Sumário:
Introdução ao estudo do electromagnetismo. Força electrostática e lei de Coulomb.
é a “carga elementar”. Nunca se detectaram cargas eléctricas que fossem mais pequenas
do que esta ou que não fossem múltiplos inteiros desta. Contudo, os constituintes dos
protões e neutrões − chamados quarks − têm cargas fraccionárias de acordo com a teoria
que descreve o comportamento de protões e neutrões. Apesar da comprovação
experimental dessa teoria em numerosos aspectos, a observação de um desses quarks
num estado isolado (fora do protão ou do neutrão a que pertence) nunca foi
experimentalmente possível. De facto, nunca se mediram experimentalmente cargas
eléctricas que fossem fracções da carga do electrão.
No SI, a unidade de carga eléctrica é o coulomb (símbolo C). Esta unidade é
“grande” no sentido em que corresponde a um deficit ou excesso de 6×1018 electrões
[ver Eq. (7.1)] pelo que o seu submúltiplo microcoulomb (µC) é muito utilizado.
Ao nível macroscópico a matéria é, geralmente, electricamente neutra. As coisas
são feitas de átomos e o número de protões (no núcleo desses átomos) é igual ao
número de electrões (nas nuvens electrónicas em torno do núcleo); a consequência da
igualdade do número de cargas positivas e negativas é a neutralidade eléctrica da
matéria. Contudo, pode electrizar-se um corpo o que significa que ele fica com excesso
de electrões (fica carregado negativamente) ou com deficit de electrões (fica carregado
negativamente). Há várias formas de electrizar um corpo, sendo uma delas por fricção.
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Quando se carrega um corpo há uma redistribuição de cargas eléctricas que
envolvem, sobretudo, os electrões. Alguns materiais, como os metais, apresentam uma
propriedade interessante: muitos dos electrões não pertencem a um só átomo, como no
caso de um átomo isolado: são “livres”, deslocam-se no material e “pertencem” a vários
átomos. Claro que este movimento não põe em causa a neutralidade da matéria pois o
número de cargas negativas não deixa de ser igual ao de cargas positivas. Os materiais
com estas características chamam-se condutores. As cargas eléctricas colocadas num
destes materiais redistribuem-se muito rapidamente. De acordo com o Princípio de
Energia Mínima, essa redistribuição dá-se de maneira a que se tenha a menor energia
possível.
Há outros materiais − chamados isoladores − em que essa distribuição de carga
não ocorre porque não há electrões livres. A carga depositada nesses materiais fica no
sítio onde é colocada.
Uma propriedade importante das cargas eléctricas é exercerem entre si
interacções ou forças de atracção e de repulsão. São forças, cujos pares acção-reacção
têm a mesma linha de acção. As cargas eléctricas com o mesmo sinal, repelem-se; se
tiverem sinal contrário atraem-se (Fig. 7.1)
+ + +
Figura 7.1
e − + e + → 2γ . (7.2)
Também no decaimento beta (que vamos estudar mais tarde no final do semestre), de
que é exemplo a conversão de um neutrão num protão num electrão e num anti-
neutrino, há desaparecimento de um tipo de carga e aparecimento de outro,
n → p + e− + υ (7.3)
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mas a carga total conserva-se: era inicialmente zero e continua nula.
qQ
F=K ê r (7.4)
r2
onde q e Q são as cargas eléctricas das duas partículas em interacção; r a distância entre
elas; ê r o vector unitário com a direcção da linha que une as cargas; e K uma constante
que, no SI vale
K = 9 × 109 N m 2 C −2 . (7.5)
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É também habitual escrever esta constante na forma K= , sendo
4πε 0
ε 0 = 8,8542 × 10 −12 F/m a permitividade do vazio. A Fig. 7.2 mostra a força que a carga1
Q exerce na carga q no caso em que as duas cargas têm o mesmo sinal. A força que a
carga q exerce na Q é igual em grandeza e direcção mas tem o sentido contrário (e está
aplicada em Q, obviamente).
F
q
r
êr
Q
Figura 7.2
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A palavra “carga” usa-se também para designar a partícula que possui carga eléctrica. Assim, por carga
Q entende-se a partícula que possui carga eléctrica Q.
3
q1
F2
Q
F
q2
F1
Figura 7.3
Na Fig. 7.3 a força que actua sobre a carga Q é a soma das duas forças F1 e F2 devidas
às cargas q1 e q2.
Podemos fazer uma aplicação imediata da lei de Coulomb ao movimento
“clássico” de um electrão em torno do protão no átomo de hidrogénio. Sabendo que o
raio da órbita é 0,53×10−10 m (raio da primeira órbita de Bohr, que também se escreve,
muitas vezes como 0,53 Å embora o angstrom não seja do SI), qual é a sua velocidade?
Basta identificar a força coulombiana (Fig. 7.4) que o protão exerce no electrão
com a força centrípeta.
Figura 7.4
Assim, como a carga do electrão e a do protão são iguais em módulo [o valor desta
carga dado por (7.1)],
e2 v2
K = m . (7.6)
r2 r
Ke 2
v= ≈ 0,01 c . (7.7)
mr