A Lei 12.015 de sete de agosto de 2009 traz diversas mudanças ao Código Penal, ao ECA e à Lei
dos Crimes Hediondos.
Em uma primeira leitura, fica evidente que a intenção do legislador, ao elaborar a nova
redação, era punir com mais vigor aqueles que cometem crimes contra a liberdade sexual,
principalmente quando há o envolvimento de menores de idade.
A redação é polêmica e, sem dúvida alguma, será objeto de discussão. Veja, a seguir, as
principais alterações:
ESTUPRO
Como era: Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.
Como ficou: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
De acordo com a redação antiga, somente cometia estupro aquele que sujeitava a mulher,
mediante violência ou grave ameaça, à conjunção carnal (cópula vagínica). Qualquer ato
libidinoso diverso era considerado atentado violento ao pudor (exemplos: coito anal, sexo oral
etc).
A partir de agora, passa a ser estupro tanto a conjunção carnal quanto os atos libidinosos
diversos. Note que o tipo não distingue o gênero da vítima. Portanto, o homem pode ser vítima
do crime de estupro.
A pena mínima foi equipada à do homicídio simples, ou seja, 06 (seis) anos de reclusão.
Passa a integrar o artigo 213 do CP. A Lei 12.015/2009 revogou integralmente o artigo 214 do
Código Penal.
A antiga redação do artigo 215 foi extinta. Com a mudança, deixa de ocorrer somente contra as
mulheres. Além disso, além da fraude, passa a cometer o crime aquele que utilize meio que
“impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”.
ASSÉDIO SEXUAL
Passa a ter a pena aumentada caso seja cometido contra menor de 18 (dezoito) anos.
A figura da vítima de estupro mediante violência presumida deixa de existir. De hoje em diante,
intitula-se “estupro de vulnerável”. De acordo com a redação, ocorre o estupro de vulnerável
na hipótese da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso contra menores de 14
(catorze) anos.
Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas acima contra alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
CORRUPÇÃO DE MENORES
Trata-se de um novo tipo penal. De acordo com a nova redação, comete o crime de Satisfação
de lascívia mediante presença de criança ou adolescente quem pratica, na presença de menor
de 14 (catorze) anos, ou o induz a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, desde
que seja para satisfazer a lascívia própria ou de outrem.
AÇÃO PENAL
Os crimes contra a liberdade sexual deixam de ser ajuizados mediante queixa. Após a reforma,
a regra será a ação penal pública condicionada – mediante representação -, salvo quando a
vítima for menor de 18 (dezoito) anos, ou vulnerável. Nessas hipóteses, serão objetos de ação
penal pública incondicionada.
A redação antiga não sofreu grande alteração. O legislador incluiu a expressão “exploração
sexual” ao tipo, mas ainda não consegui prever o impacto na prática.
No entanto, a maior mudança é a causa de aumento do parágrafo primeiro, que considera mais
gravosa a conduta quando cometida por “ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima”, ou por agente
que “assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância”.
CASA DE PROSTITUIÇÃO
Como era: Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a
encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário
ou gerente.
Como ficou: Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente.
RUFIANISMO
Também tem como causa de aumento de pena o fato do agente ser ascendente, padrasto,
madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador
da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância da vítima.
A Lei 12.015/2009 passa a punir quem agencia, alicia, vende ou compra a pessoa traficada,
assim como, tendo conhecimento dessa condição, a transporta, a transfere ou a aloja.
Além disso, também há aumento de pena caso o agente seja ascendente, padrasto, madrasta,
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima,
ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.
Nos crimes contra a liberdade sexual, caso o agente engravide a vítima, ou transmita-lhe
doença sexualmente transmissível que sabe ou deveria saber ser portador, a sua pena será
aumentada.
A HEDIONDEZ DO ESTUPRO
Para dar um fim ao confuso artigo 1º, V, da Lei 8.072/90, a redação foi alterada para “estupro”,
sem qualquer menção à cumulação com outro artigo.
ALTERAÇÃO NO ECA
Foi realizada a inclusão do artigo 244-B, que criminaliza, in verbis, a conduta daquele que
“Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la”.
Entrementes, a maior novidade é o parágrafo primeiro desse mesmo artigo, que afirma que
também comete o crime quem o faz por meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
Internet.
De forma resumida, essas são as principais mudanças. A Lei 12.015/2009 reflete alguns anseios
da sociedade, como a punição mais severa nos casos de crimes contra menores de idade.
Também trata de crimes novos, como a corrupção de menores em salas de chat.