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072.03
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072
072.00
Nota sobre o arquiteto
de ontem, hoje e amanhã
Euclides Oliveira
072.01
Curitiba, cidade do
amanhã: 40 depois
Algumas premissas
teóricas do Plano
Wilheim-IPPUC (1)
Salvador Gnoato
072.02
Arquitetura Moderna
Plaza de Bolívar, Bogotá [Villegas Editores] Brasileira: a imagem
1/8 como texto
Nelci Tinem
072.04
A escala desta cidade,
São Paulo
Reurbanização na
confluência dos rios
O que é espaço público? Tietê e Tamanduateí (1)
Anne Marie Sumner
Segundo um livro que acaba de sair na França sobre o urbanismo e a vida 072.05
social atual, titulado Ciudades y su ordenación (escrito por um conjunto Nosso Brasil
de urbanistas, arquitetos, engenheiros e sociólogos franceses), o espaço A utopia dos arranha-
público é ordenamento, desenvolvimento e gestão. E apontam que o elemento céus sustentáveis
central do urbanismo de nossa época é o urbanismo entendido como o fazer Giovanni Di Prete
da cidade um lugar de intercâmbio. O comércio é um intercâmbio; inclusive Campari
em alguns países se utiliza o termo comércio não somente para o
intercâmbio de bens, mas também para o intercâmbio de idéias. 072.06
Segregação sócio-
E acrescentam depois que os outros três aspectos importantes do urbanismo espacial e desenho
atual são: urbano em assentamentos
espontâneos: o caso do
1. criar âmbitos de segurança; bairro São José em João
Pessoa PB
Marco Antonio Suassuna
2. a proximidade nas relações; Lima
072.07
Viver no Japão
3. o bom ambiente, o ambiente cidadão, a qualidade do entorno. Fredy Massad y Alicia
Guerrero Yeste
Isto me lembra algo que me chamou muito a atenção. Uma vez, num seminário
deste tipo em Buenos Aires, faz alguns anos, o diretor de urbanismo da
cidade disse: "A principal infra-estrutura econômica de uma cidade são os
cafés, os bares, os restaurantes, etc., porque aí é onde as pessoas falam
e intercambiam informação, intercambiam projetos, rumores, murmúrios". A
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cidade, então, é o lugar que se perfila no mundo atual, onde cada vez o
melhor urbanismo é aquele que cria espaços de intercâmbio.
Então reagem da mesma forma que nos teatros da ópera durante muito tempo
no século XIX: as luzes se mantinham acesas durante toda a apresentação,
porque assim as senhoras podiam mostrar suas jóias e vestidos. Nas atas
de alguns teatros, segundo li, houve oposição à não acender as luzes nas
juntas de proprietários ou nos conselhos de administração, porque diziam:
"com o que nos custam estas coisas, como vamos permiti-lo?". A burguesia
ascendente necessita um lugar onde se mostrar, onde se apresentar, onde
se encontrar com ela mesma. Então se fazem os passeios, as alamedas, as
avenidas; inclusive em algumas cidades se normatiza como se tem que ir
vestido para passear: com paletó, jaqueta, etc. Ainda há em Barcelona
alguns equipamentos culturais de gestão pública, como o Teatro da Opera,
que antes obrigavam a ir com smoking; agora isto já se perdeu, mas no
círculo onde se pode jantar, ainda se têm que ir de gravata. E isto não é
que se valorize ir de gravata, é uma medida de exclusão social. Quer
dizer, não estranhemos que as políticas de espaço público que começam a
ser desenvolvidas nas cidades européias a finais do século XIX sejam
políticas de embelezamento da cidade, monumentalização de certas partes
da cidade. Há uma grande parte da cidade que ficará fora desta, às que
inclusive não poderia chegar o transporte coletivo nem as infra-
estruturas de saneamento, entre outras.
Também o dizia Enrique Peñalosa: São Paulo, na década que governou Maluf
e seus amigos, criou vias expressas urbanas que eram um crime, um
"urbanicídio". A propósito existe um artigo muito interessante de Mike
Davis, o autor de Cidade de Quartzo, sobre Los Angeles, que se chama
"Planeta de ciudades - Miseria", no qual mostra como certos
desenvolvimentos urbanos e arquiteturas matam a cidade, porque não
somente são os bairros fechados que se desenvolvem nas periferias ou
inclusive dentro do tecido urbano, ou os parques temáticos fechados sobre
si mesmos. Em Barcelona, vocês viram que, nesta famosa coisa ainda
difícil de definir que foi o "Fórum Mundial das Culturas", foi criada uma
espécie de parque temático somente para congressistas e turistas,
absolutamente alheio ao tecido urbano e à vida da cidade. Ali também há
alguns desenvolvimentos periféricos de casas adossadas, sem outra coisa
que habitações; há apropriações excludentes do espaço público.
Por exemplo, nos Estados Unidos e no México, uma parte das ruas estão
apropriadas pelos hotéis; em Cancun, para ir à praia é preciso passar
pelo hotel. Algo falha. Isto é, temos uma tendência que está destruindo
não somente o espaço público, mas destruindo a cidade. Estamos, então,
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numa época histórica em que a cidade se joga a seu futuro e este depende
de como se dirimam estas dinâmicas contraditórias.
Nos desenvolvimentos urbanos se tem que apostar pelo longo prazo e saber
que o desenvolvimento tem que ser equilibrado quanto a estabelecer
compromissos entre o edificado e o não edificado; entre o que é geração
de emprego, espaço público, equipamento, habitação; que tem que ter
moradia para distintos estratos da sociedade, etc. Mas quando se atue na
cidade existente, também é preciso ter um grande respeito pela história.
Caso se queira fazer uma boa operação de reconversão urbana numa zona
portuária, o que se crie de novo tem que cheirar a porto, do contrário
perderia sua especificidade, sua originalidade. E se quer fazer uma
operação de renovação urbana em uma antiga zona industrial, há que manter
os edifícios das fábricas, primeiro porque é memória urbana; é uma
história de trabalho, é muito suor. É trabalho acumulado o que está
nestas pedras, não somente é memória; é uma história de luta obreira, de
empreendedores com uma iniciativa e, ademais, é o que lhe dá
originalidade àquela zona. Em Londres me maravilhou como certas torres
que estão na moda mantêm essa paisagem. Neste momento estamos imersos
numa batalha com meus amigos de Barcelona porque estão destruindo uma
parte importante do patrimônio industrial, do que se chamou o Manchester
Catalão, que era a zona industrial do século XIX, e não simplesmente por
ignorância mas por falta de sensibilidade.
Então, os espaços públicos não são unicamente aqueles que estão pensados
para espaços públicos, são também outros espaços, e acredito que talvez
muitas vezes não se lhes deu atenção; por exemplo, o que chamamos os
espaços de transição que podem se criar ao redor de uma edificação, ao
redor de um equipamento cultural, de uma zona hospitalar, de uma zona de
universidades, etc. Como os que Marc Augé chamou de não lugares: podem
ser lugares se lhes dá um acréscimo de significado, um acréscimo de
funções. Porque os hospitais podem ser algo mais que hospitais, as
universidades podem ser algo mais que universidades; inclusive as
indústrias podem gerar parques ao redor. Portanto, existem espaços
efêmeros, espaços que podem ser usados como espaço público, ainda que
depois estejam destinados a outra coisa; mas as vezes essa outra coisa
tarda 5, 10, 15 ou 20 anos em suceder; ou espaços públicos intermitentes.
Em Manhattan, você sai um sábado pela manhã e vê que uma série de
esquinas que estavam durante a semana abandonadas, se convertem em uma
espécie de mercado de roupas: são espaços intermitentes, intersticiais.
Podem ter espaços públicos gerados por uma atividade que se desloca; por
exemplo, já disseram que as pessoas não vão comprar livros e não
freqüentam as bibliotecas, então, vamos levar as bibliotecas às pessoas
(com bibliotecas ambulantes) e estão gerando espaço público mais rico que
simplesmente uma praia onde vai tomar sol.
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Há também esse espaço público que é a paisagem urbana. Em Bilbao
conversei com o responsável e diretor do El Corte Inglés, a principal
cadeia de grandes armazéns na Espanha, e lhe disse que não podia fazer
uma arquitetura que se confrontasse com a cidade, que não gerasse nenhum
espaço de transição, porque em longo prazo não seria um bom negócio para
eles. E o de Bilbao, diferente do de Barcelona, era muito consciente
disto e de fato existe uma competitividade entre este grande centro
comercial e as associações de pequenos ou médios comerciantes da zona.
Por tanto, ao mesmo tempo em que fazer uma rambla como espaço público, se
deve ter a capacidade de gestão dos primeiros andares que fazem frente ao
espaço público, e de que as mesmas máfias à margem da lei não comprem os
apartamentos novos que façam ao redor do projeto, que é o que está
ocorrendo certamente.
– Que no espaço público, quanto mais qualidade mais conflito. Que seja
conflituoso às vezes os políticos não entendem. Em uma democracia, o
conflito não desaparece. O que proporciona a democracia são as
possibilidades de regular o conflito de uma maneira pacífica e, até certo
ponto, normatizada. Então, quanto mais rico é um espaço público mais
conflituoso. Portanto, tem que haver uma gestão participativa do
conflito, dos lugares e dos tempos ou tem que haver também uma
participação na definição dos usos efêmeros intersticiais, etc.; tem que
haver uma capacidade de decisão para, em certo momento, dizer não, vocês
têm razões mas não têm a razão. É importante que cada um expresse as
razões, mas não lhe dar a razão.
– Que tem que haver uma participação, depois, na avaliação dos espaços
públicos. Muitas vezes não se avaliam: faz-se uma inversão pública muito
forte e depois se diz: que ocorre?, se não vai ninguém. Algo ocorre. Em
minha época de responsável político me dei conta de que alguns espaços
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públicos que fizemos e pensamos que eram fantásticos e estavam muito bem
desenhados, não funcionaram. Você tem que se questionar por que não
funcionaram, ou por que se degradaram tão rapidamente, ou por que foram
apropriados por um certo coletivo. É preciso abrir uma nova avaliação
participativa.
notas
1
Artigo publicado no Café de las Ciudades, ano 5, nº 42, em abril de 2006
<http://www.cafedelasciudades.com.ar/politica_42_1.htm>. Transcreve a
conferência apresentada por Jordi Borja no Fórum Internacional Espaço Público e
Cidade, realizado em Bogotá nos dias 10 e 11 de maio de 2005. Publicado com a
autorização do autor; foi editado anteriormente nas memórias de tal Fórum,
editadas pela Prefeitura e a Câmara de Comércio da capital colombiana.
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Adriane Matthes
Espaço Público
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