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BOLETIM INFORMATIVO

ISSN 1981-979X
Volume 42
Número 1
Janeiro/Abril de 2016
www.sbcs.org.br

A Ciência do solo
e o desastre de
Mariana

A agenda 2016
Publicação editada pela Secretaria Executiva da SBCS.
Tem por objetivos esclarecer as principais atividades
da Sociedade e difundir notícias de interesse dos associados.
Os conceitos emitidos em artigos assinados
são de exclusiva responsabilidade de seus autores,
não refletindo, necessariamente, a opinião da SBCS.
Permite-se a reprodução, total ou parcial, dos trabalhos,
desde que seja, explicitamente, indicada a sua origem.
O Boletim da SBCS é vendido, separadamente, a R$10,00
mais o valor de postagem.
Disponível para download no site da SBCS.

BOLETIM INFORMATIVO SBCS


Editor-chefe: Igor Assis
Editores: Victor Hugo Alvarez V., Reinaldo Bertola Cantarutti
Produção e jornalismo: Léa Medeiros - MTb 5084
Revisão: João Batista Mota
Secretaria: Cíntia Fontes, Denise Cardoso, Denise Machado
Projeto gráfico: Izabel Morais
Diagramação: Victor Godoi
Capa: Victor Godoi

PARTICIPE DO BOLETIM INFORMATIVO


Os artigos para o Boletim Informativo podem ser enviados
para Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Caixa Postal 231,
Viçosa, Minas Gerais - 36570-900.
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Ficha catalográfica

Boletim informativo Sociedade Brasileira de Ciência do Solo /


Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - vol.1, n. 1 (jan./abr. 1976).
- Campinas: SBCS.1976.
v.: il. (algumas col.); 26 cm.

Quadrimestral.
A partir do vol. 22, n.3 publicado em Viçosa.
ISSN a partir do vol. 32, n.3.
ISSN 1981-979X

1. Solos - Periódicos. I. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.


Editorial

Caros sócios

No início de maio, ao concluir esta edição, a Fan Page da SBCS alcançou o surpreendente número
de 10 mil amigos. É um número maior do que têm as mídias sociais de algumas grandes universida-
des brasileiras por onde passam milhares de alunos. O mais incrível é que podemos afirmar que os
nossos são amigos de verdade, daqueles fieis e leais que estão sempre ao nosso lado. Isso porque o
índice de curtidas é crescente a cada semana e as “descurtidas” são irrisórias. Ou seja, quem curte a
página e torna-se amigo pela indicação de um post acaba mantendo-se leal a ela e a visita quase to-
dos os dias. E 100% do alcance é “orgânico”, o que significa que o número total de pessoas que aces-
sa as publicações chegou a elas por interesse espontâneo, uma vez que a distribuição não é paga.
As publicações alcançam homens (56%) e mulheres (44%) de forma bem equilibrada. Mais de
90% dos acessos são feitos do Brasil, seguidos do Paraguai, EUA, Peru e Portugal. Por aqui, a maioria
do público acessa dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Goiânia.
Os elogios também são muitos. Quase todos destacam a credibilidade e a utilidade das postagens,
todas elas de interesse da ciência do solo. Os índices de interação também são altos. Há uma média
de 300 curtidas e de mais de 200 reações por postagem, uma vez que muitos compartilham ou se
manifestam de alguma maneira à publicação, potencializando o alcance das postagens. Da nossa
parte, há sempre um cuidado especial em selecionar temas que valorizem o conhecimento, ainda
que não seja produzido pelos sócios.
A Fan Page da SBCS faz parte de um esforço da Secretaria Executiva em promover a divulgação
científica para todos os públicos. Parece que estamos conseguindo! Popularizando a ciência do solo,
também estamos divulgando o trabalho de uma sociedade científica que se empenha em fortalecer a
ciência na qual milita. A publicação da Revista Brasileira de Ciência do Solo que, desde o início deste
ano, passou por uma grande reformulação editorial, também reflete este esforço da SBCS.
Com este esforço, a ciência do solo está presente em todas as plataformas de comunicação públi-
ca da ciência. No entanto, este empenho não tem se refletido em um substancial aumento de sócios.
Todo início de ano a Secretaria Executiva revive o drama de aguardar as renovações das anuidades
para prever os gastos com a manutenção das rotinas para que os resultados de nossas pesquisas e
nosso trabalho circule para diferentes públicos. É muito importante ressaltar que todos os membros
da Secretaria Executiva, Corpo Editorial e Conselho Diretor trabalham muito e gratuitamente. Mas há
uma dinâmica de secretaria, de organização de eventos e publicações que precisam ser custeadas
pelos sócios. Estes custos estão cada vez maiores e o número de sócios mantém-se estável.
Para todos nós que trabalhamos com a ciência do solo deveria ser uma honra pertencer a uma
sociedade científica prestigiada. Para ter uma inserção política que valorize nosso trabalho é preciso
ser forte e participante e isso depende muito do que a sociedade brasileira conhece e pensa de nós.
Neste sentido, pedimos mais uma vez aos sócios que se empenhem em convidar colegas e alunos
para que se associem e participem ativamente de Núcleos Regionais e Comissões Especializadas.
Isso é participação política e cidadã. O benefício é para todos nós.
Nesta edição do Boletim vamos tratar do desastre de Mariana refletindo sobre o que a ciência do
solo pode fazer para minimizar os danos ambientais, econômicos e sociais desta tragédia. Também
divulgamos um artigo sobre a importância da conservação dos solos no Brasil, aproveitando a data
comemorativa, em abril. No mais temos várias notícias sobre eventos que serão promovidos ainda
este ano pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo que você, caro sócio, está ajudando a fortale-
cer.
Boa leitura a todos e não deixem de acompanhar nossa Fan Page.
Abraço
Fatima Maria de Souza Moreira
Presidente da SBCS
Notícias
4 Está no ar uma nova Revista
Brasileira de Ciência do Solo

6 As comemorações do Dia Nacional


da conservação do solo

6 Ministério prevê mapeamento do


solo e criação de banco de dados
CONSELHO DIRETOR 2015/2017
PRESIDENTE
Fatima Maria de Souza Moreira (UFLA) 7 Gonçalo Farias é membro do comitê
eleitoral da IUSS
Vice-presidente
Antonio Rodrigues Fernandes (UFRA)
Presidente do XXXVI CBCS
II Encontro Paulista de Ciência do
SECRETARIA EXECUTIVA (UFV)
Secretário Geral: Reinaldo Bertola Cantarutti (UFV)
Secretário Adjunto: Igor Rodrigues de Assis (UFV)
8 Solo (EPCiS) e I Encontro Brasileiro
de Pedometria (Pedometrics Brazil)
Tesoureiro: Teógenes Senna de Oliveira (UFV)

Ex-presidente: Gonçalo Signorelli de Farias (IAPAR)

Ex-presidente: Flávio A. Camargo (UFRGS)


9 SBCS recebe doação de
acervo fotográfico das RCCs
Editor-chefe da RBCS: José Miguel Reichert (UFSM)

Presidente do XXXV CBCS: José Araújo Dantas (EMPARN)

DIRETORES DAS DIVISÕES ESPECIALIZADAS


10 Inteligência artificial
para amostragem do solo
Divisão 1: Solo no Espaço e no Tempo
Lucia Helena Cunha dos Anjos (UFRRJ)
Divisão 2: Processos e Propriedades do Solo
Dalvan José Reinert (UFSM)
Divisão 3: Uso e Manejo do Solo
11 XI Reunião Sul Brasileira
de ciência do solo
Ildegardis Bertol (UDESC)
Divisão 4: Solo, Ambiente e Sociedade
Cristine Carole Muggler (UFV)

DIRETORES DOS NÚCLEOS DA SBCS


11 Simpósio Brasileiro de Educação em
Solos
Núcleo Regional Amazônia Ocidental (Amazônia e RR):
José Frutuoso do Vale Júnior (UFRR)

12
Núcleo Regional Amazônia Oriental (MA, TO, PA, AP)
Eduardo do Valle Lima (UFRA)
RBMCSA discute conservação
Núcleo Regional Noroeste (AC e RO) e manejo do solo e da água
Alaerto Luiz Marcolan (Embrapa Rondônia)
Núcleo Regional Nordeste (BA, SE, AL, PB, PE, CE, RN, PI)
Júlio César Azevedo Nóbrega (UFRPE)
Núcleo Regional Centro-Oeste (MT, MS, GO, DF)
Milton Ferreira de Moraes (UFMT)
Núcleo Regional Leste (MG, ES, RJ)
13 FERTBIO 2016
Marcos Gervasio Pereira (UFRRJ)
Núcleo Estadual São Paulo (SP)
Zigomar M. Souza (Unicamp)
Núcleo Estadual do Paraná
Arnaldo Colozzi Filho (IAPAR)
14 Uso do solo brasileiro pode melhorar
sem atingir áreas de preservação
Núcleo Regional Sul (RS e SC)
Vanderlei R. Silva (UFSM)

SECRETARIA DA SBCS
Secretária Executiva da SBCS: Cíntia Costa Fontes
Jornalista da SBCS : Léa Medeiros
15 Amazon Soil 2016

Secretárias da Revista Brasileira de Ciência do Solo: Deni-


se Machado Goulart e Denise Cardoso Pires
Auxiliar Administrativo : Júnior Pires

2 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


opinião
Paisagens de Lama:
Os Tecnossolos para 18
recuperação ambiental de
A ciência do solo áreas afetadas pelo desastre
e o desastre de Mariana
da barragem do Fundão, em
Mariana

A Ciência do Solo como


instrumento para a recuperação 24
das áreas afetadas pelo
desastre de Mariana e dos solos
na Bacia do Rio Doce

CONSERVAÇÃO DO SOLO NO
BRASIL: histórico, situação 28
atual e o que esperar para o
futuro

Variáveis
e unidades SI1/ 34
Sociedades de Ciência do Solo
dos países do grupo BRICS 38
BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 3
NOTÍCIAS

Está no ar uma nova


Revista Brasileira de Ciência do Solo
A SBCS lançou, em abril, o primeiro grupo de arti-
gos da nova versão da Revista Brasileira de Ciência do
Solo. Trata-se de uma grande mudança para modernizar
a RBCS e dar maior agilidade na publicação dos artigos.
A partir deste ano, além dos artigos serem publica-
dos em inglês, a RBCS circulará somente na versão on-
-line com lançamento dos artigos m fluxo contínuo. A
Revista também ganhou um novo layout, mais adequa-
do para a publicação eletrônica.
As alterações na RBCS foram protagonizadas pelos
editores José Miguel Reichert e Reinaldo Bertola Canta-
rutti. Para eles, estas e outras modificações realizadas
recentemente já apresentaram resultados positivos e
deverão projetar a RBCS a patamares ainda mais altos
na divulgação da ciência do solo brasileira e internacio-
nal.
As modificações na RBCS foram descritas minucio-
samente em artigo publicado na edição de dezembro de
2015 do Boletim Informativo da SBCS.

4 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


NOTÍCIAS
Confira, abaixo, as principais altera- midade do manuscrito com as normas e dos Editores de Área e fazer a comuni-
ções. ao escopo da Revista, pela constatação cação final ao autor correspondente.
de ocorrência de plágio, por meio de Cabe a ele, ainda, a verificação da ver-
Submissão e tramitação de software especializado, e pela designa- são final dos artigos para ajustes finos.
manuscritos ção do Editor de Área de acordo com a
especificidade do manuscrito. O Editor- Língua
É feita desde fevereiro de 2015, ex-
-Técnico é também responsável pela co-
clusivamente, por meio da plataforma A partir do 40º volume (2016) os
ordenação dos processos de correções
ScholarOne. Também foi adotado o artigos serão publicados exclusivamen-
e de diagramação dos artigos aceitos.
sistema Vancouver para citação e refe- te em inglês. Para que a mudança seja
rências bibliográficas, que é internacio- O Editor de Área, por sua vez, reti- gradual, em 2016 ainda se aceitará a
nalmente reconhecido. fica ou ratifica a decisão de adequação submissão em português. Se o artigo
do manuscrito à Revista e recomenda for aprovado será exigida a tradução.
a continuidade da tramitação com base A partir de 2017, a submissão será,
Corpo Editorial da RBCS
em uma análise ampla do mérito cientí- obrigatoriamente, em inglês. Esta ini-
É constituído, a partir deste ano, fico, considerando a contribuição para ciativa é fundamental para a inserção
pelo Editor Chefe, Co-Editor, Editor- o avanço do conhecimento e a coerên- internacional da RBCS e a sua avaliação
-Técnico, Editores de Área, Editores-As- cia entre objetivos e conclusões. Para nacional. Apesar de apresentar índices
sociados e Revisores. Esta estrutura re- dar continui- de impacto compatíveis aos periódicos
trata a organização científica da SBCS, dade à trami-
Espera-se que da categoria A2 (QUALIS/CAPES), no
viabiliza o novo fluxo de tramitação e tação, ele de-
tramitação do QUALIS 2014 a RBCS se manteve como
possibilita um maior compartilhamento signa o artigo
manuscrito seja B1 por não publicar exclusivamente em
das decisões. São seis Editores de área a um Editor-
finalizada em até inglês.
distribuídos de acordo com as Divisões -Associado. O
da SBCS: Solo no espaço e no tempo 90 dias.
Editor de Área
(1), Processos e Propriedades do Solo Novo layout
também esta-
(2), Uso e Manejo do Solo (2) e Solo e belece o fluxo de retorno dos manuscri- Neste novo formato há maiores in-
Ambiente e Sociedade (1). tos ao autor para correções e ajustes e formações na primeira página para ca-
São 40 Editores-Associados, sendo com o Editor Chefe para a decisão final. racterização do artigo e uma aparência
25 nacionais e 15 do exterior, distribu- mais agradável para a leitura em mídias
O Editor-Associado avalia o mérito
ídos de acordo com as especificidades eletrônicas.
técnico científico do manuscrito e, para
das Comissões Especializadas. dar continuidade à tramitação, o enca-
minha a três revisores especializados. Publicação eletrônica e em
Fluxo de tramitação Posteriormente, com base nos parece- fluxo contínuo
De acordo com o novo fluxo o ma- res dos revisores, emitirá parecer de re- Esta modalidade permite maior
nuscrito tramita do Editor-Técnico para comendação ou não, a ser encaminha- dinamismo na liberação dos artigos
o Editor de Área, deste para o Editor- do ao Editor de Área. aprovados e elimina a necessidade do
-Associado e posteriormente para os Os Revisores serão responsáveis ahead of print. Nesta modalidade “pu-
Revisores. Este fluxo é semelhante pela avaliação crítica do conteúdo do blished in streaming mode” os artigos
àqueles adotados pelos principais pe- manuscrito, acatando-o como tal ou estarão vinculados apenas ao volume.
riódicos científicos nacionais e interna- sugerindo ajustes e correções. Os seus A falta de paginação não é relevan-
cionais e atende à antigas proposições pareceres subsidiarão o parecer do Edi- te porque atualmente os artigos são
do Corpo Editorial. De acordo com os tor-Associado. resgatados a partir do seu DOI (Digital
tempos estabelecidos para cada etapa, Object Identifier). Apesar disso, eles
Ao Editor Chefe compete gerenciar
a tramitação do manuscrito será finali- são identificados sequencialmente na
o fluxo de tramitação dos manuscritos,
zada em até 90 dias. estrutura da Revista por meio da sua
deliberar sobre o aceite ou rejeição do
numeração eletrônica (elocation), que
Neste fluxo, o Editor-Técnico é o manuscrito substanciado nos pareceres
aparece no local da paginação.
responsável pela verificação da confor-

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 5


NOTÍCIAS

As comemorações do Dia Nacional da

conservação do solo
Na semana entre os dias 10 e 17 de abril, a SBCS fez uma
campanha na sua fan page para despertar a atenção para o
Dia Nacional da Conservação do Solo, comemorado dia 15. A
cada dia era postada uma nova mensagem conclamando as
pessoas à refletirem e a comemorarem a data. Vale destacar
que no dia 15, a postagem um simples cartão comemorativo
foi compartilhada por mais de 800 amigos e visualizada por
mais de 80 mil pessoas.
Uma destas postagens chamava a atenção para dois arti-
gos publicados no site da SBCS
• O primeiro, do professor da UDESC, Ildergadis Bertol, tra-
ta do histórico, situação atual e o que esperar para o futuro
da conservação do solo no Brasil e encontra-se publicado
também nesta edição do Boletim.
• O segundo, dos professores Marcos Gervásio e Lúcia He-
lena dos Anjos e do engenheiro ambiental João Henrique
Gaia-Gomes, todos da UFRRJ, trata da degradação dos ção do Solo demonstra esta experiência de sucesso mobili-
solos no ambiente de “Mar de Morros” na região Sudeste: zando um número cada vez maior de jovens pesquisadores e
o exemplo do Vale do Paraíba do Sul. estudantes em torno do tema.
Os autores pertencem à COMISSÃO 3.3 da SBCS– Manejo O Dia Nacional da Conservação do Solo é uma home-
e Conservação do Solo e da Água e prontamente aceitaram nagem ao nascimento de Hugh Hammond, em 1881. Ele é
ao convite da Secretaria Executiva da SBCS para produzirem considerado pioneiro na conservação do solo nos Estados
textos que subsidiassem o debate sobre a conservação do Unidos. A data foi instituída por iniciativa do Mapa, em 13 de
solo no Brasil. A chamada feita no Facebook para a leitura dos novembro de 1989 (Lei 7.876), com o objetivo de aprofundar
artigos no site surtiu excelentes resultados e os artigos foram os debates sobre a importância do solo como um dos fatores
lidos e compartilhados por muitas pessoas. básicos da produção agropecuária.
A SBCS tem usado cada vez mais as mídias sociais para Para acessar os artigos citados nesta reportagem visite o
provocar reflexões e popularizar a ciência do solo. A experi- site da SBCS: (http://www.sbcs.org.br/?post_type=noticia_
ência com as comemorações do Dia Nacional da Conserva- geral&p=5023

Ministério prevê
mapeamento do solo
e criação de banco de
dados
A presidente da SBCS, Fatima Moreira, também partici-
pou das comemorações do Dia Nacional da Conservação do
Solo representando a Sociedade em um seminário sobre
uso, manejo e conservação do solo: desafios para a produ-
ção sustentável, promovido pelo Ministério do Meio Am-
biente e pela Enagro, em Brasília, dia 14 de abril.
Neste evento, representantes do Governo Federal apre-
sentaram proposta de projeto de lei que institui a Política
Nacional de Conservação do Solo e da Água no Meio Rural
para regulamentar as práticas de manejo de solo e o uso de O Seminário apresentou uma proposta de projeto de lei sobre o uso do
recursos hídricos. solo e da água no meio rural.

6 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


NOTÍCIAS
A proposta prevê, por exemplo, o mapeamento do solo,
a criação de uma base de dados e a capacitação de técnicos
e de produtores rurais para a difusão de conhecimentos e
tecnologias capazes de prevenir e controlar os processos
erosivos e outras formas de degradação.
“A sociedade precisa conhecer o valor do solo e tratá-lo
de forma adequada. O desafio é fazer o seu mapeamento
em escalas compatíveis com as necessidades de cada re-
gião e dar assistência apropriada ao produtor”, disse Mau-
rício Carvalho de Oliveira, chefe da Divisão de Agricultura
Conservacionista do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA).
A proposta do projeto de lei foi elaborada por um gru-
po de técnicos do MAPA, Agência Nacional de Água (ANA)
e ministérios do Meio Ambiente e da Integração Nacional.
O texto deverá ser enviado aos ministros da área e depois
apresentada à Casa Civil. 
Segundo o representante da Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, Gus-
tavo Chianca, há estimativas de que 33% do solo no mundo
estão em situação de risco. O Brasil é um dos maiores pro- A presidente Fatima Moreira, representou a SBCS neste evento so-
bre conservação do solo, realizado em Brasília na semana passada.
dutores de alimentos do mundo, com uma área agricultável
Também participaram do evento os professores e conselheiros da
de 242 milhões de hectares. Além disso, tem 12% da reser- SBCS, José Miguel Reichert, Nilvânia Mellho, Clístenes Nascimento e o
va mundial de água doce. pesquisador Segundo Urquiaga.
 (Fonte: Assessoria de Imprensa Ministério da Agricultura)

Gonçalo Farias é membro do comitê eleitoral


da IUSS
Depois de declinar de um convi- estrutura diretiva da IUSS, a quem ca- menos seis anos, sendo dois anos
te do atual presidente da IUSS, Rai- berá deflagrar o processo de votação como presidente eleito (2017/2018),
ner Horn, para se tornar candidato à entre as sociedades afiliadas. O resul- dois como presidente efetivo
presidência da União Internacional de tado final será apresentado na reunião (2019/2020) e outros dois (2021/2022)
Ciência do Solo, o ex-presidente da do Conselho Superior da entidade, em como ex-presidente.
SBCS, Gonçalo Signorelli de Farias, novembro, no Rio de Janeiro durante o Para Gonçalo de Farias, seria dese-
aceitou ser membro do comitê para es- Inter Congress Meeting. jável e importante a presença de candi-
colha do novo presidente. Ele também Os candidatos deverão ter dispo- datos da América Latina . 
fará parte da Comissão de Prêmios e nibilidade para atuar na IUSS por pelo
Distinções da IUSS (Medalhas Vassily
Dokuchaev e Justus von Liebig).
Para Gonçalo, “tais participações,
mais do que modesta contribuição
pessoal, denotam o apreço que a IUSS
tem cada vez mais pela SBCS”. So-
bre a escolha do novo presidente da
União Internacional, ele explica que
a comissão eleitoral receberá inscri-
ções de possíveis candidatos até dia
31 de maio. As indicações devem ser
feitas por associações de pelo menos
dois países. Até o mês de julho as ins-
crições já deverão ser homologadas
pelo Comitê para serem submetidas à

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 7


NOTÍCIAS

II Encontro Paulista de Ciência do Solo


(EPCiS) e I Encontro Brasileiro de Pedometria
(Pedometrics Brazil)
O Núcleo São Paulo e a Comissão estados brasileiros representados. climáticas globais, erosão hídrica e
Brasileira de Pedometria da SBCS O evento reuniu 215 participantes, eutrofização dos corpos de água; uti-
promoveram, de 2 a 4 de março, no sendo 53% profissionais de diferen- lização de novos sensores para aqui-
Instituto Agronômico de Campinas, tes áreas, 25% de pós-graduandos, sição de informações sobre o solo
o II Encontro Paulista de Ciência do 16% de graduandos e 6% na moda- baseados na radiação síncrotron e
Solo (EPCiS) e I Encontro Brasileiro de lidade virtual. Entre os palestrantes nanotecnologia; organização de rede
Pedometria (Pedometrics Brazil). Os estavam 38 especialistas em solos do de dados para montagem de Big Data
eventos debateram os desafios cien- Brasil, além de dois internacionais: sobre o solo e suas características,
tíficos e tecnológicos relacionados a Tom Vanwalleghem da Universidade viabilizando o eScience, utilização das
ciência do solo paulista e brasileira de Córdoba, Espanha e Eloi Carvalho informações para tomada de decisão
no âmbito da pedometria e o alinha- Ribeiro, do ISRIC - World Soil Informa- e definição de políticas públicas; po-
mento de propostas para criação de tion, Wageningen, Holanda. lítica científica e financiamentos inter-
governança em solos, orientadora do O evento multidisciplinar deu se- nacionais em ciência do solo.
planejamento sustentável de uso e quência à proposta do I Encontro O site do evento (www.epcis.net.
ocupação do solo. Paulista de Ciência do Solo e da Con- br) teve 85.600 visitas em 35 dias, re-
A Comissão organizadora avalia ferencia de Pedometria, realizada em sultando em uma média de 2.446 visi-
que o evento serviu para definir o Córdoba, Espanha, em 2015, para tações diárias
marco zero para a avaliação do resul- identificação, caracterização e organi-
tado e das evoluções da intervenção zação dos gestores acadêmicos e em-
pública na área de conservação do presarias paulistas em ciência do solo
solo e da água e de sustentabilidade para discutir os desafios científicos e
da produção agropecuária. O evento tecnológicos sobre o tema.
foi estrategicamente realizado no IAC Fizeram parte da programação da
porque a região se destaca como uma reunião: técnicas para divulgação e
das maiores do Brasil com recursos popularização do conhecimento faci- Palestras para dowload
para a geração de energia sustentá- litando sua conversão em inovação e Para baixar as palestras do II Encontro Pau-
vel. Destaca-se também a presença de aumento da visibilidade sobre o tema lista de Ciência Do Solo (EPCiS) e o I En-
parques tecnológicos e universidades solo; planejamento estratégico de uso contro Brasileiro de Pedometria – Pedome-
de expressão nacional e internacional. trics Brazil. No celular você também pode
e ocupação do solo com ênfase na
usar o QR Code. Para isso é preciso ter um
Participaram do evento 34 insti- sustentabilidade, como manutenção aplicativo que permita a leitura do código.
tuições de ensino e pesquisa e 14 do estoque de carbono e mudanças Mais informações em: http://sbcssp.org.br

Parte da Comissão Organizadora e representante da SBCS. Da esquer-


da para direita: Otávio Antônio de Camargo, Tiago Osório Ferreira,
Reinaldo Bertola Cantarutti, Estêvão Viccari Mellis, Rafael Otto, José
Marques Junior, Zigomar Menezes de Souza, Janaina Braga do Car-
Equipe organizadora
mo, Thiago A.R. Nogueira e Diego Silva Siqueira

8 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


NOTÍCIAS
SBCS recebe doação de

acervo fotográfico das RCCs


O pesquisador do IBGE, Sérgio Shi-
mizu, doou o seu acervo fotográfico com
registros de todas as Reuniões Brasileiras
de Classificação e Correlação  de  Solos
(RCC) realizadas entre 1998 e 2015. Trata-
-se de um precioso registro de solos nas
diversas regiões do país que agora está à
disposição de todos os sócios da SBCS.
A RCC é um evento técnico-científico
promovido pela SBCS com apoio de várias
instituições e vinculado ao Sistema Bra-
sileiro de Classificação de Solos (SiBCS).
Normalmente, o evento é realizado com
a participação de profissionais que atuam
em instituições de pesquisa, ensino supe-
rior e serviços técnicos na área de Ciência
do Solo ou correlatas, notadamente aque-
les ligados às comissões especializadas de
Sérgio Shimizu é o oriental sentado do lado direito da faixa. Gênese e Morfologia, Levantamento e Clas-
sificação e Pedometria.
O principal objetivo do evento é a va-
lidação e aprimoramento do SiBCS por
meio de correlações entre ocorrências no
território brasileiro das classes de solos e
suas características geoambientais, suas
vulnerabilidades e potencialidades para
uso agrícola.
Sérgio Shimizu esclarece que não é
um fotografo profissional, mas sim um
apaixonado pela fotografia. “As fotos são
registros das excursões pedológicas e dos
congressos. Tento mostrar, de uma for-
ma fragmentada, como foram as histórias
dessas viagens. São viagens com paradas
cronometradas e com tempos reduzidos,
então não há como estudar melhor enqua-
dramentos, composições e iluminação.
Além disso, preciso ouvir as discussões
que ocorrem durante a apresentação dos
perfis. Portanto, não são fotos para ir numa
capa de revistas ou livros. A minha inten-
ção é que as fotos sejam usadas nas salas
de aulas e que de certa forma possa contri-
buir com os professores”.
O acervo foi doado em formato digital,
em dez DVDs com milhares de fotos. A Se-
cretaria Executiva irá buscar alternativas de
mídias para tonar as fotografias disponíveis
A SBCS irá providenciar um sistema de buscas para para os sócios.
disponibilizar o acervo aos sócios.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 9


NOTÍCIAS

Inteligência artificial
para amostragem do solo
O pesquisador da UFRRJ e mem- O spsann resolve o problema de
bro da Comissão de Pedometria da encontrar configurações amostrais
SBCS, Alessandro Samuel Rosa, lan- ótimas usando uma técnica chamada
çou a versão 2.0-0 do pacote spsann, recozimento simulado, onde milha-
já disponível para descarregar no res de configurações amostrais são
CRAN. O pacote fornece métodos para avaliadas sequencialmente até que a
otimizar a configuração de amostras configuração amostral ótima para o
espaciais utilizando o recozimento problema à mão seja encontrada. O
simulado espacial. A nova versão im- processo de busca funciona assim:
plementa múltiplas funções para várias spsann inicia com uma configura-
finalidades, tais como estimativa do ção amostral qualquer e avalia a sua
variograma, estimativa da tendência qualidade de acordo com o problema
espacial e interpolação espacial. Uma à mão;
função de recozimento simulado es-
Uma nova configuração amostral é
pacial de uso geral permite ao usuário
produzida mudando a localização de
definir sua própria função objetivo.
uma das amostras.
Técnicas modernas de mapea-
A qualidade da nova configuração
mento do solo usam o modelo estatís-
amostral é avaliada. Se for melhor do
tico Y(s) = m(s) + e(s) para explicar a
que a anterior, a nova configuração
correlação empírica entre as proprie-
amostral é aceita (usada para substi-
dades do solo (Y) e as condições am-
tuir a anterior). Contudo, também há
bientais usando um número limitado
chance de ela ser aceita se for pior.
de amostras (s). Para isso é necessá-
Isso serve para spsann escapar de
rio que a configuração amostral seja
soluções inferiores baseando-se no
ótima para identificar e estimar ambos
princípio de que, por vezes, é preciso
os componentes determinísticos (m)
dar um passo atrás para encontrar so-
e estocástico (e) de variação espacial
luções melhores.
do solo, e permitir realizar predições
espaciais com a menor incerteza pos- O processo continua até que ne-
sível. Obter uma amostra que atenda nhuma nova configuração amostral
aos três objetivos simultaneamente é seja melhor do que a anterior. Quanto
um desafio, dado que a configuração mais próximo de encontrar a configu-
amostral ótima para cada objetivo é ração amostral ótima, menor é a chan-
diferente. ce de aceitar soluções piores.

Segundo o pesquisador,o pacote O pacote spsann foi desenvolvido


spsann é uma maneira de obter confi- como parte do projeto de doutora-
gurações amostrais ótimas para o ma- mento do pesquisador sob orientação
peamento do solo. de Lúcia Anjos (UFRRJ), Gustavo Vas-
ques (Embrapa Solos) e Gerard Heu-
velink (ISRIC -- World Soil Information,
Holanda), financiado pela CAPES e
CNPq.
Estão sendo preparados dois ar-
tigos com avaliação do desempenho
do spsann. Maiores informações es-
tão disponíveis na página de desen-
O R é o ambiente computacional mais po- volvimento de spsann (github.com/
pular de processamento e análise de dados. samuel-rosa/spsann/) e em minha pá-
Além disso, o R é um software livre e de
gina pessoal (samuel-rosa.github.io).
código aberto. Mais informações em www.r-
-project.org.

10 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


NOTÍCIAS
XI Reunião Sul Brasileira

de ciência do solo
De 31 de agosto a 2 de setembro, o Núcleo Regional Sul
(NRS) da SBCS realizará, em Frederico Westphalen, RS, a XI
Reunião Sul Brasileira de Ciência do Solo. O evento terá como
tema “Qualidade do Solo & Ambiente de Produção”.
Segundo a Comissão Organizadora, o tema tem como ob-
jetivo provocar uma reflexão sobre como estamos cuidando
do nosso ambiente de produção. Será que todo o conheci-
mento gerado nas nossas instituições de ensino e de pesqui-
sa está sendo aplicado na busca pela qualidade do solo? Será
que o nosso ambiente de produção é sustentável?
O evento será composto de apresentação de trabalhos
científicos na forma de pôsteres, conferências e painéis, reu-
niões das sessões técnicas da SBCS e a assembleia geral. Nas
conferências e painéis serão debatidos temas atuais como:
História da Ciência do Solo nos estados do RS e SC, Qua-
lidade de Solos, Aspectos Ambientais de Contaminação de Mais informações no site do NRS. http://www.sbcs-nrs.
Solos, Dinâmica de Carbono e Erosão nos Ambientes de Pro- org.br/ e na fan page: Núcleo-Regional-Sul-Sociedade-Brasi-
dução. leira-de-Ciência-do-Solo

Simpósio Brasileiro de Educação em Solos


será realizado em São Paulo
O VIII SBES será realizado entre os Educação em Solo busca possibilitar
dias 7 e 10 de setembro no Departa- a difusão do conhecimento do ensino
mento de Geografia da Universidade de do solo em uma perspectiva de inte-
São Paulo, e terá como tema principal gração natureza/sociedade, estimu-
“A educação em solos no meio urbano lando a articulação e a troca de ideias,
e a popularização da Ciência do Solo”. informações, experiências e conhe-
O simpósio reunirá profissionais de cimentos entre os participantes do
todo o país que se dedicam à pesquisa simpósio, formado por pedagogos,
em solos e atuam nas áreas do ensino, geógrafos, agrônomos, biólogos, ge-
pesquisa e extensão em instituições pú- ólogos e químicos, professores, pes-
blicas, privadas e organizações gover- quisadores, acadêmicos e profissio-
namentais e não governamentais.  nais das demais áreas voltadas para a
O objetivo do evento é promover a temática do simpósio. oficinas e atividades de campo.
discussão de temas concernentes ao A realização do Simpósio em Os trabalhos poderão ser submeti-
ensino do solo por meio dos agentes uma grande cidade como São Paulo dos até o dia 31 de maio. Mais informa-
de divulgação/promoção do conhe- será uma oportunidade para divulga- ções no site: http://viiisbes.fflch.usp.br/
cimento e das aplicações de práticas ção das pesquisas e ações relacionadas O VIII Simpósio Brasileiro de Edu-
educativas e inovadoras na condução à educação sobre o uso e conservação cação em Solos é um evento promovi-
de pesquisas sobre a educação em so- dos solos, desenvolvidas a partir da re- do pela da Divisão 4 da SBCS – Solo,
los. A realização do Simpósio reforça alidade do meio urbano. Ambiente e Sociedade, da Sociedade
a importância do ensino do solo e de As discussões ocorrerão seguindo Brasileira de Ciência do solo e organi-
uma visão pedagógica para o trabalho diferentes eixos temáticos desenvol- zado por um grupo de pesquisadores
de uso e conservação do solo de forma vidos em atividades como palestras, vinculados às instituições de ensino su-
sustentável. mesas redondas, apresentação de tra- perior que investigam e desenvolvem
A discussão do tema propos- balhos em sessões de pôsteres e apre- trabalhos na área de ensino e pesquisa
to para o VIII Simpósio Brasileiro de sentações orais, grupos de trabalho, de Solos.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 11


NOTÍCIAS

RBMCSA discute
conservação
e manejo do solo e da água
Principal evento da área, a XX Reunião
Brasileira de Manejo e Conservação
do Solo e da Água, será realizada
entre os dias 20 e 24 de novembro em
Foz do Iguaçu
Com o tema “O solo sob ameaça:
conexões necessárias ao manejo e
conservação do solo e água”, o even-
to é promovido pela SBCS e realizado
pelo Instituto Agronômico do Paraná
(IAPAR) e Núcleo Estadual Paraná da
Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo (NEPAR-SBCS).
O objetivo é suscitar discussões
acerca dos grandes problemas da
conservação do solo e promover sis-
temas sustentáveis de uso dos recur-
sos solo e água para todos os biomas
brasileiros, além de contribuir com
soluções sobre o aumento de produ-
ção aliado à conservação das terras
agrícolas.
A programação do evento mes-
cla a apresentação de novos conhe-
cimentos científicos com temas de
cunho educacional, de difusão de forma oral ou de pôsteres, com resul- gião de solos férteis que abrigam uma
tecnologia e até mesmo aspectos tados de pesquisa atuais e inovadores agricultura extremamente moderna
legais que envolvem a conservação de todas as subcomissões científicas e produtiva, além das belezas e en-
do solo. São convidados a contribuir, ligadas ao manejo e conservação do cantos naturais das suas cachoeiras e
professores e pesquisadores da mais solo. Esta prevista também a realiza- parques em conjunto com boa malha
alta qualificação e experiência, além ção de minicursos e excursões técni- aérea, capaz de receber participantes
de empresas e representantes da cas a campo. de todo o País.
administração pública que têm ação Os organizadores esperam um
interfacial com o tema. Serão quatro O local do evento público de 600 participantes entre
dias de intensos debates, onde se- A cidade das Cataratas foi escolhi- professores, pesquisadores e exten-
rão realizadas quatro palestras em da para sediar o evento por três moti- sionistas, profissionais da iniciativa
sessão plenária única e 14 painéis vos: a profunda ligação da região com privada, estudantes de graduação,
de discussão técnica com duas ou o tema por situar-se na convergência pós-graduação e agricultores, e a
três contribuições técnicas em cada, de duas das maiores bacias hidro- apresentação de 300 trabalhos cien-
o que irá proporcionar aos congres- gráficas do Brasil, a do Rio Paraná e tíficos.
sistas a discussão e a apropriação de a do Rio Iguaçu, que são precursoras O site da XX RBMCSA (www.
extenso conteúdo técnico. da formação da Bacia do Prata, uma rbmcsa2016.com.br) e o Facebook
Além das palestras e painéis, serão das mais importantes da América do (www.facebook.com/xxrbmcsa) já
apresentados trabalhos científicos na Sul. Além disso, trata-se de uma re- estão no ar com notícias, depoimen-

12 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


NOTÍCIAS
tos, informações da cidade que se-
diará o evento, material de divulga-
ção e todas as informações sobre a
programação, inscrição e submissão
de trabalhos.

A RBMCSA é realizada há
mais de cinco décadas
O “I Congresso Nacional de Con-
servação do Solo (CNCS)” aconteceu
na semana de 17 a 23 de julho de
1960, em Campinas (SP), preambular
evento dedicado a essa temática no
Brasil. Três anos depois, a segunda
edição foi realizada em Belo Horizonte
(MG), em 1963.
Em 1970 a Sociedade Brasileira de
Conservação do Solo incorporou-se
à Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo (SBCS). Porém, além dos con-
gressos de conservação dos solos ou-
tros eventos similares passaram a ser realizado em Passo Fundo (RS) e em Em 1990, quando da realização si-
promovidos. 1980, em Recife (PE). No mesmo ano, multânea do “VIII Congresso Brasilei-
No Paraná, a primeira reunião de em Brasília-DF, foi realizado, após um ro de Conservação do Solo” e do “8º.
um grupo de pesquisadores interes- intervalo de 17 anos, o III Congresso Encontro Nacional de Pesquisa Sobre
sados em conservação do solo, acon- Brasileiro de Conservação do Solo, Conservação do Solo”, realizados pelo
teceu em 1975, em Londrina (PR), quando foi substituída a palavra “na- IAPAR, foi decido pela fusão dos dois
realizado pelo Instituto Agronômico cional”. Os eventos que se seguiram eventos que, a partir de então, pas-
do Paraná (IAPAR), com o título de foram realizados em Campinas - SP saram a ser nominados de “Reunião
“Encontro Nacional de Pesquisa sobre (1982), Porto Alegre-RS (1984), Cam- Brasileira de Manejo e Conservação
Conservação do Solo com Simulador po Grande-MS (1986) e João Pessoa do Solo e da Água (RBMCSA)”, rece-
de Chuva”. Em 1978, esse evento foi - PB (1988). bendo a mesma sequência numérica.

FERTBIO 2016 será realizada em Goiânia,


de 16 a 20 de outubro
Promovida pelo Núcleo Regional mente estabelecida no ano de 1998,
Centro-Oeste em parceria com a Uni- tem propiciado excelentes oportuni-
versidade Federal de Goiás, a FertBio dades para a promoção de debates
2016 terá como tema central “Rumo das grandes áreas temáticas e para a
aos Novos Desafios”. Goiânia será o congregação de pesquisadores, pro-
cenário das principais discussões so- fessores, estudantes, produtores ru-
bre os caminhos a serem seguidos rais, extensionistas e empresários de
por produtores, empresários e cien- diversos setores ligados à agricultura,
tistas. consolidando o desejo de todos de in-
A FertBio 2016 reúne quatro im- tegrar as várias áreas de conhecimen-
portantes eventos da Ciência do Solo: to da Ciência do Solo.
a XXXII Reunião Brasileira de Fertili- Serão quatro conferências a cada
dade do Solo e Nutrição de Plantas, dia, além de simpósios e mesas re-
a XVI Reunião Brasileira sobre Micor- dondas. A programação e prazos para
rizas, o XIV Simpósio Brasileiro de inscrições com descontos podem ser
Microbiologia do Solo e a XI Reunião conferidos nos site do evento: http://
Brasileira de Biologia do Solo. www.eventosolos.org.br/fertbio2016/
Essa harmonização, que foi inicial- home/

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 13


NOTÍCIAS

Uso do solo brasileiro pode melhorar


sem atingir áreas de preservação
Um conjunto de quase 500 mapas “O Brasil está
de altíssima resolução irá permitir ao mudando o mo-
Brasil enxergar como está utilizando delo agrícola de
suas terras destinadas à agricultura e extensivo para
à pecuária. Será também um olhar ao intensivo rapi-
longo da história agrícola dos últimos damente e essa
70 anos. Ao mirar passado e presen- é uma mudança
te, será possível planejar o futuro com de direção que
a esperança de que é possível crescer parece ser defi-
economicamente sem que mais nenhu- nitiva. Essa ten-
ma árvore seja arrancada da Amazônia dência começa
ou do Cerrado. Os mapas estão dispo- a ser percebida a
níveis para quem quiser consultá-los e partir de 1985. A
fazem parte de uma tese de doutorado área total utiliza-
em preparação no Departamento de da pela agrope- Mapas mostram evolução do uso do solo agrícola ao longo dos últi-
mos 70 anos
Engenharia Agrícola da Universidade cuária está sen-
Federal de Viçosa. do reduzida, mas
O trabalho é pioneiro no Brasil. A a produção está aumentando”. todo o Brasil. “O país está se movendo
pesquisadora Lívia Dias, orientada pelo Os pesquisadores concluem que das lentamente em direção a uma agrope-
professor Marcos Heil da Costa, com- quatro culturas analisadas, a soja e a cuária mais intensiva e sustentável”,
binou dados dos censos agropecuá- cana-de-açúcar já atingiram a produtivi- conclui Heil.
rios realizados pelo Instituto Brasileiro dade máxima possível com as tecnolo-
de Geografia e Estatística (IBGE) com gias disponíveis atualmente. “A cultura A pecuária
imagens de satélite. Para distribuir as do milho já alcançou dois terços do que Os mapas produzidos pelos pesqui-
principais culturas agrícolas do Brasil é possível atingir em produtividade, sadores mostram com precisão o que
em áreas já desmatadas. Os mapas mas a pecuária ainda está na metade muitos já sabem. São 53 milhões de
têm tamanha precisão que é possível do caminho. Há um enorme espaço hectares de pastagens de baixa produ-
visualizar o uso agrícola do solo bra- para crescer sem que haja expansão de tividade em solos em franco processo
sileiro a cada quilômetro quadrado. O área”, diz o professor Heil. Para chegar de degradação. Mas a autora da tese de
trabalho, segundo os pesquisadores, às conclusões sobre déficit de produti- doutorado, Lívia Dias, afirma que hou-
é consistente com todos os dados vidade, os pesquisadores compararam ve redução das áreas de pastagens em
agrícolas disponíveis e estima onde e as médias atuais com os resultados todas as regiões analisadas, exceto na
como os solos brasileiros têm sido uti- obtidos pelos 5% dos produtores mais Amazônia. No entanto, o lento proces-
lizados pela agricultura e pecuária ao produtivos. so de transferência de tecnologia ainda
longo do tempo. Os dados históricos mostram a no- faz com que, em pelo menos 35% da
A pesquisa avaliou o padrão do tória baixa sustentabilidade da agrope- área total de pastagens, a taxa de lota-
uso do solo e das mudanças de pro- cuária no Brasil. “O Brasil adotou um ção de bovinos seja inferior a uma ca-
dutividade para quatro dos principais modelo de expansão que sempre pre- beça por hectare.
usos agrícolas no Brasil: soja, milho, feriu estender a área a buscar produti- Os dados da pesquisa mostram que
cana-de-açúcar e pastagens. Por isso, vidade. Este modelo de expansão de o Brasil tem uma área do tamanho de
o resultado dá subsídios importantes áreas não se sustenta mais. Este pro- Minas Gerais que pode ser usada para a
tanto para evitar a ocupação agrícola da cesso, felizmente, está sendo reverti- expansão da agricultura desde que haja
Amazônia quanto para planejar o uso do”, afirma o orientador da pesquisa.  recuperação do solo. “A recuperação
do solo no Brasil. Os resultados mostram que, apesar ou substituição das pastagens depende
da fronteira agrícola ainda estar em de tecnologia e investimentos. Mesmo
Boas notícias expansão na Amazônia e no Cerrado, as áreas produtivas podem melhorar
as taxas são muito menores que antes muito a produção. Com tecnologia ade-
O professor Marcos Heil afirma que
e a área destinada à agropecuária está quada, a área disponível para produção
os resultados avaliados ao longo do
reduzindo ao longo do Sul e Leste do agrícola no Brasil poderia ser maior que
tempo permitem analisar tendências
país. A boa notícia é que a produtivi- o equivalente a toda a região Sudeste e
que não serão revertidas facilmente.
dade está crescendo rapidamente em não haveria necessidade de expansão

14 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


NOTÍCIAS
para regiões ainda com vegetação na- impactos negativos no clima da região informações claras para orientar o pla-
tiva, diz Lívia. e irá afetar negativamente a produção nejamento territorial e as decisões polí-
Esses resultados dão ainda mais ar- agrícola e pecuária nacional. ticas para a agricultura sustentável”.
gumentos para vários outros trabalhos O estudo fornece uma visão históri- Os mapas podem ser visualizados e
publicados pela equipe do professor ca abrangente do uso do solo e da pro- baixados em http://www.biosfera.dea.
Marcos Heil Costa no Grupo de Pesqui- dutividade na agricultura e na pecuária. ufv.br e o artigo publicado na  Global
sa em Interação Atmosfera-Biosfera da Segundo Lívia, “os resultados demons- Change Biology pode ser conferi-
UFV. O grupo tem demonstrado cien- tram que reduzir o déficit de produti- do em http://onlinelibrary.wiley.com/
tificamente que o desmatamento da vidade pode aumentar drasticamente doi/10.1111/gcb.13314/full
Floresta Amazônica e do Cerrado terá a produção do agronegócio e fornece

II Encontro Regional de Ciência


do Solo na Amazônia Oriental
– Amazon Soil 2016
A Universidade Federal Rural da de fertilidade do solo e nutrição mi-
Amazônia (UFRA), juntamente com o neral de plantas, matéria orgânica do
Núcleo Regional da Amazônia Oriental solo, biologia do solo, física do solo,
da SBCS irão realizar o II Encontro de Ci- química e mineralogia do solo, gênese, paração com as adotadas em outras re-
ência do Solo da Amazônia entre os dias morfologia e classificação do solo, ma- giões brasileiras, visando minimizar os
10 e 13 de agosto, em Capanema- PA. nejo e conservação do solo e da água, impactos sobre a conservação do solo
fertilizantes e corretivos, educação em e da água, quando submetidos direta
A realização do evento visa ampliar
ciência do solo e poluição, qualidade ou indiretamente às alterações em fun-
os conhecimentos técnicos e científicos
ambiental e etnopedologia e discutidas ção da adoção de sistemas produtivos
necessários para assegurar o desen-
volvimento sustentável da Amazônia. as técnicas e sistemas de manejo ado- Mais informações no site do evento:
A programação prevê abordar áreas tados na Amazônia, bem como a com- http://amazonsoil2016.com.br/

Abertas as inscrições Medalha Guy Smith


de Ciência do
para o Prêmio IPNI Brasil Solo
Estão abertas, até 30 de julho, as ins-
Estão abertas, até dia 12 de agosto, as inscrições para o Prêmio Pesqui- crições para a medalha Guy Smith de
sador Senior do IPNI Brasil (International Plant Nutrition Institute). A pre- Ciência do Solo. A premiação é con-
miação tem por objetivo reconhecer pesquisadores que contribuem com cedida pela Comissão de Classificação
pesquisas relevantes para o uso eficiente dos fertilizantes e a manutenção da dos Solos da União Internacional de Ci-
qualidade ambiental, de modo a garantir a produção de alimentos para a hu- ência do Solo (IUSS) a cada dois anos.
manidade. A premiação conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Ciência A entrega do prêmio será feita durante o
do Solo.  5th International Soil Classification Con-
O Prêmio IPNI Brasil será entregue durante a FertBio 2016, que acontecerá gress, que será realizado de 1 a 7 de setem-
em outubro, em Goiânia. bro, na África do Sul. Os candidatos brasi-
O Prêmio de Pesquisador Sênior é concedido a pesquisadores que se des- leiros indicados devem ser pesquisadores
tacam com relevantes contribuições científicas para o manejo responsável dos proeminentes e serem associados à SBCS.
nutrientes das plantas. Os candidatos deverão ser indicados por até dois emi- Mais informações no site:https://sites.
nentes pesquisadores. As regras para a candidatura podem ser consultadas google.com/a/vt.edu/iuss1-4_soil_classifi-
no site: http://info.ipni.net/Premio_Brasil. cation/home/guy-smith-award
Todos os anos o IPNI também premia um trabalho científico de jovens pes- Outras informações sobre indicações
quisadores que tenha sido apresentado no evento e contenha informação re- de brasileiros com a Diretora da Divisão 1
levante e forneça suporte à missão do Instituto. Na modalidade Jovem Pesqui- da SBCS e membro da Comissão da IUSS,
sador não há inscrições. Todos os trabalhos aceitos para o evento concorrem Lúcia dos Anjos pelo e-mail: lanjos@ufrrj.
e são julgados pela comissão que os avalia. Mais informações no site da SBCS. br

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 15


A ciência do solo
e o desastre de
Mariana Toda sociedade deseja se desen-
volver, gerar riquezas e possuir ele-
biente, por onde passam todos os
ciclos da natureza. A mitigação ou a
mas que envolvem os solos, a SBCS
pretendeu apresentar, nesta edição
vada qualidade de vida. No entanto, compensação dos impactos ambien- do Boletim Informativo, artigos que
é importante lembrarmos que todo tais envolve, diretamente, o uso do ajudassem a compreender o desastre
desenvolvimento, por mais sustentá- solo. Infelizmente a maior parte da acontecido em Mariana, MG. A ciên-
vel que seja, requer uso dos recursos sociedade não conhece a importân- cia do solo pode compreender, auxi-
naturais e, portanto, possui um custo cia deste recurso, e tem uma melhor liar a identificar problemas e apontar
ambiental. Exemplo disso é a dispa- percepção apenas dos recursos vege- soluções que possam mitigar as con-
ridade de vegetação nativa existente tação e água. Este desconhecimento sequências deste desastre para a po-
no Brasil (65%) e na Europa (7%). Este faz com que muitos dos processos de pulação atingida. Há muitos pesquisa-
continente pagou caro pelo desen- produção não sejam sustentáveis, não dores estudando os impactos deste
volvimento conquistado e hoje gasta havendo, portanto, como atingir o al- desastre. A SBCS procurou identifica-
fortunas para ajudar a preservar áreas mejado desenvolvimento sustentável. -los e convidá-los a escrever artigos,
em outros continentes. Conscientes Atualmente presenciamos as elo- mas, infelizmente, alguns não pude-
disto, temos que nos empenhar cada quentes discussões relacionadas ram atender a este chamado. Aos que
vez mais em nossa obrigação de gerar à grandes empreendimentos, tais prontamente aceitaram este desafio, a
conhecimento, técnicas, produtos e como, a construção da Usina de Belo gratidão da SBCS.
processos para viabilizar o desenvol- Monte, e mais recentemente o desas- Mais que contribuir para minimizar
vimento com o menor custo ambiental tre de Mariana decorrente do rompi- os impactos do desastre, é aprender
possível. Todo empreendimento gera mento da barragem de rejeitos de mi- com os erros e formular alternativas
impactos ambientais que devem, da neração do Fundão. Ambos eventos para o desenvolvimento de forma téc-
melhor maneira possível, ser minimi- evidenciam a necessidade de refor- nica, responsável e eficaz: sustentá-
zados, mitigados ou compensados. A mulação das legislações pertinentes e vel, porque não!
visão simplista de que esta ou aquela a importância de corpo técnico quali-
atividade deva ser descontinuada não ficado. Além disso, é preciso entender
resolve nossos problemas e gera con- os novos ambientes formados e como
flitos sociais dos mais diversos níveis. manejá-los para que voltem a exercer Igor Assis
Neste sentido a Ciência do Solo suas funções. Editor-chefe do Boletim Informativo
tem papel fundamental. O recurso Atenta ao compromisso de dar da SBCS
solo é a base de sustentação do am- respostas à sociedade para proble-

16 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 17
OPINIÃO

Paisagem de ponte do Rio Doce


com depósito de lama e galha-
da proveniente da destruição de
APP’s a montante.

Paisagens de Lama:
Os Tecnossolos para
recuperação ambiental de
áreas afetadas pelo desastre da
barragem do Fundão, em Mariana
Foto: Hugo Galvão

Carlos Ernesto G. Reynaud Schaefer O restabelecimento dos ecossiste- diretamente e fortemente afetada em
Eliana Elizabet dos Santos mas afetados por desastres socioam- sua integridade ambiental. Por muito
Elpídio Inácio Fernandes Filho bientais da magnitude do acidente da tempo será difícil de estimar todos os
Igor Rodrigues de Assis Barragem do Fundão, em Mariana, danos com alguma certeza!
suscita questões mais imediatas e ób- A ruptura repentina gerou o deslo-
vias, vinculadas à forte degradação da camento de uma onda desproporcio-
paisagem total: rios, planícies fluviais, nal de rejeitos que galgou a barragem
terraços, áreas rurais habitadas, estru- de Santarém, a jusante, e desceu de
turas, pontes, animais, coletividades, forma avassaladora pelos rios Gualaxo
zonas urbanas e todo um modo de do Norte e Carmo até atingir a barra-
vida e um tecido social rompido, des- gem de Candonga. Lá, boa parte des-
continuado ou, ainda pior, irremedia- tes rejeitos ficou represada, mas aca-
velmente perdido. Em meio à miríade bou extravasando um volume ainda
de problemas correlatos, é próprio de gigantesco, que permanece na calha
uma tragédia como essa uma reflexão do Rio Doce. Neste trecho de mon-
sobre nosso papel na natureza e do tante, desde a barragem e por mais
quanto estamos vulneráveis a desas- de 95 km, boa parte das margens dos
tres que trazem consequências impon- terraços baixos, até 4 metros de altura,
deráveis sobre tantas facetas socioam- e toda planície fluvial e leito menor, fo-
bientais. ram recobertos ou assoreados por um
Em termos práticos, o desastre imenso volume de rejeito, atingindo
da Barragem do Fundão evidenciou a profundidade máxima de 200 cm de
morte e a destruição em sua face mais material, além de galhos e restos orgâ-
temível: 17 vidas humanas perdidas, nicos mais leves (Figura 1).
milhões de animais aquáticos e terres- Toda essa dimensão trágica é, con-
tres mortos, uma Bacia Hidrográfica tudo, indutora imediata da busca de
essencial para Minas e Espírito Santo, soluções técnicas e medidas práticas

18 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


OPINIÃO
que podem alavancar o processo de a barragem de Candonga. Aqui vamos Que lama é essa?
recuperação. Para tanto, numa primei- destacar sua dimensão, sua quantifica- Ao longo do trecho impactado pela
ra etapa, é preciso mensurar e conhe- ção e sua repercussão ambiental. deposição, foram coletados material
cer o desastre em todas suas facetas e O que vimos no local é um rejeito de sedimento e dos solos artificiais
detalhes. Num plano mais evidente, as complexo: areia, silte, argila e restos e outros afetados, e procedidas
águas e o leito menor dos rios foram orgânicos – tudo junto e misturado, análises de rotina química e física
diretamente impactados. Neste caso, com pouca seleção e natureza mine- (EMBRAPA, 2011), para uma primeira
imediatamente foram implementados ralógica única, decorrente de resíduos visão da fertilidade natural brevemente
estudos hidrológicos, sedimentológi- de mineração e de seu tratamento. relatadas e discutidas a seguir. Embora
cos e de ictiofauna. Porém, o rastro de Partimos da premissa de que o con- tais análises sejam usualmente
destruição da onda de rejeitos criou ceito de Tecnossolos pode, a nosso destinadas ao diagnóstico da
um ambiente inóspito e inteiramente ver, ajudar a buscar soluções para fa- fertilidade e à prescrição de corretivos
novo nas margens dos rios: uma anti- tos tão pouco comuns aos problemas e adubação, servem também como
ga planície fluvial outrora intensamen- habituais de recuperação de solos de- indicadores da qualidade ambiental do
te cultivada ou pastejada, agora está gradados. solo artificial criado pelo desastre, com
recoberta por um lençol de sedimen- Tal aporte repentino resultou no algumas ressalvas.
tos estranhos à Bacia, que suprimiram completo desaparecimento e assorea- De maneira geral, a lama depositada
as áreas ribeirinhas mais nobres, onde mento das várzeas mais baixas e em como Tecnossolo é quimicamente
o uso consolidado com cultivo de ro- profundas mudanças nos terraços, pobre, mas os problemas físicos
ças e pastagens representavam o pa- que foram enterrados por volume de parecem maiores que os químicos para
norama típico. Além disso, os poucos sedimentos “tecnogênicos” de origem a recuperação ambiental. Os valores
fragmentos residuais de Mata Atlânti- minerária, gerando um quadro degra- de densidade do solo ao longo de
ca ripária, já tão empobrecidos, agora dado onde tecnossolos são a nova rea- todo o trecho ribeirinho, determinados
estão praticamente arrasados e sem lidade. Tecnossolos praticamente esté- logo após o desastre, mostraram faixa
qualquer conectividade. reis, em forte contraste com os antigos variável de 0,94 a 2,38 g/cm3 (Tabela 1).
Neste trabalho, procuramos enfa- Neossolos Flúvicos, Gleissolos e Cam- Os valores extremos são muito altos e
tizar os aspectos dos solos nas zonas bissolos, na maioria eutróficos, que a situação aparentemente se agravou
ribeirinhas afetadas, deixando de lado sustentavam a paisagem ribeirinha, com a passagem do verão chuvoso e
o imenso passivo social, hidrográfico e hoje truncados e enterrados. Neste quente. Quatro meses após o desastre,
e hidrológico do sistema Gualaxo-Car- novo cenário, tem-se uma oportunida- houve assentamento e selamento
mo-Doce, tão severamente afetado. O de para acompanhar, de maneira pio- do solo (hard-setting) formando uma
enfoque escolhido é o cenário e o des- neira, transformações pedogenéticas crosta de areia fina/silte duríssima à
tino da imensa quantidade de rejeito em um novo solo artificial, desprovido penetração.
que extravasou para o leito menor dos de estrutura e com teores muito baixos A densidade do solo (lama) foi
rios e ocupou suas margens, até atingir de matéria orgânica. extremamente variável, com média

Figura 1. Cenário imediatamente após o

Arte: Carlos Schaefer


desastre. Perfil esquemático do depósito
de lama proveniente do rompimento da
barragem e Tecnossolos em seu estágio
zero de evolução.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 19


OPINIÃO
Terraço fluvial de lama adjacente
à barragem de Candonga.

de 1,41 g/cm3 em superfície e 1,54 g/


cm3 na lama enterrada, com valores
de desvio padrão de 0,53 a 0,52,
respectivamente. A densidade de
partícula é bem mais elevada pela
natureza do minério de ferro que
possui alta massa específica 2,75 g/
cm3 (superfície); 2,80 g/cm3 (enterrada)
e menor desvio padrão - 0,29 e 0,23 g/
cm3, respectivamente.
O material de lama possui CTC
muito baixa, sendo praticamente
destituído de carga elétrica negativa,
como pode ser avaliado pelo ΔpH
positivo (diferença entre pH KCl
e pH em H2O), o que indica um
substrato com carga líquida positiva,
típico de materiais oxídicos muito
intemperizados e semelhantes à
solos e materiais de canga ferrífera
do Quadrilátero (Schaefer et al., 2015)
(média pH KCl = 6,25, média pH em
água = 5,69). Os valores de pH tendem
a ser relativamente elevados, não
devido à presença de bases (Ca, Mg),
que é baixa, mas sim à aproximação Tabela 1. Síntese dos resultados das análises químicas e físicas de 26 amostras de
do Ponto de Carga Zero dos óxidos de lama e solos afetados pelo desastre
Ferro (próximo da neutralidade), que
predominam nesses substratos muito Tecnossolo (lama) Neossolo Flúvico Cambissolo
Análises
intemperizados. O pH elevado pode ser Média Desvio Desvio Desvio
Média Média Média
atribuído, ainda, ao uso de hidróxido Pad. Pad. Pad.
de sódio na chamada gelatinização na H2O 5,69 0,19 5,65 0,19 5,77 0,15
pH
mistura com amido, com o material KCl 6,25 1,25 4,91 0,6 4,6 0,3
suspenso atingindo pH 10,5. P 9,34 3,48 11,05 24,5 5,38 3,97
Já os solos enterrados (Neossolos K mg/dm3 18,43 22 15,87 12,32 46,67 62,81
Flúvicos e/ou Cambissolos) mostram
Na 11,61 11,98 5,23 4,62 4,88 8,91
valores de pH em água bem maiores
Ca2+ 1,45 0,69 1,61 0,99 1,76 1,44
que pH KCl, e portanto, CTC e carga
Mg2+ 0,34 0,48 0,57 0,43 0,48 0,37
líquida negativa. A CTC média da
lama é muito baixa (2,96) e os solos Al 3+
cmolc/dm 3
0,016 0,07 0,07 0,15 0,14 0,22

do entorno possuem valores maiores, H+Al 1,06 1,33 1,53 1,07 3,28 1,23
com destaque para os Cambissolos CTC (T) 2,96 2,09 3,78 1,54 5,67 2,3
das encostas. O Alumínio trocável é MO dag/kg 0,91 1,54 0,85 0,69 1,42 1,03
praticamente nulo em todos os solos P-rem mg/L 28,68 11,07 29,57 11,2 24 9,4
e o teor de MO encontrado foi baixo Fe 499,2 476,01 610,3 528,28 604,72 556,04
e pouco variável, tendo em vista que mg/dm3
Pb 0,41 0,44 0,73 1,38 1,57 1,45
os solos adjacentes foram “truncados”
Areia Grossa 0,16 0,18 0,24 0,21 0,26 0,08
pela erosão antes da deposição da
Areia Fina 0,33 0,19 0,36 0,21 0,2 0,08
lama, perdendo todo o horizonte kg/kg
A mais rico em matéria orgânica. Silte 0,32 0,18 0,16 0,1 0,14 0,07

Contudo, como o rejeito da mineração Argila 0,18 0,17 0,23 0,19 0,39 0,11
é normalmente rico em manganês, Dens. Solo 1,41 0,53 _ _ _ _
os valores devem ser afetados pela Dens. Solo pro-
1,54 0,42 _ _ _ _
oxidação do dicromato pelo manganês fundidade
g/cm3
reduzido presente, e os teores de MO Dens.Part 2,75 0,29 _ _ _ _
seriam, assim, bem menores. Por outro Dens.Part. Pro-
2,8 0,23 _ _ _ _
lado, estudos prévios indicaram baixos fundidade

20 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


OPINIÃO
deixando um substrato residual rico em

Foto: Hugo Galvão


areia fina e silte, altamente compactado
(Hard-setting), constituindo um entrave
à recuperação natural sem alguma
intervenção. Quase cinco meses
após o desastre, a lama compactada
permanece fisicamente inóspita, e
praticamente sem vegetação natural.

Medidas de recuperação
e cenário prognóstico nas
áreas cultivadas
Para exemplificar os processos de
recuperação em curso, escolheu-se
a maior área de Tecnossolos, de cer-
ca de 11 ha de terra de várzea soter-
rada pela “lama”, pertence à fazenda
Porto Alegre, voltada à pecuária lei-
teira de alto rendimento, com muitas
instalações de currais e ordenhas se-
veramente afetadas pela inundação
e soterramento. Imediatamente após
o acidente, o proprietário solicitou à
Samarco o empenho na redução ime-
diata dos prejuízos e que fosse traçado
teores de Mn nas barragens de rejeitos um plano de recuperação das áreas
de Germano e Santarém, com a lama do atingidas. O grupo da UFV sugeriu, en-
rejeito sendo constituída, basicamente, tão, que o material tecnogênico (lama)
de Goethita (63 %), Hematita (24 %), fosse tentativamente recoberto com
Quartzo (11 %) e Caulinita (7%), o que uma camada de solo fértil oriunda do
corrobora a baixíssima CTC e condição entorno, o que foi imediatamente im-
eletropositiva. A determinação de plementado com apoio da empresa.
C neste material deve ser realizada Foi realizado uma gradagem prévia
em analisador elementar, por da lama que se encontrava assentada
infravermelho. e selada, com uma camada de 10 cm
A lama possui teor de P extraível de solo solto para permitir romper o
por Melich I mais alto (média 9,34 mg/ selamento natural do material de alta
dm3) que os Cambissolos/ Argissolos densidade e resistente à penetração.
(5,38 mg/dm3) e menores que os Após essa etapa de gradagem, foi de-
Neossolos Flúvicos/Gleissolos (11,05 positado cerca de 50 cm de solo fértil
mg/dm3). São teores relativamente devidamente sistematizado e nivelado,
altos e podem tanto refletir a intensa permitindo recompor o terraço origi-
mistura do material com os solos nal (Figura 2). Os resultados finais pa-
superficiais arrastados pela erosão na recem muito promissores e revelam a
passagem da onda de lama, quanto a exequibilidade de estender a prática à
presença de arsênio, pois o rejeito é boa parte da área afetada.
normalmente pobre em P. Neste caso, Nas encostas onde foi desaterrado
o método colorimétrico não se aplica, o material de solo eutrófico, evitou-se
e teores totais devem ser investigados a exposição do saprolito e foram to-
por espectrometria de emissão óptica madas medidas de recomposição dos
(ICP ou MS). Os teores de Na são taludes para minimizar os processos
maiores na lama e devem refletir erosivos. Já estão sendo implantadas
efeitos do tratamento do minério. pastagens e capineiras nos locais, e
No campo, observa-se um intenso estamos iniciando a montagem de um
e generalizado selamento superficial, experimento para comparar os Tec-
agravado pela erosão preferencial nossolos e os diferentes tratamentos/
do material fino, mais dispersável, estratégias para sua recuperação pro-

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 21


OPINIÃO

Arte:Carlos Schaefer
Figura 2. Cenário atual quatro meses após o desastre. Corte e aterro das encostas vizinhas para promover a formação de um novo
terraço e Tecnossolo com melhores características físicas e químicas (Depósito de Cambissolo sobre lama gradeada). Fazenda Porto
Alegre.

dutiva. O proprietário destinou uma e OLSZEWSKA, 2010); transformações Degradadas (PRAD). Neste sentido,
área experimental para que a UFV minerais e geoquímicas (UZAROWICZ o cercamento das áreas ribeirinhas,
realize ensaio de acompanhamento e SKIBA, 2011) e recuperação de estru- já afetadas, pode auxiliar muito na
das mudanças físicas, químicas e bio- tura e funções ecológicas (MONSERIE recuperação da vegetação ciliar
lógicas com diferentes tratamentos et al., 2009; SERE et al., 2010). (oportunidade aberta pelo desastre)
do material, com e sem sobreposição já que praticamente pouca vegetação
do solo. O projeto trabalha com a di- Restaurar a Vegetação ciliar remanescente existia no trecho
mensão conceitual de Tecnossolos, nas Áreas de Preservação mais afetado. Quatro meses depois,
ou seja: solos que se desenvolvem de Permanente contudo, o simples cercamento e
substratos decorrentes da atividade Além dos Tecnossolos gerados isolamento de acesso aos animais
antrópica, inclusive da mineração, e pelo desastre e perdas de áreas já revela sinais de recuperação
que podem sofrer intervenções visan- cultivadas, houve uma perda incipientes, que podem e devem
do a recuperação da qualidade. igualmente significativa da vegetação ser assistidos por medidas diretas
Para ser considerado um Tecnosso- nas APPs no trecho estudado. que acelerem e facilitem a sucessão
lo, o solo artificial deve conter mais de Segundo o IBAMA (nota técnica) inicial. Isso poderá permitir imaginar
20 % de material tecnogênico nos pri- houve a destruição parcial ou total de uma situação de recuperação de um
meiros 100 cm (IUSS Working Group 1469 ha ao longo de 77 km de cursos corredor contínuo de Mata Atlântica,
WRB 2006), e embora sejam mais d’água, em boa parte APP’s. O avanço hoje praticamente inexistente.
comuns em áreas urbanas, têm sido da gigantesca onda de lama, logo após A prioridade deve ser
cada vez mais detectados em larga o desastre, praticamente devastou ou dada às espécies nativas de rápido
escala em áreas rurais, onde represen- arrancou a totalidade de indivíduos crescimento, típicas de sucessão
tam as maiores áreas contaminadas arbóreos mais próximos à calha dos inicial, que permitam criar (ou recriar)
do planeta (ROSSITER, 2007). Uma rios, com exceção dos bambuzais que os gradientes ambientais dos solos
das principais aplicações dos estudos se curvaram ou quebraram sem sofrer preexistentes, facilitando a entrada de
de Tecnossolos tem sido sua recupe- arranque total. espécies mais tardias da Mata Atlântica,
ração para permitir o uso sustentável e O soterramento concomitante com capacidade para sustentar a
livre de riscos maiores. Assim, estudos do solo, banco de semente e plantas fauna ribeirinha, igualmente arrasada
diagnósticos dos Tecnossolos da área mais jovens ou de menor porte, pelo desastre. Todo um trabalho
afetada fornecem o modelo ideal para comprometeu severamente a sucessão com espécies facilitadoras deve ser
sua recuperação, como denotam es- vegetal. As áreas mais críticas irão buscado, e identificadas as espécies
tudos recentes com ênfase na Matéria necessitar de um amplo e integrado que mostraram maior resiliência e
Orgânica (ZIKELI et al., 2002; HOWARD plano de recuperação de Áreas adaptação aos Tecnossolos gerados.

22 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


OPINIÃO
Foto: Hugo Galvão
Camada de lama compactada
entre camadas de Cambissolo
de encosta a 5 m do nível do Rio
Doce.

Referencial
IUSS WORKING GROUP WRB. World reference base for
soil resources 2006. World Soil Resources Reports n. 103.
FAO, Rome. 2006.
MARTINS SV, RODRIGUES RR, GANDOLFI S, CALEGARI
L. Sucessão Ecológica: fundamentos e aplicações na
restauração de ecossistemas florestais. In: S.V. Martins
(editor), Ecologia de Florestas Tropicais do Brasil, pp 19-39.
2009.
MONSERIE MF, WATTEAU F, VILLEMIN G, OUVRARD
S, MOREL JL.Technosol genesis: identification of organo-
mineral associations in a young Technosol derived from
coking plant waste materials. J Soils Sediment. 2009. 9:537–
546. doi:10.1007/s11368-009-0084-y
PIRES JMM, LENA JC, MACHADO CC, PEREIRA RS.
Potencial poluidor de resíduo sólido da Samarco Mineração:
estudo de caso da barragem de Germano. Revista Árvore,
27(3):393-97. 2003.
ROSSITER D G. Classification of Urban and Industrial
Em termos de suprimento de recursos devem ser realizados Soils in The World Reference Base for Soil Resources. In:
estudos de performance que comparem a sucessão vegetal Journal of Soil and Sediments 7(2)96-100, 2007.
nos dois cenários de Tecnossolos (com e sem lama exposta). SCHAEFER CEGR, CANDIDO HG, CORREA GR, PEREIRA
Deve-se, ainda, buscar a conexão dos fragmentos para A, NUNES JA, SOUZA OFF, MARINS A, FERNANDES FILHO
facilitar a reintrodução de espécies localmente extintas. E, KER JC. Solos desenvolvidos sobre Canga Ferruginosa no
Talvez não seja realmente factível imaginar uma Brasil: uma revisão crítica e papel ecológico de termiteiros.
restauração ecológica em nível pré-desastre, com In: Geossistemas Ferruginosos do Brasil (org. F.F Carmo & L.
heterogeneidade ambiental restaurada, dada a complexidade Y. Kamino, Edi. Int Pristino.) 2015. pp. 77-102.
das perdas correlatas (macrofauna, mesofauna, solos, UZAROWICZ L, SKIBA S Technogenic soils developed
nascentes, afluentes menores) de todo o sistema on mine spoils containing iron sulphides: mineral
afetado. Contudo, o paradigma da restauração ecológica transformations as an indicator of pedogenesis. Geoderma,
contemporâneo visa mais a integridade, resiliência e 163:95–108, 2011.
sustentabilidade dos ecossistemas como objetivos a serem ZIKELI S, JAHN R, KASTLER M. Initial soil development
buscados (Martins et al., 2005). Isso nos parece possível e in lignite ash landfills and settling ponds in Saxony-Anhalt,
realizável no trecho Candonga - Fundão. Ressalta-se que Germany. J Plant Nutr Soil Sci 165:530–536, 2002.
uma característica marcante dos trópicos é sua capacidade
de recuperar-se de distúrbios. Assim, a ciência do solo pode
Autores: Carlos Ernesto G. Reynaud Schaefer é professor do
ser uma grande mediadora que concilie os imperativos da Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa
recuperação, em suas dimensões físico-química e biótica, de (reyschaefer@yahoo.com.br)
forma mais integrada e harmoniosa. Este ambiente, parcial Eliana Elizabet dos Santos é pesquisadora e aluna de doutorado
ou plenamente recuperado, beneficia toda a sociedade local no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa
e, desde já, podemos imaginar alguns frutos positivos e (liliisantos@hotmail.com)
Elpídio Inácio Fernandes Filho é professor do Departamento de
lições educativas dessa tragédia, usando este exemplo como Solos da Universidade Federal de Viçosa (elpidio@ufv.br)
modelo de superação para situações de igual complexidade Igor Rodrigues de Assis é professor do Departamento de Solos da
no Brasil. Universidade Federal de Viçosa (igor.assis@ufv.br)

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 23


OPINIÃO

A Ciência do Solo como instrumento


para a recuperação das áreas
afetadas pelo

desastre de Mariana e
dos solos na Bacia do
Rio Doce
João Herbert Moreira Viana
Adriana Monteiro da Costa

Propriedade rural gravemente afetada pelo


desastre em Mariana - MG.

24 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


OPINIÃO
A Ciência do Solo apresenta pa-
pel fundamental na análise, proposi-
ção e solução de diversos problemas
presentes na sociedade. O seu amplo
campo de atuação permite uma visão
integrada dos problemas e fornece fer-
ramentas necessárias ao uso continua-
do e sustentável dos recursos naturais
nas diversas atividades econômicas.
Os conhecimentos gerados por ela
permitem, sempre que possível, pre-
ver e evitar, mas também tratar e re-
mediar, desastres e catástrofes, tanto
naturais quanto causados pela ativida-
de humana.
Nesse contexto, desastres, como
a ruptura da barragem de rejeitos de
Fundão, da empresa Samarco, no mu-
nicípio de Mariana (MG), ocorrida em Sedimento acumulado na várzea, município de
novembro de 2015, se apresentam Barra longa - MG. Note-se no fundo da ravina a
pastagem original recoberta pel​a lama
como um desafio aos profissionais e
técnicos envolvidos nas tarefas de ava-
liação, de monitoramento e de repara-
ção dos danos provocados. A tragédia Primeira contribuição a escolha de espécies a serem planta-
foi ocasionada por uma avalanche de das nos procedimentos de revegeta-
A primeira contribuição importante
material lamoso, basicamente consti- ção e para a definição de práticas de
da Ciência do Solo consiste na caracte-
tuído por material particulado fino pro- controle de processos erosivos. Da
rização do ambiente e no mapeamento
veniente do processo de flotação do mesma forma, é necessário conhecer,
das áreas atingidas. A identificação e
minério de ferro, que desceu o curso em detalhes, não apenas a extensão
a distinção das diversas fisionomias
do córrego Santarém e atingiu os rios da área soterrada, mas também a es-
da paisagem são essenciais para o
Gualaxo do Norte, Carmo e, finalmen- pessura da camada de sedimentos, já
planejamento e definição dos procedi-
te, o Rio Doce, seguindo seu curso até que não se depositou de forma homo-
mentos corretivos necessários. As ati-
o mar. gênea e formou “cunhas” que se es-
vidades devem ser realizadas de forma
Além do impacto direto sobre a pessam em direção à drenagem.
multidisciplinar, envolvendo a Pedolo-
qualidade dos recursos hídricos, esse gia, a Geomorfologia e a Hidrologia,
evento provocou a sedimentação do buscando segmentar e mapear tanto Segunda contribuição
material sobre as margens dos rios, o ambiente quanto a extensão espacial A segunda contribuição importante
soterrando o leito menor e, em alguns do impacto. da Ciência do Solo consiste na carac-
locais, até além dele. Nas regiões terização do material depositado como
Dessa forma, torna-se necessário o
mais próximas do local de ruptura, substrato para o crescimento de plan-
conhecimento da distribuição das clas-
onde a onda de sedimentos atingiu tas. Alguns trabalhos já foram realiza-
ses de solo nos locais e de sua intera-
as margens com maior energia, hou- dos visando à caracterização química e
ção com os sedimentos depositados,
ve intenso processo erosivo, com re- mineralógica do material das barragens
assim como a sua caracterização. O
moção da vegetação ciliar. O impacto de sedimentos para aproveitamento
material depositado apresenta carac-
nas margens se estendeu até as pro- industrial de diversas formas, como
terísticas pouco conhecidas, que pre-
ximidades da região do Reservatório matéria-prima de construção civil; ou-
cisam ser estudadas, a fim de definir o
de Candonga, a aproximadamente tros visando à identificação de eventual
seu comportamento e propor medidas
80 quilômetros do local do desastre. presença de elementos tóxicos, e ainda
para sua correção em futuros usos e
Houve danos generalizados nas pro- outros com o objetivo de recuperação
manejo. Nesse sentido, cita-se a ne-
priedades rurais e em áreas urbanas ou de reabilitação de depósitos de sedi-
cessidade de conhecimento do com-
localizadas às margens, com danos mentos e de cavas de mineração.
portamento físico-hídrico do material
diversos a instalações e a destruição
e de sua interação com a drenagem Todos esses trabalhos são impor-
e o soterramento por sedimento e
interna do solo subjacente. tantes como balizadores e referências,
entulho de áreas de produção, como
Tais questões são imprescindíveis contudo, neste momento, surge a ne-
pastagens, capineiras, canaviais e de
para a destinação de uso da área, para cessidade de caracterização do “novo”
produção de silagem.
material depositado, visto que por ter

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 25


OPINIÃO

Erosão e carreamento do sedimento depositado


para o rio. Município de Rio Doce - MG.

sido retrabalhado e misturado aos sedi- relativos à capacidade de retenção de mento dos processos de decomposi-
mentos naturais do rio e das margens. cátions e ânions, à necessidade de adi- ção dos reagentes (etil-aminas e amido
Além disso, também por ter sofrido se- ção ou suplementação de corretivos e de milho) do processo de flotação do
leção e segregação durante o processo de fertilizantes e indicar procedimentos minério de ferro, presentes na lama de
de transporte e deposição, pode diferir de manejo, para evitar problemas cola- rejeito.
daqueles presentes na barragem. terais pela adubação, como a lixiviação
Da mesma forma, as características de nutrientes para os rios. Também aju- Terceira contribuição
do processo e dos locais de deposição darão a prever e entender como será a
A terceira contribuição consiste no
fazem com que esses ambientes sejam evolução desse material, na medida em
estabelecimento das estratégias de re-
distintos das áreas já estudadas nas mi- que as ações promovam o estabeleci-
cuperação das áreas afetadas e de seu
nerações. Assumindo-se que esse ma- mento dos processos pedogenéticos,
acompanhamento e monitoramento.
terial não seja removido, em função do como a acumulação de matéria orgâni-
Essa etapa incluiria a adaptação e/ou o
custo, do tempo e do impacto gerado ca, a formação de estrutura e a translo-
desenvolvimento de técnicas para pro-
pela remoção da gigantesca quantida- cação de materiais nos perfis.
mover a cobertura do terreno por uma
de (da ordem de dezenas de milhões de A física do solo tem papel importan- vegetação, que permita o desenvolvi-
toneladas), torna-se necessário conhe- te na compreensão do comportamento mento dos processos pedogenéticos,
cer o comportamento desse material in do material com relação aos processos a acumulação de matéria orgânica, o
situ, e de sua interação com a biota. de fluxo de água e de gases, à dinâmica estabelecimento de fauna e microbiota
Desdobram-se, assim, as pesquisas da água e às restrições mecânicas ao edáficas funcionais, a estabilização físi-
em várias vertentes. A Química e a Mi- desenvolvimento de plantas. Também ca e a redução da erosão e a recupera-
neralogia podem fornecer as informa- vai permitir avaliar o desenvolvimento ção funcional das áreas, em função dos
ções necessárias ao entendimento do da estrutura e os processos erosivos objetivos previamente estabelecidos.
comportamento desse material, seja nas áreas. A microbiologia tem papel Dentre os objetivos destacam-se o res-
como fonte de nutrientes, seja como importante na escolha de estratégias tabelecimento dos processos produti-
eventual fonte de elementos tóxicos. de revegetação e no monitoramento da vos ou o restabelecimento de vegeta-
Essas informações irão subsidiar os evolução da população de microrganis- ção com funções ambientais.
estudos sobre a fertilidade do material, mos nos locais atingidos e vizinhanças.
Estas técnicas incluiriam a escolha
ajudando a estabelecer seus atributos Também poderá auxiliar no entendi-
de espécies de plantas e microrganis-

26 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


OPINIÃO
mos apropriados à função de revege- mica, no espaço e no tempo. Assim, os rompimento da barragem - esses são
tação, e de procedimentos e produtos procedimentos de recuperação devem bem mais amplos e o antecedem. A
necessários ao ajuste da composição ser executados não apenas visando à região, há décadas, apresenta proble-
química e fertilidade e ao manejo das remediação local, mas como oportuni- mas relacionados ao uso intensivo dos
áreas, podendo incluir procedimentos dade de se pensar conjuntamente os solos, à degradação de pastagens, ao
de rotação ou sucessão de espécies. problemas socioambientais e agrope- uso e ocupação de solos em áreas ín-
As estratégias devem ser abrangen- cuários da região, focando na gestão gremes e de várzeas, aos processos
tes, atuando não somente nas áreas integrada e compartilhada da bacia hi- erosivos e ao assoreamento dos cursos
diretamente atingidas, mas visando à drográfica. d’água. Dessa forma, a proposição de
totalidade dos processos que ocorrem A análise integrada deverá contem- soluções futuras deve abranger todos
nas propriedades, e que podem impac- plar abordagem multidisciplinar e en- os problemas inerentes à região, assim
tar as ações de recuperação. Deve-se, volver o conhecimento da distribuição como considerar todo o contexto so-
por exemplo, considerar que as áreas dos solos e de todos os demais ele- cioeconômico e ambiental nos quais se
adjacentes com uso inadequado po- mentos naturais, fornecendo subsídios inserem.
dem contribuir para o aumento do es- à tomada de decisão, ao planejamento À Ciência do Solo cabe a importante
corrimento superficial e dos processos e direcionamento dos recursos finan- missão de viabilizar a transformação da
erosivos, levando à continuidade dos ceiros de forma eficiente e abrangente. situação de crise atual em oportunidade
processos de degradação. Ressalta-se de reversão e recuperação não apenas
Os conhecimentos de Pedologia,
que, provavelmente, essas áreas deve- dos danos produzidos pelo desastre,
por meio do mapeamento dos solos,
rão ser utilizadas pelos produtores en- mas de décadas de uso inadequado e
associados aos de Hidrologia e Cli-
quanto as outras atingidas estão sendo degradação ambiental na Bacia do Rio
matologia, são essenciais para que se
recuperadas. Doce.
estabeleça o zoneamento da área e,
posteriormente, o planejamento do
Quarta contribuição ordenamento territorial visando à ade- Autores: João Herbert Moreira Viana é
Por fim, a última, mas não menos quação do uso do solo, para que atenda pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
importante contribuição, decorre da às suas múltiplas funções. joao.herbert@embrapa.br
Adriana Monteiro da Costa é professora
necessidade de pensar a recuperação Por fim, ressalta-se que os proble- do Departamento de Geografia da
da bacia de maneira integrada, consi- mas das regiões atingidas não se re- Universidade Federal de Minas Gerais
derando todo o conjunto e a sua dinâ- sumem ao desastre provocado pelo (UFMG). drimonteiroc@yahoo.com.br

Destruição da vegetação ripária na margem do


rio. Município de Mariana - MG.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 27


ARTIGO

CONSERVAÇÃO
DO SOLO NO
BRASIL:
histórico, situação
atual e o que esperar
para o futuro
Ildegardis Bertol

Histórico e situação atual


Até a década de 1960, aproximadamente, predominou no
Brasil o regime colonial de exploração das terras, em peque-
nas áreas, em que o preparo mecânico do solo era pouco
agressivo. O manejo do solo iniciava com a eliminação da ve-
getação nativa (mata ou campo), seguida de preparo mecâni-
co com tração animal, semeadura manual ou com tração ani-
mal e terminava com a queima dos resíduos após a colheita.
Nas poucas áreas em que o regime era empresarial, o manejo
do solo já envolvia algum preparo com tração motorizada em
que a queima dos resíduos culturais também era praticada
após a colheita. Nessa época, o principal fator de degradação
do solo era o fogo que deixava o solo descoberto e diminuía
o teor de matéria orgânica. A compactação do solo era pouco
evidente, a infiltração de água era relativamente alta e a ero-
são hídrica era menos intensa do que atualmente. A explora-
ção florestal era pouco intensa nessa época, limitando-se a
extração de madeiras para atender a demanda de energia e com a sobra de forragem e o solo ficava protegido da chuva
edificações. Os restos vegetais eram deixados na superfície e da pressão mecânica dos animais. Assim, a degradação do
do solo para que fossem decompostos ou queimados. Essa solo era menos intensa do que é atualmente.
forma de exploração das terras teve baixa influência no au- O reflorestamento era pouco expressivo nessa época,
mento da degradação do solo e da própria erosão. pois havia grande oferta de mata natural que atendia a de-
Nessa época, os terraços agrícolas eram estudados com manda, além do pouco controle do poder público com rela-
interesse nas Faculdades de Agronomia e o terraceamento ção ao desmatamento. Este era até mesmo estimulado para
era adotado nas lavouras. O cultivo em contorno fazia parte atender a chamada “abertura de fronteira agrícola”. Portanto,
do sistema de manejo do solo, já que as operações de mane- essa época se caracterizou, em termos gerais, pela forte dila-
jo acompanhavam as curvas dos terraços. Reconhecia-se a pidação dos recursos naturais relativos à cobertura florestal
eficácia da cobertura do solo por resíduos culturais na infiltra- no Brasil, mas ainda com baixo impacto negativo sobre a con-
ção de água no solo e na redução da erosão hídrica, segundo servação do solo.
os trabalhos de Duley (1939) e de Ellison (1947). Apesar dis- Entre as décadas de 1960 e 1970, o solo passou a ser
so, a prática da cobertura do solo não era comum devido ao manejado com maior intensidade nas lavouras do Brasil, as
preparo mecânico que incorporava os resíduos ao solo e à matas eram derrubadas e destocadas mecanicamente. Poste-
queima que os eliminava. Nas pastagens naturais, a pressão riormente, a biomassa era amontoada em leiras e geralmente
de pastejo era baixa, a superfície do solo era mantida coberta queimada. O preparo do solo em geral era feito com arados e

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ARTIGO
grades (aradora, destorroadora e niveladora) e a semeadura resíduos culturais para a redução da erosão hídrica, mas, ape-
com tração mecânica. Na fase de preparo, incorporava-se sar do conhecimento da eficácia da cobertura, ela era ainda
ao solo o calcário e os adubos fosfatados. Após a colheita, pouco comum devido ao preparo mecânico que incorporava
os resíduos culturais eram queimados. Os fatores de degra- os resíduos ao solo e à queima. Nessa época, a pressão de
dação do solo eram a desagregação mecânica pelo preparo pastejo nas áreas de exploração pecuária já era mais intensa,
e energia da chuva, a compactação do solo, a eliminação da resultando em baixa oferta de forragem. Com isso, a pressão
biomassa pela queima e a degradação química ocasionada sobre o solo era alta, compactando-o. A cobertura do solo era
pelo calcário (precipitação do alumínio trocável). Como re- baixa reduzindo a infiltração de água e aumentando a erosão.
sultado, tinha-se elevadíssima erosão hídrica com profundo Assim, a degradação do solo pelo pastejo era mais intensa do
sulcamento do solo, resultando em assoreamento de rios e que antes, especialmente em solos frágeis.
lagos, pelos sedimentos. A partir da década de 1970, aproximadamente, o sistema
Nessa época, em geral, adotava-se o terraceamento agrí- tradicional de manejo de solo que utilizava arados e grades
cola, muito bem estudado nas Faculdades de Agronomia , in- (preparo convencional – PC) foi substituído por um sistema
clusive, nos mestrados existentes em Conservação do Solo. que envolvia cobertura do solo por resíduos culturais e re-
Adotava-se também o cultivo em contorno, por necessida- dução/eliminação do preparo mecânico (semeadura direta –
de, pois as operações de manejo do solo acompanhavam as SD). A adoção da SD reduziu a erosão hídrica e os custos das
curvas dos terraços. Estimulava-se a cobertura do solo por lavouras em relação ao PC. O grande problema é que a SD foi

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ARTIGO

Figura 1. Lavouras de aveia dessecada e milho em Santa Catarina. (Autor)

instalada em solo já degradado devido A presença de resíduos culturais na que a cobertura do solo era suficiente
ao PC anterior, o que resultou numa sé- superfície do solo mascarava a erosão para controlar a erosão, criando um
rie de vantagens e também de proble- que continuava a ocorrer, e aumentava clima favorável à eliminação dos ter-
mas. As vantagens foram redução da na SD embora ainda em menor quan- raços agrícolas e cultivo morro-a-bai-
erosão (Figura 1) e custos de produção, tidade do que no PC, tornando-se um xo. Tal fato constitui-se atualmente no
enquanto, os problemas ocorriam devi- sério problema para a sobrevivência da mais grave problema da SD no Brasil,
dos ao efeito residual no solo deixado SD (Figura 2). As perdas de água que do ponto de vista de conservação do
pelo PC adotado anteriormente. Nessas eram altas na SD nunca foram conside- solo. Os agricultores acreditam que os
lavouras, parte ou toda a camada su- radas como um problema, já que, apa- resíduos culturais têm, por si só, con-
perficial do solo havia já sido perdida rentemente, a água “saía limpa” das la- dições de controlar a erosão hídrica na
pela erosão durante o período de ex- vouras. Isto era motivo para afirmações SD. Para eles, isto ocorre independen-
ploração com o PC. A área de cultivo como “a erosão hídrica estava final- temente do relevo, tipo e condições
em SD começou com cerca de 100 ha, mente controlada nas lavouras do Brasil físicas do solo, tipo da SD, forma da se-
em 1969, em algumas lavouras em ca- com o advento da SD”. Tais afirmações meadura em relação ao declive, carac-
ráter experimental, inicialmente no Rio eram feitas por agricultores que não terísticas das chuvas, tipo, quantidade
Grande do Sul e em seguida no Paraná, mais enxergavam erosão, por técnicos, e forma de manejo de resíduo cultural,
atingindo atualmente aproximadamen- inclusive agrônomos representantes dentre outros aspectos. Devido à elimi-
te 30 milhões de ha. de empresas de insumos variados e nação dos terraços, os agricultores pas-
A redução da erosão hídrica foi uma de cooperativas que, por desconheci- saram a efetuar a semeadura na dire-
das grandes vantagens da adoção da mento do assunto, e/ou, para agradar ção de maior comprimento na lavoura,
SD, comparada ao tradicional PC, do os agricultores, afirmavam não mais muitas vezes morro abaixo, quase nun-
ponto de vista da conservação do solo. existir erosão. Com isso, era mais fácil ca em contorno. Como consequência,
As perdas de solo eram diminuídas, ini- comercializar os insumos. Vendedores as perdas de água e as perdas de solo
cialmente, em até mais de 90% enquan- de máquinas agrícolas também afirma- são altas, às vezes tanto quanto as que
to as perdas de água eram de menor vam que os terraços eram um proble- ocorriam no PC.
magnitude. A cobertura do solo pelos ma para o bom desempenho das mes- A elevada erosão que ocorre em
resíduos culturais dissipava a energia mas na lavoura e, por isso, podiam ser boa parte das lavouras em condição
cinética da chuva, mas, não a da enxur- eliminados, até porque, segundo eles, a de SD no Brasil é relacionada, ainda,
rada, o que concorria para a continuida- erosão não mais existia. Com isso, era com as más condições físicas dos solos
de da erosão hídrica. No entanto, a con- mais fácil comercializar as máquinas. A resultantes do manejo adotado ante-
tinuidade da exploração do solo, cada extensão rural oficial não mais atuava riormente no PC. Em especial a com-
vez mais intensa, com maquinaria cada no Brasil em defesa do solo, e com isso, pactação do solo denominada de “pé
vez mais pesada e com número cada vez as afirmações feitas aos agricultores, de de arado” e “pé de grade” e, principal-
maior de operações de manejo durante que a erosão já não era problema devi- mente, a perda da camada superficial
os cultivos, concorreu para o aumento do à eficácia da SD, eram tidas como pela erosão anterior, limita a infiltração
da degradação do solo, principalmente única verdade. de água no solo e potencializa o escoa-
por compactação. Isso resultou em infil- A redução da erosão hídrica nas la- mento superficial e a erosão. Esses pro-
tração e água cada vez menor e erosão vouras conduzidas em SD fez com que blemas, em especial a perda da camada
hídrica cada vez maior, mesmo na SD. os agricultores aceitassem a ideia de superficial do solo herdada do PC, não

30 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


ARTIGO
são resolvidos pela SD e, por isso, a erosão continua.
A aparente eficácia de controle da erosão hídrica do solo
pela SD gera outro sério problema. Os estudantes de gradua-
ção ou pós-graduação não se interessam em estudar erosão
hídrica. Na pós- graduação esse problema é especialmente
amplificado pelo desinteresse de muitos professores orien-
tadores. Muitas vezes, a disciplina de Uso e Conservação do
Solo não é contemplada nos planos de estudo dos pesquisa-
dores. Em muitos casos, tal desinteresse pelos orientadores
advém da própria formação dos orientadores que nunca estu-
daram conservação do solo e, por isso, não estão preparados
para orientar adequadamente seus orientados.
Como consequência, a partir da década de 1980, o contin-
gente de profissionais habilitados e interessados no problema
da conservação do solo foi muito reduzido, especialmente no
que se refere à erosão hídrica do solo no Brasil. Com isso,
criou-se uma cadeia negativa sobre o assunto, em que, cada
vez menos, estuda-se o tema. O pouco conhecimento sobre
erosão gera inabilidade para o entendimento do fenômeno e
incapacidade para reconhecer a ocorrência de tal fenômeno
na prática.
A desmotivação para o estudo de conservação do solo,
em especial de erosão hídrica, nessa época, criou problema
também para a pesquisa. A maior parte dos pesquisadores
da erosão do solo migrou para outros temas. Muitos passa-
ram a estudar e pesquisar a SD, simplesmente relacionando
o sistema a vários aspectos do solo e da planta, menos à ero-
são. Pouquíssimos cientistas de Ciência do Solo dedicam-se
atualmente a estudar o comportamento da SD com a erosão.
Como conseqüência, praticamente inexiste informação sobre
quantificação de infiltração de água no solo e de perdas de
água, solo, nutrientes e carbono orgânico pela erosão hídrica
gerada na SD no Brasil.
Ao analisar a eficácia da SD em controlar a erosão e em
conservar o solo, a maioria esquece que o sistema foi im-
plantado sobre condições de solo já degradado pela erosão
anterior e, acima de tudo, é conduzido inadequadamente em
diversos aspectos. As principais deficiências na condução
da SD são as seguintes: ausência de uma rotação de cultu-
ras adequada; deficiência de resíduos culturais para cobrir o
solo; falta de terraceamento e ausência de cultivo em con-
torno por falta dos terraços; tráfego excessivo de máquinas
com elevada umidade e ausência de preparo mecânico com
consequente compactação; dentre outras.
A elevada perda de água por erosão atualmente na SD na
maior parte das lavouras do Brasil é responsável também por
expressiva perda dos nutrientes de plantas; carbono orgânico
e pesticidas. Neste sistema de manejo, os produtos químicos
tendem a se concentrar mais na superfície do solo do que no
PC. Os adubos são depositados em superfície, os resíduos
culturais permanecem na superfície e o solo não é revolvido.
Em especial, o fósforo, o potássio e o carbono orgânico, tanto
Figura 2. Erosão hídrica em áreas cultivadas em sistema de semeadura
adsorvidos aos sedimentos quanto solúveis na água, são per- direta no Paraná e em Santa Catarina, com claros sinais de remoção de
didos em altas quantidades pela erosão (Bertol et al., 2007; palha. (Esquerda: André Júlio do Amaral; centro: Jeferson Dieckow;
Barbosa et al., 2009). O fósforo é especialmente causador de direita: autor)

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 31


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eutrofização das águas em mananciais, ralmente em áreas com maior declive res, sem a adoção de práticas comple-
principalmente em ambientes lênticos. do que as de lavouras e pastagens, em mentares de controle do escoamento
Nas áreas de pastagens cultivadas, muitos casos inclusive em áreas íngre- superficial e da própria erosão.
a situação é dramática na maioria dos mes.
casos. Os solos, parte deles marginais Essa é a situação em que se en- O que esperar para o futuro
do ponto de vista de aptidão para esse contra atualmente a conservação do A conservação do solo no Brasil
tipo de exploração intensiva, estão ver- solo no Brasil na maioria das áreas de
não é boa, embora seja muito melhor
dadeiramente sucumbindo aos efeitos lavoura, pas-
do que há algumas décadas. A situa-
da degradação. Tal degradação tem tagem e reflo- Atualmente
no Brasil, ção é melhor quanto às perdas de solo
origem na excessiva carga animal que restamento. No
pouquíssimos por erosão hídrica nas áreas de lavou-
consome demasiadamente a biomassa caso das lavou-
pesquisadores ras submetidas à SD. Constata-se que
aérea e deixa o solo descoberto. A ele- ras, a conser-
dedicam-se vários problemas estão envolvidos e
vada pressão mecânica pelos animais vação do solo
à estudar o concorrem para a situação ainda inde-
pulveriza o solo na superfície e o com- é dependente
comportamento sejável, que necessitam ser resolvidos
pacta, tornando a infiltração de água no quase que ex-
da semeaduta para avançar na conservação do solo
clusivamente
solo muito inferior à chuva (Bertol et al., e da água. Seguramente, o caminho
do sistema SD, direta com a
2008). Assim, criou-se um vicioso ciclo, erosão é continuar avançando nos sistemas
na maioria das
em que o solo é degradado pela com- de manejo conservacionista, tanto em
vezes inade-
pactação e erosão, levando à degrada- áreas de lavoura, quanto de pastagens
quadamente implantada e conduzida
ção da pastagem o que, por sua vez, e reflorestamento. Em especial, é ne-
e, portanto, sem condições de efetiva-
acelera a degradação do solo. cessário haver maior preocupação com
mente controlar eficazmente a erosão
Com o aumento expressivo da área do solo. A ocorrência de eventos de o ambiente como um todo, minimizan-
cultivada com florestas, os solos apre- chuva, cada vez com maior intensidade do os impactos de qualquer forma de
sentam elevada erosão hídrica, princi- e volume, devido, em parte, às mudan- erosão fora do seu local de origem. De
palmente nas fases de plantio e colhei- ças climáticas, concorre para potencia- qualquer modo, não é tarefa fácil fazer
ta e nas estradas internas, sobretudo lizar a erosão, mesmo na SD. Isto torna uma projeção para o futuro. Para isso,
quando o plantio é feito morro-abaixo difícil a sustentabilidade desse sistema é necessário saber-se, com certo grau
com sulcamento do solo. Acrescente- de manejo do solo, na forma como co- de certeza, o que se deve e o que se
-se a isso, o fato desse sistema de uso mumente é adotado e conduzido pelos pretende fazer, efetivamente, em ter-
do solo ser implantado e conduzido ge- agricultores, pecuaristas e reflorestado- mos de manejo e conservação do solo

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em médio e longo prazo. Um sistema do solo e, por isso, o aluno de pós-gra- quantificar a persistência temporal de
de manejo que envolva cobertura ple- duação não pode deixar de estudá-lo tais resíduos quando mantidos na su-
na do solo combinada com a prática de de maneira completa. A deficiência de perfície do solo, na SD.
terracemaneto agrícola em semeadura quantidade e de qualidade de cientis- Um terceiro problema diz respeito
direta (Figura 3), é desejável e recomen- tas da conservação do solo no Brasil ao repasse de conhecimentos gera-
dável para controlar adequadamente a gera outro problema sério: a falta de dos pela pesquisa aos usuários finais,
erosão, conservar o solo e potencializar disponibilidade e de competência des- os trabalhadores da terra. Essa tarefa
a produção. ses profissionais para avaliar projetos e deve ser desempenhada pela extensão
Um dos problemas que precisa ser propostas de pesquisa encaminhadas rural, que deve ser e estar totalmente
solucionado com urgência se refere à às agências financiadoras e para avaliar desvinculada de interesses outros que
formação de recursos humanos na área artigos científicos submetidos aos peri- não sejam os de orientar, recomendar
de conservação do solo. Há uma clara ódicos para publicação. Isto prejudica e fazer cumprir as práticas e modelos
deficiência relacionada ao estudo des- a geração e a difusão do conhecimen- conservacionistas comprovadamente
se tema, tanto em nível de graduação to acerca do assunto. Portanto, atrasa eficazes para a efetiva conservação do
nas Faculdades de Agronomia, quanto e prejudica o avanço científico nesse solo e da água. Mais uma vez aqui vale
de pós-graduação nos cursos de mes- campo do conhecimento. lembrar que a conservação do solo e da
trado e doutorado em Ciência do Solo. A quantidade e qualidade das pes- água implica em não somente reduzir a
O assunto é tratado de maneira mui- quisas na área de uso e conservação do erosão, mas, criar também ambiente e
to diversa, além de pouco e, às vezes solo e da água é outro problema a exigir condições favoráveis para que as cul-
nem mesmo é estudado na gradua- investimento. É necessário implantar e turas e, ou, as explorações pecuárias
ção, enquanto, na pós-graduação há desenvolver programas de pesquisa de e florestais, maximizem seu potencial
um notório desinteresse em estudá-lo. longa duração, envolvendo também a produtivo. Isso deve ser feito com um
Para solucionar tal problema, é preciso erosão do solo. É preciso ainda quan- mínimo de degradação do ambiente
despertar a consciência dos programa- tificar a infiltração de água no solo; como um todo.
dores de grade curricular nos cursos de perdas de água, sedimentos minerais Um quarto problema também de-
graduação e uma efetiva orientação dos e orgânicos; e de produtos químicos verá ser atacado pelos cientistas de
alunos por parte dos orientadores nos solúveis na água e adsorvidos aos sedi- solo e pela extensão rural deste país:
cursos de pós-graduação. Só assim se mentos (nutrientes e pesticidas) prove- a interferência em decisões políticas
poderá suprir a deficiência de profissio- nientes da erosão hídrica. É importante que possam nortear as questões de
nais habilitados e comprometidos com centrar essas pesquisas em sistemas conservação do solo e da água. Inques-
a conservação do solo e da água, em SD, no caso das lavouras; em sistemas tionavelmente, o uso dos meios de co-
médio e longo prazos. de manejo intensos, no caso de cultivos municação é fundamental para que se
É inaceitável que se conceda o título de espécies hortícolas; em sistemas de realize a divulgação de acontecimentos
de doutor em Ciência do Solo a alguém uso e manejo com pastagens; e em sis- ligados à conservação do solo, sejam
que não tenha cursado uma única dis- temas de exploração florestal. Também, congressos, simpósios ou simplesmen-
ciplina relacionada à conservação do é necessário quantificar a real capacida- te reuniões técnicas. É fundamental que
solo e da água. Deve ser lembrado, de das diferentes culturas em produzir a população em geral tome conheci-
mais uma vez, que, o assunto erosão do biomassa vegetal, tanto de resíduos mento das consequências da aplicação
solo faz parte intrínseca da conservação na sua parte aérea quanto de raízes; e e da não aplicação dos conhecimentos
de Ciência do Solo na situação ambien-
tal atual que se presencia. A Sociedade
Figura 3. Terraço Brasileira de Ciência do Solo deverá ser
agrícola em sistema a principal difusora disso no país e, por
de semeadura dire-
isso, deverá conquistar e ocupar espa-
ta. (Autor)
ço na mídia brasileira. Dessa forma, aos
poucos se poderá criar uma consciên-
cia conservacionista na população em
geral e, por extensão, no meio político.
Contudo, sabe-se que isso tudo só po-
derá ser conseguido lentamente e com
muito esforço, o que deverá demandar
médio ou longo prazo.

Ildegardis Bertol é professor titular de uso e


conservação do solo no Departamento de
Solos da Universidade do Estado de Santa
Catarina. E-mail: a2ib@cav.udesc.br

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 33


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Variáveis
e unidades SI 1/

Víctor Hugo Alvarez V.


Gustavo Adolfo Moysés Alvarez

Relação entre variáveis e frações (f/1) usadas para indicar razões,


unidades ou relações, ou proporções, são valo-
res geralmente inferiores a 1.
Quando estudante de segundo grau
(il’y long temps) no Colégio Nacional As grandezas adimensionais, fração
“José Mejía Lequerica” de Quito, Equa- de 1, são modificadas quando multi-
dor, escutei de meu Professor da disci- plicadas por 100, dando percentagem
plina de Física (“el colorado Barragan”) (%), ou quando multiplicadas por 1 000,
a afirmação de que durante toda nossa dando ‰, ou quando multiplicadas por
vida, pessoal ou profissional teríamos 1 000 000, dando ppm.
de pensar e nos expressar com três ti- Exemplos de uso de % são comuns
pos de informação, as variáveis (gran- para proporção de componentes de um
dezas), os valores numéricos e as res- todo como saturação por bases (V), sa-
pectivas unidades. turação por acidez trocável (Al3+) (m),
Da mesma forma como se opera análise textural do solo, poder neutrali-
algebricamente com os valores, deve- zante (PN) e, frequentemente, nos coe-
-se operar com as variáveis e com as ficientes de variação (CV).
unidades, obtendo-se as grandezas re- Se tem um exemplo de partes por
sultantes e suas correspondentes uni- mil (‰) quando se indica a abundância
dades. relativa de determinados isótopos. A di-
Temos grandezas que geram dúvi- mensão desta grandeza é N N-1 = 1, que
das em relação a utilização de unidades, em unidades ultrapassadas se indica na
são as denominadas adimensionais. forma de ‰, que é igual a (mol mol-1)
1 000. Entretanto seria preferível indicar
Por definição, considera-se que
em unidades SI, como mol kmol-1, ou
uma grandeza não tem dimensão ou
melhor, mmol mol-1.
é adimensional quando seus expoen-
tes dimensionais são iguais a zero. (e A unidade partes por milhão (ppm) é
g: L0 M0 T0 = 1). Neste caso seu pro- bem conhecida, mas, em desuso. Tam-
duto dimensional ou a sua dimensão bém, a relação de dimensões é M M-1 = 1,
é igual a 1. que em unidades do passado se indica
na forma de ppm, que é igual a (kg kg-1)
A rigor magnitude adimensional é
1 000 000. Que em unidades SI indica-
toda grandeza que carece de uma mag-
-se como mg kg-1.
nitude física associada.
Outro exemplo de uso de ppm,
Entretanto, a quase totalidade de
comum e atual, e que, também, indi-
grandezas consideradas adimensionais
ca o fato inadequado de se considerar
são, em realidade, obtidas pela razão
adimensional algumas grandezas, ob-
de duas grandezas da mesma dimen-
serva-se em estudos, por ressonância
são. Por isso, os valores numéricos, as

1/
Extraído em parte de Grandezas, Dimensões, Unidades (SI) e Constantes utilizadas em química
e fertilidade do solo. Viçosa, 2008. 86 p.

34 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


ARTIGO
magnética nuclear, da composição quí- por diferença entre a massa da amostra
mica, em que os compostos químicos e as massas das outras frações.
relacionam-se a valores expressos na Portanto as frações têm como di-
unidade ppm, pois é comum descre- mensão M M-1 = M0 = 1, sendo adi-
ver o “shift” químico independente do mensional?
campo magnético aplicado. Isto é feito
A Pedra de Roseta é um fragmento de uma No entanto existem, para esta situa-
dividindo-se o valor da frequência ob-
estela do Antigo Egito (196 a C), com registro ção, duas tendências para indicar a uni-
em três parágrafos do mesmo texto: o supe- servada (em Hz) pela frequência de fun-
dade para a dimensão M M-1:
rior com hieróglifos (ideogramas gravados) cionamento do aparelho (em MHz). Isto
do egípcio antigo; o meio em demótico significa que a dimensão da relação de a) kg kg-1 ou dag kg-1 ou g kg-1, a
(escrita do egípcio tardio), e na parte inferior, frequências é: (1/T) / (1/T) = T -1 T = 1, escolha do(s) autor(es).
em grego antigo. Estes três parágrafos
que, expressa em unidades no SI é: b) %, pois se origina de valores
permitiram decifrar, decodificar a linguagem
do egípcio antigo. (Hz Hz-1) 1 000 000, assim: (Hz Hz-1) 1 000 menores do que 1 (frações que indicam
As siglas apresentadas para os nomes das 000 = Hz / 1 000 000 Hz = Hz / MHz = relações, razões ou proporções)
variáveis também constituem um código Hz MHz-1 . multiplicados por 100. Lembrar que
para dar nome às variáveis. % é aceita e utilizada com o SI, para
Também se utiliza ppm para indicar
a concentração de dióxido de carbono relações ou proporções.
na atmosfera terrestre, considerando c) Encontramos concordância,
que a proporção (f/1) 1 000 000 se refe- harmonia, para análise textural, entre
re a volume / volume, pelo que muitos conceito, método e unidade, quando
preferem utilizar a unidade ppmv. Omi- utilizamos % e não com dag kg-1 ou
te-se volume (v) para se simplificar, g kg-1, pelo conceito (proporção relati-
entretanto, não se deve esquecer que va), método (frações, complemento) e
existe. 1 ppmv é igual a 1 mm3/ (mm3 por que nunca encontramos, a não ser
1 000 000), que é igual a 1 mm3/dm3. ultimamente, por exemplo, 151, 152,..,
No denominador está correto dm3. Por 159 g kg-1 de silte em lugar de 150 ou
que o que caracteriza as unidades SI é 160 g kg-1, ou seja 15 ou 16 % de silte.
ter no denominador kg, ou L ou dm3. Iguais situações têm-se para todos
Assim, 400 ppmv de CO2 na atmosfera os casos em que se deseja determinar
corresponde a 400 mm3/dm3 de CO2. a magnitude da precisão dos métodos
Para facilidade de entendimento pode- de medida ou análise, expressa uni-
ria aceitar-se cm3/m3. versalmente por meio do coeficiente
Um exemplo, em que se precisa de variação (CV) (van Reeuwijk & Hou-
consenso, procurando concordância ba, 1998).
entre conceito, método de análise e a CV = (s/y) 100, em que: s = desvio
unidade para expressar o resultado, é padrão e y = média aritmética da
a análise textural do solo. variável y. Tanto s como y tem a mesma
Pelo conceito, “Soil texture refers magnitude.
to the relative proportions of the va- No exemplo de produção de milho
rious size groups of individual grains (t ha-1) a dimensão de y é M L-2, portanto
in a mass of soil” (Soil Survey Staff, a dimensão de s e de y é M L-2. Assim,
1975). “Textura refere-se à proporção a dimensão de CV é M L-2/M L-2 = M0 L0
relativa das frações granulométricas – = 1. E o valor numérico, resultado da
areia (a mais grosseira), silte e argila (a fração, multiplicado por 100 é < = >
mais fina) – que compõem a massa do 100, e a unidade %.
solo” (Santos et al., 2005).
Pelo método, amostra de 20,0 g de Nome das variáveis
terra fina seca ao ar (TFSA) é submetida
Afirmar que conteúdo de P é o
a dispersão química e física. As frações
produto de matéria seca por fósforo é
grosseiras (areia grossa e areia fina) são
absurdo, mas de uso comum.
separadas por tamisação, secas e pesa-
das. Em base à velocidade de sedimen- Na forma de fórmula, utilizando
tação (Lei de Stokes) retira-se alíquota siglas, se indica:
de suspensão contendo a fração argila, CP = MS × P
que é seca e pesada. O silte correspon- O nome das variáveis, e por con-
de ao complemento da TFSA e é obtido sequência, as siglas que as represen-

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 35


ARTIGO

tam, devem comportar três informações: a grandeza, o ma-


terial e os complementos.
A grandeza é indicada em letras minúsculas do alfabeto
latino ou grego, em tipo itálico, o material em maiúsculas e
os complementos de acordo com a necessidade e o gosto
do autor.
Por exemplo, para o cálculo de conteúdo de P, na parte
aérea de plantas de milho, a formula deveria indicar-se da se-
guinte forma:
cP_PA = ttP_PA × mMS_PA
em que: cP_PA é o conteúdo de P na parte aérea de plantas
de milho, em mg / pl; ttP_PA é o teor total de P na parte
aérea de plantas de milho, em g / kg; mMS_PA é a massa de
matéria seca de plantas de milho, em g / planta.
Nas fórmulas, frequentemente, se indicam as variáveis
junto com suas unidades. Isto é totalmente inadequado e
confunde ao leitor. As formulas devem ser indicadas somente
com as siglas das variáveis e não com seus nomes, para se
ter maior atenção na forma de cálculo.
No exemplo anterior encontra-se na literatura:
Conteúdo de P da parte aérea (mg/vaso) = P na parte
aérea (g / kg) × Matéria seca da parte aérea (g/vaso).
Outro exemplo:
V (%) = 100 (SB (cmolc/dm3) / T (cmolc/dm3))
Também é inadequado indicar que o índice de saturação
por bases tem como sigla V%, ou que o índice de saturação
pela acidez trocável é m%, nestes casos se mistura variável
com unidade. Sempre separar a variável da sua unidade.
Exemplos de siglas mnemônicas de nomes de variáveis:
cNuij = ttNuij × mMSj qrNui_Pl = dNui_Pl / trNui_Pl
cP_F = ttP_F × mMS_F cubNuij = (1 / ttNuij) f
trNui_Pl; trNui_Ex cubCa_Tb
em que: cNuij é o conteúdo do nutriente i no compartimento
j
da planta; ttNuij é o teor total do nutriente i no comparti-
mento j da planta; mMSj é a massa de matéria seca do com-
partimento j da planta; qrNui_Pl é a quantidade requerida
do nutriente i pela planta; cP_F é o conteúdo de P na folha;
cubNuij é o coeficiente de utilização biológica do nutriente i
do compartimento j da planta; cubCa_Tb é o coeficiente de
utilização biológica do Ca do tubérculo de batata; trNui_Ex é
a taxa de recuperação do nutriente i pelo extrator. As siglas
das variáveis devem estar acompanhadas das suas respec-
tivas unidades.
As siglas devem ser utilizadas nos quadros, figuras e
fórmulas. No texto devemos utilizar os nomes das variáveis
evitando que o mesmo fique de difícil entendimento pelo
abuso de siglas. Podemos utilizar as siglas no texto, mas,
com parcimônia.
O Código de Hamurabi é um conjunto de 282 Leis pro-
mulgadas por Khammu- rabi, rei de Babilônia, em escrita Normas para boa utilização das unidades SI
cuneiforme acadiana (1728 a C) que foi gravada numa estela
de diorito. Leis, réguas e normas permitem o entendimento O Bureau International des Poids et Mesures, nas Confe-
geral, claro e exato de uma informação. rências Gerais de Pesos e Medidas além de definir grandezas,

36 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


ARTIGO
dimensões e unidades aprovou uma Deve ter-se cuidado com o uso de 18,149 652 2347; 2 450,133 3467.
série de normas para bom uso do SI. um prefixo porque ele, junto à unidade Quando lemos que foi amostrada
Algumas normas são: de base, passa a sofrer as operações al- a camada de solo de 0,000 a 0,025 m,
gébricas indicadas (p. ex.: hm2 = (100 observamos que:
No SI os nomes das unidades to-
m)2 = 10 000 m2). Para meq/100 g é
mam um s no plural, salvo que termi- •Não se cumpre a recomendação
equivocado apresentar meq 100 g-1. O
nem em s, x ou z. de que o valor fique entre 0,1 e 999
equívoco é de 10 000 vezes. É se está
Os símbolos (abreviaturas) repre- utilizando unidade proibida no SI, pois •Desconhece-se a existência e im-
sentativos das grandezas (variáveis) o conceito de equivalente para medida portância de c (centi), pois é mais sim-
devem ser indicados por letras minús- ples e coloquial indicar de 0,0 a 2,5 cm.
de quantidade de matéria foi banido.
culas dos alfabetos latino ou grego, in- •Não cumprimos com nossa res-
A escolha dos autores as unidades
dicadas em tipo itálico. ponsabilidade social de divulgar com
podem ser escritas nas seguintes
todas as potencialidades o sistema de
As dimensões devem ser apresen- formas: kg ou kg ∕ kg ou kg kg-1.
kg unidades, que deve ser de uso comum
tadas, em maiúsculas, por caracteres Devemos deixar sempre um espaço por parte de todo a população.
do tipo romano vertical. entre o valor numérico e o símbolo da
Fico imaginando os puristas de uso
Para harmonizar o valor numérico unidade. Isto é válido para todas as
de imposições exógenas, pedirem a es-
com as unidades, elas devem ser pre- unidades, inclusive % e oC.
posa uma fatia de bolo de 0,03 m.
cedidas (sem espaço) pelo prefixo que Quando se apresentam valores
permita indicar os valores numéricos Quando lemos que a produção de
numéricos não devemos utilizar
milho foi de 6 Mg ha-1 ficamos nos per-
entre 0,1 e 999. Isto é considerado para em conjunto dígitos e letras. Por
guntando por que não utilizar t/ha? Se t
a unidade do numerador. exemplo: “A superfície cultivada foi de
é unidade aceita para uso com o SI sem
Para a unidade do denominador de- 800 milhões de hectares’. Devemos
restrição de prazo e, ha é unidade tem-
vemos utilizar a que indique a grandeza apresentar 800 000 000 de hectares, ou
porariamente aceita com o SI. Para ser
unitária da amostra: para campo (expe- 800 000 000 ha, ou melhor, 800 Mha.
puristas do uso do SI deveríamos utili-
rimentos, levantamentos), usualmente Na notação numérica deve-se deixar zar Mg hm-2. Também, podemos ima-
utiliza-se hectare (ha); para análises de um espaço entre grupos de três dígitos ginar solicitando no comércio a venda
laboratório, para amostras medidas em tanto a esquerda como a direita da de 5 Mg de areia de construção?
massa utiliza-se kg (unidade de base vírgula utilizada para separar decimais.
para massa) e para manter concordân- Em números com quatro dígitos pode-
cia com kg, recomenda-se para medi- se ou não omitir o espaço no extremo à Victor Hugo Alvarez V. é professor
voluntário da Universidade Federal de
das de amostra em volume, de sólido esquerda ou à direita.
Viçosa e sócio honorário da SBCS.
ou gás, o dm3 e, para volume de líqui- Exemplos: 2016; 1 325; 12 500; Gustavo Adolfo Moysés Alvarez é professor
dos o L. 160 012,12; 10 215,143 63; na Escola Lapan, São Paulo.

Texto em escrita cuneiforme do Código de Hamurábi, primeiro corpo


de leis conhecido, que fundamentou a lei de Talião e que pretendia
resolver todas as disputas e qualquer ofensa.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 37


ARTIGO

Sociedades de Ciência do Solo

dos países do
grupo BRICS
Julierme Zimmer Barbosa
Giovana Clarice Poggere

o artigo traça um paralelo sobre o


desenvolvimento das Sociedades de
Ciência do Solo (SCS) dos países do grupo
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África
do Sul) a partir do levantamento de fatos
relevantes e aspectos organizacionais. A
ordem de apresentação segue a sequência
cronológica de formação das SCS e
tem por intuito difundir uma parcela da
história da Ciência do Solo desses países.

38 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


ARTIGO
Rússia de habitantes da Rússia (Figura 1). Em
A Rússia relação à estrutura administrativa, a
possui o SDCS é dividida em Conselho Diretor
histórico e a (73 membros), Conselho Central
organização (presidente, seis vice-presidentes,
m a i s secretário executivo, secretário
complexas científico e 27 conselheiros) e Comissão
das SCS de Auditoria Financeira (três membros).
do grupo BRICS, o que poderá ser Além disso, tem 43 núcleos regionais
constatado ao longo do texto. No no território da Federação Russa e
ano de 1888, em São Petersburgo, foi outros três internacionais: Azerbaijão,
fundada a Comissão de Solos, afiliada à Bielorrússia e Uzbequistão. Em relação
Sociedade Econômica Livre da Rússia. à estrutura científica, a SDCS tem
A Comissão foi fundada e presidida 11 comissões, 12 subcomissões e 7
por Vasily Vasiliyevich Dokuchaev e grupos de trabalho (Figura 2).
contou com Gavriil Ivanovich Tanfilyev As principais atividades da SDCS
como primeiro secretário. Em 1912, o envolvem a organização de eventos,
governo imperial aprovou a fundação a edição de publicações, a entrega de
da Sociedade Dokuchaev de Ciência prêmios e títulos e a divulgação de
do Solo (SDCS). A partir da formação informações gerais via internet.
da União das Repúblicas Socialistas O Congresso da SDCS, realizado
Soviéticas (URSS), em 1922, e da desde 1992, é o evento nacional mais
fundação da Sociedade Internacional tradicional. Outro evento importante,
de Ciência do Solo (SICS), em 1924 que conta com a participação da SDCS,
(renomeada em 1998 para União é a Conferência Dokuchaev para Jovens
Internacional de Ciência do Solo - IUSS Cientistas,
A SDCS conta
- no acrônimo inglês), a SDCS passou a que ocorre
com 1557
ser conhecida como a Seção Soviética d e s d e
membros, o que
da SICS. 1998 e que
corresponde a
Em 1938, a Seção Soviética da tem como
10,9 cientistas
SICS foi transformada em Sociedade público-alvo
do solo para
de Ciência do Solo da União Soviética, cientistas
cada milhão de
ligada à Academia de Ciências da com até 35
habitantes da
URSS. A instituição foi mantida até o anos, pós-
Rússia.
desmantelamento da URSS, em 1991. graduandos,
Posteriormente, foi reorganizada como graduandos e colegiais. Em tempo:
Sociedade Russa de Ciência do Solo, o principal e mais tradicional evento
ligada à Academia de Ciências da realizado por sociedades nacionais em
Rússia. O congresso fundador da nova parceria com a IUSS é o Congresso
SCS foi realizado em 1992, em Moscou Mundial de Ciência do Solo. Das vinte
- embora só tenha sido oficialmente edições já realizadas, duas foram na
registrada na Academia de Ciências Rússia/URSS (2ª edição, Leningrado,
da Rússia em 1993. Contudo, no II 1930; 10ª edição, Moscou, 1974).
Congresso da Sociedade, realizado em A SDCS republica obras clássicas de
São Petersburgo (1996), foi decidido Ciência do Solo, manuais, entre outros.
renomear a instituição com seu primeiro Por meio da Federação Eurasiana
nome, SDCS. Em 2004, a SDCS deixou de Sociedades de Ciência do Solo
de ser filiada à Academia de Ciências (FESCS), a SDCS participa da edição da
da Rússia e passou a ser independente, revista Eurasian Journal of Soil Science.
como organização não governamental, Informações gerais sobre a SDCS são
registrada apenas como Sociedade de publicadas ainda no Boletim Informativo
Ciência do Solo. Em 2006, foi registrada da FESCS. Também são publicadas
novamente como SDCS. informações sobre a SDCS e textos em
Atualmente, a SDCS conta com datas comemorativas para a Ciência do
Figura 1. Membros e membros por milhão Solo na Rússia, em seção especial da
de habitantes em cada Sociedade de
1557 membros, o que corresponde a
Ciência do Solo nos países do grupo BRICS 10,9 cientistas do solo para cada milhão revista Eurasian Soil Science, editada
pela Academia de Ciências da Rússia.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 39


ARTIGO

Figura 2. Representação esquemática


da estrutura científica da Sociedade
Dokuchaev de Ciência do Solo.
Retângulos: linhas sólidas,
pontilhadas e tracejadas representam,
respectivamente, comissões,
subcomissões e grupos de trabalho

Com relação à Eurasian Soil segundo (de 1996) é utilizado para


Science, é interessante notar que a noticiar as principais atividades da
revista também é publicada em russo, instituição. Quanto à revista científica,
sob o nome de Pochvovedenie (que tem editado, desde 1953, o periódico
significa Pedologia). Acontece que a Journal of the Indian Society of Soil
Pochvovedenie foi a primeira revista Science.
dedicada à Ciência do Solo em escala
mundial, criada em 1889 pela Comissão
de Solos da Sociedade Econômica China
Livre da Rússia. A Sociedade de Ciência do Solo
da China (SCSC) foi fundada em 25 de
dezembro de 1945, em Chongqing, com
Índia científica da sociedade e outros 34
58 membros. O primeiro presidente foi Li
A Sociedade Indiana de Ciência Lian Jie e o primeiro secretário Zhu Lian
membros. Além disso, tem 45 núcleos
do Solo (SInCS) foi fundada em 22 Qing. Antes da fundação da instituição,
regionais.
de dezembro de 1934, na cidade de tanto Jie como Qing trabalharam com
As principais atividades da SInCS
Calcutta, com 28 membros. O primeiro o renomado cientista do solo James
envolvem a organização de eventos,
presidente foi Bryce C. Burt, que era o Thorp e se especializaram na área de
a edição de publicações (uma revista
Comissário de Agricultura no Conselho solos em universidades nos Estados
científica, dois boletins informativos,
Imperial de Pesquisa Agrícola, Unidos.
livros e anais de congressos), a entrega
enquanto o primeiro secretário foi o Atualmente, a SCSC conta com
de prêmios e títulos e a divulgação
professor Jnanendra Nath Mukherjee. 17000 membros, o que corresponde
de informações gerais via internet.
No período em que foi fundada, a Índia a 12,1 cientistas do solo para cada
Realizado sem interrupção desde
era colônia britânica, assim, a partir milhão de habitantes da China (Figura
1935, o evento mais tradicional é
da independência do país, em 1947, 1). A estrutura administrativa tem
a Convenção Anual da SInCS. Um
a instituição científica teve a área de
ponto a ser realçado é que, durante a
atuação reduzida e, provavelmente a
sua realização, acontecem palestras-
perda de alguns membros, devido à
memórias com o nome de cientistas
divisão territorial da Índia britânica em
do solo de destaque na Índia, como o
Índia e Paquistão.
professor J. N. Mukherjee.
Atualmente, a SInCS reúne 2400
A SInCS tem sua história marcada
membros, o que corresponde a 1,8
pela realização do XII Congresso
cientistas do solo para cada milhão
Mundial de Ciência do Solo, no ano
de habitantes da Índia (Figura 1). A
de 1982, em Nova Deli. Dos boletins
sua estrutura administrativa envolve:
editados pela Sociedade, o primeiro
presidente; dois vice-presidentes; três
(criado em 1938) é utilizado para
secretários (geral, adjunto e assistente);
apresentar o estado da arte em temas
tesoureiro; editor-chefe da revista
relacionados à Ciência do Solo; já o

40 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


ARTIGO
sua gestão realizada pelo Conselho, de solo ao redor da China. Contudo, em
composto por: presidente; presidente 1957, tornou-se uma revista científica
honorário; nove vice-presidentes; formal e foi renomeada para Soil
secretário; seis secretários adjuntos; Bulletin.
diretoria executiva (57 membros) e Em seguida, veio a revista Bulletin
diretoria geral (177 membros). Além of the Soil Science Society of China
disso, a partir da década de 1950, a (criada em 1948 e renomeada em 1952
SCSC iniciou a formação de núcleos para Acta Pedologica Sinica). De 1955
regionais e, atualmente, tem 31 núcleos até 1963 foi editada a Soil Science
espalhados pelo território da China. Translation, que visava incorporar os
Com relação à estrutura científica, a avanços da Ciência do Solo obtidos
dispõe de 14 comissões especializadas na URSS. Depois surgiram as revistas
e 5 de trabalho (Figura 3). Arid Zone Research (1984), Journal of
As principais atividades da SCSC Soil and Water Conservation (1987) e
envolvem a entrega de prêmios, a Pedosphere (1991). Entre essas revistas
organização de eventos, a edição científicas, apenas Pedosphere é
de publicações e a divulgação de editada totalmente em inglês, sendo as
informações gerais via internet. demais editadas em mandarim.
Entre os eventos organizados
pela Sociedade, destaca-se o
Congresso da SCSC, no qual são Brasil
discutidas questões referentes à A Sociedade Brasileira de Ciência
instituição, além da apresentação de do Solo (SBCS) foi fundada com 31
trabalhos e palestras. Outro evento membros na I Reunião Brasileira de
de destaque é a Conferência Nacional Ciência do Solo, realizada entre os dias
de Jovens Cientistas do Solo, que 6 e 20 de outubro de 1947, no Rio de
visa inspirar as novas gerações ao Janeiro. Álvaro Barcelos Fagundes foi
pensamento científico e inovador, o primeiro presidente e Raul Edgard
bem como promover o contato Kalckman, o primeiro secretário. Vale
entre os jovens. Além disso, arealiza destacar que a SBCS foi a primeira SCS
eventos comemorativos, conferências fundada na América Latina, coincidindo
internacionais e, eventualmente, com a data de fundação da Sociedade
participa da organização de eventos Espanhola de Ciência do Solo (10 de
internacionais periódicos. outubro de 1947).
A SCSC é responsável pela edição Atualmente, a SBCS conta com
(ou coedição) de diversas revistas 1220 membros, o que corresponde
científicas e um boletim informativo. a 6,0 cientistas do solo para cada
A primeira revista científica foi milhão de habitantes do Brasil (Figura
criada em 1947, com o nome de 1). A sua gestão administrativa é
Soil Communications, objetivando realizada pelo Conselho Diretor,
introduzir as atividades dos cientistas envolvendo: presidente; vice-
presidente; secretaria executiva

Figura 3. Representação esquemática


da estrutura científica da Sociedade de
Ciência do Solo da China. Retângulos:
linhas sólidas e pontilhadas
representam, respectivamente,
comissões especializadas e comissões
de trabalho

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 41


ARTIGO

Figura 4. Representação esquemática


da estrutura científica da Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo.
Retângulos: linhas sólidas e pontilhadas
representam, respectivamente, divisões
e comissões

(secretário geral, secretário adjunto e Já a Revista Brasileira de Ciência do boletim e outros cinco membros.
tesoureiro); dois ex-presidentes; editor- do Solo, publicada sem interrupção A SCSAS não tem núcleos regionais
chefe da revista científica; presidente desde 1977, se destina à publicação no território da África do Sul, nem
do congresso realizado no início do de trabalhos científicos, num total de divisões científicas permanentes.
período da gestão vigente; diretores 3743 publicados até o volume 39, em Contudo, dispõe de um grupo de
de divisões especializadas (quatro 2015. A SBCS também publica duas trabalho (Atualização do Sistema de
membros) e diretores de núcleos (nove coleções de livros: Tópicos em Ciência Classificação de Solos da África do Sul).
membros). Além disso, ao longo do do Solo, iniciada em 2000 e com nove As principais atividades da
território nacional, tem nove núcleos, volumes, até o momento, e Livros-texto Sociedade envolvem a organização
abrangendo regiões ou estados. Em em Ciência do Solo, que começou em de eventos, a edição de publicações,
relação à estrutura científica, conta 2007, e reúne seis livros. Além disso, a entrega de prêmios e títulos e a
com quatro divisões e 15 comissões editou 30 publicações diversas. divulgação de informações gerais via
especializadas (Figura 4). Na internet, a Sociedade mantém um internet.
As principais atividades da SBCS site, desde 1999, trazendo informações O evento mais tradicional de Ciência
envolvem a organização de eventos, relevantes sobre suas atividades, do Solo da África do Sul é o Congresso
a edição de publicações, a entrega notícias gerais, comercialização de da SCSAS, realizado desde 1965.
de prêmios e títulos, homenagens, produtos (loja virtual) e sendo um canal Embora a periodicidade do evento
a divulgação de informações gerais de comunicação interativa entre os tenha sido variável desde a sua primeira
via internet e a comercialização de sócios. Além disso, tem duas páginas edição, desde 2005 ele vem sendo
produtos via loja virtual. em mídias sociais (no Facebook e no realizado anualmente. Contudo, na 31ª
O Congresso Brasileiro de Ciência Twitter), mantendo-se atualizada nas edição (2011), passou a ser realizado
do Solo é o evento mais tradicional tendências de difusão de informação. no formato de Congresso Combinado,
da Sociedade. Dois fatos chamam a envolvendo outras três sociedades
atenção com relação a esse evento: (I) científicas (Sociedade Sul-Africana
desde o primeiro congresso em 1947 África do Sul de Produção Vegetal, Sociedade
(chamado de Reunião até 1953) até Por fim, a Sociedade de Ciência do Sul-Africana de Ciência das Plantas
hoje, nunca ocorreu interrupção nem Solo da África do Sul (SCSAS) foi a Daninhas e Sociedade Sul-Africana
alteração do padrão de realização (a última sociedade científica dedicada à
cada dois anos); (II) na VIII edição do Ciência do Solo fundada entre os países
congresso (15 a 30 de julho de 1961, do grupo BRICS. A fundação ocorreu
Belém - PA), a sede principal do evento no dia 27 de abril de 1953, na cidade de
foi um navio. Em 2018, pela primeira Pretoria, com 16 membros. O primeiro
vez, a SBCS organizará o Congresso presidente foi Christiaan Rudolph van
Mundial de Ciência do Solo. der Merwe.
A primeira publicação periódica Atualmente, conta com 330
editada pela Sociedade foi o Boletim membros, o que corresponde a 6,1
Informativo, cujo número inicial cientistas do solo para cada milhão
corresponde ao fascículo Janeiro/ de habitantes da África do Sul (Figura
Abril de 1976. O Boletim visa divulgar 1). O seu Conselho Diretor envolve 12
notícias, artigos (informativos e membros: presidente; vice-presidente;
opinativos) e atividades da SBCS. secretário; secretário assistente; editor

42 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


ARTIGO
de Ciências Hortícolas). Além disso, de um desses encontros, em 1914, Considerações finais
organiza uma competição fotográfica mas que não ocorreu devido a Primeira Guardadas as devidas proporções,
sobre solos da África do Sul, na qual as Guerra Mundial. Posteriormente, um fator que é comum nos solos e
doze melhores fotografias são utilizadas em 1924, em Roma, foi fundada a nos humanos é que, ao contrário das
para a elaboração de um calendário, SICS (atual IUSS), que em oito anos rochas, ambos acumulam informações
que é comercializado pela SCSAS. completará seu centenário: uma das na medida em que envelhecem, ou
A revista científica South African maiores e mais tradicionais sociedades seja, memorizam. A preservação das
Journal of Plant and Soil (criada em científicas do mundo. memórias é, sem dúvida, um importante
1984) é editada pela SCSAS e outras A importância russa para o elo entre as gerações de cientistas do
sociedades científicas (idem Congresso desenvolvimento da IUSS também solo e o avanço do seu conhecimento,
Combinado). Portanto, entre as pode ser percebida devido ao que, em intensidade variada, tem sido
sociedades científicas dedicadas à número de valorizada pelas SCS dos países do
Ciência do Solo nos países do grupo presidentes um fator que grupo BRICS. Nesse sentido, além de
BRICS, a SCSAS é a única que não (2) e membros é comum nos difundir uma parcela da história da
tem uma revista exclusivamente honorários solos e nos Ciência do Solo de cinco países, que o
sobre solos. Mas edita um boletim (8) da IUSS humanos é que, presente texto contribua para ressaltar
informativo. Na internet, tem um provenientes ao contrário o valor de pertencer a uma sociedade
site que traz informações sobre suas da Rússia/ das rochas, científica e de “ser mais solo e menos
atividades, organização e outras URSS, em ambos acumulam rocha”.
aspectos relevantes sobre Ciência do comparação informações na
Solo, além de uma página no Facebook. à Índia (1 medida em que
presidente; envelhecem Agradecimentos
3 membros Aos cientistas do solo Gonçalo
Destaques na União honorários) e ao Brasil (1 membro Signorelli de Farias (pelas sugestões
Internacional de Ciências honorário). Para evitar confusões, para melhoria deste texto) e Garry
do Solo (IUSS, no acrônimo deve ser assinalado que, apesar Paterson (por algumas informações
inglês) de alguns desses presidentes e sobre a SCS da África do Sul).
Por ser o país com a SCS mais membros honorários estarem sob o
antiga entre os integrantes do grupo regime da URSS, eles eram em sua
BRICS, a Rússia se destaca também maioria russos, discípulos diretos ou Autores: Julierme Zimmer Barbosa
na IUSS. Entre 1909 e 1922, ocorreram discípulos de discípulos de Dokuchaev. (barbosajz@yahoo.com.br) é doutorando
encontros internacionais que serviram Adicionalmente, entre os países do do Programa de Pós-Graduação em Ciência
para vislumbrar a necessidade de uma do Solo da UFPR. Giovana Clarice Poggere
grupo BRICS, apenas cientistas do solo
sociedade científica global dedicada (gi.poggere@gmail.com) é doutoranda do
da Rússia/URSS receberam prêmios da Programa de Pós-Graduação em Ciência do
à Ciência do Solo. A Rússia seria sede IUSS. Solo da UFLA.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016 43


LANÇAMENTOS
Guia Prático de Biologia do
Solo
Qualidade do
solo é a capacida-
de do solo cum-
prir suas funções
na natureza. Um
bom indicador de
qualidade do solo
é aquele capaz de
elucidar os pro-
cessos biológicos,
físicos e químicos do solo e integrar
propriedades ecológicas do sistema
solo-planta.
Este guia prático, lançado pelo Nú-
cleo Estadual Paraná da SBCS, oferece
mais do que metodologia adequada,
oferece o “passo a passo” necessário
para que pesquisadores, estudantes e
interessados possam lograr êxito nos
seus estudos em qualidade do solo.
O livro pode ser baixado em: http://
www.sbcs-nepar.org.br/publicacoes/
guia-pr%C3%A1tico-de-biologia-do-
-solo-1-detail

Produtividade da soja no
entorno do reservatório de
Itaipu
Após cinco anos
de pesquisa, con-
siderada inédita
no mundo, o Ins-
tituto Agronômico
do Paraná (IAPAR)
lançou o livro que
trata do efeito do
reservatório da Usi-
na Hidrelétrica de
Mais informações no site: http://www.secsuelo.org/app/es
Itaipu no microclima e na produtividade
da soja em seu entorno.
O livro intitulado “Produtividade Assim, isolando-se as variáveis passí- Erosão dos Solos e
da soja no entorno do reservatório de veis de controle (solo, cultivares, data Movimentos de Massa –
Itaipu” foi editado pelos pesquisadores de semeadura e manejo cultural) e me- Abordagens Geográficas
Luiz Antônio Zanão Júnior, Rogério Tei- dindo-se todas as outras variáveis não
xeira de Faria e Paulo Henrique Caramo- O livro cita mais
controladas, tais como precipitação,
ri. radiação solar, temperatura e ventos, de 250 trabalhos
Com base no monitoramento das não existe um padrão de produtividade abordando a ero-
variáveis climáticas, concluiu-se que o da soja no qual a cultura possa sofrer são dos solos e os
lago de Itaipu não influencia o clima no redução de produtividade em gradien- movimentos de
seu entorno. A variação da produtivida- te até 10 km de distância das margens massa, levando em 
de da soja ao longo do reservatório da do reservatório da usina hidrelétrica de consideração suas
usina hidrelétrica de Itaipu é influencia- Itaipu. diferentes aborda-
da pela precipitação pluviométrica, com Mais informações em: http://www. gens geográficas. 
sua variação no tempo e no espaço de- iapar.br/modules/conteudo/conteudo. h t t p : / / w w w. e d i t o r a c r v. c o m .
pendente de fatores em escala sinótica. php?conteudo=1034 br/?f=produto_detalhes&pid=31492

44 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016


Promoção Realização

Patrocínio Diamante Patrocínio Ouro Apoio

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