DECISÃO
SENTENÇA
Vistos, etc.
"(...) são servidores públicos federais e exercem a função de vigilantes junto à promovida.
Trabalham portando arma de fogo, fazendo a segurança e guarda nas guaritas que dão acesso
à instituição, no Hospital Universitário, bem como em todos os demais setores da autarquia
federal, zelando pelo seu patrimônio, servidores, estudantes e visitantes. Fazem também a
segurança dos automóveis que se encontram no estacionamento privativo da UFPB.
Válido registrar que nas dependências da promovida existem instituições financeiras como a
Caixa Econômica Federal, Banco Real, Banco do Brasil, Santander e cooperativas de crédito, a
exemplo da CREDUNI, e em todas existe transporte e movimentação de valores. Há também
agência de venda de passe estudantil.
Quando ocorre alguma situação suspeita ou de perigo real nessas instituições financeiras, a
despeito das mesmas possuírem segurança própria, o setor de vigilância da UFPB é
comunicado e os promoventes têm o dever funcional de comparecer no local de perigo a fim
restabelecer a ordem.
"De início, impende ressaltar que a atividade de vigilante, exercida pelos autores, não é
considerada, por lei, como perigosa, tampouco, foi demonstrado nos autos prova em
contrário. No caso, restou claro que suas atividades limitam-se a identificação de pessoal,
controle de entrada e saída de veículos e rondas de inspeções - atividades estas que não lhes
impunham "riscos de vida", senão aqueles ordinariamente suportados por qualquer
trabalhador.
Relatados, DECIDO.
2. As armas utilizadas pelos vigilantes são adquiridas e fornecidas pela própria administração
da autarquia ré, que proporciona, inclusive, treinamento aos seus servidores por meio de
cursos ministrados pela Polícia Federal, para poderem ter condições de garantir a segurança
de suas instalações.
(...).
5. A hipótese é de se dar provimento à apelação para que seja implantado nos vencimentos
dos apelantes, o adicional de periculosidade no percentual de 30%, nos termos do art. 1º do
Decreto-lei nº. 1.873/81 c/c com o art. 193, parágrafo 1º, do CLT, bem como o pagamento das
parcelas atrasadas a este titulo, ate o quinquênio anterior ao ajuizamento da ação em face da
prescrição das parcelas anteriores a esse periodo.
(...).
7. Apelação provida."
26. P.R.I.
RELATOR :
MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
RECORRENTE :
MANOEL PEDRO DA SILVA
RECORRENTE :
JOSÉ ARIMATÉIA DE OLIVEIRA
RECORRENTE :
DANIEL PEREIRA DE FONTES
ADVOGADO :
FLAVIANO SALES CUNHA MEDEIROS E OUTRO(S)
RECORRIDO :
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
REPR. POR :
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
EMENTA
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO.
VIGILANTE. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. ENQUADRAMENTO
DA ATIVIDADE. IRRELEVÂNCIA. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.
DECISÃO
Trata-se de recurso especial interposto por Manoel Pedro da Silva e outros, com
fundamento no art. 105, III, "a", da CF, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da
5ª Região que está assim ementado (fls. 182-186):
ADMINISTRATIVO. VIGILANTE DE UNIVERSIDADE. ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. RISCO À INTEGRIDADE. INOCORRÊNCIA.
1. O reconhecimento da atividade de vigilante como sujeita a condições especiais
reclama a necessária comprovação do uso de arma de fogo como fator
caracterizador da periculosidade do labor.
2. Hipótese em que não restou comprovado que a função desempenhada expunha a
integridade física dos suplicantes a situações de risco.
3. A simples notícia, veiculada na imprensa, de incidentes envolvendo a prática de
crimes no interior do campus universitário não assegura, por si só, a percepção da
aludida vantagem. Precedente do Plenário desta Corte (EIAC 20878, DJE
03/08/2012).
4. Apelação e remessa providas.
Os aclaratórios foram rejeitados (fls. 200-203).
Os recorrentes alegam violação dos arts. 1º da Lei n. 1.873/81, 68 da Lei n. 8.112/90 e 193
da CLT. Para tanto, argumentam que a legislação aplicável ao presente caso não faz nenhum
menção à necessidade de uso de arma de fogo para que os vigilantes de instituições federais façam
jus ao adicional de periculosidade.
Sustentam que não se faz necessária à comprovação de utilização de armas de fogo pelos
vigilantes de instituições federais para que os mesmos façam jus ao adicional de periculosidade,
motivo pelo que deve o presente recurso especial ser provido.
Nas contrarrazões oferecidas às fls. 222-231, a União opõe-se inicialmente dizendo que as
pretensões recursais encontram óbices nas Súmulas 7 e 211 do STJ e 282 e 356 do STF. No mérito,
consigna que as atividades prestadas em condições de periculosidades estão relacionadas na Norma
Regulamentadora n. 16 do Ministério do Trabalho, aprovada pela Portaria n. 3.214/78 e pelo
Decreto n. 93.412/86, "não estão inserta nesse rol a de vigilante " (fl. 228) e que: "o fato do
Recorrente desempenhar a função de vigilante, munido, ou não de arma de fogo, não lhe
confere o direito à percepção do adicional de periculosidade. em face da ausência de
porevisão legal nesse sentido ." (fl. 229)
Crivo positivo de admissibilidade juntado à fl. 233.
Documento: 42404086 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 02/12/2014 Página 1 de 3
Superior Tribunal de Justiça
É o relatório. Passo a decidir.
No Juízo monocrático, julgou-se procedente o pedido formulado na inicial, condenando a
Universidade Federal da Paraíba ao pagamento do adicional de periculosidade, no percentual de
30%, em favor dos autores, relativo ao exercício da função de vigilante.
O Tribunal de origem deu provimento ao recurso de apelação, ao fundamento de que o
reconhecimento da atividade de vigilante como sujeita a condições especiais reclama a necessária
comprovação do uso de arma de fogo como fator caracterizador da periculosidade do labor.
Ao contrário do sustentado nas contrarrazões, o recurso especial preenche os requisitos de
admissibilidade, momento em que passo à análise do mérito recursal.
Conforme delimitado nos autos, o cerne da questão a ser dirimida diz respeito à
possibilidade de concessão de adicional de periculosidade aos vigilantes do Instituição Superior de
Ensino Público.
É bom que se diga que a questão aqui trazida não é nova, porquanto esta Corte Superior já
firmou compreensão de que o rol de atividades consideradas insalubres, perigosas ou penosas,
previsto na lei, é meramente exemplificativo, mormente porque a CLT limita-se a definir, de forma
genérica, como atividades perigosas aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho,
impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado,
na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho (art. 193 com a redação dada
pela Lei 6.514/77).
Nesse sentido, mutatis mutandis :
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. VIGILANTE.
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE.
IRRELEVÂNCIA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que o art. 68 da Lei 8.112/90, por se
tratar de regra de eficácia imediata e plena, não necessita de regulamentação.
Precedente: REsp 378.953/RS, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma,
DJ 13/5/02.
2. Diversamente da base de cálculo, o Regime Jurídico dos servidores públicos não
definiu os demais parâmetros para a concessão da vantagem, tais como os
percentuais devidos a cada adicional, tampouco especificou quais seriam as
atividades albergadas. Dessa forma, para aferição dos demais pressupostos, deve
ser observado o disposto na legislação trabalhista, nos moldes do art. 1º do
Decreto-Lei n° 1.873/81.
3. A ausência do enquadramento da atividade desempenhada não inviabiliza a sua
consideração para fins de percepção de adicional, desde que as instâncias ordinárias
tenham como comprovada sua periculosidade, como na espécie.
4. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag 1375562/RN, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 02/02/2012)
Esse entendimento coaduna-se com a Súmula 198, do extinto Tribunal Federal de
Recursos, segundo a qual: "atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial,
se perícia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou
penosa, mesmo não inscrita em regulamento ".
Lado outro, o Juízo monocrático foi cristalino na afirmação de que: "a ré não
desconstituiu a prova produzida pela contra-parte (fls. 77/92), considerando que restou
comprovado que os autores frequentam habitualmente ambientes considerados de riscos e em
condições de periculosidade ." (fl. 143)
Destarte, a ausência do enquadramento da atividade desempenhada não inviabiliza a sua
consideração para fins de percepção de adicional, desde que as instâncias ordinárias tenham como
SENTENÇA
Vistos, etc.
"(...) são servidores públicos federais e ocupam o cargo de vigilante junto à promovida, com
lotação no Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, Campus III da UFPB, em
Bananeiras.
Trabalham fazendo a segurança e guarda nas guaritas que dão acesso à instituição promovida,
bem como em todos os demais setores da autarquia federal, zelando pelo seu patrimônio,
servidores, estudantes e visitantes. Fazem, também, a segurança do alojamento dos
estudantes que residem na Universidade.
(...).
Pelas atividades elencadas no quadro acima, fácil concluir o risco a que estão submetidos os
autores, vez que possuem, dentre as atribuições, a de evitar roubos, atos de violência, e
escoltar e proteger pessoas encarregadas de transportar dinheiro e valores, podendo a
qualquer momento, enfrentar situações em que coloquem suas vidas a perigo.
Quando ocorre alguma situação suspeita ou de perigo real nessas instituições financeiras, a
despeito das mesmas possuírem segurança própria, o setor de vigilância da UFPB é
comunicado e os promoventes têm o dever funcional de comparecer no local de perigo a fim
restabelecer a ordem e apreender os infratores."
"De início, impende ressaltar que a atividade de vigilante, exercida pelos autores, não é
considerada, por lei, como perigosa, tampouco, foi demonstrado nos autos prova em
contrário. A Lei nº 1.873/81 estabeleceu que os adicionais de insalubridade e periculosidade
devidos aos servidores públicos federais serão disciplinados na forma da legislação trabalhista.
O art. 193 da CLT, por sua vez, define como perigosas as atividades em que há contato
permanente com inflamáveis ou explosivos.
No caso, restou claro que suas atividades limitam-se a identificação de pessoal, controle de
entrada e saída de veículos e rondas de inspeções - atividades estas que não lhes impunham
"riscos de vida", senão aqueles ordinariamente suportados por qualquer trabalhador.
Relatados, DECIDO.
10. A ação já pode ser julgada, nos termos do CPC, art. 330, I, por
tratar de matéria de direito e haver suficiente documentação nos autos, razão porque indefiro
pedido de audiência para prova testemunhal (fls. 108/114).
13. A R., por sua vez, não desconstituiu a prova produzida pela
contra-parte (fls. 77/92), considerando que restou comprovado que os AA. freqüentam
habitualmente ambientes considerados de riscos e em condições de periculosidade.
21. P.R.I.
EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento
à apelação dos autores e dar parcial provimento à apelação da Universidade e à remessa oficial,
nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.
1 de 2 23/09/2016 20:09
https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_doc...
2 de 2 23/09/2016 20:09