AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE PIRPIRITUBA
Processo nº 922-47.205.815.0511 Autor(a): Ministério Público Acusado(a)(s): ROMÁRIO OLÍMPIO TEXEIRA e outro.
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO, por intermédio da
Defensora Pública in fine assinada, vem, mui respeitosamente à presença de V. Exa. apresentar ALEGAÇÕES FINAIS com pedido de absolvição pelo princípio da INSIGNIFICÂNCIA, tendo a arguir e requerer o que se segue.
I. Dos Fatos e Fundamentos:
A inicial acusatória (Fls. 02-04) imputou ao acusado, assistido
por esta Defensoria Pública Estadual, a prática da infração tipificada no artigos 155, parágrafo 4o, IV do CP.
Todavia, Douto(a) Julgador(a), não obstante a argumentação
empregada pelo r. Parquet, não há de prosperar a pretensão punitiva inicialmente encampada. Já em relação ao crime de furto consumado, mister se faz que o agente tenha retirado coisa(s) da esfera de disponibilidade e vigilância da vítima, detendo a posse mansa e pacífica do(s) bem(ns). No caso, a tipicidade formal restou incontestável pela confissão, junto aos demais indícios de autoria e materialidade. Porém, a subtração foi de apenas 4 CAIXAS DE CERVEJA E 3 CAIXAS DE ENERGÉTICO DE UM CAMINHÃO LOTADO, o que é manifestamente uma situação da incidência do princípio da bagatela ou da insignificância.
O Valor médio era de 30 reais cada caixa. Portanto a
res totalizava um montante pouco maior que 200 reais. Esse valor não pode ser considerado como significante. E ainda foram recuperadas algumas cervejas - fl. 13.
Melhor aduzindo, deve-se ter em mente que a conduta
praticada pelo acusado é atípica, pois atende a todos os requisitos para aplicação do princípio da insignificância, quais sejam: (a) mínima ofensividade da conduta, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) reduzido grau de reprovação da conduta e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada à vítima.
A suposta prática do delito se deu sem violência ou grave
ameaça a pessoa, e a res furtiva, tem valor diminuto, razão pela qual se impõe a aplicação do princípio da insignificância, o qual afasta a tipicidade da conduta. Portanto, não há que se falar em crime, já que um de seus elementos – fato típico – resta afastado.
Este é o entendimento aplicado pelas nossas Cortes Superiores,
vejamos:
“HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. TENTATIVA.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. OCULTA COMPENSATIO. 1. A aplicação do princípio da insignificância há de ser criteriosa e casuística. 2. Princípio que se presta a beneficiar as classes subalternas, conduzindo à atipicidade da conduta de quem comete delito movido por razões análogas às que adota São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, para justificar a oculta compensatio. A conduta do paciente não excede esse modelo. 3. O paciente se apropriou de um violão cujo valor restou estimado em R$ 90.00 [noventa reais]. O direito penal não deve se ocupar de condutas que não causem lesão significativa a bens jurídicos relevantes ou prejuízos importantes ao titular do bem tutelado, bem assim à integridade da ordem social. Ordem deferida.” (STF. HC 94770/RS, Órgão Julgador: Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Rel. p/ Acórdão Min. Eros Grau, Julgamento: 23/09/2008)
Ressalte-se, outrossim, que o fato do denunciado ser acusado em
outras ações penais não implica no afastamento da aplicação da teoria conglobante para fins de declaração da atipicidade do fato em análise, uma vez que a reincidência e os maus antecedentes são circunstâncias de caráter pessoal que não se enquadram no conceito de tipicidade conglobante.
Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça vem dispondo que:
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. FURTO SIMPLES
TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. OCORRÊNCIA. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. No caso de furto, para efeito da aplicação do princípio da insignificância é imprescindível à distinção entre ínfimo (ninharia) e pequeno valor. Este, ex vi legis, implica, eventualmente, em furto privilegiado; aquele, na tipicidade conglobante (dada a mínima gravidade). 2. In casu, a res furtiva se enquadra no conceito de bagatela, pois a interpretação deve considerar o bem jurídico tutelado e o tipo de injusto no caso concreto. 3. Circunstâncias de caráter eminentemente pessoal, tais como a reincidência e maus antecedentes, não interferem no reconhecimento do princípio da insignificância. 4. Agravo a que se nega provimento.” (STJ, AgRg no REsp nº 922.863/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Jane Silva (Des. Convocada do TJ/MG), Julgamento: 21/08/2008)
Diante da situação apresentada, a Defesa pugna pela aplicação
do princípio da insignificância, que por sua vez afasta a tipicidade da conduta, com a consequente absolvição do acusado nos moldes do artigo 386, inciso III, do CPP. Salientando ainda que eventual existência de antecedente não obstaculiza esse princípio.
Contudo, na remota hipótese deste r. Juízo entender que a
conduta do acusado seria típica, entende a Defesa que a imputação feita ao mesmo não há de ser a de furto simples consumado, mas, quando muito, a de furto qualificado-privilegiado, pelo o que do que dos autos se extrai. Por fim, ainda na eventualidade deste Juízo entender pela condenação do denunciado, não se pode deixar de ter em mente também que inexistem no bojo dos autos elementos que justifiquem – quando da análise das circunstâncias judiciais (artigo 59 do CP) – a fixação da pena para além do mínimo legal, bem como que há de serem aplicadas as circunstâncias atenuantes que porventura se mostrem aptas a tanto.
II. Do Requerimento:
Isto posto, requer-se:
A) A concessão dos benefícios da justiça gratuita (com a conseqüente isenção de eventuais custas processuais/recursais) ao acusado assistidos por esta Defensoria; a contagem em dobro de todos os prazos (nos termos do Art. 128 da LC 80/94 e Art. 5º, § 1º, da Lei Complementar Estadual nº 251, de 07 de Julho de 2003); e a intimação pessoal do(s) Defensor(es) Público(s), em atuação nesta vara/comarca, para a prática dos eventuais atos processuais que se mostrarem necessários no curso do presente processo (nos moldes do que asseguram o Art. 128, I, da Lei Complementar Federal de nº 80/94 e o Art. 5º, §5º, da Lei nº 1.060/50).
B) A absolvição do réu, com fulcro nas disposições do artigo
386, inciso III, do CPP (por se considerar a sua conduta atípica à luz do princípio da insignificância); e,
C) Na remota hipótese de não ser acatado o subitem B, a
desclassificação do crime de furto simples consumado para o de furto privilegiado tentado (artigo 155, § 2º c/c art. 14, II, do CPB);
D) Na eventualidade de uma condenação, pugna-se ainda pelo
reconhecimento das atenuantes porventura aplicáveis ao caso e pela fixação do apenamento do acusado no mínimo legal atinente à espécie (e que, em assim sendo, se conceda eventual benefício legal assegurado ao réu – artigo 44 ou 77 do CPB).