29/03/2019
Número: 0704406-90.2019.8.07.0000
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador colegiado: Conselho Especial
Órgão julgador: Gabinete do Des. Alfeu Machado
Última distribuição : 19/03/2019
Valor da causa: R$ 1.000,00
Relator: ALFEU GONZAGA MACHADO
Assuntos: Tribunal de Contas
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
LUIZ CARLOS TANEZINI (IMPETRANTE)
LEONARDO ROMEIRO BEZERRA (ADVOGADO)
LAIANA LACERDA DA CUNHA ALVES (ADVOGADO)
PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO
FEDERAL (IMPETRADO)
Outros participantes
DISTRITO FEDERAL (INTERESSADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
7765076 20/03/2019 Decisão Decisão
18:13
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Gabinete do Desembargador ALFEU MACHADO
DECISÃO
Vistos etc,
Cuida-se de mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por LUIZ CARLOS TANEZINI,
já qualificado, tendo apontado como impetrado o PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO
DISTRITO FEDERAL aduzindo, em síntese, que decisão do TCDF de Nº 698/2019, prolatada em
28/02/2019, no âmbito da Representação Nº 3386/2019 pretende provocar imediata exoneração do
impetrante no cargo de Diretor de Administração do Metrô/DF sem observância do contraditório ou
defesa, apontando inabilitação para o exercício do cargo em comissão ou função de confiança no âmbito
da Administração Pública Direta e Indireta do Distrito Federal.
Informou que o ato impugnado padece de gravíssima ilegalidade porque violados os postulados do
contraditório e ampla defesa, além de não constar no rol de inabilitados do TCDF.
Relatou todo o imbróglio, relatando que em 08/01/2019 fora nomeado pelo Governador do DF como
Diretor Técnico do Metrô/DF, mas em razão de denúncia anônima, direcionada à Ouvidoria do MPjTC,
este formulou Representação com pedido cautelar de afastamento do ora impetrante do cargo de Diretor
Técnico do Metrô/DF até que o plenário do TCDF se manifestasse sobre o mérito, sob o fundamento de
que a nomeação violaria o acórdão Nº 266/2014, do TCDF, prolatado em 27/03/2014, o qual declarou a
inabilitação do impetrante para o exercício do cargo em comissão ou função de confiança, no âmbito da
Administração Pública do Distrito Federal, por um período de 5 (cinco) anos, informando que o motivo
da inabilitação foi o pagamento de uma multa administrativa no valor de R$4.000,00 (quatro mil reais)
realizada por empresa contratada pelo DER, à época em que exercia o cargo de Diretor Geral.
Além disso, a Representação relatou que o impetrante teve contas julgadas irregulares em 12/04/2016, por
meio da Decisão Nº 1.808/2016 (Processo Nº 36387/2009) e, por isso, pela Lei Complementar Nº35/2010
(Lei da Ficha Limpa), estaria inelegível para qualquer cargo ou funções públicas, concluindo que o
impetrante não teria reputação ilibada, art. 17 da Lei Federal Nº 13.303/2016 (Lei das Estatais) para
exercer o cargo de Diretor Técnico do Metrô/DF, a par da inabilitação ocorrida em 2014 e rejeição de
contas de 2016.
Após o pedido cautelar o MPC/DF requereu seja ouvido o Governador do DF, o indicado, ora impetrante,
no prazo máximo de 05 (cinco) dias em razão dos indícios apontados, analisando-se o caso com urgência.
Informou que análise do TCDF, mediante manifestação de dois de seus Conselheiros (Relator e Revisor),
foi sugerida a concessão de prazo de 5 (cinco) dias ao impetrante, antes da apreciação do pedido cautelar;
porém, sem abrir prazo ao impetrante, o plenário deu provimento à Representação para informar ao
Governador do Distrito Federal que o impetrante foi inabilitado pelo TCDF, conforme decisão Nº
Ressaltou que, sem contraditório e ampla defesa, outrora observados pelos Conselheiros, determinou-se a
expedição de recomendação ao Metrô/DF para que o impetrante fosse sumariamente exonerado do cargo
que ocupa, configurando supressão ao constitucional direito de defesa.
Aponta que restou inobservada a Súmula Vinculante Nº 03/STF, sendo sumariamente suprimido o
constitucional direito de defesa, afrontando os incisos LIV e LV do art. 5º e art. 37, ambos da CF/88 e art.
2º e incisos I e V da Lei Nº 9784/99; que a decisão Nº 698/2019, do TCDF, repercutiu na esfera de
direitos do impetrante sem que ele tenha participado do ato deletério, somente tomando conhecimento
após deliberação da Corte de Contas; que de acordo com o rol de inabilitados, extraído do site do TCDF,
sequer há referência ao nome do impetrante, indicando controvérsia na inabilitação; que tanto o MPjTC
como os Conselheiros Relator e Revisor entenderam pela necessidade do contraditório.
O pedido liminar “inaudita altera parte” consiste em provimento jurisdicional tendente a resguardar
sustentado direito líquido e certo do impetrante, diante de decisão Nº 698/2019, do TCDF, prolatada em
28/02/2019 no âmbito da Representação Nº3386/2019 do Ministério Público de Contas do DF, que
repercutiu na esfera de direitos do impetrante sem que ele tenha participado do ato deletério, sem a
observância do contraditório e ampla defesa, sendo sumariamente suprimido o constitucional direito de
defesa, pugnando que sejam provisoriamente suspensos todos os efeitos da decisão até o julgamento de
mérito do presente “mandamus” ou, eventualmente, até que aquela Corte de Contas reveja os seus
próprios atos de ofício e estabeleça o devido contraditório, permitindo-lhe seja exercido o seu direito de
defesa no âmbito da Representação Nº3386/2019.
Inicialmente, ressalto que direito líquido e certo é o que resulta de fato certo, ou seja, aquele capaz de ser
comprovado de plano, por documentação inequívoca. A caracterização de imprecisão e incerteza recai
sobre os fatos, que necessitam de comprovação quando tratar-se de questão de complexidade.
Sem qualquer análise preliminar acerca do mérito da decisão impugnada, lastreada em processos que
culminaram na aplicação de penalidade ao ora impetrante, bem como nos critérios impeditivos para a
posse em cargos, empregos e funções públicas, fato é que é garantia constitucional, consoante previsão
nos artigo 5º, incisos LIV e LV c/c art. 37 “caput”, da CF/88, aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes.
Apesar disso, veio a decisão Nº 698/2019, ora impugnada, dando provimento à Representação conforme o
voto do Conselheiro Relator PAIVA MARTINS, modificando seu entendimento anterior por estarem
preenchidos os pressupostos previstos no art. 230 do Regimento Interno da Corte de Contas do DF. Na
decisão de 28/02/2019, houve unanimidade de acordo com o voto do Relator para dar provimento à
Representação, informando ao Excelentíssimo Senhor Governador do DF que o indicado técnico fora
inabilitado pelo TCDF, conforme Decisão Nº1.304/14, exarada no Processo Nº36.900/08, estando
impedido, nos termos do art. 60 da Lei Complementar Nº 1/94 de exercer cargo em comissão ou função
de confiança no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta do Distrito Federal, devendo ser
adotadas imediatas providências com vistas ao exato cumprimento da lei.
Sucede que, pelo apurado em sede de cognição sumária/liminar, não foi observado o disposto no art. 2º,
incisos I e V da Lei Nº 9784/99, Lei do Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública
Federal, além do previsto na Súmula Vinculante Nº 3/STF que, conforme jurisprudência do STJ e TJDFT,
aplicam-se ao TCDF os princípios e normas processuais que vinculam o Tribunal de Contas da União,
especialmente o direito ao contraditório, ampla defesa e devido processo legal.
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa
quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma e pensão.
Nesse sentido, forçoso concluir, em sede de cognição sumária, admitida para o momento, a demonstração
“prima facie” de direito líquido e certo a ser amparado por meio do mandamus, sendo certo que tal direito
“é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no
momento da impetração” de forma que, “se sua existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver
delimitada; se seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à
segurança, embora possa ser defendido por outros meios judiciais” (Hely Lopes Meirelles, in Mandado de
Segurança, 21ª Edição, págs. 34 e 35).
O direito líquido e certo deve vir expresso na norma legal, trazendo em si todas as condições e as
possibilidades de aplicação imediata ao impetrante. Seu alcance e seu exercício exigem delimitação,
repelindo-se, pois, dependência de situações e de fatos indeterminados. Em suma, o direito líquido e
certo é aquele comprovado de plano. Essa é a razão por que, no mandado de segurança, veda-se a
dilação probatória, que, se adotada, desvirtuaria a sua natureza e o seu escopo. Não demonstrado de
forma incontroversa e com apoio em prova documental pré-constituída o direito líquido e certo de que os
impetrantes afirmam ser titulares, impõe-se o indeferimento da petição inicial (20080111464210APC,
Relatora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 6ª Turma Cível, julgado em 9/12/2009, DJ
13/1/2010, p. 202).
Em se tratando de mandado de segurança, a prova do direito líquido e certo deve ser manifesta,
pré-constituída, apta, assim, a favorecer, de pronto, o exame da pretensão deduzida em juízo.
Ademais, o exercício do contraditório e ampla defesa, garantias constitucionais, não é óbice processual
para a decisão meritória, não havendo quaisquer sinais de prejuízo à autoridade impetrada que
demonstrou celeridade no julgamento da representação.
Determino imediata suspensão dos efeitos da Decisão Nº 698/2019, prolatada em 28/02/2019 pelo
TCDF até julgamento de mérito do presente “mandamus”.
Com fulcro no art. 5º inciso LXXVIII, que assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo, a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, e ainda em
atenção ao art. 932, I, II e VIII, do CPC c/c Súmula Vinculante 3/STF e art. 5º LIV e LV da CF/88,
determino seja oportunizada a garantia de defesa e contraditório ao impetrante, para que se
manifeste no âmbito da Representação Nº 3386/2019.
Notifique-se a Autoridade dita Impetrada e o seu órgão de representação judicial, na forma dos art. 7º,
incisos I e II, da Lei Nº 12.016/2009 para que prestem suas informações.
Após, remetam-se os autos à Douta Procuradoria de Justiça que oficia perante o CONSELHO
ESPECIAL, em atenção ao disposto no art. 12 da Lei Nº 12.016/2009.
Relator