INTRODUÇÃO
O interesse em desenvolver esta pesquisa se deu em buscar verificar se a
religião de alguma forma se contrapõe na disciplina de Educação Física durante as
aulas, pelo fato de algumas religiões através de suas crenças e costumes diversos
direcionar de forma mais incisiva seus ensinamentos com relação ao uso do corpo
às mulheres. Segundo Rigoni e Daolio (2014; 2017), para determinadas religiões, o
momento de cuidar do corpo é durante as aulas de Educação Física, e que as
modalidades sobre tudo esportivas, são extremamente valorizadas, porém existem
algumas atividades que fazem parte do currículo da disciplina, mais que não estão
sendo realizadas.
Esta pesquisa surgiu a partir do contato que tivemos com a disciplina de
Estágio Supervisionado II, onde observamos por meio de um projeto realizados em
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escolas públicas no período de festas juninas, que algumas alunas não realizavam
as atividades em virtude de sua religião não permitirem tal participação. Mesmo elas
sentindo vontade de fazer parte do evento e até repetindo os gestos em um canto,
não interagiam por ser considerado pela igreja e família algo errado. É certo, que as
festas juninas não são conteúdo da disciplina de Educação Física, porém a dança,
conteúdo este, pouco trabalhado nas aulas, insere-se entre os estudos nos quais a
religião evangélica considera profano, portanto não aconselhado ser realizado ou
praticado por seus fiéis.
Para discorrer sobre o assunto, optou-se por desenvolver uma pesquisa de
campo descritiva com abordagem qualitativa tendo como procedimentos
metodológicos a aplicação de um questionário estruturado com 10 perguntas
abertas para a obtenção dos dados que pretendíamos alcançar. O público alvo foi
direcionado a calouras de 2018 a partir de 18 anos de idade, que frequentam a
Universidade do Estado do Pará- UEPA Campus VII, residentes no município de
Conceição do Araguaia – PA, que fazem ou fizeram parte de uma religião
evangélica.
O Objetivo foi investigar se há interferência religiosa no que diz respeito aos
usos do corpo de meninas evangélicas a partir de suas vivências nas aulas de
Educação Física durante o Ensino Médio; verificar a existência de recomendações
da escola e possíveis diferenças no trato com as alunas por parte do professor em
suas aulas, este estudo pretende ainda esclarecer e levar informações acerca das
atividades consideradas inapropriadas pelas instituições das quais as estudantes
inserem-se, uma vez que, cada religião ensina seus fiéis quais são as formas mais
adequadas de utilizar o corpo, para que ele não caia em tentação e não cometa
pecados pregando que o indivíduo é um todo indivisível corpo, mente e espírito, logo
o que afeta um, afeta todos. (RIGONI e PRODÓCIMO, 2013)
Dessa forma este estudo pretende contribuir para o campo da pesquisa
acerca do tema, visto que os conteúdos referentes à Educação Física e religião são
escassos, além de ser um tema que ainda não foi abordado no município de
Conceição do Araguaia.
Na década de 80 por sua vez a Educação Física passa por uma crise de
identidade, originando mudanças nas políticas educacionais que deixava de lado o
ensino voltado para os anos de 5ª a 8ª série, passando a partir de então a priorizar
os seguimentos de 1ª a 4ª e pré-escola. Neste período a disciplina deixa a função de
promover os esportes de alto rendimento focando no desenvolvimento psicomotor
do aluno (BRASIL, 1997).
Finalizando, as relações entre Educação Física e Sociedade passaram a ser
discutidas sob influências das teorias críticas da educação no qual questionava-se
seu papel e sua dimensão política.
Dessa forma, nota-se o quanto a Educação Física adaptou-se desde seu
surgimento, moldando-se conforme o cenário social, econômico e político do país
que evidenciaram uma preocupação em torná-la uma área não marginalizada.
identificadas a partir das suas posturas, roupas típicas (quase sempre usando saias
longas e blusas sem decote, em cores “sóbrias”), o modo como cortam os cabelos,
cuidam da aparência e os gestos comedidos, sendo todas essas características
perceptíveis principalmente nas meninas.
Porém, se observa que algumas meninas, quando estão no ambiente
religioso, no ambiente cotidiano e no ambiente escolar agem de forma diferente do
que são, seja no modo de vestir, falar ou agir na tentativa de buscar adequar-se a
um determinado grupo social. (RIGONI E DAOLIO, 2014 p. 875-887) verificam que,
Dessa forma verifica-se que algumas das “proibições” colocadas aos fiéis no
ambiente da igreja, fora dele desaparecem comedidamente, modificadas e
adaptadas dando aos seus fiéis, por tanto maior “autonomia” de escolha.
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa realizou-se entre os meses de setembro e novembro de
2018 classificando-se como uma pesquisa de campo descritiva, que de acordo com
Gil (2008), estes estudos possuem como finalidade a descrição das características
de uma população, valores, problemas relacionados à cultura, fenômenos ou uma
experiência assumindo geralmente a forma de levantamentos. Quanto a abordagem,
a mesma qualifica-se como qualitativa tendo como procedimentos metodológicos a
aplicação de questionário estruturado com 10 perguntas abertas para a obtenção
dos dados que pretendíamos alcançar. Seu público alvo foi direcionado às calouras
2018 da Universidade do Estado do Pará- UEPA Campus VII, residentes no
município de Conceição do Araguaia – PA, que fazem ou fizeram parte de uma
religião evangélica durante o ensino médio.
A identificação das participantes deu-se da seguinte forma: comparecemos às
turmas dos primeiros anos nos identificando como discentes do 4º ano de Educação
Física do Campus, onde logo em seguida foi apresentado o tema do nosso projeto
no qual discorremos sobre os motivos e finalidades de seu desenvolvimento,
esclarecendo nesse momento que tal pesquisa seria direcionada apenas para as
evangélicas acima de 18 anos de idade. Para garantir a confidencialidade das
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calouras seus nomes serão conhecidos somente pelas pesquisadoras onde nas
análises foram utilizado um código alfa numérico quando mencionado suas falas.
No que diz respeito aos meios de investigação e procedimentos
metodológicos, elegemos a pesquisa de campo, que segundo Vergara (2009) é uma
investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou
que dispõe de elementos para explicá-lo, podendo incluir entrevistas, aplicações de
questionário, testes e observação participante ou não.
Para o procedimento utilizado nas análises de conteúdo elegemos Bardin
(2016), que discorre que tal análise é utilizada como um instrumento de diagnóstico
que permite sugerir possíveis relações entre um índice da mensagem e uma ou
diversas variáveis do locutor, correspondendo assim, a um procedimento mais
intuitivo, mas também mais maleável e mais adaptável. Sua categorização propõe
uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por
diferenciação e, em seguida, por reagrupamento (o que cada um tem em comum
com outros), com os critérios previamente definidos.
Após o levantamento de dados verificou-se um total de 07 turmas de 1º ano,
com 02 cursos no turno matutino (Geografia e Química), 02 no período vespertino
(Matemática e Educação Física), 02 no noturno (Pedagogia e Ciências Biológicas) e
uma turma de período integral (Enfermagem). Desse total 134 são do sexo feminino
e 113 são masculinos, no entanto a pesquisa foi desenvolvida apenas com as
alunas evangélicas do sexo feminino acima de 18 anos onde foram encontradas um
total 14 alunas. Os resultados obtidos após as análises foram organizados e
categorizados, dispostos a seguir em tabelas e gráficos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Após a aplicação dos questionários, as repostas para cada uma das
perguntas foram organizadas e divididas de acordo com os diferentes assuntos
abordados nas questões.
Tabela 1 – Idade das Discentes
Idade Quantidade
18 - 26 8
27 - 35 3
36 - 44 3
Total 14
Fonte: Organização pesquisadores 2018
12
A6 Voleibol e queimada
A9 Futsal handebol basquete vôlei e ginástica/Futsal
A11 Esportes
A12 Queimada
A13 Handebol e vôlei
A14 Vôlei
Fonte: Organização pesquisadores 2018
Sobre conteúdos que deveriam ter sido ministrados, mais não foram expostos
no quadro 5, a maioria das garotas responderam não, tendo apenas quatro delas
que viram necessidade de verem conteúdos como ginástica e palestras ligadas aos
conhecimentos sobre o corpo assim expressos na TAB 6.
Observando estas respostas, nota-se que estes conteúdos estão entre os que
deveriam constar nas grades curriculares escolares propostos pelos PCN’s (1997),
abordados através dos blocos de conhecimentos sobre o corpo e esporte, jogos,
lutas e ginásticas. Nesse sentido Darido (2001) comenta que alguns autores têm
condenado a prática da Educação Física vinculada apenas a uma parcela da cultura
corporal, ressaltando também que todas estas atividades fazem parte do currículo
de Educação Física, todavia, não com a mesma ênfase que as disciplinas de cunho
esportivo.
Quadro 6 – Diferença nas aulas entre as alunas evangélicas
Entrevistada Resposta
A1 Algumas só realizavam as aulas teóricas
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Através dessas respostas podemos observar que existia sim uma orientação
em relação ao uso de vestimentas propostas por alguns dos grupos religiosos
durante as aulas de Educação Física, expressas nas falas das pesquisadas acima
mencionadas. Com isso, Rigoni (2009 p. 179) “aponta que as alunas evangélicas,
que participam da aula vestindo saias, poderão apresentar certas diferenças
gestuais durante a realização das atividades, tão comum à Educação Física”.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude dos fatos apresentados, nota-se que o esporte continua sendo
conteúdo predominante nas aulas de Educação Física assim como é na fala das
participantes, que por outro lado também veem necessidade de que se aborde
conteúdos novos, como ginásticas e conhecimentos gerais do corpo. Observou-se
também a partir das respostas obtidas, que a escola não faz nenhum tipo de
recomendação à estas alunas que as impossibilitem de participar das aulas, essas
proibições e intervenções estão ligadas mais ao psicológico das próprias meninas do
que na fala da igreja ou da família, apesar de ainda existirem mesmo que em menor
quantidade algumas religiões que dão indicações ligadas ao tipo de vestimenta que
elas devem usar.
Ao ser verificado se existe diferença durante as aulas para estas alunas
evangélicas em relação as demais, o que pudemos perceber foi a predominância
nas respostas de não haver diferença, pois algumas congregações permitem aos
seus fiéis uma “autonomia” maior em suas escolhas. Apesar disso, ainda existe um
número significativo de afirmações reconhecendo-as, pois, algumas meninas
pertencentes a religiões mais rígidas ainda deixam de participar ou não participarem
das aulas em sua plenitude por estarem usando vestimentas que as atrapalham na
execução de algumas atividades.
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REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Maria Betânia Barbosa; BARBOSA, Rafael Grigório Reis. A
religião como educação. Rev. de Educação PUC-Campinas. v. 21, n. 1, p. 127-137,
maio. 2016. ISSN 2318-0870. Disponível em: <http://periodicos.puc-
campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/view/2762>. Acesso em: 05 out.
2018.
COSTA, Jair Brito da; SANTOS, Káriston Eger dos. O papel da educação física
escolar. In: CONGRESSO NORTE PARANAENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
ESCOLAR – CONPEF, 8., 2017, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2017. Disponível
em:
<http://www.uel.br/eventos/conpef/portal/pages/arquivos/ANAIS%20CONPEF%2020
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DARIO, Vagner Luis. A importância das aulas de educação física no ensino médio.
Disponível em: <http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-
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SILVA, Valmor (Org.). Ensino Religioso: educação centrada na vida, subsídios para
a formação de professores. São Paulo: Paulus, 2004.