RENAN MARINO
RESUMO
O presente artigo apresenta a experiência do uso de homeopatia na prevenção e
tratamento da dengue em epidemia em São José do Rio Preto, SP. Numa primeira
instância, em maio de 2001, foi utilizado Eupatorium perfoliatum 30CH, dose única,
escolhido segundo o critério de medicamento de gênio epidêmico, em 40% da
população do bairro mais atingido pela epidemia, obtendo-se queda da incidência de
81,5%, significativa (p<0,0001) a respeito dos outros bairros considerados. Entre abril e
setembro de 2007, foi utilizado Complexo Homeopático composto por Eupatorium
perfoliatum, Phosphorus e Crotalus horridus, 30CH, segundo critério do gênio
epidêmico em 20.000 habitantes da cidade. A tentativa foi interrompida por um entrave
político, pelo qual só alguns dados parciais e isolados puderam ser registrados. No
entanto, os resultados sugerem que a homeopatia pode ser eficaz na prevenção e
tratamento da epidemia de dengue.
ABSTRACT
This paper presents experiences of the use of homeopathy in the prevention and
treatment of epidemics of dengue in São José do Rio Preto, SP. In a first instance, in
May, 2001, Eupatorium perfoliatum 30CH, single dose, chosen according to the
criterion of epidemic genus, was employed in 40% of the residents of the most affected
area, resulting in a decrease of incidence of 81.5%, significant (p<0.0001) by
comparison to other areas considered. Between April and September, 2007, a
Homeopathic Complex composed of Eupatorium perfoliatum, Phosphorus and Crotalus
horridus 30CH, chosen according to the criterion of epidemic genus, was employed in
20,000 city residents. This trial was interrupted by political obstacles, therefore, only
partial and isolated data could be recorded. However, results suggest that homeopathy
may be effective in the prevention and treatment of dengue epidemics.
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Introdução
Desde sua descoberta e ao longo de sua colonização, o Brasil foi palco de inúmeras
doenças epidêmicas e, ainda hoje, se encontra diante de grandes desafios representados
pela febre amarela, dengue, cólera, doença de Chagas e, mais recentemente, a AIDS.
Isto sem mencionar o recrudescimento da tuberculose. Nos últimos 50 anos, porém,
observou-se uma melhora inquestionável nos indicadores de saúde do país, com o
aumento da expectativa de vida.
Além de seu foco estrito na individualidade de cada paciente, a homeopatia pode e deve
ser utilizada no controle de doenças coletivas. A esse respeito, Hahnemann afirmou que
somente a observação acurada dos casos de doença epidêmica permite ao médico o
diagnóstico do medicamento homeopaticamente mais adaptado para a totalidade do
quadro.(HAHNEMANN, 1995, #101) A valorização do conjunto de sinais e sintomas
observados na população corresponderá, precisamente, à individualização do processo
epidêmico no nível de uma macrovisão. Hahnemann completa esse conceito, afirmando
que o caráter peculiar da doença, leva para a descoberta do medicamento específico para
aquela epidemia, definido a partir do seu gênio epidêmico, isto é, seu núcleo
sintomático característico que predomina na maior parte dos doentes.(HAHNEMANN,
1995, #241)
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No presente artigo, apresentamos nossa experiência de campo em medicina preventiva,
na ocasião da epidemia de dengue em São José do Rio Preto, São Paulo, em maio de
2001 e de abril a setembro de 2007.
A dengue
A dengue é uma doença febril aguda e benigna, com período de incubação de 5-8 dias.
A febre é acompanhada de prostração, calafrios, dor de cabeça intensa, dor retro-
orbitária, dores musculares e articulares. Podem-se observar ainda náuseas, vômitos, dor
de garganta e adenopatias. Nos casos clássicos é difícil constatar óbito, no entanto, a
forma hemorrágica apresenta alta mortalidade, especialmente em crianças. (MARINO,
2006)
Assim, em médio prazo, a única esperança para enfrentar os surtos da doença fica por
conta do controle da população de mosquitos, com a agravante que as duas espécies de
vetores representados pelo Aedes aegypti e o Aedes albopictus, têm mostrado uma
incrível adaptação a ambientes urbanos além de rapidamente desenvolver imunidade ao
uso de inseticidas, incluindo os aerossóis. (MARINO, 2006)
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Uso de homeopatia na epidemia de dengue em São José do Rio Preto, 2001
O estudo foi realizado no bairro Cristo Rei, que em maio de 2001 apresentava a maior
incidência de dengue na cidade de São José de Rio Preto.(MARINO ET AL, 2003)
Estimou-se que o mínimo da população do bairro – que contava com 4.850 habitantes –
receberia a dose de estímulo medicamentoso. A repertorização foi realizada com base
nos casos com diagnóstico confirmado de dengue no bairro Cristo Rei, entre março e
abril de 2001. (Tabela 1)
Eup-per Hep Sep Sulph Ars Bov Bry Calc-p Nat-m Nux-v Puls Verat Zinc
Generalidades; 3 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 2 1
Dor; quebrados;
ossos como se
Estômago; 3 2 1 1 3 - - - 1 2 3 - -
Sede; calafrio;
antes do
Cabeça; 2 2 2 3 2 1 1 2 3 2 3 1 1
Dor; pulsante
Estômago; 2 1 1 1 - 1 2 1 - - - 2 2
Náusea;
movimento, ao
Olho –Dor- 3 2 1 2 2 1 2 2 2 2 3 1 1
dolorimento
• Agitação extrema; deseja muito o repouso, mas não consegue ficar quieto,
principalmente durante a febre e os calafrios.
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• Ansioso, queixoso e muito abatido durante a febre.
• Boceja muito antes e durante os calafrios, sem qualquer melhora.
• Gostaria de ficar em repouso, deitado, mas não consegue, porque sente que cada
osso está dolorido, machucado golpeado.
• Sente alívio pelo mínimo repouso relativo possível, já que prevalece inquietude
ansiosa com dolorimento por todo o corpo.
• Também alivia pelo calor, por conversar, por estar em casa e por estar apoiado
nas mãos e nos joelhos, e também por afundar o rosto no travesseiro.
• Estremecimentos que iniciam no estômago; pele seca, quase não transpira;
quando o faz, a transpiração alivia muito pouco o mal estar geral, mas não alivia
em absoluto a cefaléia.
• Importante medicamento da hepatite aguda: congestão hepática, dor cólica na
parte superior do abdome; ao tossir ou se mexer, o epigástrio é muito sensível.
Náuseas ao sentir o cheiro ou olhar para a comida; vômitos biliosos; gastralgia
depois de comer, só melhora depois de vomitar.
Em função dos dados obtidos, foi possível traçar o diagrama do fator de queda. (Figura
1). O fator de queda é uma contribuição de Cordeiro (1990) para a avaliação estatística
da análise de dependência no comportamento subseqüente da evolução da epidemia de
dengue. Após a intervenção medicamentosa homeopática, quando confrontado com os
demais bairros estudados, o bairro Cristo Rei ocupou o quadrante superior esquerdo do
diagrama, representando, de maneira destacada, a maior queda verificada em relação à
ocorrência de novos casos de dengue no período referido.
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Figura 2. Diagrama do fator de queda:
CR
Antes
SD
Fator 2 (0,5%)
Depois
VT
GNZ
CP
Maior queda Fator 1 (99,5%) Menor queda
Esse bairro foi o escolhido para receber a intervenção com o medicamento homeopático
e apresentou um percentual de queda da ordem de 81,5%. A análise do diagrama do
fator de queda demonstra graficamente a proeminência deste valor quando confrontado
aos controles, apontando decisivamente para a existência de provável relação causal
entre o procedimento homeopático empregado e os resultados obtidos.
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maio de 2006 – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) -
no Sistema Único de Saúde (SUS).
Autores de máxima relevância como Licínio Cardoso, Helena Minin e Anna Kossak
Romanach (POZETTI, 1993), entendem ser o uso do complexo em homeopatia
extremamente compatível com os quadros epidêmicos, ressaltando-se que suas ações
isoladas são asseguradas quando usadas conjuntamente em razão de representarem um
complexo harmônico, interativo e complementar, tendo assim, suas ações
potencializadas.
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A partir das planilhas de registro dos pacientes que receberam a dose única do
Complexo Homeopático anti-dengue nas UBS, entre 15 e 22 de março de 2007,
utilizando-se todos os dados disponíveis, a partir do Programa SISP Ambulatorial
(cadastramento de pessoas físicas), incluindo a matrícula do SINAN, foram localizados
o maior número possível de endereços. Agentes comunitários de Saúde (ACS) foram
treinados para realização da pesquisa, a qual foi levada a campo nos meses de fevereiro
a março de 2007, sempre com o cuidado de contemplar equitativamente os diversos
pólos do município.
Tabela 3. Casos positivos de dengue no município de São José de Rio Preto no ano de 2007 por mês
de início dos sintomas e critério de confirmação.
Critério conf. / Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ag Se Ou No De Total
o t t v z
Laboratorial 15 474 1.25 573 159 8 3 9 7 5 16 9 2.674
8 3
Clínico- 57 602 1.56 2.97 1.56 36 10 50 61 9 16 1 7.381
epidemiológico 6 9 6 9 5
Total 21 1.07 2.81 3.55 1.72 37 10 59 68 14 32 10 10.05
5 6 9 2 5 7 8 5
Tabela 4. Distribuição por idade e sexo dos pacientes que tomaram Complexo Homeopático anti-
dengue
Idade Não teve dengue Teve dengue e tomou Complexo Teve dengue e não tomou
Homeopático curativo Complexo Homeopático curativo
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Até 20 33 40 4 3 11 8
anos
21-30 8 25 3 1 2 11
anos
31-40 11 33 5 2 5 9
anos
41-50 21 49 1 5 9 17
anos
51-60 22 42 1 6 4 8
anos
Mais 41 59 2 7 7 9
de 60
Total 384 40 100
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Dentre aqueles que tomaram Complexo Homeopático e adoeceram, os sintomas, em
ordem de freqüência foram: dor muscular (30%), cansaço, desânimo e indisposição
(25%), febre e calafrio (15%), dor de cabeça (15%), náusea e inapetência (10%) e dor
retro-ocular (5%). A freqüência relativa foi diferente naqueles que também tomaram
Complexo Homeopático curativo: cansaço, desânimo e indisposição (35%), dor de
cabeça (20%), dor muscular (15%), náusea e inapetência (12,5%), febre e calafrio
(10%) e dor abdominal (7,5%). (Figura 3)
Figura 3. Freqüência relativa de sintomas nos pacientes que tomaram Complexo Homeopático
preventivo e apresentaram dengue.
desânimo
dor muscular
indisposição
febre/calafrio
dor cabeça
dor abdominal
náusea/inapetência
dor retro-ocular
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Epílogo
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de 2007. A reunião do Ministério da Saúde (Dra. Carmen di Simone) e representantes
da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e Secretaria Municipal de Saúde de Rio
Preto, decidiu pela suspensão do uso preventivo em dose única do Complexo
Homeopático, medida que foi ratificada por decisão judicial do Ministério Público.
Mas como diria Jacques Monod, citando Demócrito, “o acaso sempre anda junto à
necessidade” (MONOD, 1989, p. 5), o emprego em larga escala do Complexo
Homeopático anti-dengue como ação preventiva, mostrou, insofismavelmente, seus
benefícios conforme verificamos nos relatos do seu uso em Macaé, Rio de Janeiro, em
2007, em razão do bom senso, coragem e elevado espírito público das autoridades
sanitárias deste município. (NUNES, 2008)
Referências bibliográficas
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15- Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia & saúde. 6ª ed. Rio de Janeiro:
Medsi; 2003.
16- Soares AAD. Dicionário de Medicamentos Homeopáticos. São Paulo: Livraria
Santos Editora; 2.000.
75- Ullman D. Homeopatia: medicina para o século XXI. São Paulo: Cultrix; 1988.
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