Mas ficou para o próprio Darwin a re- Essa característica é passada às gerações seguintes, que
união de todos os dados e elaborar uma teoria incontestável. nascem gradativamente com o pescoço mais comprido.
Essa oposição foi utilizada, em fins do século XIX e Atualmente, essa ideia de Lamarck é rejeitada.
início do século XX, para classificar autores que escreviam A lei da transformação das espécies considera que o
sobre a evolução. Em uma época em que o darwinismo, ambiente afeta a forma e a organização dos animais, de
ou melhor, a seleção natural e a luta pela existência ain- tal modo que quando o ambiente se altera, no decorrer
da não se tinham consolidado como a explicação científica do tempo, produz modificações correspondentes na for-
dominante acerca da vida, havia autores que defendiam o ma do animal. Essa lei utiliza o princípio do uso e desuso,
lamarckismo como a teoria correta. Pensadores que não considerando que o uso de um dado órgão leva ao seu de-
eram cientistas ou naturalistas eram classificados numa ou senvolvimento e o desuso conduz a sua atrofia e, eventual,
noutra corrente, sendo elogiados ou criticados segundo a desaparecimento. Todas estas modificações seriam depois
preferência evolucionista do comentador. Parece-nos que transmitidas às gerações seguintes – lei da transmissão
este é o caso de uma tese de doutorado sobre Nietzsche, dos caracteres adquiridos. Assim, os filhos de um homem
defendida por Claire Richter em 1911 na Faculdade de Le- moreno pela exposição ao sol nasceriam com a pele mais
tras da Universidade de Paris e publicada no mesmo ano. escura; o filho de um atleta com músculos desenvolvidos
Esse é o tema deste artigo, ou seja, por meio da análise adquiriria, por sua vez, melhor estrutura muscular.
de Richter do pensamento nietzschiano sobre a evolução, Sobre a teoria da transmissão dos caracteres adquiri-
colocar à luz quais conceitos eram considerados propria- dos, Lamarck estava errado. De fato, o ambiente provoca
mente darwinianos e quais eram vistos como propriamente mudanças de fenótipo nos organismos, porém foi compro-
lamarckianos e, principalmente, entender por que essa dis- vado experimentalmente que as mudanças adquiridas não
tinção foi aplicada a um filósofo como Nietzsche. A auto- passam à prole.
ra utiliza noções bem estreitas para diferenciar a teoria de Em resumo, o mecanismo evolutivo proposto por La-
Lamarck da teoria de Darwin e, por isso, faremos algumas marck considera que as variações do meio ambiente levam
considerações sobre as duas teorias para enfatizar ainda o indivíduo a sentir necessidade de se adaptar; a lei do uso
mais esse procedimento de simplificação. e desuso; e a lei da transmissão dos caracteres adquiridos.
Uma leitura atenta dos textos de Darwin mostra, no en- Segundo Lamarck a evolução ocorre por ação do am-
tanto, que o naturalista inglês utiliza concepções também biente sobre as espécies, que sofrem alterações na dire-
presentes no pensamento de Lamarck. Há um conjunto co- ção desejada num espaço de tempo relativamente curto.
mum de noções entre os dois naturalistas que já aparece na Alguns aspectos desta teoria são válidos e comprováveis
primeira edição de A origem das espécies (1985 [1859]). Não como o caso do uso e desuso de estruturas. Sabe-se que a
estamos, com isso, querendo dizer que não há diferenças atividade física desenvolve os músculos e que um organis-
entre as teorias dos dois autores, elas existem e são determi- mo sujeito a infecções desenvolve imunidade. Do mesmo
nantes. Porém, queremos apontar a presença de interesses modo, uma pessoa que fique paralisada, sofre atrofia dos
não científicos ou pseudocientíficos na tentativa de fazer um membros que não utiliza.
corte radical entre o darwinismo e o lamarckismo. Denomina-se como neo-lamarckistas aqueles que
defendem que o meio realmente modela o organismo. A
A teoria da progressão de Lamarck teoria de Lamarck foi um importante marco na história da
Biologia, mas não foi capaz de explicar o mecanismo da
Jean-Baptiste Lamarck era um botânico reconhecido e evolução.
colaborador no Museu de História Natural de Paris. A pro- Jean-Baptiste Lamarck foi o primeiro a tentar montar
pósito dos seus trabalhos de sistemática, Lamarck enun- um esquema específico para explicar o mecanismo do pro-
ciou a lei da gradação, segundo a qual os seres vivos não cesso evolutivo dos seres vivos. Esse esquema pode ser
foram produzidos simultaneamente, num curto período de mais bem entendido por meio de algumas considerações
tempo, mas sim começando pelo mais simples até ao mais acerca dos termos utilizados pelo naturalista francês. O ter-
complexo. Esta lei traduz a ideia de uma evolução geral e mo “teoria da progressão de Lamarck”, ao invés de “teoria
progressiva. da evolução de Lamarck”, parece ser mais adequado . No
Lamarck defendia a evolução como causa da varia- início do século XIX, o termo “evolução” significava ontogê-
bilidade, mas admitia a geração espontânea das formas nese, isto é, o desenvolvimento do indivíduo do ovo à ida-
mais simples. Observando os seres vivos à sua volta, La- de adulta. O próprio Lamarck, para descrever suas ideias,
marck considerava que, por exemplo, o desenvolvimento lançava mão de outras palavras: aperfeiçoamento, progres-
da membrana interdigital de alguns vertebrados aquáticos são, desenvolvimento, progresso, mutação e mudança, que
era devida ao esforço que estes faziam para se deslocar compunham termos com palavras tais como organização e
na água. Assim, as alterações dos indivíduos de uma dada composição. A escolha de “progressão” é justificada por-
espécie eram explicadas por uma ação do meio, pois os or- que, em sua última obra, História natural dos animais sem
ganismos, passando a viver em condições diferentes iriam vértebras, essa palavra aparece frequentemente e, algumas
sofrer alterações das suas características. vezes, com a grafia destacada. O termo “teoria” era utili-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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zado pelo próprio naturalista francês para descrever suas (1) A vida tem uma tendência a aumentar continua-
conclusões. Na verdade, Lamarck nunca deu um nome a mente o volume do corpo vivo até o limite particular do
sua teoria da mudança e, além disso, sua intenção não era próprio corpo.
apenas propor uma teoria desse tipo, mas encontrar os (2) O surgimento de um novo órgão é resultado de
fundamentos teóricos de toda a biologia. uma nova necessidade que permanece e que provoca um
O que acabou sendo conhecido como lamarckismo em novo movimento nos fluídos corporais.
muitos meios, mesmo acadêmicos, como verá no caso de (3) O desenvolvimento dos órgãos e sua força de ação
Richter, é apenas uma parte do pensamento lamarckiano são proporcionais ao seu emprego.
sobre a vida. O lamarckismo foi identificado com a hipótese (4) Tudo que foi adquirido durante a vida de um indi-
da transmissão dos caracteres adquiridos e a teoria do uso víduo é conservado pela transmissão aos novos indivíduos.
e desuso, as quais são apenas duas leis dentro de uma teia Veremos adiante que Richter, para classificar Nietzs-
teórica complexa. O problema está não só na simplificação che como lamarckista, baseia-se quase que exclusivamente
das ideias lamarckianas, pois as duas leis mencionadas aci- nas duas últimas leis, as chamadas leis do uso e desuso
ma eram usuais na época, não sendo exclusivas do natura- e da transmissão dos caracteres adquiridos, utilizando-as
lista francês. Entre os vários aspectos que compõem a teoria inclusive como características que distinguem o lamarckis-
da progressão de Lamarck, podemos destacar os seguintes: mo do darwinismo. Mesmo o embriologista francês Félix
(a) A origem dos seres vivos. A natureza deu origem Le Dantec, em sua proposta de integração do lamarckismo
aos seres vivos sem intervenção divina, apenas com a atua- com o darwinismo, a qual abordaremos abaixo, identifica
ção das leis naturais. A vida é um fenômeno físico, o que o primeiro com essas duas leis. Assim, o contexto francês
faz com que Lamarck proponha a geração espontânea que interessa aos nossos objetivos parece fazer uma ex-
como processo de produção dos primeiros seres vivos. Os trema simplificação do pensamento de Lamarck. Por essa
outros viventes são produzidos por aumento de complexi- simplificação ter fundamentado os critérios para analisar o
dade, o que faz com que eles formem uma escala de grau pensamento nietzschiano, apresentamos um pouco mais a
de perfeição crescente. lei do uso e desuso e a lei da transmissão dos caracteres
(b) A distinção entre corpos vivos e inanimados. Embo- adquiridos.
ra todos os corpos sejam produtos da natureza regidos por A teoria lamarckiana da progressão, como vimos, pos-
leis e a vida seja um fenômeno físico, o fenômeno vital é tula que as modificações nos seres vivos ocorrem devido
resultante de um estado particular proveniente do conjun- a uma tendência natural de complexificação e a uma in-
to dos componentes do organismo, isto é, movimentos e teração dinâmica entre os organismos e o ambiente, de
mudanças em resposta a causas excitantes. tal modo que os primeiros poderiam modificar-se quan-
(c) O desenvolvimento sequencial dos seres vivos. A do diante de mudanças exteriores. Uma alteração no am-
explicação lamarckiana do surgimento da vida, do desen- biente exige o aumento ou a diminuição do uso de certas
volvimento dos seres vivos e do aparecimento das facul- partes do corpo. Com o uso ou desuso, a estrutura des-
dades superiores dos animais leva em consideração o jogo sas partes transforma-se. A alteração física ocorre porque
entre a atração universal e a ação repulsiva que atuariam a mudança do meio externo exige uma nova necessidade
sobre os constituintes materiais. (besoin); os fluidos e as forças corporais são mobilizados
(d) As duas causas da progressão. Primeira, o poder para modificar a estrutura que irá satisfazer a necessidade.
vital de aumentar a organização que multiplica os órgãos Esse movimento corporal é o que Lamarck chama “senti-
particulares e aperfeiçoa as faculdades; e a segunda, a in- mento interior”. Essa nova característica, se perdurarem
fluência do meio que, de modo acidental, modifica a ação as condições de seu aparecimento, repetir-se-á nas novas
da causa anterior, transformando as partes dos seres vivos. gerações, acabará sendo fixada e será transmitida aos des-
(e) As espécies são grupos arbitrários produzidos pelos cendentes. A transmissão para a nova geração de tudo o
naturalistas e não são naturais; essa concepção opunha-se ao que a natureza faz os indivíduos adquirir ou perder por in-
essencialismo vigente no pensamento sobre os seres vivos. fluência das condições exteriores ficou conhecida como lei
(f) A concepção de massa. As massas lamarckianas são da transmissão dos caracteres adquiridos. Lamarck afirma
grandes grupos de espécies semelhantes às atuais ordens. que “são os hábitos, a maneira de viver e todas as outras
Elas permitem comparar as espécies e definir qual a mais circunstâncias influentes que, com o tempo, constituíram a
perfeita, pois cada massa tem seu próprio sistema de ór- forma do corpo e das partes dos animais.
gãos que aumentam em perfeição. Em número de quator- Outro equívoco persistente sobre a posição de La-
ze, as massas também seguem um esquema de desenvolvi- marck na história da ideia de evolução é o de pensar que
mento: dos infusórios aos mamíferos, no caso dos animais. houve uma total rejeição do lamarckismo em sua época.
(g) As leis gerais de progressão dos animais. As circuns- Os textos do naturalista francês, com algumas semelhan-
tâncias externas, aliadas à tendência natural do aumento de ças à teoria de Erasmo Darwin, foram atacados por seus
complexidade, determinam o desenvolvimento e a conser- contemporâneos conservadores. Entretanto, eles foram
vação dos órgãos. A influência externa cria no organismo recebidos entusiasticamente por pensadores considerados
necessidades vitais que, como resposta, produzem hábitos radicais e fora do establishment científico. Os debates so-
nos organismos. As mudanças podem ser transmitidas à bre o lamarckismo teriam até mesmo contribuído para a
descendência sob certas condições. Lamarck resume a mo- emergência do darwinismo. Esse apoio e outras situações,
dificação e o progresso gradual em quatro leis. ainda criam problemas de interpretação para os historia-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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dores. Por exemplo, o trabalho de Lamarck foi realmente A teoria de Darwin considera que o ambiente faz uma
a primeira grande tentativa de construir uma teoria ampla escolha dos indivíduos. Para Darwin as forças responsáveis
sobre a transformação dos seres vivos, na qual todos os pela variação e pela seleção são diferentes, sendo que a va-
seres vivos se desenvolveram de ancestrais primitivos, e riação ocorre ao acaso, sem qualquer orientação evolutiva,
uma leitura rigorosa de seus textos mostra que sua teoria enquanto a seleção muda a população conferindo maior
é baseada em princípios significativamente diferentes dos êxito reprodutivo às variantes vantajosas.
atuais. Os neolamarckistas do final do século XIX, no en- Para Darwin, os ancestrais das girafas, de acordo com
tanto, consideravam que Lamarck propôs a moderna visão o documentário fóssil, tinham pescoço mais curto. O com-
de evolução, na qual todos os principais grupos de animais primento do pescoço variava entre os indivíduos das anti-
divergiram de um ancestral comum. O naturalista francês gas populações de girafas. Essa variação era de natureza
não prenunciou o conceito de divergência de um ancestral hereditária.
comum, enquanto Darwin trata a evolução como um pro- O tamanho do pescoço dos ancestrais da girafa va-
cesso de divergência (metáfora da árvore), Lamarck trata riava, sendo que alguns eram compridos e outros, mais
da progressão dos seres vivos por meio de várias séries curtos. Os animais de pescoço longo alcançavam as folhas
lineares (metáfora da escada). mais altas das árvores e levavam vantagem para se alimen-
  tar. Por isso, tinham mais chances de sobreviver e deixar
A teoria da evolução de Darwin descendentes.
A seleção natural privilegiou os indivíduos de pescoço
O inglês Charles Darwin, biólogo, tinha um enorme in- mais comprido durante milhares de gerações, e é respon-
teresse na natureza. Ele viajou por 5 anos (1831-1836) no sável pelo pescoço longo das girafas atuais. Esse processo
navio cartográfico Beagle, na época tinha apenas 22 anos, pressupõe a existência de variabilidade entre organismos
numa expedição ao redor do mundo. Nessa viagem, Dar- de uma mesma espécie (variabilidade entre as girafas). A
win reuniu uma imensa quantidade de informações, além mortalidade foi maior entre os indivíduos menos adapta-
do material biológico coletado em suas observações e pes- dos ao meio, pelo processo de escolha ou seleção natural,
quisas; decisivos para elaboração de suas ideias sobre o restando apenas as girafas que melhor se adaptaram ao
mecanismo da evolução e a origem das espécies. ambiente.
Seis anos, foi o tempo que Darwin levou para classificar e As mutações e a recombinação gênica são as duas im-
organizar os dados de sua viagem. Baseou-se em um ensaio portantes fontes de variabilidade. Essa variabilidade pode
de Thomas Malthus, Principles of population, de 1838, para permitir que os indivíduos se adaptem ao ambiente.
junto com seus dados elaborar a teoria da seleção natural. A teoria da evolução de Darwin surgiu após as inú-
Contudo, Darwin demorou a publicar sua teoria, pois temia meras observações realizadas em sua viagem ao redor
o impacto que poderia causar, já que a época era muito in- do mundo a bordo do Beagle, de 1831 a 1836. Por quase
fluenciada pela religião e conceitos fixistas. Em 1858, recebeu vinte anos, Darwin acumulou evidências e estudos sobre a
uma inesperada carta do naturalista Alfred Russel Wallace, mutação das espécies e os revelou apenas a uns poucos
que descrevia ideias sobre a evolução muito parecidas com amigos. Em uma carta de 11 de janeiro de 1844 a Joseph
as suas. Darwin levou um choque e, publicou A origem das Hooker, diz: eu estou quase convencido (completamente
espécies (que descrevia a teoria da seleção natural) em 1859, ao contrário da minha opinião inicial) que as espécies não
um ano depois do trabalho de Wallace ter sido apresentado. são (é como confessar um assassinato) imutáveis. Que os
A seleção natural proposta por Darwin considera que céus me protejam da insensatez de Lamarck da “tendência
os organismos vivos têm grande capacidade de reprodu- à progressão”, da “adaptação a partir da lenta vontade dos
ção, portanto cada população tem tendência para crescer animais”´ etc., porém, as conclusões às quais sou conduzido
exponencialmente, se o meio o permitir, levando à super- não são muito diferentes das dele, embora os meios de
produção de descendentes. Quando o meio não suporta mudanças sejam inteiramente outros.
tantos descendentes desencadeia-se uma luta pela so- Darwin possuía uma série de cadernos de notas pri-
brevivência entre os membros da população. Com isso, vados, identificados por letras e, através deles, podemos
poucos indivíduos chegam à idade de procriação, já que a acompanhar o desenrolar de suas ideias evolucionistas. Ele
quantidade de alimento existente no ambiente é limitada. passou a acreditar que alguma coisa deveria alterar con-
Outro fator considerado é a existência de variações heredi- tinuamente as espécies. Na anotação B18 do Caderno B,
tárias dentro de um mesmo grupo. Essas variações podem intitulado Transmutação das espécies (provavelmente ini-
ser transmitidas aos descendentes. Os indivíduos com ca- ciado em julho de 1837, logo após a viagem do Beagle,
racteres que lhes confiram uma vantagem competitiva num e terminado em fevereiro de 1838), lemos: “Causas des-
dado meio e tempo são mantidos por seleção e produzem conhecidas de mudança. Toda espécie que muda, progri-
mais descendentes, enquanto os restantes são eliminados, de. Homem obtém ideias. O mais simples não pode evitar
não se reproduzindo. Assim sobrevivem os mais aptos. Esse tornar-se mais complexo; e, se nós olharmos a origem pri-
fator é denominado reprodução diferencial. Por reprodu- meira, deve haver progresso”. Um trecho de B169 afirma
ção diferencial, as características da população vão mudan- que “se todos os homens morressem, então macacos pro-
do num espaço de tempo mais ou menos alargado. Dessa duziriam homens. Homens produziriam anjos”. Apesar do
forma, cada geração ficará sucessivamente mais adaptada sucesso de seus textos sobre a viagem e de seus espécimes
às condições do ambiente. coletados (animais, vegetais, fósseis e minerais) e de sua

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

convicção cada vez maior no processo de transmutação (e) Seleção natural. As transformações evolucionárias
das espécies, Darwin demora a publicar seu pensamento são causadas pela produção abundante de variação ge-
sobre o tema. Receios sobre a recepção de sua teoria, que nética em cada geração; os poucos indivíduos que sobre-
contrariava não apenas o conhecimento, mas também os vivem, devido a uma combinação particularmente bem
valores sociais vigentes, e sua insatisfação acerca dos da- adaptada de características herdadas, dão origem a uma
dos empíricos que poderiam corroborar suas ideias, além nova geração.
de alguns problemas particulares, fazem com que ele adie Entre as teorias darwinianas que não considera válidas
cada vez mais o aparecimento de suas conclusões sobre a atualmente temos a seleção sexual, a pangênese e o efeito
evolução. Em 1859, finalmente, publica A origem das espé- do uso e desuso.
cies, texto no qual a luta pela existência e a seleção natural
são conceitos axiais. Aspectos comuns aos pensamentos de Lamarck e
As transformações dos seres vivos são causadas, na Darwin
luta pela sobrevivência, pela seleção de determinadas ca-
racterísticas que são transmitidas à descendência. Essa se- Darwin, a exemplo da carta citada acima na qual com-
leção proposta por Darwin tem alguns pressupostos: parou de modo exagerado o lamarckismo com um crime,
(a) a existência de mais indivíduos do que suportam os não teceu palavras muito elogiosas sobre Lamarck: “[a obra
meios de subsistência (pressuposto baseado no princípio de Lamarck] parece-me extremamente pobre; não adquiri
de Malthus e responsável pela luta pela existência); dela um fato ou uma ideia”. Em outra carta a Joseph Hoo-
(b) a variabilidade dos seres vivos, o que aumenta a ker (10 de setembro de 1845), Darwin afirma, talvez com
probabilidade de alguma variedade possuir características uma dose de autoironia. Quão dolorosamente verdadeira é
que a favoreçam na luta pela existência; (para mim) tua observação de que ninguém tem o menor
(c) a transmissão hereditária das características selecio- direito de examinar a questão das espécies sem que haja
nadas, o que, ao longo do tempo, provoca a formação de descrito minuciosamente muitas delas. Ao que eu me lem-
uma nova espécie. bre, Lamarck é a única exceção de alguém que descreveu
A introdução de um elemento populacional, ou seja, a espécies com precisão, pelo menos no reino dos inverte-
diferença entre indivíduos, faz com que a evolução darwi- brados, a ter-se recusado a crer em espécies permanentes,
niana apresente um caráter não necessário, pois a seleção mas ele, em seu trabalho absurdo, apesar de brilhante, cau-
de determinada variação é contingente, ocorrendo através sou prejuízos a esse assunto, tal como fez o Sr. Vestígios,
da luta entre os próprios indivíduos e entre eles e as condi- e como fez (segundo dirá, talvez, algum futuro naturalista
ções ambientais do local onde vivem. O que é selecionado irrefletido que se arrisque a fazer as mesmas especulações)
não é nenhuma capacidade superior, mas apenas o suces- o Sr. D.[arwin].
so na sobrevivência e na reprodução. Não há nenhuma Apesar desses discursos, alguns aspectos presentes na
força ou agente que faça a seleção. A adaptação de uma teoria de Lamarck aparecem em A origem das espécies de
espécie constrói-se na interação entre os seres vivos e o 1859, por exemplo, o uniformitarismo, o gradualismo, o
seu ambiente. Darwin não chamava sua teoria de darwinis- papel do hábito na fixação de características, a ação do uso
mo, mas frequentemente se referia a ela como “teoria da e desuso de estruturas, a herança dos caracteres adquiri-
descendência com modificação por seleção natural”. dos e a questão das lacunas na sequência das espécies.
Podemos considerar que, de modo geral, uma sim- Vejamos a ação do uso e desuso e as lacunas na sequência
plificação também ocorre com a teoria de Darwin, já que de fósseis.
ela aparece muitas vezes reduzida basicamente à luta pela As variações, na teoria darwiniana, são a causa da di-
existência e à seleção natural. Considera-se a expressão versificação das espécies, contudo, não há necessidade de
“teoria da evolução de Darwin” uma aproximação grossei- que elas ocorram. A ocorrência das variações segue leis na-
ra, pois a teoria de Darwin pode ser considerada um con- turais que não estão vinculadas a nenhuma finalidade. Ao
junto de teorias. Considerando apenas aquelas teorias que discorrer sobre a variação nas espécies domesticadas, Dar-
pensa serem válidas atualmente, elas são as seguintes: win afirma não acreditar que “a variabilidade seja uma con-
(a) Evolução. O mundo não é constante, nem recen- tingência necessária e inerente, sob todas as circunstâncias,
temente criado, nem perpetuamente cíclico, mas está em com todos os seres orgânicos, como alguns autores pen-
constante transformação e os organismos modificam-se sam”. O naturalista inglês enumera várias prováveis causas
com o tempo. da variação, tais como o uso e desuso de certas estruturas,
(b) Descendência comum. Todos os grupos de organis- o intercruzamento de espécies, a ação direta das condições
mos descendem de um único ancestral comum. Animais, de vida sobre o sistema reprodutor, a correlação de cres-
plantas e microrganismos têm a mesma origem. cimento (a alteração de uma parte provoca mudanças em
(c) Multiplicação de espécies. A enorme diversidade outras partes relacionadas) etc.; no entanto, conclui, tanto
orgânica é explicada pelo surgimento de espécies a partir em A origem das espécies como em A descendência do
de outras espécies. Populações isoladas geograficamente homem, que o processo é muito complexo e multicausa-
evoluem para novas espécies. do. Considera-se que a ação direta do ambiente (condições
(d) Gradualismo. As transformações evolucionárias externas e alimentação) é muito pequena na produção de
ocorrem através de mudanças graduais das populações e modificações. Na citação abaixo, vemos que o papel do uso
não por produção repentina de novos indivíduos. e do desuso é significativo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Nossa ignorância das leis da variação é profunda. Em nenhum caso entre cem poderemos assinalar a razão pela
qual esta ou aquela parte difere, mais ou menos, da mesma parte dos ascendentes. Mas sempre que temos meios de
comparação, as mesmas leis parecem ter atuado para produzir as menores diferenças entre variedades da mesma espé-
cie, e as maiores diferenças entre espécies do mesmo gênero. Condições externas de vida tais como clima e alimenta-
ção etc., parecem ter induzido algumas leves modificações. Hábitos na produção de diferenças constitucionais, uso no
fortalecimento e desuso no enfraquecimento e diminuição de órgãos parecem ter sido mais potentes em seus efeitos.
Todas as causas de variação mencionadas, além de causarem variações que, ao serem selecionadas na luta pela so-
brevivência, originam novas espécies, são elas mesmas também causas do surgimento de espécies, porém, para Darwin,
a seleção natural é a principal e a mais predominante causa de novas espécies.
Lamarck tentava relacionar as características dos fósseis com aquelas de seres existentes, propondo que as diferen-
ças eram resultantes de transformações. Se, entretanto, uma espécie fóssil não correspondesse a nenhuma espécie de
organismo conhecida, o naturalista considerava que ela poderia ser descoberta algum dia. Dessa forma, a teoria tor-
nava-se compatível com as lacunas na sequência de espécies. Nas palavras do próprio naturalista francês, na verdade,
enquanto houver lacunas a preencher nas nossas distribuições, devido à quantidade de animais e vegetais que ainda
não foram observados, nós sempre encontraremos essas linhas de separação que nos parecem postas pela própria
natureza, mas essa ilusão se dissipará à medida que observarmos mais.
Ressalta-se que não queremos apontar aspectos lamarckistas em Darwin, o que seria persistir na simplificação rea-
lizada pelos autores franceses que estamos tratando. Conforme já dissemos sobre a teoria da progressão de Lamarck,
alguns desses aspectos eram comuns no pensamento biológico da época e a presença deles nos textos darwinianos
não faz do naturalista inglês um lamarckista. Texto adaptado de JÚNIOR. W. A. F.

ORIGEM DO HOMEM.

A origem da espécie humana pode ser investigada cientificamente por meio da análise minuciosa de inúmeras evi-
dências físicas obtidas de fósseis, restos arqueológicos, ossos e moléculas. A história evolutiva nos revela os primeiros
3,5 bilhões de vida neste planeta sem qualquer espécie que poderíamos reconhecer como “inteligente” até o apare-
cimento do Homo sapiens. Há pelo menos 6 milhões de anos, uma população de primatas do noroeste da África se
dividiu em duas linhagens que passaram a evoluir independentemente: a primeira continuou no ambiente da floresta
tropical e originou os chimpanzés de hoje, e a segunda se adaptou a outros ambientes mais abertos, nas savanas do
leste africano, e resultou, há 200 mil anos, na espécie Homo sapiens.
Esta antiga população africana deu origem a todos os povos atuais. Portanto, apenas 8.000 gerações de humanos
(considerando um tempo de geração de 25 anos para nossa espécie) foram suficientes para a ocupação de todos os
continentes e o acú- mulo de uma grande diversidade genética entre as populações humanas. A espécie humana, o
Homo sapiens, é apenas uma entre as mais de 8 milhões de espécies estimadas pela Ciência que, além de outras pecu-
liaridades, consegue refletir sobre suas próprias origens. O conhecimento da história natural de nossa espécie nos apro-
ximou dos outros seres vivos que também resultaram dos 3,5 bilhões de anos de evolução biológica no planeta Terra.
O homem moderno “emerge” há 200 mil anos na África e posteriormente povoou a Ásia, a Oceania e o Novo
Mundo. Essa espécie de primata inteligente1 ocupou muitos ambientes e lugares distantes na pré-história sem utilizar
a escrita ou fundar cidades e com muito poucas manifestações culturais da humanidade atual. Além disso, estamos
aparentemente sozinhos, sem outra espécie competidora que seja equivalente do ponto de vista intelectual ou eco-
lógico, apenas nos últimos 28 mil anos. Nos últimos milênios, principalmente a partir do início do sedentarismo e da
agricultura, há 12 mil anos, nossa espécie seguiu o atalho rápido da evolução cultural em um ritmo que ultrapassa os
limites intelectuais de um humano comum, dependente de uma vida em sociedade que dita as “regras do jogo”. Somos
uma espécie peculiar de primata descendente de uma linhagem que sobrepujou todos os seus adversários diretos, que
também dominavam de forma similar o ambiente ao seu redor. Desvendar esse passado evolutivo também pode ser
útil para entender o nosso presente e vislumbrar o futuro da humanidade.

O homem entre os Primatas

O Homo sapiens é uma espécie de antropoide (macaco) da ordem Primata, que inclui espécies de dois grandes
grupos taxonômicos (infraordens): os Strepsirrhini (lêmures, lórises e gálagos) e os Haplorrhini (tarsos e antropoides).
Os primatas antropoides possuem várias características compartilhadas como cérebro desenvolvido, face pequena com
olhos projetados para frente, dedos oponíveis e unhas nas mãos e nos pés que possibilitam agarrar, duas mamas, ca-
pacidade para ficar ereto entre outras.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Em 1863, Thomas Huxley fez a primeira obra dedicada exclusivamente à evolução da espécie humana, apresentando
vários dados relativos à relação de ancestralidade comum com outros primatas (figura 1). Posteriormente, em 1871, Darwin
publicou suas análises no livro “A ancestralidade humana”, no qual deduziu: como estas duas espécies (chimpanzé e gorila)
são consideradas os parentes mais próximos do homem, isto torna muito mais provável que nossos primeiros ancestrais
teriam vivido também na África”. Nesse momento, não era conhecido cientificamente nenhum fóssil da linhagem humana,
mas, como veremos, a dedução que Darwin elaborou no século XIX foi amplamente corroborada por dados fósseis, mor-
fológicos e genéticos

FIGURA 1 – Comparações de esqueletos dos grandes macacos sem cauda. Figura extraída do livro “Evidências do lu-
gar do homem na Natureza. Os esqueletos representados não estão em escala proporcional ao tamanho de cada espécie.
A genealogia de primatas representada na figura 2 ilustra a história de diversificação e os tempos estimados de diver-
gência entre as espécies existentes da família Hominidae. Inúmeras evidências comportamentais, morfológicas, fisiológicas,
bioquímicas e genéticas corroboram o parentesco mais próximo entre homens e chimpanzés (compartilham um ancestral
comum mais recente) do que um destes com o gorila ou orangotango. Na figura 2, também está demarcada a parte da
genealogia em que se encontram os hominídeos fósseis. Ressalta-se que todos já descobertos são mais relacionados à
linhagem humana do que aos chimpanzés.

FIGURA 2 – História de diversificação evolutiva (filogenética) dos hominídeos, ressaltando-se os tempos de separação
entre algumas linhagens (elipses fechadas) e a ocorrência de fósseis relacionados com a linhagem humana (elipse pontilha-
da). As espécies representadas (da esquerda para direita) são: duas espécies de chimpanzé (Pan paniscus e Pan troglodites),
homem (Homo sapiens), gorila (Gorillagorilla) e orangotango (Pongo pygmaeus).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Paleoantropologia

A pesquisa paleoantropológica é de grande importância para o estudo da ancestralidade humana devido à grande
riqueza de evidências fósseis (milhares de registros de mais de 20 espécies) e à sua ligação direta com o passado de nossa
espécie. Vários hominídeos ancestrais diretos ou relacionados ao nosso passado evolutivo foram e estão sendo descober-
tos a todo o momento. A curiosidade sobre nossas origens é a principal motivação para tantos achados fósseis.
Como mencionado anteriormente, há muito mais fósseis relacionados proximamente à nossa espécie do que qualquer
outra linhagem de primata (figura 2). Isso se relaciona com o fato de a linhagem humana ter-se diferenciado das demais
espécies de primatas pela ocupação dos mais diversos ambientes, dos desertos às montanhas, dos trópicos aos ambientes
polares, o que não se deu com nossos “primos”, como os chimpanzés e os gorilas, que até hoje permanecem na floresta
equatorial africana. O domínio da floresta equatorial chuvosa não é propício à fossilização. Em ambientes mais secos, como
savanas, desertos e cavernas, a formação de fósseis é muito mais provável. Essa diferença de ocupação de habitat explica
a descoberta de fósseis relacionados à nossa espécie, enquanto as linhagens ancestrais dos chimpanzés e dos gorilas não
deixaram fósseis preservados para detalhar seu passado.
Há mais de 20 espécies fósseis descritas que estão relacionadas com a linhagem humana, como ancestrais diretos ou
espécies que compartilham ancestrais recentes conosco. Essas espécies antigas (figura 3) apresentam muitas características
derivadas que são compartilhadas com o homem moderno, mas inexistentes nos chimpanzés e em outros primatas. Muitas
características do esqueleto, por exemplo, estão associadas à adaptação ao bipedalismo, incluindo estruturas modificadas
na coluna, bacia, crânio, membros e pés, que são exclusivas da linhagem humana, isto é, existem apenas nesses fósseis e no
homem moderno (Robson; Wood, 2008). Vários fósseis da linhagem humana foram descobertos (figura 3), todos datados
nos últimos 7 milhões de ano. De todos os fósseis encontrados na África, aqueles que estão mais provavelmente relacio-
nados à nossa ancestralidade direta são das espécies: Sahelanthropus tchadensis (figura 3a) de ~6,5 milhões de anos atrás
(Maa), Australopithecus afarensis (figura 3c) de 4,5 a 3,5 Maa, Homo habilis (figura 3f) de 2 a 1,8 Maa e Homo erectus (figura
3g e 3h) de 1,8 a 0,2 Maa.

FIGURA 3 – Restos fossilizados de algumas espécies da linhagem humana. Várias espécies se diversificaram nos últimos
7 milhões de anos, após a separação entre a linhagem humana e a dos chimpanzés. Algumas espécies, como o Orrorin
tugenensis e o Ardipithecus kadabba, são conhecidas por apenas alguns fragmentos ósseos, sem crânio preservado.

A descoberta do homem de Toumai, Sahelanthropus tchadensis (figura 3a), causou inicialmente uma grande controvér-
sia. Trata-se do fóssil de uma espécie que vivia na transição entre floresta e savana (atual Chade, África) e que sugere uma
divergência mais antiga entre as linhagens do homem e dos chimpanzés (~7Maa). Essa espécie apresenta uma estrutura
modificada na base do crânio, que é indicativa de uma postura ereta, uma adaptação característica da nossa linhagem,
sugerindo o S. tchadensis como ancestral direto de toda a linhagem humana. No entanto, novas escavações e estudos
comparativos estão sendo executados para investigar detalhadamente essa questão.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Outro provável ancestral direto da espécie humana é o Australopithecus afarensis, também conhecido como Lucy (fi-
gura 3c). Essa espécie viveu no período de 4 a 3 Maa e foi o primeiro esqueleto completo de hominídeo antigo encontrado
na África (Quênia).
Apesar de ter um cérebro do tamanho parecido ao de um chimpanzé (~400 cm3 ), os ossos da bacia, da coluna verte-
bral, do crânio e dos pés indicam uma postura ereta. O bipedalismo configura característica marcante e fundamental para
toda a linhagem humana, possibilitando a diferenciação inicial de nossa linhagem em relação à dos chimpanzés, desmistifi-
cando a ideia, do início do século XX, de que o cérebro (a inteligência) seria a diferença primária e direcionadora da evolu-
ção humana em relação aos seus parentes primatas mais próximos. A linhagem humana foi muito mais diversa no passado.
Análises comparativas das estruturas corporais de inúmeras espécies fósseis indicam que muitas delas não devem ser
nossos ancestrais diretos, apesar de terem ancestrais comuns mais recentes conosco do que com os chimpanzés. Paran-
thropus aethiopicus (figura 3e), P. boisei e P. robustus (figura 4) possuem, por exemplo, estruturas únicas que indicam uma
especialização ao nicho alimentar: as espécies do gênero Paranthropus têm adaptações a hábitos vegetarianos que favore-
cem o aproveitamento de diversos alimentos vegetais, incluindo grãos e tubérculos muito duros. Como nossa espécie não
herdou essas adaptações aos hábitos vegetarianos estritos, além de outras características ósseas, as espécies do gênero
Paranthropus são excluídas da nossa ancestralidade direta. As várias espécies da linhagem humana do passado provavel-
mente se diversificaram com relativo sucesso porque tinham algumas adaptações-chave como bipedalismo e inteligência,
mas por causa da competição por nichos alimentares, tenderiam a especializar-se em recursos não utilizados pelas espécies
equivalentes.

FIGURA 4 – Réplicas dos crânios de duas espécies fósseis de hominídeos do gênero Paranthropus: à esquerda P. ro-
bustus (2Maa) e à direita P. boisei (2,3 Maa). Essas espécies vegetarianas possuem ancestrais comuns com a nossa espécie,
mas não são nossos ancestrais diretos.

A existência de inúmeras espécies de hominídeos bípedes, muitos deles coexistindo na mesma época e local, e simi-
larmente inteligentes (figura 5), nos traz reflexões sobre o passado de nossa linhagem e nossa existência atual. A linhagem
humana, que se divergiu do chimpanzé pelo menos há 6 milhões de anos, ocupou ambientes diferentes da floresta equa-
torial, sendo muito bem sucedida evolutivamente.
Com o aumento do cérebro e a diversificação de espécies, principalmente a partir de 2 Maa com as primeiras espécies
do gênero Homo, houve uma provável especialização a nichos particulares, com o uso cada vez mais importante do inte-
lecto para a obtenção de recursos alimentares como na caça e coleta, na fuga de predadores e para a vida em sociedade.
Há 40 mil anos (Kaa) os Neandertais (Homo neanderthalensis) já conviviam com os Cro-Magnon (Homo sapiens, homem
moderno que veio da África). No entanto, há 28 mil anos, pela ausência de fósseis de neandertais na Europa, infere-se a sua
extinção no Velho Mundo. Já, há 13 mil anos, também se extinguiu o Homem de Flores (H. floresiensis) na Indonésia, sem
registro de contato com o H. sapiens.
As evidências fósseis e alguns registros arqueológicos indicadores de um comportamento social similar entre essas
espécies sugerem uma potencial competição interespecífica por recursos obtidos pelo uso do intelecto e da cognição do
meio ambiente. Essa competição pode ser exemplificada em tempos mais recentes pelas disputas registradas por território
e outros recursos entre populações humanas no período histórico, quando populações indígenas foram aniquiladas (ou
quase) por populações dominadoras (conquistadores).

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FIGURA 5 – Cronologia da ocorrência de espécies da linhagem humana encontradas nos últimos 7 milhões de anos
(do Mioceno ao Holoceno). Várias espécies de hominídeos bípedes coexistiram em determinados momentos, mas apenas
uma espécie em cada período (as mais prováveis estão marcadas com) pode se encaixar na linhagem ancestral direta do
homem anatomicamente moderno.

A paleoantropologia considera, atualmente, Homo erectus um complexo de várias espécies, portando cérebros gran-
des e nomes diferentes, abrangendo fósseis de 2 Maa a 200 Kaa que ocuparam diferentes partes da África, Ásia e Europa
(figura 7). As formas mais antigas da África e da Europa são muitas vezes chamadas de Homo ergaster, possuindo cérebros
um pouco menores (~900 cm3 ) do que as formas mais recentes, tal como o Homo heidelbergensis da Europa (~1190 cm3
) ou o Homo rhodesiensis (~1230 cm3 ) da África.
Por causa dos tamanhos dos cérebros que se superpõem aos tamanhos encontrados atualmente em alguns humanos
modernos4 , esses H. erectus mais recentes já foram chamados de H. sapiens arcaicos, juntamente, por exemplo, com o
Homo neanderthalensis da Europa e do Oriente Médio. O complexo de espécies do Homo erectus está no cerne da dis-
cussão sobre a origem do homem moderno, o Homo sapiens. Nessa discussão, também está sempre presente o homem
de Neandertal, que para a maior parte dos pesquisadores seria descendente do H. erectus europeu ou H. heidelbergensis,
mas não seria ancestral direto do homem moderno (H. sapiens). Para uma minoria de pesquisadores defensores do modelo
multirregional de origem do H. sapiens, o homem de Neandertal seria o ancestral do moderno homem europeu, assim
como outras variedades de H. erectus da Ásia seriam ancestrais dos homens modernos asiáticos. Independentemente da
interpretação do registro fóssil acerca da origem do homem, todos os pesquisadores aceitam que o homem anatomica-
mente moderno (Homo sapiens) apareceu inicialmente na África.
Os fósseis mais antigos de H. sapiens são encontrados no rio Omo, na Etiópia, e foram datados ao redor de 190 Kaa
(figura 6). Esses crânios recuperados demonstram todas as características presentes no homem moderno, embora apresen-
tem ossos mais robustos e cérebros maiores do que a média atual. Recentemente, estudos paleoantropológicos demons-
traram que a espécie humana apresentou uma redução de até 10% da massa cerebral nos últimos 10 mil anos, hoje com
média de 1350 cm3. Os maiores volumes cerebrais registrados estão na espécie do homem de Neandertal (H. neandertha-
lensis), de 80 a 30 Kaa, com média de 1450 cm3 , e entre os H. sapiens da Europa (homem de Cro-Magnon), de 30 a 20 Kaa,
que possuíam média de 1500 cm3 de cérebro.

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FIGURA 6 – A origem do homem anatomicamente moderno (Homo sapiens) remonta a 190 Kaa no vale do rio Omo
da Etiópia (nordeste da África). Esses indivíduos possuíam cérebro maior do que a média atual e várias características mor-
fológicas compartilhadas com o homem de hoje. Acima, um crânio de H. sapiens da Etiópia de 160 Kaa é comparado com
um H. erectus africano de 500 Kaa e o H. neanderthalensis europeu de 100 Kaa, espécies essenciais para a compreensão da
origem da espécie humana.

A origem do homem moderno

Nossa espécie é de origem recente, não mais do que 200 mil anos, fato corroborado por vários estudos de genética e
paleoantropologia. No tocante ao homem moderno, levando-se em conta todas as populações atuais, considera-se que
ele pertence à espécie Homo sapiens, também conhecida pelos paleoantropólogos como “homem anatomicamente mo-
derno”. Alguns raros pesquisadores sustentavam a ideia de que os homens atuais deveriam ser considerados uma raça ou
subespécie, o Homo sapiens sapiens, pois acreditavam que o homem de Neandertal seria outra raça extinta recentemente,
o Homo sapiens neanderthalensis.
No entanto, dados arqueológicos, paleoantropológicos e estudos genéticos atuais mostram para uma separação bem
antiga entre essas duas linhagens, que, embora tenham convivido por 5.000 anos na Europa, não se hibridizaram de ma-
neira significativa. Portanto, essas duas linhagens de hominídeos são atualmente consideradas, na nomenclatura científica,
duas espécies distintas, Homo sapiens e Homo neanderthalensis. A história da nossa espécie é objeto de investigação de
várias disciplinas que se baseiam nos vestígios deixados pelos humanos no passado. Como vimos no tópico anterior, a pa-
leoantropologia descobriu uma série de evidências fósseis que foram úteis para demonstrar a origem africana da linhagem
humana, mas também dispomos atualmente de várias outras evidências que se complementam para detalhar um pouco
mais essa história, principalmente no que diz respeito à origem de nossa espécie e como ela povoou todos os continentes.
Assim, evidências de arqueologia, genética e linguística se somam aos dados de antropologia física (morfologia e paleoan-
tropologia) para a reconstrução histórica do passado de nossa espécie.
No entanto, a origem do homem moderno, ou seja, a transição de Homo erectus para Homo sapiens, é questão mais
debatida nesses estudos multidisciplinares. Há dois modelos diferentes que interpretam as evidências disponíveis de for-
mas distintas quanto à origem da espécie humana, embora ambas considerem a África o berço da humanidade. O modelo
Multirregional (ou fora da África antiga) indica que a espécie H. sapiens se originou dos vários H. erectus e dos seus descen-
dentes, que já estavam na Ásia e Europa há até 1,8 milhão de anos. O modelo Fora da África Recente (ou da substituição)
considera que o homem moderno se originou há apenas 200 mil anos, na África, exclusivamente do H. erectus africano.
O modelo Multirregional enuncia que esses homens anatomicamente modernos teriam surgido paralelamente em dis-
tintos pontos do planeta, originados das populações de Homo erectus, que desde 1,8 Maa, teriam dispersado da África para
Ásia e Europa . Nesse modelo, a anatomia moderna também surgiu ao redor de 190 Kaa na África, mas isso não marcaria
a origem de nossa espécie, que seria mais antiga, ao redor de 1,8 Maa, quando os fósseis desses hominídeos eram conhe-
cidos como Homo erectus. Os defensores desse modelo reivindicam que todas as populações de Homo erectus situadas
na África, Ásia e Europa teriam desenvolvido, ao longo do tempo, um cérebro maior e características anatômicas modernas
comuns porque havia um alto fluxo gênico entre as populações dos distintos continentes. Para o modelo Multirregional, o
homem de Neandertal não teria sido extinto e substituído pelo homem moderno, mas seria seu ancestral imediato, mais
especificamente, ancestral dos europeus modernos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

O Homo sapiens aparece no registro fóssil ao redor de 190 Kaa na Etiópia, nordeste da África. Esses ossos fósseis,
principalmente crânios, são identificados por uma série de características anatômicas que, para a maioria dos paleoan-
tropólogos, indica o aparecimento do homem anatomicamente moderno, e, por isso, nossa espécie é considerada muito
recente em termos evolutivos. Esse modelo enuncia que migrações de homens anatomicamente modernos saídos da África
ocorreram a partir de 60 Kaa, culminando com o aparecimento do homem moderno na Europa (homem de Cro-Magnon)
ao redor de 40 Kaa, quando foi contemporâneo do homem de Neandertal. Portanto, no modelo “Fora da África Recente”,
os homens modernos substituem as populações dos descendentes de H. erectus que já habitavam também a Europa e a
Ásia, tal como o Neandertal.

Evidências genéticas da evolução humana

Os vestígios investigados pela genética se encontram nos genomas das populações humanas que registram nosso
passado na forma de variações de sequências de DNA dos cromossomos. A análise dessas variações é usada para traçar
as migrações das populações e a origem de nossa espécie. No entanto, os movimentos migratórios iniciados pelas ex-
plorações marítimas no final do século XV desencadearam um processo de miscigenação que foi altamente intensificado
recentemente pelo uso de vários meios de transporte. Para a genética de populações, essas migrações representaram o
aumento do fluxo gênico entre diferentes grupos étnicos de diferentes continentes, um fator que mascara o registro histó-
rico preservado no genoma das populações formadas antes da Era Contemporânea. As populações indígenas (nativas ou
aborígenes) se mantiveram relativamente isoladas por vários milênios após terem-se estabelecido nos cinco continentes
durante nossa pré-história.
As evidências atuais indicam que o povoamento dos continentes teria ocorrido durante os últimos 100 mil anos e se
dado a partir da África, local de origem do homem anatomicamente moderno. Para desvendar o nosso passado no âm-
bito da genética histórica, faz-se necessário o estudo de variações no DNA de populações indígenas ou aborígines que
representam o legado genético dessa época anterior aos movimentos migratórios dos últimos 500 anos. Dessa forma, nos
estudos genético-evolutivos, são analisadas, por exemplo, populações isoladas de Portugal e Inglaterra que representam
os aborígines da Europa ou de índios amazônicos e andinos, que são aborígines das Américas.
Embora não exista um registro histórico (escrito) de muitos movimentos migratórios antigos de nossa espécie, as
evidências genéticas devem ser comparadas e complementadas com outros estudos da arqueologia, linguística, etnologia
e paleoantropologia. Atualmente, muitas evidências genéticas da evolução humana se baseiam em marcadores genéti-
cos uniparentais que reconstroem a história das linhagens maternas, representadas pelas variantes de DNA mitocondrial
(DNAmt), e das linhagens paternas, com dados de variações do cromossomo Y (Santos et al., 1996). Essas linhagens são
segmentos de DNA transmitidos ao longo das gerações, que não sofrem influência da recombinação, pois são regiões
efetivamente haploides, isto é, possuem uma única cópia (Y), ou único tipo (DNAmt), por genoma, ao contrário dos pares
cromossômicos de 1 a 22. Consequentemente, esses segmentos de DNA são herdados de apenas um dos genitores: o
cromossomo Y é sempre herdado do pai pelos filhos, e o DNA mitocondrial é sempre herdado da mãe pelos filhos e filhas
(figura 7). Por essas características, as linhagens do Y e DNAmt acumulam variações genéticas sequencialmente ao longo
das gerações, uma propriedade que possibilita, por exemplo, o mapeamento de rotas migratórias e determinação do local
de origem de nossa espécie. Além disso, sabendo-se que haverá mais mutações quanto mais gerações se passarem, pode-
-se fazer uma datação da origem dessas linhagens e, consequentemente, inferir uma data aproximada da origem da nossa
espécie. As linhagens maternas (matrilinhagens) e linhagens paternas (patrilinhagens) podem contar histórias distintas, mas
complementares sobre a evolução do homem moderno.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

FIGURA 7 – Herança cromossômica através de quatro gerações: estão ressaltados os marcadores biparentais (pares
cromossômicos maiores encontrados em homens e mulheres), uniparentais paternos (cromossomo Y que é menor e en-
contrado somente nos homens) e maternos (DNA mitocondrial, representado por um círculo e é encontrado nos homens
e mulheres, mas herdados apenas das mães). Os autossomos (cromossomos biparentais maiores) podem sofrer recombi-
nação a cada geração, ilustrados aqui com diferentes cores definidas na geração dos bisavôs. A geração atual (filho e filha)
apresentam autossomos compostos de fragmentos de diferentes cores, que representam a recombinação entre cada par
autossômico (cromossomos 1 ao 22) a cada geração. O cromossomo Y e o DNA mitocondrial são herdados de apenas um
dos pais (pai e mãe, respectivamente) em cada geração, sem recombinação.

As análises de linhagens uniparentais começam com a caracterização das variações (mutações) em diferentes posições
do Y e do DNAmt, que são conhecidas como alelos. A combinação de vários alelos em diferentes posições do DNA é co-
nhecida como haplótipo, que determina um tipo específico de cromossomo Y ou DNAmt. Esses haplótipos correspondem
a indivíduos, e cada população pode ser então definida por um conjunto de haplótipos.
A genética de populações utiliza-se da relação genealógica entre os haplótipos e de sua distribuição nas populações
de diferentes regiões do planeta para traçar a pré-história humana, elucidando as rotas migratórias até nossa origem mais
remota. O grupo do Dr. Alan Wilson, do Havaí, nos EUA, publicou há 3 décadas o primeiro estudo célebre com linhagens
maternas em evolução humana. A análise do DNAmt de populações indígenas de todos os continentes indicou uma origem
africana e recente (menos de 200 mil anos) para a nossa espécie, estudo que ficou conhecido como a busca da “Eva” mito-
condrial. Posteriormente, com o estudo de variações do cromossomo Y humano em populações nativas humanas, vá- rios
grupos confirmaram nossa origem africana recente, ao redor de 150 Kaa, hipótese chamada metaforicamente de “Adão”
genético. Ambas as linhagens paternas e maternas se complementaram, indicando uma origem recente para a nossa es-
pécie na África (figura 8).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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FIGURA 8 – Mapa das migrações humanas mostrando a origem do homem na África há ~200 mil anos, com posterior
povoamento dos demais continentes a partir da África, iniciado há 60 mil anos.

Outro estudo recente do Projeto Genográfico gerou e analisou dados de genomas mitocondriais completos em várias
populações nativas africanas. Nesse estudo, foi reafirmada a origem da espécie humana na África, ao redor de 190 mil anos
atrás, provavelmente no nordeste africano, próximo da Etiópia. Esse estudo também demonstrou que pelo menos 2/3 de
toda a história do homem moderno se deu exclusivamente na África (entre 190-60 Kaa), espalhando-se para os demais
continentes apenas nos últimos 60 mil anos.
Esse e vários outros estudos genéticos também demonstram um momento crucial na história da humanidade, quando,
ao redor de 65 Kaa, houve um grande declínio populacional que quase levou nossa espécie à extinção. As análises genéticas
de reconstrução paleodemográfica sugerem que toda a população humana do final do Pleistoceno foi reduzida a apenas
mil indivíduos . Alguns pesquisadores consideram como possíveis causas as mudanças climáticas abruptas do Pleistoceno e
a explosão do supervulcão Toba, na Indonésia. A erupção do Toba, há ~70 mil anos, teria coberto o céu de cinzas por uma
década ou mais, o que produziu um “inverno vulcânico” e afetou drasticamente várias espécies animais e vegetais no Velho
Mundo, colocando a espécie humana à beira da extinção.

Análise de genomas antigos

Outra abordagem recente da genética, a arqueologia molecular, tem possibilitado o estudo do DNA de alguns fósseis
não mineralizados e bem preservados em ambientes frios e secos, e solos congelados, por exemplo. Nesses primeiros es-
tudos, utilizou-se o DNA antigo, ainda preservado, em ossos de homens de Neandertal para gerar sequências de DNAmt,
mas, em estudos mais recentes, sequências parciais do genoma nuclear foram também gerados. Os Neandertais eram pro-
vavelmente muito inteligentes, com o cérebro em média maior do que o dos humanos atuais. O Homo neanderthalensis
é normalmente considerado uma espécie com evolução separada da nossa, pelo menos dentro do modelo Fora da África
Recente. Isso significa que os homens de Neandertal não seriam nossos ancestrais diretos, mas contemporâneos dos an-
cestrais de europeus (os Cro-Magnon).
No entanto, para a Teoria Multirregional, menos aceita, o homem de Neandertal seria ancestral direto das populações
do homem moderno que hoje habitam a Europa. Portanto, estudos de DNA do homem de Neandertal podem revelar deta-
lhes importantes para compreender qual dos modelos de origem do homem moderno é mais adequado Analisando ossos
antigos, foi possível recuperar e sequenciar o DNAmt de três exemplares de Neandertal. Esse primeiro estudo do grupo
do Dr. Svante Paabo da Alemanha demonstrou que o Neandertal não se encaixava como possível ancestral direto, mas,
sim, como um grupo de indivíduos de uma linhagem separada do homem moderno há mais de 500 mil anos (figura 9).
Inúmeros estudos de genomas antigos foram publicados nos últimos dois anos, inclusive a análise de genomas completos
de Neandertais e de outra linhagem da Sibéria, proximamente relacionada aos Neandertais, chamada de Denisovanos. As
análises desses genomas antigos demonstraram que ocorreu alguma hibridização interespecífica entre o homem moderno
e as linhagens de Neandertal e Denisovanos, provavelmente na região do Oriente Médio e Ásia Central, ao redor de 100
mil anos atrás. Isso resultou em um legado genético de menos de 4% de alelos derivados de outras espécies no genoma
dos homens modernos, encontrados principalmente nas populações nativas (indígenas) de regiões de fora da África sub-
saariana.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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FIGURA 9 – Relação genealógica (filogenia) do DNAmt do Neandertal em relação à espécie humana. Esses dados
indicam uma separação antiga dos homenos modernos (verde) e da linhagem neandertal (vermelho), sugerindo que os
europeus não sejam descendentes diretos dos neandertais.

A identificação de algumas variações gênicas derivadas de Neandertais e Denisovanos levou a vários novos estudos
e questionamentos do tipo: por que não há mais genes de Neandertais entre os indígenas europeus já que os humanos
modernos conviveram entre 40 e 28 Kaa na Europa? Uma possível explicação é que essas linhagens já tinham isolamento
reprodutivo completo nesse período, mas não em épocas anteriores a 100 Kaa. Outros estudos recentes indicaram que
provavelmente esses genes de Neandertais e Denisovanos persistiram porque tiveram alguma importância adaptativa,
como as variantes relacionadas à adaptação ao frio na Ásia e Europa. No entanto, essas conclusões ainda são preliminares
e muitas novidades devem surgir ainda nesta década.

Diferenças biológicas entre populações continentais na espécie humana

As diferenças biológicas encontradas entre os vários povos da Terra são marcantes e foram utilizadas no passado para
a atribuição de indivíduos a distintas “raças” humanas. Um estudo do fim do século XIX feito pelo alemão Ernest Haeckel,
cientista com um grande viés lamarckista, sugeria a existência de 12 “raças” humanas derivadas de uma população origi-
nada no “Paraíso”, para ele, próximo às ilhas Maldivas no Oceano Índico. Em biologia evolutiva, sistemática e taxonomia, o
termo “raça” é uma subdivisão da espécie, equivalente ao termo subespécie, embora nos processos de seleção artificial e
domesticação de animais, raças veterinárias podem ter inúmeros outros significados.
A “raça” na biologia evolutiva resulta de processos de divergência populacional, principalmente por seleção natural e deriva
genética. Esse termo é mais apropriadamente aplicado a populações (ou grupos) geograficamente restritas que possuem um
isolamento reprodutivo significante em relação a outras populações. Portanto, “raças” biológicas surgem no caminho da espe-
ciação, sendo muitas vezes reconhecidas como espécies incipientes (ou quasi-espécies). Espécies silvestres, que possuem subes-
pécies (raças) bem definidas, têm geralmente origem muito antiga (milhões de anos), com populações apresentando grande
divergência genética acumulada durante várias gerações de isolamento. Nas espécies reconhecidas de acordo com o conceito
biológico de espécie, essa diferenciação de subespécies deve resultar no início da formação de algumas barreiras reprodutivas.
Esse é o caso do chimpanzé, espécie que é dividida em três subespécies (raças), que, à primeira vista, para nós são muito seme-
lhantes. Outras divisões populacionais claras são também encontradas entre os gorilas e os orangotangos, mas não na espécie
humana. Entre nossa espécie e o chimpanzé, ou entre o chimpanzé e o gorila, o isolamento reprodutivo é completo, e espera-se
que algumas dificuldades reprodutivas apareçam entre subespécies de primatas, gerando um fenômeno deletério chamado de
depressão exogâmica. No entanto, não há qualquer indício de que existam barreiras reprodutivas entre quaisquer indivíduos de
populações humanas nativas (indígenas, não miscigenadas) de diferentes continentes.
Com o avanço do projeto genoma humano (e outras espécies de macacos) e a descrição de muitas variações de se-
quências, verificou-se que a nossa espécie, o Homo sapiens, tem variabilidade genética muito menor do que as outras
espécies de grandes macacos, principalmente o chimpanzé. Isso reflete o fato de que o homem moderno surgiu em um

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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tempo mais recente (~200 mil anos atrás) do que os demais macacos, e, portanto, pouca variabilidade foi acumulada em
nossa espécie, resultando em menor divergência genética entre as populações. A divergência em nossa espécie pode ser
analisada observando-se a partição da variabilidade genética em diferentes níveis: dentro das populações ou individual,
entre as populações e entre os grupos geográficos/ continentais, que seriam as supostas “raças” (figura 10). Para todos
os dados genéticos utilizados, observa-se em média uma grande variabilidade interindividual, uma menor variabilidade
interpopulacional e uma variabilidade insignificante entre grupos continentais (indígenas) na espécie humana. Esses dados
indicam que não há divergência suficiente (significativa) para identificar raças biológicas (subespécies) na espécie humana,
tal como existe, por exemplo, nos chimpanzés, uma linhagem antiga (mais de 1 milhão de anos), cuja divergência entre
populações e agrupamentos geográficos é muito maior e significativa (figura 10), embora os chimpanzés estejam restritos
a uma floresta africana e a espécie humana esteja distribuída por todos os continentes.

FIGURA 10– Hierarquia das diferenças genéticas no homem e no chimpanzé, ressaltando a porcentagem das variações
que ocorre entre indivíduos (laranja) e entre “raças”, agrupamentos geográficos ou subespécies (púrpura). A diversidade
genética total está representada como o círculo maior em vermelho.

De qualquer maneira, nossa espécie tem algumas características compartilhadas entre indivíduos nativos (indígenas)
de cada continente. Muitas dessas características são diferenças aparentes entre continentes, que refletem a ocupação de
regiões do globo, com clima, relevo, umidade e fontes de alimentos diferentes. Isso se deve principalmente às migrações
humanas nos últimos 60 mil anos, quando alguns de nossos ancestrais deixaram a África. Variações neutras ou adaptativas
sutis foram fixadas em diferentes povos continentais, tais como a pigmentação da pele com mais melanina, que confere
proteção à radiação solar, ou com menos melanina, que favorece a síntese de mais vitamina D na pele, em situações de
pouca iluminação solar. Esse tipo de variação adaptativa não é tão aparente nos grandes macacos (chimpanzés, gorilas e
orangotangos) justamente porque o ambiente onde vivem é relativamente homogêneo, a floresta tropical, o que os dei-
xam sujeitos a pressões seletivas muito parecidas. Outras diferenças que notamos em nossa própria espécie se devem a
aspectos psicológicos de reconhecimento do grupo. Por isso ressaltamos desigualdades, mesmo que muito pequenas, na
espécie humana.

O passado e o futuro da espécie humana

Nossa espécie possui uma rica evidência fóssil, que não é encontrada para as outras espécies de primatas. Isso porque
ela foi sujeita a inúmeros estudos genéticos interpopulacionais e comparações genômicas com outras espécies vivas e ex-
tintas para compreensão da peculiar natureza humana. No início do século XXI, temos uma riqueza de detalhes sobre esse
passado, que é muito mais complexo do que imaginá- vamos há menos de três décadas, e podemos vislumbrar um grande
aumento desse conhecimento com as novas metodologias genômicas e análises computacionais que estão sendo desen-
volvidas. A curiosidade e o questionamento humano nos levam a investigar nossas origens que também nos ensinam sobre
o que podemos esperar em nosso futuro. Somos a única espécie remanescente de uma linhagem de primatas bípedes que,
por meio da inteligência, construiu um nicho único neste planeta. A análise detalhada desse passado de espécies diversas e
relacionadas e das relações entre populações da espécie humana moderna sugere a existência exclusivista de uma espécie

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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inteligente em sociedade, que depende da modificação artificial do ambiente ao seu redor, em prol de sua sobrevivência e
reprodução. Cabe à sociedade utilizar esse conhecimento científico para ajudar a traçar um futuro que garanta o benefício
coletivo da humanidade.

Texto adaptado de SANTOS. F. R.

DIVERSIDADE DA VIDA: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS REPRESENTANTES


DE CADA DOMÍNIO E DE CADA REINO DA NATUREZA;

Como sabemos, o mundo vivo é constituído de uma enorme variedade de seres vivos e, desde muito tempo atrás, o
homem tenta classificar os seres vivos em grupos, conforme suas características. O homem primitivo, por exemplo, distri-
buía, os organismos em dois grupos: em comestíveis e não comestíveis. O desejo e a tentativa de sistematizar o mundo
vivo é realmente muito antiga entre os estudiosos, e os critérios utilizados para a classificação biológica, variavam muito
entre os naturalistas.
Alguns classificavam conforme o comportamento de locomoção, tais como voadores e não voadores, outros utilizam o
critério do habitat ocupado por cada um. Essas formas de classificação utilizavam critérios arbitrários, que não refletiam as
semelhanças e diferenças fundamentais entre os seres vivos, e por isso, foram denominados de sistemas artificiais de classifi-
cação. Hoje, porém, o modelo de classificação biológica reúne os organismos de acordo com suas semelhanças, o que acaba
por revelar os diferentes graus de parentesco entre as espécies. São conhecidos por sistemas naturais de classificação, pois
ordenam naturalmente os organismos, visando o estabelecimento das relações de parentesco evolutivo entre eles.
O ramo da Biologia que trata da descrição, nomenclatura e classificação dos seres vivos denomina-se sistemática ou
taxonomia (do grego taxon, categoria, grupo, e nomos, conhecimento).

O desenvolvimento da classificação biológica

No século IV a.C, o sábio Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) classificou os animais em aéreos, terrestres e aquáticos, usando
como critérios o ambiente em que eles viviam. Teofrastos (372 a.C – 287 a.C), discípulo de Aristóteles, classificou as plantas,
em ervas, arbustos e árvores, tendo como critério o tamanho das espécies.
Deste mesmo período, manuscritos de Santo Agostinho (354 – 430), teólogo e estudioso da natureza, classificavam os
seres vivos em úteis, nocivos e indiferentes ao homem.
Contudo, a partir do renascimento, o período histórico que abrange os séculos XIV, XV e XVI, os cientistas sentiram a
necessidade de sistemas de classificação que agrupassem os seres vivos de acordo com as características intrínsecas, e não
apenas seguindo critérios arbitrários e de utilidade.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Dentre os sistemas de classificação que surgiram a partir do Renascimento, destacou-se o do naturalista sueco Carl von
Linnée, ou Lineu (1707 – 1778), publicado no livro Systema Naturae, de 1735. Esse sistema de classificação serviu de base
para o atual sistema de classificação utilizado pelos pesquisadores.
Assim, dentro das características evolutivas, ao falarmos de animais e plantas, por exemplo, podemos usar como crité-
rio de classificação o tipo de nutrição: animais são seres heterótrofos; plantas seres autótrofos. Ao considerarmos bactérias
e animais, podemos usar como critério de classificação o número e o tipo de células: bactérias são unicelulares e procarion-
tes; animais são pluricelulares e eucariontes.

O Sistema Binomial de Lineu

No sistema de classificação desenvolvido por Lineu, a semelhança foi o ponto de partida de todas as classificações, po-
rém foi necessário escolher características realmente importantes, pois muitas semelhanças são superficiais ou inadequadas
para a classificação biológica.

O local onde vivem, por exemplo, não poderia ser utilizado como critério principal, pois existem animais aéreos muito
diferentes entre si, tal como uma mosca, um morcego e uma gaivota, ambos com características bem distintas. Desta forma,
para Lineu, o plano de organização corporal foi um dos principais critérios a ser utilizado nas análises para agrupamentos
de espécies. Os animais por exemplo, foram agrupados de acordo com semelhanças de sua estrutura corporal e, as plantas,
de acordo com sua anatomia, e principalmente de acordo com semelhanças de suas flores e frutos.
Atualmente, além desses critérios, é possível considerar características microscópicas, tais como a composição química,
substâncias produzidas e até mesmo a composição genética dos seres vivos, entram na análise de classificação biológica.
Além dos critérios de classificação, outro grande mérito de Lineu foi associar um sistema de nomenclatura à classificação.
De acordo com essa nomenclatura, o nome científico de um animal ou planta deveria ser composto por duas palavras, a
primeira para designar o gênero e a segunda para designar a espécie. Assim, seres vivos muito parecidos eram reunidos
em um grupo chamado gênero. Cães e lobos, por exemplo, são muito parecidos, desta forma, foram reunidos no gênero
denominado Canis.
Quando Lineu agrupava os seres vivos em gêneros, também estava assumindo que esses seres tinham peculiaridades
que os faziam diferentes, apesar das semelhanças. Assim, cães e lobos eram agrupados no mesmo gênero, mas eram con-
siderados de espécies diferentes. No exemplo do cão e do lobo, o cão doméstico foi denominado Canis familiaris e o lobo
foi denominado Canis lupus. Ao final, o nome dado por Lineu a uma espécie era composto por duas palavras; por isso, foi
chamado binomial. O sistema binomial inventado por Lineu é empregado até hoje, e tem a vantagem de mostrar, já no
próprio nome do ser vivo, sua semelhança com outros que pertençam ao mesmo gênero. Segundo a nomenclatura de Li-
neu, os nomes dos organismos devem ser latinizados e destacados do texto onde aparecem, sendo impressos em itálico ou
grifados. Além disso, a primeira letra da palavra que designa o gênero, deverá ser sempre maiúscula e o termo que designa
a espécie, deverá ser sempre com letra minúscula.
Ao aparecer pela primeira vez no texto, o nome científico deve ser escrito por extenso, nas demais vezes em que apa-
rece, o gênero poderá ser abreviado. Por exemplo, após termos nos referido a Canis familiaris uma vez no texto, podemos
passar a escrevê-lo simplesmente como C. familiaris.

Categorias taxonômicas

O naturalista Lineu também foi responsável pela criação de táxon, que são agrupamentos de seres vivos que compar-
tilham alguma característica em comum.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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No sistema proposto por ele, existe um táxon mais abrangente (Reino) que vai se desmembrando em outros táxons
de menor abrangência (Espécie). A espécie é considerada o táxon básico da classificação, uma vez que nesse grupo estão
organismos únicos e com características não encontradas em nenhum outro ser. Hoje, a espécie pode ser definida como um
grupo de organismos semelhantes que conseguem se reproduzir em condições naturais e produzir descendentes férteis.
Acima da espécie, encontramos o gênero, que é um grupo que possui espécies semelhantes. Após o gênero, temos a
família, que agrupa um conjunto de gêneros semelhantes. Na sequência, encontramos a ordem, que nada mais é do que
um grupo de famílias com características próximas. Acima desse táxon está a classe, que pode ser definida como um grupo
com ordens bastante similares. O filo aparece logo em seguida, agrupando classes semelhantes. Por fim, temos o reino, que
é um conjunto de filos e o grupo mais abrangente de todos. Observe a ilustração a seguir:

É importante destacar que no sistema de classificação sugerido por Lineu não existiam os táxons família e filos, que
foram acrescentados posteriormente. Outros táxons intermediários são utilizados atualmente, tais como, subfilo, subclasse,
infraclasse, superclasse, superfamília, subfamília e subgênero.
Classificação e parentesco evolutivo Lineu não acreditava na evolução dos seres vivos. Para ele, o número de espécies
era fixo, tendo sido definido por Deus no momento da criação do mundo. Embora fosse de seu conhecimento a existência
dos fósseis, que são vestígios de seres vivos que viveram em um passado distante, ele considerava que estes eram apenas
vestígios de seres criados no início dos tempos e que se extinguiram.
Desta forma, seu sistema de classificação não buscava estabelecer relações de parentescos evolutivos entre os fósseis e
os seres vivos. Desde a época de Lineu muitos conhecimentos foram incorporados à classificação. Atualmente, muitos cien-
tistas consideram que todos os seres vivos descendem de um único ser vivo, isto é, todos apresentam um ancestral comum.
Isto significa dizer que, todas as espécies, incluindo o homem são aparentados em maior ou menor grau, e se originaram
de seres unicelulares, muito simples e rudimentares, que viveram há 3 bilhões de anos atrás.
Durante esse período, ocorreram inúmeras transformações do ambiente terrestres que permitiram uma enorme diver-
sificação da vida e que levaram ao surgimento e desenvolvimento da enorme variedade de seres vivos atuais. O processo
pelo qual as espécies se modificaram e se diversificaram no decorrer do tempo denomina-se evolução biológica, processo
estudado amplamente pelo naturalista Charles Darwin (1809-1882). Charles Darwin contribuiu com o desenvolvimento da
classificação dos seres vivos através da sua teoria evolutiva e da noção de ancestral comum que originou as espécies atuais.
Ele criou “genealogias de seres vivos”, diagramas representando as relações de parentesco evolutivo entre as espécies,
que hoje são chamadas de árvores filogenéticas. As árvores filogenéticas nada mais são do que diagramas em formato
de árvore elaborados com dados de anatomia e embriologia comparadas, além de informações derivadas do estudo de
fósseis. Elas mostram a hipotética origem de grupos a partir de supostos ancestrais. Essas supostas “árvores genealógicas”
ou “filogenéticas” (do grego, phylon = raça, tribo + génesis = fonte, origem, início) simbolizavam a história evolutiva dos
grupos que eram comparados, além de sugerir uma provável época de origem para cada um deles. Como exemplo, veja a
figura a seguir:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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O esquema representa uma provável “história evolutiva” dos vertebrados. Note que estão representados os grupos
atuais - no topo do esquema - bem como os prováveis ancestrais. Perceba que o grupo das lampreias (considerados “pei-
xes” sem mandíbula) é bem antigo (mais de 500 milhões de anos). Já cerca de 150 milhões de anos, provavelmente a partir
de um grupo de dinossauros ancestrais, note, ainda, que o parentesco existe entre aves e répteis é maior do que existe
entre mamífero e répteis, e que os três grupos foram originados de um ancestral comum.
Atualmente, com um maior número de informações sobre os grupos taxonômicos passaram a utilizar computadores
para se gerar as árvores filogenéticas e os cladogramas para estabelecer as inúmeras relações entre os seres vivos.

Os reinos dos seres vivos

Desde o tempo de Aristóteles os seres vivos eram agrupados em apenas dois grupos: animal e vegetal. Com o desen-
volvimento da Ciência e principalmente dos estudos microscópicos, percebeu-se que dois grupos não eram suficientes para
englobar a enorme diversidade de seres vivos existente em nosso planeta.
Nesse sentido, o biólogo alemão Ernst Haeckel (1834-1919) sugeriu que fossem criados os reinos Protista e Monera,
além dos reinos já existentes: Animal e Vegetal. Em 1969, o biólogo R.H. Whittaker propôs a divisão dos vegetais em outro
grupo, dos Fungos, criando portanto, os cinco reinos: Protista, Monera, Fungos, Plantas e Animais.
A partir de 1977, com estudos de C. Woese, passaram a existir 3 domínios: Archaea, Eubacteria e Eukarya. Nos dois
primeiros são distribuídos os procariotas (bactérias, protozoários e algas unicelulares), e no outro estão todos os eucariotas
(fungos, plantas e animais).
Vejamos a seguir, algumas características e exemplos dos cinco grandes reinos de seres vivos:

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Texto adaptado de EHEDRAN. F.

REGRAS DE NOMENCLATURA;

Numa tentativa de universalizar os nomes de animais e plantas, já de há muito os cientistas vinham procurando criar
uma nomenclatura internacional para a designação dos seres vivos. No primeiro livro de Zoologia publicado por um ameri-
cano, Mark Catesby, por volta de 1740, o pássaro conhecido por tordo (o sabiá americano) foi denominado cientificamente
assim: Turdus minor cinereo-albus, que significava: tordo pequeno branco-acinzentado sem manchas. Era uma tentativa de
“padronizar” o nome do tordo, de tal forma que assim ele pudesse ser conhecido em qualquer idioma.
Mas, convenhamos, o nome proposto por Mark Catesby era muito grande para um pássaro tão pequeno. Já em 1735, o
sueco Karl von Linné, botânico sueco, conhecido por Lineu, lançava seu livro Systema Naturae, onde propunha regras para
classificar e denominar animais e plantas.

Nomenclatura e Classificação dos Seres Vivos

O nome do gênero e da espécie devem ser escrito em latim e grifados; Cada organismo deve ser reconhecido por uma
designação binominal, onde o primeiro termo indica o seu gênero e o segundo, a sua espécie. Ex: Canis familiaris (cão);
Musca domestica (Mosca); O nome relativo ao gênero deve ser escrito com inicial maiúscula e o da espécie com inicial
minúscula. Ex: Homo sapiens (Homem);
OBS: Nos casos em que o nome da espécie se refere a uma pessoa, a inicial pode ser maiúscula ou minúscula. Ex:
Trypanosoma cruzi (ou Cruzi) nome dado por Carlos Chagas ao micróbrio causador da doença de Chagas, em homenagem
a Oswaldo Cruz; Quando se trata de subespécies, o nome indicativo deve ser escrito sempre com inicial minúscula (mesmo
quando se refere a pessoas), depois do nome da espécie. Exs: Rhea americana alba (ema branca); Rhea americana grisea (ema
cinza); Nos caso de subgênero, o nome deve ser escrito com inicial maiúscula, entre parenteses e depois do nome do gênero.
Ex: Anopheles (Nyssurhynchus) darlingi (um tipo de mosquito). Reino do mundo vivo Em 1969, Whittaker idealizou um mo-
derno sistema de classificação que distribuiu os seres vivos em cinco reinos Monera, Protista, Fungi, Metaphyta e Metazoa.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Todos conhecemos os animais e as plantas por algum nome, que muda conforme a localidade, região e/ou país onde
se encontra a espécie. Se todos conhecessem uma mesma espécie (animal ou vegetal) com nomes diferentes, e iniciassem
uma conversa sobre ele, logo pensariam que estavam falando de espécies muito parecidas, mas não da mesma espécie. De
fato, esta confusão criada com os diferentes nomes vulgares (nomes que utilizamos para chamar comumente as espécies)
sempre foi um problema na Biologia, qualquer que fosse o ramo de estudo e/ou pesquisa.
As regras atuais para a denominação científica dos seres vivos, incluindo os animais já extintos, foram firmadas com
base na obra de Lineu, no I Congresso Internacional de Nomenclatura Científica, em 1898, e revistas em 1927, em Buda-
peste, Hungria.
As principais regras são:
- Na designação científica, os nomes devem ser latinos de origem ou, então, latinizados.
- Em obras impressas, todo nome científico deve ser escrito em itálico (tipo de letra fina e inclinada), diferente do corpo
tipográfico usado no texto corrido. Em trabalhos manuscritos, esses nomes devem ser grifados.
- Cada organismo deve ser reconhecido por uma designação binominal, onde o primeiro termo identifica o seu gênero
e o segundo, sua espécie. Mas considera-se erro grave o uso do nome da espécie isoladamente, sem ser antecedido pelo
nome do gênero.
- O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo simples ou composto, escrito com inicial maiúscula.
- O nome relativo à espécie deve ser um adjetivo escrito com inicial minúscula ( salvo raríssimas exceções: Nos casos
de denominação específica em homenagem a pessoa célebre do próprio país onde se vive, consente-se o uso da inicial
maiúscula.).
- Em seguida ao nome do organismo é facultado colocar, por extenso ou abreviadamente, o nome do autor que pri-
meiro o descreveu e denominou, sem qualquer pontuação intermediária, seguindo-se depois uma vírgula e a data em que
foi publicado pela primeira vez ( * Não confundir o nome do autor (mencionado após a espécie) com subespécie, uma vez
que esta última é grafada com inicial minúscula e é escrita com o tipo itálico, enquanto o nome do autor tem sempre inicial
maiúscula e não é grafado em itálico.).
- Conquanto a designação seja uninominal para gêneros e binominal para espécies, ela é trinominal para subespécies.
- Em Zoologia, o nome da família é dado pela adição do sufixo -idae ao radical correspondente ao nome do gênero-ti-
po. Para subfamília, o sufixo usado é -inae. ¤ Algumas regras de nomenclatura Botânica são independentes das regras de
nomenclatura zoológica. Os nomes de família, por exemplo, nunca têm para as plantas o sufixo –idae, mas quase sempre
levam a terminação -aceae.
- Lei da Prioridade: Se para um mesmo organismo forem dados nomes diferentes, por autores diversos, prevalece à pri-
meira denominação. A finalidade dessa regra é evitar que a mesma espécie seja designada por diferentes nomes científicos,
o que acarretaria confusão idêntica à que existe com os nomes vulgares.
Observação: Em casos excepcionais, é permitida a substituição de um nome científico, mas para isso adota-se uma
notação especial, já convencionada, que indica tratar-se de espécime reclassificado. Assim, quando um especialista muda a
posição sistemática de um ser que anteriormente já recebera denominação científica, e o coloca em outro gênero, a nota-
ção taxionômica correta deve assumir uma das formas abaixo:
A) Menciona-se o nome antigo entre parênteses, depois do gênero e antes do nome específico.
B) Ou, então, menciona-se o nome do organismo já no novo gênero e, a seguir, entre parênteses, o nome do primeiro
autor e a data em que denominou aquele ser; só então, já fora dos parênteses, coloca-se o nome do segundo autor e a
data em que reclassificou o espécime. 

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Já a divisão dos seres vivos é feita de forma a agru-


par seres semelhantes em grupos distintos de outros. O BIODIVERSIDADE NO PLANETA E NO
estudo descritivo de todas as espécies de seres vivos e sua BRASIL.
classificação dentro de uma verdadeira hierarquia de gru-
pamentos constitui a sistemática ou taxionomia. Até há al-
gum tempo atrás, distinguiam-se a sistemática zoológica,
referente aos animais, e a sistemática botânica, referente às A tarefa de descrever, catalogar e estudar a diversidade
plantas. Atualmente, a divisão dos seres assumiu um grau dos organismos vivos pertence aos biólogos, mas, devido
de complexidade maior, possuindo cinco reinos. ao grande número de organismos existentes no planeta,
Para um entendimento da funcionalidade das divisões mais de 90% deles ainda são desconhecidos. Hoje se co-
taxionômicas dos seres, é necessário o conhecimento de nhecem cerca de 1,4 milhão de espécies vivas de todos os
conceitos básicos, que estão inseridos em conjuntos, e tipos de organismos.
cada conjunto está, por sua vez, inserido em um conjunto Existem aproximadamente 750.000 espécies de insetos,
maior e mais abrangente. Estes conceitos são em ordem 41.000 de vertebrados e 250.000 de plantas (vasculares e brió-
crescente: fitas) descritas. Em sua maioria, os pesquisadores são unânimes
- Espécie: é um grupamento de indivíduos com profun- em dizer que este quadro é muito incompleto, com exceção
das semelhanças morfológicas e fisiológicas entre si, mos- de alguns grupos bem estudados, como os dos vertebrados e
trando grandes similaridades bioquímicas, e no cariótipo plantas com flores (fanerógamas) de regiões temperadas.
(quadro cromossomial de células haplóides), com capaci- Dentre os principais grupos de organismos, o dos in-
dade de se cruzarem naturalmente, originando descenden- setos é o mais rico em espécies; acredita-se que o número
tes férteis. absoluto seja superior a cinco milhões. A amostragem feita
- Gênero: é o conjunto de espécies que apresentam na floresta amazônica demonstra que o número de insetos
semelhanças, embora não sejam idênticas. é tão grande, que foram feitas estimativas da diversidade
- Família: é o conjunto de gêneros afins, isto é, muito local, as quais foram extrapoladas para incluir todas as flo-
próximos ou parecidos, embora possuam diferenças mais restas tropicais do mundo, obtendo-se o valor de trinta
significativas do que a divisão em gêneros. » Ordem: é um milhões de espécies de insetos. Em contrapartida não se
grupamento de famílias que têm semelhanças. conhece quase nada das plantas epífitas, liquens, fungos,
-Classe: é a reunião de ordens que possuem fatores nematelmintos, ácaros, protozoários e bactérias que ha-
distintos de outras, mas comum às ordens que a ela per- bitam os topos das árvores. Outros habitats ainda muito
tencem. pouco conhecidos são os recifes de coral, o assoalho do
-Filo (Ramo): é a reunião de classes com características fundo do mar e o solo das florestas tropicais e das savanas.
em comum, mesmo que muito distintas entre si. Pode-se então concluir que a estimativa do número total
- Reino: é a maior das categorias taxionômicas, que re- de espécies vivendo no planeta Terra não reflete a realida-
une filos com as características comuns a todos, mesmo de, sendo necessário ainda muito estudo para se chegar a
que existam diferenças enormes entre eles. Possui apenas um número aproximado.
cinco divisões: Animalia (Metazoa), Vegetalia (Plantae), A tarefa de catalogar todas as espécies é tão difícil, que
Fungi, Protistis e Monera. A partir destes conjuntos, a or- talvez nunca seja completada. Entretanto é de suma impor-
dem é: Espécies < Gêneros < Famílias < Ordens < Classes tância estabelecer padrões na descrição e, principalmente, es-
< Filos (Ramos) < Reinos Onde se lê que as espécies estão tudar a abundância das espécies, para se testarem hipóteses
inseridas nos gêneros, que estão inseridos nas famílias, que sobre a função da diversidade das espécies no ecossistema.
estão inseridas nas ordens, que estão inseridas nas classes, Hoje, pouco se conhece ainda sobre a biodiversidade
que estão inseridas nos filos (ramos), que por sua vez es- em praticamente todos os ecossistemas. Constituem exce-
tão inseridos nos reinos. Uma observação deve ser feita: os ção as regiões áridas, onde as espécies animais e vegetais
VÍRUS são seres que são classificados à parte, sendo consi- vasculares são bem conhecidas, por ocorrem em número
derados como seres sem reino. Isto acontece devido às ca- relativamente pequeno em comparação com o das regiões
racterísticas únicas que eles apresentam, como a ausência tropicais. Mas, mesmo nessas regiões há muitos animais
de organização celular, ausência de metabolismo próprio invertebrados e plantas não vasculares, incluindo fungos,
para obter energia, reproduz-se somente em organismo que ainda precisam ser estudados. Também são pouco co-
hospedeiro, entre outras. Mas eles possuem a faculdade nhecidos nestas áreas os organismos que vivem no solo,
de sofrer mutação, a fim de adaptar-se ao meio onde se como as bactérias e os vírus. Por outro lado, nas regiões
encontram. Com estas noções, espero que seja possível tropicais, o conhecimento sobre a diversidade de espécies,
um melhor entendimento da complexidade do mundo das apesar de seu alto grau, é ainda bastante incipiente. Em
ciências biológicas, em especial da Paleontologia. Texto muitos países tropicais não há uma relação detalhada de
adaptado de LUIS. J. plantas e animais de seu território. As melhores estimativas
são relações incompletas de pequenos animais, plantas e
fungos que vivem em algumas pequenas áreas estudadas.
Falta ainda estudar e descrever organismos de solo, como
bactérias e fungos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

As espécies marinhas das regiões temperadas e tropicais são provavelmente as menos conhecidas. Os oceanos têm
grande diversidade de animais e vegetais (algas), e, obviamente, não se pode esquecer as profundezas do mar, as quais, até
pouco tempo, acreditava-se serem desprovidas de vida. Atualmente, os oceanógrafos conhecem bem o assoalho oceânico,
sua fauna abundante, com mais de oitocentas espécies catalogadas e mais de cem famílias de doze grupos de organismos.
Até mesmo em algumas regiões do fundo do oceano, existem águas quentes de origem vulcânica, as chamadas chaminés
de sulfeto, ou block smokers, onde se acreditava não haver vida, mas que em 1991 foram encontradas dezesseis famílias
de invertebrados vivendo exclusivamente nesse local (Grassle, 1989). Recentemente, oceanógrafos registraram a ocorrência
de organismos unicelulares chamados, em seu conjunto, picoplâncton, com diâmetro entre um e quatro micrômetros. A
produtividade do ecossistema marinho pode ter sido subestimada em mais de 50%, porque os oceanógrafos ignoravam a
existência do picoplâncton, principalmente porque não existiam métodos apropriados para estudá-lo.
Outro problema sério é que os cientistas ainda não sabem exatamente como a diversidade dos genes, ou genótipos,
espécies e comunidades influenciam o ecossistema. Passados mais de cem anos, geneticistas, taxonomistas, evolucionis-
tas e ecólogos têm acumulado muito conhecimento sobre diversidade biológica. No entanto, as informações geradas até
agora atestam a importância da diversidade para precisar a função de muitos organismos no ecossistema. Mas uma correta
teoria geral da biodiversidade ainda está por ser formulada. Isto porque a ameaça à diversidade biológica é fato recente, e
os cientistas podem conhecer como os sistemas vivos são influenciados pelas mudanças da diversidade. Como está ocor-
rendo uma rápida transformação da paisagem e da vida selvagem, há uma certa urgência em se obterem tais informações.
O conhecimento sobre a biodiversidade é também muito importante para avaliar o impacto das mudanças globais no clima.

Diversidade de aves marinhas e de vegetação no litoral brasileiro

Tringa flavipes: espécie de ave de praia, pouco estudada no Brasil

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Origem e função da biodiversidade - diversidade de espécies - diversidade entre espécies;


- diversidade de ecossistemas - diversidade em nível
O termo bio, de biodiversidade, ou diversidade bioló- mais alto de organização, incluindo todos os níveis de va-
gica, vem do grego bios, que significa vida, portanto, bio- riação desde o genético.
diversidade é a diversidade da natureza viva. Desde 1986, A diversidade de espécies é a mais fácil de estudar, mas
o termo e conceito vêm tendo largo uso entre biólogos, há uma tendência da ciência oficial em restringir o estudo
ambientalistas, líderes políticos e cidadãos conscientes de da diversidade ao conhecimento dos genes.
todo o mundo. Este uso coincidiu com o aumento da preo- Como se pode constatar, o significado de Biodiversida-
cupação com a extinção de espécies observada nas últimas de é abrangente para a variedade natural; inclui o número
décadas do século XX. e a frequência de espécies ou genes, além dos respecti-
A diversidade biológica, ou biodiversidade, é repre- vos ecossistemas. Consideram-se três níveis distintos para
sentada por todas as espécies de seres vivos existentes no expressá-la: em um nível mais microscópico pode-se falar
planeta: desde a baleia azul – a maior espécie animal do em diversidade genética, que é a totalidade de diferentes
mundo – até as microscópicas bactérias, invisíveis a olho genes presentes em um determinado universo. Em esca-
nu, incluindo os pandas, símbolo dos animais em extinção, la intermediária tem-se a diversidade de espécies, que é
e mesmo o próprio homem. Representa, portanto, o con- a totalidade de espécies que vivem em um determinado
teúdo vivo da Terra no seu conjunto: tudo o que vive nas universo; e, em escala mais macroscópica, a diversidade de
montanhas, nas florestas, nos oceanos. É encontrada em ecossistemas, que é a totalidade de ecossistemas existen-
todos os níveis, desde a molécula de DNA até a biosfera, tes em um determinado universo.
englobando não só todas as espécies de plantas, animais e A importância da biodiversidade está na relação direta
micro-organismos, mas também os processos ecológicos e da influência que exerce no Planeta, como: regular o clima;
os ecossistemas aos quais pertencem. proteger e manter os solos; fazer a fotossíntese, disponi-
A biodiversidade refere-se portanto à variedade de vida bilizando o oxigênio necessário à respiração e a matéria
no planeta Terra, incluindo a variedade genética dentro das básica para os alimentos, roupas e medicamentos. O gran-
populações e entre espécies, a variedade de espécies da de valor da biodiversidade justifica investimentos visando
flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de micro-orga- sua conservação, sobretudo em razão do seu potencial
nismos, a variedade de funções ecológicas desempenha- para a biotecnologia atual, especialmente na engenharia
das pelos organismos nos ecossistemas e a variedade de genética, e para a geração de novas culturas alimentícias e
comunidades, habitats e ecossistemas. industriais. Portanto, a biodiversidade também traz benefí-
Ainda, a biodiversidade refere-se tanto ao núme- cios econômicos, o que representa mais um incentivo para
ro (riqueza) de diferentes categorias biológicas quanto à sua conservação.
abundância relativa (equitabilidade) dessas categorias. In- O emprego de espécies silvestres em pesquisas de
clui também variabilidade em nível local (alfa diversidade), melhoramento genético tem alcançado êxito graças ao de-
complementariedade biológica entre habitats (beta diver- senvolvimento da biotecnologia. Os resultados são, prin-
sidade) e variabilidade entre paisagens (gama diversidade). cipalmente, a obtenção de cultivos resistentes a pragas,
Em resumo, ela inclui a totalidade dos recursos vivos, ou doenças e condições adversas do meio ambiente, e, mes-
biológicos, e dos recursos genéticos e seus componentes. mo, a melhoria da qualidade organolética (aparência, sabor
A expressão Diversidade Biológica foi criada por Tho- etc.). As experiências mais conhecidas são feitas com arroz,
mas Lovejoy em 1980, ao passo que o termo Biodiversida- abacaxi, banana, batata e trigo. Além disso, muitas plantas
de foi usado pela primeira vez pelo entomologista E. O. possuem princípios ativos que podem ser utilizados na ela-
Wilson, em 1986, num relatório apresentado ao primeiro boração de medicamentos.
Fórum Americano sobre diversidade biológica, organizado As florestas tropicais e os recifes de corais abrigam
pelo Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA [National grande variedade de plantas e animais: são os ecossiste-
Research Council (NRC)]. O termo Biodiversidade foi suge- mas com maior número de espécies do Planeta, ou, como
rido a Wilson pelos integrantes do NRC, a fim de substituir os ecologistas denominam, com alto grau de riqueza de
a expressão Diversidade Biológica, considerada menos efi- espécies.
caz em termos de comunicação. Contudo, mesmo em ambientes “uniformes” (homo-
Não há uma definição consensual de Biodiversidade. gêneos), que são relativamente pobres em espécies, como
Uma delas é: “Biodiversidade é a medida da diversidade o fundo dos oceanos, ambiente praticamente inacessível
relativa entre organismos presentes em diferentes ecossis- ao homem, centenas de micro-organismos, outros animais
temas”. Esta definição inclui diversidade dentro da espécie, invertebrados e alguns poucos vertebrados podem ser
entre espécies e diversidade comparativa entre ecossiste- encontrados. Estes prodígios da natureza têm intrigado e
mas. encantado o homem, pois, na realidade, é dessa varieda-
Outra definição, mais desafiante, é: “Biodiversidade é de de espécies que ele vem retirando os recursos para seu
a totalidade dos genes, espécies e ecossistemas de uma sustento. O homem utiliza plantas e animais para se ali-
região”. Esta definição unifica os três níveis tradicionais de mentar e vestir, construir casas, elaborar medicamentos e
diversidade entre seres vivos: perfumes... e, quando o faz de forma que não deixa tempo
- diversidade genética - diversidade dos genes em para a natureza se recuperar, coloca em perigo esta imensa
uma espécie; riqueza de espécies. Por exemplo, de acordo com o relató-

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

rio da IUCN (International Union for Conservation of Natu- dividida por uma barreira geográfica (rio, deserto, braço de
re and Natural Resources) de 1990, a taxa de extinção de mar etc.) de modo que estes dois segmentos da população
insetos por ação humana é de cinco mil espécies por ano. fiquem separados, sem nenhum tipo de contato entre eles.
Se continuar nesse ritmo, a taxa de redução da diversida- Com o passar do tempo, os dois ambientes vão sofrendo
de aumenta gradativamente, com a consequente redução modificações e se diferenciando um do outro. Em cada um,
da variabilidade genética das espécies vegetais cultivadas através da seleção natural, os indivíduos mais adaptados
e selvagens, em razão da importância dos insetos na poli- sobrevivem, e os que não conseguem se adaptar às novas
nização. Diante disso, os seres humanos serão certamente condições ambientais morrem. Em cada segmento (nova
bastante afetados em seu bem-estar. O homem influi na população), os indivíduos cruzam-se entre si por gerações,
biodiversidade da Terra de maneira direta e indireta. O uso e, com o passar do tempo, cada nova população possuirá
de recursos renováveis, por exemplo, afeta diretamente a características morfológicas e genéticas diferentes daque-
diversidade de espécies. Exemplos claros disso são os re- las da população que lhe deu origem: têm-se, então, duas
flexos da indústria extrativista, da exploração de madeira e “novas espécies”.
da indústria pesqueira, que exploram indiscriminadamente
as espécies úteis ao homem e, ao mesmo tempo, destroem As extinções passadas
as espécies que não possuem valor comercial. A agricultura
e a criação de animais também destroem ou modificam a Registros fósseis mostram que mudanças drásticas no
flora e a paisagem nativas. ambiente constituem a maior causa de extinção de espé-
A biodiversidade é afetada indiretamente quando se cies (Signor, 1990). Ao longo da história geológica do pla-
utilizam combustíveis fósseis e principalmente a madeira neta, em intervalos de milhões de anos, extinções massivas
(lenha) como fonte de energia e também quando se alte- na Terra eliminaram a maior parte das espécies de animais
ram cursos de rios ao construir represas para geração de e plantas. Exemplo típico é o desaparecimento dos dinos-
energia ou para abastecimento de água. Intencional ou sauros: ainda hoje há dúvidas a respeito do fenômeno que
acidentalmente, introduzem-se espécies exóticas, as quais causou a extinção desses gigantescos répteis. Acredita-se
reduzem a biodiversidade, e destroem-se barreiras naturais que tais extinções sejam resultado de uma devastação, que
e franjas florestais, que são habitats específicos de certas só poderia ser provocada por mudanças radicais do meio
plantas e animais. ambiente, como tentam explicar a teoria da radiação cós-
Outro fator, característico do padrão de desenvolvi- mica e a do bombardeio de meteoros.
mento dos homens e que afeta diretamente a diversidade A história geológica mostra que a extinção de espécies
das espécies, é a geração, cada vez maior, de produtos quí- sempre ocorreu e faz parte do processo de evolução desde
micos tóxicos, assim como de metais pesados, principal- o início da vida. Todas as espécies que hoje vivem na Ter-
mente mercúrio, cádmio e cobre, e compostos orgânicos. É ra são remanescentes dos vários bilhões de espécies que já
o caso dos inseticidas e fungicidas utilizados na agricultura, existiram, sucedendo-se umas às outras. O desaparecimento
que, quando aplicados, penetram no solo, encaminhando- de espécies também deriva de interação mútua entre elas,
-se para os rios, lagos e oceanos; alguns, como o metano e como competição e predação, e também de constantes
o CFC (clorofluorcarbono), vão para a atmosfera. transformações do ambiente. Por exemplo, algumas mu-
danças no ambiente físico e principalmente no clima, que
Como se originam as espécies são pouco previsíveis, afetam de maneira direta as espécies.
Em alguns casos, parece possível que a diversidade
Conceitualmente, população é o agrupamento de indi- genética dê a organismos e ecossistemas a capacidade de
víduos de uma mesma espécie, dentro da qual fluem genes recuperação depois que mudanças ambientais ocorrem.
livres sob condições naturais. Isto quer dizer que, em um Assim, especiação e extinção não constituem eventos iso-
dado momento, todos os seres normais e fisiologicamente lados, pelo contrário, fazem parte de um mesmo proces-
aptos são capazes de cruzar com seres da mesma espécie so natural: ao mesmo tempo em que novas espécies vão
ou, pelo menos, que sejam ligados geneticamente a eles, surgindo em resposta a modificações do ambiente, outras,
através de outros indivíduos reprodutores. Por definição, já existentes, vão desaparecendo por não se adequarem a
indivíduos de uma espécie não cruzam livremente com essas modificações.
indivíduos de outras espécies. Esta definição de espécie, Os geólogos têm demonstrado que as catástrofes são
apesar de ser a mais aceita, não se ajusta bem a plantas e fenômenos normais na história da Terra, como parte do
alguns animais nos quais ocorre hibridização ou cuja re- processo de gradualismo. Entretanto, efeitos globais pro-
produção sexual foi substituída por autofertilização ou par- vocados pelo homem podem influenciar diretamente o
tenogênese; nestes casos, o conceito de espécie deve ser desaparecimento de espécies. Por exemplo, se as teorias
substituído por divisões arbitrárias. sobre o efeito estufa estiverem corretas, a temperatura da
Especiação nada mais é que a “formação” de uma nova Terra estará três graus mais elevada em 2010, de maneira
espécie, processo no qual a mutação e a seleção natural que muitas espécies que não suportam variação de tempe-
geram variação genética e morfológica dentro de uma li- ratura, como aquelas que vivem nos recifes de coral, irão
nhagem de organismos. Para explicar como se “forma” uma desaparecer, ou então algumas serão beneficiadas em de-
espécie, utiliza-se o fenômeno chamado especiação geo- trimento de outras, incrementando a competição e favore-
gráfica. Esse processo tem início quando uma população é cendo espécies oportunistas.

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

De fato, qualquer espécie pode se extinguir, mas Abordagens da biodiversidade


sempre há um influxo de novas espécies e assim a vida
continua. Se hoje há aproximadamente trinta milhões Para os biólogos geneticistas, a Biodiversidade é a
de espécies, e cada espécie perdura por um milhão de diversidade de genes e organismos. Eles estudam pro-
anos em média, então dez novas espécies duram só cessos como mutação, troca de genes e dinâmica do
cem mil anos aproximadamente (como os biólogos genoma, que ocorrem em nível de DNA e constituem,
acreditam). Diante disso, cem novas espécies podem talvez, a evolução.
ser geradas a cada ano. Os cientistas são frequente- Biólogos zoólogos e botânicos consideram que a
mente informados das extinções das espécies, mas o Biodiversidade não é apenas a diversidade de popu-
aparecimento de novas espécies é muito difícil de ser lações de organismos e espécies, mas também a for-
constatado, porque muitas espécies estão inseridas na ma como estes organismos funcionam. Organismos
classe dos pequenos invertebrados e na categoria de surgem e desaparecem. Locais são colonizados por
espécies pouco conhecidas, constituindo, por isso, o organismos da mesma espécie ou de outra. Algumas
grupo das pouco estudadas. Assim, há poucos estudos espécies desenvolvem organização social ou outras
documentados a respeito de especiação. Mas o que se adaptações com vantagem evolutiva. As estratégias de
sabe é que cada espécie é um grande depósito de in- reprodução dos organismos dependem do ambiente.
formações genéticas. O número de genes varia de cer- Para os ecologistas, a Biodiversidade é também a
ca de mil, em algumas bactérias, e dez mil, em alguns diversidade de interações duradouras entre espécies.
fungos, até quatrocentos mil ou mais, em plantas com Isto se aplica também ao biótopo, seu ambiente ime-
flores e alguns animais. Um mamífero típico, como o diato, e à ecorregião em que os organismos vivem.
rato caseiro, possui cerca de cem mil genes. Esse con- Em cada ecossistema, os organismos são parte de um
junto é encontrado integral em todas as células, orga- todo, interagem uns com os outros mas também com
nizado a partir de quatro fios de DNA, cada qual com o ar, a água e o solo que os envolvem.
um bilhão de pares de nucleotídeos. Cada ser humano A cultura humana tem sido determinada pela Bio-
tem cerca de cem mil genes. Isto significa que, para ar- diversidade. Ao mesmo tempo, as comunidades hu-
quivar os dados do mapeamento e sequenciamento do manas têm dado forma à diversidade da natureza nos
genoma humano, seria necessário o equivalente a du- níveis genético, de espécie e ecológico.
zentas mil listas telefônicas de mil páginas cada uma. A Biodiversidade é fonte primária de recursos para
A diversidade genética entre dois seres humanos a vida diária, fornecendo alimento (colheitas, animais
quaisquer é, em média, de 0,1%, ou seja, afeta cerca domésticos, recursos florestais e peixes), fibras para
de três bases de DNA. Sendo assim, um catálogo para roupas, madeira para construções, remédios e ener-
arquivar apenas as diferenças genéticas da população gia. Esta “diversidade de colheitas” é também chama-
do planeta teria cerca de um quatrilhão de dados. da “agrobiodiversidade”.
A biodiversidade é o resultado de uma longa evo- Os ecossistemas também fornecem “suportes de
lução biológica que produziu continuamente novas es- produção” (fertilidade do solo, polinizadores, decom-
pécies. Neste planeta, seres vivos desaparecem, assim positores de resíduos etc.) e “serviços”, como purifica-
como outros animais e vegetais, obviamente desco- ção do ar e da água, moderação do clima, controle de
nhecidos, nascem. inundações, secas e outros desastres ambientais.
Uma nova espécie é fruto de inúmeras interações A importância econômica dos recursos naturais
que se processam por etapas sucessivas e distintas. para a comunidade é crescente. Novos produtos são
A atual biodiversidade não é estática: é a imagem do desenvolvidos graças a biotecnologias, criando novos
mundo em um dado momento, e sua composição muda mercados. Para a sociedade, a biodiversidade é tam-
constantemente. É um sistema em constante evolução, bém um campo de trabalho e lucro. Assim, é necessá-
tanto do ponto de vista das espécies como também de rio estabelecer um manejo sustentável destes recur-
um só organismo. A meia- vida média de uma espécie sos.
é de um milhão de anos, e 99% das espécies que já Finalmente, o papel da Biodiversidade é “ser um
viveram na Terra estão hoje extintas. espelho das relações dos seres humanos com as outras
A Biodiversidade não se distribui igualmente na espécies de seres vivos”, uma visão ética dos direitos,
Terra. Ela é, sem dúvida, maior nos trópicos. Quanto deveres e educação. Texto adaptado de BARBIERI. E.
maior a latitude, menor o número de espécies, e as
populações tendem a ter maiores áreas de ocorrência.
Este fenômeno, que envolve disponibilidade energéti-
ca e mudanças climáticas em regiões de alta latitude, é
conhecido como efeito Rapoport.
Diferentes regiões do globo possuem diferentes
números de espécies. A riqueza de espécies tende a
variar de acordo com a disponibilidade energética,
hídrica (clima, altitude) e também com suas histórias
evolutivas.

62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DO HOMEM:


FISIOLOGIA DOS SISTEMAS BIOLÓGICOS (DIGESTÓRIO, RESPIRATÓRIO,
CARDIOVASCULAR, URINÁRIO, NERVOSO, ENDÓCRINO, IMUNOLÓGICO,
REPRODUTOR E LOCOMOTOR).

O corpo humano é formado por diversos sistemas, que atuam juntos para garantir o funcionamento adequado do
organismo. Esses sistemas, que podem ser definidos como conjuntos de órgãos, apesar de estarem ligados, realizam ativi-
dades específicas.
Podemos dizer que o corpo humano apresenta doze sistemas principais. São eles:
→ Sistema Tegumentar: Formado pela pele e seus anexos, tais como pelos, unhas e glândulas. Atua, entre outras fun-
ções, isolando o corpo, evitando a perda excessiva de água e regulando a temperatura.
→ Sistema Esquelético: Constituído basicamente por ossos e cartilagens. A principal função desse sistema é garantir a
movimentação e sustentação do nosso organismo; proteger órgãos de impactos; produzir células sanguíneas e atuar como
depósito de cálcio.
→ Sistema Articular: Formado pelas articulações, esse sistema proporciona a união das peças do esqueleto humano.
→ Sistema Muscular: Composto pelos músculos, esse sistema garante a movimentação do nosso corpo e a contração
de órgãos.
→ Sistema Cardiovascular: É composto pelo tecido sanguíneo, vasos sanguíneos e o coração. O objetivo desse sistema
é garantir que oxigênio e nutrientes sejam levados até as células e os produtos indesejáveis sejam removidos.
→ Sistema Respiratório: Formado por nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e pulmões, esse sistema
garante a hematose e, consequentemente, que oxigênio seja levado às células.
→ Sistema Digestório: Composto pela boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e glândulas
associadas, tais como as salivares, o fígado e o pâncreas, esse sistema quebra os alimentos em partículas menores para que
possam ser aproveitadas pelo organismo.
→ Sistema Urinário: Formado por rins, ureteres, bexiga e uretra, esse sistema elimina as substâncias tóxicas e em ex-
cesso no organismo.
→ Sistema Genital: O sistema genital masculino é formado por testículos e vias espermáticas, enquanto o feminino é
formado por ovários, tubas uterinas, útero e vagina. A principal função desse sistema é garantir a reprodução e produção
de hormônios.
→ Sistema Nervoso: Formado pelo Sistema Nervoso Central, constituído por encéfalo e medula espinhal, e pelo Sistema
Nervoso Periférico, constituído pelos nervos e gânglios, esse sistema capta estímulos do meio externo e interno, bem como
formula respostas para esses estímulos.
→ Sistema Endócrino: Ele é formado por todas as glândulas endócrinas do corpo, tais como a hipófise, tireoide, pân-
creas, testículos e ovários. Sua função principal é garantir a produção de hormônios e, portanto, o controle das funções
biológicas e a homeostase.
→ Sistema Linfático: Constituído pela linfa, vasos linfáticos, linfonodos e órgãos linfoides, esse sistema recolhe o líquido
intersticial e devolve para o sangue, além de ajudar na defesa do organismo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Divisão do Corpo Humano

Para facilitar o estudo, o corpo humano é comumente dividido em:


 Cabeça (Crânio e face)
 Pescoço
 Tronco (Tórax, abdome e pelve)
 Membros Superiores (Ombro, braço, antebraço e mão)
 Membros Inferiores (Quadril, coxa, perna e pé)

História da Anatomia Humana

Embora os primeiros registros de dissecações em seres humanos sejam de Alexandria, no século II a.C., muitos conside-
ram seu início em meados do século V a.C. quando, no sul da Itália, Alcméon de Crotona realizou dissecações em animais,
tentendo entender os aspectos do corpo humano.
Em 1543 foi produzido o primeiro livro Atlas de Anatomia“De Humani Corporis Fabrica” pelo médico belga Andreas
Vesalius. Texto adaptado de CARVALHO. P.

TRANSMISSÃO DA VIDA: FUNDAMENTOS DA HEREDITARIEDADE: GENE E


CÓDIGO GENÉTICO, CÁLCULOS COM PROBABILIDADE;

Embora a Genética atual seja uma compilação dos conhecimentos acumulados principalmente nos últimos 150 anos,
suas aplicações básicas confundem-se com a própria história da humanidade. Diversas evidências indicam que, há milha-
res de anos, o homem apresenta ideias bastante razoáveis a respeito da transmissão dos caracteres hereditários. Há cerca
de 10 000 anos, quando o homem estabeleceu os primeiros assentamentos e iniciou as práticas da agricultura, passou a
incorporar ao cotidiano a capacidade de selecionar as sementes das melhores plantas e os animais mais vigorosos para a
reprodução e a domesticação. Escritos hindus, datados com mais de 2 000 anos, desaconselham cruzamentos com indiví-
duos portadores de características indesejadas, sob pena de essas manifestarem-se também nos descendentes.
A prática de promover o cruzamento entre indivíduos portadores de características vantajosas ao homem constitui o
que chamamos de melhoramento genético. Ao longo da história das civilizações humanas, animais e plantas foram selecio-
nados para os cruzamentos, gerando descendentes dotados das mesmas características vantajosas. Atualmente, a prática
é ainda bastante comum, mas os conhecimentos adquiridos na Genética, como a dominância ou recessividade de alguns
genes, ou a forma como o ambiente interfere na manifestação de outros, permitiram-nos direcionar melhor os cruzamen-
tos, otimizando e acelerando os resultados.

As primeiras explicações

As primeiras tentativas de explicação dos mecanismos da hereditariedade surgiram ainda na Antiguidade. Na época
de Hipócrates (460-377 a.C.), surgiu o conceito da pangênese, segundo o qual os organismos vivos produziriam gêmulas,
pequenas partículas hereditárias originadas das várias partes do corpo que seriam as responsáveis pela composição do
sêmen, transmitindo as características dos pais aos lhos. Mais tarde, com Aristóteles (384-322 a.C.), surgiu uma das ideias
sobre hereditariedade mais persistentes e inuentes no mundo antigo: a mistura de sangue, segundo a qual as característi-
cas hereditárias seriam originadas da mistura do sangue materno impuro (sangue menstrual) ao sangue paterno puricado
(sêmen). A invenção dos microscópios, no século XVI, e a descoberta das células, no século seguinte, possibilitaram a
descoberta dos gametas masculinos e femininos. Nasceu, a partir de então, a ideia da pré-formação: dentro dos gametas,
deveria existir um minúsculo ser pré-formado (homúnculo), capaz de completar o desenvolvimento no interior do orga-
nismo materno. Alguns defendiam a presença do homúnculo nos espermatozoides e outros, nos ovócitos e, nesse caso, as
caraterísticas seriam herdadas de apenas um genitor.
A observação do desenvolvimento embrionário em animais abriu margem para o nascimento da teoria da pós-forma-
ção ou epigênese. Segundo essa teoria, os indivíduos seriam formados a partir do desenvolvimento da célula-ovo, que, por
sua vez, haveria se formado a partir da fecundação entre os gametas masculino e feminino. Mesmo com todas essas teorias,
as ideias a respeito da hereditariedade continuaram divergindo entre os cientistas até o século XIX. As explicações mais
consistentes surgiram com os estudos do monge austríaco Gregor Johann Mendel, que apresentava pretensões modestas:
desenvolver plantas híbridas dotadas de características desejadas pelos agricultores da época. No entanto, seu trabalho
com ervilhas, apresentado à sociedade cientíca em 1865 e publicado em 1866, desvendou os princípios básicos que regem
a transmissão de características de geração a geração.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Por mais de 30 anos, as conclusões de Mendel foram ignoradas. Apenas em 1900, sua publicação foi redescoberta e
recebeu o devido reconhecimento quando outros pesquisadores, trabalhando com plantas independentemente, chegaram
a resultados semelhantes. A partir daí, a Genética não parou de evoluir. A imagem a seguir mostra alguns dos principais
eventos dessa história.

Conceitos fundamentais

No início do século XX, o médico inglês Archibald E. Garrod (1857-1936) atendeu um casal de indivíduos normais cujo
lho, ainda bebê, manifestava uma doença rara.
A presença de manchas escuras na fralda indicava a ocorrência de alcaptonúria, distúrbio que condiciona a presença
de corpos de alcaptona na urina. São essas substâncias presentes na urina que, em contato com o ar, assumem a coloração
escura. Artrite, fraturas ósseas e problemas cardíacos são outras manifestações da doença. Sabendo que os pais da criança
eram primos, Garrod suspeitou de causa hereditária, contrariando a ideia, aceita na época, de causa bacteriana. Depois de
consultar o colega William Bateson, Garrod a classicou como um “erro inato do metabolismo”. Bateson escreveria mais tar-
de: “Alcaptonúria deve ser considerada como decorrente da falta de um determinado fermento [= enzima], o qual tem a ca-
pacidade de decompor a substância alcaptona. Em uma pessoa normal, esta substância não está presente na urina porque
ela foi degradada pelo fermento, mas quando a pessoa não consegue produzir este fermento, a alcaptona é excretada na
urina.” Pela primeira vez, uma doença hereditária estava sendo relacionada às enzimas. Mas qual seria essa relação? Sendo
um distúrbio hereditário, como poderíamos explicar o fato de os pais da criança serem normais?
Para responder esses questionamentos, precisamos compreender alguns conceitos fundamentais estudados nesse Ca-
pítulo. O material genético encontrado no núcleo das células eucarióticas constitui-se de ácido desoxirribo-nucleico (DNA)
associado a proteínas, denominadas histonas, formando a cromatina. Ao preparar-se para entrar em divisão celular, a cro-
matina duplicase e, no início da divisão celular, sofre compactação, originando os cromossomos. Cromatina e cromossomos
são, portanto, a mesma estrutura (DNA associado a proteínas), mas apresentam-se em graus diferentes de compactação:
descompactada e compactado, respectivamente. Cada cromossomo apresenta uma região denominada constricção primá-
ria ou centrômero, fundamental para a separação durante a divisão celular. De acordo com a posição do centrômero, os
cromossomos são classificados em quatro tipos, como representado a seguir.

65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Cada segmento do cromossomo, ou cada segmento do DNA desse cromossomo, responsável pela síntese de um de-
terminado RNA é denido como gene. Ao conjunto total de genes de um indivíduo, ou à sequência completa de seu DNA,
damos o nome de genoma.

Lembre-se As moléculas de RNA mensageiro (RNAm), RNA ribossômico (RNAr) e RNA transportador (RNAt), transcritas
no núcleo a partir do DNA, atuam no citoplasma, traduzindo moléculas de proteína.

As células gaméticas, óvulo e espermatozoide, apresentam apenas uma ploidia (n), ou seja, contêm apenas um conjun-
to de cromossomos característico para cada espécie. Por isso essas células são chamadas de haploides. Quando ocorre a
fecundação, as ploidias do óvulo e do espermatozoide unem-se e formam uma célula com duas ploidias ou dois conjuntos
n de cromossomos. Essa célula 2n, também chamada de diploide, refere-se ao zigoto. Depois de formado, o zigoto inicia
um processo contínuo de proliferação celular (através de mitose), dando origem ao embrião, ao feto e ao adulto. Como
a divisão celular ocorre por mitose, todas as células somáticas formadas a partir desse zigoto serão também diploides e
idênticas entre si. O conjunto de características cromossômicas, incluindo quantidade, tamanhos e posições dos centrô-
meros, é constante dentro de uma espécie e é conhecido como cariótipo. Na espécie humana, por exemplo, o cariótipo é
constituído por um total de 46 cromossomos. Em alguns casos, o número cromossômico pode ser igual em duas espécies,
como ocorre com o macaco Rhesus e o trigo. Evidentemente, as características desses cromossomos e os genes carregados
por eles são diferentes.

Em algumas espécies, um par de cromossomos pode ser o responsável pela denição do sexo, sendo diferente em
ambos os sexos. Os cromossomos constituintes desse par são conhecidos como alossomos ou sexuais. Os outros cro-
mossomos, que não têm relação com a denição sexual e, por isso, são iguais em ambos os sexos, são conhecidos como
autossomos ou não sexuais. Na espécie humana, existem 22 pares de cromossomos autossomos e um par de cromossomos
sexuais. Estes últimos são representados por XX no sexo feminino e XY no sexo masculino. Sendo assim, podemos resumir
os cariótipos da espécie humana das seguintes formas:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Os cromossomos que formam os pares nas células somáticas ou diploides e que apresentam mesmo tamanho, mesma
forma e mesma posição do centrômero são chamados de homólogos. Em uma célula diploide, um homólogo é de origem
materna, e o outro é de origem paterna.
Os cromossomos homólogos apresentam genes correspondentes, ocupando as mesmas posições e responsáveis pelas
mesmas características. Esses genes podem ocorrer em diferentes versões conhecidas como alelos, e a posição ocupada
por eles é conhecida como locus gênico. Como os cromossomos de um par de homólogos têm origens diferentes (paterna
e materna), concluímos que seus genes alelos podem ser iguais ou diferentes.
Com relação ao locus A, a célula anterior é considerada homozigota, pois seus dois alelos são iguais: AA. Com relação
ao locus B, ela é classicada como heterozigota, pois seus alelos são diferentes: Bb. Para alguns genes, a presença de uma
única cópia na célula é su ciente para permitir que o indivíduo portador manifeste seu efeito, ou seja, eles se manifestam
tanto em homozigose como em heterozigose. Esses genes são conhecidos como dominantes e frequentemente represen-
tados com letra maiúscula. Para outros genes, a manifestação do efeito depende da presença obrigatória de duas cópias, ou
seja, eles se manifestam apenas em homozigose. Esses genes são conhecidos como recessivos e são normalmente repre-
sentados com letra minúscula. Na espécie humana, por exemplo, o caráter pigmentação da pele depende da presença do
gene dominante A, capaz de produzir a forma ativa da enzima tirosinase, responsável por converter a tirosina em melanina.
Seu alelo recessivo, a, não produz a enzima ativa e, portanto, não induz a formação de melanina.

Indivíduos que possuem apenas o alelo A (homozigotos dominantes AA) são capazes de produzir melanina normal-
mente. Os indivíduos que possuem apenas o alelo a (homozigotos recessivos aa) manifestam o albinismo tipo I, caracte-
rizado pela ausência de pigmentação na pele, nos olhos e nos cabelos. Os indivíduos que têm os dois alelos diferentes
(heterozigotos Aa) manifestam a pigmentação normal, porque o efeito de um alelo A já induz a produção de melanina.
Os genes conhecidos como alelos formam-se, ao longo do processo evolutivo da espécie, através de mutações: al-
terações na sequência de nucleotídeos do DNA que podem resultar em alterações na estrutura e, portanto, na função da
proteína. Para que essas alterações sejam transmitidas aos descendentes, elas devem ocorrer nas células germinativas
(envolvidas na produção dos gametas). Caso as alterações ocorram nas células somáticas, não ocorrerá a transmissão para
os descendentes.
O conjunto de genes responsáveis por uma ou algumas características do indivíduo constitui seu genótipo. Por outro
lado, as características que são determinadas por esse genótipo e que podem ser visíveis (como a cor da pele, dos olhos,
etc) ou detectadas por métodos especícos (como o grupo sanguíneo ou a taxa de algumas lipoproteínas plasmáticas)
constituem seu fenótipo. No caso do albinismo, por exemplo, os indivíduos de genótipos homozigoto dominante (AA) e
heterozigoto (Aa) apresentam fenótipo normal, enquanto os indivíduos de genótipo homozigoto recessivo (aa) manifestam
o fenótipo albino.

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Embora o genótipo seja o responsável por muitas de nossas características, ele nem sempre atua sozinho. O ambiente
também pode interferir, de modo mais ou menos intenso, na manifestação de alguns fenótipos. A essa influência ambiental
damos o nome de peristase.

Texto adaptado de MONTEIRO. C. L.

PRIMEIRA E SEGUNDA LEIS DE MENDEL;

As Leis de Mendel são um conjunto de fundamentos que explicam o mecanismo da transmissão hereditária durante
as gerações.
Os estudos do monge Gregor Mendel foram a base para explicar os mecanismos de hereditariedade. Ainda hoje, são
reconhecidos como uma das maiores descobertas da Biologia. Isso fez com que Mendel fosse considerado o “Pai da Ge-
nética”.
Gregor Johan Mendel foi um monge agostiniano nascido no ano de 1822 que se interessou em explicar como as carac-
terísticas dos pais são transmitidas a seus descendentes. Conhecido como o pai da genética, Mendel realizou todas as suas
pesquisas sobre hereditariedade com ervilhas de cheiro (Pisum sativa), escolha que foi uma das razões de seu sucesso com
suas pesquisas, pois essa leguminosa apresenta diversas vantagens como fácil cultivo, produção de grande quantidade de
sementes, ciclo de vida curto, além de características contrastantes e de fácil identificação. Outro fato que contribuiu para
o sucesso das pesquisas de Mendel foi que ele analisou apenas uma característica de cada vez, sem se preocupar com as
demais características.
Em seus experimentos, Mendel teve o cuidado de utilizar apenas plantas de linhagens puras, por exemplo, plantas
de sementes verdes que só originassem sementes verdes e plantas de sementes amarelas que só originassem sementes
amarelas. Você deve estar se perguntando, como Mendel sabia que as plantas eram puras? Pois bem, para que ele tivesse
certeza de qual planta era pura, ele as observava durante seis gerações, período de aproximadamente dois anos. Se durante
essas gerações as plantas originassem indivíduos diferentes da planta inicial, elas não eram consideradas puras, mas se
ocorresse o contrário e elas só originassem descendentes com as mesmas características da planta inicial, eram conside-
radas puras.
A Primeira Lei de Mendel também recebe o nome de Lei da Segregação dos Fatores ou Moibridismo. Ela possui o se-
guinte enunciado:
“Cada caráter é determinado por um par de fatores que se separam na formação dos gametas, indo um fator do par
para cada gameta, que é, portanto, puro”.

68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Uma vez constatado que as plantas eram puras, Mendel escolheu uma característica, por exemplo, plantas puras de
sementes amarelas com plantas puras de sementes verdes, e realizou o cruzamento. Essa primeira geração foi chamada de
geração parental ou geração P. Como resultado desse cruzamento, Mendel obteve todas as sementes de cor amarela e a
essa geração denominou de geração F1. Os indivíduos obtidos nesse cruzamento foram chamados por Mendel de híbridos,
pois eles descendiam de pais com características diferentes.
Em seguida, Mendel realizou uma autofecundação entre os indivíduos da geração F1, chamando essa segunda geração
de geração F2. Como resultado dessa autofecundação, Mendel obteve três sementes amarelas e uma semente verde (3:1).
A partir dos resultados obtidos, Mendel concluiu que como a cor verde não apareceu na geração F1, mas reapareceu na
geração F2, as sementes verdes tinham um fator que era recessivo, enquanto as sementes amarelas tinham um fator domi-
nante. Por esse motivo, Mendel chamou as sementes verdes de recessivas e as sementes amarelas de dominantes.
Em diversos outros experimentos, Mendel observou características diferentes na planta, como altura da planta, cor da
flor, cor da casca da semente, e notou que em todas elas algumas características sempre se sobressaíam às outras.
Diante desses resultados, Mendel pôde concluir que:

- Cada ser vivo é único e possui um par de genes para cada característica;

- As características hereditárias são herdadas metade do pai e metade da mãe;

- Os genes são transmitidos através dos genes;

- Os descendentes herdarão apenas um gene de cada característica de seus pais, ou seja, para uma determinada característica, ha-
verá apenas um gene do par, tanto da mãe quanto do pai.
Dessa forma, podemos enunciar a primeira lei de Mendel, também chamada de lei da segregação dos fatores da se-
guinte forma: “Todas as características de um indivíduo são determinadas por genes que se segregam, separam-se, durante
a formação dos gametas, sendo que, assim, pai e mãe transmitem apenas um gene para seus descendentes”.
A segunda lei de Mendel ou também enunciada por diibridismo, refere-se à segregação independente dos fatores, isto
é, a separação de dois ou mais pares de genes alelos localizados em diferentes pares de cromossomos homólogos, para
formação dos gametas.
O princípio para essa segregação tem suporte na anáfase I da divisão meiótica, instante em que ocorre o afastamento
dos cromossomos homólogos (duplicados), paralelamente dispostos ao longo do fuso meiótico celular.
Dessa forma, a proposição da segunda lei de Mendel, tem como fundamento a análise dos resultados decorrentes às
possibilidades que envolvem não mais o estudo de uma característica isolada (Primeira Lei de Mendel), mas o comporta-
mento fenotípico envolvendo duas ou mais características, em consequência da probabilidade (combinação) de agrupa-
mentos distintos quanto à separação dos fatores (genes alelos / genótipo) na formação dos gametas.

Segue abaixo um exemplo prático da Segunda lei de Mendel:

Do cruzamento de ervilhas com características puras, em homozigose dominante e recessiva respectivamente para a
cor da semente (amarela e verde) e para a textura da semente (lisa e rugosa), temos a seguinte representação para a gera-
ção parental e seus gametas:

RRVV (semente lisa e amarela) x rrvv (semente rugosa e verde)


Gameta → RV Gameta → rv

Desse cruzamento são originados exemplares vegetais de ervilha 100% heterozigóticas RrVv, com característica essen-
cialmente lisa e amarela (geração F1 – primeira geração filial).

A partir do cruzamento entre organismos da geração F1, são formados tipos diferentes de gametas e combinações
diversas para constituição dos indivíduos que irão surgir após a fecundação (geração F2).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Tipos de gametas da geração F1 → RV, Rv, rV e rv tos de ácido nucleico. Estes são introduzidos ao cromosso-
mo vetor, formando assim as moléculas de DNA recombi-
Prováveis combinações entre os gametas: nante.

A clonagem de DNA acontece em sequencia. Dessa


forma, as novas moléculas de DNA produzidas são inse-
ridas em células bacterianas que são amplificadas por re-
plicação resultando em clones bacterianos idênticos que
contêm o DNA recombinante.
A clonagem é o processo utilizado para criar uma répli-
ca geneticamente exata de uma célula, tecido ou organis-
mo. O resultado da clonagem, que tem a mesma composi-
ção genética do original, é chamado de clone.

Existem diferentes tipos de clonagem:

Clonagem natural: é o processo de reprodução asse-


xuada de bactérias e alguns fungos, plantas e algas geran-
do populações de indivíduos geneticamente idênticos.
Clonagem de genes: é a produção e amplificação de
segmentos específicos de DNA através de um vetor.
Clonagem reprodutiva: é o processo que consiste na
fusão de uma célula somática, que é retirada de um indiví-
duo animal, com um óvulo ao qual foi previamente retirado
o núcleo original.
Clonagem terapêutica: é o processo que cria as células-
Proporção fenotípica obtida: -tronco embrionárias, que podem ser utilizadas na produ-
ção de tecido saudável para substituir tecidos lesionados
9/16 → ervilhas com característica lisa e amarela; ou doentes no corpo humano.
3/16 → ervilhas com característica lisa e verde; O termo clone tem origem etimológica na palavra gre-
3/16 → ervilhas com característica rugosa e amarela; ga klon, que quer dizer broto de um vegetal, e foi citado
1/16 → ervilhas com característica rugosa e verde. pela primeira vez no início dos anos 1900, pelo botânico
norte-americano Herbert J. Webber, para descrever uma
Mendel concluiu que as características analisadas não colônia de organismos derivados de um único progenitor
dependiam uma das outras, portanto, são consideradas ca- através de reprodução assexuada. Em humanos, existem
racterísticas independentes. Texto adaptado de MORAES. clones naturais, os gêmeos univitelinos, que se originam da
P. L. divisão de um único óvulo fertilizado.
As primeiras ideias de clonagem surgiram em 1938
quando Hans Spermann, embriologista alemão, propôs
um experimento que consistia em transferir o núcleo de
APLICAÇÕES DA ENGENHARIA GENÉTICA uma célula em estágio tardio de desenvolvimento para um
(CLONAGEM, TRANSGÊNICOS). óvulo. Em 1952, pesquisadores realizaram a primeira clo-
nagem de sapos a partir de células embrionárias e assim
demonstraram que a transferência nuclear era uma técnica
de clonagem viável. Na década de 1980, foram criados os
A Engenharia Genética é a manipulação direta do ge- primeiros mamíferos por transferência nuclear.
noma de um organismo utilizando biotecnologia. Mas foi em 1996 que os fatos mais marcantes sobre a
É um conjunto de tecnologias, baseadas na tecnologia clonagem surgiram. Os pesquisadores Ian Wilmut e Keith
do DNA recombinante, utilizadas para alterar a composi- Campbell divulgaram a clonagem da ovelha Dolly, gera-
ção genética de um ser vivo, incluindo o isolamento, a ma- da a partir de uma célula somática (já diferenciada) de um
nipulação e a transferência de genes intra e interespecíficos doador adulto. Nos anos subsequentes diversos outros
para produzir organismos novos ou melhorados. mamíferos foram clonados, o que abriu espaço para um
intenso debate sobre clonagem, especialmente a humana,
Tecnologia do DNA recombinante que prossegue até os dias de hoje.
Assim como o uso de organismos geneticamente mo-
A tecnologia do DNA recombinante começou a ser dificados ou transgênicos, a clonagem levanta inúmeras
definida no início do ano de 1970. Onde, a partir de uma questões e preocupações éticas e sociais. Para muitos bioe-
amostra contendo moléculas do DNA de interesse ou DNA ticistas, a questão mais problemática é a utilização da téc-
doador, são utilizadas enzimas de restrição, que permitem nica para melhoramento de indivíduos. Essa questão pode
cortar o DNA em pontos bem definidos, isolando fragmen- ter consequências perigosas, pois remete à possível criação

70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

de uma linhagem de “super-homens” com características o uso seguro de transgênicos para o ambiente e para
muito diferentes daquelas dos demais humanos. a saúde da população, uma vez que não se sabe quais
Em 2001, cientistas começaram a explorar essa tecnolo- podem ser as consequências do uso destes a médio e
gia como uma maneira de criar animais pertencentes a es- longo prazo. No que diz respeito à saúde humana, a Or-
pécies ameaçadas ou extintas. No Brasil, a Embrapa (Empre- ganização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização da
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já realiza clonagens ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) afirmam não
de bovinos e, junto com alguns parceiros, lidera o projeto haver até hoje estudos que comprovem algum malefício
de clonagem de espécies selvagens ameaçadas. No final de causado pelos produtos transgênicos comercializados.
2012, a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou o Mas os países europeus e o Japão se opõem fortemente
projeto de lei que regulamenta as atividades de pesquisa, ao plantio e comercialização de alimentos transgênicos.
produção, importação e comercialização de animais clona- Um dos benefícios da transgenia seria a criação de
dos. A aprovação desta lei também deve garantir a prestação culturas agrárias mais resistentes a pragas e que não ne-
de contas à sociedade em relação às questões ambientais. cessitem de tantos defensivos agrícolas. Contudo, o uso
Se soubermos a sequencia de algumas partes dos ge- contínuo de sementes transgênicas pode ter aumentado
nes ou a sequencia de interesse, é possível amplificá-la in a resistência de ervas daninhas e insetos, fazendo com
vitro utilizando o procedimento chamado reação em ca- que o uso de agrotóxicos aumentasse gradativamente.
deia da polimerase (PCR) ao invés da clonagem. A PCR uti- Uma prova disso é que as lavouras de soja, milho e algo-
liza iniciadores de DNA e a enzima Taq polimerase associa- dão, principais culturas das grandes empresas de trans-
das a processos de diferentes temperaturas para amplificar genia, lideram o consumo de agrotóxicos no Brasil.
o DNA de interesse. Outra preocupação em relação ao meio ambiente é
o risco de escape gênico através da polinização cruzada
Transgenia e organismos geneticamente modificados entre as espécies transgênicas e as naturais não modifi-
cadas. O escape gênico pode levar à eliminação dos es-
Organismos transgênicos e organismos geneticamen- pécimes naturais que são menos resistentes a pragas e
te modificados (OGM) não são sinônimos. Os transgênicos herbicidas, resultando em perda de variedade genética
são organismos que tiveram a inserção de material gené- das populações de vegetais.
tico de outro organismo de espécie diferente. Os geneti- No Brasil, o Conselho Nacional de Segurança Ali-
camente modificados são organismos que tiveram o seu mentar e Nutricional e a Associação Brasileira de Saúde
genoma modificado em laboratório, sem necessariamente Coletiva já relataram o surgimento de doenças ligadas
receber material genético. ao consumo de transgênicos, como alergias, câncer, de-
A transgenia é um processo pelo qual organismos de uma pressão, esterilidade, malformação congênita, problemas
espécie são modificados geneticamente através da introdução neurológicos e mentais, aumento da resistência a anti-
de material genético de outra espécie, utilizando técnicas de bióticos, entre outros. Mas ainda faltam estudos oficiais,
engenharia genética. Assim, os alimentos transgênicos são imparciais, aprofundados e abrangentes que possam
os alimentos derivados normalmente de sementes e plantas testar a relação entre transgênicos e doenças crônicas,
cujos materiais genéticos tenham sido modificados com o in- e que tragam esclarecimentos à população sem estarem
tuito de obter benefícios tanto para as plantações (resistência ligados a grupos de interesses econômicos e políticos.
a herbicidas, produção de toxinas contra pragas das culturas
agrícolas) quanto para os consumidores (aumento da qualida- Aplicações da engenharia genética
de nutricional ou produção de substâncias medicinais).
Há milhares de anos os seres humanos vêm apurando Quanto mais se aprende sobre o genoma dos seres
as culturas agrícolas através da seleção das melhores se- vivos, mais aplicações da engenharia genética surgem.
mentes para o plantio, alterando lenta e mecanicamente Esta tem aplicação na medicina, na pesquisa, na indústria
os genomas das plantas. O surgimento da tecnologia dos e na agricultura, e, pode ser usada em diversas de plantas,
geneticamente modificados trouxe presteza para esse pro- animais e micro-organismos. Aí estão as produções, em
cesso e fez com que as expectativas sobre as aplicações do larga escala, de insulina, de hormônio do crescimento, de
melhoramento genético agro-alimentar fossem progressi- interferon alfa humano com atividade biológica contra
vamente aumentando. infecções ocasionadas por vírus e contra algumas formas
Desde o início dos anos 2000, as culturas de alimentos de tumores malignos humanos, de vacinas e anticorpos
transgênicos foram se consolidando como uma tendência monoclonais humanos. Uso de organismos geneticamen-
global. Atualmente, 81% dos grãos de soja e 35% do milho te modificados para produção de biocombustível, biorre-
crescido são transgênicos. Em todo o mundo, existem 28 mediação e biomineração. Produção de alimentos gene-
países que cultivam plantas geneticamente modificadas e o ticamente modificados como soja, milho, peixes.
Brasil é o segundo maior produtor com 36,6 milhões de hec- É através da engenharia genética que os pesquisadores
tares plantados, perdendo apenas para os Estados Unidos. criam modelos animais para o estudo de doenças humanas
Muito se argumenta em favor do uso de transgênicos como câncer, obesidade, artrite, ansiedade e mal de Par-
e de seus benefícios, especialmente em como os recursos kinson. E usando a terapia gênica, que é a extensão da tec-
alimentares podem ficar mais disponíveis para a crescen- nologia transgênica ao tratamento de doenças humanas,
te população mundial, em particular, para os países fa- genes causadores de doenças são substituídos por genes
mintos. Mas existe uma grande discussão mundial sobre saudáveis.

71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Ética em engenharia genética trará benefício para as espécies envolvidas e também para
o meio ambiente. As relações intraespecíficas harmônicas
Apesar de todas as contribuições importantes, a enge- ocorrem as colônias e sociedades onde indivíduos da mes-
nharia genética não é não mais amplamente utilizada de- ma espécie, mantêm-se anatomicamente separados, coo-
vido às preocupações éticas. Existe um grande debate em peram entre si por meio de divisão de trabalho como por
muitos países sobre o uso seguro de transgênicos e OGM exemplo: as abelhas, cupins, formigas.
para o ambiente e para a saúde da população, pois ainda Entre as relações intraespecíficas desarmônicas temos
não se sabe quais podem ser as consequências do uso des- o canibalismo ato no qual um indivíduo se alimenta de ou-
tes em longo prazo. tro da mesma espécie, e a competição, caracterizada pela
A aplicação da engenharia genética a seres humanos disputa por territórios, parceiros sexuais, comida.
levanta um conjunto maior de questões éticas, morais, so-
ciais e espirituais sobre a modificação do genoma humano.
E podemos refletir brevemente: Até que ponto o aperfei-
çoamento biológico do corpo humano, expandindo suas
capacidades, adicionando aptidões e competências ausen-
tes nos corpos naturais, traz benefícios para o indivíduo,
para a coletividade e para a evolução da espécie humana?
Texto adaptado de CANHAS. I.

INTERAÇÃO ENTRE OS SERES VIVOS:

A Ecologia é o ramo da ciência que estuda as relações


mútuas que os seres vivos estabelecem entre si e com o
ambiente físico. Esse objeto de estudo, baseado nas inte- As relações interespecíficas harmônicas são classifi-
rações que ocorrem no mundo natural, engloba uma gama cadas como: Mutualismo no qual indivíduos de espécies
de conceitos biológicos e lhe confere um papel importante diferentes se encontram intimamente associados, criando
no ensino de conceitos científicos. vínculo de dependência e ambos se beneficiam; protocoo-
O entendimento dos diferentes fenômenos que englo- peração, em que os indivíduos cooperam entre si, mas não
bam essas relações e interações entre seres vivos (incluindo são dependentes um do outro para sobreviverem; inquili-
o homem) e os componentes abióticos é amplamente dis- nismo, onde uma espécie usa a outra como abrigo; e co-
cutido à luz de teorias ecológicas. O ambiente é alterado, mensalismo, relação na qual apenas uma espécie se bene-
físico e quimicamente, pela maneira como os indivíduos ficia, mas sem causar prejuízos à outra .
realizam suas atividades. Também as interações entre orga- As interações desarmônicas normalmente causam al-
nismos, têm influência na vida de outros seres, da mesma guma tipo de perda para o meio ambiente e para espécies
espécie e de espécies diferentes. envolvidas.
As relações ecológicas se particularizam pela forma de Nas relações interespecíficas desarmônicas, se inclui o
interação que os seres vivos mantêm entre si sendo cate- amensalismo em que um ser vivo produz e libera compos-
gorizadas de acordo com os benefícios e/ou prejuízos que tos químicos que inibem ou impedem a sobrevivência do
trazem aos organismos. Dessa forma, podem ser divididas outro; o predatismo onde um indivíduo mata outro para se
em dois grupos: harmônicas ou positivas e desarmônicas alimentar; o esclavagismo, que consiste na exploração de
e ou negativas. Nas relações harmônicas há benefício mú- uma espécie por outro o parasitismo no qual o parasita re-
tuo entre os grupos de espécies envolvidos, ou benefício tira, do corpo do hospedeiro, nutrientes para garantir a sua
para um dos organismos, sem prejuízo para o outro. Já as sobrevivência, e por ser prolongada acaba debilitando-o;
relações desarmônicas ou negativas são aquelas nas quais competição que é a disputa por alimento ou espaço, entre
há prejuízo para algum dos grupos de espécies envolvidos, indivíduos e espécies diferentes .
com benefício do outro. Conforme BIOMANIA (2014), O tópico interações bio-
Os dois grupos de interações também acaba sendo di- lógicas pode ser didaticamente trabalhado com ênfase nos
vidida pelos tipos de interações que realizam e de acordo componentes vivos e não vivos de um ecossistema, sendo
com a consequência desta interação. Os diferentes tipos de importante a explanação sobre as influências intra e inte-
interações, harmônicas e desarmônicas, podem ainda ser respecíficas das populações envolvidas em eventos ecoló-
separadas em intraespecíficas, quando ocorrem entre orga- gicos que causam benefícios ou malefícios a um organismo
nismos da mesma espécie, e interespecíficas, quando os or- ou ao grupo a que pertence. Texto adaptado de TROMBET-
ganismos envolvidos na interação são de espécies distintas. TA. J; SCHIMIN. E. S.
Cada interação realizada vai sendo descrita para que
possamos entender o que se elas alteram ou contribuem
para o meio onde vivem. Veremos que algumas interações

72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

beu impulso especial no início do século XIX e depois que


Thomas Malthus chamou atenção para o conflito entre as
CONCEITOS BÁSICOS EM ECOLOGIA; populações em expansão e a capacidade da Terra de for-
necer alimento. Raymond Pearl (1920), A. J. Lotka (1925), e
Vito Volterra (1926) desenvolveram as bases matemáticas
para o estudo das populações, o que levou a experiências
A palavra ecologia foi empregada pela primeira vez sobre a interação de predadores e presas, as relações com-
pelo biólogo alemão E. Haeckel em 1866 em sua obra Ge- petitivas entre espécies e o controle populacional. O estu-
nerelle Morphologie der Organismen . Ecologia vem de do da influência do comportamento sobre as populações
duas palavras gregas : Oikós que quer dizer casa , e lo- foi incentivado pelo reconhecimento, em 1920, da territo-
gos que significa estudo .Ecologia significa , literalmente rialidade dos pássaros. Os conceitos de comportamento
a Ciência do Habitat . É a ciência que estuda as condições instintivo e agressivo foram lançados por Konrad Lorenz
de existência dos seres vivos e as interações , de qualquer e Nikolaas Tinbergen, enquanto V. C. Wynne-Edwards es-
natureza , existentes entre esses seres vivos e seu meio . tudava o papel do comportamento social no controle das
populações. No início e em meados do século XX, dois gru-
pos de botânicos, um na Europa e outro nos Estados Uni-
dos, estudaram comunidades vegetais de dois diferentes
Os componentes estruturais de um ecossistema pontos de vista. Os botânicos europeus se preocuparam
em estudar a composição, a estrutura e a distribuição das
Os ecossistemas são constituídos, essencialmente, por comunidades vegetais, enquanto os americanos estudaram
três componentes: o desenvolvimento dessas comunidades, ou sua sucessão.
• Abióticos - que em conjunto constituem o biótopo As ecologias animal e vegetal se desenvolveram sepa-
: ambiente físico e fatores químicos e físicos . A radiação radamente até que os biólogos americanos deram ênfase
solar é um dos principais fatores físicos dos ecossistemas à inter-relação de comunidades vegetais e animais como
terrestres pois é através dela que as plantas realizam fo- um todo biótico. Alguns ecologistas se detiveram na di-
tossíntese , liberando oxigênio para a atmosfera e transfor- nâmica das comunidades e populações, enquanto outros
mando a energia luminoso em química se preocuparam com as reservas de energia. Em 1920, o
• Bióticos - representados pelos seres vivos que com- biólogo alemão August Thienemann introduziu o conceito
põem a comunidade biótica ou biocenoses . compreen- de níveis tróficos, ou de alimentação, pelos quais a energia
dendo os organismos heterótrofos dependentes da maté- dos alimentos é transferida, por uma série de organismos,
ria orgânica e os autotróficos responsáveis pela produção das plantas verdes (produtoras) aos vários níveis de ani-
primária, ou seja, a fixação do CO2. mais (consumidores). Em 1927, C. S. Elton, ecologista inglês
• Energia – caracterizada pela força motriz que aporta especializado em animais, avançou nessa abordagem com
nos diversos ambientes e garante as condições necessárias o conceito de nichos ecológicos e pirâmides de números.
para a produção primária em um ambiente, ou seja, a pro- Dois biólogos americanos, E. Birge e C. Juday, na década
dução de biomassa a partir de componentes inorgânicos. de 1930, ao medir a reserva energética de lagos, desen-
Todos os animais são consumidores . Os animais que volveram a idéia da produção primária, isto é, a proporção
se alimentam de produtores são chamados consumidores na qual a energia é gerada, ou fixada, pela fotossíntese. A
primários . Os herbívoros , animais que se alimentam de ecologia moderna atingiu a maioridade em 1942 com o de-
plantas , são , portanto , consumidores primários . Os ani- senvolvimento, pelo americano R. L. Lindeman, do conceito
mais que se alimentam de herbívoros são consumidores trófico-dinâmico de ecologia, que detalha o fluxo da ener-
secundários , os que se alimentam dos consumidores se- gia através do ecossistema. Esses estudos quantitativos
cundários são consumidores terciários e assim por diante ; foram aprofundados pelos americanos Eugene e Howard
Decompositores , Organismos heterótrofos que degradam Odum. Um trabalho semelhante sobre o ciclo dos nutrien-
a matéria orgânica contida em produtores e em consumi- tes foi realizado pelo australiano J. D. Ovington. O estudo
dores , utilizando alguns produtos da decomposição como do fluxo de energia e do ciclo de nutrientes foi estimula-
o alimento e liberando para o meio ambiente minerais e do pelo desenvolvimento de novas técnicas radioisótopos,
outras substâncias, que podem ser novamente utilizados microcalorimetria, computação e matemática aplicada que
pelos produtores . permitiram aos ecologistas rotular, rastrear e medir o mo-
vimento de nutrientes e energias específicas através dos
Histórico ecossistemas. Esses métodos modernos deram início a um
novo estágio no desenvolvimento dessa ciência a ecologia
A ecologia não tem um início muito bem delineado. dos sistemas, que estuda a estrutura e o funcionamento
Encontra seus primeiros antecedentes na história natural dos ecossistemas.
dos gregos, particularmente em um discípulo de Aristóte-
les, Teofrasto, que foi o primeiro a descrever as relações Conceito unificador
dos organismos entre si e com o meio. As bases posterio-
res para a ecologia moderna foram lançadas nos primei- Até o fim do século XX, faltava à ecologia uma base
ros trabalhos dos fisiologistas sobre plantas e animais. O conceitual. A ecologia moderna, porém, passou a se con-
aumento do interesse pela dinâmica das populações rece- centrar no conceito de ecossistema, uma unidade funcional

73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

composta de organismos integrados, e em todos os aspec- estudo da dinâmica, distribuição e comportamento das po-
tos do meio ambiente em qualquer área específica. Envolve pulações, e das inter-relações de animais com seu meio am-
tanto os componentes sem vida (abióticos) quanto os vivos biente. Como os animais dependem das plantas para sua
(bióticos) através dos quais ocorrem o ciclo dos nutrien- alimentação e abrigo, a ecologia animal não pode ser total-
tes e os fluxos de energia. Para realizá-los, os ecossistemas mente compreendida sem um conhecimento considerável
precisam conter algumas inter-relações estruturadas entre de ecologia vegetal. Isso é verdade especialmente nas áreas
solo, água e nutrientes, de um lado, e entre produtores, aplicadas da ecologia, como manejo da vida selvagem. A
consumidores e decomponentes, de outro. Os ecossiste- ecologia vegetal e a animal podem ser vistas como o estudo
mas funcionam graças à manutenção do fluxo de energia das inter-relações de um organismo individual com seu am-
e do ciclo de materiais, desdobrado numa série de proces- biente (autoecologia), ou como o estudo de comunidades
sos e relações energéticas, chamada cadeia alimentar, que de organismos (sinecologia).
agrupa os membros de uma comunidade natural. Existem A auto-ecologia, ou estudo clássico da ecologia, é ex-
cadeias alimentares em todos os habitats, por menores que perimental e indutiva. Por estar normalmente interessada
sejam esses conjuntos específicos de condições físicas que no relacionamento de um organismo com uma ou mais
cercam um grupo de espécies. As cadeias alimentares cos- variáveis, é facilmente quantificável e útil nas pesquisas de
tumam ser complexas, e várias cadeias se entrecruzam de campo e de laboratório. Algumas de suas técnicas são to-
diversas maneiras, formando uma teia alimentar que repro- madas de empréstimo da química, da física e da fisiologia.
duz o equilíbrio natural entre plantas, herbívoros e carnívo- A auto-ecologia contribuiu com pelo menos dois impor-
ros. Os ecossistemas tendem à maturidade, ou estabilida- tantes conceitos: a constância da interação entre um or-
de, e ao atingi-la passam de um estado menos complexo ganismo e seu ambiente, e a adaptabilidade genética de
para um mais complexo. Essa mudança direcional é cha- populações às condições ambientais do local onde vivem.
mada sucessão. Sempre que um ecossistema é utilizado, e A sinecologia é filosófica e dedutiva. Largamente descriti-
que a exploração se mantém, sua maturidade é adiada. A va, não é facilmente quantificável e contém uma termino-
principal unidade funcional de um ecossistema é sua po- logia muito vasta. Apenas recentemente, com o advento
pulação. Ela ocupa um certo nicho funcional, relacionado a da era eletrônica e atômica, a sinecologia desenvolveu os
seu papel no fluxo de energia e ciclo de nutrientes. Tanto o instrumentos para estudar sistemas complexos e dar início
meio ambiente quanto a quantidade de energia fixada em a sua fase experimental. Os conceitos importantes desen-
qualquer ecossistema são limitados. Quando uma popula- volvidos pela sinecologia são aqueles ligados ao ciclo de
ção atinge os limites impostos pelo ecossistema, seus nú- nutrientes, reservas energéticas, e desenvolvimento dos
meros precisam estabilizar-se e, caso isso não ocorra, de- ecossistemas. A sinecologia tem ligações estreitas com a
vem declinar em conseqüência de doença, fome, competi- pedologia, a geologia, a meteorologia e a antropologia
ção, baixa reprodução e outras reações comportamentais cultural. A sinecologia pode ser subdividida de acordo
e psicológicas. Mudanças e flutuações no meio ambiente com os tipos de ambiente, como terrestre ou aquático. A
representam uma pressão seletiva sobre a população, que ecologia terrestre, que contém subdivisões para o estu-
deve se ajustar. O ecossistema tem aspectos históricos: o do de florestas e desertos, por exemplo, abrange aspectos
presente está relacionado com o passado, e o futuro com dos ecossistemas terrestres como microclimas, química
o presente. Assim, o ecossistema é o conceito que unifica a dos solos, fauna dos solos, ciclos hidrológicos, ecogené-
ecologia vegetal e animal, a dinâmica, o comportamento e tica e produtividade.
a evolução das populações. Os ecossistemas terrestres são mais influenciados
por organismos e sujeitos a flutuações ambientais muito
Áreas de estudo mais amplas do que os ecossistemas aquáticos. Esses úl-
timos são mais afetados pelas condições da água e pos-
A ecologia é uma ciência multidisciplinar, que envolve suem resistência a variáveis ambientais como temperatu-
biologia vegetal e animal, taxonomia, fisiologia, genética, ra. Por ser o ambiente físico tão importante no controle
comportamento, meteorologia, pedologia, geologia, so- dos ecossistemas aquáticos, dá-se muita atenção às ca-
ciologia, antropologia, física, química, matemática e ele- racterísticas físicas do ecossistema como as correntes e a
trônica. Quase sempre se torna difícil delinear a fronteira composição química da água. Por convenção, a ecologia
entre a ecologia e qualquer dessas ciências, pois todas têm aquática, denominada limnologia, limitase à ecologia de
influência sobre ela. A mesma situação existe dentro da pró- cursos d’água, que estuda a vida em águas correntes, e à
pria ecologia. Na compreensão das interações entre o or- ecologia dos lagos, que se detém sobre a vida em águas
ganismo e o meio ambiente ou entre organismos, é quase relativamente estáveis. A vida em mar aberto e estuários
sempre difícil separar comportamento de dinâmica popula- é objeto da ecologia marinha. Outras abordagens ecoló-
cional, comportamento de fisiologia, adaptação de evolução gicas se concentram em áreas especializadas. O estudo da
e genética, e ecologia animal de ecologia vegetal. A ecologia distribuição geográfica das plantas e animais denomina-se
se desenvolveu ao longo de duas vertentes: o estudo das geografia ecológica animal e vegetal. Crescimento popu-
plantas e o estudo dos animais. A ecologia vegetal aborda lacional, mortalidade, natalidade, competição e relação
as relações das plantas entre si e com seu meio ambiente. A predador-presa são abordados na ecologia populacional.
abordagem é altamente descritiva da composição vegetal O estudo da genética e a ecologia das raças locais e espé-
e florística de uma área e normalmente ignora a influência cies distintas é a ecologia genética.
dos animais sobre as plantas. A ecologia animal envolve o As reações comportamentais dos animais a seu am-

74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

biente, e as interações sociais que afetam a dinâmica das organismos e os métodos de estudo são geralmente
populações são estudadas pela ecologia comportamental. muito diferentes nesses três meios, embora em muitos
As investigações de interações entre o meio ambiente fí- casos os princípios gerais sejam os mesmos. E’ preci-
sico e o organismo se incluem na ecoclimatologia e na eco- so abandonar a divisão antiga entre ecologia animal e
logia fisiológica. A parte da ecologia que analisa e estuda a ecologia vegetal, que separava arbitrariamente orga-
estrutura e a função dos ecossistemas pelo uso da matemá- nismos que guardam entre si estreitas inter-relações.
tica aplicada, modelos matemáticos e análise de sistemas é a Se um pesquisador se limita ao estudo dos vegetais ou
ecologia dos sistemas. A análise de dados e resultados, feita ao dos animais é unicamente por motivo da impossibi-
pela ecologia dos sistemas, incentivou o rápido desenvolvi- lidade material que uma só pessoa tem de abordar os
mento da ecologia aplicada, que se ocupa da aplicação de dois campos.
princípios ecológicos ao manejo dos recursos naturais, pro-
dução agrícola, e problemas de poluição ambiental. Ecologia Humana
Distinguimos em ecologia três grandes subdivisões: a
auto-ecologia, a dinâmica das populações e a sinecologia. Este ramo da ecologia estuda as relações existentes
Estas distinções são um pouco arbitrárias mas têm a van- entre os indivíduos e entre as diferentes comunidades da
tagem de ser cômodas para uma exposição introdutória. espécie humana, bem como as suas interações com o am-
- A auto-ecologia (Schroter, 1896) estuda as rela- biente em que vivem, a nível fisiográfico, ecológico e social.
ções de uma única espécie com seu meio. Define es- Descreve a forma como o homem se adapta ao ambiente
sencialmente os limites de tolerância e as preferências nos diferentes locais do planeta, como obtém alimento,
das espécies em face dos diversos fatores ecológicos e abrigo e água. Tende a encarar o ser humano do ponto de
examina a ação do meio sobre a morfologia, a fisiologia vista biológico e ecológico, uma espécie animal adaptada
e o comportamento. Desprezam-se as interações dessa para viver nos mais diversos ambientes. A ecologia urbana,
espécie com as outras, mas freqüentemente ganha-se na estuda detalhes da vida humana nas cidades, do ponto de
precisão das informações. Assim definida, a auto-ecologia vista ambiental, sua relação com os recursos naturais, o ar,
tem evidentemente correlacionamentos com a fisiologia e a água, a fauna e flora, bem como as relações entre indiví-
a morfologia. Mas tem também seus próprios problemas. duos. Problemas sociais como o êxodo rural, o crescimen-
Por exemplo, a determinação das preferências térmicas de to descontrolado das cidades, infraestrutura urbana, bem
uma espécie permitirá explicar (ao menos em parte) sua como características das populações (taxa de crescimento,
localização nos diversos meios, sua repartição geográfica, densidade, índices de nascimento e mortalidade e idade
abundância e atividade. média) são abordados nesta especialidade. Doenças, epi-
- A dinâmica das populações (ou Demòkologie dos demias, problemas de saúde pública e de qualidade am-
autores alemães, Schwertfeger, 1963) descreve as varia- biental também pertencem ao campo da ecologia humana.
ções da abundância das diversas espécies e procura as A ecologia humana tem o desafio, de auxiliar no reco-
causas dessas variações. nhecimento das causas dos desequilíbrios ambientais exis-
- A sinecologia (Schroter, 1902) analisa as relações tentes na sociedade humana e propor soluções alternati-
entre os indivíduos pertencentes às diversas espécies vas ou minimizadoras. Este ramo da ecologia, associado à
de um grupo e seu meio. O termo biocenótica (Gams, conscientização e educação ambiental, pode transformar
1918) é praticamente um sinônimo. O estudo sinecoló- as grandes cidades em locais mais habitáveis e saudáveis,
gico pode adotar dois pontos de vista: onde o uso dos recursos naturais é racional e otimizado.
1. O ponto de vista estático (sinecologia descritiva), Para isso, a ecologia humana e urbana precisa estar inte-
que consiste em descrever os grupos de organismos grada ao desenvolvimento de ciência e tecnologia, bem
existentes em um meio determinado. Obtém-se assim como vinculada a programas prioritários dos governos
conhecimentos precisos sobre a composição especifica
dos grupos, a abundância, freqüência, constância e dis- Biosfera
tribuição espacial das espécies constitutivas.
2. O ponto de vista dinâmico (sinecologia funcio- A biosfera refere-se a região do planeta ocupada pelos
nal), com dois aspectos. Porte-se descrever a evolução seres vivos. É possível encontrar vida em todas as regiões
dos grupos e examinar as influências que os fazem su- do planeta, por mais quente ou frio que elas sejam. O con-
ceder-se em um lugar determinado. Pode-se também ceito de biosfera foi criado por analogia a outros concei-
estudar os transportes de matéria e de energia entre os tos empregados para designar parte de nosso planeta. De
diversos constituintes de um ecossistema, o que con- modo qual, podemos dizer que os limites da biosfera se es-
duz às noções de cadeia alimentar, de pirâmides dos tendem desde às altas montanhas até as profundezas das
números, das biomassas e das energias, de produtivi- fossas abissais marinhas. O aparecimento da espécie hu-
dade e de rendimento. Esta última parte constitui o que mana na Terra dada uns 100 mil anos, e a grande expansão
se chama a sinecologia quantitativa. das populações humanas aconteceu durante o último milê-
Outras subdivisões da ecologia levam em consi- nio. A presença tem interferido profundamente no mundo
deração a natureza do meio e correspondem aos três natural. É necessário preservar as harmonias da biosfera, se
grandes conjuntos da biosfera: a ecologia marítima, a nós não nos concretizarmos que as espécies de seres vivos,
ecologia terrestre e a ecologia límnica. A natureza dos inclusive a humana mantém várias inter-relações e que a
influência no mundo pode criar vários desequilíbrios.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Organização do mundo vivo

Podemos dividir o mundo vivo em estratos para um melhor entendimento da gradação da complexidade e por isto
existem níveis de organização segundo os quais podemos entender o mundo vivo. Partindo do mais simples ao mais
completos teremos:

Ecossistemas

Conjunto formado por uma biocenose ou comunidade biótica e fatores abióticos que interatuam, originando uma
troca de matéria entre as partes vivas e não vivas. Em termos funcionais, é a unidade básica da Ecologia, incluindo comu-
nidades bióticas e meio abiótico influenciando-se mutuamente, de modo a atingir um equilíbrio. O termo “ecossistema”
é, pois, mais geral do que “biocenose”, referindo a interação dos fatores que atuam sobre esta e de que ela depende.

Componentes básicos de um ecossistema

Os organismos vivos e o seu ambiente inerte (abiótico) estão inseparavelmente ligados e interagem entre si. Qualquer
unidade que inclua a totalidade dos organismos (isto é, a “comunidade”) de uma área determinada interagindo com o
ambiente físico por forma a que uma corrente de energia conduza a uma estrutura trófica, a uma diversidade biótica e a
ciclos de materiais (isto é, troca de materiais entre as partes vivas e não vivas) claramente definidos dentro do sistema é
um sistema ecológico ou ecossistema. Do ponto de vista trófico (de trophe = alimento), um ecossistema tem dois com-
ponentes (que como regra costumam estar separados no espaço e no tempo), um componente autotrófico (autotrófico
= que se alimenta a si mesmo), no qual predomina a fixação da energia da luz, a utilização de substâncias inorgânicas
simples e a elaboração de substâncias complexas, e um componente heterotrófico (heterotrófico = que é alimentado por
outro), no qual predominam o uso, a nova preparação e a decomposição de materiais complexos.
Os ecossistemas são formados pela união de dois fatores: Fatores abióticos - o conjunto de todos os fatores físicos
que podem incidir sobre as comunidades de uma certa região. Fatores bióticos - conjunto de todos seres vivos e que
interagem uma certa região e que poderão ser chamados de biocenose, comunidade ou de biotaExemplo: chamava-se de
micro flora, flora autóctone ou ainda fora normal todo o conjunto de bactérias e seres, os corpos que viviam no interior do
corpo humano ou sobre a pele. Hoje o termo melhor usado em consonância com os termos ecológicos seria microbiota
normal.

Dimensão

É muito variável a dimensão de um ecossistema. Tanto é um ecossistema uma floresta de coníferas, como um tronco
de árvore apodrecido em que sobrevivem diversas populações de seres minúsculos. Assim como é possível associar todos
os ecossistemas existentes num só, muito maior, que é a ecosfera, é igualmente possível delimitar em cada um, outros
mais pequenos, por vezes ocupando áreas tão reduzidas que recebem o nome de microecossistemas.

Constituintes e Funcionamento dos Ecossistemas

Segundo a sua situação geográfica, os principais ecossistemas são classificados em terrestres e aquáticos. Em qual-
quer dos casos, são quatro os seus constituintes básicos: - substâncias abióticas - compostos básicos do meio ambiente;
- produtores - seres autotróficos, na maior parte dos casos plantas verdes, capazes de fabricar a sua própria substância
a partir de substâncias inorgânicas simples; - consumidos - organismos heterotróficos, quase sempre animais, que se

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

alimentam de outros seres ou de partículas de matéria orgânica, - decompositores - seres heterotróficos, na sua maioria
bactérias e fungos que, decompondo as complexas substâncias dos organismos mortos, ingerem partes destes materiais
libertando, em contrapartida, substâncias simples que, lançadas no ambiente. podem ser assimiladas pelos produtores.
Há grande diversidade de ecossistemas:
Ecossistemas naturais - bosques, florestas, desertos, prados, rios, oceanos, etc.
Ecossistemas artificiais - construídos pelo Homem: açudes, aquários, plantações, etc.
Atendendo ao meio físico, há a considerar:
• Ecossistemas terrestres
• Ecossistemas aquáticos
Quando, de qualquer ponto, observamos uma paisagem, apercebemo-nos da existência de descontinuidades - mar-
gens do rio, limites do bosque, bordos dos campos, etc. que utilizamos frequentemente para delimitar vários ecossistemas
mais ou menos definidos pelos aspectos particulares da flora que aí se desenvolve. No entanto, na passagem, por exemplo,
de uma floresta para uma pradaria, as árvores não desaparecem bruscamente; há quase sempre uma zona de transição,
onde as árvores vão sendo cada vez menos abundantes. Sendo assim, é possível, por falta de limites bem definidos e fron-
teiras intransponíveis, considerar todos os ecossistemas do nosso planeta fazendo parte de um enorme ecossistema cha-
mado ecosfera. Deste gigantesco ecossistema fazem parte todos os seres vivos que, no seu conjunto, constituem a biosfera
e a zona superficial da Terra que eles habitam e que representa o seu biótopo. Ou seja:

BIOSFERA + ZONA SUPERFICIAL DA TERRA = ECOSFERA

Mas assim como é possível associar todos os ecossistemas num só de enormes dimensões - a ecosfera - também é
possível delimitar, nas várias zonas climáticas, ecossistemas característicos conhecidos por biomas, caracterizados por meio
do fator Latitude. Por sua vez, em cada bioma, é possível delimitar outros ecossistemas menores.

Principais BIOMAS:

Tundra - Característica das regiões de clima frio. Predominam musgos, líquenes, gramíneas e algumas árvores anãs.
Taiga - Clima frio, mas menos frio que o da tundra. Há mais água no estado líquido. Árvores com copas em forma de
cone e com folhagem persistente. Deste modo, há melhor aproveitamento da fraca energia luminosa: os ramos superiores
não fazem sombra sobre os inferiores e a fotossíntese realiza-se todo o ano (folhagem persistente).
Deserto - Clima seco e grandes amplitudes térmicas diurnas: Vegetação pouco desenvolvida e pouco variada. Animais
capazes de suportar estas condições adversas.
Floresta temperada - Floresta de árvores de folhagem caduca, característica das zonas temporadas.
Savana - Pradaria característica das regiões tropicais, com algumas arvores espalhadas. Locais de pastagem para muitos
herbívoros (equivalente a cerrados).
Floresta equatorial - Floresta luxuriante, com variadíssimas espécies de arvores de grande porte.
Alguns ocupam áreas tão reduzidas que merecem o nome de microecossistemas. Numa floresta, por exemplo, as cla-
reiras e as zonas densas, a face voltada a norte ou a sul de um tronco de árvore, etc., apresentam comunidades bióticas
distintas. Constituem pequenos ecossistemas no grande ecossistema que é a floresta - são os microecossistemas.

Fatores Abióticos

Existem elementos componentes do ambiente físico e químico que agem sobre quase todos os aspectos da vida
dos diferentes organismos, constituindo o fatores abióticos. Estes influenciam o crescimento, atividade e as característi-
cas que os seres apresentam, assim como a sua distribuição por diferentes locais. Estes fatores variam de valor de local
para local, determinando uma grande diversidade de ambientes. Os diferentes fatores abióticos podem agrupar-se em
dois tipos principais - os fatores climáticos, como a luz, a temperatura e a umidade, que caracterizam o clima de uma
região - e os fatores edáficos, dos quais se destacam a composição química e a estrutura do solo.

Luz

A luz é uma manifestação de energia, cuja principal fonte é o Sol. É indispensável ao desenvolvimento das plantas.
De fato, os vegetais produzem a matéria de que o seu organismo é formado através de um processo - a fotossíntese
- realizado a partir da captação da energia luminosa. Praticamente todos os animais necessitam de luz para sobrevi-
ver. São exceção algumas espécies que vivem em cavernas - espécies cavernícolos - e as espécies que vivem no meio
aquático a grande profundidade - espécies abissais. Certos animais como, por exemplo, as borboletas necessitam de
elevada intensidade luminosa, pelo que são designadas por espécies lucífilas. Por oposição, seres como o caracol e
a minhoca não necessitam de muita luz, evitando a, pelo que são denominadas espécies lucífugas. A luz influencia o
comportamento e a distribuição dos seres vivos e, também, as suas características morfológicas.

77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A Luz e os Comportamentos dos Seres

Vivos Os animais apresentam fototatismo, ou seja, RELAÇÕES TRÓFICAS (CADEIAS E TEIAS


sensibilidade em relação à luz, pelo que se orientam para ALIMENTARES);
ela ou se afastam dela. Tal como os animais, as plantas
também se orientam em relação à luz, ou seja, apresen-
tam fototropismo. Os animais e as plantas apresentam
fotoperiodismo, isto é, capacidade de reagir à duração Este termo ecológico representa o vínculo existente
da luminosidade diária a que estão submetidos - fotope- entre um grupo de organismos presentes em um ecos-
ríodo. Muitas plantas com flor reagem de diferentes mo- sistema, os quais são regulados pela relação predador-
dos ao fotoperíodo, tendo, por isso, diferentes épocas de -presa. É através da cadeia alimentar, ou cadeia trófica,
floração. Também os animais reagem de diversos modos que é possível a transferência de energia entre os seres
ao fotoperíodo, pelo que apresentam o seu período de vivos. É a unidade fundamental da teia trófica. Existem
atividade em diferentes momentos do dia. basicamente dois tipos de cadeia alimentar, as que come-
çam a partir das plantas fotossintetizantes e as originadas
Temperatura através da matéria orgânica animal e vegetal morta. As
plantas são consumidas por animais herbívoros enquanto
Cada espécie só consegue sobreviver entre certos li- que a matéria orgânica morta é consumida pelos animais
mites de temperatura, o que confere a este factor uma detritívoros. A cadeia alimentar é constituída pelos se-
grande importância. Cada ser sobrevive entre certos li- guintes níveis:
mites de temperatura - amplitude térmica de existência
-, não existindo acima de um determinado valor - tempe-
ratura máxima - nem abaixo de outro - temperatura mí-
nima. Cada espécie possui uma temperatura ótima para
a realização das suas atividades vitais. Alguns seres têm
grande amplitude térmica de existência - seres euritérmi-
cos - enquanto outros só sobrevivem entre limites estrei-
tos de temperatura - seres estenotérmicos.

A Temperatura e os Comportamentos dos Animais

Alguns animais, nas épocas do ano em que as tempe-


raturas se afastam do valor ótimo para o desenvolvimento
das suas atividades, adquirem comportamentos que lhos
permitem sobreviver: animais que não têm facilidade em
realizar grandes deslocações como, por exemplo, lagarti-
xas, reduzem as suas atividades vitais para valores míni-
mos, ficando num estado de vida latente; animais que se
podem deslocar com facilidade como, por exemplo, as an-
dorinhas, migram, ou seja, partem em determinada época
do ano para outras regiões com temperaturas favoráveis.

A Temperatura e as Características dos Animais

Ao longo do ano, certas plantas sofrem alterações no seu


aspecto, provocados pelas variações de temperatura. Os ani-
mais também apresentam características próprias de adap- PRODUTORES - São os organismos capazes de fazer
tação aos diferentes valores de temperatura. Por exemplo, os fotossíntese ou quimiossíntese. Produzem e acumulam
que vivem em regiões muito frias apresentam, geralmente, energia através de processos bioquímicos utilizando como
pelagem longa e uma camada de gordura sob a pele. Texto matéria prima a água, gás carbônico e luz. Em ambientes
adaptado de CASSINI. S. T. afóticos (sem luz), também existem produtores, mas neste
caso a fonte utilizada para a síntese de matéria orgânica
não é luz mas a energia liberada nas reações químicas
de oxidação efetuadas nas células (como por exemplo em
reações de oxidação de compostos de enxofre). Este pro-
cesso denominado quimiossíntese é realizado por muitas
bactérias terrestres e aquáticas.
CONSUMIDORES PRIMÁRIOS - São os animais que se
alimentam dos produtores, ou seja, são as espécies her-
bívoras. Milhares de espécies presentes em terra ou na

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

água, se adaptaram para consumir vegetais, sem dúvida a maior fonte de alimento do planeta. Os consumidores primá-
rios podem ser desde microscópicas larvas planctônicas, ou invertebrados bentônicos (de fundo) pastadores, até gran-
des mamíferos terrestres como a girafa e o elefante.
CONSUMIDORES SECUNDÁRIOS - São os animais que se alimentam dos herbívoros, a primeira categoria de animais
carnívoros.
CONSUMIDORES TERCIÁRIOS - São os grandes predadores como os tubarões, orcas e leões, os quais capturam gran-
des presas, sendo considerados os predadores de topo de cadeia. Tem como característica, normalmente, o grande tama-
nho e menores densidades populacionais.
DECOMPOSITORES OU BIOREDUTORES - São os organismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica,
transformando-a em nutrientes minerais que se tornam novamente disponíveis no ambiente. Os decompositores, repre-
sentados pelas bactérias e fungos, são o último elo da cadeia trófica, fechando o ciclo.
A sequência de organismos relacionados pela predação constitui uma cadeia alimentar, cuja estrutura é simples, uni-
direcional e não ramificada. A transferência do alimento (energia) de nível para nível trófico a partir dos produtores fazse
através de cadeias alimentares, cuja complexidade é variável. Na maioria das comunidades, cada consumidor utiliza como
alimento seres vivo de vários níveis tróficos. Daí resulta que na Natureza não há cadeias alimentares isoladas. Apresentam
sempre vários pontos de cruzamento, formando redes ou teias alimentares, geralmente de elevada complexidade.
Produtores, consumidores, decompositores ou microconsumidores são componentes bióticos que integram um ecos-
sistema. De modo geral, podemos afirmar que nos ecossistemas, os organismos cujo alimento é obtido a partir das plantas,
através de um número de passagens, pertencem ao mesmo nível trófico. Os níveis tróficos são os mesmos nos diversos ecos-
sistemas, apesar de se observarem variações quanto a seus componentes. Os seres vivos precisam de uma fonte de energia
potencial para executar a tarefa de viver: a energia química existente nos compostos orgânicos. O Sol representa a fonte de
energia para os seres vivos. Sem a luz solar, os ecossistemas não conseguem manter-se. A energia penetra no ecossistema
através dos seres autótrofos. Estes, pela fotossíntese, utilizam a energia solar para a síntese de compostos orgânicos.

A partir dos açúcares produzidos na fotossíntese, o vegetal sintetiza outras substâncias orgânicas que fazem parte
da sua estrutura, como proteínas e lipídios. Os vegetais, sendo capazes de sintetizar compostos orgânicos, não precisam
“comer”. A energia que utilizam nessa síntese não é perdida, pis fica armazenada na forma de energia química, conclui-se
que, quando a planta produz compostos orgânicos, armazena e condensa energia. Os animais não são capa-
zes de utilizar diretamente a energia proveniente do Sol. Sendo heterótrofos, vêem-se obrigados a utilizar os

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

compostos orgânicos produzidos pelos vegetais, assim, ao se alimentarem de vegetais ou de outros animais,
na verdade estão ingerindo energia química condensada nas ligações dos compostos orgânicos. Uma vez no
organismo, os compostos orgânicos chegam às células, onde são degradados; nessa ocasião liberam energia,
que é, então, utilizada para realizar trabalho. O processo da liberação de energia a partir de compostos or-
gânicos é denominado respiração. As cadeias alimentares são linhas de transferência de energia dos produ-
tores em direção aos consumidores e aos decompositores, no qual, podemos ressaltar: Em cada transferência
de energia de um organismo para outro ou de um nível tróficos para outro, uma grande parte de energia é
transformada em calor, portanto, a quantidade de energia disponível diminui à medida que é transferida de
um nível a outro.
A partir dessa afirmação, conclui-se que quanto mais curta é a cadeia alimentar, ou quanto mais próxima
estiver do organismo do início da cadeias, maior será a energia disponível. Pode-se dizer que é possível a
sobrevivência de um maior número de seres, a partir dos produtos de uma determinada área, desde que fun-
cionem como consumidores primários em vez de secundários. Alguns ecologistas consideram que cada elo da
cadeia alimentar recebe aproximadamente 10% da energia que o elo anterior recebeu. É importante observar
que a energia, uma vez utilizada por um organismo em seus processos vitais, não é reaproveitada. Assim, a
energia gasta não retorna aos produtores para ser novamente utilizada; isso permite dizer que a energia pos-
sui um fluxo unidirecional. O mesmo não ocorre com a matéria. Esta, ao contrário, tem um comportamento
cíclico, voltando aos produtores e sendo reaproveitada. Portanto, a matéria circula de forma cíclica.
Importante:
• A energia é unidirecional
• A matéria é cíclica
Qualidade de Energia Como já foi visto anteriormente, energia define-se como capacidade de realizar
trabalho, evidentemente que obedecendo as leis termodinâmicas. Além da quantidade, a energia tem quali-
dade. Quantidades iguais de formas diferentes de energia são variáveis em seu potencial de trabalho, ou seja,
a qualidade está diretamente relacionada à menor quantidade gasta no menor espaço de tempo empregado
(e.g. potencial de trabalho do petróleo é maior que o potencial da energia solar) Veja o quadro abaixo:

1: Quantidade Crescente
2: Qualidade Crescente
Quanto mais se degrada a quantidade utilizada, mais se eleva a qualidade; quando gasta-se muito para
produzir pouco em muito tempo tem-se baixa qualidade; ao contrário, quando gasta-se pouco para produzir
muito em pouco tempo tem-se alta qualidade.

Importância de se conhecer as cadeias alimentares.

Deve-se perguntar qual a importância de se conhecer uma cadeia alimentar. Com a praticidade com a qual
estamos lidando com a natureza e a tecnologia que sempre e cada vez mais “de ponta”, as pessoas tendem
cada vez mais a lidar com a natureza de forma mecanicista. Existe, porém uma grande importância em se co-
nhecer as cadeias ecológicas. Basicamente, a observação nos leva a entender toda a sequencia de alimentação
dos animais que ali vivem. Podemos também examinar o conteúdo estomacal de animais e assim percebermos
essa sequencia. A importância disto está baseada no uso natural de animais ou plantas que possam controlar
ou equilibrar no ecossistema de forma a evitar o uso de pesticidas e quaisquer outras formas artificiais que
possam desequilibrar em longo prazo o ambiente, ou ainda, provocar sérias reações nos animais e até os seres
humanos que ali habitam.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Controle biológico

As medidas naturais utilizadas para o controle de pragas e restabelecimento para de ecossistemas são chamados con-
troles biológicos. Podemos citar como exemplo de controle biológico:
• - peixes no controle da esquistossomose
• - peixes no controle de larvas de Aedes aegypti
• - besouros o controle da mosca do chifre
• - bactérias e vírus no controle de pragas e insetos
Todas essas medidas são viáveis economicamente e tecnicamente. E quando tomadas podem, de forma muito mais
barata, controlar um grande número de pragas que são na verdade desequilíbrios de ecossistemas.
Níveis Tróficos O conjunto de indivíduos que se nutre no mesmo patamar alimentar, ou seja, alimentam se basicamente
dos mesmos nutrientes estão colocados em um mesmo nível trófico.
• Os produtores estão colocados no 1º nível trófico
• Os consumidores primários, aqueles que se alimentam dos produtores, são herbívoros e constituem o 2º nível trófico.
• Os consumidores secundários compõem o 3º nível trófico, sendo os carnívoros Após esses existe o 4º nível trófico
e assim por diante. Os decompositores ocupam sempre o último nível da transferência de energia formando um grupo
especial que degrada tanto produtores quanto consumidores. Princípio de Gauss (ou princípio da exclusão competitiva): O
Princípio de Gauss diz respeito ao processo de competição interespecífica que acontece quando duas espécies diferentes
habitam um mesmo ambiente. Assim duas espécies não podem ocupar um mesmo nicho por muito tempo, uma delas irá
sempre prevalecer, pois é mais adaptada àquele habitat. É também conhecido como princípio da exclusão competitiva.

Metabolismo e Tamanho de Indivíduos

A biomassa existente é o peso seco total, ou conteúdo calórico total dos organismos presentes em um determinado
momento/local. A biomassa depende do tamanho dos indivíduos: quanto menos o organismo, maior seu metabolismo por
grama (ou caloria) de biomassa. Algas, bactérias e protozoários podem ter taxa de metabolismo por grama (calorias) maior
que a de grandes organismos (e.g. árvores e vertebrados). Isto aplica-se, tanto à fotossíntese, quanto à respiração. Texto
adaptado de CASSINI. S. T.

DISTRIBUIÇÃO NATURAL DA MATÉRIA E DA ENERGIA E


CONCENTRAÇÃO DE PESTICIDAS E DE SUBPRODUTOS RADIATIVOS;

Uma afirmação que se pode fazer a respeito da biosfera é que a sobrevivência de todos os seres vivos que a com-
põem, com exceção de um pequeno grupo de seres procariontes quimiossintetizantes, depende, em uma última análise,
dos organismos clorofilados. Estes, por meio da fotossíntese, produzem o alimento que é utilizado por todos os outros
seres vivos. Como subproduto da fotossíntese, as plantas liberam oxigênio, que é fundamental para a respiração de todos
os seres vivos, sejam eles animais ou vegetais. Esse tipo de dependência que existe entre animais e vegetais é apenas um
dos muitos exemplos de interações que ocorrem na biosfera. Como regra, populações de espécies diferentes devem viver
em constante interação, formando as comunidades bióticas, ou biocenose. A biocenose depende do conjunto de fatores
físicos e químicos do meio, frequentemente chamado de biótopo. Uma comunidade biótica em interação com o conjunto
de condições físicas e químicas, da região onde ela habita, constitui um ecossistema. Assim, temos

BIOCENOSE + BIÓTOPO = ECOSSISTEMA

Um conjunto de seres vivos e o meio onde eles vivem, com todas as interações que estes organismos mantêm entre
si, formam um ecossistema. Qualquer ecossistema apresenta dois componentes básicos: o componente biótico, que é
representado pelos seres vivos, e o componente abiótico, que é representado pelas condições químicas e físicas do meio.
Em qualquer ecossistema, os representantes do componente biótico podem ser divididos em outros dois grupos: os au-
tótrofos e os heterótrofos. O termo autótrofo é usado para designar os seres fotossintetizantes que conseguem captar a
energia luminosa e utilizá-la para suprir suas necessidades energéticas. Já o termo heterótrofo é usado para denominar os
organismos que necessitam captar, do meio onde vivem, o alimento que lhes forneça energia e matéria-prima para a sua
sobrevivência.
Dessa forma, os seres autótrofos são ditos produtores dos ecossistemas, pois são eles que produzem toda a matéria
orgânica e energia que será utilizada como alimento por outros seres vivos. É por meio deles que toda a energia necessária
para a manutenção da comunidade biótica entra no ecossistema. Os heterótrofos são os consumidores dos ecossistemas:
eles apenas utilizam o alimento produzido pelos autótrofos para assim sobreviver. Um grupo muito particular de heterótro-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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fos são os decompositores, pois estes se utilizam de matéria orgânica morta como fonte de alimentação. Os decomposito-
res são de grande importância, pois é a partir deles que muitos nutrientes são devolvidos ao meio ambiente, tornando as-
sim cíclica a permanência desses nutrientes, conforme será visto mais adiante. Em termos de fatores abióticos, estes podem
ser classificados em físicos e químicos, sendo que temperatura, luminosidade e umidade são exemplos de fatores físicos.
Entre os fatores químicos, pode ser citada a presença de água e de minerais no solo. Dentre os fatores físicos, a radiação
solar é a que ocupa lugar de destaque, pois ela é quem comanda a maioria dos outros fatores. Dela provém toda a energia
necessária para a sobrevivência dos seres vivos, além de ser ela a responsável pela manutenção da temperatura no planeta.
Essa manutenção da temperatura é fator fundamental na distribuição dos seres vivos na superfície da Terra. Além disso, a
radiação solar também afeta outros fatores climáticos como umidade relativa do ar, pluviosidade, etc. Com relação aos fatores
químicos, pode-se dizer que a presença ou ausência de um determinado elemento na água é decisiva para a manutenção da
vida em um dado ambiente. Por exemplo, a presença de fósforo, encontrado na forma de fosfato em alguns tipos de rochas, é
fundamental, pois o fósforo é constituinte importante da matéria viva. Outros elementos, como o cálcio, o boro, o carbono, o
nitrogênio e o oxigênio, são essenciais para a manutenção da vida, tanto animal quanto a vegetal, sendo que esses elementos
ficam presentes no meio ambiente em uma forma cíclica, ou seja, de alguma maneira eles são retirados do meio, cumprem o
seu papel, seja formar uma proteína ou um ácido nucléico, como no caso do nitrogênio, seja a de um fosfolipídio no caso do
fósforo, e, de alguma forma, eles devem retornar ao meio para novamente se tornarem parte do ciclo.

Pela figura 1, fica evidente a forma como a energia solar é transferida e utilizada por todos os seres vivos. Inicialmente, a
energia que é produzida pelo sol e que chega à Terra é suficiente para que as plantas consigam realizar a síntese de matéria
orgânica por meio do processo de fotossíntese, ou seja, esse processo fornece toda a energia necessária para os processos
vitais e para que as plantas possam crescer e se desenvolver. Nesse processo de crescimento e desenvolvimento as plantas
vão produzindo e armazenando energia, sais minerais e matéria orgânica, que vão ser posteriormente passados para os
organismos superiores, via cadeia alimentar.
A matéria orgânica que foi sintetizada pelas plantas contém energia, que por sua vez vai servir de alimento para ma-
nutenção de processos vitais e de crescimento para os animais. Inicialmente, essa energia é passada aos herbívoros e, em
seguida, é passada via cadeia alimentar a todos os outros organismos superiores, inclusive o Homem. Caso esse mecanismo
de transporte seja interrompido em algum ponto, a decomposição da matéria orgânica por ação de bactérias e fungos, faz
com que todos os nutrientes voltem ao solo e possam ser reabsorvidos novamente, dando continuidade ao ciclo. O esque-
ma apresentado ilustra o conceito de cadeia alimentar, e inerente a esse conceito está o conceito de nível trófico, que será
discutido um pouco mais tarde, mas de antemão já é possível perceber que cada organismo ocupa um lugar pré-determi-
nado na cadeia alimentar, e em virtude de sua colocação na cadeia dependerá a sua colocação em um nível trófico ou não.

A Pirâmide de Energia

A pirâmide de energia mostra uma consequência natural das leis da termodinâmica, ou seja, parte da energia é dissipa-
da ao passar de um nível trófico para outro, e em cada nível a energia é transformada, nunca criada. Além disso, ela indica
os níveis de aproveitamento ou produtividade biológica da cadeia alimentar..

Fluxo de Energia

Uma das características mais marcantes dos ecossistemas é que os organismos que os compõem podem ser agrupados
de acordo com seus hábitos alimentares. Nesse caso, cada grupo em particular constitui aquilo que costuma se denominar
nível trófico. De acordo com essa definição, o nível trófico nada mais é que o lugar onde cada grupo de organismos ocupa

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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em um determinado ecossistema. A seqüência dos níveis tróficos representa o caminho que tanto a energia como a maté-
ria percorre em um ecossistema. A fonte de energia que mantém qualquer ecossistema é o Sol. Assim, a energia luminosa
proveniente do Sol é captada e metabolizada pelos produtores, que na sua maioria são seres fotossintetizantes, portanto
autótrofos. Incluem-se nesse grupo os vegetais clorofilados e os organismos quimiossintetizantes (algumas bactérias).
Posteriormente, os herbívoros, ao se alimentarem dos produtores, obtêm parte dessa energia e, assim sucessivamente, a energia
vai passando de nível trófico até a sua chegada aos organismos que estão no topo da cadeia alimentar. Do total de energia arma-
zenada pelo autótrofo na matéria orgânica produzida pela fotossíntese, parte é consumida por ele mesmo na respiração, o que lhe
mantém vivo. Portanto só é passado para o nível trófico seguinte aquilo que o produtor não consumiu, e desse, uma parte é eliminada
pelos excrementos e uma parcela considerável da energia do alimento é consumida como forma de energia de movimento.
As sobras são incorporadas aos tecidos permanecendo à disposição do nível trófico seguinte. Assim, a cada nível
trófico, vai ocorrendo uma perda de energia, principalmente na forma de calor, forma essa que os seres vivos não tem
condições de reaproveitar. Portanto, a energia flui de um nível trófico a outro sem possibilidade de retrocesso, numa única
direção; daí vem a denominação de que o fluxo de energia é unidirecional. O esquema a seguir ilustra o que foi dito. Os
raios solares, assim que chegam às plantas, que são os produtores da cadeia alimentar e por isso se encontram na parte
debaixo da pirâmide, transformam essa energia em matéria orgânica, que, por sua vez, vão servir de alimento e fonte de
energia para todos os consumidores que estão na parte superior da cadeia, transferindo, assim, a energia para esses con-
sumidores. Uma vez que os animais do topo da cadeia não tem como reciclar essa energia, uma parte dela se perde na
forma de calor para o ambiente.

Fluxo de Matéria

Ao contrário do que acontece com o fluxo de energia, o fluxo de matéria não é unidirecional; ele segue o caminho
inverso, ou seja, o caminho cíclico. Principiamos o raciocínio pelos produtores, que são os seres que transformam a ener-
gia radiante do sol em alimento, inicialmente para si, e depois para os demais organismos vivos que compõem os níveis
tróficos superiores através da alimentação. Assim que qualquer um desse seres que compõem os níveis tróficos morre, a
matéria orgânica é absorvida pelos microrganismos decompositores que trazem de volta ao solo os sais minerais e outros
elementos, tornando-os disponíveis para serem reaproveitados novamente por outros organismos.

Fatores de Desequilíbrio Ambiental

O equilíbrio encontrado na natureza foi alcançado através de um lento e gradual processo de ajuste entre os seres
vivos e o ambiente. O longo processo evolutivo que resultou na adaptação dos organismos ao ambiente é responsável pela
harmonia das relações entre os seres vivos e o ambiente físico. Os ciclos biogeoquímicos mostram como essa harmonia é
facilmente identificada. Mesmo retirando grandes quantidades de elementos do ambiente, os seres vivos acabam, de uma
forma ou de outra, devolvendo esses elementos ao meio, o que permite uma contínua renovação da vida. A visão de uma
natureza equilibrada capaz de resistir a tudo não mais faz parte do pensamento do homem moderno. É preciso que se
tenha um bom senso, aliado a um pensamento crítico, de que a natureza aceita as mudanças impostas pelo homem até um
certo ponto, e a partir desse ponto ela começa a sua reação, seja de uma forma ou de outra. É provável que por causa da
visão de que a natureza é uma fonte de recursos inesgotáveis e sempre capaz de se renovar, o homem tenha interferido de
maneira tão abusiva, pondo em risco a sua própria estabilidade.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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O lançamento de substâncias dos mais variados tipos no ambiente envolve dois tipos de problemas. Em um primeiro
caso, ele pode ser tóxico ao próprio homem, chegando a ele pelos mais diversos meios, como ar, água ou pelos alimen-
tos. Em um segundo caso, ele pode constituir ameaças indiretas ao homem, pois afetando o equilíbrio dos ecossistemas
naturais, o homem põe em risco a sua vida, uma vez que ele depende diretamente desses ecossistemas para conseguir so-
breviver. Substâncias poluentes são aquelas que, quando lançadas no meio, representam um perigo em potencial à saúde
dos organismos vivos. Dessa forma, é possível se classificar as substâncias poluentes em dois grandes grupos: poluentes
quantitativos e qualitativos.

Poluentes Quantitativos

São aqueles já existentes na natureza, mas também são liberados pelo homem em quantidades significativamente
maiores do que aquelas que ocorrem naturalmente.

Poluentes Qualitativos

São substâncias sintéticas, isto é, não ocorrem na natureza; a única forma delas entrarem no ambiente é pela produção
em fábricas e sua posterior liberação para o ambiente. Em termos dos perigos representados pelos poluentes quantitativos,
sabe-se que quantidades adicionais de certas substâncias podem ser nocivas por causarem desequilíbrio nos ciclos biogeo-
químicos, ou por sua concentração, acima dos níveis naturais, determinar toxidez para os seres vivos.

Concentração de Poluentes nos Níveis Tróficos

Mesmo em pequenas quantidades no ambiente, os poluentes podem causar sérios desastres ecológicos ao ambiente,
em grande parte devido à capacidade que esses poluentes têm de se concentrarem ao longo da cadeia alimentar e assim
serem passados a níveis tróficos diferentes. Enquanto grande parte da matéria e da energia que é transferida de um nível
trófico para outro se perde, isso não acontece com certos tipos de poluentes. A esse processo de concentração dá-se o
nome de magnificação trófica.
Um dos exemplos mais marcantes é o DDT (diclorodifeniltricloroetano). O DDT é um pesticida organoclorado não biodegra-
dável, largamente utilizado desde a década de 40. A ação efetiva do DDT fez com que as aplicações do produto fossem realizadas
de uma forma cada vez mais generalizada e indiscriminada. Como conseqüência disso, muitas espécies inofensivas ou até úteis de
insetos foram sumindo. O problema é que com o uso indiscriminado do DDT, com o passar do tempo, algumas classes de insetos
começaram a desenvolver uma resistência a esse inseticida. Iniciou-se, então, o uso de uma nova classe de inseticidas, os orga-
nofosforados, que embora sejam mais tóxicos que os primeiros e dotados de menor efeito residual, apresentam a vantagem de
não criarem resistência. Percebeu-se, com o passar do tempo, que o efeito residual, tido no começo como sendo muito vantajoso,
era extremamente danoso ao ambiente e, conseqüentemente, ao Homem, pois os organoclorados não sendo biodegradáveis,
tendem a se acumular no meio. A partir daí ocorre o fenômeno de magnificação trófica, mencionado antes, ou seja, as plantas
incorporam esses organoclorados, que vão sendo passados, via alimentação para os mais diversos níveis tróficos. O grande pro-
blema é que esses organoclorados têm a capacidade de se concentrarem no tecido adiposo dos animais, potencializando a sua
ação, de tal forma que é muito comum encontrar animais com grandes concentrações de DDT.

Como pode ser visto no esquema acima, o destino final do DDT é o Homem, e de acordo com o fenômeno da magnificação
trófica, é no Homem onde deverá ser encontrada a maior concentração de DDT, ou seja, o Homem usa o DDT para matar as
pragas que atacam as culturas, mas sem se dar conta, ele acaba por provocar a sua morte também, de uma maneira lenta, gra-
dual e dolorosa. Um outro efeito do uso indiscriminado desses tipos de inseticidas é a destruição de um número muito grande
de espécies consideradas úteis, ou seja, o pesticida não acaba somente com a praga, mas também com outras espécies. Um
dos efeitos estudados em relação ao DDT é o fato de que algumas aves apresentaram uma queda acentuada em sua taxa de
reprodução. Isso se deve à má formação das cascas das aves, o que as torna extremamente frágeis.
Nesse caso, verificou-se que o DDT tinha uma ação decisiva e nociva no balanço hormonal das aves. Entre os herbicidas
mais utilizados atualmente, estão os compostos do ácido fenóxiacético (2,4D, 2,4,5T), as triazinas (atrazina, simazina), os
compostos de uréia (diuron), os compostos de bipiridilo (diquat e paraquat), as piridinas cloradas (picloran). Todos esses
herbicidas, além de potentes destruidores de vegetais, são extremante persistentes no solo. Alguns herbicidas como a dio-
xina, também conhecida como agente laranja, possuem propriedades teratogênicas, ou seja, possuem ação deformante do
feto em mulheres que se alimentem de vegetais contaminados. Esse efeito pode ser observado nas populações do Vietnã,
onde durante o período em que ocorreu a guerra, o agente laranja foi usado indiscriminadamente e em larga escala pelos
americanos, com o intuito de desfolhar as matas, para fins de observação e combate do avanço das tropas vietnamitas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Metais Pesados pois, suspeitou-se do próprio mercúrio elementar liberado


acidentalmente pela fábrica de soda cáustica. Assim, a his-
A contaminação por metais pesados é, sem dúvida tória seria paralela à de Minamata (que será vista adiante).
alguma, umas das formas mais terríveis de poluição, pois
os metais pesados apresentam, além de um grande efei- A Contaminação por Garimpos de Ouro
to tóxico, um poder de acumulação nos seres humanos
altíssimo, ou seja, além de contaminarem o ambiente de Os garimpos de ouro na Amazônia empregam direta-
uma forma geral, contaminam o próprio Homem, causan- mente entre 400 a 600 mil pessoas, sendo que nessa região
do efeitos danosos em grande extensão. Dentre os metais são produzidos algo em torno de 100 toneladas de ouro
pesados mais conhecidos, será dada uma ênfase maior ao anualmente. O ouro encontrado nessa região ocorre como
mercúrio e ao chumbo. partículas finas, em terraços sedimentares e sedimentos
ativos de rios. Os garimpeiros utilizam várias técnicas de
Efeitos Tóxicos Causados pelo Mercúrio pré-concentração gravimétrica e amalgamação com mer-
cúrio. O amálgama é então queimado e, dessa forma, o
A toxicidade dos sais inorgânicos de mercúrio é pro- mercúrio é liberado para a natureza. Uma vez formado, o
porcional a sua solubilidade. O calomelano (Hg2Cl2) é um CH3Hg+ , que é altamente solúvel e estável na água, apre-
sal pouco solúvel que foi durante muito tempo utilizado senta um longo tempo de residência em organismos, com
como purgativo. Os íons de mercúrio têm a capacidade de altos teores de bioacumulação na biota aquática
formarem complexos muito fortes com os grupos –SH das
proteínas (presentes no aminoácido cisteína) e sua toxi- Efeitos Tóxicos Causados pelo Chumbo
cidade provavelmente se relaciona com a inativação das
proteínas nas membranas celulares. Assim parece, pois os A toxicidade do chumbo é conhecida há muito tempo. An-
efeitos são particularmente notáveis nos rins e no cérebro, tigamente, as principais fontes de envenenamento por chum-
ambos nos quais a função das membranas celulares é mui- bo eram tintas, muitas vezes ingeridas por crianças, além dos
to importante, e também porque muitas bactérias e fungos reservatórios e encanamentos de água potável feitos à base de
morrem em contato com compostos de mercúrio. chumbo ou pintados com tintas à base de chumbo. O grau de
A atividade bactericida não específica tem sido fre- dissolução do chumbo é função da dureza da água Entende-se
qüentemente relacionada com danos à membrana celular. como água dura aquela com concentração de CaCO3 acima de
Os compostos inorgânicos de mercúrio, remédios, fungici- 50mg/L. Alta concentração de chumbo pode ser encontrado
das, bactericidas etc, foram totalmente substituídos pelos em água mole e ligeiramente ácida, principalmente se nela es-
chamados mercuriais orgânicos. É comum pensar nos me- tiverem presentes agentes quelantes naturais (ácidos húmicos),
tais como elementos formadores unicamente de sais (com- derivados da turfa. Embora o chumbo seja pouco absorvido
postos iônicos), mas muitos deles podem formar compos- nos intestinos, ele é um metal tóxico de efeito cumulativo, con-
tos covalentes. O estanho e o chumbo são bons exemplos, centrando-se nos ossos. Com o advento do motor a explosão
e o mercúrio em particular tem a capacidade de formar e a intensificação do uso desse tipo de motor, pode-se verificar
ligações covalentes facilmente e em especial com compos- a partir de 1910 um aumento na concentração de chumbo nas
tos aromáticos. Um bom exemplo é o semesan, muito utili- neves polares. O motor a gasolina é muito exigente em relação
zado como fungicida e praguicida. A vantagem de seu uso ao seu combustível; esse deve se vaporizar facilmente quando
está na possibilidade de se controlar sua solubilidade pela aspirado para dentro do cilindro, porém deve queimar devagar
inclusão nos substituintes apropriados ao mesmo tempo quando da ignição. Hidrocarbonetos que não sejam ramifica-
em que a ligação Hgbenzeno é tão estável que ela forma dos e tenham relativa volatilidade, tais com heptano, são com-
o íon R-Hg+ , ainda capaz de reagir com grupos – SH e bustíveis pobres, principalmente porque as reações iniciais com
formar derivados do tipo R-Hg-SH-proteína. o oxigênio produzem radicais livres.
Compostos insolúveis, como o semesan, têm sido Em contrapartida, os hidrocarbonetos ramificados,
amplamente utilizados para impregnar sementes e prote- como o isooctano, queimam muito mais vagarosamen-
gê-las no solo dos ataques de pragas. O problema é que te porque a formação múltipla de radicais livres pára nos
numerosos acidentes têm ocorrido quando essas semen- pontos de ramificações. A solução adotada foi diminuir
tes foram usadas por pessoas desavisadas na preparação a velocidade de combustão pelo uso de substâncias que
de alimentos. Em 1969, houve um decréscimo acentuado interrompem a série de reações (os chamados agentes
da população de pássaros em torno dos lagos na Suécia antidetonantes), sendo que uma das mais bem sucedidas
central. Foram afetados especialmente os pássaros que tentativas como agentes antidetonantes foi a utilização do
se alimentavam de peixes. Seus tecidos continham níveis chumbo-tetraetila e chumbo-tetrametila. O problema da
surpreendentemente altos de mercúrio, mas a natureza de gasolina foi resolvido, mas o preço disso ficou muito alto.
sua dieta não indicava que se tivessem envenenado por se- Estima-se que aproximadamente 0,8 mL dos compostos
mentes tratadas com compostos de mercúrio. Suspeitou- citados eram adicionados a cada litro de gasolina, o que
-se, então, da poluição industrial causada pelas fábricas ao correspondia a aproximadamente 2 gramas de chumbo
redor do lago, que produziam derivados da polpa da ma- por litro de gasolina. A quantidade de chumbo utilizada foi
deira. A princípio suspeitou-se de que os fungicidas com estarrecedora: 300.000 oneladas por ano nos EUA e cerca
mercúrio, adicionados para a preservação da madeira, te- de 50.000 toneladas por ano no Reino Unido. O Brasil foi o
riam sido concentrados ao longo da cadeia alimentar; de- primeiro país a abolir o uso do chumbo na gasolina.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

A poluição causada por partículas transportadas Poluição da Água


pelo ar, é, portanto, um fenômeno tipicamente urbano,
já que são nos grandes centros industriais que estão a Considera-se que a água está poluída quando ela
maioria da frota de veículos automotivos e as grandes deixa de ser adequada ao consumo humano, quando os
indústrias, que também podem, dependendo do tipo animais aquáticos não podem viver nela, quando as im-
de matéria com que trabalha, ser responsável pela libe- purezas nela contidas a tornam desagradável ou nociva
ração de fuligem ou algum tipo de efluente não tratado seu uso como recreativo ou quando não pode ser mais
que porventura possa vir a conter chumbo. utilizada em nenhuma atividade industrial, pois seus uso
Recentemente, no interior de São Paulo, um caso implicaria em sérios danos.
ganhou destaque na mídia. Nesse caso, a empresa res- Os rios, os mares, o lagos e os lençóis subterrâneos
ponsável tinha em seu pátio escória de chumbo, o que de água são o destino final de todo poluente solúvel
comprometeu enormemente a área ao redor. O caso lançado no ar ou no solo. O esgoto doméstico é o po-
registrado ocorreu em Bauru, onde a empresa Acumu- luente orgânico mais comum da água doce e das águas
ladores Ájax Ltda., uma das maiores fábricas de baterias costeiras, quando em alta concentração. A matéria or-
automotivas do país, foi multada por poluição ambien- gânica transportada pelos esgotos faz proliferar os mi-
tal. Laudos de diversos órgãos comprovaram a con- crorganismos, entre os quais bactérias e protozoários,
taminação por chumbo no solo, vegetação, animais e que utilizam o oxigênio existente na água para oxidar
também em crianças nas proximidades da empresa. A seu alimento, e em alguns casos o reduzem a zero. Os
CETESB realizou várias campanhas de amostragem de detergentes sintéticos, nem sempre biodegradáveis, im-
chumbo nas chaminés, no solo, águas subterrâneas, na pregnam a água de fosfatos, reduzem ao mínimo a taxa
vegetação e ainda no solo no entorno da indústria. Na de oxigênio e são objeto de proibição em vários países,
última inspeção, foram constatadas emissões de poei- entre eles o Brasil.
ras fugitivas nas operações de fusão em fornos e no Ao serem carregados pela água da chuva ou pela
refino de lingotes de chumbo, além de derrames de erosão do solo, os fertilizantes químicos usados na agri-
resíduos de chumbo pelo pátio da indústria, propician- cultura provocam a proliferação dos microrganismos e
do emissão de material particulado para o ambiente, a consequente redução da taxa de oxigênio nos rios, la-
atingindo inclusive áreas fora dos limites da fábrica. Os gos e oceanos. Os pesticidas empregados na agricultura
efluentes resultantes de lavagem de pátios, da opera- são produtos sintéticos, que se incorporam à cadeia ali-
ção de desmonte de baterias e do processo industrial, mentar, inclusive à cadeia alimentar humana. Os casos
não eram totalmente captados pelas canaletas que os mais dramáticos de poluição marinha têm sido origina-
conduziam à estação de tratamento. Também foi cons- dos por derramamentos de petróleo, seja em acidentes
tatada deficiência na armazenagem de resíduos con- com petroleiros ou em vazamentos de poços petrolí-
taminados com chumbo, propiciando a contaminação feros submarinos. Uma vez no mar, a mancha de óleo,
do solo, tanto na área interna, como externa da fábrica. às vezes de dezenas de quilômetros, espalha-se, levada
Pelas análises feitas nos laboratórios da CETESB, obser- por ventos e marés, e afasta ou mata a fauna e as aves
vou-se que as concentrações de chumbo na atmosfera aquáticas. O maior perigo do despejo de resíduos in-
foram extremamente elevadas, com média de 9,7 µg/ dustriais no mar reside na incorporação de substâncias
m3 , chegando a alcançar valores de até 37,7 µg/m3 . O tóxicas aos peixes, moluscos e crustáceos que servem
padrão de Pb adotado pela CETESB na atmosfera é de de alimento ao Homem. Exemplo desse tipo de intoxi-
1,5 µg/m3 . cação foi o ocorrido na cidade de Minamata. A poluição
Com isso, animais e hortaliças em propriedades marinha tem sido objeto de preocupação dos governos,
próximas à fábrica, também ficaram contaminadas por que tentam, no âmbito da Organização das Nações Uni-
chumbo. De acordo com pesquisas e estudos médicos, das, estabelecer controles por meio de organismos jurí-
a contaminação por chumbo causa sintomas como ano- dicos internacionais.
rexia, vômitos, convulsão, dano cerebral permanente A poluição da água tem causado sérios problemas
e lesão renal irreversível, caracterizando uma doença ecológicos no Brasil, em especial em rios como o Tietê,
chamada saturnismo. A empresa teria de elaborar um no estado de São Paulo, e o Paraíba do Sul, nos estados
plano de recuperação total das áreas contaminadas, in- de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A maior
ternas e externas, abrangendo solo, águas superficiais e responsabilidade pela devastação da fauna e pela dete-
subterrâneas e vegetação. As demais exigências dizem rioração da água nessas vias fluviais cabe às indústrias
respeito à instalação de equipamentos de controle de químicas, com tratamento inadequado, instaladas em
efluentes líquidos e gasosos, limpeza de roupas, equi- suas margens, e ao despejo de esgoto doméstico não
pamentos e máquinas, cuidados com o armazenamen- tratado. Os rios vão lentamente sofrendo um proces-
to, sistemas de ventilação, reprocessamento ou des- so de degradação até o ponto em que esse quadro se
tinação final adequada de todos os resíduos gerados, torna praticamente irreversível, ou seja, o rio torna-se
cuidados com as operações de carga e descarga dos impraticável tanto para recreação, consumo ou mesmo
produtos manipulados e, até mesmo, a obrigatoriedade como fonte produtora de alimentos. Quando isso acon-
de se implantar uma “cortina” de árvores no perímetro tece, costuma-se dizer que o rio está morto, pois não
do terreno da fábrica, para diminuir o arraste de po- existe vida aquática e os poucos organismos que estão
luentes pela ação dos ventos. presentes no rio, são seres anaeróbios.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Poluição do Ar superfície aquecida da Terra. Essa propriedade é conhecida


como efeito estufa. Graças a ela, a temperatura média da
O ar é formado por uma mistura de vários elementos e superfície do planeta mantém-se em cerca de 15°C. Sem o
compostos distintos e, embora historicamente a sua compo- efeito estufa, a temperatura média da Terra seria de 18°C
sição tenha sofrido um processo de evolução, pode-se con- abaixo de zero, ou seja, ele é responsável por um aumen-
siderar que, para fins práticos, a sua composição permanece to de 33°C. Portanto, é benéfico ao planeta, pois propicia
invariável, pelo menos em relação aos seus componentes totais condições para a existência e manutenção de vida.
principais. Os elementos e compostos com exceção do gás Quando se alerta para riscos relacionados com o efeito es-
carbônico, são considerados invariáveis no gás atmosférico. tufa, o que está em foco é a sua possível intensificação,
A poluição do ar é hoje uma das grandes preocupações causada pela ação do homem, e a consequência dessa in-
do homem. A emissão de gases poluentes chegou a tal pon- tensificação para o clima da Terra. A hipótese da intensi-
to que compromete seriamente a qualidade de vida dos se- ficação do fenômeno é muito simples. Do ponto de vista
res vivos. Essa poluição pode ser mais sentida em áreas de da física, quanto maior for a concentração de gases, maior
grande concentração industrial e/ou populacional. Embora a será o aprisionamento do calor, e, consequentemente,
poluição do ar sempre tenha existido, como nos casos das mais alta a temperatura média do globo terrestre. A maio-
erupções vulcânicas ou da morte de homens asfixiados por ria dos cientistas envolvidos em pesquisas climáticas está
fumaça dentro de cavernas, foi somente na era industrial que convencida de que a intensificação do fenômeno em de-
esse tipo de poluição se tornou um problema mais grave. corrência das ações e atividades humanas provocará esse
Ela ocorre a partir da presença de substâncias estranhas na aquecimento. Uma minoria discorda disso e indaga em que
atmosfera, ou de uma alteração importante dos constituintes medida esse aquecimento, caso esteja ocorrendo, se deve
desta, sendo facilmente observável, pois provoca a formação ao efeito estufa, intensificado pela ação do homem. Sem
de partículas sólidas de poeira e de fumaça. dúvida, as descargas de gases na atmosfera por parte das
O Conselho da Europa definiu a poluição do ar nos se- indústrias e das frotas de veículos contribuem para aumen-
guintes termos: “Existe poluição do ar quando a presença tar o problema e, naturalmente, ainda continuarão a ser
de uma substância estranha ou a variação importante na objeto de muita discussão entre os cientistas e a sociedade.
proporção de seus constituintes pode provocar efeitos pre- A causa fundamental de todas as situações meteo-
judiciais ou criar doenças”. Essas substâncias estranhas são rológicas na Terra é o Sol e a sua posição em relação ao
os chamados agentes poluentes, e podem ser classificados nosso planeta, não devendo entender-se por isto as va-
em quatro grupos principais: • monóxido de carbono; • ma- riações estacionais que ocorrem ao mesmo tempo que a
terial particulado; • óxidos de enxofre; • hidrocarbonetos. Terra progride na sua órbita anual. A energia calorífica for-
As causas mais comuns de poluição do ar são as atividades necida pelo Sol afeta diretamente a densidade do ar (o ar
industriais, combustões de todo tipo, emissão de resíduos quente é mais leve do que o ar frio), provocando assim
de combustíveis por veículos automotivos e a emissão de todos os gradientes de pressão importantes que causam o
rejeitos químicos, em sua maioria, tóxicos e extremamente movimento do ar numa tentativa de minimizar a distribui-
danosos, por fábricas e laboratórios. ção deles. O movimento constante da atmosfera depende,
O principal poluente atmosférico produzido pelo ho- assim, do balanço de energia, fator que temos de consi-
mem (o dióxido de carbono é elemento constitutivo do ar) derar sob dois aspectos: o balanço, ou “orçamento”, entre
é o dióxido de enxofre, formado pela oxidação do enxofre a Terra e o espaço, porque este determina a temperatura
no carvão e no petróleo, como ocorre nas fundições e nas média da atmosfera, e o balanço, ou “orçamento”, no seio
refinarias. Lançado no ar, ele dá origem a perigosas disper- da atmosfera em si, porque este é a causa fundamental das
sões de ácido sulfúrico. Às vezes, à poluição se acrescenta o condições meteorológicas.
mau odor, produzido por emanações de certas indústrias, O problema aparece justamente nesse ponto. O ho-
como curtumes, fábricas de papel e celulose, entre outras. O mem está cada vez mais adicionando dióxido de carbono
dióxido de carbono, ou gás carbônico, importante regulador na atmosfera. Ao queimar combustíveis fósseis para ob-
da atmosfera, pode causar modificações climáticas conside- tenção de energia também se tem adicionado gases de
ráveis se tiver alterada a sua concentração. É o que ocorre efeito estufa que não estão presentes naturalmente na at-
no chamado efeito estufa, em que a concentração excessiva mosfera (óxido nitroso e o CFC). Juntando-se a isso o fato
desse gás pode provocar, entre outros danos, o degelo das de que o homem cada vez mais continua a desmatar as
calotas polares, o que resultaria na inundação das regiões florestas, tem-se uma equação simples, em que o aumento
costeiras de todos os continentes. O monóxido de carbono é no desmatamento leva a um decréscimo na capacidade do
emitido sobretudo pela queima de combustíveis fósseis. Ou- ambiente por meio das árvores de se fazer a retirada do
tros poluentes atmosféricos são: hidrocarbonetos, aldeídos, dióxido de carbono do ar, substituindo o CO2 por oxigênio.
óxido de nitrogênio, óxido de ferro, chumbo e derivados,
silicatos, flúor e derivados, entre outros. Poluição do Solo

O Efeito Estufa Dentre as três formas de poluição, a que atinge o solo


pode ser uma das mais danosas ao meio ambiente, pois é
A atmosfera da Terra é constituída de gases que permi- no solo onde se inicia grande parte dos ciclos biogeoquí-
tem a passagem da radiação solar e absorvem grande par- micos. O solo tem uma constituição dinâmica. Sua origem
te do calor (a radiação infravermelha térmica), emitido pela está ligada à desagregação de rochas e à decomposição de

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

restos de animais e vegetais. A sua porção mineral pode de nutrientes e minerais, suprindo a necessidade de to-
ser resultante da ação vulcânica ou da desintegração de dos os seres vivos. Não se pode, de forma alguma, pensar
rochas sólidas por ações físicas ou químicas reunidas sob nos ciclos biogeoquímicos de forma separada. Eles têm
a denominação genérica de intemperismo. Assim, grandes um elo entre si que justamente faz da Terra o sistema
variações de temperatura ocorridas entre o dia e a noite, ou dinâmico que é. O ciclo da água é um dos reguladores
o congelamento de água em seus interstícios, constituem de todos os outros ciclos, de tal sorte que caso ele seja
ações físicas do intemperismo. A presença de gás carbô- quebrado ou mesmo tenha seu equilíbrio alterado de al-
nico nas águas da chuva pode ser considerada como um guma forma, todos os outros ciclos sofrerão abalos em
fator de intemperismo químico. A interação de todos esses sua forma de atuação. Uma alteração no ciclo da água
fenômenos em conjunto leva a um desgaste natural e pro- leva, por exemplo, a uma alteração no ciclo do fósforo.
gressivo das rochas primárias da litosfera, que, juntamente É pela ação da água que parte do fósforo é retirado das
com os produtos da decomposição orgânica, originam os rochas e carregado para vales onde poderá ser absorvido
solos férteis, próprios para a agricultura. pelas plantas e em seguida ser incorporado aos organis-
As três formas de poluição (na água, no ar e no solo) mos superiores via alimentação.
também interagem e, em consequência, têm surgido di- O excesso de gases poluentes, liberados por indús-
visões inadequadas de responsabilidades, com resultados trias e automóveis, causa um desequilíbrio no ciclo do
negativos para o controle da poluição. Os depósitos de carbono, fazendo com que haja um aumento da tempe-
lixo poluem a terra, mas sua incineração contribui para a ratura do planeta, transformando o efeito estufa que é
poluição do ar. Carregados pela chuva, os poluentes que algo necessário em algo extremamente negativo. A libe-
estão no solo ou em suspensão no ar vão poluir a água ração de dióxido de enxofre causa um aumento na acidez
e substâncias sedimentadas na água acabam por poluir das águas da chuva, fazendo com que ela ataque e des-
a terra. A questão da contaminação do solo e das águas trua vegetações e comprometa, em muitos casos, monu-
subterrâneas tem sido objeto de grande preocupação nas mentos históricos que são patrimônios da humanidade.
últimas décadas em países industrializados, principalmente O uso crescente de fertilizantes artificiais, com o in-
nos EUA e nos países europeus. Esse problema ambiental tuito de aumentar a produção agrícola, e o despejo de
torna-se mais grave para grandes centros urbanos, como esgoto sem tratamento em rios levam a um desequilíbrio
por exemplo, a região metropolitana de São Paulo. O en- nos ciclos do nitrogênio e do fósforo, causando a eu-
caminhamento de soluções para essas áreas contaminadas, trofização de lagos. A atividade mineradora, que faz uso
por parte dos órgãos que possuem atribuição de adminis- do mercúrio para a amalgamação do ouro, contamina os
trar os problemas ambientais, deve contemplar um con- rios, os peixes e, consequentemente, a população ribei-
junto de medidas que assegurem tanto o conhecimento rinha, que faz dos peixes sua principal fonte de alimen-
de suas características e dos impactos por ela causados, tação. Os ciclos biogeoquímicos são os mecanismos do
quanto da criação e aplicação de instrumentos necessários planeta para tornar possível a vida, pois é a partir deles
à tomada de decisão e às formas e níveis de intervenção que o ciclo da vida começa, é por meio deles que a vida
mais adequados, sempre com o objetivo de minimizar os pode ser reciclada, dando início continuamente ao show
riscos à população e ao ambiente. da vida.
Uma das principais causas da poluição do solo é o Enfim, caso o homem não tome consciência de que é
acúmulo de lixo sólido, como embalagens de plástico, pa- possível desenvolvimento e lucro sem agressão ao meio
pel e metal, e de produtos químicos, como fertilizantes, ambiente, continuaremos a ver esse quadro de degra-
inseticidas e herbicidas. O material sólido do lixo demora dação até o ponto em que a vida no planeta tornar-se-á
muito tempo para desaparecer no ambiente. O vidro, por impossível. Texto adaptado de ROSA. R. D. S. et al.
exemplo, leva cerca de 5 mil anos para se decompor, cer-
tos tipos de plástico também demoram a se desintegrarem,
pois são resistentes ao processo de biodegradação promo-
vidos pelos microrganismos. As formas mais simples que RELAÇÕES ECOLÓGICAS LIMITADORAS DO
podem ser usadas para reduzir o acúmulo de lixo, como a CRESCIMENTO POPULACIONAL;
incineração e a deposição em aterros, também têm efeito
poluidor, pois emitem fumaça tóxica, no primeiro caso, ou
produzem fluidos tóxicos que se infiltram no solo e con-
taminam os lençóis de água. A melhor forma de reduzir o Dentre os principais fatores podemos citar a densida-
problema é investir maciçamente nos processos de recicla- de populacional, a disponibilidade de alimentos, compe-
gem e também no uso de materiais biodegradáveis ou não tição intra-específica, competição interespecífica, a  pre-
descartáveis. A poluição pode causar sérios danos ao solo, dação e o parasitismo.
e dessa forma dificultar o cultivo. Nas grandes aglomera- Esses fatores variam constantemente de intensida-
ções urbanas, o principal foco de poluição do solo são os de em populações naturais, provocando flutuações no
resíduos industriais e domésticos. tamanho delas. Quando um desses fatores limitantes é
A Terra tenta manter o seu equilíbrio, de tal forma que abrandado, há um aumento na taxa de crescimento. Já
qualquer alteração mínima nesse balanço tem consequên- quando há um aumento na intensidade de um ou mais
cias sérias. Os ciclos biogeoquímicos são mecanismos que desses fatores limitantes, pode-se observar uma diminui-
fazem parte da dinâmica da Terra para promover o balanço ção do tamanho populacional.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

A densidade populacional é um fator dependente das taxas de nascimento e morte, assim como da emigração e da
imigração dos indivíduos da comunidade.
As competições intra-específica e interespecífica podem excluir alguns indivíduos da população e contribuir com a se-
leção natural sobre os competidores.
Em uma espécie de borboletas, apenas cerca de 0,26% dos indivíduos nascidos conseguem atingir a idade adulta. Cerca
de 59% more ainda na fase de lagarta, por causa de doenças, 34% por causa do parasitismo e 4% pela predação por pássaros.
Podemos imaginar que essa taxa 0,26% é muito baixa, mas nesse caso, é essencial para manter estável o tamanho dessa popu-
lação, evitando uma superpopulação de borboletas e conseqüente aumento da influência de fatores limitantes de crescimento.
Se colocarmos um único casal de moscas em um frasco com um suprimento fixo de alimentos, haverá um aumento
muito grande na população de descendentes, mas apenas no início, pois logo atingirão o limite. Isso ocorre porque há uma
grande competição por alimento entre as larvas, causando uma grande mortalidade em populações muito numerosas. Em
populações muito densas, também há uma redução da duração da vida adulta.
Nas relações entre predadores e presas, há uma relação de interdependência. Pode acontecer a extinção de um tipo de
predador se acabar a disponibilidade de suas presas, e ele não conseguir substituí-la.
Gause realizou um experimento com um Paramécio (protozoário ciliado) e um didínio (também protozoário ciliado),
que é seu predador e provou essa interdependência.
Quando adicionou os predadores (didínios) à população de presas (paramécios), logo houve um aumento na popula-
ção de didínios e diminuição da população de paramécios. Quando esta desapareceu, os predadores também morreram,
por falta de alimento.
Quando ele colocou esconderijos para as presas, houve um inicial na população de predadores, até sua extinção, quan-
do acabou o alimento. Os paramécios que havia se escondido, passaram a se reproduzir até atingir o tamanho limite de
acordo com as condições do meio, pela ausência de seu predador.

ECOSSISTEMAS DO BRASIL. ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DOS


ECOSSISTEMAS; RELAÇÕES ECOLÓGICAS.

O Brasil é um país com proporções territoriais continentais, e em seu grande território existem vários tipos de conjun-
tos ambientais, os chamados ecossistemas. Como ecossistema entende-se um conjunto de seres vivos, animais e vegetais,
que convivem em equilíbrio num dado ambiente físico. Os ecossistemas possuem como base para seu desenvolvimento as
condições físicas do meio, como o relevo, o clima, a hidrografia, dentre outros.

Ecossistemas brasileiros

Floresta Amazônica

Também conhecida como Floresta Pluvial Equatorial, a Floresta Amazônica é a maior floresta tropical existente no mun-
do. No caso do Brasil, ela se estende por mais de 3,7 milhões de quilômetros quadrados, existindo em sua abrangência uma
expressiva parcela constituída por unidades de conservação, ou seja, ambientes onde as atividades humanas são restritas,
por conta dos riscos de degradação ambiental.
Houve uma intensa devastação da Floresta Amazônica, especialmente nos anos de 1970, quando houve uma expansão
da ocupação humana em direção à região Norte do Brasil, quando ocorreu a construção de rodovias na região. Além disso,
atividades como mineração, garimpos, expansão agrícola e exploração madeireira, também foram as responsáveis pela
expansão humana em direção às áreas florestais.
A Floresta Amazônica é formada por três estratos vegetais, sendo eles uma área de igapó, a qual é constituída por um
ambiente permanentemente alagado, onde a vegetação que se desenvolve é adaptada aos elevados índices de umidade,
como a vitória-régia. Há também a várzea, a qual é uma região suscetível aos alagamentos, mas não fica permanentemente
alagada. Neste local se desenvolvem plantas como a seringueira.
Os ambientes de terra firme são aqueles que nunca inundam, e onde se desenvolve a vegetação de maior porte, com
árvores de grande dimensão, podendo chegar aos 60 metros de altura, como a castanheira.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Mata Atlântica

A Floresta Pluvial Tropical, chamada de Mata Atlântica, é um bioma bastante devastado no território brasileiro. Esse
tipo de mata ocupou originalmente extensões que iam desde o litoral do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte,
adentrando o interior de alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais.
A Mata Atlântica é uma das áreas de maior biodiversidade do mundo, mas também é uma das mais atingidas pela ação
humana, especialmente por serem áreas amplamente habitadas pelos brasileiros.
Na Mata Atlântica há uma vasta diversidade de espécies vegetais e animais, com a predominância de florestas ombró-
filas densas, abertas e mistas, e ainda florestas deciduais e semideciduais, bem como campos, mangues e ainda restingas.
As condições vegetais apresentadas vão depender do local no qual a Mata Atlântica está abrangida.

Mata das Araucárias

A Mata das Araucárias é também chamada de Mata dos Pinhais, ou ainda, Floresta Pluvial Subtropical. Esse tipo de
vegetação é comum nas regiões de clima subtropical, no Sul do Brasil e em algumas partes do Sudeste deste.
A espécie mais comum neste tipo de floresta é a Araucária Angustifolia, uma árvore conhecida por sua aparência
curiosa, cuja copa parece um “guarda-chuva”. A Mata das Araucárias foi amplamente devastada por conta da extração de
madeira, restando uma pequena parcela de uma condição original.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Mata dos Cocais

Esse tipo de vegetação é comum no estado do Maranhão, em uma área entre a Floresta Amazônica, o Cerrado e a
Caatinga, sendo, portanto, uma zona de transição entre biomas. São comuns as palmeiras, com predominância do babaçu
e, esporadicamente, da carnaúba.
A região foi bastante explorada para extração do óleo de babaçu e da cera de carnaúba, o que vem ocorrendo desde
o período colonial. No contexto atual, a expansão das atividades agrícolas, especialmente pelas plantações de soja em
grandes extensões, tem denegrido ainda mais a região da Mata dos Cocais.

Caatinga

A Caatinga é uma vegetação adaptada ao clima semiárido, sendo comum sua existência no Nordeste brasileiro. A
vegetação da Caatinga é formada porplantas xerófilas, arbustos caducifólios e espinhosos. Essas plantas possuem uma
adaptação para reduzir o processo de evapotranspiração, com armazenamento de água em seus troncos ou folhas, o que
favorece sua sobrevivência nos períodos mais secos.
Quando há a incidência de chuvas, ainda que em níveis reduzidos, as folhagens ficam mais verdes, sendo que nos perío-
dos de maior seca, a vegetação fica com coloração clara, o que denotou o nome de “Mata Branca” para a região de Caatinga.

Cerrado

O Cerrado é um dos biomas mais devastados do território brasileiro, especialmente pela expansão das fronteiras
agrícolas. A vegetação destas regiões é formada por árvores caducifólias, também chamadas de estacionais, arbustivas e
com raízes profundas. As árvores do Cerrado possuem troncos retorcidos e a casca destas é bastante grossa, as quais são
adaptadas ao clima da região, com chuvas abundantes no período do verão e invernos com pouca precipitação. Em algu-
mas regiões, o Cerrado é caracterizado como “Cerradão”, quando por conta dos índices pluviométricos mais elevados, a
vegetação se torna mais densa e expressiva.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Pantanal

Esse tipo de ecossistema se estende no território brasileiro pelos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, cons-
tituindo-se em uma extensa área de planícies sujeitas a inundações, ou seja, são ambientes com relevos planos nos quais
há durante o ano ocasiões em que as terras ficam submersas ou semi-submersas. O Pantanal é um complexo que agrupa
vários tipos de vegetação, bem como uma fauna rica em biodiversidade.

Campos

Os campos são formações comuns na região Sul do Brasil, sendo os campos mais conhecidos aqueles que se localizam
no Rio Grande do Sul, na área chamada de Campanha Gaúcha. São formações rasteiras ou herbáceas, dependendo do local
em que se encontram. São regiões com solos rasos, amplamente utilizados para criação de gado em extensão e também
para produção agrícola mecanizada, por serem terras relativamente planas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Vegetação litorânea

São consideradas como vegetações litorâneas os manguezais e as restingas, sendo formações vegetais típicas do litoral
brasileiro. A restinga é uma vegetação que se desenvolve nas áreas com areia, com a existência de arbustos e algumas ár-
vores. Os manguezais são considerados como “nichos ecológicos”, pois é nestes ambientes em que acontece a reprodução
de vários animais, como peixes, moluscos e ainda crustáceos.
Os manguezais ocorrem em áreas alagadas, e as raízes das plantas podem ficar expostas durante as marés baixas, sen-
do que as plantas também são adaptadas para resistirem a água salgada do mar. Texto adaptado de KUNAST. L.

PRINCIPAIS PARASITOSES: PROTOZOONOSES E VERMINOSES;

As infecções por parasitas intestinais representam um problema de saúde pública mundial, de difícil solução. Têm alta
prevalência em nosso país, principalmente na população pobre e em crianças, devido às precárias condições de sanea-
mento básico, habitação e educação. Estudo realizado no Brasil (1988) revelou prevalência de 55,3% em crianças, sendo
que a maior parte era poliparasitada.1 A OMS estimou, em 1987, que mais de 900 milhões de pessoas no mundo estavam
parasitadas pelo Ascaris lumbricoides, 900 milhões por Ancilostomideos e 500 milhões por Trichuris trichiura. 2 Levanta-
mento sobre prevalência de parasitose intestinal em 18973 escolares (7 a 14 anos) realizado em 2002 em algumas regiões
de Minas Gerais (Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste de Minas e Sul/Sudoeste) mostrou que 82% dos escolares
apresentavam exame parasitológico de fezes negativo, 15% eram monoparasitários e 3% poliparasitários. A prevalência de
A. lumbricoides foi de 10,3%, de T. trichiura 4,7%, de ancilostomídeos 2,9%, de Enterobius vermicularis 1,2%, de H. nana
0,4% e de Taenia sp de 0,2%. As maiores prevalências por regiões foram de 24,2% de T. trichiurus, 18,7% de A. lumbricoides
e 12,1% para ancilostomídeos.3 A sintomatologia é bastante variável. Os quadros graves são mais comuns em pacientes
desnutridos; imunodeprimidos; com neoplasias, portadores de doenças do colágeno, anemia falciforme, tuberculose, es-
plenectomia prévia; ou naqueles em uso prolongado de corticóides ou imunossupressores. Nos quadros leves as mani-
festações são inespecíficas: anorexia, irritabilidade, distúrbios do sono, vômitos ocasionais, náuseas, diarréia. “Manchas de
pele” e “ranger de dentes” são relacionados popularmente com parasitoses intestinais, sem no entanto, haver confirmação
científica. Crianças desnutridas podem apresentar anemia (ancilostomíase), hepatoesplenomegalia (esquistossomose), pro-
lapso retal (tricocefalíase), enterorragia (esquistossomose, amebíase) e obstrução intestinal (ascaridíase). As parasitoses po-
dem favorecer o aparecimento ou agravamento da desnutrição. Os mecanismos são: (1) lesão de mucosa (giárdia, necator,
estrongilóides, coccidios); (2) alteração do metabolismo dos sais biliares (giárdia); (3) competição alimentar (áscaris); (4)
exsudação intestinal (giárdia, estrongilóides, necator, tricocéfalos); (5) favorecimento de proliferação bacteriana (ameba);
(6) sangramento (necator, tricocéfalos).
É importante lembrar que, antes de se iniciar corticóides ou imunossupressores, deve-se realizar exames para o diag-
nóstico de áscaris e de estrongilóides, devido ao risco de disseminação ou migração desses parasitos. Em caso de urgência
em iniciar o tratamento com imunossupressor, deve-se administrar concomitantemente antiparasitários naqueles pacientes
em que existir suspeita epidemiológica, ou clínica desses parasitos. Infecções pelos protozoários Cryptosporidium parvum,
Isospora belli, Cyclospora cayetanesis, Microsporídeos e o comensal Blastocystis hominis têm sido encontrados em pacien-
tes imunocomprometidos. Os protozoários são unicelulares, capazes de multiplicar-se dentro do hospedeiro. Por outro
lado, os helmintos são multicelulares e em geral não se dividem dentro do hospedeiro humano. Essas diferenças biológicas
básicas têm implicações epidemiológicas, clínicas e terapêuticas.
A forma de apresentação depende de fatores relacionados com o hospedeiro, ambiente e agente. No hospedeiro é
importante considerar: estado nutricional, idade, hábitos de vida, resposta do sistema imunológico e presença de doença
básica concomitante. Em relação ao ambiente, considerar: saneamento básico deficiente, disponibilidade e tratamento da
água, higiene precária das pessoas e alimentos, contaminação do solo, água e alimentos com ovos, larvas ou cistos de
parasitas. Quanto ao agente é importante considerar a carga parasitária, o mecanismo de lesão determinada pelo parasita,
a sensibilidade do tratamento empregado, e a localização do parasita (ex.: colangite, pancreatite e apendicite induzida por
áscaris). Em áreas endêmicas, os nativos apresentam menos sintomas, enquanto os viajantes que têm o primeiro contato
podem desenvolver quadros clínicos exuberantes, provavelmente por adaptações imunológicas.

DIAGNÓSTICO

A maioria dos parasitos não determina quadro clínico característico, mas a história pode auxiliar o médico na elabo-
ração da impressão diagnóstica. A identificação do parasita em fezes, sangue, tecidos e em outros líquidos do organismo
determina, na maioria das vezes, o diagnóstico etiológico. O exame complementar mais utilizado é o parasitológico de
fezes. Para guiar o técnico do laboratório na procura pelo parasito é importante que o médico escreva no pedido a suspeita
diagnóstica e solicite o exame pela técnica adequada para o encontro do parasita. Na colheita das fezes, o paciente deve

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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ser orientado a utilizar um frasco limpo e seco, identificá-lo, cipais queixas são diarréia e dor abdominal (epigástrica
anotar o horário da colheita, e o material deve ser trans- ou periumbilical) intercaladas com períodos de acalmia.
portado imediatamente ao laboratório ou então fixado e Anorexia, náuseas e vômitos podem estar presentes. Al-
conservado em geladeira a 4° C. gumas crianças apresentam quadro de diarréia crônica
Os fixadores usados são o álcool polivilínico (para trofozoí- semelhante à doença celíaca, com perda de peso, des-
tos) e o formol a 10% ou MIF (mertiolato, iodo e formol) para nutrição, déficit de crescimento, enteropatia perdedora
ovos ou cistos. As amostras fecais utilizadas com o MIF devem de proteínas, edema, hipoproteinemia e deficiências de
ser colhidas em 3 a 6 dias alternados, homogeneizados nos dias ferro, zinco, vitaminas A, E, B12 e ácido fólico. Há relato
da coleta, e a quantidade das fezes não deve ultrapassar a meta- de artralgia associada a giardíase, que desaparece com o
de do volume total.4,9 O método a ser utilizado para a pesquisa tratamento.
em fezes deve ser escolhido conforme a suspeita diagnóstica. O diagnóstico é confirmado pela presença de cistos
Para exames rotineiros pode ser solicitado o parasito- nas fezes (método de Faust), ou de trofozoítos, quando
lógico de fezes pelos métodos de sedimentação por centri- as fezes são líquidas pelo método de Hoffmann, Pons e
fugação ou espontânea (HPJ), o que permite a visibilização Janer (HPJ). Nos quadros agudos os sintomas surgem an-
de ovos, larvas e cistos. Podem ser úteis para o diagnóstico tes da eliminação dos cistos nas fezes ou pela ocorrência
de algumas parasitoses o aspirado e a biópsia duodenal habitual de períodos de 7 a 10 dias em que a eliminação
(Giárdia, Cryptosporidium, Isospora, Strongyloides ster- dos cistos é escassa ou ausente. Por isso, recomenda-se
coralis, S. mansoni). A biópsia retal e a sorologia especí- o exame de 3 amostras, colhidas em dias alternados.4,5
fica podem em alguns casos auxiliar o diagnóstico de S. Amostra de líquido duodenal através de “Enterotest” (fio
mansoni. No leucograma pode ser evidenciado eosinofilia de nylon que é ingerido pelo paciente com uma extre-
nos casos de esquistossomose, ascaridíase, ancilostomíase midade livre, que é afixada na boca, e a outra com uma
e estrongiloidíase. Alguns parasitas podem ser identifica- cápsula que permite a coleta de conteúdo intestinal) ou
dos macroscopicamente (áscaris, oxiurus e tricocéfalus). As intubação nasoduodenal pode visibilizar o trofozoíto em
reações imunológicas do tipo ELISA ou imunofluorescência microscopia óptica, assim como por biópsia de mucosa
direta, realizadas nas fezes, apresentam elevada sensibili- de mucosa de intestino delgado nos casos de síndrome
dade e especificidade (melhor que o EPF), mas ainda são de má-absorção. As reações imunológicas do tipo ELISA
pouco usadas em nosso meio, devido ao custo e à maior ou imunofluorescência direta, realizadas nas fezes, têm
dificuldade do emprego desse método rotineiramente. alta sensibilidade e especificidade. O tratamento medica-
mentoso deve ser feito somente em pacientes sintomáti-
Giardíase cos. As melhores opções são os derivados nitroimidazóli-
cos: metronidazol, tinidazol, secnidazol.
É uma parasitose de distribuição cosmopolita. Na O metronidazol é a droga mais utilizada. O albenda-
maioria dos estados do Brasil sua prevalência supera os zol vem sendo utilizado recentemente por 5 dias. Outras
20% entre pré-escolares e escolares. A transmissão é feca- drogas que também podem ser utilizadas: Nimorazol,
loral. Pode tornar-se um grave problema em instituições e Ornidazol, Furazolidona, porém são menos efetivas. De-
creches pela transmissão pessoa-pessoa. Localiza-se prin- ve-se repetir o tratamento das crianças 15 a 21 dias após.
cipalmente no intestino delgado (duodeno e jejuno), mas Alguns autores recomendam o tratamento dos familiares,
pode ser encontrado em outros segmentos do intestino. A para obtenção de uma melhor resposta terapêutica.
G. lamblia alterna-se sob duas formas: cistos e trofozoítos.
Os cistos excretados nas fezes, sobrevivem por várias Balantidíase
semanas no ambiente, podendo ser ingeridos através de
água ou alimentos contaminados. No duodeno transfor- É causada pelo Balantidium coli, um parasita natural
mam-se em trofozoítos, onde se multiplicam e se fixam do porco. A incidência humana é baixa, porém a conta-
à mucosa. A patogenia depende do parasita e do hospe- minação pode ocorrer no meio rural em criadores de suí-
deiro. Os fatores relacionados ao hospedeiro são: estado nos. Localiza-se mais frequentemente no intestino gros-
imunológico e as proteases que poderiam ativar a lecti- so, e especialmente no ceco. A transmissão é fecal-oral.
na do parasita. A interação da microbiota intestinal com Na maioria das vezes a infecção é assintomática. Quando
o protozooário também é um fator importante. Os efeitos ocorre infecção maciça o paciente pode apresentar um
adversos, provavelmente induzidos pelo protozoário, são: quadro de disenteria semelhante ao da amebíase. O exa-
atrofia vilositária em vários graus no intestino delgado, me parasitológico de fezes permite o achado de cistos ou
associada a infiltrado inflamatório e hipertrofia de criptas; trofozoítos. A ocorrência de cura espontânea é comum. O
lesão nas estruturas do enterócito; invasão da mucosa; des- tratamento pode ser feito com Metronidazol.
conjugação de ácidos biliares; diminuição da atividade das
dissacaridases. Amebíase
Como consequência desses mecanismos a criança
apresenta má-absorção de açúcares, gorduras, vitaminas É causada pelo protozoário Entamoeba histolytica. A
A, D, E, K, B12, ácido fólico, ferro e zinco. A maioria das transmissão é pela ingestão de água e alimentos conta-
crianças é assintomática. Os sintomas, geralmente, apa- minados com cistos. No intestino grosso os cistos che-
recem em crianças desnutridas, debilitadas por doença gam na forma de trofozoítos. As formas clínicas descritas
primária ou expostas a contaminação maciça. As prin- são: colite, ameboma e amebíase extra-intestinal. A forma

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assintomática de infecção é a mais comum. Pesquisas na cúpula diafragmática direita). O tratamento é feito com
década de 80 comprovaram a existência de duas espécies os derivados nitroimidazó- licos: metronidazol ou tinida-
distintas, porém morfologicamente idênticas: E. histolyti- zol ou secnidazol. Na colite necrosante, o metronidazol
ca, patogênica e invasiva; e E. díspar (Brumpt, 1925), de endovenoso é associado a outros antibióticos para co-
baixa virulência e não invasiva, responsável por 90% dos bertura de gram negativos e anaeróbios, e de medidas
casos de amebíase no mundo, principalmente as formas de suporte. No abscesso hepático amebiano utiliza-se
assintomáticas e a colite não-disentérica. Em 1997 a OMS metronidazol endovenoso inicialmente, e depois por via
acatou esta proposta de classificação. oral, sempre associado a outros antibióticos. Nos absces-
A E. histolytica, causadora das formas invasivas de sos grandes, com risco de ruptura, está indicado a punção
amebíase, predomina nas regiões de clima tropical e é evacuadora transcutânea, guiada por ultra-som. Amebi-
responsável por 10% das 500 milhões de pessoas infecta- cidas de contato que agem apenas no lúmen do intestino
das por ameba no mundo. Há estimativas que ocasione a (teclosan por 2 dias; etofamida por 3 dias) são usados
morte de 100 mil pessoas por ano, sendo superada ape- para quebrar a transmissão na amebíase assintomática
nas pela malária em número de mortes por protozoários. ou como tratamento complementar nas amebíases extra-
Na amebíase intestinal encontramos a colite não disen- -intestinais, para impedir a invasão das espécimes ainda
térica, em que o paciente apresenta cólicas abdominais, presentes no intestino.
períodos de diarréia, raramente com muco ou sangue,
intercalados com períodos de acalmia. A colite pode ser Criptosporidiose
disentérica, na qual após período de incubação de mais
ou menos um mês o paciente apresenta-se com febre, O Cryptosporidium sp é um protozoário que per-
distensão abdominal, flatulência, dor abdominal em có- tence à subclasse Coccidae, encontrado no intestino de
lica, disenteria (mais de 10 evacuações muco-piosan- diversos animais. Foi considerado enteropatógeno para
guinolentas/dia) e tenesmo. Há inflamação e úlceras na o homem a partir de 1976, principalmente por causar
mucosa colônica. Podem ocorrer distúrbios hidroeletrolí- diarréias fatais em pacientes com a síndrome de imuno-
ticos e desnutrição protéico-calórica. deficiência adquirida (AIDS). Pode provocar também in-
Menos frequentemente pode ocorrer a colite necro- fecções em pessoas imunocompetentes.
sante, na qual ocorre formação de úlceras profundas, A transmissão é através da ingestão de água e ali-
isquemia, hemorragia, megacólon tóxico, colite fulmi- mentos contaminados por oocistos. Localizam-se no
nante e, às vezes, perfura ção. A mortalidade é elevada. intestino delgado, os parasitas invadem os enterócitos,
Sua ocorrência parece depender de debilidades imuno- onde se multiplicam, gerando danos à morfologia dos
lógicas, destacando-se o uso de corticóide em indivíduos mesmos, atrofia vilositária intestinal e intenso infiltrado
portadores de colite amebiana. Acomete principalmente inflamató- rio na mucosa. Na maioria dos infectados imu-
o cólon direito. O ameboma é a formação de granuloma nocompetentes a infecção é assintomática, mas alguns
na mucosa do ceco ascendente ou sigmóide, com ede- podem ter diarréia autolimitada. Em lactentes e pré-es-
ma e estreitamento do lúmen. As manifestações alter- colares a diarréia persistente é uma manifestação possí-
nam períodos de diarréia e de constipação intestinal. Na vel. Em imunodeprimidos, ocorre diarréia grave, prolon-
amebíase extra-intestinal os trofozoítos podem migrar gada e recidivante, que pode cursar com síndrome de
através da veia mesentérica superior e chegar ao fígado, má- absorção, perda de peso e evoluir para o óbito. Pode
onde provocam inflamação, degeneração celular e necro- cursar com colecistite, colangite esclerosante, estenose
se, formando assim o abscesso amebiano (geralmente no de colédoco distal, hepatite ou pancreatite. Para o diag-
lobo direito). nóstico utiliza-se pesquisa de oocistos nas fezes pela co-
O paciente apresenta febre alta, dor intensa no hi- loração de Ziehl-Neelsen ou da carbolfuccina de Kinyoun.
pocôndrio direito com irradiações típicas de cólica biliar A biópsia da mucosa do intestino permite visibilização
e hepatomegalia dolorosa à palpação, geralmente não do protozoário no material coletado. O tratamento em
ictérica. Pode complicar-se com infecção bacteriana se- imunocompetentes é a reidratação e medidas gerais. Em
cundária, ruptura para cavidade abdominal, para o pul- imunodeficientes deve-se tentar melhorar as condições
mão, para a pleura ou para o pericárdio. A disseminação imunológicas do paciente (por exemplo, com o empre-
hematogênica do trofozoíto pode levar a formação dos go de antiviral em pacientes com AIDS). Para tratamento
abscessos no pulmão, pele, pericárdio, aparelho genitu- da infecção os melhores resultados estão sendo obtidos
rinário e cérebro. Os métodos laboratoriais para o en- com azitromicina ou nitazoxanida ou paromomicina.
contro do parasito são o exame direto a fresco (trofozoí-
tos nas fezes) e o método de concentração e de Faust. O Isosporíase
exame de fezes utilizando imunoensaio enzimático pode
diferenciar a E. histolytica da E. díspar. A retossigmoidos- É causada pelo protozoário Isospora belli da subclasse
copia e a colonoscopia com biópsia pode auxiliar através dos coccídeos. No Brasil têm sido descritos casos em Goiás,
do achado de úlceras e dos exames anatomopatológico Espírito Santo e outros estados. Em portadores de AIDS a
e parasitológico. Para o diagnóstico de abscesso hepáti- prevalência é de 2% e chega a 7% entre esses pacientes
co amebiano usam-se os exames de imagem: ultra-som na presença de diarréia. A transmissão é através de água e
abdominal, tomografia computadorizada ou ressonância alimentos contaminados. O parasita se localiza no intestino
magnética abdominal e radiografia do tórax (elevação da delgado, onde invade o enterócito e multiplica-se, causan-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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do danos na arquitetura das vilosidades e levando a um Ascaridíase


processo inflamatório. Na maioria dos casos a infecção
é assintomática, ou provoca diarréia autolimitada. Nos É causada pelo Ascaris lumbricoides. É a helmintíase de
imunodeprimidos o quadro é mais grave e arrastado, maior prevalência no mundo acometendo cerca de 30% da
cursando com síndrome de má-absorção, adenite me- população mundial. A fêmea mede de 35 a 40 cm, e o ma-
sentérica, invasão do baço e fígado e colecistite acal- cho 15 a 30 cm de comprimento. O verme adulto vive no
culosa. O diagnóstico é feito pelo exame parasitológico lúmen do intestino delgado do homem. É um geo-parasita
de fezes através da coloração de Ziehl-Neelsen ou de (possui fases de seu desenvolvimento que são realizadas
Kinyoun modificada, ou pela análise de material coletado no solo). A fêmea elimina ovos fecundados com as fezes
pela biópsia de intestino delgado. O tratamento é feito (200.000/dia) que, em condições favoráveis sofrem duas
com sulfametoxazol-trimetoprim por 10 dias, seguidos transformações larvárias em 20 dias. A segunda delas é a
de mais 20 dias com dose única profilática (metade da forma infectante. A principal forma de transmissão é a in-
dose). Outras opções: roxitromicina ou metronidazol, ou gestão de ovos através de água e alimentos contaminados,
pirimetamina associada a sulfadiazina. hábito de levar as mãos e objetos sujos à boca, ou a pratica
de geofagia. Os ovos estão presentes no ar em regiões de
Microsporidíase clima seco e quente, podendo ser inalados ou deglutidos.
O tratamento da ascaridíase é obrigatório, mesmo em
Os microsporídios são protozoários intracelulares pequenas infecções, pelo risco de migrações anômalas.
obrigatórios. A ordem dos microporídeos envolve 100 Pode ser feito com levamizol ou mebendazol ou albenda-
gêneros já descritos, seis dos quais foram encontrados zol ou pirantel ou piperazina. Estudos recentes têm relata-
parasitando o homem. O gênero Enterocytozoon bie- do grande eficácia com a ivermectina em dose única (100%
neusi é o mais encontrado em todo o mundo. Localiza- de eficácia).
-se no intestino delgado, principalmente em portadores
de imunodeficiência (AIDS ou em indivíduos com trans- Ancilostomíase
plante de órgãos), porém pode ser encontrado em imu-
nocompetentes. Na maioria das vezes a infecção é as- É uma parasitose intestinal causada pelo Ancylostoma
sintomática ou provoca uma diarréia autolimitada. Pode duodenale e Necator americanus, esse último mais comum
causar infecção hepática, pancreática, renal, ocular e do em nosso país. São geo-helmintos, cujas fêmeas produzem
SNC. Em 2001, na cidade portuária de Antonina, no Para- 10 a 20 mil ovos por dia, os quais são eliminados nas fezes.
ná, houve uma epidemia de diarréia aguda pelo parasita No solo, a evolução das larvas ocorre em estágios, sendo a
envolvendo mais de 600 casos. O diagnóstico pode ser larva filarióide (terceiro estágio) a infectante. Ela penetra na
feito com microscopia de luz e coloração pelo método pele do hospedeiro, e por via linfática ou venosa chega até
tricrômio em fezes e outras secreções humanas. Quando os pulmões. Nos alvéolos, ascende na arvore respiratória,
o quadro não é autolimitado pode-se usar Albendazol. e é então deglutida. No caminho para o intestino delgado
Nos pacientes com AIDS o tratamento com antiretrovi- transforma-se no verme adulto. Na espécie A. duodenale, a
rais melhora os sintomas causados pelo parasita. transmissão pode ocorrer também por ingestão da larva fi-
larióide, sem necessidade de penetração pela pele ou ciclo
Blastocistose pulmonar. Os ancilostomídeos adultos se fixam na mucosa
do duodeno e jejuno. Cada exemplar adulto, ocasiona para
A blastocitose é causada pelo Blastcystis hominis, o hospedeiro a perda diária de 0,05 a 0,3 ml de sangue.
um comensal, mas que em indivíduos imunodeprimidos Na espécie do N. americanus esta perda de 0,01 a 0,04
pode provocar diarréia ou sintomas gastrointestinais ml por dia. A perda de sangue ocorre porque o verme suga
inespecíficos. Os métodos parasitológicos habituais não o sangue da mucosa e muda de lugar 4 ou 5 vezes por dia,
são adequados para detectá-lo. Nos casos que não são deixando também superfície cruenta que sangra. Transcor-
autolimitados, têm sido usado o Metronidazol ou o Io- rem geralmente 35 a 60 dias desde a infecção até início
doquinol. da eliminação de ovos pelas fezes. A ancilostomíase ocorre
em 20% a 25% de toda a população mundial. No Brasil a
Ciclosporíase prevalência é variável, sendo mais comum na zona rural,
acometendo mais adolescentes e adultos. Na maioria das
É causada pelo Cyclospora cayetanensis, um coccí- vezes a infecção é assintomática. O quadro clínico depen-
dio intracelular, muito semelhante ao Criptosporidium derá do número de vermes, da espécie do ancilostomídeo
sp. Provoca diarréia e má-absorção intestinal em pa- ou das condições do hospedeiro. Pode ocorrer dermatite
cientes imunodeprimidos. Em pessoas imunocompeten- larvária, com a presença de prurido, eritema, edema e
tes os sintomas são leves e autolimitados ou ausentes. erupção papulovesicular. A pneumonite larvária é descri-
A transmissão é fecal-oral. A detecção nas fezes é feita ta, mas menos intensa que na infecção por áscaris.
pela microscopia óptica e coloração de Ziehl-Neelsen Na fase aguda do parasitismo intestinal pode ocor-
modificada ou Kinyoun. O aspirado duodenal e a biópsia rer epigastralgia, náuseas, vômitos, bulimia, flatulência
intestinal são também utilizados no diagnóstico. O trata- e diarréia. E na fase crônica: anemia ferropriva, anorexia,
mento preconizado é com sulfametoxazol-trimetoprim, fraqueza, cefaléia, sopro cardíaco, palpitações, hipopro-
por 7 dias. teinemia e edema por enteropatia perdedora de proteí-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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nas. O diagnóstico é feito por meio de achado de ovos pularmente conhecido por “canjiquinha”. A T. saginata
de ancilostomídeos no exame parasitológico de fezes. O origina-se da ingestão de carne de boi contaminada. A
tratamento é feito com mebendazol ou pamoato de pi- OMS estimou a existência de 50 milhões de pessoas con-
rantel ou albendazol (crianças acima de 2 anos de idade), taminadas, com 50 mil mortes anuais, geralmente pelas
e as doses as mesmas usadas para o tratamento da as- complicações da neurocisticercose. As tênias são acha-
caridíase. Estudos mostram que a ivermectina é ineficaz tadas dorsoventralmente e chegam ao comprimento de
no tratamento de ancilostomídeos. O tratamento deve ser 3 a 10 metros, sendo a T. saginata mais longa. A cabe-
repetido após 15 a 21 dias. ça ou escólex se fixa à mucosa do jejuno ou duodeno, é
hermafrodita, e vive solitária no intestino do homem. O
Estrongiloidíase corpo é formado por anéis ou proglotes, os distais são
maduros e repletos de ovos (30 a 80 mil). Os proglotes
É causada pelo Strongylóides stercoralis. Este geo- podem ser eliminados íntegros ou se rompem eliminando
-helmíntico é responsável por incidência elevada de in- os ovos nas fezes. Esses ovos contaminam as pastagens,
fecções em regiões de clima tropical ou com saneamento são ingeridos pelos animais hospedeiros intermediários, e
básico precário. As formas de transmissão descritas são: migram para o tecido conjuntivo dos músculos, onde for-
(1) heteroinfecção: larvas presentes no solo penetram no mam os cisticercos (2 a 5mm de diâmetro). O homem se
homem pela pele; (2) auto-infecção interna: os ovos eclo- contamina pela ingestão de carne contendo esses cisticer-
dem no intestino e rapidamente evoluem para a forma cos. São necessários mais de 3 meses para que tenha início
infectante e penetram a mucosa no íleo ou nos cólons; a liberação anal das proglotes maduras. nas fezes ou nas
(3) auto-infecção externa (as larvas penetram na pele pela roupas íntimas ou lençóis. A pesquisa de antígenos espe-
região perianal). A estrongiloidíase pode ocorrer de for- cíficos de Taenia nas fezes (coproantígenos) aumenta em
ma assintomática, oligossintomática ou grave. A derma- 2,5 vezes a capacidade de detecção de casos de teníase.
tite larvária pode ocorrer nos pés, mãos, nas nádegas ou Na neurocisticercose utilizam-se métodos de imunoensaio
na região anogenital, locais onde as larvas penetram. A (ELISA), técnicas radiológicas incluindotomografia compu-
pneumonite larvária é menos freqüente que na ascaridía- tadorizada. O tratamento pode ser feito com niclosamida
se. Outras manifestações são descritas, como: anorexia, ou prazinquantel ou mebendazol ou albendazol.
náuseas, vômitos, distensão abdominal, dor em cólica ou
queimação, muitas vezes no epigástrio (síndrome pseudo- Tricocefalíase ou Tricuríase
-ulcerosa), diarréia secretora ou esteatorréia, desnutrição
protéico-calórica. A estrongiloidíase disseminada ocorre É causada pelo nematóide Trichocephalus trichiurus,
em paciente imunodeprimido, e é um quadro grave e com ou Trichuris trichiura, o qual mede de 3 a 5 cm de compri-
alta mortalidade. Os vermes infectam todo o intestino e a mento. Os vermes se localizam principalmente no ceco.
auto-infecção interna ocorre maciçamente. As larvas fila- Os ovos são eliminados nas fezes e tornam-se infectan-
rióides migram para o fígado, pulmões e inúmeras outras tes após 15 dias. O homem ingere os ovos, que sofrem
vísceras e glândulas, geralmente originando bacteremia, ação dos sucos digestivos e libertam as larvas. O verme
pois carregam consigo as enterobactérias intestinais. adulto se fixa à mucosa intestinal, provocando erosões e
Os pacientes apresentam sintomas intestinais, respira- ulcerações múltiplas. Cada verme ingere até 0,005 ml de
tórios e de sepse ou meningite por coliformes. O diagnós- sangue por dia. É comum em regiões tropicais. No Brasil
tico pode ser feito pelo achado de larvas pelo método de foi encontrada em 80,4% dos escolares na região de Ala-
Baermann-Moraes ou Rugai modificado, em fezes, material goas5 e 37,3% dos escolares em São Paulo.
de tubagem duodenal, escarro ou lavado broncoalveolar Geralmente, a infecção é assintomática ou acompa-
(ótima opção em estrongiloidíase disseminada). Na en- nhada de manifestações leves. Nas crianças desnutridas,
doscopia digestiva alta podem ser visibilizadas alterações especialmente pré-escolares, que vivem em comunida-
inflamatórias inespecíficas, vistas macroscopicamente, no des aglomeradas e com ausência de saneamento básico,
duodeno. Na biópsia é possível detectar os parasitos no in- pode instalar-se a trichiuríase maciça, comprometendo o
terior das criptas. Existem testes imunológicos do tipo ELISA intestino grosso, do ceco ao reto. Os sintomas são dis-
e imunofluorescência indireta ainda não disponível em nos- tensão abdominal, disenteria crônica, anemia ferropriva e
so meio.5 O tratamento é feito com o tiabendazol. Estudos desnutrição protéico-energética.
mostram que o albendazol é pouco efetivo na estrongiloi- O prolapso retal pode ocorrer até em 60% dos
díase (45% de eficácia em um estudo15, e 38% em outro17). casos. O diagnóstico é feito pelo achado de ovos nas
A ivermectina em dose única tem sido tão eficaz quanto o fezes, pesquisados pelos métodos de Faust, Lutz ou
tiabendazol e apresenta poucos efeitos colaterais. O tra- Kato-Katz. Na trichiuríase maciça, o diagnóstico é feito
tamento deve ser repetido 15 a 21 dias após. pela retossigmoidoscopia, que permite visualizar inú-
meros vermes fixados à mucosa hiperemiada e friável,
Teníase que sangra facilmente ao toque. O tratamento pode
ser feito com Mebendazol. O Albendazol usado isola-
É causada pela Taenia solium ou por Taenia saginata. damente é pouco eficaz (42,6% de eficácia), mas quan-
A prevalência maior é em adultos jovens e nas regiões do associado com a ivermectina tem taxa mais alta de
rurais. A T. solium é adquirida pela ingestão de carne cura (79,3%). O tratamento deve ser repetido 15 dias
de porco mal cozida, contaminada pelo cisticerco, po- após.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Oxiuríase ou Enterobíase ser administrado antiparasitário com eficácia para o ásca-


ris e o estrongilóide. Recomendamos o uso da ivermectina
É causada pelo Enterobius vermiculares ou Oxiurus (em crianças acima de 5 anos de idade ou peso acima de
vermiculares. O macho tem menos de 5 mm e a fêmea 15kg) e exames parasitológicos de fezes de controle a cada
perto de 10mm de comprimento. Suas localizações 3 meses. • o tratamento com antiparasitários deve sempre
principais são o ceco e o reto. A fêmea fecundada mi- ser repetido no caso de infecção por: A. lumbricoides, T.
gra para a região anal onde faz a postura. Sua pre- trichiurus, S. stercoralis, ancilostomídeos, E. vermicularis, H.
sença nesta região causa intenso prurido. O homem nana, G. lamblia.
é o único hospedeiro e sua transmissão ocorre pes-
soa a pessoa ou por fômites. A transmissão indireta PERSPECTIVAS FUTURAS
é possível com a inalação de ovos presentes na poei-
ra e nos utensílios domésticos. A auto-infecção pode As infecções pelos parasitos intestinais ocorrem por
acontecer, o que reforça a necessidade de repetição um desequilíbrio ecológico entre parasita-hospedeiroam-
do tratamento. Os ovos ingeridos liberam as larvas no biente. A melhoria das condições de vida através do sanea-
intestino e estas se fixam no colo. O ciclo é de 30 a mento adequado, combate à desnutrição e do desmame
50 dias até a evolução para a forma adulta. Ocorre no precoce, educação para a prevenção, acesso universal ao
mundo inteiro e é a helmintíase de maior prevalência sistema de saúde, são medidas que efetivamente diminui-
nos países desenvolvidos. O sintoma mais frequente riam a infecção parasitária. As indicações e as limitações
é o prurido anal noturno. Em meninas pode ocorrer a às diversas drogas antiparasitárias devem ser conhecidas.
migração dos vermes para a genitália, levando a vul- Mais recentemente, surgiu o albendazol, uma droga com
vovaginite secundária, com corrimento amarelado e eficácia para vários parasitos, mas pouco eficaz no trata-
fétido. Outros sintomas descritos são cólicas abdomi- mento de estrongiloí- diase e giardíase.
nais, náuseas e tenesmo. O alto custo dificulta o seu emprego. A ivermectina
O método do swab anal ou da fita gomada é o surgiu com uma promessa de ser uma droga eficaz, princi-
mais eficiente para diagnosticar essa parasitose. O tra- palmente na estrongiloidíase. Os efeitos colaterais são bem
tamento pode ser feito com Mebendazol ou Pamoato inferiores ao tiabendazol e a eficá- cia equivalente. Exis-
de pirvínio ou Albendazol. Devendo ser repetido 15 te uma preocupação por parte de muitos autores quanto
dias após. É importante tratar toda a família (indiví- ao tratamento do T. trichiurus devido à baixa eficácia das
duos da casa), escovar as unhas pela manhã e todas as drogas. Indica-se a associação do albendazol com a iver-
vezes que for ao toalete, lavar e passar as roupas de mectina, o que propicia um aumento da taxa de cura para
cama e íntimas no primeiro dia de tratamento. 79,3% e a redução da eliminação de ovos para 93,8%.22
Vários estudos tentam identificar se a realização de trata-
PROFILAXIA mentos periódicos é efetiva para controlar as parasitoses.
Os tratamentos em massa são utilizados em locais endê-
O objetivo é interromper a transmissão desses pa- micos, mas ainda não existe um consenso de autores so-
rasitas por meio de várias condutas, tais como: bre esta conduta. Em geral é utilizado o mebendazol ou o
• preparo e manipulação adequados dos alimen- albendazol, por serem anti-helmínticos de amplo espectro,
tos; levando à diminuição da probabilidade de contaminação
• tratamento e conservação da água; fecal do ambiente. Um grande problema é a reinfecção, a
• uso de calçados; qual pode ser minimizada através de medidas educativas
• construção de vasos sanitários e fossas sépticas; para a população. O pediatra durante a consulta médica
• destino apropriado das fezes; deve sempre orientar quanto às medidas preventivas. Texto
• programas educacionais relacionados à higiene, adaptado de MELO. M. D. C. B et al.
condutas que devem ser tomadas para diminuir a fre-
quência das parasitoses;
• emprego de medicamentos.
CICLOS BIOGEOQUÍMICOS;
OBSERVAÇÕES GERAIS

• o controle de cura das parasitoses é dado pela re-


gressão do quadro clinico e exame parasitológico de fezes O trajeto das substâncias do ambiente abiótico para o
repetidamente negativo; mundo dos seres vivos e o seu retorno ao mundo abiótico
• em casos de infecção por mais de um parasita, quan- completam o que chamamos de ciclo biogeoquímico.
do não houver possibilidade de usar uma droga com ação O termo é derivado do fato de que há um movimento
para todos os presentes, deve-se tratar inicialmente aque- cíclico de elementos que formam os organismos vivos (“bio”)
les vermes que mais facilmente migram, como o áscaris e e o ambiente geológico (“geo”), onde intervêm mudanças
o estrongilóide. químicas. Em qualquer ecossistema existem tais ciclos.
• os pacientes que irão iniciar tratamento com imu- Em qualquer ciclo biogeoquímico existe a retirada do
nossupressor deverão fazer exame parasitológico prévio, elemento ou substância de sua fonte, sua utilização por se-
ou no caso de urgência para o início do tratamento deve res vivos e posterior devolução para a sua fonte.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Vamos ver com mais detalhes cada um dos ciclos biogeoquímicos abaixo:

Ciclo do Nitrogênio

O nitrogênio se mostra como um dos elementos de caráter fundamental na composição dos sistemas vivos.
Ele está envolvido com a coordenação e controle das atividades metabólicas. Entretanto, apesar de 78% da atmosfera
ser constituída de nitrogênio, a grande maioria dos organismos é incapaz de utilizá-Io, pois este se encontra na forma ga-
sosa (N2) que é muito estável possuindo pouca tendência a reagir com outros elementos.
Os consumidores conseguem o nitrogênio de forma direta ou indireta através dos produtores. Eles aproveitam o
nitrogênio que se encontra na forma de aminoácidos. Produtores introduzem nitrogênio na cadeia alimentar, através do
aproveitamento de formas inorgânicas encontradas no meio, principalmente nitratos (NO3) e amônia (NH3+). O ciclo do
nitrogênio pode ser dividido em algumas etapas:
• Fixação: Consiste na transformação do nitrogênio gasoso em substâncias aproveitáveis pelos seres vivos (amônia e
nitrato). Os organismos responsáveis pela fixação são bactérias, retiram o nitrogênio do ar fazendo com que este reaja com
o hidrogênio para formar amônia.
• Amonificação: Parte da amônia presente no solo, é originada pelo processo de fixação. A outra é proveniente do pro-
cesso de decomposição das proteínas e outros resíduos nitrogenados, contidos na matéria orgânica morta e nas excretas.
Decomposição ou amonificação é realizada por bactérias e fungos.
• Nitrificação: É o nome dado ao processo de conversão da amônia em nitratos.
• Desnitrificação: As bactérias desnitrificantes (como, por exemplo, a Pseudomonas denitrificans), são capazes de con-
verter os nitratos em nitrogênios molecular, que volta a atmosfera fechando o ciclo.

Rotação de Culturas

Um procedimento bastante utilizado em agricultura é a “rotação de culturas”, na qual se alterna o plantio de não-legu-
minosas (o milho, por exemplo), que retiram do solo os nutrientes nitrogenados, com leguminosas (feijão), que devolvem
esses nutrientes para o meio

Ciclo da Água

O ciclo da água é o permanente processo de transformação da água na natureza, passando de um estado para outro
(líquido, sólido ou gasoso).
A essa transformação e circulação da água dá-se o nome de ciclo da água ou ciclo hidrológico, que se desenvolve
através dos processos de evaporação, condensação, precipitação, infiltração e transpiração.
A água, indispensável para a manutenção da vida, é encontrada na natureza e está distribuída nos rios, lagos, mares,
oceanos e em camadas subterrâneas do solo ou em geleiras.
O ciclo da água na natureza é fundamental para a manutenção da vida no planeta Terra, visto que vai determinar a
variação climática e interferir no nível dos rios, lagos, mares, oceanos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

O ciclo da água é composta por 5 etapas:

O calor irradiado pelo sol aquece a água dos rios, lagos, mares e oceanos ocorrendo o fenômeno da Evaporação. Nes-
se momento, ocorre a transformação do estado líquido da água para o seu estado gasoso, à medida que se desloca da
superfície da Terra para a atmosfera.
O vapor da água esfria, se acumula na atmosfera e se condensa na forma de gotículas, que formarão as nuvens ou
nevoeiros. Neste momento, ocorre o processo de Condensação, ou seja, a transformação do estado gasoso da água para
seu estado líquido, sendo as nuvens, as gotículas de água líquida suspensas no ar.
Com muita água condensada na atmosfera, se inicia o processo de Precipitação, onde as gotículas suspensas no ar se
tornam pesadas e caem no solo na forma de chuva. Em regiões muito frias a água condensada passa do estado gasoso para
o líquido e rapidamente para o estado sólido, formando a neve ou o granizo.
Quando o vapor de água condensado cai sobre a superfície terrestre, ocorre a Infiltração de uma parte dessa água que
vai alimentar os lençóis subterrâneos.
Parte da água que se infiltrou no solo pode ser absorvida pelas plantas que, depois de utilizá-la a devolvem à atmosfera
por meio do processo de Transpiração.
A água também pode evaporar ou escoar sobre o solo e abastecer os rios, que deságuam em mares e oceanos, reini-
ciando todo o processo do ciclo da água.

Ciclo do Oxigênio

O oxigênio (O2) é o elemento mais abundante no planeta, estando disponível na atmosfera, na água e na crosta ter-
restre. É capaz de reagir com quase todos os elementos químicos, em especial o carbono, formando monóxidos (CO) e
dióxidos(CO2). Realiza combustão e oxida metais, produzindo a ferrugem.

Importância

É indispensável à vida pois praticamente todos os seres vivos o utilizam na respiração, excetuando os seres anaeróbios,
como algumas bactérias. Participa também da fotossíntese (processo em que as plantas produzem seu alimento) atuando
juntamente com o carbono. O oxigênio também compõe a camada de ozônio, defendendo a superfície terrestre dos raios
ultravioletas (UVA e UVB).

Etapas

As plantas terrestres usam o gás carbônico (CO2) do ar como combustível para a fotossíntese e liberam oxigênio (O2)
para a atmosfera. As plantas aquáticas usam carbonatos dissolvidos na água e liberam o oxigênio. Acontece exatamente o
oposto com os animais que respiram O2 e liberam CO2.

100
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Fotossíntese

A produção do ozônio (O3) ocorre por ação da luz solar sobre o oxigênio atmosférico (O2) e também durante a oxi-
dação do monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos tais como o metano.

Desequilíbrios

O acúmulo de gás carbônico na atmosfera, gerado principalmente pela queima de combustíveis fósseis contribui para
o Aquecimento Global através do Efeito Estufa. A destruição da camada de ozônio permite a entrada dos raios UV, contri-
buindo também para o aquecimento e para o aumento dos casos de câncer de pele.

Ciclo do Fósforo

O fósforo aparece principalmente na forma de fosfato (PO4-3), obtido a partir da degradação das rochas (minerais).
Além da água, do carbono, do nitrogênio e do oxigênio, o fósforo também é importante para os seres vivos. Esse ele-
mento faz parte, por exemplo, do material hereditário e das moléculas energéticas de ATP.
Em certos aspectos, o ciclo do fósforo é mais simples do que os ciclos do carbono e do nitrogênio, pois não existem
muitos compostos gasosos de fósforo e, portanto, não há passagem pela atmosfera. Outra razão para a simplicidade do
ciclo do fósforo é a existência de apenas um composto de fósforo realmente importante para os seres vivos: o íon fosfato.
As plantas obtêm fósforo do ambiente absorvendo os fosfatos dissolvidos na água e no solo. Os animais obtêm fosfa-
tos na água e no alimento.

101
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A decomposição devolve o fósforo que fazia parte da matéria orgânica ao solo ou à água. Daí, parte dele é arrastada
pelas chuvas para os lagos e mares, onde acaba se incorporando às rochas. Nesse caso, o fósforo só retornará aos ecossis-
temas bem mais tarde, quando essas rochas se elevarem em consequência de processos geológicos e, na superfície, forem
decompostas e transformadas em solo.
Assim, existem dois ciclos do fósforo que acontecem em escalas de tempo bem diferentes. Uma parte do elemento
recicla-se localmente entre o solo, as plantas, consumidores e decompositores, em uma escala de tempo relativamente
curta, que podemos chamar “ciclo de tempo ecológico”. Outra parte do fósforo ambiental sedimenta-se e é incorporada
às rochas; seu ciclo envolve uma escala de tempo muito mais longa, que pode ser chamada “ciclo de tempo geológico”.

Ciclo do Cálcio

O cálcio (Ca) é o quinto elemento mais abundante na crosta terrestre, sendo de grande importância para os seres vivos
por desempenhar funções variadas. Nos vegetais, por exemplo, o cálcio funciona como ativador enzimático e forma molé-
culas constituintes das paredes celulares vegetais.
Nos animais, sua função estrutural tem grande destaque, sendo o elemento formador de esqueletos e estruturas de
proteção. Invertebrados como moluscos produzem suas conchas a partir de sais de cálcio e muitos exoesqueletos, princi-
palmente de invertebrados marinhos, possuem compostos calcários em sua formação. Em vertebrados, o cálcio é o princi-
pal componente dos ossos e pode ser encontrado na casca de ovos de aves e répteis. Além disso, o cálcio é utilizado em
funções metabólicas como atividades das membranas celulares, contrações musculares, impulsos nervosos, controle de
acidez do sangue, divisão celular, controle hormonal e na coagulação sanguínea.
Na natureza, a principal fonte de cálcio são as rochas sedimentares calcárias. Ao longo do tempo, os intemperismos físi-
cos, químicos e biológicos sofridos por essas rochas provocam sua erosão e a liberação de sais de cálcio. O ácido carbônico
(H2CO3) proveniente do CO2 dissolvido na água da chuva, por exemplo, facilita a erosão de rochas que liberam íons Ca2+ e
HCO3–, seja diretamente na água ou no solo, onde também pode ser carregado pela água da chuva para rios, lagos e oceanos.
Na água, esses íons são absorvidos e utilizados por invertebrados na confecção de conchas e exoesqueletos. Com a morte
desses organismos, seus esqueletos e conchas se depositam no fundo do mar e são degradados por organismos decompositores,
liberando os íons de cálcio novamente no ambiente. Assim como ocorre no ciclo do fósforo, o cálcio não utilizado precipita para
o fundo dos corpos d’agua, podendo ser ressuspendido e utilizado pela biota ou incorporado de volta em formações calcárias.
Esse sedimento de fundo é rico em carbonato de cálcio (CaCO), participando de um ciclo de tempo geológico. Levado
pelas correntes, o sedimento pode migrar para uma zona de pressão e temperatura mais elevadas, fundindo o carbonato
de cálcio de forma a gerar rochas sedimentares. Essas rochas podem se acumular próximas às margens alcançando a su-
perfície e fechando o ciclo. Vale lembrar que essas mudanças geológicas formam um processo demorado, que se dá em
uma escala de tempo grande.
Na terra, a partir dos sais de cálcio liberados no solo, o ciclo tem continuação com a absorção desses sais pelas plantas.
Os animais terrestres, por sua vez, podem obter cálcio através da ingestão dessas plantas ou bebendo água contendo sais
de cálcio dissolvidos. A partir disso, o cálcio vai exercer funções variadas no organismo, podendo ser passado para outros
níveis tróficos através da cadeia alimentar. Quando algum desses organismos morre, sua decomposição provoca o retorno
do cálcio ao solo e a água, podendo ser novamente absorvido pelas plantas ou levados para corpos d’água pelas chuvas,
continuando o ciclo.
O ser humano ainda afeta o ciclo do cálcio com o uso de uma substância conhecida como cal para funções como cor-
reção do pH do solo para a agricultura e tratamento de água. Essa substância nada mais é que um composto chamado de
óxido de cálcio (CaO), e sua adição ao solo ou a água libera íons de cálcio que vão entrar no ciclo.

Ciclo do Carbono

As plantas realizam fotossíntese retirando o carbono do CO2 do ambiente para formatação de matéria orgânica.
Esta última é oxidada pelo processo de respiração celular, que resulta em liberação de CO2 para o ambiente. A decom-
posição e queima de combustíveis fósseis (carvão e petróleo) também libera CO2 no ambiente.
Além disso, o aumento no teor de CO2 atmosférico causa o agravamento do “efeito estufa” que pode acarretar o descon-
gelamento de geleiras e das calotas polares com consequente aumento do nível do mar e inundação das cidades litorâneas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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No ciclo biológico do Carbono, podemos ter a total renovação do carbono atmosférico em até vinte anos. Este proces-
so ocorre na medida em que as plantas absorvem a energia solar e CO2 da atmosfera, gerando oxigênio e açúcares, como
a glicose, por meio do processo conhecido como fotossíntese, o qual é a alicerce para o crescimento das plantas.
Por sua vez, os animais e as plantas consomem a glicose durante o processo de respiração, emitindo novamente CO2.
Com isso, a fotossíntese e a decomposição orgânica, por meio da respiração, renovam o carbono da atmosfera.

Em termos de equação química destes processos temos:

6CO2 + 6H2O + energia (luz solar) → C6H12O6 + 6O2 (fotossíntese)


C6H12O6 (matéria orgânica) + 6O2 → 6CO2 + 6 H2O + energia (Respiração)

Com isso, a fotossíntese e a respiração, conduzem o carbono de sua fase inorgânica à fase orgânica e de volta a fase
inorgânica, concluindo o ciclo biogeoquímico. Também faz parte do ciclo biológico a remoção de grande parte do carbono
da atmosfera excedendo os limites da respiração, quando a matéria orgânica acumula-se em depósitos sedimentares que
se decompõem em combustíveis fósseis.
Outra forma de acelerar ainda mais o ciclo rápido e adicionar CO2 na atmosfera são os incêndios naturais, pois eles
consomem a biomassa e matéria orgânica, transferindo mais CO2 num ritmo maior do que aquele que remove natural-
mente o Carbono a partir da sedimentação do mesmo. Esse processo causa o aumento das concentrações atmosféricas de
CO2 rapidamente.
Como o quinto elemento mais abundante no Planeta, O Carbono (C) possui necessariamente duas formas, uma orgâ-
nica, existente nos organismos vivos e mortos, e outra inorgânica, presente nas rochas. Sem espanto, 99% desse carbono
está na litosfera, a maior parte sob a forma inorgânica, armazenada em rochas sedimentares em depósitos de combustíveis
fósseis.
Assim, o Carbono circula pelos oceanos, na atmosfera e no interior da Terra, no ciclo de longa duração definido ciclo
biogeoquímico, dividido em dois tipos, a saber, o ciclo “lento” ou geológico, no qual o carbono e sedimentado e compri-
mido sob as placas tectônicas, e, para o que nos interessa mais, o ciclo “rápido” ou biológico.

As Atividades Humanas e o Ciclo do Carbono

As ações humanas influenciam no ciclo global do carbono, pois, uma vez que retira o carbono armazenado nos de-
pósitos fósseis numa velocidade superior à da absorção do carbono pelo ciclo, estamos potencializando o aumento das
concentrações de CO2 na atmosfera, especialmente se considerarmos o fato de que este depósitos são queimados como
combustíveis, acelerando ainda mais o processo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Sem espanto, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera tem crescido a uma taxa de 0,4% ao ano, pois a
extração e queima do petróleo, gás e carvão vem junto com destruição das florestas e, portanto, reduzimos a capacidade
de absorção ao mesmo tempo em que aumentamos a emissão de Carbono.

Curiosidades

Os oceanos são grandes depósitos de gás carbônico e realizam uma troca constante de carbono com a atmosfera.
A concentração do carbono na atmosférica é a menor, pois a maior parte está nos oceanos e na crosta terrestre.
A vida nos oceanos consome grandes quantidades de CO2, uma vez que baixas temperaturas no oceano aumentam a
absorção do CO2 atmosférico, enquanto temperaturas mais altas podem causar a emissão de CO2.
O Efeito Estufa é um sintoma do ciclo do carbono, uma forma que a Terra tem para manter sua temperatura constante.

Ciclo do Enxofre

O ciclo do enxofre é um processo essencial para a manutenção da vida, presente em aminoácidos como a cisteína, onde
atua na formação das proteínas. O ser humano possui cerca de 140 gramas de enxofre em seu organismo.
O enxofre é encontrado em sua grande parte em sedimentos e na crosta terrestre, não podendo ser ingerido por ani-
mais; este sedimento de enxofre é encontrado principalmente nas proximidades de vulcões, somente é absorvido pelas
plantas por intermédio de bactérias ou quando dissolvido em água, tornando-se ionizado.

Na atmosfera o enxofre é encontrado em menor quantidade; sua incidência na atmosfera se dá em virtude das explo-
sões vulcânicas e ações humanas. O enxofre volta ao solo através da chuva, sendo alocado nas rochas abaixo do solo e
nas rochas abaixo dos ambientes aquáticos. Quando em contato com bactérias do gênero Chlorobium, Pelodityonsendo o
enxofre é alterado para sulfato tornando-se possível a absorção pelas plantas; e, quando em contato com o gênero Thio-
bacillus, é transformado em ácido sulfúrico onde permanece no solo.
Os animais adquirem o enxofre absorvido pelas plantas como sulfato, após a morte dos animais e das próprias plantas.
As bactérias responsáveis pela decomposição metabolizam esse sulfato retornando-o ao solo.
O ciclo do enxofre tem sido adulterado pelo homem, causando graves problema para o meio ambiente e aqueles que o habitam.
A energia para veículos, indústrias e usinas é gerada pela queima de combustíveis fósseis. Este processo lança dióxido de enxofre em
excesso na atmosfera, o qual se funde com moléculas de água se transformando em ácido sulfúrico causando o efeito de chuva ácida.
O dióxido de enxofre também é altamente prejudicial à saúde humana, provocando intoxicação onde ocorre irritação da mucosa,
problemas cardiovasculares e problemas respiratórios.
A chuva ácida afeta a vegetação queimando suas folhas, atrapalhando o processo de fotossíntese e atrapalhando o
seu crescimento, além de as tornar menos resistentes a baixas temperaturas ocasionado em graves danos podendo levar
à morte. O solo, quando exposto a frequentes chuvas ácidas, pode se tornar infértil devido à destruição de nutrientes e
microrganismos essenciais.
Em rios e lagos a chuva ácida altera o seu nível de acidez, matando peixes, plantas aquáticas e outros organismos ali encontrados.
Com o pH alto, a chuva ácida torna metais em sua exposição mais suscetíveis a sofrerem oxidação (enferrujar), danifi-
cando assim pontes, veículos e edificações. Além de corroer pedras e tintas.
Os ciclos biogeoquímicos, por promoverem uma ciclagem dos elementos, garantem que eles sejam utilizados e, pos-
teriormente, estejam novamente disponíveis. Esse é um fator extremamente importante, pois, alguns elementos são essen-
ciais para os seres vivos, e seu uso constante, sem reposição, poderia ocasionar a extinção de espécies. Texto adaptado de
MONTEIRO. P. L

104
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Fase E: é a curva teórica de crescimento populacional


DINÂMICA DE POPULAÇÕES. sem a interferência dos fatores de resistência ambiental.
A curva J é típica de populações de algas, por exemplo,
na qual há um crescimento explosivo, geométrico, em fun-
ção do aumento das disponibilidades de nutrientes do meio.
As populações possuem diversas características pró- Esse crescimento explosivo é seguido de queda brusca do
prias, mensuráveis. número de indivíduos, pois, em decorrência do esgotamen-
Cada membro de uma população pode nascer, crescer to dos recursos do meio, a taxa de mortalidade é alta, po-
e morrer, mas somente uma população como um todo pos- dendo, inclusive, acarretar a extinção da população do local.
sui taxas de natalidade e de crescimento específicas, além de
possuir um padrão de dispersão no tempo e no espaço.

O tamanho de uma população pode ser avaliado pela


sua densidade

A densidade populacional pode sofrer alterações.


Mantendo-se fixa a área de distribuição, a população pode
aumentar devido a nascimentos e imigrações. A diminuição
da densidade pode ocorrer como consequência de mortes
ou de emigrações.

Curvas de crescimento

A curva S é a de crescimento populacional padrão, a


esperada para a maioria das populações existentes na na-
tureza. Ela é caracterizada por uma fase inicial de cresci-
mento lento, em que ocorre o ajuste dos organismos ao
meio de vida. A seguir, ocorre um rápido crescimento, do Fatores que regulam o crescimento populacional
tipo exponencial, que culmina com uma fase de estabiliza-
ção, na qual a população não mais apresenta crescimen- A fase geométrica do crescimento tende a ser ilimita-
to. Pequenas oscilações em torno de um valor numérico da em função do potencial biótico da espécie, ou seja, da
máximo acontecem, e a população, então permanece em capacidade que possuem os indivíduos de se reproduzir
estado de equilíbrio. e gerar descendentes em quantidade ilimitada. Há porém,
barreiras naturais a esse crescimento sem fim.
Observe o gráfico abaixo para ententer melhor: A disponibilidade de espaço e alimentos, o clima e a
existência de predatismo e parasitismo e competição são
fatores de resistência ambiental (ou, do meio que regulam
o crescimento populacional.
O tamanho populacional acaba atingindo um valor nu-
mérico máximo permitido pelo ambiente, a chamada capa-
cidade limite, também denominada capacidade de carga.

Fase A: crescimento lento, fase de adaptação da popu-


lação ao ambiente, também chamada de fase lag. 
Fase B: crescimento acelerado ou exponencial, também
chamada de fase log. 
Fase C: a população está sujeita aos limites impostos
pelo ambiente, a resistência ambiental é maior sobre a po-
pulação. 
Fase D: estabilização do tamanho populacional, onde
ocorre oscilações do tamanho populacional em torno de
uma média. 

105
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

A curva (a) representa o potencial biótico da espécie; a curva (b) representa o crescimento populacional padrão; (c) é a
capacidade limite do meio. A área entre (a) e (b) representa a resistência ambiental.

Fatores dependentes da densidade

Os chamados fatores dependentes da densidade são aqueles que impedem o crescimento populacional excessivo,
devido ao grande número de indivíduos existentes em uma dada população: as disputas por espaço, alimento, parceiro
sexual, acabam levando à diminuição da taxa reprodutiva e ao aumento da taxa de mortalidade.
O predatismo e o parasitismo são dois outros fatores dependentes da densidade, na medida em que os predadores e
parasitas encontram mais facilidade de se espalhar entre os indivíduos de uma população numerosa.

A espécie humana e a capacidade limite

O crescimento populacional da espécie humana ocorreu de maneira explosiva nos últimos séculos. Cerca de 500 mi-
lhões de pessoas habitavam a Terra em 1650. No intervalo de dois séculos, o número de habitantes chegou a 1 bilhão. Entre
1850 e 1930, já era de 2 bilhões e, em 1975, 4 bilhões de pessoas viviam no nosso planeta. O tempo de duplicação diminuiu
e, hoje ultrapassamos 7 bilhões de pessoas. A cada ano, 93 milhões de pessoas são acrescentados.
Esse incremento do tamanho populacional humano tem muito a ver com a evolução cultural da nossa espécie e com
os nossos hábitos de sobrevivência.
O humano deixou de ser caçador-coletor há cerca de 10.000 anos, abandonou o nomadismo e passou a s fixar em locais
definidos da Terra, constituindo grupos envolvidos na criação de plantas e animais de interessa alimentar. A taxa de natalidade
aumentou e, executando épocas de guerra e pestes , o crescimento populacional humano passou a ser uma realidade.
Pouco a pouco, no entanto, estão sendo avaliados os riscos do crescimento populacional excessivo. Poluição crescente,
aquecimento global, destruição da camada de ozônio, chuva ácida e outros problemas são evidências do desgaste que o
planeta vêm sofrendo. Na conferência do Cairo sobre Populações e Desenvolvimento, realizada em setembro de 1994, mais
de 180 países ligados a ONU tentaram chegar a um consenso acerca de uma política que evite a explosão da população
humana. Divergências quanto aos métodos de controle da natalidade impedem, até o momento, a adoção de soluções
globalizantes, embora em alguns países medidas sérias já estejam em curso, no sentido de controlar o crescimento popu-
lacional excessivo da nossa espécie.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Curvas Representativas de Epidemia e Endemia

Epidemia é a situação em que ocorre aumento exagerado no número de casos de uma doença, em uma certa popu-
lação, em uma determinada época. De modo geral, é causada por vírus ou bactérias, que provocam surtos da doença em
uma determinada região. Gripe, dengue e cólera são doenças que costumam ter caráter epidêmico.
Endemia é a situação em que uma doença acomete um número constante de indivíduos de uma população ao longo
do tempo. É característica de doenças provocadas por vermes (esquistossomose, teníase, ascaridíase) e protozoários (doen-
ças de Chagas, malária etc.). Dependendo da doença, da população afetada e da área considerada, uma epidemia para
determinado país pode ter um caráter epidêmico para, por exemplo, um determinado município desse país.
Pandemia é uma situação em que uma epidemia ocorre simultaneamente em vários locais do planeta. É o caso da AIDS,
por exemplo. Texto adaptado de SANTOS. R. S.

RECURSOS RENOVÁVEIS E EXPLORÁVEIS;

Os Recursos Naturais são os elementos que a natureza oferece, que por sua vez são utilizados pelo homem na cons-
trução e desenvolvimento das sociedades e portanto, para sua sobrevivência. Dessa forma, são explorados para servir de
matéria ou energia aos seres humanos, por exemplo, minérios, petróleo, vegetais, animais, água, solo, ar, luz solar, etc.
Os recursos naturais são classificados em quatro grupos, a saber:
Recursos Biológicos: são os recursos vegetais e animais presentes no globo terrestre, por exemplo as florestas. São con-
siderados recursos renováveis na natureza, sendo utilizados na alimentação, vestuário, medicina, construção, dentre outros.
Recursos Hídricos: são recursos renováveis provenientes da água superficial e subterrânea (rios, lagos e oceanos) do
planeta, utilizada sobretudo na alimentação humana.
Recursos Energéticos: são os recursos que fornecem energia, por exemplo, os e energia nuclear e os combustíveis
fósseis como o carvão, o petróleo e o gás natural, utilizados na produção de materiais, construção, transporte, eletricidade,
dentre outros. Esse tipo de recurso natural pode ser renovável (energia solar, eólica, hidroelétrica, geotérmica, biomassa,
etc.) ou não renovável (energia nuclear e combustíveis fósseis).
Recursos Minerais: recursos não-renováveis de ordem geológica, composto pelos minerais (ouro, grafite, diamante,
ferro, cobre, manganês, níquel, titânio, etc.) e as rochas (areia, argila, calcário, mármore, etc.), sendo muito utilizados para
adornos, construções, etc.

Recursos Naturais Renováveis e Não Renováveis

Segundo a quantidade e o tipo de recurso natural existente no planeta, eles são classificados em dois grupos:

Recursos Naturais Renováveis

Como o próprio nome indica, esse tipo de recurso natural é inesgotável e se renova em curto espaço de tempo na
natureza, por exemplo a água, o solo, a energia proveniente do sol e do vento. Dessa maneira, os recursos renováveis (bioló-
gicos, hídricos e algumas energias alternativas: solar, eólica, geotérmica, etc.) não são poluentes e levam pouco tempo para
se formarem novamente pela natureza e por isso, apresentam alta capacidade de renovação. Infelizmente, a exploração dos
recursos renováveis em relação aos não renováveis, possui elevados custos de investimento.

Recursos Naturais Não Renováveis

Por sua vez, os recursos considerados não renováveis são limitados na natureza, por exemplo, os minérios, petróleo, gás
natural. Nesse caso, o “tempo” torna-se um fator essencial de classificação, posto que os recursos não-renováveis (energé-
ticos e minerais), são consumidos de maneira mais acelerada em comparação ao tempo que levam para se formarem na
natureza, ou seja, não apresentam grande capacidade de renovação e se a fonte for extinguida, podem desaparecer.

Esgotamento e Conservação dos Recursos Naturais

Não é de se espantar que os recursos naturais do planeta Terra têm decrescido consideravelmente nas últimas décadas.
Ações como a extração desenfreada de recursos, queimadas, desmatamento, poluição da água, solo e ar, são potencializados
pelos processos de industrialização, urbanização, agricultura e pecuária, os quais tem potencializado os impactos ambientais,
afetando direta e indiretamente nosso ecossistema.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Como consequência, temos a extinção de diversas es-


pécies (animais e vegetais) bem como o desaparecimento
de recursos limitados oferecidos pelo planeta, denomina-
dos de não-renováveis. Portanto, se a consciência ambien-
tal humana não estiver voltada para a importância de tais
recursos, o planeta entrará em colapso em breve.
Problemas como o derretimento das geleiras, conse-
quência do aquecimento global, efeito estufa, inversão tér-
mica e chuva ácida, tem demostrado a gravidade do pro-
blema que logo teremos de resolver, se nos for possível.
Não obstante, ambientalistas de todo o mundo, se
unem, junto às políticas públicas voltadas ao meio am-
biente, para alertar sobre o problema do esgotamento dos
recursos naturais bem como da importância de sua pre-
servação.
Por fim, pequenas ações contribuem para a conserva- Extração de petróleo
ção dos bens oferecidos pela natureza, por exemplo, evi-
tar jogar lixo em locais inapropriados, utilização de outros Todo o petróleo que extrai é consumido na maior
meios de locomoção que não poluam tanto o meio am- parte para produção de materiais de borracha e com-
biente, por exemplo, bicicletas; diminuição do consumo, bustiveis por exemplo. Recentemente o Brasil conquis-
dentre outros. Observe que mesmo os recursos considera- tou sua auto-suficiência no petróleo ou seja, produz in-
dos renováveis na natureza, devem ser explorados de ma- ternamente todo o petróleo que consome
neira sustentável pelo homem.
Hidrelétricas
Recursos Naturais no Brasil
O Brasil tem o maior potencial hídrico da Terra e
O Brasil é um país que apresenta diversos recursos na- detém aproximadamente 11% das reservas mundiais de
turais, desde recursos biológicos, hídricos, energéticos e água doce. Desde o final do século XIX, o país utiliza as
minerais. Nosso país possui uma das maiores reservas de usinas hidrelétricas para gerar energia com o recurso,
água doce do mundo e ainda um solo muito rico em nu- mas foi nas décadas de 1960 e 1970 que se intensificou
trientes, o que favorece a agricultura e pecuária. a construção dessas unidades.

Extrativismo vegetal Vento

O extrativismo vegetal é uma atividade que tira produ- A força dos ventos pode ser utilizada para produzir
tos da vegetação e que é praticada no Brasil desde que ele energia eólica a partir de turbinas. Usado há milhares
era uma colônia de Portugal. A madeira é um dos principais de anos em moinhos para trabalhos mecânicos, o vento
produtos da extração vegetal no país e pode ser usada, passou a ser visto como fonte de energia a partir da
por exemplo, na indústria de móveis e na fabricação de década de 1970, com a crise internacional do petróleo.
papel e celulose. Outros destaques são a extração de cas- No Brasil, os primeiros equipamentos de energia eólica
tanha-do-pará, de grande valor nutritivo, o látex, extraído foram instalados no Ceará e em Fernando de Noronha
da seringueira e usado na produção de borracha, e o car- (PE), no início dos anos 1990. Hoje, a maioria dos gera-
vão vegetal, muito utilizado em lareiras, churrasqueiras e dores eólicos está localizada nos estados do Nordeste, e
fogões a lenha. a utilização dessa fonte para geração de energia elétrica
no país ainda é pequena. No entanto, estudos indicam
Extrativismo mineral que o potencial eólico brasileiro pode chegar a 60 mil
MW.
O Brasil está entre os países com maior potencial mine-
ral do mundo, ao lado de Federação Russa, Estados Unidos, Sol
Canadá, China e Austrália O Brasil é rico em minérios, como
bauxita, ouro, ferro, manganês, níquel, fosfatos, platina, A radiação solar pode ser usada como fonte de
urânio. Carajás - maior província mineral do globo terres- energia térmica para gerar energia mecânica ou elé-
tre, localizada nos estados do Pará, Tocantins e Maranhão. trica. Além da capacidade de aquecer ambientes, essa
Abriga ferro, alumínio, cobre, manganês, ouro, níquel, es- energia também pode ser diretamente convertida em
tanho, chumbo e zinco eletricidade, com os efeitos da radiação (calor e luz) em
determinados materiais como os semicondutores. Hoje,
no Brasil, a energia solar é usada principalmente para o
aquecimento de água, e para geração de energia elé-
trica.

108
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Termelétrica biente, iniciaram o processo de conscientização da neces-


sidade de controlar os processos de industrialização, assim
Uma usina termelétrica produz energia a partir da quei- como de recuperar o meio ambiente degradado. Passaram
ma de carvão, óleo combustível ou gás natural, em uma a desenvolver o controle sobre os processos produtivos e
caldeira projetada para esta finalidade. No Brasil, essas usi- suas emissões de resíduos.
nas passaram a ganhar força com a evolução tecnológica O Brasil passou por dois fenômenos que merecem
e o crescimento da malha de gasodutos – considerado um destaque quando se fala de ambientes urbanos: a rápida
dos principais combustíveis desse tipo de usina. Muitas usi- industrialização, experimentada a partir do pós-guerra, e
nas no Brasil ainda se utilizam do carvão – que hoje já tem a urbanização acelerada que se seguiu. No curso desse
uma tecnologia de limpeza e combustão mais eficiente processo, reflexo das políticas desenvolvimentistas então
vigentes, uma série de regras de proteção ao meio am-
Escassez de recursos biente e ao cidadão foram desrespeitadas ou mesmo des-
consideradas. Entre as décadas de 50 e 90, a parcela da
Por cerca de 4 bilhões de anos o balanço ecológico do população brasileira que vivia em cidades cresceu de 36%
planeta esteve protegido. Com o surgimento do homem, para 75%. Não obstante os evidentes desequilíbrios am-
meros 100 mil anos, o processo degradativo do meio am- bientais decorrentes desse processo, os espaços urbanos
biente tem sido proporcional à sua evolução. As causas das não receberam, na mesma proporção, a devida atenção
agressões ao meio ambiente são de ordem política, econô- por parte da mídia e dos governantes. Quando se trata do
mica e cultural. A sociedade ainda não absorveu a impor- urbano, a complexidade do que se denominam problemas
tância do meio ambiente para sua sobrevivência. O homem ambientais exige tratamento especial e transdisciplinar. As
“civilizado” tem usado os recursos naturais inescrupulosa- cidades não são apenas espaços onde se evidenciam pro-
mente priorizando o lucro em detrimento das questões blemas sociais.
ambientais. Todavia, essa ganância tem um custo alto, já O próprio ambiente construído desempenha papel
visível nos problemas causados pela poluição do ar e da preponderante na constituição do problema, que transcen-
água e no número de doenças derivadas desses fatores. de ao meio físico e envolve questões culturais, econômicas
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos e históricas. Os grandes assentamentos urbanos concen-
Naturais Renováveis (IBAMA), vinculado ao Ministério do tram também os maiores problemas ambientais, tais como
Meio Ambiente (MMA), promove diversas ações de susten- poluição do ar, sonora, visual e hídrica; destruição dos re-
tabilidade pelo país, além de alertar para o uso razoável cursos naturais; desintegração social; desemprego; perda
dos recursos do planeta. Para tanto, a utilização dos recur- de identidade cultural e de produtividade econômica. Mui-
sos renováveis produz baixo impacto ambiental favorecen- tas vezes, as formas de ocupação do solo, o provimento
do assim, o desenvolvimento sustentável das sociedades. de áreas verdes e de lazer, o gerenciamento de áreas de
Texto adaptado de COELHO. V. risco, o tratamento dos esgotos e a destinação final do lixo
coletado deixam de ser tratados com a prioridade que me-
recem.
Como centros de produção, essas cidades mostram
POLUIÇÃO AMBIENTAL E DESEQUILÍBRIOS saturação de indústrias em áreas restritas, trazendo diver-
ECOLÓGICOS. sos problemas a seus habitantes, provocados pelos eleva-
dos índices de poluição que apresentam. Os problemas
ambientais e suas causas não são prerrogativas do Brasil.
Outros países viveram problemas semelhantes e buscaram
A partir da fixação do Homem à terra e o surgimento do soluções que garantiram a qualidade de vida dos cidadãos
conceito de propriedade, os indivíduos passaram a utilizar e o simultâneo crescimento econômico. A diferença é que
os recursos naturais de acordo com as suas necessidades por ser um país jovem, o Brasil começou, só na virada do
de subsistência. Com o advento da industrialização, ocor- último milênio, a enfrentar o desafio de um desenvolvimen-
rido na Inglaterra, no século XVIII, novos processos produ- to sócio-econômico que preserve o patrimônio natural do
tivos foram descobertos, objetivando maiores quantidades País para suas próximas gerações. Dentro deste contexto o
e melhor qualidade dos produtos, sempre visando maiores presente trabalho fazer uma revisão sobre o processo de
lucros. Dadas as grandes extensões territoriais inexplora- industrialização e seus impactos no meio ambiente urbano.
das dessa época, as consequências da ação humana sobre
o meio ambiente não foram claramente percebidas pelos Indústria e os Impactos Ambientais
produtores.
Devido ao crescimento das populações e das necessi- A industrialização, acompanhada da urbanização, cau-
dades de consumo, as indústrias cresceram consideravel- sou grandes impactos ambientais nas cidades em que se
mente em número, áreas de atuação e variedade de pro- processou com maior intensidade. Convém ressaltar, no
dutos. Entretanto, a disciplina e a preocupação com o meio entanto, que eles também foram e são verificados em
ambiente natural não se fizeram presentes durante mui- meios ambientes afastados das cidades, em decorrência da
tos anos, tendo como resultado problemas ambientais de construção de grandes empreendimentos de engenharia,
grandes dimensões. Os países do primeiro mundo, depois como usinas hidrelétricas, termoelétricas e termonucleares,
de terem degradado praticamente todo o seu meio am- da exploração mineral, da construção de ferrovias e rodo-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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vias, sempre motivadas pela própria industrialização (sem rios ou praias ou ainda um cartaz publicitário que degrada
considerar os impactos causados pela agricultura, pecuária, o aspecto visual de uma paisagem. O problema da polui-
silvicultura, caça e pesca). O fenômeno da urbanização na ção, portanto, diz respeito à qualidade de vida das aglo-
região tropical pode ser classificado como sendo espon- merações humanas. A degradação do meio ambiente do
tâneo, embora haja muitos casos de implantação urbana homem provoca uma deterioração dessa qualidade, pois
planejada. as condições ambientais são imprescindíveis para a vida,
As cidades surgem como sendo organismos perma- tanto no sentido biológico como no social. Foi a partir da
nentes de ação cumulativa, aumentando a população e am- Revolução Industrial que a poluição passou a constituir um
pliando a área ocupada. Esse processo intensificou o ritmo problema para a humanidade.
do decorrer do século XX como já foi visto. As mudanças É lógico que já existiam indícios de poluição, mas o
no meio ambiente são diretas no cenário local, premedita- grau aumentou muito com a industrialização e urbaniza-
das no sentido da implantação, mas imprevistas a respeito ção, e a sua escala deixou de ser local para se tornar plane-
das alterações nos fluxos de energia e no meio ambiente. tária. Isso não apenas porque a indústria é a principal res-
Se a urbanização diretamente cria ambientes que são ava- ponsável pelo lançamento de poluentes no meio ambiente,
liados como positivos a saúde e ao bem-estar das pessoas, mas também porque a Revolução Industrial representou a
ao mesmo tempo gera efeitos que podem promover a consolidação e a mundialização do capitalismo, sistema só-
desestabilização do ecossistema. Muitos impactos indire- cio-econômico dominante hoje no espaço mundial. E o ca-
tos encontram-se associados a urbanização normalmente pitalismo, que tem na indústria a sua atividade econômica
imprevistos e não planejados, ocasionando conseqüências de vanguarda, acarreta urbanização, com grandes concen-
positivas ou negativas, tanto a curto como a longo prazo. trações humanas em algumas cidades. A própria aglome-
O impacto direto e imediato no meio ambiente consiste na ração urbana já é por si só uma fonte de poluição, pois im-
mudança paisagística, substituindo o cenário expressivo da plica numerosos problemas ambientais, como o acúmulo
cobertura vegetal pelo do casario e ruas, com a aglutinação de lixo, o enorme volume de esgotos, os congestionamen-
de um contingente populacional. Ao lado do aspecto visual tos de tráfego, etc. Além disso, o capitalismo se expandiu
externo, implanta-se também uma rede de comunicações e e unificou o mundo, criando uma visão internacional do
novos fluxos para o abastecimento das necessidades. Inter- trabalho. A partir da Revolução Industrial, com o desen-
ligam-se transformações outras ligadas com a agricultura e volvimento do capitalismo, a natureza vai pouco a pouco
o comércio regionais. Nesse sentido a analise do impacto deixando de existir para dar lugar a um meio ambiente
ocasionado pela urbanização no meio ambiente insere-se transformado, produzido pela sociedade moderna. O ho-
no contexto da organização espacial e deve ser acompa- mem deixa de viver em harmonia com a natureza e passa
nhada na escala histórica, e avaliada em termos das mu- a dominá-la, dando origem ao que se chama de “segun-
danças no âmbito regional. “Essa concentração industrial da natureza”: a natureza modificada pelo homem, como o
engendra problemas de poluição do ar e da água , gerando meio urbano com seus rios canalizados, solos cobertos por
situações de graves riscos a saúde da população, sobretu- asfalto, vegetação nativa completamente devastada, assim
do para as famílias mais pobres que passam a residir exa- como a fauna original da área, etc., que é muito diferente
tamente nos lugares mais poluídos, porque desvalorizados. da “primeira natureza”, a paisagem natural sem interven-
Desse modo, os efeitos da degradação ambiental não são ção humana. Desde os tempos mais remotos, o homem
distribuídos igualmente pelo conjunto da população. costuma lançar seus detritos nos cursos de água. Até a Re-
A maior parte dos processos industriais são desperdí- volução Industrial, porém esse procedimento não causava
cios. Há países em quase metade dos resíduos perigosos problemas, já que os rios, lagos e oceanos têm considerá-
pertencem à indústria química. Os resíduos quase sempre vel poder de autolimpeza, de purificação.
são despejados em aterros. Os aterros são buracos abertos Com a industrialização, a situação começou a sofrer
no solo. Os aterros mais antigos são perigosos porque são profundas alterações. A industrialização acompanhada da
misturados ao “calhas“ e nem sequer há registos que foi urbanização causou grandes impactos ambientais nas ci-
ali despejado desperdícios, enquanto que agora os aterros dades em que se processou com maior intensidade. Con-
são feitos de forma organizada sendo despejados em ca- vém ressaltar, no entanto, que eles também foram e são
madas. A limpeza destes locais ficará por muito dinheiro. verificados em meios ambientes afastados das cidades, em
As indústrias químicas mais ricas gastam muito dinheiro no decorrência da construção de grandes empreendimentos
controlo dos seus desperdícios tóxicos. Antes do despejo de engenharia, da exploração mineral, da construção de
dos resíduos são tratados de forma a que não sejam tão ferrovias e rodovias, sempre motivadas pela própria in-
perigosos, mas há quem os recicle. dustrialização. O volume de detritos despejados nas águas
tornou-se cada vez maior, superando a capacidade de pu-
Indústria e Poluição das Águas rificação dos rios e oceanos, que é limitada. Além disso,
passou a ser despejada na água grande quantidade de
Poluição é qualquer degradação das condições am- elementos que não são biodegradáveis, ou seja, que não
bientais, do habitat de uma coletividade humana. È uma são decompostos pela natureza. Tais elementos como os
perda, mesmo que relativa, da qualidade de vida em decor- plásticos, a maioria dos detergentes e os pesticidas, vão se
rência de mudanças ambientais. São chamados de poluen- acumulando nos rios, lagos e oceanos, diminuindo a capa-
tes os agentes que provocam a poluição, como um ruído cidade de retenção de oxigênio das águas e, conseqüente-
excessivo, um gás nocivo na atmosfera, detritos que sujam mente, prejudicando a vida aquática.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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A água empregada para resfriar os equipamentos nas (16,6 milhões), Curitiba (2,3 milhões), Belo Horizonte (3,8
usinas causando sérios problemas de poluição. Essa água, milhões) onde a disponibilidade de água em qualidade e
que é lançada nos rios ainda quente, faz aumentar a tem- quantidade é limitada devido à dificuldade da preservação
peratura da água do rio e acaba provocando a eliminação dos mananciais, aumento da demanda devido à concen-
de algumas espécies de peixes, a proliferação excessiva de tração urbana e perdas nas redes de abastecimento (cerca
outras e, em alguns casos, a destruição de todas. A poluição de 25 a 40% do volume de água tratada são perdidos nas
das águas realizada pelas indústrias é causada, sobretudo redes de abastecimento).
pelos compostos orgânicos e inorgânicos. Os compostos As condições dos mananciais para atendimento
orgânicos compreendem principalmente os combustíveis do abastecimento são definidas na Resolução nº.20 de
fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural). Dentre eles, 18/06/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CO-
o petróleo tem sido o maior causador de poluição ambien- NAMA), que classifica as águas doces, salobras e salinas
tal. Com o intenso tráfego de navios petroleiros, esse tipo do País. A classificação é baseada no uso da água. A Lei nº.
de poluição alcança níveis elevadíssimos. Além dos vaza- 8935 de 07/03/1989 dispõe sobre os requisitos mínimos
mentos causados por acidentes, em que milhares de to- para águas provenientes de bacias de mananciais, destina-
neladas de óleo são despejados na água, os navios soltam das ao abastecimento público. Estabelece que, na ausên-
petróleo no mar rotineiramente, por ocasião da lavagem cia de um estudo e de uma determinação específicos, os
de seus reservatórios. Esses resíduos de petróleo lançados requisitos mínimos sejam os de classe 2. Os padrões da
ao mar com a água da lavagem representam cerca de 0,4 classe 2 são definidos por alguns parâmetros de qualidade
a 0,5% da carga total. Só no Mediterrâneo, importante rota da água como OD > 5 mg/l; DBO5 < 5 mg/l, entre ou-
do petróleo, calculou-se que a quantidade de resíduos pe- tros. Essa legislação proíbe em bacias atividades como: •
trolíferos despejados num único ano (1970) foi de 300.000 Indústrias: fecularia de mandioca ou álcool, metalúrgicas,
toneladas. Numerosas praias francesas e italianas no Me- galvanoplastia, químicas em geral, matadouros, artefatos
diterrâneo foram declaradas poluídas por petróleo e algu- de amianto, processadoras de material radioativo; • Hospi-
mas até já foram interditadas para banho de mar. tais, sanatórios e leprosários; • Depósitos de lixo; • Parcela-
Em 1990, foi despejado nos mares e oceanos cerca de mento do solo de alta densidade: lotes, desmembramento,
1 milhão de toneladas de petróleo. E os acidentes com na- conjuntos habitacionais.
vios superpetroleiros continuam freqüentes. No Brasil, já
ocorrem vazamentos nos terminais petrolíferos de São Se- Poluição do Ar
bastião (SP), Angra dos Reis (RJ) e em Santos (SP). Despe-
jado no mar, o petróleo forma uma camada superficial que O desenvolvimento industrial e urbano tem originado
provoca diversos danos como: em todo o mundo um aumento crescente da emissão de
• Cobre as folhas das plantas flutuantes, impede-as de poluentes atmosféricos. O acréscimo das concentrações
realizar a fotossíntese e as destrói; atmosféricas destas substâncias, a sua deposição no solo,
• Penetrando nas brânquias e na boca dos peixes, ma- nos vegetais e nos materiais é responsável pela redução
ta-os asfixiado e/ou intoxicado; da produção agrícola, danos nas florestas, degradação de
• Impregnando as penas das aves, intoxica-as e as im- construções e obras de arte e de uma forma geral origi-
pede de voar para buscar alimento, o que acaba por ma- na desequilíbrios nos ecossistemas. Até meados de 1980,
tá-las; a poluição atmosférica urbana era atribuída basicamente
• Alcançando as águas continentais e subterrâneas, às emissões industriais, e as ações dos órgãos ambientais
pode ser ingerido pelo homem, cujo aparelho digestivo visavam ao controle das emissões dessas fontes. No Bra-
fica impedido de absorver os alimentos, com sérias conse- sil, a exemplo do que ocorre com a maioria dos países em
quências para a saúde geral do organismo. desenvolvimento, a maior parte das grandes instalações in-
Os principais usos consultivos dos recursos hídricos dustriais como refinarias, pólos petroquímicos, centrais de
são: abastecimento humano, animal (dessedentação), in- geração de energia e siderúrgicas, responsável pelas emis-
dustrial e irrigação. A seguir, são apresentados alguns dos sões de poluentes para a atmosfera, está concentrada em
aspectos principais desses usos. O consumo humano não áreas urbanas. Ao longo do tempo, devido à obrigatorieda-
apresenta uma demanda significativa se comparada com de do licenciamento ambiental, observa-se uma tendência
a da irrigação, mas esse consumo está hoje limitado pela: à modernização das instalações industriais, com o objetivo
(a) degradação da qualidade das águas superficiais e sub- de diminuir e controlar as emissões atmosféricas.
terrâneas: as águas próximas às cidades são contaminadas No entanto, a poluição do ar, devido às características
pelas cargas de esgoto sem tratamento cloacal, industrial e da circulação atmosférica e devido à permanência de al-
de escoamento pluvial urbano, lançadas nos rios; (b) con- guns poluentes na atmosfera por largos períodos de tem-
centração de demanda em grandes áreas urbanas, como as po, apresenta um caráter transfronteira e é responsável por
regiões metropolitanas. A tendência atual é a redução do alterações ao nível planetário, o que obriga à conjugação
crescimento das grandes metrópoles (cidades acima de 1 de esforços a nível internacional. São deste modo, exigidas
milhão crescem a uma taxa média de 0,9 % anual), enquan- ações para prevenir ou reduzir os efeitos da degradação
to os núcleos regionais ganham outra dimensão popula- da qualidade do ar o que já foi demonstrado ser compatí-
cional (cidades entre 100 e 500 mil crescem a taxa de 4,8%). vel com o desenvolvimento industrial e social. A gestão da
Algumas das principais regiões metropolitanas brasileiras qualidade do ar envolve a definição de limites de concen-
se encontram nas cabeceiras dos rios como São Paulo tração dos poluentes na atmosfera, a limitação de emis-

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são dos mesmos, bem como a intervenção no processo conscientizar sobre os produtos de consumo, desde que
de licenciamento, na criação de estruturas de controlo da haja alternativa”, diz. O consumismo desenfreado e uma
poluição em áreas especiais e apoios na implementação das maiores causas da poluição, o resultado e um grande
e tecnologias menos poluentes. O clima também é afeta- desenvolvimento de indústrias, uma maior utilização de re-
do pela poluição do ar. O fenômeno do efeito estufa está cursos naturais, poluição e degradação.
aumentando a temperatura em nosso planeta. Ele ocorre Pra se ter uma idéia do ritmo de produção, basta dizer
da seguinte forma: os gases poluentes formam uma cama- que, nos últimos 150 anos, o consumo de energia cresceu
da de poluição na atmosfera, bloqueando a dissipação do oitenta vezes e a produção industrial, cerca de cem vezes.
calor. Desta forma, o calor fica concentrado na atmosfera, Bilhões de toneladas de gases poluentes são lançados
provocando mudanças climáticas. Futuramente, pesquisa- anualmente na atmosfera. Apesar de o homem já dispor de
dores afirmam que poderemos ter a elevação do nível de estudos e conhecimentos bastante avançados a respeito
água dos oceanos, provocando o alagamento de ilhas e ci- do nosso planeta, na verdade ainda há muito interventor
dades litorâneas. Muitas espécies animais poderão ser ex- sobre a natureza e a utilização de seus recursos naturais
tintas e tufões e maremotos poderão ocorrer com mais fre- que são elementos da superfície terrestre e subterrânea in-
qüência. A nível nacional destacam-se, pelas suas emissões, dispensáveis à vida, os recursos naturais são divididos em
as Unidades Industriais e de Produção de Energia como a dois grandes grupos: os recursos naturais renováveis como
geração de energia elétrica, as refinarias, fábricas de pasta o solo, a vegetação, os animais, a água potável, o ar e ou-
de papel, siderurgia, cimenteiras e indústria química e de tros. Por serem renováveis, pode-se pensar que esses re-
adubos. A utilização de combustíveis para a produção de cursos não acabem, se não for bem utilizados. Já os recur-
energia é responsável pela maior parte das emissões de sos naturais não renováveis são o petróleo (formou-se há
SOx e CO2 contribuindo, ainda, de forma significativa para milhões de anos) que com o passar do tempo este reserva-
as emissões de CO e NOx. tório de petróleo da Terra se esgotarem esse combustível
O uso de solventes em colas, tintas, produtos de pro- acaba e a natureza não tem mais condições de renová-lo,
teção de superfícies, aerossóis, limpeza de metais e lavan- não podem ser mais produzidas pela natureza como os mi-
derias é responsável pela emissão de quantidades apre- nerais (ferro, cobre, ouro, prata) e os combustíveis (carvão
ciáveis de Compostos Orgânicos Voláteis. Os efeitos da mineral, petróleo) esses recursos devem ser usados com
exposição dos seres humanos ao monóxido de carbono planejamento, para evitar que se esgotam.
estão associados à capacidade de transporte de oxigênio Em algumas regiões, respirar ar puro implica ameaças à
na combinação com hemoglobina do sangue, uma vez que saúde, especialmente para os mais velhos e os que sofrem
a afinidade da hemoglobina com o monóxido de carbono de asma, ou outros problemas respiratórios, ou, ainda, para
é 210 vezes maior do que com o oxigênio, por exemplo. Se aqueles que têm um problema cardíaco. Na Alemanha, as
aspirado, o CO substitui o oxigênio na reação que este for- concentrações de dióxido de enxofre na atmosfera torna-
ma com a hemoglobina, podendo causar morte por asfixia. ram-se tão perigosas, que as pessoas são aconselhadas a
De acordo com o relatório da qualidade do a, divulgados não saírem de casa. O modo de vida ocidental envolve o
pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental consumo de grande quantidade de energia no transporte,
(Cetesb), as concentrações médias da substância têm apre- na indústria na refrigeração, na iluminação e na preparação
sentado tendência de queda, motivados principalmente de alimentos. Todavia, calcula-se que se empregássemos
pela renovação da frota de veículos leves. De acordo com os combustíveis de modo mais eficiente e adotássemos
as estatísticas do Proconve (Programa de Controle da Po- medidas para conservar energia, ainda poderíamos desfru-
luição do Ar por Veículos Automotores), a emissão de mo- tar de um alto padrão de vida consumindo a metade da
nóxido de carbono para a atmosfera foi reduzida em 98% energia. Quanto menor for a quantidade de energia con-
ao ser comparado aos índices de 20 anos atrás. A redução sumida, será proporcionalmente menor a quantidade de
se deu da seguinte forma: o programa estabeleceu normas poluição produzida.
de controle de emissão, estabelecendo metas que fizeram
com que a indústria automobilística encontrasse tecnolo- Usos de Fontes Alternativas de Energia
gias para diminuir a quantidade de poluentes lançados ao
ar. Por estas normas, pode-se destacar a substituição de Carvão, petróleo e gás natural são usados para suprir
carburadores por sistemas de injeção, que controlam ele- de 75% das exigências mundiais. Essas fontes facilmente se
tronicamente a alimentação de combustível, melhorando esgotarão um dia. É possível utilizar fontes naturais ines-
a combustão e o correspondente consumo, assim como a gotáveis de energia. São as chamadas fontes renováveis de
implantação de catalisadores. Para a técnica do Instituto de energia. Elas incluem a energia hidrelétrica (uso de ener-
Defesa do Consumidor (Idec), Lisa Gunn, é necessário que gia das quedas d’água para acionar geradores); biomassa
haja uma mudança do padrão de produção e consumo. (queima de matéria orgânica de origem vegetal ou animal);
Tanto consumidores como empresas podem mudar hábi- energia geotérmica (uso do calor natural das profundezas
tos que se reverteriam em ganhos para o meio ambiente. da crosta terrestre); energia das ondas do mar e das ma-
Para que isso ocorra de forma efetiva, a técnica diz que rés; e a energia eólica dos moinhos de vento. A energia
tem que haver uma cooperação entre a iniciativa privada nuclear, que é gerada a partir de fissões atômicas, também
e a pública. “É difícil recomendar que as pessoas utilizem é renovável e não produz poluentes como o dióxido de en-
o transporte público para desafogar o trânsito e melhorar xofre e os óxidos de nitrogênio. Por outro lado, existe muita
a qualidade do ar, se ele não funciona direito. Queremos gente que vive atemorizada pelos perigos dos acidentes

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nucleares e se preocupa com o acondicionamento do lixo da espécie humana, o homem está degradando, primei-
atômico. Entre os recursos renováveis, a energia hidrelé- ro através de queimadas, depois com a evolução, surgem
trica é uma das mais desenvolvidas, fornecendo 25% da novas maneiras de agredir a natureza. Com o advento da
eletricidade mundial. No entanto, essa quantidade poderia revolução industrial e do capitalismo a máquina que isso
ser extremamente aumentada, com um mínimo de prejuízo se tornou destrói a natureza, apesar do homem depender
para o meio ambiente. Atualmente, destina-se muito pou- da natureza para tudo. Ele a destrói. A indústria é a maior
co dinheiro para a pesquisa e o desenvolvimento da ener- responsável pela degradação ambiental, não respeita as
gia eólica e das ondas do mar. Contudo, as fazendas de florestas e as derrubam para utilizar-se de seu local e cons-
vento da Califórnia, Estados Unidos, mostram que energia truir seus parques industriais ou para usar a madeira. Lança
não poluente pode ser produzida, de modo economica- poluente como enxofre que gera a chamada chuva ácida,
mente viável e em quantidade suficiente. chuva essa que causa danos às plantações, as florestas e
indiretamente ao homem, que consome alimentos enve-
Remoção da Poluição na Fonte nenados, devido à esse tipo de chuva. A indústria produz
também o “CFC”, um gás capaz de subir a grandes altitudes
O enxofre pode ser removido do combustível antes de e impedir o processo de renovação da camada de ozônio,
ser queimado e vendido para a indústria como subproduto. que é responsável pela retenção dos raios ultravioletas do
Isso realmente melhoraria as perspectivas de emprego nas sol.
áreas de mineração, mas somente se o carvão ainda pudes- A destruição dessa camada produz o aumento da
se ser vendido por um preço elevado. Alternativamente, o temperatura ambiente da Terra, provocando o descon-
enxofre pode ser removido da fumaça antes que esta seja gelamento das geleiras polares e o aumento do nível das
lançada na atmosfera. Pode-se fazer isso utilizando dis- marés. A indústria cria ainda veneno como o “DDT”, um
positivos chamados dessulfurizadores, que são instalados produto químico capaz de matar os insetos que atacam
nas chaminés. Sua função é borrifar cal sobre a fumaça O as lavouras, mas que mata os que são benéficos à elas, e
enxofre pode ser removido do combustível antes de ser como não é biodegradável, penetra nos alimentos enve-
queimado e vendido para a indústria como subproduto. nenados e causando doenças até aos homens que os in-
Isso realmente melhoraria as perspectivas de emprego nas gerem. As indústrias a partir da queima de combustíveis
áreas de mineração, mas somente se o carvão ainda pudes- fósseis, junto com os automóveis bens criados por elas
se ser vendido por um preço elevado. Alternativamente, o mesmas, e com a respiração humana, produzem “CO2 “,
enxofre pode ser removido da fumaça antes que esta seja um gás que é renovado pelas plantas, só que as queimadas
lançada na atmosfera. Pode-se fazer isso utilizando dispo- e o desmatamento diminuem essa plantas e esse “CO2 “
sitivos chamados dessulfurizadores, que são instalados nas restante não passando pela renovação contribui para outro
chaminés. efeito danoso ao meio ambiente.
Nas últimas décadas parece que o mundo ficou me- A inversão térmica que também contribui para o au-
nor e a população mundial cresceu de forma vertiginosa, mento da temperatura e descongelamento das geleiras.
advindo daí um maior desgaste nos recursos naturais e, ao Outro bem nocivo gerado pelas indústrias, é o plástico,
mesmo tempo, uma consciência de que a natureza não é substância não degradável que se acumula pelas ruas e li-
infinita ou ilimitada. Assim, o grande problema que se co- xeiras das cidades. Como esses poucos exemplos, existem
loca nos dias atuais é o de se pensar num novo tipo de muitos outros e por trás de todos eles a mão do homem,
desenvolvimento, diferente daquela que ocorreu até os não se importando com os seus semelhantes ou com o
anos 80, que foi baseado numa intensa utilização - e até meio ambiente. Há atitudes que cada individuo pode to-
desperdício - de recursos naturais não renováveis. E esse mar agora, para reduzir os problemas de poluição. Por
problema não é meramente nacional ou local e sim mun- exemplo, diminuindo apenas o uso de aquecedores cen-
dial ou planetário. A humanidade vai percebendo que é trais nos países frios, se gastaria bem menos combustível.
uma só e que mais cedo ou mais tarde terá que estabelecer Em vez de aumentar o aquecimento, as pessoas poderiam
regras civilizadas de convivência, pois o que prevaleceu até se agasalhar melhor. Dirigindo mais devagar, reduz-se a
agora foi a “lei da selva” ou a do mais forte. Um elemento quantidade de óxido de nitrogênio produzida pelos mo-
que ganha crescente destaque dentro da questão ambien- tores. Em alguns países, os limites de velocidade poderiam
tal é a biodiversidade, ou diversidade biológica. Preservar ser reduzidos. Uma grande quantidade de energia e polui-
a biodiversidade é condição básica para manter um meio ção poderia ser poupada, se mais pessoas utilizassem re-
ambiente sadio no planeta: todos os seres vivos são inter- gularmente o transporte coletivo, em vez de se deslocarem
dependentes, participam de cadeias alimentares ou repro- em seus próprios carros. Isso, evidentemente, exigirá uma
dutivas, e sabidamente os ecossistemas mais complexos, atuação mais decidida do poder público para melhorar
com maior diversidade de espécies, são aqueles mais du- esse tipo de transporte. Educação ambiental em todos os
ráveis e com maior capacidade de adaptação às mudanças níveis da sociedade, para que a população tenha conheci-
ambientais. mentos básicos dos efeitos diretos da poluição na saúde
Além disso, a biodiversidade é fundamental para a bio- humana. Texto adaptada LEAL. G. C. SD. G. et al
tecnologia que, como já vimos, é uma das indústrias mais
promissoras na Terceira Revolução Industrial que se de-
senvolve atualmente. A relação homem ambiente é muito
desfavorável para o meio ambiente. Desde o surgimento

113
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

em que o estudante reconhece termos, mas não sabe seus


significados biológicos; funcional, em que os termos me-
ENSINO DE BIOLOGIA: CONHECIMENTO
morizados são definidos corretamente, sem que os estu-
CIENTÍFICO E HABILIDADE DIDÁTICA NO dantes compreendam seus significados. Esse é, ainda hoje,
ENSINO DE BIOLOGIA. o nível mais desenvolvido nos nossos estudantes, uma vez
que os objetivos do ensino expressos nas formas de ava-
liação a que são submetidos os alunos (avaliação pontual,
vestibulares, etc), determinam a valorização dessa forma
É consensual a importância que a educação tem na de aprender; estrutural, quando os estudantes são capazes
vida das pessoas. Quanto maior seu conhecimento, maior de explicar adequadamente, com suas próprias palavras e
sua capacidade de relacionar-se com o mundo. Atualmen- baseando-se em experiências pessoais, os conceitos bioló-
te, vivemos num mundo comandado pela ciência e pela gicos; e multidimensional, quando os estudantes aplicam
tecnologia, onde os conhecimentos científicos se tornam o conhecimento e as habilidades adquiridas, relacionan-
indispensáveis para que essa relação aconteça. Nesse iní- do-os com conhecimentos de outras áreas para resolver
cio de século, a Biologia tem destaque entre as ciências, problemas reais. É claro que um aluno só será um indivíduo
pois foi marcada profundamente pelos avanços científicos alfabetizado biologicamente se tiver desenvolvido o nível
do século passado. Neste sentido, o ensino dessa ciência da multidimensionalidade do conhecimento biológico e,
tem relevância incontestável para a vida de todo cidadão, e nesse caso, a forma como o conhecimento é tratado pelo
as escolas têm a missão de levar esse conhecimento indis- professor de Biologia em suas aulas, será decisivo no alcan-
criminadamente, a todos. Assim, pesquisadores entendem ce do aluno a tal nível.
que o Ensino de Biologia tem, entre outras funções, a de Desafios para o Ensino de Biologia O ensino de Bio-
contribuir para que: Cada indivíduo seja capaz de com- logia, assim como de outras ciências, reflete os problemas
preender e aprofundar explicações atualizadas de proces- sociais, os objetivos políticos das sociedades em que se
sos e de conceitos biológicos, a importâncias da ciência inserem. Assim, embora o grande desenvolvimento cien-
e da tecnologia na vida moderna, enfim o interesse pelo tífico das décadas de 50 e 60 tenha originado um ensino
mundo dos seres vivos. Esses conhecimentos devem con- calcado na esperança depositada na ciência para a solu-
tribuir, também, para que o cidadão seja capaz de usar o ção dos problemas da humanidade e, paradoxalmente, dos
que aprendeu ao tomar decisões de interesse individual e problemas decorrentes do uso da ciência e da tecnologia,
coletivo, no contexto de um quadro ético de responsabili- a emergência de enormes problemas sociais, na década de
dade e respeito que leva em conta o papel do homem na 70, demonstrou que essas esperanças eram infundadas. A
biosfera. Os efeitos da ciência e da tecnologia estão muito Biologia ganhou, diante disso, outras funções além daque-
presentes na vida da sociedade, apresentando tanto vanta- las que já desempenhava no currículo escolar, ou seja, a
gens como problemas na sua produção e uso, daí a ênfase de preparar os jovens para enfrentar e resolver problemas,
dada ao papel do homem no ecossistema terrestre, e em alguns dos quais nítidos componentes biológicos como
situações que envolvem decisões éticas e sociais. “A quali- aumento da produtividade agrícola, preservação do am-
dade do mundo, isto é, a qualidade de nossa vida sobre a biente, violência, etc. Incluíram-se a esses objetivos, apren-
Terra será dada pelo modo e uso na conquista do conhe- der conceitos básicos, analisar o processo de investigação
cimento. científica e analisar as implicações sociais da ciência e da
A finalidade do ensino de Biologia prevista nos currícu- tecnologia, além de discutir a informação científica com
los escolares é “desenvolver a capacidade de pensar lógica base num conjunto de princípios éticos e morais individual
e criticamente”. Esse ideal, para a autora, dificilmente é al- e socialmente construídos. Acontece que, tradicionalmen-
cançado uma vez que, na prática de sala de aula, a realida- te, a Biologia tem sido ensinada como um conjunto de
de que temos é de “um ensino diretivo, autoritário, em que fatos, descrição de fenômenos, enunciados e conceitos a
toda a iniciativa e oportunidade de discussão dos alunos é decorar.
coibida”. Para a autora, na verdade, o que estamos fazendo Não se procura fazer com que os alunos discutam as
é apenas transmitindo informações. O ensino de ciências causas dos fenômenos, estabeleçam relações causais, en-
pode contribuir para a construção do mundo que quere- fim, entendam os mecanismos dos processos que estão
mos. Assim, espera-se que ao completar o ensino médio, estudando. Na forma de ensino tradicional, a modalidade
o aluno esteja “alfabetizado cientificamente” e, portanto, didática mais comum no ensino de Biologia é a aula expo-
“biologicamente”, referindo-se a um processo contínuo de sitiva, que tem como função informar os alunos. De uma
construção de conhecimentos necessários a todos os indi- maneira geral, os professores repetem os livros didáticos,
víduos que convivem nas sociedades contemporâneas. enquanto os alunos ficam ouvindo. O resultado desse en-
Além disso, é importante que o indivíduo seja capaz sino é que para muitos alunos o que poderia ser uma ex-
de pensar independentemente, adquirir e avaliar informa- periência estimulante se torna um fardo. Embora existam
ções, aplicando seus conhecimentos na vida diária e de- argumentos de ordem pedagógica para justificar o uso de
senvolvendo outros novos. A biologia pode, assim, con- aulas expositivas em certos momentos de um curso elas
tribuir para o desenvolvimento de habilidades cognitivas permitem ao professor transmitir suas idéias, enfatizando
imprescindíveis para a autonomia dos indivíduos rumo ao os aspectos que considera importante, servindo, portanto,
conhecimento. Com relação ao conceito de “alfabetização para introduzir um assunto novo, sintetizar um tópico, ou
biológica”, Krasilchik (2004), admite quatro níveis: nominal, comunicar experiências pessoais do professor a prepon-

114
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

derância desse tipo de atividade sobre outros tipos que cessidade de aulas práticas foram sendo alteradas ao longo
podem ser realizados em uma sala de aula, se deve princi- das mudanças de objetivos do próprio ensino de Ciências,
palmente ao fato de que esse é um processo econômico, passando desde uma forma de ilustrar e comprovar o que
permitindo a um só professor atender a um grande nú- era aprendido nas aulas teóricas até a função de vivenciar
mero de alunos, conferindo-lhe, ao mesmo tempo, grande o processo de investigação científica. Embora os motivos
segurança e garantindo-lhe o domínio da classe, mantida para os exercícios práticos tenham mudado ao longo do
quieta, sem quaisquer manifestações. tempo, a necessidade do aumento de aulas de laboratório
É claro que uma aula expositiva dada por um bom sempre foi apontada como uma parte da solução para as
professor pode ser uma experiência informativa divertida dificuldades do ensino de Ciências. O conceito de ativida-
e estimulante, mas, na maioria dos casos, nossa formação de prática na literatura educativa não é consensual, sendo
discente revela que ela é cansativa e pouco contribui para que várias denominações são usadas para tal: atividades
a formação dos alunos, pois é geralmente mal preparada, experimentais, experimentos, atividades práticas, trabalho
os professores não estabelecem relações causais, o uso de laboratório, experiências, entre outros.
de exemplos e analogias, ou é excessivo ou não é utiliza- Considera-se a atividade prática como “um conjun-
do, os professores pretendem dar mais conteúdo do que to de atividades manipulativo-intelectuais com interação
é possível pelo tempo disponível, prejudicando o resulta- professor – aluno – materiais”. Incluindo-se, aqui, os tra-
do global ou total dos processos. Além disso, dificilmente balhos ou saídas a campo e os experimentos mentais ou
essas atividades são iniciadas com uma introdução capaz conceituais em que não há manipulação de materiais. Pe-
de motivar e atrair a atenção dos estudantes. Diante do rales Palácios (1994, p.122), afirma que o trabalho prático
exposto, é possível dizer que a principal característica do pode ser abordado sob diferentes critérios. Assim, por seu
ensino da biologia é a passividade dos alunos, pois é feito âmbito de realização, podem ser práticas de laboratório,
de forma expositiva, autoritária, livresca, mantendo os es- práticas de campo, práticas caseiras. Por sua forma de re-
tudantes passivos, intelectual e fisicamente. Mesmo quan- solução, podem ser classificados em abertos (por permitir
do são apresentados materiais, espécimes, instrumentos, várias soluções, estratégias e ações do professor), fechados
eles podem se manter passivos do ponto de vista mental. (do tipo “receita”) ou semiabertos. Ainda se podem classifi-
O aprendizado de Biologia, como das outras ciências, car as atividades práticas segundo seus objetivos didáticos
inclui não só a habilidade de observação e manipulação, e nesse caso, serão para promover o desenvolvimento de
como muitos pensam, mas também a especulação e a habilidades e competências; para realizar a verificação de
formação de idéias próprias, e o desenvolvimento da ca- uma lei ou teoria, para o levantamento de idéias prévias,
pacidade de aprender mais e melhor. Assim, é essencial a indutivos e os investigativos (que integram os anteriores,
integração de cada um dos alunos no processo de estudo. em uma estratégia mais geral de trabalho).
Relatou-se vários problemas associados ao ensino de Ciên- O uso das atividades práticas ou experimentais tem
cias, dentre os quais, destacaremos dois: 1) A falta de tra- sofrido grande variação na medida em que diferentes con-
balhos práticos: é uma justificativa sempre presente, tanto cepções do que é ciência, diferentes tendências pedagógi-
por parte dos professores, quanto de alunos, para a defi- cas e diferentes aportes teóricos preponderam no discurso
ciência do ensino de Ciências e Biologia, aparecendo em dos educadores. Os objetivos das atividades práticas nos
várias formas, como a falta de laboratório didático, escassez diferentes currículos estão de acordo com o modelo de en-
de recursos, dificuldade de obtenção de substâncias, espé- sino ao qual se integram. Assim, se o modelo é o de trans-
cimes ou equipamentos, ou envio inadequado de materiais missão-recepção, as atividades terão o objetivo de exem-
pela Secretarias de Educação por meio de concorrências plificar a teoria e, portanto, o tempo dedicado a elas será
feitas sem consulta aos docentes sobre suas necessidades. escasso. Essas atividades representam um complemento
2) Falta de vínculo com a realidade dos alunos: assim, a do ensino verbal, uma oportunidade para o desenvolvi-
disciplina se torna irrelevante e sem significado, pois não mento manipulativo, para a verificação da teoria e domí-
se baseia no conhecimento que os jovens trazem de forma nio de cálculo e erro. Os trabalhos práticos constituem os
intuitiva, e não é ancorada no seu universo de interesses. O instrumentos mais importantes para sua articulação, mas
abismo entre o que é ensinado nas aulas e o que interessa são contemplados como uma atividade sem objetivos di-
aos alunos aumenta a cada dia, limitando o rendimento do dáticos explícitos, sem conexão espaço-temporal, carentes
ensino. De forma inversa, a necessidade de aulas práticas, de oportunidades de criação pelo aluno e sem significado.
assim como o uso de exemplos, analogias e atividades que Por outro lado, no modelo de ensino por descoberta, as
contextualizem os conteúdos de maneira a promover a sua atividades práticas são consideradas essenciais e, portan-
relação com a realidade dos alunos, têm sido apontados to, o tempo dedicado a elas é grande já que o objetivo é
nas propostas de inovação para tornar o ensino de ciên- aprender ciências “fazendo ciências”.
cias mais atrativo e relevante, capaz de contribuir para a O modelo de ensino por descoberta surgiu como rea-
autonomia dos indivíduos com relação ao conhecimento. ção à insuficiência do modelo tradicional, com ênfase nos
É sobre esses dois aspectos que nos deteremos a seguir. procedimentos científicos e sua relação psicológica, isto é,
Atividades Práticas e Ensino e Aprendizagem de Biologia. a aquisição de habilidades por parte dos alunos. Seu obje-
O ensino prático foi introduzido nas escolas superio- tivo primordial é pôr o aluno em situação de aplicação do
res no século passado e a partir de então, veio ganhando método científico em situações experimentais que passa-
espaço nos programas escolares, sendo considerado im- ram a ter um papel principal, ou seja, o aluno mediante a
portante para um bom ensino. As justificativas para a ne- experimentação poderia descobrir as leis e teorias implica-

115
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

das. Nesta linha de pensamento, as atividades experimen- que se constata nas escolas brasileiras. Uma integração de
tais deveriam ser indutivas e abertas ou semiabertas. No diferentes conhecimentos pode criar as condições neces-
entanto, ao querer dotar o experimento de uma solução sárias para uma aprendizagem motivadora, oferecendo
única, ele acabou sendo transformado em uma atividade maior liberdade aos professores e alunos para a seleção de
muito dirigida . conteúdos mais diretamente relacionados aos assuntos ou
problemas que dizem respeito à vida da comunidade.
A Contextualização no Ensino de Biologia Em uma pesquisa realizada por um grupo de pesqui-
sadores ligados à Associação das Escolas Particulares de São
A estratégia de aprendizagem contextualizada nasceu Paulo, que entrevistou jovens concluintes do Ensino Médio,
de programas de preparação profissional, sendo posterior- em 1997, chegou-se à conclusão de que os jovens não iden-
mente levada às salas de aulas tradicionais. Para os Pro- tificam qualquer relação entre a Química e suas vidas ou
gramas de preparação profissional, “é possível generalizar sociedade. Essa pesquisa nos evidencia a importância de se
a contextualização como recurso para tornar a aprendiza- articular os conteúdos com a realidade vivenciada pelos alu-
gem significativa ao associá-la com experiências da vida nos, uma vez que isso permite dar sentido ao que é ensinado
cotidiana ou com os conhecimentos adquiridos esponta- na escola, para que esse conhecimento seja utilizado na vida.
neamente”. Enquanto professores de Biologia, é essencial que ao
Ao mesmo tempo, o documento chama a atenção escolhermos um dado conteúdo a ensinar, tracemos rela-
para os riscos de se cair no “espontaneísmo e na cotidiani- ções entre esse conteúdo e a realidade dos alunos, mos-
dade”, em detrimento do científico, do sistemático, daquilo trando-lhes sua relação com a vida e a possibilidade de
que se necessita conhecer. Uma nova idéia de Ciências que interferência no nosso meio. várias dimensões devem ser
propicie a produção de “um conhecimento efetivo de sig- consideradas no tratamento dos conceitos biológicos; por
nificado próprio” deve ser construída a partir de temas pre- exemplo, motivando o aluno a analisar o impacto da ativi-
sentes na vida cotidiana, da realidade próxima aos alunos, dade humana no meio ambiente e a buscar soluções para
para não correr o risco de cair num aprendizado somente os problemas decorrentes, ou levando o estudante a com-
centrado nos recortes em que a ciência clássica está as- preender o papel da ciência na evolução da humanidade e
sentada. Dessa forma, contextualizar o conteúdo significa sua relação com a religião, a economia, a tecnologia entre
fazer sua articulação com o cotidiano do aluno e com seu outras. Segundo essa autora, um dos principais aspectos
conhecimento prévio, num contexto determinado, consi- a ser elencado para o alcance dos objetivos do ensino de
derando as diversas dimensões do mesmo, como a social e Biologia é a necessidade de uma maior integração intra-
a cultural, mediante a interação professor-aluno, para que disciplinar. O conteúdo é apresentado em compartimentos
o conteúdo possa ser compreendido, interpretado e viven- estanques, sem propiciar aos alunos oportunidades de sin-
ciado pelo aluno. tetizar e dar coerência ao conjunto, o que poderia ser fei-
Ao recomendar a contextualização como princípio de to mostrando-lhes as ligações entre os fatos, fenômenos,
organização curricular, os Parâmetros Curriculares Nacio- conceitos e processos aprendidos.
nais (PCNs) pretendem, segundo seus autores, facilitar o Os alunos precisam compreender que o fenômeno da
processo de ensino aprendizagem, sugerindo a introdução vida é marcado por uma associação de processos organi-
de experiências mais concretas ao se trabalhar com os co- zados e integrados, tanto no nível do indivíduo quanto no
nhecimentos sistematizados dos livros didáticos. Fica con- nível dos organismos com o ambiente. O tratamento con-
templado também nos PCNs que a contextualização não textualizado do conhecimento é um outro recurso que a
deve ser vista como banalização do conteúdo das disci- escola tem para retirar o aluno da condição de espectador
plinas, mas como recurso pedagógico capaz de contribuir passivo, permitindo que ao longo da mediação didática o
para a construção de conhecimentos e na formação de ca- conteúdo de ensino provoque aprendizagens que mobili-
pacidades intelectuais superiores. zem o aluno e estabeleçam entre ele e o objeto do conhe-
Considerar a vivência e o conhecimento dos alunos cimento uma relação de reciprocidade. A contextualização
como ponto de partida para o estudo das disciplinas cien- evoca, por isso, áreas, âmbitos ou dimensões presentes nas
tíficas, leva à ampliação do objetivo das Ciências, que vem vidas pessoal, social, cultural e mobiliza competências cog-
sendo dividido em matérias curriculares e resultando em nitivas já adquiridas.
uma formação intelectual, muitas vezes, em desacordo Nós ensinamos as crianças a conhecer os objetos iso-
com as realidades dos jovens que frequentam esse nível lando-os, ao passo que é preciso também reintegrá-los
de ensino. A necessidade de conectar conhecimentos, de a seu ambiente para conhecê-lo e que um ser vivo pode
relacionar, de contextualizar é intrínseca ao aprendizado ser conhecido somente em sua relação com seu meio, de
humano. Os currículos das diferentes disciplinas devem onde extrai energia e organização. O aluno vive num mun-
também prever possibilidades de um entrelaçamento, for- do regido pelas leis naturais, está imerso num universo
mando uma rede facilitadora da aprendizagem. Uma vez de relações sociais, exposto a informações cada vez mais
que todo conhecimento é socialmente comprometido e acessíveis e rodeado por bens cada vez mais diversifica-
que não há conhecimento que possa ser aprendido ou re- dos. Assim, o contexto que é mais próximo do aluno e mais
criado, se não se parte das preocupações particulares das facilmente explorável para dar significado aos conteúdos
pessoas, o distanciamento entre os conteúdos programá- da aprendizagem é o da vida pessoal, do cotidiano e da
ticos e a experiência dos alunos certamente respondem, convivência. Cabe ao professor mostrar as relações entre
pelo menos em parte, pelo desinteresse e até pela evasão os vários conceitos e fenômenos, de modo a formar um

116
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

conjunto conexo e retomar os assuntos sempre que ne- geneidade constitui as conexões e os nós de uma rede. En-
cessário. Para suprir essa necessidade, os docentes devem tre dois temas ou objetos de estudo pode ser estabelecida
construir o seu próprio quadro de referência e lembrar que uma diversidade de conexões provenientes de diferentes
os alunos também construirão os seus, porém, eles o farão disciplinas ou áreas de conhecimento.
mais rápido, se forem devidamente orientados. A multiplicidade de fios de interligação - sons, palavras,
O cotidiano e as relações estabelecidas com os am- imagens combinações pluridimensionais de tais elementos
bientes físico e social devem permitir dar significado a - conformando-se em relações lógicas, analógicas, afeti-
qualquer conteúdo curricular, fazendo a ponte entre o que vas, sensoriais ou complexas de tais elementos, ressalta o
se aprende na escola e o que se faz, vive e se observa no quanto parece vã a expectativa da construção do conheci-
dia-a-dia. Aprender sobre a sociedade, o indivíduo e a cul- mento apenas pelos canais linguístico e lógico matemático.
tura e não compreender ou reconhecer as relações exis- Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, por
tentes entre adultos e jovens na própria família é perder a sua vez, apresentam uma proposta de Ensino, que sem ser
oportunidade de descobrir que as ciências também contri- profissionalizante, propicie um aprendizado útil à vida e ao
buem para a vivência e para as trocas afetivas. É importan- trabalho. O aluno deve desenvolver a capacidade de racio-
te ressaltar que contextualizar os conteúdos escolares não cinar e de usar a ciência como elemento de interpretação e
é liberá-los do plano abstrato da mediação didática para intervenção. Cada área do conhecimento deve envolver, de
aprisioná-los no espontaneísmo e na cotidianidade; é ne- forma combinada, o desenvolvimento de conhecimentos
cessário considerar, como no caso da interdisciplinaridade, práticos e contextualizados, que respondam às necessida-
seu fundamento epistemológico e psicológico. des da vida contemporânea e conhecimentos mais abstra-
Quando se recomenda a contextualização como prin- tos, que correspondam a uma cultura geral.
cípio de organização curricular, o que se pretende é facili- A Resolução CEB/98 aponta o caminho da interdiscipli-
tar a aplicação da experiência escolar para a compreensão naridade e o da contextualização para que os sistemas de
da experiência pessoal, contribuindo para o processo de Ensino possam adequar os conteúdos científicos às neces-
concretização dos conhecimentos abstratos que a escola sidades dos alunos e do meio social. Ressalta a interdisci-
trabalha. plinaridade como forma de manter um elo entre os conteú-
A aprendizagem pressupõe a existência de um refe- dos e a contextualização como opção 57 didática de trans-
rencial que permita ao estudante identificar e se identifi- posição do conhecimento. Esse se relaciona com a “prática
car com as questões propostas. Essa postura não implica ou a experiência do aluno a fim de adquirir significado”
permanecer apenas no nível do conhecimento que é dado (Resolução CEB nº. 3/98). Os indivíduos sempre conhecem,
pelo contexto mais imediato, muito menos pelo senso co- sobre qualquer assunto, muito mais do que conseguem
mum, mas visa gerar a capacidade de compreender e in- expressar, e esse conhecimento tácito é fundamental para
tervir na realidade, numa perspectiva autônoma e desalie- a sustentação daquilo que se pretende conseguir explici-
nante. Ao propor uma nova forma de organizar o currículo, tar. Como as avaliações levam em consideração apenas a
trabalhando na perspectiva interdisciplinar e contextuali- parcela explícita, é necessário desenvolver estratégias de
zada, parte-se do pressuposto de que toda a aprendizage- enraizamento de tais formas de manifestação nas compo-
mimplica uma relação sujeito-objeto e que, para que esta nentes da dimensão tácita do conhecimento, alimentadas
se concretize, é necessário oferecer as condições para que por elementos culturais, continuamente.
os dois pólos do processo interajam. Esse enraizamento é favorecido pela incorporação de
Embora a rigidez da linearidade no encadeamento dos relações vivenciadas e valorizadas no contexto em que
tópicos a ser ensinados seja desnecessária, a organização se originam trata-se da importância da contextualização.
linear dos currículos é amplamente predominante na or- Contextualizar é uma estratégia fundamental para a cons-
ganização do trabalho escolar e, geralmente, se aceita sem trução de significações, pois na medida em que incorpora
questionamento que um determinado conteúdo só deve relações tacitamente percebidas, enriquece os canais de
ser ensinado depois de seus pré-requisitos. Para esse autor, comunicação entre a dimensão cultural e as formas ex-
o conhecimento deve ser visto como uma rede de signi- plicitáveis de manifestação dos conhecimentos. O Ensino
ficações, em contraposição e complementação à imagem de Ciências Naturais cumpre, assim, o papel de, ao ensi-
cartesiana do encadeamento, predominante no pensa- nar conceitos científicos, estabelecer relações mais amplas
mento ocidental. As redes se caracterizam pelo acentrismo, com as questões sócio-ambientais. As bases do pensar
pela metamorfose e pela heterogeneidade. lógico devem ser estruturadas de maneira eivada de sen-
No acentrismo, a idéia de rede ou teia de significações timentos e apoiada em discursos de argumentação cons-
proporcionaria uma maior mobilidade aos currículos es- truídos pelos próprios alunos no ressignificar de suas expe-
colares, pois, desta forma, poderia iniciar um assunto em riências. É um processo de aquisição de novas significações
qualquer ponto e traçar diferentes caminhos, dependendo no interior do contexto de relações. A metáfora da rede
da necessidade e da prioridade da escola ou do grupo de ajuda o entendimento de como seria a aquisição do co-
alunos. Por metamorfose, entende-se a mudança cons- nhecimento. Cada “nó” dessa rede seria representado por
tante do conhecimento, que é um processo dinâmico. O “sínteses de significação” que no contexto vivencial e na
princípio da metamorfose explicita a idéia, suficientemente interação entre locutores e receptores, são estabelecidas.
vivenciada por todos os que lidam diariamente com infor- Esses “nós” seriam possibilidades contínuas de geração de
mações, de que a rede de significações que constitui o co- novos interpretantes. Apresentam a potencialidade de ge-
nhecimento está em permanente transformação. A hetero- rar outros interpretantes mais complexos, generalizáveis,

117
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

que se apresentem como possibilidade de compreender o


objeto em estudo. Conceitos científicos são, pois, definidos
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
como enunciados lógicos e argumentativos, construídos
por mediação de linguagens e constantemente atualizados NO ENSINO DE BIOLOGIA: ABORDAGENS
por uma comunidade (de especialistas; professores etc.) na METODOLÓGICAS.
e pela experiência.
Para os autores a associação da vida a uma densa teia
de significações, análoga a um imenso texto, conduz a que
a contextualização seja associada a uma necessidade con- Ao iniciar esta reflexão, considera-se de imediato, o fato
sensual, de aproximação entre os conhecimentos aprendi- de que o processo de aprendizagem constitui um grande
dos ou ensinados na escola e a realidade vivenciada pelos desafio para os educadores. Integrando esse processo des-
alunos fora dela. Assim, o uso da contextualização deve taca-se que a Biologia pode ser uma das disciplinas mais
trazer contribuições para a compreensão da experiência relevantes e merecedoras da atenção dos educandos, ou
de aprendizagem escolar e da experiência espontânea dos uma das mais insignificantes, dependendo do que for en-
educandos. Para os autores dos PCNs, se a aprendizagem sinado e de como isso for feito. A autora chama a atenção
das ciências não facilitar essa compreensão e a interpreta- dos professores de Biologia para as questões: o que ensinar
ção do mundo em que vivemos, é porque não se criaram e como ensinar? O professor e, neste caso, o de Biologia,
competências para que isto ocorresse. Portanto, o recurso deve atentar para o significado da Ciência e da Tecnologia,
da contextualização que temos à mão pode contribuir so- evitando posturas alienantes. A experiência como docente
bremaneira para que ocorra a aprendizagem. Ramos (2001) permite afirmar que os estudantes têm formas diferentes
ainda nos lembra que a contextualização tem a capacida- de se relacionar com o estudo dos conteúdos. Há os que
de de ampliar as possibilidades de interação entre as dis- se preocupam apenas com os resultados de seus estudos
ciplinas limitadas em uma área do conhecimento e entre traduzidos pelas notas ou conceitos. Estes se relacionam de
as próprias áreas de limitação, ou seja, a contextualização forma superficial com os conteúdos. Há também, os que
abrange áreas, âmbitos ou situações presentes na vida dos buscam esclarecimentos profundos com o estudo e pas-
educandos, mobilizando habilidades cognitivas já adquiri- sam a analisá-lo para atingir uma visão ampla do conheci-
das. Ao associar os conteúdos específicos às experiências mento. De acordo com o exposto, descreve quatro níveis
da vida cotidiana ou dos conhecimentos espontaneamente de alfabetização biológica: 1º - Nominal - quando o estu-
adquiridos, pelos alunos, permite colocá-los na situação de dante reconhece os termos, mas não sabe seu significado
participantes ativos dos processos de ensino e aprendiza- biológico. 2º - Funcional - quando os termos memorizados
gem para, assim, construírem o seu próprio conhecimento. são definidos corretamente, sem que os estudantes com-
O conjunto de objetivos intrínsecos ao ensino de Biolo- preendam seu significado. 3º - Estrutural - quando os es-
gia determina que não somente os aspectos de ciência pura, tudantes são capazes de explicar adequadamente, em suas
mas também aqueles que tratam da aplicação da ciência próprias palavras e baseando-se em experiências pessoais,
para a solução de problemas concretos, devam fazer parte os conceitos biológicos. 4º - Multidimensional - quando os
dos currículos. No entanto, o tratamento de novos temas estudantes aplicam o conhecimento e habilidades adquiri-
implica na exigência de que o professor tenha uma relação das, relacionando-as com o conhecimento de outras áreas,
estreita com a comunidade, de forma que possam ser con- para resolver problemas reais. Os alunos ao concluírem o
siderados assuntos relevantes que não alienem os alunos Ensino Médio devem atingir o 4º nível de alfabetização
do ambiente cultural em que vivem, mas que, ao contrário, biológica, conforme indicado na citação anterior. Assim,
possibilitem que estes passem a entendê-lo e analisá-lo de além de compreender os conceitos básicos da disciplina,
forma a contribuir com a melhoria da qualidade de vida eles devem estar capacitados a articular o seu pensamen-
de sua comunidade. Isso implica envolver os 59 alunos na to de forma independente, aplicando seu conhecimento
discussão de problemas que estejam vivenciando nas suas na vida e intervindo para resolver os problemas. O ato de
próprias realidades ou que sejam consideradas interessan- pesquisar é inerente à condição humana. O homem está
tes por eles. Apoiando-nos nesses aspectos, podemos afir- sempre buscando mais conhecimentos. A Ciência constitui
mar que a contextualização e também os trabalhos práti- hoje, a forma mais eficiente de gerar conhecimentos sig-
cos têm, potencialmente, importante papel na manutenção nificativos para as sociedades contemporâneas. Porém, a
do interesse pela aprendizagem da Biologia. Além disso, pesquisa só evolui mediante o surgimento de contradições,
auxiliam na mobilização e desenvolvimento de habilidades de conflitos, de necessidades humanas que estimulem os
cognitivas, essenciais para a formação dos alunos como seus avanços para compreender os fenômenos naturais.
autônomos no processo de aprendizagem científica. Mais A Ciência é, em suma, o conhecimento preocupado
uma vez, frisamos que a aprendizagem de qualidade é o em determinar as leis gerais destes fenômenos. Para com-
resultado da associação entre motivação e cognição. Texto preender e avaliar a dimensão da importância da Ciência,
adaptado de LABARCE. E. C. do Conhecimento, da Educação, derivada da pesquisa e da
técnica, busca-se fundamentos nas idéias do educador e
pedagogo italiano Manacorda. Este destaca que a Ciência
concentra-se no mundo capitalista (países do 1º mundo)
enquanto o restante do mundo (países do 3ª mundo) re-
cebe o conhecimento sob a forma de produtos, o que lhe

118
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

custa muito caro. O educador esclarece que as populações Os conceitos científicos não são assimilados, nem de-
do 3ª mundo não participam como produtoras do conhe- corados, nem memorizados, eles surgem e se constituem
cimento; e afirma que a Educação é uma das alternativas por meio de uma imensa tensão de toda a atividade do
para se criar uma sociedade que tenha em suas próprias próprio pensamento. Por isso, é possível dizer que os con-
mãos a autonomia, sem se isolar da realidade planetária. Essa ceitos científicos que se formam no processo de aprendi-
Educação entendida e defendida por Manacorda fundamen- zagem, distinguem-se dos espontâneos por outro tipo de
tase nos princípios de liberdade, democracia e participação relação com a experiência do indivíduo. A formação dos
cultural. Através dessa Educação e, conseqüentemente, da conceitos científicos apenas começa no momento em que
escola apoiada por professores competentes no domínio dos se assimila pela primeira vez um significado novo. Este sig-
conteúdos científicos, com visão política e instrumentaliza- nificado novo age como veículo do conceito científico. Po-
da metodologicamente, essa Educação cria condições para de-se dizer que a assimilação dos conceitos científicos se
possibilitar as transformações sociais. É essa Educação que baseia igualmente nos conceitos elaborados no processo
se almeja para as escolas brasileiras a qual pode representar da própria experiência da criança, como no estudo de uma
aspectos decisivos e fundamentais para o desenvolvimento língua estrangeira se baseia na semântica da língua mater-
dos indivíduos e para toda a sociedade. Este formato de Edu- na; de igual maneira, a assimilação do sistema de conhe-
cação é denominado Educação Científica e Tecnológica. cimentos científicos também não é possível senão através
A Educação Científica, apresenta os seguintes objetivos: dessa relação imediata com o mundo dos objetos, senão
Ensinar Ciência e Técnica a todos; colocar a prática social através de outros conceitos anteriormente elaborados.
como ponto de partida e de chegada da educação científica Compreender como se dá a formação de um concei-
tomando o contexto para determinação dos conteúdos; criar to científico é importante, pois é inerente ao exercício da
condições para formação do espírito científico para além do docência, o entendimento das bases biológicas e psicoló-
senso comum das pessoas; ter a capacidade de avaliar de gicas do desenvolvimento do indivíduo e, principalmente,
forma crítica os conhecimentos em função das necessidades o desenvolvimento do pensamento. Entender a utilidade
sociais; permitir a formação de um educando questionador. A do pensamento que consiste em possibilitar a elucidação
Educação Pública precisa tornar-se popular e isto é traduzido de problemas, mostrar contextos e fundamentar alterna-
pela necessidade de universalizá-la e democratizá-la em seus tivas. Isto porque o resultado da compreensão que se dá
diferentes níveis e em suas diferentes dimensões, tornando-a, em sala de aula sobre os conteúdos trabalhados, está vin-
de fato, acessível às camadas populares, promovendo, pela culado à rede de relações e inter-relações que o estudante
via do conhecimento e da cidadania, as condições necessárias é capaz de estabelecer com o seu mundo. Portanto, abor-
à transformação social e à emancipação humana, pretenden- dar os conteúdos de maneira multidisciplinar é essencial
do-se chegar à ação político-pedagógica. Dessa forma, Edu- na práxis docente, neste caso, na disciplina de Biologia. A
cação Pública e popular e Educação Científica demonstram a evolução do ensino de Ciências, no Brasil, é marcada pe-
importância de se pensar uma educação escolar que realize a las consequências de crises econômicas, sociais e políticas.
síntese da quantidade com a qualidade. Essas crises ou conflitos de idéias, no decorrer da história,
O estudante fora das relações com o mundo e a socie- determinaram e determinam padrões de crescimento de
dade é um ser alienado sem condições de reagir aos múl- um país, e estes, uma redefinição dos conteúdos que en-
tiplos estímulos que decorrem de um contexto cada vez volvem o desenvolvimento da capacidade de seus educan-
mais caracterizado pela Ciência e pela Técnica. A Educação dos/cidadãos. Assim, cada período da história do ensino de
e, especialmente, o trabalho docente, exige a pesquisa in- Ciências foi marcado por uma metodologia própria para os
vestigativa, já que se trabalha diretamente com o conheci- objetivos daquela época.
mento científico. Na Biologia, por exemplo, o conhecimen- Para interpretar a situação atual ou pensar em trans-
to científico se caracteriza por uma estrutura sistemática, formações efetivas, é necessário considerar aspectos do
na qual predomina o nível descritivo. Com certa freqüência, sistema educacional, da escola e como estes influenciam o
os conteúdos são trabalhados de forma desvinculada da currículo e as metodologias. No período citado, a metodo-
realidade, dos aspectos históricos e das questões sociais. O logia utilizada, em 1950, destacava no uso do laboratório
reflexo desta prática pedagógica, nos educandos é apenas apenas o produto, isto é, o que o professor enfatizava eram
a memorização dos conteúdos. Continua presente na es- os resultados dos experimentos não o processo como um
cola o agir tradicional, tornando a vivência de sala de aula todo. Em 1960, passou-se a utilizar o laboratório como for-
pouco produtiva. Os educandos fazem o papel de ouvintes, ma de discussão da pesquisa e, em 1980, chegou-se a utili-
comprovando a não ocorrência de um aprendizado intera- zação de jogos e simulações para resolução de problemas.
tivo. A idéia de uma escola superficial, incapaz de ensinar Na década de 50, a metodologia defendida como eficien-
com rigor científico, provoca inquietações e exige reflexões te era a que utilizava a experimentação/laboratório. Nesta
sobre questões tão emblemáticas. São na escola que de- forma de trabalho preocupava-se muito com as atividades,
vem se desenvolver os processos de construção da Ciência como formas meramente ilustrativa de comprovação, ou
e não apenas o entendimento de como isso ocorreu. As me- ainda, para manipulação de aparatos ou instrumentos. En-
todologias de ensino precisam ser revistas, considerando-as tende-se que foi e é exatamente este foco da experimen-
de forma crítica e participativa, pois a metodologia utilizada tação que retrata a preocupação de professores na aquisi-
pelo professor, o domínio do conhecimento específico de ção de conhecimentos em relação à compreensão destes e
sua área e áreas afins e a relação deste com os educandos suas implicações. As atividades de experimentação devem
são decisivas no processo ensino-aprendizagem. partir de problemas investigativos relacionados com a vida

119
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

dos estudantes. Nesta perspectiva o estudante pode, por DISCUSSÕES:


exemplo, ultrapassar a observação direta e adquirir condi-
ções de levantar e até testar hipóteses ou suposições. As discussões representam um avanço na construção
Ao professor cabe uma atuação diferenciada que o de um diálogo em sala de aula. O professor tem condi-
identifica como mediador, orientador e questionador. Re- ções de conduzir discussões que oportunizem aos edu-
fere-se à forte crítica que o ensino das Ciências Naturais candos a participação intelectualmente das atividades de
sofre por seu excessivo distanciamento dos fenômenos e investigação. Quando os conceitos são apresentados por
das situações que constituem o universo dos alunos. Des- meio de uma discussão, tornam-se mais agradáveis e in-
creve ainda que, esforços de se trabalhar os mesmos con- teressantes, pois, desafiam a imaginação dos estudantes.
teúdos de ensino mais vinculados àquele universo mos- Há possibilidades de utilização de discussões de diversas
tram que é possível, no nível médio de ensino, uma efetiva maneiras, tais como discussões estruturadas e seminários.
aproximação dos modelos e das abstrações contidas no Vários livros didáticos apresentam orientações e sugestões
conhecimento científico e sua aplicação em situações reais. para o professor, caso ele não se sinta seguro para iniciar
uma discussão. Em todos os casos o professor precisa estar
CONTEÚDOS E METODOLOGIA: A HARMONIA NE- atento para não interferir de forma negativa, isto é, fazer
CESSÁRIA PARA O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZA- intervenções atrapalhando a exposição das idéias dos es-
GEM tudantes. Através da modalidade didática de discussão é
possível utilizar aprendizagem colaborativa e cooperativa.
É consenso que o conteúdo e a metodologia estão in- Estas modalidades têm o potencial de promover uma
timamente relacionados, tanto para o ensino quanto para aprendizagem mais ativa por meio do estímulo ao pensa-
a aprendizagem. Desta forma, uma vez determinado o con- mento crítico; ao desenvolvimento de capacidades de inte-
teúdo a ser trabalhado e seus objetivos, o próximo passo ração, negociação de informações e resolução de problemas
é responder a pergunta: como fazer? Selecionar a modali- e ao desenvolvimento da capacidade de auto-regulação do
dade didática a ser utilizada é um bom começo. Para esta processo de ensinoaprendizagem. Essas formas de ensinar
seleção o professor precisa ter bem claro as características e aprender tornam os alunos mais responsáveis por sua
de sua turma, o tempo de que dispõe e os recursos neces- aprendizagem, levando-os a assimilar conceitos e construir
sários e disponíveis. Ainda, lembrar que as aulas de Biolo- conhecimentos de uma maneira mais autônoma. Nota-se
gia devem promover debates e discussões sobre o papel que essas modalidades trazem intrinsecamente concepções
e as influências exercidas pelo conhecimento científico na sobre o que é o ensino, aprendizagem e qual a natureza do
sociedade. Neste contexto, e de acordo com as necessi- conhecimento. Uma das idéias centrais que elas encerram é
dades e exigências da prática docente, dependendo das a de que o conhecimento é construído socialmente, na in-
condições da escola e do interesse de seus alunos, o pro- teração entre pessoas e não pela transferência do professor
fessor selecionará a modalidade didática mais adequada para o aluno. Portanto rejeitam fortemente a metodologia
para aquela situação/conteúdo. de reprodução do conhecimento, que coloca o aluno como
Entende-se que o processo ensino-aprendizagem é sujeito passivo no processo de ensino-aprendizagem.
dinâmico e coletivo, exigindo por isso, parcerias entre pro-
fessor/aluno e aluno/aluno. Para estabelecer estas relações DEMONSTRAÇÕES:
dialógicas, o professor poderá optar por várias modalida-
des didáticas que permitem esse tipo de interação. Algu- As demonstrações servem principalmente, para apre-
mas modalidades didáticas que são utilizadas no ensino de sentar à turma, por exemplo, espécimes ou fenômenos de
Biologia são apresentadas a seguir: difícil representação ou duração longa do experimento. As-
sim, justifica-se o uso desta modalidade didática quando se
AULAS EXPOSITIVAS: quer economizar tempo ou não se tem material suficiente
para toda a turma. Outra justificativa é a demonstração na
As aulas expositivas ocorrem geralmente com função forma de que todos possam ver a mesma coisa ou fenôme-
de informar e representam formas econômicas e de con- no, ao mesmo tempo. Alguns aspectos devem ser obser-
trole da turma. Esse tipo de metodologia exige dos alunos vados quando o professor desejar utilizar uma demonstra-
alto nível de concentração durante todo o tempo das aulas. ção: 1- O material em apresentação deve estar visível para
Há pouca interação entre professor/aluno. Os professores todos. 2- Para não distrair a atenção dos alunos, o material
não estabelecem relações causais. Apresentam fatos sem em demonstração deve ser simples, limitando-se o que fica
justificá-los e sem explicar como se chegou a eles, o que sobre a mesa o estritamente necessário. 3- O professor deve
afasta ainda mais a modalidade didática do objetivo de en- ser claro, falar alto e entusiasticamente, mostrando o que
sinar a pensar lógica e criticamente. Centralizar a aula num deseja passo a passo, repetindo quantas vezes forem neces-
problema é uma das formas de intensificar a participação sárias para que todos possam acompanhar o procedimento.
intelectual dos alunos, que acompanham as alternativas de
solução propostas pelo expositor. Contudo, é possível que AULAS PRÁTICAS:
uma aula expositiva seja informativa e divertida se o pro-
fessor for competente para isto. As aulas práticas apresentam importância fundamen-
tal no ensino de Biologia, pois permitem aos educandos o
contato direto com os fenômenos, manuseio de equipa-

120
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

mentos e observação de organismos. Com a utilização das baseado em projetos, devem-se seguir algumas fases que
aulas práticas, é fornecida aos educandos a possibilidade compõem o processo metodológico, cabendo ao professor
de enfrentar resultados imprevistos, oportunizando-lhes ordená-las da melhor forma possível. As fases são: defini-
desafiar sua imaginação e raciocínio. A maneira de propor ção do problema; organização de um roteiro de trabalho;
o problema e as orientações fornecidas pelo professor aos execução do roteiro elaborado e elaboração do relatório
seus estudantes, determinará o envolvimento destes no final.
decorrer da aula. Existem várias propostas de encaminha- O mesmo autor destaca que a apresentação e dis-
mento de aulas práticas. Geralmente, elas seguem critérios cussão do projeto; a escolha do tema, a problematização;
que permitem variar o grau de liberdade concedida aos a contextualização; a exposição teórica; a pesquisa indi-
estudantes, para seu desenvolvimento. No primeiro nível, vidual; a produção individual; a discussão crítica; a pro-
o tipo mais diretivo, o professor oferece um problema, dá dução coletiva; a produção final; a avaliação da aprendi-
instruções para sua execução e apresenta os resultados es- zagem e avaliação coletiva são etapas indispensáveis no
perados; no segundo nível os alunos recebem o problema trabalho com projetos. O trabalho com projetos permite
e as instruções sobre como proceder; no terceiro nível é uma aprendizagem colaborativa, tornando a relação ensi-
proposto apenas o problema, cabendo aos alunos escolher no-aprendizagem um processo dinâmico, possibilitando a
o procedimento, coletar dados e interpreta-los; e no quar- formação de sujeitos participativos e autônomos, criando
to nível, os alunos devem identificar algum problema que a possibilidade de desfazer a forma de aula tradicional
desejem investigar, planejar o experimento, executa-lo e em que só o professor fala e apresenta os conteúdos e os
chegar até as interpretações dos resultados . alunos ficam restritos a escutar, copiar, memorizar e re-
petir os conteúdos. Assim postula-se que a metodologia
EXCURSÕES: de projetos pode ser uma modalidade didática pertinente
para oferecer aos estudantes aprendizagens que levem à
Embora muitos professores considerem de grande im- produção do conhecimento, provocando aprendizagens
portância os trabalhos de campo e excursões no cotidiano para a vida.
escolar, elas pouco acontecem. É provável que os fatores
como: autorização dos pais; cedência de aulas de outros MAPAS CONCEITUAIS:
professores; transporte para levar os alunos; insegurança
quanto ao comportamento da turma; falta de recursos fi- Os mapas conceituais representam uma modalidade
nanceiros e receio de que ocorram eventuais acidentes, fa- didática que está começando a ser utilizada. A construção
çam com que pouquíssimos professores utilizem esta mo- de um mapa conceitual estimula o aluno a refletir, a pes-
dalidade didática. Tais problemas podem ser amenizados quisar, a selecionar, a analisar, a elaborar o conhecimento
com uma boa organização da excursão ou da aula a cam- e aprender de uma maneira significativa. De acordo com
po, pelo professor. Isso implica desde a escolha do local a Torres e Marriott (2007), os mapas conceituais promovem
ser visitado, o roteiro, os objetivos de estudo, a observação, uma mudança na maneira de estudar e é natural que al-
coleta e a discussão dos dados. Considerando a experiên- guns estudantes se sintam desconfortáveis. Num texto,
cia vivenciada pelos educandos nas aulas de campo ou por exemplo, o estudante deve fazer uma leitura mais
excursões, entende-se que estas possuem uma dimensão atenta, buscando estabelecer relações com sua micro e
cognitiva que não pode ser prevista com antecedência, macro-estrutura. Esta leitura, diferente da que o estudan-
pois deriva da convivência entre o grupo num espaço fora te está acostumado o provoca a descobrir a mensagem
da escola. do texto e a selecionar os conceitos. Após a construção
dos mapas conceituais, pode-se socializá-los para a tur-
ma, trocando idéias sobre que conceitos incluir ou excluir.
PROJETOS: Os mapas conceituais são dinâmicos, pois à medida que
o aluno desenvolve sua compreensão e o conhecimen-
Os projetos podem ser desenvolvidos individualmente to sobre o assunto que está sendo trabalhado, os mapas
ou por equipes e serem utilizados para resolver problemas devem ser revisitados e retrabalhados para incorporar os
permitindo aos estudantes o desenvolvimento de iniciati- novos conceitos .
vas, a capacidade de decidir, a capacidade de estabelecer A utilização de mapas conceituais em sala de aula
um roteiro para suas tarefas e finalmente redigir um re- atende, basicamente, os objetivos de revelar o conheci-
latório no qual constam as conclusões obtidas. Esse pro- mento prévio do estudante para iniciar um novo conteú-
cesso implica saber formular questões, observar, investigar, do, resumir conteúdos e fazer anotações, revisar e estu-
localizar as fontes de informação, utilizar instrumentos e dar determinado conteúdo e, serve também, para avaliar.
estratégias que lhe permitam elaborar as informações co- Portanto, o professor precisa ser paciente na sua imple-
letadas. Assim, os projetos são procedimentos essenciais mentação, tanto com os estudantes que se acostumam
na vida dos indivíduos deste novo século. Para aprender a uma nova maneira de pensar e organizar seu pensa-
a adquirir novos conhecimentos com autonomia, os estu- mento, quanto com os demais docentes que podem não
dantes precisam conviver com situações e com condições conhecer esta modalidade didática. Esse professor, além
para enfrentar problemas e questões diversas, circulando da paciência, também precisa ser capaz de gerir seus sa-
com fluência pelas diferentes formas de investigar e de co- beres e fazeres pedagógicos tornando-os úteis para a sua
nhecer. Para a operacionalização do trabalho pedagógico formação profissional permanente.

121
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

MÍDIA E ENSINO: dos. Cabe salientar que uma prática pedagógica criativa e
crítica visualizam as diversas possibilidades para atingir os
Considerando o contexto da pesquisa e, conseqüente- objetivos educacionais desejados a partir dos pressupostos
mente, o deste artigo, impõe-se a necessidade de discutir o pedagógicos que deverão norteá-la. As modalidades didá-
papel da mídia para o ensino de Biologia. Para esta análise ticas aqui abordadas constituem exemplos de como o pro-
considera-se como mídia qualquer forma de comunicação fessor pode utilizá-las de acordo com seus objetivos. Cada
que utilize um recurso tecnológico. A sociedade atual exige uma das modalidades exige do professor conhecimento da
um modelo de comunicação no qual não há mais predo- mesma, caso contrário, poderá comprometer sua prática pe-
mínio do receptor, como na era industrial no início do sé- dagógica. As modalidades discutidas foram selecionadas devi-
culo XX. Hoje as formas de comunicação possibilitam uma do ao interesse de muitos educadores construírem estratégias
interação entre emissor e receptor. Decorrentes disso, os interessantes de ensino. Diante dessa perspectiva, percebe-se
educadores precisam rever suas práticas pedagógicas, com que são necessárias práticas pedagógicas que se proponham
objetivo de conhecer os recursos tecnológicos que pode- a ultrapassar a reprodução e a repetição do conhecimento. Os
rão ser utilizados para favorecer sua comunicação com o professores são desafiados a buscar metodologias de ensino
educando. O desafio para os educadores é de entender a cuja proposta esteja fundamentada numa aprendizagem plu-
mídia como produtora de cultura. Assim, entende-se que, ralista que permita articulação entre pesquisa e discussão co-
a compreensão da mídia e suas linguagens como agentes letiva crítica, oportunizando aos educandos a convivência com
culturais que participam da aprendizagem, ainda que edu- a diversidade de opiniões e oferecendo-lhes a possibilidade de
candos não tenham acesso a equipamentos tecnológicos aprender. Texto adaptado de ROSSASSI. L. B; POLINARSKI. C. A.
sofisticados, alimenta processos coletivos que surgem de
uma prática pedagógica alicerçada em planejamento con-
sistente e, principalmente, na criatividade e colaboração. RECURSOS DIDÁTICOS NO ENSINO DE
Assim, as discussões encaminhadas a partir de certo con-
teúdo, devem permitir interpretações, pois os recursos au-
BIOLOGIA (UTILIZADOS EM SALA DE
diovisuais utilizados caracterizam-se como obras e, portan- AULA E LABORATÓRIO, INCLUINDO
to, peças culturais impregnadas de conceitos e intenções CONHECIMENTOS BÁSICOS DE TÉCNICAS,
de seus autores. Televisão e vídeo são sensoriais, visuais, MATERIAIS E NORMAS DE SEGURANÇA
linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens LABORATORIAIS).
que interagem supostas, interligadas, somadas, não sepa-
radas. Daí sua força. Atingem-nos, por todos os sentidos
e de todas as maneiras. Televisão e vídeo nos seduzem,
informam, entretêm, projetam em outras realidades (no Frequentemente nos deparamos na sala de aula com
imaginário), em outros tempos e espaços. Televisão e vídeo perguntas de alunos a respeito de questões de vanguarda da
combinam a comunicação sensorial-cinestésica, com a au- biologia envolvendo temas como transgenia, células-tronco
diovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. e biotecnologia entre outros. Muitas vezes incluem comen-
Integração que começa pelo sensorial, pelo emocional e tários acerca das consequências éticas e econômicas de tais
pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional. descobertas. Como sabemos, questões científicas e tecnoló-
As escolas possuem tecnologias, algumas simples ou- gicas passaram a ter grande influência no cotidiano de toda
tras um pouco mais complexas. Estas últimas permitem mu- sociedade e convivemos com as maravilhas das novas tecno-
danças profundas no cotidiano escolar, no mundo físico e no logias, mas também com todas as consequências do impacto
virtual. Através delas tudo se conecta e a escola consegue: da atividade humana sobre os ambientes. As concepções tra-
mobilidade, flexibilidade e interoperabilidade. Neste contex- zidas pelos alunos refletem este quadro e são fortemente in-
to, o professor é o mediador na aprendizagem, para o que fluenciadas pela mídia o que na verdade não garante que elas
precisa ter domínio teórico, precisa elaborar projetos cola- estejam embasadas por conhecimento científico consistente.
borativos, utilizar recursos tecnológicos de forma crítica, ser Diante disso, muitos professores preocupados com a
co-criativo, participativo da gestão da mudança e considerar superficialidade do ensino acreditam que a biologia deve
que a aprendizagem é um processo vivo/ativo. Este pode ser ter outras funções além daquelas tradicionalmente propos-
o perfil do professor deste século. O uso dos recursos tec- tas no currículo escolar. Segundo esta tendência, os jovens
nológicos, principalmente a internet no âmbito educacional, deverão ser preparados a enfrentar e resolver problemas
exigem reflexões, principalmente, sobre o impacto das tec- com nítidos componentes biológicos, como, o aumento
nologias da informação e comunicação na sociedade e sua da produtividade agrícola, a preservação do ambiente, a vi
influência no processo ensino-aprendizagem. com experimentos de caráter investigativo e diante de um
Tecnologia e conhecimento integram-se para produzir fenômeno em estudo, imprimir suas próprias concepções e
novos conhecimentos que permitam compreender proble- organicidade. É fundamental que o aluno seja instigado a
mas atuais, desenvolver projetos alternativos e construir a propor uma explicação e confrontá-la com o conhecimen-
cidadania. Assim, a construção do conhecimento no am- to científico estabelecido, gerando um conflito cognitivo,
biente escolar é favorecida pelo uso das tecnologias, por- um dos motores da evolução conceitual. A importância da
que permitem à escola acesso a metodologias inovadoras, experimentação no ensino de biologia é praticamente in-
bem como a aproximação do mundo dos adolescentes e questionável e em geral, os professores da rede estadual
jovens com o mundo escolar que precisam estar entrelaça- parecem compartilhar essa idéia.

122
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Todavia, o contexto de implantação dessa modalidade curiosidades sobre os temas e pesquisas de reportagens.
didática parece ser desfavorável o que resulta na subutili- Os relatos apreciados até aqui não são apresentados nes-
zação ou mesmo inoperância dos laboratórios de nossas te trabalho com o objetivo de servirem de modelos a serem
escolas. Além disso, questiona-se também se as atividades aplicados. São na verdade apenas algumas exemplificações
denominadas “experimentais” têm assumido realmente encontradas na literatura, entre tantas outras e que mostram
esse caráter ou são aulas meramente demonstrativas. Fe- que há inúmeras possibilidades de diversificação das meto-
lizmente, alguns trabalhos implementados em ambiente dologias de ensino com resultados muito interessantes.
escolar mostram resultados alentadores. O sistema de ensino disponibiliza ao professor, basica-
Exemplo disso é o resultado obtido por em uma es- mente, uma sala de aula, quadro negro, giz e livro didático.
cola estadual localizada no município de Botucatu-SP, que A utilização de qualquer outra modalidade didática implica
observou: “apesar das precárias condições apresentadas em algum esforço e depende de outros agentes da esco-
com relação a materiais e espaço para atividades de la- la, da disponibilidade de materiais e de equipamentos e
boratório, foi verificado que é possível contornar todos os das instalações do estabelecimento. Assim, o planejamento
problemas, ou sua maioria, adaptando ambientes e utili- de tais atividades deveria compor uma sistemática peda-
zando materiais simples de baixo custo, proporcionando gógica conjunta da equipe de ensino, do corpo docente
um aprendizado mais eficiente e mais motivador que as e de funcionários, incorporada como fluente no dia-adia
tradicionais aulas expositivas”. Outra modalidade é a utili- da escola, diminuindo improvisos e evitando problemas na
zação de slides que, apesar de parecer um recurso “fora de sua execução. Trabalhar com Biologia e Ciências sem que
moda” nestes tempos de informática. Os slides permitem o aluno tenha contato direto com material biológico e/ou
uma projeção de alta resolução, enfatizando cores, beleza experimental parece ser um formidável exercício de ima-
e detalhes, visíveis de qualquer ponto de uma sala de aula. ginação. Entretanto, diante das dificuldades limitantes do
Argumenta também que as imagens em si não asseguram modelo de ensino é o que acontece na maioria das vezes.
nenhum aprendizado e que devem vir acompanhadas de Professores inovadores nas suas metodologias e que
uma nova abordagem, de sensibilização do aluno para o ousam alguma mudança são persistentes e determinados,
mundo natural. Um enfoque naturalista e aventureiro, mas mas também correm o risco de desanimar diante das difi-
que não se limite a isso: que também faça com que esse culdades. Sem dúvida “remar contra a correnteza” duran-
aluno aprenda, pense, questione e principalmente queira te muito tempo torna-se cansativo, podendo o professor
saber mais. Outro recurso, bastante interessante, mas mui- preferir acomodar-se a um modelo de ensino tradicional.
to pouco utilizado é o chamado “caso investigativo” ou Cabe salientar aqui, que não se propõe um ativismo exa-
“caso como estratégia de estudo”. Baseia-se na instrução cerbado ou simplesmente a “ação pela ação”. Todo o tra-
pelo uso de narrativas - estórias ou histórias sobre indiví- balho deverá estar fundamentado em práticas vivenciadas
duos enfrentando decisões ou dilemas. Os temas, de forma por educadores e pesquisadores, valorizando não apenas a
direta ou indireta, têm relação com a biologia. criatividade, mas principalmente a consistência pedagógi-
Os alunos procuram então, de forma colaborativa ca e a clareza conceitual. Não se trata também de negar a
compreender os fatos, coletar dados para sustentar suas importância das aulas expositivas, que afinal representam
conclusões e tomar decisões, persuadindo seus colegas so- a comunicação na sua forma mais fundamental. O que é
bre seus achados. Apresenta-se como um recurso bastante inadmissível são a preponderância dessa modalidade de
viável e estimulante, mas requer estudo, uma boa funda- ensino e a passividade que ela promove, uma vez que está
mentação na escolha e desenvolvimento dos temas e cui- inevitavelmente vinculada a um modelo de ensino que
dado na sua aplicação. deve ser superado. Tal modelo, centrado no livro didáti-
NUNES (2006) relata uma experiência interessante so- co e na memorização de informações, tem aprofundado o
bre o ensino de genética no ensino médio com alunos de Ri- distanciamento da criança e do adolescente do gosto pela
beirão Preto – SP: em aulas extraclasses, o grupo trabalhou ciência e pela descoberta. Modismos e modernidades tam-
com conceitos básicos de Biologia Celular (principalmente bém devem ser tratados com cautela. Deve-se questionar
mitose e meiose), Genética (Leis de Mendel, estrutura e di- sempre a necessidade e o objetivo de cada recurso didático.
nâmica cromossômica) e, finalmente, as bases hereditárias Tecnologia educacional” é, por exemplo, usar uma lata
e moleculares do Câncer e Genoma Humano (estrutura de água, um pedaço de madeira e uma pedra para explicar
de ácidos nucléicos e proteínas, replicação, transcrição e a flutuação dos corpos; em contrapartida, apertar a tecla
tradução da informação genética, código genético, genes, de um vídeo sobre o assunto e deixar os alunos o assisti-
alelos e mutações). “Os encontros com os alunos tratavam rem passivamente, nada tem de tecnologia. Equipamentos
de questões do cotidiano, relacionadas aos temas e eram caros, sofisticados ou de alta tecnologia não são garantia
informais, descontraídos e realizados em um laboratório de aprendizagem efetiva. Os laboratórios de ciências, que
improvisado (antigo depósito)”. O trabalho teve a partici- deveriam ser espaços apropriados ao desenvolvimento de
pação de alunos de pós-graduação e docentes da Universi- uma verdadeira educação experimental e da compreensão
dade de São Paulo (USP) e obtiveram resultados concretos do método científico, têm se mostrado mal aproveitados
de melhoria na aprendizagem, aferidos por instrumentos ou mesmo abandonados. As tentativas de instalação ou
de avaliação. As principais estratégias de ensino foram: recuperação de laboratórios nas escolas, apesar de bem in-
discussões a partir de perguntas propostas pelos alunos, tencionadas, esbarram num equívoco fundamental: a idea-
visitas técnico-científicas, feira de ciências, dramatizações, lização do laboratório como um lugar diferenciado, cheio
modelos tridimensionais, organização de uma cartilha de de equipamentos e vidrarias onde se farão “experiências”.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Este estereótipo é presente e cultivado por muitos edu- provisos. A fotografia ainda não é utilizada como elemen-
cadores e infelizmente também por alguns professores da to didático-pedagógico importante no ensino de Biologia
área científica. Muitos ainda pensam em recuperar “kits” anti- e Ciências, mas com a popularização das câmeras digitais
gos e manuais perdidos e sonham em comprar mais micros- poderá ter grande potencial como instrumento descritivo
cópios. Esta questão foi muito bem abordada por GIOPPO e do ambiente natural e urbano, da diversidade animal e ve-
colaboradores (1998) e as dificuldades de implementação do getal, dos fenômenos naturais, da influência humana na
ensino experimental nas escolas públicas observadas naque- degradação e na preservação de ambientes. Proporcionará
le momento permanecem, tais como a falta de espaço físico uma exploração do ambiente e uma investigação, fortale-
e equipamentos adequados, a falta de pessoal de apoio e cida pela possibilidade do registro imediato.
principalmente a falta de preparo dos professores. A fotografia é mais que um momento captado, ela é
Os autores, no mesmo trabalho, afirmam: “atividades intencional pois envolve a escolha do que fotografar e de
experimentais desvinculadas de um projeto de ensinoau- quando acionar a câmera, e traz consigo, a concepção do
las exclusivamente demonstrativasnão fazem sentido, ou alunofotógrafo, centrada no motivo seja um objeto, ser
seja, atividades como misturar uma substância A com de- vivo, paisagem ou fenômeno. Adquire valor pedagógico na
terminada substância B e obter um líquido vermelho, ou medida em que é “produção do aluno” e, portanto porta-
mostrar que saem bolinhas de uma planta ao colocá-la dora de significado. E mais, uma produção que pode ser
dentro da água, quando isoladas do contexto significam o apreciada, compartilhada e interpretada pelos colegas e
quê?”. A atividade no laboratório não deve ser para com- professores. Poderá, em breve, ser consolidada como uma
provar conceitos e leis apresentadas na aula teórica, pois ferramenta educacional, mas precisa ainda ser mais prati-
nada mais monótono do que resultados previsíveis para cada e vivenciada nas escolas para encontrar seu espaço
perguntas conhecidas. Tal contexto não estimula a reso- e valor. A partir daí, educadores e pesquisadores poderão
lução de problemas e carece de significado para o aluno. discutir as melhores formas de aplicação desta modalida-
Aulas práticas são excelentes para o contato direto com de didática. A utilização da internet como instrumento de
material biológico e fenômenos naturais, devem incentivar aprendizagem escolar é ainda um conceito novo e restrito.
o envolvimento, a participação e o trabalho em equipe. Isto Parece inevitável, entretanto, a sua rápida incorporação ao
será possível no momento que um experimento bem pla- ambiente escolar, como poderosa ferramenta no desenvol-
nejado seja investigativo e tenha relação com o contexto vimento do trabalho pedagógico. Como utilizar a internet
de vida do aluno. Evita-se também a armadilha de achar neste contexto é ainda uma questão nova e não parece
que as aulas devem ser extremamente atrativas e coloridas. muito clara. A internet, mesmo simbolizando um novo pa-
Na verdade o envolvimento, o interesse e a participação radigma educacional, onde o professor não é mais o de-
virão pelos “significados” que o tema possa gerar nos edu- tentor absoluto da informação, seguiu inicialmente por um
candos e não pelo espetáculo que proporcionam. Equipa- caminho de reforço do modelo tradicional: consultas feitas
mentos audiovisuais são talvez um dos recursos didáticos por uma parcela de educandos, de textos ou informações
mais utilizados depois da aula expositiva e há consenso de avulsas, fora de contexto muitas vezes de fonte desconhe-
que são aliados importantes para facilitar a aprendizagem, cida seguido de transcrição pura e simples para o papel,
tornando o processo educativo mais atraente e dinâmico. acompanhada ou não da impressão de uma imagem.
Observa-se, no entanto que muitos professores ainda en- O que temos observado é que alguns alunos ainda a
contram dificuldades de tomar para si tais recursos como minoria tem acesso à internet em casa e raramente na es-
parte integrante da sua comunicação. cola, mais por conta de uma motivação de bate-papo com
No caso especificamente dos filmes, parece haver um amigos, vídeos de entretenimento e jogos, e não como
distanciamento entre os temas apresentados e o andamen- atividades escolares orientada por professores Projetos de
to dos estudos teóricos desenvolvidos em sala e previstos estudo multidisciplinares que envolvem conhecimento de
no planejamento. O aluno percebe rapidamente que não diversas áreas são extremamente interessantes na medida
há esta integração e o curso perde ritmo e consistência. em que podem fortalecer a formação integral do individuo.
Muito disto pode ser explicado pela dificuldade de encon- São eficazes, desde que provoquem nos alunos a vontade
trar filmes adequados aos temas previstos nos planejamen- de buscar novas informações e estabelecer inter-relações e
tos ou próximos de nossa realidade. São filmes produzidos onde eles possam, em última análise, influir e decidir, sen-
comercialmente ou por instituições de ensino ou pesquisa, tindo-se donos do projeto.
muitas vezes estrangeiras. Enquanto não dispomos de ma- Outras modalidades didáticas devem ser pesquisadas e
terial mais adequado ou não produzimos nosso material, discutidas, no sentido de implantar ou aprimorar sua apli-
o ponto crucial parece ser o melhor preparo do professor cação. Entre elas citamos: a) Aulas de campo - exploração
em fazer o melhor uso do que dispomos. Além disso, é de ambientes e coleta de material biológico e mineral. b)
bom ressaltar novamente que a utilização mais efetiva de Análise crítica de informações científicas veiculadas pela
recursos audiovisuais depende não só de atitude do pro- mídia. c) Análise de casos reais: dilemas que façam o aluno
fessor, mas de um aparato de equipamentos em condições refletir sobre questões éticas e morais geradas pelo avanço
de uso, de organização na captação e estocagem de CDs, da ciência. d) A utilização da sala de aula como “sala de
DVDs, fitas VHS, slides, transparências, revistas, cartazes, ciências”, trazendo o material biológico para estudo e de-
etc e também de pessoal de apoio para uso e manuten- senvolvendo pequenos projetos de investigação. e) Feiras
ção. Novamente aqui, observa-se a necessidade de uma de ciências. f) Visitas orientadas a museus, reservas eco-
sistemática interna da escola que evite ao máximo os im- lógicas, instituições de pesquisa etc. Muitas experiências

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

educacionais criativas e de sucesso certamente devem es- Assim, o uso das Tecnologias da Informação e Comuni-
tar em andamento na rede estadual, mas carecem de maior cação (TIC) torna-se cada vez mais uma necessidade ime-
divulgação e precisariam ser listadas, discutidas e oportuni- diata. A sociedade sente a necessidade de conviver com as
zadas aos demais colegas. O aprofundamento dessa discussão facilidades criadas pela tecnologia e pelos meios de comu-
poderá trazer resultados significativos, pois, apesar de algumas nicação que trazem informação em altas velocidades, redu-
resistências, percebe-se que já existe, não só uma maior aber- zindo as fronteiras do mundo e facilitando as relações so-
tura a inovações metodológicas, como também uma necessi- ciais. É imprescindível a utilização de TIC nos diferentes se-
dade real de buscar novos caminhos para a educação científica. tores da sociedade, inclusive nas escolas. Segundo o autor,
O ensino “enciclopédico”, de simples memorização cada vez mais cedo crianças e jovens tem acesso a recursos
não traz significado para a criança ou adolescente e, em computacionais. Dessa forma, a tecnologia ganha desta-
consequência, não promove a construção do conhecimen- que no processo educacional, levando ao objetivo principal
to. O aluno deve ser estimulado a estabelecer relações, a da Educação que é a aprendizagem dos alunos, rejeitan-
compreender “causa e efeito” e perceber o avanço da ciên- do, dessa forma, o ensino baseado na transmissão de co-
cia, mas também a ação do homem sobre a natureza e as nhecimentos. Os documentos oficiais brasileiros também
consequências sobre o contexto social. Uma atividade ou abordam orientações sobre a importância do uso das TIC
projeto de estudo que envolva realmente os alunos provo- no ensino. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
ca: a busca de novas informações para a resolução ou en- do Ensino Médio (PCNEM) “as tecnologias da comunicação
tendimento de outras situações, a concentração, a coope- e da informação e seu estudo devem permear o currículo
ração entre colegas e a necessidade de organização. Evita e suas disciplinas”. E, segundo os Parâmetros Curriculares
que eles sejam meros espectadores ou receptores passivos Nacionais (PCN) é muito importante que os alunos façam
de informações que serão temporariamente memoriza- uso de computadores como instrumento de aprendizagem
das e o quanto antes esquecido. Tem como objetivo dar escolar, para que possam estar atualizados em relação às
oportunidade ou mesmo provocar os alunos a organizar novas tecnologias da informação e se instrumentalizarem
o pensamento e expressá-lo oralmente ou graficamente, para as demandas sociais presentes e futuras.
expor seus conceitos e crenças e confrontá-los com os dos Alguns exemplos de recursos tecnológicos que podem
demais colegas e com a argumentação do professor. Mes- funcionar como suporte para a aprendizagem são: jogos
mo atividades ditas experimentais, desenvolvidas sem essa digitais, aplicativos, filmes, imagens, gráficos entre outros.
consistência pedagógica - fazer o aluno refletir - podem O uso de tais recursos possibilita o desenvolvimento do
ser apenas demonstrativas e acabam reforçando a idéia de conhecimento de maneira divertida e interativa, aumen-
que a ciência possui leis imutáveis. Dessa forma, agigan- tando, assim a motivação dos alunos, já que, disponibilizar
tam a ciência como um ente distante operado por gênios atividades diversas e atrativas, constitui-se como um ins-
que dispõe de alta tecnologia. Certamente, pensar a ciên- trumento multifacetado que favorece o aprender e/ou re-
cia dessa forma, além de ser uma visão equivocada afasta solver problemas, através da interação com o saber. Porém,
o aluno não só da possibilidade de participação na cons- a formação de professores para a inserção de tecnologia
trução do conhecimento mas ensaia sua futura exclusão no ensino ainda encontra-se deficitária, sendo necessária
como participante ativo da sociedade. Texto adaptado de uma reformulação dos currículos de formação inicial e con-
LEPIENSKI. L. M; PINHO. K. E. P. tinuada dos professores de Ciências e Biologia, pois, faz-se
necessário que o professor conheça as novas tecnologias,
para que possa melhorar a sua práxis. Segundo os autores,
o papel do professor não é simplesmente o de transmitir
O ENSINO DE BIOLOGIA E AS NOVAS informações, mas de apresentá-los de forma inovadora e
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E estimulante, em que o aluno torna-se o sujeito da aprendi-
COMUNICAÇÃO. zagem e não mais o objeto.
Diante do que foi exposto, justifica-se a importância da
temática exposta nesse trabalho, já que o uso de tecnologias
no ensino está se tornando cada dia mais importante, uma
Mudanças sociais dão rumo às mudanças educacio- vez que favorece a aprendizagem e o desenvolvimento dos
nais, assim como as tecnologias influenciam de maneira alunos. Dessa forma, este artigo pretende abordar a situação
direta a educação e a sociedade. Dessa forma, temos uma atual do ensino de Ciências e Biologia, as mudanças que este
relação triangular, onde as três vertentes encontram-se vem sofrendo ao longo do tempo e a inclusão da tecnologia
intimamente ligadas e se influenciam. Além disso, com as como recurso facilitador do ensino. Além disso, trataremos
mudanças sociais tornam necessário um ensino voltado da importância da formação de professores capacitados para
para a contextualização entre a Ciência, Tecnologia e Socie- o uso de recursos inovadores em sala de aula.
dade, dessa forma surge a perspectiva CTS no ensino. Esta
tem por função formar alunos críticos quanto à importân- MUDANÇAS NECESSÁRIAS: O ENSINO DE CIÊNCIAS
cia da Ciência e da Tecnologia, para que os mesmos sejam E A INCLUSÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS
capazes de interferir nas decisões sobre essas vertentes.
“Compreender a relação entre Ciência, Tecnologia e Socie- O ensino de Ciências e Biologia tem sido praticado de
dade, significa ampliar as possibilidades de compreensão e acordo com diferentes propostas educacionais que se su-
participação efetiva no mundo”. cederam ao longo das décadas como elaborações teóricas

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

e que, de diversas maneiras, se expressaram nas salas de sido denominados de CTS Ciência, Tecnologia e Sociedade.
aulas, e, muitas dessas atividades são baseadas na mera Além da interdisciplinaridade outras abordagens e podem
transmissão de informações, tendo como recurso didático auxiliar na transformação do ensino. Autores apontam para
exclusivo o livro e sua transcrição na lousa; outras práticas a importância da diversidade de recursos e uso de metodo-
educativas já incorporam avanços no processo de ensino e logias variadas, que podem estimular o aluno para a parti-
aprendizagem sobre o ensino de Ciências, porém não fo- cipação dinâmica e criativa, potencializando o aprendizado.
ram muita. A partir da década de 50 foi possível reconhecer O uso de TIC no ensino de Ciências possui um gran-
movimentos que refletiram diferentes objetivos na educa- de potencial para essa diversidade de recursos que podem
ção de acordo com a situação política e econômica que ser utilizadas no sentido de melhorar o processo de ensino
o país atravessava no momento. De acordo com a autora, e aprendizagem. A implementação de recursos tecnológicos
primeiramente, houve a necessidade de preparar alunos no ensino de Ciências proporciona a criação de um ambiente
aptos para atender a demanda do mercado de trabalho na de trabalho mais motivador, onde os alunos focalizam mais
área de ciência e da tecnologia, já que o país estava em a sua atenção e ficam mais empenhados e rigorosos no de-
processo de industrialização. senvolvimento dos seus trabalhos, conseguindo-se também
Posteriormente, enquanto o país passava por transfor- melhores resultados em termos de avaliação.
mações políticas, como o período de eleições livres, houve As tecnologias se constituem em pontes que abrem
uma mudança de concepção do papel da escola que pas- a sala de aula para o universo, além de serem formas de
sava a ser responsável pela formação de todos os cidadãos representação da realidade, seja de forma mais abstrata ou
e não mais apenas de um grupo privilegiado. Após novas concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela,
transformações políticas, como imposição da ditadura mi- mas todas elas combinadas e integradas, possibilitando as-
litar em 1964, a escola deixou de enfatizar a cidadania para sim uma melhor apreensão da realidade, além de favorecer
buscar a formação do trabalhador, considerado agora peça o desenvolvimento de todas as potencialidades do discen-
importante para o desenvolvimento econômico do país. te. O uso adequado de tecnologias estimula a capacidade
O século XX foi marcado por significativas transforma- de desenvolver estratégias de buscas; transformam não só
ções nos âmbitos sociais, econômicos, políticos, culturais a maneira de comunicar, mas também a de trabalhar, de
que abalaram a sociedade e que estão diretamente liga- decidir e de pensar; estimulam o desenvolvimento de ha-
das ao surgimento das tecnologias da comunicação e da bilidades sociais; a qualidade da apresentação escrita das
informação. As autoras afirmam ainda que as tecnologias ideias, permitindo autonomia e a criatividade.
reorganizaram práticas, vivências, estruturas, infiltrando-se No ensino de Ciências e Biologia, a tecnologia pode
em praticamente todos os setores da sociedade, alterando ser uma grande aliada, já que existem assuntos que são
rotinas sedimentadas tanto na vida empresarial quanto na de complicado entendimento e podem ser vistos, por
particular. A partir dos anos 90 ficou clara a necessidade exemplo, com ajuda de vídeos, imagens em alta definição
de avaliar a relação existente entre Ciência, Tecnologia e e esquemas que podem tornar o assunto menos abstrato
Sociedade, possibilitando assim o surgimento de um pa- e de melhor entendimento, sendo bastante motivador para
norama um pouco mais complicado e com inseguranças a os alunos. A utilização das tecnologias em sala aula pode
respeito da produção científica e tecnológica, porém dei- facilitar a aprendizagem dos conteúdos, a assimilação de
xando clara a ausência de relação dessa produção com as imagens e a compreensão de fenômenos próprios da bio-
necessidades da maioria da população brasileira. logia. Aliar os novos recursos tecnológicos que estão sur-
O ensino de Ciências deve promover a articulação dos gindo à atividade pedagógica pode significar dinamismo,
saberes no cotidiano escolar, contribuir com a educação e criatividade e interação não só de conhecimentos teóricos,
sem perder de vista a necessidade de valorizar o conheci- mas daqueles relacionados à vida dos estudantes. O uso
mento científico-tecnológico. Porém, apesar da grande dis- pedagógico dessa rede poderá possibilitar aos professores
cussão da necessária reforma do ensino de ciências, pouca e alunos uma nova forma de construção do processo de
coisa mudou e a aula expositiva continua sendo a modali- ensino e de aprendizagem.
dade didática mais comum no ensino de Ciências. Além da O uso de tecnologias pode tornar a aprendizagem pra-
aula expositiva, os professores são muito presos aos livros zerosa, já que permitem inúmeras formas de mostrar um
didáticos, que tem sido praticamente o único instrumento conteúdo, privilegiando todos os sentidos, através da uti-
de apoio do professor, como mostra a realidade da maio- lização de som, imagem, movimento. Nesse sentido Mota
ria das escolas, o que pode tornar o ensino sistemático e (2010) afirma que os educadores podem adotar essas no-
pouco inovador, gerando desinteresse e falta de motiva- vas tecnologias de informação e comunicação como su-
ção nos alunos. Diante do que foi exposto e das diversas porte pedagógico, com o objetivo de provocar mais inte-
mudanças políticas, sociais e tecnológicas, notamos a ne- resse pelos conteúdos que são abordados em sala de aula
cessária transformação do ensino, este que deve se tornar e ainda possibilita uma maior sintonia da educação com o
transformador e contextualizado, ampliando as discussões contexto da modernidade. Além disso, o autor afirma que
sobre a tecnologia e inserindo o uso desta no processo de os meios tecnológicos podem facilitar o trabalho do pro-
aprendizagem. fessor, como para a produção de aulas, por exemplo. O
Os currículos de Ciências encontram-se cada vez mais, uso de tecnologias também pode favorecer a postura do
buscando uma abordagem interdisciplinar, na qual a Ciên- professor em aula, pois ele pode: Ajudar os alunos a es-
cia é estudada de maneira inter-relacionada com a Tec- tabelecerem um elo entre os conhecimentos acadêmicos
nologia e a Sociedade, dessa forma estes currículos têm com os adquiridos e vivenciados, ocorrendo uma troca de

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

ideias e experiências, em que o professor, em muitos casos, saber orientar os alunos sobre onde colher informações,
se coloca na posição do aluno, aprendendo com a expe- como tratá-las e como utilizá-las, tornado-se um mediador
riência deste. da aprendizagem.
Diante de tais benefícios, fazem-se necessárias inova- Dessa forma, a maneira de realizar o trabalho peda-
ções no ensino de ciências, para que a inserção de tecno- gógico também se transforma, sendo necessário formar
logias possa suprir as necessidades dos alunos, que estão continuamente o novo professor para que a tecnologia
cada vez mais sintonizados a aparelhos tecnológicos e ao sirva como mediador do processo ensino-aprendizagem.
mundo digital. Estamos vivendo a era tecnológica, na qual Os estudos dos licenciandos em Ciências não estão muito
as crianças e os adolescentes estão fascinados pela tecno- focados em introduzi-los nem à prática tecnológica, nem
logia e em meio a esses novos tempos, é de grande impor- a maneira como ciências e tecnologias se favorecem. Dessa
tância refletir e questionar a conexão dessas novas mídias forma, utilizar os recursos das tecnologias da comunicação e
na escola, atuando assim na formação dos estudantes. informação ainda é um grande desafio para os professores, já
Porém, é necessário um uso com cautelas das tec- que muitos docentes são relutantes quanto ao uso, principal-
nologias,: O valor da tecnologia na educação é derivado mente por sua formação acadêmica. Sendo assim, muitas são
inteiramente da sua aplicação. Saber direcionar o uso da as dificuldades encontradas por esses profissionais. A insegu-
Internet na sala de aula deve ser uma atividade de respon- rança quanto ao domínio das ferramentas tecnológicas, já que
sabilidade, pois exige que o professor preze, dentro da alguns professores alegam que a inserção de tais recursos é
perspectiva progressista, a construção do conhecimento, muito trabalhosa, pois o tempo necessário para planejar uma
de modo a contemplar o desenvolvimento de habilidades aula com a utilização das TIC é maior.
cognitivas que instigam o aluno a refletir e compreender, De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais a
conforme acessam, armazenam, manipulam e analisam as carência de professores qualificados se dá, principalmente,
informações que sondam na Internet. Sendo assim, é no- por que a formação docente não acompanhou o desenvol-
tável a importância do uso de tecnologia em sala de aula e vimento da Ciência e da tecnologia, tornando-se necessá-
a discussão sobre esta para a sociedade. Entretanto, o uso ria uma reforma na formação de professores. As discussões
deve ser feito de forma consciente e orientado pelo docen- envolvendo a formação de professores deve considerar
te, que muitas vezes não possui uma formação adequada também as transformações econômicas, sócio-políticas e
para tal. 3 culturais do mundo atual. Além disso, os autores afirmam
que a formação de professores deve dar respostas aos de-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O USO DE TEC- safios escolares, da contemporaneidade e do avanço tec-
NOLOGIAS nológico. Sem uma formação adequada não se pode es-
perar que o professor resolva sozinho um problema cuja
As instituições privadas vêm fazendo uso de ferramen- complexidade o ultrapassa. A autora também comenta que
tas tecnológicas de maneira gradual e sistemática, auxilian- para a integração de novas tecnologias, o professor terá
do o processo de ensinoaprendizagem. As escolas da rede que ser valorizado e sua formação inicial e continuada terá
pública têm encontrado diversos desafios para a implanta- que ser repensada. É possível notar que as afirmações da
ção e o uso desses recursos. Porém, a implementação do autora continuam atuais, dessa forma, pouca coisa mudou
governo brasileiro do projeto UCA (Um computador por na formação de professores para o uso de tecnologias na
aluno) apresentou alguns benefícios para o ensino públi- educação. Com estratégia para melhorar a formação de
co. O projeto, que teve início em 2007, tem por objetivo professores, a importância do uso das TIC para a própria
facilitar o processo de ensino e aprendizagem, ofertando formação docente: Quando nos deparamos com o pro-
um computador para cada educador e aluno das escolas cesso de formação inicial e de formação continuada dos
públicas de Educação Básica. educadores, e neste “ambiente” encontramos as TIC, surge
O projeto possui extrema importância, já que permi- uma nova postura por parte do aluno-educador. Uma pos-
te que professores e alunos tenham acesso a computado- tura de abertura e de busca, ao mesmo tempo. É necessá-
res e entrem em contato com a cultura tecnológica para fins rio um novo perfil de formação, que seja capaz de vencer
educativos. “O recurso por si só não garante a inovação, mas os desafios mais urgentes de uma sociedade “multimídia
depende de um projeto bem arquitetado, alimentado pelos e globalizada”, em que o rápido desenvolvimento, cientí-
professores e alunos que são usuários.” Nesse sentido, é im- fico e tecnológico, impõe uma dinâmica de permanente
portante destacar que os alunos são mais facilmente adapta- reconstrução de conhecimento, saberes, valores e atitudes.
dos aos recursos tecnológicos, já os professores sentem uma Como estratégia, a importância da formação continua-
maior dificuldade para se adaptar ao uso de tecnologias, seja da: O crescente avanço tecnológico, as novas descobertas
por falta de tempo, incentivo ou formação deficitária. científicas e a evolução dos meios de comunicação, reque-
Além disso, outra grande dificuldade é fato de que rem um profissional em constante formação e atualização.
muitos professores não nasceram na era da informática, Nesse contexto, é notório que, ao terminar sua formação
tampouco tiveram em suas formações iniciais instrumen- escolar, um profissional não estará acabado e pronto para
talização necessária para o emprego de tais recursos. Essas atuar na sua profissão. Isso ocorre também com o educador,
dificuldades se tornam obstáculos ao uso deste importante uma vez que, esse profissional é responsável por formar ci-
instrumento de ensino. Novas formas de aprender e no- dadãos atualizados e conscientes, perante a sociedade na
vas competências são exigidas por causa das novas tec- qual estão inseridos. A formação continuada pode permitir
nologias. Nesse contexto de mudança, o professor precisa condições para o professor construir conhecimento sobre

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

as tecnologias, entender por que e como integrar estas na vem contribuir para que os seres humanos em geral sejam
sua prática pedagógica e ser capaz de superar entraves capazes de usar o que aprenderam ao tomar decisões de
administrativos e pedagógicos. Os benefícios da formação interesse individual e coletivo, diante de um quadro ético
continuada podem favorecer o professor e os alunos, já de responsabilidade e respeito considerando seus papéis
que possibilitam a transição de um sistema fragmentado na biosfera.
de ensino para uma abordagem integradora voltada para O ensino de conceitos biológicos, além de considerar
a resolução de problemas específicos do interesse de cada os aspectos anteriormente citados, deve contemplar a utili-
aluno. Sendo assim, ressaltamos a importância de discutir, zação de diferentes metodologias com a utilização de mo-
(re)pensar e (re)formular a formação de professores, para dalidades didáticas que despertem a criatividade e a curio-
que estes sejam capazes de fazer uso desse recurso tão sidade para assuntos científicos presentes no cotidiano dos
importante em sala de aula, que é a tecnologia. alunos. De acordo com Bezerra et al. (2008) o ensino de
Com investimento na formação inicial e continuada, os do- Ciências e Biologia não se vincula às atividades práticas.
centes podem ser capazes de adequar as estratégias de ensino às Os alunos memorizam conceitos e se desestimulam, con-
mudanças tecnológicas. Além disso, é importante ressaltar que a siderando as aulas monótonas. A utilização de currículos
formação docente é incessante, ou seja, não tem fim, e acontece to- considerados tradicionalistas e racionalistas, ao apresenta-
dos os dias, em cada sala de aula e em contato com cada indivíduo. rem como objetivo principal a transmissão da informação,
Mesmo com a grande disseminação das Tecnologias e atribuindo ao professor o papel de mero apresentador do
da Informação e da Comunicação (TIC) na nossa sociedade conteúdo de forma organizada e atualizada, não permite
e na educação, o ensino de Ciências e Biologia continua que os alunos realizem descobertas a partir de hipóteses
restrito as aulas expositivas, com mínima participação dos fundamentadas em sua experiência vivencial.
alunos e fazendo com que os mesmos acreditem ser uma A ciência ensinada nesses moldes deixa de apresen-
das disciplinas mais difíceis do currículo escolar. Para mu- tar um caráter investigativo. Diante de conteúdos prontos
dar essa visão, uma das alternativas encontradas é o uso e acabados, os alunos passam simplesmente a repetir as
desses recursos no processo de ensino, colocando o aluno ideias de diferentes autores sem uma reflexão crítica so-
em contato com as mudanças que acontecem todo o dia bre a relação que se estabelece entre a teoria e a prática
na sociedade, na velocidade em que elas ocorrer, discutin- científica. Outra preocupação apresentada por diz respeito
do a Ciência disponível na mídia, e que muitas vezes não aos baixos índices de aproveitamento acadêmico e a di-
chegou aos livros didáticos, para que assim dinamize e fa- ficuldade que os alunos apresentam em desenvolver sua
cilite a compreensão dos conteúdos ministrados. autonomia intelectual.
É possível notar que o uso de tecnologia em sala de aula O ensino fragmentado no qual os conceitos são estu-
torna-se uma necessidade imediata, diante das mudanças que dados separadamente e fora do contexto social contribui
vêm ocorrendo na sociedade da informação. Dessa forma, para essa problemática. Martini e Boruchovitch (2004) su-
pode ser possível melhorar o processo de ensino e aprendi- gerem que a elaboração das atividades de aprendizagem
zagem e o desenvolvimento de habilidades necessárias para seja desenvolvida respeitando-se o nível cognitivo dos
o atual mercado de trabalho. Sugerimos a importância do uso alunos, ao mesmo tempo em que se tornam interessan-
das novas tecnológicas em sala de aula não para substituição tes e desafiantes. Elas devem aguçar a curiosidade e estar
do quadro, livro didático e giz, mas como um recurso facilita- próximas às experiências que vivem em seu cotidiano. A
dor da prática docente e do ensino, de modo a contribuir para formação dos professores de Ciências Biológicas está con-
uma aprendizagem significativa, prazerosa e dinâmica. siderando os aspectos acima citados? Para pesquisadores
Para isso, ressaltamos a importância de repensar a for- da área a formação deficiente do professor é uma das cau-
mação de professores, para que estes sejam capazes de sas para o problema apresentado.
cumprir o principal objetivo da educação: formar cidadãos Os cursos de licenciatura das áreas científicas valorizam
críticos, que sejam capazes de interferir nas decisões so- os conhecimentos teóricos em detrimento dos conheci-
ciais, políticas, científicas e tecnológicas, além de contribuir mentos empíricos. Estes, geralmente, são deixados para os
para a melhoria da sociedade em geral. Texto adaptado de apêndices no final do curso. O professor, em contrapartida,
CARVALHO. L. D. J; GUIMARÃES. C. R. P. sente-se inseguro em sua prática docente e apresenta di-
ficuldades em relacionar conceitos teóricos ao fazer empí-
rico. Por outro lado, as escolas nem sempre estão providas
de laboratórios de Ciências com todos os equipamentos e
AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM DO materiais necessários. Em outras situações, as experiências
CONHECIMENTO BIOLÓGICO. a serem desenvolvidas não podem ser colocadas em práti-
ca devido à periculosidade, à falta de ética ou até mesmo
por demandar muito tempo para a obtenção de resultados
factuais. Nestes casos, a utilização de objetos educacionais
A compreensão de conteúdos científicos é de extrema digitais, tais como, vídeos, jogos digitais, simulações, ani-
importância para o desenvolvimento cognitivo do ser hu- mações, software educativo e objetos de aprendizagem
mano. A formação biológica, como parte desse conteúdo, poderiam auxiliar o professor em sua prática viabilizando
contribui para que o indivíduo seja capaz de compreender aulas que contextualizem o conhecimento científico e es-
e aprofundar conceitos relacionados à concepção e ao de- timulem o desenvolvimento de um pensamento hipotéti-
senvolvimento dos seres vivos. Esses conhecimentos de- co-dedutivo.

128
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Porém esses recursos nem sempre chegam à sala de relação entre o material potencialmente significativo e as
aula mesmo com a disponibilidade de computadores. Os estruturas cognitivas especialmente relevantes do aprendiz
professores muitas vezes não têm conhecimento dos obje- denominadas de subsunçores.
tos educacionais digitais que podem ser utilizados em suas As novas ideias e conceitos são aprendidos com sig-
aulas. Por outro lado, também apresentam dificuldade em nificado a partir do momento em que ideias e conceitos
desenvolvê-las de maneira a incorporar adequadamente do próprio aprendiz estejam disponíveis em sua estrutura
esse tipo de tecnologia. A dificuldade na formação de pro- cognitiva, servindo-lhe como pontos de ancoragem. Sub-
fessores é, portanto, um dos motivos apresentados. Dian- sunçor é um conceito, ideia ou proposição, já existente na
te disso, a necessidade de investimento na formação de estrutura cognitiva do aprendiz, com a capacidade de an-
professores, sobretudo na inicial, é latente. A integração corar nova informação para o sujeito lhe atribuir significa-
de conteúdos teóricos a conteúdos da prática experimental do. A substantividade, por sua vez, acontece por meio da
pode ser dinamizada pela introdução de objetos educa- incorporação do novo conhecimento à estrutura cognitiva
cionais digitais contemplando-se principalmente a con- do aprendiz, a partir do estabelecimento de variadas repre-
textualização dos conhecimentos biológicos. É importante sentações para um único significado. Assim, para a apren-
ressaltar que a simples incorporação desses objetos pode dizagem significativa, as ideias e os conceitos não podem
não ser suficiente. A reconstrução de saberes específicos, depender exclusivamente do uso de signos específicos,
na formação inicial de professores, deve considerar tam- mas de uma variedade deles.
bém a incorporação de novos saberes pedagógicos. Dessa A estrutura cognitiva é formada pelo conteúdo to-
forma, o professor poderá colocar em ação novas práticas, tal organizado das ideias do indivíduo, em uma área par-
de maneira segura e fundamentada. ticular do conhecimento. A nova informação é apreendida
A articulação das disciplinas biológicas e educacionais por meio do princípio da assimilação, processo que ocorre
deve acontecer diante da construção de conceitos, a partir quando essa informação, potencialmente significativa, é re-
dos conhecimentos básicos que os alunos em formação já lacionada e assimilada pelo conceito subsunçor da estrutura
dispõem, por meio do diálogo, da investigação, do questio- cognitiva do aprendiz. A nova informação, ao ser apresen-
namento, da reflexão e da experimentação. É fundamental tada ao aluno, sofre transformações. O mesmo ocorre com
que o professor desenvolva o hábito de levantar hipóteses os subsunçores. As transformações se dão devido ao novo
e de pensar os fatos de diferentes formas. Uma das teorias conhecimento entrar em contato com os subsunçores da
que se adequa às propostas citadas é a Teoria da Aprendi- estrutura cognitiva do aluno. Dessa forma, os elementos da
zagem Significativa. Além de valorizar a aprendizagem de estrutura cognitiva podem assumir nova organização e novo
conceitos, ela promove, na estrutura cognitiva do aluno, a significado. Cada grupo de ideias tem por base a ideia-ân-
generalização significativa do conhecimento como produ- cora que pode ser um conceito ou proposição mais ampla
to da atividade reflexiva. Permite o domínio dos conceitos e que subordina outros conceitos na estrutura cognitiva e
proposições verbais pelas experiências prévias dos conhe- funciona como ancoradouro no processo de assimilação. O
cimentos. Diante da proposta de uma formação inicial do que acontece na Aprendizagem Significativa é que as novas
professor de Biologia que relacione aspectos tecnológicos ideias tornam-se progressivamente menos dissociáveis das
aos pedagógicos, pergunta-se: Como esses alunos em for- ideias-âncora, até não estarem disponíveis individualmente.
mação articulam a utilização de objetos educacionais digi- O desenvolvimento cognitivo é um processo dinâmico
tais no desenvolvimento de propostas de ensino pautadas em que os novos conhecimentos estão em constante inte-
na Teoria da Aprendizagem Significativa? ração com os já existentes. Dessa forma, propõe-se quatro
(4) Princípios Programáticos com a finalidade de auxiliar
Teoria da Aprendizagem Significativa o professor na construção da Aprendizagem Significativa:
Diferenciação Progressiva, Reconciliação Integradora, Or-
Essa teoria defende a tese de que a aprendizagem, por ganização Sequencial e Consolidação. O sistema cognitivo
meio da metacognição, fazendo com que os alunos evo- humano se constrói em hierarquia. As ideias mais inclusi-
luam em níveis de conhecimento e utilizando-se de estra- vas e explicativas ocupam o topo da estrutura e englobam
tégias organizadas, pode ser mais efetiva já que se adequa progressivamente ideias, proposições, conceitos e fatos
melhor às dificuldades cognitivas encontradas no proces- menos inclusivos. Além disso, torna-se mais fácil para o
so da construção mental do conhecimento por parte do aluno perceber aspectos diferenciados do todo mais geral
aluno. Essa aprendizagem é um processo que considera o do que perceber as partes que compõem esse todo. Dessa
conhecimento do aprendiz sobre o assunto. O objetivo a forma, a Diferenciação Progressiva, primeiro Princípio Pro-
ser alcançado, na Aprendizagem Significativa preconizada gramático, é definida como “parte do processo da apren-
é fazer com que o aluno aprenda utilizando os conheci- dizagem significativa, da retenção e da organização que
mentos existentes em sua estrutura cognitiva. Pela relação resulta numa elaboração hierárquica ulterior de conceitos
entre o que se sabe e o novo conteúdo, dá-se a compreen- ou proposições na estrutura cognitiva do ‘topo para baixo”.
são do assunto estudado com significado e não apenas Na Diferenciação Progressiva, portanto, as ideias mais
memorização mecânica. A Aprendizagem Significativa de gerais e inclusivas devem ser apresentadas em primeiro lu-
é um processo por meio do qual uma nova informação gar para que sejam diferenciadas em detalhes e nas especi-
se relaciona, de maneira substantiva (não-literal) e não- ficidades. A programação do conteúdo deve proporcionar
-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva a Diferenciação Progressiva do conhecimento, explorando
do indivíduo”. A não-arbitrariedade acontece por meio da as diferenças e semelhanças relevantes, com a finalidade

129
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

de reconciliar inconsistências reais ou aparentes, preconi- Esse fenômeno se caracteriza por um conjunto de pro-
zadas no segundo Princípio, a Reconciliação Integradora, cessos organizados e integrados, no nível de uma célula,
definida como “parte do processo da aprendizagem signi- de um indivíduo, ou ainda de organismos no seu meio.
ficativa que resulta na delineação explícita de semelhanças Um sistema vivo é sempre fruto da interação entre seus
e diferenças entre ideias relacionadas. elementos constituintes e da interação entre esse mesmo
A aprendizagem deve iniciar com os conceitos mais gerais, sistema e demais componentes de seu meio. As diferentes
ilustrando os conceitos intermediários a eles relacionados para formas de vida estão sujeitas a transformações, que ocor-
que seja possível introduzir em seguida os conceitos mais es- rem no tempo e no espaço, sendo, ao mesmo tempo, pro-
pecíficos, a partir do que se retorna, por meio de exemplos, ao piciadoras de transformações no ambiente.
conceito mais geral na hierarquia, sem perder a visão do todo. Ao longo da história da humanidade, várias foram as
Os tópicos ou unidades de estudo devem ser sequen- explicações para o surgimento e a diversidade da vida, de
ciados de maneira coerente com as relações de depen- modo que os modelos científicos conviveram e convivem
dência existentes no conteúdo a ser trabalhado. Este é o com outros sistemas explicativos como, por exemplo, os de
momento de fazer com que a nova informação se ancore inspiração filosófica ou religiosa. O aprendizado da Biolo-
aos conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva gia deve permitir a compreensão da natureza viva e dos li-
do aprendiz por meio da Organização Sequencial dos con- mites dos diferentes sistemas explicativos, a contraposição
teúdos. Na Consolidação, o conteúdo deve ser explorado entre os mesmos e a compreensão de que a ciência não
ao máximo, fazendo uso de práticas e exercícios, antes de tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas
introduzir novo conceito. Deve-se assegurar a alta proba- características a possibilidade de ser questionada e de se
bilidade de êxito na aprendizagem sequencialmente orga- transformar. Deve permitir, ainda, a compreensão de que
nizada. A dinâmica termina quando o aluno internaliza o os modelos na ciência servem para explicar tanto aquilo
conceito, compreendendo-o com significado. que podemos observar diretamente, como também aqui-
São duas as maneiras de utilização da Aprendizagem lo que só podemos inferir; que tais modelos são produ-
Significativa na prática pedagógica: • substantivamente, tos da mente humana e não a própria natureza, construções
por meio da seleção de conteúdos básicos, da coordena- mentais que procuram sempre manter a realidade observada
ção e da integração destes em diferentes níveis; • progra- como critério de legitimação. Elementos da história e da fi-
maticamente, ordenando a sequencia da matéria de estu- losofia da Biologia tornam possível aos alunos a compreen-
do, respeitando a organização lógica interna do conteúdo são de que há uma ampla rede de relações entre a produção
juntamente com as atividades práticas. Sabe-se que, para científica e o contexto social, econômico e político.
haver Aprendizagem Significativa, é necessário que existam É possível verificar que a formulação, o sucesso ou o fra-
idéias-âncora na estrutura cognitiva do aluno com as quais casso das diferentes teorias científicas estão associados a seu
os novos conceitos venham a interagir, garantindo a assi- momento histórico. O conhecimento de Biologia deve subsi-
milação do novo conhecimento. Para assegurar esse aspec- diar o julgamento de questões polêmicas, que dizem respeito
to, defende-se o desenvolvimento de recursos denominados ao desenvolvimento, ao aproveitamento de recursos natu-
Organizadores Prévios. Eles funcionam como elementos que rais e à utilização de tecnologias que implicam intensa inter-
mobilizam os subsunçores para o processo de assimilação venção humana no ambiente, cuja avaliação deve levar em
ou como construtores de âncoras para novas aprendizagens conta a dinâmica dos ecossistemas, dos organismos, enfim,
proporcionando, dessa forma, o desenvolvimento de conhe- o modo como a natureza se comporta e a vida se processa.
cimentos prévios ainda não existentes na estrutura cognitiva O desenvolvimento da Genética e da Biologia Molecular, das
do aprendiz. Texto adaptado de LIMA. L. D. tecnologias de manipulação do DNA e de clonagem traz à
tona aspectos éticos envolvidos na produção e aplicação do
conhecimento científico e tecnológico, chamando à reflexão
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES PROPOSTAS sobre as relações entre a ciência, a tecnologia e a socieda-
de. Conhecer a estrutura molecular da vida, os mecanismos
PELOS PARÂMETROS CURRICULARES
de perpetuação, diferenciação das espécies e diversificação
NACIONAIS DO ENSINO MÉDIO PARA A intraespecífica, a importância da biodiversidade para a vida
DISCIPLINA DE BIOLOGIA. no planeta são alguns dos elementos essenciais para um po-
sicionamento criterioso relativo ao conjunto das construções
e intervenções humanas no mundo contemporâneo. A físi-
ca dos átomos e moléculas desenvolveu representações que
Cada ciência particular possui um código intrínseco, permitem compreender a estrutura microscópica da vida.
uma lógica interna, métodos próprios de investigação, que Na Biologia estabelecem-se modelos para as microscópicas
se expressam nas teorias, nos modelos construídos para estruturas de construção dos seres, de sua reprodução e de
interpretar os fenômenos que se propõe a explicar. Apro- seu desenvolvimento. Debatem-se, nessa temática, questões
priar-se desses códigos, dos conceitos e métodos relacio- existenciais de grande repercussão filosófica, sobre ser a ori-
nados a cada uma das ciências, compreender a relação gem da vida um acidente, uma casualidade ou, ao contrário,
entre ciência, tecnologia e sociedade, significa ampliar as a realização de uma ordem já inscrita na própria constitui-
possibilidades de compreensão e participação efetiva nes- ção da matéria infinitesimal. Neste século presencia-se um
se mundo. É objeto de estudo da Biologia o fenômeno vida intenso processo de criação científica, inigualável a tempos
em toda sua diversidade de manifestações. anteriores. A associação entre ciência e tecnologia se amplia,

130
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

tornando-se mais presente no cotidiano e modificando cada com aspectos do conhecimento tecnológico a eles asso-
vez mais o mundo e o próprio ser humano. Questões relativas ciados. O objetivo educacional geral de se desenvolver a
à valorização da vida em sua diversidade, à ética nas relações curiosidade e o gosto de aprender, praticando efetivamen-
entre seres humanos, entre eles e seu meio e o planeta, ao de- te o questionamento e a investigação, pode ser promovido
senvolvimento tecnológico e sua relação com a qualidade de num programa de aprendizado escolar. Por exemplo, nos
vida, marcam fortemente nosso tempo, pondo em discussão estudos das relações entre forma, função e ambiente, que
os valores envolvidos na produção e aplicação do conheci- levam a critérios objetivos, através dos quais os seres vivos
mento científico e tecnológico. podem ser agrupados. Ao estudar o indivíduo, estar-se-á
A decisão sobre o quê e como ensinar em Biologia, no estudando o grupo ao qual ele pertence e vice-versa; o es-
Ensino Médio, não se deve estabelecer como uma lista de tudo aprofundado de determinados grupos de seres vivos
tópicos em detrimento de outra, por manutenção tradicio- em particular anatomia, fisiologia e comportamentos pode
nal, ou por inovação arbitrária, mas sim de forma a promo- se constituir em projetos educativos, procurando verificar
ver, no que compete à Biologia, os objetivos educacionais, hipóteses sobre a reprodução/evolução de peixes, samam-
estabelecidos pela CNE/98 para a área de Ciências da Na- baias ou seres humanos.
tureza, Matemática e suas Tecnologias e em parte já enun- Nesses projetos coletivos, tratando de questões que
ciados na parte geral desse texto. Dentre esses objetivos, mereceram explicações diversas ao longo da história da
há aspectos da Biologia que têm a ver com a construção humanidade, até que se estabelecessem as atuais leis da
de uma visão de mundo, outros práticos e instrumentais genética, pode-se discutir algumas dessas explicações,
para a ação e, ainda aqueles, que permitem a formação seus pressupostos, seus limites, o contexto em que foram
de conceitos, a avaliação, a tomada de posição cidadã. Um formuladas, permitindo a compreensão da dimensão his-
tema central para a construção de uma visão de mundo é tórico-filosófica da produção científica e o caráter da ver-
a percepção da dinâmica complexidade da vida pelos alu- dade científica. As discussões sobre tais representações e
nos, a compreensão de que a vida é fruto de permanentes sobre aquelas elaboradas pelos alunos, devem provocar a
interações simultâneas entre muitos elementos, e de que necessidade de se obter mais informações, com a intenção
as teorias em Biologia, como nas demais ciências, se cons- de superar os limites que cada uma delas apresenta para o
tituem em modelos explicativos, construídos em determi- entendimento da transmissão de características. As consi-
nados contextos sociais e culturais. derações acima sugerem uma articulação de conteúdos no
Essa postura busca superar a visão a-histórica que mui- eixo Ecologia-Evolução que deve ser tratado historicamen-
tos livros didáticos difundem, de que a vida se estabelece te, mostrando que distintos períodos e escolas de pensa-
como uma articulação mecânica de partes, e como se para mento abrigaram diferentes idéias sobre o surgimento da
compreendê-la, bastasse memorizar a designação e a fun- vida na Terra. Importa relacioná-las ao momento históri-
ção dessas peças, num jogo de montar biológico. Ao longo co em que foram elaboradas, reconhecendo os limites de
do Ensino Médio, para garantir a compreensão do todo, cada uma delas na explicação do fenômeno. Para o estabe-
é mais adequado partir-se do geral, no qual o fenômeno lecimento da hipótese hoje hegemônica, concorreram dife-
vida é uma totalidade. O ambiente, que é produto das rentes campos do conhecimento como a Geologia, a Física
interações entre fatores abióticos e seres vivos, pode ser e a Astronomia. Essa hipótese se assenta em prováveis in-
apresentado num primeiro plano e é a partir dessas intera- terações entre os elementos e fenômenos físico-químicos
ções que se pode conhecer cada organismo em particular do planeta, em particular fenômenos atmosféricos, e que
e reconhecê-lo no ambiente e não vice-versa. Ficará então resultaram na formação de sistemas químicos nos mares
mais significativo saber que, por sua vez, cada organismo é aquecidos da Terra primitiva.
fruto de interações entre órgãos, aparelhos e sistemas que, A vida teria emergido quando tais sistemas adquiriram
no particular, são formados por um conjunto de células determinada capacidade de trocar substâncias com o meio,
que interagem. E, no mais íntimo nível, cada célula se con- obter energia e se reproduzir. Reconhecer tais elementos da
figura pelas interações entre suas organelas, que também Terra primitiva, relacionar fenômenos entre si e às caracterís-
possuem suas particularidades individuais, e pelas intera- ticas básicas de um sistema vivo são habilidades fundamen-
ções entre essa célula e as demais. tais à atual compreensão da vida. Os estudos dos processos
Para promover um aprendizado ativo, que, especial- que culminaram com o surgimento de sistemas vivos leva
mente em Biologia, realmente transcenda a memorização a indagações acerca dos diferentes níveis de organização
de nomes de organismos, sistemas ou processos, é impor- como tecidos, órgãos, aparelhos, organismos, populações,
tante que os conteúdos se apresentem como problemas comunidades, ecossistemas, biosfera, resultantes das inte-
a serem resolvidos com os alunos, como, por exemplo, rações entre tais sistemas e entre eles e o meio. Identificar e
aqueles envolvendo interações entre seres vivos, incluin- conceituar esses níveis de organização da matéria viva, es-
do o ser humano, e demais elementos do ambiente. Essa tabelecendo relações entre eles, permite a compreensão da
visualização da interação pode preceder e ensejar a ques- dinâmica ambiental que se processa na biosfera.
tão da origem e da diversidade, até que o conhecimento Uma idéia central a ser desenvolvida é a do equilíbrio
da célula se apresente como questão dentro da questão, dinâmico da vida. A identificação da necessidade de os se-
como problema a ser desvendado para uma maior e me- res vivos obterem nutrientes e metabolizá-los permite o
lhor compreensão do fenômeno vida. Para que se elabo- estabelecimento de relações alimentares entre os mesmos,
re um instrumental de investigação desses problemas, é uma forma básica de interação nos ecossistemas, solicitan-
conveniente e estimulante que se estabeleçam conexões do do aluno a investigação das diversas formas de obten-

131
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

ção de alimento e energia e o reconhecimento das relações eventos sincrônicos, que não guardam simples relação
entre elas, no contexto dos diferentes ambientes em que de causa e efeito; a variabilidade, como consequência de
tais relações ocorrem. As interações alimentares podem mutações e de combinações diversas de material genético,
ser representadas através de uma ou várias sequências, ca- precisa ser entendida como substrato sobre o qual age a
deias e teias alimentares, contribuindo para a consolidação seleção natural; a própria ação da natureza selecionando
do conceito em desenvolvimento e para o início do enten- combinações genéticas que se expressam em caracterís-
dimento da existência de um equilíbrio dinâmico nos ecos- ticas adaptativas, também precisa considerar a reprodução,
sistemas, em que matéria e energia transitam de formas que possibilita a permanência de determinado material gené-
diferentes em ciclos e fluxos respectivamente e que tais ci- tico na população. A interpretação do processo de formação
clos e fluxos representam formas de interação entre a por- de novas espécies demanda a aplicação desses conceitos, o
ção viva e a abiótica do sistema. A tecnologia, instrumento que pode ser feito, por exemplo, pelos alunos, se solicitados
de intervenção de base científica, pode ser apreciada como a construir explicações sobre o que poderia determinar a for-
moderna decorrência sistemática de um processo, em que mação de novas espécies, numa população, em certas condi-
o ser humano, parte integrante dos ciclos e fluxos que ope- ções de isolamento geográfico e reprodutivo. Para o estudo
ram nos ecossistemas, neles intervém, produzindo modifi- da diversidade de seres vivos, tradicionalmente da Zoologia
cações intencionais e construindo novos ambientes. e da Botânica, é adequado o enfoque evolutivo-ecológico,
Estudos sobre a ocupação humana, através de alguns ou seja, a história geológica da vida. Focalizando-se a escala
entre os diversos temas existentes, aliados à comparação de tempo geológico, centra-se atenção na configuração das
entre a dinâmica populacional humana e a de outros seres águas e continentes e nas formas de vida que marcam cada
vivos, permitirão compreender e julgar modos de realizar tais período e era geológica.
intervenções, estabelecendo relações com fatores sociais e Uma análise primeira permite supor que a vida surge,
econômicos envolvidos. Possibilitarão, ainda, o estabeleci- se expande, se diversifica e se fixa nas águas. Os continen-
mento de relações entre intervenção no ambiente, degra- tes são ocupados posteriormente à ocupação das águas
dação ambiental e agravos à saúde humana e a avaliação e, neles, também a vida se diversifica e se fixa, não sem
do desenvolvimento sustentado como alternativa ao modelo um grande número de extinções. O estudo das funções vi-
atual. Para o estudo da dinâmica ambiental contribuem ou- tais básicas, realizadas por diferentes estruturas, órgãos e
tros campos do conhecimento, além da Biologia, como Física, sistemas, com características que permitem sua adaptação
Química, Geografia, História e Filosofia, possibilitando ao alu- nos diversos meios, possibilita a compreensão das relações
no relacionar conceitos aprendidos nessas disciplinas, numa de origem entre diferentes grupos de seres vivos e o am-
conceituação mais ampla de ecossistema. Um aspecto da biente em que essas relações ocorrem. Caracterizar essas
maior relevância na abordagem dos ecossistemas diz respei- funções, relacioná-las entre si na manutenção do ser vivo e
to à sua construção no espaço e no tempo e à possibilidade relacioná-las com o ambiente em que vivem os diferentes
da natureza absorver impactos e se recompor. seres vivos, estabelecer vínculos de origem entre os diver-
O estudo da sucessão ecológica permite compreender sos grupos de seres vivos, comparando essas diferentes
a dimensão espaço-temporal do estabelecimento de ecos- estruturas, aplicar conhecimentos da teoria da evolução na
sistemas, relacionar diversidade e estabilidade de ecossis- interpretação dessas relações são algumas das habilidades
temas, relacionar essa estabilidade a equilíbrio dinâmico, que esses estudos permitem desenvolver.
fornecendo elementos para avaliar as possibilidades de Ao abordar as funções acima citadas, é importante dar
absorção de impactos pela natureza. Conhecer algumas destaque ao corpo humano, focalizando as relações que se
explicações sobre a diversidade das espécies, seus pressu- estabelecem entre os diferentes aparelhos e sistemas e entre
postos, seus limites, o contexto em que foram formuladas o corpo e o ambiente, conferindo integridade ao corpo hu-
e em que foram substituídas ou complementadas e refor- mano, preservando o equilíbrio dinâmico que caracteriza o
muladas, permite a compreensão da dimensão histórico- estado de saúde. Não menos importantes são as diferenças
-filosófica da produção científica e o caráter da verdade que evidenciam a individualidade de cada ser humano, indi-
científica. Focalizando-se a teoria sintética da evolução, é cando que cada pessoa é única e permitindo o desenvolvi-
possível identificar a contribuição de diferentes campos do mento de atitudes de respeito e apreço ao próprio corpo e
conhecimento para a sua elaboração, como, por exemplo, ao do outro. Noções sobre Citologia podem aparecer em vá-
a Paleontologia, a Embriologia, a Genética e a Bioquími- rios momentos de um curso de Biologia, com níveis diversos
ca. São centrais para a compreensão da teoria os concei- de enfoque e aprofundamento. Ao se tratar, por exemplo,
tos de adaptação e seleção natural como mecanismos da da diversidade da vida, vários processos celulares podem ser
evolução e a dimensão temporal, geológica do processo abordados, ainda em um nível fenomenológico: fotossíntese,
evolutivo. Para o aprendizado desses conceitos, bastante respiração celular, digestão celular etc. Estudando-se a he-
complicados, é conveniente criarem-se situações em que reditariedade, pode-se tratar a síntese protéica e, portanto,
os alunos sejam solicitados a relacionar mecanismos de al- noções de núcleo, ribossomas, ácidos nucleicos.
terações no material genético, seleção natural e adaptação, A compreensão da dinâmica celular pode se estabele-
nas explicações sobre o surgimento das diferentes espécies cer quando for possível relacionar e aplicar conhecimentos
de seres vivos. desenvolvidos, não só ao longo do curso de Biologia, mas
As relações entre alterações ambientais e modificações também em Química e Física, no entendimento dos pro-
dos seres vivos, estas últimas decorrentes do acúmulo de cessos que acontecem no interior das células. Elaborar uma
alterações genéticas, precisam ser compreendidas como síntese, em que os processos vitais que ocorrem em nível

132
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

celular se evidenciem relacionados, permite a construção que o ensino de Biologia se volte ao desenvolvimento
do conceito sistematizado de célula: um sistema que troca de competências que permitam ao aluno lidar com as
substâncias com o meio, obtém energia e se reproduz. informações, compreendê- las, elaborá-las, refutá-las,
Compreende-se, assim, a teoria celular atualmente acei- quando for o caso, enfim compreender o mundo e nele
ta, assim como se abre caminho para o entendimento agir com autonomia, fazendo uso dos conhecimentos
da relação entre os processos celulares e as tecnologias adquiridos da Biologia e da tecnologia.
utilizadas na medicina ortomolecular, a aplicação de co- O desenvolvimento de tais competências se inicia na
nhecimentos da Biologia e da Química no entendimento escola fundamental, mas não se restringe a ela. Cada um
dos mecanismos de formação e ação dos radicais livres, desses níveis de escolaridade tem características pró-
a relação desses últimos com o envelhecimento celular. prias, configura momentos particulares de vida, de de-
É recomendável que os estudos sobre Embriologia senvolvimento dos estudantes, mas guarda em comum o
atenham-se à espécie humana, focalizando-se as prin- fato de envolver pessoas, desenvolvendo capacidades e
cipais fases embrionárias, os anexos embrionários e a potencialidades que lhes permitam o exercício pleno da
comunicação intercelular no processo de diferenciação. cidadania, nesses mesmos momentos. É preciso, portan-
Aqui cabem duas observações: não é necessário conhe- to, selecionar conteúdos e escolher metodologias coe-
cer o desenvolvimento embrionário de todos os grupos rentes com nossas intenções educativas.
de seres vivos para compreender e utilizar a embriolo- Essas intenções estão expressas nos objetivos gerais
gia como evidência da evolução; importa compreender da área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tec-
como de uma célula – o ovo – se organiza um organis- nologias e também naqueles específicos da disciplina de
mo; não é essencial, portanto, no nível médio de esco- Biologia. Elas incluem, com certeza, compreender a na-
laridade, o estudo detalhado do desenvolvimento em- tureza como uma intrincada rede de relações, um todo
brionário dos vários seres vivos. A descrição do material dinâmico, do qual o ser humano é parte integrante, com
genético em sua estrutura e composição, a explicação do ela interage, dela depende e nela interfere, reduzindo seu
processo da síntese protéica, a relação entre o conjunto grau de dependência, mas jamais sendo independente.
protéico sintetizado e as características do ser vivo e a Implica também identificar a condição do ser humano de
identificação e descrição dos processos de reprodução agente e paciente de transformações intencionais por ele
celular são conceitos e habilidades fundamentais à com- produzidas. Entre as intenções formativas, garantida essa
preensão do modo como a hereditariedade acontece. visão sistêmica, importa que o estudante saiba: relacionar
Cabe também, nesse contexto, trabalhar com o alu- degradação ambiental e agravos à saúde humana, enten-
no no sentido de ele perceber que a estrutura de dupla dendo-a como bem-estar físico, social e psicológico e não
hélice do DNA é um modelo construído a partir dos co- como ausência de doença; compreender a vida, do ponto
nhecimentos sobre sua composição. É preciso que o alu- de vista biológico, como fenômeno que se manifesta de
no relacione os conceitos e processos acima expressos, formas diversas, mas sempre como sistema organizado e
nos estudos sobre as leis da herança mendeliana e algu- integrado, que interage com o meio físico-químico através
mas de suas derivações, como alelos múltiplos, herança de um ciclo de matéria e de um fluxo de energia; com-
quantitativa e herança ligada ao sexo, recombinação gê- preender a diversificação das espécies como resultado de
nica e ligação fatorial. São necessárias noções de pro- um processo evolutivo, que inclui dimensões temporais e
babilidade, análise combinatória e bioquímica para dar espaciais; compreender que o universo é composto por
significado às leis da hereditariedade, o que demanda elementos que agem interativamente e que é essa inte-
o estabelecimento de relações de conceitos aprendidos ração que configura o universo, a natureza como algo di-
em outras disciplinas. De posse desses conhecimentos, é nâmico e o corpo como um todo, que confere à célula
possível ao aluno relacioná-los às tecnologias de clona- a condição de sistema vivo; dar significado a conceitos
gem, engenharia genética e outras ligadas à manipula- científicos básicos em Biologia, como energia, matéria,
ção do DNA, proceder a análise desses fazeres humanos transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio dinâ-
identificando aspectos éticos, morais, políticos e econô- mico, hereditariedade e vida; formular questões, diagnos-
micos envolvidos na produção científica e tecnológica, ticar e propor soluções para problemas reais a partir de
bem como na sua utilização; o aluno se transporta de um elementos da Biologia, colocando em prática conceitos,
cenário meramente científico para um contexto em que procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado
estão envolvidos vários aspectos da vida humana. escolar. No ensino de Biologia, enfim, é essencial o desen-
É um momento bastante propício ao trabalho com volvimento de posturas e valores pertinentes às relações
a superação de posturas que, por omitir a real comple- entre os seres humanos, entre eles e o meio, entre o ser
xidade das questões, induz a julgamentos simplistas e, humano e o conhecimento, contribuindo para uma educa-
não raro, preconceituosos. Não é possível tratar, no Ensi- ção que formará indivíduos sensíveis e solidários, cidadãos
no Médio, de todo o conhecimento biológico ou de todo conscientes dos processos e regularidades de mundo e da
o conhecimento tecnológico a ele associado. Mais im- vida, capazes assim de realizar ações práticas, de fazer jul-
portante é tratar esses conhecimentos de forma contex- gamentos e de tomar decisões.
tualizada, revelando como e por que foram produzidos,
em que época, apresentando a história da Biologia como
um movimento não linear e frequentemente contraditó-
rio. Mais do que fornecer informações, é fundamental

133
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Classe I - Biologia

Competências e habilidades a serem desenvolvi-


das em Biologia ANOTAÇÕES
Representação e comunicação
___________________________________________________
• Descrever processos e características do ambiente ou
de seres vivos, observados em microscópio ou a olho nu. ___________________________________________________
• Perceber e utilizar os códigos intrínsecos da Biologia.
• Apresentar suposições e hipóteses acerca dos fenô- ___________________________________________________
menos biológicos em estudo. ___________________________________________________
• Apresentar, de forma organizada, o conhecimento
biológico apreendido, através de textos, desenhos, es- ___________________________________________________
quemas, gráficos, tabelas, maquetes etc
• Conhecer diferentes formas de obter informações ___________________________________________________
(observação, experimento, leitura de texto e imagem, en-
trevista), selecionando aquelas pertinentes ao tema bioló- ___________________________________________________
gico em estudo.
___________________________________________________
• Expressar dúvidas, idéias e conclusões acerca dos
fenômenos biológicos. ___________________________________________________

Investigação e compreensão ___________________________________________________

• Relacionar fenômenos, fatos, processos e idéias em ___________________________________________________


Biologia, elaborando conceitos, identificando regularida-
___________________________________________________
des e diferenças, construindo generalizações.
• Utilizar critérios científicos para realizar classifica- ___________________________________________________
ções de animais, vegetais etc.
• Relacionar os diversos conteúdos conceituais de ___________________________________________________
Biologia (lógica interna) na compreensão de fenômenos.
• Estabelecer relações entre parte e todo de um fenô- ___________________________________________________
meno ou processo biológico.
___________________________________________________
• Selecionar e utilizar metodologias científicas ade-
quadas para a resolução de problemas, fazendo uso, ___________________________________________________
quando for o caso, de tratamento estatístico na análise de
dados coletados. ___________________________________________________
• Formular questões, diagnósticos e propor soluções para
problemas apresentados, utilizando elementos da Biologia. ___________________________________________________
• Utilizar noções e conceitos da Biologia em novas
___________________________________________________
situações de aprendizado (existencial ou escolar).
• Relacionar o conhecimento das diversas disciplinas ___________________________________________________
para o entendimento de fatos ou processos biológicos
(lógica externa). ___________________________________________________

Contextualização sócio-cultural ___________________________________________________

• Reconhecer a Biologia como um fazer humano e, ___________________________________________________


portanto, histórico, fruto da conjunção de fatores sociais, ___________________________________________________
políticos, econômicos, culturais, religiosos e tecnológicos.
• Identificar a interferência de aspectos místicos e cul- ___________________________________________________
turais nos conhecimentos do senso comum relacionados
a aspectos biológicos. ___________________________________________________
• Reconhecer o ser humano como agente e paciente de
transformações intencionais por ele produzidas no seu ambiente. ___________________________________________________
• Julgar ações de intervenção, identificando aquelas ___________________________________________________
que visam à preservação e à implementação da saúde in-
dividual, coletiva e do ambiente. ___________________________________________________
• Identificar as relações entre o conhecimento científi-
co e o desenvolvimento tecnológico, considerando a preser- ___________________________________________________
vação da vida, as condições de vida e as concepções de de-
senvolvimento sustentável. Texto adaptado de MAIA. E. M. ___________________________________________________

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